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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
ESCOLA DE VETERINÁRIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL
SISTEMA DE BARREIRA COM FILME DE HIDROGEL DE POLI(2-HIDROXIETIL
METACRILATO) NA PREVENÇÃO DE ADERÊNCIAS PERITONIAIS :
ESTUDO EXPERIMENTAL EM RATAS E CADELAS
Marcelo Seixo de Brito e Silva Orientadora: Profª. Drª. Neusa Margarida Paulo
GOIÂNIA
2009
ii
iii
MARCELO SEIXO DE BRITO E SILVA
SISTEMA DE BARREIRA COM FILME DE HIDROGEL DE POLI(2-HIDROXIETIL
METACRILATO) NA PREVENÇÃO DE ADERÊNCIAS PERITONIAIS :
ESTUDO EXPERIMENTAL EM RATAS E CADELAS
Tese apresentada para obtenção do grau de
Doutor em Ciência Animal junto à Escola de
Veterinária da Universidade Federal de Goiás
Área de concentração:
Patologia, Clínica e Cirurgia Animal
Orientador:
Profª. Drª. Neusa Margarida Paulo - EV/UFG
Comitê de Orientação:
Profª. Drª. Maria Clorinda S. Fioravanti - EV/UFG
Dr. Renato Miranda de Melo – Alfenas/MG.
GOIÂNIA
2009
iv
v
vi
Dedico este trabalho a minha mãe
Anete, meus irmãos Alessandra e
Demétrius e aos meus sobrinhos
Victor, Igor e Gabriel que são
constante fonte de amor e apoio
emocional sem os quais eu jamais teria
conseguido chegar até aqui.
vii
AGRADECIMENTOS
A Deus, por ter me dado a graça de me interessar pelos animais, pela
pesquisa e pela docência, além de me permitir ter tantos amigos.
À Profa. Dra. Neusa Margarida Paulo pela credibilidade e confiança em
meu trabalho, permitindo que eu caminhasse sozinho, embora estivesse sempre
presente.
Aos meus co-orientadores Profa. Dra. Maria Clorinda Soares Fioravanti e
Dr. Renato Miranda de Melo pela paciência, amizade, apoio e orientação
permanente.
A minha grande amiga Liliana Borges de Menezes pela orientação e apoio
em todas as fases do projeto. Uma pessoa sem a qual o mesmo não se realizaria.
As minhas amigas, Flavia Gontijo de Lima e Marina Pacheco Miguel pela
amizade e apoio durante o período desta pós-graduação.
À Profa. Dra. Naida Cristina Borges que facilitou e apoiou a execução deste
trabalho, facilitando a utilização do Hospital Veterinário em qualquer horário
necessário.
Aos estagiários e agora grandes amigos, Luiz Henrique da Silva, Mariana
Moreira Andrasckho, Aline de Morais Faria, Natália Menezes Moreira e Isadora
Apude Mondini Belletti, que prestaram uma imensa colaboração abrindo mão, na
maioria das vezes, de seus momentos de estudo e descanso, inclusive finais de
semana, feriados e férias.
Ao Médico veterinário Leandro Guimarães Franco por ser um grande
profissional e agora amigo.
Ao Dr. Wagner Miranda pelas abnegadas horas de orientação e
treinamento no uso do equipamento de videolaparoscopia.
À Profa. Dra. Sonia Maria Malmonge, pelo processamento do hidrogel e
confecção das telas compostas.
As colegas do Hospital Veterinário das Faculdades Objetivo, Ingrid Bueno
Atayde, Luciano Schneider da Silva, Carlos Eduardo Chiqueto e Felipe Augusto
Sales Gomes, pelo imenso auxilio ajustando seus horários e permitindo a minha
participação nos diversos eventos necessários à realização desse trabalho.
viii
Aos professores do departamento de morfologia do ICB, Paulo Roberto de
Sousa, Alberto Corrêa Mendonça e Viviane Sousa Cruz pelo apoio que sempre
me deram em toda a minha vida acadêmica, tornando-se amigos muito
estimados.
A todos os funcionários do Hospital Veterinário por estarem sempre
dispostos a me ajudar, em especial Sheila de Almeida de Sousa e Wilda Maria
Reis que também contribuíram na execução deste trabalho.
Ao Carlos Pereira Ramos, o Carlito, pela grande contribuição na limpeza
das baias.
Ao Otávio Cavalcante Barros por auxiliar com a confecção das lâminas.
À Escola de Veterinária e ao Programa de Pós-Graduação em Ciência
Animal que permitiram a realização deste trabalho.
Aos professores, Dr. Andrigo Barbosa de Nardi, Dr. Claudemiro Quireze
Júnior, Dr. Luiz Augusto Batista Brito e Dra. Veridiana Maria Brianezi Dignani de
Moura por aceitarem colaborar com a qualidade desta tese participando da banca
de defesa.
Ao professor Dr. Adilson Donizeti Damasceno pelas contribuições na banca
de qualificação e a disposição em ajudar.
Ao CNPQ pela importante participação promovendo recursos para a
realização desse trabalho.
Em especial a todos os animais que fizeram parte deste trabalho.
Meus sinceros agradecimentos
ix
"Sempre que ensinares, ensina a
duvidarem do que estiveres
ensinando".
José Oretega Y. Gasset
x
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS ........................................................ 1
1 Aderências Peritoniais ......................................................................................... 1
2 Próteses sintéticas não absorvíveis para reconstrução da parede abdominal .... 2
3 Hidrogel ............................................................................................................... 6
4 Incorporação das telas ........................................................................................ 8
REFERÊNCIAS .................................................................................................... 11
CAPITULO 2 - Avaliação da formação de aderências peritoniais e resposta
tecidual ao implante do compósito polipropileno-poli(2-hidroxietil metacrilato) na
parede abdominal de ratos .................................................................................... 16
RESUMO.............................................................................................................. 16
ABSTRACT .......................................................................................................... 16
INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 17
MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................... 19
RESULTADOS ..................................................................................................... 23
Avaliação macroscópica ....................................................................................... 23
Análise microscópica ............................................................................................ 24
DISCUSSÃO ........................................................................................................ 27
CONCLUSÕES .................................................................................................... 30
REFERÊNCIAS .................................................................................................... 30
CAPITULO 3 - Compósito poli(2-hidroxietil metacrilato)-tela de polipropileno
para prevenção de aderências peritoniais em cadelas. ........................................ 32
RESUMO.............................................................................................................. 32
ABSTRACT .......................................................................................................... 32
INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 32
MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................... 35
RESULTADOS ..................................................................................................... 37
DISCUSSÃO ........................................................................................................ 40
CONCLUSÃO ....................................................................................................... 43
REFERÊNCIAS .................................................................................................... 43
CAPÍTULO 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................... 46
ANEXOS DO CAPÍTULO 2 .................................................................................. 48
ANEXOS DO CAPÍTULO 3 .................................................................................. 50
xi
RESUMO
Os materiais sintéticos são a principal escolha para a correção de defeitos na parede abdominal, mas a formação de aderências é um problema encontrado quando da colocação de próteses em contato com as vísceras abdominais. Com o objetivo de evitar a sua formação, vários materiais e mecanismos são utilizados na tentativa de impedir o contato das superfícies peritoniais com as próteses. Neste sentido, investigou-se a possibilidade do hidrogel de poli(2-hidroxietil metacrilato) (poliHEMA) revestir uma face de tela de polipropileno e, com isso, prevenir a aderência peritonial em cadelas e ratas, sendo, nesta última espécie, também realizada a avaliação histológica dos materiais implantados. Para isso, um defeito abdominal foi produzido no músculo reto abdominal de 16 cadelas que foram divididas em dois grupos de oito animais e, o defeito foi corrigido com tela de polipropileno e tela de polipropileno revestida de hidrogel respectivamente. A presença de aderências foi avaliada após 20 dias por videolaparoscopia. Quanto às ratas, o procedimento cirúrgico foi semelhante e as avaliações ocorreram aos 15 e 30 dias, com eutanásia dos animais e colheita de fragmentos para histologia com as colorações de picrossirius e H.E. O hidrogel de poliHEMA revestindo a tela de polipropileno implantada na parede abdominal impediu totalmente a formação de aderências viscerais e do omento remanescente sobre a superfície da tela quando comparada à tela de polipropileno isolada em cadelas e ratas. Foi encontrada maior quantidade de aderências na zona de sutura no grupo que recebeu a tela revestida com poliHEMA. A estrutura física do biomaterial interferiu na organização e persistência da resposta tissular, mas não no tipo da mesma. Palavras-chave: aderência, biomaterial, implante, sistema de barreira
CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS
1 Aderências Peritoniais
As aderências peritoniais continuam representando um enorme desafio
para os cirurgiões que acessam a cavidade peritonial. O campo da pesquisa
cirúrgica encontra nesse tema uma ampla galeria de abordagens em busca de
soluções para o problema. Sabe-se que a lesão peritonial leva à isquemia e que
as aderências tendem a se formar quando ocorre contato entre superfícies
peritoniais lesadas (CHEONG et al., 2001; DI ZEREGA & CAMPEAU, 2001). A
lesão do peritônio determina uma seqüência de eventos inflamatórios,
caracterizados pelo aumento da permeabilidade vascular, exsudação de células
inflamatórias e formação da matriz de fibrina, a qual é gradualmente organizada e
substituída por um tecido contendo fibroblastos, macrófagos, células mesoteliais e
células gigantes (CANIS et al., 2001). A formação da fibrina inicia-se com a
ativação da cascata de coagulação, na qual ocorre a conversão da protrombina
em trombina. Esta última atua na conversão do fibrinogênio em fibrina. O polímero
inicialmente solúvel, torna-se insolúvel pela atuação do fator de coagulação XIIIa
e se deposita sobre a ferida (DEL CARLO et al. 1997).
Entre as principais causas de aderências estão inflamação peritonial,
isquemia, agentes irritantes, trauma, tempo prolongado de pneumoperitônio e
sangue na cavidade peritonial (CHEONG et al, 2001; DI ZEREGA & CAMPEAU,
2001; BINDA et al, 2003). Algumas dessas situações levam à redução da ação
dos ativadores do plasminogênio e, nestes casos, se a fibrinólise é inadequada, a
migração e proliferação fibroblástica no exsudato inflamatório pode ocorrer,
causando as aderências permanentes (DEL CARLO et al., 1997). Autores como
CHEONG et al. (2001) e GENEVIEVE et al.(2006) citaram que as áreas
isquêmicas incrementam a formação de aderências devido, provavelmente, a
fibrina que permanece mais tempo no local lesado.
