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Mulheres
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Modernidade e indumentria: As mulheres islmicas
Maria Johanna SchoutenUniversidade da Beira Interior
ndice1 Vesturio e governos . . . . . . . 32 Em defesa do hijab . . . . . . . . 53 O vu e a modernidade . . . . . . 94 Concluso . . . . . . . . . . . . . 105 Bibliografia . . . . . . . . . . . . 11
Entre as condies impostas s mulheresafegs, sob o regime dos talibs, o uso obri-gatrio da burqa deu mais nas vistas, em-bora houvesse obrigaes e proibies bempiores. As mulheres sem rosto, limitadasnos seus movimentos, representavam para osocidentais a prtica do Islo, tal como pres-crita pelo regime: rigorosa, impiedosa, des-prezando e oprimindo as mulheres.1
A burqa assumiu portanto uma funo desmbolo, o que, alis, sempre o caso com aroupa, as jias e o penteado, no seu uso fora
Este texto foi concebido, na sua primeira verso,no ano 2000; alteraes e actualizaes foram efectu-adas em 2001. A temtica faz parte de uma linha depesquisa relativa a mulheres e transformaes sociaisno Sudeste Asitico. Agradeo a Ftima Salvado pelacorreco do Portugus.
1 A burqa ou chadoree ("tenda"), como traje comuma tradio de vrias geraes em vastas zonas doAfeganisto e do Paquisto, continua a ser usada pormuitas mulheres, depois da derrota do regime talib.A diferena que agora no uma imposio gover-namental.
da esfera privada. No entanto, cuidado comos smbolos! Estes podem ter significadosdistintos para vrios grupos. Se o receptor damensagem no entender bem a linguagem,ou seja a cultura, do emissor, a interpretaodo smbolo ser diferente da pretendida. Estetipo de malentendidos ocorre com frequnciaem relao ao vesturio das mulheres islmi-cas.
O presente texto proporciona alguns da-dos e reflexes acerca da indumentria dasmulheres muulmanas e sobre as mudanasrecentes neste tempo que de modernidade.Prope-se abordar, em especial, as razespor trs do uso do vesturio islmico e o va-lor atribudo a este smbolo, dentro e fora dacomunidade islmica, pelas foras d poder epelas mulheres.2
Prescries acerca da roupa (as chama-das dress codes) esto em vigor em grandeparte do mundo islmico, variando conformea zona geogrfica e a camada social. Quantoao vu, existe uma diversidade de modelosusados, quer por mulheres do Afeganisto,de Argel, de dem ou da Alemanha, e mui-
2 O caso actual do Afeganisto no ser tratadoem pormenor, devido falta de estudos aprofundadosrelativamente aos ltimos anos. Para alm disso, oregime dos talibs um caso extremo e de lamentarque a noo que hoje muitos ocidentais tm do Islotenha o carimbo desse regime.
2 Maria Johanna Schouten
tas vezes as diferenas esto presentes noseio dessas prprias sociedades. Por outrolado, assistimos hoje a uma certa uniformi-zao do vesturio islmico, que advm datendncia ao fundamentalismo3 no Islo e odesejo dos muulmanos se afirmarem, frenteaos ocidentais, reforando a ideia de umma(comunidade global islmica).
Ser argumentado que austeridade na dou-trina apenas uma das motivaes para o usodo vu. Muitas mulheres vestem um trajeconsiderado islmico simplesmente por sertradio no seu ambiente. Outras adoptam-no sob presso, quer do Estado, quer do meiosocial directo. Mas no so raras as mulhe-res islmicas modernas que pem o vu poriniciativa prpria, por razes prticas, comoacto de auto-afirmao ou como uma formade empowerment.4
No mundo ocidental, j h muito tempo,o vu tem sido considerado como uma parspro toto do mundo islmico, embora de mo-dos diversos. Nos escritos orientalistas dossculos XVIII e XIX, mormente at ao fimdo Imprio Otomano, o vu apontava o eroti-cismo das cidades do Maghrebe e do Mdio-oriente, com os seus harns e os seus contosde mil e uma noites. "Sensualidade"foi umadas imagens mais poderosas que se criarementre os ocidentais sobre o mundo islmico,e para isso basta observar algumas das obrasde arte mais famosas do sculo XIX.5 Hoje
3 Para os fundamentalistas, o Islo no apenasuma doutrina religiosa mas um sistema total que deveorientar a vida em todos os seus aspectos: poltico,social, jurdico. de notar que o fundamentalismono uma revitalizao no sentido de maior espiritu-alidade, mas precisamente uma maior racionalizaoreligiosa.
