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55 SITUACAO PROFISSIONAL DOS NUTRICIONISTAS EGRESSOS DA PUCCAMP 11.RELAC;OESHIERARQUICAS, ATUAC;Ao PROFISSIONAL, AVALlAC;Ao DA FORMAC;AO RECEBIDA, PERCEPC;Ao DE SI COMO PROFISSIONAL DA SAUDE, ATUALlZAC;Ao E FILlAC;Ao A ENTIDADES PROFISSIONAIS1 Maria Cristina Faber BOOG2 Kcitia Regina Martini RODRIGUES2 Sonia Maria Ferreira da SILVA2 RESUMO 0 presente artigo refere-se a situac;ao profissional de uma amos- tra dos nutricionistas formados pela PUCCAMP, nos anos de 1982 a 1986. Foram levantadas as relac;oes hienirquicas, atuac;ao profissional, avaliac;ao da formac;ao recebida, percepc;ao de si como profissional da saude, atualizac;ao profissional e filiac;ao a entidades profissionais. Pro- curou-se analisar e interpretar os resultados encontrados, buscando explicac;oes para a situac;ao atual no contexto onde 0 profissional atua e na evoluc;ao historica da profissao. Tennos de index~io: nutricionista, egressos, formac;ao univer- sitaria. (1) Pesquisarealizada com verbas obtidas atravesdo Projeto Nova Universidade, do Ministerio da Educac;ao, com assessoria de Cristina Bruzzo, mestranda da Faculdade de Educac;ao da UNICAMP. A parte I, Areas de atuac;ao, estabilidade, abandono da profissao, desemprego, foi publicada na Revista de Nutric;ao da PUCCAMP, 1(2):139-152,1988. (2) Docente do Curso de Nutric;ao da Faculdade de Ciencias Medicas da Pontificia Universidade Catolica. de Campinas (PUCCAMP), contratada em regime de Carreira Docente. R. Nutr. PUCCAMP, Campinas, 2(1): 55-87,jan.jjun., 1989

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    SITUACAO PROFISSIONAL DOS NUTRICIONISTASEGRESSOS DA PUCCAMP

    11.RELAC;OESHIERARQUICAS, ATUAC;Ao PROFISSIONAL,AVALlAC;Ao DA FORMAC;AORECEBIDA, PERCEPC;AoDE SI

    COMO PROFISSIONAL DA SAUDE, ATUALlZAC;Ao EFILlAC;Ao A ENTIDADES PROFISSIONAIS1

    Maria Cristina Faber BOOG2

    Kcitia Regina Martini RODRIGUES2Sonia Maria Ferreira da SILVA2

    RESUMO

    0 presente artigo refere-se a situac;ao profissional de uma amos-tra dos nutricionistas formados pela PUCCAMP, nos anos de 1982 a1986. Foram levantadas as relac;oes hienirquicas, atuac;ao profissional,avaliac;ao da formac;ao recebida, percepc;ao de si como profissional dasaude, atualizac;ao profissional e filiac;ao a entidades profissionais. Pro-curou-se analisar e interpretar os resultados encontrados, buscando

    explicac;oes para a situac;ao atual no contexto onde 0 profissional atua ena evoluc;ao historica da profissao.

    Tennos de index~io: nutricionista, egressos, formac;ao univer-sitaria.

    (1) Pesquisarealizada com verbas obtidas atravesdo Projeto Nova Universidade,doMinisterio da Educac;ao, com assessoria de Cristina Bruzzo, mestranda da Faculdadede Educac;ao da UNICAMP. A parte I, Areas de atuac;ao, estabilidade, abandono daprofissao, desemprego, foi publicada na Revista de Nutric;ao da PUCCAMP,1(2):139-152,1988.(2) Docente do Curso de Nutric;ao da Faculdade de Ciencias Medicas da PontificiaUniversidade Catolica. de Campinas (PUCCAMP), contratada em regime de CarreiraDocente.

    R. Nutr. PUCCAMP, Campinas, 2(1): 55-87,jan.jjun., 1989

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    SITUA

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    El'"5'..,'"

    Total de formandos por ano;

    Populac§o procurada naprimeira fase;

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    Niio exercem a profissao,desempregados, nio localizados;

    Exercem a profissio;populacio estudada nasegunda fase;

    -'J:)00'J:) Recusas;

    312egressos

    1982-1986

    7

    7

    23 5 2

    Casos estudados.

