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Sítio Alagadiço Novo: O patrimônio como instrumento urbanístico

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Trabalho de Graduação em Arquitetura e Urbanismo - Universidade Federal do Ceará

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Tomar decisões nunca foi algo fácil na minha vida, por menores que elas pare-cessem ser, sempre tive muitas dúvidas e sempre pesei bastante todos os elemen-tos envolvidos, visava um futuro que ainda não sabia qual, sempre o futuro. Sinto que sempre aguardei ansiosamente por algo que, na minha cabeça, aconteceria e que seria grande, inesquecível, algo que me daria orgulho da minha caminhada até então. Essa sensação que me fez sentir, por muito tempo, como se a vida estivesse em balanço, em suspenso, obrigou-me a sempre questionar tudo o que eu fazia, ao mesmo em que me fazia esquecer que eu vivia um presente corrente, que minha vida soprava e se desenrolava, enquanto eu, desatenta, procurava persistentemente algo no hori-zonte. O futuro era mais importante. Deus, no entanto, ou quaisquer que sejam as forças que por aí existam, deixou ao meu lado alguém que sempre tentou abrir meus olhos, que me indicou o caminho das pedras e que, desde quando tenho lembranças, procurou me atentar para o fato de que “a vida é agora, a vida é isto que corre” e que, tudo e todos que passam por ela precisam ser sentidos e reconhecidos, pois fazem parte do que eu sou e do que serei. Minha mãe, hoje, é a você que agradeço antes de tudo. Quero te dizer, com mui-to carinho, que tudo o que eu faço e tudo o que eu farei nessa vida será para você. Por mim, claro, por tudo o que acredito, que sonho e que desejo, mas para você, pensando sempre em você, espelhando-me em você. Sempre penso que, caso eu chegue, mais à frente, a ser metade do que você é, ou tiver um terço da luz que você tem, eu vou saber que posso ser eternamente orgulhosa do que me tornei. Muito obrigada, mãe, por me ensinar que querer é poder e, principalmente, por me ensinar a saber querer, querer de verdade. Muito obrigada por me mostrar o que são os “requintes da alma” e por me livrar da dor de uma existência Macabéa. Eu te amo. Agradeço imensamente a você também, meu pai, meu anjo da guarda. Por sua preocupação de sempre, pela força que você nos dá todos os dias e por acreditar em mim sempre. Obrigada, pai, por ter me ensinado desde pequena o valor da honesti-dade e da compreensão, obrigada por estar sempre perto e por cuidar de mim. Amo você. Muito obrigada também à Lili, minha irmã, amiga, minha metade, minha pessoa. Obrigada por ser tão igual a mim, por rir comigo, mesmo quando não tem graça pra mais ninguém. Obrigada por ser minha companheira há tanto tempo e por me dar a certeza que eu nunca estarei sozinha. Amo você! Agradeço ainda ao meu irmão, Heitor, pela convivência e pela força, por me ajudar a ter uma vida social decente (é sério!) e por sempre me irritar na hora certa, eu preciso. Amo você! Agradeço à minha família de uma maneira geral, pelo apoio e a paciência que têm comigo, em especial à Vó Penha e à Vó Mundinha por me colocarem sempre em suas orações, elas têm funcionado bem! À minha madrinha, Tia Fátima, por ser outra certeza de que existe alguém cuidando de mim, por me passar confiança e ser outro exemplo de vida. E à Tia Patrícia, por ser sempre um exemplo de bom humor e felici-dade, além de me emprestar o apartamento quando eu precisei fugir de casa uns dias (eu juro que devolvo a chave!). Preciso ainda agradecer a algumas pessoas que fazem parte da minha vida e que foram fundamentais na minha caminhada dentro e fora da universidade. Dessa maneira, gostaria de reconhecer primeiro a importância de todos os meus colegas e professores que enriqueceram meu percurso na nossa casa com todas as conversas e ensinamentos mútuos. Em especial: Ao Professor Romeu, meu co-orientador, fundamental na minha formação e na caminhada de execução deste trabalho. Muito obrigada pelos ensinamentos e pela boa vontade de sempre nas orientações. Agradeço imensamente ao Almir, meu orientador, professor querido que tan-

AGRADECIMENTOS

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to admiro, que me ensinou e que acreditou em mim durante esse percurso final na Arquitetura. Professor, agradeço por você ter se tornado, para mim, um exemplo de profissional , pesquisador e mestre que quero tanto seguir. Agradeço também aos funcionários da Arquitetura, rostos tão conhecidos, queridos, que tanto nos ajudam no dia-a-dia e que, com toda certeza, me deixarão sau-dades. Meu muito obrigada a todos, especialmente ao Seu Zé Augusto, à Mara, ao Edu-ardo, à Fatinha, ao Seu Lauro e ao Pires. Aos meus amigos, claro, que estão comigo há pouco ou há muito tempo, mas que contribuíram sempre na minha vida com carinho, risadas e apoio quando precisei. Agradeço a todos, em especial: À Nico, minha flor, pela doçura de cada sorriso e de cada abraço, por me ensinar todos os dias a importância da afetividade. Muito obrigada, querida, pela força, pela companhia de sempre e por toda a ajuda que você me deu. À Joana, amiga tão querida, pela confiança que você me passa e pela certeza de poder contar contigo quando preciso. Obrigada por me trazer coragem e me dar o tapa na cara na hora certa! À Sofs, por eu não precisar te dizer o que eu sinto ou o que está acontecendo comigo, você sempre sabe antes. Obrigada por ser tão companheira e por entender as caraminholas da minha cabeça, amiga! À Deba, pimentinha que eu adoro, por ser tão igual e tão diferente de mim. Agradeço pela amizade e pela força que você sempre me dá, pelas verdades que você sempre fala e pela felicidade que eu sinto a cada vez que escuto “Oi ÁMIGA!”. À Rafa e ao Bruno pelo bom humor de sempre, por serem ridículos junto comi-go e por terem estado ao meu lado em tantos momentos bons e também naqueles de maior aperto. Muito obrigada queridos, pelo apoio, pela confiança e pela amizade que espero levar para toda a vida. À Lara, minha amiga a quem admiro tanto e em quem me espelho. Te agradeço por ser um exemplo de determinação e vontade, por ser essa pessoa tão vibrante e alegre que emana boas energias e faz a todos que são próximos a ti mais iluminados. À Natashinha, querida, pela amizade, pelas conversas e pela companhia de sem-pre. Obrigada por entrar na minha vida e ficar perto esses anos todos se tornando essa pessoa tão importante para mim. Aos meus meninos queridos, Waldemas, Hector, Dani, Rainus e Tibas, por terem entrado na maior barca furada da história arquitetônica comigo (leia-se EREA) e terem se tornado uma família que sempre vou amar. À Maira, por ter participado conosco desse titanic e ter sido por tanto tempo companheira em várias outras novelas da vida. Obrigada, Mai, por fazer parte dessa história e por ser também exemplo de determinação e inteligência para mim. À Natilove e ao Bujinha, meus presentinhos queridos, por todos esses anos de amizade, por nossas aventuras de começo de faculdade, por todas as conversas e risa-das e pelo apoio de sempre. Ao JP, pela nova amizade, por sua companhia, por todas risadas e por sua ajuda que foi imprescindível nesse último momento de trabalho. À Maria Bethânia (é sério), por ter sido minha companheira inseparável de to-dos os dias durante esse ano de TFG e me fazer rir sempre, sempre mesmo! Ao Dr. Mandetta, por seu profissionalismo, preparo e por me ajudar a ver o mun-do de uma maneira mais leve e bonita. Enfim, agradeço a todos vocês, citados aqui ou não, que são parte direta ou indireta de quem eu sou, da minha vida e que fazem cada dia valer mais pena. Muito obrigada!

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LISTA DE FIGURASFigura 1: Imagem do Filme ‘La Guerre du feu’ Pág. 18Figura 2: ‘História da Física’ por Alan Miguel Velásquez Toribio Pág. 19Figura 3: Escavações lideradas pelo arqueólogo Leon Joulin Pág. 20Figura 4: ‘A violação da basílica se Saint-Denis’, por Hubert Robert, 1793 Pág. 22Figura 5: Eugène Emmanuel Viollet-Le-Duc Pág. 23Figura 6: John Ruskin Pág. 23Figura 7: Padre e Senador José Martiniano de Alencar Pág. 35Figura 8: O escritor romancista José de Alencar Pág. 35Figura 9: Capa do livro ‘Iracema’ Pág. Figura 10: Capa do livro ‘O Gaúcho’ Pág. Figura 11: Capa do livro ‘O Guarani’Figura 12: Supermercado na Avenida Washington Soares Pág. 46Figura 13: Loja de veículos automotivos na Avenida Washington Soares Pág. 46Figura 14: Estabelecimento de ensino fundamental e médio Christus, na Av. Maestro LisboaPág. 46Figura 15: Pequena mercearia no encontro da Av. Eng. Leal Lima Verde e Rua Ozélia PontesPág. 46Figura 16: Prestadora de serviços na Av. Eng. Leal Lima Verde Pág. 46Figura 17: Pequeno comércio na Rua Egídio Oliveira Pág. 46Figura 18: Cruzamento das avenidas Washington Soares e Ministro José Américo Pág. 51Figura 19: Vista da Rua Antônio Gentil Gomes – porção sul do Complexo Alagadiço Novo Pág. 51Figura 20: Vista da Rua Jonas Sampaio obstruída por construções indevidas Pág. 51Figura 21: Vista da Rua Dr. Esmerino Parente obstruída por construções indevidas Pág. 51Figura 22: Vista da Rua Osvaldo Aguiar obstruída por construções indevidas Pág. 51Figura 23: Vista da Rua Mário de Alencar Araripe obstruída por construções indevidas Pág. 51Figura 24: Casa natal de José de Alencar Pág. 56Figura 25: Casa natal de José de Alencar Pág. 57Figura 26: – Ruínas do 1º engenho a vapor do Ceará Pág. 57Figura 27: Casa sede da administração do complexo projetada pelo Arquiteto José Liberal de Castro Pág. 58Figura 28: Imagem da calçada e muro da fachada norte do Sítio Pág. 59Figura 29: Imagem aérea do estacionamento fechado na porção Norte do Sítio Pág. 61Figura 30: Calçada e gradil da fachada Oeste – Av. Washington Soares Pág. Figura 31: Imagem aérea do Sítio com indicação da Escola de Ensino Municipal e Médio Iracema Pág. 61Figura 32: Imagem da Escola Municipal no cruzamento entre as Ruas Egídio de Oliveira e Elizeu Oriá Pág. 61Figura 33: Ocupações subnormais à Sudeste do Sítio Pág. 61Figura 34: Casa de Mário Quintana, Porto Alegre, RS Pág. 79Figura 35: Casa de Jorge Amado, Salvador, BA Pág. 80Figura 36: Casa de Rui Barbosa, Rio de Janeiro, RJ Pág. 80Figura 37: Organograma da Fundação Casa de José de Alencar Pág. 81Figura 38: SESC Pompéia, Sao Paulo, SP Pág. 84Figura 39: Sede do Museu Rodin, Salvador, BA Pág. 84Figura 40: Pavilhão ecológico da Bayer, São Paulo, SP Pág. 86

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Figura 41: Zoneamento atual do pavilhão da UFC (térreo) Pág. 90Figura 42: Zoneamento atual do pavilhão da UFC (1 pavto) Pág. 90Figura 43: Zoneamento proposto para a sede administrativa da Fundação (térreo) Pág. 91Figura 44: Zoneamento proposto para a sede administrativa da Fundação (1 pavto) Pág. 91Figura 45 a 50: Evolução do partido arquitetônico em croquis Pág. 96Figura 51: Implantação do edifício Esc 1:5.000 Pág. 97Figura 52: Zoneamento volumétrico-funcional Pág. 99Figura 53: Corte 3d do pavilhão da biblioteca Pág. 102Figura 54: Detalhe da marquise entre os pavilhões da Biblioteca e Centro de Pesquisas Pág. 103 Figura 55: Perspectiva do edifício - entrecruzamento das duas lâminas Pág. 104Figura 56: Perspectiva do edifício: vista da fachada leste Pág. 105Figura 57: Perspectiva do edifício: vista da fachada oeste do Centro de Pesquisa Pág. 105Figura 58: Perspectiva da entrada principal do edifício (fachada leste) Pág. 106Figura 59: Perspectiva do deck do edifício, porção tangente ao pavilhão de exposição tem-porária Pág. 106Figura 60: Perspectiva do deck entre os pavilhões de exposição Pág. 107Figura 61: Perspectiva da área de carga e descarga do prédio e deck tangencial ao pavilhão de exposição temporária Pág. 107Figura 62: Perspectiva da área de intervenção urbana Pág. 113Figura 63: Perfil de via da Av. Washington Soares Pág. 117Figura 64: Caixa via da Av. Washington Soares Pág. 117Figura 65: Perfil da via da Rua Egídio de Oliveira (fachada norte do Sítio) Pág. 117Figura 66: Caixa de via da Rua Egídio de Oliveira (fachada norte do Sítio) Pág. 117Figura 67: Perfil de via da Rua Elizeu Oriá (fachada leste do Sítio) Pág. 118Figura 68: Caixa de via da Rua Elizeu Oriá (fachada leste do Sítio) Pág. 118Figura 69: Perfil de via da Rua Antônio Gentil Gomes (fachada sul do Sítio) Pág. 118Figura 70: Caixa de via da Rua Antônio Gentil Gomes (fachada sul do Sítio) Pág. 118Figura 71: Perfil das vias locais abertas do tipo 1 Pág. 118Figura 72: Caixa das vias locais abertas do tipo 1 Pág. 118Figura 73: Perfil das vias locais abertas do tipo 2 Pág. 118Figura 74: Caixa das vias locais abertas do tipo 2 Pág. 118Figura 75: Detalhe do cruzamento entre as avenidas Washington Soares e Ministro José Américo Pág. 119Figura 76: Perspectiva do cruzamento entre as avenidas Washington Soares e Ministro José Américo Pág. 119Figura 77: Detalhe do cruzamento entre as ruas Elizeu Oriá (lateral sul do Complexo), Tomás Sampaio e a via aberta tipo 1 , perpendicular à Rua Elizeu Oriá Pág. 120Figura 78: Perspectiva do cruzamento entre as ruas Elizeu Oriá (lateral sul do Complexo), Tomás Sampaio e a via aberta tipo 1 , perpendicular à Rua Elizeu Oriá Pág. 120Figura 79: Sede da administração da Fundação e paisagismo de entorno do edifício Pág. 122Figura 80: Horta comunitária e farmácia viva, elemento contemplado pela proposta de arquitetura paisagística do Arquiteto Ricardo Bezerra Pág. 123Figura 81: Caminhos entre equipamentos. Proximidade das ruínas Pág. 123Figura 82: Perfil da lateral oeste (Av. Washington Soares). Esc: 1: 250 Pág. 127Figura 83: Perspectiva da lateral oeste do Complexo (Av. Washington Soares) com a uti-lização dos gradis, nova pavimentação e ciclovia arborizada Pág. 127Figura 84: Perspectiva da primeira entrada social do Complexo (Av. Washington Soares x Rua Antonio Gentil Gomes) Pág. 127

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Figura 85: Perspectiva da lateral sul do Complexo (Rua Antônio Gentil Gomes) com a uti-lização de paredes vivas (muros com hera), nova pavimentação, arborização e ciclofaixa na pista Pág. 128Figura 86: Perspectiva da segunda entrada social do Complexo (Praça de Iracema) Pág. 128Figura 87: Perfil da lateral leste (Rua Elizeu Oriá). Esc: 1: 250 Pág. 129Figura 88: Perspectiva da lateral leste do Complexo (Rua Elizeu Oriá) com a utilização dos gradis, nova pavimentação e ciclovia arborizada Pág. 129Figura 89: Perspectiva da terceira entrada social do Complexo (Rua Elizeu Oriá) que dá acesso direto à Fundação Casa de José de Alencar Pág. 129Figura 90: Perfil da lateral leste (Rua Elizeu Oriá). Esc: 1: 250 Pág. 130Figura 91: Perspectiva da lateral leste do Complexo (Rua Elizeu Oriá) com a utilização dos gradis, nova pavimentação e ciclovia arborizada Pág. 130Figura 92: Perspectiva da entrada de serviço do Complexo (Rua Elizeu Oriá) que dá acesso direto à área de carga e descarga do pavilhão de exposições temporárias Pág. 130Figura 93: Perfil da lateral Norte (Rua Egídio de Oliveira) com corte do palco e vista da parede verde (muro com hera). Esc: 1: 250 Pág. 131Figura 94: Perfil da lateral Norte (Rua Egídio de Oliveira) . Esc: 1: 250 Pág.131 Figura 95: Perfil da lateral Norte (Rua Egídio de Oliveira) com corte de canteiro. Esc: 1: 250 Pág. 131Figura 96: Perspectiva da lateral Norte do Complexo (Rua Egídio de Oliveira) com vista do pequeno palco, parede verde e ciclovia arborizada Pág. 131Figura 97: Perspectiva da quarta entrada social do Complexo (Rua Egídio de Oliveira) Pág. 132 Figura 98: Perspectiva da lateral Norte do Complexo (Rua Egídio de Oliveira) com vista para uma das reentrâncias do muro verde, do canteiro e ciclovia arborizada Pág. 132Figura 99 a 107: Espécies vegetais presentes na obra ‘Iracema’ Pág. 134/135Figura 108: Vista da lateral sudeste da Praça de Iracema Pág. 136Figura 109: Vista da lateral sudoeste da Praça de Iracema Pág. 137Figura 110: Perspectiva Praça de Iracema 1 Pág. 138Figura 111: Perspectiva Praça de Iracema 2 Pág. 138Figura 112: Perspectiva Praça de Iracema 3 Pág. 139Figura 113: Perspectiva Praça de Iracema 4 Pág. 139Figura 114: Totens informativos Pág. 140Figura 115: Perspectiva da entrada Sudeste com totem metálico Pág. 141Figura 116: Perspectiva da lateral norte do Complexo com vista para o painel metálico onde são gravados trechos das obras de Alencar Pág. 141Figura 117: Perspectiva 1 - quadra institucional Pág. 142Figura 118: Vista de topo da quadra institucional aberta Esc 1:1000 Pág. 143Figura 119: Perspectiva 2 - quadra institcional Pág. 144Figura 120: Perspectiva 3 - quadra institucional Pág. 145Figura 121: Perspectiva 4 - quadra institucional Pág. 145Figura 122: Vista de topo da quadra onde será localizada a Estação Casa de José de Alencar do METROFOR Pág. 146

LISTA DE MAPASMapa 01: Localização do Sítio Alagadiço Novo e infraestrutura circundante (escala gráfica) Pág. 32Mapa 02: Crescimento real e previsto da cidade de Fortaleza (escala gráfica) Pág. 41

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Mapa 03: Zoneamento do bairro José de Alencar Esc: 1:10.000 Pág. 44/45Mapa 04: Uso e ocupação do solo do entorno imediato do Sítio Alagadiço Novo Esc: 1:5.000 Pág. 47Mapa 05: Sistema viário local e problemáticas existentes Esc: 1: 10.000 Pág. 49Mapa 06: Linhas previstas do METROFOR Pág. 52Mapa 07: Massas vegetais do Sítio Alagadiço Novo Esc: 1:5.000 Pág. 57Mapa 08: Análise e zoneamento das principais características do Sítio Alagadiço Novo Esc 1: 10.000 Pág. 60Mapa 09: Plano de remoções e reassentamento da proposta urbana Esc: 1: 5.000 Pág. 112Mapa 10: Masterplan da proposta urbanística 1:5.000 Pág. 114Mapa 11: Reestruturação do sistema viário 1:5.000 Pág. 116Mapa 12: Paisagismo interno do Sítio. Esc: 1: 2.500 Pág. 121Mapa 13: Promenade circundante, elementos de paisagismo do entorno e entradas do Complexo. Esc: 1: 5.000 Pág. 124Mapa 14 – Indicativo de localização da nova Praça de Iracema, a sudeste do Sítio. Sem esca-la Pág. 136Mapa 15 – Vista superior da Praça de Iracema. Esc: 1: 1.000 Pág. 137Mapa 16 – Indicativo de localização da quadra institucional ao norte do Sítio. Sem escala Pág. 142Mapa 17: Indicativo de localização da nova Estação METROFOR CJA. Sem escala Pág. 146Mapa 18: Plano paisagístico elaborado pelo Arquiteto Ricardo Bezerra pra o Sítio Alagadiço Novo em 2005 Pág. 160/161

LISTA DE QUADROS E TABELASQuadro 01: Índices das zonas ZOM2, ZPA 1 e ZIA Sabiaguaba de acordo com o PDPFor 2009 Pág. Tabela 01: Programa de necessidades da Fundação Casa de José de Alencar Pág. 88/89Tabela 02: Fluxograma funcional do edifício Pág. 101

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1. INTRODUÇÃO

2. PATRIMÔNIO CULTURA E DESENVOLVIMENTO2.1 MUNDO NATURAL X MUNDO DA CULTURA2.2 A NOÇÃO DE PATRIMÔNIO2.3 CONSERVAÇÃO E PRESERVAÇÃO: A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO OCIDENTAL2.4 ATRIBUIÇÃO DE VALOR E AMPLIAÇÃO DA NOÇÃO DE PATRIMÔNIO2.5 A POLÍTICA PATRIMONIAL BRASILEIRA

3. SÍTIO ALAGADIÇO NOVO: PATRIMÔNIO CULTURAL E NATURAL3.1 APRESENTAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO3.2 ESPAÇO LIVRE, ESPAÇO CULTURAL3.3 OCUPAÇÃO HISTÓRICA 3.4 PROTEÇÃO LEGAL: TOMBAMENTO FEDERAL

4. INSERÇÃO DO SÍTIO ALAGADIÇO NO MEIO URBANO 4.1 INSERÇÃO DO SÍTIO ALAGADIÇO NOVO NA CONSOLIDAÇÃO DO SETOR SUDESTE DE FORTALEZA 4.2 JOSÉ DE ALENCAR: DIAGNÓSTICO DO BAIRRO4.2 O METROFOR: POSSIBILIDADE DE CONEXÕES

5. DAS CONDICIONANTES DO SÍTIO5.1 ELEMENTOS PRESERVADOS5.2 PONTOS DE RUPTURA5.3 NECESSIDADE DE INTERVENÇÃO

6. DAS POSSIBILIDADES: O PATRIMÔNIO CULTURAL COMO INSTRUMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

7. FORTALECIMENTO DA IDENTIDADE LOCAL: PRINCÍPIOS DE PROJETO7.1 PRINCÍPIOS GERAIS7.1 ELEMENTOS HISTÓRICOS: MANUTENÇÃO E USO7.2 TRATAMENTO PAISAGÍSTICO7.3 SINALIZAÇÃO E MOBILIÁRIO EFICIENTES7.4 VALORIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO

8. FUNDAÇÃO CASA DE JOSÉ DE ALENCAR8.1 O NASCIMENTO DE UMA CASA DE CULTURA E OS EXEMPLOS BRASILEIROS8.2 AS ATIVIDADES DA FUNDAÇÃO CASA DE JOSÉ DE ALENCAR: COMO FUNCIONA-RÁ?8.3 DIRETRIZES PARA O PROJETO ARQUITETÔNICO8.4 OBRAS ARQUITETÔNICAS DE REFERÊNCIA 8.5 DEFININDO O ESPAÇO: PROGRAMA DE NECESSIDADES

9. FUNDAÇÃO CJA: PROPOSTA ARQUITETÔNICA

10. INTERVENÇÃO URBANÍSTICA (ENTORNO)

11. CONSIDERAÇÕES FINAIS

12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

13. ANEXO

14. APÊNDICE

SUMÁRIO

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Pág.: 16Pág.: 18Pág.: 21Pág.: 23Pág.: 24Pág.: 26

Pág.: 30Pág.: 32Pág.: 34Pág.: 35Pág.: 37

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1. INTRODUÇÃO Qual a importância da cultura de uma comu-nidade? A preservação da memória de um povo, pela lembrança de seus heróis, pode ser fator de orgulho e de desenvolvimento humano, cultural e econômico de uma cidade? Como harmonizar a preservação do pa-trimônio histórico de uma cidade com o planejamento do seu território? Para responder a tais questões e consciente das particularidades de que são dotados os bens cul-turais, propusemo-nos a refletir sobre o significado de cultura e a abrangência do seu conceito, que inclui literatura, construções arquitetônicas, paisagísticas, artísticas, a política, a moral e qualquer outra manifes-tação que expresse a vida e a identidade de um povo. Essa reflexão preliminar é necessária para compreen-dermos como se constitui o patrimônio histórico de uma cidade, com o desafio de relacionar a preservação e a utilização deste patrimônio ao desenvolvimento urbano e cultural, mediante práticas de planejamen-to humanizadas pelo reconhecimento da memória e identidades locais. Julgamos necessário também analisar a eficá-cia do sistema legal de salvaguarda patrimonial adota-do no Brasil e em diversos outros países, que optaram pelo tombamento como único meio de preservação. Neste aspecto, o estudo é orientado pela convicção de que o património histórico, hoje, é das socieda-des e dos cidadãos, que vêem nele a sua identidade e memória. Por isso procuraremos demonstrar que a sacralização pelo tombamento é contraproducente, na medida em que o uso adequado, além de aproximá-lo da comunidade, contribuirá para o ordenamento do território, para o desenvolvimento econômico e so-cial, desde que esteja integrado nas políticas públicas de expressão territorial, em simétrica ponderação de interesses públicos e privados. As questões postas em nível teórico serão res-pondidas a partir da análise de um caso concreto, que reúne as condições necessárias para se tornar um polo irradiador de desenvolvimento econômico, urbanísti-co e ambiental, por reunir as condições necessárias o objeto fundamental deste trabalho trata-se do Sítio Alagadiço Novo, primeira morada do escritor José de Alencar. É um bem de valor inestimável, fundamental-mente patrimonial e histórico, qualidade que, não tem se manifestado no tratamento que é dado ao equipa-mento. Desta maneira, este trabalho organiza-se em introdução, desenvolvimento de 9 capítulos e consi-derações finais. Inicialmente, no capítulo 2 (enumera-do assim, pois segue a introdução), foram realizados estudos acerca da formação do mundo cultural e do surgimento do termo Cultura, das teorias do patri-

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mônio e da história da conservação e preservação de bens de valor histórico e cultural, tanto no Brasil quan-to no contexto internacional. A partir daí elaborou-se um referencial teórico que contempla os pontos basi-lares ao entendimento da matéria e essenciais a uma efetiva apropriação das estratégias de planejamento e políticas culturais de sucesso. Com vistas a compreender o processo de for-mação da região sudeste da cidade de Fortaleza, foi realizado um minucioso apanhado histórico no capí-tulo 3, que serviu também para constatar a importân-cia do processo de resistência do Sítio Alagadiço Novo às pressões ao longo do tempo, desde a especulação imobiliária ao avanço da malha urbana, passando pe-las ocupações regulares e irregulares em detrimento do meio ambiente natural. Procurou-se, assim, investi-gar a natureza da relação do equipamento com o meio urbano imediato, com a comunidade que o abriga e em maior escala, com a cidade e com o estado. Essas qualidades e relações são desenvolvidas nos capítu-los 4 e 5. A abordagem escolhida busca também chamar a atenção da população e demonstrar a importância do objeto analisado e para as dinâmicas urbanas e para a cultura local, além de provocar a discussão so-bre novas possibilidades urbanísticas, em decorrência do relacionamento entre bem patrimonial, a produção do ambiente construído e a participação comunitária, crítica essa que justifica o título deste trabalho e de-senrola-se especificamente no capítulo 6 deste traba-lho. Ultrapassadas as etapas do estudo histórico, do diagnóstico da área e elaborados os princípios de pro-jeto (capítulos 7 e 8), o trabalho culminará com uma proposta de readequação de uso do Sítio e de infra-estrutura da área circundante do Complexo. Serão de-senvolvidos os princípios orientadores das decisões de projeto, a partir dos quais será configurada a pro-posta de intervenção urbano-arquitetônica (capítulos 9 e 10) para o Sítio Alagadiço Novo e para o bairro José de Alencar.

