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SEGLIV11 (30/2/17) Ricardo Luiz Hoffmann CIÊNCIA DO COMPORTAMENTO PÓS-REVOLUÇÃO COMUNICACIONAL-INFORMACIONAL (A Bíblia Científica Proposta Pelo Século XXI)

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SEGLIV11 (30/2/17)

Ricardo Luiz Hoffmann

CIÊNCIA DO COMPORTAMENTO PÓS-REVOLUÇÃO COMUNICACIONAL-INFORMACIONAL (A Bíblia Científica Proposta Pelo Século XXI)

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Pg.1 Í N D I C E

Prefácio....................................................................................................................... pg. 6

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX I - HISTÓRIAXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

IA - COMO OS USA TOMARAM A LIDERANÇA MUNDIAL DA EUROPA?

IA1 – Os USA tiraram da Europa a liderança mundial incrementando o relacionamento conhecimento-ação.................8

IA2 - A universidade extensionista americana: Ligação conheci- mento-ação. E o próximo passo ..................................................9

IA3 - Informação, o novo poder, ou oxigênio, da natureza sapiens....11

IB - OS USA APENAS INICIARAM A REVOLUÇÃO COMUNICACIONAL- INFORMACIONAL.

IB1 - Internet: A roda inventada pelo século XX. E sua utopia direcional...................................................................................13

IB2 - A revolução comunicacional-informacional (RCI) está dando apenas os seus primeiros passos....................................16

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX II – INFORMAÇÃO NO UNIVERSO. E COMO DIREITO SAPIENS.XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

IIA - DA PROTO-INFORMAÇÃO À INFORMAÇÃO, FUNDAMENTAL PARA A NATUREZA SAPIENS.

IIA1 - Básicos no universo: Energia e informação. Esta, o mais fundamental direito sapiens.....................................................19 IIA2 - Causas-e-efeitos: Dos direcionamentos da matéria aos conhecimentos, na mente.........................................................20

IIB - VONTADE SAPIENS.

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IIB1 - Vontade sapiens: Só de ação. E acionada pelo conhecimento...........................................................................23

Pg. 2 IIC - MEIO-AMBIENTE MAIS PODEROSO DO QUE A GENÉTICA.

IIC1 - Meio-ambiente, com seu bombardeio informacional, cada vez mais poderoso do que a genética no condicionamento do comportamento...................................................................25

IIC2 - O homem é modelado (seu conhecimento e cérebro) pelo meio-ambiente (pela ação) que ele modelou...........................28

IID - CÉREBRO E AÇÃO MODELAM-SE MUTUAMENTE, VIA INFORMAÇÃO.

IID1 - Conhecimento e ação sapiens modelam-se mutuamente, produzindo comportamento, história de vida e cultura......................................................................................29

IID2 - Modelando-se mutuamente, conhecimento e ação produzem, dentro da história de vida: Neurogênesis, epigenética, genética....................................................................................31

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX III - CONHECIMENTOXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

IIIA - CONHECIMENTO: O OTIMIZADOR DA AÇÃO.

IIIA1 - Conhecimento: A informação que otimiza a ação sapiens.....34

IIIA2 - Conhecimento, pragmatismo e cultura...................................38

IIIA3 - Conhecer para produzir um mundo, o que inclui a ética........43

IIIA4 - No contexto holístico, conhecimento suicida é ignorância....44

IIIB - NÃO SÓ A CIÊNCIA PRODUZ CONHECIMENTO.

IIIB1 - Complementos da ciência também produzem

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conhecimento. Vida, o racionalismo mais amplo...................46

IIIC - VERDADE.

IIIC1 - Verdade absoluta não existe...................................................50

IIID - CONHECIMENTO PURO. Pg.3 IIID1 - Conhecimento puro não existe. O ‘vale da morte’ acadêmico..............................................................................54

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX IV - ESTRATÉGIAS DE CONTROLE DO CONHECIMENTO. XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

IVA - POLITEÍSMO E MONOTEÍSMO CIENTÍFICOS.

IVA1 - Politeísmo (especialização e individualismo) e monoteísmo (holismo e humanismo) científicos...................58

IVA2 - Especialização: Diminuição do conhecimento, e do indivíduo. E seus demais efeitos colaterais negativos...........60

IVA3 - Equilibrar extroversão (pragmatismo individualista, especialização) e introversão (pragmatismo humanista, holismo e ética)......................................................................63

IVB - ENCICLOPEDISMO E PÓS-ENCICLOPEDISMO.

IVB1 - Enciclopedismo, estocagem, e pós-enciclopedismo, circulação do conhecimento até à ação...................................68

IVB2 - Combate à entropia da civilização científico-tecnológica......69

IVC - PROPRIEDADE E ESCRAVIZAÇÃO INFORMACIONAIS.

IVC1 - A propriedade da informação (concorrência e oferta-e- procura desinformadas) sabota a evolução sapiens...............72

IVC2 - A pirâmide da escravização informacional e a liberdade sapiens...................................................................................76 IVC3 - Impossível sigilo permanente sobre conhecimento................78

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XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX V - LIBERDADE E EVOLUÇÃO SAPIENSXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

VA - LIBERDADE SAPIENS: DIREITO DE ACESSO A TODO O CONHECIMENTO HUMANO.

VA1 - Liberdade e fim da propriedade do conhecimento, da informação.............................................................................79 VA2 - Liberdade sapiens: Controle positivo, proporcional à Pg.4 informação disponível...........................................................83

VB - EDUCAÇÃO DO FUTURO: PERSONALIZADA E O MAIS HOLÍSTICA POSSÍVEL.

VB1 - Educação do futuro: Medicina da ação para as carreiras de vida e trabalho....................................................................85

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX VI - DIREITO À INFORMAÇÃO E AO CONHECIMENTO. XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

VIA - SOCIALISMO E CAPITALISMO CLÁSSICOS OBSOLETOS.

VIA1 - Socialismo e capitalismo clássicos ( ‘big-brothers’ estatal e privado) obsoletos..................................................90

VIA2 - ‘Big brother’ estatal, ‘big brother’ privado, e escravização informacional.................................................92

VIB - DIREITO À INFORMAÇÃO E BASES PARA SUA INSTITUCIONALIZAÇÃO.

VIB1 - Informação: Direito biológico-evolucionista......................95

VIB2 - O ‘panopticon’ da revolução comunicacional- informacional (RCI)............................................................97

VIB3 - Democracia informacional: Vida pública não é vida privada...............................................................................100

VIB4 - Cibernéticas pessoal e social cada vez mais científicas.....108

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VIB5 - O controle comportamental positivo do futuro..................111

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX VII - CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO COMPORTAMENTO PÓS- REVOLUÇÃO COMUNICACIONAL-INFORMACIONAL.XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

VIIA - RAZÃO APRIORÍSTICA E EMPIRISMO EXPERIMENTAL DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO COMPORTAMENTO PÓS- REVOLUÇÃO COMUNICACIONAL-INFORMACIONAL.

VIIA1 - Princípios básicos para o desenvolvimento de uma ciência e tecnologia do comportamento pós-revolução comunicacional-informacional.........................................115

Pg. 5 VIIA2 - A pesquisa empírico-experimental da ciência e tecnologia do comportamento pós-revolução comunicacional-informacional.........................................123

VIIA3 - Medicalização da ação nas carreiras de vida e trabalho. E a oposição a este controle positivo................................126

VIIB - TIPOLOGIAS BÁSICAS E LINGUAGEM DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO COMPORTAMENTO PÓS-REVOLUÇÃO COMUNICACIONAL-INFORMACIONAL.

VIIB1 - Tipologias, articuladas, da ação e do conhecimento, seus dicionários ou catálogos, e sua linguagem...............132

VIIC - III CÉREBRO SAPIENS: ARTICULAÇÃO ADEQUADA ENTRE CÉREBROS E INTERNET.

VIIC1 - Analogias e complementaridade entre cérebro e computador.......................................................................140

VIIC2 - O uso da máquina para escravizar o homem.....................142

VIIC3 - III cérebro sapiens: Articulação adequada cérebros- Internet..............................................................................144

VIIC4 - Principais utopias direcionais sapiens: Holismo cognitivo no indivíduo e ética..........................................149

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CITAÇÕES (Índice de Localização).............................................................................155

6 P R E F Á C I O Nenhuma das idéias básicas que compõem a estrutura sistêmica da proposta deste livro é do autor. O autor buscou só reunir e organizar as idéias dos principais pensadores que contribuíram na direção daquilo que a revolução comunicacional-informacional que está aí aponta como o destino da humanidade dentro da civilização científico-tecnológica. A tentativa de reunir esses pensamentos e estruturar com eles uma visão sistêmica do que o futuro oferece à humanidade tem suas dificuldades, que não são pequenas, e os seus méritos, que podem ser grandes, mas que provavelmente não foram alcançados num nível mais alto pelo autor deste livro. Nossa presunção, portanto, se limita à de uma pequena contribuição para ajudar a fazer com que surjam os pensadores de mais alto nível, que possam definir com maior precisão e maior alcance as perspectivas de mudanças gigantescas que o nosso desenvolvimento sapiens está apontando, com uma grande possibilidade futura de beneficiamento humano. Mesmo que limitada nossa contribuição nesse sentido, nossa presunção é de algum pequeno mérito na tentativa. A organização e o impulsionamento de um novo tempo, de uma nova cultura, induzidos por alguma invenção básica revolucionária, são produzidos pela soma dos grandes pensadores que antecederam e intuíram essa invenção básica revolucionária, e que fornecem, com seus pensamentos, os elementos intelectuais para a utilização da nova invenção básica e para o impulsionamento do novo tempo, da nova cultura. A invenção básica poderosa – técnica, como foi a da roda - que está nos pedindo agora que articulemos as idéias dos grandes pensadores que a antecederam, para com isso evidenciar-se o novo tempo, a nova cultura, é a revolução comunicacional-informacional que está aí, com a sua roda inventada no século XX, a Internet. O que é preciso fazer, para se definir o futuro desse novo tempo, dessa nova cultura, é esclarecer-se a ligação entre os grandes pensadores que antecederam e intuíram a revolução comunicacional-informacional e o objetivo da roda inventada pelo século XX, a Internet. Deixando-se o mais claro possível o ‘como’ os maiores pensamentos mais recentes

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e a maior invenção dos últimos tempos convergem para produzir essa nova cultura. Que está buscando se organizar agora dentro da evolução da civilização científico-tecnológica que está aí, e vai continuar avançando. Uma vez que nosso propósito foi reunir e sistematizar os argumentos dos outros, dos maiores pensadores do assunto que antecederam a revolução comunicacional-informacional, tivemos que abusar das citações para chegar aonde queríamos. Provar que o pensamento desses filósofos aponta, em massa, o caminho que buscamos definir de forma orgânica, sistêmica. Oferecido pela civilização científico-tecnológica, e sua roda do século XX, a Internet. Que está revolucionando com essa tecnologia o nosso comportamento. Pedimos desculpas pelo abuso em matéria de citações. Mas a estratégia é indispensável. Para provar que o futuro que devemos esperar já estava fartamente previsto – mesmo que não organizado ainda – pelo passado da filosofia humanista que antecedeu e acompanhou os primeiros passos da revolução comunicacional-informacional, que centralizará o impulso modificador que vai revolucionar a vida humana nas próximas décadas. A única criatividade necessária nessa tarefa agora é a descrição clara, e sistêmica-holística, do pensamento criativo dos outros, e a descrição clara da funcionalidade crescente da última grande invenção técnica da humanidade, a revolução comunicacional-informacional, com sua roda inventada no século XX, a Internet. 7 A tarefa tem lá sua dificuldade considerável, e o autor pode não estar à altura de desempenhá-la com a precisão e a clareza necessárias. Mas o autor deste livro espera que possa pelo menos contribuir numa pequena medida para colocar o problema para inteligências maiores. Que possam levar até o fim essa tarefa de esclarecer o rumo dos novos tempos e da nova cultura. Que estão sendo claramente propostos pela vanguarda tecnológica do momento. O objetivo dessa descritiva geral básica do assunto é aquilo que Descartes e Karl Popper quiseram dizer quando afirmaram que uma nova ciência – no nosso caso a ciência e tecnologia do comportamento pós-revolução comunicacional-informacional – necessita de princípios básicos altamente simples e universais, e altamente testáveis, para se chegar depois às complexidades que a ciência precisa resolver. Um exemplo de um desses princípios básicos simples e universais dentro do problema comportamental: A definição pós-freudiana de que o nosso comportamento é muito mais determinado pelo bombardeio informacional por parte do meio-ambiente do que pela herança genética. Assim sendo, a pesquisa empírico-experimental básica para se esclarecer as razões e os condicionamentos das ações humanas tem que ser feita sobre o cruzamento ininterrupto da totalidade do conhecimento com a totalidade da ação humanos, para se definirem os caminhos da otimização das ações. O excesso de citações neste livro visa demonstrar, com peso e em detalhes, o suporte maciço que as idéias dos pensadores que nos antecederam deram às proposições de princípios básicos que estamos colocando para se enfrentar o futuro problemático do comportamento humano. Quanto mais suporte argumentativo dos grandes pensadores acumularmos na consciência, melhor. A idéia central do livro é também, obviamente, uma continuidade, especialmente, das idéias de C.G. Jung, Skinner e Wiener. E do que Skinner já insinuou como indispensável para a espécie sapiens, a busca de uma ciência comportamental. A enorme massa de argumentação que convém ser colocada na íntegra e nos detalhes, está nesses pensadores do passado mais ou menos recente. Portanto, são eles que precisam estar presentes maciçamente, para se justificar as proposições simples mas

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radicais deste livro, que buscam dar continuidade ao que eles disseram. Nosso trabalho é apenas articular esses pensadores, para que a proposição do futuro seja mais completa. Mais orgânica, holística, funcional e definitiva. Contra o risco de desastre humanitário advertido por Skinner. E como nenhuma das idéias básicas indispensáveis para se compreender o nosso tempo e seu futuro é nossa, e são muitos, e ricos em oferecer detalhamentos de argumentação, os pensadores que buscaram definir os rumos modernos, estamos, como já dissemos, tentando apenas organizar todos os pensamento dos outros a respeito do assunto, e apontar, com poucas palavras nossas, seu uso sistêmico, articulado, possível por meio da revolução comunicacional-informacional que está aí, com sua roda inventada no século XX, a Internet. Que irá mudar, radicalmente, sem dúvida alguma, a organização e a homeostase da humanidade. Queremos, sim, ser um pouco profeta nisso. Ainda que muito rudimentarmente. Queremos, enfim, apenas colaborar, modestamente – mas colaborar, sim – para a construção do raciocínio puro apriorístico necessário para o desenvolvimento de uma ciência e tecnologia do comportamento pós-revolução comunicacional-informacional. Que sejam capazes de gerar uma espécie de Bíblia científica para aperfeiçoar a ação e a ética da ação humana. Ajudando com isso, inclusive, o objetivo das religiões e o da ciência a convergirem. Ricardo Luiz Hoffmann

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I - HISTÓRIA

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xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxIA - COMO OS USA TOMARAM A LIDERANÇA MUNDIAL DA EUROPA? xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

IA1 - OS USA TIRARAM DA EUROPA A LIDERANÇA MUNDIAL INCREMENTANDO O RELACIONAMENTO CONHECIMENTO-AÇÃO.

Os USA roubaram à Europa a liderança mundial incrementando o relacionamento conhecimento-ação, que produziu a grande explosão criativa da civilização científico-tecnológica. Explosão criativa que nos levou até à revolução comunicacional-informacional que está aí, com sua Internet, a roda inventada pelo século XX. Esses acontecimentos mexeram não apenas com a ciência e a tecnologia da comunicação e da informação, mas com a filosofia do uso desses recursos dentro da promoção da evolução da natureza sapiens. Esses princípios científicos, tecnológicos e filosóficos mudaram completamente, radicalmente, a cultura humana. Que poderá agora evoluir em termos sapiens em condições mais cibernético-científicas, se consolidarmos o direito à informação.Vejamos as principais conseqüências gerais e básicas disso dentro do pensamento e do comportamento humanos. A física quântica já definiu que ao lado da energia é a informação o segundo princípio mais básico - o princípio direcionador – de estruturação do universo. Com isso, no terreno do comportamento sapiens, o conhecimento, a informação - derivada da consciência das causas-e-efeitos, segundo Kant, direcionados também informacionalmente - teve que se redefinir dentro do reconhecimento de sua funcionalidade universal. A de condicionar a funcionalidade de todos os comportamentos. Assim, conhecimento, para o pensamento moderno, é a informação que otimiza a ação sapiens. Esse relacionamento decisivo entre conhecimento e ação, sobre o qual se fundamentou o avanço da liderança americana sobre a da Europa, nos conduziu à análise mais crítica das estratégias de controle do conhecimento. Com dois aspectos fundamentais relacionados entre si. O politeísmo científico das especializações, muito ligado à obsessão pela propriedade do conhecimento. E o monoteísmo científico, da cultura humanista, mais ligado ao condicionamento de nossa sobrevivência como espécie, como um todo sapiens. Que só sobreviverá se puder contar com o pragmatismo humanista do controle orgânico, holístico, da utilização do todo do conhecimento para condicionar essa sobrevivência da espécie sapiens como um todo.

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Esse debate do novo conceito de conhecimento, dividido entre o respeito ao politeísmo e o respeito ao monoteísmo científicos, ambos necessários, em 9 condições de equilíbrio, nos levou a rever o conceito de liberdade sapiens. Só existe liberdade integral sapiens se a escolha da ação é baseada no exame da lista completa de todas as possibilidades de ação humanas. É dentro desse novo conceito de liberdade que a espécie sapiens tem que se organizar para evoluir. Se for educada para isso. Tudo isso nos leva à revisão do conceito do direito à informação, como sendo um direito mais fundamental - biológico-evolucionista - do que os direitos humanos genéricos definidos pela revolução francesa. Com isso socialismo e capitalismo clássicos se tornaram obsoletos, pois ambos negam, por meio de processos diferentes de controle, a informação ao indivíduo. O estado socialista ditando o comportamento, o estado capitalista dogmatizando a propriedade da informação. Como já denunciou Norbert Wiener. Os novos princípios gerais acima listados, e que serão discutidos em maiores detalhes ao longo deste livro, nos levaram a reconhecer a necessidade de ciência e tecnologia, mais avançadas, mais vigorosas e mais ousadas, para se lidar - com tratamento adequado, eficiente, via cibernética científica, a nova ciência do comportamento pós-revolução comunicacional-informacional - com o problema de utilizarmos, como indivíduos, a totalidade do conhecimento humano em nosso benefício. Para fazer isso precisaremos estruturar uma espécie de III cérebro sapiens, articulando harmoniosamente computadores e cérebros para nos ajudar a sermos capazes de usar em nosso benefício a totalidade do conhecimento humano. Vamos chamar esse esforço pelo controle holístico da informação pelos indivíduos – por meio de harmonização funcional entre nossos cérebros e os computadores, respeitando-se os papéis diferentes das duas coisas - de III cérebro sapiens. Utopia. Mas direcional. Depois de chegar apenas até os primeiros passos da revolução comunicacional-informacional que está aí, criando a Internet - preponderantemente para entretenimento e consumismo, que é entretenimento também - os USA estão se tornando conservadores. Incapazes de aceitar a análise em profundidade dos princípios problemáticos que listamos acima, e empenhados, especialmente, na defesa fanática da propriedade da informação, do conhecimento – postura que Norbert Wiener já condenou – obstruindo com isso a colheita dos resultados maiores da sua própria revolução, através da qual roubaram à Europa a liderança mundial. Ao não perceberem que a importância da articulação conhecimento-ação vai até à própria modelação e aceleração de nossa evolução sapiens. Algum país tem que fazer agora com os USA o que eles fizeram com a Europa. Liderar o próximo passo, para o mundo ir adiante. Para a evolução sapiens ser acelerada, especialmente. E o passo seguinte requerido para isso é a liberdade total de informação. Que inclui o fim da propriedade do conhecimento, da informação, em favor da criatividade e produtividade de todos os indivíduos da espécie sapiens. E o fim da privacidade absoluta também - escudo das corrupções e dos crimes - como já propuseram Bentham, Rousseau e Foucault, em favor da ética, que as religiões não conseguiram impor, e que precisamos tentar impor via ciência. Construindo-se uma espécie de Bíblia científica. Este é, em linhas bem gerais, simples e básicas, o assunto deste livro.

IA2 - A UNIVERSIDADE EXTENSIONISTA AMERICANA: LIGAÇÃO CONHECIMENTO-AÇÃO. E O PRÓXIMO PASSO.

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O lugar onde o incremento do relacionamento conhecimento-ação foi estruturado operacionalmente com maior produtividade pelos americanos foi dentro do 10extensionismo universitário. A universidade americana ligou seu ensino e, especialmente, sua pesquisa aos grandes empreendimentos produtivos do país. Enquanto a universidade européia permaneceu a torre de marfim acadêmica, que cultiva a separação, preconceituosa, entre intelectualismo e trabalho. Intelectualismo para a elite, trabalho para os escravos do sistema de produção. Herança ética greco-romana. Um exemplo recente dessa defasagem histórica entre os dois sistemas: Cambridge, uma das maiores universidades européias, implantou apenas algumas décadas atrás um setor administrativo para ligar a universidade ao sistema de produção do país. E contratou uma técnica americana para organizá-lo. É dentro das universidades, especialmente, que a nova filosofia de vida, cibernético-científica, os novos procedimentos científico-tecnológicos articulando com alta produtividade humana conhecimento e ação, em termos holísticos, podem se estruturar de maneira mais vigorosa. Tanto assim que as cópias do modelo universitário americano, espalhadas por todo o mundo, estão por trás da expansão mundial do modelo sócio-econômico americano de desenvolvimento que veio substituir a liderança do modelo europeu. O defeito do modelo americano é a seletividade restritiva, baseada na propriedade do conhecimento e sua monopolização pelas poderosas companhias que controlam a produção e o comércio mundiais. E que para fazer isso, controlam também, via governos, os próprios sistemas educacionais. É o caso, por exemplo, da pesquisa universitária, antes de mais nada. Quase toda controlada pelas monopolizações do sistema de produção, com apoio de governo para fazer isso. A maneira como tem que ser quebrada a liderança conservadora americana - fundamentada nas monopolizações do conhecimento - pela sociedade, pelo país que tentar fazer com os USA o que eles fizeram com a Europa - fazendo avançar mais ainda a eficiência do relacionamento conhecimento-ação - é colocando-se o incremento da relação conhecimento-ação a serviço das carreiras individuais de trabalho, e de vida, de todos os seres humanos. Dentro das condições libertárias que seriam criadas pela abolição da propriedade do conhecimento, da informação, por parte de uns poucos indivíduos ou grupos de indivíduos. E, com isso, estimulando-se a competição, a concorrência, apenas na qualidade da ação. Pois concorrência sapiens é só aquela que ocorre entre indivíduos todos eles super-informados sobre o objeto da concorrência. O que acaba de ser dito acima sobre o dogma da propriedade do conhecimento, da informação, é, segundo Wiener: “A doutrina oficial de uma ortodoxia que se torna cada vez mais perigoso questionar, para quem reside nos Estados Unidos.” Em outras palavras, temos aí o conservadorismo americano, que precisa ser derrotado pelo novo líder necessário ao mundo para fazermos com os USA o que eles fizeram com a Europa: Roubar a liderança, para levar avante a evolução mais ágil da espécie humana como espécie sapiens. Nenhum lugar melhor para se fazer isso do que dentro do sistema educacional, capitaneado pelo sistema universitário. E todo ele perfeitamente responsabilizável pelo sucesso de todas as carreiras de vida e de trabalho de todos os indivíduos. Definindo-se essa responsabilidade radicalmente: Onde tais carreiras fracassam,

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foi o sistema educacional que fracassou. Sistema educacional que atualmente responde apenas pelo sucesso de meia-dúzia de sistemas produtivos, nos quais a vasta maioria dos indivíduos são encaixados dentro de condições que podemos chamar de escravização informacional. Onde o que interessa é o sucesso do sistema produtivo –

11que utiliza essas massas de indivíduos de funcionalidade limitada como peças mecanizadas de sua maquinaria – e não o sucesso, em tais indivíduos, de carreiras altamente personalizadas, holísticas, livres e ascendentes, ou seja, de natureza realmente sapiens. É óbvia a articulação funcional entre os sistemas educacionais atuais e as estruturas do sistema de produção, proprietárias da informação, do conhecimento. Sistemas educacionais a serviço de produzir essas peças de encaixe no sistema de produção, e não as carreiras ascendentes, personalizadas e holísticas de seres sapiens completos. O próximo passo de evolução do relacionamento conhecimento-ação - que não será dado pelo conservadorismo americano, quase com certeza - será a abolição da propriedade do conhecimento, e a programação educacional a serviço do sucesso de todas as carreiras de vida e de trabalho de todos os indivíduos, e não a serviço dos sistemas de produção controlados pelos atuais donos absolutos do conhecimento, da informação. Revolução sistêmica social, política e cibernética que trará à luz o novo líder mundial, que irá produzi-la. Revolução centralizada no sistema educacional, iniciada pela universidade americana, sim, mas paralisada pelo conservadorismo americano. Fanatizado, como disse Norbert Wiener, pela idéia da propriedade absoluta do conhecimento. Que tem que ser uma propriedade, sim, mas da evolução da espécie sapiens como um todo. E não de uma meia dúzia de indivíduos ou grupos de indivíduos que escravizam as massas dentro de uma técnica sofisticada de escravização, a escravização informacional, a das “funções inferiores”, como expressou Jung: “Da mesma forma como a escravização das massas foi a ferida aberta do mundo antigo, assim a escravização das funções inferiores é a ferida eternamente sangrando na psiquê do homem moderno.” E a substituição dessa “escravização das funções inferiores” – adotada radicalmente no sistema americano – por um pleno desenvolvimento ascendente das carreiras de vida e de trabalho de todos os indivíduos é o que se constituirá no próximo passo de evolução do relacionamento conhecimento-ação. Que será dado pelo novo líder que virá substituir a liderança dos USA dentro da reformulação do prosseguimento da evolução sapiens da humanidade. Ponto de partida: A abolição da propriedade absoluta, individual ou grupal, do conhecimento, e a reforma radical dos sistemas educacionais, seguindo adiante no aprofundamento e na universalização, individualizados, dos relacionamentos conhecimento-ação. Produzidos com eficiência máxima em todos os indivíduos da espécie, e não apenas no sistema de produção, dando desta forma continuidade à evolução iniciada mas paralisada pelo sistema universitário americano. Que ao invés de priorizar os indivíduos, todos os indivíduos como tais, priorizou as unidades coletivas de produção. Estruturadas em pirâmides de escravização informacional. Ou seja, ajudou a condicionar a “escravização das funções inferiores” como disse Jung. Que chamou isso, muito apropriadamente, de “a ferida eternamente sangrando na psiquê do homem moderno.”

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IA3 - INFORMAÇÃO, O NOVO PODER, OU OXIGÊNIO, DA NATUREZA SAPIENS.

12 A fonte do poder na sociedade humana primitiva era o domínio da terra.Depois passou aos mecanismos de troca, culminando com a invenção e o controle da moeda. Marx definiu a terceira macro-fase do desenvolvimento do mecanismo de poder humano, dizendo que estava no ‘controle dos meios de produção’. Marx estava impressionado, principalmente, pelo poder da tecnologia aliado ao controle dos recursos naturais para essa produção. Entramos hoje numa quarta macro-fase desse mecanismo de poder: O controle da informação. Quem controla a informação, hoje, acaba controlando os meios de produção, os mecanismos de troca, e a terra. Acaba controlando tudo. A informação é o novo oxigênio, imprescindível ao prosseguimento da luta da espécie sapiens pela sobrevivência. Estamos passando da respiração do oxigênio terrestre para a respiração do oxigênio da informação, que faltando, inclusive polui o oxigênio da água e o oxigênio terrestre. Da mesma forma como passamos, em nossos antepassados, da respiração do oxigênio da água para a respiração do oxigênio terrestre. E não haverá volta atrás. Wiener define: “Informação é o termo que designa o conteúdo daquilo que permutamos com o mundo exterior ao ajustar-nos a ele, e que faz com que nosso ajustamento seja nele percebido. O processo de receber e utilizar informação é o processo de nosso ajuste às contingências do meio ambiente e de nosso efetivo viver nesse meio ambiente. As necessidades e a complexidade da vida moderna fazem, a este processo de informação, exigências maiores do que nunca, e nossa imprensa, nossos museus, nossos laboratórios científicos, nossas universidades, nossas bibliotecas e nossos compêndios estão obrigados a atender às necessidades de tal processo, sob pena de malograr em seus escopos.” Saramago corrobora esse ponto de vista, de forma mais filosófica e menos técnica: “Noto também que o problema já não é ter ou não ter. O problema – não menos importante - é saber ou não saber É cada vez maior o número de pessoas que não sabem. Ou sabem mal aquilo que julgam saber. É cada vez menor o grupo de pessoas que detém todo o conhecimento – e de certa forma usa-o para levar o mundo para onde o mundo vai.” A civilização científico-tecnológica está dando os últimos toques para transformar a informação no novo oxigênio da natureza sapiens. As ferramentas da civilização científico-tecnológica se tornam mais complexas e requerem mais conhecimentos para sua manipulação. Essa complexidade gerou competição, corrida pelo controle da informação. O que não existia quando os seres humanos viviam à base de um limitado acervo de conhecimentos. Como, por exemplo, nas tribos indígenas. Com o conhecimento intensificado e diversificado, um tempo e uma criatividade maiores são requeridos para seu controle. Com isso, conhecimento, informação, tornam-se cada vez mais o bem mais poderoso dentro da civilização científico-tecnológica. Assim como tivemos em nossos antepassados de criar o pulmão aéreo, para respirar o oxigênio terrestre, quando deixamos para trás a respiração do oxigênio da água, teremos agora que criar um novo, não pulmão, mas sim cérebro, mais poderoso do que o genoma e o cérebro biológico individual somados, para respirarmos com mais eficiência o oxigênio da informação, do conhecimento. Sobre a necessidade dessa mudança de equipamento nessas transições, diz Wiener: “Essa transição da água para a terra, onde quer

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que ocorresse, envolveu radicais aperfeiçoamentos na respiração, na circulação em geral, no suporte mecânico do organismo e nos órgãos sensoriais.” A mesma coisa será requerida em termos de suporte mecânico a essa transição para respirarmos com eficiência o oxigênio da informação. Esse suporte mecânico será o III cérebro sapiens, externo, artificial, tecnológico e biológico ao mesmo tempo, coletivo, 13 democrático, que somará e ampliará o poder de todos os nossos cérebros biológicos individuais. Aos quais servirá. Inclusive ampliando não só o poder mas também a liberdade sapiens. Tudo via a combinação adequada cérebros-máquinas. Com as máquinas fazendo o que cabe às máquinas fazer. E com os cérebros biológicos fazendo o que as máquinas não conseguem, nem conseguirão, fazer. O artifício não é diferente dos passos anteriores, da criação da roda, dos veículos, das máquinas industriais. Pois a natureza sapiens é aquela que, através do artifício cria instrumentos cada vez mais poderosos dentro do seu viver. O mais poderoso deles será, sem dúvida, a criação desse III cérebro sapiens, para nos ajudar a respirar o novo oxigênio de nossa evolução, a informação. Falaremos em maiores detalhes sobre esse III cérebro sapiens num dos capítulos finais deste livro. A informação foi transformada no novo oxigênio da natureza sapiens pelo incremento da relação conhecimento-ação, impulsionado especialmente pela civilização norte-americana, e pela sua estruturação da revolução comunicacional-informacional, que está aí sendo pontificada pela criação da Internet, a roda inventada pelo século XX. Que nos aponta a necessidade da implantação de um III cérebro sapiens - artificial e natural ao mesmo tempo - complementar ao I e II, o genoma e o cérebro biológico individual, hoje insuficientes para levar o indivíduo a controlar a gigantesca massa de conhecimento e informação acumulada pela civilização científico-tecnológica. Da mesma forma como foi necessária a criação de um pulmão diferente na passagem da respiração do oxigênio da água para a respiração do oxigênio terrestre. A Internet oferece a infra-estrutura mecânica. Falta apenas a programação de um comportamento da articulação máquinas-cérebros que mimetize o comportamento do cérebro biológico individual. Mas controlando e distribuindo ininterruptamente a totalidade do conhecimento humano em benefício da totalidade da ação humana. Um serviço similar aos de distribuição de água e de energia elétrica. Que distribuirá automaticamente, sem necessidade de ‘buscas’ limitadas - pois ‘só Alá’, só o sistema, ‘conhece o desconhecido’ - a totalidade do oxigênio da informação, do conhecimento, humanos, que for útil à totalidade das ações humanas, vinte e quatro horas por dia.

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxIB - OS USA APENAS INICIARAM A REVOLUÇÃO COMUNICACIONAL- INFORMACIONAL.xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

IB1 - INTERNET: A RODA INVENTADA PELO SÉCULO XX. E SUA UTOPIA DIRECIONAL.

Cada passo, por menor que seja, que os procedimentos da medicina dão para cumprir sua função têm um único objetivo: eliminar a morte. Mas a medicina jamais conseguiu e talvez jamais conseguirá atingir esse alvo em termos absolutos. O nome disso

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é: utopia direcional. Isto é, a direção que tem que ser perseguida, mesmo sabendo-se que atingir o alvo em termos absolutos é impossível. A aproximação cada vez maior a esse alvo inatingível é o objetivo relativo concreto que pode ser conquistado. A mais fundamental das utopias direcionais da natureza sapiens é o controle pelo indivíduo sapiens da totalidade do conhecimento desenvolvido pela espécie sapiens. Tanto é esta a utopia direcional mais fundamental da natureza sapiens, que a

14 utopia direcional da medicina, e todas as outras dentro do comportamento humano, dependem dela, dependem do domínio de conhecimentos. A Internet – a roda inventada pelo século XX, pelos americanos, e dando seus primeiros passos - veio a serviço dessa mais fundamental das utopias da natureza sapiens, o domínio pelo indivíduo da totalidade do conhecimento humano. Conquista absoluta impossível, mas a direção que tem que ser perseguida pelos instrumentos do esforço cognitivo da espécie, em todos os seus indivíduos. Para que haja evolução sapiens. Vejamos como a Internet tem que ser posta a serviço dessa mais fundamental das utopias direcionais da natureza sapiens. Complementando os esforços de nosso cérebro biológico individual limitado, para perseguir o objetivo utópico-direcional da natureza sapiens. Já existem aspectos evidentes onde a Internet, e seus computadores, conseguem ajudar o nosso cérebro biológico individual a controlar o máximo possível da totalidade do conhecimento humano. A memória é um exemplo disso. É possível estocar-se na Internet a totalidade do conhecimento humano, o que é impossível fazer-se no cérebro biológico individual. Já existem na Internet programas buscando essa direção. Citemos um apenas, o Google. Outro aspecto onde o auxílio da Internet e seus computadores flagrantemente nos ajuda a fazer crescer o domínio do máximo conhecimento humano: na funcionalidade de cálculo, onde as máquinas superam esmagadoramente as capacidades de nosso cérebro biológico individual. Esses indicadores, de que é possível à Internet e seus computadores reforçar extraordinariamente as condições para levar nosso cérebro biológico individual ao máximo controle possível da totalidade do conhecimento humano, devem nos levar a perceber que é possível organizar-se a Internet e seus computadores de maneira a mimetizar com exatidão a fisiologia de nosso cérebro biológico individual. Mas para ser exercida, essa mimetização, com o controle da totalidade do conhecimento humano, e visando a otimização da totalidade da ação humana, de todas as ações de todos os indivíduos da espécie. É a essa tentativa via Internet, possível embora sofisticada e difícil de ser organizada, que chamamos de nosso III cérebro sapiens. Um cérebro artificial e natural simultaneamente, tecnológico e biológico ao mesmo tempo, combinação dos cérebros biológicos com as máquinas, aparato externo, coletivo, democrático, destinado à otimização de todas as ações de todos os indivíduos da espécie, empregando nisso a totalidade do conhecimento humano. Para ela fazer isso, é necessário organizar-se a Internet adequadamente. O que está por ser feito ainda. Um bom espaço para essa organização é a ‘nuvem’, dentro da qual podemos providenciar a instalação dos elementos e da fisiologia básicos desse cérebro artificial e natural simultaneamente – mimetizando, com holismo cognitivo, nosso cérebro biológico - que irá ajudar o I e o II cérebros sapiens, o genoma e o cérebro biológico individual, insuficientes hoje para lidar com a enorme massa de conhecimentos e informações desenvolvidos pela civilização científico-tecnológica. Vejamos alguns dos passos que deverão compor, dentro da Internet, esse III

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cérebro sapiens. Antes de mais nada completar a estocagem, já iniciada, da totalidade do conhecimento humano. Depois classificar tipologicamente as ações humanas, para se distribuir a elas a totalidade do conhecimento útil à otimização de cada uma dessas ações. Classificando-se o conhecimento adequadamente para se fazer isso. Procedimentos que se inserem no terreno das aplicações de uma ciência do comportamento pós-revolução comunicacional-informacional. E que, portanto, convém como acatamento do aconselhamento de C.G.Jung sobre o papel de definição crítica desempenhado pelas tipologias dentro da psicologia, ou ciência do comportamento.

15 Com essas duas coisas básicas feitas, a Internet poderá ser usada para o cruzamento permanente, vinte e quatro horas por dia, da totalidade do conhecimento humano com a totalidade da ação humana concreta. Cruzamento que os nossos cérebros individuais isolados não conseguem organizar adequadamente. Vide os problemas gerais que afligem o mundo por causa disso: Danos ecológicos, pobreza, violência, devastação dos recursos naturais, criminalidade, etc. Todos eles problemas cuja solução parte da organização e distribuição das informações que condicionariam a sua correção. Pois - da mesma forma como os resultados da medicina, dentro da perseguição de sua utopia direcional – a solução de tais problemas parte também da organização e distribuição das informações necessárias para o sucesso, relativo, aproximativo, do combate à desordem comportamental, totalmente dependente de conhecimento, de informação. À luz de tudo que dissemos acima, fica muito claro o papel gigantesco que a Internet pode ter dentro da utopia direcional fundamental da natureza sapiens: O controle, o uso, pelo cérebro biológico individual da totalidade do conhecimento humano. Para se chegar ali - organizar-se com a Internet esse III cérebro sapiens - o que está faltando é a concepção correta de sua fisiologia. Que, em nossa opinião, deve mimetizar rigorosamente a fisiologia do cérebro biológico individual, mas contendo nessa mimetização a totalidade do conhecimento humano, e objetivando a otimização da totalidade da ação humana, de todos os indivíduos da espécie. Os conceitos colocados acima são simples - ou até mesmo simplistas - mas universais. E com isso, com essa simplicidade e universalismo, se constituem, como pediu Karl Popper, em princípios altamente testáveis para a implantação de uma nova área de ciência, que vamos chamar de ciência do comportamento pós-revolução comunicacional-informacional. Que, dentro desse raciocínio apriorístico deverá facultar o empirismo experimental do cruzamento ininterrupto da totalidade do conhecimento humano com a totalidade das ações concretas da espécie humana, para, com base nisso, se definir o caminho de otimização de todas as ações humanas. Visando diminuir o máximo possível os pecados ecológicos, a pobreza, a criminalidade, o desperdício dos recursos naturais, a violência, todos os males que afligem a humanidade nos dias de hoje. Com maior intensidade até mesmo, hoje, porque somos agora cada vez mais dependentes, em nosso comportamento, da utilização difícil, e na maioria das vezes errada, que fazemos da gigantesca massa de conhecimento, de informação, acumulada pela civilização científico- tecnológica. Massa gigantesca que os nossos cérebro I e II, o genoma e o cérebro biológico individual, se tornaram incapazes de controlar organizadamente. Necessitando da ajuda desse III cérebro sapiens para fazer isso. Circunstância que já nos permite chamar a informação de o novo oxigênio da evolução sapiens. Demandando a estruturação de um novo cérebro, mais poderosos, para ajudar o genoma e o cérebro biológico individual a

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desempenhar a tarefa. Novo cérebro sapiens, artificial-natural, mais poderoso, que é tão indispensável como foi a criação de um novo tipo de pulmão quando passamos, em nossos antepassados, da respiração do oxigênio da água para a respiração do oxigênio terrestre. Sem esse novo cérebro artificial-natural poderemos ser até mesmo destruídos pelo que conseguimos produzir até aqui: A vasta quantidade de conhecimentos, de informação, fragmentados, sem a organização eficiente e integrada da sua utilização. A entropia da civilização científico-tecnológica. Especialmente em termos holísticos, isto é, envolvendo todo o conhecimento e todas as ações de todos os indivíduos, orgânica, articulada, sistemicamente. Pois até mesmo as especializações científico-tecnológicas e suas iniciativas isoladas, que o III cérebro 16sapiens poderia articular mais organicamente, poderão se constituir no mecanismo para o desastre prognosticado por vários dos grandes pensadores do assunto. Com as especializações podemos estar nos encaminhando, como certas espécies animais – exemplo, o titanossauro, que não foi salvo pelo seu chifre - para uma obsoletização orgânica. A desordem produzida pelas especializações desarticuladas é tão grande, que vários pensadores do problema do comportamento humano já advertiram sobre os riscos de uma extinção da espécie. Com a energia nuclear, basta uma desarticulação comportamental incidental a nível de governos. O uso da Internet para montagem desse III cérebro sapiens nos parece imprescindível ao prosseguimento de nossa evolução sapiens, cada vez mais artificializada, e dependente de informação cada vez mais complexa, o nosso novo oxigênio dentro da evolução sapiens.

IB2 - A REVOLUÇÃO COMUNICACIONAL-INFORMACIONAL (RCI) ESTÁ DANDO APENAS OS SEUS PRIMEIROS PASSOS.

Podemos considerar a Internet a roda inventada pelo século XX. E ela está dando apenas os seus primeiros passos. Quais foram os primeiros passos, e quanto tempo levou para a verdadeira roda chegar às suas conseqüências mais sofisticadas, aos pneus, às engrenagens industriais, à turbina hidroelétrica, à Ferrari Formula-1? Muito, muito tempo. O primeiro passo de uso da verdadeira roda foi, provavelmente, para o filho do inventor brincar de rolar colina abaixo. A evolução do uso da Internet até à sua sofisticação mais alta poderá ser mais rápida do que a da roda, pois estamos lidando com informação, com conhecimento, e já temos a experiência da evolução do uso da verdadeira roda. Mas por enquanto estamos usando a Internet, massificadamente, para entretenimento e consumismo, que é entretenimento também. E, com isso, estamos fazendo com ela mais ou menos a mesma coisa que foi feita com a roda no primeiro momento de sua invenção, brincando de rolar colina abaixo. A primeira revolução industrial utilizou as máquinas para substituir os músculos humanos. Enquanto a segunda revolução industrial, da automação e dos primeiros passos dos computadores, sonhou substituir totalmente pelas máquinas o cérebro humano. Levando isso até o sonho pueril da criação dos robôs humanóides completos, que substituiriam totalmente com seu cérebro o cérebro humano. Um entretenimento pueril. Realizável apenas no campo das mais simples e mais rotineiras decisões. O pano de fundo

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histórico dessas revoluções tecnológicas é muito claro. A primeira revolução industrial visou a desvalorização do braço humano pelas máquinas. A segunda revolução tecnológica buscou a desvalorização do cérebro humano, pelas máquinas. Isso é um tremendo erro de direcionamento, quando as tecnologias da informática e das comunicações modernas podem buscar a ampliação dos poderes dos cérebros biológicos individuais. A Internet, com seu controle remoto – que poderia fazer isso - foi e é cogitada frequentemente para apenas ter um papel mediador nessas robotizações desvalorizadoras do cérebro humano. Podemos dizer que estamos agora na terceira revolução industrial, fundamentada em comunicação e informática. O principal uso da Internet nessa terceira revolução industrial, ainda desvalorizador do cérebro humano, é para promover e vender, em massa, o entretenimento e o consumo, que é entretenimento também. Esse

17esforço de robotização da vontade humana - o condicionamento do consumo de produtos e entretenimentos, via publicidade - tem sua robotização das vontades dos indivíduos promovida por vastos programas de vendas e de alienação social em entretenimentos a maior parte deles vendidos também. A Internet, portanto, dentro dessa terceira revolução industrial, está, em seus passos iniciais, envolvida ainda com a robotização do cérebro humano. Um novo tipo de robotização, menos mecânica e mais da vontade dos indivíduos, que ela, a Internet, busca controlar, comercialmente. Dentro, quase exclusivamente, da promoção do entretenimento e do consumismo, que é entretenimento também. Sem se preocupar com o problema mais fundamental do nosso cérebro, que é a escolha livre, sem controles, inclusive publicitário, de nossas ações de vida e de trabalho. E depois a otimização, via conhecimento, via informação, da ação escolhida. À organização minuciosa desse processo - de escolha, livre inclusive de publicidade, da ação do indivíduo, seguida da super-informação para a concretização otimizada da ação escolhida - podemos chamar, então, de a quarta revolução industrial, de fundamento comunicacional-informacional. Onde não só o sistema de produção humano, mas também o ‘viver’ sapiens estarão se encaminhando cada vez mais para se estruturar à base do consumo, completo e livre, do novo tipo de oxigênio que a evolução sapiens precisa respirar: informação. Oxigênio integral que precisa ser distribuído automática e ininterruptamente, por um sistema similar aos serviços de distribuição de água e de energia elétrica. Dado o volume, a complexidade e a sofisticação das informações e conhecimentos produzidos pela civilização científico-tecnológica. Já está mais do que na hora de darmos os primeiros passos de passagem para dentro dessa quarta revolução industrial, comunicacional-informacional, que terá como seu grande instrumento a estruturação de nosso III cérebro sapiens, destinado a capacitar os indivíduos a respirar, com o máximo conforto e competência possível, o novo oxigênio da evolução sapiens, a informação. Cultivando, para poder fazer isso eficientemente, a utopia direcional de se tentar colocar à disposição do cérebro individual a totalidade do conhecimento, da informação, humanos. Se não apontarmos a Internet nessa direção, continuaremos, mais ou menos, brincando de rolar colina abaixo a roda inventada pelo século XX. Ou, no máximo, dentro do espírito mecânico da segunda revolução industrial, estaremos inventando apenas o primeiro carro de bois construído com rodas. Mas longe ainda, muito longe, de construir uma Ferrari Fórmula-1. Que só virá à luz, no caso da Internet, quando começarmos a construir o nosso III cérebro sapiens. Destinado não a robotizar mecanicamente os

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indivíduos, como servo-mecanismos de máquinas, ou, via publicidade, dentro de programas comercializados de entretenimento e consumismo.Mas partindo para a busca do fortalecimento de nossa competência sapiens, com a ajuda das máquinas fazendo aquilo que pode fazer, e com o nosso cérebro continuando a desenvolver aquilo que é totalmente impossível às máquinas fazer. Como, por exemplo, criar a primeira máquina que irá reproduzir a si mesma depois mecanicamente. Em outras palavras, e em termos bem simples e universais de definição sistêmica: Precisamos colocar a Internet a serviço de ampliar os potenciais de nossos cérebros biológicos individuais. Com isso, ingressaremos, com seriedade, na quarta revolução industrial. Que capacitará todos os indivíduos a desenvolver carreiras de vida e de trabalho totalmente livres – escolhidas a partir do controle da totalidade do conhecimento humano - altamente personalizadas, como nossas impressões digitais, e o mais holísticas – isto é, o mais sapiens - possível. Brincando de rolar a Internet colina abaixo, estamos muito longe ainda do seu objetivo final organizado, que seria o de levar a todas as ações humanas toda a 18informação humana disponível que fosse útil à otimização de cada uma dessas ações. Estamos falando da principal utopia direcional da natureza sapiens, a serviço da qual tem que ser colocada a Internet, programada como um III cérebro sapiens, para produzir esse serviço de otimização de todas as nossas ações, de forma automática e ininterrupta. Da forma como procedem os sistemas de distribuição de água e de energia elétrica. O aperfeiçoamento da ação humana, de todos os indivíduos - da decisão à concretização da ação – é o alvo maior que tem que ser atingido pela Internet, se ela quiser preencher totalmente a sua funcionalidade, comprometida, pela sua natureza técnica, informacional, com a aceleração de nossa evolução sapiens. Quando tivermos colocado a Internet a serviço de otimizar todas as ações de todos os indivíduos, teremos atingido o objetivo final maior da tecnologia. E o modo de fazer isso é compor com máquinas e cérebros um sistema que harmonize o que a máquina tem a fazer com o que o cérebro tem a fazer de insubstituível pela máquina. Com o resultado final servindo de apoio ao cérebro para ampliar os seus poderes de escolha, decisão, e operacionalização da ação. O que será feito se desenharmos com essa conjunção adequada e harmoniosa entre máquinas e cérebros, um cérebro tecnológico e natural simultaneamente, que amplie as potencialidades de nosso cérebro biológico individual. Sem nos robotizar no trabalho, sob controle da automação, como foi feito na segunda revolução industrial, e está sendo feito agora, na terceira revolução industrial-informacional, via controle publicitário, no entretenimento e no consumismo, vendidos sob condições robotizantes, com ajuda da Internet. Quando desenharmos o sistema que cruzará automática e permanentemente a totalidade do conhecimento humano com a totalidade da ação humana, visando a otimização desta última, teremos chegado ao III cérebro sapiens e à quarta revolução industrial, que terá assumido a responsabilidade da otimização, com apoio em tecnologia, das capacidades naturais de nosso cérebro biológico individual. Nos impulsionando, assim, adiante, de forma vigorosa, pelo caminho da nossa evolução sapiens, que não dispensa mais o artifício. Artifício que foi transformando a informação no novo oxigênio que tem que ser respirado pela natureza sapiens, sob pena de risco de extinção. Informação, conhecimento, que, para se conseguir isso, esse objetivo utópico-direcional, não pode mais ser objeto de propriedade, como disse Norbert Wiener.

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Já está na hora de deixarmos para trás os primeiros passos de nosso uso da Internet, e começarmos o caminho na direção de seu alvo superior, o apoio, o fortalecimento de nossa própria atividade cerebral, perfeitamente possível de ser mantida acima de quaisquer desempenhos de máquinas que tentem a nossa robotização. Se não nos alienarmos em relação ao problema do nosso próprio desenvolvimento sapiens, como fazemos quando sonhamos com robôs que substituam completamente o nosso cérebro. O que só será possível por meio da nossa robotização, da robotização do nosso cérebro. Como fizeram as máquinas da segunda revolução industrial, e como fazem as campanhas publicitárias internetizadas da terceira revolução industrial. Passemos o mais rápido possível para a quarta revolução industrial, cibernética, produzida dentro da Internet, buscando a libertação e o crescimento sapiens de nossos cérebros biológicos individuais. Em direção à utopia direcional mais fundamental da natureza sapiens. A de colocar sob o controle de nosso cérebro individual, com ajuda das máquinas, a totalidade do conhecimento humano.

19XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX II – INFORMAÇÃO NO UNIVERSO. E COMO DIREITO SAPIENS.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxIIA - DA PROTO-INFORMAÇÃO À INFORMAÇÃO, FUNDAMENTAL PARA A NATUREZA SAPIENS. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

IIA1 - BÁSICOS NO UNIVERSO: ENERGIA E INFORMAÇÃO. ESTA, O MAIS FUNDAMENTAL DIREITO SAPIENS.

A física quântica definiu que tudo no universo se movimenta - com direção necessariamente – à base de energia e informação. Wiener: “Nas formas de física que dependem diretamente da obra de Newton, a informação que contribui para o progresso, e que é dirigida contra o aumento de entropia, pode ser conduzida por quantidades de energia extremamente pequenas, ou talvez mesmo por energia nenhuma. Tal concepção foi alterada, no século atual, pela inovação da física conhecida como teoria dos quanta. A teoria dos quanta levou, para os nossos propósitos, a uma nova associação de energia e informação. (...) A transferência da informação não pode ocorrer sem certo dispêndio de energia, de modo que não existe nítida delimitação entre acoplamento energético e acoplamento informacional.”

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O universalismo do direcionamento – isto é, da informação que direciona - da mensagem, dentro da organização que possa existir no universo, foi enfatizado também pela nova ciência da cibernética, assim denominada por Norbert Wiener em 1947. Sobre a entropia geral e as eventuais organizações de natureza cibernética, do universo, Wiener tem a dizer: “No universo de Gibbs, a ordem é o menos provável e o caos o mais provável. Todavia, enquanto o universo como um todo, se de fato existe um universo íntegro, tende a deteriorar-se, existem enclaves locais cuja direção parece ser o oposto à do universo em geral e nos quais há uma tendência limitada e temporária ao incremento da organização. A vida encontra seu habitat em alguns desses enclaves. Foi com esse ponto de vista em seu âmago que a nova ciência da Cibernética principiou a desenvolver-se. (...) A metáfora a que devoto este capítulo é aquela em que o organismo é visto como mensagem. O organismo se opõe ao caos, à desintegração, à morte, da mesma maneira como a mensagem se opõe ao ruído. (...) Até recentemente, não havia palavra específica para designar este complexo de idéias, e, para abarcar todo o campo com um único termo, vi-me forçado a criar uma . Daí ‘cibernética’, que derivei da palavra grega ‘kubernetes’, ou seja, ‘piloto’.” Isto é, o direcionador. Estamos, portanto, na cibernética, tratando também de ‘direcionamento’, que é sempre informacional – ou proto-informacional – dentro do universo como um todo. A proposição da cibernética reforçando, com a física quântica, portanto, a significação e a importância do elemento direcional dentro do universo. Inclusive para a natureza sapiens, naturalmente.

20 Estamos acrescentando às considerações da física quântica e da cibernética, a proposição taxonômica acima utilizada, de ‘proto-informação’, para dividir o fenômeno em duas grandes áreas. Proto-informação seria aquilo que direciona sem ser informação propriamente dita. O mecanismo direcionador inconsciente que predomina no universo material, e em certos estágios mais elementares do fenômeno vida. Informação sendo a terminologia mais aplicável à consciência da vida, especialmente ao nível sapiens. Em síntese, diríamos que tudo no universo tem direção, definida por informação, ou por aquilo que, mesmo não sendo informação no sentido sapiens da palavra, faz a mesma coisa que a informação faz: Direciona. E que chamamos de proto-informação. É uma proposta taxonômica de definição que inclui a evolução de todos os direcionamentos dentro do universo, da proto-informação para a informação. O que deixa implícito que o direcionamento vital, incluído o sapiens, tem orígem no direcionamento material do universo, como já disse Leibniz. Unidade universal, esse direcionamento, que a filosofia oriental, segundo Jung, citando Tao Te Ching, o clássico de Lao-Tzu, confirma, denominando esse direcionamento universal de ‘caminho’: “Tao foi o filho de alguma outra coisa? Nós não podemos dizer. Mas como uma imagem sem substância ele existiu antes do céu e da terra, sem som, sem substância, dependente de nada, imutável, pervadindo tudo, sem falhar. A gente pode pensar nisso como a mãe de todas as coisas debaixo do céu. Seu verdadeiro nome nós não sabemos. ‘Caminho’ é o nome que nós damos a ela.” Assim sendo, com o direcionamento pela proto-informação ou pela informação decidindo os rumos de todas as coisas, o ‘caminho’ de todas as coisas, estamos lidando ao falar em ‘informação’ com o mais fundamental dos mecanismos no direcionamento da evolução e da existência dentro do viver sapiens. Estamos, portanto, lidando também com o mais fundamental dos direitos da natureza sapiens. Direito

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biológico-evolucionista, muito mais fundamental do que os direitos humanos genéricos arrolados pela revolução francesa. Pois se trata do próprio direito modelador da funcionalidade e da evolução da natureza sapiens dentro do universo.

IIA2 - CAUSAS-E-EFEITOS: DOS DIRECIONAMENTOS DA MATÉRIA AOS CONHECIMENTOS, NA MENTE.

Tudo no universo é movimento, é causa-e-efeito. Spinosa e Schopenhauer nos garantem que é assim. Spinosa: “Proposição 36. Nada existe de cuja natureza um efeito não se segue.” Schopenhauer: “Assim causa e efeito são a essência inteira e a natureza da matéria, seu ser é o seu agir.” E Kant nos define a ligação entre esse direcionamento universal das causas para os efeitos e o conhecimento: “Que tudo que acontece tem uma causa, é uma lei da natureza. Apenas em virtude dessa lei as aparências podem constituir uma natureza e se tornarem objeto de experiência, esta é uma lei do conhecimento da qual nenhum afastamento pode ser permitido.” A física quântica, complementando o que dizem Spinosa, Schopenhauer e Kant, afirma que tudo no universo é basicamente condicionado por energia e informação. Informação sendo o elemento do direcionamento, das causas para os efeitos.

21 É muito importante para a natureza sapiens e seus direitos definir-se com a máxima clareza possível o arco de evolução que leva das causas-e-efeitos da matéria até às causas-e-efeitos do comportamento sapiens, que se origina da matéria, como disse Leibniz. Pois que é direcionado pelo conhecimento das causas-e-efeitos do universo. O conhecimento produzido pela lógica das causas-e-efeitos, como disse Kant, não foi inventado repentinamente. Evoluiu, numa transição lenta, do mundo material para o mundo vital, passando por vários estágios de inconsciência e depois de consciência. Schopenhauer nos dá alguns exemplos intermediários disso: “O pássaro com um ano de idade não tem noção dos ovos para os quais ele constrói um ninho. A jovem aranha não tem idéia da presa para a qual ela tece uma teia.” Já a estética e cores das flores são uma informação para os insetos sobre a presença de alimento, induzindo-os ao mesmo tempo à fecundação das plantas. Proto-informação biológica e depois informação, até o nível sapiens. Abrangendo, essas transições, estágios vitais vegetativos, animais, e finalmente atingido a ampla consciência sapiens. Locke e Schopenhauer buscam nos descrever isso. Locke: “Essa faculdade de percepção, parece para mim ser aquela, a qual coloca a distinção entre o reino animal, e as partes inferiores da natureza. Pois conquanto os vegetais tenham, muitos deles, alguns graus de movimento, e quando das diferentes aplicações de outros corpos a eles, muito vividamente alteram suas figuras e movimento, e assim têm obtido o nome de plantas sensitivas, a partir de um movimento, que tem alguma semelhança com aquilo que os animais seguem após a sensação: Ainda assim, eu suponho, é tudo mero mecanismo, e não produzido de outra forma, do que o girar de uma espiga de centeio selvagem pela insinuação de partículas de umidade, ou o encurtar de uma fibra pela afusão de água. Tudo o quê, é feito sem qualquer sensação no sujeito, ou ter ou receber quaisquer idéias.

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Percepção, eu acredito existe, em algum grau, em todos os tipos de animais, ainda que em alguns possivelmente, as avenidas, providas pela natureza para a recepção de sensações, são tão poucas, e a percepção com que elas são recebidas, tão obscura e embotada, que fica muito longe da rapidez e variedade da sensação que existe em outros animais.” De maneira básica, Schopenhauer concorda com Locke nesse sentido: “Segue-se do que tem sido dito que todos os animais, mesmo os mais imperfeitos, têm conhecimento, pois eles todos conhecem objetos, e esse conhecimento como motivo determina seus movimentos. O conhecimento é o mesmo em todos os animais e em todos os homens. Em toda parte ele tem a mesma simples forma, quer dizer, conhecimento de causalidade, transição de efeito para causa e de causa para efeito, e nada mais. Mas o grau de sua agudeza e a extensão de sua esfera de conhecimento variam enormemente, com muitas diferentes gradações, dos mais baixos graus, que conhecem apenas a relação causal entre o objeto imediato e os indiretos, e daí é apenas suficiente para perceber a causa, com o objeto no espaço passando das impressões experimentadas pelo corpo para a causa dessas impressões, até os mais altos graus do conhecimento das conexões de causas entre objetos meramente indiretos. Tal conhecimento estende-se até o conhecimento das mais complicadas concatenações de causas-e-efeitos na natureza.” Isto no ser sapiens, naturalmente. Essa percepção, ou aprendizagem, no mundo animal, que pode ser estendida também sob essa forma mais elementar ao mundo humano. Pois a maior parte do comportamento humano não vai além do condicionamento por meio de informações imediatas sobre as circunstâncias do meio ambiente. Condicionamento, elementar, que foi muito bem definido por Norbert Wiener quando ele diz que é a intensidade de bombardeio informacional por meio de um mecanismo de armazenagem e comunicação, o que determina a escolha da ação. A natureza humana tendo sobreposto 22a esse mecanismo elementar sua condição superior sapiens, que funciona à base de representações cada vez mais complexas do meio. Condicionamento mais elementar de causa e efeito, em termos de aprendizagem, que é assim superado na natureza humana por estágios muito mais elevados de informação, de conhecimento, embasando decisões da vontade. Mas tudo se constituindo num arco de evolução onde as causas-e-efeitos, menos complexos ou mais complexos, explicam a criação do mecanismo de conhecimento e sua transição para estágios cada vez mais elevados dentro da natureza sapiens. É no homem que a informação se torna mais plena, mais sofisticada, mais clara. Mas dentro, também, do arco de evolução partindo das causas-e-efeitos mais básicos e materiais do universo, para as causas-e-efeitos dos complexos - em termos de informação envolvida - comportamentos da natureza sapiens. Em síntese, podemos dizer que a mente surge da matéria, porque a matéria contém a essência da mente, mecanismos direcionadores à base de proto-informação ou de informação. É a síntese – dentro de uma nova taxonomia - que pode ser deduzida do que disseram vários grandes pensadores do assunto. As formas mais primitivas do misticismo teriam, algumas delas, afirmado que o que está no espírito é a mesma coisa que aquilo que está na matéria. Essa posição está agora sendo desenvolvida também, de certa forma, pela física quântica moderna. Schopenhauer: “Ela (a ciência) tenta encontrar o primeiro e simples estado da matéria, e então desenvolver todos os outros, a partir dele, ascendendo do mero mecanismo para a química, para a polaridade, para os reinos vegetal e animal. Supondo-se

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que isso fosse bem sucedido, o último elo da corrente seria a sensibilidade animal, quer dizer o conhecimento. O qual, em conseqüência, iria então aparecer como uma mera modificação da matéria, um estado da matéria produzido pela causalidade.” Hume: “E como a constante conjunção dos objetos constitui a própria essência da causa-e-efeito, a matéria e o movimento podem frequentemente ser considerados como as causas do pensamento, até onde nós temos qualquer noção dessa relação.” A natureza sapiens só se explica ligando-se corpo, mente e mundo num fenômeno único, integrado. E em vez de construir um muro entre as qualidades da vida e as da física, nós temos que erigir, com a ciência, um muro para rodear as duas coisas, a matéria e a vida, situando-se ambas as coisas dentro dele, articuladas provavelmente pelos fenômenos da informação e da proto-informação. Essa derivação, dentro do arco que vai da matéria à natureza da mente sapiens, e sua sofisticada cognição, mostra o quão importante é a informação, o conhecimento, para a natureza sapiens do homem. Pois dada essa orígem do conhecimento, ele está permanentemente ligado, simultaneamente, à orígem e ao destino material e psicológico da espécie humana. É o mecanismo mais fundamental que existe dentro da natureza sapiens. E por isso tudo, negar informação – qualquer tipo de informação, de conhecimento – ao ser humano, ao ser sapiens, é o pior dos crimes que pode ser cometido contra a natureza sapiens. Pois se trata de um direito biológico-evolucionista muito mais fundamental do que os direitos humanos genéricos definidos pela revolução francesa. E a gravidade desse crime está crescendo hoje rapidamente, na medida da velocidade com que evolui a civilização científico-tecnológica, produtora - a partir do já disponível - de uma vasta massa, complexa, sofisticada, de conhecimento, de informação, que vai se transformando cada vez mais no novo oxigênio que a natureza sapiens precisa respirar

23para sobreviver. Necessitando-se, inclusive, cada vez mais, de sistemas, serviços, que facilitem o uso pelo indivíduo de toda essa massa de conhecimentos acumulada. Por tudo isso, abolir a propriedade do conhecimento, da informação, para se organizar tais sistemas, tais serviços, é providência decisiva contra o risco de auto-extinção da espécie. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx II-B - VONTADE SAPIENSxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxIIB1 - VONTADE SAPIENS: SÓ DE AÇÃO. E ACIONADA PELO CONHECIMENTO.

