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Johanna Lindsey - Assim fala o coração

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1França, 972 d. de J .C.

Brigitte de Louroux suspirou, sem tirar seus claros olhos azuis doganso cevado que jazia frente a ela sobre a mesa de trabalho. Com o cenhofranzido, concentrada, a jovem continuou depenando o animal, tal como lhetinham ensinado recentemente. Era esta uma tarefa nova para essa garota dedezessete anos, mas só uma das muitas às que, com lentidão, já começava ahabituar-se. Fatigada, a moça se separou do rosto uma mecha de sua largacabeleira loira.

O sangue do ganso sacrificado salpicou o avental e a parte inferior da túnica de lã parda, que aparecia por abaixo. Todos os finos vestidos doBrigitte se achavam danificados pelas imundas tarefas que agora lhe eramimpostas. Entretanto, esse fatigante trabalho tinha sido escolhida por ela,recordou-se a jovem a si mesmo: sua própria e obstinada eleição.

 Ao outro lado da mesa se encontrava Eudora, cuja tarefa Brigittese achava executando. Os olhos pardos da Eudora olharam compassivos a suaama, até que esta levantou o olhar e sorriu com expressão protetora.

-Não é justo!- vaiou a criada, e seus olhos ficaram subitamenteredondos pela fúria.- Eu, que servi na casa de seu pai durante toda minha vida,e muito feliz de fazê-lo, devo permanecer ociosa enquanto vocês trabalham.

Brigitte baixou o olhar e seus olhos azuis se umedeceram.-É melhor isto que me render aos planos que Druoda urdiu para

mim -murmurou a menina.-Essa dama é muito cruel.-Sinto-me inclinada a assentir -disse Brigitte com voz suave.-Temo

que não lhe agrado à tia de meu irmão.-É uma arpía! -exclamou Eudora com veemência. A mãe da Eudora, Althea, atravessou a cozinha, agitando uma

enorme colher.-É muito benévola, Eudora. Druoda nos obriga a lhe chamar lady,

mas não é mais que uma vaca preguiçosa. Cada dia que passa, volta-se maisobesa, enquanto que eu não tenho feito mais que perder peso desde quechegou. Há-me dito que me cortará os dedos se provar o alimento enquantocozinho, mas, pergunto-me, que cozinheiro pode cozinhar sem provar suacomida? Devo provar o que cozinho, entretanto, ela me o prohíbe. O que possofazer?

Eudora sorriu com uma careta.-Pode lhe jogar excrementos de frango em sua comida e rogar que

ela não o descubra, isso pode fazer. Brigitte riu.-Você não te atreveria, Althea. Druoda te pegaria, ou inclusive,

chegaria possivelmente a te despedir. Até poderia te matar.

-Sem dúvida, estão no certo, milady. -Althea soltou uma breverisada, e todo seu enorme corpo se sacudiu. Mas foi agradável imaginá-lo,saboreá-lo como se se tratasse de uma deliciosa torta.

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Eudora voltou a ficar séria com rapidez. -Tudo foi terrível para nósdesde que Druoda começou a mandar aqui. É uma dama muito cruel, e essemarido covarde que tem não faz nada por detê-la. Lady Brigitte não merece ser tratada como a faxineira mais humilde da mansão. -Sua fúria se intensificou -.Ela é a filha da casa e seu meio-irmão deveria ter assegurado o futuro da moça

depois da morte de seu pai. Agora que ele...Eudora se deteve bruscamente e baixou a cabeça envergonhada,mas Brigitte sorriu.

-Está bem, Eudora. Quintin está morto e sou consciente disso.-Só quis dizer que ele deveria ter feito certos acertos com seu

senhor. Não é justo que vocês devam te submeter à vontade de uma mulher como Druoda. Ela e seu marido vieram aqui suplicando a clemência de lordeQuintin logo que morreu o barão. O moço não deveria lhes haver admitidoentão. Agora já é muito tarde. Ambos parecem acreditar que este feudo lhespertence, e não a você. Seu irmão foi um grande homem, mas neste caso...

Brigitte silenciou à outra jovem com um olhar severo, e seus claros

olhos azuis brilharam com ferocidade.-É injusta com o Quintin, Eudora. Meu meio-irmão não podia saber que Druoda me manteria afastada do conde Arnulf. Mas o conde é nosso senhor e, a partir de agora, meu legítimo tutor, não importa o que Druoda diga, elemesmo se ocupará de estabelecer minha condição. Só devo chegar até ele.

-E como conseguirão chegar ao conde se Druoda não lhes permiteabandonar a mansão? -perguntou Eudora acaloradamente.

-Encontrarei uma forma. -A voz do Brigitte não pareciaconvincente.

-Se tão somente tivessem família em alguma parte.-Altheasuspirou, sacudindo a cabeça.

-Não tenho a ninguém. Você deveria sabê-lo, Althea, posto que teencontrava aqui quando meu pai se converteu no senhor do Lourox. Ele contavacom poucos parentes, e os últimos pereceram na campanha do rei pararecuperar Lotharingia. Por parte de minha mãe não havia ninguém, dado que elase encontrava sob a tutela do conde Arnulf quando se casou com o barão.

-Milady, Druoda lhes está forçando a trabalhar como se fosse umamera serva. Logo começará a lhes golpear também -afirmou Eudora com tomsério-. Se conhecer a forma de chegar até o conde Arnulf, então, sugiro-te que ofaça imediatamente. Não poderiam enviar a um mensageiro?

Brigitte deixou escapar um profundo suspiro.-E a quem, Eudora? Os serventes fariam com agrado o que eu lhes

pedisse, mas necessitam permissão para abandonar a mansão.-Leandor, sem dúvida, estaria disposto a lhes ajudar. Ou, inclusive,

algum dos vassalos - insistiu Eudora. -Druoda mantém também ao Leandor confinado na mansão - declarou Brigitte-. Nem sequer lhe permite ir até a abadiado Bourges a comprar vinho. E convenceu aos vassalos de meu irmão de queseu marido, Walafrid, será senescal aqui uma vez que ela consiga me desposar,e de que me encontrará um marido que não se atreverá a despedi-los... demaneira que nenhum deles ousará lhe desobedecer por minha causa... O conde Arnulf se encontra a mais de um dia de viagem desde o Louroux. Como posso

chegar até ele?-Mas...

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-te cale, Eudora! - ordenou Althea a sua filha com um olhar deadvertência-. Está incomodando a nossa ama. Acaso lhe permitiria viajar sozinha pela campina? Deixaria que se convertesse em presa de ladrões eassassinos?

Brigitte sentiu um calafrio, pese ao calor dos fogos da cozinha e ao

suor que lhe corria pela frente. Observou com pesar o ganso ao meio depenar epensou que suas perspectivas para o futuro não podiam ser piores.Eudora olhou à filha do barão com expressão compassiva.-por que não vai alimentar Wolff, milady? Eu terminarei de depenar 

o ganso em seu lugar.-Não. Se Hildegard entrasse e não me encontrasse trabalhando,

correria a contar-lhe a Druoda. Quando Mavis se queixou de que me forçassema realizar esta tarefa, foi golpeada e expulsa. E eu não pude fazer nada paraajudar a minha velha amiga. Os soldados seguem as ordens da Druoda, não asminhas. E logo, me inteirar de que Mavis tinha morrido na rota, assassinada por uns ladrões! Perder ao Mavis foi como perder outra vez a minha mãe. -A

compostura do Brigitte começou a desmoronar-se com rapidez.Imediatamente, a jovem se secou as lágrimas que tinham brotadode seus olhos. Desde seu nascimento, Mavis se tinha encontrado a seu ladocomo sua dama de companhia. A anciã celta tinha sido uma segunda mãe, umconsolo e ajuda constante para sua pequena, protegida da morte da verdadeiramãe da menina.

-Vão, milady. -Althea apartou docemente ao Brigitte da mesa-. idesalimentar a seu cão. O sempre consegue te animar.

-Sim, vão, milady. -Eudora se aproximou da mesa para ocupar olugar de sua ama-. Eu terminarei de depenar o ganso. E se vier Hildegard,derrubaremo-la a bofetadas.

Brigitte sorriu ante a imagem da obesa faxineira da Druoda sendoesbofeteada. Logo, tomou um prato de sobras de comida para o Wolff. Permitiuque Althea lhe colocasse seu manto de lã sobre os ombros e, antes deabandonar a cozinha com cautela, assegurou-se de que o vestíbulo estivessevazio. Por fortuna, só dois criados se encontravam ali, atarefados em pulverizar novos juncos no chão, e nenhum deles elevou o olhar.

Brigitte conhecia todos os serventes da mansão por seu nome,posto que eles eram como da família; todos, exceto Hildegard, que tinhachegado com a Druoda e Walafrid. Essa tinha sido uma casa feliz antes dainesperada morte do Quintín e a pouco afortunada transformação da tia, dehóspede a ama.

Fora, o ar estava fresco e o forte aroma dos redis de animais,situados para o oeste, voava com o vento. Brigitte caminhou nessa direção,passando junto às habitações da servidão, frente aos estábulos de cavalos ecabras. junto a estes, encontrava-se o curral das vacas e, mais à frente, o àspressas de carneiros e a porqueriza. Wolff se achava encerrado com outrossabujos em um imenso redil, ao lado do curral. Assim o tinha disposto Druoda.Wolff, o cão favorito do Brigitte, que nunca tinha conhecido mais que aliberdade, agora se encontrava tão prisioneiro como sua proprietária.

O pai da menina tinha encontrado ao animal sete anos atrás, nobosque que cobria a maior parte das terras entre o Louroux e o rio Loira. Brigitte

logo que tinha completo os dez anos, quando o barão levou o cachorrinho acasa. Era evidente o imenso tamanho que alcançaria o animal com o tempo e,sem dúvida, não tinha sido a intenção do homem destiná-lo como mascote de

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sua filha. Porém a pequena se apaixonou pelo Wolff a primeira vista e, mesmoque lhe estava proibido aproximar-se do cão, não era possível mantê-laafastada. Logo tirou o chapéu que o animal correspondia à devoção da menina,e já não houve mais razão para inquietar-se. Agora que Brigitte media um metrosessenta de altura, a imensa cabeça branca do Wolff lhe chegava quase ao

queixo. E, quando o animal se levantava sobre suas patas traseiras, superava àmenina em mais de trinta centímetros.Wolff tinha percebido a proximidade de sua proprietária e se sentou

a aguardá-la impacientemente junto à entrada de seu redil. Era estranho, mas ocão sempre parecia conhecer os movimentos do Brigitte. Freqüentemente, nopassado, tinha sabido quando ela abandonava a mansão e, de estar sujeito,desatou-se para unir-se o na rota. Sempre tinha resultado impossível para amenina dirigir-se a qualquer parte sem o Wolff. Mas Brigitte já não ia a nenhumlado, e tampouco o cão.

 A jovem sorriu quando abriu o portão do redil, para logo voltar afechá-lo, uma vez que seu mascote esteve fora.

-Sente-se como um rei, verdade?, ao não ter que aguardar comseus amigos até a hora do jantar. -inclinou-se para lhe abraçar, e suas largastranças caíram sobre a imensa cabeça do animal. Mesmo que a maioria dasmulheres do Berry acostumavam a usar largos mantos de linho, Brigitte sempreos tinha detestado. Suas tranças não eram indecentes, tinha decidido a menina,e lhe agradava a liberdade de não levar constantemente a cabeça coberta,embora sempre usava um manto de linho branco para a igreja.

Seu objeto interior consistia, pelo general, em um vestido de lãfileira parda ou, com tempo quente, de um leve algodão tingido de cor azul ouamarela. Suas túnicas eram usualmente azuis, de um linho claro no verão e deuma lã escura no inverno.

-Pode agradecer-lhe a Althea por me jogar fora da cozinha, ou nãoestaria contigo agora.

Wolff lançou um latido em direção à casa antes de atacar suacomida. Brigitte riu e se sentou junto ao cão, com as costas apoiada contra asestacas do redil. De ali, a jovem olhou por cima da elevada parede quecircundava a mansão.

Era difícil ver mais à frente do alto muro, a menos que se elevasseo olhar para a taça das árvores. Toda a mansão, os estábulos, as cabanas dosserventes e os parques estavam rodeados por grosas paredes de pedra,enegrecidas pelo passo dos anos e marcadas pelos conflitos bélicos. Na vida doBrigitte, a casa não se viu assediada, mas seu avô tinha lutado em váriasbatalhas para conservar seu feudo e, em sua juventude, seu pai tinha sofridonumerosos ataques contra sua herança. Os últimos vinte anos tinham vistotantas guerras com os sarracenos, que quase ninguém na França contava comos homens necessários para assediar a seus vizinhos. Brigitte apenas se pôdedivisar o horta situado para o sul. A última vez que tinha visto florescer asárvores frutíferas, sua vida era completamente diferente. Um ano atrás, aindatinha tido ao Quintin e ao Mavis. O feudo no que tinha arroxeado toda sua vidatinha passado à mãos do Quintin, embora ela sempre tinha conservado seu dotematrimonial. Agora tudo lhe pertencia, mas não podia governá-lo. Deviadesposar-se, ou a posse do feudo voltaria a poder do conde Arnulf.

Brigitte refletiu sobre seu patrimônio. Era uma propriedade valiosa,com numerosos acres de terra fértil no centro da França, abundante fauna nos

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marido. Druoda parecia uma mulher total e retraída. De fato, Brigitte virtualmentenão notava a presença da dama na casa, exceto durante as comidas. Seu irmãotinha chegado para ficar e isso era o único que lhe importava à pequena. Ambosse consolavam mutuamente pela morte de seu pai.

Então, o abade do monastério borgoñés do Cluny foi seqüestrado

por piratas sarracenos, enquanto cruzava os Alpes através do passado doGrande São Bernardo. O conde da Borgonha se encolerizou e solicitou a ajudade seus vizinhos para desfazer-se das bandas de assaltantes sarracenos, quetinham aterrorizado tudas as passagens ocidentais dos Alpes e o sul da Françadurante mais de um século. Embora o Conde Arnulf jamais se viu acossado por tais piratas, necessitava a Borgonha como aliada, e aceitou enviar muitos deseus vassalos e cavalheiros para liberar batalha contra os hostigadores. EQuintin foi também destinado a lutar.

O moço se sentia encantado. A vida de um cavalheiro era a guerra,e ele tinha estado ocioso durante mais de um ano. Tomou à maioria de seusvassalos e homens, e na metade de quão soldados vigiavam o fortaleza. Só

deixou atrás a sir Charles e a sir Einhard, ambos os anciões e propensos afreqüentes enfermidades, e também a sir Stephen, um dos cavalheiros da casa.E assim, partiu Quintin em uma brilhante manhã, e foi essa a última

vez que Brigitte viu seu meio-irmão. A jovem não podia precisar com exatidãoquando o escudeiro do Quintin, Hugh, tinha-lhe levado as notícias da morte domoço. Só sabia que tinham acontecido vários meses antes de que ela pudessesuperar o forte impacto emocional e lhe dissessem que tinham transcorridosemanas das que não tinha tido consciência. Podia, porém, recordar comclaridade as palavras do Hugh: "Lorde Quintin caiu quando os nobres francesesatacaram uma das bases piratas na desembocadura do Ródano." A dor jamaisabandonou a jovem.

Brigitte se achava muito aturdida pelas mortes acontecidas em suafamília para advertir as mudanças que estavam tendo lugar na casa, ou paraperguntar-se por que os vassalos do Quintin não retornavam, ou porquê Hughtinha voltado para a costa sul, Mavis tinha tratado de lhe advertir que notassetais mudanças, em particular, a transformação da Druoda. Mas não a não ser até encontrar ao Wolff encerrado com os outros cães, começou a menina acompreender.

Brigitte se enfrentou a Druoda. Foi então quando, pela primeiravez, advertiu que a tia de seu irmão não era a mulher que ela tinha acreditadoconhecer.

-Não me chateie com pequenezes, menina! Tenho assuntos maisimportantes que atender- disse Druoda com arrogância.

Brigitte se irritou.-Com que direito...?-Com todo o direito! -interrompeu-a Druoda como único parente de

seu irmão, como seu único parente, tenho todo o direito de assumir a autoridadenesta casa. Você ainda é uma donzela e necessita um tutor. Naturalmente,Walafrid e eu seremos nomeados responsáveis.

-Não! -replicou a menina-. O conde Arnulf será meu tutor. Ele seocupará de velar por meus interesses.

Druoda era quinze centímetros mais alta que Brigitte, e lhe

aproximou para amedrontá-la.-Minha menina, você não terá voz no assunto. As donzelas nãoescolhem a seus tutores. Agora bem, se não tivesse parentes, então o conde

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 Arnulf, como senhor de seu irmão, passaria a ser seu tutor. Mas você não estásozinha, Brigitte.

Druoda esboçou um sorriso presumido ao adicionar:-Tem-nos para mim e ao Walafrid. O conde Arnulf nos outorgará

seu tutoría.

-Eu falarei com ele -respondeu a menina com segurança.-Como? Não pode abandonar Louroux sem uma escolta, e vejoque terei que lhe negar isso E o conde Arnulf não virá até aqui, posto que aindanão sabe que Quintin morreu.

Brigitte afogou sua exclamação. -por que não foi informado?-Acreditei que seria melhor aguardar- disse Druoda com

indiferença -. Até que te desposasse. Não há necessidade de incomodar a umhomem tão ocupado com a busca de um marido adequado, quando eu souperfeitamente capaz de escolhê-lo sem sua ajuda.

-Escolhê-lo você? Jamais! - exclamou a menina com indignação-.Eu mesma escolherei meu marido. Meu pai me prometeu a liberdade de

escolher, e Quintin esteve de acordo. O conde Arnulf sabe.-Não seja ridícula. Uma menina de sua idade é muito jovem paratomar uma decisão tão importante. Mas que idéia tão absurda!

-Então não me casarei! - afirmou Brigitte impulsivamente-.Ordenarei-me em um convento de monjas! Druoda sorriu e começou a caminhar pela habitação com ar pensativo, enquanto falava.

-Seriamente? Uma dama que jamais trabalhou em nada mais difícilque um volto de fiar? Pois então, se desejas ser noviça, deve começar imediatamente sua capacitação. - Voltou a sorrir -. Sabia você que as noviçastrabalham dia e noite como vulgares faxineiras? Brigitte elevou o queixo comatitude desafiante, mas não respondeu.

-Pode começar sua aprendizagem aqui e agora, Sim, isso poderiaajudar a melhorar sua disposição.

 A menina assentiu obstinadamente. Demonstraria a Druoda quepoderia ser uma perfeita noviça. Tampouco se tornou atrás quando, uns poucosdias mais tarde, retornou a sua antecâmara para encontrar que todas seuspertences tinham desaparecido. Aí, Druoda a aguardava para lhe informar queàs noviças não estava permitido possuir elegantes dormitórios e que, dali emmais, deveria viver em uma das choças dos serventes ao outro lado do pátio.

Mesmo assim, Brigitte jamais considerou a idéia de abandonar amansão. Nem sequer quando sir Stephen se recusou a levar sua mensagem ao Arnulf, pensou a menina em viajar sozinha para a casa do conde. Mas quandoMavis foi expulsa causar pena umas roupas nas costas, Brigitte teve que ser encerrada para impedir que partisse com a donzela. Três dias depois, a jovemfoi liberada.

O tempo perdido não deteve a menina. dirigiu-se diretamente aoestábulo, sem pensar nas conseqüências que poderia conduzir o abandonar sozinha a mansão. Leandor, o oficial do Louroux, detalhou-lhe os perigosquando a descobriu preparando suas arreios.

-Se lhes partirem, arriscarão-lhes ao estrupro e ao assassinato-tinha-lhe advertido o homem, ofuscado ante a imprudência da menina-. Milady,não posso deixar ir sem escolta.

-Irei, Leandor -tinha-lhe respondido Brigitte com tom firme-. Se nãopoder encontrar ao Mavis, então, cavalgarei até o castelo do conde Arnulf e

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moço ainda não se recuperou de seu assombro, quando foi abordado pelo GUIdo Falaise, quem tinha viajado até o Arles precisamente para lhe encontrar.

-As ordens de seu pai foram, como de costume, muito explícitas-declarou GUI, logo depois de abraçar-se com o Rowland e intercambiar-senotícias. Fazia seis anos que não se viam, mas, alguma vez, tinham sido muito

íntimos amigos - Eu não devia retornar à mansão sem antes te haver encontrado!-Nesse caso, não faltaste a seu dever -afirmou Rowland com

secura. Ao moço não lhe agradava que GUI tivesse jurado lealdade a seu

pai, mas era consciente de que o homem não conhecia o Luthor tão bem comoele.

-Bom, te encontrar era só parte de minha missão- reconheceuGUI-. A outra parte é te levar de volta comigo. Rowland se surpreendeu, mas seforçou a ocultar seu assombro.

-por que? -perguntou com tom severo-. Acaso a idade conseguiu

enternecer a meu pai? Esqueceu ele que me expulsou da casa?-Segue ainda ressentido, Rowland? -Os olhos verdes do GUIrefletiram uma profunda preocupação.

-Você sabe que eu só queria lutar pelo rei da França, que era osenhor de nosso duque. Mas Luthor se negou. Converteu-me em um valorosoguerreiro, mas jamais me permitiu demonstrar minhas habilidades. Santo Deus,em toda minha vida não me tinha afastado do Montville nenhuma só vez, e aliestava eu, com dezoito anos e armado cavalheiro, e meu pai pretendia me reter em casa como se se tratasse de um bebê de fraldas. Não foi possível tolerá-lo.

-Mas sua rixa com o Luthor não foi pior que outras - insistiu GUI-.Golpeou-te, como sempre o fazia, corpo a corpo.

Os olhos azuis do Rowland se obscureceram.-Sim, isso viu você, mas não ouviu as palavras que se

pronunciaram logo. Eu também fui responsável, admito-o, porque ele meprovocou com sua presunção de que jamais perderia um combate frente a mim,nem mesmo quando se estivesse aproximando da tumba. Se ele não tivessefeito tal alarde diante de sua esposa e filhas, eu não teria afirmado que mepartiria sem sua permissão para, provavelmente, não retornar jamais. Mas odisse ofuscado, e ele então respondeu: "Vete e será o fim! Jamais te permitireique retorne!".

-Não sabia que tinham chegado a tanto. Mas isso ocorreu faz seisanos, Rowland, e as palavras sortes com fúria não devem ser recordadas parasempre.

-Mas ele o disse, e meu pai jamais se retrata. Mesmo que estejaequivocado, e sabe muito bem que o está, não é capaz de retificar.

-Sinto muito, Rowland. Nunca soube a gravidade da disputa.Partiu-te, e eu sabia que tinha brigado com o Luthor, mas ele jamais voltou afalar disso desde que foi. Agora compreendo por que ele nunca esteve segurode se voltaria para casa ou não. Mas sei que o velho guerreiro te sentiu falta de.Estou convencido de que teria enviado por ti muito antes, se tivesse encontradoa forma de fazê-lo sem perder seu prestígio. Você conhece o Luthor: é todoorgulho.

-Ainda não me há dito por que foi levantada minha expulsão.- Seu pai quer que esteja perto para reclamar seu feudo em casode que ele mora - informou-lhe GUI com brutalidade.

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O rosto do Rowland empalideceu lentamente. -Luthor se estámorrendo?

-Não! Não quis dizer isso. Mas se está gerando certo problema.Sua meio-irmã, Brenda, casou-se.

-De modo que a bruxa por fim conseguiu companheiro -Roland

deixou escapar uma breve risada.- Presumo que o sujeito tem que ser estúpidoe de aspecto repugnante.-Não, Rowland, casou-se com o Thurston do Mezidon.-O irmão do Roger!- exclamou Rowland.-O mesmo.-por que? Thurston era um homem arrumado e agradava muito às

damas. por que quereria ele casar-se com a Brenda? A moça não é só tão arpíacomo sua mãe, mas sim além disso é terrivelmente feia.

-Acredito que a dote da jovem lhe atraiu -sugeriu GUI com tomvacilante.

-Mas a dote matrimonial da Brenda não era muito grande.

-Ouvi que lhe fez acreditar o contrário; assim de apaixonada estavaa moça. Também se diz que Thurston quase o arbusto a golpes na noite debodas, uma vez que descobriu que a dote não era nem a metade do que eletinha esperado.

-Suponho que isso não era mais do que essa jovem merecia -disse Rowland espontaneamente.

Era sabida a falta de amor entre o Rowland e suas duas meio-irmãs maiores. O moço tinha sofrido cruelmente em mãos das mulheres desdesua mais tenra infância sem ninguém que lhe protegesse. Na verdade nãosentia nada por elas agora, nem sequer compaixão.

-E minha irmã Ilse -prosseguiu Rowland-, ela e seu marido

continuam vivendo com o Luthor?-OH, sim. Geoffrey jamais abandona suas bebedeiras o suficiente

para construir uma mansão em seu pequeno feudo - respondeu GUI com tomdepreciativo-. Mas se produziu uma importante mudança. Geoffrey subitamentecercou uma íntima amizade com o Thurston.

- E?- Esse é um mau presságio para o Luthor. Tem um filho político

que está furioso pela miserável dote da Brenda e que quer muito mais doMontville. Seu outro filho político vive sob seu mesmo teto e é afável com oThurston. Luthor sente que deve manter-se em guarda agora, posto que é muitopossível que seus dois filhos políticos se unam em seu contrário.

-O que pode temer Luthor? Tem suficientes homens.-Não subestime ao Thurston. Esse sujeito tem a ambição e a

cobiça de dois homens. Rapina na Bretaoa e em Maine, conseguiu juntar umexército bastante grande, o suficiente como para que Luthor tivesse que reforçar Montville. Seguro que se desatará uma guerra se não assassinarem antes aoancião senhor.

-Acredita que Thurston seria capaz de recorrer ao assassinato?- Sim, Rowland, isso acredito. Já houve um acidente inexplicável. E

se morrera Luthor sem que você estivesse ali para reclamar Montville, Thurstone Geoffrey 1o reclamariam para si e necessitaria um exército tão capitalista

como o do duque para recuperá-lo.-E se não o quero?

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agradável, mon ami. Conheço um botequim apropriado junto à entrada do norte,onde servem uma saborosa sopa e cerveja doce. -Rowland riu de repente.- Nãoimagina quanto senti falta do ale de meu pai. Os franceses podem afogar-se emseu maldito vinho, eu sempre estarei disposto a beber ale com os camponeses.

Rowland se sujeitou a correia da vagem e embainhou sua larga

espada; logo, colocou-se um comprido manto de lã sobre os ombros. Atrásdeixou a cota e a armadura. O moço tinha crescido para converter-se em umhomem de esplêndida figura, pensou GUI com satisfação. Duro como umarocha, firme e forte, Rowland era um verdadeiro guerreiro. Admitisse-o ou não,Luthor estaria orgulhoso de ter a este filho a seu lado na batalha.

GUI deixou escapar um suspiro. Rowland tinha crescido sem oamor de uma só pessoa. Era natural que, em ocasiões, o moço fora áspero,cruel e irascível; tinha todo o direito a sê-lo. Mesmo assim, Rowland tambémpossuía excelentes qualidades. Era capaz de demonstrar tanta lealdade por umhomem, como ódio por outro. E não lhe faltava senso de humor. Na verdade,Rowland era um grande homem.

-Devo te advertir, GUI -disse o moço quando entraram o a cidade.-Roger do Mezidon também tem descoberto as virtudes do botequim a que nosdirigimos, já que certa donzela apanhou seu interesse ali.

-E o teu também, sem dúvida -demarcou GUI com tom divertido.-Você e ele sempre lhes sentastes atraídos pelas mesmas mulheres.Competiram também por esta?

Rowland fez uma careta ante a lembrança recente. -Sim, brigamos.Mas o matreiro trapaceiro tomou despreparado, depois de que eu tinha tomadoumas quantas taças de mais.

-Então perdeu?-Não é isso acaso o que acabo de te dizer? -respondeu Rowland

com brutalidade.- Mas essa será a última vez que brigarei com um homem por um pouco tão insignificante. As mulheres são todas iguais e muito fáceis deconseguir. O e eu temos suficientes raciocine para brigar sem necessidade denos disputar umas saias.

-Ainda não me perguntaste pela Amelia -fez-lhe notar GUI comcautela.

-É verdade, não te perguntei -replicou Rowland.-Não sente curiosidade?-Não -respondeu o moço-. Perdi meus direitos sobre a Amelia ao

partir. Se ela ainda seguir livre a minha volta, então, talvez, voltarei a reclamá-la.Se não... -encolheu-se de ombros.- Encontrarei outra. Não tem muitaimportância para mim.

-A moça está livre Rowland. E te esperou fielmente durante estesseis anos.

-Não lhe pedi que o fizesse.-Não obstante, ela aguardou. A moça espera casar-se contigo e

Luthor está de acordo. Já começou a tratá-la como a uma filha.Rowland deteve a marcha e franziu o sobrecenho.-Ela sabe que eu não estou disposto a me casar. O que lhe brindou

o matrimônio a meu pai mais que um par de filhas feias e uma esposa harpia?-Não pode comparar a todas as mulheres com sua madrasta-

indicou-lhe GUI.- Com segurança, suas viagens pela França lhe terãodemonstrado que não todas as damas são iguais.

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-Ao contrário. Aprendi que uma mulher pode ser muito docequando quer algo, mas, de outra maneira, é uma bruxa. Não, não desejo umaesposa que me esteja arreganhando todo o tempo. Preferiria me consumir noinferno antes de me desposar.

-Está atuando como um tolo, Rowland -aventurou-se a afirmar 

GUI.- Já sei que há dito isto antes, mas pensei que tinha trocado de opinião.Deveria te casar. Desejará um filho algum dia. Deve ter a alguém a quem lhedeixar Montville.

-Com segurança, terei um ou dois bastardos. Não preciso me casar para isso.

-Mas...Os escuros olhos azuis do Rowland se entrecerraron.-Tenho uma opinião muito firme sobre isto, GUI, de maneira que

não siga me perseguindo.-Muito bem -aceitou GUI com um suspiro-. Mas, o que acontecerá

 Amélia?

-Ela já conhecia minhas idéias quando veio a minha cama. É muitotola se pensou que voltaria a considerá-lo- Reataram a marcha e Rowlandsuavizou seu tom ao prosseguir.- Além disso, é a última mulher que eurecomendaria por esposa. Tem uma boa figura e é bonita, mas infiel. Roger ateve antes que eu e sem dúvida, também muitos outros antes que ele. Vocêmesmo, possivelmente, também saboreaste à moça. Vamos admite-o.

O rosto do GUI avermelhou e se apressou a trocar de tema.-Quanto falta para chegar a esse botequim? Rowland soltou uma

estrondosa gargalhada ao perceber a inquietação de seu amigo e o deu umapalmada nas costas.

-te tranqüilize, mon ami. Nenhuma mulher merece uma disputa

entre amigos. Tem minha permissão para possuir a qualquer dama que eutenha. Como te disse antes, todas são iguais e muito fáceis de conseguir,inclusive Amelia. E, com respeito a sua pergunta, o botequim está ali diante- Assinalou um edifício situado ao final da rua. Dois cavalheiros se encontravamdeixando o lugar e ambos lhe saudaram com a mão.- Esses homens brigaram ameu lado na última batalha -explicou Rowland.- Borgoñeses do Lyon. Aoparecer, todo o reino colaborou na expulsão dos sarracenos. Inclusive os saxõesenviaram a seus Cavalheiros.

-De ter chegado antes, eu tivesse participado também -comentouGUI com melancolia.

Rowland deixou escapar uma breve risada.-Ainda não saboreaste sua primeira batalha? Suponho que Luthor 

não terá estado ocioso durante todos estes anos, ou sim?-Não, mas foram só combate contra bandidos.Então, deve esperar ansioso o enfrentamento com o Thurston.GUI sorriu, ao tempo que chegavam ao botequim. -Para falar a

verdade, não pensei muito nisso. O único que me preocupou desde que saí decasa foi o que fazer se te negava a voltar, dado que, se isso ocorria, eutampouco poderia retornar.

-Então, deve te sentir muito aliviado, né? -Sem dúvida. -GUI soltouuma gargalhada.- Preferiria me enfrentar ao demônio, antes que à fúria do

Luthor. Ao entrar, encontraram o botequim repleto de cavalheiros que bebiam junto a seus escudeiros e soldados. O lugar era de pedra e muito espaçoso. Oshomens se achavam junto à enorme fogueira, onde se assava a carne ou

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congregados em grupos, conversando. Havia uma vintena de mesas de madeiracom bancos de pedra e a maioria se encontravam ocupados. face à existênciade duas portas, uma a cada lado da imensa habitação, o lugar estava muitoquente e carregado. Quase todos os cavalheiros levavam postos trajes de couroe cotas; seus escudeiros, só o objeto de couro. Nenhum deles parecia muito

cômodo. Em casa, longe da batalha, Rowland e seus vizinhos, GUI, Roger,Thurston e Geoffrey, todos preferiam a capa de três lados sobre a larga camisaque usavam sob o traje de couro. Sujeita sobre um só ombro, a capa lhespermitia livre acesso à espada que sempre levavam, mas não era tão incômodacomo a cota ou a túnica de couro. Rowland, entretanto, estava acostumado apreferir a túnica, dado que nunca tinha conseguido habituar-se à capa.Resultava-lhe mulheril, e o fato de que Roger do Mezidon se visse efeminadocom o objeto a tornava até mais suspeita aos olhos do moço.

Roger se encontrava no botequim com dois de seus vassalos eseus escudeiros. GUI tinha viajado sem seu próprio escudeiro e o do Rowland

tinha morrido sob uma cimitarra sarraceno e ainda não tinha sido substituído.Rowland conhecia um dos vassalos do Roger, sir Magnus, quemera tutelado do pai de seu senhor. Ao igual ao filho do Luthor, sir Magnus tinhavinte e quatro anos e tinha recebido seu treinamento junto com o GUI e Roger eo mesmo Rowland.

Roger, de vinte e seis anos, era o major de todos e, de umprincípio, transformou-se no líder. Tinha sofrido uma penosa juventude, com acerteza de que, como segundo filho, deveria lavrar seu próprio caminho nomundo. Invejava ao Rowland porque, bastardo ou não, o moço estava seguro depossuir Montville algum dia. O fato de que um bastardo fora a herdar, enquantoque ele, filho de um nobre, não contaria com tal privilégio, resultava-lhe muito

irritante. Rowland e Roger rivalizavam em tudo e este, sendo o major,geralmente ganhava e, em cada oportunidade, regozijava-se com malícia pelavitória. Durante toda sua juventude, ambos os jovens tinha brigado e discutidomais que se tivessem sido irmãos, e a luta não tinha cessado com a idade.

Roger advertiu a chegada do Rowland e decidiu lhe ignorar. Massir Magnus viu o GUI e se levantou para lhe saudar.

-Santo Deus, GUI do Falaise, o miúdo! -exclamou Magnus comefusão- passaram anos da última vez que te vi. Não tomou ao velho Luthor doMontville como seu senhor?

-Sim -respondeu GUI com tom severo.Encrespava-lhe o mote com que lhe tinham apelidado em sua

 juventude. O miúdo. Era curto de estatura, e esse fato não podia modificar-se.Isso lhe tinha convertido em objeto de brincadeiras quando era jovem e umbranco fácil para homens como Roger e Magnus, que estavam acostumados aavassalar com seus enormes tamanhos. Rowland se tinha compadecido dele etinha tentado lhe proteger, lutando freqüentemente em seu lugar. Isto tinhacriado um vínculo entre ambos, e GUI sentia que, por essa razão, devia a seuamigo uma inflexível lealdade.

-E o que trouxe para o vassalo do Luthor até o Arles? - perguntouRoger.

-Há problemas...

 Antes de que GUI pudesse continuar, Rowland lhe deu umacotovelada nas costelas e interveio.

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-Meu pai me sentiu falta de -disse com tom jovial, provocando queMagnus se engasgasse com seu ale. Todos os pressente sabiam que talasseveração era absurda. Roger franziu o cenho ante a resposta e Rowlandpreviu uma batalha anterior a que lhe aguardava na Normandía.

O moço se sentou em um banco de pedra ao outro lado da mesa,

frente a seu velho inimigo. Uma garçonete, aquela por quem ambos os jovenstinham lutado, serve a cerveja aos recém chegados e se manteve perto,deleitando-se com a tensão que tinha provocado sua presença. Já antes tinhamcombatido por ela, mas nunca dois homens tão brutais e, de uma vez, tãodesejáveis, como esses dois jovens.

GUI permaneceu de pé detrás do Rowland, inquieto ante aexpressão sombria do Roger. Era este um homem arrumado, com os olhosazuis e o cabelo loiro característicos dos normandos, mas agora seu rosto seachava marcado com linhas severas, ameaçadores. Estranha vez ria, excetocom sarcasmo, e seu sorriso estava acostumado a ser depreciativo. Rowland eRoger eram semelhantes em estatura; ambos, jovens musculosos e fortes, de

considerável tamanho. Mas o semblante do Rowland não era tão duro como ode seu adversário.Sem lugar a dúvidas, de aparência agradável. Rowland também

guardava um certo senso de humor e um toque de amabilidade.-De modo que seu pai te sente falta de, né? - comentou Roger 

lacónicamente.- Mas, por que enviar a um cavalheiro para te buscar, quandoqualquer lacaio poderia te haver encontrado?

-Demonstra um inadequado interesse em meus assuntos, Roger -observou Rowland de modo terminante. Roger esboçou um sorriso sarcástico.

-Meu irmão se há desposado com sua irmã - disse, estendendo osbraços para tomar à garçonete e sentá-la em seu regaço, ao tempo que jogava

um olhar de soslaio para seu antigo rival. Um matrimônio desacertado, emminha opinião.

-Espero que não cria que isso nos converte em parentes -grunhoRowland.

-Jamais reconheceria parentesco algum com um bastardo-respondeu o outro com rudeza.

O silêncio foi denso, até que as gargalhadas burlonas do Roger encheram a habitação.

-O que ocorre? Acaso não tem resposta, Rowland? -provocou-lhe,e abraço à moça que tinha no regaço ao prosseguir- O bastardo perdeu seuvalor desde que lhe derrotei.

Uma explosão deveria ter acompanhado ao repentino esplendor que apareceu nos olhos do Rowland, mas o moço falou com incrível calma.

-Sou um bastardo, isso é bem sabido. Mas um covarde, Roger?Tinha começado a suspeitar isso de ti. A última vez que combatemos,assegurou-te de que estivesse ébrio antes de me atacar. -Roger começou alevantar-se, jogando na menina para um lado, mas o severo olhar do Rowlandlhe penetrou-. Equivoquei-me, Roger. Você não é um covarde. Você tenta àmorte com suas palavras e o faz com intenção.

-Rowland, não! -exclamou GUI, e tentou deter seu amigo, que jácomeçava a incorporar-se.

Mas o vulcão que ardia no interior do Rowland foi impossível dedeter. O moço empurrou ao GUI para um lado, ficou de pé e extraiu sua espada,

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Rowland lançou um olhar irado a seu amigo. Já tinham mantidoesta mesma discussão pouco antes esse mesmo dia.

-Devemos partir, Rowland. Roger fugiu furtivamente durante anoite, de modo que agora não pode lhe desafiar. Como estão as coisas, nãochegaremos a casa antes da primeira nevada.

-Uns poucos dias mais não importarão. -Mas você nem sequer conhece este homem.-Sua impaciência não diz muito em seu favor, GUI. Estou em dívida

com ele.-Não pode estar tão seguro disso. -claro que sim.Finalmente, a porta da loja se abriu e o médico do duque se

aproximou dos dois homens com ar fatigado. -Esteve consciente uns instantes,mas é muito logo para saber se viverá. A hemorragia cessou, mas pouco possofazer pelas lesões que tem em seu interior.

-Chegou a falar? O médico assentiu.-Ao despertar, acreditou encontrar-se em uma aldeia de

pescadores. Ao parecer, passou várias semanas na costa, recuperando-se deumas feridas.Rowland franziu o sobrecenho. -Feridas?O doutor sacudiu a cabeça.-Esse jovem deve estar maldito. Foi deixado à mercê de uns

camponeses. Apenas se conseguiu sobreviver. Afirma que permaneceuinconsciente uma semana e que não pôde mover-se nem pensar durante unsdias mais. Recebeu um mau golpe na cabeça.

-Quem é? -perguntou Rowland com ansiedade. -Sir Rowland, ohomem está gravemente ferido. Não lhe quis pressionar, só me dediquei aescutar o que desejava dizer. encontrava-se muito alterado. Quando insisti em

que não podia levantar-se, tratou de explicar o de sua ferida. Disse algo arespeito de uma irmã, sua preocupação pela moça, mas voltou a desabar-seantes de que pudesse me contar do que se tratava, parecia muito perturbado.

-Posso lhe ver?-Está outra vez inconsciente.-Aguardarei na loja até que desperte. Devo falar com ele.-Muito bem.GUI continuou com suas súplicas uma vez que o doutor se partiu.-Vê?, o médico não parece muito preocupado. Partamos a casa. Já

não há nada que possa fazer aqui. Rowland tinha perdido a paciência com seuvelho amigo. sentia-se moralmente obrigado a permanecer ali.

-Maldição! Atua como uma mulher resmungona! Se estiver tãoansioso por ir, então vete... vete! -Rowland, só acredito que é urgente nosapressar. Já pode ser muito tarde. É provável que em minha ausência, Thurstondo Mezidon tenha atacado, antes da chegada do frio.

-Parte já. Eu te alcançarei no caminho. -Mas não posso permitir que viaje só. Rowland lançou um olhar severo a seu amigo. -E desde quandonecessito uma escolta? Ou é que não confia em que te seguirei? OH sim, já vejoque é isso. - Soltou uma breve risada-. Leva meus pertences contigo, então.Deixa só meu cavalo e minha armadura. Desse modo, poderá estar seguro deque te seguirei. Se não surgir dificuldades, reunirei-me contigo entre o Ródano e

o Loira. Se não ser ali, então quando tiver deixado Loira. Não me espere se nãoconseguir te alcançar.

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Com certa relutância, GUI partiu e seu amigo permaneceu sentado junto à cama de armar da loja durante o resto da tarde. Essa noite, sua vigília seviu recompensada quando o ferido abriu os olhos. O homem tratou deincorporar-se, mas Rowland lhe deteve.

-Não deve te mover. Sua ferida voltará a sangrar. Os brilhantes

olhos pardos do doente se posaram sobre o Rowland.-Conheço-te? -Falou calmadamente em francês e logo, respondeua sua própria pergunta-. Estava ontem à noite no botequim.

-Isso passou faz três noites, meu amigo.-Três? -grunhiu o ferido-. Devo encontrar a meus homens e

retornar ao Berry imediatamente.-Não irá a nenhuma parte, ao menos, não por algum tempo.O homem soltou um gemido. - Necessita ao médico?-Só se pode realizar um milagre e me curar neste instante

-sussurrou o doente.Rowland sorriu.

-O que posso fazer por ti? Salvou-me a vida e está sofrendo por isso.-Sofro por minha própria imprudência. Só duas vezes em minha

vida elevei minha espada a sério combate e, em ambas as oportunidades,aproximei-me da morte. Jamais escuto as advertências. Sempre penso que oshomens lutarão limpamente. Há-me flanco um alto preço aprender a lição.

-Sei que acaba de te recuperar de uma ferida na cabeça. Foram ossarracenos?

-Sim. Ia com outros três perseguindo uma banda que fugia.Quando os alcançamos, eles se voltaram para lutar. Então meu cavalo caiu eme jogou pelos ares.

Quando por fim despertei, encontrei-me em uma aldeia depescadores, com uma dor de cabeça que não desejo a ninguém e meinformaram que tinha estado inconsciente durante uma semana. Vim ao Arleslogo que me recuperei. Não tive sorte para encontrar a meus vassalos. Acreditava que acharia a um ou dois nesse botequim, mas não vi nenhum.

-Mas, felizmente para mim, encontrava-te ali essa noite.-Não pude menos que atacar quando vi que um homem te

aproximava por detrás -declarou o ferido. -Bom, salvaste a vida do Rowland doMontville. O que posso fazer em troca?

-Reza por minha rápida recuperação.Rowland riu, posto que o homem conservava o humor em que

pese a seu lastimoso estado.-Sem dúvida, orarei por ti. E seu nome? Devo sabê-lo se tiver que

implorar aos Santos.-Quintin do Louroux.-É franco?-Sim, do Berry.-Sua família vive ali?-Meus pais morreram. Só fica minha irmã Y... -O homem fez uma

pausa-. Há algo que pode fazer por mim.-Não tem mais que mencioná-lo.

-Meus vassalos, os três que traje comigo. Se pode encontrá-los por mim, estarei-te muito agradecido. Assim, poderia enviar um a casa para informar 

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a minha irmã que estou vivo, mas que ainda não retornarei até dentro dealgumas semanas.

-Sua irmã te acredita morto?Quintin assentiu, inclinando fracamente a cabeça. -Suponho que

sim. Acreditei que só me levaria uns poucos dias reunir a meus homens e partir 

para o Berry. Mas agora o médico diz que devo permanecer nesta cama durantetrês semanas. Não posso tolerar a idéia de que minha irmã esteja chorandominha morte.

Tanta preocupação por uma mulher era incompreensível para oRowland.

-Deve amá-la muito. -Estamos muito unidos.-Então pode estar tranqüilo, meu amigo. Encontrarei a seus

cavalheiros e lhe enviarei isso. Mas me pede muito pouco. Consideraria-mehonrado se me permitisse lhe levar as notícias a sua irmã em pessoa. te liberar dessa preocupação seria só um pequeno pagamento ao muito que devo. -Nãoposso te pedir tanto -negou-se Quintin. -Ofenderei-me se não o faz. De todos os

modos, devo viajar para o norte, posto que meu pai requereu minha presença noMontville. Só me atrasei para me assegurar de seu estado. E não ouviste falar dos cavalos de guerra do Montville? Meu animal envergonharia ao corcel de seucavalheiro e as novas boas chegariam muito antes a sua irmã.

Os olhos do Quintin se iluminaram.-Encontrará minha casa sem dificuldade. Não tem mais que

perguntar uma vez que te aproxime do Berry e lhe indicarão o caminho para oLouroux.

-Encontrarei-o -assegurou-lhe Rowland-. Você só deve descansar e recuperar suas forças.

-Agora já poderei descansar -afirmou Quintin com um suspiro-.

Estou-te muito agradecido, Rowland.O moço se incorporou para partir.-É o menos que posso fazer por ti, e não é nada, considerando que

me salvou a vida.-Sua dívida está saldada -assegurou-lhe o doente. -Não diga a

minha irmã que me feriram outra vez. Não desejo lhe causar mais angustia. Sólhe diga que ainda devo permanecer ao serviço do duque, mas que logoretornarei.

Depois de ter deixado atrás Arles, advertiu Rowland quedesconhecia o nome da irmã do Quintin do Luoroux. Mas não tinhaimportância... encontraria a jovem de todos os modos.

4

Druoda da Garcuña se encontrava em suas antecâmaras,recostada sobre um comprido canapé verde, comendo passas de uva esaboreando seu néctar em um doce veio. Já tinha cansado a tarde e, embora oinverno tinha sido benigno até o momento, Druoda estava habituada aos climasmais quentes do sul da França e insistia em manter acesa a chama de umbraseiro para enfraquecer a habitação.

 A seus pés, encontrava-se ajoelhada Hildegard, preparando asunhas de sua ama para as pintar, outra das numerosas práticas que Druodatinha aprendido das despreocupadas mulheres do sul. Não muito tempo atrás,

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ambas as damas se viram privadas de todo luxo. Só recentemente, tinhamtrabalhado dia e noite, alimentando a viajantes, lavando roupa suja de outraspessoas e cozinhando. Este deplorável trabalho tinha sido necessária, posto queo pai da Druoda não lhe tinha deixado nada. Seu marido Walafrid, possuía umaimensa casa, mas não contava com suficiente dinheiro para mantê-la. De modo

que ambos tinham convertido a residência em uma estalagem e contratado aoHildegard como ajuda.Graças à morte do sobrinho da Druoda, Quintin, os dias de árduo

trabalho tinham terminado. Tudo tinha sido calculado: assumiriam a tutoría doBrigitte do Louroux y5

ocultariam a notícia da morte do barão a seu senhor. Druoda sesentia satisfeita por haver-se desembaraçado da única pessoa que poderiainformar a má nova ao conde Arnulf. Sob suas ordens, Hugh tinha retornado àcosta sul para verificar a morte do Quintin. Em realidade, ela não necessitavaconfirmação alguma, mas requeria tempo, e aguardar a que Hugh e os vassalosvoltassem com as pertences de seu sobrinho lhe proporcionaria o lapso

necessário para desposar ao Brigitte sem a intromissão do conde.Se se produzia as bodas antes de que Arnulf soubesse da mortedo Quintin, então não haveria razão para nomear a um tutor, posto que amenina contaria com um marido. Só subtraía impedir que a dama fosse aoconde e isso poderia arrumar-se mantendo-os apartados. Uma vez que tivesselugar o matrimônio, Arnulf não poderia entremeter-se. Não, o homem deixaria apropriedade em mãos do legítimo marido do Brigitte, quem, a sua vez, seriacontrolado pela Druoda.

O marido, ah, essa era a parte mais difícil! Encontrar a um homemque desejasse a lady Brigitte o suficiente para submeter-se às exigências daDruoda tinha sido o maior desafio. A mulher contava com uma larga lista de

possibilidades, uma lista obtida dos serventes, posto que a mão da moça tinhasido solicitada várias vezes ao longo dos anos. Druoda acreditava ter encontrado, por fim, o candidato adequado no Wilhelm, lorde do Arsnay. Ohomem já tinha requerido à dama em duas ocasiões, mas Thomas e Quintintinham rechaçado a petição, incapazes de entregar a sua adorada Brigitte aalguém mais ancião que seu próprio pai e, menos ainda, com a desonrosareputação de lorde do Arsnay.

Wilhelm era perfeito para os planos da Druoda. Um homem queraramente deixava sua propriedade no Arsnay, que não acudiria freqüentementeao Louroux para inspecionar o patrimônio de sua esposa; um homem quedesejava tanto uma jovem virgem e formosa, que estava disposto a deixar aoWalafrid ao mando de todo Louroux. O velho tolo acreditava que só uma esposavirgem poderia lhe brindar o filho que com tanto desespero desejava. Não eraespecificamente Brigitte o que ele procurava, embora sua beleza lhedeslumbrava. Era a inocência da menina o que o homem requeria. E o que outra jovem aceitaria casar-se com um ancião? Lorde Wilhelm era também vassalo do Arnulf, de modo que o conde não questionaria a eleição da Druoda.

 A mulher se recostou sobre o respaldo do canapé e suspirou comsatisfação. Wilhelm era a solução a seus planos e se sentia extremamenteagradada consigo mesma, posto que apenas a noite anterior tinha concluído osacertos com o homem. O lorde se achava tão prendado do Brigitte que, sem

dúvida, consentiria-a em tudo. E, perto de um ano mais tarde, a moça sofreriaum desafortunado acidente, dado que não seria apropriado que sobrevivesse aseu marido e ficasse em uma situação capaz de ameaçar o meticuloso trabalho

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da Druoda. A mulher já tinha conseguido desfazer-se do Mavis com totalfacilidade; logo, chegaria- o turno ao Brigitte. A jovem morreria, Wilhelm serialorde do Louroux e Walafrid conservaria seu posto de senescal. Dessa forma,Druoda poderia governar para sempre os domínios do Louroux.

-Quando o dirá à menina, Druoda?

 A pergunta do Hildegard provocou um sorriso no pálido e redondorosto de sua ama.-Esta noite, quando Brigitte se encontre esgotada, depois de

trabalhar durante todo o comprido dia.-por que está tão segura de que aceitará? Nem sequer eu admitiria

me casar com o Wilhelm do Arsnay.-Tolices -mofou-se Druoda-. Pode que o homem não seja muito

bonito em seu aspecto e que tenha idéias algo excêntricas a respeito dasvirgens e os filhos varões, mas possui uma fortuna. E não esqueça que a damanão tem alternativa. -Hildegard olhou a sua ama com incerteza, e Druoda riu.-Deixa-a protestar. Não pode fazer nada para impedir este matrimônio.

-E se escapar?-contratei a dois rufiões que a vigiarão até o momento dacerimônia. Os traje comigo ontem à noite. -pensaste em tudo -disse a criadacom admiração.

O ama esboçou um sinistro sorriso. -Tive que fazê-lo.Druoda tinha nascido amaldiçoada com a figura fornida e a cara de

lua de seu pai, enquanto que sua irmã, Leonie, tinha sido benta com o delicadoaspecto de sua mãe. Druoda sempre tinha invejado a beleza de sua irmã e,quando esta se casou com o esplêndido barão do Louroux, a inveja setransformou imediatamente em ódio fazia o casal. Uma vez mortos Leonie e seumarido, esse ódio se concentrou no Brigitte.

 Agora Druoda possuiria tudo o que, alguma vez, tinha tido suairmã. Não contava com um marido tão magnífico entretanto, posto que Walafridera um pobre exemplo da espécie. Mas isso convinha a Druoda. A mulher tinhauma férrea vontade e nunca tivesse tolerado a autoridade de nenhum homem. Aos quarenta e três anos, por fim, poderia alcançar todo aquilo que lhe tinhasido negado na vida. Com o Brigitte convenientemente casada e fora de seucaminho, poderia governar Louroux e se converteria em uma grande dama, umadama de fortuna e influência.

Essa noite, Brigitte foi chamada à espaçosa antecâmara daDruoda, habitação que, alguma vez, tinha pertencido a seus pais. Unschamativos canapés tinham sido somados ao cenário e a imensa cama demadeira se achava coberta com uma recarregada colcha de seda vermelha. Osgigantescos armários se encontravam repletos com os numerosos mantos etúnicas que Druoda tinha encarregado confeccionar. As mesas de madeiratinham sido substituídas por umas de bronze, algumas das quais se achavamadornadas com candelabros de ouro puro.

Brigitte detestava o estado atual da habitação, carregado com asextravagâncias da Druoda. A mulher se encontrava reclinada sobre um sofá comum ar majestoso. Seu tosco e pesado corpo estava talher com, ao menos, trêstúnicas de linho de diversas cores e tamanhos. O vestido exterior tinha mangasamplas e seus punhos se achavam bordados com pequenas esmeraldas. Estas

gemas eram até mais exclusivas que os diamantes e custavam uma fortuna. Ocinturão também estava salpicado de esmeraldas, ao igual ao adorno quelevava o elaborado penteado de sua cabeleira escura.

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-Seu prometido é lorde Wilhelm do Arsnay. Brigitte afogou umaexclamação, e a outra mulher a observou com regozijo ao ver que o delicadorosto da menina perdia sua cor.

-Está impressionada por sua boa fortuna? - perguntou Druoda comtom conciliador.

-Lorde Wilhelm! -Um homem excelente.-É um obeso, lascivo, detestável e asqueroso porco! -exclamou a jovem, depois de ter perdido seu anterior cautela-. Preferiria morrer antes queme casar com ele! Druoda riu.

-Que caráter! Primeiro, escolhe um convento e agora, é a morteantes que a desonra!

-Falo a sério, Druoda!-Então, suponho que terá que te matar- disse a dama com um

suspiro-. Pobre Wilhelm, estará muito decepcionado.-Não tenho que me casar com ele só porque você o decidiste.