Segundo resultados de DEL CARLO et al. (1997), a abrasão pode ser a
principal causa das aderências, já que o trauma produzido é traduzido por maior
resposta exsudativa e consequente deposição de fibrina.
2
Os materiais sintéticos que causam irritação mecânica nos folhetos
peritoniais, tanto o visceral como o parietal, são fatores estimuladores do
processo inflamatório que inicia o mecanismo de formação de aderências. Nesses
casos, os sistemas de barreiras são recomendados para a prevenção das
aderências por impedir o contato entre esses folhetos. Vários mecanismos de
barreira são citados na literatura, podendo ser utilizadas soluções, fármacos em
gel, hidrogéis, membranas sintéticas e biológicas (CANIS et al, 2001; YEO &
KOHANE, 2008). Dentre todas, as membranas têm sido as mais empregadas,
motivo pelo qual serão consideradas neste trabalho.
2 Próteses sintéticas não absorvíveis para reconstrução da parede
abdominal
O primeiro relato do uso de próteses sintéticas não absorvíveis para
correção de defeitos da parede abdominal foi registrado no trabalho de Witzel, em
1900. O pesquisador recorreu a telas confeccionadas com fios de prata que, no
entanto, foram pouco utilizadas devido aos elevados índices de complicação
registrados (GOLDSTEIN, 1999; SANTOS, 2007). Diante da necessidade de
resolver os problemas iniciais, outros materiais, além da prata, como o tântalo e o
aço foram estudados. Contudo, estes materiais apresentavam vários
inconvenientes como fragmentação, inflexibilidade e promoção de erosão nos
órgãos adjacentes (SANTOS, 2007).
Em 1952, foi descrito o uso de telas confeccionadas com náilon, porém
logo essas se mostraram ineficientes devido às variações da pressão abdominal e
à deterioração do material quando em contato prolongado com líquidos orgânicos.
Outros materiais, como polietileno, acrílico, poliéster e polivinil não obtiveram a
aceitação esperada por sua frágil resistência às infecções, por facilitar a formação
de abscessos e exigir posterior remoção (GOLDSTEIN, 1999; OREFICE et al.,
2006).
Visando o reparo da parede abdominal, Usher, em 1958, introduziu na
prática cirúrgica a tela de polipropileno (PP) para o reparo de defeitos da parede
abdominal. Após vários estudos para o esclarecimento dos mecanismos
3
biomecânicos que resultam na incorporação tecidual dessa tela, a mesma tem
sido considerada como o material de escolha mundialmente aceito para o reparo
de hérnias (GOLDSTEIN, 1999; KLOSTERHALFEN et al., 2005).
A tela de polipropileno preenche um percentual consideravelmente
significativo dos critérios de biocompatibilidade, embora inicialmente não tenha
recebido a aceitação imediata que se esperava (GOLDSTEIN, 1999).
Os insucessos do passado com as telas de prata, tântalo e náilon, a
ortodoxia do pensamento cirúrgico em utilizar somente tecidos do paciente e o
receio de que um corpo estranho induzisse nesses tecidos processos infecciosos,
ou que os perpetuasse, talvez tenham contribuído para a baixa aceitação inicial
(OREFICE et al., 2006).
Tecida em forma de malha, com fios monofilamentares entremeados
por poros (Figura 1), a tela de polipropileno permite a infiltração de fibroblastos,
facilita a deposição do colágeno e determina uma reação inflamatória moderada
do tipo corpo estranho (GREER & PEARSON, 1998; KLOSTERHALFEN et al.,
2005).
O uso das telas de polipropileno tem aumentado significantemente em
todo o mundo, principalmente para a correção dos grandes defeitos da parede
abdominal (KLOSTERHALFEN et al. 2005). Tais problemas, dentre outros, podem
ser decorrentes de hérnias incisionais, traumas e tumores, nos quais o tamanho
do defeito, a precariedade dos tecidos sadios e o excesso de tensão na linha de
sutura impõem a utilização de telas (LAMONT & ELLIS, 1988).
Seguindo a tendência da medicina, os materiais sintéticos têm obtido
ampla aceitação para reconstrução da parede abdominal dos animais (SMEAK,
1998; BOWMAN et al., 1998; LIDBETTER et al., 2002).
BOWMAN et al. (1998) relataram desde 1984, o uso bem sucedido de
telas de polipropileno na correção de problemas da parede abdominal de cães e
gatos. LIDBETTER et al. (2002) referiram o uso deste material após
procedimentos cirúrgicos para remoção de fibrossarcomas em felinos. Ainda na
Medicina Veterinária, destaca-se a avaliação de outros materiais como a tela
composta de látex, poliamida e polilisina (RABELO et al., 2005).
4
FIGURA 1 – Aspecto macroscópico da tela de polipropileno microporosa, gramatura de 180g/m2.
Existem vários materiais protésicos recomendados para a utilização na
parede abdominal e, segundo GOLDSTEIN (1999), preferencialmente estes não
devem se modificar fisicamente pelos fluidos corporais; devem ser quimicamente
inertes; não ser carcinogênicos ou alergênicos; devem apresentar resistência
mecânica; serem esterilizáveis e passíveis de fabricação na forma utilizável.
Nas próteses comerciais atualmente são utilizados materiais como
poliéster, polipropileno e o politetrafluoretileno expandido (PTFEe), sendo que
todas se enquadram mais ou menos nas características citadas anteriormente
(OREFICE et al., 2006).
A correção dos defeitos da parede abdominal com o uso de
biomateriais sintéticos não é livre de riscos. Diversos problemas podem surgir da
utilização desses, sendo as aderências o principal problema (MELO et al., 2003).
Para esses autores, a colocação da tela, mesmo no espaço pré-peritonial e sem o
contato direto com as vísceras, pode induzir a reação inflamatória leve e formação
de aderências em cães.
O tipo do material também influencia diretamente a quantidade de
aderências e a intensidade da reação inflamatória (GOLDSTEIN, 1999;
5
KLOSTERHALFEN et al., 2000; YEO & KOHANE, 2008). A estrutura e porosidade
do biomaterial exercem importante papel não só na formação das aderências,
mas também na consistência e organização tecidual do neoperitônio formado
(BELLÓN et al., 2001).
As reações mais graves decorrentes das aderências são as fístulas
intestinais, erosões dos órgãos, intussuscepção e volvo. Nas telas colocadas na
posição pré-aponeurótica, lesões cutâneas como fístula, extrusão da tela e erosão
cutânea são as ocorrências mais comuns (BOWMAN et al., 1998; GREER &
PEARSON, 1998).
GOLDSTEIN (1999), KLOSTERHALFEN et al. (2005) e
SCHUMPELICK et al. (2006) têm recomendado a utilização do polipropileno em
telas leves, com poros em torno de 5.000µm e peso de 30g/m2. Já foi
demonstrado que esta menor quantidade de material diminui a reação inflamatória
sem perda da resistência ou eficácia do implante (KLOSTERHALFEN et al.,
2005). O tamanho dos poros permite que o tecido hospedeiro se desenvolva entre
estes, diminuindo a quantidade de tecido fibroso no sítio de implantação (GRECA
et al., 2001).
Outro artifício utilizado para a prevenção de aderências são as telas
revestidas ou de dupla face. Estas possuem uma face de polipropileno e outra
revestida com um material capaz de prevenir ou diminuir as aderências. Um
exemplo são as telas compostas de polipropileno e politetrafluoretileno expandido
(PTFEe) (Figura 2). A face de polipropileno fica voltada para a parede abdominal
e permite a sua incorporação pelos tecidos receptores, enquanto a face de PTFEe
fica voltada para a cavidade peritonial (GOLDSTEIN, 1999; KLOSTERHALFEN et
al., 2005).
6
FIGURA 2 – Próteses sintéticas não absorvíveis. A: tela composta de politetrafluoroetileno (PTFEe) e polipropileno (PP), detalhe das duas faces da tela de PTFEe (Gore-Tex®); B: face de PTFEe.
3 Hidrogel
Os polímeros sintéticos, representados pelos hidrogéis poliméricos,
são resinas hidrofílicas que têm sido largamente utilizadas com finalidade
biomédica, na confecção de diversos tipos de materiais (NETTI,1993).
Muitas estruturas químicas diferentes podem ser classificadas como
hidrogéis, apresentando em comum, fortes interações com água, existindo
ligações covalentes entre as cadeias e formando um reticulado que não pode ser
dissolvido (MALMONGE et al., 2000).
O hidrogel original, um copolímero de 2-hidroxietil metacrilato
(poliHEMA) e etilenoglicol dimetacrilato foi desenvolvido por Wichterle e Lim em
1954 e sua base serviu para a confecção da primeira lente de contacto gelatinosa
em 1961 (WHEELER et al., 1996).
O hidrogel de poliHEMA por ser leve, flexível, biocompatível, atóxico e
não possuir propriedade antigênica tem sido utilizado para a confecção de vários
dispositivos biomédicos, como os sistemas liberadores de drogas (HSIUE et al,
2001), tubos para condução de crescimento neural (FLYNN et al., 2003; TSAI et
al., 2004), implantes intra-oculares (WERNER et al., 2000) e como reparo de
superfícies articulares (MALMONGE et al., 2000; BAVARESCO et al., 2008).
7
Os hidrogéis de origem natural ou artificial, quando secos, são
quebradiços e apresentam aspecto vítreo. No entanto, quando em presença de
líquidos, tornam-se elásticos. O hidrogel desidratado quando imerso em água,
absorve-a até atingir um equilíbrio entre as forças favoráveis à entrada de líquidos
na estrutura polimérica e as forças de coesão da rede (NETTI, 1993; MALMONGE
et AL., 2000). Sua estrutura polimérica tridimensional, geralmente não cristalina,
apresenta ligações covalentes fortes e ligações iônicas fracas. Essa rede
tridimensional é que confere ao material a sua insolubilidade, bem como a
estabilidade em presença de água. À medida que as cadeias são alongadas para
uma configuração entropicamente menos favorável, existe uma força resistiva, a
qual aumenta com a densidade de ligações. O equilíbrio é atingido quando as
forças se igualam (MALMONGE at al. 2000).
