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KAPA-6 850450612 100 ANGLO VESTIBULARES
SINOPSE
• 1915.MarcoinicialdoModernismolusitano:publicaçãodarevistaOrpheu.Daíderivaovocábulo“orfismo”,comosignificadodemovimentomodernistaportuguês.
• “Sensacionismo”,“paulismo”e“interseccionismo”sãonomesquedesignamcorrentesdomovimento.
• PolêmicacontraosaudosismodeTeixeiradePascoaes,quepredominavanaliteraturaportuguesadoiníciodoséculoXX.
• Introduçãodeideiasepráticasartísticasdasvanguardas,especialmentedoFuturismo:verso livre, coloquialismo, prosaísmo, paródia e demais noções associadas à ideia demodernidade.
• Autoreseobrasdedestaque:
FernandoPessoa(1888-1935):Obracompleta.
MáriodeSá-Carneiro(1890-1930):Dispersão,1914;AconfissãodeLúcio,1914;Céuemfogo,1915.
AlmadaNegreiros(1893-1970):Nomedeguerra,1938.
SEguNda gEraçãO tErcEIra gEraçãO
•1927:RevistaPresença •1940:Neorrealismo
•Autoreobradestacados: •Autoreobradestacados:
JoséRégio(1901-1969):PoemasdeDeusedoDiabo,1925 AlvesRedol(1911-1969):Gaibéus,1940
aula 21ModernisMo eM Portugal: Fernando Pessoa
setor 1506
15060612-SP
15060612
FErNaNdO aNtôNIO NOguEIra PESSOa(LISbOa, 1888 – 1935)
MuLtIPLIcIdadEFernandoPessoaéconsideradonãoapenasomaiorpoeta
doséculoXXemPortugal,mastambémumgrandeescritoreu-ropeu.TendosidoeducadonaÁfricadoSul,acumulouenorme
culturaliteráriaemportuguêseeminglês.AoladodeMáriodeSá-CarneiroeAlmadaNegreiros,introduziuasideiaseasformasmodernistasemPortugal,quando,em1915,participoudogruporesponsávelpelarevistaOrpheu,queteveapenastrêsnúmeros.
Omaior índicedotalentoartísticodePessoaconsistenacriaçãodosheterônimos(outroseus),poetasimaginários,aosquaisoescritoratribuíaentidadefísica,biografiaeumconjuntodeobras.Sãopersonagensdeumacriaçãoinconclusa.Asobrassupostamenteassinadasporessasfiguras,oautoraspublicavaemrevistasdevanguardaouasguardavaemumbaúàespe-radedivulgação.Nofinal,elepensavaemreuniressestextosemumvolumeque se chamaria Ficções do Interlúdio.Comoeradesorganizadoecomomorreuaosquarentaeseteanos,esse livronão foieditadosenãoapósamortedoautor,massemamesmacoesãoimaginadaporFernandoPessoa.Àcriaçãodosheterônimosdá-seonomedeheteronímia,queseexpli-cacomoaplicaçãomáximada imaginaçãoàpoesia.Alémdosheterônimos,háaobrapoéticaassinadapelopróprioPessoa,conhecidacomopoesia ortônima.Opoetaconfundia imagi-nação com fingimento artístico, como se percebe na célebrequadrade“Autopsicografia”,assinadaporPessoaEleMesmo:
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Opoetaéumfingidor.FingetãocompletamenteQuechegaafingirqueédorAdorquedeverassente.
FernandoPessoaelemesmo(ortônimo)possui tambémversosmodernistas,massuafeiçãomaiscaracterísticaéama-nutenção de formas e temas típicos da fase pré-modernista,associadaaoSimbolismoeàlíricatradicionalportuguesa.
Os principais heterônimos pessoanos são: Alberto Caeiro,RicardoReiseÁlvarodeCampos.Todosessespoetaspossuemcaracterísticasdistintas,emborapertençamaomesmoprojetoliteráriodecriaçãodevozesdistintasquepudessemrepresentaradiversidadedapsicologiamodernaedavidacontemporânea.
Parasugeriressadiversidade,cadapoetaimaginadosim-boliza um aspecto distinto da tradição poética do Ocidente.Vejam-seospoetasesuaspropriedades:
rIcardO rEIS
Poetaantigo,racionaleclássico.Suaformaçãorepresentaasensibilidadeeainteligênciapré-cristã.Acreditanosdeusesenodestino.Recusaosentimentalismoeamaasoperaçõeslógi-casdoespírito.Comosuaformaçãoébasicamenteclássicaeapoesiagreco-latinanãoconheciaarima,RicardoReisnãoincor-poraessedispositivoformalinventadonaIdadeMédia.Todavia,seusversossãometrificados.Incorporanoçõesdafilosofiaepi-curista(Epicuro)eestoica(Zenon).ImitaoestiloconcentradoedensodasodesdopoetaromanoHorácio.SuaproduçãoéconhecidacomoOdesdeRicardoReis.
Exemplo:
Tantoquantovivemos,viveahoraEmquevivemos,igualmentemorta
Quandopassaconosco,Quepassamoscomela.
aLbErtO caEIrO
Poetadeversos livrese ideiasrústicas, intencionalmenteprimitivas.Julgaqueohomemsóatingeafelicidadepormeiodos sentidos e do convívio intenso com a natureza. Poemassimples,comimagensconcretasedelicadas.Oseuprimitivismoradicalmente ateu lembra certas premissas do Cubismo, quevalorizaoaspectoessencialebásicodaexperiência.Porisso,Caeiroconsidera-seumpastorsemovelhas.Obras:OGuarda-dordeRebanhos,PastorAmorosoePoemasInconjuntos.
Exemplo:
Oquepensoeudomundo?Seiláoquepensodomundo!Seeuadoecessepensarianisso.
ÁLvarO dE caMPOS
Poetafuturistadeversoseideiasurbanasemodernas.Suafeiçãomaiscaracterísticaéoverso livre,emestilotorrencialeimpetuoso.Enumeraçãodepalavrasesensações.Revoltadoe irreverente, amaamáquina eosgrandes centrosurbanos.Àsvezeséreflexivoeapresentacríticasàsociedadeindustrial.Euforiapelomodernoepessimismoexistencialista.Obra:“OdeMarítima”,“OdeTriunfal”e“Tabacaria”,entreoutros.
Exemplo:
Ah,poderexprimir-metodocomoummotorseexprime!Sercompletocomoumamáquina!Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!
