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ESPÍRITO SANTO DA ITAPECERICA Flávio Flora 4/11/2010 Seminário “História e Memória” de Divinópolis, MG ES ES ES ES ESPÍRI PÍRI PÍRI PÍRI PÍRITO SAN TO SAN TO SAN TO SAN TO SANTO D TO D TO D TO D TO DA I A I A I A I A ITAP AP AP AP APECERI CERI CERI CERI CERICA CA CA CA CA In In In In Intro tro tro tro trodução dução dução dução dução O tema que coloco à apreciação dos ilustres participantes e assistentes refere-se às origens de Divinópolis – um pon- to estratégico no meio do sertão, sobre o qual as informa- ções são escassas e incompletas. Para tentar suprir parte dessa lacuna, entre 1989 e 2002, rea- lizamos investigação e levantamentos documentais sobre a presença do gentio caiapó no sertão dos rios Itapecerica e Pará. Os resultados foram publicados pela revista A Prova, patrocinada pela Câmara Municipal de Divinópolis. O relatório final – apresentado à Comissão de Educação, Ciência e Cul- tura, em 2002, e publicado na última edição – sugeriu a exis- tência dos selvagens Candidés, tribo da nação Caiapó, com a singularidade da cabeça depilada, reluzente. Paralelamente às buscas por esses primeiros habitantes e aproveitando a oportunidade da pesquisa no Arquivo Público Mineiro (APM), Instituto Histórico de Pitangui e Arquivo da Cúria Diocesana de Mariana, encontramos vários documentos so- bre a formação e o desenvolvimento do arraial. Narrar os even- tos políticos e sociais documentados, incluindo o que foi es- crito por historiadores locais é o objetivo deste ensaio. Flávio Flora j 1 j 2

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ESPÍRITO SANTO DA ITAPECERICA Flávio Flora 4/11/2010 Seminário “História e Memória” de Divinópolis, MG

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InInInInIntrotrotrotrotroduçãoduçãoduçãoduçãodução

O tema que coloco à apreciação dos ilustres participantese assistentes refere-se às origens de Divinópolis – um pon-to estratégico no meio do sertão, sobre o qual as informa-ções são escassas e incompletas.

Para tentar suprir parte dessa lacuna, entre 1989 e 2002, rea-lizamos investigação e levantamentos documentais sobre apresença do gentio caiapó no sertão dos rios Itapecerica ePará. Os resultados foram publicados pela revista A Prova,patrocinada pela Câmara Municipal de Divinópolis. O relatóriofinal – apresentado à Comissão de Educação, Ciência e Cul-tura, em 2002, e publicado na última edição – sugeriu a exis-tência dos selvagens Candidés, tribo da nação Caiapó, com asingularidade da cabeça depilada, reluzente.

Paralelamente às buscas por esses primeiros habitantes eaproveitando a oportunidade da pesquisa no Arquivo PúblicoMineiro (APM), Instituto Histórico de Pitangui e Arquivo da CúriaDiocesana de Mariana, encontramos vários documentos so-bre a formação e o desenvolvimento do arraial. Narrar os even-tos políticos e sociais documentados, incluindo o que foi es-crito por historiadores locais é o objetivo deste ensaio.

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A passagem de pedras escorregadias (Itapecerica) ou po-pularmente Pecerica (passagem escorregadia, em tupi) –formada por grandes pedras roliças dispostas de margema margem, no meio da correnteza – deu nome ao local e,depois, à paragem, à capela, ao curato (arraial), à paróquiae à comarca, que aqui se sucederam e se desenvolveram.!

Referência geográfica limítrofe dos termos da Vila Pitanguicom a Vila São José del-Rey (depois da criação do arraialdo Tamanduá, em 1744), tornou-se cenário de agressões edisputas violentas entre as duas Câmaras, especialmentedepois da ereção da capela, em 1770.!

Singulares acontecimentos documentados em leis, relató-rios e correspondências oficiais e particulares, dos perío-dos colonial e imperial, fornecem dados e informações datrajetória histórica de Divinópolis, cuja autonomia começoucom o fazendeiro João Pimenta Ferreira e prosseguiu como farmacêutico Pedro X. Gontijo.!

O estudo desse material pode oferecer uma explicação plau-sível para a importância do arraial na vida política de cincovilas coloniais e revelar algumas qualidades dos antigosmoradores que passaram à identidade social dosdivinopolitanos. Coragem? Perseverança? Senso de opor-tunidade? Solidariedade? Caridade? Ainda não se sabe.

