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Érika Morgado Lamonica SARCOMA DE APLICAÇÃO EM FELINOS São Paulo 2009

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Érika Morgado Lamonica

SARCOMA DE APLICAÇÃO EM FELINOS

São Paulo 2009

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FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS - FMU

Érika Morgado Lamonica

SARCOMA DE APLICAÇÃO EM FELINOS

Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Medicina Veterinária das Faculdades Metropolitanas Unidas - FMU Orientadora: Aline Machado De Zoppa

São Paulo 2009

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Érika Morgado Lamonica

SARCOMA DE APLICAÇÃO EM FELINOS

Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Medicina Veterinária das Faculdades Metropolitanas Unidas - FMU Orientadora: Aline Machado De Zoppa

___________________________________________

Prof. Dr. Aline Machado De Zoppa FMU – Orientador

___________________________________________ Prof. Dr. Ana Claudia Balda

Professora FMU

___________________________________________ Jamara Alves Siqueira

Médica Veterinária

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Dedico este trabalho ...

Aos meus pais,

Carmen e Lourenço,

que me ensinaram a buscar meus ideais,

superando os obstáculos,

auxiliando-me nos mais importantes momentos da vida,

e me ajudando sempre a crescer.

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AGRADECIMENTOS

À Professora Aline Machado De Zoppa, pela oportunidade de amadurecimento

e crescimento profissional, por ter sido um importante referencial na minha

formação, além de todo o carinho, respeito, incentivo, paciência, e apoio

durante essa longa caminhada.

Aos professores do curso de Medicina Veterinária das Faculdades

Metropolitanas Unidas, pelos ensinamentos e experiências transmitidos

durante todos estes anos de graduação.

Às minhas amigas Lele, Letícia, Pudim, Sil e meu melhor amigo Ci por estarem

sempre comigo, me aconselhando, me apoiando e me fazendo acreditar mais

em mim.

À veterinária Alessandra Cristina Silva pelos ensinamentos, paciência e carinho

que me foi dada desde o meu primeiro ano de faculdade, espero ser uma

profissional tão boa quanto ela.

À minha melhor amiga Ariana, por todos esses anos de amizade só tenho a

agradecer pela pessoa maravilhosa que é e por te me ajudado a conquistar

todos os meus ideais pessoais e profissionais.

À minha irmã Thais (Sisi), que muitas vezes foi minha guia, uma verdadeira

amiga para todas as horas sempre pronta a me ajudar, ouvir e me animar.

A todos os animais Gato preto da pata quebrada, Mel, Luna, Oliver, Jade,

Duda, Andy, Siri, Agatha, que sentiam quando eu não estava nos meus

melhores dias e vinham a mim muitas vezes com os olhos cheios de confiança

e amor, me mostrando que realmente eu nasci para cuidar deles e que desistir,

jamais.

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“Enquanto o homem continuar a ser destruidor impiedoso dos seres animados

dos planos inferiores, não conhecerá a saúde nem a paz.

Enquanto os homens massacrarem os animais eles se matarão uns aos

outros.Aquele que semeia a morte e o sofrimento não pode colher a alegria e o

amor” (Pytagoras)

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RESUMO

Sarcoma de aplicação é um nódulo solitário firme que pode aparecer um mês após a vacinação profilática, através de uma reação inflamatória na área que pode evoluir para sarcoma. São de crescimento rápido e invariavelmente fatal, com isso seu prognóstico é desfavorável. O diagnóstico definitivo é feito através da histopatologia. O tratamento é uma combinação entre excisão cirúrgica de ampla margem de segurança, com sessões de quimioterapia e radioterapia. Como medida profilática, o médico veterinário deve optar por outras vias de administração medicamentosa e determinar se realmente o animal necessita de vacinação, considerando-se o estilo de vida e a probabilidade individual dos felinos de apresentarem o sarcoma. O objetivo foi realizar uma revisão literária sobre o assunto, pois houve um aumento da escolha do felino como animal de estimação e muitos médicos veterinários desconhecem a existência do tumor por conta da baixa incidência.

Palavras-Chave: Fibrossarcoma. Felinos. Vacinação. Sarcomas

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ABSTRACT

The sarcoma post-vaccinal is a firm nodule that may appear one month after prophylaxis vaccination, through an inflammatory reaction in the area that may progress to sarcoma. They are fast growing and invariably fatal, and the prognosis is unfavorable. The definitive diagnosis is made by histopathology. The treatment is a combination of surgical excision with wide margin of safety with chemotherapy and radiotherapy. As a prophylactic measure, the veterinarian should opt for other routes of drug administration and determining whether they need animal vaccination, considering the lifestyle and the likelihood of individual feline sarcoma present. The objective was to review the literature on the subject, because there was an increase in the choice of the cat as a pet and may veterinarians are unaware of the existence of the tumor because of the low incidence.

Keywords: Fibrosarcoma. Feline. Vacination. Sarcoma

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SUMÁRIO

1. Introdução ..................................................................................................12

1.1. Etiopatogenia.....................................................................................15

1.2. Classificação dos sarcomas..............................................................17

2. Manifestação Clínica .................................................................................19

3. Diagnóstico.................................................................................................21

3.1. Citologia.............................................................................................22

3.2. Biópsia...............................................................................................24

3.3. Histopatológico..................................................................................24

4. Tratamento..................................................................................................27

4.1. Remoção Cirúrgica ...........................................................................27

4.2. Quimioterapia....................................................................................30

4.3. Medicamentos Quimioterápicos........................................................31

4.4. Radioterapia......................................................................................33

5. Prognóstico.................................................................................................34

6. Prevenção...................................................................................................36

7. Considerações Finais................................................................................39

Referências Literárias ....................................................................................40

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Felino com lesão nodular interescapular...............................20

Figura 2 – Felino com lesão nodular depois do diagnostico...................23

Figura 3 – Citologia de neoplasia mesenquimal maligna........................24

Figura 4 – Histopatológico de sarcoma pós-vacinal................................26

Figura 5 – Abordagem cirúrgica..............................................................30

Figura 6 – Felino com sarcoma vacinal avançado..................................34

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Classificação dos tumores em graus...............................................17

Tabela 2 – Principais medicamentos quimioterápicos......................................32

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Lamonica, M.