    Figura 1. Fluxo do ProcelSo de amostragem (PUCCAMP, egressos de Nutri~io, 1982-1986; 21l'fase)(Adaptado de MONTEIRO (8)

    7

    2

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    119

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    66 57 69 I I 57

    1982 1983 1984

    14

    22,2% I

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    SITUAC;;AOPROFlSSIONAL DOS NUTRICIONISTAS...M. C..F. BOOGet al.

    Pretendia-se, nacjuela primeira etapa, trabalhar com 0 univer-so de formandos. contactando-os por telefone. Isso foi feito com a turmade 1983, pois a lista de endere~os dessa turma foi a primeira a ser obtida.Verificou-se. contudo, que 0 custo dos telefonemas superaria 0 or~amentoprevisto, pois para conseguir contactar cada egresso, necessitava-serealizarcerca de quatro chamadas. interurbanas em sua maioria. Apos a formatura,muitos mudam de domidlio, casam-se. mudam de sobrenome. 0 que difi-culta sobremaneira a localiza~ao. Foi precise contactar primeiramente ospais e colegas de turma. para conseguir 0 telefone e endere~o atuais.Alguns endere~os foram obtidos atraves do Conselho Regional de Nutri-cionistas - 3a regiao, que cobre os estados de Sao Paulo, Parana e MatoGrosso do Sui (BOOGet al., 3).

    Em vista disso, os 80 profissionais procurados neste estudoreferem-se, portanto, a uma amostra de 20% dos nutricionistas formadosem 1982,1984,1985 e 1986, e ao total daqueles formados em 1983.

    0 questionario elaborado para esta etapa da pesquisa era com-poste por duas partes distintas. A primeira continha questoes fechadas eabertas. reterentes aos objetivos de letras a, b, d, e, t. A segunda continhaum rol de 97 atividades que podem ser exercidas por nutricionistas, deforma rotineira ou eventualmente, em varios campos de atua~ao, relaciona-das com base num documento do CONSELHO REGIONAL DE NUTRI-CION 1STAS - 3a Regiao (61. acrescidas de outras, identificadas pelos pro-prios pesquisadores e/ou levantadas no pre-teste do questionario.

    Esse questionario foi aplicado por entrevistadores aos nutri-cionistas residentes em Campinas e enviado pelo correio aqueles residentesem outros munidpios e estados.

    Os entrevistadores foram selecionados entre os academicos do

    39 ana do Curso de Nutri~ao e contratados pelo regime de monitoria. Osquestionarios enviados pelo correio foram remetidos como corresponden-cia registrada e acompanhados de um envelope previamente selado esubscritado para devolu~ao do questionario preenchido, sem qualquer onuspara 0 pesquisado. Apesar disso 28,8% nao responderam ao questionarioenviado ou nao puderam ser entrevistados por se recusarem, estaremviajando ou por outras razoes. 0 presente estudo refere-se pois a um totalde 57 egressos, 0 que corresponde a 18.3% do total de nutricionistas'formados entre 1982 e 1986, distribufdos conforme demonstrado na Fi-gura 1.

    Os dados dos anos de 1982, 1984, 1985 e 1986 demonstraramque a, circunstancia que impossibilitou 0 exame global dos egressos desses

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    SITIJAc;XO PROFISSIONAL DOS NUTRICIONISTAS...M. C. F. BOOG et al.

    anos parece nao ter prejudicado os resultados finais, porque os valores de1983 nao foram diferentes daqueles dos demais anos; isto mostrou tam-!.>emque 0 criterio de amostragem nao desviou as tendencias geraise que aamostra de 20% era representativa do universo pesquisado (BOOG et at,3).

    3. RESULTADOS E DISCUSSAO

    3.1 Resultados relativos a area de trabalho, regime de trabalho, rela~eshierarquicas e situac;aosalarial

    Confirmou-se a situa~ao observada na primeira fase da pesqui-sa, na qual se verificou que a maioria dos nutricionistas egressos daPUCCAMPexerce suas atividades junto a Servi~osde Alimenta~ao Institu-cional (SAl): 55,0% na primeira fase e 47,4% neste estudo. Os percentuaisse modificaram urn pouco porque 0 total de casos foi menor e houvepessoas que mudaram de emprego entre a primeira e a segunda fase dapesquisa.

