16
Informativo Nº 04 Brasília (DF) Novembro de 2011 InformANDES SINDICATO NACIONAL DOS DOCENTES DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR - ANDES-SN População se levanta contra a concentração de riqueza Onda de manifestações ancapitalistas é decorrente da crise econômica mundial, que tem origem no endividamento dos EUA S ufocadas pela falta de perspec- vas causada pela financeirização da economia sem bases reais, milhares de pessoas foram às ruas no dia 15 de outubro em todo o mundo. Juntaram-se o coro dos jovens que estão acampados, desde me- ados de setembro, na Praça Zuco, no coração de Wall Street. Auto intulados de “indignados”, os manifestantes protes- tam contra o atual modelo econômico, que concentra riquezas nas mãos de 1% da população, enquanto os outros 99% sofrem com a falta de empregos e com a ausência de polícas sociais. 8 a 12 Diretoria aponta eixo central de luta para 2012. 3 Tem início o processo de discussão para a reestruturação da carreira docente nas Instituições Federais de Ensino. 6 e 7 Em entrevista exclusiva, o ex- ministro da economia do Equador, Pedro Paez, compartilha a experiência da auditoria da dívida em seu país e fala sobre o projeto do Banco do Sul. 14 e 15 NEIL CUMMINGS

SINDICATO NACIONAL DOS DOCENTES DAS INSTITUIÇÕES …portal.andes.org.br/imprensa/noticias/imp-inf-592177428.pdf · ruas no dia 15 de outubro em todo o mundo. Juntaram-se o coro

Embed Size (px)

Citation preview

Informativo Nº 04

Brasília (DF) Novembro de 2011InformANDES

SINDICATO NACIONAL DOS DOCENTES DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR - ANDES-SN

População se levanta contra a concentração de riqueza

Onda de manifestações anticapitalistas é decorrente da crise econômica mundial, que tem origem no endividamento dos EUA

Sufocadas pela falta de perspecti-vas causada pela financeirização da economia sem bases reais, milhares de pessoas foram às ruas no dia 15 de outubro em

todo o mundo. Juntaram-se o coro dos jovens que estão acampados, desde me-ados de setembro, na Praça Zucotti, no coração de Wall Street. Auto intitulados de “indignados”, os manifestantes protes-

tam contra o atual modelo econômico, que concentra riquezas nas mãos de 1% da população, enquanto os outros 99% sofrem com a falta de empregos e com a ausência de políticas sociais. 8 a 12

Diretoria aponta eixo central de luta para 2012. 3

Tem início o processo de discussão para a reestruturação da carreira docente nas Instituições Federais de Ensino. 6 e 7

Em entrevista exclusiva, o ex-ministro da economia do Equador, Pedro Paez, compartilha a experiência da auditoria da dívida em seu país e fala sobre o projeto do Banco do Sul. 14 e 15

Nei

l Cu

mm

iNgs

InformANDES/20112

EXPEDIENTEO Informandes é uma publicação do ANDES-SN // site: www.andes.org.br // e-mail: [email protected] responsável: Luiz Henrique Schuch Redação: Renata Maffezoli, Rejane Medeiros Fotos: L. Schuch, Renata Maffezoli // Edição: Renata Maffezoli MTb 37322 // Diagramação: Ronaldo Alves DRT 5103-DF

Editorial 30 ANOS DE ANDES-SN

O primeiro congresso ordinário da As-sociação Nacional dos Docentes de Ensino Superior (ANDES) foi realizado em 1982, entre os dias 1 e 5 de fevereiro, em Flo-rianópolis (SC). Naquela época, a entidade não tinha caráter de Sindicato Nacional, adquirido apenas após a Constituição de 1988, no Congresso Extraordinário do Rio de Janeiro.

Revezaram-se na composição da mesa diretora do evento os professores Marco Antônio Sperb Leite, Agamenon Almeida, Sérgio Pires, Jorge Lorenzetti, Carlos Alberto Tomaz, Luis Pin-guelli Rosa, Flávio Valente, Rubens Pinto Lyra, Arlindo Raposo e Francisco José da Costa Alves.

Como eixos de luta gerais, os delegados participantes do 1º Congresso da ANDES aprovaram por aclamação uma maior articulação com os movimentos sociais, inserção na luta políti-ca democrática geral da sociedade e o repúdio aos casuísmos eleitorais do governo, pelas eleições diretas em todos os níveis com garantia de eleições livres e diretas em 82.

Nos plaNos de lutas específicos dos setores, os participaNtes do coNgresso aprovaram:

Articulação com movimentos sociais e eleições diretas compuseram eixo de lutas do 1º Congresso da ANDES

Para as Universidades Federais Autarquias• Reajuste semestral de salários• Reposição salarial e campanha

salarial para 82• 13º salário para os estatutários• Estabilização no emprego• Distorções da carreira

Para as Universidades Federais Fundacionais• Intensificação do debate sobre o projeto de Carreira Unificada 

• Continuidade da luta pela exclusão das IES Fundações do âmbito da Lei 6.733.

• Envio ao MEC de reivindicação de que o reajuste para as IES Fundações Federais, em março, seja de no mínimo INPC + 15%.

• Carga horária didática de, no 

máximo, 180 horas anuais• Isomeria salarial.

Para as Universidades Particulares • Carreira docente unificada• Estabilidade de emprego• Campanha salarial unificada• Acordos coletivos internos

nas IES• Democratização e autonomia 

da Universidade• Campanha de sindicalização

Para as Universidades Estaduais:• Campanha pelo reajuste se-

mestral• Luta pela eliminação do exame

de livre docência e concurso para professor adjunto

O emblema de uma entidade que orienta as suas lutas é a síntese dos seus princípios, construídos e praticados há muito tempo por milhares de seus integrantes.