Sarcoma de aplicação em felinos/ Érika – São Paulo, 2009.

41 páginas

Notas

1. Oncologia. I. Lamonica, É. II. Sarcoma de aplicação em felino

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1 INTRODUÇÃO

O Sarcoma de aplicação em felinos (SAF) é caracterizado clinicamente

pelo aparecimento de um nódulo solitário firme ou formação difusa, aderido a

planos profundos e em região onde foi previamente administrada a vacina ou

um fármaco (OGILVIE; MOORE, 2002). Segundo a Vaccine-Associated Feline

Sarcoma Task Force (VAFSTF) qualquer aumento de volume no local da

aplicação após um mês, com mais que dois centímetros de diâmetro ou

presente por mais de três meses deve ser considerado como provável sarcoma

de aplicação.

Estudos recentes demonstraram que, embora a aplicação das vacinas

anti rábicas e contra o vírus da Leucemia Felina, sejam as mais implicadas com

o aparecimento do tumor, existem relatos que citam a ocorrência destes após a

aplicação subcutânea e intramuscular da vacina tríplice felina (parvovírus,

herpesvírus-1 e calicivírus) e de fármacos como antibióticos, dexametasona,

metoclopramida, corticosteróides, fluidoterapia subcutânea e antipulgas

injetáveis (VAFSTF, 2005).

A maioria desses tumores é classificada como fibrossarcoma, porém

outros tipos de neoplasias como fibrohistiocitomas malignos, osteossarcomas,

condrossarcomas, lipossarcomas, rabdomiossarcomas e sarcomas anaplásicos

também podem ocorrer (LIMA et al, 2007).

Nos felinos, o fibrossarcoma constitui o tipo histológico mais comum.

Classicamente, observam-se dois tipos distintos de apresentação clínica: a

forma multicêntrica dos gatos jovens (geralmente com menos de 4 anos de

idade), causado pelo Vírus do Sarcoma Felino (FeSV), um Oncornavirus da

família Retroviridae, e uma forma solitária tanto nos jovens como nos adultos,

em que o FeSV não parece estar implicado (Couto et al, 2002; Kobayashi et al,

2002).

Os sarcomas pós vacinais aparecem com relativa frequência nos

animais de companhia. Estudos descritivos apontam que as neoplasias

mesenquimatosas da pele e das partes moles representaram nos gatos

aproximadamente 7%, do total das formações ocorrendo variações de

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prevalência em determinados locais do país. Estes tumores são de crescimento

rápido e invariavelmente fatais. (OGILVIE & MOORE, 2001).

Outros estudos estimam que a incidência de desenvolvimento do

fibrossarcoma vacinal está entre 1/1.000 a 1/10.000 dentre os gatos vacinados

(VACCINE ASSOCIATED FELINE SARCOMA TASK FORCE, 2005). Os

sarcomas de locais de injeção são tipicamente diagnosticados em gatos mais

jovens, com aproximadamente três anos de idade, do que o outro tipo de

sarcoma não associados às vacinas (média de 11 anos) (HENDRICK, 1994;

LIMA et al, 2007). A baixa prevalência dessa neoplasia em relação à

quantidade de vacinas administradas sugere fatores inerentes a cada animal

(NAMBIAR et al., 2001).

As vacinas de vírus morto apresentam na sua composição além do

vírus, o adjuvante, que parece ser o grande responsável pela reação

inflamatória (OLGIVIE & MOORE, 2001). Os gatos vacinados para a leucemia

viral felina possuem um risco três vezes maior que os não vacinados (KASS et

al. 1993).

Em 15 gatos estudados com suspeita citológica de neoplasia

mesenquimal, sendo confirmada pelo exame histopatológico, 87% foram

fibrossarcomas e 13% lipossarcomas. Desses animais, 53% eram machos,

80% eram gatos brasileiros de pelo curto e sem raça definida (SRD), com

média de idade de sete anos. Destes, 80% haviam sido vacinados nos últimos

dois anos com a vacina quíntupla e/ou anti-rábica (CHALITA, 2003).

Até o final dos anos 80 a incidência de fibrossarcoma em gatos era

muito baixa e acometia principalmente animais idosos. Apresentava-se

clinicamente como uma formação solitária, pseudoencapsulada, de

crescimento lento e baixo potencial metastático, mas localmente invasiva e

com recidivas locais freqüentes (CHALITAS,2003).

Em meados de 1987, foi observado no Serviço de Patologia Cirúrgica da

Universidade da Pensilvânia um aumento na freqüência (61%) de reações

inflamatórias naquelas amostras biopsiadas em locais que coincidiam com

aplicação prévia de vacinas em cães e gatos. Foram enviados questionários

aos veterinários, confirmando que estas reações ocorriam em sítios de prévia

administração da vacina. A distribuição desses tumores coincidia com os locais

comumente utilizados para vacinação, especificamente nas regiões

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interescapular, cervical e 1/3 médio femoral caudal de membros pélvicos, os

quais diferem de regiões previamente relatadas para o surgimento de

sarcomas (cabeça, membros e flanco) (HENDRICK; GOLDSCHMIDT, 1991).

Outro fato que chamou a atenção dos pesquisadores foi a presença de

uma substância cinza-azulada no interior dos macrófagos de alguns tumores.

Esta foi identificada, posteriormente, como o hidróxido de alumínio

possivelmente de origem vacinal (HENDRICK,1991).

Hendrick (1991) e seus colaboradores, baseados em dados

epidemiológicos, designaram estas neoplasias de "sarcomas pós vacinais",

termo que ainda hoje é utilizado na literatura.

Em 1996 foi formada, nos Estados Unidos da América, a Vaccine-

Associated Feline Sarcoma Task Force, associação criada com o objetivo de

elucidar várias dúvidas sobre etiopatogenia, a epidemiologia e o tratamento dos

sarcomas pós-injeção, além de fornecer novas diretrizes para a vacinação em

gatos (ELSTON et. al., 1998).

Estas neoplasias apresentam-se clinicamente como formações solitárias

como moderada a acentuada a invasão local, sendo os linfonodos regionais

raramente comprometidos. Não é raro tratar-se de uma formação inicialmente

estável e que repentinamente começa a crescer e ulcerar (CHALITA, 2003).