Partirei-me daqui se insistir. Não me preocupa o que possa me acontecer na

rota, posto que nunca poderá ser pior que desposar ao homem mais repulsivode todo Berry.-Temo-me que isso é inaceitável. Não me acreditará capaz de

permitir que arrisque aos perigos do caminho, verdade? dei minha palavra comrespeito a estas bodas e se celebrará.

Brigitte se ergueu com dignidade, tratando com desespero decontrolar-se.

-Não me pode forçar a me casar com esse homem tão detestável,Druoda. Esquece um fator muito importante. Mesmo que esse seja o candidatode sua eleição, o conde Arnulf segue sendo meu lorde e deve passar no enlace.O nunca seria capaz de me entregar ao Wilhelm do Arsnay, embora seja seu

vassalo.-Acredita que não? -Se que não!-Você me subestima, menina -grunho Druoda, abandonando já sua

fingida atitude, e se inclinou para frente, em direção a sua presa-. O conde daráseu consentimento porque acreditará que este matrimônio é o que você deseja.Não é estranho que uma jovem escolha a um ancião como marido, posto que,dessa forma, estará segura de lhe sobreviver e gozar, algum dia, da liberdadeda viuvez. E você, minha menina, com sua obstinação, é das que desejariamessa liberdade. O conde Arnulf, sem dúvida, acreditará que você deseja estaenlace.

-Eu lhe revelarei o contrário, embora deva dizer-lhe no dia dasbodas!

Druoda a esbofeteou com crueldade, ferozmente e com prazer.-Não tolerarei mais arrebatamentos de ira, Brigitte. Casará-te antes

de que o conde Arnulf possa assistir à cerimônia. Se me desafiar, verei-meobrigada a tomar medidas severas. Uma boa surra poderia te infundir o respeitoapropriado. Agora, vete daqui. Fora!

5

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Jantaram na sala principal, uma habitação vazia, exceto pelasmesas de madeira lavrada e a armadura que adornava as sombrias paredes depedra. Brigitte não pôde provar a comida, e lhe revolvia o estômago ao observar aos outros deglutir seu mantimentos. Druoda se encontrava muito cômoda, emcompanhia de seus congêneres glutões.

Primeiro, serviram-se medusas e ouriços de mar, que foramrapidamente devorados. O prato principal, carne assada de avestruz com molhodoce, tórtola, carneiro e presunto, comeram-no com igual rapidez. Por último,chegaram as tortas e as tâmaras cheias fritas em mel, acompanhados por umvinho aromatizado com mirra. Em geral, um banquete estava acostumado adurar horas, mas este culminou em menos de uma.

depois da comida, Brigitte acreditou que vomitaria quando foiforçada a presenciar o entretenimento que Wilhelm tinha planejado: a luta de umcão domesticado contra um lobo. A moça amava os animais e essa classe deespetáculos estavam acostumados a perturbá-la.

Saiu correndo do vestíbulo e, ao chegar ao pátio, respirou

profundo, feliz de encontrar-se afastada dos outros. Mas seu alívio não duroumuito, já que a filha do Wilhelm a seguiu e lhe disse bruscamente:-Eu sou o ama desta casa e sempre será assim. Você será a

quarta esposa jovem de meu pai e se pretende governar aqui, terminará comoas outras...morta.

Muito aturdida para responder, Brigitte se apartou, cambaleando-se. Logo abandonaram a casa do Wilhelm e a moça balbuciou seu adeus depoisde um véu de lágrimas.

O pranto continuou lhe nublando a visão enquanto cavalgavam decaminho a casa. Os guardas não se separavam de seu lado e se perguntoucomo poderá chegar até o castelo do Arnulf se esses dois fornidos sujeitos não

cessavam de vigiá-la.Embora, em realidade, o que poderia perder se fazia cl

desesperado intento de chegar até o conde? de repente, secou-se os olhos comfúria e cravou os talões a ambos os lados de seu cavalo. Por uns instantes, amoça e sua égua se afastaram dos outros. Mas os guardas tinham esperadoeste incidente e a alcançaram com facilidade, antes de que ela conseguissedeixar atrás a última choça da aldeia do Wilhelm.

Os homens levaram a jovem ao lugar onde Druoda esperava, eBrigitte se enfrentou Á um golpe que tomou despreparada e a arrojou do cavalo. A moça caiu no lodo, quase sem respiração. Isso acrescentou sua ira até oponto de explorar, mas não descarregou a fúria contra Druoda. Pelo contrário,reprimiu-a e foi golpeada. Logo se limpou o lodo do rosto e permitiu que atransladassem bruscamente até o lombo de sua égua.

Brigitte se sentiu ferver de raiva, mas guardou silêncio. Esperoucom paciência a que seus acompanhantes afrouxassem a vigilância, cuidandosempre de cavalgar afundada na arreios e dar toda a impressão de obediência.Mas sua atitude estava muito longe de ser total.

Tão enfrascada se achava em seus pensamentos, que nãoadvertiu que já tinha escurecido até que o ar frio da noite lhe açoitou asbochechas. Imediatamente, elevou-se o capuz do manto para cobri-la cabeça. Ao fazê-lo, estudou furtivamente a seus companheiros e observou que só

Druoda se encontrava cavalgando para seu lado. Os dois guardas seadiantaram a fim de proteger às mulheres contra os assaltantes noturnos.

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Esta era sua oportunidade. Queda a noite, poderia ocultar-se naescuridão. Nunca se encontraria tão perto do conde Arnulf como nessemomento. Sujeitou ambas as rédeas em um punho e depois de aproximar-se daDruoda, as uso para açoitar a égua da mulher, insistindo ao animal a equilibrar-se para os guardas, ao tempo que ela girou e se lançou ao galope na direção

oposta. Esta vez, conseguiu afastar um considerável trecho, antes de queos homens iniciassem a perseguição. Logo depois de avançar um quilômetropela rota, diminuiu a marcha e se internou no bosque onde as sombras, negrascomo, o ébano, proporcionavam-lhe um perfeito esconderijo. desembarcou daégua e começou a caminhar lentamente junto ao animal através da escuramaleza. Uns instantes mais tarde, ouviu os guardas correr pelo antigo caminho.

Brigitte conhecia esses bosques, já que freqüentemente os tinhaatravessado com seus pais, em suas freqüentes visitas ao castelo do Arnulf. Aooutro lado das árvores, havia um caminho mais largo, a antiga rota entre oOrleáns e Bourges e esse atalho a levaria até o conde. Só lhe subtraía

atravessar o bosque, embora era essa uma difícil façanha. À medida que seu temor pelos guardas da Druoda se diminuía, osaterradores sons dos bosques começaram a acossá-la e recordou as tétricasadvertências do Leandor a respeito de ladrões e assassinos, grupos debandidos que moravam por esses lugares. Acelerou o passo até que seencontrou quase correndo e de repente, lançou-se por entre as árvores, atéchegar a um pequeno claro. O pânico a embargou. Olhou ao redor comdesespero, esperando ver uma fogueira rodeada de homens. Deixou escapar uma exclamação de alívio, já que não era um claro onde se encontrava, a nãoser o caminho... tinha saído ao caminho! Voltou a internar-se nas sombras e sedespojou de todas suas roupas, exceto a velha túnica de lã que lhe cobria a

pele. Logo, envolveu-se os objetos ao redor da cintura e se colocou, uma vezmais, o manto, embora não o prendeu, de modo que, se tropeçava com alguém,poderia tirar-lhe com rapidez e ficar novamente com o traje de uma camponesa.

Voltou a montar a égua e cavalgou para o sul, sentindo-se livre,alvoroçada. Já não haveria bodas com o Wilhelm. E já não teria que seguir suportando a Druoda, posto que Arnulf não a aceitaria com agrado, uma vez queBrigitte lhe contasse as maldades da mulher no Louroux. A moça se sentiuquase enjoada, à medida que sua viçosa égua avançava a toda velocidade. Jánada poderia detê-la.

Porém, de repente, algo interrompeu sua marcha. O cavalo sedeteve e se levantou e, pela segunda vez no dia Brigitte se encontrou tiragem nochão, tratando de recuperar a respiração. ficou de pé logo que pôde, temerosade que o animal pudesse desbocar-se. Mas a égua permaneceu imóvel e, aoaproximar-se, a moça advertiu a razão.

-E o que temos aqui?O cavalheiro se encontrava dignamente montado em seu cavalo de

guerra, o animal mais gigantesco que Brigitte tinha visto jamais. O homem era,do mesmo modo, imenso, provavelmente de mais de um metro oitenta deestatura. Levava posta uma armadura e oferecia um espetáculoverdadeiramente lhe impactem. Ao tirar o casco, surgiu uma abundantecabeleira loira que lhe caía justo debaixo da nuca, um estilo muito curto para um

francês. Entre as sombras da noite, a jovem não conseguiu lhe ver os rasgoscom claridade.-E bem, mulher?

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 A profunda voz do cavalheiro surpreendeu à moça.-É isto tudo o que pode dizer, cavalheiro, depois de ter arrojado a

uma dama de seu corcel?-Uma dama, né?Muito tarde, Brigitte recordou que levava posta sua túnica

camponesa. Decidiu permanecer em silêncio. Voltou a montar a égua comrapidez e tratou de arrebatar as rédeas da mão do homem. Mas não o obteve,posto que ele não deixou das sujeitar com seu punho de aço.

-Como se atreve? -repreendeu-o a jovem-. Acaso não lhe bastatendo causado minha queda? Agora também tenta me deter? -O cavalheiro riu,e ela prosseguiu com arrogância.-O que pode lhe resultar tão divertido?

-Poderia me convencer de que é uma senhora com esses ares tãoaltivos, mas não o é -declarou ele com tom zombador, para logo adicionar:- Umadama sozinha, sem escolta?

 A mente do Brigitte começou a girar a grande velocidade, mas,antes de que pudesse escolher uma resposta, o cavalheiro continuou.

-Virá comigo.-Aguarda! -gritou a moça, ao tempo que ele para girar a égua paraarrastá-la consigo-. Deténte! -O cavalheiro a ignorou, e lhe lançou um olhar fulminante pelas costas-. aonde me leva?

-Levarei-te para onde eu me dirijo, e outros poderão te devolver com seu amo. Estou seguro de que ele estará encantado de recuperar seucavalo, se não seu serva.

-Acredita-me uma serva?-Sua égua é muito fina para pertencer a uma serva -prosseguiu o

homem-. E nem mesmo um lorde convencido com seus favores daria depresente a uma serva um objeto as custosa como esse manto que leva.

-O manto é meu, ao igual ao cavalo!-Não esbanje sua astúcia comigo, rapariga -ingeriu-lhe ele, com ar 

conciliador-. Não me importa o que diga.-Deixe ir.-Não. Você roubaste, e não posso encobrir a uma ladra -afirmou o

cavalheiro com tom severo, e logo adicionou: -Se fosse um homem,atravessaria-te com minha espada sem perder o tempo em te devolver. Não mesiga provocando com suas mentiras.

"Bom, ao menos, não tudo estava perdido", pensou Brigitte. Emqualquer lugar que esse homem a levasse, sem dúvida, a gente a reconheceriae, então, esse ignóbil cavalheiro se precaveria do engano cometido. De algummodo obteria, ao menos, enviar sua mensagem ao conde Arnulf. Transcorreuuma hora, e logo outra, antes de que abandonassem a rota para encaminhar-seem direção ao Louroux. Então, Brigitte começou a sentir-se verdadeiramenteaterrorizada.

Não poderia tolerar que a devolvessem uma vez mais, com aDruoda. Jamais voltaria a ter outra oportunidade de escapar se falhava esta vez.

 A moça desembarcou do cavalo lentamente e correu comdesespero para um bosquecillo próximo. Tropeçou e caiu, raspando-as mãos eo rosto contra o acidentado chão. Suas bochechas pareceram arder, e umaslágrimas apareceram em seus olhos. incorporou-se e correu, mas o cavalheiro a

seguia e conseguiu lhe dar alcance antes de que ela pudesse voltar a internar-se no bosque.

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-Querem passar à sala, sir? Lady Druoda lhes estará muitoagradecida por lhe haver devolvido seu... seu... propriedade.

6

Hildegard explicou rapidamente a Druoda o ocorrido, ao tempo queo cavalheiro se dispunha a tomar assento frente à mesa da grande sala. O jovem parecia muito satisfeito com o vinho e a comida que lhe tinham servido.Hildegard soltou uma tola risada e jogou um cauteloso olhar ao convidado.

-Dava-lhe vinho com uns poucos pós para lhe soltar a língua.-Drogou-lhe?-Precisamos saber o que lhe contaram que o Louroux, não é

assim? Ainda lhe vê erguido, mas não durará assim muito tempo. Vêem.-Eu me encarregarei do normando. Tenho algo mais importante

para ti -anunciou-lhe Druoda, lançando um olhar malicioso para os aposentos doBrigitte-. A moça hoje quase consegue escapar, até com esses tonitos que

contratei para impedi-lo. Desde não ser pelo cavalheiro, tivesse-o conseguido etodos nossos lucros já estariam perdidos. Dez chicotadas lhe farão pensar duasvezes antes de voltar a tentá-lo.

-Quer que a golpeiem?-Cruamente. E te assegure de lhe tampar a boca. Não desejo que

se inteire toda a mansão, mas sim quero que a moça sofra o suficiente comopara não estar em condições de voltar a escapar. Não lhe tire sangue. Wilhelmnão aceitaria uma esposa desfigurada. -Druoda sorriu a sua velha amiga-. Estousegura de que o lorde se deleitará danificando-a ele mesmo, se for verdade oque se diz do homem.

Depois de repartir as ordens, Druoda se aproximou do cavalheiro.

O tinha os olhos fechados e a cabeça encurvada, como se estivesse lutando por manter-se acordado.

-Devo-te meu agradecimento -expressou a mulher de modo altivo,enquanto avançava.

O cavalheiro abriu os olhos, mas transcorreram vários segundosantes de que conseguisse fixá-los. Era um jovem incrivelmente arrumado, comum queixo forte, agressivo, um nariz aquilino e olhos azuis como a safira. Sim,era, sem dúvida, muito de aparência agradável.

-É você o ama do Louroux? -Assim é.Rowland sacudiu a cabeça para esclarecer sua visão, mas o

espetáculo que tinha diante de si não se alterou. A imensa, robusta mulher parecia lhe dobrar a idade e não concordava com a imagem da irmã do Quintinque ele se formou. por que razão teria esperado encontrar a uma dama formosaou, ao menos, jovem?

-Trago-te muito boas notícias, milady -anunciou Rowlandsubitamente-. Seu irmão ainda vive.

-Comete um engano, sir- asseverou Druoda de modo cortante-. Eunão tenho irmãos.

O jovem tentou incorporar-se, mas sua visão voltou a empanar-see caiu sobre o banco, amaldiçoando em silencio à mulher por lhe haver servidoum vinho tão forte.

-Sei que acredita que seu irmão morreu, mas estou aqui para teinformar o contrário. Quintin do Louroux ainda segue com vida.

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-Quintin...vive! -Druoda se deixou cair sobre o banco, junto aocavalheiro normando-. Como... como é possível?

-O escudeiro de seu irmão acreditou que o tinham assassinado, e otolo estava tão ansioso por abandonar o combate, que partiu sem antescertificar-se sobre a morte de seu amo. Uns pescadores encontraram a seu

irmão e o levaram a sua aldeia. Levou-lhe muito tempo, mas se recuperou.Druoda recuperou rapidamente a compostura. Não havia razão deinquietar-se. Era óbvio que esse homem acreditava irmã do Quintin.

-Onde está... meu querido irmão agora?-No Arles, de onde acabo de chegar. Dirigia-me para o norte, de

modo que Quintín me pediu me deter e te trazer a notícia, dado que ele seatrasará. Não deseja que lhe chore mais do necessário.

-demorou-se? E para quando devo esperar sua volta então?-Para dentro de um mês, ou talvez, menos. Druoda ficou de pé.-foste muito amável em vir até aqui para me trazer tão agradáveis

notícias. Estou-te seriamente agradecida. -Milady, estou em dívida com seu

irmão e este não é mais que um pequeno favor. Seu irmão me salvou a vida. A mulher não perdeu tempo em averiguar toda a história.-Certamente, será meu hospede esta noite. Enviarei-te alguma

 jovenzinha para que te faça companhia. Rowland tratou de incorporar-senovamente e esta vez o obteve.

-Obrigado, milady.Druoda sorriu, despediu-se com cortesia e lhe deixou aguardando

o Hildegard, que conduziria às antecâmaras. Ao sair ao pátio, topou-se com a criada. -Encarregaste-te que a

moça?-Acaso não ouviu os uivos de seu cão? Alegra-me que o animal

esteja encerrado.-Maldição, Hildegard! Então, alguém sabe o que estiveste fazendo!

-exclamou Druoda com rudeza. -Só o cão com seu agudo ouvido -assegurou-lheHildegard-. Ninguém mais estava ali para advertir quanto sofria a moça. -Logo, acriada perguntou: Que notícias trouxe o normando?

-As piores. te apresse a lhe mostrar uma habitação e volta emseguida. Temos muito que fazer. Hildegard obedeceu as ordens e se dirigiu àantecâmara da Druoda, para encontrar a sua ama caminhando nervosamentepela habitação.

-O que aconteceu? -Quintin está vivo.-OH não! -grito a criada-.Matará-nos! -Silêncio, mulher! -exclamou

Druoda com voz áspera-. Já matei antes. E não duvidarei em voltar fazê-lo, seisso me permite conservar o que ganhei. Não deixarei que me arrebatem issotudo. Meu sobrinho não retornará até dentro de umas quantas semanas; ou aomenos isso diz o normando.

-Se Quintin vier aqui, Brigitte lhe contará tudo - lamentou-seHildegard.

-A moça não estará aqui para contar-lhe assegurou-lhe Druodacom firmeza-. Farei que a transladem à propriedade do Wilhelm para aguardar ali as bodas. Logo, irei levar lhe a notícia da morte do Quintin ao conde Arnulf.Desposaremos ao Brigitte antes de que retorne meu sobrinho. E, se posso

arrumar tudo segundo meus planos, pode que o moço não retorne jamais-concluiu a dama com tom severo.

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7

Brigitte permaneceu tendida em seu pobre leito, imóvel, permitindoque as lágrimas lhe brotassem com total liberdade. Mas o chorar só o fazia

sacudir os músculos e o mais ligeiro movimento lhe resultava agonizante. Ainda lhe custava acreditar o que tinham feito com ela. Logo queacabava de lavar suas roupas enlodadas, quando Hildegard e os dois fornidosguardas irromperam na habitação. A moça foi amordaçada e despojada de seugasto vestido, e nem sequer teve tempo de sentir-se humilhada ao ser expostaante dois homens, antes de que fora jogada de cara contra a cama e sujeita comfirmeza. Então, sobreveio a dor, quando Hildegard começou a açoitá-la com suacorreia de couro. Era como se uma língua de fogo lhe consumisse as costascada vez que o látego caía, e a moça não pôde a não ser gritar contra amordaça que lhe cobria a boca. Perdeu o conhecimento antes de sentir o últimogolpe e, ao despertar, encontrou-se sozinha, ainda nua.

Brigitte começou a chorar um vez mais, mas apenas por uminstante. Não se renderia! Só teria que reunir suas roupas com as safiras econseguir um pouco de comida. Faria um esforço por levantar da cama e,novamente, trataria de escapar. Esta vez, poderia levar ao Wolff consigo.

Rowland se sacudiu por intervalos enquanto dormia, perturbadopor um sonho que se reiterava uma e outra vez desde que tinha memória. Ossonhos podiam ser prazenteiros ou inquietantes, alguns aterradores, mas anatureza de este, em particular, resultava incompreensível para o moço. Nãoaparecia freqüentemente, ao menos, não com a freqüência com que o tinha

atormentado em seu temprana juventude, mas sempre acudia quando suamente se achava perturbada.

O sonho estava acostumado a começar com um sentimento desatisfação. Então, apareciam umas imagens: o rosto de um jovem emergia daescuridão e logo, o de uma moça. Ambos os rostos permaneciam juntos,observando-o das alturas. Mas jamais tinham atemorizado ao Rowland. Haviauma grande ternura e felicidade nesses rostos, uma felicidade que ele nuncatinha conhecido em sua vida. Mas então, algo estava acostumado a quebrantar esse sentimento de sorte, embora o moço nunca conseguia averiguar o porquê.Os rostos se esfumavam e, em seu lugar, aconteciam-se uma série de efêmerascenas, acompanhadas por uma sensação de angústia. Então, Rowlanddespertava com um terrível sentimento de perda e incapaz de compreender arazão.

O mesmo aconteceu esta vez. Sacudida-las lhe derrubaram dacama e despertou bruscamente, com o sonho ainda vívido na memória.

O moço voltou a deitar-se no leito e sacudiu a cabeça. Por muitoque tivesse descansado, não tinha sido suficiente para despojar a seu corpo dosefeitos do álcool.

De qualquer modo, ele detestava o vinho por que demônios nãotinha pedido cerveja? Ainda drogado, levantou-se da cama e se dirigiu para ocorredor. Caminhou lentamente pelo escuro corredor. Um tênue resplendor 

avermelhado se filtrava pelas escadas para o vestíbulo, criando sombrasintermitentes sobre os gigantescos muros. Levou-lhe vários instantes orientar-se, e olhou em ambas as direções, para cima e para baixo, para ver se havia

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alguém por ali. Necessitava desesperadamente um pouco de ale para limpá-lamente.

Brigitte conteve a respiração e pressionou as costas contra o muro.encontrava-se a apenas uns metros do cavalheiro. ele poderia reconhecê-laentre as sombras? Sentiu desejos de correr, mas suas pernas recusaram

mover-se. Ainda sentia o corpo dolorido, e se corria agora, teria que partir semseu cão, sem suas roupas, sem um cavalo. Tudo o que tinha conseguido reunir até o momento era um pouco de comida, que tinha envolto em um pequenosaco. Permaneceu imóvel, sem sequer atrever-se a respirar.

Rowland a viu e ainda quando não chegou a reconhecê-la napenumbra, alcançou a divisar a larga cabeleira loira. Caminhou para a moça, aotempo que a idéia do ale começou a desvanecer-se. Se não podia limpá-lamente com cerveja, passaria, ao menos, a noite com a encantada jovem queDruoda, obviamente, tinha-lhe enviado. Ao fim e ao cabo, era um mínimo gestode cortesia entreter aos hóspedes com alguma companhia e, embora a moçaparecia algo relutante a agradá-lo, ele logo conseguiria entusiasmá-la.

Sem dizer uma palavra, Rowland introduziu a jovem em suaantecâmara e fechou a porta. Não cessou de sujeitá-la por temor a perdê-la naescuridão. Mas a liberou quando a ouviu choramingar.

-Não te machucarei -assegurou-lhe com doçura-. Jamais machuconinguém sem razão. Não tem por que me temer. O moço, ainda drogado, nãoadvertiu que estava falando de maneira atropelada e indistinta, nem quealternava seu francês com alguns vocábulos da antiga língua escandinava queseu pai lhe tinha ensinado fazia muito tempo.

-É meu enorme tamanho o que te atemoriza? -perguntou-lheobservando a pequena figura da jovem-. Não sou muito diferente de qualquer outro homem. -Continuou estudando à moça, até que, de repente, reconheceu-

a-. Maldição, mulher, está pondo a prova minha paciência de uma maneiraincrível! Acaso não causaste já suficientes problemas por um dia? Já nãotratarei de te persuadir gentilmente. Tomarei o que sua ama me enviou eterminarei contigo!

Brigitte se havia sentido aterrada do momento em que o cavalheirotinha começado a falar, já que a habitação da Druoda se encontrava ao outrolado do corredor e com segurança, poderia ouvi-los. Mas a moça não podiaentender o que esse homem lhe dizia. achava-se obviamente ébrio, falava demaneira confusa, mas também intercalava términos foráneos. O tom de suamasculina voz era duro, severo, o suficiente para fazer notar a jovem que, umavez mais, seus intentos tinham sido frustrados. Já não teria forma de escapar essa noite.

Rowland interpretou o silêncio da moça como um consentimento ecomeçou a tirar-se desmañadamente as roupas. Mas o vinho não só lhe tinhaentorpecido a mente. O desejo tinha desaparecido. propôs-se, então, jogar coma mulher, arrojando-a sobre o leito e lhe abrindo a capa, sem surpreender-seabsolutamente ao encontrá-la nua. Com os dedos, acariciou-lhe a suavidadedas pernas e a tibieza entre as coxas. Continuou a exploração com rudeza,subindo para os seios. Eram peitos amplos, suaves, arredondados. Ficariam alimarca pela manhã, evidências da incrível força que exercia o moço sem notá-lo.

Mesmo assim, não se encontrava machucando ao Brigitte. Já nada

podia machucá-la. A moça se desmaiou assim que suas costas havia meiodoido o leito com selvagem violência. Não se tinha vestido debaixo da capa por não poder suportar nada que lhe roçasse as costas. Logo que tinha sido capaz

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de suportar o manto. O contato de sua dolorida pele contra o áspero camastrolhe tinha resultado intolerável.

Entretanto, Rowland não sabia que a jovem se achavainconsciente. Tampouco advertiu que seus próprios movimentos se tornavammais e mais lentos, nem que estava a ponto de dormir. Assim que se colocou

em posição para a cópula, o moço se desvaneceu.

8

Hildegard golpeou à porta do normando muito cedo à manhãseguinte, desejando que o cavalheiro decidisse partir logo que fora possível. Uminstante depois, um aterrador grito proveio do interior da antecâmara e a criadaabriu a porta imediatamente.

-Santo Deus! -exclamou ao ver o Brigitte e ao normando com os

corpos nus e entrelaçados sobre o leito-. Druoda matará a alguém por isso! A faxineira se apressou a sair da habitação, deixando ao Brigitte eao Rowland olhando-se um ao outro, surpreendidos e envergonhados.

 A moça apartou ao homem, e deixou escapar um gemido aopressionar as costas contra o colchão. Embora a pena já não era tão intensa,ainda continuava dolorida. Não tinha conseguido escapar da Druoda e era essecavalheiro quem lhe tinha frustrado ambos os intentos.

Já bastante tinha sofrido com o terrível tortura do dia anterior, paradescobrir agora que também tinha sido violada. Podia existir uma mulher tãodesafortunada como ela? Tinha sido violada, mas, graças a Deus, desmaiou-see não podia recordar o momento. Por esse só gesto de misericórdia, Brigitte se

sentiu agradecida.Rowland se incorporou e começou a vestir-se com rapidez. Não

pôde evitar jogar um olhar à figura nua que tinha enfraquecido seu leito. Deixouescapar um grunhido. O corpo da jovem tinha sido agradável para acariciar eadmirar, o qual era muito mais do que podia dizer do resto da moça. toda ela seachava imunda e enlodada. Nem sequer podia lhe adivinhar a idade, emboraseu corpo era firme e seu rosto, doce e delicado. Ainda não tinha esquecido afeminina voz, jovial e melodiosa; porém, era isso tudo que podia recordar dadama. Morto de calor, o moço se voltou para evitar o olhar penetrante doBrigitte.

Ela se esclareceu garganta.-Dá-te conta do que tem feito comigo?-Sim -respondeu Rowland com voz rouca-. Acaso tem importância?

-adicionou, um pouco mais seguro, enquanto se colocava a capa de suaespada-. Não posso dizer que tenha sido um prazer. Com sinceridade, nãorecordo o momento em que te possuí.

 A moça não esteve muito segura de ter ouvido corretamente.-Não recorda?-Estava ébrio -informou-lhe ele de modo categórico, incapaz de

pensar em nada que não fora admitir a verdade. A jovem começou a soluçar eRowland olhou ao redor como se procurasse ajuda. Jogo um olhar ofegante

para a porta, mas nesse instante, Brigitte começou a rir e ele se voltou paraenfrentá-la.-Tornaste-te louca, mulher? -Seu tom parecia confundido.

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-Talvez eu deva te agradecer. depois de tudo, o que é estadesgraça, comparada com o infortúnio do que me salvaste? Lorde Wilhelm jánão me quererá, agora que fui violada por um cavalheiro ébrio.

Rowland não teve oportunidade de responder, dado que, nesseinstante, Druoda irrompeu na habitação, seguida muito de perto por sua fiel

amiga Hildegard. Druoda se via furiosa e descarregou toda sua ira no Brigitte.-De modo que é certo! arruinaste todos meus planos ao te entregar a este homem! -exclamou com voz gritã- Lamentará isto toda sua vida, Brigitte!

-Eu não me entreguei, Druoda -declarou a jovem com firmeza-. Eleme arrastou até aqui e me violou.

-O que? -estalou a dama e seu rosto adquiriu um intenso tompúrpura.

Brigitte se incorporou lentamente, cobrindo-se com o manto parapreservar seu recato e se voltou para o Rowland. -lhe diga como cheguei atéaqui.

O moço olhou primeiro ao Brigitte e logo a Druoda. Compreendeu

então, que tinha cometido um engano e como não era homem de deixar cair suas culpas sobre outros, admitiu a verdade.-Ocorreu tal como diz a jovem. Encontrei-a perto de minha

antecâmara e supus que era para mim. Os anfitriões revistam me enviar auma...

-Mas o que estava fazendo você aqui? -perguntou Druoda a gritos,e Brigitte começou a pensar com rapidez, para oferecer uma desculpaparcialmente certa.

-Vim em busca de mantimentos, posto que ontem quase não comi.-Mantimentos? -A Druoda estava resultando difícil acreditar toda

essa história.

 A moça estendeu um braço para assinalar o chão.-Ali estão, nesse saco que deixei cair. -Rezou para que Druoda não

decidisse revisar o interior, posto que havia ali muitos mais mantimentos dosque a jovem podia ingerir em uma só comida.

Mas Druoda não estava interessada em detalhes irrelevantes.-E por que não gritou, Brigitte? Desejava que ele te possuísse para

poder arruinar meus planos!-Não, isso não é verdade! -exclamou Brigitte com tanto temor como

indignação.-por que não pediu ajuda então? A moça sob a cabeça e sussurrou lentamente:-Porque desmaie.Rowland se pôs-se a rir.-Não se tem feito nenhum dano então, se ela não pode recordá-lo.

Tudo segue como se nada tivesse acontecido.-Nenhum dano! -exclamou Druoda-. A moça era virgem... e estava

prometida a outro.-Virgem! -repetiu o jovem, surpreso. Pelo visto, isso não lhe tinha

ocorrido.Em que diabos se colocou!Sobressaltada-a reação do moço fez pensar a Druoda.

-Como é possível que você não te tenha precavido?-Estava muito... muito ébrio para notá-lo, por isso! -replicouRowland com brutalidade, novamente furioso consigo mesmo.

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-Foi seriamente um engano, milady. Prometeu me enviar umamulher durante a noite, a menos que não recorde suas palavras com precisão.

 A dama deixou escapar um suspiro de impaciência.-Deveu ter aguardado a moça que tinha destinada para ti, em lugar 

de tomar a esta, cujo único valor era sua inocência.

-O valor de uma serva não se mede por sua castidade. -Nestecaso, sim. Essa jovem é muito imaginativa... uma mentirosa, por dizê-losinceramente.

-O que pensa fazer com ela?-Não penso fazer nada, nada absolutamente. Agora te pertence:

tem minha bênção para tomá-la.Rowland sacudiu lentamente a cabeça.-Não, milady, não a quero.-Não pensava o mesmo ontem à noite -recordou-lhe Druoda com

tom severo-. Havia um senhor de umas terras longínquas que estava disposto acasar-se com ela só porque era inocente. Agora que isso já não é possível, não

a quero mais aqui. Se não lhe levar isso, farei que a matem a pedradas por ser arameira em que você lhe converteste. Como sua ama, tenho todo o direito defazê-lo.

-Sem dúvida, não será capaz de fazer semelhante coisa.-Você não compreende. -A mente da Druoda começou a partir a

toda velocidade-. Essa moça era a debilidade de meu irmão. O se tinhaapaixonado pela moça e a tratava como se fora uma lady. Por essa razão, ela étão rebelde. acredita-se por cima de sua condição. nasceu para serva, mas ascuidados de meu irmão a voltaram vaidosa.

-Se seu irmão a ama tanto, a jovem deveria estar aqui para quandoele retorne.

-E permitir que ele se inteire de que o homem a quem enviou emboa fé violou a sua amada? O moço reservava à moça para si - adicionouDruoda astutamente-. Quintin se volta tolo quando se trata dessa jovem. Detestoadmiti-lo porque me envergonha, mas meu irmão tem toda a intenção dedesposá-la. Devo afastá-la quanto antes daqui. Não posso permitir que ele aencontre na mansão a sua volta e se case com uma serva. Você lhe leva isso ete assegura de que não volte jamais, ou eu me verei obrigada a matá-la.

Rowland se sentiu totalmente impotente, apanhado com umafaxineira a quem não necessitava, uma mulher que só seria um estorvo em suaviagem de volta a casa. Porém, não tinha outra alternativa. Não podia deixar morrer à moça.

-irei preparar meu cavalo, milady -anunciou-lhe com tom ofuscado-.Faz que enviem à moça ao estábulo e a levarei comigo.

-Não esteja tão molesto, sir. Estou segura de que terá mais sorteem lhe baixar essas fumaças arrogantes e uma vez que tenha conseguidodomá-la, verá como satisfaz todas suas necessidades. -AO ver que nãoconseguia apaziguar o ânimo do moço, Druoda adicionou:- Na verdade sintoque sua visita tenha finalizado desta forma. E me permita te dar um conselho.Evitará-te muitos problemas com a moça sem não lhe diz que seu senhor aindasegue vivo.

-por que?

-A jovem acredita que Quintin morreu. Se soubesse que está vivo,faria algo para lhe encontrar. E não acredito que deseje isso mais que eu, se naverdade te considera amigo de meu irmão.

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O moço deixou escapar um grunhido. Não seria muito agradávelpara o Quintin inteirar-se de que Rowland tinha abusado da moça que eleplanejava desposar, fora ou não sua faxineira.

-Tem minha palavra. A jovem jamais retornará. logo que Rowlandse partiu do vestíbulo. Druoda mandou chamar o Hildegard. O regozijo de

ambas as mulheres era ilimitado.-vá ajudar ao Brigitte a recolher seus pertences. A moça deveráreunir-se com seu novo senhor no estábulo. O a esperará, mas não muito, demodo que te assegure de que se apresse -. O rosto da Druoda se iluminou defelicidade.

-Mas, o que acontecerá a jovem se nega a ir com ele? -pergunto acriada.

-lhe diga que eu renuncio a seu tutoría. Estará tão agradada, quenão ousará questionar sua boa sorte até que seja muito tarde. lhe explique queo normando está arrependido do que lhe tem feito e insiste em levá-la com oconde Arnulf, quem se encontra visitando duque de Maine.

-Mas isso não é verdade.-Claro que não, mas se ela assim acredita, não se oporá a seguir adireção que tome o normando, até que deixem atrás os domínios de Maine. E,uma vez que a moça se encontre em algum ponto longínquo do norte, mesmoque consiga escapar à vigilância do cavalheiro, dificilmente consiga retornar sozinha ao Berry. -Druoda sorriu. Por fim, tudo tinha encaixado em seu lugar!

9

Brigitte se aproximou timidamente ao estábulo. Resultava-lheestranho abandonar Louroux a plena luz do dia, em lugar de escapulir-sedurante a noite. O milagre não era perfeito, certamente. Poderia partir, mas tinhaque partir com o homem que a havia possuído, um homem a quem desprezavae que lhe conhecia intimamente, mesmo que ela não sabia nada dele.Embargava-a uma humilhação que nunca antes havia sentido, mas, de uma vez,experimentava uma profunda, infinita gratidão.

 Ao entrar no estábulo, encontrou ao cavalheiro de pé, junto a seuimenso corcel cinza. O potro não parecia amigável, mas tampouco seu amoparecia muito afável. Os escuros alhos azuis do Rowland lançaram labaredas deira quando a jovem lhe aproximou.

-Fiz-te esperar muito? -perguntou a moça com acanhamento.O moço conseguiu conter sua fúria.-Só sobe ao cavalo - ordenou-lhe, exalando um suspiro de

frustração.Brigitte se apartou.-A seu cavalo? Mas eu posso viajar no meu. -Por Deus, ou subidas

este corcel, ou te deixarei aqui! Deixá-la ali? Ela não podia correr esse risco.-Então, rogo-te me deixe cavalgar detrás de ti -suplicou-lhe,

pensando em suas doloridas costas.-E o que fará com sua bolsa? -perguntou-lhe ele com impaciência.-Porei-o entre nós.

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-Ja! Tem medo de te aproximar muito?-OH, não! -apressou-se a responder Brigitte-. Disse que o que

aconteceu ontem à noite foi um engano, e te acredito.-Isso pode apostá-lo. Eu gosto das mulheres dispostas ...e,

certamente, mais atrativas que você -afirmou Rowland, observando o sujo

manto e a emaranhada cabeleira da jovem.Brigitte se sentiu ferida em seu orgulho, e seus claros olhos azuisse encheram de lágrimas. Mesmo assim, permaneceu em silêncio. Esse homemnão tinha direito a insultá-la, mas devia partir antes de que Druoda trocasse deopinião. Rowland se voltou para montar o imenso cavalo e logo, estendeu umamão para ajudar à moça a subir. Brigitte aceitou o braço devotado, mas voltou alhe soltar ao advertir o olhar ofuscado nos olhos do moço.

-Se tanto me detesta, por que me leva contigo? -perguntou-lhe semrodeios.

-Não tenho alternativa."De modo que isso era", pensou a jovem com pesar. Hildegard

tinha mentido... o cavalheiro não desejava levá-la consigo. Mas Druoda eraperita em impor às pessoas sua vontade, inclusive a um homem como esse. Amoça se sentiu uma carga, mas não podia a não ser partir.

Voltou a tomar a mão do cavalheiro e ele a subiu com facilidadeaté a arreios. A bagagem do moço se achava pendurado a ambos os lados doimenso potro cinza, o qual dificultava a posição da jovem, em especial, comseus próprias pertences sujeitas entre ambos.

Brigitte tratou de acomodar-se da maneira mais confortávelpossível, endireitando-se lentamente para não danificar suas doloridas costas, eentão esteve preparada. Esperou que Rowland empreendesse a marcha, masele também parecia estar aguardando.

-O que acontece? -perguntou-lhe ela com vacilação, ao ver que omoço continuava sem mover-se-. Estou preparada.

O deixou escapar um suspiro.-É tão ignorante como parece ou me está provocando de

propósito?-te provocando? por que?-Deve te sujeitar a mim, rapariga, ou te encontrará de cara contra o

pó.-OH! -Brigitte se ruborizou e agradeceu que ele não pudesse vê-la.

-Mas não alcanço a te rodear com os braços. Meu saco de roupas me impedeisso.

-Então, sujeita lhe de minha cota -ordenou-lhe Rowland combrutalidade, para logo olhar por cima do ombro e prosseguir com tom ainda maissevero.- E te advirto que trate de não te soltar. Se cair da arreios e te rompealguma parte do corpo, eu não me deterei para te ajudar.

-E se minhas feridas me impossibilitam o rodeio? -perguntousobressaltada.

-Liquidarei-te e acabarei com suas desditas. Ela soltou umaexclamação.

-Não sou um animal para que me sacrifiquem quando estou ferida!-Não tente pô-lo a prova.

Brigitte se sentiu muito surpreendida para continuar com o tema.Com grande relutância, aferrou-se da cota do cavalheiro. Assim que estevesujeita, ele empreendeu a marcha. Cruzaram a entrada a toda velocidade, para

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logo atravessar a aldeia. Concentrada em aferrar-se ao cavaleiro, a moça nãopôde saudar os serventes que, a seu passo, agitavam as mãos em sinal dedespedida.

Rowland acelerou o passo quando chegaram ao caminho. Seusdesejos por abandonar a área pareciam ser tão intensos como os do Brigitte, o

humor da moça melhorou quando giraram para o norte, com rumo ao Orleáns,posto que Maine se encontrava nessa direção. Era uma lástima que Arnulf nãose achasse no Berry, já que sua intenção era passar o menor tempo possívelem companhia desse homem. Mesmo assim, levaria-lhes vários dias chegar aMaine, mas isso não podia remediar-se.

 Ah, mas seria agradável voltar a ver o Arnulf. O velho cavalheiroera, na verdade, temível; mas suas bruscos maneiras não intimidavam aoBrigitte, que sabia possuidor de um coração de ouro. O conde chorasse a mortedo Quintin, e a moça tivesse desejado não ser portadora de tão desafortunadanotícia, posto que, estava segura, voltaria a sentir, uma vez mais, a perda deseu irmão.

O caminho os conduziu através do vale, rico em cultivos duranteoutono e verão. Os ciprestes, plantados uns trezentos anos atrás, achavam-seagora curvados e retorcidos, dando assim ao vale do Ródano um aspectosolitário e sombrio.

 À medida que Brigitte imaginava sua reunião com o conde,Rowland meditava com amargura. Sua cólera se voltava mais e mais intensa. Ainoportuna carga que levava lhe custaria um alto preço, embora não receberianada em troca, posto que nada queria dessa prostituta. Teria que alimentá-la nocaminho e lhe pagar a passagem para atravessar o rio Loira, entre o Orleáns e Angers. Pior até, a jovem o atrasaria, já que o cavalo se achava sobrecarregado. A volta a casa já seria bastante penoso, mas essa demora o faria ainda mais

difícil. O moço suspirou com mau humor e irritação.O largo caminho que atravessava o centro da França estava

acostumada ser muito mais freqüentado que os numerosos de resíduo. Muitosviajavam para o sul, mas só uns poucos se dirigiam às regiões mais frite donorte, de modo que Rowland não se viu atrasado por outros viajantes. Mesmoassim, GUI já estaria, sem dúvida, muito adiantado, depois de ter viajado amaior parte do caminho pelo rio.

E que notícias lhe aguardariam em casa? Haveria Thurston doMezidon iniciado o ataque, tal como temia GUI? Ainda lhe subtraía, ao menos,uma semana de viagem antes de chegar a averiguá-lo. À medida que o corcelgalopava com destino ao Montville, a irritação do moço começava a esfumar-se.

10

Já era meio-dia quando se aproximaram de uma estalagem,localizada-se sobre um flanco do caminho. Não chegariam ao Orleáns a não ser até a noite seguinte. O cavalo poderia descansar enquanto atravessassem o rio,mas logo, subtrairiam ainda mais de cem quilômetros de viagem antes dechegar ao Montville, o corcel era o mais prezado tesouro do Rowland, o melhor do estábulo de seu pai. O animal não estava habituado a transportar mais que o

peso de seu dono e o moço detestava sobrecarregá-lo.Havia alguns outros paroquianos na estalagem administrada por monges. Mais à frente da hospedaria, estendia-se uma pequena aldeia. Um dos

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viajantes tinha o aspecto de um comerciante; outro era um velho cavalheiro,acompanhado por seu escudeiro, uma esposa e suas duas filhas. O terceiro eraum peregrino. Rowland inclinou brevemente a cabeça para saudar os trêshomens, antes de conduzir seu cavalo para um borbulhante arroio. perguntou-seque pensariam os outros dele, ao vê-lo viajar sozinho com uma mulher.

Certamente, não era ela seu escudeiro, mas lhe serviria como tal no momento.O moço desembarcou do potro e logo, estendeu um braço paraajudar à moça a descender.

-Alguma vez te lava, mulher?Os olhos da jovem se dilataram, e Rowland advertiu que eram

grandes e de uma cor azul clara, O queixo elevado da moça refletia seu orgulho,algo com o que ele deveria terminar antes de sua chegada ao Montville. Alguémserva insolente se veria imensamente afetada em mãos de sua madrasta.

-Estou acostumado a me banhar com freqüência -respondeuBrigitte com voz suave embora olhar desafiante-. Mas ontem à noite caí nocaminho antes de que me detivera e, após, não tive tempo de me assear.

-Aproveita o arroio, agora que tem a oportunidade -sugeriu-lhe elecom tom brusco.-Mas há gente nos arredores -objetou a moça, horrorizada.- Não

posso me banhar em presença de estranhos.-Não acredito que possa atrair a atenção destes homens

-assegurou-lhe Rowland com deliberado sarcasmo.- te apresse. Partiremos emmenos de uma hora.

Por Deus, esse cavalheiro não voltaria a chamá-la imunda! Brigittecomeçou a caminhar para um lugar afastado do arroio, onde poderia ocultar-sede olhares curiosos, mas o moço lhe gritou:

-Fique onde eu possa verte.

 A moça se zangou. Acaso ele temia que a atacassem ouacreditava capaz de escapar? Dificilmente pensasse em fugir agora.Necessitava amparo até chegar a Maine e ao conde Arnulf.

Depois de encontrar uma pedra grandemente plaina junto à bordado arroio, a jovem se ajoelhou. tirou-se o manto e o enxaguou várias vezes, paralogo se inclinar lentamente e esfregar o rosto com a água geada. Seguiramentão os braços e, mais tarde, o lance das pernas que podia exibir-se semperder o recato. Por último, soltou-se o cabelo, pegajoso pelo lodo, e afundou acabeça no arroio. Pôde perceber o calor de um sem-fim de olhares e seu rostoardeu com vergonha. Mas já tinha conseguido assear-se, e decidiu que se esserústico cavalheiro voltava a pontuar a de suja, cuspiria-lhe na cara.

Brigitte abriu o saco que continha seus pertences para extrair primeiro o alimento que tinha levado consigo e logo, seu pente. Seu espelho deaço lhe revelou que, em seu rosto, não havia verdadeiros talhos, a não ser umasleves marca rosadas que logo se esfumariam. Uma vez mais, tinha recuperadoseu aspecto habitual.

Um vento gelado ajudou a secar seu cabelo, ao tempo que obrilhante sol enfraquecia seu manto úmido. Brigitte devorou com avidez o pãodoce e as tâmaras confeitadas da Althea, enquanto, de quando em quando,observava ao esbelto cavalheiro, quem, no pátio da estalagem, atendia a seucavalo e a ignorava por completo.

Rowland fingiu estar completamente focado no asseio de Huno,mas não cessava de jogar olhadas ao Brigitte, sobressaltado com a beleza damoça. O banho tinha revelado as delicadas formas de seu delicioso rosto e sua

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O moço tivesse desejado desfazer-se da moça, mas tinha dadosua palavra a Druoda.

-Acredito que não é possível. Quando deram de presente a jovem,prometi que jamais lhe permitiria retornar a esta área.

-Lhe deram de presente isso! É incrível! -exclamou Nethard,

sobressaltado-. Então, o dono deve ter sido uma mulher, ciumenta pela belezada moça.-Uma mulher, sim. -Rowland aceitou a explicação oferecida,

disposto a não brindar mais.-Mas você não a quer -continuou Nethard com perspicácia.- Isso é

fácil notar. E uma jovem assim deve ser adulada.Rowland soltou um rouco grunhido.-Mesmo que fora Vênus, seria uma carga para mim. Entretanto,

devo levá-la comigo.O homem sacudiu a cabeça.-Ah, é uma lástima que tão valiosa gema não seja apreciada

-comentou, deixando escapar um suspiro.-É uma moça bela -admitiu o jovem com expressão sombria.- Masainda segue sendo uma carga.

-Está cego -afirmou o comerciante, depois de oferecer gentisdespedidas, os três cavalheiros partiram.

Rowland franziu o sobrecenho e seus olhos transpassaram aosviajantes que se afastavam. O que podiam saber esses homens? Os francosestavam acostumados a adular a suas mulheres e adorar sua beleza. Para omoço, essas não eram a não ser tolices. Uma mulher era só isso, uma mulher, enada mais. Era ridículo lhe conferir alguma importância. Ela estava ali paraservir e isso era tudo.

11

Uma vez que sua dourada cabeleira esteve seca e sedosa, Brigittea sujeitou em duas largas tranças. Voltou a fechar o saco de seus pertences e,com renúncia, uniu-se ao Rowland no pátio. O moço lhe assinalou um banco nagaleria da estalagem e lhe ordenou aguardar ali.

 A jovem se sentiu irritada ante a brutalidade desse homem. Tinhaesperado que ele fizesse algum comentário a respeito de seu melhoradoaspecto, e tanto desinteresse a exasperava. Porém, cumpriu as ordens docavalheiro e se dispôs a esperá-lo pacientemente no lugar famoso. Osmovimentos da estalagem não melhoraram seu humor, posto que muitoshomens a observavam com descaramento e isso a incomodava.

Rowland tinha entrado na hospedaria para pedir alimento, feliz deque a moça tivesse levado sua própria comida. Só uns minutos mais tarde, um jovem estranho se aproximou do Brigitte. A moça teria estado agradecida pelanova companhia, mas logo advertiu que o moço era estrangeiro, inglês ouirlandês segundo seu aspecto, e ela não podia compreender o idioma. Mesmoassim, ele não se apartou, mas sim continuou tratando de comunicar-se,

admirando-a com o olhar, agradando-a com suas gentis maneiras.De repente, Rowland apareceu de um nada, para deter-se frenteao jovem com as pernas separadas, os braços em jarras e uma expressão irada

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 A jovem extraiu os últimos mantimentos de seu saco e ambos sesentaram a comer em silêncio. O crepitante fogo criava sombras ao redor,fazendo que o resto do bosque parecesse ainda mais escuro. Brigitte não pôdeevitar perguntar-se por que um homem tão arrumado poderia ter umtemperamento tão odioso. Acaso todos os normandos eram tão rudes,

dominantes e constantemente mal-humorados?-Quanto falta para chegar a Maine? -arriscou-se a perguntar amoça, uma vez finalizada a comida. Nunca estive ao oeste do Berry.

-por que o pergunta?-Só desejava saber -sussurrou ela, temerosa ante o intenso olhar 

do moço.- depois de tudo, separaremo-nos ali.-Não quero ouvir nada a respeito de nos separar e te advirto que

não me provoque.-Mas não te agrada minha companhia- fez-lhe notar Brigitte com

calma.-Isso já não importa! Fui obrigado a te aceitar e agora não posso

me desfazer de ti.-por que me odeia tanto?-Acaso você não me odeia também? -perguntou Rowland com

indiferença.Ela o olhou surpreendida.-Se acredita que te odeio só porque me tratou com rudeza desde

que abandonamos Louroux, está equivocado.O homem riu e todo seu rosto pareceu iluminar-se. Seus rasgos se

viam muito mais agradável com um sorriso.-Então me considera rude, né?-claro que sim -respondeu Brigitte com indignação-. Não fez mais

que me ameaçar e me intimidar, e na estalagem, tratou-me como se eu nãotivesse direito de falar com quem me agrade.

-Você não tem nenhum direito a nada -.Uma vez mais, seu tom eragelado, e seu olhar sorridente tinha desaparecido.- Sejamos claros, moça. Vocênão falará com ninguém sem permissão.

Brigitte esboçou um sorriso divertido.-Não fala a sério. Suponho que não pode evitar ser como é, mas

acredito que está transpassando os limites. Estou seriamente agradecida por seu amparo, mas o fato de que seja minha escolta não te dá direito a me impor ordens.

O moço afogou uma exclamação e logo, estalou.-Por todos os Santos! Ela tinha razão! Advertiu-me que estava

acostumado a te dar presunções, mas jamais acreditei que seria tão tola deprovar suas sacanagens comigo!

Rowland já tinha tido suficiente. Sabia que o melhor seria apartar-se dessa moça. voltou-se e caminhou com passo firme para o cavalo, paracavalgar a toda velocidade em direção ao caminho. Um passeio poderiaapaziguar sua cólera.

Brigitte lhe observou partir, estupefata. Sua confusão logo setransformou em medo, quando os sons do cavalo se tornaram mais e maisdistantes.

-O que lhe tenho feito? -sussurrou-. por que me odeia tanto? A jovem se aproximou do calor do fogo e se cobriu com o manto. Oretornaria, disse-se, tratando de convencer-se. Com segurança retornaria.

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Os sons da noite voavam com o vento e se voltavam cada vezmais potentes, aterradores. Brigitte se estremeceu e se aconchegou em umnovelo sobre a terra geada, cobrindo-se até a cabeça com o manto. Orou peloamparo do Rowland do Montville e logo, elevou suas súplicas a Deus.

-Por favor, retorna -murmurou com ansiedade -Juro que não

voltarei a te elevar a voz. Se for necessário, permanecerei muda, mas retorna!Finalmente, o crepitante fogo afogou outros sons da noite e aarrulhou até dormi-la.

 Assim a encontrou Rowland a sua volta. Extraiu uma manta deuma das alforjas de seu cavalo e se deitou sobre o chão junto a ela.

12

Rowland despertou imediatamente ao perceber um perigoiminente. ficou de pé, extraiu automaticamente sua espada e girou em busca dointruso. O céu do amanhecer criava escuras sombras difíceis de penetrar e,

mesmo que se esforçou, não conseguiu distinguir nada. Extremamente tenso,permaneceu imóvel e se dispôs a aguardar.Foi então quando divisou à besta, sentada sobre suas enormes

ancas, a menos de dois metros de distância. assemelhava-se a um cão, masnunca antes tinha visto um tão imenso.

Sem tirar os olhos do animal, Rowland estendeu uma bota parasacudir apenas à moça dormida. Brigitte se incorporou com lentidão e, ao vê-lamover-se, a besta se levantou. Avançou então o cão em direção a jovem,saltando graciosamente.

-Oculta lhe detrás de mim, Rápido! -ordenou-lhe Rowland em umsevero sussurro.

-por que? -A moça se surpreendeu ante o tom de voz do moço e,ao vê-lo elevar a espada, sussurrou:-O que acontece?

-Se seriamente apreciar sua vida, faz o que te digo! -respondeu elecom rudeza.

Brigitte ficou de pé e, imediatamente, ocultou-se depois dasimensas costas do cavalheiro. aterrorizou-se para ouvir o ameaçador grunhidode um animal e, com vacilação, apareceu lentamente a cabeça para espiar àbesta. Até sob a tênue luz do amanhecer, não pôde confundir essa forma. Saiucorrendo de seu esconderijo para deter-se entre o homem e o cão. Rowland aobservou sobressaltado, enquanto ela abraçava ao imenso animal e ria quandoeste a lambia o rosto e gemia.

-Acaso tem algum poder estranho para dominar às bestas?-perguntou Rowland, admirado. "Será bruxa essa moça?"

Brigitte lhe olhou e esboçou um brilhante sorriso.-É meu cão. Seguiu-me até aqui.Rowland embainhou a espada e deixou escapar um grunhido.-Me recuso a acreditar que te rastreou durante todo o trajeto desde

o Louroux.-Eu o acreditai e me esteve seguindo durante anos. Deve ter 

escapado de sua jaula ontem à noite, na hora de comer. É um cão muitointeligente.

Rowland se voltou em silêncio. Montou seu potro e, sem olhar emdireção a jovem, separou-se do claro lentamente.-Aonde vai? -perguntou ela a gritos.

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O moço respondeu por cima do ombro. -Se tiver sorte, trarei carnefresca a minha volta. Você aproveita o tempo para preparar o fogo.

E, então, partiu. Brigitte deixou escapar um suspiro. As promessasda noite anterior se estavam convertendo em uma pesada carga. Mas, aomenos, ele tinha retornado.

 AO advertir que os imensos olhos pardos do Wolff a observavam, amoça sorriu com deleite.-Bom, pequeno, deve estar cansado atrás de seu comprido viaje.

-Rodeou ao animal com os braços e o estreitou com força-. OH, Wolff, Wolff,faz-me tão feliz que tenha vindo! Deveria te haver trazido comigo, mas tive medode perguntar. De todos os modos, encontraste-me e jamais voltaremos a nosseparar. Sinto-me muito melhor agora. O normando me protegerá dos perigosdo caminho e você, meu rei, protegerá-me dele!