Nós, do ANDES-SN, queremos ver cumprida a ex-pressão Ensino Público e Gratuito: Direito de todos, Dever do Estado. É isto que fundamenta todas as nossas lutas, sempre de forma articulada e integrada com os movimentos sociais organizados.

Temos reafirmado que a Educação Pública e Gra-tuita tem que ser assumida como prioridade para atender todos brasileiros e brasileiras em todos os níveis - do pré-escolar ao ensino superior.

Agora, no momento em que se discute no Con-gresso Nacional o Plano Nacional de Educação para a década, retomamos a nossa luta por 10% do PIB Para a Educação Pública, Já. Esta proposta foi apre-sentada há mais de dez anos pelos Congressos Na-cionais de Educação no Plano Nacional de Educação da Sociedade Brasileira, e vem sendo desconsidera-da irresponsavelmente pelo governo brasileiro, que está atrelado às conveniências dos interesses das finanças internacionais.

Entre o dia 6 de novembro e 6 de dezembro, acontece em todo o país um Plebiscito Nacional, realizado em conjunto com entidades educacionais, científicas, sindicatos e movimentos sociais. Para que sejamos vitoriosos, devemos nos engajar nesse processo e demonstrar ao governo a força da pro-posta do PNE da Sociedade Brasileira.

Mais adiante, de 15 a 20 de janeiro de 2012, reali-zaremos o 31º Congresso do ANDES-SN, em Manaus – AM, tendo como tema Caprichar na Educação, Ga-rantir Direitos dos Trabalhadores para Ter Futuro.

O mister da nossa atuação nos aproxima e deve nos mobilizar para fazer avançar as nossas pro-postas, acima do cumprimento formal, mais além, portanto, para fortalecer nosso campo de luta, hu-manizar nossas relações de existência e avançar no estabelecimento de um novo patamar de sociedade, na qual nada será para poucos e, efetivamente, tudo será para todos.

10% Para a Educação pública, Já!Caprichar na Educação, Garantir direitos

dos Trabalhadores para Ter Futuro.

Horizonte da Luta

InformANDES/2011 3

A defesa de me-lhores condi-ções de traba-lho, da qua-

lidade do ensino e da valorização do trabalho docente, fortalecendo o ANDES-SN como instru-mento de representação sindical, a partir da inten-sificação da organização da base e da unidade como movimento clas-sista e autônomo.

Esse é o eixo central de luta que será propos-to pela diretoria do Sindi-cato Nacional para 2012, durante o 31º Congresso da entidade, em Manaus (AM), que acontece entre os dias 15 e 20 de janeiro.

Análise de conjunturaA diretoria do ANDES-

-SN preparou, entre ou-tros textos, uma análise de conjuntura que será exposto ao debate du-rante o congresso. Se-gundo o documento, os acontecimentos do últi-mo semestre confirma-ram as análises realizadas pelo ANDES-SN nos seus últimos eventos.

A crise econômica (capitalista) mundial e a reação popular às suas raízes e conse-quências continuam ditando a situação de todos os países.

Os trabalhadores estão pagando pela crise. O pacote de austeridade grego, por exemplo, incluiu uma "taxa de solidarieda-de" (redução salarial) para os empregados (do setor privado ou público).

Diante da violência social dos ajustes (23 milhões de desempregados na União Européia (UE), e mais de 80 milhões de pobres), há propostas de não pagamento (moratória) da dívida pública, de criação de eurobônus (títulos públicos europeus), de criação de uma taxa sobre as transa-ções financeiras e até da retirada da UE dos países mais endividados, que assim poderiam desvalorizar suas moedas.

Com características e pontos de erupção variáveis, os danos decorrentes do apro-

fundamento do sistema se evidenciam em várias frentes.

Para os diretores do Sindicato Nacional, a crise ambiental, por exemplo, não é alheia ao modelo de acumulação do capital. A destruição da natureza corre paralela à destruição da força de trabalho: o capi-talismo está matando as duas fontes da riqueza social: a Terra e o Trabalho.

DocentesEm relação à categoria docente, como

em outras categorias, as transformações no mundo do trabalho somadas ao arro-cho salarial, agravaram a precarização do trabalho. Há pesquisas que evidenciam a intensificação do adoecimento atribuível às condições da atividade docente, inclusive com relatos de mortes e suicídios.

Diversos estudos já apontam claramente para certos determinantes sociais que

podem levar ao adoe-cimento, como excesso de trabalho, estresse constante, tempo não definido para o trabalho e o não trabalho, assédio moral, falta de condições materiais e deterioração das relações no trabalho, exigências do produtivis-mo, entre outros.

A análise de conjun-tura destaca ainda que o ano de 2011 foi o da retomada e ampliação das lutas do setor da educação: as ocupações estudantis, bem como as mobilizações e as gre-ves de trabalhadores da educação de sul a norte do país denunciaram de forma contundente o estado da educação pú-blica da escola básica à universidade, e, ao mes-mo tempo, afirmaram que só com aumento de investimento pode-se realizar uma efetiva am-pliação com qualidade da rede de ensino público e, especialmente, melho-rias na infra-estrutura, formação dos trabalha-dores, planos de cargos e salários e o respeito ao piso conquistado pela ca-tegoria de trabalhadores

da educação básica. A crise mundial do capital, as lutas dos

trabalhadores e da juventude no mundo inteiro, as lutas na América Latina, exigem da classe trabalhadora brasileira o compa-recimento a este novo encontro histórico. No momento, as lutas seguem no Brasil. Diversas greves têm ocorrido, tanto no setor público quanto no setor privado, com destaque para greves operárias na cons-trução civil, nas obras da Copa (estádios), entre os metalúrgicos das montadoras e auto-peças, além de outros setores.

A diretoria conclui destacando que “o ANDES-SN envida seu esforço, na sua trincheira de luta específica, para que os intelectuais e trabalhadores da educação básica e superior do Brasil não estejam ausentes nesta nova encruzilhada da his-tória da luta de classes”.