Para o diagnostico da doença, a anamnese, o exame físico, exames

laboratoriais e de imagem são essenciais. O diagnostico definitivo da doença é

realizado por análise histopatológica (CHALITA, 2003).

O tratamento realizado para o sarcoma é a excisão cirúrgica radical, com

margem de segurança tridimensional maior que três cm. É fundamental

conhecer bem as técnicas de flapeamento e anaplastia, pois muitas vezes é

difícil a reconstituição. Pode-se associar a quimioterapia e/ou radioterapia

(RECHE JR, 2004)

O prognostico vai depender do tamanho, avaliação da extensão

acometida do tumor, localização, grau de inflitração, existência de metástase e

principalmente de sua classificação histológica (RECHE JR, 2004).

A profilaxia seria evitar múltiplas vacinas em um mesmo local, evitar

reutilização de seringas e agulhas calibrosas, cuidado com temperatura

inadequeada dos inoculos, evitar aplicação de substancias mal-

homogenizadas. Deve-se ainda selecionar bem os pacientes a serem

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vacinados com a vacina quíntupla, ressaltando que a vacina anti-rábica é

obrigatória (RECHE JR, 2004).

1.1 Etiopatogenia

A etiopatogenia desses tumores parece estar associada aos adjuvantes

vacinais compostos por alumínio, freqüentemente encontrados em vacinas em

vacinas produzidas com vírus mortos ou inativados, uma vez que a persistência

de reações inflamatórias e imunológicas associadas a esta substancia pode

predispor o gato a um rearranjo desfavorável do tecido conjuntivo fibroso de

reparação, conduzindo-o ao desenvolvimento da neoplasia (LIMA et. al., 2007).

O vírus do sarcoma felino (FeSV) possui oncogenes formados pela

recombinação do genoma do vírus da leucemia felina (FeLV) com os genes

celulares, causando fibrossarcoma multicêntrico. Isto significa que gatos

infectados unicamente pelo FeLV têm capacidade de gerar o FeSV (OGILVIE

&MOORE, 2001).

Apenas a inflamação crônica causada pelas vacinas não é capaz de

induzir a transformação neoplásica por si só e os fatores relacionados ao

paciente são considerados essenciais na transformação celular. A maioria dos

sarcomas de locais de injeção contém fibroblastos e miofibroblastos. Esses

dois tipos celulares estão envolvidos com a resposta cicatricial que ocorre após

as inflamações crônicas. Acredita-se que, quando essas células ou suas

precursoras são estimuladas antigenicamente ou através do adjuvante vacinal,

elas sofrem alterações e, em associação a carcinógenos ou oncogenes, se

transformam em células malignas e há o desenvolvimento do sarcoma

(HENDRICK, 1994).

Já está descrita a relação entre o desenvolvimento do sarcoma vacinal e

algumas proteínas reguladoras da proliferação e do crescimento como p53,

fator de crescimento de fibroblasto (FGF-b) e fator de crescimento

transformador-α (TGF- α). Identificou-se, por imuno-histoquímica, grande

quantidade de receptores para fatores de crescimento em sarcoma de

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aplicação, como: o fator de crescimento derivado de plaqueta – PDFG, o fator

de crescimento epidermal – EGF e o fator de crescimento transformador-β –

TGF-β (NIETO et al., 2003).

Um estudo correlacionou o desenvolvimento do fibrossarcoma vacinal às

mutações no gene supressor de tumor p53. Essas mutações resultam em uma

meia-vida maior da proteína p53 na célula, evidenciada pela imuno-

histoquímica. A identificação das alterações cromossômicas no fibrossarcoma

vacinal, além de permitir um melhor entendimento da patogênese, irá viabilizar

a identificação dos gatos predispostos ao desenvolvimento do tumor (HAUCK,

2003). As mutações podem estar envolvidas na patogenia da neoplasia uma

vez que o produto desse gene é um fator de transcrição multifuncional que

induz a apoptose nas células com DNA danificado de forma irreversível (LIMA

et. al., 2007).

As correlações entre a presença de linfócitos T e/ou B no sarcoma de

aplicação, o desenvolvimento tumoral e a resposta ao tratamento necessitam

de mais estudos. Outro componente importante relatado no sarcoma vacinal foi

a presença de células miofibroblásticas. Essas, ativadas pelo tumor, formam

uma cápsula que envolve os nódulos tumorais, prevenindo a penetração

mecânica de linfócitos T e macrófagos, o que explica a presença destes

agregados na periferia do tumor (COUTO et al., 2002; MADEWELL et al.,

2001).

Existem relatos de que as reações pós-vacinais são mais evidentes em

felinos que recebam vacinas anti-rábicas, observa-se que o número de

eosinófilos nos locais de inoculação de vacinas anti-rábicas que contem

adjuvante de alumínio é maior que nos locais de inoculação de vacinas contra

leucemia felina compostas pelo mesmo adjuvante, do mesmo modo que

também foi observado um aumento do numero de respostas linfocitárias maior

nas vacinas anti-rábicas comparadas as vacinas contra leucemia felina ou

mesmo às vacinas combinadas polivalentes (LIMA, et. at. 2007).

Há estudos que concluem haver uma predisposição genética para o

problema. Isto explica a incidência alta variável destes relatos dentre os

animais e observados com todos os produtos injetáveis sejam eles vacinas ou

não. Assim explica o baixo risco da formação do tumor em alguns animais e o

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desenvolvimento do sarcoma aos gatos geneticamente predispostos (FORD,

2001).

1.2 Classificação dos sarcomas

Os sarcomas são classificados em I, II e III graus, de acordo com a

pontuação final que recebem. Os mesmo são avaliados de acordo com: a

diferenciação global encontrada (1- tumor de células com característica de

diferenciação intimamente semelhante; 2- tumores com fenótipo histológico

definidos; e 3- tumores pobremente diferenciados), a taxa de mitose (1- de 1 a

9 figuras mitóticas por dez campos de 400X; 2- de 10 a 19 figuras mitóticas por

dez campos de 400X; e 3- 20 ou mais figuras mitóticas por dez campos de

400X) e a ocorrência de necrose (1- ausência de necrose, 2- presença de

necrose em menos de 50% da área total amostrada; e 3- presença de necrose

em mais de 50% da área total). Assim, os tumores que atingiram a soma final

de 3 ou 4 pontos são classificados como grau I, de 5 a 6 pontos grau II e de

7,8,ou 9 pontos como grau II, como pode ser visto no tabela 1 (COUTO, 2002).

