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Morador do Assentamento Campo Novo em Jequitinhonha/MG, Adão Pereira dos Santos tem sua história de vida misturada com a luta pela terra e pela produção sustentável na região. Falar de resistência e organização popular no município sem falar desse camponês não tem como. “Seu Adão”, como é mais conhecido, é filho de agricultores vindo de Itaím na Bahia, que chegaram a Jequitinhonha na Fazenda Nicarágua com seus 02 filhos. Foi lá que nasceu e viveu até seus 22 anos, quando se casou e foi morar na Fazenda Bom Jardim por onde ficou por outros 18 anos. Seu Adão sempre participou ativamente da vida da comunidade. Seu envolvimento começou na CEB's (Comunidade Eclesiástica de Base), organização que foi porta de entrada para o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Jequitinhonha, onde foi presidente, para a Cáritas Diocesana de Almenara, que atualmente é vice-presidente, para a presidência da Associação da Escola Família Agrícola que está sendo construída no assentamento e membro fundador da Associação dos Feirantes de Jequitinhonha, a ASFEJE. Sua entrada no Sindicato no ano de 1988, tem um papel especial no cenário da luta e conquista da terra em Jequitinhonha. Ele começou a se inserir em uma reunião no salão paroquial da cidade que a Igreja e a Cáritas propuseram aos agricultores e agricultoras presentes para “reviverem” o Sindicato. Nesta reunião os/as participantes indicaram o nome do Seu Adão para presidência. Mas apesar de cultivar muitas espécies, ele sabe muito bem o que planta. Não sai plantando, por exemplo, tomate no meio do ano. Isso porque nesta época é mais comum encontrar outras pessoas vendendo tomate também, e por isso ele escolhe muito bem qual planta vai cultivar e em qual época do ano para não atrapalhar e nem ser atrapalhado na venda do alimento. Sabedoria é algo comum para ele. Seu Adão com toda sua humildade não se deixa cair pela conversa de qualquer um, e sempre nos transmite um saber que poucos doutores e “sabidos” que se tem por ai conseguem fazer. Sabe que a alegria e satisfação estão juntas da dedicação na organização social e na produção agroecológica de verdade, já que, segundo ele, “o orgânico que os governos querem que plantemos é tudo fabricado, pra esses tem que usar adubo e sementes que não é natural, mas é produzido pelas empresas.” Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Realização Apoio Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 7 • nº 1059 Junho/2013 Seu Adão, sinônimo de lutas, conquistas e trabalho em Jequitinhonha/MG Jequitinhonha - MG

SEU ADÃO, SINÔNIMO DE LUTAS, CONQUISTAS E TRABALHO EM JEQUITINHONHA/MG

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Morador do Assentamento Campo Novo em Jequitinhonha/MG, Adão Pereira dos Santos tem sua história de vida misturada com a luta pela terra e pela produção sustentável na região. Falar de resistência e organização popular no município sem falar desse camponês não tem como. "Seu Adão", como é mais conhecido, é filho de agricultores vindo de Itaím na Bahia, que chegaram a Jequitinhonha na Fazenda Nicarágua com seus 02 filhos.

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Morador do Assentamento Campo Novo em Jequitinhonha/MG, Adão Pereira dos Santos tem sua história de vida misturada com a luta pela terra e pela produção sustentável na região. Falar de resistência e organização popular no município sem falar desse camponês não tem como. “Seu Adão”, como é mais conhecido, é filho de agricultores vindo de Itaím na Bahia, que chegaram a Jequitinhonha na Fazenda Nicarágua com seus 02 filhos. Foi lá que nasceu e viveu até seus 22 anos, quando se casou e foi morar na Fazenda Bom Jardim por onde ficou por outros 18 anos.

Seu Adão sempre participou ativamente da vida da comunidade. Seu envolvimento começou na CEB's (Comunidade Eclesiástica de Base), organização que foi porta de entrada para o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Jequitinhonha, onde foi presidente, para a Cáritas Diocesana de Almenara, que atualmente é vice-presidente, para a presidência da Associação da Escola Família Agrícola que está sendo construída no assentamento e membro fundador da Associação dos Feirantes de Jequitinhonha, a ASFEJE.

Sua entrada no Sindicato no ano de 1988, tem um papel especial no cenário da luta e conquista da terra em Jequitinhonha. Ele começou a se inserir em uma reunião no salão paroquial da cidade que a Igreja e a Cáritas propuseram aos agricultores e agricultoras presentes para “reviverem” o S i n d i c a t o . N e s t a r e u n i ã o o s / a s participantes indicaram o nome do Seu Adão para presidência.

