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Elementos musicais e influências no gosto musical de adolescentes de 8ª série Egon Eduardo Sebben Universidade Estadual de Ponta Grossa [email protected] Resumo: O presente trabalho tem como objetivo apresentar considerações de alunos de 8ª série a respeito dos elementos que os levam a escutar música e ambientes e sujeitos relacionados a seu convívio social que influenciam seu gosto musical, procurando trazer considerações acerca da escola no processo de discussão de tais aspectos. São apresentados dados provenientes de dissertação de mestrado, coletados por meio de questionário junto a 297 alunos de 13 escolas públicas e 6 particulares. A pesquisa é de natureza qualitativa, possuindo ainda dados quantitativos e foi desenvolvida segundo os pressupostos do materialismo histórico e dialético. Os dados evidenciam que o ritmo, por ser elemento inerente ao ser humano, é considerado como o principal meio de atração na música e a letra possibilita externalizar os sentimentos dos ouvintes. As influências no gosto musical dos alunos investigados decorrem principalmente do grupo de amigos e também de tecnologias como a Internet, evidenciando as possibilidades de socialização, interação e afirmação por meio dos bens musicais. A escola apresenta-se como o espaço de menor expressão na influência no gosto musical dos alunos, demonstrando que o trabalho musical escolar não torna-se satisfatório a ponto de influir em tal aspecto. Entende-se a partir do exposto que o atual momento das políticas educacionais em educação musical exige o desenvolvimento de propostas de ação concretas que sejam discutidas no espaço escolar e considerem a música extra escolar trazida pelos alunos. Palavras-chave: Gosto musical de adolescentes, Cultura musical, Práticas musicais. Introdução As práticas e consumo musical configuram-se como um dos principais aspectos constituintes da adolescência na sociedade contemporânea atual, tendo nos grupos de amigos e outros espaços sociais o vetor essencial de influência na fruição musical, especialmente no que diz respeito à socialização e afirmação da identidade dos sujeitos. Com o aporte das mídias e tecnologias os adolescentes possuem uma gama maior de produtos e maior facilidade de acesso aos bens culturais, principalmente a música, cabendo à escola discuti-los criticamente. Nesse sentido, o presente trabalho tem como objetivo apresentar considerações de alunos de 8ª série a respeito dos elementos que os levam a escutar música e sobre ambientes e sujeitos relacionados a seu convívio social que influenciam seu gosto musical, procurando trazer considerações acerca da escola no processo de discussão de tais aspectos. 835

SEBBEN, E. E. Elementos Musicais e Influencias No Gosto

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Artigo. Elementos Musicais e Influencias No Gosto musical

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  • Elementos musicais e influncias no gosto musical de adolescentes de 8

    srie

    Egon Eduardo Sebben

    Universidade Estadual de Ponta Grossa

    [email protected]

    Resumo: O presente trabalho tem como objetivo apresentar consideraes de alunos de 8 srie a respeito dos elementos que os levam a escutar msica e ambientes e sujeitos relacionados a seu convvio social que influenciam seu gosto musical, procurando trazer consideraes acerca da escola no processo de discusso de tais aspectos. So apresentados dados provenientes de dissertao de mestrado, coletados por meio de questionrio junto a 297 alunos de 13 escolas pblicas e 6 particulares. A pesquisa de natureza qualitativa, possuindo ainda dados quantitativos e foi desenvolvida segundo os pressupostos do materialismo histrico e dialtico. Os dados evidenciam que o ritmo, por ser elemento inerente ao ser humano, considerado como o principal meio de atrao na msica e a letra possibilita externalizar os sentimentos dos ouvintes. As influncias no gosto musical dos alunos investigados decorrem principalmente do grupo de amigos e tambm de tecnologias como a Internet, evidenciando as possibilidades de socializao, interao e afirmao por meio dos bens musicais. A escola apresenta-se como o espao de menor expresso na influncia no gosto musical dos alunos, demonstrando que o trabalho musical escolar no torna-se satisfatrio a ponto de influir em tal aspecto. Entende-se a partir do exposto que o atual momento das polticas educacionais em educao musical exige o desenvolvimento de propostas de ao concretas que sejam discutidas no espao escolar e considerem a msica extra escolar trazida pelos alunos.

    Palavras-chave: Gosto musical de adolescentes, Cultura musical, Prticas musicais.