Tabela 1: Classificação dos tumores em graus de acordo com a pontuação recebida

Pontuação Diferenciação

global encontrada

Taxa de mitose Ocorrência de

necrose

1 tumor de células

com

característica de

diferenciação

intimamente

semelhante

de 1 a 9 figuras

mitóticas por dez

campos

ausência de

necrose

2 tumores com

fenótipo

histológico

definidos

de 10 a 19 figuras

mitóticas por dez

campos

presença de

necrose em

menos de 50% da

área total

amostrada

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3 tumores

pobremente

diferenciados

de 20 ou mais

figuras mitóticas

por dez campos

presença de

necrose em mais

de 50% da área

total

Para os fibrossarcomas primários, as recorrências demonstram um

padrão similar: 25% são de grau I, 50% de grau II e 25% de grau III. Todos os

fibrossarcomas quando avaliados pela imunohistoquimica se mostraram

reativos para a vimentina e 64% foram reativos a alfa-actina de musculatura

lisa. As células positivas à actina constituem parte do tumor ou formam uma

cápsula ao redor dos nódulos tumorais. A vascularização periférica é

significativamente maior que a densidade vascular central, porem não há

diferença nas taxas de proliferação de células tumorais entre as duas áreas. O

fluido encontrado em micro ou macrocavidades tumorais, centralmente

localizado, é freqüentemente observado nos grandes sarcomas e

provavelmente seja a formação secundária ao rápido crescimento tumoral e à

necrose tecidual central (LIMA, et. al. 2007).

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2 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

Os fibrossarcomas de partes moles podem se apresentar como um

tumor solitário ou podem se apresentar de forma multicêntrica quando

associados ao vírus do sarcoma felino, ou ainda como tumores que surgem em

locais de aplicação de medicamentos. Seu crescimento pode ser imperceptível

em uma fase inicial e posteriormente apresentar um crescimento rápido e

agressivo, seguido de ulceração e infecção bacteriana secundária (CHALITA &

RECHE JR, 2003).

Os sarcomas de tecido mole são protuberantes palpáveis e com

consistência de semifirme a firme, encontrados na derme, no tecido

subcultaneo, muscular e músculo-facial mais profundo (PAGE, THRALL, 2004).

Os sarcomas associados à aplicação de vacinas são, em sua maioria

fibrossarcomas, mas outros tipos de tumores já foram relatados. Os tumores

caracterizam-se por pleomorfismo, alta taxa mitótica e área central necrótica

(COUTO, 2002).

Na presença de qualquer nódulo ou formação tumoral que se localize

em região anatômica empregada para a vacinação deve-se suspeitar de

fibrossarcoma vacinal, como também, nos casos de nódulos que não

regredirem três meses após a aplicação da vacina. Este último tipo de

fibrossarcoma apresenta regiões císticas e prolongamentos, que se estendem

para a musculatura e processos espinhais dorsais adjacentes quando se

localizam em região interescapular, como pode ser visto na figura 1 (HAUCK,

2003).

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Figura 1: Felino com lesão nodular interescapular aderida à musculatura.

(Fonte: HOSPITAL VETERINÁRIO FERRAL, 2009).

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3 DIAGNÓSTICO

O diagnóstico visa não apenas a detecção do sarcoma, mas também a

determinação de seu tipo histológico e sua extensão, bem como a avaliação da

possibilidade de metástases. Para tanto, a anamnese, o exame físico e os

exames complementares laboratoriais e de imagem são imprescindíveis (LIMA

et. al., 2007).

A avaliação do paciente com um possível fibrossarcoma inclui biópsia

incisional, tomografia, estudo radiológico do tórax e ultra-sonografia abdominal,

estes últimos para realizar pesquisa de metástase. Além de realizar exames de

rotina para avaliação do estado geral do paciente, incluindo testes para

detectar os vírus da imunodeficiência felina (FIV) e da leucemia felina (FeLV),

já que comprometem a saúde do animal, além desde ultimo estar envolvido no

desenvolvimento de fibrossarcoma múltiplo (McENTEE & PAGE, 2001).

Na anamnese, recomenda-se anotar sempre na ficha clinica do paciente

o local onde foram feitas aplicações de vacinas ou outros medicamentos e, no

caso do surgimento de qualquer tumoração no animal, descrever o local, a

forma, o tamanho e o tempo transcorrido após a última vacinação ou

medicação injetável e o surgimento da formação tumoral. Tratando-se de

pacientes felinos, deve-se considerar qualquer tumoração, em local de prévia

aplicação de vacina ou medicamento injetável, como tumor maligno, até que se

prove o contrário (ELSTON et.al., 1998). Deve-se também buscar a presença

de linfadenomegalia, alterações na auscultação cardiopulmonar, avaliação da

coloração das mucosas e pesquisa de aumento de volume intra-abdominal

(LIMA et. al., 2007).

Hemograma completo, bioquímica sérica, urinálise e sorologia para vírus

da imunodeficiência felina (FIV) e para leucemia felina (FeLV) determinam o

estado do paciente bem como o provável prognostico. Radiografias torácicas

devem ser realizadas para investigar a possibilidade de metástases nos

pulmões, que ocorrem em cerca de 10% a 24% dos casos. Linfonodos

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regionais devem ser avaliados por meio de palpação, radiografia, ultra-

sonografia ou citologia se necessário (SÉGUIN, 2002).

O potencial metastático do SAF é inicialmente baixo, mas tende a se

elevar com o aumento do tempo de curso da doença. As metástases são

relatadas em linfonodos regionais, mediastino, pulmões e medula epidural em

espaço intervertebral torácico. Desta forma enfatiza-se a importância de um

diagnostico precoce, assim como de um protocolo adequado de tratamento

(LIMA et. al., 2007).

A VAFSTF recomenda que toda a formação que se desenvolva em um

local de vacinação seja avaliada quanto ao tamanho e à localização, e que se

realize a biópsia incisional sempre que essa formação persistir por mais de três

meses e for maior do que dois centímetros ou ainda estiver crescendo um mês

após a aplicação (MORRISON, 2001).

