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SERVIO SOCIAL
DANIELLI DAL POZZO DOS SANTOS
CASA ABRIGO ANJOS DE OURO NO MUNICPIO DE OURO VERDE DO
OESTE- PR: LIMITES E POSSIBILIDADES NA EFETIVAO DO DIREITO
TOLEDO
2013
DANIELLI DAL POZZO DOS SANTOS
CASA ABRIGO ANJOS DE OURO NO MUNICPIO DE OURO VERDE DO
OESTE- PR: LIMITES E POSSIBILIDADES NA EFETIVAO DO DIREITO
Trabalho de Concluso de Curso
apresentado ao Curso de Servio Social,
Centro de Cincias Sociais Aplicadas, da
Universidade Estadual do Oeste do
Paran campus de Toledo, como
requisito parcial obteno do grau de
Bacharel em Servio Social.
Orientadora: Prof. Es. Ane Barbara
Voidelo
TOLEDO
2013
DANIELLI DAL POZZO DOS SANTOS
CASA ABRIGO ANJOS DE OURO NO MUNICPIO DE OURO VERDE DO
OESTE- PR: LIMITES E POSSIBILIDADES NA EFETIVAO DO DIREITO
Trabalho de Concluso de Curso
apresentado ao Curso de Servio Social,
Centro de Cincias Sociais Aplicadas, da
Universidade Estadual do Oeste do
Paran campus de Toledo, como
requisito parcial obteno do grau de
Bacharel em Servio Social.
Orientador: Prof Es. Ane Barbara
Voidelo
BANCA EXAMINADORA
____________________________
Prof. Es. Ane Barbara Voidelo
Universidade Estadual do Oeste do Paran
_____________________________
Prof. Dra. Maria Isabel Formoso Cardoso
e Silva Batista
Universidade Estadual do Oeste do Paran
____________________________
Prof. Dra. Marize Rauber Engelbrecht
Universidade Estadual do Oeste do Paran
Toledo, 13 de Novembro de 2013.
AGRADECIMENTOS
Pensar nos agradecimentos me faz pensar nas pessoas que estiveram ao meu
lado nesses 04 anos de formao. So pessoas sem as quais nada disso valeria a pena;
so pessoas que me fazem seguir em frente quando nada mais parece ter sentido; so
pessoas que sempre estaro em meu corao.
Primeiramente agradeo a Deus, sem O qual isso tudo no seria possvel. Ele
que esteve sempre frente da minha vida, iluminando meus passos e me dando foras
para seguir em frente, mesmo quando o mundo parecia pesar em meus ombros.
minha amada famlia sem a qual no sou ningum. Em especial a minha
mamis pela infinita dedicao que sempre teve por mim e pela minha irm.
Ao meu esposo amado, Eli. Por ser a pessoa especial que ... pelos infinitos
abraos ao longo do caminho... Eu amo voc!
Universidade Estadual do Oeste do Paran/UNIOESTE. A todas as pessoas
que fazem parte desta instituio que de uma forma ou de outra contriburam para a
minha formao. Em especial as professoras Zelimar, Diuslene, Ester Taube, Marize e
Maria Isabel... Professoras que marcaram minha trajetria acadmica!
minha orientadora Ane, obrigada por todo apoio no decorrer do ano, em
especial nos ltimos dias.
Aos meus primos queridos, Claudia e Rivael, por sempre me apoiarem e
incentivarem na busca dos meus sonhos.
Aos meus queridos amigos Fbio e Silvana, pela infinita pacincia, por me
aceitarem apesar dos meus inmeros defeitos, por estarem ao meu lado em todos os
momentos... Aprecio muito vocs e os levarei para sempre em meu corao.
minha amiga, parceira de nibus, Alcione. Obrigada pela amizade ao longo
dos anos. Obrigada por ouvir meus desabafos e sempre me oferecer uma palavra de
encorajamento!
Aos colegas Anderson, Elisiane, Ana Laura e Jessica, obrigada pelos momentos
partilhados!
A toda equipe da assistncia social de Ouro Verde do Oeste. Obrigada pela
oportunidade de estgio remunerado. Em especial minha chefinha Sirlei por toda
compreenso nos momentos de ausncia!
Agradeo tambm s integrantes da equipe Maria Cilei e Vanilda... Obrigada por
todas as conversas, por todo incentivo, por todo carinho que sempre demonstraram por
mim! Obrigada pelos ensinamentos. Que Deus abenoe muito vocs.
minha turma de Servio Social, pela longa caminhada juntos... Numa relao
de amor e dio vencemos as barreiras e hoje estamos juntos nessa conquista! A vocs
obrigada por partilharem o dia-a-dia nesses 04 anos! Sei que vou sentir saudades de
tudo isso.
E aos que puseram pedras no meu caminho... Para vocs s tenho uma coisa a
dizer: EU VENCI!!!
A gente abriga num momento de crise, num momento de chuva, ento eu
coloco a criana embaixo do guarda-chuva e protejo. Mas no dia seguinte, na
semana seguinte ou no ano seguinte, eu vou ter que tir-la do guarda-chuva
e falar: agora sol. Mas o guarda-chuva est ali. Quando voc precisar s
abrir... Janana Medeiros, Fundao Francisca Franco
(Depoimento de uma coordenadora de abrigo, retirado do livro Imaginar para
encontrar a realidade: reflexes e propostas para trabalho com jovens nos abrigos,
p.18).
SANTOS, Danielli Dal Pozzo. Casa Abrigo Anjos de Ouro no municpio de Ouro
Verde do Oeste-PR: Limites e Possibilidades na Efetivao do Direito. Trabalho de
Concluso de Curso (Bacharelado em Servio Social). Centro de Cincias Sociais
Aplicadas. Universidade Estadual do Oeste do Paran Campus- Toledo-PR, 2013.
RESUMO
Este Trabalho de Concluso de Curso (TCC) tem por objetivo analisar como o servio
de acolhimento institucional ofertado pela casa abrigo Anjos de Ouro, no municpio
de Ouro Verde do Oeste- PR, com vistas a verificar se a entidade cumpre o que
previsto em lei no que tange ao funcionamento da casa e recursos humanos. Para tanto,
a pesquisa foi construda na abordagem qualitativa, onde utilizou-se os seguintes
instrumentais: pesquisa bibliogrfica, documental e entrevista semiestrutura junto
tcnica de gravao. Os sujeitos envolvidos com a casa foram escolhidos por meio de
amostra intencional, com base nos seguintes critrios, funcionrios que passam mais
tempo em contato com as crianas, equipe tcnica da casa, e setor responsvel pela
fiscalizao, perfazendo uma amostra de 04 (quatro) sujeitos. Como fundamentao
terica discutiu-se as instituies de assistncia/acolhimento para a infncia brasileira
no decorrer dos sculos, iniciando em meados do sculo XVIII com a Roda dos
Expostos, at chegar atual poltica de acolhimento institucional, onde tanto o ECA
quanto outras resolues complementares (LOAS, NOB-RH, Plano Nacional de
Convivncia Familiar e Comunitria, Orientaes Tcnicas: Servios de Acolhimento
Institucional para Crianas e Adolescentes) apontam princpios norteadores para
funcionamento de entidades de acolhimento institucional. O resultado do estudo aponta
que a casa abrigo Anjos de Ouro no municpio de Ouro Verde do Oeste - PR cumpre
parcialmente o que previsto em lei, tendo dois pontos favorveis e alguns que deixam
a desejar, pontos estes que necessitam de aprimoramento para ento, possibilitar, a
efetivao de direitos para crianas e adolescentes acolhidos.
.
Palavras-chave: Criana e adolescente, casa abrigo, ECA
LISTA DE SIGLAS
Art. Artigo
CBIA Centro Brasileiro para a Infncia e Adolescncia
CEMAF Centro Municipal de Atendimento Criana, ao Adolescente e
Famlia
CFESS Conselho Federal de Servio Social
CMDCA Conselho Municipal de Direitos da Criana e do Adolescente
CNAS Conselho Nacional de Assistncia Social
CNBB Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil
CONANDA Conselho Nacional dos Direitos da Criana e do Adolescente
CPI Comisso Parlamentar de Inqurito
CRAS Centro de Referncia de Assistncia Social
ECA Estatuto da Criana e do Adolescente
FEBEM Fundao Estadual do Bem Estar do Menor
FIESP Federao das Indstrias do Estado de So Paulo
FUNABEM Fundao Nacional do Bem Estar do Menor
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
IPARDES Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econmico e Social
LOAS Lei Orgnica de Assistncia Social
MNMMR Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua
MP Ministrio Pblico
NOB-RH Norma Operacional Bsica- Recursos Humanos
PIA Plano Individual de Atendimento
PNBEM Poltica Nacional do Bem Estar do Menor
PPP Projeto Poltico-Pedaggico
PR Paran
SAM Servio de Atendimento ao Menor
SGD Sistema de Garantia de Direitos
SUAS Sistema nico de Assistncia Social
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TV Televiso
SUMRIO
INTRODUO...............................................................................................................9
1 INFNCIA POBRE NO DECORRER DOS SCULOS........................................12 1.1 RODA DOS EXPOSTOS: AS PRIMEIRAS INSTITUIES DE ATENDIMENTO
INFNCIA............................................................................................................12
1.2 O MENOR ABANDONADO GANHA DESTAQUE..............................................15
1.3 SERVIO DE ATENDIMENTO AO MENOR: ESCOLA DE
CRIMINALIDADE.........................................................................................................18
1.4 FUNABEM E O CDIGO DE 1979........................................................................19
1.5 DCADA DE 1980 E OS PRIMEIROS AVANOS...............................................21
1.6 FASES DA ASSISTNCIA PRESTADA INFNCIA BRASILEIRA................22
2 ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL PS ESTATUTO DA CRIANA E DO
ADOLESCENTE...........................................................................................................24
2.1 O ESTATUTO DA CRIANA E DO ADOLESCENTE E AS PRINCIPAIS
MUDANAS..................................................................................................................24
2.2 ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL FRENTE AO ESTATUTO DA CRIANA E
DO ADOLESCENTE......................................................................................................26
2.3 NORMATIVAS DA ASSISTNCIA SOCIAL A FAVOR DA INFNCIA..........28
2.4 PLANO NACIONAL DE CONVIVNCIA FAMILIAR E COMUNITRIA........30
2.5 ORIENTAES TCNICAS: SERVIOS DE ACOLHIMENTO PARA
CRIANAS E ADOLESCENTES..................................................................................32
3 A REALIDADE DA CASA ABRIGO ANJOS DE OURO NO MUNICPIO DE
OURO VERDE DO OESTE- PARAN......................................................................39
3.1 ASPECTOS METODOLGICOS DA PESQUISA.................................................39
3.2 O MUNICPIO DE OURO VERDE DO OESTE- PARAN..................................41
3.3 A CRIAO DA CASA ABRIGO ANJOS DE OURO.......................................42
3.4 CASA ABRIGO ANJOS DE OURO DESAFIOS COTIDIANOS DIANTE DO
CUMPRIMENTO DA LEGISLAO...........................................................................45
3.5 ME SOCIAL: O CUIDADO QUE NO PARA....................................................45
3.6 EQUIPE TCNICA: PROFISSIONAIS QUE PRESTAM SERVIOS
ENTIDADE.....................................................................................................................49
3.7 SETOR DE FISCALIZAO: A LEGISLAO SENDO COBRADA NA
PRTICA ....................................................................................................................52
CONSIDERAES FINAIS........................................................................................56
REFERNCIAS.............................................................................................................59
APNDICES
ANEXOS
9
INTRODUO
No Brasil, a preocupao no trato questo da infncia s se tornou relevante
com a promulgao da Constituio Federal de 1988, que traz em seu artigo 227, um
princpio fundamental para a rea da infncia:
dever da famlia, da sociedade e do Estado assegurar criana e ao
adolescente, com absoluta prioridade, o direito vida, sade,
alimentao, educao, ao lazer, profissionalizao, cultura,
dignidade, ao respeito, liberdade e convivncia familiar e
comunitria, alm de coloc-los a salvo de toda forma de negligncia,
discriminao, explorao, violncia, crueldade e opresso. (BRASIL,
2013, p.155).
