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Programa de Pós-graduação em Ecologia Aplicada ao Manejo e Conservação de Recursos Naturais Sistemas Agroflorestais (SAF’s) na restauração de ambientes degradados Luciana Medeiros Alves Orientadora: Fátima Regina G. Salimena Supervisão de estágio: Arthur Sérgio Mouço Valente Disciplina: Recuperação de Áreas Degradadas Material didático apresentado ao programa de pós-graduação em ecologia aplicada ao manejo e conservação dos recursos naturais como parte das exigências para conclusão da disciplina “Estágio em docência” Junho de 2009.

Sistemas Agroflorestais (SAF's) na restauração de ambientes

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Programa de Pós-graduação em Ecologia Aplicada ao Manejo e Conservação de Recursos Naturais

Sistemas Agroflorestais (SAF’s) na restauração de ambientes degradados

Luciana Medeiros Alves Orientadora: Fátima Regina G. Salimena

Supervisão de estágio: Arthur Sérgio Mouço Valente Disciplina: Recuperação de Áreas Degradadas

Material didático apresentado ao programa de pós-graduação em ecologia aplicada ao

manejo e conservação dos recursos naturais como parte das exigências para conclusão da

disciplina “Estágio em docência”

Junho de 2009.

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Sistemas Agroflorestais (SAF’s) na restauração de ambientes degradados

INTRODUÇÃO

Os sistemas agroflorestais, por definição, é uma forma de uso da terra onde espécies perenes (lenhosas) são cultivadas juntamente com espécies herbáceas (cultivos anuais e ou pastagens), obtendo-se benefícios das interações ecológicas e ou econômicas advindas desta combinação. Existem diversos tipos de sistemas agroflorestais, compostos por diferentes espécies e sob diferentes tipos de manejos, porém em todos eles a biodiversidade presente é sempre muito maior que em monocultivos, sendo responsável pela melhoria da fertilidade dos solos, garantindo maior sustentabilidade. A sustentabilidade resulta da diversidade biológica promovida pela presença de diferentes espécies vegetais, que exploram nichos diversificados dentro do sistema. A diversidade de espécies vegetais utilizadas nos SAF’s forma uma estratificação diferenciada do dossel de copas e do sistema radicular das plantas no solo (Macedo, 2000).

A principal vantagem dos SAF’s em comparação aos sistemas convencionais de uso do solo e restauração ambiental é o aproveitamento mais eficiente dos recursos naturais pela otimização do uso da energia solar, pela reciclagem de nutrientes, pela manutenção da umidade do solo e pela proteção do solo contra a erosão e a lixiviação. O resultado é um sistema potencialmente mais produtivo e sustentável.

Os SAF’s são considerados como uma das alternativas de uso dos recursos naturais que normalmente causam pouca ou nenhuma degradação ao meio ambiente, principalmente por respeitarem os princípios básicos de manejo sustentável dos agroecossistemas (Macedo et al, 2000). Em restauração de áreas degradadas, este sistema é bastante adequado, pois promove a estruturação do solo e aumenta os níveis de nutrientes no solo em função de uma maior eficiência de ciclagem de nutrientes, promovida pelas raízes e pelo acúmulo de serapilheira (Vaz, 2002).

O objetivo desses sistemas é a criação de diferentes estratos vegetais, procurando imitar um bosque natural, onde as árvores e/ou os arbustos, pela influência que exercem no processo de ciclagem de nutrientes e no aproveitamento da energia solar, são considerados os elementos estruturais básicos e a chave para a estabilidade do sistema.

A definição dos sistemas agroflorestais, tipos e manejos são resultantes de diversas pesquisas e práticas, mas também de uma ampla discussão filosófica, que inclui processos de sucessão ecológica, conceitos de sustentabilidade e agroecologia. Fundamentalmente, existem diversos modelos de SAF’s aplicados para diversas finalidades, e dentre os diversos conceitos pode-se delinear, segundo Miller (1998) duas linhas de SAF’s: Convencional e Agroecológica.

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Quadro 1. Principais diferenças entre as duas linhas de SAF’s.

