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SESSÃO EM HOMENAGEM AO CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DO MINISTRO RIBEIRO DA COSTA SESSÃO REALIZADA EM 12 DE ABRIL DE 2000 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL BRASÍLIA – 2017

SESSÃO EM HOMENAGEM AO CENTENÁRIO DE …da República e Senhores membros do Ministério Público Federal, ilustre advogado Pedro Gordilho, representante do Conselho Federal da OAB,

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SESSÃO EM HOMENAGEM

AO CENTENÁRIO DE

NASCIMENTO DO MINISTRO

RIBEIRO DA COSTA

SESSÃO REALIZADA EM 12 DE ABRIL DE 2000

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

BRASÍLIA – 2017

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SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Ministro CARLOS VELLOSO, Presidente

Ministro MARCO AURÉLIO, Vice-Presidente

Ministro MOREIRA ALVES

Ministro NÉRI DA SILVEIRA

Ministro SYDNEY SANCHES

Ministro OCTAVIO GALLOTTI

Ministro SEPÚLVEDA PERTENCE

Ministro CELSO DE MELLO

Ministro ILMAR GALVÃO

Ministro MAURÍCIO CORRÊA

Ministro NELSON JOBIM

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Brasil. Supremo Tribunal Federal (STF).Sessão em homenagem ao centenário de nascimento do Ministro Álvaro Moutinho

Ribeiro da Costa [recurso eletrônico] : sessão realizada em 12-4-2000 / Supremo Tribunal Federal. — Brasília : STF, Secretaria de Documentação, 2017.

39 p.

Modo de acesso: <>

1. Ministro do Supremo Tribunal Federal, Brasil. 2. Tribunal supremo, Brasil.

CDDir 341.4191

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Supremo Tribunal Federal — Biblioteca Ministro Victor Nunes Leal)

Diretor-Geral Eduardo Silva Toledo

Secretaria de Documentação Ana Valéria de Oliveira Teixeira

Coordenadoria de Divulgação de Jurisprudência Juliana Viana Cardoso

Revisão e padronização Daniela Pires Cardoso, Márcia Gutierrez Aben-Athar Bemerguy e Vitória Carvalho Costa

Capa Lucas Ribeiro França

Projeto gráfico e diagramação Eduardo Franco Dias e Camila Penha Soares

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Ministro Ribeiro da Costa

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SUMÁRIO

Palavras do Excelentíssimo Senhor Ministro Carlos Velloso, Presidente do Supremo Tribunal Federal ............................ 6

Discurso do Senhor Ministro Sepúlveda Pertence ............... 8

Discurso do doutor Geraldo Brindeiro, Procurador-Geral da República ........................................ 25

Discurso do Doutor Pedro Gordilho, Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil ...... 30

Palavras do Excelentíssimo Senhor Ministro Carlos Velloso, Presidente do Supremo Tribunal Federal .......................... 39

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Palavras do Excelentíssimo Senhor Ministro CARLOS VELLOSO,

Presidente do Supremo Tribunal Federal

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O Senhor Ministro Carlos Velloso (Presidente) — Senhores Ministros, a primeira parte desta sessão plenária destina-se à comemoração do Centenário de Nascimento do saudoso e eminente Senhor Ministro Álvaro Moutinho Ribeiro da Costa, que foi um dos maio-res Presidentes do Supremo Tribunal Federal.

Para falar em nome do Tribunal, concedo a palavra ao eminente Ministro Sepúlveda Pertence.

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Discurso do Senhor Ministro SEPÚLVEDA PERTENCE

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O Senhor Ministro Sepúlveda Pertence — Senhor Presidente do Supremo Tribunal Federal, Senhores Ministros do Tribunal, de hoje ou de ontem, Senhor Procurador-Geral da República e Senhores membros do Ministério Público Federal, ilustre advogado Pedro Gordilho, representante do Conselho Federal da OAB, nesta solenidade, ilustre advoga-do J. J. Safe Carneiro, Presidente da Seção do Distrito Federal da Ordem dos Advogados, Excelências, ilustrados representantes da família Ribeiro da Costa. Meu prezado amigo e ilustre Subprocurador-Geral da República Sérgio Ribeiro da Costa e Doutora Adalija Moreira da Fonseca, filhos do homenageado, Doutores Paulo Sérgio Moreira da Fonseca e Álvaro Ribeiro da Costa, seus netos, senhoras e senhores.

Com atraso de mais de três anos, o Supremo Tribunal Federal dedica esta hora à comemoração do centenário do Ministro Ribeiro da Costa.

Respondam a azáfama sem precedente dos trabalhos da Corte e as turbulências dos últimos anos, não apenas pelo retardamento da solenidade, mas também – somado, é claro, às deficiências pessoais do orador – pelo improviso e a pobreza das palavras ora dedicadas à sua memória, fruto de uma madrugada roubada aos autos.

Álvaro Moutinho Ribeiro da Costa, nascido em 16 de janeiro de 1897, no Rio de Janeiro, bacharel de 1918, pela Faculdade Livre de Direito da antiga Capital, no então Distrito Federal se fez pretor, em 1924, juiz de direito, dez anos após, e desembargador do Tribunal de Justiça, em 1942.

A queda do Estado Novo, com a deposição do Presidente Vargas, leva ao exercício da Presidência da República o Ministro José Linhares, que presidia o Supremo Tribunal.

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É Linhares quem convoca o Desembargador Ribeiro da Costa para a chefia de Polícia e, ao final de seu breve governo, o nomeia ministro desta Corte, onde se empossa em 30 de janeiro de 1946.

Aqui, serve, por quase 21 anos, até a aposentadoria em 6 de dezembro de 1966, ainda investido na presidência da casa, por força da emenda regimental que lhe prorrogara o mandato até o final de sua judicatura.

Não fora a nota final, inédita, essa fria e burocrática enumeração dos passos bio-gráficos de um juiz de carreira antes esconde do que desvela a personalidade incomum de Ribeiro da Costa, seu tipo humano fascinante e a importância de sua passagem pelo Supremo Tribunal, de modo particular, pela sua Presidência — que o fazem um dos nomes mais expressivos da história mais que centenária desta instituição da República.

Inteligência aguda, de boa formação humanitária e saber jurídico bem sedimentado, o que situou Ribeiro da Costa entre os grandes juízes desta Casa não foi, no entanto, a nota-bilidade de jurista, mas a força da personalidade, a bravura de caráter e a fidelidade a alguns valores republicanos jamais renegados.

Debalde se procurarão em seus acórdãos do dia a dia — ao tempo em que os litígios privados dominavam a pauta do Tribunal — o brilho da inovação teórica ou os ornatos da erudição: ao relatório que dá notícia límpida do caso, segue-se o voto — raramente ultrapas-sando meia dúzia de parágrafos — no qual isola, com precisão cirúrgica, a questão relevante e lhe dita a solução, em estilo despido de pompas.

Embora contido na expressão de seus votos, Ribeiro da Costa jamais se pretendeu, contudo, ser o juiz indiferente aos dramas retratados em cada processo, nem liberto da an-gústia que, solitário, o magistrado cotidianamente enfrenta.

Ao contrário — seu discurso de posse no Tribunal de Justiça, relembradas na assun-ção da presidência do Supremo Tribunal, estas palavras reveladoras de toda a humanidade do juiz sensível:1

Todos vós sabeis o que é um processo, o que representam, para o Juiz, os

processos, os autos, essas folhas de papel reunidas, cosidas, inexpressivas, frias, mal

traçadas, cheias de manchas, de garatujas, que não dizem nada, que não falam, que

1 Revista dos Tribunais, v. 339/535, 544.

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não gritam, não choram, não cantam, não blasfemam e não ouvem como não veem,

porque não têm olhos, nem boca, nem órgão de expressão vital. Os autos, são eles

a tremenda fortuna dos culpados, a cruz dos inocentes, aqueles porque erram, estes

porque a sorte os atirou na adversidade; são eles, os autos, a cobiça dos ricos contra

os pobres, a desgraça desta pela ganância daqueles, os autos. São eles a história

muda, indevassável, não de um ser apenas, mas, quem sabe lá a eles pode estar

ligado o destino de um pai, de um filho, o seu nome, por toda vida, a honra de uma

noiva, de uma esposa, o patrimônio de uma sociedade, que um erro, uma falta torna

de todo periclitante — os autos!