31º Congresso

Diretoria aponta eixo central de luta para 2012

Fazendo alusão à cultura popular do Amazonas, o evento terá como tema “Caprichar na Educação, Garantir Direitos dos Trabalhadores para Ter Futuro”.

InformANDES/20114

Docentes das Instituições Es-taduais e Municipais de Ensi-no Superior (Iees/Imes) e das Instituições Particulares de

Ensino Superior (Ipes) participaram de encontros dos setores no final de outubro e elaboraram sugestões para compor o plano de lutas do Sindicato Nacional para 2012. As propostas serão encaminhadas para o 31º Congresso do ANDES-SN, que acontece em janeiro do próximo ano.

Iees/ImesOs representantes das Iees/Imes se

reuniram no Rio de Janeiro, entre os dias 21 e 23 de outubro para o 8º Encontro do Setor. Durante o sábado (22), os partici-pantes se dividiram em grupos de trabalho para sugerir elementos ao Plano de Luta do Setor que será encaminhado para o Congresso de Manaus (AM).

Entre as propostas apresentadas estão a necessidade de organizar fóruns estaduais dos três segmentos (docentes, discentes e

técnico-administrativos), seguir na defesa da democracia da escolha dos dirigentes e regularizar a destinação dos recursos orçamentários das instituições.

Além disso, o setor propõe alterar e, se necessário, criar instrumentos cons-titucionais nas esferas federal, estadual e municipal, que assegurem percentual orçamentário, para garantir os recursos às universidades estaduais e municipais.

As deliberações contemplam também a luta pelo estabelecimento da licença sindical, para exercício de mandato eletivo, no âmbito dos municípios, dos estados e da união.

Foi aprovado ainda lutar contra polí-ticas ou programas governamentais que interferem na autonomia universitária no âmbito das Instituições de Ensino Superior (IES) e contra o atual modelo de financia-mento das IES.

IpesApontar eixos nacionais para servir de

referência a todos os docentes das Ipes foi um dos encaminhamentos deliberados durante o Encontro do Setor, realizado em Brasília nos dias 29 e 30 de outubro.

Os participantes do evento discutiram

Movimento DocenteMovimento Docente

Após encontros, setores apresentam elementos para planos de luta

Docentes das Iees e Imes de todo o Brasil se reuniram para debater a democracia e autonomia universitária nas instituições

Os representantes se dividiram em grupos de trabalho para sugerir elementos ao Plano de Luta do Setor

InformANDES/2011 5

o Plano de Lutas do Setor das Privadas aprovado no último congresso do ANDES--SN, para o ano de 2011. Eles avaliaram o que foi implementado e o que ainda precisa ser aprimorado.

Entre os novos pontos sugeridos para compor o Plano de Lutas para 2012, que será aprovado no 31º Congresso do ANDES-SN, está o aprofundamento do diagnóstico a respeito do setor como base para novas ações em defesa dos docentes, da sua representação no ANDES-SN e de pautas de reivindicações que potenciali-zem a luta.

Estudo sobre a situação nas IpesDurante o encontro, foi apresentado

um levantamento preliminar sobre as condições de trabalho e o perfil dos do-centes no setor das Privadas, realizado pela subseção do Dieese/ANDES-SN. Os participantes apontaram uma série de recomendações para aprofundamento do estudo.

Segundo Marco Aurélio Ribeiro, 2º vice--presidente da Regional SP do ANDES-SN e presidente da Associação dos Docentes da Universidade Metodista de Piracicaba (Adunimep - Seção Sindical) a realização desta pesquisa mostra um avanço no Setor das Ipes do ANDES-SN. “Há três gestões se tenta fazer uma pesquisa sobre a situação dos docentes das Ipes. O trabalho está sendo construído e o estudo será agora aprimorado, a partir dos diversos olhares dos participantes do encontro”, lembrou o diretor do ANDES-SN.

Entre outros dados, o levantamento aponta o baixo índice de permanência dos professores nessas instituições. De acordo com o estudo, a maioria permanece entre 6 a 24 meses no mesmo emprego, em condi-ções contratuais precárias e emergenciais. Há uma tênue estabilidade a partir de 120 meses de contrato, mas poucos professores chegam a se aposentar nas Ipes.

Em relação à proporção de professores doutores nas Particulares, o estudo mostra que das 2069 Ipes, 1769 são particula-res e 290 comunitárias e confessionais. Enquanto o total das particulares possui 19 mil doutores no seu corpo docente, as comunitárias e confessionais, juntas, empregam quase 12 mil professores com doutorado.

Para Ribeiro, com base no aprimora-mento do estudo, o Sindicato Nacional deve agora seguir o caminho político de retomar a história de lutas dos docentes das Ipes, reativando a mobilização neste setor.

Movimento Docente

Para Ribeiro, o aprofundamento do estudo feito pelo Dieese ajudará a reativar a mobilização no setor das Ipes

Representantes das Ipes discutiram a necessidade de novas ações em defesa dos docentes nas universidades privadas

InformANDES/20116

Depois de duas reuniões cance-ladas, foi dado início no dia 11 de novembro ao processo de discussão para a reestruturação

da carreira docente nas Instituições Fede-rais de Ensino.

Mais uma vez o secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento (MP), Duvanier Paiva, criou obstáculo à participação do Sinasefe. Depois de um de-bate preliminar no qual ANDES-SN e Proifes defenderam enfaticamente a participação, Paiva autorizou a presença de dirigentes do Sinasefe apenas como observadores.

Foram apresentadas quatro propostas, sendo que a quarta (do Sinasefe) não foi aceita oficialmente pelo governo uma vez que, segundo o secretário do MP, ainda não foi confirmada a participação da entidade no processo de negociação. A proposta apresentada pelo Sinasefe, tanto em termos de conceito quanto de estru-tura é muito semelhante à do ANDES-SN.

