165
SEGUNDO DOSSIÊ DE TEXTOS MARXISTAS SOBRE A CRISE Organização: Grupo de Pesquisa Políticas para o Desenvolvimento Humano do Programa de Estudos Pós-graduados em Economia Política da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Junho/2009

SEGUNDO DOSSIÊ DE TEXTOS MARXISTAS SOBRE A …1).pdf · SEGUNDO DOSSIÊ DE TEXTOS MARXISTAS SOBRE A CRISE Organização: Grupo de Pesquisa Políticas para o Desenvolvimento Humano

Embed Size (px)

Citation preview

  • SEGUNDO DOSSI DE TEXTOS MARXISTAS SOBRE A CRISE

    Organizao: Grupo de Pesquisa Polticas para o Desenvolvimento Humano do Programa

    de Estudos Ps-graduados em Economia Poltica da Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo.

    Junho/2009

  • 2

    Sumrio

    Istvn Mszros - A crise em desdobramento e a relevncia de Marx....................................... 3

    Reinaldo Carcanholo - Situacin mundial: Aspectos tericos de la crisis capitalista ............. 19

    Adrin Sotelo Valencia - La crisis me da risa: una mirada desde los Grundrisse del capitalismo contemporneo ...................................................................................................... 32

    Michel Husson - Le capitalisme toxique .................................................................................. 44

    Alain Bihr - Le triomphe catastrophique du nolibralisme .................................................... 58

    Alain Bihr - A la croise des chemins (2)................................................................................. 76

    Franois Chesnais - La recession mondiale: moment, interpretations et enjeux de la crise ..... 96

    Alain Bihr - A propos dun excs de plus-value................................................................. 114

    John Bellamy Foster e Fred Magdoff - Imploso financeira e estagnao: de volta economia

    real .......................................................................................................................................... 124

    Franois Chesnais - Orgenes comunes de la crisis econmica y la crisis ecolgica ............. 155

  • 3

    A crise em desdobramento e a relevncia de Marx

    Autor: Istvn Mszros *

    Alguns de vocs talvez tenham estado presentes na nossa reunio de Maio deste ano neste

    edifcio, quando recordei o que havia dito a Lucien Goldman, em Paris, poucos meses antes

    do histrico Maio de 1968 francs. Em contraste com a perspectiva ento prevalecente do

    "capitalismo organizado", que se supunha ter deixado para trs com xito o estgio da "crise

    do capitalismo" - uma viso fortemente asseverada por Marcuse e nessa poca tambm

    partilhada pelo meu querido amigo Lucien Goldman - insisti no facto de que, em comparao

    com a crise em que estamos realmente a entrar, "a Grande Crise Econmica Mundial de 1929-

    1933" se parecer com "uma festa no salo de ch do vigrio".

    Nas ltimas semanas vocs tiveram uma anteviso do que eu tinha em mente. Mas apenas

    uma anteviso, porque a crise estrutural do sistema do capital como um todo, a qual estamos a

    experimentar na nossa poca numa escala de era, est destinada a ficar consideravelmente

    pior. Ela tornar-se- na devida altura muito mais profunda, no sentido de invadir no apenas o

    mundo das finanas globais mais ou menos parasitrias como todos os domnios da nossa vida

    social, econmica e cultural.

    A questo bvia que devemos agora tratar refere-se natureza da crise global em

    desdobramento e as condies necessrias para a sua soluo factvel.

    A confiana e a falta dela

    Se tentarem recordar o que foi infindavelmente repetido nas ltimas duas semanas acerca da

    crise actual, h uma palavra que se destaca, ensombrando todos os demais diagnsticos

    apregoados e os remdios correspondentes. Essa palavra confiana. Se ganhssemos uma

    nota de dez libras por cada vez que esta palavra mgica foi oferecida para consumo pblico

    nas ltimas duas semanas em todo o mundo, sem mencionar a sua continuada reafirmao

    desde ento, estaramos todos milionrios. O nosso nico problema seria ento o que fazer

    com os nossos milhes subitamente adquiridos. Pois nenhum dos nossos bancos, nem mesmo

    os nossos bancos nacionalizados recentemente - nacionalizados ao custo considervel de no

    menos do que dois teros dos seus activos de capital - poderia fornecer a lendria "confiana"

    necessria ao depsito ou ao investimento seguro.

  • 4

    At o nosso primeiro-ministro, Gordon Brown, nos apresentou na semana passada a frase

    memorvel "Confiana a coisa mais preciosa". Conheo a cantiga - e provavelmente a

    maioria de ns tambm a conhece - que nos diz que: "O amor a coisa mais preciosa". Mas a

    confiana no sistema bancrio capitalista ser a coisa mais preciosa?! Tal sugesto

    absolutamente perversa!

    No entanto, a advocacia deste remdio mgico parece agora ser universal. A palavra

    repetida com tamanha convico como se a "confiana" pudesse simplesmente chover do cu

    ou crescer em grande abundncia em rvores financeiras "capitalistamente" bem adubadas.

    H trs dias atrs (a 18 de Outubro) o programa da BBC das manhs de domingo - o

    programa Andrew Marr - entrevistou um eminente cavalheiro idoso, Sir Brian Pitman, o qual

    foi apresentado como o antigo Chefe do negcio bancrio do Lloyd's. Eles no disseram

    quando ele liderou aquela organizao, mas o modo como falou logo o tornou claro. Pois

    transpirou atravs das suas respostas respeitosamente recebidas que ele deve ter sido o Chefe

    do Lloyd's Bank bem antes da Crise Econmica Mundial de 1929-33. Consequentemente,

    para encorajar os telespectadores, ele apresentou uma grande inovao conceptual no discurso

    da confiana ao dizer que as nossas perturbaes eram todas elas devidas a alguma "Super-

    confiana". E imediatamente demonstrou tambm o significado de "Super-confiana", ao

    afirmar, mais de uma vez naquela curta entrevista, que no pode haver problemas srios hoje,

    porque o mercado sempre toma conta de tudo, mesmo que por vezes ele v inesperadamente

    muito abaixo. Posteriormente ele sempre sobe outra vez. De modo que ele tambm far isso

    desta vez, e subir infalivelmente repetidas vezes no futuro. A crise actual no deveria ser

    exagerada, disse ele, porque muito menos sria hoje do que a que experimentmos em 1974.

    Pois em 1974 tivemos uma semana de trs dias de trabalho na Gr-Bretanha [ainda que em

    nenhum outro lugar] e agora no temos isso. Temos? E quem poderia argumentar contra

    aquele facto irrefutvel?

    A trade pseudo-hegeliana

    Assim, temos agora a palavra mgica explicativa para todas as nossas perturbaes no a

    apresentar-se como um rfo infeliz, solitrio, mas como parte de algo como uma trade

    "fukuyamizada" pseudo-hegelina: confiana - falta de confiana e super-confiana. O nico

    constituinte que falta neste discurso mgico explicativo agora o fundamento real do nosso

    perigoso sistema de banca e seguros que opera no terreno dos truques de confiana em

    proveito prprio que mais cedo ou mais tarde esto destinados a serem (e de tempos em

    tempos realmente tm sido) descobertos.

  • 5

    De qualquer forma, toda esta conversa acerca das virtudes absolutas da confiana na

    administrao econmica capitalista assemelha-se muito explicao oferecida pela mitologia

    indiana acerca da base de suporte do universo. Pois naquela antiga viso do mundo dizia-se

    que o universo era carregado, muito reconfortantemente, sobre as costas de elefantes. E os

    poderosos elefantes?, voc poderia perguntar. Ningum pensaria que isso fosse uma

    dificuldade. Pois os elefantes so, ainda mais reconfortantemente, suportados nas costas da

    tartaruga csmica. Mas, e quanto prpria tartaruga csmica? No suposto que pergunte tal

    questo, para que no sirva de alimento aos tigres de Bengala, antes de eles serem extintos.

    Felizmente, talvez (?), The Economist um bocadinho mais realista na sua avaliao da

    situao.

    No contexto deste nosso assunto penoso, a agora reconhecida pioria da crise econmica, vou

    apresentar- lhes citaes exactas, incluindo alguns nmeros malditos de fracassos capitalistas

    que j no so negveis, retirados principalmente de publicaes bem estabelecidas e com

    uma conscincia de classe desavergonhadamente burguesa como The Economist e The Sunday

    Times. Vamos cit- las meticulosamente, palavra por palavra, no s porque elas so

    eminentes no seu campo como tambm a fim de evitar que nos acusem de "vis e distoro de

    esquerda".

    Marx costumava dizer que nas pginas de The Economist a classe dominante estava a

    "conversar consigo prpria". As coisas mudaram um pouco desde aquele tempo. Pois agora

    at mesmo no campo especializado da "percia econmica" a classe dominante precisa de um

    rgo de propaganda de circulao em massa, com o objectivo da mistificao geral. No

    tempo em que Marx viveu a classe dominante estava cheia de "confiana", e tambm de um

    grande bocado de "super-confiana" incontestada, para necessitar disso. Assim, sob as menos

    arrogantes circunstncias actuais, o semanrio de distribuio em massa com sede em

    Londres, The Economist, - o farisaico porta-voz do anual "Davos Jamboree" dominado pelos

    EUA - cauteloso ao conceder que a crise que estamos a enfrentar hoje refere-se s

    dificuldades de "Salvar o sistema", conforme a sua capa do nmero de 11 de Outubro de

    2008.

    Podemos admitir, naturalmente, que nada menos do que "salvar o sistema" (ou no) o que

    est em causa no nosso tempo, mesmo que a discusso de The Economist deste problema seja

    um tanto estranha e contraditria. Pois no seu modo habitual de tentar apresentar a sua

    posio altamente partidria como uma viso objectivamente "equilibrada", utilizando a

    frmula do "por um lado isto e por outro lado aquilo", o The Economist sempre consegue

    atingir a sua desejada concluso em favor da ordem estabelecida. Assim, tambm nesta

  • 6

    ocasio, The Economist assevera no seu artigo principal de 11 de Outubro que "Esta semana

    assistiu-se ao primeiro vislumbre de uma resposta global abrangente para o fosso da confiana

    ". Agora, felizmente, espera-se que o "fosso da confiana", embora reprovvel em si prprio,

    se remedeie graas a uma algo misteriosa "resposta global abrangente".