    Embora as associa~5es profissionais quase nao disponham dedados historicos sobre a evolu~ao profissional da categoria, sabe-seque hacerea de quinze anos, a maioria dos nutricionistas se empregavaem orgaospublicos. Hoje a situa~ao e completamente diversa, pois 0 mercado seexpandiu nas empresas privadas.Corn relal;aoao regime de trabalho, 84,2%dos nutricionistas pesquisados estao contratados segundo a Consolida~aodas Leis do Trabalho (CLT), e uma pequena porcentagem, 8,8, exercemfunl;oescomo autonomos.

    As designac;:oesmais frequentemente encontradas para 0 setorem que 0 nutricionista esta lotado sao:"Departamento de Alimenta~ao"(28,1%), "Servi~o de Nutri~ao e Dietetica" (22,8%) e Departamento deRecursos Humanos e/ou Rela~oesIndustriais (14,0%).

    Corn rela~ao a situa~ao hierarquica observou-se que a maioria(61,4%) ocupa 0 cargo de nutricionista, isto e, 0 seu cargo nao tern umaoutra denomina~ao dentro da hierarquia da institui~ao. Se por urn ladoisso pode indicar uma utiliza~ao do profissional coma tecnico, por outronao poderia criar obstaculos a ascensaohierarquica?

    Constitui surpresa e motivo de preocupa~ao 0 fato de queapenas 12,3% dos entrevistados tenham coma superior imediato urn nutri-cionista. Em 40,4% dos casos a formac;:aodo chefe e em Administra~aodeEmpresas, Engenharia ou Direito, todos eles no exercicio de fun~oes admi-

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    A tabela 2 apresenta a distribuic;:ao da populac;:ao estudada se-gundo os cargos que ocupa nas varias areas e a tabela 3 complementa aanterior mostrando 0 reduzido numero de nutricionistas chefiados pornutricionistas. A despeito do crescimento numerico da categoria, poucoscargos de chefia sac ocupados por nutricionistas. Por outro lado, poucasempresas remuneram bem 0 nutricionista ou Ihe oferecem oportunidadepara reciclagem e aprimoramento.

    A analise dessas questoes conduz it constatac;:ao de certos para-doxos: as empresas alegam que "formam" 0 nutricionista, mas dizem tam-bem que nao podem ascend/Ho hierarquicamente porque a faculdade naoos preparou para tal. No que concerne ao profissional em si, ha que seconsiderar que 0 jovem que optou por um curso de "Nutric;:ao", geralmen-te vinculado as "Faculdades de Ciencias Medicas" ou "Faculdades de

    Saude Publica", a area biologica enfim, nao e alguem cuja tendencia sevolte de imediato, apos a formatura, a administrac;:ao e as ciencias economi-cas e exatas. A alegac;:ao de que ele sai da faculdade despreparado para"pensar financeiramente" talvez reflita que, de fato, os cursos estao cum-prindo efetivamente 0 seu papel que nao e, pelo menos exclusivamente, 0de ensinar 0 aluno a "pensar financeiramente", mas sobretudo tecnica esocialmente.

    A reversao dessa situac;:ao, cujo quadro final se resume a umconjunto de obstaculos a ascensao profissional do nutricionista, deve serobjeto de analise e discussao nas faculdades, nas salas de aula e nas entida-des representativas da categoria, pois a sua soluc;:aopassa tanto pelas ques-toes academicas como pelas questoes de mercado de trabalho.