Vontade sapiens é vontade de ‘viver’ sapiens. Schopenhauer: “E como o que a vontade quer é sempre a vida, justamente porque isso não é nada senão a representação daquela vontade pela representação, é imaterial e um mero pleonasmo se, em vez de simplesmente dizer ‘a vontade’ nós dizemos ‘a vontade de viver’.” Não nos custa um grande esforço da imaginação reconhecer cada vez mais nossa própria natureza interior. Ela é aquela que em nós persegue o seu fim à luz do conhecimento. Schopenhauer: “Pois pela palavra vontade, nós sempre entenderemos apenas aquele tipo dela até aqui descrito exclusivamente por esses termos, quer dizer, a vontade guiada pelo conhecimento.” O viver é todo ele composto, exclusivamente, de ações. Vontade sapiens é, portanto, vontade exclusivamente de ação. Locke concorda com Schopenhauer: “Pois aquele que voltar seus

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pensamentos para dentro sobre o que se passa em sua mente, quando ele tem vontade, verá, que a vontade de poder de volição é convergente a respeito de nada, senão nossas próprias ações. Termina lá. E não alcança mais longe. Pois o que nós temos que considerar, é que o único e adequado objeto da vontade é alguma ação nossa, e nada mais. Não produzimos nada, pelo nosso querer, senão alguma ação em nosso poder, é lá que a vontade termina, e não alcança além. (...) A determinação da vontade segue-se imediatamente ao julgamento da compreensão. Pois quando dizemos que a vontade é a faculdade comandante e superior da alma, que ela é ou não livre. Que ela determina as faculdades inferiores, que ela segue os ditados do conhecimento...” John Stuart Mill: “É o que os homens pensam que determina como eles agem.” O conhecimento de que podemos dispor para escolher a nossa ação é altamente variável, de indivíduo para indivíduo, de fase de vida para fase de vida, de situação de informação para situação de informação dentro de nossa vida. Entra aqui em questão o nível de aprendizagem pelo qual passamos na vida, a liberdade de informação de que dispomos na sociedade, que definem o espaço dentro do qual podemos exercer o tropismo da nossa escolha. Que envolve, inclusive, o conhecimento, ou desconhecimento, de processos de ação que, por desinformação, possam se constituir para nós em objetivos inatingíveis. Locke preocupou-se com isso, mas sem definir a desinformação como tal, preferindo colocar em seu lugar a taxonomia ‘inquietação’: “Pois a vontade sendo o poder de dirigir nossas faculdades operativas para alguma ação, para algum fim, não pode em nenhuma ocasião ser movida na direção do que é julgado ao tempo inatingível. A maior ‘inquietação’ presente é a espora para a ação, que é constantemente sentida, e na maior parte determina a vontade em sua escolha da ação seguinte.” Dentro de taxonomia mais moderna, podemos dizer que o inatingível, de todas as ações que a natureza humana já conseguiu alguma vez executar, é apenas aquilo a respeito do que não estamos informados adequadamente, para podermos

24desempenhar a ação. E ‘inquietação’ é então produzida pela nossa desinformação, e pelo nosso despreparo para a execução das ações. Cada vez mais agravado pela complexidade dos conhecimentos e informações desenvolvidos pela civilização científico-tecnológica. Descartes definiu isso claramente: “Nós facilmente a estendemos (a vontade) além daquilo que nós apreendemos claramente. E quando nós fazemos isso não é de admirar se acontece que nos tornemos equivocados.” Isso tudo pede o reconhecimento do fato de que o tropismo, o ‘preferir’, como diz Locke, uma ação às outras em nossa escolha, está inteiramente condicionado pelo nosso nível de informação, ou desinformação. Pois tal preferência, tal tropismo, só pode ser exercido sobre aquilo que conhecemos, deixando de fora tudo o que desconhecemos. Essa ‘inquietação’ da desinformação, e essa limitação do tropismo ocorrente dentro de nossas escolhas, são fenômenos inteiramente relacionados com o nível da informação dentro do qual operamos nossa vontade. E isso envolve aquilo que devemos e podemos chamar de liberdade sapiens. Isto é, só é totalmente livre em sua escolha da ação o indivíduo que consiga examinar a lista da totalidade das possibilidades de ação humanas. Utopia direcional, sem dúvida alguma. Mas necessária para se definir o que é inquietação e tropismo dentro do processo sapiens de escolha das nossas ações. De definição da nossa vontade, sapiens. Que só se configura dentro do ‘saber’. Sendo, por isso, denominada de ‘sapiens’. E na medida em que somos desinformados sobre todas as possibilidades de ação

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humanas, nossa vontade é, geralmente, substituída pela vontade dos outros, que acabam determinando nossas ações. E nos tornamos escravos informacionais robotizados abaixo do nível sapiens. A vontade sapiens, humana, é portanto inteiramente dependente da organização consciente e conceitual complexa da informação. Enquanto os animais agem à base percepções simples, imediatas e diretas, que vão se transformando em instintos mecânicos dentro de sua genética, o homem vive decidindo sua ação à base de representações conceituais complexas, que ele pode adquirir ou deixar de adquirir, segundo foi submetido à liberdade e aprendizagem sapiens, ou não. Schopenhauer define a diferença: “O animal tem apenas conhecimento da percepção, mas o homem através da faculdade da razão tem também representações abstratas, conceitos. (...) Com o animal uma escolha pode tomar lugar apenas entre motivos ou percepções realmente presentes. Daí essa escolha é restrita à estreita esfera de sua apreensão presente da percepção.” Já o homem elabora representações mentais abstratas do mundo cada vez mais complexas e completas, para dirigir por elas sua vontade. E sua mente se desloca com mais liberdade dentro dessas representações, ricas, complexas e mais completas, do mundo. Schopenhauer: “O homem contudo é o mais completo fenômeno da vontade, e, como foi mostrado no segundo livro, de modo a existir, esse fenômeno teve que ser iluminado por tão alto grau de conhecimento que mesmo uma perfeitamente adequada repetição da natureza interior do mundo sob a forma de representação tornou-se possível dentro dele.” A conclusão disso tudo é a de que para haver liberdade de escolha, via tropismo, para a vontade humana, é indispensável organizar-se a informação, o conhecimento, de modo a eliminar ao máximo a ‘inquietação’, isto é, a desinformação, tornando nossa vontade poderosa com relação ao seu alvo essencial, o ‘viver’ sapiens, todo ele composto exclusivamente de ações, que demandam a escolha, o tropismo livre, amplo, de nossa vontade. Fundamentado em riqueza de conhecimento. Para isso, temos que atender - via compreensão científica adequada e profunda – à natureza sapiens da cibernética dessa vontade totalmente

25dependente de informação. A decisão da vontade em termos cibernéticos, segundo Wiener, depende do seguinte mecanismo: “Não é quantidade de informação enviada que é importante para a ação, mas, antes, a quantidade de informação que, penetrando num instrumento de comunicação e armazenagem, seja o bastante para servir como o gatilho da ação.” O que faz com que a liberdade das nossas decisões de ação, da nossa vontade, esteja sujeita, além da disponibilidade de todo o conhecimento humano, a algum tipo de serviço de comunicação e armazenagem, que nos liberte da ‘inquietação’ da desinformação e nos coloque dentro do tropismo diante do holismo de nossa natureza sapiens, nos capacitando a escolher a partir, o máximo possível, de todo o conhecimento acumulado pela humanidade. Serviço que requer basicamente que se classifique a totalidade da ação, tipologicamente, e a totalidade do conhecimento aplicável a cada ação. Para se ajudar na escolha, e distribuir à ação escolhida toda a informação que possa viabilizá-la e otimizá-la. Da mesma forma como organizamos os serviços de distribuição de água e energia elétrica. O que não pode ser feito com eficiência pelo tropismo limitado das ‘buscas’ dentro dos atuais sistemas. Pois ‘só Alá’, isto é, só o sistema, ‘conhece o desconhecido’. Obviando com isso a solução para a ‘inquietação’, produzida pela desinformação, e oferecendo ao tropismo dessa escolha todas as possibilidades humanas, em termos de liberdade total de opção.

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Sem essa organização paralisaremos o crescimento da qualidade de nossa evolução sapiens, deixando de aperfeiçoar, artificialmente, como podemos fazê-lo, o nosso mecanismo de vontade, de decisão da ação. Que dentro da civilização científico-tecnológica precisa agregar à nossa natureza os artifícios conquistados no terreno da informática e das comunicações. Sem ferir, ampliando, os potenciais de nossa natureza sapiens.

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxIIC - MEIO-AMBIENTE MAIS PODEROSO DO QUE A GENÉTICA. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

IIC1 - MEIO-AMBIENTE, COM SEU BOMBARDEIO INFORMACIONAL, CADA VEZ MAIS PODEROSO DO QUE A GENÉTICA NO CONDICIONAMENTO DO COMPORTAMENTO.

A psicologia clássica, pré-freudiana, atribuia o comportamento humano totalmente a agentes interiores da mente, genéticos e psico-traumatológicos. A grande mudança de concepção veio com Pavlov, Skinner, e outros psicólogos, envolvidos com as questões dos reflexos condicionados e do behaviorismo. Skinner nos explica a mudança: “O comportamento humano ainda é comumente atribuído a agentes interiores. (...) Quase todo mundo atribui o comportamento humano a intenções, propósitos, alvos, e objetivos. (...) O mundo da mente rouba o ‘show’. O comportamento não é reconhecido como um assunto por seu próprio direito. (...) Por mais do que dois mil e quinhentos anos atenção cerrada tem sido dada à vida mental, mas apenas recentemente tem algum esforço sido feito para estudar o comportamento humano como alguma coisa mais do que um mero sub-produto.(...) Quer nós consideremos a nós próprios como explicando sentimentos ou o comportamento dito ser causado por sentimentos, nós damos muito pouca atenção às circunstâncias antecedentes. (.....) Se nós perguntarmos a alguém, ‘Porque você foi ao teatro?’ e ele

26diz, ‘Porque eu senti vontade de ir.’, nós estamos predispostos a tomar sua resposta como um tipo de explicação. Seria muito mais ao ponto saber o que aconteceu quando ele foi ao teatro no passado, o que ele ouviu ou leu a respeito da peça que ele foi ver, e que outras coisas no seu passado ou presente meio-ambientes podiam ter induzido ele a ir (como oposto a fazer alguma outra coisa), mas nós aceitamos ‘Eu senti vontade.’ como uma espécie de sumário de tudo isso e não somos prováveis de perguntar por detalhes.” Hoje não temos mais dúvidas, o bombardeio informacional por parte do meio-ambiente é mais poderoso na determinação do comportamento do que a genética e sua psicologia traumatológica. Skinner: “Foi Descartes quem primeiro sugeriu que o meio-ambiente poderia representar um papel ativo na determinação do comportamento. (...) O comportamento de uma pessoa é determinado por uma dotação genética traçável até à história evolutiva da espécie e pelas circunstâncias do meio-ambiente às quais como um indivíduo ela tem sido exposta. Nenhuma dessas visualizações pode ser provada, mas está na natureza do inquérito científico que a evidência deveria mudar em favor do segundo fator. Na medida em que aprendemos mais a respeito dos efeitos do meio-ambiente, nós

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temos menos razões para atribuir qualquer parte do comportamento humano a um agente autônomo controlador. E a segunda visualização mostra uma marcada vantagem quando nós começamos a fazer alguma coisa a respeito do comportamento.” A psicologia pós-freudiana (Pavlov, Skinner, Gerald Edelman, e outros.) definiu, não só através de sua lógica, que o bombardeio informacional por parte do meio-ambiente é mais poderoso do que a genética na modelação do comportamento. Skinner nos diz explicitamente: “A evolução cultural foi tornada possível pela evolução biológica, e ela trouxe o organismo humano para debaixo de um controle mais avassalador por parte do meio-ambiente.” Mas o conservadorismo científico ainda resiste, apoiado pelo preconceito de dignidade humana ferida, se o poder de determinação do comportamento se transferir do agente interior para as pressões do meio-ambiente. E boa parte do mundo e da psicologia ainda resistem a essa mudança fundamental de conceito. Skinner: “Quase todo mundo que está preocupado com assuntos humanos – como cientista político, filósofo, homem de letras, economista, psicólogo, lingüista, sociólogo, teólogo, antropólogo, ou psicoterapeuta – continuam a falar a respeito do comportamento humano deste modo pré-científico. (...) Qualquer evidência de que o comportamento de uma pessoa possa ser atribuído a circunstâncias externas parece ameaçar sua dignidade ou valor.” Isto é, se os problemas do comportamento não forem tratados apenas como assunto genético e psico-traumatológico. Entretanto, a mudança é, segundo Skinner, avassaladora: “Uma análise científica muda o crédito da mesma forma que a censura para o meio-ambiente, e as práticas tradicionais então não podem mais ser justificadas. Essas são mudanças avassaladoras, e aqueles que estão comprometidos com teorias e práticas tradicionais naturalmente resistem a elas.” Em conseqüência disso, a ciência do comportamento reluta em abordar a aplicação, que seria muito positiva, do controle do bombardeio informacional por parte do meio-ambiente, para com isso se otimizar o comportamento, em termos de eficiência de ação e de ética. O III cérebro sapiens, o cruzamento, vinte e quatro horas por dia, - e a análise ininterrupta desse cruzamento - da totalidade do conhecimento humano com a totalidade a ação humana, se constituiria no macro-laboratório empírico-experimental básico da ciência do comportamento pós-revolução comunicacional-

27informacional, que reconhece o poder superior do meio-ambiente em comparação com a genética. É um princípio simples, claro e holístico, como disse Popper ser necessário estabelecer-se no ponto de partida da organização de uma nova ciência. No caso, a ciência do comportamento pós-revolução comunicacional-informacional. Que tem que partir da análise completa e profunda do bombardeio informacional por parte do meio-ambiente. Laboratório que seria o macro-passo básico, inicial, para o estudo do bombardeio que precisa ser pesquisado e estudado sistematicamente, para chegarmos à nova ciência do comportamento, pós-revolução comunicacional-informacional, necessária para se prevenir o desastre comportamental global sendo condicionado, principalmente, pelos efeitos colaterais negativos das especializações científico-tecnológicas desarticuladas, e pela falta de ética alimentando os conflitos e os desastres organizacionais da sociedade. Vide ecologia e energia atômica, riscos descontrolados, rumando para a catástrofe, e os inúmeros conflitos políticos, culturais e econômicos, inquietando o mundo. Desorganização comportamental que prosseguirá até o desastre, se não usarmos as técnicas comunicacionais-informacionais modernas para ajudar os indivíduos a encontrar sucesso, dentro de condições éticas, para suas carreiras de vida e de trabalho. Condicionando-se, informacionalmente, tais carreiras

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de vida e de trabalho, para serem criativas, produtivas e éticas para com a humanidade como um todo. Dentro de pragmatismo, sim, mas humanista. A nossa evolução cultural, mergulhando na civilização científico-tecnológica, sem dúvida incrementou a força do meio-ambiente extraordinariamente. A evolução biológica trouxe a evolução cultural. Cultura é a forma da ação. A evolução cultural artificializou e tornou poderoso o meio-ambiente. A evolução biológica e cultural deixaram a espécie humana mais sensível ao seu meio-ambiente, ao criar um meio-ambiente artificial, altamente científico-tecnológico. Trouxeram o organismo humano para debaixo de um avassalador controle por parte do meio, quando tornaram esse meio inteiramente dependente de informação, o novo oxigênio da natureza sapiens. A vanguarda cultural atual é, sem dúvida, a civilização científico-tecnológica. O ambiente artificializado e tornado poderoso governa agora com mais força do que antes o comportamento. A cultura cada vez mais artificializada e mais poderosa, modela diretamente o comportamento por meio de bombardeio informacional, e indiretamente por meio da neurogênesis, da epigenética, e no longo prazo por meio da própria mutação genética. Qualquer busca de organização desse comportamento tem que partir da organização desse bombardeio. Facultada em larga escala agora pela revolução comunicacional-informacional, produzida pelo meio-ambiente modernamente artificializado e tornado poderoso. O cruzamento da totalidade do conhecimento, da informação (o novo oxigênio da evolução sapiens) humanos, com a totalidade da ação humana, visando a otimização desta, é o ponto de partida metodológico-científico para a organização positiva do condicionamento comportamental assumido pelo meio-ambiente, tornando-se agora, culturalmente, científico-tecnológico para a humanidade como um todo. Artifício tornado extraordinariamente poderoso dentro da evolução da natureza sapiens. Sem a visão orgânica das ações e das complexas informações que condicionam o meio-ambiente moderno, modelado pela civilização científico-tecnológica, não há como mudar esse meio ambiente com facilidade. Sem o que, fica difícil também remodelar o comportamento humano. Skinner: “O que deve ser mudado não é a responsabilidade do homem autônomo mas as condições, ambientais e genéticas, das quais o comportamento de uma pessoa é função.” E as duas coisas estão

28ligadas, para aperfeiçoamento no longo prazo. Que pode ser abreviado pela organização do bombardeio informacional por parte do meio-ambiente.

IIC2 – O HOMEM É MODELADO (SEU CONHECIMENTO E CÉREBRO) PELO MEIO-AMBIENTE (PELA AÇÃO) QUE ELE MODELOU.

Homem e meio-ambiente modelam-se mutuamente. Skinner: “Foi Robert Owen, de acordo com Trevelyan, quem primeiro claramente apreendeu e ensinou que o meio-ambiente constrói o caráter e que o meio-ambiente está debaixo do controle humano. (...) O homem tem grandemente mudado a si mesmo como uma pessoa no mesmo período de tempo mudando o mundo no qual ele vive.” À medida que o meio-ambiente modelado pelo homem se artificializa cada vez mais, e esse artifício cresce em poder - como é o caso da civilização científico-tecnológica que estamos estruturando – o meio-ambiente vai ficando mais poderoso que a herança

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genética do homem. Skinner: “No quadro científico uma pessoa é um membro de uma espécie modelada por contingências evolutivas de sobrevivência, desdobrando processos comportamentais que a trazem para debaixo do controle de um ambiente social o qual ela e milhões de outras como ela tem construído e mantido durante a evolução de uma cultura. A direção da relação de controle é revertida: uma pessoa não age sobre o mundo, o mundo age sobre ela. (...) O homem ele próprio pode ser controlado pelo seu meio-ambiente, mas é um meio-ambiente o qual é quase todo ele produzido por ele. O ambiente físico da maior parte das pessoas é amplamente produzido pelo homem. As superfícies sobre as quais um indivíduo caminha, as paredes que o abrigam, as roupas que ele usa, muitas das comidas que ele come, as ferramentas que ele usa, os veículos dentro dos quais ele se move por aí, a maior parte das coisas que ele escuta e olha são produtos humanos. O ambiente social é obviamente construído pelo homem – ele gera a linguagem que uma pessoa fala, os costumes que ela segue, e o comportamento que ela exibe com respeito a ética, religião, governo, economia, instituições educacionais e psicoterapêuticas que a controlam.” Meio-ambiente constituído, produzido, pelas ações do homem. Entretanto, como foi um meio-ambiente construído pelo homem, o poder criativo do homem é superior, mesmo quando o poder de modelagem da cultura artificializada é maior fora do terreno criativo. Skinner: “A evolução de uma cultura é de fato um tipo de gigantesco exercício em auto-controle. Como o indivíduo controla a si próprio manipulando o mundo no qual ele vive, assim a espécie humana tem construído um meio-ambiente no qual seus membros se comportam de um modo altamente efetivo. Erros tem sido cometidos, e nós não temos garantias de que o meio-ambiente que o homem tem construído continuará a prover ganhos que ultrapassem as perdas, mas o homem como nós o conhecemos, para melhor ou para pior, é o que o homem fez do homem. (...) Mas, as contingências agora assumem as funções uma vez atribuídas ao homem autônomo , e certas questões se levantam. Está o homem então ‘abolido’? Certamente não como uma espécie ou como um realizador individual. É o autônomo homem interior que está abolido, e isso é um passo para a frente. Mas o homem então não se torna meramente uma vitima ou observador passivo do que está acontecendo com ele? Ele é realmente controlado pelo seu meio-ambiente, mas nós devemos lembrar que é um meio-ambiente largamente de sua própria construção. A evolução de uma cultura é um gigantesco exercício de auto-controle.”

29 Cultura é a forma da ação. E uma ciência do comportamento pós-revolução comunicacional-informacional visa estudar, fazer crescer e tornar holística, em termos organizacionais, a criatividade cultural do homem, e seu controle e poder de modelagem, de mudança, do meio-ambiente, a favor de uma evolução sapiens mais racionalizada e mais integral. Norbert Wiener: “Modificamos tão radicalmente nosso meio ambiente que devemos agora modificar-nos a nós mesmos para poder viver nesse novo meio ambiente. Não mais podemos viver no antigo. O progresso não só impõe novas possibilidades para o futuro como também novas restrições.” É a cultura sapiens em evolução, eivada de poderosos artificialismo, que remodelam incessantemente nosso comportamento. Não apenas o nosso comportamento, pois que o nosso comportamento, no longo prazo, remodela o nosso próprio cérebro também. É o que nos diz Jung: “Para começar, a psiquê não é mais ‘tabula rasa’ do que é a mente propriamente (a área pensante). Naturalmente os conteúdos concretos estão faltando, mas os conteúdos potenciais são dados

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apriori pelas disposições funcionais herdadas e pré-formadas. Isto é simplesmente o produto do funcionamento do cérebro através de toda a linha ancestral, um depósito de experiências filogenéticas e tentativas de adaptação. Daí que o cérebro recém-nascido é um instrumento imensamente velho adaptado para propósitos bastante específicos, que não apenas percebe passivamente mas ativamente organiza as experiências por conta própria e força certas conclusões e julgamentos.” É o que nos dizem vários outros pensadores modernos do assunto, como Miguel Nicolelis e Gerald Edelman. A trajetória pessoal configura o cérebro. Norbert Wiener: “A individualidade biológica de um organismo parece residir numa certa continuidade de processo, e na memorização, pelo organismo, dos efeitos de seus desenvolvimentos pretéritos. Isso parece também aplicar-se ao seu desenvolvimento mental.” Sendo bom relembrar que o conhecimento, que o nosso cérebro organiza, produz, tem como único objetivo modelar as nossas ações. Em outras palavras, conhecimento e ação modelam-se mutuamente. Todo conhecimento acaba em ação e toda ação, do ser sapiens, acaba em conhecimento. Maturana e Varela: “Mas, ao examinarmos mais de perto como chegamos a conhecer esse mundo, sempre descobriremos que não podemos separar nossa história de ações – biológicas e sociais – de como ele nos parece. É algo tão óbvio e próximo de nós que fica mais difícil percebê-lo. (...) Não é possível conhecer senão o que se faz. Nosso ser humano é pois uma contínua criação humana. (...) Tudo isso pode ser condensado no aforismo: Todo fazer é conhecer e todo conhecer é fazer. (...) Não prestar atenção ao fato de que todo conhecer é fazer, não ver a identidade entre ação e conhecimento equivale a não se permitir ver que as maçãs despencam ao chão.”

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx IID - CÉREBRO E AÇÃO MODELAM-SE MUTUAMENTE, VIA INFORMAÇÃO.xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

IID1 - CONHECIMENTO E AÇÃO SAPIENS MODELAM-SE MUTUAMENTE, PRODUZINDO COMPORTAMENTO, HISTÓRIA DE VIDA E CULTURA.

30 Assim como ingerimos alimento, através de nosso estômago, e com isso produzimos nossa energia biológica, ingerimos informação através de nosso cérebro e com ela produzimos as nossas ações do viver sapiens. Norbert Wiener: “Assimilamos alimento que gera energia, alimento procedente do mundo exterior, e somos, por conseguinte, parte daquele mundo mais vasto que contém as fontes de nossa vitalidade. Mas ainda mais importante é o fato de que assimilamos também informação através de nossos órgãos sensórios e de que agimos de acordo com a informação recebida.” Como diz Descartes, estamos mergulhados num mundo que só penetra nossa mente pelos canais dos sentidos. Informação, penetrando nosso cérebro, se organiza lá dentro para direcionar a nossa vontade de ação. As informações que penetram combinam-se com as que já estão estocadas dentro de nosso cérebro e compõem representações cada vez mais complexas e mais detalhadas do mundo. Sendo que o que nos distingue dos animais é essa complexidade que

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busca reproduzir de maneira cada vez mais completa a natureza do mundo, do ambiente, que nos rodeia. Visando o processo do viver sapiens, todo ele composto de ações. As informações em nosso cérebro estão lá, portanto, para modelar as ações do nosso viver sapiens, e nada mais. Tudo que está contido no cérebro, em termos de informação ali injetada pelos sentidos, afeta, de uma forma ou de outra, as ações do portador do cérebro. Se afetar de modo positivo é conhecimento. Se não afetar de modo positivo, não é conhecimento. Conhecimento é aquilo que otimiza as ações do nosso viver sapiens. De que forma o cérebro absorve, através dos sentidos, informações, conhecimentos? Kant já respondeu a essa pergunta de forma absoluta: A partir da percepção do mecanismo de causa e efeito. Toda informação sobre a natureza do universo só se constitui em conhecimento, diz Kant, através do entendimento das causas e efeitos. A relação causa-e-efeito é uma relação de ação. A mais básica das relações de ação do universo. O conhecimento, portanto, provém, única e exclusivamente, da percepção da natureza de uma relação de ação entre causa e efeito. A conclusão geral a se tirar dessas duas coisas - de que a informação que absorvemos em nosso cérebro visa modelar a nossa ação, e de que só conseguimos absorver, como conhecimento, a relação, que é uma ação, entre causa e efeito - é de que conhecimento e ação modelam-se mutuamente, dentro do processo de viver chamado de sapiens, isto é, com a vontade de ação decidida à base de saber, de conhecimento, sobre causa-e-efeito, sobre ação. São vários os pensadores que afirmam categoricamente que conhecimento e ação estão inteiramente interligados, em termos de objetivo e de mútua construção, dentro do viver sapiens. Eisemberg e Popper nos dizem, de várias formas, que são as nossas ações e interações com os objetos o que determina o teor final da nossa observação. Maturana e Varela: “Toda interação de um organismo, toda conduta observada, pode ser avaliada por um observador como um ato cognitivo. Da mesma maneira, o viver – a conservação ininterrupta do acoplamento estrutural como ser vivo – é conhecer no âmbito do existir. Aforisticamente, viver é conhecer (viver é ação efetiva no existir como ser vivo)”. Não é possível conhecer senão o que se faz. Nosso ser humano é pois uma contínua criação humana. Maturana e Varela: “Tudo isso pode ser condensado no aforismo: Todo fazer é conhecer e todo conhecer é fazer. (...) Ao examinarmos mais de perto como chegamos a conhecer esse mundo, sempre descobriremos que não podemos separar nossa história de ações – biológicas e sociais – de como ele nos parece. É algo tão óbvio e próximo de nós que fica mais difícil percebê-lo.”

31 A mente, com sua representação do mundo (Schopenhauer), tem o seu desenvolvimento formulado pela história dos relacionamentos conhecimento-ação, e vice-versa, acumulada pela memória individual. Wiener: “A individualidade biológica de um organismo parece residir numa certa continuidade de processo, e na memorização, pelo organismo, dos efeitos de seus desenvolvimentos pretéritos. Isso parece também aplicar-se ao seu desenvolvimento mental.” Skinner: “Os dotes genéticos de uma pessoa, um produto da evolução da espécie, são ditos explicar parte do funcionamento de sua mente, e sua história pessoal o resto.” História pessoal do indivíduo, e das massas de indivíduos, que é, inclusive, a única coisa que pode explicar, ainda que no longuíssimo prazo, a própria evolução genética. Sendo que essa história pessoal, de todos os relacionamentos

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conhecimento-ação que constituem o viver do indivíduo, e da espécie, é o objeto de estudo que pode explicar as evoluções do comportamento, e da própria natureza da espécie sapiens, onde conhecimento e ação modelam-se mutuamente, de forma ininterrupta. Skinner: “A tarefa de uma análise científica é explicar como o comportamento de uma pessoa como sistema físico é relacionado com as condições sob as quais a espécie humana evolui e as condições sob as quais o indivíduo vive.” Evoluir e viver são inteiramente constituídos de ações. Que têm uma história para ser estudada. Dentro dessa história evolutiva do relacionamento, e modelação mútua, do conhecimento e da ação, as opções repetitivas que denominamos de hábitos, e que constituem as fixações culturais do processo, correspondem, no ser sapiens, ao mecanismo do instinto nos animais, e nos permitem falar de uma estocagem nas mentes individuais e na mente coletiva de padronizações cognitivas que disputam entre si, darwinianamente, o poder seletivo, para sobrevivência, dessas culturas fixadas pela história comportamental dos relacionamentos conhecimento-ação. Dentro do individuo, e dentro da sociedade que ele compartilha. Skinner: “A história pessoal do indivíduo é também frequentemente dita estar estocada dentro dele. Em lugar de ‘instinto’ leia-se ‘hábito’.” E a partir dessa história dos relacionamentos conhecimento-ação, não apenas o conhecimento é modelado dentro do indivíduo, como também acabam modelados, no médio, longo, ou longuíssimo prazos, o próprio cérebro físico e a própria estrutura genética também.

IID2 - MODELANDO-SE MUTUAMENTE, CONHECIMENTO E AÇÃO PRODUZEM, DENTRO DA HISTÓRIA DE VIDA: NEUROGÊNESIS, EPIGENÉTICA, GENÉTICA.

Além de produzir comportamento, direcionado pela representação (informação) construída dentro do cérebro pelo bombardeio informacional por parte do meio-ambiente, esse bombardeio informacional afeta a plasticidade do cérebro e produz, em diferentes prazos históricos, da inter-relação conhecimento-ação, neurogênesis, epigenética e genética. Os mecanismos informacionais que constroem a representação do conhecimento e os que constroem neurogênesis, epigenética e genética, são diferentes, mas são todos informacionais ou proto-informacionais. Se constituindo em fisiologias informacionais, ou proto-informacionais, estratificadas. Sendo que uma das grandes descobertas da neurologia moderna, que ajuda a explicar os mecanismos

32 informacionais e proto-informacionais dentro do cérebro, diz respeito à plasticidade muito maior do que se supunha do sistema neurológico. A indagação de Leibniz, quando comparou o funcionamento do cérebro ao funcionamento de um moinho, encontra hoje uma resposta sistêmica na explicação do que seja informação e do que seja proto-informação especialmente. Descreveu Leibniz, em sua indagação metafísica: “Suponha que existisse uma máquina construída de maneira a produzir o pensamento, o sentimento, a percepção, nós poderíamos imaginá-la aumentada em tamanho enquanto retendo as mesmas proporções, de maneira que a gente pudesse entrar como a gente poderia fazer em um moinho. Ao ir lá dentro nós iríamos apenas ver as partes agindo umas sobre as outras, nós não veríamos nada que fosse explicar uma

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percepção. A explicação da percepção deve por isso ser buscada em uma substância simples, e não em um composto ou em uma máquina.” A resposta: Quando uma roda da engrenagem do moinho está pressionando outra roda, para movimentá-la, isso se constitui numa informação. Ou melhor, numa proto-informação, comandando a segunda roda a se movimentar também. Todo organismo, em suas interações das partes, e todo o universo em suas interações das partes, funcionam à base de energia e informação, diz a física quântica. E nós preferimos dizer que na fase pré-vital, e vital inconsciente, funcionam à base de proto-informação. Aquilo que direciona, como faz a informação, sem ser informação ainda. Informação surgindo junto com a consciência. Assim, quando o bombardeio informacional por parte do meio-ambiente produz a neurogênesis, a epigenética, e a genética no longo prazo, faz isso via proto-informação físico-química oriunda do bombardeio informacional – história de ações - por parte do meio-ambiente. O principal e mais claro achado, dentro da percepção da plasticidade do cérebro, foi a descoberta de que até idades avançadas o cérebro produz novos neurônios, a neurogênesis, a partir dos exercício de uso do cérebro. Peter Erikon e seus colegas, do Sweden’s Sanlgrenska University Hospital, descobriram que os cérebro bem para dentro dos seus sessenta e setenta anos, sofrem neurogênesis. Da mesma forma como produzimos músculos, mais rapidamente é claro, a partir dos exercícios físicos. A idéia já está amplamente divulgada, inclusive em termos jornalísticos. Já se sabe que a estrutura do cérebro é modificada quando aprendemos a tocar um instrumento ou aprendemos uma língua. Por isso não é uma ousadia tão grande dizer que treinamento mental tenha o mesmo tipo de efeitos. Essa neurogênesis, analisada por Gerald Edelman, levou-o à concepção de um darwinismo neural, processo de seleção provocado pelo bombardeio informacional por parte do meio-ambiente. Isso significando, em síntese, que a formação de circuitos entre os neurônios, - e portanto, as ligações entre percepções, sentimentos, pensamentos e comportamentos, é determinada pela experiência, não pelos traços geneticamente herdados dos pais. Edelman, em síntese, nos diz que o ‘darwinismo neural’ sustenta que a estrutura da mente não é fixada pela genética. Resulta de um processo de seleção que é análogo à seleção natural dos genes, - e por isso é ‘darwinista’, - mas não determinado por eles, pelos genes. É a história desse bombardeio informacional o que modela os neurônios. No caso do músico virtuoso essa fixação plástica dos neurônios é bastante evidente em seus efeitos. Skinner cita esse exemplo simples: “O pianista virtuoso produziria uma má performance se ele estivesse claramente consciente de seu comportamento como o estudante que está apenas aprendendo a tocar.” Isto porque os seus neurônios foram modelados, pela história de seu comportamento, e automatizados por essa modelação, para executarem a

33música automaticamente, com virtuosismo praticamente inconsciente. No longo prazo, esse bombardeio informacional modela todo o cérebro. Para pensar praticamente sozinho. O que modela as nossas ações de forma personalizada. Ações e cérebros se retro-alimentando mutuamente, se construindo, de modo incessante. A outro nível de estratificação da proto-informação, o bombardeio informacional por parte do meio-ambiente, acionando efeitos na superfície dos genes – proto-informação – produz alterações genéticas em relativamente curtos e médios prazos. Chega-se até mesmo a propor que em casos de envolvimento físico mais imediato, como seria o da cultura alimentar, processos químicos seriam claramente decisivos. Pois deve

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haver alguma comunicação entre as moléculas dos genes e os resíduos que são encontrados no fluído nutritivo. E essa comunicação deve ter uma dinâmica. Está bem dentro do espírito da física moderna supor que fenômenos de campo de uma natureza radioativa mediam a dinâmica de tal comunicação. Isto é chamado, num sentido informacional mais amplo, proto-informacional, de epigenética, ou o efeito lamarckiano. Skinner: “A evolução cultural é lamarckiana no sentido de que praticas adquiridas são transmitidas.” A partir do bombardeio informacional da experiência, da história da relação conhecimento-ação que constitui a nossa vida. Uma vez que Lamarck levantou a hipótese de o indivíduo produzir mudança genética através dos esforços pessoais de vida, de ação. Isto é, por pressão informacional do meio-ambiente contatado pela sua ação, a partir da ação dos sentidos, mas não somente. Skinner: “Mesmo que Lamarck tivesse estado certo ao supor que o indivíduo podia mudar sua estrutura genética través do esforço pessoal, nós teríamos que apontar para as circunstâncias do meio-ambiente responsáveis pelo esforço.” Dentro dessa concepção lamarckiana, a da epigenética, podemos afirmar , por exemplo, que práticas culturais intensivas e persistente são transmitidas também via genética. Nesse sentido, temos a postura lamarckiana de Marcus Pembrey, quando ele nos pergunta se as pressões do meio-ambiente e das mudanças sociais da idade industrial não tem se tornado tão poderosas que a evolução tenha começado a exigir que os nossos genes respondam mais rápido? Essa proposição é quase no mesmo sentido em que se define o darwinismo neural de Gerald Edelman. Com o meio-ambiente pressionando o organismo informacionalmente, seja os neurônios, seja os genes. No longuíssimo prazo, a evolução genética integral foi gerada pela história de vida da espécie, pelo bombardeio informacional por parte do meio composto por toda a história de vida da espécie. Skinner: “O propósito que eles exibem terá que ser procurado em sua cultura, no meio-ambiente social o qual tem induzido eles a fazer mudanças genéticas apropriadas a contingências de sobrevivência.” Mudanças genéticas apropriadas que são centralizadas na evolução física, fisiológica, do próprio cérebro sapiens. Que é um resultado, segundo Jung, da história comportamental da espécie. Mudanças genéticas que a espécie humana já está levando para o terreno da total artificialização. Para o terreno da intervenção científica na estruturação da herança genética. Intervenção científica que é toda ela constituída por um bombardeio informacional da parte das nossas ações dentro do meio-ambiente. Uma vez que as tecnologias de possibilidades de intervenção, que estão se tornando crescentes, para produzir-se um desenho genético intencionalmente, dentro da medicina, por meio de ciência, se constituem de ações humanas viabilizadas pelo nosso conhecimento. As retro-alimentações mútuas, conhecimento-ação, nesse caso, buscando a aceleração

34artificial ilimitada de nossa reestruturação genética, por via e em benefício de nossa evolução sapiens. Considerando-se tudo que foi dito acima, sobre o poder do bombardeio informacional por parte do meio, não fica difícil perceber-se a importância do controle positivo desse bombardeio, por meio do III cérebro sapiens, o cruzamento permanente da totalidade do conhecimento com a totalidade da ação humanos, para se pesquisar e estudar os caminhos para otimização de todas as ações de todos os indivíduos.

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III - CONHECIMENTO

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xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx IIIA – CONHECIMENTO: O OTIMIZADOR DA AÇÃO.xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

IIIA1 - CONHECIMENTO: A INFORMAÇÃO QUE OTIMIZA A AÇÃO SAPIENS.

David Bohm, em entrevista sobre o paradigma holográfico, sintetizou com objetividade simples o processo de confirmação do verdadeiro conhecimento, dizendo que o conhecimento é uma proposição que, falando de uma maneira geral, será um guia correto para a ação. Isto é, ele é confirmado graças ao seu funcionamento correto, por ser testado repetidas vezes face à realidade. Spinosa diz que o conhecimento, por meio do qual a nossa vontade escolhe as ações que vão compor o nosso viver sapiens, e as otimiza, visa criar e aumentar o poder de nossas ações sapiens: “O homem faz tudo por um fim, a saber, por aquilo que é proveitoso para ele. (...) A mente se esforça tanto quanto possível para imaginar aquelas coisas que aumentam ou auxiliam o poder de ação do corpo. (...) Mas o esforço da mente ou poder de pensar é igual e corresponde ao esforço do corpo ou poder de agir. (...) Consequentemente, desde que a mente imagine aquelas coisas que aumentam ou auxiliam o poder de ação do nosso corpo, até aí é o corpo afetado de um modo que aumenta ou auxilia aquele poder, e consequentemente até aí o poder de pensamento da mente é aumentado ou auxiliado; por isso a gente se esforça tanto quanto possível para imaginar essas coisas.” Toda informação que direcionar, condicionar e otimizar ação pode e deve ser chamada de conhecimento. Poder de ação do corpo entendido como o nosso processo de viver. A informação que não fizer isso, não pode ser chamada de conhecimento. Conhecimento sendo apenas aquilo que gera a nossa ação efetiva no meio. Estando em nossas mãos buscar esse tipo de informação, que possa ser chamado de ‘conhecimento’.

35É o que nos dizem também Maturana e Varela: “Se refletirmos sobre os critérios que utilizamos para dizer que alguém tem conhecimento, veremos que o que buscamos é uma ação efetiva no domínio em que se espera uma resposta. Ou seja, esperamos uma conduta efetiva em algum contexto que delimitamos ao fazer a pergunta.” O conhecer só se define com o sucesso da ação dentro do viver sapiens. É a construção da existência do ser sapiens o que define o conhecimento. A sobrevivência, a qualidade de vida a felicidade dentro do

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ambiente da vida, é o objetivo que define ou não a realidade do conhecimento. Os produtos da mente que não criam ou aumentam o poder de nossas ações sapiens práticas não são conhecimento. John Stuart Mill afirma que sem aplicação à prática permanecemos no reino da metafísica: “O teste do pensamento real e vigoroso, o pensamento que assegura a verdade em vez de sonhar sonhos, é a aplicação bem sucedida à prática. Quando esse propósito não existe, para dar caráter definitivo, precisão, e um significado inteligível ao pensamento, isso não gera nada melhor do que a metafísica mística dos pitagorianos e dos vedas.” O conhecimento, portanto, é apenas aquilo que gera a nossa ação efetiva no meio. Estando em nossas mãos buscar esse tipo de informação, que possa ser chamado de ‘conhecimento’. Conhecimento então, nessas circunstâncias, não passa de uma hipótese até o momento em que consegue acionar e otimizar alguma ação positiva nossa concretamente. Assim, enquanto a informação abstraída da realidade está sendo organizada para o objetivo de ser usada no direcionamento, execução e otimização da ação sapiens, ela não passa de uma suposição de representação da realidade. Schopenhauer, Locke e Karl Popper são bastante claros nesse sentido. Schopenhauer: “Conhecimento sistemático sob a guia do princípio da razão suficiente, nunca pode alcançar um alvo final ou dar uma inteiramente satisfatória explicação. Ele nunca almeja à natureza mais interior do mundo. Ele nunca pode chegar além da representação. Ao contrário, ele realmente não nos diz nada mais do que a relação de uma representação com outra. (...) Agora Platão diz: ‘As coisas deste mundo, percebidas pelos nossos sentidos, não tem um ser verdadeiro de todo. Elas estão sempre se tornando, mas elas nunca são. Elas tem apenas um ser relativo. Elas estão juntas apenas dentro e através de suas relações umas com as outras. Daí toda a existência delas pode apenas também ser chamada um não-ser. Consequentemente, elas são igualmente não objetos de um real conhecimento, pois pode haver tal conhecimento apenas do que existe dentro e por si mesmo, e sempre do mesmo modo. Ao contrário, elas são apenas o objeto de uma opinião, de um modo de pensar, acarretado pela sensação.” Locke: “A verdade parece para mim, no próprio significado da palavra, significar nada senão o juntar ou separar de sinais, segundo as coisas significadas por eles, concordam ou discordam umas com as outras. O juntar ou separar de sinais aqui significado é o que por outro nome, nós chamamos proposição. De maneira que a verdade propriamente pertence apenas às proposições, das quais há duas espécies, viz., mental e verbal. Como há dois tipos de sinais comumente usados, viz., idéias e palavras. (...) Para formar uma clara noção da verdade, é necessário considerar a verdade do pensamento e a verdade das palavras, distintamente uma da outra, mas ainda assim é muito difícil tratá-las separadamente. Porque é inevitável, ao tratar de proposições mentais, fazer uso de palavras, e então de exemplos dados de proposições mentais, que cessam imediatamente de ser meramente mentais, e se tornam verbais. Pois uma proposição mental sendo nada senão uma mera consideração de idéias, como elas estão em nossas mentes despidas de nomes, elas perdem a natureza de puramente proposições mentais, tão logo que elas são postas em palavras.” Popper: “Pois eu acredito que o que nós podemos chamar de 36‘conhecimento empírico’ incluindo ‘conhecimento científico’, consiste de suposições, e que muitas dessas suposição não são prováveis (ou tem uma probabilidade zero) mesmo que elas possam ser muito bem corroboradas”. Nós teremos que ficar acostumados com a idéia de que nós precisamos não olhar para a ciência como um ‘corpo de conhecimentos’ mas

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antes como um sistema de hipóteses, isso quer dizer, como um sistema de suposições ou antecipações, as quais em princípio não podem ser justificadas, mas com as quais nós trabalhamos enquanto elas suportam os testes, e as quais nós não estamos nunca justificados em dizer que sabemos que elas são ‘verdade’ ou ‘mais ou menos certas’, ou mesmo ‘prováveis’. (...) Não é truísmo o que a ciência revela. Antes, é parte da grandeza e beleza da ciência que nós podemos aprender, através de nossa própria investigação crítica, que o mundo é completamente diferente do que nós jamais imaginamos – até que nossa imaginação for incendiada pela refutação de nossas primeiras teorias. Não parece haver nenhuma razão para pensar que esse processo irá chegar a um fim. (...) O velho ideal cientifico da epistemologia – do conhecimento absolutamente certo, demonstrável – tem se provado ser um ídolo.” O que sobram são proposições, suposições, hipóteses, para serem reformuladas perpetuamente. O equívoco usualmente feito neste campo pode ser explicado historicamente: a ciência foi considerada ser um sistema de conhecimento – ou conhecimento tão certo como ele podia ser feito. ‘Indução’ foi suposta garantir a verdade desse conhecimento. Mais tarde se tornou claro que verdade absolutamente certa era inatingível. Assim a gente tenta conseguir em vez dela ao menos algum tipo de aguada certeza ou verdade, isso quer dizer, ‘probabilidade’. Popper: “Mas falar de ‘probabilidade’ em vez de ‘verdade’ não nos ajuda a escapar seja do progresso infinito ou do apriorismo.” Em suma, segundo esses três grandes pensadores, representação jamais será absolutamente igual à realidade. Interessando nessas proposições de conhecimento e suas aparências, os resultados em auto-consciência que causem algum benefício, inclusive psíquico e cultural, ao nosso viver sapiens, todo ele constituído de ações, influenciadas, de uma forma ou de outra, pelas proposições de conhecimento que constituem a cultura cognitiva e científica. Verdade é apenas proposição. Popper: “Uma visão que sugere a ‘renuncia’ (para usar um termo favorito de Bohr) ou nossas aspirações ao conhecimento, e a restrição de nossos estudos físicos às aparências e suas inter-relações.” Sendo que, à luz de todas essas críticas do assunto, se pode perceber que a única comprovação definitiva de que se trata de verdadeiro conhecimento está no efeito positivo sobre a ação sapiens. Esse efeito tanto pode ser claro e imediato – como o conhecimento de que colocar o dedo no fogo produz queimadura – como pode ser tal efeito tão remoto, complexo e sofisticado, que é totalmente impossível que consigamos defini-lo. Tendo que nos deter, então, na ‘probabilidade’. Wiener: “Essa revolução teve como efeito fazer com que a física, hoje, não mais sustente cuidar daquilo que irá sempre acontecer, mas, antes, do que irá acontecer com esmagadora probabilidade.” Popper: “Eu até mesmo acredito que a teoria da probabilidade pode melhor ser interpretada como a teoria das propensidades dos evento resultarem numa direção ou noutra. Mas eu iria ainda objetar à visão de que a teoria da probabilidade deve ser assim interpretada. Isso quer dizer, eu considero a interpretação da propensidade como uma conjetura a respeito da estrutura do mundo.” Amit Goswami nos diz que de maneira ampla, podemos dizer que a física quântica é a ciência das possibilidades. Quando você toma contato com seus princípios, fica atento às possibilidades que existem à sua volta e também às escolhas que essas possibilidades oferecem. As pessoas tornam-se, então, livres para ser criativas com sua vida. Também passam a acreditar que podem promover mudanças em seu 37destino. Só a passagem do tempo conseguindo muitas vezes comprovar ou descomprovar tais possibilidades, tais probabilidades. Só a história. E nossa consciência de conhecimento precisa evoluir, crescer, em cima dessa dificuldade. Kuhn: “Quanto mais cuidadosamente

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eles estudam, digamos, a dinâmica Aristotélica, a química flogística, ou a termodinâmica calórica, mais certos eles se sentem de que aquelas uma vez correntes visões da natureza eram, como um todo, nem menos cientificas nem mais o produto da idiossincrasia humana do que aquelas dos dias correntes. Se essas crenças ultrapassadas devem ser chamadas de mitos, então mitos podem ser produzidos pelo mesmo tipo de métodos e mantidos pelos mesmos tipos de razões que agora conduzem ao conhecimento cientifico.” Jung: “A natureza ela própria não se preocupa no mínimo a respeito de nossas teorias abstratas.” Uma boa parte dos efeitos aplicados do conhecimento só são verificáveis e comprováveis em longos prazos, históricos. E alguns de tais efeitos aplicados seguramente devem existir que jamais conseguimos comprovar definitivamente. Tais efeitos aplicados do conhecimento, que são tão complexos, sutis, sofisticados e remotos, que não conseguimos defini-los, nós os chamamos então de conhecimentos puros. Ou, na dúvida, de probabilidades. Polinghorne: “Para Bohr , o princípio da incerteza de Heisenberg é princípio ontológico de indeterminação; para Bohm, é um princípio espistemológico de ignorância. (.....) Em 1954, David Bohm publicou um relato da teoria quântica que era totalmente determinista, mas que resultou exatamente nas mesmas previsões feitas pela mecânica quântica convencional. Nessa teoria, as probabilidades surgem simplesmente da ignorância de certos detalhes.” Mas não existem conhecimentos puros. Só é conhecimento aquilo que otimiza a ação humana, produzindo sobrevivência, qualidade de vida, felicidade sapiens. Essas produções sofisticadas, sutis, complexas, remotas, de aplicações, se esclarecem às vezes através apenas de um tempo mais longo, via história das conseqüências remotas. As aplicações da matemática são inumeráveis, mas nem sempre determináveis dentro da própria matemática. Numa reportagem de um jornalista, Época, 29/03/10, pg. 13, lemos a seguinte aberração filosófica: “O objetivo da matemática não é servir para algo. A maior parte do que se estuda hoje na área não serve para nada além de desenvolver a própria matemática.” Como se os resultados da matemática fossem sempre imediatos, e com objetivos previamente definidos. Muitas grandes e famosas teorias perduraram séculos até que ficasse comprovado, em definitivo, não se tratar de conhecimento verdadeiro. Da mesma forma muitas teorias verdadeiras levaram muito tempo, um tempo histórico, para se confirmarem como verdadeiras, pelos efeitos, difíceis de definir, que produziram. As possibilidades de verificação nem sempre sendo fáceis de se condicionar. Popper: “Em nenhum caso, contudo, podemos nós dizer de forma final que não existem leis em um campo particular. Isto é uma consequência da impossibilidade de verificação.” Em outras palavras, só é conhecimento o que aciona e otimiza a ação sapiens para atingir seus objetivos: sobrevivência, qualidade de vida, felicidade. Se esse efeito não é comprovável em definitivo, isso é devido apenas à nossa ignorância a respeito do mecanismo desse efeito aplicado. Pois tais efeitos aplicados nem sempre são produzidos pelo conhecimento com imediatismo. Muitas vezes apenas como direcionamento sistêmico geral, preenchido, pragmaticamente, apenas em médios e longos prazos. Séculos às vezes. Sendo que o do conhecimento que não chega aí, ao efeito aplicado, mais cedo ou mais tarde é descartado como não conhecimento, como erro.

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IIIA2 - CONHECIMENTO, PRAGMATISMO E CULTURA.

Nosso negócio principal neste mundo não é conhecer, é viver. Quem nos diz isso de várias formas é Locke. Que o nosso negócio aqui não é conhecer todas as coisas, mas aquelas que dizem respeito à nossa conduta. Que se nós conseguirmos descobrir essas medidas, pelas quais uma criatura racional, colocada em tal estado dentro do qual está o homem neste mundo, pode e deve governar suas opiniões, e ações dependentes delas, nós não precisamos nos perturbar que algumas outras coisas escapem ao nosso conhecimento. Que fossem as capacidades de nossa compreensão bem consideradas, a extensão de nosso conhecimento uma vez descoberta, e o horizonte encontrado, que coloca os limites entre as partes iluminadas e escuras das coisas, entre o que é, e o que não é compreensível por nós, os homens iriam talvez com menos escrúpulos concordar com a confessada ignorância de uma, e empregar seus pensamentos e discursos, com mais vantagem, e satisfação, na outra. A erudição, segundo Locke, não é caminho seguro para o conhecimento útil: “Razão para agradecer àqueles, que nessa última era têm tomado outro curso, e têm percorrido para nós, ainda que não um caminho mais fácil para a ignorância erudita, ainda assim um caminho mais seguro para o conhecimento útil.” Descartes concorda: “Pois eles me fizeram ver que é possível atingir conhecimento que seja muito útil na vida, e que, em vez daquela filosofia especulativa, que é ensinada nas escolas, nós podemos encontrar uma filosofia prática por meio da qual, conhecendo a força e a ação do fogo, da água, do ar, das estrelas, dos céus e de todos os outros corpos que nos rodeiam, tão distintamente como nós conhecemos os diferentes artesanatos de nossos artesãos, nós podemos do mesmo modo empregá-lo, esse conhecimento, do mesmo modo em todos aqueles usos aos quais eles são adaptados, e assim nos tornar mestres e donos da natureza.” A idéia de se procurar através do conhecimento a produção do bem para a humanidade, para alguns pensadores tradicionais, ultrapassados, agride o conceito de ‘verdade’. Mas, sendo difícil justificar-se o esforço para se chegar à verdade, omitindo-se a objetivação do bem, basta, como disse Popper, aperfeiçoar-se a taxonomia. David Bohm, em entrevista sobre ‘O Paradigma Holográfico’, afirma que a noção do bem está implícita na noção de verdade científica. O único valor admitido é a verdade científica. Os cientistas escolheram essa verdade como o valor supremo. Entretanto. está certamente aberto à discussão se a verdade científica é adequada para tal papel. Poderia-se perguntar: Porque não fazer do pragmatismo o valor supremo? Penso que se omitirmos a noção do bem, descobre-se que é difícil justificar o esforço para chegar à verdade. A idéia do bem está implícita na noção de verdade científica: Essa verdade é boa em si mesma ou boa para aquilo que ela pode fazer – ou boa em ambos os sentidos. E Karl Popper nos sugere, com apoio em Tarski, que se trata apenas de uma opção taxonômica o reconhecimento de que o conhecimento tem que levar a algum tipo de satisfação ou preenchimento: “ Se nós fôssemos definir ‘verdade’ como ‘útil’ ou ‘conforme’ ou ‘corroborado’, nós teríamos apenas que introduzir um novo ‘absoluto’ e ‘atemporal’ conceito para representar o papel de ‘verdade’.” Essa modificação taxonômica foi sugerida por Tarski: ‘Preenchimento’ ou ‘satisfação’, em lugar de verdade, o alvo do conhecimento. Em outras palavras, o sucesso da ação. Em síntese, o conhecimento só se define como tal à luz de seus efeitos em termos de

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39 sobrevivência, qualidade de vida, felicidade, sapiens. Todas elas coisas dependentes de benefícios a serem produzidos pelas ações sapiens. Que o conhecimento tenha que atender aos nossos interesses humanos, ser proveitoso, conveniente, útil, é frisado claramente por vários grandes pensadores do assunto, entre eles Spinosa, Locke, T.S.Kuhn. Vejamos o que dizem eles a respeito. Spinosa: “Será suficiente se eu aqui tomar como um axioma aquilo que ninguém deveria discutir, a saber, que o homem nasce ignorante das causas das coisas, e que ele tem um desejo, do qual ele é consciente, de procurar por aquilo que traz proveito para ele. Disso se segue, primeiro, que ele julga a si mesmo livre porque ele é consciente de seus desejos e apetites, enquanto ao mesmo tempo ele é ignorante das causas pelas quais ele é conduzido a querer e desejar, não sonhando o que elas são, e, em segundo lugar, segue-se que o homem faz tudo por um fim, a saber, por aquilo que é proveitoso para ele, que é o que ele procura. (...) Quando cada homem procura aquilo que é mais proveitoso para si mesmo, então são os homens mais proveitoso uns para os outros.” Locke: “O infinito sábio nosso inventor, e de todas as coisas ao nosso redor, tem ajustado nossos sentidos, faculdades e órgãos, para as conveniências da vida, e do negócio que nós temos que fazer aqui. Nós somos capazes, pelos nossos sentidos, de conhecer, e distinguir as coisas, e de examiná-las até tal ponto, em que sejamos capazes de aplicá-las aos nossos usos, e a diversos modos de acomodá-las às exigências da vida. (...) Pois nossas faculdades sendo adequadas não para a completa extensão do ser, nem para o perfeito, claro, compreensivo conhecimento das coisas livre de toda as dúvidas e escrúpulos. Mas para a nossa preservação, em quem elas estão, e acomodadas ao interesse da vida. Elas servem, nossas faculdades, ao nosso propósito bem bastante, se elas apenas nos derem certa notícia sobre tais coisas, que são convenientes ou inconvenientes para nós. (...) É de grande utilidade para o marinheiro conhecer o comprimento de sua linha, ainda que ele não possa com ela sondar todas as profundezas do oceano. É bom que ele saiba, que ela é longa o suficiente para alcançar o fundo em tais lugares como são necessários para dirigir sua viagem, e acautelá-lo contra se precipitar sobre recifes, que possam arruiná-lo.” John Stuart Mill: “Uma observação de passagem é tudo que é necessário fazer-se em relação à ignorante gafe de supor que aqueles que defendem a idéia da utilidade como o teste do certo e do errado, usam o termo naquele restrito e meramente coloquial sentido dentro do qual utilidade é o oposto de prazer. (...) Aqueles que sabem alguma coisa a respeito da matéria estão conscientes de que todos os escritos, de Epicuros até Bentham, que sustentaram a teoria da utilidade, quiseram dizer com isso não alguma coisa que possa ser distinguida de prazer, mas o próprio prazer, junto com a isenção de dor, e em vez de opor o útil ao agradável ou ornamental, tem sempre declarado que o útil significa essas duas coisas, entre outras coisas. Ainda assim o rebanho comum, incluindo o rebanho dos escritores, não apenas em jornais e periódicos, mas em livros de peso e pretensão, estão perpetuamente caindo dentro desse raso equívoco. (...) Eu devo outra vez repetir, que os assaltantes do utilitarismo raramente têm a justiça de reconhecer, que a felicidade a qual forma o padrão utilitário do que é certo na conduta, não é a própria felicidade do agente, mas aquela de todos os que estão envolvidos. Da mesma forma que entre sua própria felicidade e a dos outros, o utilitarismo requer que ele seja tão estritamente imparcial como um desinteressado e benevolente espectador. (...) Na regra de ouro de Jesus de Nazaré, nós lemos o espírito

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40completo da ética da utilidade. Fazer para os outros o que você quer que seja feito para você, e amar o vizinho como se ama a si mesmo, constitui a perfeição ideal da moralidade utilitária.” Em outras palavras a regra de ouro: A utilidade, o bem, o benefício para todos. Pragmatismo humanista. Não apenas individual. Um problema a ser resolvido pela tecnologia da revolução comunicacional-informacional. Cruzando-se a totalidade do conhecimento com a totalidade da ação humana, para pesquisar, estudar e solucionar o problema. Que é gigantesco. Como é gigantesca também a tecnologia que agora pode ser utilizada para se realizar a grandiosa tentativa, onde as religiões falharam numa grande medida. E onde a ciência poderá falhar, quem sabe, numa medida menor. Sendo que um certo grau de simpatia possível entre religião e ciência está se manifestando com alguma nitidez dentro das idéias do atual Papa, argentino. b) Kuhn: “Aqueles que proclamam que nenhuma prática movida por interesses pode ser apropriadamente identificada como a busca racional do conhecimento cometem um erro profundo e impaciente.” Sendo que o principal interesse humano é o aperfeiçoamento comportamental, sem dúvida alguma. Karl Popper, vacilando em torno de uma definição radicalizada nesse sentido, de afirmar que sem proveito, sem utilidade, não existe conhecimento que possa ser denominado como tal, afirma que a ciência pode ser visualizada de vários pontos de vista. Realmente, inclusive do ponto de vista de metodologia, que não tem compromisso infalível com resultados. Mas, de qualquer forma, Popper a reconhece também, a ciência, como um instrumento de produção : “A ciência pode ser visualizada de vários pontos de vista, não apenas aquele da epistemologia, por exemplo, nós podemos olhar para ela como um fenômeno biológico ou sociológico. Como tal ela poderia ser descrita como uma ferramenta, ou um instrumento, comparável talvez a alguma de nossa maquinaria industrial. A ciência pode ser considerada como um meio de produção – como a última palavra em ‘produção completa’. Mesmo deste ponto de vista a ciência não é mais aproximadamente conectada com ‘nossa experiência’ do que outros instrumentos ou meios de produção. E mesmo se nós olharmos para ela como gratificando nossas necessidades intelectuais, sua conexão com nossas experiências não difere em princípio daquela de qualquer outra estrutura objetiva. Admitidamente não é incorreto dizer que a ciência é um ‘instrumento’ cujo propósito é predizer de imediatas ou dadas experiências, experiências posteriores, e mesmo tão longe quanto possível controlá-las.” A síntese mais profunda da definição do pragmatismo do conhecimento, que envolve, inclusive, todas as decisões de ação sapiens, que se baseiam em conhecimento para escolha das ações, e que têm seu ápice objetivo na busca da felicidade, nós vamos encontrar em Pascal, Kant, Leibniz e John Stuart Mill. Vejamos seus respectivos pensamentos a respeito. Pascal: “Todos os homens buscam a felicidade. Não há exceções. Conquanto diferentes os meios que eles possam empregar, eles se esforçam na direção deste alvo. A razão pela qual alguns vão para a guerra e alguns não é o mesmo desejo em ambos, mas interpretado em dois diferentes modos. A vontade nunca dá o menor passo exceto para esse fim. Este é o motivo de cada ato de cada homem, inclusive daqueles que vão e se enforcam.” Kant: “Razão... aquela censura que assegura a ordem geral e a harmonia, e realmente o bem-estar da comunidade científica, impedindo aqueles que trabalham

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corajosamente e frutiferamente a seu favor de perder de vista a suprema finalidade, a felicidade de toda a humanidade.”

41 Leibniz: “Realmente em geral eu sustento que não existe nada mais verdadeiro do que a felicidade, e nada mais feliz e mais doce do que a verdade.” John Stuart Mill: “A doutrina utilitária é a de que a felicidade é desejável, e a única coisa desejável, como um fim; todas as outras coisas sendo apenas desejáveis como meios para aquele fim. (...) Sócrates deu atenção ao velho Protágoras, e afirmou (se o diálogo de Plantão está baseado em conversação real) a teoria do utilitarismo contra a moralidade popular dos assim chamados sofistas. O credo o qual aceita como fundamento da moral utilidade, ou o grande princípio da felicidade, sustenta que as ações estão corretas na proporção que elas tendem a promover a felicidade, erradas quando elas tendem a produzir o reverso da felicidade. Por felicidade é entendido prazer, e a ausência de dor, por infelicidade, dor, e a privação de prazer. Para dar uma visão clara do padrão moral assentado pela teoria, muito mais requer ser dito, em particular que coisas ela inclui na idéia de dor e prazer, e até que extensão isso é deixado uma questão aberta. Mas essas explicações suplementares não afetam a teoria da vida sobre a qual essa teoria da moralidade está fundamentada – a saber, que o prazer, e a libertação da dor, são as únicas coisas desejáveis como fim.” A consagração social pragmática do conceito de felicidade tem no mundo moderno um exemplo isolado, que merece consideração. Como o produto interno bruto (PIB) de todos os países advém das técnicas de produção, baseadas em conhecimento, a invenção no Butão de outro indicador econômico, mais profundo, o da economia da qualidade de vida, e não apenas da produção, merece ser admirada e estudada com a máxima seriedade em termos da perspectiva da economia da ação, em termos da perspectiva da economia do comportamento integral da espécie sapiens. Susan Andrews, Coordenadora da Ecovila Parque Ecológico Visão do Futuro, nos informa a respeito no artigo ‘PIB ou FIB. As Lições do Butão’: “A FIB situa a felicidade como o pivô do desenvolvimento. Após certo nível de renda, o aumento da riqueza não conduz a um correspondente aumento da felicidade. A partir dos indicadores da FIB, que são os seguintes: padrão de vida, saúde, educação, resiliência ecológica, bem-estar psicológico, diversidade cultural, uso equilibrado do tempo, boa governança e vitalidade comunitária. A renda não é buscada pelo seu bem em si, mas para aumentar a qualidade de vida, para se obter a felicidade – Dasho Karma Ura, diretor do Centro de Estudos do Butão.” De importância fundamentalíssima dentro do relacionamento conhecimento-pragmatismo, é aquilo que nós chamamos de ‘cultura’. Vamos dar uma definição simples, clara, radical, sobre o que seja ‘cultura’. Cultura é a forma da ação. que é desenhada e redesenhada permanentemente pelos seres humanos, em seus esforços de adaptação ao meio, e em seus esforços pela busca da sobrevivência, da qualidade de vida, da felicidade. Skinner deixa claro o que seja a cultura, a evolução das formas de ação, que têm o mesmo objetivo do conhecimento, sobrevivência, qualidade de vida, felicidade, sapiens: “Como Leslie White colocou: “A evolução pode ser definida como uma sequência temporal de formas: uma forma cresce a partir da outra; a cultura avança de um estágio para outro. Dentro desse processo, o tempo é um fator tão integral como a mudança de forma.” (...) Mas aqueles que observam as culturas não vêem idéias ou valores. Eles vêem como as

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pessoas vivem, como elas criam crianças, como elas coletam ou cultivam comida, em que tipos de residências elas moram, o que elas vestem, que jogos elas jogam, como elas tratam umas às outras, como elas se governam, e assim por diante. Esses são os costumes, os comportamento costumeiros,

42 das pessoas. (...) Muitas pessoas estão engajadas no desenho e redesenho das práticas culturais. Elas fazem mudanças nas coisas que elas usam e no modo de usá-las. Elas inventam melhores ratoeiras e computadores e descobrem modos melhores de criar os filhos, de pagar salários, coletar taxas, e ajudar as pessoas com problemas. (...) Mas nenhum homem sobrevive por muito tempo, ou qualquer agência de governo, religiosa, ou econômica, por muito tempo. O que ‘evolui’ são práticas. (...) O ambiente social é o que é chamado uma cultura. Ele dá forma e mantém o comportamento daqueles que vivem dentro dele. Uma dada cultura evolui enquanto novas práticas se erguem, possivelmente por razões irrelevantes, e são selecionadas pela sua contribuição para a força da cultura quando ela compete com o meio-ambiente físico e com outras culturas.” Transmitimos genética de geração para geração. Mas antes da transmissão genética, o que transmitimos são as nossas fixações culturais, as fixações das nossas formas de ação. E isso produz neurogênesis, epigenética, e, no longuíssimo prazo, redundará em evolução genética também. Práticas culturais, mais rápido do que os traços genéticos, são transmitidas de indivíduo para indivíduo. E essas práticas culturais são transmitidas de indivíduo para indivíduo via epigenética. Uma nova prática, como um novo traço genético, aparece primeiro num individuo e tende a ser transmitida se ela contribui para sua sobrevivência como um indivíduo. Skinner: “Novas prática erguem-se, e elas tendem a ser transmitidas se elas contribuírem para a sobrevivência daqueles que as praticam. Nós podemos de fato traçar a evolução de uma cultura mais claramente do que a evolução de uma espécie, uma vez que as condições essenciais são observadas antes do que inferidas e podem frequentemente ser diretamente manipuladas. Todavia, como nós temos visto, o papel do meio-ambiente tem apenas começado a ser entendido, e o meio-ambiente social, que é uma cultura, é frequentemente difícil de identificar. Ele está constantemente mudando, ele tem falta de substância, e ele é facilmente confundido com as pessoas que mantém o meio-ambiente e são afetadas por ele.” Além de se retransmitir via comunicação social, a cultura se retransmite via neurogênesis, epigenética, e genética. Que o meio-ambiente cultural é mais forte do que a genética se comprova o tempo todo nos inúmeros deslocamentos populacionais ocorrendo no mundo. Skinner referiu esse dado criando exemplos ficcionais interessantes: “O nômade a cavalo na Mongólia Exterior e o astronauta no espaço exterior são pessoas diferentes, mas, tão longe quanto sabemos, se eles tivessem sido trocados no nascimento, um teria tomado o lugar do outro (...) Mas nós precisamos saber um grande bocado mais antes desse fato se tornar util. O que existe no meio-ambiente que produz um hotentote? E o que precisaria ser mudado para produzir um conservador inglês em vez dele? (...) Mas nós podemos estar seguros de que uma criança do século vinte transplantada para a civilização de Lascaux não seria muito diferente das crianças que ela encontrasse lá, pois nós temos visto o que acontece quando uma criança moderna é criada em um meio ambiente empobrecido.” As culturas se substituem evoluindo dentro do mecanismo da seleção natural. Voltadas para o mesmo objetivo do conhecimento, que modela as ações: Produzir a sobrevivência, a qualidade de vida, a felicidade, sapiens. Skinner: “Uma cultura ,

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como uma espécie, é selecionada pela sua adaptação a um ambiente: Até à extensão em que ela ajuda seus membros a conseguir o que eles necessitam e evitar o que é perigoso, ela ajuda eles a sobreviver e transmitir a cultura. Os dois tipos de

43evolução estão entretecidos cerradamente. As mesmas pessoas transmitem ambas uma dotação cultural e genética ainda que por diferentes modos e para diferentes partes de suas vidas. A capacidade de sofrer mudanças em comportamento que faz uma cultura possível foi adquirida na evolução da espécie, e, reciprocamente, a cultura determina muitas das características biológicas transmitidas. (...) Sobrevivência é o único valor de acordo com o qual uma cultura deve eventualmente ser julgada, e qualquer prática que propele a sobrevivência tem valor de sobrevivência por definição.(...) Uma cultura evolui quando novas práticas propelem a sobrevivência daqueles que as praticam.” Em síntese: Conhecimento, pragmatismo e cultura, operam as ações sapiens dentro de uma evolução artificializante da sociedade humana, que em seu estágio mais avançado está estruturando, em dimensões globalizadas, a moderna civilização cientifico-tecnológica, onde cada vez mais o conhecimento, a informação, se transforma no novo oxigênio respirado pela espécie humana, onde o pragmatismo luta para migrar do individualista para o humanista, e onde a cultura, científico-tecnológica, com sua revolução comunicacional-informacional, luta pela abertura, pela democratização, da informação, do conhecimento. Como já propôs Norbert Wiener, ao censurar a liderança mundial norte-americana pela dogmatização da propriedade do conhecimento, da informação, que é o elemento e o direito fundamentais da evolução sapiens.