“Valendo-se da prerrogativa constitu-cional de ter a exclusividade na iniciativa

de projetos que tratem de remuneração e carreira dos servidores públicos, isto é, o que não assinar não vai acontecer, o po-der Executivo tem abusado da arrogância e da intransigência, que só poderão ser revertidas com a mobilização das catego-rias e com disposição de luta”, comentou Luiz Henrique Schuch, vice-presidente do ANDES-SN e coordenador do setor das Ifes.

As propostasO ANDES-SN foi a primeira entidade a

apresentar sua proposta, já amplamente conhecida e divulgada junto aos docentes, que mantém conexão com o Plano Único de Classificação e Retribuição de Cargos e Empregos (PUCRCE).

O projeto de carreira defendido pelo Sindicato Nacional preserva a autonomia universitária e a indissociabilidade entre pesquisa, ensino e extensão, buscando a manutenção do padrão de qualidade.

A proposta prevê a unificação das carreiras e cargos do professor federal e valoriza a dedicação exclusiva como regime de trabalho prioritário. O plano apresentado pelo ANDES-SN propõe carreira com 13 níveis, com ingresso no nível inicial através de concurso público.

O Sindicato Nacional defende ainda uma linha só no contracheque, resultante da interseção das remunerações por nível, regime de trabalho e titulação.

Em sua fala, o Proifes defendeu seus

Movimento Docente

Propostas de carreira não trazem novidades

Em sua apresentação, o diretor do ANDES-SN lembrou que a luta pela carreira docente é uma das bandeiras históricas do Sindicato Nacional

InformANDES/2011 7

princípios de carreira e apresentou a es-trutura de uma tabela remuneratória, na qual a carreira permanece com 17 passos, divididos em classes e níveis. O ingresso, segundo o Proifes, também deve se dar no início da carreira, através de concurso público.

Um ponto de consenso entre a pro-posta apresentada pelo Proifes e a que foi defendida posteriormente pelo go-verno é a divisão da remuneração em Vencimento Básico (VB) e Retribuição por Titulação (RT), mantendo duas linhas no contracheque.

O governo propôs a criação de uma nova classe – Sênior – com quatro níveis, abaixo do titular. Dessa forma, o plano de carreira docente passaria a ter 21 passos - entre início e topo.

“Sob a aparência de alongamento e melhoria do teto da carreira, o governo empurra seu início para baixo. Com isso, em uma só tacada, retira atratividade para ingresso na carreira docente, im-põe novamente drástica desvalorização das aposentadorias e pensões, além de promover perda relativa na transposi-ção de todos. Mais grave ainda, insiste

em condicionar a evolução na carreira, a obtenção de pontos em um processo remetido para futuras regulamentações. Uma demonstração eloqüente do que isto significa é a amarga experiência recente sobre a regulamentação de progressão na carreira do ensino básico técnico e tecnológico”, avalia diretor do ANDES-SN.

O projeto apresentando pelos represen-tantes dos ministérios do Planejamento e da Educação prevê critérios diferenciados para a progressão entre níveis e promo-ção entre classes. Para a progressão, por exemplo, são três exigências concomitan-tes: cumprimento de um número mínimo de horas aula na graduação, 18 meses de interstício e no mínimo 70% de pontua-ção no processo de avaliação, que será regulamentado posteriormente.

“Ficou mais uma vez evidente que o Ministério do Planejamento quer mudar o regime que regra as relações de trabalho dos docentes das Instituições Federais de Ensino e, neste aspecto, não se move do projeto de 2010, elaborado ainda no Governo Lula, apesar de toda a argumen-tação contrária apresentada desde então pelo ANDES-SN e incluída no memorial

de transição entre governos. Neste caso, demarcar a mudança de regime é cons-tituir base legal para retirada de direitos, entre os quais, as férias de 45 dias é só um exemplo”, observa Schuch.

O vice-presidente do ANDES-SN ressalta que, sem ilusões, o Sindicato Nacional tem considerado, até o mo-mento, que deve continuar presente na negociação, mantendo a postura de iniciativa política, dando visibilidade ao que ocorre, desnudando as intenções do governo quanto ao conteúdo da carreira e ao significado real que pretende dar ao que denomina ser uma mesa de ne-gociações permanente.

Movimento Docente

ageNda24 de novembro Reunião do GT para cotejar

as propostas apresentadas, identificando convergências e divergências.

01 de dezembro Reunião do GT para preparar a oficina do dia 8 de dezembro.

08 de dezembro Oficina para debater as polêmicas, elaborar a síntese do trabalho realizado em 2011 e preparar a agenda para 2012.

Proposta apresentada pelo Ministério do Planejamento traz os mesmos elementos do plano elaborado em 2010, durante governo Lula

Arte

Ced

idA

pelA

Adu

frj

- se

ção

siN

diCA

l

InformANDES/20118Matéria Central

Sufocadas pela falta de perspectivas causada pela financeirização da economia sem bases reais, milhares de pessoas foram às ruas no dia 15

de outubro em todo o mundo. Juntaram-se ao coro dos jovens que estão acampados, desde meados de setembro, na Praça Zucotti, no coração de Wall Street. Auto intitulados “indignados”, os manifestantes

protestam contra o atual modelo econô-mico, que concentra riquezas nas mãos de 1% da população, enquanto os outros 99% sofrem com a falta de empregos e com a ausência de políticas sociais.

“Há uma sensação de desesperança e às vezes desespero”, avaliou o lingüista Noam Chomsky, em evento que partici-pou durante as atividades do Ocupe Wall Street. Para Chomsky, ao contrário do que ocorreu em momentos anteriores, hoje as pessoas não vislumbram alternativas. “Se as políticas atuais persistirem, os empregos perdidos hoje desaparecerão para sempre”, analisa em artigo publicado no site Carta Maior.