    Introduo

    As prticas e consumo musical configuram-se como um dos principais aspectos

    constituintes da adolescncia na sociedade contempornea atual, tendo nos grupos de amigos

    e outros espaos sociais o vetor essencial de influncia na fruio musical, especialmente no

    que diz respeito socializao e afirmao da identidade dos sujeitos. Com o aporte das

    mdias e tecnologias os adolescentes possuem uma gama maior de produtos e maior facilidade

    de acesso aos bens culturais, principalmente a msica, cabendo escola discuti-los

    criticamente.

    Nesse sentido, o presente trabalho tem como objetivo apresentar consideraes de

    alunos de 8 srie a respeito dos elementos que os levam a escutar msica e sobre ambientes e

    sujeitos relacionados a seu convvio social que influenciam seu gosto musical, procurando

    trazer consideraes acerca da escola no processo de discusso de tais aspectos.

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  • Os dados apresentados integram dissertao de mestrado1 defendida pelo autor no

    ano de 2009, a qual investigou o gosto, prticas e consumo musical de 297 alunos de 8 srie

    do ensino fundamental de 13 escolas pblicas e 6 escolas particulares. A pesquisa de

    natureza qualitativa (LDKE E ANDR, 1986), possuindo ainda dados de ordem

    quantitativa.

    O instrumento de coleta de dados utilizado foi questionrio, composto de 22

    perguntas, sendo que no presente trabalho so contempladas duas questes. Empregou-se o

    mtodo materialista histrico e dialtico por entender que os sujeitos e campos de pesquisa

    investigados inserem-se em uma realidade determinada por imperativos de ordem social,

    cultural, histrica e econmica.

    Elementos atrativos na msica e as influncias no gosto musical

    A adolescncia constitui-se como categoria social com significados prprios,

    refletindo o atual momento da sociedade capitalista globalizada, que influencia os

    mecanismos de ao de espaos como a mdia e as tecnologias e consequentemente as formas

    de consumo. nesse sentido que entende-se a adolescncia como construo social, a qual

    [...] passa a ser caracterizada como um emaranhado de fatores de ordem individual, por estar associada maturidade biolgica, e de ordem histrica e social, por estar relacionada s condies especficas da cultura na qual o adolescente est inserido (SALLES, 2005, p. 35).

    Ao consumir, o adolescente como ser social no apenas apropria-se de bens materiais

    e simblicos, mas pensa, faz escolhas e ressignifica sentidos sociais (CANCLINI, 1999). A

    juventude, que envolve tambm a adolescncia, torna-se, a partir de meados da dcada de

    1950, um agente social independente, mobilizando acontecimentos polticos, principalmente

    na dcada de 1970 e 1980, alm de ser a faixa consumista mais expressiva dos produtos da

    indstria fonogrfica (HOBSBAWM, 1995).

    Tratando-se do consumo especfico de arte e msica entende-se que esse processo

    ultrapassa a simples aquisio material, mas se d por meio da apropriao de bens

    simblicos inscritos numa dada prtica social que contempla relaes macro e micro sociais

    [...] (SUBTIL, 2003, p. 56). A partir do sentido de consumo musical como prtica social

    pretende-se apresentar os dados da pesquisa, tendo em um primeiro momento os elementos

    1 Dissertao intitulada Concepes e prticas de msica na escola na viso de alunos de 8 srie do Ensino Fundamental: as contradies entre e o legal e o real, elaborada no Programa de Ps-Graduao Mestrado em Educao da Universidade Estadual de Ponta Grossa sob orientao da Prof. Dr. Maria Jos Subtil.

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  • atrativos na msica e estendendo a discusso para as influncias no gosto musical dos alunos

    adolescentes.

    Na questo que trata do que mais atrai o aluno na msica foram includas opes

    relacionadas diretamente musica (Ritmo e Melodia), alm da Letra e dois elementos ligados

    interpretao musical (Banda e Intrprete).

    No cmputo geral, o Ritmo obteve 71,3% de indicaes, seguido pela Letra, com

    62,6%. A opo Banda teve 26,3%, enquanto a Melodia ficou com 22,8%. A alternativa

    Intrprete somou 8,7%. Os dados mostram que o Ritmo a opo mais apontada pelos

    alunos, porm a Letra tem um nmero bastante prximo de escolhas. interessante observar

    que aqui a nfase na imagem no foi confirmada, pelo menos nessa faixa etria2.