IIIA3 - CONHECER PARA PRODUZIR UM MUNDO, O QUE INCLUI A ÉTICA.

Conhecer (ciência) não é atingir a verdade absoluta, que não existe, porque representação e realidade jamais serão absolutamente idênticas. Especialmente no terreno mais holístico. Conhecer também não está a serviço apenas do pragmatismo imediatista, individualista. Conhecer é construir um mundo, um viver, sapiens. Jung: “Enquanto o intelecto adere rigidamente ao alvo absoluto da ciência ele corta a si mesmo das fontes da vida.(...) Mas isso imediatamente se torna um mal quando é uma questão da vida ela própria demandando desenvolvimento.” A vida, que muda a verdade o tempo todo dentro dessa construção, e que busca o caminho para um pragmatismo humanista – da espécie como um todo - que se define dentro da eficiência desse mundo, da espécie sapiens, que é uma construção social, coletiva. O pragmatismo é, também, uma visão provisória, preparando o caminho para a ação efetiva, criativa. Que só confirma a consistência do pragmatismo depois de acontecer, a criatividade. Como frisou Nietzsche ao dizer que o ato criativo vai além da visão pragmática. Pois o valor vivo da verdade só se estabelece depois do sucesso da ação. Sucesso do qual depende o realismo final do pragmatismo. Tudo, portanto, se resume ao que pode ser feito antes de a ação definir, em definitivo, a natureza do conhecimento, do pragmatismo, de todos os processo definidos pela mente em caráter provisório, até que se defina a ação decorrente. Positiva, ou não. Conhecimento, ou não.

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Valor vivo da verdade, ou não. Valor vivo que consiste em seu poder construtivo daquilo que não existiu antes, o aperfeiçoamento, a mudança, da vida, a construção do mundo. Maturana e Varela: “Já que todo conhecer produz um mundo, nosso ponto de partida será, necessariamente, a eficácia operacional do ser vivo em seu domínio, social, coletivo, de existência. Em outras palavras, nosso ponto de partida, para gerar uma explicação

44científica validável, é caracterizar a cognição como uma ação efetiva, uma ação que permita a um ser vivo continuar sua existência em determinado meio, o social, o coletivo, ao produzir aí seu mundo. Nem mais, nem menos.” O mundo, é o mundo das relações de ação da espécie como um todo. Com as mudanças da sua otimização. Marx: “ Os filósofos tem apenas interpretado o mundo, em vários modos; o ponto é mudá-lo.” Para com isso servir à vida sapiens. Esse viver construído por aquilo que só se constitui em conhecimento quando consegue produzir sobrevivência, qualidade de vida, felicidade, sapiens, estáveis e crescentes, para a espécie como um todo. Quer dizer: Mudanças aperfeiçoadoras, que é o papel do conhecimento produzir. Maturana e Varela: “O produzir do mundo é o cerne pulsante do conhecimento, e está associado às raízes mais profundas de nosso ser cognitivo, por mais sólida que nos pareça nossa experiência. E, já que essas raízes se estendem até à própria base biológica, como veremos, esse gerar se manifesta em todas as nossas ações e em todo o nosso ser (...) Não há uma descontinuidade entre o social e o humano e suas raízes biológicas. O fenômeno do conhecer é um todo integrado, e todos os seus aspectos estão fundados sobre a mesma base.” Incluído nisso que conhecimento sem a ética da espécie não é conhecimento. É jogo animal. É astúcia, não é conhecimento. Pois limita o benefício holístico da espécie, em termos sapiens. A qualidade de vida, que inclui a ética, é produzida pela ação sapiens, como um todo, que é direcionada, condicionada e otimizada pelo conhecimento. Conhecimento é a informação que direciona, condiciona, aperfeiçoa a ação sapiens. Skinner: “As pessoas agem para aperfeiçoar o mundo e para progredir na direção de um melhor modo de vida.” Maturana e Varela: “Falamos em conhecimento toda vez que observamos uma conduta efetiva (ou adequada) num contexto assinalado – ou seja, num domínio que definimos com uma pergunta (explícita ou implícita), que formulamos como observadores.” A ética resulta da ação qualificada, otimizada, pelo conhecimento, em todos os indivíduos da espécie sapiens interagindo com respeito uns pelos outros. Schopenhauer: “Pois a virtude realmente resulta do conhecimento, mas não do conhecimento abstrato comunicável através de palavras. (...) Genuína bondade de disposição, virtude desinteressada, e pura nobreza de mente, portanto, não vêm do conhecimento abstrato. Ainda assim elas vêm do conhecimento. Mas é um conhecimento direto e intuitivo que não pode ser raciocinado sempre ou atingido por racionalismo. Um conhecimento que, apenas porque ele não é abstrato, não pode ser comunicado, mas deve despontar em cada um de nós. Ele portanto encontra sua real e adequada expressão não em palavras, mas simplesmente e somente em feitos, em conduta, no curso da vida de um homem.” Isto é, na ação. Skinner: “ O homem não tem evoluído como um animal ético ou moral. Ele evoluiu até o ponto onde ele construiu uma cultura ética ou moral. Ele difere dos outros animais não por possuir um senso moral ou ético. Mas por ter sido capaz de gerar um ambiente social moral ou ético.” Ambiente constituído pela somatória, corretamente articulada, da totalidade das ações da espécie sobre o planeta terra, o mundo maior construído pela natureza sapiens. Que, se

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falhar na ética coletiva da sua ação, estará colocando o mundo humano sob um risco muito grande de extinção.

IIIA4 – NO CONTEXTO HOLÍSTICO, CONHECIMENTO SUICIDA É IGNORÂNCIA.

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Se o fabricante de uma arma, que a produziu para sua defesa, for morto pela arma que produziu, o conhecimento – ou melhor, pseudo-conhecimento – usado para produzir a arma, não atingiu o seu fim, o efeito esperado, a preservação de sua vida. Faltou alguma coisa, algum conhecimento, no contexto holístico, para a invenção funcionar. Um mecanismo secreto de desativação, que ele pudesse acionar, por exemplo. Paine já tinha percebido a ignorância embutida na produção de armas: “Que nenhum novo navio de guerra será construído por nenhum poder na Europa. (...) Se os homens permitirem a si próprios pensar, como seres racionais deveriam pensar, nada pode parecer mais ridículo e absurdo, excludente de toda reflexão moral, do que gastar dinheiro para construir navios, enchendo eles com indivíduos, e então lançando eles ao oceano, para ver quem consegue afundar um ao outro mais rápido.” Pois é óbvio que o construtor do navio que foi afundado, falhou no objetivo de sua ação construtiva, que acabou matando aqueles aos quais o objeto construído tinha por objetivo preservar a sobrevivência, que não preservou. Portanto, a construção foi um ato de ignorância, e não de conhecimento. Faltou alguma coisa para ela funcionar. Se não considerarmos apenas as partes do conhecimento usado, mas o seu conjunto, com seu objetivo geral. Coisas diferentes. E essa circunstância não é rara. É bastante repetitiva. Em dimensões sociais, é até mesmo uma constante massificada. Em dimensões sociais, todos os produtores de armas mais provavelmente morrem, direta ou indiretamente, pelas armas que produziram, em vez de sobreviver graças a elas. Produzir armas cada vez mais poderosas não é conhecimento, portanto. Pois elas não atingem seu fim, o objetivo do pseudo-conhecimento que as produziu. Que no caso de tais armas, seria a sobrevivência do inventor, que não atingiu seu objetivo com a tecnologia que inventou. As mágicas da tecnologia moderna, usadas para multiplicar o terror apocalíptico, não constituem, segundo b) Wiener, sabedoria: “E desde que nós retenhamos um traço de discriminação ética, o uso de grandes poderes para baixos propósitos constituirá o completo equivalente moral de feitiçaria e simonia.” Avidez por poder e dinheiro. b) Wiener: “Um pecado, o qual consiste em se usar a mágica da automatização moderna para propelir o lucro pessoal, ou soltar os terrores apocalípticos da guerra nuclear. Se esse pecado tem que ter nome, vamos chamá-lo de simonia ou feitiçaria.” E não de conhecimento, portanto. É o instinto primitivo, e sua agressividade, e não a inteligência, que usa o poder científico e tecnológico moderno, destruindo totalmente sua funcionalidade como sabedoria em prol do viver sapiens e de sua evolução qualitativa. Jung diz que as forças instintivas represadas no homem civilizado são imensamente mais destrutivas e muito mais perigosas do que os instintos do primitivo, que num grau modesto está constantemente vivendo seu instinto negativo. Consequentemente, diz Jung, nenhuma guerra do passado histórico pode rivalizar em horror grandioso com as guerras das nações civilizadas. E essa espiral de sofisticação e poder da ignorância, a produção de armas, está até mesmo quase pronta, em

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dimensões político-sociais, para destruir o planeta. Wiener: “Em nossa atual disposição militarista de espírito, isso nos impôs o problema de possíveis contramedidas a uma nova utilização de tais recursos por parte de um inimigo. Esse inimigo pode ser a Rússia, no momento atual, mas é, ainda mais, nosso próprio reflexo em uma miragem. Para nos defender desse fantasma, devemos contar com novas medidas científicas, cada qual mais terrível que as anteriores. Não tem fim essa vasta espiral apocalíptica.” Precisa prova maior de erro cognitivo? A

46violência atômica está aí esperando apenas pelo acaso, que sempre acompanha a ignorância, e que é abrangido pela ilusão de conhecimento. Onde está a sabedoria? Nessa dedicação da inteligência que se volta contra nossa própria sobrevivência? Wiener: “Como outros tantos porcos gadarenos, abrigamos em nós os demônios da época, e a compulsão da guerra científica nos está conduzindo tumultuariamente, de pernas para o ar, para o oceano de nossa própria destruição. Ou talvez possamos dizer que, entre os cavalheiros que tomaram a si a tarefa de ser nossos mentores, que administram o novo programa cientifico, muitos não passam de aprendizes de feiticeiro, fascinados com o encantamento que desencadeia uma bruxaria que eles são totalmente incapazes de fazer parar.” Temos que conhecer os meios de nos preservar e não de nos destruir. Estes últimos não são conhecimento, mesmo que seja preciso um longuíssimo prazo para comprovar isso. Temos que conhecer os meios de nos preservar socialmente, mutuamente, o que as armas não conseguem fazer. Representando apenas o poder crescente da ignorância em relação aos riscos do futuro, imediato ou de longo prazo. Poder que ficará atestado crassamente quando explodirmos o planeta com o arsenal atômico. O efeito colateral negativo, possível e provável, de uma especialização, a nuclear, muito mal direcionada quando produzimos as armas atômicas. Pois essa bruxaria, que se volta contra o próprio bruxo, não pode ser chamada, em seu contexto holístico, de conhecimento. É uma tolice que não conseguimos até agora refrear, mas que poderá vir a nos destruir a todos, se continuarmos considerando isso como conhecimento completo. É conhecimento parcial apenas. E carregado de efeitos colaterais negativos muito mais poderosos que os benefícios que esse conhecimento incompleto consegue produzir. Efeitos colaterais negativos que poderão nos destruir, por não dispormos de inteligência suficiente, conhecimento suficiente, de como fazê-los parar. Wiener: “O efeito dessas armas deverá ser o aumento da entropia deste planeta, até que todas as distinções de quente e frio, bom e mau, homem e matéria, se tenham desvanecido na formação da branca fornalha incandescente de uma nova estrela.” Esse negativismo é produzido pela seguinte lógica sistêmica geral: O conhecimento especializado, em uma peça de um sistema apenas, é conhecimento até onde e enquanto dura sua utilidade. Mas assim que esse conhecimento especializado encaixa-se num sistema que deixa, como um todo, de funcionar positivamente, ele se torna não-conhecimento dentro do contexto holístico de sua aplicação. Derrubado, como conhecimento, pelos seus efeitos colaterais negativos. Mais poderosos que o benefício que ele produz.

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxIIIB - NÃO SÓ A CIÊNCIA PRODUZ CONHECIMENTO.xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

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IIIB1 – COMPLEMENTOS DA CIÊNCIA TAMBÉM PRODUZEM CONHECIMENTO. VIDA, O RACIONALISMO MAIS AMPLO.

A intuição, a emoção, a percepção, também produzem conhecimento. Até mesmo a fantasia e o erro (Bacon) podem produzir conhecimento. A vida é quem produz mais conhecimento. A vida, toda composta, exclusivamente, de ações, oferece por várias vias e metodologias, os caminhos para se chegar ao conhecimento. Jung: “O intelecto é o soberano do reino científico. Mas é outra questão quando a ciência dá

47passos para dentro do reino de sua aplicação prática. O intelecto, que foi anteriormente rei, é agora meramente um ministro, um instrumento cientificamente refinado é verdade, mas ainda apenas uma ferramenta, não mais um fim em si mesmo, mas meramente uma precondição. O intelecto, e junto com ele a ciência, é agora colocado a serviço de um poder criativo e propósito. Ainda assim, isto é ainda ‘psicologia’ ainda que não mais ciência; é psicologia no sentido mais amplo da palavra, uma atividade psicológica de uma natureza criativa, na qual à fantasia criativa é dado lugar prioritário. Em vez de usar o termo ‘fantasia criativa’ seria exatamente tão verdadeiro dizer que na psicologia prática deste tipo o papel liderante é dado à ‘vida’ ela própria.” Vida totalmente constituída pelo cruzamento e modelação mútua entre conhecimento e ação. A metodologia científica é sem dúvida o mais poderoso método de se produzir o conhecimento. Mas existe uma distância de imprecisão separando a ciência da vida. Jung: “Quando nós abordamos o negócio real de viver do lado do intelecto e da ciência, nós imediatamente avançamos contra barreiras que nos fecham para fora de outras igualmente reais províncias da vida. (...) Tanto quanto o intelecto rigidamente adere ao alvo absoluto da ciência ele corta a si mesmo das fontes da vida.” Se listarmos e cruzarmos as totalidades da ação e da informação humanas, poderemos examinar todas as circunstâncias da inter-relação de trocas entre conhecimento e ação, e com isso descrever todos os processos dentro dos quais se produz conhecimento, com base em ciência ou não. Jung: “O intelecto permanece prisioneiro de si mesmo enquanto ele não sacrifica voluntariamente sua supremacia reconhecendo o valor de outros alvos.” Respeito pela ciência, mas respeito maior pelo processo de vida sapiens, fundamentado no inter-relacionamento informação-ação, conhecimento-ação. Jung: “A gente sempre fala de ‘realidade’ como se ela fosse a única. Realidade é simplesmente o que funciona dentro de uma alma humana. E não o que é presumido por certas pessoas funcionar lá, e a respeito do que generalizações preconceituosas se costuma fazer. Mesmo quando isso é feito dentro de um espírito cientifico, não deveria ser esquecido que a ciência não é a ‘summa’ da vida, que ela é na verdade apenas uma das atitudes psicológicas , apenas uma das formas de pensamento humano.” Como disse Tom Sorell, o problema não é criar respeito pela ciência mas dissuadir as pessoas de adorá-la. Processos sapiens, produtores de conhecimento existiram muito antes de existir ciência metodologicamente organizada. É o que nos dá a entender Locke: “Aquele que nos assuntos comuns da vida, não admitisse nada senão demonstração clara direta, ficaria seguro de nada, dentro do mundo, senão de perecer rapidamente. (...) As faculdades do conhecimento sendo dadas aos homem não meramente para especulação, mas também para a conduta de sua vida, o homem estaria grandemente perdido, se ele não tivesse nada para dirigi-lo, senão o que tem a certeza do verdadeiro conhecimento. Pois esse sendo muito curto e escasso, como nós

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temos visto, ele estaria frequentemente totalmente no escuro, e na maior parte das ações de sua vida, perfeitamente parado, não tivesse ele nada para guiá-lo na ausência de claro e seguro conhecimento. Aquele que não irá comer, até que ele tenha demonstrado que aquilo irá nutri-lo. Aquele que não se movimentar, até que ele infalivelmente saiba que o negócio em que ele vai se meter será bem sucedido, terá pouco mais a fazer, senão sentar-se quieto e perecer.” A ciência – o intelecto – e seus complementos funcionais necessitam ser entendidos como um todo que devemos chamar de ‘vida’. O intelecto, a ciência, não conseguem apreender sozinhos tudo que constitui o meio-ambiente, o universo. Jung: “Apenas uma parte do mundo, portanto, pode ser apreendida pelo pensamento, outra parte apenas pelo sentimentos, uma terceira apenas através da sensação, e assim adiante.

48É por isso provavelmente que existem diferentes funções psíquicas; pois, biologicamente, o sistema psíquico pode ser entendido apenas como um sistema de adaptação, da mesma forma como os olhos existem presumivelmente porque existe luz. O pensar pode reivindicar apenas um terço ou uma quarta parte do significado total, ainda que em sua própria esfera ele possua validade exclusiva – da mesma forma como a visão é a função valida exclusivamente para a percepção das ondas de luz, e o ouvido para a das ondas de som. Consequentemente um homem que põe a unidade da idéia sobre um pináculo, e para quem ‘sentimento-sensação’ é alguma coisa antipática à sua personalidade, pode ser comparado a um homem que tem bons olhos, mas é totalmente surdo e sofre de anestesia.” O racionalismo do intelecto, da ciência, é complementado pelo sentimento, pela intuição, pela sensação, pela fantasia, etc. Jung: “A psiquê consciente é um aparato para adaptação e orientação, e consiste de um número de diferentes funções psíquicas. Entre essas nós podemos distinguir quatro básicas: sensação, pensamento, sentimento, intuição. Sob sensação eu incluo todas as percepções por meio dos órgãos dos sentidos; por pensamento eu quero dizer a função da cognição intelectual e o formatar de conclusões lógicas; sentimento é uma função de avaliação subjetiva; intuição eu tomo como percepção por meio do inconsciente, ou percepção de conteúdos inconscientes.” Ao enfocarmos em nossa análise básica, de forma científica, todas as ações humanas, com todas as informações que as condicionam, estamos incluindo nessa análise todas tais ações complementares ao intelecto, ao racionalismo, à prática da ciência. Sentimentos, intuições, sensações, fantasias, são todos ações do cérebro humano. Existe uma complementaridade básica entre racionalismo (pensamento) e intuição. As duas abordagens, como disse Fritjof Capra numa entrevista sobre o paradigma holográfico, são complementares, devido à complementaridade básica das mentes racional e intuitiva, ou dos modos de consciência racional e intuitivo. Se trata de uma complementaridade bastante fundamental na natureza humana. É uma complementaridade que também se torna mais evidente a partir do ponto de vista sistêmico. Da mesma forma, sentimento e racionalismo (pensamento) compõem juntos um quadro de representação criativa. Schopenhauer: “Uma vez que se classifica debaixo do conceito de sentimento cada modificação de consciência que não pertence diretamente ao próprio método de representação, em outras palavras, que não é conceito abstrato.” Jung: “Daí o sentimento é um tipo de julgamento, diferindo do julgamento intelectual pelo fato de que seu alvo não é estabelecer relações conceituais mas estabelecer um critério subjetivo de aceitação ou rejeição. Avaliação pelo sentimento estende-se a todos os conteúdos da consciência, de qualquer tipo que possa ser. (...) O alvo da totalidade não

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pode ser alcançado nem pela ciência, que é um fim em si mesma, nem pelo sentimento, que carece do poder visionário do pensamento. Um deve se emprestar como um auxiliar ao outro, ainda assim a oposição entre eles é tão grande que uma ponte é necessária. Essa ponte já nos é dada na fantasia criativa.” Todas tais reações e todos tais comportamento psíquicos – raciocínio, sentimento, intuição,etc. - são gerados pelo bombardeio informacional por parte do meio-ambiente. O sentimento e a intuição da mesma forma que o puro racionalismo, o intelectualismo, a ciência. Esse bombardeio informacional do cérebro e seus efeitos é, portanto, algo muito mais básico, mais amplo, do que aquilo que a metodologia da ciência consegue abranger. Examinando-se o quadro geral da ação humana, e a informação que a condiciona, percebe-se, por exemplo, que a arte também produz conhecimento. Inclusive a partir da própria natureza. A estética das flores informa (conhecimento) os insetos sobre a disponibilidade de alimento, pólen. E nós, os seres humanos, sabemos

49 que essa busca do alimento, por parte do inseto, produz fecundação. A própria natureza já nos condicionou, desta forma, a ver a arte, a estética, como um sinal positivo, de benefício para a vida. E algumas artes, a dramaturgia, por exemplo, concorrem com a ciência na produção de conhecimento. A dramaturgia concorre com a psicologia. Schopenhauer: “Agora o que o engenheiro hidráulico consegue com a matéria fluida da água, o arquiteto consegue na rígida matéria da pedra. E isso é justamente o que é conseguido pelo poeta épico ou dramático na idéia da humanidade. O alvo comum de todas as artes é o desdobrar e elucidação da idéia expressando a si mesma no objeto de cada arte, da vontade objetivando a si mesma em cada grau. A vida do homem, como frequentemente vista no mundo da realidade, é como a água vista frequentemente em tanques e rios. Mas no épico, o romance, e a tragédia, personagens selecionadas são colocadas naquelas circunstâncias nas quais todas as suas características são desdobradas, as profundidades da mente humana são reveladas e se tornam visíveis em extraordinárias e significativas ações. Assim a poesia objetifica a idéia do homem, uma idéia que tem a peculiaridade de expressar a si mesma em altamente individuais características. A tragédia deve ser considerada e é reconhecida, como o ponto mais alto da arte poética, ambos no que diz respeito à grandeza do efeito e à dificuldade da realização. Para o todo de nossa discussão, é muito significativo e merecedor de atenção que o propósito dessa mais alta realização poética é a descrição do lado terrível da vida. A indescritível dor, a infelicidade e miséria da humanidade, o triunfo da fraqueza, o zombeteiro domínio do acaso, e a irrecuperável queda do justo e do inocente estão todos aqui representados para nós. E aqui deve ser encontrada uma significativa sugestão quanto à natureza do mundo e da existência.” A arte indica o caminho da fecundação da vida. Como já fazem a estética e as cores das flores, uma arte da natureza. Até a irracionalidade e o erro funcionam como mecanismos indutores ao conhecimento. Pois a vida é mais complexa e significativa do que a racionalidade da ciência. E ela pode brotar do inconsciente, considerado pelos racionalistas como irracionalidade. Jung: “Uma nova e poderosa vida brota justamente de onde parecia não ter existido vida e nenhum poder e nenhuma possibilidade de ulterior desenvolvimento. Ela vem escorrendo para fora do inconsciente, daquela parte desconhecida da psiquê que é tratada como nada por todos os racionalistas. Dessa desacreditada e rejeitada região vem o novo afluxo de energia, e renovação de vida. Mas o que é essa desacreditada e rejeitada fonte de vitalidade? Ela consiste em todos aqueles conteúdos psíquicos que foram

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reprimidos por causa de sua incompatibilidade com os valores conscientes. (...) O que ele uma vez desprezou agora se torna o supremo princípio, e o que foi uma vez verdade agora se torna erro. Esse reverso de valores é similar à devastação de um campo pelas enchentes.” A irracionalidade também é vida. E pode trazer vida à luz, por vias que não pertencem ao intelecto. Vida sendo o único objetivo do conhecimento. Jung: “Nos assuntos humanos, o que parece impossível pela via do intelecto tem frequentemente se tornado verdadeiro pela via do irracional.” Popper: “Uma crença ou confiança é sempre irracional, mas ela pode ser importante para a ação.” O conhecimento – a informação que otimiza a ação – pode brotar também da irracionalidade, e do erro. Sem o erro o sistema não muda porque é tomado como perfeito. E como a evolução é tudo que interessa, o erro é tão importante quanto o acerto. É por intermédio dos erros que cometemos, disse David Bohm, que somos capazes de aprender, de mudar a nós mesmos e de mudar todas as coisas. Bacon disse a mesma coisa, em outras palavras. Em suma, a otimização da ação, da vida, que é o

50 objetivo do conhecimento, pode ser produzida por uma combinação, iluminadora, do erro com o acerto.

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx IIIC - VERDADE.xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

IIIC1 - VERDADE ABSOLUTA NÃO EXISTE.

A coisa real e a representação da coisa real, conhecimento, jamais serão absolutamente iguais. Pois são coisas diferentes. Popper: “O velho ideal científico da epistemologia – do conhecimento absolutamente certo, demonstrável – tem se provado ser um ídolo.” Pascal: “Nós não possuímos nem a verdade nem o bem.” O objeto do conhecimento é o fenômeno universal de causa-e-efeito, a ação incessante que compõe tudo no universo. O objetivo final do conhecimento é a sobrevivência, a qualidade de vida, a felicidade, sapiens. E não podemos abrir mão de tentar encontrar o conhecimento, exatamente porque não podemos ser indiferentes à nossa sobrevivência, qualidade de vida e felicidade. Pascal, ‘Pensamentos’, Introdução: “Pascal convida seu interlocutor a pelo menos buscar pela verdade, mesmo que ele não a encontre, porque isso é mais razoável do que persistir em indiferença.” As dificuldades de se definir a verdade variam porque seus efeitos podem ser simples ou complexos. Claramente perceptíveis ou remotos e obscuros. Só é conhecimento a informação que comprovou-se como otimizadora da ação sapiens, em termos de sobrevivência, qualidade de vida, felicidade, sapiens. E por isso, diz Keines: “Mandeville, Malthus, Gesell e Hobson, que, seguindo suas intuições, tem preferido ver a verdade obscuramente e imperfeitamente, antes do que manter o erro, alcançado realmente com clareza e consistência por meio de lógica fácil mas sobre hipóteses inapropriadas para os fatos.” Antes dessa comprovação da utilidade para a vida, temos apenas as ‘propostas’ de conhecimento. O que separa método, o formulador da proposta, de verdade, o efeito final do instrumento, segundo o pensamento de Derrida: “É assim que se critica a linguagem das ciências humanas, Lévi-Strauss pensa poder separar deste modo o método da verdade, os instrumentos do método e as significações objetivas

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por ele visadas. (...) Lévi-Strauss será sempre fiel a esta dupla intenção: conservar como instrumento aquilo de que ele critica o valor de verdade.” O homem de ciência não se define pela posse da verdade irrefutável, mas pela persistência na busca dessa verdade, segundo Popper: “A visão errada da ciência se trai no anseio por estar certo, pois não é a sua posse do conhecimento, da verdade irrefutável, que faz o homem de ciência, mas sua persistente e inquietamente crítica busca pela verdade.” A verdade absoluta não existindo, porque a coisa real e sua representação jamais serão absolutamente iguais, pois são coisas diferentes. O conhecimento é o arranjo de representação que tem efeito positivo sobre a sobrevivência, a qualidade de vida, a felicidade, sapiens. Não é a obsessão por se aproximar cada vez mais de um alvo chamado verdade o que constitui a ciência, mas sim – pois a ciência não tem alvo em si mesma – a conquista do alvo de nossa natureza sapiens, nossa sobrevivência, qualidade de vida, felicidade. Kuhn: “Nós podemos, para ser mais preciso, ter que abandonar a noção, explícita ou implícita de que mudanças de paradigma levam os cientistas e aqueles que aprendem com eles mais perto e mais perto

51da verdade. (...) Mas nada que tem sido ou será dito faz dela, da ciência, um processo de evolução na direção de qualquer coisa. Inevitavelmente essa lacuna terá perturbado muitos leitores. Nós estamos todos profundamente acostumados a ver a ciência como aquele empreendimento que vai se deslocando constantemente para mais perto de algum alvo colocado pela natureza com antecedência.” Quando o alvo está realmente fora da ciência, na nossa sobrevivência, qualidade de vida, felicidade sapiens. Coisas que só conquistamos por intermédio da nossa ação sapiens. Sendo a otimização da ação sapiens o objetivo dos modelos cognitivos que se aproximam cada vez mais de tal objetivo, humano, não científico. Sem que a igualdade absoluta entre o real e a representação seja jamais atingida, ou necessária. A evolução, positiva, da ação - independente de igualdade absoluta entre o real e a representação - sendo o único objetivo existencial de nossa natureza sapiens. Resumindo, talvez se trate apenas de taxonomia. De trocar a palavra ‘verdade’ por alguma outra que expresse melhor o objetivo da ciência. Popper nos diz, mais ou menos, isso: “Assim, se nós fôssemos definir ‘verdade’ como ‘útil’ (como sugerido por alguns pragmatistas), ou então como ‘bem sucedido’ ou ‘confirmado’, ou ‘corroborado’, nós teríamos apenas que introduzir um novo ‘absoluto’ e ‘atemporal’ conceito para representar o papel de ‘verdade’.” E, nesse sentido, vejamos o que Popper considerou seu melhor achado dentro dessa proposição: “Não muito tempo depois que isto foi escrito, eu tive a boa sorte de encontrar Alfred Tarski, que me explicou a idéia fundamental de sua teoria da verdade. É uma grande pena que essa teoria – uma das duas grandes descobertas no campo da lógica feitas desde ‘Principia Mathematica’ – é ainda frequentemente mal entendida e mal-representada. Não pode ser enfatizado excessivamente que a idéia de Tarski sobre a verdade (para cuja definição com respeito a linguagens formalizadas Tarski deu um método) é a mesma idéia a qual Aristóteles tinha em mente e realmente a maior parte das pessoas (exceto os pragmatistas): A idéia de que a verdade é correspondência com fatos (ou com realidade). Mas o que podemos nós possivelmente significar se nós dizemos de uma declaração que ela corresponde com os fatos (ou com realidade)? Uma vez que nós percebemos que essa correspondência parece sem esperança, e como consequência, nós podemos nos tornar suspeitosos do conceito de verdade, e preferir não usá-lo. Tarski resolveu (com respeito a linguagens formalizadas) esse aparentemente desesperado

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problema fazendo uso de metalinguagem semântica, reduzindo a idéia de correspondência àquela de ‘satisfação’ ou ‘preenchimento’.” Enfim, o objetivo da ciência não é a ciência. É a vida. Assim, com a impossibilidade de identidade absoluta entre realidade e representação, o que sobra de concreto é o aperfeiçoamento de nossas ações, o único objetivo do conhecimento. Que depende de um certo direcionamento, que não depende de igualdade absoluta entre realidade e representação. Mas de direcionamento de vida, positivo apenas. Nem a física representa com igualdade absoluta a realidade, diz a teoria quântica. A realidade e a representação da realidade jamais serão absolutamente iguais. A física já reconhece isso. E esse reconhecimento foi reforçado pela teoria quântica. Polinghorne nos diz isso com absoluta firmeza: “Para os realistas, o papel da ciência é descobrir como o mundo físico realmente é. Essa é uma tarefa que nunca será totalmente cumprida. (...) Uma avaliação honesta das realizações da física pode, no máximo, alegar verossimilhança (uma representação precisa de uma variedade ampla, mas circunscrita, de fenômenos), e não verdade absoluta (uma representação total da realidade física). (...) Se a teoria quântica nos incentiva a manter flexível nossa

52 concepção do que é razoável, ela também nos incentiva a reconhecer que não existe epistemologia universal, nenhuma maneira soberana pela qual podemos esperar obter todo o conhecimento.” E as duas coisas mudam permanentemente, com maior ou menor velocidade. A representação, instrumento da natureza sapiens, tem como objetivo otimizar a ação, o viver, sapiens. Quando a representação consegue fazer isso, ela é chamada de conhecimento. Enquanto não consegue otimizar a ação sapiens, a representação não passa de ‘proposta’ de conhecimento. A idéia de a representação conseguir reproduzir com absoluta igualdade a realidade foi mais cultivada dentro da ciência da física precisamente. Mas foi abandonada de forma mais definitiva pela física quântica. Polinghorne: “Werner Heisenberg uma vez escreveu que: “Em experimentos sobre eventos atômicos, precisamos lidar com coisas que são fatos, com fenômenos que são tão reais quanto qualquer fenômeno da vida diária. Mas os átomos ou partículas elementares não são tão reais; eles formam um mundo de potencialidades ou possibilidades, em vez de coisas ou fatos. (...) Um argumento a favor dessa posição é a declaração positivista de que a ciência deve apenas correlacionar fenômenos e não aspirar a compreendê-los. Se soubermos como fazer cálculos quânticos, e se as respostas se correlacionarem de modo altamente satisfatório com a experiência empírica, como de fato ocorre, então isso é tudo o que devemos almejar. (...) Além disso, a explicação mais natural da capacidade que uma teoria tem de salvar as aparência com certeza seria que ela apresenta alguma correspondência com o modo como as coisas são. Ainda assim, Niels Bohr geralmente aparentava estar falando sobre a teoria quântica de uma ótica positivista. Uma vez, ele escreveu a um amigo que: O mundo quântico não existe. Há apenas uma descrição física quântica abstrata. É errado pensar que a tarefa da física é descobrir como a natureza é. A física lida com o que podemos dizer sobre a natureza.” A finalidade do conhecimento, que jamais consegue reproduzir a realidade de forma absoluta, é pragmática no sentido defendido por John Stuart Mill, Leibnitz, Kant, e outros. Newton se dedicou à definição de leis exatas, contemplando a aplicação rigorosa ao mundo concreto. Wiener: “Não podemos nunca comprovar, por meio de nossos imperfeitos experimentos, se este ou aquele conjunto de leis físicas é passível de verificação até a

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última decimal. A concepção newtoniana, contudo, via-se compelida a apresentar e formular os processos físicos como se estivessem, de fato, sujeitos a tais leis.” As novas teorias, ao não invalidar totalmente as anteriores, comprovam, de certa forma, a aproximação a leis de regularidade. Em entrevista sobre o paradigma holográfico, Fritjof Capra disse que uma nova teoria não invalida a antiga de modo absoluto. Simplesmente aperfeiçoa a aproximação. A física newtoniana é o exemplo padrão. A técnica quântica não mostra que a física newtoniana estava errada, mas sim que ela era limitada. No domínio dos fenômenos físicos macroscópicos, em tudo que se refere a máquinas, e assim por diante, a física newtoniana é ainda o melhor modelo, Ainda é usada toda vez que você constrói um carro, usa implicitamente a física newtoniana. Isso porque em lugar do realismo está a praticidade direcionadora de nossas ações. O conhecimento visa a sobrevivência, a qualidade de vida, a felicidade, dentro do processo do viver sapiens, todo ele composto, exclusivamente, de ações, cuja realidade física não é representada com igualdade absoluta pelo processo cognitivo representativo. Nem sequer no terreno da pretensa física pura, ou básica. O pragmatismo coloca o objetivo da ciência antes da definição absoluta da realidade, no momento da otimização da ação. E como isso é altamente produtivo, a física colheu o mérito de todas as suas realizações, sem necessidade de definição de identidade absoluta entre representação e realidade.

53Polinghorne: “Um tipo de meio-termo entre positivismo e realismo é oferecido pelo pragmatismo, a posição filosófica que reconhece o fato tecnológico de que a física nos permite realizar as coisas, mas que não vai tão longe quanto a posição realista de pensar que sabemos como o mundo realmente é. Um pragmático poderia dizer que devemos levar a ciência a sério, mas não a ponto de acreditar nela. (...) É essa fertilidade notável que convence os físicos de que realmente estão ‘prestes a descobrir algo’ e que, ao contrário das sugestões de alguns filósofos e sociólogos da ciência, não estão apenas concordando tacitamente em analisar as coisas de determinada maneira. Em vez disso estão fazendo descobertas sobre como o mundo físico realmente é.” Pois na medida em que resultados são obtidos, o objetivo da ciência sendo assim atingido, o realismo que interessa propelir adiante é a otimização da nossa ação sapiens. No sentido de produzir sobrevivência, qualidade de vida, felicidade, sapiens. À base de modelos abstratos, representativos, cada vez mais eficientes como direcionadores da ação sapiens. São os testes que buscam a aproximação à verdade absoluta, inatingível. Popper: “Nós não conhecemos: nós podemos apenas supor. E nossas suposições são guiadas pela não-científica, metafísica ( ainda que biologicamente explicável) fé nas leis, em regularidades que nós podemos revelar – descobrir. Como Bacon, nós poderíamos descrever nossa própria ciência contemporânea – ‘o método de raciocinar que os homens agora ordinariamente aplicam à natureza’- como consistindo de ‘antecipações, arrojadas e prematuras’ e de ‘preconceitos’. Mas essas maravilhosamente imaginativas e ousadas conjeturas ou antecipações nossas são cuidadosamente, sobriamente controladas por testes sistemáticos. Uma vez tocadas adiante nenhuma das nossas ‘antecipações’ são dogmaticamente sustentadas. Nosso método de pesquisa não é defendê-las, de maneira a provar quão certos nós estivemos. Ao contrário, nós tentamos derrubá-las. Usando todas as armas de nosso armamento lógico, matemático e técnico, nós tentamos provar que nossas antecipações foram falsas – de maneira a tocar para a frente, em vez delas, novas injustificadas e injustificáveis antecipações, novos impetuosos e prematuros preconceitos’,

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como Bacon derisivamente chamou eles. (...) Quase parece como se o simbolismo estivesse se tornando um valor em si mesmo, para ser reverenciado por sua sublime ‘exatidão’: uma nova expressão da velha busca por certeza, um novo ritual simbólico, um novo substituto para a religião. Ainda assim o único possível valor desse tipo de coisa - a única possível escusa para sua dúbia afirmação de exatidão – parece ser esta. Uma vez que um equívoco, ou uma contradição, são localizados, não pode haver evasão verbal: isso pode ser provado, e isso é isso.” Os testes que tornam um conhecimento ‘científico’ atestam apenas a aproximação infinita - através do controle da ação - à verdade absoluta inatingível. Popper: “Eu penso que nós teremos que ficar acostumados com a idéia de que nós não devemos olhar para a ciência como um corpo de conhecimento, mas antes como um sistema de hipóteses. Isso quer dizer, como um sistema de suposições ou antecipações que em princípio não podem ser justificadas, mas as quais nós trabalhamos enquanto elas suportarem os testes, das quais nós nunca ficaremos justificados ao dizer que nós sabemos que elas são verdade, ou mais ou menos certas, ou mesmo prováveis.” (...) A ciência nunca persegue o alvo ilusório de fazer suas respostas finais, ou mesmo prováveis. Seu avanço é antes na direção de um infinito ainda que atingível alvo: aquele de sempre descobrir novos, mais profundos, e mais gerais problemas, e de sujeitar nossas sempre tentativas respostas a sempre renovados e sempre mais rigorosos testes. (...) Outro resultado foi que nós não devemos sem crítica assumir que os cientistas sempre almejam a um alto grau de probabilidade por suas teorias. Eles têm que escolher

54entre alta probabilidade e alto conteúdo informativo, uma vez que por razões lógicas eles não podem ter ambos, e fazendo face a essa escolha, eles têm até aqui sempre escolhido o alto conteúdo informativo de preferência à alta probabilidade – desde que a teoria tenha suportado bem os seus testes.” Isso é, também, o que chamamos de utopia direcional. Aqui, dentro da ciência. Sem tais testes, entretanto, não existe nem método nem conhecimento científico. Marx: “A questão se a verdade objetiva pode ser atribuída ao pensamento humano não é uma questão de teoria mas uma questão prática. O homem deve provar a verdade, isto é, a realidade e poder, este lado de seu pensamento na prática. A disputa sobre a realidade ou não-realidade do pensamento que esteja isolado da prática é puramente uma questão escolástica.” Enfim, a ciência não tem objetivo próprio. Ela é um meio. Seu objetivo – que está fora de seu método - é o da espécie sapiens: sobrevivência e qualidade de vida. O pragmatismo máximo do conhecimento é produzir a qualidade de vida extrema, a felicidade humana. Kant: “O objetivo da ciência é a felicidade humana.” Leibnitz: “Realmente em geral eu sustento que não existe nada mais verdadeiro do que a felicidade, e nada mais feliz e mais doce do que a verdade.” A verdade absoluta não existe. O conhecimento atinge sua verdade relativa quando otimiza a ação sapiens, buscando levar essa otimização até à satisfação sapiens, maximizada na felicidade. A verdade é ‘preenchimento’ ou ‘satisfação’ (Tarski-Popper). E isto, na representação, segundo Schopenhauer e Locke, das coisas da natureza e da ação humana, inclusive da ação cognitiva. Conhecimento, verdade e felicidade só se definem a partir da ação sapiens. E a ação sapiens só se define a partir do conhecimento, da verdade, que é relativa à otimização da ação sapiens. E a verdade muda o tempo todo, junto com as mudanças da ação sapiens. Conhecimento, em coerência com isso, a informação que direciona, condiciona, otimiza a ação sapiens. A verdade é a obtenção, o preenchimento, desses efeitos. Jung: “A verdade

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não é eterna, é um programa a ser preenchido. Quanto mais ‘eterna’ uma verdade é, mais sem vida ela é e sem valor, ela não diz nada mais para nós porque é auto-evidente.” A ação sapiens está em constante mudança, mais lenta ou menos lenta. Ciência e tecnologia aceleram a mudança da ação sapiens. A verdade, por tudo isso, está em constante mudança também, mais lenta ou menos lenta, inclusive em função das transformações do real e dos instrumentos que nos dão acesso ao real. Introdução à ‘Antologia do Estruturalismo’: “A verdadeira ciência é sempre revolucionária, porque ela é a negação da verdade estabelecida, que é a verdade que ideologicamente se estabelece. Ela é sempre transformação do real, porque é sempre transformação dos instrumentos que nos dão acesso ao real.”

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx IIID - CONHECIMENTO PURO.xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxIIID1 - CONHECIMENTO PURO NÃO EXISTE. O ‘VALE DA MORTE’ ACADÊMICO.

Tudo que está na mente afeta alguma ação do portador da mente. Para o bem ou para o mal. Se afetar para o bem da ação – sobrevivência, qualidade de vida, felicidade, sapiens – é conhecimento. Se não afetar para o bem, da ação, não é

55conhecimento. Berkeley liga o conhecimento ao efeito positivo sobre a ação, lembrando o efeito dos princípios gerais de uma ciência. Perguntando se não temos nós portanto razão para concluir, que estamos errados, e que não existe com efeito nenhuma tal coisa como partes infinitamente pequenas, ou um infinito número de partes contidas em qualquer quantidade finita? Mas alguns dirão que se essa doutrina está certa, se seguirá que os próprios fundamentos da geometria são destruídos. E aqueles grandes homens que tem erguido tal ciência a uma altura tão assombrosa, tem estado o tempo todo construindo um castelo no ar. A isto pode ser replicado que, o que quer que seja útil na geometria e promova o benefício da vida humana, ainda permanece firme e inabalável nos nossos princípios. Em outras palavras, Berkeley está dizendo, indiretamente, que o efeito positivo sobre a ação, a aplicação, é mais importante do que a verdade. Ou seja, sem o uso, conhecimento não é conhecimento. É abstração pela abstração. Cognição abstrata pela cognição abstrata, proposta de conhecimento apenas, a alma equivocada da armazenagem de abstrações, de idéias mortas, praticada pelo enciclopedismo, cujo reinado está bastante difícil de se encerrar. Mesmo que o pós-enciclopedismo, comprometido com a distribuição da informação, visando a aplicação, já tenha chegado. Com a Internet se constituindo no seu marco zero para um programa de universalização dessa distribuição. Em outras palavras, um sistema voltado para a possibilidade de se ligar a totalidade do conhecimento humano à totalidade da ação humana, visando a otimização desta última. Berkeley ficaria excitadíssimo com as possibilidades empírico-experimentais oferecidas pela Internet nesse sentido. Conhecimento, ciência, é organização de vida sapiens. Malignidade é desorganização de vida sapiens, é falta de conhecimento, de ciência, para resolver os problemas humanos. É ignorância, produtora do mal. Wiener: “Já assinalei que o demônio

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contra o qual o cientista está lutando é o demônio da confusão, não da malignidade intencional.” Em outras palavras, a busca é pelo tipo de informação capaz de organizar a vida sapiens, incrementando a informação que organiza e desativando a informação que desorganiza. Pois tudo que está na mente afeta ações do portador da mente, sendo necessário estudar-se empírica-experimentalmente que informações produzem que efeitos benéficos, ou prejudiciais, ao viver sapiens. Fomentando-se em seguida, com as tecnologias do pós-enciclopedismo, a distribuição da informação positiva, a todas as ações humanas. Limpando as mentes do mal, pois tudo que está na mente afeta ações do portador da mente. Para o bem, se for conhecimento. Para o mal, se for ignorância. Estamos procurando definir os princípios simples, mas básicos e universais, e altamente testáveis, referidos por Popper como necessários para se estabelecer o ponto de partida de uma nova ciência. No caso a ciência do comportamento pós-revolução comunicacional-informacional. Com seu empirismo experimental, destinado a definir o benefício da informação para a ação sapiens, girando em torno do cruzamento ininterrupto da totalidade do conhecimento humano com a totalidade da ação humana, buscando definir-se com isso o alvo aplicado dessa ciência. Conhecimento puro não existe. Schopenhauer caiu em nítido paradoxo a respeito desse assunto. A filosofia clássica defendeu a existência de conhecimento puro, mas sem deixar de reconhecer, por outro lado, a funcionalidade do conhecimento para nossa vontade de ação. Vejamos o que disse Schopenhauer, talvez o maior exemplo dessa postura. Primeiro vejamos sua defesa enfática do conhecimento puro: “O que poderia de outra forma ser chamada a parte mais refinada da vida, sua alegria mais pura, apenas porque ela nos ergue para fora da existência real, e nos transforma em espectadores desinteressados dela, é o conhecimento puro que permanece estrangeiro

56em relação a toda vontade. (...) Consequentemente, a expressão de gênio de uma face consiste no fato de que uma decidida predominância do conhecimento sobre a vontade é visível nela, e daí que existe manifestada nela um conhecimento sem qualquer relação com a uma vontade, em outras palavras, um conhecimento puro.” O conceito filosófico-científico moderno é outro. A finalidade do conhecimento é direcionar e otimizar a nossa ação sapiens, produzindo sobrevivência, qualidade de vida, felicidade, sapiens. Se alguns conhecimentos aparentam ser puros é porque seu caminho até às aplicações é tão complexo, sutil, sofisticado e remoto, que simplesmente não somos capazes de entendê-lo e descrevê-lo. É a história, então - o longo prazo - quem se encarrega de definir se se trata mesmo, ou não, de conhecimento. Nenhum conhecimento dito puro sobreviveu se com o decorrer do tempo, que pode ser muito longo, não ficou demonstrada sua utilidade para a ação humana, em termos de favorecer nossa sobrevivência, nossa qualidade de vida, nossa felicidade, sapiens. São muitas as grandes, e importantes, teorias que acabaram superadas pelo tempo. E o próprio Schopenhauer vacilou, paradoxalmente, quando disse que ao atingir-se tal conhecimento puro, ele nos parece como uma transição para dentro do nada vazio: “Essa objeção é que, depois que nossa observação tem finalmente nos trazido para o ponto onde nós temos diante de nossos olhos em perfeita santidade a negativa e rendição de toda vontade, e assim uma libertação do mundo cuja inteira existência se apresentou a nós como sofrimento, isso agora nos parece como uma transição para dentro do nada vazio.” E, com isso, paradoxalmente, Schopenhauer, em sua vacilação de definição, cede ao racionalismo que acabou prevalecendo no pensamento moderno. O de que o conhecimento em geral, conhecimento racional tão bem como mero

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conhecimento de percepção, procede originalmente da própria vontade, pertence ao ser interior dos mais altos graus das objetificações da vontade como um mero meio para preservar o indivíduo e a espécie, da mesma forma como qualquer outro órgão do corpo. É preferível ficarmos, então, com John Stuart Mill, e seu pragmatismo amplo, que inclui a felicidade, e com David Bohm, que disse ser difícil falar em ciência sem pensar na intenção de benefício para a humanidade. O academicismo, com sua especulação em busca do conhecimento puro, reluta contra essa postura pragmática. O alvo da especulação no academicismo, a busca do conhecimento puro, busca na verdade o conforto do trabalho que foge do esforço, mais complicado e penoso, da conquista das aplicações. Berkeley diz que a própria especulação deveria, também, ter como alvo a aplicação. Pois é dito que as faculdades que temos são poucas, e estas destinadas pela natureza para suporte da vida, e não para investigar a essência interior e a constituição das coisas. Ainda que pareça a opinião geral do mundo, não menos do que desígnio da natureza e da providência, que a finalidade da especulação seja a aplicação prática, ou o aperfeiçoamento e regulação de nossas vidas e ações, ainda assim, aqueles que são mais apegados aos estudos especulativos, parecem da mesma maneira geral terem outra opinião, diz Berkeley. A censura ao academicismo já foi completa, antes de chegarmos à revolução comunicacional-informacional que está aí apontando para a busca da universalização da aplicação, a distribuição de todo o conhecimento humano a todas as ações humanas, para otimizá-las. Locke fez uma das censuras mais violentas ao academicismo: “Pois não obstante os discutidores eruditos, esse doutores sabe-tudo, foi ao estadista não escolarizado, que os governos do mundo ficaram devendo sua paz, defesa e liberdades. E foi dos iletrados e desprezados mecânicos, (um nome de desgraça) que eles receberam os aperfeiçoamentos das artes úteis. Todavia, essa

57ignorância artificial, e tagarelice erudita, prevaleceu poderosamente nessas últimas idades, pelo interesse e artifício daqueles que não encontraram um caminho mais fácil para esse apogeu de autoridade e domínio que eles tem atingido, senão divertindo homens de negócios, e ignorantes, com palavras duras, ou empregando as engenhosas e ociosas intricadas disputas, a respeito de termos ininteligíveis, e mantendo eles perpetuamente emaranhados nesse labirinto sem fim. Além disso, não existe tal caminho para obter aceitação, ou produzir defesa para estranhas e absurdas doutrinas, senão cercá-las no entorno com legiões de obscuras, duvidosas, e indefinidas palavras. Que entretanto fazem de seus refúgios, algo mais parecido com o covil dos ladrões, ou tocas de raposas, do que com as fortalezas de guerreiros honestos. E que, se é difícil tirar eles para fora deles, não é por causa da força que existe neles, mas por causa dos arbustos espinhentos, e da obscuridade do matagal com que eles estão cercados. Pois a mentira sendo inaceitável para a mente do homem, não existe outra defesa sobrando para o absurdo, senão a obscuridade.” Isso tudo já foi reconhecido por uma parte do próprio mundo acadêmico mais moderno, quando algumas universidades americanas denominaram de ‘vale da morte’ o ‘gap’ entre a pesquisa básica e as aplicações. De fato, muitos acadêmicos dentro das universidades modernas já começaram a suspeitar que não existe conhecimento puro. A imprensa já registrou isso. Sharon Begley, Newsweek, 10/11/08: “Os cientistas chamam o golfo entre uma descoberta biomédica e um novo tratamento de ‘o vale da morte’.” Isto é um grande avanço em termos de reavaliação do puro academicismo. Pois

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realmente, a distância entre uma proposta de conhecimento e sua aplicação às ações concretas do viver sapiens, que a confirma como conhecimento verdadeiro, é às vezes tão complexa, tão sutil, tão sofisticada e tão remota, que não conseguimos desvendar e explicar o caminho. É isso, em parte, o que faz resistir, dentro do mundo acadêmico, a ficção do conhecimento puro. O outro dado que faz o academicismo resistir é o conforto de lidar apenas com palavras e a glória que isso pode proporcionar. Sem qualquer compromisso de produzir e comprovar as aplicações concretas. Aplicação não traz a mesma glória que a descoberta original. Muito poucas descobertas biomédicas básicas se transformam em curas. Cientistas acadêmicos sonham com a descoberta inicial. Publicável em revistas médico-científicas. Dificuldades de passar da banca acadêmica para o lado da cama. A mesma coisa acontece com o caso dos genes ligados ao câncer e doença de Parkinson (descoberta) – não marcham até aplicação. Mas a idéia de chamar de ‘vale da morte’ a dificuldade de se passar das propostas de conhecimento para o conhecimento comprovado, via aplicação, já é, sem dúvida, um grande avanço na cura do puro academicismo. Que foi reprovado por quase todos os grandes pensadores do assunto, além de Berkeley e Locke.

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IV – ESTRATÉGIAS DE CONTROLE DO CONHECIMENTO.

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58xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxIVA - POLITEÍSMO E MONOTEÍSMO CIENTÍFICOS. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

IVA1 - POLITEÍSMO (ESPECIALIZAÇÃO E INDIVIDUALISMO) E MONOTEÍSMO (HOLISMO E HUMANISMO) CIENTÍFICOS.

William James e C.G. Jung afirmaram, com razão, que o espírito científico, tanto especializado quanto holístico, contém sua dose de religiosidade, de dogmatismo. O dogmatismo fragmentado pelas especializações nos conduz a uma espécie de politeísmo científico. b) Foucault: “Todo conhecimento, qualquer que fosse, procedia às ordenações pelo estabelecimento das diferenças e definia as diferenças pela instauração de uma ordem; isto era verdadeiro para as matemáticas, verdadeiro também para as taxionomias, em sentido lato, e para as ciências da natureza; mas verdadeiro era-o igualmente para todos esses conhecimentos aproximativos imperfeitos e em grande parte espontâneos que operam na construção do nosso discurso ou no processo quotidiano da permuta social; era verdadeiro, enfim, para o pensamento filosófico e para essas longas cadeias ordenadas que os ideólogos, não menos que Descares ou Espinosa, mas por outra forma, quiseram estabelecer para ir necessariamente das idéias mais simples e mais evidentes até às verdades mais complexas. Mas a partir do século XIX o campo epistemológico fragmenta-

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se, ou antes irradia em direções diferentes.” Jung: “Em vez de reverência por ‘idéias eternas’, o empirista tem uma crença quase religiosa em fatos. Não faz diferença, psicologicamente, se um indivíduo é orientado pela idéia de Deus ou pela idéia da matéria, ou se os fatos são exaltados como as determinantes de sua atitude. Apenas quando essa orientação se torna absoluta ela merece o nome de ‘religiosa’. De tal exaltado ponto de vista, os fatos são tão merecedores de serem absolutos como a idéia, a imagem primordial, a qual é a impressão deixada na psiquê do homem pela sua colisão por milhões de anos com os duros fatos da realidade. De qualquer forma, rendição absoluta aos fatos não pode nunca ser descrita como irreligiosa do ponto de vista psicológico.” A especialização é altamente produtiva. Mas também altamente carregada de efeitos colaterais negativos. Vide seu efeito sobre a ecologia. E o vasto risco do desenvolvimento da energia nuclear. São apenas dois exemplos entre milhares de outros efeitos colaterais negativos das especializações, que incluem a nossa especiação não-sapiens, a la formigas ou abelhas humanas. Conseqüência do nosso moderno radicalismo científico, fragmentador. Jung: “Porque a atitude cientifica contemporânea é exclusivamente concretista e empírica, ela não tem apreciação pelo valor das idéias, pois os fatos categorizam-se mais altamente do que o conhecimento das formas primordiais dentro das quais a mente humana os concebe. Esse embalo na direção do concretismo é um comparativamente recente desenvolvimento, uma relíquia do iluminismo. Os resultados são realmente espantosos, mas eles têm conduzido a um acúmulo de material empírico cuja própria imensidão produz mais confusão do que clareza. O resultado inevitável é o separatismo científico e a mitologia do especialista, a qual proclama a morte do universalismo.” Wiener: “Tive, recentemente, o privilégio de ouvir o discurso de paraninfo de um classista que deplorava a crescente força centrífuga do saber moderno, que faz com que o cientista natural, o cientista social e o homem de letras se afastem cada vez mais um do outro.” As bibliotecas se tornam cada vez mais rigidamente especializadas. Os especialistas se tornam cada vez mais iletrados fora do

59campo de sua própria especialização. Isso tudo quando as áreas mais produtivas para a produção da ciência e da tecnologia são aquelas que são desprezadas entre as várias especializações. Onde se situam os problemas humanos a serem resolvidos com ciência e tecnologia que estão por ser criadas ainda. Não encontramos mais, hoje em dia, muitos Leibniz, um espírito que tinham o comando quase completo das competências intelectuais de seu tempo. A ciência vai se tornando uma tarefa cada vez mais estreita. Controlada e descontrolada pelos especialistas. Controlada dentro do campo especializado. Descontrolada no campo da integração entre todas as especializações. A única coisa que replica o problema geral, holístico, do viver sapiens. Um século atrás não havia nenhum Leibniz, mas havia um Gauss, um Faraday, e um Darwin. Dominando um campo mais extenso de conhecimento. Hoje temos pouquíssimo eruditos que possam chamar a si mesmos de matemáticos, físicos ou biólogos, em sentido amplo, sem restrições. Os indivíduos, dentro da ciência de hoje, são apenas um topologista, ou um especialista em acústica, ou um coleopterista. Conhece bem a linguagem de seu campo, e sua literatura, mas fora disso é um zero completo com respeito à especialidade diferente de seu colega mais próximo dentro da universidade. Em todos os sistemas, a força dos efeitos colaterais negativos é proporcional à força dos efeitos positivos. E se eles não forem eliminados podem liquidar com os efeitos positivos.

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Hoje impera na ciência a estratégia das especializações, que poderíamos chamar, parafraseando William James, de politeísmo científico. O endeusamento de complexos absolutamente isolados uns dos outros. Jung: “Sua capacidade de sintetização meramente serve em primeiro lugar para construir complexos que, até onde possível, estejam isolados uns dos outros. Mas tais complexos positivamente impedem o desenvolvimento de uma mais alta unidade. (...) O complexo fica fechado longe de qualquer coisa externa e se encontra em isolamento, um fenômeno que Otto Gross (emprestando de Wernicke) chama ‘sejunção’. Um resultado da ‘sejunção’ do complexo é uma multiplicação de grupos de idéias (ou complexos) que não tem conexão uns com os outros, ou apenas uma bastante solta. Externamente tal condição mostra-se como uma desarmônica ou, como Gross chama isso, uma personalidade ‘sejuntiva’. Os complexos isolados existem lado a lado sem qualquer influência recíproca; eles não interagem, mutuamente equilibrando e corrigindo um ao outro. Ainda que firmemente trançados em si mesmos, com uma estrutura lógica, eles são privados da influência corretiva de complexos com uma diferente orientação. Aí pode facilmente acontecer que um complexo particularmente forte e por isso particularmente isolado e não influenciável se torne uma ‘idéia supervalorizada’, uma dominante que desafia toda crítica e goza completa autonomia, até que ele finalmente se torna um fator controlador de tudo, manifestando-se como ‘raiva’. Em casos patológico ele se torna uma idéia obsessiva ou paranóica, absolutamente inabalável, e governa a vida inteira do indivíduo. Sua mentalidade inteira é subvertida, tornando-se ‘desarranjada’. Essa concepção do crescimento de uma idéia paranóica pode também explicar porque, durante os primeiros estágios, ela pode ser às vezes corrigida por adequados procedimentos de psicoterapia que a tragam para dentro de conexão com outros complexos que têm uma influência ampliadora e equilibrante. Os paranóicos são muito atentos contra associar complexos desconectados. Eles sentem que as coisas têm que permanecer nitidamente separadas, as pontes entre os complexos são derrubadas tanto quanto possível por uma super-precisa e rígida formulação de conteúdo do complexo. Gross chama esta tendência de ‘medo da associação’, a rígida coesão interna de tais complexos impede todas as tentativas de influenciá-los a partir do lado de fora. A

60tentativa é bem sucedida apenas quando ela é capaz de atar o complexo a outro complexo tão firmemente e logicamente como ele está atado em si mesmo. A multiplicação de complexos insuficientemente conectados naturalmente resulta em rígido afastamento em relação ao mundo exterior e a uma correspondente acumulação de libido dentro dele.” Badiou: “O pseudo conceito de resultado pretende descrever a ciência como um conjunto de ‘verdades’, dispersas em função do processo da sua produção. É precisamente em nome desta separação que Hegel condena o conhecimento matemático, ao dizer que o movimento da demonstração matemática não pertence ao conteúdo do objeto, mas é uma operação exterior à coisa.” Os efeitos negativos desse politeísmo científico são tão grandes, que podemos falar de um efeito geral desequilibrante em relação ao que seria um monoteísmo científico, um holismo científico, a articulação do sistema cognitivo como um todo, que representaria muito mais a realidade do universo, e da sobrevivência, da qualidade de vida, da felicidade do ser sapiens dentro dele. Está na hora de fazer o que fizeram as religiões, passando do politeísmo científico para o monoteísmo. Quem está nos dizendo que está na hora de fazer isso – e nos oferecendo a tecnologia comunicacional-informacional para conseguirmos fazê-lo – é a revolução comunicacional-informacional que está aí. Nos

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advertindo, inclusive, de que se não o fizermos – equilibrando nossa cognição em relação ao viver e à especiação sapiens integrais – corremos o risco de uma catástrofe para a humanidade, produzida pelos efeitos colaterais negativos das especializações. A falta de holismo vinculante à vida sapiens, é a decretação da morte futura de quaisquer conhecimentos especializados. Badiou: “Toda a polêmica contemporânea contra a frieza, a exterioridade, a impermeabilidade do saber científico, todo o esforço que vá ao ponto de opor a inércia-totalizada dos objetos científicos ao movimento totalizador do pensamento cientifico, conduz finalmente a essa figura da Morte em que Hegel fixa o resultado sem memória da ciência.”

IVA2 - ESPECIALIZAÇÃO: DIMINUIÇÃO DO CONHECIMENTO, E DO INDIVÍDUO. E SEUS DEMAIS EFEITOS COLATERAIS NEGATIVOS.

