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FACULDADE DE ARQUITETURA DA UFBA
Estudos Sociais e Ambientais ARQ020
2015.2
SÍNTESES ROLÊ URBANO
Anotações dos alunos sobre a aula de campo realizada durante um
passeio de escuna.
SUMÁRIO
Beatriz Goossens F. _______________________________________________________________________________________________ 1
Filipe Castro de Magalha es _______________________________________________________________________________________ 4
Matheus D’alberto Arau jo ________________________________________________________________________________________ 6
Pablo G. Cal ________________________________________________________________________________________________________ 8
Renata Varela Lopes Maia ______________________________________________________________________________________ 10
Pa gina1
Beatriz Goossens F.
Espaço geogra fico X Paisagem
Coexiste ncia na cidade de permane ncias e transformaço es
- TOTALIDADE
- ABSTRATO
- RELAÇO ES E SOCIEDADE
- CATEGORIA DO ESPAÇO GEOGRA FICO
- NA O E SO DESCRITIVA
- TEM VIDA, NA O E APENAS UM MOMENTO
CONGELADO
- ABARCA TODOS OS SENTIDOS, NA O SO O VISUAL
Pa gina2
Desigualdades pela costa
- A FORÇA DO CAPITAL
- LEIS MANIPULADAS PARA ATENDER OS EMPREENDEDORES
- MUDANÇAS NA LEGISLAÇA O QUE PERMITIRAM A
CONSTRUÇA O DOS PRE DIOS ALTOS E PI ERS
Pa gina3
Pa gina4
Filipe Castro de Magalha es
O programa denominado ''Role Urbano'' de iniciativa das professoras Marina
Teixeira e Glo ria Cecí lia, com cara ter de aula de campo, teve, como intença o mais
expressiva, a leitura da paisagem de Salvador (a partir do mar) no sentido de
identificar os fundamentos das relaço es sociais aderidos aquele espaço e a cidade. Para
isso, um rigoroso programa foi definido para a dina mica da aula. Consistia de falas de
professores de ramos e experie ncias variadas (programa interdisciplinar essencial na
compreensa o da paisagem) seguidas de observaço es e, eventuais, du vidas dos alunos
presentes. Essas rodadas de falas se distribuí am de acordo com a posiça o da
embarcaça o.
Com relaça o a todas as quatro rodadas, vale dar e nfase, primeiramente a rodada
inicial cujo foco foi o conceito de paisagem e como observa -la. A professora Patrí cia
Ponte do Curso de Geografia do IFBA induziu a compreensa o da paisagem como um
fragmento da totalidade do espaço geogra fico (sendo esse espaço geogra fico um
sistema de aço es e objetos). A paisagem, portanto, na o se restringe a s suas qualidades
visuais. Ela possui uma expressa o variada por ser compreendida de inu meras formas
diferentes, por cada observador com particular interpretaça o subjetiva.
A paisagem, contudo, e um ponto de partida para uma ana lise mais diligente da
cidade. E possí vel, por exemplo, ser feita uma leitura polí tica da paisagem focando nos
usos de elementos visí veis ali. O mercado, a cidade alta, o porto, o forte sa o elementos
que ale m de traçarem a temporalidade da cidade, indicam usos bastante claros. Por
outro lado, a presença pertinente de empreendimentos privados revela a segregaça o
espacial e social, uma vez que a ocupaça o pu blica da paisagem e deixada em segundo
plano. Em suma, a observaça o da paisagem e , essencialmente, percepça o da forma e
identificaça o dos vestí gios que ela da a respeito da produça o da cidade, da cultura e
dos desdobramentos no a mbito social.
Com relaça o a impactos sociais, vale citar a outra etapa da aula cujo tema foi o
bairro da Gamboa. O primeiro a se observar e a posiça o privilegiada, dessa
Pa gina5
comunidade, no sentido de dar forma a paisagem. Ali, esta revelado, por meio de um
conjunto de pequenas casas populares, um patrimo nio histo rico (pelo seu surgimento
a partir do plano de defesa da cidade, no se culo XVIII), cultural e de tradiça o litora nea.
Contudo, o tema mais preocupante se refere aos direitos dos habitantes da Gamboa.