Só aqueles que os folheiam, como os juízes, pela noite a dentro, no seu gabinete

de estudo e trabalho, só os juízes, como os músicos, os pintores, os artistas em suma,

interpretam todas as notas graves, agudas e as nuanças de súplicas, de gritos, de

blasfêmias, de preces, de revoltas e mágoas através daquelas folhas mortas que ante

seus olhos são vivas queimam-lhe as pupilas, derretem-lhe o coração, agrilhoam sua

alma, comprimem sua consciência, desgastam, na procura da verdade, o seu espírito,

e, ainda quando a convicção se lhe afirma no raciocínio, na lógica e na lei, que restará,

muitas vezes, a lhe roubar a tranquilidade? A dúvida.

Não obstante o temperamento irrequieto, além da recatada simplicidade dos votos escritos, nem é Ribeiro da Costa, nas sessões, um polemista frequente, à moda de um Luiz Gallotti — quiçá o mais notável esgrimista verbal de seu quarto de século nesta Casa, que passou a desafiar sucessivamente duelistas notáveis, do porte de um Hungria, de um Victor Nunes, de um Baleeiro.

Juiz assim discreto no cumprimento pontual e apurado de seus deveres cotidianos, Ribeiro da Costa cresce é nos momentos dramáticos do Tribunal, sempre quando lhe pare-ça estar convocado a dar testemunho de sua lealdade aos princípios fundamentais do seu ideário.

Na breve, contida, mas comovente oração que lhe dedica pelo Tribunal, quando de sua morte, o Ministro Adaucto Cardoso, com a experiência e os sentimentos da velha amiza-de com Ribeiro da Costa, parece ter logrado identificar-lhe os traços da personalidade, que melhor explicam o desempenho do Juiz inesquecível2.

2 Revista Forense, v. 219/417, 418.

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O primeiro, de que Adaucto se diz comparsa, é que palmilharam “ambos a mesma perigosa faixa divisória que separa do Foro a vida pública”.

Se Adaucto não resistiu aos apelos do “mundo conturbado e às vezes selvagem da política”, Ribeiro da Costa, testemunha o amigo, fascinado pelo “ideal de Independência e de serenidade” — afora a breve passagem pelo governo emergencial de Linhares — jamais se desviou da opção de mocidade pela judicatura.

Magistrado integérrimo, ele não tem, contudo, o pejo — tão comum nos seus con-temporâneos e não raro ainda hoje — de dissimular, sob o mito de uma neutralidade aliena-da, a fidelidade aos valores fundamentais da visão de mundo de cada juiz.

Essa coragem de assumir-se por inteiro, fica patente em cada um dos momentos culminantes da vida pública de Ribeiro da Costa.

No primeiro dos votos que lhe assinalariam a saga de juiz libertário — vencido, no Tribunal Superior Eleitoral, na companhia do Professor Sá Filho, na merencória decisão de 1947, que cassou o registro do Partido Comunista do Brasil — Ribeiro da Costa não hesita de assinalar, logo de começo3:

Constitui erro, senão estultice, supor que os juízes decidem jogando com raciocí-

nios glaciais; assim o sustentar, numa questão desse vulto, a irrelevância do problema

político, que lhe é intrínseco, devendo apenas ater-se à aplicação pura e simples do

preceito constitucional aos motivos alegados na denúncia. Não há maior engano: nesta

questão, como em qualquer outra, o juiz investido pela lei, solenemente, das respon-

sabilidades todas para ditar a solução do problema, há de fazê-lo, mas segundo as

reservas da sua consciência no fundo da qual se cristalize a verdade, ou seja, a justiça.

A confissão serve de abertura ao que se segue no magistral voto vencido: o culto à tolerância política, o mais belo e o mais humano dos prismas essenciais da democracia.

Vale recordar — por sua eterna contemporaneidade — seus extratos basilares:

Se é exato haver a experiência demonstrando que os regimes políticos não se

cumprem na plenitude de seus princípios, nem por essas ou outra razão se justifica,

quando encetamos, sob os melhores auspícios, as práticas da democracia, a adoção

3 TSE, Res. 1.841, 7-5-1947, B. El. dez. 1970, n. 233, p. 366, 390-394.

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de medidas, implantadas à sombra de seus princípios, que antes de autorizar repelem,

de modo preciso, semelhante propósito, contrário à índole, à essência, e à substância

da própria instituição política.

(...)

Ora, a democracia é, precisamente, uma tentativa extraordinariamente audaz, não

para rechaçar a direção (isso é mais fácil e totalmente desastroso), senão para com-

binar a direção com a liberdade.

(...)

A implantação do regime democrático exige, para que bem se constitua, a colabo-

ração de todas as forças orgânicas da Nação, sendo, pois, essencial, para a existência

desta, que se não elimine a contribuição de quaisquer correntes partidárias, admitidas

a funcionar na forma prescrita na lei.

(...)

O partido comunista, conquistando o seu registro, estabeleceu entre as demais

correntes partidárias uma ação emulatória considerável. Bastaria ter contribuído para a

formação de quadros de eleitores possuídos de melhor compreensão e organizados

sob disciplina partidária. A concorrência despertou no eleitor a verdadeira consciência

cívica. Surgiu a luta; com ela a noção dos deveres que incumbem ao cidadão.

As objeções que se levantam contra a existência legal do partido comunista não

devem constituir obstáculo ao seu funcionamento. Qualquer vedação nesse sentido

ocasionará mal irremediável, enfraquecendo o organismo democrático. A vitalidade

deste regime se revela no poder de absorção de forças políticas adversas, de sorte

que o trabalho pela supremacia de seus princípios não reside no expurgo de associa-

ções políticas, com esses ou aqueles matizes, possivelmente hostis, mas na prática,

rigorosa, honesta, em toda sua extensão e profundidade das normas basilares (...).

Afigura-se, assim, indispensável assegurar o funcionamento dos agrupamentos

partidários, sob as condições impostas pela Carta Magna, uma vez que não as infrinjam

por atos inequívocos, concretos e comprovados. Salvo essa hipótese, cairemos, então,

no terreno suspeito do arbítrio por onde se aniquilam todas as garantias da liberdade.

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O segundo marco do modo de ser de Ribeiro da Costa — por isso, de fascinante e imprevisível riqueza — busca-o Adaucto Cardoso, na sua estirpe, uma família de militares:

Membro de uma família de militares, onde quase todos os varões se destinaram

à carreira das armas, o nosso saudoso companheiro conservou, nas mais profundas

camadas da sua personalidade de civil, acentuada esta, às vezes, até as alturas de uma

nobre ostentação, a escondida vocação do guerreiro. O amor da luta, o desprezo pelo

risco, a simplicidade castrense dos seus hábitos, uma certa franqueza leal e rude, tudo

nele lembrava, em certos episódios, o soldado que se transviara.

Ainda o vejo, nos dias amargos de 1937, quando a consciência da dignidade do

cidadão fazia estalarem as costuras da toga do insubmisso juiz da 5ª Vara Civil. Depois

me vem à memória 1944, o Dia da Bandeira, quando o bravo desembargador Ribeiro da Costa, em sessão plena e solene do seu Tribunal, se solidariza com o orador da

Ordem dos Advogados, na sua manifestação aberta contra a ditadura.

Guerreiro, embora, Ribeiro da Costa era também poeta, como o lembra Adaucto, em página de rara beleza e impressionante lucidez:

É certo que os versos importam pouco. Grave foi tê-lo marcado o Arcanjo com

o selo da magia poética, enquanto um Destino contraditório o punha a viver entre

homens lógicos. Sabemos todos como sua crispada humanidade reagia nesse conflito

fundamental e obscuro, fazendo dele um inquieto e inconformado, em aberta reação

contra as coisas do mundo.

Aí é que nada foi suficientemente forte para chegar a constituir-se em limitação

para sua pessoa moral. Para ele as posições eram nítidas e simples. Havia o seu cava-

lheiresco código de inteireza, de bravura, de lealdade, de galanteria e o resto. O resto,

o tangível, o prático — para o quixote togado, importava muito menos, ainda que por

via dessa conclusão o mundo desmoronasse.

Será talvez esse poeta — “adversário irreconciliável da realidade” — o que se mos-tra, de frente, em outro dos poucos momentos de sua judicatura, que o tempo me permitirá recordar: o voto vencido no mandado de segurança requerido por Café Filho, contra o ato da Câmara dos Deputados, nos idos de novembro de 1955, que lhe declarara o impedimento para reassumir a Presidência da República, tangida a Casa, na verdade, pelas tropas que materializavam, sob o comando incontestável do General Henrique Lott, o “movimento de retorno aos quadros constitucionais vigentes”.

