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PODER JUDICIÁRIO FEDERAL Justiça do Trabalho - 15ª Região V T B - SP RTOrd 0011170-61.2014.5.15.0025 Autora: Kathyleen Cavalcante da Silva Ré: Raia Drogasil S/A Data da prolação da sentença: 23-7-2015, às 21h15min, já cientes as partes. S E N T E N Ç A R Trata-se de ação trabalhista ajuizada por Kathyleen Cavalcante da Silva em face de Raia Drogasil S/A, pelos fatos e fundamentos alegados na petição inicial para pleitear os títulos lá enumerados. Atribuiu à causa o valor de R$ 100.000,00 e anexou instrumento de mandato e documentos. Infrutífera a tentativa de conciliação, a parte ré apresentou resposta na forma de contestação escrita, com documentos, dos quais se manifestou a parte autora. Determinada a realização de perícia médica, foi juntado laudo pericial, sobre o qual se manifestaram as partes. Na audiência em prosseguimento, foram tomados os depoimentos da Autora, do preposto e de duas testemunhas. Sem mais provas, foi encerrada a instrução processual. Razões finais remissivas, acrescidas oralmente pela Autora. Conciliação final rejeitada. F Inépcia da petição inicial Preenchendo a petição inicial os requisitos do art. 840, § 1º, da CLT, sendo plenamente possível entender os fatos ocorridos e compreender os pedidos formulados, possibilitando às partes a apresentação de ampla defesa, rejeito a alegação de inépcia, entendendo não haver pedidos incompatíveis entre si. Também rejeito a alegação de impossibilidade jurídica do pedido, pois a eventual ausência de suporte fático ou jurídico à pretensão da Autora será objeto de apreciação no mérito. Acúmulo de função https://pje.trt15.jus.br/primeirograu/VisualizaDocumento/Autenticado/... 1 de 9 25/07/2015 07:06

Setença - TRabalhista

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PODER JUDICIÁRIO FEDERAL

Justiça do Trabalho - 15ª Região

V��� �� T������� �� B��� - SP

RTOrd 0011170-61.2014.5.15.0025

Autora: Kathyleen Cavalcante da Silva

Ré: Raia Drogasil S/A

Data da prolação da sentença: 23-7-2015, às 21h15min, já cientes as partes.

S E N T E N Ç A

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Trata-se de ação trabalhista ajuizada por Kathyleen Cavalcante da Silva em face de RaiaDrogasil S/A, pelos fatos e fundamentos alegados na petição inicial para pleitear os títulos lá enumerados.Atribuiu à causa o valor de R$ 100.000,00 e anexou instrumento de mandato e documentos.

Infrutífera a tentativa de conciliação, a parte ré apresentou resposta na forma de contestaçãoescrita, com documentos, dos quais se manifestou a parte autora.

Determinada a realização de perícia médica, foi juntado laudo pericial, sobre o qual semanifestaram as partes.

Na audiência em prosseguimento, foram tomados os depoimentos da Autora, do preposto e deduas testemunhas. Sem mais provas, foi encerrada a instrução processual. Razões finais remissivas,acrescidas oralmente pela Autora. Conciliação final rejeitada.

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Inépcia da petição inicial

Preenchendo a petição inicial os requisitos do art. 840, § 1º, da CLT, sendo plenamentepossível entender os fatos ocorridos e compreender os pedidos formulados, possibilitando às partes aapresentação de ampla defesa, rejeito a alegação de inépcia, entendendo não haver pedidos incompatíveisentre si.

Também rejeito a alegação de impossibilidade jurídica do pedido, pois a eventual ausência desuporte fático ou jurídico à pretensão da Autora será objeto de apreciação no mérito.

Acúmulo de função

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Postula a parte autora a condenação da parte ré no pagamento de um aumento salarial, sob oargumento de que, além da função de balconista, passou a cumular as funções de caixa e assistenteadministrativo.

Sabe-se que o contrato de trabalho é sinalagmático. No entanto, não é qualquer acúmulo defunção que produzirá um desequilíbrio entre as obrigações que foram originariamente pactuadas,conforme se extrai do art. 456 da CLT. Ocorrendo alteração significativa na qualidade ou na quantidadede labor exigido, restará desnaturada a equivalência daquelas obrigações. Esse desequilíbrio contratual éobservado quando essa alteração passou a exigir do trabalhador maior empenho, esforço, conhecimento e,por consequência, maiores responsabilidades. Quase sempre passa a exigir a prorrogação da jornada detrabalho ou a realização de atividades fora do local da prestação dos serviços. O acúmulo de funções seráilícito quando ferir os princípios da proporcionalidade e da isonomia salarial (art. 7º, XXX, CRFB).

