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FELIPE PASQUOTTBORGES
SATISFAO NO TRABALHO PARA FARMACUTICOS EMPREGADOS EM FARMCIAS COMERCIAS DO MUNICPIO DE
FLORIANPOLIS, SANTA CATARINA - 2001
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Sade Pblica - rea de Concentrao Administrao e Planjamento de Servios de Sade, Centro de Cincias da Sade, Univei^idade Federal de Santa Catarina, como requisito parcial obteno do grau de Mestre em Sade Pblica.
Orientador: Prof. Dr. Joo Carlos Caetano
FLORIANPOLIS 2002
SERVIO PUBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE CINCIAS DA SADE PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM SADE PBLICA
" SATISFAO NO TRABALHO PARA FARMACUTICOS EMPREGADOS EM FARMCIAS COMERCIAIS DO MUNICPIO DE FLORIANPOLIS,
SANTA CATARINA-2001
AUTOR: Felipe Pasquotto Borges
ESTA DISSERTAO FOI JULGADA ADEQUADA PARA A OBTENO DO TTULO DE:
MESTRE EM SADE PBLICA
REA DE CONCENTRAO:ADMINISTRAO, PLANEJAMENTO DEy SERVIOS DE SADE
/UProfa. Dra. Vera LijeSa G. Blank
COORDENADORA DO CURSO
BANCA EXAMINADORA:
Registrar aqui meus agradecimentos queles que me deram os instrumentos
necessrios ao vencimento de mais uma importante etapa da vida, o mnimo que
eu poderia fazer.
Sinceros agradecimentos;
aos meus professores do ensino fundamentai e mdio,
aos meus professores do curso de graduao em Farmcia - UFSC,
aos professores do departamento de Anlises Clnicas - UFSC, Maria de
Lourdes Rovaris e Marcos Jos Machado, por terem me guiado nos primeiros
passos com a pesquisa cientfica,
aos professores do programa de ps-graduao em Sade Pblica,
especialmente ao meu orientador Dr. Joo Carios Caetano, Dra. Maria de Lourdes
e ao Dr. Emil Kupek, por todas as dicas, e por todos os esclarecimentos de dvidas
relacionadas dissertao,
aos membros da banca examinadora, que aceitaram compartilhar comigo e
com a audincia um pouco dos seus conhecimentos e da sua experincia.
Minha gratido grande tambm aos colegas farmacuticos e amigos do
Departamento de Cincias Farmacuticas professores Norberto Rech, Rosana
Isabel dos Santos e Mareni Rocha Farias, tanto pelas mensagens transmitidas na
graduao quanto pelo acompanhamento de minha trajetria nos cursos de ps-
graduao.
Tambm sou muito agradecido aos colegas do curso de mestrado, aos
farmacuticos que aceitaram participar da pesquisa, ao pessoal da secretaria do
Mestrado, Eva, Mariane e Patrcia, s bibliotecrias do COMUT/BC/UFSC, ao
professor Paulo Roberto Boff, aos amigos do SINDFAR, e s pessoas que
eventualmente (e infelizmente) eu tenha esquecido de mencionar.
Por fim, agradeo demais aos que acompanharam cada dia e minuto de
minha dedicao; meus pais Luiz e Dionice, minha irm Mrcia e minha
companheira Dani. A estes devo pedir desculpas pelos eventuais e necessrios
stress e isolamento, que foram constantes durante pelo menos durante os ltimos 23
meses, mas que realmente foram excelentes e compensadores.
AGRADECIMENTOS
AGRADECIMENTOS.................................................................................................
SUMRIO................................................................................................................... iii
LISTA DE TABELAS...................................................................................................v
LISTA DE QUADROS.................................................................................................. v
LISTA DE ILUSTRAES.............. ...........................................................................vi
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS................................................................... vii
RESUMO........ .......................................................................................................... viii
ABSTRACT................................................................................................................ ix
1 INTRODUO...................................................................................................... 01
1.1 0 TRABALHO COMO ATIVIDADE HUMANA FUNDAMENTAL .....................01
2 SATISFAO NO TRABALHO: EM BUSCA DE UM CONSENSO................. 06
2.1 PRIMEIRAS ABORDAGENS............................................................................. 06
2.2 MODELOS DAS CARACERSTICAS DA TAREFA..........................................09
2.3 MODELOS SITUACIONAIS............................................................................... 12
2.3.1 Caractersticas Extrnsecas do Trabalho......................................... ...............12
2.3.2 A Satisfao como Produto das Informaes Presentes no Meio Social.... . 13
2.3.3 Contexto Organizacional e Satisfao......................................................... . 14
2.3.4 Educao e Satisfao................................................................................... 16
2.3.5 Satisfao com a Vida e com o Trabalho ..................................................... 17
2.4 MODELOS QUE ENFATIZAM CARACTERSTICAS INDIVIDUAIS................ 18
2.4.1 Valores.............................................................................................................18
2.4.2 Personalidade - Disposies Individuais...................................................... 20
2.4.3 Herana Gentica........................................................................................... 22
2.4.4 Realizao de Expectativas............................................................ ................ 23
2.5 MODELOS MISTOS.......................................................................................... 25
3 FARMACUTICO: 0 PROTAGONISTA DA PESQUISA...................................29
3.1 FARMACUTICOS, INDSTRIA E HISTRIA................................................ 29
3.2 INTERESSES ECONMICOS E PRTICA FARMACUTICA........................32
3.3 AS LTIMAS DCADAS PARA A PROFISSO.............................................. 34
3.3.1 0 Trabalho Dirio dos Farmacuticos............................................... ............35
3.3.2 Remunerao................................................................................................. 39
SUMRIO
III
4 OBJETIVOS..........................................................................................................41
4.1 OBJETIVO GERAL........................................................................................... 41
4.2 OBJETIVOS ESPECFICOS............................................................................. 41
5 REFERENCIAL TERICO................................................................................... 42
5.1 DEFINIO CONCEITUAL DE VARIVEIS.....................................................42
6 METODOLOGIA.................................................................................................. 47
6.1 TIPO DE ESTUDO............................................................................................. 47
6.2 POPULAO DE ESTUDO.............................................................................. 47
6.3 0 CENRIO DE OPERACIONALIZAO DA PESQUISA..............................48
6.4 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS...................... ................................ 50
6.4.1 Entrega e Recolhimento dos Questionrios.................................................. 50
6.5 OPERACIONALIZAO DAS VARIVEIS E ESCALA EMPREGADA........... 51
6.5.1 Definio Operacional de Variveis................................................................52
6.6 VALIDADE DE CONTEDO............................................................................. 55
6.7 CONSISTNCIA INTERNA............................................................................... 56
6.8 PR-TESTE DO QUESTIONRIO................ ...................................................57
6.9 TRATAMENTO DOS DADOS............................................................................58
6.10 QUESTES DE ORDEM TICA ....................................................................60
7 RESULTADOS E DISCUSSO...........................................................................61
7.1..CARACTERSTICAS INDIVIDUAIS.................................................................. 62
7.2 CARACTERSTICAS OBJETIVAS DO TRABALHO........................................ 68
7.3 VARIVEIS SUBJETIVAS DO TRABALHO................... .................................. 74
7.4 MODELO DE SATISFAO NO TRABALHO.................................................. 77
7,4,1 Anlise Multivariada.................................. ...................................................... 84
8 CONSIDERAES FINAIS..................................................... ...........................98
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS...................................................................... 103
APNDICES............................................................................................................110
ANEXOS..................................................................................................................133
IV
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 -
TABELA 2 -
TABELAS -
TABELA 4 -
TABELA 5 -
TABELA 6 TABELA 7
TABELA 8 -
DISTRIBUIO DE PROFISSIONAIS POR FARMCIACOMERCIAL - FLORIANPOLIS, SC - 2001................................61NMERO DE POSTOS DE TRABALHO DOS FARMACUTICOS EMPREGADOS NAS FARMCIAS COMERCIAIS DEFLORIANPOLIS, SC, SEGUNDO 0 SEXO-2 0 0 1 .................... 68JORNADA DE TRABALHO DOS FARMACUTICOS,POR TIPO DE EMPRESA - FLORIANPOLIS, SC - 2001.......... 70PROPORO DO TEMPO DE TRABALHO DIRIO DO FARMACUTICO UTILIZADO PARA ATIVIDADES DE ATENDIMENTO AOS USURIOS, NAS FARMCIASCOMERCIAIS DE FLORIANPOLIS, SC - 2001 ........................ 71PROPORO DA JORNADA DIRIA DE TRABALHO EM QUE 0 FARMACUTICO SE DEDICAVA S ATIVIDADES ADMINISTRATIVAS, NAS FARMCIAS COMERCIAIS DEFLORIANPOLIS, SC - 2001 ........................................................ 72MATRIZ DE CORRELAES DE ORDEM ZERO....................... 78MAIORES MOTIVOS DE SATISFAO RELATADOS PELOS FARMACUTICOS EMPREGADOS NAS FARMCIASDE FLORIANPOLIS, SC - 2001 .................................................. 88MAIORES MOTIVOS DE INSATISFAO NO TRABALHO PARA OS FARMACUTICOS EMPREGADOS NAS FARMCIAS COMERCIAIS DE FLORIANPOLIS, SC-2001.... 90
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 -
QUADRO 2 -
QUADROS -
QUADRO 4 -
QUADRO 5 -
QUADRO 6 -
QUADRO 7 -
QUADRO 8 -
