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Caderno do Trabalho de Graduação Integrado II | Instituto de Arquitetura e Urbanismo - USP São Carlos
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ENTRE RUÍNAS
E MEMÓRIASA COMPOSIÇÃO DO LUGAR
Mariana Cristina Adão
1
ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
A COMPOSIÇÃO DO LUGAR
2
Mariana Cristina Adão
Trabalho de Graduação Integrado II
Instituto de Arquitetura e Urbanismo
CAP Márcio Minto Fabrício
GT Simone Helena T. Vizioli
USP São Carlos
Dez/2014
3
AGRADECIMENTOS
À professora Simone, pelo acompanhamento do traba-lho e por toda a atenção.
Aos professores Joubert e Márcio, pelos atendimentos e ajudas no trabalho.
Aos professores do IAU, pelos ensinamentos.
A Bia, Camila, Cristiana, Debora, Fernanda, Jéssica R., Jéssica S. e Talita, pelos momentos que passamos.
Ao Renan, pelo companheirismo, carinho e compreen-são.
Ao meu irmão, pelos momentos de descontração.
Aos meus pais, pela dedicação, amor e por serem meu maior incentivo para seguir em frente.
4
5
ÍNDICE
UNIVERSO PROJETUAL 7
AÇÕES PROJETUAIS 21
LUGAR 29
PROGRAMA 49
PROJETO 55
Ruínas 62
Passarela 66
Conservatório 72
Torre 80
Biblioteca 88
Áreas livres 92
CONSIDERAÇÕES FINAIS 107
BIBLIOGRAFIA 113
6
7UNIVERSO PROJETUAL
UNIVERSO PROJETUAL
8 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
9UNIVERSO PROJETUAL
O trabalho de um arquiteto engloba diversas eta-
pas que vão desde a criação artística até a construção.
No entanto, deve-se saber em qual medida utilizar tais
fatores, pois “enquanto satisfaz apenas às exigências
técnicas e funcionais, não é ainda arquitetura; quanto se
perde em intenções meramente decorativas, tudo não
RCUUC�FG�EGPQITCƂC�q�%156#��������R�����
Soma-se a isso, a dependência da arquitetura de seu
meio social e físico, da época na qual ocorre, das técni-
cas empregadas, dos materiais utilizados e dos recursos
ƂPCPEGKTQU�FKURQPÉXGKU�
“A história da arte mostra que a arquitetura sempre
foi parte integrante fundamental no processo da criação
artística como manifestação normal de vida. Ela engloba,
portanto, a própria história da arquitetura, constituindo-
-se, então, por assim dizer, no ‘álbum de família’ da
humanidade. É através dela, através das coisas belas
SWG�PQU�ƂECTCO�FQ�RCUUCFQ��SWG�RQFGOQU�TGHC\GT��FG�testemunho em testemunho, os itinerários percorridos
nessa apaixonante caminhada, não na busca do tempo
RGTFKFQ��OCU�CQ�GPEQPVTQ�FQ�VGORQ�SWG�ƂEQW�XKXQ�RCTC�sempre porque entranhado�PC�CTVG�q�%156#��������R������
A arquitetura, e outras formas de expressão artística,
representam memórias de um tempo, lugar e usuário
determinados, podendo este último ser apenas um indi-
víduo ou toda uma sociedade.
O que observamos em arquitetura nos dias de hoje
é um grande descaso por essas memórias, sendo que,
muitas delas ou são destruídas para dar lugar ao novo ou
ƂECO�VQVCNOGPVG�CDCPFQPCFCU��VQTPCPFQ�UG�NWICTGU�FG�
�� ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
riscos para quem se atreve a desvendá-los.
Dessa forma, o que procuro trabalhar no meu TGI
é como interferir nesse lugares, repletos de camadas –
sendo essas aqui trabalhadas como camadas do tem-
po – compondo com o contexto onde está inserido. O
que pretendo é fazer das memórias um passado vivo no
presente.
Para isso, foi necessário pesquisar diferentes formas
de se trabalhar e interpretar a memória, por meio de
teoria e projetos arquitetônicos.
Pierre Nora é um dos autores que trabalha com esta
questão e cujo texto “Entre memória e história: a pro-
DNGO½VKEC�FQU�NWICTGUq�VTC\�WOC�XKU¿Q�FKHGTGPEKCFC�CQ�analisar a Memória.
Nele, Nora descreve memória como oposição a his-
tória, sendo a aceleração da história a causa da morte da
memória.
Entretanto, apesar de colocar a memória como opos-
ta à história, o autor mostra que esta é essencial para a
existência daquela, uma vez que é a história que trans-
porta a memória através do tempo e que, com a distân-
cia e a mediação, a memória passa a ser história.
Essa passagem de memória para história é carac-
terizada pela mudança dos produtores de memória.
Nos tempos clássicos, os produtores de arquivos eram
as grandes famílias, Igreja e Estado, hoje, todos escre-
vem suas Memórias. Existe, assim, o dever de memória,
ECFC�WO�Å�JKUVQTKCFQT�FG�UK�OGUOQ��1�ƂO�FC�*KUVÏTKC-
-Memória multiplicou as memórias particulares, gerando
C�/GOÏTKC�*KUVÏTKEC�
��UNIVERSO PROJETUAL
Nora diz que a memória passou do histórico ao
psicológico, do social ao individual, da repetição para a
rememoração, do público ao privado e do coletivo aos
homens-memória.