Para o 3º vice-presidente e coorde-nador de Relações Internacionais do ANDES-SN, historiador Osvaldo Coggiola, a onda de manifestações anticapitalistas é decorrente da crise econômica mundial e do imperialismo, que tem gerado de-missões e cortes de salários pelo mundo todo. Essa posição coincide com Chomsky quando critica a classe política.

“Os políticos, confrontados com os altos custos das campanhas eleitorais, afundaram profundamente nos bolsos de quem os apoia com dinheiro”, de-nunciou. Em troca, aprovaram políticas favoráveis a Wall Street: desregulação, transferências fiscais, relaxamento das

População se levanta contra a concentração de riquezaA onda de manifestações é decorrente da crise econômica mundial e do imperialismo

foto

s de

dAv

id s

hAN

kboN

e

Ocupando o centro financeiro dos EUA desde setembro, os norte-americanos protestam contra exploração do capital

InformANDES/2011 9Matéria Central

Para o historiador Osvaldo Coggiola, o centro da crise mundial são os Estados Uni-dos, apesar dos desdobramentos recentes na Europa. Devendo o equivalente a todo o seu PIB (Produto Interno Bruto), a maior economia do planeta há muito tempo não paga o principal da sua dívida de US$ 14 trilhões, apenas a renova. Caso o Congres-so americano não tivesse elevado o teto da dívida, em julho passado, o caos financeiro estaria instalado no mundo inteiro.

A China é detentora de 25,7% dos títulos emitidos pelos Estados Unidos para rolar a sua dívida mobiliária. E até o Brasil é credor dos americanos, respondendo por 4,6% dos créditos. Caso os Estados Unidos se vissem obrigados a não rolar essas dívidas, haveria um problema de liquidez em todo o mundo.

E é para evitar as “crises de confiança” que a União Europeia tem “ajudado” a Gré-cia e outros países da Zona do Euro. Cog-giola explica que o problema foi causado porque os estados periféricos, aproveitando os juros baixos, endividaram-se em Euro.

O banco belga Dexia detém EUR 4,8 bi-lhões de títulos gregos e tem um passivo de EUR 420 bilhões, que equivale a 150% do PIB da Bélgica. A União Européia precisa, então, garantir que pelo menos os títulos gregos tenham condições de ser rolados. “Quando se fala em salvar a Grécia, fala-se, na verdade, em salvar os bancos franceses e alemães expostos à ‘tragédia grega’”, exemplifica Coggiola.

Para o professor, essa situação mostra

que as instituições construídas ao longo de mais de meio século não conseguiram resolver a desigualdade econômica entre os países europeus, agravada com a adesão dos países do Leste europeu, nem criar um sistema supranacional capaz de reagir de forma rápida e unificada a crises nacionais ou setoriais.

Dentro da visão neoliberal, a única al-ternativa será mesmo ajudar os países em crise, sob a imposição de pesadas restri-ções orçamentárias e fiscais, o que pode (e vai) causar problemas sociais. Na Espanha, por exemplo, os partidos nacionalistas e de esquerda votaram contra a reforma constitucional que estabeleceu prioridade para o pagamento da dívida, porque a nova regra serviria para quebrar o pagamento das comunidades autônomas (País Basco e Catalunha). Ou seja, abre a possibilidade da desintregação política da Espanha, prevê Coggiola.

Outra saída seria a retirada dos países periféricos da Zona do Euro, “mas ela não seria a solução, pois isso custaria a um país periférico entre 40% a 50% do PIB e a um país central, de 20% a 25%”, contabiliza o historiador.

Acuados pela crise, os governantes des-ses países não conseguem vislumbrar nada além do que manter a roda da especulação financeira. Ao final, os banqueiros conti-nuarão acumulando capital e a sociedade sofrendo com o desemprego em massa. É contra essa situação que os jovens do mun-do todo estão protestando.

Origem da crise está no endividamento dos EUA

Principais Credores do Tesouro dos EUA

InformANDES/201110Matéria Central

regras da administração corporativas, o que intensificou o círculo vicioso. O colapso era inevitável”, enumerou.

Para o ativista e pensador paquistanês Tariq Ali, também em artigo publicado do site Carta Maior, os jovens estão ocupan-do as praças porque não estão encon-trando respostas na política tradicional. As manifestações aumentaram agora no Ocidente porque a forma de capitalismo vigente estrangula a democracia e a res-ponsabilidade democrática. “E por isso não tem oposição na Grã Bretanha. Não tem oposição nos EUA. Não tem oposição na França, Espanha ou Grécia. E são os partidos de centro esquerda na Espanha e na Grécia que estão impondo políticas hostis”, afirmou.

Diante dessa situação, segundo Tariq Ali, os jovens sentem que ninguém vai ajudá--los a menos que façam algo eles mesmos. “Por isso estão fazendo o que sabem fazer: marchar, manifestar-se e ocupar”, analisa.

Os movimentos são heterogêneos, apesar de terem em comum a organização pelas redes sociais e um inconformismo contra a atual fase de acumulação capi-talista. Enquanto europeus e americanos protestam contra a falta de empregos, brasileiros do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Brasília, entre outras cidades, realizaram grandes marchas nos dias 7 de setembro e 12 de outubro contra a corrupção e pela aplicação da lei da ficha limpa. Segundo a Polícia Militar, a capital federal reuniu o maior número

de manifestantes: 40 mil em setembro e sete mil em outubro.

Durante o ano, estudantes foram às ruas contra o aumento das passagens e ocuparam reitorias por mais democracia e pela melhoria da infra-estrutura das universidades. No Chile e na Inglaterra, assim como em outras nações, os alunos também tomam as ruas reivindicando mais investimentos na Educação.

Daqui para frenteA preocupação do ativista é com o fu-

turo. Apesar de considerar as ocupações como um primeiro passo, que mostra ma mudança na consciência política, é preciso a criação de novas formações políticas.

Já para Coggiola, apesar de esses movi-mentos não serem nitidamente classistas, têm uma certa condição interclassista, promovem a primeira reação à atual crise capitalista protagonizada pela juventude. Para os dois historiadores, o capitalismo não está ameaçado, apesar da crescente conscientização da sociedade de que o regime é ruim.