PRINCIPAIS LIMITAES DAS TEORIAS DE SATISFAODE NECESSIDADES.................................................................... 09HIPTESES INDICATIVAS DA DETERMINAO DASATISFAO POR CARACTERSTICAS INDIVIDUAIS............ 21DEFINIO DE VARIVEIS CARACTERIZADAS COMODETERMINANTES DA SATISFAO NO TRABALHO............. 28VARIVEIS MENSURADAS, SUA CLASSIFICAO E OSITENS DO QUESTIONRIO QUE AS REPRESENTAM........... 55INDICADORES DE CONSISTNCIA INTERNA DO QUESTIONRIO PILOTO APLICADO AOS FARMACUTICOS ATUANTES EM FARMCIAS DEMUNICPIOS PRXIMOS FLORIANPOLIS, SC -2001 ........ 58COEFICIENTES ALFA (a) PARA A VERSO FINAL DOQUESTIONRIO...........................................................................74NDICES DAS VARIVEIS SUBJETIVAS DO TRABALHO PARAOS FARMACUTICOS EMPREGADOS NAS FARMCIAS COMERCIAIS DE FLORIANPOLIS, SC -2001 .. 75 MODELO EMPRICO DE SATISFAO NO TRABALHO PARA OS FARMACUTICOS DE FLORIANPOLIS,SC - 2001 ..................................................................................... 85
LISTA DE ILUSTRAES
FIGURA 1 - MODELO HIPOTTICO DE RELAES ENTRE STRESSOCUPACIONAL PERCEBIDO, SUPORTE SOCIAL E SADE....15
FIGURA 2 - HIPTESE DA CONGRUNCIA....................................................24FIGURA 3 - DIAGRAMA DO MODELO HIPOTTICO DE SATISFAO
NO TRABALHO............................................................................... 45FIGURA 4 - MODELO RESULTANTE DE SATISFAO NO TRABALHO
PARA OS FARMACUTICOS EMPREGADOS NAS FARMCIAS COMERCIAIS DE FLORIANPOLIS, SC -2001.... 86
FIGURA 5 - EQUAO DE REGRESSO LINEAR MLTIPLA....................... 87GRFICO 1 - DISTRIBUIO ETRIA DOS FARMACUTICOS
EMPREGADOS EM FARMCIAS COMERCIAIS DEFLORIANPOLIS, SC, SEGUNDO O SEXO-2001 .................... 62
GRFICO 2 - PROPORO DE HOMENS E MULHERES FORMADOS PELO CURSO DE GRADUAO EM FARMCIA DAUFSC -1986-1996.......................................................................... 64
GRFICO 3 - ANO DE FORMAO DOS FARMACUTICOSEMPREGADOS NAS FARMCIAS COMERCIAIS DEFLORIANPOLIS, SC-2001 ....................................................... 65
GRFICO 4 - TEMPO DE TRABALHO DO RESPONDENTE COMO PROFISSIONAL FARMACUTICO - FLORIANPOLIS,SC-2001 ............................. .......................................................... 66
GRFICOS - TEMPO DE VNCULO EMPREGATCIO DOFARMACUTICO COM A FARMCIA - FLORIANPOLIS,SC - 2001 ....................................................................................... 67
GRFICO 6 - ORGANIZAO DA EMPRESA EM QUE 0 FARMACUTICOESTAVA EMPREGADO - FLORIANPOLIS. SC - 2001 ............ 69
GRFICO 7 - SUPERVISOR DIRETO DO FARMACUTICO NA FARMCIA- FLORIANPOLIS, SC - 2001 ..................................................... 73
GRFICO 8 - NDICES MDIOS DE RECONHECIMENTO SOCIAL, PORNMERO DE POSTOS DE TRABALHO PARA OS FARMACUTICOS DE ESTABELECIMENTOS COMERCIAISDE FLORIANPOLIS, SC -2001 ................................................. 79
GRFICO 9 - EFEITO DO SUPERVISOR DO FARMACUTICOSOBRE DIMENSES SUBJETIVAS DO TRABALHO- FLORIANPOLIS, SC -2001 ..................................................... 80
GRFICO 1 0 - NDICES MDIOS DE SATISFAO DOS PROFISSIONAISPOR TIPO DE EMPRESA FARMACUTICA - FLORIANPOIS,SC-2001 ........................................................................................ 82
VI
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ABIFARMA- Associao Brasileira da Indstria FarmacuticaAPhA - American Pharmaceutical Association (Associao Farmacutica da
Amrica do Norte)CFF - Conselho Federal de FarmciaCRF - Conselho Regional de FarmciaDP - Desvio padroEUA - Estados Unidos da AmricaFENAFAR - Federao Nacional dos FarmacuticosFIP - Federao Internacional dos FarmacuticosGNS - Fora das Necessidade de CrescimentoGPP - Good Pharmacy Practice (Boas prticas de farmcia)1C - Intervalo de confianaJRS - Preocupaes Relacionadas ao TrabalhoN - Nmero de indivduos da populaons - No significante em um nvel de 5 % de significnciaOMS - Organizao Mundial da Sader - Coeficiente de correlao de PearsonR - Coeficiente de correlao mltiplaR adj - Coeficiente de correlao mltipla ajustadoRT - Responsvel TcnicoSINDFAR - Sindicato dos Farmacuticos no Estado de Santa CatarinaSC - Estado de Santa CatarinaSFM - Sade fsica e mentalSP - Sress percebidoSSP - Suporte social percebidoTPC - Total Pharmacy Care (Assistncia/Ateno Total de Farmcia)UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina
VII
RESUMO
A satisfao no trabalho um indicador fundamental das condies em que um trabalho exercido. Ela um assunto que vem sendo amplamente pesquisado nos campos da sociologia, psicologia e administrao de empresas, nos quais encontra inmeras explicaes para os seus determinantes. Com a profisso farmacutica, cujas aes podem ter reflexos na sade da populao, estudos de satisfao no trabalho so quase inexistentes, considerando o Brasil. Por este motivo, o objetivo principal do presente levantamento foi identificar determinantes da satisfao no trabalho para farmacuticos. A populao pesquisada consistiu de 71 profissionais empregados em estabelecimentos comerciais de Florianpolis, Santa Catarina, os quais estavam oficialmente registrados como farmacuticos responsveis tcnicos no Conselho Regional de Farmcia do referido estado. Os dados foram coletados atravs de questionrios pr-testados e validados, entregues e recolhidos pessoalmente aos convidados participao da pesquisa. 0 instrumento de coleta de dados continha questes sobre dados demogrficos, caractersticas objetivas e subjetivas do trabalho e maiores motivos de satisfao e insatisfao do respondente. Setenta e dois por cento dos indivduos eram do sexo feminino, 84% possuam entre 21 e 32 anos, e 87% estavam empregados na farmcia havia trs anos ou menos. Conforme a anlise de regresso mltipla, a satisfao no trabalho associa-se positivamente adequao da remunerao, participao nas tomadas de deciso na farmcia e ao vnculo empregatcio com estabelecimentos de rede. Espontaneamente, o atendimento de usurios e o reconhecimento foram os motivos mais citados de satisfao no trabalho, enquanto a baixa remunerao e a falta de reconhecimento foram as mais mencionadas razes de insatisfao. As informaes levantadas so de grande importncia para que os gestores de organizaes farmacuticas repensem as condies de trabalho oferecidas aos profissionais sob sua direo. Estes, mais satisfeitos, tm menor probabilidade de abandonarem seus postos de trabalho e, conseqentemente, a qualidade dos servios oferecidos pela farmcia comunidade tem o potencial de melhorar. Supe-se que haver, na dcada de 2000, uma alta taxa de abandono de emprego pelos farmacuticos empregados nas farmcias comerciais, sobretudo por parte daqueles que estejam constantemente insatisfeitos com algum aspecto do trabalho.
Palavras chave: Satisfao de farmacuticos no trabalho; farmcias comerciais de Florianpolis.
VI
ABSTRACT
Job satisfaction is an indicative of work conditions. This concept has been widely researched in sociology, psychology and organizational fields, where several explanations for its determinants can be found. Pharmacy professionals, whose performance does reflect on public health, have been quite rarely studied in Brazil, For this reason, the main objective of this survey was to identify staff pharmacists job satisfaction determinants. The surveyed population was composed of 71 individuals employed in Florianopolis' independent and chain drugstores who were officially registered at the Santa Catarinas Pharmacy Board as responsible technicians. Data were collected through pre-validated questionnaires, which included queries on pharmacist demographics, work characteristics and satisfaction/dissatisfaction reasons. Seventy-two percent of respondents were female, 84% aged 21 to 32 years old and most of them (87%) had been working for a particular company for less than three years. Multiple regression analysis indicated that work satisfaction is positively related to the monetary compensation, to participation in decision-making and to the work at chain drugstores. Helping customers and being rewarded were spontaneously the most mentioned satisfaction reasons, whereas low wage and lack of reward were the most quoted dissatisfaction causes. Resultant information is fundamental to pharmaceutical organizations managers, directors and owners, in order to rethink the work context, in which these professionals are inserted. The more satisfied pharmacists are, the less likely are they to leave their jobs and, consequently, the quality of services offered to the society is more likely to experience improvements. During the first decade of 2000, a high turnover rate in pharmacy profession is supposed to occur, mainly for those individuals holding persistent levels of dissatisfaction with anyone of the jobs characteristics.
Key words; Pharmacists job satisfaction; chain drugstores; independent drugstores.
IX
1 . 1 0 TRABALHO COMO ATIVIDADE HUMANA FUNDAMENTAL
0 trabalho criador de riqueza, central na lgica econmica, nunca foi to
independente da mo-de-obra humana quanto o hoje (ANTUNES, 1999).
Paradoxalmente, trabalhar a nica forma que a maioria das pessoas tem para
sobreviver, pois esta ao que dota o indivduo de poder de compra, atravs da
remunerao, que s assim pode suprir suas necessidades bsicas para
manuteno da vida. Alm de possibilitar o suprimento destas necessidades,
trabalhar tambm condio para que o sujeito se sinta inserido socialmente
(WICKERT, 1999).
Revolues que ocorreram na histria da humanidade trouxeram mudanas
substanciais em vrios aspectos da vida em diferentes sociedades e pocas. A
primeira destas revolues foi a Agrcola; evidncias da agricultura datam do ano de
9000 antes de Cristo. Com a inveno do arado e o desenvolvimento de mtodos
inovadores de cultivo da terra, ocorridos a partir desse perodo, tornou-se possvel a
produo agrcola em larga escala. , i .-
A segunda, iniciada no sculo XVIII, foi a Industrial. Na realidade, ela foi uma
grande modificao nos processos de utilizao de energia, visto que esta era cada
vez mais necessria para a produo de bens de consumo em quantidades que
suprissem s demandas da populao que se encontrava em rpido crescimento
(BFRANCO, 1991). Foi marcada pela introduo de mquinas no processo produtivo,
com a progressiva substituio de ferramentas que at ento eram movidas pela
fora humana (PIRES, 1998). De acordo com Berger (1983), a Revoluo Industrial
trouxe uma grande fragmentao dos processos especficos de trabalho,
distanciando o trabalhador do produto de seu trabalho. No mesmo sculo de incio
da Revoluo Industrial, a agricultura continuava a ser a atividade produtiva
predominante (FREIRE e BASTOS, 2000).
O ltimo importante conjunto de transformaes mundiais, as quais ainda se
processam, vem sendo chamado de Revoluo Informacional, Tecnolgica, ou do
Conhecimento. Sustenta-se nos ltimos desenvolvimentos da eletrnica,
caracterizando-se pela aplicao de tecnologia digital de base microeletrnica na
1 INTRODUO
estrutura industrial e pelos progressos nos setores de qumica fina, dos novos
materiais, da biotecnologia e da gentica (PIRES, 1998). Com suas inovaes ela
possibilita, por exemplo, a transferncia imediata de dados e informaes em tempo
real entre duas naes situadas em quaisquer pontos do planeta.
