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Universidade de Lisboa Faculdade de Farmácia Hipertensão Primária Abordagem Terapêutica Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas 2019

Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

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Page 1: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

Universidade de Lisboa

Faculdade de Farmácia

Hipertensão Primária

Abordagem Terapêutica

Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio

Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas

2019

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Universidade de Lisboa

Faculdade de Farmácia

Hipertensão Primária

Abordagem Terapêutica

Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio

Monografia de Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas

apresentada à Universidade de Lisboa através da Faculdade de

Farmácia

Orientador: Doutor Rui Manuel Amaro Pinto, Professor Auxiliar

2019

Page 4: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

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Page 5: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

5

Resumo

As doenças cardiovasculares, das quais faz parte a hipertensão arterial, são uma

das principais causas de morte em Portugal e em todo o mundo. Esta é diagnosticada

quando a pressão arterial sistólica é igual ou superior a 140 mmHg e/ou quando a

pressão arterial diastólica é igual ou superior a 90 mmHg. Existem três critérios

possíveis para a sua classificação, que incluem o etiológico, o fisiológico e o de

gravidade.

Quanto à abordagem terapêutica, esta pode ser feita utilizando duas estratégias

diferentes, que se complementam. São elas a terapêutica não farmacológica, que

engloba as alterações ao nível da alimentação, a prática regular de atividade física e a

cessação dos hábitos tabágicos, e ainda farmacológica, ambas com o objetivo de

reduzir os valores da pressão arterial e mantê-los estabilizados.

Existem várias classes de fármacos que podem ser utilizados, dos quais se destacam

os inibidores da enzima conversora da angiotensina, os antagonistas dos recetores da

aldosterona, os diuréticos, os bloqueadores dos canais de cálcio e os bloqueadores β-

adrenérgicos. De forma a selecionar a terapêutica adequada a instituir a cada doente é

importante ter em atenção todo o seu historial clínico, bem como os fatores de risco

associados. Assim, é importante seguir a orientação oferecida pelas guidelines

elaboradas pela Direção Geral de Saúde, de forma a seguir todas as etapas do

tratamento, com o objetivo de concluir qual é a terapia mais favorável, de modo a que

seja possível atingir os valores de pressão arterial desejados. Elas englobam as várias

etapas do processo de decisão, desde a prevenção, passando pela deteção e avaliação,

até chegar ao tratamento.

O farmacêutico é, na maior parte das vezes, a primeira pessoa a detetar eventuais

alterações durante o rastreio da pressão arterial do paciente, tendo um papel

fundamental em direcioná-lo para uma consulta médica quando necessário, assim como

esclarecer as suas dúvidas iniciais que possam surgir. Possui também um papel fulcral

no incentivo do paciente à adesão da terapêutica e na mudança para hábitos de vida

mais saudáveis.

Palavras-chave: hipertensão arterial primária, pressão arterial, fármaco anti

hipertensor, guidelines, terapêutica combinada

Page 6: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

6

Abstract

Cardiovascular diseases, which arterial hypertension is part of, are one of the most

important causes of death in Portugal and in the whole world. It is diagnosed when the

systolic blood pressure is around 140 mmHg or higher and/or when the diastolic blood

pressure is around 90 mmHg or higher too. There are three possible criteria for its

classification, which include the etiological, physiological and the severity.

Regarding the therapeutic approach, this can be done by using two different

strategies, which complement each other. These are non-pharmacological therapies

which include healthy diet changes, regular physical activity, smoking cessation and also

the pharmacological one, both with the goal of reducing blood pressure values and keep

them stabilized.

There are several classes of drugs that can be used, such as angiotensin converting

enzyme inhibitors, aldosterone receptor antagonists, diuretics, calcium channel blockers

and β-adrenergic blockers. In order to select the appropriate therapy to institute for each

patient, it is important to pay attention to the whole medical story as well as the

associated risks factors. Thus, it is important to follow the guidance provided by the

guidelines drawn up by the Direção Geral de Saúde, in order to follow all the stages of

the treatment to conclude which therapy is the most favorable to achieve desired blood

pressure values. They encompass various stages of the decision-making process, from

prevention, through detection and evaluation, until achieve the ideal treatment.

The pharmacist, in most part of the time, is the first person to detect possible changes

during the patient’s blood pressure screening, having an important influence to direct him

to a medical appointment when needed, as well as clarifying him initial doubts that may

arise. He also plays an important role to encourage the patients to therapy adhesion and

to change their life to healthier lifestyle habits.

Keywords: arterial hypertension, arterial pressure, anti-hypertensive drugs, guidelines,

combined therapy

Page 7: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

7

Agradecimentos

Ao Professor Doutor Rui Manuel Pinto pelas orientações e sugestões fornecidas e

pelo apoio prestado ao longo da realização deste trabalho.

Aos meus pais e avós por todo o apoio que me deram ao longo destes cinco anos

pois, apesar de ter sido um período de altos e baixos, com vitórias e derrotas, me

incentivaram sempre a dar o meu melhor e a nunca desistir dos meus objetivos.

Em especial à minha avó Adelaide, por ter embarcado comigo nesta aventura e ter

estado sempre do meu lado quando mais precisei, por ser a melhor amiga, confidente

e conselheira que poderia pedir. A sua presença foi fundamental para que tudo desse

certo e nunca existirão palavras suficientes para agradecer tudo o que ela fez por mim.

Às melhores amigas que esta faculdade me deu a conhecer, por todas as aventuras,

por cada gargalhada e por cada lágrima partilhada. Por estarem sempre presentes

quando mais precisei e por toda a entreajuda prestada ao longo do curso. Porque

guardarei para sempre cada momento que vivemos juntas com muito carinho, sem elas

esta experiência não teria sido tão positiva.

A ti, por toda a paciência, apoio, carinho e preocupação demonstrados, por seres o

meu exemplo de força e dedicação, por estares sempre comigo em cada dia, por sempre

teres confiado em mim e fazeres de mim uma pessoa melhor e, acima de tudo, por

tornares a minha vida mais bonita.

Page 8: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

8

Abreviaturas

AAC - American College of Cardiology

AAS – Ácido acetilsalicílico

ADA – American Diabetes Association

AVC – Acidente Vascular Cerebral

ADH – Hormona Antidiurética

CSP - Cuidados de Saúde Primários

DASH - Dietary Approaches to Stop Hypertension

DC – Débito Cardíaco

DCV – Doença Cardiovascular

DPOC – Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica

DM – Diabetes Mellitus

ECA - Enzima Conversora da Angiotensina

ECDS - European Cardiovascular Disease Statistics

ENaC - Canal de Sódio Epitelial

ESC - European Society of Cardiology

EUA – Estados Unidos da América

FR – Fator de Risco

GITS - Gastro-Intestinal Therapeutic System

HEV – Hipertrofia Ventricular Esquerda

HTA – Hipertensão Arterial

IMC – Índice de Massa Corporal

INE – Instituto Nacional de Estatística

IR – Insuficiência Renal

IRC – Insuficiência Renal Crónica

LO – Lesão subclínica de orgão

MAPA - Monitorização Ambulatória da Pressão Arterial

NICE - National Institute for Health and Care Excellence

NO – Óxido Nítrico

OMS – Organização Mundial de Saúde

PA – Pressão Arterial

PAS – Pressão Arterial Sistólica

PAD – Pressão Arterial Diastólica

PE – Pré-eclâmpsia

PNA - Péptido Natriurético Atrial

Page 9: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

9

RPT – Resistência Periférica Total

RVP – Resistência Vascular Periférica

Sirt3 – Sirtuina 3

SM – Síndrome Metabólica

SNA – Sistema Nervoso Autónomo

SNP – Sistema Nervoso Parassimpático

SNS – Sistema Nervoso Simpático

SOD – Superóxido Dismutase

SRAA - Sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona

TFG - Taxa de Filtração Glomerular

WHO – World Health Organisation

Page 10: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

10

Índice

1. Introdução………………………………………………………………………….…14

2. Objetivos………………………………………………………………….…………..15

3. Materiais e Métodos………………………………………………….………..……..16

4. Hipertensão Arterial…………………………………………………..……………...17

4.1 Dados Epidemiológicos……………………………………….…….………….17

4.2 Epidemiologia……………………………………………………….…………..18

4.3 Classificação……………………………………………….………….……….. 19

4.3.1. Critério etiológico…………………………………….…….………………20

4.3.2. Critério fisiológico…………………………………….………..…………..20

4.3.3. Critério de gravidade…………………………………..…………….…….20

4.4 Hipertensão Arterial Resistente………………………….…………………….21

4.5 Emergência hipertensiva e crise hipertensiva………….…………………….21

4.6 Fisiopatologia…………………………………………………………..………..22

4.6.1 Regulação da Pressão Arterial…………………………...…………...….22

4.6.2 Reflexo dos barorrecetores para controlo da pressão arterial a longo

prazo…………………………………………………………………...……23

4.6.3 Volume sanguíneo como controlo da PA a longo prazo………..………24

4.7 Fatores de Risco…………………………………………………………….…..24

4.8 Meios de diagnóstico……………………………………………………………25

5. Abordagem terapêutica……………………………………………...………………29

5.1 Objetivos…………………………………………………………………………29

5.2 Não Farmacológica……………………………………………………………..29

5.2.1. Cuidados na Alimentação……………………………………….………..30

5.2.2. Atividade Física…………………………………………………….………31

5.2.3. Cessação dos hábitos tabágicos…………………………………………32

5.3 Farmacológica……………………………………………………………….….34

5.3.1 Inibidores da Enzima Conversora da Angiotensina (IECAs)……..…..34

5.3.2 Antagonistas dos Recetores da Aldosterona (ARAs)……………..…..35

5.3.3 Diuréticos………………………………………………………………….37

5.3.3.1 Diuréticos Tiazídicos…………………………………...…37

5.3.3.2 Diuréticos Poupadores de Potássio……………………..38

5.3.3.3 Diuréticos da Ansa de Henle……………………………..39

5.3.4 Bloqueadores dos Canais de Cálcio (BCCs)………………………….39

5.3.4.1 Di-hidropiridínicos…………………………..…………….40

5.3.4.2 Não di-hidropiridínicos………………………..…………..41

5.3.5 Bloqueadores β-adrenérgicos………………………………..…………41

5.3.6 Inibidores da renina……………………………………………..….…….43

5.3.7 Bloqueadores dos recetores α-adrenérgicos…………………..……...43

5.3.8 Agentes de ação central…………………………………...…………….44

5.3.9 Vasodilatadores de ação central…………………………..……………44

6. Normas de Orientação Clínica………………………………………………………46

6.1 Normas da Direção Geral de Saúde (DGS)…………………………………46

6.2 Normas Internacionais……………………………………….……………….47

6.3 Critérios de Seleção de Fármacos……………………………..…………….48

6.3.1 Monoterapia………………………………………………………………49

Page 11: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

11

6.3.2 Terapêutica Combinada………………………………...……………….49

6.4 Populações Especiais…………………………………………………………51

7. Papel do Farmacêutico………………………………………………………………55

8. Conclusão…………………………………………………………………………….57

Referências Bibliográficas…………………………………………………...…………..58

Anexos…………………………………………………………………..…………………63

Page 12: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

12

Índice de Figuras

Figura 1 – Prevalência e controlo da HTA total e por sexos, em 2015…………………....18

Figura 2 – Prescrição de fármacos antihipertensores, total e por sexos, em 2015…….…34

Figura 3 – Mecanismos de atuação dos ARAs, dos IECAs e dos Inibidores da renina……36

Figura 4 – Mecanismos de atuação dos diuréticos………………………………………..…37

Figura 5 – Combinações de fármacos anti hipertensores………………………………..….50

Page 13: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

13

Índice de Tabelas

Tabela 1 – Periodicidade recomendada para a confirmação de HTA, de acordo com o

valor inicial de PA……………………………………………………………………………..19

Tabela 2 – Classificações dos níveis de pressão arterial medidos no consultório

(mmHg)…………..…………………………………………………………………………….21

Tabela 3 – Limites de referência da PA para o diagnóstico de HTA, de acordo com o

tipo de medição realizado……………………………………………………………………26

Tabela 4 – Mecanismos propostos para explicar o papel da atividade física na

resistência oferecida para o desenvolvimento da HTA……………………………………32

Tabela 5 – Terapia combinada utilizada no tratamento da HTA…………………….……50

Page 14: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

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1. Introdução

Após a realização de vários estudos, a Organização Mundial de Saúde (OMS) tem

dados suficientes para afirmar que as Doenças Cardiovasculares (DCV) são

responsáveis pela morte anual de cerca de 17 milhões de pessoas em todo o mundo,

concluindo-se que a Hipertensão Arterial (HTA) é responsável pela ocorrência de cerca

de 9,4 milhões de óbitos, ou seja, é uma das principais potenciadoras do risco de DCV,

uma vez que causa mais de metade dos óbitos ocorridos dentro deste grupo. Estas são,

no presente e, certamente também no futuro, a principal causa de morte, não só na

Europa, representando uma parcela de 45%, mas também em Portugal, de acordo com

a European Cardiovascular Disease Statistics (ECDS), no ano de 2017 (1).

Os indivíduos que possuem HTA são mais propícios a um risco de morte iminente,

e ainda, ao desenvolvimento de diversas complicações, entre as quais, insuficiência

renal, acidentes vasculares cerebrais (AVC), enfarte do miocárdio, perda progressiva da

visão, esclerose das artérias, e várias outras patologias. É por isso urgente, a alteração

dos hábitos de vida para outros mais saudáveis, de modo a prevenir o aparecimento da

doença e também existir uma vigilância apertada para que seja possível o seu

tratamento numa fase ainda inicial, sem ser necessário recorrer a uma terapêutica

medicamentosa, podendo utilizar-se os métodos não farmacológicos como terapia

inicial (2).