    Ao mesmo tempo, no lado mais realista, o semanrio londrino tambm reconhece no mesmo

    editorial que

    "O dano para a economia real est a tornar-se aparente. Na Amrica o crdito ao consumidor

    est agora a contrair-se, e cerca de 150 mil americanos perderam os seus empregos em

    Setembro, o mximo desde 2003. Algumas indstrias esto seriamente prejudicadas: as

    vendas de carros esto no seu mais baixo nvel em 16 anos pois os aspirantes a compradores

    so incapazes de obter crdito. A General Motors fechou temporariamente algumas das suas

    fbricas na Europa. Por todo o globo indicadores prospectivos, como inquritos de compras

    junto a administradores, esto horrivelmente sombrios".

    Eles no dizem, contudo, que "o fosso da confiana" pode ter algo a ver com tais factos.

    Naturalmente, a defesa do sistema deve prevalecer em cada artigo, mesmo se esta tiver de ser

    apresentada com a expresso inquestionvel de viso pragmtica. Neste sentido, "salvar o

    sistema" para The Economist equivale identificao totalmente acrtica da revista com a

    operao de resgate econmico ilimitado, e a advocacia incontestvel dos mesmo, - a ser

    cumprida sem quaisquer meios que se afastem dos habitualmente mais dogmaticamente

    glorificados "recursos do mercado" - em favor do perturbado sistema capitalista. Assim,

    mesmo os mais queridos e bem testados dogmas da propaganda (de um no s no existente

    livre mercado, que na realidade nunca existiu) podem agora ser atirados borda fora pela nobre

    causa de "Salvar o sistema". Consequentemente, conta-nos The Economist que

    "A economia mundial est claramente com um aspecto fraco, mas ela poderia ficar um

    bocado pior. Este o momento de colocar dogma e poltica de lado e concentrar em respostas

    pragmticas. Isto significa mais interveno governamental e cooperao no curto prazo,

    mais do que os contribuintes, polticos ou na verdade os jornais do mercado livre

    normalmente gostariam". [1]

    Ns fomos presenteados anteriormente com sermes semelhantes do presidente George W.

    Bush. Ele disse na sua interveno na televiso h duas semanas que normalmente e

    instintivamente ele crente e apoiante apaixonado do mercado livre, mas sob as actuais

    circunstncias excepcionais ele deve pensar em outros caminhos. Ele deve comear a pensar

    sob estas difceis circunstncias, ponto final. Voc no pode dizer que no foi advertido.

    http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=634#_edn2#_edn2

  • 7

    As somas envolvidas na recomendada soluo "pragmtica", as quais advogam varrer para o

    lado as "preferncias normais" dos "contribuintes e jornais do mercado livre " (isto , da

    soluo agora defendida a qual significa, na verdade, a necessria submisso das grandes

    massas do povo a fardos fiscais crescentes, mais cedo ou mais tarde) so literalmente

    astronmicas. Para citar The Economist mais uma vez: "em pouco mais de trs semanas o

    governo da Amrica, como foi dito, expandiu seu passivo bruto em mais de US$1 milho de

    milhes - quase o dobro do custo da guerra do Iraque at agora " [2] "Bancos americanos e

    europeus perdero cerca de US$10 milhes de milhes". [3] "Mas a histria ensina uma lio

    importante: que as grandes crises bancrias so essencialmente resolvidas pelo lanamento de

    grandes blocos de dinheiro pblico" [4]

    .

    Dezenas de milhes de milhes de dinheiro pblico "dado", e justificado em nome da alegada

    "importante lio da histria", e naturalmente ao servio da incontestvel boa causa de salvar

    o sistema, isto certamente um bloco muito grande. Nenhum vendedor ambulante de gelados

    poderia alguma vez sonhar com tais blocos. E se acrescentarmos quela grandeza o facto

    citado na mesma pgina da revista de Londres, que s no decorrer do ano passado "o ndice de

    preos dos alimentos de The Economist saltou aproximadamente 55%" [5] e "A alta dos

    preos dos alimentos no fim de 2007 e princpio de 2008 provocou tumultos em uns 30

    pases" [6] , nesse caso o bloco em causa torna-se ainda mais revelador quanto natureza do

    sistema que agora se encontra, ele prprio, numa crise sempre a aprofundar-se.

    Pode algum pensar numa maior acusao para um sistema de produo econmica e

    reproduo social pretensamente inultrapassvel do que esta de que - no mximo do seu poder

    produtivo - est a produzir uma crise alimentar global, e o sofrimento dos incontveis

    milhes inseparveis disto por todo o mundo? Esta a natureza do sistema que se espera

    salvar agora a todo custo, incluindo a actual "repartio" do seu custo astronmico.

    Como pode algum ter algum senso tangvel de todos os milhes de milhes desperdiados?

    Uma vez que estamos a falar acerca de grandezas astronmicas, pus esta pergunta a um

    amigo que professor de Astrofsica na Universidade de Londres. A sua resposta foi que eu

    deveria assinalar que um milho de milhes (trillion) apenas aproximadamente uma centena

    de vezes a idade do nosso universo. Agora, na escala da mesma grandeza, o nmero oficial

    habitualmente subestimado da dvida americana, por si prpria, monta nos nossos dias a mais

    de 10 milhes de milhes. Isto , um milhar de vezes a idade do nosso universo.

    Mas deixem-me citar-vos um curto trecho de uma publicao japonesa. L-se isto:

    http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=634#_edn3#_edn3http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=634#_edn4#_edn4http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=634#_edn5#_edn5http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=634#_edn6#_edn6http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=634#_edn7#_edn7

  • 8

    "Quanto dinheiro especulativo est a movimentar-se pelo mundo? Segundo uma anlise da

    Mitsubishi UFJ Securities, a dimenso da "economia real" global, na qual bens e servios so

    produzidos e comercializados, estimada em US$48,1 milhes de milhes... Por outro lado, a

    dimenso da 'economia financeira' global, o montante total de aces, ttulos e depsitos,

    eleva-se a US$151,8 milhes de milhes. Portanto, a economia financeira inchou mais de trs

    vezes relativamente dimenso da economia real, crescendo rapidamente durante as ltimas

    duas dcadas. O fosso to grande quanto US$100 milhes de milhes. Um analista

    envolvido nesta estimativa disse que cerca da metade deste montante, US$50 milhes de

    milhes, mal necessrio para a economia real. Cinquenta milhes de milhes de dlares

    valem bem mais de 5000 milhes de milhes de yen, um nmero demasiado grande para eu

    realmente compreender." [7]

    Na verdade mesmo muito difcil compreender, quanto mais justificar, como fazem os nossos

    polticos e banqueiros apologistas do capital, as somas astronmicas de especulao

    parasitria acumulada numa grandeza correspondente a 500 mil vezes a idade do nosso

    universo. Se quiser uma outra medida sobre a grandeza em causa, imagine apenas um infeliz

    contabilista dos tempos romanos, a quem fosse pedido nada mais do que simplesmente

    escrever no seu quadro negro o nmero de 5000 milhes de milhes de yen em algarismos

    romanos. Ele cairia em desespero total. Simplesmente no poderia fazer isso. E mesmo que

    tivesse sua disposio algarismos arbicos, os quais no poderia ter tido, mesmo neste caso

    precisaria 17 zeros aps o nmero 5 a fim de registar a cifra em causa.

    O perturbante, contudo, que os nossos polticos e banqueiros endinheirados parecem pensar

    apenas nos zeros, e no nas suas ligaes substantivas, quando apresentam estes problemas

    para consumo pblico. E esta abordagem provavelmente no pode funcionar indefinidamente.

    Pois preciso muito mais do que zeros para escapar do buraco sem fundo do endividamento

    global a que estamos condenados pelo sistema que eles agora querem salvar a todo custo.

    Na realidade, a recente popularidade de Gordon Brown tem uma grande relao com zeros em

    mais de uma forma. A sua espantosa nova popularidade - que, bem pensado, pode acabar por

    ser um tanto efmera - foi demonstrada na semana passada pela manchete de primeira pgina:

    "From Zero to Hero" ("De zero a heri"). O artigo em questo sugeria que o nosso primeiro-

    ministro realmente teve xito em "salvar o sistema". Aqui est como ele ganhou a grande

    aclamao.

    Nacionalizao da bancarrota capitalista

    A razo porque ele foi louvado desse modo, como um heri, foi ter inventado uma nova

    variedade de nacionalizao da bancarrota capitalista, a ser adoptada com imperturbvel

    http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=634#_edn8#_edn8

  • 9

    "conscincia de mercado livre" tambm por outros pases. Aquilo fez at mesmo com que

    George W. Bush se sentisse menos culpado por actuar contra o seu auto-proclamado "instinto

    apaixonado" quando nacionalizou um enorme "bloco" da bancarrota capitalista estado-

    unidenses do qual um nico tem - os passivos das companhias hipotecrias gigantes Fannie

    Mae e Freddie Mac - montavam a 5,4 milhes de milhes de dlares (o que quer dizer, a soma

    necessria para 54 anos de execuo da guerra do Iraque).

    A "novidade pragmtica" - oposta "ao dogma e poltica" nas palavras de The Economist - da

    recente nacionalizao da bancarrota capitalista pelo "New Labour" que os contribuintes

    obtiveram absolutamente nada (por outras palavras, zero-zero-zero quantas vezes queira

    escrever, mesmo dezassete vezes) pelas imensas somas de dinheiro investido em activos

    capitalistas fracassados, incluindo nossos bancos britnicos nacionalizados a dois teros. Esta

    espcie de nacionalizao da bancarrota capitalista algo diferente das verses anteriores,

    institudas aps a Segunda Guerra Mundial quando a "Clusula 4" do Partido Trabalhista - a

    advogar o controle pblico dos meios de produo - ainda fazia parte da sua Constituio.

    Pois em 1945 os nacionalizados sectores em bancarrota da economia capitalista fora m

    transferidos para o controle do Estado, e enquanto durou foram generosamente engordados

    outra vez a partir da tributao geral com o objectivo da adequada "privatizao" no devido

    momento.