Poder-se-ia retornar muito no tempo e serem utilizados inmeros argumentos
para demonstrar que por trs destas grandes revolues que transformaram as
relaes do homem entre si e deste com o espao natural em que vive, o trabalho
humano sempre esteve presente em uma ou mais de suas diversas manifestaes:
concreto, abstrato, criativo, no-criativo, fsico, escravo, voluntrio, construtivo e,
inclusive, destrutivo.
0 trabalho como um problema um fenmeno particularmente moderno que
se relaciona a desenvolvimentos estruturais e ideolgicos recentes na histria do
mundo ocidental. Na maioria das sociedades anteriores o trabalho era um dever
religioso e o sofrimento na vida, incluindo o relacionado com o trabalho, era
entendido como parte do destino (BERGER, 1983).
Os problemas do trabalho intensificaram-se principalmente na dcada de
1990 com a globalizao, que alicerada na revoluo tecnolgica afetou
diretamente o mercado de trabalho e, conseqentemente, o comportamento do
trabalhador (MACHADO et al., 1997). 0 trabalho vem sendo cada vez mais realizado
sob condies precrias e oferecido de forma parcial e temporria (ANTUNES, 1999;
KILIMNIK, 1998). Em geral, conceb-lo como fonte de realizao individual algo
distante da realidade.
um fato que por muito tempo o mercado demandou grande quantidade de
mo-de-obra, sobretudo para atuao na indstria (WICKERT, 1999). Todavia, como
uma caracterstica do sistema capitalista a busca incessante por ganhos de
produtividade, a mo-de-obra atingida diretamente com demisses quando se
buscam alternativas para a reduo de custos. Para os perodos de crise serem
contornados tambm tem se recorrido extenso da jornada de trabalho e
reduo da remunerao (PIRES, 1998). Outro aspecto que caracterizou a dcada
de 1990 foi o grande crescimento do setor de servios e o contnuo decrscimo da
demanda por mo-de-obra na indstria. Freire e Bastos (2000) afirmam que j se
iniciou h alguns anos a tendncia da quantidade de trabalho humano disponvel
exceder a quantidade necessria.
Nem todos, entretanto, sofrem os mesmos impactos negativos das
transformaes no mundo do trabalho. Determinadas atividades esto em plena
ascenso, como possvel observar nas reas de informtica, telecomunicaes,
desenvolvimento de novos materiais e outras ligadas alta tecnologia. Segundo
Drucker (1993), em 2010 menos de um dcimo da fora de trabalho nos pases
desenvolvidos estar realizando atividades manuais, as quais dizem respeito
produo e movimentao de objetos e no exigem nenhuma qualificao do
trabalhador.
Essa tendncia j observada no Brasil, onde de 1985 para 1995 houve um
aumento relativo de pessoas trabalhando formalmente em ocupaes que exigem
habilidades cognitivas e, por outro lado. uma diminuio de trabalhadores em
atividades que demandam a utilizao de fora ou habilidades fsicas (FREIRE e
BASTOS, 2000). Apesar disto, o trabalho desafiante, que no seja montono,
possibilite a realizao do indivduo e supere o mero suprimento das suas
necessidades fisiolgicas, ainda privilgio de poucos (KILIMNIK, 1998). As
atividades desempenhadas pelo grande contingente populacional, sobretudo nos
pases em desenvolvimento, no possuem a caracterstica de serem desafiantes
nem de propiciarem aos seus executores o desenvolvimento pessoal. Em 1995,
76,4% dos brasileiros com empregos formais realizavam atividades nas quais
prepondera a utilizao de fora em detrimento de conhecimento, o que
representava 18,5 milhes de pessoas (FREIRE e BASTOS, 2000). Com estas
constataes uma realidade que o trabalhador veja como rivais todos aqueles que
potencialmente possam ocupar o seu lugar, reproduzindo, desta forma, a ideologia
de que os que se esforam e se dedicam so merecidamente bem-sucedidos, como
se no houvesse um problema de natureza estrutural (LANE, 1981).
Tonelli (2001) comenta que com o mercado de trabalho de estrutura mais
instvel e com uma situao flutuante de empregos, o trabalhador mantm uma
conduta que pode oscilar entre o sucesso e a ansiedade. A flexibilizao deste
mercado impe dificuldades na construo de carreiras, que obrigam os indivduos a
serem rpidos e inovadores para obterem sucesso. Isto os leva a se tornarem
dependentes do sucesso e, portanto, do trabalho.
Nos ltimos anos tem se intensificado um tipo muito peculiar de trabalho que
merece ser citado: o voluntrio. A medida em que o incentivo realizao desta
atividade se reveste de interesses bastante discutvel. No entanto um fato
interessante que um nmero crescente de pessoas, no Brasil e em outros pases,
sensibilizadas com as desigualdades sociais existentes ou motivadas por outras
razes, venha dedicando seu tempo ao trabalho voluntrio. Mais interessante que
estas pessoas no so remuneradas pelo trabalho que realizam.
Enfim, a sociedade transforma-se com o trabalho e este modifica a sociedade.
Definido como Atividade coordenada, de carter fsico e/ou intelectual, necessria
realizao de qualquer tarefa, servio ou empreendimento, faz parte da vida de
quase todos os indivduos (FERREIRA, 1986). De acordo com Berger (1983),
trabalhar imitar a prpria criao,
No mundo de hoje qualquer trabalho rapidamente transformado em negcio
0, paradoxalmente, alguns tm trabalho e dinheiro mas possuem pouco tempo,
enquanto outros tm tempo mas no tm trabalho nem dinheiro (HANDY, 1995),
Nessa sociedade, observa-se tambm a valorizao do status social e da imagem, e
um expressivo consumo de produtos que alimentem tais dimenses da vida. Assim,
relacionada aos fatos e aos elementos expostos at aqui, h uma questo muito
discutida na literatura, pelo menos desde a metade do sculo XX, mas que ainda
n encontrou respostas certas nem definitivas: que componentes do trabalho ou do
contexto em que este realizado so determinantes para a satisfao?
Mottaz (1985) diz que o interesse no assunto deve-se crena de que a
satisfao afeta a produtividade do trabalhador, as taxas de absentesmo e a
rotatividade e, conseqentemente, a eficcia organizacional. Outra razo levantada
por este e outros autores como Kaileberg (1977), e talvez a mais importante de
todas, surge da noo de que a satisfao no trabalho possa ter srias
conseqncias sobre o bem-estar individual em termos de sade fsica e mental e
sobre a qualidade de vida fora do trabalho,
0 presente estudo foi uma tentativa de se responder pergunta
anteriormente exposta para um grupo especfico de profissionais. Atravs de um
levantamento realizado com farmacuticos, vrias dimenses do trabalho destes
foram exploradas e documentadas, assim como buscou-se determinar o efeito de
caractersticas do trabalho sobre a satisfao. Os farmacuticos so atores de uma
profisso da rea da sade que historicamente sofrem as conseqncias de ter
como instrumento de trabalho o medicamerito, um insumo da sade e ao mesmo
tempo um bem de consumo sujeito s leis do mercado. A farmcia passou por um
peculiar processo de profissionalizao e ainda se depara com muitas dificuldades,
mas, por outro lado, vm existindo grandes oportunidades de mostrar sociedade a
sua importncia e obter reconhecimento.
Como ser visto, o farmacutico tm um papel fundamental na resoluo de
problemas de sade que afetam a populao. Precisa, portanto, ter condies
adequadas de trabalho para que possa oferecer servios da mais alta qualidade
possvel. Conforme Mottaz (1985), a busca de melhorias nas condies de trabalho
exige um amplo entendimento de como as numerosas dimenses dele se
relacionam com a satisfao. E este foi o objetivo fundamental do presente estudo.
Quanto organizao desta dissertao, primeiramente apresentada a
reviso bibliogrfica acerca de satisfao no trabalho, na qual possvel constatar a
complexidade deste tema e as suas mltiplas faces. Em seguida, as principais
caractersticas da profisso farmacutica so expostas para que seja conhecida um
pouco da sua histria e dos elementos que podem estar envolvidos na explicao da
satisfao ou insatisfao dos farmacuticos que lidam com o comrcio de
medicamentos. 0 referencial terico, por sua vez, traduz os aspectos da reviso
bibliogrfica sobre a satisfao e a profisso julgados pelo autor como mais
relevantes para a pesquisa. Por fim, discutem-se os resultados de um levantamento
realizado no Municpio de Florianpolis, Estado de Santa Catarina, o qual foi a
concretizao da proposta de investigao emprica desta dissertao.
Da mesma forma que no existe na literatura^ um consenso sobre o conceito
de satisfao no trabalho, h a sugesto de inmeros fatores que podem determin-
la. Em geral ela se trata de um constructo que diz respeito uma atitude ou a um
estado emocional positivo frente ao trabalho e s experincias no seu contexto
(LIMA, VALA e MONTEIRO, 1995). Para Agho, Mueller e Price (1993) ela a
medida em que uma pessoa gosta do seu trabalho. J Mitchell (1973) define
satisfao no trabalho como um sentimento positivo do indivduo sobre a posio
que ocupa, semelhantemente Kaileberg (1977), que diz que ela se refere uma
orientao afetiva geral de um indivduo em relao aos seus papis no trabalho.
A classificao adotada neste captulo, em relao a fatores que possam
conduzir satisfao, tem a finalidade de facilitar a apresentao do assunto. Como
ser visto, h autores que se baseiam em uma linha terica pnncipal para tentar
explicar o fenmeno da satisfao, porm, muitas vezes, testam empiricamente
hipteses alternativas s suas, de modo a fazerem comparaes. Portanto, a diviso
a seguir no esttica e tampouco inflexvel. As fronteiras entre uma seo e
outra so freqentemente imaginrias, sendo criadas a partir da abordagem
predominante que porventura tenha sido utilizada pelos autores nos seus artigos.
2.1 PRIMEIRAS ABORDAGENS
Um dos primeiros autores a abordar a satisfao no trabalho e,
principalmente, motivao nele foi Abraham Maslow, em 1943. De forma
esquemtica ele classificou hierarquicamente as necessidades humanas, afirmando
que o comportamento das pessoas sempre orientado visando satisfao de
necessidades. Ele acreditava que uma necessidade superior na hierarquia s seria
sentida quando uma inferior fosse relativamente satisfeita. De baixas a elevadas,
elas foram classificadas por Maslow (1943) em;
2 SATISFAO NO TRABALHO: EM BUSCA DE UM CONSENSO
' Para a realizao da reviso bibliogrfica desta dissertao foi priorizada a busca de fontes de informao publicadas a partir de 1970, nos idiomas portugus e ingls.
