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0 CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE ENFERMAGEM SIGNIFICADO DO CUIDADO HUMANIZADO PARA FAMILIARES DE PESSOAS COM TRANSTORNO MENTAL. Zenaide Maria Lucietto Lajeado, Setembro de 2012.

SIGNIFICADO DO CUIDADO HUMANIZADO PARA … · CURSO DE ENFERMAGEM ... 2.7.3 Transtornos de personalidade ... através de uma rede de cuidados centrada no território e permanecem

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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES

CURSO DE ENFERMAGEM

SIGNIFICADO DO CUIDADO HUMANIZADO PARA FAMILIARES D E

PESSOAS COM TRANSTORNO MENTAL.

Zenaide Maria Lucietto

Lajeado, Setembro de 2012.

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Zenaide Maria Lucietto

SIGNIFICADO DO CUIDADO HUMANIZADO PARA FAMILIARES D E

PESSOAS COM TRASTORNO MENTAL.

Monografia apresentada na disciplina de Trabalho

de Conclusão de Curso II, do curso de

Enfermagem, do Centro Universitário Univates,

como parte da exigência para obtenção do titulo de

Bacharel em Enfermagem.

Orientadora: Profª. Dr.ª Ioná Carreno

Lajeado, Setembro de 2012.

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"Há homens que lutam um dia e são bons.

Há outros que lutam um ano e são melhores.

Há os que lutam muitos anos e são muito bons.

Porém, há os que lutam toda a vida.

Esses são os imprescindíveis."

Bertolt Brecht.

"A loucura, longe de ser uma anomalia, é a condição normal humana. Não ter

consciência dela, e ela não ser grande, é ser homem normal. Não ter consciência

dela e ela ser grande, é ser louco. Ter consciência dela e ela ser pequena é ser

desiludido. Ter consciência dela e ela ser grande é ser gênio."

Fernando Pessoa

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AGRADECIMENTOS

À Deus

Por todos os dias da minha vida, por ter oportunizado esta conquista, pela

força recebida para atravessar as dificuldades e pela coragem durante toda esta

longa caminhada.

Aos meus pais

Que me deram o dom mais precioso do universo: a vida.

Ao meu esposo Adriano

Que sempre compreendeu-me quando precisei, sempre incentivou-me e

dedicou-se a mim com amor e carinho.

A minha filha Kátia e meu genro Samuel

Com quem dividi os momentos de trabalho, estudo, diversão, alegrias,

dificuldades, vitórias e tristezas, obrigada por tudo.

A minha neta Helena

Que chegou durante a caminhada como uma nova luz e com um jeitinho

especial iluminou toda escuridão que eu encontrava pelo caminho.

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Aos meus familiares

Pela constante presença em minha vida. Em especial minha irmã Liane que

nos momentos que precisei incentivou e auxiliou a seguir em frente.

Aos meus amigos e colegas de curso

Pela cumplicidade e amizade. Em especial aos amigos Alicia, Charles e

Sandra que de uma forma ou outra me incentivaram, assinando como fiador para

conseguir o financiamento (PCR), sendo esta a única forma possível para concluir o

curso.

Aos meus docentes

Por mostrar novos caminhos e repartir conhecimentos. Recebam o meu

“muito obrigada" por tudo, repleto de amor e carinho, em especial a Profª. Drª. Ioná

Carreno, pela orientação para realização deste trabalho.

Aos familiares que participaram desta pesquisa

Obrigada pela colaboração para o desenvolvimento deste trabalho.

Aos ausentes

À meu pai e minha irmã Adriani que mesmo ausentes estão compartilhando

comigo a alegria deste momento.

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RESUMO

As atuais políticas públicas brasileiras na área da saúde mental priorizam a desinstitucionalização da assistência e repassa à família e a rede de serviços de saúde mental a responsabilidade para o cuidado, onde a pessoa com distúrbio mental passa a receber atendimento pela equipe multiprofissional a nível ambulatorial e permanecer com a família. Assim, o objetivo desta pesquisa foi compreender o significado do cuidado humanizado para familiares de pessoas portadoras de distúrbio mental. Trata-se de uma pesquisa do tipo exploratória, descritiva, com abordagem qualitativa. A coleta de informações foi realizada em um Hospital de um município de médio porte, localizado no Vale do Taquari, interior do estado do Rio Grande do Sul. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas, contendo quatro perguntas abertas que foram respondidas e posteriormente transcritas manualmente. Os sujeitos da pesquisa foram 10 familiares de pessoas com distúrbio mental, com idade entre 20 e 65 anos. A análise de conteúdo das entrevistas permitiu identificar que, mesmo os familiares apresentando pouco entendimento em relação à doença, conseguem atender as necessidades do seu familiar com distúrbio mental com respeito à vida humana, levando em conta as circunstâncias sociais, éticas, educacionais e psíquicas presentes em todo relacionamento humano. Dessa forma, o estudo traz contribuições para a prática do profissional enfermeiro, para o ensino e para pesquisa, na área do cuidado domiciliar as pessoas com distúrbio mental e seus familiares, que ainda é pouco explorada.

PALAVRAS-CHAVE: Cuidado Humanizado. Transtorno Mental. Família.

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

CAPS: Centro de Atenção Psicossocial

CID: Classificação Internacional de Doenças

MS: Ministério da Saúde

NAPS: Núcleo de Atenção Psicissocial

OMS: Organização Mundial da Saúde

PCR: Programa de Crédito Rotativo

RS: Rio Grande do Sul

SUS: Sistema Único de Saúde

TCLE: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TOC: Transtorno obsessivo-compulsivo

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Caracterização dos sujeitos da pesquisa ............................. 31

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 10

2 REFERÊNCIAL TEÓRICO ............................. ............................................. 13

2.1 História da loucura ........................... ...................................................... 13

2.2 A Reforma psiquiátrica no Brasil .............. ............................................ 14

2.3 Família e a doença mental ..................... ................................................ 17

2.4 As modalidades do cuidado em relação aos famili ares ..................... 18

2.5 Sobrecarga familiar ........................... ..................................................... 19

2.6 Cuidado humanizado ............................ ................................................. 21

2.7 Distúrbios mentais ............................ ..................................................... 22

2.7.1 Neurose ..................................... ........................................................... 22

2.7.2 Psicose ..................................... ............................................................ 23

2.7.3 Transtornos de personalidade ................ ........................................... 24

2.7.4 Outros transtornos .......................... .................................................... 25

3 METODOLOGIA ..................................... .................................................... 26

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................... ........................................ 30

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4.1 Caracterizações dos sujeitos da pesquisa ...... .................................... 30

4.2 Categorias temáticas .......................... ................................................... 32

4.2.1 Categoria 1: Dificuldades do familiar com a p essoa com transtorno

mental no cuidado e tratamento .................... ............................................. 32

4.2.2 Categoria 2: Importância do familiar no contr ole da medicação .... 34

4.2.3 Significado do cuidado humanizado para o fami liar. ....................... 35

4.2.4 Sugestão dos familiares para melhorar a quali dade do cuidado .... 36

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................ ............................................ 39

REFERÊNCIAS .............................................................................................. 41

APÊNDICE ..................................................................................................... 45

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1 INTRODUÇÃO

As atuais políticas públicas brasileiras de saúde mental priorizam a

desinstitucionalização da assistência e torna a família a principal responsável pela

pessoa com doença/transtorno mental. Nestas modalidades de atendimento, as

pessoas recebem o acompanhamento por uma equipe multiprofissional, através de

uma rede de cuidados centrada no território e permanecem com suas famílias.

