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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO - SUED DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE
Ficha para Catálogo Artigo Final
Professor PDE/2012
Título Educação Física e saúde no contexto
Escolar do CEEBJA
Autor Rosely Fraga Antonietti Pascotto
Escola de Atuação CEEBJA Saada Mitre Abou Naban
Município da Escola Cianorte
Núcleo Regional de Educação Cianorte
Orientador Drª Roseli Terezinha Selicani Teixeira
Instituição de Ensino Superior Universidade Estadual de Maringá
Área do Conhecimento/Disciplina Educação Física
Relação Interdisciplinar (indicar, caso haja, as diferentes disciplinas compreendidas no trabalho)
Matemática
Público Alvo (indicar o grupo com o qual o professor PDE desenvolveu o trabalho: professores, alunos, comunidade...)
Alunos da disciplina de Educação Física do Ensino Médio do CEEBJA
Localização (identificar nome e endereço da escola de implementação)
Av. Alan Kardec, nº 151
Resumo: (no máximo 1300 caracteres, ou 200 palavras, fonte Arial ou Times New Roman,tamanho 12 e espaçamento simples)
O presente trabalho é parte integrante e conclusiva do PDE, realizado nos anos de 2012/2013. Consiste no relato da contribuição das aulas de Educação Física, utilizando o Elemento Articulador
Cultura Corporal e Saúde e apresenta resultados comparativos do nível das Atividades Físicas Habituais dos alunos pré e pós programa de intervenção desenvolvido nas aulas de Educação Física no Ensino Médio do CEEBJA, visando a promover a saúde e melhoria na qualidade de vida. Participaram na implementação da Unidade Didática 38 alunos jovens e adultos de 18 a 53 anos, matriculados em uma turma coletiva do Ensino Médio da EJA. Este grupo foi incentivado em 36 aulas teórico/práticas praticar atividades físicas e assimilar conhecimentos acerca dos benefícios pessoais promovidos pelo estilo de vida fisicamente ativo. Finalizou-se com a reflexão de que os resultados positivos obtidos favorecem a aplicação deste processo educativo em outras turmas, enriquecendo a prática pedagógica nas turmas de EJA e permitindo aos alunos jovens e adultos uma formação mais crítica e reflexiva.
Palavras-chave (3 a 5 palavras) Atividade Física; Cultura Corporal e Saúde; Educação de Jovens e Adultos.
EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE NO CONTEXTO ESCOLAR DO CEEB JA
Rosely Fraga Antonietti Pascotto1
Profª Drª Roseli Terezinha Selicani Teixeira2
RESUMO
O presente trabalho é parte integrante e conclusiva do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE, realizado nos anos de 2012/2013. Consiste em uma pesquisa de campo de caráter qualitativo relacionado a contribuição das aulas de educação física, utilizando o elemento articulador cultura corporal e saúde e apresenta resultados comparativos do nível das atividades físicas habituais dos alunos pré e pós programa de intervenção desenvolvido nas aulas de educação física no ensino médio do CEEBJA, visando promover a saúde e melhoria na qualidade de vida. Participaram na pesquisa 38 alunos jovens e adultos, de 18 a 53 anos matriculados em uma turma coletiva do ensino médio da EJA. A amostra participou de 36 aulas teórico/práticas visando assimilar conhecimentos acerca dos benefícios promovidos pelo estilo de vida fisicamente ativo. Dos resultados obtidos concluiu-se que alunos Inativos e Pouco Ativos, inicialmente (50 %), caíram para 40 %, os moderadamente ativos e muito ativos, anteriormente 50% evoluíram para 60 %, e a variação para alunos muito ativos saltou de 24 % para 26 %, considerando-se essa variação satisfatória observando-se a realidade dos estudantes pesquisados que, apesar de terem adquirido conhecimentos sobre a importância das atividades físicas, enfrentam o desafio de que mudanças no estilo de vida não são fáceis de realizar, pois esbarram em barreiras sociais difíceis de serem transpostas. Finalizou-se com a reflexão de que os resultados positivos favorecem a aplicação deste processo educativo na EJA, enriquecendo a prática pedagógica e permitindo aos alunos jovens/adultos uma formação mais crítica e reflexiva. PALAVRAS-CHAVE: Atividade Física; Cultura Corporal e Saúde; Educação de Jovens e Adultos.
1 INTRODUÇÃO
O artigo é parte conclusiva do Programa de Desenvolvimento Educacional -
PDE e visa relatar os resultados de uma pesquisa de campo envolvendo o contexto
escolar do CEEBJA "Saada Mitre Abou Nabhan" - Ensino Fundamental e Médio, na
cidade de Cianorte, Paraná. Teve como objetivo analisar a contribuição das aulas de
Educação Física visando à promoção da saúde e a melhoria da qualidade de vida
dos alunos do Ensino Médio do CEEBJA. Esta pesquisa foi realizada sob a ótica das
1 Professora no CEEBJA 2 Docente na Universidade Estadual de Maringá
Diretrizes Curriculares de Educação Física para a Educação Básica do Estado do
Paraná (PARANÁ, 2008), proposta pela Secretaria de Estado da Educação do
Paraná - SEED, em que conteúdos como jogos, danças, lutas, esporte e ginástica
foram categorizados como conteúdos estruturantes. Nestas DCEs foram
estabelecidos também os chamados ‘elementos articuladores’ que devem integrar e
articular as práticas corporais, permitindo um aprofundamento e diálogo entre elas
(PARANÁ, 2008).
O elemento articulador proposto e utilizado foi a Cultura Corporal e Saúde,
possível de ser trabalhado em qualquer conteúdo de Educação Física, em especial
no Ensino Médio e na Educação de Jovens e Adultos - EJA, como evidenciado nas
Diretrizes Curriculares para Educação Básica do Estado do Paraná – DCEs de 2008.
Este elemento articulador permite entender a saúde como construção que supõe
uma dimensão histórico-social, portanto, é contrário à tendência dominante de
conceber a saúde como simples volição individual.
A identificação com este tema de estudo surgiu da experiência como
professora de Educação Física no CEEBJA Saada Mitre Abou Nabhan de Cianorte –
PR, no Ensino Fundamental e Médio, observando aspectos negativos no estilo de
vida dos alunos, como a inatividade física, o stress elevado, a alimentação
inadequada, o fumo, o álcool, a fadiga crônica e outros fatores possíveis de
modificação, que afetam negativamente a saúde dos alunos e sobre os quais se
pode obter controle (NAHAS, 2001, p. 14). Tais fatores negativos de qualidade de
vida resultam em grande rotatividade dos educandos no ambiente educacional da
EJA, implicando frequentes atitudes de abandono da escola, sucessivos retornos e
no enfrentamento das dificuldades para permanecerem no ambiente escolar.
Tal escola, nas suas etapas do Ensino Fundamental e Médio, atende um
público diverso, composto por jovens, adultos e idosos, oferecendo novas
oportunidades de ensino-aprendizagem com novas possibilidades. Estes alunos são
remanescentes de escolarização anterior que foi interrompida por problemas de
ordem familiar, financeiro, de saúde, enfim, por motivos independentes a sua
vontade e que impossibilitou que terminassem os estudos em tempo hábil. Retornam
aos bancos escolares com histórias de vida fragmentadas, consequente atraso na
relação idade/série, necessidades educativas, níveis de conhecimento e
expectativas diferentes.
Não fugindo desta heterogeneidade, que é característica desta modalidade de
ensino, os alunos que frequentam a disciplina de Educação Física no período
vespertino e noturno constituem-se de jovens, adultos e idosos, trabalhadores da
indústria da confecção, das lavanderias, dos lixados3, abatedouros, da construção
civil, populações do campo, donas de casa, entre outros, portanto um público bem
diversificado em relação a idade, ao tempo de escolarização, a profissão, a
vivências, ao nível social e expectativas, todos com histórico de exclusão e
repetência do ensino regular. O cotidiano desta população da camada popular
requer que convivam diariamente contornando obstáculos que vão surgindo à
medida que vivenciam a experiência de voltar a estudar. Enxergam como grande
oportunidade o fato de poderem retornar a frequentar a escola, uma vez que foram
privados do acesso a uma instituição escolar por muitos anos de suas vidas. Porém
ter acesso a uma escola pública para que possam concluir seus estudos não é o
suficiente para garantir que esses sujeitos permaneçam nela. (BRAGA, 2010).
Ter o direito de frequentar uma escola pública gratuita e de qualidade, e de
permanecer nela com sucesso, é o primeiro dentre outros fatores que podem
promover, efetivamente, a garantia de seus direito como cidadãos, podendo
proporcionar-lhes uma forma de sair do lugar de exclusão a que foram destinados
por tantos anos. Ainda que a viabilidade do acesso e a permanência destes
educandos estejam asseguradas pela legislação, sabe-se que na prática isto não é
garantia de permanência e terminalidade. (BRAGA, 2010). O educando de EJA é
marcado por uma história escolar que continua reforçando a sua “exclusão” deste
espaço. Necessidades de conciliar trabalho, problemas familiares e escola têm sido
fatores relevantes para sua desistência, assim como a inadequação dos currículos, o
despreparo dos professores, a falta de material adequado acabam contribuindo,
como afirma Oliveira (1999), para a perpetuação da “exclusão” do jovem e adulto do
ambiente escolar.
Tendo em vista esta realidade estudada e analisada por educadores, Charlot
(1996) afirma que o indivíduo só estudará se o ir à escola fizer sentido para ele. O
desejo pela escolarização esteve presente durante a vida desses sujeitos desde a
infância, quando não tiveram oportunidades para concluir seus estudos em “idade
regular”, e este desejo permaneceu até chegarem à idade adulta e à velhice. A
3 Lixado - Técnica utilizada para desgaste do jeans pode ser manual ou mecânica. Prática essa
comum no município de Cianorte-PR, onde há empresas especializadas nessa técnica, ressaltando que o município é conhecido como “capital do vestuário”.
privação que sofreram, seja por terem que sair para trabalhar ainda muito jovens, ou
por falta de escolas públicas, levou estes sujeitos a uma condição de excluídos.
Sobre exclusão, Martins (1997, p.18) define:
A exclusão é apenas um momento da percepção que cada um e todos podem ter daquilo que concretamente se traduz em privação : privação de emprego, privação de bem-estar, privação de direito, privação de liberdade, privação de esperança.
A exclusão, primeiramente de um direito, levou-os a serem excluídos em
diversas outras situações, como exemplo, de uma melhor oportunidade de emprego,
de uma maior e mais efetiva participação social, de conhecer de forma mais ampla
seus direitos como cidadãos e lutar por eles. Foram privados, até mesmo, de, muitas
vezes, poder sonhar com dias melhores e de usufruir de uma melhor qualidade de
vida. (BRAGA, 2010). Observando a realidade desses alunos, cabe ao professor da
Educação de Jovens e Adultos, que se configura como um espaço democrático,
organizar os conteúdos para sua prática docente e adequar estratégias buscando a
elaboração de uma proposta pedagógica que atenda as reais necessidades desses
alunos e ainda tenha significado para eles. Pois segundo as Diretrizes Curriculares
da Educação de Jovens e Adultos para o Estado do Paraná (PARANÁ, 2006, p. 40),
A atuação do educador da EJA é fundamental para que os educandos percebam que o conhecimento tem a ver com o seu contexto de vida, que é repleto de significação. Os docentes se comprometem, assim, com uma metodologia de ensino que favorece uma relação dialética entre sujeito-realidade-sujeito. Se esta relação dialética com o conhecimento for de fato significativa, então as metodologias escolhidas foram adequadas.
Continuando nestas mesmas Diretrizes Curriculares da Educação de Jovens
e Adultos para o Estado do Paraná (PARANÁ, 2006, p. 29) observa-se que,
[...] nas perspectivas dos educandos e seus projetos de vida, a EJA poderá colaborar para que eles ampliem seus conhecimentos de forma crítica, viabilizando a reflexão pela busca dos direitos de melhoria de sua qualidade de vida. Além disso, contribuirá para que compreendam as dicotomias e complexidades do mundo do trabalho [...].