At ento, crianas e adolescentes eram vistos como coisa, objeto que no
mereciam tratamento especial. No final da dcada de 1980 e incio da dcada de 1990,
houve um movimento para transformar o artigo 227 da Carta Magna em legislao
especfica para este segmento. Em 13 de julho de 1990, promulgaram a Lei n 8.069-
Estatuto da Criana e do Adolescente/ECA, que inaugurou uma nova fase para a
proteo da infncia e da juventude no Brasil, onde crianas e adolescentes passaram a
ser reconhecidos como sujeitos de direitos, em situao peculiar de desenvolvimento;
passam a ter direito proteo integral, com absoluta prioridade por parte da famlia, da
sociedade e do Estado1.
Neste sentido, o acolhimento institucional passa a ser assegurado por lei como
uma medida de proteo integral e especial, provisria e excepcional, para crianas e
adolescentes em situao de risco social e pessoal (GULASSA, 2010, p. 51). Logo,
conforme o artigo 90 do Estatuto, as entidades de acolhimento devem realizar o
planejamento, execuo e manuteno de programas em especfico de acolhimento
institucional, de modo que garantam medidas de proteo para a rea da infncia, as
quais esto previstas no ECA, nas Orientaes Tcnicas: Servios de Acolhimento
Institucional para Crianas e Adolescentes e no Plano Nacional de Convivncia
Familiar e Comunitria.
O interesse pelo tema abrigo decorrente da experincia de Estgio
Supervisionado I em Servio Social, realizado junto ao Centro de Referncia de
1 Comentrios formulados com base nas aulas de Ncleo Temtico de Poltica de Direitos Humanos de
Crianas e Adolescentes, ministradas pela Prof. Dra. Zelimar Soares Bidarra, no ano de 2012.
10
Assistncia Social/ CRAS, do municpio de Ouro Verde do Oeste- PR, no ano de 2012,
tendo como supervisora de campo a profissional que tambm era responsvel pela casa
abrigo do municpio, e tambm da participao das aulas de Ncleo Temtico de
Poltica de Direitos Humanos da Criana e do Adolescente, ministradas pela Prof. Dra.
Zelimar Soares Bidarra, no mesmo ano.
Mediante o contato com a casa abrigo, oportunizado pelo estgio, onde foram
possveis observaes preliminares do funcionamento da mesma, e considerando que a
modalidade de acolhimento institucional uma modalidade nova se comparado
trajetria de instituies para crianas e adolescentes no Brasil, surge a seguinte
indagao: a casa abrigo Anjos de Ouro, do municpio de Ouro Verde do Oeste- PR
efetiva o que est preconizado em lei no que tange ao funcionamento e equipe
profissional para o acolhimento institucional, visando preservao dos direitos de
crianas e adolescentes?
Para responder tal questionamento foi elencado como objetivo geral da pesquisa
analisar como o servio de acolhimento institucional ofertado pela casa abrigo Anjos
de Ouro, no municpio de Ouro Verde do Oeste- PR, com base nos princpios do ECA,
nas Orientaes Tcnicas: Servios de Acolhimento Institucional para Crianas e
Adolescentes e no Plano Nacional de Convivncia Familiar e Comunitria. J os
objetivos especficos so: contextualizar historicamente o processo de acolhimento
institucional no Brasil; analisar a modalidade de acolhimento institucional ps ECA e
verificar a operacionalizao/funcionamento da casa abrigo no municpio de Ouro
Verde do Oeste, de acordo com os princpios para as entidades que desenvolvem
programas de acolhimento institucional, conforme o artigo 92 do ECA, e com os
critrios de recursos humanos, definidos pelas Orientaes Tcnicas: Servios de
Acolhimento Institucional para Crianas e Adolescentes e pela Norma Operacional
Bsica Recursos Humanos/NOB-RH.
Para metodologia de pesquisa foram definidas as seguintes especificidades:
pesquisa bibliogrfica, realizando para isso levantamento do material j existente para
contextualizar historicamente o processo de acolhimento institucional no Brasil, bem
como anlise documental, a fim de conhecer os documentos da instituio em questo,
tais como: regimento interno da casa, atas de sua fundao, projeto pedaggico, entre
outros. Para dar conta de verificar a operacionalizao da casa abrigo Anjos de Ouro,
optou-se pela pesquisa qualitativa mediante entrevista semiestruturada, aplicada s
11
pessoas envolvidas direta ou indiretamente com a casa, totalizando 04 (quatro) pessoas,
utilizando ainda da tcnica de gravao.
O resultado da pesquisa est divido em trs captulos. O primeiro se refere ao
processo histrico pelo qual passou o atendimento prestado s crianas e adolescentes
no Brasil - bem como as instituies da oriundas - iniciando em meados do sculo
XVIII, onde surgiram as Rodas dos Expostos, transcorrendo pelo Imprio at chegar
Repblica, perpassando o Estado Novo com Getlio Vargas, a Ditadura Militar e
finalizando com a promulgao da Constituio Federal de 1988.
O segundo captulo trata do Estatuto da Criana e do Adolescente, ressaltando as
normativas referentes ao acolhimento institucional na modalidade de casa-lar, com
destaque tambm para alguns documentos legais como a Lei Orgnica da Assistncia
Social/LOAS (1993), a Norma Operacional Bsica - Recursos Humanos/NOB-RH
(2006), as Orientaes Tcnicas: Servios de Acolhimento Institucional para Crianas e
Adolescentes (2009) e o Plano Nacional de Promoo, Proteo e Defesa do Direito
Convivncia Familiar e Comunitria (2006).
J o terceiro captulo apresenta o municpio de Ouro verde do Oeste- PR, o
processo de implantao da casa abrigo Anjos de Ouro, bem como materializa os
dados obtidos com a pesquisa de campo referente casa abrigo, de forma a verificar sua
operacionalizao, tendo por critrios especficos o funcionamento da casa e a equipe
profissional.
O presente trabalho de concluso de curso tem por finalidade ainda contribuir
para um melhor conhecimento do tema, tanto para os profissionais envolvidos com a
casa abrigo Anjos de Ouro, visando melhoria dos servios prestados pela
instituio, bem como para pessoas que se interessem pelo tema. Podendo contribuir
tambm em futuras pesquisas na rea.
12
1 A INFNCIA POBRE NO DECORRER DOS SCULOS
A concepo de criana e adolescente passou por vrios momentos ao longo dos
anos, passando de menor2 at chegar a sujeito de direitos. O mesmo se deu ao
tratamento dispensado institucionalizao desta categoria, variando de casa dos
expostos, internato de menores, reabilitao dos menores abandonados e delinquentes
at o atual acolhimento institucional de crianas e adolescentes (RIZZINI; RIZZINI,
2004).
As autoras citadas chamam ateno ao fato de que as famlias pobres3 ao
procurarem apoio do Estado para criarem/sustentarem seus filhos tinham um destino
quase garantido: a institucionalizao de seus filhos, como se estes no tivessem pais,
sendo considerados rfos ou abandonados. Essa situao prevaleceu por sculos e ser
tema deste captulo, com o intuito de desvelar o tipo de assistncia que era prestada para
as crianas institucionalizadas.
1.1 RODA DOS EXPOSTOS: AS PRIMEIRAS INSTITUIES DE ATENDIMENTO
INFNCIA
As primeiras formas de atendimento para a infncia pobre no Brasil eram feitas
pela Irmandade da Santa Casa de Misericrdia e pelas Cmaras Municipais, mantidas
pelo governo. No Brasil, a primeira Santa Casa foi fundada no ano de 1543, na
Capitania de So Vicente (Vila de Santos). Estas instituies atuavam tanto com os
doentes quanto com os rfos e desprovidos (LORENZI, 2007, s.p). Porm, com o
aumento do abandono de crianas pelas ruas, em locais pblicos, o governo mandou
recolh-las, instalando ento, a Roda dos Expostos (CESCO, 2007).
2 Neste trabalho o termo menor ser utilizado em itlico, visto que era o nome designado s crianas no
perodo histrico estudado. Com a promulgao do ECA, passou-se a utilizar os termos criana e
adolescente. 3 A pobreza pode ser definida como um estado de carncia, de privao, que pode colocar em risco a
prpria condio humana. Ser pobre ter, portanto, sua humanidade ameaada, [...] pela no satisfao de
necessidades bsicas (fisiolgicas e outras) [...]. (LAVINAS, 2003, p.29).
13
A roda tinha como principal caracterstica a de deixar o expositor
annimo, j que sua forma cilndrica, dividida ao meio por uma
divisria, se fixava no muro ou na janela da instituio, permitia que a
criana fosse depositada na parte externa. Assim o expositor girava a
roda, puxava uma cordinha com uma sineta para avisar a vigilante que
uma criana havia sido abandonada e ia embora. (SILVA, 2002, p.3).
O sistema da Roda das Santas Casas, vindo da Europa no sculo XVIII, tinha o
objetivo de amparar as crianas abandonadas e de recolher donativos (LORENZI,
2007, s.p). At Independncia as rodas foram instaladas em trs cidades: Salvador
(1726), Rio de Janeiro (1738) e Recife (1789). O recolhimento dessas crianas na Casa
dos Expostos define as primeiras instituies de atendimento s crianas no sculo
XVIII (MARCLIO, 2006).
