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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO VEZ DO MESTRE SÍNDROME CEREBELAR: Alterações no controle motor decorrentes de lesões cerebelares Por: Alina Vargas da Silva Saadi Orientador: Prof. Ms. Nilson Guedes de Freitas Rio de Janeiro Julho 2004

SÍNDROME CEREBELAR: Alterações no controle … VARGAS DA SILVA SAADI.pdf · De grande importância é a divisão filogenética do cerebelo, que indica a existência de três fases

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO VEZ DO MESTRE

SÍNDROME CEREBELAR:

Alterações no controle motor decorrentes de lesões

cerebelares

Por: Alina Vargas da Silva Saadi

Orientador: Prof. Ms. Nilson Guedes de Freitas

Rio de Janeiro

Julho 2004

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO VEZ DO MESTRE

Psicomotricidade

SÍNDROME CEREBELAR:

Alterações no controle motor decorrentes de lesões cerebelares

Por:Alina Vargas da Silva Saadi

Trabalho apresentado em cumprimento as exigências para obtenção do grau de especialista no curso de pós-graduação em psicomotricidade da Universidade Candido Mendes no projeto a vez do mestre.

Rio de Janeiro

Julho 2004

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AGRADECIMENTOS

A Deus e a todos que de alguma forma

contribuíram para esse momento, aos

meus pais pelo apoio, ao meu filho

“Eduardinho”, pela compreesão dos

horários, aos professores pelo grande

estímulo para a compreensão da

psicomotricidade e, em especial, a meu

marido Eduardo por toda a sua ajuda,

apoio e companheirismo.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos pacientes

com distúrbios cerebelares que podem

obter mais um auxílio através de idéias

e atividades apresentadas no mesmo.

E ao meu grande amigo e companheiro

Eduardo Saadi, que tanto me auxiliou

nas pesquisas.

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EPÍGRAFE

Não importa o tamanho de nossos

obstáculos, mas o tamanho da

motivação que temos para superá-los.

Ser feliz não é ter uma vida perfeita.

Ser feliz é reconhecer que vale a pena

viver, apesar de todos os desafios,

perdas e frustrações.

Augusto Cury

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RESUMO

Este trabalho tem como objetivo mostrar as alterações no controle motor decorrentes de lesão cerebelar, em paciente entre 55 a 70 anos de idade do sexo masculino. Descreveremos sobre a lesão cerebelar, pois o cerebelo é o órgão regulador e centro coletor de todas as informações possíveis sobre o estado físico e instantâneo do corpo. O cerebelo funciona como um mecanismo comparador e corretor de erros, também funciona na modificação de comandos corticais para os movimentos subseqüentes. Para explorarmos esse assunto, a metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica. A essência do capítulo um é descrever a anatomia do cerebelo, suas divisões, núcleos, conexões e aspectos funcionais. Já o segundo capíitulo se preocupou em mostrar todas as disfunções cerebelares: ataxia e todos os seus transtornos, hipotonia e nistagmo. E o capítulo três tem como essência a recuperação das lesões cerebelares, incluindo sua avaliação e tratamento. Todos os assuntos abordados teve como base as pesquisas apresentadas por Machado (1993), e Umphred (1994); pacientes com disfunção cerebelar, dependendo do grau de acometimento muitas vezes não conseguem realizar funções de suas atividades de vida diária. O trabalho da fisioterapia com a psicomotricidade visa não somente a melhora da função motora, como também o aspecto psicosocial desse indivíduo, reintegrando esse indivíduo a sociedade de forma ativa e plena. Concluímos que com base nos dados apresentados da anatomia do cerebelo, suas funções e lesões, esses pacientes com tratamento adequado conseguem se recuperar e tornar-se independentes. É importante falar do controle motor, pois é essencial à vida.

Palavras chaves: Cerebelo. Ataxia. Disfunção cerebelar.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

1. ANATOMIA E DIVISÕES DO CEREBELO 11

2. DISFUNÇÃO CEREBELAR E SUAS CARACTERÍSTICAS 22

3. FISIOTERAPIA E PSICOMOTRICIDADE, METAS E TRATAMENTO 31

CONCLUSÃO 45

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 48

ANEXOS 49

ÍNDICE 55

FOLHA DE AVALIAÇÃO 57

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INTRODUÇÃO

Esta pesquisa originou-se de um grande interesse pelo estudo do

cerebelo, e a importância desse órgão na vida de todas as pessoas. O ser

humano na sua complexidade precisa do psico (área psíquica), e do motor

(área motora), para coexistir. Os fisioterapeutas lutam para compreender os

emaranhados da função cerebelar. O comportamento motor evolui a partir

de um complexo conjunto de processos neurológicos e mecânicos que

determinam a natureza dos movimentos. Alguns movimentos são

genéticamente pré-determinados e se tornam aparentes através dos

processos de crescimento e desenvolvimento normais. São exemplos

desses movimentos, os padrões reflexos que predominam durante grande

parte do início de nossas vidas. Outros movimentos, denominados

habilidades motoras, são aprendidos através da interação e exploração do

ambiente. Assim, a prática e a experiência são importantes variáveis na

definição do aprendizado motor e desenvolvimento das habilidades

motoras.Tanto os padrões reflexos quanto as habilidades motoras estão

sujeitos ao controle do Sistema nervoso central (SNC), que organiza vastas

quantidades de informações sensoriais e produz os comandos necessários

para o movimento coordenado.

O cerebelo funciona como um mecanismo comparador e corretor de

erros. Também funciona na modificação de comandos corticais para os

movimentos subseqüentes. O cerebelo difere fundamentalmente do cérebro

porque funciona sempre em nível involuntário e inconsciente, sendo sua

função exclusivamente motora. O cerebelo é o centro controlador das vias

extrapiramidal ou seja, responsável pelos movimentos automáticos, que

após ocorrer uma lesão, terão que ser aprendidos ou melhor dizendo

reaprendidos. Temos como objetivo geral, mostrar as alterações no controle

motor decorrente de lesão cerebelar, ocorrendo a lesão quais alterações no

controle motor seria apresentada por esses pacientes, e o grupo de

pacientes escolhido para esse trabalho, foi o de pacientes entre a faixa

etária de 55 a 70 anos de idade, do sexo masculino. Adotamos como

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procedimento metodológico a pesquisa bibliográfica, com dados de autores

que discutem sobre a importância do cerebelo no controle motor.

Para descrevermos sobre lesão cerebelar primeiro, precisamos

estudar sua forma anatômica e divisões, como estabelecido no primeiro

capítulo. De grande importância é a divisão filogenética do cerebelo, que

indica a existência de três fases na filogênese do órgão, as quais podem ser

correlacionadas com a complexidade de movimentos realizados pelo grupo

de vertebrados característicos de cada fase. O pricipal objetivo de se

conhecer a divisão filogenética é que saberemos pelas suas características

apresentadas qual área está sendo lesada, como por exemplo, o

arqueocerebelo surgido na primeira fase está relacionado com o equilíbrio; a

segunda fase da divisão o paleocerebelo, está relacionado com as

informações sobre o grau de contração dos músculos; e a terceira fase o

neocerebelo, está relacionada com controle dos movimentos finos. De

acordo com Machado (1993), não dá para falar sobre lesão cerebelar sem

conhecer as características do cerebelo e as suas divisões.

O cerebelo pode ser lesionado em várias condições, porém as

principais são: tumores, acidentes vasculares cerebrais (AVC), processos

degenerativos (distúrbios neurológicos e genéticos), defeitos genéticos,

processos desmielinizantes e infecções, levando assim o paciente a

apresentar as disfunções cerebelares visto no segundo capítulo; o objetivo

principal de se saber qual o mecanismo de lesão, é para uma melhor noção

do tempo de recuperação desse paciente, segundo Umphred (1994), quanto

mais agudo for o aparecimento, exemplo: acidente vascular cerebral,

traumatismo craniano, mais difícil será a recuperação; quanto mais lenta for

a instalação como por exemplo um processo degenerativo, mais fácil se

torna a recuperação desse indivíduo.

No terceiro capítulo abordamos a recuperação das lesões

cerebelares, mais para que essa recuperação ocorra é indispensável uma

boa avaliação das funções do controle motor que baseia-se amplamente

numa apreciação subjetiva da função. A chave para avaliação e reavaliação

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bem sucedida, é a avaliação cuidadosa, sistemática e o registro acurado

dos resultados. De acordo com Umphred (1994), a avaliação de um paciente

com lesão cerebelar deve incluir pontos determinados de capacidades

funcionais como : mobilidade e postura no leito, habilidade para sentar a

partir da posição sentada, manutenção da postura sentada e a habilidade

para ficar em pé, ou seja o principal objetivo é avaliar como o paciente

realiza cada tarefa a que se deu o comando, para observar as suas

limitações e assim elaborar um tratamento para que tenha um melhor êxito.

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1. ANATOMIA E DIVISÕES DO CEREBELO

O cerebelo deriva da parte dorsal do mentecéfalo e fica situado

dorsalmente ao bulbo e à ponte, contribuindo para a formação do tecto do IV

ventrículo. Repousa sobre a fossa cerebelar do osso occipital e esta

separado do lobo occipital do cérebro por uma prega da dura-máter

denominada tenda do cerebelo. Liga-se à medula e ao bulbo pelo pedúnculo

cerebelar inferior à ponte e mesencéfalo pelos pedúnculos cerebelares

médio e superior.

Observa-se no cerebelo uma porção ímpar e mediana, o vérmis,

ligado a duas grandes massas laterais, os hemisférios cerebelares, (ver

anexo 1.1). O vérmis é pouco separado dos hemisférios na face superior do

cerebelo, o que não ocorre na face inferior, onde dois sulcos bem evidentes

o separam das partes laterais, (ver anexo 1.2).

A superfície do cerebelo apresenta sulcos de direção

predominantemente transversal, que delimitam lâminas finas denominadas

folhas do cerebelo. Existem também sulcos mais pronunciados, as fissuras

do cerebelo, que delimitam lóbulos, cada um deles podendo conter várias

folhas. Assim, o cerebelo é constituído de um centro de substância branca, o

corpo medular do cerebelo, de onde irradiam as lâminas brancas do

cerebelo, revestidas externamente por uma fina camada de substância

cinzenta, o córtex cerebelar. O corpo medular do cerebelo com as lâminas

brancas que dele irradiam, quando vistas em cortes sagitais recebem o

nome de árvore da vida. No interior do corpo medular existem quatro pares

de núcleos de substância cinzenta, que são os núcleos do cerebelo:

denteado, emboliforme, globoso e fastigial. Destes núcleos, somente o

denteado é identificável macroscópicamente.