Exercícios1. Leiaofragmentodopoema14deOGuardadordeReba-
nhos, de Alberto Caeiro, e assinale a alternativa errada sobreele:
Nãomeimportocomasrimas.RarasvezesHáduasárvoresiguais,umaaoladodaoutra.PensoeescrevocomoasflorestêmcorMascommenosperfeiçãonomeumododeexprimir-mePorquemefaltaasimplicidadedivinaDesertodosóomeuexterior.
a)Metalinguagem, pois o assunto central do poema é aprópriapoesia.
b)Suadoutrinatantopodesermodernaquantoprimitiva,poisoversolivreseexplicapelanatureza.
c) Projetodepoesiaespontânea, cujaestruturadeve sertãonaturalquantooperfumenasflores.
d)Aperfeiçãoéimpossívelporcausadoespírito,queafas-taopoetadamaterialidadenaturaldascoisas.
e)Aoequiparar-seàsimplicidadedasflores,opoetapre-tendejustificaranaturalidadedarima.
Texto para a questão 2
1 Bocasroxasdevinho,Testasbrancassobrosas,Nus,brancosantebraçosDeixadossobreamesa:
5 Talseja,Lídia,oquadroEmquefiquemos,mudos,EternamenteinscritosNaconsciênciadosdeuses.
Antesistoqueavida10Comooshomensavivem,
CheiadanegrapoeiraQueerguemdasestradas.
SóosdeusessocorremComseuexemploaqueles
15QuenadamaispretendemQueirnoriodascoisas.
(RicardoReis,Poesia,Lisboa,Assírio&Alvim,2000)
2. QuetraçosdapoéticadeRicardoReisestãopresentesnopoema?
O poema evidencia alguns traços bastante representa-tivos da poética de Ricardo Reis, tais como:• a defesa de uma filosofia estoico-epicurista, postula-
dora de tranquilidade e de ataraxia (completa ausênciade perturbações ou inquietações da mente), do gozo moderado do prazer, tendo como monte o carpe diem; Reis evita o sofrimento que decorre do excesso das
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emoções, contentando-se em fruir o instante,gozando assim a margem de felicidade possível(cf.versos1-8);
• a recusa da dor inerente à luta do homem contraas limitações próprias da condição humana e ter-rena (cf. versos 9-12) e a aceitação do caráterinexoráveldotempo(cf.verso16);
• a concepção dos deuses como um Ideal do huma-no, apontando o caminho da elevação e da har-moniaestéticaemoral(cf.versos13-16).
Texto para a questão 3
Liberdade
AiqueprazerNãocumprirumdever.TerumlivroparalerEnãoofazer!Lerémaçada,Estudarénada.OsoldoiraSemliteratura.Oriocorre,bemoumal,Semediçãooriginal.Eabrisa,essa,detãonaturalmentematinal,Comotemtemponãotempressa...
Livrossãopapéispintadoscomtinta.EstudaréumacoisaemqueestáindistintaAdistinçãoentrenadaecoisanenhuma.
Quantoémelhor,quandohábruma,EsperarporD.Sebastião,Quervenhaounão!
Grandeéapoesia,abondadeeasdanças...Masomelhordomundosãoascrianças,Flores,música,oluar,eosol,quepecaSóquando,emvezdecriar,seca.
OmaisqueistoÉJesusCristo,QuenãosabianadadefinançasNemconstaquetivessebiblioteca.
(FernandoPessoaelemesmo.Cancioneiro.)
3. Nasprimeirasestrofes,oeulíricofazumacríticaaoslivroseàliteratura,demodogeral.Essacríticaenvolveapoesia?Justifiquesuaresposta.
Não, porque o próprio eu lírico faz, na quarta es-trofe, uma ressalva: “Grande é a poesia, a bondade eas danças...”. Diante da natureza, considera a litera-tura ornato inútil (“O sol doira / Sem literatura.”).Mas a poesia, sendo natural, terá razão de ser e deexistir.
OrIENtaçãO dE EStudO
Caderno de Exercícios — Unidade III
tarefa Mínima• Façaosexercícios2a20,série12.
tarefa complementar• Façaosexercícios24a40,série12.
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SINOPSE
Semana da Arte Moderna:TeatroMunicipaldeSãoPaulo,fevereirode1922;
Participação:Villa-Lobos,GuiomarNovaes(música);ManuelBandeira,OswalddeAndrade,MáriodeAndrade,MenottiDelPicchia,RonalddeCarvalho,PlínioSalgado,GraçaAranha(literatura);VictorBrecheret,Haarberg(escultura);AnitaMalfatti,DiCavalcanti(pintura).
Significado: foiogritodo Ipirangadaartebrasileira.Asvaias semanifestaram,quandoMárioleupáginasdeAescravaquenãoéIsaura,quandoVilla-Lobosentroudechinelasnopalco(eguarda-chuva).Masessenovogritonãoeracontraosportugueses:eracontracertosbrasileiros,representantesda“pedantocraciabacharelesca”,acadêmica.
MOdErNISMO NO braSIL 1o tEMPO (1922-1930)Fase heroica: “ver com os olhos livres”; destruição dos velhos tabus da inteligência nacional; construção de uma nova lin-guagem.
Traços distintivos Contexto
Liberdadeenacionalismonoexercíciodacríticaenaspro-postascriativas;
Renovaçãodaspropostasculturaisepolíticas; Adeusaoconstrangimentoouvergonhadesermosbrasi-
leiros:independênciamental; Literaturaalegreevital;instauraçãodeumasensibilidade
maispróximadarealidadenacional; Incorporação simpática dos novos meios: rádio, jornal,
cinema,plurilinguismo,telefone,vociferaçãopermanentedasruas,amoràmáquinaeàvelocidade,novapsicologiaamorosaefeminina,aintervençãopsicanalítica,ofolcloresaindodofundodopoço,etc.
Proliferação de revistas antenadas com o novo ideário:Klaxon, Estética, A Revista, Terra Roxa e outras ter-ras, Verde, Festa, Antropofagia;
Divergênciasinternas:estéticaseideológicas.
• Absorçãodos“ismos”europeus:Cubismo,Futurismo,Da-daísmo;
• Influênciaculturaldosimigrantes;
• Altadocafé;
• Centenáriodaindependênciapolítica;
• Primeirastransmissõesradiofônicas;
• Moderno imagináriourbano:máquinas, bondes, avenidas,arranha-céus,automóveis;
• FundaçãodoPartidoComunista;
• Revoltados18doFortedeCopacabana,agitaçõestenentis-tas,ColunaPrestes;
• Implantaçãodasprimeiraslinhasaéreasregulares;
• Revoluçãode1930:fimdaRepúblicavelha.