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LevLevLevLevLevananananante dte dte dte dte de Pitanguie Pitanguie Pitanguie Pitanguie Pitangui

Antes da abertura da Picada, nossa região era habitada ape-nas pelos caiapó, que dominavam o Alto São Francisco, delado a lado, e não facilitavam as coisas para os estranhos.Mas, mesmo assim, depois de 1709 (com fim da guerra dosemboabas), a região do rio Pitangui (Pará), foi penetrada porvários mineradores paulistas de Sabará, Mariana e São João.Entravam pelas trilhas de Itatiaiuçu, Brumado e Passa Tempoe desciam pela margem direita dos rios Pará e São João.1

Outra entrada pode ter ocorrido no Levante de Pitangui,2 apartir de 1715, criação da vila. Diante do clima de guerrainstalado na localidade, por conta de excessivos impostoscobrados dos mineradores, muitos fazendeiros deixaram avila entregue à milícia do capitão-mor Domingos Rodriguesdo Prado e enveredaram rio acima. Era iminente um con-fronto com as tropas do Conde de Assumar, o que acabouacontecendo em 1719, com o massacre dos milicianos lo-cais, atacados de surpresa em várias frentes.3

Depois desse acontecimento, Pitangui (apenas um novo ar-raial desabitado nos confins da Capitania de São Paulo e Mi-nas do Ouro) passou a pertencer à Comarca do Rio das Ve-lhas (Sabará), estabelecendo-se os limites territoriais do seutermo. Essa medida fez com que muitos voltassem e reto-massem os antigos lares e propriedades. A vila tornou-se omaior centro urbano do oeste de Minas, no séc. XVIII.4

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Dos que permaneceram nos sertões do rio Pará, quase nadase sabe. Temos apenas a notícia de que os pais de Bentoda Costa de Oliveira lhe deixaram de herança uma fazendade engenhos e mato, no Macuco (rio Pará), formada nosidos de 1719, da qual só obteve escritura em 1759.5

Em 1735, o guarda-mor Feliciano Cardozo de Camargo eseu grupo foram os primeiros a descer o ribeirão Tamanduáaté a Itapecerica “na diligência de achar ouro”. Mas um ata-que dos caiapó matou cinco dos seus companheiros (queforam assados e comidos), e espantou os aventureiros.6

A PiA PiA PiA PiA Picacacacacada dda dda dda dda de Goe Goe Goe Goe Goiásiásiásiásiás

O ano de 1736 foi importante para a colonização de Minas, en-tão sob governo interino do Comissário Real Martinho de Men-donça de Pina e Proença. No seu rápido mandato, além dereestruturar o governo e regulamentar os impostos, combateuamotinados do rio São Francisco e promoveu o povoamento dooeste mineiro, autorizando a formação de duas bandeiras parti-culares para devassar o Campo Grande.7

A Picada de Goiás foi aberta pelo coronel Matias Barbosada Silva, o cabeça-de-ferro (desde São João del-Rey); e ocaminho de Pitangui-Paracatu pelo bandeirante Domingosde Brito, que tinha ao seu lado o jovem sertanista ManoelFernandes Teixeira, nosso conhecido.8

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O traçado da Picada de Goiás saía de S. João, pela novaestrada de Mariana e, depois, entrava pelas cabeceiras doribeirão Boa Vista (na altura de Oliveira), descendo peloseu lado direito até a Itapecerica. Daqui seguia em direçãoda Serra Negra e depois, pelas nascentes do rio Lambari,em direção da Piraquara (Bom Despacho). A Picada con-tornava o termo de Pitangui, até chegar a Paracatu.9

Dois participantes dessa bandeira montaram acampamentospara exploração das vizinhanças da passagem: o guarda-morFeliciano Cardozo de Camargo, que (pela segunda vez) en-trou no sertão do rio da Itapecerica, vindo a descobrir, final-mente, as jazidas de Tamanduá (só comunicadas três anosdepois à Câmara de São José); e o sertanista Tomás Teixeira,que preferiu fixar-se no Picão (Bom Despacho), e só a partirde 1748, vir estabelecer-se na Itapecerica, como contratador,sócio do capitão-de-entradas Francisco de Araujo e Sá.!