    Mesmo a nacionalizao da Rolls Royce Company em 1971, sob o primeiro-ministro

    conservador Edward Heath, seguiu o mesmo padro embaraoso de nacionalizao

    abertamente admitida e controlada pelo Estado. Nos nossos dias, contudo, a beleza da soluo

    de Gordon Brown que remove o embarao enquanto multiplica muitas vezes os milhares de

    milhes desperdiados ao investir na bancarrota capitalista. Certamente ele merece

    plenamente a sua promoo de "De zero a heri" bem como o mximo louvor de "Salvador do

    mundo" que lhe foi conferida por alguns outros jornais, devido sua grande modstia de ficar

    satisfeito com o zero absoluto em troca dos nossos - no dos seus - milhares de milhes

    generosamente dispensados. Mas poder esta espcie de remdio governamental ser

    considerada uma soluo perdurvel para os nossos problemas mesmo em termos de curto

    prazo, para no mencionar a sua necessria sustentabilidade a longo prazo? S os loucos

    poderiam acreditar nisso.

    Na verdade, a recentes medidas adoptadas pelas nossas autoridades polticas e financeiras

    apenas atenderam a um nico aspecto da crise actual: a liquidez dos bancos, das companhias

    de hipotecas e de seguros. E mesmo isso s numa extenso muito limitada. Na realidade as

    enormes "ddivas de blocos" no representam seno o pagamento dos depsitos, por assim

  • 10

    dizer. Muito mais ser necessrio tambm quanto a isto no futuro, como as perturbaes ainda

    em desdobramento no mundo dos mercados de aces continuam a enfatizar.

    Contudo, bem alm do problema da liquidez , uma outra dimenso apenas da crise financeira

    refere-se quase catastrfica insolvncia dos bancos e das companhias de seguros. Este facto

    torna-se claro quando os seus passivos assumidos especulativamente e irresponsavelmente,

    mas nem por isso menos existentes, so realmente levados em conta. Para dar apenas um

    exemplo: dois dos nossos grandes bancos na Gr-Bretanha tm passivos que montam a

    US$2,4 milhes de milhes cada um, adquiridos sob a suposio aventureira de que eles

    nunca tero de ser cumpridos. Pode o estado capitalista salv- los com xito com passivo dessa

    dimenso? Onde poderia o estado pedir dinheiro emprestado com essa grandeza para a

    operao de resgate necessria para tal finalidade? E o que seriam as necessrias

    consequncias inflacionrias de "repartir tais blocos" da operao de resgate verdadeiramente

    gigantesca ao simplesmente imprimir o dinheiro requerido na ausncia de outras solues?

    Alm disso, os problemas no se esgotam de modo algum no perigoso estado do sector

    financeiro. Pois de modo ainda mais intratvel, tambm os sectores produtivos da indstria

    capitalista esto com srios problemas, pouco importando quo altamente desenvolvida e

    favorecida eles possam parecer estar atravs da sua posio de vantagem competitiva na

    hierarquia global do capital transnacional. Devido ao nosso tempo limitado, devo limitar-me a

    um exemplo, mas muito significativo. Refere-se indstria automvel dos Estados Unidos,

    grandemente humilhada nos ltimos anos, apesar de todos os subsdios recebidos do mais

    poderoso estado capitalista no passado, que se contam em muitos milhares de milhes de

    dlares.

    Deixem-me citar de um artigo publicado sobre a Ford Corporation e suas fantasias

    globalizantes em 1994, publicado no The Sunday Times. Foi assim que os nossos distintos

    jornalistas financeiros pintaram naqueles tempos a sua rsea pintura:

    "A globalizao plena est a ser tentada pelas multinacionais ... 'Isto definitivamente o bb

    de Trotman, disse uma fonte americana. 'Ele tem uma viso do futuro, a qual diz que, para ser

    um vencedor global, a Ford deve ser uma corporao verdadeiramente global". Segundo

    Trotman, que disse a The Sunday Times em Outubro de 1993, "Como a competio

    automotiva se torna mais global ao entrarmos no prximo sculo, a presso para descobrir

    economias de escala tornar-se- cada vez maior. Se, ao invs de fazer dois motores de 500

    mil unidades cada um, pudermos fazer um milho de unidades, ento os custos so muito

    mais baixos. Em ltima anlise haver um punhado de actores globais e o resto no estar ali

    ou estaro a lutar para sobreviver'. Trotman e seus colegas concluram que a plena

  • 11

    globalizao o caminho para bater competidores como os japoneses e, na Europa, o arqui-

    rival da Ford, a General Motors, a qual mantm uma vantagem de custo sobre a Ford. A Ford

    tambm acredita que precisa da globalizao para capitalizar em mercados emergentes no

    Extremo Oriente e na Amrica Latina". [8]

    Portanto, a "nica" coisa que Alex Trotman - o britnico que era presidente da Ford

    Corporation naquele tempo - se esqueceu de considerar, apesar da sua impecvel qualificao

    aritmtica de saber a diferena entre 500 mil e 1 milho, foi isto: o que acontece quando no

    podem vender o 1 milho (e muitas vezes mais) motores de carros, apesar da estrategicamente

    contemplada e desfrutada vantagem de custo. No caso da Ford Corporation, mesmo a macia

    taxa de explorao diferencial que a companhia podia impor escala mundial como enorme

    companhia transnacional - isto , pagar por exactamente o mesmo trabalho 25 vezes menos

    aos trabalhadores da "Ford Philippines Corporation", por exemplo, do que sua fora de

    trabalho nos Estados Unidos da Amrica - mesmo esta vantagem inquestionvel no podia ser

    considerada suficiente para assegurar uma sada desta contradio fundamental.

    aqui que estamos hoje, no s no caso da gravemente humilhada Ford Corporation como

    tambm no da General Motors, independentemente da sua vantagem de custo outrora

    profundamente invejada at pela Ford Corporation dos Estados Unidos.

    Ao falar acerca de um acordo recentemente estabelecido que proporciona subsdios do estado

    americano s companhias gigantes de automveis do pas, eis como a infeliz situao actual

    da indstria automobilstica estado-unidense descrita num dos ltimos nmeros de The

    Economist: "o acordo significa que as companhias de automveis - abenoadas com a

    garantia do governo - deveriam obter emprstimos com uma taxa de juro de cerca de 5% ao

    invs dos 15% que enfrentariam no mercado aberto nas condies de hoje". [9]

    Contudo, nenhum montante de subsdio de qualquer espcie pode ser considerado

    suficientemente satisfatrio, porque as "Trs grandes" - General Motors, Ford e Chrysler -

    esto beira da bancarrota, apesar do facto do bb de sonho de Trotsman ser agora um

    adolescente plenamente desenvolvido. Portanto The Economist deve admitir que

    "A partir do momento em que subsdios industriais como este comeam a fluir, difcil par-

    los. Um estudo recente do Cato Institute, um think-tank de extrema direita, descobriu que o

    governo federal gastou cerca de US$92 mil milhes a subsidiar negcios s em 2006. Deste

    total, apenas US$21 mil milhes foram para agricultores, grande parte do resto foi para

    empresas como a Boeing, a IBM e a General Electric na forma de apoio de crdito

    exportao e vrios subsdios de investigao.

    Os Trs grandes j se queixam de que levar demasiado tempo repartir o dinheiro [do estado],

    http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=634#_edn9#_edn9http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=634#_edn10#_edn10

  • 12

    e querem acelerar o processo. Tambm querem outros US$25 mil milhes, possivelmente

    ligados segunda verso da lei de resgate da Wall Street. A lgica do salvamento da Wall

    Street que as finanas servem de base para tudo. Detroit no pode comear a fazer tal

    reivindicao. Mas, se o seu lobbying tiver xito, ser que demorar muito para que

    companhias de aviao aflitas e retalhistas fracassados se juntem fila?" [10]

    A imensa expanso especulativa do aventureirismo financeiro, especialmente nas ltimas trs

    ou quatro dcadas, naturalmente inseparvel do aprofundamento da crise dos ramos

    produtivos da indstria e as resultantes perturbaes que se levantam com a absolutamente

    letrgica acumulao de capital (e na verdade acumulao fracassada) naquele campo

    produtivo da atividade econmica. Agora, inevitavelmente, tambm no domnio da produo

    industrial a crise est a ficar muito pior.

    Naturalmente, a consequncia necessria da crise sempre em aprofundamento nos ramos

    produtivos da "economia real", como eles agora comeam a cham-la e a contrastar a

    economia produtiva com o aventureirismo especulativo financeiro, o crescimento do

    desemprego por toda a parte numa escala assustadora, e a misria humana a ele associada.

    Esperar uma soluo feliz para estes problemas vinda das operaes de resgate do estado

    capitalista seria uma grande iluso.

    Este o contexto em que os nossos polticos deveriam realmente comear a prestar ateno

    afirmada "importante lio da histria", ao invs de "distribuir grandes blocos de dinheiro

    pblico" sob a pretensa "lio da histria". Pois como resultado do desenvolvimento histrico

    sob a regra do capital na sua crise estrutural, na nossa prpria poca atingimos o ponto em que

    devemos ser sujeitos ao impacto destrutivo de uma sempre a piorar simbiose entre a estrutura

    legislativa do estado da nossa sociedade e o material produtivo bem como da dimenso

    financeira da ordem reprodutiva societria estabelecida.

    Compreensivelmente, aquele relacionamento simbitico pode ser, e frequentemente tambm

    acontece ser, administrado com prticas absolutamente corruptas pelas personificaes

    privilegiadas do capital, tanto nos negcios como na poltica. Pois, no importa quo

    corruptas possam ser tais prticas, elas esto plenamente em sintonia com os contra-valores

    institucionalizados da ordem estabelecida. E - dentro da estrutura da simbiose prevalecente

    entre o campo econmico e as prticas polticas dominantes - eles so legalmente bastante

    permissveis, graas ao mais dbio e muitas vezes mesmo claramente anti-democrtico papel

    facilitador da selva legislativa impenetrvel proporcionada pelo estado tambm no domnio

    financeiro.

    http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=634#_edn11#_edn11

  • 13

    A fraudulncia, numa grande variedade das suas formas prticas, a normalidade do capital.

    As suas manifestaes extremamente destrutivas no esto de modo algum confinadas

    operao do complexo militar- industrial. Nesta altura o papel directo do estado capitalista no

    mundo parasitrio das finanas no s fundamentalmente importante, em vista da sua

    grandeza que tudo permeia, como tivemos de descobrir com chocante clareza durante as

    ltimas semanas, mas tambm potencialmente catastrfico.