Em todos os modelos de SAF’s a diversidade é fundamental para a estabilidade biológica e econômica. Quanto maior a diversidade, maior será a flexibilidade e a possibilidade de alterar o manejo em resposta à evolução do SAF e de mudanças de objetivos da restauração.

Classificação dos sistemas agroflorestais

Os Sistemas agroflorestais são classificados segundo sua estrutura no espaço, seu desenho através do tempo e a função dos diferentes componentes, bem como os objetivos da implantação.

- Alley Cropping

O sistema Alley Cropping surgiu na Ásia e é uma prática empregada em regiões tropicais da Ásia e África. Neste sistema as espécies agrícolas são consorciadas entre as linhas plantadas com espécies florestais. Estas espécies introduzidas nas linhas normalmente são leguminosas fixadoras de nitrogênio ou espécies capazes de produzir grande quantidade de biomassa. Essas espécies são podadas periodicamente com o objetivo de fornecer biomassa e matéria orgânica para o cultivo. O espaçamento utilizado é variado, porém não se recomenda espaçamentos inferiores a 3 metros entre as linhas de árvores.

As linhas de árvores impedem a erosão superficial, aumentam a infiltração e retenção de água no solo, enquanto as herbáceas leguminosas fixam Nitrogênio do ar e contribuem com a estrutura química do solo, além de reduzir a evaporação na superfície do solo, controlar plantas invasoras e aumentar a matéria orgânica no solo.

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- Taungya

Este sistema foi desenvolvido inicialmente na Europa e adaptado para outras regiões. Constitui de um sistema de substituição florestal, formado por dois componentes: um arbóreo (permanente) e outro agrícola (temporário). O componente florestal normalmente possui finalidade comercial (madeira, fibra, carvão), já o componente agrícola é composto por culturas de subsistência, como feijão e milho, mandioca e arroz, que são cultivados durante os dois a três primeiros anos do reflorestamento. Define-se como um sistema que abrange práticas de uso múltiplo do solo, envolvendo as produções conjuntas de culturas florestais e agrícolas. A finalidade inicial deste sistema é diminuir o custo de implantação da floresta comercial, através da produção agrícola, além do plantio florestal se beneficiar de capinas e adubações dos cultivos agrícolas.

A vantagem deste sistema é a visível redução dos custos iniciais de implantação e manejo. Possibilita também a recuperação de áreas exploradas com baixo custo. As culturas intercalares além de não prejudicarem o crescimento das espécies florestais, em muitos casos têm gerado benefícios às mesmas, contribuindo com a obtenção de melhores estandes de desenvolvimento inicial.

Figura 1. Modelo do sistema Alley cropping em clima temperado

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Figura 2. Esquema do sistema Taungya

- Sistema multiestrato

Este sistema é definido como policultivos multiestratificados ou simplesmente agrofloresta. É uma mistura de um número limitado de espécies perenes associado a outras espécies vegetais, formando diversos estratos verticais. É um dos modelos mais utilizados nos estados do Acre, Amazônia e Rondônia. As espécies arbóreas não são destinadas somente a comercialização de madeira, mas permanecem no sistema por um longo tempo para produção de frutos e sementes que são comercializados.

Este sistema busca regenerar um consórcio de espécies que estabeleça uma dinâmica de formas, ciclagem de nutrientes e equilíbrio dinâmico análogos à vegetação original do ecossistema em que será implantado. Para isso, baseia-se em grande parte na própria sucessão de espécies nativas.

Devido aos diversos usos comerciais ao qual este sistema pode estar associado, a produção será de um ciclo de médio a longo prazo quando se introduz espécies madeireiras e frutíferas, com culturas semiperenes e perenes. As espécies arbóreas desenvolvem também um papel de planta sombreadora dos cultivos.

