Simposio 19a (3).pdf

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/24/2019 Simposio 19a (3).pdf

    1/137

    !!! #$%&'$()* +' ,-. /0'$%0-. 1&2-$-. 3 4'%$*,560%-. 7-)- ,-

    0$('6)-%05$ +' ,- 829)0%- :-(0$- 3 ', /-)0;' !$(')$-%0*$-, +', /*$*%020'$(*< =0>,*6*. '$ ?&'.()- 829)0%-

    @@AB

    O DIREITO COMO PRTICA DISCURSIVA SOCIOCULTURAL: perspectivasde uma nova comunicao jurdica

    ZUIN, Aparecida L. A.

    CHAHAIRA, Bruno Valverde.

    RESUMO

    Esse artigo apresenta o Direito enquanto produtor e veiculador de discursosociocultural. O fundamento se d a partir da ideia de que a linguagem, aqui em

    particular a linguagem jurdica, marca notria da cultura e das relaes sociais, afinal pela e na linguagem que se podem expressar conceitos, normas, comportamentos; ouseja, como condio que provoca relaes, aes e reaes. Nesse sentido, os

    procedimentos metodolgicos advindos da Teoria Semitica norte-americana,comumente conhecida como Semitica Peirceana, embasaro a proposta para entender o

    processo de significao, ou no melhor dos termos peirceanos, o processo de semioseque requer, basicamente, o modelo filosfico do pragmatismo. Toma como base terica,

    para a contextualizao da Teoria da Norma Jurdica nesse caso, Tercio Sampaio FerrazJr. Por outro lado, estende os apontamentos ressaltando o caminho do estudo do Direito

    pela linguagem, nos termos de Norberto Bobbio, no que concerne a funo prescritiva.

    Palavras-chave: Linguagem Jurdica. Semitica. Discurso sociocultural.

    ABSTRACT

    This article presents the Law while production and disseminator area of socioculturaldiscourse. The basis occurs from the idea that language, here in particular the juridicallanguage is notorious brand of culture and social relations, and after all is the languagethat can express concepts, norms, behaviors, ie, a condition that provokes relationships,actions and reactions. In that sense the arising from methodological procedures of theAmerican Semiotics Theory, commonly known as Peircean Semiotics, will base the

    proposal based on the process of signification, or at best Peircean terms, the process ofsemiosis that requires basically the philosophical model of pragmatism. Takes as itstheoretical basis, to contextualize the theory in this case Norm Juridical, Tercio SampaioFerraz Jr. Moreover, extends the notes highlighting the way the study of law by thelanguage, in terms of the Norberto Bobbio prescriptive concerning the function.

    Keywords: Right. Juridical language. Semiotics. Sociocultural discourse.

  • 7/24/2019 Simposio 19a (3).pdf

    2/137

    !!! #$%&'$()* +' ,-. /0'$%0-. 1&2-$-. 3 4'%$*,560%-. 7-)- ,-

    0$('6)-%05$ +' ,- 829)0%- :-(0$- 3 ', /-)0;' !$(')$-%0*$-, +', /*$*%020'$(*< =0>,*6*. '$ ?&'.()- 829)0%-

    @@AC

    Introduo

    Muitos tericos j apresentaram a ideia de que o Direito no pura lgica, o quesignifica dizer que questes culturais, sociais, tecnolgicas e polticas permeiam aleitura dos fatos e as formulaes das leis. Nos dizeres de Gregorio Robles: Na vidasocial dos homens, como sistema de comunicao, o direito linguagem ou, em outras

    palavras, o direito texto (2005, p. 2), e enquanto texto passvel de interpretao,como ainda, condio sine qua non para produzir outros textos.

    Para Bobbio, o autor julga possvel distinguir trs funes fundamentais da linguagemdo Direito, quais sejam: descritiva, expressiva e prescritiva. Logo, se confirma que na

    linguagem que o Direito exercita a sua prpria funo discursiva sociocultural.Nesse sentido, as concepes de linguagem e de texto transcendem o quecorriqueiramente lhe so reservadas nos estudos comuns. Por isso, a propositura seembasa nos estudos semiticos, em particular, a Semitica norte-americana, tambmconhecida como Semitica Peirceana (fundao por meio de Charles Sanders Peirce(1839-1914) para ampliar o debate).

    A empreitada inicia com a apresentao do que Semitica e o objeto de estudos dessacincia. Em seguida, refere-se ao signo, linguagem e ao processo de semiose para, em

    seguida efetivar as questes e/ou temas em relao ao Direito e suas relaes com omundo, a sociedade e a cultura.

    E para justificar que a empreitada ousada, utilizamo-nos dos mesmos termos do doutoprofessor Tercio Sampaio Ferraz Junior (2009, p.1): a empresa de realizar, ainda queem esboo, uma pragmtica da comunicao jurdico-normativa supe certa audcia egrande risco. Isto porque a prpria noo de pragmtica deveras imprecisa [...]

    Assim, a pragmtica passa a ser o foco do trabalho, pois, concebida como umadimenso da semiose faz parte da Teoria da Semitica Peirceana, cuja ideia o estudo

    do signo em relao aos seus intrpretes.Superadas essa fase, reserva-se o lugar para o signo e a realidade sociocultural, cujaconfigurao do fazer-fazer (constante na funo prescritiva) no pode deixar de ser

    perpassada pela modalidade do fazer-dizer do Direito como ato comunicativo, a fim deconcretizar no interpretante da norma jurdica um certo fazer-saber; porque alinguagem, nesse caso a jurdica, lugar das trocas simblicas que permitem acomunicao entre os sujeitos e que gera relaes sociais ou ainda as interrompem,modificam ou alteram comportamentos quando forem necessrios.

    Estendem-se as proposies pautadas no trabalho de Norberto Bobbio (1909-2004),Teoria da Norma Jurdica, justamente porque o autor elabora o pensamento acerca do

  • 7/24/2019 Simposio 19a (3).pdf

    3/137

    !!! #$%&'$()* +' ,-. /0'$%0-. 1&2-$-. 3 4'%$*,560%-. 7-)- ,-

    0$('6)-%05$ +' ,- 829)0%- :-(0$- 3 ', /-)0;' !$(')$-%0*$-, +', /*$*%020'$(*< =0>,*6*. '$ ?&'.()- 829)0%-

    @@A@

    Direito nos parmetros das funes da linguagem, ou seja, interessa-nos sem maiorespretenses (tais como as abordagens anteriores) se fixar na funo prescritiva, porque de Bobbio a concepo que ela a responsvel em modificar o comportamento alheio;

    assim, a funo da linguagem prescritiva faz valer o fazer-fazer dos sujeitos.

    Essa tentativa vem ao encontro das exigncias de interpretar as normas jurdicas atravsdos estudos da linguagem para favorecer, nos dizeres de Paulo de Barros Carvalho(apud Bittar, 2010): [...] a possibilidade para o pblico, com distintas formaes, nosomente jurdicas, possam entender e identificar interfaces entre os cdigoscomunicacionais e o sistema legal.

    Nesse sentido, diz Ricardo Souza Pereira, apud Bittar (2010), acerca da aplicao dasemitica para as abordagens da linguagem jurdica:

    propor uma reavaliao do Direito, numa perspectiva terico-semitica,procedendo-se a um perscrutamento da juridicidade, o conjunto das prticasjurdicas de discurso. Trata-se de aplicar sobre o mundus juris a metodologiade pensamento prpria da cincia do sentido, a semitica.

    Lauro Frederico Barbosa da Silveira (2007, p. 4) tambm contribui para a presenteproposta considerando a razo para tal escolha:

    A razo para tal escolha oferecer um referencial terico que, diante de umanecessidade de esclarecer-se um problema no futuro, possa ser utilizado pelo

    profissional do direito. Conservar, conseqentemente, o carter filosfico eformal com que foi concebido. [...] Delas se deduziro, em etapas sucessivas,as classes de signos que pretendem representar as modalidades essenciais de

    pensamento, com isso tendo o estudioso o instrumento terico para arepresentao do fenmeno que lhe interessa elucidar.

    Como ainda colocadas na defesa de Clarice von Oertzen de Arajo (2005): Asemitica se mostra estratgica como recurso para decodificar essas intercesses.

    1 A Semitica como cincia das linguagens

  • 7/24/2019 Simposio 19a (3).pdf

    4/137

    !!! #$%&'$()* +' ,-. /0'$%0-. 1&2-$-. 3 4'%$*,560%-. 7-)- ,-

    0$('6)-%05$ +' ,- 829)0%- :-(0$- 3 ', /-)0;' !$(')$-%0*$-, +', /*$*%020'$(*< =0>,*6*. '$ ?&'.()- 829)0%-

    @@AD

    O termo Semitica foi usado inicialmente para indicar a cincia dos sintomas emmedicina (cf. Galeno, Op. Ed, Kn. XIV, 689). Foi proposto por Locke, para indicar adoutrina dos signos, correspondente lgica tradicional (Ensaio, IV, 21, 4).

    Lambert empregou o termo como ttulo da terceira parte do seu Novo Organon (1764)(ABBAGNANO, 2000, p. 870).

    Na Filosofia Contempornea, Charles Morris utilizou o conceito de Semitica comoteoria da semiose, mais do que do signo, dividindo a semitica em trs partes, quecorrespondem s trs dimenses da semiose: semntica, que considera a relao dossignos com os objetos a que se referem; pragmtica, que considera a relao dos signoscom os intrpretes; sinttica, que considera a relao formal dos signos entre si.(ABBAGNANO, 2000, p. 870).

    Segundo Winfried Nth (1995, p. 19) "a semitica a cincia dos signos e dosprocessos significativos (semiose) na natureza e na cultura". Semitica vem da raizgrega = semeion, que quer dizer - signo. Semitica a cincia dos signos, mas dossignos das linguagens.

    A investigao semitica abrange virtualmente todas as reas do conhecimentoenvolvidas com as linguagens ou sistemas de significao, tais como a lingustica(linguagem verbal), a matemtica (linguagem dos nmeros), a biologia (linguagem davida), o direito (linguagem das leis-linguagem jurdica), as artes (linguagem esttica), o

    jornalismo, a publicidade, etc. Pode-se dizer que, desse ponto de vista, o objeto daSemitica, que a teoria dos signos, no mais o prprio signo, mas a semiose, ou seja,o uso dos signos ou o comportamento semitico. Essa orientao foi iniciada porCharles Sanders Peirce (ABBAGNANO, 2000, p.870).

    Para Lcia Santaella, semitica " a cincia que tem por objeto de investigao todas aslinguagens possveis" (1983, p. 15), ou ainda: A Semitica a cincia geral de todas aslinguagens (SANTAELLA, 2003).

    O estudo das linguagens e dos signos, segundo Santaella, muito antigo. Embora a

    semitica s tenha ficado conhecida como uma cincia dos signos, da significao e dacultura, no sculo XX, a preocupao com os problemas da linguagem e da semiticativeram incio no mundo grego (SANTAELLA, 1983, p. 16).

    No mundo grego, segundo Winfried Nth (1995), a semitica foi ampliada para incluirtrs ramos da Medicina: 1- anamnstica (anamnstico adj (gr anamnestiks) i) estudo dahistria mdica do paciente; ii) Relativo ou pertencente anamnese; iii) que ativa amemria: Remdios anamnsticos; iv) referente aos antecedentes de uma doena: Sinaisanamnsticos. sm pl Farm Remdios para avivar a memria); 2- diagnstica (estudo dossintomas atuais da doena ); 3- prognstica (que trata das predies e projees do

    desenvolvimento futuro das doenas).

  • 7/24/2019 Simposio 19a (3).pdf

    5/137

    !!! #$%&'$()* +' ,-. /0'$%0-. 1&2-$-. 3 4'%$*,560%-. 7-)- ,-

    0$('6)-%05$ +' ,- 829)0%- :-(0$- 3 ', /-)0;' !$(')$-%0*$-, +', /*$*%020'$(*< =0>,*6*. '$ ?&'.()- 829)0%-

    @@AE

    A partir da tradio mdica, o termo semitica tambm comeou a adquirir sentidosmais amplos no contexto de uma semeiotica moralis. A semitica propriamente ditaencontra seu ancestral mais antigo na histria da medicina, a entendida como o primeiro estudo

    diagnstico dos signos das doenas. O mdico grego Galeno de Prgamo (139-199), porexemplo, referiu-se diagnstica como sendo !a parte semitica" (semeiotikn meros) damedicina.