As especializações são um racionalismo simplificador dentro do problema da evolução sapiens. Mas o racionalismo simplificador sozinho não conduz ao caminho completo do desenvolvimento sapiens. Jung: “Nosso ‘fazer’ racionalista, que é a grandeza da mesma forma que o mal de nosso tempo, não conduz ao ‘tao’ (o caminho).” O caminho da evolução sapiens. Nos conduz, em vez disso, ao caminho de uma evolução assemelhada à das formigas e abelhas. A especialização é o mais poderoso mecanismo de produtividade da ciência e da tecnologia modernas. Mas o viver sapiens não é apenas ciência e tecnologia. O especialista é um ser humano incompleto. Jung foi taxativo e insistente com relação a essa questão: “Nós possuímos hoje uma altamente desenvolvida cultura coletiva a qual em organização excede de longe qualquer coisa que tenha acontecido antes, mas a qual por essa mesma razão tem se tornado crescentemente prejudicial à cultura individual. Há um profundo golfo entre o que um homem é e o que ele representa, e entre o que ele é como um indivíduo e o que ele é como um ser coletivo. Sua função é desenvolvida às expensas de sua individualidade. (...) Ainda que a diferenciação da única função, a respeito da qual nós falamos acima, seja um desenvolvimento de um valor individual, ela é ainda assim tão largamente determinada

61 pelo ponto de vista do coletivo que, como nós temos visto, ela se torna prejudicial ao indivíduo ele próprio. (...) Um alto nível de cultura individual foi, sem dúvida, alcançado por certas personalidades exemplares, mas uma cultura coletiva era bastante desconhecida do mundo antigo. Essa realização foi reservada para a cristandade. Daí ocorre que, como uma massa, os modernos conseguem não apenas se pôr à altura dos gregos, mas por todos os padrões de cultura coletiva facilmente ultrapassam eles. Por outro lado, Schiller está perfeitamente certo em sua contestação afirmando que a nossa cultura individual não se manteve à altura de nossa cultura coletiva, e ela certamente não melhorou durante os cento e vinte anos que tem se passado desde que Schiller escreveu . Bem ao contrário. (...) Não é o homem que conta, mas a sua função diferenciada. O homem não mais aparece como o homem em nossa cultura coletiva; ele é meramente representado por uma função, e o que é mais, ele se identifica completamente com essa função e nega a relevância das outras funções inferiores. Assim o homem moderno é rebaixado a uma mera função, porque é isso que representa um valor coletivo e somente isso garante um ganho de vida possível.” É

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impossível colocar-se na mente de um indivíduo a totalidade do conhecimento humano. Mas essa é a direção do esforço que deve ser feito pela evolução sapiens, sem a ilusão da possibilidade de se atingir o alvo absoluto. O desenvolvimento parcial é obviamente inferior ao holístico. Jung: “Em vez disso, a função mais valorizada dentro do indivíduo foi preferida acima das funções inferiores. Deste modo a principal importância foi atribuída à única função valorizada, em detrimento de todas as restantes. (...) A diferenciação de uma função entre diversas inevitavelmente conduz à hipertrofia dela e à negligência e atrofia das outras. (...) Schiller, citado por Jung: Confinando nossa atividade a uma única esfera nós nos entregamos a algum senhor que não pouco frequentemente terminará por suprimir o resto de nossas capacidades. Enquanto em um lugar uma imaginação luxuriante devasta os frutos duramente conquistados do intelecto, em outro o espírito da abstração sufoca o fogo no qual o coração podia ter aquecido a si próprio e a fantasia ter sido incendiada. Se a comunidade faz da função a medida de um homem, se ela respeita em um de seus cidadãos apenas a memória, em outro um intelecto tabulador e em um terceiro apenas habilidades mecânicas, se, indiferente ao caráter, ela aqui põe ênfase sobre o conhecimento apenas, e lá perdoa a escuridão mais profunda do intelecto desde que ela coexista com um espírito de ordem e um comportamento respeitador da lei – se ao mesmo tempo ela requer que essas aptidões especiais sejam exercidas com uma intensidade proporcional à perda de extensão que ela permite aos referidos indivíduos – podemos nós então ficar admirados de que as restantes aptidões da mente se tornem negligenciadas de maneira a colocar toda atenção sobre a única que traz honra e proveito? ” Esta é a principal utopia direcional da natureza sapiens: Colocar na mente do indivíduo a totalidade do conhecimento humano. Jung: “Eu tenho dito, que por baixo das funções negligenciadas jazem escondidos muito mais altos valores individuais, os quais ainda que de pequena importância para a vida coletiva, são do maior valor para a vida individual, e são por isso valores vitais que podem dotar a vida do indivíduo com uma intensidade e beleza que ele em vão procurará em sua função coletiva. A função diferenciada traz para ele a possibilidade de um existência coletiva, mas não aquela satisfação e ‘joie de vivre’ a qual somente o desenvolvimento dos valores individuais pode trazer. (...) Schiller, citado por Jung: “Assim, conquanto muito possa ser ganho para o mundo como um todo por esse cultivo fragmentado dos poderes humanos, é inegável que os indivíduos, a quem isso afeta, sofrem sob a maldição desse alvo universal. Corpos atléticos são certamente

62desenvolvidos por meio de exercício ginástico, mas apenas através do livre e equilibrado jogo dos membros é a beleza formada. Do mesmo modo o exercício dos talentos individuais certamente produz homens extraordinários, mas apenas seu tratamento equilibrado produz homens completos e felizes.” A evolução do ser sapiens é, toda ela, direcionada por utopias. A medicina, por exemplo, evolui direcionada pela idéia, utópica, de derrotar a morte. E a principal utopia direcional da natureza sapiens é, sem dúvida, a de colocar todo o conhecimento humano dentro do cérebro do indivíduo. A falta de ética no tratamento mecanicista do indivíduo, submetido a baixos níveis de especializações, está aumentando, não está diminuindo, e sugere uma obsoletização crítica para o desenvolvimento da espécie como seres sapiens completos. Jung: “Quanto mais a vida de um homem é formatada pela norma coletiva, maior é a sua imoralidade individual. (...) Schiller coloca a responsabilidade por esse declínio do individuo moderno sobre a cultura, isto é, sobre a diferenciação de funções.” Diz Jung que nos cento e vinte anos que se

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passaram desde que Schiller escreveu suas cartas, as condições com respeito à cultura individual passaram de mal para pior. A mecanização rudimentar das massas vai se acentuando. Apontando para a evolução de um sistema social fundamentado na transformação da nossa espécie em formigas humanas. Os efeitos colaterais negativos das especializações nos ameaçam até mesmo com a extinção da espécie sapiens. As especializações são hoje, sem dúvida, o grande instrumento de nosso desenvolvimento científico e tecnológico. Entretanto, em todos os sistemas, quando existem efeitos colaterais negativos, estes são tão poderosos quanto os efeitos positivos do sistema. E, se não forem eliminados, podem acabar destruindo o sistema. Ao se examinar os grandes problemas da humanidade no momento, fica bastante clara a vasta responsabilidade das especializações por trás das atividades causadoras. Skinner: “Nós podemos todavia apontar para muitas razões pelas quais as pessoas deveriam agora estar preocupadas pelo bem de toda a humanidade. Os grandes problemas do mundo hoje são todos globais. Superpopulação, o esgotamento de recursos, a poluição do meio-ambiente, e a possibilidade de um holocausto nuclear – essas são as não-tão-remotas conseqüências dos presentes cursos de ação.” Os três últimos problemas claramente vinculados a especializações desarticuladas do holismo orgânico do viver da espécie. b) Wiener: “Similarmente, na ausência de fome, superprodução de comida, sem propósito, e uma atitude de desperdício e esbanjamento se tornam sérios problemas.” Tudo falta de popularização de controles nas respectivas áreas especializadas. Nós podemos, por exemplo, induzir as pessoas a ter menos filhos, gastar menos em armas nucleares, parar de poluir o meio-ambiente e consumir recursos numa taxa mais baixa, sem dúvida alguma. Todos programas de responsabilidade de setores especializados, alienados com relação aos seus respectivos problemas. É o risco, gigantesco, que corremos com a estratégia das especializações. A energia nuclear é o grande exemplo disso. Mas não é o único. As especializações, interessadas apenas em sua glória e seu lucro financeiro, estão devastando os recursos naturais e produzindo, entre outras coisas, um desequilíbrio ecológico que pode ser fatal para a humanidade. Sobre esse isolamento do interesse das especializações, nos diz Skinner: “E não é difícil demonstrar uma conexão entre o ilimitado direito do indivíduo de perseguir a felicidade e as catástrofes ameaçadas pela procriação irrestrita, o irrestrito enriquecimento que exaure os recursos e polui o meio-ambiente, e a iminência da guerra nuclear. (...) A indústria que se estrutura dentro da irrestrita perseguição da felicidade, pode ter um valor acidental de sobrevivência quando material de guerra é subitamente necessitado,

63 mas ela pode também exaurir os recursos naturais e poluir o meio-ambiente.” Além de sabotar a nossa evolução sapiens integral e orgânica. A saída é uma ciência, uma tecnologia, e um comportamento, holísticos. Não temos saída fora do pensamento e da sabedoria globais com todas as especializações devidamente articuladas. Skinner: “A física pode nos dizer como construir uma bomba nuclear mas não se ela deveria ser construída. A biologia pode nos dizer como controlar os nascimentos e adiar a morte mas não se deveríamos fazer assim. Decisões a respeito dos usos da ciência parecem demandar um tipo de sabedoria a qual, por alguma curiosa razão, é negada aos cientistas. Se eles devem fazer julgamentos de valor de todo, é apenas com a sabedoria que eles partilham com as pessoas em geral.” Ou, como necessário - para uma ciência holística, que articule todas as especializações - dentro de uma interpretação

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orgânica integral das conveniências para o viver sapiens. Que busquem articular entre si todas as especializações e produzir com isso um equilíbrio holístico. Pois os riscos de hoje tem muitas faces, cada uma delas geralmente correspondendo a efeitos colaterais negativos de alguma especialização. b) Wiener: “Em outras palavras, enquanto no passado a humanidade tem enfrentado muitos perigos, estes foram muito mais fáceis de manejar, porque em muitos casos o perigo se oferecia de um lado apenas. (...) b) É relativamente fácil promover o bem e lutar contra o mal quando mal e bem estão arranjados confrontando um o outro em duas linhas claras, e quando os que estão do outro lado são nossos inquestionáveis inimigos, e aqueles de nosso lado nossos confiáveis aliados.” Usando a metáfora criada por William James sobre a religiosidade da ciência, diríamos que temos que passar, da mesma forma que as religiões fizeram, de um politeísmo científico para um monoteísmo científico. De um pragmatismo individualista, no uso da ciência e da tecnologia, para um pragmatismo humanista, o do interesse, orgânico, da humanidade como um todo. Equilíbrio de ação sapiens global. Ou o desastre para a humanidade, mais cedo ou mais tarde. Skinner: “A espécie humana jamais alcançará um estado final de perfeição antes de ela ser exterminada – alguns dizem com fogo, alguns com gelo e alguns com radiação.” Ou então, com as especializações nos remetendo para uma extinção da espécie sapiens. Ao insistirmos na radicalização das especializações, podemos estar convidando uma dessas limitações da natureza, onde órgãos altamente especializados entram em eficiência declinante e conduzem à extinção da espécie. O cérebro humano, com a radicalização das especializações pode estar seguindo o mesmo caminho do grande chifre no nariz do último titanossauro. Como nos disse Norbert Wiener.

IVA3 - EQUILIBRAR EXTROVERSÃO (PRAGMATISMO INDIVIDUALISTA, ESPECIALIZAÇÃO) E INTROVERSÃO (PRAGMATISMO HUMANISTA, HOLÍSMO E ÉTICA).

A concentração da atenção no objeto e em todas as suas particularidades conduz o esforço cognitivo à especialização. À mitologia da descritiva do objeto em vez de à mitologia das idéias gerais e eternas. Jung: “A excessiva importância atribuída aos objetos faz erguer-se na ciência um certo tipo de teoria favorecida pelos especialistas, a qual por exemplo frutificou na psiquiatria na forma da ‘mitologia do cérebro’ mencionada no Capítulo VI (pg. 479). Em todas tais teorias uma tentativa é feita para elucidar-se um muito largo espectro de experiências em termos de princípios os quais, ainda que aplicáveis sobre uma pequena área, são inteiramente inapropriados para

64outros campos. Conversamente, o pensamento abstrato, tomando conhecimento de fatos individuais apenas por causa de suas similaridades com outros, formula uma hipótese geral a qual, enquanto apresentando a idéia liderante em mais ou menos pura forma, tem tão pouco a ver com a natureza dos fatos concretos como um mito. Quando levados a extremos, portanto, ambos os tipos de pensamento criam uma mitologia, uma expressada concretamente em termos de células, átomos, vibrações, etc., a outra abstratamente em termos de idéias ‘eternas’. (...) É igualmente claro que a atitude orientada pelo objeto sempre tende em direção à pluralidade de princípios, porque a multiplicidade de qualidades objetivas necessita uma pluralidade de conceitos sem o que a natureza do objeto não pode

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ser adequadamente interpretada. A tendência monística é uma característica da introversão, a pluralística da extroversão.” A concentração no todo do universo e da condição sapiens conduz a mente à abstração das idéias gerais. A introversão, monística, é o mecanismo capaz de arranjar a multiplicidade e o caos em uma ordem controlável pela nossa mente. Jung: “Essa concentração no mundo interior do pensamento não é outra coisa senão introversão. Até onde a experiência representa algum papel com esses filósofos, ela serve apenas como uma aperfeiçoadora da abstração, para a necessidade imperativa de ajustar a multiplicidade e caos dos eventos para dentro de uma ordem a qual, em último recurso, é a criação de pensamento puramente subjetivo.” O extrovertido permanece na superfície do mundo, que vai se modificando o tempo todo. E ele partilha dessa instabilidade imediatista. Ele enxerga todos os seus detalhes, mas vai se tornando incapaz de entender a unidade orgânica do sistema existencial humano. Essa unidade orgânica e evolutiva só está ao alcance da mente introvertida. As duas atividades mentais são necessárias. Tanto o realismo do extrovertido, quanto o idealismo do introvertido, o primeiro programático, e o segundo racional. Jung, citando Schiller: “Depois disso nada sobra do ingênuo, do lado teórico, senão um sóbrio espírito de observação e uma dependência fixa do testemunho uniforme dos sentidos; e, do lado prático, uma submissão resignada às exigências da natureza. (...) Do caráter sentimental nada sobra, do lado teórico, senão um espírito inquieto de especulação que insiste no absoluto em cada ato de cognição, do lado prático, um rigorismo moral que insiste no absoluto em cada ato da vontade. Quem quer que conta a si mesmo entre os primeiros, pode ser chamado um ‘realista’ e , entre os últimos, um ‘idealista’.” Impossível medir o pensar do extrovertido com os parâmetros da introversão, e vice-versa. Os determinantes das duas coisas são inteiramente diferentes. Enquanto o introvertido é sistêmico, racional, orgânico, o extrovertido é imediatista, casual, programático, e não atinge a unidade orgânica do fenômeno existencial sapiens, que só é visível no holismo. Mas estamos valorizando excessivamente as especializações e desprezando seus efeitos colaterais negativos. Entre os quais o mais poderoso deles, em termos de aplicação à vida, é a falta de organicidade da totalidade das aplicações. Como se vê, por exemplo, abundantemente, no terreno da ecologia, extremamente afetado de forma negativa pela ciência e pela tecnologia das especializações desarticuladas. Essa falta de unidade é denunciada por Jung: “Para ele ( o extrovertido, o especialista) princípios são sempre de menos valor do que fatos; se ele tem algum, eles meramente refletem e descrevem o fluxo dos eventos, e são incapazes de formar um sistema. Permanecendo na superfície sempre cambiante do mundo dos fenômenos, ele próprio partilha de sua instabilidade; ele vê todos os seus aspectos, todas as suas possibilidades teóricas e práticas, mas ele nunca chega à unidade de um sistema estabelecido.” É urgente, para evitar o desastre, ampliar o domínio da criatividade de nossa introspecção e sua missão de equilibrar a

65 evolução sapiens em termos holísticos. É o introvertido quem se responsabiliza por desenhar esse holismo requerido da ciência e da tecnologia pela própria vida. Jung: “Para o tipo introvertido, o universo não parece bonito e desejável, mas inquietante e mesmo perigoso; ele entrincheira a si mesmo na sua fixidez interior, garantindo-se com a invenção de figuras geométricas regulares cheias de repouso, cujo primitivo, mágico poder lhe assegura o domínio sobre o mundo ao redor.” É Prometeu, o introvertido, quem pensa no futuro, não Epimeteu, o extrovertido. Jung: “A atitude de Epimeteu é adaptada ao mundo

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como ele é na realidade, mas a atitude de Prometeu não é, e por essa razão ela tem que trabalhar por uma renovação da vida. (...) A linha de vida que Prometeu escolhe é inequivocadamente introvertida. Ele sacrifica toda conexão com o presente de maneira a criar com pensamento antecipado um futuro distante.” A ciência do comportamento pós-revolução comunicacional-informacional fará isso se cruzar, ininterruptamente, a totalidade do conhecimento humano com a totalidade da ação humana, obedecendo à utilidade para todas as ações de todos os indivíduos da espécie sapiens, vinte e quatro horas por dia. Precisamos do extrovertimento dos especialistas, e dispomos dele com abundância, mas precisamos também do introvertimento dos pensadores gerais, holísticos, e estamos muito mal servidos disso no momento. Sobra gênio civilizador, voltado para realizações práticas, no mundo atual, mas está nos faltando, e muito, Gross deixou de dizer isso, o gênio cultural holístico voltado para a invenção abstrata que unifica as nossas percepções em termos de vida completa. Jung, mencionando Gross: “Do tipo extrovertido Gross deriva o que ele chama de ‘gênio civilizador’, e do tipo introvertido o ‘gênio cultural’. O primeiro ele equaciona com ‘realizações práticas’, o último com ‘invenção abstrata’. (...) Gross escreveu isso em 1902. E agora, se devêssemos expressar uma opinião de todo, nós teríamos que dizer que nós obviamente precisamos de ambas, civilização e cultura.” Proposta tecnológica central do III cérebro sapiens, externo, tecnológico, artificial, coletivo e democrático: Equilibrar as duas coisas. Cérebro tecnológico sobretudo holístico, em compromisso com um pragmatismo humanista, do controle da ação humana como um todo. Visando contrabalançar o desequilíbrio produzido pelo pragmatismo individualista, que não domina todo o conhecimento, e é obcecado apenas pela sua avidez por fama e dinheiro. Pragmatismo individualista que impulsiona perigosamente os inúmeros efeitos colaterais negativos das especializações. Como vemos na ecologia. Equilibramento da extroversão pela introversão, que é a tarefa pedida por Jung do futuro da psicologia: “Essas declarações correspondem exatamente ao meu próprio ponto de vista sobre a teoria da libido, a qual procura manter o equilíbrio entre os dois opostos psicológicos da extroversão e introversão. (...) A difícil tarefa de criar uma psicologia que seja igualmente justa para com ambos os tipos (extrovertido e introvertido) tem que ser reservada para o futuro.” É o que estaríamos buscando fazer, ao produzir com o III cérebro sapiens algum equilíbrio entre extroversão e introversão, que está faltando. Partindo do cruzamento permanente, vinte e quatro horas por dia, da totalidade do conhecimento humano com a totalidade da ação humana, estaremos priorizando a busca de visão para o todo do unitarismo orgânico de todo o processo de ação, de viver, sapiens. Para se chegar ao equilíbrio, desequilibrado pelo extrovertimento radicalizado das especializações, muitas vezes. Mas também contemplando, de forma mais organizada, todas as tratativas especializadas, à luz de toda a informação que as possa otimizar. Mas articuladamente.

66 Precisamos urgentemente evoluir do pragmatismo individualista para o pragmatismo humanista. No pragmatismo individualista radicalizado, o indivíduo cuida apenas de sua carreira, no seio da maior ou menor desordem que reine no conjunto de todas as carreiras individuais que formam a sociedade. A defesa mais consistente de um pragmatismo humanista, social, coletivo, organizador da sociedade sem prejuízo para o individualismo - ao contrário, em seu benefício - foi feita por Skinner, onde buscamos o suporte teórico para o tratamento deste assunto: “Os mesmos três níveis podem ser

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detectados no desenho de uma cultura como um todo. Se o planejador é um individualista ele vai planejar um mundo no qual ele estará debaixo de controle aversivo mínimo, e aceitará o seu próprio bem como o valor supremo. Se ele foi exposto a um adequado meio-ambiente social, ele planejará para o bem dos outros possivelmente com uma perda de bem pessoal. Ele está preocupado prioritariamente com o valor da sobrevivência, ele planejará uma cultura com uma atenção para se ela vai funcionar.” Cultura: O conjunto das ‘formas’ de ação da sociedade. A carreira individual produzida por um pragmatismo estritamente individualista não encontra muita facilidade para ser ali bem sucedida. Fora de sua harmonia com o contexto sócio-cultural. Jung: “ Sob nenhumas circunstâncias pode a individualização ser o único alvo da educação psicológica. Antes que ela possa ser tomada como um alvo, o alvo educacional da adaptação ao necessário mínimo de normas coletivas deve primeiro ser atingido. Se uma planta deve desdobrar sua natureza específica completamente, ela deve ser capaz primeiro de crescer no solo no qual ela está plantada.” Já no mesmo esforço feito dentro de uma sociedade mais bem organizada em termos do conjunto de carreiras individuais – estamos nos referindo a sociedades com a organização social e o sistema de produção mais desenvolvidos, sejam elas capitalistas ou socialistas, não importa – o indivíduo encontra maior facilidade para desenvolver e ser bem sucedido em sua carreira individual. Em outras palavras, o pragmatismo individualista funciona melhor dentro das sociedades mais bem organizadas em termos de pragmatismo humanista, o da organização da ação como um todo social. Isto é, em termos da organização social, ocupacional e produtiva, da sociedade como um todo. O mundo é abundante em exemplos dessas diferenças entre sociedades mais bem organizadas ou menos bem organizadas em seu pragmatismo coletivo, ou seja, social e produtivo. Isso prova que ao pragmatismo individualista inteligente interessa, e muito, a organização pragmática da sociedade como um todo, que é humanista. Isto é, a organização pragmática da cultura coletiva. Vida, liberdade, a busca da felicidade são direitos básicos. Mas tais coisas, diz Skinner, são os direitos do indivíduo e foram listadas como tais a um tempo quando as literaturas da liberdade e dignidade estavam preocupadas com o crescimento do indivíduo. Elas tem apenas um embasamento menor sobre a sobrevivência de uma cultura. Isto é, sobre a forma integral de ação da sociedade, e seu sucesso. Pouco importando que se trate de uma sociedade socialista ou capitalista. Exemplos históricos de sucesso e fracasso nisso existem em ambos os casos. A revolução comunicacional-informacional está trazendo ciência e tecnologia para se organizar melhor o mundo ocupacional da sociedade como um todo. A preocupação dos pensadores, até aqui, foi como fazer isso. Foucault: “O problema é saber como, a partir da multiplicidade dos indivíduos e das vontades, é possível formar uma vontade única, ou melhor, um corpo único, movido por uma alma que seria soberana.” Como a atividade humana holística é sistêmica, é orgânica, o ponto de partida para uma organização mais completa e mais profunda do mundo ocupacional, da sociedade como um todo, está no mapeamento orgânico das ações humanas e do

67conhecimento que cada uma das ações humanas utiliza para se tornar produtiva e articulada às outras ações humanas. É com a visão remota dos efeitos da cultura social que se chega lá, ao bem de todos e ao bem do indivíduo. Skinner: “Possivelmente indiretamente, outras pessoas tragam o indivíduo para debaixo do controle de algumas conseqüências remotas de seu comportamento, e o bem dos outros então redunda em bem para o indivíduo.” A partir

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daí as possibilidades das carreiras dos indivíduos se articularem e se ampliarem mais ricamente em potenciais produtivos, ou variedades possíveis ao alcance do pragmatismo individualista, cresce em muito. Precisamos de ciência e de tecnologia da ação e do conhecimento a ela aplicado para se estruturar uma sociedade rica em oportunidades de carreiras individuais. Esse pragmatismo, holístico e orgânico, do todo de tais carreiras, já ocorre espontaneamente em algumas sociedades. Mas podemos desenvolvê-lo artificialmente a partir do empirismo experimental de uma ciência do comportamento modelada pela revolução comunicacional-informacional, que cruze, vinte e quatro horas por dia, a totalidade do conhecimento humano com a totalidade da ação humana. Para definir-se a organicidade do holismo sistêmico condicionante do maior pragmatismo humanista - remoto e ético em consequências - que for possível modelar-se. É preocupação da ética as consequências remotas do comportamento. Skinner: “A ética e a moral estão particularmente preocupadas com trazer para dentro do jogo as consequências mais remotas do comportamento. Existe uma moralidade das consequências naturais.” Ou seja, a cultura produtiva geral da sociedade, a mais altamente organizada possível como um todo, é o que existe de mais propício possível ao desenvolvimento dos pragmatismos individualistas. Que não precisam ser exclusivistas e radicalizados. Não existe incompatibilidade entre as duas coisas, pragmatismo individualista e pragmatismo humanista. Jung: “Apenas uma sociedade que pode preservar sua coesão interna e valores coletivos, enquanto ao mesmo tempo garantindo ao indivíduo a maior liberdade possível, tem qualquer perspectiva de vitalidade duradoura. Como o indivíduo não é apenas um único, separado ser, mas pela sua própria existência pressupõe uma relação coletiva, segue-se que o processo de individualização deve conduzir ao mais intenso e mais largo relacionamento coletivo e não ao isolamento.” Controles organizados para o bem do indivíduo e para o bem de todos os outros conflitam, às vezes, entre si. O equilíbrio só pode ser buscado por um controlador holístico. O individualista controla apenas para o seu próprio bem. Para se corrigir o equilíbrio, a natureza do controle é que tem que ser redefinida. Aumentar o controle, sem aperfeiçoá-lo não funciona. Mas permitir apenas o controle na direção do completo individualismo, e da libertação total em relação a controles, está igualmente errado. O que precisa ser feito é aperfeiçoar o controle. Super-informando os indivíduos. Mas é o pragmatismo humanista que abre os caminhos mais fecundos para o pragmatismo individualista. Enquanto que o pragmatismo individualista exclusivista e radicalizado, com desprezo total pelo pragmatismo humanista, da sociedade como um todo, não só destrói as perspectivas da sociedade, como também as suas própria perspectivas individualistas, erroneamente radicalizadas em interesses excludentes do interesse de todos os outros individualismos. O pragmatismo humanista, de uma cultura como um todo, é a tarefa do planejador cultural das ações de uma sociedade. Skinner: “Um bem pessoal remoto se torna efetivo quando uma pessoa é controlada para o bem dos outros, e a cultura que induz alguns de seus membros a trabalhar pela sobrevivência dela traz uma ainda mais remota consequência. (...) A tarefa do planejador cultural é acelerar o desenvolvimento de práticas que façam as consequências remotas do comportamento funcionarem. (...)

68“Como temos visto, o homem não é um animal moral no sentido de possuir um traço ou uma virtude especial; ele construiu um tipo de ambiente social que o induz a se comportar de modo moral.” O que será obtido se informarmos plenamente todas as possibilidades de ação e de carreiras de vida e de trabalho, individuais, altamente personalizadas, e

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potencializadas – o mais holisticamente possível - para todos os indivíduos da sociedade. Organizando-se assim o espaço para o florescimento da ética, dentro do pragmatismo humanista.

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxIV - ENCICLOPEDISMO E PÓS-ENCICLOPEDISMO. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

IVB1 - ENCICLOPEDISMO, ESTOCAGEM, E PÓS-ENCICLOPEDISMO, CIRCULAÇÃO DO CONHECIMENTO ATÉ À AÇÃO..

Conhecimento estocado fossiliza-se, pois conhecimento só é conhecimento na hora de otimizar a ação sapiens. Conhecimento sendo, ele próprio, um processo de ação constituído pelo envolvimento informacional do observador com o fenômeno causa-e-efeito, segundo Kant. A armazenagem da observação em palavras cessando de ser conhecimento vivo, como diz Schopenhauer, e passando a ser apenas ‘proposta’, abstrata, de conhecimento. Wiener diz o seguinte: “A informação é mais um problema de processo que de armazenagem. O país que desfrutará de maior segurança será aquele cuja situação informacional e científica se mostrar à altura das exigências que lhe possam ser feitas - o país no qual houver plena consciência de que a informação é importante como um estágio do processo contínuo pelo qual observamos o mundo exterior e agimos de modo efetivo sobre ele. Por outras palavras, quantidade alguma de pesquisa científica, cuidadosamente registrada em livros e documentos e depois guardada em nossas bibliotecas com etiquetas de sigilo, bastará para nos proteger, por qualquer período de tempo, num mundo em que o nível efetivo de informação está perpetuamente avançando.” Antes do teste do uso na ação, temos apenas ‘propostas’ de conhecimento, pois o objetivo do conhecimento sendo a otimização da ação sapiens, ele só é atestado como conhecimento ao atingir seu objetivo, deixando de ser apenas ‘proposição’ abstrata. E como a relação conhecimento-ação e ação-conhecimento é evolutiva – não cessa de modificar-se - a estocagem é morte para o conhecimento. Como nos diz Wiener: “A idéia de que a informação possa ser armazenada, num mundo em mudança, sem com isso sofrer enorme depreciação, é uma idéia falsa.” Schopenhauer disse em vários trechos de sua obra que o conhecimento estocado fossiliza-se. Deixa de ser conhecimento vivo, para se tornar apenas um fóssil de conhecimento. Isto é, uma reprodução, representativa, que deixa de movimentar a ação, a vida, e com isso passa a ser apenas proposição, reprodução ficcional de conhecimento. Pois representação, conhecimento, e realidade jamais serão exatamente idênticos. A identidade entre as duas coisas ocorrendo apenas no instante da ação, no momento em que o conhecimento se converte em alguma ação útil. As bibliotecas, portanto, são depósitos de fósseis de conhecimento. É claro que o estudo dos fósseis é algo de útil para o desenvolvimento de conhecimento. Mas conhecimento é só aquilo que otimiza a ação, e no momento de otimizar a ação. Fora dessa circunstância as informações do pretenso conhecimento não passam de proposição de conhecimento. Para produzir uma

69imagem dramática de sua definição, Schopenhauer imaginou Xerxes chorando diante da visão de seu enorme exército, ao pensar que dentro de cem anos mais nenhum deles estaria

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vivo. E Schopenhauer comparou a biblioteca com isso. Os livros todos mortos dentro de dez anos, disse ele. Acrescentando que os gênios do conhecimento são aqueles que leram as coisas dentro das realidades e não dentro dos livros. Nenhuma dúvida, então, de que o relacionamento conhecimento-ação é fundamental não só para a ação, mas também para a vitalidade do conhecimento. À nossa confinação ao poder de comunicação – muito limitado – da estocagem do conhecimento chamamos de enciclopedismo. Vamos chamar de pós-enciclopedismo o vasto poder comunicacional oferecido agora pela revolução comunicacional-informacional que está aí, com sua roda inventada pelo século XX, a Internet. No tempo de Diderot, a biblioteca e a enciclopédia eram os mais eficientes mecanismos tecnológicos de distribuição do conhecimento. O propósito de uma enciclopédia, para Diderot, é coletar todo conhecimento disponível, revelar sua estrutura geral para uma audiência de contemporâneos, e preservá-la para futuras gerações, de maneira que nossos filhos, tornando-se mais bem instruídos, possam se tornar ao mesmo tempo mais virtuosos e felizes. Com a criação da Internet – a roda inventada pelo século XX – a biblioteca e a enciclopédia se obsoletizaram em larga medida como mecanismos de distribuição do conhecimento. Como já antevia Schopenhauer, ao dizer que conhecimento estocado fossiliza-se. Hoje, com a Internet e sua nuvem, estamos a caminho de poder distribuir a todas as ações humanas, vinte e quatro horas por dia, a totalidade do conhecimento humano que pode otimizá-las. Um serviço similar, em termos distributivos, aos de distribuição de água ou de energia elétrica. Vamos chamar isso de pós-enciclopedismo. Que levará, sistematicamente, a totalidade do conhecimento humano até à meta de sua aplicação na ação, o mecanismo que combate a fossilização do conhecimento, consagrando-o como verdadeiro conhecimento, ao otimizar a ação humana. Sendo antes disso apenas ‘proposta’ de conhecimento, que fossiliza-se nas enciclopédias e bibliotecas. É uma enorme revolução cultural o pós-enciclopedismo. Enfocada no mecanismo central da evolução sapiens. Que consiste na busca do controle do máximo de conhecimento, de informação, de capacidade de produção de ação, pelo nosso cérebro biológico individual. O que tem que ser programado agora com ajuda das máquinas, que podem compor, se articuladas adequadamente a nossos cérebros biológicos, uma espécie de III cérebro sapiens – artificial e biológico simultaneamente – externo, tecnológico, coletivo e democrático. Para impulsionar o pós-enciclopedismo na direção da principal utopia direcional da natureza sapiens: Dar ao cérebro biológico individual o controle da totalidade do conhecimento humano. Utopia direcional, repetimos. Como a busca da derrota da morte pela medicina. Uma direção que não pode ser abdicada, mesmo que inatingível em termos absolutos. Sob pena de abdicarmos de nossa evolução sapiens.

IVB2 - COMBATE À ENTROPIA DA CIVILIZAÇÃO CIENTÍFICO- TECNOLÓGICA.

A quantidade de conhecimento produzido pela ciência e pela tecnologia, via estratégia das especializações, é, indubitavelmente, muito grande, impressionante. Mas

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o uso desse conhecimento pela totalidade da humanidade é ridiculamente pequeno. Isso é entropia. Wiener nos explica que, via falha de comunicação e controle, a entropia degrada o orgânico, o que atinge também o organismo da sociedade: “Conforme aumenta a entropia, o universo, e todos os sistemas fechados do universo, tendem naturalmente a se deteriorar e perder a nitidez, a passar de um estado de mínima a outro de máxima probabilidade; de um estado de organização e diferenciação, em que existem formas e distinções, a um estado de caos e mesmice. (...) Em comunicação e controle, estamos sempre em luta contra a tendência da natureza de degradar o orgânico e destruir o significativo, a tendência, conforme no-lo demonstrou Gibbs, de a entropia aumentar.” Um poderoso elemento agindo contra a organização holística da sociedade são os conhecimentos especializados que atuam dentro do máximo isolamento, buscando apenas fama e resultados financeiros, lucros. Movidos por interesses individuais ou grupais. Temos, em conseqüência disso, uma avalanche de efeitos colaterais negativos dentro da sociedade, por falta de respeito aos princípios orgânicos da civilização como um todo. Paine já advertiu sobre isso: “Uma grande porção da humanidade, no que são chamados de países civilizados, está em um estado de pobreza e infelicidade, longe abaixo da condição de um índio. Eu não falo de um país, mas de todos. É assim na Inglaterra, é assim por toda a Europa. Vamos inquirir sobre a causa. (...) Ela jaz não em qualquer defeito natural nos princípios da civilização, mas em se impedir que esses princípios tenham uma operacionalidade universal.” Isso também é entropia. Somando-se esses dois problemas gigantescos, podemos dizer que a civilização científico-tecnológica moderna vive dentro de um clima de avassaladora entropia, se compararmos a situação com as vastas possibilidades organizacionais, para a humanidade como um todo, contidas no grandioso volume de conhecimentos resultante da estratégia das especializações. Carnap e Neurath, do grupo de Viena, denunciaram a sub-utilização da ciência. Dizendo que a ordem existente na sociedade não é razoável. Que ela deveria ser reformada com base em visões científicas e tecnológicas, e com cuidadoso planejamento geral, de tal modo que as necessidades e aspirações de todos pudessem ser satisfeitas tão longe quanto possível. O que pode ser feito, sem dúvida alguma, com ajuda da ciência moderna. O nível de soluções para os problemas humanos atingido até aqui pela massa de conhecimentos produzidos pela ciência e pela tecnologia está muitíssimo abaixo das potencialidades que foram criadas. Isso já foi advertido por Locke com toda clareza: “A natureza nunca faz coisas excelentes para usos baixos ou nenhum uso: e é difícil de ser concebido, que o nosso infinitamente sábio Criador, fosse criar tão admirável faculdade, como o poder de pensar, a faculdade que chega mais perto da excelência de seu próprio ser incompreensível, para ser tão ociosamente e inutilmente empregada, pelo menos ¼ parte de seu tempo aqui, ao ponto de se pensar constantemente, sem relembrar nenhum desses pensamentos, sem fazer qualquer bem para si próprio ou outros, ou ser de qualquer modo útil para qualquer outra parte da criação. Se nós examinarmos isso, nós não encontraremos, eu suponho, no movimento da embotada e insensível matéria, em nenhum lugar do universo, nada tão pouco utilizado e tão completamente jogado fora.” As principais razões dessa entropia, denunciada por Locke, Carnap, Neurath, são: Desorganização informacional holística e falta de distribuição de informação. E, em conseqüência, ausência, quase total, de homeostase, e de maior vigor evolucionista sapiens. Já temos tecnologia para pensar numa cibernética científica contra a entropia da civilização científico-tecnológica. Máquinas e sistemas comunicacionais – computadores e Internet – estão aí à disposição para se fazer isso. O principal uso dos

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71 computadores e da Internet – para eficientizar a cibernética pessoal e social dos indivíduos - será para se ampliar os potenciais de nosso cérebro biológico individual. Por exemplo, as máquinas já oferecem maior poder de cálculo e mais vasta memória. Há, além disso, um vasto campo de possibilidades no terreno de uma linguagem voltada para a organização da ação sapiens, com a maquinaria ajudando na qualificação e integração ocupacional entre todos os indivíduos da sociedade. Wiener: “Há um campo mais vasto que inclui não apenas o estudo da linguagem, mas também o estudo das mensagens como meios de dirigir a maquinaria e a sociedade.” Para ajudar na cibernética pessoal e social dos indivíduos, as máquinas podem e devem, antes de mais nada, nos ajudar a escolher a nossa ação a partir do exame da lista completa das possibilidades de ação humanas. Para garantir nossa liberdade sapiens, liberdade plena de escolha, e para nos ajudar a encontrar a ação que melhor combina com nossas características pessoais, vocacionais. Escolhida a ação adequada ao nosso perfil de personalidade, as máquinas - os computadores e a Internet - podem remeter automaticamente à ação escolhida a totalidade da informação humana que possa servir para otimizar tal ação. Sem necessidade de ‘buscas’ por parte dos indivíduos desinformados. ‘Só Alá’, só o sistema, ‘conhece o desconhecido’. Especialmente no contexto social global, com a máquina buscando condicionar a articulação ocupacional entre os indivíduos, na ausência da qual está aí, simplesmente, imperando a desordem no mundo dos homens, como exemplifica o caos ecológico. Wiener: “A teoria da mensagem entre homens e máquinas, e na sociedade, como uma sequência temporal de eventos que, embora tenha em si mesma uma certa contingência, forceja por conter a tendência da natureza para a desordem, mercê do ajuste de suas partes a vários fins intencionais.” A partir dessas três ações de apoio básicas – a decisão da ação, e a super-informação de sua concretização pelo indivíduo, e articulando-se adequadamente todas as ações de todos os indivíduos - toda uma cibernética otimizante do viver sapiens, pessoal e social, pode vir à tona sob a forma do melhor comportamento humano possível, condicionado pelas mensagens organizadas e distribuídas pelas máquinas automaticamente para ampliar os potenciais limitados de nossos cérebros biológicos individuais. Esta cibernética mista, homem e máquina, com o cérebro humano coordenando o processo e as máquinas ampliando até o holismo cognitivo humano o alcance das mensagens, é o produto final mais alto que pode ser obtido da conjunção homem-máquina, com cada uma das partes cumprindo seu papel, para organizar o melhor possível o comportamento humano. Um planejamento não apenas comportamental, mas também de filosofia de vida, de cultura revolucionária, fundamentada na liberdade total de informação. Wiener: “Talvez não fosse má idéia para as equipes que estão presentemente criando a cibernética acrescentar ao seu ‘cadre’ de técnicos, que procedem de todos os horizonte das ciências, alguns antropólogos sérios e talvez um filósofo que tenha certa curiosidade pelos negócios mundanos.” Estruturando o sistema dentro de um enfoque humanista holístico, ampliando e reforçando com isso o processo do desenvolvimento sapiens, em vez de mecanizar o indivíduo ou substituí-lo totalmente pelas máquinas. Isto é, combatendo a entropia da civilização científico-tecnológica, e portanto da evolução sapiens, via bombardeio informacional adequado e intensivo da ação humana. Bombardeio cujo efeito, positivo, dentro da tese do reflexo condicionado e da aprendizagem, e das respectivas cibernéticas, pede a investigação científica, ainda inexistente, e o controle estatístico do mecanismo informacional otimizante da vontade de ação, e da própria execução da ação pelo indivíduo. O que não está muito claro ainda é que, como a teoria do autômato é

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72 estatística, a do comportamento humano responde também à estatística do bombardeio informacional. Que também condiciona os reflexos e as aprendizagens. Essa operação, do condicionamento da boa ação, pelo mais positivo controle comportamental que pode ser organizado pelo futuro – o da cibernética do reflexo condicionado, ou da aprendizagem, a informação da vontade para a escolha da ação, e depois para a otimização da ação - sintetiza o que de mais essencial pode ser feito pela cibernética humana e seus reflexos condicionados e aprendizagens com auxílio das máquinas. Para se combater a entropia da civilização científico-tecnológica, e da nossa evolução sapiens, comprometida por essa entropia.

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxIVC - PROPRIEDADE E ESCRAVIZAÇÃO INFORMACIONAIS.xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

IVC1 - A PROPRIEDADE DA INFORMAÇÃO (CONCORRÊNCIA E OFERTA-E- PROCURA DESINFORMADAS) SABOTA A EVOLUÇÃO SAPIENS.

A informação sendo o insumo fundamental do desenvolvimento sapiens, o maior crime que pode ser cometido contra a evolução sapiens é negar qualquer tipo de informação ao indivíduo sapiens. Isso já foi feito na história com agressividade letal. Hoje é feito com maior sutileza. Wiener: “O estado ordenava o assassinato confidencial dos artesãos emigrantes, para manter o monopólio de certas artes e ofícios seletos. A moderna brincadeira de guardas e ladrões, que parece caracterizar tanto a Rússia quanto os Estados Unidos, os dois principais disputantes do domínio mundial neste século, sugere o velho melodrama italiano de capa e espada, representado num palco muito mais vasto.” Paine: “Existem frequentemente aparecendo na Gazeta de Londres, extratos de certos atos para impedir máquinas e pessoas, até onde elas podem se estender até às pessoas, de saírem do país.” É perfeitamente possível limitar-se a concorrência, a competição econômica, à produção da qualidade da ação. Diz Skinner: “Conhecimento é um tipo de posse.” Para se chegar lá, basta acrescentar a essa afirmação de Skinner a afirmação de que conhecimento é uma posse da humanidade como um todo. O conceito de propriedade do conhecimento deveria mudar nessa direção, radicalmente. Quando necessário, o conceito de propriedade muda, como ocorreu com a propriedade da terra. Wiener: “Como um povo caçador, os índios não tinham nenhuma idéia de terra como propriedade privada. Para eles, não havia direito de propriedade tal como o domínio pleno de bens herdados, embora tivessem a noção de direitos de caça em territórios específicos.” Concorrência sapiens seria aquela que se daria entre indivíduos todos eles super-informados sobre o objeto da concorrência. Para chegarmos aí, a informação tem que deixar de ser objeto de comércio. É o que diz Wiener ser o mais próprio da natureza da informação: “Escrevo este livro principalmente para norte-americanos, em cujo meio ambiente os problemas de informação serão avaliados de acordo com um critério padrão norte-americano: como mercadoria, uma coisa vale pelo que puder render no mercado livre. Esta é a doutrina oficial de uma ortodoxia que se torna cada vez mais perigoso questionar, para quem resida nos Estados

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Unidos. Talvez valha a pena acentuar que ela não representa uma base universal de valores humanos; que não corresponde nem à doutrina da Igreja, que

73busca a salvação da alma humana, nem à do marxismo, que estima uma sociedade pelo que ela realizou de certos ideais específicos de bem-estar humano. O destino da informação, no mundo tipicamente norte-americano é tornar-se algo que possa ser comprado ou vendido. (...) Não me compete sofismar se tal atitude mercantil é moral ou imoral, crassa ou sutil. Compete-me, isto sim, mostrar que ela conduz a compreensão e tratamento errôneos da informação e dos conceitos que lhes são conexos. Tratarei disso em diversos campos, a começar pelo da lei de patentes.” A natureza da informação, realmente, é a de insumo básico da evolução sapiens. O que torna a sua comercialização um abuso ético. No terreno das patentes, o controle artificioso, como instrumento de protecionismo, foi até o ponto da reserva do campo da pesquisa. Isto é, propriedade do conhecimento que nem sequer foi encontrado ainda. Sobre o assunto, é muito objetivo o que dizem Norbert Wiener e Noam Chomski. Vejamos o que diz Wiener: “Atualmente, a invenção está perdendo seu caráter de mercadoria diante da estrutura intelectual geral das invenções que surgem. (...) A filosofia padrão do registro de patentes pressupõe que, por um sistema de tentativas, implicando o que geralmente se denomina de habilidade mecânica, um artífice progrediu de uma dada técnica a um estágio superior, corporificado num aparelho específico. A lei distingue a habilidade necessária para levar a cabo essa nova combinação, da outra espécie de habilidade necessária para descobrir fatos científicos acerca do mundo. (...) As cartas-patentes, que concedem a um inventor monopólio limitado do tema de sua invenção, são para ele o que uma carta-patente é para uma corporação. Por detrás de nossas leis e política de patentes está uma filosofia implícita da propriedade privada e dos direitos a ela. Essa filosofia constituía uma aproximação razoavelmente acurada da situação real vigorante no período que ora se finda, em que as invenções eram geralmente feitas na oficina de artífices especializados. Não constitui ela uma ilustração sequer passável das invenções dos dias atuais.” Onde a lei de patentes, acrescentemos, se estendeu até à reserva dos próprios campos de pesquisa, um absurdo. Wiener informa com ironia o ocorrido num projeto nesse sentido : “Logo após começarmos, descobrimos que os investigadores dos Laboratórios da Bell tinham também considerado a possibilidade de uma recepção táctil do som e a haviam incluído na sua solicitação de patente. Foram deveras bondosos: disseram-nos que não tinham realizado nenhum trabalho experimental nesse particular e nos deixaram em liberdade para levar avante nossas pesquisas.” Chomski é mais duro do que Wiener em sua crítica: “A lei de patentes é conhecida como o direito de propriedade intelectual, mas na verdade é um instrumento altamente protecionista, de acordo com a norma vigente no sistema de comércio internacional – a que estimula novas formas de protecionismo extremo, que os países ricos nunca aceitaram para si, mas estão agora impondo aos outros. O que esse acordo faz é garantir a concentração do conhecimento e das novas tecnologias do futuro nas mãos de tiranias privadas. É uma arma contra o desenvolvimento e o crescimento. Significa que, se alguém no Brasil descobrir uma forma mais inteligente de produzir um novo remédio, não tem autorização para isso. O produto é que estará patenteado, não a fórmula, como era antes. Portanto, essa é, sim, uma arma para deter o desenvolvimento e o crescimento econômico e evitar a liberdade de comércio e informação sob o rótulo de ‘livre comércio’. Veja as empresas farmacêuticas que são as maiores beneficiárias desse acordo. A propaganda, que está na mídia o tempo todo, diz que a lei é

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necessária por causa das despesas muito elevadas com pesquisas científicas. Isso é uma falácia. Nos EUA, metade delas é paga pela população, e essa metade é a mais importante. Boa parte da pesquisa feita nas corporações é essencialmente de marketing: se uma empresa

74 detém a patente de um determinado medicamento, a gente faz um similar com um pouquinho de mudanças para conseguir vendê-lo melhor. Agora a pesquisa básica, onde todas elas florescem, está quase toda no setor público, em lugares como este onde estamos agora, as universidades. Mas isso é apenas parte do sistema que socializa as despesas e os riscos, mas privatiza o lucro.” Esse princípio, fortalecedor da qualidade da ação, a maior distribuição de conhecimento, já funciona naturalmente em várias sociedades. Nas mais evoluídas. Onde é a produção mais eficiente? Em sociedades de indivíduo super-informados, ou em sociedades mais primitivas, mais desinformadas? No Japão ou no Haiti? Assim como os índios não conheciam a propriedade da terra, podemos abolir a propriedade da informação. E reduzir a concorrência à busca pela qualidade da ação. A propriedade do conhecimento, no terreno das patentes, já se encaminhou, como vimos, até o exagero da reserva do campo de pesquisa. Isto é, já instituiu até mesmo a propriedade do conhecimento que não foi nem mesmo encontrado, descoberto, ainda. Qualquer tipo de restrição à informação do indivíduo, inclusive nos meios de comunicação e educacionais, é produção intencional de entropia social. E a entropia, nesse sentido, da negativa da informação aos indivíduos, é condicionada, inclusive, com ajuda dos meios de comunicação de massa. Wiener: “Vivemos, pois, numa época em que ao enorme volume ‘per capita’ de comunicação corresponde um fluxo cada vez menor de volume total de comunicação. Mais e mais, vemo-nos obrigados a aceitar um produto padronizado, inofensivo e insignificante, que, como o pão branco das padarias, é fabricado antes devido às suas propriedades de conservação e venda que ao seu valor alimentício. (...) Assim como a entropia é uma medida de desordem, de igual maneira a informação é uma medida de ordem. Informação e entropia não se conservam e são inadequadas, uma e outra, para se constituírem em mercadorias.” Razão pela qual, o principal crime contra a evolução sapiens, é negar qualquer tipo que seja de informação aos indivíduos. Informação e conhecimento têm que ser totalmente livres. Concorrência apenas na ação. A liberdade de competição, de concorrência, e a liberdade de oferta-e-procura desinformadas são altamente anti-homeostáticas. Existe uma ilusão espalhada no mundo, radicalizada pela cultura norte-americana, de que a livre-concorrência é um processo homeostático, equilibrador dos mecanismos de redistribuição de bens e serviços. A evidência que temos aí é de que isso é uma completa ilusão. E a razão básica é a seguinte: Podemos ter um mecanismo de oferta e procurar super-informado, ou podemos ter um mecanismo de oferta e procura desinformado. O que prevalece no momento em todo o mundo, é a oferta e procura desinformada. Que funciona em desequilíbrio porque a informação está concentrada nas mãos de uns poucos indivíduos. Sistemas de concorrência e livre oferta-e-procura informados, com todos os concorrentes dispondo de todas as informações sobre o objeto da concorrência, teriam mais alta possibilidade de se dirigir a alguma homeostase, mesmo que não total. As duas competições mencionadas não são coisas negativas. Ao contrário. Mas simplesmente não são liberdades quando são desinformadas. Porque a liberdade em tudo que diz respeito ao mundo sapiens, e às suas escolhas - de carreiras de vida e trabalho, de concorrência ou competição, e de ofertas-e-

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procuras – só é liberdade quando é exercida com plenitude de informação sobre as possibilidades humanas, de carreiras, de competição, de oferta-e-procura. Todas essas coisas exercidas dentro da desinformação simplesmente deixam de ser sapiens. Nos remetem para o nível de desinformação dos animais. O que vemos, portanto, aí, no mundo das competições, concorrências e ofertas-e-procuras desinforrmadas, é uma enorme pressão anti- 75homeostasis. O mercado é um jogo totalmente baseado na desinformação. O mecanismo central desse jogo, baseado em desinformação, é a moeda. Que deveria representar o valor das coisas e das ações. E que não representa o valor das coisas e da ações. Valor que só pode ser representado adequadamente pela informação. O mercado, como ele funciona, é um jogo bem simulado pelo jogo familiar do Monopólio, e que está sujeito à teoria geral dos jogos, desenvolvida por Von Neuman e Morgenstern. Essa teoria é baseada na disponibilidade de informação, que, dentro de um sistema despreocupado com informar plenamente os indivíduos, revela-se mais como poder condicionado pela desinformação do que pela informação. Se ao invés de moeda apenas, os indivíduos dispusessem de informação completa sobre os objetos e as ações disputados dentro das concorrências econômicas, viveríamos no mundo das concorrências informadas. Um exemplo muito claro disso está no jogo da publicidade, onde toda a informação é produzida pelo concorrente que busca ganhar a concorrência. Se, em lugar da publicidade privada, existisse uma informação pública, que levasse a todos os indivíduos todos os dados da oferta-e-procura disponível, essa oferta e procura super-informada responderia muito mais pelos valores reais dos produtos e das ações oferecidos. Em lugar de oferta e procurada fundamentada nos valores reais dos objetos e das ações oferecidos e procurados, o que impera é a total especulação a respeito de tais valores. E os valores artificiais, representados pela moeda, pelo dinheiro, são condicionados exclusivamente pelos panoramas de desinformação da sociedade. A mudança não é fácil, nem pode ser implantada de forma repentina. É o crescimento da consistência informacional o que deve levar a uma oferta e procura que produza um grau mais decente de homeostase do que o que está aí nos mercados da desinformação. E, em conseqüência, na massificação de um padrão de vida nada sapiens, catastrófico. E por isso vivemos num mundo pobre, violento, altamente desorganizado, com baixíssimo nível de qualidade sapiens. Bastaria super-informar as concorrências e a oferta-e-procura – para termos uma sociedade funcionando em cima de bases realmente sapiens, e homeostáticas nesse sentido, o sapiens. Precisamos de concorrência entre indivíduos todos eles super-informados sobre o objeto da concorrência. E de um sistema de oferta-e-procura não baseado em propaganda e sistemas de comunicação controlados. Pois é nas comunicações controladas, e publicitárias, que se situa o maior poder anti-homeostático. Dentro desse jogo do mercado desinformado, o que existe é a manipulação dos meios de comunicação, para decidir-se, por meio dela, a distribuição de vantagens e desvantagens da oferta-e-procura. Quem controla a oferta e procura elimina meios menos proveitosos, e concentra em seu poder os meios mais proveitosos. Assim, os meios de comunicação acabam nas mãos dos poderosos. Condicionando caminhos para o poder econômico e político. E o sistema de comunicação é o sistema que mais deveria contribuir para se organizar a homeostase social, a distribuição adequada dos benefícios em termos de ações e objetos da economia. Ao contrário, os meios de comunicação, como estão aí organizados, servem muito mais à desinformação que possa beneficiar os seus controladores. As comunidades maiores, dependentes de mais informação, são as que sofrem mais. Enquanto

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as menores, dependentes de menos informação, conseguem mais controle da sua situação. Em vez desses controles sobre as comunicações, precisamos viver dentro de um sistema informacional de propriedade de toda a sociedade. Sem propriedade, individual ou grupal, de qualquer tipo de informação. Pois a publicidade é, também, controle informacional. Nas grandes comunidades, os senhores das coisas como elas são organizadas agora, com base na desinformação das massas, concentram em suas mãos não apenas as riquezas, mas também a opinião pública controlada pelas comunicações e pela publicidade. E nesse 76ambiente o desrespeito pelo interesse desatendido dos desinformados, é total. E o principal dos fatores anti-homeostáticos dentro dessas sociedades são a posse e o uso desonesto dos meios de comunicação. Se tudo fosse reduzido a informação científica e livre, então, a liberdade de competição, na ação, e de oferta-e-procura, informada cientificamente – e não apenas via propaganda - seriam realmente, e altamente, homeostáticas.

IVC2 - A PIRÂMIDE DA ESCRAVIZAÇÃO INFORMACIONAL E A LIBERDADE SAPIENS.

A soberania mais avançada no mundo de hoje é a da democracia representativa. Mas a democracia representativa muito pouco pode fazer para evitar dentro da sociedade o império da disciplina organizacional embasada na pirâmide da informação, e da desinformação. Um labirinto de poder organizado para impedir ascensões indesejadas pelos seus controladores. Wiener: “Os funcionários administrativos, quer sejam de um governo, de uma universidade, ou de uma companhia comercial ou industrial, deveriam tomar parte num fluxo bidirecional de comunicação, e não apenas num fluxo descendente, do alto.” É a técnica de refreamento das ascensões dentro do labirinto piramidal. As especializações dentro dessa pirâmide se escalonam de maneira a acumular na base da pirâmide uma vasta massa de indivíduos especializados em atividades rudimentares, com o mais estreito alcance possível. ‘Tempos Modernos’, de Charles Chaplin. No pico da pirâmide posicionando-se os poucos mais bem informados, que controlam todo o funcionamento laboral da pirâmide. Mantendo desinformados os que estão abaixo, sob o seu poder. Wiener: “Quer confiemos nossas decisões às máquinas de metal ou a essas máquinas de sangue e carne, que são as repartições oficiais, os vastos laboratórios, os exércitos e as companhias comerciais e industriais, jamais recebemos respostas certas às nossas perguntas.” Essa disciplina ocupacional, fundamentada na desinformação massificada na base da pirâmide, funciona nas repartições oficiais, nos vastos laboratórios, nos exércitos, nas companhias comerciais e industriais. Foucault: “Essas formas de poder também podem ser encontradas nas sociedades socialistas; a transferência foi imediata (...) É verdade que a acumulação de capital se fez através de uma tecnologia industrial e da instauração de um aparelho de poder. Mas não é menos verdade que um processo semelhante se encontra na sociedade socialista soviética.” A única maneira de combater essa disciplina escravocrata está na super-informação de todos os indivíduos. É a existência, em massa, dos desinformados, que faculta a estratégia da pirâmide labirinto, voltada ao refreamento das ascensões ocupacionais. Os patifes e os tolos estão misturados na sociedade e interagem como os gatos e os ratos. Sempre que o número dos desinformados é massificado, cresce o poder de exploração por parte dos patifes, dos gatos. O tolo age com a simplicidade do rato apanhado dentro do labirinto da experiência social desinformada. É preciso organizar a

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informação para as massas, para com isso se poder barrar a ação dos gatos predatórios. Para se denunciar e conter os gatos predatórios, a única arma disponível é a informação. Acabar com a propriedade da informação e distribuí-la completa a todos os indivíduos. A resposta: A revolução comunicacional-informacional, adotada em todos os seus maiores princípios e conseqüências, pode fazê-lo. Revolução que, abolindo-se a propriedade da informação,

77pode ser promovida pela tecnologia comunicacional-informacional moderna. Há resistências a ela, mas nem tudo está perdido ainda. É claro que os gatos não conseguiram ainda o domínio completo da sociedade. Mas é o que estão tentando. Felizmente a tecnologia está tomando um caminho contrário às suas pretensões. Tudo se encaminha para a abertura da informação. Com a Internet dando um primeiro passo, mas desorganizado ainda. Organizar para salvar as massas. E o passo que tem que ser dado em especial, é colocar a serviço das massas um III cérebro sapiens, que, classificando tipologicamente toda a ação humana e todo conhecimento a ela aplicável, pode oferecer aos indivíduos um serviço informacional holístico, capaz de elevar, ininterruptamente, a maximização do conhecimento holístico pelo indivíduo, com acesso livre garantido a todo o conhecimento humano. Isso será a sineta denunciando a aproximação dos gatos que montam e controlam as pirâmides ocupacionais da escravização informacional. Um novo direito anti-disciplinar na pirâmide, e libertador dos indivíduos, é o que precisa ser planejado para livrar as massas dessa escravização informacional sutil, sofisticada. É a resposta ao questionamento nessa direção colocado por Foucault: “Creio, porém, que chegamos assim a uma espécie de beco sem saída: não é recorrendo à soberania contra a disciplina que os efeitos do poder disciplinar poderão ser limitados, porque soberania e disciplina, direito da soberania e mecanismos disciplinares são duas partes intrinsecamente constitutiva dos mecanismos gerais do poder em nossa sociedade. Na luta contra o poder disciplinar, não é em direção ao velho direito da soberania que se deve marchar, mas na direção de um novo direito anti-disciplinar e, ao mesmo tempo, liberado do princípio da soberania.” Esse novo direito, é a abertura total da informação. E serviços - propiciados pela ciência e tecnologia modernas das comunicações e da informação - colocados à disposição de todos os indivíduos. Para super-informá-los, vinte e quatro horas por dia, sobre tudo que diga respeito às suas carreiras de vida e de trabalho. No ser sapiens a vontade é acionada pelo conhecimento.Vamos lembrar a observação mais importante para a natureza sapiens que pode ser feita dentro dessa questão: O que é liberdade sapiens? Mas vamos primeiro rever a definição, mais básica, de ‘vontade’, consagrada pelo pensamento de três grandes filósofos do assunto. Não nos custa um grande esforço da imaginação reconhecer, dentro da ciência moderna, uma vez mais nossa própria natureza interior. Ela é aquela que em nós persegue o seu fim à luz do conhecimento. Schopenhauer: “Pois pela palavra vontade, nós sempre entenderemos apenas aquele tipo dela até aqui descrito exclusivamente por esses termos, quer dizer, a vontade guiada pelo conhecimento.” Locke diz que a determinação da vontade segue-se imediatamente ao julgamento da compreensão: “Pois quando dizemos que a vontade é a faculdade comandante e superior da alma, que ela é ou não livre. Que ela determina as faculdades inferiores, que ela segue os ditados do conhecimento...” John Stuart Mill: “É o que os homens pensam que determina como eles agem.” O conhecimento, no ser sapiens,

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é cada vez mais abstrato e complexo. A dificuldade encontrada, pela vontade, de decidir a ação, diante da crescente complexidade da ação humana e do conhecimento cada vez mais complexo que a condiciona – especialmente dentro da civilização científico-tecnológica – aumenta a ‘inquietação’ que impulsiona a vontade a novas escolhas. O tropismo envolvido nessas escolhas é totalmente dependente da informação. Pode ser mais bem informado ou menos bem informado. Se for menos bem informado, a possibilidade de erro nas escolhas é, obviamente, maior. Como nos diz Descartes: “Nós facilmente a estendemos (a vontade) além daquilo que nós apreendemos claramente. E quando nós fazemos isso não é de admirar se acontece que nos tornemos

78equivocados.” E na desinformação, a situação vai para o condicionamento da vontade do indivíduo pela vontade dos outros. Escravização informacional. Isto é, falta de liberdade sapiens. Pois é óbvio o fato de que, o quê decide o elenco dos tropismos é a comunicação, é a informação, disponíveis. Sendo que, dentro dessa disponibilidade, é o reflexo condicionado, a quantidade de informação repetitiva – que pode ser controlada pelos outros, onde não existe a liberdade sapiens no controlado – o que dispara o gatilho da ação. Como nos diz Wiener: “Não é a quantidade de informação enviada que é importante para a ação, mas, antes, a quantidade de informação que, penetrando num instrumento de comunicação e armazenagem (a pirâmide da escravização informacional, neste caso), seja o bastante para servir como o gatilho da ação.” Pois as pirâmides da escravização informacional produzem, sim, esse controle, restrito e repetitivo. Por tudo isso, a super-informação dos indivíduos sobre a lista completa das possibilidades de ação humanas, é o mecanismo garantidor da liberdade da vontade, embasada na distribuição do conhecimento. Sem essa lista – de informação sobre a tipologia completa das ações humanas, e sobre as informações que as condicionam e as otimizam, as ações – liberdade não existe como liberdade sapiens plena, total. É liberdade parcial apenas, dentro de limites colocados pela pirâmide ocupacional controlada. Pois quando tal informação é muito restrita, ela é usada facilmente pelos outros como mecanismo para praticar a escravização informacional do desinformado, dentro da pirâmide do controle. Decidindo-se, assim, pelo indivíduo, deprivado da liberdade de vontade, o que ele tem que fazer.

IVC3 - IMPOSSÍVEL SIGILO PERMANENTE SOBRE CONHECIMENTO.

A única maneira de se manter o controle de um conhecimento superior ao dos outros é a invenção ininterrupta de novo conhecimento. Wiener deixa bem claro que em qualquer campo de conhecimento produção e segurança são, ao fim e ao cabo, questão de inovação e desenvolvimento contínuos. O sigilo permanente sobre um conhecimento, para impedir que outros se apoderem dele, é impossível. É uma ilusão que o mundo já desmentiu várias vezes. Dois grandes exemplos disso: O acesso do Japão a toda a ciência e tecnologia ocidentais. E agora o acesso da China também. Bill Gates deixa claro que essa competição é inescapável: “Mas nossa indústria é das mais ‘quentes’, criativas e avançadas, ninguém tem posição garantida. Podem perguntar: ‘E isso não assusta?’ Mas adoro essa situação. Não podemos parar se quisermos manter a liderança.” O terreno onde essa ilusão do sigilo permanente é mais chocante e perigosa é o terreno militar. Wiener: “Já disse que a divulgação de um segredo científico, qualquer que

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ele seja, é apenas uma questão de tempo; e que, neste jogo, uma década é muito tempo; e que, ao fim e ao cabo, não há diferença entre nos armarmos e armarmos nossos inimigos. Dessarte, cada descoberta aterradora simplesmente aumenta nossa sujeição à necessidade de fazer nova descoberta. A menos que desponte uma nova consciência em nossos líderes, tal situação estará fadada a continuar indefinidamente, até que todo o potencial intelectual do país se esgote antes que seja possível qualquer aplicação construtiva às múltiplas necessidades do povo, velhas ou novas.” As armas que, eventualmente, criamos, mais cedo ou mais tarde estarão ao alcance de nossos inimigos. Leva um pouco mais ou um pouco menos tempo para se processarem essas transferências. Mas elas são inevitáveis. Um dia, mais cedo ou mais tarde, as bombas

79atômicas estarão ao alcance dos terroristas. Wiener: “Em vista disso, é perfeitamente justo dizer que um segredo acerca da bomba atômica que poderia ter sido mantido e que foi revelado ao público e a todos os inimigos potenciais, sem a menor inibição, foi o da possibilidade de sua construção. Tome-se um problema dessa importância e assegure-se ao mundo cientifico que ele tem solução: tanto a capacidade intelectual dos cientistas quanto as facilidades laboratoriais existentes estão distribuídas de forma tão ampla que a realização quase independente da tarefa será questão de apenas uns poucos anos, algures no mundo.” A única solução que se pode vislumbrar nesse campo, difícil, sofisticada, e talvez utópica, seria a de não se produzir armas cada vez mais destruidoras. Norbert Wiener: “É o grande público que está exigindo, da ciência moderna, o mais extremado sigilo com respeito a tudo quanto possa ter uso militar. Essa exigência de sigilo só pode ser o desejo de uma civilização enferma de não conhecer o progresso de sua própria enfermidade. Enquanto pudermos continuar a fingir que está tudo bem no mundo, taparemos os ouvidos ao som das ‘vozes ancestrais que profetizam guerra’.” O que precisamos é de evolução da ética humanista, holística. Isto é, que beneficiaria todos os lados. Se acabarmos com o mundo acionando explosões atômicas, não teremos atingido sequer o objetivo militar dessa ciência e tecnologia nuclear, que seria o de nos fazer sobreviver frente ao inimigo, e não perecer junto com o mundo. Isso não é conhecimento. Pois não atingiu seu objetivo, a sobrevivência. Isso é ignorância pura. Que pede a revisão do pensamento, a criação de uma estratégia diferente de informação e ação. Que garanta a sobrevivência de quem produziu a informação e a ação que fracassaram.

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V - LIBERDADE E EVOLUÇÃO SAPIENS

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xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxVA - LIBERDADE SAPIENS: DIREITO DE ACESSO A TODO O CONHECIMENTO HUMANO.xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

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VAI - LIBERDADE E FIM DA PROPRIEDADE DO CONHECIMENTO, DA INFORMAÇÃO.