A divisão do cerebelo em lóbulos não tem nenhuma importância

funcional, tem apenas importância topográfica. Existe apenas um lóbulo

importante que é o flóculo, situado logo abaixo do ponto em que o pedúnculo

cerebelar médio penetra no cerebelo, próximo ao nervo vestíbulo-coclear e

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liga-se ao nódulo, lóbulo do vérmis, pelo pedúnculo do flóculo. As tonsilas

são bem evidentes na face inferior do cerebelo, projetando-se medialmente

sobre a face dorsal do bulbo. Esta relação é importante pois em certos casos

de hipertensão craniana as tonsilas podem comprimir o bulbo com graves

conseqüências. Isto decorre, por exemplo, de acidentes nas punções

lombares, quando a retirada do líquor diminui subtamente a pressão no

espaço subaracnódio da medula.Quando isso ocorre e a pressão

intracraniana fica aumentada, as tonsilas podem ser deslocadas

caudalmente, penetrar no forame magno e comprimir o bulbo. A compressão

do bulbo pode levar a lesão dos nervos cranianos, IX glossofaríngico, X

acessório, XII hipoglosso.

O movimento, as ações, enfim, a integração do homem às condições do meio ambiente estão na dependência de um sistema muito especial , chamado sistema nervoso (OLIVEIRA, 1997, p.16).

O cerebelo e o cérebro são dois órgãos que constituem o sistema

nervoso supra-segmentar. E possui uma organização muito semelhante e

completamente diferente da dos órgãos do sistema nervoso

segmentar.Tanto o cerebelo como o cérebro apresentam um córtex que

envolve um centro de substância branca ( o centro medular do cérebro e o

corpo medular do cerebelo ), onde pode ser observadas massas de

substância cinzenta (os núcleos centrais do cerebelo e os núcleos da base

do cérebro). Entretanto a estrutura fina do cérebro é muito mais complexa

que a do cerebelo.

Do ponto de vista fisiológico o cerebelo se difere fundamentalmente

do cérebro porque funciona sempre no nível involuntário e inconsciente,

sendo sua função exclusivamente motora.

1.1. Divisão ontogenética e filogenética

Quando se divide simplesmente de forma anatômica em vérmis e

hemisférios cerebelares é inadequada do ponto de vista funcional e

clínico.Surgiram várias tentativas de se agruparem os lóbulos cerebelares

em áreas maiores, lobos, que tivessem significado funcional mais evidente.

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A divisão mais aceita pela neurociência baseia-se principalmente na

ontogênese do cerebelo e leva em conta o fato de que a primeira fissura que

aparece durante o desenvolvimento do órgão é a póstero lateral. Assim, ela

divide o cerebelo em duas partes muito desiguais: o lobo flóculo-nodular;

formado pelo flóculo e pelo nódulo; e o corpo do cerebelo, formado pelo

resto do órgão. Logo após aparece a fissura prima, que divide o corpo do

cerebelo em lobo anterior e lobo posterior, (conforme anexo 1.3).

Divisão ontogenética - corpo do cerebelo { lobo anterior e posterior}

- lobo flóculo – nodular

De grande importância é a divisão filogenética do cerebelo, que indica

a existência de três fases na filogênese do órgão, as quais podem ser

correlacionadas com a complexidade de movimentos realizados pelo grupo

de vertebrados característicos de cada fase.

1ª fase – A primeira fase da evolução do cerebelo surgiu com o

aparecimento dos vertebrados mais primitivos, os ciclóstomos, como a

lampreia. Estes animais são desprovidos de membros e têm movimentos

ondulatórios muito simples, havendo, entretanto, a necessidade de se

manterem em equilíbrio no meio líquido. Para isso, o cerebelo recebe

impulsos dos canais semicirculares ( localizados na parte vestibular do

ouvido interno), que informam sobre a posição do animal e permitem ao

cerebelo coordenar a atividade muscular, de modo a manter o animal em

equilíbrio. Portanto, o cerebelo surgido nesta fase se chama arquicerebelo,

tem conexões vestibulares e é também denominado cerebelo vestibular.

2ª fase - O cerebelo da segunda fase surgiu com os peixes. Pois,

estes já possuem membros (nadadeiras) e são capazes de realizar

movimentos mais elaborados que os ciclóstomos. Neles surgiram, pela

primeira vez, receptores especiais denominados fusos neuromusculares e

órgãos neurotendíneos, que originam impulsos nervosos deniminados

proprioceptivos, os quais, após um trajeto pela medula espinhal e bulbo,

chegam ao cerebelo, levando informações sobre o grau de contração dos

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músculos. É importante saber estas informações para a regulação do tônus

muscular e da postura do animal. A parte do cerebelo que surgiu nesta fase,

adicionando-se ao arquicerebelo, é denominada paleocerebelo. O

paliocerebelo tem conexões principalmente com a medula espinhal, também

sendo denominado de cerebelo espinhal.

3ª fase – A terceira fase do cerebelo surgiu com os mamíferos que

desenvolveram a capacidade de utilizar os membros para movimentos

delicados e assimétricos, os quais requerem uma coordenação nervosa

muito elaborada. Ao mesmo tempo houve grande desenvolvimento do córtex

cerebral, com o qual o cerebelo passou a manter amplas conexões. Surgiu

então nesta fase da evolução do cerebelo o neocerebelo. O neocerebelo

relaciona-se com o controle de movimentos finos, suas conexões com o

córtex cerebral, é denominado também cerebelo cortical.

No sistema nervoso, as partes que vão surgindo durante a evolução

continuam a existir nos animais mais avançados, onde, de um modo geral,

mantêm as mesmas conexões e funções que tinham nos ancestrais. Assim,

o cerebelo do homem é formado de três partes: arqui, pálio e neocerebelo,

que tem aproximadamente as mesmas conexões e funções que foi citada

durante a filogênese do órgão.

O arquiocerebelo corresponde ao lobo flóculo- nodular, o paleocerebelo ao lobo anterior mais a pirâmide e a úvula, enquanto o neocerebelo corresponde ao resto do lobo posterior (MACHADO, 1993 p. 53 ) (ver anexo 1.3).

1.2. Núcleos centrais do corpo medular do cerebelo

Os núcleos centrais do cerebelo são: Núcleo denteado; Núcleo

emboliforme; Núcleo globoso e Núcleo fastigial. O núcleo denteado é o

maior dos núcleos centrais do cerebelo e assemelha-se ao núcleo olivar

inferior, que localiza-se mais lateralmente. Entre os núcleos fastigial e

denteado localizam-se os núcleos globoso e emboliforme. Estes dois

núcleos se parecem tanto do ponto de vista funcional como estrutural, sendo

frequentemente agrupados sob o nome de núcleo interpósito. O núcleo

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fastigial localiza-se próximo ao plano mediano, em relação com o ponto

mais alto do teto do quarto ventrículo, (ver anexo 1.4).

Nos núcleos centrais saem fibras eferentes do cerebelo e neles

chegam os axônios das células de Purkinje. Cada núcleo recebe os axônios

das células de Purkije originadas em partes específicas da superfície

cerebelar.

O corpo medular do cerebelo é formado de substância branca e por

fibras mielínicas, que são principalmente as seguintes:Fibras aferentes do

cerebelo – penetram pelos pedúnculos cerebelares e se dirigem ao córtex,

onde perdem a bainha de mielina; Fibras formadas pelos axônios da células

de Purkinje – dirigem-se aos núcleos centrais e ao sair do córtex, tornam-se

mielínicas.

Ao contrário do que ocorre no cérebro, existem poucas fibras de

associação no corpo medular do cerebelo. E essas fibras são ramos

colaterais dos axônios das células de Purkinje.

1.3. Conexões intrínsecas do cerebelo

As fibras que penetram no cerebelo vão para o córtex e são de dois

tipos: fibras musgosas e fibras trepadeiras. Sabe-se que as fibras

trepadeiras são axônios de neurôneos situados no complexo olivar inferior,

enquanto as fibras musgosas representam a terminação dos demais feixes

de fibras que penetram no cerebelo. As fibras trepadeiras se enrola em torno

dos dentritos das células de Purkinje e exerce uma potente ação excitadora,

já as fibras musgosas, penetra no cerebelo, emite ramos colaterais e fazem

sinapses excitadoras com os neurônios dos núcleos centrais. Em seguida,

atingem a camada granular, onde se ramificam, terminando em sinapses

excitadoras axodendríticas, com grande número de células granulares, que

através das fibras paralelas se ligam às células de Purkinje. E assim é

formado um circuito cerebelar básico, através do qual os impulsos nervosos

que penetram no cerebelo pelas fibras musgosas ativam sucessivamente os

neurônios dos núcleos centrais, as células granulares e as células de

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Purkinje, que inibem os próprios neurônios dos núcleos centrais. Assim as

informações chegam ao cerebelo de vários setores do sistema nervoso e

agem inicialmente sobre os neurônios dos núcleos centrais de onde saem as

respostas eferentes do cerebelo.

1.4. Conexões extrínsecas

A o cerebelo chegam milhões de fibras nervosas trazendo

informações dos mais diversos setores do sistema nervoso, que são

processadas pelo órgão, cuja a resposta é através de um complexo sistema

de vias eferentes. O cerebelo funciona ao contrário do cérebro, influenciando

os neurônios motores de seu próprio lado. Por isso tanto suas vias aferentes

como eferentes, quando não são homolaterais, sofrem duplo cruzamento,

vão para o lado oposto e voltam para o mesmo lado. Isso é um fato

importante para a clínica, pois a lesão de um hemisfério cerebelar dá

sintomatologia do mesmo lado, enquanto no hemisfério cerebral a

sintomatologia é do lado oposto.

1.5. Conexões aferentes

As fibras aferentes do cerebelo terminam no córtex com as fibras

trepadeiras ou musgosas. A trepadeira origina-se no complexo olivar inferior

e distribuem-se a todo o cerebelo. Já as musgosas distribuem-se a áreas

específicas do cerebelo e tem origem fundamentalmente em três regiões:

núcleos vestibulares, medula espinhal e núcleos pontinos.