    No sculo XVIII a literatura mdica tambm comeou a empregar o termo sem(e)iologia comoalternativa semitica, s vezes, com algumas variaes de sentido. Naquela altura, a semiticamdica foi ampliada para incluir trs ramos de investigao: a anamnstica, estudo da histriamdica do paciente; a diagnstica, estudo dos sintomas atuais das doenas; e a prognstica, quetrata das predies e projees do desenvolvimento futuro das doenas. (NTH, 2003, p.19)

    De acordo com Santaella (2010, p.XII):

    A semitica no uma cincia especial ou especializada, como so cinciasespeciais a fsica, a qumica, a matemtica, a biologia, a sociologia, aeconomia etc., quer dizer, cincias que tm um objeto de estudo delimitado ede cujas teorias podem ser extradas ferramentas empricas para seremutilizadas em pesquisas aplicadas.

    Diferentemente de uma cincia especial, a semitica uma das disciplinas que compem umaampla arquitetura concebida como cincia com um carter extremamente geral e abstrato. Porexemplo, a Semitica Peirceana tem como arquitetura filosfica as cincias normativas esttica, tica e lgica ou semitica -, estas antecedidas pela quase-cincia da fenomenologia e

    seguidas pela metafsica (SANTAELLA, 1983, p. 20).

    Empregado de forma genrica, o termo semitica pode significar simplesmente teoria, que um conjunto de princpios coerentes, gerais e abstratos que servem para descrever e analisar umobjeto (PORTELLA, 2009, p. 2).

    Em Semitica, existem trs grandes correntes tericas:

    1- A Semitica de origem americana, criada pelo cientista e lgico americano CharlesSanders Peirce (1839-1914), no final do sculo XIX;

    2- A Semitica de origem europeia, desenvolvida na Frana pelo lituano Algirdas JulienGreimas (1917-1992) na dcada de 60, a partir do legado dos linguistas Ferdinand de Saussure(1857-1913) e Louis Hjelmslev (1899-1965) e;

    3- A Semitica de origem eslava (russa), que remonta ao sculo XVIII, conhecida comoa Escola de Trtu-Moscou a partir dos anos 60, cujo terico mais proeminente Iri Ltman(1922-1993) (NTH, 2003)

    Outra linha terica de relevncia para o Direito a Sociossemitica. A Sociossemitica nospermite analisar todo o processo de produo e veiculao de discursos sociais. Em primeirolugar, convm explicar que discursos sociais so aqueles discursos cujo receptor tido como

    coletivo, ou seja, no um indivduo isolado, mas um grupo aberto e indeterminado deindivduos, que chamamos de pblico (LANDOWSKI, 1992).

  • 7/24/2019 Simposio 19a (3).pdf

    6/137

    !!! #$%&'$()* +' ,-. /0'$%0-. 1&2-$-. 3 4'%$*,560%-. 7-)- ,-

    0$('6)-%05$ +' ,- 829)0%- :-(0$- 3 ', /-)0;' !$(')$-%0*$-, +', /*$*%020'$(*< =0>,*6*. '$ ?&'.()- 829)0%-

    @@AF

    Dessa maneira, o Direito, por exemplo, caracteriza-se por ser uma atividade produtora dediscursos dirigidos a um pblico. J para entender a funo do Direito, precisamos falar um

    pouco sobre as funes desses discursos sociais. Segundo Landowski apud Zuin (2012, p.10):

    Todos os discursos sociais possuem uma funo principal ou primria. A maioria dos discursossociais tem carter eminentemente pragmtico (Landowski, 1992), isto , visa a satisfazeralguma necessidade prtica do ser humano.

    Nesse diapaso, Bobbio formula que uma norma jurdica uma proposio, isto :

    Queremos dizer que um conjunto de palavras que tm um significado. Com base no quedissemos acima, a mesma proposio normativa pode ser formulada com enunciados diversos.O que interessa ao jurista, quando interpreta uma lei, o seu significado.

    [...] H vrios tipos de proposies. Pode-se distingui-los com base em doiscritrios: a forma gramatical e a funo. [...]

    [...]

    Julgo que seja possvel distinguir trs funes fundamentais da linguagem: afuno descritiva, a expressiva e a prescritiva.

    [...]

    Interessa-nos de modo participar a funo prescritiva: um conjunto de leis ouregulamentos, um Cdigo, um Constituio, constituem os mais interessantes

    exemplos de linguagem normativa [...]. (BOBBIO, 2014, p.74-79)

    Observa-se, se encontramos de acordo com Landowski (1992) a funo principal ouprimria nos discursos sociais visando satisfazer alguma necessidade prtica do ser humano, possvel dizer, portanto que, para Bobbio nessa linha de referncia a funo da linguagemprescritiva tambm visa satisfazer questes prticas sociais, tais como: informar, comunicar,transmitir saber etc. Afinal, como Bobbio assevera, a funo prescritiva prpria da linguagem

    normativa, porque implica ao mesmo tempo em que influencia o comportamento alheio, tende atransform-lo, se utilizando para tal da performance que lhe caracterstica: no fazer-fazer.

    Ora, antes do fazer-fazer performtico preciso primeiro um fazer-dizer presente noato comunicativo do Direito para com a sociedade. Pois, para que o indivduo possa serinfluenciado e receba corretamente a comunicao almejada, garantindo a inteligibilidade damensagem por meio de um processo eficaz de formulao e transmisso, conforme se prev nasnormas jurdicas, o destinatrio precisa acreditar, assumir e a tomar como verossmil; tem-se a, o que a faz digna de credibilidade.

    A isso significa nos termos de Bobbio (2014, p.48) :

  • 7/24/2019 Simposio 19a (3).pdf

    7/137

    !!! #$%&'$()* +' ,-. /0'$%0-. 1&2-$-. 3 4'%$*,560%-. 7-)- ,-

    0$('6)-%05$ +' ,- 829)0%- :-(0$- 3 ', /-)0;' !$(')$-%0*$-, +', /*$*%020'$(*< =0>,*6*. '$ ?&'.()- 829)0%-

    @@AG

    [...] o primeiro ponto que, a meu juzo, preciso ter bem claro em mente sequisermos estabelecer uma teoria da norma jurdica com fundamentosslidos, que toda norma jurdica pode ser submetida a trs valoraes

    distintas, e que essas valoraes so independentes umas das outras. De fato,frente a qualquer norma jurdica podemos colocar uma trplice ordem deproblemas: 1) se justa ou injusta; 2) se vlida ou invlida; 3) se eficazou ineficaz. Trata-se dos trs problemas distintos: da justia, da validade eda eficcia de uma norma jurdica (grifos do autor).

    Assim, na ordem do direito, a funo prescritiva embora incida sobre o objetivo dedisciplinar a convivncia social, nas diretrizes do direito positivo (sistemanomoemprico prescritivo) tambm preceitua conduzir a conduta dos sujeitos sociais, de

    modo a modificar o seu comportamento. Da dizer que o Direito como prticadiscursiva sociocultural est imbudo de caractersticas vigentes, nos termos de Bobbio,nas proposies prescritivas, e ainda na pragmtica de Tercio Sampaio Jr, haja vista seraqui o Direito lugar do ato comunicativo. Para Zuin (2009, p. 152) isso tambm est

    presentificado no ato que prprio da linguagem, qual seja: a persuaso, porque paraque a norma jurdica seja eficaz necessrio e constante o ato de persuadir ou continuar

    persuadindo, em qualquer que seja o contexto comunicativo.

    Para Greimas & Courts, apud Zuin (2009, p. 152), esse fazer significa: se assumir afala do outro nela acreditar de uma certa maneira, ento, faz-la assumir equivale a

    falar para ser acreditado. Assim considerada, a comunicao mais um fazer-crer e umfazer-fazer do que um fazer-saber, como se imagina um pouco apressadamente.

    Em se tratando da norma jurdica, nesse caso somos obrigados a reconhecer o valormodal do fazer, que para Greimas & Courts (2008, p. 202) um fazer operatrio(fazer-ser) ou manipulatrio (fazer-fazer), haja vista ser ela um fazer que modifica oscomportamentos, transforma e rege outros enunciados. Conforme a dimenso de FerrazJunior essa modalidade do fazer consta no fazer pragmtico e que pode se estender nofazer cognitivo. Diz-se pode no sentido que pela natureza do fazer pragmtico hinvestimentos de valores descritivos, socioculturais, por isso, dizer do Direito como

    prtica discursiva sociocultural, porque est investido de programas de fazerespersuasivos e de fazeres interpretativos.

    Assim, por ser lugar do ato comunicativo, os mecanismos e procedimentos deestruturao da linguagem jurdica, tratando-a enquanto totalidade de sentido pauta-senos modos como as normas se organizam para produzir determinados valores de certasociedade, sem, contudo, desconsiderar o que os mantm ou os modificam, nocontexto sociocultural.

    1.1 As dimenses da semiose a significao que importa

  • 7/24/2019 Simposio 19a (3).pdf

    8/137

    !!! #$%&'$()* +' ,-. /0'$%0-. 1&2-$-. 3 4'%$*,560%-. 7-)- ,-

    0$('6)-%05$ +' ,- 829)0%- :-(0$- 3 ', /-)0;' !$(')$-%0*$-, +', /*$*%020'$(*< =0>,*6*. '$ ?&'.()- 829)0%-

    @@AA

    Como dito anteriormente e a fim de fixao da proposta ora trazida aos estudos da

    linguagem jurdica, os estudos semiticos compreendem trs dimenses da semiose:sinttica, semntica e a pragmtica. Isso significa compreender os estudos dos signos esuas relaes, do seguinte modo:

    1- Sinttica: Ramo da semitica que estuda os signos entre si prescindindodos usurios e das designaes. a relao do signo com relao a si mesmo.

    2- Semntica: Ramo da semitica que estuda os objetos designados pelossinais, vale dizer, estuda a relao dos signos e dos objetos denotados. arelao do signo com relao aos objetos.

    3- Pragmtica: Ramo da semitica que estuda a relao dos signos com osusurios ou intrpretes. a relao do signo com o intrprete.

    Nessa linha, a pragmtica projetada para o mundo jurdico permite compreender que aideologia um fator indissocivel da estrutura das normas gerais. As normas jurdicasso o resultado de uma vivncia social e histrica, ou seja, so elaboradas de acordocom o sentido histrico, de acordo com determinado momento histrico. Aqui, a

    linguagem se estrutura em uma relao recproca com o contexto e com aqueles quenele se insere.

    E como eleger uma ou outra dimenso para os estudos do signo da linguagem?Como prope Maringela Guerreiro Milhoranza (2009): a dimenso escolhida vaidepender da concepo adotada por cada jurista; que nesse caso, para os estudos

    pretendidos ser AA dimenso pragmtica; lado outro, a funo prescritiva.

    2 O Direito como prtica discursiva sociocultural

    Vrias pesquisas tm apresentado o estabelecimento de relaes entre a semiticapeirceana e a linguagem jurdica; em outros termos, as pesquisas esto gradativamentedirecionando a contribuio da semitica a um encontro terico lingustico emetodolgico, com vistas gerao de uma interdisciplinaridade entre seus princpiosfundamentais. E quais seriam esses princpios fundamentais? Os princpios basilares aoestabelecimento dessas relaes so encontrados na Teoria Semitica da percepo, dosigno e do interpretante. justamente nesse aporte que se pode buscar as respostas para

    a efetiva compreenso dos modos como os significados se transformam em cognio,

  • 7/24/2019 Simposio 19a (3).pdf

    9/137

    !!! #$%&'$()* +' ,-. /0'$%0-. 1&2-$-. 3 4'%$*,560%-. 7-)- ,-

    0$('6)-%05$ +' ,- 829)0%- :-(0$- 3 ', /-)0;' !$(')$-%0*$-, +', /*$*%020'$(*< =0>,*6*. '$ ?&'.()- 829)0%-

    @@AH

    ou seja, na teoria do interpretante que se encontra o entendimento dos processosmentais, da produo da cognio na mente dos intrpretes.