1�CWVQT�VCODÅO�FK\�C�TGURGKVQ�FQ�ƂO�FC�EQNGVKXKFC-
de-memória, das sociedades-memória – igrejas, escolas,
famílias e Estado – que faziam a transmissão de valores,
G�FCU�KFGQNQIKCU�OGOÏTKC��SWG�FGƂPG�EQOQ�UGPFQ�C�passagem regular do passado para o futuro. Isso teve
como causa o fenômeno da mundialização e midiatiza-
ÿQ�G�HQK�FGƂPKFQ�RGNQ�CWVQT�EQOQ�OGKQU�FG�OGOÏTKC��Sem esses meios, a memória cada vez menos é vivida
no interior e sente necessidade de suportes exteriores,
QW�UGLC��FG�UG�ETKCT�NQECKU�FG�OGOÏTKC��SWG�U¿Q�FGƂPKFQU�como lugares de história com vontade de memória. Isso
GNG�FGƂPG�EQOQ�C�OCVGTKCNK\CÿQ�FC�OGOÏTKC�
O que se esquece, na arquitetura, é que esses luga-
res não necessariamente precisam fazer parte da histó-
ria de uma sociedade inteira, sendo um marco de um
tempo. Também são considerados lugares de memórias
NQECKU�EQO�UKIPKƂE¾PEKC�CRGPCU�RCTC�RGSWGPCU�EQOWPK-dades, ou, até mesmo, uma família. O importante são as
ECOCFCU�RTGUGPVGU�PGUUGU�NWICTGU��#�%CUC�.WV\GPDGTIGT��de Porto Alegre, é um exemplo disso. Uma memória ín-
tima e particular, mas não menos importante que outras
memórias.
Outra autora que também escreve sobre memória
Å�/CTKC�%ÅNKC�2CQNK��5GIWPFQ�GNC��PQ�VGZVQ�p/GOÏTKC��JKUVÏTKC�G�EKFCFCPKC��Q�FKTGKVQ�CQ�RCUUCFQq��JKUVÏTKC��memória, patrimônio e passado possuem sentidos
OÖNVKRNQU��RQKU�XÆO�FG�WOC�EWNVWTC�RNWTCN�G�EQPƃKVCPVG��Assim, patrimônio histórico deve evocar dimensões da
�� ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
%CUC�.WV\GPDGTIGTPorto Alegre / RSProjetada pelo arquiteto e artista plático Joseph Lutzenberger, em ������HQK�TGHQTOCFC�RQT�-KGHGT�#TSWKVGVQU�GO������
(QPVG���JVVRU���YYY�ƃKEMT�EQO�RJQVQU���������"0��������������
��UNIVERSO PROJETUAL
cultura como um passado vivo, acontecimentos e coisas
que merecem ser preservadas porque são coletivamente
UKIPKƂECVKXCU�GO�UWC�FKXGTUKFCFG��1W�UGLC��RCVTKOÐPKQ�histórico é um lugar de memória com uma diversidade
FG�TGNCÃÑGU�G�UKIPKƂE¾PEKCU��OCU�KUUQ�P¿Q�UKIPKƂEC�SWG�todo lugar de memória é patrimônio histórico.
No entanto, como lembra a autora, observa-se que
quando se fala em patrimônio histórico pensa-se qua-
se sempre em uma imagem congelada, como museus,
monumentos, obras de arte e documentos, sendo a
RTGUGTXCÿQ�FGUUG�RCUUCFQ�FKUUQEKCFC�FG�UWC�UKIPKƂEC-
ção coletiva e longe de expressar as experiências sociais.
Deve-se mudar essa visão de patrimônio e a arquitetura
é uma forte arma para essa transformação.
Porém, isso não deve ser como vem ocorrendo, onde
há apenas duas ações possíveis para a história: destrui-
ção ou conservação, sendo esta, a partir da preservação
ou da construção do passado.
5GIWPFQ�2CQNK��RTGUGTXCÿQ�Å�FGƂPKFC�EQOQ�C�EQPU-tante produção do novo: o passado é visto como tendo
RQWEQ�UKIPKƂECFQ��CUUKO�VQTPC�UG�KPÖVKN�OCPVÆ�NQ��C�P¿Q�ser como testemunho de algo superado. A construção
do passado é vista como um sentimento de nostalgia.
Ambos possuem as mesmas premissas: não se importam
EQO�Q�UKIPKƂECFQ�EQNGVKXQ�PQ�RCUUCFQ�G�C�JKUVÏTKC�VQTPC-
-se um processo acabado e fechado.
Esse é um modo abstrato de se absorver a história,
sendo assim, ela não é uma forma de conhecimento,
PGO�TGHGTÆPEKC�EQO�C�SWCN�UG�RQUUC�TGƃGVKT�UQDTG�C�GZRG-
riência social, o que gera uma sociedade sem cidadania.
7O�GZGORNQ�KPXGTUQ�FKUUQ�Å�Q�5'5%�2QORÅKC��QPFG�
�� ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
5'5%�2QORGKCSão Paulo / SPLina Bo Bardi���������
Fonte: <http://www.archdaily.EQO�DT�DT�����������ENCUUKEQU�da-arquitetura-sesc-pompeia-lina-bo-bardi/�����DD�G�G��G���E������
5'5%�2QORGKCSão Paulo / SPLina Bo Bardi���������
Fonte: <http://www.archdaily.EQO�DT�DT����������GURGEKCN�dia-do-arquiteto-a-invencao-de-uma-arquitetura-moderna-DTCUKNGKTC
��UNIVERSO PROJETUAL
o passado é continuamente vivido e descoberto no pre-sente e ambos os tempos convivem harmoniosamente.