Esse primeiro caminho foi abandonado um ano depois de-vido à perigosa presença dos caiapó e os ataques de es-cravos que se agrupavam em mocambos pela rota recém-aberta. Apesar da proibição de seu uso, a picada contribuiumuito para a expansão da temida e combatida confedera-ção do Quilombo do Ambrósio, que dominava a maior partedo Campo Grande. E mesmo com a mortandade provocadapelas expedições militares de extermínio de quilombolas ecaiapó, a rota preferida pelos escravos em fuga, contra-bandistas e aventureiros ainda era esta.10

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PPPPPooooonnnnnto estrato estrato estrato estrato estratégitégitégitégitégicccccooooo

Em 1744, na retificação do território de São José del-Rey, emvirtude da posse das minas do Tamanduá, a Câmara dePitangui sentiu-se prejudicada pela ousadia daquelas autori-dades. Elas haviam descido o ribeirão Tamanduá, depois o rioda Itapecerica e avançaram até sua barra no Pará, plantandoali um marco da Câmara de São José, com todas as cerimôni-as, quase três léguas abaixo da referência oficial.11

Foi um desrespeito às jurisdições de Pitangui e da Comarcado Rio das Velhas, estabelecidas em 1719, cuja linha divisó-ria passava pelo Calhau de Lima (Cajurú), pela Serra Negra epelas Minas do Tamandoá. O ato foi motivo de reclamação aogovernador Gomes Freire de Andrade, que reconheceu os do-mínios de Pitangui sobre as paragens da Itapecerica, SerraNegra e Piraquara, mas confirmou o novo marco de São Joséna confluência dos ribeirões Boa Vista e Tamanduá, começodo rio da Itapecerica (Lat: -20.220 Lon: -44.913), deixandoPitangui sem as minas.12, 13, 14, 15

Esse parece ser um dos principais motivos de Pitangui esta-belecer na paragem o capitão-de-entradas Francisco de Ara-újo e Sá e o capitão-do-mato Francisco Ferreira Fontes (ca-çador de escravos fugidos) que são os dois primeiros mora-dores do lugar (com familiares, escravos e camaradas). Aoassumir a contratação da passagem (1748), o sertanista To-más Teixeira tornou-se o terceiro morador, aqui vivendo comsua segunda família.16

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Com a morte de Tomás, em 1754, Francisco Ferreira Fon-tes assumiu a contratação da passagem, mantendo discre-tas relações com quilombolas num novo acordo de traba-lho, que transformou um pequeno mocambo em rentávelfazenda de negócios de mantimentos, criação de gado ecavalariças, para a qual se mudou anos mais tarde, quan-do sua sesmaria foi ali concedida. Em 1754 ainda, um com-padre do capitão Francisco de Araújo e Sá, o sargento-morGabriel da Silva Pereira, também veio morar na Pecerica,obtendo uma sesmaria no rio Pará pelos serviços de Orde-nanças na região.17, 18

Outro oficial superior de Ordenanças de Pitangui que tinhamorada no sertão do rio Pará, próximo à Itapecerica, era ocapitão-mor Francisco da Costa Ribeiro, que aparece na es-critura de Bento da Costa Oliveira como vizinho, em 1759.17

A forte presença policial na região é um indício da impor-tância que Pitangui dava ao lugar. Na Itapecerica, mora-vam, além do capitão-mor, do sargento-mor e do capitão-de-entradas, um capitão-do-mato (que se tornou contratadorda passagem e depois almotacé) e um Juiz de Vintena.!

O que justificaria toda essa força oficial de terceira linha nolugar? Seria o funcionamento de uma “fortaleza” para apri-sionamento de escravos fugitivos e guarda do confisco deouro em pó e diamantes ou uma força regional para pôrordem e sossego público nas paragens e adjacências, emvista da expansão do arraial de Tamanduá?

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A fA fA fA fA fooooomação dmação dmação dmação dmação do arraialo arraialo arraialo arraialo arraial

Com o passar dos anos e o ir e vir pelo sertão, a passagemtransformou-se na conhecida “paragem da Itapecerica”, ad-quirindo ares de povoado. Ali perto, a sudeste, ficava o en-troncamento de Itatiaiuçu que levava a todas as vilas cen-trais; a oeste (noroeste e sudoeste), grandes áreas de ma-tos e ribeiros sendo explorados (e por explorar) e paragens.!

A Itapecerica abria-se para uma vasta região habitada peloscaiapó – antropófagos, curiosos, barulhentos e ferozes na de-fesa de suas aldeias e territórios de caça, mas pacíficos, senão incomodados. Essa característica facilitava a formaçãode pequenos mocambos e sítios isolados nos campos e nosvales dos rios Lambari, Itapecerica e Pará.!

Em 1764, haviam dezenas de fazendas localizadas em tor-no das duas referências principais: a da Itapecerica, commais moradores, e a da Serra Negra, que se formava comgente de São João, São José e Tamanduá.17

Nesse ano, provavelmente por algum motivo familiar, umdos mais antigos fazendeiros do Sertão da Itapecerica JoãoPimenta Ferreira mudou-se com seus familiares para Onçado Pitangui, abandonando (de certa forma) uma larga faixade terras que ia da Itapecerica à Serra Negra, a qual, cincoanos depois, converteu-se em devoluta.!

