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Revista Duc In Altum - Caderno de Direito, vol. 3, nº 4, jul-dez. 2011. | 145 A AÇÃO DE LEGÍTIMA DEFESA NO DIREITO PENAL THE SELF-DEFENS ACTION IN CRIMINAL LAW Leonardo Siqueira 1 Resumo O presente trabalho visa examinar as peculiaridades surgidas do estudo da ação de legítima defesa, principal- mente, as denominadas situações limites, analisando-as a partir das finalidades do próprio instituto. Com isso, passou-se a desenvolver o requisito da necessidade de defesa, dando proeminência ao princípio da menor lesividade. Depois, analisou- se o requisito do uso moderado dos meio necessários, partindo da difícil questão da proporcionalidade de bens, desembocando nas principais questões derivadas desse requisito. Por fim, passou-se a examinar as situações limites, isto é, os casos que, devido a certas condições espe- ciais, foi necessário dar um trata- mento diferenciado, onde temos uma relativização do que se defen- deu nos tópicos anteriores, o que não significa contradição dogmática, e sim, uma adequação especial a casos notadamente diferentes. 1 Pesquisador do CIHJur. Professor da Faculdade Damas da Instrução Cristã. Doutor pela UFPE. Palavras-chave: legítima defesa; ação em legítima defesa; situações limites. Abstract This study aims to examine the peculiari- ties arising from the study of the action of self-defense, so called limit situations, analyzing them from of the purposes of the institute itself. With that, we started to develop the requirement of necessity defense, giving prominence to the principle of mini- mum lesion. Then, we analyzed the re- quirement of the use of moderate means necessary, leaving the difficult issue of proportionality of goods, examining the main issues arising from this requirement. Finally, we started to examine the limit situations, cases where, because of special conditions, it was necessary to take a different approach, where we have a relativ- ization of what is advocated in previous topics, which does not mean dogmatic contradiction, but rather, a adequacy cases markedly different. Keywords: self-defense, action in self-defense; limits situations. 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS A legítima defesa – bem como todas as causas de justi- ficação – é um dos institutos mais sensíveis a modificações culturais e axiológicas de uma comunidade, e esse fator aca- ba influindo diretamente nos seus pressupostos mais ele-

Siqueira, Leonardo - A Ação de Legítima Defesa No Direito Penal

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Revista Duc In Altum - Caderno de Direito, vol. 3, n 4, jul-dez. 2011. | 145 A AO DELEGTIMA DEFESA NO DIREITO PENAL THE SELF-DEFENSACTION IN CRIMINAL LAW Leonardo Siqueira1 Resumo O presente trabalho visa examinar as peculiaridades surgidas do estudo da aodelegtimadefesa,principal-mente,asdenominadassituaes limites,analisando-asapartirdas finalidadesdoprprioinstituto. Com isso, passou-se a desenvolver o requisitodanecessidadededefesa, dandoproeminnciaaoprincpioda menorlesividade.Depois,analisou-se o requisito do uso moderado dos meionecessrios,partindodadifcil questodaproporcionalidadede bens,desembocandonasprincipais questesderivadasdesserequisito. Porfim,passou-seaexaminaras situaeslimites,isto,oscasos que, devido a certas condies espe-ciais,foinecessriodarumtrata-mentodiferenciado,ondetemos umarelativizaodoquesedefen-deunostpicosanteriores,oque nosignificacontradiodogmtica, esim,umaadequaoespeciala casos notadamente diferentes. 1PesquisadordoCIHJur.Professor daFaculdadeDamasdaInstruo Crist. Doutor pela UFPE. Palavras-chave:legtimadefesa;aoem legtima defesa; situaes limites. Abstract Thisstudyaimstoexaminethepeculiari-tiesarisingfromthestudyoftheactionof self-defense,socalledlimitsituations, analyzing them from of the purposes of the instituteitself.Withthat,westartedto develop the requirement of necessity defense, givingprominencetotheprincipleofmini-mumlesion.Then,weanalyzedthere-quirementoftheuseofmoderatemeans necessary,leavingthedifficultissueof proportionalityofgoods,examiningthe mainissuesarisingfromthisrequirement. Finally,westartedtoexaminethelimit situations,caseswhere,becauseofspecial conditions,itwasnecessarytotakea different approach, where we have a relativ-izationofwhatisadvocatedinprevious topics,whichdoesnotmeandogmatic contradiction,butrather,aadequacy cases markedly different. Keywords:self-defense,actioninself-defense;limits situations. 1. CONSIDERAESINICIAIS Alegtimadefesabem como todas as causas de justi-ficaoumdosinstitutos maissensveisamodificaes culturaiseaxiolgicasdeuma comunidade,eessefatoraca-bainfluindodiretamentenos seuspressupostosmaisele-146 | Revista Duc In Altum - Caderno de Direito, vol. 3, n 4, jul-dez. 2011. mentares.Costuma-seafirmar queosculoXXfoimarcado pelastentativasdeselimitar reaoempreendidapeloa-gredidoapartirdacriaode novasdoutrinas,quesero posteriormente examinadas. Quandosefalasobrea ao de legtima defesa, deve-se,primeiramente,terbem claroasuadiferenaemrela-osituaodelegtima defesa.Asituaodelegti-madefesa,quedizrespeito aorequisitodaagressoinjus-ta(antijurdica), atual e iminen-te,opressupostonecessrio paraaexistnciadoprprio institutoenoseconfunde comareaoempregadapelo agredido.Qualquertentativa de afirmar, por exemplo, que a defesanecessriaumdos elementosdaaodelegti-madefesae,concomitante-mente,condicionantedasi-tuaodelegtimadefesa, incorre numa incoerncia lgi-co-normativa(CARVALHO, 1995,p.314315).Porcon-seguinte,deserejeitarqual-quertentativadecondicionar aaodelegtimadefesa comasituaodelegtima defesa,como,porexemplo, aspropostasdoutrinriasque s consideram a ao de leg-timadefesanecessria,caso seja proporcional agresso.Cumprefazerumaesco-lhametodolgica,ouseja, analisaraaodelegtima defesa sob um prisma objeti-voousubjetivo.Osdoutrina-doresquedefendemasubjeti-vidadedadefesaofazemsob oargumentoqueanecessi-dadedeveserprocuradano agente,nocomplexodoser organismo fsico e moral, - no seupsiquismo(VERGARA, 1990,p.160).Comisso,toda reaovaiestarsubordinada aosubjetivismodecadaindi-vduo,oquelevaaperdade umparmetromaisoumenos definidodecondutaaserse-guida,comgravesprejuzos parao indivduo. Jostericosquedefen-dem o exame a partir de crit-riosobjetivos,afirmamquea reao deve ser analisada obje-tivamenteedeformarelativa, ou seja, tomando como ponto derefernciaocasoemcon-creto, o agredido, o agressor, a gravidadeeaintensidadedo perigo.Aqui,podem-secriar regrasrelativamentedefinidas decondutaeisso,conseqen-temente,trazumaprevisibili-Revista Duc In Altum - Caderno de Direito, vol. 3, n 4, jul-dez. 2011. | 147 dadeparaoindivduoquanto aoseuagir.Esseocaminho tomadonoestudodessepres-suposto. Porfim,esseartigofoi dividido didaticamente em trs subitens: a defesa necessria; o uso moderado dos meios; e as situaeslimites.Osdoispri-meirossubitensforamdesen-volvidoscomoumaregrage-ral,aplicadaamaioriadoscidados.Oltimopontofoi especialmentecriadopara regularalgunscasosespeciais, queemfacedoprincpio constitucionaldaigualdadee da afirmao do direito peran-teoinjusto,necessitavamde regras prprias. 