    Sente-se cada vez mais a necessidade de cursos ao nlvel deespecializac;:ao em Administrac;:ao de Servic;:os de Alimentac;:ao para nu-tricionistas. E precise tambem que os profissionais que militam nessa arease proponham a escrever livres, publicar trabalhos, enfim, divulgar a suaexperiencia. Ha dez ou quinze anos quase nao existiam livros de Nutric;:aoem portugues. Hoje, 0 panorama para a area de Saude Publica e Dietotera-pia e totalmente diferente. 0 academico de Nutric;:ao ja dispOe de amplabibliografia para essas areas, porem 0 campo da Administrac;:ao de Servic;:osde Alimentac::ao ainda pouco foi contemplado com publicac;:Oest6cnicas. Osprofissionais da area, sob a alegac;:aode falta de tempo, falta de incentivosao estudo, ao aprimoramento, a pesquisa e ate sigilo profissional, naoescrevem, nao publicam eo academico de Nutric;:aose restringe a apostilas.apontamentos de sala de aula e aos estagios oferecidos pela taculdade.Como formar um profissional de nlvel superior sem bibliografia ade-quada? Como habituar 0 academico a leitura e a compra de livros eperiodicos se estes simplesmente nao existem?

    R. Nutr. PUCCAMP, Campinas, 2(1): 55-87, jan./jun., 1989

  • Q)

    Tabela 2. Distribuiao da populaao estudada segundo os cargos que ocupa nas diferentes areas (PUCCAMP,

    ? egressos de Nutriao, 1982-1986; 2 fase) tnZs::

    Servic;o de HospitalFtArea .F;", Alimenta- Saudec:: Dieto Ensino Outra Total »1()

  • Tabela 3. Distribuic;aoda populac;aoestudada segundo os cargos que ocupa ea formac;aodo chefe imediato(PUCCAMP,egressosde Nutric;ao,1982-1986; 2 fase)

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    Supervisor, encarrega- c;')O-do de sec;ao e/ou depar- 50,0 50,0 3,5

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    !!-ZVI c:00 Administrador 16.7 - 33,3 50,0 10,5 '"'J.-.1 - - - - - - - - -! Gerente 100,0 - - -

    - - - - - - - - 1,8 (')(5'i:' Coordenador

    - - - 100,0 - - - - - - - - 1,8 z-'" Chefe de Sec;ao - - - - - - - - - - - - 3,5 tI.>-

    Docente, Professor 100,0 1,8\Q - - - - - - - - - - - tI.>00\Q Outros - 12,5 12,5 - 12,5 12,5 - - 12,5 - - 37,5 14,0

    Total 22.7 8,8 5,2 12,3 12,3 1,8 1,8 1,8 7,0 15,7 1,8 8,8 100,0

    enU1

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    SITUAc;AO PROFISSIONAL DOS NUTRICIONISTAS...M. C. F. BOOG et al.

    respostas que apontam para uma qualidade de ensino razoavel parece de.monstrar claramente que os maiores 6bices ao bom desempenho profis-sional estao mais nas caracterlsticas do mercado de trabalho, de se apresen.tar como um campo novo onde 0 profissional ainda tem que ganhar 0 seuespaf;:O,do que na deficiencia da formaf;:aorecebida.

    Tabela 5. Opinia'o dos egressos sobre a fOrmaf;:80recebida na PUCCAMP(PUCCAMP,egressosde Nutrif;:io,1982-1986; 2~ fase)

    Area

    Servif;:odeAlimentaf;:ioInstitucional

    HospitalSaMe PublicaEnsinoOutras

    Total

    14,8

    14,325,0

    12,3

    Eprecise considerar, alE!mda qualidade do ensino ministrado,0 potencial de desempenho do ingressante na Universidade. 0 "Relatoriodo vestibular 1988" da PUCCAMP (9) revela que entre os ingressantes nocurso de Nutrif;:ao apenas 12,22% tiveram desempenho de nlvel superior novestibular, contra 46,67% medio e 41,11% inferior. 0 fato de 100% dosingressantes terem colocado Nutrif;:ao como primeira opf;:ao pouco signi-ficado tem frente a esse dado e ao da evoluf;:aodas inscrif;:oes no vestibular:em 1980 a PUCCAMP teve 529 inscritos para 90 vagas e em 1988 essenumero caiu para 206. Na mesma epoca, a procura pelo Curso de Medicinasubiu de 2886 para 3546 candidatos, 0 de Administracao de 1819 para2670 e 0 de Direito de 940 para 2.430.

