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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
BRÍGIDA CATHERINNE SILVA SOUZA
A LEGALIZAÇÃO DOS CASSINOS COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO DO TURISMO NO BRASIL
OURO PRETO 2010
BRÍGIDA CATHERINNE SILVA SOUZA
A LEGALIZAÇÃO DOS CASSINOS COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO DO TURISMO NO BRASIL
Monografia apresentada ao Curso de Turismo da Universidade Federal de Ouro Preto, como requisito à obtenção do título de Bacharel em Turismo. Orientadora: Ms. Kerley dos Santos Alves
OURO PRETO 2010
BRÍGIDA CATHERINNE SILVA SOUZA
A LEGALIZAÇÃO DOS CASSINOS COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO DO TURISMO NO BRASIL
Monografia apresentada ao Curso de Turismo da Universidade Federal de Ouro Preto, como requisito à obtenção do título de Bacharel em Turismo
COMISSÃO EXAMINADORA:
______________________________ Profª. Ms. Kerley dos Santos Alves Universidade Federal de Ouro Preto ______________________________ Prof. Ms. Leandro Benedini Brusadin Universidade Federal de Ouro Preto ______________________________ Profª. Esp. Iracilene Carvalho Ferreira Universidade Federal de Ouro Preto
Ouro Preto, ____ de _________________, de 2010
À memória de minha avó, Wanda.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por me acompanhar durante a produção do presente trabalho, sem jamais me desamparar; A UFOP e ao DETUR pelo ensino de qualidade; À professora e orientadora Kerley pelas suas colocações sempre pertinentes, contribuindo sobremaneira para o engrandecimento deste trabalho; Aos vários autores consultados por disponibilizarem seus estudos; À minha família por acreditar em mim. Em especial papai e mamãe pelo suporte nos momentos difíceis; À República Alquimia e irmãs alquimistas pela força e compreensão; Enfim, a todos aqueles que de alguma forma contribuíram para a realização deste trabalho, muito obrigada.
“Mudemos nosso pensamento e o mundo ao nosso redor mudará também”.
Richard Bach
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo discorrer sobre a legalização dos cassinos no Brasil, cuja prática foi proibida no ano de 1946. Pretende-se aqui demonstrar que a exploração de jogos de azar e cassinos, se bem planejada, pode contribuir para o desenvolvimento turístico e econômico das localidades onde estão instalados. Não constitui objeto de estudo da presente pesquisa se fixar na questão legal da mesma. O que se intenciona aqui é promover uma reflexão sobre a polêmica legalização dos cassinos e a possibilidade destes estabelecimentos se constituírem como possível opção de lazer no Brasil. Palavras-chave: lazer, jogos de azar, cassinos, turismo, desenvolvimento.
ABSTRACT
The present work aimed to deal with the casinos legalization in Brazil, whose practice has been forbidden since 1946. The studies’ object is to show that the casinos and gambling exploration can promote the touristic and economic development of its cities. This work does not intend to discuss the casinos and gambling legalization legal question. It intends to promote a reflection about the polemic casinos legalization and the possibility of those establishments operate as a possible leisure option in Brazil. Key-words: leisure, gambling, casinos, tourism, development.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
EMBRATUR – Instituto Brasileiro de Turismo
PNMT – Programa Nacional de Municipalização do Turismo
PNDH – Programa Nacional de Direitos Humanos
PELC – Programa Esporte e Lazer da Cidade
STF – Supremo Tribunal Federal
DEL – Decreto-Lei
COB – Comitê Olímpico Brasileiro
MP – Medida Provisória
CCJ – Comissão de Constituição e Justiça
CAE – Comissão de Assuntos Comunitários
CAS – Comissão de Assuntos Sociais
PLC – Projeto de Lei Complementar
PLS – Projeto de Lei do Senado
Empetur – Empresa de Turismo de Pernambuco
Abrabin – Associação Brasileira de Bingos
CNBB – Confederação Nacional dos Bispos do Brasil
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 10
1. O LAZER: CONCEITO E SURGIMENTO HISTÓRICO .................................. 14
1.1 A política de turismo e sua relação com o lazer ........................................... 19
1.2 O lazer e o jogo ............................................................................................ 23
2. CASSINOS: DO ENTRETENIMENTO AMERICANO AO LUXO EUROPEU . 29
2.1 Como surgiram os cassinos ......................................................................... 29
2.2 Os maiores cassinos do mundo e as repercussões para suas localidades . 32
2.3 O papel dos cassinos no desenvolvimento turístico de uma localidade ....... 40
3. A HISTÓRIA DOS CASSINOS NO BRASIL ................................................... 43
3.1 Legislação vigente no Brasil ......................................................................... 48
3.2 Projetos de lei de legalização dos cassinos ................................................. 50
3.3 A discussão sobre cassinos no Brasil .......................................................... 54
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 60
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 63
ANEXOS ............................................................................................................ 70
10
INTRODUÇÃO
O turismo atualmente não se constitui apenas por uma atividade recreativa.
Trata-se de um fenômeno complexo, de forte caráter econômico e social, gerador de
empregos e com poder de transformar as localidades onde se insere. Sua
importância é tamanha que alguns países têm no turismo, não mais uma atividade
complementar, mas sua principal fonte de renda. O território brasileiro em particular,
pelas suas características naturais, apresenta excelentes condições para o
desenvolvimento desta atividade: grande diversidade de paisagens, umas das
maiores costas litorâneas do mundo, além de praias tropicais disponíveis ao lazer
durante todo o ano.
Apesar disso, a atividade turística no Brasil pode ser considerada incipiente,
tendo em vista o forte potencial do país a ser ainda explorado. Dessa forma, como
uma possível alternativa para diversificar a oferta turística nacional, pode-se pensar
nos cassinos. Estabelecimentos com forte apelo turístico, que além de se
apresentarem como opção de lazer, geram intensa movimentação financeira e
receitas às localidades envolvidas.
No entanto, a prática de jogos de azar e os cassinos são proibidos no Brasil
desde 1946, quando o então presidente Marechal Eurico Gaspar Dutra, por meio do
Decreto-Lei número 9.215, proibiu a atividade em todo território nacional. Desde
então, inúmeros projetos tramitaram no Congresso Nacional buscando a
reimplantação dos jogos, mas nenhum obteve êxito. A medida, ainda hoje, é tema
de grandes discussões, gerando abordagens a favor e contra por parte de políticos,
empresários, religiosos e pela própria comunidade.
11
O interesse em abordar este tema surgiu do fato de se tratar de um assunto
atual e polêmico, porém pouco abordado em estudos bibliográficos. A metodologia
de pesquisa utilizada é a coleta de dados, por meio de revisão bibliográfica a nível
nacional e internacional. Além disso, tendo em vista que se trata de um tema atual e
um tanto quanto carente de livros específicos, também foi realizada pesquisa via
internet.
Um ponto que gera discussão no que se refere ao assunto é o fato de no
Brasil serem permitidas as loterias federais e serem considerados ilegais os
cassinos, bingos e demais jogos considerados de azar, o que reforça o
questionamento da existência ou não de um grau que diferencia os jogos praticados
pelas loterias dos praticados em cassinos.
Além disso, outro ponto importante é que, mesmo sendo considerados ilegais,
esporadicamente surgem notícias sobre casas de jogos clandestinas que são
fechadas no país. Esses estabelecimentos, por não pagarem impostos, acabam por
privar o Governo de arrecadar uma considerável quantia em dinheiro que poderia
ser utilizada para fazer investimentos em diversas áreas, como a do turismo por
exemplo.
Se o governo brasileiro assumisse uma política clara no que se refere aos
diversos aspectos relacionados aos cassinos, poderia aliar ao funcionamento destes
uma série de normas e limitações, não apenas de caráter punitivo, mas que
proporcionassem ganhos para o próprio Governo e para as comunidades.
Por outro lado, os pontos contrários à legalização dos cassinos também são
fortes; a maioria dos quais sugere que os impactos positivos gerados pela atividade
12
seriam quase irrelevantes se comparados aos problemas que seriam gerados à
comunidade, entre eles o vício, a lavagem de dinheiro, drogas e prostituição.
Discussões à parte, a proposta do presente trabalho é demonstrar que a
exploração de jogos de azar e cassinos, se bem planejada, pode contribuir para o
desenvolvimento turístico de uma determinada localidade, principalmente àquelas
com carência de alternativas para o seu desenvolvimento. O aumento do número de
empregos, a especialização da mão-de-obra existente, a construção de novos hotéis
para suprir a demanda de turistas, bem como a promoção de uma imagem turística
diversificada e de qualidade surgiriam como conseqüência da implantação do
cassino, enquanto equipamento turístico de lazer.
Todavia, durante a pesquisa realizada para se compor este trabalho,
constatou-se que, apesar dos inquestionáveis benefícios gerados pelos cassinos,
fatores negativos também podem surgir a partir da implantação destes; entre eles a
lavagem de dinheiro e fraudes fiscais – entre outros problemas que podem ocorrer
na localidade caso a atividade não seja rigorosamente fiscalizada pelas autoridades
e pelos órgãos competentes. Dessa forma, o trabalho, que a princípio buscava
relacionar a legalização dos cassinos com desenvolvimento econômico e turístico
local, abordará aspectos, tanto os positivos como os negativos, na tentativa de ser o
mais imparcial e realista possível.
Diante da relevância dos cassinos para a economia das localidades onde se
instalam, pretende-se responder à seguinte questão: no caso do Brasil
especificamente, a legalização dos cassinos contribuiria para o desenvolvimento
turístico do país? Neste sentido, o trabalho valeu-se da pesquisa de autores
nacionais e internacionais, dentre os quais pode-se destacar Joffre Dumazedier e
13
Renato Requixa, considerados referências teóricas no que diz respeito ao estudo do
lazer no Brasil; e Dario Luiz Dias Paixão e William Eadington, alguns dos mais
renomados estudiosos de cassinos e jogos de azar atualmente.
O trabalho de conclusão de curso compõe-se de três capítulos. No primeiro
será abordada a importância do lazer, bem como sua caracterização e surgimento
histórico. O segundo capítulo do trabalho fornece subsídios para se entender a
história dos cassinos no Brasil e no mundo e as repercussões que estes
estabelecimentos geram para as localidades onde estão instalados sob o aspecto do
turismo. No terceiro e último capítulo será feita uma varredura sobre os projetos de
legalização dos cassinos e jogos de azar que tramitaram no senado brasileiro nos
últimos anos, além de um levantamento de dados acerca dos pontos positivos e
negativos gerados pela indústria do jogo. Na conclusão serão analisados os dados
levantados no decorrer do trabalho, considerando-se todos os aspectos
apresentados - tanto os favoráveis como os contrários - sem contudo se deter na
defesa de um ou de outro.
Em suma, o que o presente trabalho se propõe mostrar, é a possibilidade de
que, com a legalização dos cassinos no Brasil, a atividade turística no país seja, a
médio e longo prazo, impulsionada.