A HTA pode ser definida a partir dos valores de pressão arterial (PA), nos quais os

riscos da realização do tratamento são superados pelas vantagens que este oferece,

quando os valores que definem a pressão arterial sistólica (PAS) e a pressão arterial

diastólica (PAD) excedem, respetivamente, 140 mmHg e 90 mmHg (3).

A prevalência da HTA é elevada em Portugal, mas apesar disso, é muito semelhante

à encontrada noutros países que fazem parte do continente europeu, existindo neste

momento, cerca de três milhões de adultos diagnosticados com hipertensão, no nosso

país. Verifica-se uma maior prevalência no sexo masculino, relativamente ao sexo

feminino, sendo essa diferença menos acentuada na população idosa (4).

Page 15: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

15

2. Objetivos

Esta monografia tem como objetivo major, esclarecer qual a abordagem terapêutica

a ser administrada nos casos de hipertensão arterial primária. Serão abordadas a

classificação, fisiopatologia e fatores de risco associados a esta patologia, mas também

a terapêutica não farmacológica, que engloba as alterações ao nível da alimentação, a

prática regular de atividade física e a cessação dos hábitos tabágicos e a farmacológica,

nas quais serão abordadas as classes de fármacos existentes e os respetivos critérios

de escolha, segundo as guidelines em vigor. Será dado ênfase ao papel do farmacêutico

no acompanhamento do doente diagnosticado com HTA e no incentivo do paciente à

adesão da terapêutica e na mudança para hábitos de vida mais saudáveis.

Page 16: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

16

3. Materiais e Métodos

Durante a realização desta monografia, a pesquisa foi maioritariamente efetuada

com o auxílio de recursos digitais e físicos, nomeadamente a consulta de artigos de

revisão e de livros técnicos. De modo a contextualizar o tema, foi efetuada uma pesquisa

global, para assim ser possível a reunião de todos os temas a abordar ao longo da

monografia.

A principal base de dados consultada foi o Pubmed, de onde foram retirados a maior

parte dos artigos de revisão utilizados na execução desta dissertação. Foram também

consultados websites de várias organizações, de alguma forma, relacionadas com este

flagelo da HTA, tanto a nível nacional, como internacional. Também foram recolhidas

informações de vários livros, sobretudo de fisiologia, fisiopatologia e farmacologia, de

forma a reunir as informações necessárias para e execução da monografia.

Foi também necessário aceder aos protocolos de atuação e às guidelines, tanto

nacionais, estabelecidas pela Direção Geral de Saúde (DGS), como as internacionais,

estabelecidas pelo National Institute for Health and Care Excellence (NICE).

Page 17: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

17

4. Hipertensão Arterial

4.1. Dados Epidemiológicos

Segundo dados retirados do Instituto Nacional de Estatística (INE), há já algumas

décadas que a principal causa de morte em Portugal corresponde às doenças do

aparelho cardiovascular, para as quais a HTA é considerada um dos maiores fatores de

risco. No ano de 2017, estas foram responsáveis por cerca de 30% dos óbitos registados

(5), acreditando-se numa exacerbação dos casos até 2025 (4). Também a World Health

Organisation (WHO) considera que o aumento da PA é um dos maiores fatores de risco

causador de diversas situações de incapacidade, afetando mais de um milhão de

indivíduos em todo o mundo (6). Dependendo da raça ou etnia dos indivíduos, a

prevalência da HTA é muito variável. Os indivíduos não hispânicos de raça negra

apresentam as taxas mais altas de HTA, ao contrário dos indivíduos de raça branca de

origem não hispânica que apresentam maior taxa de controlo sobre a doença,

relativamente aos americanos de origem africana, aos asiáticos não hispânicos e do

que os próprios hispânicos.

Após a análise de um estudo, estima-se que existam perto de três milhões de

doentes hipertensos em Portugal, sendo que grande parte dos doentes não possui

qualquer tipo de diagnóstico e apenas cerca de 11% possuem um correto tratamento

farmacológico (7). Estima-se que entre a população adulta portuguesa, considerada

entre os 18 e os 90 anos de idade, a percentagem de indivíduos com HTA ronde os

42,1%, representando assim 3 311 830 doentes. Dentro deste grupo, concluiu-se que

apenas 46,1% dos indivíduos sabia que era portador da doença, 39,0% dos indivíduos

tomavam algum tipo de anti hipertensor e 11,2% dos indivíduos tinha a doença

totalmente controlada. O intervalo obtido de PAS variou entre 85 e 240 mmHg, enquanto

que o a PAD variou entre 51 e 135 mmHg. Nos três diferentes grupos etários

considerados, ou seja, menos de 35 anos, entre 35 e 64 anos e com mais de 64 anos,

quanto à população masculina, as percentagens de hipertensos são, respetivamente,

de 26,2%, 54,7% e 79%, enquanto que na população feminina, as percentagens são,

respetivamente, de 12,4%, 41,1% e 78,7%. Estas percentagens mostram que a HTA

possui uma grande prevalência em Portugal, mostrando o contraste existente entre a

percentagem de população informada e com o devido conhecimento acerca do seu

Page 18: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

18

estado de saúde e a população que foi corretamente diagnosticada e consegue manter

o problema da HTA devidamente controlado (4).

Figura 1 – Prevalência e controlo da HTA total e por sexos, em 2015 (8)

A HTA não é apenas um problema nacional, mas sim um problema à escala mundial,

sabendo-se que no ano de 2010, a prevalência afetava cerca de 1,39 biliões de

cidadãos, o que representa uma percentagem de 31% de adultos afetados por esta

patologia. No período decorrido entre os anos de 2000 e 2010, a prevalência da HTA

sofreu uma diminuição de 2,6% nos países desenvolvidos e, por outro lado, ocorreu um

aumento de 7,7% nos países em desenvolvimento (9).

Entre os países pertencentes ao continente Europeu, a prevalência da HTA em

Portugal é inferior a Alemanha e Espanha que possuem, respetivamente, percentagens

iguais a 47,0% e 55,0%. Por outro lado, vai ser superior a países como Suécia, Itália e

Inglaterra, nos quais as percentagens rondam, respetivamente, os valores de 38,0%,

38,0% e 42,0% (4).

4.2. Definição

Segundo a classificação da DGS, a HTA surge quando os valores de PA se

encontram acima dos valores considerados normais, de uma forma crónica e, consoante

a idade ou o género da pessoa (1,2).

Considera-se que um doente é hipertenso, quando este apresenta um valor de PAS

igual ou superior a 140 mmHg e/ou um valor de PAD igual ou superior a 90 mmHg, em

medições efetuadas em diferentes momentos do dia e em diferentes dias. Estima-se

que um doente que sofra de pré-hipertensão venha a desenvolver HTA nos dois a quatro

anos seguintes, em cerca de 30 a 40% dos casos (10). Tanto a PAS como a PAD estão

Page 19: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

19

associadas à lesão de órgãos-alvo, sendo que a hipertensão sistólica isolada também

não é considerada como benigna. Na maioria das vezes é assintomática e só consegue

ser diagnosticada após os danos já causados no corpo humano (1,11).

Estas medições devem ser efetuadas num consultório e em diferentes ocasiões, em

pelo menos duas diferentes consultas, com um intervalo mínimo entre elas de uma

semana, verificando-se a ocorrência de uma elevação persistente da HTA (12).

Tabela 1 – Periodicidade recomendada para a confirmação de HTA, de acordo com o valor

inicial de PA (13)

PA inicial (mmHg) Recomendações

PA Sistólica PA DIastólica

< 130 < 85 Reavaliação até 2 anos

130 – 139 85 – 89 Reavaliação em 1 ano

140 – 159 90 – 99 Confirmação dentro de 2 meses

160 – 179 100 - 109 Confirmação dentro de 1 mês

≥ 180 ≥ 110 Avaliação imediata ou confirmação em uma

semana, de acordo com a situação clínica

Apesar de ser considerada uma doença, pode também ser um sinal de alerta para

a presença de várias patologias. Habitualmente atinge o seu valor máximo ao despertar,

e atinge o seu mínimo durante o período de descanso noturno (7).

Vários estudos revelaram a existência de uma relação entre recém-nascidos de

baixo peso e a crescente possibilidade de aparecimento de HTA na vida adulta (14).

4.3. Classificação

A HTA pode ser classificada de acordo com três critérios individuais: etiológico,

fisiopatológico ou de gravidade. O critério etiológico classifica a HTA de acordo com a

sua causa, enquanto que o critério fisiopatológico tem em conta os valores da PAS e da

PAD. O critério de gravidade é definido pela OMS, que considera quatro níveis de

hipertensão, enquanto que a DGS tem em conta apenas três níveis, na sua

classificação. É importante ter em consideração a conjugação de todos estes critérios,

de forma (7).

Page 20: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

20

4.3.1. Critério etiológico

Nos casos em que a HTA possui uma origem desconhecida, ou seja, idiopática, é

diagnosticada HTA primária ou essencial. Perante esta possibilidade, existe a suspeita

de fatores genéticos e ambientais, podendo ainda existir várias causas que a tornam

multifatorial (11,14). As mutações genéticas que são mais frequentemente associadas

ocorrem no angiotensinogénio, nos recetores β2-adrenérgicos e na α-aducina, uma

proteína constituinte do citoesqueleto (11). Por outro lado, quando existe uma patologia

previamente diagnosticada, que é considerada a causa da HTA, ou até mesmo, devido

à toma de algum fármaco, estamos perante um caso de hipertensão secundária (7).

Apenas uma percentagem de 10 a 15% pertence ao último grupo, o que indica que

só um pequeno grupo de portadores de HTA conhece a causa específica da sua doença.

Nestes casos, opta-se por tratar essa causa específica pois, quando ela for resolvida, a

hipertensão tenderá a desaparecer. Algumas dessas causas podem resolver-se por

método cirúrgico definitivo, sendo algumas delas, constrição da artéria renal, coartação

da artéria aorta, feocromocitoma, doença de Cushing e aldosteronismo primário (11).

Pode ainda, dever-se à apneia do sono, ao uso de contracetivos orais ou gravidez

(7).

4.3.2. Critério fisiológico

Quanto ao critério fisiológico, estamos perante um caso de hipertensão sistólica,

quando a PAS é igual ou superior a 140 mmHg, enquanto que a PAD se mantém igual

ou inferior a 90 mmHg. Esta pode surgir em várias situações, tal como bradicardia,

insuficiência aórtica, febre, anemia, fístulas arteriovenosas ou perda da capacidade de

distensão da artéria aorta, devido ao aumento da sua rigidez, o que se verifica com a

deposição das placas ateroscleróticas.

Por outro lado, nos casos de hipertensão sistólica e diastólica surge um aumento do

débito cardíaco, da resistência vascular periférica (RVP) ou de ambas as situações (7).

4.3.3 Critério da gravidade

Este último critério assenta em premissas definidas pela OMS, que classifica a

HTA em três graus: é considerada ligeira (grau 1) quando os valores da PAS e PAD são,

respetivamente entre 140 a 159/90 a 99 mmHg; é considerada moderada (grau 2),

quando os valores se situam nos intervalos de 160 a 179/100 a 109 mmHg; é

Page 21: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

21

considerada grave (grau 3), quando os valores são superiores a 180/110 mmHg (7,12).

Quando as PAS e PAD se encontram em diferentes intervalos, é habitual considerar a

categoria onde se encontra o valor mais elevado.

Tabela 2 – Classificações dos níveis de pressão arterial medidos no consultório (mmHg) (2)

Categoria Sistólica Diastólica

Ótima <120 e <80

Normal 120-129 e/ou 80-84

Normal Alta 130-139 e/ou 85-89

Hipertensão Grau 1 140-159 e/ou 90-99

Hipertensão Grau 2 160-179 e/ou 100-109

Hipertensão Grau 3 ≥180 e/ou ≥110

Hipertensão Sistólica Isolada ≥140 e <90

4.4. Hipertensão Arterial Resistente

Estamos perante um caso de HTA resistente, quando os valores médios de PA não

se encontram nos valores pretendidos, apesar do tratamento já ser efetuado com a

combinação de três fármacos anti hipertensores, devendo um deles ser um diurético. É

também possível que estes valores se encontrem alterados devido à baixa adesão

terapêutica por parte do paciente, terapêutica instituída inapropriada, ou ainda, a

existência de interações farmacológicas (15).

4.5. Crise Hipertensiva e Emergência Hipertensiva

É ainda possível fazer a distinção entre crise hipertensiva e emergência hipertensiva.

As crises hipertensivas são também classificadas como HTA grave pois, a PAS e a PAD

atingem respetivamente, valores iguais ou superiores a 180 e a 120 mmHg, não

existindo qualquer tipo de lesão nos órgãos alvo, ao contrário das emergências

hipertensivas, durante as quais, além da elevada PA, também existe lesão dos órgãos

alvo, tais como encefalopatia hipertensiva, AVC, edema pulmonar, enfarte do miocárdio

(12,16,17). As crises hipertensivas podem ser acompanhadas por cefaleias e alterações

visuais (17).

Page 22: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

22

4.6. Fisiopatologia

4.6.1. Regulação da Pressão Arterial

A PA designa-se como a força, com a qual o sangue se desloca no interior dos vasos

sanguíneos, neste caso, das artérias. Subdivide-se em PAS, momento no qual ocorre a

contratura do músculo cardíaco, movimento designado por sístole, que bombeia o

sangue arterial pela aorta, garantindo assim o fluxo sanguíneo a todos os órgãos do

corpo, excetuando os pulmões (2,14), e em PAD, momento no qual ocorre o

relaxamento do músculo cardíaco e este se volta a encher de sangue previamente

oxigenado (2).