Macroscopicamente, os tumores podem conter cavidades císticas, como

resultado da presença de grandes áreas necróticas em seu interior.

Freqüentemente, existem prolongamentos neoplásicos se estendendo para a

musculatura e processos espinhais dorsais adjacentes (HAUCK, 2003).

3.1 Citologia

Devido a esses tumores possuírem um alto grau de inflamação ao seu

redor, a interpretação da avaliação citologia pode ser dificultada. Porém, em

alguns casos, a confirmação de um tumor mesenquimal pode ser verificada por

meio de punção aspirativa por agulha fina e avaliação citológica, como ilustrado

na figura 2 (OGILVIE & MOORE, 2002).

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Figura 2: Felino com lesão nodular interescapular aderida aos músculos, foi diagnosticada com

punção aspirativa por agulha fina e confirmou tumor mesenquimal.

(Fonte: HOSPITAL VETERINÁRIO FERRAL, 2009).

Na citologia podem-se identificar três grandes grupos, de acordo com

suas características morfológicas: neoplasias epiteliais, neoplasias

mesenquimais e neoplasias de células redondas. No caso de uma neoplasia

maligna de partes moles (mesenquimal), pode haver identificação como

sarcoma, porem a avaliação citológica não oferece diagnostico preciso sobre a

histiogênese do tumor (LIMA et. al., 2007).

Na figura 3, pode ser visto um aspecto de neoplasia mesenquimal

maligna localizada na parede abdominal direita em um gato, classificado

histologicamente como fibrossarcoma. Observa-se a presença de células de

tamanho médio a grande, algumas com formato fusiforme e outras

arredondadas, individuais e na forma de agregados. Nota-se células com

proporção núcleo: citoplasma aumentada, anisocitose e pleomorfismo

acentuado, núcleo com cromatina grosseira e nucléolos proeminentes.

Coloração: Panótico rápido. Aumento: 1000X.

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Figura 3: Citologia de neoplasia mesenquimal maligna

(Fonte: GRILLO & SOUZA, 2009)

3.2 Biópsia

Entretanto, a biópsia incisional é necessária para se estabelecer o

diagnóstico definitivo. O ideal é que a amostra inclua três a cinco diferentes

regiões da formação tumoral para que haja material suficiente e um diagnóstico

mais acurado (HAUCK, 2003). Porém, cita que a biópsia excisional não é

recomendada, pois, aumenta as chances de recorrência local.

A biopsia incisional pode ser feita com o uso do “punch” ou da lamina de

bisturi. Atenção especial deve ser dada a hemostasia e prevenção do

extravasamento do material porque células tumorais surgem ao longo dos

planos fasciais e causam metástase (McENTEE & PAGE, 2001).

3.3 Histopatológico

O exame histopatológico deverá identificar o tipo de sarcoma, avaliar o

grau de malignidade, a presença ou não de invasão hemolinfática, além de

auxiliar na adequação das margens cirúrgicas uma vez que os FeSV

apresentam características histológicas únicas quando comparados aos

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sarcomas não associados à vacinação. Assim, a presença de agregados

preriféricos de macrófagos contendo material intracitoplasmático globoso cinza

azulado ou marrom apóia o diagnostico do tumor induzido pelo adjuvante

vacinal (LIMA et. al., 2007).

O histopatológico de tumores provenientes de vacinação são diferentes

dos outros tipos de tumores que acometem o subcutâneo, com necrose na

área o que é o mais comum, com uma infiltração inflamatória, aumento do

índice mitótico, pleomorfismo e densidade variável da matrix estracelular. No

inflitrado inflamatório há presença predominante de linfócitos, mas os

macrófagos também estão presentes. Nos macrófagos às vezes podem conter

um material cinza azulado ou marrom que é bastante semelhante ao alumínio

(HAUCK, 2003).

O tecido neoplásico possui células com núcleo grande e irregular, que

são comumente pleomórficas e com alto índice mitótico. Observa-se áreas de

necrose central com fluido, tecidos de agregados linfóides ao redor dos

agregados linfóides ao redor e agregados irregulares de macrófagos

(VACCINE-ASSOCIATED FELINE SARCOMA TASK FORCE, 2005).

Os macrófagos localizados ao redor do tumor contendo oxido de

alumínio, podem ainda ser identificados por técnicas de microanálise e

microscopia eletrônica (LIMA et. al., 2007).

Na figura 4, sarcoma compatível com o tipo pós-vacinal, localizado na

parede abdominal lateral direita em um gato. A– observa-se camada de tecido

muscular normal e acima, no tecido adiposo, evidencia-se nódulo circunscrito

por pseudocápsula fibro-conjuntiva, apresentando neovascularização e

congestão, no interior deste presença de proliferação de células fusiformes

neoplásicas (aumento: 40X). B- Verifica-se na região central da neoplasia

áreas de necrose e vários focos hemorrágicos (aumento: 40X). C- Nódulo com

células fusiformes neoplásicas (aumento: 100X). D- Presença de células

gigantes (círculo pontilhado) (aumento: 200X). E- presença de mitoses típicas

(seta fina) (aumento: 200X). F- Mitoses atípicas (seta grossa) (aumento: 200X).

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Figura 4: Histopatológico de sarcoma pós vacinal.

(Fonte: GRILLO & SOUZA, 2009)

No diagnostico por imagem, a utilização de tomografia computadorizada

ou ressonância magnética é extremamente útil para o planejamento da

ressecção cirúrgica do tumor e para detectar possíveis metástases, que podem

passar despercebidas nos métodos tradicionais de radiografia e ultra-

sonografia (SÉGUIN, 2002).

Avaliando com exatidão a extensão da neoplasia, pode-se prescrever o

melhor tratamento: excisão cirúrgica, radioterapia, quimioterapia, imunoterapia,

terapia gênica ou combinação de duas ou mais (HAUCK, 2003).

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4 TRATAMENTO

A avaliação do paciente antes de se iniciar um tratamento e o

planejamento apropriado da terapia é essencial. Devido a natureza agressiva

do SAF, um tratamento com abordagem múltipla tem sido recomendado.

Inicialmente, a ressecção cirúrgica com ampla margem de segurança é

recomendada já que a recidiva local é comum (LIMA et. al., 2007).