    Segundo Correia (2009, 2010, 2012):

    Uma questo essencial que deve ser considerada como uma sntese dopensamento de Peirce e que direciona a Semitica para um encontro com ascincias da cognio est na definio peirceana do pensamento enquantouma corrente de signos. No h formas de pensamento sem signos na teoriade Peirce. O pensamento totalmente estruturado em uma corrente de signose depende desta estruturao para ter a potencialidade para representar.Assim, se entendemos que o pensamento constitudo de signos, somentenos aproximaremos de uma compreenso do que o pensamento e suasrelaes com a experincia a partir do entendimento do que o signo. Ossignos precisam ser entendidos, sua funo precisa ser desvelada, pois seu

    processamento descreve os caminhos da apreenso dos fenmenos daexperincia e o gradativo desenvolvimento e gerao do conhecimento. Osfenmenos so traduzidos e transformamos em signos.

    Gomila (1996, p. 1357), apud Correia, afirma que a cincia cognitiva emergeexatamente como uma crtica s teorias de estmulo-resposta (behaviorismo) que tinhamcomo objetivo compreender, atravs de teorias comportamentais, as formas como os

    conceitos, significados e representaes mentais so geradas.

    Nesse sentido, se os processos de mediao simblica so capazes de demonstrara capacidade humana de superar os processos perceptivos transformando-os emexperincia cognitiva, pode-se dizer que a teoria defendida por Charles Sanders Peircecujo princpio no o signo, mas o processo de semiose (da significao) explica osmecanismos de produo e de apreenso dos sentidos da linguagem jurdica. O quesignifica dizer que o Direito, inserido nessa lgica lingustica, no almeja que asociedade encontre na sua prtica ou fundamentao experincias meramente

    perceptivas, mas to somente o conhecimento que depende, para ao mesmo tempo queapreende os sentidos advindos da, seja colocado em ato; ou em ato comunicativo comodito anteriormente. Assim poder afirmar, o que caracteriza o Direito nessa linha de

    pensamento a sua condio de mediao de processos comunicativos, fato que ocorrepor meio do esquema tridico proposto por Peirce.

    Correia se utilizando de Gomila (1996, p. 1358) expe a trade no seguintesentido:

    As interpretaes so mediaes sgnicas e a teoria geral dos signos descreveos nveis de abstrao e de complexidade em jogo no processo de

  • 7/24/2019 Simposio 19a (3).pdf

    10/137

    !!! #$%&'$()* +' ,-. /0'$%0-. 1&2-$-. 3 4'%$*,560%-. 7-)- ,-

    0$('6)-%05$ +' ,- 829)0%- :-(0$- 3 ', /-)0;' !$(')$-%0*$-, +', /*$*%020'$(*< =0>,*6*. '$ ?&'.()- 829)0%-

    @@AI

    engendramento dos conceitos. Gomila (1996, p. 1358) afirma que o conceitode signo desenvolvido por Peirce de suma importncia para as CinciasCognitivas. O conceito tridico de signo desenvolvido por Peirce ajuda a

    entender as formas como o signo representa o objeto, e, neste processo, geraum signo equivalente ou mais desenvolvido chamado de interpretante,correlato do signo que caracterizado como o efeito do signo em mentesinterpretadoras.

    Nth (1995, p. 130) nos chama a ateno para a forma como, nas categoriasfenomenolgicas da experincia desenvolvidas por Peirce, a cognio entendida:

    Na filosofia de Peirce, a trade tradicional da mente corresponde s suas trscategorias de primeiridade, secundidade e terceiridade. O sentimento

    pertence primeiridade, a categoria do imediato e das qualidades ainda nodiferenciadas. A volio pertence secundidade, categoria da interaodidica entre o eu e o outro (um primeiro e um segundo). A cognio

    pertence terceiridade, categoria da comunicao, da representao entreum segundo e um primeiro (CP 5.66)

    Consequentemente relacionado a esse fenmeno est a propositura de TercioSampaio Ferraz Jr. (2009, p.7) ao mencionar que no basta aos estudos se pautar noaspecto lingustico, haja vista no ser o propsito estudar a linguagem do direito ou da

    sua manifestao normativa; mas investigar o prprio direito, enquanto necessita, para asua existncia, da linguagem. Logo, o direito levado ao nvel lingustico, sem,contudo, dispensar investigao o que lhe da competncia do jurdico, da norma, dosregulamentos de comportamento, da possibilidade de conflitos, das caractersticasimanentes que nos levam a outro nvel, que aqui se apresenta o nvel discursivo.Afinal, assevera Ferraz Jr (2009, p. 8): Em nome das leis das regularidades dalinguagem procede-se, usualmente, a uma investigao do discurso poltico, filosfico,cientfico, etc.

    Sob o ponto de vista normativo, o Direito como regra de conduta, nos dizeres deNorberto Bobbio (2014, p. 25):

    Aproxima-se da experincia jurdica e apreender seus traos caractersticos considerar o direito como um conjunto de normas, ou regras de conduta.Comecemos ento por uma afirmao geral do gnero: a experincia jurdica uma experincia normativa.

    Ainda para Bobbio e correlacionado afirmao de Ferraz Jr (2009) de que maisimportante que estudar a linguagem do direito ou da sua manifestao normativa

  • 7/24/2019 Simposio 19a (3).pdf

    11/137

    !!! #$%&'$()* +' ,-. /0'$%0-. 1&2-$-. 3 4'%$*,560%-. 7-)- ,-

    0$('6)-%05$ +' ,- 829)0%- :-(0$- 3 ', /-)0;' !$(')$-%0*$-, +', /*$*%020'$(*< =0>,*6*. '$ ?&'.()- 829)0%-

    @@HB

    investigar o prprio direito, enquanto necessita, para a sua existncia, da linguagem,vale para os estudos do direito como regra de conduta apreender os sentidos dos modoscomo a nossa vida se desenvolve em um mundo de normas (BOBBIO, 2014, p. 25).

    Por isso, no mundo das normas vale ainda a experincia do sujeito com relao normaa ele estabelecida, caso contrrio, de nada significar, porque no passou pela prpriaexperincia jurdica da qual se prope.

    Pode-se dizer nesse caso que a linguagem representa o sentido do mundo vivido, comolugar da ao poltica e de expresso do sujeito, embora estejamos constantementeenvoltos em regras de conduta. Importante neste contexto destacar que o mundo vivido,tal qual concebido por Jrgen Habermas, permite a ao comunicativa, onde devedominar a ao dos sujeitos no ambiente, logo, um espao social lugar por excelnciado agir comunicacional, cujo domnio historicamente constitudo de mododemocrtico e do uso livre e pblico da razo do sujeito (ZUIN, 2009, p. 26).

    Assim, muito embora seja preciso a experincia do sujeito com o mundo da vida paraque ele possa se colocar no ato comunicativo e compreender os significados das normasque lhe so postas, surge nos imperativos autnomos e heternomos considerados porBOBBIO (2014, p.91), um paradoxo a esse posicionamento; pois, a categoria das

    prescries da ordem jurdica vastssima, porque compreendem tanto as regras moraisquanto as regras da gramtica, tanto as normas jurdicas quanto as prescries de ummdico. A isso implica uma mudana no paradigma de Habermas, haja vista que na

    relao do sujeito com o objeto cognoscitivo presente na teoria da ao comunicativa ha predominncia do uso livre e pblico da razo do sujeito sobre o objeto, dado a ideiarelevante da relao sujeito-sujeito para a efetiva formulao discursiva. Entretanto, oque formulado pela funo prescritiva da linguagem jurdica, nos dizeres de BOBBIO(2014, p.91) no se insere nesse domnio discursivo.

    Bobbio busca em Kant (no Fundamento da Metafsica dos Costumes) a compreensopara esse fator particular para os estudos das normas jurdicas, tendo em vista quesomente os imperativos morais so autnomos, nos dizeres de Kant.

    So autnomos porque a moral consiste em comandos que o homem, enquanto serracional, d a si mesmo e no os recebe de nenhuma outra autoridade que no seja aprpria razo. Quando o homem, ao invs de obedecer legislao da razo, obedeceaos instintos, s paixes, aos interesses, segue imperativos que o desviam doaperfeioamento de si prprio: o seu comportamento consiste, nesses casos, na adeso a

    princpios que esto fora dele e, enquanto tal, no mais um comportamento moral(BOBBIO, 2014, p. 91).

    Eis, portanto, uma anttese prpria da linguagem jurdica, afinal, diz-se em Kant que aautonomia da vontade qualidade que possua a vontade de ser lei de si mesma, ou seja,

  • 7/24/2019 Simposio 19a (3).pdf

    12/137

    !!! #$%&'$()* +' ,-. /0'$%0-. 1&2-$-. 3 4'%$*,560%-. 7-)- ,-

    0$('6)-%05$ +' ,- 829)0%- :-(0$- 3 ', /-)0;' !$(')$-%0*$-, +', /*$*%020'$(*< =0>,*6*. '$ ?&'.()- 829)0%-

    @@HC

    Quando a vontade procura a lei que deve determin-la em lugar distinto ao da inclinaode suas mximas de instituir como sua uma legislao universal, quando, porconsequncia, ultrapassando a si mesma, procura esta lei na qualidade de qualquer de

    seus objetos, disso resulta sempre uma heteronomia (grifo do autor) (KANT, apudBOBBIO, op.cit).

    Veja-se se por um lado se defende que o Direito condio sine qua non para aformulao de discursos socioculturais, lado outro, na prtica por ser produtor dasnormas: A vontade no d ento a lei a si mesma; o objeto, ao invs, graas a suasrelaes com ela, que lhe d a lei (KANT, p. 104, apud BOBBIO, 2014, p. 91-92).

    A distino entre imperativos autnomos e heternomos tem importncia para o estudodo direito, porque constitui um dos tantos critrios com os quais se desejou distinguir a

    moral do direito. Segundo Kant, a moral se resolve sempre em imperativos autnomos,e o direito, em imperativos heternomos, visto que o legislador moral interno, e o

    jurdico externo. Em outras palavras, essa distino pretende sugerir que, quando noscomportamos moralmente, no obedecemos a ningum alm de a ns mesmos; quando,ao contrrio, agimos juridicamente, obedecemos a leis que nos so impostas por outros(BOBBIO, 2014, p. 92).

    Nesse diapaso, o Direito passa a ser um fenmeno predisposto a cada gerao, grupo,cultura ou mesmo indivduo, do qual depende para a elaborao, o estabelecimento e oacesso ao contedo, norma; uma vez que, para entender o mundo jurdico cada culturatem sua maneira singular de express-lo e de interpret-lo, ou seja, cada qual tem aexperincia correlata ao mundo da vida, muito embora, a proposio prescritiva tambmdiz respeito fora vinculante.

    [...]

    At agora, falamos dos imperativos (ou comandos). Mas os imperativos (oucomandos) so aquelas prescries que tm maior fora vinculante. Essamaior fora vinculante se exprime dizendo que o comportamento previsto

    pelo imperativo obrigatrio, ou em outras palavras, o imperativo gera umaobrigao pessoa a quem se dirige. Imperativo e obrigao so dois termoscorrelativos: onde existe um, existe o outro. Pode-se exprimir o imperativoem termos de obrigatoriedade da ao-objeto (BOBBIO, 2014, p. 97)

    No entanto, para Bobbio no est descartado que a maior parte das vezes a isso implicaum velamento que h por trs da linguagem jurdica, ou seja, a funo prescritiva quevisa:

    pressupor o conhecimento da funo que tem o sistema normativo de caracterizar umadada sociedade, e no podem ser respondida seno atravs do estudo das regras de

  • 7/24/2019 Simposio 19a (3).pdf

    13/137

    !!! #$%&'$()* +' ,-. /0'$%0-. 1&2-$-. 3 4'%$*,560%-. 7-)- ,-

    0$('6)-%05$ +' ,- 829)0%- :-(0$- 3 ', /-)0;' !$(')$-%0*$-, +', /*$*%020'$(*< =0>,*6*. '$ ?&'.()- 829)0%-

    @@H@

    conduta que moldaram a vida daqueles homens, distinguindo-a da vida de outroshomens, pertencentes a outra sociedade inserida em outro sistema normativo (BOBBIO,2014, p. 27).

