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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS ROGER GOMES FERNANDES SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DE VIDROS TRANSPARENTES CONTENDO METAIS PESADOS E PARA APLICAÇÃO EM FOTÔNICA ALFENAS/MG 2010

Síntese e caracterização de vidros transparentes contendo metais

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UNIVERSIDADE

FEDERAL DE ALFENAS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS

ROGER GOMES FERNANDES

SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DE VIDROS

TRANSPARENTES CONTENDO METAIS PESADOS E

PARA APLICAÇÃO EM FOTÔNICA

ALFENAS/MG

2010

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ROGER GOMES FERNANDES

SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DE VIDROS

TRANSPARENTES CONTENDO METAIS PESADOS

PARA APLICAÇÃO EM FOTÔNICA

Trabalho de Conclusão de Curso

com partes dos requisitos com título

de graduação em Licenciatura em

Física pela Universidade Federal de

Alfenas. Área de concentração:

Física da Matéria Condensada.

Orientador: Gael Yves Pirrier

ALFENAS/MG

2010

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ROGER GOMES FERNANDES

SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DE VIDROS

TRANSPARENTES CONTENDO METAIS PESADOS

PARA APLICAÇÃO EM FOTÔNICA

A banca examinadora abaixo

assinada aprova o trabalho de

conclusão de curso com partes dos

requisitos para obtenção do título de

graduação em Licenciatura em

Física pela Universidade Federal de

Alfenas. Área de concentração:

Física da Matéria Condensada

APROVADA EM:

Prof°.

Instituição: Assinatura:

Prof°.

Instituição: Assinatura:

Prof°

Instituição: Assinatura:

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais Marcionilio Fernandes e Edna Mariza Gomes Fernandes; pelo

esforço, dedicação e compreensão em todos os momentos desta e de outras caminhadas.

Em especial ao meu irmão, amigo e companheiro Rogério Gomes Fernandes; que sempre me

incentivou e orientou em todos os caminhos e decisões que tomei em todas as etapas da minha vida,

ele para mim é um exemplo de bondade, carinho, obnegação,..., obrigado Rogério.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço especialmente ao meu orientador, Prof. Dr. Gael Yves Poirier pela grande ajuda na

elaboração deste trabalho de conclusão de curso, discussões para o enriquecimento deste trabalho,

seu grande incentivo no decorrer do projeto e por sua amizade e companheirismo por todo o período

da minha Iniciação científica.

As pessoas responsáveis pelo funcionamento do LabIQ (laboratório interdisciplinar de química) que

deram suporte estrutural e técnico, no qual pude aprender e desenvolver meu trabalho de conclusão

de curso.

Ao meu grupo de pesquisas, em especial os meus colegas de laboratório, Jesiel Lino, Luiza Esteves e

Camila Pereira pela amizade, companheirismo, auxílio, sugestões e questionamentos no desenvolver

deste projeto.

Aos professores do Curso de Licenciatura em Física da UNIFAL-MG que me proporcionou os

conhecimentos básicos necessário para compreender os conceitos físicos envolvidos neste projeto. Em

especial ao Prof. Dr. Person Pereira Neves pela amizade, assessoria e críticas construtivas.

Ao Laboratório de Materiais Fotônicos do Instituto de Química da Unesp de Araraquara pelo apoio

nas medidas de Espectroscopia Raman. Em especial para o aluno de doutorado Danilo Manzani

pelas estadias em Araraquara e pela amizade no pouco tempo de convivência.

Aos meus amigos dos cursos de Licenciatura em Física e Licenciatura em Matemática, que são

pessoas muito especiais para mim. Isto porque me fazem rir, me divertem, ajudaram e apoiaram em

muitos dos momentos difíceis da minha vida.

Aos meus tios Valdir e Ivanilse e meu primo Pablo Batagim Gomes pelos momentos felizes vividos

na companhia de vocês, companheirismo e ajuda que me ofereceram nesses quatro anos de

graduação.

A minha Irmã Débora Aparecida Fernandes, que apesar de distante, sempre tivemos uma amizade

verdadeira e sincera.

A Vanessa Bonatti pelos felizes momentos que me proporcionou ao seu lado e me ensinar a dar valor

nas atividades desenvolvidas por mim.

A Maria Antonieta pelas conversar, sugestões, incentivos, orientações e pelos cafezinhos durante esse

período.

Finalmente, quero reservar esse espaço para agradecer as pessoas que de alguma maneira participou

e ajudou a desenvolver este trabalho de conclusão de curso

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“Se eu vi mais longe, foi por estar de pé sobre ombros de gigantes”

Isaac Newton

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RESUMO

Neste trabalho de Conclusão de Curso, reporto a síntese e caracterização de

vidros e vitrocerâmicas transparentes possuindo aplicações potenciais em

dispositivos de óptica integrada e telecomunicação (fibras ópticas,

amplificadores ópticos, sensores ópticos, Lasers, etc.). Em particular, foram

desenvolvidos materiais vítreos que apresentam boa resistência química para

posterior preparação de fibras ópticas assim como em circuitos ópticos

integrados. De maneira geral foram sintetizados vidros a base do precursor

metafosfato de chumbo Pb(PO3)2 com altas concentrações de óxidos de metais

de transição (WO3). Estes materiais são sintetizados pelo método clássico de

fusão e resfriamento no sistema binário (100 – X) Pb(PO3)2 (X) WO3, (% moles,

X = 10, 20, 30, 40, 50 e 60 ). As condições de sínteses como escolha dos

cadinhos, temperatura de fusão dos componentes, tempo de fusão e

temperatura de recozimento foram determinadas e otimizadas para cada

sistema vítreo a fim de obter boa qualidade óptica. As propriedades físicas dos

vidros sintetizados foram determinadas pelas técnicas de análise térmica

(DSC) para obtenção das temperaturas características, a espectroscopia

vibracional (RAMAN) foi utilizada para compreender a evolução estrutural das

amostras com o aumento de WO3 e a janela de transparência das amostras foi

determinada pelas espectroscopias de absorção no UV/Visivel e IV

(infravermelho).

Palavras-chave: vidros fosfatos, vidros metafosfatos de chumbo, luminescência

de íons Er3+ em vidros.

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ABSTRACT

In this work Completion of course, I report the synthesis and characterization of

glass and transparent glass ceramics that have potential applications in

integrated optical devices and telecommunications (optical fibers, optical

amplifiers, optical sensors, lasers, etc..). In general, glasses were synthesized

based on the precursor metaphosphate Pb(PO3)2 with high concentrations of

transition metal oxides (WO2). These materials are synthesized by the classical

method of melting and cooling in the binary system (100 - x) Pb(PO3)2 (X) WO3

(% mol, X = 10, 20, 30, 40, 50 and 60). The conditions of synthesis and

selection of crucibles, the melting temperature of the components, melting time

and annealing temperature were determined and optimized for each glass

system in order to obtain good optical quality. The physical properties of

synthesized glasses were determined using thermal analysis (DSC) to obtain

the characteristical temperatures. The vibrational spectroscopy (Raman) was

used to understand the structural evolution of samples with increasing of WO3.