Acerca do assunto, entende Alice Monteiro de Barros (in Curso de Direito do Trabalho, 9. ed,2013, p. 675):

Outro aspecto que possui conexão com o assunto em exame diz respeito aoacúmulo de funções. Esse comportamento enquadra-se no jus variandi doempregador? Há quem sustente que sim.

Entendemos, de início, que não se verifica o acúmulo de funções quando umempregado é substituído por outros em pequenos intervalos destinados à refeiçãoou higiene, pois, afinal, o dever de colaboração justifica essas solicitações. Damesma forma, não implica acúmulo de funções exigir-se do motorista de ônibusque também realize a cobrança, pois essa atividade pode, perfeitamente, serexercida dentro do horário e no próprio ônibus, sem qualquer esforçoextraordinário. Outra será a situação se o acúmulo de funções exigir do empregadoesforço ou capacidade acima do que foi contratualmente ajustado ou houverprevisão legal capaz de autorizar a majoração salarial. Isso ocorre, por exemplo,quando o vendedor acumula esta função com as de inspeção e fiscalização. O art.8º da Lei n. 3.207, de 1957, assegura-lhe um pagamento adicional de 1/10 daremuneração que lhe é atribuída.

Pois bem.

Conforme demonstrado pelo conjunto da prova testemunhal, a Autora foi contratada paraocupar a função de auxiliar de farmácia 2, na qual exercia várias atividades, dentre elas a de operar ocaixa. Quando passou a balconista, também atendia o caixa e cuidava do cofre, no entanto, isso nãoocorria todos os dias, tendo ela declarado ao perito que "(...) de vez em quando, tinha comoresponsabilidade mexer no cofre, o que não gostava, porque era muito dinheiro que circulava." A provatestemunhal também revelou que a atividade no caixa ocorreu de forma eventual durante o dia, sendo emrápidas oportunidades, quando o movimento no caixa aumentava, tendo que ajudar para diminuir a fila, eque no cargo de balconista a Autora passou a receber salário maior.

Em razão disso, reputo que a realização de todas essas atividades, quando ocupou a função debalconista, não representaram alteração significativa na qualidade e na quantidade do labor exigido daAutora, a ponto de chegar à conclusão de que houve desequilíbrio contratual, pois extraio que a realizaçãode tais atividades, por ocorrerem em apenas alguns pequenos intervalos durante a jornada e, ainda,somente em algumas oportunidades (como no cofre), apenas decorrem do dever de colaboração doempregado. Também não foi alegado que o exercício de todas essas tarefas fez com que extrapolasse ajornada.

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Ainda, o art. 456 da CLT autoriza o empregador a exigir do empregado qualquer atividadelícita que não for incompatível com a natureza do trabalho pactuado e com a sua condição pessoal,adequando a prestação dos serviços às necessidades do empreendimento.

Diante disso, não extraindo desequilíbrio contratual no pacto laboral, julgo improcedente opedido de condenação da Ré no pagamento de adicional salarial por acúmulo de função, e reflexos.

Gratificação de caixa

Postula a Autora a condenação da Ré no pagamento da gratificação de caixa, sob o argumentode que sempre trabalhou no caixa e nunca recebeu tal importância, conforme cláusula 16 da CCT.

A Ré, na defesa, requer a improcedência do pedido, alegando que a referida gratificaçãosempre foi paga, com os reflexos salariais, juntando as folhas de pagamento dela. Destacou que, quando aAutora deixou de ocupar a função de auxiliar de farmácia 2, deixou de receber a referida gratificação, poisnão mexia mais no caixa.

O conjunto probatório dos autos revelou que até a Autora ser promovida a balconista (o quereputo ter ocorrido em 16-9-2013, conforme data alegada na defesa acerca da alteração da função), ficavadireto no caixa. O que parou de ocorrer depois disso, pois suas idas até o caixa passaram a ocorrer porcurto espaço de tempo no dia a dia. Tanto é que somente até setembro de 2013 é que a Autora suportoudescontos de quebra de caixa, conforme extraio da sua ficha financeira juntada pela Ré.