Os temores do Brigitte se esfumaram com a chegada do Wolff, e amoça não podia a não ser rir de prazer.

-Vêem, temos que acender o fogo antes de que ele retorne, porque

é um homem perverso e não gosta de esperar. Você deve estar faminto, Wolff -. A jovem começou a reunir paus e ramos para a fogueira, e o cão a seguiu, semtirar um só instante de seu lado.Suponho que, ontem à noite, tomou ao Leandor por surpresa e não aguardou por seu jantar. Ou, o mesmo Leandor te permitiuescapar. Sim, é capaz de havê-lo feito se acreditava que eu te necessitava.

Brigitte continuou conversando com o Wolff como sempre o tinhafeito, expressando seus pensamentos em voz alta. O fogo não demorou paraacender-se sobre as brasas da anterior fogueira, e logo pôde a moçaenfraquecer suas mãos congeladas pelo ar frio da manhã. Logo que tinhaacabado de pentear-se e se encontrava trancando sua larga cabeleira, quandoRowland retornou e arrojou uma robusta lebre sobre a terra.

-Prepara-a e reserva a pele para guardar os restos uma vez quetenhamos comido -ordenou-lhe com tom brusco, para logo posar os olhos sobreo Wolff, que se encontrava jogado com a cabeça sobre o regaço de suaproprietária. E o cão deve ir-se. Não temos comida para compartilhar com ele.

-Wolff não me deixará agora que conseguiu me encontrar -afirmouBrigitte com convicção-. Mas não tem que preocupar-se em alimentá-lo. É umexcelente caçador e não lhe custará apanhar seu próprio jantar-. Tomou aimensa cabeça do animal entre suas mãos e o olhou fixamente aos olhos.

-lhe mostre, Wolff. Traz seu jantar e eu a cozinharei. Rowlandobservou ao cão afastar do acampamento e sacudiu a cabeça:

-Seriamente pensa cozinhar para a besta?-O não é uma besta -corrigiu-lhe Brigitte com tom reprovador.-

Embora sua raça é desconhecida, possui um magnífico tamanho e uma incrívelastúcia. E claro que cozinharei para ele. Wolff está domesticado. Não comemantimentos crudos.

-Eu tampouco -replicou Rowland.- Date pressa com a tarefa.antes de culminar a frase, o moço arrojou uma adaga junto à lebre

morta. Brigitte a recolheu e seus lábios se franziram em uma careta. Poucotempo atrás, tinha aprendido a esfolar animais, mas o trabalho não era de seuagrado.

Porém, ele obviamente não tinha intenções de executá-lo. Já se

tinha sentado frente ao fogo, para limpar o venablo que tinha utilizado em matar à presa. A moça pensou que deveria estar agradecida a Druoda, por havê-laobrigado a aprender vários trabalhos servis.

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-Ocupará-te de minhas roupas, servirá-me a comida e limpasseminha habitação. Só obedecerá minhas ordens. Não é isso muito menostrabalho que aquele ao que estiveste habituada?

-Muito menos -admitiu ela.Rowland ficou de pé e lhe olhou fixamente. -Pretendo obediência.

Irá bem, sempre e quando não enfurecer. Está disposta a aceitar sua sorte e deuma vez por todas, com suas provocações?Brigitte vacilou, e logo se apressou a responder, por temor a perder 

a coragem.-Não quero te mentir. Servirei-te sempre que dever. Mas se

encontro a oportunidade de te abandonar, não duvidarei em fazê-lo. A moça tinha esperado um novo arrebatamento de ira, mas ele só

franziu o sobrecenho.-Não, não conseguirá escapar de mim -afirmou em uma língua

estrangeira.-O que?

-Pinjente que te conviria aprender o idioma nórdico, já que hámuitos no Montville que não falam outra língua.-Todo isso disse com essas poucas palavras?-perguntou Brigitte

com cepticismo.Mas Rowland não respondeu a sua pergunta. -Vamos, estamos

perdendo tempo, o cão pode vir conosco. Será um fino obséquio para meu pai.Brigitte abriu a boca para protestar, mas se deteve. Quando chegasse omomento, o normando descobriria que Wolff jamais voltaria a separar-se de suaproprietária.

13

Não chegaram ao Orleáns antes do anoitecer, e deveram voltar aacampar ao cair a tarde. Brigitte passou as intermináveis horas em suaincômoda posição detrás do Rowland, tratando de convencer-se de que aindapoderia seguir tolerando sua desafortunada situação durante um tempo. Ao fime ao cabo, encontrava-se longe do Berry e Druoda.

Um marido era o que necessitava, já que, uma vez que elaestivesse casada, Druoda não se beneficiaria com sua morte, nem poderiareclamar direito algum sobre o Louroux. Mas, para casar-se, Brigitte necessitavaa aprovação do Arnulf ou do senhor lorde do condado. O rei da França era osenhor do Arnulf, e ali estava, então, a solução. A moça poderia dirigir-se a cortee unir-se em matrimônio sem o conhecimento da Druoda. Só precisavaencontrar a alguém que a levasse até o Ile-do France e a corte do Lothair.Então, seria livre e Druoda se veria forçada a abandonar Louroux.

Quando acamparam essa noite, Brigitte se sentia tão satisfeita comseus próprios raciocínios, que começou a contemplar os sucessos maisrecentes como uma verdadeira bênção. O terceiro dia transcorreu velozmente, já que Rowland se dedicou a lhe ensinar a língua de seus ancestros. Não eraum idioma fácil de aprender, mas a moça não demorou para incorporar váriosvocábulos, impressionando assim ao moço com sua rapidez.

O começar de um novo dia era sempre prazenteiro, já queRowland logo descobriu que Wolff era na verdade um excelente caçador.

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temperatura sobre o rio e obstaculizou o avanço da barcaça. Isto irritou aoRowland, quem permaneceu em silêncio e mal-humorado durante a maior partedo dia.

O moço estava furioso consigo mesmo por ver-se afetado pelo frio; já que o clima era benigno comparado com o que tinha sofrido durante a maior 

parte de sua vida. Os últimos seis meses no sul da França lhe tinham rarefeito osangue, e o jovem o sentia como um sinal de debilidade. A noite resultou ser a mais fria da viagem. Brigitte se aconchegou

 junto ao Wolff para esquentar-se e não lhe importou que Rowland se deitasse aseu lado, já que, dessa forma, protegia-lhe as costas contra o vento gelado. Quemomento para retornar a casa, em pleno inverno! Rowland desejou que a moçasoubesse costurar, já que ele necessitaria roupa de casaco ao chegar aoMontville.

voltou-se para a moça e, para ouvir sua respiração regular, soubeque se achava profundamente dormida. Tomou entre suas mãos uma das largastranças loiras e se acariciou a bochecha com a sedosa mecha do extremo.

Mesmo que não podia ver o rosto da jovem, recordou seus encantadoresrasgos, dado que, a noite anterior, tinha-a contemplado o suficiente para gravar-se eternamente essa imagem em sua mente.

Rowland tinha começado a sentir-se orgulhoso por essa moça.Não só era extraordinariamente formosa, mas também inteligente, e já tinhacomeçado a compreender a difícil língua nórdica.

Parecia lhe haver aceito como senhor e se via disposta a lhe servir.Esse fato agradava ao moço, posto que, desse modo, já não teria que depender dos serventes de seu pai. Ainda podia recordar as múltiplos ocasione em quetinha sofrido a indiferença dos servos, todos ocupados em cumprir ordens daHedda.

 A moça seria excelente criada. Por essa razão, sentia-se resistentea levá-la a sua cama. Tinha a certeza de que cometeria um grave engano aoalterar a relação que existia entre ambos. Finalmente, Rowland se colocou decostas ao Brigitte e exalou um prolongado suspiro, amaldiçoando-a por ser tãoencantadora.

14

 A tormenta se afastou para o sul, e o bom tempo lhes acompanhoudurante todo o seguinte dia. Chegaram aos domínios do conde do Tournaine, eBrigitte sentiu desejos de visitar o monastério de San Miguel, mas a barcaça sedeteve apenas o suficiente para descarregar passageiros e receber a dois novosviajantes antes de voltar a zarpar.

Os recém chegados eram dois saxões altos e de aspecto rude. Osduques saxões tinham despojado aos francos do reino oriental, para governar a Alemanha sob as ordens do Otto, feito que não agradava aos franceses. Estesduas eram de tez escura e largas e desalinhadas jubas da cor da ferva seca deoutono. Vestiam grosas túnicas de pele, que lhes conferiam um aspectoselvagem e ameaçador. encontravam-se armados.

Os saxões se mantiveram apartados, mas quando posaram seus

olhos sobre o Brigitte com evidente interesse, a jovem se sentiu um poucoperturbada e se aproximou ainda mais ao Rowland. O homem não a olhou, nem

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-Enviei-o a caçar depois de que você te partiu. Rowland ficou de pépara arreganhá-la.

-Vêem aqui, moça. Onde estiveste? Brigitte vacilou. Conhecia essetom. A barba tinha começado a crescer no queixo do normando e lhe conferiaum aspecto ainda mais perverso. Seus olhos escuros refletiram o fogo que ardia

em seu interior e, quando ele estendeu as mãos para tocá-la, a jovem soltouuma exclamação e retrocedeu de um salto. Mesmo assim, Rowland pôde lheagarrar um de seus braços empapados.

-De modo que nadar te pareceu mais importante que acender umafogueira para nos proteger deste frio? O homem não a tinha golpeado e issoinfundiu coragem à moça.

-Não foi minha intenção te incomodar.-A mim? -grunhiu ele.- te olhe. Tem o braço congelado e os lábios

azuis-. Empurrou-a bruscamente para o fogo.- te esquente. Se chegar a mevomitar em cima... Santo Deus!... Acaso perdeste o julgamento, moça?

Brigitte se voltou e, de costas ao fogo, olhou-lhe com os lábios

trementes. -Queria estar poda e não me posso banhar completamente se vocêestiver perto.

-por que não?Ela baixou o olhar, e agradeceu que o homem não pudesse

perceber o rubor de suas bochechas em meio da intensa escuridão.-Não seria correto.-Correto? -bramou ele, e se deteve imediatamente, para percorrer 

com os olhos a figura da jovem. Cada curva era visível sob o delicado tecidoaderido à pele úmida.

Quando, por fim, seu olhar se topou com a do Brigitte, seus

escuros olhos azuis ardiam, mas não de ira. Era uma expressão que a moçanão tinha visto com freqüência em sua resguardada vida, mas a reconheceuinstintivamente. Então, sentiu-se aterrada.

 A jovem começou a retroceder, esquecendo a presença do fogo asuas costas. Mas Rowland sujeitou com rapidez uma de suas largas tranças e aatraiu rudamente para si. Brigitte começou a golpear com força o firme,musculoso peito, mas um dos poderosos braços do homem a tirou da cintura ese sentiu apanhada, incapaz de mover-se.

Com a outra mão, Rowland lhe elevou a cabeça e seus olhoscontemplaram o pálido, delicado rosto de maneira lenta e possessiva.

-Talvez, eu possa te esquentar melhor que esse fogo, né? -disse-lhe com voz rouca, lhe lançando um olhar ofegante, e logo prosseguiu comsuavidade.- Não obterá nada resistindo, se for isso o que tem em mente. E vocêsabe.

Brigitte tinha estado tão segura de que ele não a desejava... O quelhe tinha feito trocar de opinião? Rowland a estreitou com mais força e logo,liberou-a para lhe desatar o cinturão. Nesse momento, a jovem saltou. Se tãosomente conseguia separar-se da luz das chamas, a escuridão lhe permitiriaocultar-se. Mas, logo que começou a afastar-se, as mãos do normando voltarama apanhá-la. O moço a fez girar, para logo elevá-la entre seus braços.

-Seriamente acredita que poderia escapar de mim?

Seu tom de voz não era severo. De fato o jovem parecia divertidoante a reação da moça. Brigitte lhe lançou um olhar fulminante e ele riu,aparentemente encantado.

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-Onde está a mulher que se desmaiou de medo assim que a tendisobre minha cama? Vejo que cobraste valor desde aquela noite.

-Vangloria-te muito -replicou ela com aspereza, irritada ante adivertida atitude do normando. Deprimi-me devido à dor das costas e não por temor a ti.

-O que ocorreu a suas costas?-Fui golpeada... graças a ti -respondeu a moça com tom severo, lhecondenando com os olhos. Rowland franziu o cenho e a depositou brandamentesobre a manta que ele mesmo tinha tendido junto ao fogo. Contra os protestosda jovem, tirou-lhe o cinturão e a túnica, para logo lhe elevar o vestido e tocar aárea machucada. Então, voltou a apoiar à moça sobre a manta e a olhoufixamente.

-Dói-te ainda?-Não, por que?-Ainda tem machucados. Devem ter sido açoites muito violentos

para que continuem as marcas uma semana depois. Claro que teria que havê-lo

esperado, depois de ter roubado a sua ama.-Já te disse que não sou uma ladra. Fizeram-me isto porque trateide escapar...

Brigitte se deteve o advertir que ele não estava escutando, derepente, a boca do Rowland se apoderou de seus lábios e se sentiucompletamente indefesa frente à força daquele homem. Só atinou a sujeitar-seda abundante juba loira para lhe apartar a cabeça.

-Você nunca me terá!O se incorporou e lhe separou ambas as mãos com facilidade.-me pensa fazer isso difícil? -perguntou com um sorriso. Sem

aguardar a resposta, soltou uma breve risada e se tirou a pesada cota e a

túnica. A moça lançou uma exclamação e tentou levantar-se, mas ele voltou aempurrá-la sobre a manta para sujeitá-la com uma mão, enquanto com a outrase despojava de suas calças.

Brigitte fechou os olhos, forçando-se a não gritar, ao tempo queRowland lhe capturava ambas as mãos junto aos ombros. Tudo tinha sido tãofácil para ele, tão condenadamente fácil! A jovem voltou a abrir os olhos, quecintilaram com fúria.

-Odeio-te!O moço a contemplou durante um comprido instante e, ao olhar 

esses escuros olhos azuis, Brigitte se surpreendeu, já que descobriusubitamente que, em realidade, sentia-se atraída pelo Rowland. Não podiaafirmar que lhe amava. depois de tudo, ele era rude e brusco e, freqüentemente,cruel com seus comentários. Mas também era forte, decidido e justo. Sim,embora lhe custava admiti-lo, esse jovem lhe agradava. Além disso pensouBrigitte, ele a olhava com ternura e, sim, até com amor. Mesmo que fingia estar tomando só o que lhe pertencia, havia muito mais nesse ataque, muito mais.

Rowland pensava quão encantada era a moça e quanto adesejava. Era uma jovem especial, sedutora e tinha conseguido lhe cativar.Jamais se atreveria a admiti-lo frente a Brigitte, mas já começava a sentir umprofundo afeto pela moça.

Depois de beijar o encantador rosto, os lábios do Rowland

descenderam pelo delicado pescoço até chegar aos pequenos seios. Erampeitos frágeis como porcelana, mas suaves e arredondados como frutas

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-Não posso permanecer aqui -disse-se em voz alta. ficou de pé etocou a cabeça do Wolff para tranqüilizá-lo, mas retirou a mão manchada desangue. Imediatamente, esfregou-a na terra, para logo assinalar em direção aorio.

-vá lavar te, Wolff. vá nadar. -O cão não se moveu, até que ela

estampou um pé no chão com fúria-. Faz o que ti digo. Eu reunirei minhascoisas e nos partiremos logo que esteja limpo.Wolff, então, partiu, mas Brigitte não começou a recolher seus

pertences. Permaneceu imóvel, observando o corpo inerte do Rowland. O ventosacudiu as taças das árvores, e ela sentiu frio, mas não se agachou para tomar seu manto. Só baixou o olhar para a manta onde tinha estado tendida comaquele homem.

No mesmo lugar se encontrava, tremendo, quando Wolff retornouao acampamento. O cão se achava empapado, mas limpo, e ela o chamou,esboçando um débil sorriso. Recolheu a manta para secá-lo, mas se deteve, jáque o animal se sacudiu e a banho com a água. Foi então quando ouviu o

gemido. Brigitte se paralisou. Um dos homens continuava com vida. Mas,qual?, ela não desejava averiguá-lo, já que não queria voltar a enfrentar-se comnenhum deles.

-Vamos Wolff! Devemos partir daqui. Arrojou a manta sobre o cãoe o esfregou brevemente. Logo, recolheu pressurosa seus pertences e correupara o cavalo do Rowland, mas se deteve o chegar ao potro. O tamanho doanimal a intimidava, em especial, sem a imensa figura do cavalheiro colocado naarreios. Como conseguiria montar sem a ajuda do normando?

Depois de vários intentos, conseguiu subir ao gigantesco corcel e,agitada pelo esforço, jogou um olhar em busca do Wolff. Mas o cão ainda seguia

 junto ao fogo, farejando o corpo do Rowland. Brigitte o chamou uma e outra vez,mas o animal se sentou junto ao normando, recusando-se a mover-se.

 A jovem deixou escapar um suspiro de desespero. Então era ele.Era Rowland quem continuava com vida. Ela deveria ter suposto que essearrogante caipira era muito rústico para morrer tão facilmente. desembarcou docavalo e caminhou lentamente para o fogo. Depois de jogar um olhar fulminanteao Wolff, inclinou-se para examinar ao Rowland.

Tinha uma enorme protuberância em à nuca. A arma do saxãodevia ter girado ao golpear, pensou a jovem, e só o lado plano da tocha tinhacausado a marca. de repente, notou que Rowland respirava. Embora com umaforte dor de cabeça, sem dúvida, o normando despertaria. Brigitte lançou umolhar penetrante ao Wolff, que continuava tendido junto ao corpo do moço.

-Não esperará que fique lhe ajudando, ou sim? Devo partir. A moça ficou de pé, mas o cão não se levantou.-Vou -advertiu-lhe com tom categórico-. Se ficar aqui, este homem

me tirará de pulseira. É isso o que quer? Deseja conversar sofrer em suasasquerosas mãos?

 Ainda assim, a besta permaneceu imóvel junto ao ferido. Brigitteperdeu a paciência e exclamou.

-Digo-te que este rufião não necessita nossa ajuda! Vamos já! A jovem começou a afastar do acampamento, mas olhou por cima

do ombro para ver se Wolff a seguia. O cão se aproximou até mais aonormando, para apoiar a cabeça junto ao corpo tendido do Rowland.

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-Recorda-o-a próxima vez que tente me atacar -advertiu-lheBrigitte-. Se eu tivesse sabido quão temível é Wolff, você houvesse seu sentidoafiadas presas muito antes, tal como lhes ocorreu com esses dois saxões.

-Saxões?-São os dois que viajaram conosco pelo rio. O moço franziu o

sobrecenho. -Devem ser ladrões. O que outra razão teriam para seguimos?-OH, sim, eram ladrões -assentiu Brigitte com amargura-. Mas era

para mim a quem tentavam roubar.-Maldita seja! -grunho Rowland-. Sabia que me causaria problemas

com esse atrativo rosto que tem. Suponho que paquerou com esses saxões nabarcaça, não é assim?

-Como te atreve! -exclamou a moça com tom severo-. Não possoalterar meu aspecto, mas jamais tato a um homem intencionadamente. Não meinteressa despertar o desejo de nenhum rufião. O que me fez foi tão repugnantecomo sempre o tinha imaginado.

-Suficiente!-Não, não é suficiente! -bramou a jovem, sentindo desejos de ferir até mais ao Rowland.- Considera-te meu senhor, mas não me defendeu dessesbandidos, quando se supõe que um amo deve proteger a seu serva. Afirmariaque perdeste seus direitos sobre mim, posto que não cumpriste com suasobrigações.

-Machucaram-lhe? -perguntou ele.-Bom...não, mas não foi graças a ti.-Então, se não houve dano, não escutarei mais a respeito de

direitos e obrigações. Além disso, eu fiz um esforço por te proteger. Tenhoferidas para demonstrá-lo.

Brigitte sentiu um pingo de remorso por lhe haver provocado, edecidiu permanecer em silêncio.

-Conforme acredito, prometeu curar minha ferida, não foi assim?-Recordou-lhe Rowland.

-Curarei-a, sempre que compreender isto: não me sinto obrigada afazê-lo só porque você te considere meu senhor.

-Então, faz-o como cristã- suplicou-lhe ele com tom fatigado,fechando os olhos fracamente.- Acaba já com isto.

 A jovem se voltou e caminhou para o cavalo, a fim de revisar asalforjas em busca de algo que pudesse servir como vendagem. Mas Rowland adeteve antes de que alcançasse às abrir.

-Não encontrará nenhum tecido aí. Ela se voltou para lhe olhar.-Uma camisa velha servirá

-As tiras de uma camisa não serão suficientemente largas. Teráque procurar entre suas roupas.

Minhas roupas! -exclamou Brigitte, enquanto retornava graciosapara deter-se junto a ele.- Não tenho tantos vestidos para arruinar um por suaculpa. Usarei uma das mantas.

-Necessitamos essas mantas, já que à medida que avancemospara o norte, o clima será cada vez mais frio -anunciou Rowland de modocategórico.

 A jovem tomou sua bolsa com impaciência e extraiu seu vestidomais gasto. AO se voltar para o Rowland encontrou que ele já se desprendeu ocinturão e estava tratando de tirá-la túnica. A moça vacilou um instante,

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observando seus enormes esforços, até que por fim lhe separou as mãos e lheajudou a despojar-se do objeto. O jovem se encontrava pálido e débil, mas,ainda assim, não cessou de contemplá-la com atenção, enquanto limpavacuidadosamente a ferida e a enfaixava com as largas partes de seu vestido delinho. Uma vez finalizada a tarefa, Brigitte lhe ajudou a vestir-se com uma túnica

limpa e detrás lhe cobrir com a manta, procedeu a acender uma nova fogueira.-Poderia lavar o sangue de meu vestido, rapariga? -perguntouRowland.

 A moça assentiu imediatamente, já que ele tinha efetuado apetição sem ordenar. Recolheu a túnica do chão e se dirigiu para o rio. Aoretornar ao acampamento, pendurou o objeto do ramo de uma árvore e seaproximou dele para ver se se encontrava dormido.

-Dói-te o inchaço da cabeça? -perguntou-lhe com voz suave.-Sim -respondeu ele com uma careta-. Com o que me golpearam?-Com uma tocha -respondeu a jovem-. Teve sorte. O fio da folha se

encontrava voltado para te pegar.

-Grr!- grunhiu Rowland.- Sinto como se a tivesse inserida nacabeça."Oxalá tivesse sido assim", pensou Brigitte, e se ruborizou ante sua

própria crueldade.

16

O aroma a carne assada despertou ao Brigitte. Uma breve olhadaao acampamento lhe mostrou que os corpos dos saxões tinham sido retirados.

Rowland se encontrava agachado frente ao fogo, com o Wolff tendido a seulado. A jovem olhou a ambos com expressão severo.

-meu deus, estiveste muito atarefado, considerando a gravidade desua ferida -comentou com tom mordaz.

-bom dia, rapariga.Ela ignorou a saudação.-me diga, por favor, te abriu a ferida? Rowland soltou uma breve

risada.-Não, Huno fez o trabalho -respondeu, inclinando a cabeça em

direção ao cavalo.-E a carne?-Seu cão se encarregou disso.Brigitte lançou um olhar reprovador a seu mascote.-Traidor! Acaso tem que gastar suas energias em lhe agradar a

ele?-Sempre acostuma a falar com os animais? -perguntou Rowland,

lhe jogando um olhar de soslaio.-Só com esse -respondeu a jovem com tom áspero.- Embora não

parece estar comportando-se bem ultimamente.-Suponho que não esperará que te responda.-Claro que não -replicou ela, irritada.- Não sou tola, Rowland.

O franziu o sobrecenho.-Acredito não te haver dada permissão para que me chamassedessa forma.

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Brigitte tratou de apagar a lembrança da noite anterior enquantocontemplava o lar do normando. Pensou, em troca, o que diria ao enfrentar-seao lorde do Montville.

 Acreditaria-lhe quando lhe contasse quem era e o que lhe tinhaacontecido? Rowland começou a descender pela colina, e ela sentiu os

primeiros indícios de temor. O que ocorreria se ninguém acreditava em suapalavra? O que aconteceria se jamais conseguia abandonar esse lugar e se viaforçada a passar o resto de sua vida trabalhando como servo?

 Atravessaram a entrada, e um guarda agitou uma mão para saudar o Rowland. Ninguém saiu a recebê-los. O pátio se via desértico e batido pelovento. Nem sequer um encarregado do estábulo saiu ao encontro dos recémchegados para atender ao cavalo.

-Acontece algo estranho aqui? -perguntou Brigitte com inquietação,ao tempo que Rowland desmontava frente às cavalariças e ajudava a jovem adescender.

-Tudo parece em ordem.

-Mas, por que ninguém veio a te receber? Os guardas devem ter informado a seu pai de sua chegada continuou a moça, enquanto começavam acaminhar para a mansão.

-Sim, com segurança, ele já sabe que estou aqui.-E, ainda assim, não vem a te saudar? -inquiriu ela, sobressaltada.O moço esboçou um sorriso indulgente. -Só um tolo abandonaria

um fogo quente em um dia como este.-Mas nem sequer um servente veio a te atender -insistiu Brigitte.Rowland se encolheu de ombros.-Já descobrirá que Montville não é um lugar muito hospitalar,

Brigitte. Jamais esperei outro recebimento.

-Disse que seu pai tinha muitos servos.-Assim é, mas todos dançam ao compasso da Hedda e, sem

dúvida, ela se encarregou de atarefá-los com um sem-fim de trabalhos quandose inteirou de minha chegada. A dama realiza enormes esforços para evitar queme sinta bem acolhido aqui. Não acredito que tenha trocado só porque meencontrei ausente durante estes últimos seis anos. Minha madrasta é umamulher perversa. Aconselho-te que te mantenha fora de seu caminho, porquesei que não lhe agradará.

-por que? Nem sequer me conhece.-Não precisa te conhecer. -Rowland soltou uma risada afogada.

-Hedda te desprezará só porque é minha serva. Essa mulher sente prazer mearruinando a vida. Sempre consegue assegurar-se de que não haja um servoperto quando eu o necessito. Mas agora te tenho, e ela não poderá te dar ordens. Isso não lhe agradará.

-Hedda te odeia então?-Eu lhe recordo seu fracasso de não brindar a meu pai um filho

varão. Minha mãe não era do Montville. Quando ela morreu, Luthor me trouxeaqui e me colocou por cima das duas filhas que Hedda lhe tinha dado. Tudo oque vê aqui será meu algum dia; um filho bastardo será dono da herança e nãoas filhas legítimas do Luthor.

-Então, suponho que suas irmãs também lhe odeiam -comentou a

 jovem com um suspiro-. Que linda família tem, Rowland. E me traz aqui a viver entre esta gente tão desagradável.

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-Não tema, joyita- tranqüilizou-a ele com tom alegre-. Eu teprotegerei contra a ira de todos.

 A mansão era imensa e a sala principal, cavernosa, construída emmadeira e pedra. Os mantimentos se coziam no mesmo quarto onde selevantavam dois gigantescos fogões. Em um deles, borbulhavam os caldeirões e

se assava uma gigantesca parte de carne. Vários serventes se moviampressurosos, servindo o jantar a um numeroso grupo de comensais.No centro da sala, havia três mesas fraileras. Uma destas se

encontrava elevada sobre um soalho, situada em paralelo com as outras dois,um pouco mais largas, repletas agora de soldados, homens de armas, pajens,cavalheiros, seus escudeiros e numerosas mulheres. O fogão mais pequeno seachava rodeado de bancos. Para a esquerda, no segundo piso, havia umaarcada que permitia ao espectador observar de ali tudo o que acontecia nosalão.

No centro da mesa principal, sobressaía-me a figura de um anciãode enorme tamanho, com cabelo da cor do trigo e talhado ao estilo normando.

Não levava barba, e seu rosto estava marcado com profundas rugas. Suaexpressão refletia um caráter forte. Embora não guardava um grande parecidocom o Rowland, Brigitte soube que se tratava do Luthor, o lorde do Montville.

 A cada lado do homem havia duas mulheres; uma, apenas maior que Rowland; a outra, muito mais anciã. Eram, sem dúvida, mãe e filha, já queseus rasgos se viam idênticos: queixo bicudo, olhos pequenos, narizproeminente e encurvado.

Com o bulício da multidão, ninguém advertiu a presença dos recémchegados, e a jovem teve oportunidade de estudar tudo que ocorria na sala.Mas sua observação não durou muito. Ao perceber o aroma de quão galgoscorriam pela habitação, Wolff deixou escapar um uivo desafiante, para logo

atacar ao cão mais próximo antes de que Brigitte alcançasse a detê-lo. Osoutros galgos se somaram à briga, causando um terrível alvoroço.

O rosto do Brigitte adquiriu um brilhante tom carmesim. Seumascote estava provocando um escândalo tão atroz, que o resto da salaguardou repentinamente silêncio. Nervosa, a moça tentou apartar ao Wolff, masRowland a deteve.

-Deixa-o, Brigitte -disse-lhe entre risadas, incrivelmente divertido-.Este é um território novo para ele. É ardiloso ao impor-se do começo.

-Mas me está envergonhando.-por que? -O moço arqueou uma sobrancelha. -Não esqueça que

agora me pertence. E só está tentando demonstrar aos cães de meu pai que játêm um novo líder. Isso é algo que no Montville entendemos muito bem.

-O que? Lutar para ganhar a autoridade?-Assim é.-Mas seu pai é o amo aqui, ou não?-claro que sim -assentiu Rowland-. Mas eu estou obrigado a lhe

desafiar, quão mesmo ele a mim.-Isso é inaudito!-Não aqui, rapariga. Luthor não o aceitaria de outra forma. O

homem governa pela força, como o fizeram seus antecessores. Acredita que senão poder vencer a seus homens, então não está preparado para dirigi-los. E

todos devem saber que ele ainda pode derrotar a seu herdeiro.-Isso é bárbaro! -exclamou Brigitte, e em seguida se recuperou osuficiente para adicionar: Você é bárbaro também.

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Rowland sorriu agradado, observando os claros olhos azuis da jovem.

-E só agora o descobre?Nesse instante, uma jovem roliça de cachos castanhos lhes

aproximou correndo. Surpreendida, Brigitte observou à moça jogar-se nos

braços do Rowland e beijá-lo profusamente.-O que acontece? -protestou a jovem quando ele a separou de seulado-. por que não pode me saudar corretamente, mon cher?

O moço franziu o sobrecenho.-Amélia, o que houve alguma vez entre nós foi privado, entretanto,

você insiste em fazê-lo público. Acaso não tem vergonha, mulher? Como teatreve a te jogar em meus braços ante os olhos de todos?

 Amelia afogou uma exclamação e seus olhos negros se dilatarampela ira.

-aguardei sua volta durante todos estes anos. Luthor sabe e não seopõe.

-O que sabe meu pai? -inquiriu Rowland-. Contou-lhe o de nossasrelações? Acaso ousou desonrar a seu pai apregoando suas debilidadeslascivas?

-por que me ataca dessa forma? -perguntou Amélia-. Não contei aninguém o nosso. Luthor só viu como sofri quando você te partiu. Encontrou-omuito divertido.

-E o que supõe que pensará agora, depois de presenciar suaaudácia? E seu pai que nos está observando? Maldita seja, Amélia! -grunhiu omoço-. Não te pedi que me aguardasse. por que o fez? Jamais te prometimatrimônio.

-Eu acreditava...

-Creste mau! -interrompeu-a ele-. E foi muito tola em me esperar,quando seu pai poderia te haver encontrado casal. Nunca tive intenção deretornar ao Montville, e você sabia.

-OH, não, Rowland -apressou-se a dizer a jovem. Sempre soubeque voltaria, e assim foi.

-Suficiente, Amélia. Meu pai me espera.-Tolices! -A moça olhou alternativamente ao Rowland e ao Brigitte,

quem se tinha afastado, incômoda ante semelhante conversação. -Ah! Demaneira que isso é! -exclamou-. Já conseguiste uma esposa. Bastardo! -bramoucom os olhos cheios de fúria-. Cão infiel!

Rowland ficou tenso e lhe lançou um olhar fulminante.-Tome cuidado, mulher, ou sentirá o castigo de minha mão, e logo

terei que matar a seu pai quando desafiar por isso. Se não poder pensar em ti,então faz-o por ele.

Umas lágrimas brotaram nos olhos escuros da Amelia.-Como pôde te casar com outra? O exalou um suspiro de

exasperação.-Não me casei! E jamais o farei, porque todas vocês são iguais,

com suas malditas queixa e lamentos. São capazes de esgotar a paciência dequalquer homem. Nunca me desposarei com uma mulher de quem não possome desfazer uma vez acabada a fascinação e que, além disso, pode converter-

se em arpía. Rowland se afastou, deixando ao Brigitte sem saber o que fazer, jáque ele tinha esquecido por completo sua presença. Amélia lhe lançou um olhar 

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hostil, e ela se apressou a seguir ao normando. Ao caminhar, manteve a cabeçaerguida, ignorando a multidão de olhos curiosos. Sentiu-se completamentesozinha, mas se animou quando Wolff lhe aproximou, depois de derrotar aoúltimo galgo do Montville. Ao menos, seu mascote tinha brindado um espetáculodigno de admiração.

Luthor do Montville ficou de pé para receber ao Rowland, mas foiessa sua única manifestação ante a volta de seu herdeiro. Brigitte se sentiuaturdida frente a tão estranho encontro entre pai e filho. Nenhum dos dois sorriu,nem pronunciou uma palavra de afeto. Ambos permaneceram enfrentados, comexpressão impávida, ao parecer, mais adversários que amigos. observaram-seum a outro por um instante, estudando as mudanças que tinham tido lugar nesses seis anos.

Finalmente, Luthor se decidiu a falar.-Chega tarde.-Atrasaram-me.-Isso me informou GUI -assentiu Luthor com um marcado tom de

desagrado-. Deteve-te atender o leito de morte de um francês. Isso te pareceumais importante que o futuro do Montville?-O homem me salvou a vida. Só me levou uns poucos dias

averiguar se continuaria vivo.-E foi assim? -Sim.-Já saldaste sua dívida?Rowland assentiu com uma leve inclinação de cabeça, e isso

pareceu tranqüilizar a seu pai.-Bem. Não quero que nenhum ato de lealdade lhe além do

Montville um vez que tenha começado o conflito. Viajou sozinho com estacarga? -perguntou Luthor, assinalando ao Brigitte, mas sem dignar-se a olhá-la-.

Onde está seu escudeiro?-Perdi-lhe no sul -respondeu Rowland e logo, sorriu-. Mas esta

carga é muito competente.Luthor soltou uma estrondosa gargalhada, ao igual ao resto dos

homens. Amélia, quem já se somou ao grupo, apressou-se a formular umcomentário agudo.

-Não sabia que na França se acostuma a levar a uma prostitutacomo escudeiro.

Rowland se voltou para ela com uma pronta réplica, mas seu olhar caiu sobre o Brigitte e pôde notar as lágrimas que brilhavam nos claros olhosazuis da moça.

-Sinto muito, rapariga -disse-lhe com doçura.- Há muitas damasaqui que deveriam pertencer ao sob mundo.

O comentário suscitou mais de uma exclamação, inclusive a doBrigitte. Surpreendeu-lhe que Rowland saísse em sua defesa quando, faziaapenas um instante, ele mesmo a tinha ultrajado.

 Antes de que ela pudesse reagir, Amélia falou com rudeza.-Como te atreve a me insultar dessa forma, Rowland?O lhe lançou um olhar geada.-Se não poder tolerar os insultos, Amélia, evita formulá-los. Amélia se voltou imediatamente para o Luthor.

-Milord, seu filho não tem direito a me tratar desse modo. E não sóme ofendeu. O disse "muitas damas".

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-Já! Isso fez?. -Luthor deixou escapar uma breve risada, sem sair em defesa da Amélia, nem de suas próprias damas, que mastigavam suacrescente fúria em silêncio. O lorde se voltou para o Brigitte e perguntou: -Temnome a mulher?

-A mulher tem nome -respondeu a jovem com audácia-. Sou

Brigitte do Louroux, milord.Rowland franziu o sobrecenho.-Agora é Brigitte do Montville, minha serva.-Isso é discutível- declarou Brigitte com voz cortante. Logo, voltou-

se e caminhou com passo gracioso para o fogo, levando consigo ao Wolff.-Ja! -riu Luthor-. Entendo por que te demoraste.-Ainda tem que adaptar-se a seu novo amo. Até agora, não tem

feito mais que causar problemas.-Como conseguiu uma jovem tão bela e um animal tão esplêndido?-A moça foi dada pela força -respondeu Rowland brevemente - e o

cão a seguiu. Luthor estudou a jovem um instante.

-Essa mulher se comporta como uma dama. Juraria que é de berçoaristocrático. Possui certo ar de arrogância.O moço lançou um olhar penetrante a seu pai.-Não permita que ela te ouça dizê-lo, pai, porque é isso justamente

o que desejaria te fazer acreditar.-Quer dizer que a jovem afirma ser uma dama?-Sem dúvida, realizará enormes esforços para te convencer.Luthor franziu o sobrecenho.-Está seguro de que não o é?-Maldição! -exclamou Rowland-. Estou convencido! E já bastante

me atormentou a moça, assim não me você chateie com isso, velho.

-De maneira que velho, né? -grunhiu o lorde-. Te apresente nopátio ao amanhecer e veremos quem é velho. Rowland assentiu em silêncio.Não desejava repetir a antiga disputa.

Depois de informar-se a respeito dos preparativos para a batalhacontra Thurston do Mezidon, Rowland voltou o olhar para o Brigitte, quem seencontrava sentada frente ao fogo, de costas ao grupo. Sua magra mãoacariciava distraidamente a imensa cabeça do Wolff. Rowland se perguntou queestaria pensando a jovem enquanto contemplava o dançar das chamas. O queia fazer ele com essa pequena atrevida? por que insistiria ela em mentir arespeito de sua condição? Tinha-o tentado tudo, exceto jurar ante Deus. EmboraRowland sabia que Brigitte jamais se atreveria a fazê-lo, porque era uma jovemde fé. O tinha demonstrado ao ficar a lhe atender a ferida em lugar de escapar.Poderia lhe haver deixado morrer, mas não o fez. Talvez, não lhe odiava tantocomo afirmava.

O deteve uma criada e lhe sussurrou algo ao ouvido. Logo,observou-a aproximar-se do Brigitte, cuja imagem externa era incrivelmenteserena, embora em seu interior fervia de ira contida. A jovem já não seacreditava capaz de suportar muito mais tempo ao Rowland e sua arrogância.Sumida em suas reflexões, Brigitte não ouviu aproximar-se da criada e sesobressaltou quando esta lhe deu uma palmada no ombro.

-O que quer? -perguntou-lhe com rudeza.

Os olhos da criada se dilataram confundidos. A jovem não sabiacomo comportar-se frente a essa formosa mulher francesa que, mesmo que seusenhor a considerava serva, parecia pertencer à nobreza.

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-Sir Rowland lhe ordena te sentar com ele à mesa e comer antesde retirar-se a descansar -informou-lhe com nervosismo.

-isso quer, né? -Brigitte se voltou para o centro da sala paraencontrar ao Rowland observando-a, e sua fúria se intensificou.- Bom, pode lhedizer a esse mequetrefe arrogante que não estou disposta a me rebaixar me

sentando à mesa com ele!Os olhos da criada pareceram sair-se das órbitas.-Nunca poderia lhe dizer isso! Brigitte ficou de pé. -Então, farei-o

eu.-Por favor! Não o faça. Conheço-lhe e sei que se enfureceria, ama.Brigitte olhou à outra moça com expressão curiosa.-por que me chamou ama? A criada afundou a cabeça com acanhamento.-Me... pareceu-me adequado.Brigitte sorriu e, embora não o advertiu, seu sorriso deslumbrou a

vários espectadores.

-Tem-me feito muito bem. Qual é seu nome?-Meu nome é Goda.-Goda, sinto te haver tratado com rudeza. Jamais fui que os que

descarregam sua fúria contra a servidão, e oxalá o céu não permita que meconverta em alguém parecido ao Rowland.

-Reunirá-se com sir Rowland então?-Não. Mas pode me mostrar minha habitação. Só desejo um pouco

de intimidade.-Sim, ama -assentiu Goda com calma.Os olhos do Rowland seguiram ao Brigitte, quem abandonou a sala

com a criada. Recordou o sorriso que a jovem tinha brindado a Goda e, de

repente, sentiu enormes desejos de voltar a ver essa expressão, mas dirigida sóa ele.

"te olhe, Rowland", pensou o jovem, divertido. Está começando acortejar a uma serva!".

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18

Brigitte foi conduzida até uma pequena cabana para serventes,situada ao outro lado do pátio. O quarto não era muito melhor que a choça que

lhe tinham atribuído no Louroux, mas, ao menos, este contava com uma camade armar limpo e numerosas mantas. depois de guardar seus pertences em umvelho armário e limpar as telarañas da habitação, a jovem suplicou a Goda quea guiasse até o quarto de banho e lhe levasse um pouco de comida.

 A criada obedeceu sem protestar, pelo qual Brigitte se sentiuagradecida. Tinha chegado a sonhar com um banho quente e não lhe importouinundar-se na tina destinada à servidão. Já tinha quebrantado as regras ao pedir a Goda a comida, dado que a nenhum criado lhe estava permitido gozar dosprivilégios do serviço.

 Algo mais tarde, Brigitte se encontrava sentada na cama de armar,secando o cabelo, junto ao braseiro aceso que amavelmente Goda lhe tinha

proporcionado. de repente, Rowland abriu a porta sem chamar. Isso enfureceu a jovem, quem decidiu lhe ignore.-Conta a antecâmara com sua aprovação, rapariga? -perguntou ele

depois de um prolongado silêncio.-O que te traz por aqui, Rowland? -inquiriu a moça com tom

cansado.-Devi ver como te encontrava -respondeu ele. E ainda não me

respondeste.-O que pode importar se o quarto conta ou não com minha

aprovação? -perguntou Brigitte com amargura. -Sei que esta cabana é melhor que a que tinha no Louroux.

-Você não sabe nada! -vaiou a jovem.- Só o supõe porque me viuentrar ali.

-Imagino que agora me dirá que não era esse seu aposento noLouroux.

-Não é minha intenção te dizer nada -replicou a moça com pesar-.Falar contigo é como conversar com um muro de pedra.

Rowland ignorou o insulto.-Se esse não era seu aposento, Brigitte, então, por que entrou ali?-Porque sou obstinada. Ou acaso não o notaste?-OH, sim, claro que o notei -assentiu ele entre risadas.-Não é divertido, Rowland -arreganhou-lhe ela com tom severo-.

Me creíste uma serva devido a circunstâncias que eu mesma provoquei comminha obstinação.

-O que quer dizer?-Não acreditará nada do que te diga, e estou cansada de sua

incredulidade.O atravessou a habitação para deter-se diante do Brigitte. Então,

elevou-lhe o queixo com um dedo, forçando-a a suportar seu penetrante olhar.-Admite então que já é hora de que troque sua atitude? -perguntou-

lhe com voz suave.-Você joga comigo, Rowland, E não me agrada! -exclamou a jovem

com rudeza-. Jamais pensaria em te seduzir, embora fora esse meu únicorecurso.Rowland a tirou dos ombros e a atraiu para si.

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-me seduzir, joyita? Mas você já me seduziste. Tomou o rosto entreas mãos e lhe acariciou os lábios com um tenro beijo. Brigitte se surpreendeuante a agradável sensação que experimentou nesse instante e transcorreramvários segundos antes de que lhe detivera, lhe golpeando o peito, até que elepor fim se apartou.

-Se tivesse um pouco de decência, não submeteria a maisprazeres lascivos! -exclamou a jovem.-Ah, Brigitte, não cumpre com sua parte do jogo - disse Rowland

com um suspiro de decepção.-Não é minha intenção participar de seu jogo! -replicou ela,

indignada-. Pode me considerar sua serva, mas jamais poderá negar que erainocente até que você me tocou. E nunca serei sua prostituta!

-Só eu te tive, cheérie, e só eu te terei. Isso não te converte emuma prostituta.

-Para mim, sim!Rowland deixou escapar um profundo suspiro.

-O que terá que fazer para que seja mais complacente?-É uma brincadeira, não? -A jovem soltou uma risada irônica, e seseparou do moço para caminhar para os pés da cama e logo, voltar-se com osbraços em jarras e os olhos faiscantes de ira-. Primeiro, arrebata-me a inocênciae logo diz que não importa. Humilha-me e me obriga a te servir. Supõe acasoque lhe devo agradecer isso

-Maldita seja! -grunhiu Rowland-. Vim aqui para reparar os danos esó recebo reprimendas.

-Nunca poderá reparar o dano que me tem feito ...nunca!-Então, perco meu tempo. -Rowland se voltou e caminhou irado

para a porta. Ali, deteve-se para olhar ao Brigitte com expressão sombria.

-Farei-te uma advertência, mulher. Eu posso te fazer a vida agradável ouintolerável... não me importa já. Depende de ti modificar ou não seucomportamento, porque eu me estou cansando de sua obstinação.

Imediatamente, saiu e fechou a porta com violência. Brigitte sesentou na cama e um sentimento de autocompasión começou a embargá-la.Wolff lhe aproximou para lhe lamber o rosto.

-O que vou fazer, Wolff? -perguntou-lhe com desgosto-. Estehomem pretende que me renda alegremente e lhe sirva com um sorriso. Comopoderia fazê-lo? -Seus olhos azuis se encheram de lágrimas.- Odeio-lhe! Deviadeixar morrer! por que não o fiz? Devemos fugir deste lugar, Wolff, o antespossível!.

19

 Ao reunir-se com seu pai no pátio a cedo da manhã seguinte,Rowland continuava mal-humorado. A apenas um dia de sua chegada a casa, jáse via obrigado a demonstrar suas forças. Mas, não era essa a única razão quecausava a expressão séria de seu rosto. Amélia também tinha colaborado.

 A noite anterior, para ouvir os suaves golpes em sua porta, o moço

tinha acreditado que Brigitte tinha decidido desculpar-se e aceitar sua derrota. Asó idéia provocou nele uma forte corrente de excitação e, quando abriu a porta,seu rosto deu marcadas amostras de pesar.

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-Não, viaje pelo Loira desde o Orleáns até a confluência com o RioMaine. Logo, tomei um caminho direto para o norte.

-Passou pelo Angers então?O moço advertiu a repentina nota de alarme na voz de seu pai, e

franziu o sobrecenho.

-Sim, mas isso o que pode importar?-Não, não tem importância -respondeu Luthor, e logo adicionou:comecemos.

Rowland se encolheu de ombros ante o insistente interrogatório deseu pai, e se preparou para o desafio. Luthor estava acostumado a sobressair nessas demonstrações de força, mas só nos últimos anos anteriores a suapartida do Montville, tinha obtido o moço melhorar seu rendimento, o desejo dederrotar a seu pai sempre tinha obcecado, mas os meios para alcançar a vitóriase demoraram em chegar.

Os primeiros sons metálicos das espadas atraíram a outros até opátio. Os ruídos da batalha despertaram ao Brigitte, quem correu pressurosa

para a porta de seu quarto, temendo que Montville estivesse sendo atacado. A jovem soltou uma exclamação quando viu o Rowland e a seu pai emencarniçado combate. Imediatamente, colocou-se o manto de lã e correu para olugar da cena, sem sequer deter-se em subir o capuz para cobrir-se sua largacabeleira solta. deteve-se junto a dois soldados para observar com horror aoLuthor, que perseguia a seu filho com um e outro golpe de sua pesada espada,forçando ao moço a retroceder. Rowland não podia fazer mais que repelir osataques com sabre e escudo. Assim continuaram a luta até chegar ao extremofinal do pátio e, então, por fim o moço rechaçou com potência um golpe daespada do Luthor e começou seu próprio ataque, forçando a seu pai aretroceder.

-Quanto faz que começaram com isto? -sussurrou Brigitte a um dossoldados, sem apartar os olhos do Rowland.

-Não muito -respondeu o homem.Mas a luta durou até tornar-se interminável. O sol saiu e subiu pelo

céu, e a batalha continuou, violenta, sem a rendição de nenhum dos doiscombatentes. Brigitte se esgotou de só observar. Conhecia o enorme peso deuma espada de cavalheiro. Ela logo que podia levantar uma com ambas asmãos. A força física e a vontade que esse prolongado combate demandava, nãocessavam de admirá-la.

O espetáculo logo se voltou monótono, já que os homensatravessavam o pátio uma e outra vez, alternativamente, atacando oudefendendo-se. de repente, o ritmo se alterou, como se os dois combatentestivessem renovado suas reservas de energia. A espada do Rowland girourapidamente para o flanco do Luthor, mas, em um segundo, trocou de direção eo atacou pela esquerda. O golpe tomou ao lorde despreparado. Não elevou oescudo com suficiente rapidez, e a arma de seu filho lhe rasgo os suspensóriosda cota até internar-se no ombro.

 Ambos os homens se paralisaram. Brigitte supôs que a luta tinhafinalizado. Então, para seu completo assombro, Luthor começou a rir. Queclasse de gente era essa? No instante seguinte, o lorde despojou ao Rowlandde sua espada e pressionou sua própria arma contra o peito do moço.

Rowland arrojou seu escudo ao chão, admitindo em silêncio suaderrota, e Luthor baixou seu sabre.

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-Deveu ter contínuo depois de me ferir, Rowland -sugeriu o lordeentre risadas-, em lugar de te deter ver a gravidade no estado de seu inimigo.

-Se tivesse sido um inimigo real, velho, sem dúvida, teria contínuo-respondeu o moço.

-Então, talvez, devamos considerar esse fato e declarar um

empate. Sim... por uma vez, não teremos vencedor. Está de acordo?Rowland assentiu, esboçando um grande sorriso de satisfação.Logo, assinalou o ombro de seu pai e lhe sugeriu:

-Deve te fazer ver essa ferida.-Quase não sinto o arranhão -grunhiu Luthor.- Seus rasponazos

necessitarão os cuidados de sua preciosa donzela.O moço se voltou para encontrar o olhar atento do Brigitte. A moça

luzia encantada com o cabelo caindo desalinhado sobre os ombros, como raiosde ouro sob a luz do sol. Ela baixou timidamente os olhos e Rowland,hipnotizado, esqueceu seus doloridos músculos.

Mas, a estrondosa gargalhada de seu pai atraiu sua atenção.

-Devora a pobre jovenzinha com os olhos, moço -arreganhou-lhe-.Não pode aguardar até que estejam sozinhos?O moço se ruborizou.-Hoje me orgulhaste, Rowland -continuou Luthor-. É um filho digno

de respeito. Sim, foi um verdadeiro desafio com sua espada, e sei que sua feridaainda não está completamente curada. Aprendeu bem todos os meus ensinos emais ainda.

Rowland não soube o que dizer. Era essa a primeira vez que seupai lhe elogiava e, além disso, tão profusamente. Por fortuna, Luthor nãoesperou resposta alguma. voltou-se e caminhou para a casa, deixando ao moçolhe observando atônito. Seu pai tinha trocado. Talvez, estava-se fazendo velho

na verdade.Brigitte e Rowland ficaram sozinhos no pátio, uma vez que os

outros se partiram para a sala. -Tem-te aberto a ferida -arreganhou-lhe a jovem.O esboçou um sorriso conciliador.

-Não foi intencionadamente. Ocupará-te de curá-la?-Suponho que não terei mais remédio, já que não vejo que

ninguém se aproxime em sua ajuda- respondeu ela com tom severo.-por que está molesta? -perguntou Rowland com incerteza.-Por ti! -respondeu Brigitte, levando-as mãos ao quadril para adotar 

uma pose ofuscada-. E por essa tolice que acabo de presenciar!-Foi tão somente um esporte, cherie.-Isso não foi esporte. Foi uma loucura -replicou a moça com

veemência-. !Poderiam lhes haver matado um ao outro!-Não lutamos para matar, Brigitte -explicou-lhe ele com paciência-.

Não foi mais que uma prova de força. Acaso os franceses não acostumamprovar suas habilidades com a espada?

-Bom, sim -respondeu ela com relutância-, mas não tãoencarnizadamente. Vocês brigaram como se estivesse em jogo sua honra.

Rowland deixou escapar uma breve risada.-Em certa forma, assim foi. Nossas lutas são sempre encarniçadas

aqui. Luthor insiste em que seus discípulos sejam os melhores. Meu pai é um

perito guerreiro e para falar a verdade, nunca antes tinha durado tanto em umcombate com ele.

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-Mas foi uma luta igualada -fez-lhe notar a jovem-. Inclusive eupude adverti-lo. De fato, poderia havê-lo derrotado se não te tivesse detido.

-Dá-te conta de que me está elogiando, cherie? -mofou-se o moçocom um sorriso.

Brigitte se ruborizou com acanhamento.

-Eu... eu...-Vamos, vamos -interrompeu-a ele com fingida severidade-. Nãoarruíne o único elogio que ouvi que seus lábios com uma réplica mordaz. Seipiedosa, ao menos, por esta vez.

-Burla-te de mim, Rowland. E trocaste que tema segundo suaconveniência.

-Era um tema aborrecido- disse-lhe ele evasivamente. E alémdisso, já perdemos muito tempo aqui.

Começo a acreditar que tenta me reter discutindo aqui contigo parame debilitar com uma perda de sangue.

-Não é má idéia- demarcou Brigitte-. Mas vêem. Minha habitação

está perto. -Não, preciso me trocar de roupa, e tenho ataduras em minhaantecâmara. Você só me leve até ali.

-Necessita ajuda para caminhar? -perguntou ela.O assentiu.-Sinto que não posso mover um só músculo - grunhiu-. Mas se

você me dá a mão, cherie, seguirei-te aonde vá.-A mão, né? -repetiu a jovem com rudeza. Não sei se lhe quero dar 

issoRowland a tirou da mão bruscamente e começou a caminhar para

a mansão.

-Então, suponho que você deverá me seguir -disse-lhe, ao tempoque a arrastava até a casa.

 A antecâmara do Rowland se achava em uma completa desordem,e os olhos do Brigitte voaram de um a outro armário aberto, as roupasdisseminadas, a cama desfeita e o tapete espremido. Uma grosa capa de pócobria a mesa de mármore e uma pequena cadeira e os muros estavamenegrecidos com fuligem.

-Seriamente dorme aqui? -perguntou ela com expressão enojada.O moço sorriu.-A habitação esteve desocupada durante muitos anos e levava

pressa esta manhã quando a deixei. Acredito que não te levará muito tempoordená-la.

-Eu? -exclamou ela, e se voltou para olhá-lo. Rowland deixouescapar um suspiro.

-Por favor, Brigitte, não comece de novo com isso. É muito te pedir que satisfaça algumas de minhas necessidades?

 A jovem titubeou. Rowland pedia, não ordenava, e isso erasuficiente, ao menos no momento.

Uma vez finalizados as vendagens, Brigitte se dirigiu por volta deum dos armários. Rowland sorriu. encontrava-se a sós com a moça e, por umavez, Wolff não se achava presente. Inclusive, ela parecia estar de bom humor.

-Que cor acredita que poderia me sentar bem, cherie?-O azul, sem dúvida, e possivelmente o castanho escuro. Acreditoque o castanho escuro ficaria muito bem.

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-Então, não te importará me fazer uma ou duas túnicas novas,verdade? Tenho tão pouca roupa...