The window of transparency of the samples was determined by absorption

spectroscopy in UV / Visible and IR (infrared).

Keywords: phosphate glasses, lead metaphosphates glasses, luminescence of

Er3 + in glasses.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: representação bidimensional: (a) do arranjo cristalino simétrico periódico de um

cristal de composição Si2O3; (b) representação da rede do vidro da mesma composição

Figura 2: esquema para estrutura bidimensional: a) um vidro silicato b) um vidro fosfato

Figura 3: Representação esquemática de uma curva DSC para um vidro

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: mudança de volume durante o resfriamento de um líquido em função da

temperatura

Gráfico 2: influência da taxa de resfriamento na posição do ponto de transição, (Tg). β: taxa

de resfriamento onde β1 > β2 > β3 . Porção hachurada. Intervalo de tempo [Tg].

Gráfico 3: curvas DSC das amostras PbW5, PbW10, PbW20, PbW30, PbW40, PbW50,

PbW60

Gráfico 4: variação da Tg com a concentração de WO3

Gráfico 5: Espectros Raman das amostras vítreas e das referências

Gráfico 6: espectro de absorbância no UV/Vis em função da concentração de WO3

Gráfico 7: Transmitância no infravermelho das amostras em função da concentração de WO3

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Períodos e regiões onde foram desenvolvidas importantes inovações na arte

vidreira antiga

Tabela 2: composição, nomenclatura e classificação dos vidros preparados

Tabela 3: Temperaturas características Tg, Tx, Tc, Tf e fatores de estabilidade Tx-Tg, H e S.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

UV: Ultravioleta

IV: Infravermelho

Tg: Temperatura de transição vítrea

Tx: Temperatura de ínicio de cristalização

Tp: Temperatura de maxímo de cristalisação

Tl ou Tf: Temperatura de fusão

Tx – Tg, H, S: Fatores de estabilidade frente a cristalização

n: número de oxigênio ligado por tetraedro

DSC: Calorimetria Diferencia Esploratória

DTA: Análise Térmica Diferencial

K: Kelvin

s: segundos

°C: Graus Célsios

UNIFAL: Universidade Federal de Alfenas

LabIQ: Laboratório Interdisciplinar de Química

UNESP: Universidade Estadual Paulista

nm: nanômetro

Ev: Energia de vibração das ligações atômicas

ʋ: freqüência de vibração das ligações atômicas

N: número de Avogrado

k: constante de força das ligações atômicas

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µ: massa reduzida

c: velocidade de luz no vácuo

λ: comprimento de onda

h: constante de Planck

gap: diferença de energia entre a banda de valência e a banda de condução

I: intensidade do feixe transmitido

I0: intensidade do feixe incidente

x: espessura da amostra

α: coeficiente de absorção

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SUMÁRIO

1.0 - INTRODUÇÃO .............................................................................................. 14

1.1 – História e definições de vidros...........................................................................18

1.2 – Vidros: Propriedades e aplicações.....................................................................21

1.3 - Vidros Fosfatos...................................................................................................23

1.4 - Vidros a base de óxido de tungstênio................................................................25

2.0 – OBJETIVOS ................................................................................................ 26

3.0 - METODOLOGIA ........................................................................................... 27

3.1 – Síntese do fosfato de chumbo.........................................................................27

3.2 – Preparação dos vidros.....................................................................................27

3.3 – Determinação das propriedades térmicas.......................................................28

3.3.1 – Calorimetria diferencial Exploratória (DSC).....................................28

3.3.2 – FTIR – Infravermelho por Transformada de Fourier........................29

3.3.3 – Espectroscopia de Espalhamento Raman.......................................30

3.3.4 – Transmissão UV/Visível...................................................................31

4.0 – RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................. 32

4.1 – Observações Visuais..........................................................................32

4.2 – Domínio Vítreo....................................................................................32

4.3 – Medidas de Análise Térmica..............................................................33

4.4 – Espalhamento Raman........................................................................35

4.4 - Transmissão UV/Visível......................................................................37

4.5 – Espectroscopia Infravermelho............................................................38

5.0 - CONCLUSÃO ............................................................................................... 39

6.0 – PERSPECTIVAS FUTURAS ........................................................................ 40

7.0 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 40

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1. INTRODUÇÃO

A formação de vidros é muito mais um fenômeno cinético que

termodinâmico e qualquer substância pode formar um vidro, dependendo da

velocidade de resfriamento de uma massa fundida. De maneira geral, a

devitrificação pode ser facilmente obtida por tratamentos térmicos a

temperaturas adequadas onde a viscosidade diminui e a fase mais estável

termodinamicamente (o cristal) pode ser formada.

Vitrocerâmicas são materiais obtidos da cristalização controlada de vidros.

São, portanto materiais compósitos contendo quantidades variáveis da fase

vítrea original e uma ou mais fases cristalinas dispersas no meio [1].

Historicamente pode-se dizer que, o início de trabalhos sistemáticos

relacionados a este tipo de material se deu com a descoberta dos vidros

fotossensíveis por Stookey na companhia Corning Glass works [2]. Estes vidros

continham pequenas quantidades de cobre, prata ou ouro, que precipitam

como pequenos cristais, de dimensões coloidais, durante um tratamento

térmico. A fração em volume ocupada por estes cristais era na verdade

bastante pequena. Acidentalmente, Stookey observou que estes agregados

metálicos poderiam servir como germe ou núcleo para o posterior crescimento

de fases cristalinas dentro da matriz vítrea. O material resultante continha

grande parte de fração cristalizada dispersa na matriz vítrea e apresentava

algumas propriedades físicas superiores aquelas apresentadas pelo vidro

original. Posteriormente, outros agentes nucleadores como o TiO2, ZrO2 e P2O5

também foram utilizados sem o conhecimento exato de seu mecanismo de

atuação. Acredita-se, em alguns casos, que tais nucleadores atuem no sentido

de promover uma separação de fases amorfas e que de uma das fases então,

seriam formados os núcleos [1]. Um dos aspectos interessantes, que envolvem

as vitrocerâmicas, reside na possibilidade de obtenção de produtos

tranparentes. Basicamente, é necessário que os cristais formados sejam

suficientemente pequenos (menores que o comprimento de onda da luz

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visível), e que a anisotropia óptica dentro dos microcristais e ainda a diferença

de índice de refração entres estes microcristais e a fase vítrea seja pequena

[3]. Atualmente o pruduto vitrocerâmico tranparente mais conhecido do público,

talvez seja o produto patenteado com o nome “Vision” das indústrias Corning.

Neste Material (utilizado em utensílios de cozinha devido a suas qualidades de

resistência mecânica e a variações de temperatura, somadas a beleza estética

dos vidros) existem microscristais de aluminosilicatos de lítio, nucleados por

TiO2 e ZrO2 em um vidro do sistema ternário Li2O-Al2O3-SiO2 [4]. Do ponto de

vista espectroscópio, existem possibilidades de aplicações muito interessantes

quando as fases cristalinas obtidas contêm um íon opticamente ativo. Talvez os

primeiros materiais estudados neste sentido tenham sido os vidros e

vitrocerâmicas transparentes contendo o íon Cr3+ na fase cristalina e

propuseram sua utilização como lasers e concentradores de energia solar. O

ponto importante aqui reside no fato de que a eficiência quântica da emissão

do Cr3+ é bastante elevada na fase cristalina em comparação com a mesma

emissão no vidro original, mantendo-se a qualidade óptica das amostras [5].