4Ver Elias 1999: 107; Ask e Tjomsland 1998: 13.5 Ver Said 1995, pp. 166-167; Mernissi 2001: 43-
129; Lewis 1996. Representativos so alguns quadros
em dia, provavelmente, a primeira associa-o que os ocidentais fazem com o Islo aquela de "opresso da mulher", que tambmse reflecte no uso do vu. So ideias reduci-onistas tanto sobre o Islo como sobre o vu.
O vesturio contm aspectos colectivose individuais. Emite uma mensagem paradecifrar, mas, ao mesmo tempo, escondemuito: (partes d)o corpo, e motivaes indi-viduais. O mesmo estilo de vesturio cobreas diferenas e acentua as convergncias deum conjunto de indivduos. As mulheres queusam o vu tm em comum a profisso daf islmica, mas de resto, entre elas, podemexistir grandes diferenas.
Apesar da existncia de diferenas indi-viduais, as intervenes sobre o corpo es-to estreitamente ligadas a normas sociais,de modo que a roupa j foi denominada onosso "social and cultural skin".6 Em qual-quer sociedade, a roupa reflecte a pertenaa um grupo ou categoria e, assim, tem a ca-pacidade de revelar, distncia, caractersti-cas de uma pessoa, por exemplo o gnero, aidade, o grupo tnico ou a religio. ManningNash coloca o vesturio na mesma esteiracom a lngua e as caractersticas fsicas re-levantes, apelando-as de "surface pointers",porque, j num primeiro contacto, sugeremcertas caractersticas da pessoa em questo.7
Assim, a multiculturalidade de uma soci-edade reflecte-se numa diversidade de ves-turio, nomeadamente no das mulheres. de Jean-Auguste-Dominique Ingres, nomeadamente"Le bain turque"(1862, no Museu do Louvre) e "AOdelisca e a escrava"(1842, em Baltimore); e de JeanLon Grme, por exemplo "Le bain Bursa".
6Schulte Nordholt 1997: 1.7Nash 1989: 9-14. Os "identity markers"mas pro-
fundos so, segundo ele, a religio, a comensalidadee os laos de parentesco.
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verdade que o traje dos homens tem impor-tncia, nomeadamente quando estes so figu-ras de referncia na sua sociedade. Na Indo-nsia, o peci (bina tpica) preto foi intro-duzido pelo primeiro presidente, Soekarno,como smbolo do todo o povo da Indonsiae ficou associado ao nacionalismo.8 Outrogrande lder foi o dos Muulmanos na ndiabritnica, M.A. Jinnah. Este, com a intensi-ficao do movimento para um estatuto dis-tinto da populao islmica, trocou os seusfatos ocidentais exclusivos por um traje maisidiossincrtico. Deste modo, serviria comoponto de referncia para Paquisto o casacosherwani, as calas folgadas shalwar, e abina karakuli.9 Estes so personalidadesprominentes, e no todos os homens segui-ram; estes tm mais liberdade neste aspectoque as mulheres.
So as mulheres que so "the repositoriesof culture via their clothes".10 O provrbioda ndia ocidental "the burden of maintai-ning Hindu religion is on womens shoul-ders",11 deve ser interpretado tanto literal-mente como de modo figurado. Lembremosas teses de Mary Douglas sobre o corpo dasmulheres e as "fronteiras":12 pelas mu-lheres que as comunidades demarcam o seu"territrio", a sua cultura, as suas normas. Aindumentria das mulheres serviria para re-presentar e sublinhar esta singularidade dacultura, para alm de ser uma indicao im-portante da virtude da famlia ou da comuni-dade.
8 Van Dijk 1997: 69-71.9 Ahmad 1997: 98-99.
10 Rouse 1998: 58.11 Citado por Joshi 1995: 228.12 Douglas 1966: 137-153.
1 Vesturio e governosNo preciso ir muito longe para procurarexemplos da importncia do vesturio femi-nino islmico para muulmanos e no mu-ulmanos. Na Europa ocidental, esta ques-to frequentemente tem sido tpico de de-bate. Um debate que no se tem realizado emPortugal, onde os muulmanos so uma mi-noria minscula e quase despercebida, con-tando menos de 40 000 pessoas.13
No entanto, noutros pases da Europa Oci-dental, os muulmanos so mais numerosos,ultrapassando na sua totalidade largamenteos 10 milhes.14 A presena islmica nummeio imbudo pela tradio crist tem a po-tencialidade de gerir problemas. Sobre estaquesto j houve alguma reflexo jurdica esociolgica e acesos debates pblicos e po-lticos. Destes, provavelmente o mais co-nhecido e polmico aquele que tem pre-cisamente a ver com o guarda-roupa. EmFrana, em 1989 comeou a polmica dos"foulards", dos vus. A grande questo quese colocava era se as raparigas, usando len-os na cabea, podiam ser admitidas nas es-colas pblicas, onde a laicidade um dos va-lores sagrados. Uma questo entretanto re-
13 Ver Tiesler 2000. As pesquisas acerca da pre-sena islmica em Portugal so escassas, e foram nasua maior parte efectuadas por investigadores ligados Faculdade das Cincias Sociais e Humanas da Uni-versidade Nova em Lisboa. Em estudos sobre migra-es e multiculturalidade, em Portugal, tambm se en-contram referncias aos muulmanos. Ver, por exem-plo, Bastos e Bastos 1999: 116-122, e a bibliografiaem Bastos e Bastos 1999: 217-218. Um estudo portu-gus recente sobre mulheres e Islo num pas islmico(Marrocos) foi realizado por Maria Cardeira da Silva(1996; 1999).