    No cruzamento entre as duas realidades (escola pblica e particular) a ordem de

    resposta dos alunos mantm a mesma posio, alm de Banda e Melodia obterem

    praticamente o mesmo nmero de respostas. No caso da opo Intrprete, h uma diferena

    considervel entre as duas realidades, totalizando na escola pblica 10,3%, enquanto que na

    particular esse valor de 5,7%.

    Devido ao maior nmero de respostas, Ritmo e Letra so opes que necessitam ser

    melhor discutidas, ressaltando-se o valor intrnseco desses dois elementos presentes na msica

    e sua considerao na sociedade, mais especificamente na vida musical dos adolescentes.

    Apesar das metforas que relacionam os elementos musicais com as pessoas, como

    por exemplo a harmonia entre os indivduos, o ritmo pode ser considerado o mais

    internalizado no ser humano, podendo ser objetivado em suas aes, como no bater do

    corao, no caminhar e no prprio ritmo das atividades efetuadas ao longo da vida.

    Esses aspectos de certa forma introduzem a noo da relevncia do ritmo ao atrair a

    ateno dos adolescentes para a audio da msica. Por ser inerente ao ser humano, o ritmo

    traduz-se como importante elemento na relao ouvinte e msica. E pode-se afirmar que no

    somente o ritmo, mas a msica e o conjunto de elementos que a forma, surtem efeitos

    diferenciados daqueles sentidos e vivenciados atravs de outras linguagens, pois falam [...]

    ao mesmo tempo ao horizonte da sociedade e ao vrtice subjetivo de cada um, sem se deixar

    reduzir s outras linguagens (WISNIK, 1989, p.12).

    O ritmo evidencia-se, inclusive, no gosto musical dos alunos, principalmente nos

    estilos e intrpretes (cantores e cantoras). A alta incidncia de estilos como Dance, Hip Hop e

    2 Ao contrrio das respostas dos adolescentes, as crianas investigadas por Subtil (2003) mostram uma relao mais prxima da msica com a mixagem som/imagem.

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  • Rap, os quais tm como caracterstica o ritmo forte e marcado, destacado em primeiro plano,

    corrobora os dados de que o Ritmo o elemento que mais atrai na msica.

    Contudo, a Letra mostra um papel bastante significativo nessa questo, estando em

    segundo lugar na escolha dos alunos, com um total de 62,6%, o que deixa uma diferena de

    apenas 8,7% em relao ao Ritmo. Se o ritmo pode ser considerado o elemento musical

    inerente ao ser humano, a letra traz a possibilidade de objetivar sua subjetividade. Em outras

    palavras, a letra da msica possibilita expressar e externalizar os sentimentos vividos atravs

    da fruio musical.

    As influncias no gosto musical dos alunos foi outro ponto investigado. Foram

    apresentadas nove opes de respostas fechadas3 e uma dcima que possibilitava aos alunos

    escreverem o que no estava apresentado nas opes4.

    No cmputo geral as opes Rdio e Amigos apresentaram percentuais bastante

    prximos, com 53,7% e 51,6%, respectivamente. Na escola pblica esse resultado modifica-

    se, tendo Amigos como a maior influncia no gosto musical, com 55,5%, seguido de Rdio

    (54,4%), mantendo-se, porm, um empate tcnico. No caso da escola particular, os alunos

    colocam em primeiro lugar de escolha o Rdio (49,5%) e em seguida Amigos (43,7%),

    resultados que mostram uma diferena mais considervel.

    Esse emaranhado de informaes evidencia a presena dos amigos como grande

    influncia no gosto musical dos alunos, independentemente da ordem em que surge em cada

    realidade investigada. Pensando na escola particular, pesa o aspecto do acesso privado aos

    bens culturais, quando o Rdio a opo mais escolhida, enquanto na rede pblica fica

    evidente uma maior socializao no usufruto dos bens culturais, nesse caso especificamente

    musicais.