Segundo Nora, no passado, nação, história e memó-ria viviam em simbiose. Então, Estado-Nação foi substi-tuído por Estado-Sociedade, história como tradição de memória foi substituída por história como laboratório das mentalidades do passado e a legitimação pelo RCUUCFQ�EGFGW�NWICT�¼�NGIKVKOCÿQ�RGNQ�HWVWTQ��%QO�C�retomada de suas autonomias, nação passa a ser um dado, história, uma ciência social e memória, um fenô-meno privado.
É necessário fazer com que a produção incida sobre a questão da cidadania. Isso implica passar a história e política de preservação e construção do passado para UKIPKƂECÿQ�EQNGVKXC�G�RNWTCN��Q�SWG��UGIWPFQ�0QTC��Å�feito com dupla tarefa: crítica à história “dos vencedo-TGUq��FG�9CNVGT�$GPLCOKP��G��EQPUVTWÿQ�JKUVQTKQIT½ƂEC�de horizontes de validade histórica.
#�JKUVÏTKC�pFQU�XGPEGFQTGUq�GUEQPFG�QWVTCU�PCTTCVK-vas dos acontecimentos passados e presentes e torna-�UG�C�JKUVÏTKC�pQƂEKCNq��#�RQNÉVKEC�FG�RCVTKOÐPKQ�FKUUQ�derivada preserva apenas estes testemunhos, sem se KORQTVCT�UG�TGUVCTCO�PGNGU�QU�EQPƃKVQU��#RQUVC�UG�SWG�não há memória popular ou alternativa à do poder que UGLC�UWƂEKGPVGOGPVG�XCNKQUC�G�KNGIKVKOC�GUUCU�OGOÏTKCU��Essa talvez se articula como a maior parte das políticas de preservação no Brasil.
O que tem sido feito é recriar a memória dos que perderam a visibilidade de suas ações e resgatar essas ações e suas utopias não realizadas. Aposta na existên-cia de memórias coletivas e heterogêneas, mas que são
�� ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
fortes referências de grupo, mesmo que com fraco nexo
EQO�C�JKUVÏTKC�pQTKIKPCNq��7O�ITCPFG�FGUCƂQ�Å�HC\GT�EQO�que essas experiências silenciadas se reencontrem com
a dimensão histórica.
É necessário produzir um direito ao passado com
crítica e subversão constante das versões instituídas.
O reconhecimento ao direito ao passado está ligado
CQ�UKIPKƂECFQ�RTGUGPVG�FC�IGPGTCNK\CÿQ�FC�EKFCFCPKC��Esse reconhecimento aceita os riscos da diversidade
e de encontrar as solicitações por uma memória social
que venham baseadas em seu valor simbólico, mesmo
que sejam locais, pequenas, quase familiares. Não teme
TGUVCWTCT�G�RTGUGTXCT�Q�RCVTKOÐPKQ�GFKƂECFQ�UGO�RTGVGP-
FGT�EQPUGTXCT�Q�pCPVKIQq�QW�ƂZCT�Q�pOQFGTPQq��EQOQ�PQ�5'5%�2QORÅKC��QPFG�Q�PQXQ�G�Q�CPVKIQ�p�����GUV¿Q�VTCDC-
NJCFQU�FG�HQTOC�SWG�WO�P¿Q�UG�KORQPJC�CQ�QWVTQ�q�&'�1.+8'+4#���������G�VCODÅO�PC�ECUC�.WV\GODGTIGT�SWG��UGIWPFQ�,QTIG�(KIWGKTC��RTQEWTC�p�����TGETKCT�WO�layer temporal, que não tem de necessariamente moralizar ou
denunciar o tempo preexistente ou demonstrar um virtu-
QUKUOQ�FQ�RTGUGPVG�q�(+)7'+4#���������'UUG�TGEQPJGEK-mento orienta-se pela produção de uma cultura que não
repudie sua própria historicidade, mas que possa dar-se
conta dela pela participação nos valores simbólicos da
cidade.
Esses valores simbólicos também são incluídos na
FGƂPKÿQ�FG�0QTC�FQU�NWICTGU�FG�OGOÏTKC��SWG��UGIWP-
do ele, são momentos da história arrancados do movi-
mento da história, lugares de história com vontade de
memória, tudo o que administra a presença do passado
no presente. Os lugares de memória possuem dois
��UNIVERSO PROJETUAL
Praça das ArtesSão Paulos / SP
Brasil Arquitetura���������
(QPVG���JVVR���YYY�UM[-scrapercity.com/showthread.RJR!V���������RCIG��
Praça das ArtesSão Paulos / SP
Brasil Arquitetura���������
Fonte: <http://www.archdaily.EQO�DT�DT��������RTCEC�FCU�
CTVGU�DTCUKN�CTSWKVGVWTC
�� ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
FQOÉPKQU��UKORNGU�G�CODÉIWQU��G�PCVWTCKU�G�CTVKƂEKCKU��G�três sentidos: material, simbólico e funcional, presentes simultaneamente, porém, em graus diversos.
O estudo dos lugares, segundo Nora, é uma encruzi-lhada entre dois movimentos: o movimento historiográ-ƂEQ�s�WO�TGVQTPQ�TGƃGZKXQ�FC�OGOÏTKC�UQDTG�UK�OGUOC�s�G�Q�OQXKOGPVQ�JKUVÏTKEQ�s�Q�ƂO�FG�WOC�VTCFKÿQ�FG�memória. Entretanto, viver integralmente sob o signo da memória esvazia os lugares daquilo que os fazem luga-res de memória, havendo a necessidade de manifesta-ções da vida social.