Introdução

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O mundo de que temos conhecimento é cons-tituído por duas dimensões principais: a primeira, for-mada pelas coisas naturais, composta de tudo aquilo que existe na natureza, e a segunda, inerente ao ho-mem, compõe de tudo que este produz. A essas di-mensões Reale (2002) denomina respectivamente re-alidade natural e realidade cultural ou histórica. A esse respeito afirma:

Diante dessas duas esferas do real, o homem se comporta de maneira diversa, mas antes procura conhecê-las, descobrindo os nexos existentes entre seus elementos e atingindo as leis que as governam. (REALE, 2002, p. 24)

Do contato com as “coisas naturais” e da neces-sidade de com elas interagir, o homem desenvolveu e continua a desenvolver o aparato de técnicas e instru-mentos destinados a lidar com as circunstâncias pos-tas pela natureza. E ao longo de sua história foi criando necessidades com a finalidade não apenas garantir a sua existência biológica, mas principalmente sua exis-tência cultural. Foi satisfazendo suas necessidades que se transformou em um ser ético, ou seja, um ser que age para cumprir certos fins por ele criados, para guiar suas ações e necessidades. Neste processo de relação homem-natureza em que homem e natureza se transformam ao mesmo tem-po, o homem continua a produzir novas necessidades, que passam a ser essenciais para ele, tanto quanto as

2.1 MUNDO NATURAL X MUNDO DA CULTURA

Figura 1: A curiosidade do homem o impulsiona à produção material. Imagem do filme ‘La Guerre du feu’. FONTE: http://toutlecine.challenges.fr/

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mais elementares necessidades, como as de sobrevivên-cia. As experiências oriundas deste confronto moldam o homem e o fazem portador de um conhecimento do qual não pode mais desfazer-se. O mundo aparelhado com as modificações pro-duzidas pelo homem sobre a base da natureza é o que chamamos Mundo da Cultura, essencialmente baseado no conceito de fim. Ainda segundo Reale, isto ocorre “porque o homem, em busca da realização de fins que lhe são próprios, altera aquilo que lhe é “dado”, alteran-do-se a si próprio” (REALE, 2002, P. 26). A dinâmica é en-tão eterna e cíclica. Assim sendo, não importa o contexto no qual es-teja inserido, o homem é guiado por escolhas contínuas entre valores, com o objetivo de realizar metas especí-ficas. Neste caminho são travadas as relações entre ho-mens e “coisas” e entre os próprios homens, essas rela-ções promovem a adequação dos meios aos ditos fins aspirados. Contrariamente, os fênomenos naturais ba-seiam-se unicamente em uma sucessão de fatos neces-sários, daí dizer-se que tais as relações fundamentam-se no princípio da causalidade, negando por sua vez quais-quer “juízos de valores.” A partir da observação dos fenômenos naturais e da sua comparação analítica, os cientistas procuram descobrir as regras que fundamentam esses eventos numa atividade de constante experimentação. Já que “a lei física é uma expressão neutra do fato”, alterando-se os fatos altera-se a lei que o governa. O constante traba-lho de comparação e mudança das leis físicas configura a base das ciências físicas e naturais, sempre guiadas por regras matemáticas. No mundo da Cultura, porém, a

Figura 2: Da sistematização de estudos sobre os fenômenos da natureza nascem as Ciências físico-matemáticas. Ima-gem: Historia da Física por Alan Miguel Velásquez Toribio. FONTE: https://blog.ufes.br/alantoribio

Mundo natural x Mundo da Cultura

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recíproca não é verdadeira, pois, nesse meio, as rela-ções são guiadas por “juízos de valores”, daí compre-ender-se que a lei cultural não se subordina ao fato, mas, pelo contrário, a “lei se impõe ao fato isolado que conflitar com ela” (REALE, 2002, p. 28). Da sistematização de estudos sobre os fenô-menos da natureza nascem as Ciências físico-matemá-ticas. Estas Ciências, por serem produto do exercício intelectual humano, são classificadas como “bens cul-turais” e entram a fazer parte do “patrimônio da cul-tura”. Em melhores palavras, embora as leis geradas pelas observações dos fatos naturais não façam parte do mundo cultural, o aparato instrumental e intelec-tual gerado pelo homem, para finalmente prová-las, integra diretamente a dimensão cultural. Quando o homem se volta para a observação de sua própria atividade de produção material ou in-telectual, ele começa a trabalhar o campo das Ciências Culturais:

Ciências culturais são aquelas que, além de serem elementos da cultura, têm por obje-to um bem cultural. A sociedade humana, por exemplos, não é só um fato natural, mas algo que já sofreu no tempo a interferência das gerações sucessivas.”(REALE, 2002, p. 30)

Chega-se a um ponto fundamental nesta dé-marche: ao compreender que é intrínseca ao homem a curiosidade científica sobre o mundo em que vive e sobre sua própria produção sobre ele, compreende-se também a necessidade que a humanidade tem, de bus-car nas experiências de seus antepassados as soluções e mecanismos que utilizavam em épocas passadas. O passado é um bem fundamental para o homem, pois o faz lembrar tanto da sua fragilidade como ser mortal quanto de seus grandes feitos e da certeza de que está em constante evolução e nisto reside sua imortalida-de. Da análise e da recuperação do passado, recen-te ou longínquo, nascem várias áreas do conhecimen-to humano, às quais podemos chamar aqui de ciências [culturais] da memória. Dentre elas estão a Arqueolo-gia, a Museologia, a História, a História da Arte e da Arquitetura. Todas elas trabalham sobre um mesmo conjunto de bens culturais tangíveis ou intangíveis a que chamamos de Patrimônio. Sobre o surgimento da ideia de patrimônio e respectivas formas de gestão, serão dedicadas as re-flexões que se seguem.

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Figura 04: Escavações lideradas pelo arqueólogo Leon

Joulin. FONTE: http://www.histoire-image.org/

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Quando se alude à memória de um povo e à estrutura política por este criada para preservá-la, es-tamos ingressando numa área do conhecimento que, hoje, conhecemos como Patrimônio Cultural. A noção de Patrimônio por muito tempo permaneceu difusa e ainda hoje não é muito clara, pois é discutida e amplia-da ao sabor dos interesses e contextos ideológicos a que eventualmente se filiem seus teóricos, estudiosos e práticos. De acordo com os franceses Babelon e Chastel, a noção de patrimônio, dominante em praticamente todos os países do Ocidente, tem sua origem no culto às relíquias religiosas da Idade Média. Para os autores, esta veneração é definida como uma:

Devoção constante que beira a idolatria e a superstição, a qual os teólogos tentam em vão reduzir a uma estrita contemplação dos méri-tos dos santos e a um apelo por sua interferên-cia divina, as relíquias tornam-se rapidamente, pela força da piedade popular, o patrimônio mais valioso das comunidades: paróquia, co-munidade, cidade, nação principado. (BABE-LON e CHASTEL, 2000, p. 17, tradução própria)

A valorização dos bens religiosos aparece com uma conotação apenas afetiva: o temor e o amor a Deus originaram este apreço aos objetos sagrados e aos edifícios de culto que os continham. O fato é digno de observação, pois, conjuntamente com este senti-mento, aparece a idéia de “propriedade coletiva” que implica diretamente na necessidade de preservação desses objetos. Segundo os autores, o apego das comunidades aos objetos e símbolos produzidos em épocas passa-das lhes asseguram status e prestígio totalmente no-vos, demonstrados, por exemplo, pela recuperação dos edifícios de culto religioso. Foi o que ocorreu com a Catedral de Chartres (França), que teve seu portal de 1145, conservado para a nova fachada, construída 50 anos depois. É desta maneira que, por longo tempo, a Igreja Católica deteve o controle desse acervo de bens sim-bólicos e caros à população, cedendo o controle so-mente a partir da criação dos estados nacionais, ocor-rida concomitantemente à elaboração dos conceitos de valor de arte e de valor histórico, como afirma DU-ARTE:

Se antes a Igreja Católica atuou como a guar-diã e a gestora dos objetos de culto religioso, o Estado, como estabelecedor e representante de uma identificação nacional e de uma cole-tividade, emprestará a esses e a outros bens

A noção de Patrimônio

2.2 A NOÇÃO DE PATRIMÔNIO

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um caráter necessariamente leigo, embasado em valores histó-ricos e artísticos, constituindo a idéia de patrimônio, passível de preservação e transmissão aos pósteros. (DUARTE, 2012, p. 36-37)

O advento da idéia, ou melhor, do sentimento de pertencimento a um grupo, comunidade ou nação específica, contribui para a formação do conceito de patrimônio no mundo ocidental e, maistarde, dá ensejo à formulação de políticas de preservação nacionais, que serão consolida-das apenas no século XIX. Antes disso, as contribuições para o campo de conservação de monumentos históricos se davam de maneira pontual e partiam, se não das camadas mais abastadas da população(atuantes uni-camente quanto aos próprios domínios), tão somente da Igreja Católica. Foi com o surgimento das noções de Arte e História que se se-dimentou o conceito de patrimônio das civilizações, significando o con-junto de monumentos meritórios de admiração e estudo, tal como o compreendemos hoje. Explicando melhor: o distanciamento analítico é fator essencial para a formulação de juízos de valor a respeito dos bens produzidos por uma sociedade, existente em um dado espaço territorial e em determinado momento histórico que já não existe, o que a faz única única e, portanto, portadora de produção importante para o universo hu-mano. Nasce dessa forma o sentido moderno atribuído ao monumento histórico, agora permanentemente ligado aos conceitos de valor artís-tico e valor histórico. A consciência da existência de múltiplos valores relacionados aos bens foi traduzida por Riegl em seu Culto Moderno dos Monumentos, onde o autor antecipou em décadas a discussão, que ainda hoje se desenrola, sobre o rebatimento dessa atribuição de valor nas po-líticas de preservação. Historicamente, o nascimento dos conceitos de História e Arte são concomitantes ao crescimento do interesse da população, principal-mente burguesa, pelas antiguidades que, segundo Fonseca (1997), era objeto de dois tipos de abordagem: “(...) a letrada, pelos humanistas, que as consideravam enquanto ilustrações dos textos antigos – estes, os tes-temunhos confiáveis da Antiguidade – e a artística, por parte dos artífices (arquitetos, escultores, etc), interessados nas formas (...)”. Estabelecidos em sociedades por todo o continente europeu, os antiquários produziram inúmeros documentos de registro dos objetos que consideravam como antiguidades. Esse tipo atividade era eminen-temente burguesa e exclusivamente ligada à Antiguidade. Somente no final do século XVI ocorre o despertar do interesse por civilizações dife-rentes da greco-romana, quando, então, os antiquários e eruditos olham mais acuradamente as produções de seus próprios países e passam a cha-má-las e considerá-las como “antiguidades nacionais”. Mas, esse apego aos objetos de arte não foi suficiente para gerar nas sociedades a sistematização de políticas de preservação dos bens históricos. Somente após os atos de vandalismo praticados durante a Re-volução Francesa e a Reforma, quando pairava real e constante ameaça de destruição sobre os monumentos nacionais, é despertado o embrião das políticas de preservação do patrimônio na Europa. O assunto adquiria interesse público na medida em que incomodava os intelectuais da épo-ca e que ia de encontro dos ideais de democratização do saber Iluminista: “a noção moderna de patrimônio começa a aparecer através da preocu-pação moral e pedagógica.” (FONSECA, 1997, p.58)

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Figura 04: Sobre o Vandalis-mo revolucionário: A violação da basílica se Saint-Denis, por Hubert Robert. 1793. FONTE: http://www.histoire-image.org/

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23Conservação e preservação: evolução do pensamento ocidental

2.3 CONSERVAÇÃO E PRESERVAÇÃO: EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO OCIDENTAL

Figura 06: John Ruskin. FONTE: http://commons.wikimedia.org/

Figura 05: Eugène Emmanuel Vio-llet-Le-Duc. FONTE: http://global.bri-tannica.com/

Dado o primeiro passo para transformar a pre-servação de monumentos históricos em ato cultural e necessário à criação e à manutenção da identida-de das civilizações, dois modelos de gestão surgem à época:

[...]o modelo anglo-saxônico, com o apoio de associações civis, voltado para o culto ao pas-sado e para a valoração ético-estética dos mo-numentos, e o modelo francês, estatal e centra-lizador, que se desenvolveu em torno da noção de patrimônio, de forma planificada e regula-mentada, visando ao atendimento de interes-ses políticos do Estado. (FONSECA, 1997, p.62)

Enquanto os ingleses, impactados pela Revo-lução Industrial, seguem uma linha de pensamento vinculada aos conceitos estéticos e ao valor da sensi-bilidade, a França produz um modelo de gestão do pa-trimônio de caráter museológico e documental, pelo qual os bens produzidos passam a exercer o papel de fato histórico, a ser preservado como testemunho do passado da nação. É nesse contexto que surgem duas fortes cor-rentes de pensamento, relacionadas à conservação dos monumentos históricos: a primeira, anteinter-vencionista, encabeçada pelo crítico de arte inglês John Ruskin e a segunda, personalizada pelo arqui-teto francês Eugène Viollet-le-Duc que compreendia ser de extrema importância a manutenção do estado e estilo originais dos monumentos. Para Ruskin, é absurdo desejar que uma obra de restauro traga o monumento de volta ao estado em que se encontrava no momento da sua criação. Se todo evento histórico possui caráter único e insubs-tituível, é porque todo objeto da produção humana torna-se intocável e as marcas do tempo devem agir sobre ele, afinal “(...) o destino de todo monumento histórico é a ruína e a desagregação progressiva.” (CHOAY, 2001) Viollet-le-Duc que, diferentemente de Ruskin, era um prático. Arquiteto afeito às obras e trabalhos de campo, o que não o impediu de produzir longos es-critos como seu tratado sobre a arquitetura Entretiens sur l’Architecture, buscava sempre a pureza do estilo, o que lhe fazia muitas vezes descartar partes inteiras de edifícios, em nome de uma verdade arquitetônica e de um “ estado original”, por muitos considerada

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como grave imprudência. Tanto Viollet-le-Duc quanto Ruskin exerceram influência sem precedentes na contrução da doutrina conservacionista internacional e suas heranças fo-ram vastamente trabalhadas por outros profissionais e teóricos. Merecem destaque os italianos Gustavo Giovannoni, idealizador do conceito de patrimônio urbano, cujas idéias de conservação de cidades vivas marcaram as Conferências de Atenas (1931) e Veneza (1964), Camillo Boito com seu princípio geral da míni-ma intervenção, ainda basilar aos projetos de restauro atuais e, finalmente, Cesare Brandi, teórico defensor da exclusão do empirismo nos processos de restaura-ção de obras de arte. Atualmente, os documentos que regem o trato patrimonial - ao menos no mundo ocidental - são as cartas elaboradas por conselhos estratégicos de es-pecialistas e gestores dessa area de atuação. Os do-cumentos gerados a partir de suas reuniões, apesar de não terem caráter normativo em face das nações participantes, atuam como modelo a ser seguido pelos diversos organismos que trabalham no âmbito da pre-servação patrimonial e neles está descrita a trajetória do pensamento a respeito da conservação da produ-ção material humana. O primeiro documento produzido por esses conselhos foi redigido em 1931, em Atenas, e nele se continha de modo genérico, sugestões de condutas a serem adotadas para a preservação e conservação do patrimônio edificado. Desde então, dezenas de reco-mendações e cartas foram criadas, no intuito de mol-dar as ações dos agentes e práticos do patrimônio ao redor do mundo.

O século XX testemunha grandes tranforma-ções nos âmbitos social e econômico, causadoras de impactos diretos na teoria dos valores iniciada por Riegl. A valoração de um passado ainda próximo, como a era industrial, e a necessidade de pesar com o mes-mo grau de importância grandes feitos históricos, sem esquecer a “produção dos esquecidos” - a narrativa microcósmica dos operários, artesãos, camponeses e a população em geral - aportaram uma discussão in-

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2.4 ATRIBUIÇÃO DE VALOR E AMPLIAÇÃO DA NOÇÃO DE PATRIMÔNIO

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25Atribuição de valor e ampliação da noção de Patrimônio

teiramente nova para a ciência, ainda em desenvolvi-mento, do patrimônio. Poderiam os valores histórico e artístico compreender e justificar a preservação de todo esse campo de bens e manifestações? O processo de independência das ex-colônias européias, conjugado ao nascimento local de senti-mentos nacionalistas, são fatos a serem considerados no ambiente cultural do Século XX, que vê brotar a premente necessidade de legitimar o apreço ao corpus de bens e manifestações completamente diferente do que se conhecia nas antigas civilizações. No desempe-nho dessa missão é fundamental o aporte de conhe-cimentos e das novas ciências ligadas ao homem e ao estudo do seu pensamento e produção, dentre elas a etnografia e a antropologia. (FONSECA, 1997). A criação e inclusão de novos valores à noção de patrimônio impuseram mudanças nas questões relacionadas a essa área do conhecimento. E não po-deria ser diferente, porque o tratamento e gestão do patrimônio de uma civilização é baseado na escolha de valores, valores estes que, no caso específico do patrimônio, sempre serão centrais em decisões acerca do que e de como conservar. Segundo Castriota, a ampliação do conceito de patrimônio proporciona deslocamentos fundamentais tanto no campo estético quanto no da história, na me-dida em que:

[...]recolocam de forma também fundamen-tal a avaliação do que seria estética ou his-toricamente significativo, o que se rebate naturalmente no campo do patrimônio, no qual se passa de uma noção restrita e bas-tante delimitada de “patrimônio histórico e artístico” para uma noção muito amplia-da – e, às vezes, proteiforme – de “patrimô-nio cultural”. (CASTRIOTA, 2011, pp. 52-53)

Os impactos ocorridos no campo da gestão pa-trimonial residem, principalmente, no aparecimento de novas e importantes figuras, além da do Estado, com atribuição de produzir e executar políticas de preservação e conservação de objetos culturais. Há, então, um claro deslocamento do centro de decisões ligadas aos bens da civilização, que vem a se transfor-mar em um processo político de lenta, mas constante, “democratização do patrimônio”. A consequência mais notável desse processo é o surgimento da noção de di-reitos culturais, conceito diretamente ligado à idéia de cidadania. (FONSECA, 1997) Nos países em desenvolvimento, especialmen-te no caso das ex-colônias, como o Brasil, a idéia de direitos culturais e mesmo de cultura nasceu como algo difuso e, pode-se dizer que assim permanece,

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merecendo, pois, ser objeto de estudos críticos. Desde o início da colonização do Brasil, por exemplo, sem-pre foi clara a tendência de se valorizar tão somente os bens e manifestações culturais produzidos nas me-trópoles européias, prova irrefutável da construção de uma identidade subserviente, sem autoestima que vai se prolongar até os dias de hoje. De toda forma, a luta pelo estabelecimento do direito à cultura é inegável mesmo em realidades menos evoluídas. No Brasil, o marco inicial dessa em-preitada essa aconteceu com o reconhecimento, pela primeira vez, da expressão direitos culturais na Consti-tuição federal de 1988 (art. 215/216). No entanto, co-menta Fonseca, ainda hoje o tema não foi incorporado às medidas e políticas públicas de desenvolvimento, a não ser em casos excepcionais, relegando os direitos culturais a “meras declarações de boas intenções”.

No contexto brasileiro, as políticas de preser-vação e conservação do patrimônio refletem o proces-so acima descrito, na medida em que concentra, desde início, todo o poder e atribuições no ente estatal. Al-gumas particularidades, porém, devem ser destacadas para melhor entendimento da dinâmica peculiar esta-belecida entre os agentes sociais envolvidos nessas políticas, encabeçadas principalmente pelo IPHAN, descendente direto do SPHAN (Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) A discussão da temática no país iniciou-se a partir da década de 1920, com a elaboração do con-ceito de “patrimônio nacional”, em evento puxado, surpreendentemente, por um punhado de intelectuais adeptos do modernismo, dentre eles Mario de Andra-de e Rodrigo Melo Franco de Andrade, diretor-funda-dor do SPHAN, primeiro órgão de gestão patrimonial instituido no Brasil, criado pelo Decreto-lei No 25 de 30.11.1937. É importante ressaltar que, simultaneamente à evolução do movimento modernista, ocorreu a criação do Estado Novo, fato que torna ainda mais curiosa a presença dos intelectuais modernistas na administra-ção da cultura e da educação no país. Alguns autores, como Fonseca (1997), admitem que a entrada de Gus-tavo Capanema no Ministério da Educação e da Saúde (MES) foi de substancial importância para que tudo tenha se encaminhasse dessa maneira, já que o ex-ministro mantinha fortes ligações políticas tanto com o governo de Getúlio Vargas quanto com os artistas e

2.5 A POLÍTICA PATRIMONIAL BRASILEIRA

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escritores do movimento. Dessa forma, o modernismo desempenhou pa-pel fundamental na elaboração e atribuição de valores aos bens culturais no Brasil, processo que explica as feições adquiridas pelo SPHAN, bem como as decisões tomadas pelo órgão durante as primeiras décadas de seu funcionamento. Na verdade, os agentes recruta-dos pelo Serviço tiveram que lidar com o “duplo com-promisso” de produzir “ um movimento renovador e com um governo autoritário” (FONSECA, 1997). Vale ressaltar que o movimento modernista brasileiro não tinha pretensão de romper com o pas-sado, a exemplo de países de tradição cultural já se-dimentada. Mas, pelo contrário, sempre com viés da valorização da tradição nacional. A esse respeito, e analisando a obra de Eduardo Jardim de Morais, Fon-seca aponta: “Em países de formação mais recente, como o Brasil, cuja tradição ainda estava por construir, a adesão imediata ao novo descaracterizaria a produ-ção artística no que ela teria de particular – o seu ca-ráter nacional -, perdendo assim também o seu valor universal, enquanto arte.” (FONSECA, 1997, p. 90) Isto posto, e tendo em vista que a grande maio-ria de profissionais que compunham o corpo ativo do SPHAN, na sua chamada “fase heróica”, eram arqui-tetos, compreende-se a prioridade dada à época aos bens edificados e, sobretudo, à arquitetura religiosa, bens que eram escolhidos a partir de um sistema de critérios fechado e elitista, ou seja, que só possuía sig-nificado para uma pequena classe de estudiosos. O critério fundamental, adotado para a esco-lha de bens a serem alvo das medidas de conserva-ção e proteção, era o da “excepcionalidade”, ou seja, os bens eleitos consistiam, quase invariavelmente, em imóveis isolados e destacados, de alguma forma, den-tro do corpus de bens de determinado estilo que, no dizer de Reis (2011) eram “excepcionais por sua qua-lidade ou raridade”. É fato que, para aquela realidade, onde a população do país ainda se encontrava predo-minantemente no meio rural esse tipo de abordagem era satisfatória. Mas os fatos sociais são dinâmicos e a realidade logo mudou. Com a reversão desse quadro, por volta de 1970-80 a produção cultural do país se multiplicou e diversificou, a população urbana cresceu em ritmo acelerado e, com isto, vieram as críticas ao modo de fazer do SPHAN. Como bem lembra Reis (2011), o pa-trimônio brasileiro passou então a ser ameaçado em escala muito maior e mais preocupante, a exigir uma modificação da ordem estabelecida no SPHAN, que passava pela democratização dos critérios de escolha de bens a serem preservados. Como resultado dessas mudanças, tem-se um

A política patrimonial brasileira

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progressivo deslocamento do eixo de decisões no âm-bito da gestão do patrimônio, que foi descentralizada mediante a criação de entes personalizados, especia-lizados e autônomos, com poderes legais para agir nos estados e nos municípios, visando a proteção mais abrangente e diversificada do patrimônio. Iniciava-se, assim, o processo de divisão de poderes entre os entes da federação, diminuindo, por este modo, a então úni-ca e inconteste autoridade da instituição federal. Em harmonia com o momento de abertura po-lítica que se iniciava no Brasil nas décadas de 1970-1980, foi criada a Secretaria da Cultura do MEC, que também passou por reordenamento institucional; tais mudanças resultaram de seminários diversos que reu-niram técnicos e profissionais de todo o País, dispos-tos a trabalhar como mediadores entre o Estado e a sociedade, no âmbito cultural. Ao contrário de seus predecessores, os agentes participantes desse novo quadro da política patrimo-nial não procuravam mais intervir no sentido exclusi-vo das necessidades culturais, mas buscavam de forma inovadora promover iniciativas mais abrangentes, ten-do em vista o atender às demandas sociais e econômi-cas das classes até então excluídas no país. Vale ressaltar que esse modelo de atuação ins-pira-se na movimentação internacional que tomou forma a partir da Reunião de Quito, em 1967, onde foi elaborado o primeiro documento que, nas palavras de Duarte:

[...]não só foi a primeira carta a dar grande des-taque à questão econômica, como inaugurou a visão do patrimônio cultural como instrumento de desenvolvimento sócio-econômico e recur-so de valor inestimável, esboçando no quadro da preservação urbana os contornos da cida-de-empreendimento e da cidade-instrumento. (DUARTE, 2012,P.61)

A ampliação do conceito de patrimônio, aliada às demandas de cunho social, foram o estopim para a reformulação do modelo de gestão patrimonial e cul-tural no Brasil, o que influenciou fortemente a prática da preservação já executada pelo IPHAN. A partir daí percebeu-se que, além da demanda por uma aproxi-mação maior das políticas culturais às raízes regionais brasileiras, a imperatividade de conexão entre medi-das do âmbito patrimonial às demais executadas por outros órgãos e instâncias. Entretanto, ainda que muitas mudanças te-nham ocorrido neste período de transformações, que vai até o final dos anos 1980, em verdade há ainda muitas lacunas a serem preenchidas dentro do mode-lo de gestão do patrimônio cultural no país. A aborda-

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gem fundamental, consistente em acolher a produção cultural de uma sociedade como raiz e suporte de seu desenvolvimento, permanece difusa e necessita ser discutida longamente, a fim de ser integrada nos prin-cípios do modelo de gestão estabelecido. É preciso superar a idéia de que tombamentos e registros desconectados de um plano estratégico de desenvolvimento sejam, de alguma forma, resposta adequada para satisfazer as dinâmicas debilitadas, e muitas vezes precárias, entre a população e a produ-ção e a salvaguarda de bens culturais no Brasil. Em uma nova era, na qual o capital humano é oprincipal destinatário de investimentos para criar lugares mais harmônicos e cheios de vida, urge uma tomada de po-sição imediata em relação ao assunto. A análise crítica da problemática aqui estabe-lecida será desenvolvida nos próximos tópicos e terá como tendo plano de fundo a situação do bem em que se pretende fazer a intervenção, objetivo final deste trabalho. O Sítio Alagadiço Novo, enquanto bem patri-monial e cultural de importância nacional, merece ser considerado não somente no que toca aos referidos valores, mas também quanto ao seu potencial de atu-ar como veículo promotor de transformações urbanas e sociais na região em que se insere.

A política patrimonial brasileira

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Compreendidos os caminhos que levaram à configuração atual da noção de valor patrimonial no Brasil, bem como do mecanismo institucional gestor dos bens e costumes que carregam o referido valor, é hora de apresentarmos o objeto de estudos deste tra-balho: o Sítio Alagadiço Novo, localizado em Fortaleza, Ceará (ver mapa 01). O Sítio, por ter sido, em determinada época, o palco central das vidas de personagens importantes para a narrativa cearense – o escritor José de Alencar, pioneiro da literatura romântica brasileira, e seu pai, José Martiniano de Alencar, político de grande rele-vância na reconstituição da economia do Estado, nos anos 1830 – deve ser compreendido, hoje, como um local de resgate histórico e de trocas culturais e trata-do pela comunidade como um relicário da sua história distante, mas tangível para a cidade contemporânea. O complexo em estudo compreende-se no rol dos bens detentores de valor eminentemente patri-monial, podendo-se mesmo dizer que o Sítio Alagadi-ço Novo, além de se revelar receptáculo do passado e

3.1 APRESENTAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

N

CENTRO

MESSEJANA

EDSON QUEIROZ

LAGOA REDONDA

2,5 1,25 0 2,5 Km

LEGENDA

Linhas do METROFOR

Linhas leste do METROFOR

Av. Washington Soares

Av. Min. José Américo

Sítio Alagadiço Novo

Centro Administrativo (Cambeba)

UNIFOR

Mapa 01: Localização do Sítio Alagadiço Novo na ci-dade de Fortaleza e infraestrutura circudante. FONTE: Elaborado pela autora.

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33Apresentação do objeto de estudo

da história cearenses, aparece como um elo que une os conceitos fundamentais de patrimônio cultural e natural, fato que torna sua situação ainda mais interessante. Por se caracterizar como uma ilha verde em ambiente urbano, o Sítio exerce papel importante na construção da paisagem local, considerando-se aqui o conceito mais atual e amplo de paisagem: “(...) o de expressão física e material da relação ho-mem x ambiente, construída socialmente e interpretada subjetivamente por meio de filtros culturais.” (GARZEDIN, 2011, p. 171). É necessário dizer que a assimilação da dimensão cultural da paisagem nos leva a uma leitura completamente nova do ambiente urbano e nos remete a inter-pretações mais sensíveis no que concerne à preservação e ao tratamento de locais como o sítio em questão. Nesse sentido afirma Garzedin:

A influência da cultura na constituição, leitura, percepção e reprodução da pai-sagem têm sido cada vez mais reconhecidas e o conceito de paisagem cultural implica caminhos teóricos e metodológicos de abordagem da paisagem cada vez mais amplos, envolvendo diversos campos disciplinares e correntes teó-ricas, de forma mais integrada ou não, sem necessariamente obedecer a uma lógica. (GARZEDIN 2011, p. 175)

Isto significa que a tarefa de preservação, no caso de um sítio considerado tanto cultural quanto natural, deve ser exercida de maneira que o trabalho dos pro-fissionais ligados ao patrimônio cultural seja complementado de forma multidisci-plinar e mais abrangente, ideia já acalentada pela Recomendação de Paris promovi-da pela Conferência Geral da UNESCO em 16 de Novembro de 1972:

Artigo 5º - A fim de garantir a adoção de medidas eficazes para a proteção, con-servação e valorização do patrimônio cultural e natural situado em seu territó-rio, os Estados partes na presente convenção procurarão, na medida do possí-vel, e nas condições apropriadas a casa país:a) adotar uma política geral que vise a dar ao patrimônio cultural e natural uma função na vida da coletividade e a integrar a proteção desse patrimônio nos programas de planejamento geral;

Infelizmente, as políticas brasileiras ainda não perceberam a importância te-órica e prática da dessa nova perspectiva e por isso o avanço conceitual do termo paisagem não foi adotado pelas estratégias e políticas no âmbito patrimonial e am-biental, fato agravado pela ineficiência de comunicação entre as instâncias adminis-trativas do poder público. Em verdade, ai reside o maior dos problemas. Para dar uma ideia da desco-nexão entre os órgãos e entes públicos encarregados da conservação e preservação dos patrimônios cultural e natural, basta constatar que, embora a legislação concer-nente ao patrimônio cultural tenha surgido na época da criação das primeiras leis de proteção ao meio ambiente – década de 30 - a falta de integração entre ações das diversas entidades fragmentou a concepção da paisagem urbana, pondo sob constante ameaça a integridade de bens como o Sítio Alagadiço Novo.