Mediante a problemática exposta acima, cabe indagar: Como as aulas de
Educação Física podem contribuir com ações educativas que possibilitem mudanças
no Estilo de vida e conseqüente promoção da saúde dos alunos do Ensino Médio do
CEEBJA? Portanto, esse trabalho teve como objetivo geral analisar a contribuição
das aulas de Educação Física visando à promoção da saúde e à melhoria da
qualidade de vida dos alunos do Ensino Médio do CEEBJA.
E, como objetivos específicos, possibilitar um programa de intervenção nas
aulas de Educação Física, utilizando o Elemento Articulador Cultura Corporal e
Saúde, dentro do contexto social, político, econômico e cultural da nossa população,
contribuindo para ampliar o conhecimento dos alunos na área; apresentar os
resultados da variação na categorização da prática de atividades físicas habituais
dos alunos expressa por meio da aplicação do Questionário de Atividades Físicas
Habituais-AFH, antes e após a intervenção; contribuir com o Grupo de Trabalho em
Rede - GTR, ampliando o conhecimento dos professores da área e oferecendo
material de apoio aos professores da Rede.
2 REVISÃO
2.1 A SAÚDE NO ÂMBITO DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) nº 9394/96 (BRASIL, 1996) pode ser
considerada um marco de conceituação e normatização da educação em nosso
país. Nela a EJA passa a ser considerada uma modalidade da Educação Básica nas
etapas do Ensino Fundamental e Médio, com especificidade própria, garantindo dois
artigos sobre essa modalidade:
Art. 37º. A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria. §1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames. §2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares entre si. Art. 38º. Os sistemas de ensino manterão cursos e exames supletivos, que compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter regular.
Com respeito à Educação Física, a mesma Lei regulamenta e inclui a
Educação Física como disciplina curricular, uma vez que, até a presente lei, ela era
considerada apenas uma atividade física, ou simples realização de movimentos sem
nenhum cunho didático-pedagógico. Nesse sentido, encontra-se na LDB (BRASIL,
1996):
[...] os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais, da sociedade, cultura e clientela.
Nesta nova normatização, a disciplina de Educação Física passou a ser
valorizada como componente curricular do sistema de ensino, devendo compor o
currículo em todos seus níveis de abrangência, iniciando desde o trabalho pré-
escolar, o ensino fundamental e o ensino médio.
A escola, com esta nova Lei, conquistou certa liberdade na organização de
sua prática pedagógica. Não se questiona aqui que tipo de autonomia a escola tem,
ou o que se pretende com esse avanço, mas quer-se situar o papel do professor de
Educação Física neste contexto, cabendo a ele definir qual projeto de sociedade e
de homem persegue. Quais interesses de classe que defende? Quais os valores, a
ética e a moral que consolida através de sua prática e como articula as suas aulas e
o seu fazer pedagógico com esse projeto de homem e sociedade?
Pois segundo Soares et al. (1992, p. 26)
Todo educador deve ter definido o seu projeto político-pedagógico. Essa definição orienta a sua prática no nível da sala de aula: a relação que estabelece com seus alunos, o conteúdo que seleciona para ensinar e como o trata cientificamente e metodologicamente, bem como os valores e a lógica que desenvolve nos alunos.
Assim, a Educação Física trata na escola do conhecimento de uma área
denominada Cultura Corporal que será configurada como conteúdos: jogo, esporte,
ginástica, dança e lutas, e que o homem se apropriará deles dispondo de sua
intencionalidade, lhe dando um sentido pessoal, com significação objetiva e
realidade de sua vida, seu mundo e suas motivações (SOARES et al., 1992, p. 62),
e, o profissional de educação física na escola, tem um importante papel social de
educar para um estilo de vida saudável e para uma vida com mais qualidade,
independente da idade, sexo ou nível socioeconômico do aluno (NAHAS, 2001, p.
2).
A partir dessas considerações, vale lembrar que nos últimos anos, estudiosos
do conteúdo curricular Educação Física tem se debruçado no sentido de repensar a
área e de produzir referenciais teóricos que contribuam para que avanços
aconteçam e, entre eles, referenciais sobre a relação da saúde com a educação
física escolar. Observa-se um desencontro quanto à terminologia e à definição de
conceitos utilizados para descrever elementos como saúde, aptidão física, atividade
física, qualidade de vida e outros que atendem a abordagem apresentada. Por se
tratar de um tema com características complexas e de relação com várias áreas do
conhecimento, faz-se necessário à conceituação dos elementos que o constituem.
2.2 ESTILO DE VIDA
De acordo com Nahas (2001, p. 224) estilo de vida corresponde ao conjunto
de ações habituais que refletem as atitudes, valores e oportunidades das pessoas.
Estes hábitos e conjunto de ações conscientes serão determinantes para a definição
de qualidade de vida do sujeito. Os diversos componentes indicativos do estilo de
vida podem variar ao longo dos anos, conforme o valor que a pessoa atribua a esse
comportamento, incluindo ou excluindo nas ações do seu dia a dia, e percebendo-se
como sujeito capaz de realizar as mudanças almejadas.
Nesta perspectiva valorizam-se elementos que contribuem para o bem-estar
pessoal, dentre eles: o controle do stress, a nutrição equilibrada e adequada, a
atividade física habitual, os comportamentos preventivos a doenças e o cultivo de
relacionamentos sociais (NAHAS, 2001). Um estilo de vida inadequado pode
significar diversos transtornos, como exemplo as doenças crônicas não
transmissíveis-DCNT´s, entre eles o aumento da massa corporal total, que pode ser
acompanhado por níveis pressóricos altos, taxas de colesterol elevada, diabetes,
entre outras, ainda, as doenças cardiovasculares, o câncer, o diabetes, a cirrose
hepática, os transtornos mentais, as doenças osteomusculares, a obesidade
mórbida e as dislipidemias entre outras (BRASIL, 2008).
2.3 SAÚDE
Hoje não se entende saúde apenas como não estar doente, a tendência atual
é considerar saúde numa perspectiva holística como condição humana que
compreenda dimensões físicas, sociais e psicológica, avaliada numa escala
contínua, com pólos positivo e negativo, resultante da complexa interação de fatores
hereditários, ambientais e do estilo de vida (DEVRIES, 1978; NAHAS, 1991;
BOUCHARD et al., 1994; NIEMAN, 1999 apud NAHAS, 2010). A saúde positiva
estaria associada com a capacidade de apreciar a vida e de resistir aos desafios do
cotidiano, enquanto a saúde negativa associada a comportamentos de risco,
morbidade e, no extremo, com a mortalidade prematura.
Apesar da evolução conceitual a respeito da saúde levar em consideração o
estado de saúde positiva ou bem-estar, até bem pouco tempo, para avaliação de
estudos epidemiológicos, os indicadores de saúde eram somente negativos, como a
taxa de mortalidade e morbidade, e em muitas vezes tomava-se como base do nível
de saúde de determinada localidade apenas a taxa de mortalidade infantil (NAHAS,
1996).
Com esta mudança de paradigma, passaram também a ser considerados os
indicadores positivos considerados determinantes para alcançar qualidade de vida,
tais como: orgânicos ou biológicos (saúde e doença), psicológicos (identidade, auto-
estima, criatividade, habilidade), sociais (vida familiar, vida sexual, relacionamentos),
comportamentais (vida profissional, hábitos, repouso, lazer), materiais (habitação,
bens, renda) e estruturais (concepção sócio-política, posição social).
O conceito de promoção em saúde é considerado um novo paradigma do
campo da Saúde Pública. Teve sua etiologia formalizada por meio da Carta de
Otawa, promulgada na 1ª Conferência de Promoção em Saúde, realizada em 1986
na cidade de Otawa no Canadá (BRASIL, 1986). Este conceito foi caracterizado
como o processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria da sua
qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle deste
processo. Este documento acrescenta que para se atingir um estado de completo
bem-estar físico, mental e social, os indivíduos e grupos devem saber identificar
aspirações, satisfazer necessidades e modificar favoravelmente o meio-ambiente
(BRASIL, 1996).
A partir das considerações compreende-se saúde, não como condição
estática, existente somente devido à chamada ausência de doenças, mas sim como
um processo de aprendizagem, tomada de decisão e ações para a otimização do
bem-estar próprio.
2.4 APTIDÃO FÍSICA
Aptidão física é definida por Guedes (1995, p. 58):
[...] um estado dinâmico de energia e vitalidade que permite a cada um não apenas a realização das tarefas do cotidiano, as ocupações ativas das horas de lazer, a enfrentar emergências imprevistas sem fadiga excessiva, mas, também, evitar o aparecimento das funções hipocinéticas, enquanto funcionando no pico da capacidade intelectual e sentindo uma alegria de viver.
Considera que a aptidão física é a capacidade de realizar esforços físicos sem
fadiga excessiva, garantindo a sobrevivência de pessoas em boas condições
orgânicas no meio ambiente em que vivem.
Para Nahas (2001) aptidão física é um conceito que abarca diferentes
dimensões, compreendendo características que as pessoas têm ou desenvolvem
para realizar atividades físicas. Considera duas vertentes, aptidão física relacionada
a saúde ou a prevenção de doenças, incluindo variáveis fisiológicas como aptidão
cardiorrespiratória, força, resistência muscular, flexibilidade e componentes da
composição corporal. Aptidão física relacionada à performance voltando-se para as
habilidades desportivas em que as variáveis como agilidade, equilíbrio, coordenação
motora, potência e velocidade, são mais valorizadas, objetivando o desempenho
desportivo.
2.5 QUALIDADE DE VIDA
Quando ouvimos a expressão qualidade de vida, temos um conceito sobre
ela, porém defini-la não tem sido tarefa das mais fáceis. Começaremos observando
sua definição expressa por Gonçalves e Vilarta (2002 apud GONZÁLEZ;
FENSTERSEIFER, 2005, p. 354)
Qualidade de vida, [...] tanto pode conotar valores humanitários relevantes referindo-se a aspirações sociais elevadas – mais frequentemente níveis coletivos de saúde e educação - como também, tem sido apropriada pela mídia e pela propaganda para promover produtos e serviços específicos que reclamam promoção - seja água mineral, loteamentos longínquos, ou peças de roupa. Vem se constituindo um consenso, no entanto que independentemente dos usos numerosos, as concepções adequadas de Qualidade de Vida (Q.V.) encerram dois núcleos fundamentais, a dimensão subjetiva e a objetiva, a primeira correspondendo ao que se convencionou chamar de estilo de vida e a segunda às condições de vida.
Para Minayo, Hartz e Buss (2000) este vocábulo tem uma configuração
polissêmica, já que implica inúmeros sentidos e significados. Qualidade de vida
literalmente significa várias coisas. Diz respeito a como as pessoas vivem, sentem e
compreendem seu cotidiano. Compreende saúde, educação, transporte, moradia,
trabalho e participação nas decisões que lhes dizem respeito e determinam como
vive no mundo (GONÇALVES; VILARTA, 2004).
O conceito de qualidade de vida transcende o conceito de padrão do nível de
vida, de satisfação das necessidades humanas do “ter” para a valorização da
existência humana do “ser” e deve ser avaliada pela capacidade que tem
determinada sociedade de proporcionar oportunidades de realização pessoal a seus
indivíduos no sentido psíquico, social e espiritual ao mesmo tempo em que lhes
garante um nível de vida minimamente aceitável.
Difícil de ser objetivamente definida, qualidade de vida pode ser considerada
como um conjunto de parâmetros individuais, socioculturais e ambientais que
caracterizam as condições em que vivem os seres humanos (NAHAS, 1997).
Minayo, Hartz e Buss (2000) examina que a qualidade de vida é resultado das
condições subjetivas do indivíduo nos vários subdomínios que compõe a sua vida,
como por exemplo, trabalho, vida social, saúde física, humor etc.
Nahas (1997) ressalta que, a inter-relação mais ou menos harmoniosa dos
fatores que moldam o cotidiano do ser humano resulta numa rede de fenômenos e
situações que, abstratamente, pode ser chamada de qualidade de vida. Associa-se à
expressão qualidade de vida a fatores como estado de saúde, longevidade,
satisfação no trabalho, relações familiares, disposição e até espiritualidade e
dignidade. Gonçalves e Vilarta (2004) sugerem algumas opiniões como segurança,
felicidade, lazer, saúde, condição financeira estável, família, amor e trabalho.