“O capitalismo já passou antes por numerosas crises e as resolve. Passará por mais esta, a menos que surja uma alternativa. Esses levantes e ocupações são extremamente importantes, e os apóio totalmente; mas sozinhos não bastam. O que mostram é uma nova geração que viu para além das mentiras do neoliberalismo ou da privatização, da cobiça capitalista”, assinala Tariq Ali.

“A situação é de extrema crise do capital, mas daí a significar a derrocada são outros quinhentos”, avalia Coggiola. A derrocada do capitalismo, segundo o dire-tor do ANDES-SN, só poderá ser produto de movimentos classistas independentes.

Para Chomsky, é inevitável que as mobilizações enfrentem dificuldades e fracassos. Ele lembra que não se pode lançar iniciativas significativas sem uma ampla e ativa base popular, por isso é necessário que o movimento Ocupe Wall

foto

s de

dAv

id s

hAN

kboN

e

InformANDES/2011 11Matéria Central

Durante o ano de 2011, Brasília assistiu a tomada da Esplanada por trabalha-dores de diversas categorias. Depois de três marchas organizadas no primeiro semestre, em agosto um coletivo de movimentos sociais, entidades e cen-trais sindicais organizou uma Jornada Nacional de Lutas que culminou em uma grande manifestação na capital brasileira. No dia 24 de agosto, mais de 20 mil pessoas ocuparam a Esplanadas dos Ministé-rios na Marcha Nacional de Lutas em Brasília para reivindicar, entre outros pontos, mais recursos para a educação.

A Jornada Nacional de Lutas ainda defendeu os serviços públicos e os direitos dos servidores, a previdência pública e o fim do fator previdenciário, au-

mento geral dos salários, redução da jor-nada sem redução de salários, suspensão do pagamento da divida externa e interna, fim da criminalização da pobreza e dos

movimentos sociais. A cobrança pela aplica-ção imediata de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) na Educação Pública teve destaque na mani-festação. A reivindicação ganha força agora com a realização entre os meses de novembro e dezembro de um Plebiscito Popular. Brasileiros e brasileiras maiores de 16 anos pode-rão expressar a sua insa-tisfação frente ao descaso dos governos municipais, estaduais e federal com a

educação no país e pressionar os gover-nantes por mudanças na prioridade de investimento do dinheiro público.

Street cresça, para que cada um saiba das conseqüências de não fazer nada. “Orga-nizar uma base assim implica educação e ativismo. E uma variante que convém ter em conta é que, se queremos com mais força mudar o mundo, vamos entendê-lo. Isso não significa escutar uma palestra ou ler um livro, embora essas coisas às vezes ajudem. Aprende-se a participar. Aprende-se com os demais. Aprende-se com as pessoas com quem se quer orga-nizar”, ensina.

Movimentos organizados também tomam as ruas no Brasil

Na última marcha realizada na Esplanada, a luta por mais investimentos na Educação Pública foi uma das principais reivindicações

InformANDES/201112 Mundo do Trabalho

Enquanto as organizações mundiais dizem que vai faltar comida, água e emprego num futuro próximo, a realidade mostra que essa es-

cassez já atinge vários países. Se não, o que dizer das crianças subnutridas no continente africano, das consequências das secas no sertão brasileiro, e do con-tingente de desempregados em regiões do mundo.

A escassez de emprego, problema recorrente nos países periféricos, agora começa a atingir as grandes potências mundiais, como resultado dos pacotes de austeridade adotados por diversas nações como forma de conter a crise financeira que assola o mundo capitalista desde 2008.

Um estudo recente da Organização Mundial do Trabalho (OIT) aponta que

a economia mundial está prestes a viver um período de “recessão de novos em-pregos”, o que segundo a instituição irá atrasar a recuperação econômica global e pode gerar novos conflitos sociais.

O Relatório sobre o Trabalho no Mundo 2011: os Mercados a Serviço do Emprego, desenvolvido pelo Instituto Internacional de Estudos Trabalhistas (cuja sigla em in-glês é IILS), vinculado à OIT, foi elaborado com base em informações de 118 países.

Das nações pesquisadas 45 apresen-taram evidências de tensões sociais. Se-gundo os analistas da OIT, essa tendência ocorre na União Europeia, nos países árabes e, em menor escala, na Ásia. Na América Latina, esse risco é considerado baixo. Mais da metade dos trabalhadores entrevistados em 99 países pesquisados admitem não confiar nos seus governos.

Outro dado alarmante, que já eviden-ciava que a precariedade do trabalho deixou de ser um problema dos países periféricos, foi constatado na pesquisa realizada no ano passado pela OIT, que classifica a qualidade do emprego. De acordo com o levantamento, o aumento do índice de empregos informais, caracte-rística das economias de ‘terceiro mundo’ nas últimas décadas, é uma tendência que tem se consolidado também nos países desenvolvidos.

O quadro apontado pelo estudo da OIT denuncia ainda uma política de reserva de mercado nacionalista e xenófoba em alguns países desenvolvidos como Esta-dos Unidos e Grã Bretanha, onde a grande maioria dos trabalhadores informais é composta por refugiados, imigrantes, imigrantes ilegais, afro-descendentes e latinos.

Já o recente relatório “Uma Proteção Social por uma Globalização Justa e Inclu-siva” feito pela Organização das Nações Unidas (ONU) e apresentado na última reunião do G20 em Cannes, na França, mostra que dois terços da população mundial, ou seja, 5,1 bilhões de pessoas, não dispõem de benefícios sociais traba-lhistas. Apenas 15% dos desempregados no mundo recebem seguro-desemprego.

O levantamento, coordenado pela ex--presidente do Chile, Michelle Bachelet sugere que a concessão benefícios sociais possibilitaria aos países avançar economi-camente e atenuaria as tensões sociais.