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34 Sítio Alagadiço Novo: O patrimônio como instrumento urbanístico

3.2 ESPAÇO LIVRE, ESPAÇO CULTURAL

O Sítio Alagadiço Novo é uma extensa área vegetada, em boa parte por vegetação cujo valor é de natureza histórica, literária e memorial, e nele se acham encravados edifícios históricos liga-dos à vida de José de Alencar. É um dos últimos recintos a guardar exemplares centenários da floral e, além disto, desempenhou fun-ção primordial na formação dos cenários da narrativa Alencarina. Em sendo assim, embora não se ajuste com perfeição à des-crição formal de jardim histórico, formulada pela Carta de Florença (1981), segundo a qual um jardim histórico é definido como “uma composição arquitetônica e vegetal que, do ponto de vista da His-tória ou da Arte, apresenta um interesse público”, na sua essência o Sítio Alagadiço Novo é um verdadeiro monumento vivo, porque possui os atributos necessários para assim ser concebido e prote-gido. Realmente, em harmonia com a lição de Françoise Choay, “chamar-se-á monumento tudo o que for edificado por uma comu-nidade de indivíduos para rememorar ou fazer que outras gerações de pessoas rememorem acontecimento, sacrifícios, ritos ou cren-ças.”. Mas a memória afetiva aflorada em razão do monumento,

[...] esse passado invocado, convocado, de certa forma encan-tado, não é um passado qualquer: ele é localizado e selecio-nado para fins vitais, na medida em que pode, de forma dire-ta, contribuir para manter e preservar a identidade de uma comunidade étnica ou religiosa, nacional, tribal ou familiar. Para aqueles que edificam, assim como para os destinatários das lembranças que veiculam, o monumento é uma defesa contra o traumatismo da existência, um dispositivo de segu-rança. (CHOAY, 2001, p.18)

O Sítio Alagadiço Novo se ajusta como uma luva ao concei-to de monumento vivo, descrito com admirável sensibilidade por Choay, pois, como já se fez ver anteriormente, reúne um conjunto de elementos socialmente importantes e significativos para a co-munidade cearense, com forte potencial para reavivar a memória de fatos, experiências e práticas culturais que apontam para a exis-tência de uma identidade cearense. Fazendo as vezes de espaço cultural e espaço livre (e público), o Sítio, o seu entorno imediato e as funções que desempenha devem ser analisados sob lentes mais adequadas à sua natureza de monumento histórico vivo, o que até o presente momento não tem ocorrido. Enfim, ao assumir que a rede de espaços livres urbanos pos-sui “papel estrutural na configuração da forma da cidade” (GARZE-DIN, 2011, p. 182) e que esta deve ser explorada para sedimentar dinâmicas de bairro e transmissão de práticas sociais, compreende-se a importância adquirida por uma possível intervenção local no sentido de reorganizar tanto o espaço quanto os usos do Sítio. Com este fim, estudaremos adiante o momento histórico em que se formou o embrião do que, hoje, configura o Sítio Alaga-diço Novo. Em seguida analisaremos o estado atual do Sítio, para o fim de verificar qual o destaque por ele adquirido nesse processo de requalificação do local e do seu entorno.

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35Apresentação do objeto de estudo

O Sítio Alagadiço Novo constitui, hoje, um dos equipamentos culturais mais importantes da cida-de de Fortaleza e do Estado do Ceará. Localizado em bairro homônimo, está situado no distrito da Grande Messejana, zona a que o Sítio está intimamente vin-culado em razão de fatos históricos, que remontam às primeiras ocupações indígenas, ali existentes antes mesmo da chegada de Pero Coelho de Sousa ao Ceará, em 1603. Messejana, ou Mecejana - grafia utilizada por Alencar em ‘Iracema’ - tem um passado de inde-pendência, foi vila e posteriormente município (FUCK JR, 2004), antes de se tornar bairro de Fortaleza. O Distrito de Messejana origina-se da Nação Potiguara, aglomerado indígena que vivia em um al-deamento criado pela Coroa Portuguesa quando, em 1607, chegam ao território os padres jesuítas Francis-co Pinto e Luís Pernambuco (PEREIRA, 2010). Ao de-senvolver suas atividades de catequese os missioná-rios se estabelecem no local e fundam a aldeia de São Sebastião de Paupina a qual, mais tarde, em 1760, será promovida à categoria de vila através de Carta Régia passando a chamar-se Vila Nova Real de Messejana (FUCK JR, 2004). Sob a autoridade da Coroa Portuguesa, a ocu-pação da região se desenvolve e consolida-se como zona residencial, baseada em atividades agrícolas. É neste contexto que, no século XIX, quando o Estado do Ceará encontra-se sob o comando político da capitania de Pernambuco, a área é parcelada, cada parcela trans-formada em sítios, os quais são concedidos a empre-endedores do Sul do País. Advém dessa época, e como consequência dessa política de inserção fundiária, o estabelecimento da família Alencar no Sítio Alagadiço Novo, um dos primeiros a firmar-se nas proximidades da Vila de Messejana (RIBEIRO, 1982). Em 1806, o Padre José Martiniano de Alencar, nascido no Crato, filho da revolucionária Bárbara de Alencar, firma-se no local a que dá o nome de Alagadi-ço Novo, em alusão aos ecossistemas constituintes da região. Alencar traz consigo as primeiras mudas de ca-na-de-açúcar a serem plantadas em suas novas terras, cultura que apresenta uma boa adaptação local, levan-do-o a instalar em sua propriedade o primeiro enge-nho a vapor do Ceará. A partir deste, multiplicam-se os engenhos e a produção açucareira regional. (RIBEIRO, 1982) É durante esse período de prosperidade eco-nômica que vem ao mundo o herdeiro mais célebre do padre Alencar, fruto da união com sua prima legí-tima Ana Josefina de Alencar. José de Alencar, o escri-tor, nasce em 1º de março de 1829 no Sítio Alagadiço Novo, onde vive os primeiros nove anos de sua vida. Dotado de natureza abundante e belas paisagens, o

3.3 OCUPAÇÃO HISTÓRICA

Figura 08: O escritor romancista José de Alencar. FONTE: http://landisvalthcheio-dearte.blogspot.com.br/

Figura 07: Padre e Senador José Martiniano de Alencar. FONTE: http://onordeste.com

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Sítio vem a exercer profunda influência na mente do pequeno Alencar, fato que, posteriormente, o levará a produzir descrições preciosas de lugares e lendas de sua terra natal. Mais tarde, com o pai eleito Senador do Impé-rio, Alencar, deixa o sítio de sua infância e vai para a Corte, no Rio de Janeiro, onde inicia sua brilhante car-reira multidisciplinar, atuando como jurista, político, jornalista, dramaturgo e finalmente escritor. O escri-tor adquire projeção nacional para sua obra e irrompe como o maior nome do movimento romântico no Bra-sil. Sua importância histórica, política e afetiva para o Estado do Ceará é imensa, as personagens por ele cria-das tornaram-se ícones e até hoje vivem na memória e nas vidas dos cearenses, em nomes de ruas, praças e obviamente em manifestações culturais que envol-vem a vida e a obra de Alencar. O Sítio da Família Alencar teve o mesmo des-tino das outras propriedades concedidas pela Coroa na região: após um período de hibernação econômi-ca de quase meio século, devido às grandes secas de 1877-79 que assolaram o Estado, essas terras foram novamente parceladas, originando-se daí os diversos bairros que vieram a constituir o setor sudeste de For-taleza (FUCK JR, 2004, p. 174). Após a morte do romancista, a casa em que nas-ceu Alencar e a área remanescente do Sítio Alagadiço Novo continuam sob o domínio e posse de descenden-tes da família, que a relegaram ao abandono, situação que perdurou até o ano de 1929, quando a Prefeitura de Fortaleza, sob a gestão de Álvaro Weyne, compra a casa (OLIVEIRA, 2011) e parte da área adjacente “do-ando-a para o Museu Histórico do Estado, na ocasião presidido pelo Sr. Eusébio de Sousa” (DUARTE, 2004, p. 40). Somente em 1964 são executadas, pela Pre-feitura Municipal de Fortaleza, as primeiras obras de “restauração” do imóvel, conforme noticia o arquiteto José Liberal de Castro, em carta enviada ao então pre-sidente do DPHAN, Rodrigo Melo Franco de Andrade. Tendo em vista que as obras referidas não atendiam às necessidades do Sítio e à sua importância histórica, O DPHAN, em 10 de agosto do 1964, promove o tomba-mento do bem e sua inscrição no livro histórico sob o número 376, Processo Nº 0649-T-62. Pouco depois, em 26 de dezembro do mesmo ano, o Presidente da República Humberto de Alencar Castello, parente na linha materna de José de Alencar, chega à cidade para inauguração da Escola de Arqui-tetura da Universidade Federal do Ceará e aproveita a ocasião para declarar seu desejo de que a Universi-dade “tomasse conta da Casa de José de Alencar” e do Sítio Alagadiço Novo que, àquela altura, encontrava-se

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em vias de ser loteado. Para “tomar conta” do bem, conforme desejo do Presidente, a UFC adquiriu a área por desapropriação amigável e sobre ela mantém, até hoje, o direito de posse e de propriedade. Na obra História Abreviada da UFC, o ex-reitor Martins Filho comenta sobre a aquisição, em 1965, da casa e de oito hectares de terras adjacentes e res-pectiva incorporação ao patrimônio histórico da Uni-versidade, e da necessidade de constituir meio para sua conservação. Um mês depois, ocorre a cerimônia de inauguração do Parque Alagadiço Novo, com lança-mento da edição comemorativa de cem anos de Irace-ma. Ainda no mesmo ano, o departamento de obras da Universidade executa o projeto elaborado por Li-beral de Castro e a obra de um pavilhão vizinho à casa histórica, com o intuito de melhor servir aos visitantes do parque. Tempos depois, para consolidar o controle da UFC sob o imóvel, é criada, através da Resolução Nº196, de 23 de dezembro de 1966, a “Casa de José de Alencar”, órgão suplementar de administração da Universidade do Ceará subordinado diretamente à Reitoria. Foi assim, graças ao Presidente Castello Branco e sob a responsabilidade da Universidade Federal, que o Sítio Alagadiço Novo sobreviveu até nossos dias, em-bora o ameacem frequentes problemas relacionados com a conservação das edificações, que põem em risco a manutenção de seus valores patrimonial e histórico.

3.4 PROTEÇÃO LEGAL: TOMBAMENTO FEDERAL

Com o objetivo de proteger e preservar o bem dos danos oriun-dos da ação do tempo e da falta de cuidados especializados, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) por meio do Processo Nº 01458.002242/2008-98 promoveu “a extensão do tombamento da Casa Natal de José de Alencar, Fortaleza, Estado do Ceará [para a] área remanescente do Sítio onde nasceu José de Alencar, Messejana, Município de Fortaleza, Estado do Ceará” (DIÁRIO OFICIAL de 20 de Abril de 2012). Dessa maneira, a proteção legal abrange, além da casa histórica e das ruínas do engenho, toda a área do complexo. Entretanto, de acordo com os dados levantados na 4ª SR/IPHAN, não existe o documento chamado “instru-ção de tombamento”, normativa na qual deveriam ser listados e especificados todos os critérios de uso e manejo do equipamento, bem como as diretrizes de sua relação com o entorno imediato. Assim sendo, para a evolução deste traba-lho, os princípios de projeto a serem adotados serão elaborados e justificados pela autora, em capítulo posterior.

Proteção legal: tombamento federal

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4.1 INSERÇÃO DO SÍTIO ALAGADIÇO NOVO NA CONSOLIDAÇÃO DO SETOR SUDESTE DE FORTALEZA

O reconhecimento do potencial cultural, hu-mano e urbanístico local aparece como importante fator para a elaboração de uma proposta de interven-ção urbana com vistas ao desenvolvimento futuro do Sítio Alagadiço e do bairro José de Alencar. Para isso, é necessário retroceder um pouco e analisar minucio-samente o processo de formação do substrato sobre o qual trabalhamos. O bairro José de Alencar faz parte do setor sudeste da cidade de Fortaleza, o qual, segundo DIÓ-GENES, constitui parte do vetor 4 de crescimento da cidade e é configurado pelos eixos das avenidas Wa-shington Soares e Maestro Lisboa, que se desenvolvem rumo ao litoral leste do Estado. Os padrões de apro-priação e produção do espaço neste setor são hetero-gêneos e perfazem o que se chama de “zona nobre” nas cidades brasileiras, porque “abrange uma mistura de bairros residenciais, comércio e serviços elitizados, além de apresentar intensa valorização imobiliária, crescente verticalização e alguns bolsões de favelas, que resistem em determinados trechos.” (DIÓGENES, 2012, p. 242) Até o começo do século XX, esse setor apre-senta-se praticamente desabitado e fora do perímetro urbano da Capital; alguns obstáculos físicos, como o Rio Cocó, mantiveram impedida a integração da área ao tecido urbano existente. Somente em 1972 as zo-nas constitutivas da região sudeste vêm a ser incor-poradas à malha urbana do Município, pelo Plano de Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana de Fortaleza - PLANDIRF (DIÓGENES, 2012, p.243). O processo de ocupação da área inicia-se a par-tir do estabelecimento de grandes propriedades rurais por famílias abastadas. Segundo FUCK JR, essas pro-priedades são desmembradas e vendidas, originan-do loteamentos e, posteriormente, os atuais bairros da região, como Alagadiço Novo, Cambeba, o antigo bairro Água Fria, o Colosso, entre outros. Essa dinâmi-ca configura um processo de incorporação urbana de novas áreas a leste da cidade e é intensificado a partir dos anos 1940. É interessante observar que esse modo de tran-sição contraria a lógica tradicional de crescimento da maioria das cidades litorâneas brasileiras, pois o vetor de ocupação direciona-se para sudeste e não avança sobre a orla, como esperado. A inviabilização do cres-cimento rumo à Praia do Futuro (ver mapa 02) resulta

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“em parte, da ausência de infraestrutura e da presença de favelas, mas, principal-mente [...] das altas taxas de salinidade apresentadas, que dificultaram a moradia naquela orla.” (DIÓGENES, 2012, p. 250). Outro fator de grande importância vem a se somar às circunstância acima descritas: na década de 1970-1980 a região da Aldeota, “reduto das classes mais abastadas”, passa por intensa valorização, cujo resultado é a diminuição de opções para a construção de moradias. Então, a procura por novos terrenos em Fortaleza cresce vertiginosamente e a população recorre à porção sudeste da cidade, em bus-ca de locais mais reservados, com mais espaços verdes e qualidade de visuais. Cabe atribuir aos proprietários daquelas terras a responsabilidade pelo pro-cesso inicial de desenvolvimento da área, já que muitos terrenos foram por eles cedidos ao Estado, para construção de equipamentos públicos que, implantados, forneciam quase imediatamente a contrapartida, sob a forma de melhorias na infra-estrutura e valorização das terras. Dessa política de “beneficiamento mútuo” tem origem a duplicação da Av. Washington Soares, empreendimento essencial à efetiva ocupação de toda a região, já que promove a alteração da acessibilidade a grande parte da Metrópole. (DIÓGENES, 2012, p. 252) Além dos loteamentos e equipamentos institucionais e educacionais, como a Universidade de Fortaleza, ocorre, a exemplo de outros bairros da cidade, um deslo-camento massivo de comércio e serviços para a região, legitimando, por esse modo, a “[...] lógica da produção do espaço da expansão metropolitana contemporânea, [lógica esta] comandada por grandes empreendimentos imobiliários de elite e de serviços avançados” (DIÓGENES, 2012, p. 252). Em meio ao conjunto de atrativos naturais da região, próximo a zonas de bom comércio e serviços de qualidade, o Sítio Alagadiço Novo, em face de sua relação com uma das personagens mais importantes da literatura e da política do Estado, barrou o avanço da especulação imobiliária que sobre ele se projetava, tornando-se, assim, testemunha preciosa de uma das páginas mais importantes da sua História e agregando ao seu valor histórico um inestimável potencial para requalificar o de-senvolvimento urbano, cultural e econômico da região.

N

Mapa Fortaleza: bairros das classes de alta rendaFonte: elaborado pela autora

Fig. 4.17

CENTRO

ALDEOTA PAPICU

COCÓ

GUARARAPES

ENG. LUCIANOCAVALCANTE

PARQUEMANIBURA

CAMBEBA

DUNAS

EDSON QUEIROZ

LAGOA DASAPIRANGA

ALAGADIÇONOVO

CIDADE DOSFUNCIONÁRIOS

PRAIA DOFUTURO I

PRAIA DOFUTURO II

MEIRELES

0 5 10Km

BAIRROS COM MAIOR RENDA

EXPANSÃO DOS BAIRROS DE ALTA RENDA

TENDÊNCIA PREVISTA DE EXPANSÃO

Inserção do Sítio Alagadiço Novo na consolidação do setor sudeste de Fortaleza

Mapa 02: Crescimento real e previsto da cidade de Fortaleza (escala gráfica). FONTE: DIÓGENES, 2012

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ZPA 1

I - índice de aproveitamento básico: 0,0;II - índice de aproveitamento máximo: 0,0;III - índice de aproveitamento mínimo: 0,0;IV - taxa de permeabilidade: 100%;V - taxa de ocupação: 0,0;VI - altura máxima da edificação: 0,0.§ 1º - Não será permitido o parcelamento do solo na Zona de Preservação Ambiental (ZPA).§ 2º - As diretrizes do Parque Natural Municipal das Dunas da Sabiaguaba são estabelecidas conforme a Lei Federal nº 9.985/2000, de 18 de julho de 2000,que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC).

ZIA SABIAGUABA

I - índice de aproveitamento básico: 0,5;II - índice de aproveitamento máximo: 0,5;III - índice de aproveitamento mínimo: 0,0;IV - taxa de permeabilidade: 60%;V - taxa de ocupação: 30%;VI - altura máxima da edificação: 15m;VII - área mínima de lote: 300m²;VIII - testada mínima de lote: 12m;IX – profundidade mínima do lote: 25m.

ZOM 2

I - índice de aproveitamento básico: 1,0;II - índice de aproveitamento máximo: 1,5;III - índice de aproveitamento mínimo: 0,1;IV - taxa de permeabilidade: 40%;V - taxa de ocupação: 50%;VI - taxa de ocupação de subsolo: 50%;VII - altura máxima da edificação: 48m;VIII - área mínima de lote: 150m²;IX - testada mínima de lote: 6m;X – profundidade mínima do lote: 25m.

QUADRO 01

4.2 JOSÉ DE ALENCAR:DIAGNÓSTICO DO BAIRROLegislação incidente

Ao longo do trabalho de pesquisa foi pos-sível constatar a correspondência da realidade, in loco, com a definição legal do PDPFor (Plano Diretor Participativo de Fortaleza) para a região. O bairro classifica-se, na sua quase totalidade, como Zona de Ocupação Moderada2 (ZOM 2) – ver quadro 01– a qual:

[...] caracteriza-se pela insuficiência ou au-sência de infraestrutura, carência de equi-pamentos públicos, tendência de intensi-ficação da implantação de equipamentos privados comerciais e de serviços de gran-de porte e áreas com fragilidade ambiental, destinando-se ao ordenamento e controle do uso e ocupação do solo condicionados à ampliação dos sistemas de mobilidade e de implantação do sistema de coleta e tra-tamento de esgotamento sanitário. (PDPFor, 2009)

O bairro faz parte de uma região de urbani-zação precária e de infra-estrutura local insuficien-te, onde é clara a necessidade de implantação de redes de esgoto e drenagem próprias, além da cons-trução de equipamentos e espaços livres de uso público. Os investimentos públicos realizados na área tendem a beneficiar grandes proprietários de terra, o que se reflete nos tipos de empreendimen-tos lá encontrados. São, em sua maioria, comércios direcionados para classes abastadas, traduzidos em uma arquitetura inexpressiva e fechada ao exterior, própria de condomínios e loteamentos particulares. A falta de espaços públicos de lazer é quase tão fla-grante quanto o desrespeito aos ecossistemas mais frágeis presentes na região. Segundo as definições legais do PDPFor, há ainda uma Zona de Preservação Ambiental (ZPA), destinada “à preservação dos ecossistemas e dos recursos naturais”, que não admite quaisquer tipos de empreendimentos, proibido até mesmo o parce-lamento do solo (voltar ao quadro 01 para índices). A ZPA 1 é composta pelas faixas de preservação per-manente de recursos hídricos, que estão situadas a oeste a a leste do próximo ao limites do bairro, to-das margeando corpos d’água, rios e riachos que de-sembocam na Lagoa da Sapiranga, a norte (ver mapa 03 de zoneamento do bairro). Ao norte, cerca de 30% do território com-preendido nos limites do bairro José de Alencar,

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43José de Alencar: diagnóstico do bairro

classifica-se como Zona de Interesse Ambiental (ZIA) e corres-pondem “às áreas originalmente impróprias à ocupação do ponto de vista ambiental, [são] áreas com incidência de atri-butos ambientais significativos em que a ocupação ocorreu de forma ambientalmente inadequada.” (PDPFOR) A existência dessas ocorrências ambientais é constatável a olho nu. Sobre a ZIA, seguem parâmetros também no quadro 01. Lá não foram encontrados registros sobre criação de uni-dades de conservação no interior do bairro. Porém, analisando o bairro sob a ótica do zoneamento inclusivo e, sobretudo, a partir dos instrumentos criados pelo Estatuto da Cidade, en-contramos de três tipos de Zonas de Especial Interesse Social (ZEIS) nas redondezas. Sabendo que o poder público municipal é o responsá-vel direto pela criação e regulamentação destas zonas espe-ciais, os dados apresentados neste trabalho foram coletados através da Secretaria de Urbanismo e Meio Ambiente do Mu-nicípio (SEUMA) e representados conjuntamente aos dados do PDPFor, no mapa de zoneamento do bairro José de Alencar. Partindo para a identificação das ZEIS identificadas dentro dos dois tipos básicos de Zonas Especiais previstas na Lei No 11.977/09 temos, primeiramente, ao norte do bairro e acima da área da ZIA, quadras atualmente ocupadas que são definidas, segundo os dados da SEUMA, como ZEIS do tipo 1 ou ZEIS de ocupação e na porção sul do bairro quadras classifica-das pela Secretaria como ZEIS do tipo 2, ou ZEIS de conjuntos/loteamentos. De acordo com o manual do Ministério das Cidades, Como delimitar e regulamentar Zonas Especiais de Interesse Social de 2009, esses tipos de ZEIS demarcados no bairro José de Alencar determinam: “Áreas públicas ou privadas ocupadas por assentamentos precários tais como: favelas e assemelha-dos, cortiços, loteamentos e conjuntos habitacionais irregula-res, habitados por famílias de baixa renda.” (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2009) Na sequência, outro elemento que deve ser des-tacado, pois será de grande relevância para a realização deste trabalho, é a presença a oeste da Avenida Washington Soares, à altura do próprio Sítio Alagadiço Novo, de uma grande área classificada como ZEIS do tipo 3, ou ZEIS de vazio, a qual, ain-da de acordo com o manual do Ministério das Cidades, define: “Áreas, terrenos e imóveis vazios, sub-utilizados ou não utili-zados, adequados para a produção de habitação de interesse social (HIS)” (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2009). Destacar este fato é importante, pois ainda que os aspectos relacionados à habitação social, índices de urba-nismo inclusivo e à regulamentação destas ZEIS não venham a ser abordados neste trabalho como tema central, esse ins-trumento será utilizado como ferramenta motriz de mudanças urbanas nas diretrizes projetuais adotadas pela proposta apre-sentada.

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ZONA ESPECIAL INSTITUCIONAL

ZEIS 3: VAZIO

ZEIS 3: VAZIO

ZPA 1

ZEIS 1: OCUPAÇÃO

ZPA 1

ZEIS 2: CONJUNTOS/LOTEAMENTOS

ZPA 1

ZPA 1

ZRA

ZRA

ZRA

ZIA SABIAGUABA

ZONA ESPECIAL INSTITUCIONAL

Mapa 03: Zoneamento do bairro José de Alencar. Esc: 1 : 10.000 FONTE: Elaborado pela autora a partir de dados obtidos na Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente de Fortaleza (SEUMA)

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ZONA ESPECIAL INSTITUCIONAL

ZEIS 3: VAZIO

ZEIS 3: VAZIO

ZPA 1

ZEIS 1: OCUPAÇÃO

ZPA 1

ZEIS 2: CONJUNTOS/LOTEAMENTOS

ZPA 1

ZPA 1

ZRA

ZRA

ZRA

ZIA SABIAGUABA

ZONA ESPECIAL INSTITUCIONAL

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Figuras 12: Supermercado na Av. Washington Soares. FONTE: Google Earth

Figuras 13: Loja de veículos automotivos na Av. Washintgon Soares. FONTE: Google Earth

Figura 14 – Estabelecimento de ensino Christus na Av. Maestro Lisboa FONTE: Google Earth

Figura 16 – Prestadora de serviços na Av. Eng. Leal Lima Verde FONTE: Google Earth

Figura 15 – Pequena mercearia no encontro da Av. Eng. Leal Lima Verde e Rua Ozélia Pontes FONTE: Google Earth

Figura 17 – Pequeno comércio na Rua Egídio de Oliveira FONTE: Google Earth

Sítio Alagadiço Novo: O patrimônio como instrumento urbanístico

Uso e ocupação do solo

Fruto da mencionada política de urbanização baseada no beneficiamento mútuo entre proprietários de terra e gover-no, o bairro José de Alencar caracteriza-se pela presença majo-ritária de loteamentos residenciais de classe média. O interior do bairro é composto por lotes ainda desocupados e grandes áreas verdes alagáveis. Outros tipos de ocupação, como comér-cios e serviços, restringem-se a tangenciar os dois grandes ei-xos locais - as avenidas Washington Soares e Maestro Lisboa (ver Mapa 04 de uso e ocupação do solo) Devido à grande disponibilidade de terras na região e à falta de fiscalização dos órgãos responsáveis, assentamen-tos irregulares multiplicam-se, especialmente na porção sul do bairro. O aparecimento desse tipo de ocupação na região, em-bora em pequena escala, exige cuidados, em face da presença de várias condicionantes, como recursos hídricos e ecossiste-mas frágeis, além do elemento patrimonial, configurado pelo Sítio Alagadiço Novo. Urge, pois, que medidas sejam adotadas, para dar a essas populações necessitadas alternativas de mora-dia. Sobre os loteamentos referidos, a quase totalidade tem uso exclusivamente residencial e pertencem às classes mais abastadas, que dividem espaço com pequenos comércios; quase não há construções, salvo as que tangenciam os grandes eixos, que abrigam única e exclusivamente comércios ou ativi-dades de serviço. Nota-se ainda uma grande diferença entre os tipos de comércio e serviços oferecidos no interior do bairro e aqueles

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COMÉRCIO

SERVIÇOS

LOJAS

VAZIO

VAZIOSURBANOS

VAZIOS

VAZIOS

AVENIDA MAESTRO LISBOA

VAZIO

INTITUCIONAL

VAZIOSURBANOS

BENS HISTÓRICOS

INTITUCIONAL

RESID

ENCIAL

RESID

ENCIAL

COMÉRCIO

ÁREA LIVRE

COMÉRCIO

VAZIO

VAZIO

VAZIO

VAZIO

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RESIDENCIAL

RESIDENCIAL

RESIDENCIAL

RESIDENCIAL

RESIDENCIAL

N

LEGENDA

Comércios e serviços Área livre: Sítio Alagadiço Novo

Residencial

Residencial

Bens históricos

Institucional

Indicação de comércios voltados aos grandes eixosVazios urbanos

José de Alencar: diagnóstico do bairro

Mapa 04: Uso e ocupação do solo do entorno imediato do Sítio Alagadiço Novo. Esc: 1:5000 FONTE: Elaborado pela autora a partir da restituição aerofotogramética de Fortaleza ano de 2010 e de infor-mações obtidas através de observação do local

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ofertados nas grandes avenidas. Os últimos são, em gran-de parte, voltados para as classes média e alta. São gran-des supermercados, lojas de roupas e de veículos, restau-rantes, estabelecimentos de ensino e casas de show (ver figuras 12 a 14, pág. 45). Os primeiros, situados nas vias locais, dividem espaço com residências e normalmente não passam de pequenas mercearias, salões de beleza e borracharias (ver figuras 15 a 17, pág. 45).

