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SF Portugues TEO EXE Iglesia Aula 01
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CURSOS ON-LINE – PORTUGUÊS PARA O SENADO FEDERAL
TEORIA E EXERCÍCIOS COMENTADOS
PROFESSOR ALBERT IGLÉSIA
AULA 1
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Olá, prezado(a) aluno(a)! Como foram para você esses dias que
antecederam a nossa aula? Para mim não foram fáceis. Alguns contratempos
me impediram de enviar esta aula na data que havíamos combinado. Por isso
quero me desculpar com você. Espero poder contar com sua compreensão.
Hoje, então, estudaremos o que está discriminado abaixo.
AULA CONTEÚDO
1
Texto e discurso
Significação contextual de palavras e expressões
Leitura, análise e interpretação
Coesão e coerência
Tipologia textual
Adequação da linguagem
Paráfrase e paródia
Discurso direto e indireto
Como já estamos atrasados, vamos logo ao que mais nos interessa
aqui.
SIGNIFICAÇÃO CONTEXTUAL DE PALAVRAS E EXPRESSÕES
É prudente iniciarmos tratando das relações lexicais que podem
influenciar a análise e interpretação de um texto. São elas:
a) Sinonímia – Palavras que indicam o mesmo objeto/referente.
Exemplo: Longo e comprido era o corredor. As palavras destacadas são
termos sinônimos, pois têm o mesmo referente: a dimensão do corredor. É
possível, portanto, haver um objeto (referente) com várias denominações:
carro, veículo, meio de transporte etc. Ocorre que também é possível que
palavras como cara, rosto e face designem, conforme o contexto, referentes
distintos. Veja os exemplos abaixo:
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Tem a cara de pau de sustentar a mentira.
Seus rosto se enrubesceu.
Cristo deu a outra face.
Isso se dá porque sinônimos perfeitos não existem. E Embora
se fale em palavras sinônimas, também existem frases sinônimas.
Joana é a mulher de Marcelo.
Marcelo é o marido de Joana.
b) Antonímia – Vocábulos de significados opostos: dizer e
desdizer; amar e odiar. Nem sempre é fácil detectar o grau de antonímia.
Vejamos o caso de quente e frio, eles são antônimos? Sim, em princípio, mas
o significado depende do contexto. Vejam os exemplos:
A cerveja estava quente/fria.
A sopa estava quente/fria.
Não se serve cerveja como sopa; logo cerveja quente (não
gelada) não equivale necessariamente à quentura de uma sopa (a 70 graus,
por exemplo). Há gradações entre as características que nem sempre
recobrem os mesmos referentes, pois seu emprego depende de um contexto
situacional.
Tanto na sinonímia quanto na antonímia existem gradações
entre os sentidos ou nem tanto em assim.
c) Homonímia – São palavras diferentes no sentido, tendo a
mesma escrita ou a mesma pronúncia. É o caso dos:
Homônimos perfeitos
(mesma grafia e pronúncia)
Manga (tecido)
Manga (fruta)
Banco (móvel para assento de pessoas)
Banco (instituição financeira)
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Homônimos homógrafos
(mesma grafia)
Esse (pronome)
Esse (nome da letra S)
Ele (pronome pessoal)
Ele (letra do alfabeto)
Homônimos homófonos
(mesma pronúncia)
Cela (aposento; mesmo que cadeia)
Sela (arreio acolchoado que se coloca no
dorso da cavalgadura e sobre o qual
monta o cavaleiro)
Não se devem confundir os casos de homonímias com os de
polissemia semântica. No primeiro caso, há duas entradas distintas no
dicionário. No segundo, trata-se de uma entrada apenas no dicionário e várias
acepções derivadas, que vão se encaixando nos vários contextos, como os
exemplos do uso de linha, a seguir:
A linha era azul
Dizem que a única mulher que andou na linha o trem matou.
Esse ônibus faz a linha Norte-Sul.
Pela polissemia, um mesmo vocábulo pode ter seu sentido
estendido, por conotação (sentido figurado). Exemplo: Lia o livro de cabo a
rabo (expressão que significa do começo ao fim – “cabo” remete a cabeça, a
parte do alto; “rabo”, ao final do corpo). Essa noção ficou cristalizada na
língua, como outras tantas: Até aí morreu o Neves; Inês é morta. Novamente
o contexto é responsável pela definição do significado, que é
atualizado em diferentes situações de uso.
d) Paronímia – É a relação entre palavras que têm formas
parecidas, mas cujos significados diferem, pois têm origens diferentes, como
por exemplo: descrição e discrição; eminente e iminente, tráfico e tráfego,
emigrar e imigrar.
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e) Hiperônimo e Hipônimo – Palavras como “computador”,
“monitor”, “impressora” e “teclado” apresentam certa familiaridade de sentido
pelo fato de pertencerem ao mesmo campo semântico, ou seja, ao universo
da informática. Já a palavra “equipamento” possui um sentido mais amplo, que
engloba todas as outras. Nesse caso, dizemos que “computador”, “monitor”,
“impressora” e “teclado” são hipônimos de “equipamento”. Por sua vez,
“equipamento” é um hiperônimo das outras palavras.
Vamos analisar um texto (um cartoon do humorista Feifer) e
perceber, por exemplo, como a noção de sinonímia das palavras nem sempre
se recobre totalmente.
“Eu pensava que era pobre. Aí, disseram que eu não era pobre, eu
era necessitado. Aí, disseram que era autodefesa eu me considerar
necessitado, eu era deficiente. Aí, disseram que deficiente era uma
péssima imagem, eu era carente. Aí, disseram que carente era um
termo inadequado. Eu era desprivilegiado. Até hoje eu não tenho
um tostão, mas tenho já um grande vocabulário.”
(In: SOARES, Magda. Linguagem e escola –
uma perspectiva social. São Paulo, Ática, 1986. P. 52)
Comentário – No fragmento dado, podemos ver que o gênero textual já
indica uma leitura político-ideológica para o texto. Trata-se de um texto
humorístico, com uma finalidade de crítica social: enumerar os vários nomes
(só aparentemente sinônimos) com que se costuma definir uma classe
social (pobre, necessitado, carente, desprivilegiado etc.) não vai resolver o
problema da pobreza no país. O único ganho para o pobre foi o aumento de
seu vocabulário, o que não deixa de ser também uma crítica ao palavrório
inútil daqueles que tentam resolver o problema das diferenças sociais no país,
apenas com denominações eufemísticas; utilizam apenas novos nomes para os
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processos, que são desacompanhados das ações sociais. O texto humorístico
presta-se a uma crítica social sobre o fato de haver “muitas palavras e pouca
ação”.
(...)
A escolha, a decisão, que é manifestação de nossa
liberdade, só é possível tendo por fundamento o mundo
axiológico, tanto quanto este tem por condição de possibilidade
a liberdade. Não se pode estimar sem alternativas possíveis.
Na medida em que se escolhe, se avalia para obter a
consciência do que é preferido. Ao escolher um caminho,
pondera-se que, de algum modo ou sob algum prisma, é o
melhor em relação a outro; o caminho escolhido mata outras
possibilidades. Na escolha não pode haver indiferença. Ela está
dirigida à ação, à exteriorização, à tomada de posição. Isto
significa que a escolha, a decisão, nos leva à determinação
normativa ou imperativa de uma via em detrimento de outra.
(...)
(Adaptado de ALVES, Alaôr Caffé. As categorias da ética. In: www.centrodebate.org)
1. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) A escolha, a decisão, que é
manifestação de nossa liberdade, só é possível tendo por fundamento o
mundo axiológico.
Considerando o contexto da frase, o vocábulo sublinhado tem significado
equivalente a:
(A) das normas.
(B) dos mercados.
(C) dos indivíduos.
(D) das liberalidades.
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(E) das verdades.
Comentário – o adjetivo “axiológico” (de axiologia = teorias, avaliações,
análises e estudos que abordam a questão dos valores, especialmente valores
morais). Segundo o contexto, seu melhor significado aproxima-se do
significado da expressão das normas. Releia o final do segundo parágrafo
transcrito: “Isto significa que a escolha, a decisão, nos leva à determinação
normativa ou imperativa de uma via em detrimento de outra.”
Resposta – A
2. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) De acordo com o contexto,
observa-se emprego não-literal de vocábulo ou expressão em:
(A) Isso não ocorre com os animais brutos.
(B) supõe a avaliação de múltiplos fatores.
(C) Na escolha não pode haver indiferença.
(D) o caminho escolhido mata outras possibilidades.
(E) O fenômeno ético não é um acontecimento individual.
Comentário – Emprego de linguagem não-literal é o mesmo que linguagem
CONOTATIVA (o contrário seria linguagem DENOTATVA, literal). Não
precisamos ir ao texto para percebermos que a letra D contém dois vocábulos
com
Resposta – D
(...)
A economia é um nível essencial da realidade histórica;
nela, os seres humanos agem, fazem escolhas, tomam
iniciativas. Não há nada de inexorável em seus movimentos.
Os marxistas se dispuseram, então, a discutir as motivações
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75 dos sujeitos que modificam a realidade objetiva. Passaram a
debater idéias extraídas de Gramsci, Lukács, Adorno.
(...)
(Leandro Konder. Esquerda e direita no Brasil, hoje. Folha de São Paulo, 13/04/2006)
3. (FGV/SEFAZ-MS/FISCAL DE RENDAS/2006) A palavra inexorável (L.73) só
não pode ser substituída, no texto, sob pena de alteração de sentido, por:
(A) implacável.
(B) indelével.
(C) inelutável.
(D) perituro.
(E) sempiterno.
Comentário – O vocábulo inexorável pode ser substituído por: rigoroso,
indelével (= indestrutível), inflexível, inelutável, implacável; também pode
ser trocado por sempiterno (= inesgotável, que não teve princípio nem
jamais terá fim; eterno, perpétuo). Já o vocábulo perituro denota aquilo que é
perecível, que há de acabar.
Resposta – D
(...)
Ainda de acordo com DaMatta, a informalidade é também
exercida por esferas de influência superiores. Quando uma
autoridade "maior" vê-se coagida por uma "menor",
45 imediatamente ameaça fazer uso de sua influência; dessa forma,
buscará dissuadir a autoridade "menor" de aplicar-lhe uma
sanção.
(...)
(Jeitinho. In: www.wikipedia.org – com adaptações.)
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4. (FGV/BADESC/ADVOGADO/2010) Observando a frase “buscará dissuadir a
autoridade ‘menor’ de aplicar-lhe uma sanção” (L.46-47), assinale a
alternativa em que a substituição da palavra sublinhada mantenha o
sentido que se deseja comunicar no texto.
(A) obrigar.
(B) desaconselhar.
(C) persuadir.
(D) convencer.
(E) coagir.
Comentário – A frase integra o texto intitulado Jeitinho, que aparecerá na
íntegra mais abaixo.
Eis o significado contextual do vocábulo “dissuadir”: fazer
alguém mudar de ideia, opinião ou intenção; tirar de um propósito;
despersuadir, desaconselhar: Queria fazer a viagem, mas a mulher o
dissuadiu.
Resposta – B
Todas as noções vistas até aqui tratam da complexa relação de
significados que existe entre os vocábulos de uma língua. Vamos examinar, a
seguir, o conceito de texto e textualidade, que também ajudará a compreender
melhor as intrincadas redes de relação de sentidos atualizados nos textos.
Antes, porém, apresento a você uma singela relação de homônimos e
parônimos. Confira!
acender = atear fogo ascender = subir acerca de = a respeito de, sobre cerca de = aproximadamente há cerca de = faz aproximadamente
coser = costurar cozer = cozinhar deferir = conceder diferir = adiar descrição = representação
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afim = semelhante, com afinidade a fim de = com a finalidade de amoral = indiferente à moral imoral = contra a moral, libertino, devasso apreçar = marcar o preço apressar = acelerar arrear = pôr arreios arriar = abaixar bucho = estômago de ruminantes buxo = arbusto ornamental caçar = abater a caça cassar = anular cela = aposento sela = arreio censo = recenseamento senso = juízo cessão = ato de doar seção ou secção = corte, divisão sessão = reunião chá = bebida xá = título de soberano no Oriente chalé = casa campestre xale = cobertura para os ombros cheque = ordem de pagamento xeque = lance do jogo de xadrez comprimento = extensão cumprimento = saudação concertar = harmonizar, combinar consertar = remendar, reparar conjetura = suposição, hipótese conjuntura = situação, circunstância infligir = aplicar pena ou castigo infringir = transgredir, violar, desrespeitar intemerato = puro, íntegro, incorrupto intimorato = destemido, valente, corajoso intercessão = súplica, rogo interse(c)ção = ponto de encontro de duas linhas laço = laçada
discrição = ato de ser discreto descriminar = inocentar discriminar = diferençar, distinguir despensa = compartimento dispensa = desobrigação despercebido = sem atenção, desatento desapercebido = desprevenido discente = relativo a alunos docente = relativo a professores emergir = vir à tona imergir = mergulhar emigrante = o que sai imigrante = o que entra eminente = nobre, alto, excelente iminente = prestes a acontecer esperto = ativo, inteligente, vivo experto = perito, entendido espiar = olhar sorrateiramente expiar = sofrer pena ou castigo estada = permanência de pessoa estadia = permanência de veículo flagrante = evidente fragrante = aromático fúsil = que se pode fundir fuzil = carabina fusível = resistência de fusibilidade calibrada incerto = duvidoso inserto = inserido, incluso incipiente = iniciante insipiente = ignorante indefesso = incansável indefeso = sem defesa suar = transpirar sortir = abastecer surtir = originar sustar = suspender suster = sustentar tacha = brocha, pequeno prego taxa = tributo tachar = censurar, notar defeito
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lasso = cansado, frouxo ratificar = confirmar retificar = corrigir soar = produzir som
em taxar = estabelecer o preço vultoso = volumoso vultuoso = atacado de vultuosidade
LEITURA, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE TEXTO
• Texto, textualidade e contexto
Você sabe o que realmente é um texto? Bem, a noção de texto
recobre sempre a de um instrumento transmissor de mensagens, isto é, uma
forma de comunicar uma intenção qualquer, por meio de uma ou mais
palavras em sequência. Qualquer usuário de uma língua sabe identificar o que
é e o que não é um texto, mas defini-lo torna-se um problema, pois sua
realização envolve fatores de vários campos: linguísticos, pragmáticos e
comunicativos. E isso envolve o contexto e os usuários da linguagem.
