Sobre o corpo inacabado em A pele que habito

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/26/2019 Sobre o corpo inacabado em A pele que habito

    1/15

    Sobre o corpo inacabado emA pele que habito

    Felipe Wircker*

    Ana Kiffer**

    Resumo: O presente artigo busca levantar algumas questes relativas noo e !"umano# e ao "umanismoociental moerno a partir o questionamento acerca as noes e se$o e g%nero& 'ara tal iscusso( toma)secomo intercessores o filme e 'ero Almovar A pele que habito e alguns trabal"os a artista pl+stica ,ouise-ourgeois( e$plorao por Almovar neste longa)metragem( no intuito no e uma an+lise conceitual osmesmos( mas e pensar a partir as manifestaes art.sticas em questo( ano %nfase ao eslocamento oentenimento moerno e corpo como algo fec"ao( calcul+vel e meicali/ao para uma noo e corpo comoalgo inacabao( em constante transformao( espao e criao que esestabili/a as concepes icot0micas etermos como "omem1mul"er( masculino1feminino( "umano1inumano( natural1artificial( ess%ncia1apar%ncia(forma1informe&

    Palavras-chave: corpo2 inacabao2 g%nero2 se$o2 artes visuais

    Abstract: 3"e present article seeks to raise some questions relate to t"e notion of !"uman# an to 4esternmoern "umanism calling into question t"e notions of se$ an gener t"roug" 'ero Almovar5s The skin I livein an some art 4orks of ,ouise -ourgeois( t"at are use b6 Almovar in "is movie& 3"e intention5s not toevelop a conceptual anal6sis of t"ese artistic 4orks but to arouse t"e issues from it( emp"asi/ing t"eisplacement of t"e moern unerstaning of !bo6# as somet"ing close an measurable to t"e notion of bo6as somet"ing unfinis"e( al4a6s in transformation( as a space of creation t"at estabili/es t"e conceptions ofterms like man14oman( masculine1feminine( "uman1in"uman( natural1artificial( essence1appearance(form1formless as ic"otomies&

    Keywords: bo62 unfinis"e2 gener2 se$2 visual arts

    Resumen: 7l presente art.culo busca al/ar algunas cuestiones acerca e la nocin e !"umano# 6 el "umanismoocciental moerno a partir el cuestionamiento e las nociones e se$o 6 g8nero& 'ara este ebate( tomamoscomo intercesores la pel.cula e 'ero Almovar La piel que habito6 algunos traba9os e la artista pl+stica,ouise -ourgeois( que sirvieron e inspiracin a Almovar en el largometra9e& ,a intencin( en este abora9e(no es "acer un an+lisis conceptual e los mismos( sino pensar a partir e ic"as manifestaciones art.sticas( ano8nfasis al espla/amiento e la nocin moerna e cuerpo como algo cerrao( calculable 6 meicao para unanocin cuerpo como algo inacabao( en continua transformacin( espacio e creacin e otras posibiliaes queesestabili/a las nociones icotmicas e t8rminos como "ombre1mu9er( masculino1femenino("umano1in"umano( natual1artificial( esencia1apariencia( forma1informe&

    *Felipe ac"ao: ;rauao em

  • 7/26/2019 Sobre o corpo inacabado em A pele que habito

    2/15

    Palabras-clave: cuerpo2 inacabao2 g8nero2 se$o2 artes visuales

    I am in my body the way most people drive in their cars

    ,aurie Anerson

    1

    O corpo vivo 8 atao mesa e cirurgia& Ao lao ele( preparano)se para toc+)lo(

    cort+)lo( o "omem: m8ico( artistaQ Aps ei$ar a cl.nica e$tremamente bem equipaa que

    escone no subsolo e sua manso( o "omem sobe ao quarto e passa apressaamente por uas

    J%nus e 3iciano( e$postas no correor( no af e amirar( em seu quarto( atrav8s e uma

    enorme tela e v.eo( a obra recente que ele acreita ter finalmente conclu.o&

    O m8ico( enquanto su9eito moerno R !su9eito# nos ois sentios o termo: como umser autocentrao( autoientit+rio( presente a si e como um assu9eitamento s constries o

    con"ecimento R( reflete a loucura e soerguer no centro o pensamento que caracteri/a a

    moerniae a figura que c"amou)se !"omem# R classificano clinicamente( inclusive( como

    loucura e perverso tuo aquilo que se esvia essa forma e via institu.a Hpor um poer

    instituinte o que conta como via !"umana#I&

    A m+quina bin+ria mostra)se funamental no s para a constituio os saberes em

    torno e uma forma)Somem( como tamb8m para a regulao e manuteno as manifestaes

    e poer em iversas instDncias( estano vinculaos poer e saber HFO?

