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Simone Gonçalves de Assis - Oswaldo Cruz FoundationsumÁrio apresentação 5 capítulo 1: d Á pra superar os problemas?9 capítulo 2: c omo a vida fica difÍcil, quando aparecem

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Simone Gonçalves de AssisRenata Pires PesceJoviana Quintes AvanciKathie Njaine

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PESQUISADORES

Simone G. Assis (coordenação)

Renata Pires Pesce

Joviana Quintes Avanci

Kathie Njaine

Liana Furtado Ximenes

Luciene Patrícia Câmara

Lucimar Câmara Marriel

Gabriela Franco Dias Lyra

APOIO TÉCNICO

Marcelo da Cunha Pereira

Marcelo Silva da Motta

Jerônimo Rufino dos Santos Júnior

ISBN: 85-88026-29-5

Este texto é fruto de uma pesquisa financiada pelo Programa de Desenvolvimento Tecnológicoe Inovação em Saúde Pública – PDTSP-SUS, da Fundação Oswaldo Cruz. É continuidade de umtrabalho sobre resiliência desenvolvido pelo Centro Latino Americano de Estudos de Violênciae Saúde Jorge Careli em conjunto com o Fundo das Nações Unidas para a Infância - UNICEF.Também contou com bolsistas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico eTecnológico/CNPq; do Programa PIBIC do CNPq/Fiocruz; e do Programa de Técnicos/Tecnologistas (Tec-Tec) - Convênio FIOCRUZ-FAPERJ.

Capa, projeto gráfico e editoração: Carlota Rios; Ilustração: Marcelo Tibúrcio; Revisão: MaraLúcia Pires Pesce; Fotos: Gutemberg Brito

Ficha catalográfica

305.23 A848e Assis, Simone Gonçalves de

Por que é importante ajudar os filhos a “dar a volta” por cima?: conversando com

pais de crianças e adolescentes sobre as dificuldades da vida/ Simone Gonçalves de

Assis; Renata Pires Pesce; Joviana Quintes Avanci; Kathie Njaine. — Rio de Janeiro:

FIOCRUZ/ENSP/CLAVES/CNPq, 2006.

44 p.

1. Criança. 2. Adolescente. 3.Resiliência. 4.Promoção da saúde. 5.Família. I.Fundação

Oswaldo Cruz. II. Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde “Jorge

Careli”.

III.Fundo das Nações Unidas para a Infância. IV. Pesce, Renata. V.Avanci, Joviana Q.

VI. Njaine, Kathie.

AGRADECIMENTOS

Secretaria Municipal de Saúde de Duque de Caxias-RJ

Secretaria Municipal de Saúde de São Gonçalo/RJ.

Pais e mães que participaram dos grupos focais

que deram origem ao livro.

Secretaria Municipal de Educação de São Gonçalo/RJ.

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SUMÁRIO

Apresentação 5

Capítulo 1: DÁ PRA SUPERAR OS PROBLEMAS? 9

Capítulo 2: COMO A VIDA FICA DIFÍCIL, QUANDO APARECEM OS PROBLEMAS 11

Capítulo 3: PROBLEMAS QUE MAIS AFETAM A VIDA DOS FILHOS E DA FAMÍLIA 17

Capítulo 4: PROTEGENDO OS FILHOS ENSINAMOS A SUPERAR PROBLEMAS 31

Capítulo 5: BUSCANDO AJUDA PARA A FAMÍLIA E OS FILHOS 41

PRA DAR UMA FORÇA NAS HORAS DIFÍCEIS 43

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Este livro foi feito a partir de conversas com mães, pais eoutros responsáveis por crianças e adolescentes queprocuravam vários tipos de ajuda para seus filhos nos serviçospúblicos de saúde de Duque de Caxias e São Gonçalo, no Estadodo Rio de Janeiro, em 2005.

Queríamos entender como os pais se sentiam em relaçãoaos problemas que eles e seus filhos estavam enfrentandonaquele momento. E também saber como buscavam forças para

enfrentar e superar as dificuldades que viviam.

APRESENTAÇÃO

Vamos falar sobre a capacidade que temos de nosreequilibrar quando enfrentamos dificuldades navida. Isso é resiliência!

Essa capacidade de “dar a volta por cima” nos problemas étambém chamada de resiliência.

Em 2004 procuramos ouvir também as opiniões deadolescentes de escolas públicas e particulares de São Gonçaloque nos falaram sobre como faziam para superar seusproblemas. Foram quase 2000 adolescentes entrevistados.

Nesse livro, queremos falar com a família sobre aimportância de perceber que todos nós temos capacidade para

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superar as dificuldades da vida. E que, quanto mais cada umconseguir encarar e enfrentar os problemas, mais capacidadeterá de ajudar crianças e adolescentes que estão sob nossaresponsabilidade a também superarem suas dificuldades.

De fato, a gente tem grande capacidade de aprender avencer as dificuldades na infância e na adolescência. Este é oprincipal foco da nossa conversa. Queremos falar com vocês– mãe, pai, avô, avó, tios ou outros adultos, sobre aimportância de apoiar as pessoas durante os problemas.Assim construímos adultos mais fortes e mais capazestambém de educar seus filhos.

Sabemos o quanto é difícil criar um filho. Nem sempre épossível educar da maneira que sonhamos e que pensamosser a melhor. Muitas vezes as dificuldades financeirasimpedem de colocar a criança em uma boa escola, deconseguir bom atendimento em serviços de saúde e até dealimentar os filhos bem.

Às vezes também não nos relacionamos com os filhos damaneira que gostaríamos ou que sonhamos. Algumasconversas sobre uso de drogas, comportamento sexual eviolência costumam ser difíceis e nem sempre conseguimosser sinceros e abertos o suficiente. Então, como orientar osfilhos? Esse é um motivo de angústia para muitos pais eresponsáveis, que costumam se sentir inseguros sobre o melhorcaminho a seguir.

Sabemos que nenhum de nós é perfeito e que ninguém ésuper-homem ou super-mulher. Em casa, todos nós temosmomentos em que não conseguimos agir como deveríamos.Nesses instantes, o mais importante é tentar se acalmar,pensar um pouco e depois, se possível, procurar conversarsobre o assunto buscando uma saída melhor. Negociar comos filhos é importante, desde que tenhamos firmeza parasustentar nossas opiniões. É bom lembrar que a gente podeaprender muito com os erros que comete!

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Queremos refletir com vocês sobre como crianças eadolescentes podem aprender a viver com as cicatrizesdeixadas pelos problemas que viveram, levando a vida commais leveza e satisfação. A família toda é muito importanteporque é um exemplo para as crianças e adolescentesaprenderem a ser mais fortes e seguras.

Este livro é uma primeira busca para esse nosso diálogo.Esperamos que ele possa apoiar você e sua família.

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Minha mãe morreu quando eu entrava na adolescência. Ela teveum AVC de repente e, sem mais nem menos, ficamos sozinhos,meu pai, eu e Pedro, meu irmão, ainda uma criança. Foi um tempodifícil pra gente. Eu tentei ajudar meu irmão, mas logo depois,uns dois ou três anos, meu pai também faleceu. Ficou muitocomplicado com meu irmão, que tinha ficado muito apegado ameu pai. Com a ajuda de parentes, fomos crescendo e eu sempreolhando meu irmão. Mas não deu pra segurar muito ele não. Elese soltou de vez da gente. Tá impossível, muito agressivo, semetendo em confusão toda hora.