Em função da diversificação proposta por este sistema, a agrofloresta torna-se mais parecido com o ambiente natural, advindo daí um maior equilíbrio biológico, reduzindo os problemas fitossanitários ocasionados em monocultivos, devido às barreiras entre plantas, mudanças de microclimas e aumento de inimigos naturais de patógenos e pragas, favorecendo seu controle natural. Os vários estratos da vegetação proporcionam uma utilização mais eficiente da radiação solar e da área disponível. Certas espécies agrícolas necessitam de certo grau de sombreamento e, ou proteção contra o vento, frio ou calor excessivo, o que pode ser provido pelas espécies arbóreas. Vários tipos de sistemas radiculares explorando diferentes profundidades determinam um bom uso do solo, e as culturas consorciadas se beneficiam com o enriquecimento da camada superficial do solo, resultante da reciclagem mineral gerada pelas culturas arbóreas.

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Figura 3. Sistema multiestrato.

- Outros sistemas

Quebra – vento: São fileiras de árvores plantadas no sentido de cortar a direção dos ventos dominantes, para diminuir sua velocidade ou modificar a sua direção. Também podem proporcionar um microclima favorável para outras culturas agrícolas, podendo haver um aumento na produção e redução no custo da cultura, além benefícios ambientais, como diminuir o ressecamento do solo, abrigo para animais, auxilio no controle de erosão, auxilio na conservação de lençol freático, beneficio na apicultura, alimento para fauna silvestre e contribuição para a ciclagem de nutriente no solo.

Figura 4. Quebra-vento com arvores espaçadas em plantio de mamona (Ricinus sp.).

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Capoeira melhorada: Consiste no enriquecimento da capoeira por meio da introdução de espécies secundárias e intervenções como desbastes e cortes de cipós, favorecendo a regeneração.

Entre os benefícios ambientais dos SAF’s em geral, destacam-se o melhor controle de temperatura, da umidade relativa do ar e da umidade do solo. Esses elementos climáticos alteram-se bastante em condições de áreas abertas, sem árvores. Nos SAF’s, a presença do componente arbóreo contribui para regular a temperatura do ar, reduzindo sua variação ao longo do dia e, conseqüentemente, tornando o ambiente mais estável, o que traz benefícios às plantas e aos animais componentes desses sistemas.

Os SAF’s também interferem na temperatura do solo, pois o maior teor de umidade no solo favorece a atividade microbiana, resultando em aceleração da decomposição da matéria orgânica e possibilitando o aumento da sua mineralização.

Os SAF’s na Recuperação de Áreas Degradadas

O tema recuperação de áreas degradadas tem sido objeto de numerosos estudos, constituindo-se numa linha de pesquisa prioritária, em razão do grau avançado de perturbação que atinge, tanto grandes áreas de proteção ambiental como do setor agrícola e industrial, com o uso de tecnologia moderna. Pesquisas sobre a recuperação de áreas degradadas, inicialmente davam ênfase a trabalhos de revegetação, baseados na intervenção no ambiente (substrato, vegetação, fauna, etc.), corrigindo ou acrescentando o cenário anterior à degradação. Visavam ao estabelecimento de um "tapete verde" (efeito paisagismo) com espécies agressivas e de rápido crescimento. Atualmente, outra estratégia na recuperação é baseada no principio da sucessão ecológica que consiste na implantação de espécies pioneiras, iniciais e tardias até chegar ao clímax; é a mudança temporal da composição em espécies e da estrutura de comunidades em uma área. É o processo que ocorre mediante a substituição de espécies em relação as suas adaptações ao substrato, à irradiação luminosa e à competitividade, culminando em sistemas mais estruturados, diversos e complexos que os iniciais.

Os SAF’s quando utilizados em processos de restauração atuam diretamente na melhoria da estrutura e fertilidade dos solos, pois a diversificação do componente arbóreo, arbustivo e herbáceo exerce influência positiva sobre a base do sistema: os solos.

A matéria orgânica do solo advinda dos sistemas agroflorestais é de fundamental importância para a recuperação de áreas degradadas, propiciando boas condições físicas ao solo, incluindo a capacidade de retenção de água, suprimento de nutrientes, protegendo-os contra a lixiviação até serem liberados pela mineralização.

Assim, as práticas agroflorestais podem ser aplicadas de diversas formas na recuperação de solos degradados. Para isso é fundamental a correta escolha das espécies arbóreas e dos demais componentes do sistema. A seguir apresentam-se

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algumas formas de degradação comumente observadas e os sistemas agroflorestais recomendados para cada situação.