7
a) fisiolgicas: fome, sede e outros fatores indispensveis sobrevivncia
biolgica;
b) de segurana; necessidade de proteo contra ameaas de perigo, tanto
fsico quanto emocional;
c) sociais; de afeio, aceitao social, amizade e relacionamento com
outras pessoas;
d) de auto-estima; necessidade de autonomia, de sentir-se competente, de
status, reconhecimento, prestgio, ateno e considerao;
e) de auto-realizao: a mais elevada necessidade humana, incluindo a de
crescimento pessoal e a de alcance das potencialidades mais elevadas do
indivduo.
Aguiar (1981) ainda acrescenta na hierarquia as necessidades estticas, que
se referem busca do belo e do esttico. Sobre as necessidades de auto-estima,
este autor diz que elas podem dividir-se naquelas cuja satisfao depende da
prpria pessoa (de suas capacidades e competncias, por exemplo) e naquelas em
que para haver satisfao preciso de um componente externo, tais como as
necessidades de status e de reconhecimento.
Maslow (1943) afirma que a hierarquia no algo rgido. As necessidades de
algumas pessoas em relao s categorias de necessidades podem diferir (apud
KOPELKE, 1998). Determinados indivduos podem valorizar mais a auto-estima do
que a prpria segurana, apesar de esta se encontrar em um nvel inferior na
hierarquia.
Conforme Williams (1978), a existncia de necessidades no satisfeitas
provoca um estado de tenso no ser humano, o qual comportar-se- de modo a
tentar satisfaz-las. Ser limitado, porm, pelas suas condies fsicas, materiais e
emocionais. Apesar das crticas que esta teoria j recebeu, devido ao seu carter
reducionista, de acordo com Rodrigues (1999) h autores que utilizam alguns dos
princpios de Maslow nos seus modelos explicativos de satisfao no trabalho.
A teoria de Maslow contempla um ser humano que no redutvel fisiologia,
no responde apenas mecanicamente a estmulos e no dominado por impulsos
agressivos e destrutivos (AGUIAR, 1981). A razo de se abordar aqui esta teoria,
apesar de suas deficincias e das crticas recebidas, explicitar organizadamente as
8
necessidades que um ser humano pode ter e que, se no satisfeitas, conduzam a
um sentimento de insatisfao no trabalho e/ou fora dele.
Outra teoria muito difundida sobre satisfao no trabalho a de Frederick
Herzberg, descrita em 1959, sendo chamada de teoria da higiene-motivao. Ela
estabelece que os fatores associados com a satisfao so distintos daqueles que
levam insatisfao. Por isto, o oposto da satisfao no trabalho definido como a
ausncia de satisfao, assim como o contrrio da insatisfao ausncia de
insatisfao, ou seja, satisfao e insatisfao so conceitos que no pertencem a
um mesmo continuum. (HERZBERG et al., 1959; HERZBERG, 1997^)
De acordo com este autor as necessidades humanas so classificadas em
dois tipos. No primeiro deles esto as derivadas da natureza animal humana, que
so as necessidades biolgicas bsicas e podem ser exemplificadas pela fome.
Estas so conhecidas como os fatores higinicos e, no trabalho, so representadas
pelas polticas da empresa e pela forma que ela administrada, pelo relacionamento
de um indivduo com o seu supervisor e com outros colegas de trabalho, pelas
condies de trabalho, pelo salrio recebido entre outros. Estes fatores so
apresentados por Herzberg como os maiores motivos de insatisfao no trabalho e
relacionam-se ao seu contexto. O segundo tipo de necessidades so as de
crescimento, tambm denominadas fatores motivacionais. Potenciais geradores de
satisfao no trabalho, estes fatores so: o reconhecimento pela execuo das
tarefas, o status que o trabalho propicie, as prprias caractersticas das tarefas
desempenhadas, a segurana no emprego e a possibilidade de progresso na
empresa. Estes aspectos so intrnsecos ao trabalho e fazem parte do seu
contedo, diferentemente dos vistos anteriormente, os quais so extrnsecos e
dizem respeito ao contexto de trabalho.
A metodologia que Herzberg empregou no estudo da satisfao e que o levou
a estas concluses foi perguntar ao trabalhador os maiores motivos de satisfao e
insatisfao no trabalho. Foi observado que determinados fatores eram
proporcionalmente citados mais como motivos de satisfao, enquanto outro grupo
de fatores eram proporcionalmente mais declarados como geradores de
insatisfao.
Original de 1968.
Modelos de satisfao de necessidades foram analisados por Salancik e
Pfeffer (1977) com o propsito de avaliar-se a utilidade deles para o entendimento
das reaes do indivduo no trabalho. Os pontos constatados como inconsistentes
esto listados no quadro 1. Os autores afirmam que tais modelos sobreviveram mais
pela sua esttica do que pela sua utilidade cientfica.
QUADRO 1 - PRINCIPAIS LIMITAES DAS TEORIAS DE SATISFAO DE NECESSIDADES
Tpico Deficincia
Criao de aspectos
positivos inexistentes
Se o indivduo gosta do seu trabalho por qualquer razo
ele pode imputar neste caractersticas desejadas como
uma conseqncia.
Estabilidade das
necessidades
Nessas teorias as necessidades so conceitualizadas
como caractersticas relativamente estveis.
Influncia de terceiros
sobre as necessidades
Os modelos no enfatizam a possibilidade das
caractersticas do trabalho serem realidades socialmente
construdas.
Definies imprecisas As definies das necessidades so vagas.
Inevitvel relao de
causa-efeito
Est implcito nos modelos que as necessidades so
inevitveis determinantes da ao.
No adaptabilidade
dos indivduos
No considerada a capacidade de o ser humano se
adaptar na busca da satisfao.
FONTE: SALANCIK, G. R.; PFEFFER, J. An examination of need-satisfaction models of job attitudes. Administrative Science Quarterly, v. 22, p. 427-456, 1977.NOTA: Traduzido e adaptado pelo autor.
2.2 MODELOS DAS CARACTERSTICAS DAS TAREFAS
As recompensas intrnsecas que um determinado trabalho proporcione esto
diretamente associadas ao executar a tarefa. (KATZ e VAN MAANEN, 1977, apud
MOTTAZ, 1985)
Hackman e Oldham (1975) elaboraram um modelo de satisfao no trabalho
que citado com grande freqncia na literatura, o qual tem bases na teoria de
Herzberg (LIMA, VALA e MONTEIRO, 1995). Os seus autores afirmam que o
1 0
principal componente da satisfao o contedo do trabalho, isto , a execuo da
tarefa, e salientam que este se compe de cinco dimenses que precisam estar
presentes e serem percebidas pelo trabalhador para que ele tenha um nvel elevado
de satisfao. A seguir so expostas estas dimenses da tarefa capazes de levar a
estados psicolgicos especficos e, subseqentemente, satisfao, descrevendo-
se os respectivos pressupostos de cada dimenso;
a) Variedade de habilidades; o trabalho deve exigir do indivduo a utilizao
de diferentes habilidades e talentos;
b) Identidade da tarefa; o trabalho deve ser realizado do incio ao fim e ter um
resultado visvel para quem o realiza;
c) Significao da tarefa; a realizao da tarefa precisa ter um impacto
substancial na vida ou no trabalho de outras pessoas;
d) Autonomia; o empregado necessita ter liberdade e independncia para a
realizao de suas atividades, possibilitando que sinta responsabilidade
pelos seus resultados;
e) Feedback do trabalho; o trabalhador precisa obter informaes diretas e
claras sobre a efetividade do seu desempenho, ou seja, deve conhecer os
resultados do seu trabalho.
As tarefas que possuem estas cinco caractersticas so chamadas por
0 ' Reilly e Caldwell (1979) de enriquecidas.
Eventuais diferenas que os indivduos possam apresentar entre si tambm
so consideradas neste modelo atravs da mensurao de uma varivel
teoricamente moderadora chamada de fora da necessidade de crescimento
{growth need strength-GNS). Esta corresponde ao grau de importncia que cada
sujeito atribui para a execuo de uma atividade desafiante e que possibilite
crescimento e desenvolvimento pessoal. Deste modo, conforme Loher et al. (1985),
os trabalhadores com elevadas necessidades de crescimento deveriam demonstrar
maior satisfao com tarefas que fossem fortemente caracterizadas pelas cinco
dimenses citadas, em comparao aos indivduos com baixas necessidades.
Empiricamente, a teoria de Hackman e Oldham (1975) foi confirmada pelos
seus prprios autores; j Rodrigues (1999) e Lima, Vala e Monteiro (1995)
confirmaram-na apenas parcialmente.
11
Um estudo meta-analtico (Loher et al., 1985) incluiu 28 artigos de
publicaes peridicas das reas de psicologia, comportamento organizacional e
gesto de recursos humanos, os quais haviam aplicado a metodologia de Hackman
e Oldham (1976; apud LOHER et al., 1985) para o estudo da satisfao no trabalho.
Os artigos utilizados haviam sido publicados entre 1971 e 1982, representando um
total de 15 542 indivduos. Foi encontrado que cada uma das cinco dimenses do
trabalho relaciona-se com fora semelhante satisfao, evidenciando-se a falta de
especificidade das medidas usualmente empregadas. Por este motivo, pde ser
determinada a relao entre uma medida combinada e nica das cinco dimenses, e
a satisfao. A magnitude desta associao resultou moderada, e a varivel GNS
mostrou ter natureza moderadora, todavia, a fora da associao no grupo com
elevadas necessidades de crescimento foi fracamente superior ao naquele com
baixas necessidades.
O modelo de Hackman e Oldham (1975) tambm j foi utilizado como
referencial para a realizao de uma pesquisa qualitativa sobre satisfao no
trabalho, diferentemente da metodologia quantitativa originalmente proposta e
operacionalizada. Nesta, Kilimnik (1998) investigou os fatores de contedo e de
contexto do trabalho de sujeitos autnomos os quais haviam sido demitidos de
empresas em que previamente estavam empregados. Encontrou-se que os
entrevistados, ao passarem a atuar como profissionais liberais, sentiram melhoria no
contedo do seu trabalho, mas em relao ao seu contexto sentiram-se
prejudicados, e a maioria manifestou preferncia pelo trabalho na condio de
empregado. Os maiores motivos de insatisfao relatados foram a falta de
segurana, a diminuio do contato com pessoas, a inexistncia de benefcios e a
insegurana pelo no recebimento de salrio.
