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BANG! /// 75 ontinuando a trazer grandes nomes da literatura fantás- tica que estavam imperdoa- velmente inéditos no país, a Saída de Emergência Brasil lançou A Filha do Sangue, primeiro volume da Trilogia das Joias Negras, que é o começo de uma das mais fantásticas e sombrias séries da literatura. A série de Anne Bishop gira em torno do po- der: quem o detém e quem procura obtê-lo. Porém, ao contrário da maioria das sagas de literatura fantástica, este poder está em mãos femininas e gira em torno delas. As mulheres são o ponto central, sendo elas que decidem e controlam o mundo, deixando os homens em segundo plano, como seus protetores. E elas detém esse poder porque é nelas que o San- gue corre, fazendo a magia florescer. Até os homens mais poderosos são subjugados, do- mados e amansados para servir às suas Senho- ras. E podem considerar este “servir” em um sentido amplo, pois o que não falta na obra de Anne Bishop é sensualidade, de uma forma densa e completamente envolvente, que refle- te a preponderância feminina. Reino Distorcido se prepara para o cumpri- mento de uma antiga profecia: a chegada de uma nova Rainha, a Feiticeira que tem mais poder que o próprio Senhor do Inferno. Mas ela ainda é jovem, e por isso pode ser influenciada e corrompida. Quem controlá-la terá domínio sobre o mundo. Três homens poderosos – inimigos viscerais – sabem disso. Saetan, Lucivar e Daemon logo percebem o poder que se esconde por trás dos olhos azuis daquela meni- na inocente. Assim começa um jogo cruel, de política e intriga, magia e traição, no qual as armas são o ódio e o amor. E cujo preço pode ser terrível e inimaginável. Obra: A Filha do Sangue Saga: Trilogia das Joias Negras Autor: Anne Bishop Gênero: Fantasia Negra Editora: Saída de Emergência Tradução: Cristina Correia Páginas: 432 Preço: R$ 39,90 ISBN: 978-85-67296-10-4

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BANG! /// 75

ontinuando a trazer grandes nomes da literatura fantás-tica que estavam imperdoa-velmente inéditos no país, a Saída de Emergência Brasil

lançou A Filha do Sangue, primeiro volume da Trilogia das Joias Negras, que é o começo de uma das mais fantásticas e sombrias séries da literatura.A série de Anne Bishop gira em torno do po-der: quem o detém e quem procura obtê-lo. Porém, ao contrário da maioria das sagas de literatura fantástica, este poder está em mãos

femininas e gira em torno delas. As mulheres são o ponto central, sendo elas que decidem e controlam o mundo, deixando os homens em segundo plano, como seus protetores. E elas detém esse poder porque é nelas que o San-gue corre, fazendo a magia fl orescer. Até os homens mais poderosos são subjugados, do-mados e amansados para servir às suas Senho-ras. E podem considerar este “servir” em um sentido amplo, pois o que não falta na obra de Anne Bishop é sensualidade, de uma forma densa e completamente envolvente, que refl e-te a preponderância feminina.

Reino Distorcido se prepara para o cumpri-mento de uma antiga profecia: a chegada de uma nova Rainha, a Feiticeira que tem mais

poder que o próprio Senhor do Inferno. Mas ela ainda é jovem, e por isso pode ser infl uenciada e corrompida. Quem controlá-la terá domínio sobre o mundo.Três homens poderosos – inimigos viscerais – sabem disso. Saetan, Lucivar e Daemon logo percebem o poder que se esconde por trás dos olhos azuis daquela meni-na inocente. Assim começa um jogo cruel, de política e intriga, magia e traição, no qual as armas são o ódio e o amor. E cujo preço pode ser terrível e inimaginável.