1.5.1. Fibras aferentes de origem vestibular

Chegam ao cerebelo pelo fascículo vestíbulo – cerebelar, cujas fibras

tem origem nos núcleos vestibulares e se distribuem principalmente ao

arquicerebelo e também à zona medial. Trazem informações originadas na

parte vestibular do ouvido interno, sobre a posição da cabeça, importante

para a manutanção do equilíbrio e da postura.

1.5.2. Fibras aferentes de origem medular

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Essas fibras são representadas principalmente pelos tractos espino-

cerebelar anterior e espino-cerebelar posterior (anexo 1.5), que penetram

no cerebelo pelos pedúnculos cerebelar superior e inferior e terminam no

córtex do paleocerebelo.

Através do tractor espino-cerebelar posterior, o cerebelo recebe sinais

sensoriais originados em receptores proprioceptivos e, em menor grau de

outros receptores somáticos, o que lhe permite aliviar o grau de contração

dos músculos, tensão das cápsulas articulares e tendões, e também as

posições e velocidades do movimento das partes do corpo.

Porém as fibras do tracto espino-cerebelar anterior são ativadas

principalmente pelos sinais motores que chegam a medula pelo tracto

cortico-espinhal permitindo ao cerebelo aliviar o grau de atividade nesse

tracto. É importante lembrar que as áreas sensoriais do cerebelo são

diferentes das que existem no córtex cerebral, pois os impulsos que aí

chegam não se tornam conscientes.

1.5.3. Fibras aferentes de origem pontina

Também chamadas de ponto-cerebelares, origina-se nos núcleos

pontinos e penetram no cerebelo pelo pedúnculo cerebelar médio,

distribuindo-se principalmente ao córtex do neocerebelo. Essas fibras fazem

parte da via cortico-ponto-cerebelar, através da qual chegam ao cerebelo

informações oriundas do córtex de todos os lobos cerebrais. E está

relacionada com as áreas sensitivas, motora, da visão, da audição e da

linguagem.

1.6. Conexões eferentes

As conexões eferentes do cerebelo exercem infuência sobre os

neurônios motores da medula. Porém suas conexões não agem diretamente

sobre esses neurônios, mais sempre através de intermediários, situados em

áreas do tronco encefálico, do tálamo ou das próprias áreas motoras do

córtex cerebral. As fibras eferentes do cerebelo saem de três núcleos

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centrais, que por sua vez recebem os axônios das células de Purkinje de

cada uma das três zonas longitudinais do corpo do cerebelo.

1.6.1. Conexões eferentes da zona medial

Os axônios das células de Purkinje do vérmis, fazem sinapses nos

núcleos fastigiais, de onde saem o tracto fastigiobulbar com dois tipos de

fibras: fastigio-vestibulares e fastigio-reticulares.

O cerebelo exerce influência sobre os neurônios motores do grupo

medial da coluna anterior, os quais controlam a musculatura axial e proximal

dos membros, no sentido de manter o equilíbrio e a postura.

1.6.2. Conexões eferentes da zona intermédia

Os axônios das células de Purkinje da zona intermédia fazem sinapse

no núcleo interpósito, de onde saem as fibras para o núcleo rubro e para o

tálamo do lado oposto. Com as primeiras o cerebelo influencia os neurônios

motores pelo tracto rubro-espinhal. E os impulsos que vão para o tálamo

seguem para as áreas motoras do córtex cerebral, onde se origina o tracto

cortico-espinhal (anexo 1.6). A ação do núcleo interpósito se faz sobre os

neurônios motores do grupo lateral da coluna anterior que controlam os

músculos distais dos membros responsáveis por movimentos delicados.

1.6.3. Conexões eferentes da zona lateral

Na zona lateral as sinpses ocorrem com o núcleo denteado, e seguem

para o tálamo do lado oposto e vai para as áreas motoras do córtex cerebral,

onde se origina o tracto cortico-espinhal, (ver anexo 1.7). Através desse

tracto, o núcleo denteado participa da atividade motora, agindo sobre a

musculatura distal responsável por movimentos delicados.

1.7. Aspectos funcionais do cerebelo

A função primária do cerebelo diz respeito à coordenação da atividade

motora, equilíbrio, tônus muscular e controle dos movimentos voluntários.

Nem todos os mecanismos da função cerebelar foram claramente

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compreendidos, porém foi observado que lesões dessa área produzem

padrões típicos de incoordenação, falta de equilíbrio e queda do tônus

muscular.

Movimentos de partes do corpo são muito afetados por sua inércia e

por seus movimentos. Isto é, um membro necessita de certa força para que

comece a se mover, mas uma vez que tenha começado continua a se mover

até que uma força em oposição o faça para. Nem o córtex cerebral nem o

gânglios basais estão organizados para levar esses fatos. Pelo contrário o

cerebelo faz os ajustes automáticos que impedem esses fatores de distorcer

os padrões de atividade.

O cerebelo (fibras aferentes e eferentes), que tem localização

posterior ao tronco cerebral, recebe sinais dos receptores proprioceptivos

localizados em todas as articulações, em todos os músculos, nas áreas de

pressão do corpo e em qualquer outro ponto de onde pode ser obtida

informação sobre o estado físico do corpo. Também são transmitidos para o

cerebelo a partir do aparelho do equilíbrio no ouvido e até mesmo dos olhos,

afim de definir a relação visual do corpo com o ambiente. Cada vez que o

córtex motor, os gânglios da base ou formação reticular do tronco cerebral

envia sinais para os músculos, e um conjunto de sinais é enviado para o

cerebelo, ou seja, o cerebelo é o centro coletor de todas as informações

possíveis sobre o estado físico instantâneo do corpo. O cerebelo funciona

como um mecanismo comparador e corretor de erros. Também funciona na

modificação de comandos corticais para os movimentos subseqüentes.

Uma das funções do sistema nervoso é selecionar e processar as informações, canalizá-las para as regiões motoras correspondentes do cérebro para depois emitir respostas adequadas de acordo com a vivência e a experiência de cada indivíduo (OLIVEIRA, 1997, p.17).

O sistema nervoso central, faz uma análise de informação dos

movimentos, determinação do nível de precisão e provisão para a correção

do erro. Esse sistema é conhecido como sistema em alça fechada. Deve ser

observado que nem todos os movimentos são controlados por esse sistema,

por exemplo, movimentos esteriotipados e movimentos rápidos de curta

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duração que não permitem tempo suficiente para a ocorrência do feedback,

são controlados por um sistema em alça aberta.

Ü Processos de controle em alça aberta – Os programas motores

podem ser realizados virtualmente sem a influência do “feedback”

periférico. Um exemplo de movimentos controlados por esse

mecanismo é a execução de seqüências motoras rápidas bem

aprendidas, como tocar piano. Os movimentos ocorrem rápidos

demais para permitir a ocorrência da modificação do “feedback”.

Ü Processos de controle em alça fechada - Definido como controle de

movimento que emprega o “feedback” contra uma refência para a sua

correção, é determinado o erro do movimento, e são feitas as

subseqüentes correções. Proprioceptores oculares, vestibulares,

musculares e articulares, juntamente com os receptores selecionados

do tato, fornecem a informação primária para análise e correção do

movimento. Antes do movimento, o “feedback” é empregado no

fornecimento de informações valiosas a respeito da posição de

partida e presteza do movimento. Durante o movimento, o “feedback”

permite a detecção dos erros e modificação do movimento. Após o

movimento, o “feedback” auxilia na comunicação do êxito geral do

movimento, e também assegura o aprendizado motor. Movimentos

controlados amplamentes por processos de “feedback”, são

movimentos necessários para a manutenção da postura e do

equilíbrio.

1.7.1. Manutenção do equilíbrio e da postura

Essas funções se fazem basicamente pelo arquiocerebelo e pela zona

medial, o vérmis, que promovem contração adequada dos músculos axiais e

proximais dos membros, de modo a manter o equilíbrio e a postura normal,

mesmo em condições que o corpo se desloca. A informação do cerebelo é

transmitida aos neurônios motores pelos tractos vestíbulo-espinhal e

retículo-espinhal.

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1.7.2. Controle do tônus muscular

O controle do tônus muscular é realizado através da ação dos núcleos

denteado e interpósio, agindo sobre os neurônios motores via tractos

córticos-espinhal e rubro-espinhal. Um dos sintomas da decerebelização é a

perda do tônus muscular.

1.7.3. Controle dos movimentos voluntários

O mecanismo através do qual o cerebelo controla o movimento

envolve duas etapas: uma de planejamento do movimento e outra de

correção. O planejamento é elaborado pela zona lateral do órgão, a partir de

informações trazidas pela via cortico-ponto-cerebelar, áreas do córtex

cerebral ligadas a funções psíquicas superiores, e que expressam a

“intenção” do movimento. O plano motor é então enviado as áreas motoras

do córtex cerebral pela via dento-tálamo-ortical e colocado em execução

através da ativação dos neurônios apropriados dessas áreas, os quais por

sua vez ativam os neurônios motores medulares através do tracto-córtico-

espinhal. Quando o movimento começa, passa a ser controlado pela zona

intermédia do cerebelo. Através de inúmeras aferências sensoriais, que

chegam pelos tractos espino-cerebelares é informada das características do

movimento em execução, e através da via interpósito-tálamo-cortical,

promove as devidas correções, das áreas motoras.

Assim sendo o papel da zona intermédia é diferente da zona lateral,

por exemplo, movimentos rápidos, como bater a máquina, atua apenas na

zona lateral pois não há tempo da zona intermédia receber informações

sensoriais que lhe permita corrigir o movimento.

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2. Disfunção cerebelar

O cerebelo pode ser lesionado em várias condições, porém as

principais são: tumores, acidentes vasculares cerebrais (AVC), processos

degenerativos (distúrbios neurológicos e genéticos), defeitos genéticos,

processos desmielinizantes e infecções, levando assim o paciente a

apresentar disfunções cerebelares.

Usualmente se divide as síndromes cerebelares em três:

Ü Síndrome do Arquicerebelo – ocorre devido a tumores do teto do IV

ventrículo, que comprimem o nódulo e o pedúnculo do flóculo.