Os governantes a criavam com o objetivo de salvar a vida de recm-
nascidos abandonados, para encaminh-los depois para trabalhos
produtivos e forados. Foi uma das iniciativas sociais de orientar a
populao pobre no sentido de transform-la em classe trabalhadora e
afast-la da perigosa camada envolvida na prostituio e na vadiagem.
(LEITE, 1991, p.99).
De acordo com Lima e Venncio (1996 apud SILVA, 2002) as crianas eram
abandonadas pelos prprios pais, que no tinham condies de cri-las; por mulheres da
alta sociedade que concebiam bebs mediante o adultrio ou quando ainda eram
solteiras; e tambm por senhores que abandonavam crianas escravas. Logo era forma
de manter a moral da alta sociedade.
Com o nmero elevado de bebs abandonados, uma soluo encontrada foi o
sistema da criao externa por amas-de-leite, contratadas pela Santa Casa de cada
cidade (RIZZINI; RIZZINI, 2004, p.23). Os bebs eram criados at os trs anos nas
casas das amas, que recebiam por isso, e depois retornavam para as Casas de
Misericrdia, onde permaneciam at os sete anos; idade em que eram colocados em
casas de famlias, ou encaminhados para o exrcito, marinha ou seminrio, no caso dos
meninos, e no caso das meninas, ordens religiosas. Aps os doze anos, as famlias que
recebiam essas crianas podiam utiliz-los como mo de obra como forma de
pagamento pelo que havia sido gasto com elas. (MARCLIO, 2006; MACHADO,
2010).
Muitas escravas tambm serviram de amas, alugadas por seus proprietrios. Este
fato possibilitou ao Brasil um modo particular de utilizao do sistema dos expostos, a
14
exposio de filhos de escravas, cujos senhores buscavam receber o pagamento pela sua
criao ou quem os criassem, indo posteriormente buscar o pequeno escravo em idade
que pudesse ser iniciado nas atividades laborais (RIZZINI; RIZZINI, 2004, p.24).
Conforme as autoras acima, os estudos da poca mostram que a taxa de
mortalidade que era muito alta nesse sistema de expostos, havia diminudo com a
criao dos bebs pelas amas externas. Porm, no raro, as amas que s se interessavam
pelo salrio, eram acusadas de maus tratos aos expostos. Mas levando em conta que as
condies das instituies eram insalubres, aglomerando crianas doentes e sadias
juntas, era prefervel que ficassem com as amas que s visavam o benefcio do parco
salrio (ibidem, p.24).
Muitas Rodas de Expostos surgiram no Brasil, quando na Europa estavam
sendo combatidas pelos higienistas reformadores, pela alta mortalidade e suspeita de
fomentar o abandono de crianas (RIZZINI; RIZZINI, 2004, p.25). No Brasil, a Roda
foi criada na Colnia, passou pelo Imprio, e chegou at Repblica, sendo extinta
somente na recente dcada de 1950. (MARCLIO, 1997).
Conforme Machado (2010), a problemtica da infncia comea a tomar outro
rumo, quando em 1823, a partir de debates da Constituinte, a criana passa a ser vista
sob a perspectiva de contribuir para a construo da nao. Para isso, era necessrio
investir na educao/formao profissional dos meninos pobres.
Aps ato adicional de 1834, sob a Lei n 16, cabe aos governos a instruo
primria das crianas. Comea assim, a se criar as instituies de instruo primria e
profissional de crianas e adolescentes das classes populares, os filhos do povo
(RIZZINI; RIZZINI, 2004, p.25).
Coube s provncias instalarem Casas de Educandos Artfices e ao governo
imperial, Companhia de Aprendizes Marinheiros e Escolas de Aprendizes dos Arsenais
de Guerra. (MACHADO, 2010).
Rizzini e Rizzini (2004) chamam a ateno para a proporo com que esses
meninos so levados para as instituies, as Companhias de Aprendizes Marinheiros
[...] recebiam meninos recolhidos nas ruas pelas polcias das capitais brasileiras. O
nmero de meninos enviados pelas companhias imperiais aos navios de guerra foi maior
do que o nmero de homens recrutados (2004, p.25).
J as meninas, rfs e desvalidas, eram recolhidas em instituies religiosas,
sendo que foram criados asilos diferenciados para: rfs pobres, filhas de pai
15
legitimo; indigentes, filhas naturais de mes pobres; rfs brancas e as meninas de
cor. (RIZZINI; RIZZINI, 2004, p.26/27).
Outros grupos sociais e tnicos povoaram os internatos, embora de forma
tmida. Os filhos de escravas, os ingnuos (aqueles nascidos livres com a Lei do Ventre
Livre4, de 1871) e indgenas [...]. (ibidem, p.27).
No ano de 1888, com a abolio da escravatura, ocorreu o aumento do
nmero de crianas abandonadas na rua. Algumas foram atendidas
pelo Estado e encaminhadas para asilos, outras acabaram por
perambular pelas ruas da cidade, sobrevivendo como podiam. A
situao de abandono dessas crianas passou ento a incomodar mais
seriamente a sociedade, em funo de arruaas, confuses e pequenos
furtos cometidos; o estado chamado a novas aes de interveno.
(MACHADO, 2010, p.30).
1.2 O MENOR ABANDONADO GANHA DESTAQUE
A Repblica herdou do Imprio 16 (dezesseis) instituies asilares para crianas
abandonadas, que funcionavam numa aliana entre o pblico e o privado, sendo que
resultaram de presses de higienistas, advogados, moralistas e religiosos
(FALEIROS, 2011, p.42).
A partir do sculo XIX, o pas passou por um processo de industrializao, que
culminou na insero da mulher e da criana no trabalho nas fbricas. Os salrios eram
baixssimos, e as condies penosas, porm, havia a alegao, por parte dos
proprietrios das fbricas, que era vivel retirarem os menores desocupados das ruas,
oferecendo-lhes uma ocupao til o que garantiria, em contrapartida, um aspecto
melhor s cidades, e legitimaria a explorao do trabalho infanto-juvenil. (GARCIA,
2007).
Com essa fase de industrializao, as instituies eram criadas seguindo a lgica
higienista, onde o
4 A Lei do Ventre Livre, de 1871, concedia a liberdade s crianas nascidas de mes escravas [...]
(MACHADO, 2010, p.28).
16
[...] objetivo era recolher e educar os menores viciosos5 e abandonados
em reformatrios, escolas correcionais e institutos, oportunizando
nestes locais a educao industrial para meninos, qualificando-os para
o mercado de trabalho, e a educao domstica para meninas,
preparando-as para serem empregadas domsticas ou para o
casamento. (ibidem, p.14).
Por presso de especialistas de vrias reas (acima mencionados), a partir da
metade do sculo XIX a Roda dos Expostos comea a ser desativada. Nesse contexto
insere-se a preocupao dos juristas em
[...] resolver o problema que ora se apresentava- o do menor. De
sujeito abandonado passa-se a perceber a criana sem assistncia
familiar como menor infrator e do tratamento caridoso dado pela
igreja e posteriormente pelo estado, passa-se cada vez mais a v-las
como seres tortos a serem reformados por instituies jurdicas.
(SILVA, 2002, p.7, grifos da autora).
O termo menor abandonado era definido tanto pela ausncia dos pais quanto
pela incapacidade da famlia de oferecer condies apropriadas de vida sua prole
(RIZZINI; RIZZINI, 2004, p.29).
Conforme as autoras citadas, a partir dessa definio, e da cobrana dos meios
especializados, criado, em 1923, no Rio de Janeiro, o primeiro Juzo de Menores, que
veio estruturar, ampliar e aprimorar o modelo, construindo e reformando
estabelecimentos de internao (ibidem, p.30). E tambm o Cdigo de Menores,
idealizado pelo professor, ex-deputado e juiz, Jos Cndido de Albuquerque Mello
Mattos, sendo promulgado na forma de Decreto (17.943-A) em 12 de outubro de 1927.
(FALEIROS, 2011).
O Cdigo Mello Mattos, como ficou conhecido, estava estruturado em duas
partes: parte geral, abrangendo do art. 1 a 145, e parte especial, contemplando do art.
146 a 231. Algumas terminologias utilizadas no Cdigo so: infantes expostos, menores
abandonados e menores delinquentes. A Lei incorporava tanto a viso higienista de
proteo do meio e do indivduo, como a viso jurdica repressiva e moralista.
(FALEIROS, 2011, p.47).
5 Termo utilizado por Faleiros (2011), para outros termos ver p. 43.
17
O Cdigo de Menores visava estabelecer diretrizes claras para o trato
da infncia e juventude excludas, regulamentando questes como
trabalho infantil, tutela e ptrio poder6, delinquncia e liberdade
vigiada. O Cdigo de Menores revestia a figura do juiz de grande
poder, sendo que o destino de muitas crianas e adolescentes ficava a
merc do julgamento e da tica do juiz. (LORENZI, 2007, s.p).
Pode-se afirmar que a partir de ento
[...] a infncia de vrios segmentos passa a ser legalizada. A justia
passa a ter a Vara da Infncia para soluo de conflitos relacionados
criana normal, e o Juizado de Menores atendia a infncia pobre
(abandonados, pivetes, trombadinhas, infratores, delinquentes.
(SANTOS, 1993 apud GARCIA, 2007, p.16).
H que se destacar a normatizao em relao ao trabalho, que fica proibido
aos menores de 12 anos e aos menores de 14 anos que no tenham cumprido instruo
primria. [... bem como a] durao do trabalho (seis horas). (FALEIROS, 2011, p.48).
Quem no fica contente com esta parte em especial da lei so os industriais que,
de acordo com Faleiros (2011) reagem ao cdigo, havendo para tanto a aplicao de
multa a 520 (quinhentos e vinte) fbricas pelo juiz Mello Mattos, por no cumprirem a
legislao.
Porm, o autor relata adiante que durante a Era Vargas7, exatamente em 1932, os
industriais conseguem alterar o Cdigo de Menores, eliminando a proibio para
trabalhar antes dos 14 (quatorze) anos, nos casos de estabelecimentos onde eram
empregadas pessoas de uma s famlia. A reduo passa para 13 (treze) anos. Mas
novamente uma regulamentao, a Constituio de 1934, fixa a idade em 14 (quatorze)
anos, ao que os industriais respondem: aplicado sem cautela, na expresso de sua letra,
fatalmente lanar ao regao da sociedade uma nova legio de candidatos
vagabundagem, ao vcio, ao delito. O menor de seus males ser a multiplicao de
rufies e meretrizes (Livro de Circulares da FIESP, 1930 apud FALEIROS, 2011,
p.51).