Obra: A Filha do SangueSaga: Trilogia das Joias NegrasAutor: Anne BishopGênero: Fantasia NegraEditora: Saída de EmergênciaTradução: Cristina CorreiaPáginas: 432Preço: R$ 39,90ISBN: 978-85-67296-10-4

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76 /// BANG! BANG! /// 77BABABABABBBABABABABABABABAAAAAAAABAABABABABBABBABABABAABABAABBABABABABBABBABABAABABABABABABABABABAABABABABBAABABABABAAAAABBAABAAABABBBBABAAABAAAAABAAABABBBBABABABAAAAANGNNNGNGNGNGNGNGNGNGNGGNGNGGNGGGGNGNNNNGNGNGGGNNGGNGGNGNGNNGGGGGNGNGNGNGNGGGNGNGNNNNGGGGNGNGGNNNGGGNGNGNGNNNNGNNNNNGNNNNNNNNNNGNNNNNNGNNNNNNGGGNNN !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! //////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// 777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777

é a personagem principal, uma menina de doze anos destinada a se tornar a Rainha das Trevas, também conhecida simples-mente como “Feiticeira”.

é fi lho de Saetan e Tersa. Assim como o pai e o irmão, é um Príncipe dos Senhores da Guerra. Escravo sexual nas cortes de Dorothea e de rainhas corrompidas por ela, também é conhecido como “Sádico”. É o macho mais forte na história dos Sangue.

é o Senhor Supremo do Inferno, Sa-cerdote Supremo da Ampulheta e Príncipe da Guerra de Dhemlan. É pai de Daemon e Lucivar. Depois de Daemon, é o macho mais forte dos Sangue.

é fi lho de Saetan e Luthvian, uma eriena. Assim como o irmão, Daemon, foi escravizado quando adolescente e forçado a servir nas cortes de Dorothea e suas seguidoras. Por conta do tem-peramento explosivo, é enviado para as minas de sal de Pruul. É o terceiro macho mais forte dos reinos.

é uma prostituta assassina e fi lha de Titian.

é a incestuosa Sacerdotisa Suprema de Hayll. Faz parte da assembleia da Ampulheta, formada por Viúvas Negras.

é fi lho de Dorothea SaDiablo. Em outros tempos, foi amigo íntimo de Daemon, seu primo.

, instigadora das guerras entre Kaeleer e Terreille, é uma demô-nia-morta que se autoproclama Sacerdotisa Suprema do Inferno. É ex-mu-lher de Saetan SaDiablo e mãe de Mephis e Peyton.

alega ser o pai de Jaenelle Angelline. Dirige o hospi-tal conhecido como Briarwood. É ainda um membro infl uente do conselho dos machos de Chaillot.

BrancaAmarela

Olho de TigreRosa

Azul-CelesteVioletaOpalaVerde

Azul-Safi raVermelha

CinzaCinza-Ébano

Negra

Ao fazer a Oferenda às Trevas, uma pessoa pode descer no máximo três categorias em relação à sua Joia de Direito por Progenitura.

Exemplo: A Branca de Direito por Progenitura pode descer até a Rosa.

– em qualquer das raças, os que não fazem parte dos Sangue

– termo geral para todos os machos dos Sangue; designa também todos os machos dos Sangue que não usam Joias

– macho que usa Joias, de status equivalente ao de feiticeira

– macho que usa Joias, de status equivalente ao de Sacerdotisa ou Curandeira

– macho que usa Joias, pe-

rigoso e extremamente agressivo; na hierarquia, está ligeiramente abaixo da Rainha

– em qualquer das raças, as que não fazem parte dos Sangue

– termo geral para todas as fêmeas dos Sangue; desig-na também todas as fêmeas dos Sangue que não usam Joias

– fêmea dos Sangue que usa Joias mas que não se encontra em nenhum dos outros níveis hierárquicos; designa também qualquer fêmea que use Joias

– feiticeira que cura ferimentos e doenças físicas, de status equivalente ao de Sacerdotisa e Príncipe

– feiticeira que zela pelos altares, Santuários e Altares das Trevas; testemunha juras e casamentos; faz oferendas; de status equivalente ao de Curandeira e Príncipe

– feiticeira que cura as mentes; tece as teias emaranhadas de sonhos e visões; é versada em ilusões e venenos