ExercíciosTexto para a questão 1
Brutasacudidelanasartesnacionais!Lembremosagoraarevoluçãonaturalista,recordemosatransiçãoparnasiana:éindiscutívelquejamaisreviravoltadeartemovimentoueapaixonoueenlouqueceumaisamonotoniabrasileiraqueochamadofuturismo.En-cheu-tedetintas,vulcõesdelama,saraivadadecalúnias.Muitorisoepoucosiso.Deambasaspartes.(…)Maluquice,imprevidênciaéoquefoi.Disparatada,semnorma,contraproducente.Confusãoecaosemqueasorientaçõesopostas,emvezdecovizinharem,libertasumasdasoutras,seconfundiamnumabarafundadeestardalhaço.Oh!Semanasemjuízo.Desorganizada,prematura.(…)ASemanadeArteModernanãorepresentanenhumtriunfo,comotambémnãoquerdizernenhumaderrota.Foiumademonstraçãoquenãofoi.Realizou-se.Cadaumseguiuparaseulado,depois.Precipitada.Divertida.Inútil.Afantasiadosacasosfezdelaumadataque,creio,nãopoderámaisseresquecidanahistóriadasartesnacionais.EisafamosaSemana.
(MáriodeAndrade,revistaAméricaBrasileira,abrilde1924)
aula 22seMana de 22: Painel do ModernisMo brasileiro 1o teMPo
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1. “Não se constrói arranha-céu sobre castelo moçárabe.Derruba-seprimeiroamolepesadíssimadospreconceitos,que já foram verdades, para elevar depois outras verda-des.”Comenteestaafirmação,feitatambémporMáriodeAndradeeassocie-aaotextoanterior.
Mário de Andrade considera que a Semana de 22 foium movimento de ruptura com modelos e formas ar-tísticas do século XIX. Da destruição das concep-ções conservadoras surgiu uma nova linguagem, sem ritmo predeterminado, sem métrica preestabelecida, fundamentando-senoprincípiodeliberdade.
Texto para a questão 2
relicário
NobailedaCorteFoioConded’EuquemdissepraDonaBenvindaQuefarinhadeSuruíPingadeParatiFumodeBaependiÉcomêbebêpitáecaí
(OswalddeAndrade,PoesiaPau-brasil.)
2. QualvertentedoModernismobrasileiroérepresentadanopoemaacima?
Trata-se do poema-piada: é curto, e após fingir quevai dizer coisa importante, surpreende-nos negativa-mente.Masquenãodeixadetergraça.
Texto para o exercício 3
erro de português
QuandooportuguêschegouDebaixodeumabrutachuvaVestiuoíndioQuepena!FosseumamanhãdeSolOíndiotinhadespidoOportuguês.
(OswalddeAndrade.Poesiasreunidas.RiodeJaneiro:CivilizaçãoBrasileira,1978)
3. (ENEM)Oprimitivismoobservávelnopoemaanterior,deOswalddeAndrade,caracterizadeformamarcante
a)oregionalismodoNordeste.b)oconcretismopaulista.
c) apoesiaPau-Brasil.d)osimbolismopré-modernista.e)otropicalismobaiano.
Texto para a questão 4
Poema tirado de uma notícia de jornal
JoãoGostosoeracarregadordefeiralivreemoravanomorrodaBabilônianumbarracãosemnúmero.
UmanoiteelechegounobarVintedeNovembroBebeuCantouDançouDepois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu
afogado.(ManuelBandeira,Libertinagem.)
4. (FUVEST)Relacioneotítulodopoemaàcorrenteestéticadaqualotextoparticipa.
Uma característica do primeiro tempo do Modernismobrasileiro evidente no título é o prosaísmo: ele anun-cia que o poema não tratará de um acontecimentograndioso ou sublime, mas de um fato tirado do co-tidiano, muito parecido com o que se lê diariamente nos jornais. A alusão a um poema (linguagem literá-ria) feito a partir de uma notícia de jornal (lingua-gem não literária) sugere ainda o desinteresse emseguir padrões clássicos de composição, a fim de fa-voreceracriaçãodeumanovalinguagemartística.
OrIENtaçãO dE EStudO
Caderno de Exercícios — Unidade III
tarefa Mínima• Façaosexercícios1e2,série13.
tarefa complementar• Façaosexercícios8,9e12,série13.
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SINOPSEMÁrIO dE aNdradE
• Líderdosmodernistasde1922:intensaatividadedoutri-náriaecultural→“descarrilharotremnormalecostu-meirodopassadismomental”.
• Pauliceiadesvairada(1922):sátiraàobsessãodepossebur-guesaeàincompetênciadosadministradorespúblicos.Apo-esiaincorporaocoloquial,os“barbarismosuniversais”etc.
• Clãdojabuti(1927):descobertadoBrasil→poesialiga-daaofolclore:toada,coco,moda,samba,rondó.
• Amar, verbo intransitivo (1927): romance freudiano→Fräuleinécontratadaparadar“liçõesdeamor”aojovemCarlos de Sousa Costa. Obra desenvolvida a partir dosprocessospsicanalíticosmaisfrequentes.
• Macunaíma(1928):perfilmultifacetadodolatino-america-no→colagemdelendasamazônicas+imagensdocotidia-nourbanoerural.Eixodoromance:abuscadomuiraquitãpelo“heróisemnenhumcaráter”,queviajaportodoopaísafimderecuperarotalismã,empoderdogiganteWen-ceslauPietroPietra.Rapsódialiterária→anatomiacarna-valescaeprimitivadaformaçãoedahistóriadopaís.
OSWaLd dE aNdradE
• Guerrilheirocultural→demolição,pormeiodasátiraedodeboche.“Monogamiasucessiva”→várioscasamen-tos.“Vira-latasdoModernismo”→anarquismopolítico:PRP(décadade1920)ePCB(de1930emdiante).
• MemóriassentimentaisdeJoãoMiramar(1924):primeiroromancemodernobrasileiro;obracaleidoscópicaem163flashescinematográficos,querelataatrajetóriatípicadeumbrasileiro riconasprimeirasdécadasdo séculoXX:turismoglobe-trotter→casamentoburguês→amante→desquite→vidaliterária→apertosfinanceiros.
