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Projecto “Escolas Profissionais” As escolas profissionais, como espaços frequentados por jovens na fase da adolescência, que procuram fazer a ponte entre a vida estudantil e a inserção na vida laboral activa, apresentam-se como um dos cenários que reúne condições para enquadrar a intervenção preventiva das toxicodependências, ou seja, um espaço para o reforço de competências e atitudes face à promoção da saúde e da autonomia psico-afectiva dos jovens, assim como face às percepções sobre os consumos de substâncias psicoactivas. Neste sentido, constituem um espaço privilegiado de construção e de partilha entre as várias dimensões da formação dos alunos – o “saber ser”, o “saber estar” e o “saber fazer” – pelo que urge definir uma estratégia de intervenção preventiva estruturada e consistente que valorize as dimensões atrás enunciadas na formação dos jovens enquanto cidadãos e na preparação para a vida activa. A diversidade dos alunos (tanto do ponto de vista das suas origens sociais, como do ponto de vista das suas expectativas face ao futuro e logo, da forma de perspectivar a sua opção pelo ensino profissionalizante) e dos contextos geográficos envolventes (no interior, no litoral do país; no meio rural, e no meio urbano de diferentes dimensões) favorece por vezes, a própria desinserção do meio social e familiar de origem e a desadequação das áreas de formação disponibilizadas. No Plano de Acção - Horizonte 2008, é proposta a produção de um Plano de Intervenção em Escolas Profissionais baseado no conhecimento das necessidades existentes a nível local. (Objectivo 47.03. Planear e desenvolver, em colaboração com outros Ministérios/Entidades, estratégias de intervenção em meio laboral): Produção de relatório; Desenvolvimento do projecto-piloto nas escolas profissionais do Distrito de Portalegre e Viana do Castelo; Linhas orientadoras para a intervenção em escolas profissionais; Produção de documento) Desta forma, foi desenhado um projecto-piloto para 5 escolas profissionais e respectivos pólos educativos de dois distritos baseado num estudo das representações sociais dos formandos sobre o consumo de substâncias psicoactivas. Nesse âmbito, em Maio de 2006 foi criado um grupo de trabalho para produzir um documento de linhas orientadoras para a intervenção em escolas profissionais. O grupo de trabalho era inicialmente composto por cinco elementos dos serviços centrais (quatro do DP e um do DTR), um interlocutor de Prevenção e de Reinserção em cada um dos dois distritos em questão e o Director do CRI da Guarda, por já ter desenvolvido um projecto neste âmbito. Os elementos do grupo propuseram-se: 1. Estabelecer o contacto com as escolas profissionais de referência; 2. Elaborar e preencher uma ficha de caracterização das escolas profissionais; 3. Conhecer as percepções e representações sobre os consumos de substâncias psicoactivas por parte dos alunos das escolas profissionais (através da aplicação de questionário e grupos focais); 4. Tratar e divulgar a informação relativa aos resultados obtidos; 5. Estabelecer um Plano de Intervenção para as escolas profissionais de referência em função dos resultados obtidos; 6. Avaliar e divulgar a experiência da intervenção a outros distritos, com outros parceiros. O presente relatório final pretende constituir uma reflexão sobre os pontos comuns de intervenção, bem como dos divergentes, a partir dos dois relatórios elaborados pelos CRI de Portalegre e de Viana do Castelo, com o objectivo de criar linhas de orientação para a intervenção em prevenção no âmbito das escolas profissionais.

SAÚDE-ALCOOLOGIA-PROJECTO-2006

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Projecto-piloto para 4 escolas profissionais e respectivos pólos educativos de dois distritos, baseado num estudo das representações sociais dos formandos sobre o consumo de substâncias psicoactivas, com o objectivo de criar linhas de orientação para a intervenção em prevenção no âmbito das escolas profissionais.

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���� Projecto “Escolas Profissionais”

As escolas profissionais, como espaços frequentados por jovens na fase da adolescência, que procuram fazer a

ponte entre a vida estudantil e a inserção na vida laboral activa, apresentam-se como um dos cenários que reúne

condições para enquadrar a intervenção preventiva das toxicodependências, ou seja, um espaço para o reforço de

competências e atitudes face à promoção da saúde e da autonomia psico-afectiva dos jovens, assim como face às

percepções sobre os consumos de substâncias psicoactivas.