Assim, entendo que até 16-9-2013 é devido à Autora a gratificação de quebra de caixa noimporte de 10%. E como a Ré procedeu ao pagamento somente até agosto de 2013, devida essagratificação nesses dias do mês de setembro, com reflexos em décimo terceiro salário, FGTS e férias de2013, com um terço, eventualmente já usufruídas ou já indenizadas, ao que condeno a Ré na obrigação depagar à Autora.

Consequentemente, também condeno a Ré no pagamento de uma multa da cláusula 63 daCCT, por violação da cláusula 16 no referido mês.

Doença profissional e rescisão indireta

Postula a Autora a condenação da Ré no pagamento de verbas rescisórias e indenização pordano moral pelos seguintes motivos:

1) assédio moral praticado pela gerente Fernanda desde sua admissão na empresa, a qual"fazia constantes intrigas com os demais funcionários em relação à reclamante, dizendo que esta eraincompetente, quando, então, a reclamante passou a apresentar problemas de saúde em virtude do seuambiente de laboral defasado e das humilhações enfrentadas, como depressão e síndrome do pânico."

No entanto, no relato dos fatos ao perito médico (campo "histórico" do laudo), assim declaroua Autora (os grifos não constam no original):

A autora se apresentou para perícia apontando que não trabalha, posto que aindaestá vinculada à empresa ré.

Referiu que começou a trabalhar na Drogasil em 14 de dezembro de 2011, comocaixa, perdurando a prestação de serviços em maio de 2014.

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Relatou, ainda, que por volta de um ano e cinco meses depois que trabalhou comocaixa, foi destacada para trabalhar no balcão, o que se deu até o final.

Informou que, desde quando trabalhava no caixa, de vez em quando, tinha comoresponsabilidade mexer no cofre, o que não gostava, porque era muito dinheiroque circulava. Mas que, mesmo assim, sempre fez serviços relativos a lidar nocofre.

No começo de março de 2014, ao voltar de férias, resolveu não mexer mais nocofre, dizendo isto para o seu gerente.

(...)

Sobre se anteriormente teve algum outro problema emocional, alegou que sim,que fez uso de fluoxetina de janeiro de 2013 até maio de 2014. Também, quecomeçou a tomar a medicação porque teve depressão decorrente de coisas que viaerrado no serviço relativas a outras pessoas e não gostava, passando a achar queum dia pudesse acontecer consigo.

Perguntada sobre se alguém algum dia lhe fez alguma coisa que não gostasse,disse que não,que o problema foi mesmo a partir da história do cofre.

Como visto, como a própria Autora declarou ao perito, todo o problema iniciou-se "a partir dahistória do cofre", ou seja, de que ela, no início de 2014 não queria mais "mexer no cofre".

Ou seja, como a Autora alega na petição inicial que Fernanda foi substituída por Tales em2013, desnecessária qualquer outra prova em relação a esses fatos narrados na petição inicial, pois, comodisse a Autora, tudo começou em 2014. Ainda, o que ocorreu antes de 2014, e que causou problemaemocional à Autora não tiveram relação com sua pessoa, tendo ela dito ao perito que era em relação a"outras pessoas" e que não gostaria que ocorresse com ela.

2) a Autora também alega assédio moral praticado pelo gerente Tales, que substituiu Fernandaapós novembro de 2013, o qual "ameaçava a reclamante para parar com a apresentação de atestadosmédicos, se não irá mudar sua jornada de trabalho para o período noturno, para a reclamante 'parar defazer faculdade de bosta', ofendendo diariamente a reclamante em relação ao seu estado de saúde e àfaculdade de direito cursada."

No entanto, no relato dos fatos ao perito médico (campo "histórico" do laudo), assim declaroua Autora:

No começo de março de 2014, ao voltar de férias, resolveu não mexer mais nocofre, dizendo isto para o seu gerente.

Entretanto, este lhe disse que era complicada esta atitude, porque precisava dealguém com "tempo de casa" e na qual ele tinha confiança. Mesmo assim, achouque ele poderia colocar outra pessoa.