• Pau-Brasil: manifesto e poesia (1924–25)→ ver comolhoslivres(valorizaçãodoBrasilpós-cabralino);recria-çãode textos jesuíticos e cronísticosda época colonial.Poesia Pau-Brasil: imediata, simplória, desconcertante,selvagem,curtaegrossa,integrandosignosverbaisevi-suais; a redescoberta do país, pormeio de anedotas ecaçoadaspoéticas.
• Antropofagia:manifesto (1928)→ “Tupy,ornot tupy,thatisthequestion”:valorizaçãodoBrasilpré-cabralino;recuperaçãodenossoladoselvagemeinstintivo;devora-çãointeligentedaculturaestrangeira.
MaNuEL baNdEIra
• Estreladavida inteira(1966): formosoconjuntode10livros→ contato com as etapas mais significativas daevoluçãopoéticabrasileiradoséculoXX.Didaticamente,podeserdivididaemtrêsfases:
• 1afase—PreparaçãoparaoModernismo:Cinzadasho-ras(1917),Carnaval(1919)eRitmodissoluto(1924)→traçospós-simbolistasdeacentuadamelancolia,associa-dosàrupturacomapoéticatradicional.
• 2afase—Modernismopleno:Libertinagem(1930)eEs-treladamanhã(1936)→registrodasmarcasmaisfortesdemodernidade:versilibrismo,simplicidadedeimagens,resgate poético do cotidiano, disposição inovadora daspalavras,poemas-piada,tomprosaico,toquessurrealis-tas,pinceladashumorísticas,autoironia.Amplificaçãodostrêsnúcleos temáticosdesuapoesia: reminiscênciasdainfância,convivênciacomamorteeerotismo.
• 3a fase — Pós-modernismo: da Lira dos cinquent’anos(1940)aEstreladatarde(1963)→virtuosismorefinado:restauraçãodosmetrostradicionaisaversosdesintoniacomoConcretismo;permanênciadesugestõesautobiográficas.
MÁrIO rauL dE MOraIS aNdradE(SãO PauLO, 1893-1945)
Mário de Andrade
aulas 23 e 24o ModernisMo no brasil — 1o teMPo: MÁrio de andrade, osWald de andrade e Manuel bandeira
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“Eu SOu trEZENtOS, trEZENtOS E cINcOENta”
MáriodeAndradeéconsideradoomaisabrangentetraba-lhador intelectualbrasileiroda1ametadedo séc.XX. Lúcidoeinstigante,desenvolveuumareflexãocríticamodernaepro-vocativasobreosmaisvariadostemas.Mergulhoufundonasraízes culturaismais representativasdopaís, procurando re-velá-laspormeiodacompreensãodosmaisautênticosvalorespopulares.Márioinjetavaemtudoquefaziaumsensodepro-blemáticobrasileirismo,daí sua investidano folclore.Sempredeholofotesacesosnadireçãodopovo,desentulhouoespíritonacionaldeumamontanhadepreconceitosarcaicos.
Firmementedispostoaexperimentarprocessosdeexpres-são para chegar a uma língua “brasileira”, pesquisou semprefórmulasnovas,queolevaramaforjarregraspessoaisdegra-mática.Chegouatéaanunciarumlivro—Gramatiquinhadafalabrasileira—,emqueestabeleceriasuapropostadereno-vaçãodalíngua“brasileira”.Deixavadeacentuarcertaspalavras(“ninguem, tambem, Belem”), outras ele acentuava (“porém,rúim”),grafavacertostermosapartirdoregistrooral (“mi-lhor,siquer,ólio”),formasdevirgularepontuarquedefinemnoconjuntoumaindividualidadedeestiloinconfundível.
O tOM dELIraNtE: PAULICEIA DESVAIRADA (1922)
ParaMáriodeAndradeaartedevia“botarporterraasfor-masgastasdesociedade”.PauliceiaDesvairada(1922)assumeaformadapedagogiaedocombate,com”versosdesofrimen-toederevolta“queregistrampaisagensfrias,opressorasdacidade.Tambémapresentaumaestéticamoderna,onde teráimportânciaoversoharmônico,emqueaproximaapoesiadamúsica, desenvolvendo a teoria da “polifonia poética” que seconsubstancianainvençãodoversoharmônico(=superposiçãodepalavrassoltas:“Acainçalha…ABolsa…Asjogatinas…”),emoposiçãoaoversomelódicotradicional.Pedeamudançadecostumesparaaesperadaredençãodacidadeeumaaudiêncianova,maishumana,maisdesarmada.
O tOM acabOcLadO: CLÃ DO JABUTI (1927)Resultada“viagemdedescobertadoBrasil”queelereali-
zouporMinasGerais,duranteaQuaresmaeaSemanaSantade1924.Aquielemaisseaproximadofolclore:atoada,ococo,amoda,osamba,orondóvãodandosuporteesubstânciaaospoemas.Emborahajaumapequena insistêncianoverso livrealongadoedolente,paraexprimirasemoçõescaboclo-naciona-listas,oquepredominaéoversomaiscurto,maisacauteladocontraosderramamentos.
O rOMaNcE FrEudIaNO: AMAR, VERBOINTRANSITIVO (1927)
Romance desenvolvido a partir dos processos psicanalíticosfreudianosmaistípicos:recalque,sublimação,regressão,fixaçãoeosdemaisdesviosprovocadospelamaioroumenoraproximaçãodalibido.Márionarraaestóriadeumagovernantaalemã,Fräulein,contratadaparadar“liçõesdeamor”ao jovemCarlosdeSousaCosta.
O rOMaNcE-raPSÓdIa: MACUNAÍMA (1928)Macunaíma,oheróisemnenhumcaráter,éumadasobras
pilaresdaculturabrasileira.Numanarrativafantásticaepica-
resca(“malandra”),MáriodeAndradedelineiaoperfilmultifa-cetadodolatino-americanopormeiodeumacolagemdelendasamazônicasedeimagensdocotidianourbanoeruraldopaís.Oeixodaobraéabuscadamuiraquitãpelo“heróisemnenhumcaráter”,queviajaBrasilaforaafimderecuperarestetalismã,empossedogiganteWenceslauPietroPietra.
Macunaíma,juntamentecomMemóriasSentimentaisdeJoãoMiramar(1924)eSerafimPonteGrande(1933),deOswalddeAndrade,foramobrasrevolucionárias,poisdesafiaramosistemaculturalvigente,propondo,pormeiodeumanovaorganizaçãodalinguagemliterária,olançamentodeoutrasinformaçõesculturaisdiferentesemtudodasposiçõesmantidasporumasociedadedo-minadapeloreacionarismoeoatrasoculturalgeneralizado.