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Dos pioneiros que vieram morar no Sertão do rio Itapeceri-ca, João Pimenta Ferreira, sem sombra de dúvida, se des-taca como principal protagonista da fundação do arraial. Ho-mem de visão futurista, religioso, solidário, foi ele quem tevea iniciativa de “fabricar” a capela, visitar os fazendeiros daregião em busca de apoio financeiro e tomar as providênci-as legais.!

Na primeira Súplica ao Ordinário do Bispado de Mariana, JoãoPimenta Ferreira relatou ao escrivão o desconforto da falta decemitério, que obrigava os moradores a deixarem seus mor-tos “para sustento dos bichos do mato” quando não se obti-nham os efeitos da “Guaxyma” (espécie de arbusto utilizadocomo remédio caseiro contra diversos males e outros usos).19

Também destacava os problemas com a transposição dos riosPará e Itapecerica, “invasiáveis”, que permitiam ser atraves-sados “só no rigor da seca”. E ressaltava que para se chegarà Matriz mais próxima, que era a de São Bento do Tamanduá,era preciso enfrentar “rigoroso trabalho de os selvagens pa-gãos”, que vadeavam pela região.19

A Súplica registra ainda que todos foram visitados, apoiavame pediam a Provisão. A comunidade de mais de “sincoentafogos”, constantes do “rol” anexado, comprometia-se a orna-mentar, adquirir imagens e custear as despesas da “capella”.19

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A Provisão foi dada em 13 de janeiro de 1767, constandode um despacho, no canto superior esquerdo da própriaSúplica, autorizando a ereção da capela do Divino EspíritoSanto e São Francisco de Paula.19

Ao final do documento, uma anotação do vistoriador confirmaa existência da capela e terreno para o adro e atesta sua per-feita condição para servir aos ofícios religiosos. Esse teste-munho indica que ele esteve na paragem, no ano anterior,para verificar as condições da localidade e encontrou a cape-la pronta.19

Nos três anos seguintes, os mesmos 50 moradores – ani-mados por João Pimenta Ferreira com a possibilidade dolugar tornar-se arraial, ter um pároco residente e mais au-tonomia em relação às Vilas rivais – decidiram prosseguircom os trâmites e obter esses benefícios do curato.!

Nessa época, o conhecido sertanista Manoel FernandesTeixeira, então viúvo, em Pitangui, às voltas com quatro filhosmenores e com sérias dificuldades financeiras, conheceu ajovem Maria Alves Ferreira e com ela se casou.17, 20 Vierammorar na Itapecerica, ele se assenhoreando de terras devolutasdeixadas pelo sogro João Pimenta Ferreira, reservando 40alqueires para a capela, um sítio para si na paragem e ven-dendo outras partes para novos moradores. O sogro era seuavalista em alguns negócios levados à cobrança judicial.!

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Em 24 de março de 1770, João Pimenta Ferreira voltou aoBispado, em Mariana, desta vez acompanhado do genroManoel e de outros cinco moradores, para fazer nova Súplica(requerendo o curato) e providenciar a ampliação do patrimônioda capela, já fabricada e erigida, segundo informa. Agora se-ria o caso de acrescentar uma morada de casas, para abrigare receber os párocos e missionários religiosos, um capão de40 alqueires de mato e a garantia de uma renda anual de 20oitavas de ouro (70 gramas) para as despesas litúrgicas.21

Nessa mesma manhã (era um sábado), Manoel FernandesTeixeira, no Cartório de Francisco do Rego Andrade, com-provou a posse das terras devolutas e passou a escriturade doação do patrimônio à capela. Enquanto isso, seu so-gro e os outros moradores foram prestavar depoimentosjunto ao Ordinário, comprovando as informações fornecidasnas Súplicas e recebendo as determinações eclesiásticas;tudo reduzido a termos e publicado.22

À tarde, a comitiva da Itapecerica entregou a escritura dedoação do patrimônio à Cúria Diocesana, comprometendo-se a pagar os procedimentos cartoriais.23

Na segunda-feira 26, foram publicadas as duas Súplicas,todos os depoimentos e a escritura de doação, esperando-se mais três dias para finalização do processo, que culmi-naria com o pagamento das custas finais. Na quarta-feira28, a comitiva pagou as despesas processuais, no valor de11$455 contos de réis.25

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Com as Provisões para colocação do símbolo do DivinoEspírito Santo e a imagem benta de São Francisco de Paulae para ser benzida e aberta à visitação, estavam termina-dos os processos de ereção e curato da capela: 29 de mar-ço de 1770. Agora, a paragem da Itapecerica, passara a sechamar “arraial do Espírito Santo da Itapecerica”, nome ofi-cializado pela Câmara de Pitangui, na sede da Comarca deSabará, no mesmo ano.!