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Não se trata de tomar partido no controverso momento histórico que, à beira de fazer meio século, já não reclama julgamento, mas interpretação.

Eu mesmo, nesta mesma sala, já louvei no grande Nélson Hungria — antípoda, no julgamento célebre, de Ribeiro da Costa — a hombridade de enfrentar, então, a incompreen-são de muitos dos que, anos depois, a partir de 1964, lhe não poderiam contestar a dramáti-ca verdade, tantas vezes encarada, inda que raramente com a “franqueza de confessar-lhe a inexorabilidade, por tantos juízes, daqui e de alhures, que tenha tido de viver a impotência do Estado de Direito ante os recorrentes surtos militaristas que sói desgraçarem estas paragens da América”4.

À compreensão do realismo de Hungria, seguido por Mário Guimarães, há de corres-ponder, no entanto, com igual admiração, a exaltação, no extremo oposto, da brava solidão de Ribeiro da Costa, único voto a deferir o mandado de segurança, brandindo a Constituição, contra o fato consumado pela tropa nas ruas5.

Pouco se lhe dá o fato. Ao “quixote togado” a que aludiu Adaucto, o que lhe importa se lhe parece que “está em jogo, neste Tribunal, num lance de cara e coroa, a sorte do regime democrático” — é a verdade constitucional, que desvela, com a lição dos doutores:

No caso em apreço, a declaração de impedimento do Presidente da República,

feita pela Câmara dos Deputados, é ato nulo, por falta de competência, e dir-se-á

mais que só o próprio Presidente da República é senhor da conveniência do seu

afastamento ou do seu retorno ao exercício do cargo. Se ele é, por excelência, o juiz

dessa conveniência, e nunca seria competente o Poder Legislativo, que é outro Poder,

e que não pode ter ingerência em questões relativas aos atos inerentes ao exercício

da Presidência da República, aquela deliberação é insustentável.

(...)

Como admitir que a Câmara dos Deputados possa, mesmo numa suposta con-

juntura de salvação nacional, rasgar a Constituição para declarar o impedimento do

Presidente da República?

4 RTJ 136/1.379, 1.386.

5 STF, MS 3.557, 14-12-1955, in Edgard Costa, Os grandes julgamentos do Supremo Tribunal Federal, ed.

Civilização Brasileira, III/354, 367-386.

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Nem o faz recuar o óbice do estado de sítio:

(...) entendo que, se o afastamento do Presidente da República resultou de ato,

de força e de violência, já exposto ao Supremo Tribunal, a assunção àquele alto cargo

do Sr. Nereu Ramos é ato que não somente ofende à Constituição, como também

resulta manifestamente nulo. O Sr. Nereu Ramos, a meu ver, é um funcionário de fato,

nada mais do que isso. Não é detentor autêntico da autoridade que exerce, porque

o afastamento do legítimo substituto do Presidente da República se deu por maneira

inconstitucional. O Sr. Nereu Ramos, é, pois, tão somente um funcionário de fato, que

assina papéis na Presidente da República. Qual será, porém, a consequência lógica,

inevitável e jurídica dessa situação de fato? A Câmara dos Deputados e o Senado,

votando a lei do estado de sítio, entregaram ao Sr. Nereu Ramos a complementação

desse irrisório veículo da lei. Pergunto eu: — nestas condições, estará a lei do estado

de sítio vigendo no País? Deverá ser respeitada? Em face dela, poderá alguém sofrer

vexame por ato político, de natureza política? Não, não e não, conforme diz a Bíblia.

O Sr. Nereu Ramos não é legítimo detentor do Poder Executivo; não é, pois, legítimo

subscritor de uma lei. Nenhuma das leis que subscrever terá vigência legítima, jurídica

e acatável pelos cidadãos. O Poder Legislativo praticou ato para o qual não tinha com-

petência e o Sr. Nereu Ramos, em face da Constituição, não é Presidente da República.

Logo, não há lei decretando o estado de sitio.

Tudo para concluir, dramático:

Na intercorrência do Estado Novo, disse Monteiro Lobato em missiva reservada:

“Muito agradeço as palavras de sua carta, mas não me sobra energia, nem vonta-

de nenhuma para coisa alguma. Já não creio nem espero mais nada — e estou

sem função. O destino me deu como função na vida ‘manifestar o meu pensamento’.

Manifestação de pensamento hoje, nesta terra, a não ser para a apologia do satrapis-

mo, é atividade proibida”.

Qual a função do juiz? A maior, a mais elevada, a mais pura. É aplicar a Constituição.

Talvez após 40 anos de serviços à causa pública, dos quais 32 à magistratura, tam-

bém eu tenha de dizer, com melancolia como o grande escritor: “Perdi o meu ofício”.

Arrebataram meu instrumento de trabalho, meu gládio e meu escudo: a Constituição.

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Eleitos os Presidentes do Supremo pelo critério impessoal da antiguidade, são obra do acaso o comportamento e o estilo de cada um deles ante os desafios que lhe reserve o período de investidura.

O voto de 1955, porém, é essencial para antever e compreender-se o Ribeiro da Costa de uma década depois, Presidente do Tribunal nos anos dramáticos que se seguiram à derrubada do regime pelo movimento militar de abril de 1964.

Que os vitoriosos de 64 tenham sido os derrotados de 55, serviu para comprovar o erro dos que, no voto vencido de 55, insistiram em divisar, não o compromisso teimoso de Ribeiro da Costa com a Constituição, mas a paixão partidária mal dissimulada.

Seria farisaico negar a simpatia inicial de Ribeiro da Costa pela sublevação vitorio-sa dos quartéis de 1964 — talvez superada apenas pelo tonitruante entusiasmo de Pedro Chaves: ela se manifesta tanto na sua presença no Palácio do Planalto quando da assunção do poder nominal por Ranieri Mazzili, na madrugada de 2 de abril, quanto no discurso com o qual em 17 de abril, recebe a visita ao Tribunal do Presidente Castello Branco, guindado ao poder pelo movimento vitorioso: nele6, proclama “que, em verdade, foram os detentores do Governo deposto, que, movidos por um propósito vesânico, nos arrastaram a essa situação” e concede mesmo que “a reconquista e, portanto, a sobrevivência da democracia se há de fazer, nos momentos de crise, com o sacrifício transitório de alguns de seus princípios e garantias constitucionais”.

Mas, de logo, acentua, em prudente mas perspicaz antevisão do futuro próximo de incompreensão do regime com o Supremo Tribunal:

A Justiça, Eminente Senhor Presidente, quaisquer que sejam as circunstâncias

políticas, não toma partido, não é a favor nem contra, não aplaude nem censura.

Mantém-se, equidistante, ininfluenciável pelos extremos da paixão política. Permanece

estranha aos interesses que ditam os atos excepcionais de governo. Nosso poder de

independência há de manter-se impermeável às injunções do momento, e acima de

seus objetivos, quaisquer que se apresentem suas possibilidades de desafio às nossas

resistências morais.

6 VALE, Osvaldo Trigueiro do. O Supremo Tribunal Federal e a instabilidade político-institucional. Civilização

Brasileira, 1976, p. 25-30.

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Cedo, com efeito, se desfariam as ilusões da aparência inicial de intervenção transi-tória e restauradora com que se apresentara a tomada do poder pelos militares.

Nela, porém, acreditara o Supremo Tribunal: afinal, para juízes, além dos ares e do discurso civilista do primeiro Presidente militar, valia a autolimitação do ato institucional do novo regime — que, embora se arrogando o poder constituinte das revoluções —, mantivera a Constituição, não lhe impondo, à carta de liberdades, senão algumas restrições, posto que sérias, pontuais e temporárias.

De logo, porém, à moderação do instrumento normativo, se superpunham as trope-lias dos bolsões radicais na repressão histérica, pouco afeita a dobrar-se às ordens judiciais de salvaguarda dos direitos e garantias restantes.

Depõe Victor Nunes, sobre o primeiro incidente mais sério, gerado pelos julgamentos do Tribunal7:

(...) tendo havido vacilação no cumprimento de habeas corpus, o Presidente do

Supremo Tribunal, em comunicação a um comandante militar, empregou o verbo ad-vertir, com o significado de dar-lhe ciência, ou de notificá-lo das consequências jurídi-

cas de eventual desrespeito à decisão. O ilustre militar, de alta hierarquia, reclamou ao

Presidente Castello Branco, porque o Presidente da República, e não o do Supremo

Tribunal, é que tinha competência para adverti-lo, o que equivalia a impor-lhe a pena

de advertência.