Otombemhumoradoeainventividadenarrativaelinguís-ticafazemdeMacunaímaumadasobrasmodernistasbrasilei-rasmaisafinadascomaliteraturadevanguardanomundonasuaépoca.Nesseromanceencontram-seDadaísmo,Futurismo,ExpressionismoeSurrealismo,aplicadosaumvastoconheci-mentodasraízesdaculturabrasileira.AobraéfrutodeanosdepesquisadaslendasemitosindígenasefolclóricosqueoautorreúneutilizandoalinguagempopulareoraldeváriasregiõesdoBrasil.Trata-se,porissomesmo,deumarapsódia.Impor-tantenotarque,alémderelatarinúmerosmitosrecolhidosemdiversasfontespopulares,MáriodeAndradetambéminventa,demaneira irônica,váriosmitosdamodernidade.Apresenta,entreoutros,osmitosdacriaçãodofutebol,dotruco,dogestoda“banana”oudotermo“Vátomarbanho!”Alémdaimensapesquisa,há,emMacunaíma,muitainvenção.
José OSWaLd dE Sousa aNdradE(SãO PauLO 1890-1954)
Retrato de Oswald, por Tarsila do Amaral.
uM rOMaNcE caLEIdOScÓPIcO: MEMÓRIASSENTIMENTAIS DE JOÃO MIRAMAR (1924)
É o primeiro romance modernista brasileiro, uma espéciede “diário de bordo”, com capítulos curtíssimos, telegráficos,cubofuturistas.São163flashesmostrandoavidadeumricaçobrasileirocontadaporelemesmo,demaneiraqueosentimen-taleoconfidencialapareçamcomoforçaslíricas:ainfânciademalandrim→aviagemparaaEuropa→ocasamentodeinte-resse→amantesfortuitas→desquiteportraiçãorecíproca→vidaevaidadesliterárias→aperturasfinanceirasetc.Esseéumromanceatécertoponto“interdisciplinar”,poistransplantaoci-
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nemaeapinturaparaaliteratura;explorasempreosplanosdes-contínuos(comoosfotogramasdocinema).OswaldachavaqueMiramaréotípicoburguesãoemsuavidaestérilesemnexo.
ruPtura radIcaL cOM aS tradIçÕES:POESIA PAU-BRASIL (1925)
AobradeOswaldrenegapartedetodaahistóriabrasileira,para dar ênfase apenas àquela parte espontânea, elementar eprimitiva,queelenomeavaPau-Brasil.Porissoeleprocuranos-sasraízesaindanãodetodoceifadaspelaracionalidadeeuropeia.Háumretornoàinfânciaprimordial,àvidalivre,aumcânticoutópicoaomatriarcado,ànudez(detodotipo),aoprosaísmodasruas,dosnamoros,tudodireto,comoquerarealidade,etudosemamáscarasentimental.Oswaldserebelacontra“asensatezhipócrita”,valorizaonaturalaquieagora,eoretornoanossaidentidadeantropológica,farristaeparadisíaca.
“VeroBrasilcomolhoslivres”erabuscarnossariquezana-tiva,bugrina,cabralina,negra.Empoemas-pílula,elecombinaafrasequinhentista(dascrônicascoloniais)comafalapopularbrasileira.Oswaldproclamavaessamisturacomo“deexporta-ção”,poesianossa,nãoimitadadoestrangeiro.
MaNIFEStO aNtrOPÓFagO (1928)
Oswald propõe uma devoração da cultura europeia sedi-mentadanosbrasileiros.Taldevoraçãoseinspiravanumame-táforaselvagem:assimcomoosíndiosnãodevoravamseusini-migosparamatarafome,masparaincorporarovalordestesasimesmos,tambémaAntropofagiaquestionariaoseuropeís-mos,paraexperimentá-losemcruzamentosnovoseemnovaproduçãocultural,quepassariaentãoa sernossa.A tesedaantropofagiacompletaoManifesto Pau-Brasil.Fragmentos:
***
AntesdosportuguesesdescobriremoBrasil,oBrasiltinhadescobertoafelicidade.
***
Contraoíndiodetocheiro.OíndiofilhodeMaria,afilhadodeCatarinadeMédicisegenrodeD.AntôniodeMariz.
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Aalegriaéaprovadosnove.
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NomatriarcadodePindorama.
(OswalddeAndrade, Manifesto Antropófago)
O aNarQuISMO EM FÚrIa: SERAFIM PONTEgraNdE (1933)
Serafimencarnaomitodoherói latino-americano indivi-dualque,abordodanaveElDurazno,parteembuscadaliber-taçãoedautopia.Pararedescobriranossarealidadeeredefinirocomportamentohistóricodobrasileiro,OswaldcriaemSera-fimumapersonagemoutsider,umirrecuperávelmarginal.Comsarcasmo e irreverência, Serafimparodia os atos de bravuraindividual,virando-ospeloavesso.Porsersódele,osonhodeSerafimacabafrustrando-se:depoisdeaprenderadurareali-dadedavida,éexpelidodosistema.
O tEatrO MOdErNISta: O REI DA VELA (1937)
TambémnoteatroOswaldfoipioneiro:Oreidavela,ence-nadasóem1967,inicianossadramaturgiamoderna,numalinhaideológicamuitopróximadadoromanceSerafimPonteGrande(1933).Essamudança,acontecidadepoisdacrisede1929(quelevaraOswaldàbancarrota), fezcomqueeleassumisseanar-quicamenteposiçõesdeesquerda.Desesperadocomasdívidas,Oswaldvai-sependurarnosagiotasdeSãoPaulo,ostodo-pode-rosos“reisdavela”,queretratanapeça.UsurárioscomoAbe-lardoIeIIligam-seaosdecadentescafeicultoreseaosrepresen-tantesdocapitalismo internacional,paraexplorarodesesperodosendividados.Simbolicamente,apersonagemquealegorizaaclassemédiatrazacordaaopescoço:éodevedorcrônico.
MaNuEL carneiro de Souza baNdEIra Filho(rEcIFE, 1886 – rIO, 1968)
Manuel Bandeira
O MOdErNISta NEOrrOMÂNtIcO
ReunidaemEstreladavidainteira(1966),aobrapoéticadeManuelBandeiracontém,comotraçosfundamentais,oro-mantismo,asimplicidade,osretratosdavivênciaedovivido,osritualismosinfindáveisdamemóriae,porfim,amortecomofimdesimesmoedetodasascoisasamadas.