A pressão arterial sistémica média resulta do produto entre o débito cardíaco (DC)

e a resistência vascular periférica (RVP):

PAS = DC X RVP (1)

A conjugação do DC com a RVP é responsável por definir a pressão arterial

sistémica média, uma vez que definem, num determinado intervalo de tempo, o volume

de sangue que percorre as artérias. Uma vez que o DC representa o volume de sangue

que é bombeado do coração para as artérias, por unidade de tempo, este vai ser um

dos responsáveis por determinar o volume arterial médio e a pressão arterial média

(PAM). Por outro lado, a resistência ocorre principalmente ao nível das arteríolas e, por

isso, a RVP vai corresponder à resistência arterial total, sendo esta a responsável por

influenciar a PAS (14).

A circulação sanguínea ao nível das artérias pulmonares e sistémicas é em tudo

semelhante, apenas variando as pressões se houver qualquer alteração ao nível da

resistência, concluindo-se que a resistência vascular pulmonar total é inferior à

resistência vascular periférica (14).

Os reflexos dos barorrecetores contribuem para o equilíbrio homeostático do corpo

humano, ao reconhecerem alterações ocorrentes no Sistema Nervoso Autónomo (SNA),

uma vez que as suas fibras nervosas são responsáveis pela inervação do coração e dos

vasos sanguíneos. Podem também ocorrer alterações ao nível do sistema endócrino,

existindo maior ou menor libertação de hormonas, das quais fazem parte a

noradrenalina, a angiotensina II e a hormona antidiurética (ADH) (14).

Page 23: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

23

4.6.2. Reflexo dos Barorrecetores para controlo da PA a curto prazo

Os barorrecetores arteriais vão responder a alterações na normal conformação do

vaso, quer sejam situações de distensão ou contração, devido à enorme quantidade de

terminações nervosas ramificadas existentes. Estão presentes nos seios carotídeos e

no arco da aorta e quando são detetadas alterações, o tronco encefálico vai ser o

responsável por aumentar ou diminuir a frequência de descarga transmitida pelo

neurónio eferente. Nos casos de HTA, essa frequência vai ser superior, dado que a

resposta dos neurónios eferentes é diretamente proporcional à PAM (14).

O centro cardiovascular bulbar funciona como o integrador dos estímulos

provenientes dos barorrecetores arteriais. Quanto mais elevada a PA, maiores vão ser

os estímulos recebidos, de modo a que haja uma diminuição do impulso do Sistema

Nervoso Simpático (SNS) a atuar no coração, arteríolas e veias, enquanto ocorre um

aumento do impulso do Sistema Nervoso Parassimpático (SNP), de modo a diminuir a

PA. Assim, a contração ventricular diminui a sua frequência, enquanto simultaneamente

se dá o fenómeno de constrição arteriolar e venosa. Este mecanismo homeostático tem

como finalidade diminuir o DC, devido à diminuição da frequência cardíaca, do volume

sistólico e da resistência vascular periférica. Devido ao elevado esforço efetuado por

parte do ventrículo esquerdo, pois este tem de bombear contra uma PA elevada,

designada por pós-carga, existe um trabalho muscular exagerado, o que leva ao

desenvolvimento de hipertrofia ventricular esquerda, o que apesar de a curto prazo

funcionar como um processo adaptativo, a longo prazo provoca alterações ao nível das

células miocárdicas, o que poderá provocar angina de peito e insuficiência coronária, o

que levará a uma crescente dificuldade de fazer chegar o fluxo de sangue a todos os

tecidos do organismo, o que aumenta a sua fragilidade, surgindo por fim arritmias e

insuficiência cardíaca. Enquanto isso, as paredes arteriais vão também ficar

deformadas, o que aumenta o risco da possibilidade de ocorrência de aterosclerose e

trombose, devido à formação de coágulos. Em casos extremos, podem aparecer

aneurismas e hemorragias cerebrais (18). No entanto, os barorrecetores arteriais não

podem ser considerados sentinelas definitivos, uma vez que eles sofrem um processo

de adaptação, nos casos em que a PA se desvia dos seus valores considerados

normais, durante vários dias, existindo assim uma perda da sua sensibilidade (14).

Existem ainda outros barorrecetores com diferentes localizações anatómicas,

nomeadamente nas grandes veias de circulação sistémica, nos vasos responsáveis

pela irrigação pulmonar e do músculo cardíaco, sendo que estes são mais sensíveis a

qualquer alteração que ocorra na PA (14).

Page 24: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

24

4.6.3. Volume sanguíneo como controlo da PA a longo prazo

O volume de sangue circulante é um importante fator na regulação da PA pois,

controla várias variáveis, entre elas, a pressão venosa, o retorno venoso, o volume

diastólico final, o volume sistólico e o débito cardíaco. Consequentemente, quanto maior

o volume sanguíneo, mais elevada será a PA, logo é necessário repor a homeostasia,

o que acontece através de um mecanismo de feedback negativo. Assim, o componente

plasmático do sangue é diminuído, através do aumento da excreção por via renal de

sódio e água (14).

Assim, outro dos controladores da PA é o Sistema Renina-Angiotensina-

Aldosterona (SRAA). O aparelho justaglomerular presente nos rins, possui na sua

estrutura células justaglomerulares, células estas que são as responsáveis pela

secreção de uma enzima, a renina. Esta enzima é responsável pela clivagem do

angiotensinogénio, uma proteína produzida pelo fígado, em angiotensina I, um

polipéptido de menores dimensões. Esta péptido sofre outra clivagem, dando origem à

angiotensina II, conversão esta que é mediada pela Enzima Conversora da Angiotensina

(ECA) localizada, sobretudo, na superfície luminal das células endoteliais dos capilares.

Um dos papéis mais importantes da angiotensina II é na estimulação da secreção de

aldosterona, a partir do córtex suprarrenal, assim como na constrição das arteríolas.

Quando a PA se encontra elevada e é necessário excretar sódio e água, as

concentrações plasmáticas de angiotensina II e de aldosterona encontram-se muito

baixas, o que irá diminuir a reabsorção de sódio e água nos tubos coletores. É possível

concluir que, nalguns casos, a HTA pode ter origem na deficiente capacidade de

excreção renal. Assim, quanto maior for a PA, menores vão ser as concentrações

plasmáticas de ADH e angiotensina II (14).

Outro controlador da HTA é o Péptido Natriurético Atrial (PNA), uma hormona

secretada pelas células auriculares. Este péptido é libertado quando ocorre uma

distensão das aurículas e tem como principais funções inibir a secreção de aldosterona,

inibir a reabsorção de sódio e, além disso, aumentar a Taxa de Filtração Glomerular

(TFG), aumentando assim, favoravelmente, a excreção de sódio, processo que se pode

designar de natriurese por pressão (14).

4.7. Fatores de Risco

A HTA é um grave problema de saúde pública que afeta milhões de pessoas em

todo o mundo. Apesar da sua causa ser desconhecida em cerca de 90 a 95%, existem

Page 25: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

25

vários fatores considerados de risco que podem aumentar a probabilidade da ocorrência

do problema e contribuir para o seu desenvolvimento. Esses fatores podem dividir-se

em três categorias principais: modificáveis, não modificáveis e associados a várias

doenças e lesões de órgãos-alvo (2).

Os fatores de risco não modificáveis são aqueles que não podem ser contrariados

ou controlados por nada nem ninguém e, entre eles destacam-se o sexo masculino,

idade avançada, raça negra e os antecedentes familiares, bem como a carga genética

transmitida (7,19). Os fatores de risco modificáveis referem-se aos hábitos e estilo de

vida do indivíduo, podendo ser diminuídos ou até mesmo descontinuados por vontade

própria, após a consciencialização do perigo iminente. Entre estes, encontram-se o

excesso de peso, o consumo de tabaco e álcool (7), mas também, o uso de

contracetivos orais e de anti inflamatórios (19). Quanto aos fatores de risco associados

a várias doenças e a possíveis lesões de órgãos alvo, estes englobam as dislipidémias,

como a hipercolestrolémia e a hipertrigliceridémia, intolerância à glucose e,

consequentemente, diabetes mellitus. Engloba também as lesões em órgãos-alvo,

nomeadamente ao nível do coração, vasos, rins, retina e sistema nervoso (7,19). A

associação de vários destes fatores pode induzir um aumento da PA, uma vez que

existe uma relação sinérgica entre eles (2), assim como o desenvolvimento de

complicações cardiovasculares e insuficiência renal. Também estes podem levar a um

aumento da PA, entrando num efeito “bola de neve” (19).

Durante a monitorização da HTA, a avaliação do risco CV absoluto é feita utilizando

o algoritmo de risco cardiovascular SCORE, presente no anexo 1, sendo que este se

subdivide em quatro diferentes categorias: risco acrescido baixo (cor verde), risco

acrescido moderado (cor amarela), risco acrescido alto (cor laranja) e, por último, risco

acrescido muito alto (cor vermelha). A linha pontilhada define o limite no qual se deve

dar início ao tratamento, tendo em consideração dois fatores: os valores da PA e a

quantidade de fatores de risco existente, ou mesmo a presença ou ausência de DCV ou

doença renal (12).

4.8. Meios de Diagnóstico

Para um doente ser diagnosticado com HTA, a PA tem de se encontrar elevada em

dois momentos diferentes, ou seja, em duas diferentes consultas, com um intervalo

mínimo de duas semanas. Após o diagnóstico de HTA, é importante verificar se esta

possui causas intrínsecas, ou seja, diferenciar entre hipertensão primária ou essencial

e hipertensão secundária. De seguida, é importante conhecer a história clínica, não

Page 26: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

26

esquecendo os antecedentes familiares, efetuar o exame físico, de modo a obter os

valores da PA e compreender o risco cardiovascular, assim como a possível lesão de

outros órgãos (20). Segundo o National Institute for Health and Care Excellence (NICE),

estamos perante o diagnóstico de HTA quando a pressão sistólica e diastólica são,

respetivamente, iguais ou superiores a 140/90 mmHg (21).

Tabela 3 – Limites de referência da PA para o diagnóstico de HTA, de acordo com o tipo de

medição realizado (12)

Tipo de medição PAS (mmHg) PAD (mmHg)

Consultório 140 90

Global (24 horas) 125 – 130 80

24 horas (MAPA) Período do dia (7-

23h)

130 – 135 85

Período da noite

(23-7h)

120 70

Automedição no domicílio 130 – 135 85

Um dos métodos, em tempos, mais utilizados, mas que hoje começa a cair em

desuso, sugere a utilização de um aparelho designado por esfingomanómetro, com o

auxílio de um estetoscópio, no qual é colocada uma braçadeira insuflável no membro

superior do indivíduo, ligada a uma bomba que permite fazer com que a manga insufle.

A braçadeira deve ser colocada entre 2 e 3 cm, acima da articulação do cotovelo e

centrada sobre a artéria braquial, na qual é possível auscultar o som efetuado pelo fluxo

sanguíneo, devendo o braço estar posicionado, de modo a que a artéria se encontre ao

nível do coração. Inicialmente, a circulação sanguínea ao longo da artéria fica impedida,

devido à compressão causada pela braçadeira, não se detetando qualquer pulsação.

De seguida, é possível abrir a válvula de saída de ar, que permite a diminuição da

pressão sobre a artéria, reiniciando-se o fluxo sanguíneo que é identificado pelo seu

ruído, através do estetoscópio. Esta pressão é identificada como pressão arterial

máxima ou sistólica. À medida que o ar vai sendo libertado, é possível continuar a ouvir

os ruídos das pulsações, até ao momento em que o sangue consegue circular

livremente, encontrando-se a pressão arterial mínima ou diastólica. Atualmente, opta-

se principalmente pelos aparelhos automáticos e que meçam a PA no membro superior.

O aparelho utilizado deve ser validado por entidade independente e ser submetido a

Page 27: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

27

uma calibração regular. É importante referir que em doentes portadores de arritmia, as

medições devem ser efetuadas manualmente (6,22,23).

Para o diagnóstico, deve também considerar-se a Monitorização Ambulatória da

Pressão Arterial (MAPA), um método que pode ser considerado mais vantajoso ao nível

dos Cuidados de Saúde Primários (CSP) pois, vai permitir diagnosticar a Hipertensão

de Bata Branca, a Hipertensão Mascarada, e ainda, a Hipertensão Noturna Isolada (24),

sendo também possível avaliar o controlo da PA em doentes hipertensos, já

previamente diagnosticados (20).

A Hipertensão de Bata Branca surge quando a PA é elevada, apenas quando os

doentes estão no consultório, envoltos em toda a pressão e stress provocados pelo

ambiente hospitalar. A Hipertensão Mascarada, pelo contrário, surge quando o doente

apresenta valores de PA considerados normais, durante a consulta, mas esta se

encontra elevada durante o seu normal quotidiano. A Hipertensão Noturna Isolada surge

apenas durante o período noturno (24).

Estudos comprovam que elevados valores de PA obtidos no domicílio estão mais

fortemente correlacionados com as lesões nos órgãos-alvo, bem como as

consequências cardiovasculares, do que os elevados valores obtidos quando a medição

é efetuada em meio hospitalar (20,24).