Mas apesar de cultivar muitas espécies, ele sabe muito bem o que planta. Não sai plantando, por exemplo, tomate no meio do ano. Isso porque nesta época é mais comum encontrar outras pessoas vendendo tomate também, e por isso ele escolhe muito bem qual planta vai cultivar e em qual época do ano para não atrapalhar e nem ser atrapalhado na venda do alimento.

Sabedoria é algo comum para ele. Seu Adão com toda sua humildade não se deixa cair pela conversa de qualquer um, e sempre nos transmite um saber que poucos doutores e “sabidos” que se tem por ai conseguem fazer. Sabe que a alegria e satisfação estão juntas da dedicação na organização social e na produção agroecológica de verdade, já que, segundo ele, “o orgânico que os governos querem que plantemos é tudo fabricado, pra esses tem que usar adubo e sementes que não é natural, mas é produzido pelas empresas.”

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Realização Apoio

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 7 • nº 1059

Junho/2013

Seu Adão, sinônimo de lutas, conquistas e trabalho em Jequitinhonha/MG

Jequitinhonha - MG

Ele conta que o Sindicato vivia um momento delicado, pois seu funcionamento era somente para atender o Fundo Rural dos trabalhadores e trabalhadoras de fazendeiros da região. Assim foi no período de 1970 a 1988 até abandonarem a instituição, falida e toda desorganizada. Sendo então presidente, Adão começa envolver os/as agricultores/as aos poucos, mas de forma certa e firme, como a criação, por exemplo, de uma mercearia ao lado do sindicato para arrecadar dinheiro para o Sindicato e a ter mais contato e credibilidade com o povo.

Com mais estrutura começaram então as lutas pela terra. Elas começaram com o assentamento de agricultores e agricultoras na fazenda do Brejão, o Transval e Campo Novo. Houve também outro com um caráter mais popular, onde a Igreja e o Sindicato compraram as terras e distribuíram para as

famílias, na fazenda São Miguel das Roças Grandes. O Campo Novo onde mora foi o que houve maior resistência do fazendeiro e sua família, pois o filho do antigo dono f a z i a a m e a ç a s a o s a s s e n t a d o s / a s e principalmente ao Seu Adão por ser o representante do Sindicato. Também houve outra luta dura, travada com o INCRA, para conseguir água

para os assentados no ano de 2001.

Hoje ao ver os movimentos pela conquista da terra e como era na sua época de sindicato, Seu Adão fala que “hoje querem fazer reforma agrária por telefone e pela internet, mas o problema do trabalhador tem que resolver é lá no campo”. Mesmo participando do Sindicato que não tinha carro, as necessidades dos trabalhadores e trabalhadoras sempre eram resolvidas, mesmo que tivesse que percorrer os locais de bicicleta para isso, como no caso dos assentamentos que ajudou a organizar.

E como um amante da terra, Seu Adão produz alimentos de forma agroecológica em sua área, de aproximadamente 20 hectares. Ele diz que ele “é tipo um animal, roda muito a área mexendo na terra, pois toda a terra já foi horta e como a horta vai agredindo muito a terra, ele sempre planta em todo lugar”. Duas vezes por semana ele leva seus produtos para feira da cidade, mesmo que se preciso carregá-los de bicicleta nos 20 quilômetros entre o assentamento e a cidade.

E produzir nunca foi um problema para ele, pois para melhorar sua produção de tomate, pimentão, alface, mandioca, banana, milho, mamão, cebola, cebolinha, coentro, coentro-do-reino, salsinha, caju, feijão, pimenta e tantos outros, ele construiu uma Estufa Agrícola sozinho, buscando para isso uma parte do financiamento no Fundo Rotativo Solidário. Como é um conhecedor do meio onde vive, o semiárido mineiro, sempre produz utilizando as fontes de água que têm no assentamento, instalando então um sis tema de irrigação por microasperção na Estufa e um sistema de gotejamento em uma parte de sua lavoura a céu aberto.

Perguntado quem ensinou as práticas para desenvolver suas lavouras, ele responde: quem “me ensinou foram as andanças mundo afora!” E graças a estas andanças teve oportunidade de conversar com agricultores e agricultoras de outros locais, assistir palestras e ter contato com livros e apostilas de muitos temas da agricultura orgânica. Mas seu conhecimento não é só pelo que aprendeu com outras pessoas, Seu Adão sempre procura aprimorar o que tem. Por exemplo, o substrato que ele produz para as mudinhas de hortaliças ele procura dar uma enriquecida com casca de ovo triturado, que consegue fazendo parcerias com as padarias de Jequitinhonha. Com essa e outras práticas ele não precisa mais comprar nenhum insumo de fora, principalmente as sementes que sendo crioulas, ele mantém guardado ou consegue trocar com os/as vizinhos/as para plantar.

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