Spector (1986) foi outro autor a estudar a associao de caractersticas
intrnsecas do trabalho com a satisfao. Atravs de uma meta-anlise ele
investigou o efeito do grau de controle percebido no trabalho sobre outras variveis
(entre elas a satisfao). 0 grau de controle foi referido em dois sentidos pelo autor:
na medida da autonomia do trabalhador e na medida da sua participao nas
tomadas de deciso da empresa. Atravs da anlise de um total de 88 estudos foi
constatado que o nvel de satisfao no trabalho maior quanto maior a
autonomia e a participao do indivduo no processo de gesto da sua organizao.
1 2
Apesar desta correlao positiva ter sido encontrada, sua magnitude variou de fraca
moderada.
2.3 MODELOS SITUACIONAIS
Conforme Schein (1982), ainda que possam iniciar a vida com caractersticas
biolgicas semelhantes, os seres humanos desenvolvem padres de necessidades,
motivos, atitudes e valores diferentes. Estes padres podem ser o reflexo da
situao scio-cultural em que cresceram ou se encontram em determinado
momento da vida.
As abordagens situacionais so aquelas que buscam explicaes para a
satisfao em variveis do trabalho (com exceo das caractersticas intrnsecas
deste, que j foram abordadas anteriormente) e em dimenses externas a ele, no
negando, porm, que exista relao entre estes dois grupos de variveis. Katz
(1978) destaca que grande parte da satisfao de um empregado pode derivar da
interao com o ambiente de trabalho e de como ele define esse ambiente.
2.3.1 Caractersticas Extrnsecas do Trabalho
As caractersticas extrnsecas, ou de contexto do trabalho, j foram
apresentadas na seo 2.1. e, conforme apresentado, so qualificadas por Herzberg
como principais motivos de insatisfao no trabalho. Mottaz (1985) tambm as
chama de recompensas extrnsecas ou instrumentais, que so compensaes
tangveis obtidas atravs do trabalho, e cita o pagamento ao trabalhador, as
oportunidades de promoo, os benefcios e a segurana no trabalho como fatores
desta natureza.
Na realidade, no existem autores que defendam que as caractersticas
extrnsecas sejam determinantes da satisfao no trabalho. Usualmente esta
hiptese avaliada como concorrente quela em que o pesquisador est mais
interessado, o que se observou em muitos estudos descritos aqui. Desta forma, ela
tem sido utilizada apenas como um referencial comparativo para outras hipteses
julgadas como de relevncia superior.
13
2.3.2 A Satisfao como Produto das Informaes Presentes no Meio Social
Alguns autores questionaram o modelo de Hackman e Oldham, sugerindo que
a satisfao determinada em parte pelas informaes que o trabalhador tem
acesso, sobre as tarefas executadas. 0 assunto foi tratado nesta perspectiva
inicialmente por Salancik e Pfeffer (1977). Eles argumentam que o trabalho est
inserido em um ambiente social que afeta o modo como as pessoas caracterizam
esta atividade e como se sentem em relao ela. Salientam que at as presumidas
necessidades humanas bsicas tais como a sede, a fome e o sexo so em parte
socialmente condicionadas. Assim, caractersticas so atribudas ao trabalho, e isto
pode ser conseqncia de um processo social. Alm do mais, conforme sua teoria,
uma atitude denvada de qualquer informao disponvel quando se perguntado
sobre ela. Os comentrios feitos por terceiros podem ser melhores preditores da
satisfao e de outras reaes do trabalhador tarefa do que as prprias
caractersticas objetivas desta.
Segundo O'Reilly e Caldwell (1979), o mesmo trabalho pode ser percebido
diferentemente por grupos diferentes de indivduos, e at as mesmas dimenses da
tarefa podem ser vistas como positivas em um ambiente e negativas em outro.
LaRocco et al. (1980) dizem que os comentrios de terceiros s vezes levam o
trabalhador a acreditar que as condies de trabalho a que se submetem no so
to ruins, enquanto em outras ocasies convencem-no de que elas so at piores do
que realmente so.
Em um estudo experimental O'Reilly e Caldwell (1979) testaram
simultaneamente os efeitos que as informaes disponveis sobre a tarefa e que a
realizao de tarefas enriquecidas teriam sobre a satisfao. Encontraram que
ambas as variveis tm a caracterstica de influenciar esta atitude no trabalho, mas,
comparativamente, as informaes sociais (aspecto predominantemente subjetivo)
tm um maior impacto sobre a satisfao do que a prpria realizao de atividades
enriquecidas, que uma caracterstica objetiva.
White e Mitchell (1979) realizaram um experimento similar ao citado
anteriormente, com a diferena de que neste as informaes recebidas pelo
trabalhador eram transmitidas pelos pesquisadores na forma de comentrios orais,
enquanto no primeiro o eram feito na forma escrita. Apenas a varivel informaes
14
sociais se associou a maiores nveis de satisfao, o que no ocorreu com a
realizao de tarefas enriquecidas (com variedade, significncia, identidade e
demais dimenses).
Esta abordagem, chamada por Tamayo (2000) de teoria do processamento
da informao social, ressalta o importante papel dos fluxos de informao como
determinantes do comportamento, O'Reilly e Caldwell (1979) enfatizam que ao estar
sujeito s influncias informacionais de colegas de trabalho e da sociedade em
geral, o indivduo pode responder de formas distintas s mesmas caractersticas
objetivas de trabalho. White e Vlitchell (1979) dizem que a percepo do ambiente
resulta de uma combinao das informaes disponveis sobre a tarefa e das
caractersticas objetivas desta, e no de apenas um destes fatores.
2.3.3 Contexto Organizacional e Satisfao
Assim como terceiros podem influenciar o indivduo em relao percepo
que este tem da realidade, conforme Salancik e Pfeffer (1977) haviam sugerido, as
relaes sociais tambm podem possuir um papel de suporte em situaes
desfavorveis da vida. LaRocco et al. (1980) testaram empiricamente o efeito do
suporte social sobre o stress ocupacional, sobre os problemas no trabalho e sobre a
sade fsica ou mental individual. Sugeriu-se que o suporte emocional de
supervisores e colegas no trabalho e o de amigos, familiares e do cnjuge (varivel
suporte social percebido - SSP) poderia ter efeito direto sobre as variveis stress
ocupacional, problemas no trabalho e sade mental, do mesmo modo que poderia
ser uma varivel moderadora das relaes destas trs variveis entre si. Na figura 1
apresentado o diagrama com as supostas relaes do suporte social percebido
com as outras variveis sob avaliao.
Para a mensurao de cada varivel foram utilizados diversos indicadores
que objetivaram representar as suas diferentes dimenses. Compuseram cada
varivel, ento, os seguintes elementos;
a) stress percebido no trabalho (SP); carga de trabalho, conflito de papis,
incertezas sobre o futuro da carreira e do trabalho, subutilizao de
habilidades e autonomia;
15
b) preocupaes no trabalho (JRS): insatisfao no trabalho, insatisfao
com a carga de trabalho e tdio;
c) sade fsica e mental (SFM): queixas somticas, depresso, ansiedade e
irritao.
FIGURA 1 - MODELO HIPOTTICO DE RELAES ENTRE STRESS OCUPACIONAL PERCEBIDO, SUPORTE SOCIAL E SADE
FONTE: LAROCCO, J. M.; MOUSE, J. S.; FRENCH, J. R. P. Social support, occupational stress, and health. Journal o f Health and Social Behavior, v. 21, p. 202-218, 1980.NOTA; Traduo e adaptao do autor.
Cada fiecha numerada diz respeito uma hiptese do estudo.
Estatisticamente, elas representam:
Hiptese 1 ; 0 SSP ameniza a relao entre SP e os JRS.
Hiptese 2: 0 SSP ameniza a relao entre os JRS e a SFM.
Hiptese 3: 0 SSP tem um efeito direto e negativo sobre os JRS.
Encontrou-se que o suporte social diminui o efeito do stress (no mostrado) e
das JRS sobre a sade do trabalhador, mas o impacto do stress sobre os JRS no
afetado pelo suporte social. O suporte de colegas de trabalho revelou-se como o
mais importante, em comparao com o de outras fontes, na proteo dos
trabalhadores do efeito do stress percebido na manifestao de depresso e de
outros problemas somticos. 0 suporte de pessoas de fora do trabalho no parece
ter efeito direto sobre as JRS e no reduz o impacto do stress percebido sobre as
JRS. Em resumo, concluram que o stress e as JRS (dentre as quais est a
insatisfao) so primeiramente afetadas pelas fontes de suporte relacionadas ao
trabalho, e os efeitos so mais principais do que moderadores.
16
A satisfao no trabaiino tambm sugerida como resultante das polticas que
uma empresa adota em relao aos seus funcionrios. Walton^ (1997), por exemplo,
compara duas estratgias que empresas freqentemente utilizam na administrao
da fora de trabalho. A primeira, a de controle, baseia-se no modelo taylonsta de
gesto, caracterizada pela hierarquia, pela realizao de uma tarefa bem definida
pelo trabalhador e pela restrio do acesso deste s informaes da empresa. A
segunda, denominada de estratgia do comprometimento, tem como principais
caractersticas: aumento da responsabilidade individual pelo trabalho, ampliao do
contedo deste (ou seja, o cargo enriquecido), trabalho em equipe, existncia de
poucos nveis hierrquicos no organograma institucional e salrios variveis
conforme a produtividade individual. De acordo com o autor, a aplicao desta ltima
estratgia proporciona maiores condies de o trabalhador se satisfazer, em
comparao primeira.
As consideraes de Walton (1997) pressupem que diversos aspectos de
uma atividade so determinados pela prpria empresa em que o empregado
trabalha. H caractersticas das posies ocupadas em uma instituio que dizem
respeito s decises da prpria direo desta. Pode se dizer que, pelo menos em
parte, a satisfao do trabalhador depende de como a empresa gerida e das
decises tomadas pelos seus dirigentes. Mott (2000) afirma que as razes para
abandono de um emprego, por exemplo, podem estar relacionadas com aspectos
que podem ser modificados pela organizao empregadora (salrio, horrios de
trabalho, entre outros) e por fatores que no dependem dela e que, portanto, no
podem ser alterados (desejo do indivduo ter novos desafios e outras motivaes
pessoais).
2.3.4 Educao e Satisfao
0 efeito que a educao tem sobre a satisfao no trabalho e como estas
duas variveis se relacionam com o controle percebido sobre o trabalho foram
examinados por Ross e Reskin (1992). De acordo com estes, a educao aumenta o
acesso do indivduo a trabalhos autnomos, no rotineiros, que possibilitem o
Publicado originalmente em 1985.