Quadro 2. Exemplo de situações de degradação e sistema recomendado para recuperação.

Situação da Área Sistema adotado Áreas desmatadas e degradadas pela derrubada e queima de árvores, com emissão de CO2, exposição do solo diretamente à chuva, provocando erosão e assoreamento dos rios, desequilíbrios da flora e fauna, com conseqüente empobrecimento do solo.

Tais situações podem ser recuperadas com o Sistema Taungya, cultivos seqüenciais, enriquecimento de capoeira, sistema multiestrato.

Áreas erodidas pela água de chuvas, acarretando perda de solo, reduzindo sua capacidade de armazenar nutrientes e água, provocando altos índices de compactação do solo

Pode-se recuperar tais áreas através de barreiras vivas e multiestratos.

Áreas de baixa fertilidade e mal drenadas, com perdas de matéria orgânica e de nutrientes, com impedimentos físicos ao desenvolvimento de raízes, com crescimento reduzido de árvores.

Pode-se adotar o sistema multiestrato, juntamente com sistema Alley cropping.

Áreas áridas, solos com camadas duras, com dificuldade de armazenamento de água e nutrientes.

Uso de quebras ventos, cercas-vivas, Alley cropping.

Capoeiras com baixa diversidade e, ou áreas marginais

Enriquecimento de capoeira, Sistema multiestrato.

Áreas de encosta, alto índice de erosão Uso de fileiras de árvores em terraços (cerca-viva)

Pastagens degradadas, com cobertura vegetal deficiente

Árborização de pastagens

- Delineamento de Sistemas Agroflorestais

Uma das maneiras de mitigar a maior parte dos impactos negativos causados em áreas degradadas seja pela atividade agropecuária ou outros usos do solo, é o estabelecimento de uma cobertura vegetal perene sobre o local alterado através de Sistemas Agroflorestais.

Os diversos modelos de SAF’s geram uma enorme amplitude no número de espécies que podem ser envolvidas no sistema, bem como na disposição das plantas, no manejo, enfim, na complexidade do sistema. Existem SAF’s com apenas uma espécies arbórea consorciada com outra agrícola, dispostas em linhas ou faixas, mas também existem sistemas envolvendo inúmeras espécies integradas entre si e com o ambiente, manejados com base nos processos e fluxos naturais (Vaz, 2000).

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No processo de planejamento e implantação do SAF deve-se levar em consideração o clima da região e as diferenças microclimáticas, pois dentro de uma mesma sub-bacia existem diferentes microambientes devido a fatores como a topografia, que se relaciona com os tipos de solo, retenção de umidade, disponibilidade de nutrientes e de matéria orgânica. Muitas espécies são adaptadas a determinados microclimas, pois desenvolvem características fisiológicas e biológicas que as permitem desenvolver nestes ambientes.

A escolha das espécies para compor um SAF está diretamente relacionada com o tipo de manejo do sistema e sua função. Na recuperação de áreas degradadas as espécies devem apresentar características intrínsecas à áreas a ser recuperada. Por exemplo, no cerrado as espécies selecionadas devem apresentar capacidade de enraizamento profundo, resistência a longos períodos de déficit hídrico e ser pouco exigente em nutrientes. Em geral, é importante o uso de espécies de rápido crescimento, capazes de depositar matéria orgânica no solo e reciclar nutrientes. As leguminosas arbóreas surgem como boa alternativa, pois possuem vasto sistema radicular, apresentam potencial para nodulação e fixação simbiótica de nitrogênio atmosférico e são de múltiplos usos.

Em sistemas multiestratos, que possuem maior complexidade, a implantação deve buscar a sucessão e os consórcios devem reproduzir a vegetação nativa do local. Em cada região devem ser observadas as características de umidade, nutrientes e radiação solar. A composição das espécies deve incluir plantas com diversos ciclos de vida no tempo e no espaço.

Na primeira fase do sistema as espécies pioneiras que serão introduzidas devem cumprir a função de cobrir o solo com biomassa e serem eficientes em conservar umidade e nutrientes, desenvolver matéria orgânica e alavancar o processo de sucessão de espécies.