#�2TCÃC�FCU�#TVGU�Å�GZGORNQ�FGUUC�CƂTOCÿQ��7O�lugar de memória, onde o passado ainda é vivo e pos-sui uma intensa manifestação da vida social, ou seja, p�����EQPVÅO�OCTECU�G�OGOÏTKCU�FG�FKHGTGPVGU�ÅRQECU�q�2146#.�8+6478+75���������
Para aprofundar essa discussão, o texto “Estrutura FQU�HCVQU�WTDCPQUq��FG�#NFQ�4QUUK��VTC\�C�SWGUV¿Q�FQU�HCVQU�WTDCPQU��SWG�U¿Q�ENCUUKƂECFQU�RQT�GUUCU�OCPKHGUVC-ções, assim como as obras de arte. O que os diferencia é que os fatos urbanos são produzidos pelo público e as obras de arte, para o público. Por isso, fatos urbanos não se explicam por suas funções, que se alteram com o tempo. Também são considerados coletivos, por serem progresso da razão humana, e individuais, por serem uma forma organizada no tempo e espaço. Devem ser vistos em suas totalidades, ou seja, em conjunto com Q�UKUVGOC�XK½TKQ��VQRQITCƂC�G�VWFQ�Q�SWG�GUV½�GO�UGW�entorno, e, como destaca o autor, deve-se entender que conceituar um fato urbano é diferente de vivê-lo.
��UNIVERSO PROJETUAL
Rossi diz que fatos urbanos persistentes podem ser vistos como monumentos, pois são fatos propulsores do desenvolvimento e se conservam durante a evolução da cidade.
Ainda segundo Rossi, a arquitetura da cidade pode ser representada de duas formas divergentes: a cidade como um grande artefato, ou seja, uma grande obra de engenharia e arquitetura que cresce no tempo, ou por entornos limitados, com arquitetura própria, e, portanto, forma própria. Isso interfere diretamente na forma como se constituem as permanências, podendo se tornar aber-rações, quando estão isoladas, não acrescentando nada nem podendo ser acrescentadas, ou elementos propul-sores, quando a forma do passado assume uma função diferente, mas continua ligada à cidade.
Esses elementos propulsores tem grande carga de memória. Para Nora, o que chamamos hoje de memó-ria já não é mais memória, e sim, história. A memória verdadeira é espontânea, social, coletiva, globalizante e imediata, como gestos, hábitos e ofícios, enquanto a memória transformada por sua passagem em história é voluntária, deliberada, psicológica, individual, subjetiva e indireta. Isso compõe a metamorfose contemporânea.
O que pretendo trabalhar no meu TGI é a coexistên-cia de memórias e tempos, pois acredito que há diversos meios de se projetar em lugares repletos de memória sem recorrer a uma ação totalmente destruidora ou con-servadora.
�� ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
21AÇÕES PROJETUAIS
AÇÕES PROJETUAIS
22 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
23AÇÕES PROJETUAIS
É possível compor com o lugar, sem que este perca suas memórias, mas some novas memórias? É com essa indagação que começo a pensar em quais ações proje-tuais adotar.
Falar em camadas do tempo vai além da passagem cronológica, abrange também as memória, relações so-ciais, econômicas... E na arquitetura podemos perceber como o passado foi, e o presente é contado. Assim, são GUUCU�ECOCFCU�SWG�KORQTVCO�RCTC�FGƂPKT�OKPJCU�CÃÑGU�projetuais.
O processo do TGI iniciou-se em 2013, quando foram FGƂPKFQU�QU�EQPEGKVQU�C�UGTGO�VTCDCNJCFQU��/GW�VGOC�RTKPEKRCN�GTC�pECOCFCUq��OCU�VCODÅO�VKPJC�KPVGTGUUG�em analisar materialidade, enquadramentos e luz e som-bra.
#�RCTVKT�FGUUCU�RTKOGKTCU�FGƂPKÃÑGU��HQK�EQPUVTWÉFQ�um objeto síntese de pré-TGI, no qual procurei explorá--las.
24 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
Objeto de pré-TGI
25AÇÕES PROJETUAIS
2CTC�FGƂPKT�CU�CÃÑGU�RTQLGVWCKU�SWG�TGURQPFGUUGO�C�esses temas, foram feitas transcrições do objeto, que o
CVWCNK\CUUGO�¼�NW\�FQ�WPKXGTUQ�RTQLGVWCN�GUEQNJKFQ��
&GUUC�HQTOC��RTQEWTGK�TGHQTÃCT�OKPJCU�SWGUVÑGU�EC-
madas, materialidade, enquadramentos e luz e sombra)
nas transcrições e, a partir delas, vieram dois conceitos,
que, mais tarde, foram utilizados como propostas arqui-
tetônicas: interdependência da obra e lugar e seleção.
Dizer que obra e lugar são interdependentes, signi-
ƂEC�FK\GT�SWG�VCPVQ�Q�QDLGVQ�FGRGPFG�FQ�NWICT�SWCPVQ�o lugar depende do objeto para existirem como tais, ou
UGLC��SWCPFQ�XKUVQU�UGRCTCFCOGPVG��OWFCO�FG�UKIPKƂEC-
do.
Já a seleção visual esconde ou revela situações do
lugar, o que é importante destacar para que a obra e o
NWICT�EQPXKXCO�GO�JCTOQPKC��RCTC�SWG�CU�OGOÏTKCU�FQ�passado estejam vivas nas memórias do presente.