Governos buscam alternativas para acalmar tensões sociais

InformANDES/2011 13 Mundo do Trabalho

A teoria da ONU pode ser percebida, em parte, na realidade brasileira. A cria-ção de uma série de programas sociais, que tiveram início na gestão FHC e foram ampliadas no governo Lula da Silva e continuadas pela presidente Dilma Rous-sef, são usadas segundo o argumento dos governantes, como instrumento para justificar o modelo econômico do país e a retirada de milhões da miséria. No contexto global, se referem ainda à contensão das tensões sociais.

Em recente visita à Bruxelas, a presi-dente Dilma Rousseff reforçou a ideia apontada pela ONU, defendendo a ado-ção de medidas que combatam a fome e a pobreza como meios de melhorar a qualidade de vida da população e pro-porcionar condições para os avanços econômicos.

Política do Pão e CircoNo entanto, contrariando a expecta-

tiva dos governantes e dos organizamos internacionais, as medidas sociais ado-tadas até o momento já não são capazes de conter a insatisfação popular. Prova disso é que o ano de 2011 foi marcado até o momento por uma série de greves

e manifestações de diferentes categorias de trabalhadores.

“A sugestão do relatório da ONU lembra a política dos déspotas da idade média que recomendavam pão e circo para conseguir aprofundar até o extremo o regime estruturalmente excludente e espoliativo ao povo, sem romper com a coesão social”, observa Marina Barbosa, presidente do ANDES-SN.

A presidente Dilma vem anunciando que o crescimento do Brasil sofrerá me-nos com a atual crise do que em 2008 e que pretende manter “de um lado as condições de solidez macroeconômica que temos e, de outro, de dar prioridade às políticas de investimento”, afirmou à imprensa.

Porém, o resultado do modelo de investimento aplicado até o momento pelo governo, ancorado em altas taxas de juros, vem incentivando o lucro de grandes empresários e banqueiros, como o Plano Brasil Maior, mas não tem garantido ao país índices dignos da 7ª economia mundial.

A gigantesca dívida social brasileira é evidenciada em números contundentes: são 14,2 milhões de analfabetos, ou 10%

da população brasileira com mais de 15 anos; 14,2 milhões de desempregados; um déficit habitacional de 8 milhões de moradias, além de 11,2 milhões de domicílios inadequados; 46,2 milhões de pobres e 10,7 milhões de famintos e cerca de 50% da população sem acesso à saneamento básico, segundos dados da Auditoria Cidadã da Dívida.

Com base nesse quadro, Marina lem-bra que os benefícios sociais devem ter caráter emergencial e não permanente e só são válidos se aliados a uma série de outros investimentos que realmente con-tribuam com a melhora da qualidade de vida da população. Tal realidade só será possível com a superação da condição de exploração, com a transformação da condição de espoliado em ator social e político, o que exige do Estado políticas estruturais e universais.

“É insuficiente conceder bolsa família, bolsa escola, e tantas outras medidas assistencialistas, enquanto os investi-mentos em Saúde Pública, Educação e Saneamento, estão muito aquém do necessário para avançarmos enquanto sociedade democrática”, observa a pre-sidente do Sindicato Nacional.

InformANDES/201114Entrevista

Experiência equatoriana mostra que é possível ser feito

Em outubro, a Auditoria Cidadã da Dívida realizou em Brasília (DF) o III Seminário Internacional Latino-Americano “Alternativas de Enfrentamento à Crise”. O evento teve como objetivo debater as verdadeiras causas da crise financeira, ambiental, alimentar e social

que aflige todos os continentes e que têm como pano de fundo a especulação financeira e o modelo de acumulação capitalista.Entre os palestrantes, o ex-ministro da economia do Equador Pedro Paez foi convidado para discutir a importância do Banco do Sul e também compartilhar a bem sucedida experiência da auditoria da dívida em seu país. Atualmente, Paez é presidente da Comissão Técnica presidencial equatoriana para o desenho da nova arquitetura financeira regional e Banco do Sul.Em 2007, o governo federal iniciou uma auditoria da dívida pública do Equador, cujo relatório foi entregue em 2008 e teve grande repercussão no cenário econômico mundial. Em 2009, o presidente equatoriano, Rafael Corrêa, cancelou grande parte da dívida do país, representada pelos bônus Global 2012 e 2030. Os dois bônus juntos correspondiam a 85% da dívida externa comercial do Equador. Um total de 91% dos detentores dos bônus aceitou a proposta equatoriana de reconhecer apenas entre 30 e 35% do valor total da dívida. Os mais de 65% reduzidos chegaram a cerca de US$ 2 bilhões. A economia total equivaleu a mais de US$ 7 bilhões até 2030.Durante sua passagem pela capital federal, Paez conversou com o ANDES-SN sobre a experiência da reestruturação financeira de seu país, a repercussão da auditoria para o Equador. Explicou ainda por que defende a criação de um banco de desenvolvimento para o Sul e ainda uma nova arquitetura para a economia latino-americana.

Durante seminário internacional, Paez apresentou, junto com representantes de vários países, alternativas de enfrentamento da crise

"Não pretendemos ser exemplo para nada. Acreditamos, como diz Paulo Freire, que todos temos que aprender com todos."

reiN

Ald

o fe

rrig

No/

Ag.

Câm

ArA

gust

Avo

lim

A/A

g. C

âm

ArA

InformANDES/2011 15

ANDES-SN: O senhor pode explicar o processo de auditoria e cancelamento de parte da dívida em seu país?

Pedro Paez: É importante dizer que houve anteriormente algumas reestrutu-rações da dívida equatoriana, com o plano Brady, com o terremoto de 1987 e com a crise bancaria em 1998. Foram feitos di-ferentes tipos de reestruturação, algumas umas involuntárias e outras promovidas pelos próprios EUA, e em nenhum desses casos houve um real alivio da divida.