A característica hidrofílica dos hidrogéis deve-se à presença, em sua
estrutura química, de grupos que apresentam afinidade em ligar-se a moléculas
de água. Seu aspecto macio e elástico é determinado pelo monômero hidrofílico
básico e pela concentração de agentes de reticulação (GONZALEZ, 1992; NETTI,
1993).
Os hidrogéis poliméricos podem ser sintetizados dentro de uma grande
variedade de morfologias, sem alterar suas propriedades físicas. Dessa forma,
podem ser preparados na forma de esponjas, géis não esponjosos, filmes
opticamente transparentes, líquidos que podem ser polimerizados na forma de
géis e como recobrimentos de vários tipos de substratos (Figura 3) (GONZALEZ,
1992; MALMONGE et al., 2000; HSIUE et al., 2001).
O hidrogel de poli(2-hidroxietil metacrilato) (poliHEMA) é composto de
polímeros altamente estáveis e resistentes à hidrólise, e altamente hidrofílicos
devido a presença de grupos ésteres (MALMONGE et AL., 2000).
Apesar de suas conhecidas indicações clínicas, complicações
decorrentes da implantação de hidrogéis de poliHEMA têm sido relatadas
WERNER et al. (2000) descreveram a presença de deposições de cálcio em
lentes intra-oculares de hidrogel implantadas em seres humanos após cirurgia de
catarata, sendo necessária a remoção entre seis e 18 meses após a cirurgia. Os
mesmos autores citam que de 3.500 lentes implantadas, 12 desenvolveram
alterações que indicaram sua remoção.
8
FIGURA 3 – Aspecto macroscópico de uma tela composta, evidenciando o hidrogel de poliHEMA (PH), tendo como substrato a tela de polipropileno (PP).
KEIJOVÁ et al. (2005) avaliaram, por meio de testes de citotoxicidade
in vitro, amostras de hidrogéis de poliHEMA, recomendando seu uso para
implantes biológicos, testes in vivo e avaliação do comportamento do material.
Resultados de MALMONGE et al. (1999), que avaliaram hidrogéis de poliHEMA
reticulado em contato com cultura de células VERO in vitro, reforçam as
recomendações dos autores inicialmente citados.
4 Incorporação das telas
Os biomateriais foram desenvolvidos de forma a se obter uma
combinação satisfatória das propriedades físicas, próximas daquelas do tecido
substituído, com uma resposta tóxica mínima para o hospedeiro (OREFICE et al.,
2006).
PH
PP
9
Uma característica comum dos materiais é que esses incitam o
desenvolvimento de uma cápsula fibrosa fina que separa o tecido receptor e o
implante. Se o material implantado for de baixa reatividade, essa cápsula é a
única evidência de que um implante degradável esteve presente no tecido
hospedeiro (OREFICE et al., 2006). Em contraste, um material reativo produz
uma cápsula fibrosa muito espessa (YEO & KOHANE, 2008), o que pode resultar
em concentrações de tensão localizada, levando a dano mecânico para o tecido
hospedeiro (BOWMAN et al., 1998; OREFICE et al., 2006). Nos casos em que a
interface do biomaterial com a membrana fibrosa é insuficiente ou mesmo
inexistente, pode ocorrer movimentação do implante dentro da cápsula, causando
aumento da espessura da mesma. Esse aumento pode interferir com o
suprimento local de sangue aos tecidos, favorecendo o acúmulo de subprodutos
bioquímicos potencialmente tóxicos (OREFICE et al., 2006).
Um dos grandes problemas ligados ao implante de biomateriais é a
infecção que pode ocorrer pelo baixo fluxo de sangue através da cápsula. Isso
dificulta a migração leucocitária, retardando o processo de fagocitose em um foco
infeccioso (BOWMAN et al, 1998; GREER & PEARSON, 1998). Além disso, os
produtos de decomposição podem se acumular no sítio de implantação devido à
falta de circulação. Produtos da corrosão de metais ou da deterioração de
polímeros podem se reunir dentro da cápsula ou na interface cápsula-implante
(GREER & PEARSON, 1998; KLOSTERHALFEN et al., 2000).
Na ausência de infecção, a implantação de um biomaterial
razoavelmente inerte e atóxico desencadeia uma resposta inflamatória tipo corpo
estranho, sendo os fibroblastos atraídos para a área a fim de iniciar o processo de
reparo tecidual. Estas células, sendo ativadas, passam a sintetizar e liberar
colágeno. Este último será produzido rapidamente e, em alguns dias, ocorrerá o
aumento do número de fibras colágenas e da força tênsil local, ao mesmo tempo
em que capilares sanguíneos danificados começam a se regenerar para
restabelecer a vascularização. Assim, a ferida contendo um implante irá cicatrizar
com a formação de uma zona de tecido fibroso vascularizado envolvendo o
dispositivo. Espera-se que em poucas semanas o processo inflamatório tenha
regredido (WILLIAMS, 2003).
10
A duração e intensidade dessas respostas irão depender da extensão
do dano criado na implantação, composição química, energia livre de superfície,
carga de superfície, porosidade, aspereza, tamanho e forma do implante
(BABENSEE et al., 1998). Uma superfície irregular e áspera pode resultar em
mais fibrose simplesmente porque há maior irritação mecânica. O tecido fibroso
que se forma imediatamente após a fase do pós-operatório pode obedecer a
estas características geométricas, fornecendo melhor fixação, a fim de reduzir a
movimentação do material (WILLIAMS, 2003).
O biomaterial induz diferentes respostas que determinam as reações
corpóreas. Células como monócitos, leucócitos e plaquetas, aderem à superfície
desses biomateriais e propiciam a produção de citocinas e, subseqüentemente, a
processos pró-inflamatórios (RATNER & BRYANT, 2004).
Os macrófagos são, provavelmente, as mais importantes células
fagocíticas na reação tecidual aos biomateriais. Essas células fagocitam
partículas com tamanho entre 10 micrômetros e 10 nanômetros de diâmetro,
porém, pelo fato de serem menores do que o implante, não é possível fagocitá-lo.
A inflamação crônica segue na interface dos tecidos e os macrófagos se fusionam
para formar sincícios multinucleados, denominados células gigantes, que
persistem pelo tempo que o implante permanecer no tecido (WILLIAMS, 2003;
RATNER & BRYANT, 2004). Reativações do processo inflamatório podem
ocorrer, o que explicaria as complicações de longo prazo (PUTTINI, 2006).
Buscando estabilizar a interface de materiais quase inertes, uma das
opções é a formação de microestruturas porosas na sua superfície ou na sua
totalidade. Esses poros ou depressões permitem o desenvolvimento de um tecido
com adequado suprimento vascular no interstício do material. Uma cápsula
fibrosa ainda se formará entre a superfície, os poros e o tecido infiltrado. Porém, o
acoplamento mecânico do tecido vivo nos poros serve para minimizar o
crescimento de uma cápsula fibrosa (OREFICE et al., 2006).
Outro método para melhorar a interface com o biomaterial seria a
utilização de material protésico absorvível ou parcialmente absorvível, que
permitiria a substituição do material implantado por tecidos. Este método se
aproxima da utilização de tecidos derivados do próprio paciente (GREER &
PEARSON, 1998).
11
Um problema com o método de degradação diz respeito ao fato de que
a resistência do material diminui quando a absorção ocorre. Se não houver
perfeita compatibilidade entre a redução da resistência do implante e o aumento
da resistência do tecido em recuperação, o sistema tecido-implante irá falhar
(GREER & PEARSON, 1998; OREFICE et al., 2006).
A associação de diferentes materiais é uma alternativa para a busca de
biomateriais que promovam menos reações teciduais indesejadas. Porém,
algumas vezes, a resposta tecidual do hospedeiro não apresenta diferenças entre
esses materiais, como descrito por GOISSIS et al. (2001), que associaram a tela
de polipropileno ao poli cloreto de vinila (PVC), em dupla camada, para
reconstrução da parede abdominal de carneiros, comparando-a com a tela de PP
isoladamente. Foi observado que o perfil de resposta inflamatória foi similar entre
os dois tipos de implantes.
PUTTINI (2006) avaliou a resposta inflamatória desencadeada pela tela
de PP e PTFEe, implantadas cirurgicamente no espaço pré-peritonial de
camundongos. As telas de PP determinaram reação cicatricial, com total
integração aos tecidos adjacentes, enquanto as telas de PTFEe determinaram
intensa reação do tipo corpo estranho, com encapsulamento da tela pelo tecido
conjuntivo e células gigantes distribuídas em torno da tela.
Independentemente de como o corpo interage com o material
implantado, a questão principal é a confiabilidade do biomaterial e a função
adequada do mesmo (KLOSTERHALFEN et al, 2000).
O objetivo deste trabalho foi avaliar se a tela de polipropileno, revestida
por uma camada de hidrogel de poliHEMA, seria capaz de evitar a formação de
aderências, além de avaliar a resposta tissular provocada pela implantação deste
biomaterial, utilizando como modelos experimentais ratas e cadelas.
REFERÊNCIAS
1. BABENSEE, E. J.; ANDERSON, J. M.; MIKOS, A. G. Host response to tissue
engineered devices. Advanced Drug Delivery Reviews, Amsterdam, v.33,
p.111-139, 1998.