Eu não tava agüentando mais ele, aí pedi auxílio pro ConselhoTutelar perto da minha casa. Aí, eles me encaminharam pra esteserviço aqui. Ele agora está fazendo tratamento. Foi aqui, queacabamos chegando à conclusão que ele era muito apegado ameu pai e meu pai faleceu. Ele teve duas perdas muito cedo...Percebemos que ele precisava de ajuda pra além da que euconsigo dar.

Acho que eu tive mais sorte do que ele. Tive o carinho do meupai e da minha mãe por mais tempo. Quando minha mãe ficoudoente, ela ficou impossibilitada de dar atenção pro meu irmão,do modo como fazia antes. E ele tinha só uns 2-3 anos. Com meu

DÁ PRA SUPERAR OS PROBLEMAS?

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pai também, meu irmão ficou muito pouco tempo próximo dele.Conforme ele foi crescendo, foi perdendo. Tá sendo muito difícilpra ele superar tanta coisa. Pra mim tem sido mais fácil.

(Marta, jovem mãe, acompanhando seu irmão ao Posto de Saúde)

Marta aprendeu a “dar a volta” por cima, a se tornar mais forteemocionalmente e a superar as situações difíceis que vive. Ela nos mostracom clareza a força interior que todos nós temos para seguir em frente,apesar dos problemas que a vida nos coloca.

Superar dificuldades – ou ser resiliente – significa encontrar umaforma construtiva de reorganizar a vida após um problema.

Mas, nem todos têm a mesma habilidade de Marta. Seu irmão Pedroé um exemplo de pessoa com mais dificuldades para continuar sedesenvolvendo bem após passar por problemas.

Sabemos que não é possível apagar as cicatrizes deixadas pelastristezas e dores que enfrentamos. Elas sempre deixam marcas, mais oumenos profundas. Mas, os traumas podem ser encarados como desafios,que motivam a melhorar e a seguir em frente, como fez Marta; ou entãocomo um destino do qual não se pode fugir, como começa a fazer Pedro,mesmo ainda tão novo.

Neste livro, falaremos várias vezes sobre a importância deconstruirmos caminhos construtivos, apesar das dificuldades, lembrandoque pais, familiares, vizinhos, escola e comunidade podem ajudar muitonesta tarefa.

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COMO A VIDA FICA DIFÍCIL,

QUANDO APARECEM OS PROBLEMAS

Todos os pais e adolescentes que conversamos tinham passadopor vários tipos de problemas em suas vidas. Adolescentes de escolaspúblicas e particulares, mães e pais mais pobres ou mais ricos, commais ou menos anos de estudo, todos passaram por traumas que deixaramalgumas cicatrizes.

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Desemprego, pobreza, problemas devidos ao alcoolismo e drogas,doenças e internações de familiares são alguns dos problemascomentados.

Muitas famílias também vêm enfrentando conflitos como separaçõesdos pais e desestruturação familiar. Situações de violências na família,prisão de pessoas amadas, morte de algum dos pais ou de outrosqueridos são alguns dos problemas difíceis de serem enfrentados. Alémdesses, os sentimentos de rejeição e abandono que os filhos podemsofrer em relação aos pais são outras dificuldades que as famílias àsvezes têm que enfrentar.

Para muitos adolescentes, os problemas no namoro, as mudançasde casa e as transformações próprias da idade são também experiênciasàs vezes difíceis de serem vividas.

Mas, vimos na história de Marta e Pedro, bem como na de muitasoutras famílias, que cada pessoa lida com os problemas de uma forma

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diferente. Algumas pessoas às vezes conseguem “dar a volta” por cimade problemas muito difíceis. Algumas tornam o problema muito maiordo que ele realmente é, por terem pouca confiança em si mesmas e porterem pouco apoio de outras pessoas.

AS FORMAS COMO AS PESSOAS ENFRENTAM OS PROBLEMAS,

DEPENDEM DE:

• Tipo de problema enfrentado• Capacidade que a pessoa tem para enfrentar a dificuldade• Quantidade de problemas enfrentados• Momento da vida em que aparece o problema• História de vida de cada um – as cicatrizes que trazemos• Apoio recebido de outras pessoas, de outros profissionais einstituições

Muitos pais que entrevistamos falaram que existem problemas maisfáceis de serem enfrentados e outros mais difíceis. O desemprego e afalta de trabalho foram muito lembrados. Se por um lado, essesproblemas transtornam toda a vida familiar, por outro, eles podem, emparte, serem encarados usando alguma criatividade para suprir asnecessidades mais imediatas.

Mas as doenças, o consumo de álcool e drogas, as mortes ou suicídiosna família são considerados por quase todos como problemas muitodifíceis de serem superados.

Embora pareça claro que há problemas mais fáceis e mais difíceisde serem enfrentados, o jeito de cada pessoa entender, enfrentar esuperar o problema faz com que ele seja mais simples ou mais complexo.

Podemos dar como exemplo dois adolescentes cegos: o de famíliarica se sente incapaz, não consegue apoio de seus familiares e vizinhose não consegue superar suas dificuldades.

O de família pobre supera melhor este problema, tendo sua auto-estima “lá em cima” e recebendo intensamente o apoio da família e dosamigos.

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Todos os problemas são difíceis. Existem pessoas que têm acapacidade de superar o problema mais rápido e outrosnão.(Mãe, com filho na Unidade de Saúde)

Acho que são as pessoas que fazem os problemas ficaremmais difíceis.(Tia de adolescente no Programa Saúde Escolar)

A atitude diante dos problemas dá dicas sobre como cada pessoa esua família podem ser afetadas pelas adversidades da vida. A cegueirapode ser encarada como um problema que paralisa e destrói a vida. Ouentão, como um problema que desafia a busca por novos caminhos etraz desafios: a pessoa pode continuar seu desenvolvimento de umanova forma e descobrir atividades em que se sinta capaz e útil.

A quantidade de problemas e o momento em que eles ocorremtambém podem deixar uma pessoa mais frágil. Em algumas famílias muitosproblemas aparecem ao mesmo tempo ou um atrás do outro. Isso podecriar um sentimento de peso e cansaço com a própria vida.

A vida é igual a um jogo... Eu fiquei órfã de pai e mãe.Vivia com a minha irmã. Ela me expulsou de casa aos 13anos. Pra mim foi um obstáculo, um atrás do outro. Se eufosse fraca eu não estava nem viva... Eu levo a minha vidacomo um jogo, cada obstáculo que ele bota na minha vida,eu falo: eu tenho que ultrapassar!(Mãe com filho internado no Hospital Infantil)

Problemas como perda dos pais, violências severas e doenças gravesna família podem ter efeitos mais sérios à criança e ao adolescente.Essas experiências difíceis vividas nos primeiros anos de vida podemdeixar fortes cicatrizes nas crianças.

Muitos problemas vividos pelas famílias não afetam diretamentecrianças e adolescentes, mas fazem-nas sofrerem muito. Isso acontece,por exemplo, quando a mãe ou o pai ficam muito abatidos por algumadificuldade.

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Vimos que uma criança muito pequena e um adolescente vivem deforma diferente os problemas, mas todos os dois acabam sofrendo.Os pais que entrevistamos também falaram um pouco dessas diferenças.