O Chefe do Governo encaminhou ofício ao Supremo Tribunal e este, em sessão

pública, aprovou a resposta do Ministro Ribeiro da Costa. Nela se esclarecia, em ter-

mos altos, que tinha havido uma notificação ou intimação, de natureza processual, e

não uma advertência de caráter disciplinar, nem havia relações deste gênero entre a

presidência da Corte e os Comandos Militares. Com isto se encerrou o mal-entendido

e foi cumprido o habeas corpus.

A proverbial objetividade e moderação da linguagem de Victor Nunes não quis retra-tar o tom dramático de alguns dos episódios referidos.

7 LEAL, Victor Nunes. Notas sobre o Supremo Tribunal Federal, In: Problemas de direito público e outros proble-mas. Imprensa Nacional, 1999, v. 2/261, 267.

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Assim, a resposta de Ribeiro da Costa a Castello Branco no episódio da “advertência” ao general recalcitrante no cumprimento do habeas corpus deferido a Miguel Arraes, tem sim o caráter de explicação do mal-entendido burocrático, mas desvela sobretudo o grave senso de autoridade do Presidente do Tribunal — tantas vezes posto à prova naqueles tempos, ante qualquer resistência às decisões da Corte.

Escreveu Ribeiro da Costa8:

Acuda Vossa Excelência, assim o espero, à compreensão lexicológica do verbo

advertir, de que fiz uso no meu telegrama e espero possa ver, em sã e lúcida com-

preensão, que não foi meu intuito além do alcance de lembrar, de fazer ver, de chamar a atenção, de exemplificar, apenas, ao detentor do paciente, o sentido

exato da disciplina militar a fim de conduzi-lo à obediência que decorre da sua alta

patente, de cujos atos deve derivar honroso exemplo a seus pares e à coletividade,

clara compreensão que imprime decisivamente aos atos dos militares a autenticidade

decorrente das leis privatísticas e dos costumes dos povos cultos.

Acode-me, ainda, o inabalável dever, Senhor Presidente, de realçar que a ordem

judicial não está, de modo algum, sujeita ao julgamento e à decisão, em segundo

plano, por parte do detentor do preso, ou por parte do coator de ato ilegal, assim

reconhecido pelos órgãos judiciários competentes.

Considere Vossa Excelência que o General detentor do paciente, além de ter sido

atingido por indevida pena disciplinar, por mim praticamente aplicada, o que já de-

monstrei não corresponder à accepção comum e jurídica, teria ele dado seu enten-

dimento (sic) sobre a decisão do Supremo Tribunal Federal e a sua decisão (sic) fora

correspondente à opinião que emitira o Procurador-Geral da Justiça Militar.

Determina Vossa Excelência no citado ofício que se considere como não subsistente,

aquela nota disciplinar, inclusive para o efeito da vida militar do General Edson Figueiredo.

No regímen democrático, os poderes tripartidos são autônomos e soberanos no

alcance de suas deliberações. Mas cabe ao Supremo Tribunal Federal a faculdade

constitucional de estabelecer o controle sobre os atos que os dois outros poderes

hajam praticados. A superposição dessa competência emerge do Estatuto Político vi-

gente. Às suas normas todos os cidadãos devem irrestrita submissão e o alto exemplo

8 Relatório de Atividades do STF em 1965, mimeo, p. 70.

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há de partir dos Chefes daqueles poderes, salvo, em caso contrário, a implantação

do caos no domínio da direção do País. Esse empenho repugna ao espírito de Vossa

Excelência cujos atos são o real testemunho de fiel observância legal.

Não cabe e não assistia, assim, àquele General, adotar entendimento (sic) ou

decidir (sic) acerca da ordem de habeas corpus concedido por este Egrégio Tribunal.

Muitos seriam os episódios similares a recordar, não fossem as limitações do tempo.

Avulta em todos eles a marca pessoal de Ribeiro da Costa e seu intimorato com-promisso, de um lado, com o que fora possível preservar da ordem jurídica democrática, de outro, com a defesa altiva da autoridade do Tribunal.

Somado às circunstâncias do momento político, vem daí a distinção sem precedentes que Ribeiro da Costa viria a receber de seus pares.

Nasce o episódio com a publicação pelo Correio da Manhã de 20 de outubro de 1965 de um artigo de Ribeiro da Costa sobre a “Inconveniência e inutilidade do aumento de Ministros do Supremo Tribunal Federal”, proposta atribuída a certas áreas militares e contra a qual bradava:

Em verdade, nada mais contundente, absurdo, esdrúxulo e chocante com os prin-

cípios básicos da Constituição, que vedam em sua sistemática se cogite de aumento

de juízes, da Corte Suprema, sem que de sua iniciativa se manifeste essa necessidade

mediante mensagem dirigida ao Congresso Nacional.

Não se compreende possa legitimar-se tal propósito ao simples critério do chefe

do Estado e à aprovação do Parlamento. Se, entretanto, viesse a vingar esse proce-

dimento, o que nos parece de todo inviável, teríamos praticamente instaurado grave

conflito entre os poderes da República, dois contra um, ou seja, o Executivo e o

Legislativo, de mãos dadas, a fim de invadirem área específica e privativa do Judiciário,

com quebra do princípio fundamental da independência e harmonia dos poderes

(Constituição, art. 7º, VII, letra b).

E depois de evidenciar, de sobra, a inconveniência da medida,

Alertamos aos Poderes Executivo e Legislativo, ao mesmo passo que assim o fa-

zemos tendo em vista as insistentes intromissões dos militares nesse assunto que não

lhes diz respeito, sobre o qual não lhes cabe opinar, o que, entretanto, vem ocorrendo

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lamentavelmente, coisa jamais vista nos países verdadeiramente civilizados. Já é tempo

de que os militares se compenetrem de que nos regimes democráticos não lhes cabe

o papel de mentores da Nação, como há pouco o fizeram, com estarrecedora quebra

de sagrados deveres, os sargentos, instigados pelos Jangos e Brizolas. A atividade civil

pertence aos civis, a militar a estes que sob sagrado compromisso juram fidelidade à

disciplina, às leis e à Constituição.

Se ao Supremo Tribunal cabe o controle da legalidade e constitucionalidade dos

atos dos outros poderes, por isso mesmo ele é investido de excepcional autonomia

e independência, tornando-se intolerável a alteração do número de seus juízes por

iniciativa do Executivo e chancela do Legislativo. Inaugurado que seja este sistema

mais adiante aumentar-se-á novamente o número dos membros do STF, sob qual-

quer pretexto, político ou militar. A que se reduzirá, então, a independência do Poder

Judiciário se até o seu mais alto Tribunal poderá ficar à mercê da oscilação de opiniões

e de vontades estranhas àquele Poder?

A contundência do estilo provocou a resposta exaltada e desrespeitosa do General Costa e Silva, então Ministro da Guerra, numa reunião militar em Itapeva, em 22 de outu-bro de 1965, na antevéspera do Ato Institucional que se tramava arrancar do Presidente Castello Branco:

O ímpeto de Ribeiro da Costa — testemunha Victor Nunes9 — foi aceitar a

polêmica pública, pois não somente ele, mas também o Tribunal, tinha sido atingido.

Entretanto, aos seus colegas mais comedidos pareceu evidente que o debate não seria

construtivo. A solidariedade mais expressiva que, em desagravo do Tribunal, devíamos

ao nosso presidente, melhor se traduziria em um ato nosso e não dele. Mas um ato

de nossa indisputável competência, que por isso não se pudesse questionar em sua

legalidade. Não evitaríamos que viesse a ser criticado sob o ângulo político, mas isso

resultaria do seu sentido de desagravo.

A fórmula encontrada, que Ribeiro da Costa somente aceitou com muita resis-

tência, consistiu em acrescentarmos ao nosso Regimento uma disposição transitória

para prorrogar, por cerca de um ano, o seu mandato de Presidente, que não tardaria

a terminar.

O acréscimo, em linguagem austera de norma jurídica, assim ficou redigido.

9 Ob. Cit., p. 276.

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O Ministro Álvaro Moutinho Ribeiro da Costa exercerá a presidência do Supremo

Tribunal Federal até o término de sua judicatura.

A justificativa — cujo texto básico Victor atribui a Hermes Lima e Cândido Motta Filho — na discrição e austeridade de linguagem, que o dia impunha, é modelar e exalta não só o homenageado, mas todo o Tribunal10:

O Supremo Tribunal Federal, cujas prerrogativas constitucionais estão protegidas

pela afirmação de sua independência, não podia deixar de participar das vicissitudes

do momento presente.