    R. Nutr. PUCCAMP, Campinas, 2(1): 55-87, jan.jjun., 1989

    Atende AtendeAtende

    plena- razoavel- com mUi-,Nlo

    mente mentetas restri- atende

    I Total

    C;Oes-

    %

    59,3 25,9 - 47,4

    64,3 21,4 - 24,575,0 - - 7,0

    100,0 - - 1,854,5 45,5 - 19,361,4 26,3 - 100,0

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    SI1UAC;AOPROFISSIONALDOSNUTRICIONISTAS...M. C. F. BOOGet al.

    . Ah~m disso.numa "Avaliac;:aodo Curso de Nutric;:ao" (BOOG etaI., 1). realizada em 1987, constatou-se que embora 96% da turma houves-se colocado "Nutric;:ao" como primeira opc;:ao no vestibular, cerca de umterc;:oja havia prestado outro vestibular anteriormente e sido reprovado.

    A analise da opiniao dos egressos sobre a formac;:ao recebidapor area nao leva a divergencias no resultado. Apenas observou-se quedaqueles que atuam em outras areas que nao as tradicionais (cHnicas econsultorios, hoteis, SPAs e vendas). 45,5% consideram que 0 curso atendeas necessidades com muitas restric;:oes. Neste caso isto e normal, pois 0curso prepara 0 aluno para as areas basicas; aqueles que optam por outroscampos certamente encontram mais dificuldade (Tabela 5).

    Na mesma linha de analise os nutricionistas foram perguntadosse houve algum momento em que eles se sentiram incapazes de resolver oubuscar soluc;:6espara problemas profissionais; 68,4% responderam negativa-mente. Entre os que responderam sim, prevaleceram problem as de rela-cionamento com subordinados, resposta esta seguida da ressalva de quenao e propriamente em func;:ao da formac;:ao recebida, mas em func;:aodasproprias caracterfsticas do mercado de trabalho. Surgiram tamoom respos-tas relativas a decorac;:ao, etiqueta, culinaria, hotelaria e impostos. Taisrespostas revertem para outra cdtica a propria formac;:ao: a falta de clarezaquanto ao papel da Universidade. E evidente que profissionais de todas asareas se deparam com certas peculiaridades do exerclcio profissional paraos quais a faculdade nao os preparou. A superac;:ao dessas dificuldades vematraves da vivencia, da experiencia e da iniciativa para buscar esse tipo deconhecimento prMico. Passa-se a questionar 0 fato de varios profissionaisdemonstrarem nao compreender que tais problemas transcendem it compe-tencia da Universidade.

    Muitos entrevistados reconhecem que, a fim de melhor enfren-tar os aspectos administrativos das instituic;:oes, e fundamental que 0 estu-dante de Nutric;:ao receba em sua formac;:ao conhecimentos sobre "Admi-nistrac;:ao Geral3, 0 que ja constitufa recomendac;:ao do "Diagnostico Na-cional dos Cursos de Nutric;:ao" (BRASIL, 4), cujos resultados forampublicados em 1982.

    Perguntados a respeito de "sentirem-se profissionais da saude"no exerclcio da profissao, significativa maioria respondeu que sim: 93%(Tabela 6). Comparando-se este dado com aquele obtido para a mesmaquestao formulada aos academicos do 40 ano na "Avaliac;:ao do Curso de

    (3) A reestruturacao curricular ja incluiu essa disciplina no Curso de Nutricao daPUCCAMP a partir de 1989.

    R. Nutr. PUCCAMP, Campinas, 2(1): 55-87, jan~/jun., 1989

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    SITUA!;AOPROFISSIONALDOS NUTRIClONISTAS...M. C. F. BOOGet al.

    Nutric;:ao" (BOOG et aI., 1), verifica-se que aquele foi inferior: 70%. Issoparece indicar que a propria sociedade cobra do profissional nutricionista 0seu papel de profissional da saude, fazendo corn que ele se sinta cada vezmais responsavel pela saude da clientela para a qual presta servic;:os.