14 Tozy 1999: 65.
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solvida a favor dos defensores do vu, masque, de vez em quando, surge de novo.15
Na Holanda, com uma populao islmicade 5 a 6 % (menos do que em Frana),verificam-se atitudes vrias face ao vu. Parauma grande cadeia de supermercados in-diferente se nos ombros ou na cabea queas operadoras de caixa pem o leno com osmbolo da empresa, parte da farda de traba-lho. No entanto, outros empregadores tmdespedido mulheres que insistiam em tapara cabea. No Vero de 2001, o tribunal dacidade de Zwolle no autorizou uma jovemmuulmana, candidata funo de escrivo-adjunto, a usar leno durante as sesses p-blicas. O tribunal alegou qua tal situao po-ria por em causa, junto do pblico, o ideal deneutralidade do poder jurdico. A imagem deobjectividade poderia ser afectada, se os ele-mentos do tribunal mostrassem as suas con-vices pessoais, por meio de "smbolos re-ligiosos". Na argumentao do tribunal tam-bm se mencionava: crucifixos, turbantes eas kipas dos Judeus.16 No entanto, parece-me que nenhum destes atributos geraria tantapolmica como o vu.
Fora da Europa, muitos so os estadoscom grande populao islmica, que tm leisacerca da roupa feminina. Essas regras voda obrigao at proibio e esto relacio-nadas com a ideologia estatal. Por exemplo,na Turquia, um estado que desde Atatrk sedeclara laico, o uso do vu condicionado,at proibido em estabelecimentos escolares,nomeadamente nas universidades pblicas.Tambm as funcionrias pblicas no podemusar leno, uma regra que se estende at srepresentantes do povo nos rgos legislati-
15 Ver Baumard 2001.16 Van Zeijl 2001: 62.
vos. Recentemente, uma deputada perdeu oseu lugar no parlamento por esse facto. Adeputada pretendia, com o seu guarda-roupa,chamar a ateno para as regras impostas queela no considerava conforme a liberdade deexpresso.
A Indonsia outro pas com regras limi-tativas. Desde a sua declarao de indepen-dncia (1945), este Estado, com grande mai-oria islmica, oficialmente tem valorizado adiversidade cultural e religiosa, assim comoa tolerncia.17 Nas escolas pblicas as iden-tidades religiosas no podiam ser acentua-das, e, por isso, no havia lugar para ra-parigas de cabea tapada ou de saia com-prida. No entanto, essas regras tm vindo aalterar-se, desde os finais dos anos setenta,com o aumento da presso sobre o regime deSuharto dos poderosos grupos islmicos, quedefendiam a atribuio ao Islo de um papelmais influente e mais visvel na sociedade.18
No mundo, em geral, nota-se uma influn-cia crescente do fundamentalismo islmicoou "islamismo"19, segundo o qual o governoou o Estado no pode ser separado da re-ligio. Alguns estados deixam orientar-sepor esse fundamentalismo, reflectindo-se nasleis acerca do vesturio. Entre esses pasesdestacam-se: a Arbia Saudita e pases vizi-nhos, o Iro e o Afeganisto dos talibs. Asregras em vigor tambm se aplicam aos no-muulmanos que se encontram nesses pa-ses. Nos crs televisos do ano 2000, a re-prter da CNN em Teero, com um leno
17 Existe, no entanto, uma grande discrepncia en-tre as regras e a prtica.
18 Schwarz 1999: 162-193; Mulder 1980: 76-79.19 Em portugus, empregam-se as palavras "Is-
lamismo"e "Islo"sem distino. Prefiro o usodeste ltimo, principalmente porque o ingls "Isla-mism"denota as verses fundamentalistas do Islo.