– feiticeira que rege os San-gue; é considerada o coração da terra e o centro moral dos Sangue; logo, é o pon-to central da sociedade

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omo muitos autores, Anne Bishop começou com contos e histórias cur-tas, espalhadas em coletâneas e fanzi-

nes. Ao estrear em 1998 como romancista, surpreendeu a todos com uma história que, trazendo ecos da fantasia feminista de Ma-rion Zimmer Bradley, aprofunda-se nas re-lações entre personagens e na subversão de

papéis para construir uma rica tapeçaria, for-mada por uma trama inquietante, personagens

carismáticos e um universo fascinante.Em um mundo dividido em três reinos governados por

aqueles que possuem o poder do Sangue, Jaenelle nasceu para cumprir uma antiga profecia. Destinada à grandeza, sua chega-da era aguardada por todos, mas principalmente por Saetan, o Senhor do Inferno e um dos homens mais poderosos dentre os do Sangue. Quando eles se encontram, Saetan automaticamente a reconhece como sendo a Rainha prometida há séculos. Ele a acolhe como fi lha da sua alma e começa a prepará-la para o seu destino, tomado de preocupação.

Pois o poder corrompe e é isso que Saetan teme, que aconteça com Jaenelle o mesmo que ele viu acontecer com outras Feiticei-ras, principalmente com Dorothea SaDiablo. Milhares de anos antes do nascimento da jovem prometida, os homens do San-gue serviam às mulheres de bom grado, guiados por seu senso de dever. Porém a ambição da Suprema Sacerdotisa fez com que esta quisesse o poder que seria por direito de Jaenelle, e procu-rasse formas de submeter os homens do Sangue, torturando-os e escravizando-os, formando ao seu redor uma corte corrupta e depravada. A vontade dos homens era domada através dos ar-tefatos conhecidos como Anéis de Obediência. Essa perversão espalha-se entre os do Sangue, e logo todo o jogo político está tomado por essa necessidade de controle e dominação. Quando Jaenelle nasce, o mundo está despedaçado, tomado por uma at-mosfera de medo e violência, onde ninguém que seja do Sangue, homem ou mulher, está completamente seguro. Até mesmo os mais poderosos podem ser derrotados ou subjugados.

Como aconteceu com Daemon, herdeiro de Saetan. Ele pas-sou a maior parte da sua longa vida – mais de 1.700 anos – sob o domínio de um Anel de Obediência colocado por Dorothea. Foi castigado, humilhado, entregue às Viúvas Negras para ser um objeto de prazer, arte na qual fora instruído. Precioso de-mais para ser morto, Daemon tornou-se cínico e amargo, inimi-go jurado de seu pai – e de seu meio-irmão, Lucivar Yaslana, um homem de espírito indomável e temperamental, que não aceitou servir as Feiticeiras.

Os três homens SaDiablo precisam colocar suas diferenças de lado em prol de Jaenelle, evitando que Dorothea e sua alia-da Hekatah – ex-mulher de Saetan – consigam corrompê-la. O destino do mundo e do Sangue depende deles.

trilogia original deu origem a mais seis livros que tam-bém exploram esse universo, contando tanto histórias que aconteceram antes e depois do nascimento profe-

tizado da Rainha das Trevas. A escrita de Anne Bishop fascinou leitores no mundo todo, mesmo tratando com crueza e realismo – incomuns na literatura fantástica – temas tabus como incesto, dominação, maus-tratos e violência sexual.

Ela não doura a pílula. Seus antagonistas são Vilões, com “v” maiúsculo e poder superlativo, enquanto seus protagonistas são

confl ituosos, incertos, trágicos – até mesmo a misteriosa Jaenel-le, que parece ocultar um passado sofrido e atormentado. Nun-ca sabemos o que pensa ou o que se passa com a protagonista, pois ela não é um dos pontos de vista do livro. Até para os leito-res, essa jovem poderosa e fadada a um destino impiedoso é um enigma que nunca fi ca completamente claro.