2. A DEFESANECESSRIA Antesdeadentrarmos nasprincipaisquestesdesse elemento,necessriofazer-mosumaadvertnciainicial. O nosso Cdigo Penal, no seu artigo25,aodiscorrersobrea aodelegtimadefesa, afirmaqueadefesatemque sernecessriaemoderada, fazendoumadistinoinexis-tente, por exemplo, no cdigo alemo,quesfalaemdefesa necessria.Conseqentemen-te,emvirtudedalei,iremos trabalharcomessaseparao, apesar,nanossaopinio,da sua desnecessidade. A reao s pode se apre-sentarcomolcitaquandofor aestritamentenecessriapara repelirumaagressoinjusta, atualouiminente,nopoden-do deixar de levar em conside-raoagravidadeeaintensi-dadedaleso,aspossibilida-desdedefesaadisposio,a espciedobemjurdicoem questoeasrelaesexisten-tesentreaspartes.Omeio utilizadotemque,obrigatori-amente,seromenosdanoso ao agressor entre os igualmen-teidneos,pois,nessecaso, regeoprincpiodamenor lesividade. Meioidneoaqueleap-toassuasfinalidades,para fazercessarumaagresso. Numaaodelegtimadefe-savriosmeiospodemser idneosparaaconsecuo dosobjetivos,mas,issono quer dizer que todos eles sero considerados,paraefeitode legtimadefesa,necessrio. Deve-seexcluir,delogo,os meiosquepossamporem perigo bens jurdicos de tercei-148 | Revista Duc In Altum - Caderno de Direito, vol. 3, n 4, jul-dez. 2011. rosalheios(LAVILLA,1994, p.306).Casonosejaposs-vel,nocasoemconcreto,a utilizaodeummeioques atuenaesferadeinteressedo agressor,como,porexemplo, nahiptesedeMvioterque atirarnopneudocarroutili-zadopelocriminoso,apesar dele saber que esse automvel pertenceraTcioenoao outro, para evitar que esse fuja comumobjetoseu,noesta-mosmaisnasearadalegtima defesa,esim,noestadode necessidade. A mesma soluo aplicadaquandobensde terceirossoutilizadoscomo meiodedefesa,porexemplo, nocasodoagredidovaler-se deumobjetoalheioparapra-ticarasuadefesa,destruindo-o. Mesmodepoisdeseres-tringirdefesaaosmeiosque nointerfiramnaesferade terceirosestranhos,ainda necessriofazeralgumaslimi-taes,ouseja,osmeiosque nodiminuamouevitemo perigo de leso no podem ser consideradosidneos.Da mesmaforma,sseroid-neosaquelesquesejamefica-zes, que no tragam risco para bensessenciaisdoindiv-duo(CARVALHO,1995,p. 319), uma vez que, o agredido noestobrigadoarecorrera meiosdefensivosmaisbenig-nos,porm,deeficciaduvi-dosa.Oconceitodeeficcia domeionotemumcarter absoluto,queassegureatotal eliminaodaagresso,mas relativo,quetraga,deacordo comaexperinciadeumho-memprudente(mdio),gran-des possibilidades de xito.plausvelaadvertncia feitaporRoxin,jque,esse doutrinadorafirmaquese,no caso em concreto, era possvel primeiramentesevalerde meiosdeeficciaduvidosa, como,porexemplo,umtiro deadvertncia,essedeveser utilizadocasosejapossvel, posteriormente,utilizar-sedo outromeiomaislesivo,sob a pena do meio no ser consi-deradoonecessrio(1997,p. 629). Essa considerao feita umaformaderelativizaro acima dito, que o agredido no devesevalerdosmeiosde eficciaduvidosa,pois,desde quesejapossvelseutilizar meiosduvidosos,observando asadvertnciasfeitassem riscopessoal,oagredido assim deve agir.Revista Duc In Altum - Caderno de Direito, vol. 3, n 4, jul-dez. 2011. | 149 Semesmodepoisdesse filtroexistiremmeiosi-gualmenteidneos,oindiv-duodeveseutilizarosmeios menosincisivos(MAURACH, 1962,p.384),deacordocom oprincpiodamenorlesivida-de.Esseprincpioafirmaa obrigatoriedadedeescolhado meiomenoslesivonecessrio paraeliminarouatenuaros efeitos do ataque, sendo, dessa feita, o limite superior de toda defesa(MATHIEU,2003,p. 44 45). Agora, caso s exista numasituaofticaummeio disposio do indivduo, esse ser considerado o necessrio. Entretanto,orequisito danecessidadedareaoem-preendida no se esgota nesses aspectos,jque,necessrio averiguarasquestesqueno merecem a devida ateno por grande parte da doutrina brasi-leira, relativa obrigatoriedade ounodafuga,dasubsidiari-dade da ao de legtima defe-safaceaoauxliodasautori-dadespblicas,anecessidade doauxliodeterceirosedos dispositivos de auto proteo. Aproblemticadafuga oucommodusdiscessussem-prefoiobjetodeanlisepor partedosdoutrinadores.A fuga,comocritrioimprescin-dvelnoexamedareao,foi uma criao do direito canni-cotodaviaessaobrigatorie-dadenoseestendiaaosmili-tareseaosnobres,pois,esses nopodiamescolheradeson-ra de uma fuga. Posteriormen-te,ocommodusdiscessus deixoudeserumrequisito obrigatrio,situaoqueper-manece at os dias atuais. Adoutrinabrasileira,na suagrandemaioria,rejeitaa fuga como um pressuposto da legtimadefesa,todavia,acre-ditamos que esses tericos no dodevidaimportnciaao tema.Aprincipalargumenta-o desses autores se resume a negarafugacombaseem critrios axiolgicos, ou seja, o direitonopodeexigirqueo homemsejacovarde,empre-gandoumafugadesonro-sa(LINHARES, 1975, p. 232). simplesmenteimpens-velsustentaressaconcepo, visto que, o bem jurdico hon-ra no est no mesmo patamar deoutrosbensjurdicosfun-damentais,como,porexem-plo, a vida e a liberdade, e, por essa razo, no se pode permi-tir,numaaodelegtima defesa, que o agredido venha a 150 | Revista Duc In Altum - Caderno de Direito, vol. 3, n 4, jul-dez. 2011. causarumprejuzoabens fundamentaisdoagressorem defesadesuahonra,quando erapossvel,nocasoemcon-creto,empregarafugasegura. Ademais,essatomadadepo-siobaseadaemumamoral extremamenteconservadora, contribuiparafrearoavano ticonecessrio(FREITAS, 2002,p.35),desumaimpor-tnciadentrodeumEstado democrtico de direito. Contudo,essanoa-nicaconcepocontrria obrigatoriedadedafugae, tambm,noamaisimpor-tante. Atualmente, o argumen-tomaisusadopeladoutrina estrangeiraeomaisbem fundamentadoodapreva-lnciadodireitoperanteo injusto2.Roxin,porexemplo, 2 Discorrer sobre a legtima defesa faz-laapartirdaanlisedesua fundamentao, da sua ratio especfi-ca.Diantedisso,nopoderiaser diferente o exame da necessidade da reao,ouseja,tomandocomo