O caminhão que matou oitenta pessoas em Nice, no dia da celebração dos princípios da Revolução Francesa, de liberdade, igualdade e fraternidade, nos enviou a terrível mensagem de que esses princípios não estão em vigor com total solidez. Liberdade precisa ser reinterpretada em sentido moderno. É o direito de todos os indivíduos da humanidade de acesso a toda a informação, a todo o conhecimento humanos. Para libertar todo e cada indivíduo da sujeição ao controle por parte de outros indivíduos. Dentro de uma economia que, assim, distribua a todas as

80sociedades do planeta o desenvolvimento científico e tecnológico que está aí, condicionando todos os desenvolvimentos no planeta. Essa é, em termos modernos, a única liberdade realmente sapiens dentro do caminho de nossa evolução. A outra, a liberdade desinformada que ainda impera no mundo, é a liberdade animal, que sujeita os indivíduos desinformados ao controle por parte de outros indivíduos, os informados. A igualdade, em sentido moderno, seria, então, levar a todas as sociedades, a todos os indivíduos, esse desenvolvimento moderno, todo ele baseado nas conquistas científico-tecnológicas do mundo de hoje. Ao invés de fazer isso, impera a propriedade absoluta do conhecimento, que foi censurada por Norbert Wiener como um absurdo humanista, contrário ao princípio da evolução sapiens. E vivemos, assim, mergulhados na desigualdade, alimentada e sustentada pela entropia científico-tecnológica que impera no mundo de hoje. Isto é, uma montanha de conhecimento produzida pela ciência e pela tecnologia, mas toda ela estocada longe do alcance da maioria esmagadora dos indivíduos, sob propriedade absoluta. Adeus, com isso, à igualdade entre os indivíduos. Não tem a menor chance. E, finalmente, quanto à fraternidade, esta seria o amor humanista entre todos os indivíduos da espécie, que concedesse a todos eles essa liberdade sapiens, do acesso a todo o conhecimento humano, e essa igualdade de desenvolvimento que poderia ser estruturada para toda a humanidade, usando-se o poderio científico e tecnológico, armazenado em intensa entropia, em poder dos proprietários absolutos do conhecimento, da informação. A maioria do grande número de pequenas e maiores guerras locais e terrorismos, espalhados pelo mundo, são fomentados por esta falta de liberdade, igualdade e fraternidade, em sentido moderno. Se déssemos acesso livre a todos os indivíduos à totalidade do conhecimento humano, se criássemos condições de igualdade de desenvolvimento sócio-econômico para todas as sociedades, baseadas nos potenciais disponíveis na ciência e na tecnologia, mas em condições entrópicas, e se desejássemos para os outros – fraternidade - aquilo que queremos para nós, como disse Cristo, e foi citado por John Stuart Mill como a suprema máxima do pragmatismo, humanista é claro, já estaríamos vivendo em outra cultura. A da humanidade, precisamente, que foi desejada pela revolução francesa, a da liberdade, igualdade, e fraternidade. Mas que só será conquistada dentro desse sentido moderno, que tais princípios têm que absorver, para se modernizarem e serem bem sucedidos. Se não fizermos isso, implantar a liberdade, a igualdade e a fraternidade

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em sentido moderno, podemos preparar nosso espírito para a continuação do conflito mundial, cultural e sócio-econômico, entre os desenvolvidos e os sub-desenvolvido. E o terrorismo, graças à produção sofisticada de armamentos - totalmente desinteressada da liberdade, da igualdade, e especialmente da fraternidade - continuará a crescer, com um poder de assassínio e destruição cada vez maior, graças ao egoísmo lucrativo daqueles que produzem essas armas, sem pensar, em nenhum momento, em liberdade, igualdade e fraternidade. E muito menos nesse sentido mais moderno do que o da Revolução Francesa. Que retiraria o poder, o controle da informação, científica e tecnológica, de suas mãos. Os princípios que têm que ser erigidos a partir dos fundamentos da revolução comunicacional-informacional que está aí, estão nos dizendo claramente que qualquer obstáculo que se coloque ao acesso livre do indivíduo à totalidade do conhecimento, da informação, humanos, é um crime contra a evolução sapiens. Todo o conhecimento, toda a informação, humanos, têm que estar disponíveis ao livre acesso

81por parte de todos os indivíduos. Não pode existir propriedade ‘absoluta’, fechada, de conhecimento, de informação. Essa é uma idéia da competição não-sapiens, animalesca. A concorrência sapiens é aquela - apenas na ação - entre indivíduos todos eles super-informados sobre o objeto da concorrência. A mudança proposta por este princípio pode parecer chocante. Mas essa nova proposta, induzida pela revolução comunicacional-informacional, pode ser colocada em termos de transição, amenizando-se um pouco o choque da revolução para o conservadorismo dos defensores da idéia obsoletizada, da propriedade ‘absoluta’ do conhecimento, da informação. O principal interesse da propriedade ‘absoluta’ da informação, do conhecimento, é a competição, a concorrência econômica. A concorrência na ação, apenas, é altamente produtiva. Não pode nem deve ser eliminada. Mas a concorrência pela posse ‘absoluta’ do conhecimento, da informação, é altamente lesiva, é um crime contra a evolução sapiens. Pois a informação, o conhecimento, é um direito biológico, muito mais fundamental do que os direitos humanos genéricos da revolução francesa, panfletizados por Thomas Paine. Evoluímos como seres sapiens via conhecimento, via ‘saber’. Para se implantar a liberdade informacional, induzida pela revolução comunicacional-informacional, com o mínimo de provocação ao ‘establishment’ conservador, pode-se adotar as seguintes regras moderadas de transição. Todo o conhecimento, toda informação, podem ser colocados ao acesso dos indivíduos, com poder aquisitivo para isso, via pagamento dentro da lei da livre oferta e procura. Os que não tiverem poder aquisitivo precisarão, então, contar com programas assistenciais públicos e privados, da mesma forma como é praticado quando da falta de alimentação. Mas nos dois casos, a informação não pode ser recusada. A informação é o alimento do cérebro, que merece o mesmo assistencialismo dado no caso do alimento material. O principal assistencialismo público será dado via o sistema educacional gratuito, capacitado para transmitir a totalidade do conhecimento, da informação, humanos. Importantíssimo: Os direitos autorais, de aperfeiçoamento e de distribuição do conhecimento, da informação, têm que ser respeitados, pagos. Mas não será mais permitida ‘propriedade’, absoluta, da informação, do conhecimento, independente da autoria de sua produção, como acontece hoje. Apenas o autor, o criador do conhecimento, tem direito a ser pago pela sua criação, sem deter ‘propriedade’. O aperfeiçoador e o distribuidor do

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conhecimento, da informação, também têm esse direito pelos seus serviços. Tais pagamentos, uma porcentagem o mais minimizada possível, taxação social, não precisa interferir com o livre acesso para todos, remunerado ou subsidiado assistencialmente. É a mesma coisa que o pão na padaria. Se você pagar o preço, subsidiado socialmente ou não, ninguém pode impedi-lo de levar o pão, o alimento do corpo. A mesma coisa com a informação, o conhecimento, o alimento do cérebro. Se alguém pagar o preço, subsidiado socialmente ou não, ninguém pode impedi-lo de levar o conhecimento, a informação. Já existe um argumento concreto, realista, a favor dessa postura revolucionária induzida pela revolução comunicacional-informacional. Onde é que a economia, inclusive os ganhos dos mais ricos, são maiores? Nas sociedades onde todos são mais bem informados, ou onde reina a desinformação, a propriedade totalmente fechada nas mãos de uns poucos, da informação, do conhecimento? A resposta é óbvia e aponta o caminho que defendemos acima. Ao pensarmos nesse novo conceito de liberdade, a quebra de todo e qualquer sigilo informacional, ou de conhecimento, devemos entender que é totalmente

82impossível, de qualquer modo, sigilo permanente sobre conhecimentos, sobre informações. O que deveria nos levar o mais rápido possível a uma maior flexibilidade e aceitação, adesão, com relação aos princípios da revolução comunicacional-informacional que está aí, impondo tecnicamente, e de modo revolucionário, essa direção, a da conveniência humanista da abertura total da informação. Para se poder estruturar, inclusive, um III cérebro sapiens, depois do genoma e do cérebro biológico individual, combinando cérebros e máquinas, para facilitar a assimilação do oxigênio da informação. Igualdade e fraternidade terão que ser aplicadas à partilha do conhecimento humano por parte de todos os indivíduos. Sem isso, continuaremos simplesmente refreando de forma brutal o desenvolvimento de nossa natureza sapiens. Que só cresce na medida do domínio de mais e mais conhecimento por parte de todos os indivíduos. E essa abertura, com base no exercício completo daquilo que chamamos de igualdade e fraternidade, é simplesmente o caminho óbvio da história da espécie, que não será desvirtuado de forma permanente, efetiva, por nenhum tipo de tentativa de controle. Tudo que essas tentativas de controle conseguem fazer nesse terreno é refrear a velocidade e a intensidade desse desenvolvimento. Pois, como já vimos, é de todo impossível preservar-se um sigilo permanente sobre quaisquer tipos de conhecimento. Pois a natureza humana, sapiens, está desenhada para se apoderar dele num mais longo ou menos longo prazo. A única maneira de se manter o controle de um conhecimento superior aos dos outros sendo, como já vimos, a invenção ininterrupta de novos conhecimentos. A simples notícia de que um conhecimento existe já é suficiente como ponto de partida para sua aquisição. Isso foi demonstrado por duas sociedade modernas que, admirando aquilo que os USA conseguiram fazer, num tempo relativamente curto em termos históricos conseguiram transladar para sua sociedade a quase totalidade do ‘know-how’ ocidental, americano especialmente. Estamos falando do Japão e da China. O sentimento de roubo, dentro do conservadorismo, acompanhou o processo, fechando em limites estreitos os conceitos de liberdade, igualdade e fraternidade dentro da humanidade como um todo. Dentro da possibilidade de uma globalização com desenvolvimento para a humanidade como um todo. Estamos agora, inclusive, incorrendo numa recidiva feroz deste posicionamento anti-liberdade, igualdade e fraternidade. O recentemente eleito presidente dos USA, Donald

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Trump, já está tomando medidas violentas para fechar o desenvolvimento americano longe da globalização que a revolução comunicacional-informacional está propondo claramente. O melhor caminho em termos de liberdade, igualdade e fraternidade globais será o reconhecimento de que concorrência sapiens, um maravilhoso mecanismo de desenvolvimento humano, é a que se dá entre indivíduos totalmente informados sobre o objeto da concorrência. Deixando de ser concorrência sapiens aquela que se dá entre informados e desinformados. Essa realidade, demonstrada pelos exemplos existentes – Onde é a concorrência mais produtiva, nas sociedade super-informadas, ou nas sociedade desinformadas? – aponta como caminho mais criativo a se seguir, a aplicação dos princípios da liberdade, igualdade e fraternidade ao condicionamento do uso da totalidade do conhecimento humano pela totalidade dos indivíduos da espécie. Os ricos não deixarão de ser mais ricos por causa disso. Ao contrário. Comprovando que esses princípios da revolução francesa são realmente poderosos, se aplicados de forma moderna ao que existe de mais importante para o desenvolvimento humano. Que é o desenvolvimento de nossa natureza sapiens. Totalmente dependente de liberdade, igualdade e fraternidade no terreno do uso da informação, do conhecimento. O que precisamos é de evolução da ética humanista, que tem que ser holística. Isto é, tem que 83beneficiar todos os lados da humanidade. Se acabarmos com o mundo acionando explosões atômicas, não teremos atingido sequer o objetivo militar dessa ciência e tecnologia nuclear, que seria o de nos fazer sobreviver frente ao inimigo, e não perecer junto com o mundo. Isso não é conhecimento. Pois não atingiu seu objetivo, a sobrevivência. Isso é ignorância pura. Que pede a revisão do pensamento, a criação de uma estratégia diferente de informação e ação, e de tecnologia. Que garanta a sobrevivência de quem produziu a informação e a ação que fracassaram. Essa estratégia nova seria a de colocar a totalidade do conhecimento humano a serviço da sobrevivência, da qualidade de vida, da felicidade de todos os indivíduos da humanidade. O conselho com respeito a um pragmatismo humanista, assemelhado, segundo John Stuart Mill, ao de Cristo quando disse para “fazermos pelos outros o que queremos que seja feito por nós”. O que combina perfeitamente com o novo sentido de liberdade, igualdade e fraternidade que a moderna revolução comunicacional-informacional nos induz a buscar. Isto é, uma Bíblia científica para substituir as religiões em sua busca, correta, de moralidade, de ética. Correta, mas semi-fracassada, por falta de ciência comportamental, como deu a entender Skinner que é a nossa situação. Ciência comportamental que agora, nas condições pós-revolução comunicacional-informacional, encontra a tecnologia necessária para se concretizar. Simplesmente cruzando-se ininterruptamente a totalidade do conhecimento humano com a totalidade da ação humana, objetivando a otimização desta em caráter holístico, humanista, e pragmático num sentido maior, não apenas individualista. Dizemos ‘simplesmente’ porque os princípios de uma nova ciência, segundo Karl Popper, têm que ser simples, universais e testáveis. Como seriam os resultados, em termos de pesquisa científica – tanto básica, quanto empírico-experimental e aplicada - desse cruzamento ininterrupto, da totalidade do conhecimento humano com a totalidade da ação humana, visando o estudo e a otimização desta.

VA2 - LIBERDADE SAPIENS: CONTROLE POSITIVO, PROPORCIONAL À INFORMAÇÃO DISPONÍVEL.

A literatura tradicional da liberdade não define com clareza o que seja

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liberdade sapiens. Nem a revolução francesa, a principal manifestação clássica, definiu com clareza o que seja liberdade sapiens. Skinner: “A literatura da liberdade tem sido bem sucedida em reduzir os estímulos aversivos usados no controle intencional, mas ela tem cometido o equívoco de definir liberdade em termos de estados mentais ou sentimento.” Se somos o ser sapiens, isto é, aquele cuja natureza se desenvolve e se impõe à base de saber, de estar informado ao escolher a sua ação, liberdade total para escolher sua ação só tem o ser sapiens que domina, que controla, a totalidade do conhecimento humano. E que escolhe suas ações a partir do exame da lista completa de todas as possibilidades de ação humanas. É claro que isso é uma utopia, mas direcional. Impossível de se preencher de forma absoluta, em cem por cento. Mas que indica a direção da liberdade de vontade que tem que ser cultivada pelo ser sapiens, para ele ser sapiens. Essa escolha da ação a partir de todas as possibilidades de ação humana, é tornada possível numa larga medida no cérebro do ser sapiens graças à capacidade que ele tem – não disponível nos animais – de alinhar ali dentro uma série cada vez mais completa, mais rica, de representações do meio-ambiente e suas possibilidades. Para a escolha transcender a impressão imediata da realidade, que é a única coisa que direciona

84a vontade dos animais. Imaginação representativa crescente, em variedade e complexidade, constitui a essência da evolução da capacidade sapiens. Na proporção matemática em que o indivíduo não controla a totalidade dessa informação completa, em sua diversificação, ele deixa de ser livre como ser sapiens. Estamos falando da principal utopia direcional da natureza sapiens. E de seu direito mais fundamental do que os direitos humanos genéricos da revolução francesa. O direito a toda a informação, a todo o conhecimento, humanos. Um direito biológico-evolucionista da natureza sapiens. Tão utópico como a busca da derrota da morte pela medicina, ou a busca da verdade absoluta pela metodologia da ciência. Mas mais fundamental e mais direcional para a natureza sapiens do que estas duas outras utopias direcionais, também importantíssimas para a natureza sapiens. Liberdade sapiens total, portanto, é o direito, e a possibilidade, de o individuo escolher sua ação após o exame da lista da totalidade das possibilidades de ação humanas. Se isto é utópico, é a principal utopia direcional da natureza sapiens. Na medida, matemática, portanto, em que o indivíduo desconhece a lista completa das possibilidades de ação humanas, ele reduz, matematicamente, a medida da sua liberdade, que é a de escolha da ação. E mergulha na ‘inquietação’ produzida pelo desconhecimento, a desinformação, sobre suas possibilidades de ação. Locke: “O que move a mente em cada particular exemplo, para determinar seu poder geral de dirigir, para este ou aquele particular movimento ou repouso? E a isto eu respondo, o motivo para continuar no mesmo estado de ação, é apenas a presente satisfação com ele. O motivo para mudar, é sempre alguma ‘inquietação’, nada nos colocando sobre uma mudança de estado, ou sobre qualquer nova ação, senão alguma ‘inquietação’. Este é o grande motivo que funciona sobre a mente para colocá-la em ação, o que por questão de abreviamento nós iremos chamar determinação da vontade.” Uma vez que a vontade supõe conhecimento para fazer sua escolha de ação, a falta desse conhecimento é o que produz essa ‘inquietação’, é o que anula, diminui, a motivação por parte do meio-ambiente, e elimina o poder de escolha do indivíduo. A vontade supõe conhecimento para guiar sua escolha. E esse conhecimento pode ser mais completo ou menos completo em relação às condições da existência humana. Para sermos

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mais completos nesse exame precisamos organizar a informação em toda a extensão das possibilidades de escolha da nossa ação. Skinner: “Significativamente, motivação foi dita estar associada com ‘vontade livre’. Negligenciar o papel do meio-ambiente deste modo é desencorajar qualquer inquérito sobre as contingências defeituosas responsáveis por ‘falta de motivação’ ”. Toda essa situação negativa, descrita por Skinner, se caracterizando como uma situação de desinformação. Wiener: “No homem consideramos que uma ação voluntária é essencialmente uma escolha entre tropismos.” Isso quando não for uma escolha apenas dentro da limitação da informação do indivíduo, que produza o tropismo talvez muito longe do que realmente motivaria o indivíduo, se ele tivesse as informações sobre todas as possibilidades de ação humanas. Muitas das vezes em que ocorre essa limitação da escolha, isso foi programado pelos outros. Principalmente pelos líderes políticos, educacionais e do sistema de produção – para controlar, para usar, o indivíduo. Nome disso: Escravização informacional. Skinner: “Como Ralph Barton Perry coloca, ‘Quem quer que determina que alternativas serão dadas ao conhecimento do homem controla do que aquele homem escolherá. Ele fica privado de liberdade na proporção que lhe é negado acesso a quaisquer idéias, ou é confinado a qualquer conjunto de idéias carente da totalidade de possibilidades relevantes’. Em lugar de ‘privado de liberdade’ leia-se ‘controlado’. ” More (Thomas): “Na maior parte das vezes cada homem é criado na habilidade de seu pai, pois mais comumente eles são naturalmente dobrados e inclinados nessa direção.” A liberdade 85sapiens, que seria o direito, e a possibilidade, de o indivíduo escolher a sua ação partindo do exame da totalidade das possibilidades de ação do ser humano, tem que, e pode, ser construída de maneira a mais reforçada possível, dentro das condições da moderna revolução comunicacional-informacional. Que está aí para fazer isso. É extremamente difícil para o indivíduo, naturalmente, escolher sua ação só depois de examinar a lista completa das possibilidades de ação humanas. Mas é preciso maximizar essa escolha, porque a liberdade sapiens é matematicamente proporcional ao exame mais amplo ou menos amplo dessa lista, na hora da escolha. Assim, se estruturarmos um sistema para ajudar o indivíduo a maximizar esse exame, estaremos construindo um controle comportamental libertador para a natureza sapiens do indivíduo. A literatura clássica da liberdade não entendeu esse mecanismo, agora mais esclarecido pela revolução comunicacional-informacional moderna. Que está demonstrando que super-informar o indivíduo é o controle positivo que está faltando para garantir a plena liberdade sapiens. Pois, sem dúvida, qualquer limitação do exame da lista completa das possibilidades de ação humanas na hora de escolher a ação é uma limitação da liberdade sapiens do indivíduo. Limitação que não pode ser totalmente eliminada, mas que tem que ser reduzida o máximo possível. Utopia direcional. A principal utopia direcional da natureza sapiens. Sem a qual não teremos aquilo que poderemos chamar de liberdade sapiens. O mais poderoso controle positivo da natureza sapiens.

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxVB - EDUCAÇÃO DO FUTURO: PERSONALIZADA E O MAIS HOLÍSICA POSSÍVEL. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

VB1 - EDUCAÇÃO DO FUTURO: MEDICINA DA AÇÃO PARA AS CARREIRAS

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DE VIDA E TRABALHO.

A educação atual, tradicional, mimetizou a linha de produção da primeira revolução industrial. Seu produto estreito, é padronizado e massificado da mesma forma que os Ford-A e as garrafas de Coca-Cola. Entretanto os indivíduos - em termos de conhecimentos e seu uso nas ações de vida e de trabalho – são, antes de tudo, altamente personalizados. Como as impressões digitais. E podem ser totalmente livres perante o holismo cognitivo humano. Se for para se desenvolver plenamente o indivíduo, em termos de conhecimentos, vida e trabalho, é preciso respeitar essa personalidade irreplicável de cada um. É o que nos diz Skinner: “Ainda assim, o indivíduo é na melhor das hipóteses um lugar no qual muitas linhas de desenvolvimento se juntam num único conjunto. Sua individualidade não é questionada. Cada célula em seu corpo é um produto genético único, tão único quanto a marca clássica da individualidade, a impressão digital. E mesmo dentro da mais regimentada cultura cada história pessoal é única. Nenhuma cultura intencional pode destruir essa identidade única, e como nós temos visto, qualquer esforço para fazer isso seria um mau desígnio.” Exceto por esse defeito, o da mimetização crassa da linha de produção massificada, a educação tradicional foi, mesmo assim, o mais produtivo e poderoso controle comportamental positivo criado até aqui. Temos agora, na revolução comunicacional-informacional, uma oportunidade extraordinária. O mecanismo científico-tecnológico para combater essa massificação da educação e oferecer ao indivíduo um caminho que favoreça uma

86 educação altamente personalizada e o mais holística possível. Em lugar dos pacotes educacionais restritos e rigidamente padronizados da educação tradicional. Para fazermos isso basta acoplar-se, adequadamente, a todas as instituições educacionais o III cérebro sapiens - cruzamento da totalidade do conhecimento humano com a totalidade da ação humana - que irá oferecer ao sistema educacional e seus alunos: O mapa tipológico orgânico de todas as ações humanas. Apoios informacionais para buscar ali dentro a carreira de vida e de trabalho a mais personalizada possível. E em seguida o total da informação humana que serve a cada passo de ação de qualquer carreira que possa ser inventada ali dentro pelo indivíduo – e o número de possibilidades é infinito – com a maior independência possível em relação aos pacotes educacionais padronizados e restritivos oferecidos pelo sistema educacional tradicional. Essas são as grandes linhas da tese da revolução futurista do sistema educacional, que poderão ser acionadas com diferentes graus de intensidade. Podendo o aluno, inclusive, se quiser, se ater às padronizações rígidas tradicionais. Os mais bem sucedidos não farão isso, porque as personalidades individuais são tão únicas como as impressões digitais. E precisam ser respeitadas, se queremos produzir indivíduos criativos, e estimulados para o conhecimento mais holístico. Ou seja, mais sapiens. Sendo, ainda, que o total da informação humana, devidamente organizado, oferecerá um número infinito de possibilidades de carreiras de vida e de trabalho. Uma variedade jamais sonhada pelo sistema educacional tradicional. Variedade altamente favorecedora da personalização dentro do holismo cognitivo humano. Que pode e deve ser acoplado, na maior medida possível, às carreiras individuais personalizadas, mesmo dentro de especializações. Graças a nossas faculdades inatas de adaptação que nossa estrutura fisiológica, comparada com a dos animais, torna possível. Como nos diz Wiener: “Como todos os demais organismos, o homem vive num universo contingente, mas a vantagem

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dele sobre o resto da natureza é a posse do equipamento fisiológico – e, portanto, intelectual – necessário para adaptar-se às mudanças radicais do seu meio-ambiente. A espécie humana é forte apenas na medida em que se aproveite das faculdades inatas de adaptação, de aprendizagem, que sua estrutura fisiológica torna possíveis.” Skinner e Foucault dizem que o que está errado, é retrógrado, é o sistema educacional. E eles estão absolutamente certos nisso. Skinner: “O que está errado é o ambiente educacional. Nós precisamos desenhar contingências sob as quais os estudantes adquirem comportamento útil para eles e sua cultura – contingências que não tenham efeitos colaterais negativos e que gerem o comportamento dito ‘mostrar respeito pela aprendizagem’. Não é difícil ver o que está errado na maior parte dos meio-ambientes educacionais, e muito já tem sido feito para desenhar-se materiais que façam a aprendizagem tão fácil quanto possível e para construir contingências, dentro da sala de aula e em outros lugares, que dêem aos estudantes poderosas razões para conquistarem uma educação.” b) Foucault: “O que está condenado não é o público, é o nosso ensino secundário (dirigido pelo humanismo). Nós não aprendemos nada no que se refere às disciplinas fundamentais que nos permitiriam compreender o que se passa entre nós – e sobretudo noutros países. Se o público hoje tem a impressão de uma cultura bárbara, eriçada de números e de siglas, essa impressão é devida unicamente a um fato: nosso sistema de educação data do século XIX e vemos ainda reinar nele a psicologia mais insípida, o humanismo mais obsoleto, as categorias do gosto, do coração humano. (...) b) A culpa não é do que está acontecendo, nem das pessoas que têm a impressão de já não perceberem nada, a culpa é da organização do ensino.”

87 O cruzamento, pela tecnologia da revolução comunicacional-informacional, da totalidade, concreta, da tipologia da ação humana com a totalidade, concreta, da tipologia do conhecimento aplicado às ações humanas, oferecerá ao sistema educacional a diversidade completa das carreiras de vida e de trabalho que poderão ser oferecidas aos indivíduos para escolhas altamente personalizadas e o mais holísticas possível. Mas o ensino que está aí não tem o seu pobre conteúdo voltado para a vida dos estudantes, como deveria ser. Wiener: “Contudo, vivemos num período em que as formas suplantaram, em grande parte, o conteúdo educacional, e que se está orientando para uma pobreza sempre crescente de conteúdo educacional.” Skinner: “Se os estudantes não estudam, não é porque eles não estão interessados mas porque os padrões tem sido abaixados ou porque os assuntos ensinados não são mais relevantes para uma vida satisfatória.” O sistema educacional do futuro poderá impulsionar o indivíduo por um caminho de vida e de trabalho que seja tão pessoal e irreplicável por outros indivíduos como são pessoais e irreplicáveis as impressões digitais. Quando o ensino se fundamenta na ação da vida real, isso conduz à personalização e à necessidade de compreensão do todo social dessas ações. Skinner: “Citando Rousseau: Em ‘Émile’ ele mostrou como uma criança podia aprender a respeito das coisas a partir das próprias coisas antes do que de livros. As práticas que ele descreveu são ainda comuns, largamente devido à ênfase de John Dewey sobre a vida real dentro da sala de aula.” A partir das teorias de Dewey e seguidores, conclui-se, pós-revolução comunicacional-informacional, que são as carreiras de vida e de trabalho dos indivíduos que se deve educar. Colocadas no centro do processo educacional, e complementadas por educação científico-cultural holística e básica para substanciar a

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qualidade da ação sapiens. O sistema educacional do futuro, altamente informatizado em conteúdos e agilidade comunicacional, acompanhará não apenas os empreendedorismos, mas todas as carreiras concretas de vida e de trabalho de todos os indivíduos, vinte e quatro horas por dia, sob a forma praticamente de um serviço que poderá ser denominado de medicina ocupacional, ou comportamental, ou medicina da ação. A serviço das carreiras de vida e de trabalho dos indivíduos. Uma assistência informacional contínua incentivando a alta personalização das carreiras de vida e de trabalho do indivíduo, dentro do máximo holismo cognitivo possível. Isto é, o mais sapiens possível. Para se fazer isto, a articulação entre o sistema educacional e a rede informacional da revolução comunicacional-informacional tem que ser total, e operar servindo o indivíduo vinte e quatro horas por dia, como fazem um serviço de distribuição de água ou de energia elétrica. Ninguém será preparado por esse sistema educacional do futuro, altamente informatizado, apenas para se transformar numa peça de funcionalidade limitada do sistema de produção. Como é feito por governos e sistemas de produção que geram a uniformidade. Skinner: “As exigências da administração nos sistemas de governo, religiosos e econômicos, geram a uniformidade, porque ela simplifica o problema do controle. Estabelecimentos educacionais tradicionais especificam o que o estudante deve aprender e em que idade e administram testes para garantir que as especificações sejam obedecidas. Os códigos de governo e religião são usualmente bastante explícitos e permitem pouco espaço para diversidade ou mudança. A única esperança é a diversificação ‘planejada’, dentro da qual a importância da variedade é reconhecida.” Como uma necessidade da vida sapiens. Para se evoluir, o mais completamente possível, com o máximo holismo, como seres sapiens.

88A educação que não atende a isso, não é educação de seres sapiens. Jung: “Para cada indivíduo que se identifica com uma função diferenciada, isso acarreta uma descida a uma condição a qual, ainda que equilibrada, é de um definitivamente mais baixo valor quando comparada com o valor inicial. Essa conclusão é inevitável. Toda educação que aspira à unidade e harmonia da natureza do homem tem que contar com esse fato.” E trabalhar dentro dos espaços de uma alta diversificação planejada informacionalmente. Assistidos, para isso, pela ajuda do III cérebro sapiens, que cruzará, vinte e quatro horas por dia, a totalidade do conhecimento humano com a totalidade da ação humana. Abrangendo, nessa operação, todas as careiras de vida e de trabalho possíveis. Que, personalizadas, existirão em número infinito. Ou, melhor, em número igual ao da população do planeta – com seu destino sapiens – dada a total personalização do ensino. Serviço disponibilizado vinte e quatro horas por dia, ‘full time’ como a medicina, para corrigir qualquer tropeço de ação, em quaisquer carreiras de vida ou de trabalho. Não apenas naquelas definidas pelos sistemas de produção e de educação. Fala-se o tempo todo no Brasil em reformar, revolucionar, modernizar a educação. Mas não se diz, nem se discute como fazê-lo. Tudo acaba numa única solução: Aumento de salário para os professores. Isso não reforma, nem revoluciona, nem moderniza a educação. É pura inconsciência do conservadorismo. Para ser modernizada, a educação precisa adaptar-se à revolução comunicacional-informacional que está aí. E que propõe, com a sua tecnologia, carreiras de vida e de trabalho para todos os cidadãos modeladas, como pediu Locke, por ações

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escolhidas depois do exame da relação completa de todas as possibilidades de ação humanas. Isso é a liberdade sapiens, contrastante com a liberdade desinformada dos animais. Depois da escolha das carreiras de vida e trabalho, a tecnologia comunicacional revolucionária que está aí nos permite remeter, 24 horas por dia, a todas as ações de vida e trabalho de todos os indivíduos, a totalidade da informação, do conhecimento humano que for útil à otimização de cada uma das ações escolhidas pelas carreiras de vida e de trabalho de cada cidadão. Isto é uma síntese, simplificada, da educação do futuro. É em cima dessas condições básicas criadas pela revolução comunicacional-informacional que está aí, que deve ser planejada a educação do futuro. Tendo em vista, inclusive, que a psicologia pós-freudiana – vide Gerald Edelman, Prêmio Nobel de ciência, do cérebro – já deixou bem claro que a nossa vida é determinada pelo bombardeio informacional a que estamos sujeitos 24 horas por dia por parte do meio-ambiente, e não pela nossa herança genética. A responsabilidade da educação do futuro – que não pode deixar de lançar mão da tecnologia hoje disponível – é pelo sucesso das carreiras de vida e de trabalho do educado. Onde a carreira de vida ou de trabalho do educado fracassou, fracassou a educação que foi aplicada sobre ele. Esta é a responsabilidade central do sistema. A educação tradicional foge, como o diabo da cruz, desse tipo de responsabilidade. Mas é por aí, por esse princípio de responsabilidade, que deve começar o planejamento da educação do futuro, que se desenrolará 24 horas por dia, e que será responsável pelo sucesso ou pelo fracasso das carreiras de vida e de trabalho do indivíduo, de todos os indivíduos dentro da sociedade. Assim sendo, a carreira de vida e de trabalho do indivíduo tem que ser a linha central do processo educacional. O resto da educação, os elementos básicos e culturais, especializados ou holísticos, constituirão linhas laterais desenrolando-se ao

89longo da linha central, que é a carreira de vida e de trabalho do indivíduo. Carreira que será altamente personalizada e o mais holística possível, como já pediu Alvin Toffler. Coisa muito diferente da atual educação, que mimetiza o sistema da linha-de-produção da primeira revolução industrial, resultando em educados por pacotes rigidamente limitados, para o condicionamento de massas de indivíduos que deixam a escola em condições tão padronizadas, e massificadas, como as garrafas de Coca-Cola e os modelos de automóveis. Para fugir a essa padronização, modelo primeira revolução industrial, o do sistema educacional que está aí, obsoletizado pela revolução comunicacional-informacional, são necessárias várias providências. Que nem sequer são discutidas pelas pessoas que se limitam a propor o aumento de salários dos professores. Vejamos algumas das principais providências indispensáveis à revolução e modernização do sistema educacional. Antes de mais nada, o sistema educacional tem que oferecer à escolha do indivíduo o mapa completo de todas as possibilidades de ação humanas. E ajudar o indivíduo a escolher, com a máxima liberdade, suas ações de vida e de trabalho, dentro de tal mapa geral. A visão do todo das possibilidades é indispensável para que haja liberdade sapiens, e o indivíduo venha a escolher carreiras de vida e trabalho o mais personalizadas possível e o mais holísticas possível, em sentindo humanista. É óbvio que isso, esse universalismo da escolha, vai resultar num panorama de possibilidades de carreiras

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incrivelmente mais variado do que as atuais ofertas do sistema educacional: advogado, médico, engenheiro... A ciência e a tecnologia humanas criaram uma variedade de opções ocupacionais quase infinita. O sistema educacional tem que se haver com essa complexidade, para deixar os indivíduos modelarem para si carreiras de vida e de trabalho altamente personalizadas e o mais holísticas possível. Depois de ajudar o indivíduo a definir suas carreiras de vida e de trabalho, o sistema educacional do futuro tem que estar organizado para encaminhar, 24 horas por dia, a todas as ações de vida e de trabalho de todos os indivíduos - a educação será de toda a sociedade naturalmente – a totalidade do conhecimento humano que for útil a cada uma das ações escolhidas por todos os indivíduos da sociedade. É educação tempo integral para todos, sim, e totalmente integrada com a vida concreta, do indivíduo e da sociedade. As carreiras de vida e de trabalho dos indivíduos se desenrolam numa determinada, mais ampla ou menos ampla, área geográfica. O sistema educacional, para ajudar essas carreiras a serem bem sucedidas, precisa dispor do mapa ocupacional geral da sua área geográfica de atuação. Para tomar medidas que garantam o sucesso de vida e de trabalho de seus educandos dentro da área geográfica de responsabilidade da escola, onde vive o indivíduo. E mais ainda, o sistema educacional tem que ser responsabilizado pelo esforço para desenvolver em sua área geográfica de atuação, todos os tipos de atividades praticáveis pela espécie humana. Isto é, educação ocupacional integral de sua área geográfica de responsabilidade. Para se atingir na área o desenvolvimento o mais holístico possível. Propiciando, oferecendo a seus educandos o mais largo espectro concreto possível de atividades humanas. O que irá redundar nas condições concretas para a liberdade integral de escolha pelo indivíduo, maximizada o quanto possível. Resumindo-se tudo que foi dito, o sistema educacional do futuro tem que se responsabilizar pelo sucesso das carreiras concretas de vida e de trabalho dos indivíduos, e decorrentemente, pelo sucesso de vida e trabalho geral de sua área

90geográfica de responsabilidade. Isto, dentro de duas condições básicas: Liberdade sapiens e carreiras envolvidas, mesmo quando especializadas, em holismo cognitivo e humanista. Isto é, científico e social. Impulsionando os indivíduos a maximizar seu controle de todo o conhecimento humano e sua liberdade de escolha e flexibilização de suas carreiras de vida e de trabalho. Liberdade e holismo que precisam, para serem operacionalizados, do desenvolvimento ocupacional de toda a sociedade. O resultado disso tudo – propiciado pela revolução comunicacional-informacional moderna – será uma educação totalmente amalgamada com a vida, pessoal e social, do indivíduo e de sua comunidade. E circundada, informacionalmente, por uma maximização, holística, da cultura do indivíduo e de toda a sociedade. Pânico, por esta grandiosa responsabilidade revolucionária, imposta pela revolução comunicacional-informacional que está aí, é o que tal discussão tende a produzir nos educadores brasileiros, ultra-conservadores. E inconscientes das condições comunicacionais-informacionais do mundo moderno. Que estão a exigir uma gigantesca mudança no sistema educacional.

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VI - DIREITO À INFORMAÇÃO E AO CONHECIMENTO.

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xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx VIA – SOCIALISMO E CAPITALISMO CLÁSSICOS OBSOLETOS.xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

VIA1 - SOCIALISMO E CAPITALISMO CLÁSSICOS (‘BIG BROTHERS’ ESTATAL E PRIVADO) OBSOLETOS.

A revolução comunicacional-informacional que está aí está deixando cada vez mais claro que tanto o socialismo quanto o capitalismo clássicos, que estão aí também ainda, já pertencem ao museu das idéias obsoletas. E isso porque são máquinas de poder que negam a informação ao indivíduo. A informação de que depende, inclusive, a nossa evolução sapiens. Wiener: “Père Dubarle chamou a atenção dos cientistas para a crescente mecanização militar e política do mundo como um grande aparelho sobre-humano funcionando de acordo com princípios cibernéticos. A fim de evitar os múltiplos perigos disso, tanto externos como internos, tem ele razão em acentuar a necessidade da cooperação do antropólogo e do filósofo. Por outras palavras, é mister que conheçamos, como cientistas, qual a natureza do homem e quais os seus propósitos inerentes, mesmo quando queremos usar tal conhecimento como soldados e estadistas; cumpre-nos outrossim, saber porque desejamos dominá-lo. (....) Mesmo, porém, sem a máquina estatal de Père Dubarle, já estamos desenvolvendo novos conceitos de guerra de conflito econômico, e de propaganda com base na teoria dos jogos, de Von Neumann, que é, ela própria uma teoria da comunicação. (....) Falando de modo

91literal, a teoria dos jogos de Von Neumann, que está implicada no caso, diz respeito a uma equipe que tenta deliberadamente fazer a mensagem passar, e a outra equipe que recorrerá a qualquer estratégia para obstruir a mensagem.” As técnicas das duas ideologias para fazer isso são diferentes. No socialismo, o governo quer determinar em detalhes o comportamento dos indivíduos. Para fazer isso adota medidas de controle informacional, inclusive contra o desenvolvimento almejado pela revolução comunicacional-informacional. Cerceia parcialmente, ou até mesmo proíbe de todo a Internet, por exemplo. A técnica do capitalismo clássico é mais sutil. Seu controle é todo fundamentado na propriedade da informação. O que já foi censurado por Norbert Wiener, que disse que, mesmo sabendo que ia desagradar aos americanos, não podia deixar de afirmar que “informação não pode ser mercadoria”, isto é, propriedade. Da mesma forma, Noam Chomski disse que as patentes são usadas como uma: “...arma para deter o desenvolvimento e o crescimento econômico e evitar a liberdade de comércio e informação.” É com a propriedade da informação que se define o poder dentro do capitalismo. Skinner: “C.S. Lewis: ‘O poder do homem de fazer de si mesmo o que lhe

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agrada significa o poder de alguns homens de fazer de outros homens o que lhes agrada’.(...) Um como um controlador, como o desenhista de uma cultura controladora, e outro como o controlado, como o produto de uma cultura.” Controle, no capitalismo, o desenho da cultura, está fundamentado na propriedade, por indivíduos ou grupos, daquilo que constitui o insumo fundamental da própria evolução sapiens: informação, conhecimento. Informação, conhecimento, é um direito mais básico do que os direitos humanos genéricos arrolados pela revolução francesa. Os cerceamentos à informação para o indivíduo vão tão longe dentro do capitalismo clássico, que existem patentes que reservam a propriedade até mesmo de campos de pesquisa. Isto é, de conhecimento que nem sequer foi descoberto ainda. Com uma estratégia ou outra, as duas ideologias políticas e suas máquinas controlam a informação, e com isso os indivíduos. Wiener: “Uma espécie de ‘machine à gouverner’ está, pois, basicamente em operação, hoje, em ambos os lados do conflito mundial (direita x esquerda), malgrado não consista, em nenhum dos casos, de uma única máquina a determinar a tática, mas antes de uma técnica mecanística que se adapta à existência de grupos de homens maquinais devotados ao estabelecimento da orientação política. (....) É a um mundo como esse que o cientista deve conformar-se nos países totalitários, pouco importando que sejam de direita ou de esquerda. A Rainha Marxista é, na verdade, muito arbitrária, e a Rainha Fascista não lhe fica atrás.” Antony Giddens, criador da expressão ‘terceira via’: “As duas filosofias políticas dominantes nos últimos trinta, quarenta anos, em todos os países, ou falharam ou estão falhando. Essas filosofias políticas são o velho socialismo burocrático ou o estado do bem-estar social, de um lado, e, do outro, o bem conhecido fundamentalismo do mercado neoliberal. No mundo inteiro, as pessoas estão percebendo que nenhuma dessas filosofias é adequada.” O futuro está sendo condicionado, pela revolução comunicacional-informacional, para se organizar em torno de um novo bipolarismo ideológico. A ideologia daqueles que serão a favor da abertura total da informação e a ideologia daqueles que serão contra a abertura total da informação. O nome das duas coisas não tem nada a ver com ‘direita’ e ‘esquerda’. Tem que ser inventado, ou reinventado. Poderíamos ficar com: ‘abertura’ e ‘fechamento’. O que não é mais estranho do que ‘direita’ e ‘esquerda’, que não têm nenhum sentido em relação aos fatos que designam. A síntese da situação: A direita e a esquerda clássicas morreram porque ambas negam a informação, o conhecimento, aos indivíduos. Mas a maioria

92 esmagadora dos políticos brasileiro - e sul-americanos - ainda acredita nessa tolice obsoleta de direita e esquerda. O socialismo e o capitalismo clássicos já pertencem ao museu da história das idéias. O que deve ser feito para se levar adiante – sem essas idéias obsoletas – o desenvolvimento das sociedades? É a revolução comunicacional-informacional, com sua ciência e tecnologia, que deve dizer o que precisa ser feito. Para abrir totalmente a informação e substituir esses dois regimes políticos obsoletos por alguma coisa mais moderna. A terceira via, que Giddens não definiu com clareza. Que consistirá na abertura total da informação. Que terá opositores, naturalmente - defendendo o fechamento da informação – opositores que constituirão a ideologia do conservadorismo, socialista ou capitalista, clássicos.

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VIA2 - “BIG BROTHER’ ESTATAL, ‘BIG BROTHER’ PRIVADO, E ESCRAVIZAÇÃO INFORMACIONAL.

O estado – especialmente o socialista, mas também o capitalista – ainda é concebido como uma máquina para determinar o comportamento do indivíduo, buscando absolutizar-se nesse sentido. Ao invés de assumir a responsabilidade de super-informar o indivíduo, para que ele próprio organize seu comportamento, sua vida. Wiener: “As ‘máquinas de governar’ definirão o estado como o jogador mais bem informado a cada nível específico; e o estado é o único coordenador supremo de todas as decisões parciais. Estas são enormes privilégios, se forem alcançadas cientificamente, permitirão ao estado, em todas as circunstâncias, derrotar qualquer outro jogador do jogo humano que não seja ele próprio, propondo este dilema: ou falência imediata ou cooperação planificada. (....) Qual poderá ser o desenvolvimento mais provável da situação? Não será possível conceber um aparelho estatal que abranja todos os sistemas de decisão política, quer sob um regime de muitos estados distribuídos pela face da terra, quer sob o regime aparentemente muito mais simples de um governo humano deste planeta? Atualmente, nada nos impede de pensar nisso. Podemos sonhar com a época em que a ‘máquina de governar’ venha suprir – para o bem ou para o mal – a atual e óbvia insuficiência do cérebro, quando este se ocupa com a costumeira maquinaria da política.” Isto é, uma máquina que praticamente nega a informação ao indivíduo, ao determinar seu comportamento sistematicamente. Sob o pretexto da desinformação, e descoordenação, dos indivíduos. Que pode ser sanada, até à dispensa quase total do estado. Wiener: “Hesitação entre uma indefinida turbulência dos negócios humanos e o surgimento de um prodigioso leviatã.” Com indivíduos super-informados, e com carreiras de vida e de trabalho altamente personalizadas e holísticas, livres e bem sucedidas, o estado vai se tornando dispensável numa larga medida. O que pode estar acontecendo em parte. Wiener: “A despeito disso tudo, e talvez afortunadamente, uma ‘máquina de governar’ não estará pronta em futuro muito imediato.” Apenas técnicas publicitárias, em lugar de objetividade na solução dos problemas dos indivíduos. Al Gore: “Alguns dos problemas dos nossos países – e devo falar apenas sobre o EUA – advém da invasão da política pelo ‘show business’, pela propaganda de massa, por técnicas que rejeitam as idéias e deixam apenas as impressões.” Temos que, obviamente, optar pela evolução sapiens em lugar da especiação como formigas humanas que cultivamos hoje, induzidos pela máquina estatal. Pois uma vasta massa da

93humanidade é lançada para a base da pirâmide ocupacional para garantir a riqueza e o esplendor do estado e da aristocracia. Agora aristocracia político-econômica, na democracia representativa desinformada. Wiener: “Conquanto seja possível deitar fora esta enorme vantagem que temos sobre as formigas, e organizar o Estado fascista à moda da formiga com material humano, certamente que considero isso uma degradação da própria natureza do homem e, economicamente, um desperdício dos grandes valores humanos que ele possui. (...) A tese deste capítulo é a de que essa aspiração fascista a um estado humano baseado no modelo da formiga resulta de um conceito profundamente falso tanto da natureza da formiga quanto da natureza do homem.” O estado, em síntese, é, portanto, o sistema que, deixando os indivíduos na desinformação, busca determinar todas as linhas do comportamento das massas humanas.

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A escravização moderna é a escravização informacional. Que foi criada e aperfeiçoada, especialmente, pelo capitalismo clássico. Montam-se estruturas piramidais, onde a base é constituída por indivíduos treinados em especializações rudimentares, como apertadores de parafusos, soldadores, varredores, etc. A imagem símbolo: ‘Tempos Modernos’, de Charles Chaplin. C.G. Jung e Thomas More já denunciaram essa escravização informacional. Jung: “Por meio desse processo psicológico uma cultura coletiva gradualmente veio a existir, dentro da qual os ‘direitos do homem’ foram garantidos para o indivíduo num grau incomensuravelmente maior do que na antiguidade. Mas isso teve a desvantagem de depender de uma cultura escravocrata subjetiva, quer dizer de uma transferência da velha escravização em massa para dentro de uma esfera psicológica, com o resultado de que, enquanto a cultura coletiva foi reforçada, a cultura individual foi degradada. Da mesma forma como a escravização das massas foi a ferida aberta do mundo antigo, assim a escravização das funções inferiores é uma ferida eternamente sangrando na psiquê do homem moderno.” More: “O principal e quase o único ofício dos Syphogrants é ver e cuidar que nenhum homem sente-se ocioso, mas que cada um aplique sua própria habilidade com séria diligência; e ainda assim apesar disso tudo, não ficar esgotado de manhã cedo até tarde na noite com trabalho contínuo, como laboriosos e esforçados animais. Pois isso é pior do que a miserável e infeliz condição de escravização, a qual todavia é em quase toda parte a vida dos trabalhadores e artífices, exceto na Utopia.” No vértice da pirâmide de produção ficam os controladores, os mais bem informados, os donos do sistema. E nos espaços intermediários, os semi-informados, ou especialistas mais bem informados, mas apenas em sua especialização mais sofisticada. A lei fundamental que organiza o poder dentro da pirâmide é a da imobilidade dos componentes da pirâmide. Especialmente a dos ‘especialistas’ super-elementares da base da pirâmide, que não tem qualquer caminho, qualquer escada educacional, para ascender na pirâmide. Skinner: “Um sistema de escravização tão bem planejado que ele não cria revolta é a ameaça real.” E os sistemas educacionais tradicionais, todos eles comprometidos com essa pirâmide, preparam os contingentes humanos robotizados para ficarem paralisados em seus postos de trabalho. Isso é um novo tipo de poder. Foucault: “Esse novo tipo de poder, que não pode mais ser transcrito nos termos de soberania, é uma das grandes invenções da sociedade burguesa. Ele foi um instrumento fundamental para a constituição do capitalismo industrial e do tipo de sociedade que lhe é correspondente; esse poder não soberano, alheio à forma da soberania, é o poder de disciplinar.” A nova tecnologia de poder deriva-se da própria tecnologia física, dentro do sistema de produção. Pequenas iniciativas mais avançadas criaram os novos

94 processos para fins exclusivamente produtivos. Mas a disciplina derivada do processo comprovou-se como um forte mecanismo de controle social. E foi então aplicada às grandes estruturas de produção como mecanismo de controle humano massificado, de classes. Que redundou em controle político também. Passagem lógica automática da tecnologia para a política. Em síntese, uma estratégia sem nenhum mecanismo de ascendência educacional a níveis mais altos de competência para todos os indivíduos. Os níveis superiores de especializações, um pouco mais sofisticadas, também são treinados para a paralisia em seu campo restrito de competência. O poder dessa disciplina paralisadora é incontestável no mundo atual. Foucault: “Na realidade, as disciplinas têm o

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seu discurso. Elas são criadoras de aparelhos de saber e de múltiplos domínios de conhecimento. São extraordinariamente inventivas no nível dos aparelhos que produzem saber e conhecimento. (...) Tudo isso significa que o poder, para exercer-se nesses mecanismos sutis, é obrigado a formar, organizar, e pôr em circulação um saber, ou melhor, aparelhos de saber e que não são construções ideológicas. (...) No caso, por exemplo, da divisão do trabalho nas grandes oficinas do século XVIII, como se teria chegado a essa repartição de tarefas se não tivesse ocorrido uma nova distribuição do poder no próprio nível da organização das forças produtivas? ” A revolução comunicacional-informacional que está aí, veio para explodir com essa pirâmide de paralisias, veio para sacudir informacionalmente os indivíduos, estimulando-os à busca do controle da totalidade da informação, do conhecimento, humanos. Utopia direcional. Mesmo que seja impossível aos indivíduos dominar a totalidade do conhecimento humano, essa é a direção utópica que precisa ser fixada sistemicamente. Para dentro dela se estimular carreiras ascendentes altamente personalizadas e o mais holísticas possível. Para que todos, democraticamente, tenham diante de si os caminhos, as escadas, da alta mobilidade ascendente, que hoje o sistema obstrui propositadamente, inclusive por meio do sistema educacional. As corporações produtivas, com base nessa desinformação controlada, se constituem em instituições totalitárias. Chomsky: “As corporações são instituições tirânica, basicamente totalitárias. São uma das formas do totalitarismo do século XX, com as mesmas raízes intelectuais das outras formas – o bolchevismo e o fascismo. Se você observar sua estrutura interna, é um sistema hierárquico com o poder no topo, ordens transmitidas de cima para baixo, sem nenhuma prestação de contas ao público muito frágil.” Wiener: “O dirigente de um grande laboratório que atribui a cada subordinado um problema específicos e mal lhe concede o privilégio de pensar por si mesmo, de modo a que possa ir além do seu problema imediato para perceber-lhe a relevância geral, demonstra que a democracia a que presta suas homenagens não é realmente a ordem em que preferiria viver.” Imposta dentro dela a disciplina da feroz, rígida, escravização informacional. Foucault: “Esse novo mecanismo de poder apóia-se mais nos corpos e seus atos do que na terra e seus produtos. É um mecanismo que permite extrair dos corpos tempo e trabalho mais do que bens e riqueza.” Gaudelier: “A essência do homem é o trabalho e, como o trabalho é roubado, o homem está alienado.” É um controle radical dos desinformados, em lugar da abertura total, da liberdade total de informação, o fundamento fecundante da revolução comunicacional-informacional e de seu III cérebro sapiens, voltado para a utopia, direcional, de colocar ao acesso do indivíduo a totalidade da informação, do conhecimento, humanos. Tornando todos iguais dentro da estrutura ocupacional da sociedade. Sem escravizados informacionais e escravizadores informacionais. E não com a maioria dos indivíduos sem nada para vender além da força física de seus corpos. Pois com a segunda revolução industrial estruturada a

95maioria dos seres humanos nela empregados, tendo capacidades medíocres ou menos, tem muito pouca coisa a vender, além da força física, que valha a pena ao dinheiro de alguém comprar. Assim, a “a ferida eternamente sangrando na psiquê do homem moderno” a “escravização das funções inferiores”, como diz Jung, é a doença ocupacional, a escravização informacional, dentro da pirâmide do poder, que tem que ser curada pela

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revolução comunicacional-informacional, cujo objetivo é: Colocar ao alcance do cérebro biológico individual, por meio do III cérebro sapiens (bio-tecnológico) a totalidade do conhecimento humano. Esta, a principal utopia direcional da natureza sapiens. Isto é, utópica como conquista absoluta, mas a direção básica indispensável para a busca da evolução sapiens.

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxVIB - DIREITO À INFORMAÇÃO E BASES PARA SUA INSTITUCIONALIZAÇÃO.xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

VIB1 - INFORMAÇÃO: DIREITO BIOLÓGICO-EVOLUCIONISTA.

Os três macro-condicionamentos do futuro da humanidade são: Primeiro, o mecanismo usado pelos USA para tirar da Europa a liderança mundial, que foi relacionar mais intensivamente conhecimento e ação. À base de informação. E que produziu a explosão científico-tecnológica moderna. Segundo, o reconhecimento pela psicologia de que o bombardeio informacional por parte do meio-ambiente sobre a mente é muito mais poderoso do que a herança genética. Gerald Edelman e outros pensadores afirmam isso categoricamente. Mecanismo de informação.Terceiro, a moderna revolução comunicacional-informacional. Todos esses três pontos consagram a informação como a arma do poder moderno. E mais ainda do futuro. O novo oxigênio sapiens. Tudo o que foi dito acima indica o caminho que devemos tomar, apontado pelos três macro-condicionamentos que estão mostrando o futuro para a humanidade: O relacionamento cada vez mais ininterrupto e intensivo entre conhecimento e ação. Uma ciência do comportamento pós-revolução comunicacional-informacional, que, utilizando as tecnologias dessa revolução busque otimizar o máximo possível o bombardeio informacional por parte do meio-ambiente sobre as mentes dos indivíduos. E a busca, via revolução comunicacional-informacional, de se colocar dentro da mente do individuo a totalidade do conhecimento humano. Utopia direcional também, como a da medicina quando busca derrotar a morte, mas que tem que ser o raciocínio orientador do incremento e aceleração da nossa evolução sapiens. E de nossa moral e ética. O direito à informação é mais do que um direito humano. É um direito biológico, evolucionista. A revolução francesa reconheceu, mas não explicou claramente isso, quando disse que os direitos civis precisam derivar-se dos direitos naturais, entre os quais ela deu destaque exatamente aos direitos de natureza intelectual, os direitos que envolvem o funcionamento da nossa mente. Mas deixou de ser objetiva e específica sobre o principal direito da natureza sapiens: Informação, seu principal mecanismo natural. Vejamos essa omissão. Paine: “Declaração dos Direitos do Homem e dos Cidadãos pela Assembléia Nacional da França. Os representantes do povo da

96França, formados numa Assembléia Nacional, considerando que ignorância, negligência, ou desprezo pelos direitos humanos, são as únicas causas dos infortúnios públicos e das corrupções de Governo, têm resolvido proferir numa solene declaração, esses naturais, imprescritíveis e inalienáveis direitos. (...) Direitos Humanos: I – Homens nascem, e continuam sempre, livres e iguais com respeito a seus direitos. Distinções civis,

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portanto, podem ser fundamentadas apenas em utilidade pública. II – A finalidade de todas as associações políticas é a preservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem; e esses direitos são Liberdade, Propriedade, Segurança, e Resistência à Opressão. (sic. Direito à informação faltando.) XVII – O direito à propriedade sendo inviolável e sagrado, ninguém pode ser privado dele, exceto em casos de evidente necessidade pública, legalmente assegurada, e sob condição de prévia indenização justa. (...) Ainda que ele usualmente escreva como se a existência de direitos naturais fosse auto-evidente, Paine tem dois argumentos para reforçar sua posição. O primeiro é que a igualdade é um estado natural. (...) Daí, qualquer direito civil (o qual talvez possa envolver desigualdades) deve ser justificado em termos de um direito natural apriorístico. (...) O que são esses direitos naturais que nós todos possuímos em igual medida? Eles são ‘aqueles que pertencem ao homem como direito de sua existência’. Desse tipo são todos os direitos intelectuais, ou direitos da mente.” O principal direito natural da espécie sapiens, da mente sapiens, foi deixado de fora pelos princípios da revolução francesa. O direito à informação. A ciência hoje já deixou bem claro que o principal modelador de nossa mente é o bombardeio informacional a que estamos submetidos, vinte e quatro horas por dia, a partir do meio-ambiente. A nossa história de vida resulta desse bombardeio informacional. E a própria estrutura física do nosso cérebro, segundo C.G. Jung, é um produto desse bombardeio informacional operando através dos milhões de anos de nossa evolução sapiens, e pré-sapiens. Nossa mente é produzida por tal bombardeio via neurogênesis, epigenética e mutação genética. E todos esses processos são dependentes do bombardeio informacional por parte do meio. À luz do que foi dito acima é possível avaliar-se a importância da informação para a evolução da natureza sapiens. Essa importância é tão evidente, e tão crescente, que estamos chegando através dessa evidência até uma cultura totalmente centralizada no poder da informação. Está aí a civilização científico-tecnológica, e agora a revolução comunicacional-informacional, duas coisas que incrementaram extraordinariamente nossa dependência, em termos de vida, do desenvolvimento e controle do conhecimento, da informação que está se transformando no novo oxigênio que a espécie sapiens tem que respirar para prosseguir em sua evolução. Estamos numa transição, acelerada, para passarmos da respiração do oxigênio da atmosfera para a respiração do oxigênio da informação. É muito assemelhado ao que aconteceu quando passamos, em nossos ancestrais biológicos, da respiração do oxigênio da água para o oxigênio da atmosfera, tendo que criar, para isso, o nosso pulmão aéreo. Temos que criar agora, não um pulmão, mas um cérebro mais poderoso do que o genoma e o cérebro biológico individual, para respirar com competência o oxigênio da informação. Que se não for bem respirado pode acabar, inclusive, com o oxigênio da atmosfera e com o oxigênio da água. Desinformados como estamos sobre ecologia numa medida perigosa. Oxigênio indispensável especialmente na economia também. Onde a propriedade da informação sabota a evolução sapiens. Pedindo uma revolução institucional na área. O ponto fundamental para dar empregos e ganhos de mais alto nível para os brasileiros está na informação educacional. Que está pedindo uma

97revolução institucional, assustadora para o legislativo e para o executivo brasileiros: A quebra da propriedade do conhecimento, da informação. Soa como um utopia. E é uma utopia. Mas uma utopia necessária, direcional, como a utopia da derrota da morte pela

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medicina, também uma utopia necessária, direcional. Esse ponto é um problema do mundo inteiro. Acabar com a propriedade da informação, do conhecimento, como já pediu Norbert Wiener, que em ‘Cibernética e Sociedade’ afirmou que a informação não pode ser objeto de comércio, de propriedade. Devendo-se, portanto, estimular a concorrência apenas na ação, entre indivíduos todos eles super-informados sobre o objeto da concorrência. Para que eles possam ser livres e evoluir como seres sapiens. Por tudo isso, podemos afirmar, portanto, que o direito à informação é muito mais fundamental do que os direitos humanos genéricos arrolados pela revolução francesa. Paine: “Porque então não retraçar os direitos do homem até à criação do homem? Eu responderei à pergunta. Porque tem havido governos principiantes, enfiando-se entre as duas coisas e presunçosamente trabalhando para desfazer o homem. (...) Os direitos humanos são os direitos de todas as gerações humanas, e não podem ser monopolizados por nenhuma. Aquilo que vale a pena seguir será seguido por causa de seu valor, e é nisso que jaz sua segurança, e não em quaisquer condições com as quais eles possam ser locupletados.” Conhecimento é uma posse da própria natureza sapiens. Skinner: “Apoiar a doutrina de que o conhecimento é um tipo de posse...” Sim, posse da natureza sapiens, como um todo. Nossa sobrevivência como espécie está cada vez mais, visivelmente, dependente de informação. Por isso tudo, negar ao indivíduo sapiens qualquer tipo que seja de conhecimento, de informação, é o maior crime que pode ser cometido contra a natureza sapiens. E se isso não for reconhecido, a espécie sapiens estará em risco de extinção. Paine: “O que quer que pertença à natureza do homem não pode ser aniquilado pelo homem.” É o que, entretanto, socialismo e capitalismo clássicos fazem, por meio de técnicas diferentes de negar a informação ao indivíduo. O socialismo controlando as vontades, e o capitalismo sacralizando a propriedade da informação. Tudo isso se sintetiza no seguinte: Necessidade de abertura total da informação. Direito dos indivíduos de acesso a toda a informação, a todo o conhecimento, humanos. Direito biológico – da evolução sapiens - mais básico do que os direitos humanos genéricos da revolução francesa. Utópico? Sim. Utopia direcional, semelhante à da medicina, a busca de derrotar a morte. Meta absoluta inatingível, mas que tem que ser perseguida pelo comportamento sapiens. Se adotada no Brasil, por exemplo, essa postura de abertura total da informação, fundamental para toda a humanidade, ela terá um efeito higiênico avassalador imediato contra a corrupção política. Contra os conchavos entre governo e grandes empresas para roubar o dinheiro público.

VIB2 - O ‘PANOPTICON’ DA REVOLUÇÃO COMUNICACIONAL- INFORMACIONAL (RCI).

Enquanto as mudanças culturais que preparavam para um futuro remoto a revolução comunicacional-informacional mal começavam a se processar, Bentham, Rousseau e Foucault já anteviam – de maneira incompleta – o controle comportamental possível dentro dessas novas condições, visando a ética. Transparência, visibilidade total da ação de todos os indivíduos, para impedir, na maior medida possível, o mau comportamento. Visando essa ‘transparência’ total, Bentham fez a 98proposta mais extravagante, o ‘panopticon’, uma torre de onde um poder central fiscalizaria todos os indivíduos. A extravagância, fascista, estava na pergunta, a que

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nem Bentham nem Foucault deram resposta, sobre ‘quem colocar na torre’ como o poder central controlador. Só agora, uma resposta anti-fascista, democrática-informacional, está sendo dada pela revolução comunicacional-informacional moderna, que não foi testemunhada nem por Bentham, nem por Rousseau, nem por Foucault. A resposta é: Transformar cada indivíduo da humanidade num ‘panopticon’. Transformar todos os indivíduos da humanidade em ‘panopticons’. Para todos estarem sob a vigilância, comportamental ética, de todos. E se conseguir com isso - por meios científicos, os da ciência e tecnologias da comunicação e da informação - aquilo que as religiões não conseguiram: Moralidade e ética mais completas. Utopia? Sim, uma enorme utopia. Mas uma utopia direcional central, fundamental, para a natureza sapiens. Isto é, uma utopia onde o importante é a direção, e não a conquista absoluta, que é impossível. O mesmo que acontece com a medicina, onde cada remédio, cada ação, cada providência, todas elas, visam derrotar a morte, impossível de se derrotar. Até aqui, pelo menos. Nem Bentham, nem Rousseau, nem Foucault, responderam à pergunta mais importante: Quem colocar no ‘panopticon’, a torre de vigilância, para ser o fiscal das ações dos outros, e assim desencorajar a imoralidade e o crime, o mau comportamento. Foucault: “Bentham coloca o problema da visibilidade, mas pensando em uma visibilidade organizada inteiramente em torno de um olhar dominador e vigilante. Ele faz funcionar o projeto de uma visibilidade universal, que agiria em proveito de um poder rigoroso e meticuloso. (...) De qualquer forma, o tema está no ar...Procura-se atingir o mesmo efeito de visibilidade, mas com um elemento suplementar, a existência de um ponto central que deve ser o local de exercício do poder, e ao mesmo tempo, o lugar de registro do saber. (...) E foi Bentham quem, no início, quis confiar em um poder único, o poder central. Mas, ao ler Bentham, fica a pergunta, quem ele coloca na torre? Será o olho de Deus? Mas Deus está pouco presente em seu texto; a religião só tem um papel de utilidade. Então, quem? Afinal de contas, é preciso dizer que o próprio Bentham não vê bem a quem confiar o poder.” A resposta está agora sendo dada pela revolução comunicacional-informacional moderna. Se, com a tecnologia dessa revolução, super-informarmos os indivíduos, cada indivíduo se transformará num ‘panopticon’. Todos os indivíduos dentro da humanidade serão ‘panopticons’ fiscalizando o comportamento de todos os indivíduos, para se conseguir maximizar o bem e diminuir o mal. É o objetivo das religiões também. O caminho do ideal, a utopia direcional, científica – mais viável - da imposição da ética, é esta. Se cada indivíduo da humanidade for transformado num ‘panopticon’ pela super-informação que a tecnologia comunicacional-informacional moderna sugere como organizável, teremos a ‘opinião’ de toda a sociedade pressionando, sem interrupção, pelo bom comportamento geral. Bentham e Foucault já nos fizeram ver que se submetêssemos todos os indivíduos à visão completa de todos os seus atos por parte de todos os outros indivíduos, a ousadia em cometer deslizes, imoralidades e crimes ficaria reduzida a muitíssimo menos dentro da sociedade. Sem possibilidade de um resultado absoluto, naturalmente. Daí, o caráter de utopia direcional apenas. Essa visão de tudo que o indivíduo faz, através do “panopticon”, de Bentham, assim democratizado, só agride a privacidade daqueles que têm alguma coisa a esconder. Quem não tem nada a esconder, não precisa de privacidade. Essa disposição de visibilidade total da vida do indivíduo, utilizando-se os recursos tecnológicos e

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científicos da revolução comunicacional-informacional que está aí, seria a abordagem científica para se chegar à objetivação das doutrinas pró-moralidade colocadas no mundo por Buda, Cristo, Maomé, e outros grandes moralistas pré-científicos. Foucault e a importância da dissuasão, muito enfatizada no texto de Bentham: “É preciso”, diz ele, “estar incessantemente sob o olhar de um inspetor, isto na verdade significa perder a capacidade de fazer o mal e quase perder o pensamento de querê-lo. (...) A opinião só podendo ser boa por ser a consciência imediata de todo o corpo social, eles acreditaram que as pessoas iriam tornar-se virtuosas pelo simples fato de serem olhadas. A opinião era para eles como que uma reatualização espontânea do contrato. (...) Quando a revolução se questiona sobre uma nova justiça, qual deve ser sua instância de julgamento? A opinião. Seu problema não era fazer com que as pessoas fossem punidas, mas que nem pudessem agir mal, de tanto que se sentiriam mergulhadas, imersas em um campo de visibilidade total em que a opinião, dos outros, o olhar dos outros, o discurso dos outros os impediria de fazer o mal ou o nocivo. Isso está constantemente presente nos textos da revolução.” A transparência total tão longamente almejada. Foucault: “Esse reino da ‘opinião’, invocado com tanta freqüência nessa época, é um tipo de funcionamento em que o poder poderá se exercer pelo simples fato de que as coisas serão sabidas e de que as pessoas serão vistas por um tipo de olhar imediato, coletivo e anônimo. Um poder cuja instância principal fosse a opinião não poderia tolerar regiões de escuridão. Se o projeto de Bentham despertou interesse, foi porque ele fornecia a fórmula, aplicável a muitos domínios diferentes, de um ‘poder exercendo-se por transparência’, de uma ‘dominação por iluminação’. (...) Eu diria que Bentham é o complemento de Rousseau. Na verdade, qual é o sonho rousseauniano presente em tantos revolucionários? O de uma sociedade transparente, ao mesmo tempo visível e legível em cada uma das suas partes, que não haja mais nela zonas obscuras, zonas reguladas pelos privilégios do poder real, pelas prerrogativas de tal ou tal corpo ou pela desordem, que cada um, do lugar que ocupa, possa ver o conjunto da sociedade, que os corações se comuniquem uns com os outros. Que os olhares não encontrem mais obstáculos, que a opinião reine, a de cada um sobre cada um.” Os princípios dessa organização são relativamente simples de se definir. Mas a tarefa, naturalmente, não é fácil de ser preenchida. Tem que ser abordada como utopia direcional. A solução está naquilo que o futuro da humanidade pede, segundo Bentham, Foucault, e toda a ética humana, inclusive a das religiões. Os pensamentos de Bentham e Foucault sugerem a abertura toda das informações, para que todos os indivíduos, estando o tempo todo sob o olhar de todos os indivíduos, não se atrevam a cometer seus delitos e seus crimes. A proposição tem a grandiosidade da utopia. Mas é a utopia o que pode dar direção à conquista da ética dentro do desenvolvimento humano. A metodologia da ciência, por exemplo, só existe porque acredita na verdade absoluta, que não existe, segundo a física quântica. No terreno do assunto mais específico que queremos discutir mais especialmente, a corrupção política e governamental, precisamos implantar essa utopia direcional – a transformação de todos os cidadãos em ‘panopticons’ - em busca dos melhores resultados possíveis dentro da relação representantes e representados. Para combater a corrupção especialmente. Teoricamente, aquilo que as religiões pretenderam com a moral, o comportamento perfeito, sem pecado, sem delito, sem crime, tem que ser buscado pela ciência dentro dessa tese de Bentham e Foucault, colocando-se o indivíduo sob a visibilidade total de todos os outros indivíduos, para inibir sua imoralidade. O fundamento para justificar-se essa ética já foi defendido por estes e

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100outros grandes pensadores, que a chamaram, essa abertura informacional, de ‘transparência’. Transformado cada cidadão num ‘panopticon’, a torre de vigilância comportamental de Bentham, todos os indivíduos se transformariam em fiscais de todos os indivíduos, vinte e quatro horas por dia. Fazendo acontecer – agora auxiliados pelas tecnologias da moderna revolução comunicacional-informacional – numa medida maior, aquilo que as religiões pretenderam: Moralismo, ética. Se é muito radical essa abertura da informação aplicada à privacidade da população como um todo - embora quem nada deve nada tem a temer - ela é pelo menos urgente, e ultra-racional, para aplicação ao mundo político. Teríamos, com isso, a democracia informacional, pelo menos dentro de sua instância da opção de alguns indivíduos pela vida pública. No futuro, moralização via abertura das informações – quebra dos excessos de privacidade ligados às corrupções – poderia, quem sabe, ser aplicada a toda a população, como quiseram Rousseau, Bentham, Foucault. E como quiseram, em termos de alvo moral – na confissão por exemplo, mas sem disporem das modernas condições para visibilidade total, oferecidas agora pela revolução comunicacional-informacional – todas as religiões. Direção clara, mas consciência clara também de que podemos aspirar apenas à maximização da aproximação ao alvo. Foucault: “O olhar vai exigir muito poucas despesas. Sem necessitar de armas, violências físicas, coações materiais. Apenas um olhar. Um olhar que vigia e que cada um, sentindo-o pesar sobre si, acabará por interiorizar, a ponto de observar a si mesmo, sendo assim, cada um exercerá a vigilância sobre e contra si mesmo. Fórmula maravilhosa: um poder contínuo e de custo afinal de contas irrisório.” Essa proposição de aperfeiçoar a ética por meio da ciência e da tecnologia, é tão surreal, mas utópica-direcional também, que estou muitíssimo longe, naturalmente, do direito e da coragem de assumir a responsabilidade pela idéia. Mas posso embarcar na proposição bem amparado pelo que dizem a respeito os três grandes pensadores que tocaram mais clara e explicitamente no assunto, Bentham, Rousseau e Foucault.