E quando avulta, com singular envergadura, a figura de seu Presidente, que re-

presenta o Tribunal, como Chefe de um dos poderes da República, o Poder Judiciário.

Entre seus deveres irrenunciáveis está o de defender a integridade e a competência da

instituição, desfazendo incompreensões, alertando os demais Poderes, esclarecendo a

Nação de que a justiça tem por missão aplicar a Constituição e as leis de resguardar

os direitos individuais, com inteira fidelidade aos princípios do regime democrático.

O Ministro Álvaro Moutinho Ribeiro da Costa, na presidência desta Casa, sempre

apoiado por seus colegas, tem observado, com altivez e firmeza, os seus deveres

constitucionais. Tendo já completado cinquenta anos de serviço público, dos quais

mais de quarenta dedicados à magistratura, que com pesar não poderá contar com

sua cooperação por muito tempo, tem direito ao reconhecimento especial de seus

pares. A maneira mais expressiva de assinalar sua presidência, que tem sido da mais

alta significação para o Tribunal e para o País, é estendê-la até o término de sua judica-

tura. O Ministro Ribeiro da Costa deixará, assim, a atividade judiciária no mais elevado

posto da magistratura, que tem honrado nas circunstâncias mais difíceis, arrostando

dissabores e incompreensões.

A presente emenda regimental, que atende a esse propósito, não é apenas uma

homenagem. É também o testemunho de seus colegas quanto à dignidade, patriotis-

mo elevação de sua conduta, neste conturbado momento da vida nacional.

O gesto dos colegas lhe propiciou a força moral para suportar com dignidade, dois dias depois, a derrota que lhe impôs o Ato Institucional 2, com a elevação, que combatera tenaz-

10 In: LEAL, Victor Nunes, ob. Cit., p. 276.

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mente, do número de Ministro do Tribunal, de onze para dezesseis, na tentativa de dobrá-lo, que, é justo dizê-lo, a dignidade dos primeiros nomeados para as novas vagas viria a frustrar.

Pouco mais de um ano depois, em 6 de dezembro de 1966, para que a eleição do sucessor não fosse adiada, Ribeiro da Costa se aposenta, antes da compulsória.

Da homenagem que lhe prestamos, os advogados, na despedida, daria comovido testemunho José Guilherme Villela, na sessão de homenagem póstuma11:

Sem concerto prévio, nem oradores designados reunimo-nos no aeroporto, no

momento em que voltava ele de um exílio de seis anos, suportado como imperativo do

dever cívico, aos sítios incomparáveis de sua terra natal.

À medida que se avizinhava a partida, um comovido silêncio nos dominou a todos.

Soando a hora formamos alas por onde passou sob o calor de nossas palmas, que só

estas pudemos oferecer-lhe na ocasião.

(...)

Apesar do corpo debilitado e de semblante revelador da doença, nunca nos ocor-

reu a ideia da morte. A imagem de Ribeiro da Costa não era a da dimensão física,

mas a da grandeza moral que nem os anos nem a moléstia quebraram ou abateram.

Todo o seu valor estava intacto, como em recentes episódios, o demonstrara sua luta

sem tréguas pela independência do Poder Judiciário.

A morte levou Ribeiro da Costa em 16 de julho de 1967, pranteado por quantos resis-tíamos à escalada da ditadura plena que se aproximava.

Presta-lhe o Tribunal com a comemoração do centenário do nascimento, as derradei-ras honras da previsão regimental.

Com a solenidade, não se encerra, porém, o culto desta Casa ao Presidente Álvaro Moutinho Ribeiro da Costa.

A sua memória reviverá cada vez que o Tribunal atravessar um daqueles momentos nos quais, ao tempo de sua judicatura, se agigantava a sua figura, para exaltar a indepen-dência, que é a razão de existir e da grandeza desta Casa.

11 Revista Forense, 219/417, 419.

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Os tempos corridos desde a retomada do processo democrático tem feito ver aos ingênuos que não é privativo das ditaduras a incompreensão pelo poder político do controle reservado aos Tribunais na construção do Estado de Direito.

Toda a vez que — respeitado o estilo de cada Presidente — for imperativo reagir em nome da Supremacia da Constituição, de que somos guardas, a recordação de Ribeiro da Costa nos servirá de guia e o seu lema, tomado de Fernando Pessoa, o nosso lema:

Quando faças, supremamente faze.

Muito obrigado.

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Discurso do doutor GERALDO BRINDEIRO,

Procurador-Geral da República

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O Doutor Geraldo Brindeiro (Procurador-Geral da República) — Excelentíssimo Senhor Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro Carlos Velloso, Excelentíssimos Senhores Ministros, Excelentíssimos Senhores Ministros aposentados, Rafael Mayer e Aldir Passarinho, Autoridades presentes, Familiares do Ilustre Homenageado, Subprocurador-Geral da República aposentado, Doutor Sérgio Ribeiro da Costa, seu filho; Doutora Analija Moreira da Fonseca, sua filha; e seus netos Doutores Paulo Sérgio Moreira da Fonseca e Álvaro Ribeiro da Costa Neto; Senhoras e Senhores.

O Ministério Público Federal deseja associar-se à justa homenagem que, segundo a melhor tradição da Casa, presta esta Colenda Corte nesta sessão solene ao Saudoso Ministro Ribeiro da Costa, reverenciando sua memória em razão do centenário de seu nascimento.

O Ministro Ribeiro da Costa, Presidente do Supremo Tribunal Federal num dos perí-odos mais difíceis da História da Corte, no biênio 1964-1965, pela sua postura corajosa em defesa da independência do Poder Judiciário, foi homenageado pelos seus pares que prorro-garam o seu mandato até o final de sua judicatura no Tribunal, quando de sua aposentadoria em dezembro de 1966. Faleceu em julho de 1967.

Filho do General-de-Divisão Alfredo Ribeiro da Costa e de D. Antônia Moutinho da Costa, Álvaro Moutinho Ribeiro da Costa, nascido no Rio de Janeiro em 16 de janeiro de 1897, Bacharel em Direito pela antiga Faculdade Livre de Direito daquela cidade em 1918, Juiz de Direito em 1934, Desembargador em 1942 e Ministro do Supremo Tribunal Federal em 1946 (onde esteve durante mais de vinte anos contribuindo com notáveis decisões que enriqueceram a jurisprudência da Corte), notabilizou-se sobretudo pelo episódio, no início do movimento militar de 1964, quando, no exercício da Presidência da Corte Suprema, teria

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afirmado que fecharia o Tribunal e entregaria as chaves aos generais na hipótese da cas-sação de qualquer de seus membros. E foi vitorioso, pois não houve cassações na Corte. E, novamente, protestou contra o aumento do número de Ministros do Supremo Tribunal Federal para 16, nos termos do Ato Institucional 2, de 27-10-1965, devolvendo, segundo consta, honraria militar que recebera.

Sobre ele disse em 1967 o seu sucessor na Presidência do Supremo Tribunal, o Saudoso Ministro Luiz Gallotti:

Em nenhum instante dos seus 63 anos de serviço à causa pública, o ministro

Ribeiro da Costa foi reduzido pelas soluções estranhas ao regime democrático, enten-

dido como aquele em que só a intervenção da vontade popular imprime legitimidade

às decisões políticas. Acreditava na democracia e a praticava com pureza.

A afeição, a admiração e o respeito que lhe dedicaram seus pares são demonstrados nas palavras sinceras do Saudoso Ministro Cândido Motta, na sessão plenária de 7 de dezem-bro de 1966, por ocasião de suas despedidas em razão da aposentadoria. Denominando-o “Meu Presidente Álvaro Moutinho Ribeiro da Costa”, o orador lembrou que “os autos, diante dos seus olhos, não se amontoavam, como no processo de Kafka” e que “para a sua visão de mundo, a Justiça é apenas uma expressão da Liberdade”, mantendo-se, nas próprias palavras do homenageado “equidistante, ininfluenciável pelos extremos da paixão política”. E concluiu o orador a sua saudação ao Ministro Ribeiro da Costa:

Meus parabéns, Presidente, como amigo e companheiro. E quero que minhas

palavras sintetizem, pelo seu calor emocional, a alta homenagem de seus pares, por

tudo o que deixou em nossos corações e pelo que escreveu para os anais e história

do Supremo Tribunal Federal.