    Em outro aporte:

    Acreditamos ser livres, mas na realidade, estamos envolvos em uma redemuito espessa de regras de conduta que, desde o nascimento at a morte,dirigem nesta ou naquela direo as nossas aes. A maior parte destas regras

    j se tornou to habituais que no nos apercebemos mais da sua presena.Porm, se observarmos um pouco, de fora, o desenvolvimento da vida de umhomem atravs da atividade educadora exercida pelos seus pais, pelos seus

    professores e assim por diante, nos daremos conta de que ele se desenvolveguiado por regras de conduta (BOBBIO, 2014, p. 26).

    Nesse mesmo sentido esto s questes relacionadas ao contedo das representaesmentais das quais so de extrema importncia para a Cincia Jurdica, pois, paraentender o Direito necessrio apresentar as possibilidades interpretativas; porque aideia de prioridade pragmtica dos atos de comunicao s validada a partir da decisode se colocar em discurso e em situao comunicativa, utilizando os termos de Ferraz Jr.(2009, p. 12). E ampliam-se, mesmo as normas de conduta que fazem parte da funo

    prescritiva pretendem sublinhar imperativos positivos ou negativos de ambas asespcies, sem, contudo, deixar de almejar a experincia jurdica a rigor formulada,

    porque so de signos lingusticos que se fala. Nessa linha, na dimenso pragmtica esta constituio significativa do que venha a ser destinado linguagem jurdica, porque nela que tambm se fincam os propsitos da funo prescritiva, seja para a adesoespontnea ou obrigatria do interpretante da norma.

    Por isso tambm destacar o Direito como prtica discursiva sociocultural, tendoem conta que exatamente nas relaes que constituem o esquema tridico de Peirce(fundamento, objeto e interpretante) que de acordo com Correia (2012, p.3)

    podemos encontrar aquilo que a Semitica Peirceana possui de essencial parao entendimento do contedo das representaes mentais: no jogo dasrelaes entre os elementos que compem o signo que o contedo dasrepresentaes mentais nascem como signos-interpretantes, efeitos do signo,efeitos de sentido e de representao do signo nas mentes interpretadoras.

    Sendo assim, no h como dizer que o Direito meramente condicionantecomportamental, pois a ideia justamente romper com as vertentes do behaviorismo e

  • 7/24/2019 Simposio 19a (3).pdf

    14/137

  • 7/24/2019 Simposio 19a (3).pdf

    15/137

    !!! #$%&'$()* +' ,-. /0'$%0-. 1&2-$-. 3 4'%$*,560%-. 7-)- ,-

    0$('6)-%05$ +' ,- 829)0%- :-(0$- 3 ', /-)0;' !$(')$-%0*$-, +', /*$*%020'$(*< =0>,*6*. '$ ?&'.()- 829)0%-

    @@HE

    de ser fundante na dialogicidade que se pretende. dado a essa fundamentao queFerraz Junior aponta no sentido da situao comunicativa. E nessa esteira pautado o

    princpio da pragmtica de Peirce, haja vista o privilgio dessa dimenso para a

    semiose, tendo em vista como enfatiza o autor, a norma como fato lingustico,incorporando a dimenso ldica (Ferraz Jr., 2009, p.12). Merece citar nos termos deFerraz: as demais dimenses: semntica e a sinttica so aspectos relevantes aosestudos da norma jurdicas, mas salienta ser a pragmtica a preterida em razo do

    princpio da interao (2009, p. 30).

    E acrescentamos, se o Direito cuja capacidade de mediao formalizar o universosimblico da ordem jurdica, por reconhecer o homem como ser simblico e como tal,diferente de outras espcies animais pela condio de apreenso dos sentidos ao altonvel de abstrao, a experincia advinda dessa formalizao simblica, na realidadeapreendida e percebida, capaz de transformar o mundo mental, psicolgico,sociocultural e interacional do receptor.

    Nos termos de Ricardo Souza Pereira (2012), eis os motivos pelos quais a opo peloponto de vista pragmtico para a abordagem da linguagem jurdica, porque se de umlado est a prpria funo que lhe destinada a de prescrever, sancionar, obrigar, do

    ponto de vista da semiose tal qual a propositura de Ferraz Jr.

    Quanto concepo do ponto de vista pragmtico, objetiva esse estudo a ser umfacilitador da comunicao entre aquele que emite a norma e o destinatrio desta, que

    poderia ser apenas um receptor da norma. Todavia quanto de forma pragmtica o fim alcanado, deixa de ser um mero receptor, entretanto, para se transformar emconhecedor da mesma, o que torna o ato da linguagem, muito mais eficaz.

    E do mesmo modo o Direito como prtica discursiva sociocultural, pois, esse passa aassumir a funo de agenciador-comunicacional das relaes humanas, porque concebeno apenas a linguagem e os signos como investigao da semiose, mas a interao quea concebe como comunicao social com o interpretante. Para essa compreenso toma-

    se Carlos Eduardo BiancaBittar que ensina:

    Ento percebe-se que a presena corprea do Direito no to unitria, nemto homognea; percebe-se mesmo que ao Direito falta algo quando dele seextraem suas substncias scio-cultural, expressiva, discursiva, poltico-

    potestativa (...). Se assim , ento se est diante de um fenmeno que convivecom outros fenmenos, de alguns dependendo intrinsecamente, de outrosextraindo sua articulao, sobre outros se estruturando, com outrosconvivendo dialeticamente, etc. Nesse sentido, e nesse exato momento, abre-

    se uma nova viso para o que seja a realidade do Direito, um sentido que no

  • 7/24/2019 Simposio 19a (3).pdf

    16/137

    !!! #$%&'$()* +' ,-. /0'$%0-. 1&2-$-. 3 4'%$*,560%-. 7-)- ,-

    0$('6)-%05$ +' ,- 829)0%- :-(0$- 3 ', /-)0;' !$(')$-%0*$-, +', /*$*%020'$(*< =0>,*6*. '$ ?&'.()- 829)0%-

    @@HF

    apela para aquela realidade artificial [...] (ortografia original do autor).(BITTAR, 2003, p. 15).

    Nesse consentimento Bittar complementa:

    De um lado o discursus consiste no uso da racionalidade depurativa dasidias, contrapondo-se, portanto, noo de intuio (nosis); o discursusenvolve o cursus de uma proposio a outra, de modo que todo raciocnioencontra-se condicionado por esse percurso. De outro lado, o discurso entendido como sendo logos, ou seja, o transporte do pensamento (nos) dasestruturas eidticas para a esfera da comunicao, o uso do nos na

    articulao da linguagem. O logos, em verdade, o nos feito em palavra, oque equivale a dizer que h uma passagem do simblico abstrato e notico,do simblico do pensamento e da formao das idias, para o simblicoconcreto e expressivo (ortografia original do autor). (BITTAR, 2003, p. 71)

    Desse modo, o processo de semiose que Peirce introduziu a fim de caracterizar oprocesso dinmico na mente do receptor tomado no sentido de que, tal processo aao do signo, e ainda, o processo no qual o signo tem um efeito cognitivo sobre ointrprete, consequentemente, o Direito engendra por meio da situao comunicativa

    normativa aquisio do conhecimento humano e com isso, o desenvolvimento dalinguagem jurdica. Afinal, na linguagem que a cognio narrativizada de modoativo pelas interpretaes carregadas de subjetividade. O processo de mediao doDireito passa da experincia perceptiva ao jogo estratgico dos smbolos organizados nalinguagem jurdica. No sentido semitico peirceano, passa pela primeiridade (acategoria do sentimento imediato e presente das coisas, sem nenhuma relao comoutros fenmenos do mundo):

    Na definio de Peirce, primeiridade o modo de ser daquilo que tal como . acategoria do sentimento sem reflexo, de mera possibilidade, da liberdade, do imediato,

    da qualidade ainda no distinguida e da independncia. (SANTAELLA, 2003, p. 43).

    Em seguida pela secundidade que significa:

    Comea quando um fenmeno primeiro relacionado a um segundofenmeno qualquer. a categoria da comparao, da ao, do fato, darealidade e da experincia no tempo e no espao, aqui e agora, ao e reao(SANTAELLA, 2003, p. 47)

  • 7/24/2019 Simposio 19a (3).pdf

    17/137

    !!! #$%&'$()* +' ,-. /0'$%0-. 1&2-$-. 3 4'%$*,560%-. 7-)- ,-

    0$('6)-%05$ +' ,- 829)0%- :-(0$- 3 ', /-)0;' !$(')$-%0*$-, +', /*$*%020'$(*< =0>,*6*. '$ ?&'.()- 829)0%-

    @@HG

    E alcana a categoria da terceiridade, cuja tese peirceana a categoria que relaciona umfenmeno segundo a um terceiro. a categoria da mediao, do hbito, da memria,da continuidade, da sntese, da comunicao, da representao, da semiose e dos signos

    (SANTAELLA, 2003, p.51).

    Nessa medida colocar o homem sujeito da interpretao, visto que sempre oresultado de uma elaborao cognitiva, fruto de uma mediao sgnica que possibilitanossa orientao no espao por um reconhecimento e assentimento diante das coisas ques o signo permite (SANTAELLA, 2003, p. 52-53).

    Consequentemente, o processo de significao (semiose) presente na narratividade dasmediaes no ao acaso, na medida em que a mediao um processo semitico-discursivo, tambm o o processo de narratividade, por se tratar de um mapa mental

    cognitivo no meramente narrativo. Porque, nesse mapa a narratividade se trata de umadada propriedade que caracteriza certo tipo de discurso (GREIMAS, 2008, p.328), nessecaso, o discurso do Direito que escreve e/ou subscreve o modo como os sujeitos sociaisdevem saber-fazer, poder-fazer, dever-fazer das prticas discursivas jurdicas umasituao de comunicao na cultura, na histria, na sociedade. Esse modelo emboraabstrato justificado na medida em que o comunicador normativo (FERRAZ Jr. 2009,

    p.43), nesse contexto, tambm passa a assumir diversas posies dentro dos demaisdiscursos sociais.

    A esto enraizadas as bases que constituem o fenmeno do Direito enquanto prticadiscursiva sociocultural.

    CONSIDERAES FINAIS

    A Semitica elaborada por Charles Sanders Peirce, concebida como Lgica, nopode ser confundida com uma cincia aplicada, nos dizeres de Santaella, visto que oesforo de Peirce foi de configurar conceitos sgnicos gerais para a apreenso dossentidos advindos dos procedimentos abstratos-formais. Cumpre reter nessa linha que os

    procedimentos tericos de Peirce contriburam para o avano do pragmatismo norte-americano, uma vez que por meio do esquema tridico do signo, muito diferente domodelo didico de Ferdinand de Saussure, permite a relao de semiose (significao)que designa uma ao; ou uma influncia que supe a cooperao de trs sujeitos no

    processo: o signo, o objeto e seu interpretante.

    Ocorre dessa ideia a ao do homem no mundo, mesmo que apenas perpassadapela experincia, segundo a qual ele chamar de primeiridade, que nada mais que as

    coisas fora do lugar ou de qualquer suporte (ARAJO, 2004, p. 47). No entanto,adianta e leva em conta o carter trplice do signo e da ao primeira, porque reside em

  • 7/24/2019 Simposio 19a (3).pdf

    18/137

    !!! #$%&'$()* +' ,-. /0'$%0-. 1&2-$-. 3 4'%$*,560%-. 7-)- ,-

    0$('6)-%05$ +' ,- 829)0%- :-(0$- 3 ', /-)0;' !$(')$-%0*$-, +', /*$*%020'$(*< =0>,*6*. '$ ?&'.()- 829)0%-

    @@HA

    seguida uma segunda a secundidade que ocorre pelo contato com alguma coisa queobriga a uma modificao, s reaes, ao aspecto de relao mtua. Assim, natransuao, como prope Arajo (2004, p. 47), para Peirce ocorre a mediao ou

    modificao da primeiridade e da secundidade, e nesse nvel ocorre os processoscomunicativos.

    O Direito se encaixa nessa dimenso terceira, pois representa algo que provoca,conclama, modifica, persuade, cria mediaes tipicamente e genuinamentecaractersticas de sua situao comunicacional normativa, ou seja, representao aomesmo tempo em que representado, porque hbito, memria, difuso, crescimento,inteligncia, cognio segue sua constituio dentica de validade argumentativa,consequentemente, discursiva.