“Cada espécie ou consórcio de espécies ocupa um nicho adequado, possibilitando que na fase inicial o sistema otimize o uso de recursos de radiação, nutrientes e umidade, conserve energia, produza alimentos e renda e crie condições para o avanço do processo de sucessão de espécies.” (Vivan, 1998).

A escolha das espécies que comporão o sistema é um fator primordial para a sucessão no programa de recuperação. As espécies devem, em geral, preencher os seguintes requisitos:

- Serem adaptadas às condições edafoclimáticas do local;

- Possuírem ciclo de vida diferenciados (curto, médio e longo);

- Selecionar espécies “companheiras”, ou seja, que se complementem ao invés de competirem, i.e., associação de plantas tolerantes a sombra com plantas não-tolerantes, espécies de sistema radicular profundo com espécies de raízes superficiais, espécies de ciclo longo com as de ciclo médio e curto;

- Espécies que rebrotam facilmente (principalmente em alley cropping, onde é necessária rápida produção de biomassa para adubo verde e cobertura do solo);

- Não serem exigentes em água e nutrientes;

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- Não possuírem efeitos alelopáticos;

- Serem economicamente rentáveis.

É fundamental que sejam selecionadas espécies atrativas à fauna, que atuará no sistema como dispersora de sementes.

Deve-se considerar também a arquitetura das copas, evitando a competição no dossel.

No quadro a seguir apresentam-se as espécies herbáceas indicadas para SAF multiestrato. A principal função destas plantas no sistema é cobrir rapidamente o solo, fornecer matéria orgânica, além de fornecer nutrientes, principalmente Nitrogênio. Muitas delas possuem características de contenção de erosão e estabilização de solos, devido ao sistema radicular.

Quadro 3. Espécies herbáceas indicadas para SAF’s. Nome científico

Nome popular

Estrato Porte Função/uso

Cajanus cajan Guandu Arbustivo Pequeno Biomassa Canavalia ensiformis

Feijão de porco

Herbáceo Pequeno Biomassa/recuperação do solo

Pennisetum purpureum

Capim napier

Herbáceo Médio Biomassa/contenção do solo

Helianthus annuus

Girassol Herbáceo Médio Biomassa

Crotalaria juncea

Crotalária Arbustivo Pequeno Biomassa/recuperação dos solos

Mucuna aterrima

Mucuna preta

Herbáceo Médio Biomassa/contenção do solo

Lupinus angustifolius

Tremoço Herbáceo Médio Proteção e recuperação dos solos

Raphanus sativus

Nabo forrageiro

Herbáceo Médio Ciclagem de nutrientes

Aveia strigosa aveia-preta

Herbáceo Médio Ciclagem de nutrientes

As espécies apresentadas na tabela seguinte são algumas sugestões de arbóreas que devem compor o sistema em região de Mata Atlântica. É fundamental a introdução de espécies de grupos sucessionais diferenciados, porém no primeiro momento, para recuperação de áreas degradadas deve-se priorizar a introdução de espécies pioneiras, por possuírem rápido crescimento. Estas espécies por apresentarem ciclo de vida curto devem ser substituídas temporalmente por espécies de ciclo de vida longo. Estas podem ser introduzidas por mudas ou por sementes nas linhas de plantio das espécies arbóreas.

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Quadro 4. Espécies arbóreas indicadas para SAF’s. Nome científico Nome

popular G. E. Porte Ambiente

Albizia lebbek P Médio Drenado, encostas

Sesbania grandiflora P Médio Umido, baixadas

Anadenanthera colubrina Angico SI Grande Drenado, encosta

Anadenanthera macrocarpa SI Grande Indiferente Apuleia leiocarpa Garapa P Grande Indiferente Enterolobium cortisiliquun Tamboril P Grande Plano Inga sp. Ingá SI Grande Úmido,

