Upload
others
View
0
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
ESCOLA DE ENGENHARIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA E DE PETRÓLEO
CURSO DE ENGENHARIA DE PETRÓLEO
SIMULAÇÃO DA PARTIDA A FRIO DE ÓLEOS PARAFÍNICOS A BAIXAS
TEMPERATURAS
MONOGRAFIA DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PETRÓLEO
LUAN CRISTIAN DE SALES LAURINDO
Niterói, 2014
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
ESCOLA DE ENGENHARIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA E DE PETRÓLEO
CURSO DE ENGENHARIA DE PETRÓLEO
LUAN CRISTIAN DE SALES LAURINDO
SIMULAÇÃO DA PARTIDA A FRIO DE ÓLEOS PARAFÍNICOS A BAIXAS
TEMPERATURAS
Monografia apresentada ao
Curso de Engenharia de Petróleo
da Universidade Federal
Fluminense, como requisito
parcial para a obtenção do grau
de Bacharel em Engenharia de
Petróleo.
Orientador: Roney Leon Thompson
Orientador: Luiz Eduardo Bittencourt Sampaio
Niterói
2014
Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca da Escola de Engenharia e Instituto de Computação da UFF
L385 Laurindo, Luan Cristian de Sales
Simulação da partida a frio de óleos parafínicos a baixas temperaturas / Luan Cristian de Sales Laurindo. – Niterói, RJ : [s.n.], 2014. 57 f. Trabalho (Conclusão de Curso) – Departamento de Engenharia
Química e de Petróleo – Universidade Federal Fluminense, 2014. Orientadores: Roney Leon Thompson, Luiz Eduardo Bittencourt Sampaio.
1. Engenharia de petróleo. 2. Óleo parafínico. 3. Reologia. 4. Método dos volumes finitos. I. Título.
CDD 665.5
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
ESCOLA DE ENGENHARIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA E DE PETRÓLEO
CURSO DE ENGENHARIA DE PETRÓLEO
LUAN CRISTIAN DE SALES LAURINDO
SIMULAÇÃO DA PARTIDA A FRIO DE ÓLEOS PARAFÍNICOS A BAIXAS
TEMPERATURAS
Monografia aprovada em ____/____/____ para obtenção do título de Engenheira de
Petróleo
Banca Examinadora:
_______________________________________
Roney Leon Thompson - Orientador
_______________________________________
Luiz Eduardo Bittencourt - Orientador
_______________________________________
Geraldo de Souza Ferreira
_______________________________________
João Felipe Mitre de Araújo
AGRADECIMENTOS
Agradeço em primeiro lugar ao Senhor Todo-Poderoso, criador dos céus e da
terra, por ter me sustentado todos esses anos por meio da sua bondosa e generosa
Graça, concedida a mim por meio do Seu Filho Jesus Cristo. Agradeço também por
todo consolo que me foi concedido por meio do Espírito Santo do Senhor nos
momentos de ansiedade e preocupação.
Agradeço também a minha esposa Fernanda, que em tudo têm me apoiado e
estimulado nos dias tão intensos de produção deste projeto. Agradeço por seu amor,
carinho e paciência comigo por cada dia que temos passado juntos.
Agradeço aos meus pais, Marcelo e Márcia, por tudo o que fizeram por mim,
não somente nos anos de faculdade, mas durante todo a minha vida, pois são
responsáveis pelo que sou hoje.
Agradeço a Santa Igreja do Senhor, que tem me coberto com as suas
orações e tem oferecido consolo nos momentos difíceis. Agradeço em especial aos
meus pastores, John McAlister e Marcelo Maia, por todos os anos de ensino e
discipulado na Palavra.
Agradeço a toda equipe da IesBrazil, especialmente aos meus chefes e ao
pessoal da sala técnica. Aos meus chefes pela compreensão e por me
proporcionarem condições e ferramentas para produzir a minha monografia e ao
pessoal da sala técnica por me ajudarem em muitas dificuldades.
Agradeço aos meus orientadores, Roney Thompson e Luiz Sampaio, pela
paciência, pelos momentos de dedicação e pelo ensino.
"Ó profundidade da riqueza da
sabedoria e do conhecimento de
Deus! Quão insondáveis são os seus
juízos e inescrutáveis os seus
caminhos. Quem conheceu a mente
do Senhor? Ou quem foi seu
conselheiro? Quem primeiro Lhe deu
para que Ele o recompense? Pois
d’Ele, por Ele e para Ele são todas
as coisas, a Ele seja a Glória para
sempre, amém."
Romanos 11:33-36
Resumo
A gelificação de óleos parafínicos é uma questão que, apesar de já estar
sendo estudada há algumas décadas, ainda é um assunto que precisa ser muito
bem desenvolvido e aprofundando.
Uma vez que o cenário atual de produção de petróleo, principalmente o
brasileiro, está se concentrando cada vez mais em regiões onde este tipo de óleo é
presente, há uma crescente necessidade de um estudo aprofundado.
Os petróleos parafínicos são normalmente encontrados em reservatórios
localizados em água profunda e ultra profunda, onde a temperatura do leito marinho
é muito baixa. Quando, por qualquer motivo, a produção for interrompida e o
escoamento parar, o óleo que está na região do duto localizado no fundo do mar
troca calor com o ambiente. A troca de calor ocasiona precipitação dos cristais e
posterior gelificação com consequente mudança na reologia do óleo.
A questão é complexa pelo fato de a reologia do petróleo adquirir um
comportamento não newtoniano com dependência da temperatura após a
gelificação.
O objetivo do presente trabalho foi simular numericamente o escoamento de
um fluido viscoplástico de Bingham com um modelo capaz de representar a
dependência da reologia com a temperatura. O modelo é baseado na equação de
Arrhenius e foi implementado em um software livre chamado OpenFoam. Neste
programa, foi definida uma malha 2D que representasse um duto com comprimento
e raio bem definidos.
As simulações envolveram a aplicação de um gradiente de pressão durante
um tempo de 80 segundos. Foi feito uma amostragem a partir dos resultados obtidos
a partir da simulação e os dados foram plotados em programa livre chamado
Pyxplot.
Os resultados demostraram uma coerência muito boa do modelo de acordo
com o que era esperado. As regiões de Plug-flow características do material de
Bingham ficaram bem definidas. Também foi possível observar como essas regiões
variam com a tensão de cisalhamento e com o gradiente de pressão.
Os gráficos obtidos ilustraram bem a relação da viscosidade com a
temperatura e tensão de cisalhamento, mostrando claramente como o aumento
dessas grandezas diminuem os valores de viscosidade.
Por fim, foi construído também um gráfico considerando a influência da
variação do índice de potência na velocidade.
Palavras-chave: Óleos parafínicos, temperatura inicial de aparecimento de cristais,
temperatura de gelificação, reologia e volumes finitos.
Abstract
The gelation of wax crude oils is an issue that needs to be very well developed
and deepened, despite already being studied for several decades.
Since the current oil production scenario, mainly in Brazil, is focusing more
and more in regions where this type of oil is common, there is an increasing need of
a deeper study.
The wax crude oils are usually found in reservoirs located where the water is
deep or ultra-deep and the temperature are very low. When, for any reason, the
production is interrupted and the flow stops, the oil in the region of the pipe located
on the seabed heat exchange with the environment. This heat exchange causes the
precipitation of the wax and then the gelation of the material change rheology.
The issue is complex by the fact of the oil become non-newtonian with
temperature dependence after the gelation.
The goal of the present work was numerically simulate the flow of viscoplastic
Bingham material with a model capable to represent temperature dependency in
rheology. The model was based on the Arrenhius equation and implemented in a free
software called OpenFoam. In this program was defined a 2D mesh to represent a
pipe with length and radius well-defined.
The simulation involved the application of a pressure gradient during a time of
80 seconds. It was made a sampling from the results of the simulation and the data
was plotted using a free program called Pyxplot.
The results displayed a good coherence of the model in accordance with what
was expected. The Plug-flow regions typical of Bingham material have been well
defined. It was also possible observe how this regions change with shear stress and
the pressure gradient.
The graphs also displayed the viscosity relation with shear stress and
temperature, showing that the increasing of these magnitudes causes low viscosity
values.
Lastly, it was constructed a graph considering variation power-law index
influence on velocity.
Key-words: Wax crude oils, wax appearance temperature, gelation
temperature, rheology and finite volume.