    O facto embaraoso que companhias hipotecrias gigantes dos EUA, como a Fannie Mae e

    o Freddie Mac, foram corruptamente apoiadas e generosamente abastecidas com garantias

    altamente lucrativas mas totalmente imerecidas pela selva legislativa do Estado americano em

    primeiro lugar, bem como atravs de servios pessoais de corrupo poltica no punida. Na

    verdade, a cada vez mais densa selva legislativa do estado capitalista passa por ser o

    legitimador "democrtico" da fraudulncia institucionalizada nas nossas sociedades. Os

    editores e jornalistas de The Economist esto de facto perfeitamente familiarizados com as

    prticas corruptas pelas quais, no caso das companhias hipotecrias gigantes americanas,

    receberam do seu estado tratamento descaradamente preferencial [aqui cito The Economist ]

    "permitiu Fannie e ao Freddie operarem com minsculos montantes de capital. Os dois

    grupos tinham ncleos de capital (como definido pelo seu regulador) de US$83,2 mil milhes

    no fim de 2007, isto suportava US$5,2 milhes de milhes de dvidas e garantias, um rcio de

    alavancagem de 65 para um. [!!!] Segundo a CreditSights, um grupo de investigao, a

    Fannie e o Freddie foram contrapartes em valores de US$2,3 milhes de milhes de

    transaces com derivativos, relacionadas com as suas actividades de hedging. Nunca seria

    permitido a um banco privado ter um balano to altamente alavancado, [11] nem isto o

    qualificaria para a mxima classificao de crdito AAA. ... Eles utilizaram o seu

    financiamento barato na compra de activos de rendimento mais alto." [12]

    [Alm disso,] Com tanto em jogo, no de admirar que as companhias tenham construdo

    uma formidvel mquina de lobbying. Foram dados empregos a ex-polticos. Os crticos

    podiam esperar uma cavalgada robusta. As companhias no temiam morder as mos que as

    alimentavam". [13]

    No temer "morder as mos que as alimentavam" refere-se, naturalmente, ao corpo legislativo

    do estado americano. Mas por que deveriam elas ter medo? Pois companhias to gigantescas

    constituem uma simbiose total com o estado capitalista. Isto um relacionamento que

    corruptamente se reafirma tambm em termos do pessoal envolvido, atravs do acto de

    contratar polticos que poderiam servi- los preferencialmente, com um impressionante "rcio

    http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=634#_edn12#_edn12http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=634#_edn13#_edn13http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=634#_edn14#_edn14

  • 14

    de alavancagem de 65 para um" e a associada classificao de crdito AAA, mesmo de acordo

    com a relutante confisso de The Economist.

    A gravidade da presente situao sublinhada de um modo caracterstico pela circunstncia

    relatada nestas palavras por The Economist: " traders no mercado de credit-default swaps

    recentemente comearam a fazer apostas sobre o impensvel: que a Amrica pode incumprir

    a sua dvida " [14] . Naturalmente, os referidos traders reagem mesmo a eventos de tal

    carcter e gravidade como os que experimentamos hoje da nica maneira possvel: a espremer

    lucro disto.

    O incumprimento dos EUA no impensvel

    O grande problema para o sistema capitalista global , contudo, que o incumprimento da

    Amrica no de todo impensvel. Pelo contrrio, ele - e tem sido desde h muito - uma

    certeza que se aproxima. Foi por isso que escrevi h muitos anos (em 1995, para ser preciso

    que:

    "Num mundo de insegurana financeira nada se adequa melhor prtica de jogar com somas

    astronmicas e criminosamente no seguradas nas bolsas de valores do mundo - prenunciando

    um tremor de terra de magnitude 9 ou 10 na "Escala de Richter" Financeira - do que chamar

    as empresas que se dedicam a tais jogos " Securities Management"; ... Quando exactamente e

    de que forma - pode haver muitas variedades, mais ou menos brutais - os EUA incumpriro a

    sua dvida astronmica no se pode ver neste momento. S pode haver duas certezas a este

    respeito. A primeira que a inevitabilidade do incumprimento americano afectar

    profundamente toda a gente neste planeta. E a segunda, que a posio de potncia hegemnica

    preponderante dos EUA continuar a ser afirmada de todas as formas, de modo a fazer o resto

    do mundo pagar pela dvida americana por tanto tempo quanto seja capaz de faz- lo". [15]

    Naturalmente, a condio agravada de hoje que o resto do mundo - mesmo com a

    historicamente muito irnica macia contribuio chinesa para a balana do Tesouro

    americano - cada vez menos capaz de preencher o "buraco negro" produzido numa escala

    sempre crescente pelo insacivel apetite da Amrica por financiamento da dvida, como

    demonstrado pelas repercusses globais da recente crise hipotecria e bancria dos EUA. Esta

    circunstncia traz o necessrio incumprimento da Amrica, numa das "variedades mais ou

    menos brutais", para muito mais perto.

    A verdade desta matria perturbante que pode no haver caminho de sada para estas

    contradies finalmente suicidas, as quais so inseparveis do imperativo da infindvel

    expanso do capital, independentemente das consequncias - arbitrria e mistificadoramente

    confundido com crescimento como tal - sem mudar radicalmente o nosso modo de reproduo

    http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=634#_edn15#_edn15http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=634#_edn16#_edn16

  • 15

    social metablico atravs da adopo de prticas responsveis e racionais muito necessrias

    da nica economia vivel, [16] orientada pela necessidade humana, ao invs do alienante,

    desumanizante e degradante lucro.

    aqui que o obstculo esmagador das interdeterminaes em causa prpria do capital devem

    ser confrontadas, no importa quo difcil isto deva ser sob as condies prevalecentes. Pois a

    absolutamente necessria adopo e o apropriado desenvolvimento futuro da nica economia

    vivel inconcebvel sem a transformao radical da prpria ordem socioeconmica e poltica

    estabelecida.

    Gordon Brown recentemente exprimiu o seu desgosto acerca do "capitalismo sem peias", em

    nome da totalmente no especificada "regulao". Voc pode recordar que Gorbachev,

    tambm, queria uma espcie de capitalismo regulado, sob o nome de "socialismo de

    mercado", e tambm deve saber o que lhe aconteceu e sua grotesca fantasia. Por outro lado,

    na expresso do primeiro-ministro conservador britnico Edward Heath, h muito tempo

    atrs, o mesmo pecado do "capitalismo sem restries" era "a face inaceitvel do

    capitalismo". E apesar disso, o "capitalismo sem peias", apesar da sua "face inaceitvel",

    permaneceu todas estas dcadas no s "aceitvel" como - no decorrer do seu novo

    desenvolvimento - tornou-se muito pior. Pois o fundamento causal dos nossos problemas cada

    vez mais srios no a "face inaceitvel do capitalismo no regulamentado" mas a sua

    substncia destrutiva. aquela substncia opressora que deve resistir e anular todos os

    esforos destinados a restringir o sistema do capital mesmo minimamente - como, na verdade,

    realmente se verificou ao efectuar isso tambm na forma de metamorfose, na Gr-Bretanha,

    do [partido] social-democrata "Old Labour" no neoliberal "New Labour". Consequentemente,

    a fantasia periodicamente renovada de regular o capitalismo de um modo estruturalmente

    significativo s pode resultar numa tentativa de dar ns nos ventos.

    Mas a ltima coisa de que hoje precisamos de continuar a dar ns nos ventos, quando temos

    de enfrentar a gravidade da crise estrutural do capital, a qual exige a instituio de uma

    mudana sistmica radical. revelador do carcter incorrigvel do sistema do capital que

    mesmo num momento como este, quando a imensa grandeza da crise em desdobramento j

    no pode mais ser negada pelos mais devotos apologistas ex officio do sistema - uma crise

    descrita h poucos dias por nada menos que o vice-governador do Banco da Inglaterra como a

    maior crise econmica em toda a histria humana - e nada pode ser contemplado, para no

    dizer realmente feito, a fim de mudar os defeitos fundamentais de uma ordem reprodutiva

    societria cada vez mais destrutiva por parte daqueles que controlam as alavancas econmicas

    e polticas da nossa sociedade.

    http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=634#_edn17#_edn17

  • 16

    Em contraste com a recente iluminao do seu prprio vice, o governador do Banco da

    Inglaterra, Mervyn King, no tinha quaisquer reservas acerca da sade do acarinhado sistema

    capitalista, nem teve ele a mnima antecipao de uma crise a chegar quando louvou aos cus

    o livro de Martin Wolf, apologtico do capital, com o seu auto-complacente e

    peremptoriamente assertivo ttulo: Porque a globalizao funciona. Ele considerou aquele

    livro "uma devastadora crtica intelectual dos oponentes da globalizao" e uma "civilizada,

    sbia e optimista viso do nosso futuro econmico e poltico". [17] Agora, contudo, todos so

    forados a terem pelo menos alguma preocupao acerca da verdadeira natureza e das

    necessrias consequncias destrutivas da dogmaticamente saudada globalizao capitalista.