O Estado Novo compreende o perodo de 1937 a 1945, e h que se destacar que
foi nesse perodo que ocorreu a instalao do aparato executor das polticas sociais no
6 Expresso substituda por poder familiar, pela Lei n 8.069/90, onde a responsabilidade dos filhos cabe
aos pais, ao casal, e no mais por distino de sexo, prevalecendo o poder do pai como no perodo
estudado. 7 Compreende o perodo de 1930 a 1945, onde esteve frente do pas Getlio Vargas.
18
pas. Dentre elas destaca-se a legislao trabalhista, a obrigatoriedade do ensino e a
cobertura previdenciria associada insero profissional [...]. (LORENZI, 2007, s.p).
1.3 SERVIO DE ATENDIMENTO AO MENOR: ESCOLA DE CRIMINALIDADE
Ainda no governo de Getlio Vargas, no ano de 1941, foi criado o Servio de
Atendimento ao Menor/SAM. Tratava-se de um rgo do Ministrio da Justia e que
funcionava como um equivalente do sistema Penitencirio para a populao menor de
idade. Sua orientao era correcional-repressiva. (LORENZI, 2007, s.p). Garcia (2007)
relata que o objetivo da instituio era a recuperao do menor infrator, com vistas ao
combate da criminalidade, bem como a funo de avaliar e ministrar o tratamento
dispensado categoria. Porm, a instituio desenvolveu pssima reputao, sendo
conhecida, popularmente, como universidade do crime e sucursal do inferno-
prises onde imperavam drogas, violncia, abuso sexual e corrupo administrativa
(CESCO, 2007, p.18).
Havia a alegao ainda, de que
[...] os escritrios instalados tornaram-se cabides de emprego para
afilhados polticos, salvando-se alguns deles [... e mais] a finalidade
de assistir os autnticos desvalidos [...] foi desvirtuada, sendo o
rgo tomado pelas relaes clientelistas, pelo uso privativo de uma
instituio pblica. (RIZZINI; RIZZINI, 2004, p.33/34).
As crticas ao sistema vigente tambm comeam a emergir tanto por parte de
atores governamentais como da sociedade. Alguns juzes passam a condenar o SAM
como fbrica de delinquentes, escolas do crime, lugares inadequados. (FALEIROS,
2011, p.61). Somente em 1961 foi instaurada uma Comisso de Sindicncia para
investigar denncias do atendimento do SAM (GARCIA, 2007, p.18).
No ano de 1964 surge a FUNABEM, instalada no primeiro ano da revoluo
de 31 de maro, a qual instaurou uma ditadura militar que perduraria por 20 anos no
Brasil. A Fundao tinha por misso inicial instituir o Anti-SAM [...] (RIZZINI;
RIZZINI, 2004, p.35).
19
1.4 FUNABEM E O CDIGO DE 1979
A Ditadura Militar foi caracterizada por um perodo de
[...] censura e represso. Os militares passam a controlar tudo, criam
um poder centralizado, excluindo a sociedade civil organizada da vida
poltica atravs da desmobilizao ou mesmo pelo uso da fora. A
represso marcava presena por meio dos decretos-lei, dos atos
institucionais e das medidas provisrias. (GARCIA, 2002, p. 18).
Nesse contexto Rizzini e Rizzini (2004) apresentam o sustentculo ideolgico
imbricado concepo do menor enquanto um problema de segurana nacional, sendo,
portanto, objeto de interveno e normalizao (VEGA, 2002, p.11), onde
[...] o Estado tinha o papel de frear os sentimentos de revolta da
juventude resistente ao regime de governo e tambm moldar os
jovens marginalizados para se inserirem no mercado de trabalho.
(GARCIA, 2007, p.18).
A autora fala da criao da Poltica Nacional do Bem Estar do Menor/ PNBEM,
que veio para dar os respaldos legais ideologia da segurana nacional. Subordinada a
ela, estava a ento instituda, Fundao Nacional do Bem Estar do Menor/FUNABEM,
vinculada diretamente Presidncia da Repblica. Porm, mesmo estando vinculada
presidncia, a Fundao possua autonomia tcnica, administrativa e financeira.
(ibidem, p.18).
Em nvel estadual foram instaladas vrias FEBEMs (SILVA, 2002) na dcada de
1970, sendo que tinham por objetivo:
[...] o abrigo, tratamento e educao dos menores, bem como a
reintegrao, a reeducao, ou a ressocializao dos mesmos,
considerando-se que esto fora do processo normal de sociabilidade.
(GARCIA, 2007, p.18, grifos da autora).
Em 1975, a Cmara dos Deputados cria uma CPI8 cujo ttulo, paradoxalmente,
prope uma investigao sobre o problema da criana e do menor carentes no Brasil
8 CPI: Comisso Parlamentar de Inqurito. um organismo de investigao e apurao de denncias que
visa proteger os interesses da coletividade (da populao brasileira). A CPI uma investigao conduzida
pelo Poder Legislativo (Cmara de Deputados Federais e Estaduais ou Vereadores) [... que] analisa a
20
[...] (FALEIROS, 2011, p.68, grifos do autor). Conforme Vogel (1995 apud
MACHADO 2010) o resultado foi um diagnstico nada positivo sobre a situao, o que
fez com que o Cdigo de 1927 fosse questionado e reformulado, sendo que em 10 de
outubro de 1979, sob a Lei n 6.697, foi promulgado o novo Cdigo. (FALEIROS,
2011).
O Cdigo de 1979 adota a doutrina da situao irregular, sendo esta: a
privao de condies essenciais subsistncia, sade e instruo, por
omisso, ao ou irresponsabilidade dos pais ou responsveis; por ser
vtima de maus-tratos; por perigo moral, em razo de explorao ou
encontrar-se em atividades contrrias aos bons costumes, por privao
de representao legal, por desvio de conduta ou autoria de infrao
penal. Assim as condies sociais ficam reduzidas ao dos pais ou
do prprio menor [...] Na prtica, consagra o que vinha fazendo a
FUNABEM [...] (ibidem, p.70).
A doutrina da situao irregular concentrava na mo dos juzes
praticamente todo o poder de deciso sobre os menores em situao
irregular, incluindo aqui tanto os carentes como os autores de
infrao. E ambos, sem distino, eram enviados para as mesmas
instituies, as FEBEMs, organizadas a partir da concepo de
segregao e isolamento de seus internos. (MACHADO, 2010, p.33).
Faleiros (2011) expe a avaliao da FEBEM, na tica da ditadura, como um
fracasso, onde at mesmo no relatrio final de avaliao da FUNABEM (FUNABEM
Anos 20, 1984, apud FALEIROS, 2011, p.72) consta:
[...] os relatrios estaduais nos asseguram quanto ao fracasso dessas
expectativas [...]. Como vimos, o sistema nacional de atendimento ao
menor pouco, se tanto, alterou a estrutura de desigualdade que
penaliza crianas e adolescentes de baixa renda, e menos ainda elevou
os patamares de cidadania desses segmentos. Entretanto, a prtica
institucional do sistema possibilitou a criao de um corpo tcnico
crtico...
Essa avaliao se deu no momento em que o pas vivia abertura poltica, num
contexto de transio democracia e de uma passagem do paradigma corretivo, [...] a
um paradigma educativo e, mais que isso, de direitos para a criana e o adolescente.
(ibidem, p. 72).
gesto do bem pblico e toma medidas necessrias para sua correo e punio dos culpados [...].
(RIBEIRO, s/d, s/p.)
21
1.5 DCADA DE 1980 E OS PRIMEIROS AVANOS
Conforme Garcia (2007), a dcada de 1980 foi de grande importncia para o
Brasil, onde ocorreram inmeras manifestaes e movimentos organizados pela prpria
sociedade civil, que almejava a redemocratizao do pas.
As autoras Rizzini e Rizzini (2004), atentam que neste momento a cultura
institucional vigente no pas, de internato de menores comeava a ser questionada.
Foi uma dcada de calorosos debates e articulao em todo o pas (ibidem p.46).
Nessa fase Viegas (2007) chama a ateno para os movimentos em prol dos
direitos das crianas e adolescentes, destacando a organizao de diversos seguimentos:
Frente Nacional de Defesa dos Direitos da Criana e do Adolescente; organizao no-
governamental Pastoral do Menor, Conferncia Nacional do Bispos do Brasil/CNBB e
Comisso Nacional Criana e Constituinte. Diante da luta poltica desencadeada por tais
organizaes o Cdigo de Menores e a PNBEM comearam a perder fora junto com os
demais ordenamentos do regime autoritrio.
H que se destacar tambm que
[...] a partir da articulao desses projetos surge o Movimento
Nacional de Meninos e Meninas de Rua (MNMMR), que realiza trs
encontros nacionais (1986, 1989, 1993) em Braslia e que
contriburam significativamente para trazer a questo da poltica para
a infncia como debate nacional. (ibidem, p.80).
Em 1988, tem-se a aprovao da Constituio Federal, Constituio Cidad,
como ficou conhecida. Nela temos em especial para a rea da infncia o artigo 2279,
cujos princpios daro base para a elaborao do Estatuto da Criana e do Adolescente
[...] vindo a ser, no contexto latino-americano, a primeira legislao adequada aos
princpios da Conveno das Naes Unidas sobre o Direito da Criana e do
Adolescente. (MACHADO, 2010, p.35). A Conveno americana data de 1959, logo,
aps 30 (trinta) anos o Brasil ratifica este documento.
9 dever da famlia, da sociedade e do Estado assegurar criana e ao adolescente, com absoluta
prioridade, o direito vida, sade, alimentao, educao, ao lazer, profissionalizao, cultura,
dignidade, ao respeito, liberdade e convivncia familiar e comunitria, alm de coloc-los a salvo de
toda forma de negligncia, discriminao, explorao, violncia, crueldade e opresso. (BRASIL, 2013,
p.155).
22
Faleiros (2011) relata que a FUNABEM passa a ter o nome de Centro Brasileiro
para a Infncia e a Adolescncia/CBIA, sob a Lei n 8.029 de 12 de abril de 1990, com
a misso de coordenar, normatizar, e formular polticas (p.82) para a rea da infncia,
se responsabilizando inclusive, por apoiar a implantao da nova legislao.
A partir de ento, temos a promulgao da Lei n 8.069/ Estatuto da Criana e do
Adolescente/ECA, no dia 13 de julho de 1990, e que trouxe uma nova perspectiva sobre
como so vistos e atendidos as crianas e adolescentes neste pas.