14
1. O LAZER: CONCEITO E SURGIMENTO HISTÓRICO
Conceituar o lazer e definir seu surgimento cronológico, embora pareça
simples, pode se tornar uma tarefa bastante complexa. Isso se deve em parte ao
caráter “imemorial e ao mesmo tempo moderno” (SANTOS, 2000, p. 31) que este
fenômeno assume; o que talvez explique o fato de existirem tantas conceituações
diferentes acerca do mesmo tema. O fato de ser uma prática antiga faz com que os
estudiosos do lazer, por viverem em sociedades e em épocas diferentes, o abordem
e conceituem de uma forma diferenciada. Sobre este caráter imemorial do lazer, os
autores Melo e Alves Júnior fazem uma observação interessante. Segundo eles,
[...] a contínua busca de formas de diversão não significa ter sempre existido o que hoje chamamos de lazer, na medida em que tais formas de diversão guardam especificidades condizentes com cada época [...] Por certo existem similaridades com o que foi vivido em momentos anteriores, mas o que hoje entendemos como lazer guarda peculiaridades que somente podem ser compreendidas em sua existência concreta atual (MELO e ALVES, 2003, p.1 apud MAFFEI, 2004 p.37) 1.
Desta forma, optou-se neste primeiro capítulo por utilizar as abordagens
teóricas de dois autores relevantes no campo de estudos do lazer no Brasil: Joffre
Dumazedier e Renato Requixa. É válido lembrar que para tanto foi feita uma breve
revisão bibliográfica sobre as principais obras destes dois autores e sobre estudos
que analisam os trabalhos desenvolvidos por eles.
É importante lembrar também que o lazer, por si só, não se constitui como
principal objeto de estudo da presente pesquisa. A necessidade de aqui abordá-lo
reside no fato de que o tema central deste trabalho – a prática e exploração de jogos
de azar e cassinos – constitui-se como uma forma de lazer nos países onde a
atividade é legalizada.
1 MELO, V. A. ; ALVES JR., E. D. Introdução ao Lazer. São Paulo: Manole, 2003, p. 1.
15
Voltando à produção literária referente ao lazer, no Brasil ela atingiu seu auge
na década de 1970, quando se tornou constante no país a presença do sociólogo
francês Joffre Dumazedier que “veio várias vezes ao país (...) a convite da
Universidade de Brasília (UnB), do Movimento de Cultura Popular da cidade de
Recife e das autoridades eclesiásticas de Pernambuco” (GOMES, 2008, p. 1).
Dumazedier define lazer como:
[...] um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se, ou ainda, para desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais (DUMAZEDIER, 1980, p. 34).
Diante disso, e de acordo com Cabral e Sá (2008)2 percebe-se que
Dumazedier caracteriza como lazer aquelas atividades que proporcionam descanso,
ao possibilitarem a reposição das energias físicas e mentais perdidas com o trabalho
e demais obrigações cotidianas; prazer e divertimento, quando retiram os indivíduos
de suas rotinas, rompendo com o ritmo de vida através da recreação e do
entretenimento; além de proporcionarem às pessoas o desenvolvimento de suas
personalidades através da participação e sociabilidade, com mais liberdade.
Quanto ao surgimento cronológico, Dumazedier entende o lazer como um
fenômeno moderno, cuja origem se deu com o advento da chamada sociedade pós-
industrial ou pós-moderna. De fato, em 1945, após o fim da Segunda Guerra
Mundial, com o aumento das informações e difusão dos meios de comunicação –
que são a base da chamada sociedade Pós-Industrial – “passou-se a difundir a idéia
de uma melhoria de condição de vida e de uma reivindicação de bem-estar geral
para os indivíduos, grupos, comunidades e povos” (CAIO, 2001, p.19).
2 http://www.wellnessclub.com.br
16
Dumazedier concorda que na sociedade Pré-Industrial já havia o hábito de
delimitar o trabalho por pausas para atividades como repouso, cantos, jogos e
cerimônias; mas destaca que naquele momento essas atividades ainda não podiam
ser consideradas atividades de lazer (CAIO, 2001). Esta colocação é feita, pois,
naquela época as atividades anteriormente citadas estavam, em sua maioria,
vinculadas apenas ao culto religioso, cujo objetivo não era o lazer. Segundo ele,
[...] Em todas as sociedades do período arcaico, o trabalho e o jogo estão integrados nas festas, através das quais o homem participa do mundo de seus ancestrais. Essas duas atividades, ainda que distintas, por seus fins práticos, têm significados da mesma natureza, na vida essencial da comunidade. A festa engloba o trabalho e o jogo. Frequentemente, trabalho e jogo se misturam e uma oposição é irrelevante e até inexistente. O lazer é um conceito que não se coaduna com o período arcaico, e nem com o período pré-industrial (DUMAZEDIER, 1980, p. 48).
Para reforçar a idéia de que o lazer só surgiu de fato com a Revolução
Industrial, é válido novamente citar Dumazedier quando este diz que: “(...) desde o
nascimento da sociedade industrial, os pensadores sociais do século XIX previram a
importância do lazer, ou antes, do Tempo Liberado pela redução do trabalho
industrial (...)” (DUMAZEDIER, 2008, p. 20). Convém dizer que a expressão “Tempo
Liberado” refere-se ao tempo que resta às pessoas após o cumprimento de suas
obrigações profissionais. Além deste, Dumazedier divide o tempo ainda em “Livre” e
“Inocupado”, porém não constitui objeto de estudo do presente trabalho se ater a
estes conceitos.
Para compreender as transformações ocorridas durante a fase de transição
da sociedade pré-industrial para a pós-industrial, e que segundo Dumazedier
levaram ao surgimento do lazer, é interessante recorrer a Caio (2001) autora da obra
“O Tempo Livre e o Lazer – o engajamento do profissional de turismo e a
conscientização do lazer”, quando esta sugere algumas transformações ocorridas no
período que vai do século XVIII a metade do século XX e que, contribuíram
17
sobremaneira para o surgimento do lazer como o conhecemos hoje. Dentre essas
transformações pode-se destacar:
[...] a aplicação das descobertas científicas ao processo produtivo na indústria, a racionalização progressiva e aplicação da ciência na organização do trabalho, [...] a progressiva urbanização e escolarização das massas, [...] a maior mobilidade geográfica e social, além de uma sincronização do homem não mais de acordo com os ritmos e os tempos da natureza, mas com os incorporados nas máquinas [...] (CAIO, 2001, p.11).
Verifica-se que nesta “nova sociedade” o conhecimento assume papel de
destaque. O processamento e gerenciamento das informações modificam as
ciências ao mesmo tempo em que se passa a valorizar as atividades de lazer,
vendo-as como uma recompensa pelas horas de trabalho.
O pensamento de Renato Requixa apresenta uma definição de lazer bastante
próxima da sugerida por Dumazedier; em contrapartida opõe-se ao sociólogo
francês no que se refere ao surgimento cronológico da atividade. Requixa entende o
lazer “como uma ocupação não obrigatória, de livre escolha do indivíduo que a vive,
e cujos valores propiciam condições de recuperação psicossomática e de
desenvolvimentos pessoal e social” (REQUIXA, 1980, p. 35).
Destrinchando este conceito, percebe-se que o autor considera determinada
atividade como lazer desde que ela constitua uma ocupação não obrigatória, ou
seja, não basta que se trate de uma ocupação, é necessário que se trate de uma
ocupação a qual o indivíduo não esteja obrigado. O segundo elemento do conceito
proposto – a livre escolha – vem reforçar o que foi apontado anteriormente. Há de
fato uma liberdade de escolha por parte do indivíduo, uma vez que entre tantas
atividades de lazer disponíveis ele opta por uma específica.
18
Quanto ao surgimento cronológico do lazer, Requixa acredita que ele já
estava presente nas sociedades antigas. O autor observa que
Já na Idade Média, a situação evoluiria, especialmente em função dos aspectos religiosos. O trabalho ganhava dignidade e o lazer surgia em dias festivos, com acentuada participação popular. Era o respeito ao domingo, dia consagrado ao descanso. Eram as feiras, as festas populares, as festas religiosas [...] (REQUIXA, 1980, p. 23).
E ainda
[...] o que importa notar, no caso é que a inexistência do vocábulo ‘trabalho’, entre os povos primitivos, significa principalmente que não havia uma clara distinção entre a vida e o trabalho, entre o tempo de viver e o tempo de trabalhar. Trabalhar era ao mesmo tempo existir, como existir era ao mesmo tempo se recrear. Tudo englobava a existência humana, sem que se distinguissem em partes especiais [...] (REQUIXA, 1976, p. 9 apud CAIO, 2001, p. 18). 3
Segundo essa concepção, Requixa considera que o lazer é mais antigo do
que Dumazedier pressupõe; apesar de reconhecer que, com o surgimento das
chamadas sociedades pós-industriais, o lazer viu ampliadas suas dimensões e sua
importância. O autor considera fatores essenciais para essa mudança “a diminuição
das horas de trabalho e o aumento concomitante do poder aquisitivo das classes
assalariadas” (REQUIXA, 1980, p. 25). Para ele a industrialização – pelo menos em
sua fase inicial – representou uma “solução encontrada pelo homem em sua busca
pelo bem-estar social” (Id. Ibid.). Ele cita o exemplo da França, onde “de uma média
semanal de trabalho, que era de oitenta e cinco horas, em 1860, chega-se a
quarenta e oito horas, em 1960”. Dessa forma, segundo o autor, “passa-se para o
reconhecimento da importância das horas livres, entre uma e outra jornada de
trabalho; da importância do repouso semanal simples e do repouso semanal
remunerado” (REQUIXA, 1980, p. 26).
3 REQUIXA, R. As dimensões sociais do lazer. São Paulo: SESC, 1976.
19
Depois de analisar atentamente as abordagens de Joffre Dumazedier e
Renato Requixa e suas expressivas contribuições à literatura consagrada ao lazer,
nota-se que, se há identificação e complementaridade entre os estudos de ambos,
também há oposição. O que não altera o fato de que o lazer hoje se constitui como
parte predominante do tempo livre de todas as sociedades. Daí a necessidade de se
adotar políticas públicas sólidas e formar equipamentos de lazer capazes de atender
à crescente e exigente demanda do mercado.
1.1 A política de turismo e sua relação com o lazer
Conforme Garcia (2007, p. 114), o lazer se dá a partir do momento que o
homem é estimulado “ao desfrute incondicional do tempo livre como sua expressão
maior de liberdade e prazer individual”. Tempo livre este que pode ser utilizado de
diversas formas, seja para praticar esportes, ler um livro, assistir televisão ou viajar.
Dessa forma, surge o turismo como opção de lazer, onde o indivíduo usufrui seu
tempo livre para realizar alguma viagem que desperte seu interesse.
Segundo Camargo (1992, p. 26), o principal interesse dos indivíduos que
buscam este tipo de lazer é a mudança de “paisagem, ritmo e estilo de vida”. Este
item pretende pois abordar o turismo enquanto fenômeno social e manifestação do
lazer contemporâneo.
A opção por viajar nas horas de lazer é um fato marcante da sociedade
moderna. A possibilidade de conhecer novas pessoas e culturas, sair da rotina,
relaxar, se divertir ou apenas fugir um pouco da realidade tem despertado cada vez
mais o interesse do ser humano. Para Franzini (2006, p. 34) as viagens encantam a
tanta gente pelo fato de proporcionarem algo que não seja o usual, como
20
“descansar, conhecer novos locais, divertir-se de maneira diferente (…)
oportunidades para recarregar as energias perdidas no dia-a-dia”.
Seja para compensar as energias perdidas durante a jornada de trabalho ou
“porque as pessoas já não se sentem à vontade onde se encontram, seja nos locais
de trabalho, seja onde moram” (KRIPPENDORF, 2000, p. 14), o turismo cada vez
mais se afirma como um importante mecanismo de solução na vida das pessoas.