FALAS DAS MÃES E PAIS SOBRE A IDADE DOS FILHOS QUANDO VIVERAM

OS TRAUMAS

Criança mais nova esquece mais rápido, esquece logo.O pai faz... Não é fazer a cabeça, mas, impõe idéias que fazemesquecer rápido.

(Mãe com filho em Centro de Apoio Psicossocial à Infância eJuventude)

Pra criança é mais difícil.A criança guarda pra si. Um mundo imaginário dentro dela mesma.Eu já passei por isso e eu sei. Criei um mundo pra mim, me isoleinesse mundo, pra me soltar eu tive que ir por mais de cinco anosnuma psicóloga, pra conseguir... Eu não conseguia chorar, porque eunão chorei quando a minha mãe morreu. O adolescente já está coma cabeça mais formada.

(Mãe com filha no Hospital Infantil)

Com adolescente é mais difícil. Já tem aquilo difícil na cabeça dele ea criança a gente já pode ir trabalhando.Com a criança também é complicado, é difícil você tirar aquilo dacabeça.

(Mãe com filho no Centro de Atenção Total ao Adolescente)

É importante observar que os adultos também vivenciam problemas.A maneira como os adultos lidam com os problemas pode ajudar ounão os filhos a enfrentarem as dificuldades.

Um exemplo disso é quando ocorre separação dos pais ou mortesna família. A forma como pais e familiares transmitem às crianças eadolescentes suas emoções serve para acalmar ou deixar elas maisaflitas. Quando a família se abala demais e não se recupera do problema,quando estimula o sentimento de raiva e ressentimento ou quando fingeque nada aconteceu, pode criar traumas mais fortes na criança do queaquele causado pela própria adversidade.

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É desejável que os pais ajudem a criança ou o adolescente a lidarcom as experiências difíceis, a lidar com suas emoções, porém sem deixá-los perder suas crenças no futuro. Essa forma de estar mais perto dosfilhos é um grande passo para ajudá-los a lidar com as dificuldades quesurgirão ao longo de suas vidas.

Nem toda situação difícil acarreta problemas para a criança e oadolescente. O que mais importa nessas situações é se o problemaaltera o ambiente em que a criança e o adolescente vivem.Se o problema se arrasta por muito tempo ou é muito grave, asconseqüências poderão ser mais negativas.Mesmo nessas situações, a existência de pessoas dando apoiodurante o processo de superação dos problemas pode reduzir o seuimpacto para a criança e o adolescente.

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Como vimos até aqui a atuação da família é crucial para diminuir asconseqüências dos traumas nas crianças e adolescentes. No nossotrabalho, adolescentes e pais nos falaram dos muitos momentos difíceisque viveram e de como esses momentos marcaram suas vidas. Algunsperíodos da vida podem ser mais difíceis.

O PERÍODO DA GESTAÇÃO

Uma pessoa começa a se desenvolver antes mesmo de respirar.Ainda na barriga, o bebê se comunica com o mundo, através da mãebiológica. Já tem um jeito de ser que é seu mesmo e que depende darelação com sua mãe. Mesmo sem pensar, sofre influências que alteramo meio em que está sendo gerado, do qual é totalmente dependente.As agressões, os gritos, a rejeição, a depressão da mãe, o consumo decigarro, de bebida alcoólica ou drogas podem afetar o bebê na barrigada mãe.

Por isso, é preciso que a mãe faça o pré-natal corretamente e que afamília tente manter o ambiente familiar tranqüilo e estável.

3PROBLEMAS QUE MAIS AFETAM

A VIDA DOS FILHOS E DA FAMÍLIA

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Transmitir afeto e segurança ao bebê em gestação é condiçãoimportante para o bom desenvolvimento da criança.

O nascimento também é um momento difícil para o bebê. Ele recebepressões sobre seu corpo, ouve sons fortes e diferentes e sente umatemperatura distinta da que estava acostumado. Neste momento,diferentes traumas podem afetar a vida futura da criança, como problemascongênitos do próprio bebê e dificuldades para respirar na hora doparto.

Apesar disso, os problemas ocorridos nessa fase da vida podem serenfrentados e transformados com ajuda da própria criança, da família ede várias instituições como escola e serviço de saúde.

O TRABALHO E AS CONDIÇÕES DE VIDA

Aí faz o diferencial entre a classe alta, a média e ospobres. É um diferencial muito grande. Porque vocênão tem condição de dar o melhor pros seus filhos. Nãote abre uma porta, não te dá oportunidade, umachance pra você começar.(Mãe de adolescente atendido em Posto Sanitário)

Viver em condições financeiras precárias é um problema difícil deser enfrentado pela maioria das famílias. Muitas vezes, nas famílias pobresmais problemas podem ocorrer porque uma dificuldade facilita oaparecimento de outra.

Isso acontece porque a pobreza e o desemprego deixam a famíliamais vulnerável. Os desentendimentos, atitudes violentas, falta decuidado com a saúde e moradia inadequada são problemas freqüentesnas famílias em dificuldade financeira.

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O QUE MÃES E PAIS FALAM SOBRE OS PROBLEMAS TRAZIDOS PELO

DESEMPREGO E PELA FALTA DE OPORTUNIDADE DE TRABALHO

O desemprego... Não é brincadeira, não. Esse é o leão que táassombrando a metade da população...A família fica desestruturada... Começa o desentendimento porquenão tem verba, não tem como fazer nada. A pessoa fica nervosa,perde um pouco o equilíbrio...Começa a discutir com marido, começa a discutir com a mãe...Aquilo passa pros filhos... Aí, destrói a família. É difícil superar.Têm uns homens que são fracos... Ele desempregado, vê a famíliapassando necessidade. A maioria ainda pega e abandona a família...Mas é pior o pai cometer o suicídio. Vai se matar porque não sesente digno. Um homem não ter capacidade de sustentar sua família!Como a gente vê por aí acontecendo. É muito triste...O problema é mais do que isso, é a falta de oportunidade.

(Pais de crianças e adolescentes no Posto Sanitário)

Eu acho que desemprego ainda é menos porque o desemprego,você ainda pode fazer um cabelo, fazer uma unha.Vender uma revista

(Mães com filhos no Centro de Atenção Total ao Adolescente)

A gente [esposa] quer ver o marido bem... ainda mais quando estádesempregado. Aí que dá mais nervoso... A gente sofre por quê? Éfilho pra gente tomar conta, e o marido pra gente tentar reagir. Eaí... o marido não ajuda a gente...

(Mãe com filho no Centro Municipal de Saúde)

A falta de emprego ou de algum trabalho que ajude a suprir asnecessidades básicas da vida pode deixar os responsáveis pela famíliacom a dignidade abalada. As mulheres podem se sentir muito sozinhas,tendo que reunir forças para animar seus companheiros e lidar com osproblemas que surgem em casa. A tensão familiar e outros problemasdecorrentes das dificuldades econômicas podem prejudicar odesenvolvimento da criança e do adolescente.

Todas essas dificuldades podem levar alguns adolescentes a consumirmais drogas, ter mais baixa auto-estima, ter dificuldade para se relacionarcom as pessoas e ter menor participação na escola. São jovens que

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merecem cuidado especial da escola e da família. Ser pobre, no entanto,não significa que não possamos lidar com os problemas difíceis da vida.

As pesquisas mostram que por mais pobre que seja uma família, paise filhos têm tanta capacidade de superar dificuldades quanto pessoas defamílias mais ricas.