  • 7/26/2019 Sobre o corpo inacabado em A pele que habito

    3/15

    uitos esses binarismos foram prou/ios e fomentaos por um saber m8ico)

    cient.fico que gan"ou fora no s8culo ZZ( mas se insere em um iscurso que ese muito

    tempo( nas socieaes ocientais( se esfora por e$trair uma verae o se$o& Antes e uma

    represso( portanto( "averia uma necessiae muito maior e !e$presso# o se$o&

    Gefeneno a tese e que o poer no funciona por represso( mas por normali/ao e

    isciplinas( ic"el Foucault HECLLI ressalta que essa normali/ao( efetuaa pelo que ele

    c"amou e ispositivos e poer( se + atrav8s a constituio e uma verae& Ou se9a(

    "averia uma verae o se$o( encaraa como uma ess%ncia ou mesmo um segreo a ser

    revelao( pela qual passaria nossa prpria verae e a relao o su9eito consigo mesmo& Ge

    acoro com essa an+lise( o saber se configura e se organi/a em torno o se$o por t8cnicas

    religiosas( m8icas e sociais& 7( para e$trair essa !verae#( os ispositivos funcionam(

    seguno Foucault( muito mais por incitao norma o que por represso( e$erceno tanto

    um controle moral quanto um controle os corpos na prouo e sub9etiviae&

    O fascismo o m8ico @obert ,egar emA pele que habito( obcecao pela forma que

    consiera !perfeita#( se ope( evientemente( s possibiliaes o corpo e transitar entre

    categorias bin+rias( criar e afirmar esvios em relao norma& O fato e usar um ser "umano

    como ob9eto e e$perimentos 8 apontao como sua maior transgresso em relao !8tica#

    cient.fica& ,egar contesta o argumento contra a transg%nese efeneno o uso a ci%ncia

    para !mel"orar a esp8cie#&

    Algumas perguntas surgem em face esse argumento: no que consiste esse

    entenimento e ci%ncia que coincie com a insurg%ncia o !"omem# como su9eito e ob9eto

    o saberQ Ge que maneira esse saber do "omem isseminou)se nos iversos n.veis e Dmbitos

    a socieae e passou a constituir um certo !senso comum#: as instituies via privaa(

    a fam.lia ao 7stao( amparano e amparao por iscursos m8icos( cient.ficos( 9ur.icos(

    filosficos( pol.ticos( sociaisQ o estar.amos iante e um ocaso esta figura( esta forma

    !"umana# que insurgiu no pensamento moerno ocientalQ 'or que tornou)se to necess+riorecon"ecer)se e ser recon"ecio como !"umano# para ter o ireito via( tornaa um

    atributoQ 'or outro lao( por que parece to if.cil pensar na via para al8m o !"umano# se a

    too momento ela foge e e$cee os limites inst+veis que o efinemQ [uais os esobramentos

    8ticos essa transformao em curso( ou essa crise o !"umano#Q

    A via( como o corpo( assume um uplo aspecto: ao mesmo tempo em que so

    concebios como campos e assu9eitamento( como instDncias calcul+veis( mostram)se espaos

    8ticos e processos e sub9etivao que no passam( necessariamente( pela forma !"umana#&

    @evistaPeridicusEP eio maio)outubro e BEM444&portalseer&ufba&br1ine$&p"p1revistaperioicus1ine$

    http://www.portalseer.ufba.br/index.php/revistaperiodicus/indexhttp://www.portalseer.ufba.br/index.php/revistaperiodicus/index
  • 7/26/2019 Sobre o corpo inacabado em A pele que habito

