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| 25 QUINTA, 12 DE JANEIRO DE 2017 SINAIS PARA PAÍS VOLTAR A CRESCER Juros, inflação e reformas são importantes para a retomada BEATRIZ SEIXAS [email protected] Os dados divulgados on- tem da inflação e da taxa básica de juros, a Selic, fo- ram considerados como bons sinais pelos econo- mistas para o Brasil voltar ao caminho do cresci- mento. Mas eles foram unânimes em dizer que esses dois pontos não são suficientes para tirar o país da recessão. A reorganização do quadro fiscal, a aprovação de reformas importantes, como a da Previdência, a estabilidade política e o cenário externo são fato- res relevantes e decisivos nesse processo e têm que ser tirados do papel, na vi- são dos especialistas. Roberto Vertamatti, di- retor de Economia da As- sociação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabi- lidade (Anefac), cita que um dos índices mais ur- gentes para ser superado é o do desemprego, que ho- je acumula números dra- máticos como o de 12 mi- lhões de desempregados. “Neste momento, preo- cupa demais o desemprego, que continua grande, e a perspectiva para o primeiro semestre é que ainda suba um pouco, só começando a melhorar a partir do segun- do semestre. Mas ainda que tenhamos muitos proble- mas, como no mercado de trabalho e elevado custo da máquinapública,aquedada inflação e dos juros é um bom início. São estímulos que ainda que contribuam de forma vagarosa para a melhora da economia, indi- camrecuperaçãoeque2018 será um ano bem melhor”. O professor de Finanças do Ibmec em Brasília e di- retor da Valorum Gestão Empresarial, Marcos Melo, também acredita nas pers- pectivas de crescimento neste ano, mas diz que ain- da é cedo para cravar qual- quer número. “Ainda tem muita coisa para acontecer para formar esse número, como a questão política, a reforma daPrevidênciaque será discutida no Congres- so e o comportamento do mercado internacional. As variáveis são muitas”. Melo comenta que a pro- jeção de crescimento do Banco Mundial para o Bra- sil de 0,5% em 2017, apesar de pequena, já pode ser considerada um grande fei- to para o país. “Consideran- do que o PIB brasileiro caiu cerca 8% nos últimos dois anos, meio ponto percen- tual já é um bom sinal. Mas, claro, que ainda tem muita coisa para acontecer”. O professor da Fundação DomCabraleex-ministrodo Trabalho e do Planejamento e Orçamento no governo FHC, Paulo Paiva, chama a atenção que para voltar a ter um PIB positivo, o governo temquecontrolarosgastose continuar perseguindo a re- dução da taxa de juros. “Esse é um instrumento forte que o governo tem hoje para es- timular a economia”. Se isso de fato aconte- cer, Eduardo Araújo, eco- nomista e vice-presidente do Corecon, acredita que a Selic deve atingir 10% ao final deste ano e, em 2018, ficar abaixo de dois dígi- tos. “As perspectivas para 2017 são favoráveis”. SÉRGIO SANTIAGO Paulo Paiva diz que governo tem que controlar gastos e perseguir juros menores ANÁLISE Boa notícia para famílias e empresas No que diz respeito à inflação, começamos o ano com pé direito, in- flação dentro da meta e abaixo do esperado. Parte desse resultado deve-se ao trabalho do Banco Central, preocu- pado com os níveis dos preços, visto que em 2015 tivemos inflação acima dos 10%. Outro fator relevante foi a fraca atividade econô- mica que assola o país. Essa notícia é boa não só porque inflação bai- xa mantém o poder de compra estável, mas, além disso, dá margem para o Banco Central continuar reduzindo as taxas de juros. A deci- são do Banco Central de reduzir em 0,75 p.p. a taxa de juros tem co- mo referência a infla- ção futura, entre 6 e 12 meses, e sinaliza infla- ção no centro da meta ou próximo dele em 2017. Com isso, a ex- pectativa é que os juros continuem caindo ao longo do ano, chegan- do a 10,25%, reduzin- do o custo do crédito e favorecendo consumo das famílias e investi- mento das empresas. Esses elementos ten- dem a contribuir para a melhora, mesmo que lenta, da nossa ativida- de econômica. BRUNO FUNCHAL, PROFESSOR DE ECONOMIA DA FUCAPE RETOMADA “Ainda que tenhamos muitos problemas, como no mercado de trabalho e o elevado custo da máquina pública, as quedas na inflação e nos juros são um bom início de retomada” ROBERTO VERTAMATTI DIRETOR DA ANEFAC Temer diz que serão abertas vagas de empregos BRASÍLIA O presidente Michel Te- mer comemorou a queda de 0,75 ponto percentual na taxa básica de juros (Se- lic). Por meio do porta-voz do governo, Alexandre Pa- rola, Temer disse que o cor- te “respalda a convicção de que estão dados os ele- mentos para uma retoma- da do crescimento e da criação de novos empregos ao longo do ano”. PormeiodeParola,Te- mer enfatizou a reper- cussão positiva que a queda da inflação e dos juros gerou no sistema bancário, citando a redu- ção das taxas de juros anunciada pelas institui- ções logo após a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom). A queda na taxa Selic, que não era reduzida há dois anos, teve sua tercei- ra redução consecutiva. “Com o corte, abre-se espaço para que a taxa de juros seja gradualmente reduzida, de modo res- ponsável, consistente e sustentável”, acrescen- tou o porta-voz do Palá- cio do Planalto. Temer vinha dizendo que esperava uma queda dos juros, mas destacou que não desejar “dar pal- pite nessa área, que é uma área muito delicada”. Ele também já afirmou que “certa e seguramente com a inflação caindo, natural- mente os juros irão cair”. (O Globo) MARCELO CAMARGO/ABR - 02/12/2016 Temer avalia que reduções devem ser sustentáveis CONVICÇÃO “O corte respalda a convicção de que estão dados os elementos para uma retomada do crescimento e da criação de novos empregos” ALEXANDRE PAROLA PORTA-VOZ DO GOVERNO TEMER