Quando isso ocorre há somente perda do equilíbrio. Porém quando

por qualquer um dos motivos citados acima ocorre lesão do

arquicerebelo, provoca também ataxia do tronco e titubeação que não

é agravada pelo fechamento dos olhos.

Ü Síndrome do Paleocerebelo – manifesta-se por perda do equilíbrio e

ataxia dos membros inferiores e apresenta também alguma alteração

no tônus muscular. Em alguns casos a lesão do paleocerebelo pode

levar a exagero dos reflexos miotáticos da musculatura de suporte.

Ü Síndrome do Neocerebelo – responsável pela coordenação fina da

atividade muscular, especialmente dos membros. A lesão do

neocerebelo leva a incoordenação motora (ataxia), que pode ser

verificada por vários sinais: dismetria, assinergia, decomposição,

disdiadococinesia, hipotonia muscular, decomposição do movimento,

rechaço, tremor e outros que detalharemos mais à frente.

Do ponto de vista clínico as lesões costumam-se se dividir em lesões

do vérmis e lesões dos hemisférios: as lesões hemisféricas manifestam-se

nos membros do lado lesado, já a lesão do vérmis apresenta principalmente

perda do equilíbrio e alterações na marcha.

Basicamente as disfunções cerebelares são caracterizadas da seguinte

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forma: Transtornos da coordenação dos movimentos (ataxia),subdivididos

em dismetria, assinergia, disdiadococinesia, decomposição do movimento,

tremor, distúrbios da marcha e da fala; hipotonia: com os seguintes traços

astenia, reflexos profundos do tipo “pendular”, fenômeno de rebote;

nistagmo; as quais descreveremos a seguir:

2.1. Ataxia

Ataxia é o termo usado para descrever falta de coordenação

apresentada por indivíduos com lesões cerebelares. A ataxia inclui vários

traços distintos, porém nem todos precisam estar presentes para que uma

pessoa seja descrita como atáxica. Por exemplo: Distúrbios da postura e do

equilíbrio – lesões tanto agudas como as de longa duração, que afetam

somente um lado do corpo podem levar a uma escoliose, quando o

envolvimento é bilateral, o paciente pode assumir posições extremamente

desleixadas e inclinadas quando sentadas, caso não haja suporte. Quando

na posição ereta, os pacientes tem a tendência de separar os pés e usar os

braços para ter mais equilíbrio, aumentando o seu centro de gravidade. Já

alguns pacientes caem para um lado de forma consistente. Neste caso a

abertura ou o fechamento dos olhos parece não influenciar no equilíbrio. O

desvio lateral da cabeça pode ocorrer.

2.1.1 Dismetria

Dificuldade para colocar os membros corretamente durante o

movimento voluntário. Normalmente pacientes com esse distúrbio

superestimam (hipermetria), ou subestimam (hipometria) a amplitude do

movimento necessário. Ou seja, ao querer pegar um pedaço de bolo no

prato, ele pode ir além do pedaço ou não conseguir alcança-lo, não atinge o

alvo. Pessoas com dano cerebelar podem também apresentar tremor

intencional, onde a mão oscila para frente e para trás enquanto por exemplo,

tenta tocar o seu nariz ou o calcanhar por exemplo, pode oscilar enquanto

tenta desliza-lo para baixo sobre a canela oposta.

Segundo Holmes (apud UMPHRED, 1994), a dismetria resulta de

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erros no nível e freqüência de produção de força. Vamos imaginar um

paciente com lesão esquerda, ele pressiona o braço direito e o esquerdo

contra molas de igual força, a tensão produzida pelo braço esquerdo

apresenta lenta intensidade de surgimento e liberação do movimento

comparada com o braço direito.

2.1.2. Assinergia

É a falta de associação de movimentos na realização de atos

complexos que exijam cooperação sinérgica de vários grupos musculares.

2.1.3 Disdiadococinesia

Pacientes com lesões cerebelares são incapazes de fazer

moviementos alternados rapidamente. Essa alteração pode ser demonstrada

pedindo ao paciente para percurtir rapidamente suas mãos sobre os joelhos.

Pessoas com lesões cerebelares, a atividade muscular antagonista,

tipicamente se sobrepõe resultando em uma ação de quebra de

movimentos, do ponto de atividades como escovar os dentes, e cortar a

comida se tornem quase impossíveis de se realizar. A disdiadococinesia

está relacionada com a dismetria, porque ambas resulta em atividade

muscular inapropriada.

A dismetria aparecerá como uma inabilidade para interromper um

movimento direcionado para uma meta ou diração. Já a disdiadococinesia

aparecerá na tentativa de reverter abruptamente a direção do movimento

(UMPHRED, 1994).

2.1.4 Decomposição do movimento

A decomposição do movimento se caracteriza quando o paciente

precisa de uma seqüência distinta, passo a passo para realizar o movimento,

ao invés de um padrão homogêneo. Por exemplo, ao pedir para o paciente

pegar um objeto na mesa, ele estende a mão, pega o objeto, levanta o braço

e trás o objeto até ele, ou seja o movimento é todo dividido em fases, pensa

em cada etapa do movimento, o paciente não consegue simplesmente

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realizar o movimento de forma automática. Esse distúrbio é chamado de

decomposição. De acordo com Holmes(apud UMPHRED, 1994), o cerebelo

funciona para sequenciar cadenciar os movimentos simples em um ato

homogêneo e complexo. Na ausência dessa função, o movimento se torna

separado em componentes individuais.

Observou-se o resfriamento temporário do núcleo denteados em

macacos levou ao distúrbio de decomposição do movimento.

2.1.5. Tremor

Trata-se de um tremor característicos, que acentua ao final do

movimento ou quando o paciente está prestes a atingir um objetivo, como

por exemplo, apanhar um objeto (tremor intencional). Os mecanismos do

tremor postural estão longe de serem esclarecidos. Os mecanismos para o

tremor postural e tremor intencional (tremor durante o movimento), podem

não ser idênticos quando se administra L-Dopa alivia o tremor postural, mas

não o tremor intencional, e também nem sempre os dois tremores são

conscientes.

O tremor postural da doença cerebelar também apresenta difereças

do tremor de repouso típico do parkinsonismo. O tremor do parkinson tem

uma freqüência mais alta e pode persistir mesmo com a pessoa deitada e

relaxada. O envolvimento da musculatura distal, prevalece mais no tremor

parkinsoniano que no tremor postural cerebelar.

Pacientes com tremor postural apresentam o tremor somente quando

tentam manter uma posição fixa, e não necessáriamente o tempo todo.

As oscilações mecânicas de um membro estabilizado podem na verdade reforçar a oscilação de baixa freqüência do membro em um paciente com doença cerebelar e levam a um tremor postural observável, mas não necessariamente um tremor de movimento (UMPHRED, 1994, p. 598).

2.1.6. Distúrbios da marcha

Os distúrbios da marcha é apresentado da sequinte maneira: não

existe balanço dos braços, o paciente não consegue andar em linha reta

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sem cair, os passos são completamente desiguais e os pés podem ficar

próximos demais ou afastados demais, podem levantar sem ritmo ou altura

regulares.

Os distúrbios da marcha podem também ocorrer em combinação com

outros problemas nas lesões cerebelares. O comprometimento da marcha

pode ser resultado de erros na velocidade e nível absoluto de força da

contração muscular e podem acompanhar a dismetria de movimentos

isolados. As lesões cerebelares que afetam a postura também irão

influenciar na habilidade da pessoa para andar.

2.1.7. Distúrbios da fala

A fala é uma função motora complexa, e é conturbada por lesões

cerebelares. O distúrbio é denominado disartria. A fala é lenta, destacando

a pronúncia das sílabas (fala escandida). Também pode apresentar fala

explosiva ou em estacato, a voz pode se tornar sem variações de altura e

tom, tremulosa, nasal, ou muito atenuada.

Paciente com lesão cerebelar no hemisfério esquerdo, apresentam

maior incidência de distúrbios da fala. O hemisfério cerebelar esquerdo é

influenciado pelo hemisfério cerebral direito, que tem entre suas funções

percepção de melodias, tom e ritmo.

O mecanismo responsável pela disartria é muito similar ao que produz

a dismetria nos membros. Por exemplo, a falta de aptidão dos músculos da

laringe para iniciar ou parar as contrações rapidamente ou hipotonicidade da

laringe podem produzir uma proníncia errada de consoantes e vogais, fala

lenta, pausas prolongadas ou ênfase desigual nas sílabas. A hipotonicidade

da laringe pode também ser responsável pela inabilidade para aumentar a

sonoridade ou variar o tom da voz.

2.2. Hipotonia

A hipotonia é um sintoma típico de uma lesão cerebelar. A

hipotonicidade pode ocorrer ipsolateralmente às lesões que são restritas ao

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cerebelo lateral, mas também podem ser bilaterais ou contralaterais a

lesões na área intermediária do cerebelo. Se houver hipotonicidade

cerebelar bilateral, a intencidade é maior nos membros envolvidos. E são

mais afetados os músculos proximais as articulações.

A hipotonia pode ser detectada de várias maneiras, por exemplo, os

músculos envolvidos podem apresentar uma redução da firmeza à palpação.

Ao ser sacudido passivamente, o membro se move através de um arco

maior de movimento que o que se vê em um membro normal. No caso de

lesões unilaterais, a hipotonicidade, pode resultar num carimbo feito pelo pé

descalço mais largo e chato. Quando o paciente tenta manter um membro

hipotônico contra a gravidade, o membro tente a cair lentamente. Também

se o paciente é distraído enquanto segura um objeto na mão, o objeto pode

escapar da sua mão. A postura também pode se tornar assimétrica como

resultado da hipotonicidade.

Um paciente com hipotonicidade pode ser incapaz de fixar um

membro posturalmente. Esse problema pode levar a incoordenação durante

o movimento voluntário, por exemplo, a flexão e extensão do cotovelo em

uma posição sem suporte o paciente pode não conseguir, contudo, o

movimento pode ser facilitado se o braço estiver apoiado na mesa, ou em

qualquer outro objeto.

2.2.1. Astenia

A astenia também conhecida por fraqueza generalizada. Pacientes

com lesão cerebelar podem ter até 50% da força muscular reduzida. A

postura também pode ser deficiente em pacientes que apresentam astenia.