Existem algumas regras a seguir para que a medição da HTA seja corretamente

efetuada e não induza em erro. É importante que o doente esteja num ambiente calmo,

tanto no consultório, como em sua casa, e efetuar a medição após cinco minutos de

repouso. É importante não ter ingerido qualquer tipo de estimulante, ou ainda não ter

efetuado qualquer tipo de atividade física nos 30 minutos precedentes. A bexiga deve

estar vazia e o membro superior deve estar desnudado. O doente deve estar

corretamente sentado, possuindo as costas e o braço apoiados, os pés assentes no

chão e em silêncio, sendo que o braço utilizado deve ser aquele onde se registaram as

medições mais elevadas, sendo que logo, na primeira consulta é indispensável efetuar

a medição nos dois braços. Para uma correta avaliação da PA, esta deve ser medida

duas vezes por dia, de preferência de manhã e à tarde, entre quatro e sete dias

consecutivos. É importante que fique sempre registado o dia e a hora da medição (2).

Uma vez que estamos numa era digital, considera-se bastante importante a

utilização das novas tecnologias no auxílio da deteção de novos casos de HTA. Existem

várias aplicações para smartphones que oferecem uma panóplia de ferramentas, tais

como lembretes diários, a possibilidade de gravar todos os resultados obtidos das

medições, de forma a existir uma monitorização mais consistente. Também os

smartwatches vieram revolucionar o modo de diagnóstico, principalmente entre os

jovens e jovens adultos pois, são bastante úteis para medição instantânea da PA e

Page 28: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

28

também para a deteção de possíveis crises hipertensivas que possam surgir,

começando a ser reconhecidos como uma importante fonte de diagnóstico. Por outro

lado, alguns dos monitores utilizados em ambulatório medem continuamente a PA, em

intervalos de 15 a 30 minutos, durante o dia, e em intervalos de 15 a 60 minutos durante

o período noturno, o que se torna bastante desconfortável e limitativo para a habitual

rotina diária do doente (21).

O uso das ferramentas digitais facilita a comunicação entre o médico e o doente,

permitindo a correta gravação, o armazenamento e a transmissão dos dados obtidos.

Assim, é possível promover um estilo de vida mais saudável e também, melhorar o

acesso a prescrições médicas (25).

Page 29: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

29

5. Abordagem terapêutica

5.1. Objetivos

A curto prazo, o principal objetivo da terapêutica anti hipertensora é a redução dos

valores de PAS e PAD. Assim, esperam-se alcançar valores inferiores a 140 e 90

mmHg, desde que não existam quaisquer contraindicações e que estes sejam bem

tolerados pelo doente (12).

A terapêutica anti hipertensora tem como principais objetivos reduzir as taxas de

mortalidade e de morbilidade associadas ao elevado fator de risco que é a HTA,

principalmente em doentes que apresentam, concomitantemente, um grande risco de

DCV. Existem doentes que apresentam ainda, outros diagnósticos anteriores, tais como,

diabetes com presença de microalbuminúria, para os quais é extremamente importante

reduzir a PA para valores ainda mais baixos, que correspondem a 130/80 mmHg,

insuficiência cardíaca, nefropatia e, ainda, prevenção do AVC. Vários estudos têm

demonstrado que o uso de terapêutica adequada reduz o risco de ocorrência de AVC,

de enfarte do miocárdio e de insuficiência cardíaca, respetivamente, até 40%, 25% e

50% (26).

Quanto à terapêutica, esta pode subdividir-se em terapêutica farmacológica e

terapêutica não farmacológica. A primeira vai ter como objetivo principal, a redução da

PA, enquanto a segunda sugere alterações ao nível do estilo de vida.

5.2. Não Farmacológica

Assim que é obtido o diagnóstico de HTA, é importante incutir de imediato ao doente,

a importância da adoção de um estilo de vida mais saudável, para que este possa ser

iniciado o mais rapidamente possível. Existem três pontos cruciais onde é imprescindível

atuar: na alimentação, na atividade física e nos hábitos tabágicos (6).

É importante referir que em determinados casos, considerados não muito graves, a

terapêutica não farmacológica pode ser suficiente para que haja diminuição da PA. No

entanto, caso não se observem melhorias no estado de saúde, é necessário recorrer à

terapêutica farmacológica. Assim, esta não pode ser administrada isoladamente, ao

contrário da terapêutica não farmacológica (18).

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30

5.2.1. Cuidados na Alimentação

Ao nível da alimentação, é importante a adoção de uma dieta que seja variada e

equilibrada, na qual devem predominar o consumo de frutas, legumes e leguminosas.

Deve ainda ser pobre em gorduras, sejam elas totais ou saturadas. Também é

importante que o consumo de sal seja moderado, sendo que o valor ingerido não deve

ultrapassar os 5,8g por dia, podendo ser substituído por condimentos mais saudáveis,

tais como ervas aromáticas. Neste momento é ingerido diariamente, cerca de 10,7g de

sal, o que corresponde quase ao dobro das recomendações definidas pela OMS

(1,12,18). No entanto, é importante que esta restrição não seja excessiva, uma vez que

o seu défice leva à maior produção de renina e aldosterona, que consequentemente

levam ao aumento da PA. Deve diminuir-se a ingestão de alguns alimentos, como por

exemplo, carnes vermelhas, gema de ovo, queijo e manteiga, produtos de charcutaria e

refeições pré-cozinhadas (2).

Os nutrientes desempenham cada vez mais, um papel de destaque no combate à

HTA, tanto na prevenção, como no tratamento. Estudos recentes demonstram um

possível benefício no controlo da HTA, através da administração de suplementos

formados por vários componentes presentes nos alimentos, de entre os quais, vitamina

C, vitamina E, L-arginina e ácido alfa-lipóico. Relativamente à vitamina C, tem-se

verificado quanto mais elevada a sua concentração plasmática, menor é o risco de

atingir valores elevados de PA e, consequentemente, menor é o risco do aparecimento

de DCV, verificando-se que a sua relação é inversamente proporcional. Para que seja

possível que a PA se mantenha estabilizada, a concentração plasmática de ácido

ascórbico deve ser no mínimo, de 100 μmol/L. Em indivíduos diagnosticados com HTA,

o consumo diário de 500 mg/dia de vitamina C mostrou uma diminuição, tanto da PAS

como da PAD, respetivamente, de 4,85 mmHg e de 1,67 mmHg. Quanto à vitamina E,

os resultados do mesmo estudo demonstraram que, elevadas concentrações

plasmáticas de tocoferol estavam associadas a uma diminuição do risco da ocorrência

de HTA. Neste caso, a administração de 133 mg durante o período de 27 semanas

apenas diminui a PAS. Quanto à suplementação com L-arginina, esta vai ser benéfica

também para as grávidas, reduzindo o risco de pré-eclâmpsia, ou seja, um fenómeno

que ocorre na segunda metade da gravidez e se caracteriza pelo aumento da PA,

proteinúria, edema das extremidades e cefaleias, sendo também responsável pela

redução do risco de nascimento prematuro. A administração de uma dose entre 4 e 24

g, diariamente durante um período de quatro semanas, mostrou diminuição da PAS e

da PAD, respetivamente, em 5,4 mmHg e 2,7 mmHg, nos indivíduos previamente

diagnosticados com HTA e apenas da PAD na mulher grávida. Quanto ao ácido alfa-

Page 31: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

31

lipóico, os efeitos deste foram observados em associação a acetil-L-carnitina, sendo

administrados 200 mg do primeiro e 500 mg do segundo, 2 vezes por dia, durante um

período de 16 semanas. Após o término do tratamento, foi possível constatar a redução

da PAS e da PAD (1).

A alimentação é um dos fatores que vai influenciar tanto a diminuição, como a

manutenção do peso corporal, uma vez que o Índice de Massa Corporal (IMC) deve

estar contido num intervalo entre 18,5 e 25 kg/m2. Um parâmetro ainda mais significativo

do que o IMC é o perímetro abdominal, que deve ser inferior a 94 cm no homem e inferior

a 80 cm na mulher. Este consegue informar-nos acerca do risco de DCV (12,27).

A redução do consumo de potássio ou de cálcio aumentam o risco da ocorrência

de HTA (11).

O consumo de álcool deve ser moderado, ou até mesmo evitado, não devendo

exceder um copo de vinho tinto à refeição principal (2).

5.2.2. Atividade Física

Para a adoção de um estilo de vida saudável, não basta ter apenas cuidados ao

nível da alimentação, tendo esta de ser complementada com a prática regular de

atividade física, respeitando sempre as capacidades e os limites de cada indivíduo,

podendo ser classificada como uma medida preventiva, quando a HTA ainda não se

instalou, ou como uma medida terapêutica, no caso de esta já ter sido diagnosticada

(10).

Estudos demonstraram que mais de 5 horas de treino por semana reduzem a

incidência de HTA, nos anos de vida posteriores. Com a sua prática regular, existe

menor probabilidade de um indivíduo portador de pré-hipertensão arterial desenvolver,

de facto, HTA. Ao nível dos pré-hipertensos, a realização de exercícios aeróbicos trouxe

diminuições significativas, tanto na PAS como na PAD, sendo respetivamente de 4,3

mmHg e de 1,7 mmHg. Em indivíduos normotensos, estes exercícios apenas

conseguiram diminuir a PAD em 1,1 mmHg (10).

A prática de exercício permite reduzir, na maioria das vezes, os valores de PA. Os

exercícios maioritariamente recomendados são aqueles que englobam movimentos

cíclicos ou aeróbios, como por exemplo, natação, ciclismo, corridas ou caminhadas. De

modo a evitar a rotina e o sedentarismo, é aconselhada a prática de atividade física com

duração entre 30 e 60 minutos, quatro a sete dias por semana. Devem ser evitados os

exercícios que incluam um elevado esforço físico, tal como o levantamento de pesos

pois, estes fazem com que a PA aumente, pelo que não é o fim desejável (2,12,18).

Page 32: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

32

Para incrementar ainda mais a atividade física diária, é importante a utilização de

um pedómetro, de modo a promover a contagem diária de passos, sendo

recomendados, no mínimo, 10.000 passos por dia, para se verificarem efeitos redutores

na PAS e na PAD. Existem alguns mecanismos propostos para explicar o papel da

atividade física na resistência oferecida para o desenvolvimento da HTA (10), como se

pode observar na Tabela 4 .

Tabela 4 – Mecanismos propostos para explicar o papel da atividade física na resistência

oferecida para o desenvolvimento da HTA (10)

↓ Resistência vascular ↑ Função endotelial

↓ Rigidez arterial ↑ Sensibilidade à insulina

↓ Stress oxidativo ↑ Função renal

↓ Processos inflamatórios ↑ Manutenção das concentrações de Na+

↓ Massa corporal ↑ Sensibilidade dos barorrecetores

↓ Atividade SNS ↑ Atividade SNP

↓ Atividade SRAA ↑ Angiogénese

↓ Resposta vascular perante estimulação

dos recetores adrenérgicos e endotelina

↑ Arteriogénese

↓ Espessura das camadas média e íntima ↑ Compliance Arterial

↓ Stress Psicossocial ↑ Diâmetro do lúmen arterial

5.2.3. Cessação dos hábitos tabágicos

Segundo alguns dados da OMS, a percentagem de população fumadora situa-se

entre os 20 e os 26%, numa proporção de 3,5 homens fumadores por cada mulher

fumadora. As DCV são duas a quatro vezes mais recorrentes nos indivíduos fumadores,

devido aos cerca de quatro mil constituintes químicos do cigarro, com diversos efeitos

tóxicos e irritantes (18).

Também os fumadores passivos contribuem para a taxa de morbilidade e

mortalidade, devido ao risco de DCV pois, aumentam a incidência de HTA. Vários outros

estudos demonstram a existência de uma forte associação entre os fumadores passivos

e a elevada PA existente na população adulta. Verifica-se a existência de uma relação

linear entre o aumento da HTA e a constante exposição ao fumo do cigarro, sendo essa

relação mais evidente nos indivíduos do sexo masculino. A exposição diária aumenta

em cerca de 11% o risco desse indivíduo ser futuramente diagnosticado com HTA,

relativamente àqueles que estão expostos poucas ou nenhumas vezes. Para além dos

Page 33: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

33

fumadores ativos, também os fumadores passivos, mesmo que tenham uma pequena

exposição ao fumo do tabaco, sofrem um ligeiro aumento da PA, durante um intervalo

de tempo, que pode durar no máximo, 24 horas (28).

São os processos de stress oxidativo, alterações metabólicas e alteração da função

mitocondrial os responsáveis pela disfunção endotelial. Todavia, mesmo com a

cessação tabágica, o risco de DCV permanece elevado. Além disso, está

cientificamente comprovado que o consumo de tabaco exerce um efeito antagónico

sobre os fármacos anti hipertensores, reduzindo a sua resposta, devido à ocorrência de

interações metabólicas. Durante a exposição, ocorre uma produção exagerada do

radical superóxido, ao nível das mitocôndrias, provocando redução na produção de

óxido nítrico (NO). O simples ato de fumar faz com que a PA aumente, tanto em

indivíduos normotensos, como em hipertensos. Estudos anteriores demonstraram que

o stress oxidativo contribui para a HTA através do aparecimento de vasoconstrição,

disfunção renal e inflamação (29). A vasoconstrição acontece devido à libertação de

catecolaminas induzida pela nicotina, tendo esta, como principal metabolito, a cotinina,

sendo por isso, utilizada como um biomarcador de exposição ao tabaco. A elevação da

PA ocorre porque a nicotina vai funcionar como um agonista adrenérgico, existindo,

posteriormente, uma diminuição da PA, devido aos seus efeitos depressores (28). A

disfunção endotelial e a HTA estão associadas devido à hiperacetilação da enzima

superóxido dismutase (SOD), da qual resulta a sua inativação. A diminuição da

expressão da desacetilase mitocondrial sirtuina 3 (Sirt3) é o acontecimento responsável

por essa hiperacetilação, que aumenta a produção do radical superóxido, levando à

oxidação da cardiolipina, e também à inativação da produção de NO, a partir do

endotélio, o que contribui para o relaxamento endotelial, causador de alterações

estruturais irreversíveis, como se pode observar no anexo 2. Este relaxamento vai afetar

a resistência e a condução dos vasos (29).

