Sermão Aos Peixes - Cap. V

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Padre António Vieira

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  • Sermo de Santo Antnio aos PeixesPadre Antnio VieiraCaptulo V

  • A estrutura das alegorias para repreender os vciosRoncadoresA alegoria da arrogncia, da soberba da vaidadeQueixa:ouvindo os roncadores e vendo o seu tamanho, tanto me moveram a riso como a ira porque haveis de roncar tanto?

    Conselho:

    Medi-vos, e logo vereis quo pouco fundamento tendes de blasonar nem roncarAforismo:

    O muito roncar antes da ocasio, sinal de dormir nelaAnalogia:

    Os arrogantes e soberbos tomam-se como Deus. Duas cousas h nos homens que os costumam fazer roncadores, porque ambas incham: o saber e o poder.

  • A estrutura das alegorias para repreender os vciosPegadoresA alegoria do oportunismo, da bajulaoQueixa:

    e me admirou que se houvesse estendido esta ronha e pegado tambm aos peixes

    Aforismo:

    os que se deixam estar pegados merc e fortuna dos maiores, vem-lhes a suceder no fim o (mesmo) que aos pegadores do mar

  • A estrutura das alegorias para repreender os vciosPegadoresA alegoria do oportunismo, da bajulao (cont.)Conselho:

    Chegai-vos embora aos grandes; mas no de tal maneira pegados, que vos mateis por eles, nem morrais com elesAnalogia:Este modo de vida sem dvida que o aprenderam os peixes depois que os nossos portugueses navegaram; porque no parte vice-rei ou Governador para as conquistas, que no v rodeado de pegadores.

  • A estrutura das alegorias para repreender os vciosPeixes-voadoresA alegoria da vaidade, da ambioQueixa:

    Dizei-me, voadores, no vos fez Deus para peixes? Pois porque vos meteis a ser aves?

    Conselho:

    Se vos parece que as vossas barbatanas vos podem servir de asas, no as estendais para subir encolhei-as para descer.Aforismo:

    Quem quer mais do que lhe convm, perde o que quer e o que tem.Analogia:

    Eis aqui, voadores do mar, o que sucede aos da terra, para que cada um se contente com o seu elemento.

  • POLVOA alegoria da dissimulao, do disfarce, da hipocrisia, da traioParece

    um monge, uma estrela, a prpria brandura e mansido,

    e, por isso, aparenta

    santidade, brandura e mansido

    O polvo um traidor, o maior traidor do mar,

    porque

    se esconde, mudando de cor, para, com malcia e mentira, atacar as suas vtimas.Caracterizao do polvo como figurao humana na sua aparnciaCaracterizao do polvo como figurao humana na sua essncia

  • POLVOA relao semntica das palavras:capelo / monge; raios / estrela; no ter / branduraO polvo

    com aquele seu capelo na cabea, parece um monge;

    com aqueles raios estendidos, parece uma estrela;

    com aquele no ter osso nem espinha, parece a mesma brandura, a mesma mansido.A presena da anforaAnfora salientada nas comparaes citadas, onde o termo de comparao como substitudo por parece. Outros h: lembra; faz lembrar; faz pensar.A relao metnmica (a parte sugere o todo) que permite a comparao nas duas primeiras transcries.A relao de semelhana est na base da comparao

  • POLVOA relao semntica das palavras:

    As cores, que no camaleo so gala, no polvo so malcia; As figuras, que em Proteu so fbula, no polvo so verdade e artifcio.A presena da simetria O polvo dos prprios braos faz as cordas.E debaixo desta aparncia to modesta, ou desta hipocrisia to santa, () o dito polvo o maior traidor do mar.traou a traio s escuras, mas executou-a muito s claras.A presena da metforaA presena da antteseA presena da personificao

  • POLVO: a alegoria da dissimulao, do disfarce, da hipocrisia, da traio

    A consequncia que advm para os outros, da desconformidade entre aparncia e essnciaA completa desconformidade entre aquilo que o polvo mostra ser e aquilo que verdadeiramente, faz com que os outros sejam enganados.

    Ento o polvo, apanhando-os desprevenidos, ataca-os em segurana.

  • POLVO: a alegoria da dissimulao, do disfarce, da hipocrisia, da traio (cont.)

    A escolha do caso de Judas como a ltima ampliao dos argumentosEste no s conhecido do auditrio, como tem o valor de exemplo recolhido nos textos sagrados, valendo, por isso, como argumento de autoridade.

    A amplificao da traio do polvo reside no facto de este ser apresentado como mais traidor do que Judas, o smbolo da traio por excelncia para os cristos. Um remate que surpreende e deleita pelo arrojo da argumentao

  • POLVO: a alegoria da dissimulao, do disfarce, da hipocrisia, da traio (concl.)

    Comparao das caractersticas da gua com as do polvoA gua, pura, clara, cristalina, espelho natural da terra e do cu, difana, transparente, em que nada se pode ocultar, encobrir ou dissimular, acentua o contraste com o polvo, pondo em evidncia o que este tem de monstro dissimulado, de fingido, de astuto, de enganosos, de traidor.