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elegante tapando os cabelos, era uma pre-sena habitual. Durante as aces milita-res contra os talibs, em 2001, recebemosimagens semelhantes do Paquisto, emboraneste pas no existam prescries acercado vesturio; as reprteres vestem-se assim,adaptando-se aos costumes gerais. Recen-temente, a KLM, a companhia area holan-desa, deu orientaes ao seu pessoal acercada guarda-roupa apropriado a usar duranteas estadias em Teero, facultando peas deroupa, com destaque para os lenos de ca-bea para as mulheres. No Iro e noutrospases, as praticantes de desporto no esca-pam s regras. Devem vestir a roupa pres-crita, quando expostas aos olhares dos ho-mens. Na prtica, isso quer dizer que se or-ganizam eventos desportivos com uma pre-sena completamente feminina entre atletas,treinadores e pblico.20 Por outro lado, osprestigiosos eventos internacionais so, emgrande parte, vedados s mulheres destespases, sendo apenas acessveis certas mo-dalidades como a canoagem e o tiro, nasquais a indumentria prescrita no parece in-comodar demasiado. Os elementos femini-nos da delegao do Iro nos Jogos Olm-picos de Sydney participaram precisamentenessas modalidades. Quando no o go-verno que coloca obstculos, as atletas po-dem ser confrontadas com uma atitude hos-til, por parte de certos grupos da populao.Notrio e triste o destino da atleta argelinaHassiba Boulmerka, antiga campe olmpicae mundial nos 1500 metros. Esta mulher uma herona nacional aos olhos do governoe de muitos dos seus conterrneos, como fi-
20 Em 2001, foram realizadas no Iro as "Olimpa-das das Mulheres Muulmanas"; no consegui obterinformaes pormenorizadas.
cou patente no pavilho do Argel, na Expo98. No entanto, para Boulmerka, imposs-vel viver no seu prprio pas. O exlio foi anica opo vivel, aps ter sido ameaadade morte, por grupos religiosos, j que ale-gadamente transgrediu as normas de decn-cia.21 Acrescenta-se que, no pas vizinho,Marrocos, as atletas (algumas das quais tive-ram grandes sucessos nos anos 80 e 90) noencontraram dificuldades deste tipo.
2 Em defesa do hijabEstudiosos islmicos recorrem, para explicare justificar as suas regras do vesturio femi-nino, s escrituras sagradas. Estas so o Al-coro e o hadith, os ditos, as aces e as de-cises de Maom.
O Alcoro contm vrias passagens que sedebruam sobre a roupa e o adorno a seremempregues pelas mulheres, nomeadamenteSura XXIV, versculo 31 e Sura XXXIII, ver-sculos 53 e 59, que seguem na ntegra, numatraduo portuguesa. 22
21 Ver Segrave 2000: 277.22 No dominando o rabe, apenas li algumas tra-
dues do Alcoro em Ingls e em Neerlands. Seguea traduo em Ingls de N.J. Dawood das Suras referi-das: Sura XXIV: 31 "Enjoin believing women to turntheir eyes away from temptation and to preserve theirchastity; to cover their adornments (except such asare normally displayed); to draw their veils over theirbosoms and not to reveal their finery except to theirhusbands, their fathers, their husbands fathers, theirsons, their step-sons, their brothers, their brotherssons, their sisters sons, their women-servants, andtheir slave-girls, male attendants lacking in natural vi-gour, and children who have no carnal knowledge ofwomen. And let them not stamp their feet in walkingso as to reveal their hidden trinkets."(Koran [1974],p. 216). Sura XXXIII: 53 "If you ask his wives foranything, speak to them from behind a curtain. Thisis more chaste for your hearts and their hearts."Sura
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XXIV: 31 "Diz s crentes que baixem osolhos e observem a continncia, que nomostrem os seus ornamentos (alm dos quenormalmente aparecem); que cubram o peitocom seus vus e no mostram os seus atrac-tivos, a no ser aos seus esposos, seus pais,seus sogros, seus filhos, seus enteados, seusirmos, seus sobrinhos, s mulheres suas ser-vas, ou aos escravos ou servos vares semdesejos carnais, ou s crianas que no ligam nudez das mulheres; que no agitem osseus ps enquanto andam, para que no cha-mem ateno sobre seus ornamentos ocul-tos."
XXXIII: 53 "E se pedirem s mulheres doprofeta qualquer objecto, peam-no por de-trs duma cortina (de um vu). E isso sermais puro para os vossos coraes e para osdelas.
XXXIII: 59 " Profeta, diz a tuas esposas,a tuas filhas e s mulheres dos crentes quese cubram com as suas mantas; isso maisconveniente, para que distingam das demaise no sejam molestadas."