A HTA é considerada um fenómeno multifatorial mediado por várias vias, de entre

as quais, a central, a inflamatória e a metabólica pois, o fumo do cigarro aumenta a

inflamação, estimula a atividade do SNS e causa alterações metabólicas, sendo todos

considerados como importantes fatores de risco na disfunção endotelial. É então, de

extrema importância combater esta adição pois, continua a ser um dos maiores flagelos

da atualidade, responsável pelos mais variados problemas de saúde da atualidade,

apesar de todas as medidas de alerta e dos mais variados meios de informação já

instituídos (29).

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34

5.3. Farmacológica

Alguns estudos demonstraram que a PA apenas é diminuída aquando da

administração da terapêutica farmacológica recomendada. Assim, as lesões dos vasos

sanguíneos têm menor tendência na sua progressão logo, as taxas de mortalidade e

morbilidade vão também diminuir (11). O objetivo da administração de fármacos é a

diminuição do DC e/ou da RVP (14). O conhecimento do mecanismo de atuação de

cada hipertensor, bem como dos seus locais de ação permite concluir acerca da sua

eficácia e dos seus efeitos tóxicos (7).

Figura 2 – Prescrição de fármacos antihipertensores, total e por sexos, em 2015 (8)

5.3.1. Inibidores da Enzima Conversora da Angiotensina (IECAs)

Desta classe de fármacos anti hipertensores fazem parte o captopril, enalapril,

perindopril, lisinopril, ramipril, quinapril, benazepril, cilazapril, trandolapril, fosinopril,

moexipril, imidapril e zofenapril. O sistema renina-angiotensina está presente nos

tecidos cardíacos, cerebrais, renais, nas células endoteliais dos grandes e pequenos

vasos e ainda nas células endoteliais pulmonares, controlando a quantidade de

angiotensina II que entra em circulação. Os IECAs poderão atuar em todos estes locais,

para além da angiotensina presente no plasma circulante. Vários estudos comprovam

que os níveis plasmáticos de renina estão relacionados com a eficácia deste grupo de

anti hipertensores (30,31).

Esta classe de fármacos tem como objetivo final impedir a formação de

angiotensina II a partir da angiotensina I, inibindo assim a ECA, ocorrendo

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35

posteriormente vasodilatação arteriolar e diminuição da RVP, sem que o DC permaneça

alterado. A diminuição da concentração plasmática de angiotensina II e a diminuição

dos seus recetores fazem com que as células constituintes do músculo liso, assim como

as paredes ventriculares do músculo cardíaco não entrem em colapso (14). A menor

produção de angiotensina II proporciona um aumento da dilatação arterial e venosa,

reduzindo ambas as pressões. A atividade adrenérgica é também diminuída, o que afeta

a libertação de neurotransmissores pelo SNS e a recaptação de noradrenalina. Atuam

também como diuréticos pois, promovem a excreção renal de sódio e água,

respetivamente designadas por natriurese e diurese, o que vai diminuir o volume

sanguíneo, o DC e consequentemente, a PA (31).

Simultaneamente, são também responsáveis pelo aumento dos níveis de

bradicinina, um péptido vasodilatador, uma vez que a cinase II é diminuída e é esta a

responsável pela sua degradação. Este facto contribui para o aumento do processo

vasodilatador e para o aparecimento de tosse seca, um dos efeitos secundários que

surge em cerca de 10% dos casos (30,31).

Em doentes hipertensos, os IECAs têm capacidade para proteger os órgãos-alvo,

e verifica-se que a sua administração prolongada está associada a uma redução

benéfica da hipertrofia ventricular esquerda (HVE). Normalmente os seus efeitos

adversos são bem tolerados, manifestando-se essencialmente sob o aparecimento de

tosse seca, irritante e não produtiva, e também de angiodema (30).

A taxa de incidência de angiodema é bastante superior em afro-americanos, quando

comparada com caucasianos (31). Outros efeitos que podem surgir são o aparecimento

de hipotensão, nomeadamente em portadores de IC e hipercaliémia, neste caso, devido

à menor produção de aldosterona. Podem também causar anemia, devido à supressão

da produção de eritropoietina e IR devido ao menor fluxo que percorre a artéria

glomerular aferente, uma vez que a artéria glomerular eferente dilata bastante. Não

devem ser utilizados nos segundo e terceiro trimestre de gravidez. Os seus efeitos

benéficos resultam da sua atividade pleiotrópica que pode ser observada através do

sistema circulatório (30,32).

5.3.2. Antagonistas dos Recetores da Aldosterona (ARAs)

Da classe dos ARAs fazem parte o losartan, candesartan, eprosartan, irbesartan,

valsartan, telmisartan e olmesartan. A aldosterona é uma hormona secretada pela

glândula adrenal, nomeadamente na zona glomerulosa. Esta hormona

mineralocorticóide é responsável pela reabsorção de sódio e água, assim como pela

excreção de potássio. A secreção de aldosterona é estimulada pela angiotensina II e o

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36

seu local de atuação são os recetores mineralocorticóides presentes nas células

epiteliais renais, principalmente as células do túbulo distal e do ducto coletor dos

nefrónios (33,34).

Figura 3 – Mecanismos de atuação dos ARAs, dos IECAs e dos Inibidores da renina (35)

Estes fármacos vão antagonizar os efeitos da angiotensina II, que se encontra nas

células musculares, células cardíacas, células renais e células vasculares da artéria

aorta, ao nível dos recetores de tipo 1 (AT1). As moléculas vão ligar-se de forma

competitiva a estes recetores, sendo menor a sua dissociação, o que leva a uma

redução da PA de longa duração. A ativação destes recetores é responsável pelo

crescimento e proliferação celular. Como a angiotensina II é um péptido vasoconstritor,

a atuação desta classe de fármacos leva a uma consequente vasodilatação, redução da

RVP e diminuição da PA. Neste caso, o DC não sofre alterações, do mesmo modo que

não se verifica uma hipotensão postural pois, os ARAs impedem o reflexo barorrecetor

e têm capacidade para proteger os órgãos-alvo. A sua utilização é também benéfica no

tratamento do edema refratário (30).

De um modo global, são considerados fármacos bem tolerados e, ao contrário dos

IECAs, não provocam tosse nem angiodema, uma vez que não estão envolvidos no

metabolismo da substância P. Alguns dos efeitos adversos são anúria, insuficiência

renal aguda e hipercaliémia. Podem ocorrer interações medicamentosas quando

administrados concomitantemente com suplementos de potássio, salicilatos, digitálicos,

AINEs, anticoagulantes e IECAs, que podem aumentar o risco de hipercaliémia. Estão

contraindicados nos segundo e terceiro trimestres de gravidez (30,34).

Inibidor da renina

IECA

ARA

Page 37: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

37

5.3.3. Diuréticos

Os diuréticos vão aumentar a excreção urinária de sódio e água, ou seja, são

responsáveis por aumentar a diurese e a natriurese, nomeadamente os tiazídicos e os

da ansa de Henle (30). Deste modo, diminuem o volume sanguíneo e

consequentemente o DC, não exercendo qualquer tipo de efeito ao nível da RVP, a

menos que o uso seja continuado. Estes vão atuar ao nível de diferentes constituintes

do sistema tubular renal, inibindo a reabsorção de sódio (14,36).

Segundo o mecanismo de Frank-Starling, a diminuição da pré-carga diminui o

volume de ejeção ventricular e o DC, exercendo assim o efeito desejado nos níveis de

PA. A pressão hidrostática capilar também é diminuída, facilitando a reabsorção do

fluído capilar (36,37).

É frequente a administração combinada de dois diuréticos, de modo a que o efeito

sinérgico potencie o efeito de atuação de cada um (14,36).

Figura 4 – Mecanismos de atuação dos diuréticos (38)

5.3.3.1. Tiazídicos

Os diuréticos tiazídicos são a hidroclorotiazida, a clorotalidona e a indapamida.

Atuam no nefrónio, ao nível da membrana apical e são a classe de diuréticos mais

utilizada, responsável pela inibição do transportador Na+-2Cl- no túbulo contornado

Page 38: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

38

distal. Assim, a reabsorção de sódio e de cloro é impedida. Apesar disso, são

considerados menos eficientes do que os diuréticos da ansa na excreção de água e

sódio, uma vez que existe uma menor fração de filtrado que será reabsorvido no túbulo

contornado distal, em relação ao túbulo contornado proximal. O seu mecanismo de ação

baseia-se na produção renal de prostaglandinas (36).

Tanto os diuréticos tiazídicos, como os diuréticos da ansa são responsáveis por

aumentar a concentração de sódio no túbulo contornado distal, o que

consequentemente, aumenta as perdas do ião potássio e do ião hidrogénio no ducto

coletor, podendo causar situações de hipocaliémia e de alcalose metabólica,

respetivamente. Estas perdas ocorrem devido à ativação do SRAA e devido à

diminuição do volume sanguíneo e da PA. Esta diminui os seus valores, uma vez que o

fluido extracelular é reduzido, em resposta ao aumento da excreção de sódio, de modo

a reduzir o retorno venoso e o DC. O aumento dos níveis de aldosterona é também,

responsável pelo aumento da reabsorção de sódio. Além dos efeitos adversos

anteriormente mencionados, podem surgir outros, tais como hipovolémia, hiponatrémia,

hiperglicémia e hipercolestrolémia, sendo contraindicados em pacientes previamente

diagnosticados com gota (30,36).

5.3.3.2. Poupadores de Potássio

Os diuréticos poupadores de potássio incluem dois tipos de substâncias: os

antagonistas competitivos dos mineralocorticóides, dos quais são exemplo a

espironolactona e a eplerenona, e os ligandos independentes da aldosterona, como por

exemplo, o amilorido e o triamtereno. Esta classe de fármacos, ao contrário dos

diuréticos tiazídicos e dos diuréticos da ansa de Henle, não exercem uma ação direta

nas bombas responsáveis pelo transporte de sódio. Alguns fármacos possuem

propriedades antagonistas, relativamente à aldosterona, atuando nos seus recetores

localizados no túbulo contornado distal, de forma a impedir a sua função, o que indica

que a reabsorção de sódio permanece ativamente inibida. Assim, é aumentada a

excreção de sódio e água, através do ducto coletor, na forma de urina, uma vez que a

reabsorção deste ião se encontra diminuída, estando também diminuídas as trocas dos

iões potássio e hidrogénio, pelo que existe a sua menor perda e um risco diminuído da

ocorrência de hipocaliémia, em comparação com os outros diuréticos (30,36).

Como a aldosterona não se pode ligar livremente, haverá menor produção de

proteínas reguladoras dos transportadores iónicos e das moléculas de água,

nomeadamente do canal de sódio epitelial (ENaC), da bomba Na+-K+ e da cinase

indutora dos glucocorticoides. Por outro lado, os ligandos independentes da aldosterona

Page 39: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

39

apenas conseguem bloquear o ENaC que se encontra localizado na membrana luminal

do ducto coletor, concluindo-se que possuem um menor efeito natriurétco. Podem

provocar o aparecimento de acidose metabólica, ginecomastia e problemas no trato

gastrointestinal, nomeadamente, úlceras pépticas. Em doentes portadores de IRC, IC

ou diabetes mellitus, ou ainda, que sejam administrados com suplementos de potássio,

IECAs, ARAs ou AINEs, é frequente o aparecimento de hipercaliémia. É também

possível o aumento dos níveis de testosterona, uma vez que a espironolactona impede

a ligação da di-hidrotestosterona aos recetores androgénicos (30,36).

5.3.3.3. da Ansa de Henle

Os diuréticos da ansa de Henle são a furosemida e a bumetanida. Esta subclasse

de fármacos vai atuar na membrana apical do nefrónio, inibindo o cotransportador Na+-

K+-2Cl- na porção ascendente da ansa de Henle e consequentemente, a reabsorção de

Na+ e Cl-, aumentando a concentração de sódio do filtrado glomerular quando este já

atingiu o túbulo contornado distal. Este facto faz com que o interstício fique hipotónico e

contribui para a diminuta absorção de água no ducto coletor. Assim, é aumentada a

excreção de água e de sódio, designadas respetivamente por diurese e natriurese,

aumentando simultaneamente a excreção de iões potássio e hidrogénio (30,36).

É então possível diminuir a HTA, uma vez que a redução do volume plasmático,

diminui o retorno venoso e o DC. Os diuréticos da ansa induzem, ainda, a síntese de

prostaglandinas pelo rim, aumentando o fluxo renal sanguíneo e sua redistribuição pela

zona cortical. Alguns dos efeitos adversos que podem surgir são hipocaliémia, alcalose

metabólica, hipomagnesémia, hiperuricémia, hipovolémia e ototoxicidade, todos eles

dependentes da dose de diurético administrada (30,36).

5.3.4. Bloqueadores dos Canais de Cálcio (BCCs)

O efeito anti hipertensor dos BCCs consiste no impedimento da entrada do ião cálcio

nas células que constituem o músculo liso vascular, através dos canais de cálcio do tipo

L dependentes de voltagem que se encontram ainda nos cardiomiócitos e nos nodos

sinusal e auriculoventricular, impedindo a despolarização celular. Existem vários tipos

de canais dependentes de voltagem, sendo designados como L, N, T, P e Q e, têm

como principal função, regular a entrada do respetivo ião que, consequentemente é

responsável pela contração do músculo liso e dos cardiomiócitos. Os BCCs são mais

efetivos quando atuam no músculo cardíaco, uma vez que a despolarização da

Page 40: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

40

membrana aumenta a sua afinidade, sendo que quanto mais prolongada no tempo é a

sua administração, maior é a probabilidade de causar dependência (6,14,30).