O Saudoso Ministro Ribeiro da Costa engrandeceu a Justiça brasileira, com sua dig-nidade e coragem, plenamente consciente do papel que lhe reservou a História. Foi, nos dizeres do Saudoso Ministro Hermes Lima em palestra proferida em sua honra, “um grande juiz; um grande cidadão; e um homem de sensibilidade e de pensamento... não só um com-batente do Direito, mas um militante da Paz”. A sua modéstia, aliás, ainda mais o exaltou ao agradecer as homenagens e considerar o discurso do Ministro Cândido Motta, nas suas próprias palavras, “metamorfose encantadora, seduzindo pelo brilho, pela imaginação e pelo enleio de sua criação, imprimindo à minha vida e à minha carreira de juiz um tom de fascínio

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que, desafia a própria concepção restrita que alimento, em sã consciência, dos menores valores de minha personalidade”.

Na homenagem póstuma que lhe prestou esta Corte, na sessão plenária de 9 de agosto de 1967, recordou ainda o Saudoso Ministro Adaucto Lúcio Cardoso sua consciência da dignidade do cidadão, o insubmisso juiz da 5ª Vara Cível e o bravo Desembargador em 1944 solidarizando-se com a OAB na sua manifestação aberta contra a ditadura. Na mesma ocasião o então Procurador-Geral, Professor Haroldo Valadão, lembrou os veementes protes-tos do Ministro Ribeiro da Costa contra o absurdo do estado de sítio em 1955 e o seu voto no célebre habeas corpus impetrado pelo Presidente Café Filho.

E no Tribunal Superior Eleitoral, em sessão do dia 10 de agosto do mesmo ano, o Saudoso Ministro Victor Nunes Leal discursou sobre o homenageado dizendo ao final:

Ainda é cedo para se recolherem os elementos que possam espelhar toda a

riqueza dessa figura humana e do homem público que a dominava, consciente das

limitações e dos poderes da magistratura, onde a lei, a liberdade e o sentimento de

justiça não podem andar separados.

Seus companheiros de viagem, que continuamos na mesma rota, reverencia-

mos, sentidamente, sua memória, e testemunhamos, para a posteridade, que ele nos

deixou, com o seu exemplo, um legado oneroso. Talvez não o possamos cumprir tão

fielmente como ele desejaria, mas nós o aceitamos com orgulho e sentimento de

responsabilidade.

O saudoso Sobral Pinto, o grande advogado católico, defensor intransigente das liberdades civis e dos direitos políticos, em nome do Instituto dos Advogados Brasileiros, também homenageara o Ministro Ribeiro da Costa “pela sua dignidade, pela sua honradez, pela sua lucidez, e, sobretudo, pela sua bravura”. E concluiu sua oração: “Bem haja Deus, que nos deu um homem dessa categoria, numa hora destas”. Na mesma ocasião, o Saudoso Ministro Gonçalves de Oliveira que acreditara na “contenção da onda aumentatista”, como disse, afirmou dirigindo-se ao homenageado: “E nesta luta incessante, Presidente, não é preciso frisar porque todos somos testemunhas, a figura de Vossa Excelência tem sido a de um verdadeiro líder, um guia, de um nobre e exemplar companheiro”.

O Ministro Ribeiro da Costa, com seu caráter e índole próprios, foi um homem do seu tempo, como se define em poema de sua autoria:

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Sou homem do meu tempo, acompanhando

O ritmo de um mundo diferente

Daquele que, na infância, eu vi nascer

Ante os meus olhos sempre deslumbrados

Como grande Presidente do Supremo Tribunal Federal que foi — enaltecido e esti-mado por seus pares — o Ministro Ribeiro da Costa pode ser comparado, nesse sentido, ao seu contemporâneo na Suprema Corte Americana o Chief Justice Earl Warren, que mereceu a denominação de “Super Chief” pelos demais membros da Corte, como revela o Justice William J. Brennan, expressão que, aliás, é título de obra biográfica do Professor Bernard Schwartz, da Universidade de Nova Yorque.

Concluo minhas palavras, em preito à memória do Ministro Ribeiro da Costa, invo-cando o pensamento do grande escritor francês Anatole France que preferia o bom juiz à boa lei. Dizia o autor parisiense prêmio nobel de literatura, nas palavras do seu bem humorado personagem Monsieur Bergeret:

Eu não teria muito medo das más leis se elas fossem aplicadas por juízes bons.

Diz-se que a lei é inflexível mas eu não acredito. Não há texto de lei que se não deixe

solicitar. A lei é morta. O Magistrado está vivo. Ele tem uma grande vantagem sobre ela.

Muito obrigado.

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Discurso do Doutor PEDRO GORDILHO,

Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil

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O Doutor Pedro Gordilho (Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil)  — Excelentíssimo Senhor Presidente do Supremo Tribunal Federal, demais Ministros que integram esta Egrégia Corte, Senhores Ministros aposentados aqui pre-sentes, Excelentíssimo Senhor Procurador-Geral da República, Doutor Geraldo Brindeiro; Doutor Haroldo Ferraz da Nóbrega, Vice-Procurador-Geral da República; Doutor Gilmar Ferreira Mendes, Advogado-Geral da União; Doutor Safe Carneiro, Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Secção do Distrito Federal; Doutor João Luiz Pinaud, Presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros; Doutor José Alberto Couto Maciel, Presidente do Instituto dos Advogados do Distrito Federal; autoridades presentes ou representadas, senhoras e se-nhores, Doutor Sérgio Ribeiro da Costa, amigo de tantos anos, Doutora Adalija Moreira da Fonseca, Doutor Paulo Sérgio Moreira da Fonseca, Doutor Álvaro Ribeiro da Costa Neto, meus colegas advogados:

Indicado pelo Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil estou aqui, em nome da instituição, para associar-me à homenagem que o Supremo Tribunal Federal presta à memória do Ministro Álvaro Moutinho Ribeiro da Costa, quando se assinala o centenário do seu nascimento.

A homenagem à memória de um juiz do Supremo Tribunal Federal, no ensejo em que se contabiliza o centenário de seu nascimento, constitui, pelo preceito regimental, o derradei-ro preito de reverência que o Plenário haverá de registrar em seus anais. É certamente com a distância temporal, que o longo tempo percorrido propicia, que se pode avaliar o trabalho já definitivamente selado.

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Nas outras ocasiões, geralmente mais próximas dos fatos, nem sempre se pode ob-servar fielmente o painel que se oferece, pois ninguém pode ser historiador de fatos de seu tempo, fatos que o testemunho pessoal, sempre emocionado, corre o risco de perpassá-los com infidelidades. Por isso é que Seignobos assinala que os fatos são históricos por posição, vale dizer, passam à categoria histórica desde que cessam de existir e só indiretamente podem ser observados.

Não obstante, todos aqueles que tiveram o ensejo de estar aqui neste Plenário ou ob-servaram de perto o Supremo Tribunal e seus eminentes integrantes, especialmente a partir do movimento revolucionário de 1964, haverão de testemunhar que os depoimentos vários constantes de discursos, conferências, trabalhos escritos outros, tendo como figura central o Ministro Ribeiro da Costa — muitos destes escritos realizados sob as emoções dos aconte-cimentos — são irrefragáveis: não há nada a retocar. A história foi registrada, desde então, com emoção, mas com fidelidade. Nenhum adjetivo a mais, nenhum fato registrado que não merecesse o destaque que o tempo e os idôneos depoimentos do pósteros vieram confirmar.

No Supremo Tribunal Federal, a cuja presidência ascendeu em 4 de dezembro de 1963, o Ministro Ribeiro da Costa não demoraria em tornar-se, pela plenitude dos atributos que lhe ornavam a personalidade de juiz, o símbolo vivo do poder judiciário, a encarnação da autoridade de uma Corte que atravessava, naqueles anos, momentos difíceis, no processo de afirmação do movimento revolucionário de 1964.

Era uma quadra difícil da vida de qualquer país, onde a ordem constitucional se vê rompida, onde a lei é cortada na raiz da sua legitimidade, em que cabe ao poder judiciário manter a continuidade e elaborar critérios capazes de conter o arbítrio e de combater a ins-talação da desordem ou da tirania.

O papel do Supremo Tribunal Federal naqueles anos foi de extraordinária significação para a preservação da vida jurídica e política do País. E dentre os fatores que contribuíram decisivamente para cumprimento desse papel, haverá que se ressaltar a presença e a irra-diação da personalidade superior que, precisamente durante o período, presidiu o Tribunal e soube encarnar o próprio poder judiciário brasileiro.