No modelo de atenção psicossocial, a política assistencial vigente preconiza a

diminuição da oferta de leitos hospitalares e a criação de serviços substitutivos de

atenção à saúde mental deslocando, assim, o seguimento e evolução dos

tratamentos para a abertura das dinâmicas familiares mobilizadas pela inclusão dos

portadores de transtorno na família e na sociedade (COLVERO, 2004).

Com a permanência da pessoa com transtorno mental em casa, passaram a

fazer parte da rotina familiar; garantir as suas necessidades básicas; coordenar suas

atividades diárias; administrar sua medicação; acompanhá-los aos serviços de

saúde; lidar com sinais e sintomas da doença e episódios de crise; fornecer-lhes

suporte social; arcar com seus gastos e superar as dificuldades e seu impacto na

vida social e profissional do familiar.

Sabe-se que a família é a base para início e continuidade do tratamento,

sendo ela chamada para participar e atuar junto com a equipe de saúde mental pois,

frequentemente, são os familiares os responsáveis pelo cuidado do indivíduo com

distúrbio mental no domicilio. A enfermagem tem compromisso de incluir as famílias

nos cuidados de saúde. A evidência teórica, prática e investigacional do significado

que a família dá para o bem estar e a saúde de seus membros, bem como a

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influência sobre a doença, evidencia a responsabilidade dos enfermeiros (as) a

considerar o cuidado centrado na família como parte integrante da prática de

enfermagem. Entretanto, este enfoque do cuidado pode ser alcançado somente com

responsabilidade e respeito, estabelecendo-se práticas de avaliação e intervenção

familiares confiáveis (WRIGHT, 2002).

Paralelamente à evolução da profissão de enfermagem, sob o ponto de vista

acadêmico, tem havido diferentes concepções acerca do papel a desempenhar no

relacionamento com a pessoa em geral e em especial, com o doente mental.

Doença mental consiste num desequilíbrio psíquico que pode manifestar-se através

de diversos sinais e sintomas e que dificulta o desenvolvimento da vida habitual da

pessoa (ESPINOSA, 1998).

Entende-se que se a pessoa com distúrbio mental for compreendido dentro da

sua realidade e sobre ela for sistematizado o cuidado, a perspectiva será de uma

melhor adesão e efetividade ao tratamento, pois através da conquista de sua

confiança obtêm-se uma cooperação do próprio paciente no tratamento.

Neste sentido, esta pesquisa analisou as dificuldades e anseios que a família

enfrenta em relação ao paciente com distúrbio mental e quais as intervenções que a

equipe de saúde pode fazer a partir das entrevistas realizadas com os familiares.

São os familiares que se apresentam aos serviços com as informações das

alterações apresentadas pela pessoa com transtorno mental, portanto, acolher suas

demandas, considerando as vivências, promovendo o suporte possível para as

solicitações manifestadas pelo grupo familiar continua a ser o maior projeto de

superação.

Assim sendo, o principal objetivo é conhecer o significado do cuidado

humanizado para os familiares de pessoas com transtorno mental. Os objetivos

específicos visam a caracterização dos sujeitos da pesquisa em relação à faixa

etária, sexo, escolaridade, estado civil e profissão, bem como identificar as

percepções dos familiares frente ao cuidado humanizado, as dificuldades

enfrentadas pelos familiares em relação ao cuidado, tratamento e a medicação e as

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sugestões dos familiares em relação ao cuidado para melhorar a qualidade da

assistência a pessoa com transtorno mental.

Tais referências poderão contribuir com um melhor planejamento da

assistência e construção de planos terapêuticos individualizados, respeitando-se a

singularidade da pessoa e sua família.

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2 REFERÊNCIAL TEÓRICO

2.1 História da loucura

O conhecimento sobre a historicidade dos fatos e fenômenos sociais é o

caminho para explicitar as contradições e determinações presentes na trajetória da

humanidade (GONÇALVES, 2001).

O enfoque da loucura como doença e da psiquiatria como especialidade

médica é recente na história da humanidade – aproximadamente 200 anos. A partir

do século XVIII é que, o homem inventou uma nova maneira de se perceber, uma

nova maneira de vivenciar a condição humana (GONÇALVES, 2001).

A loucura sempre existiu, bem como o lugar para se tratar dos loucos:

templos, domicílios e instituições, mas a instituição psiquiátrica, propriamente dita, é

uma construção do século XVIII (GONÇALVES, 2001).

Para Gonçalves (2001), a partir dessa nova forma de vivencia a condição

humana, estabeleceu-se “o diferente”, aquele que não segue o padrão de

comportamento que a sociedade define. O doente mental, o excluído do convívio

dos iguais, dos ditos normais, foi então afastado dos donos da razão, dos produtivos

e dos que não ameaçavam a sociedade.

Segundo Gonçalves (2001), tratar da pessoa com transtorno mental foi então

sinal de exclusão, de reclusão e asilamento. Hoje, esta realidade ainda existe porem

de forma mais consciente e menos exclusiva. Esta não pode ser negada, é

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necessário reconhecê-la e conviver com ela sem ter que excluir, conforme o que

preconiza a reforma psiquiátrica.

Para Vaitsman (2005), doença mental é um distúrbio caracterizado pela

alteração das relações do indivíduo com o ambiente que o rodeia em decorrência da

percepção alterada de si próprio ou da realidade.

Espinosa (1998), diz que doença mental consiste num desequilíbrio psíquico

que se pode manifestar através de diversos sinais e sintomas, e que dificulta o

desenvolvimento da vida habitual da pessoa.

Para Espinosa (1998), saúde mental é um aspecto da saúde em geral que, a

partir de uma concepção integral do ser humano como entidade biopsicossocial, não

pode ser visto em separado, a menos que se trate de um objetivo meramente

didático e de esclarecimento.

Saúde mental caracteriza-se pela maneira que uma sociedade julga ou reage

a comportamentos considerados apropriados e/ou adequados, baseando-se em

normas culturais, regras e conceitos próprios CID10 (LINO, 2001).

2.2 A Reforma psiquiátrica no Brasil

No Brasil, o inicio do movimento da reforma psiquiátrica contou com o

envolvimento de diversas instituições, entidades, movimentos e militâncias para a

formulação de políticas de saúde mental.

A trajetória da reforma psiquiátrica:

[...] tem inicio na segunda metade dos anos 70 e se insere num contexto político de grande importância para a sociedade brasileira. É um período marcado por muitos eventos e acontecimentos importantes, onde se destacam a realização da VIII Conferencia Nacional de Saúde e da I Conferencia Nacional de Saúde Mental, a II Congresso Nacional dos trabalhadores em Saúde Mental em 1987, a criação do primeiro Centro de Atenção Psicossocial (São Paulo), e do primeiro Núcleo de Atenção Psicossocial (Santos), a Associação Loucos pela vida (Juqueri), a

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apresentação do projeto de Lei 3.657/89, da autoria do Deputado Paulo Delgado, ou “Projeto Paulo Delgado”, como ficou conhecido, e a realização da II Conferencia Nacional de Saúde Mental em 1992 (MARZANO; SOUSA, 2003, texto digital, grifo do autor).