Por esta insistência na negativa, o gerente lhe disse que, para colocar outra pessoapara realizar, teria que mudar o seu horário de trabalho, pois iria deslocar outrafuncionária para a atividade e teria que passar a realizar a atividade dela. Maisuma vez, não gostou, porque isto iria atrapalhar o seu horário da faculdade, a qualcomeçou a fazer em fevereiro deste ano, com entrada às 19 horas.

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Também, porque a mudança do horário acarretaria sair do emprego no mesmohorário de sua entrada na faculdade.

Disse acreditar, ainda, que eles não gostaram que fosse fazer Direito, por teremplanos para que fizesse faculdade de Farmácia e não Direito, para ser melhoraproveitada na empresa. Se sentiu incomodada com isto, particularmente porqueseu gerente comentava com outras pessoas que a faculdade de Farmácia era o quetinha que fazer e não Direito, que Direito não serviria para nada.

Por causa disto, passou a ficar irritada e ter cefaleia.

Passou a apresentar atestados de dois a três dias, até que um dia levou um de trezedias.

Por causa disto, resolveu a não ir mais trabalhar, acabando por ficar afastada noINSS por dois meses.

Como visto, a história não ocorreu da forma narrada na petição inicial. Tudo começou com ahistória do cofre, como já dito anteriormente. E foi em razão da história do cofre, e não em razão daentrega de atestados (conforme alegado na petição inicial), que o gerente Tales teria dito que, para atendero seu desejo (de não mais mexer com o cofre), teria que alterar seu turno para puxar um outro empregadode confiança para substituí-la. Nem foi com o objetivo de impedir a Autora de realizar sua faculdade. Foitudo em razão de reestruturação dos empregados em razão de a Autora não mais querer trabalhar com ocofre. Repiso: tudo conforme narrativa da Autora ao perito do juízo, o qual possui fé pública nasdeclarações que coloca no laudo.

Ainda, a Autora relata ao perito que o gerente nunca se referiu ao seu curso como sendo umcurso de bosta, mas no sentido de que o curso de Direito não servia para nada, ou seja, não servia para asfunções desempenhadas pela Autora, e é essa a interpretação que foi dada por ela sobre as declarações dogerente, pois acreditava que eles queriam que ela cursasse farmácia por ser melhor para o aproveitamentono trabalho. Razão pela qual não foi necessário perguntar às testemunhas se Tales fez tais referências aocurso da Autora, conforme alegado na petição inicial, pois ela mesma falou ao perito a forma como ogerente se referiu ao curso, sem utilizar essa expressão.

3) Acrescenta a Autora na petição inicial que "diante da proibição da conferência dos valoresde caixa quando do seu fechamento, bem como da obrigatoriedade de restituição de eventuais diferençasde valores alegados pela reclamada, a reclamante passou a realizar declaração por escrito, ao repassar ocaixa para outro funcionário, com a discriminação dos valores quando do fechamento do caixa, de modo aevitar o pagamento de eventual diferença de valores imposta pela reclamada, atitude esta repreendia pelogerente Tales na frente dos demais funcionários e clientes."

Como visto acima, tudo começou com a história do cofre, e não da conferência do caixa.Ainda, o conjunto da prova testemunhal nos autos demonstrou que havia conferência do caixa quando erafechado, e que o operador do caixa estava sempre presente, inclusive o balconista, quando o caixa eraaberto por ele. E nos casos em que o balconista não estava presente na conferência, o que ocorria nasoportunidades em que não abria o caixa, mas apenas substituía o operador, dele não era descontado algumvalor eventualmente faltante no caixa. Ou seja, além de tais fatos não terem ligação com a alegação dadoença profissional e do assédio moral, conforme declarações da Autora ao perito, também a provatestemunhal afastou a existência deles. Sem falar que a prova documental revela que após setembro de2013 a Autora não sofreu mais descontos a título de quebra de caixa.

4) Também alega a Autora que "é constantemente repreendida na frente dos demaisfuncionários, sem qualquer explicação, mesmo exercendo as funções que lhe são atribuídas com exatidão

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e afinco."

Como visto acima, tudo começou com a história do cofre, não tendo a Autora relatado aoperito que foi com base nisso que seus problemas iniciaram. Aliás, isso sequer foi objeto de pergunta daAutora às testemunhas.

5) A Autora também alega existência de excesso de trabalho, acúmulo de função e sobrecargade serviço, pois "foi contratada para exercer a função de caixa. Posteriormente, foi alterada a função,passando a exercer a função de balconista. No entanto, também continuou a exercer as funções de caixa,bem como passou a cumular a função de assistente administrativo, responsável por mexer no cofre daempresa, caracterizando evidente acúmulo de função".