Não se tem notícia de que o capelão de Sant’Ana, seja do RioSão João Acima ou do Bamboy, tenha vindo benzer a capela,como determinado pela Cúria. É mais provável que, por estarmais perto de Tamanduá, ela tenha recebido a bênção do pa-dre Gaspar Álvares Gondin, da matriz de São Bento (que fa-zia visitas regulares à paragem). É provável também que elafosse assistida, nos primeiros anos, pelos padres que mora-vam nas proximidades: Pe. José Gomes (morador da Cacho-eira Grande do Rio Pará), Pe. Luiz Antônio Xavier (moradorda Serra Negra) e Pe. Leonardo Francisco Palhano – que com-prou terras de Manoel Fernandes Teixeira, no Alto Paranaíba,em 1738, e agora (1770) viera residir no sertão da Itapeceri-ca, em terras compradas do mesmo Manoel.17, 18, !

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A vinda do experiente sertanista Manoel Fernandes Teixeirapara a Itapecerica reforçou a permanência de fazendeirosmais antigos e atraiu novos moradores, que deixaram raízesna região. Apenas um deles não conseguiu se dar bem noarraial: o jovem João Pinto Caldeira, que, apesar da dispo-sição juvenil, não lhe agradava as custosas atividades ru-rais, levando-o a contrair muitas dívidas e causar proble-mas, inclusive aos familiares de Manoel Pinto Caldeira (seusparentes da Serra Negra). Por assediar as mulheres e jo-vens escravas com obscenidades e provocar desentendi-mentos e brigas, foi expulso do arraial pelo Juiz de VintenaJoão Ribeiro Valdoz e Francisco Ferreira Fontes, recém no-meado almotacé de Pitangui.18

Ressentido com o tratamento recebido, dirigiu-se à Câma-ra de São José, alistando-se em uma das expedições orga-nizadas pelo Mestre-de-Campo Inácio Correa Pamplomapara dar combate aos caiapó e negros aquilombados, tor-nando-se capitão, em curto espaço de tempo.!

Em 1772, a Câmara de São José inconformada com o cresci-mento do arraial fora de sua jurisdição, enviou um Juiz deSesmarias, um escrivão e um “piloto” para certificar-se de queas sesmarias concedidas e aprovadas estavam regularizadas.Estes foram presos e levados para Pitangui, provocando fortereação da Câmara rival. Reação que se materializou no anoseguinte, com “mãos armadas”.13

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No posto de capitão, investido no cargo de almotacé, JoãoPinto Caldeira reapareceu na Itapecerica, com uma esqua-dra de 20 soldados pedestres. Vinha com a missão de pren-der o Juiz de Vintena João Ribeiro Valdoz e o almotacé Fran-cisco Ferreira Fontes e quem se opusesse à sua presençano arraial. E assim foi feito: “espancando-os ferindo-os mal-tratando-os juizando-os aos pés de negros e mulatosarracando-lhes as varas e lançando-os [...] com desprezode palavras”, segundo descreve a própria rainha D. Maria I,em carta repreensiva às autoridades de São José, reco-nhecendo o domínio de Pitangui na região.12

Depois desses eventos, o arraial voltou a ficar relativamen-te sossegado, durante uns dez anos, com sua capela qua-se sempre fechada, sem um pároco residente e dependen-do da boa vontade dos padres-fazendeiros. A convivênciados moradores com o gentio tornara-se mais tranquila, nãohavendo mais tantos caiapó na região.!

Mesmo assim, em 1782, uma divisão da Legião da Conquis-ta, sediada em São Bento do Tamanduá e comandada pelocapitão João Pinto Caldeira (nomeado Comandante do Cam-po Grande), lançou forte ofensiva contra os negrosaquilombados no centro-oeste. Nessa investida, além dascentenas de negros, muitos caiapó da cabeça-limpa tambémforam mortos. Os sobreviventes, assustados, finalmente aban-donaram suas terras, propiciando novas ocupações.10, 26, 27

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Após a expulsão definitiva dos quilombolas e caiapó, em 1785,surgiu o primeiro pároco dedicado. Era um professor de For-miga, José Carvalho Trindade, que, após ter ficado viúvo, or-denou-se padre, vindo à capela da Itapecerica iniciar seu sa-cerdócio e criar sua família. Viveu aqui durante quinze anos.28

Nesse tempo, o sossego no arraial e nas redondezas só foiquebrado quando autoridades e fazendeiros do distrito deTamanduá começaram a trabalhar pela criação da Vila deSão Bento, em 1789, estabelecendo novos limites para seuterritório. Com os novos marcos, surgiram as divergênciase os confrontos, porém, agora, envolvendo moradores anti-gos e novos e autoridades de ambos os lados.!