    Naturalmente, a minha prpria atitude para com o livro de Wolf foi muito diferente daquela

    de Mervyn King e outros que partilhavam os mesmos interesses. Comentei na altura da sua

    publicao que

    "o autor, que o Comentador Chefe de Cincia Econmica do Financial Times de Londres,

    esquece-se de colocar a questo realmente importante: Para quem ele funciona?, se que

    funciona. Ele certamente funciona, por enquanto, e de forma alguma to bem, para os

    decisores do capital transnacional, mas no para a esmagadora maioria da espcie humana que

    deve sofrer as consequncias. E nenhuma quantidade da "integrao jurisdicional" advogada

    pelo autor - isto , em bom ingls, o controle directo mais apertado dos "demasiados estados"

    deplorados por um punhado de potncias imperialistas, especialmente a maior delas - vai

    conseguir remediar a situao. A globalizao capitalista na realidade no funciona e no

    pode funcionar. Pois ela no pode ultrapassar as contradies irreconcili veis e os

    antagonismos manifestos da crise global estrutural do sistema. A prpria globalizao

    capitalista a manifestao contraditria daquela crise, tentando subverter o relacionamento

    causa/efeito numa v tentativa de curar alguns efeitos negativos por outros efeitos desejados

    que projecta, porque estruturalmente incapaz de tratar das suas causas." [18]

    Neste sentido, as recentes tentativas de conter os sintomas da crise que se intensificam, pela

    cinicamente camuflada nacionalizao de grandezas astronmicas da bancarrota capitalista,

    atravs dos recursos do estado ainda a serem inventados, s poderia sublinhar as

    determinaes causais antagnicas profundamente enraizadas da destrutividade do sistema

    capitalista. Pois o que est fundamentalmente em causa hoje no simplesmente uma crise

    financeira macia mas o potencial de auto-destruio da humanidade neste momento do

    desenvolvimento histrico, tanto militarmente como atravs da destruio em curso da

    natureza.

    http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=634#_edn18#_edn18http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=634#_edn19#_edn19

  • 17

    Apesar da manipulao concertada de taxas de juro e das recentes cimeiras ocas dos pases

    capitalistas dominantes, nada foi perduravelmente alcanado com o "lanamento de

    gigantescos blocos de dinheiro" no buraco sem fundo do "esmagado" mercado financeiro

    global. A "resposta global abrangente para o fosso da confiana", como o desejo projectado

    de The Economist e dos seus mestres, pertence ao mundo da (no to pura) fantasia. Pois um

    dos maiores fracassos histricos do capital, como o h muito estabelecido modo de controle

    social metablico, a contnua predominncia dos estados-nao potencialmente mais

    agressivos, e a impossibilidade de instituir o estado do sistema do capital como tal na base

    dos antagonismos estruturalmente arraigados do sistema do capital.

    Imaginar que dentro da estrutura de tais determinaes causais antagonistas possa ser

    encontrada uma soluo harmoniosa permanente para o aprofundamento da crise estrutural de

    um sistema de produo e de trocas mais inquo - o qual est agora empenhado activamente

    em produzir mesmo uma crise alimentar global, por cima de todas as suas outras contradies

    gritantes, incluindo a sempre mais difusa destruio da natureza -, sem mesmo tentar remediar

    suas miserveis iniquidades, a pior espcie de pensamento ilusrio, beirando a

    irracionalidade total. Pois, auto-contraditoriamente, ele quer reter a ordem existente apesar

    das suas necessrias iniquidades explosivas e antagonismos. E a chamada "integrao

    jurisdicional dos estados em demasia" sob uns poucos auto- indicados, ou um, como advogado

    por alguns apologistas do capital, pode apenas sugerir a - igualmente auto-contraditria -

    permanncia da potencialmente suicida dominao imperialista global.

    Eis porque Marx mais relevante hoje do que alguma vez j o foi. Pois apenas uma mudana

    sistmica radical pode proporcionar a esperana historicamente sustentvel e a soluo para o

    futuro.

    Notas

    [*] Palestra escrita para uma reunio em Conway Hall, Londres, a 21 de Outubro de 2008. Os inter -ttulos so da responsabilidade de resistir.info. Versin en portugues de Resistir (Portugal ), 7/11/08, reproducido por RGE 548/08. O original encontra-se em www.herramienta.com.ar/ e em http://mrzine.monthlyreview.org/meszaros041108.html. Traduo de JF.

    [1] Todas estas citaes foram retiradas do mesmo editorial de The Economist, 11/Outubro/2008, p. 13.

    [2] The Economist, 11 October 2008, special section, p. 3.

    [3] Ibid.

    [4] Ibid., p. 4.

    [5] Ibid.

    [6] Ibid., p. 6.

    http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=634#_ednref1#_ednref1http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&%20name=News&file=article&sid=629&mode=thread&order=0&thold=0http://mrzine.monthlyreview.org/meszaros041108.htmlhttp://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=634#_ednref2#_ednref2http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=634#_ednref3#_ednref3http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=634#_ednref4#_ednref4http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=634#_ednref5#_ednref5http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=634#_ednref6#_ednref6http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=634#_ednref7#_ednref7

  • 18

    [7] Shii Kazuo in Japan Press Weekly, Special Issue, October 2008, p. 20.

    [8] "Ford prepares for global revolution", by Andrew Lorenz and Jeff Randall. The Sunday Times, 27 March 1994, Section 3, p. 1.

    [9] "A bail-out that passed. In the slipstream of Wall'street's woes, the Big Three land a huge subsidy." The Economist, October 4th, 2008, p. 82.

    [10] Ibid., p. 83.

    [11] A Lehman Brothers, um dos principais private merchant banks, tem um rcio de alavancagem de 30 para 1. Isso bastante mau.

    [12] "Fannie Mae and Freddie Mac: End of illusions" , The Economist, July 19-25, 2008, p. 84.

    [13] "A brief family history: Toxic fudge" , The Economist, July 19-25, 2008, p. 84.

    [14] "Fannie Mae and Freddie Mac: End of illusions", The Economist, July 19-25, 2008, p. 85.

    [15] "The Present Crisis", quoted from Part IV. of Beyond Capital (published in London in 1995), pp.962-3. (In Spanish in Ms all del capital, Vadell Hermanos Editores , Caracas, 2001, pp. 1111-12.)

    [16] Ver a este respeito: "Qualitative Growth in Utilization: The Only Viable Economy", Seco 9.5 do meu livro, The Challenge and Burden of Historical Time , Monthly Review Press, New York, 2008, pp. 272-93. (Publicado in Herramienta, Numbers 36 and 37.)

    [17] Mervyn King's endorsement, on the back cover of Martin Wolf's book, Why Globalization Works , Yale University Press, 2004.

    [18] In "Education - Beyond Capital", Opening Lecture delivered at the Frum Mundial de Educao, Porto Alegre, July 28, 2004. In Spanish reprinted in La educacin ms all del capital , Siglo Veintiuno Editores / Clacso Coediciones, Rio de Janeiro, 2008. Ver tambm o captulo: "Why Capitalist Globalization Cannot Work?" no meu livro, The Challenge and Burden of Historical Time, Monthly Review Press, New York, 2008, pp. 380-398; Spanish edition: El desafo y la carga del tiempo histrico, Vadell Hermanos Editores / Clacso Coedicines, Caracas, 2008, pp. 371-389.

    http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=634#_ednref8#_ednref8http://www.japan-press.co.jp/http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=634#_ednref9#_ednref9http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=634#_ednref10#_ednref10http://www.economist.com/business/displaystory.cfm?story_id=12341970http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=634#_ednref11#_ednref11http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=634#_ednref12#_ednref12http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=634#_ednref13#_ednref13http://www.economist.com/finance/displaystory.cfm?story_id=11751139http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=634#_ednref14#_ednref14http://www.economist.com/finance/displaystory.cfm?story_id=11751146http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=634#_ednref15#_ednref15http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=634#_ednref16#_ednref16http://www.monthlyreview.org/beyondcap.htmhttp://www.vadellhermanos.com/http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=634#_ednref17#_ednref17http://monthlyreview.org/challengeandburden.phphttp://monthlyreview.org/challengeandburden.phphttp://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=634#_ednref18#_ednref18http://www.amazon.fr/gp/redirect.html?ie=UTF8&location=http%3A%2F%2Fwww.amazon.fr%2FWhy-Globalization-Works-Martin-Wolf%2Fdp%2F0300107773%3Fie%3DUTF8%26s%3Denglish-books%26qid%3D1226006062%26sr%3D1-1&tag=resistirinfo-21&linkCode=ur2&camp=1642&creative=6746http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=634#_ednref19#_ednref19http://www.lsf.com.ar/libros/47/EDUCACION-MAS-ALLA-DEL-CAPITAL-LA/

  • 19

    Situacin mundial: Aspectos tericos de la crisis capitalista

    Autor: Reinaldo A. Carcanholo *

    La sociedad capitalista vive actualmente una crisis estructural. Esa es una afirmacin que

    constituye punto de partida para la interpretacin de algunos autores actuales que se sitan en

    el amplio campo del pensamiento crtico. En este momento, por otra parte, desarrollase, en

    mbito mundial, una crisis econmico-financiera cuyo elemento detonador fueron los crditos

    subprime norteamericanos, en el interior de una situacin de sobreendeudamiento de las

    familias consumidoras norteamericanas.

    Hay que tener en cuenta, sin embargo, que la actual crisis econmica mundial generada por

    los crditos subprime no es, en verdad, la crisis estructural del sistema capitalista. No puede

    ser confundida con ella. Constituye simplemente una de sus manifestaciones; la ms notoria

    en los ltimos meses debido al destaque dado a ella por la prensa del mundo entero y, adems,

    por el hecho de que afecta directamente el conjunto de pases del centro del capitalismo, en

    particular su sistema financiero y el mercado de capitales.

    Al lado de la crisis financiera actual, cuyo seguimiento en los prximos meses no es

    previsible, convivimos con otras manifestaciones de la crisis estructural: la del desempleo, la

    energtica, la ecolgica, la de los alimentos y, con esta ltima, el agravamiento de la miseria

    de enormes contingentes de la poblacin mundial.

    Esas manifestaciones de la crisis estructural del sistema capitalista, incluyendo las de carcter

    directamente econmico, no son tan difciles de ser reconocidas como tales, de ser

    identificadas. Basta un mnimo de sentido crtico y podemos llegar a un consenso ms o

    menos amplio sobre la existencia de ellas. Incluso, en lo que respecta a sus causas ms

    inmediatas, no es tan difcil encontrar personas, an con ciertas diferencias de enfoque

    cientfico, que lleguen a un mnimo de acuerdo.

    Algo mucho ms difcil ocurre con la crisis estructural, en particular, con la crisis econmica

    estructural. Su misma existencia, aunque aceptada por algunos, es ampliamente discutida por

    aquellos que se sitan en una perspectiva terica o ideolgica distinta. Y es eso lo que ocurre

    actualmente. No son tantos los que tienen la osada de sostener su existencia y de

    caracterizarla en toda su complejidad. Adems de eso, la verdad es que no son muchos

  • 20

    aquellos que, desde un punto rigurosamente cientfico, estn en condiciones de antever las

    perspectivas futuras de un sistema que padece de una crisis estructural, como es el sistema

    capitalista actual.