1.6 FASES DA ASSISTNCIA PRESTADA INFNCIA BRASILEIRA
Diante do exposto at ento, pode-se obervar que a assistncia infncia
abandonada No Brasil passou por 03 (trs) fases, sendo de acordo com Marclio (2006):
fase caritativa,
Do perodo colonial at meados do sculo XIX [...]. De inspirao
religiosa, [...] suas formas de ao privilegiam a caridade e a
beneficncia. Sua ao se caracteriza pelo imediatismo com os mais
ricos e poderosos procurando minorar o sofrimento dos mais
desvalidos [...]. Em contrapartida, esperam receber a salvao de suas
almas e o status de benemritos. (ibidem, p.134).
Fase filantrpica, de meados do sculo XIX at a dcada de 1960,
[...] propagava que a preocupao, no deveria se restringir
unicamente ao esprito do ser humano e com a salvao de sua alma:
preciso cuidar dos corpos igualmente. A Sade e a Educao da
infncia surgem como prioridades [...]. (ibidem, p. 307).
E a partir da dcada de 1960 at os dias atuais, a terceira fase, onde o Brasil
assume o Estado de Bem-Estar Social: o Estado se tornou o grande interventor e o
principal responsvel pela assistncia e pela proteo infncia pobre e infncia
desviante. (ibidem, p.225).
Em 1990 foi aprovado o Estatuto da Criana e do Adolescente/ECA, que
23
[...] representou, de fato, uma reviravolta completa, proporcionando
condies legais para a reformulao das polticas pblicas em favor
da infncia e da juventude. As polticas assistenciais passaram, ento,
a ser dirigidas ao atendimento compensatrio a toda criana de que
delas necessitem[...]. [...] as crianas deixam de ser objeto e passam a
ser sujeitos de direito. (ibidem, p.227/228, grifos da autora).
E mais, o Estatuto
[...] emerge como uma legislao que aponta ruptura com os estigmas
e as diferenciaes dominantes no trato da populao infanto-juvenil,
ao tempo em que acompanha as projees para uma nova organizao
scio-poltica, incorporando demandas e expectativas polticas de
carter democrtico. (SILVEIRA, 2009, p.5).
A Lei n 8.069 ser o tema do prximo captulo com a finalidade de apresentar
os avanos no que tange ao atendimento prestado categoria infanto-juvenil, com
destaque para a modalidade de acolhimento institucional.
24
2 ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL PS ESTATUTO DA CRIANA E DO
ADOLESCENTE
2.1 O ESTATUTO DA CRIANA E DO ADOLESCENTE E AS PRINCIPAIS
MUDANAS
Aprovado em 13 de julho de 1990, o Estatuto da Criana e do Adolescente/ECA
inaugurou uma nova fase na concepo de crianas e adolescentes, que passam a ser
considerados sujeitos de direitos. Diante disso e pensando na antiga legislao10
apresenta trs mudanas significativas: mudana de contedo, mudana de mtodo e
mudana de gesto11
. Na mudana de contedo, ele rompe com a doutrina de situao
irregular e prope a doutrina de proteo integral,
[...] atravs da qual as crianas e adolescentes passam a ser
considerados a partir de novos paradigmas e concepes, isto , como
sujeitos [...] de direitos, pessoas em condio peculiar de
desenvolvimento e destinatrios de prioridade absoluta [...] bem como
ressalta a no utilizao do termo menor, por carregar uma
conotao pejorativa. (GARCIA, 2007, p.28).
O termo menor foi substitudo conforme consta no art. 2 da referida lei, por
criana, sendo a pessoa at doze anos de idade incompletos e adolescente aquela entre
doze e dezoito anos incompletos.
Na mudana de mtodo, altera-se o modo operativo, de como agir perante as
situaes relacionadas s crianas e adolescentes. Visa proteo preventiva, rompendo
com o assistencialismo e autoritarismo, recusando aes institucionalizantes
aprisionadoras, propondo aes emancipatrias. Dessa forma,
[...] buscou-se (re)direcionar o olhar da nao para as necessidades
inerentes a essa populao desprotegida, deixando de lado o
pressuposto de reformar e modelar repressivamente as crianas e
adolescentes para se preocupar com a sua proteo integral,
defendendo seus direitos e buscando erradicar todo e qualquer tipo de
violao dos mesmos. (MACHADO, 2010, p.36).
10
Cdigo de 1979. 11
Comentrios formulados com base nas aulas de Ncleo Temtico de Poltica de Direitos Humanos de
Crianas e Adolescentes, ministradas pela Prof. Dra. Zelimar Soares Bidarra, no ano de 2012.
25
J na mudana de gesto a lei institui a participao popular; a responsabilidade
passa a ser dividida entre Estado, sociedade e famlia, de forma democrtica, como
prev a Constituio Federal de 1988, e ainda descentralizada, nos nveis municipal,
estadual e federal. Para tanto,
[...] prescreve um sistema participativo de formulao, controle e
fiscalizao das polticas pblicas, estabelecendo a criao de uma
rede de atendimento caracterizada por aes integradas. Constituem
essa rede as organizaes governamentais e no governamentais, os
movimentos sociais, grupos religiosos, comunidades locais, entidades
nacionais e internacionais, trabalhadores e a prpria populao.
(GARCIA, 2007, p.28).
Conforme Silva (2002), a descentralizao prev ainda a instaurao dos
Conselhos de Direitos e dos Conselhos Tutelares. O Conselho de Direitos da Criana e
do Adolescente um rgo pblico central, criado para a deliberao e o controle da
poltica de atendimento [...]. (MACHADO, 2010, p.38).
J os Conselhos Tutelares so rgos autnomos e permanentes de natureza no
jurisdicional, cujos membros so eleitos pelo voto direto da populao [...]. (ibidem,
p.38), sendo sua atribuio reivindicar, junto ao poder pblico, servios pblicos como
sade, educao, previdncia, trabalho, servio social, e segurana, quando esses
direitos forem violados.
De encontro com o ECA, a Lei n 8.242 de 12 de outubro de 1991, cria o
Conselho Nacional dos Direitos da Criana e do Adolescente/CONANDA.
A instalao do CONANDA representa o coroamento de uma
mudana institucional, pois o Conselho vai impulsionar a implantao
do ECA, que traz uma mudana fundamental nas polticas anteriores
relativas infncia. (FALEIROS, 2011, p.83).
Cabe mencionar ainda que em termos de acesso a justia o ECA prev a criao
de varas especializadas e exclusivas da infncia e juventude (MACHADO, 2010,
p.38), havendo diferentes instncias do poder pblico para atuar na defesa dos direitos,
sendo: Ministrio Pblico, Defensoria Pblica e Secretaria de Segurana Pblica.
As funes do Ministrio Pblico podem ser definidas em duas competncias
fundamentais:
26
[...] titular das aes pblicas, ou seja, das aes que tratam da
prevalncia do interesse da sociedade sobre o individual. [...] e Fiscal
da Lei, competindo-lhe acionar a Justia sempre que algum direito
fundamental da criana ou do adolescente for violado. (TEIXEIRA,
s/d, p.12).
J a Defensoria Pblica
o rgo pblico que garante s pessoas carentes o acesso Justia,
de forma que aqueles que no podem arcar com as despesas com
advogado especializado, para orient-las e defender seus direitos, sem
comprometer a sua subsistncia, tenham assegurado o direito ampla
defesa [...]. (TEIXEIRA, s/d, p.13).
Quanto Secretaria de Segurana Pblica12
pode ser dividida nos nveis nacional
e estaduais, sendo responsvel por formular, articular e induzir a poltica de segurana
pblica.
Com essas prerrogativas o ECA est estruturado da seguinte forma: dividido em
dois livros, sendo Livro I - parte geral, que vai do artigo 1 ao 85, especifica direitos
fundamentais das crianas e adolescentes, comprometendo a sociedade brasileira com
sua efetivao; j o Livro II - parte especial, abrange do artigo 86 ao 267, mais
disposies finais e transitrias, detalha os comprometimentos, a forma de
operacionalizar os direitos.
2.2 ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL FRENTE AO ESTATUTO DA CRIANA E
DO ADOLESCENTE
No Livro II - parte especial da Lei n 8.069 consta a poltica de atendimento para
crianas e adolescentes, que consiste nas diversas formas de fazer com que os direitos
prescritos pela lei sejam cumpridos. (VEGA, 2002, p.16).
No artigo 90 so apresentadas as diversas modalidades de programas de proteo
e scio-educativos, que devem ser desenvolvidos pelas entidades de atendimento, bem
12
Informaes disponveis em
Acesso em 23 out.
2013.
http://www.consep.org.br/consep98/noticia_conteudo_consep.asp?Codigo=113
27
como so de suas respectivas responsabilidades o planejamento e execuo destes
programas, sendo os programas:
I- Orientao e apoio scio-familiar; II- Apoio scio-educativo em meio aberto; III- Colocao familiar; IV- Acolhimento institucional; V- Prestao de servios comunidade; VI- Liberdade assistida; VII- Semiliberdade; VIII- Internao. (BRASIL, 2012, p.44).
Ou seja, o acolhimento institucional se classifica como modalidade de
atendimento, se colocando no art. 98 (p.50) como medida de proteo, nos casos de
violao ou ameaa dos direitos reconhecidos na mesma lei:
I- Por ao ou omisso da sociedade ou do Estado;
II- Por falta, omisso ou abuso dos pais ou responsveis;
III- Em razo de sua conduta.
Diante disso, conforme o pargrafo 1, do art. 101,
[...] o acolhimento institucional e o acolhimento familiar so medidas
provisrias e excepcionais, utilizveis como forma de transio para
reintegrao familiar, ou, no sendo possvel, para colocao em
famlia substituta, no implicando privao de liberdade. (p. 52).
O ECA refere-se em medida provisria no sentido de que deve-se trabalhar
numa perspectiva de lar provisrio, de curta passagem; excepcional, visto no se pode
aplic-la em qualquer situao, mas em casos que colocam em risco a integridade fsica,
psquica, moral e social de crianas e adolescentes; e transitria por se colocar como um
lugar que a criana e o adolescente iro apenas transitar, onde o objetivo a volta para a
famlia de origem ou colocao em famlia substituta.
Para tanto, as entidades governamentais e no governamentais que ofertam esta
modalidade de atendimento, devem, conforme pargrafo 1, art. 90, proceder inscrio
de seus programas, no Conselho Municipal dos Direitos da Criana e do
Adolescente/CMDCA, seguindo alguns princpios especficos para o acolhimento
institucional (art. 92):
28
I- Preservao dos vnculos familiares e promoo da reintegrao familiar;
II- Integrao em famlia substituta, quando esgotados os recursos de manuteno na famlia natural ou extensa;
III- Atendimento personalizado e em pequenos grupos; IV- Desenvolvimento de atividades em regime de co-educao; V- No desmembramento de irmos; VI- Evitar, sempre que possvel, a transferncia para outras entidades de crianas e adolescentes abrigados;
VII- Participao na vida da comunidade local; VIII- Preparao gradativa para o desligamento; IX- Participao de pessoas da comunidade no processo educativo. (p. 45/46).
