Sobre a evolução das espécies

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  • 7/23/2019 Sobre a evoluo das espcies

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    Kardec no antecipou Darwin

    s vezes ouvimos palestrantes espritas, embora bem-intencionados mas, desculpe-nos a sinceridade , bem mal-

    informados, falarem coisas que so dolorosas de ouvir, tal o disparate.Especificamente, estamos nos referindo ao tema sobre a evoluo dosseres, quando presenciamos um determinado palestrante, at de muitoconhecimento, dizer que, na questo da evoluo das espcies, Kardecantecipou Darwin.

    Ficamos boquiabertos, tamanha a nossa surpresa diante de talinfirmao, pois, para ns, foi Kardec quem se utilizou da teoria deDarwin, conforme iremos demonstrar.

    Temos em mos o livro Evoluo: do tomo ao arcanjo, uma publicao da FederaoEsprita do Rio Grande do Sul, do qual transcrevemos:

    A ideia de um encadeamento evolucionrio sem soluo de continuidadeentre os outros seres criados e o homem s teve condies de firmar-se a partirda segunda metade do sculo XIX, com a publicao de duas importantesobras contemporneas: O Livro dos Espritos, de Allan Kardec, em 1857,apresentando a evoluo como um processo espiritual contnuo, que abrangetodos os seres, sendo o homem apenas o ltimo elo da cadeia da animalidadena Terra (A Gnese, captulo 10, item 29), e A Origem das Espcies deCharles Darwin, em 1859, que procura explicitar a evoluo das espciesdentro de uma escala biolgica, incluindo nela o homem, ainda com algumasreservas, pois sabemos que a teoria darwiniana encontrou, e encontra atnossos dias, grande resistncia por parte das Igrejas Crists. (PAIM, 2013, p.142, grifo nosso).

    Primeiro, gostaramos at de pedir desculpas autora, Zo Mary Saraiva Paim, por citarsua obra, cuja publicao tem a chancela da Federao Esprita do Rio Grande do Sul, masprecisvamos de alguma evidncia concreta para tratar o assunto. Assim, no temos a mnimainteno de desmerecer a obra ou sua autora, mas apenas o de ajudar no esclarecimentodesse assunto, para que possamos ter uma ideia exata dos acontecimentos.

    O que temos visto que no se presta a devida ateno num ponto fundamental entrea obra de Allan Kardec e a de Charles Darwin; a primeira, publicada em a 18 de abril de 1857,a segunda em 22 de novembro de 1859. S que os estudiosos espritas no se do conta deque as atuais 1019 perguntas de O Livro dos Espritos da segunda edio, de 18 de maro de1860, e a sim, ele trata da questo da evoluo espiritual, o que no aconteceu na primeiraedio de 1857, com 501 perguntas. Alis, na edio de 1857 a informao at mesmocontrria que temos com a segunda edio; portanto, h uma diferena no que se fala sobre

    o assunto entre a 1 e a 2 edio de O Livro dos Espritos.Um pouco mais frente, a autora volta a afirmar:

    [] J tivemos ocasio de ressaltar, quando falamos sobre a teoriaevolucionista, a correlao que h entre o lanamento de O Livro dos Espritos,em 1857, e o aparecimento da obra de Darwin, A Origem das Espcies, doisanos depois. Ambas so complementares. A primeira antecipa-se evoluobiolgica de Darwin e a coloca como resultado da evoluo espiritual.

    Ao final da Introduo de O Livro dos Espritos, Kardec escreveu:Se se observa a srie dos seres, descobre-se que eles formam uma cadeia semsoluo de continuidade, desde a matria bruta at o homem mais inteligente.Porm, entre o homem e Deus, alfa e mega de todas as coisas, que imensa

    lacuna. Ser racional pensar-se que no homem terminam os anis dessa cadeiae que ele transporta sem transio a distncia que o separa do infinito? (p. 47).Kardec, apresentava, assim, j no incio de seu trabalho, o carter evolucionistada Doutrina dos Espritos. []. (PAIM, 2013, p. 3378-338, grifo nosso).

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    O problema aqui que a falta de ateno no permitiu autora perceber que essetrecho da Introduo de O Livro dos Espritos, que cita, s aparece na segunda edio, marode 1860; portanto, essa observao de Kardec s apareceu aps a divulgao da teoria daevoluo de Darwin, ao contrrio do que muitos propagam que Kardec se antecipou TeoriaDarwiniana sem atentarem para a cronologia das edies.

    O que os Espritos disseram, quando da primeira edio, deixa isso bastante claro:

    127 A alma do homem, no teria sido ela antes o princpio da vida dosltimos seres vivos da criao para chegar, por meio de uma lei progressiva, atao homem, em percorrendo os diversos degraus da escala orgnica?

    No! No! Homens ns somos desde natos.

    Cada coisa progride na sua espcie e em sua essncia; o homem jamaisfoi outra coisa que no um homem. (KARDEC, 2004, p. 65, grifo nosso).