A situação ficou tão tensa que o governo do Visconde deBarbacena não teve outra saída a não ser promover umaconferência entre os almotacéis de Pitangui, São José eTamanduá e os fazendeiros. Estes deveriam comprovarsuas propriedades e decidir por voto, a qual termo perten-cer. Nesta conferência também assistiam enviados dasComarcas do Rio das Velhas (Sabará) e do Rio das Mortes(São João del-Rey).18

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Durante três dias, o evento movimentou o arraial, consta-tando-se que o Espírito Santo da Itapecerica continuaria notermo de Pitangui (e Comarca de Sabará), por decisão dosfazendeiros, mas não o povoado da Serra Negra da Itape-cerica, que passaria a pertencer a São Bento do Tamanduá,como queriam seus moradores. É o que constou do relató-rio escrito em 12/09/1790, pelo alferes comandante BentoGarcez de Almeida Grant, que presidiu as audiências e con-cluiu que, pelos documentos e mapas apresentados, as de-marcações foram feitas sem “retas intenções”.18

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Depois dessa pacificação das Vilas rivais, junto das cinquentafamílias originais – ao tempo da fundação do arraial, soman-do pouco mais de 600 pessoas, incluindo familiares, escravose camaradas contratados – fixaram-se novos moradores defi-nitivos. Lentamente, a Itapecerica transformou-se num atra-ente arraial, com uma população estimada em 1.154 habitan-tes (censo de 1813), de maioria negra e livre.18

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No ano em que o arraial seria, finalmente, beneficiado pelocurato (1830), o antigo símbolo da união das cinquenta fa-mílias do Sertão do Rio Itapecerica – a capela do DivinoEspírito Santo e São Francisco de Paula – foi destruída porestrepitoso incêndio.28, !

Esse ato de terror pôs fim a muitos registros de atividadesreligiosas dos primeiros moradores e marcou profundamentea sociedade local. Foi o reinício das disputas políticas pelaposse do arraial, que culminaram com a sua transferência,em 1839, para o município de São Bento do Tamanduá,sob grave crise político-religiosa.!

Com o incêndio da capela, terminamos este ensaio sobreos fundadores de Divinópolis e os eventos que marcaramépoca, na segunda metade do século XVIII, não só na his-tória local, mas na história da capitania de Minas – no capí-tulo do povoamento do centro-oeste.

Espírito comunitário, solidariedade, religiosidade e coragemparecem ter sido as qualidades conferidas a Divinópolis,em seu nascimento.

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REFERÊNCIAS

1 Carta do governador D. Brás Baltasar da Silveira, de 01/09/1713, informando de suavisita ao arraial de Pitangui e dos estranhamentos entre paulistas e reinóis (APAPAPAPAPMMMMM,Cod. 4, fl. 325).

2 DINIZ, Sílvio Gabriel. PPPPPesquisanesquisanesquisanesquisanesquisandddddo a história do a história do a história do a história do a história de Pitanguie Pitanguie Pitanguie Pitanguie Pitangui. Belo Horizonte: EdiçãoComemorativa do 250o aniversário de Pitangui, 1965.

3 AQUINO, Rubens Santos Leão de et al. SoSoSoSoSocicicicicieeeeedadadadadaddddde be be be be brasilrasilrasilrasilrasileiraeiraeiraeiraeira: uma história atravésde movimentos sociais. 5a. ed. Rio de janeiro: Ed. Record, 2007.

4 ANASTASIA, Carla Maria Junho. VVVVVassalassalassalassalassalos Ros Ros Ros Ros Rebelebelebelebelebeldddddeseseseses..... Violência coletiva nas Minasna primeira metade do século XVIII. Belo Horizonte: C/Arte, 1998, p.88.

5 BARRETO, Lázaro. MMMMMemememememooooorial drial drial drial drial de Die Die Die Die Divinópovinópovinópovinópovinópolislislislislis. Divinópolis: Gráfica Serfor, 1992, 268p.