-Não conseguirá me enganar com esse olhar inocente. Costurareipara ti, só para provar que sou capaz de fazê-lo. Mas não cria por isso queaceitarei ser sua amante.

Uma vez selecionada a velha túnica torrada e finalizados asvendagens, a jovem se dispôs a partir. Mas o moço a deteve.-Não quero que te parta ainda.-por que? -perguntou ela, elevando a voz.-Brigitte, te tranqüilize e deixa já de te escapulir para a porta. Não

vou violar te. -Exalou um profundo suspiro-. Seriamente me tem tanto medo?-Sim -respondeu a jovem com franqueza. O franziu o sobrecenho.-fui muito rude contigo antes? Ao ver que ela não respondia, Rowland prosseguiu.-Considera-me um homem cruel, Brigitte?-foste muito cruel -voltou a responder a jovem com franqueza-.

Suas maneiras deixam muito que desejar, Rowland, e é muito irascível.-Também você -fez-lhe notar ele. Brigitte sorriu.-Sei. Tenho muitos defeitos. Sou consciente deles. Mas estávamos

discutindo os teus, os quais parece não advertir.O moço elevou uma mão para lhe acariciar a bochecha.-Por ti, estou disposto a mudar.Produziu-se uma larga pausa de surpresa, e logo a jovem

perguntou:-por quê?-Para verte sorrir com mais freqüência.-Tenho poucas razões para sorrir, Rowland -asseverou ela

sinceramente.-Prometo-te que logo as terá.Brigitte se apartou, e seus olhos começaram a obscurecer-se com

indignação.-Está jogando comigo?-Não, sou sincero -assegurou-lhe Rowland com doçura.Imediatamente, inclinou-se para beijá-la; primeiro, brandamente

para não atemorizá-la e logo, com maior intensidade. Ela estava seriamenteaterrada e tratou de lhe apartar. Mas Rowland não a liberou, mas sim a rodeoucom os braços para estreitá-la com força. Quando os seios da jovempressionaram contra seu peito, o moço se sentiu morrer. Essa moça avivavaseus sentidos, mas não cessava de lhe rechaçar. Com os lábios, acariciou-lhe adelicada curva do pescoço.

-Ah, Brigitte, desejo-te -sussurrou-lhe ao ouvido.-Rowland, prometeu que não me violaria -balbuciou a jovem, sem

fôlego, enquanto lutava para soltar-se.-me deixe te amar -murmurou ele com voz rouca-. Me deixe,

Brigitte.Beijou-a antes de que ela pudesse resistir, mas a moça por fim

conseguiu liberar-se.-Rowland, faz-me mal! -exclamou.

O moço se inclinou para observá-la e pôde ver os machucados deseus delicados lábios.-Maldição, Brigitte! por que é tão frágil? - queixou-se.

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-Não posso evitá-lo -respondeu ela com voz trêmula-. Fui criadacom doçura. Minha pele é sensível e não está habituada a semelhantetratamento.

Rowland lhe elevou o queixo e lhe roçou brandamente os lábioscom um dedo.

-Não foi minha intenção te machucar -murmurou com ternura.-Sei -admitiu Brigitte-. Mas está tratando de me forçar:O moço sorriu com certo remorso.-Não posso evitá-lo.O comentário enfureceu à moça.-Ousa acaso me culpar novamente? Esta vez, minhas roupas não

estão molhadas nem aderidas a meu corpo.-Não.-Então, me diga o que fiz, para me assegurar de não voltar a fazê-

lo jamais! -exclamou Brigitte com veemência.Rowland soltou uma estrondosa gargalhada.

-Ah, joyita, é tão inocente! O mero feito de te ter perto me excita. Acaso não sabe que é muito formosa?-Deverá te manter afastado, então.-OH, não, Brigitte -recusou-se ele, sacudindo a cabeça lenta mas

obstinadamente-. Você é o que todo homem deseja, mas só pertence a um: amim. Jamais me afastarei de ti.

-Eu não te pertenço, Rowland. -A jovem lutou até soltar-se eretrocedeu uns poucos passos-. E nunca te pertencerei.

O moço se golpeou a coxa com um punho.-por que me odeia tanto? -bramou com desespero.-Você sabe por que.

-Prometi que mudaria.-Isso disse, e imediatamente depois, voltou a tomar pela força. Não

posso acreditar em sua palavra. -É muito severo ao me julgar, Brigitte. O queaconteceu faz apenas um instante esteve fora de meu controle.

-Quer dizer que devo viver com um constante temor então? Desejosabê-lo agora, Rowland.

O franziu o sobrecenho. Não podia afirmar sinceramente que jamais voltaria a forçá-la, porque, embora não o queria dessa forma, sabia-seincapaz de controlar-se frente a essa moça. Mas, maldição, tampouco desejavaaterrá-la e lhe irritava que ela pudesse lhe temer.

-E bem, Rowland?O moço se voltou, perturbado.-Não me pressione, mulher! -bramou.Os olhos do Brigitte lhe buscaram suplicantes.-Devo conhecer a resposta.-Terei que pensá-lo. Agora, vamos -ordenou-lhe com rudeza-. É

hora de comer.

20

 A sala não se achava muito concorrida essa manhã, mas Luthor seencontrava ali e requereu a presença do Rowland a seu lado.

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Brigitte se dirigiu para uma imensa habitação próxima ao fogo,onde se armazenavam e preparavam os mantimentos. guardavam-se ali todosos utensílios de cozinha: caldeirões de ferro e couro, vasilhas de sal, gavetas depão. Os copos e jarras de prata se achavam empilhados sobre umas prateleirase em uma imensa despensa, as marmitas de lata e ferro, e os pratos de madeira

e chumbo. Os frascos de especiarias se encontravam alinhados sobreprateleiras e, na parte traseira da habitação, estavam acumulados os barris degrãos. junto à entrada, uma gigantesca mesa se achava repleta de queijo e pãofresco, e a seu lado borbulhava um imenso caldeirão de cidra.

Sem esperar ordens, Brigitte serviu uma enorme porção de pão equeijo ao Rowland, mas, uma vez depositado o prato frente ao moço,abandonou-o imediatamente para sentar-se junto ao fogo, onde a servidãorecebia a comida. Era comida de serventes, mas não lhe importou: sentia-semuito perturbada para preocupar-se com o alimento.

Logo que Rowland se partiu da sala, Brigitte pediu a Goda umpouco de sabão e artigos de limpeza e se dirigiu pressurosa à antecâmara do

homem. Passou ali o resto do dia, esfregando e ordenando. As roupas donormando eram escassas, mas seus armários estavam repletos de valiosospertences: fina baixela de cristal, jóias e ouro, tapeçarias de desenho oriental etanta quantidade de tecido, que a jovem se perguntou se planejaria converter-seem comerciante.

Uma vez que Brigitte teve finalizado a tarefa, a habitação setransformou em um lugar atrativo e acolhedor. As peles que cobriam as janelasa protegiam do frio, de uma vez que permitiam o passo da luz. Sobre o chão,estendia-se um imenso tapete fabricado com retalhos de pele, muito maisconfortável e original que as comuns esteira de junco. A gigantesca cama tinhatravesseiros de plumas, lençóis de linho e um grosso edredom.

Brigitte deixou os cuidados do leito para o final, receava aproximar-se. Não podia evitar perguntar-se quanto tempo transcorreria antes que se visseforçada a dormir ali. Esse era o desejo do Rowland e ele não se preocupou emdissimulá-lo.

 Ao diminuir a luz e aproximá-la hora de retornar à sala, a moçacomeçou a sentir-se inquieta. Tinha-lhe resultado mais fácil combater aonormando durante a viagem. Tinha aceito sua rudeza, refugiando-se em seuspróprios arrebatamentos de ira. Mas Rowland se via diferente agora, cuidadosode não machucá-la. Isso tinha conseguido derrubá-la, posto que já não sabiacomo comportar-se.

 Ao retornar à sala, Brigitte já tinha tomado uma decisão. Até anatureza se encontrava em seu contrário, mas isso não podia remediar-se.Preferia arriscar-se a morrer congelada durante a fuga, antes de permanecer noMontville para satisfazer os caprichos do Rowland.

Quando entrou no grande salão, a moça advertiu que ele aindanão se apresentou. Imediatamente, serve-se um prato de comida e se sentousobre um banco vazio de um rincão, esperando terminar antes da chegada donormando. Serviria a maior brevidade possível, para logo retirar-se a suahabitação. Se o que ele havia dito era certo, e ela o tentava com sua meracercania, então só o lhe subtraía uma noite de inquietação, já que estavadisposta a partir pela manhã.

Wolff se encontrava jogado junto à mesa do lorde. O mesmo Luthor lhe arrojava partes de carne e outras sobras, mas quando o cão advertiu apresença de sua ama, levantou-se para aproximar-se o e ela o recebeu com um

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sorriso. Outro galgo se aproximou, atraído pelo aroma a comida, mas Wolf nãodemorou para lhe afugentar.

 A moça se inclinou para acariciar a cabeça de seu mascote.- Vejo que o mesmo lorde se preocupa em te mimar. Mas não te

afeiçoe muito com este lugar, já que logo nos partiremos.

O cão lhe lambeu a mão e ela franziu o sobrecenho.-Esta vez, não me fará trocar de opinião, Wolff. Muito tarde,advertiu Brigitte que se encontrava falando em voz alta, e elevou o olhar imediatamente, mas só Wolff se achava a seu lado. Olhou por volta do centro dasala para ver se Rowland tinha entrado durante esse instante de distração, masainda não se apresentou para jantar.

 À mesa do lorde, encontrava-se sentado um arrumado cavalheiro,a quem a jovem nunca antes tinha visto. Os olhos do Brigitte se posaram sobreo jovem durante um instante, mas ele percebeu o olhar e a correspondeu comum sorriso nos lábios. Em seguida, incorporou-se e se aproximo da moça.

-Milady. -Realizou uma pronunciada reverência frente a Brigitte-.

Sou sir GUI do Falaise. Não me informaram que tínhamos convidados. A jovem conhecia de nomeie ao cavalheiro. Era o vassalo doLuthor que tinha sido enviado em busca do Rowland para levar o de retorno acasa.

-Acaso ninguém te há dito quem sou, sir GUI? - perguntou ela comtom amável.

-Acabo de retornar de uma ronda de vigilância, lady explicou GUI,e logo sorriu-. Mas esta sala jamais se viu agraciada por tanta beleza. Foi umverdadeiro descuido do Luthor o não mencioná-la-. Seus olhos verdes cintilaramao contemplar a jovem.

-São muito amável -comentou Brigitte com acanhamento.

-me digam -prosseguiu ele com um sorriso- qual é o nome dedama tão encantadora?

 A moça vacilou. GUI a tinha acreditado uma dama de um princípio.por que haveria então de lhe ocultar a verdade?

-Sou lady Brigitte do Louroux -respondeu com calma.-Quem é seu senhor? Pode ser que lhe conheça.-O conde Arnulf do Berry é meu senhor agora -apressou-se a

informar ela, como se ninguém pudesse ser capaz de duvidá-lo.-Vinísteis aqui com ele?-Não.-OH, não me dirão que tem um marido que a trouxe até aqui -disse

GUI com evidente decepção.-Não estou casada -respondeu Brigitte, e logo decidiu revelar toda

a verdade-. Sir Rowland me trouxe aqui contra minha vontade.O arrumado rosto do cavalheiro deu marcadas amostras de

surpresa e confusão.-Rowland? Não compreendo.-É muito difícil de explicar, sir GUI -afirmou Brigitte algo inquieta.O se sentou a seu lado.-me devem contar isso Se Rowland a raptou...-Rowland não é totalmente culpado -admitiu ela com relutância-.

Verão, meu pai foi barão do Lauroux e logo meu irmão lhe aconteceu. -Contouao GUI toda a história, e o moço a escutou, absorto, até que ela teve terminado.

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-Mas Rowland não é tolo -protestou GUI-. Sem dúvida, pode notar que vocês são uma dama, sem importar o que Druoda lhe tenha contado.

Brigitte exalou um suspiro.-Aconteceram muitas coisas que lhe fizeram acreditar na palavra

da Druoda em lugar da minha.

-Alguém deve forçar ao Rowland a precaver do engano quecometeu -afirmou GUI com veemência.-Tentei-o, sir GUI, seriamente, mas tudo foi inútil. Rowland me quer 

como servo, e acredito que prefere ignorar a verdade porquê esta não lheconvém. -GUI se surpreendeu porque o comentário era uma precisa descriçãodo temperamento de seu amigo.

 A gigantesca porta da sala se abriu para dar passo ao Rowland.Brigitte se incorporou imediatamente, já não muito segura de ter feito o correto.Mas, depois de tudo, que tinha feito ela a não ser contar a verdade? E sir GUIparecia acreditá-la. O poderia converter-se em seu paladín. –

Rowland chegou -informou a moça a seu novo amigo-. Devo lhe

servir a comida.GUI ficou de pé, indignado.-Não, lady Brigitte. Vocês não devem trabalhar como uma vulgar 

serva.-OH, claro que sim -respondeu ela-. Do contrário ele me golpeará.O rosto do GUI avermelhou de ira, ao tempo que a moça se voltou

e se afastou pressurosa. Encheu um imenso prato com chouriços, salsichas ecarne, e voltou o olhar bem a tempo para ver a efusiva saudação do Rowland ea fria resposta de seu amigo.

Brigitte levou a comida e o ale do Rowland até a mesa do lorde, jogando breves olhadas por volta dos dois homens, que já tinham iniciado uma

acalorada discussão. A disputa atraiu a atenção de muitos na sala, e a moça começou a

sentir-se inquieta. Se tão somente pudesse ouvir o que estavam dizendo! Masnão tinha o suficiente valor para aproximar-se.

-Que ardil tramaste, mulher?Brigitte conteve a respiração e se voltou para o Luthor.-Não sei a que lhes referem, milord -respondeu-lhe com firmeza,

mas sem atrever-se a lhe olhar.-Vi-te falando com meu vassalo, e agora ele está discutindo com

meu filho. Esses dois são bons amigos, moça. Nunca antes haviam renhido.-Eu não fiz nada que deva lamentar -replicou Brigitte

obstinadamente, ao tempo que depositava o prato sobre a mesa.Luthor se incorporou e fez a um lado à moça.-Seja o que for, espero que o que tem feito não provoque um

desafio. Não me agradaria perder um bom homem justo em vésperas de umabatalha.

-Isso é tudo o que seu filho significa para você? Um bom homemque possa brigar por sua causa?

-Estou falando de sir GUI, mulher, já que não há nenhuma dúvidade quem seria o vencedor. Se acreditasse que meu filho poderia estar em perigopor sua culpa, já te tivesse esfolado viva, dama ou não.

Os olhos do Brigitte se dilataram. Luthor conhecia a verdade!Maldição! Esse homem sabia que ela era uma dama e, entretanto, não estava

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disposto a impedir que seu filho a humilhasse, até consciente da injustiça queisso implicava.

-São desprezível! -vaiou a jovem, ofuscada. Sabem que sou umadama e, mesmo assim, permitem que seu filho me trate como a uma serva.

Luthor soltou uma breve risada.

-Isso não tem importância para mim. Rowland afirma que é umaserva e eu o aceito. Não estou disposto a contrariá-lo.-Mas ele está equivocado! -exclamou ao jovem.-me compreenda, rapariga. Todo homem necessita um filho que

lhe aconteça depois de sua morte. Mas eu além disso necessito ao Rowland ameu lado para brigar por meu feudo. Esse moço é motivo de orgulho para mim.Faz uns anos, estive a ponto de lhe perder por uma tolice, e só esta batalhapreparada contra meu filho político o trouxe de volta. Mas agora ele está aqui, enão me arriscarei a lhe perder uma vez mais.

-Brigitte! A jovem se estremeceu ante a ensurdecedora chamada, e se

voltou para ver o Rowland, que lhe aproximava com o rosto vermelho de ira.Brigitte sentiu que os joelhos lhe tremiam.-Ah, rapariga -disse Luthor quase com tristeza- Temo-me que

lamentará o que seja que afirma não ter feito.Lhe lançou um olhar fulminante.-E também permitirão que me golpeie, não é assim?-Você não é minha responsabilidade, moça -respondeu o ancião,

apartando-se.-Não te refugie junto a meu pai, mulher -grunhiu Rowland-. ele não

te ajudará.Brigitte falou com calma, em um desesperado tento de ocultar seu

pânico.-Jamais esperei que o fizesse. Já me há dito que aprova tudo o

que faça.-Então seriamente foi em sua ajuda?-Não, Rowland -interveio Luthor-. A moça não veio a mi. Eu lhe

falei primeiro.-Não a defenda, pai -advertiu-lhe o moço com frieza.O lorde vacilou apenas um instante e logo partiu, deixando

sozinhos aos jovens. Rowland tomou o braço da moça e ameaçou golpeando.Brigitte se aterrorizou, mas em lugar de apartar-se, jogou-se para ele e, tomandoda túnica, estreitou seu corpo com força, até sentir o calor do firme e musculosopeito.

-Se for me castigar, Rowland, utiliza o látego - suplicou-lhe- Nãopoderia sobreviver a um golpe de seu punho, não quando está tão furioso.Matará-me.

-Maldita seja! -grunhiu ele, tratando de apartá-la. Mas Brigitterecusou soltar-se.

-Não! Está ofuscado e não é consciente de sua própria força.Mataria-me com seus punhos. É isso o que quer?

-te aparte, Brigitte -ordenou-lhe Rowland com tom severo, emborasua ira já tinha começado a dissipar-se. Brigitte percebeu a mudança em sua

voz; logo, percebeu também a alteração de seu corpo e lhe viu um estranhobrilho nos olhos. Um temor substituiu a outro no interior da jovem e se apartouimediatamente.

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-Não... não quis me jogar em seus braços dessa forma -desculpou-se com vacilação.

Rowland deixou escapar um suspiro.-Vá a sua habitação. Por hoje já causaste suficientes problemas

aqui.

-Não foi minha intenção te causar dificuldades -murmurou ela comtom moderador.Mas, os olhos do Rowland se obscureceram e todo seu corpo

voltou a ficar tenso.-Sai de minha vista, mulher, antes de que troque de opinião!Brigitte chamou o Wolff e partiu pela porta que conduzia ao

estábulo. Uma vez fora da sala, estremeceu-se. O que lhe tinha encolerizadodessa forma? Que lhe haveria dito GUI na disputa?

 Ao passar junto às cavalariças, advertiu que o corcel do Rowlandse encontrava em companhia de outros quatro que ela não recordava ter visto jamais. Sem dúvida, esses cavalos pertenciam a sir GUI e a seus companheiros

de patrullaje. Mas Luthor comandava a muitos homens. perguntou-se ondeguardariam os outros animais, mas decidiu não averiguá-lo. Só lhe preocupavater um corcel disponível quando chegasse o momento de escapar.

cobriu-se com o manto e o capuz antes de atravessar o pátio parasua pequena choça. Não tinha nevado esse dia, mas o ar estava gelado. Comesse clima, a fuga lhe resultaria difícil. Entretanto, já estava decidida, e nada afaria trocar de opinião.

Sua habitação se achava fria e escura, e não haveria braseiro paraenfraquecê-la essa noite. Sem brasas nem velas. Tão valiosos artigos nuncaeram esbanjados com os serventes. Brigitte não teve mais alternativa que deitar-se. Ao menos, sentiria-se mais cômoda na cama. Não se tirou a roupa, já que

não desejava perder o tempo em vestir-se quando chegasse a hora de escapar.Ouviu o Wolff mover-se na escuridão e lhe falou com rudeza.-Fica aquieto e dorme enquanto possa, porque não

descansaremos nem um instante uma vez que não tenhamos escapado destelugar. E isso ocorrerá muito em breve, meu rei.

21

Várias horas mais tarde, depois de colocar-se outras duas túnicaspara proteger-se contra o frio e tomar todas as mantas da habitação, Brigitte sedirigiu para o estábulo em companhia do Wolff. Tinha decidido não ir em buscade comida, por temor a que alguém a visse rondando pela sala. Sem dúvida,seu mascote poderia prover mantimentos para ambos, e ela ainda conservava apedra de luz que Rowland lhe tinha dado no bosque.

Por fortuna, os quatro cavalos estranhos se encontravam ainda noestábulo; desse modo, não se veria forçada a tomar o imenso corcel donormando. Huno era muito grande para ela e, pior ainda, Rowland jamaiscessaria de procurá-la se se levava seu prezado animal, porque um cavalo deguerra era muito mais valioso que qualquer servo.

Os outros quatro corcéis não eram tão gigantescos, e um deles, de

cor castanha, não retrocedeu assustado quando a moça se aproximou paraselá-lo. Com seus pertences sujeitas à arreios e as rédeas na mão, Brigittecaminhou cautelosamente para a escuridão do pátio. Então começaram seus

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verdadeiros temores. Sabia que a maioria das mansões contavam com outromeio de acesso, além da entrada principal vigiada por guardas; mas encontrá-loseria uma tarefa difícil, já que, sem dúvida, dita porta deveria estar oculta nomuro. Louroux tinha um túnel secreto para casos de sítio, mas só uns poucos nacasa conheciam tal passadiço.

-Vamos, Wolff -sussurrou a jovem-. Devemos descobrir como sair desta fortaleza. me ajude a encontrar uma porta, Wolff... uma porta. Mas semfazer ruído.

Iniciou a busca junto às choças dos serventes e se dirigiu sigilosapara a parte traseira da mansão. Ali encontrou os currais de animais e umgigantesco refúgio. perguntou-se se guardariam aí o resto dos corcéis, masdecidiu não investigar. Continuou caminhando lentamente com o passar domuro, conduzindo consigo ao cavalo, ao tempo que Wolff lhes adiantava dandosaltos.

Uma vez que tiveram percorrido sem êxito a metade do círculo, ainquietação da jovem se intensificou. Começou então a considerar a

possibilidade de atravessar a entrada dos guardas. Tinha que apressar-se. Senão se apresentava na mansão depois de umas poucas horas, Rowland seriainformado de sua fuga e sairia em sua busca. Necessitava cada instante danoite para afastar-se da casa tanto como o fora possível e evitar assim que onormando pudesse lhe seguir o rastro.

Wolff ladrou, e Brigitte conteve a respiração, temendo que osoutros galgos começassem a uivar e despertassem a toda a mansão. A moçacorreu nervosa para seu mascote e, então, respirou com alívio quando viu aporta. Esta se achava trancada, mas depois de várias sacudidas, a barra selevantou e a entrada se abriu facilmente.

Foi então quando as esperanças do Brigitte voltaram a frustrar-se.

 Ao outro lado da porta, estendia-se um muro de pedra do menos um metro dealto. Embora não era isso o pior: na base dessa parede rochosa, havia umaestreita berma de terra, seguida de um íngreme ravina de uns cinco ou seismetros de comprimento, talher de um grosso manto de neve. Que passadiço tãoestupendo! Como diabos obteria que o cavalo descendesse por esse declivesem romper o pescoço? Entretanto, teria que tentá-lo. Maldição! Não tinha maissaída!

Sem soltar as rédeas do corcel, a moça descendeu até a berma elogo, voltou-se para chamar o Wolff. O cão olhou alternativamente a suaproprietária e à vasta saliente de terra, mas permaneceu imóvel.

-Se eu pude fazê-lo, você também poderá -asseguro-lhe ela comtom severo-. Só o cavalo terá dificuldades para obtê-lo.

Wolff avançou com cautela até o oco da entrada e, depois devacilar apenas um instante, saltou. Aterrisso na metade do ravina, deslizou-seuns quantos metros e detrás recuperar novamente o equilíbrio, correu até abase do declive.

 Ao ver os repetidos tombos do cão, Brigitte se sentiu desolada.Que oportunidade de descender teria então o cavalo? O salto poderia lheromper uma pata. Entretanto, necessitava o corcel. Sem ele, jamais poderiachegar ao Ile-do France.

-Vamos, meu lindo corcel -insistiu-o a jovem com doçura, ao tempo

que atirava das rédeas. Conseguiu arrastá-lo até o bordo da entrada, mas oanimal soltou um bufo e retrocedeu-. Vamos te animem. Deslizará-te durante a

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maior parte do caminho. nos mostre o valor que os normandos infundem a umcavalo de guerra tão esplêndido como você.

Porém, o animal recusou a mover-se, e ela não era osuficientemente forte para forçá-lo. Brigitte se deixou cair sobre a berma,desesperada-se. O que poderia fazer agora? Se partia a pé, Rowland não

demoraria para encontrá-la.Então Wolff voltou a subir pelo ravina para deter-se seu lado. Ocão se via excitado, preparado para partir.

 A moça deixou escapar um suspiro.-É inútil, meu rei. O cavalo não se moverá. Talvez, ele é mais

inteligente que eu e sabe que não conseguirá saltar. -ficou de pé, mas afundouos ombros, desalentada. -Trataremos de enganar aos guardas. Não prevejomuito êxito ali, mas enfim, retornemos à fortaleza. Devo tentá-lo -concluiu comum suspiro.

Wolff saltou através da entrada com facilidade. Um segundo maistarde começou a mordiscar as patas traseiras do corcel, e Brigitte soltou as

rédeas e se apartou bem a tempo para permitir o passado do cavalo para ovazio. A moça observou sobressaltada ao animal deslizar-se pelo ravina,seguido pelo Wolff. Ao chegar à base do declive, o corcel se incorporou e,simplesmente, dispôs-se a aguardar.

Brigitte não podia acreditar o que tinha visto. Em seguida, deslizouos dedos por debaixo da porta para fechá-la e se deixou cair pelo ravina. Aochegar à base, rodeou ao Wolff com os braços e o estreitou com todas suasforças.

-É magnífico -sussurrou-. Absolutamente magnífico! Ah, meu rei,salvaste-me. Agora, nos afastemos deste lugar!

Examinou brevemente ao cavalo e se deteve um instante para

tranqüilizá-lo e adulá-lo, antes de subir-se à arreios e insisti-lo a empreender amarcha. O corcel se lançou a tudo galope através das pradarias que rodeavam afortaleza do Montville. A moça se sentiu voar com o vento, alvoroçada, e umavez longe da mansão, riu alegremente com alívio.

Tinha-o obtido! Rowland jamais poderia alcançá-la. Não importariase a seguia durante todo o caminho até o Ile-do France, posto que, uma vez ali,Brigitte contaria com o amparo do rei. Lothair a recordaria, ou se não a ela,então a seu pai. E se Rowland ousava impor seus direitos frente ao rei, veria-seforçado a explicar suas razões. Não, já nada poderia detê-la.

O resto da noite pareceu voar e, antes de que Brigitte o advertisse,o céu se esclareceu com a luz do amanhecer. O sol não saiu para derreter aneve, mas sim permaneceu oculto depois de uma espessa cortina de nuvens.Mesmo assim, o pálido reflexo foi suficiente para permitir à moça uma perfeitavisão da desolado paragem e manter-se afastada de uma fortaleza que quaseinvestiu a seu passo. Rodeou-a com cautela, sabendo que não podia confiar emnenhum normando.

Tivesse-lhe sido mais fácil dirigir-se para o sul, dado que essa rotalhe resultava familiar. Porém, Paris e a corte do rei se encontravam para o estee chegaria ali muito antes se viajava sem desviar-se nessa direção, mesmo quenão conhecesse o caminho.

O sol já se elevou no céu quando Brigitte se deteve em um denso

bosque para permitir o descanso dos animais. Entretanto, a pausa foi muitobreve. Tentou acender uma pequena fogueira para esquentar-se durante unsminutos, mas tudo os ramos que encontrou se achavam úmidas. Atou algumas

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lenhas para levar-se consigo, esperando que o vento as secasse durante ocaminho, e continuou a viagem.

Deixaram atrás o bosque e atravessaram uma extensa pradaria.Brigitte conseguiu evitar uma vasta zona pantanosa que tivesse diminuído suamarcha, mas não teve sorte quando se topou com uma imensa arvoredo que se

estendia a ambos os lados da terra e não pôde a não ser penetrá-la. Ao cair anoite, ainda não tinha chegado ao outro extremo do bosque e a escuridão lheimpossibilitou continuar a viagem, por isso se viu forçada a acampar.

Esta vez, conseguiu acender uma pequena fogueira com os ramosque tinha carregado consigo. Uma vez que o fogo esteve preparado, enviou aoWolff em busca de alimento e, depois de retirar a arreios do cavalo e cobri-locom uma manta, sentou-se frente às chamas a descansar.

Seus pensamentos se centraram ao redor de uma vívida imagemdo Rowland. Era um homem de esplêndida figura, robusto e arrumado. Tudopoderia ter sido diferente se lhe tivesse acreditado no abandonar Louroux e ativesse levado até o conde Arnulf. Então, Brigitte se teria formado uma melhor 

opinião do normando, até poderia haver-se sentido atraída pelo moço, em quepese a sua incrível rudeza.Porém, as circunstâncias a tinham conduzido por um caminho

diferente. O ódio era um sentimento novo para a moça e não lhe agradavaexperimentá-lo. Nunca antes havia-se sentido assim, nem sequer frente aDruoda. Detestava o que essa dama lhe tinha feito, mas não odiava à mulher.por que Rowland despertava um sentimento tão intenso em seu interior?

De repente, ouviu o som de algo que se aproximava e conteve arespiração, até que Wolff apareceu por entre a maleza. O cão tinha apanhadouma excelente presa e Brigitte se apressou a preparar a comida, para logorecostar-se junto ao fogo. dormiu quase instantaneamente, com o Wolff 

acurrucado a seus pés. Entretanto, não transcorreu muito tempo antes de que orouco grunhido de seu mascote despertasse. De repente, o animal se equilibroupara a escuridão do bosque e se perdeu de vista.

Brigitte lhe ordenou que retornasse, mas Wolff não obedeceu. Asbaixas chamas do fogo lhe indicaram que tinha dormido aproximadamente umahora. Permaneceu sentada com os braços ao redor dos joelhos e o olhar fixo nadireção em que tinha desaparecido Wolff, perguntando-se que classe de bestapoderia ter atraído a seu mascote.

Havia ursos selvagens nesses bosques? Conforme acreditava,Wolff jamais se enfrentou a um inimigo tão temível. Sua inquietação aumentouquando já não pôde ouvir os movimentos do cão na distância. Chamou-o uma eoutra vez, mais e mais forte. ficou de pé e começou a passear-se por todo oacampamento, até que se deteve abruptamente e se arreganhou por dar rédeasolta a sua imaginação. Sem dúvida, Wolff retornaria.

Uma vez mais, sentou-se junto ao fogo e, para demonstrar quãoridículos tinham sido seus temores, o cão retornou saltando ao acampamento.Brigitte deixou escapar um suspiro de alívio, mas seus medos se reanimaramquando advertiu que Wolff não estava sozinho. Outro galgo o seguia e, maisatrás, um cavalo.

 A moça reconheceu ao corcel antes de identificar ao cavaleiro. Aliestava Rowland, sentado com o corpo rígido sobre seu prezado Huno, sem

armadura, com uma grosa capa de pele que lhe cobria a túnica.Brigitte se sentiu muito surpreendida para falar, muito aturdida paramover-se, mesmo que o homem desmontou com uma pesada soga firmemente

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sujeita na mão. A jovem observou imóvel ao normando, quem chamou o Wolff aseu lado e esse crédulo tolo obedeceu. O cão nem sequer tentou apartar-sequando Rowland lhe atou a soga ao pescoço e, logo, sujeitou-a a uma árvorelongínqua. Tudo estava acontecendo ante seus olhos, mas Brigitte quase nãopodia acreditá-lo.

O galgo que tinha chegado com o normando encontrou os restosde carne e começou a devorá-los. A moça observou ao cão durante váriossegundos e, de repente, todo lhe esclareceu. Assim tinha obtido Rowlandencontrá-los! O galgo os tinha rastreado!

 A jovem voltou o olhar para o Rowland, quem acabava de sujeitar ao cão junto à árvore. Era evidente a razão pela qual ele tinha pacote ao animalantes de pronunciar uma palavra; seus planos eram tão maléficos, que nãopodia permitir 1a liberdade do Wolff. Ante semelhante ideia, Brigitte correu paraseu corcel como se disso dependesse sua vida.

Mas já era muito tarde. Seu manto foi sujeito com firmeza e, depoisde deter-se, a moça se voltou novamente para o fogo. Caiu ao chão com força e

se raspou as mãos. Wolff começou a grunhir, e Brigitte tratou de conter aslágrimas que já começavam a aparecer em seus olhos. Viu então as botas doRowland a seu lado. Elevou o olhar e advertiu que as mãos do homemcomeçavam a desabotoar seu cinturão. Elevou ainda mais o olhar e, aoobservar a severo expressão no rosto do normando, empalideceu.

antes de que Brigitte pudesse encontrar uma palavras de súplica, ocinturão do Rowland descendeu sobre suas costas. A moça chorou e gritou.Então, ele repetiu o golpe, e ela voltou a gritar. ao longe, ouviam-se os furiososgrunhidos do Wolff e suas terríveis resistências para liberar-se da soga que omantinha sujeito à árvore.

Para então, a moça se encontrava acurrucada em um novelo,

aguardando por uma terceira chicotada. O açoite não chegou, mas ela se sentiumuito aterrada para elevar o olhar e não advertiu que Rowland já tinha jogadoaté lado o cinturão, para afastar-se com passo irado, irritado consigo mesmo eprofundamente perturbado.

O respirou fundo várias vezes, tentando acalmar-se, e logoretornou, para ajoelhar-se junto à jovem.

Tomou com ternura entre seus braços, e ela não resistiu:necessitava consolo, embora proviesse desse homem. As lágrimas do Brigittese secaram, mas Rowland continuou abraçando-a, lhe acariciando o cabelo comdoçura. Ambos permaneceram em silencio durante um comprido tempo. Por fim,a jovem se apartou e ele advertiu uma expressão acusadora nesses claros olhosazuis.

-Maldição! -grunhiu o moço, ao tempo que se incorporava paraadotar uma pose ameaçadora-. Acaso não se sente arrependida?

-Arrependida? -repetiu ela com rudeza-. depois do que acaba deme fazer?

-Obrigou a um comprido dia de caçada, mulher. Mereceria muitomais do que recebeu!

-que me tenha encontrado é meu castigo, muito mais de que possotolerar -afirmou Brigitte, e ficou de pé para lhe olhar com uma faísca de ira nosolhos-. Mas isso não significa nada para ti. Seu desejo é me fazer sofrer!

-Nunca quis te machucar! -exclamou ele com fúria- você me forçoua fazê-lo!

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-OH, certamente, milord -assentiu a jovem com idêntica fúria-. Eusou a causa de todas minhas penas. Eu mesma me golpeio. -Rowland seadiantou de modo ameaçador, mas ela permaneceu imóvel-. O que? Acaso vougolpear me de novo, milord?

-Atua com muita insolência para ser uma mulher a quem acabam

de açoitar- asseverou o moço com o cenho franzido.Os olhos do Brigitte se dilataram.-Bastardo normando! Se eu fosse um homem, mataria-te!o soltou uma repentina gargalhada.-Se fosse um homem, chérie, o rumo de meus pensamentos seria

muito pecaminosos. A jovem afogou uma exclamação e se separou dele.-Sou mulher e, mesmo assim, seus pensamentos seguem sendo

pecaminosos.Rowland esboçou um sorriso.-Não precisa te afastar de mim, Brigitte. tive uma viagem muita

comprido e só o descanso me atrai neste momento. A moça lhe observou com cautela, enquanto ele caminhava paraseu corcel para procurar comida e algumas mantas. Logo retornou até o fogo e,depois de adicionar alguns lenhos, recostou-se junto ao calor das chamas.

-Tem fome? -perguntou-lhe.Brigitte se sentiu sobressaltada. Esse homem atuava como se

nada tivesse acontecido.-Não -respondeu-lhe com tensão-. Já comi.-Ah, seu mascote te conseguiu o alimento. - Rowland se voltou

para o Wolff e franziu o sobrecenho com ar pensativo-. Acredita que se medesfizera dessa besta não tentaria escapar novamente? O que faria se não

tivesse ao cão para te prover a comida?-Não! -exclamou Brigitte, deixando cair de joelhos junto ao homem- Wolff é tudo o que tenho. -Tem-me -recordou-lhe o com doçura. A moça sacudiu a cabeça.-Você só me causa dores e angústias. Só Wolff me brinda consolo.

 Amo a esse cão.-E me odeia ?-Você me obriga a te odiar com seu comportamento.Rowland deixou escapar um rouco grunhido.-me prometa que não voltará a escapar.-Aceitaria a palavra de uma serva, milord? -perguntou ela com tom

sarcástico.-Aceitaria sua palavra.Brigitte elevou o queixo com arrogância.-lhe poderia dar isso mas te mentiria. Jamais formulo promessas

que não posso cumprir.-Maldita seja! -exclamou o homem com voz áspera, arrojando um

ramo ao fogo-. Então, não posso prometer que não voltarei a te golpear, e podeque a próxima vez não conte com tanta roupa para te proteger.

-Não poderia esperar menos de ti! -bramou Brigitte.Rowland observou o rosto irado da jovem e suspirou.

-Durma, Brigitte. Vejo que não há forma de ganhar contigo, nem deraciocinar tampouco.

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O homem se tendeu junto ao fogo, mas a moça permaneceuajoelhada, com o corpo tenso. Depois de vários instantes de silêncio, ela decidiufalar com voz suave.

-Há algo que pode fazer, Rowland, para te assegurar de quepermanecerei contigo.

-Sei muito bem a que te refere -comentou ele com raiva-. Mas nãoposso me manter afastado de ti.-Não é isso, Rowland.O homem se incorporou imediatamente, posto que a moça tinha

conseguido despertar sua curiosidade.-O que é então?-Envia uma mensagem ao conde Arnulf exigindo a prova de

minhas afirmações, e eu me sentirei satisfeita de aguardar no Montville aresposta.

-E quando chegar essa bendita resposta e prove que é umamentirosa... então, o que acontecerá?

-Ainda está tão seguro de que minto, Rowland? -perguntou a jovemcom tom solene.O deixou escapar um grunhido.-Muito bem. Enviarei o mensageiro só para acabar com todos estes

problemas. Mas não posso entender o que pretende ganhar com isso.Brigitte sorriu, decidida a fingir. Até que fora enviado a mensagem,

só precisava fazer que Rowland continuasse acreditando-se dono da verdade.-É muito singelo. Se envias a mensagem, estará admitindo a

possibilidade de que poderia te haver equivocado. Posso viver com talaceitação.

-Ja! -replicou o jovem, voltando-se para deitar. Semelhante

raciocínio só podia ser de uma mulher. A moça sentiu desejos de rir. Com que facilidade tinha aceito ele a

mentira! Satisfeita, tendeu-se a uns quantos metros do homem e se dispôs adormir.

22

Rowland despertou com o amanhecer. Permaneceu tendido nochão, observando com ar pensativo o pálido céu que aparecia por entre as taçasdas árvores. Brigitte dormia pacificamente, sem advertir a tremenda confusãoque tinha provocado na mente do homem. Quanta fúria tinha sentido no diaanterior, nem tanto porque lhe tivesse abandonado, mas sim pelo risco que tinhadeslocado ao partir sozinha. A infelíz poderia ter sido vítima de ladrões ouassassinos. Também lhe enfurecia que Brigitte tivesse tentado escapar dele, emuito mais lhe irritava o fato de que todo Montville se inteirou. Que estranhomalefício lhe tinha jogado essa mulher? De repente, só queria dominá-la e, emseguida, sentia desejos de protegê-la. Não alcançava a compreender ossentimentos que essa jovem tinha despertado em seu interior e pela primeiravez em sua vida, sentia-se aturdido. Inclusive, tinha chegado a aceitar a ridícula

demanda da moça.Rowland franziu o sobrecenho, pensando na mensagem que tinhaaceito enviar. Ou a jovem pertencia na verdade à nobreza, ou esse conde Arnulf 

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lhe guardava um profundo carinho e ela estava segura de contar com a ajuda dohomem. De todos os modos, Rowland supunha que ia perder a, e isso o faziasentir-se desventurado. Mesmo que logo que acabava de conhecê-la, sabia quenão desejava perder a essa moça.

-Diabo! Maldição! -murmurou, e se voltou para enfrentar um novo

dia.  Ainda não era muito tarde quando Rowland e Brigitte atravessaramo portalón da entrada para o pátio do Montville. A moça se havia sentidoconfundida ao divisar a fortaleza pouco depois do crepúsculo, dado que, em quepese a ter cavalgado todo um dia e a metade de uma noite para afastar-se, ocaminho de volta não lhe tinha resultado tão largo. Com segurança, desviou-sede algum modo, perdendo assim um tempo valioso. A jovem exalou umprofundo suspiro. Já era muito tarde para lamentar-se.

 Ambos acabavam de desmontar e se encontravam conduzindo oscorcéis para o estábulo, quando Brigitte perguntou:

-Não terá esquecido a mensagem que aceitou enviar, verdade?

-Não o esqueci -murmurou Rowland. Então, deteve-se e, depois delhe retirar o capuz da cabeça, tirou-a de ambas as tranças e a atraiu para si-.Tampouco esqueci que pôde me haver pedido que jamais voltasse a te tocar,mas não o fez.

-Você já me tinha advertido que nunca aceitaria tal demanda-recordou-lhe a jovem com aspereza.

-Mas nem sequer tentou negociar, cherie -fez-lhe notar ele com umbrilho pícaro nos olhos.

-Obtive o que desejava, Rowland, e agora só me subtrai te tolerar durante umas poucas semanas mais. Sinto-me aliviada ao saber que logoculminarão minhas desditas. -Desditas, rapariga?

Os lábios do homem roçaram apenas a boca da jovem; logo,acariciaram-lhe a bochecha e, por último, deslizaram-se para a vulnerável zonade seu delicado pescoço. Ao sentir que um calafrio lhe percorria 1a coluna,Brigitte gemeu. Então, ele se apartou e esboçou um diabólico sorriso.

-Só umas poucas semanas mais? Então, terei que me aproveitar,não acredita?

Sem aguardar uma resposta, Rowland se afastou pela passagemdo estábulo que conduzia à sala principal da mansão. Brigitte lhe seguiu com oolhar, aturdida, perguntando-se por que lhe tinha permitido que lhe beijasse.Que diabos estava acontecendo com ela?

Esfregou-se as mãos energicamente e se apressou a seguir aoRowland, sacudindo a cabeça. Era a doçura no normando, disse-se, o quesempre tomava por surpresa.

Já tinha passado a hora do jantar, mas a imensa sala ainda não seachava vazia. Vários homens se encontravam bebendo nas mesas mais baixas. junto à fogueira mais pequena, Luthor arrojava jogo de dados com sir Robert eoutro cavalheiro, enquanto que, a seu lado, Hedda, Ilse e suas donzelaspareciam muito atarefadas com seus bordados. Hedda era uma mulher alta,ossuda, cujo cabelo castanho se tornou cinza com o passado do tempo; Ilse eraidêntica a sua mãe, só que com uns trinta anos menos. Os serventescontinuavam ocupados na área da cozinha. Um moço se encarregava de manter 

os cães afastados da carne assada, enquanto outro se dedicava a abanar afumaça para um buraco situado sobre o fosso do fogo.Rowland aguardou o Brigitte antes de entrar na sala.

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-Consegue um pouco de comida para ambos e te reúna comigo namesa. -Elevou um dedo antes de que a moça pudesse protestar-. Insisto.Resistiremos juntos a tormenta.

 A mulher se deteve abruptamente.-Que tormenta?

Rowland sorriu ante a repentina expressão de alarme queatravessou o rosto da jovem.-Cometeu um grave crime e minha madrasta estava muito alterada.

Estava furiosa quando saí em sua busca e, sem dúvida, deve ter destrambelhado todo o dia sobre o terrível exemplo que é frente aos outrosserventes. Nunca antes um servo tinha tentado escapar do Montville.

Brigitte empalideceu.-O que... o que fará ela comigo?-Hedda? Absolutamente nada. Não esqueça que eu sou seu amo,

o qual significa que só a mim deverá responder. Por esta vez, agradecerá estar sob meu amparo. -Sem lhe dar oportunidade de responder, colocou uma mão

sobre as costas da moça e a empurrou para o fogo-. Vamos, estou esfomeado. A jovem se apressou a procurar a comida. A cozinheira protestoupela tardança, posto que já tinha começado a cortar os restos de carne parapreparar bolos. Mesmo assim, serve dois grandes pratos de comida, enquantoos outros serventes observavam atentamente ao Brigitte.

 A moça se sentiu cada vez mais inquieta. Tinha acreditado superar a pior parte, mas, pelo visto, não era assim. Começou a caminhar para a mesado lorde, carregando com cuidado os dois pratos e uma jarra de cerveja, eadvertiu que Hedda e Luthor se uniram ao Rowland. A moça diminuiu o passo,mas não pôde evitar ouvir a maior parte da conversação.

-E bem? -perguntou Hedda ao moço-. Fará-a despir e açoitar no

pátio? O horrível exemplo que deu essa prostituta deve ser corrigido.-Isso não te concerne, mulher -interpôs Luthor.-Claro que me concerne -bramou a dama, indignada-. Seu moço

trouxe para aqui essa prostituta francesa, e a arrogância dessa jovenzinha jácomeçou a afetar a meus serventes. Agora, ela escapa e, em cima, rouba parafazê-lo! Exijo...

Brigitte, aturdida, deixou cair os pratos sobre a mesa derramando oale sobre os largos tablones de madeira. Imediatamente, a moça voltou seusatemorizados alhos azuis para o Rowland.

-Eu não roubei.-Dificilmente poderá afirmar que o cavalo era teu, rapariga -disse-

lhe ele com tom alegre, ao parecer, divertido. A jovem sentiu que lhe tremiam os joelhos e Rowland se apressou

a tomar a de um braço para sentá-la na cadeira contígua à sua. Do que estavasendo acusada? Já poderia ser merecedora de um severo castigo por só roubar comida. Mas nada menos que um cavalo? Um cavalo era o elemento vital de umcavalheiro, o mais prezado dos animais, muito mais valioso que um servente,mais valioso inclusive que a terra. Todo servo livre estaria encantado de vender sua granja em troca de um cavalo, porque o cavalo era sinal de riqueza, capazde colocar a um homem por cima da classe camponesa. Roubar um corcel eraum crime tão grave como o assassinato, e que um servente ousasse cometer 

semelhante delito era decididamente inconcebível. A expressão divertida do Rowland se desvaneceu ante o absolutoterror refletido no rosto da jovem.

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-Vamos, o que parece, feito está -tranqüilizou-a o moço.-Não... não foi minha intenção roubar -murmurou Brigitte com voz

trêmula-. Jamais acreditei... quero dizer... não pensei que estava roubandoquando tomei o cavalo... Nunca antes tinha tido que pedir permissão paramontar um corcel e... Rowland, me ajude!

Brigitte começou a chorar, e o moço se enfureceu consigo mesmopor permitir que seus temores aumentassem sem necessidade.-Brigitte, te acalme. Não tem por que temer. Roubou um cavalo,

mas pertencia a sir GUI e ele não te causará problemas.-Mas...-Não -disse Rowland com doçura-. Falei com o GUI antes de sair 

em sua busca. Parecia mais preocupado por ti que por seu corcel. O não exigiráo castigo.

-Sério?-Sim, sério.-Isto foi que o mais entretido -interpôs Hedda com seus pálidos

olhos cinzas fixos no Brigitte-. Mas, sem dúvida, carente de sentido. Pode queGUI não exija o castigo, mas eu certamente o demandarei.-Quem é você para exigir algo de mim? -perguntou Rowland com

tom ameaçador.O rosto cor oliva da Hedda adquiriu um intenso tom arroxeado.-Você consente a essa rameira! -acusou-lhe-. por que razão?

 Acaso te enfeitiçou?-Eu não a consinto -respondeu o homem-. Já lhe castiguei.-Se for isso verdade, então, não foi suficiente! - exclamou a dama

com rudeza-. A moça caminha facilmente, sem amostras de dor!Rowland ficou de pé com um amedrentador brilho nos olhos.

-Acaso duvida de minha palavra, milady? Desejas sentir quãomesmo Brigitte? -levou-se as mãos para o cinturão, e Hedda, pálida, voltou oolhar para o Luthor. O lorde não olhou a sua esposa, continuou observando aseu filho. -Luthor!

-Não, não recorra para mim, mulher. Você lhe provocou, mesmoque te adverti que não era teu assunto. Nunca sabe quando deve deixar em pazàs pessoas.

 Assim que Rowland avançou um passo para a Hedda, a mulher selevantou de um salto e saiu correndo da sala. Luthor deixou escapar uma breverisada.

-Ah, agrada-me ver a harpía mulher disparar acovardada.-incorporou-se para aplaudir as costas de seu filho e depois de tomar assentonovamente, ordenou outra jarra de cerveja-. passaram muitos anos da últimavez que essa dama sentiu meus punhos... muitos.

-Talvez, com minha ausência, Hedda se tornou menos amarga-sugeriu Rowland.

Luthor se encolheu de ombros.-Ou eu simplesmente a ignorei.O jovem evitou formular um comentário e se dispôs a devorar a

comida. Com uma nova jarra de cerveja na mão, Luthor se reclinou sobre orespaldo para observar atentamente ao Brigitte.

-Vejo que quase não provaste bocado, rapariga - comentou-. Acaso não te agrada a comida?

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-Temo-me que perdi o apetite, milord- respondeu a jovem com tomsubmisso.

- Isso não está bem -disse-lhe o lorde com um sorriso- uma moçatão frágil como você necessitará muita comida para suportar a meu filho.

-Nisso tem razão, milord.

Rowland lançou um olhar reprovador a seu pai, e isso deleitou aoancião. Depois de beber um abundante gole, o lorde se inclinou para a mesa eperguntou com tom sério.

-Sabe meu galante vassalo que retornaste, Rowland?O homem não apartou o olhar do prato.-Deixarei que você o informe.Luthor franziu o sobrecenho.-A moça atrasou o encontro com sua fuga. tiveste tempo de

reconsiderar o assunto?-Isso não me corresponde . Acaso ele o reconsiderou?-Não -admitiu o ancião com relutância-. Não compreendo a teima

desse moço. -É muito firme em suas crenças, isso é tudo -explicou-lheRowland-: Não esperaria menos dele.

-Mas ele sempre te idolatrou. Jamais tivesse acreditado quechegariam a isto.

-O que pretende que fizesse eu? -perguntou o jovem com tomirritado-. Ignorar um desafio?

-Não, claro que não. Mas se conversando pudessem resolver oassunto...

-Não acredito possível, Luthor.-Embora só seja para evitar um derramamento de sangue?

-Deixa-o como está! -bramou Rowland-. Não me agrada isto maisque a ti, mas já tentei raciocinar e ele não está disposto a trocar sua posição.

-E você? -Tampouco. Luthor sacudiu a cabeça.-Ela poderia pôr fim a tudo isto, e sabe.-Eu não o pedirei.Brigitte já não pôde conter-se.-Quem é "ela"?-Você, rapariga -respondeu o lorde.Rowland deixou cair ambos os punhos sobre a mesa.-Tinha que discutir este assunto em sua presença, não é assim?

-acusou a seu pai com tom severo, lhe jogando um olhar fulminante.-Quer dizer que ela não sabe nada disto? -perguntou Luthor,

surpreso.-Não.-Pois então, acredito que deveria sabê-lo -prosseguiu o ancião com

chateio.-Saber o que? -perguntou a jovem, mas ambos os homens a

ignoraram.-Não insista, Luthor, porque esta moça é mais obstinada que nós

dois juntos.O lorde depositou a jarra sobre a mesa, incorporou-se

ceremoniosamente e partiu. Era óbvio que se sentia muito irritado.

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Uma vez a sós com o Rowland, Brigitte esperou uma explicação,mas ele permaneceu calado, sem sequer olhá-la. Finalmente, ela decidiu lheincitar.

-E bem?-Termina já sua comida, Brigitte, e logo te acompanharei até seu

quarto -ordenou-lhe ele com aborrecimento.-Rowland! Quem te desafiou?Imediatamente, afundou-se em sua cadeira ante o furioso olhar 

que lhe lançou o homem.-Se já terminaste que comer, partiremo-nos agora.

23

Rowland tomou ao Brigitte do braço e a arrastou fora da sala eatravés do pátio. Ao chegar à choça, abriu a porta com violência e empurrou àmoça para o interior. Ele a seguiu e, ao entrar, advertiu a presença do braseiro e

notou que as pertences da jovem tinham sido levadas do estábulo. A habitaçãoestava iluminada. Os abajures de azeite encostadas ao muro se achavamacesas.

-Alguém se ocupou que suas necessidades -fez-lhe notar o homemcom aborrecimento-. Não irá bem a essa desventurada alma se Hedda se inteirade que um de seus serventes está atendendo a meu serva.

-Eu não pedi que me servissem.-Não precisava fazê-lo -comentou ele com frieza-. Suas maneiras

intimidam aos criados menos afortunados.-Afortunada, eu?-Sim, é obvio -afirmou Rowland com tom severo-. Não lhe doem os

pés nem as costas ao final do dia, e suas mãos não sangram, ao menos, umavez por semana. Não serve a muitos, só a um. Leva a vida de uma lady.

voltou-se, disposto a partir, mas Brigitte lhe adiantou e fechou aporta com violência antes de que ele pudesse alcançá-la.

-Aguarda, Rowland. -Olhou-lhe, com as mãos apoiadas sobre aporta para impedir a saída. -Ainda não me há dito quem te desafiou. Devo sabê-lo! !Preciso sabê-lo!

-Para que? -perguntou ele com o cenho franzido- Para poder teregozijar?

-Por favor, Rowland! -suplicou-lhe a moça-. Foi sir GUI?-Claro que foi sir GUI! -bramou ele-. Mas você sabia os problemas

que tinha causado.-Juro que jamais quis causar nenhum problema - afirmou ela com

veemência-. Só lhe contei a verdade. E não fui eu quem procurou sir GUI. Ovinho a mim, caso que eu era uma convidada, e me chamou lady, Rowland, semsequer me conhecer.

-E, certamente, você te aproveitou desse engano. Os olhos domoço cintilaram. -E teve que lhe dizer que te traga aqui contra sua vontade. Fez-me ficar como um malvado, Brigitte!

-Você é um malvado! Aproximou-se da porta, mas a moça lhe sujeitou o braço com

ambas as mãos.-Rowland! Se tão somente me houvesse dito isso antes poderia lhehaver tranqüilizado.

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-Acaso conhece algum estranho secredo relacionado com isto?-perguntou ele, entrecerrando os olhos.

-Só sei que não haverá briga -declarou a jovem, elevando o queixocom atitude altiva.

Rowland não pôde evitar sorrir ante sua arrogância.

-E por que, se não ser muito perguntar?-Porque eu não o permitirei.-Você... -Ele a observou fixamente com expressão incrédula.-O que te resulta tão surpreendente? -perguntou Brigitte.-Você não o permitirá?-Falo a sério, Rowland. Eu não serei a causa de um derramamento

de sangue!Rowland esboçou um leve sorriso.-Que pena que não o pensasse antes -disse-lhe com voz suave.-Ainda não é muito tarde.-OH, sim, claro que sim, joyita. -Roçou-lhe apenas a bochecha.

-Queria um paladín e o encontraste em sir GUI. Acredita em ti e se sentemoralmente obrigado a lutar par sua causa.Brigitte se alarmou.-Mas eu não quero que lute! Direi-lhe que não o faça!-Oxalá fora tão singelo, Brigitte. Mas GUI se sentiu afrontado pelo

que, conforme crer, fiz a uma legítima dama. Ele é um cavalheiro de coraçãogentil, o homem mais galante que jamais conheci. Não ficará satisfeito até nãobrigar por sua honra.