No Brasil, apesar do turismo se constituir como uma das principais atividades
econômicas em determinadas regiões, as políticas públicas aqui adotadas em
relação a esta atividade podem ser consideradas ainda incipientes, tendo em vista o
enorme potencial do país a ser ainda explorado.
Analisando brevemente a política de turismo no Brasil percebe-se que, apesar
de algumas medidas anteriores haverem sido tomadas no sentido de promover o
turismo no país, foi somente a partir de 1994 – durante o mandato do ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso – que se começou a “pensar no turismo como um setor
estratégico e capaz de gerar renda e novos empregos” (SILVEIRA, 2004 p. 20-21).
O turismo fazia parte da campanha publicitária do ex-presidente, sendo visto como
atividade prioritária para o desenvolvimento econômico e social do país. No seu
primeiro mandato, por meio de uma parceria com a Embratur (Instituto Brasileiro de
Turismo), foi instituído o PNMT – Programa Nacional de Municipalização do
Turismo, cujo objetivo geral é “promover o desenvolvimento do turismo sustentável
local, atuando junto à sociedade” 4.
4 http://www.abrasil.gov.br
21
Os objetivos estratégicos do PNMT estavam balizados em 10 itens: Fomento, centrado na infra-estrutura turística e capacitação profissional; defesa do consumidor; desenvolvimento do pensamento estratégico; busca de qualidade de serviços; descentralização; conscientização da sociedade brasileira para a importância do turismo; articulação intra e extra-governamental; democratização do turismo interno; promoção externa e inserção internacional do turismo brasileiro (LOPES, 2006, p. 33).
Além deste programa foram também implantados neste governo “a
Campanha de Combate à Exploração do Turismo Sexual Infanto-Juvenil; (...) o Guia
Brasileiro de Sinalização Turística e a abertura dos Portos Brasileiros para
cabotagem de navios estrangeiros” (SILVEIRA, 2004, p. 21-22); bem como outros
programas e ações voltados para o setor turístico. Essas medidas sem sombra de
dúvida trouxeram benefícios a várias comunidades e esperança a tantas outras que
vivem exclusivamente da indústria do turismo.
Algumas melhorias decorrentes das políticas voltadas para o turismo realizadas durante os anos de governo de FHC, foram: melhorias das estradas e da sinalização, modernização dos aeroportos, construção de mais de 70 locais de eventos com apoio da EMBRATUR e do Ministério do Esporte e Turismo, ampliação de redes de hotéis, melhoria da qualidade de vida de milhões de brasileiros que vivem em regiões com potencial turístico; diversificação qualitativa dos bens e serviços produzidos e da infra-estrutura receptiva do turismo nacional; geração de novos empregos e manutenção dos existentes; inserção do Brasil no cenário internacional, construindo-se uma imagem externa positiva; aumento de turistas estrangeiros; aumento de ingresso nas divisas estrangeiras; aumento de empregos no setor (SILVEIRA, 2004, p. 21).
De acordo com estudo realizado por Sérgio Adorno (Lei e ordem no segundo
governo FHC, 2003), durante o período de 1999 a 2002, foram implantados
programas cujo um dos objetivos principais era incorporar à gestão os direitos
econômicos, sociais e culturais. O autor cita como exemplo a implantação do
Programa Nacional de Direitos Humanos - PNDH II, que “acolheu ações específicas
quanto à garantia do direito à educação, à saúde, à previdência e assistência social,
ao trabalho, à moradia, ao meio ambiente saudável, à alimentação, à cultura e ao
lazer” (ADORNO, 2003, p. 121).
22
Já no governo do atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, destaca-se a
criação do Ministério do Turismo no seu primeiro mandato, bem como a implantação
do “Plano Nacional de Turismo – Diretrizes, Metas e Programas”, onde ficaram
estabelecidos os rumos da atividade turística no Brasil, durante o período de 2003 a
2007.
O Plano Nacional de Turismo estabeleceu 5 metas para o turismo do Brasil no período 2003-2007: criar condições para gerar 1.200.000 novos empregos e ocupações; aumentar para 9 milhões o número de turistas estrangeiros no Brasil; gerar 8 bilhões de dólares em divisas; aumentar para 65 milhões a chegada de passageiros nos vôos domésticos; ampliar a oferta turística brasileira, desenvolvendo no mínimo três produtos turísticos de qualidade em cada Estado da Federação e no Distrito Federal (LOPES, 2006, p. 34).
Assim, o Plano Nacional de Turismo passou a reger a atividade turística no
país, apontando diretrizes para que os governos estaduais, secretarias e demais
pessoas e órgãos envolvidos pudessem nortear suas políticas públicas. Os
resultados alcançados deram a base necessária para que se reformulasse algumas
questões e, a partir daí se construísse um novo documento – o Plano Nacional de
Turismo 2007/2010 no segundo mandato do presidente Lula. O novo plano
contempla alguns pontos não previstos no anterior, tais como a “questão da
acessibilidade para portadores de necessidades especiais, trazendo ainda
modificações importantes em seu corpo metodológico e uma melhor adequação das
metas à realidade do país” (KANITZ et al, p. 2).
Em relação às políticas de lazer adotadas no governo Lula, destaca-se a
implantação do Programa Esporte e Lazer da Cidade - PELC, criado em 2007 pelo
Governo Federal e Ministério dos Esportes, e que tem como objetivos principais
democratizar o acesso às práticas esportivas e de lazer e universalizar o direito
23
social ao esporte e ao lazer5; ou seja, o PELC, nas suas ações, visa suprir a
carência de políticas públicas e sociais relacionadas ao esporte recreativo e lazer.
Como observado até aqui, torna-se cada vez mais urgente a democratização
da sociedade, no sentido de que todos tenham acesso à educação, ao trabalho, à
tecnologia da informação, à comunicação, ao lazer, ao entretenimento, ao esporte e
ao turismo. E, embora algumas medidas, como as citadas aqui, já tenham sido
adotadas com o intuito de se promover o turismo e fornecer opções de lazer aos
visitantes e membros de comunidades como um todo, é necessário que haja um
esforço constante por parte do governo, da iniciativa privada e da própria
comunidade no sentido de dar continuidade às políticas públicas já implantadas para
que outras tantas sejam ainda tomadas.
Dessa forma, partindo do pressuposto de que é essencial oferecer opções de
lazer a turistas e membros de uma comunidade em geral, o presente trabalho faz
agora uma abordagem sobre o jogo. Um das mais antigas formas de lazer, que
desde os tempos mais remotos até os dias atuais tem estado presente na vida dos
indivíduos, proporcionando com maior ou menor intensidade prazer, diversão e o
despertar da criatividade.
1.2 O lazer e o jogo
A palavra jogo origina-se do vocábulo latino Ludus que significa diversão,
brincadeira. De acordo com o estudo “História do jogo e o game na aprendizagem”
publicado por Janaína dos Reis Rosado, “O jogo estimula a curiosidade, a iniciativa,
a autoconfiança e a internalização de valores, proporcionando um conhecimento
mais expressivo” (ROSADO, 2006, p. 2). Segundo este mesmo estudo, o jogo é uma
5 http://www.ciecdf.org
24
atividade primordial já na infância. “O brincar é típico da infância e é brincando que a
criança vai entendendo e respondendo aos conflitos pessoais; logo, não podemos
conceber este período sem brinquedo, sem espaço lúdico” (ROSADO, 2006, p. 2).
Tão difícil quanto definir o surgimento cronológico do jogo é precisar há
quanto tempo exatamente ele é obra de estudo. Teóricos dos tempos mais remotos
já falavam sobre o assunto. Para Aristóteles (384-322 a.C.), por exemplo, o jogo
poderia ser comparado à felicidade e à virtude, pois as horas dispensadas com esta
atividade, ao contrário das dispensadas com o trabalho, “eram escolhidas por si
mesmas” (ABBAGNANO 1998, apud ROSADO, 2006 p. 6) 6.
Platão (427-348) dizia que os primeiros anos de vida de um indivíduo
deveriam ser preenchidos com jogos educativos. Montaigne (1533-1592), um dos
precursores da ludicidade, considera que “o processo de ensino-aprendizagem
acontece a partir da curiosidade da criança e da percepção do mundo ao seu redor
físico” (ROSADO, 2006, p. 2).
Por volta do século XVI, os humanistas, reconhecendo a importância dos
jogos, passaram a colocá-los em prática nos colégios jesuítas (ROSADO, 2006, p.
7). O teórico alemão Friederich Froebel (2001) entendia que as crianças deveriam
ter total abertura em expressar sua riqueza interior, o que ocorreria através de jogos
e artes plásticas. “Para este autor, a brincadeira é o ápice do desenvolvimento
humano na infância, pois é a representação viva do interno, séria e de profunda
significância” (ROSADO, 2006, p. 2).
6 ABBAGNANO, Nicolas. Dicionário de Filosofia; tradução Alfredo Bosi. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
25
Estudos feitos por alguns autores, como os do professor e historiador
holandês Johan Huizinga mostram o papel primordial que o jogo tem na formação
cultural de uma sociedade. Em sua principal obra, “Homo Ludens: o jogo como
elemento da cultura”, Hunziga estende sua visão ao extremo quando propõe que o
jogo é anterior à própria cultura, pois esta, segundo ele, depende da existência da
sociedade humana, enquanto que o jogo é praticado até mesmo por animais.
O jogo é fato mais antigo que a cultura, pois esta, mesmo em suas definições menos rigorosas, pressupõe sempre a sociedade humana; mas, os animais não esperaram que os homens os iniciassem na vida lúdica [...] (HUIZINGA, 2007, p. 3).
Huizinga, ao analisar o jogo, busca demonstrar que ele esteve e está
presente em todas as culturas. Ele descreve a importância do jogo no surgimento
das culturas primitivas e sua necessidade para a formação das culturas das
sociedades atuais. Segundo ele, a poesia, a música e a dança nasceram do jogo.
Diz este autor que
[...] O saber e a filosofia encontram expressão em palavras e formas derivadas das competições religiosas. As regras da guerra e as convenções da vida aristocrática eram baseadas em modelos lúdicos. Daí se conclui necessariamente que em suas fases primitivas a cultura é um jogo (HUIZINGA, 2007, p. 21).
Recordemos que os jogos podem ser classificados de diversos tipos quanto à
sua natureza: podem ser de força, de destreza, de destino, de adivinhação, de azar,
e de vários outros tipos. De acordo com Huizinga (2007, p. 35), o que caracteriza o
jogo é que ele se desenrola dentro de determinadas regras pré-estabelecidas,
provavelmente razoáveis e aceitas por todos os jogadores; ao mesmo tempo em que
gera paixão e imprevisibilidade. Sobre os jogos de azar especificamente, o autor
declara que “existe o interesse pelo ganho material, contudo ali também está
incluída uma paixão, uma fascinação, que faz com que se mantenham as
características principais de jogo”.
26
Abstraindo a diversidade e as variações do jogo anteriormente citadas,
Huizinga (2007, p. 33) chega a um conceito mais geral e comumente aceito,
segundo o qual o jogo “é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida num certo
nível de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas e absolutamente
obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo”.
Haja visto os modelos de exemplificação aqui mostrados, percebe-se que o
jogo esteve presente nas atividades dos filósofos antigos e também se encontra nas
análises feitas pelos filósofos atuais; afinal de contas é fato que o lúdico influencia
consideravelmente o desenvolvimento das pessoas e sociedades. “É através do jogo
que o indivíduo aprende a agir, sua curiosidade é estimulada, adquire iniciativa e
autoconfiança, proporciona o desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da
concentração”. (VYGOTSKY, 1989, p. 45).