VIB3 - DEMOCRACIA INFORMACIONAL: VIDA PÚBLICA NÃO É VIDA PRIVADA. A democracia grega foi inventada para pequenas comunidades. Uma cidade, por exemplo, onde toda a população podia ser reunida num local, numa praça, para decidirem todos os cidadãos da comunidade em conjunto as iniciativas de governo. Com a aplicação da idéia grega para grandes populações, de países inteiros, como foi feito pelas revoluções francesa e americana, foi preciso inventar a democracia representativa. Com as vastas populações, impossíveis de se reunir num único local, elegendo seus representantes para possibilitar essa reunião. É o que chamamos de democracia representativa. O problema dessa democracia representativa é a desarticulação informacional entre representantes e representados. Thomas Paine, o panfletarista do sistema democrático representativo, já nos preveniu, quando de sua criação durante as revoluções francesa e americana, que o sistema corria um risco muito grande de os representantes montarem seu poder sob a forma de cortes políticas aristocráticas, com o líder eleito transformado num rei. Cortes afastadas dos interesses das populações. Cuidando apenas de seus próprios interesses. É o que as democracias tem estado fazendo até agora, em todo o planeta, numa maior ou menor

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medida. Pois não havia até aqui um mecanismo para combater com eficiência esse risco, denunciado pelo visionarismo de Paine. Paine não tinha uma solução a

101sugerir para contornar os riscos de separação entre os interesses dos representantes e dos representados, dentro da democracia desinformada, transformada numa corte de aristocratas políticos. Hoje, nós temos a revolução comunicacional-informacional, uma ferramenta poderosa, para resolver esse problema, o melhor possível. Graças à revolução comunicacional-informacional que está aí agora, podemos hoje impor a ‘democracia informacional’. Abertura total da informação entre representantes e representados, dentro do mecanismo de representação. Princípio que Paine iria aprovar e admirar, se estivesse por aqui. Com a Internet no centro disso, para promover até mesmo a participação direta, a la grega, de todos os cidadãos em todas as decisões de governo. Isso só é impossível para a opinião dos interessados em manter a democracia representativa desinformada que está aí, em todo o mundo, decepcionando, um pouco mais um pouco menos, nossas expectativas por soluções mais completas para os que não fazem parte das elites secretamente negociantes e manipulantes com os governos. Paine enxergou o risco sem conhecer a Internet. Nós, se não enxergarmos a corrupção do sistema, conivente com a desinformação, não teremos nem atingido o nível de consciência de Paine. Um clima de semi-abertura das informações já está aí. Com suas conseqüências positivas, mas por enquanto desorganizadas. Foi criado pelos primeiros passos da revolução comunicacional-informacional, que estão nos anunciando uma revolução política para o mundo. A criação da democracia informacional, que não contava com tecnologia no tempo de Paine, para ser implementada.Teremos que adotar - não há raciocínio decente que possa se opor a isso - a democracia informacional. É o que está nos dizendo a própria natureza da revolução comunicacional-informacional. Pois a democracia representativa desinformada, tradicional, é um ninho de corrupção política e social. Os aristocratas políticos e seu rei só se importam com o seu próprio proveito, de poder e financeiro. Aliando-se, para fazer isso, às elites do poder econômico, em troca de benefícios mútuos, que ignoram as necessidades das massas de representados sem poder econômico. Ninguém aceitará na democracia do futuro a desinformação. Todos exigirão de seus representantes políticos a abertura total de suas informações pessoais dentro da carreira pública. Pública, entenda-se bem, e não privada. Esta é a única maneira de se prevenir o problema que Thomas Paine já previu. O modelo democrático-representativo clássico foi um passo histórico valiosíssimo. Mas hoje insatisfatório dentro das condições melhores reveladas como possíveis pela revolução comunicacional-informacional que está aí. A opção hoje não é mais entre reinado e democracia desinformada. Mas entre democracia desinformada e democracia informacional. É a nova opção para se prosseguir aperfeiçoando a democracia. Teremos que optar entre abrir totalmente ou continuar a manter fechadas as informações, no terreno da vida política, da vida pública. Que não é vida privada. Quem nos abriu os olhos para essa mudança, desejável e possível, foi a própria revolução comunicacional-informacional, com a roda que ela inventou no século XX, a Internet. E não tem volta atrás. A própria tecnologia nos compele a combater a corrupção sistemática dentro da democracia desinformada. E a próxima liderança mundial será do país que impuser, como pioneiro, essa democracia informacional em sua sociedade, em sua política, em suas instituições. Pois a corrupção está no próprio sistema da democracia representativa desinformada, e não é dentro desse

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partido ou daquele partido, desse indivíduo ou daquele indivíduo. Ela é sistêmica. E só existe uma maneira de combatê-la. Com a abertura da informação. Está ocorrendo agora uma gigantesca oportunidade histórica de

102 se combater o problema da democracia representativa desinformada e corrupta, com as armas da tecnologia moderna de comunicação e informação. A idéia da ‘transparência’ tem essa direção, mas é superficial apenas. A idéia tem que ser levada mais ao fundo do problema, até à abertura total, radical, das informações no campo político. A própria taxonomia ‘transparência’ tem um tom relativamente moderado. Ela já foi sugerida por pensadores importantes, inclusive em relação à sociedade como um todo, mas sem a consistência dos fatores científico-tecnológicos modernos, que nos permitem pensar agora num sistema cibernético altamente potencializador da fiscalização. Foucault, citando Bentham: “Seu problema não era fazer com que as pessoas fossem punidas, mas que nem pudessem agir mal, de tanto que se sentiriam mergulhadas, imersas em um campo de visibilidade total em que a opinião dos outros, o olhar dos outros, o discurso dos outros os impediria de fazer o mal ou o nocivo (...) Quando Bentham pensa tê-la descoberto (essa idéia), ele pensa ser o ovo de Colombo na ordem da política (...) Eu diria que Bentham é o complemento de Rousseau. Na verdade qual é o sonho rousseauniano presente em tantos revolucionários? O de uma sociedade transparente, ao mesmo tempo visível e legível em cada uma de suas partes (...) Fazer com que não haja mais espaço escuro na sociedade, demolir essas câmaras escuras onde se fomenta o arbitrário político...” A demolição das câmaras obscuras e do arbitrário político pode ser programada hoje cientificamente, com a tecnologia capaz de articular, vinte e quatro horas por dia, as vontades de todos os representados ao comportamento de todos os representantes, para condicioná-los a produzir o bem dos representados, e não apenas corrupção em seu proveito. E podendo-se, inclusive, depois de se fazer isso no campo político, cogitar-se também, como fizeram Bentham, Rousseau e Foucault, de aplicar o sistema naquilo que as religiões não conseguiram fazer: Impor moralidade - via ciência do comportamento neste caso - a toda a sociedade. A proposta ampla, para a sociedade como um todo, já foi feita pelos pensadores mencionados, e é realmente ambiciosa, grandiosa. Mas, pelo menos em relação aos políticos – um campo social mais restrito - ela tem que ser aplicada. E com muita urgência. Ou o sistema democrático não evolui de seu estatuto de corte aristocrática corrupta da representação. Abrir as informações, de modo rigoroso e impiedoso, entre representantes e representados, é o que deve ser feito para o sistema democrático representativo evoluir para o estatuto de uma democracia informacional. Para se comparar com a obviedade da necessidade dessa providência urgentíssima no campo da política, vale a pena um comentário mais amplo sobre a proposta mais abrangente de Bentham, Rousseau e Foucault. Eles nos fizeram ver que se submetêssemos todos os indivíduos à visão completa de todos os seus atos por parte de todos os outros indivíduos, a ousadia em cometer deslizes, imoralidades e crimes ficaria reduzida a muitíssimo menos dentro da sociedade. Essa visão de tudo que o indivíduo faz, através do ‘panopticon’, de Bentham, só agride a privacidade daqueles que tem alguma coisa a esconder. Quem não tem nada a esconder, não precisa de privacidade. Essa disposição de visibilidade total da vida do indivíduo, utilizando-se os recursos tecnológicos e científicos da revolução

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comunicacional-informacional que está aí, seria a adoção da abordagem científica para se chegar à objetivação do que pretenderam as doutrinas pró-moralidade colocadas no mundo por Buda, Cristo, Maomé, e outros grandes moralistas pré-científicos. Mas, num primeiro passo, não precisamos exagerar na busca dessa metodologia científico-tecnológica para impor moralidade ao mundo. Em vez de aplicar este princípio à privacidade de toda a população, podemos nos limitar a aplicá-lo apenas

103– com a consciência de moderação perfeitamente tranquila - aos políticos. Àqueles que escolheram a ‘vida pública’, em vez da vida privada. Estes, sem dúvida alguma - para se salvar a democracia representativa do risco apontado por Thomas Paine - precisam ser urgentemente submetidos, vinte e quatro horas por dia, ao ‘panopticon’ de Bentham. Que, nas circunstância do Brasil, fica muito bem representado pela polícia federal, e por juízes que saibam agir dentro dos parâmetros estabelecidos pelo juiz Sérgio Moro. Para se reformar as leis em profundidade nesse sentido, uma campanha tem que ser disparada. Título da campanha: ‘Vida pública não é vida privada’. Privacidade zero para os políticos. Nessa campanha é preciso ir ao fundamental, ou essencial, com coragem, com ousadia intelectual. Medidazinhas superficiais, dentro do espírito jurídico atual, irão resolver muito pouca coisa. E não representarão a revolução com a qual o Brasil pode sacudir o assunto em todo o mundo. Dando uma lição ao mundo inteiro sobre o que é possível se fazer, apoiados em lei, com ajuda das modernas tecnologias da moderna revolução comunicacional-informacional. A regra básica, e radical, será a de que o indivíduo que decidiu pela vida pública, ou pela vida que tenha qualquer tipo de contato ou negociação com o sistema de governo, fica sujeito a vinte e quatro horas por dia de vigilância informacional total sobre todos os seus atos. Inclusive sobre o que ele está fazendo no cubículo sanitário, ótimo lugar para esconder um celular para combinar lances de patifaria contra a sociedade. Não estamos exagerando com essa imagem grosseira, enfocando os políticos. Exageraram muito mais, nesse mesmo sentido, Bentham, Rousseau e Foucault, ao defender a tese de que todos os indivíduos da sociedade, não apenas os políticos, deveriam estar sob essa mesma vigilância, essa quebra total de privacidade, para se impor a ética e a moral a toda a sociedade. Mas mesmo nessa proposição chocante, eles estão sendo racionais. Bentham criou a idéia do ‘panopticon’, a torre de onde um poder central teria visibilidade para impedir a imoralidade. Rousseau e Foucault são dois dos principais defensores explícitos, dentro da filosofia, da ‘transparência’ como mecanismo essencial de defesa da moralidade e da ética. E as religiões não buscaram outra coisa senão essa moralidade e essa ética. Mas conseguiram muito pouco. Utilizando, inclusive, o instrumento da confissão. Agora, se quisermos tentar usar a ferramenta mais poderosa que temos hoje, que é a ciência comunicacional e informacional moderna, essa medida, defendida por Bentham, Rousseau e Foucault, poderá funcionar como uma espécie de Bíblia científica. Mas vamos deixar esse sonho ético grandioso de Bentham, Rousseau e Foucault para mais tarde. Entretanto, está mais do que na hora de aplicarmos ele pelo menos ao mundo político, ao mundo dos que tem qualquer coisa a ver com o interesse público em geral. Quem se meter nisso, na vida pública, tem que se submeter à quebra total de privacidade. Tem que estar sob vigilância, vinte e quatro horas por dia, dos órgão responsáveis pela moralidade pública. Nada de segredos de qualquer espécie, e nem segredos nem sigilos de justiça. Tudo às claras para a sociedade inteira, no que diz respeito aos representantes políticos e ao sistema de governo. Transformar em lei aquilo que a

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revolução comunicacional-informacional está mostrando: Que o nosso único mecanismo de defesa contra a corrupção é a abertura total da informação. Passo chocante, mas o caminho do futuro. Como sabem muito bem Julien Assange, Andrew Snowden, Ioni Sanchez e o juiz Sérgio Moro. Se a experiência der certo com os homens públicos, com os políticos, poderemos considerá-la um excelente teste experimental, e quem sabe mais tarde aplicá-la a todos os indivíduos, para se chegar, via ciência e tecnologia, onde os herdeiros sacerdotais de Cristo, Maomé e Buda não conseguiram chegar com sua moralização proposta em termos pré-científicos.

104 Em resumo, estamos recomendando – não para a sociedade como um todo, como dá a entender Foucault que seria conveniente, é um pouco cedo para isso – mas para a área política brasileira, para se criar com isso um modelo para o mundo, que a nossa justiça, na área pública, seja feita com mais do que “transparência”, com abertura total da informação. Com sigilo zero. Que todos aqueles que optarem pela vida ‘pública’, que não é vida ‘privada’, e todos aqueles que se relacionarem com a coisa pública, com o dinheiro especialmente, fiquem sujeitos, vinte e quatro horas por dia, à total fiscalização pela polícia federal, ou outro órgão qualquer que seja encarregado pela justiça, sem quaisquer sigilos para a sociedade, de impor ética total ao mundo político e governamental. Essa experiência, urgentemente necessária, pode ser uma espécie de pesquisa experimental, para se ir depois até onde quiseram ir Foucault, Bentham, Rousseau, Buda, Maomé, Cristo. Aplicá-la a toda a sociedade. Se o Brasil criar a lei para impor isso a quem optar por vida pública, ou com quaisquer relacionamentos com governo, isso dará ao Brasil a glória do primeiro passo de uma revolução ética para o mundo. Lei que coloque os políticos dentro de uma situação de privacidade zero. Preparando caminho, no longo prazo, para um passo mais ousado, um mecanismo capaz de impor à sociedade inteira a moralidade que as religiões não conseguiram impor. A visibilidade total prevenindo a imoralidade e o crime. Ousadia criativa, sem dúvida alguma, no terreno da lei. Que Deus permita que todos os legisladores brasileiros não sejam apenas intelectuais tímidos. O mundo agradecerá por um pouco de coragem nesse sentido. E Thomas Paine também, que advertiu com toda clareza sobre a corrupção possível na democracia representativa dentro da desinformação reinando entre representantes e representados. E como captou, em muito razoável escala, o juiz Sérgio Moro, em seu comportamento, partindo do estudo do caso da Máfia italiana. Sintetizando: Política e governo não são vida privada. São vida ‘pública’. Quem se envolver com política e governo está optando por uma vida ‘pública’. Escolheu ficar sujeito a muito maior fiscalização do que o cidadão comum, que não está envolvido com política e com governo. Fica sem qualquer tipo de privacidade, em seu comportamento, em seus registros e contas bancárias, em todos os aspectos de sua vida pessoal, política e econômica. Se o poder das tecnologias comunicacionais-informacionais que estão aí funcionando espontaneamente já provoca, para os corruptos, a crise que temos no Brasil, não é difícil imaginar-se como a organização do uso dessa tecnologia por legislação anti-corrupção implacável - que zere a privacidade de quem se envolver com vida pública, com política e assuntos de governo - pode, não digo eliminar totalmente, mas reduzir extraordinariamente a intensidade, o volume, da corrupção. É claro que a proposta é chocante para os conservadores e os tradicionalistas. Para a timidez intelectual dos pensadores, da imprensa e dos políticos

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brasileiros. E assustadora especialmente para aqueles que – como previsto por Thomas Paine – se encarregam de transformar a democracia representativa em reinados aristocráticos dos eleitos. Fechando-se, depois de eleitos, dentro dos sistemas de governo, e ignorando as necessidades do povo. Tratando apenas de seus próprios interesses. Especialmente o de encher os bolsos com o dinheiro da população. Campanha então, e lei, dentro do princípio: ‘Vida pública não é vida privada.’ E privacidade zero para os políticos. Transparência total, telefones, contas bancárias, declarações de impostos, segredos de justiça, atividades institucionais, tudo aberto à informação para toda a sociedade. Quem não quiser se submeter, que não se

105meta na política, ou em relações de negócios com o governo. Esse princípio, estranho e violento para os tradicionalistas, já começou a ser operado, de certa forma, espontânea mas não sistemicamente ainda, pela revolução comunicacional-informacional dentro da Lava Jato. E indica um caminho sem retorno para a civilização científico-tecnológica, que precisa montar a sua Bíblia científica. A corrupção é sistêmica, como já dissemos, não é deste partido ou daquele partido, desse indivíduo ou daquele indivíduo. Precisa ser combatida sistemicamente, portanto. E o único instrumento para isso é a informação. A estruturação da cibernética científica em prol do bom comportamento, do bem, para todos. Temos tecnologia para isso. Só falta coragem para legislar-se nessa direção. E, com isso, dar um exemplo pioneiro para o mundo. Ousadia e criatividade, para salvar e desenvolver o país. Esta é a enorme oportunidade histórica que está se oferecendo à crise brasileira, ao Brasil. Podemos, com a revolução comunicacional-informacional, e sua roda inventada pelo século XX, a Internet, implantar essa democracia informacional de forma avassaladora dentro do combate à corrupção. As dez medidas anti-corrupção propostas ao Congresso têm que ser respeitadas e elogiadas, mas serão apenas um aperitivo do programa. Da campanha que produziria uma revolução histórica e que deveria ser desfechada sob o título de ‘Vida pública não é vida privada.’ Privacidade zero para quem optar pela vida pública. A polícia e o judiciário vinte e quatro horas por dia em cima de todos os passos do comportamento de quem optou pela vida pública. Ou por relação de negócios com o governo. A privacidade zero para os políticos seria um medida tão eficiente e tão importante – para impedir que os corruptos façam no Brasil o que a Máfia fez na Itália - que, para fazê-los, no Congresso, aprovar uma lei nessa direção, valeria a pena até mesmo anistiar todas as corrupções políticas anteriores. Ótimo para muitos políticos que estão lá, não é mesmo? Compra de voto positiva. Mas se o Congresso tivesse coragem de legislar nessa direção, estaria criando condições para um reinicio em paz e honestidade sócio-econômica e política, dentro da forma ultra-moderna de se governar um país com a democracia representativa devidamente aperfeiçoada, transformada em democracia informacional. Valendo a pena anistiar-se todos os corruptos que votassem a favor dessa lei. Revolução institucional para se deixar o mundo inteiro de boca aberta. As grandes coisas são sempre feitas por esse tipo de loucura criativa. Que os ignorantes taxam de absurdos diante do interesse dos controles do conservadorismo. A corrupção dentro desse conservadorismo, que é nosso objetivo combater com essas idéias, é grandiosa. E só será resolvida com uma solução grandiosa também. Ousada. Se quisermos liderar alguma coisa dentro desse mundo, no campo social e político, temos que ter esse tipo de coragem

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inovadora. No Brasil, a campanha contra a corrupção política está ameaçando tomar a mesma direção do que aconteceu na Itália, com a Máfia. Onde políticos alinhados com a Máfia conseguiram neutralizar a tentativa da justiça, - similar à do Juiz Sérgio Moro, - de moralizar, via lei, os costumes políticos. O Sérgio Moro italiano foi vencido, derrubado, e a Máfia triunfou via políticos como Berlusconi. Os políticos brasileiros já estão aí pensando em, e providenciando, legislação para se proteger, para defender a corrupção, da mesma maneira. Houve uma certa abertura contra a corrupção nesses últimos tempos por duas razões principais. Primeira razão, a revolução comunicacional-informacional que está aí, fazendo, com a sua tecnologia, que as informações rolem e se massifiquem com muito mais facilidade do que ocorria antes de tal revolução tecnológica. A segunda

106razão, a juventude de vários servidores da Justiça Federal, da Polícia Federal, e da Procuradoria Geral da República. Esses dois ingrediente encontraram pequenas aberturas nas leis - que de modo geral favorecem a corrupção – a maior dessas aberturas a delação premiada, e conseguiram criar o tumulto benéfico da Lava Jato. Que já está sendo ameaçada de ser brecada, para que voltemos, com muito maior sutileza do que antes, ao sistema favorável à corrupção. Como conseguiu fazer a Máfia na Itália. Sinais do movimento dos políticos nessa direção, de auto-proteção, dentro da corrupção, já são bem visíveis no horizonte político. Dentro do Congresso especialmente. Não sairemos dessa situação, nem no Brasil, nem no mundo, sem mudanças avassaladoras. A justiça, especialmente, tem que modernizar sua atitude. Abrir toda a informação para a sociedade nos processos que envolvem a corrupção dos representantes políticos, e das empresas e indivíduos que negociam com o estado quaisquer tipos de atividades. Acabar com o sigilo judicial, transformar os tais ‘vazamentos’ em ‘abertura de informação’. Mudança taxonômica que trará uma revolução, compatível com a revolução comunicacional-informacioal do mundo moderno, em benefício do controle comportamental de que a justiça está encarregada dentro de seu papel. Trazer toda a população a participar, com consciência plena, de todos os detalhes de todos os processo judiciais envolvendo o interesse público é um passo preparatório poderoso na direção da Bíblia científica sugerida por Bentham, Rousseau e Foucault. Os envolvidos, direta ou indiretamente, com as corrupções denunciadas pela Lava Jato, estão se queixando sistematicamente dos ‘vazamentos’ praticados pelo aparato judicial. Os tempos mudam. Estamos na era da revolução comunicacional-informacional. Aquilo que era chamado de ‘vazamento’ antes dessa revolução comunicacional-informacional, tem que ser chamado agora de ‘abertura da informação’. É o novo espírito do tempo se impondo a partir da revolução tecnológica que criou, inclusive, a Internet, como uma espécie de roda inventada pelo século XX. Que vai mudar tudo, como a verdadeira roda mudou. Os tempos mudam sutil e poderosamente. E a maior parte das pessoas não percebem isso. A revolução comunicacional-informacional que está aí impõe uma nova filosofia nesse assunto. A justiça já está facultando aos acusados acionar toda informação que possa auxiliá-los a se livrar da punição, via delação premiada. Enquanto proíbe a si mesma acionar toda a informação que possa auxiliá-la, com apoio da sociedade, a atingir o seu objetivo de maneira eficiente e completa. Quando inventou a delação premiada já

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induziu a abertura da informação por parte dos réus, mas parece que não entendeu a natureza daquilo que produziu com isso. A resposta me parece ser a de que o nosso sistema judiciário vive dentro de parâmetros institucionais do passado. Criou a delação premiada, uma abertura da informação, mas ainda não percebeu que estamos vivendo numa era revolucionária em termos de princípios sociais, totalmente reformulados pela natureza da revolução comunicacional-informacional que está aí. Com uma tecnologia de comunicação social que está sugerindo, inclusive, à justiça, reformular totalmente os seus princípios de ação também. Praticando ela própria uma delação, também premiada, pela sociedade. É preciso mandar para o museu histórico institucional as figuras do ‘segredo de justiça’, do ‘vazamento’, etc. Quem não tem nada a esconder não teme a abertura total da informação. Se o sistema judiciário abrir totalmente a informação dos seus processos para a sociedade, no setor público, a posição da sociedade, já favorável à atuação da justiça, se empolgará definitivamente

107com o caminho que foi aberto pela operação Lava Jato. Que se impôs via abertura, pelo menos parcial, da informação. Se adotarmos na justiça, na política, no sistema de governo brasileiro, a abertura total da informação, nos tornaremos líderes mundiais da nova era política que a revolução comunicacional-informacional está prenunciado. Pois o clima de semi-abertura das informações que conseguimos via Lava Jato, com suas conseqüências positivas, mas por enquanto desorganizadas, foi criado por essa revolução comunicacional-informacional que está aí anunciando uma revolução política para o mundo. A criação da democracia informacional, que foi aspirada por Paine, dentro de sua preocupação com o principal risco da democracia representativa. O de ela ser transformada em cortes aristocráticas dos político. O que está acontecendo o tempo todo, em todo o mundo. Democracia informacional que só hoje dispõe da tecnologia capaz de implementá-la. Brasil! Meu querido país... Assume essa liderança mundial, por favor! Não seja tímido, intelectualmente, não seja covarde! Estamos falando de uma nova atitude proposta por uma nova ciência do comportamento, pós-revolução comunicacional-informacional. E de sua aplicação social mínima, pelo menos no campo da política. E a sociedade exigindo, os políticos terão que ceder. Uma das maiores autoridades em metodologia da ciência, do século XX, T.S. Kuhn, disse que as revoluções científicas resumem-se, no fundo, a mudanças taxonômicas. O judiciário brasileiro tem nas mãos a oportunidade de salvar o Brasil para o enorme desenvolvimento que os enormes potenciais do país oferecem. Para fazer isso, basta um aperfeiçoamento, uma revolução taxonômica, na sua ciência do comportamento, dentro da qual ele tem que operar, como órgão controlador do comportamento dentro do país. Ciência que o judiciário é obrigado a dominar, e modernizar, se quiser responder à altura à sua responsabilidade de principal órgão dentro de nossa sociedade encarregado da otimização do comportamento de todos os brasileiros. Essa mudança taxonômica às vezes é simples. Mas grandiosa em suas consequências mesmo assim. Basta, por exemplo, colocar-se no lugar da palavra ‘vazamentos’, nos assuntos públicos, a palavra ‘abertura total da informação’, e se estará produzindo uma revolução comportamental. A justiça sendo constituída pelos representantes da sociedade que foram incumbidos, com a máxima autoridade, de exercer o controle do comportamento de todos os cidadãos, se ela não abraçar a ciência a mais moderna possível, via taxonomia como disse T.S.Kuhn, para cumprir essa tarefa, pelo menos em questões públicas, estará perdendo a oportunidade de

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salvar o Brasil, que já foi aberta em um primeiro passo pela abertura informacional induzida pelo juiz Sérgio Moro. A sociedade tem que saber de absolutamente tudo que se passa em todos os processos de combate à corrupção. Esse é o novo rumo para se favorecer a ética, oferecido pela ciência do comportamento dentro da revolução comunicacional-informacional. E terá que ser o novo rumo, intensivo, do sistema judicial também. Abertura total da informação. Este princípio, estranho e violento para os tradicionalistas, para os conservadores, para os praticantes do uso da privacidade como escudo para a corrupção, é um instrumento e uma imposição que nos é trazida pela civilização moderna, científico-tecnológica, que colocou em ação essa revolução comunicacional-informacional que está aí, e que botou contra a parede - simplesmente incrementando a comunicação e a informação entre os indivíduos - a corrupção sistêmica do velho, tradicional, regime. Que praticamente propõe, convida os políticos a se ocultarem mutuamente dentro da privacidade incorreta dentro de um sistema ‘público’, para poderem ser corruptos com a plena anuência uns dos outros. Em nome de um direito

108absurdo, o da prevalência da privacidade pessoal deles dentro do campo das relações representantes-representados, um assunto eminentemente ‘público’. Se a abertura da informação é importante no judiciário, para modernizá-lo, muito mais ainda no executivo e no legislativo. Com os políticos sujeitados à campanha ‘Vida pública não é vida privada.’ e à privacidade zero dentro da vida pública, a circulação informacional deve abrir condições para a substituição mais rápida dos incompetentes que ocuparem posições em um ou outro desses dois poderes.O parlamentarismo já é melhor do que o presidencialismo nesse sentido. Com o primeiro ministro sendo mais rapidamente substituído do que o gerente mor político dentro do regime presidencialista. O ideal seria um plebiscito periódico – digamos todos os anos, ou a cada seis meses mesmo – para saber se o presidente ou o primeiro ministro, na opinião da população, deve permanecer no poder ou não. E algum mecanismo parecido para despejar do Congresso os políticos incompetentes também. Não, não estamos exagerando. É preciso inventar uma democracia mais moderna, uma democracia informacional, que responda com imediatismo às demandas da sociedade, dentro da velocidade da revolução comunicacional-informacional que está aí. A democracia que temos no Brasil e na América Latina em geral é uma instituição primitiva, primitivíssima. Precisamos inventar, em todos os detalhes, uma democracia informacional. A nossa própria desordem nos habilita a fazer isso pelo mundo. Criar um regime revolucionário onde o povo, super-informado, reage imediatamente diante da incompetência de seus líderes, removendo-os imediatamente do caminho de um desenvolvimento veloz, que é a única coisa competitiva, e necessária em termos político-econômicos, dentro desse mundo altamente informatizado e comunicacional que está se erguendo aí. E que não será detido.

VIB4 - CIBERNÉTICAS PESSOAL E SOCIAL CADA VEZ MAIS CIENTÍFICAS.

A batalha entre entropia e progresso no mundo que nos cerca, e do qual vivemos, é toda dependente do nosso controle da informação. Wiener: “Estamos imersos

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numa vida em que o mundo, como um todo, obedece à segunda lei da termodinâmica; a confusão aumenta e a ordem diminui”. Há ilhas locais e temporárias de entropia decrescente no mundo. Inclusive no mundo humano. Como fica a batalha entre a entropia e a organização no mundo que nos cerca? Podemos afirmar a existência de progresso? Indaga Wiener. Que poderemos dizer acerca do sentido geral da batalha entre progresso e entropia crescente no mundo que nos cerca? E que nos envolve, em termos de busca de sobrevivência, qualidade de vida, felicidade, sapiens. Nem Norbert Wiener, o grande modelador da idéia de cibernética, previu completamente a evolução, artificial, via tecnologias, que o fenômeno atingiu dentro da atual revolução comunicacional-informacional. “Cibernética”, palavra derivada do grego “piloto”, estuda, entre outras coisas, como o comportamento, individual e social, é modelado. Ele depende, diz Wiener, da “quantidade de informação que penetra um mecanismo comunicacional e dispara o gatilho da ação”. Se isso não for organizado para o bem, se desorganizará, ou será organizado para o mal. É mecanismo que não pode ser ignorado, como está sendo. A revolução comunicacional-informacional tornou esse problema da cibernética poderosíssimo, de forma inteiramente artificial. A maquinaria informacional utilizada hoje, para o bem ou para o mal, está se tornando decisiva para a humanidade.

109E só cabeças ingênuas podem achar que é possível frear esse desenvolvimento, passar por cima dele, ignorá-lo, esquecê-lo. Ou usá-lo apenas para entretenimento e consumismo, que também é entretenimento. É o que estão fazendo com as tecnologias comunicacionais-informacionais todas aquelas sociedades que estão inconscientes do rumo que está tomando a humanidade, a partir da roda inventada pelo século XX, a Internet. O Brasil entre elas. É preciso acordar. E tratar do assunto na direção de se produzir o bem e se fugir ao mal. O grande uso positivo da cibernética é para produzir sobrevivência, qualidade de vida, felicidade, humanas. Informando devidamente, e com intensidade, as ações humanas para se desenvolverem nesse sentido positivo. Máquinas de comunicação poderosas, em especial dentro da Internet, estão aí procurando agir nessa direção, mas com vacilações e deficiências fundamentais. É preciso, urgentemente, estudar, discutir e organizar o assunto de modo sistêmico, se queremos extrair dessa cibernética, individual e social, os efeitos positivos que indicamos acima. Para impedir que as mentes voltadas para o mal, estudem, discutam e organizem, com cada vez maior sucesso, os sistemas e os processos para explorar os outros em benefício próprio exclusivamente. Vamos ver exemplos incipientes em eficiência na boa direção. Na Internet: O programa australiano Cambia - liderado por um cientista, Richard Jefferson, que trabalhou nas bases do estudo do genoma – visando fornecer a agricultores de países sub-desenvolvidos na produção de alimentos, a última palavra em tecnologias para essa produção. O programa quebrou patentes, por meio de ligeiras modificações. A busca, pelo Google, e outros sistemas, de se definir, de forma geral, o perfil do interesse dos consumidores de informação. Mas, para irmos ao fundo nessa questão de se voltar a cibernética para o benefício de todos os seres humanos, precisamos mergulhar mais fundo nos princípios, e nas condições ambientais, que regem o assunto. É possível, por exemplo, com a tecnologia da revolução comunicacional-informacional, remeter-se automaticamete a cada boa ação humana, que os indivíduos desejem praticar, a totalidade do conhecimento humano que

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pode otimizar aquela ação. E é possível, também, buscar-se organizar, via Internet, um serviço que ajude o indivíduo a escolher sua ação, positiva, a partir do exame da lista completa de todas as ações humanas possíveis. Sem o que, como diz Locke, não existe liberdade sapiens. Pois os indivíduos desinformados não decidem suas ações. Suas ações são decididas pelos outros, que os controlam, que os escravizam na desinformação. Em ocupações primárias mecanizadas. Eis aí, portanto, o panorama simplificado, o mais básico e mais amplo possível, do problema da liberdade, sapiens, de escolha da ação, e da prática, positiva, da ação com apoio de todo o conhecimento humano que possa levar tal ação a contribuir para a sobrevivência, a qualidade de vida e a felicidade dos seus praticantes. Em outras palavras, eis aí o mecanismo cibernético do nosso viver sapiens. A otimização disso, via tecnologia da revolução comunicacional-informacional, pode ser feita com todas as ações de todos os indivíduos da humanidade. Se não fizermos, as tecnologias modernas serão, sem dúvida, utilizadas cada vez mais organizada e massificadamente para o mal. Para o controle da maioria por uma minoria que controla a informação. Como já está sendo feito dentro da desorganização que está aí. A quantidade de informação, repetitiva, que penetra a consciência do indivíduo e dimensiona o processo de escolha por parte da vontade, puxa o gatilho da ação. A qualidade da informação, lingüística, e a quantidade repetitiva, matemática, combinadas, condicionam a vontade de ação. Wiener: “Este livro sustenta que a

110integridade dos canais de comunicação interna é essencial para o bem-estar da sociedade. (...) Neles a entropia não aumenta, e a organização, e seu correlativo, a informação, estão sendo criadas.” Lévi-Strauss: “Por outro lado, associando-se cada vez mais estreitamente à lingüística, para constituir um dia com ela uma vasta ciência da comunicação, a antropologia social pode esperar vir a se beneficiar das imensas perspectivas abertas à lingüística pela aplicação do raciocínio matemático ao estudo dos fenômenos de comunicação.”A maximização da qualidade informacional depende da principal utopia direcional da natureza sapiens: O esforço, a técnica, para se colocar dentro da mente do indivíduo a totalidade do conhecimento humano. E a viabilização, inclusive qualitativa, da ação escolhida depende da quantidade, repetitiva, de informação, de reflexo condicionado, que produz a aprendizagem. Wiener: “Não é a quantidade de informação enviada que é importante para a ação, mas, antes, a quantidade de informação que, penetrando num instrumento de comunicação e armazenagem, seja o bastante para servir como gatilho da ação.” É impossível entender comunidades, não apenas humanas, mas também as das formigas e abelhas, sem entender seus mecanismos de comunicação. A importância da comunicação e da informação dentro da antropologia e da sociologia não pode ser posta em dúvida. Especialmente na sequência da enorme revolução comunicacional-informacional que está aí, com a sua roda inventada no século XX, a Internet. E não só entre os seres humanos isso é óbvio. E é impossível entender-se as comunidades humanas sem se investigar seus mecanismos de comunicação também. Organizar a cibernética das comunicações na sociedade, atualmente carregada de entropia científico-tecnológica – baixo índice de uso das informações científico-tecnológicas - e de riscos de desastre, é o controle comportamental positivo mais importante do futuro, superior à lei e à educação tradicional. Para se fazer isso é preciso

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entender como as comunicações cimentam o comportamento da sociedade, inclusive dentro do fenômeno crescente de estruturação de uma sociedade humana global. Wiener, vamos lembrar: “...a integridade dos canais de comunicação interna é essencial para o bem-estar da sociedade. (...) Não quero dizer que o sociólogo desconheça a existência e a natureza complexa das comunicações na sociedade; até recentemente, porém, tendia ele a descurar o fato de que são elas que cimentam a estrutura da sociedade.” Antony Giddens: “O que ainda não se compreendeu bem, especialmente no debate político, é que a globalização é , acima de tudo, um fenômeno de comunicação.” E dentro da organização da cibernética social estão previstos, em termos de racionalidades fundamentais: A orientação de carreiras individuais de vida e de trabalho altamente personalizadas e o mais holísticas possível. A articulação de tais carreiras individuais num pragmatismo humanista que elimine o máximo possível os efeitos colaterais negativos das especializações do pragmatismo individualista radicalizado como exclusividade de valor produtivo. Buscando a estruturação de um pragmatismo humanista, holístico, através da comunicação verbal, da imprensa, e de todo tipo de produção, inclusive a artística. Skinner: “Como ouvintes nós adquirimos um tipo de conhecimento do comportamento verbal dos outros que pode ser extremamente valioso em nos permitir evitar exposição direta a contingências.” Isto é, podemos e temos que nos auxiliar mutuamente, informando uns aos outros. E não negando informação uns aos outros. Todo e qualquer organismo é mantido integrado em si mesmo e com o ambiente ao qual ele pertence socialmente pelos meios de que dispõe para a aquisição, uso, retenção e transmissão de informação. Na sociedade humana esses meios, mais bem organizados ou menos bem organizados, são a imprensa, os

111livros, o rádio, o sistema de telefones, os postos de telégrafo, o teatro, os cinemas, as escolas, as igrejas, e inúmeras outras organizações sociais interativas em si mesmas e com outras organizações. Wiener: “O problema da obra de arte como mercadoria suscita grande número de questões, importantes na teoria da informação.” E , sobretudo, no terreno político, onde precisamos acreditar na instituição de uma democracia informacional, cuja transparência venha reduzir ao mínimo possível todo tipo de privacidade prejudicial aos interesses das comunidades. Com a vida pública, dos representantes democráticos, que não é vida privada, zerada em termos de privacidade. A globalização, embasada na revolução comunicacional-informacional que está aí, já enfatiza os sinais da urgência de uma cibernética social menos espontânea e mais científica. Para se desmontar os esquemas de escravização informacional, e impulsionar com mais vigor nossa evolução sapiens. Isto é, informada por natureza. Se não obstruirmos tal evolução. Como estamos fazendo agora numa medida que já está se tornando perigosa para a sobrevivência da espécie humana. À vista das considerações acima, podemos afirmar que a cibernética pessoal e social, que estão interligadas, podem ser objeto de tratamento científico-tecnológico, qualitativo lingüístico e matemático simultaneamente – controle comportamental positivo científico – em benefício da otimização do viver sapiens. Dizemos isso contrariando em parte Wiener, com base no que a revolução comunicacional-informacional trouxe em matéria de instrumentais que podem servir à matematização da análise do comportamento com base, em boa parte, nos princípios do reflexo condicionado, identificado com aprendizagem pela teoria de Pavlov e Skinner. O que falta é tão somente organizar a pesquisa empírica-experimental do assunto.Porém, contrariando a dúvida de Wiener, afirmamos que o mecanismo disparador da boa

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ação pode ser programado cientificamente, envolvendo, inclusive, estimativas matemáticas da eficiência do bombardeio informacional. Programação científica da boa ação, se não de forma absoluta, pelo menos num grau de maximização bem maior do que aquele que conseguiram atingir, por exemplo, as religiões e a educação tradicional.

VIB5 - O CONTROLE COMPORTAMENTAL POSITIVO DO FUTURO.

O corpo e a mente evoluem acionados por informação anti-entrópica, que busca produzir a homeostase de nosso viver ‘sapiens’. Com a liberdade sapiens e a homeostase decididas por informação. Leibnitz: “As forças naturais dos corpos estão todas sujeitas a leis mecânicas, e as forças naturais das mentes estão todas sujeitas a leis morais. As primeiras seguem a ordem das causas eficientes; e as últimas seguem a ordem das causas finais. As primeiras operam sem liberdade, como um relógio, as últimas são exercidas com liberdade, ainda que elas concordem exatamente com aquele tipo de relógio que outra, superior, livre causa tem colocado com antecedência para ajustar-se a elas.” Isto é, a informação, que as antecede, que condiciona da causa para o efeito tudo dentro do universo. Da mesma forma como a quantidade de informação em um sistema é uma medida de seu grau de organização, assim a entropia de um sistema é uma medida de seu grau de desorganização; e um é simplesmente o negativo do outro. Wiener: “A vida é uma ilha, aqui e agora, num mundo agonizante. O processo pelo qual nós, seres vivos, resistimos ao fluxo geral de corrupção e desintegração é conhecido por homeostase.” Que se organiza à base de informação, de conhecimento. O controle comportamental mais positivo que existe atualmente é a educação. Mesmo sendo o controle mais positivo, a educação tradicional contém traços 112 de efeitos restritivos. Os pacotes educacionais fechados e estreitamente padronizados, especialmente na área das profissões menores, organizados sob inspiração da linha de produção da primeira revolução industrial, produzem perfis padronizados e massificados. Como a produção de automóveis ou de garrafas de Coca-Cola. Isto é um controle restritivo, em termos de comportamento sapiens. O mais poderoso controle positivo existente até aqui, a lei, se fundamenta em conseqüências aversivas violentas. Skinner: “O controle ético pode sobreviver em pequenos grupos, mas o controle da população como um todo tem que ser delegado a especialistas – à policia, sacerdotes, proprietários, professores, terapeutas, e assim por diante, com os seus reforçamentos especializados e suas contingências codificadas.” Assim, polícia, prisões, e também os perfis educacionais altamente restritivos, padronizados e massificados, controlam as sociedades atuais. Os problemas da lei podem ser considerados, segundo Wiener, problemas de comunicação e cibernética. Problemas de controle sistemático e reiterável de certas situações críticas. O comportamento humano no futuro será mais positivamente condicionado pelo processamento e distribuição mais científicos da informação do que pela lei e pela educação, como é feito agora. Skinner: “O que é necessário é mais controle ‘intencional’, não menos, e isto é um importante problema de engenharia.” ‘Intencional’ significa aqui, ‘em benefício da evolução sapiens’. Todas as ações humanas podem se tornar mais produtivas, mais construtivas, à base de sua informação mais científica, oferecida por um sistema que cruze, vinte e quatro horas por dia, a totalidade do conhecimento humano com a totalidade da ação humana - dentro do espírito empírico-

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experimental de uma pesquisa aplicada - visando otimizar a ação. Skinner: “As boas coisas na vida têm apenas que ser feitas adequadamente contingentes sobre trabalho produtivo.” Ou melhor, sobre ação produtiva, de vida e de trabalho. Agora, as tecnologias da revolução comunicacional-informacional estão nos oferecendo um programa de controle comportamental das ações sapiens muito mais aberto, muito mais positivo do que aqueles oferecidos pela lei e pelos sistemas tradicionais de ensino. Skinner: “As tecnologias físicas e biológicas que tem aumentado a sensibilidade do homem em relação ao mundo ao redor dele, e seu poder de mudar esse mundo, tem levado não mais do que quatro ou cinco gerações para fazê-lo. (...) O homem tem ‘controlado seu próprio destino’, se essa expressão significa alguma coisa de todo. O homem que o homem tem construído é o produto da cultura que o homem tem inventado. Ele tem emergido de dois bastante diferentes processos de evolução: A evolução biológica responsável pela espécie humana e a evolução cultural – da forma da ação - levada a efeito por essa espécie. Ambos esses processos de evolução podem agora acelerar-se porque eles estão ambos sujeitos a ‘design’ intencional.” E o principal deles será o ‘design’ da ciência do comportamento do futuro, pós-revolução comunicacional-informacional. Com o desenho, sistêmico, orgânico, das tipologias das ações humanas e do conhecimento aplicado a todas as ações humanas, se viabilizarão mecanismos informacionais totalmente abertos de auto-controles individuais muito menos restritivos do que os da educação tradicional. E a oportunidade – sob uma informação plena para os indivíduos, e a mútua fiscalização de todos os membros da sociedade – de operar-se um controle mais aberto, mais livre e mais rico em oportunidades ocupacionais, de vida e trabalho, e de condições comportamentais. Nos livrando de muitas das pressões aversivas das leis e restrições dos sistemas educacionais tradicionais. O básico que a tecnologia da revolução comunicacional-informacional tem que fazer para isso, é cruzar ininterruptamente a totalidade do conhecimento humano

113com a totalidade da ação humana, visando o aperfeiçoamento desta em todos os indivíduos da espécie. Tal mecanismo de controle, mais positivo do que a lei e do que a educação tradicional, representará o próximo mecanismo mais básico de planejamento intencional acionável para se produzir a aceleração da evolução sapiens. Prevista como natural por Darwin e Spencer, a partir da própria seleção natural, que esse cruzamento ininterrupto da totalidade do conhecimento com a totalidade da ação humanos acelerará. Skinner: “O ‘design’ intencional de uma cultura e o controle do comportamento humano que ele implica são essenciais se a espécie humana deve continuar a evoluir. Nem a evolução biológica nem a cultural representam qualquer garantia de que nós estamos inevitavelmente nos movendo na direção de um mundo melhor. Mas, por outro lado, Darwin concluiu a ‘Orígem das Espécies’ com uma sentença famosa: ‘E como a seleção natural funciona somente por meio de e para o bem de cada ser, todos os ambientes corpóreos e mentais tenderão ao progresso na direção da perfeição.’ E Herbert Spencer arguiu que ‘o supremo desenvolvimento do homem ideal é logicamente certo’.” E pode ser acelerado agora, se quisermos, através desse mecanismo básico possível. Isto é, pela super-informação, altamente personalizada e o mais holística possível, auto-controladora em, e de controle mútuo entre, todos os indivíduos. Sem esse controle positivo demandado pelo futuro da espécie sapiens - superior à lei e à educação tradicional - esta corre até mesmo o risco de extinção. Skinner: “Walter Lippmann disse que a suprema questão diante da

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humanidade é como podem os seres humanos salvarem-se da catástrofe que os ameaça. Mas para responder a isso nós temos que fazer mais do que descobrir como os indivíduos podem ‘fazer a si mesmos desejar e ser capazes de salvar a si próprios’. Nós temos que olhar para as contingências que induzem as pessoas a agir para aumentar as chances de que suas culturas sobrevivam. Nós temos as tecnologias físicas, biológicas e comportamentais necessárias ‘para salvar a nós próprios’. O problema é como conseguir que as pessoas as usem. Pode ser que ‘a utopia tenha apenas que ser desejada’, mas o que significa isso? Quais são as principais especificações de uma cultura que sobreviverá porque ela induz os seus membros a trabalhar pela sua sobrevivência? ” Temos dado grandes passadas em controlar os mundos físico e biológico. Mas muito pouco temos feito pelo controle científico do mundo comportamental humano. As possibilidades positivas nesse sentido, o de controle construtivo, científico, do nosso comportamento, para o bem de toda a humanidade, o alvo de todas as religiões, são grandes e revolucionárias agora. Fizemos muitas coisas bem sucedidas para conseguir controlar os mundos físico e biológico. Entretanto, as nossas práticas em termos de governos, de educação, e em grande parte do econômico, não tem sido aperfeiçoadas como poderiam, se desenvolvêssemos com mais cientificidade o tratamento do nosso comportamento. Skinner: “A aplicação das ciências físicas e biológicas somente não irá resolver os nossos problemas porque a solução jaz em outro campo. Melhor contraceptivos controlarão a população apenas se as pessoas os usarem, novos métodos de agricultura e medicina não ajudarão se eles não são praticados e o meio-ambiente continuará a deteriorar até que práticas poluentes sejam abandonadas. Em poucas palavras, nós necessitamos fazer vastas mudanças no comportamento humano. (...) Há maravilhosas possibilidades – e tanto mais maravilhosas porque abordagens tradicionais tem sido tão ineficientes. É difícil imaginar um mundo no qual as pessoas vivam juntas sem querelar, mantenham a si mesmas produzindo a comida, abrigo, e roupas que elas necessitam, divertem-se e contribuem para o divertimento dos outros na arte, música, literatura, e jogos, consomem apenas uma razoável parte dos

114recursos do mundo e adicionam tão pouco quanto possível à sua poluição. Dão à luz não mais crianças do que podem ser criadas decentemente, continuam a explorar o mundo ao redor deles e a descobrir melhores modos de lidar com ele, e vêm a conhecer a si próprios acuradamente e, por isso, gerenciam a si mesmos efetivamente. Ainda assim tudo isso é possível, e mesmo o mais leve sinal de progresso traria um tipo de mudança que em termos tradicionais seria dito aliviar a vaidade ferida, contrabalançar um senso de desesperança ou nostalgia, corrigir a impressão de que ‘nós nem podemos nem necessitamos fazer nada por nós mesmos’, e promover um ‘senso de liberdade e dignidade’, construindo ‘um senso de confiança e valor’. Em outras palavras, isso iria abundantemente reforçar aqueles que tem sido induzidos pela sua cultura a trabalhar pela sua sobrevivência.” Sem ferir a liberdade sapiens. Muito pelo contrário, ampliando-a e fortalecendo-a. Planejamento explícito nessa direção - estimulando a liberdade sapiens, de escolha da ação, e super-informando todas as ações humanas, criando-se para isso a cultura da liberdade e da precisão científica da otimização das ações, do comportamento – depende apenas da vontade de evoluir com base na construção do controle científico positivo do comportamento, em lugar da liberdade desinformada e de sua decorrente escravização informacional. A escravização dos indivíduos que não dispõem de informação para evoluir como seres sapiens realmente livres e integrais. Condições positivas holísticas que só serão construídas pelo cruzamento

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da totalidade do conhecimento com a totalidade da ação, humanos, a serviço de todos os indivíduos. Visando instituir o controle comportamental positivo do futuro, que virá substituir, ou pelo menos complementar, cientificamente, a lei e a educação, os mais importantes controles comportamentais atuais, pré-científicos. Planejamento científico explícito de uma cultura, objetivando, inclusive, o alvo ético onde as religiões falharam numa grande medida. Skinner: “Planejamento explícito promove esse bem acelerando o processo evolutivo, e uma vez que uma ciência e uma tecnologia do comportamento se empenham por melhor planejamento, elas são importantes ‘mutações’ na evolução de uma cultura (da forma, e qualidade, da ação). Se existe algum propósito ou direção na evolução de uma cultura, isso tem a ver com trazer as pessoas para debaixo do controle de mais e mais das conseqüências do comportamento delas.” Enquanto, se permanecermos apenas sob o controle da lei e da educação tradicional, insuficientes - como se pode ver pela situação atual da qualidade de vida da humanidade como um todo - podemos não escapar ao desastre final sendo claramente preparado pelo nosso atual comportamento. Que está inundando o mundo com pobreza e com conflitos.

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VII – CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO COMPORTAMENTO PÓS- REVOLUÇÃO COMUNICACIONAL-INFORMACIONAL.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx VIIA - RAZÃO APRIORÍSTICA E EMPIRISMO EXPERIMENTAL DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO COMPORTAMENTO PÓS- REVOLUÇÃO COMUNICACIONAL-INFORMACIONAL. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx 115VIIAI - PRINCÍPIOS BÁSICOS PARA O DESENVOLVIMENTO DE UMA CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO COMPORTAMENTO PÓS- REVOLUÇÃO COMUNICACIONAL-INFORMACIONAL. Uma nova ciência parte de princípios básicos, universais e simples. Os grandes pensadores do assunto são unânimes a respeito dessa questão. Leibnitz: “É o maior remédio para a mente se uns poucos pensamentos podem ser encontrados dos quais infinitos outros se levantam em ordem, da mesma forma como da presunção de alguns números, de um a dez, todos os outros números podem ser derivados em ordem.” O conhecimento apriorístico dos complexos, diz Leibniz, emerge da compreensão daquilo que não é complexo. Pascal diz que tirar conclusões corretas a partir de um pequeno número de princípios básicos, é o tipo de procedimento correto dentro do pensamento filosófico. Descartes: “Mas há um fato que deveríamos aqui enfatizar acima de todos os outros. E este é que todo mundo deveria firmemente persuadir a si mesmo de que nenhuma das ciências, conquanto abstrusas, deve ser deduzida de elevadas e obscuras matérias, mas que todas elas procedem apenas do que é fácil e mais prontamente

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entendido.” E Descartes acrescenta que contemplar longamente fatos aparentemente simples e domináveis é o que nos leva a encontrar a verdade com clareza e distinção ao final desse esforço. Para Descartes isso não é difícil, pois todas as verdades sucedem-se umas às outras e estão unidas por um laço comum, o segredo todo consistindo simplesmente em começar com o primeiro e mais simples fato, e erguendo-se pouco a pouco, e por assim dizer por graduações, até aqueles mais remotos e complicados. Descartes: “Agora nós temos que abordar a segunda parte de nossa tarefa. Que foi distinguir acuradamente as noções de coisas simples daquelas que são construídas a partir delas.” Popper: “Eles também viram claramente que a simplicidade é uma das coisas almejadas pelos cientistas – que estes preferem uma teoria mais simples a uma mais complicada, e que eles por isso tentam as teorias simples primeiro. (...) Uma declaração mais universal pode tomar o lugar de muitas menos universais, e por esta razão tem frequentemente sido chamada de ‘simplista’. Acima de tudo, nossa teoria explica porque a simplicidade é tão altamente desejável. Para entender isso não há necessidade para nós de assumir um ‘princípio de economia do pensamento’ ou qualquer coisa do tipo. Declarações simples, se o conhecimento é o nosso objetivo, devem ser valorizadas mais altamente do que menos simples porque elas nos dizem mais, porque seu conteúdo empírico é maior, e porque elas são melhor testáveis. (...) Alguns grandes cientistas e filósofos tem feito afirmações a respeito da simplicidade e seu valor para a ciência. Eu sugiro que algumas dessas asserções podem ser melhor entendidas se nós presumirmos que quando falando a respeito de simplicidade eles algumas vezes tinham a testabilidade em mente. (...) E assim também se tornará claro para nós que um alto grau de simplicidade está todavia ligado com um alto grau de corroboração. Pois um alto grau de testabilidade ou corroboratividade é o mesmo com uma alta improbabilidade ou simplicidade apriorística. (...) Nós às vezes descobrimos uma nova conexão entre problemas científicos. Assim, se a simplicidade de uma teoria é relativa aos problemas que a teoria tenta resolver, então é, até certo grau, também relativa à situação-problema histórica. Com isso se torna claro que o problema do conteúdo e simplicidade de uma teoria pode mudar no curso do desenvolvimento histórico de uma ciência. Kant: “Em todos tais

116casos a razão pressupõe a unidade sistemática dos vários poderes, sobre o fundamento de que leis naturais especiais caem sob leis mais gerais, e de que parcimônia em princípios não é apenas um exigência econômica da razão, mas é uma das próprias leis da natureza.” Polinghorne: “Quanto mais concisa e parcimoniosa for uma teoria, mais atraente ela parecerá.” Com a psicologia pós-freudiana reconhecendo que o bombardeio informacional por parte do meio-ambiente é um definidor mais poderoso do comportamento do que a herança genética (Skinner, Gerald Edelman, e outros.), é necessário definir-se com simplicidade, clareza e holismo os princípios para a organização de uma ciência do comportamento pós-revolução comunicacional-informacional, que intensifica o bombardeio informacional sobre o ser humano. Precisamos, por exemplo, como um ponto de partida simples de tal nova ciência comportamental, classificar a ação sapiens, e a totalidade do conhecimento humano que a condiciona. As tipologias, pedidas por C.G. Jung da psicologia. As mais básicas. Para, cruzando-se as duas coisas

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permanentemente – empirismo experimental – encontrarmos os direcionamentos, condicionamentos e organizações da ação humana. No campo da ciência do comportamento, o ponto de partida requerido é o mesmo das outras ciências, simplicidade e declarações básicas o mais universais possível. Como as que fizemos acima, a respeito da ação humana e de seu condicionamento pelo conhecimento, fenômenos a serem abordados, dentro de um tratamento holístico, a partir de nossa razão pura apriorística que define com simplicidade o passo inicial da pesquisa empírico-experimental. O cruzamento ininterrupto da totalidade do conhecimento com a totalidade da ação, humanos, visando o estudo e o condicionamento da otimização das nossas ações. Incluindo a tentativa, via ciência, daquilo que as religiões não conseguiram fazer. Skinner fez suas recomendações e observações sobre o valor da simplicidade da abordagem inicial, válida também para a ciência comportamental que ele tinha em mente. Mas antes da revolução comunicacional-informacional, que muda agora as recomendações, simples, dos princípios operacionais de uma nova ciência do comportamento. Skinner: “Toda ciência experimental simplifica as condições sob as quais ela trabalha, particularmente nos primeiros estágios de uma investigação. Uma análise do comportamento naturalmente começa com organismos simples se comportando de maneira simples em ambientes simples. Quando um razoável grau de ordenação aparece, os arranjos podem ser tornados mais complexos. (...) Se Gilbert ou Faraday ou Maxwell tivessem tido mesmo um rápido relance do que é agora conhecido a respeito de eletricidade, eles teriam tido muito mais problemas para encontrar pontos de partida e para formular princípios os quais não pareceram ‘super-simplificados’. Afortunadamente para eles, muito do que é agora conhecido no campo deles veio a ser conhecido como o resultado de pesquisa e seus usos tecnológicos, e não precisou ser considerado até que as formulações estivessem bem avançadas.” Teoria geral, razão pura apriorística, e empirismo experimental se complementam, com a teoria geral organizando o campo do empirismo experimental. Einstein disse a Popper: Teoria tem que ser inventada, não pode ser fabricada com os resultados da observação. A idéia geral e o empirismo experimental compõem a dialética do portão estreito, constituído pela ciência, que conduz à sabedoria, segundo Kant. Kant disse que o ponto de partida para sistematização do raciocínio científico, é dividir a nossa abordagem em dois ramos básicos de esforço compreensivo. Por um lado o raciocínio o mais holístico possível, a razão pura apriorística. Por outro lado a abordagem empírica-experimental de todas as causa-e-efeito que compõem a natureza.

117 Razão pura apriorística, ou paradigmática, ou estruturalismo, constituem a visão holística do conhecimento, que é arquitetônica, orgânica, contrastando com a visão empírica dos detalhes das fenomenologias. Jung: “Nesse sentido Platão vê a idéia como um protótipo das coisas, enquanto Kant a define como o ‘arquétipo (urbild) de todos os empregos práticos da razão’, um conceito transcendental que como tal excede os limites do experimentável, ‘um conceito racional cujo objetivo não é para ser encontrado na experiência’. Ele diz: ‘Ainda que nós tenhamos que dizer sobre os conceitos transcendentais da razão que eles são apenas idéias, isso não deve de maneira alguma ser tomado como significando que eles são supérfluos e vazios. Pois mesmo que eles não possam determinar nenhum objeto, eles podem ainda assim, de um modo fundamental e não observado prestar serviço ao entendimento como um cânone para seu estendido e consistente emprego. A compreensão

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não obtém por aí mais conhecimento de nenhum objeto do que ela teria por meio de seus próprios conceitos, mas para a aquisição de tal conhecimento ela recebe melhor e mais extensivo direcionamento. E ainda mais – o que nós precisamos aqui somente mencionar – conceitos de razão podem talvez tornar possível a transição dos conceitos da natureza para os conceitos práticos, e desta maneira podem dar suporte às próprias idéias morais.” Kant: “A razão humana é por natureza arquitetônica. Isso quer dizer, ela considera todo o nosso conhecimento como pertencendo a um possível sistema, e por isso permite apenas tais princípios que de forma alguma tornem impossível para qualquer conhecimento que nós possamos atingir combinar-se em um sistema com outros conhecimentos. (...) Pois a pura razão especulativa tem uma estrutura dentro da qual tudo é um ‘órgão’, o todo existindo por causa de cada parte, e cada parte por causa de todas as outras, de maneira que mesmo a menor imperfeição, seja ela uma falha (erro) ou uma deficiência, devem inevitavelmente revelar-se no uso. Esse sistema irá, como eu espero, manter, através do futuro, essa imutabilidade. Não é presunção o que me justifica dentro dessa confidência, mas a evidência experimentalmente obtida através da paridade dos resultados, quer nós procedemos a partir dos elementos menores até o todo da pura razão ou reversamente do todo (pois isso também é apresentado à razão através de sua finalidade terminal na esfera do prático) para cada parte.” A razão pura apriorística, ou paradigmática, ou estruturalismo, são os orientadores indispensáveis do programa de experimentalismos empíricos, igualmente indispensáveis à produção científica, e tecnológica. Lasswitz, citado por Jung: “Lasswitz considera a idéia como ‘a lei mostrando a direção na qual nossa experiência deveria se desenvolver’. Ela é a ‘mais certa e suprema realidade’.” Kant: “A idéia da unidade sistemática deveria ser usada apenas como um princípio regulativo para nos guiar na busca por tal unidade na conexão das coisas, de acordo com as leis universais da natureza, e nós deveríamos, por isso, acreditar que nós temos nos aproximado à completação no emprego do princípio apenas na proporção que nós estivermos em posição de verificar tal unidade de modo empírico – uma completação a qual não é nunca, naturalmente, atingível.” Popper: “A ciência não repousa sobre rocha sólida. A ousada estrutura de suas teorias ergue-se, como se fosse, acima de um pântano. É como um edifício construído sobre pilares. Os pilares são enterrados para baixo a partir de cima para dentro do pântano, mas não até qualquer base natural ou ‘dada’, e se nós paramos de enfiar os pilares mais fundo, não é porque nós temos alcançado chão firme. Nós simplesmente paramos quando nós estamos satisfeitos com que os pilares estejam firmes o bastante para carregar a estrutura, ao menos por algum

118tempo.” O relacionamento funcional entre as duas coisas, teoria e empirismo, é o que faz crescer o conhecimento humano. E a chave desse crescimento, além do relacionamento entre razão pura apriorística e empirismo, está no entendimento e organização daquilo que chamamos de informação. Conceitualismo é a apreensão de uma série de objetos individuais, mesmo com suas caraterísticas irreplicáveis, para classificá-los em agrupamentos que representam algo como gêneros e espécies, para com isso se reduzir a vasta multiplicidade dos objetos a um número menor de objetificações abstratas, para facilitar à nossa mente abranger com seu entendimento a totalidade variada dos fenômenos individuais, irreplicáveis de forma absoluta. Sem dúvida a diversidade e multiplicidade dos objetos existe e é indiscutível. E precisa ser aceita como um dado da realidade. Mas as

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similaridades aproximadas, não absolutas, também existem. Encontramos vários traços parciais homogêneos em diferentes objetos e podemos classificá-los por esses traços assemelhados em grupos denominados por eles, por tais traços, de assemelhamento. J. R. Battista, depois de considerar essa fenomenologia dos assemelhamentos que fundamentam as concepções holísticas e também a análise que as precede, chegou à conclusão de que o mecanismo que explica as teorizações tanto analíticas quanto holísticas das fenomenologias objetivas é a informação, organizável numa teoria básica geral. Teoria capaz de integrar os dois modelos, o analítico e o holístico. O relacionamento funcional entre empirismo e razão pura precisa ser objetivamente detalhista, mas holístico em termos do benefício do viver sapiens também. Sendo esse holismo, existencial em termos básicos para a natureza sapiens, mais importante do que as especializações. Poullion: “Para empregar a linguagem de Sartre, o estruturalismo é, por essência, totalizante, e o que ele procura totalizar não são necessariamente simetrias, recorrências, são também oposições e desequilíbrios, não para os suprimir mas para compreender o laço que os mantém.” Kant: “A síntese de um múltiplo (seja ela dada empiricamente ou a priori) é o que primeiro faz se erguer o conhecimento. Esse conhecimento pode, realmente, a princípio, ser cru e confuso, e por isso em necessidade de análise. Ainda assim a síntese é aquilo que reúne os elementos para o conhecimento, e une eles para (formar) um certo conteúdo. É à síntese, portanto, que nós devemos primeiro dirigir nossa atenção. Se nós quisermos determinar a primeira orígem do nosso conhecimento.” Kuhn: “Ambos durante os períodos pré-paradigma e durante a crise que conduz a mudanças em larga escala do paradigma, os cientista usualmente desenvolvem muito as especulativas e desarticuladas teorias que podem elas próprias apontar o caminho para a descoberta. Frequentemente, contudo, essa descoberta não é bem aquela antecipada pelas hipóteses especulativas e de tentativas. Apenas quando experimento e teoria tentativa estão juntos articulados num conjunto a descoberta emerge e a teoria se torna um paradigma.” Châtelet: “A rejeição do fato empírico não é de forma alguma a rejeição da realidade e do que ela impõe. Significa apenas – o que é decisivo – que um fato (isto e, no fundo, uma informação) como tal não prova nada, que o que prova é o corpo cientifico sistemático que, explicando as razões e os meios com que produziu no seu domínio fatos (produzir, no sentido cartesiano, trazer à luz do dia), os organiza de forma inteligível.” As especializações extrovertidas objetivas – inspiradas pelo empirismo experimental – são altamente produtivas, mas fragmentadoras do viver sapiens, e com resultados , às vezes, em efeitos colaterais negativos que podem levar a humanidade ao desastre. Vejamos agora a razão pura apriorística e o empirismo experimental da ciência do comportamento pós-revolução comunicacional-informacional.