Podemos ter uma infinidade de textos, desde uma pequena
sequência, na forma de um pedido de socorro, ou um bilhete, por exemplo, ou
sequências maiores, como uma notícia jornalística, um relatório, uma ata, um
sermão ou um romance de mais de seiscentas páginas, ou ainda uma novela,
um conto, uma sentença proferida por um juiz etc.
Façamos um pequeno exercício de leitura e resumo da ideia
central de cada fragmento abaixo.
1. “O guarda-noturno caminha com delicadeza, para não assustar,
para não acordar ninguém. Lá vão seus passos vagarosos, cadenciados,
cosendo sua própria sombra com a pedra da calçada (...).”
(Crônica de Cecília Meireles intitulada O anjo da noite)
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2. “A Polícia militar entrou ontem em choque de mnhã com os
moradores do bairro de Realengo (zona norte do Rio) que obstruíam, das 9h às
11h, duas pistas da Avenida Brasil, principal via de acesso ao Rio. Eles
protestavam contra os atropelamentos perto do CIEP Thomas Jefferson, na
margem da Avenida e pediam a construção de uma passarela para pedestres
(...).”
(Folha de São Paula)
Então, será que você compreendeu a ideia principal do que
acabou de ler? Embora incompletos, os fragmentos dão a noção dos textos
como um todo significativo e de sua intencionalidade, característica principal
de um texto como uma unidade de sentido. O fragmento de Cecília fala da
passagem do guarda-noturno pelas ruas desertas; o segundo trata de uma
notícia de um confronto entre polícia e a população de um bairro no Rio
(Realengo) com protestos por causa de atropelamentos na Avenida Brasil.
Pela leitura dos fragmentos anteriores, você observou que todos
pertencem a textos, elaborados como partes de uma unidade de comunicação
intencional. E para se tornarem uma unidade de sentido, possuem uma
característica fundamental, que é a textualidade.
Chama-se textualidade ao conjunto de propriedades que uma
manifestação verbal deve possuir para construir um texto. Pode-se dizer que é
a textualidade que transforma qualquer sequência linguística em uma unidade
de sentido; é ela que lhe dá coerência.
Que tal examinarmos, por exemplo, a sequência abaixo e vermos
se ela constitui um texto? Vamos lá?
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João vai à padaria. A padaria é feita de tijolos. Os tijolos são
caríssimos. Também os mísseis são caríssimos. Os mísseis são lançados no
espaço. Segundo a teoria da relatividade, o espaço é curvo. A geometria
Rimaniana dá conta desse fenômeno.
Percebeu como a sequência anterior não constitui um texto? E por
quê? Porque, embora apareçam nela todos os elementos necessários à ligação
entre os termos, não é possível estabelecer entre eles uma continuidade
responsável pela unidade de sentido; dizemos, então, que a passagem não é
um texto, por lhe faltar textualidade.
A textualidade atrela-se à noção de contexto ou situação. Qualquer
falante sabe que a comunicação verbal não se realiza por meio de palavras ou
frases isoladas, desligadas da situação em que são produzidas. Se alguém
perguntar a um passante:
– Você sabe onde fica a rua X?
a pergunta feita naquela situação determinada deve indicar que o interpelante
não quer apenas indagar se o outro sabe a localização da rua, mas que ele
está lhe pedindo informação sobre como chegar até lá. Nessa situação, a
pergunta torna-se um pedido de informação, ou auxílio. Se o inquiridor obtiver
do transeunte simplesmente a resposta:
– Sei.
e este continuar o seu caminho, pode-se dizer que a sequência não constituiu
o texto desejado, já que não comunicou a intenção específica. Dizemos que,
nesse caso, não houve um texto interativo no sentido que estamos
considerando aqui.
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As categorias da ética
A vida humana se caracteriza por ser fundamentalmente
ética. Os conceitos éticos "bom" e "mau" podem ser predicados a
todos os atos humanos, e somente a estes. Isso não ocorre com
os animais brutos. Um animal que ataca e come o outro não é
5 considerado maldoso, não há violência entre eles.
Mesmo os atos de caráter técnico podem ser qualificados
eticamente. Esses atos sempre servem para a expansão ou
limitação do ser humano. Sob a perspectiva ética, o que importa
nas ações técnicas não é a sua trama lógica, adequada ou
10 eficiente para obter resultados, mas sim a qualificação ética
desses resultados.
A eficiência técnica segue regras técnicas, relativas aos
meios, e não normas éticas, relativas aos fins. A energia nuclear
pode ser empregada para o bem ou para o mal. Na verdade, ela
15 é investigada, apurada e criada para algum resultado, que lhe
confere validade. Não vale por si mesma, do ponto de vista ético.
Pode valer pela sua eventual utilidade, como meio; mas o uso de
energia nuclear, para ser considerado bom ou mau, deve referir-
se aos fins humanos a que se destina.
20 Vê-se, pois, que o plano ético permeia todas as ações
humanas. Isso ocorre porque o homem é um ser livre,
vocacionado para o exercício da liberdade, de modo consciente.
Sem liberdade não há ética. A liberdade supõe a operação sobre
alternativas; ela se concretiza mediante a escolha, a decisão, a
25 consciência do que se faz. Isso implica refugir à determinação
unilinear necessária, à determinação meramente causal. É a
afirmação da contingência, da multiplicidade. Diante da
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multiplicidade de caminhos a nossa disposição, avaliamos e
escolhemos.
30 Na verdade, somos obrigados a escolher. Somos obrigados
a exercer a liberdade. Assim, a decisão supõe a possibilidade e,
paradoxalmente, a necessidade de estimar as coisas e as ações
humanas para atender as nossas demandas; supõe a avaliação
de múltiplos fatores que perfazem uma situação humana
35 complexa. Aí, portanto, temos também compreendida a esfera
do valor. Não há liberdade sem valoração. Essa esfera,
entretanto, é muito ampla, pois envolve não só o mundo da ética,
mas também o da utilidade, da estética, da religião etc.
Sob o ângulo especificamente ético, não haverá escolha,
40 exercício da liberdade, definição ética quando não houver
avaliação, preferência a respeito das ações humanas. Eis por
que na base da ética, como dissemos, encontram-se
necessariamente a liberdade e a valoração; a ética só se põe no
mundo da liberdade, da escolha entre ações humanas avaliadas.
45 A escolha, a decisão, que é manifestação de nossa
liberdade, só é possível tendo por fundamento o mundo
axiológico, tanto quanto este tem por condição de possibilidade
a liberdade. Não se pode estimar sem alternativas possíveis.
Na medida em que se escolhe, se avalia para obter a
50 consciência do que é preferido. Ao escolher um caminho,
pondera-se que, de algum modo ou sob algum prisma, é o
melhor em relação a outro; o caminho escolhido mata outras
possibilidades. Na escolha não pode haver indiferença. Ela está
dirigida à ação, à exteriorização, à tomada de posição. Isto
55 significa que a escolha, a decisão, nos leva à determinação
normativa ou imperativa de uma via em detrimento de outra.
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O mundo oferece resistências e determinações necessárias
e, por meio destas, as ações éticas se realizam precisamente
enquanto as contrariam. As ações éticas brilham justamente
60 quando se opõem às tendências "naturais" do homem. Assim, a
liberdade não só se contrapõe à necessidade, como sua
negação, mas também existe em função desta. Não há liberdade
sem necessidade. Não há ética sem impulsão, sem desejo.
A melhor prova da liberdade é o esforço de superação da
65 necessidade, afirmando-a e negando-a dialeticamente, a um só
tempo. Então, o mundo ético só é possível no meio social, no
bojo das determinações sociais.
O fenômeno ético não é um acontecimento individual,
existente apenas no plano da consciência pessoal. Isso porque o
70 ente singular do homem só se manifesta, como ser autêntico, em
suas relações universais com a sociedade e com a natureza.
Esse fenômeno é resultante de relações sociais e históricas,
compreendendo também o mundo das necessidades, da
natureza. A ética só existe no seio da comunidade humana.
75 e os meios de circulação econômica dos bens possuem maior
liberdade do que aqueles que não têm o poder desse controle.
Por aí se vê também que a liberdade e a ética não se reduzem a
fenômenos meramente subjetivos; elas têm sempre dimensões
sociais, históricas e objetivas.
80 Há, assim, um grande esforço, um esforço ético-político para
se obter uma distribuição igualitária dos direitos entre os
homens, quer dentro das comunidades, quer entre as
comunidades. Na verdade existe uma ética sobre a ética, uma
meta-ética. A meta-ética é utópica, crítica, subversiva e
85 transcende as condições mais imediatas da vida social. No
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entanto, ela precisa ser possível no mundo dos fatos sociais, sob
pena de se perder como uma utopia de meros sonhos.
(Adaptado de ALVES, Alaôr Caffé. In: www.centrodebate.org)
5. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) A partir da tese defendida pelo
autor, é correto afirmar que:
(A) a ética é condicionante da existência humana e fundamenta qualquer tipo
de ação que envolva uma escolha entre “certo” e “errado”.
(B) o conceito de ética aplica-se sobretudo aos seres humanos que praticam
atos de natureza técnica e atuam profissionalmente.
(C) a violência entre animais brutos decorre da inexistência de uma noção
ética que regule suas relações.
(D) as noções de “bom” e “mau” estão na base das organizações sociais,
sejam elas humanas ou não.
(E) o princípio ético que orienta os atos técnicos está menos nos seus
resultados e mais na própria concepção desses atos.
Comentário – Alternativa A: a tese (ou ideia central) de um texto
normalmente surge logo no primeiro parágrafo (parágrafo introdutório). De
acordo com ela, a ética é a característica fundamental da vida humana e,
consequentemente, é nela que os atos humanos devem estar baseados. Item
certo.
Alternativa B: o conceito de ética aplica-se a todos os seres
humanos, inclusive nos que são caracterizados conforme esta assertiva. Item
errado.
Alternativa C: ainda de acordo com o primeiro parágrafo,
“não há violência entre eles”, pois estão destituídos de qualquer concepção
ética. Item errado.
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Alternativa D: essas noções dizem respeito exclusivamente
às organizações humanas (não há como relacionar essas noções a
organizações não humanas). Item errado.
Alternativa E: o segundo parágrafo é fundamental para
respondermos adequadamente. Segundo ele, os resultados têm grande
importância do ponto de vista ético: “Sob a perspectiva ética, o que importa
nas ações técnicas não é a sua trama lógica, adequada ou
eficiente para obter resultados, mas sim a qualificação ética
desses resultados. Item errado.
Resposta – A
6. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) Com relação aos terceiro e
quarto parágrafos, analise as afirmativas a seguir.
I. O objetivo principal do terceiro parágrafo é conceituar regras técnicas e
normas éticas.
II. O plano do terceiro parágrafo inclui uma exemplificação para sustentar a
tese anteriormente explicitada.
III. O início do quarto parágrafo apresenta uma conclusão acerca das ideias
apresentadas no terceiro.
Assinale:
(A) se somente a afirmativa I estiver correta.
(B) se somente a afirmativa II estiver correta.
(C) se somente a afirmativa III estiver correta.
(D) se somente as afirmativas I e II estiverem corretas.
(E) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas.
Comentário – É impossível que as afirmativas I e II sejam corretas, pois elas
se excluem. Portanto você deve imediatamente descartar a letra D. A leitura
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atenta do terceiro parágrafo nos fará entender que nele existe um exemplo do
que foi dito sobre “os atos de caráter técnico”. Conclui-se com isso que: se a
afirmativa II é correta, a I é incorreta e também deve ser desprezada. Exclua,
então, a letra A.
Eis abaixo um exemplo1 de parágrafo desenvolvido com o
objetivo de conceituar algo:
Cespe/TRT 10ª Região/2005 – Tipologia: dissertação argumentativa
Tema: o aperfeiçoamento dos procedimentos é fator prescindível para a
democratização efetiva da justiça.
“A necessidade da desburocratização da justiça
Entende-se por democratização da justiça a possibilidade de
que a todos seja prestada, de fato, a junção jurisdicional tal qual na
Constituição Federal: com celeridade e qualidade. (...)”
Breve comentário – O candidato iniciou o parágrafo com um conceito,
explicando o ponto-chave do tema: a democratização da justiça.
Vamos analisar o item III para decidirmos entre as letras B, C
e E. A afirmativa está correta e o autor deixou uma dica ao candidato: a
conjunção “pois”. Quando surge isolada por vírgulas e após o verbo da oração
que integra, essa conjunção constitui segmento de caráter conclusivo. Item
correto, assim como o item II.
Resposta – E
1 O exemplo foi extraído de uma redação de candidato a concurso público. Por questões óbvias, a identidade dele será preservada.
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7. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) Da compreensão adequada de
conceitos apresentados pelo texto, analise as afirmativas a seguir.
I. O senso-comum de liberdade é reconstruído e passa a incluir a noção de
que nem todos são livres na mesma medida.
II. O conceito de ética fundamenta-se numa perspectiva naturalista e põe em
segundo plano seu viés social.
III. As ideias de liberdade e obrigação não são concepções excludentes; ao
contrário, envolvem implicação necessária.
Assinale:
(A) se somente a afirmativa I estiver correta.
(B) se somente a afirmativa II estiver correta.
(C) se somente a afirmativa III estiver correta.
(D) se somente as afirmativas I e III estiverem corretas.
(E) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas.
Comentário – Afirmativa I: está sustentada na seguinte passagem: “Os
homens ou grupos de homens que controlam a produção e os meios de
circulação econômica dos bens possuem maior liberdade do que aqueles que
não têm o poder desse controle.” Afirmativa correta.
Afirmativa II: não! Esse conceito se opõe a essa perspectiva,
repare: “As ações éticas brilham justamente quando se opõem às tendências
‘naturais’ do homem”. Além disso, o viés social é o que possibilita a
manifestação da ética, tendo, portanto, importância significativa: “o mundo
ético só é possível no meio social, no bojo das determinações sociais”.
Afirmativa incorreta.
Afirmativa III: é verdade, conforme se depreende do seguinte
trecho: “Na verdade, somos obrigados a escolher. Somos obrigados
a exercer a liberdade. Assim, a decisão supõe a possibilidade e,
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paradoxalmente, a necessidade de estimar as coisas e as ações
humanas para atender as nossas demandas”. Item correto.
Resposta – D
8. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) Da leitura do quarto parágrafo,
deduz-se que o autor:
(A) afirma-se perplexo ante a unilateralidade das escolhas.
(B) contraria a ideia de liberdade como ação racionalmente concebida.