Muita atenção tem sido concentrada nesse tipo de material contendo íons

lantanídeos. Vidro tradicional tem sido muito utilizado como materiais ativos

para Lasers, amplificadores ópticos, etc, quer seja na forma de corpos

massivos (bulk) quer seja na forma de fibra óptica [6]. O inconveniente que

surge quando se trabalha com vidros se refere ás características intrínsecas

das propriedades espectroscópicas dos íons lantanídeos nesse meio. Como o

material é amorfo há uma distribuição de diferentes sítios para esses íons e

como conseqüência as linhas de absorção e emissão sofrem um alargamento

dito inomogêneo [6], que, por exemplo, diminui a eficiência de emissão em

determinados comprimentos de onda. Este aspecto negativo obviamente não

existe se o íon estiver localizado em meio a uma fase cristalina bem definida.

Desta forma alguns trabalhos têm procurado a obtenção de matérias com tais

características envolvendo a relativa facilidade de obtenção de vidros e

apresentando características espectroscópicas de fase cristalina. Por exemplo,

em [6,7] microcristais de La1-xErxZr3F15 são obtidos da cristalização controlada

de vidros no sistema LaF3-ZrF4-AlF3. O material apresenta elevado grau de

transparência, porém visando aplicações, como por exemplo, em matrizes para

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lasers, o nível de espalhamento de luz ainda é muito alto e o efeito laser não é

observado [6].

Do Ponto de vista destas aplicações em fotônica onde o nível de

espalhamento de luz deve ser o mínimo possível, alguns sistemas

vitrocerâmicos têm sido divulgados na literatura apresentando transparências

iguais aquela observada para o vidro de base. São os chamados sistemas

mistos, envolvendo óxidos de fluoretos. Com a nucleação e tratamento térmico

adequado é possível a obtenção de materiais perfeitamente transparentes,

constituída de uma fase vítrea de óxido e uma fase cristalina com dimensões

nanométricas dispersas em meio ao material amorfo. Devido às extraordinárias

propriedades ópticas, estes materiais tem sido diferenciados dos demais

sistemas como uma nova classe com o nome de “Vitrocerâmicas

Ultratransparentes”[8].

Embora o vidro seja um dos materiais mais antigos preparado pelo

homem [9], ele apareceu no século XX como um material possuindo

propriedades fantásticas na área de tecnologia [10]. Atualmente, ele é utilizado

na área de telecomunicações (fibras ópticas, amplificadores ópticos, materiais

luminescentes) como em óptica integrada (circuitos ópticos) ou gravação de

dados (CD, DVD, memória de computadores). Porém, algumas propriedades

particulares em vidros precisam ainda ser desenvolvidas e compreendidas de

maneira mais sistemática porque abrem a possibilidade de usá-las para várias

aplicações tecnológicas. É o caso, por exemplo, dos fenômenos ópticos não

lineares e dos fenômenos de emissão estimulada por excitação de íons

lantanídeos.

Desde a descoberta dos lasers e fontes ópticas de alta potência [11], foi

observado que propriedades ópticas como o coeficiente de absorção ou o

índice de refração de alguns materiais dependem da intensidade da luz

incidente. Estes materiais foram definidos como materiais não lineares [12].

Uma regra geral estabelece que os vidros apresentando um alto índice de

refração são mais susceptíveis de possuir propriedades ópticas não lineares

significativas. Os vidros mais estudados, e de fato apresentando os melhores

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resultados não lineares são os vidros de calcogenetos [13] e os vidros de

telúrio [14]. No entanto, diversos estudos mostraram que a adição de óxidos de

metais de transição possuindo uma camada eletrônica d vazia (WO3, HfO2,

Ta2O5 ...) aumenta as características ópticas não lineares dos vidros [15, 16].

Por outro lado, metais pesados (Pb Bi, Cs, Ba) são altamente polarizáveis e,

por essa razão apresentam altos índices de refração. Portanto, vidros contendo

altas concentrações de metais pesados devem apresentar propriedades

ópticas não lineares. Além disso, sabe-se que cristais de metais polarizáveis

apresentam propriedades ópticas não lineares mais eficientes que o mesmo

material na forma vítrea. Por essa razão, a obtenção de nanocristais de óxidos

de metais pesados numa fase vítrea é ideal para obtenção de um material

transparente com propriedades ópticas não lineares eficientes.

Desde a utilização de fibras ópticas em telecomunicações para

transmissão óptica de dados, a busca por materiais luminescentes operando na

região de 1,3 nm e 1,5 nm tem sido ampla e intensa devido à necessidade de

desenvolver amplificadores ópticos eficientes nessa região para regenerar o

sinal transmitido em fibras de sílica. Os dados devem ser transmitidos nessa

faixa de comprimentos de onda porque corresponde ao mínimo de atenuação

da sílica vítrea. O íon trivalente Er3+ tem sido incorporado em fibras de sílica

visando essa aplicação, pois possui uma transição eletrônica com emissão de

fótons em 1,55 nm. Ultimamente, o íon Tm3+ tem sido estudado, pois pode

emitir em 1,4 nm e assim alargar a faixa de comprimentos de onda

“amplificáveis”. Entretanto, a incorporação desses íons em vidros de sílica

resulta numa eficiência de amplificação baixa porque a alta energia de fónons

dos vidros de sílica promove a relaxação eletrônica na forma de vibração

térmica da rede (relaxação não radiativa) e diminui a taxa de relaxação na

forma de emissão de fótons (relaxação radiativa). Portanto, a busca por novas

matrizes vítreas e vitrocerâmicas possuindo energias de fónons mais baixas é

indispensável para a obtenção de amplificadores ópticos eficientes na faixa de

1,5 nm.

Nesse projeto foi possível preparar vidros fosfatos contendo óxidos de

metais de transição e óxidos de metais pesados em altas concentrações. As

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19

propriedades térmicas foi estudadas para avaliar a influência da composição na

estabilidade térmica para obter vidros com altas concentrações de metais

altamente polarizáveis e estáveis quimicamente e termicamente. A evolução

estrutural da rede vítrea é determinada por técnicas de espectroscopia

vibracional (Raman) e a janela de transparência das amostras é obtida através

da espectroscopia de absorção no UV/Visivel e IV (infravermelho).

1.1- HISTÓRIA E DEFINIÇÕES DE VIDROS

A definição de vidros em tempos atuais é um pouco complexo, pois ainda

ocorrem várias divergências entre autores quando se refere a este conceito.

Nesse tópico apresentarei uma evolução histórica dos vidros e algumas das

definições mais aceitas.

Os Materiais vítreos têm uma característica muito interessante: seja qual

for a nossa necessidade, quase sempre temos possibilidades de vir a utilizá-lo

nos mais diferentes contextos; em casa, na ciência, na indústria e até mesmo

na arte [17,18]. Isso se deve a facilidade de obter vidros com diferentes

características estruturais, térmicas, elétrica, ópticas, etc.