Em seres humanos e em animais maiores, como cães, uma excisão

radical ou em blocos é freqüentemente possível, enquanto que nos gatos isso

não ocorre, exceto aqueles tumores localizados na porção distal de membros

ou em extremidades que podem ser amputadas (OGILVIE; MOORE, 2002).

A modalidade de tratamento do tumor primário dependerá

principalmente do seu tamanho, sendo os tumores pequenos e médios aqueles

com prognóstico mais favorável. Já os tumores grandes não são removíveis a

ponto de se ter a certeza de que um único procedimento cirúrgico será

suficiente. Assim, a combinação da cirurgia à radioterapia com ou sem

quimioterapia promove melhor resposta do paciente ao tratamento (SEGUIN,

2002).

A intervenção cirúrgica agressiva representa o tratamento de eleição

para os fibrossarcomas, exceto aqueles de origem viral. Assim sendo, uma

primeira excisão radical do tumor é essencial. Mas mesmo quando a cirurgia é

agressiva e possui amplas margens de segurança, a excisão frequentemente é

incompleta resultando em uma taxa de recidiva local de 30% a 70% e o tempo

para que isso ocorra é em média seis meses após a cirurgia (McENTEE &

PAGE, 2001, HAUCK, 2003).

4.1 Remoção cirúrgica

A primeira excisão cirúrgica deve ser definitiva e realizada com ampla

margem, de pelo menos 3 cm (KIRPENSTEIJN, 2006). Uma vez optado pelo

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tratamento cirúrgico, pode-se incluir tampouco a escapulectomia parcial ou a

excisão de músculos epaxiais e de processos de vértebras cervicais dorsais.

Até mesmo a amputação de membros envolvidos pode ser considerada. Desse

modo, uma excisão cirúrgica abrangente com margens de segurança

adequadas contribui para um prognóstico mais favorável (LIMA et. al., 2007).

Os sarcomas são localmente invasivos, com margens pouco definidas e

frequentemente possuem pseudocápsulas que podem confundir o cirurgião no

trans-operatório (AMORIM, 2007).

Durante o ato cirúrgico é imprescindível que se retire essa

pseudocápsula, que se caracteriza por uma camada de células malignas

viáveis e comprimidas que circunda o tumor (OLGIVIE & MOORE, 2001). A

permanência da mesma, a recidiva local é praticamente certa (CHALITA &

RECHE JR, 2003)

Entretanto, o sarcoma felino associado à aplicação pode crescer

rapidamente e frequentemente se desenvolver em áreas que impossibilitam

uma excisão completa. Em estudo gatos tratados pela excisão cirúrgica a taxa

de recidiva foi de 80% no tempo médio de quatro meses após a excisão

(BREGAZZI et al,.2001).

Tumores que envolvem os membros recidivam com freqüência após a

excisão local, mas a probabilidade de controle em longo prazo seguindo a

amputação é alta. A hemipelvectomia deve ser realizada em tumores extenos

dos membros, que comprometem a pelve. Se as margens ficarem

comprometidas, a recidiva deve ser esperada. Tumores localizados no tórax ou

no flanco requerem excisão ampla incluindo a remoção de costelas ou parede

abdominal e utilização de malha de propileno (SÉGUIN, 2002).

Após a remoção do tumor, deve realizar o exame físico do paciente

mensalmente, nos três primeiros meses e em seguida pelo menos a cada três

meses durante um ano (McENTEE & PAGE, 2001).

Uma analise retrospectiva de 61 gatos, em dois hospitais de ensino

veterinário, tratados com excisão cirúrgica relataram um tempo médio de

recidiva em 94 dias, com apenas 11% dos gatos livres do tumor por um ano

(HAUCK, 2003).

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Várias combinações de imunoestimulantes são utilizadas no tratamento

do sarcoma de aplicação a fim de estender a permanência do animal livre de

tumores ou o tempo de sobrevida desses pacientes (LIMA et. al., 2007).

Na excisão cirúrgica pode acarretar em falhas na remoção completa dos

fibrossarcomas. Portanto a complementação do tratamento com terapias locais,

como radioterapia e a quimioterapia são requeridas para o controle efetivo da

doença (McENTEE & PAGE, 2001).

Na figura 5 pode ser visto a abordagem cirúrgica de nódulo identificado

como neoplasia mesenquimal maligna, após analise citológica em um gato. A-

Nódulo situado na parede abdominal lateral direita. B- Formação tumoral de

aproximadamente 1,2 centímetros de diâmetro. C- Excisão cirúrgica agressiva,

incluindo três centímetros de margens cirúrgicas de segurança. D e E-

Remoção de uma camada de fáscia profunda do tumor e parte do músculo

sartório e oblíquo abdominal externo. F- Aposição das bordas da ferida

cirúrgica através de pontos simples separados (GRILLO & SOUZA, 2007).

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Figura 5: Abordagem cirúrgica

(Fonte: GRILLO & SOUZA, 2009).

4.2 Quimioterapia

Os sarcomas são considerados pouco responsivos à quimioterapia.

Entretanto, ela pode ser utilizada no pré ou pós- operatório, quando a cirurgia

não é efetiva, nos casos de recidiva, metástase ou quando o tumor não for

passível de ressecção cirúrgica (AMORIM, 2007).

Esse tipo de terapia não deve ser considerada como tratamento

definitivo da doença assim como a radioterapia deve ser utilizada como

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tratamento paliativo. Entretanto, a quimioterapia pode ser benéfica para gatos

citados acima (WILLIAMS et al., 2001).

No período pré-operatório pode reduzir o tamanho da formação tumoral,

facilitando a ressecção cirúrgica ou mesmo potencializando a sensibilidade do

tumor à radiação. A quimioterapia pós-operatória tem o intuito de aumentar o

tempo livre da doença, eliminando possíveis células neoplásicas

remanescentes ou metastáticas (McENTEE & PAGE, 2001).

A quimioterapia só deve ser efetuada após avaliação criteriosa do

hemograma e da contagem de plaquetas (LIMA et. al., 2007).

Há alguns medicamentos quimioterápicos os quais os sarcomas são

mais sensíveis tais como, doxorrubicina, carboplatina, mitoxantrona e

ciclofosfamida (KIRPENSTEIJN, 2006).

4.3 Medicamentos Quimioterápicos

A doxorrubicina é um antitumoral e faz parte da família das antraciclinas.