    Por ser terceiridade implica gerar na mente do intrprete outro signo equivalente oumais desenvolvido que Peirce (1972, p. 94) intitula como interpretante. E, com tudo oque isso determina, o pragmatismo de Peirce foi apresentado fazendo-se notrio que:os caracteres de todos os signos utilizados por uma inteligncia cientfica, isto , poruma inteligncia capaz de aprender com a experincia (1977, p. 45), constituem umaespcie de abstrao junto com a observao. (ARAJO, 2004, p. 54). O Direito nessaseara, enquanto categoria terceira diz respeito mediao ou processo, crescimentocontnuo e devir sempre possvel pela aquisio de novos hbitos (SANTAELLA,2003, p. 39), normas, costumes, assentimento, conveno, situao de

    comunicao/interao; porque por meio do Direito se representa e interpreta o mundodas leis; a camada da inteligibilidade que demanda na profuso do cognitivo.

    A Semitica Peirceana, na rea do Direito, um campo do conhecimento emdesenvolvimento que busca entender os processos de significao que permeia odiscurso jurdico. Como uma semitica especfica pode ser aplicada aos processos decognio que o Direito prope replicar, dadas as potencialidades cognitivas da espciehumana.

    Em suma, dessas abordagens chegou-se dimenso pragmtica, pelo fato de que na

    complexidade do discurso se apela ao entendimento de outrem, nos dizeres do professorFerraz Jr. Nesse contexto, o que d sentido da sua unidade a possibilidade pragmticado discurso, ou seja, as regras compem uma unidade em funo da possibilidade decomportamentos discursivos fundamentantes (FERRAZ Jr, 2009, p. 20). Por fim, sob ongulo da pragmtica do discurso, como assevera o autor, interesses se manifestamatravs de valores (2009, p. 151).

    Se para Norberto Bobbio a funo prescritiva da linguagem jurdica vai ao encontro doque se prope, isto , modificar o comportamento do indivduo, a influncia tambmdos modos como ele a recepciona, nesse caso a interpreta por meio dos mecanismos

    cognitivos, mesmo que de modo indireto, enquanto influncia da prescrio direta, oque significa dizer que pela linguagem que h o consentimento do interpretante em

  • 7/24/2019 Simposio 19a (3).pdf

    19/137

    !!! #$%&'$()* +' ,-. /0'$%0-. 1&2-$-. 3 4'%$*,560%-. 7-)- ,-

    0$('6)-%05$ +' ,- 829)0%- :-(0$- 3 ', /-)0;' !$(')$-%0*$-, +', /*$*%020'$(*< =0>,*6*. '$ ?&'.()- 829)0%-

    @@HH

    fazer-fazer. Ou ainda, como funo prescritiva perpassa pela dinmica do imperativoheternomo, haja vista que sai da esfera da moral kantiana: a autonomia da vontadesegundo a qual a qualidade que possui a vontade de ser lei de si mesma; em direo ao

    discurso do legislador, visto que esse legislador moral interno, e o jurdico externo,como acentua Bobbio.

    O Direito como prtica discursiva sociocultural no seria diferente, dado que em termospragmticos, a funo discursiva imanente a contm, nos dizeres do Ferraz Jr:observaes que nos conduzem a concluses pouco satisfatrias sobre a legitimidadetomada como um problema de justificao ltima do discurso normativo. (2009, p.172).

    Porque, como o autor (2009, p. 172) mesmo afirma: O seu carter de jogo sem fim

    mostra, por analogia, que qualquer tentativa de exigir padres ltimos, capazes dedecidir inapelavelmente sobre a lisura do jogo, sobre se o jogo continua sendo jogadoou se est sendo apenas feito na aparncia, exige critrios que no esto dentro dosistema, mas, de algum modo, fora dele.

    Ora, ento a reside a colocao de que todo discurso dotado de ideologia, edada a impossibilidade de se sair do limite ideolgico, isso no d o direito de tornarirracional e acessvel a legitimidade do discurso jurdico, tendo em vista que para a

    pragmtica formal preciso permitir aos participantes da comunicao entenderem-seentre si acerca de algo que o mundo lhe coloca; logo, culmina na proposta de uma novaracionalidade, entendida como disposio dos sujeitos capazes de produzir e apreenderos sentidos da linguagem processo cognitivo, ao mesmo tempo em que possibilita aordem social.

    Por fim, como produtor de discursos sociocultural tambm o Direito capaz de gerir acompetncia do indivduo a fim de conduzi-lo a um saber-fazer escolhas, analisar,compartilhar, mas, fundamentalmente, vivenci-lo com tica e senso crtico. Portanto,uma experincia cognoscente, que impulsionaria a percepo da cultura e relativizariaas normas e os valores da norma de cada sociedade, levando em conta o saber-fazer que,

    alm disso, compreende as experincias estticas e estsicas dessa mesma sociedade.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    ABBAGNANO, Nicola. Dicionrio de filosofia. Traduo de Alfredo Bosi. So Paulo:Martins Fontes, 2003.

    ANDRADE, MARIANA DIONSO DE; CARMO, Valter Moura do. Semitica jurdica a anlise dos smbolos para a interpretao dos textos jurdicos. Trabalho publicado

    nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nosdias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010.

  • 7/24/2019 Simposio 19a (3).pdf

    20/137

    !!! #$%&'$()* +' ,-. /0'$%0-. 1&2-$-. 3 4'%$*,560%-. 7-)- ,-

    0$('6)-%05$ +' ,- 829)0%- :-(0$- 3 ', /-)0;' !$(')$-%0*$-, +', /*$*%020'$(*< =0>,*6*. '$ ?&'.()- 829)0%-

    @@HI

    ARAJO, Ins Lacerda. Do signo ao discurso. Introduo filosofia da linguagem. SoPaulo: Editora Parbola Editorial, 2004.

    BITTAR, Eduardo C.B. Linguagem jurdica. 2. ed. So Paulo: Saraiva, 2003.

    _____, Eduardo C.B. Linguagem jurdica. 5. ed. So Paulo: Saraiva, 2010.

    BOBBIO, Norberto. Teoria da Norma Jurdica. Traduo de Ariani BuenoSudatti eFernando Pavan Baptista; apresentao de Alar Caff Alves. So Paulo: EDIPRO, 5.Ed., revista. 1. reimp. 2014.

    CORREIA, Claudio Manoel de Carvalho. Semiose e mediao simblica: acompetncia semitica e os processos de mediao dos signos nas representaes dalinguagem e da cognio. Educao, Comunicao e Mediao. 2012. No prelo.

    FERRAZ, Jr. Tercio Sampaio. Teoria da norma jurdica: ensaio de pragmtica dacomunicao normativa. Rio de Janeiro, Forense, 2009.

    GREIMAS, A. J.; COURTS, J. Dicionrio de Semitica. So Paulo: Contexto, 2008.

    HABERMAS, Jrgen. Conscincia moral e agir comunicativo. 2. ed. Rio de Janeiro:Tempo. Brasileiro, 2003.

    LANDOWSKI, Eric. Presenas do Outro. Ensaios de Sociossemitica. So Paulo:Editora Perspectiva. S.A., 2002.

    ______, Eric. Sociedade Refletida. Ensaios de sociossemitica. So Paulo: Editora daPUC-SP, 1992.

    PEREIRA, Ricardo Souza. A Linguagem Jurdica. Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 10mar. 2012. .Acesso em: 01 maio 2014.

    ROBLES, Gregorio. O Direito como texto. Quatro estudos de Teoria Comunicacionaldo Direito. Traduo de Roberto Barbosa Alves. Barueri, So Paulo: Manole, 2005.

    SANTAELLA, Lucia. O que Semitica. So Paulo: Brasiliense, 2003.

    ZUIN, Aparecida Luzia Alzira. Porto Velho RO: entre discursos, fluxos e tenses naAmaznia. Seminrio Internacional de Pesquisa e Consumo. SIEP. Atividades evnculos. A cidade, o lugar, o produto. Anais do SIEP: Consumo - ISSN 2238-9245.

    _____, Aparecida Luzia Alzira. O uso da Educao como Mediao. Editora ApprisLtda. Curitiba, Paran, 2014. Livro no prelo.

  • 7/24/2019 Simposio 19a (3).pdf

    21/137

    !!! #$%&'$()* +' ,-. /0'$%0-. 1&2-$-. 3 4'%$*,560%-. 7-)- ,-

    0$('6)-%05$ +' ,- 829)0%- :-(0$- 3 ', /-)0;' !$(')$-%0*$-, +', /*$*%020'$(*< =0>,*6*. '$ ?&'.()- 829)0%-

    @@IB

    A HISTRIA DA OAB COMO HISTRIA DA BRASIL: Democracia e

    Participao popular

    Jaime Lenidas Miranda Alves

    Bruno Valverde Chahaira

    RESUMO:Em 2014 comemora-se 50 anos do golpe militar que instituiu o segundo

    Estado de exceo na histria do Brasil o primeiro teve incio com a revolta que levouo presidente Vargas ao poder, em 1930. Comemora-se, tambm, - e nessa hiptese semnecessidade ao uso de aspas 84 anos da instituio da Ordem dos Advogados doBrasil. Nesse jaez, analisa-se a atuao da OAB como tribuna da cidadania, ente mparno ordenamento jurdico ptrio que, mais que exteriorizar os anseios de uma entidade declasse, prima pelos baluartes do Estado Democrtico de Direito. Busca, na anlisehistrica do Brasil, traar um paralelo com a atuao da OAB, no af de verificar secumpre a OAB com seu objetivo primeiro: representar ideais humanistas e solidrios eenfrentar as condutas arbitrrias dos donos do poder; a deontologia do advogado baseia-se no mister em defender a Constituio, a Ordem jurdica do Estado Democrtico de

    Direito, os direitos humanos e a justia social.

    Palavras-chave: Estado Democrtico de Direito; Neoconstitucionalismo; OAB;

    ABSTRACT:In 2014, it will be "celebrated" 50 years of the military takeover whichestablished the second state of emergency in Brazil's history - the first state ofemergency started within the takeover that led president Vargas to power. It will also becelebrated this time, literal sense - 84 years of the institution of the Ordem dosAdvogados do Brasil. In this sense, it is analyzed the performance of OAB as a court ofcitizenship , a suis generis being that, more than externalize the desires of a class entity,

    press the needs of a democratic state. It is intended, through Brazilians history, to drawa parallel with the activity of OAB, in the eagerness to check whether the OAB meetswith its first goal: to represent solidarity and humanist ideals and face the arbitraryconduct of those in power; the rules of professional conduct are based on the need todefend the Constitution , the legal order of democratic State of law, human rights andsocial justice. In this sense, it is necessary to understand that there isnt democratic statewithout the OAB, what is possible to assemble from the constitutional aphorism thatestablishes that lawyers are indispensable to the attainment of justice.

    Keywords:Democratic State of Law; Neoconstitucionalism; OAB.

  • 7/24/2019 Simposio 19a (3).pdf

    22/137

    !!! #$%&'$()* +' ,-. /0'$%0-. 1&2-$-. 3 4'%$*,560%-. 7-)- ,-

    0$('6)-%05$ +' ,- 829)0%- :-(0$- 3 ', /-)0;' !$(')$-%0*$-, +', /*$*%020'$(*< =0>,*6*. '$ ?&'.()- 829)0%-

    @@IC

    Introduo

    Civilismo quer dizer ordem civil, ordem jurdica, a saber: governo da lei, contraposto ao

    governo do arbtrio, ao governo da fora, ao governo da espada. A espada enche hoje apoltica do Brasil. De instrumentos de obedincia e ordem, que as nossas instituiesconstitucionais a fizeram, coroou-se em rainha e soberana. Soberana das leis. Rainha daanarquia. Pugnando, pois, contra ela, o civilismo pugna pelo restabelecimento da nossaConstituio, pela restaurao da nossa legalidade. Ora, quando quer e como quer quese cometa um atentado, a ordem legal se manifesta necessariamente por duasexigncias, a acusao e a defesa, das quais a segunda, por mais execrando que seja odelito, no menos especial satisfao da moralidade pblica do que a primeira. Adefesa no quer o panegrico da culpa, ou do culpado. Sua funo consiste em ser, aolado do acusado, inocente, ou criminoso, a voz dos seus direitos legais. (BARBOSA,Rui, 2002, p. 36)

    Contar a histria da Ordem dos Advogados do Brasil contar a histria do Brasil. Ahistria da OAB uma obra coletiva que deve ser contada no plural. Ora, a OAB, desdesua criao, em 1930, vem pautando sua atuao na defesa liberdades individuais ecoletivas. A luta da OAB luta de todos, na forma que o interesse dos advogados acaba

    por coincidir com os anseios da nao.