(C) opõe-se à aceitação do determinismo como fonte das ações humanas.
(D) defende a vocação como forma de realização pessoal.
(E) situa na determinação causal a origem da infelicidade humana.
Comentário – Alternativa A: o autor se posiciona contrariamente à
unilateralidade das escolhas sem demonstrar perplexidade. Item errado.
Alternativa B: não, o autor defende essa liberdade, para cujo
exercício ele está vocacionado. Item errado.
Alternativa C: sim, essa é linha argumentativa do autor.
Releia, por exemplo, o seguinte trecho: “A liberdade supõe a operação sobre
alternativas; ela se concretiza mediante a escolha (...). Isso implica refugir à
determinação unilinear necessária, à determinação meramente causal.” Item
certo.
Alternativa D: não está presente no quarto parágrafo
argumento favorável ou contrário à realização pessoal. Item errado.
Alternativa E: também não é tratada no quarto parágrafo a
origem da infelicidade humana; esta alternativa e a anterior são descabidas.
Resposta – C
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Esquerda e direita no Brasil, hoje
Ninguém pode pretender negar diversos progressos no
movimento da história. A humanidade, hoje, se beneficia de
conquistas importantes na área da medicina, por exemplo.
Podemos ser operados com anestesia, suavizar dores com
5 analgésicos. Dispomos de meios de transporte rapidíssimos,
helicópteros, aviões. Nossas casas têm luz elétrica, água
encanada, esgoto. Vemos filmes, acompanhamos seriados na
TV, ouvimos rádio. E, cada vez mais, utilizamos os
computadores, a internet.
10 Tal como está organizada, a sociedade gira em torno do
mercado, de acordo com um sistema que alguns chamam de
"economia de mercado", e outros, de "capitalismo". Até hoje,
não surgiu nenhum sistema tão capaz de fazer crescer a
economia. As experiências feitas em nome do socialismo não
15 manifestaram força própria suficiente para competir, no plano
do crescimento econômico, com o capitalismo.
O modo de produção capitalista não tem vocação suicida,
e nada indica que ele esteja a ponto de morrer de morte
natural. Seus representantes na arena política recorrem à
20 repressão quando necessário e fazem concessões quando
conveniente. Os trabalhadores têm feito conquistas
significativas, do século 20 para cá; visivelmente não sentem
saudades do tempo em que eram obrigados a jornadas de
trabalho de 12 horas.
25 Parte dos trabalhadores – mais que no passado – chega
mesmo a integrar-se à burguesia. Esse, porém, é um caminho
que só pode ser percorrido por poucos. Alguns progridem. Faz
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parte da lógica do sistema, contudo, que as massas
permaneçam excluídas. A cooptação de setores da
30 representação política das classes médias está sendo mais
resoluta, mais eficiente. O individualismo característico dessas
confusas camadas intermediárias as torna muito vulneráveis à
sedução das classes dominantes.
Temos uma situação histórica favorável ao bloco
35 conservador. Nas atuais condições, a direita vem
administrando suas contradições internas. A política
econômica do governo do PT, as posições neoliberais do
PSDB e as diferentes tendências reunidas no PMDB
tranqüilizaram a direita nos últimos anos. Tanto no PT como no
40 PSDB e no PMDB os líderes posicionados um pouco mais à
esquerda (não quer dizer que eles sejam de esquerda) foram
marginalizados.
A esquerda está desarticulada. O naufrágio da União
Soviética não arrastou só os partidos comunistas: mais de 15
45 anos se passaram, e o estilhaçamento ainda afeta
dolorosamente diversas organizações socialistas.
No Brasil, o quadro é complexo, angustiante. Há pessoas
de esquerda no PT, no PC do B, no PSB, no PDT e até no
PSDB. Há muita gente de esquerda circunstancialmente sem
50 partido. E há a valente iniciativa da senadora Heloísa Helena, o
PSOL. Mas ainda não há um programa alternativo maduro que
se contraponha à euforia do programa conservador, aplicado
por gente que foi de esquerda e aplaudido pela direita.
Nas atuais condições em que exerce a sua hegemonia, a
55 direita "moderada" conseguiu infiltrar seus critérios no discurso
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da esquerda "moderada". Os "moderados" dão o estilo. O
conteúdo é dado pela "leitura" oficial da economia.
Antigamente, eram os marxistas que polemizavam em
torno da economia, apoiados no "materialismo histórico".
60 Alguns chegaram a falar num "materialismo econômico".
Tinham a convicção de que estavam na crista de uma onda
que os empurrava inexoravelmente para adiante, para
promover a transformação das relações de produção e o
crescimento das forças produtivas.
65 A fé determinista na dinâmica da economia contribuiu
para que a esquerda tradicional, despreparada, sofresse contundentes
derrotas. Duras lições da história política
convenceram a esquerda a conviver com sua diversidade
interna, em sua luta pela ampliação das liberdades e pela
70 superação das desigualdades.
A economia é um nível essencial da realidade histórica;
nela, os seres humanos agem, fazem escolhas, tomam
iniciativas. Não há nada de inexorável em seus movimentos.
Os marxistas se dispuseram, então, a discutir as motivações
75 dos sujeitos que modificam a realidade objetiva. Passaram a
debater idéias extraídas de Gramsci, Lukács, Adorno.
Curiosamente, no momento em que os marxistas (e, com
eles, a esquerda em geral) sublinhavam a significação crucial
dos valores, da ética, a direita assumia a centralidade da
80 economia e passava a acreditar que possuía a chave da
compreensão correta (e da solução) dos problemas que nos
afligem no presente.
Essa chave é o instrumento simbólico mais eficiente da
ideologia dominante (que, como dizia Marx, é sempre a
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85 ideologia das classes dominantes): é ela que insiste em nos
convencer que as desigualdades sociais são naturais, que não
há alternativa para o capitalismo, que o socialismo já foi
tentado e fracassou. É ela que sustenta que as liberdades
precisam se enraizar nas elites para depois, lentamente,
90 chegar ao povão. Empunhando a chave, com a costumeira
cara-de-pau, a direita pede paciência aos trabalhadores e
promete que, com o tempo, eles vão se beneficiar de
melhores condições materiais de cidadania, tal como
aconteceu com as conquistas da medicina, os aviões e os
95 computadores, que demoraram, mas vieram.
Permito-me perguntar: vieram mesmo?
(Leandro Konder. Folha de São Paulo, 13/04/2006)
9. (FGV/SEFAZ-MS/FISCAL DE RENDAS/2006) Assinale a alternativa que
apresente comentário pertinente ao texto
(A) O texto apresenta um desabafo a respeito da situação política do Brasil,
apontando, perspicazmente, por comparação, os motivos por que não
teria êxito a instauração de um regime socialista.
(B) O texto discorre sobre a situação histórico-política internacional,
objetivando analisar especificamente o caso brasileiro no tocante à falta
de espaço para o surgimento de partidos políticos renovadores, capazes
de revelar o discurso falho da extrema direita.
(C) O texto reafirma a ineficácia do socialismo como forma de governo e
aponta, no capitalismo, tanto no cenário internacional quanto no
doméstico, a supremacia dos blocos moderados, de esquerda e direita,
ditando falaciosamente a democracia ao povão.
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(D) O texto aponta, no cenário político doméstico, o processo de
desarticulação da esquerda, como resultado do fim do modelo socialista e
da supremacia da direita ao ditar a interpretação da economia.
(E) O texto questiona se os valores apontados como conquistas pela direita de
fato aconteceram, observando que a interpretação falaciosa da realidade
atraiu antigos esquerdistas a sobejarem teorias que explicassem as falhas
no processo democrático historicamente.
Comentário – Alternativa A: O desabafo e a comparação existem, mas a
perspectiva em relação ao socialismo é sobre os fatos passados que não
sustentaram esse regime, e não sobre uma possibilidade futura de implantação
dele: “As experiências feitas em nome do socialismo não manifestaram força
própria suficiente para competir, no plano do crescimento econômico, com o
capitalismo.” (l. 14-16)
Alternativa B: a crítica feita no texto não é à “extrema
direita”, mas sim à “direita moderada”. Observe: “Nas atuais condições em que
exerce a sua hegemonia, a direita ‘moderada’ conseguiu infiltrar seus critérios
no discurso da esquerda ‘moderada’. Os ‘moderados’ dão o estilo.” (l. 54-56)
Alternativa C: a supremacia é da direita moderada, como se
lê no fragmento apresentado no comentário acima.
Alternativa E: o verbo sobejar significa suprir-se com
superabundância. A explicação não é sobre as falhas no processo democrático;
é sobre a falha de “diversas organizações socialistas”.
O que achou do texto? E das alternativas? Vamos ser
sinceros: tudo muito extenso, complexo, difícil..., não é mesmo? Mas é bom
você se acostumar, pois a FGV não perdoa ao escolher seus textos. É claro que
ela pode facilitar as coisas, mas não se surpreenda ao se deparar com um
texto e uma questão como estes.
Resposta – D
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10. (FGV/SEFAZ-MS/FISCAL DE RENDAS/2006) O nono parágrafo, em relação
ao oitavo, apresenta-se como:
(A) explicação.
(B) exemplificação.
(C) complemento.
(D) desdobramento.
(E) oposição.
Comentário – A relação estabelecida entre eles é de oposição. Contrastam-se
os discursos atuais e antigos sobre a economia. Hoje em dia, os moderados
dão o estilo; antigamente, eram os marxistas.
Resposta – E
(Angeli. www2.uol.com.br/angeli)
11. (FGV/SEFAZ-MS/FISCAL DE RENDAS/2006) Ao associar-se a charge com o
seu título, percebe-se que a interpretação é possível pela via:
(A) alegórica.
(B) fática.
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(C) lúdica.
(D) metonímica.
(E) sofística.
Comentário – Charge é um desenho caricatural com ou sem legenda,
publicado em jornal, revista ou afim, que se refere diretamente a um fato atual
ou a uma personalidade pública e os satiriza ou critica ironicamente. A
associação dela com seu título permite-nos interpretar o texto pela via
alegórica, que é a expressão do pensamento ou da emoção muito comum por
meio da pintura e da escultura.
Resposta – A
Jeitinho
O jeitinho não se relaciona com um sentimento revolu-
cionário, pois aqui não há o ânimo de se mudar o status quo.
O que se busca é obter um rápido favor para si, às escondidas e
sem chamar a atenção; por isso, o jeitinho pode ser também
5 definido como "molejo", "jogo de cintura", habilidade de se "dar
bem" em uma situação "apertada".
Em sua obra O Que Faz o Brasil, Brasil?, o antropólogo
Roberto DaMatta compara a postura dos norte-americanos e a
dos brasileiros em relação às leis. Explica que a atitude
10 formalista, respeitadora e zelosa dos norte-americanos causa
admiração e espanto aos brasileiros, acostumados a violar e a
ver violadas as próprias instituições; no entanto, afirma que é
ingênuo creditar a postura brasileira apenas à ausência de
educação adequada.
15 O antropólogo prossegue explicando que, diferente das
norte-americanas, as instituições brasileiras foram desenhadas
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para coagir e desarticular o indivíduo. A natureza do Estado é
naturalmente coercitiva; porém, no caso brasileiro, é inadequada
à realidade individual. Um curioso termo – Belíndia – define
20 precisamente esta situação: leis e impostos da Bélgica, realidade
social da Índia.
Ora, incapacitado pelas leis, descaracterizado por uma
realidade opressora, o brasileiro buscará utilizar recursos que
vençam a dureza da formalidade se quiser obter o que muitas
25 vezes será necessário à sua sobrevivência. Diante de uma
autoridade, utilizará termos emocionais, tentará descobrir alguma
coisa que possuam em comum - um conhecido, uma cidade da
qual gostam, a “terrinha” natal onde passaram a infância – e
apelará para um discurso emocional, com a certeza de que a
30 autoridade, sendo exercida por um brasileiro, poderá muito bem
se sentir tocada por esse discurso. E muitas vezes conseguirá o
que precisa.
Nos Estados Unidos da América, as leis não admitem
permissividade alguma e possuem franca influência na esfera
35 dos costumes e da vida privada. Em termos mais populares, diz-
seque, lá, ou “pode” ou “não pode”. No Brasil, descobre-se que
é possível um “pode-e-não-pode”. É uma contradição simples:
acredita-se que a exceção a ser aberta em nome da cordialidade
não constituiria pretexto para outras exceções. Portanto, o
40 jeitinho jamais gera formalidade, e essa jamais sairá ferida após
o uso desse atalho.
Ainda de acordo com DaMatta, a informalidade é também
exercida por esferas de influência superiores. Quando uma
autoridade "maior" vê-se coagida por uma "menor",
45 imediatamente ameaça fazer uso de sua influência; dessa forma,
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buscará dissuadir a autoridade "menor" de aplicar-lhe uma
sanção.
A fórmula típica de tal atitude está contida no golpe
conhecido por "carteirada", que se vale da célebre frase "você
50 sabe com quem está falando?". Num exemplo clássico, um
promotor público que vê seu carro sendo multado por uma
autoridade de trânsito imediatamente fará uso (no caso, abusivo)
de sua autoridade: "Você sabe com quem está falando? Eu sou
o promotor público!". No entendimento de Roberto DaMatta, de
55 qualquer forma, um "jeitinho" foi dado.
(In: www.wikipedia.org – com adaptações.)
12. (FGV/BADESC/ADVOGADO/2010) De acordo com o texto, é correto
afirmar que:
(A) o jeitinho brasileiro é um comportamento motivado pelo descompasso
entre a natureza do Estado e a realidade observada no plano do indivíduo.
(B) as instituições norte-americanas, bem como as brasileiras, funcionam sem
permissividade porque estão em sintonia com os anseios e atitudes do
cidadão.
(C) a falta de educação do brasileiro deve ser atribuída à incapacidade de o
indivíduo adequar-se à lei, uma vez que ele se sente desprotegido pelo
Estado.
(D) a famosa “carteirada” constitui uma das manifestações do jeitinho
brasileiro e define-se pelo fato de dois poderes simetricamente
representados entrarem em tensão.
(E) nos Estados Unidos da América, as leis influem decisivamente apenas na
vida pública do cidadão, ao contrário do que ocorre no Brasil, onde as leis
logram mudar comportamentos no plano dos costumes e da vida privada.