Muito desta situação vem do fato de que os vidros são materiais

conhecidos há bastante tempo. Alguns estudiosos chegam mesmo a dizer que,

provavelmente, estão entre os materiais mais antigos feito pelo homem, sendo

utilizado desde o início dos primeiros registros históricos. Assim é praticamente

impossível falarmos de tais materiais sem fazermos menção à própria história

da civilização [17].

Os povos que disputam a primazia da invenção do vidro são os fenícios e

egípcios. Os fenícios contam que, ao voltarem à pátria, do Egito, pararam em

Sidom. Chegados às margens do rio Belus, pousaram os sacos que traziam as

costas, que estavam cheios de trona. A trona é carbonato de sódio natural, que

eles usavam para tingir lã. Acenderam o fogo com lenha, e empregaram os

pedaços mais grossos de trona para neles se apoiar os vasos onde deveriam

cozer os animais caçados. Depois comeram e deitaram-se; adormeceram e

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deixaram o fogo aceso. Quando despertaram, ao amanhecer, em lugar das

pedras de trona encontraram blocos brilhantes e transparentes, que pareciam

enormes pedras preciosas [18].

Os fenícios caíram de joelhos, acreditando que, durante a noite, algum

gênio desconhecido realizara aquele milagre, mas o sábio Zelu, chefe da

caravana, percebeu que, sob os blocos de trona a areia desaparecerá. Os

fogos foram então reacesos e, durante a tarde, uma esteira de líquido rubro e

fumegante escorreu das cinzas. Antes que a areia incandescente se

solidificasse. Zelu tocou, com uma faca, aquele líquido e lhe conferiu uma

forma que embora aleatória fosse maravilhosa, arrancando gritos de espanto

dos mercadores fenícios. O vidro estava descoberto [18]. Assim o vidro segue

seu caminho através da civilização. Na Tabela 1 continuo apresentando

resumidamente algumas das épocas principais do contexto histórico do vidro.

Tabela 1: Períodos e regiões onde foram desenvolvidas importantes inovações na arte vidreira antiga

De acordo com o contexto histórico, surgiram várias definições para o

vidro. Essas definições foram atribuídas com relação a sua viscosidade, seu

aspecto brilhante até estabelecerem explicações descritivas ao aspecto

estrutural desse composto, no qual o arranjo atômico em vidros era

caracterizado por uma rede tridimensional estendida e que apresentava

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21

ausência de simetria e periodicidade. Esta classificação, proposta por

Zachariasen, pode ser observada na figura 1.

Figura 1: representação bidimensional: (a) do arranjo cristalino simétrico periódico de um cristal de

composição Si2O3; (b) representação da rede do vidro da mesma composição.

Hoje, a definição severa do vidro enfrenta várias polêmicas, pois não há

uma definição universal entre os grupos de pesquisa. Alguns dizem que o vidro

é um composto preparado através do resfriamento rápido do estado líquido,

que torna relativamente rígido com aumento progressivo da viscosidade, ou

mais conciso, vidro é um produto inorgânico, resultante de uma fusão,

enrijecido pelo resfriamento, sem cristalização [19]. Outros enunciam que o

vidro é um sólido amorfo, não cristalino, podendo ser mencionado como um

líquido super resfriado [20]. De acordo com Gupta em seu artigo “Non

Crystalline Solids: Glasses and Amorphus Solids” um sólido não cristalino pode

ser dividido, do ponto de vista termodinâmico, em duas classes distintas: vidros

e sólidos amorfos. Sólidos não cristalinos seriam todos aqueles materiais que

apresentassem uma rede tridimensional estendida e aleatória. Considerando-

se o aspecto termodinâmico, um sólido não cristalino seria um vidro quando

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este apresenta o fenômeno de transição vítrea [18]. Assim um vidro pode ser

definido, (Shelb 1997) como:

“Sólido amorfo com ausência completa de ordem a longo alcance e

periodicidade, exibindo uma região de transição vítrea. Qualquer material

orgânico, inorgânico ou metálico, formado por qualquer técnica, que

exibe um fenômeno de transição vítrea é Vidro”

1.2 – VIDROS - propriedades e aplicações

Os vidros tradicionais são sintetizados pelo método clássico de fusão e

resfriamento. Esta técnica, essencialmente inclui a fusão de uma mistura de

reagentes que são hábeis para formar vidro. Em geral essa fusão ocorre em

elevadas temperaturas e após certo intervalo de tempo a massa fundida é

vertida em um molde. Esse processo termodinâmico de fusão e choque térmico

pode ser observado pelo gráfico 1.

Gráfico 1: mudança de volume durante o resfriamento de um líquido em função da temperatura

Page 23: Síntese e caracterização de vidros transparentes contendo metais

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A partir desse gráfico podemos tirar a seguinte informação com respeito à

natureza cinética de formação de um vidro: considerando uma massa fundida

acima da temperatura de líquido TL e reduzindo a temperatura gradualmente

até a temperatura de fusão, o material pode seguir dois caminhos:

1) O líquido em equilíbrio passa para um estado metaestável, ou seja,

uma situação termodinâmica incipiente [17], o qual pode ceder frente a

pequenas perturbações uma inconstância no seu volume específico e

cristalizar-se.

2) Caso a cristalização seja evitada, o líquido passa para um estado de

líquido super-resfriado e permanece com a mesma taxa de contração

do volume do líquido inicial [20]. À medida que a temperatura diminui,

ocorre um aumento progressivo na viscosidade e a uma determinada

temperatura, Tg (temperatura de transição vítrea), ocorre uma

mudança de fase [21] e o vidro é formado.

Em pressão constante, a posição do ponto de transição vítrea não é bem

definida com a temperatura de fusão, mas varia ligeiramente com a taxa de

resfriamento β em que o líquido é resfriado. Um rápido resfriamento desloca a

Tg para altas temperaturas enquanto um resfriamento mais lento desloca a Tg

para baixas temperaturas [20]. Essa variação na posição da Tg pode ser

observado no gráfico 2. Portanto o estado estrutural do vidro depende da

história térmica.

Os vidros, nos dias de hoje, está sendo bastante estudado por causa da

sua importância na ciência e na tecnologia. Isto porque, esses materiais são

candidatos promissores para aplicação em dispositivos fotônicos e óptico-

eletrônicos devidos as suas excelentes propriedades ópticas, tais como:

elevado índice de refração, extensa banda de transmissão na região do

infravermelho e propriedades ópticas não lineares específicas. Além disso, os

vidros são ótimos hospedeiros para íons terras-raras, no qual representa a

principal justificativa para o interesse tecnológico em áreas como tecnologia do

laser, fibras ópticas, sistemas de sensores e dispositivos ópticos não lineares.

Page 24: Síntese e caracterização de vidros transparentes contendo metais

24

Nas redes de telecomunicação geralmente são empregados fibras ópticas

para transmissão de sinais. O sinal guiado pela fibra óptica é transmitido por

longas distâncias e assim atenuado a partir de certa distância, necessitando de

amplificar o sinal debilitado.