    Tabela 6. Distribuic;:aodos egressossegundo se considerarem ou nao profis-sionais da saude (PUCCAMP,egressos de Nutric;:ao,1982-1986;2~ fase)

    Sim Nao Total

    %

    14,8 47.4

    7,0

    7,0

    17,5

    7,01,8

    19,3

    100,0

    Perguntados se estao satisfeitos corn a profissao escolhida, 86%responderam afirmativamente. A mesma questao formulada em relac;:ao"ao trabalho" demonstra uma porcentagem ligeiramente inferior: 80,7%(Figura 3)

    3.3 Atividades desenvolvidas pelos profissionais nas varias areas de atuac;aoe sua relac;ao com a saude

    Para fins de analise das atividades indicadas coma ,realizadasrotineiramente, verificou-se as que foram mencionadas por, pelo menos,70% dos entrevistados. Causou surpresa 0 reduzido numero de atividades e,em decorrencia disso, optou-se por considerar tambem aquelas realizadaspor 50% dos entrevistados de cada area. Os resultados a que se chegou

    R Nutr. PUCCAMP, Campinas, 2(1): 55-87, jan./jun.; 1989

    Servic;:ode Alimen-85,2

    tac;:aoInstitucionalDietoterapia

    100,0(hospital)

    Dietoterapia + pro-100,0

    duc;:ao(hospital)SaMe Publica 100,0Ensino 100,0Outras 100,0

    Total 93,0

  • SITUA(:AO PROFISSIONAL DOS NUTRICIONISTAS...M. C. F. BOOG et al.

    No trabalho Na profissaoAlirnental;:ao Institucional

    No trabalho

    No trabalho

    7,1%

    71

    0'cou-coE5

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    D.No trabalho Outras Na profissao

    Figura 3. Nutricionistas satisfeitos e insatisfeitos corn 0 trabalho e corn a profissao,segundo a area de atual;:ao (PUCCAMP, egressos de Nutri9ao, 1982-1986;2~ fase)

    Na profissaoHospital

    Na profissao

    Saude Publica

    R. Nutr. PUCCAMP, Carnpinas, 2(1): 55-87,jan./jun., 1989

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    SITUAC;AO PROFISSIONAL DOS NUTRICIONISTAS...M. C. F. BOOG et al.

    mostram que e muito reduzido 0 numero de atividades exercidas rotineira-mente pelos nutricionistas: provavelmente 0 numero insuficiente de pro-fissionais nao permita uma diversifica~ao de fun~Oes e 0 exercfcio profis-sional se reduz a um mero "tocar a rotina". Observa-se tambem que nasvarias areas, as atividades sao praticamente as mesmas.

    3.3.1 Area Hospitalar

    Entre os profissionais que mencionaram fazer so Dietoterapia,apenas 50% fazem anamnese alimentar; em contrapartida, nesse mesmogrupo, que diz fazer so Dietoterapia, as atividades de administra~ao depessoal e escala de servi~o aparecem como rotineiras para mais de 70% dosentrevistados. Acresce-se a isso 0 fato de que entre os profissionais quemencionaram fazer Dietoterapia e produ~ao, das 12 atividades realizadaspor 70% deles, 11 sao de carcher administrativo (F iguras 4 e 5). Comointerpretar esses dados? Por que 0 profissional nutricionista esta-se limi-tando tanto as fun~oes administrativas? Seria esta situa~ao decor renteunicamente das exigencias do proprio mercado de trabalho e do tempoexcessivo que as atividades administrativas tomam, impossibilitando 0 de-senvolvimento de atividades tecnicas mais diversificadas? Seria porque naarea administrativa ele e mais valorizado? Ocorreria tambem na area hospi-talar uma valoriza~ao do profissional administrativo que "pensa finan-ceiramente", em detrimento daquele que presta servi~os? Pode-se imputara responsabilidade por esse resultado totalmente a estrutura das insti-tui~oes ou 0 profissional se acomodou e nao esta buscando um aprimora-mento do seu trabalho tecnico? Seria a propria forma~ao academica quenao oferece subsidios suficientes para a iniciativa de desenvolver projetosnovos, de cunho mais tecnico? Ou ainda esta condi~ao resulta de barreirasimpostas pela categoria medica que nao quer abrir mao de sua supremaciaem rela~ao ao paciente?

    3.3.2 Area de Saude Publica

    Em rela~o a area de Saude Publica, somam-seagora as preocu-pa~oes geradas com 0 resultado da primeira fase da pesquisa (BOOGet aI.,3), na qual se constatou que apenas 6,3% dos nutricionistas formados pelaPUCCAMPestao nesta area, outra constatat;:aosurpreendente: a de que

    R. Nutr. PUCCAMP, Carnpinas, 2(1): 55-87, jan.jjun., 1989

    I

    \

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    SITUA

  • SITUA~AO PROFISSIONAL DOS NUTRICIONISTAS...M. C. F. BOOG et al.