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Comentário – Alternativa A: encontra apoio sobretudo na seguinte passagem:
“A natureza do Estado é naturalmente coercitiva; porém, no caso brasileiro, é
inadequada à realidade individual.” (terceiro parágrafo)
Alternativa B: no terceiro parágrafo está a explicação de
Roberto DaMatta que esclarece que as instituições norte-americanas e as
brasileiras são diferentes. Estas “foram desenhadas para coagir e desarticular
o indivíduo” e são inadequadas à realidade do indivíduo. Item errado.
Alternativa C: a relação de causa e consequência foi invertida,
observe: “é ingênuo creditar a postura brasileira [consequência] apenas à
ausência de educação adequada [causa]. Item errado.
Alternativa D: os poderes não são simétricos; o princípio da
“carteirada” está bem explicado no penúltimo parágrafo: “Quando uma
autoridade ‘maior’ vê-se coagida por uma ‘menor’, imediatamente ameaça
fazer uso de sua influência; dessa forma, buscará dissuadir a autoridade
‘menor’ de aplicar-lhe uma sanção.” Item errado.
Alternativa E: lê-se no antepenúltimo parágrafo que “Nos
Estados Unidos da América, as leis não admitem permissividade alguma e
possuem franca influência na esfera dos costumes e da vida privada”. Item
errado.
Resposta – A
13. (FGV/BADESC/ADVOGADO/2010) Com relação à estruturação do texto e
dos parágrafos, analise as afirmativas a seguir.
I. O primeiro parágrafo introduz o tema, discorrendo sobre a origem
histórica do jeitinho.
II. A tese, apresentada no segundo parágrafo, encontra-se na frase iniciada
por no entanto.
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III. O quarto parágrafo apresenta o argumento central para a sustentação da
tese.
Assinale:
(A) se somente a afirmativa I estiver correta.
(B) se somente a afirmativa II estiver correta.
(C) se somente a afirmativa III estiver correta.
(D) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas.
(E) se todas as afirmativas estiverem corretas.
Comentário – Afirmativa I: tema é o assunto sobre o qual discorreremos.
Assim sendo, a primeira parte da afirmativa está correta. O erro surge na
segunda parte, pois não existe esse discurso sobre a origem histórica. No
primeiro parágrafo, o texto tratou de caracterizar o “jeitinho”, dizer o que ele é
e o que não é. Item errado.
Afirmativa II: tese é a ideia central (tese ou tópico frasal
principal) do texto, formulada a partir do tema e seguida pelos argumentos
que a sustentam. Item certo.
Afirmativa III: aqui está o argumento: “incapacitado pelas leis,
descaracterizado por uma realidade opressora, o brasileiro buscará utilizar
recursos que vençam a dureza da formalidade se quiser obter o que muitas
vezes será necessário à sua sobrevivência”. Item certo.
Resposta – D
• Pressuposições e inferências (implícitos e subentendidos)
“Fiz faculdade, mas aprendi algumas coisas.”
A frase acima transmite duas informações: ele frequentou um
curso superior e aprendeu algumas coisas.
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No entanto, essas duas informações transmitem de forma implícita
uma crítica ao sistema de ensino vigente. Essa crítica se dá através do uso da
preposição “mas”.
Assim, percebemos que um dos aspectos mais intrigantes que pode
ser apresentado por um texto é o fato de ele dizer aquilo que parece não dizer,
ou seja, é a presença de enunciados pressupostos ou inferidos.
Um leitor é considerado perspicaz quando consegue ler as
entrelinhas do texto, isto é, quando capta as mensagens implícitas.
Para não “cair” na exploração maliciosa de alguns textos que
abusam dos aspectos pressupostos ou inferidos, devemos saber que:
a) pressupostos são ideias não expressas de maneira explícita,
mas que podem ser percebidas a partir de certas palavras ou expressões
utilizadas.
“O tempo continua chuvoso.” (informação implícita: estava
chovendo antes)
“Pedro deixou de fumar.” (informação implícita: fumava antes)
b) inferências são insinuações escondidas por trás de uma
declaração e dependem do contexto e do conhecimento de mundo que o
ouvinte ou o leitor têm. Quando um fumante com o cigarro pergunta:
– Você tem fogo?,
por trás dessa pergunta se infere:
– Acenda-me o cigarro, por favor.
Caso você encontre alguém correndo na rua e gritando
– Pega ladrão! Pega ladrão!”,
você subentenderá que esse alguém foi (ou está sendo) assaltado e clama por
socorro, não é mesmo?
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Detectar o pressuposto durante uma leitura é fundamental para a
interpretação textual, uma vez que esse recurso argumentativo não é
posto em discussão pelo autor do texto e, por isso mesmo, pode levar o
leitor a interpretar o texto erroneamente.
Os pressupostos são marcados por:
a) advérbios: “Os resultados da pesquisa ainda não chegaram
até nós.” (pressuposto: os resultados já deviam ter chegado ou vão chegar
mais tarde.)
b) verbos: “O caso do contrabando tornou-se público.”
(pressuposto: o caso não era público.)
c) orações adjetivas: “Os candidatos a prefeito, que só
querem defender seus interesses, não pensam no povo.” (pressuposto:
todos os candidatos a prefeito têm interesses individuais.)
d) adjetivos: “Os partidos radicais acabarão com a
democracia no Brasil.” (pressuposto: existem partidos radicais e não radicais
no Brasil.)
Enquanto o pressuposto é um dado apresentado como
indiscutível para o falante e o ouvinte, não permitindo contestações; a
inferência é de responsabilidade do ouvinte, uma vez que o falante
esconde-se por trás do sentido literal das palavras.
A inferência pode ser uma maneira encontrada pelo falante para
transmitir algo sem se comprometer com a informação.
14. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) Mesmo os atos de caráter
técnico podem ser qualificados eticamente. Esses atos sempre servem
para a expansão ou limitação do ser humano. Sob a perspectiva ética, o
que importa nas ações técnicas não é a sua trama lógica, adequada ou
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eficiente para obter resultados, mas sim a qualificação ética desses
resultados.
No trecho acima, está implícita uma posição contrária à concepção de
neutralidade atribuída aos atos de caráter técnico. O instrumento
linguístico que permite a construção desse implícito é o emprego do
vocábulo:
(A) qualificados.
(B) limitação.
(C) mesmo.
(D) não.
(E) mas.
Comentário – A palavra denotativa de inclusão “Mesmo” (= inclusive, até)
permite pressupor que “os atos de caráter técnico” também podem se revestir
de determinada característica (“qualificados eticamente”) que os torne avessos
à concepção de neutralidade comumente atribuída a eles.
Resposta – C
COESÃO E COERÊNCIA
Primeiramente, vamos diferenciar os dois conceitos. A coesão
refere-se aos vínculos que se estabelecem entre as partes de um enunciado ou
de uma sequência maior. A noção de coerência, embora muito ligada à de
coesão, diz respeito mais ao processo de compreensão e de interpretabilidade
de um texto. Podemos nos valer do quadro abaixo para melhor entender esses
conceitos:
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Coesão Coerência
Articulação entre palavras e
enunciados do texto.
Manutenção da sequência lógica de
argumentação.
Elementos coesivos (advérbios,
conjunções, preposições, pronomes
etc.).
Não deve haver contradições e
mudanças bruscas no rumo do
pensamento.
Relação sintática. Relação semântica.
Observem o exemplo abaixo.
Comprei três laranjas e coloquei-as no freezer, pois tencionava
fazer uma salada de frutas bem geladinha com elas; mas, como
fui à rua e me demorei muito, não pude aproveitá-las na salada
porque ficaram todas congeladas.
Nesse pequeno texto, há vários elementos que estabelecem
ligação entre as partes dele, além do jogo verbal e da sequência de ações;
enfim, são elementos reconhecíveis e que formam os elos entre os termos.
Na próxima passagem, no entanto, há uma carência de elementos
sintáticos de ligação entre os períodos que compõem o texto.
Olhar fito no horizonte. Apenas o mar imenso. Nenhum sinal de
vida humana. Tentava recordar alguma coisa. Nada.
Como você pode perceber, o que permite dar um sentido ao
texto é a possibilidade de se estabelecer uma relação semântica
(SENTIDO) ou pragmática (INTERACIONAL) entre os elementos da
sequência. Assim sendo, é possível admitir que a coerência é mais relevante
do que a coesão para a construção de um texto, embora os dois fatores sejam
características importantes de todo bom texto.
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• Processos de coesão textual
Existem determinados vocábulos na língua que não devem ser
interpretados semanticamente por seu próprio sentido, mas sim em
função da referência que estabelecem com outros itens. Um item
referencial tomado isoladamente é vazio e significa apenas: procure a
informação em outro lugar. Observem o exemplo seguinte:
João é o maior empresário daqui. No Distrito Federal, não há
outro que o supere.
Repare que “João” é retomado no segundo período pelo pronome
“o”; enquanto o advérbio “aqui”, no primeiro período, antecipa a circunstância
de lugar indicada por “Distrito Federal”. No caso da retomada, temos uma
anáfora. No caso de sucessão, uma catáfora.
Observa-se na coesão a propriedade de unir termos e orações por
meio de conectivos. A escolha errada desses conectivos pode ocasionar
a deturpação do sentido do texto.
Que tal treinarmos o emprego dos mecanismos de coesão a partir
do texto abaixo? Vamos lá?
Oito pessoas morreram (cinco passageiros de uma mesma família e dois
tripulantes, além de uma mulher que teve ataque cardíaco) na queda de um
avião (1) bimotor Aero Commander, da empresa J. Caetano, da cidade de
Maringá (PR). O avião (1) prefixo PTI-EE caiu sobre quatro sobrados da Rua
Andaquara, no bairro de Jardim Marajoara, Zona Sul de São Paulo, por volta
das 21h40 de sábado. O impacto (2) ainda atingiu mais três residências.
Estavam no avião (1) o empresário Silvio Name Júnior (4), de 33 anos, que
foi candidato a prefeito de Maringá nas últimas eleições (leia reportagem nesta
página); o piloto (1) José Traspadini (4), de 64 anos; o co-piloto (1) Geraldo
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Antônio da Silva Júnior, de 38; o sogro de Name Júnior (4), Márcio Artur
Lerro Ribeiro (5), de 57; seus (4) filhos Márcio Rocha Ribeiro Neto, de 28, e
Gabriela Gimenes Ribeiro (6), de 31; e o marido dela (6), João Izidoro de
Andrade (7), de 53 anos.
Izidoro Andrade (7) é conhecido na região (8) como um dos maiores
compradores de cabeças de gado do Sul (8) do país. Márcio Ribeiro (5) era
um dos sócios do Frigorífico Naviraí, empresa proprietária do bimotor (1).
Isidoro Andrade (7) havia alugado o avião (1) Rockwell Aero Commander
691, prefixo PTI-EE, para (7) vir a São Paulo assistir ao velório do filho (7)
Sérgio Ricardo de Andrade (8), de 32 anos, que (8) morreu ao reagir a um
assalto e ser baleado na noite de sexta-feira.
O avião (1) deixou Maringá às 7 horas de sábado e pousou no aeroporto de
Congonhas às 8h27. Na volta, o bimotor (1) decolou para Maringá às 21h20
e, minutos depois, caiu na altura do número 375 da Rua Andaquara, uma
espécie de vila fechada, próxima à avenida Nossa Senhora do Sabará, uma das
avenidas mais movimentadas da Zona Sul de São Paulo. Ainda não se
conhecem as causas do acidente (2). O avião (1) não tinha caixa preta e a
torre de controle também não tem informações. O laudo técnico demora no
mínimo 60 dias para ser concluído.
Segundo testemunhas, o bimotor (1) já estava em chamas antes de cair em
cima de quatro casas (9). Três pessoas (10) que estavam nas casas (9)
atingidas pelo avião (1) ficaram feridas. Elas (10) não sofreram ferimentos
graves. (10) Apenas escoriações e queimaduras. Elídia Fiorezzi, de 62 anos,
Natan Fiorezzi, de 6, e Josana Fiorezzi foram socorridos no Pronto Socorro de
Santa Cecília.
1. REPETIÇÃO: o elemento (1) foi repetido diversas vezes durante o texto.
Observem que o vocábulo “avião” foi muito usado, principalmente por ter sido
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o veículo envolvido no acidente, que é a notícia propriamente dita. A repetição
é um dos principais elementos de coesão do texto jornalístico, que, por sua
natureza, deve dispensar a releitura por parte do receptor (o leitor, no caso). A
repetição pode ser considerada a mais explícita ferramenta de coesão.
2. REPETIÇÃO PARCIAL: na retomada de nomes de pessoas, a repetição
parcial é o mais comum mecanismo coesivo do texto jornalístico. Costuma-se,
uma vez citado o nome completo de um entrevistado - ou da vítima de um
acidente, como se observa com o elemento (7), na última linha do segundo
parágrafo e na primeira linha do terceiro -, repetir somente o(s) seu(s)
sobrenome(s). Quando os nomes em questão são de celebridades (políticos,
artistas, escritores, etc.), é de praxe, durante o texto, utilizar a nominalização
por meio da qual são conhecidas pelo público. Exemplos: Nedson (para o
prefeito de Londrina, Nedson Micheletti); Farage (para o candidato à
prefeitura de Londrina em 2000 Farage Khouri); etc. Nomes femininos
costumam ser retomados pelo primeiro nome, a não ser nos casos em que os
sobrenomes sejam, no contexto da matéria, mais relevantes e as identifiquem
com mais propriedade.
3. ELIPSE: é a omissão de um termo que pode ser facilmente deduzido
pelo contexto da matéria. Veja-se o seguinte exemplo: Estavam no avião (1)
o empresário Silvio Name Júnior (4), de 33 anos, que foi candidato a prefeito
de Maringá nas últimas eleições; o piloto (1) José Traspadini (4), de 64 anos; o
co-piloto (1) Geraldo Antônio da Silva Júnior, de 38. Perceba que não foi
necessário repetir-se a palavra “avião” logo após as palavras “piloto” e “co-
piloto”. Numa matéria que trata de um acidente de avião, obviamente o piloto
será de aviões; o leitor não poderia pensar que se tratasse de um piloto de
automóveis, por exemplo. No último parágrafo ocorre outro exemplo de elipse:
Três pessoas (10) que estavam nas casas (9) atingidas pelo avião (1)
ficaram feridas. Elas (10) não sofreram ferimentos graves. (10) Apenas
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escoriações e queimaduras. Note que o (10) antes de “Apenas” é uma omissão
de um elemento já citado: Três pessoas. Na verdade, foi omitido, ainda, o
verbo: (As três pessoas sofreram) Apenas escoriações e queimaduras.