Sumário
1 Introdução ............................................................................................................... 1
1.1 Apresentação do tema ..................................................................................... 1
1.2 Propriedades dos fluidos parafínicos ............................................................ 2
1.2.1 Estrutura cristalina ................................................................................................................... 2
1.2.2 Dependência com a temperatura ............................................................................................ 3
1.2.3 Influência do histórico de cisalhamento e resfriamento. ......................................................... 5
1.3 Trabalhos de simulação numérica ................................................................. 6
1.3 Fluidos não newtonianos ................................................................................ 9
1.3.1 Fluidos newtonianos ..............................................................................................................11
1.3.2 Power-law ..............................................................................................................................11
1.3.3 Bingham ................................................................................................................................13
1.3.4 Herschel Bulkley ....................................................................................................................13
1.3.5 Regularização .......................................................................................................................13
1.4 Objetivo do trabalho....................................................................................... 15
2 Modelo matemático .............................................................................................. 15
2.1 Equações governantes .................................................................................. 15
2.2 Modelo constitutivo ....................................................................................... 18
2.3 Solução analítica para escoamento interno em dutos ............................... 23
3 Método dos volumes finitos ................................................................................ 28
3.1 Operador gradiente ........................................................................................ 30
3.1 Operador divergente ...................................................................................... 31
3.2 Operador laplaciano ...................................................................................... 32
3.3 Derivada temporal .......................................................................................... 32
3.4 Esquemas de interpolação ............................................................................ 33
4 Resultados obtidos a partir das simulações ..................................................... 34
4.1 Parâmetros adotados na simulação ............................................................. 35
A tabela 4.3 descrever a malha adotada. ........................................................... 36
4.1 Resultados obtidos ........................................................................................ 36
5 Conclusão e sugestão de trabalhos futuros ...................................................... 48
5.1 Conclusão ....................................................................................................... 48
5.2 Sugestões para trabalhos futuros ................................................................ 49
6. Bibliografia ........................................................................................................... 49
Sumário de Figuras
Figura 1.1 – Dependência da viscosidade com a temperatura sob uma taxa de
cisalhamento de 3Pa para diferentes misturas de óleo leve, considerando
porcentagem em peso. ................................................................................................ 4
Figura 1.2 – Relação entre a tensão aplicada(𝜏) e a deformação(𝛾) para diferentes
valores de temperatura. .............................................................................................. 4
Figura 1.3 – (a) Efeito da taxa de cisalhamento durante o resfriamento b) Efeito da
taxa de esfriamento. .................................................................................................... 6
Figura 1.4 – Comportamento reológico de fluidos pseudoplástico, newtoniano e
dilatante. .................................................................................................................... 10
Figura 1.5 – Comportamento Reológico de um fluido com tensão limite de
escoamento. .............................................................................................................. 10
Figura 1.7 – Modelo Power-law 𝜏 x 𝛾- Influência do n. .............................................. 12
Figura 1.8 – Modelo Power-law – 𝜂 x 𝛾- Influência do n. ........................................... 12
Figura 1.9 – Comparação entre modelo de Bingham e Regularização de
Papanastasiou. .......................................................................................................... 14
Figura 2.1 – Esquema ilustrativo da nomenclatura para condução de um cilindro
vazado. ...................................................................................................................... 19
Figura 2.2 – Influência do coeficiente 𝑆𝜏 na variação da tensão limite de escoamento
em relação a temperaturas menores que TIAC. ........................................................ 21
Figura 2.3 – Influência do coeficiente 𝑘𝜏 na variação da tensão limite de escoamento
em relação a temperaturas menores que TIAC. ........................................................ 22
Figura 2.4 – Variação da viscosidade cinemática em relação à temperatura e a
influência do coeficiente 𝑆𝜈. ...................................................................................... 23
Figura 2.5 – Volume de controle diferencial. ............................................................. 24
Figura 2.6 – Perfil de velocidades para um material de Bingham. ............................ 26
Figura 3.1 – Discretização nos domínios de espaço e tempo. .................................. 29
Figura 3.2 – Parâmetros na discretização por volumes finitos. ................................. 29
Figura 4.1 – Perfis de velocidade ao longo do duto para diversas posições em r e
t=80s. ........................................................................................................................ 37
Figura 4.2 – Perfis de velocidade ao longo do duto para diversas posições em r e
t=60s. ........................................................................................................................ 38
Figura 4.3 – Perfis de velocidade ao longo do duto para diversas posições em r e
t=30s. ........................................................................................................................ 38
Figura 4.4 – Perfis de velocidade ao longo do duto para diversas posições em r e
t=0s. .......................................................................................................................... 39
Figura 4.5 – Perfis de velocidade ao longo do raio para diversas posições em z e
t=80s. ........................................................................................................................ 40
Figura 4.6 – Perfis de velocidade ao longo do raio para diversas posições em z e
t=60s. ........................................................................................................................ 40
Figura 4.7 – Perfis de velocidade ao longo do raio para diversas posições em z em
t=30s. ........................................................................................................................ 41
Figura 4.8 – Perfis de velocidade ao longo do raio para diversas posições em z em
t=0s. .......................................................................................................................... 41
Figura 4.9 – Perfis de velocidade ao longo do raio e do tempo em z=0.6m. ............. 42
Figura 4.11 – Perfis de velocidade ao longo do raio e do tempo em z=0m. .............. 43
Figura 4.12 – Perfis de viscosidade ao longo do duto para diversas posições em r
em t=80s. .................................................................................................................. 44
Figura 4.13 – Perfis de temperatura ao longo do duto para diversas posições em r e
t=80s. ........................................................................................................................ 45
Figura 4.14 – Perfis de viscosidade ao longo do duto para diversas posições em r e
t=60s. ........................................................................................................................ 45
Figura 4.15 – Perfis de viscosidade ao longo do duto para diversas posições em r e
t=30s. ........................................................................................................................ 46
Figura 4.16 – Perfis de viscosidade ao longo do duto para diversas posições em r e
t=0s. .......................................................................................................................... 46
Figura 4.17 – Perfis de velocidade considerando diversos valores de n para z=0.6m
e t=80s. ..................................................................................................................... 47
Sumário de Tabelas
Tabela 3.1 – Esquemas de derivada temporal utilizados no OpenFoam. ................. 33
Tabela 4.1 – Parâmetros de transporte. .................................................................... 35
Tabela 4.2 – Parâmetros de fluxo ............................................................................. 36
Tabela 4.3 – Malha adotada. ..................................................................................... 36
Nomenclatura
TIAC Temperatura inicial de aparecimento de cristais.
Twat Wax appearence temperature
𝜇 Viscosidade dinâmica.
T Temperatura.
𝜏 Tensão de cisalhamento.
�̇� Taxa de deformação.
TD Temperatura inicial de dissolução de cristais.
𝑘 Índice de consistência.
n Índice de potência.
𝜏0 Tensão limite de escoamento.
𝜌 Massa específica.
𝑎 Aceleração.
𝑔 Aceleração da gravidade.
𝑭𝑷 Força de pressão.
𝑭𝒖 Força viscosa.
𝑭𝒄 Força de compressão.
𝝉 Tensor das tensões.
T Tensão total.
P Pressão.
W Tensor vorticidade.
A Área.
𝑡𝑖 Temperatura interna.
𝑡𝑒 Temperatura externa.
𝒄 Condutividade térmica.
𝑟𝑖 Raio interno.
𝑟𝑒 Raio externo.
𝐶𝑝 Calor específico.
𝛼 Difusidade térmica.
𝑆𝜏 Parâmetro de ajuste para tensão.
𝑘𝜏 Parâmetro de ajuste para índice de consistência.
𝑆𝜇 Parâmetro de ajuste para viscosidade. Parâmetro de correção para tensão.
𝜈 Viscosidade cinemática.
𝜏0𝑇𝐼𝐴𝐶 Tensão limite de escoamento na TIAC.
𝑘𝑇𝐼𝐴𝐶 Índice de consistência na TIAC.
𝑆𝜏 Parâmetro de correção para tensão.
𝑟0 Raio de Plug-flow.
𝑈 Velocidade do escoamento desenvolvido em dutos.
d Vetor do centroide P até o centroide N.
𝑺𝒇 Vetor perpendicular à área da face f.
𝜙 Variável arbitrária.
𝑈𝑒0 Velocidade na entrada em 0 segundo.
𝑈𝑠0 Velocidade na saída em 0 segundo.
𝑃𝑒0 Pressão na entrada em 0 segundo.
𝑃𝑒𝑓 Pressão na entrada em 80 segundos.
∀ Volume de controle
𝑚 Massa.
𝑞 ̇ Fluxo de calor.
1
1 Introdução
1.1 Apresentação do tema
Os óleos parafínicos são caracterizados, em geral, pela presença de n-
parafinas de cadeia molecular longa. Quando o material se encontra em uma
condição de alta temperatura, as parafinas ficam dissolvidas e formam uma solução.
Essa mistura homogênea possui uma reologia extremamente sensível à variação de
temperatura, de modo que, na medida em que ela diminui, ocorre a precipitação do
material sólido dissolvido no fluido, começando pelo mais pesado até o mais leve,
conforme ocorre o resfriamento (Sampaio et al., 2013).
Quando o fluido está sendo resfriando, atingindo a wax appearence
temperature (Twat) ou temperatura inicial de aparecimento de cristais (TIAC), os
primeiros cristais começam a precipitar. Neste momento a reologia ainda não mudou
de forma significativa, o seu comportamento ainda pode ser considerado
newtoniano. Na medida em que continua a resfriar, é alcançada a temperatura de
gelificação (TG), onde a reologia da substância muda e ela adquire uma
característica de gel, cujo comportamento é não newtoniano (Visiting et al., 2005).
Esse processo de gelificação ocorre principalmente quando há uma parada
no escoamento e a produção é interrompida. Quando isto ocorre, desencadeia-se
uma precipitação de cristais no interior do duto na região próxima ao leito marinho.
Estes elementos sólidos adquirem tamanho e unem-se entre si, formando o gel que
bloqueia a passagem (Sampaio et al., 2013).
Esse tipo de óleo é usualmente encontrado em reservatórios localizados em
regiões com lâminas de água profunda e ultra profunda. Nesta região, a temperatura
do leito marinho é particularmente baixa, cerca de 4°C (Sampaio et al., 2013).
Nesta seção do presente trabalho, serão discorridos alguns tópicos
importantes para melhor compreensão da substância em questão, tais como
estrutura cristalina, comportamento reológico e influência do histórico de
temperatura e cisalhamento. Também será comentado acerca de alguns trabalhos
na área de simulação.
2
1.2 Propriedades dos fluidos parafínicos
1.2.1 Estrutura cristalina
O comportamento dos cristais de parafina é tão complexo que ainda há muita
controvérsia sobre o seu processo de cristalização, embora haja mais de 80 anos de
estudo. Isso acontece em função de problemas relacionados, principalmente, à
dificuldade de repetitividade das amostras, medições e condições de cristalização.
Segundo Visitin et al, ao citar (apud Ronningsen et al., 1991), uma solução
composta por um solvente e n-parafina apresenta uma forte transição na força gel
ao alcançar a TG. Entretanto, ao avaliar-se um óleo cru, como uma composição bem
mais complexa, percebe-se que o aumento na força gel ocorre de forma bem mais
gradual. Isto deve ser levado em consideração quando se planeja construir um
modelo para representar um óleo parafínico, visto que uma representação muito
simples pode levar a erros significativos na avaliação desses fluidos. A força gel
consiste na resistência que um fluido apresenta para reiniciar o fluxo após um tempo
parado.
No que se refere ao material sólido dissolvido, está presente uma
considerável quantidade de parafinas ramificadas e cíclicas, superando inclusive, em
alguns casos, as n-parafinas (Visitin et al., 2005). Estas variam entre C18 e C60
(Suppeah et al., 2012). Vale ressaltar também a presença de outros cristais, tais
como aromáticos, naftenos, asfaltenos e resinas.
O primeiro cristal visualizado por meio de microscópio corresponde a 0,1% da
fase sólida, enquanto que os efeitos na curva de viscosidade são sentidos por volta
de 0,3-0,4%(Cazaux et al., 1998). Através de differential scanning calorimetry (DSC)
e outras técnicas, foi mostrado que a gelificação dos óleos parafínicos ocorre
quando uma pequena quantidade de sólidos, como 1-6%, precipita (Visitin et al.,
2005).
A extrema complexidade dos aspectos composicionais entre os diferentes
óleos crus cria um grande desafio para os estudiosos e sugere uma expectativa de
que os diferentes tipos de petróleo apresentem diferenças na sua estrutura
agregada e no seu comportamento físico. Em termos de TG, alguns materiais
3
gelificam em temperaturas altas, em torno de 30°C, enquanto que outros sofrem
esse fenômeno somente abaixo de -20°C (Visitin et al., 2005).