Neste sentido, constituem um espaço privilegiado de construção e de partilha entre as várias dimensões da

formação dos alunos – o “saber ser”, o “saber estar” e o “saber fazer” – pelo que urge definir uma estratégia de

intervenção preventiva estruturada e consistente que valorize as dimensões atrás enunciadas na formação dos

jovens enquanto cidadãos e na preparação para a vida activa.

A diversidade dos alunos (tanto do ponto de vista das suas origens sociais, como do ponto de vista das suas

expectativas face ao futuro e logo, da forma de perspectivar a sua opção pelo ensino profissionalizante) e dos

contextos geográficos envolventes (no interior, no litoral do país; no meio rural, e no meio urbano de diferentes

dimensões) favorece por vezes, a própria desinserção do meio social e familiar de origem e a desadequação das

áreas de formação disponibilizadas.

No Plano de Acção - Horizonte 2008, é proposta a produção de um Plano de Intervenção em Escolas Profissionais

baseado no conhecimento das necessidades existentes a nível local. (Objectivo 47.03. Planear e desenvolver, em

colaboração com outros Ministérios/Entidades, estratégias de intervenção em meio laboral): Produção de relatório;

Desenvolvimento do projecto-piloto nas escolas profissionais do Distrito de Portalegre e Viana do Castelo; Linhas

orientadoras para a intervenção em escolas profissionais; Produção de documento)

Desta forma, foi desenhado um projecto-piloto para 5 escolas profissionais e respectivos pólos educativos de dois

distritos baseado num estudo das representações sociais dos formandos sobre o consumo de substâncias

psicoactivas.

Nesse âmbito, em Maio de 2006 foi criado um grupo de trabalho para produzir um documento de linhas orientadoras

para a intervenção em escolas profissionais. O grupo de trabalho era inicialmente composto por cinco elementos dos

serviços centrais (quatro do DP e um do DTR), um interlocutor de Prevenção e de Reinserção em cada um dos dois

distritos em questão e o Director do CRI da Guarda, por já ter desenvolvido um projecto neste âmbito.

Os elementos do grupo propuseram-se:

1. Estabelecer o contacto com as escolas profissionais de referência;

2. Elaborar e preencher uma ficha de caracterização das escolas profissionais;

3. Conhecer as percepções e representações sobre os consumos de substâncias psicoactivas por parte dos alunos

das escolas profissionais (através da aplicação de questionário e grupos focais);

4. Tratar e divulgar a informação relativa aos resultados obtidos;

5. Estabelecer um Plano de Intervenção para as escolas profissionais de referência em função dos resultados

obtidos;

6. Avaliar e divulgar a experiência da intervenção a outros distritos, com outros parceiros.

O presente relatório final pretende constituir uma reflexão sobre os pontos comuns de intervenção, bem como dos

divergentes, a partir dos dois relatórios elaborados pelos CRI de Portalegre e de Viana do Castelo, com o objectivo

de criar linhas de orientação para a intervenção em prevenção no âmbito das escolas profissionais.

���� DIAGNÓSTICO/ANTECEDENTES

O diagnóstico constituiu a fase principal deste trabalho. Foi realizado através da aplicação de um questionário e da

implementação de grupos focais junto de interlocutores no contexto das escolas profissionais. O primeiro

instrumento foi utilizado para caracterizar os formandos, enquanto que o segundo foi aplicado também a formadores

e auxiliares administrativos (instrumentos constantes do dossier de avaliação do projecto).

O questionário baseou-se em algumas questões constantes em questionários aplicados para o meio escolar geral

(Questionário Nacional em Meio Escolar, 2006). Dele fazem parte questões fechadas, de natureza geral.

Nos grupos focais as temáticas abordadas referiram-se a temáticas diversas, desde o interesse escolar até à relação

com a família, passando pela concepção do futuro.