    4/15

  • 7/26/2019 Sobre o corpo inacabado em A pele que habito

    5/15

    A vaginoplastia 8 feita clanestinamente( sem o tratamento "ormonal que l"e precee

    no processo e reesignao se$ual& esse sentio( Jicente1Jera passa por um processo

    contr+rio ao !paro#( isto 8( acee cirurgia sem a ingesto pr8via e "orm0nios que inicia a

    transformao corporal& Geve( ento( acostumar)se com um corpo que 9+ no 8 o !seu#( mas

    o saberRpoer m8ico: o mal)estar e o estran"amento com o !prprio# corpo ocorre aps a

    cirurgia( epois a construo e um novo corpo& Assim ,egar espera cumprir uma upla

    vingana: morte a esposa( esfiguraa por uma queimaura He one a obsesso por criar

    uma nova pele resistente s agresses e$ternasI( e ao suposto estupro a fil"a( teno ambas o

    suic.io como consequ%ncia&

    7m meio a esse abismo vertiginoso para one 8 arrastaa a personagem R literalmente(

    uma clausura R( 8 na obra e ,ouise -ourgeois que Jera busca f0lego R iante e uma

    concepo outra o corpo( como um espao que no est+ fec"ao nem acabao( mas( ao

    contr+rio( aberto( mut+vel e isforme& 7ntre corpos costuraos( cabeas retal"aas( rostos

    esfiguraos( o se$o( antes e fec"ar o corpo em uma possibiliae e significao restrita( se

    + muito mais como um .nice e inacabamento& A fragmentao o corpo( em -ourgeois(

    no parece buscar uma totaliae ou uniae centrali/aora2 ao contr+rio( os corpos se fa/em

    em estran"as articulaes( !a9untamentos que re\nem sem unir#: !a. o aspecto por ve/es

    monstruoso os corpos soltos ou ".brios e ,ouise#& H;@O==A( BEE( p& X)I&

    3al gesto parece ecorrer e uma questo atravessaa( ao mesmo tempo( por uma

    ang\stia e por um ol"ar infantil que recusa uma concepo normativa o corpo: como um

    corpo se esmontaQ !uit" -utler HBBXI e esfa/er o g%nero e ser esfeito por ele( num constantefa/er)se e esfa/er)se( costurar e escosturar( criar e recriar( ei$ano vis.veis as marcas a

    costura( os rasgos HtraosI( como em uma relao cr.tica com a norma&

    -ourgeois falava e uma !repulsa ao c"o R vontae e penurar as coisas e e ver

    coisas penuraas ]^_( ob9etos flutuantes# H-O?@;7O=( BEEb( p& MI& Ge fato( algumas

    e suas obras ficam penuraas Htais como !>anus Fleuri#( !Fillette#( !Arc" of S6steria# e as

    !Gissocier les corps( 8bo`ter leurs articulations( permet 5ouvrir l5espace 5autres reliaisons cr8atrices: 5o

    l5aspect parfois monstrueu$ es corps 8tac"8s ou "6bries e ,ouise# H3oas as traues este te$to so enossa responsabiliaeI&!

  • 7/26/2019 Sobre o corpo inacabado em A pele que habito

    6/15

    s8ries !

  • 7/26/2019 Sobre o corpo inacabado em A pele que habito

    7/15

    A questo( emA pele que habito( talve/ no se9a tanto o se$o quanto o g%nero( a

    opresso e g%nero ligaa fi$ao e uma ientiae& O problema maior para Jera no 8 ter

    e aaptar)se ao se$o que l"e foi esignao( aina que forosamente( mas ao g%nero a que( em

    uma concepo "eteronormativa( o se$o eve corresponer Hnote)se( como e$emplo( que o

    primeiro !presente# que recebe aps a cirurgia 8 um livro e maquiagem acompan"ao o

    material necess+rio: r.mel( l+pis e ol"o( blush( base2 assim como s l"e so oferecios

    vestiosI&

  • 7/26/2019 Sobre o corpo inacabado em A pele que habito

    8/15

    os trabal"os e ,ouise -ourgeois R nas costuras e remenos com retal"os e panos)

    peles( como o corpo eitao na mesa e cirurgia que vemos no !quaro# e Almovar R os

    seios( vaginas( p%nis so antes e$cresc%ncias( protuberDncias( ou fenas( buracos e rasgos

    H;@O==A( BEE( p& YI o que membros !se$uais#&

    7sse eslocamento( al8m e sugerir uma problemati/ao as leis e biologi/ao o

    se$o ou a reprouo se$uaa enquanto eterminao biolgica( tensiona os elementos a

    tr.ae se$oRg%neroRese9o e acoro com a organi/ao "eterocentraa( provocano uma

    certa is9uno esses termos& !Face s in9unes moernas: o que 8 uma mul"erQ Hquesto

    feministaI( o que quer uma mul"erQ Hquesto freuianaI( ,ouise -ourgeois no respone2 ela

    esloca a questo( transgrie os limites se$uais( issocia os corpos2 ela inventa apro$imaes

    incongruentes( boraas1boreaas pelo monstruoso# H;@O==A( BEE( p& YE)I&Y

    'ara -ourgeois( 8 preciso quebrar( estruir( esfacelar( para ento restaurar( costurar&