1.2.2 Dependência com a temperatura
Um dos maiores problemas enfrentados, quando se estuda o fluido em
questão, é a dependência da sua reologia com a temperatura. O material, quando
dentro de um reservatório de petróleo, encontra-se a aproximadamente 60°C, o que
lhe confere uma reologia newtoniana (Sampaio et al., 2013). Ao escoar pela coluna
de produção e chegar ao riser, a substância encontra-se em uma região de troca de
calor com um ambiente de 4°C. Nessa situação, caso ocorra a interrupção da
produção por qualquer motivo que seja, o fluxo de calor entre as regiões dentro e
fora da coluna de produção gera um resfriamento. Este processo permite que a Twat
seja atingida e a precipitação dos cristais se inicie. Conforme o fenômeno continua,
é atingida a TG e o comportamento do fluido torna-se não newtoniano (Hou, 2012).
A compreensão da reologia é de suma importância pelo fato de afetar
diretamente as propriedades relacionadas ao escoamento. A reologia não
newtoniana faz com que o fluido desenvolva características tais como tesão limite de
escoamento, viscoelasticidade e tixotropia (Hou , 2012). Além destes fatores, há o
aumento rigoroso da viscosidade, que diminui proporcionalmente com a
temperatura. Esta última é considera uma das propriedades físicas mais importantes
(Wardhaughet al., 1988).
Dimitriou et al (2011), propuseram um modelo de fluido parafínico no intuito
de fazer experimentos e verificar propriedades reológicas. O sistema proposto era
formado por um óleo mineral (leve ou pesado) como fase majoritária e contínua e
por cera parafínica em diferentes quantidades. Os testes realizados ilustram bem a
relação entre composição, viscosidade e temperatura, conforme a figura 1.1.
Observando as curvas, é fácil notar que o aumento da temperatura causa
redução da viscosidade, pois isso proporciona a dissolução dos cristais, de tal modo
que, acima de 50°C, todas as curvas assumem valores parecidos e um
comportamento linear. Nota-se que a redução dessa propriedade também ocorre
pela diminuição da massa de cera em solução.
4
Figura 1.1 – Dependência da viscosidade com a temperatura sob uma taxa de cisalhamento de
3Pa para diferentes misturas de óleo leve, considerando porcentagem em peso.
Fonte - Dimitriou et al., 2011 – Adaptado.
Sampaio et al (2013), utilizaram equações que modelam com boa
precisão o comportamento viscoplástico em questão, construíram um gráfico que
mostra a relação entre a tensão aplicada (𝜏) e a deformação (�̇�) para diferentes
valores de temperatura, conforme mostra a figura 1.2.
Figura 1.2 – Relação entre a tensão aplicada(𝜏) e a deformação(�̇�) para diferentes valores de
temperatura.
Fonte: Sampaio et al., (2013).
5
Para valores de 309,15 à 333,15K o comportamento é claramente
newtoniano, o que indica que a TG do material tratado pelos autores era certamente
menor que 309.15K (ou 36ºC). Neste tipo de situação, não há tensão limite de
escoamento. Entretanto, essa grandeza manifesta-se para valores mais baixos,
entre 277.15 e 301.15. A transição entre o patamar e a reta inclinada revela o valor
da tensão necessária para causar deformação significativa. Nota-se que quanto
menor a temperatura, maior será o cisalhamento necessário para alcançar o limite
para escoamento.
1.2.3 Influência do histórico de cisalhamento e resfriamento.
Marchesini et al (2010) desenvolveram uma pesquisa com o objetivo de
estudar a influência dos históricos de temperatura e de taxa de cisalhamento nas
propriedades reológicas de um óleo parafínico a baixas temperaturas, bem como
estabelecer uma metodologia confiável para realizar medições reológicas.
A figura 1.3 registra dois gráficos contendo cinco curvas cada um. Elas
representam o processo de resfriamento e aquecimento para diferentes taxas de
cisalhamento (a) e de resfriamento (b), de tal modo que os pontos das curvas que
marcam a transição entre a reologia newtoniana e não-newtoniana são dados pela
Twat e pela temperatura de dissolução dos cristais (TD). A primeira marca a
transição na direção de aumento da viscosidade e é a menor entre as duas. A
segunda refere-se ao processo de aquecimento, diminuindo a viscosidade.
6
Figura 1.3 – (a) Efeito da taxa de cisalhamento durante o resfriamento b) Efeito da taxa de esfriamento.
Fonte: Marchesini et al, 2010
Assim, nota-se que o ponto de precipitação da parafina não é o mesmo que o
de dissolução dela. Consequentemente, seria necessário fornecer maior calor para
dissolver o material do que o perdido na decantação.
A figura 1.3(a) mostra, como era esperado, que a aplicação de altas taxas de
cisalhamento geram níveis muito menores de viscosidade, devido a quebra das
microestruturas. Entretanto, a Twat e TD não se alteram. A conclusão foi um pouco
diferente quando se tratou de resfriar a amostra, como mostrado na figura 1.3(b). O
aumento da taxa de resfriamento tem influencia sobre Twat e TD, de modo a diminui-
las.
Assim, percebemos que as condições sob as quais o material gelifica torna o
reinício do fluxo mais fácil ou mais difícil. A tendência é que quanto maior forem as
taxas, tanto de cisalhamento quanto de resfriamento, menores serão os patamares
de viscosidade, reduzindo a pressão que deve ser aplicada para restabelecer o
fluxo.
1.3 Trabalhos de simulação numérica
O comportamento viscoplástico é bem representado por modelos clássicos
como Bingham e Herschel-Bulkley, pois ambos levam em consideração a tensão
7
limite de escoamento. Entretanto, eles não refletem a dependência reológica com a
temperatura. É neste último fato que reside a maior dificuldade. Qualquer ênfase na
importância desse fato não é exagero, uma vez que a distribuição inicial de
temperaturas determina a distribuição inicial dos parâmetros reológicos, fundamental
para a reestabelecimento do escoamento (Sampaio et al, 2013).
Vinay et al (2005), simularam numericamente o fluxo transiente não
isotérmico de um fluido viscoplástico em um duto. A situação considerada foi o
congelamento do escoamento de óleos parafínicos devido às condições severas do
ambiente externo. O modelo usado foi uma extensão de Bingham, no qual a
viscosidade e a tensão limite de escoamento possuem dependência térmica.
𝜏 = 2 ∙ 𝜇(𝜃) ∙ 𝑫 + 𝜏0(𝜃) ∙
𝑫
‖𝑫‖ , se ‖𝜏‖ ≥ 𝜏0(𝜃)
(1.1)
𝑫 = 0, 𝑠𝑒 ‖𝜏‖ < 𝜏0(𝜃)
(1.2)
Onde 𝜏, 𝜏0(𝜃), 𝜇(𝜃),D e 𝜃 são tensão aplicada, tensão limite de escoamento,
viscosidade, tensor taxa de deformação e temperatura, respectivamente.
Um dos problemas no modelo é o fato das dependências térmicas da reologia
não serem resolvidas simultaneamente na simulação do escoamento. Ou seja, a
dependência da viscosidade é resolvida isoladamente da tensão limite de
escoamento. Isso faz com que o modelo se aproxime pouco da realidade.
Para resolver as equações governantes foi proposto o decoupled transiente
solution algorithm. Neste algoritmo, para cada passo de tempo, o problema
velocidade-pressão e temperatura são resolvidos sequencialmente. As equações de
massa, momento, e energia foram discretizadas usando o método dos volumes
finitos.
Os resultados não isotérmicos destacaram uma forte sensibilidade térmica no
padrão de escoamento. A conclusão principal dos autores foi que para situações de
escoamentos em dutos onde os parâmetros de Bingham possuem dependência
térmica, logo que o campo de temperatura varia na direção principal do fluxo, não há
formação de uma região de Plug-flow. O conceito de Plug-flow será mais bem
explicado no capítulo 2, porém, para compreensão deste ponto, é suficiente saber
8
que quando este fenômeno ocorre, há uma região do duto em que a velocidade não
varia radialmente.
Também foi relatado que valeria apena usar correlações mais realistas, como
Arrhenius, o que é feito no trabalho de Sampaio et al (2013).
Como a malha usada era 2D, o tempo de processamento era muito alto. Mais
tarde porém, em outro artigo (Vinay et al 2007), os autores descrevem uma malha
1D, que apesar da simplicidade era capaz de simular bem um reinício de
escoamento, além de reduzir o tempo de processamento.
Sampaio et al (2013) em seus estudos, procuraram investigar o
comportamento dos fluidos parafínicos em uma situação de reinício do escoamento,
após uma parada na produção de petróleo em uma tubulação localizada em um
poço off shore. A lâmina de água em questão é profunda e a temperatura do leito
marinho considerada foi de 4ºC. No problema proposto, a interrupção do
escoamento permitiu uma troca de calor entre o óleo e o ambiente, levando à
gelificação do material e bloqueando a seção transversal do tubo na região de saída
do reservatório de petróleo.
O material modelado foi o material de Bingham. O modelo usado para uma
boa representação numérica do fluido viscoplástico em questão é o VFTH (Vogel –
Fulcher – Tammann – Hesse). Ele consegue representar a equação de Arrhenius
para valores acima da TIAC e é descrito pela seguinte equação:
𝜏 = 𝜏𝑦(𝑇) + 𝑚(𝑇) ∙ �̇�𝑛(𝑇) + 𝜂00(𝑇) ∙ �̇�
(1.1)
Onde 𝜏𝑦(𝑇),𝑚(𝑇), 𝑛(𝑇), �̇� e 𝜂00 são a tensão, o índice de consistência, o
índice power-law ou de potência, deformação e patamar de viscosidade sob uma
alta tensão de cisalhamento, respectivamente. Vale notar a dependência térmica dos
parâmetros. Apesar de registrado na equação, o índice de potência foi utilizado sem
a dependência com a temperatura.
Para a modelagem foi usado o software livre chamado OpenFoam®,
responsável por simular os balanços de massa, momento e energia, utilizando o
9
método dos volumes finitos. O campo inicial de temperaturas foi obtido a partir da
solução de estado estacionário do balanço de energia quando há escoamento.
Os autores observaram um comportamento de extrema relevância para o
reinício da produção de óleo. Primeiramente foi possível observar que o escoamento
do fluido só ocorreria após a aplicação de uma determina pressão, para superar a
tensão limite de escoamento, o que já era esperado. Entretanto, observou-se
também que, uma vez em fluxo, a pressão necessária para manter o fluido em
movimento é menor do que a tensão incialmente aplicada para fazê-lo movimentar-
se. Isso foi explicado pelos autores, como sendo resultado da influência da
temperatura do fluido que sai do reservatório. Uma vez reiniciado o escoamento, o
óleo que sai de dentro do reservatório chega com grande intensidade de calor,
reduzindo a tensão limite de escoamento necessária para manter o fluido em
movimento. Dessa forma, os autores chegaram à conclusão de que seria uma boa
estratégia aplicar uma pressão alta para quebrar o tampão gerado no interior da
coluna e manter o fluxo com uma menor pressão aplicada, mas suficiente.