    Desde un punto de vista en que predomine nuestra emocin y nuestra perspectiva ideolgica,

    nuestra formacin y principios humanistas, es fcil hablar de esa crisis y de sus eventuales

    consecuencias trgicas; no es difcil pensar en el derrumbe del sistema y de su sustitucin por

    una nueva sociedad en la que predomine la justicia, la solidaridad, la igualdad y la verdadera

    y no formal democracia, en una sola palabra, no es difcil creer que despus de la tragedia

    advendr el socialismo.

    Sin embargo, una actitud como esa, aunque adecuada para el trabajo poltico, especialmente el

    de divulgacin y agitacin ideolgica, no es lo que ms nos interesa aqu, ni es el especial

    propsito que deben tener aquellos que quieran mantenerse en el campo cientfico.

    Aqu, queremos una actitud que sin negar la necesaria divulgacin de las ideas para amplias

    camadas de la poblacin est basada en una perspectiva realmente rigurosa y en fundamentos

    tericos serios.

    Siendo as por qu estamos en condiciones de sostener cientficamente que el capitalismo

    actual sufre una crisis econmica estructural? Cul es la teora que est por detrs de nuestra

    conviccin sobre la existencia de esa crisis? Cules son los elementos esenciales de esa

    teora? En que medida hay una cierta homogeneidad entre quienes defienden, en lneas

    generales, esa misma teora? Cules son los aspectos sobre los que tericamente tenemos

    algunas divergencias y en cules de ellos podemos avanzar en nuestras discusiones para una

    mejor comprensin del sistema, de sus contradicciones y de sus perspectivas para el futuro?

    De partida hay que decir que no se puede pretender una homogeneidad de pensamiento entre

    tantas personas que pueden aportar significativamente para la tarea de explicacin de la actual

    etapa capitalista, an cuando se siten en el mismo campo terico. Sin embargo hay una cosa

    que es fundamental y es que en cada una de las posiciones que se presente, en cada

    manifestacin que ocurra, en cada texto que se escriba, en cada posicin que se defienda, no

    se escamotee, no se niegue la teora que est por detrs y que sostiene cada una de esas

    expresiones. Cuando la perspectiva terica no est presente de manera explcita, es tarea

    nuestra preguntarnos por ella, identificarla y explicitarla.

  • 21

    Con la explicitacin de la base terica que sostiene cada una de nuestras interpretaciones o

    conclusiones, auque no se pueda pretender encontrar una identidad, una homogeneidad

    terica, es posible que logremos una aproximacin a ella, por lo menos entre los que nos

    situemos en la misma tradicin cientfica.

    Por nuestra parte, hay algunos aspectos tericos que nos parecen fundamentales y que deben

    ser explicitados. En primer lugar est nuestra conviccin de que el sistema capitalista es nico

    y global. De la misma manera que la economa alemana y la norteamericana son dos de sus

    elementos, y en el caso, elementos fundamentales, la realidad econmica de Etiopa y del

    Hait, tambin son sus elementos, y elementos indispensables para que se pueda

    adecuadamente comprender el sistema como un todo. Las caractersticas econmicas y

    sociales de Etiopa y del Hait, en lneas generales, no son el resultado de un no desarrollo

    capitalista o de un subdesarrollo. Al contrario, son consecuencias directas e inevitables del

    pleno desarrollo del rgimen mundial del capital; esenciales para que la Alemania y los USA

    sean lo que son. Desarrollo econmico de unos y subdesarrollo de otros son dos caras de l

    mismo proceso global.

    En ese sentido nos identificamos totalmente con la perspectiva de la teora de la dependencia,

    en su tendencia representada especialmente por los trabajos de Ruy Mauro Marini[1]. Cules

    son los aspectos centrales de esa teora? En ella se destaca la cuestin de la transferencia de

    riqueza-valor desde los pases dependientes, a travs de varios mecanismos, siendo uno de

    ellos el sistema internacional de precios, es decir, el conocido fenmeno del intercambio

    desigual y el deterioro de los trminos de ese intercambio. ntimamente relacionado con eso

    se encuentra el concepto de superexplotacin, fenmeno caracterstico de la dependencia.

    Es importante destacar aqu que la teora de la dependencia no es solamente relevante para la

    comprensin del "subdesarrollo" de los pases perifricos, sino que tambin lo es para la

    interpretacin del conjunto del sistema capitalista contemporneo y, por lo tanto, de la riqueza

    de los estados centrales. La dependencia y el imperialismo son dos caras de la misma moneda;

    dos aspectos complementares de una misma teora.

    Para muchos de nosotros, aceptar los aspectos centrales de la teora de la dependencia es un

    punto de poca o ninguna dificultad, pues no parecen existir mayores diferencias o

    divergencias en ese aspecto en nuestras perspectivas.

    http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=625#_edn3#_edn3

  • 22

    Ahora bien, la perspectiva de la dependencia es slo un aspecto de la teora que establece la

    base de nuestra interpretacin sobre el capitalismo, y sobre el capitalismo contemporneo.

    Creemos que el aspecto decisivo de nuestra perspectiva terica es la adhesin incondicional a

    los principios cientficos de la teora dialctica del valor trabajo. En verdad, la teora de la

    dependencia, entendida adecuadamente, presupone esa visin dialctica del valor y de la

    riqueza econmica.

    Al contrario de lo que muchos pueden pensar, la teora del valor, dentro de esa perspectiva, no

    es una teora de los precios, de la determinacin de los precios en condiciones de equilibrio.

    Posee una mucho ms grande significacin. La teora dialctica del valor, en primer lugar,

    considera el trabajo humano como concepto central en el anlisis del sistema capitalista; dicho

    concepto es determinante en lo que se refiere al origen de la riqueza econmica en cualquier

    anlisis econmico, ya sea ms coyuntural o estructural. La tecnologa o, mejor, el avance

    tecnolgico, no es un aspecto que deba ser desechado, pero se refiere sobre todo al contenido

    material de la riqueza capitalista y menos a su forma social, que es el aspecto decisivo. As,

    para esa teora, la ganancia solo puede ser el resultado de la explotacin del trabajo[2].

    Esa perspectiva terica exige, de partida, la respuesta a dos preguntas fundamentales: quin y

    cmo se produce la riqueza? por un lado, y por otro, por quin y cmo es apropiada esa

    riqueza producida?. Dichas preguntas, como es obvio, suponen la fundamental distincin

    entre los conceptos de produccin y apropiacin de la riqueza econmica producida por el

    trabajo y exigen que sean identificados los mecanismos de transferencia desde aquellos q ue

    producen hacia los que finalmente se apropian o apropiarn de ella.

    En verdad, radicalizar la perspectiva dialctica sobre el valor econmico implica entender que

    la riqueza capitalista exige especial atencin tanto en su contenido material cuanto en su

    forma de social, es decir, presupone considerarla en su doble determinacin.

    En lo que se refiere al contenido material, sera absolutamente fuera de propsito desconocer

    el papel del avance tecnolgico en la produccin de la riqueza capitalista contempornea. Sin

    duda que el avance tecnolgico es el responsable por el crecimiento desmedido de esa riqueza

    material pero, al mismo tiempo, tambin es el responsable por su contrafaz, por la expansin,

    profundizacin y exacerbacin de la miseria en muchas partes constitutivas de la estructura

    mundial del sistema. Y eso justamente por la desigual distribucin espacial del desarrollo

    tecnolgico.

    http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=625#_edn4#_edn4

  • 23

    Desde el punto de vista del contenido material, el trabajo, en los espacios donde se presenta el

    desarrollo tecnolgico, es altamente productivo. Y, por el contrario, en aquellos espacios del

    sistema de poco o ningn avance tecnolgico, el trabajo, como creador de riqueza material, es

    poco efectivo.

    Sin embargo, desde el punto de vista de la forma social, la cosa es muy diferente. Si

    radicalizamos la perspectiva dialctica de la teora del valor y, as, reconocemos que la

    riqueza econmica es una relacin social entre seres humanos, relacin esa de dominacin,

    tendremos forzosamente que sostener que no importa el grado dife renciado de desarrollo

    tecnolgico de la regin en que se encuentre o del sector que se trate, el hecho es que

    cualquier trabajo subsumido al sistema capitalista produce, en un determinado tiempo, la

    misma cantidad de valor y por tanto de riqueza capitalista. Si ese trabajo est o no subsumido

    directamente al capital, poco importa; es suficiente que exista alguna forma o tipo de

    subsuncin. La nica condicin para que lo anterior sea correcto es que ese tipo de trabajo sea

    necesario para el sistema, aporte al mismo, y no sea totalmente marginal.

    Marx es muy claro en cuanto a eso, an en el captulo sobre la mercanca, en El Capital:

    Por el contrario, los cambios operados en la capacidad productiva no afectan de suyo el

    trabajo que el valor representa. Como la capacidad productiva es siempre funcin de la forma

    concreta y til de trabajo, es lgico que tan pronto como se hace caso omiso de su forma

    concreta, til, no afecte para nada a ste. El mismo trabajo rinde, por tanto, durante el mismo

    tiempo, idntica cantidad de valor, por mucho que cambie su capacidad productiva [3].

    Es verdad que podemos encontrar en el mismo libro de Marx lo que parece ser una

    contradiccin en trminos, eso en el captulo 10 (tomo I), cuando el autor se refiere a la

    plusvala extraordinaria:

    El trabajo, cuando su fuerza productiva es excepcional, acta como trabajo potenciado,

    creando en el mismo espacio de tiempo valores mayores que el trabajo social medio de la

    misma clase[4].

    Sin embargo, en otra oportunidad tuvimos la posibilidad de esclarecer esa aparente

    contradiccin en trminos[5]. Digamos aqu, en resumen, que Marx se siente obligado, en esa

    parte de su exposicin, a hacer una breve referencia a algo que slo podr explicar

    adecuadamente en un momento posterior. Nos referimos a la plusvala extraordinaria, cuya

    http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=625#_edn5#_edn5http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=625#_edn6#_edn6http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=625#_edn7#_edn7

  • 24

    comprensin exige la clara diferenciacin entre produccin y apropiacin de valor,

    diferenciacin esa que Marx an no haba considerado. Por eso, el autor se vale de una salida

    provisoria y, en verdad, inadecuada.