A CHEGADA DOS IRMÃOS

A família muda quando chegam os filhos. Para crianças eadolescentes, a chegada de um irmão mais novo pode provocardificuldades e os pais podem ajudar muito se percebem logo o problema.

São vários os rearranjos que acontecem: muda a arrumação da casa,abrindo espaço para mais uma cama; aumentam as disputas entre ascrianças pelo afeto e tempo dos pais.

O filho mais velho enfrenta maior número de proibições,especialmente para proteger o bebê mais frágil.

O relacionamento entre os pais também muda a cada novo filhoque nasce. Aumentam as dúvidas sobre como lidar com as diferençasde cada filho, dividindo ainda mais o salário e a casa. Cresce ainsegurança frente aos conflitos entre os filhos. Aumenta a sensação deculpa dos pais quando não conseguem dar atenção a todos da formacomo cada um precisa.

O relacionamento entre irmãos é muito importante de ser cuidadopelos pais. É com os irmãos que as crianças aprendem a se relacionarcom pessoas de sua idade. E isso eles aprendem para toda a vida. Quandoexistem muitas agressões e humilhações entre irmãos, são esperadasdificuldades de relacionamento no futuro.

Percebemos entre os adolescentes que entrevistamos, que onascimento de irmãos pode dificultar a capacidade de superar problemas.Por isso, os pais precisam tomar muito cuidado para tratar igualmenteos filhos e procurar enfrentar os conflitos entre eles como um bom juizde futebol que não toma partido por nenhum time. A união entre osirmãos é um bom sinal para tranqüilizar os pais.

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PROBLEMAS DE SAÚDE NA FAMÍLIA

A doença, se for em mim, eu consigo superar. Se eu souberque eu estou com aquela doença eu vou tentar me ajudar,melhorar, me esforçar para lutar por ela. Derrubartambém não me derruba não. Lá no hospital tem mulheresque são mais velhas e choram com medo de tirar o útero...Ficar oprimida, não é o caso, você se entrega pra doença...Se você não tentar reagir ela te derruba mais rápido. Onegócio é esquecer e lutar.Mãe com suspeita de câncer no colo do útero,acompanhando o filho no

Centro Municipal de Saúde

As doenças, os acidentes e os problemas de deficiência física oumental na família podem prejudicar o crescimento da criança e doadolescente.

Esses problemas de saúde podem trazer muito sofrimento. Nasfamílias mais pobres, as angústias costumam se agravar pela dificuldadeem conseguir atendimento médico, para comprar remédios e fazerexames mais caros.

É importante que a criança, o adolescente e sua família encontremforças em si mesmos e nos outros para ajudarem-se mutuamente. Oshospitais e os centros de atendimento, médicos, enfermeiros, psicólogose assistentes sociais podem orientar a família, deixando-a mais confiantepara lidar com as doenças.

Quando os problemas de saúde surgem, não adianta fugir deles oufazer de conta que eles não existem. A maior parte das doenças temtratamento e, mesmo nas situações mais graves, o sofrimento pode sermenor quando existe uma equipe de profissionais capacitados dandoapoio.

As crianças e os adolescentes têm mais dificuldade para lidar comproblemas de saúde das pessoas que elas gostam quando elas se senteminseguras na família e quando não encontram o apoio de amigos,vizinhos, outros parentes e profissionais de saúde ou de educação quepodem conversar com ela sobre o assunto.

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Mesmo quando os filhos é que estão doentes, é bom equilibrar aatenção que damos a eles e aos irmãos que não estão doentes, e tentarconversar com eles sobre a doença como uma fase da vida e comomomento de desafio, do qual as crianças e adolescentes podem sairmais fortes, mostrando que têm capacidade de superação.

Também não é demais lembrar que os pais sofrem muito ao veremseus filhos doentes. Às vezes é preciso que nos afastemos um poucopara recobrar as forças, achando algum amigo, parente ou vizinho quepossa nos ajudar a cuidar um pouco do filho doente.

Não é vergonha fraquejar ou chorar diante dos filhos em algunsmomentos. Mostra que amamos muito e que queremos o melhor paraeles.

É sempre bom que os pais possam ouvir as dúvidas dos filhos sobreseu problema de saúde e a eles responder da forma mais aberta possível,dividindo com eles as angústias da situação. Podemos ainda recorrer aparentes ou a profissionais de saúde para essa conversa, quando os paisse encontram tão frágeis que não conseguem falar sobre o assunto.

Abraço e carinho são também muito importantes, pois o contatofísico e o afeto ajudam a dar mais forças e a curar muitos males docorpo e do coração.

MORTE DOS PAIS E DOS IRMÃOS

Minha mãe faleceu quando eu tinha dezessete anos. Pramim foi o maior problema do mundo. Foi muito difícil praeu conseguir superar... Mas o pior ficou a minha tia,entrou numa depressão tão grande. Ela chegou a tomarremédio pra se matar, pra poder encontrar com a irmã láno céu. São coisas assim... Uma tenta ter uma vidamelhor; a outra, tenta se matar porque perdeu a irmã. Issopassa o sofrimento para as crianças que ficaram.Mãe com filho em enfermaria do Hospital Infantil

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Uma perda é uma perda, ninguém quer perder. Quem amanão quer perder... Você não quer perder um pai, uma mãe,um irmão.... Infelizmente é a vida, conseqüência da vida...A perda é uma coisa muito profunda.(Avó com criança em Posto Sanitário)

É muito difícil para uma criança ou adolescente perder por morteirmãos, pais ou outras pessoas importantes que cuidem dele. Emcrianças pequenas, a dor da perda pode parecer menor, mas pode terefeitos graves e visíveis quando elas se tornarem adolescentes ouadultas.

A perda dos pais pode atrapalhar o crescimento do bebê,principalmente se faltarem pessoas para dar o carinho necessário que opai e uma mãe devem dar. O mais importante é que a criança recebaapoio e se sinta segura.

Se a família que irá cuidar da criança e do adolescente se mantiverafetuosa e continuar a protegê-los, eles retomam mais facilmente o seucrescimento e se adaptam ao novo arranjo familiar.

Nessas difíceis situações, o que mais importa é o que acontece antes

e depois desses momentos. É bom que a criança ou adolescente possacolocar para fora seus sentimentos desenhando, jogando, inventandopersonagens como num filme ou falando para as pessoas sobre a tristezaque está sentindo.

É também importante passar para a criança ou adolescenteinformações exatas e sinceras sobre a morte, oferecendo apoio. Mas, épreciso que o adulto se sinta capaz de tolerar a saudade, o sofrimentoe a angústia da criança ou adolescente.

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USO DE ÁLCOOL OU DROGAS

Perdi meu pai quando tinha dez anos. Completei meus onzeanos já trabalhava e pagava o aluguel da minha mãe.Minha mãe tinha uma doença que não era muito conhecida,era década de setenta. Eu que levava ela pro hospital... Elafoi melhorando, depois veio o problema no coração. Mas elaviveu até noventa e oito. Vivi aquilo ali desde os onze anos.Quando eu me casei ainda tive que fazer uma casa. Passeium sufoco danado. Chegou um ponto que eu larguei acerveja de lado e fui melhorar minha situação. Tentararranjar mais dinheiro para comprar minha casa própria eaí vieram os meninos e o problema deles de sistema nervoso,e ainda desempregado.(Pai, acompanhando filho no Centro de Apoio Psicosocial à Infância eJuventude)

O depoimento do pai acima nos mostra que um problema muitodifícil para família e que costuma deixar conseqüências graves nascrianças e adolescentes é o consumo de álcool e drogas.