Da informação recolhida através dos dois instrumentos, destaca-se que:

1. a grande maioria dos alunos consumiu ou consome pelo menos uma substância psicoactiva, lícita ou ilícita;

2. a principal razão apontada para o consumo é a curiosidade;

3. as ocasiões mais frequentes para o consumo são as festas e ao fim de semana;

4.a cerveja e as bebidas destiladas são as substâncias mais frequentemente consumidas

5. as substâncias psicoactivas lícitas foram consideradas pelos formandos como potencialmente perigosas (“muito

risco”), com excepção da cerveja (11%), do vinho (12%), das bebidas destiladas (36%) e do tabaco (45%);

6. quanto às ilícitas, aquelas que foram classificadas como envolvendo “muito risco” foram os solventes, a cannabis ,

o ecstasy, a cocaína e a heroína;

7. a informação recolhida em grupos focais veio corroborar os dados dos questionários. Foram uma mais valia

qualitativa, visto que conseguiram reunir as percepções da comunidade educativa;

8. os resultados obtidos não diferem significativamente dos obtidos no âmbito do Questionário Nacional em Meio

Escolar (2006).

���� PRESSUPOSTOS

A “prevenção do consumo de drogas é um processo activo de implementação de iniciativas tendentes a modificar e

melhorar a formação integral e a qualidade de vida dos indivíduos, fomentando o autocontrolo individual e a

resistência colectiva perante a oferta de drogas.” (Martin, in Iglesias, p. 15)

Estas iniciativas pressupõem a identificação dos factores de risco da população sobre a qual se pretende actuar, daí

a necessidade de aplicação de um questionário adequado.

Os factores de risco não podem ser considerados de forma isolada porque o consumo de substâncias psicoactivas,

como qualquer outro comportamento humano, implica interacção dinâmica, entre o indivíduo, o contexto e a

substância.

Pode dizer-se que a presença de factores de risco num indivíduo aumenta a probabilidade de risco face ao consumo

de substâncias psicoactivas. Contudo, a presença de um só factor de risco não é garantia de que se vá produzir um

comportamento de abuso e pelo contrário a ausência do mesmo não garante que o abuso não se concretize.

“Da relação entre factores de risco e factores protectores resulta uma maior ou menor capacidade do indivíduo para

uma adaptação bem sucedida, funcionamento positivo ou competências na presença de uma situação de

adversidade, envolvendo múltiplos riscos e ameaças internas e externas ou, ainda, a capacidade de recuperação na

sequência de uma experiência traumática prolongada.” (Soares, in Moreira, p. 22)

As políticas de prevenção de substâncias psicoactivas devem partir do conhecimento científico, daí a importância de

se conhecerem os factores de risco e os factores protectores e de se terem aplicado os questionário aos formandos

das escolas profissionais dos Distritos de Viana do Castelo e Portalegre. As Intervenções Preventivas baseadas na

evidência podem reduzir os futuros problemas ligados ao consumo de substâncias psicoactivas mais do que as

intervenções tradicionais.

As intervenções em espaço escolar devem, complementarmente, possibilitar aos professores um maior

esclarecimento acerca das substâncias, assim como um maior conhecimento de dinâmicas que podem desenvolver

junto dos alunos na abordagem desta temática.

���� OBJECTIVOS

Pretendeu-se com este projecto-piloto:

•• Prevenir o uso e abuso de substâncias psicoactivas;

•• Intervir precocemente em situações de consumo problemáticas;

•• Encaminhar / orientar para tratamento, prevenção de recaídas e da desinserção;

Para atingir os objectivos mencionados, as acções propostas foram:

•• Conhecer as percepções e as representações dos formandos face ao consumo de substâncias psicoactivas

tendo em conta:

o seu perfil psicossocial

os diferentes contextos

•• Conhecer as percepções e as representações da restante comunidade educativa face

ao consumo de substâncias psicoactivas

aos jovens na actualidade

•• Conhecer a relação estabelecida entre os formadores e os seus formandos

•• Sensibilizar e informar sobre substâncias psicoactivas e riscos associados através do desenvolvimento de

actividades

•• Conceber um referencial de formação sobre o uso/abuso de substâncias psicoactivas a ser aplicado nas

escolas profissionais

Numa fase posterior do projecto, a ênfase seria colocada na colaboração num modelo de acompanhamento, que

visasse:

•• Intervir precocemente em situações de consumo problemáticas;

•• Encaminhar / orientar para tratamento, prevenção de recaídas e da desinserção

���� PLANO DE INTERVENÇÃO

O plano de intervenção passará por:

•• Formação dos Professores/Formadores

•• Formação dos alunos

•• Criação de Clube

•• Participação activa das escolas

���� PLANO DE AVALIAÇÃO

Para conhecer percepções e representações foi criado um grupo de trabalho dinamizador da intervenção na

presente área a nível interno do IDT, elaborou-se um mapa de Escolas Profissionais por Distrito, incluindo o número

de alunos e o tipo de curso e foi elaborado e aplicado um questionário a (abrangendo os anos escolares dos

respectivos cursos). Os resultados dos questionários foram divulgados a nível regional. Foram realizados, tal como

inicialmente planeado, grupos focais junto a interlocutores privilegiados, designadamente aos vários agentes

educativos.