6 Carta da Câmara de São Bento do Tamanduá, de 20 de julho de 1793, à rainha D.Matia I, descrevendo a abragência do seu Termo e fazendo referências à “descober-tas das Minas do Tamanduá” (RRRRRevista APevista APevista APevista APevista APMMMMM. Ouro Preto: 1897, Ano II, fasc. 2, p. 378)

7 CAVALCANTI, Irenilda Reinalda Barreto de Rangel Moreira. O CoO CoO CoO CoO Comissárimissárimissárimissárimissário ro ro ro ro realealealealealMartinhMartinhMartinhMartinhMartinho do do do do de Me Me Me Me Meeeeennnnndddddooooonçançançançança: Práticas administrativas na primeira metade do século XVIII.Tese (Doutorado). 2010. Universidade Federal Fluminense/ICHF. Nitero, 427 p.:

8 BARBOSA, Waldemar de Almeida. Picada de Goiás. . . . . In: DiDiDiDiDiciciciciciooooonárinárinárinárinário histório histório histório histório históriccccco-go-go-go-go-geo-eo-eo-eo-eo-gráfigráfigráfigráfigráficcccco do do do do de Mine Mine Mine Mine Minas Geas Geas Geas Geas Geraisraisraisraisrais. Edição Comemorativa dos Dois Séculos e Meio da Capita-nia de Minas Gerais. Belo Horizonte: Promoção-da-Família Editora,1971, 549p.

9 BARBOSA, Waldemar de Almeida. A Picada de Goiás. RRRRRevista devista devista devista devista de História e Artee História e Artee História e Artee História e Artee História e Arte,Belo Horizonte, n. 2, pp 35-43, s/d.

10 BARBOSA, Waldemar de Almeida. A dA dA dA dA decaecaecaecaecadêndêndêndêndência das mincia das mincia das mincia das mincia das minas e a fuga da minas e a fuga da minas e a fuga da minas e a fuga da minas e a fuga da mineeeeerarararara-----çãoçãoçãoçãoção. Belo Horizonte: UFMG, Centro de Estudos Mineiros, s/d, 230 p.

11 Carta da Câmara de Pitangui, de 31 de dezembro de 1775, à Rainha D. Maria Isobreas “Terras de Itapesserica e Serra Negra” violadas pelos oficiais da Câmara de SãoJosé del-Rey. (Reproduzida parcialmente por BARRETO, Lázaro. MMMMMemememememooooorial drial drial drial drial de Die Die Die Die Divivivivivi-----nóponóponóponóponópolislislislislis, Divinópolis: Prefeitura Municipal, 1992)

12 Carta-resposta da rainha D. Maria I, em 6 de agosto de 1779, repropduz o conteúdoprincipal da queixa da Câmara de Pitangui e repreende a “cobissa” de São Josédel-Rey. (Reproduzida parcialmente por BARRETO, Lázaro. MMMMMemememememooooorial drial drial drial drial de Die Die Die Die Divinópo-vinópo-vinópo-vinópo-vinópo-lislislislislis, Divinópolis: Prefeitura Municipal, 1992)

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13 Carta-resposta da Câmara de São José del-Rey à rainha D. Maria I, [s/d], justifi-cando o rompimento dos limites, referindo-se ao “escandalozo caso” da prisão deautoridades de São Jose. (Reproduzida parcialmente por BARRETO, Lázaro.MMMMMemememememooooorial drial drial drial drial de Die Die Die Die Divinópovinópovinópovinópovinópolislislislislis, Divinópolis: Prefeitura Municipal, 1992)

14 Mapa da região da Itapecerica, com demarcações de vários arraiais e capelas.Encarte do livro "Cadernos de Arquivo-1 - A Escravidão em Minas", APM, 1988.

15 Mapa da Comarca de Sabará. Levantamento de Bernardo José da Gama. Situa-ção até 17/05/1813. Pontos de latitude segundo observação do Jezuita Padre Capacy.Possível autoria "B.R. Baker Lithg. The writing by J. Netherclift" - Contém legenda.

16 DIOMAR, Oswaldo. Do inventário de Tomás Teixeira. ArArArArArquiquiquiquiquivvvvvo Juo Juo Juo Juo Judididididiciáriciáriciáriciáriciário do do do do de Pitanguie Pitanguie Pitanguie Pitanguie Pitangui(XXII, 466). Carta de 8 de junho de 2002 (em mãos). Divinópolis.

17 BARRETO, Lázaro. MMMMMemememememooooorial drial drial drial drial de Die Die Die Die Divinópovinópovinópovinópovinópolislislislislis. Divinópolis: Gráfica Serfor, 1992, 268p.