Outros elementos também estão associados para estudar esses significados
como sugere Gonçalves e Vilarta (2004) tais como, aspectos culturais, históricos e
de classes sociais, conjuntos de condições materiais e não-materiais, diferenças por
faixas etárias e condições de saúde das pessoas ou de uma comunidade.
2.6 EDUCAÇÃO FÍSICA E O ELEMENTO ARTICULADOR CULTURA CORPORAL E
SAÚDE
A utilização do elemento articulador Cultura Corporal e Saúde nas aulas de
Educação Física do Ensino Médio objetiva mostrar uma proposta metodológica que
supere a dimensão meramente motriz, ampliando o trabalho através da dimensão
histórica, cultural e social. Sendo assim o que se pretende passar por meio deste
trabalho, pode ser resumido no fato de que os conhecimentos construídos sobre a
promoção da saúde devem ser considerados, não só sob a ótica do fator biológico,
pois segundo as Diretrizes Curriculares da Educação Básica (PARANÀ, 2008),
referentes à educação física, trazem a “cultura corporal e saúde” como elemento
articulador e referem-se ao assunto da seguinte forma:
Esse elemento articulador permite entender a saúde como construção que supõe uma dimensão histórico-social. Portanto, é contrária à tendência dominante de conceber a saúde como simples volição (querer) individual [...] Nestas Diretrizes, os cuidados com a saúde não podem ser atribuídos tão somente a uma responsabilidade do sujeito, mas sim, compreendidos no contexto das relações sociais, por meio de práticas e análises críticas dos discursos a ela relativos. (PARANÁ, 2008, p. 55-56).
O entendimento de saúde veiculado no ambiente escolar não pode se
restringir ao aspecto bio-fisiológico, cabe a escola que tem por função transmitir
conhecimentos historicamente produzidos, a função de ampliar este entendimento
aos alunos. Considerando o professor de educação física como profissional que
conhece o contexto que envolve a saúde, nas suas perspectivas da aptidão física e
promoção da saúde, faz-se necessário que ele produza com seus alunos saberes
sobre esse tema; que considerem os aspectos sociais, históricos e políticos desse
ramo de conhecimento. Visto que a educação física tem em sua história íntima
relação com o desenvolvimento de habilidades motoras e promoção de atividades
físicas relacionadas à saúde, o professor da disciplina pode utilizar de metodologias
apropriadas a EJA, estabelecendo nexos entre os interesses dos alunos, suas
necessidades e a visão crítica da realidade onde estão inseridos.
A proposta dos elementos articulares pretende dar nova forma aos conteúdos
da Educação Física Escolar, refletindo e contextualizando as práticas educativas da
Cultura Corporal, rompendo com a forma tradicional com que eram tratados
anteriormente. Possibilitam aos estudantes ampliar o conhecimento da realidade e
estabelecer relações e nexos entre os fenômenos sociais e culturais, permitindo,
além da percepção crítica real, uma intervenção ativa na sociedade, com seus
problemas, interesses, objetivos e ideais (PISTRAK, apud PARANÁ, 2008).
Sob a ótica dessas DCE’S (PARANÁ, 2008), as práticas corporais que
compõem os conteúdos da Educação Física devem ser compreendidas de forma
reflexiva e contextualizada, indicando possibilidades de intervenção pedagógica em
situações e desafios do cotidiano escolar. Na busca por respostas para esses
desafios e, tendo como fio condutor a complexa realidade dos alunos do CEEBJA,
o professor de educação física se configura no profissional capaz de planejar e
sistematizar uma sequência de atividades teóricas e práticas, lançando mão dos
conteúdos estruturantes e despertando nos alunos a capacidade de discernimento e
criticidade, o prazer, o interesse e a motivação para esta prática. Tal profissional tem
na escola importante papel social de educar para um estilo de vida saudável e para
uma vida com mais qualidade, independente da idade, sexo ou nível sócio-
econômico do aluno (NAHAS, 2001).
Atualmente entende-se a Educação Física Escolar na escola como uma área que trata da cultura corporal e que tem como finalidade introduzir e integrar o aluno nessa esfera, formando o cidadão que vai produzi-la, reproduzi-la e também transformá-la. Nesse sentido, o aluno deverá ser instrumentalizado para usufruir dos jogos, esportes, danças, lutas e ginástica, em benefício do exercício crítico da cidadania e da melhoria da qualidade de vida. (BETTI, 2002 apud DE DIO, 2011, p. 6).
Na totalidade dessas Diretrizes Curriculares, os Conteúdos Estruturantes
serão compreendidos com uma abordagem que articule os aspectos políticos,
históricos, sociais, econômicos e culturais propostos para a Educação Física na
Educação Básica do Estado do Paraná, tendo como resultado a produção de novos
conhecimentos e mudanças qualitativas na prática escolar da escola pública
paranaense.
3 METODOLOGIA
O presente estudo caracteriza-se como pesquisa de campo, de natureza
quanti-qualitativa e descritiva que Severino (2007, p. 123) define como “[...] aquela
que o objeto/fonte é abordado em seu meio ambiente próprio. A coleta de dados é
feita nas condições naturais em que os fenômenos ocorrem, sendo assim
diretamente observados, sem intervenção e manuseio por parte do pesquisador. O
instrumento utilizado para a coleta de dados foi o Questionário de Atividades
Físicas Habituais, desenvolvido originalmente por Russel (Pate - University of
South Carolina/EUA), traduzido e modificado por Markus Vinicius Nahas
(NuPAF/UFSC), para uso educacional, servindo como estimativa do nível de
atividade física habitual da população em tese. Esta versão do instrumento
mostrou-se fidedigna entre os participantes do estudo realizado (NAHAS, 2010). É
composto por 11 questões subjetivas, com classificação realizada em uma escala de
1 a 10.
Este instrumento classificou os indivíduos em quatro níveis de atividade
física (Inativo, Pouco Ativo, Moderadamente Ativo e Muito Ativo), considerando
uma somatória arbitrária a partir das respostas relacionadas aos hábitos de
atividade física nas ocupações diárias e de lazer.
A amostra foi constituída por 38 alunos da disciplina de Educação Física do
Ensino Médio do CEEBJA Saada Mitre Abou Nabhan de Cianorte, do período
noturno, na maioria trabalhadores de ambos os sexos, com idade entre 18 a 53
anos, residentes na cidade de Cianorte. A análise dos dados foi realizada por meio
da aplicação e re-aplicação do questionário em que se obteve dados que foram
observados quantitativamente por meio da estatística descritiva e análise de
conteúdo (BARDIN, 1994).
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS E DISCUSSÕES
A análise dos resultados foi decorrente das observações efetuadas pela
pesquisadora, da coleta de dados e dos procedimentos realizados durante a
realização da pesquisa que será apresentada em forma de tabelas e gráficos. Vale
lembrar que desde o início do projeto, a direção, a equipe pedagógica e o corpo
docente contribuíram na implementação da pesquisa, colaborando com as
solicitações feitas e materiais necessários, o que tornou viável esse trabalho.
As avaliações efetuadas e contribuições perceptíveis nos alunos permitiram
uma análise crítica sobre o mesmo, podendo-se apontar pontos favoráveis e
desfavoráveis à sua aplicação. Os alunos demonstraram interesse em participar da
implementação do projeto, dando importância às aulas e apresentando motivação
em realizar as atividades teóricas que compunham os módulos da unidade didática.
Houve aumento no nível de participação e descontração nas atividades práticas,
comprovando ser relevante desde as primeiras aulas fundamentarem teoricamente a
importância da atividade física e sua relação com a saúde e, em seguida, trabalhar a
prática. Isso fez com que os alunos se motivassem para esta participação, vendo
sentido e significado nessa prática.
Comprovou-se melhoria no nível de relacionamento e socialização do grupo,
bem como interesse nas reflexões e discussões, expressos pelo aumento na
frequência dos alunos às aulas e afirmações que o tema saúde enriquece essa
disciplina. As avaliações efetuadas revelaram a assimilação dos conteúdos
trabalhados traduzidos pelas boas notas alcançadas.
Responderam com interesse ao Questionário de Atividades Físicas Habituais
AFH e procederam a uma análise pessoal da caracterização dos resultados
atingidos, bem como de suas expectativas em relação à melhoria ou manutenção
dos níveis de atividades físicas conseguidos. Refletiram no seu estilo de vida e nas
dificuldades e necessidades de reverter esses resultados.
Observaram-se dificuldades em realizar exercícios práticos de alongamento,
relaxamento e outros, porque a escola não possui espaços adequados à prática
esportiva. O CEEBJA não dispõe de uma sala vazia e nem uma quadra esportiva,
espaços foram improvisados, arrastando-se e empilhando-se as carteiras,
estendendo-se colchões no chão e adaptando-se a nossa realidade.
Ao visitar-se as dependências do Cianorte Clube, sauna, piscinas, academia,
aparelhos para musculação, quadra de tênis, poliesportiva, campo de futebol, sala
de ginástica e outros recintos de lazer, os alunos comentaram que desconheciam a
existência de espaços disponíveis que oportunizem essas práticas em nosso
ambiente social, refletindo e avaliando como precárias e insuficientes a oferta de
áreas de lazer e práticas esportivas em nossa comunidade.
Constatou-se que o termo Saúde representa, para a maioria dos nossos
alunos, simplesmente a ausência de doenças físicas, corporais, que consiste em
saúde biológica, compreendendo assim a visão simplista desse termo. Os alunos,
em geral, não sabem que a Educação Física tem, em sua história, íntima relação
com a Saúde e com a construção de muitos termos que a envolvem. Compreendem
a saúde pelo significado que a Organização Mundial da Saúde dá a ela, que é
“completo bem – estar físico, mental e social”, sendo que não entendem muito bem o
que a palavra “social” indica nessa definição. Acreditam que a Saúde é
responsabilidade só do sujeito, que sua saúde depende unicamente dele. Não
possuem uma visão crítica da realidade e nem consciência de seus direitos como
cidadãos; não estão acostumados a ler, refletir e muito menos criticar e reivindicar
melhores condições de vida que repercutam em uma mudança benéfica e positiva
no seu estilo de vida e consequentemente na sua saúde.
Esses alunos, por motivos alheios a sua vontade não tiveram oportunidades
para concluir seus estudos em “idade regular” e foram protagonistas da exclusão
que marcou suas vidas. Corroborando com Martins (1997, p. 18) que a exclusão
[...] é privação, é não ter acesso a alguma coisa [...] primeiramente a exclusão de seus direitos como cidadãos, levou-os a serem excluídos em diversas outras situações vivenciadas como ao mundo do consumo, às boas condições de moradia, educação, saúde, alimentação e tantos outros, violando a integridade dos direitos fundamentais constitucionais do ser humano.
A insuficiência de informações sobre os indicadores sociais que medem o
bem estar social como o Índice de Desenvolvimento Humano-IDH, a Renda per
capita, o Coeficiente de mortalidade, a Expectativa de vida, a Poluição ambiental e
outros, comprovam as lacunas deixadas na sua formação como sujeitos críticos e
cidadãos. Ao trabalharmos na Unidade Didática o Módulo II – Atividade Física,
Exercício Físico, Aptidão Física, Qualidade de Vida e Saúde: Conceitos e Inter-
Relação, observou-se que não possuem conhecimento prévio sobre os
componentes básicos da Educação Física, pois não diferenciam o termo Exercício
Físico de Atividade Física, comprovando a necessidade de se contextualizar mais
esses conteúdos relacionando-os com o cotidiano desse educando, sua realidade,
seus interesses e necessidades. Essas evidências ratificam o compromisso com os
alunos de compreenderem a importância do domínio cognitivo, ou seja, o
conhecimento e o reconhecimento da importância da atividade física, que significa
compreender o porquê realizar atividade física, como realizá-la, quais os seus
efeitos para o organismo e para a promoção da saúde.