Bandeira,docomeçoaofim,mostrousempreumromantis-mo,nãodeescolaoudeépoca,masdevocaçãoedesensibilida-de.Issonãolheimpediusermodernista.Earenovaçãoqueeletrouxenãofoiadoalardeouadogritodeguerra.ManuelBan-deiraéomodernistadascircunstânciassimples,elementares.
Bandeiraéopoetadaprecisãosentimental,eseissoéro-mântico(peloladosentimental),serámodernistapeloladodafraseprecisa,jáqueosromânticosgostavamdaornamentação,daemoçãotorrencial,queopoetarejeita.
Sãoosmomentos,asolidãopensativa—aquiloqueseeter-niza:“Vãodemolirestacasa/Masmeuquartovaificar,/Nãocomoforma imperfeita / Nestemundo de aparências: / Vai ficar naeternidade,/Comseuslivros,comseusquadros,/Intacto,sus-pensonoar!”(“Últimacançãodobeco”,Liradoscinquent’anos).
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Oterritóriocativodosafetosnãooabandonou jamais,etevenomesvariados.UmdelesfoiRecife,mágicoepessoal:“Avidanãomechegavapelaspáginasdahistóriajornaisnempeloslivros/Vinhadabocadopovonalínguaerradadopovo/Línguacertadopovo/PorqueeleéquefalagostosooportuguêsdoBrasil !” (“Evocação do Recife”, Libertinagem). O mesmo napropagandaderua:“AstrêsmulheresdosaboneteAraxámeinvocam,mebouleversam,mehipnotizam./Oh,astrêsmulhe-resdosaboneteAraxáàsquatrohorasdatarde!/OmeureinopelastrêsmulheresdosaboneteAraxá!”(“Baladadastrêsmu-lheresdosaboneteAraxá”,EstreladaManhã)
EcOS dO ParNaSO-SIMbOLISMO:A CINZA DAS HORAS (1917)
Obra publicada após a volta deClavadel, na Suíça, aondeopoetaforaatratamentodesaúde,àsvésperasdaIGrandeGuerra.Esseéumlivrodeiniciante,mascomoouvidocativopelosúltimosecosdoSimbolismoe,sobretudo,peloolharlon-gínquoeadmirativodosromânticos:“Asombraimensa,anoiteinfinitaencheovale…(…)umcarneirobale. /Ouvem-sepiosfunerais…”(“Paisagemnoturna”).Hádoisbelossonetosneo-parnasianos,umdedicadoaCamões,outroaAntonioNobre.EisalgunsecosdeAlphonsusdeGuimarães(quereaparecerãomaistarde,bemmaispurificados):“Mudaesemtrégua/Galopaanévoa,galopaanévoa.(…)Aquelecorvo,ovootorvo,/Omeudestinoaquelecorvo!(“Ruço”).Arima,associadasempreaqua-drosdesentimentalismo,mostra-secodificada,previsível.
a EXPLOSãO dO vErSO LIvrE:O RITMO DISSOLUTO (1924)
Apalavra“dissoluto”sugeredepravação,descontrole,per-da moral da consciência e, sobretudo, errância dos desejos.Isso,noplanotemáticodolivro,coincidecomomemorialismoinfantilesuaculturarecifense,folclórica.Nestaobra,Bandeiraelegeousogeneralizadodoversolivre.Repontatambémaíoardoramorosoqueseráumdosgrandestemasdopoeta.
a MaturIdadE da POESIa MOdErNa:LIBERTINAGEM (1930)
Esteéolivromaisconcretodapoesiabrasileira.Concretonosentidodeconternãoapenasascoisasemsuarealidadepalpável,mastambémavisãoqueopoetaterásobreelas.Emoutroster-mos,omentaleosensívelseenlaçamdemaneiranaturalnesselivro.Desdeoprimeiropoema(“Nãoseidançar”),LibertinagemtemparentescocomCarnaval(1918):“Unstomaméter,outroscocaína,/Eujátomeitristeza,hojetomoalegria.”
MasemLibertinagemocarnavalescoéumeco,umavivênciadissolvida,algoqueaalmaincorporounospormenores:“Bembe-lelém/VivaBelém!/Nortistagostosa/Eutequerobem…”(“Be-lémdoPará”).Oucomonocarro-chefe“Poética”:“Queroantesolirismodosloucos/Olirismodosbêbedos/Olirismodifícilepungentedosbêbedos/OlirismodosclownsdeShakespeare.”
a FaScINaçãO dO OLHar:ESTRELA DA MANHÃ (1936)
OquechamamosestreladamanhãéomesmoqueVésperouestreladatarde:trata-sedoplanetaVênus,que,aolhonu,nosdáaimpressãodeserestrela.Dequalquerforma,otítuloéperfeito,porqueospoemasaítrabalhamcomoolharmasculinoqueincidesobreamulheraquieagora,masquejáincidiualieoutrora,eque,idealizado,repõeaconsolaçãovivadamemória.A inspiração é mais pura e abstrata: Lira dos cinquent’anos (1944)
Bandeiranãofezpoesiasóparaseexprimir,parafalardeseudestinooudodestinodosamigos.Enfim,nãofoiapenasumpoetaexistencial.Eletambémgostavadasváriaslinguagenspoéticasedosváriosestilosdeépoca.Exprimiralgodenós,nossalinguagemsempreexprime.Mesmoescrevendonoestilomedievaldascan-tigas (“Cossante”, “Cantardeamor”)ounossonetos (“Sonetosingleses”, Ie II)ou falandodeMozart (“Mozartnocéu”)ouseexercitando(“Rondódocapitão”)oumesmoplagiandoAugustoFrederico Schmidt (“Soneto plagiado”) etc. A par destes váriosexercíciosdevirtuosismoefinura,oquesepercebeneste livroéumaprofundamentobastantesofisticadodostemasdasolidãosobabatutadoaprimoramentomusicaldapoesia.
a POESIa OutONaL: ESTRELA DA TARDE (1958)
Nestelivroosassuntossãovários,demaneiraquenelenãoseexplicitaumeixotemáticobemclaro.Maséumlivroemquea religiosidade semostramais frequentequenosanteriores.Umareligiosidadebeata,católica,massensível,inteligente.Estareligiosidadesesublimanostemasdepiedade(“Acalantoparaasmãesqueperderamoseumenino”,“Ovalle”,“Aanunciação”,“Sonhobranco”,“Sonetosonhado”“AsuasantidadePauloVI”etc.).Hátambémretratos(“Maísa”,“CantadoresdoNordeste”,“CarlosDrummonddeAndrade”)eháatémesmounsensaiosbemlogradosdepoesiaconcretista.