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16
CAPITULO 2 - Avaliação da formação de aderências peritoniais e resposta
tecidual ao implante do compósito polipropileno-poli(2-hidroxietil
metacrilato) na parede abdominal de ratos
Evaluation of peritoneal adhesion formation and tissue response to
composite implant polypropylene-poly (2-hydroxyethyl methacrylate) in
abdominal wall of rats
RESUMO A tela de polipropileno é um biomaterial comumente usado na reconstrução ou no reforço da parede abdominal, mas tem o inconveniente de desencadear reação de corpo estranho induzindo a formação de aderências e fístulas. Para prevenir tais complicações têm sido adotadas estratégias como os sistemas de barreira visando impedir o contato das vísceras com o biomaterial. O hidrogel de poliHEMA tem sido usado para confecção de vários dispositivos biomédicos, sendo atrativa a sua pesquisa sobre a prevenção de aderências. No presente trabalho foram implantadas telas de polipropileno (Grupo PP, n=20) e telas de polipropileno revestidas por uma camada de poliHEMA (Grupo PH, n=20) na parede abdominal de ratas da linhagem Wistar. Dez animais de cada grupo foram submetidos à eutanásia aos 15 e 30 dias de pós-operatório. O grupo PP apresentou aderências viscerais na superfície da tela, o que não foi observado no grupo PH. Observou-se no exame histopatológico resposta tipo corpo estranho nos dois grupos sendo que no grupo PH houve maior intensidade de resposta inflamatória nos dois momentos. Conclui-se que o hidrogel de poliHEMA quando associado à tela de polipropileno reduz a formação de aderências viscerais em ratos, embora possa estar associado à reação inflamatória mais intensa. Palavras-chave: aderência, hidrogel, material biocompativel, polímeros, tela cirúrgica ABSTRACT The polypropylene mesh is a biomaterial which is commonly used in the reconstruction or reinforcement of the abdominal wall. However, it inconveniently triggers a foreign-body reaction which induces adhesions. Strategies to minimize these complications include coating the mesh with non-stick materials in order to avoid contact between the polypropylene mesh and the abdominal viscera. PolyHEMA hydrogel film has been used in the production of several biomedical devices and has attracted research on adhesion prevention, due to its possible ability to block the fibrin adhesions on lesioned surfaces. This study assessed the role of a simple polypropylene mesh (PP group) and of a polypropylene mesh associated with the polyHEMA hydrogel film (PH group) on abdominal wall of rats Wistar. Ten animals from each group were submitted to euthanasia 15 and 30 days postoperatively. The polypropylene induced visceral adhesions on the mesh surface. However, when the polypropylene was associated with the hydrogel barrier, such adhesions did not form on its surface. The histopathological examination revealed a foreign-body response in both groups, but the PH group
17
showed greater intensity of inflammatory response at both moments. We concluded that the use of a polypropylene mesh in association with hydrogel reduces visceral adhesions on the abdominal wall, when compared to the isolated use of a polypropylene mesh. Nevertheless, this material caused a significant inflammatory reaction. Keywords: adhesion, biocompatible materials, hydrogel, polymers, surgical mesh
INTRODUÇÃO
O problema das hérnias incisionais e outros defeitos da parede abdominal
nas diferentes espécies animais é o grau de recorrência após aproximação
primária dos tecidos por meio de suturas, sendo, portanto necessário o uso de
telas para a correção do defeito tecidual. Um dos biomateriais mais comumente
utilizados com esta finalidade é a tela de polipropileno. Este material é bem
tolerado pelo organismo, sendo integrado ao tecido circundante e oferece alto
grau de resistência à tração na zona de reparo [1]. Além disso, é um material
resistente, fácil de ser manipulado e relativamente barato, mas que facilmente
leva à formaçãop das aderências, o que pode resultar em dor abdominal pós-
operatória, obstrução intestinal e formação de fístulas [2,3]. Em condições normais,
quando uma tela é implantada no organismo, devido à sua presença e a dos fios
usados para sua fixação, há uma reação de corpo estranho [4,5,6] culminando na
formação de uma cápsula avascular constituída de collagenous fibrous tissue [5].
Este é o processo de incorporação da tela. Entretanto, este mesmo processo é
que representar o estímulo para a formação das aderências definitivas, com suas
sérias complicações, como obstrução intestinal e fistulização, principalmente se a
tela for posicionada em posição intraperitonial [7], em contato direto com a
superfície visceral [8].
Vários métodos e agentes têm sido desenvolvidos para prevenção das
aderências peritoniais. A abordagem mais comum é a criação de barreiras físicas
que impeçam o contato entre o material implantado e as alças intestinais ou
outras vísceras abdominais ou pélvicas [8,9]. Para que possa haver efetiva
prevenção das aderências quando materiais não absorvíveis com uma impervious
layer na sua face ventral, em contato direto com as alças intestinais são
implantados na parede abdominal [9]. A evolução do processo cicatricial da parede
abdominal, bem como a formação das aderências também está relacionada ao
18
tamanho dos poros das telas. Nesse sentido sabe-se que as próteses
microporosas tornam-se progressivamente encapsuladas, com escassa infiltração
pelos tecidos neoformados. Tais materiais raramente induzem a formação de
aderências, enquanto que as macroporosas como o polipropileno são totalmente
infiltradas por um tecido cicatricial desorganizado, o que confere maior resistência
à tração na zona de reparo. Lamentavelmente, esta mesma característica,
positiva do ponto de vista de incorporação, induz a formação das aderências [10]
que podem ter resultados decepcionantes [11].
Buscando minimizar ou abolir a formação de aderências estimulada
pela presença das telas, tem-se buscado elaborar materiais, como compósitos,
que apresentem as características positivas das telas microporosas e das
macroporosas. Bellón et al [12] é possível obter bons resultados com o uso de
próteses combinadas na forma de compósitos.
Os polímeros, por serem a classe mais versátil de biomateriais têm sido
largamente utilizados para a construção de inúmeros dispositivos biomédicos.
Dentre os polímeros destaca-se o hidrogel de poli (2-hidroxietil metacrilato)
(poliHEMA) o qual é usado para confecção de lentes de contato, skin coatings,
membranas para imunoisolamente, bem como sistema de liberação de drogas [13].
De acordo com HSIUE et al. [14], o hidrogel de poliHEMA é leve, flexível,
biocompatível, atóxico e não possui propriedade antigênica, o que estimula a
pesquisa sobre sua aplicação com medical device. Embora os polímeros sejam
considerados efetivos como biomateriais, deve-se tomar um especial cuidado com
o seu uso, já que sua interação com os tecidos e sua degradação podem trazer
riscos [15].
O estudo histológico é imprescindível quando se avalia a
biocompatibilidade de um determinado biomaterial. A analise de determinadas
respostas do hospedeiro como, por exemplo, a intensidade da reação
inflamatória, fibrose, revestimento celular, inflamação granulomatosa tipo corpo
estranho, hiperplasia fibroblástica e quantificação de fibras colágenas,
possibilitam o entendimento das respostas orgânicas aos implantes. Para Vural et
al. [16] o mecanismo de formação das aderências peritoniais representa uma
variação do processo cicatricial normal, sendo, portanto o resultado de um
mecanismo inflamatório. Os macrófagos, as maiores células diferenciadas do
19
sistema mononuclear fagocítico, respondem á implantação dos biomateriais
buscando fagocitar as suas partículas, e sua maior função é mediar as respostas
imunes e inflamatórias contra corpos estranhos implantados [17].
O objetivo deste estudo foi avaliar a resposta tecidual e a formação de
aderências peritoniais após a implantação na parede abdominal de ratos, de tela
de polipropileno revestida por uma camada de hidrogel de poli(2-hidroxietil
metacrilato) (poliHEMA).
MATERIAL E MÉTODOS
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética Animal da Universidade
Federal de Goiás (protocolo n° 054/2008). Foram utilizadas 40 ratas jovens da
linhagem Wistar, pesando entre 250g e 300g, divididas em dois grupos
denominados conforme o tipo de material implantado: Grupo PP (Polipropileno)
que foi o grupo controle e grupo PH (Polipropileno-Hidrogel) que foi o grupo
experimental. Em cada grupo foram sacrificados 10 animais após 15 e 30 dias do
implante.
Os compósitos de polipropileno e hidrogel de poliHEMA foram
desenvolvidos no Departamento de Processos Biotecnológicos da Faculdade de
Engenharia Química da Universidade de Campinas (UNICAMP). Os reagentes
químicos foram adquiridos da Aldrich Chemicals Co., Milwaukee, Wi, USA e as
telas de polipropileno foram adquiridas da marca Intracorp® (Venkuri, São Paulo).
A técnica de implantação foi similar para ambos os grupos. A indução
anestésica foi obtida com a aplicação intramuscular de 1mg/kg de
tiletamina/zolazepan (Zoletil®, Virbac) e a manutenção com halotano (Tanohalo®,
Cristália, São Paulo) em circuito aberto em aparelho de anestesia inalatória. Após
incisão cutânea 1 a 2 cm à esquerda da linha mediana, foi criado um túnel no
espaço subcutâneo (Figura 1A) e realizada laparotomia na linha mediana,
procedendo-se a omentectomia e escarificação do ceco com escova interdental
estéril. Um segmento do músculo reto abdominal do lado direito foi removido
(Figura 1B) e o defeito corrigido pela implantação de um fragmento de igual
tamanho do biomaterial selecionado. Foi utilizado para fixação da tela fio de
20
polipropileno (Prolene® 5-0) mediante sutura contínua simples (Figura 1C). A pele
foi suturada com pontos intradérmicos com o mesmo tipo de fio, tendo sido
tomado cuidado para que não houvesse sobreposição da sutura de pele sobre o
material implantado (Figura 1D). Os animais foram submetidos à eutanásia em
câmara de CO2 aos 15 e 30 dias pós-operatório para avaliação macro e
microscópica da região implantada.
FIGURA 1 – Implantação de tela de polipropileno para reconstrução de defeito na parede abdominal de ratas – (A) incisão cutânea paramediana esquerda e criação de túnel subcutâneo; (B) criação de defeito por remoção de segmento do músculo reto abdominal direito; (C) sutura da tela de polipropileno com fio de polipropileno para correção do defeito; (D) aspecto da sutura intradérmica ao final do procedimento de implantação da tela.
A ressecção da amostra para avaliação histológica foi feita em bloco,
incluindo músculo, tela implantas e a pele adjacente. Os cortes obtidos de todos
os fragmentos foram corados com hematoxilina e eosina (HE) e picrossirius. A
leitura das lâminas foi realizada de forma descritiva e semiquantitativa, sendo
observada a presença de vasos sangüíneos, tipo de infiltrado inflamatório,
21
presença de células gigantes e tipo de tecido conjuntivo depositado. A técnica de
picrossírius, para tipificação do colágeno, foi realizada nas amostras de 30 dias
nos dois grupos. Foram avaliadas duas regiões: centro da tela e na área de
transição entre o enxerto e a parede abdominal. Por meio desta técnica as fibras
de colágeno do tipo I (maduro) aparecem mais espessas e fortemente
birrefringentes, sendo identificadas por sua coloração vermelho-alaranjada. As
fibras de colágeno do tipo III (imaturo) são mais finas, dispersas e fracamente
birrefringente, sendo identificadas por sua coloração esverdeada.
A comparação estatística entre os tratamentos foi realizada e,
considerando-se que as variáveis são não paramétricas, utilizou-se o teste U
Wilcoxon-Mann-Whitney (WMW) para p < 0,05, e a análise estatística descritiva
para demonstrar a diferença entre as amostras. Foram utilizados os programas
SAEG e XLSTAT 2008.