pressupostooprincpiodaafirma-ododireitoperanteoinjusto, podemos desenvolver esse elemento dessacausadejustificao.Aafir-mao do direito perante o injusto ofundamentosocialdalegtima defesa.Poresseprincpio,pode-se dizerqueaordemjurdicatemo combasenesseargumento defendeaidiaquefugano podeserconsideradaumre-quisito, uma vez que, se assim o fosse, os criminosos poderi-am expulsar todos os cidados pacficosparapoderemexer-cerosseusdomnios,oque contrariariaofundamento especficodalegtimadefe-sa(1997, p. 633). Apesardeconcordarmos comRoxinquantofunda-mentaoespecficadalegti-madefesa,noconcordamos, interessenadefesacontraagres-sesantijurdicaseatuais,pois, quem se defende, protege tambm a ordemjurdica,afirmando-aedei-xandoclaroquenohcomocon-trari-lasemriscos.Comoconse-qnciadesseprincpio,temospre-senteafinalidadepreventivageral (positivaenegativa)dalegtima defesa,oquenosencaminhaao estudo da teoria da pena. Quando se fala em preveno geral negativa a chamadaformatradicionaldeinti-midao , quer se destacar a funo dedesestimularosindivduos,no nossocaso,pormeiodareaode legtimadefesa,acometeremcrimes ouagressesantijurdicas.Jem relaoprevenogeralpositiva, essatemafunodepreservara confiananaordemjurdica,refor-ando esse sentimento no seio social (SANTOS, 2005, p. 09 10). Revista Duc In Altum - Caderno de Direito, vol. 3, n 4, jul-dez. 2011. | 151 na ntegra, com a conseqente posiotomadaporesseau-tor.Acreditamosqueapro-blemticadocommodusdis-cessusnopodeprescindirde umaanlisedocasoemcon-creto,dosmeiosdisponveis aoagredidonomomentoda agresso.importanteressaltar quetodososelementosda legtimadefesaestosubordi-nadosasuafundamentao tantoaindividual(proteode bensjurdicos)quantoasoci-al(afirmao do direito perante o injusto) , mas, isso no leva apriori,comojfoidito,a recusadafugacomopressu-postodalegtimadefesa. Quando se afirma que o direi-tonopodecederaoinjusto, nopodemosdaraesseprin-cpioumcarterabsoluto, mas,devemosexaminarcada caso em concreto, levando em consideraoaspessoasen-volvidas,osmeiosdisposi-o,oseucartermaisou menoslesivo(princpioda menorlesividade),dentreou-trosfatores. O prprio Roxin, paradoxalmente,afirmaque noscasosdaagressoserpra-ticadaporuminimputvela afirmao do direito perante o injustomenordoqueno caso de um imputvel o que exatoe,emdecorrncia dessefator,oagredidotema obrigaode,primeiramente, procurarafuga.Todavia,ele negaanecessidadedeempre-gar fuga quando os indivduos forem imputveis, mesmo que osmeiosasuadisposiofo-rem desproporcionais em rela-oaocommodusdiscessus. Ficaevidentequequandoo commodusdiscessusforo meiomenoslesivoeooutro meioformuitomaislesivoa afirmao do direito perante o injustomenor,originandoa necessidade de utilizar a fuga. Comojfalamosanteri-ormente,aaodelegtima defesaestsubordinadaao princpiodamenorlesividade, queafirmaaobrigatoriedade doagredidoseutilizar,desde que idneo e sem risco pesso-alparaeleprprio,domeio menosdanosopossvel.Por conseguinte,se,nocasocon-creto,tiveremadisposiodo indivduo,porexemplo,dois meiosidneos,sendoumde-lesafuga,devem-seobservar opotenciallesivodecada meio.Seessesmeiosnofo-remdesproporcionalmente 152 | Revista Duc In Altum - Caderno de Direito, vol. 3, n 4, jul-dez. 2011. lesivos,oagredidonoest adstritoescolhadafuga, entretanto,seexistirumades-proporoentreessesmeios, nessecaso,oindivduotem quesevalerdafugapois, nessa hiptese, a afirmao do direitoperanteoinjusto menor,sobpenadomeio ser considerado desnecessrio.Superadaessadivergn-cia,surgeaquestodaneces-sidadeounodoagredido recorrerintervenoestatal quandoessaforpossvel.Isso nos leva ao estudo sob o car-tersubsidiriodalegtimade-fesa.sabidoquedesdea revoluoliberalfrancesao Estadootitulardojuspuni-endi,ouseja,elequedeve aplicarasanopenalaosin-fratores.Dessaforma,aleg-timadefesatemumcarter subsidirio,isto,elaspode ser admitida nos casos em que adefesapblica,naquele momento, ineficaz para prote-gerinteressesdoscida-dos(CARRARA,1956,p. 212).Todavia,issonoquer dizerqueoindivduo,quando atuaemlegtimadefesa,passa aserotitulardodireitode punir,oqueseriaumenorme retrocesso,pois,seassimo fosse, estar-se-ia legitimando a j extinta vingana privada. Na verdade,quandooEstado, atravsdaordemjurdica, permitealegtimadefesa,ele no est abrindo mo do direi-todepunir,masestapenas reconhecendoodireitode autotuteladocidadodepre-servardireitoseuoudeou-trem diante de agresses injus-tas,atuaisouiminentes,e, dessa maneira, defender simul-taneamenteaordemjurdica e os interesses gerais. Ento,poder-se-iacon-cluir,deformaumtantoa-pressada, que o particular deve semprerecorrerautoridade pblica quando no existir um riscopessoal.Ledoengano. Existemsituaesconcretas quemesmosendopossvel, semriscopessoal,recorrer autoridadepblica,essemeio nodeveserutilizadoporser desnecessrio. imprescindvel que a in-tervenoestatalsejaomeio maiseficienteemenoslesivo pararepeliraagresso,uma vezque,seaatuaoda auto-ridadepblicaformaislesiva que um outro meio igualmente idneo,essenopoderser utilizado.importanteafir-Revista Duc In Altum - Caderno de Direito, vol. 3, n 4, jul-dez. 2011. | 153 mar que a defesa praticada por terceiros,submete-se,tam-bm,asmesmaslimitaes como se fosse o prprioagre-didoqueatuasse.Tomemos como exemplo o caso da auto-ridade policial; se essa atua em legtimadefesadeterceiros, elaficasubordinadaaosprin-cpiosdessacausajustificante, enoaoprincpiodapropor-cionalidadedosinteresses, norteadordaatuaopolici-al(CARVALHO,1995,p. 326). Agora, se a atuao da au-toridadepblicativeromes-mo grau de lesividade da atua-odoparticular,oagredido devesevalerdessainterven-odeterceiro,pois,pore-xemplo,funodapolcia evitarocometimentodecri-mesquevenhamalesarbens jurdicosdosindivduosouda coletividade,sendoprefervel queesseatue,sempreque possvel, nessas hipteses. Definidoosquestiona-mentosrelativosaoauxlioda autoridadepblica,surgea questorelacionadaobriga-toriedadederecorreratua-o de terceiros que no sejam aautoridadepblica.Depen-dendodaposiotomada, podemoster,numamesma situaoftica,umadefesa necessriaouno,sendoim-prescindvelestudar,dentro dorequisitodanecessidade, essa problemtica. Primeiramente,emde-corrnciadoprincpiodame-nor lesividade, que tem carter puramenteobjetivo,indife-rente,emtermosdaaode legtimadefesa,apessoaque rechaaaagresso,desdeque ofaadaformamenoslesiva possvel(MATHIEU,2003,p. 64).Diantedisso,oagredido deveseutilizaroauxliodo terceiro particular quando essa ajudasetraduziremumarea-omenosdanosa;casoo agredidoassimnoproceda, eleresponderpeloexcesso. Agora,necessrioqueoa-gredido