Sistema Viário

No que concerne ao traçado atual (ver mapa 05 sobre o sistema viário local), os eixos demarcados pe-las avenidas Maestro Lisboa e Washington Soares são claramente as linhas de força mais representativas do bairro. As quadras marginais a essas avenidas são marcadas pela ocupação comercial, cumprindo notar que na Av. Maestro Lisboa a atividade comercial é mais modesta e demanda menor, enquanto que nas laterais da Av. Washington Soares o comércio é mais sofistica-do e de maior porte. Essas duas avenidas atuam como linhas divisórias para a dinâmica do bairro, mas não há uma relação direta, nas vivências urbanas, entre o tecido a norte e a sul da Maestro Lisboa, fato também observado nas porções a leste e a oeste da Washing-ton Soares. Ainda que sejam as vias de maior importância para a região, tais avenidas são consideradas vias ar-teriais, porém não possuem um sistema cicloviário efi-ciente e não estão preparadas para a livre circulação de pedestres. Essas vias abrigam fluxos de alta veloci-dade sem, no entanto, oferecer infraestrutura de pas-sarelas e faixas de pedestre em pontos estratégicos. Um ponto nevrálgico e prova material da pro-blema descrito, é o encontro das avenidas Ministro José Américo e Washington Soares (ver figuras 18). Esta conexão demanda estudo mais detalhado, pois é o único local próximo ao Sítio Alagadiço Novo que possibilita a travessia de um lado a outro da Av. Wa-shinton Soares. O movimento no local é intenso tanto de veículos provenientes do Cambeba, os quais vêm pela Av. Ministro José Américo e desembocam na Av. Washington Soares (podendo converter à esquerda ou direita), quanto daqueles que trafegam nesta última avenida e procuram fazer a conversão para seguirem direção rumo à oeste. É evidente a necessidade de uma intervenção naquele ponto, com vistas à melhoria da dinâmica de acesso ao bairro - e ao Sítio Alagadiço Novo - pela a população. Outras conexões também devem ser pen-sadas para viabilizar uma conexão mais harmônica do bairro José de Alencar com o tecido urbano a oeste da Washington Soares.

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N

(a)

(b)

(c)

(d)

(e)

0 100m 500m

Mapa 05: Sistema viário local e problemáticas existentes. Esc: 1:10.000 FONTE: Elaborado pela autora a partir da restituição aerofotogramética de Fortaleza (ano de 2010), de dados da LUOS 1996 e de informações obtidas através de observação do local

LEGENDAVias arteriais

Vias coletoras

Sítio Alagadiço Novo

Área verde restante da reserva da Sapiranga

(x) Ver imagens

(a) Cruzamento Av. Washington Soares e Av. Min. José Américo

Rua Antônio Gentil Gomes: falta de in-fraestrutura

Vias locais obstruí-das por construções indevidas

José de Alencar: diagnóstico do bairro

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Nenhuma das vias mencionadas, salvo a Avenida Washington Soares, possui infraestrutura adequada para o uso de pedestre ou para outros tipos de modais al-ternativos, as calçadas são degradadas e não há ciclovias ou ciclofaixas. As demais vias do bairro, classificadas como vias locais, também não possuem esse tipo de aparato e apresentam, em determinados pontos, situação de maior degradação com calçadas irregulares ou até mesmo sem calçadas. Outro aspecto peculiar ao sistema viário do bairro é a existência de vias sem calçamento - ai incluída a Rua Antônio Gentil Gomes que margeia a porção sul do Sí-tio Alagadiço (ver figura 19) - esburacadas, com construções que se projetam sobre elas ou mesmo inteiramente ocupadas (ver figuras 20 a 23). A malha viária, próxima ao Sítio Alagadiço, é inconsistente em razão das ocupações irregulares, com vastas áreas desocupadas, cujos proprietários aguardam sua valorização para lhes dar des-tino.

Mobilidade

Não é diferente a situação de acessibilidade do resto do bairro, que é extre-mamente precária. Além do ônibus, a única maneira de se locomover nos arredores e no interior do bairro é o veículo particular, devido à já observada falta de infraes-trutura adequada para a circulação de bicicletas ou outros modais de transporte pú-blico. O terminal intra-urbano mais próximo – Terminal da Messejana - dista aproxi-madamente 4 km do limite ocidental do bairro, o que condiciona a população a uma única opção e a percursos maiores em direção a pontos mais afastados da cidade. Quanto às linhas de ônibus intra-urbanos disponibilizadas pela prefeitura, 13 chegam a tangenciar algum dos principais limites do bairro (Av. Washington So-ares ou Av. Odilon Guimarães), 1 adentra apenas no eixo leste-oeste representado pela Av. Maestro Lisboa (Linha: 611 – CIDADE DOS FUNCIONARIOS / COFECO / LAGO JACAREY) e apenas 4 trafegam, de certa forma, dentro dos limites do bairro, mas nenhuma proporciona um deslocamento interno eficiente. Das quatro linhas com acesso interno ao bairro, uma faz o deslocamento na direção norte, com final no Terminal do Papicu – vetor de redirecionamento de flu-xos para diversas outras regiões da cidade – duas trajetam no entorno próximo do bairro José de Alencar e têm como início e fim o Terminal da Messejana e a última desloca-se para noroeste e chega na Av. Bezerra de Menezes. Como se observa, nenhum outro modal de transporte público contempla o bairro, nem mesmo em distância suficiente para suprir uma população pedestre de relativa importância, como a que é representada pelo José de Alencar e seu entorno. A estação mais próxima da linha leste do METROFOR, em vias de se tornar realidade, é a Estação Edson Queiroz e dista, aproximadamente, 4 km do limite setentrional do bairro.

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(a) Figura 18 Cruzamento Washintgon Soares x Ministro José Américo. As setas indicam os diferentes fluxos FONTE: Google Earth

Figura 19: Vista da Rua Antônio Gentil Gomes – porção sul do complexo Alagadiço Novo. FONTE: Google Earth

(c) Figura 21: Vista da Rua Dr. Esmerino Parente obstruída por construções indevidas. FONTE: Google Earth

(d) Figura 22: Vista da Rua Osvaldo Aguiar obstruída por construções indevidas. FONTE: Google Earth

(e) Figura 23: Vista da Rua Mário de Alencar Araripe obstruí-da por construções indevidas. FONTE: Google Earth

(b) Figura 20: Vista da Rua Jonas Sampaio obstruída por construções indevidas. FONTE: Google Earth

José de Alencar: diagnóstico do bairro

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4.3 O METROFOR: POSSIBILIDADE DE CONEXÕES

Neste ponto é importante salientar a relação desta por-ção da cidade com o projeto METROFOR. A linha que, em tese, contemplaria o bairro José de Alencar e adjacências, seria a linha leste. Em 2013, o Governo do Estado do Ceará assinou ordem de serviço para a construção de 11.103,80 metros de trecho subter-râneo, 562,25 de transição e 800 metros de trecho em superfí-cie, aparato que deverá transportar até 485 mil passageiros dia-riamente (RIMA, 2011). Menciona-se esta linha porque, de acordo com informa-ções colhidas na Secretaria de Infraestrutura do Estado do Ceará (SEINFRA), ela contemplaria o bairro José de Alencar. De acor-do com o respectivo projeto, as obras terminam com a estação Edson Queiroz, localizada nas proximidades da Universidade de Fortaleza (UNIFOR). No entanto, ainda de acordo com esclareci-mentos prestados por servidores daquela secretaria estadual, não há previsão de que venha a ser construída uma estação ou parada na Casa de José de Alencar, como indicado no mapa 06 . Diante dessas informações e conhecendo a extrema ne-cessidade de transporte público de qualidade na região, a linha leste do METROFOR será absorvida como fato concreto e entrará nas considerações e decisões finais de projeto.

Mapa 06 – Linhas previstas do METROFOR. FONTE: http://metrofor.ce.gov , 2012

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5.1 ELEMENTOS PRESERVADOS

A área atual do Sítio Alagadiço Novo é de apro-ximadamente sete hectares de área densamente ar-borizada (ver mapa 07 de massas vegetais), mas que não significa, de acordo com informações colhidas nos arquivos da 4a SR/IPHAN, um terço da que foi origi-nalmente adquirida pelo Padre Alencar. No entanto, é possível afirmar que esta última parcela representa a porção mais representativa do primeiro complexo, já que contém os elementos importantes da história da família. Mesmo dotado de infraestrutura ineficiente, o Sítio possui equipamentos que o transformam em um complexo de grande potencial paisagístico, educacio-nal e histórico. Destaca-se no conjunto de elementos a casa histórica (ver figuras 24 e 25), pequena edificação a oeste da área, que é o ponto cardeal do complexo his-tórico, pois é o local de nascimento José de Alencar. Edifício de construção simples, com “piso em tijoleira, paredes em tijolo e cal, madeiramento em carnaúba tipo caibro junto e cobertura em telha vã. Apresenta um só nível e telhado em quatro águas, com acaba-mento em beira-seveira. As fachadas não possuem qualquer elemento decorativo.” (SOUZA, 1995, p.67) Apesar de sua extrema simplicidade o edifício apresenta valor inestimável para a história da arquite-tura cearense, no dizer de Liberal de Castro:

A pequena casa de Alencar, independentemen-te de seu valor histórico-sentimental, tem alto significado arquitetônico, pois documenta o processo evolutivo do emprego da carnaúba como material de cobrimento, informando-nos do estádio atingido nos primeiros anos do sé-culo passado, ainda em fase de transição técni-ca, quando deve ter sido construída. (CASTRO, 1973, p.16).

Encontram-se ainda resquícios de uma residên-cia de maior porte, “construída na vizinhança imedia-

(a) Figura 24: Casa natal de José de Alen-car. FONTE: Arquivos da 4ª SR IPHAN

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Mapa 07 – Massas vegetais do Sítio Alagadiço Novo. As manchas mais escuras representam as porções onde a mata é mais fecha-da no interior do complexo. Esc: 1: 2.500 FONTE: Elaborado pela autora a partir da restituição aerofotogramética de Fortaleza (ano de 2010) e de informações obtidas através de observação do local

Rua Egídio de Oliveira

Rua Antônio Gentil Gomes

Av. W

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0 100m 500m

(x) Ver figuras

(a) Figura 25: Casa natal de José de Alencar. FONTE: Arquivos da 4ª SR IPHAN

(b) Figura 26: Ruínas do 1° engenho a vapor do Ceará. FONTE: Arquivos da 4ª SR IPHAN

Elementos preservados

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(c) Figura 27: Casa sede da administração do complexo projetada pelo Arquiteto José Liberal de Castro. FONTE: Arquivos da 4ª SR IPHAN

ta da Casa Natal e possivelmente levantada três anos após o nascimento de José de Alencar para a realiza-ção de reuniões sociais.” (DUARTE, 2004, p. 40). A resi-dência da família não teve a mesma sorte da pequena casa histórica, pois foi demolida antes mesmo do tom-bamento deste último imóvel pela SPHAN. (OLIVEIRA, 2011) Outros elementos ainda preservados do Sítio, encontram-se próximos à casa histórica: trata-se das ruínas do engenho instalado por Alencar (o pai), refe-ridas anteriormente (ver figura 26). São resquício do primeiro engenho a vapor do Ceará e se constituem em peça de fundamental importância para o enten-dimento da cultura cearense, dado que foi um ins-trumento basilar da economia local. Mediante pros-pecções arqueológicas realizadas no ano 2000, pelo arqueólogo Marcos Albuquerque da Universidade Fe-deral de Pernambuco, alguns artefatos importantes ao entendimento do antigo engenho foram encontrados e levados ao museu localizado no pavilhão anexo, construído pela UFC (ver figura 27).

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5.2 PONTOS DE RUPTURA Como visto, a relação do Sítio com seu meio imediato é extremamente con-flituosa, fato que não permite a sua adequada utilização e muito menos a projeção do seu valor patrimonial para a comunidade. Ao analisarmos de perto as diversas porções do complexo e sua interação com os elementos externos chegamos ao zo-neamento exposto no mapa 08 em que são destacados os principais conflitos e con-dicionantes existentes. A porção norte do complexo é separada do seu meio externo por muro de al-venaria alta, que acaba por bloquear a visibilidade do complexo e marcar o primeiro ponto de ruptura entre o Sítio e sua vizinhança. Nesta fachada, o espaço existente para a calçada é quase inexistente e frequentemente intransitável devido ao acú-mulo de lixo deixado por transeuntes (ver figura 28). Outro problema encontrado na zona norte do complexo é a proximidade da comunidade social Alagadiço Novo, assentamento clandestino e precário em termos de infra-estrutura que confere ao local um clima hostil de desorganização e insegu-rança constantes. O estacionamento construído nessa área do sitio está fechado e sem utilização (ver figura 29). De maneira que a única possibilidade de entrada de todo o Sítio é aquela localizada a sudoeste na Rua Antônio Gentil Gomes. Essa característica de quebra na integração urbana do Sítio Alagadiço Novo estende-se por todo o perímetro do complexo sendo fato mesmo para a porção oeste, fachada Washington Soares, onde a separação para o meio externo ocorre através de gradis que possibilitam a visibilidade interna do conjunto. No entanto, a relação direta com o fluxo intenso da grande avenida e a impossibilidade de uma travessia segura de pedestres, negam o uso do espaço da calçada e diminuem ainda mais o valor conferido ao Sítio (ver figura 31). Somam-se a essas dificuldades o choque de atividades determinado pela presença da escola municipal construída em terreno cedido pela UFC na porção nor-deste (ver figuras 32 e 33) do Sítio e as ocupações clandestinas a sudeste. A perda deste terreno e a inserção de um outro tipo de função, que não diz respeito à missão do Sítio Alagadiço Novo fere a sua unidade de funcionamento ao tempo em que a favela em formação a sudeste (ver figura 34) oferece risco à manutenção dos limites do Sítio e à qualidade do espaço como um todo.

Figura 28: Imagem da calçada e muro da fachada norte do Sítio. FONTE: Google Earth

Pontos de ruptura

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ESTACIONAMENTO

ACESSO LATERAL

HOSTILDINÂMICA

VISIBILIDADEBLOQUEADA

MUROCON

EXÃO

?

INSEGURANÇA

OCUPAÇÕES INDEVIDASVISUAL PERDIDO

ACESSO INTERNO IMPOSSIBILITADO

INTEGRAÇÃO?

SUBUTILIZAÇÃO

MURO

SEM ACESSO

ACUMULODE LIXO

INSEGURANÇA

BLOQUEIOVISUAL

EQUIPAMENTOABERTURA?

RELAÇÃO

VIZINHANÇA

ESTACIONAMENTO

RELAÇÃOWASHINGTON SOARES

DIFICIL ACESSO

ENTRADAPRINCIPAL

FLUXO INTENSO

EDIFICAÇÃOHISTORICA

INTERAÇÃOCOMPLEXO

OCUPAÇÕESSUBNORMAIS

PROXIMIDADE

UTILIZADAUNICA AREA

REPRESENTATIVIDADE

LOCAÇÃO

ESCOLA

CONFLITOUSOSUNIDADE

ÁRVORESCENTENÁRIAS

BARREIRA

ORDENAMENTODE FLUXOS

BLOQUEIO

PROTEÇÃO

INEXISTENTE

VISUAL

SINALIZAÇÃOINCIPIENTE

INFORMAÇÃOFALTA

SUBUTILIZAÇÃO

BENS HISTÓRICOS

AÇUDESECO

ACESSOIMPOSSIBILITADO

ATIVIDADES

CONCENTRAÇÃO DE

REPRESENTATIVIDADE

FALTA

MISSÃO?

INEFICAZ

Mapa 08 – Análise e zoneamento das principais características do Sítio Alagadiço Novo. Esc: 1: 2.500 FONTE: Elaborado pela autora a partir da restituição aerofotogramética de Fortaleza (ano de 2010) e de informações obtidas através de observação do local

N

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Figura 29: Imagem aérea do estacionamento fechado na porção noroeste do Complexo. FONTE: Google Earth

Figura 30: Calçada e gradil da fachada oeste – Av. Washington Soares. FONTE: Google Earth

Figura 32: Imagem da Escola Municipal no cruzamento entre as Ruas Egídio de Oliveira e Elizeu Oriá. FONTE: Google Earth

Figura 33: Imagem aérea com indicação das ocupações subnormais a sudeste do Sítio. FONTE: Google Earth

Figura 31: Imagem aérea do Sítio com indicação da Escola de Ensino Municipal e Médio Iracema. FONTE: Google Earth

Pontos de ruptura

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5.3 NECESSIDADE DE INTERVENÇÃO

É possível inferir que o domínio e posse da UFC sobre o Sítio Alagadiço Novo provavelmente lhe garantiu longevidade e relativa qualidade de manu-tenção, o que se nota em vista da parceria harmônica celebrada com a 4a SR/IPHAN. Apesar disso, é visível o quão delicada é a situação atual do equipamento, de uma maneira geral subutilizada, prestando-se unica-mente a um tipo de turismo simplório, que não condiz com o potencial e o prestígio do local. Apesar das tentativas precedentes, não se im-plantou nenhum programa de ações com a finalidade de transformar o Complexo em uma instituição de re-nome, com qualidade estrutural e técnica para atrair público de maior peso, interessado na vida e na obra de José de Alencar, assim como na história da região em que se insere o Complexo. Das poucas iniciativas em prol da preservação e da utilização do lugar, des-taca-se o I Simpósio Nacional Casa de José de Alencar, promovido pela UFC sob o comando da ex-diretora do Instituto de Cultura e Arte (ICA) da UFC e da Casa de José de Alencar, Ângela Gutiérrez. Nesse evento discutiu-se, além da vida e obra de Alencar, as perspectivas e os rumos a serem toma-dos para transformar o Sítio Alagadiço Novo em impor-tante fundação de fomento à pesquisa e à vida cultu-ral do Estado. Participaram do congresso professores e pesquisadores da UFC, a administração da casa e re-presentantes do IPHAN. Sobre o tema assim discorreu Angela Gutièrrez:

[...] é intenção da Universidade transformar a CJA em uma casa voltada para a cultura e a pesquisa, nos moldes, por exemplo, da Casa de Rui Barbosa ou do Instituto de Estudos Brasilei-ros – IEB. Como casa de cultura, a Casa de José de Alencar deve abrir-se à comunidade, favo-recendo a realização de lançamentos literários, de acontecimentos artísticos, de exposições, enfim, construindo forte entrelaçamento não só com especialistas e interessados em arte como com os habitantes de sua vizinhança, e, mesmo, em sua atuação com pólo turístico. (GUTIÉRREZ, 2004, p. 8)

Contudo, os propósitos discutidos no evento não se concretizaram, propósitos que são mais do que sonho, são constatações da essencialidade de provi-dências com finalidade de preservação esse nicho da cultura cearense. A despeito de a UFC acenar com a possibilidade de construir no local uma nova sede para o ICA, os projetos não se materializam e o Sítio não vê qualquer modificação em sua estrutura física ou política e sofre até hoje a deletéria ação do tempo e do esquecimento, consequências diretas da falta de

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uso promotor de sua memória e de sua história. Fisicamente, a ausência de políticas públicas para a manutenção do Sítio, personificado na Casa de José de Alencar, são visíveis. Os visitantes que apor-tam ao complexo não utilizam mais que ínfima parte de todo o equipamento, limitam-se unicamente a fazer refeições na cantina do pavilhão da UFC e a pequenas caminhadas ao redor da casa natal e das ruínas do en-genho. Os jardins são mais utilizados por crianças, mas não possuem nenhum tratamento ou infraestrutura que possa torná-lo passível de usos mais sofisticados ou mesmo para receber um público mais representati-vo de um lugar de alto valor patrimonial e histórico. Sobre a inserção urbanística do Sítio, cumpre ressaltar a fragilidade e a situação de risco em que atualmente se encontra o Sítio, ladeado por uma gran-de rodovia expressa e por lotes residenciais unitários de arquitetura inexpressiva e introvertida, grande é a pressão que sobre ele se exerce tanto da especulação imobiliária como da necessidade de desafogar o trân-sito que se intensifica na área. É uma situação delicada, pois o Sítio encon-tra-se em meio a uma dinâmica hostil, que se reflete diretamente na sua utilização e valoração, tanto por parte do público cearense quanto do publico externo. Ignora-se o imenso valor patrimonial e de referência cultural, histórica e literária do lugar. Soma-se a isso a intensa descaracterização ambiental da região, decor-rente do processo de avanço da malha urbana de For-taleza, ambiente em que o Sítio emerge como um dos últimos refúgios verdes de relativa extensão, o que lhe confere valor ainda maior como espaço livre para a ci-dade. A área não é dotada de tratamento paisagísti-co que possibilite melhor uso do complexo, o mobili-ário é ínfimo e não há direcionamento dos fluxos de visitação ou ordenamento de vegetação, o que criaria um conforto visual muito maior para aqueles que visi-tassem o local. A programação visual e, consequente-mente, a sinalização do local, é deveras incipiente, não apresentando, muitas vezes, a indicação de direções, de ambientes e do tipo de vegetação existente no lo-cal, assim como sua importância. O estado de deterioração percebido no Sítio Alagadiço Novo leva à conclusão de que esses elemen-tos devem ser repensados e reformulados em escala tanto macro quanto micro, para que se entenda e se harmonize a dinâmica do Sítio e se possibilite uma es-tada agradável àqueles que, por acaso venham a usu-fruir deste patrimônio cearense.

Necessidade de intervenção

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O caso do Sítio Alagadiço Novo reflete com perfeição as lacunas e equívocos da política de pre-servação do patrimônio predominante no Brasil: uma política que ainda adota o processo de tombamento e conservação como único meio de salvação dos bens e costumes culturais de uma comunidade deve, com ur-gência, responder a algumas questões que não podem mais ser ignoradas. De fato, como compreender a exis-tência de um bem portador de comprovados valores histórico e patrimonial sem que, no entanto, lhe seja dado algum tipo de uso que sedimente seu laço com a população? Qual a valorização que lhe é dedicada quando esse bem é relegado a uma situação de sub-sistência assegurada quase que exclusivamente pela lei de seu tombamento? Em uma sociedade globalizada e quase despro-vida de lembranças de seu passado, como é a cidade de Fortaleza, as ações relacionadas à gestão do Patri-mônio Cultural deveriam trabalhar com instrumentos mais poderosos assumindo o objetivo de resgatar o cabedal de conhecimentos, técnicas e costumes de uma sociedade que se torna a cada dia mais apática e sem identidade. Não é a toa que F. Choay afirma, em seu Alegoria do Patrimônio , que uma sociedade sem memória pode transformar-se em uma sociedade sem autoestima, que não produz e que, consequentemen-te, não se desenvolve completamente. (CHOAY, 2001) Retirada do contato com seu patrimônio, a comunidade perde suas bases culturais e não cresce de maneira saudável. É a partir desta linha de pensa-mento, e baseando-se em sua vasta experiência de trabalho na área, que De Varine define: “O patrimônio (natural e cultural, vivo ou sacralizado) é um recurso local que só encontra razão de ser em sua integração nas dinâmicas de desenvolvimento. Ele é herdado, transformado, produzido e transmitido de geração em geração. Ele pertence ao futuro.” (DE VARINE, 2012, p. 20-21) Empreendendo um discurso que toma o mes-mo rumo, Duarte, ao tratar da evolução das políticas patrimoniais no Brasil, aponta uma problemática co-mum ao tratamento de diversos sítios brasileiros e que pode ser observada sem restrições na situação do Sítio Alagadiço Novo: “Os sítios históricos têm sido tratados de forma isolada no bojo das propostas de

6. DAS POSSIBILIDADES: O PATRIMÔNIO CULTURAL COMO INSTRUMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

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desenvolvimento local e carecem de ser integrados à dinâmica desse processo, tanto do ponto de vista físi-co-territorial quanto do sócio-econômico e do progra-mático.” (DUARTE, 2012 p. 148-149) No mesmo texto, o autor faz uma separação cronológica das formas de tratamento e gestão de sítios históricos no Brasil desde a “fase heroica” do IPHAN, quando o conceito de sítio histórico ainda era o de naquele de “cidade-monumento” e onde “a ên-fase estética, pela via de uma idealização do passa-do, definia o patrimônio cultural edificado digno de preservação”; passando pela “fase moderna” onde o predomínio era o do conceito de “cidade-documento”, o qual preconizava “o estudo das etapas de formação e desenvolvimento da cidade e a identificação das marcas dos processos históricos deixados no espaço” (SANT’ANNA, apud DUARTE, 2012, p. 107), até chegar a um modelo gerencial do qual o autor toma partido, um modelo mais atual e esporádico, que compreende os sítios históricos a partir do conceito de “cidade-ins-trumento”, onde, como em De Varine, o patrimônio é visto como fator base para o desenvolvimento local da cidade. É justamente sob a ótica do patrimônio como “instrumento” do desenvolvimento que se deve com-preender o sítio histórico aqui descrito. Ao funcionar como vetor de transmissão do passado e da história longínquos, o Sítio Alagadiço Novo ensejará um sólido renascimento cultural da região, ao vincular a impor-tância da figura de José de Alencar à história da terra cearense. O ressurgimento da memória contribui ain-da para a formação do sentimento de orgulho e per-tencimento e da cidade e de cidadania. Um equipamento que chegasse a promover tal efeito certamente impulsionaria o desenvolvimento mais qualificado da região em que está inserido. No entanto, para isso, diversas medidas devem ser ado-tadas com fins de enriquecer a missão da entidade já existente. É o caso, por exemplo, de transformar o equipamento em uma casa de cultura, como já foi pro-posto pelo I Simpósio Casa de José de Alencar, antes referido e promovido pela Universidade Federal, pro-prietária do bem. A possibilidade de se implantar um equipa-mento, como dito por Gutièrrez em citação anterior, aos moldes da Casa de Rui Barbosa no Rio de Janeiro, está em perfeita harmonia com as qualidades obser-vadas no Sítio Alagadiço Novo. Não seria muito afir-mar que a figura de Alencar, por si só, justificaria os esforços de preservação e tratamento do local visando a transmissão do valor de suas obras para a cultura na-cional. Para melhor entender esta ideia, vale aqui lem-brar a missão da referida instituição carioca:

Das possibilidades: o patrimônio cultural como insrumento do desenvolvimento urbano

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A missão da Fundação Casa de Rui Barbosa é promover a preservação e a pesquisa da me-mória e da produção literária e humanística, bem como congregar iniciativas de reflexão e debate acerca da cultura brasileira. Des-ta forma, a instituição pode contribuir para o conhecimento de diversidade cultural e para o fortalecimento da cidadania, assegurando a implementação das demais políticas do Minis-tério da Cultura. (FUNDAÇÃO CASA DE RUI BAR-BOSA)

Por “fortalecimento da cidadania” pode-se muito bem inferir que uma das metas almejadas é jus-tamente a promoção do desenvolvimento local liga-do diretamente à ideia de educação e de valorização cultural, o que se impossibilita com a utilização do patrimônio com fins exclusivos de consumo turístico, afinal, este tipo de uso

[...] não é suficiente para garantir sua vida e não contribui senão limitadamente para o de-senvolvimento e apenas à satisfação de um pe-queno grupo. O patrimônio enquanto isso deve servir a todos e ao conjunto das dimensões do desenvolvimento, isto é, não apenas à cultura e ao turismo, mas também à sociedade em seu todo, à educação, à identidade e à imagem, ao emprego ou à inserção social, etc. (DE VARINE, 2012, p. 83)

É, pois, essencial para a manutenção dos valo-res culturais do Sítio Alagadiço Novo e para a imple-mentação de uma dinâmica segura entre ele e o povo cearense, que se proporcione ao local as qualidades de permanente enriquecimento cultural através do es-tímulo à criatividade e à produção de conhecimento local. Fecha-se, por esse modo, um ciclo que tem por base a premissa do desenvolvimento coletivo e a for-mação da cidadania, pois finca raízes no substrato do patrimônio comum e não aceita, para sua própria so-brevivência, os modelos tradicionais de conservação cultural, afinal: “[...] a esterilização sob o pretexto de conservar um valor raro, leva inevitavelmente à perda de uma grande parte de seu significado”. (DE VARINE, 2012, p. 64)

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Muito além da salvaguarda do Sítio Alagadiço Novo para as gerações futuras, a intervenção nas instalações do Complexo e no entorno imediato significará o nas-cimento de uma nova vitalidade cultural para o bairro. A mudança de usos, a imple-mentação de espaços que permitam trocas sociais e a valorização do homem e de sua produção em detrimento do capital imobiliário é uma fórmula que já vem sendo estimulada e testada há tempos por grandes urbanistas ao redor do mundo e que pode aportar significativa transição entre um modelo urbano falido e uma dinâmica citadina muito mais saudável. Antes de qualquer coisa, a proposta de intervenção urbano-arquitetônica ora apresentada tem como princípio basilar o respeito à condição humana e a igualda-de sócio-espacial. Dito isto, apresenta-se o ponto principal no qual esta proposta deverá atuar: o fortalecimento da identidade local e a consequente apropriação do espaço pela comunidade local. O Sítio Alagadiço Novo perde suas qualidades de ilha verde e de espaço cul-tural devido à situação em que se encontra e muito disso se deve a dois fatores: o desconhecimento do seu conteúdo e/ou a desvalorização da memória do povo cea-rense. Nesse contexto, a projeção da figura de Alencar e a valorização do Complexo na paisagem serão diretrizes fundamentais para a adequada tomada de posição em relação à problemática exposta. Os valores histórico e memorial não serão contidos, mas sim exaltados, e isso, deverá transbordar os limites físicos impostos pelos muros e gradis para cha-mar a atenção da cidade sobre a preciosidade que se abriga naquele complexo. Afi-nal, os grandes feitos e personagens são exatamente o que eternizam a história de um povo. Dessa maneira, a manutenção dos equipamentos históricos do Sítio Alagadi-ço Novo depende também dos cuidados destinados ao seu entorno visual imediato e mediato. Entende-se que uma reconfiguração do entorno do Sítio simultaneamen-te amenizará a dinâmica hostil em que se insere o Complexo e exaltará a história e as obras de Alencar, especialmente em face da utilização de elementos tradicionais da região, como a exuberante vegetação encontrada no Sítio pelo pai de José Alen-car. O diálogo com as comunidades adjacentes precisa ser desenvolvido de for-ma a estabelecer-se uma relação de troca tanto social e educacional como afetiva, pois: “O caráter da proteção efetiva deve ser antes educativo que repressivo, mas sem deixar de ser firme na defesa do patrimônio.” (DELPHIM, 2005, p. 46). É preciso também captar o olhar e a curiosidade e estimular a percepção dos tranzeuntes, que não tem noção do que se pode desfrutar no Complexo, parte porque desconhecem a sua importância. Além do trabalho educativo, o aparato ur-bano-arquitetônico deve ser acolhedor, a partir de entradas que configurem portais e dêem ao visitante uma sensação de chegada a um ambiente mais tranquilo e pra-zeroso que aquele de onde vem. O Sítio deve ser visto como é de fato, como uma ilha de prazer ecológico e educacional dentro deste meio urbano tão conturbado que é a cidade. Expostas as premissas da proposta, algumas diretrizes gerais precisam ser lançadas a respeito do tratamento do Sítio Alagadiço, ainda que, para fins deste tra-balho, não venham a ser diretamente exploradas. São elas:

7.1 PRINCÍPIOS GERAIS

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7.2 ELEMENTOS HISTÓRICOS: MANUTENÇÃO E USO

Entende-se que os cuidados de manutenção submetidos aos equipamentos históricos contidos no Sítio (ruínas do engenho e casa grande e casa onde nasceu José de Alencar) deverão se dar de maneira contínua e preventiva evitando-se assim tanto a ne-cessidade de obras de restauro dispendiosas, como a colocação do bem em situação de risco. De acordo com Delphim (2005, p.28): “A soma das diferentes modificações acaba por se converter em parte do caráter histórico e do material essencial ao bem cultural.” A partir disso, entende-se que outros valores podem e devem ser agregados ao bem no de-correr do tempo, de modo que, muitas vezes tornam-se necessários determinados tipos de intervenções sobre esses bens. Nesse viés, percebemos a necessidade de ins-talações que viabilizem a observação e apreensão dos bens históricos de forma mais adequada e abrangente pela população visitante. É imprescindível que as ru-ínas do engenho a vapor, por exemplo, possam ser vi-sitadas e compreendidas sem que isso signifique risco ao seu estado de conservação. O acesso, a demarca-ção e o destaque do respeito as monumentos são fa-tores determinantes para o adequado funcionamento do complexo.