-Mas me escutará.-Ah, Brigitte, é tão ingênua como formosa. Rowland deixou escapar 

um suspiro.

-Mas seu pai disse que só eu poderia deter a batalha -recordou-lheela-. Me diga o que devo fazer.

-Acaso não adivinha? -murmurou Rowland com calma.Levou-lhe um instante compreender, e então os claros olhos azuis

do Brigitte se dilataram.-Isso não! -exclamou, voltando-se abruptamente.-É a única forma, Brigitte. Se não admitir que mentiu, GUI lutará

por sua honra, e talvez eu me veja obrigado a matar a meu melhor amigo.-Mas eu não menti!-Não pode te tragar o orgulho só por uma vez? -Fará-o você

acaso?-Já o tenho feito. Estou-te suplicando este favor, ainda quando

tinha decidido te manter à margem de tudo isto. Acreditai-me com o GUI e mehabituei a lhe proteger contra todos aqueles que se aproveitavam dele devido asua escassa altura. Aprendi a lhe querer como o irmão que nunca tive, e nãodesejo lutar em seu contrário.

Brigitte se ergueu e voltou a olhar ao homem. sentia-se desolada,mas não tinha outra alternativa.

-Muito bem -aceitou, resignada-. Farei o que me pede-Não bastará com que só admita que mentiu -advertiu-lhe Rowland

-. Deverá lhe convencer.

-Convencerei-lhe. Agora, me leve com ele -disse-lhedesconsoladamente.-Trarei-lhe aqui.

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 A jovem se deixou cair sobre a cama, disposta a aguardar. sentia-se aturdida, angustiada. Não ficava mais alternativa que mentir. Não podiapermitir que Rowland ferisse ou, menos ainda, matasse a seu melhor amigo.

 Apressou-se a tirar o manto e duas de suas túnicas, já que nãotinha retornado a sua habitação depois de sua malograda fuga. Só um instante

depois, a porta se abriu para dar passo ao Rowland, seguido por um confundidosir GUI. Brigitte se voltou, entrelaçando as mãos para dissimular seu tremor.GUI lhe aproximou e realizou uma reverência com uma expressão

solene em seus olhos cinzas.-Rowland disse que desejava conversar.-Urgentemente -assentiu ela em voz baixa, e logo se voltou para o

Rowland-. Poderia nos deixar? Desejo falar a sós com sir GUI.-Não -respondeu Rowland, ao tempo que fechava a porta-. Ficarei.Brigitte lhe lançou um olhar fulminante, mas não se arriscou a

iniciar uma disputa. Os serventes jamais ousavam contradizer a seus amos e,por esta vez, tinha que ser devidamente servil.

Voltou-se uma vez mais para o GUI e esboçou um tímido sorriso.-Desejas tomar assento? -convidou-lhe, ao tempo que assinalava ocama de armar-. Temo que não posso te oferecer uma cadeira.

GUI se sentou e jogou um olhar para a habitação.-Você dorme neste chiqueiro? -perguntou-lhe e imediatamente,

lançou um olhar severo ao Rowland antes de que a moça pudesse responder.-É um quarto bastante confortável -apressou-se a explicar Brigitte-.

Não... não estou habituada a nada mais.-Com segurança...-Sir GUI, me escute -interrompeu-lhe ela e se parou junto ao jovem

cavalheiro, embora sem atrever-se a enfrentar seu olhar-. Temo que cometi uma

grave injustiça ao representar contigo minhas infantis fantasias.-Que fantasias?-O outro dia, na sala, quando falamos... tudo o que pinjente foi

mentira. Freqüentemente, finjo ser uma dama, em especial, com homens quenão me conhecem. Sinto que tenha tomado a sério minhas palavras. Meu jogosempre tinha resultado inofensivo.

GUI franziu o sobrecenho.-Vejo que Rowland te obrigou a fazer isto, lady Brigitte.-Sou simplesmente Brigitte, e está equivocado, sir GUI -assegurou-

lhe com firmeza-. Por favor, perdoa meu descaramento, mas agora não possopermitir que continue este mal-entendido. Sempre fui uma serva. Senti-me muitoperturbada quando soube que tinha desafiado a meu lorde devido a minhaestúpida farsa. Supliquei-lhe que te trouxesse aqui para poder te revelar averdade antes de que fora muito tarde. Não devem lutar por minha causa. Nãofui sincera contigo.

Uma expressão de dúvida se refletiu nos olhos do GUI.-Adula-me que te tenha preocupado tanto por mim. É realmente

muito amável, milady.-Acaso não me acredita? -perguntou a jovem, surpreendida.-Absolutamente -respondeu ele com calma.-Então, é um tolo!

-Já vê! -GUI esboçou um sorriso triunfal-. Uma mera serva jamaisousaria me falar desse modo.

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Brigitte se incorporou de um salto e se voltou para o Rowland, masele a observou sem lhe oferecer ajuda. A moça respirou fundo. Devia encontrar a forma de convencer ao jovem cavalheiro; do contrário, a batalha culminaria,sem dúvida, com sua morte. de repente, advertiu que Rowland a devorava comos olhos e teve um instante de inspiração.

Voltou-se uma vez mais para o GUI com as mãos sobre os quadrise com uma expressão altiva nos olhos.-Nunca disse que era uma mera serva! Me olhe -ordenou-lhe com

arrogância-. Acredita que um homem poderia me ignorar por muito tempo, foraou não lorde?

-P... perdão? -balbuciou GUI.-Se sou atrevida às vezes, é porque meu último amo me tratava

como a um igual. Eu era a amante do barão, sir GUI. -Sorriu com desenvoltura.-Era um homem ancião e solitário, e me malcriou estupendamente.

-Mas disse que o barão do Louroux era seu pai -exclamou ocavalheiro.

Brigitte titubeou. sentia-se muito ferida, mas, o que outra alternativaficava?-O foi como um pai para mim... exceto na cama. lhe pergunte a sir 

Rowland se não me crer. O te dirá que eu não era virgem quando veio para mimpor primeira vez. -O comentário implicava que ela era agora a amante doRowland, mas o normando não falou, por isso Brigitte decidiu prosseguir.- Já vê,ele não o nega. Retirará agora seu ridículo desafio?

GUI se sentiu picado em seu orgulho.-Não acreditei que fora tão ridículo."Santo Deus!", pensou Brigitte,"acaso ela não tinha falado já

suficiente?.

-Então, me permita adicionar algo. O homem que é agora meulorde reúne todas as qualidades que eu poderia desejar em um amo. É forte, umexcelente amante e estou muito satisfeita com ele.

GUI ficou de pé súbitamente.-Então, por que tentou escapar?Pergunta-a tomou a jovem despreparada. Vacilou um instante,

para logo responder.-Por favor, sir GUI, não me obrigue a dizê-lo em sua presença.-Insisto.Brigitte se espremeu as mãos e baixou o olhar para o chão,

fingindo uma grande confusão. Logo, inclinou-se para o jovem cavalheiro e lhefalou com tom lhe sussurrem, de modo que Rowland não pudesse ouvi-la.

-Não sabia da existência da Amélia quando ele me trouxe aqui. Aome inteirar de que ela tinha sido seu amante e ainda lhe desejava, temi que medeixasse de lado. Não pude tolerá-lo e me parti.

-E por que não quer que ele saiba? -pergunto GUI com cepticismo.-Acaso não vê que lhe amo? Já admiti mais do que tivesse

desejado que ele ouvisse. Onde está o desafio se averiguar meus sentimentos?Cansará-se de mim e sairá em busca de outra.

GUI a observou com olhar inquisidor durante um comprido instante.O desconcerto já começava a crispar os nervos da jovem. Estava exausta e

sentia desejos de gritar que todo o dito não era mais que uma fileira de mentiras.Tinha cometido uma terrível injustiça consigo mesma ao representar essaespantosa farsa. Seria isso suficiente para salvar a sir GUI da morte?

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O cavalheiro, por fim, apartou-se, e a moça se voltou aliviada. Aoparecer, ele não a forçaria a continuar. Mas, o que pensaria agora dela? Tinha-otentado tudo exceto desatar-se em lágrimas. Pelo visto, a constante humilhaçãose converteu em parte de sua vida.

-Já não teria sentido nos enfrentar no campo de honra, Rowland.

Posto que me trouxe aqui para escutar esta história, presumo que aceitaráminhas desculpas.Brigitte não se voltou para ver o Rowland assentir. Sentia-se muito

mortificada para olhar a qualquer desses dois homens. Só desejava estar sozinha e conteve a respiração, aguardando que a porta se abrisse para voltar logo, a fechar-se.

Então, jogou-se sobre a cama e começou a chorar suas desditas.Que mentiras tão horríveis! Jamais poderia perdoar ele ter caluniado tãocruelmente a seu pai, mesmo que, dessa forma, tivesse salvado a vida de um jovem cavalheiro. E todas essas desatinadas palavras que havia dito a respeitodo Rowland! De onde tinha tirado tantas mentiras? por que lhe tinham surto tão

espontaneamente?-Foi muito doloroso, Brigitte? A jovem se sobressaltou e se voltou para encontrar ao Rowland de

pé, junto a sua cama.-por que não te partiste ainda? -perguntou-lhe-. Vai embora!Voltou a afundar o rosto no travesseiro, e seu pranto se tornou

ainda mais intenso. O homem não pôde tolerá-lo. Nunca antes lhe tinhamperturbado as lágrimas de uma mulher, mas agora... voltou-se para partir, massubitamente trocou de opinião e se sentou no bordo da cama, para logo tomar àmoça entre seus braços.

Brigitte lutou para liberar-se. Não queria o consolo desse homem.

Só desejava estar sozinha com sua desdita. Rowland a estreitou com doçura,mas não lhe permitiu soltar-se. Por fim, a jovem deixou de resistir e lhe apoiouuma bochecha sobre o peito, lhe molhando a túnica com as lágrimas. Então, elecomeçou a balançá-la brandamente, ao tempo que lhe acariciava as costas, ocabelo. Porém, ela não cessava de chorar e os soluços rasgavam o coração do jovem.

-Ah, Brigitte, já te acalme -suplicou-lhe com ternura, inclinando-separa lhe beijar as bochechas-. Não suporto te ouvir chorar desse modo.

Seus lábios acariciaram os da jovem, e ela não encontrou forçaspara resistir. A boca do Rowland continha toda a tibieza e o sabor salgado desuas próprias lágrimas. Quando ele começou a despi-la, Brigitte soube que eramuito tarde para lhe deter e se entregou. Essa noite, lhe pertencia, e ambossabiam.

 A moça entrou em um estado de selvagem desenfreio. Ele seajoelhou junto à cama de armar e suas mãos e lábios a acariciarammagicamente, despertando uma paixão que ela jamais tinha acreditado possuir.Ele explorou cada porção de sua delicada figura com movimentos suaves,enlouquecedores. Então, a jovem sentiu desejos de receber todo o peso dessecorpo masculino sobre o seu, perceber uma parte do Rowland nasprofundidades de sua feminilidade.

Quando, por fim, ambos os corpos se uniram, ele se moveu lenta,

cuidadosamente, e Brigitte já não pôde tolerá-lo. Arqueou os quadris para lheforçar a entregar toda a potência de sua masculinidade. Então, sobreveio uminstante de êxtase. Um nó se formou no interior da jovem, que se tornava mais e

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mais tenso, até desatar-se com uma vibrante sensação que se estendeu por cada centímetro de seu corpo e continuou durante toda a eternidade.

Um momento mais tarde, Rowland se apartou apenas para aliviar seu peso da delicada figura feminina. Mas a moça não lhe deixou partir, e ele sesentiu imensamente agradado. Ambos caíram em um profundo sonho, com os

corpos entrelaçados e os rostos iluminados por um brilhante sorriso desatisfação.

24

- O tamanho é perfeito, não acredita?Brigitte retrocedeu um passo para admirar ao Rowland com a

túnica azul que ela acabava de finalizar. O objeto se ajustava aos largos ombrosdo jovem, destacando assim sua esplêndida figura, e o intenso tom azul da lãfazia ressaltar até mais a cor de seus olhos. A moça se sentia orgulhosa comsua obra e esperava com ansiedade o comentário do normando, mas ele estavatão ocupado em examinar as costuras, que parecia não ouvi-la.

-E bem?-É bastante cômoda.-É isso tudo o que pode dizer? -protestou ela-. E o que opina de

meus pontos? Alguma vez se abrirão nem desfiarão, sabe?-Vi-as melhores.-OH! -Brigitte lhe arrojou um fio de linho e lhe tivesse arrojado as

tesouras das haver tido à mão. Já verá se me esmero tanto com a próxima!Rowland esboçou um amplo sorriso.-Terá que aprender a interpretar minhas brincadeiras, Brigitte.

Estou mais que satisfeito com seu trabalho. Todas minhas outras túnicasparecem farrapos comparadas com esta. Seus pontos são perfeitos.

 A moça pareceu transbordar de alegria. Tinha passado os últimosseis dias costurando na habitação do Rowland para confeccionar a túnica e umcurto manto de lã da mesma cor. Uma trégua tinha estado em vigência a partir daquela noite de amor. Nenhum dos dois se atrevia a mencioná-lo, mas cadadia tinha sido diferente após.

Mais que nunca advertia agora Brigitte o atrativo do moço: assuaves ondas de seu claro cabelo loiro sobre a nuca; as pequenas rugas nascomissuras de seus escuros olhos azuis quando sorria. E, ultimamente, o jovemria com mais freqüência.

Rowland continuava chateando-a, mas ela já não se ofendia. Ele játinha tratado de reprimir sua rudeza, realizando tremendos esforços parasuavizar suas maneiras. Já antes tinha advertido Brigitte os intentos demudança no homem, mas só agora começavam a lhe importar. E cada vez commais freqüência, encontrava-se observando ao Rowland, só lhe admirando, semnenhuma razão em particular.

O normando não tinha tentado forçá-la, obsequiando-a só com um

casto beijo quando a escoltava cada noite até a habitação. E esse fato agradavaao Brigitte. Não estava segura de como poderia reagir se Rowland tentavapossuí-la uma vez mais. Por um lado, encontrava-se o prazer, pelo outro, o

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-Você enviou um mensageiro para o conde Arnulf. Acaso lhepreciso explicar isso?

Rowland não respondeu, e então tocou a ela lançar um olhar severo

- Você enviou ao mensageiro, não é verdade?

O moço vacilou, mas o temor que subitamente se refletiu nos olhosda jovem lhe forçou a assentir com relutância.-Sim, assim foi.-Pois então, sabe a que me refiro.-Seriamente acredita que o conde Arnulf poderá te apartar de meu

lado?-O... ele te fará ver por fim a verdade -murmurou Brigitte com

vacilação.Rowland a aproximou para lhe acariciar o queixo altivamente

erguido. Seus olhos azuis revelaram uma marcada nota de pesar.-Teremos que passar por tudo isto de novo, joyita? Preferiria

desfrutar de do prazer de sua companhia sem que uma disputa arruíne seu docecaráter. A moça não pôde evitar sorrir. Rowland tinha visto tão pouco de

seu doce caráter, que a asseveração lhe resultava verdadeiramente ridícula.Entretanto, ele estava no certo. Não tinha sentido seguir discutindo. Logo, tudoteria terminado. A só idéia fez desvanecer seu sorriso, embora ela nãoconseguiu compreender a razão.

Quando entraram na sala uns minutos mais tarde, Brigitte lançouum olhar escudriñadora por toda a habitação, conforme era seu costume. Deviaatuar com cautela frente a Hedda e Ilse, essas imensas e desagradáveismulheres que nunca cessavam de persegui-la. Em geral, não estava

acostumado a jantar em companhia dessas damas, posto que ela não era maisque alguém serva. Mas Amélia era só uma donzela, de modo que, comfreqüência, Brigitte devia sentar-se a seu lado e tolerar suas maliciosas olhadas.

Essa noite, porém, Amelia não se achava ocupando seu lugar habitual na mesa, mas sim se encontrava servindo ale a um estranho,localizado-se junto à Hedda, à direita do Luthor.

-Seu pai tem um convidado -anunciou Brigitte ao Rowland em vozbaixa.

O homem seguiu o olhar da moça com os olhos, e então separalisou. Em seguida adotou uma expressão assassina e se levou uma mão àespada. No instante seguinte, Brigitte se sobressaltou, quando o normando seequilibrou imediatamente para a mesa do lorde. A jovem afogou umaexclamação ao ver o Rowland levantar o estranho de sua cadeira e lhe jogar para o outro lado da habitação. Todos os pressente se incorporaram de umsaltou e Luthor tomou a seu filho do braço para lhe deter.

-O que significa isto, Rowland? -perguntou o ancião com fúria. Erainconcebível que seu filho ousasse atacar a um convidado!

Rowland lutou para soltar-se e se voltou para seu pai comexpressão irada.

-Acaso GUI não te contou o que aconteceu no Arles? Luthor entãocompreendeu e tratou de tranqüilizar ao moço.

-Sim, disse-me que você e Roger brigaram, mas essa disputa jáficou terminada.

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-Terminada? -bramou Rowland-. Como poderia estar terminada seesse cão infame ainda segue com vida?

-Rowland!-Obviamente GUI não te contou que Roger tentou me assassinar.

 Atacou-me pelas costas, Luthor. O francês lhe deteve e por essa razão, tratou

de lhe matar a ele também.-Mentiras!Pai e filho se voltaram para o homem de cabelos dourados.-Quem pode afirmar que te ataquei pelas costas? -perguntou

Roger do Mezidon, indignado-. Sua acusação é falsa, Rowland.-Está-me chamando mentiroso, Roger? -inquiriu Rowland,

desejando encontrar uma imediata razão para lutar contra seu eterno oponente.-Eu não hei dito isso -apressou-se a negar Roger- Só acredito que

pode estar... mal informado. Avancei para ti, mas jamais te tivesse golpeadosem antes te advertir. Estava a ponto de te chamar quando um francês tolo meatacou e tive que me encarregar dele primeiro.

-Atacou-te, diz?- gritou o outro jovem com cepticismo-. Impediu queme matasse e quase morre por isso.-Está equivocado -afirmou Roger com tom sereno-. Não houve

intenção assassina.Luthor se interpôs entre ambos .-Temos uma disputa muito difícil de resolver. Não permitirei que se

desate uma briga quando a causa é claramente duvidosa.-Não há nenhuma dúvida- declarou Rowland com obstinação.-Digamos, então, que eu tenho dúvidas -insistiu o lorde com

aspereza-. Aqui fica terminada a disputa, Rowland.O jovem se sentiu indignado, mas seu pai já tinha pronunciado sua

sentença e ele não podia opor-se o sem envergonhá-lo. Porém, tampouco podiapermanecer calado.

-por que está ele aqui? Acaso agora nos dedicamos a alimentar anosso inimigo?

-Rowland! -exclamou Luthor com exasperação- Roger não seráconsiderado inimigo do Montville até que se declare como tal. Jamais fareiresponsável a um homem pelas ações de seu irmão.

-Mas ele brigará com o Thurston em seu contrário! -grunhiuRowland.

Roger sacudiu a cabeça.-Eu não tomarei partido entre o Luthor e meu irmão. Luthor foi

como um pai para mim. Mesmo que Thurston seja meu irmão, não unirei a ele.-Isso diz -mofou-se Rowland.-Eu acredito -afirmou Luthor-. De modo que não quero ouvir uma

só palavra mais disto. Durante muitos anos, este foi o lar do Roger. Será bem-vindo aqui até que haja uma verdadeira razão para lhe rechaçar. Agora vamos,nos sentemos juntos a comer.

Rowland deixou escapar um rouco grunhido.-Ao menos, tenta melhorar seu ânimo, Rowland - arreganhou-lhe

seu pai-. Tem muito confundida à encantada Brigitte com essa terrível atitude.O homem se voltou para a jovem, quem lhe observava aturdida e

temerosa. Tentou aproximar-se o mas ela retrocedeu, intimidada pela sombriaexpressão no rosto do normando. O tratou de tranqüilizá-la, mas não obteve

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sequer esboçar um sorriso. Então, a moça se voltou, para afastar-se correndoda sala.

-Brigitte! A moça se deteve, mas o coração não cessou de lhe pulsar com

violência.

- O que te ocorre, Brigitte? Não é minha intenção te machucar -murmurou Rowland, ao tempo que lhe aproximava-. Me perdoe por teatemorizar.

-Não compreendo, Rowland -começou a dizer ela com vacilação-. Alterou-te de repente... como um enlouquecido. por que atacou a esse homemsem razão?

-Tinha uma razão, uma muito boa razão. Mas se falar disso, temoperder os estribos e lhe atacar novamente. Roger é um velho adversário.

Brigitte se voltou com curiosidade para o moço de cabelosdourados, que se encontrava sentado junto à Hedda à mesa do lorde. Era um jovem arrumado, de pele bronzeada e majestosamente vestido. Era alto, robusto

e de aspecto temível.Rowland seguiu com os olhos o olhar da jovem e franziu osobrecenho.

-Roger é imponente. Possivelmente, está pensando em usá-lo emmeu contrário, tal como fez com o GUI.

Brigitte lhe lançou um olhar penetrante.-Já te disse que não foi essa minha intenção! -exclamou com

rudeza, mas ele ignorou o comentário.-Roger atrai às mulheres, em que pese a seu mau aspecto. te

afaste dele -advertiu-lhe com severidade-. Esse homem não é de confiar.-Não tenho razões para lhe buscar -afirmou a jovem com

aborrecimento.Os olhos do Rowland percorreram lentamente sua figura.-Mas ele teria um sem-fim de razões para te buscar a ti, rapariga.Brigitte se ergueu, um pouco chateada.-Não me agrada esta discussão, Rowland. E já perdemos muito

tempo. irei procurar sua comida.-E a tua.-Não esta noite -disse ela com firmeza-. Jantarei com os serventes.-Ele a tirou da boneca.-por que?-me solte, Rowland. Há muita gente nos observando.O moço a liberou e permaneceu imóvel, contemplando com ar 

pensativo à moça, que se afastou pressurosa. Sacudiu a cabeça, confundidoante seu humor. Freqüentemente, perguntou-se se em realidade podiam existir dois aspectos tão diferentes no Brigitte. E quanto mais o pensava, mais advertiaque a mulher colérica e rabugenta que tinha conhecido, poderia simplesmenteser uma doce dama aturdida e ofendida pelas atuais circunstâncias. Issoexplicaria muito... muito, na verdade.

Rowland rogou estar equivocado e que as qualidades gentis, docese modestas que Brigitte tinha revelado nessa última semana fossemcompletamente falsas. Do contrário, teria que enfrentar a possibilidade de que

ela era em realidade uma dama. E ele não desejava sequer considerá-lo.

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25

 A grande sala do Louroux se encontrava quase deserta, sombria.O barão, inclinado em sua majestosa cadeira, afogava suas desditas em umforte vinho. Não havia ninguém mais na habitação. Quintin do Louroux seachava novamente em casa, mas sua volta lhe tinha provocado um infinitopesar. A razão de seu retorno não se encontrava ali para lhe receber, e eleainda não conseguia compreender a causa dessa ausência. Sua formosa, vitalirmã se confinou em um convento!

Não era próprio do Brigitte afastar do mundo para encerrar-se emum sombrio monastério. Quintin o poderia ter compreendido se a moça lhetivesse acreditado morto, mas Druoda lhe tinha contado que ele seguia com vidae, mesmo assim, sua irmã tinha escolhido a vida austera. A jovem se partiu sem

sequer esperar a lhe ver, por que?Segundo Druoda, Brigitte se tinha tornado veementementereligiosa pouco depois da partida de seu irmão fazia o sul da França e tinhacomeçado a preparar-se para a vida austera mudando-se às choças dosserventes e trabalhando sem cessar nas árduas tarefas da mansão.

O fato mais penoso era que a jovem não tinha comentado aninguém em que monastério planejava ingressar.

Poderia levar anos ao Quintin encontrá-la e, para então, a moçaestaria tão firmemente dedicada à vida monacal que lhe seria impossívelconvencer a de retornar a casa.

-Pediu-me que te dissesse que não a buscasse, Quintin -afirmou

Druoda com tom solene e uma expressão triste em seus olhos pardos-. Inclusivechegou a me comentar que adotaria um novo nome, de modo que jamaisconseguisse encontrá-la.

-Acaso não tentou dissuadir a desta idéia? - inquiriu Quintin. Anotícia lhe tinha perturbado até o ponto de lhe irritar.

-claro que sim, mas você sabe quão obstinada pode ser sua irmã.Inclusive lhe ofereci lhe buscar um bom marido, mas se negou. Em minhaopinião, a idéia do matrimônio teve algo que ver com sua decisão. Acredito quesente certo temor pelos homens.

 Acaso Druoda tinha estado no certo? Temia Brigitte aomatrimônio?

-Jamais deveria lhe haver permitido a eleição de um marido,Quintin -tinha agregado Druoda-. Deveu ter insistido em que se desposassemuito tempo atrás.

 Agora o moço se sentia afligido pelos remorsos. Se tivesseprocurado um bom marido para sua irmã antes de partir, a moça se encontrariaem casa, desposada e esperando um filho provavelmente. Como estavam ascoisas, Brigitte nunca experimentaria a sorte da maternidade, jamais conheceriao amor de um homem devoto.

Quintin voltou a beber da garrafa, ignorando já as taças. Os outrosdois botellones de vinho se encontravam vazios sobre a mesa. Ali também se

achava o copioso banquete preparado especialmente por sua tia, mas o moçonão sentia desejos de comer e, de tanto em tanto, arrojava partes de carne aostrês galgos que jaziam a seus pés. AO retornar a casa, o jovem tinha encontrado

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encerrados aos cães, um costume totalmente inédito no Louroux. Porém, nãoera esse a única mudança. Os serventes se viram agradados ao lhe ver, mas jánão pareciam tão alegres como sempre. Muitos tinham tentado lhe falar emprivado, mas Druoda se encarregou de lhes afugentar, alegando que nãodesejava ver perturbar a seu sobrinho.

Quintin não tinha visto mais que a sua tia a partir de sua chegadaao Louroux essa mesma tarde. Ao inteirar-se da ausência de sua irmã, o moçose encerrou na sala, para grunhir a qualquer que tentasse entrar. Já era tarde ese sentia exausto, embora totalmente acordado. Nem sequer o vinho parecia lheajudar, e começou a perguntar-se quantas garrafas deveria beber para conciliar o sonho.

Haveria muito que fazer pela manhã e necessitava um descanso.Imediatamente, iniciaria a busca do Brigitte. Poderia ter começado esse mesmodia se seus homens não tivessem estado tão atarefados em seu enfrentamentocom uma banda de malfeitores. Dois de seus soldados tinham sido feridos, masnão havia tempo de pensar nisso. Tinha que decidir quais de seus homens

levaria consigo na expedição e que direção tomaria. Havia, entretanto, um eloperdido; algo que poderia lhe facilitar a busca, mas não conseguia descobri-lo.Talvez, não se encontrava tão acordado como acreditava.

E então, um súbito pensamento lhe assaltou. Certamente! Brigittenão podia ter abandonado sozinha Louroux. Alguém teria que havê-la escoltado.E, com segurança, esse homem conheceria seu paradeiro. Druoda, sem dúvida,sabia a identidade da escolta! Ante a idéia, Quintin ficou de pé. Mas secambaleou e voltou a cair sobre sua cadeira, deixando escapar um grunhido,posto que sua cabeça parecia a ponto de estalar.

-Milord, permitiriam-me falar umas palavras com você?Quintin entrecerró os olhos, tentando olhar entre as sombras, mas

não conseguiu ver ninguém.-Quem anda aí?-Eudora, milord- respondeu a jovem com acanhamento.-Ah, a filha da Althea. -O moço se reclinou sobre o respaldo. -E

bem, onde está? te aproxime.Uma forma pequena surgiu da escada, vacilante, e detrás deter um

instante, começou a avançar. As diminutas velas da mesa titilaram sobre ocorpo da moça, fazendo que Quintin divisasse dois, não, três figuras dançandodiante de si.

-Fica aquieta, moça! -ordenou-lhe o moço com rudeza.-Isso... isso faço, milord.-O que é isto? -O franziu o sobrecenho. -Parece atemorizada.

Maltratei-te alguma vez, Eudora? Não tem razão para me temer. A moça se retorceu nervosamente as mãos.-Tratei de lhes falar antes, milord, mas você... você arrojaram isso

uma parte de queijo e me ordenaram que saísse. Quintin soltou uma breverisada.

-Sério? Temo que não o recordo.-Estavam muito perturbado, e é natural, considerando o que

aconteceu em sua ausência.O homem deixou escapar um profundo suspiro.

-me diga, Eudora, por que o fez?-Não me corresponde falar mal de sua tia -respondeu a jovem cominquietação.

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-Mas nós não fomos informados até uma semana mais tarde-apressou-se a explicar Eudora-, e lady Brigitte jamais se inteirou. Estou seguradisso. -Fez uma pausa, para logo adicionar com veemência: -O que não entendoé como Druoda podia pretender lhes ocultar tudo isto... -de repente, deteve-separa olhar com olhos sobressaltados aos três cães que se encontravam aos pés

do barão-. O que acontece com seus galgos, milord? - inquiriu com tom lhesussurrem.Quintin se voltou para os cães, que, tendidos, tentavam em vão

levantar-se. O moço observou os primeiro animais e logo, as partes de carneque ele mesmo lhes tinha arrojado. Pouco a pouco, tudo se esclareceu, eQuintin jogou um olhar ao copioso banquete preparado especialmente por suatia.

-O galgo negro parece muito quieto, milord -comentou Eudora comvoz trêmula.

-Temo-me que envenenei a meus próprios cães -disse Quintin comtom acalmado.

-Você?-Alimentei-os com a comida especialmente preparada para mim-explicou o moço de modo tétrico- Ao parecer, o propósito era que eu cessassede respirar.

-Provaram vocês essa comida? -inquiriu Eudora, horrorizada.-Nem um bocado. Só o vinho. -Ela... ela tratou... de me matar 

-concluiu Quintin com veemência-. A irmã de minha mãe. De meu própriosangue. É óbvio agora por que razão não confessou suas maldades e suplicouminha indulgência. Se não morria eu com este jantar, tivesse tentado meenvenenar amanhã. E tivesse chegado a obtê-lo, posto que eu jamais tivessesuspeitado seus negros propósitos. Eudora, salvaste-me a vida ao vir a mi.

Maldição! O que esperava ganhar minha tia com tanta maldade?-Com sua irmã ausente e você morto, não poderia ela haver-se

proclamado ama do Louroux? -sugeriu a moça.Quintin exalou um suspiro.-Suponho que Arnulf não duvidaria em lhe conceder tal privilégio,

posto que a mulher leva meu sangue. A muito cadela!-Meu Deus... onde está Brigitte? Se Druoda for capaz de me matar,

poderia também tratar de assassinar a minha irmã!-Não acredito milord. Lady Brigitte partiu com o normando. Parecia

bastante segura.-Mas, onde a levou Rowland? -gemeu o moço-. Juro que se

Druoda não pode me dizer onde encontrar ao Brigitte, assassinarei-a comminhas próprias mãos!

Quintin se afastou com passo irado da sala, já completamentesóbrio, sentindo que uma geada onda de ira invadia todo seu ser.

26-me retorne!

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O angustiado grito fez que Brigitte abrisse subitamente os olhos ese voltasse na gigantesca cama para observar ao Rowland. O moço se achavadormido, mas falava... de fato, suplicava.

-me retorne!Rowland girou a cabeça de lado a lado e se sacudiu violentamente

sob as mantas. Com uma mão, golpeou o peito do Brigitte, e a moça afogouuma exclamação e se sentou para acotovelá-lo no ombro.-Acordada!Os olhos do homem se abriram para olhá-la, e ela prosseguiu com

irritação-Já bastante tenho com suas maus maneiras quando está

acordado. Não necessito que me maltrate enquanto dorme.-Maldição, mulher -disse ele com um suspiro de indignação-. O que

tenho feito agora?-Primeiro, despertou com seus gritos e logo, golpeou-me, Acaso

era seu sonho tão perturbador?

-Esse sonho é sempre perturbador. Nunca consegui compreendê-lo. -O homem franziu o sobrecenho em meio das penumbras.-Já tiveste antes este sonho? -perguntou a jovem surpreendida.-Sim. Perseguiu-me desde que tenho memória. -Sacudiu a cabeça.

-Disse que tinha gritado. Quais foram minhas palavras?-me retorne. Disse-o com tom desesperado, Rowland. O voltou a

suspirar.-No sonho, só há rostos, o de um jovem e uma mulher, a quem não

consigo reconhecer. Vejo-os por um tempo, e quando já não posso divisá-los,experimento uma terrível sensação de perda, como se me estivessemarrebatando todo aquilo que mais quero.

-Mas não sabe o que é?-Não. Jamais valorei nada até o ponto de temer perdê-lo. -Lançou

ao jovem um olhar estranhamente tenra,- até agora.Brigitte se ruborizou e apartou o olhar.-Pode que esqueça antes seu sonho se já não falarmos mais do

tema.-Já o esqueci -assegurou ele com um sorriso, ao tempo que

deslizava um dedo pelo braço nu da moça.Ela se apartou.-Rowland...-Não! -O moço lhe rodeou a cintura com um braço para mantê-la a

seu lado, e os olhos da jovem se dilataram de terror. Ele então, suspirou.-Ah, Brigitte, te deixe levar por seus sentimentos.-Isso faço! -exclamou ela.Rowland pressionou o delicado corpo da jovem sobre a cama e lhe

aproximou para lhe falar com tom lhe sussurrem.-Memore, joyita. Meu galanteio não te chateia absolutamente. Se

fosse honesta, admitiria que te agrada que faça isto. -Acariciou-lhe docementeum peito através do fino linho do lençol.- E isto.-inclinou-se para acariciar oslábios da moça em um tenro beijo.- E...

-Não! -Brigitte lhe sujeitou a mão antes de que esta subisse por 

entre suas coxas-. Detenha-te!Os olhos do Rowland arderam de desejo ao observar a jovem, etomou o rosto entre as mãos.

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-Por favor, Rowland. Não o arruíne tudo.-Arruinar?Face aos esforços da jovem para lhe deter, ele voltou a beijá-la,

esta vez, com paixão. Mas então, a liberou abruptamente e se endireitou.-O único que me agradaria arruinar é sua decisão de permanecer 

impassível frente a minhas carícias, mas sei que desejas continuar com essafarsa de indiferença.Brigitte permaneceu em silêncio, posto que algo se despertou em

seu interior ao receber o apaixonado beijo do jovem. Acaso ele tinha chegado apercebê-lo? Era Rowland consciente de que, se tivesse contínuo beijando-a, ela já não teria protestado? De fato, sentia-se um pouco desiludida ante a prontarendição do normando. O que lhe estava acontecendo? teria se tornado lascivasem notá-lo?

-Está zangado comigo? -perguntou-lhe com tom vacilante, rogandouma resposta negativa.

-Zangado, não. Decepcionado, talvez, e bastante frustrado, mas

não zangado. Suponho que necessita tempo para te acostumar a mim.-É muito generoso, milord- afirmou a moça com sarcasmo, já tãofrustrada como ele-. Continua me dando tempo, e me terei partido antes deacabar com sua paciência.

Muito tarde advertiu a jovem a implicação de suas palavras e,então, ruborizou-se e começou a gaguejar, mas as gargalhadas do Rowlandsufocaram seus murmúrios.

-De maneira que assim é! Então parece que chateio a ambos comminha paciência, né?

-Não, Rowland -apressou-se a negar Brigitte-. Interpretaste-memau.

-Não acredito assim. -O moço esboçou um amplo sorriso.Imediatamente, ele lhe aproximou, mas ela se levantou da cama e

correu para suas roupas para vestir-se com incrível pressa. Depois de colocá-latúnica amarela, jogou um olhar vacilante ao Rowland, quem continuava sentadosobre o leito, sacudindo a cabeça.

-Muito bem-concluiu ele, ao tempo que tomava suas roupas-. Masalgum dia, aprenderá que as relações entre um homem e sua esposa devem ser íntimas e freqüentes, não só de vez em quando. -Fez uma pausa, para logoadicionar com doçura: Nós poderíamos alcançar tal intimidade.

-Está-me propondo matrimônio?O olhar do homem foi tão intensa e prolongada que a jovem

começou a sentir-se inquieta.-Acaso aceitaria?-Eu...Brigitte franziu o cenho, consternada. O impulso de jogar no ar a

cautela e responder afirmativamente era quase irresistível, mas conseguiucontrolar-se.

-Claro que não aceitaria- respondeu com teima. Rowland seencolheu de ombros.

-Então, seria muito tolo em lhe propor isso não acredita?Ela se voltou, profundamente ferida. Em realidade, o tema não

interessava ao Rowland. O matrimônio não significava nada para ele. Talvez elanão significava nada para ele.

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Caminhou com passo firme para a porta e, depois de chamar oWolff com um estalo, partiu sem aguardar normando. OH, por que se tinhadeixado convencer de passar a noite nesse quarto?

Maldição! Não havia término médio para esse homem. Oumantinha ocultas suas emoções ou as tirava reluzir com incrível frenesi. Quais

eram os verdadeiros sentimentos do Rowland? A sentiria falta de quando ela separtiu? Mas Brigitte nem sequer ousava formulá-la pergunta.

27

Cavalgar na geada amanhã com o Rowland era lhe vivifique. Ovento frio açoitava as bochechas rosadas do Brigitte, mas a moça desfrutava dopasseio e se sentia reanimada.

Já se aproximava o meio-dia quando retornaram à mansão.Rowland se deteve uns minutos no estábulo e Brigitte se dirigiu sozinha à

habitação do homem, para sentar-se a costurar... e a meditar.Quando se abriu a porta, a jovem sentiu alívio ao interromper seusperturbadores pensamentos. Mas, então, advertiu que não era Rowland a nãoser Roger do Mezidon quem tinha entrado na antecâmara como se lhepertencesse. Depois de fechar a porta, o moço atravessou a habitação paradeter-se uns poucos passos do Brigitte, quem, surpreendida, tentou descobrir arazão dessa visita, mas só a advertência do Rowland foi a sua mente. Aoperceber o ardente olhar dos azuis olhos do Roger, a moça se precaveu dequanta verdade tinham encerrado aquele as palavras.

-É tão encantada como recordava -comentou ele com tomcongraciador.

 A adulação inquietou a jovem.-Não deveria estar aqui, sir Roger.-Ah, isso já sei.-Então, por- o que...?-Seu nome é Brigitte -interrompeu-a o moço, dando um passo

adiante-. Um antigo nome francês... sinta-te bem. Falaram-me muito de ti. A segura atitude e a familiaridade desse homem desgostaram à

moça.-Não me interessa o que lhe hajam dito de mim -assegurou-lhe

com tom severo, feliz de que Wolff se encontrasse tendido sob a cama doRowland.

-Seu tom me machuca, rapariga. Suponho que Rowland te advertiuem meu contrário, não é verdade?

-Acredita que puseste seus olhos em mim e abriga a idéia de umestupro.

-Ah, rapariga, por que diz semelhante coisa? Não há necessidadede apregoá-lo.

Brigitte se incorporou instantaneamente, alarmada.-Quer dizer que Rowland tem razão?Roger lhe aproximou o suficiente para lhe acariciar a bochecha.-Estou aqui, não? -disse-lhe como resposta, e soltou uma breve

risada quando a moça deu um passo atrás. Busquei-te muito ontem à noite, atéque por fim me dava conta de que Rowland não seria capaz de deixar tão

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valioso prêmio fora de seu alcance. O homem é na verdade afortunado, mas já éhora de que compartilhe comigo algo de sua sorte.

-Jamais permitirei que me toque! -exclamou a jovem com rudeza.Entretanto, Roger não se deixaria vencer tão facilmente. Estendeu

os braços para estreitá-la, mas lhe apartou a mão de uma bofetada.

Imediatamente, o homem a tirou da nuca e, antes de que a moça pudesseprotestar, cobriu-lhe a boca com uma beijo.Brigitte, aturdida, atrasou-se em reagir. O beijo não lhe resultou

desagradável, mas não chegou a comovê-la. Se tivesse percebido um tremor nos joelhos, uma rápida agitação no estômago ou apenas uma vibrantesensação, provavelmente teria permitido que ele continuasse beijando-a,agradecida ante o descobrimento de que não era Rowland o único que podiaperturbá-la. Mas não era esse o caso, e por fim a moça tratou de apartar aoRoger. O, entretanto, só a estreitou com mais força, lhe sujeitando a cara comambas as mãos para seguir apoderando-se de seus delicados lábios.

Brigitte não alcançou a perder a calma. A larga agulha que ainda

sujeitava na mão era justo o que necessitava. Imediatamente, cravou o afiadoextremo no braço do homem, sem imaginar que provocaria tão surpreendentereação, ele retrocedeu de um salto, e a agulha rasgou a larga manga de suatúnica, desenhando na pele uma marcada linha cor carmesim.

Durante um instante, ambos pareceram hipnotizados pelo fluxo desangue. Então, os olhos do Roger se voltaram para a jovem, e ela seestremeceu ante tão furioso olhar. Nesse momento, Brigitte pôde imaginar aesse homem valendo-se de desonrosos médios para assassinar a um homem.Havia nele algo perverso e atemorizada a moça retrocedeu rapidamente paracolocar uma cadeira entre ambos.

-Não tem que fugir de mim, rapariga. -A sombria expressão no

rosto do Roger contradisse seu suave tom de voz. -Só me arranhaste. Suasunhas poderiam causar muito mais danifico... e juro que te darei oportunidadedas usar.

-Comete um engano, sir Roger. Rowland te matará por isso.O moço arqueou uma sobrancelha.-Acaso você o contaria? Ousará lhe confessar que te hei

possuído? Acredita que te seguirá querendo depois disso?-E pensa acaso que seguirá com vida para averiguá-lo? -replicou

ela com outra pergunta-. Rowland se valerá da mais insignificante razão para tedesafiar. Não adverte acaso com quanta desespero deseja te matar? Não seiexatamente por que, mas agora estou segura de que é merecedor de todo seuódio.

-Vulgar rameira! -vaiou Roger. Assim que ele começou a aproximar-se o Brigitte, sem pensá-lo um

instante, soltou um grito para chamar o Wolff. A imensa besta saiu de seuesconderijo sob a cama e saltou ‘no ar, jogando no Roger de costas contra ochão. O animal se lançou para o pescoço do homem e o fornido jovem não pôdemais que contê-lo.

-me tire a este monstro de cima! Por amor de Deus, mulher! tire-meisso -¡Santo Dios! ¡Eres tan pagana como Rowland!

 A jovem vacilou o suficiente para aterrorizar ao Roger e logo,

chamou o Wolff com relutância. O cão obedeceu, e ela se ajoelhou paraacariciá-lo, sem apartar um olho cauteloso do homem, que já começava alevantar-se lentamente. O lhe lançou um olhar de assombro.

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-Está louca ao me atirar esse horrível monstro em cima. Poderiame haver matado!

-OH, sim, sem dúvida, tivesse-o obtido facilmente - assentiu Brigittecom um sotaque de malícia-. Talvez, deveria haver o permitido. Já antes matoua outros homens que tentaram me atacar. E, com segurança, também tivesse

desfrutado desta vez. É totalmente selvagem, sabe?-Santo Deus! É tão pagã como Rowland!-E o que é você, nobre lorde? -replicou ela com desdém-. Acaso

não veio aqui para me atacar? Suponho que não vê nada de mau em teaproveitar de uma mera serva, né? Porco! -exclamou com fúria.

-É muito ousada, harpia prostituta- grunhiu o homem com umameaçador brilho nos olhos.

-Isso acredita? -Brigitte soltou uma áspera gargalhada, já não maistemerosa desse homem. -Sou ousada porque assim o exige minha estirpe.Disse que lhe tinham falado de mim? Pois bem, com segurança, foi malinformado, posto que ninguém aqui conhece minha verdadeira identidade. Eu

sou Brigitte do Louroux do Berry, filha do defunto barão do Louroux, agora pupilado conde do Berry e herdeira do Louroux e todos seus domínios.-Não pôde resistir a dizer-lhe né?Roger e Brigitte se voltaram surpreendidos para encontrar ao

Rowland junto à porta com uma inescrutável expressão no rosto.-Se tiver estado ali o suficiente, Rowland, então saberá que só

estava explicando a sir Roger a razão de minha ousadia ao lhe chamar "porco". A moça falou com tanta calma e simplicidade, que Rowland não

pôde a não ser soltar um estalo de risadas.-É verdade o que esta jovem afirma, Rowland? -perguntou Roger-

Pertence seriamente à nobreza? A resposta do Rowland assombrou a jovem.

-Ela é tudo que afirma ser.-Então, por que finge ser uma serva? É ultrajante!-Sente-se ultrajado, Roger? -inquiriu o outro jovem com calma,

enquanto se passeava lentamente pela habitação- Desejas, talvez, me desafiar pela honra da dama?

Roger titubeou, tratando de evitar o olhar do outro homem. Brigitteacreditou lhe ver empalidecer. Rowland não se encontrava tão sereno comoaparentava. De fato, parecia uma besta enjaulada. Não havia temor nele, sóespera. Desejava que o outro lhe desafiasse... desejava-o com desespero.

-E bem, Roger?-Não te desafiarei, Rowland, não aqui em sua casa. Sei que

acredita possuir o direito moral de me matar e a ira aumentaria suas forças. Masestá equivocado comigo, Rowland.

-Não te acredito.-Mesmo assim, não sou tão tolo para brigar em seu contrário

agora. Só senti curiosidade de saber por que a dama se encontra aqui com umaidentidade falsa.

Brigitte falou impulsivamente.-Isso não te concerne, sir Roger.-Bem dito, Brigitte -assentiu Rowland com tom gelado-. Mas, não

acredita que deveríamos esclarecer dúvidas deste bom amigo? depois de tudo,

merece-se algo mais por seus esforços que esse leve arranhão no braço.

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-Jogou um penetrante olhar ao jovem-. Como foi que recebeu essearranhão, Roger? Acaso milady se viu forçada a defender-se? É por isso que techamou porco?

 A moça se interpôs imediatamente entre ambos jovens.-Suficiente, Rowland. Sei aonde quer chegar, mas não permitirei

que me use dessa forma.-Estava muito perturbada quando cheguei -recordou-lhe ele comtom severo-. por que razão?

-Senti-me ofendida pela atitude de sir Roger... muito semelhante àtua- respondeu a jovem com mordacidade, e sentiu prazer ao ver o moçoestremecer-se.

Então, Roger atraiu sua atenção com uma eloqüente reverencia.-De ter sabido que foi uma dama, rapariga, jamais me tivesse

atrevido a te ofender.-Essa não é desculpa, sir Roger -disse Brigitte com frieza.-Fora daqui, Roger! -bramou Rowland com uma violenta expressão

nos olhos-. Encarregarei-me de ti mas tarde se milady não tiver uma inocente justificação para explicar por que te feriu. No momento, só te advertirei que jamais volte a lhe aproximar isso -Muy bien. Sí, fue sólo una farsa. ¿Hubieraspreferido que te llamara mentirosa frente a Roger?

Roger abandonou imediatamente a habitação. Brigitte se sentiafuriosa com o Rowland, posto que tinha tentado utilizá-la como desculpa paraassassinar a um homem.

-Milady, né? E desde quando o sou para ti? -inquiriu logo queRoger teve fechado a porta-. Acredita-me por fim ou foi só uma farsa frente aele?

-Primeiro responderá a minha pergunta, Brigitte! -Não! -exclamou

ela com obstinação.Rowland desviou o olhar.-Muito bem. Sim, foi só uma farsa. Tivesse preferido que te

chamasse mentirosa frente a Roger?-Tivesse preferido que seus motivos não fossem tão detestáveis

-respondeu a jovem, decepcionada-. Desejava que te desafiasse para poder lutar em seu contrário.

-Isso não o nego! -grunhiu ele, olhando-a fixamente com expressãosombria-. Quando lhe vi contigo, sentia desejos de lhe despedaçar. Entretanto,não queria que se sentisse culpado por sua morte. Se Roger me desafiava, só oseria responsável.

-Está exagerando, Rowland -afirmou Brigitte, cada vez maisirritada-. Roger só me beijou e, por isso, recebeu o que merecia.

O homem se voltou e começou a caminhar para ela -Alegra-meque o tenha feito!

-Acaso lhe provocou? -perguntou com voz baixa.-Não.-Mas o beijo te agradou.-Acredita que lhe tivesse detido se me tivesse agradado? -inquiriu

ela com irritação-. Só disse que me tinha alegrado de que isso acontecesse.Esse beijo me demonstrou algo.

-O que?Ela baixou os olhos e sussurrou com uma voz apenas audível.-Não me comoveu.

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Esse breve comentário revelou ao Rowland muito mais que ummilhar de palavras. O moço compreendeu. Só ele era capaz de comovê-la. NãoRoger. Nem, talvez, nenhum outro homem. E que ela tivesse chegado a admiti-lo...

 Aproximou-se lentamente à moça, tomou o rosto entre as mãos e a

beijou com doçura. Brigitte sentiu um tremor nos joelhos, uma agitação na bocado estômago; todo seu corpo vibrou. E quando Rowland a elevou entre seusbraços para levá-la até a cama, ela não protesto. Essa noite, um mesmo desejolhes unia.

 A jovem desejava a esse homem. E só esse irresistível desejoocupou seus pensamentos enquanto lhe tirava o vestido com impaciência paratocar sua pele nua. Um homem forte, esplêndido; um homem doce e violento evingativo; o único homem que desejava abraçar, acariciar, saborear. E quando omoço a elevou lentamente até esse glorioso momento de êxtase, a moça, por um instante, perguntou-se se se tinha apaixonado pelo Rowland do Montville.

O dia amanheceu com um sol brilhante, um motivo de alegrianessas geladas manhãs. Assim que Rowland teve abandonado a sala pararealizar seus exercícios matutinos no pátio, Brigitte saiu em busca da Goda, quese encontrava na despensa, esfolando um coelho para a comida.

-Necessitaria sua ajuda se estiver disposta, Goda - pediu-lheBrigitte, ao tempo que se sentava sobre o banco junto à moça-. Rowland insisteem que deixe de costurar para ele por um tempo e faça um vestido para mim.Mas necessito ajuda para cortar o gênero.

-Ajudarei-te com agrado, ama, logo que termine aqui. Lady Heddame impôs esta tarefa e não me atrevo a abandoná-la até ter finalizado.

 A menção da madrasta do Rowland despertou reprimidacuriosidade do Brigitte.

-Seriamente Hedda odeia ao Rowland? O assim o afirma, mas oencontro difícil de acreditar.

-OH, certamente. Sempre foi desse modo. Sir Rowland levou umavida muito dura aqui. Entristece-me pensar tudo o que sofreu quando eramenino.

-me fale de sua infância Te encontrava você aqui?-Então, eu era muito pequena para servir na mansão, mas minha

mãe sim trabalhava aqui. OH, quantas histórias trazia ela a minha casa daaldeia. Nessa época, eu acreditava que mamãe só inventava esses contos parame atemorizar e me obrigar assim a ser boa. Senti-me horrorizada mais tardequando me inteirei de que todas eram verdadeiras.

-Que histórias?-Histórias de como tratava lady Hedda ao pequeno menino

-respondeu Goda e em seguida, enmudecíó, ao tempo que desprezava o peledo coelho e tomava uma cuchilla.

-E bem?-perguntou Brigitte com impaciência-. Não te detenhaagora.

Goda olhou ao redor com nervosismo antes de responder.-Lady Hedda aproveitava qualquer oportunidade para lhe golpear e

nem sequer procurava uma razão quando lorde Luthor não se encontrava perto.Ilse e lady Brenda eram como sua mãe, se não pior. Um dia, encontraram a lady

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Brenda açoitando ao menino com um látego. O moço estava sangrando einconsciente, mas, ainda assim, ela continuava lhe golpeando.

-Por que? -inquiriu Brigitte, horrorizada.-O tinha ousado chamar "irmã" a lady Brenda.-Santo Deus!

Goda esboçou uma fraca, pormenorizado sorriso.-O homem levou uma vida muito dura aqui. Uma vez que cresceucom suficientes força para defender-se das damas, teve que lutar com seu pai.E meu lorde Luthor é o professor mais exigente e rigoroso que existe. SeRowland não era capaz de aprender com rapidez as habilidades que seu pai lheensinava, recebia severos golpes por seu fracasso. E também estavam aqui osoutros moços maiores, a quem tinha que enfrentar-se.

Brigitte guardou silêncio, enquanto observava a Goda trabalhar.Uma imensa tristeza a embargou ao pensar na terrível vida do Rowland. Sentiucompaixão pelo pequeno menino que tinha sido tão maltratado. Mais que nunca,apreciava agora o aspecto doce do Rowland que ela tinha chegado a conhecer.

Era incrível que o homem tivesse tendido a demonstrar uma cota de ternura.Uns instantes mais tarde, Brigitte e Goda se encontraramatravessando a sala, ansiosas por empreendê-la tarefa de cortar o tecido paraos novos vestidos. Brigitte se achava enfrascada em suas meditações, quequase não advertiu quando chegaram às escadas que conduziam ao pisosuperior. Mas então, deteve-se quando uma estridente voz interrompeu seuspensamentos.

-aonde acredita que vai?Uma expressão de terror se refletiu no rosto da Goda. Brigitte se

voltou para encontrar a Hedda caminhando com passo firme para a escada. Ilsea seguia e mais atrás, aproximavam-se sua donzela e Amelia.

-E bem? -perguntou Hedda, ao tempo que lhes aproximava com asmãos em seus ossudos quadris e uma expressão severo nos olhos-. Responde!

Goda empalideceu, consciente das conseqüências que seguiriam aesse sucesso.

-Eu ...eu... A moça não conseguiu culminar sua frase, e Brigitte se enfureceu

ao ver seu amiga tão atemorizada.-Goda me estava acompanhando para a antecâmara de meu amo-

informou com tom brusco, sem ocultar seu desagrado pela madrasta doRowland.

-por que razão? Ele não necessita uma serva.O menosprezo da dama irritou a jovem e as risadas afogadas das

outras três mulheres a enfureceram, mas conseguiu controlar seuarrebatamento de ira.

-Não foi sir Rowland a não ser eu quem requere a ajuda da Goda-explicou com calma.

 A súbita reação da Hedda a surpreendeu.-Você! -bramou a mulher- Por todos os céus! Por amor de Deus...-Senhora, não tem razão para te comportar como se se cometeu

um crime -interrompeu-a Brigitte com tom severo-. Só supliquei a Godadispensasse um minuto de seu tempo. A moça já tinha terminado sua tarefa.

Não a estava se separando de suas obrigações.

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-Silêncio! -gritou Hedda com fúria-. As obrigações da Goda nuncaculminam. Seu tempo não lhe pertence. Ela me serve e a todos os que eu lheordene servir... mas, certamente, não à prostituta de um bastardo!

Brigitte soltou uma exclamação. Não se tivesse surpreso mais se adama a tivesse esbofeteado. As tolas risadas das outras três mulheres

retumbaram com mais e mais intensidade no interior de sua cabeça, e notou quetodas se estavam divertindo com a cena.-Goda! -exclamou Hedda-. Volta para seu lugar de trabalho.

Encarregarei-me de ti mais tarde. A moça partiu correndo da sala com lágrimas nos olhos. Brigitte a

observou partir, sabendo que se sentiria responsável se castigavam a seuamiga. Entretanto, fazia acaso um pouco tão terrível? Hedda tinha estadoesperando uma oportunidade para infligir sua crueldade.