Tendo agora como foco os jogos de azar, já citados anteriormente e objeto de
estudo deste trabalho, é válido citar o professor Dario Luiz Dias Paixão, autor de
vários estudos referentes à legalização dos jogos de azar e cassinos, bem como aos
impactos causados por esta prática. No trabalho intitulado “A verdadeira Belle
Époque do turismo brasileiro: o luxo e os espetáculos dos hotéis-cassinos” (2005), o
professor destaca que “a vida foi originalmente guiada pela sorte, apesar de
gradualmente o ser humano ter aprendido a distinguir as possibilidades de sua
própria vida por meio das experiências de seus antecessores” (PAIXÃO, 2005 p. 2).
Segundo o professor, os jogos eram bastante comuns já na Antiguidade.
Os gregos, por exemplo, utilizavam dados para explicar sonhos e, também, como instrumentos para a astrologia. Os Imperadores Romanos se divertiam jogando pedaços de pergaminho escritos com números sobre as arenas para sortear privilégios, ou mesmo, às vezes, só sandálias. Egípcios, mesopotâmicos, gregos e romanos antigos já praticavam e regulavam os jogos em função dos efeitos pessoais que se verificavam entre os jogadores e do impacto sociológico (PAIXÃO, 2005, p. 3).
27
Dando sequência ao trabalho, Paixão explica que, com o passar dos tempos,
os jogos foram divididos entre lícitos e ilícitos. Essa distinção perdura desde os
tempos mais remotos até os dias atuais, e consiste na diferença entre habilidade e
azar ou passatempo e vício. Tanto o Direito Romano como também o Justiniano I
proibiam o jogo de azar, considerando que “o ganhador não podia exercer ação
sobre seu crédito e ao perdedor era concedido o favor de considerar sua dívida
como pagamento indevido” (PAIXÃO, 2005, p. 3).
A origem exata dos jogos de azar não é totalmente conhecida. Mas uma das
versões mais difundidas diz que os chineses foram os primeiros a realizar
oficialmente a prática deste tipo de jogo no ano de 2.300 a.C. “De gregos e romanos
à França de Napoleão e a Inglaterra da Rainha Elizabeth, a história está repleta de
casos sobre a existência dos jogos de azar” (SILVEIRA, 2004, p. 29). Desde então,
o jogo, de uma forma ou de outra, tem estado presente em praticamente todas as
sociedades.
Embora não exista um conceito com base em estudos científicos ou em uma
bibliografia para definir jogos de azar, o termo é comumente utilizado para designar
atividades que envolvam apostas, onde a sorte é o elemento determinante para se
ganhar ou perder. O Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (1986, p. 990)
caracteriza jogo de azar como "aquele em que a perda ou o ganho dependem mais
da sorte do que do cálculo, ou somente da sorte, como por exemplo, o jogo da roleta
e do monte”. Definição semelhante a essa é a adotada pela Constituição Federal
Brasileira, que, de acordo com o parágrafo 3 do artigo 50 da Lei das Contravenções
Penais, caracteriza o jogo de azar como aquele “em que o ganho ou a perda
28
dependem exclusiva ou principalmente do fator sorte” 7. Alguns jogos de azar típicos
são: o bingo, dados, jogos de baralho, bilhar, rifa, caça-níqueis, loteria, entre outros.
Alguns destes bastante comuns em cassinos, cuja importância histórica será
analisada no capítulo a seguir.
7 http://www.planalto.gov.br
29
2. CASSINOS: DO ENTRETENIMENTO AMERICANO AO LUXO EUROPEU
Este capítulo tem o objetivo de introduzir, de forma sucinta, aspectos gerais
dos cassinos, criação e desenvolvimento dos mesmos ao redor do mundo.
2.1 Como surgiram os cassinos
A palavra cassino vem do italiano cazino e significa pequena vila ou casa de
veraneio. Essas casas eram bastante comuns antigamente; nelas os nobres se
encontravam para praticar atividades recreativas, como por exemplo, jogar. Segundo
Paixão (2005), no Reino Unido, durante os séculos XVI e XVII, os jogos chegaram a
ser quase que totalmente proibidos pelo clero e as casas de veraneio consideradas
anticristãs.
A crença na sorte afrontava a influência da Igreja, enquanto o Estado também atacava os jogos, de tempos em tempos, quando o tesouro se apresentava insuficiente para manter a milícia ou quando as casas de jogos patrocinavam algum tipo de tumulto popular. Entretanto, foi a diferença de classes que baniu as casas de jogos neste período, pois os ricos viam como uma ameaça a presença das classes menos favorecidas nos mesmos estabelecimentos (PAIXÃO, 2005, p. 3).
Estes estabelecimentos, chamados de termas, constituíam-se de lugares em
que as pessoas iam em busca de banhos medicinais ou apenas relaxamento e
descanso e, acredita-se que tenham sido estes lugares os precursores dos cassinos
tal como os conhecemos hoje. Apesar de haverem indícios de que foram inventadas
pelos gregos e postas em destaque pelos romanos, é difícil comprovar qualquer
coisa referente às termas devido à escassez de estudos referentes às mesmas na
antiguidade (DE MASI, 2000). Sabe-se que estes estabelecimentos foram bastante
procurados durante o “Grand Tour” – tradicionais viagens ao redor do mundo
realizadas pelos filhos de nobres da Europa, durante os séculos XVI e XVII, onde
30
era constante a busca por conhecimento e melhoria de saúde (SALGUEIRO, 2002).
Ainda sobre as termas, Paixão destaca que
No século I a.C. existiam em Roma 170 termas, e no quarto século, já estavam na casa do milhar, e isto sem contar as 11 termas imperiais, enquanto Caracalla, por exemplo, recebia 9.000 pessoas/dia. Nas termas não só existiam banheiros, piscinas, ginástica, farmácia, pontos de encontro, alamedas para passeio e terraços para se bronzear, como ambientes destinados aos jogos (DE MASI, 2003 apud PAIXÃO, 2006, p. 215)8.
Conforme as termas públicas iam crescendo em importância, as críticas em
relação a elas aumentavam na mesma proporção. Muitos consideravam-nas antros
de perdição e fator de degeneração dos bons costumes. De fato, algumas chegaram
a se tornar enormes prostíbulos e por volta de 364 d.C., a Igreja chegou a
recomendar que “seus clérigos e fiéis não frequentassem banhos abertos” (PAIXÃO,
2006, p. 216).
Apesar das restrições impostas pela Igreja, as termas públicas fizeram
sucesso por um longo tempo. Até que, de acordo com Paixão (2006), no século V,
devido ao esgotamento dos recursos hídricos, à destruição de diversos
estabelecimentos por bárbaros e à forte oposição da igreja, as termas públicas
finalmente encontraram seu fim.
Segundo Rejowski (2002), a partir do século XVIII, surgiram famosos
balneários na Inglaterra (Bath e Brighton), na Bélgica (Spa-Francorchamps), na
Alemanha (Aix-la-Chapelle e Schwalbach), na França (Biarritz), e nos Alpes (Saint
Moritz, na Suíça e Chamonix, na França), recomendados pelos médicos devido à
pureza do ar das montanhas. Os hotéis adaptavam-se para acolher os interessados,
comercializando as águas, as praias e o ar das montanhas como elementos de cura
(PAIXÃO, 2005).
8 DE MASI, D. Criatividade e grupos criativos. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.
31
Ainda segundo Paixão (2005), apesar do fim das termas públicas, muitos
investidores seguiram os passos de seus antecessores, financiando grandes centros
de lazer e entretenimento. No século XIX, destinos como Le Mont Charles (Monte
Carlo), em Mônaco; Nice e Cannes na França; além de Atlantic City e Saratoga
Springs, nos Estados Unidos, tornaram-se famosos por oferecer diversas opções de
lazer, entre elas a prática de jogos de azar e cassinos.
Atualmente, os cassinos possuem praticamente as mesmas características
em todo o mundo. São ambientes normalmente integrados em hotéis de luxo e
situados perto de atrações turísticas, possuindo grande peso na atividade
econômica e turística local. Além das famosas mesas de jogos, caça-níqueis,
pôquer, roletas, black-jack, dados, bingo e diversos outros jogos, os cassinos de
hoje comportam também atividades culturais, como shows e peças teatrais, além de
restaurantes com culinária do mundo inteiro, lojas de marcas famosas, montanhas-
russas, cinemas em três dimensões e diversas outras atrações, sendo responsáveis
pela movimentação de uma grande quantidade de dinheiro nos locais onde estão
localizados.
Por outro lado, no caso do Brasil especificamente, embora a prática e
exploração de jogos de azar e cassinos não seja permitida, esporadicamente se
ouve alguma notícia referente ao fechamento de casas de jogos clandestinas ao
redor do país. Essas casas impedem o governo de obter uma considerável quantia
em dinheiro, que poderia ser arrecadada com os impostos pagos por estes
estabelecimentos, caso a atividade fosse legalizada em território nacional. Por este
motivo este tema deve ser debatido, para que não ocorra a geração de impactos
32
negativos na economia, na sociedade e na cultura das localidades onde essa prática
é corrente.
2.2 Os maiores cassinos do mundo e as repercussões para suas localidades
De todos os jogos de azar existentes no mundo, os de cassinos são os mais
associados com o turismo. “Famosos centros históricos de cassinos – tais como Las
Vegas, Monte Carlo, Sun City e Macau – têm atraído visitantes das redondezas,
estados distantes ou países como principal fonte de negócios” (EADINGTON, 1998
apud PAIXÃO & GÂNDARA, 1999, p. 9)9.
O estudo faz agora uma abordagem geral sobre alguns dos principais
cassinos do mundo, suas histórias e conseqüências geradas para suas localidades,
além da legislação vigente em alguns de seus respectivos países. O objetivo é
analisar os modelos internacionais já existentes, a fim de “caminhar” com maior
segurança para propor o modelo nacional ideal. Não é intenção deste trabalho,
entretanto, comparar a realidade de outros países com a brasileira; pois sabe-se que
o que é bom, justo e necessário para um país não necessariamente será para outro.
O que se intenciona neste capítulo é verificar as conseqüências geradas por esta
atividade para as localidades onde é legalizada e, a partir daí, se espelhar em seus
aspectos positivos a fim de adaptá-los à realidade brasileira.
É importante ressaltar que, por se tratar de um tema relativamente recente, a
bibliografia disponível é um tanto quanto escassa, de forma que a maior parte das
informações colhidas para compor este item do trabalho origina-se de pesquisa
realizada via internet.
9 Eadington, William R.; CORNELIUS, Judy A. Gambling: public policies and the social sciences. Reno: Institute for the study of Gambling and Commercial Gaming: University of Nevada, 1997.
33
Comecemos pelos Estados Unidos da América, onde há um Estado que
sobrevive quase que exclusivamente da indústria de jogos: o Estado de Nevada.
Nele localiza-se a cidade de Las Vegas – conhecida como a “Capital Mundial do
Entretenimento” e que contém a maior concentração de cassinos do país.
De acordo com o site oficial da cidade10, Las Vegas surgiu no século XIX,
quando colonizadores mórmons vindos de Salt Lake City tentaram chegar até Los
Angeles passando pela região onde hoje se situa Las Vegas. O objetivo do grupo
era evitar uma travessia de areias, mas não obtiveram sucesso e acabaram
abandonando a região. Anos mais tarde, um mexicano chamado Antonio Armijo e
sua caravana se aventuraram pelo mesmo caminho. Neste percurso, um jovem
mexicano de nome Rafael Rivera, ao explorar o caminho em busca de água, acabou
encontrando um grande oásis. Este oásis era Las Vegas (As pradarias, em
espanhol) que, com a descoberta, passou a fazer parte da rota até Los Angeles.