Estes textos oferecem vrias interpreta-es. H, por exemplo, divergncia sobreo tipo exacto de roupa indicado no vers-culo XXXIII: 59. Encontrei tradues como:vu; manta; largo vu; ou, mesmo em rabe,duas palavras diferentes, jalabib ou khimar.Tambm as indicaes sobre as circunstn-cias em que se deve usar esta indument-ria e acerca da sua obrigatoriedade, deixammargens para divergncias de opinio, entre
XXXIII: 59 "Prophet, enjoin your wives, your daugh-ters, and the wives of true believers to draw theirveils close round them. That is more proper, so thatthey may be recognized and not molested..."(Koran[1974], p. 295).
os muulmanos.23 Aplicavam-se estas regrasapenas s mulheres e familiares de Maom?Apenas s primeiras geraes de muulma-nas, nas suas condies tpicas de uma soci-edade tribal e nmade, no meio do deserto?Ou so obrigatrias para todas as muulma-nas, no importa o tempo e a zona geogr-fica?
Seja como for, muitas das mulheres isl-micas tapam os cabelos, os braos e as per-nas. Em casos mais extremos, o rosto co-berto (niqab) e usam-se luvas e meias. Ath pouco tempo, o modo especfico de cum-prir as regras cornicas revelava os costumeslocais ou nacionais. Em vastas reas do Pa-quisto, por exemplo, as mulheres usam cal-as largas (ghararas) e por cima dessas umatnica (chemize) at aos joelhos. Um leno,leve (duppata) ou mais pesado (chadar), co-bre os cabelos e ombros. Nas zonas ociden-tais e especialmente no noroeste do Paquis-to, as mulheres vestem a burqa, a mantalarga que esconde o rosto,24 quando se deslo-cam para fora do seu terreno "familiar".25 Otipo de indumentria depende, portanto, dascircunstncias e do espao: privado, pblicoou um territrio intermdio.
Uma ideia sobre os vrios estilos de roupa23 Ver Rippin 1998 e Engineer 1992: 83-94, para
uma interpretao liberal e contextualizada.24 A burqa, na sua origem, e ainda hoje em certos
contextos, diz respeito ao vu que tapa apenas o rosto. portanto semelhante ao niqab. A terminologia paraas vrias peas de roupa varia conforme o pas. (VerHerrera 2000 sobre Egipto; Jansen 1998 sobre a Jor-dnia; Rouse 1998 sobre o Paquisto; Ackerman 1991e Lundstrom 1998 sobre a Malsia; Van Dijk 1997 so-bre a Indonsia.).
25 Sobre o Paquisto, ver Rouse 1998: 57-58; Ask1993: 213-220; Ahmed 1997; Dedebout 2001. O es-tilo de roupa recomendado sofreu vrias vezes altera-es, consoante o regime poltico.
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feminina agora comuns no mundo islmico,pode tirar-se do catlogo on-line da empresa(provavelmente sediada nos EUA) Al Han-nah (www.alhannah.com) que vende roupanos estilos de Marrocos, Turquia, Jordnia,Arbia Saudita e Paquisto.
A diversidade de estilo tem diminuda re-centemente, no estando alheio o reforo domovimento fundamentalista, segundo o quala umma tem maior importncia do que osestados e as regies. Tem-se verificado umprocesso de estandardizao, seguindo o su-posto modo de vestir dos homens e das mu-lheres pertencentes ao crculo do profeta,ou, ento, os costumes rabes. Por exem-plo, no norte da Nigria, a paisagem urba-nstica, que antes era pincelada com as co-res vivas e diversas da roupa das mulheres-vendedoras, perde actualmente muito da suaalegria. Num movimento macio, as mu-lheres tm adoptado um guarda-roupa con-siderado mais prprio do Islo, de cor todabranca.26
Outro tipo de estandardizao verifica-seno hijab, o vu. Agora o modelo largo esta ganhar terreno, que tapa os cabelos, o pes-coo e os ombros, ajusta-se por volta da facedo rosto, passando por baixo do queixo. Estainveno recente tem vindo a espalhar-se ra-pidamente no mundo islmico. Na Indonsiae na Malsia, h onde uma gerao atrs erauma raridade, mas agora comum. Tambmnum pas como a Jordnia se tem verificado,desde os anos oitenta, um aumento enormedo uso desse vu.27 Pode ser acompanhadopor roupa moderna (mas sempre decente), oupelo jilbab (pl. jalabib), uma manta cum-
26 O norte de Nigria est dominado pelos funda-mentalistas e nalguns estados a shariah, a lei islmica,foi recentemente introduzida.
27 Jansen 1998: 90.
prida, folgada e sem recortes, com cores s-brias.
Os motivos que os islmicos adiantampara o uso do vu so vrios. Um primeirogrupo de razes prende-se com a funo sim-blica e comunicativa da roupa. A mulherpropriamente vestida mostraria ser uma mu-ulmana devota, portanto casta, e daria a en-tender que o seu marido e os seus parentesmasculinos so homens de virtude (ver Al-coro Sura XXXIII, versculo 59). A roupaajudaria a afastar o "pecado", dela e dos ho-mens que vai encontrar. De acordo com esteraciocnio, o leno serve para evitar o ass-dio sexual e para ajudar a manter a castidadeat o casamento. Protege contra o risco detransgresso de normas sexuais.