Amplificadores ópticos têm como finalidade básica, promover a

amplificação dos sinais entrantes, de forma transparente e independente do

tipo de modulação. Geralmente, esses dispositivos são baseados em fibras de

vidros dopados com íons terras-raras, no qual para as faixas de transmissão

convencionais (1,3 – 1,5 μm) são bastante conhecidos fibras ópticas dopados

com íons Er3+ [22].

Gráfico 2: influência da taxa de resfriamento na posição do ponto de transição, (Tg). β: taxa de

resfriamento onde β1 > β2 > β3 . Porção hachurada. Intervalo de tempo [Tg].

1.3 – VIDROS FOSFATOS

O P2O5 (pentoxidos de fósforo) é um clássico formador vítreo cuja base

estrutural é um tetraedro constituído por um átomo de fósforo no centro, ligados

a quatro outros átomos de oxigênios no vértice. A figura 2 [23] apresenta um

Page 25: Síntese e caracterização de vidros transparentes contendo metais

25

esquema bidimensional da estrutura tetraédrica para um vidro silicato e fosfato

contendo sódio (Na) como elemento modificador. Elementos modificadores são

aqueles que apresentam ligações iônicas com ânions da rede vítrea. Os

cátions K+, Na+, Pb+, Ca2+ e Fe2+ são modificadores, entre outros. Estes íons

ligam-se aos átomos de oxigênio que estão ligados a apenas um cátion

formador (no caso o silício e o fósforo) [23] ou a estruturas tetraédricas que

possuem excesso de cargas negativas.

Fígura 2: esquema para estrutura bidimensional: a) um vidro silicato b) um vidro fosfato

Os Tetraedros são classificados utilizando a terminologia Qn, onde n (n =

1,2 ou 3) representa o número de oxigênio ligado por tetraedro. Esses grupos

estruturais, quando presente na matriz vítrea, aumentam o caráter higroscópico

de acordo com o aumento do valor de n. Existe também, uma alteração na

distribuição eletrônica relacionada à ligação dupla entre o oxigênio e o fósforo à

medida que n diminuí [24] [25].

Apesar dos vidros fosfatos serem um grupo especial de vidros ópticos

para interesse tecnológico e incluindo propriedades específicas, tais como:

elevado coeficiente de expansão térmica, baixa viscosidade de líquido e baixa

temperatura de fusão quando comparado aos vidros silicatos [26], o uso

desses vidros foi restrito durante muito tempo devido a sua alta instabilidade

química frente à umidade atmosférica, além de sua elevada energia de fônons

(1100 cm-1). Esse valor de energia é maior que a dos vidros germanato (900

cm-1) e telureto (800 cm-1) [27,28]. Por esse motivo, os vidros fosfatos não

Page 26: Síntese e caracterização de vidros transparentes contendo metais

26

apresentavam grande interesse tecnológico e eram somente usados em

aplicações que solicitassem ambientes com baixa umidade relativa.

1.4 – VIDROS A BASE DE ÓXIDO DE TUNGSTÊNIO

Nas ultimas décadas, novas matrizes fosfatos foram descobertas com

propriedades físico-químicas superiores as matrizes que já existiam. Isso foi

possível devido à habilidade desses vidros aceitarem grandes quantidades de

metais de transição, metais alcalinos e óxidos de íons terras-raras sem

perderem a capacidade de formar vidros.

De acordo com Brauer D.S. e colaboradores, a adição de íons metálicos

nas matrizes fosfatos origina uma quebra nas ligações P-O-P criando átomos

de oxigênio não-ligados na estrutura vítrea. Assim cátions modificadores

podem formar ligações cruzadas entre átomos de oxigênio não-ligados de duas

cadeias de fosfatos. Este cruzamento de ligações pode aumentar a força de

ligação e a durabilidade química [29].

Estudos mostram que a adição do metal de transição WO3 (óxido de

tungstênio) em matrizes vítreas a base de fosfato influência significativamente

na estabilidade térmica frente à cristalização e na durabilidade química dessas

matrizes vítreas [26].

Recentes trabalhos mostram que vidros fluorofosfatos de tungstênio

apresentam propriedades ópticas não lineares específica, no qual a

fotossenssibilidade, índice de refração não linear e o coeficiente de absorção

não linear das matrizes estão diretamente ligados com a concentração de WO3

nesses vidros [30]. O principio desses efeitos baseia-se na possibilidade do

óxido de tungstênio mudar seu estado de oxidação, conseqüentemente mudar

de cor, e então, mudar o valor de sua transmitância.

Devido as boas propriedades física e química que o WO3 confere as

matrizes fosfato, um estudo foi feito com um novo precursor, metafosfato de

Page 27: Síntese e caracterização de vidros transparentes contendo metais

27

chumbo Pb(PO3)2, na tentativa de obter matrizes vítreas estáveis quimicamente

e que apresente boas qualidades ópticas para posteriores obtenção de

vitrocerâmicas transparentes para aplicação em fotônica e/ou circuitos ópticos

integrados.

2.0 – OBJETIVOS DO TRABALHO

Os objetivos dessa dissertação podem ser apresentados da seguinte

maneira:

Sintetizar Pb(PO3)2 para utilizá-lo como formador vítreo para

minimizar a volatilização de chumbo na preparação do vidro, assim

conseguindo altas concentrações de metais pesados na matriz

vítrea para posteriormente serem dopados com concentrações

variáveis de Er3+ e Tm3+ .

Preparações das amostras

(100 – x) Pb(PO3)2 (x) WO3

Com x = 10, 20, 30, ... , 60

Aperfeiçoar a composição e o processo experimental de síntese

desses vidros para obter matrizes vítreas de boa qualidade óptica,

estáveis e os desvios de composição devido às perdas por

evaporação.

Determinar a estabilidade térmica das amostras preparadas frente à

cristalização. Essa caracterização será realizada usando a Análise

Térmica (DSC e DTA) para determinar as temperaturas

características.

Caracterizar a estrutura da rede vítrea em função da composição.

Em particular, é de crucial importância conhecer a influência da

incorporação de metais de transição e metais pesados na estrutura

das cadeias fosfato formadores vítreas. Deve-se determinar se os

óxidos incorporados agem como modificadores de rede ou

Page 28: Síntese e caracterização de vidros transparentes contendo metais

28

intermediários. Para isso serão utilizadas as técnicas de

espectroscopia infravermelha, Raman e espectroscopia de absorção

no UV/Visivel.

3.0 – METODOLOGIA

3.1 - Sintetizar fosfato de chumbo

Sintetizar fosfato de chumbo (Pb(PO3)2) por precipitação em solução à

partir de soluções aquosas de polifosfato de sódio(NaPO3) e nitrato de chumbo

(Pb(NO3)2).

3.2 - Preparações dos vidros

Embora os vidros possam ser preparados por uma grande variedade de

métodos, a maioria continua sendo obtida pela fusão e rápido resfriamento

(choque térmico) de seus componentes de partida em elevadas temperaturas.

Este procedimento sempre envolve a seleção da matéria prima, a pesagem do

material de acordo com a estequiometria desejada. Em seguida estes

elementos serão homogeneizados em um almofariz de ágata e colocados em

um cadinho de platina antes de levá-los ao forno. O cadinho de platina é

utilizado devido a sua baixa reatividade química em altas temperaturas.