Preparação para a Morte
Avidaéummilagre.Cadaflor,Comsuaforma,suacor,seuaroma,Cadafloréummilagre.Cadapássaro,Comsuaplumagem,seuvoo,seucanto,Cadapássaroéummilagre.Oespaço,infinito,Oespaçoéummilagre.Otempo,infinito,Otempoéummilagre.Amemóriaéummilagre.Aconsciênciaéummilagre.Tudoémilagre.Tudo,menosamorte.—Benditaamorte,queéofimdetodososmilagres.
(ManuelBandeira,Estreladatarde)
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ExercíciosTexto para a questão 1
O Poeta Come AmendoimaCarlosDrummonddeAndrade
(1924)Noitespesadasdecheirosecaloresamontoados...FoioSolqueportodoosítioimensodoBrasilAndoumarcandodemorenoosbrasileiros.
Estoupensandonostemposdeantesdeeunascer...
Anoiteerapradescansar.Asgargalhadasbrancasdosmulatos...Silêncio!OImperadormeditaosseusversinhos.OsCaramurusconspiramnasombradasmangueirasovais.Sóomurmurejodoscr’m-deus-padresirmanavaoshomensdemeupaís...Dumafeitaoscanhamborasperceberamquenãotinhammaisescravos,Porcausadissomuitavirgemdorosárioseperdeu...
PorémodesastreverdadeirofoiembonecarestaRepúblicatemporã.Agenteindanãosabiasegovernar...Progredir,progredimosumtiquinho.Queoprogressotambéméumafatalidade...SeráoqueNossoSenhorquiser...
Estoucomdesejosdedesastres...ComdesejosdoAmazonasedosventosmuriçocasSeencostandonacanjeranadosbatentes...TenhodesejosdeviolasesolidõessemsentidoTenhodesejosdegemeredemorrer.
Brasil...Mastigadonagostosuraquentedoamendoim...FaladonumalínguacurumimDepalavrasincertasnumremeleixomeladomelancólico...Saemlentasfrescastrituradaspelosmeusdentesbons...MolhammeusbeiçosquedãobeijosalastradosEdepoissemitoamsemmalíciaasrezasbemnascidas…
Brasilamadonãoporquesejaminhapátria,PátriaéacasodemigraçõesedopãonossoondeDeusder...Brasilqueeuamoporqueéoritmodomeubraçoaventuroso,Ogostodosmeusdescansos,Obalançodasminhascantigasamoresedanças.Brasilqueeusouporqueéaminhaexpressãomuitoengraçada,Porqueéomeusentimentopachorrento,Porqueéomeujeitodeganhardinheiro,decomerededormir.
(MáriodeAndrade,ClãdoJabuti)
1. OprojetoliteráriodeMáriodeAndradesempreseguioupelonacionalismo.Destaquedopoemaanteriorexpressõesquecarre-gamumacentuadotraçodebrasilidade.
“Canhamboras”,“tiquinho”,“muriçocas”,“canjerana”,“curumim”.
(FUVEST)Texto para a questão 2
III. Ci, mãe do mato
Oheróiviviasossegado.Passavaosdiasmarupiara1naredematandoformigastaioca2,chupitandogolinhosestaladosdepa-juari3equandoagarravacantandoacompanhadopelossonsgotejantesdocotcho4,osmatosreboavamcomdoçuraadormecendoascobrasoscarrapatososmosquitosasformigaseosdeusesruins.
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DenoiteCichegavarescendendoresinadepau,sangrandodasbrigasetrepavanaredequeelamesmoteceracomfiosdocabelo.Osdoisbrincavamedepoisficavamrindoumprooutro.
Ficavamrindolongotempo,bemjuntos.CiaromavatantoqueMacunaímatinhatonteirasdemoleza.
—Puxa!comovocêcheira,benzinho!queelemurmuriavagozado.Eescancaravaasnarinasmais.
Vinhaumatonteiratãomacota5queosonoprincipiavapingan-dodaspálpebrasdele.PorémaMãedoMatoindanãoestavasatisfeitanãoecomumjeitoderedequeenlaçavaosdoiscon-vidavaocompanheiropramaisbrinquedo.Mortodesoneira,infernizado,Macunaímabrincavapranãodesmentirafamasó,porémquandoCiqueriarircomeledesatisfação:
—Ai!quepreguiça!...queoheróisuspiravaenfarado.Edandoascostaspraela
adormeciabem.MasCiqueriabrincar indamais...Convidavaconvidava...Oheróiferradonosono.EntãoaMãedoMatope-gavanatxara6ecotucavaocompanheiro.Macunaímaseacor-davadandograndesgargalhadasestorcegandodecócegas.
—Fazissonão,oferecida!—Faço!—Deixaagentedormir,seubem...—Vamosbrincar.—Ai!quepreguiça!...Ebrincavammaisoutravez.
(in:ANDRADE,Máriode.Macunaíma—oheróisemnenhumcaráter.4a.ed.SãoPaulo:LivrariaMartinsEditora,1965.pp.22-23.)
Notas: 1.pessoafeliznacaçaenapesca,nosamoresenosnegócios;2.for-migaavermelhada;3.bebidaexcitanteusadapelosíndios;4.violarústicafeitademadeiradefarã(árvorequenascenasmargensdosrios),cujoencordoa-mentoédetripademacaco;5.grande,enorme,maisimportante;6.flechasempenas,detrêsoumaispontas,semelhandogarfoouancinho.
2. a)Referindo-se a suas intenções aoescrevero livroMa-cunaíma,MáriodeAndradeafirmou:“Umdosmeusin-teressesfoidesrespeitarlendariamenteageografiaeafaunaeflorageográficas”.No livro,esse“interesse”éalcançado?Justifiquebrevemente.