Outro conjunto de razes centra-se na cha-mada dignidade da mulher. Defende-se queo leno faz com que a mulher seja valori-zada pelas suas qualidades intelectuais e mo-rais e no pela sua aparncia. A mulher nosuscitaria cimes s outras mulheres e noiria cometer o erro de vaidade.28 Nesta li-nha de raciocnio, o mal tem origem na mu-lher, j que estaria sujeita a pecar por vai-dade e cimes. no comportamento delaque se deve procurar as causas de assdio se-xual e de actividade sexual ilcita.29 Impli-citamente, assume-se uma fraqueza natural e
28 Estas razes so mencio-nadas, entre outras, na pginawww.geocities.com/Athens/Column/6138/hijab.html
29 Esta ideia pode provocar situaes extremas.Desde 1978-9 no Paquisto, inmeras mulheres forampresas, acusadas de violao, e isso porque, ao apre-sentar uma queixa de violaoo, elas prprias estoconsideradas cmplices, adlteras. Curioso o retro-cesso que esta autora quase implicitamente assinalaem comparao com a era colonial: "... under colo-nial rule, rape was recognized as a crime punishablefor men only. ... marital rape was a recognized of-
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por isso, menos condenvel do homem, paraquem os cabelos das mulheres proporcionamuma grande tentao.
O vu pode ser muito prtico, diz-se, por-que protege as mulheres dos olhares mas-culinos impertinentes. Tal como se afirmanum anncio de um vu que tapa o rosto,um "triple layered burqa for extra privacy:You can see out, and prying eyes can notsee in."30 Um princpio salientado no Islo a distncia, ou mesmo a separao, entreos homens e as mulheres. Pode significarque cada um dos gneros tem o seu espao,sendo o das mulheres fora do alcance dos ho-mens.31 O conceito geral para este princpio hijab ou (na sia) purdah, separao, mui-tas vezes realizada e simbolizada por um cor-tinado dentro da casa. A noo de purdahtambm pode ser concretizada pela roupa,quando usada por uma mulher para criar umafronteira entre ela e os homens no-parentes.
fense."(Rouse 1998: 63; itlico meu). Ver tambmBose e Jalal 2001: 232-233.
30 www.alhannah.com; Niqab collection.31 Esta separao entre os gneros aliada ideia
das diferenas intrnsecas, e no , em primeiro lugar,uma questo de superioridade e de inferioridade. Noentanto, a ideia geral que no Islo os homens sosuperiores, com referncia a Sura IV: 34. Especialis-tas do Islo, no entanto, geralmente alertam que esteversculo no deve ser abordado em si, mas em rela-o aos versculos precedentes. Tambm se pode re-ferir a versculos que manifestam o respeito para ou aequivalncia de, at (alguns dizem) a superioridade damulher: Suras XVI: 57-59; XLII: 49-50; IV:1; XXX:21; XXXIII: 35; IV: 124. No entanto, as prticas isl-micas, nomeadamente aquelas que constam da lei is-lmica (shariah), sugerem uma desigualdade: a pos-sibilidade de poliginia; a regra que, em questes deherana, s mulheres cabe apenas metade da parte quecabe aos homens; a obrigao de obedincia, de casti-dade, de modstia em roupa; a tutela por homens paramulheres; o reduzido valor de depoimentos prestadospor mulheres (ver Wazir Karim 1992: 224).
Assim, o vu d s mulheres a possibilidadede se movimentar na esfera pblica, demar-cando um espao inacessvel aos homens. neste sentido que o uso do vu prticopara muitas mulheres. Mesmo obedecendos normas islmicas de esferas separadas, possvel estudar e trabalhar, cruzando-se einteragindo com homens.
Uma outra motivao prtica a econo-mia, tanto de dinheiro como de tempo, umavez que a escolha da roupa no coloca pro-blemas. Este argumento nem sempre v-lido, j que o mundo islmico tambm co-nhece uma moda sofisticada. A indstria demoda islmica est a florescer e existem ca-sas de haute couture especiais para as mu-ulmanas abastadas. Catlogos de moda es-to disponveis na internet e, regularmente,os hotis mais luxuosos em Jacarta e Ku-ala Lumpur, por exemplo, acolhem desfilesque so grandes eventos sociais. Desafiandoo mandamento de modstia, as senhoras ri-valizam entre elas pela coordenao de co-res, a qualidade de material, os acessrios eas jias.32 As revistas de moda islmica sopopulares no Sudeste Asitico, enquanto quenas revistas religiosas tambm assuntos rela-cionados com a roupa so abordados. Exis-tem inmeros livros sobre assuntos prticos,tais como os cuidados a ter com o cabelo re-gularmente tapado com um vu. Num livropublicado na Indonsia, especialistas islmi-cos debruaram-se mesmo sobre a obrigato-riedade do uso do vu para travestis. "A res-posta reconfortante era que os homens noso obrigados a pr o vu; apenas quandoum travesti se sente mais feminino do quemasculino, ele/ ela deveria pr."33