    O primeiro presidente da OAB foi Levi Carneiro (9/3/1933 a 11/8/1938), , atualmenteMarcos Vincius Furtado Colhoassume o comando do Conselho Federal, prezando umaconduta ilibada e prestacional, continuando trilhar os caminhos da OAB, instituioque carrega como pedra angular a tica e o compromisso com o interesse dacoletividade.

    No cabe obra, visto seu singelo objetivo de tecer um breve comentrio a respeito dahistria da OAB, destacar as peculiaridades da atuao de cada presidente. Deve-se,contudo, admitir que trata-se de uma sucesso de profissionais comprometidos com aconsecuo dos baluartes do Estado Democrtico, com as liberdades profissionais ecom o interesse coletivo.

    A OAB, como preleciona Colho (2010, p. 26)tem como nico partido a ConstituioFederal e carrega como objetivo primeiro opor-se s atitudes arbitrrias dos donos do

    poder visto que a entidade protagoniza a libertria luta pela prevalncia dospostulados democrticos.

    Nessa esteira, Machado (2010, p. 20) faz meno a alguns dos muitos advogados que sedestacaram nessa luta pela defesa do primado do Estado Democrtico de Direito,movidos pelo inconformismo, pela aspirao por justia e prevalncia do bem comum.

    Com efeito, destaca-se o advogado Antonio Pereira Rebouas (1798-1880),

    profissional autodidata, dedicou parte da sua vida a defender negros escravos,

  • 7/24/2019 Simposio 19a (3).pdf

    23/137

    !!! #$%&'$()* +' ,-. /0'$%0-. 1&2-$-. 3 4'%$*,560%-. 7-)- ,-

    0$('6)-%05$ +' ,- 829)0%- :-(0$- 3 ', /-)0;' !$(')$-%0*$-, +', /*$*%020'$(*< =0>,*6*. '$ ?&'.()- 829)0%-

    @@I@

    mobilizando-se apenas pelo sentimento solidrio de ajudar pessoas (MACHADO,2010, p. 20) .

    Nesse contexto, ainda, Luis Gama (1830-1882), ex-escravo que, na luta defesa dosnegros, atuou como rbula e chegou a libertar cerca de 1000 cativos; Joaquim Nabuco(1949-1910), advogado, fundador da Sociedade Antiescravido Brasileira, tentou levaro absolutismo ao monarquismo e ficou para a histria com seu discurso no qual enfatizaque a escravido, assim como arruna economicamente o pas, [...] produz umaaparncia ilusria de ordem, bem-estar e riqueza, a qual encobre os abismos da anarquiamoral, de misria e destruio de Norte a Sul margeiam o nosso futura. (NABUCO,2010, p. 123-124)

    Machado (2010, p. 22) cita ainda vrios outros advogados que se destacaram ao longo

    da histria, a exemplo de RuI Barbosa (1849-1923), que tamanha tenha sidocontribuio ordem jurdica e social da poca at hoje considerado um dos maiores

    brasileiros de todos os tempos e sua obra O Dever do Advogado, datada de 1911,aindatraa um norte deontolgico e inspira a atuao profissional de milhares de CcerosRomanos.

    Destaca, ainda, a atuao deHerclito Fontoura Sobral Pinto (1893-1991), advogadomilitante,que enfrentou os abusos e ilegalidades de sua poca, assumindo verdadeira

    posio cvica pelo regime democrtico. Alm de ser um dos fundadores do CentroDom Vital e do Instituto Catlico dos Estudos Superiores; Sobral Pinto defendeu em1937 dos comunistas Lus Carlos Prestes e Harry Berger perante o Tribunal deSegurana Nacional. Fundou a Liga de Defesa da Legalidade, em defesa da manutenodos princpios democrticos no pas. Foi convidado, em 1955, pelo ento presidenteJuscelino Kubitchek a ocupar uma cadeira como Ministro do STF, todavia entendeu pordeclinar a nomeao.

    Os exemplos citados supra so apenas para ilustrar uma parcela da contribuio e doenvolvimento social dos componentes da OAB. Todavia, a histria feita a cada dia,dentro e fora dos tribunais, por advogados brasileiros annimo imbudos pelo texto do

    Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil, lei 8.906/94, que impe o dever a todos osadvogados em defender a Constituio, a Ordem jurdica do Estado Democrtico deDireito, os direitos humanos e a justia social.

    1A histria da OAB como histria do Brasil

    Sou uma voz isolada neste oceano imenso que a populao de milhes de brasileiros.

    No tenho atrs de mim, senhor presidente, qualquer milcia, armada ou no. Vivo daadvocacia, pela advocacia e, para a advocacia, por entre dificuldades financeiras e

  • 7/24/2019 Simposio 19a (3).pdf

    24/137

    !!! #$%&'$()* +' ,-. /0'$%0-. 1&2-$-. 3 4'%$*,560%-. 7-)- ,-

    0$('6)-%05$ +' ,- 829)0%- :-(0$- 3 ', /-)0;' !$(')$-%0*$-, +', /*$*%020'$(*< =0>,*6*. '$ ?&'.()- 829)0%-

    @@ID

    profissionais que s Deus conhece. S tenho uma arma, senhor presidente: a minhapalavra franca, leal e indomvel. (PINTO, Sobral, 1964 em carta ao Presidente CasteloBranco)

    A ordem dos Advogados do Brasil OAB, em seus quase 100 anos de existncia secaracterizou como uma tribuna da cidadania, estruturada com uma organicidade mparque, em toda a sua histria lutou pela democracia e pelas liberdades individuais ecoletivas, traando uma conduta tica, paradigma para a sociedade civil.

    Na tentativa de exprimir parte da significncia da atuao da OAB na proteo dasnecessidades sociais, faz-se necessrio retornar h quase 500 anos de histria, paracompreender o desarrolhar da atividade da advocacia em terras ptrias.

    Assim, comenta-se a respeito das Ordenaes Filipinas, do sculo XVII, pedra angularque regulou a vida civil no Brasil colnia at a publicao do Cdigo Civil de 1916.Dispunha a legislao ibrica que parapraticar o mister da advocacia era necessriocurso jurdico de oito anos, seguido por exame.

    Nessa poca, e at 1843, inexistia qualquer rgo de representao dos advogados,situao que se modificou com a criao do Instituto dos Advogados Brasileiros, noreferido ano.

    O Instituto de Advogados Brasileiros procedeu a criao dos cursos de Direito

    em So Paulo e no Recife e surgiu como resposta ao anseio da classe por representaoinstitucionalizada. Assim, em 7 de agosto de 1843 foi publicado o seguinte Aviso peloGoverno Imperial:

    Sua Majestade o Imperador, deferindo benignamente o que lhe foiapresentado por diversos advogados desta Corte, manda pela Secretaria doEstado dos Negcios da Justia aprovar os Estatutos do Instituto dosAdvogados Brasileiros, que os Suplicantes fizeram subir sua Augusta

    presena, e que com estes baixam, assinado pelo Conselho Oficial Maior damesma Secretaria de Estado; com a clusula, porm, de que ser tambmsubmetida Imperial Aprovao o regulamento interno de que tratam os

    referidos estatutos. Palcio do Rio de Janeiro, em 7 de agosto de 1843.Honrio Hermeto Carneiro Leo.

    Um dos maiores objetivos do Instituto de Advogados Brasileiros foi a criao daOrdem dos Advogados do Brasil, entidade de seleo e defesa da profisso. Caberessaltar que o Instituto, previua criao da OAB, mas no a instituiu, o que s viria aocorrer quase 100 anos depois.

    A criao da OAB pode ou melhor, deve! ser considerada uma conquista de

    geraes. Em 1850, o primeiro presidente da IAB o jurista Francisco G Acaiaba deMontezuma, ou como era conhecido, Visconde de Jequitinhonha conseguiu que o

  • 7/24/2019 Simposio 19a (3).pdf

    25/137

    !!! #$%&'$()* +' ,-. /0'$%0-. 1&2-$-. 3 4'%$*,560%-. 7-)- ,-

    0$('6)-%05$ +' ,- 829)0%- :-(0$- 3 ', /-)0;' !$(')$-%0*$-, +', /*$*%020'$(*< =0>,*6*. '$ ?&'.()- 829)0%-

    @@IE

    projeto de lei que tinha por objeto a criao da Ordem dos Advogados do Brasil fosseaprovado na Senado, todavia, o mesmo no prosperou na Cmara.

    Malgrado a previso datada de 1843, a OAB s veio a ser criada em 1930,tendocom o decreto 19.408/1930, como reflexo de uma luta da sociedade que percebiasua importncia. A criao da OAB, 40 anos aps a proclamao da Repblica veiocomo uma das consequncias de uma reestruturao judiciria que tinha como fimretirar do ordenamento ptrio tudo aquilo que tinha carter no republicado.

    Tendo sido criada num contexto de oposio ao governo e de movimentosreivindicando a constitucionalizao do pas, a OAB sofreu diversas modificaes emsua roupagem, conforme aponta Busato (2010, p. 67) ao afirmar que no perodo que seestende de 1931 a 1945, o Regulamento sofreu cerca de dez alteraes, denotando o

    carter de formao, consolidao e adaptao da instituio nascente.Nessa busca pelacriao de uma identidade Ordem compatvel com os anseios da sociedade civil, em1952 passou a vigorar um novo regimento. Nessa poca j se consolidava a ideia daOAB como entidade paraestatal de natureza corporativa, de ingresso obrigatrio.

    Depois de muita discusso e muitas modificaes, sempre no sentido de buscapelo aperfeioamento, o regimento interno da OAB j denominado estatuto foientregue ao Presidente Juscelino Kubitschek, em 1956, vindo a ser aprovado em 27, deabril de 1963, quando convertido na Lei 4.215.

    O Estatuto da OAB, aprovado s vsperas do Golpe Militar, no possua ocondo de conter os avanos das arbitrariedades com relao ao exerccio daadvocacia, pois fora configurado em perodo democrtico em que predominava a figurado advogado liberal. (BUSATO,2010, p. 69), contudo, vigeu quase por 30 anos,quando da promulgao da Constituio Federal de 1988 a atividade da advocaciarecebeu assento constitucional ao ser declarado que o advogado essencial administrao da justia.

    Assim, por meio de um verdadeiro movimento nacional de mobilizao, foiencaminhado ao Congresso Nacional em 1992 um anteprojeto que, aprovado em 1994,

    transformou-se na lei 8.906/1994, o novo Estatuto da Advocacia e a Ordem dosAdvogados do Brasil, que reforou o conceito de que a advocacia no atividadecomercial, devendo, portanto, sua atuao estar pautada em preceitos ticos no sentidode dignificar a profisso.

    Nesse sentido, faz-se meno s palavras de Cavalcante Jnior, ao comentar arespeito do papel da OAB, e de seu Estatuto, no Brasil Contemporneo (2010, p. 17):

    O Estatuto, por sua vez, vai alm de uma instituio circunscritaaos preceitos corporativos: com ele, a Ordem dos Advogados

    assumiu definitivamente seu carter independente, capaz dereuir as condies necessrias no apenas para defender o

  • 7/24/2019 Simposio 19a (3).pdf

    26/137

    !!! #$%&'$()* +' ,-. /0'$%0-. 1&2-$-. 3 4'%$*,560%-. 7-)- ,-

    0$('6)-%05$ +' ,- 829)0%- :-(0$- 3 ', /-)0;' !$(')$-%0*$-, +', /*$*%020'$(*< =0>,*6*. '$ ?&'.()- 829)0%-

    @@IF

    primado do Direito, como tambm lutar em defesa dasnecessidades sociais. Na medida em que luta por essas questes,a OAB se firma como resultado de uma obra coletiva, o

    amlgama do exerccio da advocacia com a cidadania, condiofundamental para a formao de uma sociedade justa.