E o leitor mal tem tempo de perceber isso, pois já começa imerso naquele universo, acompanhando profecias, torturas e orgias, deslumbrando aos poucos mistérios e fantasias desco-nhecidos que, apesar de por vezes sombrias e desesperançadas, o atraem. Quando o leitor dá por si, está completamente mergu-lhado em um mundo de prazer e dor, de submissão e rebeldia, de medo e esperança.

A prosa forte e rica de Anne Bishop é, em parte, responsável por isso. Surpreendentemente fi rme para um primeiro romance, o passado de contista fi ca claro na maestria com que a autora nos prende em ganchos e tramas. Os personagens, carismáti-cos mesmo quando irrecuperavelmente malignos, são um ou-tro ponto alto. Os sentimentos que os unem nascem de forma natural e coerente conforme a história se desenrola, e o cenário bem construído serve de moldura para tudo isso.

tualmente, com o sexo associado à força e a domina-ção tão em voga, seja nas sagas de fantasia como As Crônicas de Gelo e Fogo ou nos romances femininos de

E. L. James e Sylvia Day, é intrigante ler uma história como a contada por Anne Bishop, que não só é sensual e violenta ao mesmo tempo, mas que também faz refl etir sobre papéis de gê-nero e a importância de repensá-los, de colocá-los em uma nova perspectiva, principalmente na literatura fantástica, sempre tão saturada de heróis viris e mocinhas virginais. Passava da hora de termos essa nova perspectiva publicada no Brasil.

s Joias são a representação física do poder que cada um dos de Sangue possuíam, também servindo como re-positórios deste poder, já que nem sempre seus corpos

aguentam a força total de um membro mais poderoso. E nem todos os do Sangue tem poder o sufi ciente para usar uma Joia, embora todos tenham o mínimo para usar o básico da magia.A escala de cor das Joias vai do branco ao negro, sendo que quanto mais escura for a Joia, mais poderosa é quem a possuí. A Opala é considerada o meio-termo, não sendo nem tão escura, nem tão clara.

Na Cerimônia do Direito por Progenitura, aqueles que são capazes de usá-las recebem a sua primeira Joia, cuja cor vai mar-cá-lo durante a primeira parte da sua vida. Ao atingir a maturida-de, o membro do Sangue passa por um outro ritual, a Oferenda às Trevas, que é quando pode atingir seu verdadeiro potencial, recebendo uma nova Joia, até três níveis mais escura que a origi-nal (ver página ao lado).

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á 16 anos, você publicou A Filha do San-gue, o primeiro volume na série de fantasia sombria sobre os Sangue, e desde então se tornou uma escritora de sucesso. Na sua opinião, o que cativou os leitores no seu primeiro livro e o que contribuiu para que

ele fosse tão bem-sucedido?Acho que os escritores escrevem as histórias que querem ler. Quando comecei a brincar com as ideias sobre os Reinos e a cultura dos Sangue, queria uma história que me permitisse re-tratar um lado mais sombrio da fantasia. Queria uma história realista sobre famílias e relações familiares. Queria uma história sensual que trouxesse os grandes homens do gênero da literatu-ra romântica. E queria as possibilidades de um mundo baseado em fantasia, com magia e criaturas mágicas. Por volta dos anos 1990, havia livros que continham alguns desses elementos, mas não existia uma história que incluísse todos esses elementos. Eu, pelo menos, não tinha encontrado nenhuma. Por isso, conti-nuei a brincar com as minhas ideias até que um dia todas as peças se encaixaram no lugar certo. Foi aí que comecei a escre-ver a história em três partes que se tornaria a Trilogia das Joias Negras.

Um dos pontos fortes da Trilogia das Joias Negras é a interação da protagonista Jaenelle com os seus guardiões e protetores. No entanto, nunca temos acesso ao ponto de vista de Jaenelle. Ela é misteriosa até o fi m e se mantém fora do alcance dos personagens do livro, mesmo quando tentam magoá-la. O mistério em torno da

personagem torna-a mais cativante e fortalece sua aura de poder?Sempre considerei essa história como sendo sobre o impacto que Ja-enelle tem na vida das pessoas à sua volta. Ela é o mito vivo, os sonhos tornados realidade. Da perspectiva de um escritor, foi uma escolha natu-ral. Jaenelle é percebida por meio das pessoas cujos sonhos a criaram, e os leitores, assim como os personagens, nunca sabem o que ela pensa ou sen-te além do que veem.