    75

    aqueles que estao em Saude Publica tambem estao exercendo predo-minantemente atividades administrativas (Figuras 6 e 7), Nao ousadamosnenhuma interpret~ao definitiva desses dados. Apenas pode-sequestionar:que tipo de envolvimento os profissionais da area de Saude Publica temcom 0 trabalho que fazem? Seria a situa.;:ao polltica e social a unicaresponsavel pelo esvaziamento da essencia do trabalho em SaMe Publica?Qual e 0 "status" do profissional que trabalha em orgao publico,sobretudo do nutricionista. cujas fun.;:oes permanecem ate hojeindefinidas?

    Avaliacao de aceitabilidade

    Supervisao de programas denutricao em Saude PublicaAdministr~ao de programas denutricao em Saude PublicaPlanejamento de programas denutricao em Saude PublicaAcompanhamento de distribuicaode refeic6esOrientacao culinaria

    Controle de estoque

    Administracao de pessoal

    Supervisao de porcionamento

    Estabelecimetno de normas e pro-cedimentos quanto a higieneEstabelec. de normas e proced.quanto ao preparo de alimentosControle de qualidade de refeicoes

    10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

    Figura 6. Relacao das atividades realizadas rotineiramente por, pelo men os, 70% dosnutricionistas que trabalham em Saude Publica (PUCCAMP. egressos de Nu-tricao. 1982-1986; 2~ fasel

    R. Nutr. PUCCAMP, Campinas, 2(1): 55-87, jan./jun., 1989

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    SITIJAc;AO PROFISSIONAL DOS NUTRICIONISTAS...M. C. F. BOOG et al.

    Estlmulo a cria~ao de animais

    Estlmulo a hortas

    Controle de saude de manipulado-res de alimentosSel~ao de cardapios

    Avalia~o de programas de Nutri.~ao em Saude PublicaSuplementa~ao alimentar

    Estabelecimento de rotinas detrabalhoAtualiza~o profissional atrav6s deleitura por necessidade do servi~oEstabelecimento de normas deestocagemMotiva~ao dos subordinados

    Sel~ao de fornecedores

    Controle de custos

    Controle de sobras e restos

    Manuten~ao corretiva de equipa-mentos e utensiliosOesenvolvimento de receitas, testede f6rmulasElabora~ao de material didatico

    Treinamento de pessoal

    Pesquisa em Saude Publica

    Pesquisa em culinaria experimental

    10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

    Figura 7. Rela~ao das atividades realizadas rotineiramenta por, pelo menos, 50% dosnutricionistas que trabalham em Saude Publica (PUCCAMP, egressos de Nu-tri~ao, 1982-1986; 2~ fasel

    0 que pode e compete a Universidadefazer? 0 que compete acategoria atraves de suas entidades representativas e aos profissionais daarea?

    Com 0 intuito de tentar uma explica«;:ao, ainda que muitosuperficial, da quase inexistencia do nutricionista na area de Saude Publica,levantaram-se alguns dados hist6ricos da passagem desse profissional pelaSecretaria da Saude do Estado de Sao Paulo.

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    SIl1JA

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    snUAC;AO PROFISSIONAL DOS NUTRICIONISTAS...M. C. F. BOOG et al.

    Dimensionamento de recursoshuman osSel~ao de pessoal

    Orienta~ao culinaria

    Responsabilidade t6cn. pelo Prog.de Aliment. do Trabalhador (PAT)Estabelecimento de especifica~ot6cnica para compra de gflnerosControle de saude de manipulado-res de alimentosEstabelecimento de rotinas detrabalhoEscala de servi~o

    Avalia~ao de aceitabilidade

    Motiva~o dos subordinados

    Sele~o de fornecedores

    Controle de custos

    Administra~ao de pessoal

    Supervisao de porcionamento

    Controle de sobras e restos

    Estabelecimento de normas deestocagemAcompanhamento de distribui~aode refei~6esControle de estoque

    Estabel. de normas e proced.quanto ao preparo de alimentosEstabelecimento de normas e pro-cedimentos quanto a higieneSele~o de cardapios

    Controle de qualidade de refei~6es

    10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

    Figure 8. Rela~ao das Atividades realizadas rotineiramente por, pelo menos 70 e 50%dos nutricionistas que trabalham na area de Servi~o de Alimenta~ao Institu-cional (PUCCAMP, egressos de Nutri~ao, 1982-1986; 2~ fase )

    R. Nutr. PUCCAMP, Campinas, 2(1): 55-87, jan.{jun., 1989

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    SITUAC;AO PROFISSIONAL DOS NUTRICIONISTAS..,M, C. F. BOOG et al.