17
exerccio de autoridade e queles em que sejam feitas decises sobre os
investimentos financeiros da organizao. A educao, assim, possibilita s pessoas
exercerem atividades sobre as quais possam ter controle. A satisfao, por sua vez,
associa-se positivamente a atividades no rotineiras e com graus mais elevados de
autonomia (efeito indireto positivo da educao). Todavia, o efeito direto da
educao sobre a satisfao negativo, isto , quanto maior o nmero de anos de
estudo formai, menor tende a ser o nvel desta. Os autores atribuem isto s
expectativas que os trabalhadores criam por possurem um maior grau de instruo.
A educao foi includa como abordagem situacional no por ser uma varivel
que possa causar diretamente satisfao ou insatisfao no indivduo, mas por ser
um meio fundamental, relacionado situao em que se vive, atravs do qual
possvel o acesso uma ocupao com potencial de proporcionar satisfao. A
educao interfere na forma de que o mundo interpretado.
2.3.5 Satisfao com a Vida e com o Trabalho
De modo semelhante que a educao e outras inmeras variveis do
trabalho e individuais podem refletir nos nveis de satisfao, j foi sugerido que a
satisfao do indivduo com a sua vida tambm pode ter esta capacidade. Rain et ai.
(1991) analisaram separadamente estudos a este respeito que haviani sido
realizados anteriormente dcada de 1980, e deste ano at 1988. 0 primeiro
conjunto de publicaes sugeriu hipteses que diferiam apenas em termos da
natureza da correlao. Neste perodo era predominante a afirmao de que a
relao entre as duas variveis seria positiva, sendo que, implicitamente, assumia-se
que a satisfao no trabalho teria influncia positiva sobre a satisfao na vida. No
entanto uma relao recproca tambm foi proposta. Do perodo de 1980 a 1988
foram analisados 24 estudos. Os autores chegaram concluso que existe uma
relao positiva entre as duas variveis, isto , quanto maior a satisfao com um
dos aspectos, maior com o outro. Poucos estudos deram suporte hiptese de que
uma alta satisfao com a vida compensaria o baixo nvel de satisfao com o
trabalho e vice-versa. Uma constatao interessante foi a de que at 1974 a relao
entre as duas variveis apresentava-se em mdia mais forte para os homens
(r=0,40) em comparao s mulheres (r=0,20). Aps este ano a relao mostrou-se
18
no ser diferente nos dois grupos (r=0,37 para ambos), permanecendo praticamente
estvel para os homens e quase duplicando para as mulheres.
2.4 MODELOS QUE ENFATIZAM CARACTERSTICAS INDIVIDUAIS
As abordagens a seguir enfatizam caractersticas do indivduo como
determinantes da satisfao no trabalho, comparando-as, s vezes, com as
caractersticas do ambiente ou do trabalho.
Arvey et al. (1989) ressaltam que comum certas pessoas parecerem
insatisfeitas em diferentes circunstncias no trabalho, enquanto outras demonstram
satisfao independentemente da sua situao passada ou presente nele. Se o
indivduo indiferente ao contexto e reage da mesma forma em diferentes situaes
do trabalho, evidente que alguns dos seus sentimentos sejam caractersticas
prprias que lhe acompanham. Como conseqncia, este o pressuposto que d
sustentao aos modelos que enfatizam caractersticas do indivduo como
determinantes da satisfao.
2.4.1 Valores
Pela teoria de Durkheim, a sociedade oferece ao sujeito normas e valores
sobre os quais ele pode organizar uma vida razoavelmente feliz. Aos trabalhadores
so distribudos diferentes tipos de metas a serem perseguidas, as quais dependem
da colocao de cada um na estrutura social. 0 trabalho constituir uma fonte de
satisfao somente medida que facilitar a busca destas metas. Com base nessas
afirmaes, pressupe-se que o trabalho intrinsecamente compensador s
importante para aqueles que aprenderam a valoriz-lo. As abordagens
Durkheimianas consideram as diferenas socialmente induzidas nos valores e nas
expectativas dos indivduos, associadas s diferenas nas suas experincias de
socializao derivadas da educao e da classe social. (GRUENBERG ,1980)
Segundo Kaileberg (1977), as variaes nos valores atribudos ao trabalho
pelas pessoas so decorrentes de trs sries gerais de fatores;
19
a) socializao e outras experincias pessoais, as quais acontecem antes da
entrada do indivduo no mercado de trabalho e que definem a viso que
ele ter da importncia das dimenses do trabalho;
b) papis fora do trabalho, os quais criam restries nos tipos de significados
que 0 indivduo pode buscar no trabalho;
c) experincias no trabalho, que afetam o valor que o trabalhador atribuir
para as potenciais recompensas geradas por esta atividade.
Tamayo (2000), utilizando o que denominou de abordagem multifatorial de
satisfao no trabalho, levantou a hiptese de que o sistema de valores"' do
indivduo pode ser um fator determinante para a manifestao deste sentimento.
Partiu do pressuposto terico que a satisfao dependente da diferena entre o
que buscado pelo sujeito no trabalho (com base em seus valores pessoais) e
aquilo que ele realmente alcana. 0 tema, assim, abordado sob uma perspectiva
predominantemente individualista, pois no se discute o papel das dimenses do
contedo e do contexto do trabalho na determinao da satisfao. Ele chama de
coletivismo um conjunto de valores que se referem preservao do status quo,
aceitao das normas morais e de tudo que convencional, assim como busca do
controle dos comportamentos de indivduos e das tendncias que possam perturbar
a ordem. Em estudo emprico que o autor realizou foi encontrado que os sujeitos que
atribuam um grau elevado de importncia aos valores coletivistas (anteriormente
descritos) apresentavam uma maior satisfao no trabalho. No entanto,
considerando-se todas as hiptese verificadas no estudo, as suposies tericas
iniciais do autor foram confirmadas apenas parcialmente.
Kaileberg (1977), atravs de um levantamento realizado nos Estados Unidos
da Amrica em 1972 e 1973, buscou determinar o modo como valores e
recompensas se combinavam para influenciar a satisfao. Ele definiu valores como
os significados que eram atribudos pelos sujeitos a caractersticas percebidas do
trabalho, argumentando que o trabalho no tem um significado inerente, os
indivduos que criam um significado para ele. Tanto valores como recompensas
tiveram efeitos independentes sobre a satisfao, no entanto fatores associados
Princpios que expressam interesses ou desejos, e que determinam a forma de pensar, agir e sentir do indivduo.
2 0
com a dimenso intrnseca (uso de tiabilidades, trabalho interessante, autonomia e
feedback) foram responsveis por um efeito de maior magnitude.
2.4.2 Personalidade - Disposies individuais
Para Staw e Ross (1985) as atitudes no trabalho raramente so estudadas
como possuidoras de uma fonte endgena de varincia, a qual seja o reflexo de um
estado contnuo da pessoa em oposio a ser um produto da situao. Esta
abordagem da satisfao passou a ter uma maior difuso atravs das publicaes
do mundo ocidental durante a dcada de 1990, a partir de quando passaram a ser
proporcionalmente mais numerosas. Autores como Agho, Mueller e Price (1993)
julgam que a personalidade um aspecto relevante na explicao das respostas do
indivduo ao trabalho.
A abordagem disposicional envolve a medida de caractersticas pessoais e
assume que estas contribuem na explicao das atitudes e do comportamento. Os
termos encontrados na literatura disposies pessoais, traos, personalidade e
caractersticas individuais quase sempre dizem respeito ao mesmo conceito.
Adicionalmente, as seguintes premissas do base a esta abordagem: possvel
caracterizar pessoas em certas dimenses, estas dimenses so razoavelmente
estveis ao longo do tempo e so teis na predio do comportamento individual em
diferentes situaes. (STAW e ROSS, 1985)
Levin e Stokes (1989) tambm criticam a limitada nfase que vinha sendo
atribuda s variveis individuais como relacionadas diretamente s atitudes no
trabalho, comentando que o principal interesse nos estudos freqentemente se dava
sobre os efeitos de interao que elas poderiam apresentar. Um exemplo disto pde
ser constatado em Hackman e Oldham (1975), no qual a varivel GNS foi estudada
como moderadora e no como um possvel determinante da satisfao.
Seria at mesmo ingnuo aceitar-se que um indivduo inserir-se-ia em um
contexto de trabalho completamente isento e vulnervel ao mais brando estmulo,
ressaltam Staw e Ross (1985). Mas tambm comentam que, por outro lado, seria
difcil acreditar que o trabalhador no seria afetado por fortes estmulos externos,
isto , pelas foras da situao da qual faz parte. Com o objetivo de verificar se a
satisfao poderia ser considerada uma atitude estvel e determinada por
21
disposies pessoais, estes dois autores realizaram um estudo com 5 000 homens
com idades entre 45 e 59 anos, utilizando dados coletados nos anos de 1966, 1969
e 1971. 0 quadro 2 mostra as hipteses que deveriam ser confirmadas para que
fosse demonstrado que as caractersticas individuais pudessem ser consideradas
determinantes da satisfao. Os resultados obtidos confirmaram parcialmente as
duas primeiras hipteses e na totalidade a ltima. Quando o indivduo mudava de
trabalho ou ocupao, que so mudanas situacionais (hiptese 2), diminua a
consistncia das medidas de satisfao. Mudanas na remunerao, por exemplo,
uma dimenso contextual, no levaram a alteraes significativas dos nveis de
satisfao. Estes achados do suporte a ambas as abordagens (situacional e
disposicional), embora tenha sido justificado que apenas as modificaes mais
radicais do contexto (tais como de emprego e/ou ocupao) pudessem exercer
influncia sobre as atitudes do trabalhador.
QUADRO 2 - HIPTESES INDICATIVAS DA DETERMINAO DA SATISFAO
Hiptese 1 Deve existir uma forte e significante relao da satisfao individual entre os diferentes perodos de tempo.
Hiptese 2 Deve existir uma forte e significante relao da satisfao individual entre as diferentes situaes.
Hiptese 3 As atitudes no momento a (anterior a b) devenam ser um melhor preditor de atitudes no momento b do que as mudanas situacionais que tenham ocorrido entre a e b.
FONTE: STAW, to job at
NOTA: Traduzido
3. M.; ROSS, J. Stability in the midst of change: a dispositional approach titudes. Journal of Applied Psychology, v. 70, n. 3, p. 469-480, 1985. e adaptado pelo autor
Por encontrarem na literatura evidncias de que a satisfao no trabalho
relativamente estvel ao longo do tempo, Levin e Stokes (1989) buscaram identificar
possveis traos e caractersticas individuais que pudessem explicar, ao menos em
parte, esta pequena variao que ela sofre. A pesquisa emprica destes autores
enfatizou um trao chamado de afetividade negativa (AN). Este trao, segundo
Watson e Clark (1984, apud LEVIN e STOKES, 1989), definido como uma
diferena individual estvel e sempre presente, caracterizada por uma tendncia
apresentao de estados emocionais aversivos tais como ansiedade e irritabilidade.