Para quantificação das aderências foi utilizado o seguinte escore,
modificado de Greca et al. [18] (Quadro 1).
QUADRO 1 - Critérios e escores para classificação das aderências peritoniais
CLASSIFICAÇÃO
ESCORE
NUMÉRICO
Ausência de aderência 1
Aderência de omento na zona de sutura 2
Aderência de omento em até 50% da superfície do material
3
Aderência de omento em mais 50% da superfície do material
4
Aderência visceral na zona de sutura 5
Aderência visceral na superfície do material 6
A ressecção da amostra para avaliação histológica foi feita em bloco,
incluindo músculo, implante e a pele adjacente. Os fragmentos colhidos foram
fixados em formol tamponado a 10%, incluídos em parafina histológica (Histotec
22
pastilhas - Merck KgaA - Alemanha) e posteriormente seccionados com a
espessura de 5µm. Os cortes obtidos de todos os fragmentos envolvendo a
parede abdominal na borda da lesão foram corados com hematoxilina e eosina
(HE) e picrossirius (MONTES & JUNQUEIRA, 1991).
A avaliação de cada parâmetro foi feita às cegas em 10
campos/secção aleatoriamente selecionados, utilizando aumento de 400x. A
quantificação foi realizada com escores de zero a três de acordo com o Quadro 2,
conforme realizado por BEETS et al. (1998).
QUADRO 2 - Descrição dos escores aplicados na análise dos achados histológicos na parede abdominal de ratos após implante intraperitonial de tela de polipropileno (PP) e polipropileno associada ao hidrogel
Achados histopatológicos Escores Significado
Infiltrado inflamatório (classificado em polimorfonuclear ou mononuclear)
Angiogênese
0 Ausência de alteração
1 Alteração discreta (presente em menos de 25% do campo)
2 Alteração moderada (presente em 26% a 50% do campo)
3
Alteração acentuada (presente em 51% a 100% do campo)
Tecido conjuntivo (classificado em frouxo ou denso)
0 Ausência de tecido conjuntivo
1 Presença de tecido conjuntivo
Células gigantes
0 Ausência de células gigantes
1 Presença de 1 a 3 em torno do implante
2 Presença de mais de 3 em torno do implante
A leitura das lâminas foi realizada de forma descritiva e
semiquantitativa, sendo observada a presença de vasos sangüíneos, tipo de
23
infiltrado inflamatório, presença de células gigantes e tipo de tecido conjuntivo
depositado.
A técnica de picrossirius, para tipificação do colágeno, foi realizada
nas amostras de 30 dias nos dois grupos, sendo analisados por meio de um
microscópio óptico (Zeiss), em aumento de 50x, utilizando fonte de luz polarizada.
Foram avaliadas duas regiões: centro da tela e na área de transição entre o
enxerto e a parede abdominal. De acordo com JUNQUEIRA et al. (1978), as
fibras de colágeno do tipo I (maduro), mais espessas e fortemente birrefringentes,
foram identificadas por sua coloração vermelho-alaranjada. As fibras de colágeno
do tipo III (imaturo), mais finas, dispersas e fracamente birrefringente, foram
identificadas por sua coloração esverdeada. Dessa forma, foi possível determinar
a presença é o tipo de colágeno predominante em torno das telas.
A comparação estatística entre os tratamentos foi realizada e,
considerando-se que as variáveis são não paramétricas, utilizou-se o teste U
Wilcoxon-Mann-Whitney (WMW) para p < 0,05, e a análise estatística descritiva
para demonstrar a diferença entre as amostras de acordo com SAMPAIO (1998).
Foram utilizados os programas SAEG e XLSTAT 2008.
RESULTADOS
Avaliação macroscópica
Não houve mortalidade no pós-operatório e nenhum sinal de infecção
ou rejeição do biomaterial foi evidenciado. Após 15 dias da implantação das telas,
60% dos animais do grupo PP apresentaram aderência na superfície da tela,
sendo que 10% foram aderência de omento em menos da metade da tela, 20%
em toda superfície e 30% apresentaram aderências viscerais (hepática ou
intestinal) (Figura 2A).
No grupo PH nenhum animal apresentou aderências sobre a superfície
da tela, entretanto em 70% deles houve aderência de omento na zona de sutura
(Figura 2B). Em 30% a aderência na zona de sutura foi visceral.
24
Aos 30 dias após a implantação, 100% dos animais do grupo PP tiveram
aderência sobre a tela, e destes, 70% consistiram em aderência de omento em
menos da metade da tela, 10% omento em toda superfície da tela e 20% de
vísceras. No grupo PH houve somente aderências de omento na zona de sutura
em 50% dos animais. Um animal desenvolveu sinais de seroma subcutâneo.
FIGURA 2: Avaliação macroscópica das aderências abdominais em ratas após a implantação de tela de polipropileno e tela de polipropileno revestida com PoliHEMA; (A) Aderência de omento à zona de sutura (Grupo PH); (B) Aderência intestinal na superfície da tela (Grupo PP)
Análise microscópica
Grupo PP - 15 dias após implantação
Observou-se angiogênese moderada em 70% das amostras e
acentuada em 30%. O infiltrado predominante foi mononuclear em 100%,
observando-se também células gigantes em torno dos monofilamentos de
polipropileno. O tecido conjuntivo frouxo foi encontrado em 100% das amostras,
sendo que em 20% observaram-se também alguns campos contendo tecido
conjuntivo denso (Figuras 3A e 3C).
Grupo PH -15 dias após implantação
Neste grupo estava presente infiltrado inflamatório polimorfonuclear em
50% das amostras, na superfície de contato com o biomaterial. Também foi
25
detectado infiltrado mononuclear acentuado e tecido conjuntivo frouxo em 100%
das amostras (Figuras 3B e 3D). Não foram observadas células gigantes.
Houve diferença estatística (p<0,05) entre os dois grupos quanto à
presença de polimorfonucleares e presença de células gigantes.
FIGURA 3 - Fotomigrografias da resposta tissular aos implantes de tela de polipropileno isolado e polipropileno associado ao hidrogel, 15 dias após a implantação (HE); (A) Presença de tecido conjuntivo frouxo em torno do biomaterial, predominância de infiltrado inflamatório (estrela) nos limites com o tecido hospedeiro (seta). Amostra do grupo PP (50x); (B) Amostra do grupo PH (50x); (C) Amostra do grupo PP (200x); (D) Amostra do grupo PH (200x), PP local ocupado pelo monofilamento de polipropileno; H local ocupado pelo hidrogel; M – musculatura da parede abdominal.
Grupo PP - 30 dias após implante
Pode ser notado uma diminuição da intensidade de células
mononucleares em 80% das amostras. Encontrou-se tecido conjuntivo denso
arranjado de forma concêntrica em torno dos monofilamentos da tela de
26
polipropileno em 80% das amostras (Figura 4A). Foram notados fibroblastos em
20% das amostras. A coloração de picrossírius evidenciou a predominância do
colágeno maduro (tipo I) em 80% das amostras (Figura 5A).
Grupo PH - 30 dias após implante
Neste grupo, houve diminuição do número de polimorfonucleares e
aumento de macrófagos. O compósito apareceu encapsulado principalmente por
tecido conjuntivo frouxo em 90% das amostras (Figura 4B). Pode ainda ser
evidenciado tecido conjuntivo envolvendo todo o material e fibroblastos foram
encontrados entre os poros do material. O colágeno formado em torno do
compósito foi imaturo (tipo III) em 90% das amostras (Figura 5B).
Diferença estatística (p<0,05) foi observada entre angiogênese,
presença de polimorfonucleares, mononucleares, além do tipo de tecido
conjuntivo frouxo e denso.
FIGURA 4 - Fotomigrografias da resposta tissular aos implantes de tela de polipropileno e polipropileno associado ao hidrogel, 30 dias após a implantação (HE, 200x). A – amostra do grupo PP evidenciando a presença de tecido conjuntivo denso em torno do biomaterial monofilamento de polipropileno (estrela) e angiogênese (seta curta); B – amostra do grupo PH com presença de tecido conjuntivo frouxo (seta longa), presença de mononucleares de caráter acentuado (círculo) e angiogênese. Sendo: PP – local ocupado pelo monofilamento de polipropileno; H – local ocupado pelo hidrogel.
27
FIGURA 5 - Fotomigrografias em luz polarizada de uma amostra do grupo polipropileno e polipropileno associado ao hidrogel, (A) e do grupo PH (B) aos 30 dias após a implantação (picrossírius, 100x). Evidenciando a predominância de colágeno tipo I (maduro) apresentando coloração vermelha e colágeno tipo III (imaturo) coloração verde. Onde: PP – local ocupado pelo monofilamento de polipropileno; H – local ocupado pelo hidrogel.
DISCUSSÃO
A tela de polipropileno apesar de ser amplamente utilizada no reparo
dos defeitos da parede abdominal devido ao seu baixo custo e excelente
característica de incorporação, é associada à alta ocorrência de aderências
peritoniais. Com a finalidade de eliminar esta complicação tem-se buscado a
eleboração de materiais que tenham uma superfície antiaderente. O hidrogel de
poliHEMA tem sido empregado na confecção de vários biomedical devices [13,14],
mas não há na literatura relatos da sua utilização no espaço intraperitonial, o que
desperta o interesse por sua avaliação como material de revestimento de tela de
polipropileno para a prevenção de aderências.
No presente trabalho foi possível notar uma boa tolerância ao
compósito utilizado, o que foi caracterizado pela ausência de rejeição aos
mesmos após implantação. A presença de seroma subcutâneo em um animal do
grupo PH pode estar relacionada à criação do túnel subcutâneo necessário para
que não houvesse sobreposição da ferida cutânea com a zona de sutura.
28
No que se refere à presença das aderências estas se apresentaram
firmes na área central das próteses nos animais do grupo PP, contrariamente ao
observado no grupo PH no qual elas eram frouxas e situadas na zona de sutura, o
que pode ser justificado pela presença de maior inflamação nesta região de
transição devido à presença do material de sutura, já que este também atua como
corpo estranho que pode incitar a formação das aderências [4]
O hidrogel de poliHEMA que revestia a tela de polipropileno por
apresentar uma configuração linear e microporosa não permitiu a adesão dos
feixes de fibrina sobre o mesmo. Já as aderências dos remanescentes omentais
na periferia da tela não possuem significado clínico em seres humanos, uma vez
que o omento por si só é comumente utilizado como barreira para prevenção de
aderências viscerais quando as telas são implantadas, contrariamente ao que
ocorre quando aderências são viscerais [1]. Tal fato justifica nossa escolha em
proceder à omentectomia nos animais.