119 As grandes linhas da arquitetura sistêmica constituem o passo inicial para se levar um problema ao tratamento científico. Nosso problema é a ciência do comportamento pós-revolução comunicacional-informacional. O conselho de Kant precisa ser seguido: “Por arquitetura eu entendo a arte de construir sistemas. Como a unidade sistêmica é o que primeiro ergue o conhecimento ordinário à categoria de ciência, isto é, constrói um sistema a partir de um mero agregado de conhecimentos, arquitetura é a doutrina do científico em nosso conhecimento, e por isso necessariamente forma parte da doutrina do método. “ O fundamento arquitetônico mais básico de uma ciência do comportamento

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pós-revolução comunicacional-informacional será o cruzamento, vinte e quatro horas por dia, das duas tipologias que embasam todas as decisões e efetivações das ações que compõem o fenômeno do viver sapiens, constituído exclusivamente de ações. A primeira tipologia será o catálogo, o dicionário, ou enciclopédia, classificando organicamente toda a ação sapiens. A segunda tipologia será a classificação da aplicação de todo o conhecimento humano a todas as ações praticáveis pelo ser sapiens. As duas classificações constituindo a razão pura arquitetônica básica, e o cruzamento delas vinte e quatro horas por dia – de todo o conhecimento humano com todas as ações humanas, de todos os indivíduos da espécie sapiens – se constituindo no passo mais básico e universalizado do experimentalismo empírico, que construirá, no longo prazo, a ciência do comportamento pós-revolução comunicacional-informacional. Nossa proposição obedece ao conselho de Kant: “Ninguém tenta estabelecer uma ciência a menos que ele tenha uma idéia sobre a qual baseá-la. Mas no trabalhar a ciência, o esquema, não, até mesmo a definição que, no princípio, ele primeiro deu da ciência, é raramente adequada à sua idéia. Pois essa idéia jaz escondida na razão, como um período no qual as partes estão ainda sub-desenvolvidas e mal e mal reconhecíveis mesmo sob observação microscópica. Consequentemente, uma vez que as ciências são visualizadas do ponto de vista de um interesse universal, nós não devemos explicar e determinar elas de acordo com a descrição a qual o fundador delas lhes deu, mas em conformidade com a idéia a qual, a partir da unidade natural das partes que nós temos reunido, nós descobrimos estar baseada na razão ela própria. Pois nós iremos então descobrir que seu fundador, e frequentemente mesmo seus sucessores de mais tarde, estão tateando por uma idéia a qual eles nunca foram bem sucedido em fazer clara para si mesmos, e que consequentemente eles não tem estado numa posição capaz de determinar o conteúdo adequado, a articulação (unidade sistemática) e os limites da ciência.” Tudo que nós temos acima é só a proposição de um ponto de partida. Se estamos errados, que se proponha outro ponto de partida. Isto é um desafio que colocamos, em aberto, perante a necessidade de uma ciência do comportamento que nos salve da catástrofe prevista por Skinner e outros pensadores, se não fizermos isso, organizar nosso comportamento. Skinner afirmou que sabemos de onde partir, mas não definiu claramente esse ponto de partida, especialmente porque não testemunhou a atual revolução comunicacional-informacional, que está oferecendo tal ponto de partida: “Uma ciência do comportamento não está ainda pronta para resolver todos os nossos problemas, mas é uma ciência em progresso, e sua adequação final não pode agora ser julgada. Quando os críticos afirmam que ela não pode prestar conta por este ou por aquele aspecto do comportamento humano, eles usualmente implicam que não irá nunca ser capaz de fazer assim, mas a análise continua a se desenvolver e está de fato muito mais avançada do que seus críticos usualmente percebem. A coisa importante, não é tanto conhecer como resolver um problema como saber como procurar por uma solução.

120Os cientistas que se aproximaram do Presidente Roosevelt com uma proposta para construir uma bomba tão poderosa que ela iria acabar com a Segunda Guerra Mundial dentro de uns poucos dias não podiam dizer que eles sabiam como construí-la. Tudo que eles podiam dizer era que eles sabiam como tentar descobrir. Os problemas do comportamento a serem resolvidos no mundo hoje são sem dúvida mais complexos do que o uso prático da fissão nuclear, e a ciência básica de maneira alguma está tão avançada, mas nós sabemos aonde começar a procurar por soluções.”

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Os dois passos básicos da arquitetura da nova ciência do comportamento, que descrevemos acima, eram impraticáveis antes da revolução comunicacional-informacional que está aí agora, oferecendo a tecnologia que faculta esses dois passos básicos, o de razão pura arquitetônica, e o de empirismo experimental básico e universal. O principal insumo, qualitativo de ação, transcende a matemática, no principal fundamento de controles: Que informações condicionam que ações? É como diz Foucault, referindo-se às ciências humanas, onde se situa o problema. b) Foucault: “Nesse sentido, o aparecimento do homem e a constituição das ciências humanas (quanto mais não fosse sob a forma de um projeto) seriam correlativas de uma espécie de ‘desmatematização’.” Mas isso não prejudica a resultante cibernética, que será matemática-linguística, comunicacional, no seguinte sentido: Que informações (linguagem) com que nível de reiteração (matemática, do reflexo condicionado) impulsionam que ações? Grandes coisas precisam ser tentadas, se queremos que a humanidade avance. E para isso é preciso arriscar com a criatividade, com a imaginação. Jung nos alerta sobre isso: “E ainda hoje a gente raramente descobre que as pessoas venham para grandes coisas sem que elas primeiro sigam algum tanto desorientadas.” Vejamos quais são os axiomas básicos para uma ciência do comportamento pós-revolução comunicacional-informacional. A ciência busca descobrir conhecimento, na ordem da fenomenologia, lutando contra a desorganização. Wiener: “O cientista se esforça sempre por descobrir a ordem e organização do universo jogando assim uma partida contra seu arquiinimigo, a desorganização.” As teorias do comportamento tiveram até agora nas religiões os maiores esforços práticos para se definir sua organização. Skinner: “Enquanto a física e a biologia gregas, não importa quão cruas, conduziram eventualmente à ciência moderna, as teorias gregas do comportamento humano não conduziram a nenhum lugar.” Chegou a hora de se buscar essa organização reveladora via ciência. Não se deu sequer até aqui os passos iniciais sistêmicos para se propor essa abordagem científica a partir da estrutura holística, orgânica, do fenômeno real na sociedade. b) Foucault: “A primeira coisa a verificar é que as ciências humanas não receberam por herança um certo domínio já esboçado, medido talvez no seu conjunto, mas não desbravado, e que elas teriam tido por tarefa elaborar com conceitos finalmente científicos e métodos positivos; o século XVIII não lhes transmitiu sob o nome de homem ou de natureza humana um espaço circunscrito de fora, mas ainda vazio, o qual as ciências humanas tivessem em seguida por função cobrir e analisar.” Skinner: “Uma ciência do comportamento está de maneira alguma avançada tão longe quanto a física ou a biologia, mas ela tem uma vantagem no fato de que ela pode lançar alguma luz sobre suas próprias dificuldades. Ciência ‘é’ comportamento humano, e assim também é a oposição à ciência. O que tem acontecido na luta do homem pela liberdade e dignidade, e que problemas se levantam quando o conhecimento científico começa a ser relevante dentro daquela luta? Respostas a estas questões podem ajudar a clarear o caminho para a

121tecnologia de que nós tão seriamente necessitamos.” O corte científico-tecnológico que permite agora uma abordagem sistêmica empírico-experimental na ciência do comportamento chama-se revolução comunicacional-informacional. Badiou: “A cada corte científico vem corresponder uma ‘retomada’ filosófica, que produz, sob uma forma

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refletida e temática, os conceitos teóricos implicados de maneira prática, isto é, operatória, nas diversas ciências.” Althusser: “A filosofia capaz de refletir no teórico, pela exposição de uma nova forma de racionalidade (cientificidade, apodicticidade, etc.), esta perturbação provocada pelo aparecimento de uma tal ciência, marcaria então com a sua existência uma etapa decisiva, uma revolução na história do teórico.” Com sua roda inventada no século XX, a Internet, essa revolução recoloca a questão científica em novas bases, que permitem redefinir-se a filosofia de uma nova abordagem holística e orgânica, investindo-se num experimentalismo empírico básico direcionado para dois pontos chaves fundamentais do problema comportamental. Primeiro, a liberdade, que no ser humano precisa ser sapiens. Isto é, constituída pelo direito de acesso do indivíduo à totalidade do conhecimento humano. Já a partir do passo inicial do comportamento, a escolha da ação, que tem que começar pelo exame da lista da totalidade das possibilidades de ação humanas. Para que se possa falar em liberdade realmente sapiens. Que não existe dentro da escolha na desinformação. E depois pelo direito a toda a informação humana que seja capaz de otimizar cada uma das ações que compõem as carreiras de vida e de trabalho dos indivíduos. Para avançarmos nessa direção, dentro de um processo cibernético científico, precisamos classificar a tipologia (Jung) da ação humana e a de todos os conhecimentos humanos aplicáveis a cada uma das ações humanas, classificadas tipológica e organicamente. Da mesma forma como a biologia classificou as plantas e os animais, e a química criou as tabelas periódicas dos elementos. Se é a qualidade e a quantidade da informação comunicada ao indivíduo o que decide a sua ação, - conceito cibernético - estaremos montando, com isso, as bases sistêmicas de um macro-laboratório empírico-experimental para se estudar e depois otimizar todo o espectro orgânico, sistêmico, da ação sapiens. Cruzando-se, para isso, os dois fenômenos ininterruptamente, a totalidade do conhecimento com a totalidade da ação, humanos. Chegando, via tal laboratório, aonde Norbert Wiener disse que seria difícil chegar, ao controle científico, cibernético, da otimização do comportamento humano. Que não foi conseguido sequer em termos razoáveis pelas religiões. Althusser: “É talvez prematuro propor a idéia de que o nascimento de qualquer ciência nova levanta inevitavelmente problemas teóricos (filosóficos) deste gênero. Engels pensava-o - e nós temos todas as razões para o crer, se examinarmos o que se passou com o nascimento da matemática na Grécia, com a constituição da física de Galileu, com o cálculo infinitesimal, com o início da química, da biologia, etc. Em muitas dessas conjunturas assistimos a este fenômeno notável: o ‘retomar’ de uma descoberta científica fundamental pela reflexão filosófica, e a produção, através da filosofia, de uma nova forma de racionalidade.”A ordenação tipológica dos fenômenos mais básicos do comportamento, das ações e das informações que as condicionam, constituem os princípios de um processo organizacional, que se sustentarão sobre os méritos de uma aplicação experimental reveladora da fenomenologia orgânica racionalizada pelo empirismo sistemático, ininterrupto, dentro da aplicação, esforço científico indispensável ao condicionamento comportamental mais positivo da humanidade como um todo. Colegas cientistas de Norbert Wiener, como Gregory Bateson e Margaret Mead, insistiram com ele para que voltasse seus esforços de análise do problema da cibernética para os campos sociológicos e econômicos, onde obviamente o mecanismo

122 informacional é decisivo. Norbert Wiener reconheceu a importância do passo, e até mesmo sua urgência, mas dentro de sua consciência científica matematizada resistiu a

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se dedicar mais profundamente a essa questão. Embora definisse o bombardeio informacional e seus efeitos como dependentes da matemática de armazenagem e comunicação, definida quase nos termos dos reflexos condicionados de Pavlov, como o mecanismo decisivo para a configuração da ação. Assim, as doenças comunicacionais e informacionais da sociedade e seu tratamento pela cibernética foram protelados. Wiener: “Não é a quantidade de informação enviada que é importante para a ação, mas, antes, a quantidade de informação que, penetrando num instrumento de comunicação e armazenagem, seja o bastante para servir como gatilho disparador da ação.” O assunto é decisivo para a sobrevivência da humanidade. Cabe à ciência tentar, via pesquisa de longo prazo. A simplicidade dos princípios colocados acima sendo de caráter direcional, para a implantação de uma nova ciência. A ciência do comportamento pós-revolução comunicacional-informacional. Passo inicial que requer simplicidade, clareza e holismo, nos princípios, segundo Popper. Para depois se definirem as complexidades, como disseram Descartes e Skinner. Paine: “Princípios devem se sustentar sobre seus próprios méritos, e se eles são bons eles certamente irão se sustentar.” Vejamos, em grandes linhas, o paradigma experimental da ciência do comportamento pós-revolução comunicacional-informacional. Comportamento sapiens é ação direcionada por conhecimento. Os elementos estruturais básicos do comportamento são: A tipologia das ações sapiens e a classificação do conhecimento em função da utilidade à ação sapiens. Tais tipologias corresponderiam, na psicologia comportamental, ao que representam a classificação da fauna e da flora para a biologia, e as tabelas periódicas dos elementos para a química. E o empirismo experimental da ciência do comportamento pós-revolução comunicacional-informacional seria organizado pelo cruzamento ininterrupto da totalidade do conhecimento humano com a totalidade da ação humana, visando definir os caminhos para a otimização desta última. As estruturas racionais apriorísticas propostas acima constituiriam um paradigma operacional básico para se estabelecer os parâmetros da pesquisa empírico-experimental básica de uma nova ciência do comportamento pós-revolução comunicacional-informacional. Jung: “Aqui eu percebi pela primeira vez quão jovem a psicologia realmente é. Ela é ainda um pouco mais do que um caos arbitrário de opiniões e dogmas, produzidos em sua maior parte dentro do estúdio ou sala de consulta por geração espontânea a partir de isolados, e semelhantes a Júpiter, cérebros de professores eruditos, com completa falta de concordância. (...) Nossa psicologia deve descer para assinalamentos confiantes, de outra forma nós simplesmente permaneceremos fixados na Idade média.” Um novo paradigma para a ciência do comportamento é agora facultado tão somente pela tecnologia da referida revolução comunicacional-informacional. Paradigma impossível de ter sido operacionalizado antes dela. Pois não havia tecnologia adequada para a tratativa do problema. Kuhn: “Nós temos que reconhecer quão limitado em ambos escopo e precisão um paradigma pode ser ao tempo de seu primeiro aparecimento. Os paradigmas ganham seus estatus porque eles são mais bem sucedidos do que seus competidores em resolver alguns problemas que o grupo de praticantes tem vindo a reconhecer como agudos.” É o que fará o cruzamento ininterrupto da totalidade do conhecimento com a totalidade da ação humanos, visando estudar, direcionar e otimizar a concretização - tanto personalizada quanto holística - desta última, da ação do viver sapiens.

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123VIIA2 - A PESQUISA EMPÍRICO-EXPERIMENTAL DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO COMPORTAMENTO PÓS-REVOLUÇÃO COMUNICACIONAL-INFORMACIONAL.

A pesquisa empírico-experimental da ciência do comportamento pós-revolução comunicacional-informacional tem que ser realizada dentro do laboratório holístico da realidade. A análise do comportamento humano em condições simplificadas e controladas é uma ilusão derivada das metodologias das ciências exatas. Skinner caiu, por um momento, nessa ilusão: “Uma análise experimental do comportamento oferece similares vantagens. Quando nós observamos processos comportamentais sob condições controladas, nós podemos mais facilmente localizá-las no mundo em geral. (...) E se ele não consegue entender o que ele vê em um ambiente simplificado de laboratório, como podemos nós esperar que ele perceba o que está acontecendo na vida diária?” A realidade comportamental integral dos seres humanos – as ações e as informações que as condicionam - são intransferíveis para dentro do laboratório tradicional de modo integral. Skinner, apesar do que disse, acima, reconhece o problema: “A aplicação de uma ciência do comportamento ao desenho de uma cultura é uma proposição ambiciosa, frequentemente julgada ser utópica no sentido pejorativo, e alguma razão para ceticismo merece comentário. É frequentemente afirmado, por exemplo, que há diferenças fundamentais entre o mundo real e o laboratório no qual o comportamento é analisado. Onde o ambiente do laboratório é inventado, o mundo real é natural; onde os processos observados no laboratório revelam ordem, o comportamento em outros lugares é caracteristicamente confuso. Existem diferenças reais, mas elas podem não permanecer assim quando uma ciência do comportamento avança, e elas frequentemente não devem ser tomadas a sério mesmo agora.” Sem dúvida nas ciências sociais a articulação entre o fenômeno observado e o observador é mais interferente do que nas demais ciências. Mas, por outro lado, é impossível transportar-se o fenômeno comportamental completo para dentro de um laboratório desenhado segundo o modelo das ciências exatas. É preciso, portanto, estruturar a análise do comportamento dentro das condições complexas da realidade. É o que se propõe a definir este livro ao sugerir que o cruzamento permanente da totalidade do conhecimento humano com a totalidade da ação a que ele se aplica, irá constituir a regularidade empírico-experimental da análise visando definir a eficiência do conhecimento para a ação, e vice-versa. Uma vez que esse relacionamento constitui o fundamento de todo o processo existencial, de todo o viver, sapiens. O que pode ser levado do comportamento para constituir-se numa estrutura laboratorial, então, é a razão pura apriorística sistêmica do fenômeno comportamental tratada com a simplificação recomendada por Popper para os primeiros passos de uma ciência. Por meio, como sugeriu C.G.Jung, das tipologias básicas do fenômeno. Tipologias básicas que são, no caso: A classificação científica da ação humana. Nos moldes – como sugeriu Jung para a psicologia – com que a biologia classificou as plantas e os animais. E a classificação do conhecimento aplicado que modela tais ações. A macro-operação empírico-experimental – uma simplificação sistêmica holística da complexidade do fenômeno objetivo básico do comportamento – será cruzar ininterruptamente, vinte e quatro horas por dia, a totalidade do conhecimento humano com a totalidade da ação humana, objetivando a otimização desta última e o estudo científico dessa otimização. Operação

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124impossível antes da revolução comunicacional-informacional que está aí agora, com a Internet no centro. Isso constituirá, como método, um macro-laboratório básico empírico-experimental da ciência do comportamento pós-revolução comunicacional-informacional. Não temos alternativa senão simplificar a abordagem da realidade complexa onde ela acontece, porque qualquer transposição dessa complexa fenomenologia de vida – mas de abordagem simplificável, nos termos que sugerimos – para o laboratório tradicional, altera totalmente o fenômeno comportamental que queremos estudar. Para depois otimizar com a ciência e a tecnologia oferecidas pela revolução comunicacional-informacional. O caminho proposto é o único disponível de simplificação metodológica, como ponto de partida para se aprender como lidar em termos científicos com a complexidade do comportamento humano real, e holístico. Skinner, afinal, sugere a solução: “É a ciência ou nada, e a única solução para a simplificação é aprender como lidar com as complexidades.” A análise empírico-experimental básica e intensiva do comportamento tem que visar a aplicação imediata, para definir as funcionalidades do relacionamento conhecimento-ação dentro da busca da produção da otimização da ação sapiens. O que tem que ser considerado, antes de mais nada, para uma análise empírico-experimental básica e intensiva do comportamento, é que é o meio-ambiente e seu bombardeio informacional o maior condicionador do comportamento. Skinner deixa isso claro “É sempre o meio-ambiente que constrói o comportamento com o qual os problemas são resolvidos, mesmo quando os problemas são encontrados no mundo privado dentro da pele. Nada disso tem sido investigado de um modo muito produtivo, mas a inadequação de nossa análise não é razão para se recuar em direção a uma mente que produza milagres. (...) Está na natureza de uma análise experimental do comportamento humano que ela deveria destituir as funções previamente designadas ao homem autônomo e transferi-las uma por uma para o meio-ambiente controlador. (...) Uma análise experimental muda a determinação do comportamento do homem autônomo para o meio-ambiente – um meio-ambiente responsável por ambos, pela evolução da espécie e pelo repertório adquirido por cada membro.” Depois, é preciso considerar a análise da ação selecionadora do meio-ambiente, inclusive em termos de definição do bem e do mal implicados na ação. Skinner: “A ação selecionadora do meio-ambiente tem permanecido obscura por causa de sua natureza. Nada menos do que uma análise experimental foi necessária para se descobrir o significado das contingências de reforçamento, e contingências permanecem quase fora do alcance da observação casual. (...) Uma vez que tenhamos identificado as contingências que controlam o comportamento chamado bom ou mau e certo ou errado, a distinção entre fatos e como as pessoas se sentem a respeito de fatos é clara. Como as pessoas se sentem a respeito de fatos é um produto derivado. A coisa importante é o que elas fazem a respeito deles, e o que elas fazem é um fato que deve ser entendido examinando-se contingências relevantes.” Se quisermos estudar e identificar que informações, ou conhecimentos, definem que ações, inclusive em termos do bem e do mal, precisamos cruzar a totalidade do conhecimento, da informação, humanos, com a totalidade das intenções e dos esforços de ação ocorrendo no mundo. Buscando o caminho da otimização de tais ações. Uma análise empírico-experimental do comportamento é sutil e sofisticada, mas possível, segundo Skinner e Kant. Skinner: “Uma análise experimental torna possível uma interpretação efetiva do comportamento humano. (...) É fácil concluir que deve haver alguma coisa a respeito do comportamento humano que faz uma análise científica, e daí uma tecnologia

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efetiva impossível, mas

125 nós não temos de maneira alguma exaurido as possibilidades. Há um sentido no qual pode ser dito que os métodos da ciência tem escassamente até aqui sido aplicados ao comportamento humano. Nós temos usado os instrumentos da ciência, nós temos contado e medido e comparado; mas alguma coisa essencial à prática científica está faltando em quase todas as discussões correntes sobre o comportamento humano. Isso tem a ver com o nosso tratamento das causas do comportamento.” Kant: “E se nós pudéssemos exaustivamente investigar todas as aparências das vontades dos homens, não seria encontrada uma única ação humana que nós não pudéssemos predizer com certeza, e reconhecer como procedendo necessariamente de suas condições antecedentes. Até aí, então, no que diz respeito a esse caráter empírico não existe liberdade. E ainda assim é apenas à luz desse caráter que o homem pode ser estudado – se, quer dizer, nós estamos simplesmente observando, e à moda da antropologia procurando instituir uma investigação fisiológica em relação às causas motivantes de suas ações.” A definição solidamente científica de quais informações otimizam que ações só será obtida com segurança no longo prazo, segundo Wiener e Kant. b) Wiener: “Difícil como seja coletar bons dados físico, é muito mais difícil coletar longas séries de dados econômicos e sociais de maneira que o total da série terá uma significação uniforme.” Para uma boa estatística da sociedade, precisamos de longas séries de dados sob condições estáveis de análise. A obtenção desses dados pede uma decisão básica sobre o que constitui o fundamento do comportamento individual e social. Não resta mais, na psicologia moderna, nenhuma dúvida de que o comportamento é definido, muito mais, pelo bombardeio informacional por parte do meio, do que pela herança genética que constituiu a mente do indivíduo. Assim, é esse bombardeio o que precisa ser analisado. Kant: “É desafortunado que apenas depois que nós temos gasto muito tempo na coleta de materiais de um modo algum tanto improvisado sob a sugestão de uma idéia jazendo escondida em nossa mente, e depois que nós temos, realmente, durante um longo período resumido os materiais de um modo meramente técnico, torna-se pela primeira vez possível para nós discernir a idéia a uma luz mais clara, e conceber um todo arquitetonicamente de acordo com os fins da razão.” Mas não existe outro caminho empírico-experimental para se chegar lá senão este. O de cruzar, vinte e quatro horas por dia, a totalidade do conhecimento humano com a totalidade da ação humana, pretendida ou em curso, visando a otimização das ações, e relatando-se os resultados positivos e negativos de tais cruzamentos. O método novo necessário, do cruzamento ininterrupto de todo o conhecimento com toda a ação, humanos, sofrerá resistências a seu jogo, e à constituição por meio dele de uma matemática do comportamento. Estruturalismo (Antologia): “Nietzsche avisa-nos ‘os métodos, precisamos dizê-lo e voltar a dizê-lo sem desfalecimentos, são o essencial, e são também o mais difícil, o que durante mais tempo têm contra si os hábitos e a preguiça.” b) Foucault: “Mas imaginar que as ciências humanas definiram o seu projeto mais radical e inauguraram a sua história positiva no dia em que pretenderam aplicar o cálculo das probabilidades aos fenômenos da opinião pública e utilizar logaritmos para medir a intensidade crescente das sensações, é tomar um efeito de superfície pelo acontecimento fundamental.” Dentro da análise empírico-experimental, se o jogo da análise não criar nada de vital, ele é apenas um jogo, e não um trabalho criativo. Mas o jogo empírico-experimental, em nosso caso a análise do relacionamento mútuo conhecimento-ação, abordado com universalismo, é

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indispensável para se definir após se haverá ou não criação de algo que possa ser considerado criativo em termos de

126 ciência comportamental que responda à oferta de meios de pesquisa feita pela revolução comunicacional-informacional. É, portanto, o que a pesquisa tem que fazer para no longo prazo, cruzando a totalidade do conhecimento com a totalidade da ação, humanos, chegar a definições úteis para a organização dos comportamentos. A proposta tem a simplicidade e a abrangência básicas – enfatizadas por Popper como necessárias – que têm que caracterizar os axiomas iniciais indispensáveis à implantação de uma nova ciência. No caso, a nova ciência a ser implantada por tais axiomas, será a ciência do comportamento pós-revolução comunicacional-informacional. Sem a tecnologia dessa revolução seria totalmente impossível o jogo dessa análise empírico-experimental holística do comportamento humano. É por isso que tal análise empírico-experimental não foi proposta e muito menos tentada sistematicamente até aqui. Sendo conveniente frisar-se que a simplicidade dos axiomas metodológicos implicados no assunto não significa que a operação seja fácil de se acionar com a densidade e a precisão relevantes. Que definam a cibernética do sucesso ocupacional, a medicina da ação humana, sapiens. Temos que enfrentar essa dificuldade. Skinner questiona: “Se uma análise cientifica pode nos dizer como mudar o comportamento, pode ela nos dizer que mudanças fazer? (...) Uma análise cientifica muda ambos a responsabilidade e os alcances do meio-ambiente. Ela também levanta questões com respeito a ‘valores’. Quem usará uma tecnologia e para que fins? Até que essas questões sejam resolvidas, uma tecnologia do comportamento continuará a ser rejeitada, e com ela possivelmente o único modo de resolver os nossos problemas.” Althusser explica o principal motivo, talvez, das resistências às mudanças: “Pelo aparecimento de uma ciência que, por pouco que nela se creia, corre o risco de desviar fronteiras existentes, portanto de modificar o status quo de várias disciplinas.” Mas, é a mudança, ou, enfrentar a catástrofe comportamental despontando no horizonte da humanidade. Os riscos e as mudanças necessárias são conhecidos. Skinner: “O comportamento perturbador atualmente não é descrito, e nada que possa ser feito para mudá-lo é mencionado.” Wiener diz que se o perigo é um remoto mas terminal para a raça humana, envolvendo extermínio, apenas um muito cuidadoso estudo da sociedade o exibirá como um perigo até que ele esteja sobre nós. Pois contingências perigosas desse tipo não portam um rótulo sobre sua face, diz Wiener. Mas a nossa capacidade de mudança existe. Skinner: “Ninguém conhece o melhor modo de criar crianças, pagar trabalhadores, manter a lei e a ordem, ensinar, ou tornar as pessoas criativas, mas é possível propor melhores modos do que aqueles que temos agora, e apoiá-los prevendo e eventualmente demonstrando resultados mais reforçadores. Isso tem sido feito no passado com a ajuda da experiência pessoal e da sabedoria do povo, mas uma análise cientifica do comportamento humano é obviamente relevante. Isso ajuda de dois modos: define o que é para ser feito e sugere modos de fazê-lo.” As religiões já tentaram a otimização de nosso comportamento. E falharam, em grande medida. Chegou a hora de a ciência tentar.

VIIA3 - MEDICALIZAÇÃO DA AÇÃO NAS CARREIRAS DE VIDA E TRABALHO. E A OPOSIÇÃO A ESTE CONTROLE POSITIVO.

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Precisamos urgentemente de ciência e tecnologia – uma medicina – do comportamento. Sem um programa para a cura sistemática do nosso comportamento - de nossas ações não-sapiens - é grande o risco de a espécie humana não sobreviver.

127 Os mais vigorosos esforços feitos até aqui para aperfeiçoar o comportamento humano foram feitos pelas religiões. E as religiões não conseguiram chegar aonde queriam chegar. Está na hora de se fazer esse esforço usando como instrumento a mais poderosa cultura do homem moderno: A ciência. E especialmente a tecnologia moderna das comunicações e da informática. Skinner, o mais dedicado pensador do assunto no século passado, deixou bem definida a importância da busca de uma ciência e tecnologia do comportamento: “O que é necessário é uma tecnologia do comportamento, mas nós temos sido lentos em desenvolver a ciência da qual tal tecnologia podia ser extraída. Uma dificuldade é que quase tudo que é chamado de ciência comportamental continua a atribuir o comportamento a estados mentais, sentimentos, traços de caráter, natureza humana, e assim por diante. (...) Uma ciência do comportamento está de maneira alguma avançada tão longe quanto a física ou a biologia, mas ela tem uma vantagem no fato de que ela pode lançar alguma luz sobre suas próprias dificuldades. Ciência ‘é’ comportamento humano, e assim também é a oposição à ciência. O que tem acontecido na luta do homem pela liberdade e dignidade, e que problemas se levantam quando o conhecimento cientifico começa a ser relevante dentro daquela luta? Respostas a estas questões podem ajudar a clarear o caminho para a tecnologia de que nós tão seriamente necessitamos. (...) O que nós precisamos é de uma tecnologia do comportamento. (...) Mas uma tecnologia comportamental comparável em poder e precisão com a tecnologia física e biológica está faltando, e aqueles que não acham a própria possibilidade ridícula são mais prováveis de estarem assustados com isso do que tranqüilizados...” Aperfeiçoar o comportamento humano é aperfeiçoar as ações humanas, sapiens. b) Foucault deixa isso claro na sua abordagem do assunto: “Vê-se que as ciências humanas não são a análise do que o homem é por natureza, mas antes uma análise que se estende entre o que o homem é na sua positividade (vivendo, trabalhando, falando) e o que permite a esse mesmo ser saber (ou procurar saber) o que é a vida, em que consiste a essência do trabalho e as suas leis e de que maneira ele pode falar.” Pensar é também uma ação humana, a ação sapiens por excelência. A ciência psicológica mais moderna já definiu que o mais poderoso elemento condicionante do nosso comportamento, todo ele composto de ações, é o bombardeio informacional permanente que o meio-ambiente exerce sobre a nossa mente. Skinner deixa claro a importância disso para a criação da tecnologia do comportamento, uma espécie de medicina da ação, que se precisa buscar estabelecer dentro da mesma rotina da medicina convencional: “Além da interpretação, jaz a ação prática. As contingências são acessíveis, e quando nós chegamos a entender as relações entre comportamento e meio-ambiente, nós descobrimos novos modos de mudar o comportamento. As linhas gerais de uma tecnologia já são claras.” Se organizarmos cientificamente esse bombardeio, usando as modernas tecnologias comunicacionais-informacionais, poderemos pôr em ação uma medicina comportamental para combater as doenças do mau comportamento. O que acabamos de dizer é um axioma simples e holístico para se propor a iniciativa de uma abordagem cientifica do problema. Fundamentada em liberdade, não em controle informacional, diga-se antes de mais nada. Iniciativa onde o passo inicial é saber-se por onde começar. E a

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respeito disso podemos dizer - atendendo às recomendações de C.G.Jung - que devemos começar pela tipologia das ações sapiens e pela tipologia do conhecimento aplicado a tais ações. Pelas tipologias da ação e do conhecimento humanos, os dois itens básicos do comportamento, do viver, da ação sapiens. Para cruzarmos, depois, as duas coisas dentro de um vasto programa de pesquisa empírico-

128experimental, análise e estudo ininterrupto do comportamento. A medicalização do comportamento, das nossas ações sapiens, tem que produzir carreiras de vida e de trabalho bem sucedidas. Um compromisso do qual o sistema educacional tradicional foge como o diabo da cruz. Embora o controle comportamental tradicional mais positivo até aqui seja a educação. Que não assume a responsabilidade pelo sucesso das carreiras de vida e trabalho. O que as tecnologias da revolução comunicacional-informacional podem fazer, se estruturarem os processamentos terapêuticos, que são informacionais, de uma medicina da ocupação. Skinner: “Nós temos dado imensas passadas em controlar os mundos físico e biológico, mas nossas práticas em governo, educação, e a maior parte do econômico, ainda que adaptadas a muito diferentes condições, não tem melhorado grandemente.” E nós estamos, sem dúvida, hesitando demais em utilizar as tecnologias da revolução comunicacional-informacional, especialmente a Internet, para dar um impulso futurista à educação. Responsabilizando-a, de forma radical, e com ajuda das modernas tecnologias comunicacionais-informacionais, pelo sucesso concreto das carreiras de vida e de trabalho dos indivíduos. Essas novas tecnologias nos permitem pensar em uma medicina do comportamento, visando estruturar carreiras de vida e de trabalho bem sucedidas, escolhidas com plena liberdade sapiens, e atendendo aos traços das personalidades individuais, irreplicáveis como as impressões digitais. Com os planos da disciplina e da soberania dos sistemas educacionais se encontrando e se reformulando construtivamente em cima da total liberdade informacional. Foucault: “O desenvolvimento da medicina, a medicalização geral do comportamento, dos discursos, dos desejos, etc., se dão onde os dois planos heterogêneos da disciplina e da soberania se encontram.” Agora, no mundo moderno, tal encontro se processando sobre o plano da total liberdade informacional. Facultando carreiras o mais personalizadas e o mais holísticas possível. Para, via trabalho produtivo, se conquistar tudo aquilo que vai compor uma carreira de vida satisfatória. Skinner: “As boas coisas da vida têm apenas que ser feitas adequadamente contingentes sobre trabalho produtivo.” Carreiras de vida e de trabalho bem sucedidas, escolhidas com liberdade plena... Isto quer dizer, a partir do exame da lista completa das possibilidades de ação humanas, e da disponibilidade de todo o conhecimento humano. Para quaisquer tipos de composições. E não dentro das limitações massificadoras dos programas educacionais tradicionais, que mimetizam a linha de produção padronizadora da primeira revolução industrial. Carreiras de vida e de trabalho o mais personalizadas – como as impressões digitais – e o mais holísticas possível, organizadas com ajuda da disciplina, orientadora e distributiva holística, da ciência do comportamento pós-revolução comunicacional-informacional, e seus recursos tecnológicos. Uma questão de longo alcance, abordável agora dentro das contingências altamente construtivas dessas tecnologias da revolução comunicacional-informacional. Com ajuda, especialmente, da Internet. A heterogeneidade dos indivíduos é algo tão indiscutível como a heterogeneidade das impressões digitais. Não existe, nem jamais existiu, dois indivíduos absolutamente iguais. As instituições, portanto,

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que se organizam à base de oferecer a todos os indivíduos as mesmas condições de existência, estão operando dentro de um objetivo não apenas utópico, mas altamente negativo para o benefício do viver sapiens do indivíduo. É preciso seguir-se o rumo de uma outra utopia, mais natural em relação à heterogeneidade dos indivíduos. Buscar para eles, na maior medida possível, carreiras de vida e de trabalho altamente personalizadas. De tal forma que não venham jamais a

129existir duas carreiras de vida ou de trabalho absolutamente iguais dentro da humanidade. A economia institucional das homogeneizações está totalmente errada. Orientada, especialmente, pelas tecnologias da linha-de-produção da primeira revolução industrial. Vamos apenas tocar aqui nessa questão de longo alcance, para deixar que ela se defina no contexto geral do escopo deste livro. Tais considerações que constituem, entretanto, um dos principais focos deste livro, dentro da ciência comportamental viabilizada pela revolução tecnológica centralizada na Internet, que propicia a tecnologia necessária para uma medicina da ação ser praticada sistematicamente. Onde podemos abordar a construção de carreiras sujeitas, exclusivamente, à soberania da liberdade informacional total e da ação de vida a mais integral, em termos cognitivos holísticos, e a mais personalizada possível, para o indivíduo. Nos afastando, como pediu Alvin Toffler, da massificação padronizante, restritiva, dos programas da educação tradicional, que mimetiza a linha-de-produção da primeira revolução industrial. A ser substituída, como o controle comportamental mais positivo do futuro, pela medicina ocupacional que estamos propondo seja implantada a partir dos recursos tecnológicos da revolução comunicacional-informacional. Liberdade, dentro desse processo, é a escolha da ação a partir do exame da lista completa de todas as possibilidades de ação humanas. A revolução comunicacional-informacional que está aí pode propiciar o mecanismo para o indivíduo fazer isso, mesmo que sem os cem por cento de garantia do preenchimento completo da operação. Mas a maximização, no caso – utopia direcional – é o que interessa. E esta informação, garantidora da liberdade sapiens, seria um dos componentes básicos da medicina da ação, o controle comportamental positivo do futuro. Complementado por outro controle positivo do futuro: O encaminhamento a cada ação escolhida da totalidade do conhecimento humano que ajudaria a otimizar tal ação. Teríamos, nessa operação simples, uma cultura cibernética nova, que representaria o controle comportamental mais completo e mais positivo possível para o nosso futuro. Superior à lei e ao atual modelo educacional. O conceito tradicional de liberdade e dignidade sapiens, anterior à moderna revolução comunicacional-informacional, contrapõe-se a esse passo. Skinner: “Atacar as práticas de controle é, naturalmente, uma forma de contra-controle. Ela pode ter imensuráveis benefícios se melhores práticas de controle são por esse meio selecionadas. A medicina da ação, a mais vigorosa prática a ser adotada. Mas as literaturas da liberdade e da dignidade têm cometido o equívoco de supor que elas estão suprimindo o controle antes do que corrigindo ele.” Ao invés de prejudicar a liberdade, essa nova cultura cibernética traria à luz, além da verdadeira liberdade sapiens, a máxima dignidade possível à espécie sapiens, inteiramente dependente de acesso ao conhecimento na hora de definir sua vontade, e de escolher assim seus caminhos de vida e de trabalho. Dignidade: Sem que eles sejam escolhidos pelos outros. Uma nova cultura, a da super-informação do indivíduo, precisa ser

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entendida e imposta. Skinner: “O intercâmbio é perturbado pelas literaturas da liberdade e da dignidade, as quais interpretam o contra-controle como a supressão antes do que a correção das práticas de controle. O efeito poderia ser letal. A despeito de notáveis vantagens, nossa cultura pode provar ter uma falha fatal. Algum outra cultura pode então fazer uma contribuição maior para o futuro.” Precisamos de controle para condicionar cientificamente um contra-controle o mais eficiente possível dentro do viver sapiens: A super-informação do indivíduo é o fundamento maior para a medicalização das ações de suas carreiras de vida e de trabalho . Condicionando a liberdade e a dignidade sapiens, através do

130 domínio pelo indivíduo do máximo possível do conhecimento sapiens disponível. O benefício dessa cultura da super-informação do indivíduo, e a correção ininterrupta da sua ação – a medicalização da ação - alvo óbvio dentro da significação da revolução comunicacional-informacional, precisa ser entendido. Alguns dizem que o ‘design’ científico de uma cultura é tentativa de controle. Não, se o ‘design’ for o da super-informação dos indivíduos. Que será o ‘design’ da cultura da libertação dos indivíduos. Que carecem de liberdade na medida de sua desinformação. A super-informação do indivíduo não o controla, ao contrário, é o controle positivo que o liberta, o máximo possível, de todos os controles negativos. Preconceitos contra uma tecnologia da otimização do comportamento, contra uma medicina da ação, resistem ao rumo apontado pelo futuro da revolução comunicacional-informacional. Os principais preconceitos contra uma ciência do comportamento futurista estão aí, bastante claros e resistentes. Já dispomos de ciência e tecnologia para aperfeiçoar, em boa medida, o comportamento humano. Falta desejarmos isso socialmente. O que é urgente conseguir-se, porque nos ameaça uma catástrofe comportamental: Ecologia, armas atômicas, combustíveis fósseis, corrupção política, etc. Skinner: “Walter Lippmann disse que ‘a suprema questão diante da humanidade’ é como os homens podem salvar a si mesmos da catástrofe que ameaça eles, mas para responder a isso nós temos que fazer mais do que descobrir como os homens podem ‘fazer a si próprios desejar e ser capazes de salvar a si mesmos’ (...) Nós temos as tecnologias física, biológica e comportamental necessárias ‘para salvar a nós mesmos’; o problema é como conseguir que as pessoas as usem. (...) A coisa excitante a respeito de chegar até à lua foi a sua praticabilidade. A ciência e a tecnologia tinham alcançado o ponto no qual, com um grande empurrão, a coisa podia ser feita. Não existe um excitamento comparável a respeito dos problemas colocados pelo comportamento humano. Nós não estamos perto das soluções.” Ou melhor, estamos relativamente perto, mas longe de enxergá-las. As principais resistências aos avanços de uma ciência e tecnologia do comportamento são: De forma geral, nossos hábitos comportamentais retrógrados, obsoletos. Entre eles, principalmente aqueles que são embasados em conceitos equivocados de liberdade e de dignidade sapiens. Skinner: “Uma tecnologia do comportamento está disponível a qual mais bem sucedidamente reduziria as conseqüências aversivas do comportamento, próximo ou protelado, e maximizaria as realizações das quais o organismo humano é capaz, mas os defensores da liberdade opõem-se a seu uso. A oposição pode levantar certas questões com respeito a ‘valores’. Quem deve decidir o que é bom para o homem? Como irá uma mais efetiva tecnologia ser usada? Por quem e para que fim? (...)

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O que nós podemos chamar de literatura da dignidade está preocupado com preservar o devido crédito. Ela pode opor avanços em tecnologia, incluindo uma tecnologia do comportamento, porque eles destroem chances de ser admirado e uma análise básica porque ela oferece uma explicação alternativa do comportamento pelo qual o indivíduo ele próprio tem previamente recebido crédito. A literatura assim atravessa-se no caminho de ulteriores conquistas humanas.” A liberdade sapiens não é o direito de escolher a ação dentro da desinformação, como se definiu liberdade até aqui. Isso é liberdade inconsciente, animal. A liberdade sapiens é a de escolher a ação a partir do exame da lista completa das possibilidades de ação humanas. Isto é, ‘sabendo’, conhecendo, tudo que pode ser escolhido. Utopia, mas direcional para a evolução sapiens. Cuja dignidade está em nos tornarmos cada vez mais sapiens. Utopia a ser perseguida com a medicina da ação, com o mesmo afinco com que

131a medicina convencional persegue a derrota completa, inatingível, da morte. Skinner: “A literatura da dignidade conflita aqui com a literatura da liberdade, a qual favorece uma redução das feições aversivas da vida diária como tornando o comportamento menos árduo, perigoso ou penoso.” Isto é, despreocupado, inclusive, com relação ao domínio, pelo indivíduo, de todo o conhecimento humano, a principal utopia direcional sapiens. Skinner: “Os defensores da liberdade e dignidade encorajam o uso errado de práticas de controle e bloqueiam o progresso na direção de uma mais efetiva tecnologia do comportamento. (...) Nossa cultura tem produzido a ciência e tecnologia que ela necessita para nos salvar. Ela tem a riqueza necessária para ação efetiva. Ela tem, até uma considerável extensão, uma preocupação pelo seu próprio futuro. Mas ela continua a tomar a liberdade da dignidade, antes do que sua própria sobrevivência, como seu principal valor, então é possível que alguma outra cultura fará uma maior contribuição para o futuro. O defensor da liberdade e dignidade pode então, como o Satan de Milton, continuar a dizer a si mesmo que ele tem ‘uma mente para não ser mudada por lugar ou tempo’ e uma toda suficiente identidade pessoal ( ‘O que importa aonde, se ele for ainda o mesmo?’) , mas ele irá todavia encontrar a si mesmo no inferno com nenhuma outra consolação se não a ilusão de que ‘aqui ao menos nós seremos livres’.” As duas coisas, a liberdade sapiens e o crescimento de nossa especiação sapiens, a nossa dignidade, podem ser enormemente estimulados e apoiados pela ciência e tecnologia da revolução comunicacional-informacional, que nos propõe uma nova, mais cibernetizada, ciência do comportamento. As barreiras psíco-sociais que estão aí não são nada desprezíveis, entretanto. Faltando, principalmente, entender-se que é possível agora uma tecnologia sem poder central, exercida, democraticamente, por todos os indivíduos. Se todos forem super-informados, e com isso todos fiscalizarem todos, com o objetivo de impor o bom comportamento. Democratização absoluta, que não pôde ser incorporada por Bentham a seu projeto, o do ‘panopticon’, porque não existia ao tempo a tecnologia da revolução comunicacional-informacional que está aí hoje. A medicina da ação, da ocupação, do comportamento pode levar tanto tempo para ser operacionalizada que a espécie sapiens venha a se extinguir antes disso. Vale a pena, portanto, dar atenção à advertência de Jung: “Mas quanto mais profundamente a visão da mente criativa penetra, mais estranha ela se torna para a humanidade em massa, e maior é a resistência ao indivíduo que de qualquer forma destaca-se da massa. A massa não o entende ainda que inconscientemente vivendo o que ele expressa, não porque o poeta o proclama, mas porque

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extrai sua vida do inconsciente coletivo para dentro do qual ele tem espreitado. Os mais pensantes da nação certamente compreendem alguma coisa de sua mensagem, mas, porque sua proclamação coincide com o processo já se desenvolvendo dentro da massa, e também porque ele antecipa as próprias aspirações deles, eles odeiam o criador de tais pensamentos, não por malícia, mas meramente por causa do instinto de auto-preservação. Quando sua visão dentro do inconsciente coletivo alcança uma profundidade aonde seus conteúdos não podem mais ser apreendidos em qualquer forma consciente de expressão, é difícil decidir se é um produto mórbido ou se é incompreensível por causa de sua extraordinária profundidade. Um imperfeitamente compreendido, ainda que profundamente significativo conteúdo, usualmente tem alguma coisa de mórbido nele. E produtos mórbidos são, como regra significativos. Mas em ambos os casos a abordagem deles é difícil. A fama desses criadores, se ela jamais chega de todo, é póstuma e frequentemente retardada por diversos séculos. A afirmação de Oswald de que um gênio hoje é mal entendido no máximo por uma década está

132 confinada, devemos esperar, ao reino das descobertas tecnológicas, de outra forma tal afirmação seria lúdica em extremo.” As descobertas tecnológicas, de fato, são absorvidas com mais facilidade, devido à sua simplicidade mecânica, mas fundamental. Como foi o caso da roda. As conseqüências, entretanto, na alteração dos processos de vida, envolvem muito mais sutilezas. E a remodelação do comportamento humano, para o bem, foi sempre o problema mais difícil da humanidade. Que o digam os geniais criadores das religiões.Terreno este, o da remodelação do comportamento humano, para o bem, onde a ciência tem agora muito a dizer – via medicina da ação, da ocupação, do comportamento - depois do relativamente pesado fracasso das religiões. Afirmação esta que suscita quase sempre a idéia de controle, quando deveria suscitar a idéia de libertação, produzida pela super-informação de todos os indivíduos. A principal utopia direcional da natureza sapiens.

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx VIIB - TIPOLOGIAS BÁSICAS E LINGUAGEM DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO COMPORTAMENTO PÓS-REVOLUÇÃO COMUNICACIONAL-INFORMACIONAL.xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

VIIB1 - TIPOLOGIAS ARTICULADAS, DA AÇÃO E DO CONHECIMENTO, SEUS DICIONÁRIOS OU CATÁLOGOS E SUA LINGUAGEM.

As tipologias, classificações, mais básicas do comportamento são as da ação sapiens, e a do conhecimento, da informação, que a concretiza. C.G. Jung deixou bem claro a importância das tipologias para o desenvolvimento da psicologia. Comportamento é psicologia. O objeto geral da psicologia é o comportamento sapiens. O comportamento sapiens é todo composto, exclusivamente, de ações. A psicologia pós-freudiana (Skinner, Gerald Edelman, e outros.) definiu que o bombardeio informacional por parte do meio-ambiente é mais poderoso do que a herança genética na determinação do comportamento. Assim, para uma ciência do comportamento (psicologia) pós-revolução comunicacional-

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informacional, as duas tipologias mais importantes para a abordagem científica do problema do comportamento são: A classificação das ações sapiens, e a classificação do conhecimento, das informações, que as condicionam. Através do bombardeio informacional por parte do meio. Wiener, Jung e Locke definiram como necessário providenciar-se na psicologia – na comportamental em nosso caso – bases classificatórias gerais do assunto a ser analisado, como foi feito na biologia, com a classificação da fauna e da flora, e na química, com as tabelas periódicas dos elementos, para se partir para uma ciência mais crítica da organicidade geral do fenômeno comportamental. Wiener: “Na verdade, com as plantas e os animais ainda por serem estudados, é difícil conceber que a ciência biológica pudesse ter ingressado num período propriamente dinâmico de outro modo que não fosse através da contínua coleta de uma História Natural mais descritiva. O grande botânico Lineu nos servirá de exemplo. Para Lineu, espécies e gêneros eram formas aristotélicas fixas, mais que postes indicadores de um processo de evolução; foi, entretanto, com base numa descrição totalmente lineana que se tornou possível reunir argumentos convincentes em favor da evolução. Os antigos historiadores naturais eram, na prática, os fronteiriços do intelecto: encontravam-se por demais sob a compulsão de

133apoderar-se de, e ocupar, novos territórios, para que pudessem ser muito precisos no tocante ao problema de explicar as novas formas que tinham observado. Depois do fronteiriço, vem o lavrador produtivo, e depois do naturalista vem o cientista moderno.” Jung: “E porque ela (a psicologia) ainda está em seus estágios iniciais como uma ciência, nós carecemos dos conceitos e definições com os quais apreender os fatos. Se conceitos estão faltando, fatos não estão; ao contrário, nós estamos rodeados – quase enterrados – por fatos. Isso está em chocante contraste com o estado das coisas em outras ciências, onde os fatos tem que ser primeiro desenterrados. Aqui a classificação de dados primários resulta na formulação de conceitos descritivos cobrindo certas ordens naturais, como, por exemplo, o agrupamento dos elementos na química e de famílias de plantas na botânica. Mas é bastante diferente neste caso da psiquê. Aqui um método empírico e descritivo meramente nos mergulha dentro da incessante corrente de acontecimentos psíquicos subjetivos, de maneira que quando quer que algum tipo de conceito generalizante emerge dessa profusão de impressões é usualmente nada mais do que um sintoma. Porque nós próprios somos psiquês, é quase impossível para nós dar livre rédea aos acontecimentos psíquicos sem sermos dissolvidos dentro deles e assim roubados de nossa habilidade para reconhecer distinções e fazer comparações.” Locke: “Para concluir, é isso aí, que em poucas palavras eu diria, (viz.) que todos os grandes negócios de gênero e espécie, e suas essências, importam em nada mais senão isto, que os homens fazendo idéias abstratas, e colocando elas em suas mentes, com nomes anexados a elas, por aí capacitam a si mesmos a considerar as coisas, e discorrer sobre elas, como se fosse em cachos, para o mais fácil e mais pronto aperfeiçoamento e comunicação de seu conhecimento, que iria avançar apenas lentamente, fossem suas palavras e pensamentos confinados apenas a detalhes.” A rede de organização geral dos dados de uma ciência é uma mensagem, sem a qual não reuniremos força suficiente, com tal ciência, para mover o mundo sapiens adiante em termos de um conhecimento mais estruturado, mais profundo, mais abrangente, mais revolucionário de nossa visão do assunto da ciência. São dessa opinião, por diferentes ângulos, Norbert Wiener, C.G. Jung, Karl Popper, Thomas Paine. Vamos a seus

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comentários em relação a esse aspecto da metodologia cientifica. Wiener simplesmente nos diz que devemos encarar “o organismo como mensagem”. Jung vê na rede informacional do sistema organizado o instrumento básico para desenvolver-se uma psicologia crítica, em nosso caso a do comportamento humano. Jung: “Não é o propósito da tipologia psicológica classificar o ser humano em categorias, isso seria bastante sem objetivo. Seu propósito é antes prover uma psicologia crítica que fará uma investigação e apresentação metodológica do material empírico possível. Primeiro e antes de mais nada, é uma ferramenta crítica para o trabalhador em pesquisa, que necessita definir pontos de vista e linhas guias se ele tem que reduzir a profusão caótica de experiências individuais a qualquer tipo de ordem. A esse respeito nós iríamos comparar a tipologia a uma rede trigonométrica ou, melhor ainda, a um sistema axial cristalográfico. Em segundo lugar, uma tipologia é uma grande ajuda para se compreender a ampla variação que ocorre entre os indivíduos, e ela também fornece uma chave para as diferenças fundamentais nas teorias psicológicas agora correntes.” Popper concorda com a necessidade dessa rede analítica: “Uma rede, como diz Karl Popper, que lançamos para ‘apanhar o que chamamos de mundo’: Para racionalizar, para explicar, e para dominá-lo. Nós nos esforçamos para fazer as ‘malhas cada vez mais finas e mais finas’.” Jung compara essa providência dentro da ciência, a ordenação geral dos dados básicos, com a utilidade da definição dos pontos cardeais na

134 geografia: “Deste modo nós podemos nos orientar com respeito ao mundo imediato tão completamente como quando nós localizamos um lugar geograficamente pela latitude e longitude. As quatro funções são de alguma forma como os quatro pontos do compasso; elas são igualmente tão arbitrárias e igualmente tão indispensáveis. Nada impede que modifiquemos os pontos cardeais tantos graus para nos agradar em uma direção ou na outra, ou darmos a eles diferentes nomes. É meramente uma questão de convenção e inteligibilidade.” Paine, citando Arquimedes, vê uma possibilidade de se alavancar a razão e a liberdade, dois componentes fundamentais do comportamento humano: “O que Arquimedes disse dos poderes mecânicos pode ser aplicado à razão e à liberdade. ‘Se nós tivéssemos’ disse ele ‘um lugar de apoio, nós poderíamos erguer o mundo’.” Esse lugar de apoio, como já deu a entender C.G. Jung, está nas tipologias básicas da psicologia, do comportamento. Agora potencializadas pela revolução comunicacional-informacional, a alavanca de Arquimedes para a psicologia. A busca de se estabelecer as tipologias básicas dentro da psicologia, ou da ciência do comportamento, foi argumentada por C.G. Jung até a exaustão. Vejamos os principais pontos dessa argumentação, em termos de psicologia, que podemos chamar também de ciência do comportamento: “Meu campo mais limitado de trabalho não é o estudo clínico de características externas, mas a investigação e classificação dos dados psíquicos que podem ser inferidos a partir deles. O primeiro resultado desse trabalho é uma fenomenologia da psiquê, a qual nos capacita a formular uma teoria correspondente a respeito de suas estruturas. A partir da aplicação empírica dessa teoria estrutural existe finalmente desenvolvida uma tipologia psicológica. (...) Uma vez que eu devo restringir a mim mesmo aqui a um mero esboço das idéias que subjazem a uma teoria psicológica dos tipos, eu devo abdicar de uma detalhada descrição de cada tipo. O resultado total do meu trabalho neste campo até o presente é o estabelecimento de duas atitudes-tipo gerais, extroversão e introversão, e quatro tipos-funcionais, pensar, sentir, sensação e intuição. Cada um desses tipos de função varia de acordo com a atitude geral e assim oito variantes

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são produzidas. (...) Algum dia os psicólogos terão que concordar sobre certos princípios básicos assegurados contra interpretações arbitrárias, e a psicologia não deve permanecer um conglomerado não-científico e fortuito de opiniões individuais. (...) Pensar, sentir,sensação e intuição... Eu não posso dar razão ‘apriorística’ para selecionar essas quatro funções básicas, e posso apenas apontar que essa concepção formou-se a partir de muitos anos de experiência. Eu distingo essas funções umas das outras porque elas não podem ser relacionadas ou reduzidas uma à outra. (...) Mas uma coisa eu devo confessar: Eu não iria, de maneira alguma, dispensar esse compasso nas minhas viagens psicológicas de descoberta. Isso não é meramente pela óbvia, completamente humana razão de que todo mundo está apaixonado pelas suas próprias idéias. Eu valorizo a teoria dos tipos pela razão objetiva de que ela provê um sistema de comparação e orientação que torna possível alguma coisa que tem longamente faltado, uma psicologia crítica.” A psiquê dos indivíduos é inteiramente conectada às ocupações exercidas em suas vidas. E os pontos básicos dessas ocupações, a serem analisados e conectados à explicação dos comportamentos, são: As ações práticas, e as informações que condicionaram tais ações. Jung, Marx e Thomas More se preocuparam com a definição de tais ocupações e de tais ações, como parâmetros de análise psico-social dos comportamentos. Vejamos Jung: “Essa retrospectiva histórica pode servir para assegurar-nos de que nossas modernas tentativas de formular uma teoria dos tipos são de maneira alguma novas e sem precedentes, mesmo se nossa consciência científica não nos permite reverter a esses velhos, intuitivos modos de pensar. Nós devemos descobrir

135 nossas próprias respostas para esse problema, uma resposta que satisfaça a necessidade da ciência. E aqui nós encontramos a principal dificuldade do problema dos tipos – isto é, a questão dos padrões ou critérios. (...) As demandas da sociedade compelem o individuo a apoiar-se primeiro, e antes de mais nada, na diferenciação de função com a qual ele é melhor equipado pela natureza, ou a qual assegurará a ele o maior sucesso social. Muito frequentemente, realmente, como uma regra geral, o individuo identifica-se mais ou menos completamente com a mais favorecida e daí a mais desenvolvida função. É isso que faz se erguerem os vários tipos psicológicos. (...) Como é que nós devemos somar essas funções sobre conceitos gerais, de maneira que elas possam ser distinguidas da profusão de eventos meramente individuais? Uma tipificação rudimentar desse tipo tem existido desde longo tempo atrás na vida social, nas figuras do camponês, do trabalhador, do artista, do erudito, do guerreiro, e assim por diante, ou nas várias profissões. Mas esse tipo de tipificação tem pouco ou nada a ver com a psicologia, pois, como bem conhecidos sábios uma vez maliciosamente observaram, há certos eruditos que não são nada mais do que ‘carregadores intelectuais’. Marx manifestou-se reducionista dentro dos critérios de classificação tipológica da ação humana. A idéia da classificação das ações passou pela cabeça de Marx, mas de modo altamente simplificado, ou simplista. Quando ele disse que religião, família, estado, lei, moralidade, ciência, arte, etc. são apenas modos particulares de produção, que caem sob a lei geral do trabalho. Isso quando a classificação da ação terá que ser altamente sofisticada na funcionalidade. More (Thomas) introduz no elenco da análise também as falsificações do trabalho: “Pois aonde o dinheiro tem todo o controle, lá muitas vãs e supérfluas ocupações necessitam ser usadas, para servir apenas à superfluidade encrenqueira e ao prazer desonesto.” O problema da classificação científica da ação humana continua, portanto, em aberto, em termos da organização de uma tipologia

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científica. O raciocínio científico mais completo, e mais profundo, a respeito do assunto até aqui, sem que se tenha chegado à tipologia da ação, e do conhecimento que a condicionada, pode ser atribuído a Locke e Mauss. Que pelo menos colocaram o problema em termos fundamentais para a ciência do comportamento. Sem saberem que o futuro cobraria dessa ciência, a completação da proposição por eles colocada em termos gerais não operacionais. Vejamos os sinais disso em Locke: “Pensamento e movimento ( que são as duas idéias que compreendem dentro delas toda a ação), e poder, de onde essas ações são concebidas fluir. Essas simples idéias, eu digo, de pensar, movimento, e poder, tem sido aquelas, que tem sido mais modificadas; e para fora das quais modificações tem sido feitas em mais complexos modos, com nomes apostos a eles. Pois a ação sendo o grande negócio da humanidade, e toda a matéria a respeito da qual todas as leis são convergentes, não é de admirar, que os diversos modos de pensar e de movimento, devessem ser anotados, a idéia deles observada, e depositada na memória, e ter nomes adicionados a eles, sem o que, leis não poderiam ser senão mal feitas, ou o vicio e a desordem reprimidos. Nem poderiam quaisquer comunicações ser bem praticadas entre os homens, sem tais complexas idéias, com nomes adicionados a elas: e por isso os homens tem colocado nomes, e supostas idéias assentadas em suas mentes, dos modos de ação distinguidos pelas suas causas, meios, objetos, finalidades, instrumentos, tempo, lugar, e outras circunstâncias, e também de seus poderes adequados para tais ações.”

136 Mauss chegou até à proposição de uma tipologia da ação, mas não tinha condições, a seu tempo, sem a revolução comunicacional-informacional de hoje, de conceber o mecanismo para acionar sua estruturação e as pesquisas empírico-experimentais tornadas possíveis hoje, a partir de tais tipologias, da ação e da informação que condiciona as ações. Vejamos o que diz Lévi-Strauss sobre a realização intelectual de Mauss nessa direção. Lévi-Strauss: “Mauss sublinhava a necessidade urgente, a saber, o inventário e a descrição de todos os usos que os homens, no decurso da história e sobretudo através do mundo, fizeram e continuam a fazer dos seus corpos. Nós colecionamos os produtos da indústria humana e colhemos textos escritos ou orais. Mas as possibilidades, tão numerosas e variadas de que é susceptível este instrumento que é o corpo do homem – embora universal e colocado à disposição de cada um – continuamos a ignorá-las, salvo aquelas, sempre parciais e limitadas, que fazem parte das exigências da nossa cultura particular. (...) Desejar-se-ia que uma organização internacional como a UNESCO se dedicasse à realização do programa traçado por Mauss nesta comunicação. A criação de arquivos internacionais das técnicas corporais que fariam o inventário de todas as possibilidades do corpo humano, dos métodos de aprendizagem e exercícios empregados para a montagem de cada técnica, representaria uma obra verdadeiramente internacional, pois não há no mundo um único grupo humano que não possa trazer a este empreendimento uma contribuição original.” Mauss, como refere Levy-Strauss, define a forma dos modelos de cultura como baseada em séries de comportamentos relacionais, dentro da sociedade, padronizados dentro de um mundo de relações simbólicas, que nós denominamos como ‘formas’ de ação. Cultura é a forma da ação, que é transmitida por informação, até dentro de níveis epigenético e genético. Variando apenas o tempo que leva para se processarem os diferentes tipo de retransmissão.