Primeiramente, conforme demonstrado pelo conjunto da prova testemunhal, a Autora não foicontratada para ocupar a função de caixa, mas de auxiliar de farmácia 2, na qual exercia várias atividades,dentre elas a de operar o caixa.

Conforme demonstrado pelo conjunto da prova testemunhal, a Autora sempre exerceu váriasatividades desde o início da contratação. Quando passou a balconista, também atendia o caixa e cuidavado cofre. No entanto, isso não ocorria todos os dias, tendo ela declarado ao perito que "(...) de vez emquando, tinha como responsabilidade mexer no cofre, o que não gostava, porque era muito dinheiro quecirculava." A atividade no caixa ocorreu também de forma eventual durante a jornada, sendo em rápidasoportunidades, quando o movimento no caixa aumentava, tendo que ajudar para diminuir a fila. Fatosesses que, conforme acima já fundamentado, não caracterizam acúmulo de função, muito menos assédiomoral.

Como visto, o assédio moral alegado pela Autora na petição inicial, além de não corresponderao relato dos fatos que deu ao perito, não ocorreu, conforme fundamentação supra.

Não é demais ressaltar os seguintes fatos declarados pela Autora ao perito médico:

No começo de março de 2014, ao voltar de férias, resolveu não mexer mais nocofre, dizendo isto para o seu gerente.

Ou seja, ato de insubordinação da Autora a não mais acatar a ordem do gerente. E continua operito:

Por esta insistência na negativa, o gerente lhe disse que, para colocar outra pessoapara realizar, teria que mudar o seu horário de trabalho, pois iria deslocar outrafuncionária para a atividade e teria que passar a realizar a atividade dela. Maisuma vez, não gostou, porque isto iria atrapalhar o seu horário da faculdade, a qualcomeçou a fazer em fevereiro deste ano, com entrada às 19 horas.

Como visto, a Autora manifesta seu descontentamento em face da conduta do gerente que nãoretira ela da função. E continua o perito:

Por causa disto, resolveu a não ir mais trabalhar, acabando por ficar afastada noINSS por dois meses.

Em razão dessa sua insatisfação com o trabalho, optou por não ir mais trabalhar. E continua operito:

Também, que teve um namorado por quatro anos, deixando o namoro há uns trêsmeses, porque não quis mais.

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Alega que conhece muitas pessoas, mas não é de ficar grudada em ninguém.

Disse se achar um "pouco" mandona.

A própria Autora admite que se "acha um pouco mandona", o que é visível em face danarrativa dos fatos que ocorreram no ambiente de trabalho, quando queria mandar no gerente.

Em resumo, concluo que não ocorreu assédio moral com a Autora, não havendo falar emrescisão indireta do contrato de trabalho nem em indenização por danos morais e nem em verbasrescisórias decorrentes de uma rescisão contratual por justa causa do empregador, liberação do FGTS,multa do art. 467 da CLT e de guias para seguro-desemprego. Julgo improcedentes tais pedidos.

E como a alegação da suposta doença profissional está relacionada ao alegado assédio moral,também não há falar em nexo causal e, pois, em indenização por danos morais e materiais. Julgoimprocedentes tais pedidos.

Inclusive, foi essa a conclusão do perito médico (item "conclusão" do laudo):

Pelo visto e anteriormente descrito, a perícia pode constatar que:

a) o exame pericial realizado na autora não observou qualquer patologiapsiquiátrica agudizada.

b) não foram observados elementos técnicos para firmar o conceito de assédiomoral e síndrome do pânico.

c) não há relação causal entre depressão e o trabalho prestado para a empresa ré.

d) o que se observa foi a existência de transtorno de ajustamento às condiçõespropostas de trabalho, produzidas por condição pessoal.

Consequentemente, registro que, como não houve o reconhecimento da rescisão indireta, o atoda Autora em dar por rescindido o contrato de trabalho por culpa da Ré culminou em dispensa por suainiciativa, sem justa causa do empregador.

Benefícios da justiça gratuita

Declarando a parte autora que não possui condições de pagar as custas do processo sem

prejuízo do sustento próprio ou de sua família, defiro a ela os benefícios da justiça gratuita1 em razão da

presunção legal relativa (não afastada por prova em contrário) contida no § 1º do art. 4º da Lei Federal n.1.060/50.