baixadas Mimosa bimucronata P Médio Indiferente Mimosa Scabrella Bracatinga P Médio Indiferente Peltophorum dubium Canafistula SI Grande Ciliar Schinus molle Aroeira P Médio Ciliar Trema micrantha Crindiúva P Grande Indiferente Maclura tinctoria Amoreira Grande Ciliar Copaifera langsdorffi Copaiba ST Grande Plano Eugenia uniflora Pitanga SI Médio Ciliar Morus alba Amoreira P Médio Plano, úmido Averrhoa carambola Carambola Médio Plano Cedrela fissilis Cedro ST Grande Plano, úmido Erithrina sp. Eritrina P Plano, úmido,

ciliar Hymenea courbaril Jatobá SI Grande Indiferente Guazuma ulmifolia Mutambo Médio úmido Croton urucurana Sangra d’água P Ciliar, úmido Cytharexyllum myrianthum Pau-viola P Ciliar Cecropia pachystachya Embaúba P Ciliar Cordia superba Cordia SI Indiferente Bixa orelana Urucum Indiferente

Distribuição espacial

Existem modelos diversos de distribuição espacial na composição do sistema agroflorestal. Serão apresentados quatro tipos básicos, que podem ser aplicados em situações diversas.

- Distribuição espacial misto: as espécies são distribuídas mais ou menos ao acaso (por exemplo: espécies arbóreas oriundas de regeneração natural) ou adaptadas a variações ecológicas (condições físicas e orgânicas do solo; graus de sombreamento; etc.).

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Figura 5. Espécies distribuídas ao acaso.

- Distribuição espacial uniforme: a distribuição espacial de todas as espécies obedece a um padrão predeterminado com espaçamentos “constantes” predefinidos para cada espécie (exceto a cobertura viva espontânea ou introduzida).

Figura 6. Distribuição espacial uniforme.

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- Distribuição espacial em faixas: a área ocupada pelo SAF está ocupada por faixas com cultivos de ciclo curto ou cultivos de baixo porte separadas por faixas com espécies arbóreas.

Figura 7. Distribuição espacial em faixas.

Estes modelos foram definidos para cultivos com objetivo comercial, além do objetivo ambiental. Devem ser utilizados também na recuperação de áreas degradas, sempre introduzindo espécies herbáceas leguminosas nas entrelinhas dos plantios arbóreos. No sistema comercial normalmente as entrelinhas são cultivadas com espécies agrícolas.

Figura 8. Modelo de uso de SAF’s na recuperação de matas ciliares.

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Figura 9. Sistema agroflorestal em fase inicial.

Figura 10. Em fase intermediária, com destaque para os diferentes estratos existentes no sistema.

Figura 11. Área recuperada através da implantação de sistema agroflorestal.

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Experiências em áreas já implantadas

- SAF multiestrato no sul da Bahia

Em 1985 iniciou-se um trabalho de recuperação de uma área no sul da Bahia em que esteve sob agricultura de corte e queima durante 40 anos, tornando o solo erodido, sem nutrientes e com baixa disponibilidade de água. Após cinco anos de implantação de um SAF multiestrato obteve-se a primeira produção de cacau e 17 nascentes voltaram a verter água. O plantio na área foi bastante adensado, com introdução de mudas de espécies nativas e espécies comerciais, principalmente o cacau. Utilizaram-se podas para o manejo, propiciando o incremento de matéria orgânica no solo. Em 1999, Peneireiro avaliou a área, mostrando que o sistema adotado alterou significativamente a vegetação e o solo. Foi comparado um SAF instalado e manejado há 12 anos com uma área de capoeira em pousio de igual idade e submetida somente aos processos naturais de sucessão.

A vegetação na área de SAF apresentou maior diversidade e equabilidade, além de maior avanço sucessional em relação a área de capoeira. Os solos da área de SAF apresentaram maior teor de P, principalmente na camada superficial do solo.

- SAF na recuperação de Mata Ciliar em Piracicaba, SP

Em 2001 foram avaliados dois tipos de SAF’s implantados na mata ciliar do Rio Corumbataí, Bacia do Rio Piracicaba. Os sistemas avaliados foram: Sistema Agroflorestal Simples e Sistema Agroflorestal Complexo. O SAF simples era composto de espécies arbóreas nativas e duas espécies de leguminosas nas entrelinhas (guandu e feijão de porco). O SAF complexo incorporou além das espécies arbóreas 11 espécies de leguminosas e frutíferas que podem ser podadas para fornecer biomassa e capim napier.