Nesta época já era consenso entre trabalhadores da área de saúde,

prestadores de serviços e do Governo que a assistência psiquiátrica no Brasil era de

péssima qualidade. Este consenso devia-se a inúmeras denúncias de maus tratos a

que os loucos eram submetidos no interior dos hospitais psiquiátricos já em 1978,

única alternativa de assistência oferecida ate então (MARZANO, 2003).

Em 1980 o Ministério da Saúde (MS) redige as Diretrizes para a Área de

Saúde Mental, que preconizavam a substituição do modelo assistencial vigente por

um modelo mais avançado, englobando um atendimento e uma abordagem holística

do transtorno mental, dando importância à integração da rede de saúde com as

ações de saúde mental, a importância da criação de novas modalidades

assistenciais, a participação da sociedade na discussão das propostas, entre outras.

Estas diretrizes vieram orientar as políticas de saúde mental em vigor (MARZANO,

2003).

A Declaração de Caracas recomendou aos países participantes a viabilização

para a implantação de um modelo assistencial centrado na comunidade, com

diminuição progressiva da internação psiquiátrica, resguardando a dignidade e os

direitos humanos às pessoas portadoras de transtorno mental em seu meio

comunitário. De acordo com esta declaração, os hospitais psiquiátricos impedem

que estas recomendações sejam concretizadas ao isolar a pessoas do seu meio,

criando condições desfavoráveis que ferem seus direitos humanos e civis, e

requerendo a maior parte dos recursos humanos e 95% dos recursos de Saúde

Mental eram destinados à hospitalização (MARZANO, 2003).

Foram criados os Programas de Saude Mental para a implantação do novo

modelo assistencial extra-hospitalar: Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e

núcleos de atenção psicossocial (NAPS), hospitais-dia, hospitais-noite, ambulatórios

e residências terapêuticas. A portaria 224/92, regulamentou o funcionamento dos

serviços de saúde mental, tendo como diretriz os princípios dos SUS, as

diversidades, o atendimento realizado por uma equipe multiprofissional e

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participação social na formulação e controle das políticas da saúde mental, as

normas para a diversidade dos atendimentos e assistência nessa área (MARZANO,

2003).

Também em 1992, realiza-se em Brasília a II Conferência Nacional de Saúde

Mental, visando uma reorientação mais ampla da assistência à saúde mental. Esta

conferência foi marcante na historia da psiquiatria brasileira e inaugurou um novo

espaço para a saúde mental no âmbito das políticas publicas (MARZANO, 2003).

Em 1999, a Secretaria de Políticas de Saúde, do Ministério da Saúde, através

do documento “Por uma Política de Saúde Mental” determinou medidas para

garantir a implantação e o funcionamento efetivo da política ministerial: a garantia do

fornecimento de psicofármacos básicos para a rede ambulatorial, o suporte para os

centros de atenção psicossociais do país, e elaboração de projetos para a criação

de residências terapêuticas e para funcionamento dos CAPS e NAPS por 24 horas,

além da capacitação dos profissionais implicados nesta proposta de assistência

(MARZANO, 2003).

Em 2001 o lema da III Conferência de Saúde Mental realizada em Brasília foi

“Cuidar, sim; excluir não”. Segundo relato final desta conferência foi elaborado

propostas e estratégias visando à efetividade e consolidação do modelo de atenção

em saúde mental, totalmente substitutivo ao manicomial (MARZANO, 2003).

De acordo com o relatório final da 11ª Conferência Nacional de Saúde, no que

se se refere à Saúde Mental, há um entendimento de que a reforma psiquiátrica

brasileira tem mostrado, na prática, a possibilidade de fazer psiquiatria sem

necessidade de violência, de exclusão e de negação (MARZANO, 2003).

A saúde mental, atualmente no Brasil é regida pela Lei 10.216, de abril/ 2001,

que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos

mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental (BRASIL, 2001).

A reforma psiquiátrica do Rio Grande do Sul regida pela Lei Estadual 9.716

consiste na gradativa substituição do sistema hospitalocêntrico de cuidados ao

doente mental por uma rede integrada, ficando vedada à construção e ampliação de

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hospitais psiquiátricos, desse modo, é permitida a construção de unidades

psiquiátricas em hospitais gerais (RIO GRANDE DO SUL, 1992).

O CAPS é o núcleo de uma nova clínica, produtora de autonomia, que

convida o usuário à responsabilização e ao protagonismo em toda a trajetória do seu

tratamento. São serviços de saúde municipais, abertos, comunitários, que oferecem

atendimento diário às pessoas com transtornos mentais severos e persistentes,

realizando o acompanhamento clínico e a reinserção social destas pessoas através

do acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços

familiares e comunitários.

Os CAPS’s são definidos e regulamentados pela portaria ministerial nº. 336,

de 19 de fevereiro de 2002, e devem oferecer atendimento individual, grupal,

oficinas terapêuticas, visitas domiciliares, atendimento à família e atividades

comunitárias. De acordo com a população dos municípios, os CAPS’s são

classificados como I II ou III, que são definidos por ordem de porte/complexidade e

abrangência populacional, conforme necessidade de cada município (MINISTÉRIO

DA SAÚDE, 2004).

2.3 Família e a doença mental

A organização familiar vem se transformando no decorrer da história do

homem, vários novos padrões de relações humanas vão surgindo conforme as

próprias culturas. Atualmente existem várias estruturas de familiares, como de pais

separados que se unem com outra pessoa e constrói uma nova família; a família

chefiada por mulheres; a nuclear; a extensa; a homossexual (BOCK et. al., 2003).

A família é fonte transmissora de valores culturais da nossa sociedade, pois

ela tem a função social de transmitir esses valores e educar as novas gerações. Ela

é responsável pela sobrevivência física e psíquica das crianças. É nela que ocorrem

os primeiros aprendizados sobre hábitos e costumes conforme a cultura (BOCK et.

al., 2003).

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Para Melman (2006), nossa sociedade não esta mais preparada para o

desafio de acolher e cuidar das pessoas com transtorno mental grave. Ainda

predomina uma visão preconceituosa em relação ao fenômeno da doença mental, o

que acaba resultando na marginalização afetiva e social de um grande número de

pessoas que necessitam de cuidado em saúde mental.

Os familiares e a sociedade de pessoas com transtorno mental severo

refletem uma realidade de preconceitos e exclusão. Aproximar-se dessas famílias

implica tomar contato com sentimentos de muita dor e sofrimento (MELMAN, 2006).

Com frequência, os familiares associam os sintomas da enfermidade a

imagens de tragédias e catástrofes. Delírios, alucinações e comportamentos

estranhos desestruturam as formas habituais de lidar com as situações do cotidiano.

Revolta, tristeza, caos, desordem, frustração, medo. Como entender essa dor?

Como curar essa ferida? Como elaborar sentimentos tão intensos e paralisantes?

(MELMAN, 2006).

Famílias também sofrem preconceito e precisam de ajuda. Infelizmente, os

parentes que cuidam de uma pessoa adoecida ainda são desrespeitados, não são

devidamente escutados, são vitimas de preconceitos, responsabilizados e julgados

por eventuais danos sem provas ou justificativas (MELMAN, 2006).

2.4 As modalidades do cuidado em relação aos famili ares

A desinstitucionalização e o movimento de criticas de reforma na psiquiatria,

que se difundiram por muitos países, configuraram uma nova realidade, na qual um

número cada vez maior de pessoas passou a ser assistida em serviços extra-

hospitalares. Esses fenômenos introduziram novos elementos no campo da

negociação entre famílias e o campo da saúde mental, tornando necessárias as

partes implicadas a rediscutir as bases de uma nova relação. Nesse contexto as

famílias voltam a assumir a responsabilidade pelo cuidado de seus membros com

transtorno mental. A presença do usuário na comunidade demandava a criação de

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dispositivos terapêuticos mais complexos e eficazes para atender as necessidades

dos usuários, abrangendo a vida no espaço social (MELMAN, 2006).

