SimplesPassosparaVencer aDepressãoCAMILA A. MACHUCACRP 08/12009

Capítulo 1

Afinal, o que é depressão?

Você descobrirá neste capítulo:

• Que você não está só;

• Quais são os principais sintomas da Depressão;

• Quais são suas causas mais comuns;

• Quais são os tratamentos mais eficazes.

1.1 O Que é a Depressão?Depressão é um estado emocional que faz com que muitas pessoas experimentem sentimentos e pensamentos profunda-mente negativos, sem que haja uma explicação racional para isso, aparentemente “do nada”. As pessoas podem começar a questionar se existe algo de errado consigo mesmas. Apesar de tentarem ficar “bem” por si sós e serem felizes novamente, não conseguem atingir aquele estado em que se encontravam anteriormente.

Um a cada cinco adultos brasileiros apresenta Depressão em algum momento da vida. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Depressão está entre as principais causas de perda de qualidade de vida, dias produtivos e impacto socioe-conômico. É uma doença que aborda tanto pessoas do sexo feminino quanto do masculino, de todas as classes sociais, idades e condições de vida. Acredita-se que existam mais de 300 milhões de pessoas deprimidas no mundo, muitas sem diagnóstico ou tratamento adequado. Ninguém é imune a Depressão, portanto lembre-se de que você não está sozinho.

O termo Depressão é usado no dia a dia para descrever vários sentimentos, como tristeza, frustração, desapontamento e até

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mesmo letargia. No entanto, existe uma diferença entre esses estados emocionais passageiros e a Depressão Clínica. Não devemos confundir o uso no sentido coloquial com a doença.

É normal que todas as pessoas experimentem momentos pas-sageiros de tristeza em decorrência das suas vivências. Entre as situações que podem levar uma pessoa a ficar triste estão a perda do emprego, o término de um relacionamento, frustra-ções e outras. Porém, isso em si não quer dizer que alguém esteja em Depressão. Na prática clínica, o termo Depressão ou Depressão Maior distingue-se desses períodos de tristeza da seguinte maneira:

• A Depressão é mais intensa;

• A Depressão dura mais tempo do que um período de triste-za passageira. O critério clínico para seu diagnóstico é que dure pelo menos duas semanas;

• A Depressão interfere significativamente na qualidade de vida e no funcionamento do dia a dia.

Os quadros depressivos variam em intensidade e duração e podem ser classificados em três graus: leve, moderado ou grave.

Nesse material, toda vez que você ler a palavra Depressão, estarei me referindo à Depressão Clínica ou Depressão Maior.

1.2 Depressão como síndromeA Depressão é uma síndrome que se refere a um conjunto de eventos, comportamentos ou sentimentos que são experimen-tados em conjunto, com padrões bem definidos que ajudam na identificação da doença. O que difere de pessoa para pessoa é a quantidade, extensão e intensidade dos sintomas.

HUMOR

A Depressão se caracteriza como um transtorno de humor. Indivíduos deprimidos descrevem uma tristeza que persiste por mais do que duas semanas.

• Nas formas mais leves de Depressão, as pessoas geral-mente sentem um desânimo persistente. Até conseguem se animar com uma experiência boa ou positiva, mas não con-seguem manter esse estado emocional por muito tempo;

• Na Depressão severa, o humor deprimido pode persistir du-rante todo o dia e, mesmo quando coisas boas acontecem, a pessoa não consegue se animar.

O humor deprimido pode apresentar flutuações ao longo do dia. Por exemplo, às vezes há uma melhora no humor durante a manhã, e uma piora ao entardecer.

Além da tristeza, outros estados emocionais são comuns na Depressão:

• Ansiedade;• Culpa;• Inadequação;• Sentir-se inútil;• Apatia (não dar importância para as coisas e ter pouca ou

nenhuma vontade de realizar as atividades que antes fazia).05 ♦ 06

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ESTILO DE PENSAMENTO

Pessoas deprimidas tendem a apresentar um pa-drão semelhante de pensamento:

• Ótica negativa – Costumam enxergar a si mes-mas e aos outros sobre uma ótica negativa e normalmente pessimista. Assim, geram pouca autoestima e autoconfiança.

• Antecipar resultados ruins – Costumam obser-var suas experiências de um ponto de vista negativo e preveem resultados desfavoráveis para seus problemas.