Quando pessoas da família abusam da bebida ou das drogas, arelação entre esses membros fica complicada, muitas vezes ocorrendoagressão com palavras ou com força física.

Pais e parentes queridos das crianças e adolescentes servem demodelo para eles. Por isso, quando o pai ou mãe consomem muitoálcool ou drogas, é comum que os filhos tenham baixa auto-estima, quesejam mais insatisfeitos com suas vidas e que não se relacionem bemcom outras pessoas.

O consumo de álcool e drogas pelos filhos deixa os pais muitoabalados emocionalmente.

A família fica muito abalada, mais do que o filho drogado.Na maioria das vezes ela não sabe nem como começar aajudar o filho. Aí o problema fica pior, porque ela fica nofundo do poço. Sem força pra ajudar os filhos ela vaiafundando cada vez mais.(Mãe, com filho em Centro que atende jovens que consomem drogas)

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Mas, a fraqueza e a apatia não podem tomar conta dessas famíliasno enfrentamento desse problema.

Facilita muito quando a família se une para ajudar o adolescente. Abusca de ajuda em serviços de saúde e em centros especializados éoutro passo muito importante de ser dado. Dessa forma, a família setorna mais forte e consegue pensar numa melhor forma de lidar comesse problema.

BRIGAS E SEPARAÇÃO DOS PAIS

Discussões familiares são comuns, mas, algumas vezes elas seacumulam e se transformam em grandes problemas que podem causara separação do casal. Nesses momentos de brigas e separações dospais, os filhos sofrem bastante.

O sofrimento aumenta mais se, após a separação dos pais, o pai oua mãe tiver dificuldade em dar carinho e em controlar os filhos. Quandoos pais não se falam fica ainda mais difícil para educar as crianças.

Muitas mães podem ficar deprimidas e angustiadas, dando poucoapoio e sendo autoritárias. Os pais também podem ter dificuldade emcolocar limites e em estarem presentes no dia-a-dia dos filhos. Aí écomum que eles fiquem agressivos com os irmãos ou na escola, quetirem notas baixas ou que fiquem muito tristes e chorosos.

E isso tudo piora quando se tem que trabalhar mais tempo paraconseguir sustentar os filhos e a casa. Sobra ainda menos tempo para osfilhos.

Mas a separação dos pais nem sempre atrapalha as crianças e osadolescentes. Também não tira a capacidade delas de superarem asdificuldades. Pelo contrário, quando a separação diminui as brigas,melhora a vida na família e o relacionamento entre os pais, os filhossaem do problema mais seguros.

O mais importante na separação é tentar manter uma boa relaçãoentre o pai e a mãe e deles com a criança.

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AGRESSÕES NA FAMÍLIA

Quando ocorrem agressões na família, os filhos sentem muito,porque é muito difícil sofrer violência por parte de pessoas de quem seespera afeto e proteção.

Uma das violências mais comuns na família é a psicológica.

TIPOS DE VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA NA FAMÍLIA (OU AGRESSÃO

VERBAL)

* Humilhar e depreciar a criança/adolescente;

* Mostrar desinteresse pela criança/adolescente;

* Criticar o tempo todo a criança/adolescente sem ver suas qualidades;

* Culpar a criança/adolescente por tudo;

* Desencorajar a criança/adolescente a melhorar;

* Ignorar os sentimentos da criança/adolescente;

* Cobrar muito da criança/adolescente, além de sua capacidade.

A violência psicológica na família pode ocorrer com todos osmembros. Mas, crianças e adolescentes que crescem se sentindorejeitados, sofrendo humilhações e outras formas de agressão verbalcostumam apresentar muitos problemas, como agressividade, depressãoe baixa auto-estima.

Os pais precisam prestar muita atenção se algum filho é tratadoassim e se esforçar para que mude o jeito da família cuidar dele.

Adolescentes que vivenciam alguma forma de violência psicológicana família costumam ter menos capacidade pra enfrentar os problemas.

A violência entre os pais é ocorre em muitas famílias. Muitas criançase adolescentes testemunham a humilhação de um pai sobre o outro eassistem a desentendimentos e agressões entre eles.

Mesmo em famílias em que os pais se agridem um ao outro e nuncaagridem os filhos, são comuns os problemas de comportamento nessascrianças e adolescentes.

Filhos que presenciam agressões físicas entre os pais têm maisdificuldade pra resolver os problemas.

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Aprendem em casa uma forma ruim de resolver as dificuldades:através da violência.

Alguns desses comportamentos são agressividade e depressão, quecomeçam ainda na infância e seguem por toda a vida. Por isso, éimportante que os pais percebam que a sua forma de relacionar comocasal tem influência no tipo de vida dos filhos.

A violência física dos pais contra os filhos é outra forma ruim deestabelecer disciplina na casa. Os filhos aprendem que a força física éum jeito comum de agir dos adultos. E costumam levar esse aprendizadopara toda vida, seja na escola, com os amigos ou mesmo na família quevão formar um dia.

Pensar em outras formas de disciplinar os filhos é muito importante.

Ter regras claras na família do que os filhos podem e do que nãopodem fazer; combinar recompensas e punições de acordo com ocomportamento apresentado por eles; aprender a negociar com os filhosquando os problemas surgirem são algumas estratégias que os paispodem fazer.

A violência sexual é um grave problema familiar que pode acontecercom crianças e adolescentes.

FORMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL NA FAMÍLIA

* Estimulação e contato com a criança ou adolescente para terprazer sexual.

* Uso de força ou de sedução para com a criança ou adolescente.

* Exibição das partes íntimas de criança ou adolescente(pornografia).

* Facilitação da prostituição de criança ou adolescente.

* Usar palavras e gestos de conteúdo erótico.

* Nem sempre a violência sexual é acompanhada por contatocorporal.

Quando acontece alguma forma de violência sexual de familiaressobre os filhos, as conseqüências costumam ser mais graves. A criançaou o adolescente que sofre violência sexual de alguém da família pode

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demonstrar sentimentos de angústia, medo, ansiedade, culpa, vergonhae depressão, que podem permanecer até a vida adulta. Também podeter sintomas como tensão, dor de cabeça, insônia, pesadelos, dificuldadepara se alimentar e náuseas.

Adolescentes que tiveram uma experiência de violência sexual comum dos pais têm mais dificuldades de superar problemas.

A quebra de confiança nos pais destrói fontes de proteção que osfilhos necessitam pra crescer.

Outros efeitos desse tipo de violência também pode aparecer navida adulta como dificuldade no relacionamento sexual, uso de drogase álcool, pensamento e tentativa de suicídio.

Para evitar que essa violência marque a vida dos filhos, os pais efamiliares precisam rever o jeito da família se relacionar, repensar osrumos da família e, principalmente, procurar ajuda em serviçosespecializados, como os da saúde.

PROBLEMAS NA ESCOLA

É na escola que as crianças e adolescentes passam boa parte dodia. Nesses momentos, os pais deixam com os professores, osfuncionários e o diretor a responsabilidade pelo cuidado dos filhos.

Quando os filhos encontram muitos conflitos na escola, odesenvolvimento deles fica prejudicado. Por isso, é sempre bom estaratento para perceber como o filho se sente na escola e como serelaciona com os outros na escola.

Ser ameaçado por alguém na escola pode fazer com que oadolescente tenha mais dificuldade para enfrentar os problemas davida.