    !7u quebro tuo o que toco porque sou violenta& 7u estruo min"as ami/aes( meu amor(

    meus fil"os& As pessoas geralmente no percebem( mas "+ cruelae em meu trabal"o& 7u

    quebro porque ten"o meo# H-O?@;7O= apud ;@O==A( BEE( p& YLI&X e casse tout ce que 9e touc"e parce que 9e suis violente& >e 8truis mes amiti8s( mon amour( mes enfants& ,esgens ne s5en aperoivent pas en g8neral( mais il 6 a e la cruaut8 ans mon travail& >e casse parce que 95ai peur#&

    @evistaPeridicusEP eio maio)outubro e BEM444&portalseer&ufba&br1ine$&p"p1revistaperioicus1ine$

    http://www.portalseer.ufba.br/index.php/revistaperiodicus/indexhttp://www.portalseer.ufba.br/index.php/revistaperiodicus/index
  • 7/26/2019 Sobre o corpo inacabado em A pele que habito

    9/15

    prouo e sub9etiviae( nos processos e ientificao e recon"ecimento HG7,7?U7 V

    ;?A33A@( ECCXI&

    Jicente precisa recriar)se enquanto Jera( no s por conta a reesignao se$ual e a

    imposio e g%nero que recai sobre ela( mas tamb8m pela muana e rosto& =eria o

    processo e !femini/ao facial#Nimprescin.vel prouo e uma !nova# sub9etiviaeQ

    7m contraste com o rosto minuciosamente esen"ao e a pele consieraa !perfeita#( 8 pelos

    rostos isformes e ,ouise -ourgeois que a personagem busca se reinventar( mesmo com o

    m8ico privano)l"e as lin"as( agul"as e tesouras&

    7m -ourgeois( o rosto 8 sempre retal"ao( eformao( com e$presses grosseiras ou

    agoni/antes2 no "+ como i/er que se parece um "omem ou uma mul"er apenas pelo rosto(

    como se aqueles corpos tentassem fugir as significDncias prou/ias pela m+quina e

    rostiae&Lota)se( assim( um c"oque com o primao o rosto sobre o corpo inerente

    cultura ociental que elimita o rosto como espao privilegiao e e$pressiviae R e one a

    necessiae imprescin.vel e um rosto( !aina que se9a o e um morto#( como averte o

    m8ico ,egar&

  • 7/26/2019 Sobre o corpo inacabado em A pele que habito

    10/15

    sobrecodi%icadopor algo que enominaremos @osto#( o que envolve( pois( o corpo: !a cabea

    e seus elementos no sero rostificaos sem que o corpo inteiro no o possa ser( no se9a

    levao a s%)lo( em um processo inevit+vel# HG7,7?U7 V ;?A33A@( ECCX( p& YI&

    Ao ispor cabeas sem corpo e rostos eformaos e remenaos( ,ouise -ourgeois

    fa/ uso a traio e representar cabeas em peestais( mas se istancia a prouo e

    sub9etiviae atrav8s o rosto& o toa( prescinem e t.tulos( e nomes: so apenas

    cabeas( qui+ buscano traos perios e um rosto morto( que acreitavam !"umano#& O

    rosto( nesse caso( 9+ no se restringe a um elemento "umano o "omem( no faria aparecer a

    sua !"umaniae#& ?ma ve/ que 8 o prouto e uma m+quina abstrata que trabal"a por

    representaes( no poe ser efinio como !prprio# o "omem R mesmo porque esse

    !prprio# no e$iste seno enquanto eterminao pr8via e arbitr+ria2 !"+ mesmo algo e

    absolutamente inumano no rosto# HG7,7?U7 V ;?A33A@( ECCX( p& XI& 7le s e$iste no

    processo e esterritoriali/ao e reterritoriali/ao( com o estino e ser esfeito e refeito&

    o processo e reesignao se$ual( parece "aver uma upla relao entre rosto e

    corpo: um novo rosto recoifica por inteiro um corpo( mas um novo corpo emana um novo

    rosto para que se9am apagaos ao m+$imo os traos ou resqu.cios e masculiniae ou e

    feminiliae& Giante o novo rosto e o novo corpo( os traos e Jicente parecem

    esvanecer)se no surgimento e Jera( e( se9a por esse motivo ou por soberba !art.stica#(