Visto que o Sítio não possui hoje uma estrutu-ra paisagística pré-concebida, a saber: caminhos bem pavimentados, mobiliário, áreas de usos delimitados, iluminação planejada, é indispensável à intervenção que tenha por fim dotá-lo dessa estrutura mínima, mas essencial para alcançar os objetivos das mudanças propostas. De fato, para que o complexo seja utilizado, e bem utilizado, deve ser conferido um traçado configu-racional a seu espaço livre. Como não se trata de uma obra de revitalização ou restauro de jardins, entende-se que a proposta virá unicamente a direcionar os flu-xos entre equipamentos de modo a estimular o bom uso do complexo por seus visitantes. A intervenção não deve, ser invasiva ou mui-to chamativa, deve respeitar o aspecto de sítio não agredindo a paisagem e a visibilidade dos bens. Deve ainda, levar em conta “as linhas espontâneas defini-das pelo trânsito e que orientam a instalação de novos caminhos” (DELPHIM, 2005, p. 89). A iluminação externa e interna também deverá ser considerada pois com isso, aumenta-se a possibili-dade de usos no local, providenciando uma sensação de segurança maior para sua visitação noturna. Deve-

7.3 TRATAMENTO PAISAGÍSTICO:

Fortalecimento da identidade local: princípios de projeto

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7.4 SINALIZAÇÃO E MOBILIÁRIO EFICIENTES

A programação visual do complexo deverá ser desenvolvida de maneira didática, pois uma boa sina-lização pode atuar como medida educacional e pre-ventiva, muito mais eficiente contra atos de interfe-rências indesejadas no Sítio que políticas repressivas de policiamento, por exemplo. Equipamentos como lixeiras, banheiros, ban-cos e demais mobiliários devem ser posicionados de maneira estratégica, compreendendo-se a ligação de fluxos e caminhos entre os pontos mais utilizados pe-los visitantes:

A parte casos extremamente desequilibrados, pequenos atos destrutivos podem ter origem ou ser facilitados por deficiências do próprio sítio ou de sua administração. Um sistema de circulação mal planejado, mapas pouco claros, ausência de zonas de sombra ou locais para sentar, falta de banheiros adequados, tudo isso pode confundir e irritar os visitantes que rea-girão agredindo o ambiente dos jardins. (DEL-PHIM, 2005, p.48)

A partir disso, entende-se como de extrema ne-cessidade um trabalho de identificação dos elementos do Sítio, acompanhado sempre da documentação fo-tográfica e descrição do estado em que se encontra-vam em períodos anteriores a grandes intervenções.

se considerar sempre a estrutura e a fiação de maneira mais discreta possível e levar em conta a situação das raízes e copas de árvores no local. O nível de iluminação deverá também ser bem planejado, evitando-se a criação de uma sensação ar-tificial da contemplação, pois: “Não se deve impedir a possibilidade de uma percepção poética da nature-za que somente é possível, para o homem urbano, em tais áreas [parques e jardins].” (DELPHIM, 2005, p. 92). Isto posto, adianta-se que uma das diretrizes assumidas para fins desta intervenção, será a utiliza-ção do projeto de arquitetura paisagística elaborado pelo Arquiteto Ricardo Bezerra e sua equipe para o Projeto Alagadiço Novo: Casa de José de Alencar em 2005. O programa utilizado pelo Arquiteto e as mu-danças empreendidas pela proposta ora apresentadas serão discutidos no tópico de diretrizes projetuais ur-banas mais a frente.

Sítio Alagadiço Novo: O patrimônio como instrumento urbanístico

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7.5 VALORIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO

Já ressaltada anteriormente, a importância da valorização da educação como instrumento para o melhor uso e preservação do Sítio é imprescindível. A parceria com entidades de ensino e pesquisa, como a Universidade Federal do Ceará (UFC), é fundamental para a formação de convênios e trabalhos de pesquisa científica em diversas áreas: história, literatura, arqui-tetura, paisagismo, botânica, etc. Isto será visto mais a frente, no capítulo sobre a formação da Fundação Casa de José de Alencar. A solidificação dessa relação trará ganhos para o bem-estar de todo o Complexo, principalmente se for estabelecido de forma a promover uma integração maior com a comunidade, por meio de exposições de trabalhos, aulas, programas educacionais que envol-vam escolas públicas e mais. Propõe-se ainda o estímulo à publicações pe-riódicas, seria outra ação de grande interesse para o Sítio, com a publicidade dos eventos e estudos reali-zados, a população se desenvolverá maior senso de apropriação para com o parque.

Fortalecimento da identidade local: princípios de projeto

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Estudos realizados na área de planejamento cultural e, sobretudo, acerca de projetos urbanos que têm como fundamento o viés cultural, demonstram que a implantação de equipamentos de alto potencial difusor cultural, auxiliam na incorporação de novos usos do espaço ao promover, e resultam no desejado processo de reestruturação da lógica social local. Mais do que isso, projetos urbanísticos, como dos distritos culturais e outros que apresentem essa mesma essên-cia, atuam a partir de conceitos fortes como a valori-zação da educação e do fortalecimento da identidade regional, elementos importantíssimos para geração de uma maior apropriação do espaço pelos residentes da comunidade imediatamente próxima e mesmo do res-tante da cidade. Sabendo disso, e reiterando a inegável impor-tância de José de Alencar para a comunidade cearen-se, não há então outro viés, através do qual se aborde adequadamente a missão de um novo equipamen-to dentro do Sítio Alagadiço Novo, se não a partir da pesquisa e da disseminação do trabalho do escritor. Dessa maneira, assumo a proposta de instalação da Fundação Casa de José de Alencar, retomando a idéia seminal lançada no I Simpósio Nacional Casa José de Alencar mencionado anteriormente. De maneira geral, o objetivo deste trabalho é implementar nesse equipamento a função de uma casa de cultura, ou melhor, casa de trocas culturais e, principalmente, de exaltação da figura de Alencar e de suas obras, bem como da discussão sobre a história regional local e da literatura nacional. A promoção de atividades que incentivem a aproximação da comuni-dade local com seu passado deverá servir como meca-nismo propulsor da descoberta de antigos laços que aos poucos foram desfeitos devido aos anos de aban-dono e desinteresse em relação ao complexo histórico trabalhado e seu entorno. Acredito que tal equipamento somado a me-lhoramentos na infraestrutura circundante, poderá agir como mecanismo catalisador de mudanças ur-banas e sociais, pois atuará, nas palavras de Jackson, Kabwasa-Green e Herranz (2006), como uma organi-zação-pilar onde irá convergir a participação de vários setores da comunidade local, fator determinante para a intensificação da vitalidade cultural no bairro.

8. FUNDAÇÃO CASA DE JOSÉ DE ALENCAR

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Ao buscar a promoção de impactos benéficos na vitalidade cultural do bairro José de Alencar, procu-ro dessa maneira demonstrar a possibilidade de trans-formação existente para a dinâmica social pré-estabe-lecida através da modificação de sua identidade local. Proponho a implantação de muito mais que uma fun-dação de pesquisa no futuro distrito cultural, em ver-dade, vejo este equipamento como o acionamento de um gatilho que levará a diversas mudanças no modo de vida da população local e ao seu desenvolvimento sustentável. A Fundação Casa de José de Alencar deverá aproximar-se de propostas lançadas por fundações culturais brasileiras, tais como a Casa de Cultura Mário Quintana no Rio Grande do Sul, complexo que mantém viva a obra do escritor enquanto projeta a importante herança arquitetônica sulista representada pelo anti-go Hotel Majestic (ver figura 34). Essa Casa, entidade ligada à Secretaria de Cultura do Estado, além de acer-vos compostos por obras de diversos artistas plásticos brasileiros, abriga também teatros, bibliotecas e uma série de outros espaços propícios para a promoção de trocas sociais e difusão da cultura riograndense. De maneira similar trabalha a Fundação Casa de Jorge Amado em Salvador, instituição de renome e marco do ciclo cultural da capital baiana. Apoiada, inclusive financeiramente, pelo Ministério da Cultura, Banco do Nordeste e outros, a Casa de Jorge Amado está situada em pleno centro histórico e também as-

Fundação Casa de José de Alencar

8.1 O NASCIMENTO DE UMA CASA DE CULTURA E OS EXEMPLOS BRASILEIROS

Figura 34: Casa de Mario Quin-tana, Porto Alegre, RS. FONTE: http://www.cultura.rs.gov.br/

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Figura 35: Casa de Jorge Amado, Sal-vador, BA. FONTE: http://www.cultura.rs.gov.br/

Figura 36: Casa de Rui Barbosa, Rio de Janeiro, RJ. FONTE: www.casaruibarbo-sa.gov.br/

sume a responsabilidade de tornar o patrimônio arquitetônico da cidade elemento meritório de cuidado e exaltação. Dentro de seus objetivos esta fundação busca promo-ver estudos e pesquisas sobre a vida e obra de Jorge Amado e sobre a arte e literatura baianas em geral. Muito além disso a “Casa de Jorge Amado tem também como missão a criação de um fórum permanente de debates sobre cultura baiana – especialmente sobre a luta pela superação das discriminações raciais e sócio-econômicas.” Nota-se então o claro viés da luta pelo desenvolvimento através do investimento na identidade cultural regional. Foi, no entanto, a já mencionada Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB) que serviu de inspiração maior à conceituação do equipamento que, na minha proposta, irá agraciar o distri-to e o bairro José de Alencar e a cidade de Fortaleza. A FCRB localiza-se em um elegante palacete na cidade do Rio de Ja-neiro o qual, de fato, foi a morada do escritor e economista Rui Barbosa, da mesma maneira que o Sítio Alagadiço Novo foi par ao romancista José de Alencar, e atende ao objetivo principal o “desenvolvimento da cultura, da pesquisa e do ensino cum-prindo-lhe, especialmente, a divulgação e o culto da obra e da vida de Rui Barbosa”, expresso no artigo 4º da Lei 4.943, lei de criação da entidade. Dentre suas várias atividades está a produção e difusão de estudos sobre documentação e preservação de bens cultu-rais, a realização de seminários em diversas áreas relacionadas á cultura e mesmo a formação de profissionais através de cur-sos de pós-graduação em preservação do patrimônio cultural. É inegável a importância crescente que adquire em nível nacio-nal a Casa de Rui Barbosa, tanto que há pouco mais de um ano foi lançado concurso de arquitetura para a criação da sua nova sede que abrigará o precioso arquivo da fundação. O escritório Grupo Arquitetura foi o responsável pelo projeto vitorioso a ser construído nos próximos anos. É importante ressaltar que, diferentemente dos exem-plos mencionados, o Sítio Alagadiço Novo não apresenta de forma alguma a infraestrutura necessária para receber ativi-dades relacionadas à pesquisa e ao fomento cultural e muito menos possui a representatividade necessária a um complexo cultural que funcionará como plataforma de visibilidade da fi-gura de José de Alencar para o mundo. Admitindo que uma arquitetura signo possa trabalhar como elemento modelador da imagem de uma localidade, a ideia se ajusta perfeitamente ao que se pretende para esse novo espaço da cidade, representado pelo distrito cultural José de Alencar, que é a busca pela definiçãoo e difusão de uma identidade cultural forte o suficiente para fazer nascer a cons-ciência dessa mesma identidade e espírito de coletividade na comunidade local.

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8.2 AS ATIVIDADES DA FUNDAÇÃO CASA DE JOSÉ DE ALENCAR: COMO FUNCIONARÁ?

Figura 37: Organograma da Fundação Casa de José de Alencar. FONTE: Elaborado pela autora

PRESIDÊNCIA

PROCURADORIA

ASSESSORIAS

AUDITORIA

SECRETARIA GERALADMINISTRACAO

SERVICOS

CENTRO DE PESQUISA

DIFUSAO CULTURAL

Firmada a idéia de incrementar o Complexo Alagadiço Novo com um equipamento aos moldes das casas de cultura descritas anteriormente, há um ple-xo de tarefas a serem executadas para identificar as principais funções que o edifício desempenhará. Esse trabalho deverá ser cuidadoso porque, a partir dessa definição, será estabelecida a relação que manterá com o restante do Sítio, baseada no respeito ás con-dicionantes patrimoniais, e se escolherá a linguagem adequada para seu partido arquitetônico. Tendo por função principal difundir a memó-ria e a obra de José de Alencar, não apenas para o público local, mas também para o Brasil e inteiro e o resto do mundo, a Fundação Casa de José de Alencar (CJA), guarda substancial semelhança com a Funda-dação Casa de Rui Barbosa, daí porque tomamos por base sua forma organizacional. Isto posto, entendo que é imprescindível dotar a CJA com um centro de pesquisas com ambientes adequadamente equipados (ver organograma de funcionamento da CJA, - figura 37), de modo que neste local os pesquisadores e inte-ressados tenham a atmosfera ideal para desenvolver estudos sobre os diversos aspectos da vida e da obra de José de Alencar. Com abrangência maior, também deverão ser agregados laboratórios de estudos de His-tória, documentação, arquivologia e restauro de docu-mentos. A proposta é que a CJA se firme como entida-de de fomento à produção do conhecimento e dê as condições necessárias aos seus pesquisadores para realizar suas tarefas. Junto a este núcleo de pesqui-sas, proponho a criação de um órgão de difusão cul-tural, responsável por facilitar o contato da CJA com o grande público – e não apenas de iniciados em estu-dos alencarinos – e divulgação da obra do escritor, da história do complexo Alagadiço Novo e da produção científica e cultural da Casa. Prevê-se ainda a instalação de outros equipa-

Fundação Casa de José de Alencar

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mentos de suporte aos principais, tais como tais como área de exposição, da qual uma parte será destinada a uma exposição permanente e multimidiática sobre a vida do escritor, auditório para exibição de filmes e curtas, ou realização de simpósios e eventos e uma bi-blioteca aberta ao público, especializada na obra de José de Alencar e nas produções a seu respeito. As atividades e a manutenção da Fundação serão de responsabilidade do mesmo núcleo admi-nistrativo que venha a fazer a gerência do Sítio Ala-gadiço Novo, de forma que as atividades deste setor e suas ramificações (jurídico, financeiro, RH, etc.) se-jam contempladas no planejamento de atividades do equipamento e no programa de necessidades, de que partiremos com o propósito de elaborar uma solução arquitetônica eficaz, apropriada para o desempenho de suas funções e esteticamente condizente com as atividades que abriga. É interessante destacar, dado o tipo de ativi-dades a serem realizadas e a elevada efervescência cultural e científica que certamente eclodirá em seu interior, que o equipamento terá grandes possibilida-des de estabelecer parcerias com importantes órgãos públicos, como o Ministério da Cultura, ou mesmo fun-cionar como órgão a ele diretamente vinculado, vide exemplo da FCRB. Esse tipo de associação é funda-mental para atingir o sucesso de um empreendimento como este. Levando-se em conta que o Sítio Alagadiço Novo e a Casa de José de Alencar já estão intimamente ligados à Universidade Federal do Ceará, pode-se ver com otimismo a possibilidade desta associação.

O desenvolvimento de uma metodologia de projeto sensível à delicadeza, à antiguidade, à possi-bilidade de destruição da memória e às demais carac-terísticas de um sítio histórico é imprescindível para a implantação adequada de uma possível interven-ção no local. É com essa percepção que traçaremos a seguir as principais diretrizes de planejamento, que orientarão as decisões de projeto, para dar resposta às necessidades do complexo da Fundação Casa de José de Alencar. Antes, porém, esclareço que a conduta assumi-da, na elaboração desta proposta, primará pelo respei-to ao bem patrimonial e seu significado, e ao símbolo que este projeta na paisagem da cidade e no imaginá-rio da comunidade que o utiliza. Concretamente, isso significa cumprir uma série de exigências e se subme-

8.3 DIRETRIZES PARA O PROJETO ARQUITETÔNICO

Sítio Alagadiço Novo: O patrimônio como instrumento urbanístico

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ter às condicionantes expostas pela realidade do Sítio Alagadiço Novo. A primeira delas e mais importante, é necessariamente compre-ender que o novo equipamento a ser implantado no interior do com-plexo não deverá impor-se de maneira agressiva à identidade do Sítio, que preserva seu caráter rústico e até bucólico, fator que nos leva a op-tar por uma composição formal discreta, até mesmo austera, mas não menos elegante. Perseguimos com isto o bom relacionamento entre dois momentos históricos completamente diferentes. A articulação entre a linguagem do edifício e as características do ambiente, a manutenção do skyline do Sítio como ilha verde intraur-bana, também fazem parte das diretrizes incorporadas ao partido, o que interfere, por exemplo, na estrutura organizacional e formal, para não permitir que o edifício suba em altura acima das copas das árvores existentes no local. As espécies são, em maioria, de médio e grande porte, o que nos dá a possibilidade de trabalhar bem, em mais de um nível, sem que haja interferência neste sentido. A localização do equipamento dentro dos limites do Sítio tam-bém é ponto importante a ser decidido. Sabe-se que a maioria das ár-vores centenárias está localizada na porção central do Sítio, entre as ruínas do antigo engenho e o açude - que deverá ser revitalizado. Isto impossibilita a instalação do edifício no local. Já na porção leste do Sítio, com fachada para a Rua Elizeu Oriá, a maioria das árvores é nova tem, fato que dá ao processo de projeto maior possibilidade de ação, pois a intervenção na área significará menor interferência no conteúdo histórico do Sítio. Além disso, ao assumir a tarefa de ampliar o uso de todo o Com-plexo, acabando, assim, com a subutilização das áreas mais afastadas da sede da administração, é de todo pertinente encontrar soluções para ocupar e levar o público a esta porção do Sítio, contribuindo inclusive para a abertura do Complexo, neste ponto, à sua vizinhança direta, afi-nal esta relação, hoje, é praticamente inexistente o que dá vazão a um clima de insegurança e abandono neste trecho imediato da rua. Outra condicionante que se apresenta é a necessidade de divi-dir as funções do equipamento com o edifício projetado por Liberal de Castro, em 1964, localizado às portas da entrada mais importante do complexo. Parte constituinte de um período histórico do Complexo, o prédio representa o símbolo de uma personagem de importância capi-tal para a preservação do bem, que é o arquiteto Liberal de Castro. Este edifício é mantido e protegido pela lei da extensão de tomamento de 2012 e será utilizado para os fins deste trabalho, pois nele se pretende sediar toda a administração do equipamento, como veremos a seguir na organização do programa de necessidades. Por fim, criar uma identidade cultural forte para a Fundação Casa de José de Alencar é também uma das diretrizes mais visadas nes-se processo, a sua sede deve ter significado para o bairro e, mais que isso, deve projetar a imagem deste de maneira a tornar-se marco local e símbolo regional, a ser exportado para as outras regiões da cidade e até mesmo para fora dela. O nascimento deste tipo de significado em um espaço fortalece laços entre este a comunidade em que está inserido, sedimentando uma boa relação de uso e cuidado, exatamente o que as-piramos para o relacionamento entre o Sítio e o Bairro José de Alencar.

Fundação Casa de José de Alencar

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8.4 OBRAS ARQUITETÔNICAS DE REFERÊNCIA

Figura 38: SESC Pompéia, Sáo Paulo, SP. FONTE: http://pt.wikipedia.org/

É inegável que todo trabalho de concepção em arte e, sobretudo em arquitetura, requer do artista, ou do arquiteto certa vivência ou, pelo menos, o conhe-cimento de um determinado número de projetos que lhe digam algo ou, de certa maneira, contribuam para consolidar sua linguagem enquanto projetista. Dessa mesma maneira, há projetos e até mesmo conjuntos inteiros da obra assinada por arquitetos de trabalho reconhecido pela comunidade profissional, que im-pulsionaram e serviram de referência à configuração da linguagem de projeto da Fundação Casa de José de Alencar. Da reflexão sobre as premissas projetuais con-sideradas para a elaboração deste projeto, predomi-nância a sobriedade e até mesmo certa austeridade sobre as demais premissas. Desse modo, pensamos

Figura 39: Sede Museu Rodin, Salvador, BA. FONTE: http://brasilarquitetura.com

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que o edifício deveria surgir simplesmnte, despido de ornamentos ou de elementos chamativos ou de alto gabarito. E assim a integração entre o edifício e o am-biente natural e bucólico do Sítio se daria silenciosa e harmonicamente, ao mesmo tempo em que contri-buiria com uma imagem forte e representativa para a identidade local do bairro. Com essa ideia em mente busquei projetos, em diversas regiões do País, que trabalhassem o pa-trimônio cultural com mais delicadeza e sensibilidade e ao msmo tempo tivessem por meta a identificação de uma identidade urbana, ou que pelo menos se-guissem, em parte, os elementos perseguidos nesta démarche. A investigação me levou a estudar e me espelhar bastante no trabalho realizado pela aclama-da Lina Bo Bardi, no Centro Cultural do SESC Pompéia, em São Paulo, componente da obra do grupo Brasil Ar-quitetura que, ao longo dos anos, firmou-se como um dos escritórios mais importantes e de linguagem mais firme no cenário arquitetônico brasileiro. Também fui substancialmente influenciada por seu vocabulário técnico e arquitetura de extrema elegância e requinte, no escritório Loeb Capote. O trabalho de recuperação e expansão, reali-zado por Lina Bo Bardi na antiga fábrica de tambores da Pompéia na capital paulistana, é obra exemplar no campo do resgate da memória, sobretudo a arquite-tônica. A arquiteta soube agregar a atmosfera conge-lada do passado industrial dos galpões ao seu estilo moderno de construir e transformar o espaço em pal-co de difusão e trocas culturais de grande sucesso. O equipamento é utilizado por moradores e turistas da cidade, aparecendo, hoje, como um dos maiores êxitos no campo da requalificação patrimonial, transformou-se em cartão postal da cidade São Paulo. A essa busca pela integração com o meio e pela definição e/ou ma-nutenção da identidade, deve-se a escolha dessa obra como marco referencial para este trabalho . Em segundo lugar, a arquitetura do grupo Bra-sil Arquitetura exerceu profunda influência na mi-nha maneira de projetar. Primeiro por sua linguagem única, discreta e elegante, pela sabedoria no uso dos materiais e, sobretudo, pela delicadeza e sensibilida-de com que tratam a questão dos edifícios históricos, com os quais trabalharam diversas vezes. Serve de exemplo para o caso em estudo o projeto da filial do Museu de Rodin, em Salvador, Bahia, em que a tarefa de adicionar e interligar um novo pavilhão ao lado de um palacete eclético foi executada com excelência, ao assumir a decisão de implantar um edifício austero, de feições geometricas diretas e interligá-lo ao casarão ornamentado por uma passarela reta, conjunto ao qual se adequou o paisagismo circundante e a circulação

Fundação Casa de José de Alencar

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Figura 40: Pavilhão ecológico da Bayer, São Paulo, SP. FONTE: http://loebarquitetura.com

vertical do casarão. Não apenas por esse projeto, mas também por outros, como o Museu do Pão em Ilópolis, Rio Grande do Sul, e o Conjunto KKKK em Registro São Paulo, pela su-tileza dos projetos e pelo fino trabalho de resgate de uma memória abandonada e criação de identidades locais urbanísticas fortes, o Brasil Arquitetura ocupou lugar insubstituível em minha formação como arquiteta e, sobretudo na evolução do tra-balho ora apresentado. Por último, mas não menos importante, donos de uma linguagem técni-ca impecável, o Escritório Loeb Capote vem se concentrando nos últimos anos na concepção de projetos de “complexidade programática e tecnológica”, adaptando tecnologias de viés sustentável às diversas realidades em que trabalham (o escri-tório possui obras executadas em várias localidades no mundo). A sua linguagem explicitamente industrial e sóbria, a excelência no uso de materiais elegantemente aparentes, como o aço e a madeira, promovem a beleza da interligação de uma ar-quitetura sóbria à leveza e à elegância. Exemplo disso é o projeto do Ecommercial building da Bayer, localizado pró-ximo ao Rio Pinheiros, também em São Paulo, em terreno que possuía mata nativa e no qual foi implantado um pavilhão térreo, para servir de centro de convivência aos funcionários da empresa. O edifício, em leve estrutura metálica, foi “encaixado” en-tre os vãos delimitados pela mata, seguindo uma modulação especialmente desen-volvida para o complexo. Detalhe sensível e que deve ser destacado é a integração da vegetação nos espaços existentes dentro do próprio pavilhão. Essa atenção aos detalhes e à busca de adequação material e formal ao ambiente natural foram as principais características que fizeram desses profissionais e de seu trabalho exem-plos de vocabulário projetual no trabalho de concepção da fundação. Apresentados os princípios projetuais a serem seguidos e as principais refe-rências consultadas, veremos a seguir a definição dos espaços da fundação, como serão configurados e qual será sua relação com o conjunto do Sítio.