Tem múltiplos mecanismos de ação, incluindo a intercalação do DNA com

conseqüente torção da dupla hélice impedindo a replicação e a transcrição,

inibindo a síntese de DNA e RNA, a formação de radicais livres altamente

tóxicos particularmente para as membranas celulares, ação que parece

contribuir pouco como antineoplásico, mas é a ação responsável pela

toxicidade cardíaca. A mesma é tóxica para a medula óssea, causa distúrbios

gastrointestinais, reações alérgicas, cardiotoxicidade nos cães e nefrotoxica em

gatos (MACEWEN, 2001).

A carboplatina é um derivado platinado de segunda geração. Pode ser

utilizada no gato sem risco de toxicidade pulmonar. É uma droga ciclo-

dependente, tem como mecanismo de ação a ligação ao DNA impedindo a

replicação e causando morte celular, tem como efeito colateral mielotoxicidade,

toxicidade digestiva e nefrotóxica (LANORE, 2004).

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A ciclofosfamida é uma pré-droga, pois é inativada a principio. Deve

sofrer ativação enzimática realizada pela biotransformação que ocorre no

fígado, afim de produzir um subproduto na sua forma ativa que é a acroleina. A

ativação hepática envolve principalmente o citocromo P450. Tem como via de

eliminação renal. É uma droga amplamente utilizada, pois associa uma boa

eficácia a efeitos colaterais toleráveis. É empregada em protocolos de

poliqimioterapia e quase nunca é utilizada isolada. Toxicidade em medula,

toxicidade digestiva e cistite hemorrágica asséptica (MACEWEN, 2001).

O mitoxantrone é um antibiótico também da família as antraciclinas. Tem

como mecanismo de ação a inibiçãoda enzima Topoisomerase II. Quando

comparado a outros quimioterápicos, pode ser considerada uma droga

moderadamente tóxica. Tem como efeitos colaterais mielossupressão, vômitos

e diarréia (MACEWEN, 2001)

O protocolo recomendado é de 21 dias com administração de

doxorrubicina (20mg/m² IV) no dia 0 e ciclofosfamida (50mg/m² VO) nos dias

3,4,5 e 6, a cada 21 dias, por cinco ciclos. Caso o animal não responda aos

dois primeiros ciclos, ele é considerado resistente à quimioterapia, como pode

ser visto na tabela 2 (LIMA et.al., 2007).

Tabela 2: Principais medicamentos quimioterápicos, doses, vias de aplicação e intervalo entre as doses, utilizados durante quatro ciclos no tratamento dos sarcomas pós-vacinais em felinos domésticos.

QUIMIOTERÁPICOS DOSES VIAS DE ADM. INTERVALO DAS DOSES

Doxorrubicina 20mg/m² ou 1mg/kg

IV 3 semanas

Carboplatina 200-250 mg/m²

IV 4 semanas

Ciclofosfamida (associada á

doxorrubicina)

50mg/m² ou 100-150mg/m²

VO IV

SID nos 3º, 4º, 5º e 6º dias pós-doxirrubicina ou no mesmo dia da doxorrubicina

(Fonte: LIMA et.al. 2007)

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A utilização de diversos tipos de protocolos quimioterápicos resultou em

resposta parcial, com mais de 50% de redução no tamanho tumoral inicial, e,

em alguns casos, até remissão total do tumor, embora esse fenômeno seja

pouco freqüente (HAUCK, 2003).

É importante o suporte nutricional e o controle da dor, com isso outros

fármacos poderão ser utilizados no tratamento subsidiário dos animais com

câncer, como antiinflamatórios não-esteroidais, os opióides, os antieméticos e

os estimulantes de apetite (LIMA et. al., 2007).

4.4 Radioterapia

A radioterapia isolada não deve ser utilizada como modalidade única de

tratamento para sarcomas associados à aplicação, podendo ser considerada

como terapia paliativa. O procedimento tem como objetivo a redução do tumor

e o aumento do conforto do paciente e não a eliminação completa do tumor

(HAUCK, 2003; McENTEE & PAGE, 2001).

Os tipos de radioterapia empregados são a ortovoltagem (terapia

com cobalto-60), braquiterapia e megavoltagem (HAUCK, 2003).

Em um estudo com 76 gatos que apresentavam sarcoma de

aplicação que foram tratados com remoção cirúrgica e megavoltagem com ou

sem quimioterapia associada, resultou em recidivas em 41% dos casos e

doenças metastáticas em 12% dos animais (KIRPENSTEIJN, 2006).

Na universidade do estado do Colorado, foi realizado um estudo com 25

gatos tratados com remoção cirúrgica e megavoltagem, com ou sem

quimioterapia de doxorrubicina associada, concluiu um tempo de vida de 701

dias, sendo que sete deles foram submetidos à cirurgia e radioterapia e 18

animais foram tratados com cirurgia, quimioterapia (doxorrubicina) e

radioterapia. (HAUCK, 2003)

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5 PROGNÓSTICO

Melhores resultados foram observados em gatos em que a

excisão cirúrgica foi realizada com margem ampla. Em relação a isto, gatos

que foram submetidos à amputação de membro apresentaram melhores

resultados que aqueles que foram submetidos à excisão local em qualquer

outra área do corpo. Prognóstico no sarcoma de aplicação é de reservado a

ruim (KIRPENSTEIJN, 2006).

Alguns fatores de prognósticos seguidos à excisão cirúrgica foram

estudados, tais como, localização do tumor, cirurgia com margens livres ou

comprometidas, cirurgias anteriores à ressecção definitiva e marcadores

moleculares (COUTO, et al., 2002).

O prognostico é desfavorável quando os tumores são grandes,

localizados em áreas de difícil excisão, se há metástase ou ainda recidivas a

tratamentos anteriores como, por exemplo, cirurgias prévias sem sucesso,

como pode ser visto na figura 6 (CHALITA & RECHE JR, 2003).

Figura 6: Felino com sarcoma vacinal avançado

(Fonte: ONCOLOGIA VETERINÁRIA, 2009)

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Em estudo a localização do tumor não teve nenhuma relação com a

recidiva, já nos gatos que possuíam margens cirúrgicas livres de células

neoplásicas, o tempo médio livre do tumor foi de 16 meses e naqueles com

margens cirúrgicas comprometidas a recidiva ocorreu no tempo média de 4

meses (OGILVIE & MOORE, 2002).