Esse fenômeno de diminuição de leitos e fechamento de alguns hospitais

psiquiátricos colocou, frequentemente, os operadores de saúde mental frente a

frente com a necessidade de reinserir na comunidade pacientes que estiveram

internados por períodos prolongados (MELMAN, 2006).

Essa nova situação atribuía desenvolver estudos que passassem a investigar

novos cenários, organizados em torno de interação dos atores envolvidos: usuários,

familiares, técnicos e o restante da sociedade.

2.5 Sobrecarga familiar

O fato de que a presença de uma pessoa com transtorno mental grave produz

um impacto nos outros membros da família despertou o interesse de vários

pesquisadores em avaliar a intensidade e a natureza desse impacto (MELMAN,

2006).

Os familiares estão sobrecarregados por demandas que envolvem a função

de acompanhar seus membros adoecidos e cuidar deles. Nos últimos anos, o

conceito de sobrecarga familiar foi desenvolvido para definir encargos econômicos,

físicos e emocionais a que os familiares estão submetidos e o quanto conviver com

um paciente representa em peso material, subjetivo, organizativo e social (MELMAN,

2006).

Os familiares sentem-se sobrecarregados com a relação de extrema

dependência material e afetiva e a falta de iniciativa apresentada por seu filho e

irmão, por exemplo, visto que não há o aceite destes nos grupos sociais. Além de o

quadro apresentado pelo familiar adoecido não se modificar apesar do tratamento

recebido, transformando-se em um esforço realizado por elas não reconhecido ou

retribuído, e desprovido do sentido (COLVERO et. al., 2004).

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Para Pereira e Pereira Jr. (2003), o convívio com o portador de transtorno

mental impõe aos seus familiares à vivência de sentimentos e emoções que,

consciente ou inconscientemente, são difíceis de elaborar e entender.

Grando (2005) afirma que famílias que possuem um membro acometido por

doença mental, frequentemente, tendem a se adaptar com a presença da patologia,

precisando até restringir-se da participação em eventos sociais (pelo preconceito),

mudando hábitos acerca do relacionamento familiar e intensificando a atenção

destinada a pessoa com transtorno mental,

Quando se trata de um problema psiquiátrico, a família tende a viver sua

problemática na esfera privada, em maior ou menor grau, tendendo a ocultar dos

parentes, amigos, vizinhos, por temer a incompreensão e pelo próprio estigma

existente na sociedade (GRANDO, 2005).

Segundo Melman (2006), vários estudos têm chamado à atenção sobre ou

sobrecarga que a família enfrenta na convivência com a pessoa com doença mental,

principalmente por ocasião da alta hospitalar, desencadeando atitudes de

incompreensão familiar e até de rejeição, motivadoras de reinternações sucessivas,

defendem que a família necessita de ajuda de profissionais da saúde mental.

Na literatura brasileira sobre saúde mental, os autores frequentemente

referem-se à necessidade de assistência à família da pessoa com doença mental

como parte ou estratégia do tratamento. Entretanto não são frequentes as

discussões e trabalhos que demonstrem um conhecimento contextualizado de como

e por quem as pessoas com doença mental são cuidados fora dos espaços

institucionais da psiquiatria (MELMAN, 2006).

Isso implica uma progressiva mudança de mentalidade e comportamento da

sociedade para com o doente mental. Exigem revisões das práticas de saúde mental

em todos os níveis e posturas mais críticas dos órgãos formadores de profissionais,

principalmente, os da saúde e da educação (MELMAN, 2006).

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2.6 Cuidado humanizado

A partir dos anos 90 começou-se a utilizar o conceito de que humanização é a

ideia de dignidade e respeito à vida humana. Humanização pode ser objeto de

distintas interpretações, pois o conceito de humanização está ligado ao paradigma

dos direitos e a cada dia surgem novas reivindicações de direitos, que se remetem

às singularidades dos sujeitos. Da forma pela qual a humanização vem sendo

aplicada no campo da saúde, refere-se a uma concepção de política garantindo os

direitos do (a) usuário (a), os quais são medidos por meio de conceitos operacionais

como satisfação e responsividade (VAITSMAN, 2005).

Humanização em saúde é uma rede de construção permanente de laços de

cidadania, de um modo de olhar cada sujeito em sua especificidade, sua história de

vida, mas também de olhá-lo como sujeito de um coletivo, sujeito da história de

muitas vidas (MOTA, 2006).

Para Backes (2005), focalizar a humanização na pessoa com doença mental

requer dos profissionais de saúde um cuidado integral e comprometido desde o

ingresso do doente no hospital, isto é, necessita reconhecer as condições materiais

e organizacionais do acolhimento, bem como de sua permanência no hospital, assim

como as condições morais, espirituais, técnicas e relacionais dessa permanência.

Para Mota (2006) o movimento de humanização nos hospitais esta voltado

para o processo de educação e treinamento dos profissionais de saúde. Também se

volta para intervenções estruturais que façam a experiência da hospitalização ser

mais confortável para a pessoa com transtorno mental.

De acordo com Mota (2006) a principal meta da humanização hospitalar é a

dignidade do ser humano, visto que a pessoa humana deve ser considerada em

primeiro lugar. A dignidade da pessoa, sua liberdade e seu bem-estar são todos

fatores a serem ponderados na relação entre o usuário de saúde e o profissional de

saúde.

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Faz parte da humanização hospitalar a criação de condições que respeitem o

direito das pessoas a um ambiente humano propício a viver com dignidade e a

morrer com tranquilidade, quando a hora chegar (MOTA, 2006).

2.7 Distúrbios mentais

Distúrbios mentais ou síndromes psíquicas e de comportamento geram

angustia e causam danos em importantes áreas do funcionamento psíquico,

afetando o equilíbrio emocional, o rendimento intelectual e o comportamento social

adaptativo. Segundo a classificação da OMS (Organização Mundial da Saúde) na

sua 10ª Edição (Classificação Internacional de Doenças – CID-10) acreditamos que

é útil esta distinção, assim, podemos classificar os distúrbios mentais em três

grandes grupos: neuroses; psicoses; transtornos de personalidade.

2.7.1 Neurose

É chamada neurose toda a psicopatologia leve, onde a pessoa tem a noção

(mesmo que vaga) de seu problema. Ele tem contato com a realidade, porém há

manifestações psicossomáticas, que são notadas por este, e que servem de aviso

para a pessoa procurar um tratamento psicológico, ou psiquiátrico. É um fator

comum a ansiedade exacerbada comun na neurose. As neuroses classificam-se em:

Transtorno obsessivo colpulsivo – TOC, sindrome do pânico, fobias, transtornos de

ansiedade, depressão, sindrome de burnout e disturbio bipolar de ânimo.

O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), é caracterizado por obsessões

e/ou compulsões. As obsessões – geradoras de ansiedade – podem ser

pensamentos, impulsos ou até imagens intrusivas e recorrentes. As compulsões são

atitudes ou atos mentais repetitivos que o portador realiza voluntariamente para

aliviar a ansiedade gerada pela obsessão.