Assim, os bloqueadores produzem relaxamento do músculo liso vascular, pelo que

será diminuída a RVP, o que irá influenciar a PA, exercendo assim os seus efeitos

farmacológicos, sendo que o DC aumenta inicialmente, atingindo a normalidade a médio

e longo prazo. Simultaneamente, também causam diminuição da inotropia, cronotropia

e dromotropia, ou seja, da força, da frequência e da velocidade de condução cardíaca

(14,39). Algumas das suas principais características são o aumento do fluxo sanguíneo

e maior suprimento de oxigénio. Estes apenas têm capacidade para dilatar as arteríolas

aferentes, uma vez que as arteríolas eferentes não possuem canais do tipo L,

aumentando deste modo a pressão capilar glomerular, acelerando a glomerulosclerose

(30). De modo a atingir os objetivos pretendidos mais rapidamente, é possível combinar

um BCC com um IECA. Verifica-se que a diminuição da PA é mais acentuada nos

hipertensos do que nos normotensos, quando ocorre bloqueio dos canais do tipo L (40).

Quando se trata de BCC de longa duração, estes possuem a capacidade de

melhorar a oxigenação do miocárdio, devido aos seus efeitos vasodilatadores, além de

atuarem como fármacos anti-hipertensivos. Possuem também um efeito antioxidante,

inibem a síntese de endotelina I e a contratilidade vascular e, interagem com o óxido

nítrico. Possuem também efeito natriurético, não existindo alterações no fluxo de plasma

renal ou na TFG. Esta classe farmacológica é a mais recomendada para adultos

caucasianos com mais de 55 anos ou para indivíduos de raça negra pertencentes a

qualquer faixa etária (40).

Os BCCs subdividem-se em dois diferentes grupos, que diferem não só na sua

estrutura química, mas também ao nível da sua seletividade. São eles os BCC di-

hidropiridínicos, como a nifedipina e a amlodipina e os BCC não di-hidropiridínicos,

como o verapamil e o diltiazem, que interagem em diferentes locais nos canais de cálcio

dependentes de voltagem e desempenham diferentes ações, tanto a nível vascular

como a nível cardíaco. (39).

Os seus processos metabólicos ocorrem no fígado e cada uma destas subclasses

possui, no mínimo, três recetores com elevada especificidade no componente α do canal

de cálcio, influenciando-se mutuamente (41).

5.3.4.1. Di-hidropiridínicos

Estes são os BCCs que possuem maior seletividade ao nível do músculo liso

vascular, tendo capacidade para diminuir a RVP e a PA. Por estas razões, são

maioritariamente utilizados durante a abordagem terapêutica da HTA estável ou crónica.

Page 41: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

41

Estes bloqueadores impedem a contração provocada pelo ião cálcio presente no meio

extracelular, nomeadamente ao nível da despolarização das artérias, uma vez que a

sua ligação é bastante específica para os recetores dos canais de cálcio dependentes

de voltagem. Como têm maior capacidade em aumentar a frequência cardíaca, originam

um maior consumo de oxigénio (30,40).

Alguns exemplos destes fármacos são amlodipina, felodipina, isradipina,

nicardipina, nifedipina, nimodipina e nitrendipina. Apesar de serem bem tolerados,

podem provocar hipotensão acentuada, edema, cefaleias, taquicardia reflexa devido à

ativação dos barorrecetores do SNS, edema dos membros inferiores, como resposta do

gradiente transcapilar ao extravasamento de fluído, obstipação e hipertrofia gengival.

Estas respostas reflexas são diminuídas aquando da utilização de di-hidropiridínas de

longa duração (30,40).

5.3.4.2. Não Di-hidropiridínicos

Os fármacos que fazem parte deste grupo são utilizados nas mesmas situações do

que os do grupo anterior, possuindo ainda alguns efeitos adicionais. Pertencente ao

grupo das fenilalquilaminas, existe o verapamil que possui elevada seletividade para o

miocárdio. No grupo das benzotiazepinas, existe o diltiazem que possui uma

seletividade média para os canais de cálcio. Este fármaco vai exercer uma ação

depressora ao nível da função cardíaca e provocar vasodilatação dos vasos

sanguíneos, reduzindo assim a PA.

Alguns dos seus efeitos adversos são bradicardia acentuada, alterações na

condução elétrica através dos nodos, nomeadamente, do nodo atrioventricular e

diminuição da inotropia, não devendo, por isso, ser administrados a pacientes

portadores de IC, bradicardia ou dificuldades na condução dos impulsos elétricos. É de

extrema importância que estes fármacos não sejam administrados simultaneamente a

um bloqueador β-adrenérgico, devido à maior probabilidade depressora da atividade

elétrica e mecânica do coração, desencadeando um efeito sinérgico, assim como a

possível diminuição do metabolismo de outros fármacos (40,41). São CI em casos de

bloqueio atrioventricular ou disfunção ventricular esquerda (30).

5.3.5. Bloqueadores β-adrenérgicos

As propriedades farmacodinâmicas dos bloqueadores β-adrenérgicos, também

designados por fármacos simpáticolíticos, dependem da sua cardiosseletividade,

Page 42: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

42

atividade agonista parcial e propriedades vasodilatadoras. Estes são agonistas dos

recetores adrenérgicos, atuando por um mecanismo competitivo com os ligandos

adrenalina e noradrenalina, impedindo a ligação de ambos, de modo a diminuir a ação

do SNS. A primeira geração de bloqueadores β-adrenérgicos é não seletiva, o que indica

que atuam tanto nos recetores beta 1, como nos recetores beta 2. A segunda geração

possui maior cardiosseletividade para os recetores beta 1, apesar desta estar

dependente da concentração pois, quanto mais elevadas as doses administradas, maior

é a probabilidade da perda de seletividade (30,42).

Quanto ao seu mecanismo de ação, o principal local de ligação ocorre no tecido

nodal, onde se encontra o sistema de condução dos impulsos elétricos

cardiovasculares, sendo responsáveis pela diminuição da cronotropia, inotropia e

dromotropia, que se referem respetivamente a frequência cardíaca, contratilidade e

condução elétrica. Deste modo vão diminuir a PA por diminuírem o DC que se encontra

elevado, apesar deste efeito não ser tão eficaz, em comparação com a administração

de outras classes de fármacos anti hipertensoras pois, existe um aumento da RVP

moderado pelos reflexos barorrecetores, de modo a compensar essa diminuição

(14,42).

Diferentes estudos mostraram que a administração continuada de bloqueadores β-

adrenérgicos, em relação à sua utilização esporádica, diminui a PA, podendo atingir os

objetivos pretendidos a longo prazo. Esta situação é possível, pela consequente menor

libertação de renina e, também, pelas alterações decorrentes nos SNC e SNP. Tal como

no SRAA, o decréscimo da concentração plasmática de renina inibe os níveis séricos

de angiotensina II e de aldosterona, ocorrendo uma perda acentuada de sódio e água,

o que diminui a PA. Estes fármacos são, sobretudo, aconselhados em situações de HTA

causada por stress emocional pois, este é o responsável pela maior estimulação do SNS

(42).

Os vasodilatadores são agonistas parciais dos recetores β-adrenérgicos e têm

capacidade de potenciar a atividade do NO, sendo responsáveis pela redução da

frequência cardíaca e do DC. Os fármacos sem propriedades vasodilatadoras

apresentam menor capacidade para diminuir a RVP e a atividade do SNS, contudo,

diminuem a lesão dos órgãos alvo (30).

Alguns dos efeitos secundários desta classe farmacológica são bradicardia,

hipotensão, IC, bloqueio da condução no nodo atrioventricular e menor resistência ao

exercício físico. Os bloqueadores β-adrenérgicos não seletivos não são aconselhados a

pacientes asmáticos ou portadores de DPOC, uma vez que podem aumentar a

broncoconstrição, dado que o SNS é um dos responsáveis pela inervação dos

bronquíolos. Também não devem ser utilizados em doentes portadores da diabetes por

Page 43: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

43

ocultarem sinais de hipoglicémia induzida pela insulina, tais como taquicardia. É

necessário monitorizar os efeitos quando são concomitantemente administrados com

BCC, devido ao seu efeito sinérgico, responsável por depressão elétrica e mecânica do

miocárdio. Por último, podem ocorrer alterações ao nível do SNC, dado que o fármaco

tem capacidade para atravessar as membranas lipossolúveis, provocando alucinações,

insónias ou depressão (30,42).

5.3.6 Inibidores da renina

Neste momento, o único inibidor da renina utilizado no tratamento da HTA é o

aliscireno, um fármaco não peptídico e ativo por via oral que possui elevada seletividade

para inibir a renina humana. Após a sua administração, a concentração plasmática de

renina sofre um aumento acentuado, sendo mais elevado, quando comparado com a

administração de IECAs ou ARAs. Não foram detetados quaisquer efeitos benéficos na

morbilidade cardiovascular ou renal, nem na redução dos efeitos fatídicos causados pela

HTA. A sua administração pode ser em monoterapia ou em associação com um diurético

tiazídico ou um BCC. A utilização do aliscireno está contraindicada em grávidas, em

pacientes com hipercaliémia, edema angioneurótico prévio e estenose bilateral da

artéria renal (30).

5.3.7 Bloqueadores dos recetores α-adrenérgicos

Desta classe de fármacos antagonistas fazem parte a prazosina, a terazosina e a

doxazosina. Estes fármacos têm um papel bastante eficiente na diminuição da PA, o

que se verifica quando a medição é efetuada enquanto o doente se encontra de pé ou

durante a prática de exercício físico. Quando a longo prazo se verifica a redução dos

valores de PA, esta não é acompanhada por alterações no DC ou na frequência

cardíaca (30).

Uma das consequências mais desfavoráveis no uso dos bloqueadores α-

adrenérgicos é a ocorrência do fenómeno de primeira dose, o qual representa o

aparecimento de hipotensão ortostática sintomática severa repentina, que ocorre

durante cerca de 90 minutos após a primeira toma, ou quando a dose aumenta

rapidamente. Assim, o fármaco deve ser administrado à hora de deitar ou com o auxílio

do GITS (Gastro-Intestinal Therapeutic System) que promove uma libertação

prolongada durante 24 horas, diminuindo exponencialmente a taxa de síncope (30).

Page 44: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

44

5.3.8 Agentes de ação central

Nesta classe de fármacos, o anti-hipertensor mais utilizado é a clonidina, um

agonista α2-adrenérgico, a rimelnidina, que tem como alvo os recetores de imidazolina

e a metildopa. Todos são contraindicados em pacientes com depressão severa (30).

A clonidina vai estimular os recetores α2-adrenérgicos localizados no tronco

cerebral, o que diminui o efluxo simpático através do SNC. Assim, a diminuição dos

níveis de norepinefrina no plasma é responsável pelo efeito hipotensivo, sendo que a

clonidina tem também capacidade para diminuir o DC e a RVP. Alguns dos efeitos

indesejáveis são sedação, fadiga, bradicardia, diminuição da líbido e xerostomia (30).

A rilmenidina possui uma elevada seletividade para os recetores não adrenérgicos

da imidazolina que se situam no interior do núcleo reticular lateral, quando comparada

com a clonidina. Classificada como dependente da dose, esta diminui a PA e tem um

efeito vasodilatador, provocando a diminuição da RVP, devido à menor atividade do

SNS. Este é o agente de ação central com menos efeitos adversos (30).

Por fim, quanto à metildopa, esta vai eliminar as reservas neuronais de

norepinefrina. As moléculas de fármaco são convertidas em α-metil-norepinefrina, a qual

é armazenada nas vesículas dos neurónios adrenérgicos, ocupando assim o local da

norepinefrina, pelo que, aquando das descargas neuronais, ocorre a libertação de

metildopa. Os efeitos adversos incluem sedação, fadiga, xerostomia, redução da líbido,

parkinsonismo, hiperprolactinemia, hepatotoxicidade e anemia hemolítica (30).

5.3.9 Vasodilatadores de ação direta

Os fármacos pertencentes a esta classe, que são mais frequentemente prescritos

correspondem ao minoxidil e à hidralazina. Os seus efeitos adversos mais comuns são

o aparecimento de taquicardia e edema (30).

O metabolito ativo do minoxidil é a sua forma sulfatosa com capacidade para abrir

os canais de potássio dependentes da adenosina trifosfato que se encontram nas

células vasculares de músculo liso, originado o seu relaxamento. Existe ativação do

SNS e do SRAA, o que leva a retenção de fluídos, causando edema, o que aumenta

ligeiramente a PA. Este fármaco não é aconselhado aquando a presença de problemas

cardiovasculares, excetuando os casos de HTA severa, após a administração de um

diurético, onde é utilizado como um fármaco de terceira linha (30).

A hidralazina atua como um vasodilatador direto ao nível das arteríolas, o que diminui a

RVP. Tal como o minoxidil, também vai ocorrer ativação do SNS e do SRAA. Alguns

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45

dos efeitos adversos são edema e taquicardia, sendo que esta é dependente da dose e

pode impedir a diminuição da PA. Pode surgir também anemia hemolítica, vasculite e

glomerulonefrite. É importante mencionar que a hidralazina deixou de ser utilizada para

o tratamento da HTA a longo termo, sendo no entanto, útil em situações de HTA

gestacional e de HTA severa na grávida, quando coadministrado com o bloqueador β-

adrenérgico.