Cidada os oriundos de uma tradiça o histo rica local, baseada na pesca, sa o ameaçados
pela imposiça o destruidora do fortalecido mercado imobilia rio. Os moradores da
Gamboa vivem da pesca e, pelo crescimento da cidade baseado na lo gica do mercado
imobilia rio, a presença de outros pre dios nas redondezas impede os moradores de
coletar mariscos e o movimento constante de barcos dificulta a pesca.
Apesar dessas atividades que va o de encontro com a prosperidade do bairro da
Gamboa, a maneira que os moradores da comunidade na o prescindem de um discurso
pro prio de defesa de sua regia o (especialmente no que se refere as intenço es de
restauro e recuperaça o da a rea) reforça o cara ter humano e de aça o social na paisagem
de Salvador.
Pa gina6
Matheus D’alberto Arau jo
O role urbano foi um passeio de barco para uma diferente perspectiva da paisagem
de Salvador e suas questo es, o trajeto: do terminal na utico no Come rcio ate o farol da
Barra.
Inicialmente foi discutido a paisagem:
*Paisagem – categoria do espaço geogra fico (um fragmento), difí cil definir espaço
geogra fico mas faz parte da dimensa o material, imaterial e simbo lica. A paisagem e
subjetiva, perceptiva (a partir de todos os sentidos). No que diz respeito a apreensa o
do espaço na o existe certo ou errado.
O contexto histo rico se imprime na paisagem – produça o da arquitetura ao longo
do tempo, na regia o do come rcio foi feito um aterro (grande importa ncia econo mica
do porto) a visa o formada por quem vinha do mar adentrando a Baia de Todos os
Santos era marcada pelo forte frontispí cio. Centro histo rico atual:
gentrificaça o/segregaça o social. A circulaça o/mobilidade e indissocia vel a paisagem.
Salvador se configura como cidade litora nea, mas tambe m uma cidade do capital.
Onde os interesses do capital sa o refletidos diretamente no espaço.
A ocupaça o dos espaços na cidade revela sua dina mica social; a reas que sa o
desvalorizadas para depois serem ganharem certo valor (repulsa o de pobres).
Gentrificaça o em Salvador: bairro 2 de Julho – Intervenço es no bairro propo e uma
ressignificaça o do patrimo nio cultural excluindo moradores. Atrave s dessa limpeza no
bairro um novo mercado mobilia rio se instala na regia o. Gentrificaça o e algo altamente
renta vel. Outra tende ncia e a perca da cultura local.
Os moradores na o foram ouvidos no plano no bairro 2 de Julho proposto pela
prefeitura. Se faz necessa rio fortalecer a populaça o do bairro.
Gamboa e Solar do Unha o e a questa o do direito a cidade: duas invaso es que
modifica a paisagem da cidade e cada uma se consolidou como comunidades de cultura
expressiva e grande resiste ncia.
A Gamboa de baixo e a invasa o informal enquanto a de cima e a invasa o formal.
Embaixo da Avenida Contorno, a Gamboa de Baixo e o Solar do Unha o sa o segregados
do resto da cidade. O que divide as duas comunidades e o forte de Sa o Paulo, que e
tombado pelo IPHAN. Na Gamboa o sentimento de comunidade e muito forte: a
primeira escada construí da para dar acesso a avenida pela comunidade foi construí da
pelos pro prios moradores.
No Solar do Unha o, onde teve intervença o da arquiteta Lina Bo Bardi, a integraça o
da comunidade com o Museu de Arte Moderna da Bahia promoveu uma movimentaça o
Pa gina7
na dina mica da comunidade. Va rios artistas hoje moram na comunidade. Forte
movimentaça o cultural.
Sobre a infraestrutura das comunidades, ainda sa o negligenciadas: a manutença o
do esgoto e feita pelos pro prios moradores, a coleta do lixo e difí cil.
No porto da Barra foi abordado o PDDU de Salvador e suas falhas em acompanhar
a complexidade da cidade.
Pa gina8
Pablo G. Cal
A atividade teve como propo sito suscitar questionamentos acerca da paisagem
urbana de Salvador, sobretudo, do frontispí cio compreendido entre o porto e o Farol
da Barra a partir de um olhar desde a Baí a de Todos os Santos.