Sítio Alagadiço Novo: O patrimônio como instrumento urbanístico

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87Fundação Casa de José de Alencar

8.5 DEFININDO O ESPAÇO: PROGRAMA DE NECESSIDADES

A criação de uma fundação cultural e de pesquisa, como a proposta neste trabalho, pressupõe a articulação de espaços de atividade controlada e fechada ao público, como é o caso dos laboratórios de pesquisa e salas de estudo, e espa-ços abertos à convivência e às trocas sociais entre os diversos visitantes do local. A adequação da transição entre esses tipos de ambientes, sem que isso signifique a imposição de barrei-ras ao cotidiano daqueles que irão utilizar o equipamento, é vista como ponto estratégico desta empreitada. A estruturação das atividades e funções da fundação foi determinada de maneira a organizar os principais tipos de fluxo e a garantir um espaço contínuo e percorrível ao vi-sitante. Ao mesmo tempo, obedeceu-se rigorosamente aos princípios projetuais antes mencioandos aos condicionan-tes expostos na realidade do Sítio, bem como à disposição de acessos e suporte técnico necessário ao desenvolvimento das atividades. A tabela 01, mais a frente, apresenta o demonstrativo de todos os espaços e respectivas áreas, a serem compreendi-dos na edificação, ao que segue uma breve descrição dos es-paços mais significativos e sua importância para o complexo. Unidade administrativa:

Como antecipado, a casa projetada pelo arquiteto Li-beral de Castro dentro do Sítio será utilizada para sediar toda essa primeira parte do programa de necessidades que con-templa as funções administrativas do Complexo e da Funda-ção Casa de José de Alencar. As modificações internas na casa em questão, afim de que esta possa receber as novas funções indicadas, não foram desenvolvidas em detalhe, no entanto, apresenta-se a seguir as plantas da edificação com o zonea-mento atual e uma proposta de setorização futura. As exposições que, atualmente, estão localizadas nesta casa continuarão aí de maneira que todas serão estabelecidas no andar inferior. As atividades administrativas que constam no programa acima somam no total 341 m² e serão distribuí-das no andar de cima, como explicitado na planta, que possui 493 m² de área. A cantina existente será mantida no mesmo local, as-sim como todo o plano de circulação permanecerá o mesmo. O nível mais baixo da casa, onde hoje localiza-se a administra-ção da CJA será revertido em reserva técnica e área de manu-tenção para as obras apresentadas nas exposições da casa. Por fim, as salas localizadas no anexo mais a leste da casa serão revertidas em oficinas e áreas de serviço para ma-nutenção das demais estruturas do Complexo (ver a seguir as figuras 41 a 44 para explicação do zoneamento atual da casa e do zoneamento proposto para que esta seja sede da admi-nistração da Fundação)

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AMBIENTES ÁREA UNIT. (m²)

QTDE ÁREA (FINAL)(m²)

Pres

idên

cia Sala do presidente 15 1 15

Recepção exclusiva 12 1 12

Sala de reuniões 30 1 30

Gab

inet

e

Recepção Geral 12 1 12

Sala Secretário Geral 12 1 12

Salas assessorias 12 3 36

Auditoria interna 12 1 12

Procuradoria 15 1 15

Sala do Conselho 50 1 50

Adm

inis

traç

ão/p

lane

jam

ento

Sala Chefe Administra-tivo

12 1 12

Sala RH 12 1 12

Sala TI 15 1 15

Sala finanças 12 1 12

Ouvidoria 12 1 12

Sala de trabalho ( técni-cos/estagiários)

25 1 25

Arquivo 12 1 12

Apo

io A

dm.

Copa 12 1 12

Almoxarifado 10 1 10

DML 5 1 5

WC masculino 10 1 10

WC feminino 10 1 10

Cent

ro d

e pe

squi

sas

(CP)

Salão de entrada e recepção geral

40,2 1 40,2

Sala diretor científico (com wc)

18,1 1 18,1

Sala de reuniões 22,2 1 22,2

Laboratórios de pesqui-sa tipo 1

25,5 2 51

Laboratórios de pesqui-sa tipo 2

16,5 3 33

Salas multiuso 50 2 100

Sala técnica 27,2 1 27,2

Arquivo Sítio 96 1 96

Almoxarifado/DML 6 1 6

Copa 2,4 1 2,4

[TABELA 01] PROGRAMA DE NECESSIDADESFUNDAÇÃO CASA DE JOSÉ DE ALENCAR

Sítio Alagadiço Novo: O patrimônio como instrumento urbanístico

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AMBIENTES ÁREA UNIT.(m²)

QTDE ÁREA FINAL(m²)

CP

WC feminino (térreo) 8 1 8

WC masculino (térreo) 8 1 8

WC feminino (1 º pavto) 2,8 1 2,8

WC masculino (1 º pav-to)

2,8 1 2,8

Expo

. Tem

porá

ria

Bilheteria 14 1 14

Espaço de exposição 106,5 1 106,5

Docas de carga e des-carga

59 1 59

Depósito geral 24,5 1 24,5

Oficina geral 25,25 1 25,15

Laboratório de restauro 24,2 1 24,2

Reserva técnica 23,5 1 23,5

Hall serviço 24,5 1 24,5

Recepção curadoria 16,2 1 16,2

Curadoria 33,15 1 33,15

Vestiário fem. 12,15 1 12,15

Vestiário masc. 12,15 1 12,15

Estar funcionários 14,3 1 14,3

Expo

. Per

man

ente

Cafeteria/loja 48,8 1 48,8

Bilheteria 12,4 1 12,4

Expo. térreo 86 1 86

Expo 1º pavto. 94,6 1 94,6

Vestíbulo de saída 19,5 1 19,5

WC público (fem.) 11,4 1 11,4

WC público (masc.) 7,7 1 7,7

Aud

itór

io

Foyer 40 1 40

Sala de som/vídeo 10,4 1 10,4

Auditório 174,6 1 174,6

WCs públicos (masc. e fem.) 24 1 24

Bibl

iote

ca

Salão coletivo 143 1 143

Sala bibliotecárias 14,6 1 14,6

Obras raras 14,4 1 14,4

Salas de leitura individ-ual

8,6 2 17,2

Salão de acervo (mezanino) 96 2 96

Recepção c/ guarda-volumes integra salão col. 1 integra salão col.

ÁREA TOTAL (c/ adm.):ÁREA TOTAL (sem adm.):

1962,6

1621,6

[TABELA 01] PROGRAMA DE NECESSIDADESFUNDAÇÃO CASA DE JOSÉ DE ALENCAR

Fundação Casa de José de Alencar

Page 90: Sítio Alagadiço Novo: O patrimônio como instrumento urbanístico

90

BAR

COZI

NH

A

CAN

TIN

ABA

R

19

m2

ATEN

DIM

ENTO

11

,55m

2

COZI

NH

A

27,1

2m2

DES

PEN

SA 1

4,

95m

2

DES

PEN

SA 2

5,

36m

2

WC

FEM

./MA

SC.

ESTA

REX

POSI

ÇÃO

73,3

0m2

PIN

ACO

TECA

59m

2

BIBL

IOTE

CA66

,75m

2

AUD

ITÓ

RIO

66,7

5m2

MA

RCEN

ARI

A

SALA

S D

EAU

LA49

,67m

2

EXPO

SIÇÃ

O91

,95m

2

MU

SEU

242m

2

RT29

,30m

2

AD

MIN

ISTR

AÇÃO

DEP

ÓSI

TO 1

6,

25m

2

DEP

ÓSI

TO 2

34

,43m

2

ALM

OXA

RIFA

DO

8,

88m

2

DIR

EÇÃO

42,9

3m2

SECR

ETA

RIA

27

,56m

2

ARQ

UIV

O

13,2

4m2

DEP

ÓSI

TO7,

75m

2

TÉRR

EO -

SITU

AÇÃO

ATU

AL

ESC

1:50

REA

TO

TAL

- 989

,38m

2

SUBS

OLO

- SI

TUAÇ

ÃO A

TUA

L ES

C 1:

500

ÁRE

A T

OTA

L - 1

092m

2

CIRC

ULA

ÇÃO

SERV

IÇO

PÚBL

ICO

SERV

IÇO

TÉC

NIC

O

Figuras 41 e 42: Zoneamento atual do pavilhao. Esc 1:1.500 FONTE: Elaboradas pela autora a partir da planta obtida junto a UFC

Indicativo de localização dao pa-vilhão detalhado. FONTE: Elab-orado pela autora

0 100 500

N

Sítio Alagadiço Novo: O patrimônio como instrumento urbanístico

Page 91: Sítio Alagadiço Novo: O patrimônio como instrumento urbanístico

91

EXPO

SIÇÃ

O

CAN

TIN

A

SETO

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CNIC

O D

O M

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TÉRR

EO -

SITU

AÇÃO

FU

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ES

C 1:

500

SUBS

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ESC

1:5

00

CIRC

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ÇÃO

SERV

IÇO

PÚBL

ICO

SERV

IÇO

TÉC

NIC

O

AD

MIN

ISTR

AÇÃO

CO

MPL

ETA

EXPO

SIÇÕ

ES

Figura 43 e 44: Zoneamento proposto para a sede administrativa da Fundação. Esc 1:1.500. FONTE: Elaboradas pela autora a partir da planta obtida junto a UFC

Fundação Casa de José de Alencar

Page 92: Sítio Alagadiço Novo: O patrimônio como instrumento urbanístico

92

Centro de Pesquisa:

Espaço no qual serão desenvolvidos estudos sobre a vida e a obra de José de Alencar, onde poderão ser ministrados minicursos e, sobretudo, onde acon-tecerá a produção de todo o conhecimento a ser pro-jetado na forma de publicações, organização de even-tos, simpósios e etc. Este ambiente devera contar com salas dedicadas ao estudo de áreas de conhecimento específicas, salas multiuso de maior dimensão, com o propósito de promover maior interação entre os pes-quisadores e uma sala técnica, onde o material publi-citário da Casa será pensado e elaborado. Além destas acomodações, deve-se prever a locação de uma sala dedicada ao diretor do centro, ou seja, aquele que vai gerir as atividades diretamente relacionadas à produção científica da fundação. O cen-tro de pesquisa define-se como o ambiente de aces-so restrito, já que é destinado ao estudo e atividades intelectuais, e, por isso, exigirá controle à entrada do público em geral.

Arquivo:

Espaço destinado à guarda de publicações e de todo o material científico relevante para o trabalho realizado no centro de pesquisa. Funcionará também como arquivo geral do Sítio Alagadiço Novo, de manei-ra que o precioso material concernente à história de ocupação da região também será incorporado a etse acervo, implicando diretamente na necessidade de in-corporar na forma, acesso e estrutura do contingente o controle necessário à garantia da preservação de seu conteúdo.

Biblioteca:

Aberta ao público geral, a biblioteca será um dos maiores responsáveis por garantir a frequência de visitação do complexo. A idéia principal é que este ambiente forneça um acervo especializado da obra de Alencar ao contar com várias edições de todas as suas obras, publicações traduzidas, resenhas de outros au-tores e outras manifestações pertinentes como revis-tas, jornais e filmes. Mas não apenas isso deverá ser exemplo de qualidade e diversidade no que se refere à literatura, sobretudo a nacional. Deverá contar com ambientes destinados ao estudo coletivo e individual, ao abrigo das obras em geral e, logicamente, com o se-tor de administração e controle especializado.

Sítio Alagadiço Novo: O patrimônio como instrumento urbanístico

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93

Auditório:

Dimensionado para 132 pessoas deverá tam-bém ser usado para eventos de cunho literário e cien-tífico, tais como simpósios, palestras e painéis de discussão. Em longo prazo, seria interessante que a programação da fundação utilizasse esse espaço para a exibição de filmes e curtas relacionados à obra de Alencar e à literatura brasileira em geral de modo a criar um espaço a mais de contato da comunidade com a cultura viva.

Exposição temporária:

Também responsável pelo uso contínuo do complexo pelo público, esse espaço deverá oferecer as condições necessárias para a montagem e rotati-vidade de exposições relacionadas à missão geral da Casa de José de Alencar, ou daquelas que o órgão de curadoria achar pertinente. Sua interligação com o restante do edifício deve considerar a necessidade de acesso e estrutura de serviço adequada, compos-ta de depósitos e oficinas para tratamento das peças pertencentes a exposição vigente e demais locais de trabalho, relacionados à questão da museologia espe-cífica.

Exposição permanente:

Grande trunfo da CJA, esse pavilhão deverá ser o elemento mais exportado nas referências ao com-plexo, uma exposição sofisticada com recursos midi-áticos intrigantes e interativos deverá ser o atrativo principal deste ambiente. Aos moldes das exposições permanentes do Museu da Língua Portuguesa, onde painéis eletrônicos são dispostos em um corredor am-plo e de iluminação controlada, a área de exposição permanente sobre José de Alencar deverá apresentar também esse caráter moderno e dinâmico proposto, inclusive, pelos princípios da Nova Museologia.

Fundação Casa de José de Alencar

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96

A seguir, apresentaremos as principais ideias desenvolvidas neste trabalho, como solução arqui-tetônica eficaz, funcional, cultural e esteticamente harmônico com a realidade apresentada. Para chegar a este resultado, parti da análise de intervenções ar-quitetônicas e projetos eminentemente ligados à he-rança patrimonial, assim como do estudo geral das características do Sítio, da legislação pertinente e do programa desenvolvido para o caso específico. De acordo os princípios de projeto adotados, a solução desenvolvida visa à utilização das porções mal ou subutilizadas do Sítio, onde há, atualmente, acúmulo de lixo e permanente sensação de inseguran-ça devido ao abandono e a falta de cuidados. A área escolhida para a implantação do edifício da Fundação é a porção leste do complexo (ver implantação, figura 51), onde a massa vegetal é um pouco mais densa, mas composta de espécimes vegetais mais jovens, signifi-cando que a intervenção não será tão agressiva. Outro dado importante, a justificar a escolha, é sua proximi-dade com a fachada, o que possibilita a obtenção de melhor dinâmica urbana com sua vizinhança imediata, quando somada à intervenção urbanística nos pas-seios. A idéia principal, a direcionar o processo de concepção do edifício, consiste na criação de pavi-lhões interligados por um espaço contínuo e aberto, configurando uma unidade arquitetônica integrada à natureza exuberante do Sítio, principalmente moder-na e de elegância e beleza austeras e principalmente, que não seja uma imposição chamativa à paisagem e ao bem patrimonial com que se relacionará. Dessa maneira, a escolha se deu por um tipo de arquitetura de influência industrial, de estrutura metálica leve e modulada, com muito uso de madeira, vidro e elementos vazados, tais como brise, ripados contínuos e pérgolas. Tais elementos abrem o interior do edifício ao ambiente externo, o que, somado ao espaço externo contínuo e percorrível, sedimentam a característica de integração completa com o meio. Outro conceito adotado para criar este espaço externo é o de estímulo à interação social e às trocas culturais, uma das razões fundamentais de todo o tra-balho de intervenção. Desta maneira, as funções do edifício serão divididas em pavilhões interligados por um deck, posicionado à mesma altura do piso interno dos ambientes fechados, executado em uma estrutura simples, também metálica, e com encaixe de réguas de madeira. É importante esclarecer que, embora estes ambientes fechados caracterizem-se pela abertura e integração visual com o meio, pelo uso de elementos vazados e transparência, será garantida a utilização

9.1 PARTIDO*

Figura 45 a 50: Evolução do partido em cro-quis. FONTE: Elaborados pela autora.

* Todos os desenhos da proposta arquitetônica para o edifício da Fundação Casa de José de Alencar encon-tram-se no final deste volume, no Apêndice.

Sítio Alagadiço Novo: O patrimônio como instrumento urbanístico

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97

individual e a execução das funções a que são destinados. Para este fim a confi-guração interna e o uso de materiais isolantes e de vedações laterais serão utili-zados, na forma adiante exposta. A necessidade vital de se inserir, nesta solução, uma identidade arquite-tônica que venha a funcionar como símbolo imediato da localidade e da região, também entra também como fator decisivo nas decisões de projeto, ao que se adiciona o dever de expressar o caráter público da fundação e evidenciar sua peculiaridade de lugar produtor de diálogo e conhecimento e, sobretudo, difusor da cultura e tradições nordestinas.

DA IMPLANTAÇÃO

A implantação do edifício se dá de forma clara, com o entrecruzamento de duas lâminas horizontais e lineares de longa extensão (87,5 m norte-sul x 65 m leste-oeste), onde aquela que contém o auditório, biblioteca e centro de pesquisas está alinhada à fachada leste, eixo norte-sul do complexo, com um recuo frontal de 25 m, e a lâmina dos pavilhões de exposição irá cortá-la perpen-dicularmente no eixo leste-oeste. A caracterização da entrada, nesta fachada, ocorrerá pela criação de uma marquise suspensa, seguindo o caminho percorri-do pelo deck, entre o pavilhão do auditório e da biblioteca. O posi-cionamento do edifício, dentro do terreno do Sítio, limita a criação de acessos à fachada leste, daí porque a entrada de serviços de carga e descarga é locada nesta mesma fachada, e segue dentro do Sítio na forma de caminho exclusivo e pavimentado, até o pavilhão de exposições temporárias.

Figura 51: Implantação do edifício . Esc 1:5.000. Ver desenhos técnicos no Apêndice .FONTE: Elaborado pela autora.

M-3040316.1350

C

C

C

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RUA

RUAELIZEU

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DE

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GOMES

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ÁREA DE OCUPAÇÃOSOCIAL T T T T T

TTTTT

T

C-1

C-8

C-19

IMPLANTAÇÃO/ COBERTA

NOVEMBRO/2014

UFC / DAU / TFG 2014.2 01/00

SÍTIO ALAGADIÇO

NOVO:

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA, URBANISMO E DESIGNCENTRO DE TECNOLOGIA

CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

O PATRIMÔNIO COMO INSTRUMENTO URBANÍSTICO

AUTORA: MARINA DE CASTRO TEIXEIRA MAIA

ORIENTADOR: PROF. DR. JOSÉ ALMIR FARIAS

nº des. título do desenho

1/750

escala

prancha:data:

Fundação CJA: proposta arquitetônica

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98

DA INTERAÇÃO COM O CONJUNTO EDIFICADO DOSÍTIO

O edifício sede da Fundação deverá ligar-se aos demais equipamentos do Sítio através dos ele-mentos de circulação horizontal, previstos no projeto paisagístico do Arquiteto Ricardo Bezerra, consisten-tes em caminhos tortuosos e pavimentados, que ligam as áreas mais importantes do complexo uns aos outros e às entradas do Sítio. A extensão do deck sobre também funcionará como elemento de ligação e continuidade de fluxos entre a fundação e o restante do terreno. Aqui também predomina a idéia de manter esses ca-minhos em contiguidade com o deck, para propiciar ao visitante a experiência de apropriação completa do Sítio, mas sem interferência exagerada na paisagem. Daí a implantação de estruturas e elementos visual-mente mais pesados. Os caminhos mencionados serão responsáveis pela tarefa de costurar as diversas por-ções do complexo e manter uma unidade de utilização deste.

Sítio Alagadiço Novo: O patrimônio como instrumento urbanístico

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99

O edifício está configurado da seguinte ma-neira: 5 pavilhões de funções específicas, interligados pelo deck externo e por uma marquise contínuos. A lâmina paralela à Rua Elizeu Oriá (lateral leste do Sí-tio) abriga três pavilhoes, onde estão localizados o au-ditório, seu foyer de entrada e demais estruturas ne-cessárias; o segundo pavilhão abriga a biblioteca com seu salão coletivo de leitura, salão de acervo, áreas de controle e salas das bibliotecárias; por último, nesta lâmina, encontra-se o centro de pesquisa da Funda-ção, com seus laboratórios, arquivo e salas de direto-ria, reunião, etc. Nota-se, na figura 52, a divsão desses espaços por quesito funcional. O auditório e a biblioteca são espaços cuja entrada de visitantes não é restrita; o au-ditório, quando em pleno funcionamento, é aberto ao grande púlbico, assim como a biblioteca no seu coti-diano, por isto são classificados como espaços cultu-rais. O pavilhão do centro de pesquisas, no entanto, possui acesso restrito àqueles que realizam ativida-des e são oficialmente ligados à organização. Por esse motivo o espaço desse pavilhão é classificado como cultural de acesso restrito e associa-se ao arquivo da Fundação e do Sítio. Em relação ao arquivo, é importante esclarecer que, devido à natureza de suas funções, ele foi locali-zado no primeiro pavimento, na porção leste do pavi-lhão, de maneira a ser distanciado da humidade pro-veniente do solo e isolado da insolação forte do oeste. Essas decisões visam ao melhor acondicionamento do material ali depositado. Em seguida, temos a lâmina perpendicular à primeira que segue em direção a oeste e abriga os dois pavilhões de exposição da Fundação. O primei-ro pavilhão do qual se tem contato, a partir do portal de entrada do entrecruzamento das lâminas, é o pavi-lhão de exposições temporárias, aí localizado devido a maior proximidade em relação à via (Rua Elizeu Oria) e à necessidade de se implantar uma saída direta de

1 º PAVIMENTO

TERREO

LEGENDA ESPACOS

CulturaisCulturais restritosSociais

AdministrativosServicoArquivos

Figura 52: Zoneamento volumetrico-funcional. FONTE: Elaborado pela autora

deck (social)

9.2 DISTRIBUIÇÃO DO PROGRAMA

Fundação CJA: proposta arquitetônica

Page 100: Sítio Alagadiço Novo: O patrimônio como instrumento urbanístico

100

carga e descarga ligada a este, afinal, as exposições que tomarem espaço neste local entrarão em um pro-grama de rotatividade que garantirá ao público novi-dades frequentes. A primeira porção desse pavilhão é destinada aos espaços de serviços de carga e descarga, reserva técnica, depósitos e oficinas em geral, a serem utiliza-das no tratamento das peças e montagem das exposi-ções. A porção mais interior do pavilhão é destina-se à área de exposiçoes temporárias. Constitui-se de qua-tro módulos contínuos, representando um corredor contínuo de pé-direito duplo, que é acessado a partir do deck, na lateral sul do pavilhão. Destaco também a locação, na porção nordes-te deste pavilhão, primeiro andar, da sala do curador, personagem fundamental para a organização e o ade-quado funcionamento da sistemática de exposições da Fundação. Esse profissional deve estar em frequen-te contato com a dinâmica de montagem das exibi-ções, por isto sua sala e demais acomodações foram ai implantadas. Finalmente, o último pavilhão desta lâmina é reservado à exposição permanente da Fundação. Essa exposição dedicar-se-á, inteiramente, à vida e à obra de José de Alencar e adotará por modelo o Museu da Língua Portuguesa de São Paulo, em que as exposições são desenvolvidas a partir de mecanismos de multimí-dia, painéis interativos e outros dispositivos. Tendo em vista, pois, a função que desempe-nhará no Sítio e compreendendo que espaços devem ser incorporados a este pavilhão, entendo que sua or-ganização espacial deve ser a seguinte: na sua porção interior (sul) estão localizados espaços sociais aber-tos, como o café a loja e banheiros públicos, no térreo, e a exposição em si, no andar superior, na ala mais ex-terna do pavilhão (a norte), onde é adotado o pé-direi-to duplo.

Sítio Alagadiço Novo: O patrimônio como instrumento urbanístico

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101

Tabela 02: Fluxograma funcional do edificio. FONTE: Elaborado pela autora

**

DireitoRestauro

ArquivologiaHistóriaLiteratura

RECEPÇÃOBIBLIOTECA

EXPO. PERMANENTE EXPO. TEMPORÁRIA

C. DE PESQUISA AUDITORIO

Foyer

Vestiários

Curadoria

Carga e descargaCafé/Loja

Salão coletivo

Sala Bibliotecárias

RecepçãoRecepção

Salas multiuso

Laboratórios

** WCs

Hall Leitura individual

Salão de acervoArquivo

Sala técnica

Diretoria

Sala de reuniões

Obras raras

WCs públicos

Serviço museu

Auditório

Estar serviçoWCs públicos

Sala de vídeo

Espaço exposição

Espaço exposição

Espaço exposição

Bilheteria

Depósito geralOficina geralLaboratórioReserva técnica

DECK - INTERLIGAÇÃO DOS PAVILHOES

LEGENDA

Térreo

1º pavimento

Ligação direta

Circulação vertical

Fundação CJA: proposta arquitetônica

Page 102: Sítio Alagadiço Novo: O patrimônio como instrumento urbanístico

102

Figura 53: Corte 3d do pavilhão da biblioteca. FONTE: Elaborado pela autora

Telha sanduíche de isolamento i= 5%Calha

Vigota de laje alveolar

Laje maciça (4 cm)Isolante

Longarinas

Capeamento

Ripado vertical

Réguas de madeira

Brise em madeira horizontal

ForroPlatibandaTreliças metálicas

COBERTA E MARQUISES

A coberta dos pavilhões é executada a partir da montagem de uma estrutura de treliças metálicas, acima do forro e das vigas e pilares contemplados na estrutura modular. Essas treliças suportam telhas- sanduíche, que caem em duas águas à 5% e que desempenham também o papel de isolante acústico. Essas telhas proporcio-nam o escoamento da água das chuvas diretamente para calhas, posicionadas nas laterais longitudinais dos pavilhões, conforme indicações nos cortes transversais de cada um dos blocos. As platibandas sobem em alvenaria acima da estrutura metalica, acompa-nhando a cumeeira, formada do encontro entre as duas águas da telha sanduíche. Essa estrutura se repete em todas as unidades: auditório, biblioteca, centro de pes-quisas e blocos de exposição (ver cortes nas pranchas do Apêndice). Já a marquise contínua foi elaborada a partir da continuação das vigas trans-versais aos blocos e a ligação destas com outra viga metálica de perfil I, que faz o papel de amarração. Em cada módulo formado por essa estrutura, foram colocadas peças metálias de sustentação e sobre elas posicionada uma telha de poliuretano transparente, para franquear a passagem de luz solar. Ao caimento de cada telha é posicionada uma calha, para direcionar as águas pluviais. Finalmente, abaixo da es-trutura metálica, estão afixadas, com fins estéticos e de sombreamento, finas ripas de bambu repetidas (ver figura 54).

Sítio Alagadiço Novo: O patrimônio como instrumento urbanístico

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103

Longarinas

Réguas de madeira

Brise em madeira horizontal

ForroPlatibanda

ESTRUTURA E MATERIAIS

A estrutura empregada no projeto da Fundação é bastante simples e consiste na modulação de pilares e vigas metálicas em toda a extensão dos pavilhões e no deck. O módulo utilizado é de 5m de eixo a eixo dos pilares. Tanto vigas quanto pi-lares utilizados têm o perfil em I e seus encaixes são executados com chapas de aço, parafusos e soldas, quando necessário. Os eixos estruturais são destacados na planta geral do térreo (ver pranchas no Apêndice) de modo a deixar claro onde existem as conexões entre vigas e pilares. Foram utilizadas vigotas de laje alveolar de 1,25 m de largura em todos os pavilhões, tanto no térreo como no andar superior de cada um. A essas vigotas sobrepõem-se a camada maciça da laje, uma camada de isolante térmico e acústico - fibra de vidro por ex. - e, finalmente o capeamento em textura de madeira. A maioria das vedações externas dos pavilhões é feita em alvenaria de ti-joleira aparente, sempre com a aspiração de dar ao edifício a aparência rústica da arquitetura industrial. Dessa mesma maneira foram construídas as platibandas, po-sicionadas acima das vigas metálicas do pavimento superior. Executadas em tijoleira aparente estas receberão acabamento em concreto no seu topo. No mais, especificamente os pavilhões da biblioteca e do Centro de pesqui-sas que posicionam-se na direção Norte - Sul, estes recebem tratamento de brises verticais na sua fachada leste (ver figura 56) e de brises horizontais na sua fachada oeste, aquela voltada para o açude (ver cortes e fachadas no Apêndice). As divisões internas, à parte, obviamente, as divisórias em vidro, sempre que possível foram construídas em dry-wall objetivando a diminuição da carga sobre a estrutura. Os pavilhões da biblioteca e do Centro de pesquisa possuem divisórias internas em vidro, os demais apenas em dry-wall ou alvenaria. Quanto à caixa d’água e reserva do edifício, esta deverá ser construída na forma de elemento isolado afim de que não exista volume contrastante acima dos pavilhões. Este objeto não será detalhado e deverá ser fruto de cálculos e projetos futuros.