4. SUBSTITUIÇÕES: uma das mais ricas maneiras de se retomar um
elemento já citado ou de se referir a outro que ainda vai ser mencionado é a
substituição, que é o mecanismo pelo qual se usa uma palavra (ou grupo de
palavras) no lugar de outra palavra (ou grupo de palavras). Confira os
principais elementos de substituição:
4.1 Pronomes: a função gramatical do pronome é justamente substituir ou
acompanhar um nome. Ele pode, ainda, retomar toda uma frase ou toda a
idéia contida em um parágrafo ou no texto todo. Na matéria-exemplo, são
nítidos alguns casos de substituição pronominal: o sogro de Name Júnior (4),
Márcio Artur Lerro Ribeiro (5), de 57; seus (4) filhos Márcio Rocha Ribeiro
Neto, de 28, e Gabriela Gimenes Ribeiro (6), de 31; e o marido dela (6),
João Izidoro de Andrade (7), de 53 anos. O pronome possessivo seus retoma
Name Júnior (os filhos de Name Júnior...); o pronome pessoal ela, contraído
com a preposição de na forma dela, retoma Gabriela Gimenes Ribeiro (e o
marido de Gabriela...). No último parágrafo, o pronome pessoal elas retoma as
três pessoas que estavam nas casas atingidas pelo avião: Elas (10) não
sofreram ferimentos graves.
Vejamos outros casos de substituições indicadas por pronomes:
a) Muitos brasileiros estavam assistindo à corrida, mas isso não bastou para
que Rubinho vencesse a prova (o pronome demonstrativo isso retoma a ideia,
expressa anteriormente, de que muitos brasileiros estavam assistindo à
corrida);
b) Em época de fim de ano, as pessoas que trabalham com carteira assinada
recebem o 13º salário, o que aquece a economia do país (o pronome
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demonstrativo o retoma o fato de as pessoas trabalharem com carteira
assinada);
c) (...) Sérgio Ricardo de Andrade (8), de 32 anos, que (8) morreu ao
reagir a um assalto e ser baleado na noite de sexta-feira (o pronome relativo
que retoma Sérgio Ricardo de Andrade - Sérgio Ricardo de Andrade morreu
ao reagir a um assalto...);
d) A Jonas Ricardo foram atribuídas atitudes violentas. Segundo sua esposa,
ele a agrediu na última segunda-feira... (o pronome pessoal ele retoma Jonas
Ricardo; o pronome pessoal a retoma sua esposa).
4.2 Epítetos: são palavras ou grupos de palavras que, ao mesmo tempo em
que se referem a um elemento do texto, qualificam-no. Essa qualificação pode
ser conhecida ou não pelo leitor. Caso não seja, deve ser introduzida de modo
que fique fácil a sua relação com o elemento qualificado.
a) (...) foram elogiadas pelo por Fernando Henrique Cardoso. O
presidente, que voltou há dois dias de Cuba, entregou-lhes um certificado...
(o epíteto presidente retoma Fernando Henrique Cardoso; poder-se-ia
usar, como exemplo, sociólogo);
b) Edson Arantes de Nascimento gostou do desempenho do Brasil. Para o
ex-Ministro dos Esportes, a seleção... (o epíteto ex-Ministro dos Esportes
retoma Edson Arantes do Nascimento; poder-se-iam, por exemplo, usar as
formas: jogador do século, número um do mundo).
4.3 Sinônimos ou quase sinônimos: palavras com o mesmo sentido (ou
muito parecido) dos elementos a serem retomados. Exemplo: O prédio foi
demolido às 15h. Muitos curiosos se aglomeraram ao redor do edifício, para
conferir o espetáculo (edifício retoma prédio. Ambos são sinônimos).
4.4 Nomes deverbais: são derivados de verbos e retomam a ação expressa
por eles. Servem, ainda, como um resumo dos argumentos já utilizados.
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Exemplos: Uma fila de centenas de veículos paralisou o trânsito da Avenida
Higienópolis, como sinal de protesto contra o aumento dos impostos. A
paralisação foi a maneira encontrada... (paralisação, que deriva de
paralisar, retoma a ação de centenas de veículos de paralisar o trânsito da
Avenida Higienópolis). O impacto (2) ainda atingiu mais três residências (o
nome impacto retoma e resume o acidente de avião noticiado na matéria-
exemplo).
4.5 Elementos classificadores e categorizadores: referem-se a um
elemento (palavra ou grupo de palavras) já mencionado ou não por meio de
uma classe ou categoria a que esse elemento pertença: Uma fila de centenas
de veículos paralisou o trânsito da Avenida Higienópolis. O protesto foi a
maneira encontrada... (protesto retoma toda a idéia anterior - da paralisação
-, categorizando-a como um protesto); Quatro cães foram encontrados ao
lado do corpo. Ao se aproximarem, os peritos enfrentaram a reação dos
animais (animais retoma cães, indicando uma das possíveis classificações
que se podem atribuir a eles).
4.6 Advérbios: palavras que exprimem circunstâncias, principalmente as de
lugar. Em São Paulo, não houve problemas. Lá, os operários não aderiram...
(o advérbio de lugar lá retoma São Paulo). Exemplos de advérbios que
comumente funcionam como elementos referenciais, isto é, como elementos
que se referem a outros do texto: aí, aqui, ali, onde, lá, etc.
Bem, creio que devem estar cansados. Mas não parem agora, pois
já estamos chegando ao final desta aula introdutória. Aprenderemos agora a
diferenciar vários tipos de textos e a identificar suas respectivas
características.
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(...)
Na verdade, somos obrigados a escolher. Somos obrigados
a exercer a liberdade. Assim, a decisão supõe a possibilidade e,
paradoxalmente, a necessidade de estimar as coisas e as ações
humanas para atender as nossas demandas; supõe a avaliação
de múltiplos fatores que perfazem uma situação humana
complexa. Aí, portanto, temos também compreendida a esfera
do valor. Não há liberdade sem valoração. Essa esfera,
entretanto, é muito ampla, pois envolve não só o mundo da ética,
mas também o da utilidade, da estética, da religião etc.
(...)
(Adaptado de ALVES, Alaôr Caffé. As categorias da ética. In: www.centrodebate.org)
15. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) O advérbio Aí, no quinto
parágrafo, refere-se ao processo compreendido nas etapas assim
apresentadas pelo autor.
(A) situação humana / múltiplos fatores / demandas
(B) liberdade / decisão / avaliação
(C) decisão / possibilidade / liberdade
(D) decisão / possibilidade / avaliação
(E) múltiplos fatores / demandas / ações humanas
Comentário – Esta é uma questão que trata da coesão referencial
estabelecida entre elementos textuais. O advérbio “Aí” retoma a ideia anterior,
em que estão contidas as seguintes etapas: decisão possibilidade e
necessidade de estimar avaliação. Entendo que a segunda etapa está mal
representada, mas não vejo motivo para que alguém brigasse com a banca e
exigisse a anulação da questão. Afinal, a letra D traz, mesmo resumidamente,
a indicação dessa etapa
Resposta – D
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16. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) Nas alternativas a seguir,
ambas as expressões servem essencialmente à articulação sequencial das
ideias do texto, à exceção de uma. Assinale-a.
(A) pois / porque (4º parágrafo).
(B) assim / entretanto (5º parágrafo).
(C) quando / eis por que (6º parágrafo).
(D) mas também / então (9º parágrafo).
(E) por aí / sempre (11º parágrafo).
Comentário – Outra vez estamos às voltas com elementos (conjunções,
advérbio e palavra de designação) que promovem a coesão entre segmentos
do texto intitulado As categorias da ética e expressam explicação, tempo,
conclusão, oposição, adição. A única exceção é o advérbio “sempre”. Leia a
passagem em que ele foi empregado: “Por aí se vê também que a liberdade e
a ética não se reduzem a fenômenos meramente subjetivos; elas têm sempre
dimensões sociais, históricas e objetivas.” Esse advérbio de tempo é
meramente para indicar que o processo designado pelo verbo ter é contínuo,
não se interrompe.
Resposta – E
17. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) Nas atuais condições em que
exerce a sua hegemonia, a direita "moderada" conseguiu infiltrar seus
critérios no discurso da esquerda "moderada". (L.54-56)
A palavra seus no trecho acima tem valor:
(A) anafórico.
(B) anastrófico.
(C) catafórico.
(D) hiperbólico.
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(E) paragramático
Comentário – O pronome possessivo “seus” retoma a expressão anterior
“direita moderada” e lhe atribui a posse dos “critérios” (= critérios da direita
moderada). Portanto não há dúvidas: a função coesiva do pronome tem valor
anafórico.
Resposta – A
TIPOLOGIA TEXTUAL
Tipologia Textual designa uma espécie de sequência teoricamente
definida pela natureza linguística de sua composição (aspectos lexicais,
sintáticos, tempos verbais, relações lógicas).
Ex.: descrição, narração, exposição, argumentação e injunção.
Para efeito de prova, usaremos as terminologias: texto expositivo e
texto argumentativo (ou dissertação expositiva e dissertação
argumentativa).
Veja com mais detalhes cada um deles.
Texto descritivo (“retrato” verbal)
É o tipo de redação na qual se apontam as características que compõem um
determinado objeto, pessoa, animal, ambiente ou paisagem. Apresenta
elementos que, quando juntos, produzem uma “imagem”.
Exemplo: Sua estatura era alta, e seu corpo, esbelto. A pele morena refletia o
sol dos trópicos. Os olhos negros e amendoados espalhavam a luz interior de
sua alegria de viver e jovialidade. Os traços bem desenhados compunham uma
fisionomia calma, que mais parecia uma pintura.
Despertem para as características desse tipo de texto:
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1) Predomínio de adjetivos.
2) Descrição objetiva (expressionista): limita-se aos aspectos reais e
visíveis; não há opinião do autor sobre o tema.
3) Descrição subjetiva (impressionista): o autor emite sua opinião sobre o
assunto.
4) Descrição física: limita-se à descrição dos traços externos e visíveis, tais
como altura, cor da pele, tipo de nariz e cabelo, etc.
5) Descrição psicológica: está relacionada a aspectos do comportamento da
pessoa descrita: se é carinhosa, agressiva, calma, comunicativa, egoísta,
generosa, etc.
6) Não há uma sucessão de acontecimentos ou fatos, mas sim a
apresentação pura e simples do estado a ser descrito em um
determinado momento.
7) Aqui, a matéria é o objeto.
Texto narrativo
É a modalidade de redação na qual contamos um ou mais fatos que ocorrem
em determinado tempo e lugar, envolvendo certos personagens.
Exemplo: Em uma noite chuvosa do mês de agosto, Paulo e o irmão
caminhavam pela rua mal-iluminada que conduzia à sua residência.
Subitamente foram abordados por um homem estranho. Pararam,
atemorizados, e tentaram saber o que o homem queria, receosos de que se
tratasse de um assalto. Era, entretanto, somente um bêbado que tentava
encontrar, com dificuldade, o caminho de sua casa.
Note as características do tipo narrativo:
1) O fato narrado pode ser real ou fictício.
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2) A descrição insere-se na narração, dada a importância de se
caracterizarem os personagens envolvidos na trama e o cenário em que
ela se desenvolve.
3) Narração em 1ª pessoa: ocorre quando o fato é contado por alguém que
se envolve nos acontecimentos ao mesmo tempo em que conta o caso
(uso dos pronomes nós, eu).
4) Narração em 3ª pessoa: o narrador conta a ação do ponto de vista de
quem vê o fato acontecer na sua frente (narrador onisciente); ele não
participa da ação (uso dos pronomes ele(a), eles(as)).
5) Narração objetiva: o narrador apenas relata os fatos, sem se deixar
envolver emocionalmente com o que está noticiado. É de cunho
impessoal e direto.
6) Narração subjetiva: leva-se em conta as emoções, os sentimentos
envolvidos na história. São ressaltados os efeitos psicológicos que os
acontecimentos desencadeiam nos personagens.
7) A progressão temporal (exposição, complicação, clímax e desfecho) é
essencial para o desenvolvimento da trama.
8) O tempo predominante é o passado, cronológico (um minuto, uma hora,
uma semana, um ano etc.) ou psicológico (vivido por meio de flashback,
é a memória do narrador).
Texto argumentativo (dissertação argumentativa)
É o tipo de composição na qual expomos ideias seguidas da apresentação
de argumentos que as comprovem. Tem por objetivo a defesa de um
ponto de vista, por meio da persuasão.
Exemplo: Tem havido muitos debates sobre a eficiência do sistema
educacional brasileiro. Argumenta-se que ele deve ter por objetivo despertar
no estudante a capacidade de absorver informações dos mais diferentes tipos e
relacioná-las com a realidade circundante. Um sistema de ensino voltado para
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a compreensão dos problemas socioeconômicos e que despertasse no aluno a
curiosidade científica seria por demais desejável.
Ainda que de forma sutil, defende-se aqui uma mudança no atual
sistema de ensino do país. Como forma de convencer o leitor a respeito dessa
necessidade, o autor sustenta que ela é compartilhada por outras pessoas, que
já discutem o assunto.
Texto expositivo (informativo; dissertação expositiva)
O objetivo do texto é passar conhecimento para o leitor. Nesse tipo textual,
não se faz, categoricamente, a defesa de uma ideia. Encontrado em
livros didáticos e paradidáticos (material complementar de ensino),
enciclopédias, jornais, revistas (científicas, informativas, etc.).
Exemplo: A história do celular é recente, mas remonta ao passado – e às
telas de cinema. A mãe do telefone móvel é a austríaca Hedwig Kiesler (mais
conhecida pelo nome artístico Hedy Lamaar), uma atriz de Hollywood que
estrelou o clássico Sansão e Dalila (1949).
Hedy tinha tudo para virar celebridade, mas pela inteligência. Ela foi casada
com um austríaco nazista fabricante de armas. O que sobrou de uma relação
desgastante foi o interesse pela tecnologia.
Já nos Estados Unidos, durante a Segunda Guerra Mundial, ela soube que
alguns torpedos teleguiados da Marinha haviam sido interceptados por
inimigos. Ela ficou intrigada com isso, e teve a idéia: um sistema no qual duas
pessoas podiam se comunicar mudando o canal, para que a conversa não fosse
interrompida. Era a base dos celulares, patenteada em 1940.
Repare agora que, diferentemente da intenção do autor do texto
acima, este aqui não tem a presunção de convencer ninguém a respeito de
algo. Limita-se apenas a transmitir ao leitor uma informação sobre o
surgimento do aparelho celular, de forma imparcial e objetiva.