Em 1890, estradas de ferro foram construídas na região e uma vila começou
a se formar. Em 15 de maio de 1905, a cidade foi finalmente fundada, mas só
começou a crescer quando a legislação do Estado de Nevada legalizou o jogo, em
março de 1931. Segundo a nova lei, parte das receitas adquiridas com a exploração
do jogo deveria ser investida na educação.
Segundo Virginia Lima, autora do artigo “Conheça a história de Las Vegas”
(2007)11, com a legalização do jogo no Estado, Billy Wilkerson – um bem sucedido
empresário de Los Angeles e editor do Hollywood Reporter – decidiu fundar o
primeiro cassino na cidade. Mas o projeto acabou não dando certo e Wilkerson viu-
se obrigado a vendê-lo. O comprador da idéia foi o judeu norte-americano Ben
10 http://www.lasvegasnevada.gov 11 http://www.casinobillionaire.net
34
Siegel, que muitos acreditavam fazer parte da máfia italiana. Em dezembro de 1946,
Siegel inaugurou então o Flamingo Hotel, que marcou um novo estilo em Las Vegas.
Antes dele, os hotéis da cidade mantinham o estilo rústico característico do velho
oeste. De acordo com este mesmo artigo:
Construída em um local inóspito, Las Vegas em poucos anos transformou-se numa das localidades mais procuradas do mundo, um verdadeiro exemplo de sucesso empresarial, turístico e administrativo. É a cidade dos Estados Unidos que cresce mais rapidamente, de 5 mil para quase 2 milhões de habitantes em um século. Em 2005, um recorde de 38,6 milhões de pessoas visitaram a cidade, e esse número aumenta à medida que novos e encantadores lugares são construídos.
Las Vegas é mundialmente famosa por seus hotéis-cassinos que recriam os
mais famosos cartões postais do mundo. No meio deles o turista pode se sentir
como se num único dia houvesse estado em Paris, Veneza, Nova Iorque, Cairo e
Marraquesch. Em um artigo escrito por Isabelle Sabbatini, “Las Vegas – no meio do
deserto, uma cidade que não pára nunca” (2008),12 é possível ter uma visão do que
os hotéis temáticos da cidade tem a oferecer. A autora cita o Venetian Resort Hotel
Casino, que recria os canais de Veneza e a Praça de São Marcos. “É ali que
gôndolas deslizam suavemente ao som do Sole Mio num perfeito cenário de
cinema”. Sabbatini cita também o Bellagio, um dos hotéis mais famosos da cidade e,
segundo a autora, o mais caro de Las Vegas. Além destes, Las Vegas oferece
também a oportunidade do turista conhecer a Torre Eiffel americana (com 164
metros, um pouco mais da metade dos 300 metros da verdadeira), que encontra-se
no Hotel Paris Las Vegas, aberto em 1999 e que, além da Torre apresenta réplicas
de pontos turísticos importantes da Cidade Luz, como o Arco do Triunfo e a Praça
da Concórdia.
12 http://www.absoluta.com.br
35
Las Vegas possui ainda dezenas de outros hotéis-cassinos famosos
mundialmente e, poder-se ia dispersar várias páginas do presente trabalho na
tentativa de apresentá-los. Este porém não é o objetivo. O que se buscou apresentar
aqui foi a força que a indústria dos cassinos pode assumir, levando uma cidade que
surgiu no meio de um oasis, e que aparentemente tinha tudo para não dar certo, a
se tornar um dos destinos turísticos mais procurados do mundo. “A cidade, sozinha,
atrai quase 40 milhões de turistas ao ano, ou dez vezes mais do que todas as
centenas de atrações turísticas do Brasil”.13
Embora não seja uma atividade legalizada em todo território norte-americano,
outras cidades além de Las Vegas são famosas pela indústria de jogos; como é o
caso de Atlantic City, em New Jersey e Chicago, em Illinois. Além disso, segundo
reportagem escrita por José Eduardo Barella para a Revista Veja (2002), uma
decisão tomada pela Suprema Corte dos EUA, em 1987, permitiu a abertura de
cassinos em reservas indígenas e autorizou a abertura de cassinos flutuantes,
fazendo com que as casas de jogos se multiplicassem por todo o país. A
reportagem mostra como a pequena cidade de Council Bluffs, no interior de Iowa,
cresceu e se desenvolveu com a abertura de cassinos na região.
Até meados da década de 80, Council Bluffs era apenas mais uma cidade desconhecida no Estado de Iowa, nos Estados Unidos. Sem maiores atrativos, sobrevivia em meio à economia agrícola do Meio-Oeste americano. Hoje, graças aos três cassinos que lá operam, o município transformou-se em motivo de orgulho para os 58.000 habitantes, tendo recebido cerca de 10 milhões de visitantes no ano passado [...] (REVISTA VEJA, 12 de junho de 2002, p. 55-56).
O exemplo de Council Bluffs dá uma idéia de como a indústria do jogo é forte
nos Estados Unidos. De acordo com essa mesma reportagem da revista Veja,
13 Idem.
36
“calcula-se que 125 milhões de americanos gastem 60 bilhões de dólares por ano
arriscando a sorte em algum tipo de jogo – em cassinos, loterias, máquinas caça-
níqueis, corridas de cavalos ou de cães” (REVISTA VEJA, 2002, p. 56). Toda essa
movimentação de dinheiro se transformou em uma forma rápida e segura de
diversificar a economia e gerar empregos em cidades outrora sonolentas.
Outro país a lucrar com a indústria do jogo é Porto Rico, onde, segundo
estudo realizado por Rachel Volberg e Pedro Vales (1998), a jogatina já se
encontrava presente mesmo antes da colonização espanhola (através das rinhas de
galo) e mais tarde com as corridas de cavalo – introduzidas pelos espanhóis e
regulamentadas pelo governo desde o início do século XX. Os cassinos representam
uma das mais recentes formas de jogo legalizadas no país, tendo sido instituídos a
partir de 1948.
De acordo com um estudo realizado por José Martines Guitrón para o Fórum
Nacional de Consulta sobre a Operação de Cassinos no México em 1994, em Porto
Rico e citado por Paixão e Gândara,
[...] a receita proveniente das máquinas de jogo (as quais pertencem ao Estado) se distribui em 34% entre os operadores de cassinos, 17% para o Departamento de Turismo, 9% se destinam a melhorias turísticas, 20% a bolsas universitárias privadas e os outros 20% restantes para universidades públicas (PAIXÃO & GÂNDARA, 1999, p. 11).
O maior cassino da América Latina, porém, localiza-se no Uruguai. O Conrad,
único no país que não pertence ao governo, de acordo com Paixão (2006, p. 202),
chega a receber na alta temporada mais de 290.000 pessoas e “circulam em suas
roletas, mesas de carteados e caça-níqueis mais de US$ 70 milhões anuais, sendo
que cerca de US$ 5,3 milhões são recolhidos em impostos para o governo”. Além
disso, acredita-se que, no ano de 2009, 65% dos hóspedes do Conrad eram
37
compostos por brasileiros, que “viajam ao país para usufruir dos jogos” 14. Dessa
forma, a devida regulamentação dos cassinos no Brasil poderia contribuir não
apenas com a visitação de turistas estrangeiros que viriam ao país com o intuito de
jogar, mas também para que os turistas nacionais evitassem de deixar o país para
freqüentar cassinos e bingos estrangeiros.
Na República Dominicana, no ano de 1964, o jogo foi legalizado com objetivo
de favorecer o desenvolvimento turístico do país. A idade legal para se jogar é de 18
anos e diversas formas de jogo são permitidas na ilha caribenha; dos cassinos às
loterias federais, além também do jogo online15. Existe no país uma Comissão
Nacional de Jogos, responsável por acompanhar e fiscalizar os cassinos, que
[...] são taxados em 20% sobre os benefícios anuais, sendo que destes, 50% são destinados a investimentos em educação e saúde; além de mensalmente, terem de destinar 10% de suas receitas aos municípios onde se encontram instalados (PAIXÃO & GÂNDARA, 1999, p.12).
Na Argentina por sua vez, apesar do jogo não ser permitido na capital Buenos
Aires, há um cassino flutuante em seu porto. O cassino fica ancorado sobre um rio e
foi inaugurado em outubro de 1999 com o nome de Casino Buenos Aires, mas
atualmente se chama Casino Puerto Madero. Possui capacidade para 2,5 mil
pessoas e tem uma superfície total de 2,6 mil metros. Além de máquinas de jogos,
possui bares, restaurantes e conta ainda com a apresentação de espetáculos de
dança.16 O cassino Puerto Madero é uma das atrações que fazem parte dos pacotes
turísticos vendidos no Brasil para Buenos Aires. No restante do país a jogatina é
legalizada e distribuída em cerca de 20 outros cassinos (PAIXÃO; GÂNDARA,
1999). Recentemente se especulou que o governo argentino legalizaria o jogo
14 http://www.hoteliernews.com.br 15 http://www.worldgamblingreview.com 16 http://www.dicasdecassino.wordpress.com
38
online. Segundo matéria publicada no site Casino Reports17 o objetivo seria
minimizar a procura por cassinos clandestinos.
Deixando o continente americano um pouco de lado, vamos nos ater agora à
Europa. Na Alemanha, em 1933, devido a uma forte concorrência estrangeira, o
governo decidiu permitir a emissão de licenças para cassinos aos seus Estados
(PAIXÃO & GÂNDARA, 1999). O país possui hoje umas das leis mais rígidas do
mundo no que diz respeito ao funcionamento de cassinos. Recentemente, o
Supremo Tribunal Federal do país exigiu que determinado cassino reembolsasse
viciados em jogo. O STF “decidiu que os cassinos devem controlar melhor a entrada
de pessoas que jogam por compulsão” e que “o estabelecimento que não seguir a
determinação terá que pagar de volta o valor perdido pelo jogador”.18 Segundo o
Supremo Tribunal Federal, o fato poderia ter sido evitado através do chamado “auto-
impedimento”, quando há um acordo escrito entre o viciado em jogo (que toma a
iniciativa) e o cassino. Depois de assinado, o acordo permite que todos os
estabelecimentos sejam informados da existência de um jogador patológico. Embora
estudos apontem que parte da população alemã seja contra os cassinos “a
sociedade suporta tal atitude por considerar que os cassinos geram uma receita
fiscal muito alta, já que são taxados impostos quase proibitivos, de 80% a 95%”
(PAIXÃO E GÂNDARA, 1999, p. 13).
Na Espanha, a exemplo do que acontece em outros países, existe uma
Comissão Nacional de Jogos responsável por aprovar e supervisionar as operações
ligadas a jogos; além de existir também comissões provinciais nas Comunidades
Autônomas, cada qual com sua legislação. O jogo esteve proibido no país no
17 http://www.onlinecasinoreports.com 18 http://www.dw-world.de
39
período de 1848 até 1997 e, atualmente existem 22 cassinos legalizados, a maioria
deles em regiões turísticas (PAIXÃO & GÂNDARA, 1999).