Vale a pena ressaltar que ambos os trabalhos relatados demonstraram uma
preocupação peculiar com a influência térmica na reologia.
1.3 Fluidos não newtonianos
Esse tipo de material é largamente utilizado na indústria do petróleo. No setor
de perfuração, por exemplo, os fluidos utilizados necessitam de características
específicas para desempenhar funções como carrear cascalhos até a superfície do
poço e exercer pressão hidrostática. Desta forma, eles são tratados com aditivos
que os fazem adquirir características não newtonianas, tais como tensão limite de
escoamento, viscoplasticidade e pseudoplaticidade.
Este tipo de substância é caracterizado pela não linearidade da taxa de
deformação, isto é, a viscosidade não é constante. Dependendo como for a
variação, a substância pode ser dilatante (shear thickening) ou pseudoplástica
(shear thinning), seguindo o padrão da figura 1.4.
10
Figura 1.4 – Comportamento reológico de fluidos pseudoplástico, newtoniano e dilatante.
Fonte: Sargentini, 2013.
Os pseudoplásticos são aqueles cuja viscosidade do fluido diminui com o
aumento da taxa de deformação, já os dilatantes são aqueles onde a viscosidade do
fluido aumenta com o aumento da taxa de deformação.
Os fluidos viscoplásticos possuem uma tensão limite de escoamento ou de
cedência. Isso significa que o material precisa estar sujeito a uma tensão mínima
para que escoe. Os modelos mais comumente usados para representa-los são
Bingham e Herschel Bulkley.
Figura 1.5 – Comportamento Reológico de um fluido com tensão limite de escoamento.
Fonte: Sargentini, 2013.
11
Vale notar que Herschel Bulkley também possui um comportamento shear
thinning, que será explicado em 1.3.4
1.3.1 Fluidos newtonianos
São classificados por possuírem uma relação linear entre a tensão aplicada e
a taxa de deformação, sendo a viscosidade (µ) a constante de proporcionalidade. A
fórmula é a seguinte:
𝜏 = 𝜇�̇� (1.4)
Dentre os materiais que comumente se comportam desta maneira estão a
água, a gasolina e a maioria dos gases.
1.3.2 Power-law
Também conhecido como fluido de potência, foi elaborado com o objetivo de
representar os comportamentos pseudoplástico e dilatante. Parte-se do princípio que
a viscosidade do fluido é função da sua taxa de deformação - 𝜂(�̇�). Assim, a
viscosidade é representada de acordo com a equação 1.5, sendo o modelo de 2
parâmetros.
𝜂(�̇�) = 𝑘�̇�𝑛−1
(1.5)
Os termos k e n são conhecidos, respectivamente, como índice de
consistência e índice power-law ou de potência, sendo este último adimensional.
A equação 1.6 define a relação entre a tensão e a taxa de deformação.
𝜏 = 𝑘�̇�𝑛
(1.6)
O tipo de escoamento é modificado com a mudança do valor de n. Desta
forma, têm-se pseudoplástico para n menor que 1 e dilatante para n maior que 1.
12
As figuras 1.7 e 1.8 representam a variação do índice power-law para um
fluido hipotético.
Figura 1.7 – Modelo Power-law 𝜏 x �̇�- Influência do n.
Fonte: Sargentini, 2013.
Figura 1.8 – Modelo Power-law – 𝜂 x �̇�- Influência do n.
Fonte: Sargentini, 2013.
13
1.3.3 Bingham
Este modelo foi idealizado por Bingham em 1922, com o objetivo de
representar fluidos viscoplásticos, isto é, que possuem tensão limite de escoamento
(Sargentini, 2013). As equações 1.7 e 1.8 exibem o descrito:
𝜏 = 𝜏0 + µ�̇�, 𝑠𝑒 𝜏 ≥ 𝜏0
(1.7)
(1.8) �̇� = 0, 𝑠𝑒 𝜏 < 𝜏0
1.3.4 Herschel Bulkley
Surgiu posteriormente ao de Bingham, em 1926 (Sargentini, 2013), tornando
possível a representação de uma substância que seja, ao mesmo tempo,
viscoplástica e pseudoplástica ou dilatante. O modelo é representado pelas
equações 1.9 e 1.10.
𝜏 = 𝜏0 + 𝑘�̇�𝑛, 𝑠𝑒 𝜏 ≥ 𝜏0
(1.9)
�̇� = 0, 𝑠𝑒 𝜏 < 𝜏0
(1.10)
Para valores de n superiores a 1, o comportamento observado é o dilatante e para
menores que 1, pseudoplástico. No caso de n=1, o modelo é o de Bingham.
1.3.5 Regularização
Apesar dos modelos de Bingham e Herschel Bulkley representarem de forma
fiel os parâmetros reológicos típicos de fluidos não newtonianos, há certa dificuldade
na sua implementação para simulação numérica em CFD. Porém, em 1987,
Papanastasiou introduziu uma regularização para o modelo de Bingham, de modo
que sua implementação em CFD fosse facilitada. A equação 1.11 mostra essa
regularização.
14
𝜏 = (1 − 𝑒(−𝑚∙�̇�))𝜏0 + 𝑘�̇�
(1.11)
A equação é dividida em duas partes, uma para a tensão de cisalhamento
menor que a tensão limite de escoamento e outra para uma tensão de cisalhamento
acima do limite.
A figura 3.6 mostra como o parâmetro m é fundamental para um bom
alinhamento do modelo com o de Bingham. Para m igual a 1000, a equação de
Papanastasiou mostra uma excelente aproximação. Quando m tende ao infinito, o
alinhamento é exato tanto para 𝜏 ≥ 𝜏0 quanto para 𝜏 < 𝜏0.
Figura 1.9 – Comparação entre modelo de Bingham e Regularização de Papanastasiou.
Fonte: Sargentini, 2013.
O modelo de Herschel-Bulkley também se vale deste recurso, sendo
observada a mesma relação para m tendendo ao infinito. A regularização é
representada pela equação 1.9.
𝜏 = (1 − 𝑒(−𝑚∙�̇�))(𝜏0 + 𝑘�̇�𝑛)
(1.12)
15
1.4 Objetivo do trabalho
O objetivo do presente trabalho foi simular numericamente o reinício do
escoamento não isotérmico de um fluido viscoplástico de Bingham com um modelo
capaz de representar a dependência da reologia com a temperatura. O modelo é
baseado na equação de Arrhenius e é capaz de representar o comportamento
descrito pelo modelo Herschel-Bulkley, sendo possível a simulação de escoamentos
de materias pseudoplásticos ou dilatantes..
2 Modelo matemático
2.1 Equações governantes
O presente trabalho usará o mesmo modelo e condições usados por
Sargentini (2013). Dessa forma, as equações apresentadas neste capítulo foram
retiras do trabalho deste autor.
Será considerado um escoamento não isotérmico. Para a modelagem
matemática, faz-se necessário definir algumas leis fundamentais que vão reger o
comportamento do fluxo. São elas as leis da conservação de massa e quantidade de
movimento, bem como as equações constitutivas que descrevem a relação entre a
tensão e a deformação em um fluido.
A lei de conservação de massa pode ser definida de acordo com a equação
2.1, conforme a equação da continuidade:
𝑑𝑚
𝑑𝑡= 0
(2.1)
Sendo para um volume de controle infinitesimal (𝑑∀):
𝑑
𝑑𝑥∫ 𝜌𝑑∀∀
= ∫ [𝜕𝜌
𝜕𝑡+ ∇. (𝜌𝑽)] 𝑑∀
∀
= 0 (2.2)
𝜕𝜌
𝜕𝑡+ ∇. (𝜌𝑽) = 0
(2.3)
16
Onde 𝜕𝜌
𝜕𝑡 é a variação da massa específica do fluido com o tempo e ∇. (𝜌𝑽) é
o divergente do fluxo mássico.
Como o regime considerado em questão é o permanente, segue:
∇. (𝜌𝑽) = 0 (2.4)
O fluido é tratado como incompressível:
∇. 𝑽 = 0 (2.5)
Com o balanço de forças para um volume infinitesimal, segue:
𝜌𝒂 = 𝑭𝑷 + 𝑭𝝁 + 𝑭𝑪 (2.6)
Sendo 𝑭𝑷, 𝑭𝝁 e 𝑭𝑪 as forças de pressão, viscosa e compressível,
respectivamente. Todas estas atuando sobre o corpo.
Para a quantidade de movimento linear, segue a equação 2.7:
𝜌
𝐷(𝑽)
𝐷𝑡= 𝜌𝒈 − ∇𝑃 + ∇𝜏
(2.7)
Sendo 𝐷(𝑽)
𝐷𝑡 a derivada material do vetor velocidade, 𝜌 a massa específica do
fluido, g a aceleração da gravidade, ∇𝑃 o gradiente de pressão e ∇. 𝝉 o divergente
do campo tensorial.
A tensão total no fluido 𝑻 vem da equação 2.8:
𝑻 = −𝑃𝑰 + 𝝉 (2.8)
Onde P é pressão mecânica, 𝑰 é a identidade da parte esférica e 𝝉 a tensão
de desvio que surge para o fluido em movimento.
Sendo a pressão mecânica:
𝑃 = −1
3𝑡𝑟𝑻
(2.9)
Em coordenadas cartesianas retangulares, temos:
𝑻 = [−𝑃 0 00 −𝑃 00 0 −𝑃
] + [
𝝉𝒙𝒙 𝝉𝒙𝒚 𝝉𝒙𝒛
𝝉𝒚𝒙 𝝉𝒚𝒚 𝝉𝒚𝒛
𝝉𝒛𝒙 𝝉𝒛𝒚 𝝉𝒛𝒛
]
(2.10)
Seja ∇𝝂 o gradiente do vetor velocidade do fluido, em coordenadas
cartesianas, teremos:
𝑽 = 𝑢𝑖̂ + 𝑣𝑗̂ + 𝑤�̂� (2.11)
17
Sendo:
∇𝑽 =
[ 𝜕𝒖
𝜕𝑥
𝜕𝒗
𝜕𝑥
𝜕𝒘
𝜕𝑥𝜕𝒖
𝜕𝑦
𝜕𝒗
𝜕𝑦
𝜕𝒘
𝜕𝑦𝜕𝒖
𝜕𝑧
𝜕𝒗
𝜕𝑧
𝜕𝒘
𝜕𝑧 ]
(2.12)
Onde:
𝑳 = ∇𝑡𝑽 (2.13)
Como 𝑳 é a transposta do gradiente das velocidades:
𝑳 =1
2(∇𝑡𝑽 + ∇𝑽) +
1
2(∇𝑡𝑽 − ∇𝑽)
(2.14)
Tomando-se a parte simétrica como 𝑫 e a assimétrica como 𝑾:
𝑾 =1
2(∇𝑡𝑽 − ∇𝑽)
(2.15)
𝑾 =
[ 0
1
2(𝜕𝒖
𝜕𝑦−
𝜕𝒗
𝜕𝑥)
1
2(𝜕𝒖
𝜕𝑧−
𝜕𝒘
𝜕𝑥)
1
2(𝜕𝒗
𝜕𝑥−
𝜕𝒖
𝜕𝑦) 0
1
2(𝜕𝒗
𝜕𝑧−
𝜕𝒘
𝜕𝑦)
1
2(𝜕𝒘
𝜕𝑥−
𝜕𝒖
𝜕𝑧)
1
2(𝜕𝒘
𝜕𝑦−
𝜕𝒗
𝜕𝑧) 0
]
(2.16)
O termo 𝑾 é chamado tensor vorticidade.