A maioria dos pacientes se queixam de uma sensação de peso, como se o

peso do corpo tivesse, vezes maior do que realmente é; o esforço excessivo

para tarefas simples e o surgimento precoce de fadiga. A astenia não é um

sintoma tão comum como outros que acompanham as lesões cerebelares.

De acordo com dados estatísticos esse sintoma aparece em somente 10%

dos pacientes com lesões cerebelares, e principalmente em pacientes com

tumores cerebelares.

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Um fato estabelecido é que ocorre uma diminuição na atividade

fusimotora nas lesões cerebelares.

A astenia é causada por uma perda de facilitação cerebelar para o córtex motor, que por sua vez pode reduzir a atividade dos neurônios motores espinhais durante o movimento voluntário. Uma perda da facilitação do cótex tem também sido sugerida como um mecanismo de fundo para a hipotonicidade. Se a perda da facilitação do córtex cerebral é responsável pela astenia e hipotonicidade, talvez a áreas do córtex que estão afetadas na astenia e hipotonicidade não sejam idênticas (UMPHRED, 1994, p. 595).

2.2.2. Reflexos profundos do tipo pendular

Ao pesquisar o reflexo particular do doente, na posição sentada, a

perna ao invés de somente responder ao estímulo e voltar rapidamente ao

lugar de origem (lugar de repouso), a perna permanece balançando como se

fosse um pêndulo.

2.2.3. Fenômeno de Rebote

Para verificar o fenômeno de Rebote, pede-se ao paciente forçar a

flexão do antebraço contra uma resistência que se faz no pulso. No indivíduo

normal, quando se retira essa resistência, a flexão pára imediatamente por

ação doa músculos extensores, coordenada pelo cerebelo. Porém no doente

neocerebelar, essa coordenação não existe, os músculos extensores custam

a agir e o movimento é muito forte, levando quase sempre o paciente a dar

um tapa no próprio rosto, ou seja, ele perde o controle do movimento.

2.3. Nistagmo

Os olhos também são afetados com a disfunção cerebelar. Após uma

lesão aguda de um hemisfério cerebelar, os dois olhos se desviam para o

lado contralateral. O movimento voluntário dos olhos é também afetado

pelas lesões cerebelares. Um distúrbio relativamente comum no movimento

dos olhos é o nistagmo provocado pelo ato de olhar. A medida que os olhos

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são voluntariamente movidos para olhar um objeto na periferia, eles se

movem rapidamente na direção intencionada e depois voltam

involuntariamente para posição neutra.

Pacientes com atrofia cerebelar podem apresentar um nistagmo

provocado pelo ato de olhar bilateralmente permanente, enquanto que

aqueles com uma lesão unilateral aguda podem apresentar nistagmo

temporariamente no lado ipsolateral. Um nistagmo de rebote frequentemente

aparece se desvio da vista é mantido por 20 segundos ou mais. O nistagmo

então ocorre brevemente em uma direção oposta a da vista anterior quando

os olhos retornam voluntariamente para a posição neutra.

Porém o sintoma no qual os olhos não podem se mover com precisão

para um objeto na periferia de visão é chamado de dismetria ocular. Quando

uma pessoa normal direciona a vista para um objeto na periferia, os olhos se

movem em saltos rápidos chamados sacádicos. A amplitude dos

movimentos sacádicos deve ser bem precisa para colocar a imagem

intenciona na fóvia da retina. Após dano cerebelar o movimento sacádico

dos olhos pode torna-se grande ou pequeno demais, e serão movimentos

sacádicos corretivos, resultando em dismetria ocular. A dismetria ocular está

relacionada com a posição inicial dos olhos, como ocorre a hipermetria

quando os olhos estão excêntricos ao alvo, e a hipometria ocorre quando os

olhos se movem da posição neutra para um alvo periférico. Ou seja,

nistagmo são movimentos oscilatórios rítmicos dos bulbos oculares, que

ocorre especilamente em lesões do sistema vestibular e do cerebelo.

Em lesões agudas do cerebelo, a amplitude do nistagmo optocinético

encontra-se com freqüência diminuída, enquanto que problemas crônicos, a

amplitude das duas fases ou apenas uma das fases do nistagmo optocinético

encontra-se com freqüência aumentada, paciente com lesões cerebelares se

queixam de defeitos visuais, esses defeitos incluem visão embaçada, diplopia,

e dificuldade para ver quando o corpo está em movimento. Presumivelmente

as lesões em diferentes áreas do cerebelo afetam aspectos diferentes dos

movimentos oculares porque um paciente pode ter distorção de um tipo de

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movimento e não ter de outro. Contudo, o valor diagnóstico dos movimentos

dos olhos para doença cerebelar encontra-se limitado porque as lesões do

tronco cerebral podem produzir sintomas idênticos.

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3. Recuperação das lesões cerebelares

O cerebelo tem uma notável capacidade de recuperação funcional

quando há lesões no seu córtex, principalmente em crianças ou quando as

lesões aparecem gradualmente. Este fato pode ocorrer, porque o córtex tem

uma estrutura uniforme, permitindo que as áreas intactas assumam pouco a

pouco as funções das áreas lesadas. Porém, a recuperação não ocorrerá

quando as lesões atingem os núcleos centrais.

Após uma lesão cerebral ocorre sempre algum nível de recuperação

espontânea ou compensação, o nível depende da gravidade da lesão e de

sua localização. Para acidentes vasculares cerebrais e traumatismo

cranianos os terapeutas tem seguido padrões bem documentados para a

recuperação das lesões cerebelares.

Se um paciente desenvolve uma doença cerebelar degenerativa ou

tumor, os sintomas que se desenvolvem são geralmente mais leves que os

produzidos por uma mesma lesão ocorrendo agudamente. Por exemplo, um

traumatismo craniano, que ocorre de forma aguda. Como já foi visto, o

córtex motor é também considerado uma estrutura essencial da qual

depende a compensação de uma lesão cerebelar.

3.1. Fisioterapia – avaliação e metas

A fisioterapia se preocupa de forma primária em restaurar e melhorar

o bem estar musculoesquelético do paciente. No paciente com envolvimento

neurológico a fisioterapia se preocupa em tornar o paciente mais funcional

possível sob condições de máxima segurança, com um gasto energético

razoável, para o paciente, e de forma estéticamente aceitável, não só

visando a funcionabilidade, mas também a auto-estima do paciente em

relação a sua imagem corporal.

A avaliação de um paciente com lesão cerebelar, deve incluir

inicialmente pontos determinados de capacidades funcionais como:

mobilidade e postura no leito, habilidade para sentar e partir de uma posição

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reclinada, manutenção da postura sentada, habilidade para ficar em pé a

partir da posição sentada, manutenção da postura em pé, deambulação,

habilidade para se vestir e alimentar-se. Não são necessários testes

especiais para isolar estas habilidades a não ser observar as tentativas do

paciente em realizar cada uma delas. A descrição de como o paciente

realiza as tarefas deve incluir a assistência necessária, o nível de esforço

envolvido, o tempo para completar a atividade, e os movimentos não usuais

que ocorrem durante a realização de cada etapa.

É muito importante avaliar o paciente como um todo, e fazer cada

teste isoladamente.

Avaliação dos distúrbios de movimentos com testes específicos. Para

a Hipotonia: em primeiro lugar faz-se a palpação muscular e observa-se a

firmeza reduzida,músculos flácidos; depois é importante testar os reflexos

tendinosos profundos, que o sinal positivo é pendular; ver a agitação passiva

dos membros, onde os membros se movem através de um arco de

movimento maior do que em membros normais; temos que verificar o

carimbo do pé umedecido, em que a marca mais larga se encontra no lado

envolvido; observar o paciente segurando um objeto enquanto conversa; o

sinal é positivo se o objeto cai quando ele se distrai; flexão e extensão

voluntária do joelho ou cotovelo com e sem suporte, nos pacientes atáxicos

quando está sem suporte, controlado quando suportado; flexão de apenas

um dedo, em resposta todos os dedos se fletem; postura em repouso,

encontra-se desleixada e assimétrica.

A testagem da astenia: manter os braços em 90 graus de flexão ou

abdução, a resposta positiva é quando os braços se cansam rapidamente;

contração muscular restida máxima dos principais grupos musculares, mais

fraca no lado comprometido ou incapaz de trabalhar contra resistência, que

seja normal para o tamanho e a idade.; contração musculares repetidas

submáximas, como para elevar-se sobre os artelhos, flexão de braço,

apertar uma bola de tênis, o paciente cansa-se rapidamente; nas atividades

de vida diária, se cansa rapidamente e queixa-se de sentir-se pesado.

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Para avaliar o equilíbrio e controle postural é preciso manter o

membro contra a ação da gravidade, como resposta positiva apresenta o

tremor postural; empurrar levemente o paciente inesperadamente quando

ele estiver sentado ou em pé, o paciente perde o equilíbrio facilmente; ficar

em pé sobre um pé, ou andar para trás, perde o equilíbrio facilmente; a

postura em pé, os pés se encontram separados, tronco levemente fletido,

precisa de suportar estabilidade e tremor postural das pernas.

Quando vamos testar a dismetria no paciente, pedimos para ele fletir

os braços para uma posição de 90 graus, elevá-los rapidamente acima da

cabeça e então voltar para a posição de 90 graus, o paciente não é capaz de

voltar para a posição de 90 graus sem erros inicial. Colocar um pino no

orifício, traçar um círculo com um lápis, traçar círculo no chão com o dedão,

deslizar o calcanhar descendo pela canela lentamente, colocar os pés sobre

as marcas enquanto anda, o paciente apresenta como resposta tremor

intencional, ultrapassa ou pára antes do alvo;é importante fazer uma

resistência à flexão do cotovelo do paciente e liberar inesperadamente, o

braço ricocheteia; fletir e estender voluntariamente o joelho ou o cotovelo em

posição suportada e sem suporte, o membro fica atáxico ou sem suporte;

esforço isométrico submáximo contra força de transdução, o início e

libaração da força do membro envolvido ficam retardados.

A marcha na cadência, se torna incapaz de seguir o ritmo, marcha

sobre os calcanhares ou artelhos, perde o equilíbrio e o ritmo; andar em

sentido horário e anti-horário, cai em uma direção; andar em superfície

irregular, não consegue se equilibrar e cai; o padrão de marcha é típico,

lento, cai facilmente, não tem ritmo, comprimento e altura dos passos são

irregulares.