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| 25QUINTA, 12 DE JANEIRO DE 2017

SINAIS PARAPAÍS VOLTARA CRESCERJuros, inflação e reformas sãoimportantes para a retomada

BEATRIZ [email protected]

Os dados divulgados on-tem da inflação e da taxabásicade juros, aSelic, fo-ram considerados comobons sinais pelos econo-mistas para o Brasil voltarao caminho do cresci-mento. Mas eles foramunânimes em dizer queesses dois pontos não sãosuficientes para tirar opaís da recessão.

A reorganização doquadro fiscal, a aprovaçãode reformas importantes,como a da Previdência, aestabilidade política e ocenário externo são fato-res relevantes e decisivosnesse processo e têm queser tirados do papel, na vi-são dos especialistas.

Roberto Vertamatti, di-retor de Economia da As-sociação Nacional dosExecutivos de Finanças,Administração e Contabi-lidade (Anefac), cita queum dos índices mais ur-

gentesparasersuperadoéo do desemprego, que ho-je acumula números dra-máticos como o de 12 mi-lhões de desempregados.

“Neste momento, preo-cupa demais o desemprego,que continua grande, e aperspectiva para o primeirosemestre é que ainda subaum pouco, só começando amelhorar a partir do segun-do semestre. Mas ainda quetenhamos muitos proble-

mas, como no mercado detrabalho e elevado custo damáquinapública,aquedadainflação e dos juros é umbom início. São estímulosque ainda que contribuamde forma vagarosa para amelhora da economia, indi-camrecuperaçãoeque2018será um ano bem melhor”.

O professor de Finançasdo Ibmec em Brasília e di-retor da Valorum GestãoEmpresarial, Marcos Melo,também acredita nas pers-pectivas de crescimentoneste ano, mas diz que ain-da é cedo para cravar qual-quer número. “Ainda temmuita coisa para acontecerpara formar esse número,como a questão política, areformadaPrevidênciaqueserá discutida no Congres-so e o comportamento domercado internacional. Asvariáveis são muitas”.

