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Síntese de alguns Documentos e Instruções. Congregação para o Culto divino e a disciplina dos Sacramentos. “Instrução Redemptionis Sacramentum sobre alguns aspectos que se deve observar e evitar acerca da Santíssima Eucaristia”. São Paulo: Paulinas, 2004 3 . Doutrina sobre a Santíssima Eucaristia – bem espiritual da Igreja: o próprio Cristo, nossa Páscoa (1Cor 5,7; PO, n. 5, 7), fonte e ápice (LG, n. 11, 21) de toda a vida cristã, cujo influxo causal está nas próprias origens da Igreja (Proêmio, n. 2). Objetivo específico da Instrução: salvaguardar devidamente também hodiernamente um tão grande mistério na celebração da sagrada liturgia [...]; reforçar o sentido profundo das normas litúrgicas (EcEu, n. 52), e indicar outros que expliquem e completem os anteriores, esclarecendo-os aos bispos, mas também aos sacerdotes, aos diáconos e a todos os fieis leigos, para que cada um os coloque em prática segundo o próprio ofício e as suas possibilidades (idem, n. 2.2-3). Reconhecimento de que a reforma litúrgica do Concílio Vat. II trouxe: a) vantagens: participação mais consciente, ativa e frutuosa dos fieis no santo sacrifício do altar (EcEu, n. 10). b) desvantagens: abusos, que comprometem as celebrações litúrgicas. “Contribuem para obscurecer a reta fé e a doutrina católica acerca deste admirável sacramento” (EcEu, n. 10). Assim, impede-se também “que os fieis possam (...) reviver a experiência de Emaús: ‘Abriram-se-lhes os olhos e reconheceram-no’” (Lc 24,31). 2. Fundamento desses abusos: a) falso conceito de liberdade. Porém, em Cristo, Deus nos concede a liberdade mediante a qual podemos fazer aquilo que é digno e justo, e não aquilo que queremos e que pensamos ser conveniente, muitas vezes em detrimento dos outros (idem, n. 7- 8). b) muitas vezes na ignorância, pois ao menos se rejeita aquilo do qual não se percebe o sentido mais profundo, nem se conhece a antiguidade. A Sagrada Escritura fornece “inspiração e espírito” para “os hinos e orações e dela as ações e os sinais sagrados derivam o seu significado” (SC, n. 24). Quanto aos sinais visíveis, “dos quais a liturgia se serve para manifestar as coisas divinas invisíveis, foram escolhidos por Cristo e pela Igreja” (SC, n. 33; cf. Instrução, n. 9). Uma observação meramente exterior das normas contrastam com a essência da sagrada liturgia, na qual Cristo quer reunir a sua Igreja para que seja com Ele “um só corpo e num só espírito” ( idem, n. 5; cf. 1Cor 12,12-13; Ef 4,4).

Sintese de Alguns Documentos e Instrucoes

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Documentos e intruções liturgicas

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Sntese de alguns Documentos e Instrues.Congregao para o Culto divino e a disciplina dos Sacramentos. Instruo Redemptionis Sacramentum sobre alguns aspectos que se deve observar e evitar acerca da Santssima Eucaristia. So Paulo: Paulinas, 20043.Doutrina sobre a Santssima Eucaristia bem espiritual da Igreja: o prprio Cristo, nossa Pscoa (1Cor 5,7; PO, n. 5, 7), fonte e pice (LG, n. 11, 21) de toda a vida crist, cujo influxo causal est nas prprias origens da Igreja (Promio, n. 2).

Objetivo especfico da Instruo: salvaguardar devidamente tambm hodiernamente um to grande mistrio na celebrao da sagrada liturgia [...]; reforar o sentido profundo das normas litrgicas (EcEu, n. 52), e indicar outros que expliquem e completem os anteriores, esclarecendo-os aos bispos, mas tambm aos sacerdotes, aos diconos e a todos os fieis leigos, para que cada um os coloque em prtica segundo o prprio ofcio e as suas possibilidades (idem, n. 2.2-3).Reconhecimento de que a reforma litrgica do Conclio Vat. II trouxe: a) vantagens: participao mais consciente, ativa e frutuosa dos fieis no santo sacrifcio do altar (EcEu, n. 10).b) desvantagens: abusos, que comprometem as celebraes litrgicas. Contribuem para obscurecer a reta f e a doutrina catlica acerca deste admirvel sacramento (EcEu, n. 10). Assim, impede-se tambm que os fieis possam (...) reviver a experincia de Emas: Abriram-se-lhes os olhos e reconheceram-no (Lc 24,31).

2. Fundamento desses abusos: a) falso conceito de liberdade. Porm, em Cristo, Deus nos concede a liberdade mediante a qual podemos fazer aquilo que digno e justo, e no aquilo que queremos e que pensamos ser conveniente, muitas vezes em detrimento dos outros (idem, n. 7-8).b) muitas vezes na ignorncia, pois ao menos se rejeita aquilo do qual no se percebe o sentido mais profundo, nem se conhece a antiguidade. A Sagrada Escritura fornece inspirao e esprito para os hinos e oraes e dela as aes e os sinais sagrados derivam o seu significado (SC, n. 24).