Sendo:
𝑫 =1
2(∇𝑡𝑽 + ∇𝑽)
(2.17)
𝑾 =
[
𝜕𝒖
𝜕𝑥
1
2(𝜕𝒖
𝜕𝑦+
𝜕𝒗
𝜕𝑥)
1
2(𝜕𝒖
𝜕𝑧+
𝜕𝒘
𝜕𝑥)
1
2(𝜕𝒖
𝜕𝑦+
𝜕𝒗
𝜕𝑥)
𝜕𝒗
𝜕𝑦
1
2(𝜕𝒗
𝜕𝑧+
𝜕𝒘
𝜕𝑦)
1
2(𝜕𝒖
𝜕𝑧+
𝜕𝒘
𝜕𝑥)
1
2(𝜕𝒗
𝜕𝑧+
𝜕𝒘
𝜕𝑦)
𝜕𝒘
𝜕𝑧 ]
(2.18)
Para um fluido newtoniano, segue a equação 2.19:
𝝉 = 2𝜇𝑫 (2.19)
Sendo:
18
�̇� = 2𝑫 (2.20)
𝝉 = 𝜇�̇� (2.21)
Onde �̇� é o tensor da taxa de deformação, sendo sua intensidade
representada por:
�̇� = √1
2𝑡𝑟(�̇�2)
(2.22)
Para um fluido não newtoniano:
𝝉 = 2𝜂(�̇�)𝑫 (2.23)
Onde a viscosidade 𝜂 é função da taxa de deformação.
2.2 Modelo constitutivo
Para a simulação, foi utilizado o modelo implementado por Sampaio et al
(2013), que é o mesmo usado por Sargentini (2013). O fluido considerado foi o de
Bingham. Como apresentado no capítulo 1, este fluido é não newtoniano e
viscoplástico, com uma tensão limite de escoamento e uma dependência linear entre
a tensão de cisalhamento e a taxa de deformação. O modelo leva em consideração
o efeito da temperatura e também permite análises com Herschel-Bulkley.
O fluido é considerado incompressível:
∇. 𝑽 = 0 (2.5)
Para o material de Bingham é dado:
𝜏 = 𝜏0 + 𝑘�̇�, 𝑠𝑒 𝜏 ≥ 𝜏0
(1.7)
(1.8)
�̇� = 0, 𝑠𝑒 𝜏 < 𝜏0
Considerando um cilindro para representar um duto, o gradiente de
temperatura é representado na direção radial, onde a condutibilidade térmica será
19
chamada de 𝑐 e a área externa do cilindro de 𝐴. Esse esquema é bem representado
pela figura 2.1.
𝐴 = 2𝜋𝑅𝐿 (2.24)
�̇� = −𝑐2𝜋𝑅𝐿
𝑑𝑇
𝑑𝑟
(2.25)
�̇� =
(𝑇𝑖 − 𝑇𝑒)2𝜋𝑐𝐿
ln (𝑟𝑒𝑟𝑖
)
(2.26)
Figura 2.1 – Esquema ilustrativo da nomenclatura para condução de um cilindro vazado.
Fonte: Sargentini,2013.
O fluxo de calor é representado de acordo com a forma diferencial da lei de
Fourier de condução térmica:
�̇� = −𝑐∇𝑇 (2.27)
20
Sendo 𝑐 a condutância térmica e ∇𝑇 o gradiente de temperatura.
No que se refere ao efeito das trocas de calor, pode ser considerada a
equação de Fourier para um fluxo de calor difusivo. Na equação 2.28, 𝛼 é a
difusividade térmica e 𝐶𝑃 é o calor específico à pressão constante:
�̇� = −𝜌𝐶𝑃𝛼∇𝑇 (2.28)
A equação da conservação de energia térmica é dada por 2.29, onde 𝜙𝜇
representa o trabalho das forças viscosas e 𝑢 a energia interna:
𝜌
𝐷𝑢
𝐷𝑡= −𝑃(∇. V) + 𝜙𝜇 + ∇. (𝜌𝐶𝑃𝛼∇𝑇)
(2.29)
Considerando:
𝑢 = 𝑐𝑣𝑇 (2.30)
(2.31)
𝑃 = 𝜌𝑅𝑇
𝑐𝑝 − 𝑐𝑣 = 𝑅 (2.32)
Usando as equações 2.30, 2.31, 2.32 e 2.3, pode-se escrever:
−𝑃(∇. 𝑉) =
𝑃
𝜌
𝐷𝜌
𝐷𝑡≈
𝑃
𝜌(𝜕𝜌
𝜕𝑇)
𝑃
𝐷𝑇
𝐷𝑡= −
𝑃
𝑇
𝐷𝑇
𝐷𝑡= −𝜌(𝑐𝑝 − 𝑐𝑣)
𝐷𝑇
𝐷𝑡
(2.33)
Usando os resultados das equações 2.29 e 2.33, segue:
𝜌𝐶𝑃
𝐷𝑇
𝐷𝑡= 𝜙𝜇 + ∇. (𝜌𝐶𝑃𝛼∇𝑇)
(2.34)
Admitindo que o aumento da temperatura devido ao trabalho das forças
viscosas seja desprezível, utilizando a lei de Fourier e supondo que a difusividade
térmica é uniforme e o fluido sendo incompressível:
21
𝐷𝑇
𝐷𝑡=
𝜕𝑇
𝜕𝑡+ (𝑉. ∇)𝑇 = 𝛼∇²T
(2.35)
A dependência com a temperatura foi considerada não somente em relação
ao tempo e a difusividade do fluido, mas também ao cisalhamento, ao índice de
consistência 𝑘 e a viscosidade. Para este efeito sobre a tensão limite de escoamento
foi utilizado um coeficiente 𝑆𝜏, responsável pelo ajuste desta tensão em relação a
sua dependência com a temperatura.
No modelo utilizado, equação 2.36 será responsável por representar essa
dependência, tendo como referência a TIAC. Abaixo desta temperatura, o fluido
apresentará uma tensão limite de escoamento.
As equações 2.36 e 2.37 foram desenvolvidas a partir de uma equação de
Arrhenius, com o objetivo de representar o efeito não newtoniano destes fluidos.
Acima da TIAC, o comportamento será newtoniano, devido à logica
implementada no programa para desconsiderar termos negativos, retornando um
valor nulo.
𝜏0 = 𝜏0𝑇𝐼𝐴𝐶 (𝑒
𝑆𝜏(1𝑇− 1
𝑇𝐼𝐴𝐶)− 1)
(2.36)
A figura 2.2 apresenta a dependência da tensão limite de escoamento com a
temperatura, bem como a influência do 𝑆𝜏.
Figura 2.2 – Influência do coeficiente 𝑆𝜏 na variação da tensão limite de escoamento em relação
a temperaturas menores que TIAC.
Fonte – Sargentini, 2013.
22
Um ajuste semelhante foi adotado para o índice de consistência, 𝑘,
através do coeficiente 𝑘𝜏.
𝑘 = 𝑘0𝑇𝐼𝐴𝐶 (𝑒
𝑘𝜏(1𝑇− 1
𝑇𝐼𝐴𝐶)− 1)
(2.37)
A figura 2.3 mostra o índice de consistência 𝑘 em relação à temperatura na
fase não newtoniana e a influência do parâmetro 𝑘𝜏.
Figura 2.3 – Influência do coeficiente 𝑘𝜏 na variação da tensão limite de escoamento
em relação a temperaturas menores que TIAC.
Fonte – Sargentini, 2013.
A dependência da viscosidade em relação à temperatura é tratada de forma
similar a tensão limite de escoamento e ao índice de consistência, conforme a
equação 2.38:
𝜈𝑖𝑛𝑓 = 𝜈𝑟𝑒𝑓𝑒(𝑆𝜈(
1𝑇− 1
𝑇𝑟𝑒𝑓))
(2.38)
Sendo 𝑆𝜈 o coeficiente de ajuste e 𝜈𝑟𝑒𝑓 a viscosidade de referência em uma
determinada temperatura (𝑇𝑟𝑒𝑓). A viscosidade 𝜈𝑖𝑛𝑓 é a viscosidade do fluido sob a
influência da temperatura, seja acima ou abaixo da TIAC.
23
A figura 2.4 mostra a representação da variação de viscosidade em relação à
temperatura do fluido e da sua constante 𝑆𝜈.
Figura 2.4 – Variação da viscosidade cinemática em relação à temperatura e a influência do coeficiente 𝑆𝜈.
Fonte – Sargentini, 2013.
A equação 2.39 permite a obtenção da viscosidade do fluido considerando-se
a influência da temperatura por meio dos valores obtidos nas equações 2.36, 2.37 e
2.38.
𝜂 =𝜏0
�̇�+ 𝑘�̇�(𝑛−1) + 𝜂𝑖𝑛𝑓 (2.39)
Onde 𝜂𝑖𝑛𝑓 representa 𝜈𝑖𝑛𝑓 multiplicado por 𝜌.
2.3 Solução analítica para escoamento interno em dutos
No escoamento de um fluido no interior de um duto, as tensões de
cisalhamento são função da posição radial dentro do duto, de forma que a
proximidade com a parede gera tensões maiores. Assim, as perdas de carga são
função do atrito entre o fluido e parede da tubulação.
24
A viscosidade do fluido é proporcional à tensão de cisalhamento pela lei de
Newton da viscosidade (FOX, R.W. et al).
𝝉𝒙𝒚 = 𝜂
𝑑𝑢
𝑑𝑦
(2.40)
Na equação 2.40, 𝝉𝒙𝒚 é a tensão de cisalhamento gerada devido ao
escoamento do fluido, sendo 𝑢 a componente longitudinal da velocidade de
escoamento e 𝑦 a coordenada transversal ao mesmo.
Para um material de Bingham:
𝑟 ≥ 𝑟0 → 𝜏 = 𝜏0 + 𝜇 |
𝑑𝑼
𝑑𝑟|
(2.41)
A figura 2.5 ilustra um volume de controle no espaço anular sob a ação de
forças normais e cisalhantes:
Figura 2.5 – Volume de controle diferencial.