As entidades que ofertam o acolhimento institucional devem cumprir estes
princpios, a fim de oferecer um servio de qualidade, propcio para cada
criana/adolescente acolhido.
J no art. 95, est previsto ao Judicirio, Ministrio Pblico e Conselho Tutelar a
fiscalizao das entidades de acolhimento institucional. No caso de descumprimento da
lei, algumas sanes so indicadas:
I- s entidades governamentais:
a - advertncia;
b - afastamento provisrio de seus dirigentes;
c - afastamento definitivo de seus dirigentes;
d - fechamento de unidade ou interdio de programa.
II- s entidades no-governamentais:
a - advertncia;
b - suspenso total ou parcial do repasse de verbas pblicas;
c - interdio de unidades ou suspenso de programas;
d - cassao do registro. (p.49).
Ou seja, atravs da fiscalizao e da constatao de irregularidades cabe aos
rgos acima mencionados tomar as devidas providncias, variando a sano conforme
o grau de irregularidades.
2.3 NORMATIVAS DA ASSISTNCIA SOCIAL A FAVOR DA INFNCIA
Em consonncia com a Constituio Federal de 1988 e posterior ao ECA, em 7
de dezembro de 1993 aprovada a Lei n 8.742, Lei Orgnica de Assistncia
Social/LOAS, que em seu captulo III dispe sobre a organizao e gesto da assistncia
29
social, enquanto poltica pblica, organizando-a conforme art. 6, em dois nveis de
proteo: proteo social bsica e proteo social especial. A proteo social bsica tem
por objetivo, atravs de suas aes, prevenir situaes de risco e vulnerabilidade social.
J a proteo social especial, conforme inciso II consiste em um
[...] conjunto de servios, programas e projetos que tem por objetivo
contribuir para a reconstruo de vnculos familiares e comunitrios, a
defesa de direito, o fortalecimento das potencialidades e aquisies e a
proteo de famlias e indivduos para o enfrentamento das situaes
de violao de direitos. (BRASIL, 1993, p.14/15).
Ou seja, a proteo social especial abrange situaes onde h violao de
direitos. Desta forma est subdividida em proteo social especial de mdia e alta
complexidade. Mdia complexidade quando ainda existem vnculos familiares, e alta
complexidade, quando os vnculos familiares foram rompidos. Dentro da alta
complexidade, tm-se os servios de abrigo institucional13
, casa-lar14
e casa de
passagem15
.
Para dar conta dos servios, outra normativa que orienta o atendimento a
Norma Operacional Bsica Recursos Humanos/NOB-RH, do Sistema nico de
Assistncia Social/SUAS16
, aprovada em 2006, onde destaca como equipe de referncia
para os servios de alta complexidade (p.15):
Coordenador: deve possuir escolaridade de nvel superior ou mdio, sendo 01 (um) profissional para at 20 (vinte) usurios
17
acolhidos em, no mximo, dois equipamentos.
Cuidador: escolaridade de nvel mdio e qualificao especfica, sendo 01 (um) profissional para at 10 (dez) usurios, por turno. A
quantidade de cuidador por usurio dever ser aumentada quando
houver usurios que demandem ateno especfica (com deficincia,
com necessidades especficas de sade, pessoas soropositivas, idade
inferior a um ano, pessoa idosa com Grau de Dependncia II ou III,
dentre outros). Para tanto, dever ser adotada a seguinte relao: a) 01
13
Servio de acolhimento provisrio para crianas e adolescentes afastados do convvio familiar por
meio de medida protetiva de abrigo [...] (BRASIL, 2009, p.67). 14
Esta modalidade de atendimento ser tratada adiante com maiores detalhes. 15
Na resoluo conjunta n 1/2009 do Conselho Nacional de Assistncia Social/CNAS e CONANDA no
consta definio de casa de passagem, j no site do Ministrio de Desenvolvimento Social e Combate a
Fome/MDS, (disponvel em
Acesso em 20 out. 2013) casa de passagem refere-se casa que acolhe adultos e famlias. 16
O SUAS um sistema pblico que organiza, de forma descentralizada, os servios socioassistenciais
no Brasil (BRASIL, Ministrio de Desenvolvimento Social e Combate Fome, 2013, s/p). Disponvel
em < http://mds.gov.br/assistenciasocial/suas> Acesso em 20 out. 2013. 17
O termo usurio neste trabalho, bem como na assistncia social refere-se a usurios do servio.
http://portal.mj.gov.br/sedh/conanda/documentos/orienta%C3%A7%C3%B5es_acolhimento_consulta_publica.pdfhttp://portal.mj.gov.br/sedh/conanda/documentos/orienta%C3%A7%C3%B5es_acolhimento_consulta_publica.pdfhttp://mds.gov.br/assistenciasocial/suas
30
(um) cuidador para cada 08 (oito) usurios, quando houver 01 (um)
usurio com demandas especficas; b) 01 (um) cuidador para cada 06
(seis) usurios, quando houver 02 (dois) ou mais usurios com
demandas especficas.
Auxiliar de cuidador: escolaridade de nvel fundamental e qualificao especfica, sendo 01 (um) profissional para at 10 (dez)
usurios, por turno. A quantidade de cuidador por usurio dever ser
aumentada quando houver usurios que demandem ateno especfica
(com deficincia, com necessidades especficas de sade, pessoas
soropositivas, idade inferior a um ano, pessoa idosa com Grau de
Dependncia II ou III, dentre outros). Para tanto, dever ser adotada a
seguinte relao: a) 01 (um) auxiliar de cuidador para cada 08 (oito)
usurios, quando houver 01 (um) usurio com demandas especficas;
b) 01 (um) auxiliar de cuidador para cada 06 (seis) usurios, quando
houver 02 (dois) ou mais usurios com demandas especficas.
Logo, observa-se que h indicao de 01 (um) cuidador para determinado
nmero de crianas, levando em conta o grau de especificidades das mesmas, com a
finalidade de no sobrecarregar o responsvel, podendo dessa forma, oferecer um
servio condizendo com as necessidades das crianas.
J como equipe de referncia para atendimento psicossocial, vinculada ao rgo
gestor indica (p.15):
Assistente Social: com nvel superior, 01 (um) profissional para atendimento a, no mximo, 20 (vinte) usurios acolhidos em at dois
equipamentos da alta complexidade para pequenos grupos.
Psiclogo: com nvel superior, 01 (um) profissional para atendimento a, no mximo, 20 (vinte) usurios acolhidos em at dois
equipamentos da alta complexidade para pequenos grupos.
Levando em conta as situaes que levam ao acolhimento de crianas e
adolescentes, o documento indica como equipe minimamente necessria assistente
social e psiclogo, para que o servio de acolhimento possa ofertar um trabalho que vise
superao das situaes violadoras de direitos.
2.4 PLANO NACIONAL DE CONVIVNCIA FAMILIAR E COMUNITRIA
Machado (2010) sinaliza que o ECA norteado pelo princpio da mxima
preservao dos laos familiares naturais, e como forma de estabelecer parmetros
nacionais que vo de encontro com os demais princpios do ECA foi aprovado no ano
31
de 2006, um plano de proteo e promoo que contempla o pblico infanto-juvenil
em carter absolutamente prioritrio [...]. (ibidem, p.45).
O Plano Nacional de Convivncia Familiar e Comunitria veio reforar
premissas contidas no ECA, com o intuito de orientar a formulao de polticas para
assegurar os direitos contidos na lei , onde priorizado o direito a convivncia familiar
e comunitria. (BRASIL, 2006).
O documento sinaliza que independentemente da nomenclatura utilizada todas as
modalidades de acolhimento institucional devem seguir os princpios do art. 92 do
ECA, explicitados anteriormente, bem como devem prestar plena assistncia criana
e ao adolescente, ofertando-lhes acolhida, cuidado e espao para socializao e
desenvolvimento. (BRASIL, 2006, p.40).
Ressaltando que tais servios devem:
estar localizados em reas residenciais, sem distanciar-se
excessivamente, do ponto de vista geogrfico, da realidade de origem
das crianas e adolescentes acolhidos;
promover a preservao do vnculo e do contato da criana e do
adolescente com a sua famlia de origem, salvo determinao judicial
em contrrio;
manter permanente comunicao com a Justia da Infncia e da
Juventude, informando autoridade judiciria sobre a situao das
crianas e adolescentes atendidos e de suas famlias;
trabalhar pela organizao de um ambiente favorvel ao
desenvolvimento da criana e do adolescente e estabelecimento de
uma relao afetiva e estvel com o cuidador. Para tanto, o
atendimento dever ser oferecido em pequenos grupos, garantindo
espaos privados para a guarda de objetos pessoais e, ainda, registros,
inclusive fotogrficos, sobre a histria de vida e desenvolvimento de
cada criana e cada adolescente;
atender crianas e adolescentes com deficincia de forma integrada
s demais crianas e adolescentes, observando as normas de
acessibilidade e capacitando seu corpo de funcionrios para o
atendimento adequado s suas demandas especficas;
atender ambos os sexos e diferentes idades de crianas e
adolescentes, a fim de preservar o vnculo entre grupo de irmos;
propiciar a convivncia comunitria por meio do convvio com o
contexto local e da utilizao dos servios disponveis na rede para o
atendimento das demandas de sade, lazer, educao, dentre outras,
evitando o isolamento social;
preparar gradativamente a criana e o adolescente para o processo de
desligamento, nos casos de reintegrao famlia de origem ou de
encaminhamento para adoo;
fortalecer o desenvolvimento da autonomia e a incluso do
adolescente em programas de qualificao profissional, bem como a
sua insero no mercado de trabalho, como aprendiz ou trabalhador
observadas as devidas limitaes e determinaes da lei nesse sentido
- visando preparao gradativa para o seu desligamento quando
32
atingida a maioridade. Sempre que possvel, ainda, o abrigo deve
manter parceria com programas de Repblicas, utilizveis como
transio para a aquisio de autonomia e independncia, destinadas
queles que atingem a maioridade no abrigo. (BRASIL, 2006, p.
41/42).
Essa ressalva frisa que a entidade de acolhimento institucional deve funcionar de
tal forma que as crianas/adolescentes acolhidas sigam sua vida normalmente, para que
se sintam acolhidas em famlia, num ambiente semelhante ao de qualquer outra famlia,
convivendo em comunidade, estabelecendo vnculos com vizinhos, amigos, sendo
inseridos em atividades prprias para cada idade e tambm mantendo seu histrico de
vida.
