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EGLÊ FRANCHI A REDAÇÃO NA ESCOLA: E AS CRIANÇAS ERAM DIFÍCEIS...

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EGLÊ FRANCHI

A REDAÇÃO NA ESCOLA: E AS

CRIANÇAS ERAM DIFÍCEIS...

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CAP. 1: AQUELES ALUNOS ERAM DIFERENTES

• Primeiro dia de aula:― Gostaria de saber o nome

de todos vocês.― Cada um fala seu nome pra dona!― Nem é boa essa ideia, seu bosta!― Sua fia da puta, bosta sua mãe!

• Fala da mãe de um aluno:

“― Si ele conseguisse pelo menos tirá um diproma do quarto ano já tava bão.”

• Primeira produção escrita:

“Eu e o meu golega fomos pescar no riu comesou a puxar e ele viu e puxou e o ansol enroscou e ele subiu na arvore para denherosça e o ansol caio dreto do riu.”

“Ela se aprosimouse e cheirou a fror Ela desmaiou Quando acordou ela avoou mas ela não cosseguia avoar alto.”

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CAP. 1: AQUELES ALUNOS ERAM DIFERENTES

• Aceitação da “lei da escola”: as crianças agiam conforme as expectativas que deveríamos ter de seu comportamento como “mau aluno” (profecia autorrealizável).

• Reavaliação dos objetivos iniciais: papel de professora deveria se sobrepor ao de pesquisadora.

• Valorização dos interesses das crianças: a partir de um questionário sobre suas expectativas em relação à escrita, surgiu a proposta da redação de estorinhas.

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CAP. 1: AQUELES ALUNOS ERAM DIFERENTES

• Aspectos fundamentais observados nos textos:

1. as redações das crianças se constroem segundo modelos estereotipados de narrativas “infantis”, repetindo os esquemas das estorinhas contadas pelos adultos ou dos livros didáticos.

2. as crianças não “inventam” as estórias nem relatam episódios de sua vida real; recorrem ao fabulário tradicional ou a estórias lidas em livros da série anterior.

3. As crianças não dominam a pontuação; mais que isso, constroem os seus períodos como sequências de orações simplesmente justapostas ou coordenadas por “e”, ou ligadas por outros procedimentos como a anáfora, a repetição, o uso de partículas continuativas como “aí” ou “então”.

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CAP. 1: AQUELES ALUNOS ERAM DIFERENTES

4. Não distinguem na escrita a “fala do narrador” da “fala das personagens” nos poucos diálogos que utilizam.

5. Usam orações extremamente simples, reduzindo-se quase todas a expressões de “complexidade zero” ― orações de uma, duas e no máximo três palavras lexicais.

6. As crianças refletem em seu texto características do seu próprio dialeto, seja no uso dos pronomes, seja na concordância, seja na ortografia.

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CAP. 1: AQUELES ALUNOS ERAM DIFERENTES

• Problemas encontrados: • Ao analisar as estorinhas, observou-se a ausência de

criatividade e espontaneidade verbais das crianças.

• Mecanismos de repressão da escola são responsáveis pelo declínio do potencial criativo dos alunos: “crianças sem imaginação e sem linguagem.”

• Imposição das convenções do dialeto padrão escolar e culto = repressão linguística, desprestígio da variante popular usada pelos alunos.

• Postura adotada pela professora: Valorização das crianças através da valorização de sua linguagem.

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CAP. 1: AQUELES ALUNOS ERAM DIFERENTES

• Novas metas:1. Fazer os alunos ganharem confiança em si mesmos,

valorizar-se começando por valorizar sua própria linguagem.

2. Reconstruir as relações de interação entre as crianças e a professora, para que se tornassem interlocutores reais.

3. Evitar a imposição da linguagem culta como algo que necessariamente substituísse a linguagem usada pelas crianças.

4. Levar os alunos a livrar-se das amarras dos estereótipos formais e a progredir em fluência e flexibilidade linguística.

5. Vincular a atividade escrita a uma necessidade de expressar-se e de adquirir instrumentos de interação social, para que dominassem as convenções do texto escrito sem a necessidade de exercícios “alienantes”.

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CAP. 2: COMO FAZER OS ALUNOS PERCEBEREM AS VARIAÇÕES DA LÍNGUA E RESPEITÁ-LAS

• Atividades que tinham como objetivo:• Reforçar nos alunos a sensibilidade para diferentes usos

da linguagem.• Fazer com que as crianças percebessem que os usos da

língua são regidos por certas convenções.• Caracterizar o dialeto padrão como variedade

socialmente prestigiada, mas equivalente ao dialeto da criança do ponto de vista da expressividade.