Escrevendo alguns anos depois dos fatos, o Ministro Victor Nunes Leal, detendo-se no perfil público do grande juiz, assinalou (Victor Nunes Leal, Sobral Pinto, Ribeiro da Costa e umas lembranças do Supremo Tribunal na Revolução; 1981): “Mas Ribeiro da Costa nos últimos cinco lustros, não foi apenas o Álvaro da nossa estima; foi também uma presença

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atuante da nossa vida pública nos limites de sua função judicante. Por vezes ele transpunha esses limites em palavras, pelo seu temperamento impetuoso, mas nunca os excedeu no exercício do seu munus, onde o homem cedia sempre o passo ao magistrado”.

Focalizando-o, muitos anos depois, o Ministro Evandro Lins reconhece que foi o Ministro Ribeiro da Costa quem freou a ala revolucionária radical que desejava intervir e a deteve à porta do Tribunal (Evandro Lins, O Salão dos Passos Perdidos, p. 382): “(...) Sempre o conheci como um homem da maior dignidade e altivez. Ele foi um juiz, como eu disse, que esteve à altura do momento histórico em que teve de desempenhar o papel de Presidente do Supremo. O Supremo não foi atingido, a meu ver, e nós não fomos imediatamente cassados em virtude da atitude do Ribeiro da Costa”.

Estas palavras, estes valiosos depoimentos, vieram apenas confirmar, mais de três décadas passadas, a descrição emocionada do homenageado que se colhe dos discursos com que se registrou o pesar pela sua perda, em sessão ordinária de 9 de agosto de 1967. “O nosso saudoso companheiro, afirmou o Ministro Adauto Cardoso, conservou nas mais profundas camadas de sua personalidade de civil, acentuada esta, às vezes, até as alturas de uma nobre ostentação, a escondida vocação do guerreiro. O amor da luta, o desprezo pelo risco, a simplicidade castrense dos seus hábitos, uma certa franqueza leal e rude, tudo nele lembrava em certos episódios o soldado que se transviara”. E acrescentou: “Insatisfeito e inquieto, ele desviou para salvaguarda das instituições livres o cabedal da indômita bravura de que Deus o dotou”. Ao que o advogado José Guilherme Villela, em palavras modelares amparadas nas emoções veementes dos moços, acrescentou: “Nos seus quarenta anos de magistrado, nos vinte de ministro e nos três de presidência da corte, não conheceu o medo”. Diz mais: “Numa expressiva solenidade nesta casa o exímio Ministro Cândido Motta Filho des-tacou, em Ribeiro da Costa, a capacidade de indignar-se numa época em que a indignação se afasta para dar lugar à conveniência. Se as razões próprias de conveniência comumente diver-gem daquelas da conveniência geral, melhor serve ao povo quem desprezando as primeiras, atende as últimas”.

Foram muitas as investidas contra esse Eg. Tribunal, por parte de setores militares ortodoxos, a partir de abril de 1964. Em 9 de abril era editado o ato institucional (que depois recebeu o número 1) que mantinha, quase integralmente, a Constituição em vigor, criando uma aberrante incerteza jurídica por abrigar situações que necessariamente se repeliam: a legalidade institucional e o estado de fato. Logo no dia 14 a imprensa comprometida, fazendo eco aos radicais, passava a cobrar da Revolução, com desmedido furor. Dizia-se: a Revolução não poderia ficar inerte diante de dois agitadores, dois comunistas na corte suprema, Hermes

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Lima e Evandro Lins. O Ministro Evandro Lins conta o episódio em seu livro de memórias e a importância histórica do depoimento justifica a reprodução textual. Nele avulta a veemente defesa da instituição e esboça o estilo que o Ministro Ribeiro da Costa iria adotar, daí em diante. Eis o texto (O Salão dos Passos Perdidos, p. 380):

Combinei então com o Hermes e fizemos uma carta ao Ribeiro da Costa, não

para ele divulgar, mas para ele e os colegas saberem que, embora não estivéssemos

procedendo criminalmente contra o jornal, estávamos reagindo e protestando contra

aquela infâmia. (...) No meio da sessão, com surpresa para nós, Ribeiro da Costa sus-

pendeu os trabalhos um instante e disse que tinha recebido uma carta dos Ministros

Hermes Lima e Evandro Lins e Silva, da qual queria dar conhecimento ao Tribunal.

Leu-a, e aí fez o discurso enérgico, veemente, duro, contra o jornal: Disse (...) que os

dois ministros estavam desemprenhando a sua nobre função com a maior dignidade,

altivez e honradez pessoal. Fez um panegírico dos ministros atacados. (...) Em seguida,

o Ministro Hahnemann Guimarães, que era um homem com grande autoridade moral,

pediu a palavra também e solidarizou-se conosco. Victor Nunes Leal também disse que

pensava interpretar o pensamento do Tribunal na solidariedade aos colegas infamados,

difamados, injuriados vilmente pelo jornal. Tenho a impressão de que este episódio nos

fortaleceu muito no Tribunal, porque mostrou a solidariedade da instituição conosco.

O tempo passa, as inquietações aumentam. Mesmo aqueles que conseguiram jus-tificação, no começo da Revolução, para os fortes abalos institucionais, com aplauso da Nação começaram a resistir às investidas revolucionárias. Advertiam-se todos para o fato contingente que parecia irremediável: estava em marcha uma preparação para reabertura da exceção. O Supremo Tribunal, através de seu Presidente, coloca-se contra qualquer iniciativa de outro poder se envolver nos assuntos privativos do poder judiciário. Luiz Viana Filho ofe-rece seu testemunho (O Governo Castelo Branco, p. 351):

O próprio Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ribeiro da Costa, a propósi-

to da emenda constitucional concernente ao aumento do número dos membros da

alta Corte, elaborada pelos juristas Orozimbo Nonato, Prado Kelly e Dario de Almeida

Magalhães com apoio da Ordem dos Advogados, fez declarações considerando-a

“inconveniente e inútil”, e acrescentando já ser “tempo dos militares se compenetrarem

de que, nos regimes democráticos, não lhes cabe o papel de mentores da Nação”.

É claro que o Ministro Ribeiro da Costa estava certo. A Constituição em vigor pres-crevia em seu artigo 98: “O Supremo Tribunal Federal, com sede na capital da república e

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jurisdição em todo o território nacional, compor-se-á de 11 ministros. Esse número, mediante proposta do próprio tribunal, poderá ser elevado por lei”. A entrevista do Ministro Ribeiro da Costa, defendendo a integridade do Tribunal, constitui documento que representa uma toma-da de posição histórica do chefe de um dos poderes da república, repelindo a intervenção do poder revolucionário no funcionamento e atribuições do Supremo Tribunal Federal. Não tardou a violenta réplica do Ministro da Guerra, discursando em São Paulo para oficiais que o homenageavam.

O Ministro Victor Nunes Leal descreve, anos depois, o quadro de extrema gravidade e como ele se compôs, sem concessões aos que desejavam arbitrar na matéria da compe-tência interna do Tribunal (Sobral Pinto, Ribeiro da Costa e umas lembranças do Supremo Tribunal na Revolução, p. 45):

O ímpeto de Ribeiro da Costa foi aceitar a polêmica pública, pois não somente

ele mas também o Tribunal tinha sido atingido. Entretanto aos seus colegas mais co-

medidos pareceu evidente que o debate não seria construtivo. A solidariedade mais

expressiva que, em desagravo do Tribunal, devíamos ao nosso presidente, melhor se

traduziria em um ato nosso e não dele. Mas um ato da nossa indisputável competência,

que por isso não se pudesse questionar em sua legalidade. Não evitaríamos que viesse

a ser criticado sob ângulo político, mas isso resultaria do seu sentido de desagravo.

A fórmula assim sufragada foi marcante e deixou sua insígnia na história do Tribunal. Consistiu, como todos sabem, em acrescentar ao regimento uma disposição transitória para prorrogar por cerca de um ano o mandato do Presidente, próximo ao término. E a justifica-ção elaborada pelos Ministros Cândido Motta Filho e Hermes Lima, com participação dos Ministros Hahnemann Guimarães e Victor Nunes Leal — responsável, o Ministro Victor Nunes Leal, pela incumbência de submeter a proposta ao Tribunal, em nome dos signatários —, não deixava margem a qualquer dúvida fundada sobre os objetivos que os membros da Corte procuravam alcançar. Lê-se, em seu final: “A presente emenda regimental, que atende a esse propósito, não é apenas uma homenagem. É também o testemunho de seus colegas quanto à dignidade, patriotismo e elevação de sua conduta, neste conturbado momento da vida nacional”.