-E Você! -A dama se voltou uma vez mais para o Brigitte. -Vetedaqui. Estou obrigada a tolerar sua presença quando te encontra perto dobastardo, mas não de outro modo.

 A jovem se ergueu com arrogância, sentindo um irresistível desejode golpear à velha bruxa. Ainda assim, manteve a calma quando falou.-Você, senhora, tem os maneiras de uma vaca. -Hedda

avermelhou e começou a balbuciar, mas Brigitte prosseguiu-. E qualquer que techame dama o faz só para burlar-se!

 A moça se voltou, mas antes de que alcançasse o primeiro degrauda escada, a mão curva da Hedda a tirou do ombro e a forçou a girar. A mulher a esbofeteou com tanta violência, que a cabeça do Brigitte se sacudiu. Asdelicadas bochechas da jovem arderam com a marca de tão selvagem castigo,mas ela não se alterou. Permaneceu imóvel, indignada e desafiou à dama comuma expressão depreciativa nos olhos.

O desdém do Brigitte provocou um alarido da Hedda, habituada aserventes que se arrojavam temerosos a seus pés ante o menor arrebatamentode cólera. Com o rosto arroxeado, a mulher voltou a elevar a mão, mas esta foisúbitamente sujeita por detrás. Em seguida, Hedda foi lançada para o grupo dedamas que a secundavam. As quatro mulheres caíram sobre os tapetes aoreceber o impacto de seu corpo.

 Ajeitada sobre o chão, sobressaltada, Amélia foi primeira emlevantar-se e fugir, Ilse e sua donzela ficaram então de pé e correram fora dasala sem sequer olhar atrás. Hedda se incorporou dificultosamente e se voltoupara enfrentar ao Rowland, que a olhava com expressão furiosa.

-Se alguma vez voltar a pôr as mãos em cima de Brigitte, matarei-te, velha bruxa! -advertiu-lhe o moço com uma voz capaz de gelar o sangue dadama-. Arrebatarei essa depravada vida de seu corpo com minhas própriasmãos! Está claro?

Em resposta, Hedda soltou um violento alarido. Em poucosinstantes, os cavalheiros, escudeiros e pajens se aproximaram correndo dopátio, e um sem-fim de serventes apareceram de todos os rincões da sala.Brigitte ascendeu nervosa as escadas e se escondeu entre as sombras,aterrorizada. Estava isto acontecendo por sua culpa?

Ninguém se aproximou dos dois combatentes uma vez queadvertiram quem se achava enfrentando à ama. De ter sido outro o adversário,

todos tivessem entregue a vida para proteger à esposa do lorde. Mas ninguémousava levantar-se em contra do filho do Luthor. Todos conheciam a predileçãodo ancião.

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-Que diabos está acontecendo? -Luthor avançou, abrindo-se passoentre a multidão e franziu o sobrecenho ao ver a Hedda e ao Rowland tornando-se um a outro olhadas fulminantes.

-Luthor! -gemeu Hedda-. Tratou de me matar! O lorde se voltoupara seu filho para topar-se com a expressão furiosa do jovem.

-Se tivesse tentado matá-la, a bruxa já estaria morta -grunhiuRowland-. Adverti-lhe que a mataria se alguma vez voltava a golpear ao Brigitte.Ninguém toca o que é meu, ninguém! Nem sequer você -concluiu com firmeza.Um absoluto silêncio invadiu a grande sala. Todos aguardavam nervosos areação do lorde. Não muitos anos atrás, o comentário do Rowland tivesseprovocado um severo castigo de seu pai.

-Ele não é o lorde aqui -apressou-se a dizer Hedda-. Com quedireito lhas te indicar o que pode ou não pode fazer?

-te cale, mulher! -ordenou-lhe Luthor com uma expressão geadanos olhos e logo, grunhiu: Fora! Fora todo mundo!

Imediatamente, suscitou-se uma precipitada carreira para as

portas, e Hedda também se preparou para fugir, até que o lorde bramou:-Você não, mulher!Em um instante, a cavernosa sala ficou completamente vazia,

exceto pela presença do Luthor, sua esposa, Rowland e Brigitte, quem seencontrava esquecida nas escadas, muito aterrada para mover-se. A moçaconteve a respiração. Seria Rowland expulso da mansão? Como ousava falar com seu pai desse modo frente a tão público?

Entretanto, a fúria do Luthor não estava dirigida para seu filho. Ohomem propinó a sua esposa um golpe tão violento, que a voltou a jogar sobreos tapetes, e logo lhe aproximou para deter-se os pés da dama com o rostoavermelhado pela ira.

-Você obrigou ao Rowland a formular semelhante asseveração,mulher. Ele estava em seu direito, posto que eu não tenho nada que ver comessa moça. Só pertence a ele! -O ancião se apartou, aborrecido, para logoprosseguir com tom gelado.- Já te advertiu, Hedda, que essa jovem não é teuassunto. Está ligada ao Rowland, e ele está obrigado a protegê-la. Acaso supõeque porque é minha esposa não tem que escutar as advertências do Rowland?Mulher, se te matar por causa da moça, juro que não farei nada a respeito.Estará-me tirando de cima uma gangrenosa chaga da que faz anos devia haver liberado. -Ante a sobressaltada exclamação da mulher, o ancião adicionou-deveria me agradecer por não te haver envergonhado diante dos outros comestas palavras, mas este será o último gesto de consideração que receberá deminha parte, Hedda.

Depois de semelhante advertência, Luthor abandono a sala.Dois dias tinham transcorrido da disputa com a Hedda. Dias mais

acalmados, posto que tanto a dama como sua donzela não se arriscavam aentrar na sala em presença do Brigitte. A moça, pois, não as tinha visto após, ese sentia muito agradada.

Eram jornadas severas, entretanto, empanadas por um constantevéu de nuvens violáceos. Uma nova tempestade se estava gerando. A últimaneve ainda não se derreteu e outra tormenta logo engrossaria o imenso mantobranco que cobria as terras até o horizonte. Ainda, assim, a escuridão dos dias

não alcançava a escurecer o ânimo do Brigitte. A moça se sentia feliz. Nãoentendia a razão, nem tentava compreendê-la. Só se sentia imensamenteditosa. Todos notaram a mudança. Com freqüência, podia ouvir-se seu suave,

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efusiva risada. Seus sorrisos provocavam comentários, em ocasiões, tímidas,dissimulados sorrisos, como a expressão de seus olhos ao topar-se com o olhar do Rowland.

O velho lorde também o tinha advertido e se sentia agradado. Os jovens marotos estavam apaixonados, pensava o ancião com saudade,

rememorando seu primeiro amor, ao que tinha perdido antes de conhecer edesposar a harpía que agora era sua esposa. Luthor jamais tinha esquecido asua Gerda. Tampouco tinha amado nunca a outra mulher. De ter contínuo comvida, Gerda lhe tivesse brindado filhos varões.

Filhos. Um véu de lágrimas sempre empanava os olhos do Luthor ante essa idéia. Um homem de seu valor, um homem de sua fortaleza devia ter filhos varões. Mas ele só tinha filhas, condenadas filhas idênticas a suacondenada mãe. Hedda já não havia tornado a conceber depois do nascimentodo Ilse; tampouco tinham dado a luz suas outras companheiras de cama.

Porém, Luthor tinha ao Rowland, um homem de que podiaorgulhar-se, a resposta a todos seus rogos. O que o jovem desconhecia de seu

nascimento jamais lhe machucaria. Não, o segredo morreria com o Luthor, eMontville contaria com um forte, poderoso lorde uma vez que o ancião morrera.O mesmo se ocupou disso.

Rowland roçou apenas a bochecha de Brigitte com um ligeiro beijo. Acabavam de finalizar a comida matutina, e o homem riu ante o súbito rubor norosto da jovem, para logo abandonar a sala. Observou-lhe partir com um sorriso,envergonhada embora agradada por essa repentina demonstração de afeto.

Rowland caminhou pressuroso para o estábulo, onde Hunoaguardava já selado seu exercício matutino, que o jovem estranha vez negava aseu prezado corcel. As escuras nuvens do norte ainda sobrevoavam o horizonte,movendo-se para o este, logo ao oeste e, uma vez mais, para o este, como se

não pudessem decidir em que direção desatar a tormenta. A tempestadeprometia ser violenta e Rowland rogou que demorasse para estalar, posto quenão desejava ver-se apanhado em uma espessa cortina de neve.

Huno recebeu a seu dono com um potente bufo, e lhe falou comtom alegre, ao tempo que o conduzia fora do estábulo. O cavalo parecia algonervoso.

Sir GUI encontrou ao Rowland na entrada, enquanto levava seupróprio corcel às cavalariças. Ambos os jovens se detiveram para falar, mas umincômodo silêncio se produziu entre os dois velhos amigos.

-saíste cedo, né? -comentou Rowland a modo de conversação,desejando que GUI, por uma vez, respondesse com tom amigável.

O conciso "sim" de seu amigo lhe decepcionou e detrás observar as costas do moço e encolher-se de ombros, com irritação, dispôs-se a montar em seu corcel. Mas imediatamente trocou de opinião e seguiu ao GUI para oestábulo.

-O que acontece, amigo? -perguntou-. Acaso não creíste aspalavras do Brigitte aquela noite?

GUI não desejava responder, mas ao ver a dor e confusãorefletidas no rosto do Rowland, enterneceu-se.

-Se a relação entre vocês tivesse sido então melhor agora, poderialhe haver acreditado. Mas não me enganaram, Rowland. Foi um gesto muito

louvável o seu ao mentir para impedir a morte de um de nós... minha morte-admitiu-. Sou consciente de que minhas habilidades não podem ser comparadas com as tuas.

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-Maldição! -exclamou Rowland com exasperação- por que, então,não voltou a me desafiar?

-E ignorar assim os esforços da dama? -perguntou GUI,sobressaltado.

 A nota de amargura no tom de seu amigo perturbou ao Rowland.

-Eu não a mautrato, GUI. Você mesmo pode ver que a jovem éfeliz. Acaso não compreende que me condenaria e a nosso amor se admitisseque ela é o que afirma ser? Mas você desconhece as circunstâncias. Levei-meisso do Louroux e ninguém me impediu isso. Brigitte foi entregue pela força. Sena verdade fosse a filha de um barão, acredita que tudo tivesse acontecidodesse modo? Maldição, Berry inteiro se encontraria aqui agora exigindo aliberação da jovem!

GUI entrecerrou os olhos com fúria.-E quem diz que isso não ocorrerá? Quem diz que a felicidade da

dama não se deve a que está segura de que isso por fim acontecerá? Comosabe, ela tem a errônea idéia de que enviou um mensageiro ao Berry. Mas eu

sei que não foi assim!Rowland afogou uma exclamação.-E como sabe?GUI se encolheu de ombros, feliz ante a perturbação de seu amigo.-Considerando a fofoca dos serventes, é surpreendente que a

mesma dama ainda não se inteirou de seu engano. Pergunto-me como reagiráquando o descobrir. Acredita que continuará vendo-se tão feliz?

-Brigitte já não tem desejos de me abandonar -afirmou Rowland,algo tenso.

-Está seguro?Por um instante, o filho do Luthor desejou depositar seu poderoso

punho sobre o sorriso zombador de seu amigo. O impulso foi intenso, masconseguiu controlá-lo e só deixou escapar um rouco grunhido de fúria, para logo jogar-se sobre a arreios de Huno, desejoso de pôr a maior distancia possívelentre ele e o homem que tinha expresso suas próprias dúvidas.

Cavalgou velozmente para o pátio, interrompendo os exercícios deum cavalheiro e seu pajem, que deveram saltar a ambos os lados de seucaminho, para cair ajeitados sobre a neve. Rowland insistiu cruelmente a seucavalo para avançar para o campo aberto.

Porém, pela primeira vez em sua vida, o homem perdeu o controlede seu corcel. O potro girou em uma pronunciada curva, passou frente àschoças da servidão arrojando lodo a seu passo, voltou a galopar para o pátio,perturbando as práticas de quão guerreiros lutaram por esquivar a gigantescabesta e, finalmente, lançou-se em louca carreira sem rumo determinado.

Rowland se sentiu alienado. Não conseguia controlar ao animal, eo corcel parecia cego em seu desenfreado avanço para o muro de pedras quecircundava a mansão. Só no último instante, girou Huno para galopar enlouquecido para a parte posterior da casa. Assim que chegou ao imenso pátiotraseiro, o cavalo começou a corcovear violentamente em um desesperado tentode jogar em seu cavaleiro. E, por fim, obteve-o. Rowland saiu voando sobre otestruz de Huno para aterrissar no lodo. Então, rodou com incrível velocidadepara esquivar o passado do animal, cujas patas dianteiras estiveram a ponto de

lhe destroçar o ombro.O jovem se sentou com lentidão, dolorido, para observar a seuprezado corcel, que continuou corcoveando de modo selvagem durante vários

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minutos até que, finalmente, se calmo. Rowland não se sentiu irritado pelavergonha de ter sido arrojado de suas arreios. Só experimentou uma terrívelsensação de perda, ao advertir que Huno tinha enlouquecido e deveria ser sacrificado. A só idéia esgarró o coração do moço. Esse cavalo era objeto deseu orgulho, o mais fino corcel de todo Montville. Jamais voltaria a possuir outro

como ele. Vários homens correram dos distintos pátios para congregar-se aoredor do Rowland, quem, lentamente, ficou de pé. Uns criados se aproximaramcom cautela ao corcel, mas o moço lhes ordenou deter-se. Huno deveria ser sacrificado, mas só ele, nenhum outro, cravaria-lhe a faca no pescoço.

Sir GUI lhe aproximou e lhe ofereceu um lenço para limpar o lododas mãos e rosto.

-Está ferido?Rowland sacudiu a cabeça.-Só um pequeno arranhão, é tudo.-Meu Deus, o que pôde ter causado isto? Jamais vi um cavalo tão

possuído. Cães e lobos, talvez, mas nunca um cavalo e menos ainda, este!-Está possuído -confirmou Rowland com idêntico assombro. A dor nos olhos de seu amigo revelou ao GUI a tarefa que devia

executar-se.-Rowland, sinto muito. Preferiria que eu...?-Não -interrompeu-lhe o jovem e, depois de extrair a adaga de seu

cinturão, começou a caminhar com passo lento para o corcel.GUI se apressou a segui-lo.-Ao menos, me permita te ajudar. Pode que não consiga mantê-lo

quieto.Rowland assentiu e juntos se aproximaram do espantadiço animal.

Huno sei apartou inquieto, agitou as patas no lodo e fez girar os olhos de modoselvagem, mas finalmente a voz serena de seu dono o acalmou o suficiente paraque o jovem pudesse sujeitar as rédeas.

-Tirarei-lhe os arreios -ofereceu-se GUI-. Será difícil retirar aarreios... depois.

Rowland lhe lançou um olhar penetrante.-Ao diabo com os arreios! O cavalo... ah- gemeu, afundando os

ombros, derrotado.-Faz-o, então. Eu o sujeitarei.Seu amigo retirou com cuidado a arreios para entregar-lhe a um

criado. Um profundo silêncio invadiu o pátio quando todos observaram tensos apreparação do Rowland para cortar o pescoço de seu adorado cavalo. E, emmeio desse silêncio, o agudo chiado de sir GUI soou como um trovão.

 Ao ver o sangue e as puas afundadas no lombo de Huno, Rowlandsentiu um imenso alívio. Porém, essa reconfortable sensação logo se viu tintacom um leve sotaque de horror, já que tinha estado a ponto de sacrificar injustamente a seu prezado corcel. Desde não ter retirado GUI a arreios, eletivesse descoberto as puas muito tarde.

-Roger -vaiou o moço.GUI que se encontrava a seu lado, alcançou a perceber o

formigamento que percorreu o corpo de seu amigo ao pronunciar o nome de seu

mais acérrimo adversário.-Rowland, não pode estar seguro.

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Mas o moço não pareceu ter ouvido. voltou-se sobre os talões ecomeçou a caminhar para a mansão.

-Rowland, me escute -suplicou-lhe GUI com ansiedade, movendo-se depressa para alcançar os largos passos de seu amigo-. Não tem nenhumaprova!

Rowland se deteve e se voltou, obtendo logo que controlar-se.Tinha muito ódio para descarregar, mas não sobre sir GUI.-Tampouco tenho dúvidas.-E se está equivocado?-Já duas vezes trataste que defender a esse patife. Não esbanje

seus esforços, GUI -advertiu-lhe -.Sua intenção era me romper o pescoço, oumatar a meu corcel. Toda minha vida sofri por culpa do e estou cansado.

-Mas, se seriamente está equivocado? -insistiu seu fiel amigo.-Francamente, não me importa. Já faz muito tempo que deveria ter 

liquidado ao Roger.Rowland continuou seu caminho para a sala com firme

determinação. Esta vez, sir GUI decidiu não lhe seguir. Solo deixou escapar umsuspiro. Mesmo que Roger não fora o responsável por essa espantosa ação,era, sem dúvida, culpado de muitas outras faltas igualmente terríveis.

30

Com os braços carregados de roupa, Brigitte abandonou aantecâmara do Rowland, fechou a porta com o pé e começou a caminhar pelocorredor. de repente, deteve-se quando viu o Roger do Mezidon sentado na janela arqueada que dava a grande sala. O moço não olhava para o piso

inferior, a não ser diretamente para a moça, como se tivesse estadoaguardando-a.

Imediatamente, a jovem se voltou e deixou escapar um grunhidoao advertir que Wolff não lhe tinha seguido, mas sim se tinha ficado encerradona habitação. Brigitte sentiu desejos de arrojar a carga de seus braços e correr,mas Roger se incorporou e lhe saiu ao encontro. Ela, entretanto, não perdeu acalma: sem dúvida, o homem não seria tão tolo para ignorar as severasadvertências do Rowland.

-Caramba, lady Brigitte -começou a dizer Roger com desdém-.Vejo que não só finge ser uma serva, mas também além disso representa àperfeição seu papel. Pergunto-me por que.

-me deixe passar.-Não faça a um lado, milady, quando te estive aguardando com

tanto esmero. Já tinha começado a abandonar a esperança de te encontrar alguma vez sem a escolta de alguma de suas bestas. O lobo e o leão sabemvigiar muito bem.

-Estou segura de que ao Rowland divertirá sua descrição -afirmoua jovem-. Já inclusive posso ouvir suas estrondosas gargalhadas.

-Joga comigo, milady -disse Roger com irritação-. Acaso acreditaque temo a esse caipira?

Ela arqueou uma sobrancelha.

-Não é assim? Não, vejo que não, posto que não atendeste asadvertências do Rowland. Vive arriesgadamente, milord. Algum dia, cantarão-sebalidas em honra a sua coragem.

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-Não esbanje seus sarcasmos, rapariga. -O homem não tentoudissimular seu aborrecimento-. Reserva-os para o Rowland que é capaz deenternecer-se com suas palavras.

O estendeu os braços para tomá-la, mas Brigitte retrocedeuimediatamente com uma expressão ameaçadora nos olhos.

-Se me tocar, gritarei. É desprezível!-Pode ser, mas, ao menos, eu estaria disposto a te converter emminha esposa.

-Sua esposa?-Parece surpreendida. Acaso Rowland não te valoriza o suficiente

para te propor matrimônio?-Ele não sabe... A moça se deteve de repente, sobressaltada ante seus próprios

esforços por defender a atitude do Rowland. Acaso ele não a respeitava? Ela lhetinha entregue por completo e, talvez, por essa razão ele a considerava vulgar,desdenhável. Jogou ao Roger um intenso olhar de ódio por haver despertado a

dúvida e falou com firmeza. -Já hei dito tudo...Uma voz que ambos reconheceram bramou o nome do Roger dasala, sufocando as palavras do Brigitte. A moça observou a seu acompanhantee pôde perceber seu temor. Uma vez mais, Rowland tinha ido em seu resgate.Entretanto, ele não podia saber que Roger lhe tinha interceptado. Haveria acasoalguma outra razão que pudesse provocar o tom sinistro na voz de seu amigo?

Rowland apareceu ao final do corredor para deter-se de costas àarcada. um segundo mais tarde, equilibro-se para os jovens, profiriendo umalarido de ira.

Brigitte se paralisou e conteve a respiração quando as imensasmãos do Rowland se fecharam ao redor do pescoço de seu antigo inimigo. As

resistências do Roger fizeram cambalear a jovem, que caiu ao chão,esparramando toda a carga em redor. Quando voltou a olhar aos dois homens,Roger estava a ponto de ser asfixiado, já que não conseguia liberar-se dospoderosos dedos de seu hostigador. A moça sentiu náuseas ao advertir que seachava presenciando um assassinato. Não podia tolerar a só idéia de queRowland fora seriamente capaz de matar a seu adversário.

-Basta! -exclamou Brigitte, quando já não pôde suportar o horrendoespetáculo.

Rowland elevou então os olhos, brindando ao Roger aoportunidade de levantar ambos os braços e, depois de liberar-se, atirar umviolento murro na mandíbula de seu oponente. Entretanto, Rowland não semoveu, nem sequer um centímetro. Aterrorizado, Roger encurvou as pernaspara lançar um feroz chute, que aterrissou no peito de seu adversário, jogandono jovem para a janela arqueada. Brigitte soltou um potente alarido ao ver oRowland desaparecer detrás da abertura.

 A moça fechou os olhos, recusando-se a aceitar que Rowland tinhacansado. Quantas vezes se deteve ela frente a essa janela para olhar para asala, antes de descender pelas escadas contígua? A arcada se achava a umaaltura mortal do duro piso de pedra do gigantesco salão. E Roger o tinhaempurrado! Roger!

Brigitte voltou a abrir os olhos, mas Roger já não se encontrava a

seu lado, mas sim se achava de pé, junto à janela, olhando para baixo comperversa satisfação. Ao observar ao jovem contemplando a seu inimigo atravésda arcada, a moça se sentiu acossada por um repentino desejo até então

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desconhecido: o terrível desejo de matar. O impulso assassino a insistiu aincorporar-se e avançar lenta e cautelosamente. Enquanto se aproximava, tevetempo de considerar que estava a ponto de cometer um crime. Entretanto, nãose deteve, mas sim estendeu ambos os braços para sua possível vítima.

Roger, ainda de pé frente à janela, continuava imóvel, observando

com malícia. Brigitte tratou de infundir-se coragem. Suas mãos se encontravama escassos centímetros das costas de seu inimigo e só precisava inclinar-se.Mas nesse instante, Roger se agachou e começou a golpear a saliente daarcada com os punhos. Foi então quando a moça advertiu os dedos obstinadosdo bordo. Eram os dedos do Rowland! O moço tinha conseguido sujeitar-se dasaliente e agora Roger estava tratando de lhe soltar.

Brigitte, mais tarde, perguntaria-se de onde tinha extraído forçaspara apartar ao moço dessa janela e lhe jogar para as escadas, brindando aoRowland a oportunidade que necessitava para subir para a salvação. Depois devários tombos sobre os degraus de pedra, Roger se incorporou ileso e se lançouà fuga, seguido pelas velozes pisadas de seu adversário.

Rowland conseguiu lhe alcançar no estábulo e, imediatamente,Roger saiu voando através das portas abertas para deslizar-se vários metros nopátio enlodado e receber, um segundo mais tarde, o peso de seu adversário,que lhe equilibrou de um salto. Logo se congregou uma multidão ao redor deambos os combatentes e, um instante depois, Brigitte chegou também ao lugar da cena. Ali se encontrava Luthor, observando a seu filho matar a seu inimigo sócom as mãos, e a seu lado, achava-se sir GUI, também presenciando a luta. Amoça correu para eles e afundou os dedos no braço do lorde, quem se voltoucom uma expressão inescrutável nos olhos.

-Não vais deter os? -suplicou-lhe ela com veemência.-Não, rapariga -respondeu o ancião brevemente, antes de voltar-se

uma vez mais para o sangrento espetáculo.-Por favor, Luthor!Se a tinha ouvido, ele soube dissimulá-lo. A moça voltou a olhar 

aos dois combatentes. Roger já não se movia, mas os punhos do Rowlandcontinuavam esmurrando-o sem compaixão.

Brigitte se voltou e, com lágrimas nos olhos, começou a correr paraa sala. Não alcançou a ver o Rowland deter o ataque; tampouco lhe viuabandonar o pátio.

Roger se encontrava seriamente ferido, mas ainda continuava comvida.

31

Brigitte passou o resto do dia encerrada na antecâmara doRowland, meditando, chorando e amaldiçoando ao jovem. Não foi a não ser atéa noite quando se inteirou de que ele não tinha matado ao Roger depois detudo.

Goda lhe comunicou a notícia. Rowland a tinha enviado parachamar o Brigitte a grande sala. Em geral, ele mesmo estava acostumado aescoltá-la até a mesa na hora do jantar, mas essa noite tinha enviado à criada. A

 jovem não demorou para averiguar o porquê.

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-Sir Rowland está ébrio, ama -informou-lhe Goda com relutância-.Entregou-se à cerveja logo que lorde Roger foi conduzido através da entrada por seu escudeiro. Em boa hora nos liberamos de esse!

-Mas estava bem?-Está muito mal-humorado e não faz mais que amaldiçoar a todos

-respondeu a criada-. Mas se encontra ébrio. Não acredito que saiba o que diz.-Referia ao Roger encontrava-se bem quando se foi?-Considerando os fatos, sim -respondeu Goda-. Tem o rosto

terrivelmente inchado e alguns ossos quebrados... um dedo e umas costelas,conforme acredito. Mas logo sanará... é uma lástima.

-Isso é cruel, Goda -repreendeu-a Brigitte e, logo deixou escapar um suspiro de pesar-. Me perdoe, não sou eu a mais indicada para julgar,quando quase estive a ponto de matar ao Roger.

-Quando foi isso?-inquiriu a criada com os olhos dilatados pelasurpresa.

-Esta manhã -reconheceu Brigitte-. Quando se iniciou a luta.

-Mas sir Rowland não morreu. por que está então tão perturbada?-por que? -perguntou a jovem, elevando a voz. Como pode meperguntar por que? Roger é um homem mau, mas mesmo assim, sentiu-seapavorado frente a Rowland. Não foi uma briga justa e isso é o que me adoece.Rowland estava muito encolerizado para que fora justa. Desejava ver sangue eo conseguiu. Tentou matar ao Roger com suas próprias mãos.

Goda lhe colocou brandamente uma mão no ombro.-Acaso você não tentou o mesmo?-Isso foi diferente -afirmou Brigitte com tom gelado-. Acreditei que

Rowland tinha morrido. A criada partiu um instante mais tarde, e Brigitte se deixou cair 

sobre uma cadeira. Não, não desejava reunir-se com o Rowland na sala, não sese encontrava embriagado.

O homem, entretanto, não se achava tão ébrio como para nãoperceber que algo mau estava acontecendo. Goda retornou sozinha à sala. por que Brigitte não tinha respondido a suas chamadas? Franziu o sobrecenho comexpressão sombria. A resposta não demorou para chegar. tratava-se da mesmarazão que lhe tinha mantido enchendo uma e outra vez seu copo de cerveja, amesma razão pela que tinha permanecido na sala, temeroso de ficar frente à jovem. Brigitte já conhecia seu engano. Com segurança, alguém o tinhacontado. Talvez, o mesmo Roger. por que outra razão poderia o patife ter procurado à moça quando lhe tinha advertido que se mantivesse afastado? Sim,isso era. Brigitte sabia que Rowland não tinha completo com o trato, que jamaistinha enviado ao mensageiro para o castelo do Arnulf.

O moço afundou a cabeça entre os braços e exalou um profundosuspiro. por que tinha que acontecer uso quando tudo parecia partir tão bem? AO diabo com esse maldito dia! Entretanto, já nada podia fazer mais queapresentar-se ante a jovem. Lhe consideraria um mentiroso e se sentiria furiosa,mas tinha que vê-la. Rowland abandonou a sala. Uns segundos mais tarde,entrou em sua antecâmara para encontrar ao Brigitte atando sua confusão depertences, os poucos artigos que tinha levado consigo ao mudar-se à habitaçãodo homem.

 Ao ver a jovem empacotar, Rowland se sentiu desolado. Advertiuque a perdia. Soube que voltaria a separar-se e a só idéia lhe resultouintolerável.

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Brigitte se dignou a lhe olhar brevemente, para logo retirar os olhosimediatamente.

-claro que sim. Roger se foi. Já não há razão para que continuedormindo nesta antecâmara. Por ele quis que me mudasse aqui, não foi assim?

-E se te suplicasse que ficasse? Sei que veio aqui pelo Roger,

mas... -Embora insista, não desejo permanecer nesta habitação, nãodepois de hoje.

 A moça falou com voz de gelo e isso lhe desalentou ainda mais.-Brigitte compreendo que esteja zangada...-O que sinto é muito mais que simples aborrecimento lhe corrigiu a

 jovem com rudeza.-Então, me amaldiçoe. Mas acaba com isto de uma vez. Se

pudesse retirar a mentira, juro-te que o faria.-Mentira? -perguntou ela, confundida. Ao advertir a surpresa da moça, Rowland tivesse desejado mordê-

la língua. Mas se não era o engano o que lhe tinha irritado, então...-por que estas zangada? Brigitte ignorou a pergunta.-Que mentira, Rowland? Ele se fingiu inocente. -Do que está

falando? -Você ...OH! -exclamou a jovem-. Nego-me falar contigo quando estábêbado!

Brigitte começou a caminhar para a porta, esquecendo seuspertences, mas ele lhe adiantou para interpor-se em seu caminho.

-por que está tão zangada? -inquiriu, tratando de produzir um tomcongraciador-. Porque bebi muito?

-No que a mim respeita, pode te afogar em cerveja se assim odesejar -vaiou ela com um brilho nos olhos-. Sua brutalidade é o que me

consterna. Foi selvagem hoje em sua sede de sangue. Quase assassinas aoRoger!

-Mas não lhe matei, Brigitte -fez-lhe notar o jovem com suavidade. Ainda quando o tentava, não conseguia compreender a fúria da jovem.

Rowland elevou uma mão para lhe acariciar a bochecha, mas elase apartou.

-Não posso tolerar que me toque depois de presenciar semelhantecrueldade.

O moço finalmente perdeu a compostura.-Atreve-te a apoiar a esse canalha em meu contrário! Minhas

carícias lhe repugnam, né? Maldita seja, mulher, não faço mais que te proteger.É uma serva e, ainda assim, trato-te como a uma rainha. Sou seu senhor, e,entretanto, condena-me!

-Eu não pedi seu amparo -apressou-se a esclarecer Brigitte.-Santo Deus! Então, retirarei-a, e já veremos como vai sem minha

defesa!-Rowland!-Sua deslealdade me aborrecimenta. Maldita seja! -bramou ele-.

Sofri piores castigos em mãos do Roger quando era mais jovem. Agora que,finalmente, posso lhe devolver seu castigo, condena-me e diz que não podetolerar minhas carícias.

-Rowland, por favor- gemeu Brigitte-. Não foi minha intençãoparecer desleal.

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-Troca de tom agora porque tem medo, mas conheço seusverdadeiros sentimentos! -A ira do jovem era infinita -Vete daqui, Brigitte. Darei-te o que desejas. Já é livre, você Libero de mim!

 A moça sentiu um nó entupido na garganta e não pôde articular nenhuma palavra. Imediatamente, tomou seu maço de pertences e correu fora

da habitação.Uma vez que teve fechado a porta, desatou-se em lágrimas. O quetinha feito? Por todos os céus, o que tinha feito?

32

-De modo que Rowland quebrou seu vínculo contigo?Brigitte se encontrava agitando distraídamente o tigela do café da

manhã, nervosa sob o olhar escrutinador do Luthor. A moça não se atrevia aolhar ao ancião. achava-se sentada no banco onde comiam os serventes, o qual

indicava a todos que algo mau acontecia entre ela e o filho do lorde. E aaparente indiferença do Rowland para a jovem o confirmava. Luthor conheciatoda a história, posto que seu filho a tinha crédulo.

-Não foi algo dura com ele? -perguntou o ancião, de pé junto aobanco da servidão, com o olhar fixo nela.

Brigitte manteve a cabeça encurvada, incapaz de lhe olhar.-Sim, fui muito dura.-por que, rapariga? -inquiriu Luthor com doçura-. Ele não tinha feito

nada do que tivesse que envergonhar-se.-Agora me dou conta -confessou Brigitte-. Muitos feitos

perturbadores se aconteceram com muita rapidez ontem e me senti confundida

e zangada.-E agora é meu filho quem se encontra de um péssimo humor.

Talvez, se lhe dissesse o que acaba de me confessar, ele compreenderia.Brigitte olhou por fim ao ancião.-Você não acredita isso mais que eu. Machuquei-lhe, e agora

deseja conversar sofrer por isso.-Rowland finalmente cederá -afirmou Luthor com voz áspera.-Talvez -assentiu ela com saudade e seus claros olhos azuis se

empanaram-, mas eu não estarei aqui quando isso aconteça.-E onde estará, rapariga?-Já não posso permanecer aqui por mais tempo. Hoje mesmo me

partirei.-A pé?-Não possuo um cavalo, milord.Luthor sacudiu a cabeça com determinação. -Não permitirei que

abandone Montville a pé.-Todos aqui aceitaram os direitos que Rowland, afirmou possuir 

sobre minha pessoa, e agora devem admitir que já não tenho senhor porque eleme conferiu a liberdade. Ninguém aqui pode me impedir que vá aonde meagrade.

-Eu sim -afirmou o ancião, irritado-. Como amo deste lugar, não

posso permitir que tente algo tão imprudente como caminhar daqui até opróximo feudo.

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-Uma vez requere sua ajuda, milord, e me negou isso. Agora meoferece isso, quando não a desejo.

-Mas essa vez me pediu que opor a meu filho -recordou-lhe olorde.

-Ah! Não é minha segurança o que se preocupa, a não ser 

Rowland. Quer me reter aqui porque acredita que ele trocará de opinião.-Estou seguro disso.-Devo interpretar, então, que me está oferecendo seu amparo?-Sim.-Sua intromissão desgostará ao Rowland, milord. Ele espera que

me parta.-Tolices -resmungou o ancião-. Meu filho logo voltará para seus

cabais.Brigitte se encolheu de ombros.- Muito bem. Ficarei por um tempo. De todos os modos meu senhor 

logo enviará alguém para me buscar. Então, terá que me deixar partir ou te

arriscar a iniciar uma guerra com o conde Berry.-Que demônios quer dizer? -perguntou Luthor. A moça sorriu.- Rowland enviou um mensageiro para o Berry para indagar a

respeito de minhas asseverações. Inteirará-se então de que sou na verdade afilha do falecido lorde do Louroux. Quando o conde Arnulf envie por mim, seufilho saberá por fim que não lhe menti e que tudo isto não foi mas que umlamentável engano.

-Um mensageiro, né? -pensou o ancião em voz alta. - Rowland tedisse que tinha enviado a alguém?

-Sim -respondeu a jovem-. Essa foi sua parte do trato, se eu

prometia não tentar escapar outra vez.-Já vejo.- Luthor adotou um ar pensativo-. Há-te conta de que a

prova de suas afirmações poderia prejudicar ao Rowland? Ele é um homem dehonra e aceitará qualquer punição que imponha Arnulf. Se o conde exigir umcombate a morte contra um paladín do Berry, meu filho acessará. Ele poderiamorrer.

-Não! -exclamou Brigitte com veemência-. Não permitirei que issoaconteça. Seu filho não é absolutamente responsável por tudo isto. Alguém maisé o culpado. E eu... Eu não desejo que nada mau ocorra ao Rowland.

-Bom, só nos subtrai aguardar e ver o que nos proporciona ofuturo. -O lorde soltou uma breve risada.- Talvez, você nos abandone, oupossivelmente, permaneça aqui para que suas relações com meu filho voltem aser como antes.

-Minha relação com o Rowland nunca voltará a ser como antes.-Tal como pinjente, isso já o veremos. O certo é que não passarão

muitos dias antes de que Rowland ceda - vaticinou Luthor, agitando um dedofrente ao rosto da jovem- Recorda minhas palavras, rapariga.

Brigitte franziu o sobrecenho. Apenas um instante atrás, o lorde seviu preocupado pelas possíveis conseqüências que poderia conduzir a ira doconde Arnulf e, agora, parecia incrivelmente sereno. Sem lugar a dúvidas, esseera um homem muito estranho.

 Ao tempo que o ancião começou a apartar-se, ela decidiu falar súbitamente.-Aceitarei seu amparo, milord, mas não estou disposta a te servir.

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Luthor se voltou, observou à moça por um instante e logo, deixouescapar uma estrondosa gargalhada.

-Não pretendo que me sirva, rapariga. É livre de fazer o que teagrade. Só peço que não tente abandonar Montville sem escolta.

-E lady Hedda? Manterá-a afastada de mim?

-A dama não te incomodará-. Depois de inclinar a cabeça a modode zombadora reverência, Luthor se retirou. Brigitte se sentiu imensamentealiviada. Não tinha desejado abandonar Montville sem um cavalo. Agora poderiaesperar ao conde Arnulf ou a seu emissário para retornar a casa. Pouco depois,abandonou a sala para dirigir-se fazia a choça. Ali tinha passado uma miserávelnoite, em solidão. Rowland se encontrava no pátio quando ela apareceu. Omoço a viu e ela se deteve, mas ele em seguida se voltou. Brigitte lhe lançou umbreve olhar e continuou pressurosa seu caminho.

Com infinito pesar, fechou a porta de seu pequeno quarto. sentia-se completamente desventurada. sentou-se sobre o cama de armar e gemeu.

-Não deveria me importar. Mas sim... sim me importa! Chorou

durante o resto da manhã, tendida sobre a cama. Perto do meio-dia, arrastou-seaté o velho armário, onde tinha arrojado seu maço de pertences a noite anterior.Examinou seus vestidos e decidiu lavá-los, inclusive o de linho azul, que nãotinha usado desde que tinha visto o Rowland pela primeira vez. Acariciou asbrilhantes safiras e se perguntou como reagiria o moço se a via entrar essa noitena sala vestindo esse mesmo traje. Deixou escapar um suspiro. Só ocasionariadificuldades.

Inclusive, poderiam acusar a de havê-lo roubado. Mas, mesmoassim, lavaria-o.

Empilhou os vestidos sobre um braço e caminhou para a porta,mas quando a abriu, encontrou a Amélia do outro lado, que a observava com um

brilho perverso nos olhos. O que quer? Amélia riu intensamente, sacudiu sua acobreada cabeça, depois de

cruzar-se de braços, apoiou-se contra o marco da porta para lhe impedir opasso.

-Ainda segue sendo a prostituta arrogante, né? -Suponho queacredita que ele voltará a te levar a sua cama, não é assim?

Brigitte se ruborizou, mas tratou de ocultar sua perturbação.Jamais conseguiria habituar-se ao desatino da Amélia. Entretanto, não permitiriaque essa jovem advertisse quanto a perturbava com sua vulgaridade.

-Como quer que te responda? -perguntou-lhe com calma-.Certamente, poderia lhe fazer retornar para mim se assim o desejasse, mas nãoé esse meu desejo.

Os olhos da outra moça se dilataram, para logo entrecerrarse.-Mentirosa! Ele terminou contigo. E não lhe levou muito tempo

cansar-se de ti. -Soltou uma gargalhada irônica-. Eu lhe tive muito mais quevocê, e voltará a ser meu. Rowland se desposará comigo, não com uma frígidaprostituta francesa que não sabe como lhe agradar. Já vê que logo lhe fartou.

Brigitte sentiu um intenso ardor nas bochechas. em que pese aseus impetuosos esforços por manter-se indiferente, Amélia tinha conseguidomachucá-la.

-Eu conheci a um só homem, Amélia -apressou-se a afirmar,

incapaz de controlar-se-. Talvez, agradará-te acreditar que não consegui lheagradar, mas eu sei que não é assim. Era virgem quando me topei com oRowland, e ele sabe. Você não poderia dizer o mesmo, ou sim?

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-Cadela!Brigitte riu com sarcasmo.-Bom, talvez eu seja uma cadela, mas das duas, você é a

prostituta. ouvi o que se comenta sobre ti e com segurança, as mesmas intrigaschegaram também para ouvidos do Rowland.

-Mentiras! Todos eles mentem! -exclamo Amelia com seus olhospardos enegrecidos pela ira.-OH, acredito que Rowland sabe muito a respeito de ti, Amélia

-afirmou Brigitte com voz grave, lhe ronronem.-Pois há algo que você não sabe -chiou a outra jovem com fúria-.

Ele te enganou, e nunca me mentiu! -Esboçou um amplo sorriso de satisfaçãoao advertir a evidente confusão da outra moça-. É uma tola! Todo mundo aquiconhece o trato que vós pactuaram. A pequena Goda não faz nada melhor quefofocar. Todos sabem que Rowland não cumpriu com sua parte do trato. Tãopouco lhe importa, que simplesmente não se incomodou em cumpri-lo.

Brigitte fechou as mãos em um punho com tal violência que

machucou as Palmas com as unhas.-Quer dizer que não enviou um mensageiro para o Berry?-Claro que não. Por que teria que fazê-lo? - Amelia esboçou um

presunçoso sorriso-. Que ingênua é.-Isso não é verdade! -exclamou Brigitte e, depois de arrojar os

vestidos sobre a cama de armar, esquivou à outra jovem e correu para o pátioem busca do Rowland.

O moço se encontrava perto do estábulo, montado sobre umcavalo. Não era este Huno, posto que o animal ainda não se recuperou de suasferidas.

 A moça correu para o Rowland e gritou sem mais preâmbulo:

-Cumpriu sua parte do trato? Enviou o mensageiro ao conde Arnulf?

-Não -respondeu ele de modo categórico e um leve brilho nosolhos.

Produziu-se um breve silêncio e, logo, a jovem deixou escapar umlastimoso chiado.

-por que não?-Pareceu-me uma petição absurda -respondeu o homem sem

rodeios, tratando de dissimular sua vergonha.-Tanto me menospreza, que não te importou me mentir, não é

assim?Rowland se inclinou para a jovem com seus olhos azuis escuros

como a noite, mas antes de que pudesse responder, ela prosseguiu.-É um canalha! Nunca te perdoarei!O homem fez girar seu cavalo e se afastou sem formular 

comentário. Essa aparente indiferença irritou imensamente à moça.-Odeio-te, Rowland! -gritou-lhe à figura que se apartava mais e

mais-. Oxalá o diabo te esteja aguardando com impaciência! Maldito seja,maldito seja, maldito seja!

Umas mãos a conduziram de retorno a sua choça, mas ela não assentiu. Durante um comprido tempo, não sentiu nada, nada absolutamente.

Essa noite, Rowland se passeou pelo pátio como um leãoenjaulado. aproximou-se uma, dois, três vezes ao quarto do Brigitte para logo,

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afastar-se abruptamente. Em cada ocasião, ouviu seu pranto e retrocedeu. Nãoera o momento de lhe suplicar o perdão. Ela necessitava tempo.

E, essa mesma noite, o homem teve o velho perturbador sonho desua infância. Mas, esta vez, ao despertar, sentiu que já começava acompreendê-lo. Esta vez, realmente tinha perdido o que mais amava no mundo.

33

Já tinham transcorrido três dias, e Brigitte se sentia exaustaquando chegou por fim ao destino. Tinha cavalgado sem cessar durante asprimeiras duas jornadas e tivesse chegado ao Angers essa manhã de nãohaver-se desatado uma tormenta. Por fortuna, o mau tempo o tinha deixadoatrás ao cair a tarde. A partir de ali, a marcha se tornou mais lenta e penosa: eraduro cavalgar sobre o espesso manto de neve, perdendo de vista ao Wolff umae outra vez. Porém, a pior parte da viagem tinha finalizado.

Encontrou uma cama morna no monastério, embora, ao ser tomada por uma pobre camponesa, não obteve uma habitação privada, mas simdeveu compartilhar um imenso dormitório. Ainda assim, era uma cama, e sesentia muito cansada para protestar. Não contava com dinheiro para pagar algomelhor e, depois de tudo, não era mais que uma mendiga. Entretanto, pelamanhã, solicitaria uma audiência com o conde do Anjou. Não lhe conhecia, mas,sem dúvida, o homem lhe ofereceria ajuda uma vez que lhe tivesse contado ahistória. Assim, a jovem dormiu, segura de que, pela manhã, encontraria por fimsua salvação.

Lamentava ter enganado ao amável sir GUI mediante uma sujaartimanha, mas, de ter conhecido seus planos de fuga, jamais lhe tivesse

permitido levar um cavalo.Logo chegou a manhã. Brigitte solicitou uma quarta privado e água

para lavar-se, ante o qual, o jovem clérigo franziu o sobrecenho, mas mesmoassim, satisfez suas demandas. A moça passou duas horas no banheiro,polindo-se com especial cuidado e, logo, vestiu-se com o traje azul. Envolta emtão deliciosos ornamentos, com os olhos de um tom azul mais intenso peloreflexo das safiras e suas largas tranças douradas aparecendo sob o capuz domanto, Brigitte parecia uma rainha. Depois de evitar ao jovem clérigo para nãoalarmá-lo com a transformação, a moça abandonou o monastério em direção aopalácio do conde.

Não teve dificuldade em atravessar a entrada, até sem escolta. Umencarregado do estábulo lhe saiu ao encontro para tomar as rédeas do cavalo elhe indicou o caminho para a grande sala da corte. Brigitte se sentiu algoinquieta ao ver o sem-fim de nobres que corriam pressurosos pelos numerososcorredores do castelo. O conde do Anjou era um homem poderoso. Dispensaria-lhe algo de seu tempo para atender suas súplicas? A jovem só necessitava umaescolta, uns poucos homens que a levassem até o Berry. Poderia pagar o favor com suas safiras se era necessário.

 A habitação era cavernosa e tão gigantesca como a grande sala doMontville. Centenas de pessoas rondavam por ali: todos nobres elegantementevestidos em companhia de suas deliciosas damas. Era o espetáculo mais

impressionante que Brigitte tinha presenciado jamais, e não pôde evitar sentir admiração, de uma vez que temor. Qual de todos esses homensmajestosamente vestidos era o conde do Anjou? A corte era informal e não

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havia plataforma, por isso não havia modo de averiguar qual de todos eles era oconde.

-Está aqui para ver o conde, milady? A moça se voltou para o corpulento cavalheiro calvo e esboçou um

nervoso sorriso.

-encontra-se ele aqui?O homem sorriu com presunção, e seus pequenos olhos cinzascintilaram.

-Sua alteza se acha, sem lugar a dúvidas, presente, milady.Brigitte se sentiu algo incômoda ante o evidente desdém do

cavalheiro, Seria acaso um inimigo do conde? Algum ciumento lorde? Por fortuna, ela jamais se viu envolta nas intrigas cortesãs. Com segurança Druodase sentiria feliz ali, mas não a moça. -Jamais vi ao conde, milord -admitiuBrigitte, esperando que o homem não lhe formulasse muitas perguntas.

-Pois não te custará reconhecê-lo com todo seu esplendor. Ali. -Ocavalheiro assinalou para o centro da habitação-. o de veludo vermelho, com

uma esmeralda tão grande como seu nariz no pescoço. A jóia era minha; aentreguei em pago por um favor que jamais recebi. A jovem se sentiu desalentada. Trataria-a o conde com a mesma

dureza? Aceitaria ele ajudá-la para só tomar as safiras e logo, esquecê-la? Ao tempo que examinava ao homem de veludo vermelho, seus

olhos se posaram sobre o alto, robusto cavalheiro que se encontrava a seu lado.Então, paralisou-se.

- Rowland! Não era possível! Mas ali estava ele, majestosamentevestido com uma túnica negra de cetim e uma capa de veludo cotelê da mesmacor. Brigitte nem sequer sabia que o moço possuísse tão elegantes ornamentos.Obviamente, lhe tinha mentido ao afirmar que não conhecia ninguém no Angers,

posto que o conde lhe falava como se se tratasse de um velho amigo. sentiu-seainda mais aturdida quando viu a formosa jovem que se achava obstinada dobraço do Rowland. Acaso alguém mais que o homem juraria não conhecer?

OH, Deus! Brigitte se ocultou detrás de uma imensa coluna. Doque estaria falando o jovem com o conde? Estaria-lhe advertindo a respeito deuma serva que afirmava ser dama e a quem deveriam enviar diretamente paraele? Maldição! Sem dúvida, isso lhe diria! O muito canalha. Como teriaconseguido chegar primeiro a corte?

 A moça se voltou e abandonou sigilosamente a sala, tratando deocultar o rosto sob o capuz de seu manto. Mas, assim que chegou ao corredor,começou a correr sem deter-se até chegar ao estábulo, onde esteve a ponto deenrolar ao jovem encarregado.

-Onde está minha égua? Onde? Depressa!-A...ali... milady -gaguejou o homem, ao tempo que assinalava uma

das cavalariças.Brigitte correu até o cavalo e o conduziu fora do estábulo. Subiu à

arreios sem ajuda e se forçou a manter um passo sereno até atravessar oportalón do castelo. Enquanto cruzava o pátio, não pôde evitar olhar uma e outravez para trás, temerosa de que Rowland saísse a persegui-la.

Por fim, encontrou-se além dos muros que circundavam o palácio.Ninguém a seguia; ao menos, não no momento. Começou a galopar para o sul,

mas se deteve abruptamente. Wolff! Tinha abandonado a seu mascote nomonastério! Girou imediatamente e cavalgou de retorno ao convento, cuidandoagora de não acelerar muito a marcha e atrair assim a atenção da gente.

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Enquanto avançava, preocupada com seu novo dilema, não cessou de olhar uma e outra vez por cima do ombro. Ante o mais ligeiro som, não podia evitar sobressaltar-se, já que imaginava ao Rowland galopando por detrás.

E, então, de repente, viu-lhe aproximando-se pela rota. A moça seergueu, muito sobressaltada para perguntar-se como tinha obtido ele avançar do

norte, em lugar de segui-la do castelo. Sacudiu a cabeça, terrivelmenteconfundida. O se aproximava mais e mais, com sua capa negra revoando novento. Presa do pânico, Brigitte girou e sapateou com força os flancos de seucorcel. Mas Rowland não demorou para alcançá-la. Não conseguiu sujeitar asrédeas da égua e, em seu lugar, apanhou o corpo da moça para colocá-la sobreseu regaço. A jovem lutou, fazendo cambalear a ambos sobre o cavalo.

-Detenha, Brigitte, ou ambos cairemos -advertiu-lhe o moço.-Pois, caiamos, então! -exclamou ela.Ele conseguiu sujeitá-la com um braço e deter o cavalo com o

outro.-Já está. Agora, se não deixar de chiar, porei-te de barriga para

baixo sobre meu regaço e te darei uma surra que atrairá a toda uma multidão.Rowland lhe falou com tom te sussurrem junto ao ouvido, e a moçase tranqüilizou imediatamente.

-Seria capaz, sem dúvida, bruto que é -disse-lhe com mais calma.E1 homem soltou uma breve risada.-Uma vez mais, forçaste a uma larga caçada, joyita.-Não tinha direito a me perseguir -espetou-lhe ela-. Esqueceu que

 já me liberaste?-Ah, bom, troquei minha opinião a respeito - informou-lhe Rowland

com tom pausado. A jovem se sentiu furiosa.

-Caipira insofrível! Assim não se dirigem estes vínculos, e sabe.Não pode me fazer a um lado, para logo voltar a tomar segundo seu prazer! Emprimeiro lugar, nunca foi meu senhor. Jamais te jurei fidelidade.

-Eu o jurei e com isso é suficiente. Agora vêem, não deveríamosestar discutindo isto aqui. Termina já com seus protestos. Tenho-te e sabe que éinútil resistir.

 A moça guardou silêncio, e ele avançou para recuperar as rédeasda égua. Uma vez mais, tinha ao Brigitte em seu poder. Ela se sentia indignadae, de uma vez, imensamente ditosa. Rowland tinha saído em sua busca, tinha-aseguido durante todo o caminho até o Angers.

-aonde me leva? -perguntou-lhe com calma.-A casa.-Ao Berry? -apressou-se a inquirir a jovem.-Ao Montville. Esse é seu lar agora, e sempre o será. Jurei que

nunca retornaria ao Berry, e essa foi uma promessa que tinha esquecido quandote liberei.

Brigitte ficou tensa.-De modo que foi essa a razão pela que me seguiu? Só pela

promessa! Odeio-te!-Brigitte -grunhiu Rowland, sujeitando-a ainda com mais força-.

Que desejas ouvir de meus lábios? Que não posso tolerar a só idéia de verte

partir? Que quando te afasta sinto que perdi uma parte de mim? Sou umguerreiro, Brigitte. Não sei nada de tenras palavras. De modo que não espereque as diga.

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-Já as disse, Rowland -sussurrou ela com doçura. Ambos guardaram silêncio, Brigitte se relaxou entre os fortes

braços do moço, sentindo que uma intensa corrente de felicidade fluía em todoseu corpo. E não tentou resistir, mas sim permitiu que essa cálida sensação aembargasse. Então, de repente, recordou a seu mascote.

-Aguarda! -endireitou-se subitamente, golpeando o queixo doRowland com a cabeça, e lhe ouviu amaldiçoar. A moça lhe explicou a causa desua abrupta reação, e o moço seguiu suas indicações.

Não encontraram ao Wolff no monastério. O cão se partiu com umgrupo de galgos pouco depois da partida do Brigitte, informou-lhes o clérigo, eainda não tinha retornado. Só subtraía aguardar sua volta.

 Ao solicitar um quarto privado, Rowland afirmou ante o sacerdoteque Brigitte era sua esposa. Frente a semelhante descaramento, ela se sentiuindignada.

-Há-lhe dito a todo mundo que sou seu serva -arreganhou-o assimque se encontraram a sós-. por que não ao clérigo?

O moço estendeu os braços para estreitá-la, mas ela se apartou.-O que se supõe que está fazendo?-Vamos, chérie, você sabe exatamente quais são meus planos. Já

transcorreram sete dias desde que te tive em meus braços por última vez e issoé muito tempo.

-Estive em seus braços quando vínhamos para aqui -recordou-lhea moça com aspereza.

-Maldita seja, bem sabe a que me refiro.-Maldito você seja, não estou segura de querer estar contigo.-Mentirosa. Não poderia te amoldar a outros braços melhor que a

meus. Vamos, te aproxime.

-Rowland, é um lugar sagrado. Não tem vergonha?-Não, quanto a ti concerne.Tirou-a dos ombros para atraí-la para si então a delicada forma da

 jovem se amoldou à forma masculina. Depois de uns instantes, Brigitte teve asensação de que seu corpo formava parte do Rowland. Pôde perceber o fogonos olhos do jovem quando ele se inclinou a beijá-la. A moça entreabriu oslábios ante esse doce toque sensual, e essa tibieza masculina pareceuembriagá-la, até tal ponto, que de não havê-la sujeito Rowland com firmeza, elase tivesse desabado. Amoldar-se? Brigitte estava feita exclusivamente paraesses braços.

O jovem separou por fim os lábios e a elevou. A moça se sentiuinundada em um sonho, um sonho de olhos que lhe amavam, olhos que ardiamcom o desejo de possui-la. Mas quando caiu sobre a cama e as mãos doRowland começaram a explorá-la, soube que tudo era realidade. O homem adespiu lentamente e logo, soltou-lhe as largas tranças para enredar os dedos nadourada cabeleira. Brigitte se deleitou com cada roce: uma mão, um braço, abochecha... não cessava de vibrar nem ante a mais ligeira carícia.