Se a escola for um local desagradável, injusto e inseguro para ascrianças e os adolescentes, eles costumam ter mais dificuldades paraaprender.

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Formas de humilhação vividas na escola muitas vezes levam a criançae o adolescente a terem uma auto-estima baixa. A humilhação pode serpraticada tanto por funcionários, professores como pelos colegas.

Quando os filhos não tiram boas notas e estão prestes a perderemo ano, costumam mostrar sofrimento e a sentirem-se incompetentes.

É importante que familiares, professores e amigos apóiem a criançae o adolescente, supervisionando o estudo e procurando ajuda de outraspessoas e instituições, sempre que possível.

VIOLÊNCIA NA COMUNIDADE

A violência da cidade também está presente no local onde aspessoas vivem. Nos bairros mais pobres a situação se agrava porque,muitas vezes, neles faltam serviços de saúde, educação, boas condiçõesde moradia e segurança.

A violência coloca a criança, o adolescente e toda a família emrisco e muitas vezes, a família fica impedida de ir e vir a qualquer horado dia ou da noite, pela violência no local.

Os adultos da família podem ajudar, na medida do possível, os filhospara lidarem com essa situação. Ter alguém para supervisionar ajudamuito, especialmente quando os pais trabalham fora. Saber a companhiados filhos, combinar horários de chegada e saída também ajuda.

Um relacionamento familiar problemático facilita que os filhos seafastem mais da família e se envolvam mais na violência comunitária.

Atitudes como estas podem prevenir que os filhos se envolvam emsituações de violência na comunidade.

Mas, não podemos esquecer que a sociedade e os governos têmuma parcela importante de responsabilidade nesses casos: creches eescolas de horário integral e de boa qualidade, áreas de lazer nacomunidade e ausência de narcotráfico e armas na comunidade, sãoações que ajudariam muito as famílias a criarem seus filhossaudavelmente.

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4PROTEGENDO OS FILHOS

ENSINAMOS A SUPERAR PROBLEMAS

Eu tive uma infância difícil. Meus pais tinham morrido e eu vivia commeus avós, junto com minha prima com dois anos de diferença demim. Depois de uns doze anos juntos, minha avó faleceu com câncerde útero. Ela é que cuidava de mim. Então meu avô começou abeber ... ele já bebia ... me batia. Quando minha avó era viva elabrigava com ele. Depois que ela morreu, ele passou a beber mais,não comprava as coisas pra dentro de casa, me batia, batia na minhaprima.

O que aconteceu? Eu peguei, tinha um namorado, fui morar commeu namorado e tive dois filhos. Depois passei outra dificuldadeque eu separei dele.

Minha prima foi morar com uma família, não deu certo. Hoje emdia ela mora com um cara lá na favela, que é um fogueteiro. Tá coma vida arruinada.

Eu não. Eu tive a minha vida. Me separei, arrumei trabalho, passeipor dificuldades. Meus amigos me deram conselhos para eu trabalhare melhorar de vida. Nem pela dificuldade que eu tive, eu fui sergarota de programa. Hoje em dia eu sou casada tem seis anos. Caseide novo, tenho minha família e mais essa filhinha. E eu não fui pelacabeça dos outros. Tive gente pra me ajudar.

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Essa história foi contada por uma das mães com quem conversamospara escrever este livro. A vida de Elisa nos mostra como é possívelvencer as dificuldades e ficar de cabeça erguida. Ela contou com a forçadada pela avó e por amigos que a ajudaram ao longo de sua vida. Suaprima, que também passou por problemas parecidos na infância, pareceestar vivendo um caminho mais problemático.

O que faz com que uns superem os problemas melhor que outros?Mais do que as dificuldades enfrentadas, a resposta está na proteção

que nós recebemos desde o nascimento até a vida adulta. Afinal, se osproblemas podem influenciar a vida das pessoas, as coisas boas tambémpodem!

TRÊS FORMAS DE PROTEÇÕES QUE FAZEM DIFERENÇA

Apoio da família: dá estabilidade, suporte, confiança e ensina orespeito às pessoas.

Apoio de instituições: por exemplo, escola, igreja e posto de saúde.Aprende-se a ter bom relacionamento com amigos, professores ououtras pessoas importantes e que são referências seguras e quereforçam o sentimento de ser querido e amado.

Capacidade de cada um: há pessoas mais decididas, independentes,equilibradas, flexíveis, afetuosas e com auto-estima mais elevada.

Meu avô pô, me batia. Nem por isso eu roubei, nem matei.

(Elisa, mãe acompanhando a filha no Centro Municipal de Saúde)

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APOIO DA FAMÍLIA

Dentre os adolescentes que entrevistamos, percebemos que umgrupo se diferenciava dos demais: os que tinham passado por muitasdificuldades na infância e se mostravam adolescentes muito capazes desuperar os problemas. O que todos eles tinham em comum era o grandeapoio de suas famílias.

Quanto mais uma criança ou adolescente vive experiências positivascom sua família, mais chance ele tem de se sentir seguro. Este sentimentode segurança costuma ser forte mesmo ao se tornar adulto.

Para que uma família consiga apoiar e proteger as crianças eadolescentes, ela precisa ser criativa em encontrar formas de enfrentaros conflitos.

O primeiro passo necessário é que as pessoas da família tenhamum bom relacionamento, umas com as outras. Não importa se moramjuntos o pai e a mãe biológicos ou se a família é formada por mãe epadrasto, só pela mãe ou pela avó.

Perceber que os pais se respeitam e que não se agridem faz comque os filhos se sintam mais seguros diante dos problemas.

Ter bom relacionamento com irmãos também ajuda muito, pois ascrianças aprendem desde cedo a negociar, ouvir e fazer críticas, melhoraras falhas e pedir desculpas.

O apoio da família também significa supervisão. É preciso conversarcom os filhos, colocar limites, saber onde vão e quem são suascompanhias. É preciso controlar, mas sem apelar para o medo.

Fazer medo na criança e no adolescente não ajuda em nada a crescere a ter responsabilidade.

A opinião que os pais têm dos filhos é muito importante porqueindica o afeto e o estímulo que eles dão aos filhos. Algumas vezesnotamos que os pais vêem muitas coisas positivas em um filho e negativasem outro. Entre os adolescentes que superam mais facilmente asdificuldades da vida, a visão positiva que os pais têm deles é muitocomum.

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A maior parte dos pais que entrevistamos concordou que o apoioque dão aos filhos é o principal fator para ajudar na forma como elesvivem os problemas. Esse apoio, segundo os pais, deve ser oferecidona forma de carinho, amor, orientação e diálogo.

OPINIÕES DAS MÃES SOBRE SEUS FILHOS

Você deve sempre estar conversando com a criança. Mostrar asdificuldades, o certo e o errado... Pra criança ter uma base, vocêtem sempre que falar a verdade, sempre mostrando o certo e oerrado. Como deve ser, como não deve.

(Mãe – Posto de Saúde)

Tem que orientar os filhos. Tem que ensinar direitinho. Eu vou estarsempre orientando meu filho, vou estar sempre do lado dele paraque ele tenha forças para lutar.

(Mãe – Centro Municipal de Saúde)

Tem que ajudar eles em tudo o que eles precisarem. Não é a gentepegar e fazer para eles. É ensinar. Porque hoje em dia não dá pragente pegar e fazer... Mas a gente tem que ensinar, mostrar o certoou o errado. Igual a minha tia fez comigo. Minha tia falou váriasvezes pra mim, aí eu acreditei. Bater, agressividade não adianta.