Quanto aos sinais visveis, dos quais a liturgia se serve para manifestar as coisas divinas invisveis, foram escolhidos por Cristo e pela Igreja (SC, n. 33; cf. Instruo, n. 9).Uma observao meramente exterior das normas contrastam com a essncia da sagrada liturgia, na qual Cristo quer reunir a sua Igreja para que seja com Ele um s corpo e num s esprito (idem, n. 5; cf. 1Cor 12,12-13; Ef 4,4).

As palavras e os ritos da liturgia so expresso fiel amadurecida nos sculos dos sentimentos de Cristo e nos ensinam a sentir com Ele (Fl 2,5): conformando a nossa mente com aquelas palavras, elevamos ao Senhor os nossos coraes (idem, n. 5).- A Eucaristia um dom demasiado grande para suportar ambiguidades e redues. - oportuno corrigir e definir com maior cuidado alguns elementos, de modo que tambm nesse mbito a Eucaristia continue a resplandecer em todo o fulgor do seu mistrio (EcEu, n. 10; Instruo, n. 8).- A prpria Igreja no tem nenhum poder sobre aquilo que foi estabelecido por Cristo e que constitui parte imutvel da liturgia (SC, n. 21).

A Liturgia compe-se duma parte imutvel, porque de instituio divina, e de partes suscetveis de modificao, as quais podem e devem variar no decorrer do tempo, se porventura se tiverem introduzido nelas elementos que no correspondam to bem natureza ntima da Liturgia ou se tenham tornado menos apropriados (SC, n. 21).- nexo entre a lex orandi e a lex credendi.

Segundo Wainwright, j Paulo fez assim, quando, a partir de critrios doutrinais, como a inteligibilidade da mensagem crist, a prioridade da edificao da Igreja, o fato de Deus ser um Deus da paz e no da confuso, tratou de estabelecer regras para as prticas carismticas no culto em Corinto (cf. 1Cor 14). No mesmo sentido vai a instruo sobre a ceia do Senhor, em 1Cor 11, baseada na soteriologia e na escatologia. Na Igreja antiga encontramos reclamaes de Orgenes sobre os bispos que introduzem na orao eucarstica idias excntricas que querem propagar28. Cipriano denuncia o uso de palavras ilcitas na orao eucarstica pelos novacianos29.

WAINWRIGHT: ob. cit., 251-271.

28 Cf. ORGENES: Dilektoi prs Herakleiden, 4. SChr 67, 62-62, no contexto de tudo que precede. Cf. Entretien dOrigne avec Hraclide. Introduction, textes, traduction et notes Jean SCHERER. Paris: Cerf, 1960 (cf. introduo 31-32).29 Cf. CIPRIANO DE CARTAGO: De catholicae Ecclesiae unitate, 17. PL 4, 529.36 Doxa, em grego, significa glria e tambm opinio, sentena. A palavra ortodoxia (a doxa [opinio] correta) aparentada com doxologia (a palavra de doxa [glorificao]), pois se expressar corretamente sobre Deus dar-lhe glria, reconhecer seus benefcios.A vida crist apresenta trs momentos que lhe so intrnsecos: liturgia f tica (compreendendo sob esta ltima a prtica da vida crist de cada dia). Se no se leva em considerao a interdependncia dos trs momentos, no se esclarecem as relaes entre quaisquer dos outros dois componentes da trade. Assim como na Trindade no se podem considerar as relaes entre duas pessoas sem levar a srio a terceira, ou seja, sem considerar as duas pessoas em questo na perspectiva intratrinitria total, assim tambm orao f agir so trs aspectos da existncia crist to fundamentalmente unidos que toda reflexo sobre a relao entre dois sem o terceiro inadequada45.A orao crist sempre constituda por trs momentos: ouvir a Palavra de Deus, fazer o que se escutou e responder na ao de graas ou no pedido de perdo48. Entre as formas de ouvir a Palavra de Deus est, sem dvida, tambm a teologia, pois ela um ouvir que reflete e aprofunda intelectualmente a Palavra49.

Essa estrutura do orar cristo poderia tambm ser expressa em termos de lex orandi lex credendi lex agendi. Aos trs mbitos prprio o momento doxolgico50. Nesse sentido, a liturgia cume e tope da vida crist. Ela explicita que a meta dos outros dois mbitos da existncia crist o louvor de Deus51. Em ltima anlise, trata-se sempre do mistrio de Deus num momento celebrado, noutro pensado, noutro praticado.A Liturgia um lugar teolgico, ou seja, espao privilegiado da revelao e da experincia de Deus. A centralidade da Liturgia est no Mistrio Pascal de Jesus Cristo em sua dimenso sacramental-litrgico-salvfica, pois, ao celebrar, per ritus et preces (SC 48), realizamos um encontro real com Jesus Cristo, que remete ao seio da Santssima Trindade.O semipelagianismo6 (G. L. MLLER: Semipelagianismus, em LThK3 9, 451-453) uma reformulao moderada do pelagianismo.