Síndrome do pânico causa grande aflição, e medo perante alguma situação,

já a fobia é caracterizada pelo medo exagerado a alguma situação. Pode ser medo

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de ambientes fechados (claustrofobia), medo de água (hidrofobia), medo de pessoas

(sociofobia).

Nos transtornos de ansiedade o indivíduo têm ataques de ansiedades antes

ou depois de realizar algo, ou muitas vezes nem realizá-lo. É comum em pequena

escala na maioria das pessoas, porém seu excesso é denominado como patológico.

O transtorno depressivo ou depressão maior, se caracteriza por intenso

retraimento e medo do mundo exterior. Causa baixa auto-estima e pode levar ao

suícidio.

A sindrome de burnout é a conseqüência de um grande estímulo estressor,

como conflitos no trabalho ou família.

Distúrbio bipolar de ânimo o individuo muda de ânimo e volta ao normal e um

curto periodo de tempo. É comum em grande escala na maioria das pessoas.

Precisa de acompanhamento medico profissional na maioria dos casos

(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1993).

2.7.2 Psicose

Se caracteriza pela presença de delirius e alucinações. Depressão e

transtorno afetivo bipolar também podem ser considerados psicóticos, ou seja,

apresenta psicose em determinado momento.É, como a filosofia e as artes chamam,

a loucura, propriamente dita. Pode ser classificada de três formas: Manifestação,

Aspecto neurofisiológico, Intensidade.

A manifestação se divide em dois tipos principais, Esquizofrênia e Transtorno

afetivo Bipolar. A esquizofrênia tem como aspectos principais a fuga da realidade, os

delirios persiguitórios, as alucinações, entre outros. A esquizofrênia se sub divide

em: Esquizofrênia paranóide, a esquizofrênia desorganizada (ou hebefrênica), a

esquizofrênia simples, a catatonia ou a esquizofrênia indiferenciada.

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O transtorno de afeto bibolar (TAB), tem por característica picos de variação

de humor, em pouco espaço de tempo, para o lado da depressão, para o lado da

mania (euforia ou eutimia). Por estes dois aspectos também conhecemos este

transtorno como psicose maníaco-depressiva. A pessoa com transtorno afetivo

bipolar sofre de mudanças de humor constantes, se envolvendo em situações de

perigo e gastos excessivos na fase maníaca, já na fase depressiva, apresenta-se

retraído, podendo se suícidar (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1993).

Os aspectos neurofisiológicos se divide em: Funcional, age apenas no

funcionamento do aparelho psiquico, em suas ligações; Orgânica, tem como

característica mudanças ocorridas na química do cérebro, ou em mudanças

fisiológicas e estruturais.

Como intensidade entendemos a agressividade e impulsividade do doente em

Aguda e crônico. A fase aguda também chamada de fase de surto, é quando a

pessoa pode tornar-se violento, impulsivo e fora da realidade. É necessária

observação constante, pois a pessoa pode oferecer risco para si, para outros e para

o patrimônio. A fase crônica, é a fase de relaxamento da pessoa doente, onde ela

está fora da realidade, mas não põe em risco os outros e sua vida.

(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1993).

2.7.3 Transtornos de personalidade

É o limite entre a neurose e a psicose, é evidenciado quando o individuo não

demonstra adaptação e apresenta repertório limitado de respostas às situações

comuns e estressantes, isto é, padrões de comportamento desajustado, não

adaptados e inflexíveis. Eles têm, portanto, disfunção nos papéis sociais, familiares

e ocupacionais, o que se inicia na infância ou no começo da vida adulta

(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1993).

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2.7.4 Outros transtornos

Os transtornos paranoicos se caracterizam por ideias delirantes. As mais

típicas são as de perseguição (o indivíduo se considera vítima de uma conspiração),

de grandeza (ele acredita ser de natureza nobre, santa ou divina) e de ciúme

desmedido. Em qualquer caso, a personalidade paranóide é defensiva, rígida,

desconfiada, egocêntrica, ela se isola e pode ficar violentamente antissocial

(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1993).

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3 METODOLOGIA

O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa do tipo exploratória,

descritiva e com abordagem qualitativa, ou seja, explorando e/ou utilizando o

método investigativo, por meio de entrevistas semi-estruturadas com familiares de

pacientes com distúrbio mental.

Conforme Leopardi (2002), a pesquisa exploratória permite ao investigador

aumentar a experiência sobre determinado problema e criar maior familiaridade em

relação a um fato ou fenômeno. Serve para levantar e apurar prováveis soluções

para o problema da pesquisa.

A pesquisa descritiva observa, registra, analisa e correlaciona fatos ou

fenômenos sem manipulá-los. Sua finalidade é conhecer as diversas situações e

relações do comportamento humano (TOMASI, 1999).

De acordo com Tomasi (1999), a pesquisa investigativa qualitativa envolve a

coleta e análise sistemática de materiais narrativos subjetivos, com o mínimo de

controle imposto pelo pesquisador.

Para Leopardi (2002) a pesquisa qualitativa tem significados ocultos que

devem ser encontrados, sendo possível evidenciar tendências e compreender os

eventos investigados.

A pesquisa foi realizada em um Hospital de médio porte do Vale do Taquari-

RS. Atualmente esse hospital conta com recursos de diagnóstico, tratamento e

reabilitação, dispondo de uma equipe multidisciplinar habilitada e qualificada. Seu

corpo clínico caracteriza-se pelo elevado nível profissional, bem como, uma

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estrutura hospitalar empenhada em ressaltar a persistência e determinação em

transpor os obstáculos surgidos.

A unidade de internação para saúde mental possui leitos de atenção

psiquiátrica e de atenção para álcool e drogas, cuja ocupação situa-se sempre com

uma média de 100%. A unidade é coordenada por uma equipe multidisciplinar.

O município atende a microrregião que abrange vários municípios, em que

alguns atendem ao serviço de saúde mental em sua unidade básica por não possuir

o serviço especializado como o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). O

município onde esta pesquisa foi realizada possui o serviço de CAPS, para onde,

após alta hospitalar, os usuários são referenciados, através da referência e contra-

referência, para a continuidade do tratamento.

Participaram da presente pesquisa 10 familiares de pessoas com transtornos

mentais que estiveram internados durante o período da coleta. Foram respeitados os

princípios éticos de participação voluntária e esclarecida, atendendo os seguintes

critérios: aceitar participar da pesquisa; assinar o termo de Consentimento Livre e

Informado (Anexo B); ser familiar do individuo com doença mental; aceitar responder

a pesquisa através de um questionário como instrumento na coleta de dados. Como

critério de exclusão: familiares que possuem qualquer tipo de deficiência mental.

O presente estudo teve aprovação da direção do Hospital e do comitê de ética

do mesmo, foi estabelecido entre a pesquisadora e a instituição de saúde que na

divulgação dos resultados os nomes dos sujeitos seriam omitidos e substituídos por

pseudônimos preservando a identificação da instituição hospitalar onde a coleta de

dados foi realizada.

O estudo está baseado nos preceitos da Resolução 196/96 do Ministério da

Saúde, que estabelece normas e diretrizes para a realização de pesquisas com

seres humanos, incorporando referenciais básicos de bioética que buscam

assegurar direitos e deveres, no que diz respeito aos pesquisadores e à comunidade

cientifica.

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Os dados foram coletados com auxilio do instrumento de pesquisa (Apêndice

A) por meio de uma entrevista semi-estruturada com os entrevistados em sala e

horário previamente agendados.