18 BARBOSA, Waldemar de Almeida. Divinópolis. . . . . In: DiDiDiDiDiciciciciciooooonárinárinárinárinário histório histório histório histório históriccccco-go-go-go-go-geográfieográfieográfieográfieográficccccoooooddddde Mine Mine Mine Mine Minas Geas Geas Geas Geas Geraisraisraisraisrais. Edição Comemorativa dos Dois Séculos e Meio da Capitania deMinas Gerais. Belo Horizonte: Promoção-da-Família Editora,1971, 549p.

19 Súplica de João Pimenta Ferreira, em nome de 50 moradores, para ereção dacapela ao Espirito Santo e São Francisco de Paula, na Itapecerica. 13/01/1767, emMariana. 2 fls. [C/ parecer do vistoriador e despacho frontal autorizativo].

20 DIOMAR, Oswaldo. Sobre o casamento de Manoel Fernandes Teixeira e sua mor-te. ArArArArArquiquiquiquiquivvvvvo Juo Juo Juo Juo Judididididiciáriciáriciáriciáriciário do do do do de Pitanguie Pitanguie Pitanguie Pitanguie Pitangui (XXII, 237). Carta de 8 de junho de 2002 (em mãos).Divinópolis.

21 Súplica de João Pimenta Ferreira, em nome de 50 moradores, para elevação dacapela do Espirito Santo e São Francisco de Paula a curato, primeira condição dearraial. 24/03/1770, em Mariana. [C/ parecer do promotor e despacho autorizativo]

22 Relatório circunstanciado da audiência com moradores da Itapecerica, sobre aedificação da igreja, e instruções canônicas sobre o Ritual Romano a ser praticadona capela. 24/03/1770.

23 Escritura de doação do “Patrimônio da Capela do Divino Espírito Santo e SãoFrancisco de Paula”, situada na Itapecerica, freguesia de Pitangui, 24/03/1770.

24 Certidões de publicação do escrivão e do promotor, confirmando a situação dacapela, seu patrimônio, a disposição dos moradores de fazê-la funcionar e os cus-tos processuais totais a serem pagos.

25 Recibo detalhado das despesas pagas com o processo de transformação da pa-ragem em arraial, ereção e curato da capela do Divino Espírito Santo e São Fran-cisco de Paula. 28/03/1770.

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26 SOUZA, Laura de Melo e. Violência e práticas culturais no cotidiano de umaexpedição contra quilombolas – Minas Gerais, 1769. In: REIS, João José. Liberdadepor um fio. São Paulo: Companhia das Letras, s/d, pp. 192-212.

27 Correspondência de Luís da Cunha Meneses, Governador de Minas Gerais, paraMartinho de Melo e Castro, 21/12/1783, encaminhando carta de José Pinto da Fonse-ca, sobre os resultados da campanha de Pamplona, em 1782. [APM, Arquivo Históri-co Ultramarino - Conselho Ultramarino - Brasilç/MG cx. 120. Doc. 57]

28 AZEVEDO, Francisco Gontijo de; AZEVEDO, Antônio Gontijo de. DDDDDa história da história da história da história da história deeeeeDiDiDiDiDivinópovinópovinópovinópovinópolislislislislis. Belo Horizonte: Graphilivros Editores, 1988, 156p.

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A revista A Prova, em sua segunda fase, a partir de 1989,vem expondo à crítica e ao debate as lendas, as notícias eos fatos históricos, proporcionando uma achega mais pró-xima da verdade sobre as origens de Divinópolis. A Provafoi a publicação que deu início à pesquisa da história daItapecerica, do padroeiro esquecido São Francisco de Paulae da presença dos candidés. Os eventos históricos desco-bertos foram evoluindo com as reiteradas pesquisas em bus-ca dos primeiros moradores, os verdadeiros fundadores doarraial, as atrocuidades cometidas no lugar, a sua impor-tância geográfica estratégica, a evidenciação da grave cri-se religiosa, no séc. XIX, a mudança do nome etc.

Por falta de informações concretas ou mesmo falta delas,alguns nomes e datas sairam incorretas, que o prossegui-mento das pesquisas e os novos estudos vieram corrigir.

A monografia que hoje apresento, vem para corrigir de cer-ta forma esses desacertos não intencionais, porque acredi-to que verdade vencerá, apesar destes tempos nada frater-nos. Sem esses pequeninos enganos, não teríamos avan-çado nesse campo e a revista A Prova, não teria cumpridoseus objetvos, sendo a primeira publicação a desvendar osacontecimentos do século XVIII.

Também vejo a história como limão. É preciso espremê-lopara se lhe tirar o caldo, que deve ser usado pelos vivos,não pelos mortos. E não há estudo algum, por mais abstra-to que pareça, que não traga resultados práticos.