Em determinadas etapas da implementação enfrentou-se dificuldades de
prontidão para a execução do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola. A turma
de 38 alunos apresenta número significativo de alunos com defasagem de
conteúdos, dificuldades na leitura, interpretação e escrita, porém as mesmas
dificuldades que normalmente aparecem em qualquer conteúdo que a se trabalhar.
Com relação ao Gênero, podemos observar na tabela abaixo que 20 alunos
são do sexo feminino, perfazendo um total de 53 %, e 18 do sexo masculino
correspondente a 47 %. Esse índice sinaliza um equilíbrio entre os respondentes.
Tabela 1 – Gênero dos sujeitos
GENÊRO QUANTIDADES
Feminino 20
Masculino 18
TOTAL 38
Fonte: Elaboração própria.
Gráfico 1 – Gênero dos sujeitos
Fonte: Elaboração própria.
Com relação ao estilo de vida a tabela abaixo apres enta os seguintes dados
Tabela 2 – Estilo de vida dos respondentes antes da aplicação do projeto de
intervenção ESTILO DE VIDA FEMININO MASCULINO TOTAL %
Inativo 1 1 2 5
Pouco ativo 11 6 17 45
Moderadamente Ativo 5 5 10 26
Muito ativo 3 6 9 24
TOTAL 20 18 38 100
Fonte: Elaboração própria.
A partir dela é possível perceber que a aceitação na participação da pesquisa foi
positiva. Ao analisar os níveis de atividade física habitual a partir do questionário
proposto por Pate e adaptado por Nahas (2010), verificou-se que 5% dos alunos
respondentes são inativos, 45 % pouco ativos, 26 % moderadamente ativos e 24 %
muito ativos.
Visualizando os inativos e pouco ativos, percebeu-se que 47 % dos
respondentes são insuficientemente ativos. Esses resultados são preocupantes,
considerando que as atividades físicas estão em níveis muito baixos. Estudos
indicam que indivíduos ou grupos localizados neste patamar devem ser orientados e
ajudados a mudar seus comportamentos nos itens avaliados, pois eles oferecem
riscos à saúde e afetam a qualidade de vida. Considera-se sedentário o indivíduo
que tenha um estilo de vida com um mínimo de atividade física, equivalente a um
gasto energético (trabalho + lazer + atividades domésticas + locomoção) inferior a
500 kcal por semana.
Segundo Nahas (2010, p. 38) a inatividade física, representa uma causa
importante de debilidade, de reduzida qualidade de vida e de morte prematura. A
ocorrência de infarto e doenças do coração é duas vezes maior para indivíduos
sedentários comparados com regularmente ativos.
Tentativas têm sido efetivadas para determinar o nível de atividades físicas no
Brasil considere-se
A Pesquisa Nacional por Amostragem por Domicílio – PNDA (IBGE, 2010) coletou dados sobre atividade física em amostra representativa da população brasileira, com 14 anos ou mais. Foram consideradas as atividades praticadas em quatro domínios: lazer, transporte, trabalho e no lar. Foram considerados inativos aqueles que responderam que não praticavam atividades físicas nos quatro domínios e esse percentual chegou a 20 % (mais de 28 milhões de pessoas com 14 anos ou mais no país). Essa proporção de pessoas fisicamente inativas (ou sedentárias) era maior entre os homens (25 %) do que entre as mulheres (14.9 %), havendo uma tendência de ser maior no grupo de maior idade (38,1 % de inativos na faixa dos 65 anos ou mais). Em suma: um em cada cinco brasileiros com 14 anos ou mais é inativo fisicamente (NAHAS, 2010, p. 42-43).
Prosseguindo na visualização dos resultados observou-se que 26% dos
alunos avaliados foram considerados Moderadamente Ativos, correspondendo a um
gasto energético semanal de pelo menos 1.000 Kcal (ou +-150 Kcal diárias) o que
representa cinco ou mais vezes por semana caminhar a passos rápidos por 30
minutos, ou correr 2 km em 15 minutos, ou dançar durante 30 minutos ou nadar por
20 minutos. Pesquisas tem demonstrado que os maiores benefícios para a saúde
aparecem quando se passa da condição de sedentário para moderadamente ativo
(NAHAS, 2010). Níveis moderados de atividade física podem reduzir
significativamente o risco de doenças crônico-degenerativas, como o infarto do
miocárdio, o derrame cerebral, o diabetes, a hipertensão, a obesidade, a
osteoporose e outras, principalmente as cardiovasculares (NAHAS, 2010, p. 29).
Tabela 3 – Estilo de vida dos respondentes após aplicação do projeto de intervenção
ESTILO DE VIDA FEMININO MASCULINO TOTAL
Inativo -- 1 1
Pouco ativo 9 5 14
Moderadamente Ativo 7 6 13
Muito ativo 4 6 10
TOTAL 20 18 38
Fonte: Elaboração própria.
Ao analisar o estilo de vida dos respondentes após posterior aplicação do
projeto de intervenção (Tabela 3) concordou-se com o trabalho de Nahas (2010) que
considera um desafio a questão de conscientizar, motivar e criar facilitadores para
que mudanças de comportamento se efetivem. Percebeu-se que, apesar da
ampliação do conhecimento dos educandos sobre atividades físicas e saúde existem
possíveis lacunas no dia a dia desses alunos que os desafiam a melhorar o
cotidiano das atividades ocupacionais diárias e atividades de lazer, contribuindo
assim para mudanças em seu estilo de vida.
Tabela 4 – Comparação dos dados antes e após a implementação do projeto
ESTILO DE VIDA ANTES % APÓS %
Inativo 2 5 % 1 3 %
Pouco ativo 17 45 % 14 37 %
Moderadamente Ativo 10 26 % 13 34 %
Muito ativo 9 24 % 10 26 %
TOTAL 38 100 % 38 100 %
Fonte: Elaboração própria.
Gráfico 2 – Comparativo do nível de Atividade Física Habituai dos alunos antes e após a Implementação do Projeto Pedagógico no CEEBJA
Fonte: Elaboração própria.
Na Tabela 4 observa-se que entre os alunos Inativos e Pouco Ativos, resultados
considerados insatisfatórios inicialmente (50 %), os níveis caíram para 40 %,
aumentando o nível das atividades físicas habituais em 10 %. Observa-se também
que os resultados obtidos quanto à porcentagem de alunos Moderadamente Ativos e
Muito Ativos, anteriormente na casa dos 50 % evoluíram para um total de 60 %,
considerando-se essa variação satisfatória observando-se a realidade dos
estudantes pesquisados.
No presente estudo a variação para alunos muito ativos saltou de 24 % para
26 %, o que comprova resultados positivos para essa parcela de educandos,
trazendo ganhos indiscutíveis relacionados a saúde nos aspectos de prevenção,
redução de riscos e perspectiva de uma vida mais longa, ativa e autônoma.
Estudos longitudinais têm demonstrado que a expectativa de vida para indivíduos
com bons hábitos de saúde pode ser mais longa; em média +11 anos entre homens
e + 7 anos entre mulheres. (NAHAS, 2010, p. 26). Analisando-se o Gráfico 2,
percebe-se que, apesar da variação dos resultados dos alunos ser discreta, a
significância estatística observada representa grande avanço se tratando de alunos
trabalhadores que, apesar de terem adquirido conhecimentos que contribuíram para
que se conscientizassem da importância das atividades físicas habituais, enfrentam
o desafio de que mudanças no estilo de vida não são fáceis de realizar, pois
esbarram em situações favoráveis e oportunidades que lhes são oferecidas
diariamente e em barreiras sociais difíceis de serem transpostas.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após serem ministradas trinta e seis aulas em uma turma coletiva de EJA
para alunos do ensino médio, foi possível constatar inúmeros pontos favoráveis à
aplicação do Projeto de Intervenção Pedagógica Educação Física e Saúde no
Contexto Escolar do CEEBJA, utilizando o Elemento Articulador Cultura Corporal e
Saúde, dentro da realidade social, política, econômica e cultural dos nossos
educandos.
Considerando-se o problema que desencadeou esse estudo e os resultados
obtidos, é possível avaliar como positiva a utilização desse elemento articulador nas
aulas de educação física, a partir do proposto pelas Diretrizes Curriculares da
Educação Básica do Estado do Paraná (PARANÁ, 2008). Tal elemento oferece um
leque de novas oportunidades de trabalho com os conteúdos Estruturantes da
Educação Física Escolar (jogos, dança, esportes, ginástica e lutas), rompendo com
a forma tradicional que eram tratados anteriormente, superando o caráter de meras
ferramentas de aquisição da aptidão física e rendimento, para uma categoria de
"conhecimento" relevante em relação aos elementos da cultura corporal. Permitem
aos estudantes desvendar a sua realidade e estabelecer relações e conexões entre
os fenômenos sociais e culturais, permitindo uma intervenção ativa na sociedade,
com seus problemas, interesses, objetivos e ideais. (PISTRAK apud PARANÁ,
2008). Ao finalizar a utilização da Unidade Didática realizada nessa Intervenção,
conclui-se que as informações adquiridas com esse material pedagógico atingiram o
objetivo das aulas, associando os assuntos discutidos ao tema saúde de forma
ampla e não limitada a um entendimento apenas biomédico (limitando-a à ausência
de doenças). Movidos por esse novo entendimento demonstraram nas discussões,
nas apresentações e nas avaliações escritas, opiniões revestidas de novos
significados e juízo crítico atribuindo às autoridades governamentais a
responsabilidade em gerenciar políticas públicas e ações comunitárias que superem
dificuldades e efetivem melhorias em prol da saúde pessoal e sócio coletiva. Esse
contexto modificador pode intervir e modificar a realidade social excludente.
A partir dos resultados obtidos na análise do nível de Atividades Físicas
Habituais dos alunos pré e pós-aplicação do Projeto de Intervenção nas aulas de
Educação Física, objetivo maior desse trabalho, observou-se que houve um
pequeno avanço no nível das atividades dos educandos participantes, porém que se
pode considerar como significativo visto ter-se lidado com um público advindo da
classe trabalhadora, que enfrentam diariamente barreiras sociais que lhes impedem
de efetuar mudanças de comportamento e dificultam na obtenção e manutenção de
um estilo de vida saudável.
Ao refletir e buscar respostas para a fragilidade desses resultados deparou-se
com jovens e adultos da população de trabalhadores da camada popular brasileira,
que realizam esforço redobrado para frequentar um programa de educação noturna
e que justificam sua condição de sedentários por motivos alheios a sua vontade,
demonstrando a intensidade da exclusão social da qual são vítimas cotidianamente.
Nesta linha de raciocínio reconhece-se que apesar dos conteúdos
apresentados nas aulas de Educação Física estar lhes proporcionando
conhecimentos sobre os benefícios e informações de como se exercitar, esses
elementos constituem apenas os primeiros passos rumo a um caminho que leva a
mudanças de comportamento.
Diante das dificuldades enfrentadas pelos sujeitos participantes e das
conquistas alcançadas, esse projeto foi desafiador no sentido de tornar-se
efetivamente uma ação de intervenção pedagógica. Tem-se claro que um dos
grandes desafios que a educação enfrenta é de criar modelos pedagógicos
reflexivos, estimulantes e ativos que efetivem mudanças nos paradigmas
educacionais, extrapolando a ação individual para a social e tornando possível a
transformação da realidade.
Desse modo, a pesquisa revela a complexidade do tema e a clareza nos
enfrentamentos dos professores ao levar os alunos a refletirem e reconhecerem na
prática de exercícios e atividades físicas algo que valha a pena e se torne prioridade
dentro de sua rotina diária, compreendendo que os benefícios advindos dessa
prática renderão juros valiosos, superando o sacrifício pessoal e possibilitando a
promoção da saúde e uma vida com mais equilíbrio e qualidade.
Finalizando, registre-se que é desejo que intervenções pedagógicas nas aulas
de Educação Física do CEEBJA não se findem com este Projeto e que outros
estudos produzam novos encaminhamentos metodológicos que venham de encontro
às especificidades dessa modalidade de ensino e ao perfil dos alunos da Educação
de Jovens e Adultos.