    As, la conclusin dialctica sobre la cuestin tiene dos caras y es la siguiente. Por una parte,

    del punto de vista del contenido material, el trabajo menos productivo, como consecuencia del

    nivel tecnolgico en que opera, produce en determinado tiempo menos riqueza que el trabajo

    que opera con tecnologa superior; y eso parece ms o menos obvio. Sin embargo, por otra

    parte, del punto de vista de la forma social y dentro de los lmites necesarios para el sistema,

    aquel trabajo "menos productivo" en el mismo tiempo produce, lo que puede parecer un

    absurdo, la misma magnitud de riqueza que el trabajo "ms productivo". Esa aparente

    contradiccin en trminos se explica justamente porque estamos tratando de dos puntos de

    vista distintos: produce menos riqueza dsde el punto de vista del contenido material (valores

    de uso), pero por otra parte, produce la misma magnitud de riqueza desde el punto de vista de

    la forma social (valor).

    Destaquemos un aspecto esencial: en el capitalismo actual, ampliamente desarrollado, el polo

    dominante es la forma social. As, cuando consideramos la tasa de ganancia o, en particular, la

    tendencia a la baja de la tasa de ganancia, por ejemplo, lo que interesa del punto de vista de la

    teora dialctica del valor es el punto de vista de la forma y no el del contenido material, pues

    este ltimo trata exclusivamente de la dimensin de valores de uso de la riqueza.

    En relacin con la tecnologa, es importante decir que aunque ella no tenga significacin

    directa desde el punto de vista de la forma social sobre la magnitud de la riqueza producida,

    llega a determinar la magnitud de la plusvala por intermedio de la plusvala relativa y,

    adems, tiene significativa importancia como instrumento de apropiacin por quien la

    detiene; opera, por medio del sistema de precios, como elemento que impone transferencia de

    riqueza. La plusvala extraordinaria y la renta de monopolio constituyen los mecanismos

    fundamentales de esa apropiacin.

    As, dentro de una perspectiva de la teora dialctica del valor, cmo interpretar la actual

    etapa capitalista?

    El Capitalismo Especulativo

  • 25

    Nuestra perspectiva privilegia la contradiccin produccin/apropiacin de valor para

    interpretar la actual etapa del capitalismo.

    Hay un cierto consenso en el sentido de que el capitalismo desde los aos 70 vive una nueva

    etapa, muy distinta de la anterior. Llamamos a ella de capitalismo especulativo.

    No pocos autores que se colocan en el terreno del pensamiento crtico sostienen que la

    caracterstica principal de esa etapa capitalista es la financiarizacin[6], es decir, un cierto

    predominio de las finanzas sobre las actividades realmente sustantivas del capital, sobre las

    que realmente producen riqueza. Es el caso, por ejemplo de Franois Chesnais, Gerard

    Dumnil y muchos otros.

    Consideramos que desde el punto de vista de la teora dialctica del valor esa es una

    perspectiva adecuada, aunque es indispensable destacar las diferencias que nos alejan de otras

    interpretaciones similares.

    Es tambin verdad que algunos autores que sostienen la idea del dominio de las actividades

    financieras pasaron a hcer uso, con un grado mayor o menor de profundidad terica, de la

    categora marxista de capital ficticio, para entender la naturaleza del llamado capital

    financiero. Sin embargo, la dificultad para la utilizacin adecuada de esa categora cientfica

    se encuentra en el hecho de que ella supone un satisfactorio conocimiento de la teora de

    Marx y, ms especficamente, exige una adecuada interpretacin de la teora dialctica del

    valor, raramente presente. Sin eso, la categora de capital ficticio pierde significacin y

    capacidad de explicar correctamente la realidad.

    Si dicha categora es entendida de manera satisfactoria, la conclusin debe ser, en primer

    lugar, que el capital ficticio es a la vez ficticio y real, segn la dimensin observada. Adems,

    se debe concluir que ese tipo de capital exige remuneracin y nada contribuye, a diferencia

    del capital a inters, para la produccin del excedente econmico, para la extraccin de la

    plusvala. As, el capital ficticio es parasitario. De esa manera, y de forma inevitable, caemos

    en las mencionadas preguntas fundamentales de la teora dialctica del valor, que parten de la

    distincin entre la produccin y la apropiacin de la riqueza capitalista, sta desde el punto de

    vista de la forma social.

    Entonces, si es cierto que la "financiarizacin" es una de las caractersticas significativas de la

    actual etapa capitalista y si la naturaleza del capital dominante es el capital ficticio, plantease

    http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=625#_edn8#_edn8

  • 26

    la pregunta fundamental: quin y cmo se produce la plusvala suficiente para atender las

    exigencias de remuneracin del capital, incluyndose la del capital ficticio? Esa pregunta

    alcanza mayor significacin si consideramos que lo que se conoce como reestructuracin

    productiva en el capitalismo contemporneo habra significado una reduccin del papel del

    trabajo en la produccin, por lo menos en lo que se refiere al trabajo formal y aquel

    relacionado directamente con las actividades productivas industriales del capital.

    En verdad, la contradiccin principal y bsica de la actual fase del capitalismo y que se

    profundiza cada vez ms, en nuestra opinin, es la contradiccin entre la produccin y la

    apropiacin del valor, del excedente mercantil, de la plusvala en sus diferentes formas. Es

    justamente por esa razn que la categora de trabajo productivo (entendido como aquel que

    produce plusvala o excedente en la forma mercantil y apropiable por el capital) llega a tener

    mucha relevancia terica en los das actuales.

    Es verdad que algunos autores, aunque consideran la financiarizacin como caracterstica

    fundamental de la actual etapa capitalista, identifican como su contradiccin principal la que

    existira entre la propiedad y la gestin del capital, y no la que existe entre la produccin y la

    apropiacin. Consideran como relevante y an fundamental la contradiccin entre aquellas

    fracciones de la sociedad poseedoras de las diversas formas de ttulos de propiedad sobre el

    capital y otra que sera la encargada de la gestin profesional de las empresas productivas;

    tambin sera mas significativa la contradiccin entre empresas gestoras do capital parasitario

    y las empresas realmente productivas.

    Sin negar la existencia de contradicciones entre los intereses de sectores propietarios y

    gestores del capital, se puede afirmar que es un error considerar que la oposicin entre el

    capital sustantivo y el capital ficticio tiene como contraparte la existencia claramente

    diferenciada de sectores representantes de esas formas distintas de capital. Sin lugar a dudas,

    los gestores son tambin propietarios de capital y de ambas formas de capital. La verdad es

    que pensar la existencia de intereses claramente contradictorios y hasta antagnicos entre tales

    fracciones sociales propietarias y gerenciales del capital y la considerac in de que se trata de

    la contradiccin principal del sistema lleva a la posibilidad de propuestas de salidas

    reformistas para las dificultades del capitalismo actual.

  • 27

    Aunque la mencionada oposicin entre propiedad y gestin de alguna manera se relacione con

    la contradiccin entre produccin y apropiacin de valor, y sea la primera derivada de la

    segunda, esta ltima tiene implicaciones mucho ms significativas.

    Hagamos ahora un resumen de nuestra interpretacin sobre la actual etapa del capitalismo,

    interpretacin que hemos presentado ya en otros trabajos. Podemos decir que la tendencia a la

    baja de la tasa de ganancia tuvo una notoria manifestacin en los aos 70 y hasta el comienzo

    de los 80, especialmente en los EE.UU. y en Europa. Las nuevas inversiones sustantivas, es

    decir en capital industrial (productivo y comercial) se presentaban con una perspectiva de

    reducida remuneracin y, por eso, los capitales, en magnitud considerable, buscaron como

    salida la especulacin. Esa circunstancia se ha visto favorecida y, ms que eso, ha quedado

    sancionada por las polticas neoliberales (polticas esas que expresan directamente los

    intereses del capital especulativo) y han tenido como contraparte indispensable la

    inestabilidad cambiaria y la deuda pblica creciente de los estados (tanto en el primer mundo,

    cuanto en los perifricos). El capital, de esa manera, crey haber encontrado su paraso:

    rentabilidad sin necesidad de ensuciar sus manos con la produccin. Y eso, de hecho, fue lo

    que ha ocurrido; lamentablemente, para l, por poco tiempo.

    Es verdad que las remuneraciones del capital, a partir del inicio de los aos 80 tendieron a

    crecer. Y aqu, para esa interpretacin, parece existir una dificultad. Cmo eso ha sido

    posible? Si, por un lado, el ritmo de la acumulacin de capital sustantivo se redujo y si, al

    mismo tiempo, se ampli asustadoramente la tasa de crecimiento de la masa de capital

    ficticio, especulativo y parasitario en el mercado mundial, cmo fue posible el crecimiento

    de las tasas de remuneracin de los capitales, tanto la de los capitales sustantivos cuanto la de

    los parasitarios? Qu factores llegaron a contrarrestar la tendencia a la baja de la tasa general

    de ganancia?

    La explicacin de eso, para ser coherente con la teora dialctica del valor, slo puede ser

    encontrada, como factor principal, en el aumento de la explotacin de trabajo. Y aqu nos

    debemos preocupar especialmente con la explotacin del trabajo productivo, aunque tambin

    podemos hablar de la explotacin del trabajo no productivo. Es cierto que el incremento de

    este ltimo no implica aumentar la magnitud del excedente o plusvala producidos, sin

    embargo al reducirse la parcela de la riqueza apropiada por los trabajadores improductivos, se

    ampla el margen disponible para la remuneracin del capital.

  • 28

    De esa manera, para nosotros la explicacin estara en la elevacin, a niveles sin precedentes,

    de la explotacin del trabajo, sea por medio de la plusvala relativa, sea por de la plusvala

    absoluta (extensin de la jornada, mltiples jornadas, intensificacin del trabajo), o mediante

    la superexplotacin de los trabajadores, adems de explotacin de los trabajadores no

    asalariados.

    No hay que olvidar, para la cuestin mencionada, el significativo crecimiento de las

    transferencias de valor desde la periferia y tambin el hecho de que, en el perodo, pudo haber

    contribuido de manera significativa el incremento de la rotacin del capital. Este ltimo

    aspecto es fundamental si tenemos en consideracin el concepto de tasa anual de ganancia.

    Sin embargo, todo eso no nos parece que sea suficiente para explicar el significativo

    incremento de la tasa general de remuneracin del capital global (incluyendo en l la creciente

    parcela especulativa y parasitaria) observado a partir del inicio de los aos 80.