Indivduos com uma alta AN relatam desconforto e insatisfao em geral,
independentemente da situao em que se encontrem.
2 2
Em dois estudos conduzidos por Levin e Stokes (1989) foram comparados os
efeitos da AN e das caractersticas de tarefas sobre a satisfao no trabalho. Os
sujeitos de ambos os estudos foram agrupados conforme a caracterstica dos
trabalhos realizados (enriquecidos ou no enriquecidos) e o nvel de AN
apresentado (baixo e elevado), obedecendo aos critrios pr-estabelecidos. A
associao das caractersticas do trabalho com a satisfao foi muito mais forte do
que a encontrada entre esta atitude e a AN, apesar de ambas as variveis terem
apresentado um efeito significativo sobre a satisfao. Sugeriu-se, alm disto, que
as pessoas com uma alta AN podem concentrar-se seletivamente nos aspectos
negativos do trabalho que executam.
Para Kaileberg (1977) no h dvidas de que a personalidade afeta o grau de
satisfao no trabalho, mas afirma que as explicaes disponveis so inadequadas
por ignorarem a associao da satisfao com as caractersticas do trabalho. Sabe-
se, porm, que a partir da dcada de 1980 as pesquisas com nfase nos aspectos
individuais passaram a ser mais flexveis, ao levarem em considerao a
contribuio de outros fatores.
Judge e Locke (1993) apontam que a abordagem disposicional sofreu
ambigidades conceituais por muito tempo, confundindo-se a disposio afetiva (que
um estado afetivo sempre presente na pessoa) com outros estados afetivos
existentes em determinados momentos da vida, mas que no so constantes. Estes
pesquisadores foram pioneiros na investigao da hiptese de que a teoria cognitiva
da depresso explica parte da satisfao no trabalho. Tal teoria sustenta que o
modo que o indivduo pensa uma fonte de infelicidade e que, por isto, indivduos
respondem diferentemente a situaes semelhantes. A pesquisa levou concluso
de que a reduo da forma disfuncional de que algumas pessoas pensam sobre o
trabalho e sobre a vida pode aumentar a satisfao em ambos. No mesmo estudo,
diversos fatores do trabalho (intrnsecos e extrnsecos) resultaram tambm como
associados satisfao.
2.4.3 Herana Gentica
Talvez os primeiros autores a investigarem a influncia de fatores genticos
sobre a satisfao no trabalho tenham sido Arvey et al. (1989). Os pesquisadores
23
selecionaram 68 gmeos monozigticos que haviam sido criados separadamente
desde a infncia. Considerando-se uma medida geral de satisfao no trabalho, os
dados obtidos confirmaram as expectativas quanto determinao gentica desta
varivel. Separadamente, a satisfao extrnseca e a intrnseca mostraram-se
influenciadas pela hereditariedade. Os pesquisadores demonstraram que os
resultados encontrados no se deveram a outros fatores alm dos mensurados.
Concluiu-se que as pessoas parecem levar consigo importantes predisposies ao
trabalho, as quais podem ser difceis de se modificarem.
Esta hiptese da causalidade gentica no tem ampla aceitao na
comunidade cientfica, Cropanzano e James (1990; apud BOUCHARD et al., 1992)
analisaram em detalhes a publicao de Arvey et al. (1989), fazendo inmeras
crticas quanto metodologia que fora empregada. Os questionamentos levantados
foram, em resumo: possvel crescimento dos gmeos participantes da pesquisa em
ambientes semelhantes, superestimando a correlao encontrada; existncia de
interao entre o gentipo dos sujeitos e o ambiente; insuficiente validade interna,
tais como a implcita evidncia gentica e os artefatos da coleta de dados; variveis
alternativas desconhecidas e outros mecanismos no foram controlados; no
representatividade dos gmeos monozigticos em relao populao em geral;
desenho de estudo inadequado.
Os pesquisadores que tiveram seus achados contestados publicaram um
novo artigo em resposta s crticas (ver Bouchard et al., 1992). Todas as supostas
falhas encontradas foram contra-argumentadas, sempre com respaldo em diversos
estudos empricos anteriores quele. Bouchard et al. (1992) realmente acreditam
que exista influncia gentica sobre o comportamento humano, embora admitam
que ela possa ser parcial. Argumentam que o que fizeram foi apenas ir alm do que
convencionalmente vinha sendo oferecido, apresentando um ponto de vista
alternativo ao tema para enriquecer a discusso,
2,4,4 Realizao de Expectativas
A Teoria da Expectncia, como chamada por Mitchell (1973), baseada
em um modelo de ser humano racional. Dentro desta perspectiva o indivduo
processa uma quantidade elevada de informaes de forma racional e se comporta
24
de modo a maximizar os retornos para si. Qualificando a satisfao como uma
atitude, o pesquisador afirma que esta varivel pode ser predita a partir do grau em
que o trabalhador acha que a posio que ocupa instrumental para a obteno dos
resultados desejados por ele.
Entre os autores que estudaram a influncia das expectativas sobre a
satisfao no trabalho esto O'Brien e Dowling (1980). Eles realizaram um
levantamento com 1 383 trabalhadores para averiguar se esta varivel poderia ser
determinada pela diferena entre os atributos do trabalho percebidos pelo sujeito e
aqueles que ele gostaria que estivessem presentes. Estes atributos desejados foram
referidos como os valores do indivduo no trabalho, e foi feita a hiptese de que
quanto maior a incongruncia existente entre estes desejos e a realidade vivida,
maior a insatisfao (figura 2). Os atributos avaliados foram: grau de autonomia, de
utilizao de habilidades, e de variedade do trabalho (grau de mudanas nas
atividades, nos locais de trabalho entre outros); nvel de presso sobre o indivduo e
nvel de interao social (se existiam colegas prximos, se havia oportunidades de
se conversar). Atravs da abordagem da congruncia, apenas para as vanveis
utilizao de habilidades e variedade do trabalho (fatores intrnsecos, de contedo) a
associao com a satisfao no trabalho foi significante, apesar da magnitude da
correlao ter sido muito fraca.
FIGURA 2 - HIPTESE DA CONGRUNCIA
Atributos percebidos no trabalho
Quanto menor esta distncia, maior a satisfao no trabalho.
Atributos desejados no trabalho
FONTE; O'BRIEN, G. E.; DOWLING, P. The effects of congruency between perceived and desired job attributes upon job satisfaction. Journal of Occupational Psychology, v. 53, p. 121-130, 1980.
Ao compararem resultados do seu prprio estudo, O'Brien e Dowling (1980)
constataram que os atributos percebidos utilizao de habilidades, variedade e
25
autonomia foram, isoladamente, preditores muito melhores da satisfao, colocando-
se em questo as teorias que atribuem esta propnedade ao nvel de congruncia
entre a percepo e a vontade individual, conforme exposto anteriormente.
A definio do verbo satisfazer contida no dicionrio da lngua portuguesa
(FERREIRA, 1986), do qual deriva o vocbulo satisfao, vai ao encontro do que
sugerido no modelo de realizao de expectativas, visto que a seguinte:
Corresponder ao desejo. Sendo assim, a satisfao como ato ou efeito de se
satisfazer pode ser entendida como correspondncia a um desejo e/ou ao que se
espera.
Salancik e Pfeffer (1977) dizem que as teorias da expectncia admitem a
possibilidade de que as pessoas tenham diferentes metas ou necessidades, e que
possam ser percebidas distintas conexes entre uma ao e o alcance dessas
metas. Apesar desta teoria ser flexvel em muitos aspectos, estes autores criticam
que ela ainda aceita a questionvel premissa de que as pessoas tm necessidades
e os trabalhos tm caractersticas. Para eles, a tendncia de se atribuir causalidade
s caractersticas internas do indivduo similar a atribu-la s necessidades, o que
parece no estarem de acordo.
2.5 MODELOS MISTOS
Nesta seo constam alguns estudos nos quais no foi possvel identificar um
claro posicionamento do autor quanto aos determinantes da satisfao. Do mesmo
modo so abordadas publicaes nas quais foram confrontadas hipteses
teoricamente distintas e/ou contrrias.
Os altos nveis de satisfao no trabalho relatados por indivduos envolvidos
em atividades consideradas rotineiras motivaram Gruenberg (1980) a pesquisar as
razes para esta constatao. Para determinar qual das abordagens, situacional ou
disposicional, teria um maior poder explicativo para a satisfao de pessoas em
diferentes ocupaes, o autor utilizou dados de uma pesquisa feita em 1965 e 1966
com 792 norte-americanos residentes em reas metropolitanas dos EUA. Mensurou-
se a satisfao dos indivduos com a remunerao, com a segurana no emprego,
com os colegas e com o ambiente de trabalho, como elementos extrnsecos; entre
os elementos intrnsecos figuravam: grau de satisfao com a liberdade para
26
planejamento do trabalho, com as oportunidades de aprendizado e de utilizao de
habilidades.
Um achado foi que a satisfao tende a ser menor para indivduos com
maiores nveis educacionais. Da mesma forma que Ross e Reskin (1992),
Gruenberg (1980) argumenta que isto pode ser explicado pelas expectativas
associadas a um maior grau de escolaridade, acrescentando, ainda, que os sujeitos
de nvel educacional mais elevado podem reconhecer que possuem condies de
conseguirem melhores postos de trabalho. 0 autor tambm constatou que, para os
membros de todos os grupos educacionais estudados, o aumento na satisfao com
os aspectos intrnsecos e extrnsecos resultou num forte efeito positivo sobre o grau
de satisfao geral. Por outro lado. evidenciou-se que as recompensas extrnsecas
tm um efeito diferenciado no nvel de satisfao de sujeitos em diferentes
ocupaes. Entre pessoas em trabalhos manuais/semi-manuais e de esaitrio a
remunerao, as condies e o ambiente social de trabalho foram mais importantes
do que o foram para os trabalhadores profissionais e tcnicos na definio da
satisfao. Portanto, os dados deram suporte hiptese de que quanto menos
recompensas intrnsecas esto presentes em uma atividade, mais as pessoas
valorizam as recompensas extrnsecas.