Honorários de advogado

Os honorários de advogado na Justiça do Trabalho estão regulados nos arts. 14 a 16 da LeiFederal n. 5.584/70, pela Lei Federal n. 1.060/50 (referida expressamente pela L. 5.584/70), pelaInstrução Normativa n. 27/2005 do TST, pelas Súmulas n. 219 e 329 do TST e pelas OrientaçõesJurisprudenciais n. 304 e 305 da SDI-1 do TST.

Nesse sentido, os honorários sucumbenciais são devidos apenas quando a parte autora está

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assistida pelo sindicato da sua categoria e é beneficiária da justiça gratuita, não sendo aplicável, nas lidesdecorrentes da relação de emprego, as disposições dos arts. 20 e seguintes do CPC.

E em se tratando de ação decorrente de relação de emprego em que a parte autora não estáassistida por sindicato da categoria, julgo improcedente o pedido.

C�������

Ante o exposto, rejeito as preliminares, e julgo PARCIALMENTE PROCEDENTES ospedidos formulados por KATHYLEEN CAVALCANTE DA SILVA em face de RAIA DROGASILS/A na Ação Trabalhista RTOrd 0011170-61.2014.5.15.0025, para, nos termos da fundamentação:

a) condenar a Ré nas obrigações de pagar à Autora a gratificação de caixa nos16 dias do mêsde setembro de 2013, com reflexos, e de uma multa convencional da cláusula 63 da CCT;

b) deferir os benefícios da justiça gratuita à parte autora;

Correção monetária, descontos do IRPF (Art. 12-A, Lei n. 7.713/88, regulamentado pela INRFB 1.127/2011, não devendo incidir sobre os juros, conforme OJ 400, SDI-1, TST) e contribuiçõesprevidenciárias (Súmula 368, TST, OJ 363, SDI-1, TST, devendo ser observado para efeito de fatogerador e aplicação de juros e multa, o disposto no art. 43, §§ 2º e 3º da L. 8.212/91, ficando excluídasdos cálculos as contribuições sociais devidas a terceiros, as quais não abrangem as do SAT, na forma daSúmula 454 do TST. As contribuições previdenciárias suportadas pelo trabalhador não alcançam osrespectivos juros e multa sobre elas aplicados, os quais são de inteira responsabilidade do empregador) naforma da lei. Os juros são os moratórios, contados da data do ajuizamento da ação (apenas sobre o créditotrabalhista e não sobre as contribuições previdenciárias e a retenção do imposto sobre a renda), noimporte de 1% ao mês, pro rata die (Súmula 200, TST e art. 883 da CLT). O FGTS deverá ser calculadocom base nos índices trabalhistas (OJ 302, SDI-1, TST) e depositado na conta vinculada da Autora aoFundo.

Valor provisoriamente arbitrado à condenação: R$ 150,00. Custas processuais mínimas de R$10,64, ao encargo da Ré.

Sucumbente a parte autora na pretensão objeto da perícia de insalubridade realizada nos autos,sendo a ela concedidos os benefícios da justiça gratuita, fixo os honorários periciais em R$ 806,00,considerando a complexidade da matéria, o grau de zelo do profissional, o lugar e o tempo exigidos para aprestação do serviço, e declaro a responsabilidade da União pelo seu pagamento, nos termos da Súmula457 do TST. Observe a Secretaria o disposto no Provimento GP-CR n. 03/2102 do TRT-15.

Já cientes as partes.

Nada mais.

Jeferson Peyerl

Juiz do Trabalho Substituto

1 "Assistência judiciária e benefício da justiça gratuita não são a mesma coisa. O benefício dajustiça gratuita é direito à dispensa provisória de despesas, exercível em relação jurídicaprocessual, perante o juiz que promete a prestação jurisdicional. É instituto de direito

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pré-processual. A assistência judiciária é a organização estatal, ou paraestatal, que tem porfim, ao lado da dispensa provisória das despesas, a indicação de advogado. É instituto dedireito administrativo". (PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Comentários àConstituição de 1967 com a emenda n. 1 de 1969 . 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1987, t. V.p. 642).

Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a:[JEFERSON PEYERL]

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15072316070321400000019735663

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