Animais em que as células tumorais exibiam p53 no núcleo, tinham

tempo maior para o aparecimento de recidiva, 325 dias em comparação aos

que apresentavam o p53 no citoplasma, 135 dias (HERSHEY, et al., 2005).

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6 PREVENÇÃO

Os sarcomas no local de aplicação são um desafio para os médicos

veterinários em vários níveis, são iatrogênicas, difíceis de tratar e podem ser

evitadas (HAUCK, 2003).

Committee for Veterinary Medicinal Products (CVMP), considera que o

medico veterinário saiba que a administração de qualquer medicamento pela

via intra-muscular ou subcutânea em gatos pode levar ao desenvolvimento de

um processo inflamatório no local de aplicação, levando a ocorrência de um

fibrossarcoma (COMMITTEE FOR VETERINARY MEDICINAL PRODUCTS,

2003).

Algumas medidas têm sido propostas para diminuir a incidência do

sarcoma nos gatos. Guias foram publicados pela American Association of

Feline Practitioners, a AVMA, o CVMP e o US, baseado no Vaccine-Associated

Feline Sarcoma Taskforce (VAFSTF) (KIRPENSTEIJN, 2003).

As utilizações de aplicações injetáveis em felinos devem diminuir e

reservar as vias injetáveis apenas nos casos em que esta não pode ser evitada

e dar prioridade para a via subcutânea, pois a formação é mais facilmente

observada pelo proprietário (NOVOSAD, 2003).

Em relação as vacinações, alguns protocolos de vacinação já estão

sendo pensadas para evitar a vacinação de gatos contra doenças em que o

risco do animal contrair é baixo (HAUCK, 2003).

A seleção dos animais a serem vacinados, pode ser a melhor maneira

de prevenir o sarcoma, principalmente quando se refere a vacinação dos

animais contra a FeLV, uma vez que a vacinação anti-rábica é obrigatória no

território nacional e deve ser administrada anualmente, segundo a legislação

vigente. Os gatos podem ser expostos à infecção por retrovírus, como os que

vivem em colônias ou os que têm acesso a rua, devem ser vacinados

anualmente; já aqueles que vivem isolados em casas ou apartamentos e não

tem acesso a rua, a chance de ocorrência da FeLV é muito baixa e portanto o

clinico pode analisar e reconsiderar a necessidade de vacinar ou não seu

paciente contra essa doença (LIMA et. al., 2007).

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Em um recente estudo realizado por Kass (2003), a administração da

vacina em temperatura muito baixa pode aumentar o risco de desenvolvimento

do sarcoma comparado as vacinas aplicadas a temperatura ambiente. Concluiu

também que a massagem realizada após a vacinação não está relacionada ao

desenvolvimento do tumor.

Seguindo as recomendações do VAFSTF na padronização de protocolos

de vacinação vai ajudar os veterinários a melhor correlacionar uma vacina e

posteriormente o desenvolvimento do tumor. Essas recomendações incluem a

administração de qualquer vacina ou a raiva na região distal membro pélvico

direito, administrar a vacina contra FeLV na região distal membro pélvico

esquerdo e a vacina quádrupla ou quíntupla felina na região proximal do

membro torácico direito (HAUCK, 2003).

McENTEE & PAGE (2001) realizam recomendações para prevenção e

monitoramento do sarcoma de aplicação: a) evitar a vacinação em excesso, só

quando realmente houver o caso, b) padronizar os locais de aplicação, c) usar

doses sempre doses únicas, d) registrar o local de aplicação de vacina para

cada animal de forma individual, e) diminuir o uso de vacinas polivalentes, f)

usar vacinas sem adjuvante, g) evitar o uso de adjuvantes de alumínio e h) o

uso indiscriminado da vacina contra o vírus da leucemia felina deve ser

cessado, e esta não é recomendada para gatos que vivem em ambientes

estritamente domésticos.

A VAFSTF (2005) sugere um resumo com os pontos salientes em que

os médicos veterinários devem estar cientes para realização do tratamento,

como sugere o quadro 1.

Quadro 1: Recomendações para realização do tratamento (VAFSTF, 2005):

Registrar a localização anatômica, tamanho e forma de todas as

formações que ocorrem no local de aplicação

Qualquer formação que se desenvolva no local de aplicação deve

ser considerada maligna até que se prove o contrário. Uma lesão

deve ser totalmente avaliada e tratada de forma agressiva, se

atingir qualquer um desses critérios.

- Persistir a mais de três meses após aplicação

- Tem o diâmetro mais de 2cm

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- Está aumentando de tamanho após um mês da aplicação.

Se a formação se enquadrar um ou mais critérios expostos acima

é recomendado o diagnostico através da biopsia, antes mesmo da

excisão cirúrgica do tumor.

Para as lesões em que for confirmada a malignidade:

- Radiografias Torácicas rotineiras e exames laboratoriais

- Tomografias computadorizadas ou ressonância

magnética, quando viável.

- Consultas com veterinários especializados em oncologia

para saber as opções de tratamento que incluem

quimioterapia, radioterapia, excisão cirúrgica ou outro tipo

de tratamento, já que é uma doença nova e o tratamento

está evoluindo.

- Na excisão cirúrgica retirar o tumor com margem de

segurança de até 2 cm, e se necessário realizar

amputações e remoção de parte da musculatura.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

É sabido que o sarcoma de aplicação tem incidência baixa de

ocorrência, mas representa dentro da medicina felina um grave problema e

com isso o médico veterinário deve ficar ciente da ocorrência dessa reação

inflamatória no local em que foi aplicado qualquer tipo de medicamento ou

vacinas.

A vacinação contra a Leucemia Felina é benéfica, pois previne que o

animal contraia o vírus do sarcoma felino, mas a mesma pode predispor o

animal a apresentar o sarcoma vacinal, com isso cabe ao profissional o bom

senso de avaliar seus pacientes, e saber se há necessidade do mesmo receber

necessária imunização.

Em casos da doença o melhor seria o diagnostico mais precoce e o

devido tratamento a doença. E adotar em todos os pacientes medidas

profiláticas para não haver a ocorrência da doença, como a padronização da

área de aplicação de qualquer substancia no animal.

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