Figura 54: Detalhe da marquise entre os pavilhões da biblioteca e Centro de Pesquisas. Utilização de telha de poliuretano, estrutura metálica e ripado de bambu. FONTE: Elaborado pela autora

Fundação CJA: proposta arquitetônica

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104

DECK

O deck proposto, além de promover a articulação de fluxos entre os pavilhões da edificação, percorrerá ex-tensão razoável da porção leste do Sítio, na medida em que funcionará como elemento paisagístico. Seu dese-nho possibilita a criação de áreas mais abertas e cami-nhos mais estreitos com o objetivo de trazer mais dina-mismo à experiência do visitante e, sobretudo, permitir maior apropriação do ambiente do Sítio. A estrutura deste elemento é composta pela con-tinuação da modulação de estrutura metálica dos edi-ficios sobre a qual são posicionadas transversalmente longarinas, também metálicas, e, finalmente, sobre estas ultimas, niveladas com o piso interno dos pavilhões, são afixadas réguas de madeira em toda a extensão do deck. Em alguns pontos do desenho, devido aos desni-veis do terreno, foram criadas pequenas escadarias, ele-vando ou diminuindo a altura do deck em relação ao nivel zero (nivel dos blocos edificados e das porções do deck que se situam imediatamente proximas a esses. A entrada social do predio tambem é configurada como um prolongamento deste deck coberto continua-mente por uma marquise construida tambem de estrutu-ra metalica e reguas de madeira (ver figura 58).

Figuras 55 – Perspectiva do edificio - entrecruzamento das duas laminas. Aparecem na imagem os pavilhoes das exposicoes temporaria e permanente, da biblioteca e Centro de pesquisa. FONTE: Elaborado pela autora

Sítio Alagadiço Novo: O patrimônio como instrumento urbanístico

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Figuras 56 – Perspectiva do edifício: vista da fachada leste com ripado vertical dos pavilhões da Biblioteca e Centro de pesquisas. FONTE: Elaborado pela autora

Figuras 57 – Perspectiva do edifício: vista da fachada oeste do centro de pesquisa com brise de ma-deira horizontal. FONTE: Elaborado pela autora

Fundação CJA: proposta arquitetônica

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106

Figuras 59 – Perspectiva do deck do edificio, porção tangente ao pavilhão de exposição temporaria. Fachada leste. FONTE: Elaborado pela autora

Figuras 58 – Perspectiva da entrada principal do edificio. Fachada leste. FONTE: Elaborado pela autora

Sítio Alagadiço Novo: O patrimônio como instrumento urbanístico

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107

Figuras 61 – Perspectiva da area de carga e descarga do predio e deck tangencial ao pavilhao de exposicao temporaria (fachada norte). FONTE: Elaborado pela autora

Figuras 60 – Perspectiva do deck entre os pavilhões de exposição. FONTE: Elaborado pela autora

Fundação CJA: proposta arquitetônica

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110

Analisados os conflitos relacionais do Sítio Alagadiço Novo e expostos os princípios projetuais do empreendimento, seguem-se as principais metas e li-nhas condutoras da proposta de intervenção urbana, objetivo deste trabalho. Em primeiro lugar, é importante esclarecer o seguinte: esta intervenção não visa promover diálo-go entre espaços prontos e, muito menos, compor ou preencher um espaço vazio. A análise dos pontos de ruptura do Sítio Alagadiço Novo e dos elementos que lhe conferiam algum tipo de atrito ou reação negati-va ao seu uso e à integração deste com a comunida-de que o abriga, nos mostrou quais são os resultados imprescindíveis que o projeto urbano deve ter neste caso: promover a harmonização entre os fatores ur-banos estabelecidos e os agentes produtores do es-paço local, por meio da preservação e exportação da identidade patrimonial do lugar, para além dos limites físicos impostos pelos muros. Definido o tipo de uso do complexo (Funda-ção Casa de José de Alencar) e ordenadas as funções a serem desenvolvidas no seu interior a partir do tra-tamento arquitetônico e paisagístico, que permite a hierarquização de caminhos e fluxos de visitantes, o destino do Sítio se traduz na possibilidade de promo-ver uma inserção urbana que trabalhe em seu favor, garantindo a manutenção das suas qualidades paisa-gística e patrimonial únicas e assumindo a tarefa de ser o elo que ligará espaços e interesses atualmente conflitantes, promovendo a necessária harmonia en-tre os espaços e a comunidade. Para entender melhor o papel do Sítio nesta situação pode-se dizer, analogamente, que ele será a “linha” da “costura” relacional entre os diversos teci-dos sociais e urbanos adjacentes ao Complexo, e de-verá promover a boa (ou a melhor) convivência daque-les que se utilizam e se utilizarão do espaço. Ou ainda, que o Sítio Alagadiço é o “espelho” do seu próprio fu-turo, já que, dentre as aspirações deste projeto, está a que vê emergir a resignificação da área circundante e imediata, como espaço marcado pela identidade do patrimônio cultural representado pelo Sítio. Harmonizar os diversos fatores inerentes à di-nâmica de inserção urbana do Sítio não é tarefa fácil, mas alguns pontos, nos quais tocaremos de imediato, podem contribuir para a mudança da situação atual. São as diretrizes projetuais de que trataremos agora.

10.1 DIRETRIZES

Sítio Alagadiço Novo: O patrimônio como instrumento urbanístico

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Com relação ao programa de mudanças direcionado ao entorno imediato do Sítio e, de modo geral, ao bairro José de Alencar e seus conflitos, algumas decisões foram tomadas para mitigar os efeitos ne-gativos da relação entre os agentes produtores do espaço no bairro e o bem patrimonial. Com vistas à regularização da malha viária local, algumas re-sidências entraram no plano de remoções e reestabelecimento, pro-posto a seguir no mapa 09. A utilização do terreno de ZEIS de vazio, a oeste da Av. Washington Soares, é um dos trunfos desta proposta de reordenamento territorial e urbano, pois, ainda que a regulamentação destas áreas especiais, bem como a escolha e implantação de tipolo-gias, sejam tema para uma proposta futura, a possibilidade de executar essa ação, sem grandes efeitos danosos á população reassentada, é, de fato, uma escolha positiva para a reestruturação das lógicas urbana e social vigentes, já que esta porque os atingidos continuariam nas ime-diações do bairro. Também serão removidas as construções localizadas nas pro-ximidades do bem patrimonial, sobretudo as que estiverem a sudeste – que, atualmente, já ameaçam a manutenção do perímetro de pro-teção do Sítio - assim como as que já se encontram no terreno de re-assentamento (ZEIS) e todas aquelas que se encontram estabelecidas de maneira precária e sem infraestrutura, na quadra a norte do Sítio Alagadiço, entre a Rua Egídio de Oliveira e a Avenida Maestro Lisboa. Assume-se, pois, a proposta de apropriação dos terrenos da re-ferida quadra, assim como daquela outra, situada a sudeste do Com-plexo, da qual serão retiradas as residências mencionadas. A idéia é que se invista nesse local visando a criação de um espaço verdadei-ramente público, que funcione como transição e portal para mais uma das entradas do Sítio. As edificações removidas, residências, em maioria quase ab-soluta, foram contabilizadas, chegando-se ao número aproximado de 600 construções. Sabendo que a área qualificada com ZEIS de vazio, a qual abrigará as novas tipologias habitacionais, tem, aproximadamen-te, 8,3 ha, conclui-se que, com a realocação das famílias, obteríamos uma densidade de 72 habitantes por hectare, índice considerado baixo para o urbanismo atual e, principalmente, para a situação de desigual-dade sócio-espacial predominante que se apresenta, hoje, em nossas cidades. O cálculo dessa baixa densidade populacional permite vislum-brar o crescimento do empreendimento e a possibilidade de a ZEIS de vazio abrigar, além das famílias realocadas do Sítio, um número bem maior, que podem ser trazidas de outras localidades do bairro. Tal me-dida importará em grandes benefícios para a região, que verá o nas-cimento do que se chama “mistura social” de classes, um dos fatores preponderantes para o aumento da vitalidade cultural e qualquer local e comunidade. Em último lugar, mas ainda nos limites da ZEIS de vazio, será removido tambem o estabelecimento localizado na quadra lindeira às avenidas Washington Soares e Ministro José Américo. Esta quadra dará lugar à futura Estação do METROFOR Casa de José de Alencar de que falaremos mais a frente

10.2 PLANO DE REMOÇÕES

Intervenção urbanistica

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0 100 500

N

LEGENDA

Remoção para reestruturação viária Terreno de reassentamento de habitações

Remoção imediações do bem tombado

Remoção de edificação dentro da área de implantação da Estação METROFOR

Terreno designado para implantação da Estação MET-ROFOR

Quadra designada para uso institucional

Remoção de lotes dentro de quadra designada para usos institucionais

Terreno a ser anexado ao Complexo Alagadiço Novo, onde será criada a Praça Iracema

Mapa 09 – Plano de remoções e reassentamento da proposta urbanística. Esc: 1: 5.000 FONTE: Elaborado pela autora a partir da restituição aerofotogramética de Fortaleza (ano de 2010) e de informações obtidas através de observação do local

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Lançadas as diretrizes projetuais, apresenta-se agora a proposta final de masterplan para a área de in-tervenção (ver mapa 10). Cada aspecto deste plano de mudanças urbanas será detalhado, mas, antes, cumpre fazer uma síntese apanhado das decisões adotadas nesta empreitada. Em decorrência das remoções, abriram-se no-vas vias locais e acentuaram-se os problemas do cru-zamento das Avenidas Washington Soares e Ministro José Américo, os quais foram tratados a partir de ele-mentos de traffic-calming. Aqui vale salientar que, em projeções futuras, esse elemento deverá ser alvo de planejamento e projeto urbanos realizado por pes-soal qualificado da área de mobilidade e engenharia de transportes, pois é clara a necessidade de suprir o nível de fluxo de veículos, que aumenta a cada dia, articulando-o em harmonia com o uso do espaço por pedestres. Também reafirmo a utilização da quadra situ-ada a norte do Sítio Alagadiço, para uso intitucional e a abertura de uma nova praça na quadra situada a sudeste, neste caso, com o objetivo de extrapolar a importância de José de Alencar, para além das barrei-ras físicas do Sítio e sedimentar a identidade cultural almejada para o bairro. A Praça receberá o nome de Praça de Iracema. O entorno imediato do Sítio foi tratado com um desenho que promove reentrâncias em todo o seu pe-rímetro, criando-se uma espécie de promenade, onde a paginação e arborização foram trabalhadas no sen-tido de dar qualidade de uso ao transeunte e mostrar o Sítio como equipamento convidativo ao uso e à per-manência. Todos esses elementos serão detalhados a seguir.

10.3 MASTERPLAN

Figura 62 – Perspectiva da area de intervencao urbana. FONTE: Elaborado pela autora

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Mapa 10 – Masterplan da proposta urbanística. Esc: 1: 5.000 FONTE: Elaborado pela autora

1

5

3

4

2

6

7

LEGENDA

1. Edifício da Fundação Casa de José de Alencar 5. Quadra aberta (institucional)

2. Paisagismo do Complexo 6. Reestruturação viária

3. Espaço de “transição” (passeios) 7. Estação METROFOR CJA

4. Praça de Iracema

Sítio Alagadiço Novo: O patrimônio como instrumento urbanístico

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10.4 REESTRUTURAÇÃO DO SISTEMA VIÁRIO*

O programa empreendido com vistas a reestruturar o siste-ma viário circundante ao Sítio Alagadiço Novo consiste, basicamen-te, no emprego de dois tipos de medidas: a abertura de vias obstru-ídas por construções indevidas e o fornecimento de infraestrutura para as vias locais que se achem sem condições de tráfego, como é o caso da Rua Antônio Gentil Gomes, lateral sul do Complexo. A reestruturação das calçadas das principais avenidas, so-bretudo da Washington Soares, será de extrema necessidade para a adequação do espaço para o pedestre. A idéia é criar para o tran-seunte a possibilidade de percorrer a pé a maior distãncia possível, entre os equipamentos de importância da região. Com essa pespec-tiva, o cruzamento das avenidas Washington Soares e Ministro José Américo foi trabalhado de modo a facilitar e garantir segurança à travessia do pedestre de um lado ao outro da Washington Soares. A mudança de pavimentação e a sinalização horizontal, além dos semáforos, que trabalharão em três tempos, buscam harmoni-zar esse elemento gerador de conflitos e que trazem enorme perigo àqueles que precisam realizar a travessia. As passagens preferen-ciais aos veículos, não eram controladas por semáforo, foram fecha-das, de modo que o motorista precisará esperar a livre passagem, indicada pela sinalização luminosa, mesmo para fazer a conversão da Washington Soares à Ministro José Américo. Provavelmente o fluxo e a densidade do trânsito de veículos na cidade aumentarão no decorrer dos anos, principalmente nesse cruzamento, já excessivamente periogoso e conflituoso. Mas esses fatos deverão ser estudados partir do trabalho de profissionais al-tamente qualificados, do ramo da engenharia de transportes e do estudo dos demais elementos de tráfego. A solução adotada para este trabalho visa a harmonização imediata entre o fluxo de veí-culos atual e a segurança da comunidade que se utilizará do Sítio Alagadiço e demais equipamentos do bairro. Outro elemento que merece destaque é o nascimento do cruzamento entre as Ruas Elizeu Oriá (lateral sul do Complexo), a Rua Tomás Sampaio que foi reestruturada e a via aberta , perpendi-cular à Rua Elizeu Oriá, indicada no mapa 11 como número 2. Com a criação e reestruturação do sistema viário local, ocorrerá o ine-vitável encontro dessas três vias locais, resolvido, neste trabalho, através da implantação de uma rotatória de pequeno porte, com duas faixas de rolamento e emprego de elementos de traffic-cal-ming, como o afunilamento das vias na entrada da rotatoria, uso de canteirtos e a mudança de pavimentação nas faixas de pedestre. No mapa 11 são indicadas no as vias locais abertas e a dife-renciação de cores indica a tipologia de via empregada, estas são identificadas e detalhadas com os desenhos de perfis e caixas de via a seguir. As vias locais, lindeiras ao Sítio Alagadiço Novo, tam-bém foram detalhadas de modo a entender como funcionará a rela-ção do Sítio com sua vizinhança imediata. As Ruas Egídio de Oliveira e Elizeu Oriá foram detalhadas com mais de um perfil de via, para demonstrar o sistema de reentrância dos calçadões em seus diver-sos pontos.

* Ver mapa 11 na página seguinte

Intervenção urbanistica

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(1)

(2)

N

LEGENDA

Mapa 11 – Reestruturação do Sistema viário. Esc: 1: 5.000 FONTE: Elaborado pela autora

Via local aberta tipo 1 (1) Ver detalhe do cruzamento

(2) Ver detalhe do cruzamentoVia local aberta tipo 2

Rua Antônio Gentil Gomes: imple-mentação de infraestrutura

Demais vias circundantes ao Sítio

Sítio Alagadiço Novo: O patrimônio como instrumento urbanístico

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Figuras 63 e 64 – Respectivamente perfil e Caixa de via da Av. Washington Soares (fachada oeste do Sítio). Medidas em metros FONTE: Elaborado pela autora

Figuras 65 e 66 – Respectivamente perfil e Caixa de via da Rua Egidio de Oliveira (fachada norte do Sítio). Medidas em metros FONTE: Elaborado pela autora

2,40 1,05 10,7 1,05 3,00 1,05 10,73,00

11,00 3,00 1,00 2,50 6,00 5,00

Intervenção urbanistica

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Figuras 67 e 68 – Respectivamente perfil e Caixa de via da Rua Elizeu Oriá (fachada leste do Sítio). Medidas em metros FONTE: Elaborado pela autora

Figuras 71 e 72 – Respectivamente perfil e Caixa das vias locais abertas do tipo 1 indicadas no mapa. Medi-das em metros FONTE: Elaborado pela autora

Figuras 73 e 74 – Respectivamente perfil e Caixa das vias abertas do tipo 2 indicadas no mapa. Me-didas em metros FONTE: Elaborado pela autora

Figuras 69 e 70 – Respectivamente perfil e Caixa de via da Rua Antonio Gentil Gomes (fachada sul do Sítio). Me-didas em metros FONTE: Elaborado pela autora

2,00

2,00

6,00

3,00 6,00 6,00 2,00 2,00 3,00 6,00 2,00

2,50 1,00 3,00 4,00 2,00 3,00 6,00 2,50 2,00

Sítio Alagadiço Novo: O patrimônio como instrumento urbanístico

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CRUZAMENTO 1

Figuras 75 – Detalhe do cruzamento entre as avenidas Washington Soares e Ministro José Américo. Esc 1:500. FONTE: Elaborado pela autora

Figuras 76 – Perspectiva do cruzamento entre as avenidas Washington Soares e Ministro José Améri-co. FONTE: Elaborado pela autora

Intervenção urbanistica

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CRUZAMENTO 2

Figuras 77 – Detalhe do cruzamento entre as ruas Elizeu Oriá (lateral sul do Complexo), Tomás Sam-paio e a via aberta tipo 1 , perpendicular à Rua Elizeu Oriá. Esc 1:500. FONTE: Elaborado pela autora

Figuras 78 – Perspectiva do cruzamento entre as ruas Elizeu Oriá (lateral sul do Complexo), Tomás Sampaio e a via aberta tipo 1 , perpendicular à Rua Elizeu Oriá. FONTE: Elaborado pela autora

Sítio Alagadiço Novo: O patrimônio como instrumento urbanístico

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Mapa 12 – Paisagismo interno do Sítio. Esc: 1: 2.500 FONTE: Elaborado pela autora a partir de dados do projeto de arquitetura paisagística do Arquiteto Ricardo Bezerra (2005) e de proposta própria

10.5 CIRCULAÇÃO E INTERVENÇÃO PAISAGÍSTICA

Sobre os elementos e espaços internos do Sítio, o primeiro passo da inter-venção apresentada foi, como já se disse antes, a utilização do projeto de arquite-tura paisagística elaborado em 2005 pelo Arquiteto Ricardo Bezerra para o Sítio Alagadiço Novo. De maneira sensível e orientada no sentido de respeitar os bens históricos e demarcar os principais caminhos utilizados pelo público, o projeto do arquiteto contemplou o programa mapa 18 do anexo onde é mantida a maioria dos elementos existentes atualmente, tais como os estacionamentos a sudeste e a nordeste. A ele são adicionados outros espaços, como a farmácia viva, horta coletiva e um pequeno restaurante próximo ao açude, que deve ser revitalizado para a contemplação do visitante. Com todo o respeito que é devido ao trabalho do arquiteto, profissional de nome e talento reconhecidos por toda a comunidade cearense, entendo que algu-mas mudanças devem ser feitas no espaço do Sítio, a partir do momento em que

(x) ver figuras

(a)

(c)

(b)

Intervenção urbanistica

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assumo a utilização de seu trabalho. Propõe-se a readequação dos elementos apre-sentados, para o fim de realizar a pretendida unidade e adequada utilização do Sítio, o que faço mediante o rol de decisões de projeto adiante expostas, tomadas a partir do traçado do Arquiteto Ricardo Bezerra e da implantação do novo edifício da Fun-dação Casa de José de Alencar, previamente apresentado. Em primeiro lugar proponho a retomada do terreno pertencente à Univer-sidade Federal, mencionado no diagnóstico do Complexo, onde, hoje, encontra-se instalada a Escola de Ensino Fundamental e Médio Iracema, que deverá ser realoca-do em outro terreno, como veremos mais a frente. Esta decisão visa à retomada da unidade do complexo e à extinção do conflito de usos ora existente, além da neces-sidade de criar espaço para a implantação da extensão do edifício da Fundação, e de reconfigurar os passeios das fachadas Norte e Leste do Complexo. Seguindo esta mesma lógica, serão excluídos os estacionamentos existen-tes, localizados a nordeste e a sudeste, e a respectiva área será incorporada ao pro-jeto paisagístico. A entrada de automóvel no Sítio não condiz com os princípios ado-tados de respeito à escala humana e do princípio segundo o qual deve prevalecer, em primeiro lugar, a utilização do local como espaço verde e público, direcionado ao propósito cultural e científico. A retomada desses espaços possibilitará também a abertura de dois dos portais de entrada, os quais serão devidamente redesenhados e sinalizados. O trabalho de paginação desenvolvido para a área da casa destinada à ad-ministração da Fundação será mantido, assim como os caminhos que interligam os bens (com algumas modificações, para atender à necessidade de acesso ao edifício da Fundação e aos demais portais criados), a horta comunitária, a farmácia viva, o açude e o novo restaurante a ser instalado em suas margens. Quanto ao plano de vegetação interno, também será mantido de acordo com o projeto considerado, o qual prevê a implantação de novas espécies nas proximida-des da sede administrativa e a manutenção da vegetação espontânea do restante do Sítio, elemento que configura um dos fatores mais importantes na valoração patri-monial e paisagística do local. Dessa maneira, o plano de arborização a ser apresen-tado nesta proposta resume-se às espécies que serão implantadas nos ambientes que extrapolam as barreiras de controle do Sítio, ou seja, nas vias, passeios e qua-dras contempladas pela intervenção.

(a) Figura 79 – Sede administração da Fundação e paisagismo de entorno do edifício FONTE: Imagem elaborada pela autora a partir do projeto de arquitetura paisagística do Arq. Ricardo Bezerra

Sítio Alagadiço Novo: O patrimônio como instrumento urbanístico

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(b) Figura 80 – Horta comunitária e farmácia viva, elemento contemplado pela proposta de arquitetu-ra paisagística do Arquiteto Ricardo Bezerra. FONTE: Imagem elaborada pela autora

(c) Figura 81 – Caminhos entre equipamentos. Proximidade das ruínas FONTE: Imagem elaborada pela autora

Intervenção urbanística

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10.6 ENTORNO IMEDIATO E ENTRADAS DO COMPLEXO

Mapa 13 – Promenade circundante, elementos de paisagismo do entorno e entradas do Complexo. Esc: 1: 5.000 FONTE: Elaborado pela autora. OBS: A arborização tangente às ciclovias e ciclofaixas, bem como aquela do interior do Sítio não estão visíveis nesta representação para possibilitar a melhor visualização do traçado proposto.

N

Acessos sociais(x) Ver imagens

Perfis(x) Ver imagens

Acesso de serviço(x) Ver imagem

(a)

(b)

(d)

(e)(f)(g)

(c)

(2)

(3)

(4)

(5)

(1)

As “bordas” do Sítio, traduzidas na região de contato direto do bem com o meio urbano e, como tal, a área mais conflituosas e de manejo mais difícil, foram trabalhadas no sentido de reduzir essa relação de atrito com a vizinhança imediata e gerar novos espaços de passagem, permanência e contemplação para os visitantes e para a própria comunidade. A criação da promenade que cinrcunda o Sítio, busca fortalecer a representa-tividade que emana do bem, pois a situação atual do entorno só reforça o desapreço da vizinhança: há apenas uma entrada na Rua Antônio Gentil Gomes, falta estrutu-ra de passeios e a visão interior do Sítio está quase completamanente bloqueada, comprometendo, por este modo, a possibilidade de desenvolvimento de relações afetivas entre a comunidade e o Sítio.

Sítio Alagadiço Novo: O patrimônio como instrumento urbanístico

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Nesta intervenção, o alargamento dos passeios acontece, em determinados pontos, nas laterais norte e leste do Sítio, onde havia a possibilidade de se aden-trar no espaço do bem sem causar grandes prejuízos à flora interior. Essas duas laterais são foco de muita in-segurança, daí a necessidade de se criar um elemento que articule a vida comunitária, o uso do equipamento cultural e o fluxo de veículos. A criação desses corre-dores verdes veio justamente para resolver essa pro-blemática e reconciliar o Sítio Alagadiço com a cidade. O passeio da lateral oeste do Sítio (margeado pela Avenida Washington Soares) encontra-se muito próximo à casa natal de José de Alencar, o que levou à tomada de decisão de alargá-lo em apenas três metros (guarnecendo-o com a ciclovia), de maneira que essa definição não configura ameaça ao bem patrimonial. Além disso, a arborização interior nesta porção, já pre-vista no projeto do Arquiteto Ricardo Bezerra, propõe-se a configurar um renque mais fechado de árvores, com vistas ao amortecimento de quaisquer impactos sobre a pequena construção, sejam eles de poluição, de vandalismo e até mesmo da poluição sonora. O passeio da Rua Antônio Gentil Gomes (lateral sul do Sítio) não pôde ser alargado em nenhum ponto, devido à proximidade com o pavilhão construído pela UFC no interior do Sítio. A porção imediatamente in-terior aos muros, nesta lateral, corresponde à area de serviço do restaurante, de oficinas e da própria horta comuniária mais a leste. Dessa maneira a única ação de projeto tomada para este espaço foi a implantação da paginação, que vem contínua e circunda homoge-neamente todo o perímetro do Sítio, e o plantio de árvores de médio porte de modo a garantir sombra e proteção ao pedestre. Quatro entradas foram abertas para o acesso ao interior do Sítio: a primeira localizada onde hoje está a única entrada em funcionamento hoje, a sudoeste; a segunda, na Rua Egídio de Oliveira; a terceira na Rua Elizeu Oriá (leste), a qual dará acesso direto ao prédio da Fundação Casa de José de Alencar; e, finalmente, a quarta, localizada a sudeste, com acesso através da Praça Iracema. Cada uma dessas entradas deverá ser configurada como um portal, onde o visitante experi-mentará a sensação de chegada a um lugar diferencia-do. Cada entrada será nomeada a partir de uma obra do escritor José de Alencar, fato evidenciado com o posicionamento de totens de cobre, com a gravação do nome Sítio Alagadiço Novo e o nome da entrada em questão. Finalmente, quanto às barreiras que encontra-das entre o Sítio e seu exterior, foram tomadas a de-cisões a seguir expostas. A fachada oeste, margeada pela Avenida Washington Soares, será contemplada

Intervenção urbanística

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com gradil em metal pintado de verde, que seguirá uniforme por toda a extensão do passeio nessa lateral. Seu objetivo sedimentar a identidade de ilha verde e de marco paisagístico já existente no Complexo. Este aspecto deve ser evidenciado para o transeunte neste que é o ponto de contato mais representativo entre o Sítio e a cidade. O mesmo procedimento será adotado para a lateral oeste, fachada da Rua Elizeu Oriá, onde o gradil também será utilizado, com a abertura de dois aces-sos, sendo um deles de serviço, para carga e descarga de material do museu. O uso do gradil nesta lateral deve-se, além da busca por uma relação mais aberta com a vizinhança, à aspiração de projetar a arquitetura do edifício da Fundação para o seu entorno. É que a Fundação está implantada no interior do Sítio, sem li-gação direta com as vias e esta é a única possibilidade de abertura para evidenciar sua arquitetura no meio externo. Por fim, as laterais norte e sul do Complexo fo-ram divididas por um muro de alvenaria alto, coberto com plantas do tipo “trepadeira” ou hera. A solução visa o fechamento parcial do complexo ao seu exte-rior, com fins de segurança e maior possibilidade de controle por parte do corpo de funcionários. A “pare-de viva”, no entanto, é elemento esteticamente agra-dável e casa com os demais elementos paisagísticos empregados no projeto.

Pavimentação dos passeios: Concreto pigmentado A pavimentação dos passeios é contínua em todo o entorno do Sítio e é composta por faix-as transversais desiguais de diversas cores. Esse efeito será dado a partir do uso de uma solução simples que é o uso do concreto pigmentado moldado in loco. Esta técnica, a revista TECHNE de-fine como:

“Uma solução que pode agregar valor estético ao concreto é a adição de pigmentos. Seja em pavi-mentos ou elementos estruturais aparentes, a técnica dispensa a aplicação de revestimentos, o que, em tese, significa economia, agilidade e menor exigência de manutenção. No entanto, embora apresente resistência e desempenho semelhantes ao concreto cinza, a utilização de concreto col-orido exige maior controle tecnológico e alguns cuidados especiais, sobretudo durante a produção do concreto e a execução da estrutura.” FONTE: http://techne.pini.com.br/

Sítio Alagadiço Novo: O patrimônio como instrumento urbanístico

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LATERAL OESTE(Av. Washington Soares)

(a) Figura 82 – Perfil da lateral oeste (Av. Washington Soares). Esc: 1: 250 FONTE: Elaborado pela autora.

Árvores de médio porte

Figura 83 – Perspectiva da lateral oeste do Complexo (Av. Washington Soares) com a utilização dos gradis, nova pavimentação e ciclovia arborizada. FONTE: Elaborado pela autora.

(1) Figura 84 – Perspectiva da primeira entrada social do Complexo (Av. Washington Soares x Rua Antonio Gentil Gomes) . FONTE: Elaborado pela autora.

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LATERAL SUL (Rua Antônio Gentil Gomes)

Árvores de médio porte

(b) Figura XX – Perfil da lateral sul (Rua Antônio Gentil Gomes). Esc: 1: 250 FONTE: Elaborado pela autora.

Figura 85 – Perspectiva da lateral sul do Complexo (Rua Antonio Gentil Gomes) com a utilização de paredes vivas (muros com hera), nova pavimentação, arborizacao e ciclofaixa na pista. FONTE: Elaborado pela autora.

(2) Figura 86 – Perspectiva da segunda entrada social do Complexo (Praça de Iracema) - detalhe a seguir). FONTE: Elaborado pela autora.

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LATERAL LESTE(Rua Elizeu Oriá)

(c) Figura 87 – Perfil da lateral leste (Rua Elizeu Oriá). Esc: 1: 250 FONTE: Elaborado pela autora.