Para se testar a disdiadococinesia é só pedir ao paciente para bater a

mão no joelho ou os artelhos no chão, rapidamente perde o ritmo e

amplitude; andar o mais rápido possível, a marcha se torna muito

comprometida somente quando for rápida.

Para a avaliação da decomposição do movimento pede-se para que o

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Paciente em decúbito dorsal toque o calcanhar no joelho oposto, sinal

positivo o movimento é quebrado em fases separadas, sem fluência.

O movimento do paciente com lesão cerebelar, parece como se

estivesse em câmera lenta, mecânica como como um fantoche. Suas

atividades de vida diária torna-se comprometida, incapaz de escovar os

dentes, cortar comida, ou agitar o saleiro.

A fisioterapia tem como suas metas, restaurar as funções

comprometidas, melhorando a força muscular, equilíbrio, coordenação,

marcha e as atividades de vida diária desse paciente, lhe proporcionando

melhor qualidade de vida.

3.2. Psicomotricidade – avaliação e metas

A psicomotricidade tem como o significado um entrelaçamento entre

o movimento e o pensamento. Existe uma estreita relação entre as

anomalias psicológicas e as anomalias motrizes, o que levou a formular o

termo psicomotricidade.

Uma análise do homem primitivo ressaltando como desafio de sua

sobrevivência estava ligado ao desenvolvimento psicomotor. Atividades

básicas como pescar, colher alimentos, comer, são objetivos psicomotores

essenciais para a continuação da existência. Necessitam de agilidade, força,

velocidade e coordenação. A recreação, os ritos cerimoniais e as danças

para os deuses, a criação de objetos de arte também eram atividades

desenvolvidas por eles. Estruturaram suas experiências de movimentos em

formas utilitárias mais precisas., O homem de hoje também necessita

dessas habilidades, embora tenha se aperfeiçoado mais para uma melhor

adaptação ao meio em que vive.

Necessita ter um bom domínio corporal, boa percepção auditiva e visual, uma lateralização bem definida, faculdade de simbolização, orientação espaço-temporal, poder de concentração, percepção de forma, tamanho, número, domínio dos diferentes comandos psicomotores com o coordenação fina e global, equilíbrio (OLIVEIRA, 2002, p. 30).

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A psicomotricidade de maneira geral, salienta a importância do

aspecto objetivo anterior a qualquer tipo de comportamento. E importante

expressão corporal para a comunicação verbal, essa relação é fundamental

para a gênese psicomotora; a ação desempenha o papel fundamental de

estruturação cortical na base da representação, portanto o movimento

assume grande significado.

O mundo das emoções mais tarde dará origem ao mundo da

representação, o movimento é um elemento básico para reflexão humana.

Fonseca (1995), afirma que o movimento, pensamento e linguagem

são uma unidade inseparável. O movimento é o pensamento em ato, e o

pensamento é o movimento sem ato.

A avaliação psicomotora é realizada em várias etapas que

descreveremos a seguir: equilíbrio, coordenação óculo-manual, esquema

corporal, adaptação espacial, ritmo e lateralização.

No equilíbrio, temos que avaliar tanto estático como o equilíbrio

dinâmico. No equilíbrio estático observar apoio retilíneo, ponta dos pés e

apoio num só pé ( direito e esquerdo), no equilíbrio dinâmico observar a

marcha, as fases da marcha, se é controlada ou em cadência livre, andar em

linha reta, pedir para dar meia volta, saltos com um pé só, com os pés

juntos.Quando avaliamos a coodenação óculo-manual, devemos anotar as

tentativas e sempre avaliar direita e esquerda; coordenação óculo-pedal, da

mesma maneira; coordenação dinâmica manual, observar o tempo de

composição e decomposição do movimento. Já no Esquema corporal,

conhecimento do corpo, da face, imitação de gestos, desenho do corpo e

espelho. Na adaptação espacial, esta avaliação é realizada com a

reprodução de estruturas espaciais, vamos avaliar: esquerda, direita; alto,

baixo; simetria, inversão; em cima, embaixo; à frente, atrás; inclinação;

horizontal e vertical. Podemos avaliar o rítmo da várias maneiras: na própria

marcha, com marcação de música, batida de palmas, lápis, e pede-se ao

paciente para reproduzir.Já a lateralização, lateralidade ocular solicitamos ao

paciente que acompanhe im objeto com os olhos, lateralidade auditiva faz-se

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um sinal sonoro e ver que lado do corpo vai apresentar rotação;

lateralidade manual, observar a mão que toma a iniciativa por exemplo para

pegar uma bola que foi arremessada; lateralidade pedal, avaliar

determinando o pé equilibrador, lateralidade expressiva, observar lado direito

e esquerdo por exemplo mão preferida, mão mais forte, dar um grande

passo, primeiro a entrar nas calças, calçar sapatos, pentear, escovar os

dentes, virar páginas de um livro , dar um tapa.

A psicomotricidade tem como metas auxiliar o indivíduo a se

organizar como um todo, aspectos motores e psicológicos, pois através do

pensamento é que se forma o movimento, e após uma avaliação poderemos

decidir quais as metas seguir durante a terapia, pois nem todos os pacientes

apresentam todas as alterações, podem apresentar apenas duas ou três e

através de uma atenciosa avaliação é que poderemos prosseguir.

A avaliação da disfunção do controle motor é um processo

multifacetado que busca identificar áreas de deficiência na função periférica

ou central. Assim, aqui devem ser consideradas diversas avaliações.

A testagem das funções do controle motor baseia-se amplamente

numa apreciação subjetiva da função, frequentemente um difícil processo. A

chave para a avaliação e reavaliação bem sucedida é a observação

cuidadosa e sistemática e o registro acurados dos resultados. Pode ser

utilizado vários sistemas de pontuação e formulários de avaliação.

3.3. Tratamento

Os pricinpais objetivos no tratamento do paciente com lesão

cerebelar são: estabilidade postural, marcha funcional, precisão de

movimentos dos membros e força muscular.

O programa que será descrito a priori é para um paciente com lesão

relativamente grave, porém estabilizada que poderia ter sido produzida por

um trauma ou AVC (acidente vascular cerebral), e depois o tratamento vai

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evoluir de acordo com o paciente e constará de várias etapas que

descreveremos a seguir.

3.3.1. Controle da cabeça e tronco

Um paciente com instabilidade postural precisa ser assistido

sequencialmente para cada nível de postura. Um paciente só senta quando

tiver controle da cabeça e tronco suficiente, e candidato para ficar em pé

somente quando o equilíbrio em pé puder ser mantido. Quando o paciente

tem controle de cabeça inadequados, eles podem ser tratados em decúbito

ventral, ficando apoiados nos cotovelos com um travesseiro sob o tórax ou

podem ser colocados sobre um rolo, o tratamento pode ser feito com o

paciente sentado, com os quadris bem fletidos e deslocados para trás em

uma cadeira, os pés planos no solo, e os cotovelos com suporte em um

travesseiro. A nossa meta é fazer o paciente levantar a cabeça e mantê-la

parada. Podemos ajudar usando de três a cinco segundos de gelo nos

extensorres do pescoço seguido por resistência pesada para os extensores

para manter a extensão na amplitude encurtada, com compressão para

baixo nos ombros.De acordo com o progresso vamos oferecendo menos

suporte, até que consiga realizar sozinho.

3.3.2. Equilíbrio sentado

Podemos trabalhar o equilíbrio sentado utilizando uma cadeira sem

braços ou sem encostos, dependendo do paciente, o lugar mais seguro é a

beira do tablado. Pra promover estabilidade do tronco aproximados a

articulação do quadril ou ombros, e para ajudar a manter a contração dos

músculos do tronco, a estabilização rítmica para a rotação do tronco pode

ser utilizada. O terapeuta pode ajudar o paciente a controlar o equilíbrio

unindo as mãos com as do paciente e deixando-o encontrar uma leve

resistência através de seus braços entendidos. Devemos estimular a

transferência de peso em todas as direções enquanto está sentado, pode

inicialmente utilizar as duas mãos como suporte e progredindo até não usar

mais as mãos como suporte, pedir também ao paciente para trabalhar o

equilíbrio com os braços acima da cabeça e o tronco rodado.

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Para as etapas progridirem é muito importante trabalhar o tronco

desse paciente, fortalecer o tronco, pois esse paciente terá melhores

chances de progredir, pois o tronco é a base de tudo, podemos fortalecer o

tronco pedindo ao paciente para realizar abdominais, primeiramente ativo-

assistido e depois ativamente.

3.3.3. Levantar de decúbito dorsal ou ventral para sentado

Para alcançarmos esse objetivo o trabalho deverá ser feito sobre um

tablado.O procedimento usado dependerá do peso do paciente, lado

compromentido e força muscular. Um indivíduo muito pesado pode precisar

primeiro rolar para um lado e empurrar-se para cima a partir do decúbito

lateral. Deve ficar a beira da mesa com os joelhos dobrados e os pés

inteiramente apoiados na mesa. A medida que os joelhos caem para o lado

o tronco deve rodar também. Quando o paciente alcançar o decúbito lateral

sozinho, ele pode progredir deixando cair suas pernas para fora da mesa e

empurrando com os braços para a posição sentada.

Outro método que pode ser utilizado para levantar é usar os músculos

abdominais, que precisam estar fortalecidos, o paciente pode deixar a perna

cair para fora da mesa, colocando o pé no chão se possível, o paciente

então usa os músculos abdominais e o iliopsoas para levantar-se e sentar-

se.

3.3.4. Preparo para a deambulação

A primeira etapa para a deambulação é trabalhar a estabilidade no

quadril, que será necessária para ficar de pé, vamos trabalhar a posição

quadrúpede ou ajoelhado sobre um tablado. Isso permite que o paciente

pratique a transferência de peso através dos quadris. Podemos utilizar

também barras fixas, o paciente assume a posição ajoelhada, senta sobre

os calcanhares e depois retifica o tronco e as pernas.

Pacientes com idade mais avançadas podem não conseguir ficar na

posição de quadrúpede, então pularemos essa etapa, e também preparar o

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sistema cardiovascular para que ele fique em pé ou em uma prancha

ortostática. Podemos utilizar barras paralelas e o paciente se levanta da

cadeira deslizando para frente e flete o tronco consideravelmente, colocando

o centro de gravidade sobre os pés, o tronco e pernas só devem ser

estendidos após ter sido obtido equilíbrio sobre os pés.