tenha o conhecimento que o auxlio do terceiro parti-cularmaiseficaz,menos lesivoenotragaperigopes-soal,paraserpossvelpuni-lo pelo excesso. Asdificuldadesseapre-sentamemsaberselcitaa defesadeterceirosquandoo agredidonoaceitaoauxlio doterceiroquerdizer,sea oposiodoagredidorele-vanteounoeconsente 154 | Revista Duc In Altum - Caderno de Direito, vol. 3, n 4, jul-dez. 2011. com uma leso aobem jurdi-co prprio. Para resolver esse pro-blema, necessrio um exame dobemjurdicopostoem perigo.Seointeressejuridi-camentetuteladofordispon-veleoagredidoconsentena sua leso opondo-se a defesa ,nopossvelalegtima defesadeterceiros,pois,a agresso,nessahiptese, lcitaeoterceiroresponderia pelosdanoscausadosaoindi-vduo. Todavia,sealeso emfacedebensjurdicosin-disponveisemesmoqueo agredido consinta com a leso, opondo-se a defesa, possvel queoterceiroparticularatue emlegtimadefesa.Noado-tar essa posio permitir que oindivduopossadisporat daprpriavidacomgraves repercussespoltico-sociaise polticos-criminaissemcon-seqnciaspenais(aplicaoda pena)quelequeperpetrouo ato(CARVALHO,1995,p. 329).bomdeixarclaroque independentemente da hipte-se apresentada por exemplo, ofilhoestsendoagredido pelo pai e decide no reagir ou nodeixarqueumterceiro estranhocauseumdanoao seupai;ou,damesmamanei-ra,nocasodoagredido,mo-vidoporsentimentosdehon-ra,ope-seintervenodo terceiro para que ele mesmo se defenda o terceiro particular pode atuar legitimamente. Comisso,podemosa-firmarqueosdanoscausados pelaaodesdequeomeio sejaonecessrioeoseuuso moderadodoterceiroque, mesmocomaoposiodo agredido,ageemdefesado titulardobemjurdicoindis-ponvelsoconsideradoslci-tos, conforme o direito. Porfim,temosas questesrelativasaousode mecanismosdedefesaauto-matizados,como,porexem-plo,acercaeltrica.mister asseverar,emconsonnciaao j dito anteriormente, que no iremos tratar, por ser metodo-logicamenteincorreto,pois, confundeasituaodeleg-timadefesacomaaode legtimadefesa,dospontos referentesproblemticada atualidadedaagresso,quer dizer,seessesmecanismos noseconfigurariamuma legtima defesa preventiva. Revista Duc In Altum - Caderno de Direito, vol. 3, n 4, jul-dez. 2011. | 155 Diantedisso,iremos nospreocuparapenascoma necessidadededefesanessas hipteses.Amaiorparteda doutrina tanto a ptria quan-toaestrangeirarespondem positivamente,isto,quees-sesmecanismospodemser meiosnecessriospararepelir umaagresso,nocolocando obstculosasuaadmis-so(LAVILLA,1994,p.316). Essacorrentedefendeaidia que se deve analisar o caso em concretoparadefinirseesses mecanismosforamouno necessrio para repelir a agres-so. Sem dvida essa a posi-oaserseguida,vistoque, deixaasoluoemaberto,ou seja, apenas no exame do caso emconcretopode-sedefinir seummecanismodeauto proteo foi o meio necessrio ouno.Noobstanteessa afirmao,importanteaten-tar para a advertncia feita por Roxin.Esseautorafirmaque os mecanismos perigosos para avidadoserhumanoquase nuncasomeiosnecessrios pararepeliraagresso,citan-do,porexemplo,ascercas eltricasdealtavolta-gem(1997, p. 634 635). 3. O USO MODERADO DOS MEIOSNECESSRIOS Oprimeiroquestiona-mento que surge no desenvol-vimentodesserequisitoa dvida sobre a necessidade ou no de uma proporcionalidade de bens, ou seja, se o agredido, em defesa de um bem jurdico prprio,podeprovocarou noumdanodesproporcional aosinteressesdoagressor. Valechamaraatenoparao fatodequeapsasegunda metadedosculoXX,tomou foraidiaquealegtima defesadeveriaserrestringida pormotivosticosesociais, tendo vrios autores aderido a essa nova concepo. Todavia, emvistasdametodologiaas-sumida,nsvamosfazeruma distinoentrearegrageral a grande parte da comunidade e as situaes limitesindi-vduosque,devidoacertas condiesespeciais,merecem um tratamento diferenciado , pois, dependendo da hiptese, vamostomarposiesdife-renciadas,consoanteasregras 156 | Revista Duc In Altum - Caderno de Direito, vol. 3, n 4, jul-dez. 2011. doprincpioconstitucionalda igualdadejdesenvolvido anteriormente. Comearemosaexpora problemticadaproporciona-lidade se esse um elemento obrigatriodalegtimadefesa ,ouseja,seentreobemde-fendidoeobemsacrificado deveexistirumaproporo. Valeressaltarqueesseprinc-piorequisitoobrigatriode umaoutracausadeexcluso daantijuridicidade,oestado de necessidade.Paraumaparteaindami-noritriadadoutrina,alegti-madefesaestasubordinada, independentementedecertas condiesespeciaisdosen-volvidos,aoprincpiodapro-porcionalidade.Comisso,a aodelegtimadefesaestaria condicionada,almdaslimita-esimpostaspelanecessida-deepelamoderao,aobser-vnciadodanocausadoeo impedido. Esses autores admi-temqueoagressordevesu-portarasconseqnciasdo seuatoantijurdico,contudo, issonoautorizaumadefesa desconectadacomosinteres-sesemjogo,umavezque, umaconcepoindividualista, semapreocupaocoma pessoadoagressor,noa-propriadaaumEstadosocial democrticodedireito.Um exemplo bastante utilizado por essesdoutrinadoresparaex-plicar a irracionalidade da cor-rente que no aceita a propor-cionalidadedebens,ada defesadacaixadefsfo-ros(bem patrimonial) as custas davidadoagressor.Conse-qentemente,deve-serestrin-giradefesadoagredidopara quenoaconteamsituaes semelhantes. Umdosprincipaispro-blemasquesurgecomaado-odaproporcionalidadeco-morequisitodalegtimadefe-saasuaconfusocomo estadodenecessidade.Esses doutrinadores afirmam que no estadodenecessidadedeve-se observarumaproporcionali-dade estrita entre os bens jur-dicos postos em conflitos, j proporcionalidadeproposta paraalegtimadefesaaxio-lgica, ou seja, o que se exige umacertaracionalidadeentre aagressoeadefesaempre-endida, entre o mal evitado e o malcausado(MATHIEU, 2003, p. 86). Poroutrolado,agrande partedadoutrinarecusaa Revista Duc In Altum - Caderno de Direito, vol. 3, n 4, jul-dez. 2011. | 157 proporcionalidadecomoum requisitoobrigatriodaleg-timadefesa.Oprincipalar-gumento3dessesautoresresi-denaprevalnciadodireito peranteoinjusto,nafunda-mentaosocialdessacausa de justificao. A ao de leg-timadefesanoestsubordi-nadaaproporcionalidadeen-treodanocausadoeoimpe-dido,umavezque,essadefe-sa,almderesguardarbens pessoais,protegeodireitona luta contra o injusto,trazendo duasconseqnciaspositivas: aprimeiraosentimentode confianaeaestabilizaoda ordemjurdica;asegundaa desestimularosindivduosa cometeremagressesabens jurdicosalheios,mostrando queexistemriscosnessaao ilcita(ROXIN, 1997, p. 632). Apesardeconcordamos comaconclusodadapela 3Semprejuzoaesseargumento, temosaquestojtratadaanterior-mente,isto,queoprincpioda proporcionalidadeumrequisito