2.5 ORIENTAES TCNICAS: SERVIOS DE ACOLHIMENTO PARA
CRIANAS E ADOLESCENTES
O Conselho Nacional de Assistncia Social/CNAS e o CONANDA aprovaram
no dia 18 de junho de 2009 a resoluo conjunta n 1, intitulada Orientaes Tcnicas:
Servios de Acolhimento para Crianas e Adolescentes, que tem como finalidade
regulamentar, no territrio nacional, a organizao e oferta de Servios de Acolhimento
para Crianas e Adolescentes, no mbito da poltica de Assistncia Social. (BRASIL,
2009, p.17).
O documento indica elementos que visam contribuir para a qualidade dos
servios nas entidades que ofertam acolhimento institucional, dentre eles, destaca-se
estudo diagnstico prvio ou ps-acolhimento, que consiste em avaliar os riscos a
que esto submetidos a criana ou o adolescente e as condies da famlia para
superao das violaes de direitos observadas e o provimento de proteo e cuidados.
(p.29), levando em conta a proteo e segurana dos mesmos a longo prazo.
importante que a cada nova criana acolhida a equipe tcnica do servio
elabore um plano de atendimento individual e familiar com objetivo de propor
estratgias e aes a serem desenvolvidos tendo em vista a superao dos motivos que
levaram ao afastamento do convvio e o atendimento das necessidades especficas de
cada situao. (p.32).
33
Outro fator essencial o acompanhamento da famlia de origem, onde a
interveno profissional fundamental, pois atravs do acompanhamento que
proporciona de modo construtivo, a conscientizao da famlia sobre os motivos que
levaram ao afastamento da criana e das consequncias que da resulta, possvel
contribuir para a superao de situaes adversas ou padres violadores. (p.36).
Indica-se ainda a articulao intersetorial, visando que os servios de
acolhimento institucional devem ter uma atuao baseada no princpio da
incompletude institucional, no devendo ofertar em seu interior atividades que sejam da
competncia de outros servios. (p.43). Ou seja, a proteo integral deve ser
viabilizada por equipamentos comunitrios e da rede de servio local. (p.43). Dessa
forma, deve haver articulao entre as polticas pblicas de assistncia social, sade,
educao, entre outras.
Cada entidade deve possuir um projeto poltico-pedaggico, com vistas a
garantir a qualidade do servio prestado e atendimento adequado, que deve orientar a
proposta de funcionamento do servio como um todo (p.49) abrangendo
funcionamento interno, articulao com a rede local, famlias e comunidade. A
elaborao deve ser feita por todos os envolvidos no processo: equipe do servio, as
crianas, adolescentes e suas famlias. (p.49).
Destaca-se tambm a gesto do trabalho e educao permanente, por
reconhecer que todos os profissionais que atuam no servio de acolhimento
desempenham o papel de educador, exigindo para tanto a seleo, capacitao e
acompanhamento de todas as atividades por eles executadas. A seleo criteriosa
essencial para a garantia de contratao de pessoal qualificado e com perfil adequado
ao desenvolvimento de suas funes. (p.61). No caso de servios de acolhimento
governamentais, frisa-se a contratao via concurso pblico. J a capacitao
indispensvel para se alcanar qualidade no atendimento [...]. Para tanto importante
que seja oferecida capacitao inicial de qualidade e formao continuada [...]. (p.63).
Juntamente com as indicaes, o documento aponta parmetros para a
organizao do servio de acolhimento institucional, ressaltando que deve-se levar em
conta a realidade e cultura local, sem, todavia, acarretar perda da qualidade dos
servios de acolhimento [...]. (p.66).
Dentre as modalidades de acolhimento o presente trabalho norteia-se por casa-
lar, definida pela resoluo como:
34
O Servio de Acolhimento provisrio oferecido em unidades
residenciais, nas quais pelo menos uma pessoa ou casal trabalha como
educador/cuidador residente - em uma casa que no sua- prestando
cuidados a um grupo de crianas e adolescentes afastados do convvio
familiar [...], em funo de abandono ou cujas famlias ou
responsveis encontrem-se temporariamente impossibilitados de
cumprir sua funo de cuidado e proteo, at que seja viabilizado o
retorno ao convvio com a famlia de origem ou, na sua
impossibilidade, encaminhamento para famlia substituta. (p.74).
A casa-lar visa estimular o desenvolvimento das relaes mais prximas do
ambiente familiar, promover hbitos saudveis e atitudes de autonomia e de insero
social com as pessoas da comunidade. (ibidem, p.74).
Deve possuir estrutura semelhante a uma residncia privada, localizada em reas
residenciais da comunidade e seguir o padro socioeconmico da comunidade em que
estiver inserida. Devendo ainda organizar o ambiente de forma que se assemelhe a uma
rotina familiar, proporcionar vnculo estvel entre educador/cuidador residente e
crianas/adolescentes acolhidos, primar pelo uso de equipamentos e servios
disponveis na comunidade local e favorecer o convvio familiar e comunitrio,
seguindo todas as premissas contidas no ECA.
Os parmetros apontados pela resoluo para atendimento tm definido como
pblico alvo crianas e adolescentes de 0 (zero) a 18 (dezoito) anos. Ressalta-se que no
deve haver discriminao ou segregao por motivos de sexo, doena, deficincia, bem
como no adotar faixa etria muito estreita. Havendo particular indicao para
atendimento de grupos de irmos, e crianas e adolescentes com perspectiva de
acolhimento de mdia ou longa durao. Sendo permitido nmero mximo de 10 (dez)
crianas/adolescentes por entidade.
A principal diferena da casa-lar em relao ao abrigo institucional consiste no
fato do educador/cuidador residir juntamente com os acolhidos, sendo responsvel pelos
cuidados e organizao da casa. Recomenda-se que tal profissional tenha autonomia
para reger a rotina da casa, inclusive as despesas. recomendvel ainda que crianas e
adolescentes participem das decises acerca da rotina da casa, com intuito de
reconhecerem-se como parte integrante do grupo.
A presena do cuidador tem por objetivo proporcionar relao estvel com os
acolhidos, ocupando lugar de referncia afetiva, acompanhando-os em atividades
comunitrias (reunies escolares, festas, eventos), e propiciar rotina mais flexvel na
35
casa, menos institucional e prxima a uma rotina familiar, adaptando-se s necessidades
da criana/adolescente (p.75).
A tarefa de cuidador residente uma funo de
[...] elevada exigncia psquica e emocional, o que torna necessria
uma ateno especial na seleo, capacitao e acompanhamento deste
profissional. Alm disso, de fundamental importncia a existncia de
equipe tcnica especializada, para acompanhamento constante [...].
(p.75).
O residente deve dispor de condies dignas de trabalho e remunerao, bem
como de privacidade e possibilidade de construo de projetos pessoais, havendo para
tanto, perodos livres dirios e um esquema de folgas semanais, alm de frias anuais.
Anteriormente a esta resoluo o termo designado para educador/cuidador
residente era me social, funo que foi regulamentada em dezembro de 1987, por meio
da Lei n 7.644, referindo-se mulher que trabalhava no sistema de casa-lar e que
residia juntamente com as crianas/adolescentes, na poca ainda concebidos como
menores. Hoje, as orientaes tcnicas para os servios de acolhimento institucional
recomendam a substituio do termo me/pai social por educador/cuidador, a fim de
evitar a ambiguidade de papeis, visto que ao residente cabe a funo de fortalecer os
vnculos familiares e no ocupar o lugar da me ou da famlia de origem.
Quanto aos aspectos fsicos, a casa-lar deve localizar-se em reas residenciais,
sem se afastar do ponto de vista geogrfico e socioeconmico dos acolhidos, devendo
evitar estruturas que agreguem vrias casas-lares num mesmo terreno, visto que isso
dificulta a integrao dos acolhidos com a vizinhana, bem como no deve dispor de
placas indicando a natureza da instituio.
Pensando no critrio de recursos humanos, para alm do que est definido como
equipe de referncia pela NOB-RH, as orientaes tcnicas ressaltam as atribuies de
cada membro que trabalha na casa-lar, sendo pertinente ao coordenador:
Gesto da entidade; elaborao, em conjunto com a equipe tcnica e
demais colaboradores, do projeto poltico-pedaggico do servio;
organizao da seleo e contratao de pessoal e superviso dos
trabalhos desenvolvidos; articulao com a rede de servios e
articulao com o Sistema de Garantia de Direitos. (p.77).
Deste modo, o coordenador se coloca como profissional responsvel por
administrar e direcionar os trabalhos da casa, bem como por acompanhar as atividades
36
desenvolvidas, articulando para tanto, os servios que se fizerem necessrios para
garantir os direitos dos acolhidos.
J equipe tcnica (assistente social e psiclogo) com indicao de carga
horria mnima de 30 (trinta) horas semanais cabe:
Elaborao, em conjunto com o/a educador/cuidador residente e,
sempre que possvel com a participao das crianas e adolescentes
atendidos, de regras e rotinas fundamentadas no projeto poltico
pedaggico da entidade; acompanhamento psicossocial dos usurios e
suas respectivas famlias, com vistas reintegrao familiar; apoio na
seleo dos cuidadores/educadores e demais funcionrios; apoio e
acompanhamento do trabalho desenvolvido pelos
educadores/cuidadores; capacitao e acompanhamento dos
cuidadores/educadores e demais funcionrios; encaminhamento,
discusso e planejamento conjunto com outros atores da rede de
servios do SGD18
das intervenes necessrias ao acompanhamento
das crianas e adolescentes e suas famlias; organizao das
informaes das crianas e adolescentes e respectivas famlias, na
forma de pronturio individual; elaborao, encaminhamento e
discusso com a autoridade judiciria e Ministrio Pblico de
relatrios semestrais sobre a situao de cada criana e adolescente
apontando: I- possibilidades de reintegrao familiar; II- necessidade
de aplicao de novas medidas; ou III- quando esgotados os recursos
de manuteno na famlia de origem, a necessidade de
encaminhamento para adoo; preparao da criana/adolescente para
o desligamento (em parceria com o (a) cuidador (a)/educador(a)
residente); mediao, em parceria com o educador/cuidador residente,
do processo de aproximao e fortalecimento ou construo do
vnculo com a famlia de origem ou adotiva, quando for o caso. (p.78).
Portanto, a esses profissionais compete alm do trabalho na casa de acompanhar
as crianas e os cuidadores, o trabalho com as famlias, se responsabilizando, inclusive,
por encaminhar os relatrios autoridade judiciria sobre a situao da criana e da
famlia.