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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO - SUED DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE
Ficha para Catálogo Artigo Final
Professor PDE/2012
Título Educação Física e saúde no contexto
Escolar do CEEBJA
Autor Rosely Fraga Antonietti Pascotto
Escola de Atuação CEEBJA Saada Mitre Abou Naban
Município da Escola Cianorte
Núcleo Regional de Educação Cianorte
Orientador Drª Roseli Terezinha Selicani Teixeira
Instituição de Ensino Superior Universidade Estadual de Maringá
Área do Conhecimento/Disciplina Educação Física
Relação Interdisciplinar (indicar, caso haja, as diferentes disciplinas compreendidas no trabalho)
Matemática
Público Alvo (indicar o grupo com o qual o professor PDE desenvolveu o trabalho: professores, alunos, comunidade...)
Alunos da disciplina de Educação Física do Ensino Médio do CEEBJA
Localização (identificar nome e endereço da escola de implementação)
Av. Alan Kardec, nº 151
Resumo: (no máximo 1300 caracteres, ou 200 palavras, fonte Arial ou Times New Roman,tamanho 12 e espaçamento simples)
O presente trabalho é parte integrante e conclusiva do PDE, realizado nos anos de 2012/2013. Consiste no relato da contribuição das aulas de Educação Física, utilizando o Elemento Articulador
Cultura Corporal e Saúde e apresenta resultados comparativos do nível das Atividades Físicas Habituais dos alunos pré e pós programa de intervenção desenvolvido nas aulas de Educação Física no Ensino Médio do CEEBJA, visando a promover a saúde e melhoria na qualidade de vida. Participaram na implementação da Unidade Didática 38 alunos jovens e adultos de 18 a 53 anos, matriculados em uma turma coletiva do Ensino Médio da EJA. Este grupo foi incentivado em 36 aulas teórico/práticas praticar atividades físicas e assimilar conhecimentos acerca dos benefícios pessoais promovidos pelo estilo de vida fisicamente ativo. Finalizou-se com a reflexão de que os resultados positivos obtidos favorecem a aplicação deste processo educativo em outras turmas, enriquecendo a prática pedagógica nas turmas de EJA e permitindo aos alunos jovens e adultos uma formação mais crítica e reflexiva.
Palavras-chave (3 a 5 palavras) Atividade Física; Cultura Corporal e Saúde; Educação de Jovens e Adultos.
EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE NO CONTEXTO ESCOLAR DO CEEB JA
Rosely Fraga Antonietti Pascotto1
Profª Drª Roseli Terezinha Selicani Teixeira2
RESUMO
O presente trabalho é parte integrante e conclusiva do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE, realizado nos anos de 2012/2013. Consiste em uma pesquisa de campo de caráter qualitativo relacionado a contribuição das aulas de educação física, utilizando o elemento articulador cultura corporal e saúde e apresenta resultados comparativos do nível das atividades físicas habituais dos alunos pré e pós programa de intervenção desenvolvido nas aulas de educação física no ensino médio do CEEBJA, visando promover a saúde e melhoria na qualidade de vida. Participaram na pesquisa 38 alunos jovens e adultos, de 18 a 53 anos matriculados em uma turma coletiva do ensino médio da EJA. A amostra participou de 36 aulas teórico/práticas visando assimilar conhecimentos acerca dos benefícios promovidos pelo estilo de vida fisicamente ativo. Dos resultados obtidos concluiu-se que alunos Inativos e Pouco Ativos, inicialmente (50 %), caíram para 40 %, os moderadamente ativos e muito ativos, anteriormente 50% evoluíram para 60 %, e a variação para alunos muito ativos saltou de 24 % para 26 %, considerando-se essa variação satisfatória observando-se a realidade dos estudantes pesquisados que, apesar de terem adquirido conhecimentos sobre a importância das atividades físicas, enfrentam o desafio de que mudanças no estilo de vida não são fáceis de realizar, pois esbarram em barreiras sociais difíceis de serem transpostas. Finalizou-se com a reflexão de que os resultados positivos favorecem a aplicação deste processo educativo na EJA, enriquecendo a prática pedagógica e permitindo aos alunos jovens/adultos uma formação mais crítica e reflexiva. PALAVRAS-CHAVE: Atividade Física; Cultura Corporal e Saúde; Educação de Jovens e Adultos.
1 INTRODUÇÃO
O artigo é parte conclusiva do Programa de Desenvolvimento Educacional -
PDE e visa relatar os resultados de uma pesquisa de campo envolvendo o contexto
escolar do CEEBJA "Saada Mitre Abou Nabhan" - Ensino Fundamental e Médio, na
cidade de Cianorte, Paraná. Teve como objetivo analisar a contribuição das aulas de
Educação Física visando à promoção da saúde e a melhoria da qualidade de vida
dos alunos do Ensino Médio do CEEBJA. Esta pesquisa foi realizada sob a ótica das
1 Professora no CEEBJA 2 Docente na Universidade Estadual de Maringá
Diretrizes Curriculares de Educação Física para a Educação Básica do Estado do
Paraná (PARANÁ, 2008), proposta pela Secretaria de Estado da Educação do
Paraná - SEED, em que conteúdos como jogos, danças, lutas, esporte e ginástica
foram categorizados como conteúdos estruturantes. Nestas DCEs foram
estabelecidos também os chamados ‘elementos articuladores’ que devem integrar e
articular as práticas corporais, permitindo um aprofundamento e diálogo entre elas
(PARANÁ, 2008).
O elemento articulador proposto e utilizado foi a Cultura Corporal e Saúde,
possível de ser trabalhado em qualquer conteúdo de Educação Física, em especial
no Ensino Médio e na Educação de Jovens e Adultos - EJA, como evidenciado nas
Diretrizes Curriculares para Educação Básica do Estado do Paraná – DCEs de 2008.
Este elemento articulador permite entender a saúde como construção que supõe
uma dimensão histórico-social, portanto, é contrário à tendência dominante de
conceber a saúde como simples volição individual.
A identificação com este tema de estudo surgiu da experiência como
professora de Educação Física no CEEBJA Saada Mitre Abou Nabhan de Cianorte –
PR, no Ensino Fundamental e Médio, observando aspectos negativos no estilo de
vida dos alunos, como a inatividade física, o stress elevado, a alimentação
inadequada, o fumo, o álcool, a fadiga crônica e outros fatores possíveis de
modificação, que afetam negativamente a saúde dos alunos e sobre os quais se
pode obter controle (NAHAS, 2001, p. 14). Tais fatores negativos de qualidade de
vida resultam em grande rotatividade dos educandos no ambiente educacional da
EJA, implicando frequentes atitudes de abandono da escola, sucessivos retornos e
no enfrentamento das dificuldades para permanecerem no ambiente escolar.
Tal escola, nas suas etapas do Ensino Fundamental e Médio, atende um
público diverso, composto por jovens, adultos e idosos, oferecendo novas
oportunidades de ensino-aprendizagem com novas possibilidades. Estes alunos são
remanescentes de escolarização anterior que foi interrompida por problemas de
ordem familiar, financeiro, de saúde, enfim, por motivos independentes a sua
vontade e que impossibilitou que terminassem os estudos em tempo hábil. Retornam
aos bancos escolares com histórias de vida fragmentadas, consequente atraso na
relação idade/série, necessidades educativas, níveis de conhecimento e
expectativas diferentes.
Não fugindo desta heterogeneidade, que é característica desta modalidade de
ensino, os alunos que frequentam a disciplina de Educação Física no período
vespertino e noturno constituem-se de jovens, adultos e idosos, trabalhadores da
indústria da confecção, das lavanderias, dos lixados3, abatedouros, da construção
civil, populações do campo, donas de casa, entre outros, portanto um público bem
diversificado em relação a idade, ao tempo de escolarização, a profissão, a
vivências, ao nível social e expectativas, todos com histórico de exclusão e
repetência do ensino regular. O cotidiano desta população da camada popular
requer que convivam diariamente contornando obstáculos que vão surgindo à
medida que vivenciam a experiência de voltar a estudar. Enxergam como grande
oportunidade o fato de poderem retornar a frequentar a escola, uma vez que foram
privados do acesso a uma instituição escolar por muitos anos de suas vidas. Porém
ter acesso a uma escola pública para que possam concluir seus estudos não é o
suficiente para garantir que esses sujeitos permaneçam nela. (BRAGA, 2010).
Ter o direito de frequentar uma escola pública gratuita e de qualidade, e de
permanecer nela com sucesso, é o primeiro dentre outros fatores que podem
promover, efetivamente, a garantia de seus direito como cidadãos, podendo
proporcionar-lhes uma forma de sair do lugar de exclusão a que foram destinados
por tantos anos. Ainda que a viabilidade do acesso e a permanência destes
educandos estejam asseguradas pela legislação, sabe-se que na prática isto não é
garantia de permanência e terminalidade. (BRAGA, 2010). O educando de EJA é
marcado por uma história escolar que continua reforçando a sua “exclusão” deste
espaço. Necessidades de conciliar trabalho, problemas familiares e escola têm sido
fatores relevantes para sua desistência, assim como a inadequação dos currículos, o
despreparo dos professores, a falta de material adequado acabam contribuindo,
como afirma Oliveira (1999), para a perpetuação da “exclusão” do jovem e adulto do
ambiente escolar.
Tendo em vista esta realidade estudada e analisada por educadores, Charlot
(1996) afirma que o indivíduo só estudará se o ir à escola fizer sentido para ele. O
desejo pela escolarização esteve presente durante a vida desses sujeitos desde a
infância, quando não tiveram oportunidades para concluir seus estudos em “idade
regular”, e este desejo permaneceu até chegarem à idade adulta e à velhice. A
3 Lixado - Técnica utilizada para desgaste do jeans pode ser manual ou mecânica. Prática essa
comum no município de Cianorte-PR, onde há empresas especializadas nessa técnica, ressaltando que o município é conhecido como “capital do vestuário”.
privação que sofreram, seja por terem que sair para trabalhar ainda muito jovens, ou
por falta de escolas públicas, levou estes sujeitos a uma condição de excluídos.
Sobre exclusão, Martins (1997, p.18) define:
A exclusão é apenas um momento da percepção que cada um e todos podem ter daquilo que concretamente se traduz em privação : privação de emprego, privação de bem-estar, privação de direito, privação de liberdade, privação de esperança.
A exclusão, primeiramente de um direito, levou-os a serem excluídos em
diversas outras situações, como exemplo, de uma melhor oportunidade de emprego,
de uma maior e mais efetiva participação social, de conhecer de forma mais ampla
seus direitos como cidadãos e lutar por eles. Foram privados, até mesmo, de, muitas
vezes, poder sonhar com dias melhores e de usufruir de uma melhor qualidade de
vida. (BRAGA, 2010). Observando a realidade desses alunos, cabe ao professor da
Educação de Jovens e Adultos, que se configura como um espaço democrático,
organizar os conteúdos para sua prática docente e adequar estratégias buscando a
elaboração de uma proposta pedagógica que atenda as reais necessidades desses
alunos e ainda tenha significado para eles. Pois segundo as Diretrizes Curriculares
da Educação de Jovens e Adultos para o Estado do Paraná (PARANÁ, 2006, p. 40),
A atuação do educador da EJA é fundamental para que os educandos percebam que o conhecimento tem a ver com o seu contexto de vida, que é repleto de significação. Os docentes se comprometem, assim, com uma metodologia de ensino que favorece uma relação dialética entre sujeito-realidade-sujeito. Se esta relação dialética com o conhecimento for de fato significativa, então as metodologias escolhidas foram adequadas.
Continuando nestas mesmas Diretrizes Curriculares da Educação de Jovens
e Adultos para o Estado do Paraná (PARANÁ, 2006, p. 29) observa-se que,
[...] nas perspectivas dos educandos e seus projetos de vida, a EJA poderá colaborar para que eles ampliem seus conhecimentos de forma crítica, viabilizando a reflexão pela busca dos direitos de melhoria de sua qualidade de vida. Além disso, contribuirá para que compreendam as dicotomias e complexidades do mundo do trabalho [...].