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Texto injuntivo (instrucional)
Indica como realizar uma ação; aconselha. É também utilizado para
predizer acontecimentos e comportamentos. Utiliza linguagem objetiva e
simples. Há predomínio da função conativa ou apelativa (o emissor procura
influenciar o comportamento do receptor; como o emissor se dirige ao
receptor, é comum o uso de tu, você, nós, ou o nome da pessoa, além dos
vocativos e imperativos; usada nos discursos, sermões e propagandas que
se dirigem diretamente ao consumidor – instruções de uso de um aparelho;
leis; regulamentos; receitas de comida; guias; regras de trânsito).
Exemplo: "Coloque a tampa e a seguir pressione." (verbo no imperativo)
"Coloca-se a tampa e a seguir pressiona-se." (verbo no presente do indicativo)
"Colocar a tampa e a seguir pressionar." (verbo no infinitivo)
Agora, tenta-se, por meio de uma linguagem persuasiva, fazer com
que o leitor execute certas ações a fim de obter o efeito desejado.
18. (FGV/BADESC/ADVOGADO/2010) Assinale a alternativa que identifique a
composição tipológica do texto “Jeitinho”.
(A) Descritivo, com sequências narrativas.
(B) Expositivo, com sequências argumentativas.
(C) Injuntivo, com sequências argumentativas.
(D) Narrativo, com sequências descritivas.
(E) Argumentativo, com sequências injuntivas
Comentário – Os teóricos argumentam que dificilmente haverá um texto
homogêneo, ou seja, puramente descritivo, expositivo, argumentativo,
narrativo e injuntivo. A característica que mais sobressai é a que determina o
tipo de texto.
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Falando especificamente do texto intitulado Jeitinho, o que
se observa acentuadamente são passagens que transmitem ao leitor
informações sobre o que o antropólogo Roberto DaMatta escreveu sobre o
jeitinho. As sequências argumentativas ficam por conta do ponto de vista dele
sobre o tema. Por exemplo: “Ainda de acordo com DaMatta, a informalidade é
também exercida por esferas de influência superiores.”; “No entendimento de
Roberto DaMatta, de qualquer forma, um ‘jeitinho’ foi dado.”
Resposta – B
ADEQUÇÃO DE LINGUAGEM
• Modalidades linguísticas
Você já percebeu que a língua é um código de que se serve o
homem para elaborar mensagens, para se comunicar. Interessante ainda é
perceber que, para realizar seu objetivo, a língua utiliza modalidades
diferentes. São basicamente duas modalidades:
Língua culta ou língua-padrão: compreende a língua literária. Utilizada pelas emissoras de rádio e televisão; jornais, revistas, empresas, órgãos públicos, etc. Está associada à escola (gramática).
Língua popular ou língua cotidiana: é mais espontânea e dinâmica. Usada muitas vezes em situações informais: conversa entre amigos ou em família. São exemplos as gírias, os dialetos e os jargões.
• Tô preocupado. • Fiquei grilado. • E aí, beleza? • Gelinho, sacolé, chup-
chup
• Abrir o bico • Peticionar • Deletar • Câmbio
• Estou preocupado. • Fiquei pensativo. • E aí, tudo bem? • Suco de frutas
congelado dentro de um saco plástico
• Contar a verdade • Pedir ao juiz • Apagar • Negociação de moeda
estrangeira
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• O conceito de erro
Em rigor, ninguém comete erro em língua, exceto nos casos
de ortografia. O que normalmente se comete são transgressões da norma
culta. De fato, aquele que, num momento íntimo do discurso, diz: "Ninguém
deixou ele falar", não comete propriamente erro; na verdade, transgride a
norma culta.
Importa considerar, assim, o momento do discurso:
No momento íntimo, a informalidade prevalece sobre a
norma culta, deixando mais livres os interlocutores.
O momento formal é o do uso da língua-padrão, que é a língua da Nação. Tomam-se por base aqui as normas estabelecidas na gramática, ou seja, a norma culta. Assim, aquelas mesmas construções se alteram:
O momento íntimo (informal) é o das liberdades da fala. No recesso do lar, na fala entre amigos, parentes, namorados, etc., portanto, são consideradas perfeitamente normais construções do tipo:
a) Eu não vi ela hoje.
b) Ninguém deixou ele falar.
c) Deixe eu ver isso!
d) Eu te amo, sim, mas não
abuse (você)!
e) Não assisti o filme nem vou
assisti-lo.
f) Sou teu pai, por isso vou
perdoá-lo.
a) Eu não a vi hoje.
b) Ninguém o deixou falar.
c) Deixe-me ver isso!
d) Eu te amo, sim, mas não
abuses (tu)!
e) Não assisti ao filme nem vou
assistir a ele.
f) Sou seu pai, por isso vou
perdoar-lhe.
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Vale lembrar, finalmente, que a língua é um costume. Como tal,
qualquer transgressão, ou chamado erro, deixa de sê-lo no exato instante em
que a maioria absoluta o comete, passando, assim, a constituir fato linguístico,
registro de linguagem definitivamente consagrado pelo uso, ainda que não
tenha amparo na rigidez gramatical.
O vocábulo têxtil, que significa rigorosamente aquilo que se pode
tecer, em virtude do seu significado, não poderia ser adjetivo associado à
indústria, já que não existe indústria que se pode tecer. Hoje, porém, temos
não só a indústria como também o operário têxtil, em vez da indústria de fibra
têxtil e do operário da indústria de fibra têxtil.
Uma frase “correta”, portanto, não é aquela que se
contrapõe a uma frase “errada”; é, na verdade, uma frase elaborada
conforme as normas gramaticais; em suma, conforme a norma padrão.
Importante é sabermos que o nível da linguagem, a norma
linguística, deve variar de acordo com a situação em que se
desenvolve o discurso.
O ambiente sócio-cultural determina o nível da linguagem a
ser empregado. O vocabulário, a sintaxe, a pronúncia e até a entoação
variam segundo esse nível. Um padre não fala com uma criança como se
estivesse dizendo missa, assim como uma criança não fala como um adulto.
Um engenheiro não usará um mesmo discurso, ou um mesmo nível de fala,
para colegas e para pedreiros, assim como nenhum professor utiliza o mesmo
nível de fala no recesso do lar e na sala de aula.
• A Gíria
Ao contrário do que muitos pensam, a gíria não constitui um
flagelo da linguagem. Quem, um dia, já não usou “bacana”, “bizu”, “cara”,
“cuca”? O mal maior da gíria reside na sua adoção como forma permanente de
comunicação, desencadeando um processo não só de esquecimento, como de
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desprezo do vocabulário oficial. Usada no momento certo, porém, a gíria é um
elemento de linguagem que denota expressividade e revela grande
criatividade, desde que, naturalmente, adequada à mensagem, ao meio e ao
receptor.
Veja esta tira:
Agora me responda:
a) qual nível de linguagem é utilizado pelo locutor? Justifique sua
resposta com elementos do texto.
b) que modificações podem ser feitas para transformar a
linguagem empregada em culta ou popular, conforme o caso?
Acertou se respondeu, primeiramente, “nível popular”, com base
nas expressões “filar” (segundo quadrinho) e “né” (último quadrinho).
Poderíamos reescrever o texto e alterar as palavras destacadas
para comer e não é, por exemplo.
(...)
Antigamente, eram os marxistas que polemizavam em
torno da economia, apoiados no "materialismo histórico".
60 Alguns chegaram a falar num "materialismo econômico".
Tinham a convicção de que estavam na crista de uma onda
que os empurrava inexoravelmente para adiante, para
promover a transformação das relações de produção e o
crescimento das forças produtivas.
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(...)
(Leandro Konder. Esquerda e direita no Brasil, hoje. Folha de São Paulo, 13/04/2006)
19. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) A expressão na crista de uma
onda (L.61) tem origem no registro:
(A) burocrático.
(B) culto.
(C) inculto.
(D) informal.
(E) regional.
Comentário – A expressão é um exemplo de gíria, que se enquadra no
registro informal da língua e que pode significar na moda, em momento de
sucesso ou evidência, no ápice de uma situação.
Resposta – D
PARÁFRASE E PARÓDIA
E por falar em “reescrever o texto”, esclareço que toda vez que
uma obra faz alusão à outra, ocorre a intertextualidade. Isso se concretiza
de várias formas. Aqui, abordarei aquela que costuma aparecer em provas, só
que com uma outra “roupagem”: a paráfrase. Também farei distinção entre
ela e a paródia (outra forma de intertextualidade). Inicialmente, darei a
vocês um exemplo de cada umas dessas manifestações. Depois, comentarei as
características que as distinguem.
Texto Original
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá,
As aves que aqui gorjeiam
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Não gorjeiam como lá. (Gonçalves Dias, “Canção do exílio”).
Paráfrase
Meus olhos brasileiros se fecham saudosos
Minha boca procura a ‘Canção do Exílio’.
Como era mesmo a ‘Canção do Exílio’?
Eu tão esquecido de minha terra...
Ai terra que tem palmeiras
Onde canta o sabiá!
(Carlos Drummond de Andrade, “Europa, França e Bahia”).
Paródia
Minha terra tem palmares
onde gorjeia o mar
os passarinhos daqui
não cantam como os de lá. (Oswald de Andrade, “Canto de regresso à pátria”).
Na paráfrase, as palavras são mudadas, porém a ideia do
texto original é confirmada pelo novo texto; a alusão ocorre para
atualizar, reafirmar os sentidos ou alguns sentidos do texto citado. É dizer
com outras palavras o que já foi dito. E não apenas com outras palavras,
mas também com outra estruturação sintática.
Normalmente, as bancas indagam se, nesse processo, a
coesão (correção gramatical) e a coerência (significado original do
texto) foram mantidas. É muito importante que esses dois aspectos sejam
respeitados na hora de parafrasear o texto original.
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Em nossa primeira reescritura (paráfrase) acima, note que não há
mudança do sentido principal do texto, que é a saudade da terra natal. Mas em
relação à paródia, há uma mudança significativa na coerência. O nome
“palmares”, escrito com letra minúscula, substitui a palavra palmeiras. Há um
contexto histórico, social e racial neste texto. Palmares é o quilombo liderado
por Zumbi, foi dizimado em 1695. Há uma inversão do sentido do texto
primitivo que foi substituído pela crítica à escravidão existente no Brasil.
Outro exemplo de paródia é a propaganda que faz referência à obra prima de Leonardo Da Vinci, Mona Lisa:
Finalmente, entraremos na parte final da aula de hoje. Você deve
estar ainda mais cansado. Mas não desista agora, pois estamos no último
tópico deste encontro. Falta só um pouquinho. Trataremos de tipos de
discurso.
DISCURSOS DIRETO E INDIRETO
• Discurso Direto
No discurso direto, o narrador transcreve as palavras da
própria personagem. É comum aparecerem neste tipo de discurso os
chamados verbos de elocução, ou “de dizer” (dicendi) – falar, dizer,
responder, retrucar, indagar, declarar, exclamar etc. Além disso, usam-se
algumas notações gráficas que marquem tais falas:
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a) travessão;
b) dois pontos,
c) aspas.
Exemplos:
1. Para o advogado, o processo não vem correndo como deveria: “Às
vezes, sinto morosidade por parte da Justiça”. (por encerrar todo o período, o
ponto final deve ficar fora das aspas)
2. O advogado disse: “Às vezes, sinto morosidade por parte da Justiça”.
(esta forma deve ser evitada, sendo preferível a que se segue)
3. O advogado disse:
– Às vezes, sinto morosidade por parte da Justiça.
4. Para o advogado, o processo não vem correndo como deveria. “Às
vezes, sinto morosidade por parte da Justiça.” (repare que agora o ponto final
está dentro das aspas, pois encerra apenas a fala do personagem)
5. Para o advogado, o processo não vem correndo como deveria. “Às
vezes, sinto morosidade por parte da Justiça”, declarou ele.
6. Para o advogado, o processo não vem correndo como deveria. Segundo
ele, “Ás vezes, nota-se morosidade por parte da Justiça”.
• Discurso Indireto
O discurso indireto apresenta as palavras das personagens
através do narrador, que reproduz o que ouviu, podendo suprimir ou
modificar o que achar necessário. A estruturação desse discurso não carece
de marcações gráficas especiais, uma vez que sempre é o narrador que
detém a palavra. Usualmente, a estrutura traz verbo dicendi e oração
subordinada substantiva com verbo num tempo passado em relação à
fala da personagem.
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Exemplos:
1. Fala do personagem: – Preciso estudar mais.
Discurso indireto: Disse que precisava estudar mais.
2. Fala do personagem: – Não quebrei nada desta sala.
Discurso indireto: A criança afirmou à mãe que não tinha quebrado
(quebrara) nada daquela sala.
Atenção! Note as alterações feitas nas estruturas gramaticais da transcrição
indireta do discurso, como no tempo verbal (preciso, precisava; quebrei, tinha
quebrado ou quebrara), nos pronomes (desta, daquela).
Confira a tabela de transposição do discurso direto para o indireto:
Discurso Direto Discurso Indireto
1. Enunciado em primeira ou em
segunda pessoa: "Eu não confio
mais na Justiça"; "Delegado, o
senhor vai me prender?"
1. Enunciado em terceira pessoa:
O detento disse que (ele) não
confiava mais na Justiça; Logo
depois, perguntou ao delegado se
(ele) iria prendê-lo.
2. Verbo no presente: "Eu não
confio mais na Justiça"
2. Verbo no pretérito imperfeito
do indicativo: O detento disse que
não confiava mais na Justiça.
3. Verbo no pretérito perfeito:
"Eu não roubei nada".
3. Verbo no pretérito mais-que-
perfeito (simples ou composto)
do indicativo: O acusado defendeu-
se, dizendo que não tinha roubado
(que não roubara) nada.
4. Verbo no futuro do presente:
"Faremos justiça de qualquer
4. Verbo no futuro do pretérito:
Declararam que fariam justiça de
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maneira". qualquer maneira.
5. Verbo no imperativo: "Saia da
delegacia", disse o delegado ao
promotor”.
5. Verbo no pretérito imperfeito
do subjuntivo: O delegado ordenou
ao promotor que saísse da delegacia.
6. Pronomes este, esta, isto,
esse, essa, isso: "A esta hora não
responderei nada".
6. Pronomes aquele, aquela,
aquilo: O gerente da empresa
tentou justificar-se, dizendo que
àquela hora não responderia nada à
imprensa.