(Mãe – Centro Municipal de Saúde)

Eu tenho uma filha mais velha de três anos. Eu falei: Se você arriar acabeça pro mundo e para todos, todo mundo vai pisar em cima devocê. Se a vida botar um obstáculo na sua frente e você não falar:“eu vou dar a volta”, não adianta que aquele obstáculo vai semprepintar na sua frente. Resolva o primeiro obstáculo para você passaradiante. É assim que eu ensino meus filhos.

(Mãe – Hospital infantil)

Os pais que oferecem supervisão e orientação aos filhos, sem usarforça física e imposição, na verdade estão ajudando eles a se tornaremresponsáveis pelos seus atos e a serem adultos independentes no futuro.

Infelizmente nem todos os pais conseguem oferecer esse tipode apoio aos filhos. E principalmente não conseguem dar apoio o tempotodo. Os motivos são diversos: não dispõem de tempo suficiente; não

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sabem como fazer; ou estão tão frágeis que não conseguem cuidar de sipróprios, ainda mais dos filhos.

Mesmo pais que trabalham durante grande parte do dia sãocapazes de cuidar bem de seus filhos, especialmente quando contamcom apoio de familiares ou amigos.

O mais importante é estar realmente próximo e aberto a ouvir osfilhos nos momentos em que estão juntos. Se os filhos sentirem quepodem contar com o apoio de seus pais sempre que for preciso,certamente estarão mais fortes e seguros diante das dificuldades queexistem na vida de todos nós, sejam elas grandes ou pequenas.

APOIO DAS INSTITUIÇÕES

A família que recebe apoio de instituições tem mais condição deajudar os filhos a superarem as dificuldades. Há muitas pessoas quepodem ajudar: professores, médicos, psicólogos, enfermeiros,assistentes sociais, pessoas religiosas e da associação de moradores.

Esses profissionais exercem um papel de proteção muito grandequando são sérios, competentes e capazes de ajudar a criança, oadolescente e sua família a superarem as dificuldades com afeto, atençãoe respeito.

Outra fonte de apoio importante é a ajuda financeira que se obtémquando o dinheiro está pouco.

Parentes, amigos ou auxílio em instituições religiosas ou do governopodem ajudar a família a se equilibrar nos momentos de dificuldades.

Minha filha nasceu de cinco meses. Na época o meu ex-marido não estava trabalhando. A assistente social dohospital me falou: “vou te colocar no planejamentofamiliar para você receber o leite”. Aquilo ali foi umaajuda pra mim porque eu não tinha da onde tirar o leitedela. Na época eu não tinha experiência com nada. Entãoquem me ajudou foi quem? Foi aquele leitezinho ali que elame dava.Mãe – Centro Municipal de Saúde

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Em nossa conversa, perguntamos aos pais se eles consideram queos profissionais de saúde (médicos, psicólogos, enfermeiros, assistentessociais) são capazes de ajudar as pessoas de alguma forma na superaçãodos problemas da vida. Vários pais contaram histórias de ajuda obtidasno serviço de saúde, como a dessa mãe, que conseguiu alimento paraseu filho. Outros pais lembraram de médicos que se tornaram amigosda família, outro que ficou um tempo a mais com a paciente apenas paraconversar ou uma psicóloga muito aberta para ouvir a criança e a família.

Nem todos os profissionais têm essa capacidade de acolher a família.Alguns deles não percebem a importância de ouvir, apoiar e encaminhara família.

Eles podem dar mais atenção, mais carinho. Porque às vezesvocê chega num posto de saúde, num posto médico, e a gentegrita pra ser atendida ... Às vezes você chega com umproblema, aí a pessoa te trata na maior grosseria. A pessoavolta pior pra casa. Acho que deveria atender com maiscarinho. Dê mais atenção à pessoa que aquela pessoa táprecisando de uma palavra, mesmo uma palavrinha. Aquilovai ajudar e muito a pessoa.(Mãe com filho em Posto Sanitário)

Tem médico... que você vai no médico, ele pergunta: O quê quevocê tem?O que é que você está sentindo? Não olha pra suacara. Para quê? É só a pessoa falando e ele escrevendo lá.(Mãe, Hospital Infantil)

Apesar de todas essas dificuldades, existem bons profissionaisdispostos a ajudar e os pais devem insistir e lutar por seus direitos e deseus filhos serem bem atendidos.

Os pais precisam conversar com o médico e outros profissionaisque cuidam de suas crianças. Eles podem orientar sobre ocomportamento de uma criança ou adolescente na idade em que elesse encontram. Podem ainda esclarecer dúvidas que os pais tenham emrelação à saúde de seus filhos. Psicólogos e assistentes sociais podemajudar a amenizar um sofrimento, conversando e oferecendo orientaçãonas situações difíceis.

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Os profissionais de educação como os professores, diretores e outrosfuncionários da escola também podem ajudar. Os pais precisam fazersua parte conversando sempre que possível com os professores sobreos filhos, procurando estar presente nos bons momentos e nosmomentos de dificuldades.

Devem também cobrar da escola e dos professores um tratamentorespeitoso e aberto para com as crianças, os adolescentes e suas famílias.Quanto mais a escola trocar idéias com os pais e se abrir para acomunidade, mais cresce o desempenho e as notas dos alunos.

Também a comunidade pode ajudar a proteger as crianças eadolescentes, se nela a família encontra bons serviços públicos comocreches, escolas, postos de saúde, segurança e habitação, e se dificultaro acesso da população a drogas e armas de fogo.

É claro que a comunidade sozinha não consegue fazer tudo isso.Ela precisa do apoio dos órgãos municipais, estaduais e federais, dasorganizações não governamentais (Ongs) e da população.

A CAPACIDADE DE CADA UM PARA

SUPERAR AS DIFICULDADES

Desde bebê, cada filho mostra diferenças em suas reações amomentos de dor, raiva ou alegria. Desde então os pais percebem asdiferenças do temperamento de cada filho.

COMO OS PAIS VÊEM A CAPACIDADE DE CADA FILHO

* A força de vontade de cada um

*A maneira de pensar de cada um

* A cabeça de cada um

* As diferentes personalidades

* A índole de cada pessoa

* Os pensamentos diferentes

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Pais que têm mais de um filho conseguem perceber diferenças,muitas vezes marcantes, entre eles. Muitos se perguntam: Se eu crieimeus filhos da mesma maneira, como podem ser tão diferentes?

Ao mesmo tempo, o tratamento que cada filho recebe dos paisé diferente, dependendo do momento que a família está vivendo quandoa criança nasce. Podemos dar como exemplo de um momentocomplicado para se ter filhos quando as crianças nascem em fases difíceisem que o pai está desempregado ou quando não são planejadas pelospais.

Por isso, o temperamento da criança é como uma massa que afamília molda, mas que tem um traço das características únicas daquelacriança. É difícil separar o que já nasce com a pessoa daquilo que elaadquire em sua vida. Dentre essas características das crianças eadolescentes, algumas estão presentes entre aquelas que conseguemsuperar as dificuldades

DE QUE CARACTERÍSTICAS INDIVIDUAIS DE PROTEÇÃO ESTAMOS

FALANDO?