32 Exemplos da Indonsia so referidos por Van Le-euwen 1997: 340-345; Van Dijk 1997: 77-79.
33"The comforting answer was that men do not
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3 O vu e a modernidadeO uso do vu, hoje em dia, um fenmenoespalhado especialmente nos meios urbanose modernos caracterizados pela industriali-zao, urbanizao, profissionalizao, mo-bilidade social e o emprego das novas tecno-logias. As mulheres tendem a salientar queesse vesturio fruto da sua prpria esco-lha e os seus antecedentes sugerem uma ati-tude consciente e assertiva. Na Malsia, porexemplo, no so poucas as mulheres vesti-das a rigor que ocupam posies de quadro.Frequentaram universidades na Nova Zeln-dia ou nos Estados Unidos e muitas come-aram usar o vu precisamente durante a es-tadia no estrangeiro. Para essas mulheres, ouso do vu coaduna-se bem com a moderni-dade. Seno vejamos.
Em primeiro lugar, indica que a mulher seorienta pelos escritos do Islo e pela sua dou-trina original. At h pouco tempo, a dou-trina e a prtica do Islo apresentava umagrande variedade no mundo. Nos meios ru-rais e populares, o Islo fazia parte integraldas respectivas culturas locais, e as pessoaseram orientadas pelo contacto pessoal comum especialista da religio.
Mulheres modernas querem desligar-sedessas tradies locais e orais. Usando a sualiteracia e o acesso aos meios de comunica-o modernos, chegam a ideias mais "cor-rectas"e uniformes sobre a prtica do Islo,simbolizadas no uso do vu. Esta diferenaentre a religio popular e a religio "escritu-ralista"no Islo foi descrita por vrios auto-res, por exemplo Clifford Geertz em relao
have to wear a jilbab; only when a transvestite feelsmore female than male should s/he do so."(Van Dijk1997: 75).
ilha de Java.34 Ernest Gellner faz a distin-o entre High Islam e Low Islam, e refere,tambm com o exemplo da Malsia: "... Amulher Muulmana tpica numa cidade ma-laia no usa o vu por a sua av o ter usado,mas porque ela no o usou: a av, na aldeia,estava ocupada demais no campo, e frequen-tava os locais de culto sem vu, e deixava ovu para os seus superiores. A neta est a ce-lebrar o facto de se ter juntado aos superioresda av, mais que a sua lealdade sua av."35
Uma segunda razo justificando o enqua-dramento do vu na "modernidade" que oseu uso s vezes o reflexo do desejo damulher participar na vida pblica, nomeada-mente na vida profissional, entre os homense ao mesmo nvel com eles. O uso de vu uma soluo adequada para a conciliaodesta ambio com as regras de separao(hijab ou purdah) que o Islo parece impor.Por outras palavras, o vu um acessrioindispensvel para a mulher poder ser mo-derna, escapando tradio.
E, em terceiro lugar, o vu como smbolosalienta a identidade religiosa e a distinodo mundo ocidental. Tambm isso se enqua-dra na modernidade e na chamada globaliza-o. Uma das consequncias da vaga recenteda globalizao (provocada pelas novas tec-nologias de transporte, de informao e decomunicao) o reforo das identidades re-gionais, tribais e religiosas. Largos gruposde muulmanos aceitam aspectos da moder-nidade, nomeadamente a tecnologia, mas re-
34 Geertz 1960.35 Gellner 1993, pgina (traduo do Prof. Ar-
mando Marques Guedes); Comparar Jansen (1998:89): The new veil no longer refers to the respectfulwomen secluded in the home, as previously, but ratherto the young career women, working in offices andtravel agencies.
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jeitam a cultura chamada ocidental. Con-tra essa "westoxicao", recorrem s prticasdum Islo mais puro, manifestadas no vu; ovu que tambm podia simbolizar o naciona-lismo e o anti-imperialismo. Entre os gruposurbanos em geraes anteriores a moderni-dade era simbolizada pela adopo da indu-mentria feminina do mundo ocidental, querdizer sem vu. Este movimento tem encon-trado um contra-movimento, pela reputaodesfavorvel que o ocidente tem vindo a ad-quirir. O fenmeno revelava-se j durante aGuerra da Independncia no Argel. Se, sobinfluncia francesa e com a modernizao,houve uma tendncia entre as mulheres, pararenunciar ao vu, isso mudou quando, na sualuta pela nao, muitas delas comearam denovo a us-lo.