Os dados histológicos mostraram que as telas em ambos os grupos
causaram uma reação inflamatória persistente na interface biomaterial e tecido
receptor. Embora os polímeros sejam utilizados para confecção de diferentes
dispositivos biomédicos, sua aplicação nos tecidos vivos deve ser cuidadosa,
principalmente quando se trata de materiais confeccionados em laboratório.
Segundo Suh [15] a interação dos polímeros com os tecidos bem como os
produtos de sua degradação quando em contato com os líquidos orgânicos pode
determinar respostas imprevisíveis. A evolução do processo de reparo é
condicionada à estrutura do biomaterial utilizado, já que o mesmo é constituído de
agentes químicos. Em todos os casos há desenvolvimento de uma resposta
inflamatória tipo corpo estranho, caracterizada pela presença de macrófagos,
tecido conjuntivo e células gigantes[6]. No presente trabalho, o grupo PH
apresentava inflamação aguda ainda que moderada aos 15 dias após a
implantação, o que pode ser atribuído à provável liberação de monômeros
residuais presentes no biomaterial.
O infiltrado polimorfonuclear encontrado pode estar envolvida na
patofisiologia da formação das aderências na periferia da tela revestida de PH
que também foram mais freqüentes aos 15 dias. Neste contexto Bellón et al.[1]
afirmaram que a lesão peritonial, durante a cirurgia, na ausência de infecção,
29
causa um rápido influxo de neutrófilos que pode resultar na formação de
aderências. Assim, alterações no mecanismo de fagocitose podem ser muito
importantes para a formação das aderências[17]
A presença de macrófagos nos animais do grupo PH foi acentuada nos
dois períodos de observação. Já no grupo PP a intensidade diminuiu de
acentuada para moderada aos 30 dias. Quando biomateriais são implantados no
organismo, podem-se esperar diferentes tipos de reação, mas é sabido que as
citocinas e fatores de crescimento liberados vão atuar no recrutamento
principalmente de neutrófilos. Outras células como os monócitos vão se
diferenciar em macrófagos, cuja finalidade é remover o material. Mas se o corpo
estranho for significativamente maior do que os macrófagos não haverá
fagocitose e estas células de defesa, na forma de células gigantes, persistirão ao
redor do material por toda a vida[6]. No presente trabalho, a acentuada quantidade
de macrófagos vista no grupo PH pode ter sido ocasionada pelo volume do
material implantado, bem como pela sua característica química. É sabido que a
resposta dos macrófagos também dependente também do tamanho do
biomaterial[18] e neste trabalho foi utilizado um material incapaz de ser fagocitado.
A escolha dos materiais não degradáveis deve estar condicionada à
sua capacidade de causar mínimas respostas macrofágicas nas implantações em
longo prazo. No presente trabalho observou-se colágeno imaturo (tipo III) nas
amostras do grupo PH, ainda que macroscópicamente as feridas estivessem
cicatrizadas. Mais uma vez a provável presença de monômeros residuais pode ter
contribuído para este achado, embora seja salientado por Xia et al.[18] que os
macrófagos no seu trabalho de fagocitose das debris, produzem um espectro de
enzimas que incluem proteinase, colagenase, elastase e hialuronidade.
A tela de polipropileno associada ao hidrogel foi completamente
envolvida por tecido conjuntivo, ao contrário do polipropileno não revestido, no
qual este tecido predominou ao redor do fio de polipropileno. De acordo com
Bellón et al. (1995), o comportamento diferente da deposição de tecido conjuntivo
é devido às diferenças na textura e porosidade presentes em cada biomaterial.
Esses autores também relataram que biomaterial macroporoso, como o
polipropileno, torna-se totalmente infiltrado por uma massa desorganizada de
tecido fibroso, conferindo ótima resistência de tração na zona de reparo.
30
CONCLUSÕES
O hidrogel de poliHEMA quando associado à tela de polipropileno
reduz a formação de aderências viscerais em ratos, embora possa estar
associado à reação inflamatória mais intensa do que a desencadeada pela tela de
polipropileno sem revestimento.
Agradecimento
Este trabalho foi financiado pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e tecnológico).
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32
CAPITULO 3 - Compósito poli(2-hidroxietil metacrilato)-tela de polipropileno
para prevenção de aderências peritoniais em cadelas.
Poly(2-hydroxyethyl methacrylate)-mesh polypropylene composite to
prevent peritoneal adhesions in female dogs
RESUMO
Objetivo: Avaliar se o revestimento da face visceral de uma tela de polipropileno com poli(2-hidroxietil metacrilato) (poliHEMA) poderia evitar aderências peritoniais em cadelas. Métodos: Em oito animais (Grupo PP) foram implantadas telas de polipropileno para correção de um defeito do músculo reto abdominal, enquanto em outro grupo (Grupo PH) fez-se a implantação de uma tela de polipropileno cuja face peritonial foi revestida por poli(2-hidroxietil metacrilato). Resultados: Foram observados 62,5% de aderências peritoniais sobre a tela nos animais do Grupo PP, enquanto que no Grupo PH estas não ocorreram, exceto sobre a linha se sutura. Conclusões: O hidrogel de HEMA foi bem tolerado pelos animais e mostrou-se efetivo na prevenção das aderências viscerais e omentais sobre a tela de polipropileno. Palavras-chave: biomaterial, compósito, hérnia, implante, polipropileno
ABSTRACT
Purpose: The main of this work was evaluated whether the lining facing the visceral side of polypropylene mesh made with poly(2-hydroxyethyl methacrylate) (polyHEMA) hydrogel could avoid peritoneal adhesion in bitches. Methods: Eight animals (group PP) had a polypropylene mesh implanted to correct a defect in the rectal abdominal muscle whereas in the other group (group PH) the polypropylene mesh had a polyHEMA composite added to the side facing the peritoneal area. Results: We observed adhesions under the mesh in 62.5% of the PP group but not in the PH group. In this Group the adhesions were presents only on the suture lines. Conclusion: The polyHEMA hydrogel was well tolerated and effective in avoiding visceral and omental adhesions on the surface of the polypropylene. Keywords: biomaterial, composite, hernia, implant, polypropylene. INTRODUÇÃO
O fechamento primário adequado de grandes defeitos da parede
abdominal, livre de tensão, é comprometido quando ocorre significativa perda de
tecidos ou retração muscular1. Nesses casos, os materiais sintéticos dão suporte
mais seguro para a parede restaurada2, mas lamentavelmente a implantação
33
intraperitonial de um material sintético está relacionada ao desenvolvimento de
aderências viscerais densas com as suas conseqüentes complicações3 Frente a
esta constatação, uma grande variedade de materiais sintéticos vem sendo
desenvolvida, mas, apesar do interesse e dos avanços no campo da pesquisa
cirúrgica visando à adoção de estratégias preventivas da formação das
aderências, decorrentes da implantação intraabdominal de uma tela, estas
continuam sendo um grave problema pós-operatório4.
A tela de polipropileno foi introduzida na prática cirúrgica por Francis C.
Usher, que descreveu em 1959 o seu uso para a reconstrução das paredes
abdominal e torácica5. Desde então, esse tem sido o biomaterial mais utilizado por
ser relativamente inerte, passível de ancoragem firme às fáscias adjacentes, bem
tolerado pelo organismo e completamente incorporado por tecido fibrocolagenoso,
que promove sua integração total no tecido circundante recém-formado, além de
oferecer alto grau de resistência à tração na zona de reparo6, 7. Adicionalmente, a
tela de polipropileno é um material resistente, fácil de ser manipulado e
relativamente barato.
Além de promover a sua incorporação nos tecidos receptores, a reação
de corpo estranho que leva à fibrose desencadeada pela tela de polipropileno
também pode promover a formação de aderências, fístulas enterocutâneas e
migração da prótese, alem de favorecer as lesões viscerais durante as
adesiólises2, 4, 6, 8, 9. Todas as telas causam resposta inflamatória crônica10 com o
desenvolvimento de granuloma e formação de cápsula fibrosa. Estes fatores são
dependentes da extensão da lesão criada durante a implantação do biomaterial,
da sua composição química, energia de superfície, carga livre, porosidade,
rugosidade, tamanho e forma. A liberação de monômeros residuais e produtos da
degradação do biomaterial também são importantes na resposta tecidual do
hospedeiro11.
Similarmente, os fios de sutura usados para a adequada fixação do
material à parede também podem ser responsáveis pelas complicações
observadas12.
Estratégias de prevenção de aderências por meio dos sistemas de
barreira têm sido avaliadas, mas não existe consenso sobre qual deve ser
considerado o material ideal para atender a esta finalidade. Barreiras autólogas
34
são difíceis de obter e demandam um aumento do tempo operatório13, o que
estimula a pesquisa no campo dos biomateriais com a ajuda de modelos
experimentais animais, tornando possível desenhar materiais que possam atender
à complexa relação biomaterial-tecido14.
Os sistemas de barreira pretendem impedir o contato entre as vísceras
e o polipropileno da tela, evitando com isso a formação de aderências. Na
tentativa de minimizar ou eliminar tais formações, tem-se elaborado compósitos
que são combinações de diferentes tipos de materiais com as telas de
polipropileno15. Tem sido demonstrado que uma camada não absorvível e
impermeável sobre a face peritonial de um compósito pode ser eficiente na
prevenção das aderências4.
A atual geração de compósitos possui as características ideais de um
biomaterial, como resistência elevada na zona de reparo e sua construção deve
considerar especificamente que a face voltada para o peritônio deva funcionar
como uma barreira física para evitar a formação de aderências. Dentre os
diferentes materiais escolhidos para revestimento de telas estão os poliméricos
hidrofílicos16.
O hidrogel original, um copolímero de dimetacrilato de etilenoglicol, foi
desenvolvido por Wichterle e Lim, em 1954, e sua base serviu para a confecção
da primeira lente de contacto gelatinosa em 196115. Os polímeros sintéticos,
representados pelos hidrogéis, são resinas hidrofílicas leves, flexíveis, que têm
sido largamente utilizadas para a confecção de diversos tipos de dispositivos. O
hidrogel de pHEMA, por ser leve, flexível, biocompatível, atóxico e por não possuir
propriedade antigênica tem sido utilizado na confecção de vários dispositivos
biomédicos, como sistemas liberadores de drogas17, tubos para condução de
crescimento neural18,19, implantes intraoculares20 e superfícies articulares
artificiais21,22.