Árvores de médio porte

Figura 88 – Perspectiva da lateral leste do Complexo (Rua Elizeu Oriá) com a utilização dos gradis, nova pavimentação e ciclovia arborizada. FONTE: Elaborado pela autora.

(3) Figura 89 – Perspectiva da terceira entrada social do Complexo (Rua Elizeu Oriá) que dá acesso direto à Fundação Casa de José de Alencar . FONTE: Elaborado pela autora.

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LATERAL LESTE(Rua Elizeu Oriá)

(d) Figura 90 – Perfil da lateral leste (Rua Elizeu Oriá). Esc: 1: 250 FONTE: Elaborado pela autora.

Árvores de médio porte

Árvores de grande porte

Figura 91 – Perspectiva da lateral leste do Complexo (Rua Elizeu Oriá) com a utilização dos gradis, nova pavimentação e ciclovia arborizada. FONTE: Elaborado pela autora.

(4) Figura 92 – Perspectiva da entrada de serviço do Complexo (Rua Elizeu Oriá) que dá acesso direto à área de carga e descarga do pavilhão de exposições temporárias. FONTE: Elaborado pela autora.

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LATERAL NORTE(Rua Egídio de Oliveira)

(e) Figura 93 – Perfil da lateral Norte (Rua Egídio de Oliveira) com corte do palco e vista da parede verde (muro com hera). Esc: 1: 250 FONTE: Elaborado pela autora.

(f) Figura 94 – Perfil da lateral Norte (Rua Egídio de Oliveira) . Esc: 1: 250 FONTE: Elaborado pela autora.

(g) Figura 95 – Perfil da lateral Norte (Rua Egídio de Oliveira) com corte de can-teiro. Esc: 1: 250 FONTE: Elaborado pela autora.

Árvores de médio porte

Árvores de médio porte

Árvores de médio porte

Árvores de grande porte

Árvores de grande porte

Árvores de grande porte

Figura 96 – Perspectiva da lateral Norte do Complexo (Rua Egidio de Oliveira) com vista do pequeno palco, parede verde e ciclovia arborizada . FONTE: Elaborado pela autora.

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(5) Figura 97 – Perspectiva da quarta entrada social do Complexo (Rua Egidio de Oliveira) . FONTE: Elaborado pela autora.

Figura 98 – Perspectiva da lateral Norte do Complexo (Rua Egidio de Oliveira) com vista para uma das reentrâncias do muro verde, do canteiro e ciclovia arborizada. FONTE: Elaborado pela autora.

Sítio Alagadiço Novo: O patrimônio como instrumento urbanístico

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133Intervenção urbanística

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10.7 ARBORIZAÇÃO

Espécies de palmeiras presentes na obra Iracema

Figura 99: Palmeira Jussara. Atinge de 5 a 15 metros. FONTE: http://www.qualea.com.br/

Figura 100: Buriti. FONTE: http://minhasfotosdeaves.blogspot.com.br/

Figura 101: Carnaúba. FONTE: hhttp://pt.wikipedia.org/

Como mencionado anteriormente, a arbo-rização do interior do Sítio será mantida como no projeto do Arquiteto Ricardo Bezerra que, de uma maneira geral, interfere o mínimo possível na ve-getação espontânea presente no Sítio. Ressalto o plantio de um renque de árvores de médio porte - de alguma espécie já existente no Complexo - tangente ao gradil da lateral oeste (Av. Washington Soares), de modo a amortecer os impactos da poluição (sonora, de resíduos, etc) in-cidentes sobre os bens históricos próximos: a casa natal de José de Alencar e as ruínas do engenho. Quanto à arborização da promenade circun-dante ao Sítio, esta será realizada com espécies si-milares áquelas de seu interior com o objetivo de não impactar de maneira negativa a paisagem. Um segunda segunda característica que pode ser observada nas secções apresentadas de cada lateral do complexo é a alternância entre es-pécies de alto e médio porte. As espécies localiza-das mais próximas aos muros e gradis, no interior da promenade serão espécies de maior porte, en-quanto que aquelas que circundam a ciclovia em todo o entorno do Sítio, serão espécies de porte médio. A decisão de projetar a imagem de José de Alencar e também de suas obras no espaço físico do Sítio terá lugar também na escolha desses es-pécimes vegetais utilizados no projeto paisagís-tico. Para isso, e recorrendo justamente às obras do escritor, ricas na descrição dos ecossistemas cearenses de sua época, serão contempladas no projeto, sempre que possível, as espécies vegetais descritas pelo autor em seus li-vros. A partir da tese de doutorado A etnopoética de Iracema: Diálogo, Ciência e Literatura, de Renata Sartori, podemos identificar e dividir em três gru-pos maiores as árvores que o romancista descreve com sensibilidade em seu clássico Iracema. A par-tir disso, escolhidas as espécies, a ideia é que estas sejam posicionadas e junto a elas afixadas placas e/ou totens onde contenham explicações científi-cas acerca de sua origem e classificação além de trechos das obras de Alencar onde estas aparecem. Além das árvores e arvoretas contempladas na promenade, os caneteiros de concreto ai distri-buídos receberão espécies de palmeiras presen-tes também na obra de Alencar, da mesma maneira identificadas e descritas em plaquetas e/ou totens informativos.

Sítio Alagadiço Novo: O patrimônio como instrumento urbanístico134

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Espécies de grande porte presentes na obra Iracema

Espécies de médio porte/arbustos presentes na obra Iracema

Figura 103: Juazeiro. Chega a 15 metros de altura com copa grande e densa. FONTE: http://www.onordeste.com/

Figura 102: Oiticica. Chega a 15 metros de altura com copa densa. Pode atingir 20 m de diâmetro FONTE: http://cienciahoje.uol.com.br/

Figura 105: Murta. Pode chegar a 7 metros como arvoreta. FONTE: https://sementescaicara.ambientese-guro.net/

Figura 106: Acácia. FONTE: http://www.panoramio.com/

Figura 107: Jurema. Mimosa Tenuiflora FONTE: http://www.farmaconsejos.com/

Figura 104: Jatobá. Pode chegar até 20 metros de altura FONTE: http://belezadacaatinga.blogspot.com.br/

Intervenção urbanística 135

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136

10.8 PRAÇA DE IRACEMA Conceber a quadra situada a sudoeste do Sítio como parte do Complexo e portal de entrada para o equipamento foi uma escolha estratégica, com a fina-lidade de proporcionar à comunidade local espaços de lazer públicos e abertos, sem os naturais controles que se impõem à preservação de um sítio histórico, e, ao mesmo tempo, impedir usos indevidos, que certa-mente adviriam com a fruição do bem por um maior número de pessoas. Para chegar a esta solução, foi muito importante entender a diferença entre os con-ceitos de espaços de domínio público e bens de uso comum do povo, e auxiliou sobremaneira na propos-ta de desenho e implantação de linguagem para esse novo espaço livre. O espaço do Sítio Alagadiço Novo, quando guarnecido de infraestutura paisagística, sinalização e de usos que acompanhem a magnitude do valor que abriga, torna-se um equipamento cultural e um espaço livre por excelência para toda a comunidade cearense, no entanto, o mesmo bem possui qualidades delica-das, que exigem medidas controladoras de acesso ao seu interior, de maneira que todo o seu perímetro é separado do meio externo através de gradis ou muros. O bairro José de Alencar, no entanto, precisa de espaços abertos e de uso comum do povo, onde as pessoas possam, a qualquer hora, exercer sua cidada-nia e promover trocas sociais e culturais sem interfe-rência pública. Foi a partir desta reflexão que nasceu a idéia de implantar, na referida quadra, uma praça aberta de onde se pode acessar o interior do Sítio atra-vés de um portal a sudoeste. A Praça de Iracema, que também tem a função de transpor a figura de Alencar para além dos muros do Complexo e fazer com que o bairro José de Alencar assuma uma identidade cultural sedimentada, foi tra-balhada com elementos de arquitetura paisagística so-brepostos. Em um primeiro plano, foram desenhados canteiros, gramados, caminhos e espelhos d’água ge-ométricos, que são interligados através de passagens na mesma pavimentação dos caminhos que dividem os canteiros. Sobre estes elementos foram implanta-das passarelas elevadas, construídas com estrutura de aço e piso de réguas de madeira, com guarda-corpos também de aço e madeira.

Mapa 14 – Indicativo de localização da nova Praça de Iracema, a sudeste do Sítio. Sem escala. FONTE: Elaborado pela autora

Figura 108 – Vista da lateral sudeste da praça. FONTE: Elaborado pela autora

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4. Passarelas em aço e madeira

5. Canteiros de flores

6. Entrada do Complexo

1. Espelhos d’água

2. Caminhos em concreto

3. Canteiros gramados

Figura 109 – Vista da lateral sudoeste da praça. FONTE: Elaborado pela autora

Mapa 15 – Vista superior da Praça de Iracema. Esc: 1: 1.000 FONTE: Elaborado pela autora

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7. Canteiros em pedrisco

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Figura 110 – Perspectiva Praça de Iracema 1. FONTE: Elaborado pela autora

Figura 111 – Perspectiva Praça de Iracema 2. FONTE: Elaborado pela autora

Sítio Alagadiço Novo: O patrimônio como instrumento urbanístico

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Figura 112 – Perspectiva Praça de Iracema 3. FONTE: Elaborado pela autora

Figura 113 – Perspectiva Praça de Iracema 4. FONTE: Elaborado pela autora

Intervenção urbanística

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10.9 PROJETO DE IDENTIDADE VISUAL Reafirmando a necessidade de organizar e adequar os usos

do Complexo pelos visitantes, será implantado um sistema de totens de informação em locais estratégicos do Sítio. Nas entradas serão instalados totens do primeiro modelo, no qual deverá constar o mapa e a lozalização de todos os equipamentos presentes no Sítio, espalhados pelo terreno. Outros totens indicativos e de orientação também serão posicionados de maneira a garantir que os usuários do equipamento não tenham dificuldades de locomoção nem de fruição do quanto o equipamento venha a ofertar. Nas proximidades de cada elemento que o Sítio abriga, os totens deverão identificar demaneira clara o nome, a finalidade e demais informações úteis ao visitante (ver figura 114). Cumpre esclarecer que totens utilizados na sinalização do Sí-tio foram idealizados para o projeto UniverCidade, trabalho de con-clusão de curso da Arquiteta e Urbanista Sofia Cavalcante, que trata da readequação urbana do Campus do Pici. A utilização desse ele-mento foi autorizada pela arquiteta referida e se justifica porque o Sítio Alagadiço Novo é, antes de tudo, um bem imóvel de proprieda-de da Universidade Federal do Ceará, o que me leva a entender que é positiva a extensão da identidade visual de seus campi para seus outros domínios. Já os portais de entrada do Complexo, conforme já se disse anteriormente, foram guarnecidos com totens diferenciados, execu-tados em cobre e com os nomes de cada entrada gravados no metal. Essa diferenciação deve-se a necessidade de marcar com mais repre-sentatividade e elegância as entradas do Sítio (ver figura 115). Empregando a mesma técnica, foram elaborados painéis em cobre gravados com trechos da obra de Alencar para serem afixa-dos nas fachadas norte e sul do complexo, onde foram implantados muros de alvenaria, de onde afloram trepadeiras e heras (ver figura 116).

Sítio AlagadiçoNovo

Sítio AlagadiçoNovo

1Fundação

Casa historica

Administração

Biblioteca

Fund

ação

Cas

a de

José

de

Ale

ncar

Entrada Iracema

Casa hist.

Ruínas

Administração

Entrada

Horta2

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Localização

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Equipamentos

Ruínas do engenho

Sítio AlagadiçoNovo

Figura 114 – Totens informati-vos. FONTE: CAV-ALCANTE, 2013 com modificações da autora

Sítio Alagadiço Novo: O patrimônio como instrumento urbanístico

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A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto dela. Às vezes sobe os ramos da fresca do que o orvalho da noite. OPs ramos da acácia

silvestre esparziam flores sobre os úmidos cabelos,.

floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da oiticica, mais

Figura 115 – Perspectiva da entrada sudeste com totem metálico. FONTE: Elaborado pela autora

Figura 116 – Perspectiva da lateral norte do Complexo com vista para o painel metálico onde são gravados trechos das obras de Alencar. FONTE: Elaborado pela autora

Intervenção urbanística

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10.10 QUADRA INSTITUCIONAL

A quadra situada a norte do Sítio, com facha-das para as Avenidas Washington Soares e Maestro Lisboa e ruas Egídio de Oliveira e Mário de Alencar Araripe, como visto em mapa, deverá ser ocupada com edifícios institucionais, incluive a Escola de En-sino Médio e Fundamental Iracema (EEMFI), retirada da porção noroeste do Sítio. A decisão de ocupar esta quadra com edifícios de uso público funda-menta-se na pretensão de beneficiar o entorno do bem patrimonial com o fluxo contínuo e benéfico de pessoas, de modo a também valorizar o bairro promover maior vitalidade ao espaço. O padrão de ocupação adotado, ainda que não detalhado com parâmetros e índices especí-ficos de ocupação, será estabelecido na forma do modelo da quadra aberta, onde volumes cheios e espaços vazios contrapõem-se de maneira a confi-gurar um espaço acessível e completamente per-meável ao pedestre. Em favor da paisagem local e, sobretudo, da conexão visual e física do Sítio com as áreas ver-des da ZIA da Sapiranga (ver figura 119), o gabarito admitido para os edifícios localizados nesta qua-dra é de térreo + 6. A intensa verticalização neste local, além de representar agressiva interferência na composição paisagística local, oprimiria o tran-seunte e renegaria os princípios do urbanismo ba-seado na valorização humana, premissa seguida vi-gorosamente nesta proposta. A importância dada à apreensão de detalhes pelo pedestre e a criação de novas perspectivas vi-suais, é ponto forte desta proposta, é uma opção de trabalho a ser rigorosamente atendida na abertura e composição desta quadra. O posicionamento das edificações, articulado às áreas ajardinadas devem garantir a possibilidade do circuito pedonal.

Mapa 16 – Indicativo de localização da quadra institucional ao norte do Sítio. Sem escala. FONTE: Elaborado pela autora

Figura 117 – Perspectiva 1 - quadra institucional. FONTE: Elaborado pela autora

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143Figura 118 – Vista de topo da quadra institucional aberta. Esc 1:100 FONTE: Elaborado pela autora

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Figura 119 – Perspectiva 2 - quadra institucional. Nesta im

agem evidencia-se a nova possibilidade de conexão com

a reserva da Sapiranga ao norte do Com

lexo Alagadiço N

ovo. Configura-se um novo circuito pedonal FO

NTE: Elaborado pela autora

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Figura 120 – Perspectiva 3 - quadra institucional. FONTE: Elaborado pela autora

Figura 121 – Perspectiva 4 - quadra institucional. FONTE: Elaborado pela autora

Intervenção urbanística

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10.11 ESTAÇÃO METROFOR CASA DE JOSÉ DE ALENCAR

A análise dos sistemas viário e de mobili-dade do bairro José de Alencar nos permitiu iden-tificar graves problemas de acesso e saída de pe-destres da região. Para solucioná-los, propomos a instalação de uma estação da rede metroviária METROFOR no local, acatando, assim, o projeto ori-ginal da SEINFRA – Secretaria de Infraestrutura do Estado, como elemento catalisador da mudança de feições e de vitalidade no local. O conhecimento universalizado do Sítio Ala-gadiço Novo e o seu adequado funcionamento, es-tão essencialmente vinculados à possibilidade de a população ter acesso livre e locomoção facilitada, especialmente por meios de transporte públicos. Desta maneira, admite-se, para os fins deste proje-to, utilizar parte da ZEIS de vazio, localizada a oeste da Avenida Washington Soares, para nela implantar a Estação Casa de José de Alencar, da linha leste do METROFOR.Mapa 17 – Mapa de localização da quadra da nova

estação METROFOR CJA. Sem escala. FONTE: Elab-orado pela autora

Figura 122 – Vista de topo da quadra onde será localizada a Estação Casa de José de Alencar do METROFOR FONTE: Elaborado pela autora

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11. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A conjugação da proteção do património com o ordenamento do território e os seus instrumentos reforçam a ideia de que uma gestão inteligente dos recursos patrimoniais constitui em diversos territó-rios um dos fatores chave para o seu desenvolvimen-to sustentável, porque atrai turismo, gera atividades e postos de trabalho, e fundamentalmente, reforça a auto-estima das populações. Pretendi, dessa maneira, exemplificar esta pre-missa compreendendo o Sítio Alagadiço Novo sob a luz da valorização patrimonial e histórica, a valoriza-ção da memória de um povo e de seus feitos e, dessa maneira, elaborar um plano adequado de ações para sua melhor utilização. Compreendo também que, ao assumir esses valores do Sítio Alagadiço Novo, a comunidade e os gestores públicos devem aceitar a responsabilidade para com esse patrimônio e os deveres consequentes, relacionados à manutenção digna do local. É de suma importância que a comunidade perceba que não se deve “ter acesso” à cultura, mas, sim, que cultura se constrói, se preserva, se mantém e é a alma da comu-nidade (DE VARINE, 2012), fato que muitas vezes está ligado ao tipo de educação padronizada promovida pelas escolas brasileiras. A comunidade, detentora de um patrimônio deve se ver como responsável direta dessa herança e, com isso, ser capaz de perceber na sua produção passada a motivação para continuar a se desenvolver. É imprescindível que qualquer modelo de ges-tão do patrimônio tenha como foco principal o de-senvolvimento local, a partir da criatividade e do uso que a comunidade detentora fará do elemento patri-monial, pois “uma vez “musealizado” [esse elemento] ficará morto definitivamente” (DE VARINE, 2012, p. 2012). Isto posto, as políticas públicas devem apro-veitar a vocação do Sítio Alagadiço Novo para induzir um processo mais sofisticado de desenvolvimento ur-banístico da região, em que o equipamento seja traba-lhado com vistas a manter-se em permanente contato com a população, a partir de usos constantes e ade-quados.

Sítio Alagadiço Novo: O patrimônio como instrumento urbanístico

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http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Portrait_of_John_Ruskin,_by_Her-bert_Rose_Barraud,_1885.jpg acessado em 23/11/2014 às 21:16

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http://2.bp.blogspot.com/-qfiXJ8weR24/UaTFNAljBjI/AAAAAAAAOSg/UkL-nt9LmUWU/s1600/Alencar.1.jpeg acessado em 23/11/2014 às 22:29

Sítio Alagadiço Novo: O patrimônio como instrumento urbanístico

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Referências bibliográficas

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ESCALA GRÁFICA:

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Av. Washington Soares

Projeto:Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFC

Coordenadorl:Arquiteto Paisagista Ricardo F. Bezerra

Colaboradores/Bolsistas:Beatriz Rufino, Fernanda Lustosa,Haroldo Rates, Sabrina Studart,Túlio Vanini, Wagner Basílio

1. ESTACIONAMENTO

Áreas arborizadas incluindo plataforma de embarque e desembarque para ônibus de turismo. Em cada umdos dois estacionamentos localiza-se um quiosque derecepção e informação.

2. PÁTIO CENTRAL

Grande área de estar ao ar livre, sombreadapor vegetação de grande porte.

3. JARDINS

Áreas ajardinadas preferencialmente comespécies nativas e aquelas citadas nas obrasde José de Alencar.

13. OFICINAS

Conjunto de dependências que compõemos diversos setores de manutenção do Parque,incluindo a área reservada ao pessoal deserviço.

14. HORTALIÇAS

Área reservada ao cultivo de hortaliças,localizada próxima à Farmácia Viva.

15. SERVIÇO

Área reservada para as atividades decarga e descarga de material, complementadapor edícula para armazenamento do lixoa ser reciclado.

16. BOSQUE / ÁREA DE PIQUENIQUE

Área a ser mantida em seu estado natural, reservando-se as espécies de maior porte para servir de proteção para equipamentos de piquenique.

17. MINI ANFITEATRO

Local de animação, sombreado por palmeiras, em forma de pequeno anfiteatro, onde podemser realizadas apresentações relativas à cultura local.

18. ESCOLA ABERTA

Conjuntos de bancos, formando pequenoanfiteatro, localizados estrategicamente dentrodo parque, a serem usados como salas de aula ao ar livre.

4. FARMÁCIA VIVA

Jardim de plantas medicinais, com acesso próprio,incluindo laboratório para fabricação de fitoterápicos,dirigido à população de baixa renda que habita nasproximidades da área.

5. RUÍNAS DA CASA GRANDE

Conjunto de alicerces de uma grande casa,que se extendia até a atual avenida, localizadoem frente da Casa Histórica.

6. CASA HISTÓRICA

Pequena edificação onde nasceu Alencar,é o principal componente e razão maior daexistência do Parque.

7. RUÍNAS DO ENGENHO

Ruínas do primeiro engenho de cana de açúcar, movido a vapor no Ceará, consolidadas a partirde trabalho de prospecção arqueológica. Esteconjunto deve receber uma coberta para garantirsua preservação.

8. RESTAURANTE TÍPICO

Equipamento de apoio às atividades do parque,direcionado à culinária cearense. Situado à beirado lago, o restaurante deve ser um dos pontos básicos da auto-sustentação do Parque.

ESCOLA PÚBLICA

9. PARQUE INFANTIL

Área equipada com brinquedos infantis, cujodesenho evoque cenas dos livros de Alencarou objetos da cultura local.

10. COMPOSTEIRAS

Local para compostagem dos resíduos orgânicosproduzidos no parque, a serem usados comoadubo nas áreas de jardim e na Farmácia Viva.

11. LAGO

Equipamento de grande valor cênico, a serrestaurado e utilizado para atividades de lazer.Uma pequena ponte deve ser construída sobreeste, dando-lhe um atrativo a mais.

12. EDIFÍCIO SEDE

Principal edificação do parque. Nesta se concentramos seguintes setores e serviços:Pinacoteca Floriano TeixeiraConjunto de pinturas alusivas a cenas das principaisobras de Alencar.Biblioteca Braga MontenegroColeção de obras pertencentes ao Prof. BragaMontenegro, destacando-se nesta a literatura brasileira e em especial a cearense.Centro de TreinamentoConjunto de equipamentos que formam um Centro de Treinamento, do qual faz parte um auditório para cerca de 150 pessoas o qual deve ser recuperado, climatizado e dotado de modernos recursos audio-visuais.Museu Arthur Ramos Importante coleção de arte africana e afro-brasileira.Coleção Luíza RamosExtensa coleção de rendas e bicos produzidos no Brasil e alguns no exterior, acrescida de coleção de rendas e bicos produzidos no Ceará, coletada pela Prof. Valdelice Girão.Setor AdministrativoConjunto de salas onde funciona a direção, secretaria e outros serviços ligados à administração da Casa.

No edifício sede deve ser implantado ainda os seguintesequipamentos:

Sala Reitor Martins FilhoSala em homenagem ao criador da Universidade Federal do Ceará. Neste local serão expostos, entre outros, medalhas, condecorações, e documentos importantes alusivos à participação do Reitor MartinsFilho na história da instituição.Livraria da Casa de José de AlencarLocal onde devem ser comercializadas as obras publicadas através do Programa Editorial Casa de José de Alencar além de obras da literatura cearense..

PRINCIPAISEQUIPAMENTOS

LEGENDA

Vegetação arbórea de médio e grande porte

Vegetação arbustiva e herbácea

Vegetação de cobertura

Edificações existentes e a serem implantadas

PAISAGISMOPLANO GERAL

����������������A������P�O���O�ALAGADI O�NOVO

Universidade Federal do CearáPró-Reitoria de Extensão

QUADRO DAS PRINCIPAIS ÁREAS (m2)

Casa HistóricaEdifício SedeRuínas do EngenhoLagoFarmácia VivaRestauranteOficinasEstacionamento PrincipalEstacionamento ServiçoÁrea total do Parque

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ESCALA GRÁFICA:

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Av. Washington Soares

Projeto:Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFC

Coordenadorl:Arquiteto Paisagista Ricardo F. Bezerra

Colaboradores/Bolsistas:Beatriz Rufino, Fernanda Lustosa,Haroldo Rates, Sabrina Studart,Túlio Vanini, Wagner Basílio

1. ESTACIONAMENTO

Áreas arborizadas incluindo plataforma de embarque e desembarque para ônibus de turismo. Em cada umdos dois estacionamentos localiza-se um quiosque derecepção e informação.

2. PÁTIO CENTRAL

Grande área de estar ao ar livre, sombreadapor vegetação de grande porte.

3. JARDINS

Áreas ajardinadas preferencialmente comespécies nativas e aquelas citadas nas obrasde José de Alencar.

13. OFICINAS

Conjunto de dependências que compõemos diversos setores de manutenção do Parque,incluindo a área reservada ao pessoal deserviço.

14. HORTALIÇAS

Área reservada ao cultivo de hortaliças,localizada próxima à Farmácia Viva.

15. SERVIÇO

Área reservada para as atividades decarga e descarga de material, complementadapor edícula para armazenamento do lixoa ser reciclado.

16. BOSQUE / ÁREA DE PIQUENIQUE

Área a ser mantida em seu estado natural, reservando-se as espécies de maior porte para servir de proteção para equipamentos de piquenique.

17. MINI ANFITEATRO

Local de animação, sombreado por palmeiras, em forma de pequeno anfiteatro, onde podemser realizadas apresentações relativas à cultura local.

18. ESCOLA ABERTA

Conjuntos de bancos, formando pequenoanfiteatro, localizados estrategicamente dentrodo parque, a serem usados como salas de aula ao ar livre.

4. FARMÁCIA VIVA

Jardim de plantas medicinais, com acesso próprio,incluindo laboratório para fabricação de fitoterápicos,dirigido à população de baixa renda que habita nasproximidades da área.

5. RUÍNAS DA CASA GRANDE

Conjunto de alicerces de uma grande casa,que se extendia até a atual avenida, localizadoem frente da Casa Histórica.

6. CASA HISTÓRICA

Pequena edificação onde nasceu Alencar,é o principal componente e razão maior daexistência do Parque.

7. RUÍNAS DO ENGENHO

Ruínas do primeiro engenho de cana de açúcar, movido a vapor no Ceará, consolidadas a partirde trabalho de prospecção arqueológica. Esteconjunto deve receber uma coberta para garantirsua preservação.

8. RESTAURANTE TÍPICO

Equipamento de apoio às atividades do parque,direcionado à culinária cearense. Situado à beirado lago, o restaurante deve ser um dos pontos básicos da auto-sustentação do Parque.

ESCOLA PÚBLICA

9. PARQUE INFANTIL

Área equipada com brinquedos infantis, cujodesenho evoque cenas dos livros de Alencarou objetos da cultura local.

10. COMPOSTEIRAS

Local para compostagem dos resíduos orgânicosproduzidos no parque, a serem usados comoadubo nas áreas de jardim e na Farmácia Viva.

11. LAGO

Equipamento de grande valor cênico, a serrestaurado e utilizado para atividades de lazer.Uma pequena ponte deve ser construída sobreeste, dando-lhe um atrativo a mais.

12. EDIFÍCIO SEDE

Principal edificação do parque. Nesta se concentramos seguintes setores e serviços:Pinacoteca Floriano TeixeiraConjunto de pinturas alusivas a cenas das principaisobras de Alencar.Biblioteca Braga MontenegroColeção de obras pertencentes ao Prof. BragaMontenegro, destacando-se nesta a literatura brasileira e em especial a cearense.Centro de TreinamentoConjunto de equipamentos que formam um Centro de Treinamento, do qual faz parte um auditório para cerca de 150 pessoas o qual deve ser recuperado, climatizado e dotado de modernos recursos audio-visuais.Museu Arthur Ramos Importante coleção de arte africana e afro-brasileira.Coleção Luíza RamosExtensa coleção de rendas e bicos produzidos no Brasil e alguns no exterior, acrescida de coleção de rendas e bicos produzidos no Ceará, coletada pela Prof. Valdelice Girão.Setor AdministrativoConjunto de salas onde funciona a direção, secretaria e outros serviços ligados à administração da Casa.

No edifício sede deve ser implantado ainda os seguintesequipamentos:

Sala Reitor Martins FilhoSala em homenagem ao criador da Universidade Federal do Ceará. Neste local serão expostos, entre outros, medalhas, condecorações, e documentos importantes alusivos à participação do Reitor MartinsFilho na história da instituição.Livraria da Casa de José de AlencarLocal onde devem ser comercializadas as obras publicadas através do Programa Editorial Casa de José de Alencar além de obras da literatura cearense..

PRINCIPAISEQUIPAMENTOS

LEGENDA

Vegetação arbórea de médio e grande porte

Vegetação arbustiva e herbácea

Vegetação de cobertura

Edificações existentes e a serem implantadas

PAISAGISMOPLANO GERAL

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Universidade Federal do CearáPró-Reitoria de Extensão

QUADRO DAS PRINCIPAIS ÁREAS (m2)

Casa HistóricaEdifício SedeRuínas do EngenhoLagoFarmácia VivaRestauranteOficinasEstacionamento PrincipalEstacionamento ServiçoÁrea total do Parque

743.500

5724.2843.370

500428

2.4154.293

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