• Ciclo de pensamentos – Os pensamentos ge-ralmente giram em torno de como estão se sen-tindo mal, de como o mundo é um lugar terrível e como as coisas parecem não ter mais solução.

• Mente confusa – Muitas pessoas também ex-perimentam confusão, dificuldade de concen-tração e de memória e raciocínio mais lento.

• Desejar morrer – Outro pensamento comum é a vontade de morrer. A morte parece uma solução viável diante dos sentimentos enfren-tados durante esse período. Mas é apenas a Depressão falando, e não você! Se esse for um pensamento recorrente, pule para a parte final do livro, para encontrar os lugares em que pode buscar ajuda imediata e fácil.

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SINTOMAS FÍSICOS

A maioria das pessoas deprimidas experimenta os seguintes sintomas físicos:

• Alteração no padrão de sono – Você pode sentir dificuldade em pegar no sono, ou acordar durante a noite e ter dificul-dade em voltar a dormir. Talvez acorde muito cedo pela ma-nhã. Algumas pessoas também sentem sono o tempo todo e passam boa parte do dia dormindo.

• Padrão de alimentação – Algumas pessoas podem sentir falta de apetite e como consequência perder peso, enquan-to outras podem sentir mais fome ou compulsão por deter-minados tipos de alimento e acabar ganhando peso.

• Dores e outros sintomas – As pessoas podem apresentar sintomas físicos não justificados por outros problemas médi-cos, como dores de barriga, azia, má digestão, diarreia, ten-são na nuca e nos ombros, pressão no peito, dor de cabeça ou no corpo.

• Sexo – Diminuição da libido e/ou desempenho sexual.

• Baixo nível de energia – Pouca ou nenhuma motivação para continuar realizando as tarefas diárias. Pessoas deprimidas muitas vezes param de fazer as coisas que faziam porque se sentem desmotivadas ou letárgicas.

CONVIVER COM OUTRAS PESSOAS

A interação social se torna difícil quando a Depressão se ins-tala. Muitas vezes passar tempo com as pessoas que são mais próximas a você vira uma tarefa complicada.

• Alguns começam a perder o prazer e interesse em estar com sua família ou com outros com quem possuem relacio-namento próximo, como amigos e namorado(a).

• Podem se sentir ansiosos e tímidos quando estão com ou-tras pessoas, especialmente com grupos de pessoas.

• Podem se sentir solitários e isolados, mas frequentemente têm dificuldade e falta de vontade de se relacionar quando têm a oportunidade de fazer isso.

E você? Que sintomas depressivos tem sentido?Abaixo segue uma ferramenta para facilitar a identificação dos sintomas que você tem vivido nos últimos tempos. Para lhe ajudar, faça as seguintes perguntas:

1. Como minha vida muda quando me sinto deprimido?2. Como minha visão a respeito de mim mesmo, dos outros

e do mundo fica quando estou me sentindo deprimido?3. O que outras pessoas dizem de mim quando estou me

sentindo deprimido?4. O que sinto no meu corpo quando estou me sentindo

deprimido?5. Que pensamentos alimento quando me sinto deprimido?

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SINTOMAS SOMÁTICOS – FISIOLÓGICOS(o que sinto no meu corpo)

SINTOMAS COGNITIVOS- AFETIVOS(o que penso e sinto)

SINTOMAS COMPORTAMENTAIS(o que faço)

FOLHA DE EXERCÍCIO 1:SINTOMAS DEPRESSIVOS

Os sintomas depressivos podem ser agrupados em 3 categorias:

• Físicos: aqueles relacionados com o que você sente no seu corpo, como insônia, perda de apetite, baixo nível de energia etc.

• Cognitivos e emocionais: pensamentos suicidas, tristeza profunda, choro, culpa etc.

• Comportamentais: o que faz quando está deprimido, como não sair da cama, evitar pessoas, não tomar banho etc.

O que VOCÊ experimenta quando está deprimido? Use os espaços abaixo para descrever como tem se sentido.

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1.3 O que causa a Depressão?Pessoas que nunca tiveram Depressão de verdade podem ter algumas crenças populares comprovadamente erradas, por exemplo, de que a pessoa depressiva deve simplesmente “sair dessa”, “ser grata pela vida que tem”, “ver a vida de outra maneira e ser feliz” ao invés de ficar isolada e triste. É curioso como ninguém fala para uma pessoa que está gripada para simplesmente “sair dessa”. A Depressão também é uma doen-ça, com causas e sintomas reais, que leva a tantos danos para quem vive com ela quanto outras condições graves.