Como j referido, a umma, a comunidadeislmica mundial, torna-se mais visvel pelauniformizao do vesturio. A noo destacomunidade tem ganho peso exactamentenestes ltimos anos. Facilmente se estabe-lecem contactos entre Mauritnia e Minda-nao e entre as disporas muulmanas da Ar-gentina e da Austrlia. Em sociedades multi-culturais, o vu serve diariamente como afir-mao religiosa em contactos com os outros.Aplica-se, por exemplo, Malsia (como de-senvolvi num outro texto), mas tambm a so-ciedades europeias. Durante o episdio dos"foulards"em Frana, o slogan dos muul-manos envolvidos era "le voile est notre hon-neur". Cabe s mulheres, com a sua indu-mentria, serem as guardis da identidade eda virtude do seu grupo.
4 ConclusoSer, ento, o uso do vu um acto emanci-patrio? Parece que esta no a terminolo-
gia adequada. No esqueamos as numero-sas mulheres e os muitos homens islmicosque precisamente em defesa dos direitos dasmulheres, se opem a essa prtica ou no lhedo importncia. Para esses crentes, o Alco-ro permite uma exegese flexvel, atendendoao contexto histrico e social do seu nasci-mento. Tambm invocam como argumentoque as Suras que do orientaes acerca daroupa no devem ser referidas como frasessoltas.36 No entanto, para os mais ortodo-xos, a admisso da hiptese de uma inter-pretao metafrica de passagens do Alco-ro blasfmia. Opinio semelhante incidesobre as feministas islmicas (das quais sedestaca a marroquina Fatema Mernissi) quese pronunciam expressamente contra o vu,usando motivos religiosos. A voz delas (edeles) no mundo islmico raramente levadaa srio, ou classificada na esteira das "femi-nistas ocidentais".37
Vrios foram os motivos mencionadosneste texto para o uso do vu. Alguns des-ses supem que a iniciativa reside com asprprias mulheres e que as mulheres so asbeneficiadas. Entre estes, encontram-se amotivao religiosa e piedosa das mulheres;razes econmicas e prticas; a maior fa-cilidade de se movimentar num espao p-blico. Segundo uma outra justificao, a in-dumentria das mulheres serve para marcarum grupo na sua totalidade. Representa o de-sejo de afirmar a identidade cultural, ou, poroutras palavras, a distino de outros. Numaatitude mais militante, um manifesto con-tra os outros: o mundo ocidental, o coloni-alismo, o imperialismo e os regimes laicos.O vu, cada vez mais uniformizado, uma
36 Ver Engineer 1992: 83-94.37 Roald 1998: 24-25.
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expresso da globalizao islmica contrari-ando a globalizao ocidental.
No entanto, frequentemente o uso do vu imposto. Tambm no caso em que quandouma mulher se veste desse modo para se sen-tir mais vontade fora do seu crculo de fa-miliares, ela est a obedecer a regras esta-belecidas por homens. S criando (pela suaroupa) uma rea bem delimitada para ela,pode ter um lugar no espao pblico, domi-nado por homens. Assim, o uso do vu inerente a um regime patriarcal.38 O Islosublinha a diferena intrnseca dos homens emulheres (que deve ser acentuada pela formade vestir), e o desejo de uma certa separaoentre os dois gneros. Segundo muitos Isla-mitas, a diferena no ser em termos de su-perioridade e inferioridade. No entanto, oshomens encontram-se numa posio de po-der porque o espao pblico o terreno atri-budo a eles.
Abordmos neste texto a multi-interpretabilidade e a multi-intencionalidadeda indumentria islmica. As intenespodem ser explcitas e portanto escolhasindividuais, s vezes tomadas aps muitareflexo.39 No entanto, frequentementetrata-se de uma questo de adaptao s pr-ticas correntes no ambiente social. O prprioAbdurrahman Wahid, grande sbio islmico(e Presidente da Indonsia de 1999 a 2001)afirmou que o vu no lhe revelava nadasobre os motivos da pessoa em questo.40Neste caso, aplica-se a orientao que umprovrbio indiano d s mulheres: "Comeconforme o teu gosto; veste-te conforme o
38 evidente que a sociedade ocidental tambm pensada e organizada segundo princpios patriarcais.
39 Lundstrom 1998.40 Woodward 1996: 151.
gosto dos outros".41 Tem traos de opresso,para muitas mulheres e nomeadamente asislmicas, esse gosto dos outros.
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