Vale ressaltar que as atividades desenvolvidas pela equipe interprofissional
devero respeitar as atribuies privativas de cada profisso definidas pelos respectivos
conselhos da profisso (p.70).
J ao educador/cuidador residente indica-se:
18 Sistema de garantia de Direitos. Consiste num sistema que envolve [...] todos os atores sociais, no sentido de se trabalhar em rede, de forma sistemtica, integrada e em parceria, em prol dos interesses de
crianas e adolescentes. [...] cujo modelo estabelece uma ampla parceria entre o Poder Pblico e a
sociedade civil para elaborar e monitorar a execuo de todas as polticas pblicas voltadas para o
universo da infncia e adolescncia. (TEIXEIRA, s/d, p.1).
37
Organizao da rotina domstica e do espao residencial; cuidados
bsicos com alimentao, higiene e proteo; relao afetiva
personalizada e individualizada com cada criana e/ou adolescente;
organizao do ambiente (espao fsico e atividades adequadas ao
grau de desenvolvimento de cada criana ou adolescente); auxlio
criana e ao adolescente para lidar com sua histria de vida,
fortalecimento da auto-estima e construo da identidade; organizao
de fotografias e registros individuais sobre o desenvolvimento de cada
criana e/ou adolescente, de modo a preservar sua histria de vida;
acompanhamento nos servios de sade, escola e outros servios
requeridos no cotidiano. Quando se mostrar necessrio e pertinente,
um profissional de nvel superior (psiclogo ou assistente social)
dever tambm participar deste acompanhamento; apoio na
preparao da criana ou adolescente para o desligamento, sendo para
tanto orientado e supervisionado por um profissional de nvel superior.
(p. 79).
Percebe-se que a maior responsabilidade do cuidador residente promover as
relaes na casa. Ele deve criar situaes para que as crianas estabeleam relaes com
ele, com outras crianas, auxiliando no processo de fortalecer a auto-estima e de
preservar o histrico de vida da criana.
J o auxiliar de cuidador/educador oferece apoio s funes do cuidador;
cuidados com a moradia (organizao e limpeza do ambiente e preparao dos
alimentos, dentre outros). (p.79).
No quesito infraestrutura h a indicao de cmodos e medidas mnimas
necessrias para a qualidade do servio prestado, onde aponta-se: quarto para as
crianas - at 04 (quatro) crianas por quarto-, quarto para o cuidador residente, sala de
estar, sala de jantar, ambiente para estudo, banheiro para as crianas - at 06 (seis)
crianas por banheiro-, banheiro para os funcionrios, onde pelo menos 01 (um) dos
banheiros da casa deve ser adaptado para pessoas com deficincia, cozinha, rea de
servio, rea externa, todos com espaos que comportem tanto as crianas como os
funcionrios.
Indica-se tambm que alguns espaos devem funcionar fora da casa-lar, em rea
especfica para atividades tcnico-administrativas sendo: sala para equipe tcnica, sala
de coordenao/atividades administrativas e sala/espao para reunies com as famlias
das crianas/adolescentes acolhidos.
Com base nestas informaes pode-se afirmar que o abrigo hoje, diferentemente
das instituies do passado, deve ser um espao que oferea condies para a criana se
desenvolver, que disponha de profissionais qualificados para trabalhar com as elas e
suas respectivas famlias, que tenha um espao adequado, com pequenos grupos,
38
oferecendo atendimento personalizado, enfim, que propicie criana se desenvolver
plenamente.
E uma vez que esto estabelecidos os parmetros nacionais que regem os
servios de acolhimento institucional, em especial a modalidade casa-lar, parte-se agora
para o estudo do municpio de Ouro Verde do Oeste-Pr, em especfico da casa abrigo
Anjos de Ouro.
39
3 A REALIDADE DA CASA ABRIGO ANJOS DE OURO NO MUNICPIO DE
OURO VERDE DO OESTE- PARAN
3.1 ASPECTOS METODOLGICOS DA PESQUISA
Com a finalidade de verificar a operacionalizao da casa abrigo Anjos de
Ouro no municpio de Ouro Verde do Oeste-Pr, faz-se necessrio expor a metodologia
e tcnicas utilizadas no decorrer do processo.
De acordo com Minayo (1994), delimita-se a metodologia como caminho e
instrumental, prprios da abordagem da realidade. Para a pesquisa em questo optou-se
pela abordagem qualitativa que
[...] responde a questes muito particulares. Ela se preocupa, nas
cincias sociais, com nvel de realidade que no pode ser quantificado.
Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos,
aspiraes, valores e atitudes, o que corresponde a um espao mais
profundo das relaes, dos processos e dos fenmenos que no podem
ser reduzidos operacionalizao de variveis. (ibidem p. 21/22).
Elencou-se ainda para analisar como o servio de acolhimento institucional
ofertado pela casa abrigo Anjos de Ouro, a pesquisa bibliogrfica, a anlise
documental, e a entrevista semiestruturada, junto tcnica de gravao.
Com a finalidade de aprofundar aspectos relativos ao tema, e assim possibilitar
um conhecimento que v para alm da aparncia, a pesquisa bibliogrfica pressupe
(...) um conjunto ordenado de procedimentos de busca por solues, atento ao objeto
de estudo, e que, por isso, no pode ser aleatrio. (LIMA; MIOTO, 2007, p.38), deve
ser contnuo de forma a possibilitar uma reflexo crtica da realidade. Sendo que para a
contextualizao do processo pelo qual passou o atendimento direcionado a crianas e
adolescentes no Brasil, foram estudados livros, revistas, legislaes, e publicaes
diversas.
A anlise documental pode se constituir numa tcnica valiosa de
abordagem de dados qualitativos, seja complementando as
informaes obtidas por outras tcnicas, seja desvelando aspectos
novos de um tema ou problema. (LUDKE; ANDR, 1986, p.38).
40
Neste caso ser utilizada para contextualizar a casa abrigo Anjos de Ouro,
atravs de atas, regulamento interno da casa, entre outros.
Aps a elaborao do quadro terico partiu-se para a pesquisa de campo que,
conforme Minayo (1994) nos possibilita conhecer a realidade em que os sujeitos esto
inseridos, podendo assim, analisar a totalidade do processo em que os mesmos se
encontram.
Neste trabalho a pesquisa de campo se deu da seguinte maneira: entrevista
semiestruturada - com perguntas abertas e fechadas - com formulrios de questes
diferentes para cada setor (apndice I, II e III) e tambm um formulrio diferenciado
para resgatar o processo de implantao da casa abrigo (apndice IV). As entrevistas
foram aplicadas com a tcnica de gravao, visto que essa tcnica tem a vantagem de
registrar todas as expresses orais, imediatamente, deixando o entrevistador livre para
prestar toda a sua ateno ao entrevistado. (LUDKE; ANDR, 1986, p.37), mediante
autorizao dos entrevistados (apndice V, VI e VII), nos meses de agosto e setembro
de 2013.
O universo da pesquisa inicialmente era composto por 09 (nove) pessoas, porm,
alguns funcionrios foram afastados da casa, e uma pessoa no consentiu com a
realizao da pesquisa, sendo entrevistadas, portanto, 04 (quatro) pessoas. Os
entrevistados foram escolhidos por meio de amostra intencional, com base nos seguintes
critrios: profissionais que respondem legalmente pela casa; setor de fiscalizao; e
funcionrios que passam mais tempo em contato com a casa.
Para manter sigilo dos entrevistados, conforme consta no Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido/TCLE, e no Captulo V, artigo 16, do Cdigo de
tica Profissional dos Assistentes Sociais19
(1993), os mesmos sero identificados por
cdigos (D1, D2, D3 e D4), e apresentados aleatoriamente, apresentando os seguintes
perfis:
Sexo masculino, 34 (trinta e quatro) anos; profissional responsvel pela
fiscalizao.
Sexo feminino, 45 (quarenta e cinco) anos, profissional que respondeu
legalmente pela casa por 03 (trs) anos;
19 O sigilo proteger o usurio em tudo aquilo de que o assistente social tome conhecimento, como
decorrncia do exerccio da atividade profissional (CFESS, 2006, p.22).
41
Sexo feminino, 23 (vinte e trs) anos, profissional que responde pela casa
atualmente;
Sexo feminino, 33 (trinta e trs) anos, profissional que trabalha diariamente
com as crianas;
Aps a realizao das entrevistas, as mesmas foram transcritas e sero
apresentadas no decorrer deste captulo, com vistas a apontar como se d o
funcionamento da casa, e os profissionais que a ela esto ligados, bem como as
atividades que desempenham.
3.2 O MUNICPIO DE OURO VERDE DO OESTE-PARAN
Ouro Verde do Oeste est localizado no 3 Planalto Paranaense, na regio Oeste
do Paran, na regio Sul do Brasil, a uma distncia de 571 km da capital, Curitiba, e
apresenta rea territorial de 293, 042 km, com uma populao de 5.692 habitantes20
.
Conforme dados do ndice Brasileiro de Geografia e Estatstica/IBGE, censo
2010, em 1965 fica estabelecido Distrito criado com a denominao de Ouro Verde,
pela lei estadual n. 5078, subordinado ao municpio de Toledo, sendo emancipado em
12 de junho de 1989, pela Lei estadual n 9009, surgindo ento no mapa, o municpio de
Ouro Verde do Oeste.
De acordo com dados do Plano Municipal de Assistncia Social de 2013, o
municpio de Ouro Verde do Oeste essencialmente agrcola, tendo como principais
atividades rurais: agropecuria, avicultura, suinocultura e agricultura (soja, milho, trigo
e fumo). Dispe de poucas indstrias, consequentemente apresenta poucas fontes de
gerao de renda. Diante disso, muitas pessoas buscam trabalho nas localidades
vizinhas (Toledo, Palotina, entre outras), e muitos tambm no possuem qualificao
profissional, sendo trabalhadores volantes.
Por conta disso, parte da populao passa a viver em situao de
vulnerabilidade, permanecendo meses sem trabalho. Fatores estes que aumentam a cada
dia o nmero de crianas/adolescentes, idosos e famlia em situao de risco pessoal e
20
Informaes acessveis na pgina do IPARDES, disponvel em <
www.ipardes.gov.br/cadernos/Montapdf.php?Municipio=85933> Acesso em 29 set. 2013.
http://www.ipardes.gov.br/cadernos/Montapdf.php?Municipio=85933
42
social. Tendo como consequncia, violao de direitos de crianas e adolescentes,
implicando assim, na criao da casa abrigo Anjos de Ouro.
3.3 A CRIAO DA CASA ABRIGO ANJOS DE OURO
No ano de 2010, foi instalada a casa abrigo Anjos de Ouro, no municpio de
Ouro Verde do Oeste-Pr. As informaes a seguir foram