Depois de apurados os resultados, passou-se à fase de sensibilização e informação. Criou-se um grupo de

trabalho com sede regional (em colaboração com o grupo de trabalho central) e elaborou-se um plano de

intervenção tendo em conta os resultados obtidos na primeira fase.

A formação de interventores planeada inicialmente tem sido desenvolvida através da concepção de planos de

formação a interlocutores privilegiados, designadamente professores, técnicos e membros das associações de

estudantes.

Para o ano lectivo de 2008/09 está previsto o desenvolvimento de uma “Semana de Prevenção” em, pelo menos,

uma escola profissional por distrito. Para além desse aspecto, será feita a divulgação dos resultados em todas as

regiões, estando prevista a sua divulgação na revista “Dependências” e no site www.drogas.pt.

Por outro lado prevê-se que as matérias preventivas sejam integradas nos planos curriculares dos cursos de

formação profissional durante o ano lectivo de 2008/09.

Será abordada também, neste próximo ano lectivo, a intervenção precoce junto dos alunos das Escolas

Profissionais com problemas de consumo regular e/ou problemático de substâncias psicoactivas.

���� AVALIAÇÃO

Da avaliação de processo destaca-se:

•• Pontos positivos:

- a participação interessada por parte das escolas

- o conhecimento das necessidades das escolas (designadamente, acompanhamentos terapêuticos a utilizadores

iniciais de SPA)

- a identificação da necessidade de conhecimentos sobre SPA e formas de intervir em jovens com consumos junto

da comunidade educativa

- a articulação das iniciativas deste projecto-piloto com os PRI locais no âmbito do PORI (designadamente no caso

do distrito de Viana do Castelo) na partilha de diagnósticos e no planeamento de acções dirigidas a destinatários

comuns a ambos os projectos

•• Pontos a melhorar:

- um dos instrumentos de diagnóstico (questionário), ainda que pré-testado, demonstrou-se demasiado extenso para

que fosse possível trabalhar a totalidade das variáveis consagradas

- o facto de o calendário do ano escolar não coincidir com o cronograma da implementação do projecto dificultou o

cumprimento dos prazos de execução deste projecto-piloto

���� AVALIAÇÃO PROSPECTIVA

Dado que a fase do diagnóstico se estendeu no tempo mais do que o esperado, o plano de intervenção está, no

momento, ainda a ser negociado com as escolas.

O plano de intervenção passará por:

•• Formação de professores para a integração da temática dos consumos de substâncias psicoactivas e das

toxicodependências nos curricula escolares

•• Formação de alunos: constituir grupos com alunos mais velhos (Padrinhos) no sentido de os capacitar para

promoverem acções para os mais jovens sobre estilos de vida saudáveis. Desenvolvimento de actividades pelos

alunos, com apoio dos professores e outras entidades, que envolvam toda a comunidade educativa,

(campanhas, flyers, contactos com imprensa local, etc.)

•• Criação de um gabinete (Clube) em Portalegre, com o objectivo de avaliar e acompanhar alunos em risco ou

com problemas iniciais de consumo de substâncias e realizar actividades lúdico-pedagógicas e de

desenvolvimento da relação socio-afectiva com grupos com comportamentos de risco ( “Porto de Abrigo” em

Portalegre e o “KontaKto Jovem” em Ponte de Sôr poderão ser modelos a seguir)

A partir da avaliação do projecto-piloto, elaborar um conjunto de recomendações para a intervenção integrada em

prevenção, encaminhamento e reinserção no âmbito das escolas profissionais.

Documentos de referência:

•• Carta de Missão do IDT

•• Relatório Anual “A Situação do País em Matéria de Substâncias psicoactivas e Toxicodependências”

•• Relatórios de Actividades do Projecto “Escolas Profissionais” do CRI de Portalegre e de Viana do Castelo

•• Dossier de avaliação do projecto

•• Atlante: Manual de Intervenção em Meio Escolar

•• Inquérito Nacional em Meio Escolar, 2006