Quando finalmente ambos se encontraram nus, a jovem se inclinoupara acariciar o musculoso peito do homem e lhe deixar cair uma chuva debeijos sobre os largos ombros. Desejava fazer o amor com esse homem;desejava lhe demonstrar quão feliz se sentia ao lhe ter uma vez mais a seu lado.

Voltou a inclinar-se sobre o Rowland e seus largos cabelosdourados caíram sobre o peito do moço como uma carícia de seda. Então,beijou-lhe os lábios masculinos com ternura, para logo deslizar-se para a orelha

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e descender pelo pescoço até o musculoso peito. Desejava lhe explorar integralmente, tal como ele tantas vezes o tinha feito com seu corpo. Masquando começou a descender, Rowland a sujeitou dos ombros e a atraiu parasi.

-Bruxa -sussurrou-lhe com voz rouca-. Já acendeste o fogo em

meu interior. Jamais te desejei tanto como agora. Se continua descendendo,derramarei muito logo minha semente.-Então, já tome, amante. -Brigitte esboçou um sorriso de

satisfação-. Tome.Rowland girou para apoiar-se sobre o delicado corpo da jovem e

possuir a de maneira selvagem, apaixonada. Juntos subiram até as enlevadasalturas, para logo descender rapidamente da gigantesca, magnífica onda depaixão.

Depois de um instante, o homem se apartou para estreitá-la a seulado. Brigitte se aconchegou junto ao largo ombro e apoiou uma mão sobre oimponente peito de maneira possessiva. Jamais se havia sentido tão ditosa e,

assim, inundou-se em um profundo sonho, já livre de temores, sem maisinquietações pelo distante e remoto futuro.

34

-Brigitte.Uma mão agitou docemente o quadril da moça e ela se sacudiu

com um sorriso antes de abrir os olhos. Rowland se apoiou sobre a cama e lhedeixou cair um tenro beijo sobre a bochecha. O homem já se encontrava vestido

e a observava com expressão satisfeita.-Dormiu durante quase uma hora, joyita. Agora, vamos. Devemos

estar longe daqui antes do crepúsculo. Brigitte sorriu e se desperezólánguidamente.

-Está seguro de que já deseja partir ? -perguntou-lhe com umsignificativo brilho nos olhos.

-Ah, rapariga, não me tente -grunhiu ele e, ante a risada afogadada jovem, rocogió suas roupas e as jogou na cara como castigo-. Esta noite,pagará por isso, juro-lhe isso -assegurou-lhe com voz rouca.

-Esperarei ansiosa o castigo -brincou a moça, sentindo-seimensamente feliz-. retornou Wolff então? -perguntou-lhe, ao tempo que secolocava o vestido.

-Sim.Rowland se sentou sobre a cama e se dispôs a observá-la. Então,

tirou-a da cintura e a atraiu para si. Brigitte lhe acariciou os braços,surpreendida, ao tempo que lhe apoiava a cabeça entre os arredondados seios. Assim permaneceu o homem, imóvel, durante vários segundos. Ela se sentiuprofundamente comovida e o estreitou com força, posto que compreendia o queele tentava lhe dizer.

-Ama-me, Brigitte? Ante essa pergunta, a jovem sentiu irresistíveis desejos de chorar,

 já que, em realidade, ignorava a resposta.-conheci muitas formas de amor em minha vida. O amor de minhamãe e meu pai, o amor de meu irmão, de meus serventes e amigos. Mas o que

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sinto por ti é diferente. Não estou segura de que isto seja amor, Rowland. Nuncaantes amei a um homem, de modo que não posso afirmá-lo.

-Nem sequer A... - O homem não pôde culminar a frase. Nãodesejava lhe recordar ao Brigitte a figura daquele lorde do Louroux, aquele quea tinha amado e mimado, aquele que, provavelmente, tinha-lhe obsequiado a

túnica bordada com safiras. A moça tomou o rosto entre as mãos e lhe forçou aolhá-la.-Nem sequer a quem?-Só me ocorreu que poderia ter havido alguém no Berry -disse ele

evasivamente-. Alguém com quem, talvez, tivesse-te desejado desposar oualguém com quem passou muito tempo.

Brigitte sorriu.-Não houve ninguém. E te direi algo mais, Rowland. Sou muito feliz

contigo. Senti-me desolada quando fez a um lado. E me devastou a só idéia depensar que seu interesse em mim era tão ínfimo, que nem sequer tinha sidocapaz de cumprir com nosso trato. Poderia me dizer agora por que razão me

enganou? -Temi que alguém pudesse vir e te arrebatar de meu lado-respondeu ele com franqueza, e a jovem lhe abraçou com mais força-. Aindadeseja que envie a alguém ao Berry? -sussurrou o jovem.

-Não -murmurou a moça-. Já não. -Nem sequer desejava pensar nessa possibilidade.

Rowland a estreitou com força uma vez mais, para logo liberá-la elhe aplaudir brandamente o traseiro.

-Vístete, mulher.O recuperou sua acostumada rudeza. sentia-se muito bem com a

infinita ternura que essa moça despertava em seu interior. Necessitava ao

Brigitte mais à frente que pelo simples enlace de seus corpos. Acaso a amava?ele podia responder a essa pergunta com maior certeza que a jovem? Rowland jamais tinha conhecido o amor, nenhuma forma de amor. Ainda assim, estavaseguro de desejar o carinho do Brigitte Talvez, algum dia, ela chegaria aconhecer a respuesta,y a revelaria. No momento, bastava-lhe saber que ela erafeliz, que já não haveria mais ameaças do Berry, que jamais voltaria a perdê-la.

-Esse vestido é muito magro para viajar - comentou Brigitte,interrompendo os pensamentos do jovem- Vejo que trocou de roupa- adicionou,ao notar que ele levava uma túnica de lã parda sob a capa negra. Rowland seolhou o vestido.

-Não me troquei, chérie. Não traga mais roupa comigo. Não haviatempo de empacotar.

-Rowland, isso é uma descarada mentira -afirmou a jovemsurpreendida.

-Mentira?-Sei que trouxe outro vestido contigo. Vi-te esta manhã no palácio

e levava posta uma luxuosa túnica. Rowland soltou uma estrondosa gargalhada.-Está equivocada. Acabava de chegar ao Angers quando encontrei na rua.

-Mas te digo que te vi falando com o conde -insistiu ela.-Não, não pode ser -negou ele com firmeza-. Deve ter sido alguém

parecido a mim.

-Posso te reconhecer quando te vejo, Rowland -afirmou a moçacom tom brusco-. Surpreendeu-me te encontrar ali, com uma mulher pendurada

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de seu braço, falando com o conde como se fossem velhos amigos. Havia-medito que não conhecia ninguém no Angers.

-E não te menti, Brigitte. Eu não estive no palácio esta manhã.Jamais vi ao conde do Anjou. Juro-lhe isso.

Brigitte franziu o sobrecenho e observou ao moço, confundida. Que

razão teria Rowland para lhe mentir? Rememorou em seguida aquele momentoem que lhe tinha visto cavalgando na rua. Então, tinha-lhe surpreso encontrá-loali, quando acabava de lhe deixar no palácio. Não pôde recordar que ele levasseposta a luxuosa túnica negra nesse instante, e não tinha reparado em suasroupas ao entrar na habitação do convento.

-Não compreendo, Rowland -disse-lhe lentamente, desconcertada-.O homem que vi no palácio foi você. Tinha seu mesmo rosto... e seu tamanho.Era de sua mesma altura. Quantos homens conhece tão altos como você? Atétinha a mesma cor de cabelo. -Então, deteve-se de repente, e seus olhos azuisse dilataram-. Talvez, seu peito não era tão largo. Não, acredito que não o era.

Rowland se sentiu tão aturdido como a jovem.

-Quem era esse homem tão semelhante a mim em qualquer outroaspecto?-Parecia um aristocrático lorde. E a mulher que tinha a seu lado se

encontrava elegantemente vestida com veludo e jóias. O conde lhe falava demaneira amigável.Rowland, não posso entendê-lo. Não era só um simplesparecido. O homem que vi parecia ser sua imagem refletida em um espelho.Poderia ter sido seu irmão gêmeo. O moço deixou escapar um rouco grunhido.

-De maneira que gêmeos. Se Luthor tivesse tido gêmeos, podeapostar a vida a que teria levado a ambos a casa. Agradaria-me ver essehomem por mim mesmo - disse Rowland de repente-. Vístete com seuselegantes ornamentos, Brigitte. Iremos a corte do conde.

35

-Evarard do Martel. Deveria te sentir envergonhado.Rowland se voltou para a roliça mulher que detrás lhe observar 

com fúria, lançou um olhar fulminante ao Brigitte e se afastou abruptamente. Os jovens acabavam de entrar no palácio, em uma de cujas antecâmaras privadasse encontrava o conde atendendo às visitas. Dezenas de homens e mulheresaguardavam na sala para lhe ver. Já se aproximava a hora do crepúsculo e, comsegurança, muitos teriam que retornar ao dia seguinte.

-Falava-me essa mulher? -sussurrou-lhe Rowland a jovem, quenão deixava de lhe sujeitar o braço com firmeza.

-dirigia-se a ti, sem dúvida, e acredito que eu não lhe agradeimuito.

-Chamou-me Evarard do Martel. Brigitte assentiu.-Obviamente, cometeu o mesmo engano que eu, só que à inversa.

Evarard deve ser o nome do sujeito.-Como conseguiremos lhe encontrar? -perguntou ele com

inquietação. A vida cortesã sempre lhe tinha desagradado. Durante todos seus

anos de serviço ao rei da França, tinha cuidado de manter-se afastado da cortereal.-Pode lhe ver? -inquiriu Rowland.

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Brigitte já tinha examinado duas vezes a gigantesca sala.-O não se encontra aqui.-Ah, lorde Evarard, vejo que retornaste. De maneira que fazendo

travessuras esta vez, né? -O corpulento homem que Brigitte tinha conhecidopela manhã se aproximou do casal.- Tão logo te cansaste que seu flamejante

algema? -adicionou, piscando os olhos um olho com picardia antes de dirigir-sea jovem-. Milady, conseguiu sua audiência com o conde?-Não, temo que me parti com muita pressa - respondeu Brigitte

com ire congraciador.-Suficiente -disse Rowland com rudeza, para logo arrastar à moça

para o outro lado da habitação, longe do loquaz cavalheiro-. Sei que esteve aquiesta manhã, mas com que propósito? Deveste viu ao conde. Para que?-perguntou-lhe com tom brusco.

-Não tem razão para te zangar, Rowland- tranqüilizou-lhe Brigitte-.Vim aqui a solicitar uma escolta para viajar ao Berry. Não acreditará queplanejava atravessar sozinha todo esse comprido caminho, ou sim?

-me perdoe -murmurou ele com um suspiro, enredando os dedosna dourada cabeleira da moça-. Este assunto do Evarard do Martel meperturbou. -Esboçou então um amplo sorriso.- Suponho que terei que agradecer ao homem. Por ele, não alcançou a solicitar o amparo do conde, mas simescapou do palácio para te arrojar diretamente a meus braços. Não o acreditaassim?

-Suponho que sim.-Pois então, vamos lhe buscar para que possa lhe apresentar meu

agradecimento. Aguarda aqui, enquanto eu averiguo onde vive.O homem começou a afastar-se, mas Brigitte lhe tirou do braço

para lhe deter.

-Você não pode fazê-lo, Rowland. Todos acreditarão que estálouco, posto que supõem que é lorde Evarard. Permite que eu interrogue aalguém. Averiguarei onde vive o homem e todo o referente a ele.

Rowland assentiu com relutância. A jovem falou com duas damasantes de encontrar a alguém que conhecia lorde Evarard. A mulher, prima doconde do Anjou, parecia uma excelente informante.

-Espero que não tenha posto seus olhos no querido Evarard, postoque acaba de casar-se e lhe vê muito apaixonado por sua esposa- advertiu-lhelady Anne em tom confidencial-. Temo que poderá te decepcionar.

-OH, não, milady -tranqüilizou-a Brigitte-. É só curiosidade. O jovem lorde é um homem muito arrumado. Sua esposa é seriamente afortunada.

-Sim, e formam um bonito casal -assegurou-lhe lady Mine- Omesmo conde arrumou as bodas, como favor para o barão Goddard do Cernay.

-Barão Goddard?-O pai do Evarard. O barão e meu primo são íntimos amigos,

sabe?-Cernay se encontra muito longe daqui, não é assim? inquiriu a

 jovem com tom vacilante, posto que jamais tinha ouvido falar do Cernay.-OH, não, não tão longe. AO outro lado do Loira e logo, para o

oeste. Cernay fica no Poitou.Brigitte conhecia uma velha rota romana que conduzia diretamente

do Berry até o Poitou sobre a costa oeste.-Mas lorde Evarard vive aqui, no Anjou, não é verdade? -perguntoua moça.

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-O vive no Poitou, perto de seu pai, minha querida -esclareceu-lhedama-. O e sua família são convidados do palácio. Aqui se celebrou as bodas;logo, o clima frio se adiantou e, então, meu primo insistiu em que toda a famíliapermanecesse no castelo durante o inverno.

-É uma família numerosa? Tem lorde Evarard algum irmão ou

irmã? -Vá que é inquisidora, pequena. O é filho único. Conforme tenhoentendido, lady Eleonore teve dificuldades na iluminação. Jamais voltou aconceber, a pobre mulher. Eu tenho sete filhos e trinta e quatro netos. E cadaum deles é uma fonte de sorte para mim.

-É muito afortunada, milady. E foste muito paciente comigo. Minhaquerida mãe sempre dizia que eu tinha nascido com mais curiosidade danecessária. Seriamente te agradeço a moléstia.

Brigitte se afastou rapidamente, antes de que a mulher pudesseinterrogá-la. Imediatamente, abandonou a habitação, sabendo que Rowland lheestava observando. O a seguiu, para reunir-se com ela no corredor contigüo a

grande sala. -E bem?-O está vivendo no palácio com sua família. Todos são convidados

do conde.-Sua família?-Sua esposa, pai e mãe. Seu pai é o barão do Cernay e íntimo

amigo do conde.-Jamais ouvi falar dele. -Tampouco eu -afirmou a jovem.-E bem? -perguntou Rowland com impaciência-. Sei que o

averiguaste, Brigitte, de modo que acaba já com isso.-É filho único -admitiu a jovem, esboçando um sorriso culpado. O

 jovem a conhecia bem e sabia o que ela tinha suspeitado.-Ainda sinto desejos de conhecer homem -confessou Rowland.-Também eu. -Brigitte sorriu com picardia-. É uma pena que esteja

casado. Poderia me resultar muito mais agradável que você.-Isso acredita, né? -disse ele, estendendo os braços para tomá-la.-Rowland -repreendeu-lhe, lhe apartando. Soltou uma breve risada

e, logo, adotou uma expressão mais séria-. Procurarei um pajem para queconduza a suas antecâmaras. Você nos siga a uma distância prudente. E teassegure de que o pajem não te veja- advertiu-lhe com tom severo-. Acreditaráque é Do Martel.

 As habitações do barão do Cernay se encontravam situadas naasa do palácio. O pajem não questionou a solicitude do Brigitte e logo a deixouno corredor, frente a uma porta fechada. Depois de uns instantes, Rowland seaproximou.

 A moça aguardou a que ele chamasse, mas ele só permaneceuimóvel, com o cenho franzido e os olhos fixos na porta, como se temessedescobrir o que encontraria do outro lado.

Então, Brigitte compreendeu que Rowland, em realidade, nãodesejava golpear, mas sim preferia partir sem conhecer homem.

-Isto é ridículo -protestou ele com voz áspera. Não temos direito dechatear a esta gente.

Fez um movimento para partir, mas ela sussurrou:-Não há razão pela que não possamos conhecê-los, Rowland.

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-E o que lhes diríamos? -perguntou ele-. Que só sentimoscuriosidade?

-Suspeito que não haverá necessidade de lhes dizer nada -sugeriuBrigitte com o olhar fixo na porta, como se pudesse ver através da madeira.

 A jovem golpeou antes de que Rowland conseguisse detê-la e

logo, teve que lhe sujeitar, enquanto aguardavam a que se abrisse a porta.Súbitamente, o jovem se liberou e começou a afastar-se com passo firme pelocorredor.

-Rowland, retorna-le sussurrou Brigitte com ansiedade-. Terá queretornar, posto que não me partirei daqui se não o fizer.

O se voltou e começou a caminhar com o cenho franzido para a jovem. Nesse instante, a porta se abriu e, então, ele se deteve abruptamente.Uma esbelta mulher se encontrou de pé frente a Brigitte, que parecia estar sozinha no corredor. Era uma dama de ao redor de quarenta anos, muito bela eelegante, de claro cabelo loiro e olhos de cor azul intensa, olhos de safira comoos do Rowland.

-Sim? O que posso fazer por ti? -perguntou a mulher com vozmelódica.-vim a ver o Evarard do Martel, milady. Poderia falar umas palavras

com ele?-Meu filho estará encantado de te atender -respondeu a dama com

tom amável-. Posso te perguntar por que quer lhe ver?-É você a baronesa do Cernay?-Assim é.-Baronesa, meu lorde, Rowland do Montville, desejaria conhecer 

seu filho. -Brigitte se voltou para o jovem -Por favor, Rowland -suplicou-lhe.O emergiu com relutância das sombras, arrastando os pés como

um homem que parte para sua execução. Por fim, deteve-se junto à jovem, quetomou fortemente da mão para lhe reter a seu lado.

 A mulher franziu o sobrecenho.-Evarard, que truque é este? -perguntou com tom severo.Rowland não respondeu. encontrava-se absorto, observando o

rosto de seu sonho, algo mais estragado pelo passo dos anos, mas, sem dúvida,o mesmo rosto que lhe tinha açoitado da infância. O jovem não conseguiuencontrar as palavras para expressar seu atordoamento.

De repente, uma estrondosa gargalhada retumbou no interior dahabitação e, logo, ouviu-se a voz de um homem brincando com suacompanheira. A baronesa empalideceu. Deu um passo atrás e se cambaleou,como se estivesse a ponto de desvanecer-se. Rowland se adiantou para sujeitá-la, mas ela afogou uma exclamação e se ergueu com os olhos dilatados, demodo que ele não se atreveu a tocá-la. O homem não podia apartar o olhar desse rosto; tampouco a dama podia deixar de observar a esse jovem. Então,ela estendeu uma mão tremente para lhe acariciar o rosto com incrível ternura.

-Raoul -sussurrou com um soluço, e logo retrocedeu outro passopara exclamar- Goddard! Goddard, vêem, depressa! -Um homem acudiuvelozmente a suas chamadas e, então, lhe insistiu com voz entrecortada. -mediga... me diga que não estou sonhando. me diga que é real, Goddard! Ocavalheiro empalideceu ao observar atônito o rosto do Rowland. O moço

retrocedeu para o corredor, para colocar-se junto ao Brigitte. Era esse o homemde seu sonho. AO parecer, ele tinha penetrado em seu próprio pesadelo.-Raoul? -perguntou Goddard.

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Rowland olhou alternativamente ao Brigitte e ao cavalheiro e suaconfusão se transformou em fúria.

-Eu sou Rowland do Montville -afirmou com veemência-. Meunome não é Raoul!

Quão jovem Brigitte tinha visto essa manhã com o Evarard do

Martel apareceu então no quarto e sufoco uma exclamação ao ver o Rowland.Em seguida, seu marido entrou na habitação.-Emma? -perguntou Evarard, e logo seguiu a horrorizada

expressão da moça até que seus olhos caíram sobre o jovem.-Santo Deus! -Rowland logo que conseguiu pronunciar essas

palavras. Então, abriu-se passo entre o barão e a baronesa para caminhar lentamente para o outro jovem. Pareciam estar olhando sua imagem em umespelho, cada um de seus rasgos se achavam refletido nesse rosto.

Por um instante, ambos permaneceram em silêncio, observando-se. Evarard elevou uma mão para roçar apenas a bochecha do Rowland em umgesto tenro, de incredulidade. Rowland, em troca, permaneceu completamente

imóvel, com os olhos fixos no outro homem.-Irmão! -exclamou Evarard.Uma intensa dor se refletiu no olhar do Rowland, percebeu

sinceridade em sua palavra. O horror de sua vida, sua penosa vida, atravessou-lhe a mente em um instante, e se voltou para o barão e a baronesa.

-por que tinham que me dar de presente? -sussurrou comangústia-. Acaso dois filhos eram muito? Tiveram alguma razão para medetestar?

-Meu Deus, Raoul, está equivocado! -exclamou Goodard,horrorizado-. Foram arrebatado... roubaram-lhe!

Rowland lhe lançou um penetrante olhar suspicaz e começou a

caminhar para a entrada.Brigitte, sabendo que ele partiria sem escutar os argumentos dessa

gente, correu a fechar a porta para lhe impedir o caminho. Mas Rowland a tirouda boneca e detrás abrir novamente a porta com violência, jogou-a para ocorredor. A moça tentou lhe deter gritos.

-Não pode partir agora, Rowland!Os olhos do moço expressaram uma incrível angustia, um tortura

infinito, quando observaram a jovem. Então, ele a estreito com força, lhe sentiutremer.

-Não posso lhes acreditar, Brigitte. Ou teria que matar ao Luthor!-Não, Rowland! Não. Deve ter em conta as razões do Luthor. Um

homem tão desesperado por um filho, que deveu roubar...-Minha vida foi um inferno com ele!Evarard tinha deslocado detrás do casal, mas se deteve o vê-los

abraçados e escutou o que diziam.-Deve retornar a esse quarto, Rowland -disse Brigitte com firmeza-.

Não pode lhes rechaçar. E seu irmão, Rowland não sente curiosidade por saber dele? Acaso não deseja lhe conhecer?

 A moça secou as lágrimas do homem com seu manto,sobressaltada ao advertir que ele era capaz de chorar.

-Ah, chérie. -Rowland a beijou com ternura. -O que faria eu sim não

estivesse aqui para me falar com prudência?

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-Teria que lutar comigo -interrompeu-os por fim Evarard-. Porque jamais te deixaria partir. Rowland se voltou para olhar a seu irmão. Sorriusúbitamente ao observar sua magra textura e suas roupas cortesãs.

-Tivesse encontrado dificuldades... irmão. Vejo que não é umhomem de guerra.

-E eu vejo que você se o for -respondeu Evarard com um amplosorriso.Produziu-se um profundo silêncio, enquanto ambos os jovens se

examinavam mutuamente. Brigitte sacudiu a cabeça. Rowland necessitava umimpulso.

-Adiante, maldito seja, insistiu-lhe com um ligeiro empurrão-. Saúdaseu irmão corretamente. Ele está muito intimidado por sua malvada expressãopara atrever-se a fazê-lo.

Rowland avançou lentamente, para logo tirar do braço a seu irmãoe lhe abraçar com incrível força.

Evarard riu e Brigitte se desatou em lágrimas. Quando os três

 jovens voltaram para a habitação. Eleonore se encontrava chorando nos braçosde seu marido. Goddard a sacudiu brandamente para lhe fazer notar queRowland tinha retornado e, ante a presença do jovem, o pranto da dama setornou ainda mais intenso. Logo, Eleonore se voltou para abraçar ao filho quetodos esses anos lhe tinham negado. Tomou o rosto do jovem entre as mãos eseus olhos brilharam através das lágrimas. Rowland sentiu um repentinocalafrio. Apenas se podia respirar, mas nem por um instante apartou o olhar dadama. Ela era sua mãe, sua própria mãe. Deixou escapar um rouco gemido e aestreitou com força entre seus braços, para afundar o rosto junto ao pescoço damulher e lhe murmurar algo ao ouvido.

-Meu Raoul -sussurrou ela, sem deixar de lhe abraçar acreditei que

te tinha perdido pela segunda vez quando te partiu por essa porta. Não tivessepodido tolerá-lo. Mas retornou, meu filho, retornou para mim.

Rowland prorrompeu em prantos. Sua mãe. Quanto tinhanecessitado a essa mãe durante sua infância. Quanto tinha desejado tê-la a seulado em todos esses anos. E, agora, ela estava ali, lhe brindando todo o amor que ele sempre tinha desejado com desespero.

Goddard se adiantou para abraçar a seu filho em silêncio. O jovemvacilou por um instante. Jamais tinha conhecido a um irmão, nem a uma mãe,mas sempre tinha conhecido a um pai. Entretanto, Luthor não era seuverdadeiro pai e, em realidade, nunca tinha parecido sê-lo. Finalmente, Rowlandcorrespondeu ao afetuoso abraço do barão. Então soltou uma repentinagargalhada e tirou da mão ao Brigitte para atrai-la para si.

-Dá-te conta, cherie, de que já não sou um bastardo?Ela sorriu ante a brilhante expressão do jovem.-OH, Raoul. -Eleonore deixou escapar uma breve exclamação. -É

isso o que acreditava?-Isso me disse, milady, o cavalheiro que afirma ser meu pai.-Quem é o homem que te arrebatou de nosso lado? -perguntou

Goddard.-Luthor do Montville.-Pagará-o com acréscimo! -exclamou Evarard com fúria.

-Eu me encarregarei dele, irmão -assegurou-lhe Rowland comfrieza, para logo adicionar em tom mais alegre-. Mas não desejo falar do Luthor.São vocês franceses? -Goddard assentiu com a cabeça e ele soltou então uma

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risada afogada. -portanto, eu também sou francês. Ja! -Giñó um olho em direçãoao Brigitte-. Já nunca mais poderá me chamar normando a modo de insulto.

-Rowland! -exclamou a moça, morta de calor.-Foi criado na Normandía? -inquiriu Goddard-. Foi ali onde te levou

esse homem?

-Sim.-Não me surpreende que não pudéssemos te encontrar. Buscamo-lhe por todo Anjou e as regiões vizinhas, mas jamais nos ocorreu nos estender até um lugar tão longínquo como Normandía.

-Mas, o que te trouxe até o Angers?- perguntou Evarard.-A caça desta mulher -respondeu Rowland ao tempo que abraçava

ao Brigitte e soltava uma breve risada-. Tenho que te agradecer por havê-laencontrado e a ela, por haver achado a ti. Viu-te está amanhã quando deveu ver ao conde. Supôs que foi eu e saiu correndo do palácio. Se não tivesse escapadoentão, jamais a tivesse encontrado. -Ante as aturdidos olhares de todos, o jovemadicionou-. É uma larga história; será melhor reservá-la para outro momento.

-voltou-se para seus pais.- Agora, me contem o que aconteceu então. Comoobteve Luthor me arrebatar de seu lado?Eleonore se apressou a responder.-Encontrávamo-nos no Angers para a celebração do dia de São

Remi. O conde tinha obtido uma excelente colheita esse ano e quis festejá-loorganizando um enorme banquete com nobres de todas partes do reino. Nóstínhamos levado a nossos filhos, você e Evarard, a grande sala... para presumir,temo-me. Sentíamo-nos muito orgulhosos de nossos gêmeos. Vós foram muitopequenos então, e realmente encantadores. -Rowland se ruborizou, masEvarard soltou uma gargalhada, habituado aos mímicos de sua mãe-. Algo maistarde, minha donzela, trouxe-lhes de volta a esta mesma habitação. E essa foi a

última vez que lhe vimos, Raoul.-Rowland, meu amor- corrigiu-lhe Goddard com doçura. Ele se

chamou Rowland durante a maior parte de sua vida. Teremos que esquecer onome que lhe demos quando nasceu.

-Para mim, sempre será Raoul. -Eleonor sacudiu a cabeça comobstinação.

-Sua mãe é uma dama muito sentimental, Rowland lhe explicou obarão-. Ambos nos sentimos desolados quando retornamos à habitação eencontramos à donzela inconsciente e só ao Evarard em sua cama. Você já nãoestava. Eu tinha inimigos. Que homem não os tem? Temi que um deles tetivesse levado, e supus que teria morrido. Mas sua mãe jamais perdeu asesperança. Durante todos estes anos, nunca as perdeu.

-Foi este homem, Luthor, bom contigo? -pergunto Eleonore comsuavidade

-Bom? -Rowland franziu o sobrecenho com ar pensativo.Havia coisas que jamais poderia contar a essa gente. Quem seria

realmente capaz de compreender a dureza de sua vida? Como poderia explicar tanta crueldade a sua família?

-Luthor é um rude guerreiro -começou a dizer o jovem-. É muitorespeitado na Normandía. Os nobres aguardam durante anos até lhe enviar aseus filhos para o treinamento, em lugar de recorrer a qualquer outro lorde.

Minha própria capacitação começou logo que fui capaz de sujeitar uma espada.Luthor se dedicou para mim com especial cuidado. Sempre foi um... um rigorosoprofessor. Não só me ensinou as habilidades de um soldado, mas também as

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estratégias da guerra. Obrigou-me a me esforçar para alcançar a perfeição.-Esboçou um irônico sorriso.- Desde muito novo, fui preparado para assumir aautoridade no Montville e conservá-la contra qualquer desavença, dada que,embora Luthor tem duas filhas de seu matrimônio, eu serei o herdeiro de seupatrimônio. Embora agora que sei que não sou de seu sangue, suponho que

Montville já não me pertence.-Isso é indiscutível, certamente, posto que há filhas -fez-lhe notar Goddard-. Mas você...

Rowland lhe interrompeu com um marcado tom severo. -Eupoderia dar procuração do Montville ainda quando não tivesse o mínimo direito.Não cabe dúvida a respeito. O comentário revelou à família muito mais sobre anatureza do homem que qualquer outro relato. Rowland era um guerreiro, umhomem rude, poderoso, preparado para obter o que desejasse. Seria difícil paraessas gentis pessoas compreender tanta rudeza.

-Rowland é algo parco -apressou-se a comentar Brigitte, a fim dequebrar o silêncio-. Não quis dizer que tenta apoderar-se do Montville pela força,

mas sim poderia fazê-lo se assim o desejasse.O moço olhou a jovem com o cenho franzido, já que nãoconsiderava que suas palavras necessitassem explicação. Lhe respondeu comum beliscão, e recebeu em troca uma expressão até mais sombria.

-Não deveria sentir que perdeste algo porque não é verdadeirofilho desse homem -assegurou-lhe o barão-. Não conheço Montville, mas vocêpossui uma imensa propriedade no Poitou, que foi entregue ao nascer por meusenhor, o conde do Poitou. Evarard administrou suas terras com mesmo cuidadoque as próprias. Ao igual a sua mãe, seu irmão jamais perdeu a esperança deque retornasse algum dia.

-Bem, irmão. -Rowland sorriu-. Sou um homem rico então?

-É bastante mais rico que eu -assentiu Evarard, encantado-, já quesuas rendas se acumularam durante, todos estes anos, enquanto que eu tiveque as usar para viver. E devo reconhecer que jamais me privei que luxos.

Rowland riu.-Pois então, dada a moléstia que te ocasionei, insisto em que

aceite minhas rendas acumuladas como se lhe pertencessem.-OH, não posso as aceitar! -exclamou Evarard, surpreso.-claro que sim -insistiu Rowland-. Não quero nada que não tenha

ganho por mim mesmo. E te estaria agradecido se continuasse te ocupando deminhas terras até que eu as comercial.

-Não vais reclamar as agora?-Agora, -começou a dizer Rowland com expresión,sombría -, devo

retornar ao Montville.-Acompanharei a Normandía -ofereceu-lhe seu irmão.Mas Rowland sacudiu a cabeça com obstinação.-Deverei me enfrentar só ao Luthor. O homem te detestará, irmão,

 já que, de não ser por seu rosto, já jamais me tivesse informado da existência deminha família, nem tivesse descoberto seu engano. Sua vida correrá um sérioperigo no Montville.

-E que me diz da tua?-Luthor e eu somos igualmente fortes. Eu não lhe temo. É ele quem

deverá cuidar-se de mim.

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-Rowland -começou a dizer o outro jovem com vacilação, franzindoo sobrecenho-. Talvez, seria mais sensato que não voltasse a ver esse homem. Acredita que poderia viver com sua consciência se lhe matasse?

-Não poderia seguir vivendo sem escutar suas razões para ter feitoo que fez -assegurou-lhe Rowland com voz acalmada, mas uma expressão

severo nos olhos.Transladaram-se a uma confortável habitação, onde conversaramdurante toda a noite e comeram como uma verdadeira família pela primeira vezem vinte e três anos. Rowland escutou em silêncio as histórias familiares, eBrigitte se perguntou se a lembrança de tantas vivencias não aumentaria a penado homem, que jamais as tinha compartilhado. O parecia enfeitiçado e nãopodia apartar os olhos de seus recentemente adquiridos parentes.

36

-Dá-te conta, Brigitte, de que se não te tivesse escapado para o

 Angers, provavelmente eu jamais tivesse conhecido a minha família? Duranteanos, Luthor me impediu de chegar até ali, por temor ao que eu pudesseencontrar. Nunca me perguntei o que tinha ele contra essa cidade. Mas, estavez, não conseguiu me manter afastado do Angers, e toda graças a ti.

Os jovens se achavam contemplando os domínios do Montville dacolina do sul. Brigitte se sentia algo inquieta devido ao vindouro enfrentamento,posto que um muito silencioso Rowland tinha cavalgado para seu lado durantetrês dias.

O moço lhe sorriu.-Cada vez que fugiu de mim, algo bom me aconteceu.-O que aconteceu de bom a primeira vez?

-Acaso não foi minha a partir de então? A moça se ruborizou.-Enfrentará ao Luthor em privado? -perguntou-lhe, voltando para

seus imediatos temores.-Isso não tem importância.-Claro que tem importância, Rowland. Por favor, deve lhe falar a

sós. Ninguém mais aqui precisa inteirar-se do acontecido. Luthor te considerouseu filho durante todos estes anos. Compartilha um estreito vínculo com ele, umvínculo de anos que pesa tanto como um parentesco. Recorda-o quando chegar o momento de te enfrentar a ele.

Rowland começou a descender lentamente pela colina, emsilêncio, sem aplacar os temores da jovem. Luthor se encontrava na grande salaquando eles entraram. Ao vê-los aproximar-se, o ancião adotou uma expressãocautelosa, como se já soubesse o acontecido. -De modo que a trouxenovamente de volta? -comentou o lorde com tom jovial, ao tempo que seincorporava de seu assento frente ao fogo.

-Em efeito.Luthor se voltou para o Brigitte.-Não te disse que logo cederia, rapariga?-Isso disse, milord -respondeu ela com voz suave.-Esteve ausente durante uma semana -comentou o ancião,

dirigindo-se a seu filho uma vez mais-. Suponho que a moça alcançou a chegar 

ao Angers, não é assim?-Assim foi.

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Produziu-se um prolongado silêncio e logo, Luthor exalou o suspirode um homem angustiado.

-Sabe?Rowland não respondeu. Não havia necessidade.-Desejaria falar contigo a sós, Luthor -disse-lhe-. Poderia cavalgar 

comigo um momento?O lorde assentiu e lhe seguiu fora da sala. Ao observá-los partir,Brigitte experimentou uma imensa compaixão pelo ancião. Tinha visto osombros cansados do Luthor e a abatida resignação de seu rosto.

Rowland desmontou no topo da colina onde ele e Brigitte sedetiveram para apenas uns instantes. Recordou a advertência da jovem. Porém,havia em seu interior uma incontida ira que lutava por estalar; a ira de umpequeno menino golpeado, desprezado, cruelmente humilhado. Tantaperversidade, recordou-lhe essa mesma ira, não tinha sido mais que umatremenda injustiça.

Luthor desembarcou do cavalo e, ao olhar a seu filho, Rowland lhe

perguntou com um tom entre furioso e angustiado:-Maldito seja, Luthor! Porquê?-Explicarei-lhe isso, Rowland -respondeu o ancião com calma-.

Explicarei-te a vergonha de um homem que não tem filhos varões.-Isso não é motivo de vergonha! -disse o jovem.-Você não pode sabê-lo, Rowland -assegurou-lhe o lorde com

veemência-. Não pode saber quanto desejava eu um filho até que você mesmonão deseje um de seu sangue. Filhas tive... dúzias de filhas por toda Normandía.Mas nenhum varão, nenhum! Já sou um ancião de quase sessenta anos.Comecei a me desesperar por ter um filho que pudesse administrar minhasterras. Quase Mato a Hedda quando deu outra mulher. É por isso que ela jamais

voltou a conceber e por essa razão sempre te odiou.-Mas, por que a mim, Luthor? por que não o filho de algum

camponês... um menino o que, estaria agradecido por tudo o que pudesse lhebrindar?

-Acaso você não está agradecido? Converti-te em um homemtemível, um excelente guerreiro.

-Trouxe-me aqui para ser criado por essa bruxa, para sofrer emsuas mãos. Arrebatou-me do amor de minha mãe... para me entregar a Hedda!

-Converti-te em um homem forte, Rowland.-Meu irmão é um homem forte e, entretanto, foi criado por pais

afetuosos. Você me negou isso tudo.-Eu sempre te amei.-Você não conhece o amor!-Está equivocado -assegurou-lhe Luthor depois de uma pausa, e

seus olhos refletiram uma infinita dor-. É só que não sei como demonstrá-lo.Mas eu te amo, Rowland. Sempre te amei como se fosse meu verdadeiro filho.Eu te converti em meu filho.

O jovem resistiu frente a um súbito impulso compassivo eperguntou com voz áspera:

-Mas, por que a mim?-Eles tinham dois filhos, dois filhos de um mesmo nascimento,

quando eu com tanto desespero não pedia mais que um. Encontrava-me no Angers com o duque Richard. Quando vi o barão e a sua esposa com ospequenos gêmeos, senti-me afligido por tanta injustiça. Não tinha planejado te

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levar. Uma idéia me acossou súbitamente, e o impulso me venceu. Não sentiremorsos, Rowland. Não direi que o senti. Eles tinham gêmeos. Perderiam a um,mas ainda ficaria o outro. Conservariam a um filho, e eu poderia ter o meu.Cavalguei durante dois dias sem cessar, esgotando ao cavalo, para te trazer diretamente até aqui. Você já foi meu.

-Santo Deus! -exclamou Rowland em direção ao céu-. Não tinhadireito, Luthor!-Sei. Alterei toda sua vida. Mas te direi algo. Não suplicarei seu

perdão, porque se voltasse a apresentá-la oportunidade, faria exatamente o quefiz. Montville te necessita -concluiu o ancião com um tom um pouco mais firme.

-Montville terá outro lorde depois de ti, mas não serei eu -afirmou o jovem com amargura.

-Não, Rowland, não sabe o que diz. Dediquei quase a metade deminha vida a te preparar para assumir a autoridade de lorde aqui. Não é de meumesmo sangue, mas a ninguém mais poderia confiar os domínios do Montville,só ti.

-Não os quero.-E permitirá que Thurston os tenha, então? -perguntou Luthor comfúria-. O não se interessa por essa gente, nem pela terra, nem pelos cavalos queambos amamos. Abaterá a ira do duque Richard com suas mesquinhas guerraspara conseguir mais terras e Montville, então ficará destruído. É isso o que quer que aconteça aqui?

-Já basta!-Rowland...-Pinjente basta! -bramou o moço, equilibrando-se para o cavalo-.

Devo pensar, Luthor. Não estou seguro de poder te tolerar agora, sabendo oque sei. Devo pensar.

Uns instantes mais tarde, Rowland entrou em sua habitação. Atibieza do quarto foi como um bálsamo para apaziguar sua cólera. Suaantecâmara jamais lhe tinha parecido um lugar acolhedor, mas com a presençado Brigitte...

 A moça lhe observou com ansiedade. O exalou um suspiro, deixoucair os ombros e se jogou sobre uma cadeira, evitando os olhos curiosos da jovem.

-Não sei, Brigitte -disse-lhe com calma-. Não posso lhe perdoar,mas não sei o que fazer.

-brigastes?-Só com palavras.-E sua razão?-Tal como disse, desejava um filho com desespero. -Apoiou a

cabeça nas mãos da moça e lhe lançou um breve olhar-. Oxalá não tivesse sidoeu!

Rasgada por essa angustiosa queixa, Brigitte se ajoelhou frente ao jovem e lhe rodeou com os braços, em silêncio. Rowland lhe acariciou o cabelocom ternura, comovido.

-Ah, meu joyita. O que faria eu sem ti?

37

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 A primeira luz do amanhecer já penetrava através das peles quecobriam as janelas, quando os passos ansiosos do Rowland despertaram aoBrigitte. A diminuta chama de um abajur criava indistintas sombras ao redor dahabitação.

 A jovem se apoiou sobre um cotovelo e sua larga cabeleira lhe caiu

sobre os ombros como uma cascata dourada.-Não pôde dormir?O se sobressaltou.-Não. -continuou caminhando pelo quarto.-É muito difícil, Rowland? Posso te ajudar?O se aproximou da cama e se sentou sobre o bordo, de costas à

moça.- Devo decidi-lo por mim mesmo. É Montville o que está em

discussão, não Luthor. O ainda me quer como seu herdeiro.-E por que isso te desagrada? Acaso não soube sempre que algum

dia seria o lorde aqui?

-Quando me parti faz seis anos, renunciei a este patrimônio. Propu-me não retornar jamais. E agora, tornei a rechaçá-lo.-Retornou a casa porque lhe necessitavam. Ainda lhe necessitam.

Montville segue sob ameaça. Isso é o que te perturba. Não pode partir sabendoque este lugar ainda te necessita.

-Juro que é uma bruxa- afirmou Rowland, olhando à moça por cimado ombro.

-Não pode separar ao Montville do Luthor, Rowland, esse é oproblema. Mas deve distinguir um de outro. E Montville sempre necessitará umforte lorde.

O moço se recostou sobre a cama junto a ela.

-Mas Luthor ainda vive aqui. Se me partir agora e Montville entraem guerra, não terei direito a reclamá-lo mais tarde. Entretanto, se ficar, devereiconviver com o Luthor. E não estou seguro de poder obtê-lo. Quis lhe matar,Brigitte. Quis lhe desafiar à máxima prova de poder... uma batalha a morte. Nãosei o que me deteve... você, talvez, e suas palavras. Mas, se permanecer aqui,pode que chegue a lhe desafiar.

-Quem pode predizer o futuro? -perguntou Brigitte com suavidade,ao tempo que apoiava a cabeça sobre o peito do jovem-. Pode deixar que otempo resolva seu problema, Rowland. Pode ficar e ver o que acontece. Se suaamargura se tornar muito intensa e alcança o limite onde deve matar ao Luthor ou partir... então, parte. No momento, deixa em paz o assunto. Controla seurancor e permanece no Montville. Não é isso acaso o que em realidade desejafazer?

Rowland lhe elevou apenas o rosto para beijá-la docemente noslábios.

-Tal como pinjente, é uma bruxa.Várias horas mais tarde, quando Rowland e Brigitte se

encontravam na sala, um cavalheiro irrompeu súbitamente para dirigir-se aoLuthor com a notícia do avanço de um exército.

-Thurston do Mezidon não aguardou até o fim do inverno. Já seestá aproximando!

Rowland e Luthor ficaram de pé e intercambiaram rápidos olhares.-O que poderá estar planejando? -perguntou ele -Sabe quepodemos resistir um sítio. Seu exército morrerá de frio.

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-Estará seguro de que pode nos forçar a sair? -sugeriu GUI.-Talvez, planejou alguma forma de entrar -disse Luthor com voz

áspera, olhando a sua filha Ilse, quem cravou os olhos sobre seu regaço-. aondefoi realmente seu marido, Geoffrey, quando partiu daqui faz três dias? Aprocurar o Thurston?

-Não! -lady Ilse empalideceu ante a severo acusação de seu pai.-Geoffrey viajou ao Rouen a visitar sua família tal como te disse!-Se o vir o outro lado destes muros com o Thurton, juro que te

matarei, mulher. Filha ou não, ninguém que se atreva a trair ao Montvillecontinua com vida.

Ilse se desatou em lágrimas ante as desumanas palavras doancião e saiu correndo da sala. Fora, os aldeãos começavam a congregar-se nopátio, depois de ter recebido a advertência. Os portalones foram fechados e osmuros, guarnecidos de efetivos.

Rowland se voltou para o Luthor.-Saberemos a verdade sobre o Geoffrey quando virmos os

movimentos do Thurston. A que distância se encontra o exercito? -perguntou aocavalheiro informante.-Alguns, talvez a metade, foram vistos sobre a colina do sul. O

resto ainda não apareceu.-Já chegarão -advertiu Rowland ominosamente. Sem dúvida,

Thurston planeja nos encurralar. Aos muros, então.Todos correram fora da sala. Rowland ordenou ao Brigitte

permanecer ali e não abandonar esse quarto por nenhuma razão.-Trarei-te notícias assim que tenha uma oportunidade. A jovem

observou nervosa a partida do moço. Com que prontidão se resolveu oproblema. O e Luthor não se falaram essa manhã. O frio silencio entre ambos

tinha suscitado numerosos comentários. Porém, logo que começava avislumbrar uma ameaça sobre o Montville e os dois voltavam a converter-se emaliados. Desde sua posição sobre o elevado muro, Rowland olhou através dascolinas nevadas. Luthor, sir GUI e sir Robert se encontravam a seu lado. Não sevia nem uma alma movendo-se em redor, em nenhuma direção.

-tornou-se louco -afirmou Rowland com convicção-. Olhem todaessa neve. A última tormenta deixou vários metros de espessura. Deve estar louco.

-Sim -assentiu Luthor-. Ou é muito inteligente. Entretanto, nãoposso imaginar seu plano. Não entendo como pensa obter agora a vitória.

Rowland franziu o sobrecenho. -Quantos homens seaproximavam?

Sir Robert chamou o cavalheiro que tinha divisado o exércitodurante seu patrullaje.

-Contei mais de um centenar de cavaleiros e ao menos, a metadedeles eram cavalheiros -respondeu o homem-. Levavam também dois carros.

Rowland se sentiu sobressaltado.-Onde diabos terá conseguido tantos cavalheiros?-Roubou-os, sem dúvida -sugeriu GUI-. Aos bretães que assaltou.-E, entretanto, essa é só a metade de seu exército, ou inclusive

menos, segundo o que sabemos até o momento -fez-lhes notar sir Robert.

-Quantos vinham a pé? -inquiriu Rowland.-Nenhum.-Nenhum homem a pé?

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-Assim é -confirmou o cavalheiro com calma.-Mas tantos cavaleiros! Nem a metade de nossos homens estão

treinados para cavalgar -bramou Luthor. -E Thurston sabe. Possivelmente sejaessa a vantagem com que acredita contar.

-Olhem aí! -GUI cravou o olhar sobre o topo da colina.

Um solitário cavaleiro apareceu e se deteve observar os domíniosdo Montville. Era um cavalheiro vestido com armadura, mas resultava difícil lheidentificar a distância.

-É Thurston? -perguntou GUI.-Não poderia assegurá-lo -respondeu Luthor-.Rowland?O homem se cobriu os olhos contra o reflexo da neve e sacudiu a

cabeça.-Está muito longe.Finalmente, ao cavaleiro da colina se somou outro e logo muitos

mais, até que uma larga fila de cavalheiros se estendeu ao longo do topo. Nãoeram esses todos os homens do Thurston e, ainda assim, esse único grupo de

cavaleiros tinha um aspecto temível. Quase todos eles eram cavalheiros, umcavalheiro valia mais que dez soldados a pé.-Agora saberemos o que tem esse louco em mente - disse Luthor 

sinceramente quando o primeiro cavalheiro começou a descender pela colinapara o Montville.

 Avançava sem escolta, e Rowland lhe observou, sobressaltadoante a audácia do Thurston. O que esperava esse homem ao aproximar-se semcompanhia? Uma simples flecha poderia pôr fim a esse conflito.

Rowland começou a franzir o sobrecenho à medida que ocavalheiro se aproximava mais e mais. Sem dúvida, não se tratava do Thurston.

O cavaleiro, por fim, encontrou-se junto ao limite e elevou o olhar 

para os gigantescos muros do Montville, de modo que Rowland pôde lhe ver orosto com claridade. O homem afogou uma exclamação. Era difícil acreditá-lo,mas ali estava ele.

-Maldição! -grunhiu Rowland com o corpo tenso.-O que ocorre, Rowland? -perguntou Luthor.-O mesmo diabo lhe enviou aqui para me perseguir! -exclamou o

moço com voz áspera.-Poderia falar com mais prudência!-Esse não é o exército do Thurston, Luthor. Montville terá que

enfrentar ao Thurston em outra oportunidade. Esse exército de cavalheirosprovém do Berry!

-Rowland do Montville! Sal daí e te enfrente a mim! -exclamou ocavalheiro de abaixo.

Rowland respirou fundo antes de gritar do parapeito.-Já vou!Luthor lhe sujeitou do braço.-Quem demônios é esse?-O barão do Louroux, o homem que me salvou a vida no Arles, o

mesmo que enviou ao Louroux com a mensagem que demorou minha volta acasa.

-Louroux? A moça é do Louroux!

-Agora o compreendo. Por essa razão ele se encontra aqui.-Rowland poderia ter rido se não se houvesse sentido furioso. -Pode acreditá-lo?

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O homem tem feito partir um exército através da França em pleno inverno por uma mera serva. Tudo por uma serva!

-Então, pode que não seja uma faxineira -murmurou o ancião.-Não me importa um cominho o que essa moça seja! -bramou

Rowland-. O jamais a terá.

-Lutará contra o homem que te salvou a vida?-Se for necessário, lutarei contra todo seu exército. -Rowland,então não tem necessidade de sair- apressou-se a sugerir Luthor-. Eles nãopodem levar-se a jovem se não lhes abrirmos os portalones.

-Então, Rowland compreendeu que o ancião estava disposto a lheajudar, ainda quando essa não fora sua luta.

-Ainda assim, baixarei -afirmou o moço com um tom maisacalmado-. Devo-lhe, ao menos, essa cortesia.

-Muito bem -assentiu Luthor-. Mas ante o primeiro sinal de perigo,uma flecha lhe atravessará o coração. Rowland cavalgou através da entrada aum ligeiro galope. Quintin tinha retrocedido até uma distância medeia entre o

Montville e seu exército. Adeus à flecha Luthor, pensou o moço com irritação.sentia-se zangado. De outro modo, Quintin jamais tivesse conseguido adivinhar o paradeiro do Brigitte. Entretanto, sua ira não se devia tanto ao engano, como aum forte sentimento de ciúmes. Outro homem desejava a seu Brigitte osuficiente para mobilizar a todo um exército em seu resgate. Acaso Quintin doLouroux seguia apaixonado pela moça?

Com olhos entrecerrados observou Quintin o avanço do Rowlanddo Montville. Em seu interior ardia uma violenta, amarga sensação de ira, quelhe tinha acossado desde sua partida do Louroux duas semanas atrás. Após,sua cólera se intensificou, envenenado.

Druoda o tinha confessado tudo; suas intrigas para apoderar-se do

Louroux, suas intenções de desposar ao Brigitte com o Wilhelm do Arsnay, seusesforços por manter a sua irmã afastada do Arnulf, os castigos impostos à moça.

Rowland do Montville tinha violado ao Brigitte. Ainda sabendoquem era a jovem, havia-lhe dito sua tia, o homem a tinha violado. E, ao fazê-lo,tinha arruinado os planos a Druoda. Então, a mulher, presa do pânico ante avolta do Quintín, tinha tentado lhe envenenar. A dama tinha suplicado clemênciaa seu sobrinho. E ele tinha sido clemente, posto que, ainda quando tivessedesejado assassiná-la, só a tinha expulso do Louroux.

Mas era ao Rowland a quem desejava agora matar. Rowland, aquem tinha enviado de boa fé até o Louroux e quem lhe tinha pago a dívidaviolando a sua irmã e arrebatando a de seu lar.

Os dois cavalos de guerra se enfrentaram em campo aberto. Hunotransbordava os flancos do animal francês em quase meio metro. E, ao igual aoscorcéis, seus cavaleiros também eram díspares. Rowland tinha desdenhado seuescudo e seu elmo para carregar apenas uma espada sujeita no quadril,enquanto que Quintin levava sua armadura completa. Ainda assim, Rowland erao mais robusto, o mais forte e, talvez; o mais destro.

-encontra-se ela aqui, normando? -perguntou Quintin.-Sim.-Então, devo te matar.-Se desejas conversar morto, barão, terá que enviar a uma dúzia

de seus homens mais fortes para me desafiar.

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-Sua arrogância não me intimida -afirmou o lorde do Louroux-. E jamais envio a outros para lutar em meu lugar, sir Rowland. Serei eu quemacaba contigo. E, logo lady Brigitte retornará a casa.

Rowland assimilou essas palavras sem demonstrar que seuspiores temores finalmente tinham sido confirmados. Lady Brigitte. Lady! Então,

era verdade. -Este é agora o lar do Brigitte -asseverou com calma-. E logo elaserá minha esposa.

Quintin riu com desprezo.-Supõe acaso que lhe permitirei desposar-se com um sujeito como

você?-Se morrer, duvido que possa te opor -advertiu-lhe Rowland com

tom sereno.-Meu lorde Arnulf conhece meus desejos a respeito. Se morrer, o

passará a ser lorde do Brigitte. O conde se encontra aqui agora para encarregar-se de afastar a jovem de seu lado.

-De modo que trouxe para todo Berry para resgatá-la, né?Necessitará um exército muito mais capitalista que esse para atravessar osmuros do Montville.

-Assim se fará, se for necessário. Mas se seriamente sente algopelo Brigitte, permitirá-lhe partir. Mesmo assim, nós lutaremos, mas ela nãodeve sentir que provocou alguma morte. E, sem dúvida haverá muitas mortesaqui.

-Nunca renunciarei a jovem -afirmou Rowland com calma.-Então, te defenda -desafiou-lhe Quintin com voz áspera, ao tempo

que extraía sua espada.O som das armas atraiu a vários homens para os parapeitos do

Montville.Brigitte, já impaciente de tanto aguardar na sala, seguiu aos outros

até os muros.Imediatamente, reconheceu ao Rowland e a seu cavalo de guerra,

e então conteve a respiração. O estava liberando um encarniçado combatecontra seu oponente, mesmo que não levava posta sua armadura. O muito tolo!Com que facilidade poderia morrer!

 A moça divisou ao Luthor a uns metros de distância e correu para oancião.

-por que estão lutando? -perguntou com aspereza-. Acaso nãohaverá guerra... só esta batalha?

O lorde se voltou para a jovem com expressão sombria. -Você nãodeveria estar aqui, rapariga.

-me diga! -exigiu-lhe Brigitte, elevando a voz-, porquê Thurston seenfrenta só ao Rowland?

-Não é Thurston. Mas se sua preocupação é Rowland, já podeestar tranqüila -afirmou Luthor com orgulho-. O francês é presa fácil.

-O francês? É um exército francês? A jovem olhou por cima do muro em direção à larga fila de

soldados que se encontravam apostados sobre o topo da colina. Alcançou a ver vários estandartes, alguns dos quais conseguiu identificar. Então, avistou a

figura do Arnulf e afogou uma exclamação. O finalmente tinha ido a seu resgate!E junto a seu estandarte estava... OH, Deus! Instantaneamente, a moça cravouos olhos no cavalheiro que se enfrentava ao Rowland no campo e, então gritou.

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Quintin ouviu os alaridos do Brigitte profiriendo seu nome, eacreditou perceber um rogo de liberação. Rowland, em troca, percebeu alegrianessa voz. Entretanto, o efeito em ambos os homens foi idêntico. Cada umdeles sentiu, mais que nunca, o desejo de acabar com seu adversário.

Quintin foi arrojado de suas arreios e a luta continuou sobre a

grama. Repetido-los ataques que deveu resistir foram reveladores. Soube entãocom certeza que sua hora tinha chegado. Porém, não estava disposto a morrer sem antes opor resistência e tratou de reunir todas suas forças.