Quando anunciamos a auditoria, os preços da dívida equatoriana nos mercados secun-dários começaram a cair. Quando finalmente apareceu o relatório em setembro de 2008 os preços no mercado secundário chegaram a 15 centavos por dólar da dívida nominal. Isso permitiu que o governo definisse uma estra-tégia para cada um dos segmentos da dívida.

Para aquele que correspondia à dívida comercial se decidiu que, através de várias empresas públicas, se recompraria a dívida no mercado secundário. Isso porque havia uma cláusula que impedia que o governo comprasse diretamente. E obviamente no momento em que houve compras significa-tivas, o preço no mercado secundário subiu um pouco, mas em média o desconto foi em cerca de 70%. Até o momento, a eco-nomia com os serviços da dívida comercial permitiu que o governo melhorasse a capa-cidade de aplicação de recursos em inves-timentos sociais como Educação e Saúde.

SN: O que chamou a atenção durante o processo?

PP: Algo que foi evidenciado durante a au-ditoria da dívida do Equador é que alguns no-mes apareciam tanto de um lado quanto de outro. O mesmo acontece em outros países como a Grécia, Argentina, Brasil. Goldman Sachs, JPMorgan Chase, Merril Lynch, Bank of America, City Group aparecem nos dois lados da mesa de negociação: como contratados para realizar as negociações em nome do governo e também do lado dos compradores, em muitos casos reestruturando e em tantos outros também comprando a dívida do país.

SN: O senhor acredita que Equador possa servir como exemplo para outros países?

PP: Não pretendemos ser exemplo para nada. Acreditamos, como diz Paulo Freire, que todos temos que aprender com todos. O que a experiência equatoriana mostra é que é possível ser feito. Em segundo, aponta que devem haver problemas muito sérios em contratos das dívidas. Pois esses contratos, por serem públicos, deveriam ser transparentes, publicizados. Então,

cabe a pergunta: quem se opõe à audi-toria e à transparência nos mercados?

Quando o Equador anunciou a audito-ria, foi tratado muito mal pelo mercado financeiro e por muitos economistas, in-clusive aqueles progressistas, que viam o país como um maverick, como um Estado rebelde, populista. Mesmo dentro da Amé-rica Latina houve países que não se soli-darizaram com o Equador, inclusive países com governos de partidos progressistas.

SN: E por que alguns governos se opõem?

PP: Essa é uma pergunta que deve ser feita pela sociedade. Se eu não tenho nada a esconder por que me oponho que seja transparente? A auditoria deveria ser um procedimento obrigatório, generalizado e padronizado. Os primeiros a querer deveriam ser os governos, não só dos países deve-dores, mas também dos países credores.

SN: O senhor acredita que haja indícios de mecanismos transferência da dívida?

PP: Sim, e isso já ocorreu anteriormente. Teve início nos anos 70 com as ditadu-ras no Chile, na Argentina, no Brasil e em outros países da América Latina, com a participação dos Chicago Boys e o aparato norte-americano. Se estendeu por todo o continente latino-americano nos anos 80 e se prolonga nos anos 90 com os consensos de Washington e de Santiago. A transfe-rência de recursos nos anos 80 através da dívida foi fundamental para a recuperação da taxa de lucro nos países do norte.

Boa parte da integração e estruturação que se havia construído em décadas anterio-res, com o propósito de avançar na unidade latino-americana e na independência do pro-jeto frente às pressões transnacionais, frente

às pressões imperiais terminou vendendo-se ao mesmo interesse do norte, à mesma ide-ologia do norte, à mesma epistemologia que vem do norte. O pensamento único terminou gerando um processo de “adequação”.

SN: Por isso é o senhor acredita que seja importante um Banco do Sul? Para barrar essa tentativa de transferência da crise?

PP: Nós acreditamos que não só o Banco do Sul, mas toda uma nova arquitetura finan-ceira que anos tem que ser a base para apon-tar para transformações mais estruturais, não só da nossa economia, senão de nossa sociedade e também de nossa ideologia. Por-que seguimos prisioneiros, inclusive no caso de importantes intelectuais e economistas progressistas, do pensamento único que vem do Norte. Seguimos prisioneiros da episte-mologia e dos valores e tipos de ideia que vêm sendo difundidos pelas universidades do norte, pelo Fundo Monetário Internacional e pelo Banco Mundial. Se vem plantando a necessidade de três pilares fundamentais, mas que não são únicos: de um banco de desenvolvimento, de um novo tipo logo uma moeda regional e, em terceiro lugar, uma alternativa regional ao FMI. No primeiro pilar já estamos avançando com o Banco do Sul.

SN: O que mudaria para a economia dos países com o Banco do Sul?

PP: É um banco para um novo tipo de desenvolvimento, com outras prioridades de financiamento. Ao mesmo tempo, é um novo banco para o desenvolvimento, que tem um funcionamento bancário e financeiro diferente. O projeto permite que os países não se endividem em mo-eda estrangeira – moeda extra-regional que não tem capacidade de ser gerada localmente – o que gera um ciclo vicioso, de maior dependência, o que caracteriza atualmente a subordinação e o atraso da maioria dos países da America Latina.

Nesse sentido ressaltamos a importância do Banco do Sul com um funcionamento distinto, através do qual um país pode pedir um empréstimo com uma seção em dólar, mas também com moedas nacionais dos países irmãos e com a eventualidade de uma moeda regional, a qual não só vá facilitar o pagamento, mas que também se converta num incentivo para a integração produtiva do continente. Esse é um cenário de inte-gração muito distinto do cenário ao mera-mente comercial que predomina nos atuais marcos de integração latino-americanos. Este é um elemento central para a sobre-vivência da America Lsatina nas condições das crises mundiais em que vivemos.

Entrevista

Para Paez,sociedade deve exigir que todos os contratos da dívida pública do país sejam transparentes

InformANDES/201116Campanha