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A classificação do conhecimento - que Leibnitz levou até à preocupação com a construção de um enciclopédia matemática a respeito - relacionada com o uso do conhecimento, obviamente em ações, também já foi preocupação de vários pensadores. A classificação do conhecimento fora do relacionamento com a ação é algo que é desenvolvido na biblioteconomia, e na classificação abstrata das ciências. A classificação relacionada com a ação, envolve, naturalmente, muito maiores dificuldades de definição. O conhecimento pode ocupar lugares de relacionamento com mais do que uma ação. Wiener advertiu que a participação de todos os indivíduos com suas experiências de vida tem que ser incorporada ao esforço classificatório. Sendo que a classificação tentada por um ou poucos indivíduos requer o que ele chamou de ‘catolicidade de interesse leibnitziano’. A classificação tipológica científica holística das ações humanas, e do conhecimento, da informação, que as condiciona, requer uma revolução classificatória, uma redefinição dos conceitos de ação sapiens e de aplicação dos conhecimentos humanos disponíveis. Tarefa para milhares e milhares de cientistas, da mesma forma como foi tarefa para milhares e milhares de cientistas as classificações da fauna e da flora dentro da biologia. T.S. Kuhn, e Locke fazem comentários sobre isso. Kuhn: “ O aspecto central de qualquer revolução é, então, que algumas das relações de similaridade mudam. Objetos que eram agrupados no mesmo conjunto antes são agrupados em diferentes conjuntos depois e vice-versa. Pense em sol, lua, Marte, e terra antes e depois de Copernicus; na queda livre, pendular, e no movimento planetário antes e depois de Galileu; ou nos sais, alcalinos, e misturas de limalha de ferro sulfúrico antes e depois de Dalton. Uma vez que a maior parte dos objetos dentro mesmo dos conjuntos alterados continuam a ser agrupados juntos, os nomes dos conjuntos são 137usualmente preservados. Todavia, a transferência de um subconjunto é ordinariamente parte de uma mudança crítica na rede de inter-relações entre eles. Transferir os metais do conjunto de compostos para o conjunto de elementos representou um papel essencial no emergir de uma nova teoria da combustão, da acidez, e das combinações físicas e químicas. (...) b) Esse tipo de experiência – as peças subitamente se re-arrumando e se organizando de uma nova maneira – é a primeira característica geral da mudança revolucionária que isolarei após considerar mais alguns exemplos. Embora as revoluções científicas deixem muita coisa para ser gradualmente completada, a mudança central não pode ser experienciada de modo fragmentado, um passo de cada vez. Ao contrário, ela envolve uma transformação relativamente súbita e não estruturada de padrões que antes não eram visíveis.” Locke liga essa redefinição ao uso que será feito do conhecimento, quando diz que a uma visão mais detalhada e profunda das coisas tem que corresponder uma redefinição do uso dessa visão ou o conhecimento perde a funcionalidade. A tipologia básica da ciência do comportamento pós-revolução comunicacional-informacional, facultadora da pesquisa ampla e organizada do assunto, utilizando-se a tecnologia comunicacional-informacional moderna, é algo que está sendo sugerido por essa tecnologia, e esperando pelas definições sistêmicas para um cruzamento ininterrupto da totalidade do conhecimento humano com a totalidade da ação humana, para se estudar a fundo e persistentemente esse relacionamento, e as possibilidades de benefício para todas as ações de todos os indivíduos da espécie sapiens. Quando falamos de tipologias da ação e do conhecimento, estamos pedindo a organização, como fez Locke, de dicionários ou catálogos, classificatórios, da ação e do conhecimento a ela aplicado. Um catálogo ou dicionário orgânico, da ação sapiens

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completa, auxiliado por um sistema operado na Internet, poderá ajudar os indivíduos a escolher sua ação com plena liberdade sapiens. Isto é, a partir do exame da lista completa das possibilidades de ação humanas. Para depois se servir a ação escolhida com toda a informação humana que possa otimizá-la. Se não em termos absolutos, ao menos de maximização da busca, da escolha e da otimização. Dois grandes pensadores que entenderam plenamente a necessidade do dicionário ou catálogo da ação sapiens, humana, foram Locke e Mauss. Locke: “Para concluir, vamos examinar alguns modos de ação, v.g. consideração e assentimento, que são ações da mente, correr e falar, que são ações do corpo; vingança e assassinato, que são ações de ambos juntos, e nós as encontraremos como outras tantas coleções de idéias simples, que reunidas compõem as complexas significadas por aqueles nomes. Eu penso que eu não necessitarei observar aqui, que ainda que poder e ação compõem a maior partes desses modos misturados, marcados por nomes, e familiares nas mentes e bocas dos homens, ainda assim, outras idéias simples, e suas diversas combinações, não estão excluídas. Muito menos, eu penso, será necessário que eu enumere todos os modos mistos, que tem sido estabelecidos, com nomes adicionados a eles. Isto seria produzir um dicionário da maior parte das palavras usadas na divindade, na ética, na lei, na política, e diversas outras ciências.” Mauss, citado por Lévi-Strauss: “Mauss mostrou-se durante toda a sua vida obsidiado pelo preconceito comtista, que reaparece constantemente neste volume, segundo o qual a vida psicológica só pode adquirir sentido em dois planos, o do social, que é lingüístico, ou o do fisiológico, quer dizer, a outra forma, tácita, da necessidade do vivo. Nunca ele foi mais fiel ao seu pensamento profundo e nunca traçou melhor ao etnólogo a sua missão de astrônomo das constelações humanas do que nessa fórmula em

138que reuniu o método, os meios e o objetivo último das nossas ciências, e que todos os institutos de etnologia poderiam inscrever nos seus frontões: É preciso, antes de tudo o mais elaborar o catálogo do maior número possível de categorias, é preciso partir de todas aquelas que saibamos terem sido utilizadas pelos homens. Ver-se-á então que ainda há muitas luas mortas, pálidas, ou obscuras, no firmamento da razão. (...) Nós nos sentimos obrigados a procurar conhecer a razão por que Mauss se deteve à beira destas imensas possibilidades, como Moises conduzindo o seu povo a uma terra prometida de que jamais viria a contemplar o esplendor. Deve haver algures uma passagem decisiva que Mauss não transpôs e que pode decerto explicar porque é que o ‘novum organum’ das ciências sociais do século XIX que dele se podia esperar, e de que ele possuía todos os fios condutores, nunca se apresentou senão sob a forma de fragmentos.” Se tal catálogo ou dicionário for complementado por um catálogo ou dicionário que classifique organicamente todo o conhecimento aplicado dentro da ordem estabelecida pelo catálogo ou dicionário da ação sapiens, será possível organizar-se um serviço de distribuição automática, a todas tais ações, da totalidade do conhecimento humano que possa otimizá-las. Leibniz propôs, inclusive, uma enciclopédia que cobrisse com cálculo todo o conhecimento. O que importa aqui, contudo, são as implicações que este ideal tinha para Leibniz. O cálculo iria cobrir todo o conhecimento; isso portanto pressupõe como uma base uma enciclopédia que conteria, numa forma não-simbólica, tudo que era até ali conhecido. Leibniz escreveu muitos esboços de uma introdução a tal enciclopédia, mas ele nunca completou o empreendimento. Contudo, os produtos derivados do plano foram importantes. Leibniz reconheceu o essencialmente cooperativo caráter do empreendimento, e assim foi

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conduzido a apoiar a fundação de novas academias e de um novo jornal erudito, o ‘Acta Eruditorum’. Mas o cálculo necessitava, mais do que uma enciclopédia; ele iria não apenas cobrir todo o conhecimento, ele iria também colocá-lo dentro de uma forma sistemática. Um catálogo, ou dicionário, do conhecimento aplicado às ações, cruzado com o catálogo, ou dicionário, das ações, nos permitirá estruturar um serviço de distribuição automática das informações às ações que elas podem otimizar. Sem necessidade, para isso, das ‘buscas’ ineficientes por parte dos indivíduos desinformados. Pois ‘só Alá’, isto é, só o sistema, ‘conhece o desconhecido’. Da mesma forma como organizamos os serviços de distribuição de água ou de energia elétrica a todas as necessidades de consumo. Foram esses dois catálogos, ou dicionários, inspirados agora pela natureza e tecnologia da revolução comunicacional-informacional moderna, que faltou a Mauss imaginar para operacionalizar sua proposição de programar o aperfeiçoamento maciço, intensivo e completo, da estrutura comportamental da humanidade. Em todos os indivíduos, vinte e quatro horas por dia. A construção de tais catálogos ou dicionários, orgânicos, requer uma vasta reestruturação de linguagem. “A linguagem” – diz Wiener - “...é um jogo conjunto, de quem fala e de quem ouve, contra as forças da confusão.” E Wiener acrescenta, pg. 84: “A linguagem é o maior interesse e a consecução mais características do homem.” E Althusser, citando Lacan, reforça o que diz Wiener sobre a função de ordenação da linguagem: “Está aí, sem dúvida, a parte mais original da obra de Lacan: a sua descoberta. Esta passagem da existência (no puro limite) biológica à existência humana (filho de homem), demonstrou Lacan que era realizada sob a Lei da Ordem, que eu designarei por Lei da Cultura, e que esta Lei da Ordem se confundia na sua essência formal com a ordem da linguagem.” Cibernética do comportamento, seu controle via informacional, para otimização das ações humanas, uma combinação de linguagem com a matemática

139do condicionamento dos reflexos, ou aprendizagem, pelo bombardeio informacional por parte do meio-ambiente. Linguagem e técnica matemática da comunicação demandam modelos fundamentados na classificação e cruzamento das tipologias de ação e de conhecimento aplicado às ações. Wiener e Foucault sugerem, mas vagamente, o caminho. Wiener: “O propósito da Cibernética é o de desenvolver uma linguagem e técnicas que nos capacitem, de fato, a haver-nos com o problema do controle e da comunicação em geral, e a descobrir o repertório de técnicas e idéias adequadas para classificar-se as manifestações específicas sob a rubrica de certos conceitos. b) Foucault: “Mas não foi na sua relação com as matemáticas que a biologia conquistou a sua autonomia e definiu a sua positividade. O mesmo se passou com as ciências humanas: foi o envolvimento sobre si mesmo do trabalho, da vida e da linguagem que prescreveu do exterior o aparecimento deste novo domínio. (...) b) Um vasto deflúvio conduziu, pois, as ciências humanas de uma forma mais densa em modelos vivos a uma outra mais saturada de modelos extraídos da linguagem.” A reestruturação da linguagem, via remodelagem sistêmica, traz embutida a revolução que busca a evolução da cultura. Na Introdução à ‘Antologia do Estruturalismo’ encontramos sublinhada essa condição que envolve a base dos modelos estruturalistas, buscados pelas tipologias da ação e da informação que condiciona a ação, dentro da ciência do comportamento abordada via técnicas da revolução comunicacional-informacional. Estruturalismo, Antologia: “Uma teoria nova implica sempre uma linguagem nova, e que a eficácia do seu discurso depende inteiramente dessa novidade. (...)

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Nada de mais essencial para uma sociedade do que o escalonamento das suas linguagens. Mudar esse escalonamento, deslocar a palavra, é fazer uma revolução. (...) Mas uma nova linguagem, uma ruptura epistemológica, e a produção de novos conceitos podem repentinamente alterar a formulação de um problema e, portanto, o modo de o resolver. A partir de então, sabemos que avançamos, que eliminamos definitivamente determinadas dificuldades, e que as questões que nos surgem agora são questões que vêm depois, que pertencem já a uma fase posterior do processo de conhecimento.” E Althusser: “Depois que, nesta convocação da cura pela linguagem, transparece a presença atual, perpetuada, da absoluta eficácia da ordem na própria passagem, da Lei da Cultura no devir humano.” Foi longo o tempo necessário para milhares de cientistas desenvolverem as classificações da fauna e da flora, na biologia. A mesma coisa se dará com os esforços necessários para classificar cientificamente a totalidade da ação humana e dos conhecimentos e informações que têm o poder de otimizar essas ações. Mas o poder das palavras dentro dessas tipologias desenhadas em termos orgânicos, sistêmicos, é o caminho para a ordenação positiva do comportamento da sociedade humana como um todo. E envolve, com isso, a maximização de nosso poder em termos evolutivos e culturais sapiens. Processo que está mergulhado, por enquanto, nos parâmetros trágicos de uma desorganização que impulsiona a humanidade pelo caminho do risco de uma auto-extinção. Por fracasso de comportamento sapiens. Isto é, de comportamento que saiba, que esteja devidamente informado.

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxVIIC - III CÉREBRO SAPIENS: ARTICULAÇÃO ADEQUADA ENTRE CÉREBROS E INTERNET.xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

140 VIIC1 - ANALOGIAS E COMPLEMENTARIDADE ENTRE CÉREBRO E COMPUTADOR. A comparação do homem com a máquina ofende tanto o nosso orgulho humano como a comparação do homem com o macaco. b) Wiener: “Pois a idéia de que a suposta criação do homem e dos animais por Deus, o gerar dos seres vivos de acordo com seus tipos, e a possível reprodução das máquinas são tudo parte da mesma ordem de fenômenos é emocionalmente perturbadora, da mesma forma como as especulações de Darwin a respeito da evolução e descendência do homem foram perturbadoras. Se é uma ofensa contra nosso auto-orgulho ser comparados com um macaco, nós temos agora que passar quase completamente por cima disso. E é uma até mesmo maior ofensa ser comparado com uma máquina.” O ponto de partida para o raciocínio cibernético de Norbert Wiener e seus colegas cientistas, o principal deles, o Dr. Rosenblueth, foi a idéia da unidade essencial do conjunto de problemas centrado em torno da comunicação, controle, e mecânica estatística, quer na máquina ou no tecido vivo. Existem, sim, pontos de semelhança. Tanto o cérebro quanto a máquina são aparatos que recebendo informação reagem com alguma ação anti-entropia. Wiener: “A minha tese é a de que o funcionamento físico do indivíduo vivo e o de algumas das máquinas de comunicação mais recentes são exatamente paralelos no esforço análogo de dominar a entropia através da realimentação (feedback). (...) A máquina, à semelhança do organismo vivo, é, conforme eu já disse, um dispositivo que parece resistir,

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local e temporariamente, à tendência geral para o aumento da entropia. Mercê de sua capacidade de tomar decisões, pode produzir, à sua volta, uma zona de organização num mundo cuja tendência geral é deteriorar-se. (...) b) A nova ciência da cibernética, a ciência da comunicação e controle, quer nas máquinas ou em organismos vivos.” O que quer dizer que com algum tipo de organização, biológica ou mecânica, temos a cibernética. A máquina funciona com a mesma lógica do sistema nervoso, ao receber as informações, e com elas organizando alguma ação. Wiener: “O sistema nervoso e a máquina automática são, pois, fundamentalmente semelhantes no constituírem, ambos, aparelhos que tomam decisões com base em decisões feitas no passado. Os mais simples dispositivos mecânicos têm de decidir entre duas alternativas, como ligar ou desligar uma chave. No sistema nervoso, a fibra nervosa individual também decide entre conduzir ou não um impulso. Tanto na máquina quanto no nervo, há um dispositivo específico para fazer com que as decisões futuras dependam das passadas, e no sistema nervoso, boa parte dessa tarefa é realizada naqueles pontos extremamente complicados denominados ‘sinapses’.” Ficou bastante claro para Wiener que a moderna ultra-rápida máquina de computação é em princípio um sistema nervoso central ideal para um aparato visando controle automático. Ficou claro que é um fato merecedor de nota que o sistema nervoso humano e animal, que são conhecidos por serem capazes do trabalho de um sistema de computação, contém elementos que são idealmente adequados para agir como relês. Esses elementos são os assim chamados ‘neurônios’ ou células nervosas. Wiener: “Este é o fundamento, pelo menos em parte, da analogia entre máquinas e organismos vivos. A sinapse, no organismo vivo, corresponde ao dispositivo comutador da máquina. ” Fisiologistas e técnicos em computadores concordam sobre isso e já unificaram parte da linguagem cibernética da comunicação e controle biológico e mecânico. Sem qualquer dúvida, a lógica da máquina assemelha-se à lógica humana, e, seguindo esse raciocínio básico, podemos empregá-la, a lógica da máquina, para lançar luz sobre a lógica humana. Os fisiologistas já deram apresentação conjunta dos

141 problemas cibernéticos de seu ponto de vista. Igualmente, os designers de máquinas de computação apresentaram seus métodos e objetivos. Dentro dos termos dessa comparação foi se tornando claro para todos que há uma base comum substancial de idéias entre os trabalhadores nos dois diferentes campos, que as pessoas em cada grupo das duas especializações podem usar noções que tem sido melhor desenvolvidas pelos outros. E várias tentativas já foram e estão sendo feitas de se alcançar um vocabulário comum.” b) Wiener: “Contudo, por mais diferentes que as reproduções mecânica e biológica possam ser, elas são processos paralelos, alcançando resultados similares, e uma prestação de contas por uma pode bem produzir relevantes sugestões no estudo da outra.” Isso não significa, naturalmente, que cérebro e máquina sejam absolutamente iguais. Quando compara o organismo vivo como tal à máquina, nem por um momento Wiener pretende dizer que os processos físicos, químicos e espirituais, específicos da vida, tal como conhecemos habitualmente, sejam os mesmos que os das máquinas simuladoras de vida. Quer simplesmente dizer que ambos podem exemplificar localmente processos anti-entrópicos, que talvez possam ser exemplificados de muitas outras maneiras que, naturalmente, não devemos chamar nem de biológicas nem de mecânicas. b) Wiener: “Assim, tão longe quanto o número de termos disponíveis e a precisão da técnica de engenharia permitem, nós temos produzido uma caixa preta desconhecida, em sua própria

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operação, para transferir seu modelo de ação para uma complexa caixa branca inicialmente capaz de assumir qualquer modelo de ação. Isto é de fato muito similar ao que ocorre no ato fundamental da reprodução da matéria viva. Aqui, também, uma substância capaz de assumir um grande número de formas, estruturas moleculares neste caso, é levada a assumir uma forma particular pela presença de uma estrutura – uma molécula – que já possui esta forma.” Quando se apresenta essa discussão dos sistemas que multiplicam a si mesmos para os filósofos e bioquímicos, enfrenta-se a declaração: ‘Mas os dois processos são inteiramente diferentes’. Qualquer analogia entre a vida e o não-vivo deve ser puramente superficial. Certamente o detalhe do processo da multiplicação biológica é compreendido, e não tem nada a ver com os processos que se pode invocar para a multiplicação das máquinas. Muito longe disso. E as diferenças não poderão, provavelmente, jamais ser contornadas totalmente. Mas a afinidade cibernética das duas coisas, cérebro e máquina, nos permite compor entre elas uma articulação que coloque as máquinas a serviço dos cérebros de um modo altamente produtivo. O principal erro nessa tentativa é querer fazer a máquina substituir o cérebro. Isso é impossível de forma absoluta. Na articulação das duas coisas, cada uma delas tem que cumprir o seu papel. E o papel mais importante da máquina, do computador, será o de ampliar o poder do cérebro, não substituí-lo. Já deu para se entender perfeitamente que não é a vazia estrutura física da máquina de computação que corresponde ao cérebro - ao cérebro adulto, pelo menos - mas a combinação dessa estrutura com as instruções dadas a ela no começo de uma cadeia de operações, e com todas as adicionais informações estocadas e recebidas do exterior no curso dessa cadeia. A máquina já fez isso, ampliar o poder de alcance do cérebro, no cálculo e na memória. O próximo passo mais importante de colaboração da máquina com a ampliação da cibernética do cérebro está sendo apontado pela revolução comunicacional-informacional. Será possibilitar ao ser humano escolher sua ação a partir do exame da lista da totalidade das possibilidades de ação humanas. Isto é, a construção da maximização da liberdade sapiens. E depois enviar automaticamente à ação escolhida pelo indivíduo a totalidade da informação, do conhecimento, que possa otimizá-la. Os atuais sistemas de “busca” são um fracasso nesse sentido. Pois ‘Só Alá’,

142 isto é, só o sistema, ‘conhece o desconhecido’. As diferenças entre máquinas e cérebros são enormes. Mas a harmonização do funcionamento conjunto das duas coisas pode ser enorme também. Atualmente é medíocre. Por causa da pretensão equivocada de fazer a máquina substituir o cérebro. Em vez de compor com as duas coisas juntas, adequadamente combinadas, um cérebro superior biotecnológico. O III cérebro sapiens, com o artifício - que a natureza sapiens cria abundantemente - reforçando uma função biológica natural. Da mesma forma como a roda substitui as pernas na mesma operação, o deslocamento, sem que as duas coisas jamais se transformem uma na outra de forma absoluta, as rodas dispensando totalmente as pernas dentro do processo de vida. Substituindo-se todas as pernas por rodas, por essas serem mais velozes no deslocamento. Como o computador é mais veloz no cálculo e na memória. Mas não consegue - nem conseguirá provavelmente - substituir totalmente o cérebro também. Cabendo, sim, organizar-se um altíssimo nível de complementaridade entre os dois.

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VIIC2 - O USO DA MÁQUINA PARA ESCRAVIZAR O HOMEM.

O perigo da máquina está no uso que o homem faz dela. Se o uso for para servo-mecanizar os indivíduos, o desastre para a espécie sapiens, com a maioria dos indivíduos transformados em peças mecânicas, complementares às máquinas, pode ser total. Há sinais de consciência sobre o problema, mas também sinais abundantes de que a ganância só quer transformar as máquinas em bezerros de ouro, servo-mecanizando o homem para isso. Wiener: “Quando afirmo que o perigo da máquina para a sociedade não provém da máquina em si, mas daquilo que o homem faz dela, estou, na realidade, sublinhando a advertência de Samuel Butler.” O desenvolvimento das máquinas e de sua automatização tem oferecido possibilidades tanto para o bem como para o mal. Por uma razão, que fez o domínio das máquinas, como imaginado por Samuel Butler, um muito imediato e não metafórico problema. Ele dá à raça humana uma nova e muito efetiva coleção de escravos mecânicos para realizar seu trabalho. Tal trabalho mecânico não tem as propriedades econômicas do trabalho escravo, ainda que, diferente do trabalho escravo, ele não envolve o direto desmoralizante efeito da crueldade humana. Contudo, qualquer trabalho que aceite as condições de competição com o trabalho escravo aceita a condição de trabalho escravo, e é essencialmente trabalho escravo. A palavra chave desta afirmação é competição. Pode muito bem ser uma boa coisa para a humanidade fazer com que as máquinas removam dela a necessidade de tarefas menos agradáveis, ou pode não ser, nós não sabemos. Antes de programá-las para seus efeitos maléficos ou benéficos. Wiener: “ A nova revolução industrial é, pois, uma espada de dois gumes. Pode ser usada para o benefício da humanidade, mas somente se a humanidade sobreviver o bastante para ingressar num período em que tal benefício seja possível. Pode ser também usada para destruir a humanidade, e se não for empregada inteligentemente, pode avançar muito nesse caminho. Há, contudo, sinais esperançosos no horizonte. Desde a publicação da primeira edição deste livro, participei de duas grandes reuniões com representantes do mundo empresarial e fiquei encantado com a consciência que muitos dos presentes demonstraram dos perigos sociais de nossa nova tecnologia e das obrigações sociais dos responsáveis pela direção de cuidar de que as novas modalidades sejam usadas para benefício do homem, para incremento de seu

143lazer e enriquecimento de sua vida espiritual, em vez de o ser apenas por amor do lucro e pela adoração da máquina como um novo bezerro de ouro.” A máquina como ferramenta de domínio pode ir ao ponto de gerar sistemas sociais e políticos que se comportem dentro de sua lógica, com a cibernética do processo transformada apenas numa mecânica de poder de uma minoria sobre uma maioria. Está bastante claro o porquê alguns querem, via máquina, dominar, o que procuram e qual é a sua estratégia global, e como funcionam as coisas ao nível do processo de sujeição ou dos processos contínuos e ininterruptos que sujeitam os corpos, dirigem os gestos, regem os comportamentos, etc. Wiener: “Seu verdadeiro perigo, contudo é muito diverso – é o de tais máquinas, embora inermes por si mesmas, poderem ser usadas por um ser humano ou por um grupo de seres humanos para aumentar seu domínio sobre o restante da raça humana; ou o de líderes políticos poderem tentar dominar suas populações por meio não das próprias máquinas, mas através de técnicas políticas tão exíguas e indiferentes à

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possibilidade humana quanto se tivessem sido, de fato, concebidas mecanicamente. (...) No conhecido jornal de Paris, Le Monde, edição de 28 de dezembro de 1948, um frade dominicano, Père Dubarle, escreveu uma resenha muito arguta do meu livro ‘Cibernética’. Citarei uma sugestão sua que confirma algumas das terríveis implicações da máquina de jogar xadrez crescida e enfiada dentro de uma armadura.” As máquinas são escravos mecânicos, capazes de transformar seres humanos em escravos mecânicos também. O desenvolvimento nessa direção, visando lucros, por parte de poucos indivíduos e grupos, é acelerado no mundo de hoje. Os escravos mecânicos, portanto, as máquinas, oferecem à humanidade esse grande risco: o de transformar a maioria dos seres humanos, os desinformados, em escravos mecânicos também. b) Wiener: “Uma vez que o senhor se torna ciente de que algumas das supostamente humanas funções de seus escravos podem ser transferida para a máquina, ele fica deliciado. Por fim ele tem encontrado o novo subordinado – eficiente, subserviente, dependente em sua ação, nunca retrucando, rápido, e não exigindo um único pensamento de consideração pessoal. (...) b) Não, o futuro oferece muito pouca esperança para aqueles que esperaram que nossos novos escravos mecânicos nos oferecerão um mundo no qual nós podemos descansar de pensar. Eles podem nos ajudar, mas ao custo de supremas demandas sobre nossa honestidade e nossa inteligência.” A fábrica automática e a linha de montagem sem agentes humanos estão tão desenvolvidas hoje, que podemos comparar essa revolução, essa guerra entre o ser humano e a automação, ao que foi feito na segunda guerra mundial pelo desenvolvimento da técnica de radar, que com suas conseqüências acabou mudando totalmente o mapa do poder dentro do mundo. Wiener: “Em tais circunstâncias, a indústria será inundada com as novas máquinas na medida em que estas demonstrem propiciar lucros imediatos, pouco importando os danos que, a longo prazo, possam ocasionar.” O indivíduo que tem apenas a sua força física para oferecer, substituível pela da máquina, tem que ser recondicionado para o uso de sua força mental. Se isso não for feito, o desemprego produzido pelas máquinas será desastroso, sem dúvida, para a maioria da humanidade, vivendo na desinformação com relação à evolução da civilização científico-tecnológica, que não tem volta atrás, como evolução sapiens. Wiener: “Em todos os aspectos importantes, o homem que nada tenha para vender a não ser sua força física nada tem para vender que valha a pena comprar.” b) Wiener “O problema do desemprego levantado da automatização não é mais

144 conjectural, mas tem se tornado uma dificuldade muito vital da moderna sociedade.” E esse problema, da má utilização da máquina, sem a reabilitação mental dos que ela deslocou do trabalho mecânico, ataca tanto as livre-economias, do capitalismo, como o proletariado dos regimes socialistas.

VIIC3 - III CÉREBRO SAPIENS: ARTICULAÇÃO ADEQUADA CÉREBROS- INTERNET.

A articulação adequada entre cérebros e computadores não está na substituição dos cérebros pelos computadores. Mas sim na complementação e ampliação do poder dos cérebros pelos computadores. Da mesma forma como a roda não substitui a perna, quando acelera nosso poder de deslocamento. De forma bem geral, a roda faz a mesma coisa que faz a perna. Desloca o indivíduo por uma determinada distância. Com

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algumas diferenças. A principal delas velocidade. De forma geral também o computador e o cérebro fazem a mesma coisa. Recebem mensagens e projetam mensagens, organizando ações. Com diferenças um pouco maiores que entre a perna e a roda. O computador tem a memória maior e faz cálculos mais complexos com maior velocidade. O cérebro continua sendo o mais poderoso mecanismo de decisão e de criação. A tese de Wiener é a de que a sociedade só pode ser compreendida através de um estudo das mensagens e das facilidades de comunicação de que disponha; e de que, no futuro desenvolvimento dessas mensagens e facilidades de comunicação, as mensagens entre o homem e as máquinas, entre as máquinas e o homem, e entre a máquina e a máquina, estão destinadas a desempenhar papel cada vez mais importante. b) Wiener: “Para nós, uma máquina é um equipamento para converter mensagens que entram em mensagens que saem. (...) b) Como o engenheiro diria em seu jargão, uma máquina é um transdutor múltiplo de ‘in-puts’ e de ‘out-puts’.” A idéia de fazer uma máquina, construir um robô, que faça tudo que o cérebro humano faz, dispensando totalmente o cérebro, seria a mesma coisa que a de amputar a perna e colocar no lugar dela uma roda. Uma coisa é tão ingênua e tão grotesca quanto a outra. Assim como a roda precisa da perna para apertar o acelerador, etc., o computador precisa do cérebro para programá-lo, para construir a primeira máquina que depois construirá as demais. O que está longe de ter sido alcançado de forma completa. O que precisamos fazer, com urgência – antes do desastre comportamental advertido por Skinner – é articular as duas coisas, cérebros e máquinas, de maneira a formar com os dois juntos um cérebro artificial, conjuminado, externo, tecnológico, coletivo e democrático, superior aos dois que já possuímos, o genoma e o cérebro biológico individual. Wiener: “Para todas essas formas de comportamento, e particularmente para as mais complicadas, é mister possuirmos órgãos decisórios centrais, que determinem o que a máquina fará a seguir, com base na informação que lhe foi retransmitida e que ela armazena por meios análogos aos da memória de um organismo vivo.” Da mesma forma como roda e perna, em conjunto, produzem o resultado de velocidade da Fórmula-1. Construir robôs com a aparência humana, pensando em levá-los até o comportamento completo facultado pelo nosso cérebro, para nos substituir em tudo, é um entretenimento pueril que representa a mesma coisa que a idéia de amputar todas as pernas humanas e substituí-las todas por rodas. Na conjunção cérebro-máquina, se dermos à máquina o incrível papel de reforçador do cérebro que ela pode ter (já oferece memória, cálculo, etc.) e se dermos ao cérebro o papel decisório e criativo insubstituível, por enquanto, em sua totalidade, a

145máquina reforçando mais a idéia de comunicação, estaremos no caminho certo. Wiener: “O desenvolvimento dessas máquinas computadoras foi muito rápido a partir da guerra. Para um vasto campo de trabalho computacional, demonstraram ser muito mais rápidas e acuradas que o computador humano. Sua velocidade atingiu, desde então, tal grau, que qualquer intervenção humana intermediária em seu trabalho está fora de cogitação. Suscitam, portanto, a mesma necessidade de substituir capacidades humanas por capacidades mecânicas como as que encontramos no computador antiaéreo. As partes da máquina devem falar umas com as outras por meio de uma linguagem apropriada, sem falar a, ou ouvir, qualquer pessoa, a não ser no estágio inicial e terminal do processo. Temos aqui, novamente, um elemento que contribuiu para aceitação geral da extensão, às máquinas, da idéia de comunicação.” Se combinarmos adequadamente cérebros e

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máquinas, então sim criaremos algo artificial, misto, que vai bater em produtividade tanto o cérebro biológico individual, quanto as máquinas pretensamente pensantes. Vamos chamar isso de III cérebro sapiens. Artificial, como a roda. E organizar com isso melhor a nossa ação e combater a entropia da civilização científico-tecnológica, que produz muito conhecimento e consome muito pouco dele em aplicações pela nossa sobrevivência, qualidade de vida, felicidade sapiens. Da humanidade como um todo. Que já tem condições tecnológicas de dispor desse III cérebro sapiens, composto com a articulação adequada cérebros-máquinas. Da mesma forma como a articulação roda-perna produziu a velocidade da Formula-1. Montagem cérebros-máquinas em comparação com a qual os robozinhos humanóides representam uma brincadeira pueril. Wiener: “Quando afirmo que o perigo da máquina para a sociedade não provém da máquina em si, mas daquilo que o homem faz dela, estou, na realidade, sublinhando a advertência de Samuel Butler.” O uso da máquina como substituta dos músculos e do raciocínio mecânico humanos está bastante avançado. E não continuará sendo uma má coisa se desenvolvermos agora a máquina como fortalecedora, potencializadora, do cérebro humano. O ponto de partida para se conseguir fazer isso já está aí, nos computadores e na Internet. Temos que aprender a ampliar os poderes de nosso cérebro, usando para isso os computadores e a Internet adequadamente combinados com o nosso cérebro. E o modo de fazê-lo é preservar dentro do sistema de articulação cérebro-máquina a lógica integral do cérebro, e o controle por parte do cérebro. E usar a máquina para reforçar o desempenho de nosso cérebro biológico individual. Vamos chamar a isso a estruturação de nosso III cérebro sapiens, depois do genoma e do cérebro biológico individual. Além de calcular com mais eficiência e armazenar uma memória muito maior do que a de nosso cérebro biológico individual, podemos usar as máquinas para cruzar ininterruptamente, vinte e quatro horas por dia, a totalidade do conhecimento humano com a totalidade da ação humana, colocando esse mecanismo cerebral a serviço de todos os indivíduos da espécie sapiens. O cérebro artificial, externo, tecnológico-biológico, coletivo, democrático, assim estruturado - não como substituto mas como reforço do nosso cérebro biológico individual - nos encaminharia a todos para trabalhos de textura cerebral, e não mecânica. Compensando o desemprego mecânico produzido pelas máquinas adotadas nas primeiras etapas da tecnologia que veio substituir nossos músculos e que precisa agora apoiar a ação de nosso cérebro, nos convertendo a todos em trabalhadores intelectuais de maior potencialidade. Com o poder cerebral ampliado pelas máquinas. Mas conservando integralmente a lógica funcional do nosso cérebro, à qual as máquinas têm que se submeter como servo-mecanismos do homem. E não o

146contrário, como estamos fazendo ao servo-mecanizar os indivíduos sob o controle das máquinas. Dentro de uma escravização informacional generalizada. A aprendizagem através das máquinas, dos computadores, pode ser acoplada à aprendizagem de nosso próprio cérebro, de modo a reforçar esta com os potenciais das máquinas, dos computadores, que poderão ampliar os potenciais de nossos cérebros, se a articulação entre as duas coisas for feita de forma adequada. Com a máquina fazendo o que compete à máquina e o cérebro fazendo o que compete ao cérebro. Assim como a roda é uma perna artificial que apenas reforçou a capacidade de deslocamento do homem, sem prejudicar o uso – que continua programável – das pernas

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naturais, a aprendizagem pela máquina não prejudicará, ou substituirá, o uso de nossa aprendizagem natural, que continuará programável dentro da nossa cibernética individual e social reforçada pela ajuda das máquinas. Pois a lógica da atividade criativa da natureza e da máquina partilham conceitos funcionais. A máquina sendo capaz de aprendizagem. b) Wiener: “Eu agora percorri um número de ensaios que são unidos pela cobertura de todo o tema da atividade criativa, desde Deus até à máquina, sob o mesmo conjunto de conceitos.” Quando um autômato está funcionando, as regras de sua operação estão sujeitas à possibilidade de alguma mudança, em função dos dados que tem passado através de seus receptores no passado, e isso não é nada diferente, em termos gerais, do processo de aprendizagem humana. É preciso, nos dois casos, o individual e o social, que nos preocupemos com a aprendizagem da cibernética humanística geral, da espécie sapiens como um todo, que inclui a programação adequada de todos os comportamentos naturais e também de todos os comportamentos artificiais criados pela humanidade. A automação, através de verdadeiros reflexos condicionados, poderá nos ajudar, no contexto holístico, a nos salvar das limitações condicionadas pela radicalização das especializações na maioria dos indivíduos. Não há nada na natureza da máquina de computação que deixe demonstrar que ela seja incapaz de funcionar com base em reflexos condicionados. Wiener: “Acredito que a brilhante idéia de Ashby, do mecanismo fortuito sem propósito, que busca seu propósito através de um processo de aprendizagem, além de ser uma das grandes contribuições filosóficas da atualidade, conduzirá a progressos técnicos sumamente úteis no campo da automatização. Não apenas poderemos construir máquinas para determinados propósitos; mas, na esmagadora maioria dos casos, uma máquina ideada para evitar certas ciladas ocasionadoras de colapso buscará propósitos que possa atender.” Em outras palavras, quaisquer desenvolvimentos especializados só produzem efeitos colaterais negativos quando relaxamos, esquecemos, o desenvolvimento holístico da humanidade, da humanidade como um todo, a aprendizagem que a máquina pode nos ajudar a conquistar. A aprendizagem complexa podendo ser mecanizada a nosso favor, em apoio ao nosso cérebro. Wiener: “Mas podemos inferir, desse processo, modos muito diversos em que a aprendizagem de espécie complexa pode ser mecanizada. Tais indicações são-nos respectivamente fornecidas pela teoria da associação de Locke e pela teoria de Pavlov acerca dos reflexos condicionados.” A máquina pode nos ajudar a dominar o conhecimento holístico, em relação ao qual nos encontramos, quase sempre, limitados . ‘Ajudar’, é este o papel da máquina. Ajudar o nosso cérebro na aprendizagem da complexidade holística. Wiener: “Ainda não chegou a hora propícia para a construção de uma máquina de jogar xadrez baseada nos princípios de aprendizagem, conquanto tal hora não esteja provavelmente muito distante.” Ajudar o nosso cérebro, dentro de sua lógica, é o papel da máquina, e não apenas servo-

147mecanizar a ela o nosso comportamento, como tem sido feito preponderantemente. Ignorando-se que o mecanismo de aprendizagem nosso e da máquina são inteiramente compatíveis, e programáveis em conjunto. Para o objetivo que o nosso cérebro determina. E não apenas para o cumprimento da rotina determinada pela máquina. O III cérebro sapiens - complementar ao I e ao II, o genoma e o nosso cérebro biológico individual, o principal esforço que devemos fazer para ampliar os potenciais de nossos cérebros - será o fruto da harmonização do papel das máquinas e do papel dos

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cérebros dentro da articulação adequada das duas coisas. A primeira revolução industrial criou ferramentas para substituir os músculos humanos. Agora, estamos criando ferramentas para aumentar nossa capacidade intelectual. Bill Gates: “Em sua última revolução, a humanidade criou ferramentas para aumentar sua capacidade muscular. Foi a revolução industrial, com seus motores, tratores e afins. Agora temos as ferramentas que aumentam nossa capacidade cerebral e permitem que tenhamos contato com as pessoas de outros locais, obtendo recursos facilmente, não importando onde estejam. A Internet é uma grande revolução, uma grande mudança, e a peça principal da era da informação. Seu impacto será muito abrangente, e caberá ao homem decidir como usá-la.” Ao tempo de Tomas Paine não se acreditava na possibilidade de incrementar o poder do cérebro. Paine: “A experiência, em todas as idades e em todos os países, tem demonstrado que é impossível controlar a natureza em sua distribuição de poderes mentais. Ela dá eles do modo que lhe agrada. Qualquer que seja a regra pela qual ela, aparentemente para nós, espalha esses poderes pela humanidade, essa regra permanece um segredo para o homem. (...) O que quer que a sabedoria seja em termos de constituição, ela é como uma planta sem semente; ela pode ser cuidada quando ela aparece, mas ela não pode ser voluntariamente produzida.” Não podia. Hoje podemos organizar uma inteligência bio-tecnológica, meio biológica e meio artificial, tecnológica. Chamemos isso de nosso III cérebro sapiens, depois do genoma e do cérebro biológico individual. III cérebro sapiens que será a articulação concreta – dentro de uma fisiologia que mimetize a do cérebro biológico individual – deste com a máquina, com a Internet. Para fazer aquilo que T.H. Huxley disse ser perfeitamente aceitável. Skinner, citando Huxley: “Se algum grande poder concordasse em me fazer sempre pensar o que é verdade e fazer o que é certo, sob condição de ser algum tipo de relógio recebendo corda toda manhã antes que eu saísse da cama, eu fecharia imediatamente com a oferta.” Vejamos o mecanismo, o mais básico e mais simples possível, articulando máquinas e cérebros biológicos individuais. E o que a máquina pode fazer de mais básico para fortalecer, o máximo possível, as funções do cérebro biológico individual. Teoricamente, diz Foucault, se pudéssemos construir uma máquina cuja estrutura mecânica reproduzisse a fisiologia humana, teríamos então uma máquina cuja capacidade intelectual seria uma reprodução da dos seres humanos. Isso é possível se seguirmos o conselho de b) Wiener: “Deixe para o homem as coisas que são do homem e para o computador as coisas que são do computador. Essa pareceria a política inteligente a se adotar quando nós empregamos homens e computadores juntos em empreendimentos comuns. É uma política tão afastada daquela dos adorares dos equipamentos como é do homem que vê apenas blasfêmia e a degradação do homem no uso de qualquer ajuda mecânica que seja para os pensamentos. O que nós agora precisamos é de um estudo independente de sistemas envolvendo ambos os elementos humanos e mecânicos. Esse sistema não seria prejudicado seja por um viés mecânico ou anti-mecânico. Eu penso que tal estudo já

148está a caminho e que ele prometerá uma muito melhor compreensão da automatização.” Em grandes linhas do nosso comportamento, o cérebro biológico individual tem que, antes de mais nada, escolher a ação que o indivíduo vai praticar. O indivíduo faz isso examinando as informações sobre ações que ele possa ter estocadas em seu cérebro. Que, via de regra, são

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muito poucas. A máquina pode ajudá-lo a fazer sua escolha a partir do exame da lista completa de todas as possibilidades de ações humanas. Com isso garantindo, inclusive, a condição fundamental para a existência daquilo que só pode ser chamado de liberdade sapiens se preencher essa condição. A da escolha da ação a partir do exame da lista completa das possibilidades de ação humanas. Utopia? Sim, utopia direcional. Escolhidas nessa base as ações do indivíduo, de maneira a compor carreiras de vida e de trabalho o mais personalizadas e mais holísticas possível, o indivíduo precisa de toda a informação, de todo o conhecimento, humanos, que puderem ser úteis à otimização de tais ações. Seu cérebro biológico não dispõe disso. E as “buscas” na Internet são insatisfatórias. Pois ‘só Alá’, isto é, só o sistema, ‘conhece o desconhecido’. A máquina, contendo todo o conhecimento, toda a informação, humanos, tem que ser programada para a distribuição automática, vinte e quatro horas por dia, a todos os cérebros biológicos individuais, a todas as ações, de todos os indivíduos da espécie humana. Um serviço similar aos de distribuição de água e de energia elétrica, automático. Há uma regra e uma engenharia cibernética a serem adotadas: Wiener: “Não é a quantidade de informação enviada que é importante para a ação, mas , antes, a quantidade de informação que , penetrando num instrumento de comunicação e armazenagem, seja o bastante para servir como o gatilho disparador da ação.” O papel da informação e a técnica de medir e transmitir informação constituem uma inteira disciplina para o engenheiro, para o fisiologista, para o psicólogo, e para o sociólogo. Regra e engenharia que precisamos adotar, sistematicamente, se quisermos que nossa natureza seja tornada cada vez mais sapiens. Atendendo, ao fazer isso, às condições colocadas por T.H.Huxley para aceitar a ajuda de um sistema artificial para o bom condicionamento de seu comportamento, com a máquina atendendo aos propósitos humanos. b) Wiener: “Enquanto a técnica de engenharia se torna mais e mais capaz de alcançar propósitos humanos, ela deve se tornar mais e mais acostumada a formular propósitos humanos. No passado, uma visão parcial e inadequada dos propósitos humanos tem sido relativamente inócua apenas porque ela tem sido acompanhada por limitações técnicas que fizeram difícil para nós realizar operações envolvendo uma cuidadosa avaliação dos propósitos humanos.” Escolhidas e informadas plenamente as ações, por essa articulação simples, mas básica, entre o cérebro biológico individual e a máquina, tudo que é necessário obedecer-se tecnicamente, para garantir a ocorrência da ação altamente otimizada, é ao princípio básico da cibernética social colocado por Wiener quando ele diz que: “O importante é a quantidade de informação que penetrando num instrumento de comunicação e armazenamento faz disparar o gatilho da ação.” O reflexo condicionado, assim mecanizado e universalizado, pode ser levado ao nível de aprendizagem humana rotineira. Ralph Cicerone, ex-presidente da Academia de Ciências dos USA, disse que a ciência poderá salvar o planeta. Sim, se, articulando-se cérebros e máquinas, compuzermos esse III cérebro sapiens, artificial, externo, tecnológico-biológico,

149coletivo e democrático. Para ajudar o I cérebro sapiens, o genoma, e o II cérebro sapiens, o biológico individual, que se tornaram insuficientes diante do volume e complexidade da informação, do conhecimento, produzidos pela civilização científico-tecnológica. Informação que está se tornando o novo oxigênio da evolução sapiens. Demandando um cérebro mais poderoso, diferente, como a transição da vida da água para a terra demandou um novo tipo de pulmão. O sistema – Internet seu principal instrumento –

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já tende a ir nessa direção organizacional. Em vez de ajudar a causar crises financeiras daqui para diante a Internet tem que se tornar parte da solução. A simplicidade e clareza no estabelecimento desses poucos princípios sistêmicos básicos, acima descritos, é indispensável para dirigi-lo, esse III cérebro sapiens, e acelerar sua implantação. A tecnologia da Internet é eticamente neutra. Ela tanto pode ser usada por um vilão como por um santo. Não existe nada nas metodologias de comunicação e informação que determine os valores governando o seu uso. Nós temos que nos preocupar não apenas com práticas física, mas com o desenho de uma inteira cultura (a científico-tecnológica, a sapiens intensiva, holística e ética, que é basicamente informacional no condicionamento das ações). E tal cultura tem que visar a sobrevivência da espécie, definida como o valor final objetivado pelo sistema.

VIIC4 - PRINCIPAIS UTOPIAS DIRECIONAIS SAPIENS: HOLISMO COGNITIVO NO INDIVÍDUO E ÉTICA.

A utopia comportamental não é apenas a meta intelectual do fim do século XX e do início do século XXI. Ela já foi, inclusive, a meta das religiões desde séculos atrás. Mas agora está podendo ser retomada com vigor criativo sob indução da revolução comunicacional-informacional. Skinner: “Uma coleção de ‘designs’ culturais pode ser encontrada na literatura da utopia. Escritores têm escrito suas versões da boa vida e sugerido modos de alcançá-las. Platão, em ‘A República’, escolheu uma solução política; Santo Agostinho, em ‘A Cidade de Deus’, uma religiosa. Thomas More e Francis Bacon, ambos advogados, voltaram-se para a lei e a ordem, e os utopistas a la Rousseau do século dezoito, para uma suposta bondade natural no homem. O século dezenove procurou por soluções econômicas, e o século vinte testemunhou o erguer-se do que pode ser chamado de utopias comportamentais, nas quais uma série completa de contingências sociais começaram a ser discutidas. (...) E se economias planejadas, ditaduras benevolentes, sociedade perfeccionistas, e outras aventuras utópicas tem falhado, nós devemos nos lembrar de que não-planejadas, não-ditadas, e culturas não-perfeitas têm falhado também. Um fracasso não é sempre um equívoco, ele pode simplesmente ser o melhor que a gente pode fazer sob as circunstâncias. O equívoco real é parar de tentar. Talvez nós não podemos agora desenhar uma cultura bem sucedida como um todo mas nós podemos desenhar melhores práticas de maneira fracionada. Os processos comportamentais no mundo em geral são os mesmos que aqueles dentro de uma comunidade utópica, e as práticas têm os mesmos efeitos pelas mesmas razões.” O que a revolução comunicacional-informacional induz é a retomarmos a utopia comportamental, mas agora com um novo instrumental, poderosíssimo, nas mãos. A ciência e a tecnologia da revolução comunicacional-informacional moderna. A utopia é uma simplificação, direcional. Da mesma forma como a metodologia da ciência é uma simplificação direcional. Skinner: “A questão fundamental em todas as utopias é ‘ela funcionaria realmente?’ Vale a pena considerar a

150literatura porque ela enfatiza a experimentação. Uma cultura tradicional foi examinada e achada carente, e uma nova versão foi montada para ser testada e redesenhada conforme as circunstâncias ditarem. A simplificação no escrito utópico, que não é nada mais do que a simplificação característica da ciência, é raramente factível no mundo em

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geral, e existem muitas outras razões pelas quais é difícil colocar um desenho explícito em funcionamento. (...) Os ‘designs’ a serem encontrados na literatura utópica apelam para certos princípios simplificadores. Eles tem o mérito de enfatizar o valor de sobrevivência: A utopia vai funcionar? O mundo como um todo é, naturalmente, muito mais complexo, mas os processos são os mesmos e práticas funcionam pelas mesmas razões. Acima de tudo, existe a mesma vantagem em declarar objetivos em termos comportamentais.” O direcionamento da utopia comportamental agora, induzida pela revolução comunicacional-informacional, é acelerar o aperfeiçoamento da nossa natureza sapiens. Isto é, a natureza do ser ‘que sabe’, que está informado, mais do que os outros seres vivos. E que só evolui como sapiens ao crescer em termos de informação. Devemos abordar tal utopia – como fazemos com todas as utopias – simplificando e tornando super-claros os princípios. Todas as nossa ações são decididas por conhecimento. O volume de conhecimentos humanos, desenvolvidos especialmente pela civilização científico-tecnológica, é enorme. A utopia que estamos discutindo consiste em tornar o individuo sapiens o mais sapiens possível. Otimizando, com isso, seu comportamento. E sua ética também. Skinner: “Não há razão porque o progresso na direção de um mundo no qual as pessoas possam ser automaticamente boas fosse ser impedido. O problema é induzir as pessoas não a serem boas, mas a se comportar bem.” Pois nós estamos muito longe de entender as questões humanas no sentido dentro do qual a física e a biologia entendem seus campos. E estamos longe também de prevenir a catástrofe na direção da qual o mundo parece estar inexoravelmente se movendo. Skinner: “Uma utopia é um ambiente social total, e todas as suas partes funcionam juntas. O lar não conflita com a escola ou a rua, a religião não conflita com o governo, e assim por diante.” Temos que buscar, basicamente, tentar fazer com que o indivíduo sapiens consiga usar todo o conhecimento humano em seu beneficio. Para facilitar e conferir poder de vida a seu comportamento. Utopia? Sim. Mas a principal utopia direcional para construção da natureza sapiens no indivíduo. O caminho lógico indiscutível para tornar o indivíduo sapiens cada vez mais sapiens. A verdade polar dessa utopia é a de que quanto mais da totalidade do conhecimento humano conseguirmos colocar no cérebro do individuo, mais sapiens ele se torna. Pois controlar o todo do conhecimento humano é, indiscutivelmente, superior a controlar apenas uma parte. Especialização. Paine: “Quando um homem numa longa causa tenta pilotar o seu curso por qualquer outra coisa senão alguma verdade polar ou princípio, ele é seguro de se perder. Está além do compasso de sua capacidade manter juntas todas as partes de um argumento, e fazer elas se unirem numa única questão, por quaisquer outros meios senão o de ter esse guia sempre em vista. Nem memória nem invenção suprirão a falta dele. A primeira lhe falha e a segunda o trai.” Esse guia, essa verdade polar ou princípio, é a utopia direcional. E o problema a ser corrigido por esse holismo cognitivo desejável no indivíduo, começa pela correção necessária de um traço cultural das sociedades humanas atuais. O de que em todos os regimes sociais - políticos especialmente - que estão aí, cultivamos, abrigamos, de uma forma ou de outra, um princípio que é um decreto de morte contra a evolução sapiens: A negativa de informação ao indivíduo. Via duas vertentes principais, o controle estatal e a propriedade privada da informação. A resposta, naturalmente, seria ter uma sociedade

151 baseada sobre valores humanos diferentes de comprar ou vender. Mas para chegar a essa sociedade, nós necessitamos uma boa quantidade de planejamento e uma boa quantidade de luta contra a desinformação, e contra o domínio que ela propicia às

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especulações, em lugar da troca correta de valores. Que seria condicionada pela super-informação dos indivíduos. Comprar e vender conhecimento, informação, especialmente. Nossa utopia é a da liberdade total, a do direito integral do individuo de acesso a todo conhecimento, a toda informação, humanos. Ficamos aqui apenas na discussão dos primeiros grandes passos, dos primeiros grandes princípios gerais, super-simplificados, para se abordar a solução do problema dentro da objetivação plena da evolução sapiens, pensando como Jung: “Eu não sei como outras pessoas abordariam essa tarefa. Eu posso apenas lhes dizer como eu próprio tenho manejado ela, e eu devo me curvar à acusação de que meu modo de resolver o problema é o resultado de meu preconceito pessoal. Essa objeção é tão inteiramente verdadeira que eu não saberia como me defender. (...) A ciência nunca é feita por um único indivíduo, mas por muitos. O indivíduo meramente oferece sua própria contribuição, e é apenas nesse sentido que eu ouso falar do meu modo de fazer.” Modo de fazer, em nosso caso, aquilo que está pedindo claramente a ciência comportamental pós-revolução comunicacional-informacional. O modo de fazer hoje, no mundo da revolução comunicacional-informacional, é educar para a ação concreta, em busca de sobrevivência, qualidade de vida, felicidade, sapiens. Mas o fazer não só especializado, que não chega lá. Saber e fazer holístico também. Para a ação concreta especializada já temos no Brasil um exemplo magnífico de organização pró-desenvolvimento. Estou me referindo ao projeto de Miguel Nicolelis, descrito em seu livro ‘Made in Macaíba’, o centro de ciência neurológica com o sistema educacional que o complementa, perto de Natal, no Rio Grande do Norte. Que é a última palavra em metodologia para se levar a ciência e a tecnologia a seu desenvolvimento e sua aplicação concreta na sociedade. Nicolelis autoriza enfaticamente o uso da utopia para direcionar nossas caminhadas de progresso. Então, só quero acrescentar ao seu perfeito projeto mais uma utopia direcional, universalizando-o: O que foi feito nele com a ciência neurológica e a educação derivada do projeto, tem que ser feito com todas as áreas ocupacionais, científico-tecnológicas, da sociedade. Todas as experiências concretas de vida que estão aí, semi-abandonadas - se comparadas com as condições de desenvolvimento promovidas por Nicolelis no seu setor especializado - são laboratórios. Que podem explodir em desenvolvimento, se promovermos dentro de cada uma delas aquilo que o projeto Macaíba está promovendo dentro de seu centro de ciência neurológica e do sistema educacional que o complementa. Para fazer isso, multiplicar o exemplo desse projeto, precisamos usar as tecnologias que nos estão sendo oferecidas pela revolução comunicacional-informacional que está aí. A Internet sobretudo. Vou colocar aqui, em linhas super-simplificadas - como recomendou Karl Popper que se fizesse no nascedouro de uma nova ciência, em nosso caso a ciência do comportamento pós-revolução comunicacional-informacional - o mecanismo sistêmico de um projeto utópico complementar ao de Nicolelis, para se levar, artificial, intensiva e aceleradamente, a todos os setores ocupacionais da sociedade brasileira, os eficientes manejos e efeitos que são colhidos pelo seu projeto especializado. O que a moderna revolução comunicacional-informacional nos permite fazer: Levar a todas as ações de todos os indivíduos da sociedade, todas as informações, todos os conhecimentos que possam ser úteis à otimização de tais ações. Para se fazer

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isso precisamos, além do computador e da Internet, de uma classificação científica da ação humana, de trabalho e de vida – como existe na biologia a classificação das plantas e dos animais, e como recomendou C.G.Jung que se fizesse na psicologia - e depois, uma classificação de todo o conhecimento humano, obedecendo à utilidade de tais conhecimentos para tais ações. Disponíveis essas duas classificações, essa utopia complementar à de Nicolelis distribuiria - vinte e quatro horas por dia, como um sistema de distribuição de água ou de energia elétrica - a todas as ações de todos os indivíduos todas as informações, conhecimentos, que pudessem ser úteis à sua otimização. Organizando-se, em seguida, com apoio disso, à distância - dentro do padrão organizado em Macaíba, de produção científico-tecnológica e educacional simultaneamente - todas as especializações dentro da sociedade, mas abordadas como um todo ocupacional orgânico. Está aí mais uma utopia, mas já autorizada pelo pensamento correto desse grande cientista brasileiro em relação ao que deve-se ambicionar, e pode ser feito, para se modernizar o Brasil. Apenas multiplicar, mas organicamente, com auxílio das comunicações modernas, a experiência de Macaíba. Os centros de ciência e educação definidos por esse projeto, complementados por essa utopia, universalizante, apoiada pela vivência dos estudantes de tais projetos na sociedade, para modelá-la, comporiam então o plano completo da revolução modernizante do Brasil. Trabalhando-se essa modernização em cima de todos os cidadãos da sociedade, vinte e quatro hora por dia. Pois o mundo moderno, e sua ética, são modelados pelo desenvolvimento, cada vez mais científico e tecnológico, do conhecimento, da informação. A fonte de poder crescente é esta, apontando para o futuro, e para a ética do futuro. As principais fontes de poder já foram – sequência histórica – a terra, as trocas e a moeda, os meios físicos de produção. Hoje a todo-poderosa fonte de poder é a informação, o conhecimento. Pascal intuiu isso quando disse: “Não é no espaço que eu devo procurar a minha dignidade humana, mas na ordenação de meu pensamento. Não me fará nenhum bem possuir terra. Através do espaço o universo se apodera de mim e me engole como uma migalha, através do pensamento eu me apodero dele.” Uma consequência natural e final da civilização científico-tecnológica, a de que a força do pensamento criativo, ampliada pela força do conhecimento tornado poderoso dentro da civilização científico-tecnológica, esteja se tornando absoluta em contraste com os outros mecanismos de poder, ultrapassados. Marx: “A natureza não constrói máquinas, estradas de ferro, telégrafos elétricos, mulas mecânicas, etc. Essas coisas são produtos da indústria humana, material natural transformado em órgãos da vontade humana sobre a natureza, ou da participação humana na natureza. Elas são órgãos do cérebro humano, criados pela mão humana, o poder do conhecimento, objetivado. O desenvolvimento de capital fixo indica até que grau o conhecimento social geral tem se tornado uma força direta da produção, e até que grau, daí, as condições do processo da vida social ela própria tem vindo para debaixo do controle do intelecto geral e sido transformadas de acordo com ele. Até que grau os poderes da produção social tem sido produzidos, não apenas na forma de conhecimento, mas também como órgãos imediatos da prática social, do real processo de vida.” A cibernética social e o seu controle, cada vez mais científicos, poderão chegar àquilo que Norbert Wiener chamou de muito leve esperança. A de que através da comunicação, o conhecimento, holístico, com suas avaliações dos propósitos humanos, possa nos levar mais rapidamente à ética. b) Wiener: “Conhecimento está inextrincavelmente entretecido com comunicação, poder com

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controle, e a avaliação dos propósitos humanos com ética.” As três coisas, conhecimento, comunicação e ética estão entrelaçadas num sistema organizável via cibernética social. Porém o caminho, segundo Wiener, é realmente difícil de operacionalizar-se. Mas acontece que agora esse caminho está sendo muito mais facilitado, obviado, pela natureza da revolução comunicacional-informacional que está aí. Operação que parte da análise do mecanismo de poder derivado da revolução comunicacional-informacional, a micro-informação de todas as ações humanas, que oferece as possibilidades de se substituir os mecanismos de dominação globais, por mecanismo de libertação, via super-informação de todos os indivíduos. A serviço de uma democracia informacional, demolidora de todos os mecanismos que não sejam de auto-controle e articulação dos pragmatismo individualistas num pragmatismo humanista, que abrigará a ética social necessária e possível, numa medida bastante relevante. Em outras palavras, é possível, sim, colocar-se a cibernética social e seu controle, a serviço do bem no comportamento, e desviando o comportamento do mal. Numa medida impossível de se atingir sem os poderes de comunicação, conhecimento e controle ético oferecidos pelas modernas tecnologias informacionais-comunicacionais, se bem utilizadas. Tudo alguns passos à frente do que conseguiu visualizar Wiener dizendo que o melhor que os criadores da cibernética poderiam fazer era conseguir que o grande público a entendesse, e compreendesse seus conteúdos. Mas também disse que se deveria confinar os esforços científicos da cibernética a campos como a fisiologia e psicologia, afastados dos problemas das guerras e da exploração. Afirmou também que os conhecimentos científicos desenvolvidos a partir do entendimento da cibernética podem contribuir igualmente para a montagem de sistemas maléficos. Dando a entender que os sistemas comunicacionais e informacionais tendem a cair nas mãos dos inescrupulosos. Com isso, diz ele, a esperança de um produto positivo é leve, é remota. Wiener escreveu isso antes da Internet, que abre campo para operações positivas, além das negativas. Esperança menos leve, menos remota, agora, devido ao fato de que as tecnologias comunicacionais-informacionais de hoje estão viabilizando a desconcentração do poder para as mãos de todos os indivíduos da espécie humana. Como base, essa abertura da informação, para a instituição de uma democracia informacional. E para a instituição, igualmente, da ética, mais holística, mais humanista, do futuro. A mais importante façanha já tentada pela humanidade foi aquela que buscaram realizar Cristo, Buda, Maomé. Impor ética ao comportamento humano. Os três falharam em larga medida, não porque suas idéias estivessem erradas, ou eles fossem pessoalmente incompetentes, ou maus comunicadores. Não. Eles conseguiram comunicar suas idéias a gigantescas massas de indivíduos. Mas a humanidade não se tornou ética até o ponto que eles desejaram. Hoje, a humanidade é talvez até pior do que no tempo deles, em termos éticos. A culpa do fracasso pode ser atribuída a dois grandes fatores. Primeiro, à enorme dificuldade dessa proposição, a de impor ética, em altos níveis, à humanidade como um todo. Segundo - e aí estão os maiores culpados do fracasso - à incompetência de seus discípulos. Essas religiões que estão aí, se tornaram propriedade financeira de grupos de sacerdotes, cristãos, maometanos, budistas, que se interessam mais pelo seu próprio poder e conforto, do que por incutir ética, a mais completa possível, na humanidade como um todo. O mesmo que aconteceu com a democracia representativa. Chegou a hora de se fazer a tentativa via ciência. Quem sabe aquilo que Cristo, Buda e Maomé quiseram, será mais alcançável - num grau um pouco maior pelo menos - via ciência, do que via os discípulos que estão dando sermões e discursando inutilmente, tentando preencher, através de sua incompetência, a

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154aspiração desses três enormes líderes humano, que, onde quer que estejam agora, creio que ficariam enormemente felizes se a ciência conseguisse fazer pelo menos um pouco mais do que conseguiram os seus incompetentes discípulos. Vejamos o que a ciência pode fazer pela ética. A psicologia pós-freudiana já deixou bem claro que o bombardeio informacional do meio sobre a mente dos indivíduos é muito mais poderoso sobre o comportamento do que a herança genética. É o que diz, entre outros pensadores, Gerald Edelman, Prêmio Nobel de ciência, do cérebro. Isso significa que o comportamento das pessoas depende do bombardeio informacional da parte do meio-ambiente. Norbert Wiener define isso, cientificamente, com toda clareza: “Não é a quantidade de informação enviada que é importante para a ação, mas, antes, a quantidade de informação que, penetrando num instrumento de comunicação e armazenagem, seja o bastante para servir como gatilho da ação.” O nome disso é cibernética, diz Wiener. No tempo de Cristo, Maomé e Buda, não tinha ocorrido ainda a revolução comunicacional-informacional que está aí agora, com sua roda inventada no século XX, a Internet. O poder dessa roda é o de levar a todas as ações de todos os indivíduos todas as informações humanas que forem capazes de otimizar essas ações, inclusive em termos éticos. Porque não podemos tentar usar aquilo que Cristo, Buda e Maomé não puderam recomendar a seus discípulos como instrumento, porque no seu tempo não tinha ocorrido ainda a revolução comunicacional-informacional? Está mais do que claro que o que temos que tentar agora, que dispomos desses novos recursos científicos e tecnológicos, é montar um sistema que distribua vinte e quatro horas por dia, o total da informação, do conhecimento humano, à totalidade da ação humana, visando programar, o mais cientificamente possível, um comportamento - individual e holístico - o mais eficiente e ético possível, em todos os indivíduos da espécie humana. Para tentar atingir - além do desenvolvimento sócio-econômico - aquilo que os discípulos de Cristo, Buda e Maomé não conseguiram atingir. Essa abordagem científica não conflita com as religiões. Só as reforma, moderniza, moraliza. Como parece estar querendo o Papa Francisco. Já imaginaram a força dessa conciliação final completa entre religião e ciência? E tudo que está aí como ciência humana mais avançada indica este caminho. Sem contra-indicações exceto dentro da avidez dos proprietários do conhecimento, da informação (um absurdo bio-evolucionista), pelo seu poder e seus lucros financeiros. A mudança fundamental proposta é gigantesca, mas factível. Se for adotada com simplicidade, para se dar início ao processo de revolução produtiva e ética. Evolutiva sapiens.

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Exemplo: SPINOSA - ÉTICA (34 > 36, 109, 119)

Página do nosso livro....................................: (34 >Páginas de ‘Ética’ citadas em nossa pg 34....: 36, 109, 119)

============================================================= AL GORE - Grandes Entrevistas do MILÊNIO, Editora Globo S.A. São Paulo, 2008.(92 > 98)

ALTHUSSER (LOUIS) - ESTRUTURALISMO. ANTOLOGIA DE TEXTOS TEÓRICOS. Livraria Martins Fontes Editora Ltda. São Paulo.( 121 > 295, 294) (126 > 240) (138 > 245) (139 > 246)

ANDREWS (SUSAN) - AS LIÇÕES DO BUTÃO. Artigo Época, 24/12/07. (41 > 72)

BADIOU (ALAIN) - ESTRUTURALISMO. ANTOLOGIA DE TEXTOS TEÓRICOS. Livraria Martins Fontes Editora Ltda. São Paulo.(60 > 322, 322) (121 > 348)

BILL GATES - Grandes Entrevistas do MILÊNIO. Editora Globo S.A. São Paulo, 2008.(78 > 105) (147 > 109)

CHATELET (FRANÇOIS) – ESTRUTURALISMO. ANTOLOGIA DE TEXTOS TEÓRICOS. Livraria Martins Fontes Editora Ltda. São Paulo.(118 > 42)

CHOMSKI (NOAM) - Grandes Entrevistas do MILÊNIO. Editora Globo S.A. São Paulo, 2008.(73 > 78) (91 > 78) (94 > 75)

DERRIDA (JACQUES) – ESTRUTURALISMO. ANTOLOGIA DE TEXTOS TEÓRICOS. Livraria Martins Fontes Editora Ltda. São Paulo.(50 > 110, 110)

DESCARTES (RENÉ) - KEY PHILOSOPHICAL WRITINGS. Wordsworth Editions Limited, Hertfordshire, 1997.(24 > 290 ) (38 > 111) (77 > 290) (115 > 32, 44)

ÉPOCA (REVISTA) - DO DIA 29/03/10(37 > 13)

ESTRUTURALISMO. ANTOLOGIA DE TEXTOS TEÓRICOS. INTRODUÇÃO. (Autor: Eduardo Prado Coelho). Livraria Martins Fontes Editora Ltda. São Paulo. 156 (54 > Introdução LIV) (125 > Intr.LVIII) (139 > Intr.XI, XIV, LVII)

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b) FOUCAULT (MICHEL) – ESTRUTURALISMO. ANTOLOGIA DE TEXTOS TEÓRICOS. Livraria Martins Fontes Editora Ltda. São Paulo.(58 > 47) (86 > 35, 35) (120 > 52, 45) (125 > 53) (127 > 57) (139 > 53, 65)

GAUDELIER (MAURICE) – ESTRUTURALISMO. ANTOLOGIA DE TEXTOS TEÓRICOS. Livraria Martins Fontes Editora Ltda. São Paulo.(94 > 316)

GIDDENS (ANTONY)- Grandes Entrevistas do MILÊNIO. Editora Globo S.A. S.Paulo, 2008.(91 > 14) (110 > 25)

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158POPPER (KARL) - THE LOGIC OF SCIENTIFIC DISCOVERY. Routledge Classics. London, 2006. (35 > 381) ( 36 > 452, 280, 317, 477, 205) (37 > 198) (38 > 275) (40 > 81) (49 > 282) (50 > 280, 281) (51 > 275, 273) (53> 278, 410, 318, 281, 375) (115 > 400, 127, 131, 400, 401) (117 > 94) (133 > 37) POULLION (JEAN) - ESTRUTURALISMO. ANTOLOGIA DE TEXTOS TEÓRICOS. Livraria Martins Fontes Editora Ltda. São Paulo.( 118 > 17)

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WIENER (NORBERT) – CIBERNÉTICA E SOCIEDADE. Editora Cultrix Ltda. São Paulo, 1954.(10> 112) (12 > 17, 52) (19 > 38, 39, 14, 94, 15, ) (25 > 92) (29 > 46, 100) (30 > 28) (31 > 100) (36 > 12) (45 > 126) (46 > 128, 128) (52 > 9) (55 > 187) (58 > 88) (68 > 120, 119) (70 > 14, 17) (71 > 15, 27, 178) (72 > 111, 108, 112)

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(73 > 112, 115, 113, 112, 166) (74 > 130, 115) (76 > 49, 183) (78 > 92, 127) (79 > 123, 125) (84 > 164) (86 > 58) (87 > 131) (90 > 180, 178, 184) (91 > 115, 179, 190) (92 > 177, 176, 178, 177) (93 > 52, 51) (94 > 51) (108 > 36, 92) (109 > 129) (110 > 31, 92, 129, 27) (111 > 116, 94) (120 > 34) (122 > 92) (132 > 67) (133 > 94) (138 > 90, 84) (139 > 17) (140 > 26, 34, 34, 34) (142 > 180,159) (143 > 178,

159 176, 159, 151) (144 > 33) (145 > 149, 180) (146 > 38, 63, 174) (148 > 92, 92) (154 > 92)

b) WIENER (NORBERT) - GOD & GOLEM, INC. Massachusetts Institute of Technology Press, 1973. (45 > 52, 52) (62 > 66) (63 > 64, 68) (125 > 90) (140 > 47, 8) (141 > 30, 44) (143 > 55 69, Vii) (144 > 32, 32) (146 >95) (147 > 73) (148 > 64) (152 > 3)