Pelgio ( 427) negara a necessidade da graa para que o ser humano possa realizar o bem. Agostinho saiu em defesa da absoluta prioridade da graa. Os semipelagianos, temendo que a posio de Agostinho acabasse por anular o livre arbtrio, negar os mritos humanos e levar a uma predestinao fatalista, procuraram um meio termo, pois estavam interessados em que no se viesse a considerar desnecessrio o esforo asctico e espiritual, to importante no monaquismo. Para eles o ser humano deve tomar a iniciativa para obter a graa. A experincia religiosa (initium fidei) est condicionada e proporcional ao esforo humano. Contra os semipelagianos, Prspero sai em defesa da posio de Agostinho. Dado seu prestgio junto aos papas, Prspero teve oportunidade de exercer sua influncia contra o semipelagianismo no s nas disputas locais. Em sua poca romana redigiu sua obra mais famosa o Indiculus de gratia Dei, tambm denominado Capitula de gratia, que a obra que aqui nos interessa.Sacramento da Caridade (S.th., III, q. 73 a. 3) a santssima Eucaristia a doao que Jesus Cristo faz de Si mesmo, revelando-nos o amor infinito de Deus por cada homem. Neste sacramento admirvel, manifesta-se o amor maior: o amor que leva a dar a vida pelos amigos (Jo 15,13). De fato, Jesus amou-os at ao fim (Jo 13,1). Com estas palavras, o evangelista introduz o gesto de infinita humildade que Ele realizou: na viglia da sua morte por ns na cruz, ps uma toalha cintura e lavou os ps aos seus discpulos. Do mesmo modo, no sacramento eucarstico, Jesus continua a amar-nos at ao fim, at ao dom do seu corpo e do seu sangue. Que enlevo se deve ter apoderado do corao dos discpulos vista dos gestos e palavras do Senhor durante aquela Ceia! Que maravilha deve suscitar, tambm no nosso corao, o mistrio eucarstico!O que espiritualidade litrgica?

Espiritualidade Litrgica aquela que faz da Liturgia (Eucaristia, Sacramentos e Ofcio Divino principalmente) os grandes referenciais da vida do cristo. Quem compreende o que a Liturgia, h de concluir que a espiritualidade litrgica a espiritualidade clssica, ou, por excelncia, da Igreja. No prpria de alguma corrente particular, mas fundamental e comum a todos os fiis, porque todos so chamados a viver a Eucaristia, que tem por preliminar o Batismo e que leva a constituir o corpo eclesial de Cristo. A espiritualidade litrgica no exclui as respostas pessoais do cristo graa de Deus ou as devoes particulares; ao contrrio, deve suscit-las, de tal modo, porm, que estejam sempre em conformidade com o culto oficial da Igreja.

Ter uma espiritualidade litrgica, embora seja uma das primeiras consequncias do ser cristo, algo que falta em muitos fiis por no terem tido uma catequese ou formao devida.

O movimento litrgico do sculo XX procurou resgatar nos fiis uma espiritualidade enraizada na liturgia, pela difuso dos missais bilngues para uso do povo, pela edio de livros explicando a Missa, por uma maior popularizao do canto gregoriano (guardando a difcil polifonia para solenidades especiais, e mesmo assim despida de um aspecto operstico ps-barroco). Contudo, alguns distorceram os ideais do movimento e, entre outras coisas, contrapuseram a espiritualidade litrgica devoo popular e particular.

A verdadeira liturgia, entretanto, no atrapalha nem concorre com a piedade pessoal, com as procisses, novenas. Pelo contrrio, sem ferir as rubricas, a integra.

Por outro lado, embora queira fazer a liturgia compreensvel ao homem, sabe que Deus o destinatrio do culto e, nesse sentido, ainda que valorize o uso do vernculo na Missa, d o devido valor ao latim, ao canto gregoriano, e obedincia s rubricas. No um rubricismo, no uma obedincia cega, porm haurindo muitos frutos espirituais das normas postas pela Igreja de Cristo.

D. Estvo Bettencourt, OSB. Na controvrsia com os semipelagianos [...] diante da universalidade das preces dirigidas a Deus em favor dos maus, estes devero aceitar o argumento de Prspero de Aquitnia, j que foi seu o prcer mesmo, Vicent de Lrins, quem estabeleceu como critrio da doutrina ortodoxa o que foi crido em toda parte, sempre e por todos. Aplicando lex orandi, poderamos dizer que o que em toda parte, sempre o por todos foi objeto de orao s pode ser normativo da f. A norma permite, portanto, concluir que a lex orandi o prprio sensus fidelium, a universalidade no tempo e no espao daquilo que a Igreja, conduzida pelo Esprito Santo, faz ao orar... (cf. Francisco TABORDA. O memorial do Senhor: ensaios litrgico-teolgicos sobre a eucaristia. So Paulo: Loyola, 2009, p. 26-27). A liturgia lugar teolgico na medida em que fundada sobre a Escritura e em que d, da Tradio viva, seu eco particular, que potico, simblico e existencial, bem mais que racional (idem, p. 27; De Clerck, Questions liturgiques, 1978, p. 206).