%QO�DCUG�PGUUGU�FQKU�EQPEGKVQU��FGƂPQ�OKPJC�CÿQ�projetual como sendo a COMPOSIÇÃO. Compor a obra
com o lugar, de modo que ambos se contaminem for-
mando um só lugar com rica diversidade.
26 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
Montagem
Colagem
Xerox
Transcrições
27AÇÕES PROJETUAIS
Ações projetuaisFase 2. Transcrições mas some novas memórias?][É possível compor com o lugar, sem que este perca suas memórias, - - -
- - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - - - Lugar de memória
Estação Ferroviária de São Carlos Camadas de memória
- - - - - - - - -
Com novos enquadramentos do lugar, formam-se novas visuais do pré-existente, que antes poderiam nem ser notadas.
COMPOSIÇÃO
Painel síntese do processo, no qual pego como objeto de
estudo a estação ferroviária de São Carlos, analisando formas
de composição do lugar.
Fonte das Imagens: Google 'CTVJ�G���JVVRU���YYY�HCEGDQQM�
EQO�HQVQVTGOUCQECTNQU
28 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
29LUGAR
LUGAR
30 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
31LUGAR
milhaskm
200400
Com base nos questionamentos que me levaram à GUEQNJC�FC�CÿQ�RTQLGVWCN��GPEQPVTCT�WO�NWICT�SWG�TGƃG-tisse minha postura não seria difícil, visto que a arquite-tura sempre traz consigo memórias de um tempo, que são perceptíveis até mesmo em ruínas.
As necessidades, a história, o comum, a beleza de um passado podem ser observados andando pelas ruas das cidades.
O município de Lençóis Paulista / SP, com pouco mais de 61 mil habitantes, é uma típica cidade do inte-rior paulista. Localizada a 300 km de São Paulo e 50 km de Bauru, tem, em seus percursos, lugares repletos de memórias a serem reveladas.
N
32 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
N
Um desses lugares é Q�TGƃGZQ�FC�GEQPQOKC�lençoense, uma antiga destilaria de álcool e açú-car, que hoje encontra-se grande parte em ruínas.
Construída às pressas em 1943, para suprir as necessidades energéticas durante a Segunda Guerra Mundial, foi abandonada quando sua não houve mais necessidades de sua função.
33LUGAR
34 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
N
Houve algumas tenta-tivas de novos usos para este lugar, como em julho FG�������SWCPFQ�HQK�ƂTOC-do contrato para abrigar a Casa da Cultura e o Mu-seu Histórico da Cidade, entretanto, funcionou por apenas 10 anos. Com sua saída, o lugar foi mais uma vez esquecido, e sua de-gradação, cada vez maior.
35LUGAR
36 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
N
Usos
Residencial
Serviço
Comercial
Institucional
Misto com habitação
Área verde
Quando ainda funcio-nava a destilaria, a região era quase vazia. Aos poucos, foi ocupada por OQTCFKCU�FG�DCKZC�FGP-sidade, tornando-se uma ½TGC�TGUKFGPEKCN�FG�DCKZQ�ƃWZQ�
37LUGAR
38 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
N
(NWZQU
Via arterial
Via coletora
Via local
Essa ocupação tam-bém ocorreu nas resi-dências pertencentes à destilaria e nas próprias construções da área de indústria.
39LUGAR
40 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
Implantação
Residências
Tanques
Indústria
Pomar
41LUGAR
Corte
A destilaria era dividida em três áreas: indústria, resi-dências e pomar. As residências encontram-se ao norte da indústria, mas não foram consideradas neste projeto.
Os cerca de 15 mil metros quadrados de terreno pos-suem um desnível total de 17 metros.
Ao norte, encontram-se dois tanques usados para armazenar álcool e a base do que seria um terceiro tan-que.
Ao sul, encontra-se a indústria, composta por uma torre de 25 metros de altura, uma chaminé igualmente alta e galpões, que são os mais degradados, sendo que ITCPFG�RCTVG�FGNGU�L½�P¿Q�GZKUVG�
0CU�RTÏZKOCU�R½IKPCU�Å�RQUUÉXGN�QDUGTXCT�UGW�RTQ-cesso de degradação, com fotos tiradas em 1983 (ima-gens superiores) e em 2014 (imagens inferiores).
42 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
Fonte: SÃO PAULO, 1985
Fonte: Arquivo pes-soal
43LUGAR
Fonte: SÃO PAULO, 1985
Fonte: Arquivo pes-soal
44 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
Fonte: SÃO PAULO, 1985
Fonte: Arquivo pes-soal
45LUGAR
Fonte: SÃO PAULO, 1985
Fonte: Arquivo pes-soal
46 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
Fonte: SÃO PAULO, 1985
Fonte: Arquivo pes-soal
47LUGAR
%QO�UGW�XCNQT�JKUVÏTKEQ�GPƂO�XCNQTK\CFQ��GPVTQW�GO�processo de tombamento pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico - CONDEPHAAT, em dezembro de 1989.
0Q�ƂPCN�FG�������HQK�CDGTVQ�WO�EQPEWTUQ�RCTC�KO-RNCPVCÿQ�FQ�p%GPVTQ�/WPKEKRCN�FG�(QTOCÿQ�2TQƂUUKQ-PCN�2TGHGKVQ�+FGXCN�2CEEQNCq��EQO�EWTUQU�RTQƂUUKQPCNK\CP-tes, que hoje encontram-se espalhados pela cidade. O projeto vencedor foi do Metrópole Arquitetos.
Perspectivas do projeto de Metrópole Arquitetos.