Pode nos contar mais sobre a Ceri-mônia de Direito por Progenitura e a Oferenda às Trevas e o impacto delas na hierarquia dos Sangue?A Cerimônia de Direito por Proge-nitura confi rma o poder com que a pessoa nasceu e apresenta a joia que vai conter todo esse poder. A Oferenda às Trevas é o teste que determina a profundidade do poder maduro da pessoa. Apenas sabemos que é um teste muito difícil, mas pouco é explicado. Ao não detalhar o processo, o escritor passa para o

leitor uma imagem muito mais forte daquilo que é considerado um miste-rioso rito de passagem. Mas há outra razão prática: quando se constrói um mundo com três níveis separados, mas ligados a múltiplas raças e a uma cultura que serve de base para todas essas raças e seus códigos morais, é preciso decidir quais os detalhes são necessários para contar a história. Eu precisava saber que essas duas cerimônias representavam momen-tos fundamentais na vida de cada um dos Sangue, mas não o que se passa-va nelas.

Os Sangue juraram servir e honrar as Trevas, mas se corromperam. O que levou a essa corrupção?Ganância e ambição. Alguém quis algo que não podia possuir caso se conformasse aos limites impostos pela sociedade. Alguém quis se tor-nar poderoso o sufi ciente para deixar de seguir as regras. Alguém usou o poder para obter seus desejos. Ao longo do tempo, isso acabou criando divisões entre os Sangue que se-

guiam os velhos costumes e aqueles que não queriam ser responsabiliza-dos pelos seus atos.

Os seus livros misturam romance e fantasia. Você combinou de forma efi caz o melhor de ambos os gêne-ros. Os personagens masculinos são almas atormentadas, mas não imunes ao amor e ao afeto. Cada homem SaDiablo tem uma profunda e com-plexa ligação com Jaenelle. Qual é o segredo para criar personagens mas-culinos tão únicos?Os personagens se revelam para mim através do processo da escrita, mas passo um tempo imenso – me-ses, às vezes anos – tentando desco-brir as primeiras impressões sobre eles e quais são as suas motivações. De certa forma, é como desenhar esboços. Começamos com alguns traços gerais e, a cada dia que passa, acrescentamos mais detalhes e cor. Um dia obtemos o retrato completo, e surge uma pessoa com desejos, ódios e um passado, como uma pai-sagem em aquarela que nos ajuda a

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entender quem é aquele personagem no início da história. Como faço isso? Não sei. Chamo esse processo de “dançar com a Musa”.

Você nunca tem medo de confrontar os seus personagens com temas pe-sados: tortura, sadismo, abuso sexual e violência são elementos que fazem parte da cultura dos Sangue. Como consegue criar uma atmosfera de perigo e brutalidade nos livros?A cultura dos Sangue foi construída com base nas fi guras que encon-tramos na fantasia sombria – e nas trevas que existem em nós mesmos. E, porque essas coisas existem no nosso mundo, elas também estão sempre presentes, de uma forma ou de outra, ao longo da história. Não é uma escolha consciente. Suponho que a atmosfera surja porque sabe-mos que essas coisas existem, então os leitores acabam vendo e sentindo isso nas atitudes e reações dos perso-nagens.

