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MARCELO MONTEIRO s quedas de Adolf Hitler e Benito Mussolini e as bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki não trouxeram paz para um grande contingente de brasileiros. Sete décadas após o fim da II Guerra Mundial, os soldados da borracha ainda buscam reconhecimento pelo sacrifício a que foram submetidos em nome da pátria no chamado “front interno”. Recrutados pelo governo do presidente Getúlio Vargas para atuar na extração de látex, que seria enviado à indústria bélica americana, os remanescentes da Batalha da Borracha lutam pela equiparação salarial com os integrantes da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Com idade avançada – muitos deles têm sérios problemas de saúde –, esses heróis esquecidos veem no possível aumento nos ganhos a última esperança por dias melhores no fim da vida. Em 1988, com a sua inclusão oficial na condição de combatentes da guerra, os soldados da borracha passaram a ter direito a uma pensão vitalícia, de atualmente R$ 1,35 mil, menos de um terço do soldo recebido pelos pracinhas (R$ 4,6 mil). – Quando o governo precisou, eles (trabalhadores) vieram de boa vontade. Agora é a hora de reconhecer o esforço desses homens – afirma George Menezes, neto de soldado da borracha e atual vice-presidente do Sindicato dos Soldados da Borracha e Seringueiros de Rondônia (Sindsbor). SEGUE > exército de seringueiros a quase totalidade (97%) das regiões produtoras de borracha do Oceano Pacífico estava sob poder japonês. Dessa forma, a indústria bélica dos Estados Unidos precisava de alternativas de fornecimento de matéria- prima para a fabricação de pneus, esteiras de tanques, correias de motores e uma infinidade de itens essenciais para o esforço de guerra. DOMINGO, 3 DE NOVEMBRO DE 2013 Geral 23 ZERO HORA no começo de 1942, e EUA, iniciada no pré-guerra e consolidada com os Acordos de Washington, ofereceu a solução do problema. Em troca do fornecimento de borracha e da cessão de bases aeronavais no Nordeste – visto como trampolim estratégico entre o continente americano e a África, onde as tropas aliadas e nazifascistas já disputavam espaço –, os irmãos do norte auxiliariam o Brasil com armamentos, equipamentos e recursos financeiros. A AproximAção entre BrAsil da aliança entre os governos brasileiro e americano foi o financiamento da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que sairia do papel graças ao aporte de recursos do tesouro dos Estados Unidos. Sua inauguração seria um dos pilares do crescimento industrial do país a partir dos anos seguintes. Para cumprir sua parte no acordo, porém, o Brasil precisaria enviar um grande contingente de trabalhadores para a selva amazônica. um dos principAis frutos seringueiros em atividade na região era de aproximadamente 35 mil, com produção inferior a 17 mil toneladas de borracha. Com o objetivo de ampliar a produção para 70 mil toneladas anuais, o governo lançou mão da campanha Soldados da Borracha. A meta era alcançar um total próximo a 100 mil seringueiros, que trabalhariam para atender à demanda dos EUA. À épocA, o número de Porto Velho (RO) MARCELO MONTEIRO UMA GUERRA SOLDADOS DA BORRACHA SEM FIM [email protected] E DIVULGAÇÃO MARCELO MONTEIRO

Soldados da Borracha

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s quedas de Adolf Hitler e Benito Mussolini e as bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki não trouxeram paz para um grande contingente de brasileiros.

Sete décadas após o fim da II Guerra Mundial, os soldados da borracha ainda buscam reconhecimento pelo sacrifício a que foram submetidos em nome da pátria no chamado “front interno”.

Recrutados pelo governo do presidente Getúlio Vargas para atuar na extração de

látex, que seria enviado à indústria bélica americana, os remanescentes da Batalha da Borracha lutam pela equiparação salarial com os integrantes da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Com idade avançada – muitos deles têm sérios problemas de saúde –, esses heróis esquecidos veem no possível aumento nos ganhos a última esperança por dias melhores no fim da vida.

Em 1988, com a sua inclusão oficial na condição de combatentes da guerra, os

soldados da borracha passaram a ter direito a uma pensão vitalícia, de atualmente R$ 1,35 mil, menos de um terço do soldo recebido pelos pracinhas (R$ 4,6 mil).

– Quando o governo precisou, eles (trabalhadores) vieram de boa vontade. Agora é a hora de reconhecer o esforço desses homens – afirma George Menezes, neto de soldado da borracha e atual vice-presidente do Sindicato dos Soldados da Borracha e Seringueiros de Rondônia (Sindsbor).

SEGUE >

exército de seringueiros

a quase totalidade (97%) das regiões produtoras de borracha do Oceano Pacífico estava sob poder japonês.

Dessa forma, a indústria bélica dos Estados Unidos precisava

de alternativas de fornecimento de matéria-prima para a fabricação de

pneus, esteiras de tanques, correias de motores e uma

infinidade de itens essenciais para o esforço de guerra.

DominGo, 3 De noVemBro De 2013 Geral 23Zero Hora

no começo de 1942,

e EUA, iniciada no pré-guerra e consolidada com os Acordos de Washington, ofereceu a solução do problema. Em troca do fornecimento de borracha e da cessão de bases aeronavais no Nordeste – visto como trampolim estratégico entre o continente americano e a África, onde as tropas aliadas e nazifascistas já disputavam espaço –, os irmãos do norte auxiliariam o Brasil com armamentos, equipamentos e recursos financeiros.

A AproximAção entre BrAsil

da aliança entre os governos brasileiro e americano foi o financiamento da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que sairia do papel graças ao aporte de recursos do tesouro dos Estados Unidos. Sua inauguração seria um dos pilares do crescimento industrial do país a partir dos anos seguintes. Para cumprir sua parte no acordo, porém, o Brasil precisaria enviar um grande contingente de trabalhadores para a selva amazônica.

um dos principAis frutos

seringueiros em atividade na região era de aproximadamente 35 mil, com produção inferior a 17 mil toneladas de borracha. Com o objetivo de ampliar a produção para 70 mil toneladas anuais, o governo lançou mão da campanha Soldados da Borracha. A meta era alcançar um total próximo a 100 mil seringueiros, que trabalhariam para atender à demanda dos EUA.

À épocA, o número de

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