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46

6. Normas de Orientação Clínica

A existência de guidelines e protocolos previamente definidos torna o processo de

seleção da terapêutica mais acessível para os clínicos, facilitando a compreensão de

todas as etapas que podem ser utilizadas no tratamento da HTA. No entanto, é

importante que as opções terapêuticas se adequem às características do paciente,

tendo em conta o seu historial clínico, os possíveis fatores de risco e a monitorização

dos valores de PA. Assim, as normas existentes podem ser adaptadas pelos

profissionais de saúde, considerando as circunstâncias individuais de cada doente. Elas

englobam as várias etapas do processo de decisão, desde a prevenção, deteção,

avaliação até ao tratamento (6,43).

Os fármacos que são inicialmente recomendados, ou seja, aqueles que são

considerados como de primeira linha são os diuréticos tiazídicos, os BCCs, os IECAs e

os ARAs (6).

6.1. Normas da Direção Geral de Saúde (DGS)

Segundo as normas da DGS, todos os pacientes que são diagnosticados com HTA

de grau 3, e também todos os diagnosticados com grau 1 e 2, mas com risco CV alto ou

muito alto, são aconselhados a iniciarem a terapêutica farmacológica o mais

rapidamente possível (12).

Perante uma situação de HTA, classificada como sendo de risco acrescido baixo ou

moderado, deve optar-se pela administração de um dos fármacos de primeira linha: um

diurético tiazídico ou análogo, um IECA, um ARA ou um BCC de longa duração. Pode

também optar-se por fazer uma associação entre um diurético e um IECA ou um ARA

(12).

Por outro lado, quando estamos perante o diagnóstico de HTA, classificada como

sendo de risco acrescido, mas neste caso, alto ou muito alto, deve optar-se por uma

associação de dois fármacos que possuam mecanismos diferentes, mas que se

complementem entre si: deve optar-se por um diurético tiazídico em combinação com

um IECA ou um ARA ou por um BCC, também em combinação com um IECA ou um

ARA. Quando o doente tem uma doença coronária associada, como por exemplo, IC ou

arritmia cardíaca, ou também quando os jovens possuem uma atividade simpática mais

acentuada do que o habitual, recomenda-se a utilização de bloqueadores β-

adrenérgicos, devido ao seu potente efeito de vasodilatação (12).

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47

Quando se utiliza uma associação de dois fármacos e mesmo assim a PA não atinge

os valores pretendidos, é necessário acrescentar um novo fármaco de uma classe

diferente das já utilizadas. Assim, se a associação inicial constar de um diurético com

um IECA, deve adicionar-se um BCC de ação prolongada. Caso a associação inicial

seja um BCC e um IECA, deve optar-se por um diurético (12).

Perante uma emergência hipertensiva, não estão ainda comprovados os benefícios

da diminuição abrupta da PA, podendo este fenómeno ser causa de isquémia, tanto a

nível do miocárdio como a nível cerebral pois, assim a perfusão tecidual pode ser

mantida pelo mecanismo de retroalimentação negativa. Neste caso, o objetivo do

tratamento é atingir valores de PAS e PAD iguais ou menores do que 160 e 100 mmHg,

respetivamente (12).

Quando a TFG atinge o valor limite de 30 a 40 mL/min, deve ser feita uma alteração

na prescrição, devendo alterar-se o diurético tiazídico ou análogo, por um diurético da

ansa (12).

6.2. Normas Internacionais

Segundo as normas da 2017 Guideline for the Prevention, Detection, Evaluation and

Management of High Blood Pressure in Adults, redigidas pelo American College of

Cardiology (ACC), a HTA apenas se subdivide em quatro categorias: normal, elevada,

estágio 1 e estágio 2. De acordo com o ACA, na terapêutica de primeira linha do primeiro

estágio de HTA devem ser incluídos os diuréticos tiazídicos, os BCCs e os IECAs ou os

ARAs. Assim, no segundo estágio, devem ser associados dois fármacos destas

diferentes classes, exceptuando a conjugação entre IECAs e ARAs (44,45).

De acordo com a European Society of Cardiology (ESC) e com European Society of

Hypertension (ESH), as guidelines correspondentes ao ano de 2007 aconselham a

administração de fármacos anti hipertensores a partir do estágio 1 de HTA. Em

pacientes com um risco de HTA baixo a moderado, é necessário reduzir a PAS e a PAD

para valores iguais ou inferiores a 140 mmHg e 90 mmHg, respetivamente. Em

hipertensos de elevado risco, os valores que se pretendem alcançar são,

respetivamente de 130 mmHg e 80 mmHg (46,47).

Segundo a guideline do National Institute for Health and Care Excellence (NICE),

durante a primeira etapa de tratamento da HTA são administrados IECAs como primeira

opção, a indivíduos portadores de diabetes mellitus tipo 2 ou que possuam menos de

55 anos e ARAs, caso os primeiros não sejam bem tolerados, nunca devendo ser

administrados em simultâneo. Os BCC são administrados como primeira opção em

indivíduos com idade superior a 55 anos ou indivíduos originários de raça africana e

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48

quando não são bem tolerados, podem ser substituídos por diuréticos tiazídicos. Caso

a HTA não consiga ser devidamente controlada na primeira etapa do tratamento, é

necessário passar para a segunda etapa e adicionar outro fármaco. Caso o paciente

faça como terapêutica habitual um IECA ou um ARA, pode ser adicionado um BCC ou

um diurético tiazídico. Caso a sua terapêutica inicial seja um BCC, é possível adicionar

um IECA, um ARA ou um diurético tiazídico. Antes de passar para a terceira etapa do

tratamento, é importante analisar se as doses a que os doentes estão sujeitos estão

corretamente administradas e se estes possuem uma boa adesão à terapêutica. Ainda

assim, caso a HTA demonstre níveis alterados é necessário administrar a combinação

de um IECA ou um ARA, com um BCC e um diurético tiazídico. Se, mesmo com esta

combinação terapêutica, a PA não atingir valores normais, estamos perante uma

situação de HTA resistente. Nestes casos, é necessário adicionar um quarto agente

anti-hipertensivo. Assim, deve ser administrada espironolactona, a não ser que a TFG

se encontre reduzida, devido ao elevado risco de hipercaliémia. Por vezes, é necessário

considerar um bloqueador α ou β-adrenérgico, se estes possuírem os níveis séricos de

potássio superiores a 4,5 mmol/L (48).

Estudos demonstraram a maior efetividade da espironolactona, relativamente ao

bisoprolol e à doxasozina. A clorotalidona é mais efetiva nos indivíduos de raça negra

como terapêutica inicial (6).

6.3. Critérios de Seleção de Fármacos

Habitualmente, quando o doente ainda se encontra no grau 1 de HTA, opta-se por

incentivá-lo a fazer alterações no seu estilo de vida, aguardando-se cerca 4 a 6 meses

para verificar se ocorreram melhorias no seu estado clínico. A escolha entre um dos

fármacos de primeira linha baseia-se nos dados clínicos e exame físico do doente. Os

bloqueadores β-adrenérgicos são menos eficazes na redução do risco de enfarte, um

dos motivos pelos quais não são considerados fármacos de primeira linha, a não ser

que o historial clínico do doente assim o implique (16).

Durante a prescrição, o clínico deve optar pelos medicamentos genéricos,

relativamente aos de marca, sempre que apropriado pois, estes têm um custo mais

acessível. Outro aspeto importante é a seleção de fármacos que necessitem de apenas

uma toma diária, de modo a melhorar a adesão à terapêutica e diminuir a ocorrência de

erros de administração. A HTA sistólica isolada deve possuir um tratamento semelhante

à HTA sistólica e diastólica e se for eleita outra opção terapêutica, esta deve ser

devidamente justificada e monitorizada (16).

Page 49: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

49

6.3.1. Monoterapia

A monoterapia é selecionada numa fase inicial da doença e consiste na escolha do

fármaco que parece mais apropriado para a situação clínica em questão. Durante esta

fase do tratamento, apenas é utilizada uma das classes existentes de anti hipertensores,

sendo estabelecida uma dose, de modo a obter uma resposta-alvo por parte do

paciente. Como na grande maioria das vezes, não é possível diminuir a PA para os

valores desejados, mesmo quando é utilizada a dose máxima do fármaco, por vezes é

necessário substituir o princípio ativo, ou ainda, adicionar outro ao plano terapêutico.

Em pacientes portadores de diabetes mellitus ou de IR é imprescindível a monitorização

regular para diminuir a possibilidade de lesão de órgãos (41).

Quando os objetivos propostos não são atingidos, quanto aos valores da PA, a partir

do grau 2 de HTA é possível, em vez de apenas aumentar a dose do fármaco que está

a ser administrado, iniciar-se uma associação entre dois fármacos ou, em alternativa,

uma preparação combinada. Assim, adiciona-se uma nova classe farmacológica

durante o tratamento, desde que estes possuam mecanismos de ação diferentes, dado

que a monoterapia anti-hipertensiva pode não ser suficiente para cobrir todas as

etiologias possíveis. A combinação tripla é proposta para pacientes com grande

dificuldade em atingir os seus objetivos, mesmo utilizando já dois fármacos distintos

(16,40).

6.3.2. Terapia combinada

A combinação preferencialmente recomendada é a junção de um diurético tiazídico

ou de um BCC com um IECA ou um ARA. A terapia combinada pode ser aplicada desde

cedo, quando o paciente se encontra, ainda nos graus 1 ou 2 de HTA, caso não sejam

observadas melhorias nos valores de PA. A prescrição de dois ou mais fármacos

permite o aumento dos benefícios no controlo da PA pois, é possível administrar doses

mais baixas de cada fármaco, havendo menor probabilidade de surgirem efeitos

adversos (6).

Page 50: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

50

Figura 5 – Combinações de fármacos anti-hipertensores: linha verde contínua

(combinações preferenciais); linha verde a tracejado (combinações aceitáveis); linha preta a

tracejado (combinações menos usuais); linha vermelha contínua (combinações não usuais) (46)

Segundo as guidelines europeias, correspondentes ao ano de 2018, redigidas pela

ESC e pela ESH, ao iniciar-se o tratamento da HTA, é comum utilizar-se a combinação

de dois fármacos pertencentes a diferentes classes, de forma a que a PA atinja os seus

valores normais mais rapidamente. As combinações preferencialmente utilizadas são

um IECA, juntamente com um BCC ou um diurético. Se existir insuficiência cardíaca ou

tiver ocorrido angina de peito, existe indicação para a administração de um bloqueador

β-adrenérgico em combinação com um diurético. Apenas se utiliza um ARA, um BCC e

um diurético, como combinação tripla, quando os valores de PA não baixam perante a

utilização de uma combinação dupla. Numa situação de HTA resistente, pode adicionar-

se espironolactona ao tratamento. Apenas se optam pelas outras classes de fármacos,

quando nenhuma exerce efeitos benéficos (47).

Tabela 5 – Terapia combinada utilizada no tratamento da HTA (47)

Terapêutica inicial

Combinação dupla

IECA ou ARA + BCC ou diurético

Segundo etapa

Combinação tripla

IECA ou ARA + CCB + diurético

Terceira etapa

Combinação tripla + Espironolactona

Hipertensão Resistente

IECA ou ARA + CCB + diurético +

espironolactona

Bloqueadores β-adrenérgicos são utilizados aquando de uma indicação específica

Page 51: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

51

6.4. Populações especiais

Raça Negra

Os indivíduos originários de raça negra obtêm uma melhor resposta aos diuréticos

tiazídicos e aos BCCs. A administração de IECAs, embora diminua a produção de

angiotensina II, aumenta os níveis de bradicinina, que consequentemente provoca

vasodilatação e aumenta a permeabilidade vascular, causando angiodema e tosse.

Vários estudos demonstraram que 13% da população de raça negra residente nos

Estados Unidos da América (EUA) possuem excesso de peso e IMC ≥ 30, elevada

sensibilidade ao sal e baixos níveis plasmáticos de renina. Apesar de possuírem uma

função vascular normal, ocorre uma diminuição noturna da PA. Nesta população existe

maior prevalência e da HTA, o que pode correlacionar-se com diferentes fatores, como

a etnia ou as condições socioeconómicas (6,49).

Grávidas

A HTA pode apresentar-se sob vários tipos, incluindo a HTA crónica, pré-eclâmpsia

(PE) e HTA gestacional. A primeira é diagnosticada antes do período gestacional ou

antes das vinte semanas de gestação. Existe PE, quando a grávida sofre de proteinúria,

com um valor igual ou superior a 300 mg/dL por cada 24 horas. Considera-se um caso

de HTA gestacional, quando após as vinte semanas, a PAS e a PAD se encontram,

respetivamente, com valores superiores a 140 mmHg e 90 mmHg. Como medidas de

prevenção, está descrita a administração de doses reduzidas de ácido acetilsalicílico

(AAS) e/ou de suplementos enriquecidos em cálcio (50).

Durante a gravidez, apenas se opta pelo tratamento farmacológico, quando a HTA

é classificada como sendo grave, uma vez que a duração do período gestacional

apresenta um risco cardiovascular reduzido. Deste modo, é também possível evitar a

ocorrência de hipotensão na perfusão uteroplacentária, o que seria a causa de

complicações durante o desenvolvimento do feto. A terapêutica geralmente

recomendada, passa pela utilização de α-metildopa, um agonista α-adrenérgico, de

labetalol, um agonista α-adrenérgico e β-adrenérgico, de BCC e de bloqueadores β-

adrenérgicos. Verifica-se que a partir do segundo trimestre de gravidez, ocorre uma

diminuição fisiológica dos níveis de PA, sendo que no terceiro trimestre é possível

alcançar os valores habituais que a mulher apresentava, antes de engravidar (51).

Page 52: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

52

Durante o tratamento com BCC, não deve ser coadministrado sulfato de magnésio,

devido ao efeito sinérgico que este pode despoletar. É desaconselhada a administração

de IECAs, ARAs e inibidores da renina, devido aos seus efeitos nefrotóxicos (50,51).