Durante o processo inicial de aquecimento, as matérias-primas passam

por uma série de transformações físicas e químicas para produzir o fundido. A

conversão deste em um liquido homogêneo pode requerer outros

processamentos, incluindo a remoção de componentes não fundidos,

impurezas e bolhas. As temperaturas e o tempo de aquecimento variam de

acordo com a composição da mistura: por exemplo, misturas produzindo um

líquido de alta viscosidade requerem geralmente maiores temperaturas e

tempos de fusão. Até o momento utilizou-se temperaturas variando de 900°C a

1000°C e tempos de fusão com aproximadamente 5 minutos. Após a etapa de

fusão, a massa fundida é vertida num molde de aço mantido a temperatura

ambiente para promover o choque térmico necessário à vitrificação do material.

Esse método permite uma taxa de resfriamento de aproximadamente 100 K.s-1.

Page 29: Síntese e caracterização de vidros transparentes contendo metais

29

Composições muito instáveis não vitrificam quando submetidas ao resfriamento

clássico e são classificadas como cristalinas.

A preparação das amostras foi realizada no Laboratório interdisciplinar de

Química (LabIQ) da UNIFAL-MG, campus Alfenas.

3.3 – Determinações das propriedades térmicas, física e estruturais

O estado vítreo das amostras será confirmado com as técnicas de

caracterização utilizadas rotineiramente, ou seja: observação visual, análise

térmica, espectroscopia vibracional (infravermelho e Raman) e espectroscopia

de transmissão no UV/Visível

3.3.1 – Calorimetria Diferencial Exploratória (DSC)

Calorimetria Diferencial Exploratória (DSC) é uma técnica que mede a

diferença de temperatura entre a amostra e um material referencia inerte,

quando ambas submetidas ao aquecimento em razão de aquecimento

uniforme. As mudanças de temperatura da amostra são devido à variação de

entalpia (exotérmico e endotérmico). Transição vítrea, cristalização, fusão,

reações de oxidação e redução são fenômenos que podem ser observados em

uma curva DSC. Segue abaixo, figura 3, uma curva característica de um vidro

obtido em um equipamento de DSC.

100 200 300 400 500 600

-20

-15

-10

-5

0

5

TfTpTx

He

at flo

w (

mW

)

"Temperature(°C)"

Tg

Pb(PO3)

2

Page 30: Síntese e caracterização de vidros transparentes contendo metais

30

Figura 3: Representação esquemática de uma curva DSC para um vidro

Um produto homogêneo, amorfo e apresentando uma temperatura de

transição vítrea será classificado como “vidro”. As análises térmicas foram

realizadas utilizando um calorímetro TA Instruments DSC Q20 com taxa de

aquecimento de 10ºC/minuto entre 200ºC e 600 ºC. As temperaturas

características como Tg (temperatura de transição vítrea), Tx (temperatura de

início de cristalização), Tp (temperatura do máximo de cristalização) e Tf

(temperatura de fusão) foram determinadas a partir das curvas térmicas

obtidas. Com valores obtidos pela análise térmica e usando os parâmetros de

estabilidade (Tx-Tg), H = (Tx-Tg)/Tg e S = (Tx-Tg) (Tp-Tx)/Tg pode-se avaliada a

estabilidade térmica frente a cristalização dos vidros. Quanto maio for essa

diferença da (Tx-Tg) mais estável será o sistema vítreo. Para o caso de fibra

óptica, se essa diferença for grande o vidro apresentará uma boa estabilidade

para o puxamento dessas fibras ópticas.

3.3.2 – FTIR – Infravermelho por Transformada de Fourier

No vidro, o limite de transmissão é devido às vibrações das ligações

químicas, ou seja, a energia que é múltipla das energias de vibração do estado

fundamental destas ligações [31]. A energia de vibração de uma ligação é

expressa pela seguinte formula:

(I)

Onde, N é o número de Avogadro, c é a velocidade da luz no vácuo, µ é a

massa reduzida dos elementos constituintes e k é a constante de força da

ligação.

Page 31: Síntese e caracterização de vidros transparentes contendo metais

31

Através da equação (I), podemos observar que ao incorporar nas matrizes

vítreas metais pesados aumentar-se-á a massa reduzida e como conseqüência

a energia de vibração diminuirá. Ao relacionar energia (E) com comprimento de

onda λ pelas equações (I) e (II)

Ev = hʋ (II)

c = λ ʋ (III)

onde, h é a constante de Planck, ʋ a freqüência de vibração das ligações,

temos que, E e λ são grandezas inversamente proporcionais. Logo, quando o

valor da energia de vibração das ligações é diminuído o comprimento de onda

é aumentado, ou seja, a janela de transparência das matrizes é estendida.

Assim podemos observar que o limite do infravermelho está relacionado com a

massa molar dos átomos constituintes na matriz vítrea.

As caracterizações por infravermelho foram realizadas no Laboratório

interdisciplinar de Química (LabIQ) da UNIFAL-MG, campus Alfenas, usando

um FTIR Prestige da Shimatzu. As medidas foram realizadas por transmissão

em monolito entre 400 cm-1 e 4000 cm-1.

3.3.3 – Espectroscopia de Espalhamento Raman

O espalhamento Raman é uma técnica baseada no espalhamento

inelástico quando a radiação eletromagnética interage com a amostra. Em

materiais cristalinos ou sólidos, no espalhamento, o fóton perturba toda a rede

cristalina produzindo uma vibração em toda a rede produzindo os modos

vibracionais chamados fônons.

Nos vidros a posição da máxima energia de fônon é importante por que a

relaxação devido a processos de multifônon dos íons de terras raras, quando

esses dopados em matrizes vítreas, depende da energia máxima do fônon do

sistema hospedeiro para minimizar a decaimento não radiativo desses íons,

aumentando assim o efeito de luminescência [32].

Page 32: Síntese e caracterização de vidros transparentes contendo metais

32

Além disso, essa técnica vibracional permitirá a identificação das ligações

químicas presentes nas amostras e o número de coordenação dos elementos

presentes no material podendo identificar a evolução estrutural das amostras

em função da composição.

As medidas de espalhamento Ramam foi realizada no Instituto de

Química da UNESP-Araraquara usando um Micro-Raman LabRam da Jobin-

Yvon Horiba com excitação por Laser de He-Ne (633 nm) e coleta de dados

entre 100 cm-1 e 4000 cm-1.

3.3.4 – Transmissão UV/Vísivel

Vidros ópticos são excelentes materiais para transmitir radiação

eletromagnética na região do visível (400 nm a 700 nm). Normalmente essa

região de transmissão pode ser estendia para regiões do UV (ultravioleta) e IV

(infravermelho).

O limite de transmissão no domínio do UV/Visível é devido às transições

eletrônicas do sistema vítreo em estudo. O menor comprimento de onda que o

vidro transmite corresponde ao gap de energia entre a banda de valência e a

banda de condução. Abaixo desse limite de transmissão o vidro absorve a

radiação eletromagnética através da transição entre essas duas bandas e o

vidro não será mais transparente [33].