    A OAB, criada por um movimento que buscava justia e representao,protagonizou em toda a sua histria uma luta pela proteo e prevalncia dos baluartesdo estado democrtico. Assim, ao regulamentar a atividade de mais de 640 CcerosRomanos, estatuiu a necessidade de se buscar pela defesa da sociedade civil e a vedao proteo insuficiente, razo que evidencia sua finalidade institucional.

    Na intento de complementar o rico texto constitucional, chega-se ao entendimento de

    que o art. 133 da Constituio ao estabelecer que a OAB se faz indispensvel Justiafoi muito restritiva. Com efeito, ao analisar a histrica de lutas e conquistas dessatribuna de cidadania, percebe-se que a OAB necessria e indispensvel ao prprioEstado Democrtico de Direito, no podendo dele se desvencilhar.

    2 A OAB contra os regimes de exceo

    Nossa presena, na verdade, sempre foi havida por necessria, mas incmoda, como a

    do mensageiro que tem o dever de transmitir a verdade sem lisonja, no raro com apalavra de fogo que dissipa as reverentes fices da corte. Nossa formao profissionalnos incumbe, com pertinncia e impertinncia, de que lembremos, advirtamos ereiteremos que a vida social degrada-se e no rege o direito, que o direito tem sua fontenas deliberaes coletivas e que se dirige realizao da justia. (FAORO, 1978, p.174)

    A atuao da OAB uma conjugao de circunstncias histricas que primam pelaliberdade pblica e pelos interesses coletivos. Com isso, o que se pretende dizer : oobjeto das reivindicaes da OAB que superam reinvindicaes de classe, mas se

    perfazem como anseios de toda a nao! podem modificar na constncia do tempo,mas o fundamento primeiro de toda a atividade realizada pela tribuna da cidadania imutvel: a luta contra o arbtrio.

    Nesse cerne, fazemos referncia clebre frase de Caio Mrio (2001, p. 4188) paraquem a atividade da atividade da advocacia no pode, em qualquer hiptese,compactuar com o regime ditatorial, visto que o pendor liberal e empenho na defesadas liberdades pblicas constituem sempre um empecilho ao governamentalcentralizadora e autoritria.

    Passa-se, agora, a analisar a conduta da OAB frente aos dois estados de exceoque tomaram conta da terraebrasilis: O Governo Vargas e a Ditadura Miltiar.

  • 7/24/2019 Simposio 19a (3).pdf

    27/137

    !!! #$%&'$()* +' ,-. /0'$%0-. 1&2-$-. 3 4'%$*,560%-. 7-)- ,-

    0$('6)-%05$ +' ,- 829)0%- :-(0$- 3 ', /-)0;' !$(')$-%0*$-, +', /*$*%020'$(*< =0>,*6*. '$ ?&'.()- 829)0%-

    @@IG

    O Governo Vargas teve incio em 1930, com a revoluo que ps fim RepblicaVelha. Malgrado alguns pontos positivos devam ser ressaltados, como a criao de umasrie de direitos trabalhistas, o Governo Vargas implicou em uma srie de restries

    pblicas nao brasileira.

    Nesse perodo, o constitucionalismo ptrio conheceu duas Constituies, a primeira, de1934, de carter mais liberal, teve curta vida, visto seu texto impossibilitar a consecuodas medidas daqueles no poder e a Carta outorgada de 1937 , apelidada de Polaca porter buscado influncias no constitucionalismo polons e que se caracterizou porconcentrar os poderes executivo e legislativo nas mos do Presidente da Repblica.

    Foi na segunda fase de Governo de Vargas, conhecido como Estado Novo,que aConstituio de 1937 iniciou sua vigncia. Alguns dos aspectos a se destacar da Carta

    outorgada so: o estabelecimento de eleies indiretas para presidente, com mandado deseis anos, a admisso da pena de morte, veto ao liberalismo, a suspenso do direito greve, a possibilidade da Administrao Pblica exonerar funcionrios que seopusessem ao regime poltico, entre outros.

    Ainda em 1935, o presidente Getlio Vargas fez publicar a Lei de Segurana Nacional,que restringia de sobremaneira as liberdades individuais, polticas e civis. Nesse

    perodo, diversos comunistas foram presos, a exemplo de Luiz Carlos Prestes e HarryBerger que, como visto anteriormente foram defendidos por Sobral Pinto.

    O que se deve destacar aqui que Sobra Pinto compactuava deuma ideologia liberal-conservadora, todavia, uma vez que fora nomeado pela OAB para a defesa de Prestes eBerger, despiu-se de suas convices ideolgicas para atuar em nome da Justia. SobralPinto defendeu Prestes e Berger desde 1936, quando foi nomeado pela OAB, at 1945,com a decretao da anistia poltica.

    Como aponta Silva (2010, p. 168) a OAB atuou tambm quando da Segunda GuerraMundial, a aviao japonesa bombardeou a base naval norte-americana de Pearl Harbor,em 1941. Nesse contexto, o Conselho Federal apoiou o governo brasileiro, em busca dasolidariedade e da defesa da paz continental pan-americana.

    A primeira incurso efetiva da OAB na poltica nacional, seguindo Silva (2010,p. 168) deu-se em 1944, quando em dezembro, foi decretada a priso do ConselhoFederal da Ordem, Adauto Lcio Cardoso. Se estava diante de uma situao de cartereminentemente poltico eno jurdico, visto que a priso tinha sido realizada por serAdauto um dos signatrios do Manifesto dos Mineiros, documento que expressava odescontentamento da opinio pblica com relao ao Estado Novo.

    Como consequncia da priso, a OAB se manifestou ao redigir um habeascorpus. O instrumento, apesar de ter sido proibido pela legislao vigente poca dos

    fatos, recebeu enorme adeso, com participao de todas as seccionais estaduais daOrdem dos Advogados do Brasil e do Instituto dos Advogados Brasileiros. Essa fora a

  • 7/24/2019 Simposio 19a (3).pdf

    28/137

    !!! #$%&'$()* +' ,-. /0'$%0-. 1&2-$-. 3 4'%$*,560%-. 7-)- ,-

    0$('6)-%05$ +' ,- 829)0%- :-(0$- 3 ', /-)0;' !$(')$-%0*$-, +', /*$*%020'$(*< =0>,*6*. '$ ?&'.()- 829)0%-

    @@IA

    primeira vez que a OAB discutiu publicamente um assunto de natureza poltica. Mas oque se discutia, deve-se consignar, foram valores jurdicos.

    No curso da histria, outras foram as manifestaes da OAB, que guardi daConstituio e das liberdades, deu voz ao jargo que anuncia que no h justia semadvogado. Nesse diapaso, Silva: (2010, p 169)

    Acompanhando a demanda da sociedade civil pela redemocratizao do Brasil, nasesso do dia 18 de setembro de 1945, uma moo contra a ditadura Vargas apresentado por Augusto Pinto Lima junto ao Conselho Federal da OAB. No mesmosentido, em 16 de outubro, o mesmo Augusto Pinto Lima aprova outra meno, dessavez, contra o Decreto-Lei n 8.063/45, que dispunha sobre as eleies paragovernadores e Assembleias legislativas, ressaltando o fato de no ter sido tal decreto

    elaborado sob a superviso do Tribunal Superior Eleitoral, rgo ento incumbido deacompanhar a criao das regras eleitorais no Brasil.

    O segundo momento histrico pelo qual o Brasil passou considerado como estado deexceo foi o regime militar provocado com o golpe de 1964, que retirara do poder o atento Presidente Joo Goulart.

    O Golpe Militar ocorreu na madrugada de 31 de maro de 1964. Os aliados de JooGoulart, no conseguiram articular uma reao e em 1 de abril, Goulart viajou do Riode Janeiro para Braslia e de l para Porto Alegre, na tentativa de organizar um grupo de

    resistncia. De Porto Alegre, Joo Goulart seguiu para Uruguai, onde se exilara,voltando ao Brasil apenas em 1976, para ser sepultado.

    A histria narra que antes mesmo de Goulart sair do pas em busca de exlio,avacncia do cargo de Presidente da Repblica havia sido declarada pelo presidente doSenado, Auro de Moura Andrade, e coube ao presidente da Cmara dos Deputados,Ranieri Mazzilli, assumir interinamente a presidncia.

    Contudo, eram os militares que possuam o poder de fato e, em 2 de abrildaquele ano, o Comando Supremo da Revoluo, junta composta pelo brigadeiro

    Francisco de Assis Correia de Melo, o vice-almirante Augusto Rademaker e o generalArtur da Costa e Silva tomou a posse do poder, ali permanecendo por duas semanas.

    Como consequncia do golpe que tirara do poder o governo legalmenteconstitudo, diversos grupos se mobilizaram, como a Unio dos Estudantes (UNE), aJuventude Universitria Catlica (JUC) e as Ligas Camponesas, entre outros. A respostados militares foi a priso irregular sem qualquer fundamento jurdico -de milhares de

    pessoas e a prtica de tortura. Nessa esteira, pode-se dizer que, de forma simblica, osmilitares estavam rasgando a Constituio.

    Os militares, pregando a Doutrina da Segurana Nacional , inovaram o ordenamentojurdico com a publicao do Ato Institucional 1, espcie normativa que serviria para

  • 7/24/2019 Simposio 19a (3).pdf

    29/137

    !!! #$%&'$()* +' ,-. /0'$%0-. 1&2-$-. 3 4'%$*,560%-. 7-)- ,-

    0$('6)-%05$ +' ,- 829)0%- :-(0$- 3 ', /-)0;' !$(')$-%0*$-, +', /*$*%020'$(*< =0>,*6*. '$ ?&'.()- 829)0%-

    @@IH

    justificar as medidas extremas adotadas no estado de exceo. O que se seguiu foi umasrie de desrespeito e restrio s liberdades individuais e polticas do povo brasileiro:cidados tiveram seus direitos polticos suspensos, funcionrios foram demitidos e

    parlamentares foram cassados.

    Em 15 de abril de 1964, tomou posse da presidncia da Repblica, Castelo Branco,eleito indiretamente por um Congresso reduzido. O governo militar durou 21 anos.Apesar do desenvolvimento em determinadas reas, deve-se consignar que foram 21anos de afronta ao Estado Democrtico de Direito e 21 anos de luta ferrenha da OAB nadefesa dos direitos fundamentais da nao.

    Diante das arbitrariedades acometidas pelo Poder Pblico, a OAB mais uma vez teve dese manifestar, fazendo ouvir os anseios sociais. Nesse tocante, dispe Lamachia (2010,

    p. 85) que a OAB um estado de esprito. Sua histria nos mostra que nas veias dainstituio corre um raro e precioso lquido que contm variados e importantesingredientes, como abnegao, ousadia e coragem diante de desafios. Todos essesingredientes foram fundamentais luta contra os abusos de poder que caracterizaram oRegime Militar.

    Em outubro de 1964, poucos meses aps a instaurao do Regime Militar, a OABtomou a primeira medida contra as ilegalidades praticadas: decidiu o conselho Federalda Ordem dos Advogados do Brasil que os advogados que tiveram seus direitos

    polticos cassados continuariam aptos a advogar, trata-se do provimento n. 4, de 1964(anexo 1).

    O cenrio jurdico do regime de fora foi redesenhado com a promulgao de AtosInstitucionais, editados com o fim de dar ares de legalidade aos atos praticados pelosnovos donos do poder. O Ato Institucional n.1, de 09 de abril de 1964, deu legalidade cassao de direitos polticos e demisses sumrias de servidores pblicos, bem como ainstaurao de Inquritos Policiais Militares, que processavam e perseguiam milhes de

    brasileiros.

    Em resposta, o Governo ditatorial adotou uma srie reiterada de medidas abusivas,

    cominando com a edio, em dezembro de 1968, do Ato Institucional n 5. Que buscoutrazer legitimada s violaes aos direitos humanos, juntamente com o desacato aoPoder Judicirio e a prtica corriqueira de aes arbitrrias por parte das autoridades

    policiais e militares, situaes que o Brasil no experimentava desde o fim do EstadoNovo. (Silva, 2010, p. 171).