A pesquisa foi explicada aos entrevistados e solicitada sua participação

voluntária, sem ônus financeiro ao mesmo. O Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido – TCLE (Apêndice B) lhes assegurou a interrupção da participação a

qualquer momento, sem nenhuma penalização ou prejuízo, bem como a segurança

do sigilo e anonimato, através do uso de pseudônimos e foi norteada pela Resolução

196/96 do Ministério da Saúde.

O instrumento para realização da pesquisa foi composto por um questionário

com seis perguntas para caracterização dos sujeitos da pesquisa e quatro perguntas

norteadoras.

A técnica de análise dos dados coletados constitui-se inicialmente na análise

de conteúdo, em que a ordenação e organização das respostas encontradas foram

descritas, analisadas e interpretadas. Conforme Bardin (2011), a análise de

conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando obter por

procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens.

Sendo assim, através da análise dos dados foram construídas quatro

categorias temáticas.

A entrevista foi transcrita pelo investigador, (Apêndice A). Os eventuais riscos

que os participantes estavam sujeitos era o constrangimento, o desconforto, o

nervosismo e o medo de responder.

A entrevista pode ser definida como um encontro entre duas pessoas a fim de

que se obtenham dados, informações, opiniões, impressões, interpretações,

posicionamentos, depoimentos, avaliações a respeito de um determinado assunto,

mediante uma conversação de natureza acadêmica (LIMA, 2004).

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Os arquivos com as transcrições serão guardados pela pesquisadora por

cinco anos, e após serão destruídos. Os resultados deste estudo serão

apresentados em eventos, entre outros meios de divulgação.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

No decorrer deste capítulo serão apresentados os dados referentes à

caracterização dos sujeitos e após serão apresentadas as quatro categorias

temáticas, que são as seguintes: dificuldades do familiar com a pessoa com

transtorno mental no cuidado e tratamento; importância do familiar no controle da

medicação; significado do cuidado humanizado para o familiar; sugestão dos

familiares para melhorar a qualidade do cuidado.

4.1 Caracterizações dos sujeitos da pesquisa

Na tabela que segue, apresenta-se a caracterização da pesquisa, verificando-

se a predominância do sexo feminino, que soma 70% dos entrevistados. A faixa

etária ficou entre 20 e 65 anos, porém 50% encontram-se entre 41 e 50 anos. O

estado civil predominante caracterizou-se pela união estável (40%) e o grau de

escolaridade mais frequente é o ensino fundamental incompleto, encontrado em

60% da amostra. Consequentemente, este baixo nível de formação reflete nas

profissões mais encontradas, como trabalho no lar, que obteve 30% entre os

entrevistados.

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TABELA 1 – Caracterização dos sujeitos da pesquisa

SEXO N %

Masculino 3 30%

Feminino 7 70%

IDADE N %

20 a 30 anos 1 10%

31 a 40 anos 3 30%

41 a 50 anos 5 50%

51 anos a 65 anos 1 10%

ESTADO CIVIL N %

Solteiro (a) 2 20%

Casado (a) 3 30%

Separado (a) 1 10%

União estável 4 40%

ESCOLARIDADE N %

Fundamental incompleto 6 60%

Fundamental completo 1 10%

Médio completo 2 20%

Superior incompleto 1 10%

PROFISSÃO N %

Do lar 3 30%

Vendedor (a) 2 20%

Cuidadora de idosos 1 10%

Agricultor (a) 1 10%

Cozinheira 1 10%

Aposentado (a) 2 20%

Fonte: Do autor (2012).

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4.2 Categorias temáticas

4.2.1 Categoria 1: Dificuldades do familiar no cuid ado e tratamento de pessoas

com transtorno mental.

Dentre as dificuldades citadas pelos familiares no convívio com a pessoa com

distúrbio mental a maioria dos entrevistados relatou que não há compreensão da

doença pelo cuidador e apoio de outros familiares.

[...] compreensão da doença e falta de apoio dos outros familiares (E1). Pela dificuldade auditiva e falta de compreensão dos outros, porque acham que é fingimento minha superproteção que tenho com ele (E2). Difícil compreensão da doença (E6). Omissão e negação do problema pelos familiares [...] compreensão em relação à doença (E7).

Grando (2005) afirma que famílias que possuem um membro acometido por

doença mental frequentemente tendem a se adaptar com a presença da patologia,

precisando até restringir-se da participação em eventos sociais (pelo preconceito),

mudando hábitos acerca do relacionamento familiar e intensificando a atenção

destinada ao paciente.

Esse é um momento delicado e fundamental. Os familiares precisam de muita

compreensão, pois ainda são frequentes os preconceitos em relação a eles. São

tantas as dúvidas e os questionamentos sobre as doenças e seus tratamentos.

Muitos médicos não dão informações detalhadas acerca da ação dos fármacos e de

seus possíveis efeitos colaterais. Não explicitam o significado de um determinado

diagnóstico, não explicam os motivos dos procedimentos terapêuticos. Além disso,

os familiares se sentem sozinhos e impotentes para compreender suas vivências

(MELMAN, 2006).

Nesse sentido é importante o trabalho integrado para que outros membros da

equipe (como enfermeiro) possam ajudar a esclarecer as duvidas dos familiares.

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Por outro lado, a convivência familiar evidencia que o relacionamento com a

pessoa com distúrbio mental se sente excluído pela sociedade, a concepção da

loucura está de certa forma, ligada à história do homem. Podemos perceber isto nas

falas de alguns familiares a seguir:

Preconceito da sociedade e familiares, eles não entendem a doença dele (E8). [...] é que a comunidade exclui, não aceitando a doença dele (E10).

Para Melman (2006), nossa sociedade não esta preparada para o desafio de

acolher e cuidar das pessoas com doença mental grave. Ainda predomina uma visão

preconceituosa em relação ao fenômeno da doença mental, o que acaba resultando

na marginalização afetiva e social de um grande número de pessoas que

necessitam de cuidado em saúde mental.

Desde o começo da medicalização e institucionalização das ações sobre a

doença mental, a loucura é associada à construção de um modelo de exclusão

social quando se refere ao isolamento de indivíduos com comportamento indesejável

pela comunidade (ROSA, 2003).

A exclusão do louco é resultado de uma “percepção social” difusa, diluída

pelas diversas instituições, que associa a loucura ao negativo da razão. Em nossa

sociedade, a doença mental ainda é vista como ameaça, perigo, déficit, ilusão,

defeito (MELMAN, 2006).

Houve ainda um grande numero de aspectos que foram mencionados pelos

familiares entrevistados em relação às dificuldades encontradas, como relação de

conflitos, dependência do usuário e a não compreensão da doença pelo usuário.

Ele não aceita nada que é certo para ele [...] me critica o tempo todo (E3). [...] é não se entender com ele, ele manipula os familiares [...] falta diálogo (E5) [...] não posso trabalhar fora, tenho que ficar sempre junto com ele (E8). Entender a doença, como agir, como proceder (E9). Ele não admite ser doente quer ser normal, trabalhar (E10).

Para Pereira e Pereira Jr. (2003), o convívio com o portador de transtorno

mental impõe aos seus familiares à vivência de sentimentos e emoções que,

consciente ou inconscientemente, são difíceis de elaborar e entender.

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Segundo Medeiros (1997), o familiar cuidador se vê como um mediador entre

o portador de transtorno mental e o mundo. Ajudar no desenvolvimento da

autonomia do usuário, potencializar capacidades, é o desafio da Reforma

Psiquiátrica.