Sim.MáriodeAndrade,deacordocomsuapropostadenacionalismocrítico,evitaoregionalismoparaconceberoBrasildemodounitáriopormeiodoprocessode“desgeo-graficação”,emquesãomisturadasafauna,aflora, len-das e contos populares, bem como registros típicos dalinguagem de várias regiões do país. Como exemplos:Macunaímaencontraopássarotuiuiú,típicodopantanalmato-grossense,nosuldopaís;alendáriaárvoreVolomãé deslocada do Amazonas para o Rio de Janeiro; Macu-naíma,figuramíticadaregiãodeRoraima,migraparaSãoPaulo, para recuperar a muiraquitã, e percorre todo opaís;quandooheróisemnenhumcarátersentesaudadedesuaterranatal,àsmargensdorioUraricoera,vale-sedovocábulo“querência”,queéumregionalismogaúcho.
b)SobreapersonagemMacunaíma,MáriodeAndradeafir-mou:“É fácildeprovarqueestabelecibemdentrodetodo o livro que Macunaíma é uma contradição de simesmo”.Aafirmação sublinhada se justifica?Expliquesucintamente.
Sim.“Macunaímaéumacontradiçãodesimesmo”,comoafirmou Mário de Andrade, pois é uma personagemmarcada por características opostas: é herói e anti-herói, corajoso e covarde, empreendedor e preguiçoso,ingênuoemalicioso,sensualecontemplativo.
Texto para a questão 3
66. Botafogo etc.
Beiramarávamosemautopeloespelhodealuguel arborizadodasavenidasmarinhassemsol.Losangostênuesdeourobandeiranacionalizavamoverdedosmontesinteriores.NooutroladoazuldabaíaaSerradosÓrgãosserrava.Barcos.Eopassadovoltavanabrisadebaforadasgostosas.Rolahiavinhaderrapavaentravaemtúneis.Copacabanaeraumveludoarrepiadonaluminosanoitevaradapelasfrestasdacidade.
(OswalddeAndrade,MemóriassentimentaisdeJoãoMiramar)
3. Pode-seafirmarqueesseepisódio-fragmento:
a)retrataaluademeldeMiramareMlle.RolahemBota-fogo,valorizandooelementovisualdacena.
b)apresenta um feixe de imagens inadequado ao processocaleidoscópicoecinematográfico,assumidopeloromance.
c) descreveassensaçõesdopasseiosemfazeralusões,te-legrafismosoufracionararealidade.
d)mostraflashescinematográficosdopasseio,revelando,porcompleto,apaisagem,osobjetoseosamantes.
e)evidencia o caráter imagístico-visual, por meio de umenfoquemetonímicoegeometrizantedarealidade.
Texto para a questão 4
pronominais
Dê-meumcigarroDizagramáticaDoprofessoredoalunoEdomulatosabidoMasobomnegroeobombrancoDaNaçãoBrasileiraDizemtodososdiasDeixadissocamaradaMedáumcigarro
(OswalddeAndrade,PoesiasReunidas)
4. Neste poema, nota-se a veemência e a irreverência comqueOswalddeAndradetrataagramática.QualaalteraçãofundamentalqueoModernismotrouxeparaa linguagemliterária?
O Modernismo libertou a literatura do código escritoe de norma gramatical rígida. Introduziu a lingua-gemneológica,criativa,oral.
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Texto para a questão 5
O Último Poema
AssimeuquereriaomeuúltimopoemaQuefosseternodizendoascoisasmaissimplesemenosinten-cionaisQuefosseardentecomoumsoluçosemlágrimasQuetivesseabelezadasfloresquasesemperfumeApurezadachamaemqueseconsomemosdiamantesmaislímpidosApaixãodossuicidasquesematamsemexplicação.
(ManuelBandeira,Libertinagem)
5. Libertinagem,deManuelBandeira,éumadasobrasmaisimportantes da Literatura Brasileira. Nela, evidencia-se aideiabásicadoModernismo:aliberdade.Assimsendo,
a)indiqueostemasquenestaobracaracterizamaliberda-dedeconteúdo;
Os temas de Libertinagem são um grito de liber-dade em relação à poesia dominante no períodoanterior, o Parnasianismo e o Simbolismo. Os prin-cipaisíndicesdetallibertaçãosão:— Incorporação do cotidiano urbano: o dia a dia do
homem simples do Rio de Janeiro e da criança derua do Recife (“Poema tirado de uma notícia dejornal”,“Tragédiabrasileira”,“Profundamente”);
— Aproveitamento estilizado do folclore: imagensda vida popular do Recife, com cores, casos efalas regionais (“Evocação do Recife”, “Lendabrasileira”);
—Confessionalismo:mitificaçãoneorromânticadelancesautobiográficos,comoadoença(tuberculose)eamorte(“Pneumotórax”);
—Evasão: culto da liberdade em si, manifesta na fusãosurrealista de tempos, planos e formas(“Vou me em-borapraPasárgada”).
b)valendo-sedotrechoacima,expliquecomosedáaliber-dadedaforma.
A liberdade formal do texto em questão observa-sequanto:—à métrica: adoção do verso livre, isto é, sem me-
dida prévia;—à sintaxe: simples e direta, dominada pela repeti-
çãodomesmoesquemafrasal(paralelismo);—ao vocabulário: extraído do uso diário, da linguagem
coloquial.
Texto para a questão 6
Poema só para Jaime Ovalle
Quandohojeacordei,aindafaziaescuro1
(Emboraamanhãjáestivesseavançada).Chovia.Choviaumatristechuvaderesignação.Comocontrasteeconsolo2aocalortempestuosodanoite.Entãomelevantei,Bebiocaféqueeumesmopreparei,Depoismedeiteinovamente,acendiumcigarroefiqueipen-sando...—Humildementepensandonavidaenasmulheresqueamei.3
(ManuelBandeira,Belo,Belo)
Notas: 1.Opoetapromoveumjogoderelaçõesinterpolares,pormeiodeantí-teses;2.Apalavracontrasteaproximacoisasdiferentes:aescuridãodamanhãeocalordanoite.Jáconsolotraduzosentimentodeperda:amanhãestáirremediavelmenteescuracomoanoite;3.Comhumildadeeternura,opoetaevocaoamordasmulherescomocompensaçãoparaaangústiadasolidão.
6. Sempoderolharomundocomlentescoloridas,umavezquesuavidaeraumaconstanteencruzilhadacomamorte,opoetaseresigna.Qualoversoquesugeremaisintensa-menteasensaçãoderesignaçãoesolidão?
“Humildemente pensando na vida e nas mulheres queamei”
OrIENtaçãO dE EStudO
Caderno de Exercícios — Unidade III
tarefa Mínima
aula 23
• Façaosexercícios3a7,série13.
aula 24
• Façaosexercícios11,13a20,série13.
tarefa complementar
aula 23
• Façaosexercícios21a30,série13.
aula 24
• Façaosexercícios31a40,série13.