O SAF simples teve maior crescimento em altura das árvores nativas em geral e em área basal de algumas espécies, porém apresentou lacunas de nichos, permitindo o desenvolvimento de espécies herbáceas indesejáveis na área. No SAF complexo, esses nichos foram ocupados pela introdução de diversas espécies herbáceas leguminosas, trazendo benefícios ecológicos e econômicos, tratando o ambiente de forma mais integrada.

- Recuperação de área degradada com SAF no Vale do Rio Doce, MG

Em 1994 iniciou-se um processo de recuperação de área degrada por pastagem no município de Periquito, no Vale do Rio Doce, Minas Gerais. O processo de recuperação foi conduzido em uma área de 2 hectares localizada no topo e no terço superior de uma encosta. No início da recuperação a área apresentava diversos processos erosivos, com exposição do solo e presença de voçorocas. Nos poucos locais com cobertura vegetal predominava capim-braquiária (Brachiaria decubens) e capim-gordura (Mellinis minutiflora).

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O método adotado foi o SAF multiestrato, com introdução de espécies nativas e exóticas visando potencializar a regeneração natural e propiciar a sucessão das espécies.

Foi semeado na área um coquetel de leguminosas herbáceas e arbustivas (feijão-de-porco, mucuna-preta, guandu e feijão-bravo-do-ceará. Progressivamente foram introduzidas outras espécies arbóreas por mudas (Acacia mangium, Agave americana, Clitorea racemosa, Tabebuia Alba, Tabebuia heptaphylla, Swartzia corrugata).

Após quatro anos de implantação do sistema foi realizada uma avaliação e comparação com área de pastagem no mesmo grau de degradação da área antes da recuperação e com área de pastagem sem degradação. O solo da área em recuperação com SAF mostrou-se em melhores condições do que o solo sob pastagem e o da área degradada, apresentando maior dinâmica do carbono orgânico e maior disponibilidade de nutrientes. Embora o teor de carbono orgânico total apresentado pelo solo sob pastagem tenha sido maior que nas demais condições avaliadas, o solo do SAF já está se igualando ao da pastagem no acúmulo das formas mais estáveis de carbono e apresentando maior dinâmica das frações orgânicas menos estáveis. Este estudo comprovou a eficiência dos SAF’s, conduzidos segundo os princípios agroecológicos, na recuperação de áreas degradadas.

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Descrição sucinta dos modelos de sistemas agroflorestais apresentados.

SAF Descrição sucinta do sistema

Principais componentes do sistema

Interações entre componentes no espaço e no tempo

Função principal do componente arbóreo

Adaptabilidade ecológica

Taungya Consorcio entre árvores e culturas agrícolas

Árvores (espécies florestais economicamente importantes); Culturas agrícolas comuns

E=Concomitantes;

T=Sequencial

Pd=Madeira

Pt=solo (baixa)

Em todas as regiões onde é praticado

Alley cropping

Plantio de árvores nas entrelinhas das culturas agrícolas para a produção de biomassa foliar

Árvores: Leguminosas de rápido crescimento e vigor vegetativo; Culturas agrícolas comuns

E=zonas (faixa);

T=concomitantes ou intermitentes

Pd=lenha e biomasa foliar

Pt=melhoria ou conservação do solo

Em áreas tropicais úmidas e sub-umidas, solos frágeis

Multiestratos Plantio adensado de várias espécies arbóreas em vários estratos

Arvores: Frutíferas e, ou madeiras de várias alturas;

Culturas agrícolas: tolerantes

E=adensado

T=coincidente

Pd=alimentos, madeiras, etc

Pt=conservação e proteção do solo

Geral

E=espacial; T=temporal; Pd=Produção; Pt=Proteção

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Bibliografia consultada

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VIVAN, J. L. 1998. Agricultura e Florestas: princípios de uma interação vital. Gauíba:Agropecuária.

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