O objetivo deste estudo foi avaliar se o revestimento da face visceral da
tela de polipropileno, com hidrogel de poli(2-hidroxietil metacrilato) (poliHEMA),
seria capaz de evitar a formação de aderências peritoniais.
35
MATERIAL E MÉTODOS
Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Federal de Goiás sob o protocolo 054/2008.
Foram utilizadas 16 cadelas, adultas, sem raça definida, com peso
corpóreo entre sete e 14 kg. Previamente ao estudo experimental, os animais
foram avaliados clinicamente para a identificação de enfermidades ou gestação.
Foram realizados hemograma e pesquisa de hematozoários, vacinação e
desverminação. Durante o período experimental os animais foram mantidos em
boxes individuais de alvenaria com acesso livre ao solário, água ad libitum, tendo
sido alimentados com ração comercial contendo 22% de proteína bruta, oferecida
em duas porções diárias.
Os animais foram divididos em dois grupos de oito indivíduos: no grupo
PP, os animais foram submetidos à implantação de tela de polipropileno e, no
grupo PH, receberam a implantação do compósito poliHEMA-tela de polipropileno,
que foi sintetizado no Laboratório de Engenharia de Biorreações e Colóides da
UNICAMP (Campinas – SP).
Todos os animais foram pré-anestesiados com 2 mg/kg de
clorpromazina por aplicação intravenosa e 2 mg/Kg de tramadol por via
intramuscular. A indução anestésica foi obtida por aplicação intravenosa de
5mg/kg de propofol e a manutenção com halotano em sistema fechado.
Os animais foram submetidos à laparotomia transversal direita ao nível
da cicatriz umbilical. Produziu-se um defeito de 3cm2 na parede abdominal,
removendo-se um segmento do músculo reto do abdome e suas bainhas. O
omento maior e o ligamento falciforme foram removidos e a hemostasia realizada
por eletrocauterização e ligaduras. A parede abdominal foi reparada
imediatamente pela fixação da tela selecionada às bordas do defeito, com fio de
polipropileno nº 2-0 em sutura contínua simples. Nos animais do grupo PH, a face
revestida pelo hidrogel permaneceu voltada para a cavidade peritonial. O tecido
subcutâneo e a pele foram suturados separadamente sobre a tela em ambos os
grupos.
Após o procedimento cirúrgico, os animais foram mantidos com colar
elizabetano, em boxes individuais. Foi administrado tramadol na dose de
36
0,1mg/kg, via subcutânea, duas vezes por dia durante três dias, e 30 mg/kg de
cefalexina duas vezes ao dia, via oral, por 10 dias.
Após 20 dias da implantação das telas, foi realizada a avaliação
videolaparoscópica para determinar a presença ou não de aderências sobre a
tela. Para isso, utilizou-se sonda endoscópica rígida com uma óptica de 10mm de
diâmetro com ângulo de 30 graus, conectada a uma microcâmera (Storz®). Após
procedimento anestésico, semelhante ao utilizado para a implantação das telas,
os animais foram posicionados em decúbito dorsal com os membros pélvicos
estendidos e o corpo ligeiramente inclinado para o lado direito. As imagens
obtidas foram processadas e transmitidas para um monitor de vídeo (Storz®). Por
meio desse sistema, foi realizada a inspeção da parede e dos órgãos da cavidade
peritonial.
Em casos de aderência do omento remanescente ou de vísceras sobre
a tela ou na zona de sutura, estas eram desfeitas com pinça auxiliar que
acessava a cavidade por uma cânula de 5 mm, inserida na cavidade peritonial
através da linha alba entre as mamas abdominais caudais.
Em seguida à avaliação vídeolaparoscópica, as cadelas foram
ováriohisterectomizadas e, após recuperação pós-operatória, todas foram doadas.
Foi feita a comparação estatística entre os tratamentos. Considerando-
se que as variáveis são não paramétricas, utilizou-se o teste U Wilcoxon-Mann-
Whitney (WMW) para p < 0,05 e a analise estatística descritiva para demonstrar a
diferença entre as amostras. Foram utilizados os programas SAEG e XLSTAT
2008.
Os critérios adotados para a classificação das aderências foram
adaptados de GRECA et al. (2001)23 e estão no Quadro 1.
37
QUADRO 1: Critérios para classificação das aderências encontradas em cadelas submetidas à correção de defeito na parede abdominal, utilizando-se tela de polipropileno e compósito poliHEMA-tela de polipropileno
CLASSIFICAÇÃO
CRITÉRIOS
ESCORE
NUMÉRICO
Ausência de aderência
Nenhuma aderência observada sobre o implante ou na zona de sutura
1
Aderência de omento na zona de sutura
Aderência de omento somente na zona de sutura
2
Aderência de omento em até 50% da
superfície do material
Aderência na superfície do material implantado em até 50% da área do
implante
3
Aderência de omento em mais 50% da
superfície do material
Aderência na superfície do material implantado em mais de 50% da área do
implante
4
Aderência visceral na zona de sutura
Aderência de víscera somente na zona de sutura
5
Aderência de víscera na superfície do
material
Aderência de vísceras na superfície do material implantado
6
RESULTADOS
A retirada do fragmento músculo-aponeurótico do músculo reto do
abdome, após a secção transversal deste, produziu um defeito parietal adequado
e não foram apresentadas dificuldades técnicas durante os procedimentos de
implantação das telas em ambos os grupos. O compósito apresentava a
superfície de polipropileno rugosa, enquanto a oposta (pHEMA) era lisa e
brilhante, o que permitiu implantá-la facilmente com a face revestida voltada para
a cavidade peritonial. A tela foi recortada para adaptar-se às dimensões do defeito
sem que desfiasse ou desprendessem as camadas.
O material apresentava boa resistência à passagem da agulha,
acomodando-se facilmente às bordas do defeito, mas mostrou uma tendência a
se abaular sobre a face revestida, o que não chegou a comprometer a sua
implantação (Figura 1).
38
FIGURA 1 - (A) Implantação da tela revestida para correção de defeito na parede abdominal com sutura continua utilizando-se fio de polipropileno. (B) Aspecto final após a implantação do material.
Não foram registrados óbitos ou complicações na ferida, sugestivas de
reação tecidual de rejeição ao implante, em nenhum animal nos dois grupos. Os
mesmos locomoviam-se adequadamente e foram alimentados oito horas após a
cirurgia, sem restrições, apresentando ainda evacuações regulares e fezes
normais. A temperatura retal manteve-se estável em todos os momentos de
aferição. Durante todo o período de observação, a palpação abdominal não
provocava demonstração de desconforto nos animais.
Após a avaliação por vídeolaparoscopia as aderências foram
classificadas, sendo descritas na figura 2 e tabela 1.
A B
39
0
1
2
3
4
5
Nú
me
ro d
e A
nim
ais
G rupo P P 3 0 2 1 0 2
G rupo P H 4 3 0 0 1 0
1 2 3 4 5 6
FIGURA 2 - Comparação da freqüência dos escores de aderência entre os grupos de tela de polipropileno (PP) e polipropileno revestida com hidrogel de poliHEMA (PH).
TABELA 1- Comparação da freqüência dos escores de aderência entre os grupos de polipropileno (PP) e polipropileno com hidrogel de poliHEMA (PH)
Grupos Escores
1 2 3 4 5 6
PP 3
(37,5%) 0 2 (25%)
1 (12,5%)
0 2 (25%)
PH 4 (50%) 3
(37,5%) 0 0
1 (12,5%)
0
No grupo PP foram observadas aderências sobre a tela em cinco
animais (62,5%), sendo que em dois estas envolviam alças intestinais (Figura 3-
A). Já no grupo PH não foram observadas aderências sobre o material de
revestimento das telas (Figura 3-B). Um animal desse grupo apresentou
aderência visceral à zona de sutura (12,5%) (Figura 3-C) e em três animais
(37,5%) os remanescentes do omento aderiram a esta zona (Figura 3-D). Tais
aderências eram frouxas e foram removidas sem dificuldade. Notou-se ainda que
o líquido peritonial e o peritônio parietal apresentavam aspecto normal, sem
indicação de peritonite nem de encistamento do material.
40
FIGURA 4 – (A) Aderência intestinal sobre a tela de polipropileno (grupo PP) implantada no espaço peritonial observada por meio de videolaparoscopia. (B) Tela revestida de polipropileno e hidrogel de poliHEMA implantada na parede abdominal. Ausência de aderência. (C) Aderência intestinal à zona de sutura sendo desfeita com o auxilio de pinça, durante a videolaparoscopia (grupo PH). (D) Aderência omental à zona de sutura (grupo PH).
DISCUSSÃO
Idealmente os defeitos da parede abdominal deveriam ser reparados
pela aproximação de suas bordas, mas devido à ausência de tecido,
frequentemente, torna-se necessária a implantação de uma prótese sintética que
possa assegurar um fechamento mais seguro. A tela de polipropileno é o material
mais comumente utilizado para esta finalidade, apesar de seu potencial de
provocar aderências intestinais24.
A B
D C
41
O exsudato inflamatório e a formação de uma matriz fibrinosa nos
primeiros dias da cicatrização são os precursores das aderências1 e a presença
da tela de polipropileno pode facilitar essas formações sobre a sua superfície1,3,7.
A aderência do intestino ao biomaterial é a primeira fase da fístulização intestinal,
sendo este tipo de aderência sempre considerado mais grave do que as
aderências de omento6. Assim, no presente trabalho, as aderências notadas
sobre a superfície da tela nos animais do grupo PP ocorreram como resposta à
presença da tela em contato direto com o peritônio visceral, sem a interposição do
sistema de barreira representado pelo revestimento de pHEMA. As aderências
omentais à zona de sutura podem ter sido causadas pela maior reação
inflamatória desencadeada pelo fio de sutura, usado para ancoragem do
biomaterial12, que atua como corpo estranho. Sabe-se também que a estrutura e
porosidade do biomaterial parecem exercer importante papel nesse processo2, 7.