Fonte – Sargentini, 2013.
Executando o somatório das forças e considerando o equilíbrio do volume,
segue:
25
−(𝑃 +𝜕𝑃
𝜕𝑥𝑑𝑥) 2𝜋𝑟𝑑𝑟 − 𝜏𝑟𝑥2𝜋𝑟𝑑𝑟 + 𝑃2𝜋𝑟𝑑 +
[𝜏𝑟𝑥 +𝑑𝝉𝒓𝒙
𝑑𝑟] 2𝜋(𝑟 + 𝑑𝑟)𝑑𝑥 = 0
(2.42)
Dividindo a equação 2.42 por 2𝜋𝑟𝑑𝑟𝑑𝑥:
𝑟𝜕𝑃
𝜕𝑥=
𝑑(𝑟𝝉𝒓𝒙)
𝑑𝑟
(2.43)
𝑟𝝉𝒓𝒙 =
𝑑𝑃
𝑑𝑥
𝑟²
2+ 𝐶
(2.44)
𝝉𝒓𝒙 =
1
2
𝑑𝑃
𝑑𝑥𝑟
(2.45)
Considerando o fluido com sendo um material de Bingham:
𝑟 ≥ 𝑟0 → 𝜏 = 𝜏0 + 𝜇 |
𝑑𝑼
𝑑𝑟|
(2.41)
1
2
𝑑𝑃
𝑑𝑥𝑟 = 𝜏0 + 𝜇 |
𝑑𝑼
𝑑𝑟|
(2.46)
Considerando o escoamento plenamente desenvolvido, é admitido que:
𝑑𝑃
𝑑𝑥=
∆𝑃
∆𝑥=
∆𝑃
𝐿
(2.47)
1
2
∆𝑃
𝐿𝑟 = 𝜏0 + 𝜇 |
𝑑𝑼
𝑑𝑟|
(2.48)
1
2𝜇
∆𝑃
𝐿𝑟 −
𝜏0
𝜇= |
𝑑𝑼
𝑑𝑟|
(2.49)
26
Sendo ∆𝑃 a diferença entre a pressão na saída e na entrada.
Um dos comportamentos característicos do fluxo de um fluido de Bingham é a
presença de uma região do escoamento em que a velocidade não sofre variação ao
longo do raio do duto. Essa região é chamada de Plug-flow. A figura 2.6 ilustra esse
comportamento:
Figura 2.6 – Perfil de velocidades para um material de Bingham.
Fonte – Sargentini, 2013.
O raio 𝑟0 delimita radialmente a região em que o plug-flow acontece, isto é,
onde a velocidade não varia com o raio.
As equações para esse caso são resolvidas, a começar pela hipótese de que 𝜏 > 𝜏0.
Considerando a evolução do perfil de velocidade até a parede do duto:
𝑑𝑼
𝑑𝑟=
𝜏0
𝜇−
1
2𝜇
∆𝑃
𝐿𝑟
(2.50)
Considerando a região de plug-flow, segue:
𝑑𝑼
𝑑𝑟= 0 , 𝑟 < 𝑟0
(2.51)
Para 𝑟 = 𝑟0:
27
𝜏0
𝜇−
1
2𝜇
∆𝑃
𝐿𝑟 = 0
(2.52)
𝑟0 =
2𝜏0
∆𝑃𝐿
(2.53)
Assim, pela equação 2.53, nota-se que o raio que delimite o Plug-flow é
diretamente proporcional ao dobro da tensão limite de escoamento e inversamente
proporcional à razão entre a diferença de pressão e o comprimento do duto.
As equações de velocidade são encontradas resolvendo a equação 2.50:
𝑑𝑼
𝑑𝑟=
𝜏0
𝜇−
1
2𝜇
∆𝑃
𝐿𝑟
(2.50)
𝑼 =𝜏0
𝜇𝑟 −
1
2𝜇
∆𝑃
𝐿
𝑟2
2+ 𝐶
(2.54)
Condição de não deslizamento na parede do duto U(R)=0.
Segue:
𝑼 =
𝜏0
𝜇𝑟 −
1
2𝜇
∆𝑃
𝐿
𝑟2
2
(2.55)
𝑼 =
1
4𝜇
∆𝑃
𝐿
(𝑅² − 𝑟²)
2−
𝜏0
𝜇(𝑅 − 𝑟)
(2.56)
Para 𝑟 < 𝑟0:
𝑼 =
1
4𝜇
∆𝑃
𝐿
(𝑅² − 𝑟0²)
2−
𝜏0
𝜇(𝑅 − 𝑟0)
(2.57)
As equações 2.56 e 2.57 mostram, respectivamente, o perfil desenvolvido de
velocidades para um material de Bingham na região fora do Plug-flow e no Plug-
flow.
28
As deduções com as suas respectivas explicações iram auxiliar na
compreensão dos resultados obtidos no presente trabalho.
3 Método dos volumes finitos
A utilização deste método é fundamental quando se trata de simulações
numéricas, como é o caso do presente trabalho. A importância se dá pelo fato de
não ser possível resolver derivadas computacionalmente tratando o domínio de
interesse como contínuo, sendo necessário fazer uma discretização.
O termo “discretização” se refere à aproximação de um problema em um
domínio contínuo por elementos discretos (Silva, 2008). Desta forma, o domínio é
divido em volumes de controle muito pequenos, adjacentes entre si, formando uma
partição conhecida como malha, onde as equações de conservação são aplicadas.
O fluxo de uma grandeza f é a quantidade dessa grandeza que atravessa as
fronteiras de área A que divide os elementos presentes nas malhas. A quantidade
líquida de f que atravessa é calculada através da integração, sobre as fronteiras, da
diferença entre o fluxo que sai e que entra. Os valores das variáveis são
armazenados nos centróides de cada volume de controle (Sargentini, 2013).
A discretização é feita no domínio do espaço físico e temporal, conforme
mostra a figura 3.1. A primeira é responsável pela construção da malha
computacional e a segunda é aplicada em problemas transientes partindo de uma
condição inicial e subdividindo o domínio em número finito de intervalos de tempo
(Silva, 2008).
29
Figura 3.1 – Discretização nos domínios de espaço e tempo.
Fonte: RUSCHE, 2012.
Para a resolução de equações diferenciais parciais, a discretização pode ser
feita de diversas maneiras, entretanto será descrito aqui apenas a forma como ela é
feita no OpenFoam, uma vez que este é o software proposto no presente trabalho.
A figura 3.2 exibe uma representação do resultado da discretização de um
domínio onde o ponto P é o centróide do elemento de interesse e N o centróide da
célula vizinha. O vetor que une esses pontos é representado por d, enquanto que Sf
representa o vetor perpendicular à face que divide os dois elementos em questão.
Figura 3.2 – Parâmetros na discretização por volumes finitos.
Fonte: RUSCHE, 2012.
30
As equações que serão apresentadas no capítulo 3 também foram retiradas
de Sargentini (2013).
O centroide XP da célula de interesse, localizado no ponto P, possui a
seguinte definição:
∫(𝑋 − 𝑋𝑃)
𝑉𝑝
𝑑𝑉 = 0
(3.1)
Sendo VP volume da célula referida. O centro das faces das células é definido
da seguinte forma:
∫ (𝑋 − 𝑋𝑓)𝑆𝑓
𝑑𝑆 = 0 (3.2)
Onde o vetor da face f é definido como d=𝑃𝑁̅̅ ̅̅ , sendo Sf o vetor da face com
magnitude igual à área da face.
𝑺𝒇 = ∫ 𝑛𝑑𝑆
𝑆𝑓
(3.3)
3.1 Operador gradiente
Quando se trata de volumes finitos, o operador gradiente, que é explicito,
pode ser representado de três maneiras diferentes, conforme a necessidade do
usuário. São elas a Integração Gaussiana, método dos mínimos quadrados e o
método gradiente normal à superfície.
A integração Gaussiana segue o método de integração apresentado pela
equação 3.4:
∫ ∇ϕdV = ∫ 𝑑𝑆𝜙 = ∑ 𝑺𝒇
𝑓𝑆V
𝜙𝑓 (3.4)
Onde Φ é uma variável qualquer e o sub-índice f faz referência à face da
célula, sendo esta forma usada no modelo.
31
Para compreensão do método dos mínimos quadrados, deve-se
retornar à figura 3.2. O valor do ponto P pode ser extrapolado para o seu vizinho N
usando o gradiente em P. A intenção é comparar o valor extrapolado de N com o
original, obtendo assim a diferença, sendo a mesma o erro.
A discretização descrita acima é feita através do cálculo do valor do tensor G
em todos os pontos P, pela soma dos seus vizinhos N.
𝑮 = ∑ 𝑊𝑁2𝑑𝒅
𝑁
(3.5)
Sendo a função peso descrita pela equação 3.6:
𝑊𝑁 =
1
|𝑑|
(3.6)
O gradiente será:
∇𝜙𝑃 = ∑ 𝑊𝑁𝐺−1𝑑(𝜙𝑁 − 𝜙𝑃)
𝑁
(3.7)
No método do gradiente normal à superfície, tem-se que 𝑛𝑓(∇𝜙𝑓) pode ser
avaliado nas células de acordo com a equação 3.8:
(3.8)
∇𝜙𝑓 = 𝜙𝑁 − 𝜙𝑃
|𝑑|
3.1 Operador divergente
Por ser um termo explícito, a integração do operador divergente no volume de
controle ocorre da seguinte maneira:
∫ ∇ ∙ ϕdV = ∫ 𝑑𝑆 ∙ 𝜙 = ∑𝑆𝑓
𝑓𝑆V
∙ 𝜙𝑓 (3.9)
O termo convectivo, porém, é resolvido implicitamente:
32
∫ ∇ ∙ (𝜌𝑈𝜙)dV = ∫ 𝑑𝑆 ∙ (𝜌𝑼𝜙) = ∑𝑺𝒇
𝑓𝑆V
∙ (𝜌𝑼)𝑓𝜙𝑓 = ∑𝐹𝜙𝑓
𝑓
(3.10)
3.2 Operador laplaciano
Consiste na integração no volume de controle, conforme a equação 3.11:
∫ ∇ ∙ (Γ∇𝜙)𝑑𝑉 = ∫ 𝑑𝑆 ∙ (ΓV𝜙)
𝑉𝑉
= ∑Γ𝑓𝑺𝒇
𝑓
(∇𝜙)𝑓 (3.11)
Considerando o vetor d é ortogonal ao plano da face, segue-se a equação
3.12:
𝑺𝒇∙(∇𝜙)𝑓 = |𝑆𝑓∙|
𝜙𝑁 − 𝜙𝑃
|𝑑|
(3.12)
3.3 Derivada temporal
Para uma derivada temporal de primeira ordem, 𝜕𝜙
𝜕𝑡, a integração no volume é
representada da seguinte maneira:
𝜕 ∫ 𝜌𝜙𝑑𝑉𝑉
𝜕𝑡
(3.13)
Assim, a discretização no tempo é feita utilizando-se 𝜙 = 𝜙(𝑡 + Δ𝑡) para o
passo de tempo que está sendo resolvido, 𝜙−1 = 𝜙(𝑡) para o passo anterior e
𝜙−2 = 𝜙(𝑡 − Δ𝑡) para o antecessor e assim por diante.