Mediante a problemática exposta acima, cabe indagar: Como as aulas de
Educação Física podem contribuir com ações educativas que possibilitem mudanças
no Estilo de vida e conseqüente promoção da saúde dos alunos do Ensino Médio do
CEEBJA? Portanto, esse trabalho teve como objetivo geral analisar a contribuição
das aulas de Educação Física visando à promoção da saúde e à melhoria da
qualidade de vida dos alunos do Ensino Médio do CEEBJA.
E, como objetivos específicos, possibilitar um programa de intervenção nas
aulas de Educação Física, utilizando o Elemento Articulador Cultura Corporal e
Saúde, dentro do contexto social, político, econômico e cultural da nossa população,
contribuindo para ampliar o conhecimento dos alunos na área; apresentar os
resultados da variação na categorização da prática de atividades físicas habituais
dos alunos expressa por meio da aplicação do Questionário de Atividades Físicas
Habituais-AFH, antes e após a intervenção; contribuir com o Grupo de Trabalho em
Rede - GTR, ampliando o conhecimento dos professores da área e oferecendo
material de apoio aos professores da Rede.
2 REVISÃO
2.1 A SAÚDE NO ÂMBITO DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) nº 9394/96 (BRASIL, 1996) pode ser
considerada um marco de conceituação e normatização da educação em nosso
país. Nela a EJA passa a ser considerada uma modalidade da Educação Básica nas
etapas do Ensino Fundamental e Médio, com especificidade própria, garantindo dois
artigos sobre essa modalidade:
Art. 37º. A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria. §1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames. §2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares entre si. Art. 38º. Os sistemas de ensino manterão cursos e exames supletivos, que compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter regular.
Com respeito à Educação Física, a mesma Lei regulamenta e inclui a
Educação Física como disciplina curricular, uma vez que, até a presente lei, ela era
considerada apenas uma atividade física, ou simples realização de movimentos sem
nenhum cunho didático-pedagógico. Nesse sentido, encontra-se na LDB (BRASIL,
1996):
[...] os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais, da sociedade, cultura e clientela.
Nesta nova normatização, a disciplina de Educação Física passou a ser
valorizada como componente curricular do sistema de ensino, devendo compor o
currículo em todos seus níveis de abrangência, iniciando desde o trabalho pré-
escolar, o ensino fundamental e o ensino médio.
A escola, com esta nova Lei, conquistou certa liberdade na organização de
sua prática pedagógica. Não se questiona aqui que tipo de autonomia a escola tem,
ou o que se pretende com esse avanço, mas quer-se situar o papel do professor de
Educação Física neste contexto, cabendo a ele definir qual projeto de sociedade e
de homem persegue. Quais interesses de classe que defende? Quais os valores, a
ética e a moral que consolida através de sua prática e como articula as suas aulas e
o seu fazer pedagógico com esse projeto de homem e sociedade?
Pois segundo Soares et al. (1992, p. 26)
Todo educador deve ter definido o seu projeto político-pedagógico. Essa definição orienta a sua prática no nível da sala de aula: a relação que estabelece com seus alunos, o conteúdo que seleciona para ensinar e como o trata cientificamente e metodologicamente, bem como os valores e a lógica que desenvolve nos alunos.
Assim, a Educação Física trata na escola do conhecimento de uma área
denominada Cultura Corporal que será configurada como conteúdos: jogo, esporte,
ginástica, dança e lutas, e que o homem se apropriará deles dispondo de sua
intencionalidade, lhe dando um sentido pessoal, com significação objetiva e
realidade de sua vida, seu mundo e suas motivações (SOARES et al., 1992, p. 62),
e, o profissional de educação física na escola, tem um importante papel social de
educar para um estilo de vida saudável e para uma vida com mais qualidade,
independente da idade, sexo ou nível socioeconômico do aluno (NAHAS, 2001, p.
2).
A partir dessas considerações, vale lembrar que nos últimos anos, estudiosos
do conteúdo curricular Educação Física tem se debruçado no sentido de repensar a
área e de produzir referenciais teóricos que contribuam para que avanços
aconteçam e, entre eles, referenciais sobre a relação da saúde com a educação
física escolar. Observa-se um desencontro quanto à terminologia e à definição de
conceitos utilizados para descrever elementos como saúde, aptidão física, atividade
física, qualidade de vida e outros que atendem a abordagem apresentada. Por se
tratar de um tema com características complexas e de relação com várias áreas do
conhecimento, faz-se necessário à conceituação dos elementos que o constituem.
2.2 ESTILO DE VIDA
De acordo com Nahas (2001, p. 224) estilo de vida corresponde ao conjunto
de ações habituais que refletem as atitudes, valores e oportunidades das pessoas.
Estes hábitos e conjunto de ações conscientes serão determinantes para a definição
de qualidade de vida do sujeito. Os diversos componentes indicativos do estilo de
vida podem variar ao longo dos anos, conforme o valor que a pessoa atribua a esse
comportamento, incluindo ou excluindo nas ações do seu dia a dia, e percebendo-se
como sujeito capaz de realizar as mudanças almejadas.
Nesta perspectiva valorizam-se elementos que contribuem para o bem-estar
pessoal, dentre eles: o controle do stress, a nutrição equilibrada e adequada, a
atividade física habitual, os comportamentos preventivos a doenças e o cultivo de
relacionamentos sociais (NAHAS, 2001). Um estilo de vida inadequado pode
significar diversos transtornos, como exemplo as doenças crônicas não
transmissíveis-DCNT´s, entre eles o aumento da massa corporal total, que pode ser
acompanhado por níveis pressóricos altos, taxas de colesterol elevada, diabetes,
entre outras, ainda, as doenças cardiovasculares, o câncer, o diabetes, a cirrose
hepática, os transtornos mentais, as doenças osteomusculares, a obesidade
mórbida e as dislipidemias entre outras (BRASIL, 2008).
2.3 SAÚDE
Hoje não se entende saúde apenas como não estar doente, a tendência atual
é considerar saúde numa perspectiva holística como condição humana que
compreenda dimensões físicas, sociais e psicológica, avaliada numa escala
contínua, com pólos positivo e negativo, resultante da complexa interação de fatores
hereditários, ambientais e do estilo de vida (DEVRIES, 1978; NAHAS, 1991;
BOUCHARD et al., 1994; NIEMAN, 1999 apud NAHAS, 2010). A saúde positiva
estaria associada com a capacidade de apreciar a vida e de resistir aos desafios do
cotidiano, enquanto a saúde negativa associada a comportamentos de risco,
morbidade e, no extremo, com a mortalidade prematura.
Apesar da evolução conceitual a respeito da saúde levar em consideração o
estado de saúde positiva ou bem-estar, até bem pouco tempo, para avaliação de
estudos epidemiológicos, os indicadores de saúde eram somente negativos, como a
taxa de mortalidade e morbidade, e em muitas vezes tomava-se como base do nível
de saúde de determinada localidade apenas a taxa de mortalidade infantil (NAHAS,
1996).
Com esta mudança de paradigma, passaram também a ser considerados os
indicadores positivos considerados determinantes para alcançar qualidade de vida,
tais como: orgânicos ou biológicos (saúde e doença), psicológicos (identidade, auto-
estima, criatividade, habilidade), sociais (vida familiar, vida sexual, relacionamentos),
comportamentais (vida profissional, hábitos, repouso, lazer), materiais (habitação,
bens, renda) e estruturais (concepção sócio-política, posição social).
O conceito de promoção em saúde é considerado um novo paradigma do
campo da Saúde Pública. Teve sua etiologia formalizada por meio da Carta de
Otawa, promulgada na 1ª Conferência de Promoção em Saúde, realizada em 1986
na cidade de Otawa no Canadá (BRASIL, 1986). Este conceito foi caracterizado
como o processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria da sua
qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle deste
processo. Este documento acrescenta que para se atingir um estado de completo
bem-estar físico, mental e social, os indivíduos e grupos devem saber identificar
aspirações, satisfazer necessidades e modificar favoravelmente o meio-ambiente
(BRASIL, 1996).
A partir das considerações compreende-se saúde, não como condição
estática, existente somente devido à chamada ausência de doenças, mas sim como
um processo de aprendizagem, tomada de decisão e ações para a otimização do
bem-estar próprio.
2.4 APTIDÃO FÍSICA
Aptidão física é definida por Guedes (1995, p. 58):
[...] um estado dinâmico de energia e vitalidade que permite a cada um não apenas a realização das tarefas do cotidiano, as ocupações ativas das horas de lazer, a enfrentar emergências imprevistas sem fadiga excessiva, mas, também, evitar o aparecimento das funções hipocinéticas, enquanto funcionando no pico da capacidade intelectual e sentindo uma alegria de viver.
Considera que a aptidão física é a capacidade de realizar esforços físicos sem
fadiga excessiva, garantindo a sobrevivência de pessoas em boas condições
orgânicas no meio ambiente em que vivem.
Para Nahas (2001) aptidão física é um conceito que abarca diferentes
dimensões, compreendendo características que as pessoas têm ou desenvolvem
para realizar atividades físicas. Considera duas vertentes, aptidão física relacionada
a saúde ou a prevenção de doenças, incluindo variáveis fisiológicas como aptidão
cardiorrespiratória, força, resistência muscular, flexibilidade e componentes da
composição corporal. Aptidão física relacionada à performance voltando-se para as
habilidades desportivas em que as variáveis como agilidade, equilíbrio, coordenação
motora, potência e velocidade, são mais valorizadas, objetivando o desempenho
desportivo.
2.5 QUALIDADE DE VIDA
Quando ouvimos a expressão qualidade de vida, temos um conceito sobre
ela, porém defini-la não tem sido tarefa das mais fáceis. Começaremos observando
sua definição expressa por Gonçalves e Vilarta (2002 apud GONZÁLEZ;
FENSTERSEIFER, 2005, p. 354)
Qualidade de vida, [...] tanto pode conotar valores humanitários relevantes referindo-se a aspirações sociais elevadas – mais frequentemente níveis coletivos de saúde e educação - como também, tem sido apropriada pela mídia e pela propaganda para promover produtos e serviços específicos que reclamam promoção - seja água mineral, loteamentos longínquos, ou peças de roupa. Vem se constituindo um consenso, no entanto que independentemente dos usos numerosos, as concepções adequadas de Qualidade de Vida (Q.V.) encerram dois núcleos fundamentais, a dimensão subjetiva e a objetiva, a primeira correspondendo ao que se convencionou chamar de estilo de vida e a segunda às condições de vida.
Para Minayo, Hartz e Buss (2000) este vocábulo tem uma configuração
polissêmica, já que implica inúmeros sentidos e significados. Qualidade de vida
literalmente significa várias coisas. Diz respeito a como as pessoas vivem, sentem e
compreendem seu cotidiano. Compreende saúde, educação, transporte, moradia,
trabalho e participação nas decisões que lhes dizem respeito e determinam como
vive no mundo (GONÇALVES; VILARTA, 2004).
O conceito de qualidade de vida transcende o conceito de padrão do nível de
vida, de satisfação das necessidades humanas do “ter” para a valorização da
existência humana do “ser” e deve ser avaliada pela capacidade que tem
determinada sociedade de proporcionar oportunidades de realização pessoal a seus
indivíduos no sentido psíquico, social e espiritual ao mesmo tempo em que lhes
garante um nível de vida minimamente aceitável.
Difícil de ser objetivamente definida, qualidade de vida pode ser considerada
como um conjunto de parâmetros individuais, socioculturais e ambientais que
caracterizam as condições em que vivem os seres humanos (NAHAS, 1997).
Minayo, Hartz e Buss (2000) examina que a qualidade de vida é resultado das
condições subjetivas do indivíduo nos vários subdomínios que compõe a sua vida,
como por exemplo, trabalho, vida social, saúde física, humor etc.
Nahas (1997) ressalta que, a inter-relação mais ou menos harmoniosa dos
fatores que moldam o cotidiano do ser humano resulta numa rede de fenômenos e
situações que, abstratamente, pode ser chamada de qualidade de vida. Associa-se à
expressão qualidade de vida a fatores como estado de saúde, longevidade,
satisfação no trabalho, relações familiares, disposição e até espiritualidade e
dignidade. Gonçalves e Vilarta (2004) sugerem algumas opiniões como segurança,
felicidade, lazer, saúde, condição financeira estável, família, amor e trabalho.