    Para uma melhor visualizao das respostas, a tabela a seguir mostra o percentual na

    realidade pblica e particular:

    Tabela 1: Influncias no gosto musical dos alunos. Escolas Pblicas Escolas Particulares Amigos 55,5% Rdio 49,5%

    Rdio 54,4% Amigos 43,7%

    Festas 43,4% Internet 42,7%

    Filmes 34,1% Festas 39,8%

    Internet 28% Filmes 39,8%

    Tv 23,6% Tv 36,9%

    Famlia 19,8% Famlia 22,3%

    3 Famlia, Escola, Amigos, TV, Rdio, Igreja, Internet, Festas e Filmes.

    4 Devido ao nmero razoavelmente elevado de respostas, sero discutidas no texto somente aquelas que foram

    consideradas relevantes para o estudo.

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  • Igreja 14,8% Outros 20,4% Escola 9,3% Igreja 12,6% Outros 8,8% Escola 4,9%

    Como pode ser observado, h algumas variaes entre as duas realidades. Nas

    escolas pblicas, Festas surge como terceira opo mais considerada, com 43,4%. No caso

    das particulares essa colocao fica com a Internet, que totaliza 42,7%. J no caso das

    pblicas, a Internet aparece na quinta posio, com 28% de escolhas, nmero bastante

    reduzido quando comparado realidade particular. A escola, em ambas as realidades, situa-se

    em um patamar muito abaixo das outras escolhas, repetindo o que j havia sido demonstrado

    em outras questes.

    A partir dos dados obtidos, algumas categorias podem ser discutidas. A influncia

    dos Amigos e de espaos que propiciam contatos grupais, como as Festas, evidencia o carter

    de socializao atribudo msica. Isso reflete-se nas prticas musicais dos adolescentes e

    confirma sua condio de categoria social construda pelas determinaes mais amplas da

    sociedade contempornea e tambm pelo aporte das tecnologias de informao e comunicao

    (BELLONI, 2005).

    O conceito de prticas de sada (SUBTIL, 2003) contribui para a compreenso dessas

    informaes5. Segundo a autora, essas prticas so marcadas pelos crculos de relaes mais

    prximas, que ampliam o espao domstico para as ruas, casas de amigos, festinhas de

    aniversrio, shopping-center, particularmente para ouvir msica e danar (SUBTIL, 2003, p.

    59). Reconhecendo o fundamento social das prticas de sada, pode-se inferir que fortalecem a

    procura dos adolescentes por espaos onde seu consumo e fruio musical possam ser

    socializados.

    A Internet apresenta-se como outro fator consideravelmente expressivo. Apesar de

    ser mais significativa nas escolas particulares, os dados mostram que juntamente com a

    necessidade de socializao, os alunos procuram consumir msica atravs de meios

    interativos. O adolescente, devido procura por autonomia e afirmao no meio social, tem

    na Internet maiores possibilidades de interao, onde pode transpor a condio de receptor

    passivo, ressignificando e organizando as informaes a seu gosto, acessando o que faz parte

    de seu ambiente de socializao e tornando-se, alm de receptor, emissor de conhecimentos.

    5 Mesmo tendo sido construdo junto a uma investigao com crianas, esse conceito vem ao encontro das informaes obtidas.

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  • Corroborando essa informao, destaca-se a presena menor da TV (23,6% na escola

    pblica e 36,9% na particular)6 em relao Internet. Entende-se que a relativa passividade

    da televiso d lugar interao ativa e maior liberdade de escolha proporcionada pela

    Internet (BELLONI, 1994).

    O espao concedido aos alunos para registro de outros fatores que influenciam seu

    gosto musical teve um valor significativo no caso das escolas particulares, com 20,4%, mas

    pouco expressivo nas pblicas, com apenas 8,8%. Algumas respostas so ramificaes das

    opes apresentadas na questo, como pai, irmo, Dvd, baladas, shows. Porm, alguns alunos

    levantam um aspecto bastante pertinente, que o carter de individualizao atribudo

    msica. Esse conceito pode ser compreendido a partir de afirmaes como Tenho opinio

    prpria, sem influncia; Optei pelo gosto sozinho; Ningum me influencia ou ento Nada, no

    sou Maria vai com as outras, s gosto do que eu gosto.