Fonte: <http://www.arqba-cana.com.br/internal/arq!aqui/read/13684/metr%C3%B3pole-
arquitetos-destilaria-central-de-len%C3%A7%C3%B3is-paulista>
48 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
A atual situação do lugar, somada a sua história e memórias, gera algumas indagações para implantar um novo uso:
O que pode ser mantido como ruína?
O que deve ser reconstruído?
Como valorizar as memórias deste lugar e, ao mesmo tempo, abrir espaço para novas memórias?
Essas indagações foram essenciais para a constitui-ção do projeto.
49PROGRAMA
PROGRAMA
50 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
51PROGRAMA
Lençóis Paulista é uma cidade com opções restritas de cultura e lazer, levando seus habitantes a procurarem essas atividades em cidades próximas. A cidade foi re-centemente incluída no Circuito Turístico “Caminhos do %GPVTQ�1GUVG�2CWNKUVCq��Q�SWG�XCNQTK\CT½�GUUCU�½TGCU�
Com base nisso, a proposta é criar uma novo espaço que promova atividades culturais, ampliando, assim, o polígono cultural existente, que atualmente é composto por quatro áreas: Biblioteca Municipal Orígenes Lessa, Espaço Cultural Cidade do Livro, Casa da Cultura Profª Maria Bove Coneglian e Museu Alexandre Chitto.
A Casa da Cultura, onde se localiza a Secretaria da Cultura, é um espaço com diversos programas, entre eles, cursos de dança, teatro, música, artes plásticas, sala para apresentações de todos os tipos, e a orquestra de sopros da cidade.
Essa diversidade é um bom intercâmbio cultural, en-tretanto, atividades como o da Orquestra Municipal de 5QRTQU�p/CGUVTQ�#IQUVKPJQ�&WCTVG�/CTVKPUq�Å�CNIQ�EQO�grande capacidade de crescimento, gerando necessida-de de maior e melhor estrutura.
A orquestra conta, atualmente, com cerca de 40 músicos. Seu repertório vai do erudito ao popular e é referência para toda a região. Também incentiva a for-mação de novos músicos através de um trabalho base denominado Banda Experimental Jovem, com mais de 60 alunos.
Assim, o projeto visa atender a uma futura necessida-de da orquestra e de projetos de instrumentalização, im-plantando um conservatório, com espaços para ensino, ensaios e apresentações, além de uma ampla área para
52 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
Áreas culturais existentes
Área de intervenção
Eixos culturais existentes
Novos eixos culturaisN
lazer.
A criação de uma nova área cultural, resultará em um novo eixo, ampliando o polígono cultural que encontra-se concentrado no centro da cidade.
53PROGRAMA
Biblioteca
Casa da Cultura
Museu
Espaço Cultural
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55PROJETO
PROJETO
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57PROJETO
O primeiro passo para a concepção do projeto foi decidir o que, da construção existente, permaneceria como ruína, o que seria retirado e o que seria restaura-do. Para tanto, foi realizada uma cuidadosa análise do lugar e uma possível relação com novas construções.
A principal proposta do projeto é convidar os visi-tantes a percorrerem todo o lugar, despertando a curio-sidade através dos percursos, gerando visuais que horas escondam, horas revelem suas memórias.
A implantação de uma nova construção se faz ne-cessária, tanto para atender ao programa, quanto para relacionar o passado com o presente, as ruínas com o novo e o respeito às características ímpares de ambos.
Com essa relação é possível diferenciar as formas construtivas, as relações com o espaço, as necessidades de cada época e sociedade.
Primeiros estudos
58 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
Galpão
Galpão
Torre
Cobertura
Tanque
Chaminé
N
59PROJETO
,WPVQ�EQO�GUUC�RTKOGKTC�FGƂPKÿQ�XGKQ�C�ETKCÿQ�FG�eixos que norteassem o projeto.
O primeiro eixo, paralelo à Avenida José Antônio Lorenzetti, principal via que contorna o lugar, é onde foi projetada a nova construção. Além dessa construção, onde é localizado o conservatório, outro elemento que marca o eixo é um dos decks de madeira que conforma o projeto. Ele atravessa toda a extensão norte do eixo, até seu encontro com o conservatório.
O segundo e último eixo é marcado por uma pas-sarela, a qual corta toda a região sul do lugar, ligando a torre existente ao novo prédio do conservatório. Atra-vessa a região das ruínas, oferecendo, a quem passa por ali, uma maior compreensão do que já foi este lugar e de como ele é. Em seu percurso é possível observar toda área livre do lugar, além de uma grande extensão da cidade.
Planta da destilaria
Restauro
Ruínas
Retirado
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Implantação
Eixo 1 - Nova construção
Eixo 2 - Passarela
Corte AA - Eixo 1
Corte BB - Eixo 2
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RuínasAs ruínas desempenham o papel principal do proje-
to. São as ruínas que fazem o projeto existir como é. É a partir das ruínas que todo o projeto se desenvolve.
Dessa forma, as ruínas são abertas a visitação a todos que estiverem dispostos a desvendar o passado. São divididas em duas partes: ao norte, onde se encontram os tanques, e ao sul, com os galpões e a chaminé.
Nos galpões ainda é possível encontrar antigas caldeiras e imaginar como era a dinâmica da destilaria através das divisões dos ambientes.
Imagens das ruínas
Fonte: SÃO PAULO, 1985
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PassarelaA passarela é a principal conexão entre o antigo e
o novo. Com 80 metros de extensão, 4,5 de largura e entre 3,70 e 9 metros de altura, é sustentada por quatro pórticos de concreto protendido e vigas de aço corten, e faz ligação entre a torre e o conservatório
Da passarela pode-se ver todo o lugar, seu entorno e a cidade. Também tem uma visão única das ruínas, tornando mais fácil a compreensão da interação entre os ambientes.