• Levar o aluno a perceber a oposição entre o padrão culto e o popular.

• Levar a criança a produzir frases, orações, expressões em ambos os dialetos em questão.

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CAP. 2: COMO FAZER OS ALUNOS PERCEBEREM AS VARIAÇÕES DA LÍNGUA E RESPEITÁ-LAS

• Primeira atividade:

1.“ ― Nóis tava escreveno, e o Celo levantou; então o Marcio tirô a cadera e o nego, bumba no chão.”

2.“ ― Nós estávamos escrevendo e o Marcelo levantou; então o Marcos tirou a cadeira e ele caiu no chão.”

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CAP. 2: COMO FAZER OS ALUNOS PERCEBEREM AS VARIAÇÕES DA LÍNGUA E RESPEITÁ-LAS

• Outras atividades :1. Identificar figuras populares do bairro onde

moravam (o padeiro, o lixeiro, o dono do bar, etc.) e elaborar frases como essas pessoas realmente as falariam. Depois, refazer essas mesmas frases em uma linguagem “escolar”:• Pedreiro: ― Va busca pedra João. ― Por favor vai buscar pedra João.• Leiteiro: ― Quem qué leite fresquiho.

― Quem quer leite fresquinho.

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CAP. 2: COMO FAZER OS ALUNOS PERCEBEREM AS VARIAÇÕES DA LÍNGUA E RESPEITÁ-LAS

2. Elaborar frases para diferentes personagens em situações formais ou informais:• A mamãe – situação informal:

― Manhe passa meu avental.• O delegado – situação formal:

― Por favor senhor delegado o senhor poderia mandar um guarda noturno em Vila Santana.

3. Leitura de textos em que a linguagem culta do narrador vinha acompanhada de diálogos em diferentes dialetos:“Só então o Balduíno achou uma oportunidade: ― Lavá os pés in jejun, num fará mar?

Foi um corre-corre para arranjar comida para o caboclo.”

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CAP. 2: COMO FAZER OS ALUNOS PERCEBEREM AS VARIAÇÕES DA LÍNGUA E RESPEITÁ-LAS

• Aprendizado das primeiras convenções da escrita através da representação de diálogos:• Percepção das diferenças de sentido e entonação

provocada pelos sinais gráficos de pontuação.• Dramatização de pequenas situações de diálogo, com

registro no quadro dos sinais que representavam na escrita a entoação da linguagem (. ? !)

• Devolução do exercício anterior aos alunos para que o corrigissem pontuando de acordo com as novas convenções aprendidas.

• Leitura dramatizada de textos ricos em diálogos.• Trabalho com quadrinhos: transcrição de falas contidas

em balões, para explicitar o uso dos travessões na linguagem escrita.

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CAP. 3: AS CRIANÇAS COMEÇAM A OBSERVAR E REPRODUZIR ESTÓRIAS

• Início efetivo das atividades de produção textual. • Objetivo: levar as crianças a utilizar a linguagem

escrita como meio de comunicação e expressão de si mesmas. (Sugestões dos Subsídios para a Implementação do Guia Curricular – SEE/SP)

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CAP. 3: AS CRIANÇAS COMEÇAM A OBSERVAR E REPRODUZIR ESTÓRIAS

• Estratégias adotadas:• Comparação entre linguagem culta e coloquial através

da leitura de textos.

• Dificuldades progressivas dos textos: uso de construções sintáticas mais complexas, vocabulário mais raro, diálogos mais extensos.

• Atividades pós-leitura: estudo dos recursos expressivos utilizados no texto, interpretação oral, dramatização, exercícios de reordenação das unidades do texto, ilustração, e reprodução da estória pelos alunos, comparando com o original.

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CAP. 3: AS CRIANÇAS COMEÇAM A OBSERVAR E REPRODUZIR ESTÓRIAS

• “Os pequenos ‘autores’ da classe”: as atividades de produção de texto.

•Quatro etapas:1.Estorinhas compostas a partir de gravuras de seis quadros, ordenados segundo os acontecimentos;2.Estorinhas compostas a partir de gravuras de seis quadros, não ordenados.3.Estorinhas compostas a partir de um parágrafo inicial dado.4.Estorinhas livres a partir de diferentes estímulos.

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CAP. 3: AS CRIANÇAS COMEÇAM A OBSERVAR E REPRODUZIR ESTÓRIAS

• “Redação coletiva”: conjunto de atividades que visavam a proporcionar uma troca de experiências entre os alunos, e levá-los a um exercício rico de manifestação pessoal de uns a outros.