Falar da evoluça o urbana da cidade remete necessariamente a s origens da cidade-
fortaleza instalada sobre a escarpa. A falha geolo gica teve papel fundamental na
escolha do sí tio de implantaça o ja que, naquele momento, era necessa ria uma proteça o
natural que promovesse a segurança contra ataques de outras pote ncias coloniais e, ao
mesmo tempo, estivesse pro ximo ao mar para facilitar a logí stica das trocas comerciais
com a metro pole.
Apreciar Salvador desde a BTS leva o observador a, obrigatoriamente, repensar os
quase quinhentos anos de sua histo ria - e o que Milton Santos descreveu como
“mosaico dos se culos”. E assim, com um apanhado histo rico, foi iniciada a oficina de
campo “Role Urbano” em um passeio de escuna tendo como mediadoras as Profas.
Glo ria Cecí lia Figueiredo e Marina Teixeira.
Primeiramente, apresentou-se a Profa. Patrí cia Ponte (IFBA) que rememorou os
conceitos de paisagem e espaço definidos por Milton – primordiais para qualquer
discussa o sobre ocupaça o urbana que abranja a “metadisciplina” da Geografia-
Arquitetura – e que seria o fio condutor para todos os debates subsequentes ao longo
do dia.
A Profa. Ariadne Moraes traçou uma perspectiva histo ria focando, sobretudo, na
ocupaça o da cidade baixa e todos os conflitos resultantes que se superpuseram a
ocupaça o irregular – desde os combatidos problemas habitacionais concernentes a
camada socialmente desfavorecida ao longo da encosta como tambe m aos intoca veis
pí eres do Corredor da Vito ria.
Foi ainda retratado pelo Prof. Luiz Anto nio Souza e por Fabrí cio Zanoli (PPG AU)
os conflitos existentes no caso das Gamboas divididas pela Avenida Contorno. A de
baixo, pobre, irregular e carente de serviços pu blicos separada da de cima, regular e
plenamente abastecida. Surge ainda como elemento simbo lico de luta e resiste ncia a
ocupaça o da Bateria avançada do Forte de Sa o Pedro (ou Forte Sa o Paulo), pouco a
pouco abandonada, que serviu de polo para que famí lias de baixa renda fossem
residindo na a rea e, a seu modo, ate contribuí ssem para evitar o seu abandono e
Pa gina9
completa degradaça o completa. Curiosamente, ainda que tombado pelo IPHAN, o forte
na o recebe qualquer investimento para conservaça o.
Da Gamboa, o roteiro seguiu ate a Barra, percurso pelo qual se po de observar o
adensamento das a reas mais nobres da cidade, algo pressionado pelo pro prio mercado
imobilia rio local. Ba rbara Lopes (Lugar Comum FAUFBA) apresentou como, atrave s de
mecanismos jurí dicos, conseguiu-se elevar o gabarito das edificaço es e, assim,
maximizar o valor investido em terrenos com preços ja elevados. Obviamente, essa
polí tica acaba por concentrar os serviços pu blicos em determinados locais piorando
ainda mais a atença o nos bairros perife ricos ou nas zonas de ocupaço es esponta neas
pulverizadas pela cidade. Essa lo gica contribui ainda para pressionar a venda de
construço es do passado com relativo valor, se na o arquiteto nico, ao menos afetivo para
os moradores do bairro ou de toda a cidade.
O passeio terminou com mais uma rodada de discusso es e questo es desta vez
levantadas pelos estudantes e replicadas pelos debatedores, pelas professoras
mediadoras ou por outros convidados.
Pa gina10
Renata Varela Lopes Maia
O "Role urbano" proposto para leitura da paisagem da cidade desde o mar, que
aconteceu no dia 5 de março, foi um passeio de escuna realizado por professores e
alunos da FAUFBA, como o objetivo e interpretar a cidade e sua histo ria atrave s da
paisagem observada de outro a ngulo, que e o mar. A escuna saiu do Terminal Na utico
do Mercado Modelo e foi ate o Farol da Barra, possibilitando uma visa o privilegiada da
Baí a de Todos os Santos, ale m de rodadas de discusso es sobre a cidade de Salvador.
