Será Preciso Aumentar Em 70

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    Será preciso aumentar em 70% a produção de carne para alimentar o

    mundo em 2050

    ALEXANDRA PRADO COELHO 

    06/08/2013 - 00:00

    A produção mundial de aves cresceu 700% em 40 anos AFP

    •  0 

    Os humanos sempre consumiram carne, mas nunca na quantidade e à velocidade com que ofazem hoje. Com a população mundial a aumentar e o consumo de carne a crescer, a máquina

    de produção global foi-se transformando para dar resposta a uma procura crescente. Isto

    significa que grande parte da produção de cereais que utiliza as terras férteis do planeta

    destina-se a alimentar animais para que os humanos possam comê-los. Quanto aos animais,são, na sua grande maioria, criados em regime intensivo e alimentados com rações. Este

    sistema permite (ainda) colocar nos talhos e supermercados muita carne barata, sobretudo

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    suína ou de aves. Mas este é, alertam os especialistas em alimentação, um sistemaprofundamente ineficaz e insustentável num futuro já relativamente próximo.

    As previsões das Nações Unidas apontam para que em 2050 a população mundial seja de9000 milhões de pessoas. Prevê-se, a par disso, que o consumo de carne continue a aumentar

    (a organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação/FAO calcula um aumento

    de 73% a nível mundial), sobretudo em países em fase de crescimento económico como é o

    caso da China.

    Aliás, nas últimas décadas, a China ultrapassou os Estados Unidos e transformou-se já no

    maior consumidor de carne a nível mundial, embora se trate aqui sobretudo de carne de porco(o consumo de carne bovina também tem aumentado na China, mas a um ritmo mais lento).

    Mas os dados mostram um mundo ainda muito desigual no que diz respeito ao consumo decarne per capita. Números da FAO indicam que, em 2009, na Índia, o consumo não chegava

    aos 5 quilos por pessoa (o que se explica em grande parte por razões culturais), enquanto na

    China era já de 58 quilos, nos Estados Unidos ultrapassava os 120 quilos e em Portugal

    rondava os 93,5. Juntamente com o Brasil e a Índia, a China é um dos países em que aprodução de aves está a crescer mais rapidamente. Entre 1967 a 2007, essa produção

    aumentou, a nível mundial, mais de 700%, enquanto a de suínos cresceu 294% e a de bovinos

    180%.

    Tudo isto tem custos ambientais enormes - basta saber que para se ter um quilo de carne de

    vaca são necessários 15.400 litros de água. O Environmental Working Group, organização

    norte-americana que criou o Meat Eater"s Guide to Climate Change+Health, calculou asemissões de gases com efeito de estufa provocados pela produção de carne e concluiu que a

    carne de vaca produz 27 quilos de gases por cada quilo de carne consumida, um valor que é odobro da de porco, quatro vezes mais do que a de galinha e 13 vezes superior às emissões

    produzidas por proteínas vegetais como o feijão ou as lentilhas. O queijo também tem um pesoconsiderável: são 13,5 quilos de gases por cada quilo consumido. Isto faz com que a produção

    de gado seja responsável por 18% das emissões de gases com efeito de estufa, o querepresenta uma percentagem superior à que é provocada pelos transportes.

    É neste cenário de um mundo cada vez mais carnívoro que surge o projecto de Mark Post paracriar carne artificial - esta, afirma o investigador holandês, poderá reduzir em 60% a pegada

    ambiental causada pelo actual sistema de produção de carne.

    A preocupação com esta pegada ambiental tem, aliás, vindo a aumentar. Um relatório

    elaborado há cerca de dois meses por deputados britânicos apela à população do Reino Unido

    para que consuma menos carne para ajudar a reduzir as crises de alimentos no mundo.

    O enorme consumo de carne a que assistimos hoje no mundo desenvolvido contribui para o

    aumento do preço dos cereais (usados na alimentação dos animais), para a desflorestação e o

    esgotamento das terras férteis, além de agravar a epidemia da obesidade. Bastaria que aspessoas nos países mais ricos deixassem de comer carne um ou dois dias por semana para se

    registar um impacto positivo global, defende o relatório.

    Não é a primeira vez que surgem apelos neste sentido - a campanha internacional Meatless

    Monday promove precisamente essa ideia. O hambúrguer desenvolvido por Mark Post e ontem

    apresentado seria, para os carnívoros mais irredutíveis, uma alternativa a essa opção.