A absorção óptica de um material segue a lei de Lambert – Beer

I = I0 exp(-αx) (IV)

onde, I é a intensidade do feixe transmitido, I0 é a intensidade do feixe

incidente, x é a espessura da amostra e α é o coeficiente de absorção.

Experimentalmente, os parâmetros medidos são a absorbância (Log10

(I/I0) ou a transmitância (I/I0).

As medidas de espectroscopia UV-Vis-NIR foi feita em um equipamento

da Shimadzu, UV/Vis-NIR – 2550 Spectrometer.

Page 33: Síntese e caracterização de vidros transparentes contendo metais

33

4.0 – RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 – Observações Visuais

Diante das amostras preparadas no sistema binário Pb(PO3)2 - WO3,

obteve-se importantes resultados, pois o domínio vítreo destes sistemas

apresentaram elevadas concentrações de Pb nas suas matrizes. Outro fator

importante a ser citado é a mudança na coloração dos vidros do amarelo para

o verde e um aumento na sua viscosidade de acordo com o aumento de WO3.

4.2 – Domínio Vítreo

Composição (mol%)

Amostras Classificação

95 NaPO3 - 05 WO

3 PbW5 Vidro

90 NaPO3

- 10 WO3 PbW10 Vidro

80 NaPO3

- 20 WO3 PbW20 Vidro

70 NaPO3

- 30 WO3 PbW30 Vidro

60 NaPO3

- 40WO3 PbW40 Vidro

50 NaPO3

- 50 WO3 PbW50 Vidro

40 NaPO3

- 60 WO3 PbW60 Vidro

Tabela 2: composição, nomenclatura e classificação dos vidros preparados

Page 34: Síntese e caracterização de vidros transparentes contendo metais

34

4.3 – Medidas de Análise térmica

As amostras no sistema binário Pb(PO3)2 – WO3 foram caracterizadas por

Calorimetria Diferencial de Varredura (DSC) para determinação das

temperaturas características, tais como, temperatura de transição vítrea e

temperaturas de cristalização. A estabilidade térmica dos vidros também foi

determinada para cada composição a partir das informações obtidas pelas

curvas DSC.

A figuras 4 apresentam as curvas DSC entre 100°C e 600°C das

amostras PbW5, PbW10, PbW20, PbW30, PbW40, PbW50, PbW60

respectivamente.

A partir dessas curvas características, é possível determinar a

temperatura de transição vítrea Tg que determina a mudança do estado vítreo

para o estado visco-elástico, a temperatura de início de cristalização Tx que

corresponde à precipitação de uma fase cristalina, a temperatura do máximo de

cristalização Tc na qual toda a fase cristalina foi formada e a estabilidade

térmica frente à cristalização de algumas amostras. Os valores obtidos estão

resumidos na tabela 2.

Gráfico 3: curvas DSC das amostras PbW5, PbW10, PbW20, PbW30, PbW40, PbW50, PbW60

200 400 600

Tx

Tx

Tg

Tg

Tg

Tg

Tg

Tg

Tg

Tx

PbW60

PbW50

PbW40

PbW30

PbW10

PbW20

Temperatura °C

PbW5

Tp

Page 35: Síntese e caracterização de vidros transparentes contendo metais

35

A primeira observação possível a partir dos dados DSC obtidos é o

aumento da temperatura de transição vítrea com a concentração de WO3

conforme representado na figura 5. O valor da transição vítrea depende

geralmente da força das ligações químicas covalentes constituindo a rede

vítrea e da conectividade da rede vítrea. A conectividade se refere ao caráter

tridimensional da rede.

A tabela 2 apresenta os fatores de estabilidade Tx-Tg, H e S calculados

para as amostras vítreas. Pode-se observar que para as amostras PbW5,

PbW10 e PbW20 o aumento da concentração em WO3 na matriz fosfato

aumenta a estabilidade do vidro frente à cristalização, essa estabilidade para

as amostras restantes não foi possível determinar, pois não ocorre a

cristalização. Em concentrações acima de 70% em mol de WO3, a amostra

não vitrifica nas condições de síntese utilizadas, no qual é necessária a

ascensão da temperatura para que ocorra a fusão do material de partida.

Gráfico 4: variação da Tg com a concentração de WO3

0 10 20 30 40 50 60

320

340

360

380

400

420

440

460

480

500

Tg

% molar de WO3

Page 36: Síntese e caracterização de vidros transparentes contendo metais

36

Amostra PbW5 PbW10 PbW20 PbW30 PbW40 PbW50 PbW60

Tg 334 °C 335 °C 375 °C 406 °C 442 °C 472 °C 494 °C

Tx 394 °C 421 °C 491 °C - - - -

Tc

- - - -

Tf - - - - - - -

Tx-Tg 60 °C 86 °C 116 °C - - - -

H 0,18 0,26 0,31 - - - -

S 9,2 21,6 22,0 - - - -

Tabela 3: Temperaturas características Tg, Tx, Tc, Tf e fatores de estabilidade Tx-Tg, H e S.

Um fator importante a ser observado nas curvas DSC das amostras

PbW5, PbW10 e PbW20 é o surgimento de um evento em temperaturas entre a

Tg e Tp, podendo ser a cristalização de uma primeira fase antes da fase

cristalina principal, ocasionando na matriz vítrea uma separação de fase. Esse

evento poderá ser confirmado tratando termicamente as amostras em

condições específicas e conseqüentemente realizar medidas por difração de

Raios x por pó para determinação das fases cristalinas.

4.4 – Espalhamentos Raman

A figura 6 apresenta os espectros Raman obtidos para WO3, NaWO4 e

Pb(PO3)2 usados como referência e os espectros Raman dos vidros

sintetizados. Podem-se observar bandas bastante alargadas (alargamento

inomogêneo) em virtude da distribuição de distâncias e ângulos de ligações

característicos dos materiais amorfos. O Pb(PO3)2 é arquitetado por cadeias

lineares de fosfato (PO4), no qual apresenta ligações P-O-P e dois oxigênios

terminais P-O- e P=O do Q2 tetraedro. Essas ligações são observadas pelas

bandas mais intensas centradas em 700 cm-1 e 1120 cm-1 respectivamente. O

Page 37: Síntese e caracterização de vidros transparentes contendo metais

37

WO3 é constituído por octaedros de WO6 e sua rede tridimensional cristalina

apresenta apenas ligações W-O-W. Seu espectro Raman apresenta duas

bandas intensas centradas em 720 cm-1 e 810 cm-1 referindo-se ao estiramento

simétrico e assimétrico das vibrações dessa ligação, respectivamente. O

tungstato de sódio (Na2WO4) é constituído por tetraedros de WO42+, no qual

apresenta ligações W-O e W=O terminais. Essas ligações são visualizadas no

espectro Raman pelas bandas centradas em 810 cm-1 e 930 cm-1.

Diante das analises feitas entre referências e amostras sintetizadas, uma

primeira observação pode ser feita referente ao desaparecimento de duas

bandas centradas em 700 cm-1 e 1120 cm-1 de acordo com o aumento da

concentração de WO3. Isto sugere que ocorre a quebra das ligações Q2(2P) (P-

O-P) das cadeias lineares do fosfato, formando ligações Q2(PW) (P-O-W) e

Q2(2W) (W-O-W).