* auto-estima

* sentimento de competência

* fé

* estratégias mais diretas pra enfrentar as dificuldades

A auto-estima indica o quanto uma pessoa tem amor ou rejeiçãopor si própria. Quem tem elevada auto-estima se considera uma pessoade valor e capaz de enfrentar os problemas.

A criança aprende a se valorizar e a se gostar na relação que temcom os pais e mais tarde com a escola. É importante que os pais reforcemdiariamente as coisas boas que os filhos fazem e o jeito que são. Se umacriança cresce ouvindo que ela é ruim ou pior que os outros, ela passaa acreditar nisso e crescer sem confiança em si mesma. Quantos maioresforem os elogios sinceros e merecidos à criança por seu jeito de ser eagir, mais ela se sentirá valorizada e amada.

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Os pais têm condições de perceber quando os filhos se sentemdiferentes dos outros, dizendo-se “menos” inteligente ou “menos”bonito. Esses sentimentos trazem sofrimento e indicam insatisfação como jeito de ser. São mais comuns em pessoas com dificuldade para superarproblemas.

O sentimento de competência de uma criança ou adolescenteprotege contra o surgimento de alguns problemas emocionais e decomportamento.

Uma das formas de ver a competência dos filhos é pelo desempenhodas crianças na escola. Repetidos fracassos podem comprometer aindamais o sentimento de competência.

Por isso, ficar atento ao comportamento dos filhos na escola é umatarefa necessária aos pais. Saber o desempenho nas provas e como é orelacionamento da criança ou adolescente com os colegas, professores,diretores e funcionários, é uma forma de acompanhar como vem sedesenvolvendo o sentimento de competência do filho.

Outros sinais de baixa competência vêm de sentimentos de poucaconfiança em si e fraca determinação para defender as idéias e opiniões,indo “atrás das idéias dos outros”. O desânimo em relação aosproblemas e a dificuldade de “olhar para frente” estão presentes emcrianças e jovens com menos competência.

Ter fé na vida ou em Deus é mais comum entre pessoas queconseguem superar seus problemas. Participar de igreja pode ser bompara a família e para os filhos se na igreja encontrarem uma comunidadede apoio e estabilidade.

A forma de lidar com os problemas é aprendida pelos filhos na relaçãocom os pais e com o meio em que vivem, mas também depende dapersonalidade de cada um.

As pessoas que mais superam problemas são as que enfrentamdiretamente os problemas. Elas entram no “olho” do furacão.

Procuram a raiz do problema pra agir prontamente.Falam diretamente com as pessoas envolvidas nos problemas.Buscam informações e apoio em pessoas ou instituições.

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Ficar sempre pensando sobre os problemas e evitar enfrentar asdificuldades são outras formas de reagir, que quando muito utilizadas,costumam causar problemas.

Uma forma ruim de enfrentar os problemas é usando drogascomo álcool, cigarro, maconha e cocaína. Essas drogas servem paraaliviar momentaneamente a angústia, mas não ajudam a resolver asdificuldades. É importante tentar muitas vezes tomar uma atitude defrente para solucionar as dificuldades.

Outras pessoas lidam com os problemas fazendo trabalhosmanuais e arte, praticando esporte, ou reagindo com bom humor. Agirdessa forma ajuda a mudar a idéia que a pessoa tem sobre o problemaque viveu.

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As pessoas que têm dificuldade para enfrentar os problemas são asque recebem menos apoio de outros, principalmente de familiares eamigos. Elas também têm mais dificuldade de pedir ajuda. É como se agente quisesse sair do lugar e não conseguisse.

Por mais difícil que o problema possa parecer, é sempre possívelenfrentá-lo, seja ele do tamanho que for.

A primeira coisa a fazer é pensar em você mesmo. Ser pai e mãenão é nada fácil.

Para você ser um exemplo para seu filho, você precisa se sentirbem com seu jeito de ser e de decidir sua vida. Você precisa parar epensar como você reage quando tem um problema difícil de resolver ecomo pode melhorar.

Será que você está buscando e recebendo apoio de sua própriafamília, de seu trabalho, amigos e de algumas instituições? Será que vocêvaloriza sua força e seu jeito de cuidar de você e de sua família? Seráque você está agindo diretamente para resolver algumas dificuldadessuas ou acaba sempre evitando pensar ou agir para resolver seusproblemas?

Procurar apoio é muito importante para aliviar o peso dasresponsabilidades que temos que dar conta na vida.

5BUSCANDO AJUDA PARA

A FAMÍLIA E OS FILHOS

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Não tenha vergonha de buscar ajuda. É um direito seu!

Procure sempre se informar sobre o problema e sobre locais quepodem oferecer apoio. Converse com alguém de confiança, peçaajuda em instituições e persista se não conseguir logo uma solução.

As pessoas que trabalham em serviços de saúde ou em escolas nemsempre sabem reconhecer o seu direito de receber ajuda. Por isso,procure lembrar a eles sua necessidade quantas vezes fornecessário.

Lembre que você, assim como todos nós, está aprendendo a criarseus filhos todo dia. E para aprender, passamos por dúvidas einseguranças, mas também nos sentimos alegres e realizados quandosomos bem sucedidos.

Quisemos te falar neste livro que cada um de nós pode aprender aresolver os problemas e a viver de uma forma melhor. Isto servepara nós adultos e para crianças que educamos.

Não podemos evitar as cicatrizes que a vida deixanos nossos filhos.Podemos ajudar nossos filhos a lembrar dascicatrizes como marcas que lembram os desafiosque enfrentamos e vencemos.

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VOCÊ PODE PROCURAR SABER O TELEFONE E O ENDEREÇO DESSAS

INSTITUIÇÕES EM SUA CIDADE. ELAS PODEM AJUDAR VOCÊ E SUA

FAMÍLIA.

• Conselhos Tutelares

• Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Criança e doAdolescente

• Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Criança e doAdolescente

• Vara da Infância e Juventude

• Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente

• Defensoria Pública

• Ministério Público

• Disque-Denúncia

• SOS-Criança

• Abrigos para mulheres em situação de violência familiar

• Serviços de atendimento a vítimas de violência.

Perto de sua casa deve haver algumas dessas instituições para teajudar:

• Associação de moradores

• Escola

• Posto de Saúde

• Programa de Saúde da Família

• Hospital

• Delegacia

• Ong

PRA DAR UMA FORÇA

NAS HORAS DIFÍCEIS

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Para quem quer saber mais sobre o assunto e sobre o CLAVES.

O Centro Latino Americano de Estudos de Violência e Saúde JorgeCareli – CLAVES vem trabalhando há alguns anos com o tema daresiliência. Veja outros livros e o nosso endereço, se quiser saber maissobre o assunto.

Outros textos:

• Resiliência: enfatizando a proteção dos adolescentes. Porto Alegre:Artmed, 2006

• Resiliência na adolescência. Refletindo com educadores sobre

superação de dificuldades. Rio de Janeiro. Fiocruz; ENSP; CLAVES;UNICEF; CNPq, 2005

• Encarando os desafios da vida. Uma conversa com adolescentes.Fiocruz; ENSP; CLAVES; UNICEF; CNPq, 2005

• Superação de dificuldades na infância e adolescência. Conversando

com profissionais de saúde sobre resiliência e promoção da saúde.

CLAVES, 2006

• O olho do furacão. Peça teatral escrita por Martha Ribeiro a partirdos originais dos livros. Dirigida por Marta Guedes e JohayneHildefonso

Nosso endereço:

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