Crianças

Nesta faixa etária é importante incutir desde cedo as medidas de prevenção da HTA

e avaliar a presença de eventuais fatores de risco, uma vez que a administração

terapêutica é utilizada somente em casos considerados graves, de modo a não

comprometer o seu desenvolvimento e qualidade de vida (49,52).

Nas crianças ocorre elevada prevalência de HTA secundária devido a doença renal.

Perante a etiologia secundária, é preferível a utilização de diuréticos. Perante uma

etiologia primária, os fármacos mais utilizados nesta faixa etária são os IECAs e os

BCCs, uma vez que são aqueles que provocam menos efeitos indesejáveis, contudo a

utilização de IECAs deve ser corretamente monitorizada em jovens que se encontrem

em idade fértil, uma vez que apresentam efeitos teratogénicos (32,52,53).

Idosos

A maioria da população idosa apresenta um aumento mais acentuado, ou mesmo

isolado da pressão sistólica, existindo maior correlação com eventos cardiovasculares.

É importante efetuar a estratificação do risco cardiovascular e avaliar a pré-existência

de possíveis doenças e as consequentes interações medicamentosas que possam

ocorrer. Neste caso, o objetivo terapêutico é que ocorra uma diminuição gradual da PA

para valores inferiores a 140 e 90 mmHg, correspondendo respetivamente à PAD e

PAS (49).

Também a população idosa, assim como os indivíduos de raça negra, apresentam

melhorias significativas quando tratados com diuréticos tiazídicos ou BCCs, em regime

monoterapêutico, em relação aos IECAs e aos ARAs, uma vez que a sua sensibilidade

aquando da ingestão de sódio diminui. Os bloqueadores β-adrenérgicos mostram menor

efetividade nos idosos (6).

Diabetes

No caso dos indivíduos portadores de Diabetes mellitus, é necessário atingir valores

mais reduzidos de PA. Segundo a American Diabetes Association (ADA), a PAS e a

Page 53: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

53

PAD devem ser, respetivamente, iguais ou menores a 120 e 80 mmHg, uma vez que

doentes com estas complicações apresentam maior probabilidade de sofrer um AVC.

Caso não seja possível efetuar uma redução tão acentuada, é preferível estabelecer um

limite mínimo de PAS de 130 mmHg, utilizando o menor número de combinações

possível, de modo a reduzir também a probabilidade de ocorrência de efeitos adversos.

As classes farmacológicas mais utilizadas são os IECAs e os ARAs, sendo estes mais

aconselhados em doentes com albuminúria, mas nunca num tratamento em simultâneo

pois, está desaconselhada a junção de dois membros do SRAA. No entanto, os BCCs

e os diuréticos também estão indicados, se ambos forem administrados em simultâneo

(6,40,43).

Como se verifica, todas as classes de fármacos podem ser utilizadas para o

tratamento da HTA na diabetes, no entanto, os diuréticos devem ser usados em doses

menores do que o habitual. Se estivermos na presença de microalbuminúria ou

proteinúria, é importante bloquear o SRAA, utilizando um IECA ou um ARA que vão

diminuir a progressão da doença renal. Devido à presença de uma possível

disautonomia, que se caracteriza pelo anormal funcionamento do SNA, responsável

pelo controlo das funções inconscientes que ocorrem no corpo humano, a PA nos

diabéticos deve ser medida em três posições: o indivíduo deve estar deitado, sentado e

de pé (49).

Insuficiência Cardíaca com e sem fração sistólica preservada

A HTA tem capacidade de provocar alterações estruturais ao nível do ventrículo

esquerdo, podendo ou não alterar a fração de ejeção sanguínea (49).

Nos casos em que o doente possui a fração de ejeção diminuída, os fármacos

considerados de primeira linha são os IECAs, os ARAs, os diuréticos e os bloqueadores

β-adrenérgicos. Não são recomendados os BCC não di-hidropiridínicos, assim como a

combinação de um IECA com um ARA. Por outro lado, quando a fração de ejeção ainda

se encontra preservada, os fármacos maioritariamente aconselhados são os diuréticos,

devido ao elevado volume sanguíneo presente no organismo. Neste caso, os diuréticos

da ansa de Henle apenas devem ser utilizados quando o paciente é concomitantemente

portador de insuficiência renal (40,43,49).

Page 54: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

54

Doença Coronária Isquémica

Quando os pacientes sofreram previamente de um enfarte do miocárdio, os

fármacos que são considerados de primeira linha são os bloqueadores β-adrenérgicos

e os IECAs, sendo os primeiros também recomendados perante um historial de angina

de peito, podendo ou não ser combinados com BCC di-hidropiridínicos. Também é

possível a combinação de um diurético tiazídico para melhor controlo da PA (43).

AVC

Tanto a administração de IECAs, como BCCs, diuréticos e bloqueadores β-

adrenérgicos contribuem para a prevenção do AVC em doentes portadores de HTA.

Caso o doente tenha sofrido um AVC, a diminuição da PA deve ser progressiva e lenta,

uma vez que há o risco de redução da perfusão cerebral e após a passagem da fase

aguda, os níveis da PAS e PAD devem ser inferiores, respetivamente, a 140 e 90 mmHg

(49).

Insuficiência Renal Crónica

Uma elevada percentagem dos portadores de IRC, quando necessitam de efetuar

terapêutica renal de substituição, como hemodiálise ou transplantação renal, também

padecem de HTA (49).

Apesar de poderem ser utilizadas todas as classes de fármacos anti hipertensores,

o tratamento deve iniciar-se com um IECA ou, caso este não possa ser administrado,

um ARA, de modo a evitar a consecutiva progressão da doença renal, sendo também

recomendado para doentes que sofram de albuminúria acima dos 300 mg por dia. Além

do IECA, por vezes é necessário fazer uma associação com um diurético, estando a

escolha deste, dependente da clearence da creatinina, administrando ainda um

bloqueador β-adrenérgico, como o propanolol (43,49). Se previamente existir estenose

da artéria renal bilateral, a administração de IECAs pode levar a insuficiência renal pois,

o bloqueio da formação de angiotensina II leva a uma diminuição da TFG (31).

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55

7. Papel do Farmacêutico

Dado que a HTA é um problema de saúde pública, para que seja devidamente

controlada, é importante que exista uma boa comunicação entre todos os profissionais

de saúde envolvidos no acompanhamento do doente. É do conhecimento geral que o

farmacêutico comunitário é, muitas das vezes, a primeira escolha do paciente para

eventuais aconselhamentos ou esclarecimentos, uma vez que este se encontra mais

acessível, em relação aos outros profissionais, o que evidencia o seu papel proativo

para com a educação de toda a sociedade (23).

Quanto ao farmacêutico hospitalar, a sua presença é fundamental na avaliação da

terapêutica selecionada para o doente que se encontra em internamento, dado que tem

capacidade para fazer os acertos de dose necessários, identificar possíveis interações

medicamentosas e evitar a ocorrência de reações adversas (54).

A intervenção farmacêutica é extremamente importante, no que toca à prevenção,

deteção e tratamento da HTA, uma vez que tem um papel fulcral no controlo da PA, na

adesão à terapêutica e na mudança para hábitos de vida mais saudáveis. Assim,

aquando das visitas ocasionais do paciente, é possível efetuar o rastreio na farmácia, e

se após várias medições se verificar que os valores de PA se encontram elevados, é de

extrema importância encaminhar o doente para acompanhamento médico, o quanto

antes. Caso o doente possua um diagnóstico prévio de HTA, é importante que seja feita

a avaliação da eficácia da terapêutica instituída. Durante as visitas, é ainda importante

alertar para a adoção de um estilo de vida saudável, promover a automedição da PA no

domicílio e reforçar a importância da adesão à terapêutica, o que pode ser feito através

do reforço da ideia de utilização de caixas de medicamentos semanais, que permitem

organizar as várias tomas diárias. As principais causas de não adesão à terapêutica são

o esquecimento, o défice de comunicação com o médico e o aparecimento de efeitos

adversos. O farmacêutico deve também, consciencializar os familiares mais próximos

para a sua importância, no auxílio prestado ao doente (23,54).

Após a estabilização dos valores da PA para valores normais, é importante que se

faça o acompanhamento do doente, de forma a ser possível detetar quaisquer

anomalias na sua HTA. Caso este seja de baixo risco, deve ser recomendado o

seguimento de seis em seis meses, enquanto que os de risco elevado ou muito elevado

deve ser efetuada a medição a cada três meses. Nos casos em que a HTA se apresenta

fora de controlo, apesar da administração terapêutica, é necessário confrontar o doente

e perceber qual o motivo de tal acontecimento. Podem existir situações de não adesão

à terapêutica, tratamento inadequado, nomeadamente erros de dosagem ou

Page 56: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

56

associações inadequadas, e ainda a ocorrência de interações medicamentosas ou

automedicação com suplementos alimentares. Por outro lado, pode também existir o

menosprezo das medidas não farmacológicas e a presença de fatores de risco, tais

como obesidade, tabagismo, alcoolismo, apneia do sono ou dor crónica (23).

Com os avanços da tecnologia, e uma vez que a sociedade se encontra numa era

digital, será mais do que habitual que o doente opte por esclarecer as suas dúvidas por

via telefone ou e-mail, sendo extremamente importante que os contactos da farmácia

sejam facultados ao doente. Além destes métodos, também é possível ao farmacêutico,

auxiliar na configuração de lembretes através do smartphone para prevenir eventuais

esquecimentos e indicar aplicações que possam ser úteis, de modo a facilitar a

compreensão da administração diária dos fármacos necessários (54).

Conclui-se assim, que o farmacêutico possui um papel insubstituível no

acompanhamento do utente, caso este tenha ou não sido diagnosticado com HTA, uma

vez que pode indicar medidas de prevenção e é perito na área do medicamento.

Possuem uma enorme capacidade de melhorar a saúde da população (23,54).

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57

Conclusões

Conclui-se assim que a HTA é uma das doenças que mais contribui para o aumento

do risco de DCV, consideradas como a causa de morte mais elevada, em Portugal e no

Mundo. Tanto as suas taxas de prevalência, assim como as taxas de controlo e as

possíveis discrepâncias entre valores, numa mesma região, variam consoante a raça,

etnia e fatores multifatoriais da respetiva população. A longevidade dos indivíduos

originários de raça negra, decresce em relação aos indivíduos de raça branca devido ao

aparecimento de insuficiência cardíaca, doença renal em estado terminal, doença

arterial coronária e acidente vascular cerebral. Estas diferenças vão depender do nível

socioeconómico da população, do acesso aos cuidados médicos e também, dos fatores

ambientais envolventes.

Numa fase inicial, a HTA pode ser controlada, ou mesmo prevenida com alterações

no estilo de vida, sendo as mais importantes, a perda de massa gorda e a diminuição

da ingestão de sal. Uma vez que em grande parte dos casos, estas medidas não se

mostram suficientes, é necessária a introdução no plano de tratamento de terapêutica

farmacológica, podendo ser administrados dois ou mais fármacos em combinação.

É indispensável a monitorização dos valores de PA, quer no domicílio, quer no

consultório, para se verificar se o plano de tratamentos continua adequado ao paciente

em questão.

Page 58: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

58

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Page 63: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

63

Anexos

Anexo 1 - Estratificação do risco absoluto em quatro categorias de risco acrescido (12)

Pressão Arterial (mmHg)

Outros fatores

de risco, lesão

subclínica de

órgão ou

patologia

Normal

PAS 120 – 129

ou

PAD 80 - 84

Normal alta

PAS 130 – 139

ou

PAD 85 - 89

HTA grau 1

PAS 140 – 159

ou

PAD 90 - 99

HTA grau 2

PAS 160 – 179

ou

PAD 100 – 109

HTA grau 3

PAS ˃ 180

ou

PAD ˃ 110

Ausência de

outros FR

Risco médio Risco médio Risco acrescido

baixo

Risco acrescido

moderado

Risco acrescido

alto

1 ou 2 FR Risco acrescido

baixo

Risco acrescido

baixo

Risco acrescido

moderado

Risco acrescido

moderado

Risco acrescido

muito alto

3 ou mais FR,

SM, LO ou DM

Risco acrescido

moderado

Risco acrescido

alto

Risco acrescido

alto

Risco acrescido

alto

Risco acrescido

muito alto

DCV

confirmada ou

doença renal

Risco acrescido

muito alto

Risco acrescido

muito alto

Risco acrescido

muito alto

Risco acrescido

muito alto

Risco acrescido

muito alto

Page 64: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

64

Anexo 2 - Mecanismo de ação do tabaco nos processos de stress oxidativo mitocondrial

mediado pela disfunção endotelial e HTA (29)

Tabagismo

Atividade SNC

Inflamação Alterações

Metabólicas

Diminuição Sirt3

Acetilação SOD Aumento do radical superóxido

mitocondrial

Stress oxidativo mitocondrial

Disfunção endotelial

Hipertensão Arterial

Page 65: Sara Filipa Virtudes Morgado Dionísio Mestrado Integrado

65

Anexo 3 – Abordagem terapêutica da HTA arterial (13)

Estratificação do risco

absoluto

Baixo Moderado Muito alto Alto

Opção terapêutica

(monoterapia)

A ou B ou C ou D

Opção terapêutica (associação)

(A + B) ou (B + D) ou (A + C) ou (C + D)

Controlado Controlado

Monitorização Associação de

um 2º fármaco Monitorização

Associação de

um 3º fármaco Controlado

Monitorização

Controlado

Monitorização Referenciação a

consulta hospitalar

Sim

Sim

Sim

Sim

Não Não

Não

Não

A – IECA

B – ARA

C – BCC

D - Diurético