Desta forma, para primeira ordem, temos a equação 3.14 e 3.15, como
seguem:
𝜕𝜙
𝜕𝑡=
𝜙𝑛 − 𝜙𝑛−1
Δt
(3.14)
33
∫
𝜕𝜙
𝜕𝑡𝑑𝑉
𝑉
=𝜙𝑛 − 𝜙𝑛−1
Δt𝑉𝑝
(3.15)
Para segunda ordem, são usados dois passos de tempo anteriores, conforme
as equações 3.16 e 3.17:
𝜕𝜙
𝜕𝑡=
32
𝜙𝑛 − 2𝜙𝑛−1 +12
𝜙𝑛−2
Δt
(3.16)
∫𝜕𝜙
𝜕𝑡𝑑𝑉
𝑉
=
32
𝜙𝑛 − 2𝜙𝑛−1 +12
𝜙𝑛−2
Δt𝑉𝑝
(3.17)
No OpenFoam, são utilizadas alguns esquemas, conforme a tabela 3.1:
Tabela 3.1 – Esquemas de derivada temporal utilizados no OpenFoam.
Fonte: Manual do OpenFoam.
No presente trabalho, o esquema utilizado foi o Crank-Nicholson.
3.4 Esquemas de interpolação
Esta seção será dedicada em expor os principais esquema de interpolação
usados pelo OpenFoam. Eles são importantes que se fala em análise por volumes
finitos.
Diferenças Centradas (CD) – É um esquema de segunda ordem que está
sujeito a oscilações na solução (sistema não limitado), dependendo das condições
de escoamento.
34
𝜙𝑓 = 𝑓𝑥𝜙𝑃 + (1 − 𝑓𝑥)𝜙𝑁
(3.18)
Sendo:
𝑓𝑥 =
𝑓𝑁̅̅ ̅̅
𝑃𝑁̅̅ ̅̅
(3.19)
Sendo 𝑓𝑁̅̅ ̅̅ e 𝑃𝑁̅̅ ̅̅ as distâncias entre o ponto 𝑓 e o centro da célula N e entre os
centros das células P e N, respectivamente.
Upwind (UD) – Este esquema, de primeira ordem, não produz oscilações
(limitado). O valor da variável é determinado na face 𝜙𝑓 e vai depender da direção
do fluxo.
𝜙𝑓 = {
𝜙𝑃 , 𝐹 ≥ 0𝜙𝑁 , 𝐹 < 0
(3.20)
Diferenças Mistas (BD) – Esquema de alta ordem que pondera um valor entre
o Upwind e o esquema de Diferenças Centrais.
O esquema de interpolação utilizado foi o Upwind.
4 Resultados obtidos a partir das simulações
Para a simulação, foram definidos alguns parâmetros que estão registrados
nas tabelas 4.1, 4.2 e 4.3. As equações descritas nos capítulos 2 e 3 foram, bem
como os parâmetros das tabelas mencionadas, foram utilizados no software livre
chamado OpenFoam. Este programa é capaz de simular escoamentos a partir de
uma malha e das condições inicial e contorno bem definidas.
O modelo adotado para as simulações no OpenFoam considerou uma malha
2D axissimétrica para representar o escoamento do fluido. A vantagem desse tipo de
malha é a redução no tempo de processamento. O modelo considerava um duto
com 50 mm de raio e 1000 mm de comprimento.
As simulações envolveram a aplicação de um gradiente de pressão durante
um tempo de 80 segundos. Foi feito uma amostragem a partir dos resultados obtidos
a partir da simulação e os dados foram plotados em programa livre chamado
Pyxplot.
35
4.1 Parâmetros adotados na simulação
Os parâmetros de transporte utilizados estão listados na tabela 4.1.
Tabela 4.1 – Parâmetros de transporte.
Descrição Sigla Unidades Valor
Viscosidade cinemática 𝜈 m²/s 0.000055145
Viscosidade cinemática
para 𝜏0
𝜈0
m²/s
20000
Viscosidade de referência 𝜈𝑟𝑒𝑓 m²/s 0.008
Difusividade 𝛼 m²/s 0.01
Tensão limite de
escoamento
TIAC
𝜏0𝑇𝐼𝐴𝐶
Pa
0.002
Índice de consistência
TIAC
𝐾𝑇𝐼𝐴𝐶
m²/s
0.0055145
Índice de potência n Adimensional 1
Temperatura inicial de
aparecimento de cristais
TIAC
K
306.5
Temperatura de referência 𝑇𝑟𝑒𝑓 K 333.15
Temperatura externa 𝑇𝑒𝑥𝑡 K 277.15
Coeficiente de ajuste para
𝜏
𝑆𝜏
Adimensional
3000
Coeficiente de ajuste para
K
𝑆𝐾
Adimensional
3000
Coeficiente de ajuste para
𝜈
𝑆𝜈
Adimensional
2845
Massa específica 𝜌 Kg/m³ 1000
Note que o valor do índice de potência escolhido revela a utilização de um
material de Bingham. O caso considerado é o reinicio de escoamento após uma
36
parada na produção e consequente gelificação do óleo. O modelo não leva em
consideração a quebra da microestrutura. Desta forma, ele funciona como se a
quebra ocorresse de forma instantânea quando a pressão é aplicada.
Foi utilizada uma rampa de pressão, partindo de um valor nulo na entrada e
aumentando seu valor conforme a aplicação de um gradiente de pressão ao longo
de um tempo de 80s. A tabela 4.2 mostra os parâmetros de fluxo.
Tabela 4.2 – Parâmetros de fluxo
Descrição Sigla Unidades Valor
Pressão na entrada em
t=0
Pe0 Pa 0
Gradiente de pressão dPinlet Pa 0.01
Pressão na entrada em
t=80 s
Pe𝑓 Pa 0.8
Velocidade na entrada em
t=0
Ue0 m/s ∇𝑛𝑈 = 0
Velocidade na saída em
t=0
U𝑆0 m/s ∇𝑛𝑈 = 0
A tabela 4.3 descrever a malha adotada. Tabela 4.3 – Malha adotada.
Dimensões de malha(mm)
Divisões
Total de
células
∆x
∆z
∆𝑥
∆𝑧
x y z x y z
50 2,18 1000 80 1 200 16000 0,625 5 0,125
O passo de tempo utilizado foi de 0,01 s, porém o tempo registrado para ser
analisado foi de 10,0s.
4.1 Resultados obtidos
Antes de iniciar a apresentação dos resultados, é necessário deixar claro que
o comprimento do duto será representado pelo eixo z. Esta notação é usada nas
legendas dos gráficos. Entretanto, os eixos dos gráficos estão nomeados como r(m),
indicando o raio em metros e L(m), indicando comprimento em metros. A letra t
indica tempo.
37
Os resultados obtidos ilustram bem o comportamento que se espera no caso
considerado. Foi possível observar a presença de uma região plug flow, comum à
escoamentos com fluido de Bingham, bem como foi observado a redução da
viscosidade para altas temperaturas e em regiões do duto onde o cisalhamento é
maior. Os perfis de velocidade também foram avaliados. A figura 4.1mostra os perfis
de velocidade ao longo do duto para quatro posições ao longo do raio no tempo de
80s.
Figura 4.1 – Perfis de velocidade ao longo do duto para diversas posições em r e t=80s.
O gráfico ilustra com clareza que os maiores valores de velocidade são
obtidos no centro da tubulação, decrescendo à medida que se aproxima da parede,
representada pela posição r=0.05m, onde o valor é zero. Isso é um bom sinal de
coerência do modelo implementado, pois já é conhecido o fato de que a velocidade
dos fluidos na superfície de um sólido é igual a zero.
As figuras 4.2, 4.3 e 4.4 mostram a mesma situação para t=60, t=30 e t=0s
respectivamente. Comparando estes gráficos com o apresentado na figura 4.1, é
possível ver como o perfil de velocidades varia não somente ao longo do duto para
diversas posições no raio, como também ao longo do tempo.
38
Figura 4.2 – Perfis de velocidade ao longo do duto para diversas posições em r e t=60s.
Figura 4.3 – Perfis de velocidade ao longo do duto para diversas posições em r e t=30s.
39
Figura 4.4 – Perfis de velocidade ao longo do duto para diversas posições em r e t=0s.
Vale notar que em t=30s não se observa patamares estabilizados ao longo do
duto. Isto também pode ser explicado pelo não estabelecimento do escoamento,
pois uma vez estabelecido, as velocidades em um determinado tempo são iguais ao
longo de todo o duto, excetuando-se na sua entrada, isto é, em z=0. Isso é bem
ilustrado pelas próximas figuras apresentadas, a começar pela 4.5.
40
Figura 4.5 – Perfis de velocidade ao longo do raio para diversas posições em z e t=80s.
Fica claro pelo gráfico que as velocidades em cada ponto do raio não variam
consideravelmente ao longo do duto, excetuando-se a entrada do mesmo, algo que
ficou evidente também nas figuras 4.1-4.4. As figuras 4.6, 4.7 e 4.8 ilustram a
mesma situação para os tempos t=60, t=30 e t=0s respectivamente.
Figura 4.6 – Perfis de velocidade ao longo do raio para diversas posições em z e t=60s.
41
Figura 4.7 – Perfis de velocidade ao longo do raio para diversas posições em z em t=30s.
Figura 4.8 – Perfis de velocidade ao longo do raio para diversas posições em z em t=0s.
Analisando os gráficos das figuras 4.5-4.8, é possível ver que o padrão está
de acordo com 4.1-4.4, de modo que, para t=80 e t=60s, as curvas de velocidade
42
são coincidentes, porém o mesmo não acontece para t=30s em todos os pontos do
raio, somente em parte deles. Apesar de o fenômeno ser mais bem observado a
partir de r=0.02m, ele já é notado desde r=0m.
Uma vez mostrado que após o pleno estabelecimento do escoamento o perfil
de velocidade ao longo do raio é constante por todo o duto, exceto na entrada do
duto, pode-se escolher uma posição específica em z para analisar a
desenvolvimento da região Plug flow no tempo. Isto é observado na figura 4.9.
Figura 4.9 – Perfis de velocidade ao longo do raio e do tempo em z=0.6m.