    Em uma primeira aproximao, a interpretao dada a essa pergunta mostra que os

    alunos encaram o gosto musical como resultado unicamente de seus anseios e de sua

    identificao, ou no, com determinados bens musicais. Contudo, o fato de haver uma

    considerao significativa quanto aos amigos e outros meios, como a Internet, demonstra que

    seu gosto musical permeado por significados sociais e de interao. Ao considerar a

    individualizao como uma das principais caractersticas das sociedades modernas, o

    consumo cultural, no qual inscreve-se o gosto musical, acaba sendo encarado como resultado

    de escolhas estticas individuais (MUELLER, 2002 apud ARROYO, 2007, p. 17).

    O carter de individualizao ou afirmao essencial para a formao do gosto

    musical. Pode ser encarado como o singular, respondendo viso do sujeito sobre

    determinado objeto artstico. Importa considerar o trabalho de Piaget (apud LA TAILLE,

    1992), o qual afirma que a heteronomia, prpria das crianas pequenas, que fazem seus juzos

    a partir dos adultos, substituda na adolescncia pela autonomia a capacidade de julgar e

    assumir valores por si prprios.

    Consideraes finais

    Como pode ser percebido, as influncias no gosto musical dos alunos esto calcadas

    em fatores sociais. A socializao pode ser entendida como um aspecto crucial na relao

    entre indivduos e msica pelo fato de legitimar suas prticas musicais. Ao compreend-las

    6 Em ambas as realidades a TV apresenta um percentual menor em relao Internet, no que diz respeito s

    influncias no gosto musical. Ressalte-se que o percentual maior de opo da televiso pelas escolas particulares

    provavelmente tenha relao com a posse de canais pagos.

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  • como construo social, assim como so os prprios indivduos, tomam sentido somente no

    momento em que objetivam-se na sociedade, sendo que de outro modo ficariam relegadas a

    significados puramente subjetivos, descolados da realidade concreta.

    O adolescente encontra na msica possibilidades de mostrar seu valor como

    indivduo, de se afirmar e expor suas opinies e anseios frente sociedade. Os dados revelam

    que o gosto musical dos alunos vai, de certa forma, alm da simples passividade. Eles

    possuem um consumo mais particularizado e diversificado, evidenciado quando procuram

    autonomia no acesso e formas de interagir com esses contedos e conhecimentos musicais.

    Tambm fica claro que o Ritmo, enquanto elemento musical intrnseco ao ser humano, torna-

    se um dos principais aspectos que levam os adolescentes a escutarem msica, assim como a

    Letra possibilita aos alunos externalizarem seus sentimentos.

    Mais do que as influncias no gosto, os dados refletem as prticas, o consumo e a

    fruio musical dos adolescentes, traduzidos por meio da socializao, interao e afirmao

    por meio dos bens musicais. A noo de habitus permeia todas essas prticas, manifestando-

    se, segundo Subtil (2003, p. 17),

    nas prticas musicais, nas preferncias, no gosto e nas representaes suscitadas nas crianas [e nos adolescentes] sobre o mundo em que vivem, sendo constantemente atualizadas entre outros fatores pelos modismos e inculcaes resultantes da conjuntura miditica, ou seja, da conjuno do habitus e da situao.

    Em ambas as realidades a escola apresenta-se como o ambiente de menor expresso

    na influncia no gosto musical dos alunos. A escola reconhecidamente um local de

    socializao, mas no caso da msica sua ao fica relegada ao nvel de agregadora das

    prticas e conhecimentos musicais extra-escolares dos alunos e no enquanto mediadora

    crtica da msica e espao de novas prticas musicais. a partir dessa afirmao que a mdia-

    educao pode ser pensada, a qual tem objetivos relacionados formao do usurio ativo,

    crtico e criativo de todas as tecnologias de informao e comunicao (BELLONI, 2005,

    p.46).

    Considerando a ao da mdia e de diferentes espaos de socializao como vetores

    de prtica e consumo musical, torna-se crucial considerar a escola na formao da conscincia

    musical crtica. Pela prpria construo histrica do sentido da arte, e mais especificamente da

    msica na escola, aes que objetivem implementar prticas musicais escolares encontram

    desafios tanto de ordem material quanto humana e subjetiva.

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  • Nesse sentido, o momento atual das polticas educacionais em educao musical o

    de desenvolver propostas de ao concretas, as quais devem ser discutidas dentro do espao

    escolar, considerando as demandas da comunidade na qual est inserida e compreendendo

    como um dos pontos basilares as prticas, o consumo e o conhecimento musical extra escolar

    trazidos pelos alunos.

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  • Referncias

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