Outra observação é o progressivo aparecimento de duas bandas de

pequena intensidade na região de 280 cm-1 e 330 cm-1 quando aumenta a

concentração de WO3 nas amostras vítreas. Isto propõe a presença de

octaedros de WO6 nas amostras vítreas. Um comprimento também pode ser

feito no surgimento de uma banda em 920 cm-1 com o aumento da

concentração de WO3, isto porque, quando comparado os espectros das

amostras vítreas com a referência de Na2WO4 sugere a presença das ligações

W-O e W=O terminais. Por fim, uma análise pode ser feita para matrizes vítreas

com concentração acima de 30% em moles de WO3 quando ocorre o

surgimento de uma banda na região de 820 cm-1 confirmando a presença de

ligações W-O-W e a possível presença de clursters de WO6 nas amostras

vítreas. Acredita-se que esses clusters são responsáveis pelo efeito de

fotocromismo devido à hiperpolarizabilidade dessas entidades e sua

capacidade de estabilizar as espécies reduzidas de tungstênio [34, 35].

Observa-se também que a maior banda de absorção das matrizes com

mais de 10 de WO3 esta centrada em 900 cm-1, no qual esse valor de energia

corresponde à máxima energia de fônons das amostras, obtendo assim

matrizes fosfatos com energia de fônos menores que as matrizes fosfatos já

existentes.

Page 38: Síntese e caracterização de vidros transparentes contendo metais

38

Gráfico 5: Espectros Raman das amostras vítreas e das referências

4.5 - Transmissão UV/Vísivel

As medidas de espectroscopia no UV/vis foram feitas em absorbância na

região de 200 a 800 nm.

A figura 7 mostra os espectros de absorção para as amostras vítreas

contendo 10, 20, 30 e 50 % em moles de WO3.

350 400 450 500 550 600

-0,2

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

% a

bso

rbâ

ncia

(u

.a.)

comprimento de onda (nm)

10WO3

20WO3

30WO3

50WO3

600 1200

-3

0

3

6

Na2WO

4

WO3

PbW60

PbW50

PbW40

PbW30

PbW20

PbW10

Inte

nsid

ad

e (

a.u

)

numero de ondas (cm-1)

Pb(PO3)

2

PbW5

Page 39: Síntese e caracterização de vidros transparentes contendo metais

39

Gráfico 6: espectro de absorbância no UV/Vis em função da concentração de WO3

De acordo com a figura acima, pode-se observar que a janela de

transparência das amostras em estudo diminui com o aumento da

concentração de WO3. Outro fator importante para analisar é o largo

deslocamento do badgap óptico entre as amostras contendo 30% e 50% de

WO3 respectivamente, isso consiste com a coloração das amostras e os

respectivos estados reduzidos de tungstênio (W6+ W5+ e W4+).

4.6 – Espectroscopia Infravermelho

As medidas de espectroscopia de IV (infravermelho) foram feitas em

transmitância na região de 400 – 4000 cm-1.

A figura 8 mostra os espectros de transmissão para as amostras vítreas

contendo 10, 20, 30, 40, 50 e 60 % em moles de WO3. A transparência na

região do infravermelho é avaliada através do comprimento de onda de corte, o

qual, os vidros transmitem até aproximadamente 2300 cm-1 (430 nm). Pode-se

observar que para todas as amostras em estudo não há variação na

transparência na região do infravermelho com o aumento da concentração de

WO3. Além disse, observa-se também, na região de 2350 – 3000 cm-1, uma

larga banda de absorção. Isso corresponde à absorção multifonon das ligações

O-P-O das cadeias de polifosfatos [26], essa absorção é variada na sua

intensidade, aumentando com o aumento de WO3.

1000 1500 2000 2500 3000 3500

0

10

20

30

PbW60

% tra

nsm

ita

ncia

(u

.a.)

numero d ondas (cm-1)

PbW10

Page 40: Síntese e caracterização de vidros transparentes contendo metais

40

Gráfico 7: Transmitância no infravermelho das amostras em função da concentração de WO3

5.0 – CONLUSÃO

Neste presente trabalho foi possível preparar vidros a base de fosfato-

tungestênio-chumbo. As amostras apresentaram um aspecto brilhante e

transparente diante de observações visuais, nos quais as colorações desses

vidros estão diretamente ligadas à concentração de WO3.

De acordo com as análises de DSC (calorimetria diferencial exploratório)

observou-se que a estabilidade térmica dos vidros aumenta de acordo com o

aumento da concentração de WO3 não exibindo cristalização em amostras com

concentrações acima de 30% em moles.

A espectroscopia Raman nos mostra que aparentemente com o aumento

da concentração de WO3 ocorre a quebra das cadeias lineares de fosfato

provocando a formação de clursters de WO6 para amostras com concentrações

elevadas de WO3. Acredita-se que esses clusters são responsáveis pelo efeito

de fotocromismo devido à hiperpolarizabilidade dessas entidades e sua

capacidade de estabilizar as espécies reduzidas de tungstênio. Observa-se

também que a maior banda de absorção das matrizes com mais de 10 de WO3

esta centrada em 900 cm-1, no qual esse valor de energia corresponde à

máxima energia de fônons das amostras, obtendo assim matrizes fosfatos com

energia de fônons menores que as matrizes fosfatos já existentes.

Os espectros de absorção no UV/Visivel apresentam para altas

concentrações de WO3 uma grande absorção na região do visível e uma

diminuição na janela de transparência das amostras com o aumento da

concentração de WO3.

A espectroscopia de IV nos mostra, que a janela de transparência no

infravermelho dos vidros estudados tem seu limite em aproximadamente 430

nm, além disso, podemos observar uma banda centrada em 2525 cm-1

relacionada à absorção multifonon das ligações O-P-O das cadeias de

polifosfato.

Page 41: Síntese e caracterização de vidros transparentes contendo metais

41

Portanto, de acordo com os resultados obtidos, os vidros preparados

possuem grande potencial para aplicação em fotônica (luminescência e óptica

não linear) tornando esse estudo muito importante, tanto do ponto de vista

acadêmico quanto tecnológico.

6.0 – PERSPECTIVAS FUTURAS

Para perspectivas futuras, estudaremos os comportamentos de

cristalização das amostras vítreas para obtenção de vitrocerâmicas

transparentes contendo nanopartículas cristalinas altamente polarizáveis e/ou

contendo íons lantanídeos opticamente ativos. Os vidros e vitrocerâmicas mais

concentrados em metais pesados serão escolhidos para avaliar as

propriedades ópticas lineares e não lineares. Finalmente, as propriedades de

luminescência na região de 1,5 nm das amostras dopadas com íons

lantanídeos serão avaliadas.

7.0 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Holand, W. R. (2003). Control of Nucleasion in Glass Ceramics. Phil.

Trans. R. soc. Cond. , 361, 575 - 589.

2. Stookey, S. (1947). Photosensitive Glass. Industrial and Engieering

chemistry , 4 (41), 856-861.

3. Dukei, G. B. (1969). Journal of Materials Science , 4, 340.

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