Em Mônaco localiza-se o cassino de Monte Carlo, construído no século XIX e
um dos mais antigos e tradicionais do mundo; tendo sido desenhado pelo lendário
arquiteto Charles Garnier, o mesmo que construiu a Ópera de Paris. O Principado de
Mônaco - segundo menor estado soberano do planeta - possui uma área territorial
de aproximadamente dois quilômetros quadrados e a maior densidade populacional
do mundo (cerca de 15.000 hab/km²). 19 Considerado um dos lugares de maior
glamour do planeta, Monte Carlo – capital do Principado, vive do turismo e da venda
de selos. O progresso do principado foi imenso graças ao Casino de Monte Carlo.
O número de hotéis passou, logo no início, de 2 para 48. O número de joalherias de 3 para 15 [...]. No final do século XIX aproximadamente 1 milhão de turistas passaram a visitar Mônaco e o cassino de Monte Carlo anualmente, enquanto que em 1850 o número foi menor que 200 (SIFAKIS, 1990, p. 37).
Portugal conta hoje com nove cassinos em atividade. A inspeção e
fiscalização dos jogos são realizadas pela Inspeção Geral de Jogos, organismo que
integra o Ministério do Turismo de Portugal, e detém autonomia técnica e funcional
para fiscalizar a exploração e prática de jogos de fortuna ou azar, nomeadamente o
funcionamento das salas de jogos dos cassinos, bingos e outros locais onde seja
autorizada a sua exploração, além de fiscalizar a aposta mútua sobre corridas de
cavalos, aprovar os temas de jogos e prestar apoio técnico às autarquias e demais
entidades em vista ao licenciamento de máquinas de diversão e cooperar com os
tribunais e autoridades policiais na fiscalização e repressão dos jogos ilícitos.20 Pelas
leis portuguesas, considera-se jogo ilícito a exploração e prática de jogos de azar
fora dos locais autorizados. 19 http://www.costacruzeiros.com 20 http://www.turismodeportugal.pt
40
Como pode ser percebido, os cassinos fazem parte da cultura de quase todos
os países do mundo, muitos dos quais nem foram citados neste trabalho. Nestes
países, os cassinos são vistos como uma forma de fomentar e incrementar o
turismo, gerar empregos e divisas. Foram citados apenas alguns exemplos onde a
atividade é legalizada, mas o suficiente para se perceber que, se bem planejada,
esta atividade pode resultar em desenvolvimento turístico, ganhos econômicos,
sociais e culturais para toda a comunidade envolvida.
Desta forma, pode-se pensar a prática e exploração de jogos de azar e
cassinos no Brasil como uma possível alternativa para alguns problemas nacionais,
entre eles a necessidade de diversificação da oferta turística brasileira e a carência
de alternativas de desenvolvimento de muitas localidades, tendo em vista não
apenas os modelos de sucesso citados no decorrer deste trabalho, mas também os
anos de glória vividos pelo próprio Brasil no período em que a atividade era aqui
legalizada e que serão abordados no decorrer deste trabalho.
2.3 O papel dos cassinos no desenvolvimento turístico de uma localidade
O conceito de desenvolvimento local se baseia no fato de que as localidades
dispõem de recursos econômicos, humanos, institucionais e culturais, além de
escalas não exploradas, que constituem seu potencial de desenvolvimento. Para
Rodrigues (1997), este processo se realiza à medida que, as localidades, munidas
dos mais variados recursos, criam opções para o bem-estar de seus membros,
utilizando-se de atividades que permitam a dinamização da economia, ao mesmo
tempo em que promovem o desenvolvimento dos destinos envolvidos.
A indústria dos jogos de cassinos experimentou um crescimento substancial
em muitos países nos últimos anos (EADINGTON, 1999). Muito disso se deve às
41
estratégias adotadas pelos governos de países como os EUA, Alemanha e
Cingapura, dentre outros; que vêem os cassinos como importante catalisador de
crescimento econômico e turístico de suas localidades.
Centros de cassinos historicamente famosos - como Las Vegas, Macau e
Monte Carlo – atraem visitantes de cidades vizinhas, estados e até países distantes
e vêem neles sua principal fonte de renda. “De fato, Las Vegas, que em 1997 atraiu
mais de 30 milhões de visitantes para os seus 105.000 quartos de hotel se tornou
um exemplo de destinação turística rodeada por cassinos” (EADINGTON, 1999, p.
1). Como mostrado anteriormente neste trabalho, a importância da indústria de jogos
para a cidade de Las Vegas é tão grande que, graças a ela, fez surgir no meio de
um oasis um dos destinos turísticos mais procurados e desenvolvidos de todo o
mundo.
Outro destino a apostar em resorts e cassinos como agentes de
desenvolvimento turístico é Cingapura, onde, recentemente foi inaugurado seu
primeiro cassino em ilha artificial, cujo objetivo é transformar a indústria turística da
cidade-estado. As autoridades de Cingapura esperam que o complexo turístico
ajude o país a atrair, até o ano de 2015, cerca de 17 milhões de turistas anuais, que
gerarão receitas superiores a U$$ 21 bilhões.21
Macau, Atlantic City e Mônaco são apenas mais alguns destinos onde os
cassinos têm participação fundamental na economia. Estes locais, por meio de
estratégias adotadas por seus governos e eficientes medidas de controle, investiram
na criação de cassinos e resorts turísticos como alternativas de desenvolvimento
local e hoje são procuradas por turistas de todo o mundo.
21 http://www.folha.uol.com.br
42
O fato do jogo, de uma forma ou de outra, ser legalizado nos países mais
industrializados do mundo, entre eles EUA, Alemanha, Espanha e Canadá, faz com
que muitos brasileiros se questionem sobre o porquê de ser proibido em território
nacional. Soma-se a isso o fato de serem consideradas legais as loterias federais,
apesar de também se constituírem como jogos de azar. De acordo com Paixão
(2005), embora cada vez mais países apostem na indústria dos cassinos como
agente de desenvolvimento econômico e turístico local, no Brasil essa relação é
ainda conflituosa por haver um impasse em relação ao jogo entre governo e
especialistas.
Diante dos exemplos já demonstrados neste trabalho, é possível reconhecer a
estreita relação entre cassinos e turismo; relação esta que, se bem planejada pode
trazer benefícios para os destinos e para suas comunidades como um todo.
43
3 – A HISTÓRIA DOS CASSINOS NO BRASIL
No Brasil, os povos nativos já praticavam alguns jogos de azar antes mesmo
da chegada de seus colonizadores em território nacional (PAIXÃO, 2005, p. 5).
Mesmo assim, os jogos e algumas outras formas de lazer, sofreram ao longo do
tempo algum tipo de perseguição. Como exemplo das restrições sofridas pelo jogo,
é válido citar Paixão (2006, p. 5), quando este diz que “a jogatina [...] de baralhos e
dados era proibida nas Ordenações do Reino pela legislação portuguesa e, por
extensão nas colônias; como no Brasil, por mais de 300 anos”. Sobre este assunto,
Leo da Silva Alves destaca que
Quando Estácio de Sá veio combater os franceses no Rio de Janeiro, o jogo já estava disseminado. Ao tempo do Marquês de Pombal, a Imprensa Régia cuidava da feitura das cartas. Em 1806, a Tipografia Real lisboeta chegou a imprimir uma verdadeira enciclopédia, sob o título Academia de Jogos. E, em 1811, com a Corte portuguesa já instalada no Brasil, a Real Fábrica de Cartas de Jogar é anexada aos prelos da Imprensa Régia, no Rio. [...] Mas, por essas coisas que a lógica não explica, o jogo nunca foi aceito (ALVES, 2006) 22.
Oficialmente falando, o jogo no Brasil se estrutura após a vinda da Corte
Portuguesa para o país, em 1808. Em São Paulo, por exemplo, a primeira loteria
surgiu em 1824; a do Rio Grande do Sul em 1.843; e a do Pará no ano de 1.856. No
dia 12 de janeiro de 1861, no Rio de Janeiro, Dom Pedro II fundou a Caixa
Econômica Federal (PAIXÃO, 2005).
Entretanto, de acordo com Rejowski (2002), a prática de jogos no Brasil, na
época, não visava atrair turistas. Mesmo porque, até então, as viagens pelo país
eram quase que exclusivamente feitas em função da necessidade de se explorar
novos territórios e buscar riquezas.
22 http://jus2.uol.com.br
44
Porém, com o tempo, os imigrantes europeus que aqui chegavam foram
construindo novos estabelecimentos, mais apresentáveis; além de introduzir novos
hábitos, como a procura por águas termais e locais de veraneio, a fim de se
preservar a saúde (PAIXÃO, 2005). Na segunda metade do século XIX, os locais
mais procurados por visitantes eram “Petrópolis, no Rio de Janeiro; Caxambu e
Poços de Caldas, em Minas Gerais; Campos do Jordão, em São Paulo; e Santo
Amaro e Caldas da Imperatriz, em Santa Catarina”. (PAIXÃO, 2005, p. 6).
De acordo com Pires (2002), embora, no final do século XIX, o
desenvolvimento das cidades e o aumento da classe média houvessem
proporcionado um crescimento da oferta turística no Brasil, o país ainda não possuía
hotéis de porte equivalente àqueles encontrados na Europa na mesma época.
Segundo Paixão (2005) este panorama só começa a mudar no início do século XX,
quando o Brasil começa a receber seus primeiros turistas internacionais, mesma
época em que começam a brotar por todo o país incentivos fiscais para construção
de novos hotéis.
A chegada dos primeiros turistas internacionais se dá com a excursão da empresa Thomas Cook and Son, que em 1907 trouxe o primeiro grupo organizado ao Rio de Janeiro a bordo do navio a vapor Byron. O pai do turismo já havia falecido (1892) e cerca de 500 agências de viagem funcionavam em todo o mundo quando o Brasil começou a receber turistas, no sentido pleno da palavra, e não apenas os comerciantes, imigrantes e viajantes de outras naturezas (PAIXÃO, 2005, p. 7).
Os cassinos brasileiros, por sua vez, surgiram durante o Brasil Império. Um
dos mais famosos começou a funcionar na cidade do Rio de Janeiro, integrado ao
Copacabana Palace. O hotel, inaugurado em 13 de agosto de 1923, surgiu a partir
de um desejo comum do empresário hoteleiro Otávio Guinle e do então presidente
Epitácio Pessoa.23 De acordo com Paixão (2006), o presidente ansiava por um
23 http://www.copacabana.com
45
estabelecimento com instalações adequadas para receber o grande número de
visitantes esperados para celebrar o centenário de independência do Brasil, entre
eles o Rei Alberto I, da Bélgica. A sugestão de Guinle em anexar um cassino ao
hotel foi prontamente aceita pelo presidente. Assim, no ano de 1923 surgia o “Copa”.
Depois dele, surgiu o Cassino da Urca, também no Rio. E no estado de São Paulo
vieram o Miramar, o Coliseu Santista e Grande Hotel. A partir daí, uma nova ordem
social se iniciava. Era o tempo dos cassinos, dos shows e das vedetes. “O setor
turístico e hoteleiro estava por presenciar uma diversificação sem precedentes”
(PAIXÃO, 2005, p. 7).
Entre os mais luxuosos cassinos existentes no Brasil naquela época estava o
Hotel Balneário Cassino Icarahy, que hoje abriga a reitoria da Universidade Federal
Fluminense. “Com 107 apartamentos, quadras de tênis e muitas mesas de jogos, o
cassino também era famoso por seus concorridos shows, pois se apresentavam em
seus salões grandes artistas da época, como Pedro Vargas e Carmem Miranda”
(SILVEIRA, 2004, p. 46).