O Ministro Ribeiro da Costa assumiu, mais uma vez com inabalável determinação, a missão histórica. Agradecendo resoluto, voz firme, olhar terno, mas sem perder o brilho da vivacidade, ressaltou que “sempre reconheceu a linha de nobre conduta daqueles que, como seu pai, se dedicavam a defender a pátria, a prezar a disciplina, a garantir os poderes cons-

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tituídos, a lei e a ordem”. E, a seguir, a advertência eloquente: “O Supremo Tribunal Federal tem (...) a missão de julgar os outros poderes da República, para que o mando não seja, como no diálogo de Péricles e Alcebíades, um mandar sem persuadir”.

Pouco depois era ditado o ato institucional 2, de 27 de outubro de 1965. E nele, num dos 33 artigos, a determinação para aumentar o número de ministros do Tribunal de 11 para 16. O movimento militar finalmente mostrava sua face. O Supremo Tribunal, tendo que aceitar os fatos que não podia modificar, haveria de continuar a cumprir sua destinação histórica. Não tínhamos mais, a partir de então, um sistema institucional que se baseasse na autoridade racional e na justiça. O poder civil estava humilhado, a sociedade destroçada. O Supremo Tribunal mostrou, pela voz vigorosa de seu Presidente, sua capacidade extraordi-nária de resistir a poderosas e ameaçadoras pressões para a obediência a regras ou ordens opressivas. Toda essa energia de seu Presidente era aplicada em benefício da legalidade.

É indesconhecível que a intervenção no Supremo Tribunal orientava-se no sentido de conquistar as decisões políticas da Corte, independentemente do que restava do estado de direito moribundo, através da nomeação de ministros de militância partidária com passado que se imaginava incompatível com a independência que aqui se lavrava. Frustraram-se os que assim pensavam, porque as meras modificações aritméticas em nada interferiram na aplicação dos princípios da autonomia e independência, mesmo nos difíceis processos de natureza política que, a partir de então, lhe vieram a julgamento.

Sob a inspiração do seu Presidente desde que os fatos mostraram os caminhos er-ráticos que a Revolução arbitrara seguir, sabia-se que na realidade só existem duas alterna-tivas para a forma de governo de um povo: a lei ou então a vontade deum homem ou de um grupo. A lei, como expressão da vontade suprema e da sabedoria de um povo, provou ser, até agora, a melhor guardiã da liberdade. O Supremo Tribunal fez honra a sua grande missão, mostrando que, na consciência de seus juízes, estavam mais presentes do que nunca as pa-lavras vibrantes com que Ruy Barbosa, exaltando voto do Ministro Pisa e Almeida ao decidir pela concessão de habeas corpus, definiu a missão da Justiça diante do poder desabrido:

A autoridade da justiça é moral e sustenta-se pela moralidade de suas decisões.

O poder não a enfraquece, desatendendo-a; enfraquece-a, dobrando-a. A majestade

dos tribunais assenta na estima pública; e esta é tanto maior quanto mais atrevida for

a insolência oficial, que lhes desobedecer, e mais adamantina a inflexibilidade deles

para ela. (...) De um lado, o Presidente com o exército; de outro, a magistratura com a

constituição. Pois esta potência inerme, pode mais que todas as armas daquela.

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Nas palavras colhidas dos pronunciamentos do grande Presidente estão retratadas as forças que orientaram seus atos, suas posições, em face do poder militar. Disse ele, na home-nagem que celebrou os 50 anos de vida pública: “Quanto mais vivo, disse-o Towel Baston — tanto mais profundamente me convenço de que o que faz a diferença entre um homem e outro homem, entre o fraco e o poderoso, entre o inteligente e o insignificante é a energia, uma determinação invencível, uma decisão tomada e mantida entre a vitória ou a morte”.

Acrescenta depois: “A experiência ensinou-me que é impossível a um homem que possui o sentimento de justiça, deixar-se viver num mundo também desprovido de honra e de dignidade, e é isto que me faz voltar as costas a este mundo”.

Ao despedir-se do Tribunal, em 7 de dezembro de 1966, já tomado pela enfermidade, o sentido da vida, que ele escolheu e que lhe apontou sempre a melhor direção, vem nova-mente ressaltado, de forma, como sempre, lapidar: “Do tão pouco que fiz, em tão dilatado período de atividade a serviço da justiça, o êxito alcançado em todas as suas incidências proveio da lição tomada ao sabor da própria vida, que de cedo me apercebi para enfrentá-la no sentido justo e construtivo: ‘aperfeiçoa-te, não para o prazer, mas para ação’”.

Essa energia, essa intrepidez, essa coragem moral, ele as colocou, todo o tempo, a serviço da justiça e da integridade do Supremo Tribunal Federal.

Constitui, portanto, Senhor Presidente, Senhores Ministros, um ato da melhor consci-ência indicar às novas gerações o nome de Álvaro Moutinho Ribeiro da Costa, como homem público, como juiz integro dotado de virtudes superiores, como grande democrata, como intrépido defensor da legalidade ameaçada ou violada.

O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, intérprete, por delegação, do pensamento jurídico do País, traz aqui o seu testemunho, procurando ressaltar em fugaz visão uma figura que fez honra à nossa História contemporânea, representando, com gran-deza, o seu meio e a sua época.

Muito obrigado.

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Referências Bibliográficas

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BARBOSA, Rui. Tribuna Judiciária. Casa de Rui Barbosa, 1958.

Correio Braziliense, 10-8-1967.

Diário da Justiça, 28-9-1965.

Diário da Justiça, 7-10-1965.

LAGO, Laurenio. Supremo Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal. Biblioteca do Exército Editora, 1978.

LEAL, Victor Nunes. Sobral Pinto, Ribeiro da Costa e umas lembranças do Supremo Tribunal na Revolução. Gráfica Olympica Editora Ltda., 1981.

LIMA, Hermes. Ribeiro da Costa. Conferência pronunciada em 1968, s/ indicação de editor.

MORE JR., Barrigton. Injustiça: As bases da obediência e da revolta. Ed. Brasiliense, 1987.

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WEINBERGER, Andrew D. Liberdade e garantias: A Declaração de direitos. Ed. Forense, 1967.

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Palavras do Excelentíssimo Senhor Ministro CARLOS VELLOSO,

Presidente do Supremo Tribunal Federal

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O Senhor Ministro Carlos Velloso (Presidente) — Senhores Ministros, meus se-nhores, parece que foi ontem que o Ministro Ribeiro da Costa se foi desta Casa. É que os grandes homens, os seus atos, ficam permanentemente na memória dos homens do seu tempo, para o bem da instituição que integraram e que fizeram grande. É exatamente isso o que ocorre relativamente ao notável presidente Ribeiro da Costa, cujo centenário celebramos.

Os formosos discursos que ouvimos, dignos da memória do homenageado, ficarão registrados nos anais do Tribunal.

Tenho a honra de registrar e agradecer a presença dos familiares do homenageado, do Doutor Sérgio Ribeiro da Costa, seu filho; da Doutora Analija Moreira da Fonseca, sua filha; e dos netos, o Doutor Paulo Sérgio Moreira da Fonseca e o Doutor Álvaro Ribeiro da Costa Neto.

Registro a presença honrosa do representante do Superior Tribunal Militar, o emi-nente Ministro Olímpio Pereira da Silva; do Advogado-Geral da União, Doutor Gilmar Ferreira Mendes; do Vice-Procurador-Geral da República, Doutor Haroldo Ferraz da Nóbrega; do Subprocurador-Geral da República, Doutor Wagner Natal Baptista; da Subprocuradora-Geral da República, Doutora Elenita Caiado Acioly; do Subprocurador-Geral da República, Doutor Edinaldo Holanda; do Subprocurador-Geral da República, Doutor João Baptista de Almeida; do Doutor Safe Carneiro, Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Distrito Federal; do Doutor João Luiz Pinaud, Presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros; do Doutor José Alberto Couto Maciel, Presidente do Instituto dos Advogados do Distrito Federal; do Desembargador Jorge Duarte de Azevedo; da eminente Procuradora-Geral de Justiça Militar, Doutora Adriana Norange Ferreira Carneiro e de todos os que aqui vieram prestigiar essa solenidade, abrilhantá-la.