necessriodoestadodenecessidade enodalegtimadefesa.Qualquer tentativade inserir esse princpio no roldosrequisitosdalegtimadefesa errnea, pois, causaria uma confu-so nesses institutos. doutrinadominante,encon-tramosnelaalgumascontradi-esquedevemserlevanta-das, com o intuito de dar legi-timidaderecusadapropor-cionalidade. Para tanto, far-se-umbrevecomentriosobre acaracterizaodasituao de legitima defesa, quer dizer, sobre a natureza da agresso a partirdaticadessadoutrina majoritria,comoescopode demonstrarassuasincon-gruncias. Quandofalamosdanatu-rezadaagresso,estvamos nosreferindoaoseuaspecto subjetivo,aodoloeaculpa. Para a maior parte dos doutri-nadores, a agresso a ensejar a legtimadefesanonecessita serunicamentedolosa,po-dendo,tambm,serculposa. Para outros autores, a agresso no precisa ser sequer culposa, ouseja,essaanalisadauni-camentesobopontodevista objetivo.Apesardessadiver-gncia, o importante reside no fatodeambosrejeitaremanecessidadedaagressoser exclusivamentedolosa,oque os leva afirmar que uma agres-soculposaconfigurariauma situao de legtima defesa. 158 | Revista Duc In Altum - Caderno de Direito, vol. 3, n 4, jul-dez. 2011. Ento,segundoTaipa deCarvalho,essasteoriasque desprezam a decisiva circuns-tnciadaculpadolosadoa-gressor,carecemdelegitima-otico-jurdicaparaafirma-remanoexignciadapro-porcionalidadedos bens...(1995,p.433),mesmo no caso da defesa ser necess-ria, visto que, quando o agente agesemodolo(vontadee conscincia)ofimpretendido porelelcito,enoseria justotratarmosdamesma maneira,oquelevariaaque-bradoprincpiodaisonomia, situaesjurdicasdiversas, querdizer,noexigirapro-porcionalidadedebenspara todasasagresses,tantoas dolosas quanto as culposas ou ataquelashiptesesqueo agente age sem culpa. Conseqentemente, e isso noslevaaumadistinode suma importncia, no caso das agressesnodolosas,no ficacaracterizadoalegtima defesa,mas,unicamente,o estadodenecessidade,regido pelo princpio da proporciona-lidade.Jnashiptesesde agressodolosa,ondeoautor temavontadeeaconscincia livrederealizaroselementos descritosnotipopenal,no seria eticamente e juridicamen-tecorretoexigirqueoagredi-doestivesselimitadonasua defesapeloprincpiodapro-porcionalidade, o que nos leva a concluir pela no obrigatori-edade desse princpio. Superadaaquestoda proporcionalidade,podemos nosateraosoutrosaspectos da moderao. Quando o nos-soCdigoPenalfalaemuso moderadodosmeiosnecess-riosquerinstituirumlimite defesadoagredido,pois,se essecontinuarautilizaro meionecessriomesmode-poisdejterrepelidooperi-go, o seu uso ser considerado imoderado,eoagredidores-ponderporexcessodoloso ou culposo. Paraquefiquecaracteri-zadaamoderao,necess-rioobservarumadevidapro-poronousodomeio importante atentar para a dife-renaentreaproporcionalida-dejdiscorridaeautilizada agora,ouseja,amoderao no leva em considerao se o bemdefendidotemvalorme-nordoqueobemafetado, mas a forma como o indivduo utilizouomeionecessrio,o Revista Duc In Altum - Caderno de Direito, vol. 3, n 4, jul-dez. 2011. | 159 seuuso(LINHARES,1975,p. 238 239). Asgrandesdvidasgera-dasdainterpretaodesse elementosorelacionadasaos critriosparadefinirseouso foimoderadoouno.Como j foi dito, adotamos o critrio objetivoemdetrimentodo subjetivo,vistoque,adotaro critriosubjetivoleva,por exemplo,aumademasiada ampliaodoslimitesdaleg-tima defesa. Ao adotar o critrio obje-tivo,deve-seestaratentoa certosfatoresimportantes paraquepossamosdefinirse, nocasoemconcreto,houve ounoumadefesamoderada. Para tanto, necessrio obser-varagravidadedaagresso,o bem jurdico posto em perigo, as pessoas envolvidas na situa-o de legtima defesa, ou seja, oexamedeveserdeforma relativa,deacordocomcada caso em concreto. misterafianarquena apreciaodorequisitoda moderao, no se pode exigir umaperfeitaadequaoentre oataqueeadefesa,umavez que,quemseencontranessa situao,tendoqueatuar,em certoscasos,deimproviso, geralmentetemdificuldadede valorarclaramenteamedida moderadaderepulsa.Costu-ma-seafirmarquenopode-mosconcluirseousofoii-moderadosimplesmentepe-sando,comonumabalana,a agressoeareao,semlevar emconsideraoosoutros fatores envolvidos. Umexemplobastante significativoeamplamente divulgadopeladoutrinabrasi-leira a hiptese de um boxe-adorprofissionalsemqual-querarmaagredirfisica-menteumapessoadefraca compleiofsica,eessa,dis-pondoapenasdeumaarmae sempossibilidadedefugirou recorrerautoridadepblica ouaterceiros,disparaduas vezescontraoagressorcau-sando a sua morte. Nesse caso emespecfico,sensnole-varmosemconsideraotodo ocomplexodefatoresenvol-vidos,poder-se-iachegar concluso que o agredido agiu de forma imoderada. Contudo,quandosee-xaminamtodososfatores envolvidosnessecasoo vigorfsicodoagressor,o escassotempoparareagir,ter apenasadisposioumnico 160 | Revista Duc In Altum - Caderno de Direito, vol. 3, n 4, jul-dez. 2011. meio,percebe-sequeoa-gredidonousoudeforma imoderadaomeionecessrio, mesmosedepoisficarcom-provadoqueapenasumtiro seriasuficienteparaterrepeli-do a agresso. Agora, isso no querdizerqueoagredido, mesmonessahiptese,pode-ria utilizar-se do meio necess-rio de qualquer forma e inten-sidade. Porfim,podemosdizer queamoderaorequerdo agredidooempregodomeio necessriodeformamenos lesivapossvel,demaneiraa repelirainjustaagres-so(BRANDO,2002a,p. 121). 4. SITUAES LIMITES Comofoiditoanterior-mente, tratamos dos requisitos danecessidadeedamodera-otomandocomopontode refernciaamaiorpartedos indivduos.Nessemomento, passaremosatratardasques-tesrelativasacertasclasses depessoas,quedevidoacer-tascondiesespeciaisneces-sita de regras diferentes. imprescindveldeixar claro que nesses casos o agres-soragecomdolo,jque,co-mofoivisto,seeleagiucom culpa imprudncia, impercia ou negligncia no subsiste a legtima defesa, mas o estado de necessidade. Mesmo agindo comdolo,necessrioimpor certasrestriesatuaodo agredido. Paratanto,foicriadaa doutrinadelimitaestico-sociais da legtima defesa, com oescopodelimitaradefesa doagredido.Essateoria,des-deasuacriao,sofrecrticas notocanteasualegalidade, pois,emprincpio,aleinada dizsobrelimitaesalegtima defesa nesses casos em espec-fico.Umaoutracrticaque surgerelaciona-secomuma supostainseguranaqueessa doutrinatrariaparaodireito de legtima defesa.Noobstanteascrticas sofridasporessaconcepo, acreditamosquecertassitua-esmerecemumtratamento diferenciado,emnomedo princpio da igualdade. certo que o Cdigo Penal brasileiro, noseuart.25,nopreviutais hipteses, mas, isso no leva a afastarmosperemptoriamente taissituaeslimites,visto que, as normas constitucionais Revista Duc In Altum - Caderno de Direito, vol. 3, n 4, jul-dez. 2011. | 161 sodehierarquiasuperiorem relaosdemaisnormas,ou seja,asleispenaisdevemser interpretadasemconsonncia com a Constituio. Alm disso, uma interpre-taopartindodafundamen-taosocialdalegtimadefesa afirmao do direito perante o injusto permite que nesses casosespecficos,ondeaafir-maododireitoconsidera-velmentebaixa,limite-se aodelegtimadefesa.Em relaosegundacrticaadu-zida, pode-se afirmar que essas limitaessodirigidasagru-pos especficos, a saber: quan-dooagressorinculpvelou tem a culpabilidade diminuda; quandoentreoagressoreo agredidoexisterelaodega-rantia;quandoaagresso irrelevante;quandoexiste,por partedoagredido,umainicial provocao antijurdica. 