7. Advérbio aqui: "Daqui eu não
sairei tão cedo".
7. Advérbio ali: O grevista
certificou os policiais de que dali não
sairia tão cedo.
(Angeli. www2.uol.com.br/angeli)
20. (FGV/SEFAZ-MS/FISCAL DE RENDAS/2006) Assinale a alternativa em que
se encontre a melhor redação da transposição da fala do primeiro balão
para o discurso indireto.
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(A) O homem rico disse ao homem pobre que o filho daquele era o com a
fitinha azul. E perguntou ao pobre qual era o deste.
(B) O homem rico disse ao homem pobre que o seu era aquele com a fitinha
azul. E perguntou ao pobre qual era o dele.
(C) O homem rico disse ao homem pobre que seu filho era o com a fitinha
azul. E perguntou ao pobre qual era o seu.
(D) O homem rico disse ao homem pobre que o dele era aquele com a fitinha
azul. E perguntou ao pobre qual filho era seu.
(E) O homem rico disse ao homem pobre que o filho dele era o com a fitinha
azul. E perguntou ao pobre qual era o seu.
Comentário – Quanto aos elementos gramaticais, não se percebe erro. As
transposições estão adequadas.
O problema surge em relação ao aspecto discursivo. Com
exceção da letra A, em todas as demais há ambiguidade causada pelo
emprego dos pronomes possessivos “seu” e/ou “dele” após dois referentes
capazes de satisfazerem a coesão textual (o filho com fitinha azul é do rico ou
do pobre?). Como o examinador exigiu a melhor resposta, esse aspecto deve
ser observado.
Para desfazer a tal ambiguidade, devemos utilizar outro
recurso coesivo: os demonstrativos aquele e este. Aquele retoma o primeiro
elemento mencionado, o que está mais distante (o homem rico); este retoma
o último elemento, o que está mais próximo (o homem pobre).
Resposta – A
Um grande abraço e fique com Deus!
Professor Albert Iglésia
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QUESTÕES SEM COMENTÁRIOS
(...)
A escolha, a decisão, que é manifestação de nossa
liberdade, só é possível tendo por fundamento o mundo
axiológico, tanto quanto este tem por condição de possibilidade
a liberdade. Não se pode estimar sem alternativas possíveis.
Na medida em que se escolhe, se avalia para obter a
consciência do que é preferido. Ao escolher um caminho,
pondera-se que, de algum modo ou sob algum prisma, é o
melhor em relação a outro; o caminho escolhido mata outras
possibilidades. Na escolha não pode haver indiferença. Ela está
dirigida à ação, à exteriorização, à tomada de posição. Isto
significa que a escolha, a decisão, nos leva à determinação
normativa ou imperativa de uma via em detrimento de outra.
(...)
(Adaptado de ALVES, Alaôr Caffé. As categorias da ética. In: www.centrodebate.org)
1. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) A escolha, a decisão, que é
manifestação de nossa liberdade, só é possível tendo por fundamento o
mundo axiológico.
Considerando o contexto da frase, o vocábulo sublinhado tem significado
equivalente a:
(A) das normas.
(B) dos mercados.
(C) dos indivíduos.
(D) das liberalidades.
(E) das verdades.
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2. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) De acordo com o contexto,
observa-se emprego não-literal de vocábulo ou expressão em:
(A) Isso não ocorre com os animais brutos.
(B) supõe a avaliação de múltiplos fatores.
(C) Na escolha não pode haver indiferença.
(D) o caminho escolhido mata outras possibilidades.
(E) O fenômeno ético não é um acontecimento individual.
(...)
A economia é um nível essencial da realidade histórica;
nela, os seres humanos agem, fazem escolhas, tomam
iniciativas. Não há nada de inexorável em seus movimentos.
Os marxistas se dispuseram, então, a discutir as motivações
75 dos sujeitos que modificam a realidade objetiva. Passaram a
debater idéias extraídas de Gramsci, Lukács, Adorno.
(...)
(Leandro Konder. Esquerda e direita no Brasil, hoje. Folha de São Paulo, 13/04/2006)
3. (FGV/SEFAZ-MS/FISCAL DE RENDAS/2006) A palavra inexorável (L.73) só
não pode ser substituída, no texto, sob pena de alteração de sentido, por:
(A) implacável.
(B) indelével.
(C) inelutável.
(D) perituro.
(E) sempiterno.
(...)
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Ainda de acordo com DaMatta, a informalidade é também
exercida por esferas de influência superiores. Quando uma
autoridade "maior" vê-se coagida por uma "menor",
45 imediatamente ameaça fazer uso de sua influência; dessa forma,
buscará dissuadir a autoridade "menor" de aplicar-lhe uma
sanção.
(...)
(Jeitinho. In: www.wikipedia.org – com adaptações.)
4. (FGV/BADESC/ADVOGADO/2010) Observando a frase “buscará dissuadir a
autoridade ‘menor’ de aplicar-lhe uma sanção” (L.46-47), assinale a
alternativa em que a substituição da palavra sublinhada mantenha o
sentido que se deseja comunicar no texto.
(A) obrigar.
(B) desaconselhar.
(C) persuadir.
(D) convencer.
(E) coagir.
As categorias da ética
A vida humana se caracteriza por ser fundamentalmente
ética. Os conceitos éticos "bom" e "mau" podem ser predicados a
todos os atos humanos, e somente a estes. Isso não ocorre com
os animais brutos. Um animal que ataca e come o outro não é
5 considerado maldoso, não há violência entre eles.
Mesmo os atos de caráter técnico podem ser qualificados
eticamente. Esses atos sempre servem para a expansão ou
limitação do ser humano. Sob a perspectiva ética, o que importa
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nas ações técnicas não é a sua trama lógica, adequada ou
10 eficiente para obter resultados, mas sim a qualificação ética
desses resultados.
A eficiência técnica segue regras técnicas, relativas aos
meios, e não normas éticas, relativas aos fins. A energia nuclear
pode ser empregada para o bem ou para o mal. Na verdade, ela
15 é investigada, apurada e criada para algum resultado, que lhe
confere validade. Não vale por si mesma, do ponto de vista ético.
Pode valer pela sua eventual utilidade, como meio; mas o uso de
energia nuclear, para ser considerado bom ou mau, deve referir-
se aos fins humanos a que se destina.
20 Vê-se, pois, que o plano ético permeia todas as ações
humanas. Isso ocorre porque o homem é um ser livre,
vocacionado para o exercício da liberdade, de modo consciente.
Sem liberdade não há ética. A liberdade supõe a operação sobre
alternativas; ela se concretiza mediante a escolha, a decisão, a
25 consciência do que se faz. Isso implica refugir à determinação
unilinear necessária, à determinação meramente causal. É a
afirmação da contingência, da multiplicidade. Diante da
multiplicidade de caminhos a nossa disposição, avaliamos e
escolhemos.
30 Na verdade, somos obrigados a escolher. Somos obrigados
a exercer a liberdade. Assim, a decisão supõe a possibilidade e,
paradoxalmente, a necessidade de estimar as coisas e as ações
humanas para atender as nossas demandas; supõe a avaliação
de múltiplos fatores que perfazem uma situação humana
35 complexa. Aí, portanto, temos também compreendida a esfera
do valor. Não há liberdade sem valoração. Essa esfera,
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entretanto, é muito ampla, pois envolve não só o mundo da ética,
mas também o da utilidade, da estética, da religião etc.
Sob o ângulo especificamente ético, não haverá escolha,
40 exercício da liberdade, definição ética quando não houver
avaliação, preferência a respeito das ações humanas. Eis por
que na base da ética, como dissemos, encontram-se
necessariamente a liberdade e a valoração; a ética só se põe no
mundo da liberdade, da escolha entre ações humanas avaliadas.
45 A escolha, a decisão, que é manifestação de nossa
liberdade, só é possível tendo por fundamento o mundo
axiológico, tanto quanto este tem por condição de possibilidade
a liberdade. Não se pode estimar sem alternativas possíveis.
Na medida em que se escolhe, se avalia para obter a
50 consciência do que é preferido. Ao escolher um caminho,
pondera-se que, de algum modo ou sob algum prisma, é o
melhor em relação a outro; o caminho escolhido mata outras
possibilidades. Na escolha não pode haver indiferença. Ela está
dirigida à ação, à exteriorização, à tomada de posição. Isto
55 significa que a escolha, a decisão, nos leva à determinação
normativa ou imperativa de uma via em detrimento de outra.
O mundo oferece resistências e determinações necessárias
e, por meio destas, as ações éticas se realizam precisamente
enquanto as contrariam. As ações éticas brilham justamente
60 quando se opõem às tendências "naturais" do homem. Assim, a
liberdade não só se contrapõe à necessidade, como sua
negação, mas também existe em função desta. Não há liberdade
sem necessidade. Não há ética sem impulsão, sem desejo.
A melhor prova da liberdade é o esforço de superação da
65 necessidade, afirmando-a e negando-a dialeticamente, a um só
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tempo. Então, o mundo ético só é possível no meio social, no
bojo das determinações sociais.
O fenômeno ético não é um acontecimento individual,
existente apenas no plano da consciência pessoal. Isso porque o
70 ente singular do homem só se manifesta, como ser autêntico, em
suas relações universais com a sociedade e com a natureza.
Esse fenômeno é resultante de relações sociais e históricas,
compreendendo também o mundo das necessidades, da
natureza. A ética só existe no seio da comunidade humana.
75 e os meios de circulação econômica dos bens possuem maior
liberdade do que aqueles que não têm o poder desse controle.
Por aí se vê também que a liberdade e a ética não se reduzem a
fenômenos meramente subjetivos; elas têm sempre dimensões
sociais, históricas e objetivas.
80 Há, assim, um grande esforço, um esforço ético-político para
se obter uma distribuição igualitária dos direitos entre os
homens, quer dentro das comunidades, quer entre as
comunidades. Na verdade existe uma ética sobre a ética, uma
meta-ética. A meta-ética é utópica, crítica, subversiva e
85 transcende as condições mais imediatas da vida social. No
entanto, ela precisa ser possível no mundo dos fatos sociais, sob
pena de se perder como uma utopia de meros sonhos.
(Adaptado de ALVES, Alaôr Caffé. In: www.centrodebate.org)
5. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) A partir da tese defendida pelo
autor, é correto afirmar que:
(A) a ética é condicionante da existência humana e fundamenta qualquer tipo
de ação que envolva uma escolha entre “certo” e “errado”.
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(B) o conceito de ética aplica-se sobretudo aos seres humanos que praticam
atos de natureza técnica e atuam profissionalmente.
(C) a violência entre animais brutos decorre da inexistência de uma noção
ética que regule suas relações.
(D) as noções de “bom” e “mau” estão na base das organizações sociais,
sejam elas humanas ou não.
(E) o princípio ético que orienta os atos técnicos está menos nos seus
resultados e mais na própria concepção desses atos.
6. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) Com relação aos terceiro e
quarto parágrafos, analise as afirmativas a seguir.
I. O objetivo principal do terceiro parágrafo é conceituar regras técnicas e
normas éticas.
II. O plano do terceiro parágrafo inclui uma exemplificação para sustentar a
tese anteriormente explicitada.
III. O início do quarto parágrafo apresenta uma conclusão acerca das ideias
apresentadas no terceiro.
Assinale:
(A) se somente a afirmativa I estiver correta.
(B) se somente a afirmativa II estiver correta.
(C) se somente a afirmativa III estiver correta.
(D) se somente as afirmativas I e II estiverem corretas.
(E) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas.
7. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) Da compreensão adequada de
conceitos apresentados pelo texto, analise as afirmativas a seguir.
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I. O senso-comum de liberdade é reconstruído e passa a incluir a noção de
que nem todos são livres na mesma medida.
II. O conceito de ética fundamenta-se numa perspectiva naturalista e põe em
segundo plano seu viés social.
III. As ideias de liberdade e obrigação não são concepções excludentes; ao
contrário, envolvem implicação necessária.
Assinale:
(A) se somente a afirmativa I estiver correta.
(B) se somente a afirmativa II estiver correta.
(C) se somente a afirmativa III estiver correta.
(D) se somente as afirmativas I e III estiverem corretas.
(E) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas.
8. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) Da leitura do quarto parágrafo,
deduz-se que o autor:
(A) afirma-se perplexo ante a unilateralidade das escolhas.
(B) contraria a ideia de liberdade como ação racionalmente concebida.
(C) opõe-se à aceitação do determinismo como fonte das ações humanas.
(D) defende a vocação como forma de realização pessoal.
(E) situa na determinação causal a origem da infelicidade humana.
Esquerda e direita no Brasil, hoje
Ninguém pode pretender negar diversos progressos no
movimento da história. A humanidade, hoje, se beneficia de
conquistas importantes na área da medicina, por exemplo.
Podemos ser operados com anestesia, suavizar dores com
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5 analgésicos. Dispomos de meios de transporte rapidíssimos,
helicópteros, aviões. Nossas casas têm luz elétrica, água
encanada, esgoto. Vemos filmes, acompanhamos seriados na
TV, ouvimos rádio. E, cada vez mais, utilizamos os
computadores, a internet.
10 Tal como está organizada, a sociedade gira em torno do
mercado, de acordo com um sistema que alguns chamam de
"economia de mercado", e outros, de "capitalismo". Até hoje,
não surgiu nenhum sistema tão capaz de fazer crescer a
economia. As experiências feitas em nome do socialismo não
15 manifestaram força própria suficiente para competir, no plano
do crescimento econômico, com o capitalismo.
O modo de produção capitalista não tem vocação suicida,
e nada indica que ele esteja a ponto de morrer de morte
natural. Seus representantes na arena política recorrem à
20 repressão quando necessário e fazem concessões quando
conveniente. Os trabalhadores têm feito conquistas
significativas, do século 20 para cá; visivelmente não sentem
saudades do tempo em que eram obrigados a jornadas de
trabalho de 12 horas.
25 Parte dos trabalhadores – mais que no passado – chega
mesmo a integrar-se à burguesia. Esse, porém, é um caminho
que só pode ser percorrido por poucos. Alguns progridem. Faz
parte da lógica do sistema, contudo, que as massas
permaneçam excluídas. A cooptação de setores da
30 representação política das classes médias está sendo mais
resoluta, mais eficiente. O individualismo característico dessas
confusas camadas intermediárias as torna muito vulneráveis à
sedução das classes dominantes.