As aderências tendem a se formar primeiro na interface da parede abdominal e a
borda da tela, e para Baptista et al. 26 a aplicação da sutura em padrão contínuo
simples não reduz a incidência de aderências quando comparada à sutura
separada.
O omento exerce importante efeito sobre a redução das aderências
abdominais, não somente por sua interposição entre a parede lesada e as
vísceras, mas também pela produção de fatores fibrinolíticos pelas células
mesoteliais. Em função desta importante atividade, a sua remoção deve ser
evitada25. No presente trabalho a opção pela omentectomia baseou-se neste
conhecimento, já que era pretendido que o biomaterial avaliado mostrasse a sua
performance diante de condições favoráveis à formação de aderências
sabidamente mais graves, isto é, sobre os intestinos, e não sobre o omento maior.
A avaliação por vídeolaparoscopia de aderências experimentalmente
induzidas é um método mais eficaz do que pela necropsia, por permitir a
magnificação das alterações abdominais24. Para as cadelas, o acesso
paramediano para colocação da óptica de 30º fugiu do usual, sugerido na linha
média, mas permitiu melhor visualização da região onde a tela estava implantada
e de toda a parede abdominal. A complexa relação entre os biomateriais e os
tecidos tem sido frequentemente investigada com a ajuda de modelos
experimentais. Devido à evolução constante da ciência dos materiais e da
42
engenharia de tecidos, bem como da integração multidisciplinar, tem sido possível
desenhar e caracterizar materiais adequados às inúmeras exigências biomédicas.
Os hidrogéis são uma classe de materiais que podem ser preparados
por meio de vários métodos, o que irá determinar suas propriedades e direcionar
suas aplicações. Por definição, os hidrogéis são redes tridimensionais de cadeias
poliméricas que aumenta de volume sem se dissolverem26. Esta evidente
característica pode ser verificada durante o processo de estocagem e
esterilização do material, o qual se apresentava intumescido e íntegro mesmo
após a sua autoclavagem.
Os hidrogeis biocompatíveis e não degradáveis poderiam reduzir a
formação de tecido cicatricial criando um ambiente favorável ao crescimento
celular. Tal propriedade foi avaliada no tecido nervoso por Lesný et al (2002)27
sugerindo que este material possa ser útil na elaboração de outros dispositivos
para implante. Outras características favoráveis do hidrogel de pHEMA é a não
indução de necrose, de tumores e de infecção, indicando que é bem tolerado,
atóxico e biocompatível, embora possa levar à formação de uma cápsula, o que
sugere reação de corpo estranho28. Em nosso trabalho, pode ser observado
macroscopicamente que nenhum dos animais evidenciou reação adversa ao
implante, o que confirma os relatos a respeito da boa aceitação do pHEMA pelos
tecidos.
Uma desvantagem do compósito poliHEMA-tela de polipropileno
implantado na parede abdominal foi a sua relativa rigidez. Entretanto, esta
característica não interferiu nas manobras de implantação nem no comportamento
dos animais no pós-operatório imediato (7dias) até o 20º dia, quando não era
mais possível evidenciar a região do implante à palpação. Entretanto os hidrogéis
como lentes de contato têm sido associados a depósitos de fosfato de cálcio 28,
sendo este processo também evidenciado quando o biomaterial foi implantado no
músculo de coelhos29. Em nosso trabalho, macroscopicamente, não foi possível
notar esta alteração, embora o compósito implantado tenha tido um íntimo contato
com o músculo.
43
CONCLUSÃO
O hidrogel de pHEMA, como agente de revestimento da tela de
polipropileno, implantada na parede abdominal, impede a formação de aderências
viscerais e omentais sobre a superfície daquela tela.
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46
CAPÍTULO 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando o peritônio é lesado ou na presença de corpos estranhos,
desencadeia-se o processo inflamatório com o objetivo de defesa e reparo, mas
com possibilidade de formação de aderências. Frente a isso, devem ser adotadas
estratégias para a sua prevenção, uma vez que depois de instaladas o tratamento
é difícil.
A introdução de um material estranho ao organismo é responsável pelo
desenvolvimento de uma reação inflamatória granulomatosa do tipo corpo
estranho, a qual cursa com a presença de macrófagos, células gigantes e fibrose
em torno do biomaterial implantado. A formação do granuloma, que a princípio
tem o objetivo de isolar o corpo estranho implantado, é responsável por conferir a
integração e resistência do biomaterial nos tecidos.
A associação de um material poroso a um liso tem a finalidade de
impedir a formação de aderências, por se basear justamente no conhecimento da
fisiologia da incorporação dos materiais. Desta forma, se obtém uma estrutura
que, por uma de suas faces, pode permitir a incorporação tecidual e, por outra,
apresenta uma superfície antiaderente, sobre a qual não há possibilidade de
fixação dos feixes fibrosos.
O Hidrogel de poliHEMA é utilizado em vários dispositivos
biocompatíveis, mas não há relatos da sua utilização na cavidade abdominal ou
em contato com o líquido peritonial. A possibilidade de uma nova utilização para
esse biomaterial foi um dos motivos que incentivaram o desenvolvimento deste
estudo, bem como a pesquisa das suas propriedades.
Uma das expectativas deste estudo foi a busca por biomateriais que
possam minimizar ou abolir a formação de aderências peritoniais, sendo esta uma
linha de pesquisa multidisciplinar que está em franco desenvolvimento em todo o
mundo. Na Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás, têm sido
conduzidas várias pesquisas com biomateriais, principalmente polímeros, que
possam ser utilizados no reparo abdominal.
Sabendo da fundamental importância dos biomateriais na correção
cirúrgica de defeitos na parede abdominal o entendimento da interação entre o
47
hospedeiro e o implante servirá de suporte para a produção de materiais cada vez
mais eficazes, que promovam menos reações indesejáveis após sua implantação.
Na medicina veterinária o uso de telas ainda é restrito. Entretanto, com
a diminuição do custo do material e o desenvolvimento de trabalhos relacionados
a síntese e caracterização de novos materiais, as técnicas de implantação de
telas tenderão a uma maior aplicabilidade nas diferentes espécies animais.
O hidrogel de poliHEMA, neste trabalho, se mostrou potencialmente
adequado para uso na cavidade abdominal. Suas características físicas permitem
imaginar o seu uso em implantes em outras regiões, como a cavidade torácica, já
que a sua superfície lisa e hidrofílica causaria pouca irritação aos folhetos
pleurais.
A realização deste trabalho considerou a possibilidade de que o
hidrogel de poliHEMA poderia ser um biomaterial adequado para o revestimento
de telas de polipropileno, evitando a formação de aderências viscerais em ratas e
cadelas submetidas à correção de defeito da parede abdominal. Os resultados
obtidos nos dois trabalhos permitiram as seguintes conclusões:
a. O hidrogel de poliHEMA revestindo a tela de polipropileno implantada na
parede abdominal, impediu totalmente a formação de aderências viscerais e do
omento remanescente sobre a superfície da tela quando comparada à tela de
polipropileno isolada, em cadelas e em ratas.
b. Foi encontrada maior quantidade de aderências na zona de sutura nos grupos
de ratas e cadelas que receberam a tela revestida com poliHEMA.
c. Nenhum dos biomateriais afetaram a capacidade de reparação do peritônio.
d. A estrutura física do biomaterial interferiu na organização e persistência da
resposta tissular, mas não no tipo da mesma.
48
ANEXOS DO CAPÍTULO 2
P olipropileno 15 dias
02468
1012
angiogênese
P MN
MN
cel gig
antes
TC Fro
uxo
TC Denso
C la ssific a ç ões
Nº
an
ima
is es c ore 0
es c ore 1
es c ore 2
es c ore 3
FIGURA 1: Freqüência das observações histológicas 15 dias após
a implantação da tela polipropileno. Sendo, 0-ausência de alteração; 1-alteração discreta; 2-alteração moderada e 3-alteração acentuada.
P oliHE MA 15 dias
02468
1012
angiogênese
P MN
MN
cel gig
antes
TC Fro
uxo
TC Denso
C la ssific a ç ões
Nº
de
an
ima
is
es core 0
es core 1
es core 2
es core 3
FIGURA 2: Freqüência das observações histológicas 15 dias após
a implantação da tela polipropileno associada ao hidrogel. Sendo, 0-ausência de alteração; 1-alteração discreta; 2-alteração moderada e 3-alteração acentuada.
49
P olipropileno 30 dias
02468
1012
angiogênese
P MN
MN
cel gig
antes
TC Fro
uxo
TC Denso
C la ssific a ç ões
nº
an
ima
is es core 0
es core 1
es core 2
es core 3
FIGURA 3: Freqüência das observações histológicas 30 dias após
a implantação da tela polipropileno. Sendo, 0-ausência de alteração; 1-alteração discreta; 2-alteração moderada e 3-alteração acentuada.
P oliHE MA 30 dias
02468
1012
angiogênese
P MN
MN
cel gig
antes
TC Fro
uxo
TC Denso
C la ssific a ç ões
nº
an
ima
is es core 0
es core 1
es core 2
es core 3
FIGURA 4: Freqüência das observações histológicas 30 dias após
a implantação da tela polipropileno associada ao hidrogel. Sendo, 0-ausência de alteração; 1-alteração discreta; 2-alteração moderada e 3-alteração acentuada.
50
ANEXOS DO CAPÍTULO 3
QUADRO 1: Resultados dos escores de aderência no grupo de tela de polipropileno (PP), realizadas por meio da avaliação videolaparoscópica, após 3 semanas da implantação.
Escore 1 2 3 4 5 6
Número do animal
Ausência de aderência
Aderência de omento na borda da
ferida
Aderência de omento ate
50%
Aderência de omento mais
50%
Aderência de víscera na borda da
ferida
Aderência de víscera
1 xx 2 xx 3 xx 4 xx 5 xx 6 xx 7 xx 8 xx Total 3 0 2 1 0 2
QUADRO 2: Resultados dos escores de aderência no grupo de tela de polipropileno associada ao hidrogel de poliHEMA (PH), realizadas por meio da avaliação videolaparoscópica, após 3 semanas da implantação
Escore 1 2 3 4 5 6
Número do
animal
Ausência de aderência
Aderência de omento na borda da
ferida
Aderência de omento ate
50%
Aderência de omento mais
50%
Aderência de víscera na borda da
ferida
Aderência de víscera
1 xx 2 xx 3 xx 4 xx 5 xx 6 xx 7 xx 8 xx
Total 4 2 0 0 2 0