Caminhando sob a passarela, seus pórticos criam um enquadramento de parte das ruínas, chamando a aten-ção para a história do lugar.
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Corte BB - Eixo 2
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ConservatórioO prédio do conservatório é dividido em três pavi-
mentos de 18 x 54 metros. Possui duas entradas: uma no eixo em que se encontra, a partir do deck que o invade, e a outra, no cruzamento dos eixos, ambas no térreo. Foi implantado mantendo distância do existente, como sinal de respeito por suas memórias e história.
No térreo encontram-se a recepção, administração e salas de aulas teóricas, que também podem ser usadas para aulas práticas e ensaios, além de banheiros, espa-ços de convivência e circulação. Uma de suas entradas dá acesso à passarela que leva ao segundo andar da torre.
No primeiro andar há a coordenação, salas de pro-fessores e salas de aulas prática e ensaios. Também conta com banheiros, áreas de convivência e circulação.
Já no subsolo é onde se localiza um auditório para 308 pessoas, com foyer, depósito e camarins, podendo ter apresentações de outros gêneros, além da orquestra.
Por conta do desnível do terreno, através do subsolo é possível acessar outras áreas do projeto, dessa for-ma, em toda sua área não ocupada pelo teatro há uma grande área livre de piso de concreto liso, que pode ser usada para encontros e lazer.
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Primeiro andar Térreo
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Plantas do conservatório
Admnistração
Banheiro
Coordenação
Depósito e camarins
Foyer
Recepção
Sala de porfessores
Sala de aula práticas / ensaios
Sala de aulas teóricas
Subsolo
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Corte AA - Eixo 1
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78 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
Suas laterais são revestidas por uma “segunda pele”
de brise de aço corten e suas entradas, por parede
cortina de vidro. Isso, somado à localização dos ambien-
tes no núcleo da planta, o torna uma construção leve,
permeável para os olhos do transeunte.
A estrutura é formada por pilares de concreto ar-
mado de 30 centímetros por 4,5 metros, também loca-
lizados no centro, numa malha de 6 metros. O interior
FGUUGU�RKNCTGU�U¿Q�WUCFQU�RCTC�C�RCUUCIGO�FG�ƂQU�G�tubulações. Lajes nervuradas de 25 centímetros comple-
tam a estrutura.
As paredes divisórias das salas são revestidas de ma-
teriais acústicos, para neutralizar os ruídos tanto exter-
nos, quanto de outras salas.
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TorreComo já visto, algumas das construções existentes
serão restauradas, de modo a atender às necessidades atuais da cidade.
Uma dessas construções é a torre. Com cerca de 25 metros de altura, o projeto para a torre toma como prin-cípio suas características, assim, sua fachada é restaura-da e, em seu interior, é colocado uma nova estrutura em aço que sustentará os novos usos.
Por ser a construção mais alta do lugar e oferecer uma vista ímpar da cidade, assim, possui usos comerciais e de serviços, podendo ser visitada por todos.
É dividida em seis andares onde funcionarão uma loja de música, um café e um restaurante, tendo este último três andares, sendo um reservado para a cozinha. Para ventilação dos banheiros há um shaft, para não des-caracterizar a fachada.
Para dar acesso à partir do primeiro andar, foi proje-tado um anexo à torre, onde há um elevador e escadas. Esse anexo é permeável, contornado por um cobogó de aço corten.
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Térreo - Recepção
Primeiro andar - loja
83PROJETO
Segundo andar - café
Terceiro andar - cozinha do restaurante
Plantas da torre
Banheiro
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Quarto e quinto andares - restaurante
Plantas da torre
Banheiro
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Corte BB - Eixo 2
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A permeabilidade da caixa de escadas se con-trapõe com a estrutura mais “pesada”, de con-creto e alvenaria, da torre. Isso, somado à diferença de materiais, faz mais uma comparação entre presen-te e passado, podendo este ser visualizado através daquele.
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BibliotecaOutra construção que terá suas características iniciais
recuperadas é o galpão que abrigará a biblioteca. Assim como a torre, possui estrutura de concreto, vedação de alvenaria e grandes janelas de ferro. Seu interior recebe-rá estrutura necessária para o novo uso.
Planta da biblioteca
Banheiro
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Corte BB - Eixo 2
91PROJETO
Como já existe biblioteca municipal, cujo acervo é bastante amplo e valorizado, esta biblioteca é dedicada à literatura musical, como livros de história da música e partituras, para serem usados em aulas e retirados.
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Vegetação
Existente (árvores)
Existente (palmeiras)
Existente remanejada
Nova caducifólia
Nova densa
Áreas livresAs áreas livres oferecem diferentes estares, pensa-
dos para atrair toda a população da cidade, oferecendo novas opções de lazer e atividades culturais.
A vegetação foi planejada com uma maior densi-FCFG�PC�½TGC�FQU�VCPSWGU��EQPƂIWTCPFQ�WO�RGSWGPQ�bosque, e com menor densidade e caducifólias perto das construções, agindo como complemento dessas e oferecendo algumas áreas sombreadas. Algumas ve-getações existentes permaneceram, outras, menores, foram remanejadas.
Além da pavimentação em concreto liso, na projeção do prédio do conservatório e da passarela, as áreas livres também são revestidas por pedra portuguesa - em sua maioria - e tijolo - onde já havia e em parte do play-ground. Também algumas áreas gramadas, cobertas ou não por decks, estão espalhadas pelo parque.