    ,egar apai$ona)se por !sua# criao&

    ?m novo rosto( portanto( rostifica por inteiro um corpo( esloca)o( esterritoriali/a e

    reterritoriali/a)o em outras significDncias e sub9etivaes& 'or isso( na relao entre rosto e

    prouo e sub9etiviae( !]n_o 8 um su9eito que escol"e os rostos( ]^_ so os rostos que

    escol"em seus su9eitos# HG7,7?U7 V ;?A33A@( ECCX( p& MN)LI( o que se afirma no fato

    o rosto ter se tornao um elemento imprescin.vel na ientificao e no recon"ecimento o

    su9eito&

    3al efeito que assume o rosto parece estar relacionao a uma muana no processo econstituio a ientiae HA;A-7( BEEI: o recon"ecimento social( antes esignao

    pela funo social o iniv.uo( que coinciia com uma personaliae Histo 8( !o lugar o

    iniv.uo nos ramas e nos ritos a via social#I( mua raicalmente a partir a moerniae

    com o avento e processos e ientificao por aos biom8tricos surgios com as t8cnicas

    e pol.cia para ientificao os !elinquentes#( oravante recon"ecios Hou fic"aosI como

    criminosos& O sistema e ientificao baseao na meio antropom8trica e na fotografia e

    filiao( ento( isseminou)se para o con9unto a populao e passou a constar no que "o9econ"ecemos como !c8ulas e ientiae#( acompan"ao a t8cnica e coificao as

    @evistaPeridicusEP eio maio)outubro e BEM444&portalseer&ufba&br1ine$&p"p1revistaperioicus1ine$

    http://www.portalseer.ufba.br/index.php/revistaperiodicus/indexhttp://www.portalseer.ufba.br/index.php/revistaperiodicus/index
  • 7/26/2019 Sobre o corpo inacabado em A pele que habito

    11/15

    impresses igitais&

  • 7/26/2019 Sobre o corpo inacabado em A pele que habito

    12/15

    naa que se9a "umano( que pertena a um corpo "umano( um esp.rito "umano( uma ess%ncia

    "umana# HG7@@GA( ECC( p& MNI&EB

    esse esvio( Gerria aponta( portanto( a um escompasso( uma inaequao entre um

    !eu# e um nome: !]n_o)coinci%ncia e contratempo entre meu nome e eu( entre a e$peri%ncia

    e acoro com a qual sou nomeao ou me ouo nomeao e meu presente vivio5#

    HG7@@GA( ECC( p& MI&EE7sse escompasso evoca uma inumaniae ou a)"umaniae o

    nome ito !prprio#& Ao apontar o nome prprio como algo inumano que s ao !"omem#

    pertence( Gerria esfa/ a ieia e que a linguagem verbal 8 o atributo mais "umano o

    !"omem#( o que iferenciaria "ierarquicamente o "omem o animal( argumento que bali/a a

    iluso e superioriae "umana ao pressupor a supremacia a racionaliae como qualiae

    "umana2 enfim( isto que constitui um "umanismo que no fa/ seno cercear os moos e via

    e itar o que 8 normativamente "umano ou !prprio# o "omem&

    5

    Obsesso o m8ico ,egar pela forma: as J%nus que o circunam( os retal"os que

    l"e escapam& Ao passo que ele cr% ter alcanao seu ob9etivo( uma pele finalmente resistente

    s agresses e$ternas( mas sens.vel ao toque( poe)se i/er que no "+ t8rmino estabelec.vel(

    que no "+ ponto e c"egaa na transformao cont.nua e um corpo( posto que nem a

    transformao e nem o corpo se restringem forma&

    O que se etermina como !prprio# 8 inispens+vel relao e proprieae que se

    estabelece na constituio e uma ientiae( e uma categoria& !=er mul"er# ou !ser

    "omem#( por8m( no e$istem seno enquanto refer%ncias infinitas ao que 8 ser mul"er e ser

    "omem( repeties constantes que se inserem em eterminaos iscursos e que se inscrevem

    nos corpos atrav8s as t8cnicas e os comportamentos que essas noes engenram( em uma

    enorme !estrutura referencial# HG?[?7)7=3@AGA( BEBI&

    =e( por um lao( essa concepo parece abstrata e sugere um enfraquecimento amaterialiae as relaes que se o a partir os iscursos calcaos em icotomias como