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Temos uma situação histórica favorável ao bloco
35 conservador. Nas atuais condições, a direita vem
administrando suas contradições internas. A política
econômica do governo do PT, as posições neoliberais do
PSDB e as diferentes tendências reunidas no PMDB
tranqüilizaram a direita nos últimos anos. Tanto no PT como no
40 PSDB e no PMDB os líderes posicionados um pouco mais à
esquerda (não quer dizer que eles sejam de esquerda) foram
marginalizados.
A esquerda está desarticulada. O naufrágio da União
Soviética não arrastou só os partidos comunistas: mais de 15
45 anos se passaram, e o estilhaçamento ainda afeta
dolorosamente diversas organizações socialistas.
No Brasil, o quadro é complexo, angustiante. Há pessoas
de esquerda no PT, no PC do B, no PSB, no PDT e até no
PSDB. Há muita gente de esquerda circunstancialmente sem
50 partido. E há a valente iniciativa da senadora Heloísa Helena, o
PSOL. Mas ainda não há um programa alternativo maduro que
se contraponha à euforia do programa conservador, aplicado
por gente que foi de esquerda e aplaudido pela direita.
Nas atuais condições em que exerce a sua hegemonia, a
55 direita "moderada" conseguiu infiltrar seus critérios no discurso
da esquerda "moderada". Os "moderados" dão o estilo. O
conteúdo é dado pela "leitura" oficial da economia.
Antigamente, eram os marxistas que polemizavam em
torno da economia, apoiados no "materialismo histórico".
60 Alguns chegaram a falar num "materialismo econômico".
Tinham a convicção de que estavam na crista de uma onda
que os empurrava inexoravelmente para adiante, para
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promover a transformação das relações de produção e o
crescimento das forças produtivas.
65 A fé determinista na dinâmica da economia contribuiu
para que a esquerda tradicional, despreparada, sofresse contundentes
derrotas. Duras lições da história política
convenceram a esquerda a conviver com sua diversidade
interna, em sua luta pela ampliação das liberdades e pela
70 superação das desigualdades.
A economia é um nível essencial da realidade histórica;
nela, os seres humanos agem, fazem escolhas, tomam
iniciativas. Não há nada de inexorável em seus movimentos.
Os marxistas se dispuseram, então, a discutir as motivações
75 dos sujeitos que modificam a realidade objetiva. Passaram a
debater idéias extraídas de Gramsci, Lukács, Adorno.
Curiosamente, no momento em que os marxistas (e, com
eles, a esquerda em geral) sublinhavam a significação crucial
dos valores, da ética, a direita assumia a centralidade da
80 economia e passava a acreditar que possuía a chave da
compreensão correta (e da solução) dos problemas que nos
afligem no presente.
Essa chave é o instrumento simbólico mais eficiente da
ideologia dominante (que, como dizia Marx, é sempre a
85 ideologia das classes dominantes): é ela que insiste em nos
convencer que as desigualdades sociais são naturais, que não
há alternativa para o capitalismo, que o socialismo já foi
tentado e fracassou. É ela que sustenta que as liberdades
precisam se enraizar nas elites para depois, lentamente,
90 chegar ao povão. Empunhando a chave, com a costumeira
cara-de-pau, a direita pede paciência aos trabalhadores e
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promete que, com o tempo, eles vão se beneficiar de
melhores condições materiais de cidadania, tal como
aconteceu com as conquistas da medicina, os aviões e os
95 computadores, que demoraram, mas vieram.
Permito-me perguntar: vieram mesmo?
(Leandro Konder. Folha de São Paulo, 13/04/2006)
9. (FGV/SEFAZ-MS/FISCAL DE RENDAS/2006) Assinale a alternativa que
apresente comentário pertinente ao texto
(A) O texto apresenta um desabafo a respeito da situação política do Brasil,
apontando, perspicazmente, por comparação, os motivos por que não
teria êxito a instauração de um regime socialista.
(B) O texto discorre sobre a situação histórico-política internacional,
objetivando analisar especificamente o caso brasileiro no tocante à falta
de espaço para o surgimento de partidos políticos renovadores, capazes
de revelar o discurso falho da extrema direita.
(C) O texto reafirma a ineficácia do socialismo como forma de governo e
aponta, no capitalismo, tanto no cenário internacional quanto no
doméstico, a supremacia dos blocos moderados, de esquerda e direita,
ditando falaciosamente a democracia ao povão.
(D) O texto aponta, no cenário político doméstico, o processo de
desarticulação da esquerda, como resultado do fim do modelo socialista e
da supremacia da direita ao ditar a interpretação da economia.
(E) O texto questiona se os valores apontados como conquistas pela direita de
fato aconteceram, observando que a interpretação falaciosa da realidade
atraiu antigos esquerdistas a sobejarem teorias que explicassem as falhas
no processo democrático historicamente.
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10. (FGV/SEFAZ-MS/FISCAL DE RENDAS/2006) O nono parágrafo, em
relação ao oitavo, apresenta-se como:
(A) explicação.
(B) exemplificação.
(C) complemento.
(D) desdobramento.
(E) oposição.
(Angeli. www2.uol.com.br/angeli)
11. (FGV/SEFAZ-MS/FISCAL DE RENDAS/2006) Ao associar-se a charge com o
seu título, percebe-se que a interpretação é possível pela via:
(A) alegórica.
(B) fática.
(C) lúdica.
(D) metonímica.
(E) sofística.
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Jeitinho
O jeitinho não se relaciona com um sentimento revolu-
cionário, pois aqui não há o ânimo de se mudar o status quo.
O que se busca é obter um rápido favor para si, às escondidas e
sem chamar a atenção; por isso, o jeitinho pode ser também
5 definido como "molejo", "jogo de cintura", habilidade de se "dar
bem" em uma situação "apertada".
Em sua obra O Que Faz o Brasil, Brasil?, o antropólogo
Roberto DaMatta compara a postura dos norte-americanos e a
dos brasileiros em relação às leis. Explica que a atitude
10 formalista, respeitadora e zelosa dos norte-americanos causa
admiração e espanto aos brasileiros, acostumados a violar e a
ver violadas as próprias instituições; no entanto, afirma que é
ingênuo creditar a postura brasileira apenas à ausência de
educação adequada.
15 O antropólogo prossegue explicando que, diferente das
norte-americanas, as instituições brasileiras foram desenhadas
para coagir e desarticular o indivíduo. A natureza do Estado é
naturalmente coercitiva; porém, no caso brasileiro, é inadequada
à realidade individual. Um curioso termo – Belíndia – define
20 precisamente esta situação: leis e impostos da Bélgica, realidade
social da Índia.
Ora, incapacitado pelas leis, descaracterizado por uma
realidade opressora, o brasileiro buscará utilizar recursos que
vençam a dureza da formalidade se quiser obter o que muitas
25 vezes será necessário à sua sobrevivência. Diante de uma
autoridade, utilizará termos emocionais, tentará descobrir alguma
coisa que possuam em comum - um conhecido, uma cidade da
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qual gostam, a “terrinha” natal onde passaram a infância – e
apelará para um discurso emocional, com a certeza de que a
30 autoridade, sendo exercida por um brasileiro, poderá muito bem
se sentir tocada por esse discurso. E muitas vezes conseguirá o
que precisa.
Nos Estados Unidos da América, as leis não admitem
permissividade alguma e possuem franca influência na esfera
35 dos costumes e da vida privada. Em termos mais populares, diz-
seque, lá, ou “pode” ou “não pode”. No Brasil, descobre-se que
é possível um “pode-e-não-pode”. É uma contradição simples:
acredita-se que a exceção a ser aberta em nome da cordialidade
não constituiria pretexto para outras exceções. Portanto, o
40 jeitinho jamais gera formalidade, e essa jamais sairá ferida após
o uso desse atalho.
Ainda de acordo com DaMatta, a informalidade é também
exercida por esferas de influência superiores. Quando uma
autoridade "maior" vê-se coagida por uma "menor",
45 imediatamente ameaça fazer uso de sua influência; dessa forma,
buscará dissuadir a autoridade "menor" de aplicar-lhe uma
sanção.
A fórmula típica de tal atitude está contida no golpe
conhecido por "carteirada", que se vale da célebre frase "você
50 sabe com quem está falando?". Num exemplo clássico, um
promotor público que vê seu carro sendo multado por uma
autoridade de trânsito imediatamente fará uso (no caso, abusivo)
de sua autoridade: "Você sabe com quem está falando? Eu sou
o promotor público!". No entendimento de Roberto DaMatta, de
55 qualquer forma, um "jeitinho" foi dado.
(In: www.wikipedia.org – com adaptações.)
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12. (FGV/BADESC/ADVOGADO/2010) De acordo com o texto, é correto
afirmar que:
(A) o jeitinho brasileiro é um comportamento motivado pelo descompasso
entre a natureza do Estado e a realidade observada no plano do indivíduo.
(B) as instituições norte-americanas, bem como as brasileiras, funcionam sem
permissividade porque estão em sintonia com os anseios e atitudes do
cidadão.
(C) a falta de educação do brasileiro deve ser atribuída à incapacidade de o
indivíduo adequar-se à lei, uma vez que ele se sente desprotegido pelo
Estado.
(D) a famosa “carteirada” constitui uma das manifestações do jeitinho
brasileiro e define-se pelo fato de dois poderes simetricamente
representados entrarem em tensão.
(E) nos Estados Unidos da América, as leis influem decisivamente apenas na
vida pública do cidadão, ao contrário do que ocorre no Brasil, onde as leis
logram mudar comportamentos no plano dos costumes e da vida privada.
13. (FGV/BADESC/ADVOGADO/2010) Com relação à estruturação do texto e
dos parágrafos, analise as afirmativas a seguir.
I. O primeiro parágrafo introduz o tema, discorrendo sobre a origem
histórica do jeitinho.
II. A tese, apresentada no segundo parágrafo, encontra-se na frase iniciada
por no entanto.
III. O quarto parágrafo apresenta o argumento central para a sustentação da
tese.
Assinale:
(A) se somente a afirmativa I estiver correta.
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(B) se somente a afirmativa II estiver correta.
(C) se somente a afirmativa III estiver correta.
(D) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas.
(E) se todas as afirmativas estiverem corretas.
14. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) Mesmo os atos de caráter
técnico podem ser qualificados eticamente. Esses atos sempre servem
para a expansão ou limitação do ser humano. Sob a perspectiva ética, o
que importa nas ações técnicas não é a sua trama lógica, adequada ou
eficiente para obter resultados, mas sim a qualificação ética desses
resultados.
No trecho acima, está implícita uma posição contrária à concepção de
neutralidade atribuída aos atos de caráter técnico. O instrumento
linguístico que permite a construção desse implícito é o emprego do
vocábulo:
(A) qualificados.
(B) limitação.
(C) mesmo.
(D) não.
(E) mas.
(...)
Na verdade, somos obrigados a escolher. Somos obrigados
a exercer a liberdade. Assim, a decisão supõe a possibilidade e,
paradoxalmente, a necessidade de estimar as coisas e as ações
humanas para atender as nossas demandas; supõe a avaliação
de múltiplos fatores que perfazem uma situação humana
complexa. Aí, portanto, temos também compreendida a esfera
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do valor. Não há liberdade sem valoração. Essa esfera,
entretanto, é muito ampla, pois envolve não só o mundo da ética,
mas também o da utilidade, da estética, da religião etc.
(...)
(Adaptado de ALVES, Alaôr Caffé. As categorias da ética. In: www.centrodebate.org)
15. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) O advérbio Aí, no quinto
parágrafo, refere-se ao processo compreendido nas etapas assim
apresentadas pelo autor.
(A) situação humana / múltiplos fatores / demandas
(B) liberdade / decisão / avaliação
(C) decisão / possibilidade / liberdade
(D) decisão / possibilidade / avaliação
(E) múltiplos fatores / demandas / ações humanas
16. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) Nas alternativas a seguir,
ambas as expressões servem essencialmente à articulação sequencial das
ideias do texto, à exceção de uma. Assinale-a.
(A) pois / porque (4º parágrafo).
(B) assim / entretanto (5º parágrafo).
(C) quando / eis por que (6º parágrafo).
(D) mas também / então (9º parágrafo).
(E) por aí / sempre (11º parágrafo).
17. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) Nas atuais condições em que
exerce a sua hegemonia, a direita "moderada" conseguiu infiltrar seus
critérios no discurso da esquerda "moderada". (L.54-56)
A palavra seus no trecho acima tem valor:
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(A) anafórico.
(B) anastrófico.
(C) catafórico.
(D) hiperbólico.
(E) paragramático
18. (FGV/BADESC/ADVOGADO/2010) Assinale a alternativa que identifique a
composição tipológica do texto “Jeitinho”.
(A) Descritivo, com sequências narrativas.
(B) Expositivo, com sequências argumentativas.
(C) Injuntivo, com sequências argumentativas.
(D) Narrativo, com sequências descritivas.
(E) Argumentativo, com sequências injuntivas
(...)
Antigamente, eram os marxistas que polemizavam em
torno da economia, apoiados no "materialismo histórico".
60 Alguns chegaram a falar num "materialismo econômico".
Tinham a convicção de que estavam na crista de uma onda
que os empurrava inexoravelmente para adiante, para
promover a transformação das relações de produção e o
crescimento das forças produtivas.
(...)
(Leandro Konder. Esquerda e direita no Brasil, hoje. Folha de São Paulo, 13/04/2006)
19. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) A expressão na crista de uma
onda (L.61) tem origem no registro:
(A) burocrático.
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(B) culto.
(C) inculto.
(D) informal.
(E) regional.
(Angeli. www2.uol.com.br/angeli)
20. (FGV/SEFAZ-MS/FISCAL DE RENDAS/2006) Assinale a alternativa em que
se encontre a melhor redação da transposição da fala do primeiro balão
para o discurso indireto.
(A) O homem rico disse ao homem pobre que o filho daquele era o com a
fitinha azul. E perguntou ao pobre qual era o deste.
(B) O homem rico disse ao homem pobre que o seu era aquele com a fitinha
azul. E perguntou ao pobre qual era o dele.
(C) O homem rico disse ao homem pobre que seu filho era o com a fitinha
azul. E perguntou ao pobre qual era o seu.
(D) O homem rico disse ao homem pobre que o dele era aquele com a fitinha
azul. E perguntou ao pobre qual filho era seu.
(E) O homem rico disse ao homem pobre que o filho dele era o com a fitinha
azul. E perguntou ao pobre qual era o seu.