Depois de ter conseguido ficar de pé devemos trabalhar o equilíbrio,

pacientes entre as barras paralelas de frente para um espelho utilizamos

uma prancha para trabalhar melhor o equilíbrio e podemos utilizar também a

bola suíça, o tremor pode ser reduzido colocando pesos no tornozelo. O que

se espera é que o paciente possa aprender a ficar em pé e se manter na

posição sem tracionar as barras. Essas atividades podem ser praticadas

com ritmo e música para promover melhor habilidade e o espelho é

indispensável.

3.3.5. Deambulação

Quando o paciente começa a andar em barras, ele precisa de

feedback verbal para que realize a atividade passo a passo, vamos trabalhar

a rotação de tronco, dissociação de cintura e movimentos acessórios.

Quando estiver pronto para andar fora das barras, poderá utilizar um

andador, bengalas ou muletas. Com a evolução do paciente vamos trabalhar

a cadência da marcha, ritmo, subir e descer escadas, vamos aumentando as

dificuldades de acordo com o paciente.

Podemos trabalhar a marcha e a dismetria pedindo o paciente que

ande sobre linhas feitas pelo terapeuta no chão.

3.3.6. Atividades que ajudarão a reduzir a dismetria

O método de Frenkel, que logo após iremos descrever, são exercícios

que reforçam o engrama sensoriomotor para a aquisição da coordenação.

Tendo como principal objetivo reforçar o desempnho de cada atividade

motora, visando retreinar a coordenação nas disfunções cerebelares.

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Os pontos essenciais do método são: concentração da atenção;

precisão; repetição; evitar fadiga; iniciar toda a atividade lentamente.

A técnica do método de Frenkel será descrito a seguir : o paciente

deverá se posicionar de tal maneira que permita ser autovisualizar, instruir o

paciente verbalmente, o início deve ser lento com movimentos simples sem

a ação da gravidade e com intervalos de repouso, o ritmo marcado pelo

terapeuta segundo a velocidade desejada, a freqüência deve ser de três em

três horas, ou quando possível o atendimento para conseguir automatismo,

realizar exercícios com os olhos abertos e depois fechados, sempre iniciar

nas grandes articulações e aumentar o grau de dificuldade dos exercícios de

acordo com a evolução do paciente. Jamais passar para um grau mais

evoluído se o paciente ainda não dominou o anterior.

Paciente em decúbito dorsal, flexão de coxa e perna deslizando a

planta do pé sobre o leito, flexão de coxa e perna, porém realizando parada

na metade do percurso, flexão de coxa e perna e abdução de coxa, flexão

de coxa e perna, porém parando na metade do percurso, realizar o exercício

de flexão de coxa e perna deslizando a planta do pé sobre o leito, porém

com os dois membros inferiores, flexão de coxa e perna, parando na metade

do percurso com os dois membros inferiores, flexão de coxa e perna e

abdução da coxa com os dois membros inferiores, flexão de coxa e perna

parando na metade do percurso com os dois membros inferiores, flexão de

coxa e perna sem encostar os pés no leito (elevado em cinco centímetros),

levar o calcanhar a patela do membro inferior contralateral, deslizar o

calcanhar pela tíbia, flexão de coxa, perna e pé, flexão de coxa , perna e pé

parando na metade do percurso, flexão de coxa, perna e pé com o membro

inferior elevado cinco centímentros, colocar o calcanhar na marcação, seguir

com o artelho o dedo do terapeuta, realizar os exercícios anteriores só que

alternadamente.

Com o paciente sentado devemos ficar dois minutos sobre cadeiras

com braços e encosto (pés apoiados), dois minutos sobre cadeiras sem

braços (pés apoiados), dois minutos em um banco (pés apoiados), elevar

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calvanhares alternadamente, levantar todo o pé, levantar todo o pé

colocando-o na marcação, seguir a linha com o pé, levantar e sentar no

ritmo, fletir pernas com os pés apoiados, fletir tronco, estender membros

inferiores e endireitar o tronco, fletir membros inferiores e endireitar o tronco,

sentar.

Com o paciente em pé caminhar de lado para a direita, colocar peso

em membro inferior esquerdo, retirar o membro inferior direito do solo e

transpotá-lo para a direita, transferir peso para o membro inferior direito e

aproximar o membro inferior esquerdo para o membro inferior direito.

Para trabalhar a dismetria nos membros superiores a facilitação

neuro-muscular proprioceptiva, pode ajudar; é um recurso terapêutico

cinético que por meio de técnicas desenvolvidas busca melhorar a qualidade

e aumentar a velocidade das respostas do aparelho neuromuscular através

de estímulos da sensibilidade proprioceptiva. Procura-se um equilíbrio

através do complexo mecanismo músculo-sistema nervoso receptores

proprioceptivos. O método Kabat tem como objetivos: aumentar a potência

muscular, aumentar a velocidade da execução do movimento, aumentar a

precisão do movimento, recuperar a função dos músculos estabilizadores. A

combinação de movimentos, resistência máxima, estiramento diagonal e

espiral, o mais forte ajudando o mais fraco.

De acordo com a evolução motora do paciente, quando ele já possuir

a marcha de maneira independente podemos entrar com as atividades

psicomotoras em grupo, que além de auxiliar a parte motora, vai trabalha o

aspecto psicosocial através do lúdico. Um grupo de pessoas na mesma faixa

etária e com alterações motoras em comum, podem se ajudar mutuamente

quando trabalham juntos, porque ocorre a troca entre eles.

No caso de pacientes com lesão cerebelar o grupo não deve

ultrapassar o número de oito pessoas, para que o terapeuta dê a real

atenção que eles precisam.

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Vamos trabalhar de início esquema corporal, numa sala com

espelhos, coloca-se uma música e pede-se aos pacientes que se olhem; e

vejam também o outro, e se toquem. Essa atividade é muito difícil de ser

realizada quando se trabalha com pacientes do sexo masculino, porque não

gostam de se tocar. Ainda trabalhando esquema corporal pedimos para que

sentados no chão formem um círculo e com massinhas de modelar, cada um

faça um boneco que o represente; Além de esquema corporal também

trabalharemos coordenação motora fina com essa atividade.

Para trabalhar coordenação motora global e também dismetria,

pedimos para que façam duas filas, e com uma bola, passem por cima da

cabeça até o último que corre até a frente para passar novamente a bola;

também podemos pedir que a bola volte sendo passada por debaixo das

pernas. Ainda trabalhando a dismetria colaremos fitas adesivas no chão de

várias cores para ajudar na orientação do paciente quando receber o

comando; colocamos a fila em linha reta e em círculos e pedimos ao grupo

que ande em fila reta, para frente, para trás, em círculos, depois de ter

dominado esses passos andando em zig zag e isso num tempo ritimado por

palmas ou música, o grupo se divide em dois, e troca de lugar do círculo ou

da reta de acordo com o comando do terapeuta. Utilizar a brincadeira de

batata quente também trabalha o ritmo e o tempo, com uma música de

fundo. Ainda utilizando que estamos em círculo o terapeuta vai para o centro

e joga a bola para qualquer um deles, que tem de pegar com apenas uma

das mãos. Essa atividade é muito importante para trabalhar o equilíbrio. A

dança das cadeiras também é muito interessante pois trabalha, a

lateralidade, ritmo e dismetria. Ainda trabalhando dismetria e coordenação

motora fina podemos pedir para catar feijões, jogar resta um, colocar uma

linha no fundo de uma agulha; na atividade da agulha é importante que o

paciente já esteja com a dismetria controlada e tomar muito cuidado para

que ele não se fure, podemos isolar a ponta com um pedacinho de papelão

ou esponjas.

Existem várias atividades que poderiam ser descritas, porém

destacamos algumas, e o principal é ter em mente atividades que vão

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desenvolver as habilidades que o paciente precisa utilizar nas suas

atividades de vida diária, para que dentro de suas limitações tenha maior

independência possível. O paciente com lesão cerebelar não gosta de se ver

como um inválido, principalmente quando a lesão atinge pacientes idosos e

do sexo masculino.

3.4. Relação da fisioterapia com a psicomotricidade nas

lesões cerebelares.

A fisioterapia a pricípio se preocupa em auxiliar o paciente com lesão

cerebelar a retornar a sua independência nas atividades de vida diária,

realizando a mesma atividade várias vezes, para que reforçando o engrama

sensoriomotor esse paciente possa realizar suas tarefas cada vez mais

rápido e com menos erros, como por exemplo, apertar parafusos. Se

analisarmos o paciente somente no ângulo motor essa recuperação será

mais lente e limitada. Devemos nos preocupar com o sentimento que forma

o movimento, como foi descrito anteriormente o movimento é o pensamento

em ato. É muito importante trabalharmos o movimento com o sentimento,

pois além da lesão neurológica existente, esses pacientes estão passando

por uma decadência biológica natural, envolvendo declínio de funções

psíquicas e vitais que vem acompanhados de sentimentos de perda,

irritabilidade, levando ao idoso a ter mais problemas de baixa auto-estima e

depressão; ou seja as atividades psicomotoras trabalhadas de forma lúdica,

só vem completar o trabalho da fisioterapia para uma recuperação mais

rápida do paciente. A visão psicomotora de atividades trabalhadas em grupo

só vem complementar a fisioterapia que tem um olhar mais individual para o

paciente. Ou seja, a fisioterapia apesar de uma clínica cheia, trabalhamos

com vários pacientes com patologias deferentes, ou seja, um olhar voltado

para cada um invidualmente. Já a psicomotricidade reúne pacientes com as

mesmas debilidades para um trabalho em conjunto, assim sendo, há uma

troca maior entre esses pacientes, além da terapia, que vai auxiliar numa

recuperação muito mais rápida; e esses pacientes terão uma motivação a

mais para continuar. O aspecto social que o faz se sentir aceito pelo grupo é

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indispensável para o sucesso de qualquer terapia, e esse aspecto a

psicomotricidade trabalha muito bem.