    Os comentrios de Kardec:

    127 Qualquer que seja a diversidade das existncias pelas quais passanosso esprito ou nossa alma, elas pertencem todas Humanidade; seria umerro acreditar que, por uma lei progressiva, o homem passou pelosdiferentes degraus da escala orgnica para chegar ao seu estado atual.Assim, sua alma no pode ter sido antes o princpio da vida dos ltimos seresanimados da criao para chegar sucessivamente ao degrau superior: aohomem. (KARDEC, 2004, p. 65, grifo nosso).

    clara a posio dos Espritos e de Kardec que o Esprito do ser humano jamais passoupelos vrios reinos da natureza para chegar ao atual estgio: o hominal. O que se admitia poca da primeira edio era que o progresso intelectual e moral acontecia pela fieira dareencarnao; porm, o Esprito humano sempre encarnou e reencarnou em corpos humanos,vamos assim dizer.

    Na segunda edio, Kardec questiona os Espritos a respeito dessa informao queconstou da primeira edio. Vejamos as respostas a algumas questes que se ligam aoassunto:

    607. Dissestes (190) que o estado da alma do homem, na sua origem,corresponde ao estado da infncia na vida corporal, que sua inteligncia apenasdesabrocha e se ensaia para a vida. Onde passa o Esprito essa primeirafase do seu desenvolvimento?

    Numa srie de existncias que precedem o perodo a que chamaisHumanidade.

    607. a) - Parece que, assim, se pode considerar a alma como tendosido o princpio inteligente dos seres inferiores da criao, no?

    J no dissemos que todo em a Natureza se encadeia e tende para aunidade? Nesses seres, cuja totalidade estais longe de conhecer, que oprincpio inteligente se elabora, se individualiza pouco a pouco e seensaia para a vida, conforme acabamos de dizer. , de certo modo, umtrabalho preparatrio, como o da germinao, por efeito do qual oprincpio inteligente sofre uma transformao e se torna Esprito. Entraento no perodo da humanizao, comeando a ter conscincia do seufuturo, capacidade de distinguir o bem do mal e a responsabilidade dosseus atos. Assim, fase da infncia se segue a da adolescncia, vindo depois ada juventude e a da madureza.

    Nessa origem, coisa alguma h de humilhante para o homem. Sentir-se-o humilhados os grandes gnios por terem sido fetos informes nasentranhas que os geraram? Se alguma coisa h que lhe seja humilhante, a sua

    inferioridade perante Deus e sua impotncia para lhe sondar a profundeza dosdesgnios e para apreciar a sabedoria das leis que regem a harmonia doUniverso. Reconhecei a grandeza de Deus nessa admirvel harmonia, mediantea qual tudo solidrio na Natureza. Acreditar que Deus haja feito, seja oque for, sem um fim, e criado seres inteligentes sem futuro, fora

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    blasfemar da Sua bondade, que se estende por sobre todas as suascriaturas.

    607. b) Esse perodo de humanizao principia na Terra?

    A Terra no o ponto de partida da primeira encarnao humana. Operodo da humanizao comea, geralmente, em mundos aindainferiores Terra. Isto, entretanto, no constitui regra absoluta, pois podesuceder que um Esprito, desde o seu incio humano, esteja apto a viver naTerra. No frequente o caso; constitui antes uma exceo.

    (KARDEC, 2007a, 336-337, grifo nosso).

    No resta dvida que o princpio inteligente que hoje se encontra no reino hominal,veio, via progresso evolutivo, tendo experincias nos reinos inferiores, na situao mencionadana pergunta acima, no reino animal. Recomendamos ao leitor que tambm veja as questes erespectivas respostas de nmero 608 a 611, que completam a que aqui apresentamos.

    A concluso que chegamos exatamente o contrrio do que dizem. Para ns, foi Kardecque se aproveitou da teoria da evoluo das espcies de Darwin para voltar com o assunto e,como j havia suporte cientfico, os Espritos foram mais explcitos na questo, reformulando o

    que disseram anteriormente, para afirmarem sobre a evoluo do esprito atravs do reinoanimal. Lembrando o que dissera Jesus em Joo 16,12: Tenho ainda muito que vos dizer,mas no podeis agora suportar.

    Compreendemos que, para que pudssemos entender, houve a necessidade de ter umsuporte cientfico para que a informao tivesse condies de ser assimilada por ns.

    Por outro lado, Kardec tambm deixou bem claro que: [...] Caminhando de par com oprogresso, o Espiritismo jamais ser ultrapassado, porque, se novas descobertas lhedemonstrarem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificar nesse ponto. Seuma verdade nova se revelar, ele a aceitar. (KARDEC, 2007e, p. 54). O que demonstra que oEspiritismo dever aliar-se s novas verdades cientficas; evidentemente, obedecendo aosprincpios morais e ticos cristos.

    Paulo da Silva Neto SobrinhoAgo/2013.

    Referncia bibliogrfica:

    KARDEC, A.A Gnese. Rio de Janeiro: FEB, 2007e.KARDEC, A. O Livro dos Espritos primeira Edio de 1857. So Paulo: IPECE, 2004.

    KARDEC, A. O Livro dos Espritos. Rio de Janeiro: FEB, 2007a.PAIM, Z. M. S. Evoluo: do tomo ao arcanjo. Porto Alegre: Francisco Spinelli, 2013.imagem:http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c4/Charles_Robert_Darwin_by_John_Collier-crop.jpg, acesso em 29/08/2013, s 16:44hs.

    Este artigo foi publicado: revista Espiritismo & Cincian 108. So Paulo: Mythos Editora, nov/2013, p. 18-22.

    http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c4/Charles_Robert_Darwin_by_John_Collierhttp://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c4/Charles_Robert_Darwin_by_John_Collier