É importante entender que a Depressão não é causada por um único fator, mas sim por uma combinação deles. Esses fatores podem ser biológicos e psicológicos.

FATORES BIOLÓGICOS

Os fatores biológicos que interferem na Depressão podem ser genéticos, hormonais e químicos.

1. Fatores Genéticos – A Depressão tem um componente hereditário, portanto é comum que pessoas da mesma fa-mília exibam a mesma patologia. No entanto, mesmo que a pessoa tenha forte predisposição genética, não signifi-ca que vá necessariamente ter Depressão.

2. Fatores Hormonais – Pesquisas apontam que ocorrem algumas mudanças hormonais durante a Depressão. O cérebro sofre algumas alterações antes e durante um epi-sódio depressivo. Isso pode resultar em uma produção maior ou menor de determinados hormônios que contri-buem para alguns sintomas da doença.

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3. Neurotransmissores – As células do cérebro se comunicam através de substâncias químicas chamadas neurotransmissores. Há evidências que, durante a Depressão, ocorre uma redução na atividade de um ou mais sistemas de neurotransmissores, e isso afeta certas regiões cerebrais que regulam funções como o sono, o apetite, o humor e o interesse sexual. O nível reduzi-do de neurotransmissores diminui a comunicação entre as célu-las cerebrais, e isso resulta nos sintomas típicos da Depressão. Quando o médico receita um antidepressivo como parte do tra-tamento, sua função é aumentar a quantidade de neurotrans-missores no cérebro.

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FATORES PSICOLÓGICOS

Estilo de Pensamento – Existem padrões de pensamento que estão associados a Depressão, como:

• Assumir a responsabilidade por coisas ruins que acontecem, mas nunca por coisas boas;

• Pensar sempre em cenários catastróficos, imaginando o pior que pode acontecer em cada evento;

• Ter regras inflexíveis sobre a maneira que você acredita que os outros devem se comportar;

• Acreditar que sabe o que os outros estão pensando sobre você e sempre concluir que estão pensando coisas ruins a seu respeito.

Perdas – Algumas vezes a Depressão se instala após algum evento de perda, seja de um cônjuge, de um emprego, de uma amizade, de um ente querido, de suporte, entre outros.

Sensação de Fracasso – Muitas pessoas associam sua felici-dade a alcançar algum objetivo, como ser promovido, encon-trar um cônjuge, passar em um concurso público. Se por al-guma razão não conseguem atingir esses propósitos, podem começar a acreditar que falharam de alguma maneira, e muitas vezes essa sensação é tão intensa que pode desencadear um processo depressivo.

Estresse – Um período de estresse acumulado pode desen-cadear a Depressão. Eventos estressantes incluem situações como problemas monetários, dificuldades conjugais, doenças físicas e mudanças extremas nas circunstâncias da vida.

Estes fatores geradores da Depressão raramente aparecem isolados. Na maioria das vezes, se combinam e reforçam um ao outro. Por exemplo, a perda do emprego pode gerar uma sensação de fracasso, que por sua vez causa grande estres-se. Em muitos casos, os fatores estão tão associados que fica difícil separá-los e entender qual foi o que desencadeou tudo.

1.4 Tratamento da DepressãoAgora que definimos o que é Depressão e os principais fato-res que podem colaborar para que se estabeleça um quadro depressivo, podemos falar sobre as opções de tratamento que funcionam na maioria dos casos.

Geralmente, os tratamentos mais indicados para a Depressão - e com maior taxa de sucesso - são os medicamentosos asso-ciados com o trabalho psicoterápico. Dentre as linhas da psico-logia, destaca-se a terapia cognitivo-comportamental, que tem alta taxa de sucesso e que mais possui resultados comprova-dos cientificamente em milhares de artigos científicos por todo o mundo.

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Em resumo, seu princípio teórico é que nossos pensamentos são responsáveis por nossos esta-dos emocionais e padrões de comportamento. O que acontece muitas vezes é que, em decorrência de nossas vivências, ficamos com padrões distor-cidos de pensamento sobre nós mesmos, sobre os outros e sobre o mundo. Portanto, se nossos pensamentos são negativos e distorcem a realida-de, temos emoções ruins e nos comportamos de uma maneira disfuncional, o que não é bom para nós mesmos.