Melocomentaqueapro-jeção de crescimento doBanco Mundial para o Bra-silde0,5%em2017,apesar

de pequena, já pode serconsideradaumgrandefei-toparaopaís.“Consideran-do que o PIB brasileiro caiucerca 8% nos últimos doisanos, meio ponto percen-tual jáéumbomsinal.Mas,claro, que ainda tem muitacoisa para acontecer”.

O professor da FundaçãoDomCabraleex-ministrodoTrabalhoedoPlanejamentoe Orçamento no governoFHC, Paulo Paiva, chama aatençãoqueparavoltaraterum PIB positivo, o governotemquecontrolarosgastosecontinuar perseguindo a re-duçãodataxadejuros.“Esseé um instrumento forte queo governo tem hoje para es-timular a economia”.

Se isso de fato aconte-cer, Eduardo Araújo, eco-nomista e vice-presidentedoCorecon,acreditaqueaSelic deve atingir 10% aofinaldesteanoe,em2018,ficar abaixo de dois dígi-tos. “As perspectivas para2017 são favoráveis”.

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Paulo Paiva diz que governo tem que controlar gastos e perseguir juros menores

ANÁLISE

Boa notícia para famílias e empresas

No que diz respeito àinflação, começamos oano com pé direito, in-flação dentro da metae abaixo do esperado.Parte desse resultadodeve-se ao trabalho doBanco Central, preocu-pado com os níveis dospreços, visto que em2015 tivemos inflaçãoacima dos 10%. Outrofator relevante foi afraca atividade econô-mica que assola o país.Essa notícia é boa nãosó porque inflação bai-xa mantém o poder decompra estável, mas,além disso, dá margempara o Banco Centralcontinuar reduzindo astaxas de juros. A deci-são do Banco Central

de reduzir em 0,75 p.p.a taxa de juros tem co-mo referência a infla-ção futura, entre 6 e 12meses, e sinaliza infla-ção no centro da metaou próximo dele em2017. Com isso, a ex-pectativa é que os juroscontinuem caindo aolongo do ano, chegan-do a 10,25%, reduzin-do o custo do crédito efavorecendo consumodas famílias e investi-mento das empresas.Esses elementos ten-dem a contribuir paraa melhora, mesmo quelenta, da nossa ativida-de econômica.—BRUNO FUNCHAL,PROFESSOR DE ECONOMIA DA FUCAPE

RETOMADA“Ainda que tenhamosmuitos problemas,como no mercado detrabalho e o elevadocusto da máquinapública, as quedasna inflação e nosjuros são um bominício de retomada”ROBERTO VERTAMATTIDIRETOR DA ANEFAC

Temer diz que serão abertas vagas de empregosBRASÍLIA

O presidente Michel Te-mer comemorou a quedade 0,75 ponto percentualnataxabásicadejuros(Se-lic). Por meio do porta-vozdo governo, Alexandre Pa-rola,Temerdissequeocor-te“respaldaaconvicçãodeque estão dados os ele-mentos para uma retoma-da do crescimento e dacriaçãodenovosempregosao longo do ano”.

PormeiodeParola,Te-mer enfatizou a reper-

cussão positiva que aqueda da inflação e dosjuros gerou no sistemabancário, citandoaredu-ção das taxas de jurosanunciada pelas institui-ções logo após a decisãodo Comitê de PolíticaMonetária (Copom).

A queda na taxa Selic,que não era reduzida hádois anos, teve sua tercei-ra redução consecutiva.

“Com o corte, abre-seespaço para que a taxa dejuros seja gradualmente

reduzida, de modo res-ponsável, consistente esustentável”, acrescen-tou o porta-voz do Palá-cio do Planalto.

Temer vinha dizendoque esperava uma quedados juros, mas destacouque não desejar “dar pal-pite nessa área, que é umaárea muito delicada”. Eletambém já afirmou que“certa e seguramente coma inflação caindo, natural-mente os juros irão cair”.(O Globo)

MARCELO CAMARGO/ABR - 02/12/2016

Temer avalia que reduções devem ser sustentáveis

CONVICÇÃO“O corte respalda aconvicção de queestão dados oselementos parauma retomada docrescimento e dacriação de novosempregos”ALEXANDRE PAROLAPORTA-VOZ DOGOVERNO TEMER