Um ambiente familiar excessivamente crítico e estressante é desfavorável

para o tratamento. Alguns familiares mostram uma tendência para a superproteção e

o hiperenvolvimento, intensificando exageradamente os conflitos e acordos

(MELMAN, 2006).

Em inúmeras situações nos deparamos com familiares com expectativas

muito pessimistas em relação à possibilidade de melhora do quadro. Após alguns

fracassos, desiludidos, não acreditam na transformação de uma realidade que se

mantêm insatisfatória por períodos tão longos. E, como já salientamos, a reversão

dessas expectativas é um desafio para o enfermeiro. Resgatar a esperança é

fundamental em qualquer projeto de cuidado (MELMAN, 2006).

4.2.2 Categoria 2: Importância do familiar no contr ole da medicação

No que se refere à importância do familiar no controle da medicação a maioria

dos entrevistados referiram que as pessoas com transtornos mentais não aceitam

receber a medicação conforme a prescrição médica. Desta forma foram relatados os

motivos pelo qual a pessoa não aceita tomar a medicação corretamente. O usuário

não se considera doente não aceita o auxilio do familiar e se acha autossuficiente.

Como referem nos seguintes depoimentos.

Muitas vezes ele diz que não precisa tomar, briga comigo, até me manda embora (E3). Percebo a importância, porém ele não aceita a mãe controlar a medicação e acaba não fazendo o tratamento correto (E5). [...] ela não tem condições de tomar medicação sozinha [...] não da para deixar nada exposto ao alcance dela (E6). [...] mas ele não aceita que alguém controla, quando decide não tomar não toma, ai precisa se internar de novo (E7). [...], pois paciente entende que é autossuficiente e pode se automedicar (E9).

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O tratamento medicamentoso é muito importante no cuidado do individuo com

distúrbio mental. Assim, as famílias devem estar preparadas e orientadas quanto ao

uso das medicações, pois podem ocorrer efeitos colaterais importantes (KAPLAN et.

al., 2003; PETRY, 1999).

As famílias se viram estimuladas e pressionadas a voltar a assumir a

responsabilidade pelo cuidado de seus membros doentes. A presença do usuário na

comunidade demandava a criação de dispositivos terapêuticos mais complexos e

eficazes para enfrentar necessidades mais complexas e abrangentes de existência

cotidiana dos pacientes psiquiátricos no espaço social. Esse fenômeno de

diminuição de leitos e fechamento de alguns hospitais colocou, frequentemente, os

operadores de saúde mental frente a frente com a necessidade de reinserir na

comunidade pacientes que estiveram internados por períodos prolongados

(MELMAN, 2006).

4.2.3 Significado do cuidado humanizado para o fami liar.

Em relação ao significado do cuidado humanizado para os familiares, estes

referiram que ocorre por meio do cuidado, inclusão, amor, carinho, afeto,

compreensão, um abraço, um olhar.

É o cuidado que devemos ter com cada pessoa [...] não deixando que ele se torne um problema específico da família [...] (E1). [...] não deixar que ele seja afastado da comunidade [...] ser excluído por sua doença ou incapacidade de raciocínio (E1). Eu acho que cuidado humanizado não significa ter casa e comida e roupa lavada [...] significa amor, carrinho, afeto, compreensão, um abraço, um olhar (E2). Ele quer atenção o tempo todo, só para ele me dedico o dia todo [...] com dedicação, amor não deixo faltar nada (E10).

Humanização em saúde é uma rede de construção permanente de laços de

cidadania, o modo de olhar cada sujeito em sua especificidade, sua história de

subjetividade, mas também de olhá-lo como sujeito de um coletivo, sujeito da

história de muitas vidas (MOTA, 2006).

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Humanização em saúde é resgatar o respeito à vida humana, levando-se em

conta as circunstâncias sociais, éticas, educacionais e psíquicas presentes em todo

relacionamento humano. (BRASIL, 2001).

Segundo Caldas (2003), quando um membro da família desencadeia um

processo de dependência derivado de alguma doença, há uma alteração na

dinâmica familiar. À medida que a pessoa vai desenvolvendo a doença, há uma

mudança de papéis entre os membros da família, a fim de designar um deles para

assumir a responsabilidade pelos cuidados do doente. Dessa maneira, o cuidador é

a pessoa que chama a si a incumbência de realizar as tarefas que não são mais

possíveis de ser executadas pela pessoa com transtorno mental.

O significado do cuidado humanizado para os familiares também significa o

cuidado com a medicação e com o tratamento.

Entendo como medicação nas horas certas, alimentação, carrinho, companheirismo, atenção, mas tudo dentro do limite [...] não tome conta da minha vida (E3). [...] sou uma pessoa que acabo fazendo as vontades dele [...] entendo que o cuidado humanizado é cuidar das consultas e do tratamento (E5).

Na literatura brasileira sobre saúde mental, os autores frequentemente

referem-se à necessidade de assistência à família da pessoa com doença mental

como parte ou estratégia do tratamento. No entanto não são frequentes as

discussões e trabalhos que demonstrem um conhecimento contextualizado de como

e por quem os doentes mentais são cuidados fora dos espaços institucionais da

psiquiatria, ou seja, na família (MELMAN, 2006).

4.2.4 Sugestão dos familiares para melhorar a quali dade do cuidado em casa e

nas equipes de saúde mental.

Entre os entrevistados há diferentes sugestões para a qualidade do cuidado

para pessoas com distúrbio mental, como a necessidade de mais clinicas para

tratamento e grupos terapêuticos, mais informações sobre a doença, adesão ao

tratamento e mais profissionais na área da saúde mental para atendimentos.

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Os cuidados são vários não teria ideias agora, porque tudo que pode ser feito já esta sendo feito [...] (E1). Eu sugiro que tenha mais clinica para deficientes auditivos e posto que tenha pessoas que entenda ele [...] eles tem direitos iguais [...] (E2). Eu diria que fizesse todo tratamento até o fim, para não ter recaída e voltar a ser internado (E3). Disponibilidade de médicos para visitas domiciliares [...] ou transporte para estes pacientes (E4). Que ele aceitasse mais os conselhos da família e respeitasse as rotinas da casa, que ele participasse mais de atividades, grupos de apoio e que fosse procurar uma ocupação (E5). Vida mais saudável, mais informações sobre a doença, mais auxilio do governo [...] (E9).

O portador de doença mental é classificado como um indivíduo diferente, que

não vive dentro das regras que a sociedade impõe, ele é visto como um ser incapaz

de realizar certas funções e ainda ameaçador para a sociedade (GONÇALVEZ;

SENA, 2001).

Isso implica uma progressiva mudança de mentalidade e comportamento da

sociedade para com o doente mental. Exigem revisões das práticas de saúde mental

em todos os níveis e posturas mais críticas dos órgãos formadores de profissionais,

principalmente, os da saúde e da educação (MELMAN, 2006).

Ainda referindo-se a sugestões para melhorar a qualidade do cuidado

percebe-se que falta de conhecimento sobre a rede de serviços de saúde mental e

do funcionamento do CAPS.

Que ele fosse para o CAPS não só para consultas, mas para atividades de grupo também [...] (E7). Que eles tivessem um centro de atenção para ficar durante o dia (E8). Ter escolas especializadas que possam atender os pacientes (E9). Seria uma oficina terapêutica onde ele sentiria útil [...] (E10).