    Nuestra explicacin para eso es que, al mismo tiempo que se ampli exageradamente la

    explotacin del trabajo en todo el mundo (pases centrales y perifricos) y se increment la

    rotacin del capital, surgi de manera considerable algo nuevo, nuevo por lo menos en lo que

    se refiere a su magnitud y a su persistencia. Lo nuevo en el capitalismo actual es la magnitud

    que las ganancias ficticias adquieren en el total de la remuneracin del capital.

    Las ganancias ficticias no son algo sui generis en la lgica capitalista. Surgen naturalmente en

    perodos de especulacin exacerbada, pero rpidamente desaparecen con el fin de ellos.

    Adems, no logran alcanzar magnitudes muy elevadas. Pero en la etapa actual del

    capitalismo, la situacin es diferente. Han persistido por prolongado perodo y han presentado

    volmenes nunca antes observados, como consecuencia del dominio del capital especulativo y

    de la extensin de esa etapa, garantizada que estaba y sigue estando por la poltica de los

    estados ms importantes del planeta. Justamente por eso, porque no han tenido relevancia en

    periodos anteriores, las ganancias ficticias no han sido incorporadas, hasta ahora, como

    categora en el interior de la teora dialctica del valor[7].

    En verdad, ese tipo de remuneracin del capital, con dimensin ficticia, no se diferencia en la

    prctica de las ganancias derivadas de la explotacin del trabajo, aunque no tenga ese origen.

    Por lo menos eso es cierto desde un punto de vista del acto aislado e individual, es decir,

    desde el punto de vista del mercado. No es posible saber cunto de una determinada masa de

    http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=625#_edn9#_edn9

  • 29

    ganancia de un capital es ficticio o real. Ms que eso, desde ese punto de vista, no hay la ms

    mnima diferencia prctica. No tiene sentido preguntarse por la dimensin ficticia. El monto

    de ganancia es absolutamente homogneo.

    La distincin entre lo que es excedente real apropiado como ganancia por el capital y las

    ganancias ficticias slo es comprensible y significativo de un punto de vista global, desde una

    perspectiva macro. Eso significa que, del punto de vista individual, todo capital puede dar a

    sus ganancias, si quiere, un destino efectivamente real, sea el consumo o la inversin. Pero

    eso no es posible para el conjunto del capital. Aquella parte de su remuneracin que tiene

    origen ficticio no puede ser convertida en algo sustantivo. Slo puede incrementar la

    magnitud total del capital ficticio. Y aqu est el problema.

    De esa manera, para nosotros y en resumen, la actual etapa capitalista especulativa se

    caracteriza por el hecho del dominio del capital especulativo y parasitario, que crece como

    resultado de un perodo de aguda manifestacin de la tendencia a la baja de la tasa de

    ganancia. Los capitales, huyendo de las bajas remuneraciones, encuentran salida en la

    especulacin, que se fortalece con por las polticas econmicas adoptadas por los diferentes

    estados.

    Paradjicamente esa salida, que incrementa el capital parasitario a costa del productivo,

    favorece los mecanismos que permiten contrarrestar la baja de la tasa general de ganancia.

    Eso porque resulta en crecimiento de la explotacin de los trabajadores de todo el mundo, en

    incremento de la rotacin del capital productivo y comercial y, especialmente, en el

    surgimiento en magnitud muy elevada de las ganancias ficticias.

    Sin embargo, en economa no puede haber soluciones milagrosas. El problema est

    justamente en el hecho de que las ganancias ficticias resuelven circunstancialmente las

    dificultades del capital, ampliando la parcela especulativa del capital global, parcela esa que,

    por ser creciente exige cada vez mayor parcela de la remuneracin que se destina al capital y,

    como antes mencionado, en nada contribuye para la produccin del excedente, de la plusvala.

    As, resuelven el problema en el momento, pero solo logran hacerlo amplificando la

    contradiccin principal (produccin/apropiacin) y, por tanto, amplificando el problema para

    el futuro, una vez que las ganancias ficticias solo pueden traducirse en ulterior incremento del

    capital especulativo y parasitario.

  • 30

    Por todo eso, nuestra conclusin es de que la crisis econmica estructural del sistema tiene

    como trasfondo la tendencia a la baja de la tasa de ganancia y que la fase especulativa del

    capitalismo que vivimos es el intento del capital de darle una respuesta. Dicha respuesta es el

    dominio del capital parasitario, el incremento a niveles sorprendentes de la explotacin y el

    mantenimiento de magnitudes elevadas y crecientes de ganancias ficticias.

    Esa etapa especulativa solo puede tener vida corta. Es verdad que la incorporacin

    significativa de nuevos espacios para la explotacin capitalista, como es el caso de China y de

    los pases del ex-bloque sovitico, le garantiza, por cierto tiempo, una adicional

    supervivencia. Y los niveles de remuneracin del trabajo en esos espacios son suficientemente

    bajos para garantizar magnitudes significativas de excedente capitalista producido.

    Sin embargo, y a pesar de eso, la vida corta est determinada por el hecho de que en algn

    momento el crecimiento desproporcionado del capital ficticio, como consecuencia de la

    relevancia ao a ao, de las ganancias ficticias, tiene que detenerse. La actual etapa capitalis ta

    especulativa, slo sobrevive y seguir sobreviviendo por ms un tiempo sobre la base de un

    adicional incremento de la explotacin de trabajo; pero eso tiene un lmite. Y no estamos lejos

    de l.

    Obviamente que el fin de esta etapa capitalista especulativa no necesariamente significa el fin

    del capitalismo y, como consecuencia, su sustitucin por una forma social nueva. El

    capitalismo podr sobrevivir sustituyendo eventualmente esa etapa por una de nuevo tipo,

    reconstruyendo la predominancia del capital sustantivo. Pero para lograr eso no sera por

    medio de un proceso fcil ni indoloro. Ello supondra niveles insospechables de explotacin

    del trabajo, superior en mucho los niveles actuales, no slo como forma de contrarrestar el

    bajo nivel de la tasa general de ganancia, pero tambin como resultado de una crisis capaz de

    inducir la desaparicin del capital ficticio, por lo menos en gran medida.

    Cmo se dara ese proceso? Por medio de una explosiva crisis financiera y econmica, de

    amplitud mundial y de magnitud superior, como consecuencia de la crisis estructural? Sera

    la actual crisis de los crditos subprime el punto de partida para esa explosiva crisis

    financiera? O el proceso podra darse, como est ocurriendo, por un largo proceso de

    estancamiento econmico, sembrado de crisis aqu y all, de magnitudes variables? Cualquiera

    que sea la respuesta, una cosa es cierta, la tragedia humana que ya vivimos se manifestar con

    an ms profundidad en el futuro.

  • 31

    Creer en la posibilidad de un retorno a un capita lismo ms humano, si es que eso existi en

    algn momento, o por lo menos no tan violento como el actual, es en verdad creer en

    ilusiones. La perspectiva reformista nunca ha sido tan enganosa.

    Profesor del "Programa de Ps-Graduao em Polticas Sociais" y del Departamento de Economia de la Universidad Federal do Esprito Santo (UFES) -E-mail: [email protected] Pgina web: http://sites.uol.com.br/carcanholo

    [1] Vase por ejemplo: Marini, R. M. Dialctica de la dependencia, Ediciones Era, Mxico, decimoprimera reimpresin, 1991.

    [2] Ms adelante se har referencia al concepto de ganancias ficticias que, como podremos observar, aun no siendo resultado de la explotacin del trabajo, no violenta la teora dialctica del valor. Es justamente por eso que son ficticias.

    [3] Marx, K. El Capital. Tomo I. Mxico, FCE, 1966. p. 13.

    [4] Idem, pp. 255-256.

    [5] Vase: Carcanholo, R.A. "Sobre o conceito de mais-valia extra em Marx" (verso preliminar). V Encontro Nacional de Economa Poltica. Brasil, Fortaleza, 21 a 23 de junho de 2000.

    [6] Es verdad que tambin existen, en ese medio, autores que contestan dicha interpretacin.

    [7] Chesnais en e l ltimo trabajo que le conocemos hizo breve mencin a e llas, pero sin la amplitud que le damos.Vase:. Chesnais, F. "El fin de un ciclo. Alcance y rumbo de la crisis financiera", en Herramienta N 37, Buenos A ires, marzo de 2008. pp. 07 a 36.

    http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=625#_ednref2#_ednref2mailto:[email protected]://sites.uol.com.br/carcanholohttp://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=625#_ednref3#_ednref3http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=625#_ednref4#_ednref4http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=625#_ednref5#_ednref5http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=625#_ednref6#_ednref6http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=625#_ednref7#_ednref7http://rcarcanholo.sites.uol.com.br/Textos/art0001.pdfhttp://rcarcanholo.sites.uol.com.br/Textos/art0001.pdfhttp://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=625#_ednref8#_ednref8http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=625#_ednref9#_ednref9http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=580http://www.herramienta.com.ar/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=565

  • 32

    La crisis me da risa: una mirada desde los Grundrisse del capitalismo contemporneo

    Autor: Adrin Sotelo Valencia*

    Para la mayora de la humanidad, que es la clase trabajadora y el proletariado todo, debe

    quedar muy claro que la presente es una crisis estructural, prolongada y derivada de las

    profundas contradicciones histricas acumuladas por el sistema en las ltimas tres dcadas y

    que son coincidentes con lo que se ha dado en llamar "neoliberalismo", es decir, un patrn de

    produccin y reproduccin, intercambio y consumo del capital internacio nal y de Estado,

    fundado en la divisin internacional del trabajo y en la dinmica empresarial de las fuerzas del

    mercado (oferta-demanda) y que, para ello, cuenta con todos los instrumentos jurdico-

    polticos e institucionalesas como de las fuerzas represivas del Estado y de otros

    instrumentos del sistema de dominacin, por ejemplo, el poder persuasivo de los medios de

    comunicacin, la educacin y los procesos ideolgicos.

    Por lo tanto de ninguna manera se trata de una "crisis inmobiliaria" o simplemente

    "financiera" como se viene propagando desde los crculos oficiales del poder poltico-

    ideolgico de Estados Unidos y de la Unin Europea y en los medios de comunicacin

    privados y oficiales. S ha as fuera, sencillamente por sentido comn, se entendera que con

    la inyeccin de 700 mil millones de dlares que el Congreso norteamericano