    Conforme aponta Machado (2010, p. 22) a atuao da OAB foi essencial ao combatedos Atos Institucionais. Entre as vtimas dos Atos Institucionais editados entredezembro de 1968 e o final de 1969 pode-se citar Marcio Moreira Alves, Carlos

    Lacerda, Juscelino Kubitschek de Oliveira, os Ministros Evandro Lins e Silva, HermesLima e Victor Leal, alm de vrios juzes e professores universitrios.

  • 7/24/2019 Simposio 19a (3).pdf

    30/137

    !!! #$%&'$()* +' ,-. /0'$%0-. 1&2-$-. 3 4'%$*,560%-. 7-)- ,-

    0$('6)-%05$ +' ,- 829)0%- :-(0$- 3 ', /-)0;' !$(')$-%0*$-, +', /*$*%020'$(*< =0>,*6*. '$ ?&'.()- 829)0%-

    @@II

    Em dezembro de 1968, a OAB realizou, em Recife, a primeira conferncia nacional em8 anos. O longe perodo sem conferncia talvez se justifique pela perseguio poltica,

    pelo amordaamento da opinio e pela priso dos oposicionistas. Como dispe Pimenta

    (2010, p. 143) nessa pocas muitos, realmente, estavam presos.

    Com a III Conferncia Nacional da OAB, em Recife, a Ordem dos Advogados do Brasilproporcionou mais uma vez o encontro e o debate de advogados de todo o pas. Destavez, presidido por Samuel Vital Duarte, a conferncia teve como foco a discusso da

    proteo aos direitos humanos.

    Nesse contexto, o povo j saa s ruas protestando por uma volta ao modelodemocrtico de Estado e a OAB passou a atuar cada vez mais como expresso da voz danao.

    O que se descreve a seguir uma srie de respostas da OAB aos atos abusivosacometidos pelo governo militar. Em 1970, num cenrio de aprovao do regime miliarmotivado pelo milagre econmico, a OAB realizou a IV Conferncia Nacional dosAdvogados, na cidade de So Paulo. Nessa conferncia, contudo, a pauta central foi o

    papel do advogado no desenvolvimento nacional e, segundo Pimenta (2010, p. 144)tangenciou a questo da ilegitimidade do regime autoritrio.

    O ano 1974: o general Ernesto Geisel assume o poder em 15 de maro de 1974. oquarto presidente militar e talvez aquele que avanou com mais feracidade contra a

    OAB. Com efeito, o governo editou os Decretos n 74.000 em maio e n 74.296, emjulho, subordinando o Conselho Federal e os Conselhos Seccionais da OAB aoMinistrio do Trabalho. Foi apenas aps uma ferrenha reao em mbito nacional daOAB, que incluiu a discusso na V Conferncia Nacional da OAB e a publicao dolivro As razes da autonomia da Ordem dos Advogados do Brasilque o Presidente daRepblica reconheceu a independncia funcional da Ordem dos Advogados do Brasil.

    Nesse jaez, a OAB continuou promovendo suas conferncias nacionais, que passaram amanifestar o anseio pela restaurao do Estado Democrtico e a reforma no PoderJudicirio. Em maio de 1978, realizou-se a VII Conferncia Nacional da Ordem, na

    cidade de Curitiba/PR que se configurou como a mais significativa manifestaocontrria aos atos autoritrios do governo da poca. (Machado, 2010, p. 22)

    Durante a conferncia, foi aprovado um manifesto, que depois se popularizou comoDeclarao de Curitiba, na qual advogados de todo o Brasil manifestavam suainsatisfao com o governo militar e reclamavam a revogao dos Atos Institucionais.

    Os reflexos da Declarao da Curitiba foram tamanhos, conforme se pode observar dotrecho do Jornal o Pasquim:

    Os advogados, reunidos em congresso em Curitiba, tomaram as rdeas da verdadeiradisteno, que no desejam nem lenta nem gradual porque a sabem deste modo

  • 7/24/2019 Simposio 19a (3).pdf

    31/137

    !!! #$%&'$()* +' ,-. /0'$%0-. 1&2-$-. 3 4'%$*,560%-. 7-)- ,-

    0$('6)-%05$ +' ,- 829)0%- :-(0$- 3 ', /-)0;' !$(')$-%0*$-, +', /*$*%020'$(*< =0>,*6*. '$ ?&'.()- 829)0%-

    @DBB

    insegura...Daqui pra frente que a luta vai engrossar. [....] Eu, se fosse o presidenteGeisel, daria muita ateno a tudo o que disse e se props em Curitiba, se que os seussonhos de uma democracia social tem algum fundamento. (AUGUSTO,1978)

    Toda a estrutura jurdica do estado de exceo fora atacada pelos advogados, o quelevou revogao, pouco depois do Ato Institucional n 5. Inconteste, trata-se devitria do Estado Democrtico de Direito, no mnimo, muito facilitada pela OAB.

    Contudo, ainda se est no ano de 1978, e restam dez anos de histria de regimeautoritrio para que o Estado Brasileiro, passados duas dcadas, respire democracia esobrevenha a to necessria reforma constitucional.

    3A OAB e os movimentos de redemocratizao e de reforma constitucional

    O regime militar, no anseio de trazer desenvolvimento econmico ao pas, sacrificou aharmonia dos Poderes e as liberdades pblicas dos indivduos. A OAB, agindo comotribuna da cidadania e expresso da voz do povo brasileiro, se manifestou, durante todoo perodo ditatorial contra os abusos e arbitrariedades. No incio da dcada de 1980,todavia, a manifestao se tornara maior, proporcional inconformidade da sociedadecivil.

    Nessa esteira, o povo clamava pela redemocratizao do Estado brasileiro, anseio que seconsubstanciaria no Movimento Diretas J, a maior manifestao de massa j vista nahistria do Brasil. O Diretas J recebeu apoio de partidos oposicionistas e de entidadesde classe, das quais podemos pontuar o papel de destaque do Instituto dos AdvogadosBrasileiros, bem como da Ordem dos Advogados do Brasil.

    No Congresso Nacional, votou-se a Emenda Dante de Oliveira, que tinha como objeto oreestabelecimento das eleies presidenciais diretas. Num primeiro momento, a votaoda Emenda foi adiada; depois, foi recusada por uma diferena de 22 anos. Nos

    dois fatos a OAB se manifestou, chegando a afirmar que o adiamento da votaes erado governo para dificultar sua aprovao.

    A esperana de um Brasil democrtico no chegara ao fim, restando ao ColgioEleitoral decidir, por via indireta o norte pelo qual o pas seguiria. Por conseguinte, em1985, o Colgio Eleitoral elegeu o governador de Minas Gerais Tancredo Neves comoPresidente da Repblica. Seria Tancredo o Presidente responsvel por dar incio NovaRepblica, contudo, um dia antes de ser empossado no mais alto cargo do PoderExecutivo, Tancredo foi internado, vindo a falecer dias depois.

    A aspirao de milhares de brasileiros no se viu frustrada e assumiu o cargo JosSarney, vindo a restaurar a democracia no pas, aps quase vinte anos de regime militar.

  • 7/24/2019 Simposio 19a (3).pdf

    32/137

    !!! #$%&'$()* +' ,-. /0'$%0-. 1&2-$-. 3 4'%$*,560%-. 7-)- ,-

    0$('6)-%05$ +' ,- 829)0%- :-(0$- 3 ', /-)0;' !$(')$-%0*$-, +', /*$*%020'$(*< =0>,*6*. '$ ?&'.()- 829)0%-

    @DBC

    A atuao da OAB no diminuiu com a redemocratizao do pas. Discutia-se, agora, apromulgao de uma nova Constituio, de carter cidado, que fizesse jus realidadesocial e, principalmente, s expectativas de mudanas. De igual forma que regime

    militar viu-se superado pelo processo de democratizao, o neoconstitucionalismofaziasurgir o anseio de um novo texto constitucional. Fala-se, ento, da virada ontolgica quedeu ensejo promulgao da Constituio de 1988.

    Nessa esteira, a OAB mais uma vez desempenhou papel protagnico ao organizar o IICongresso Nacional de Advogados Pr-Constituinte.Nesse evento, foi incitada adiscussoda necessidade de promulgao de uma Constituio de natureza garantista,

    por meio de umaAssembleia Constituinte, representativa da vontade do povo.

    Em 5 de outubro, foi promulgada a Constituio Federal de 1988. Carta social,

    fortemente influenciada pelas manifestaes da tribuna da cidadania, a ConstituioFederal representou verdadeiro marco na histria brasileira; mais que tudo, representauma conquista de todos os brasileiros que protestaram e que somaram no combate aoestado de exceo.

    4 luta da OAB pela democracia no Estado Constitucional Moderno: Impeachment,protesto ao abuso de medidas provisrias e aparticipao decisiva no processo deaprovao do Ficha Limpa

    A Constituio Federal de 1988 desenhou um Estado de Direito. Estado Democrtico deDireito. Todavia, como ensina Habermas (1997, p. 435), democracia um processo que,

    para se consolidar depende da atuao positiva por parte da esfera pblica, para que estaexera presso sobre os problemas, ou seja, ela no pode limitar-se a perceb-los, e aidentific-los, devendo, alm disso, tematiz-los, problematiz-los e dramatiz-los demodo convincente e eficaz, a ponto de serem assumidos e elaborados pelo complexo

    parlamentar.

    Nesse cotejo, a OAB continuou a ter um papel de destaque no sentido de consolidar a

    democracia na sociedade contempornea. Do momento ps-constitucional de 1988pode-se depreender algumas circunstncias nas quais o mister da Ordem dos Advogadosdo Brasil se tornou ainda mais indispensvel. Dentre os fatos acostados, cita-se oImpeachment do Presidente Collor, o movimento contra o uso desmedido das medidas

    protetivas e a discusso e aprovao do lei da Ficha Limpa.

    De forma a no esgotar a matria, mas traar um paralelo apto a demonstrar toda afundamentalidade da atuao da OAB na sociedade contempornea, comenta-se osmomentos supra.

    O Impeachment do Presidente Fernando Affonso Collor de Melo em 1992, foi umaconsequncia de um concatenamento de fatos que iniciou com uma reportagem da

  • 7/24/2019 Simposio 19a (3).pdf

    33/137

    !!! #$%&'$()* +' ,-. /0'$%0-. 1&2-$-. 3 4'%$*,560%-. 7-)- ,-

    0$('6)-%05$ +' ,- 829)0%- :-(0$- 3 ', /-)0;' !$(')$-%0*$-, +', /*$*%020'$(*< =0>,*6*. '$ ?&'.()- 829)0%-

    @DB@

    Revista Veja, em maio daquele ano, com declaraes de Pedro Collor de Mello, irmodo ento Presidente, acusando este de desvio de dinheiro pblico. Ao fato, a OABrespondeu exigindo que as denncias fossem apuradas. (anexo 2)

    Em julho do mesmo ano, foi instaurada Comisso Parlamentar de Inqurito paraaveriguar as situaes alegadas. OAB, que desde sua criao em 1930, teve como

    pedra angular de sua atuao a tica, era inadmissvel ficar omissa frente s evidnciasde corrupo.

    Nesse jaez, faz-se meno ao discurso deMarcello Lavenre, presidente da Ordem poca, que afirmou emocionado que a histria da CPI era a histria da verdade contra amentira:

    Mais uma vez a OAB foi reconhecida como autorizada voz dos cidados brasileiros.Insistentemente convidada a ser autora do pedido de impeachment, veio a faz-lo, apsmanifestao formal e praticamente unnime do Conselho Federal e do Colgio de

    presidentes de Seccionais. Estava em boa companhia, dividindo com a AssociaoBrasileira de Imprensa - ABI o peso das responsabilidades. No se pode negar que na

    pessoa dos dois cidados que assinaram o impeachment, estavam representadas asentidades que presidiam - OAB e Associao Brasileira de Imprensa - ABI - e mais doque isso, todos os cidados brasileiros, menos aqueles partcipes da quadrilha que seinstalara no Governo.

    O protagonismo da OAB fora tanto que coube ao presidente da OAB, MarcelloLavenre e pelo presidente da Associao Brasileira de Imprensa - ABI, Barbosa LimaSobrinho, entregarem ao Presidente da Cmara a petio do Impeachment, emmovimento que contou com a participao de milhes de brasileiros, que protestavam

    pela tica na poltica e pelo res