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Sorria, mas suspirava, E ainda mais triste ficava, Como nem imaginais. Meu Deus, que criança aquela! Que tão precoce tristeza! Dizem-lhe um dia: «Teresa Sabes? A tua mãe morreu.» Fez-se pálida de morte... E, levando as mãos ao seio,

Sor

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poema

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Sorria, mas suspirava,

E ainda mais triste

ficava,

Como nem imaginais.

Meu Deus, que criança

aquela!

Que tão precoce tristeza!

Dizem-lhe um dia: «TeresaSabes? A tua mãe morreu.»

Fez-se pálida de morte...

E, levando as mãos ao seio,

Ia a falar, mas, no meio,

Reprimiu-se e emudeceu.

E desde então nunca a viram

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Mais com as suas

companheiras;

Ficava-se horas inteirasÀ sombra do laranjal.Surpreendiam-na sozinha

Com os olhos fitos no

espaço

E esfolhando no regaço

As rosas do seu rosal.

As brisas, gemendo

tristes

Por entre a verde

folhagem,

Segredavam-lhe a

linguagem

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Sonora da solidão.

Essas mil vozes do

campo,

Todas ela

compreendia,

Que fadado para poesia

Fora aquele coração.

Ai, que infância tão de

gelo!

Que madrugada da

vida!Ai, pobre alma estremecidaPelas saudades da mãe!

Quantas vezes, alta noite,

A triste julgava vê-la

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Em cada fúlgida estrela

Que o firmamento

contém!

Um dia, ao cair da tarde,

E de uma tarde de Outono,

Acordou de um brando

sono

E pôs-se a rir para mim.

«Já sorris? És salva,

filha,

Enfim!» E a beijei

contente.

Olhando-me

ternamente

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Ela repetiu: «Enfim!»

Enfim!... mas que triste acento

Nessa palavra vertera!Foi como que se dissera

Pra tecerem com elas

grinaldas,

Não procurem do monte

nas fraldas

A modesta e inodora

cecém.

Se igualmente desejas,

amigo,

Para aqui mais que versos,

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poesia,

Antes deixes a folha vazia,Pois meus versos poesia não têm.

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Sonhando, chorei.

Sonhava

Que morta te estava a

ver.

Acordei: ardentes

lágrimas

Senti nas faces correr.

Sonhando, chorei.

Sonhada

Que tu me querias

deixar.

Acordei: amargamente

Fiquei depois a chorar.

SONHO

(DE H. HEINE)

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Sonhando, chorei,

Sonhava

Que esse amor ainda

era meu.

Acordei: corre o meu

choroComo ainda assim não correu,

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Abril de 1864

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A NOVIÇA

«Oh! vem, querida irmã, do santuário do templo,

Já desce a receber-te o celestial Esposo.

Vem ser da nossa fé sublime o vivo exemplo;

Vem, deixa sem pesar do mundo o falso gozo.

«Vem; dos círios à luz, ao som de alegres hinos,

Cinge o hábito escuro, emblema da humildade,

E, abrasada no ardor dos teus estos divinos,

Despe, ao entrar no claustro, as galas da vaidade,

«Esposa do Senhor, virgem cândida e pura,

Do teu noviciado expiram hoje os dias.

Não tremas ao fitar as portas da clausura;Também na estreita cela há brandas alegrias.»Assim das monjas soa o religioso canto:Juntas, em procissão pelas extensas naves,