O trabalho da terapia cognitivo-comportamental é:

• Nos ajudar a identificar quais são as crenças er-rôneas que possuímos;

• Verificar os pensamentos negativos através de estratégias e ferramentas específicas;

• Nos ajudar a transformá-los em pensamen-tos positivos ou mais coerentes com a nossa realidade.

Neste livro, vamos focar no tratamento psicoterápi-co da Depressão, usando como base ferramentas

da terapia cognitivo-comportamental. Vale lem-brar que isso não substitui o tratamento médico ou psicológico, mas funciona como:

• Um aliado poderoso que lhe ajudará a comba-ter os padrões de pensamentos, sentimentos e comportamentos que surgem na Depressão;

• E que lhe auxiliará na reeducação dos seus pensamentos, sentimentos e comportamentos e na implementação de novos hábitos de vida.

É de extrema importância que, caso você tenha se identificado com os sintomas apresentados até aqui e acredite que está com Depressão, busque a ajuda de um médico de sua confiança para que ele lhe ajude no diagnóstico e lhe encaminhe para o tratamento mais adequado.

20% das pessoas sofrem de Depressão. Isso sig-nifica que ela é muito comum. De cada dez adul-tos que você conhece, dois já tiveram ou vão so-frer de Depressão. No entanto, como o estigma sobre esta síndrome é muito grande, várias des-sas pessoas não procuram a ajuda adequada. Se você chegou até aqui, já está mudando isto.

Neste capítulo você descobriu:• Que a Depressão, além de muito

comum, é diferente da tristeza passageira;

• Que é uma síndrome complexa que afeta os pensamentos, sentimentos e comportamentos do indivíduo;

• Que pode causar diversos sintomas físicos e mentais debilitantes, inclusive afetando os relacionamentos;

• Como identificar e listar os sintomas depressivos físicos, mentais e comportamentais;

• Que a Depressão é causada por inúmeros fatores biológicos e psicológicos, que você definitivamente não poderia controlar com conselhos de leigos, mas apenas com ajuda especializada;

• Que a condição tem tratamentos que funcionam na maioria dos casos, como psicoterapia e medicamentos.

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Aviso importanteCaso você venha pensando de forma recorrente sobre a mor-te e está chegando a conclusão de que não vale mais a pena viver, não sofra sozinho. Conte como você tem se sentido e como tem pensado muito sobre desistir para alguém que você saiba que não vá lhe julgar e que possa realmente lhe ajudar.

Se você está sendo acompanhado por um médico e/ou psicó-logo, é de fundamental importância que você relate para ele seus pensamentos e sentimentos em relação a desistir da vida.

E se, mesmo assim, você se perceber em uma situação de emergência, não hesite em entrar em contato com a CVV, um canal que oferece apoio 24 horas por dia, por telefone, skype ou internet, para pessoas em situações como essa que você tem vivido:

• Ligue para 141

• http://www.cvv.org.br

• http://www.cvv.org.br/site/chat.html (bate-papo)

• atendimento@cvv.org.br

Tenha certeza que a morte não é o caminho para sua dor.

Você é um aglomerado único de octilhões de átomos, que se unem em moléculas, que se juntam em células. Além disso, você viveu um conjunto de experiências únicas no universo. Isso lhe torna completamente singular. Não existe outro ser como você.

Agora parece impossível acreditar que as coisas que estão acontecendo vão melhorar, mas assim como o ano, a vida tem várias estações. Existem as mais frias e cinzentas, que trazem consigo momentos incrivelmente difíceis, muitos dos quais nem acreditamos que podemos suportar. Esse período, que muitas vezes é prolongado, tira a nossa expectativa de dias melhores. Porém, depois do tempo ruim, o sol sempre volta a brilhar. Pode parecer complicado manter isso em vista. No entanto, nos dê um voto de confiança. Contate as CVV acima e dê o primeiro passo para superar e ser feliz novamente.

Autoria:Camila A. Machuca, CRP 08/12009

Ilustrações:Thyago Leça

Revisão:Rafael SlonikMarcelo Fernandes RibeiroNatasha Romanzoti

Projeto gráfico e ebook:YOYO ateliê gráfico

SOBRE ESTE EBOOK

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