Outros elementos também estão associados para estudar esses significados
como sugere Gonçalves e Vilarta (2004) tais como, aspectos culturais, históricos e
de classes sociais, conjuntos de condições materiais e não-materiais, diferenças por
faixas etárias e condições de saúde das pessoas ou de uma comunidade.
2.6 EDUCAÇÃO FÍSICA E O ELEMENTO ARTICULADOR CULTURA CORPORAL E
SAÚDE
A utilização do elemento articulador Cultura Corporal e Saúde nas aulas de
Educação Física do Ensino Médio objetiva mostrar uma proposta metodológica que
supere a dimensão meramente motriz, ampliando o trabalho através da dimensão
histórica, cultural e social. Sendo assim o que se pretende passar por meio deste
trabalho, pode ser resumido no fato de que os conhecimentos construídos sobre a
promoção da saúde devem ser considerados, não só sob a ótica do fator biológico,
pois segundo as Diretrizes Curriculares da Educação Básica (PARANÀ, 2008),
referentes à educação física, trazem a “cultura corporal e saúde” como elemento
articulador e referem-se ao assunto da seguinte forma:
Esse elemento articulador permite entender a saúde como construção que supõe uma dimensão histórico-social. Portanto, é contrária à tendência dominante de conceber a saúde como simples volição (querer) individual [...] Nestas Diretrizes, os cuidados com a saúde não podem ser atribuídos tão somente a uma responsabilidade do sujeito, mas sim, compreendidos no contexto das relações sociais, por meio de práticas e análises críticas dos discursos a ela relativos. (PARANÁ, 2008, p. 55-56).
O entendimento de saúde veiculado no ambiente escolar não pode se
restringir ao aspecto bio-fisiológico, cabe a escola que tem por função transmitir
conhecimentos historicamente produzidos, a função de ampliar este entendimento
aos alunos. Considerando o professor de educação física como profissional que
conhece o contexto que envolve a saúde, nas suas perspectivas da aptidão física e
promoção da saúde, faz-se necessário que ele produza com seus alunos saberes
sobre esse tema; que considerem os aspectos sociais, históricos e políticos desse
ramo de conhecimento. Visto que a educação física tem em sua história íntima
relação com o desenvolvimento de habilidades motoras e promoção de atividades
físicas relacionadas à saúde, o professor da disciplina pode utilizar de metodologias
apropriadas a EJA, estabelecendo nexos entre os interesses dos alunos, suas
necessidades e a visão crítica da realidade onde estão inseridos.
A proposta dos elementos articulares pretende dar nova forma aos conteúdos
da Educação Física Escolar, refletindo e contextualizando as práticas educativas da
Cultura Corporal, rompendo com a forma tradicional com que eram tratados
anteriormente. Possibilitam aos estudantes ampliar o conhecimento da realidade e
estabelecer relações e nexos entre os fenômenos sociais e culturais, permitindo,
além da percepção crítica real, uma intervenção ativa na sociedade, com seus
problemas, interesses, objetivos e ideais (PISTRAK, apud PARANÁ, 2008).
Sob a ótica dessas DCE’S (PARANÁ, 2008), as práticas corporais que
compõem os conteúdos da Educação Física devem ser compreendidas de forma
reflexiva e contextualizada, indicando possibilidades de intervenção pedagógica em
situações e desafios do cotidiano escolar. Na busca por respostas para esses
desafios e, tendo como fio condutor a complexa realidade dos alunos do CEEBJA,
o professor de educação física se configura no profissional capaz de planejar e
sistematizar uma sequência de atividades teóricas e práticas, lançando mão dos
conteúdos estruturantes e despertando nos alunos a capacidade de discernimento e
criticidade, o prazer, o interesse e a motivação para esta prática. Tal profissional tem
na escola importante papel social de educar para um estilo de vida saudável e para
uma vida com mais qualidade, independente da idade, sexo ou nível sócio-
econômico do aluno (NAHAS, 2001).
Atualmente entende-se a Educação Física Escolar na escola como uma área que trata da cultura corporal e que tem como finalidade introduzir e integrar o aluno nessa esfera, formando o cidadão que vai produzi-la, reproduzi-la e também transformá-la. Nesse sentido, o aluno deverá ser instrumentalizado para usufruir dos jogos, esportes, danças, lutas e ginástica, em benefício do exercício crítico da cidadania e da melhoria da qualidade de vida. (BETTI, 2002 apud DE DIO, 2011, p. 6).
Na totalidade dessas Diretrizes Curriculares, os Conteúdos Estruturantes
serão compreendidos com uma abordagem que articule os aspectos políticos,
históricos, sociais, econômicos e culturais propostos para a Educação Física na
Educação Básica do Estado do Paraná, tendo como resultado a produção de novos
conhecimentos e mudanças qualitativas na prática escolar da escola pública
paranaense.
3 METODOLOGIA
O presente estudo caracteriza-se como pesquisa de campo, de natureza
quanti-qualitativa e descritiva que Severino (2007, p. 123) define como “[...] aquela
que o objeto/fonte é abordado em seu meio ambiente próprio. A coleta de dados é
feita nas condições naturais em que os fenômenos ocorrem, sendo assim
diretamente observados, sem intervenção e manuseio por parte do pesquisador. O
instrumento utilizado para a coleta de dados foi o Questionário de Atividades
Físicas Habituais, desenvolvido originalmente por Russel (Pate - University of
South Carolina/EUA), traduzido e modificado por Markus Vinicius Nahas
(NuPAF/UFSC), para uso educacional, servindo como estimativa do nível de
atividade física habitual da população em tese. Esta versão do instrumento
mostrou-se fidedigna entre os participantes do estudo realizado (NAHAS, 2010). É
composto por 11 questões subjetivas, com classificação realizada em uma escala de
1 a 10.
Este instrumento classificou os indivíduos em quatro níveis de atividade
física (Inativo, Pouco Ativo, Moderadamente Ativo e Muito Ativo), considerando
uma somatória arbitrária a partir das respostas relacionadas aos hábitos de
atividade física nas ocupações diárias e de lazer.
A amostra foi constituída por 38 alunos da disciplina de Educação Física do
Ensino Médio do CEEBJA Saada Mitre Abou Nabhan de Cianorte, do período
noturno, na maioria trabalhadores de ambos os sexos, com idade entre 18 a 53
anos, residentes na cidade de Cianorte. A análise dos dados foi realizada por meio
da aplicação e re-aplicação do questionário em que se obteve dados que foram
observados quantitativamente por meio da estatística descritiva e análise de
conteúdo (BARDIN, 1994).
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS E DISCUSSÕES
A análise dos resultados foi decorrente das observações efetuadas pela
pesquisadora, da coleta de dados e dos procedimentos realizados durante a
realização da pesquisa que será apresentada em forma de tabelas e gráficos. Vale
lembrar que desde o início do projeto, a direção, a equipe pedagógica e o corpo
docente contribuíram na implementação da pesquisa, colaborando com as
solicitações feitas e materiais necessários, o que tornou viável esse trabalho.
As avaliações efetuadas e contribuições perceptíveis nos alunos permitiram
uma análise crítica sobre o mesmo, podendo-se apontar pontos favoráveis e
desfavoráveis à sua aplicação. Os alunos demonstraram interesse em participar da
implementação do projeto, dando importância às aulas e apresentando motivação
em realizar as atividades teóricas que compunham os módulos da unidade didática.
Houve aumento no nível de participação e descontração nas atividades práticas,
comprovando ser relevante desde as primeiras aulas fundamentarem teoricamente a
importância da atividade física e sua relação com a saúde e, em seguida, trabalhar a
prática. Isso fez com que os alunos se motivassem para esta participação, vendo
sentido e significado nessa prática.
Comprovou-se melhoria no nível de relacionamento e socialização do grupo,
bem como interesse nas reflexões e discussões, expressos pelo aumento na
frequência dos alunos às aulas e afirmações que o tema saúde enriquece essa
disciplina. As avaliações efetuadas revelaram a assimilação dos conteúdos
trabalhados traduzidos pelas boas notas alcançadas.
Responderam com interesse ao Questionário de Atividades Físicas Habituais
AFH e procederam a uma análise pessoal da caracterização dos resultados
atingidos, bem como de suas expectativas em relação à melhoria ou manutenção
dos níveis de atividades físicas conseguidos. Refletiram no seu estilo de vida e nas
dificuldades e necessidades de reverter esses resultados.
Observaram-se dificuldades em realizar exercícios práticos de alongamento,
relaxamento e outros, porque a escola não possui espaços adequados à prática
esportiva. O CEEBJA não dispõe de uma sala vazia e nem uma quadra esportiva,
espaços foram improvisados, arrastando-se e empilhando-se as carteiras,
estendendo-se colchões no chão e adaptando-se a nossa realidade.
Ao visitar-se as dependências do Cianorte Clube, sauna, piscinas, academia,
aparelhos para musculação, quadra de tênis, poliesportiva, campo de futebol, sala
de ginástica e outros recintos de lazer, os alunos comentaram que desconheciam a
existência de espaços disponíveis que oportunizem essas práticas em nosso
ambiente social, refletindo e avaliando como precárias e insuficientes a oferta de
áreas de lazer e práticas esportivas em nossa comunidade.
Constatou-se que o termo Saúde representa, para a maioria dos nossos
alunos, simplesmente a ausência de doenças físicas, corporais, que consiste em
saúde biológica, compreendendo assim a visão simplista desse termo. Os alunos,
em geral, não sabem que a Educação Física tem, em sua história, íntima relação
com a Saúde e com a construção de muitos termos que a envolvem. Compreendem
a saúde pelo significado que a Organização Mundial da Saúde dá a ela, que é
“completo bem – estar físico, mental e social”, sendo que não entendem muito bem o
que a palavra “social” indica nessa definição. Acreditam que a Saúde é
responsabilidade só do sujeito, que sua saúde depende unicamente dele. Não
possuem uma visão crítica da realidade e nem consciência de seus direitos como
cidadãos; não estão acostumados a ler, refletir e muito menos criticar e reivindicar
melhores condições de vida que repercutam em uma mudança benéfica e positiva
no seu estilo de vida e consequentemente na sua saúde.
Esses alunos, por motivos alheios a sua vontade não tiveram oportunidades
para concluir seus estudos em “idade regular” e foram protagonistas da exclusão
que marcou suas vidas. Corroborando com Martins (1997, p. 18) que a exclusão
[...] é privação, é não ter acesso a alguma coisa [...] primeiramente a exclusão de seus direitos como cidadãos, levou-os a serem excluídos em diversas outras situações vivenciadas como ao mundo do consumo, às boas condições de moradia, educação, saúde, alimentação e tantos outros, violando a integridade dos direitos fundamentais constitucionais do ser humano.
A insuficiência de informações sobre os indicadores sociais que medem o
bem estar social como o Índice de Desenvolvimento Humano-IDH, a Renda per
capita, o Coeficiente de mortalidade, a Expectativa de vida, a Poluição ambiental e
outros, comprovam as lacunas deixadas na sua formação como sujeitos críticos e
cidadãos. Ao trabalharmos na Unidade Didática o Módulo II – Atividade Física,
Exercício Físico, Aptidão Física, Qualidade de Vida e Saúde: Conceitos e Inter-
Relação, observou-se que não possuem conhecimento prévio sobre os
componentes básicos da Educação Física, pois não diferenciam o termo Exercício
Físico de Atividade Física, comprovando a necessidade de se contextualizar mais
esses conteúdos relacionando-os com o cotidiano desse educando, sua realidade,
seus interesses e necessidades. Essas evidências ratificam o compromisso com os
alunos de compreenderem a importância do domínio cognitivo, ou seja, o
conhecimento e o reconhecimento da importância da atividade física, que significa
compreender o porquê realizar atividade física, como realizá-la, quais os seus
efeitos para o organismo e para a promoção da saúde.