    "omem1 mul"er( masculino1 feminino( por outro( ao contr+rio( ela permite uma esconstruo

    esses iscursos ao apontar que no "+ uma ess%ncia( um !enquanto tal# para os termos

    referenciais& @etomano Geleu/e V ;uattari:

    EB!A proper name oes not name an6t"ing 4ic" is "uman( 4ic" belongs to a "uman bo6( a "uman spirit( an

    essence of man#&EE!on)coincience an contretemps bet4een m6 name an me( bet4een t"e e$perience accoring to 4"ic" am name or "ear m6self name an m6 living present5#&

    @evistaPeridicusEP eio maio)outubro e BEM444&portalseer&ufba&br1ine$&p"p1revistaperioicus1ine$

    http://www.portalseer.ufba.br/index.php/revistaperiodicus/indexhttp://www.portalseer.ufba.br/index.php/revistaperiodicus/index
  • 7/26/2019 Sobre o corpo inacabado em A pele que habito

    13/15

    A"( no 8 nem um "omem nem uma mul"er( 8 um travesti: a relao bin+ria se estabelece entreo !no# e primeira categoria e um !sim# e categoria seguinte que tanto poe marcar umatolerDncia sob certas conies quanto inicar um inimigo que 8 necess+rio abater a qualquer

    preo& HG7,7?U7 V ;?A33A@( ECCX( p& MYI

    O segreo que um corpo guararia( que revelaria sua verae e pelo qual passaria a

    verae sobre si( sobre uma ientiae que l"e seria prpria( 8 algo que 9amais se revela R e 8(

    precisamente( nada: !O corpo no guara naa: se guara como segreo& 'or isso o corpo

    morre( e leva seu segreo tumba& Ficam apenas alguns in.cios e sua passagem# HA

  • 7/26/2019 Sobre o corpo inacabado em A pele que habito

    14/15

    entre esses binarismos2 perfuraes( rasgos nas ientiaes( afirmano o isforme e o no)

    "umano como pot%ncias na criao e outros moos e via& Fa/er)se( esfa/er)se e refa/er)

    se( costurar)se e escosturar)se& 3alve/ nesse processo se9a poss.vel liberar o "umano

    criao e uma via no)"umana Histo 8( no constrangia pelos limites o !"umano#I&

    esse sentio( afirma)se a noo e multio que evoca a multipliciae "eterog%nea

    o tecio social e o inacabamento os corpos como abertura para resistir aos pequenos

    fascismos em que inevitavelmente se cai ao eter)se em e$cesso nas formas& @esistino s

    tentativas e normali/ao( normati/ao e apropriao( o corpo estran"o mant8m)se um

    intruso( caso contr+rio pere a !estran"e/a#( a iferena que o mant8m inassimil+vel(

    inapropri+vel&E

    Reer!ncias

    A;A-7( ;iorgio&Desnude)& 3ra& ercees @uvituso 6 ar.a 3eresa G5e/a& -uenosAires: Ariana Sialgo 7itora( BEE&

    A@3A?G( Antonin& ( Teatro e seu Duplo& 3ra& 3ei$eira acques& !Ap"orism acques& !A palavra sopraa# n: A escritura e a di%eren!a& Mae& =o 'aulo:'erspectiva( BBC&

    Enspiramo)nos( aqui( na ieia e intruso no ensaio filosfico e >ean),uc anc6( ( intruso&

    @evistaPeridicusEP eio maio)outubro e BEM444&portalseer&ufba&br1ine$&p"p1revistaperioicus1ine$

    http://www.portalseer.ufba.br/index.php/revistaperiodicus/indexhttp://www.portalseer.ufba.br/index.php/revistaperiodicus/index
  • 7/26/2019 Sobre o corpo inacabado em A pele que habito

    15/15

    G?[?7)7=3@AGA( 'aulo amais se renuncia ao Arquivo R otas sobre !al eArquivo# e >acques Gerria& /ature)a humana& =o 'aulo( v& E( n& ( BEBb&Gispon.vel em "ttp:11pepsic&bvsalu&org1scielo&p"pQscriptscidartte$tVpi=EYEN)MBBEBBBBBBBBVlngptVnrmiso&

    FO?