Na primeira rodada, a professora Patrí cia Ponte traz um pouco a noça o de
paisagem e espaço urbano, reforçando a teoria de Milton Santos, ela defende que a
paisagem e apenas um fragmento do espaço, enquanto que o espaço e um sistema de
objetos (natureza e sociedade) e de aço es. A primeira e formada pela apreensa o do
espaço atrave s de todos os sentidos. Inclusive, nesse momento surge uma discussa o
sobre a percepça o da paisagem por uma pessoa cega, sera que ela enxerga a mesma
paisagem que as outras? Ou uma paisagem correta? A questa o e que na o existe
paisagem certa ou errada, uma paisagem e percebida por cada pessoa diferentemente,
porque ale m do a ngulo de observaça o da pessoa, o instante que ela observou e suas
vive ncias anteriores influenciam na percepça o que ela tem sobre determinada
paisagem. Ela na o e , portanto, congelada, mas sim viva e depende tanto do objeto
quanto do sujeito que a observa.
Depois, a professora Ariadne Moraes introduz uma discussa o sobre a arquitetura
revelada pela paisagem. Sera que e possí vel ter uma leitura polí tica dela? Diante do
frontispí cio de Salvador, e possí vel perceber uma coexiste ncia de resiste ncia e
transformaça o, atrave s da mudança de usos do espaço durante um perí odo histo rico
da cidade. Sa o nota veis tambe m as conexo es verticais e coexiste ncia de arquiteturas,
de um lado as ocupaço es da encosta, do outro os edifí cios luxuosos do Corredor da
Vito ria, representando um dos contrastes da cidade de Salvador.
Pa gina11
Ja na segunda rodada, os professores Fabrí cio Zanoli e Luiz Anto nio de Souza falam
sobre o direito a cidade e habitaça o patrimonial na Gamboa. A histo ria do Forte da
Gamboa, ou Forte de Sa o Pedro, na o se da sem a ocupaça o da populaça o daquele lugar,
que ja era habitado antes mesmo da ocupaça o militar no forte. Por na o possuir
muralhas fechando o seu perí metro, tecnicamente e considerado apenas uma bateria,
chamado de Bateria de Sa o Paulo, hoje em dia e protegido por tombamento pelo
IPHAN, pore m o trabalho de conservaça o desse lugar tem iní cio muito antes do seu
tombamento, com a Dona Rosa, moradora que reside ha muito tempo no local e relata
que e responsa vel pela coordenaça o dos moradores. Por outro lado, ha um impasse
quanto a um processo de restauro proposto pelo IPHAN que implica que os moradores
tenham que sair do local, sem se responsabilizarem pela realocaça o deles. A
comunidade, apesar de entender a importa ncia do forte e de seu restauro, na o aceita
sair de la enquanto na o forem realocados na pro pria comunidade. Nesse conflito, o que
e mais importante, a moradia de pessoas que ha muito tempo vivem naquela regia o ou
uma obra de restauro de um patrimo nio histo rico da cidade de Salvador?
Independente da resposta, a Gamboa esta na luta pelo direito a cidade.
Outro tema abordado no passeio foi o zoneamento urbano, que e quando se divide
a cidade em a reas, de acordo com caracterí sticas. E a partir do momento que o plano
diretor propo e essa divisa o, e criada a LOUOS (Lei de Ordenamento do Uso e da
Ocupaça o do Solo), mas que muitas vezes na o e respeitada, tanto nas ocupaço es
formais quanto informais. Percebe-se tambe m que ha uma permissividade muito
maior das ocupaço es de alto padra o, como pode ser observado em todo o trajeto do
passeio. Acontece que essas leis sa o criadas pensando numa melhoria da qualidade de
vida da populaça o em geral, mas que acabam sendo prejudicados por causa do seu na o
cumprimento. Essa questa o vem sendo discutida recentemente em raza o do novo
Plano Diretor, que começou a ser discutido em 2014. O conhecimento sobre o
funcionamento desse sistema e essencial para a discussa o e ate luta em favor do direito
a cidade, por isso e de tamanha importa ncia a discussa o a respeito desse tema.
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A aula de campo encerrou-se com a paisagem da cidade e as reflexo es acerca das
questo es sociais e polí ticas sobre a cidade, que foram muito enriquecedoras.