Em Minas Gerais, a cidade de São Lourenço - mesmo sendo na época uma
das menores do estado – chegou a contar com oito cassinos e cerca de 40 hotéis,
que “foram surgindo através da iniciativa privada, para abrigar a grande massa de
turistas brasileiros, uruguaios, paraguaios e argentinos que visitavam a região”
(SILVEIRA, 2004, p. 45).
No Estado de Minas Gerais, os cassinos de Lambari; o Grande Hotel do Barreiro do Araxá; o Hotel Brasil de São Lourenço; e os de Poços de Caldas eram os mais requisitados. Uma linha aérea diária regular unindo Belo Horizonte e São Paulo ao Rio de Janeiro emprestava charme e comunicação eficaz aos empreendimentos. As bebidas eram muito baratas, e a entrada proibida para menores de 21 anos, a exemplo do marketing que se faz atualmente na maioria dos cassinos do mundo. O luxuoso cassino do Hotel Brasil promovia bailes inesquecíveis e shows arrebatadores (PAIXÃO, 2006, p. 221).
46
Ainda de acordo com Silveira (2004), no Paraná, o antigo hotel Iguaçu - onde
já se hospedaram figuras ilustres como Juscelino Kubitscheck e Getúlio Vargas –
funcionou também como cassino por muitos anos, atendendo à demanda turística de
Foz do Iguaçu e gerando divisas para o governo, uma vez que o hotel pertencia ao
Estado do Paraná. Atualmente o estabelecimento funciona como Centro de
Educação Profissional, abrigando entidades diretamente ligadas aos setores de
Turismo, Hotelaria e Gastronomia.
Além dos jogos, essa foi também a época dos grandes espetáculos
proporcionados nos cassinos, “trazendo músicos de renome nacional e
internacional, promovendo e enriquecendo a cultura nacional” (SILVEIRA, 2004, p.
64). Além disso, os cassinos eram ainda responsáveis pela criação e manutenção
de milhares de empregos diretos e indiretos.
Apesar do grande sucesso, os cassinos passaram à ilegalidade pela primeira
vez no ano de 1927, com a consolidação da república; tendo estado nesta situação
até 1934, quando foram novamente permitidos pelo então presidente Getúlio
Vargas.24 Nos anos que se seguiram à permissão de Vargas, os cassinos se
multiplicaram por todo o país. O Rio de Janeiro – então Capital Federal - chegou a
ter em torno de 1.200 casas de jogos; 25 e, em todo o Brasil, eram famosos os
grandes cassinos, como o do Copacabana Palace; o de Niterói; o do Hotel
Quitandinha, em Petrópolis; o de Belo Horizonte e o de Caxambu, em Minas Gerais,
além de muitos outros.
O Rio de Janeiro, mesmo sendo um pólo turístico que necessitava apenas de suas belezas naturais para ser atrativo, com os cassinos, como o Quitandinha, Copacabana, trouxe muitos investimentos e um grande fluxo de turistas e capital, que impulsionou ainda mais a atividade turística (SILVEIRA, 2004, p. 59).
24 http://www.magocom.com.br 25
http://www.brasilcultura.com.br
47
Da mesma forma que vários hotéis surgiram com a legalização dos cassinos,
outros tantos desapareceram a partir do dia 30 de abril de 1946, quando, com base
no artigo 180 da Constituição Federal outorgada em 1937, o então Presidente da
República, Marechal Eurico Gaspar Dutra restabeleceu pelo Decreto 9.215 a
vigência do artigo 50 e seus parágrafos da lei das contravenções penais (DL 3.688
de 2 de outubro de 1941), cancelando definitivamente as licenças e concessões
para a prática e exploração de jogos de azar em todo o território nacional. A
explicação dada na época foi a de que a exploração do jogo de azar ia contra os
princípios éticos e morais.
Considerando que a repressão aos jogos de azar é um imperativo de consciência universal; que a legislação penal de todos os povos cultos contém preceitos tendentes a esse fim; que a tradição moral, jurídica e religiosa do povo brasileiro é contaria à prática e exploração dos jogos de azar, que das exceções abertas à lei em geral, decorrem abusos nocivos à moral e aos bons costumes e as licenças e concessões para a prática e exploração de jogos de azar na Capital Federal e nas estâncias hidroterápicas, balneárias ou climáticas foram dadas a título precário, podendo ser cassadas a qualquer momento. (Discurso de Eurico Gaspar Dutra do dia 30 de abril de 1946).
Ao assinar o decreto, Dutra estava no poder há apenas quatro meses e havia
sido eleito com o apoio de Vargas, que havia legalizado os cassinos 12 anos antes.
A atitude de proibir os jogos novamente no país deixou muita gente incrédula, pois
muitos haviam votado nele por temerem que seu rival, o Brigadeiro Eduardo Gomes
– católico praticante e bastante conservador – vencesse as eleições e proibisse a
jogatina no país (PAIXÃO, 2006). Comenta-se que o Presidente Dutra foi induzido
pelo ministro da Justiça, Carlos Luz, pelo Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom
Jayme de Barros Câmara e pela esposa, Dona Carmela ‘Santinha’ Dutra26. O fato é
que a medida casou pânico, revoltas e desemprego.
26 www.universodojogo.com
48
Foi uma bomba! O mundo fantástico do Quitandinha desabou, veio abaixo! Desemprego em massa, chefes de família desarvorados, lágrimas, desolação, tristeza. Tragédia social de dimensões abissais. Notícias de suicídio! O Quitandinha fora reduzido a cinzas e, desde então, vem cumprindo uma senda absolutamente diversa daquela que inspirou sua criação, que era seu verdadeiro destino: cassino. Na imensidão dos salões, salas, jardins, galerias, corredores, boites, teatros, varandas, tudo, só fantasmas e fantasmas.27
Por outro lado, as opiniões contra os cassinos também eram fortes. Os pontos
favoráveis e contrários à legalização destes estabelecimentos serão analisados no
decorrer deste trabalho.
3.1 Legislação vigente no Brasil
Todos os documentos apresentados a seguir fazem parte da legislação
vigente no Brasil e buscam relatar as documentações legais referentes à prática e
exploração de jogos de azar e cassinos no país.28
Um dos primeiros documentos da legislação federal referentes ao tema de
pesquisa é o Decreto-Lei nº 241, de 4 de fevereiro de 1938 (anexo I, p. 71), que
“dispõe sobre o imposto de licença para funcionamento, no Distrito Federal, dos
cassinos-balneários e dá outras providências”. De acordo com artigo 2 deste
Decreto_Lei, “da renda líquida apurada [...] será deduzida a percentagem de 10%
que competirá à Polícia Civil, podendo o prefeito utilizar-se da de 20% para
subvenções a instituições de assistência social e fomento ao turismo”.
Este Decreto-Lei seria mais tarde revogado pelo DEL 9215, de 30 de abril de
1946 (anexo II, p. 73), quando o então Presidente Eurico Gaspar Dutra proibiu a
prática e exploração de jogos de azar em todo o país. Como já dito anteriormente,
essa decisão gerou grande revés econômico, visto que a exploração de jogos
27 www.almacarioca.com.br 28 Todos os documentos legais referentes ao corrente tema estão disponibilizados nos diversos sites do governo federal (http://www.senado.gov.br, www.planalto.gov.br etc.). Para melhor compreensão do trabalho, os mais relevantes estão anexados ao final do mesmo.
49
gerava receitas importantes para o país. Desta forma, o Estado, alguns anos mais
tarde, flexibilizou a medida e editou o Decreto-Lei, autorizando a união a explorar de
forma exclusiva as loterias federais (ANDRADE, 2008). Esse, aliás, é um dos fatores
que mais causam discussão quando de trata de jogos de azar no país. Muitos
questionam o porquê de se legalizar as loterias federais e não os cassinos e bingos.
Instituídas pelo Decreto-lei n. 6.259, de 1944 (anexo III, p. 74), como um
serviço da União (o que significa que os sorteios são feitos pelo governo), as loterias
federais tem parte dos seus valores arrecadados repassados ao Governo Federal,
que pode então realizar investimentos na área da saúde, educação, segurança,
cultura e esporte.
Segundo a Caixa Econômica Federal29, do valor total bruto arrecadado com
cada sorteio, 1,7% é descontado para o Comitê Olímpico Brasileiro (COB); 3,0% são
descontados para o Fundo Penitenciário Nacional; outros 3,0% para o Fundo
Nacional de Cultura; 4,5% para a Secretaria Nacional de Esportes; mais 4,5% para o
Fundo de Financiamento ao Estudante de Ensino Superior; 10% são destinados a
Entidades de Prática Desportiva (clubes e seleções), 10,5% à Secretaria Nacional
de Esportes; 18,1% à seguridade social e 20% vão para o pagamento de custeio e
manutenção.
Retomando o histórico legislativo sobre o referido tema, as máquinas caça-
níqueis e os bingos comerciais ganharam mais popularidade no Brasil, nos anos 90,
com o advento da Lei Zico (Lei n. 8672/93), e mais tarde com a Lei Pelé (Lei n.
0615/98) que “autorizaram os clubes desportivos a realizar jogos de azar na forma
de bingos, permitindo-lhes captar recursos ao esporte” (ANDRADE, 2008, p. 5).
29 www.caixa.gov.br
50
Com o advento da Lei nº 9.981/2000, conhecida como “Lei Maguito”, os
preceitos da Lei Pelé foram revogados, e a exploração de qualquer tipo de bingo
novamente proibida (SILVA, 2008). Em 2004, O presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
por meio da Medida Provisória 168 (anexo IV, p. 84), estendeu tal proibição também
às máquinas caça-níqueis, anulando qualquer licença ou permissão para exploração
de jogos de azar no país. Acredita-se que antes da proibição, o presidente Lula era a
favor dos bingos (tanto que a legalização destes era uma das propostas de sua
campanha quando candidato à presidência), mas mudou de opinião após o
escândalo envolvendo Waldomiro Diniz, que atuava na Casa Civil e foi afastado
após receber propina de pessoas ligadas à jogatina.30
O ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz é flagrado em vídeo ao negociar propina com o empresário do ramo de jogos, Carlinhos Cachoeira. O empresário gravou conversa em que Waldomiro cobrava propina para aprovar contratos com a Loteria do Estado do Rio (Loterj), que resultaria na CPI dos Bingos. Dias depois da denúncia, o presidente Lula edita uma medida provisória (MP) que proíbe o Funcionamento de casas de bingo e de máquinas de caça-níqueis (MENDES, Wannildo – O Estadão de São Paulo).31
A polêmica quanto à legalização ou não dos jogos de azar divide o Poder
Legislativo brasileiro até os dias atuais. Vários são os Projetos de Lei defendidos por
senadores e deputados, visando à aceitação ou não da indústria de jogos no país; e
vários são os argumentos usados para criticar ou defender a prática de jogos de
azar. Os principais serão abordados no próximo item deste trabalho.
3.2 Projetos de lei de legalização dos cassinos
Do decreto do Marechal Dutra, em 1946, aos dias atuais, tramitaram no
Congresso mais de 100 projetos visando à legalização dos cassinos no Brasil, todos
sem obter êxito (PAIXÃO, 2005).