Pisos
Areia
Gramado
Deck de madeira
Pedra portuguesa
Tijolo
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BOSQUE
O espaço onde se encontram os tanques é destina-
do ao estar e contemplação. Uma área gramada, com
vegetações densas, que oferecem sombras e fecham
esta área para a avenida, abrindo-a para a escola, que se
encontra a nordeste.
Os tanques permanecerão também como ruínas, tra-
zendo uma amostra, a quem penetra o parque por esta
área, do que há adiante.
É cortado por um deck com bancos, dando mais um
motivo para a permanência neste local. Este deck corta
toda esta área e penetra o prédio do conservatório.
Também seu amplo gramado sombreado oferece
condições para descanso e atividades físicas.
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Corte AA - Eixo 1
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98 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
PLAYGROUND
O playground é dividido em três camadas: a primei-ra, mais externa, é gramada com vegetação. A segunda, intermediária, pavimentada de tijolo, conta com asper-UQTGU�FG�½IWC��HQTOCPFQ�WOC�ƂPC�ECOCFC�FG�½IWC��#�camada interna, de areia, é onde se encontram brinque-dos lúdicos.
Foi projetado de maneira não usual com o que encontramos na cidade, assim, será uma forma de atrair crianças e adultos, aproximando a população da história do lugar e da arte musical.
É cortado por dois caminhos na direção de cada um dos eixos, de modo a não interromper a passagem e gerando perspectivas do lugar.
100 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
DECKS
Os decks estão localizados em três pontos do pro-jeto: nas pontas dos eixos e no cruzamento estre eles, formando uma continuidade visual.
O deck de união dos eixos é dividido em três níveis, todos com acesso da rua. É uma área de recepção, visto SWG�GUV½�XQNVCFQ�RCTC�C�XKC�FG�OCKQT�ƃWZQ�G�F½�CEGUUQ�C�diversas áreas do parque, assim, é pensado como tal. É uma área sombreada e com desenhos que sugestiona a permanência, como suas escadas e as aberturas para as árvores que podem ser usados como bancos.
A leste deste deck há uma escadaria que dá acesso ao pátio ao lado da biblioteca. Esta área, onde antes havia outro galpão, permaneceu sem construção no projeto. Entretanto, seu piso de tijolo, contínuo em toda a área de ruínas e construções existentes, sugere a exis-tência passada de alguma construção. O pátio foi proje-tado para ser usado para apresentações ao ar livre, e sua escadaria, como arquibancada.
O deck ao lado da torre também recepciona quem adentra o parque pelo seu lado mais reservado e dá acesso às ruínas e à torre.
Entre esses dois decks há uma passagem delimitada, de um lado, pelas ruínas e as construções existentes, de outro, pelos muros das residências. Essa passagem também foi pensada como um estar, assim, dispõe de bancos e áreas sombreadas e possui vistas diversas do existente.
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Corte AA - Eixo 1
Deck de encontro dos eixos.
104 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
Corte BB - Eixo 2
Pátio da biblioteca
105PROJETO
Deck da torre
107CONSIDERAÇÕES FINAIS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
108 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
109CONSIDERAÇÕES FINAIS
110 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
Cada traço de desenho, cada ideia para o projeto,
foram pensados sempre considerando as premissas do
universo projetual e as questões que levaram à ação
projetual.
Foi adicionada uma nova camada ao lugar. Camada
que pretende somar novas memórias e histórias e que
respeita e preserva as existentes.
Essas camadas, de presente e passado, podem se
evidenciar na materialidade, como na contraposição en-
tre o aço corten e a alvenaria, e nas formas construtivas.
A nova camada também é responsável por enqua-
dramentos do lugar. Dessa forma, seleciona visuais que
revelem características que, talvez, passassem desper-
cebidas sem ela. Assim, a nova camada tem total de-
pendência do lugar para existir, assim como o lugar, sem
essa nova camada, não tem os mesmos aspectos.
Com isso, as ruínas estão neste lugar para serem
reveladas, descobertas e apreciadas. São os elementos
principais do projeto, sem as quais todo o projeto muda-
TKC�FG�UKIPKƂECFQ�
Tão importante foi este lugar, para em nada se
acabar. Entre ruínas e memórias existe uma história que
devemos preservar.
111CONSIDERAÇÕES FINAIS
112 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
113BIBLIOGRAFIA
BIBLIOGRAFIA
114 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
115BIBLIOGRAFIA
Livros
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116 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
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Documentos
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9050: �#EGUUKDKNKFCFG�C�GFKƂECÃÑGU��OQDKNK½TKQ��espaços e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro, 2004. 97p.
5�1�2#7.1�'UVCFQ���5GETGVCTKC�FQ�GUVCFQ�FC�%WNVWTC��Conselho de Devesa do Patrimônio Histórico, Arqueoló-gico, Artístico e Turístico do Estado. Processo n° 24037, de 07 de agosto de 1985. Estudo de tombamento da Destlaria Central de Lençois Paulista.
5�1�2#7.1�'UVCFQ���5GETGVCTKC�FQ�GUVCFQ�FC�%WNVWTC��Conselho de Devesa do Patrimônio Histórico, Arqueoló-gico, Artístico e Turístico do Estado. Processo n° 69034, de 11 de abril de 2013.Pedido de aprovação de interven-ção na Destilaria Central de Lençóis Paulista pode parte da Prefeitura Municipal de Lençóis Paulista.