    3.4 Atualiza4;ioprofissional

    Inquiridos sobre se consideram que se encontram "atualiza-dos", apenas 59,6% responderam que sim (Figura 9). Considerando que apopula.;:ao pesquisada era constitufda por profissionais formados ha, no

    100

    90

    80-

    70

    ~ 60..'n;§ 50'i:j~It 40 -

    30

    20

    10

    0Atualizados Nao

    atualizadosFormacaosuficiente

    Figura 9. Porcentagem de profissionais que se consideram atualizados, naoatualizados ou que a form~ao e suficiente (PUCCAMP,egressosde Nutri

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    SITIJAc;AO PROFISSIONAL DOS NUTRICIONISTAS...M. C. F, BOOG et al.

    maxi mo, seis anos, no momento do levantamento de dados, esta opiniaopode refletir que 0 profissional nao esta se empenhando para atualizar-se enao esta sendo estimulado a atualizar-se. Apenas um entrevistado informouque. nao sente necessidade de atualiz3r-se porque a formac;:ao obtida nafaculdade e suficiente.

    Os meios que os nutricionistas estao utilizando para atuali-zar'se, as razoes pelas quais nao se atualizam e os profissionais atualizadospor area sao apresentados nas figuras 1O, 11 e 12 respectivamente.

    100

    90

    80

    70

    ~ 60..f!..'g 50:g...::I

    Z 40

    30

    20

    10

    0livros Cursos Peribdicos Outros

    Figura 10. Meios utilizados pelos nutricionistas para sua atualizac;:ao(PUCCAMP,egressosde Nutrif;ao, 1982-1986; 2~ fase)

    R. Nutr. PUCCAMP,Carnpinas,2(1): 55-87, jan./jun., 1989

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    20

    100

    90

    80

    70

    "i. 60...:!!'E 500'u";:~Z 40

    30

    10

    0Falta detempo

    Falta deoportunidade

    Falta derecu rsos

    Outros Formar;:aosuficiente

    Raz8es da nao atualiza~ao

    Figura 11. Razoes pelas quais OSnutricionistas nao se atualizam (PUCCAMP,egressos de Nutric;io, 1982-1986; 2~ fase)

    R. Nutr. PUCCAMP, Campinas, 2(1): 55-87, jan./jun., 1989

    I I

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    tseu papel como elemento gerador de transformalfoes na sociedade. 0 tra

    ~

    balho documenta ainda fatos que devem merecer exame minucioso porparte de associalfOesprofissionais, conselhos e sindicatos aos quais compe-te, ate mais diretamente do que 11Universidade, zelar e defender os inte.

    ressesda categoria junto ao mercado de trabalho. IEm algumas partes do presente trabalho detivemo-nos, mais.

    ate do que talvez pretendessemos,na area de Servilfosde AlimentalfaoI1nstitucional. Isso ocorreu apenas porque sendo esta a area mais represen-tada na amostra, devido ao fato de absorver quase metade dos egressos,trouxe abaila maior numero de questoes para serem discutidas.

    0 canal de comunicalfao que este trabalho abriu entre a Uni-versidadee as instituilfoesque empregam 0 nutricionista deve servirde basepara uma avalialfao continua da situalfao profissional de egressos e dadiscussao conjunta da forma(fio universitaria petas faculdades, servilfoseentidades representativas da categoria.

    A busca de solulfoespara as areas de conflito nao podem ficars6 a cargo das instituilfoes formadoras pois muitos problemas decorrem departicularidades do mercado de trabalho cuja solulfao nao pode simples-mente ser atribulda a responsabilidade das faculdades, ao nlvel de gra-dualfao.

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