• Resultados imediatos das composições coletivas:• Desenvolvimento da fluência e da flexibilidade

linguísticas das crianças.• Todos os alunos puderam aproveitar-se das contribuições

mútuas e desenvolver-se de modo mais homogêneo.

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CAP. 3: AS CRIANÇAS COMEÇAM A OBSERVAR E REPRODUZIR ESTÓRIAS

• Última etapa: composição de estorinhas com estímulos mais gerais.• “Técnica do borrão”:

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CAP. 3: AS CRIANÇAS COMEÇAM A OBSERVAR E REPRODUZIR ESTÓRIAS

• “Técnica da reprodução ampliada”:

A gravata.Ontem, Carlinhos encontrou uma gravata nas costas de uma cadeira. Quando colocou a gravata no pescoço, Carlinhos procurou o espelho para ver o efeito. Naturalmente, o menino não gostou, porque ela passava da cintura, chegando abaixo do joelho.O jardineiro aparava a grama com o tesourão.Pedindo o tesourão emprestado o menino cortou a gravata pelo meio.

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CAP. 3: AS CRIANÇAS COMEÇAM A OBSERVAR E REPRODUZIR ESTÓRIAS

• “Técnica da multiplicação de palavras”:

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CAP. 3: AS CRIANÇAS COMEÇAM A OBSERVAR E REPRODUZIR ESTÓRIAS

• Constatações da professora:

1. Quando as restrições impostas no trabalho eram menores, as crianças demonstravam maior originalidade e produziam estórias melhores.

2. As crianças ainda oscilavam bastante em suas redações: passavam muito rapidamente de um texto ruim a um excelente, e vice-versa. O uso do dialeto padrão também era inconstante, devido ao curto tempo de prática:

“Teve um filhinho deu-lhe o nome de Fric e o outro de Frac. Depois que veio os dois peixinhos Zazá e Pimpim faziam de tudo para agradá-los.”

3. Os alunos se colocavam com muita naturalidade diante do texto, transformando-o muitas vezes em forma de expressão pessoal, o que conferia espontaneidade às estórias.

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CAP. 3: AS CRIANÇAS COMEÇAM A OBSERVAR E REPRODUZIR ESTÓRIAS

4. Essa espontaneidade era muito perceptível nas situações de diálogo, nas quais as crianças reproduziam a fala dos personagens com muita fidelidade, às vezes representando variações dialetais:

“― Aonde que oceis mora? ― Nós moramos na cidade.(...) ― Acho que vô armuçá coceis. Tô cum fome.E assim fez.”

5. As redações passaram a apresentar também grande diversidade na forma de organização do texto, afastando-se das fórmulas de apresentação-episódio-desfecho ou começo-meio-fim das primeiras estórias:

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CAP. 3: AS CRIANÇAS COMEÇAM A OBSERVAR E REPRODUZIR ESTÓRIAS

“― Venha em casa para nós irmos pescar. Eu sei aonde tem bastante peixe, tem cará, tuvira, pacu, traira e pintado, etc.Foi assim que nós resolvemos ir pescar.― Vamos rancar minhoca? disse para minha prima.― Vamos!”

6.Maior flexibilidade linguística: “Depois da refeição eles foram ver os cavalos, burros, vacas e galinhas. Depois começou a anoitecer e eles foram embora. Paulinho ficou com dor de barriga porque comeu um peixe com os olhos.”

• “É respeitando o dialeto das crianças, despertando nelas a consciência das variações dialetais, que mais facilmente as levamos a dominar o dialeto padrão culto.”

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CAP. 4: CONCLUSÕES?

• Pontos fundamentais para o sucesso:• Não fixar os objetivos em corrigir deficiências linguísticas.• Criar e manter condições adequadas de interação.• Evitar a estigmatização da linguagem das crianças.• Evitar o trabalho isolado.

• “Fatores de perturbação”:• Rendimento e atitudes dos alunos, ainda sujeitos a fortes

oscilações.• Laços fortemente afetivos surgidos na relação entre os alunos e

a professora.

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CAP. 4: CONCLUSÕES?

• Fala das mães:• “Minha filha tava sempre sufocada, ingasgada. A sinhora

como que bateu nas costas dela, feiz ela sortá as palavra não só na boca, mas na mão tamém.”

• “Outro dia minha filha ainda me disse: ‘Num sabia que eu num era burra. A dona feiz vê que eu posso aprendê, que essa língua que nóis fala num é assim errada, nóis num precisa tê vergonha dela’. Mais aprendê essa língua da escola é uma boa tamém, sabê falá os dois jeito.”

• “Eu agradeço pela sinhora tê feito ele escrevê as coisa que eu num sabia que ele pudia escrevê. Acho que nem ele mesmo num sabia.”