Em uma abordagem semelhante de realizao de expectativas, Mottaz
(1985) encontrou que os indivduos em atividades predominantemente intelectuais
tendem a atribuir uma maior importncia s recompensas intrnsecas do que aqueles
em atividades que exigem mais a utilizao de esforo fsico. Adicionalmente,
entretanto, constatou que ambos os grupos colocam este ltimo tipo de recompensa
como mais importante em relao s recompensas extrnsecas. Estas, por sua vez,
tendem a ser muito mais valorizadas por pessoas em atividades manuais, em acordo
com os resultados de Gruenberg (1980). Nesse mesmo estudo de Mottaz (1985), as
caractersticas intrnsecas das tarefas foram o mais forte determinante da satisfao
independentemente do tipo de ocupao pesquisada, a qual visava a refletir o nvel
educacional dos sujeitos. As recompensas extrnsecas tambm apresentaram efeito
positivo e significante sobre a satisfao, porm este foi fraco e observado somente
entre os trabalhadores nas atividades manuais. Sugeriu-se, assim, que
primeiramente a natureza da tarefa que determina a satisfao. Outro achado
27
relevante foi a diminuio da preocupao do trabalhador com recompensas
extrnsecas, conforme aumento da presena das recompensas intrnsecas.
Katz (1978) discute sobre uma varivel que precisa ser lembrada no estudo
da satisfao. Ele sugere que o tempo que uma pessoa esteja em um trabalho
especfico modifica as relaes das caractersticas da atividade com a satisfao. 0
autor explica que os indivduos tm diferentes preocupaes nos vrios estgios da
carreira, e que novos empregados podem no estar prontos para responder s
caractersticas mais desafiadoras da tarefa, tais como a exigncia de vrias
habilidades e a existncia de um alto grau de autonomia. Em um novo ambiente
preciso, alm de construrem-se relaes interpessoais, aprender-se a desempenhar
o trabalho. No caso de uma pessoa ser transferida de um cargo para outro, mas na
mesma organizao (em uma promoo, por exemplo), sua preocupao poder ser
menor em construrem-se relaes com colegas e maior em mostrar suas
competncias, ter um bom desempenho e obter feedback deste.
Nos ltimos 30 anos, um dos poucos estudos publicados que apresenta um
modelo causal abrangente de satisfao no trabalho o de Agho, Mueller e Price
(1993). Alm de verificarem em que medida fatores do contedo e contexto do
trabalho influenciam na satisfao, como tradicionalmente vinha sendo feito,
incluram no modelo explicativo determinantes do mercado de trabalho e variveis
que objetivavam representar caractersticas psicolgicas disposcionais dos
indivduos.
0 quadro 3 a seguir contm uma breve definio das variveis mensuradas
pelos pesquisadores as quais mostraram estar significantemente associadas
satisfao no trabalho.
Estes autores constataram que, durante um perodo de trs meses, o grau de
satisfao na mesma populao no se modificou substancialmente, sugerindo que
a satisfao um fenmeno relativamente estvel ao longo do tempo. A literatura
sobre o tema desta dissertao carece de estudos longitudinais, os quais permitiriam
determinar se as relaes encontradas entre as variveis so de causa-efeito e no
sofrem influncia do desenho de estudo empregado.
28
QUADRO 3 - DEFINIO DE VARIVEIS CARACTERIZADAS COMO
Varivel Significado
Oportunidade Percepo do indivduo de que existem no mercado outras oportunidades de trabalho para ele.
Autonomia Liberdade que os funcionrios tm para tomarem decises relacionadas ao trabalho.
Rotinizao Grau de repetitividade das tarefas.Justia distributiva Grau no qual os benefcios e as punies na
empresa esto relacionados com o desempenho individual.
Afetividade positiva Predisposio que o sujeito tem para ser feliz, que seja pouco influencivel pela situao.
Excesso de trabalho Grau em que as demandas do servio excedem a quantidade de tempo e os recursos disponveis para 0 seu cumprimento. (RI770 et al., 1970, apud AGHO, MUELLER e PRICE, 1993)
Motivao para o trabalho Crena na centralidade do papel do trabalho na vida.FONTE: AGHO, A. C.; MUELLER, C. W.; PRICE, J. L.. Determinants of employee jobsatisfaction: an empirical test of a causal model. Human Relations, v. 46, n. 8, p. 1007- 27, 1993.NOTA: Traduzido e adaptado pelo autor.
A forma de cada pesquisador tratar da satisfao no trabalho e dos seus
determinantes retrata as distintas vises de mundo existentes e as inmeras formas
possveis de tais determinantes serem abordados.
No h dvida de que praticamente impossvel se estabelecerem leis sobre
a satisfao ou se encontrar uma nica explicao para ela, pois esto envolvidos
aspectos subjetivos e de difcil avaliao, alm de as mudanas no cenrio poltico,
econmico e legal, que influenciam atitudes e opinies, serem constantes e
imprevisveis. Foi possvel concluir que, das teorias abordadas, as mais adequadas
so aquelas que procuram compreender o fenmeno da satisfao em uma situao
muito particular, tais como em um local e perodo do tempo determinado, e para uma
ocupao especfica. Quaisquer generalizaes devem ser feitas com cautela, em
razo da variabilidade observada entre os' inmeros estudos.
29
3 FARMACUTICO: O PROTAGONISTA DA PESQUISA
O conhecimento das principais caractersticas histricas, polticas, tcnicas e
legais da profisso farmacutica fundamental para uma melhor compreenso das
atitudes e dos sentimentos que os sujeitos pertencentes a este grupo social
especfico possam apresentar em relao ao trabalho que executam.
Por este motivo, a seguir expe-se sucintamente como a profisso e as suas
prticas evoluram no tempo. No decorrer do texto podero ser observados diversos
elementos do contedo e do contexto do trabalho de um farmacutico em um
estabelecimento de venda de medicamentos, havendo a oportunidade de se
compreender de que forma tais elementos podero estar relacionados com a
satisfao dos profissionais que trabalham nesses locais.
3.1 FARMACUTICOS, INDSTRIA E HISTRIA
At a terceira dcada do sculo XIX perdurou a utilizao da expresso
botica para a farmcia e boticrio para o farmacutico, pois foi neste perodo que
surgiram as primeiras escolas de farmcia no Brasil (ZUBIOLI, 1992). Nos anos
anteriores, a prtica de farmcia se baseava na experincia e nos conhecimentos
transmitidos oralmente do mestre ao seu aprendiz. O objeto da prtica eram os
medicamentos, os quais se preparavam artesanalmente com o emprego de
matrias-primas naturais conforme o que constava nos manuscritos e nos manuais
de diversas procedncias da poca (SANTOS, 1995).
0 aumento do nmero de instituies de ensino de farmcia no pas, a partir
da dcada de 1830, foi a primeira etapa do processo de criao da indstha
farmacutica nacional, a qual surgiu dos tradicionais laboratrios de manipulao de
frmulas das pequenas farmcias. (ZUBIOLI, 1992)
Comeando a ser implantada no final do sculo XIX e incio do sculo XX, a
indstria de medicamentos no pas atingiu seu auge de desenvolvimento na dcada
de 1930 (BERMUDEZ, 1995). A sua expanso, aliada produo de medicamentos
Os termos drogaria, farmcia comercial, comunitria, de dispensao de medicamentos e pblica sero utilizados no mesmo sentido neste texto. Caracterizam-se por estabelecimentos que vendem, entre outros produtos, medicamentos oriundos da indstria, nas suas embalagens originais.
30
prontos em larga escala Impuseram mudanas substanciais na atividade do
farmacutico nas farmcias comerciais tradicionais. Aparentemente tornara-se sem
sentido a presena do profissional nestes locais, pois, em geral, os medicamentos
no necessitavam mais ser produzidos da forma artesanal como o eram
anteriormente. Conforme Sigolo (1998), as mos do profissional se transformavam
gradativamente em mero apndice cuja funo era apenas localizar o medicamento
na prateleira e ento entreg-lo ao paciente. A gerao de novos conhecimentos na
rea tornava-se evidente, pois crescia o nmero de medicamentos disponveis, aim
de ser necessrio assegurar-se farmcia o status de profisso (HUMPHRYS e
O'BRIEN, 1986).
De acordo com Humphrys e O'Brien (1986), at a Segunda Guerra Mundial
os farmacuticos mantinham uma relao prxima profisso mdica e geralmente
eram reconhecidos pelos conhecimentos especializados que possuam e pelas suas
habilidades.
Este perodo da histria foi de muitas indefinies aos farmacuticos, e
gradativamente a profisso se descaracterizava. Muitas drogarias passaram a
vender diversos produtos, alm dos medicamentos, de modo que no
apresentassem problemas financeiros e pudessem continuar em funcionamento.
Ocorria tambm que cada vez mais leigos abriam farmcias e passavam a concorrer
com os farmacuticos, dificultando ainda mais a situao. Paralelamente, a indstria
farmacutica aumentava a veiculao de propagandas populao de forma a
incentivar o consumo dos medicamentos produzidos por ela (SIGOLO, 1998).
Holland e Nimmo (1999) apresentam a evoluo da prtica profissional,
sobretudo nos EUA, tendo como tema central de abordagem as atividades do
farmacutico. So citados cinco estgios principais pelos quais a farmcia passou,
destacando-se, a seguir, as informaes relacionadas ao exerccio na comunidade:
a) Manufatura (1860); poca em que a apoteca (outra denominao para o
estabelecimento farmacutico) agregava os papis de indstria
farmacutica, drogaria e centro de sade. As pessoas procuravam o
farmacutico em busca do medicamento e das orientaes sobre como
utiliz-los.
b) Manipulao (1870); Com o crescimento da indstria de medicamentos, os
farmacuticos passaram a manipul-los, ou seja, misturar matrias-primas
31
feitas pela indstria, conforme as prescries mdicas. Os pacientes
continuavam a se dirigir aos farmacuticos para adquirirem medicamentos
e informaes sobre o seu uso.
c) Dispensao (1952); Nas farmcias comunitrias, o farmacutico se
limitava a entregar o medicamento aos pacientes na forma pronta para o
uso. Este marco cronolgico foi estabelecido com o Cdigo de tica da
Associao Farmacutica Americana, o qual mencionava que um
farmacutico tico no discute com os pacientes os efeitos teraputicos ou
a composio das prescries.
d) Dispensao e fornecimento e informaes (1960); 0 aconselhamento aos
pacientes passa a ser uma atividade desempenhada nas farmcias
comunitrias, todavia, o produto ainda era o centro das atenes.
e) Ateno Farmacutica (1990); O profissional na farmcia comercial passa
a desempenhar funes clnicas. H tambm uma mudana na filosofia de
prtica; o farmacutico deve assumir responsabilidade pela terapia
medicamentosa seguida