4.1. Agressor inculpvel ou com a culpabilidadediminuda Primeiramente,cumpre fazerumadiferenciaoem relao a uma posio peculiar adotadaporumaparteda doutrina.Parataisautores,a culpabilidadedoagente, quandosefaladelegtima defesa,deveserobservada quandodaanlisedainjustia da agresso, ou seja, se o agen-teagesemculpabilidadeno podemosfalardelegtima defesa,mas,unicamente,de estadodenecessidade.O principalargumentodefendi-doporessacorrenteques asagressesculpveisdo ensejoafirmaododireito perante o injusto, fato que no acontececomosagressores inculpveis(BENTEZ,2004, p. 25). Aqui,apesardeacredi-tarmosqueaafirmaodo direitobemmenordoque noscasosnormais,estamos aindanarbitadalegtima defesaapesardaslimitaes impostasaodireitodedefesa doagredido.bemverdade quequandooindivduoest protegidoporumacausade exclusodeculpabilidadeo Direitoabdicadeaplicara pena,mas,mesmoassim,po-de-seaindacontinuardefen-dendoodireitoperanteoin-justodeumamaneiraredu-zida,protegendooagredido de uma agresso a bens jurdi-cosseus(ROXIN,1997,p. 162 | Revista Duc In Altum - Caderno de Direito, vol. 3, n 4, jul-dez. 2011. 638).Mas,aaodelegtima defesadeveseguiralgunsre-quisitosquelimitamasua atuao. Ento,frenteaagresses dedoentesmentais,decrian-as,debriossemsentido,de indivduosqueatuememerro invencveloudequalquerou-trasituaoqueexcluaou diminuaaculpabilidadedo homem,oagredidodeveob-servartrsmedidasbsicase obrigatrias. Aprimeiramedida,que a menos lesiva possvel, impe queoagredidoprocureevitar oataqueempregandoafuga. Senoforpossvelafuga,o indivduodeveprocuraro auxliodeumaautoridade pblicaoudeterceiros,caso taismedidasforemmenos lesivasqueaprpriaatuao do agredido. A segunda medida, que s devesertomadacasoapri-meiranoforpossvel,afirma que o agredido deve se limitar a aparar os golpes do agressor, visandocausaromenordano possvel. Porfim,casonoseja possvel,semgravesriscos pessoaisparaoindivduo, utilizar-sedasduasmedidas anteriores,oagredidopode aplicar,aosedefender,meios deformaaatacaroagressor. Todavia,eledevecomear utilizandoosmeiosmenos lesivos,mesmoquetragaal-gum perigo para ele ou no se tenhacertezasobreasuaefi-ccia,para,gradualmente,ir usando meios mais lesivos. Comofoidito,nessashi-ptesesoagredidotemque suportarumcertograude perigo,entretanto,casote-nhamosumperigodemorte oudelesescorporaisdena-turezagrave,oagredidono temaobrigaolegaldesu-port-las,podendoutilizar-se de meios mais eficazes. Oexemplodadopela doutrinaesclareceefixame-lhoressasmedidas:Umes-trangeiroofendidocomin-sultos racistas por menores de idade, e, devido a esse insulto, esemqualquerameaaprvia outentativadeseafastardo local,dumafortetapaem umadascrianas.Deixando deladoqualquerdvidaque possa surgir no tocante atua-lidadedosinsultos,podemos afirmarqueessareaofoi excessiva, o que no acontece-riaseoagressorfosseculp-Revista Duc In Altum - Caderno de Direito, vol. 3, n 4, jul-dez. 2011. | 163 vel.importantenotarqueo agredidonessecasodeveria, primeiramente,terprocurado seafastardolocaloupedir ajudadeterceirosospais dosmeninos,porexemplo, senofossepossvel,deveria terameaadoosmeninosa-firmandoqueseelesnopa-rassemdeinsult-loiriamre-ceberumatapa.Casonenhu-masdessasmedidasfossem suficientes, o agredido poderia dar uma leve tapa nas crianas. importantenotarquenessa hiptese citada, uma forte tapa sempreseriaexcessiva,uma vezque,aagresso,apesarde serantijurdica,notrazperi-goalgumavidaouaintegri-dadefsicadoagredido,no sendonecessrio,porconse-guinte,umalesodemaior intensidade. 4.2. Agresses marcadas por relaes de garantia Nasrelaesdegarantia, que so regidas pelas regras da omissoimprpria,quefun-damentam a posio de garan-teporexemplo,odeverde assistncia entre pai e filho ou entreoscnjuges,aafirma-o do direito perante o injus-to tambm de menor impor-tncia. Asmesmasdisposies, referentesslimitaesda defesadoagredido,desenvol-vidasnoscasosdoagressor ser inculpvel ou ter a culpabi-lidadediminuda,aplicam-se nesse caso especfico. Essas limitaes se justifi-camdevidonecessidade,de ambasaspartes,deevitarda-nosparaooutro,e,mesmo sendo possvel legtima defe-sa,essadeveserusadade forma limitada, devido o dever desolidariedaderecproco (ROXIN, 1997, p. 651). Ento, se o marido agride a sua esposa praticando leses corporais leves, essa no pode se defender, por exemplo, por meiodeumafacaoudeum revlver,mas,devesevaler dasdisposiesreferidas,ou seja,deveprocurarajudada autoridadepblicadelegacia damulheroudeterceiros, paraquepossa,posteriormen-te,utilizar-sedemeiosofensi-vos. interessanteressaltara ressalvafeitaporRoxin,pois, comoafirmaesseautor,essas restriessvalemcasoa natureza da agresso no anule 164 | Revista Duc In Altum - Caderno de Direito, vol. 3, n 4, jul-dez. 2011. odeverdesolidariedadedo agredido,como,porexemplo, nocasodomarido,pormeio de uma agresso, por em peri-go a vida ou a integridade fsi-cadeformagravedasua esposa.Nessahiptese,amu-lher no esta obrigada a supor-tartaisperigos,podendose utilizar,casoomeiosejane-cessrio, de uma arma de fogo que,eventualmente,possa causaramortedoho-mem(1997, p. 652). Damesmaforma,noe-xistemaisodeverdesolidari-edade quando, por exemplo, o homemagride,mesmode forma leve, a sua esposa diari-amenteepormotivosinsigni-ficantes,vistoque,ningum tem o dever de suportarmaus tratoscontnuos(ROXIN, 1997,p.652).Omesmose aplica no caso dos cnjuges j terem se separado de fato, no sendorelevanteofatodeles aindaestaremjuridicamente casados. TaipadeCarvalho,ao discorrersobreahiptesede legtima defesa nos casos onde existe um dever de garantia ou quando subsiste uma provoca-oporpartedoindivduo, acaba por negar ao agredido o direito de uma defesa legtima, jque,ssubsistiriaoestado de necessidade.Elebasicamentedesen-volvetrsargumentospara