Os CAPSs são definidos e regulamentados pela portaria ministerial nº. 336,

de 19 de fevereiro de 2002, e devem oferecer atendimento individual, grupal,

oficinas terapêuticas, visitas domiciliares, atendimento à família e atividades

comunitárias. De acordo com a população dos municípios, os CAPSs são

classificados como I II ou III, que são definidos por ordem de porte/complexidade e

abrangência populacional, conforme necessidade de cada município (MINISTÉRIO

DA SAÚDE, 2004).

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Portanto, conhecer e ativar a rede social do portador de transtorno mental e

de sua família permite acionar e criar recursos e potencialidades que podem agir

como fator estimulador de saúde mental, fornecendo suporte social, afetivo e

material (ROSA, 2003).

É trabalho de o CAPS esclarecer os familiares sobre as atividades existentes

no CAPS. Na hora de elaborar o plano terapêutico se explica o “cardápio de ofertas”

do CAPS e juntamente com o usuário e família se traça o plano terapêutico

conforme o desejo e necessidade do usuário e não da equipe de saúde. Explicar

esse plano terapêutico para a família é fundamental. Família também participa do

processo, esse é o cuidado conjunto entre equipe – usuário – família.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conhecer o significado do cuidado humanizado para familiares de pessoas

com transtorno mental constituiu o foco principal dessa investigação.

Identificou-se a partir da análise dos dados que as dificuldades dos familiares

com o cuidado da pessoa com distúrbio mental é centrado na incompreensão e

desentendimento sobre a doença pelo cuidador e demais familiares. O medo da

exclusão social, insegurança e dependência também permeiam seus sentimentos.

Esse é um momento delicado e fundamental, onde os familiares precisam de muita

compreensão e ajuda para lidar com a complexidade de seus problemas e conflitos.

Mesmo sabendo dessas dificuldades o cuidador consegue atender a

demanda do seu familiar com distúrbio mental através do cuidado humanizado,

resgatando o respeito à vida humana, levando-se em conta as circunstâncias

sociais, éticas, educacionais e psíquicas presentes em todo relacionamento

humano.

No decorrer da pesquisa foi possível verificar a necessidade de políticas mais

efetivas na divulgação dos serviços existentes na comunidade para atender a

demanda das pessoas com transtornos mentais em relação ao cuidado e

tratamento, pois nas entrevistas os cuidadores relataram a necessidade de mais

clinicas, grupos terapêuticos e mais profissionais na área da saúde mental. Sabe-se

que há serviços na comunidade suficientes e disponíveis que possam dar conta da

demanda de pessoas com transtorno mental e seus familiares com efetividade.

Sabemos, também, que a ocorrência de uma doença grave e de longa duração,

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como a doença mental, ativa uma série de dúvidas e respostas nas pessoas do seu

convívio familiar.

Os resultados deste estudo sugerem a necessidade de repensar o modelo de

assistência prestado aos usuários da saúde mental e seus familiares necessitando

de maiores informações, ampliando espaços e intensificando o cuidado conjunto

entre os envolvidos - equipe, pacientes e familiares e governo.

Ainda neste sentido, é oportuno repensar a formação acadêmica, tanto na

graduação como nos cursos técnicos de enfermagem. Embora as disciplinas de

saúde mental façam parte do currículo, temos poucos profissionais com um perfil

compatível e com conhecimentos específicos para as necessidades na área da

assistência em saúde mental e que tragam também em sua bagagem características

essenciais como a compreensão, a inclusão, o amor e o afeto. Portanto a

necessidade de manter-se em processo de aprendizagem permanente, engajando-

se em programas de educação continuada é essencial. Também, sugere-se a

continuidade de pesquisas com aprofundamento do tema.

Por fim, ao refletir sobre a minha trajetória acadêmica e profissional, observo

que ao concluir esta pesquisa no campo da saúde mental, a mesma contribuiu para

o meu crescimento pessoal e certamente trará reflexos sobre a atuação profissional,

pois a essência desta profissão é o cuidar, cuidado para prestar uma assistência

humanizada. O aspecto mais relevante para mim diz respeito às relações humanas

como da subjetividade, da saúde e da vida.

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APÊNDICE

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LISTA DE APÊNDICE

APÊNDICE A – Entrevista ........................... ................................................. 47

APÊNDICE B – Termo de Consentimento Livre e Esclare cido (TCLE) .... 48

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APÊNDICE A – Entrevista

1- Nome:_________________________________________________________

Pseudônimo: ___________________________________________________

2- Sexo ( ) Masculino ( )Feminino

3- Idade:____________

4- Estado Civil ( ) Solteiro(a) ( )Casada (o) ( )Separada (o) ( )União Estável

5- Qual o seu Grau de escolaridade?

6- Qual sua profissão?

7- Quais dificuldades você enfrenta em relação ao cuidado e tratamento do seu

familiar?

8- Você percebe a sua importância no controle da medicação do paciente?

Encontra dificuldades? Quais?

9- O que você entende por cuidado humanizado?

10- Qual o significado do seu cuidado humanizado em relação ao paciente com

distúrbio mental?

11- Que sugestões você teria para melhorar a qualidade do cuidado com o seu

familiar que tem doença mental?

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APÊNDICE B – Termo de Consentimento Livre e Esclare cido (TCLE)

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

Esta pesquisa refere-se ao trabalho de conclusão de curso, para obtenção do

grau de Bacharel em Enfermagem do Centro Universitário Univates, intitulado

“Significado do Cuidado Humanizado para Familiares de Pacientes com Distúrbio

Mental”.

Os dados serão coletados através de entrevista, que é composta por seis

questões para caracterização dos sujeitos da pesquisa, e cinco perguntas

norteadoras que serão gravadas e posteriormente transcritas pela entrevistadora. Os

dados da pesquisa poderão ser publicados em periódicos ou apresentados em

eventos da área cientifica, porém a identidade do entrevistado será sigilosa, e as

informações prestadas serão utilizadas de acordo com a Resolução CNS 196/96.

A pesquisa não oferece riscos ou custos aos participantes, podendo desistir

ou interromper sua participação a qualquer momento, sem que lhes nenhum

prejuízo. O estudo esta buscando novos conhecimentos, sendo que não lhe trará

benefícios imediatos. Pode ocorrer algum desconforto em relação ao tempo de

duração da entrevista que será em torno de 30 minutos.

Através do presente Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, declaro

que autorizo minha participação nesta pesquisa. Sem qualquer forma de

constrangimento ou coerção, fui informado de forma clara e detalhada a cerca dos

objetivos, justificativa e procedimentos aos quais serei submetido. Como também os

benefícios, riscos e desconfortos acima citados.

Declaro que fui informado sobre a possibilidade de receber resposta a

qualquer pergunta ou esclarecimento acerca de dúvidas relacionadas à pesquisa.

Assim como, o pesquisador se compromete em propiciar informações atualizadas

obtidas durante o estudo, ainda que estas possam afetar minha vontade de

permanecer participando.

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O pesquisador responsável desta pesquisa é a professora Drª Ioná Carreno e

a acadêmica do Curso de Enfermagem responsável Zenaide Maria Lucietto, cujo

contato pode ser feito pelo telefone (51) 9694-2017. O presente Termo será

elaborado em duas vias, uma ficará com o entrevistado e outra com o pesquisador.

Data:______/_______/_______

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Nome e assinatura do voluntário

______________________________________

Zenaide Maria Lucietto