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45

CONCLUSÃO

Para compreender a proposta descrita neste trabalho de síndrome

cerebelar, não podemos simplesmente analisar a síndrome no momento da

lesão, precisamos conhecer toda a anatomia do cerebelo, divisões e

conexões, para melhor entendermos que se certa estrutura anatômica for

lesionada ou conexão interrompida quais alterações surgiriam. Como foi

visto no capítulo um as fibras aferentes de origem vestibular trazem

informações sobre a posição da cabeça, importante para a manutenção da

postura e do equilíbrio, já as fibras aferentes de origem pontina estão

relacionadas com as áreas sensitivas, visão, audição e linguagem. As

conexões eferentes da zona intermédia estão relacionadas com os músculos

distais dos membros responsáveis por movimentos delicados. E não

poderíamos deixar de citar que o cerebelo funciona ao contrário do cérebro,

influenciando os neurônios motores do seu próprio lado. Isso é um fato

importante pois a lesão de um hemisfério cerebelar dá sintomatologia do

mesmo lado, enquanto no hemisfério cerebral a sintomatologia é do lado

oposto. Do ponto de vista fisiológico o cerebelo se difere fundamentalmente

do cérebro porque funciona sempre no nível involuntário e inconsciente,

sendo sua função exclusivamente motora.

A função primária do cerebelo diz respeito à coordenação da

atividade motora, equilíbrio, tônus muscular e controle dos movimentos

voluntários; o controle do tônus muscular está ligado a ação dos núcleos

denteado e interpósito, agindo sobre os neurônios motores via tractos

corticos-espinhal e rubro-espinhal, já a manutenção da postura e do

equilíbrio o arquiocerebelo é responsável. Conhecendo a estrutura

anatômica do cerebelo e quais as principais possibilidades de lesão, temos

como problema, quais as alterações do controle motor são apresentadas por

pacientes com lesão cerebelar. As lesões cerebelares se dividem em: lesão

do arquiocerebelo, paleocerebelo e neocerebelo, o segundo capítulo

mostrou essas alterações sendo as principais: ataxia,e todos os seus

transtornos de movimentos, hipotonia e nistagmo.

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46

O terceiro capítulo se preocupou em apresentar os tratamentos

fisioterápicos e atividades psicomotoras utilizados para uma melhor

recuperação desses pacientes, utilizando técnicas direcionadas para

pessoas com distúrbios cerebelares. A melhora da função motora desses

pacientes é clara, apesar de nas atividades psicomotoras os pacientes do

sexo masculino demonstrarem uma certa resistência, para as atividades em

grupo, mas quando se trabalha a conscientização das atividades para

melhor restauração das sua funções motoras, eles acabam concordando

com a terapia juntamente com a fisioterapia, mas eles preferem atividades

individuais. É claro que a melhora da função motora é mais lenta devido a

idade mais avançada, pois ocorre uma decadência biológica natural,

tornando a reaprendizagem do movimento mais difícil.

Concluímos que: com base nos dados apresentados sustentamos a

seguinte hipótese, pacientes a partir dos 55 anos de idade, apesar de

precisar de um período maior de tratamento, e de mais atenção, eles

conseguem se recuperar dos trantornos motores e tornar-se independentes

nas suas atividades de vida diária. Principalmente no caso desses pacientes

que apresentam lesão cerebelar degenerativa, e não uma lesão aguda em

que a recuperação seria muito mais difícil. Mas não podemos deixar de citar

que essa melhora decorre de um tratamento contínuo.

Poderíamos ainda sugerir novas pesquisas a partir do assunto

apresentado, por exemplo:

Degeneração cerebelar paraneoplásica, essa degeneração pode

ocorrer com efeito remoto de câncer sistêmico, dos brônquios, seios e

ovários são as neoplasia mais comumentes associadas. A degeneração

paraneoplásica afeta o verme cerebelar e hemisférios de forma difusa, o

mecanismo patogênico não foi definido, as doenças cerebelares podem

aparecer antes ou logo após o diagnóstico de câncer, que tipicamente se

desenvolve ao longo dos meses. Também apresentará ataxia da marcha e

outros sintomas relacionados com síndrome cerebelar.

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47

Degeneração cerebelar alcoólica,se desenvolve nos alcoólicos

crônicos e apresentam uma deficiência nutricional. As alterações

degenerativa no cerebelo, são restritas, em sua maioria ao verme uma vez

que esse também é o local cerebelar na encefalopatia Wernic, distúrbios

podem ser parte do espectro clínico. A degeneração cerebelar alcoólica em

geral é incidiosa em seu aparecimento e é gradual, alcançando as vezes um

nível estável de déficit. A ataxia, disartria e hipotonia de tronco também se

encontram presente.

Esclerose múltipla, caracteriza-se pela presença de desmielinização

do sistema nervoso central. Sua causa é desconhecida e atinge indivíduos

na terceira década de vida. A doença evolui em surtos de desmielinização

gerando, na fase aguda sintomas que variam conforme o local acometido,

deixando sempre um grau de seqüela. A esclerose múltipla pode produzir

distúrbios de origem cerebelar. Os sinais cerebelares estão associados a

desmielinização da substãncia branca do cerebelo, pedúnculos cerebelares

ou tronco. A ataxia na marcha está presente em um terço dos pacientes

examinados, o nistagmo também é um sinal importante.

É importante ressaltar que tanto a síndrome cerebelar, a degeneração

cerebelar paraneoplásica, degeneração cerebelar alcoólica e a esclerose

múltipla, apesar de mecanismos lesionais diferentes, apresentam

características sintomáticas em comum, pois tem como base de uma forma

ou de outra alterações na estrutura do cerebelo. Pacientes com essas

alterações, podem apresentar pertubações cognitivas e comportamentais

como: depressão, ansiedade, negação, raiva, agressão ou dependência em

resposta ao estresse de uma doença crônica, daí vem a importância de se

trabalhar os sentimentos envolvidos nessas alterações, e o aspecto social é

muito bem trabalhado quando em grupo ocorre a troca entre eles sobre suas

dificuldades e vitórias durante o tratamento. Um motivando o outro.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

- BEVILACQUA, Fernanda; BENSOUSSAN, Eddy; JANSEN, José Manoel;

CASTRO, Fernando Espíndola. Fisioterapia Clínica. São Paulo: Atheneu,

1998.

- COTRAN, Robbins. Patologia Estrutural e Funcional. Rio de Janeiro:

Interamericana, 1983.

- FONSECA, Vítor. Manual de Observação Psicomotora. Porto Alegre: Artes

Médicas, 1995.

- LEVIN, Esteban. A Clínica Psicomotora, o Corpo na Linguagem.2ª ed.

Petrópolis: Vozes, 1999.

- MACHADO, Ângelo.Neuroanatomia Funcional. 2ª ed. São Paulo: Atheneu,

1993.

- MARIE, Agnes Michele; LORENZON, Delobel. Psicomotricidade Teoria e

Prática. Porto Alegre: edição EST, 1995.

- OLIVEIRA, Gislene de Campos; Psicomotricidade. 7ª ed. Petrópolis :

Vozes, 2002.

- STOKES, Maria. Neurologia para fisioterapeutas. São Paulo: Premier,

2000.

- UMPHRED, Darcy Na. Fisioterapia Neurológica. 2ª ed. São Paulo: Manole,

1994.

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ANEXOS

1.1 (MACHADO, 1993, p.49).

1.2 (MACHADO, 1993, p. 50)

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50

1.3(MACHADO,1993, p.52).

1.4 (MACHADO, 1993, p. 219).

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51

1.5 (MACHADO, 1993, p. 221).

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52

1.6 (MACHADO, 1993, p. 223).

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53

1.7 (MACHADO, 1993, p. 224).

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ÍNDICE INTRODUÇÃO 08

1. ANATOMIA E DIVISÕES DO CEREBELO 11

1.1 Divisão ontogenética e filogenética 12

1.2 Núcleos centrais do corpo medular do cerebelo 14

1.3 Conexões intrínsecas do cerebelo 15

1.4 Conexões extrínsecas 16

1.5 Conexões aferentes 16

1.5.1 Fibras aferentes de origem vestibular 16

1.5.2 Fibras aferentes de origem medular 16

1.5.3 Fibras aferentes de origem pontina 17

1.6 Conexões eferentes 17

1.6.1 Conexões eferentes da zona medial 18

1.6.2 Conexões eferentes da zona intermédia 18

1.6.3 Conexões eferentes da zona lateral 18

1.7 Aspectos funcionais do cerebelo 18

1.7.1 Manutenção do equilíbrio e da postura 20

1.7.2 Controle do tônus muscular 21

1.7.3 Controle dos movimentos voluntários 21

2. DISFUNÇÃO CEREBELAR 22

2.1 Ataxia 23

2.1.1 Dismetria 23

2.1.2 Assinergia 24

2.1.3 Disdiadococinesia 24

2.1.4 Decomposição do movimento 24

2.1.5 Tremor 25

2.1.6 Distúrbios da marcha 25

2.1.7 Distúrbios da fala 26

2.2 Hipotonia 26

2.2.1 Astenia 27

2.2.2 Reflexos profundos do tipo pendular 28

2.2.3 Fenômeno de rebote 28

2.3 Nistagmo 28

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3. RECUPERAÇÃO DAS LESÕES CEREBELARES 31

3.1 Fisioterapia – avaliação e metas 31

3.2 Psicomotricidade – avaliação e metas 34

3.3 Tratamento 36

3.3.1 Controle da cabeça e tronco 37

3.3.2 Equilíbrio sentado 37

3.3.3 Levantar de decúbito dorsal ou ventral para sentado 38

3.3.4 Preparo para deambulação 38

3.3.5 Deambulação 39

3.3.6 Atividades que ajudarão a reduzir a dismetria 39

3.4 Relaçao da fisioterapia com a psicomotricidade 43

CONCLUSÃO 45

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 48

ANEXOS 49

ÍNDICE 55

FOLHA DE AVALIAÇÃO 57

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PROJETO VEZ DO MESTRE

Pós-Graduação “Lato Sensu”

Título da monografia: Síndrome cerebelar: alterações no controle motor

decorrentes de lesões cerebelares.

Data da entrega: 20 de Julho de 2004

Avaliação:

_____________________________________________________________

_____________________________________________________________

_____________________________________________________________

_____________________________________________________________

_____________________________________________________________

_____________________________________________________________

_____________________________________________________________.

Avaliado por: ___________________________________Grau___________.

_________________________, ______de_______________de_______