O gráfico mostra que o raio que delimita a região de Plug flow diminui à
medida que o tempo se aproxima de t=80s. Como foi mostrado no capítulo 2, pela
equação 2.53, o raio que delimita a região Plug-flow é diretamente proporcional ao
dobro da tensão limite de escoamento e inversamente proporcional à razão entre a
queda pressão e o comprimento do duto. Como a tensão limite de escoamento é a
mesma para todos os tempos, o fenômeno é explicado pela diferença de pressão
entre a entrada e a saída do duto. Como a pressão na entrada aumenta com o
tempo, tempos maiores geram maiores pressões, reduzindo o Plug-flow.
43
Vale notar que o comportamento da curva t=20s registra a transição entre o
não estabelecimento e o estabelecimento do escoamento. O valor negativo para
esta curva entre r=0.045m e r=0.05 provavelmente ocorre devido à instabilidade do
modelo implementado no OpenFoam ao simular com esse momento de transição.
Entretanto não é necessária uma preocupação com isso, pois além do módulo da
velocidade nessa região ser muito pequeno, a curva t=20s não é importante para as
análises.
A figura 4.10 mostra os perfis dispostos da mesma forma que 4.9, porém na
posição z=0m.
Figura 4.11 – Perfis de velocidade ao longo do raio e do tempo em z=0m.
Enquanto que em z=0.6m o raio que determina o Plug chega a passar da
metade do raio do duto dependendo do tempo, em z=0m esse raio não existe. Ainda
que possa parecer que existe um Plug perto de r=0m, uma observação atenta da
figura 4.11 mostra que, mesmo nessa região, existe inclinação nas curvas de
velocidade.
A figura 4.12 mostra o perfil de viscosidade ao longo do duto para diversas
posições no raio em t=80s.
44
Figura 4.12 – Perfis de viscosidade ao longo do duto para diversas posições em r em t=80s.
Nota-se que para r=0m os valores de viscosidade ao longo da tubulação são
bem superiores quando comparados aos valores das outras posições, a não ser no
início do duto, onde os valores de viscosidade em todas as posições em r coincidem.
Para explicar esse fenômeno é preciso entender a relação da viscosidade com a
taxa de cisalhamento e com a temperatura. Quanto maior a temperatura e quanto
maior a taxa de cisalhamento, menor a viscosidade.
O perfil de viscosidade elevado no centro do duto aproximadamente a partir
de z=0.1 m é explicado pelo fato de as taxas de cisalhamento serem muito baixas no
centro da tubulação. À medida que se aproxima da parede as taxas ficam cada vez
maiores e a viscosidade cai consideravelmente.
Dessa forma, a baixa viscosidade em r=0m no começo do duto é explicada
não pela taxa de cisalhamento, mas pela alta temperatura nessa região, conforme a
figura 4.13 mostra.
45
Figura 4.13 – Perfis de temperatura ao longo do duto para diversas posições em r e t=80s.
Nota-se que é exatamente na região de z bem próximo da entrada que os
valores de temperatura são mais altos. Desta forma, a figura 4.13 ilustra com clareza
o porquê de valores tão baixos de viscosidade no início do duto para r=0m, apesar
de taxas de cisalhamento baixas.
As figuras 4.14, 4.15 e 4.16 mostram os perfis de viscosidade para t=60, t=30
e t=0s, respectivamente.
Figura 4.14 – Perfis de viscosidade ao longo do duto para diversas posições em r e t=60s.
46
Figura 4.15 – Perfis de viscosidade ao longo do duto para diversas posições em r e t=30s.
Figura 4.16 – Perfis de viscosidade ao longo do duto para diversas posições em r e t=0s.
A figura 4.16 ilustra a influência da temperatura com ainda mais clareza. Em
t=0s, não houve ainda aplicação de pressão, logo não houve cisalhamento. Com
isso, todas as curvas de viscosidade encontram-se no valor máximo. Porém, na
47
região bem próxima da entrada do duto, onde a temperatura é mais alta, é possível
notar valores de viscosidade inferiores a 0.04 m²/s.
A figura 4.15 mostra um comportamento na viscosidade semelhante ao
demostrado na figura 4.3 pela velocidade. Foi observado nesta última que pelo fato
de o escoamento não estar plenamente estabelecido, não foi possível observar
patamares indicando velocidades constantes ao longo do duto. A figura 4.15 mostra
uma transição em que as curvas de viscosidade estão começando adquirir a forma
de patamares. Nota-se que as curvas r=0.05 e r=0.04m apresentam comportamento
mais próximo do que é apresentado em t=80s, quando o escoamento já está
plenamente desenvolvido. O mesmo é observado para a figura 4.3. As curvas de
velocidade em r=0.05 e r=0.04m apresentam um comportamento mais próximo do
apresentado em t=80s, porém com valores de velocidade inferiores.
Além das simulações realizadas para o índice de potência igual 1, também
foram simulados casos com n inferior a 1, com o intuito de comparar as curvas de
velocidade entre os diferentes valores do índice power-law. O range de variação foi
0.5-1, com um intervalo de 0.1 entre cada valor de n admitido. A figura 4.17 ilustra
essa comparação para z=0.6m e t=80s.
Figura 4.17 – Perfis de velocidade considerando diversos valores de n para z=0.6m e t=80s.
Observa-se que para todos os valores de índice de potência, há uma região
de Plug-flow e o raio que a delimita é aproximadamente o mesmo para todos. Isso
48
ocorre porque não há variação na tensão limite de escoamento, assim como não há
no gradiente de pressão. Também é possível notar que valores menores de índice
de potência geram velocidades menores.
5 Conclusão e sugestão de trabalhos futuros
5.1 Conclusão
Os resultados demostraram que o modelo consegue simular coerentemente o
reinício do escoamento de um óleo parafínico, após sua gelificação. Os gráficos de
velocidade mostraram com fidelidade a presença de uma região Plug-flow, típica de
um material de Bingham que foi proposto para o modelo.
Foi possível perceber também a dependência da viscosidade com a
temperatura e com a taxa de cisalhamento. Para a posição r=0m do duto, foi
possível observar valores de viscosidade baixos e altos ao longo do comprimento.
Notou-se que os valores altos de temperatura são responsáveis pelos baixos valores
de viscosidade, enquanto que as baixas taxas de cisalhamento foram responsáveis
pelos altos valores de viscosidade. Com esses resultados, levanta-se a possibilidade
de aquecer a região gelificada com o intuito de induzir menores valores de
viscosidade e assim necessitar de menos pressão aplicada. Entretanto, é necessário
verificar e economicidade da proposta.
Também ficou bem claro nos gráficos o comportamento dos perfis de
velocidade com relação à posição dentro do duto. Radialmente os valores diminuem
à medida que se aproximam da parede da tubulação. Na direção axial, os valores
são mantidos constantes, excetuando-se na região bem próxima a entrada.
Foi observado também que os padrões de velocidade descritos acima
ocorrem quando o escoamento está plenamente desenvolvido. Porém, já é possível
observar a tendência de valores constantes ao longo do duto em regiões mais
próximas do centro mesmo quando o escoamento ainda não está estabelecido.
A mudança do valor do índice de potência causa variação na velocidade,
porém sem causar mudança considerável no raio que delimita o Plug-flow.
49
5.2 Sugestões para trabalhos futuros
Para trabalhos futuros baseados nesse mesmo modelo, é interessante avaliar
as diferenças causadas pela variação do n não somente na velocidade, mas
também na viscosidade e na temperatura. Vale notar que uma vez que o índice
power law é um expoente da taxa de cisalhamento e esta, por sua vez, está sendo
multiplicada pelo índice de consistência, este último tem influência nos resultados
causados pela variação de n. Assim, um trabalho futuro poderia analisar como a
variação índice de consistência influência a mudança causada pelo índice power-
law.
Também é interessante construir gráficos que mostrem o comportamento das
taxas de cisalhamento e deformação ao longo do raio do duto.
No presente trabalho, não foi avaliado a influência da mudança do valor da
tensão de cisalhamento, sendo assim um objeto a ser estudado ainda com este
modelo. A variação na tensão de cisalhamento vai mostrar uma variação no Plug-
flow, conforme foi dito no capítulo 2.
6. Bibliografia
Sampaio, L.E.B, Sargentini, R, Valim, L and Thompson, R.L, 2013. - Non-
Isothermal Re-start flow of a waxy crude oil. COBEM 2013
Visitin, R.F.G., Lapasin, R., Vignati, E., D’Antona, P. and Lockhart, T.P., 2005.
-Rheological behavior and structural interpretation of waxy crude oil gels. Langmuir,
Vol. 21, pp. 6240–6249.
Marchesini, F.H, Alicke, A.A, and Mendes, P.R.S, 2010. - Reologia de óleos
parafínicos. Energy&fuels
Dimitriou, C.J, McKinley, G.H, and Venkatesan, R, 2011. - Rheo-PIV Analysis
of the Yielding and Flow of Model Waxy Crude Oils. Energy&fuels
Wardhaugh, L.T, Boger, D.V, Melbourne, U, and Tonner, S.P, 1988. -
Rheology of waxy Crude Oils. SPE 17625 - MS.
50
Cazaux, G, Barre, L, and Bruce, F, 1998. - Waxy Crude Cold Start:
Assessment Through Gel Structural Properties. SPE 49213 - MS.
Hou, L, 2012. - Experimental study on yield behavior of Daqing crude oil.
Rheol Acta (2012) 51:603-607
Suppiah, S, Ahmad, A, Alderson, C, Akbarzadeh, K, Gao, J, Shorthouse, J,
Khan, I.A, Forde, C, and Jamaluddin, A, 2012. - Waxy-Crude Production
Management in a Deepwater Subsea Environment.
VINAY, G.; WACHS, A.; Agassant, J. 2005– Numerical simulation of non-
isothermal viscoplastic waxy crude oil flows, J Non-Newtonian Fluids Mech.128
(2005) 144–162-2005;
VINAY, G.; WACHS, A.; FRIGAARD, I. - Start-up transients and
efficient computation of isothermal waxy crude oil flows, J. Non-Newtonian Fluid
Mech.143 (2007) 141–156 – 2007;
Ronningsen, H.P, 1992. - Rheologica Behaviour of gelled, waxy North Sea
crude oils. JPSE, 7(2012) 177-213
SILVA, L. F. L. R.. Desenvolvimento de Metodologias para Simulação de
Escoamentos Polidispersos usando Código Livre. Tese. COPPE. UFRJ. XVII, 262,
p.29. 2008.
RUSCHE, H., Computational _fluid dynamics of dispersed two-phase _owns
at high phase fractions , Ph.D. Thesis, Imperial College of Science, Technology and
Medicine, Londres, Reino Unido, 2002.
FOX, R.W.; PRITCHARD, P.J.; Mc DONALD, A.T. – Introdução a
Mecânica dos Fluidos, 7nd ed. LTC: Rio de Janeiro, 2010.