Você criou um fabuloso mundo de fantasia, com uma voz muito original. Os seus leitores fi caram rapidamente viciados nos seus livros. Conte-nos mais sobre o seu proces-so criativo e as infl uências que aju-daram você a construir esse mundo fascinante.Como já disse, chamo o meu pro-cesso criativo de “dançar com a Mus”. Isso signifi ca que, quando surge uma ideia, tomo nota. Se vejo uma fotografi a que causa um impacto em mim, guardo a foto e a arquivo. Se leio uma frase em outra história que me faz pensar, também faço uma anotação. E isso acontece durante meses e anos. Depois algo que vi, ouvi ou li faz todas as peças se juntarem numa só e surge um cenário, uma história e personagens. Então inicio o processo extenuante de acrescentar detalhes às peças, adicionar camadas e descobrir mais sobre o mundo que criei. Uma in-fl uência que foi decisiva para mim enquanto escrevia a Trilogia das Joias Negras foram algumas das músicas da trilha sonora de Koyaa-nisqatsi: A Life Out of Balance, com-posta por Philip Glass. A primeira

vez que ouvi a música de abertura, com o órgão e as vozes masculinas, vislumbrei a escadaria que leva ao quarto de Lorn. Vi uma mistura de beleza e trevas que está presente ao longo de toda a trilogia.

Você também criou os universos de Ephemera e Tir Alainn. Quais são os maiores desafi os que enfrenta ao escrever sobre cada universo?Construir um mundo envolve des-cobrir as coisas que me intrigam nele e que se adequam a uma ideia que vai crescendo aos poucos. Construir um mundo implica um investimento tremendo de tempo e energia criativa, e eu não queria um mundo que fosse igual àquele que já tinha criado. Escritores têm alguns elementos constantes em tudo o que escrevem. Eu escrevo de forma sombria porque esse é o meu estilo de escrita, mas também gosto de introduzir humor nas minhas histórias e gosto da interação entre pessoas que estão numa jornada que vai transformá-las – ou mesmo mudar o mundo. Cada universo co-meça com algo simples. Ephemera surgiu com base na ideia de como seria viver num mundo que é um refl exo do nosso próprio coração. E se fosse um mundo que tivesse sido destroçado numa guerra entre as Trevas e a Luz? Tir Alainn começou quando vi uma formação de nuvens que se parecia com rochedos som-brios no horizonte de outro mundo, e virei-me para uma amiga e disse: “É aí que vivem os Fae.”

Acredito que o maior desafi o para mim, como escritora, é me manter fi el ao mundo enquanto o crio, é manter a estrutura que o torna es-pecial. Isso, por sua vez, infl uencia os personagens que vivem naquele universo. Os desejos e necessidades podem ser familiares, mas as es-colhas que eles fazem ao longo da jornada devem refl etir o mundo em que vivem.

Este ano anunciamos um prêmio literário de fi cção fantástica em lín-gua portuguesa. O vencedor será publicado em Portugal e no Brasil. Qual seria o seu conselho para todos

os que vão se aventurar no mundo da escrita?Escrevam aquilo que intriga vocês. Escrevam sobre personagens que podem amar e odiar. Contem as histórias que gostariam de ler e que mais ninguém escreve. Escrevam uma história do início ao fi m. É a única forma de aprender a encaixar todas as peças. Não se preocupem com a qualidade da história. Nin-guém espera que as histórias de principiantes sejam boas (e se forem, é pura sorte). É com as histórias de principiantes que se aprende a escre-ver, e se vocês escreverem cada uma delas dando o seu melhor, então continuarão a aprender. Por fi m vai chegar um dia em que aprenderam a escrever uma boa história.

Quais são os seus projetos futuros?Acabei de escrever o terceiro volume da minha série de fantasia urbana, sobre uma realidade alternativa na Terra em que as criaturas sobrena-turais são a espécie dominante e os humanos precisam ter muito, muito cuidado.

A Filha do Sangue é o seu primeiro livro publicado no Brasil. O que gostaria de dizer aos seus leitores brasileiros para convencê-los a ler a sua obra?Escrevi a Trilogia das Joias Negras porque queria criar uma história so-bre amor e traição, magia e mistério, honra e paixão, e o preço que se paga por um sonho. Escrevi-a para mim mesma, mas, dezesseis anos depois, leitores do mundo inteiro se apaixonaram pelos personagens da história. E agora o mito vivo, os sonhos tornados realidade, chega aos leitores do Brasil.

O que posso dizer a eles? Bem-vindos ao mundo dos Sangue.Muito obrigado!