afirmaresseposicionamento. Oprimeirorefere-sefuno preventiva da legtima defesa decorrnciadiretadafunda-mentao social desse instituto ,isto,nocasoondeexiste umaintensaeduradourarela-o de coabitao entre cnju-gesoupaiefilhoodoutri-nador limita-se a tais hipteses noseverificanasuapleni-tudeaprevenoge-ral(positivaenegativa)ea especial,pois,ascondies pressupostasparaqueessa funosematerialize(arecusa daproporcionalidadeeapos-sibilidadedeselesarbensdo agressor muito mais importan-tesqueosdefendido)no aceitvelticaejuridicamente nessescasos(CARVALHO, 1995,p.448).Parajustificar tal posio, o doutrinador traz vriosexemplosmostrandoa diferena entreum fato ocor-ridoapenasnoseiofamiliare omesmofatocomterceiros envolvidos,como,porexem-plo:Aspequenaseespordi-casofensasentrecnjugesou Revista Duc In Altum - Caderno de Direito, vol. 3, n 4, jul-dez. 2011. | 165 mesmo entre pais e filhos no revestemamesmadignidade penalqueasmesmaspe-quenasofensasquandoprati-cadascontraumtercei-ro(CARVALHO,1995,p. 450). Esse , segundo o prprio autor,oseuargumentoprin-cipal, o que no deixa de exis-tiremoutros.Odoutrinador afirmaaindaqueficapatente umatensoentreoprincpio dasolidariedade(existentenas hiptesesdeintensaedura-douracoabitao,bemcomo nocasodeprovocao)eo direitodelegtimadefesaque negaoprincpiodaproporci-onalidadede bens(CARVALHO,1995,p. 451).Emrelaoaoterceiro argumento,vamosnosfurtar nomomentodeapresent-lo, visto que, ele especfico para oscasosdeprovocaopor partedoagredido.Aotratar-mosdessaquestolevantare-mos o argumento omisso. Apesardetodasasconsi-deraesfeitasporTaipade Carvalho,asuatesenopode prosperar.certoquenos casos citados pelo doutrinador necessrioumaregulao especial,contudo,nopode-mosaceitarasuaconcluso que,nessescasos,sficaria caracterizadooestadodene-cessidaderegidopeloprin-cpiodaproporcionalidade, masnuncaalegtimadefesa. Esseautorafirmaquenessas hiptesesnosubsistiriauma funopreventivadalegtima defesa tanto a geral quanto a especial e haveria um confli-toentreoprincpiodasolida-riedadeeessacausadejustifi-cao. Em relao ao princpio dasolidariedade,remetemos asconsideraesfeitaspor Roxin,ouseja,que,depen-dendodaintensidadedaa-gresso,noexistiriamaisum dever de assistncia mtua. Notocanteainexistncia da funo preventiva princi-palargumentodoautor,ele podeserelidido.Abstraindoa dificuldadedeseafirmarque umalei,porexemplo,vaiin-timidardeumamaneiramais eficaz a sociedade ou um indi-vduo,acreditamosquemes-mo nos casos citados por Tai-padeCarvalho,subsistea funopreventivadalegtima defesa,principalmenteem relaosagressesquetra-gam risco de vida para o agre-dido,vezque,nessasocasies 166 | Revista Duc In Altum - Caderno de Direito, vol. 3, n 4, jul-dez. 2011. vivelaintimidaodetoda acomunidade,paraqueela percebaqueexistemriscos, mesmodentrodoseiofamili-ar,emperpetrartaisaes antijurdicas. 4.3.Agressesirrele-vantes Convmfazerumadis-tinoentreasagressesirre-levantes tratadas aqui e princ-pio da insignificncia. Quando estudamos o tipo penal, ns o fazemos em trs planos distin-tos:ovalorativo,odalingua-gemeodarealidade.Nopla-no valorativoexamina-se se a conduta humana violou o bem jurdicotutelado,pois,seisso noacontecerexclui-seatipi-cidade em virtude do princpio dainsignificncia(BRAN-DO, 2002a, p. 58).Poroutrolado,asagres-sestratadasnessetpicoso aquelasquedoorigemaos delitos privados, as contraven-espenais,aosfurtosdeob-jetos de pouco valor. Percebe-sequenessescasosaafirma-ododireitoaindasubsiste, apesar de ser substancialmente menor,oquefundamentaa necessidade da legtima defesa. Da mesma forma, as agresses a bens jurdicos que no sejam penalmente tutelados so con-sideradas irrelevantes. ComoafirmaRoxin,em relaosagressesirrelevan-tes,aafirmaododireito peranteoinjustonoretroce-detantocomonashipteses anteriores,queresultanades-necessidadedeprocurar,por exemplo,ajudapolicialo quenoscasosdoagressor inculpvelumrequisitoo-brigatrio,mesmoquetraga alguns riscos pessoais ao agre-dido,podendoeleprprio empregar a defesa necessria e deformamoderada(1997,p. 646).No obstante essa consta-tao, a aode legtima defe-satemlimites,pois,oagredi-do no pode com a sua defesa, porexemplo,trazerriscode vidaoudelesescorporais gravesaoagressor.Tomemos umexemplobastantedifundi-do na doutrina: Um paraltico, queapenasdispedeuma escopetanomomento,vum adultopegandoumanica maadoseupomareatira uma s vez no indivduo, cau-sandoasuamorte.Normal-mente,adoutrinautilizaesse Revista Duc In Altum - Caderno de Direito, vol. 3, n 4, jul-dez. 2011. | 167 casoparajustificar,deforma errnea, a necessidade da pro-porcionalidadedebens,pois, diante do caso em concreto, o meiofoionecessriopara repeliraagressoinjustaea seuusofoimoderado,oque levaria, em tese, a ficar estabe-lecidalegtimadefesa.Ape-sardessadoutrinachegar corretaconcluso,vezque, nessa hiptese, no fica confi-guradoacausajustificante,o fundamentonopodesera proporcionalidade,comoj foi dito. Ofundamentopara justificar o excesso da legtima defesaamenornecessidade deafirmaododireito,nos moldejreferidos.Nocaso exemplificado,seoparaltico s dispunha daquele meio para defenderapropriedade,mas, seessetraz,inexoravelmente, um perigo vida e integrida-defsica(deformagrave),a nicasoluodeixaroindi-vduo cometer aquele pequeno furtoedepoiscomunicartal crimesautoridadescompe-tentes. 4.4. Provocao antijurdica por parte do agredido Como j foi dito e repeti-donostpicosanteriores,a provocaoantijurdicapor parte do agredido, como todas assituaeslimites,apesarde aindasuscitarumdireitode legtimadefesa,levaauma limitaonodireitodeao porpartedoindivduo.Mas, antesdeadentrarmosnos pontos especficos dessa ques-to,imperiosofrisaradife-renaexistenteentreaprovo-caotratadanobojodesse trabalho e a provocao inten-cional. Aprovocaointenci-onal aquele na qual um indi-vduo, com o fim de perpetrar, porexemplo,umhomicdio, provocauminimigoseupara queesserealizeumaagresso e ele possa reagir sob o manto dalegtimadefesa,e,conse-qentemente,nosejapunido pela ao. Umexemploelucidabem aquesto:Tcioplanejah muitotempomatarMvio, umantigodesafetoseu.Para noserpunido,elesabeque temqueprovocarMviopara 168 | Revista Duc In Altum - Caderno de Direito, vol. 3, n 4, jul-dez. 2011. queomesmovenhaaagredi-loeelepossamataroseuini-migoemlegtimadefesa. Paratanto,Tcio,nafrente dosfamiliaresdeMvio,des-ferecontraelepalavrasde baixocaloeimputaaMvio oroubodeumbanco.Diante detalsituao,Mvioparte paraagredirfisicamenteTcio, e esse, munido previamente de