Em determinadas etapas da implementação enfrentou-se dificuldades de
prontidão para a execução do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola. A turma
de 38 alunos apresenta número significativo de alunos com defasagem de
conteúdos, dificuldades na leitura, interpretação e escrita, porém as mesmas
dificuldades que normalmente aparecem em qualquer conteúdo que a se trabalhar.
Com relação ao Gênero, podemos observar na tabela abaixo que 20 alunos
são do sexo feminino, perfazendo um total de 53 %, e 18 do sexo masculino
correspondente a 47 %. Esse índice sinaliza um equilíbrio entre os respondentes.
Tabela 1 – Gênero dos sujeitos
GENÊRO QUANTIDADES
Feminino 20
Masculino 18
TOTAL 38
Fonte: Elaboração própria.
Gráfico 1 – Gênero dos sujeitos
Fonte: Elaboração própria.
Com relação ao estilo de vida a tabela abaixo apres enta os seguintes dados
Tabela 2 – Estilo de vida dos respondentes antes da aplicação do projeto de
intervenção ESTILO DE VIDA FEMININO MASCULINO TOTAL %
Inativo 1 1 2 5
Pouco ativo 11 6 17 45
Moderadamente Ativo 5 5 10 26
Muito ativo 3 6 9 24
TOTAL 20 18 38 100
Fonte: Elaboração própria.
A partir dela é possível perceber que a aceitação na participação da pesquisa foi
positiva. Ao analisar os níveis de atividade física habitual a partir do questionário
proposto por Pate e adaptado por Nahas (2010), verificou-se que 5% dos alunos
respondentes são inativos, 45 % pouco ativos, 26 % moderadamente ativos e 24 %
muito ativos.
Visualizando os inativos e pouco ativos, percebeu-se que 47 % dos
respondentes são insuficientemente ativos. Esses resultados são preocupantes,
considerando que as atividades físicas estão em níveis muito baixos. Estudos
indicam que indivíduos ou grupos localizados neste patamar devem ser orientados e
ajudados a mudar seus comportamentos nos itens avaliados, pois eles oferecem
riscos à saúde e afetam a qualidade de vida. Considera-se sedentário o indivíduo
que tenha um estilo de vida com um mínimo de atividade física, equivalente a um
gasto energético (trabalho + lazer + atividades domésticas + locomoção) inferior a
500 kcal por semana.
Segundo Nahas (2010, p. 38) a inatividade física, representa uma causa
importante de debilidade, de reduzida qualidade de vida e de morte prematura. A
ocorrência de infarto e doenças do coração é duas vezes maior para indivíduos
sedentários comparados com regularmente ativos.
Tentativas têm sido efetivadas para determinar o nível de atividades físicas no
Brasil considere-se
A Pesquisa Nacional por Amostragem por Domicílio – PNDA (IBGE, 2010) coletou dados sobre atividade física em amostra representativa da população brasileira, com 14 anos ou mais. Foram consideradas as atividades praticadas em quatro domínios: lazer, transporte, trabalho e no lar. Foram considerados inativos aqueles que responderam que não praticavam atividades físicas nos quatro domínios e esse percentual chegou a 20 % (mais de 28 milhões de pessoas com 14 anos ou mais no país). Essa proporção de pessoas fisicamente inativas (ou sedentárias) era maior entre os homens (25 %) do que entre as mulheres (14.9 %), havendo uma tendência de ser maior no grupo de maior idade (38,1 % de inativos na faixa dos 65 anos ou mais). Em suma: um em cada cinco brasileiros com 14 anos ou mais é inativo fisicamente (NAHAS, 2010, p. 42-43).
Prosseguindo na visualização dos resultados observou-se que 26% dos
alunos avaliados foram considerados Moderadamente Ativos, correspondendo a um
gasto energético semanal de pelo menos 1.000 Kcal (ou +-150 Kcal diárias) o que
representa cinco ou mais vezes por semana caminhar a passos rápidos por 30
minutos, ou correr 2 km em 15 minutos, ou dançar durante 30 minutos ou nadar por
20 minutos. Pesquisas tem demonstrado que os maiores benefícios para a saúde
aparecem quando se passa da condição de sedentário para moderadamente ativo
(NAHAS, 2010). Níveis moderados de atividade física podem reduzir
significativamente o risco de doenças crônico-degenerativas, como o infarto do
miocárdio, o derrame cerebral, o diabetes, a hipertensão, a obesidade, a
osteoporose e outras, principalmente as cardiovasculares (NAHAS, 2010, p. 29).
Tabela 3 – Estilo de vida dos respondentes após aplicação do projeto de intervenção
ESTILO DE VIDA FEMININO MASCULINO TOTAL
Inativo -- 1 1
Pouco ativo 9 5 14
Moderadamente Ativo 7 6 13
Muito ativo 4 6 10
TOTAL 20 18 38
Fonte: Elaboração própria.
Ao analisar o estilo de vida dos respondentes após posterior aplicação do
projeto de intervenção (Tabela 3) concordou-se com o trabalho de Nahas (2010) que
considera um desafio a questão de conscientizar, motivar e criar facilitadores para
que mudanças de comportamento se efetivem. Percebeu-se que, apesar da
ampliação do conhecimento dos educandos sobre atividades físicas e saúde existem
possíveis lacunas no dia a dia desses alunos que os desafiam a melhorar o
cotidiano das atividades ocupacionais diárias e atividades de lazer, contribuindo
assim para mudanças em seu estilo de vida.
Tabela 4 – Comparação dos dados antes e após a implementação do projeto
ESTILO DE VIDA ANTES % APÓS %
Inativo 2 5 % 1 3 %
Pouco ativo 17 45 % 14 37 %
Moderadamente Ativo 10 26 % 13 34 %
Muito ativo 9 24 % 10 26 %
TOTAL 38 100 % 38 100 %
Fonte: Elaboração própria.
Gráfico 2 – Comparativo do nível de Atividade Física Habituai dos alunos antes e após a Implementação do Projeto Pedagógico no CEEBJA
Fonte: Elaboração própria.
Na Tabela 4 observa-se que entre os alunos Inativos e Pouco Ativos, resultados
considerados insatisfatórios inicialmente (50 %), os níveis caíram para 40 %,
aumentando o nível das atividades físicas habituais em 10 %. Observa-se também
que os resultados obtidos quanto à porcentagem de alunos Moderadamente Ativos e
Muito Ativos, anteriormente na casa dos 50 % evoluíram para um total de 60 %,
considerando-se essa variação satisfatória observando-se a realidade dos
estudantes pesquisados.
No presente estudo a variação para alunos muito ativos saltou de 24 % para
26 %, o que comprova resultados positivos para essa parcela de educandos,
trazendo ganhos indiscutíveis relacionados a saúde nos aspectos de prevenção,
redução de riscos e perspectiva de uma vida mais longa, ativa e autônoma.
Estudos longitudinais têm demonstrado que a expectativa de vida para indivíduos
com bons hábitos de saúde pode ser mais longa; em média +11 anos entre homens
e + 7 anos entre mulheres. (NAHAS, 2010, p. 26). Analisando-se o Gráfico 2,
percebe-se que, apesar da variação dos resultados dos alunos ser discreta, a
significância estatística observada representa grande avanço se tratando de alunos
trabalhadores que, apesar de terem adquirido conhecimentos que contribuíram para
que se conscientizassem da importância das atividades físicas habituais, enfrentam
o desafio de que mudanças no estilo de vida não são fáceis de realizar, pois
esbarram em situações favoráveis e oportunidades que lhes são oferecidas
diariamente e em barreiras sociais difíceis de serem transpostas.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após serem ministradas trinta e seis aulas em uma turma coletiva de EJA
para alunos do ensino médio, foi possível constatar inúmeros pontos favoráveis à
aplicação do Projeto de Intervenção Pedagógica Educação Física e Saúde no
Contexto Escolar do CEEBJA, utilizando o Elemento Articulador Cultura Corporal e
Saúde, dentro da realidade social, política, econômica e cultural dos nossos
educandos.
Considerando-se o problema que desencadeou esse estudo e os resultados
obtidos, é possível avaliar como positiva a utilização desse elemento articulador nas
aulas de educação física, a partir do proposto pelas Diretrizes Curriculares da
Educação Básica do Estado do Paraná (PARANÁ, 2008). Tal elemento oferece um
leque de novas oportunidades de trabalho com os conteúdos Estruturantes da
Educação Física Escolar (jogos, dança, esportes, ginástica e lutas), rompendo com
a forma tradicional que eram tratados anteriormente, superando o caráter de meras
ferramentas de aquisição da aptidão física e rendimento, para uma categoria de
"conhecimento" relevante em relação aos elementos da cultura corporal. Permitem
aos estudantes desvendar a sua realidade e estabelecer relações e conexões entre
os fenômenos sociais e culturais, permitindo uma intervenção ativa na sociedade,
com seus problemas, interesses, objetivos e ideais. (PISTRAK apud PARANÁ,
2008). Ao finalizar a utilização da Unidade Didática realizada nessa Intervenção,
conclui-se que as informações adquiridas com esse material pedagógico atingiram o
objetivo das aulas, associando os assuntos discutidos ao tema saúde de forma
ampla e não limitada a um entendimento apenas biomédico (limitando-a à ausência
de doenças). Movidos por esse novo entendimento demonstraram nas discussões,
nas apresentações e nas avaliações escritas, opiniões revestidas de novos
significados e juízo crítico atribuindo às autoridades governamentais a
responsabilidade em gerenciar políticas públicas e ações comunitárias que superem
dificuldades e efetivem melhorias em prol da saúde pessoal e sócio coletiva. Esse
contexto modificador pode intervir e modificar a realidade social excludente.
A partir dos resultados obtidos na análise do nível de Atividades Físicas
Habituais dos alunos pré e pós-aplicação do Projeto de Intervenção nas aulas de
Educação Física, objetivo maior desse trabalho, observou-se que houve um
pequeno avanço no nível das atividades dos educandos participantes, porém que se
pode considerar como significativo visto ter-se lidado com um público advindo da
classe trabalhadora, que enfrentam diariamente barreiras sociais que lhes impedem
de efetuar mudanças de comportamento e dificultam na obtenção e manutenção de
um estilo de vida saudável.
Ao refletir e buscar respostas para a fragilidade desses resultados deparou-se
com jovens e adultos da população de trabalhadores da camada popular brasileira,
que realizam esforço redobrado para frequentar um programa de educação noturna
e que justificam sua condição de sedentários por motivos alheios a sua vontade,
demonstrando a intensidade da exclusão social da qual são vítimas cotidianamente.
Nesta linha de raciocínio reconhece-se que apesar dos conteúdos
apresentados nas aulas de Educação Física estar lhes proporcionando
conhecimentos sobre os benefícios e informações de como se exercitar, esses
elementos constituem apenas os primeiros passos rumo a um caminho que leva a
mudanças de comportamento.
Diante das dificuldades enfrentadas pelos sujeitos participantes e das
conquistas alcançadas, esse projeto foi desafiador no sentido de tornar-se
efetivamente uma ação de intervenção pedagógica. Tem-se claro que um dos
grandes desafios que a educação enfrenta é de criar modelos pedagógicos
reflexivos, estimulantes e ativos que efetivem mudanças nos paradigmas
educacionais, extrapolando a ação individual para a social e tornando possível a
transformação da realidade.
Desse modo, a pesquisa revela a complexidade do tema e a clareza nos
enfrentamentos dos professores ao levar os alunos a refletirem e reconhecerem na
prática de exercícios e atividades físicas algo que valha a pena e se torne prioridade
dentro de sua rotina diária, compreendendo que os benefícios advindos dessa
prática renderão juros valiosos, superando o sacrifício pessoal e possibilitando a
promoção da saúde e uma vida com mais equilíbrio e qualidade.
Finalizando, registre-se que é desejo que intervenções pedagógicas nas aulas
de Educação Física do CEEBJA não se findem com este Projeto e que outros
estudos produzam novos encaminhamentos metodológicos que venham de encontro
às especificidades dessa modalidade de ensino e ao perfil dos alunos da Educação
de Jovens e Adultos.
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