Tudo foi inútil, entretanto. Rowland era muito forte para ele e muitohábil. Depois de manter-se à defensiva durante vários minutos, Quintin sentiu aespada inimizade quebrar os suspensórios de sua cota e penetrar em seuombro.

 A dor foi intolerável. Mesmo que tivesse desejado resistir, aspernas lhe traíram, e se deixou cair sobre os joelhos. Tratou de sujeitar a arma,mas perdeu também o controle das mãos. E, em um instante, a espada de seuadversário se encontrou junto a seu pescoço.

-Seria muito fácil. Sabe, né? -disse Rowland com frieza,pressionando apenas a arma de modo que um fino fio de sangue correu pelopescoço de sua vítima.

Quintin se negou a responder. A dor do ombro era irresistível.Tinha fracassado. OH, Brigitte!

 A espada hostil caiu súbitamente para um flanco. -Perdoarei-te avida, Quintin do Louroux -asseverou Rowland-. Perdoarei-lhe isso porque tedevo o favor. Agora, minha dívida fica saldada.

Depois de pronunciar essas palavras, voltou a montar seu cavalo eempreendeu a volta ao Montville, ao tempo que quatro cavalheiros francesescomeçaram a descender pela colina para recolher a seu derrotado lorde.

Brigitte. A moça sabia... sabia! Tinha visto o Quintin. E na verdade era ladyBrigitte. Uma dama, não uma serva. Druoda lhe tinha enganado! Entretanto, nãolhe tinha mentido sobre o amor que existia entre o Quintin e a jovem. Isso eraevidente. E era também óbvio o fato de que Brigitte jamais permaneceriavoluntariamente a seu lado. Rowland tinha percebido alegria em sua voz aopronunciar o nome do Quintin, seu amado.

38

-Que demônios estava fazendo Brigitte no muro? -perguntouRowland quando Luthor foi receber lhe ao estábulo.

-aproximou-se com os outros para presenciar um esplêndidocombate -respondeu o ancião com regozijo-. Demonstrou a esses francesesquem é seu adversário.

-Onde está ela agora? -inquiriu o moço com irritação.-Ah, pois a jovem não é tão forte como supus. desmaiou-se quando

feriu o cavalheiro francês. Ordenei que a levassem a sua habitação.Rowland correu do estábulo para a sala, subiu velozmente as

escadas e abriu com violência a porta de sua antecâmara.Brigitte se encontrava tendida em 1a cama inconsciente. O ruído a

perturbou e começou a gemer. Porém, não alcançou a despertar, mas simcontinuou perdida em algum profundo tortura.O homem se sentou a seu lado e lhe apartou o cabelo do rosto.

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-Brigitte?... Brigitte! -chamou-a com mais firmeza ao tempo que lheaplaudia as bochechas.

Os olhos da moça se abriram e, logo, dilataram-se ao posar-sesobre o Rowland. Prorrompeu em soluços e começou a golpear o peito dohomem com os punhos até que ele a sujeitou.

-Matou-lhe! -chiou Brigitte-. Matou-lhe! O entrecerró os olhos comfúria.-Não está morto -anunciou-, a não ser ferido.Por um instante, ele observou o jogo de emoções que

atravessaram o rosto da jovem. Ela se incorporou.-Devo ir com ele.Porém, Rowland a sujeitou com firmeza contra a cama.-Não, não irá, Brigitte.-Devo fazê-lo!-Não! -exclamou o jovem com aspereza, e logo adicionou: Sei

quem é ele, Brigitte.

 A jovem se sentiu sobressaltada ante semelhante revelação.-Sabe? Sabe e, mesmo assim, lutou em seu contrário! OH, Deus,odeio-te! -gemeu entre soluços-. Acreditei que sentia algo por mim. Mas vocênão tem coração. É feito de pedra!

Rowland se surpreendeu ante a profundidade de sua própria dor.-Não pude fazer nada mais que lutar! -bramou com fúria-. Jamais

permitirei que ele te tenha! Só se eu morro poderá te desposar com essehomem. Juro-o, Brigitte!

-me desposar? -perguntou ela com voz entrecortada-. Me desposar com meu próprio irmão?

O moço a observou com olhar atônito. -Irmão?

-E ousa te fingir inocente? Você sabe que Quintin é meu irmão! Acaba de afirmá-lo!

Rowland sacudiu a cabeça, sobressaltado.-Acreditei que era seu senhor. Quintin do Louroux é seu irmão? por 

que não me disse isso?Brigitte não podia cessar de soluçar.-Pensei que tinha morrido e me resultava muito doloroso falar dele.-Então, quem é Druoda se não ser sua irmã? Disse-me que Quintin

desejava casar-se contigo, mas que ela o impediria. Jurou-me que te matariaantes de que ele retornasse ao Louroux, a menos que eu aceitasse te levar comigo.

-Mentiras, todas mentiras! -bramo a jovem- Ela é a tia do Quintin.Disse-te que tinha mentido sobre mim. por que não pôde acreditar...? -Brigittedeixou escapar uma exclamação-. antes de que Quintin retornasse ao Louroux?Sabia que ele retornaria? Sabia que meu irmão vivia e não me disse isso?

Rowland não se atreveu a manter o olhar da moça.-Acreditei que lhe amava, que tentaria retornar a ele -começou a

lhe explicar.Mas Brigitte se sentia muito irritada para escutar.-Creíste que lhe amava? Claro que lhe amo! Quintin é meu irmão.

O é toda minha família. E irei com ele... agora!

ficou de pé abruptamente, mas Rowland lhe tirou da cintura antesde que pudesse chegar até a porta. -Brigitte, não posso permiti-lo. Se te deixopartir, ele te impedirá de retornar para mim.

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Lhe olhou horrorizada.-Acaso supõe que desejo retornar? Não quero voltar a verte

 jamais! Lutou contra meu irmão, e esteve a ponto de lhe matar!-Você não te partirá daqui, Brigitte -afirmou ele de modo

categórico.

-Odeio-te, Rowland! -vaiou a jovem-. Pode me reter aqui, masnunca voltará a me possuir. Matarei-me se o faz!desabou-se sobre o chão em muito entrecortados soluços.

Rowland a observou por um instante e logo, abandonou a habitação.Chegou a noite. O exército francês se retirou durante o dia, embora

sem afastar-se muito. As espirais de fumaça provenientes do acampamentorevelavam que os cavalheiros franceses se encontravam ao outro lado da colina.Sua intenção era permanecer ali.

Em todo o dia, Rowland não tinha retornado a sua habitação. Nãosabia como comportar-se ante o Brigitte. Cada vez que pensava em algumadesculpa, imaginava a resposta da jovem e se precavia de que não podia

enfrentar-se a ela. Com obstinação, negou-se a acreditar na moça, mesmo queela não tinha feito mais que dizer a verdade. Tinha desonrado a uma dama dealta linhagem. Tinha-a forçado a lhe servir e tratado com rudeza. E lhe tinhatolerado tudo. Milagrosamente, Brigitte lhe tinha tolerado. Mas nunca perdoariapor ter lutado contra Quintin. Nem lhe perdoaria jamais o lhe haver oculto o fatode que seu irmão continuava com vida. Rowland não tinha direito a retê-la, masnão podia suportar a só idéia de perdê-la. E Quintin jamais lhe permitiriadesposar-se com a jovem.

Talvez, quando advertisse que nunca voltaria a ver sua irmã amenos que aceitasse as bodas, então, o francês provavelmente cederia. Brigittecom segurança se oporia, mas uma mulher podia ser desposada sem seu

consentimento. Só a aprovação do tutor era necessária. Talvez, se lhedemonstrava quanto sentia o dano ocasionado, ela cessaria de lhe detestar.Tinha que enfrentar-se a ela . Já não podia tolerar o sentir-se odiado pela jovem.

Rowland abriu a porta de sua antecâmara com uma leveesperança. Porém, a habitação se encontrava vazia. As pertences do Brigittecontinuavam ali, mas ela tinha desaparecido. Uma busca por toda a mansão nãofoi mais que uma perda de tempo. Nem a moça nem seu cão puderam ser encontrados. Finalmente, tirou o chapéu que a porta do muro traseiro tinha sidodestravada do interior.

O homem correu para o estábulo para selar a Huno. Comsegurança, Brigitte tinha partido depois do anoitecer; de outro modo, alguém ateria visto atravessando os campos. Possivelmente, a moça ainda não tinhaconseguido chegar ao acampamento francês. Talvez, só talvez, ele ainda tinhaoportunidade de alcançá-la, pensou Rowland, esperançado.

Por fim, cavalgou até o topo da colina. O coração começou a lhepulsar com violência. Já não podia divisar-se nenhum exército ao outro lado domonte, nada exceto uma pradaria desértica e os restos de várias fogueiras jáextintas.

-Brigitte! Brigitte! -Foram gritos apaixonados, desesperançados,que ninguém ouviu, exceto o poderoso vento.

39

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Brigitte se aconchegou na carreta junto a seu irmão. Não levavapressa, já que os cavalheiros franceses tivessem recebido com agrado umaperseguição de seus inimigos normandos. Era uma viagem lenta, mas cadaminuto, cada dia os afastava mais e mais dos domínios do Montville.

 A jovem reclinou cansadamente a cabeça para observar o escuro

céu da noite. Quintin dormia. Ardia de febre e de dor, gemia entre sonhos, masela não podia lhe ajudar. Inclusive tinha piorado o estado do moço ao sustentar uma violenta discussão, tão violenta como a que tinha mantido frente aRowland.

Quintin se havia oposto à partida. Desejava atacar Montville,reduzir a cascalho os gigantescos muros do feudo. Porém, seu maior desejo eraobter a cabeça do Rowland. A moça tinha empalidecido para ouvir essaspalavras. Sem saber como tinha acontecido, encontrou-se súbitamentedefendendo ao Rowland.

-Ele te perdoou a vida! Permitiu-te viver quando poderia te haver matado! -tinha exclamado ela.

Mas a temível cólera do Quintin não se apaziguou.-O homem deve morrer pelo que te tem feito!-Mas Rowland não é responsável pelo que aconteceu -insistiu

Brigitte-. Druoda é a única culpado.-Não, Brigitte. O normando convenceu a Druoda de te entregar. A moça refletiu por um instante e logo, soltou uma amarga

gargalhada ante tão absurda afirmação.-Disse-te ela isso? Ah, Quintin, acaso ainda não notaste a

habilidade dessa mulher para mentir? Rowland não me queria consigo.enfureceu-se quando lhe forçaram a me levar. Pode que agora me queira, masnão então. Druoda lhe jurou que me mataria se ele não me levava consigo. E,

devido ao que me tinha feito, ele aceitou.-Essa é outra razão pela que deve morrer!-Isso nem sequer aconteceu no Louroux! -replicou Brigitte.-Qui...quer dizer que não te violou?-Não. Estava ébrio, e muito apavorado para falar. Ambos os

creímos que tinha acontecido, mas a verdade é que eu me deprimi e ele logo sedesvaneceu. Pela manhã, demos por sentado que tinha ocorrido o estupro, e omesmo pensou Druoda. Mas foi todo um equívoco.

-Mesmo assim, ele te arrebatou de casa, sabendo que foi minhairmã e que Druoda não tinha direito a te entregar!

-É essa outra mentira da dama? Rowland me acreditou uma serva.recusou-se a me acreditar quando afirmei o contrário porque Druoda lheconvenceu de que eu era uma serva. Inclusive hoje, quando você chegou, elesupôs que foi meu senhor. Não sabia que foi meu irmão. Pensou que Druodaera sua irmã.

-por que teria que me mentir minha tia, depois de ter confessadotodos seus outros pecados?

-Acaso não o adivinha? -perguntou Brigitte-. Não me resulta difícilimaginá-lo, posto que a conheço depois de ter convivido com ela tanto tempo. Ao te mentir a respeito das ações do Rowland fez que seus próprios pecadosnão parecessem tão atrozes. Matou-lhe acaso?

-Não, expulsei-a.

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-Já vê. Deixou-lhe partir sem mais castigo e entretanto, veio aquipara matar ao Rowland. E ainda deseja lhe matar, em que pese a que teperdoou a vida. -Fez uma pausa

e logo, refletiu em voz alta. -Embora Rowland sabia que você viviae nunca me disse isso. Acreditei-te morto até hoje.

-Aí não pode lhe defender, Brigitte, posto que enviei ao Louroux ate informar de que eu seguia vivo.-O comunicou a Druoda, acreditando que ela era sua irmã. Fez o

que lhe ordenou, Quintin.-Não faz mais que lhe desculpar -acusou-lhe seu irmão-. por que

insiste em lhe defender?Brigitte baixou o olhar antes de admitir em voz baixa: -fui feliz aqui,

Quintin. Sofri ao princípio, mas logo me converti em uma mulher ditosa. Nãodesejo que mate ao Rowland, como tampouco desejo que ele lhe mate. E, semdúvida, algum dos dois morrerá se não nos partimos daqui. Quero retornar acasa agora. Não preciso ser vingada, posto que minha honra não foi

prejudicado. -Quer dizer que ele jamais te tocou em todo este tempo?-perguntou Quintin com suspicacia.

-Jamais -respondeu a jovem com firmeza, esperando que a mentiraconseguisse pôr fim a esse conflito. E assim foi. Finalmente, Quintin consentiuem partir. Já tudo tinha terminado.

Brigitte jamais voltaria a ver o Rowland. Enterraria seussentimentos por ele. De algum modo, conseguiria esquecer tudo que tinhaacontecido entre ela e Rowland do Montville.

40

 A cálida brisa da primavera enfraqueceu a terra e atraiu aoThurston do Mezidon para o Montville. O exército normando não parecia temível,não depois da terrível ameaça que tinha inquietado ao feudo apenas uns mesesatrás. Havia, ao menos, duzentos soldados com o Thurston, mas não mais deuma dúzia de capacitados cavalheiros.

Rowland observou com desdém a congregação de homens quepretendiam lhe arrebatar os domínios do Montville. Mercenários em sua maioria,talvez alguns bons soldados, mas a maior parte do exército estava formada por camponeses que só tentavam aumentar seu patrimônio. Não existia lealdade ali.Nenhum homem contratado estaria disposto a lutar até o amargo final.

Quatro cavalheiros cavalgaram para a entrada do Montvilleprecedidos pelo Thurston. Rowland conseguiu reconhecer a outro dos homens eesboçou um sorriso depreciativo. Roger. O canalha se uniu a seu irmão, talvez,com a intenção de utilizar a batalha como desculpa para matar a seu antigoadversário. Sem dúvida, o caipira tinha informado a seu irmão sobre o poderiodo Montville e, entretanto, Thurston era tão tolo para iniciar a guerra. Rowlandestava seguro de que logo encontraria também ao Geoffrey entre o exércitohostil.

-Luthor! -bramou Thurston de abaixo-. Você desafio a lutar pelo

domínio do Montville!-Com que direito? -perguntou o lorde.

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-Com o sagrado direito que me outorga o matrimônio com sua filhamaior. Montville será minha depois de sua morte. E não desejo aguardar.

-Cão infame. -Luthor soltou uma desdenhosa gargalhada. -Vocênão tem direitos aqui. Meu filho, Rowland, será quem herda a autoridade noMontville. Você? Jamais!

-O é um bastardo! Não pode lhe favorecer frente a sua legítimafilha.-Claro que posso, e já o tenho feito! -exclamou o ancião-. Acreditai-

lhe para ocupar meu lugar, e assim será. -Então, desafio a seu bastardo!Rowland tinha escutado com impaciência esse intercâmbio de

palavras. Todo seu ser ardia com o desejo de luta. O desespero em que seinundou depois da partida do Brigitte tinha chegado a converter-se em uma fúriaincontrolável. Era essa a oportunidade que necessitava para descarregar suaira.

Porém, os planos do Luthor eram diferentes. O ancião sujeitou obraço do moço, lhe ordenando silencio.

-Lorde de mercenários! -bramou Luthor-. Meu filho não serebaixará lutando com um canalha como você. O não esbanja sua destreza compalurdos.

-Covardes! -proferiu Thurston com cólera -Oculte-se depois dosmuros, então. Mesmo assim, terão que enfrentar-se a mim!

Os cavalheiros retrocederam para unir-se a seu exercito no campo.Rowland os observou partir e logo se voltou para o Luthor com aborrecimento.

-por que? Poderíamos ter terminado este conflito me enfrentando aesse caipira.

-OH, sim -assentiu o ancião com perspicácia-. Você te tivesseenfrentado... em uma luta limpa. Mas usa a cabeça, Rowland. Thurston recorreu

para mim em sua juventude, mas foi sempre um folgazão, depreciativo frente atudo meus ensinos. Jamais um cavalheiro mais desgraçado transpassou estesmuros. Sabe que nunca poderia ganhar e, ainda assim nos desafiou. por que?Jamais se tivesse atrevido se não contassem com algum sujo plano paraassegurá-la vitória.

-Pensa te ocultar detrás destes muros, então?-Claro que não -grunhiu o ancião-. Pode que sua intenção tenha

sido me matar para evitar a guerra, mas não o conseguirá. Livrará-se a batalhano campo, mas só quando eu o dita.

-E, enquanto isso, permitirá-lhe assolar as terras do Montville?-perguntou Rowland, enquanto observava a vários homens do Thurston que,com tochas acesas, dirigiam-se para a aldeia.

Os olhos do Luthor cintilaram ao ver o espetáculo que o jovemestava contemplando.

-O muito canalha! -grunhiu-. Pois, muito bem, sairemos agora eterminaremos já mesmo com este chato conflito.

Rowland tratou de impedir qualquer ação precipitada do ancião,mas foi muito tarde. Luthor já não estava disposto a escutar. Tinha deixado depensar com claridade, para permitir que a ira começasse a lhe governar, e esseera um luxo que nenhum guerreiro podia jamais confrontar. Ainda assim, ohomem não teve mais alternativa que lhe seguir. Imediatamente, quarenta dos

melhores cavalos de guerra dessas terras foram montados e Luthor começou arepartir as ordens. Um instante depois, os cavalheiros e soldados do Montville

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atravessaram os portalones ao galope para enfrentar-se ao lorde do Mezidon eseus homens.

Rowland conduzia a metade das defesas, detrás da linha dehacheros. A aldeia se encontrava já em chamas: cada choça, cada refúgio caíadepois de uma nuvem de fumaça em uma ardente bola alaranjada. Depois de

acender as fogueiras em círculo ao redor da mansão, os homens do Thurstonvoltaram a reunir-se com seu exército. Rowland redobrou a marcha para segui-los.

 Assim que chegou ao campo de batalha, lhe congelou o sangueante o horrendo espetáculo que ali presenciou. E, então, a pena lhe rasgouquando viu cair ao Luthor. Tudo aconteceu antes de que ele pudesse unir-se aoancião, e não demorou para compreender que tinham sido enganados. Outrostrinta cavaleiros tinham descendido da colina para atacar ao Luthor e seushomens. Uma muito antiga tática, mas tinha resultado. Luthor tinha sidoderrubado e a metade dos homens tinham cansado com ele.

Rowland cessou de pensar com claridade. Ao igual ao ancião uns

momentos atrás, deixou-se governar por seus impulsos. Como umenlouquecido, equilibrou-se para o lugar do combate, seguido por uma vintenade seus fornidos guerreiros. Com repetidos golpes de sua espada, quebrou osflancos do exército inimigo, até chegar ao centro da luta. Então, viu o Luthor. Osabre do Thurston lhe tinha atravessado.

Lorde Thurston do Mezidon se estremeceu ao ver a expressão nosolhos de seu adversário. Neles, a mesma morte parecia refletida. Rowlandelevou sua espada ensangüentada para apanhar a seu oponente e proferiu umhorripilante alarido de ira. Thurston se paralisou, pressentindo que o fim tinhachegado.

O lorde do Mezidon lutou de modo selvagem, imprudente, e logo

foi derrotado. Mas, ao tempo que Rowland extraiu sua espada do corpo doThurston, outro sabre lhe penetrou nas costas. O moço abriu os olhos comsurpresa, mas reagiu imediatamente girando para trás seu braço armado. Alcançou a golpear algo com a espada, mas sua dor era muito intenso paravoltar-se para olhar. Sua sede de sangue ainda continuava lhe consumindo;ainda retumbava em sua cabeça o ensurdecedor clamor de batalha; entretanto,encontrava-se quase cego, e também muito aturdido, já que só podia ver aqueda do capitalista Luthor, o forte, invencível Luthor derrubado por uma espadainimizade.

Um cavalo se estrelou com Huno e Rowland caiu. O impactointensificou sua dor até torná-lo irresistível. A partir desse instante, o moço jánada mais ouviu.

-Está morto! -exclamou Hedda, ao tempo que dois cavalheirosentraram na sala carregando o corpo inerte do Rowland-. OH, por fim!

GUI lhe lançou um olhar fulminante e, com um gesto, indicou aosdois cavalheiros que colocassem ao homem inconsciente junto aos outrosferidos, para logo lhes ordenar que partissem. Então, voltou-se para a dama elhe informou com frieza:

-Não está morto, lady Hedda, ainda não.Os olhos pardos da mulher se dilataram decepcionados.-Mas morrerá?

O tom esperançado na voz da Hedda repugnou ao jovem, quem,por uma vez, permitiu-se esquecer a hierarquia da dama do Montville.

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-Fora daqui! -exclamou-. Acaba de perder a seu marido. Acaso nãotem lágrimas?

Os olhos da Hedda cintilaram.-Derramarei lágrimas por meu lorde quando tiver morrido seu

bastardo! -vaiou-. E isso deveria ter acontecido muito tempo atrás. Seu cavalo

teria que lhe haver matado. Estava tão segura! Tudo teria terminado!-Lady? -inquiriu GUI, sem atrever-se a expressar a pergunta.Ela retrocedeu, sacudindo a cabeça. -Não disse nada. Eu não fui!

Eu não fui!Hedda correu para o Luthor. O corpo do ancião tinha sido colocado

sobre os tapetes. A dama se jogou sobre o cadáver e seus pesarosos gemidosalagaram a gigantesca sala. Mas GUI sabia que não eram mais que falsaslágrimas.

-Então me equivoquei ao suspeitar do Roger. GUI baixou o olhar para encontrar os olhos do Rowland abertos.

-Ouviu-a? -perguntou-lhe

-Sim, ouvi-a -respondeu o ferido.GUI se ajoelhou junto ao corpo jogado de seu amigo e falou comuma marcada nota de amargura.

-Foi injusto com o Roger nessa ocasião, mas só nessa. Por ele,está tendido aqui agora.

Rowland tratou de incorporar-se, mas voltou a cair com umamarcada careta de dor.

-É muito grave a ferida?-É grave -admitiu seu amigo-. Mas você é forte.-Luthor também era forte -afirmou o ferido, e então a sangrenta

cena voltou a lhe cruzar pela mente-. Luthor?

-Sinto muito, Rowland. Está morto.O jovem fechou os olhos. Certamente. Tinha-o sabido do momento

em que tinha visto o Luthor cair. Luthor. Não seu verdadeiro pai e, mesmoassim, seu pai. O vínculo de anos assim o tinha querido, tal como tinha afirmadoBrigitte. E esse vínculo era muito mais forte do que Rowland sempre tinhasuposto. O moço começou a sentir uma profunda dor, uma dor muito maisintenso do que jamais poderia ter imaginado.

-O descansará em paz -disse finalmente-. foi vingado.-Vi que também vingou a ti mesmo -afirmou GUI com tom

acalmado.Rowland franziu o sobrecenho. -O que quer dizer?-Acaso não sabe quem te feriu nas costas? - perguntou seu

amigo-. Foi Roger. Mas sua própria espada lhe atravessou fatalmente, e caiuinclusive antes que você. Roger está morto.

-Está seguro?-Se, E os homens do Thurston se lançaram à fuga. Mas a traição

do Roger foi evidente. Sinto ter duvidado de ti na anterior ocasião. Não acrediteique ninguém, inclusive Roger, fosse capaz de atacar pelas costas. Mas você lheconhecia melhor que eu.

Rowland não alcançou para ouvir as últimas palavras de seu amigo já que, uma vez mais, o escuro mundo do inconsciente se deu procuração dele.

O jovem já não pôde sentir a dor da perda, nem a dor da ferida. Ao tempo que Rowland lutava por aferrar-se à vida, Brigitte recebiaos primeiros brotos da primavera com infinita tristeza. Já não podia continuar 

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ocultando seu segredo. Quintin se tornou lívido quando ela decidiu abandonar as desculpas para justificar seu peso e admitiu, por fim, a verdade.

-Um filho? -perguntou seu irmão com irritação-. Dará a luz um filhodesse normando?

-Meu filho.

-Mentiu-me, Brigitte! -bramou Quintin.Era essa a principal causa de sua ira: sua irmã lhe tinha mentidopela primeira vez na vida. A moça lhe tinha oculto a notícia de sua estado desdesua volta ao Louroux, ainda quando já o tinha sabido então, posto que levavaquatro meses de embaraço.

-por que? por que me mentiu? -inquiriu o jovem.Brigitte tratou de manter-se insensível frente ao angustiado tom da

voz de seu irmão.-Acaso teria abandonado Montville se te tivesse revelado a

verdade?-Claro que não. -Quintin se sentia realmente perturbado.

-Ali tem a resposta, Quintin -explicou-lhe a jovem com frieza-. Nãoia permitir que lutassem por minha honra quando fui eu quem entreguei essahonra. Não havia razão para liberar uma batalha.

-Mas, no que outra coisa me mentiu? A moça sob os olhos, incapaz de enfrentar o olhar acusador de seu

irmão.-Ocultei-te meus verdadeiros sentimentos -admitiu finalmente-.

Estava furiosa esse dia. Odiava ao Rowland por haver-se enfrentado a ti. Sentia-me tão ferida, que desejava morrer.

-E, mesmo assim, defendeu-lhe ante mim.-Sim -murmurou ela com suavidade.

Quintin partiu, deixando sozinha ao Brigitte com suas lágrimas.Tinha decepcionado a seu irmão, e isso rasgava o coração da jovem. Só elasabia quanto tinha saudades a presença do Rowland. Orava dia detrás dia,implorando que ele retornasse a seu lado. Mas, como poderia explicar-lhe aoQuintin?

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Rowland se desperezó e, instantaneamente, deixou escapar umrouco grunhido. Pelo visto, a moléstia da ferida ainda não estava disposta a lheabandonar. Jogou um olhar de soslaio a seu irmão e lhe encontrou sorridente.

-Arrumado a que não tem nenhuma cicatriz, ou meu aroma não tedivertiria tanto, irmão -grunhiu Rowland.

-Vontades essa aposta -assegurou-lhe Evarard com uma breverisada-. Jamais adotei a guerra como uma forma de vida. Não sinto compaixãopor aqueles que o fazem logo, grunhem bêbados quando os afligem as feridas.

-De maneira que grunhem bêbados, né? -resmungou Rowland commau humor-. Jamais me verá grunhindo bêbado por uma simples dor!

-OH, não, só por ela.Rowland franziu o sobrecenho.

-Não desejo falar dela. Revelei-te mais do que devia ontem à noite.-Quando estava grunhindo bêbado -demarcou Evarard com umagargalhada.

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Rowland se incorporou abruptamente e, imediatamente deu umcoice ante a intensa pontada de dor. Fazia apenas dois meses que tinharecebido a ferida e esta ainda não tinha cicatrizado.

-Posso prescindir de sua jocosidade -afirmou com tom brusco.Evarard permaneceu impávido frente ao mau gênio de seu irmão.

-Onde está seu senso de humor, homem? fugiu-se acaso com suabela dama?-Evarard, juro-te que se não fosse meu irmão, despedaçaria-te!

-grunhiu Rowland, fechando os punhos-. Não volte a mencioná-la.-Precisamente porque sou seu irmão posso te falar com

sinceridade -afirmou o outro jovem com tom sério. Com segurança, pensaria-oduas vezes antes de me atirar um murro na cara, porque seria como te golpear a ti mesmo.

-Não esteja tão seguro, irmão.-Vê-o? -A expressão do Evarard se tornou muito solene-. Reage

com irritação quando eu só estou brincando. Abriga uma intensa ira em seu

interior, Rowland, e a deixa viver em lugar de combatê-la.-Sua imaginação é muito ativa, Evarard.-Isso acredita? -arriscou-se a perguntar o gêmeo- Ela te

abandonou. Preferiu partir com seu irmão em lugar de permanecer a seu lado.Dirá-me que isso não te afetou?

-Já basta, Evarard!-Nunca voltará a ver a dama. Isso não significa nada para ti, né?-Basta! -bramou Rowland.-Não chama a isso ira? -continuou Evarard, expondo-se a um

violento golpe, já que o rosto de seu irmão começava a transformar-se em umaverdadeira máscara de cólera-. Te olhe, irmão. Está a ponto de me derrubar só

porque te fiz notar que a fúria te está consumindo por dentro. por que não acabade uma vez com sua vida? É óbvio que não deseja viver sem essa mulher eentretanto, não faz nenhum esforço por recuperá-la.

-Maldito seja, Evarard. me diga como poderia recuperá-la se medespreza. Como poderia sequer me aproximar dela quando seu irmão estádisposto a me matar apenas me veja?

-Ah, Rowland, esses são só obstáculos que sua própriaimaginação exagera. Nem sequer o tentaste. Teme fracassar. O fracasso seriaseriamente o final. Mas você não sabe se fracassaria, e nunca saberá se nãofazer o intento.

 Ante o completo silêncio de seu irmão, Evarard prosseguiu.-E se a dama se sente tão desolada como você? E se a ira de seu

irmão já começou a apaziguar-se? Se cometeu enganos, deve te desculpar antea jovem. Pode que ela entenda mais do que supõe. Mas, como saberá se não ir vê-la? Vê. Vá ao Berry, Rowland. Fala com o irmão e, logo, exprésale à moçaseus sentimentos. Não tem nada que perder, mas se não ir, então tudo estaráperdido.

 À medida que se aproximava mais e mais ao Louroux, Rowlandrefletia sobre sua conversação com o Evarard. A sensatez de seu irmão lhetinha feito compreender quão obstinado e tolo era seu comportamento.

Já tinha começado o verão. Durante muito tempo, tinha aceito seu

infortúnio sem tentar modificá-lo. Durante muito tempo, tinha estado separadodo Brigitte, permitindo que a ira lhe consumisse.

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-Lorde Rowland do Montville, milord -anunciou Leandor cominquietação.

Rowland seguiu ao homem até a sala e, ao lhe ver, Quintin seincorporou abruptamente, ao tempo que se levava uma mão à espada.

-Não aceitarei a provocação se me desafiar, barão -apressou-se a

advertir Rowland.Quintin ficou sem fala, sobressaltado ante a aparição desse jovem.Jamais tivesse imaginado que o normando pudesse ser tão imprudente deapresentar-se no Louroux. depois de tudo, ele era o lorde ali e se o desejava,podia encerrar a esse homem para não lhe liberar jamais.

-Ou já não tem desejos de viver ou é o tolo maior de toda acristandade -afirmou Quintin quando por fim conseguiu recuperar a fala-. Não tetinha tomado por um tolo, Rowland. Claro que me equivoquei contigo desde ocomeço. Confiei em ti, e me ensinou uma valiosa lição.

-Não vim aqui para brigar contigo, milord -assegurou-lhe Rowland-,a não ser para fazer as pazes.

-As pazes? -bramou Quintin, irritado ante a calma de seuinoportuno visitante. Sem titubear, atirou um violento golpe no rosto do fornidohomem. Mas Rowland permaneceu sem alterar-se, tratando de controlar seumau gênio.

-Maldito seja! -grunhiu o anfitrião-. Como te atreve a te apresentar em minha casa?

-Vim porque a amo -confessou Rowland com firmeza.Surpreendeu-lhe a facilidade com que podia pronunciar essas palavras, edecidiu as repetir-. Amo ao Brigitte. Quero-a por esposa.

Quintin esteve a ponto de engasgar-se ante semelhante revelação.-Também a quis para satisfazer seu apetite carnal, e não duvidou

em violá-la! Tomou pela força!-Disse-te ela isso?-A poseíste, e isso fala por si só!-Jamais fui violento com o Brigitte -afirmou Rowland-. Não fui gentil

ao princípio, reconheço-o, porque era eu um homem muito rude então. Mas, empouco tempo, sua irmã conseguiu me mudar, até que só comecei a sentir sedesesperados desejos de agradá-la.

-Isso já não é importante.Rowland perdeu a paciência.-Maldição! Ponha em meu lugar. Druoda entregou ao Brigitte e

acreditei que essa mulher era sua irmã. A moça se converteu então em meuserva. Viajar sozinho com ela até o Montville foi um verdadeiro tortura, tal comotivesse sido para qualquer homem forçado a enfrentar-se a semelhante beleza. Ao igual à jovem, acreditei que já a tinha desvirginado aqui, no Louroux. Talvez,se tivesse sabido que ainda era virgem, não lhe houvesse possuído...não sei,não posso afirmá-lo. Mas não foi esse o caso. Acaso alguma vez levaste a umamulher a sua cama sem lhe pedir consentimento?

-Estamos falando de minha irmã, não de uma mera serva, obrigadado nascimento a servir a seu amo. Brigitte é uma dama de alta linhagem, enenhuma dama deve sofrer o tortura a que você a tem exposto.

-Ela me perdoou -asseverou Rowland.

-Sério? Não poderia assegurá-lo, posto que jamais te menciona.-Minha briga contigo é o que a voltou contra mim. -Explicou o lordedo Montville.

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-O mesmo dá, posto que não voltará a vê-la jamais.-Sei razoável. Ofereço matrimônio. Sou o lorde do Montville agora

e possuo além disso um imenso patrimônio no Cernay. Como minha esposa,Brigitte o teria tudo, especialmente amor. Estou disposto a dedicar toda minhavida em compensar o dano que lhe ocasionei. O passado já não pode modificar-

se. Mas posso, entretanto, te jurar que jamais voltarei a lhe causar penas.-Já não há forma de remediar o que tem feito com o Brigitte-afirmou Quintin com frieza.

-O que opina ela?-Isso não tem importância.Rowland voltou a perder a paciência.-Ao menos, permitirá-me vê-la?-Já te disse que não voltaria a vê-la jamais! Agora, vete daqui,

normando, quando ainda estou disposto a te deixar partir livremente. Nãoesqueça onde te encontra.

-Não o esquecimento, barão -afirmou Rowland com calma, olhando

ao outro homem fixamente-. Brigitte significa para mim muito mais que minhaprópria vida.Depois desse comentário, voltou-se e se retirou imediatamente da

sala. Quintin lhe observou em silêncio, mas não teve tempo de meditar assentidas palavras do normando, já que sua irmã irrompeu de repente na sala.

Maldição! Quão último necessitava Brigitte era enfrentar-se a essevelhaco. A moça parecia muito desventurada e irascível ultimamente.

-Diz Leandor que temos uma visita -comentou a jovem, ao tempoque se aproximava de seu irmão.

-Leandor está equivocado -afirmou Quintin com mais brutalidadeda que tivesse desejado.

-Equivocado?-Era só um mensageiro -explicou o homem. Um jovem se

apresentou essa manhã sem que sua irmã se inteirou-. Arnulf organizará umfestejo o mês entrante. Celebrará-se as bodas de uma sobrinha. Convidou-me àfesta.

-Então, pode que não esteja aqui quando...-Não -interrompeu-a ele com rudeza-. Pode que não.Quintin abandonou a sala imediatamente. Incomodava-lhe falar do

nascimento. Envergonhava-lhe o estado de sua irmã; lhe morria de calor saber oque lhe tinham feito à moça, mas acima de tudo, chateava-lhe que o homem quea havia possuído ainda continuasse com vida. Cada dia que passava, resultava-lhe mais e mais difícil ficar frente a Brigitte. A jovem era consciente de seufracasso em seus intentos de vingá-la. Ela tinha fingido subtrair importância aoassunto, mas Quintin conhecia sua irmã e sabia quais deviam ser seussentimentos. Entretanto, não podia culpá-la por ter perdido a fé nele.

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Brigitte se encontrava caminhando lenta e indolentemente pelohorta. Uma e outra vez, tentava apanhar as folhas secas do outono que

revoavam para o chão. Logo, levava-se as mãos ao ventre, agora novamenteplano. Durante um comprido tempo tinha levado sua carga, mas já tudo tinhaculminado. Não tinha sido uma iluminação difícil, segundo as palavras da

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Eudora. A opinião do Brigitte tinha sido diferente no momento, OH, sim! muitodiferente.

Entretanto, a moça já não recordava essa dor e se sentia muitofeliz como mãe. Porém, quando se encontrava sozinha, uma imensa sensaçãode desdita a afligia. Detestava pensar no Rowland, mas, mesmo assim, não

conseguia lhe esquecer. Odiava a pena que esse homem lhe tinha causado,odiava sentir o desejo de lhe ter a seu lado, mas não podia a não ser pensar nele constantemente.

Brigitte acreditou estar imaginando quando viu um cavaleiroaproximar-se da entrada do Louroux. A moça caminhou por entre as árvores atéos limites do horta, com a certeza de que a visão não demorasse paradesaparecer. Algo no cavalo lhe recordava ao gigantesco Huno. arreganhou-sea si mesmo por permitir tanto vôo a sua imaginação.

recolheu-se as saias para dirigir-se para a mansão. Acelerou opasso gradualmente, até atravessar correndo os imensos portalones. Ao chegar ao pátio, deteve-se de repente, já que reconheceu ao enorme cavalo que um

encarregado conduzia para o estábulo. O cavaleiro já tinha desaparecido. Ocoração da jovem começou a pulsar com violência. Correu então até a sala e, aoatravessar as portas, voltou a deter-se abruptamente.

-Rowland! -exclamou.Entretanto, ninguém pôde ouvi-la frente aos ferozes gritos de seu

irmão. Ambos os jovens se encontravam enfrentados a uns escassos metros dedistância: Quintin, enfurecido e Rowland, preparado para extrair sua espada.

-Detenha! -exclamou Brigitte, ao tempo que corria para oshomens-. Ordeno-te que te detenha! -Empurrou ao Rowland, quem retrocedeusem lhe apartar o olhar. Logo, ela se voltou para seu irmão.

-O que significa tudo isto?

-O não é bem-vindo aqui.-Seria capaz de lhe expulsar -perguntou a jovem com irritação-

sem saber por que veio?-Sei muito bem por que veio!-por que?-Por ti.Rowland tinha respondido. Brigitte se voltou para lhe olhar e

continuou lhe observando durante um comprido instante incapaz de apartar oolhar, ao tempo que o homem a devorava com seus escuros olhos azuis.

-nos deixe sozinhos. Quintin -murmurou a moça, sem olhar a seuirmão.

Quintin a sujeitou do braço e lhe forçou a lhe olhar.-Não te deixarei sozinha com ele.-Agradaria-me falar com o Rowland em privado Quintin.-Não.-Tenho direito. Agora, nos deixe sozinhos. Por favor.Quintin se sentiu furioso, mas, ainda assim, aceitou partir.-Estarei perto se me necessitar, Brigitte.-Maldição -grunhiu Rowland, logo que estiveram a sós-. Seu irmão

é um agressivo e obstinado...-Cuidado, Rowland -interrompeu-lhe Brigitte com uma expressão

geada em seus olhos azuis.-Começou a gritar assim que entrei. Se você não tivesse chegadonesse instante, eu houvesse...

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O moço avermelhou com um intenso sentimento de culpa e ahostilidade nos olhos da jovem conseguiu lhe silenciar.

-Sei exatamente o que tivesse feito, Rowland -afirmou ela comcalma-. Conheço-te muito bem. Tivesse desafiado a meu irmão.

-Não, -assegurou-lhe ele imediatamente-. Só tentava deter seus

gritos. -Só me diga por que vieste -ordenou-lhe a moça com brutalidade.Rowland exalou um profundo suspiro. O começo tinha sido

lamentável. Mas Brigitte se encontrava por fim ante seus olhos e, OH, Deus!,que formosa se via, inclusive mais formosa do que ele acreditava recordar.

-Não sabe quanto senti saudades, chérie -confessou eleimpulsivamente, surpreendendo a jovem com tão súbita revelação.

Rowland não tinha planejado começar desse modo. As palavrastinham fluido por própria vontade, e tinham tomado despreparada à moça.

-estivemos separados durante muitos meses, Brigitte -prosseguiuele com doçura-. Em realidade, pareceram-me anos... o tempo se tornou

irresistivelmente comprido sem sua companhia.Brigitte entrecerró os olhos.-Acaso espera que eu cria que me jogaste tanto de menos?-Todo isso é verdade, e muito mais -assegurou-lhe ele com

ternura-. Desejo que retorne a casa comigo. Luthor morreu e agora Montville mepertence.

Os olhos da moça se dilataram. -Luthor está morto? Você não...-Não, não fui eu. Thurston apareceu na primavera, e se desatou

uma batalha. Ocupei-me de vingar ao Luthor. Descobri que... amava ao anciãomais do que acreditava.

-Seriamente sinto o do Luthor -murmurou a moça com franqueza-.

Morreram muitos?-Não, houve mais feridos que mortos. Mas Thurston e Roger,

ambos caíram sob minha espada. Já não voltarão a nos chatear.-Roger está morto?-Apunhalou-me e lhe ataquei em ação reflete. Nem sequer alcancei

a lhe ver antes de cair.-Você caiu? Feriram-lhe então? -Os olhos do Brigitte examinaram

temerosos ao homem.-Nas costas -respondeu Rowland pausadamente.-De modo que voltou a atacar pelas costas, tal como aconteceu no

 Arles?-Você sabe isso?Lhe lançou um olhar fulminante.-Um pequeno detalhe que jamais mencionou... meu irmão te salvou

a vida! E você lhe correspondeu com grande amabilidade, não é assim?-adicionou a jovem com amargura.

-Brigitte...-Admito que não sabia que eu era sua irmã, mas supunha que ele

era meu senhor. Acreditava que ele desejava desposar-se comigo e, aindaassim, arrebatou-me do Louroux! Traiu-lhe, Rowland.

-Fiz-o sem saber, Brigitte, quando se dava por sentado que eu te

tinha violado aqui, Já tudo parecia e não podia modificar-se. Acaso acredita queme sentia orgulhoso? Estava furioso comigo mesmo não só por isso, mastambém também por trair a seu irmão ao te afastar daqui. Mas, o que outra

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coisa podia fazer? Druoda ameaçou te matando se te deixava no Louroux. Oque tivesse feito você em meu lugar?

-Há algo que sim poderia ter feito, Rowland, poderia ter renunciadoa mim quando Quintin foi me buscar em lugar de liberar um combate?

-Não era tão singelo, cherie -murmurou Rowland com doçura-. Não

podia te entregar, não quando acreditava que ele desejava desposar-se contigo.Eu te queria por esposa. Brigitte se voltou, e as palavras continuaramretumbando em seus ouvidos. "Eu te queria por esposa".

Rowland confundiu a reação da moça com um arrebatamento deira.

-Nunca me atreveria a desafiar novamente ao Quintin, Brigitte,sabendo agora que é seu irmão. Tratei de fazer as pazes com ele, mas serecusou a me escutar. Ofereci-lhe me casar contigo e se negou. Não posso lutar por ti, e Quintin nunca aceitará te entregar a mim. Brigitte, quero te converter emminha dama. Jamais desejei nada tanto como desejo a ti.

Os olhos da jovem se encheram de lágrimas. Quantas vezes tinha

implorado ouvir essas palavras? Mas já havia trascurrido muito tempo e ela tinhadetido seus rogos. sentia-se ferida em seu orgulho. Agora seu coração sóabrigava amargura, porque Rowland lhe tinha abandonado. Durante todo oembaraço, durante esses largos meses em que tanto lhe tinha necessitado, eletinha estado ausente.

-Já é muito tarde, Rowland -sussurrou finalmente.O coração do moço se deteve. -Casaste-te?-Não.-Então, não é muito tarde -afirmou ele, aliviado.Imediatamente, estendeu os braços para tomar à moça, mas ela

ficou rígida e apartando o rosto para um lado, suplicou-lhe:

-Não me toque, Rowland. Não tem direito a vir aqui agora e mepropor matrimônio. Onde estava todos esses meses quando ...quando... -Um nólhe entupiu na garganta e ameaçou sufocando. Sentiu desejos de chorar eresistiu com desespero-. Não me casarei contigo, Rowland. Deveria ter chegadoantes quando... quando ainda sentia algo por ti. Agora já... já não sinto nada.

Rowland a tirou dos ombros com fúria e a forçou a lhe olhar.-Eu vim antes, meses atrás, mas seu irmão me jogou! estive

vagando após. Não pude retornar a casa. Meu lar já não significa nada para mimse você não estiver ali.

 A jovem sacudiu a cabeça com violência.-Não te acredito. Quintin me haveria isso dito se seriamente tivesse

vindo aqui antes.-Maldição, Brigitte! -bramou o moço- Eu te amo!-Se na verdade me amasse -gritou ela-, teria-me procurado antes!Desesperado, Rowland a atraiu bruscamente para se para

apoderar-se dos delicados lábios da jovem em um selvagem beijo. O lhe tinhaaberto o coração e ela tentava lhe destroçar. Essa moça lhe estava rasgando.Brigitte lutou com violência, até que ele se viu forçado a liberá-la. Lhe condenoucom o olhar quando falou.

-Não deveu fazer isso. Eu já não te amo, Rowland.O reuniu os últimos restos de seu orgulho e se voltou, para afastar-

se da jovem sem sequer olhar atrás.-OH, Deus, não me importa! -gritou ela para a sala vazia.-Que não te importa?

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Brigitte se voltou, para encontrar a seu irmão de pé junto à porta, efechou com força os punhos para controlar seus puxadores desejos de chorar.

-Não me importa que Rowland se partiu -repetiu com firmeza.-Alegra-me ouvir isso -afirmou Quintin, embora sua voz revelou

uma marcada nota de incerteza.

O homem se sentia tão afligido pelo remorso, que não soube comoreagir frente a sua irmã. Tinha ouvido toda a conversação, e tivesse desejadonão fazê-lo. Conhecia-a muito bem à moça. Brigitte, em realidade, não haviasentido tudo que havia dito ao Rowland. por que seu próprio irmão não tinhasido capaz de compreender quanto amava ela a esse homem? por que tinhasido tão néscio de permitir que a ira lhe cegasse?

Entretanto, ainda não era muito tarde para emendar os enganos.Mas, como poderia confessar à moça seu terrível pecado? Acaso a revelação avoltaria em seu contrário? Finalmente, Quintin se armou de coragem e decidiuenfrentar-se a ela.

-Jamais conheci a um homem com tanto valor como seu Rowland

-começou a dizer-, nem com tanto amor.-O que significa isso?-O já veio aqui uma vez, Brigitte, faz vários meses. Não lhe disse

isso porque acreditei que te perturbaria, especialmente em seu estado. Tratoude fazer as pazes comigo, mas eu me neguei. Adverti-lhe que não retornassenunca, mas, como vê, ele não escutou minha advertência. E agora só posso tesuplicar perdão por não haver lhe contado isso. O é um bruto bárbaro, mas se oquer, farei que retorne.

-OH, Deus, Quintin! -Brigitte liberou por fim suas lágrimas-. Nãoacredita que será muito tarde?

-Deterei-lhe.

-!Não! -exclamou a moça-. Eu sou quem deve lhe deter.Brigitte saiu correndo da sala. Quintin a seguiu até a porta e lhe

observou atravessar velozmente o pátio até o portalón, para logo perder a devista. O jovem se forçou a permanecer em seu lugar. Não desejava voltar ainterferir no destino de sua irmã.

Rowland se afastava mais e mais, cavalgando pela rota, mas aindase encontrava o suficientemente perto para ouvir os frenéticos alaridos da jovem. Entretanto, ele não se deteve. Nem sequer se dignou a olhar atrás.

Brigitte lhe seguiu, gritando seu nome uma e outra vez. Seucondenado orgulho tinha causado a partida do homem. Ao diabo com esseorgulho! A moça começou a soluçar, temerosa de que fora muito tarde,temerosa de lhe haver ferido irremediavelmente.

-Rowland, por favor!de repente, tropeçou com as saias e caiu, soluçando com

desespero. incorporou-se, mas ele tinha contínuo afastando-se e, então,duvidou de que pudesse ouvi-la. -Rowland ...retorna!

Esse foi seu último lastimoso grito, e o jovem o ignorou. Então,Brigitte se desabou sobre os joelhos em meio da rota, com a cabeça encurvada,derrotada e o corpo tremendo com angustiados soluços.

Não advertiu que Rowland se tornou, para encontrá-la arremessono caminho. O se deteve, vacilou durante uns instantes e retornou velozmente

para ela. Brigitte ouviu o galope do cavalo e ficou de pé, mas a ira refletida norosto do Rowland lhe impediu de falar. -Que loucura é esta? -perguntou ele comfúria-. Tem acaso mais palavras hirientes para me rasgue o coração?

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Brigitte não pôde lhe culpar. Tinha sido desumana.-Rowland... -aproximou-se com vacilação e detrás lhe colocar uma

mão sobre a perna, olhou-lhe com expressão suplicante-. Rowland, amo-te.Os olhos do homem arderam mais intensamente.-Então -começou a dizer ele com tom gelado-. o que se supõe que

devo fazer eu agora? te pedir que seja minha uma vez mais, de modo que possavoltar a me rechaçar? Acaso não te bastou uma estocada da faca?-Rowland, senti-me ferida porque te tinha levado muito tempo vir a

me buscar. Orei muito por sua volta e finalmente abandonei os rogos. Sentia-medesventurada e comecei a abrigar um intenso rancor porque acreditei que já nãome queria. Tratei com desespero de te esquecer, mas não o obtive.

-Se me amasse, Brigitte, não me teria rechaçado.-Era a voz de meu orgulho ferido a que falava. Sentia que se

seriamente me amava, tivesse vindo antes por mim.-Isso fiz.-Agora sei. Quintin acaba de confessá-lo. Não me disse isso antes

porque não sabia que eu te amava. Nunca me atrevi a lhe revelar meusverdadeiros sentimentos porque ele se negava a te perdoar.-Quer dizer que você sim me perdoou pelo que aconteceu com seu

irmão?-Amo-te, Rowland. Seria capaz de te perdoar tudo... Por favor, não

permita que seu orgulho se interponha entre nós, tal como eu o fiz... Docontrário, morrerei!

Rowland desembarcou do cavalo para estreitá-la em um forteabraço.

-Meu joyita -sussurrou-lhe com voz rouca-. Nenhum homem destaterra poderia amar a uma mulher tanto como eu te amo. Será minha para

sempre. Já nada no mundo pode impedi-lo, agora que sei que você também meama. -Olhou-a fixamente aos olhos-. Está segura? Não tem dúvidas?

-Sinto-me segura, muito, muito segura -afirmou ela com um sorriso.Rowland riu com deleite.-Agora podemos retornar a casa.

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Quintin não se surpreendeu ao ver sua irmã e ao jovem entrar nasala intimamente abraçados, mas a expressão de sorte enlevada no rosto doBrigitte lhe deixou sem fala.

O casal se deteve no centro do salão, e Rowland olhou ao outro jovem com cautela. Então, Quintin se incorporou abruptamente.

-Pelo amor de Deus, Rowland. Não sou um perverso ogro. -Sorriucom afabilidade-. E tampouco sou tão néscio como para não admitir que estavaequivocado. Desejo a felicidade do Brigitte, e posso ver que só contigo seráfeliz. -Contamos com sua bênção, então?

-Minha bênção e meus mais sinceros desejos para uma larga editosa vida juntos -afirmou o homem com calma.

-Já vê por que amo tanto ao Quintin. -Brigitte sorriu e se aproximou

de seu irmão para lhe abraçar com força -Obrigado, Quintin.

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-Não me agradeça isso, pequena. Só sinto que tenha estado tantotempo separada do homem que amas. Espero que possa me perdoar por toda apena que te causei.

-Claro que te perdôo. Agora tenho ao Rowland e já nada voltará anos separar.

Quintin lhe sorriu com carinho. -E já lhe falou a respeito de...?Brigitte se voltou para o Rowland e lhe tirou da mão.-Vêem. Tenho uma agradável surpresa para ti. Conduziu ao

homem pelas escadas e logo, pelo corredor, até deter-se frente a uma portafechada. No chão, achava-se tendida uma gigantesca besta peluda. -Espero quenão me tenha miserável até aqui só para me mostrar ao Wolff -brincou Rowlandcom fingida severidade.

 A moça sorriu e seu olhar se topou com os escuros alhos azuis deseu amado.

-Não, não se trata dele.-Então, com segurança, isso pode esperar - murmurou o moço com

voz rouca para logo beijá-la apaixonadamente.Porém, Brigitte se apressou a desligar do abraço.-Rowland, por favor... -Esboçou um doce sorriso, sacudindo a

cabeça, e logo abriu a porta com supremo cuidado. Conduziu-lhe para o interior do quarto e lhe arrastou até o centro da habitação, onde se encontrava umberço totalmente revestido com delicados encaixes brancos.

Rowland franziu o sobrecenho, confundido.-Bebês? Trouxe-me até aqui para ver uns bebês?-Não são formosos?-Suponho que sim -grunhiu o moço.Brigitte se inclinou sobre o berço para tomar uma das diminutas

manecitas.-parecem-se, não é verdade?-Isso acredito.-Não os vê idênticos?Rowland olhou alternativamente cada um dos pequenos rostos e,

então, notou que os cabelos loiros, os diminutos olhos escuros, todos os rasgoseram na verdade idênticos. de repente, compreendeu e soltou uma gargalhada.

-Ja! São gêmeos! Quis me mostrar dois bebês gêmeos, comoEvarard e eu.

 A moça se sentiu decepcionada. O não tinha compreendido.-Estes gêmeos som muito especiais. -Levantou um dos bebês para

entregar-lhe ao Rowland. -Esta é Judith. Toma, sujeita a.-Não! -O retrocedeu, alarmado.-Não te machucará, Rowland -assegurou-lhe Brigitte com um

sorriso.O franziu o sobrecenho.-É um bebê muito pequeno. Sou eu quem poderia machucá-la.-Tolices.Mesmo assim, a jovem decidiu não lhe pressionar. Era óbvio que

Rowland jamais tinha elevado antes um bebê, mas deveria aprender. Voltou acolocar ao Judith no berço e levantou o outro pequeno.

-E este é Arland.-Um menino? -perguntou o jovem, aturdido.-Um menino -assentiu ela, divertida.

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-Mas disse que eram gêmeos.-Assim é.Rowland voltou a observar aos bebês com mais detalhe, e

perguntou com vacilação:-Como soube qual era qual?

Brigitte voltou a colocar ao Arland em seu berço e lhe fez cócegasfestivamente a diminuta pancita.-Sei, Rowland. E, muito em breve, você também aprenderá a

reconhecê-los. -Olhou ao jovem com expressão espectador, mas advertiu queele ainda não tinha adivinhado.

Então, adicionou significativamente: Acredito que ambos separecem com ti.

Nesse instante, tudo se esclareceu para o Rowland e,imediatamente, seu rosto empalideceu.

-Teus... e meus?-Nossos filhos, meu amor.

O a atraiu para si, para observar aos meninos por cima do ombroda jovem.-E pensar que deveu fazer frente a tudo isto sem mim... Jamais

imaginei que... -de repente, apartou à moça bruscamente-. E tivesse permitidoque me partisse daqui sem sequer saber o dos meninos?

-Assim é -admitiu ela, elevando o queixo com sua acostumadaatitude desafiante.

Rowland sacudiu a cabeça.