umrevlver,mata-osobo pretextodeteragidoprotegi-dopelodireitodelegtima defesa. Quandoseanalisaaleg-timadefesacomoumtodo, almdosrequisitosobjetivos, tem-sequeobservaroseu requisitosubjetivo,ouseja,o animusdefendendi.Somenteage emlegtimadefesaquemtem a vontade lcita de defender os seusbensjurdicos.Nocaso citado,ficaclaroqueTcio agiucomavontadelivree conscientedepraticarum homicdioenoumadefesa jurdicadosseusbens,no ficandocaracterizadoalegti-madefesa,oquenoaconte-ceriaseoexamefosseunica-menteobjetivo.Poressemo-tivo,Tcioseriapunido,caso nohouvessenenhumacausa deexclusodeculpabilidade, porhomicdiodolosoconsu-mado. Japrovocaoquese pretendedesenvolveraquela naqualoagredido,noobs-tanteasuaprovocaoantiju-rdica,nobuscasuscitaruma agressoapesardessavira ocorrer.Dandoumexemplo diferente:Tcio,semainten-o de provocar uma agresso porpartedeMvio,injuria-o, fazendocomqueMviove-nhaaagredi-lo.Nessecaso especfico,Tciopodesede-fenderlegitimamente,emvir-tudedoataqueantijurdicode Mvio,mas,asuadefesa limitada,pois,foielequepro-vocou, mesmo sem inteno, a agresso.Feita essa distino, fica a dvidaseaprovocaoque restringeadefesadoagredido necessitaserantijurdicaou podesertambmasdesapro-vadastico-socialmente.A-creditamosqueunicamenteas provocaesantijurdicaspo-demensejarumarestrio aodelegtimadefesa,visto que,selassocapazesde ferir bens jurdicos alheios. Roxin,aodiscorrer sobreoassunto,tomaames-maposio,pois,oqueno Revista Duc In Altum - Caderno de Direito, vol. 3, n 4, jul-dez. 2011. | 169 est proibido algo que juridi-camenteaspessoasdevem toleraroupagarnamesma moeda(1997,p.644).No casodaprovocaoqueno sejaantijurdicaoagredido podesedefenderdeumaa-gressoderivadadessaafronta semnenhumarestrio,uma vezque,nessahiptese,ele estarafirmandoodireito peranteoinjustoemtodaa sua plenitude. Porfim,paraqueapro-vocaoantijurdicavenhaa restringir a defesa do agredido, necessrioobservarolapso temporal entre a provocao e aagressoporpartedopro-vocado,ouseja,se aqueleque foi provocado vem a praticar a agressomesesapsofato, no se pode restringir a defesa do agredido sob o pretexto de umaprovocaoanterior (ROXIN, 1997, p. 644). Como j foi referido ante-riormente,TaipadeCarvalho afirmaainexistnciadalegti-madefesanoscasosonde entreoagressoreoagredido existeumaintensaeduradou-rarelaodecoabitaoenas hiptesesdeprovocaoda agressoporpartedoagredi-do.Aodiscorrermossobreos casosondeexisteumarelao degarantia,levantaram-seos doisargumentosqueso gerais,isto,paraasduashi-ptesesdefendidospelo doutrinadoremfavordaex-clusododireitodelegtima defesa.Agora,imperioso trazeratonaoterceiroargu-mento,especficoparaessa situao. Taltericoafirmaque,a-lmdosoutrosdoisargumen-tos,noscasosdeprovocao deve-seaindalevaremconsi-deraooprincpiovitimol-gico, que conduz a reduo do ilcitoedaculpadoagressor, e, destarte, surja o princpio de solidariedademnimaqueim-pe a observncia do princpio daproporcionalidade,incom-patvelcomodireitodeleg-timadefesa(CARVALHO, 1995, p. 452 453). Nonegamosquenashi-ptesesdeprovocaopor parte do agredido a sua defesa deve ser limitada, todavia, isso no leva a crer que s subsista oestadodenecessidade.J afirmamos,outrora,quesea agressotrouxerperigovida ouaintegridadefsica(defor-ma grave) desaparece qualquer princpiodasolidariedade 170 | Revista Duc In Altum - Caderno de Direito, vol. 3, n 4, jul-dez. 2011. existente.Porconseguinte, rejeitamosoposicionamento defendidopelodoutrinadore reafirmamosodireitodeleg-timadefesacomassuas limitaesporpartedoa-gredido CONCLUSO Opresenteartigoteve porobjetivoprecpuoexami-naraaodelegtimadefesa emtodasassuaspeculiarida-des, tentando dar uma soluo aosproblemassuscitadose preencher as lacunas, referente aos casos limites, existentes na doutrina ptria. Nasearadaaodeleg-timadefesa,estudamos,pri-meiramente,anecessidadede defesa.Conclumosquearea-ospodeserconsiderada necessriaseessaforidnea, eficazedemenorpotencial lesivopossvel,consoanteo princpiodamenorlesividade. Damesmamaneira,defende-mosahiptesequeafuga sempreobrigatrianoscasos ondeela,emcomparao comosoutrosmeiosdispon-veis,muitosmenosdanosa para o agressor. Igualmente,tomamosa posioqueafirmaanecessi-dade,desdequesejaamenos lesivapossvelenotraga perigoao agredido,desebus-carajudadeterceirosparticu-lares. Em relao ao auxlio da autoridadepblica,vimoso cartersubsidiriodalegtima defesaqueafirmaserobriga-triaabuscaporauxlioda autoridade,desdequepreen-chaascondiesdescritas acima, isto , menor lesividade e sem perigo pessoal. A ltima questotratadanessetpico foiadosaparelhosdeauto proteo,tomandoumaposi-ointermediria,vistoque, necessrio examinar o caso em concretoparachegarauma concluso. Diante o requisito do uso moderadodosmeiosnecess-riostratamoslogodaproble-mticadaproporcionalidade. Apesardealgunsdoutrinado-resafirmaremquedeve existir umaproporcionalidadeentre odanocausadoeobemde-fendido,acreditamosqueem virtudedoprincpiodaigual-dadeedafundamentaoso-cialdalegtimadefesa,aafir-maododireitoperanteo injusto,deserecusarpro-Revista Duc In Altum - Caderno de Direito, vol. 3, n 4, jul-dez. 2011. | 171 porcionalidade comorequisito da legtima defesa. Posteriormente,desen-volvemososoutrospontos desserequisito,asquestes maisrelacionadasestritamente comamoderao,querdizer, comodefinirseareaofoi moderada.Tomamosaposi-o daqueles que afirmam que amoderaodeveseranalisa-da a partir do caso em concre-to e de forma relativa, levando emconsideraoaspessoas envolvidas,anaturezadaa-gressoeobempostoem perigo. Comisso,chegamosao ponto culminante do trabalho, oexamedassituaeslimites, que nunca tiveram, pela maior partedadoutrinabrasileira,a atenodevida.Dianteessa constatao,passamosaapre-ciarcadacasoemespecfico, mostrandosempreoporqu dessassituaeslimitesterem umtratamentodiferenciado, desde o princpio da igualdade atamenornecessidadeda afirmao do direito perante o injusto. REFERNCIAS ASA,LuisJimnez.Tratado dederechopenal,vol.4,Buenos Aires, Editorial Losada, 1952. ASA,LuisJimnez.Laleyy eldelito,Caracas,EditorialAn-drs Bello, 1945. BENTEZ,ngeladelaTor-re. Una aproximacin a los limites delalegitimadefensa,Bogot, Universidadexternadode Colmbia, 2004. BRANDO,Cludio.Teoria jurdica do crime, Rio de Janeiro, Forense, 2002a. BRANDO,Cludio.Introdu-o ao direito penal. Rio de Janei-ro, Forense, 2002b. CARRARA,Francesco.Pro-gramadedireitocriminal,vol.1, So Paulo, Saraiva, 1956. CARVALHO,AmricoA. Taipade.Alegtimadefesa, Coimbra,Coimbraeditora, 1995. 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