30 http://www.diariosp.com.br 31 http://www.estadao.com.br
51
Um dos projetos apresentados foi o Projeto de Lei da Câmara nº 91, de 1996
(substitutivo do nº 4.652, de 1994) de autoria do deputado José Fortunati e fruto dos
trabalhos de uma Comissão Especial instalada na Câmara dos Deputados, “que
dispõe sobre a legalização da prática de jogos de azar e dá outras providências”. De
acordo com os termos previstos no projeto, cabe aos Estados e ao Distrito Federal
permitir a exploração de jogos de azar em hotéis, cassinos e hotéis-cassinos, seja
em localidades com potencial turístico ou que sofram de carência de alternativas
para o desenvolvimento local. Após sua criação, o projeto foi encaminhado ao
Senado Federal, numerado como Projeto de Lei Complementar nº 91/96, onde
chegou a ser aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e pela
Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), mas acabou sendo arquivado por não ter
sua minuta de parecer apreciada pela Comissão de Assuntos Sociais (CAS)
(SILVEIRA, 2004). O projeto pode, entretanto, “retornar à tramitação, desde que
solicitado seu desarquivamento, segundo regras existentes no regimento da casa”
(Id. p. 43-44).
Quem também defende a jogatina no Brasil é a União Sindical dos
Trabalhadores do Estado de Minas Gerais, que em 2009 produziu um documento
propondo aos governantes a legalização dos cassinos no país como alternativa para
amenizar os efeitos causados pela grave crise econômica mundial. Segundo o
documento, se legalizados, “os cassinos podem gerar até 200 mil empregos diretos
e indiretos no Brasil, além de favorecer o turismo brasileiro e trazer investimentos
para o país”.32
Além disso, o documento, assinado por Joaquim Pedro dos Santos Filho,
chefe da União Sindical dos Trabalhadores de Minas Gerais, destaca o fato de que 32 http://www.sindhoteis.com.br
52
Atualmente qualquer cidadão brasileiro pode fazer sua aposta on-line, em poucas horas de vôo freqüentar os cassinos nos países limítrofes ou mesmo jogar nos luxuosos cassinos dos vários navios estrangeiros que operam no Brasil fazendo cruzeiros [...] ou seja, levando divisas e não proporcionando grandes benefícios para o país, principalmente não gerando emprego e renda para o trabalhador brasileiro (Documento proposto pela União Sindical dos Trabalhadores de Minas Gerais, 2009).
Outra proposta de regulamentação foi protocolada pelo deputado Vicentinho
Alves, representante do Estado no Congresso. A proposta, de 2008, trata-se de um
substitutivo que consolida sugestões previstas em três projetos de lei anteriores -
2944/04, do deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP); 2254/07 e 3489/08, ambos do
deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP).33 Entre outras medidas, restringe o
funcionamento de cassinos às regiões norte, nordeste e centro-oeste do país, “como
instrumento de estímulo ao desenvolvimento econômico e social”. A proposta prevê
a atividade de jogos no Brasil sob três modalidades: bingos, videoloteria e cassinos.
Pois, de acordo com o documento, “não haveria sentido em excluir qualquer dessas
modalidades, tendo em vista sua similaridade”.34 Em relação aos cassinos, o
substitutivo proposto por Vicentinho Alves sugere que haja apenas seis
estabelecimentos no País. Uma nova quantidade só poderá ser autorizada pelo
governo federal após 5 anos de funcionamento na região e, caso mais estados
solicitem a criação de mais cassinos, terá preferência aquele que possuir menor
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). O texto já foi aprovado pela Comissão de
Desenvolvimento Econômico, mas precisa ainda ser analisado pelas Comissões de
Finanças e Tributação; e de Constituição, Justiça e Cidadania, antes de ir ao
Plenário.
Outra proposta a favor da legalização dos cassinos no país foi protocolada no
Congresso pelo senador Mozarildo Cavalcanti, em 25 de novembro de 2004. O
33 http://www.tudoagora.com.br 34 http://www.camara.gov.br
53
projeto, intitulado PLS 343/04, previa a exploração de cassinos somente em hotéis
localizados na região da Amazônia e do Pantanal (PAIXÃO, 2006). Foi encaminhado
à Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania para apreciação, onde ainda se
encontra. Recentemente, em abril do corrente ano, Mozarildo Cavalcanti cobrou
agilidade na apreciação da proposta, que segundo ele, “seria uma forma de
estimular o ecoturismo nessas regiões”.35
Proposta semelhante à de Mozarildo Cavalcanti é o Projeto de Lei 6637/09,
do deputado Antônio Feijão, que sugere que os estados brasileiros que contenham
mais de 70% de seus territórios formados por terras indígenas e unidades de
conservação “poderão sediar cassinos, serviços de jogos eletrônicos de apostas e
outras atividades semelhantes de lazer”.36 O objetivo da proposta seria “promover o
desenvolvimento sustentável da região, a inclusão social e a proteção da floresta
amazônica e combater as desigualdades regionais”.37 No momento o projeto tramita
em caráter conclusivo na câmara; devendo ainda ser analisado pelas comissões da
Amazônia, Integração Nacional e de Desenvolvimento Regional; de Finanças e
Tributação; e de Constituição, Justiça e Cidadania.
Estes são apenas alguns dos muitos projetos que tramitam ou já tramitaram
no Congresso Brasileiro objetivando a legalização dos jogos de azar e cassinos no
Brasil. Enquanto prossegue a polêmica e nenhuma decisão é tomada, “a população
brasileira continua na condição de grande apostadora, seja nas loterias federais; nas
casas de jogos ilegais; (...) ou ainda nos vários cassinos de fronteira que contribuem
para a fuga de divisas do país” (PAIXÃO, 2005, p. 25).
35 http://www.senado.gov.br 36 http://www.agenciaamazonia.com.br 37 http://purapolitica.com.br
54
3.3 A discussão sobre cassinos no Brasil
O objetivo deste item é fazer uma varredura e análise das diversas opiniões
acerca do tema pesquisado. Por meio de um levantamento bibliográfico serão
apontados os impactos positivos e negativos que podem ser causados com a
reimplantação dos jogos de azar e cassinos no Brasil, tendo em vista que o
desenvolvimento turístico de uma localidade deve estar relacionado à utilização
desta atividade de forma sustentável, levando em consideração não apenas seu
caráter econômico, mas também sócio-cultural.
A exploração do jogo, em suas mais diversas modalidades, é regulamentada
em 138 países do mundo. Países como Argentina, Paraguai, Chile, Uruguai e
Venezuela mantém a exploração do jogo sob controle estatal. O mesmo ocorre em
países como Estados Unidos, Japão, Canadá, China, Espanha, Austrália, Portugal,
Alemanha, Holanda e Finlândia (Revista VEJA, n. 2023, p. 47).
O jogo é permitido nos países mais industrializados do mundo, o que faz com
que parlamentares e representantes da corrente favorável à legalização dos
cassinos considerem a legislação brasileira anacrônica. Contribui para isso o fato de
que, apesar de ser proibida a prática e exploração de cassinos e jogos de azar no
país; é possível fazer jogos, apostar em cavalos e campeonatos de futebol através
da internet; os navios nas costas brasileiras disponibilizam cassinos e é grande o
número de turistas nacionais que freqüentam cassinos fronteiriços; sem contar o
número de casas de jogos que funcionam de forma clandestina no país. Diante
disso, tem-se que, a proibição pura e simples da atividade traz prejuízos para o país,
favorece o desemprego e isola o Brasil da realidade mundial.
55
Acredita-se que a legalização dos cassinos poderia também desenvolver o
turismo nacional, aumentar a arrecadação de impostos e melhorar a infra-estrutura
das localidades onde estariam instalados. Segundo a Abrabin – associação
Brasileira dos Bingos – o setor, se legalizado, poderá gerar 300 mil empregos e
arrecadar entre R$ 3 bilhões e R$ 10 bilhões anuais.38 Além disso, outro argumento
usado pelos entusiastas é utilizar a indústria de jogos como entretenimento para
torcedores estrangeiros durante a Copa do Mundo da FIFA de 2014.
Para alguns pesquisadores do assunto, entre eles Dario Luiz Dias Paixão e
Antonella Satyro, o jogo enquanto atividade de lazer
é uma atividade extremamente lucrativa e que onde se estabelece pode trazer uma magnitude considerável de riquezas, melhoras na infra-estrutura do destino, geração de empregos, conscientização da população quanto ao seu patrimônio, implantação de novas tecnologias, integração da comunidade com os turistas, entre muitos outros benefícios (PAIXÃO & SATYRO, 2005, p. 2).
Por outro lado, aqueles que são contrários à reimplantação do jogo no país,
apelam, em geral, para questões de cunho moral e religioso. Argumentam que estes
estabelecimentos favorecem o crime organizado, a lavagem de dinheiro, fraudes
fiscais, a prostituição e a ludopatia (jogo patológico), criando viciados em jogo e
dissolvendo famílias. Parte da oposição feita à reimplantação do jogo no Brasil vem
da Igreja, que considera essa atividade incompatível com os princípios cristãos.
Recentemente, em setembro de 2009, a Confederação Nacional dos Bispos
do Brasil (CNBB), instância máxima da igreja católica no país, mostrou-se contra o
projeto de legalização de bingos e casas de jogos de azar. De acordo com Dom
Geraldo Lyrio Rocha, presidente da CNBB, essa atividade “possibilita o regresso a
38 http://www.portugaldigital.com.br
56
um mal já superado, colocando em risco a segurança e o bem-estar das famílias”.39
O que a igreja teme, assim como muitos dos que se opõem aos projetos de
legalização dos jogos, é que a atividade se torne um vício para muita gente.
A ludopatia, também chamada de jogo patológico, é caracterizada por uma
incapacidade crônica de resistir ao impulso de jogar. “Para a medicina moderna, o
jogo patológico é transtorno diagnosticado como doença grave, pois além de
prejuízos de ordem pessoal, afeta amigos e familiares do jogador” (PAIXÃO &
SATYRO, 2005, p. 3). É sabido que, devido à dependência, muitas pessoas tornam-
se violentas e chegam a praticar atos ilícitos, como roubar, para obter dinheiro e
assim seguir jogando.
Em artigo publicado na revista Saúde Pública, “Jogo patológico e suas
consequências para a saúde pública”40, de 2008, os autores Maria Paula Oliveira,
Dartiu Silveira e Maria Teresa Silva fazem uma caracterização do jogo patológico,
apresentando as principais características e consequências desse transtorno.
Sabe-se que jogadores patológicos cometem atos ilegais para sustentar a atividade, apresentam índices mais elevados de divórcio, sofrem de distúrbios cardiovasculares, alergia, problemas respiratórios, transtornos do sistema nervoso, perturbações de sono, problemas de coluna, problemas orais ou dentais, obesidade, cansaço crônico, gripes e resfriados, enxaquecas, dores gástricas e outros sintomas físicos (REVISTA SAÚDE PÚBLICA, 2008, p. 45).
De acordo com este artigo, em diversos países onde os jogos de azar foram
legalizados observou-se aumento simultâneo da prevalência do jogo patológico na
população. “Na Austrália, Nova Zelândia e países europeus registraram-se
prevalências de 0,2% a 2,1% de jogo patológico e, em países asiáticos, de 1% a
2%” (p. 545).
39 http://www.cnbb.org.br 40 http://www.scielo.br
57
A repercussão da ludopatia sobre a saúde dos brasileiros ainda não é
mensurada de maneira apropriada. Não há nenhum estudo que dê subsídios
suficientemente capazes de orientar políticas públicas para encarar a realidade
nacional, que pode ser bastante diferente da observada em outros países.
No aspecto econômico há que se considerar o impacto que a legalização dos
jogos no Brasil pode causar aos cruzeiros marítimos. Embora o jogo de azar não
seja uma atividade permitida em território brasileiro, navios com cassinos têm
autorização para aportar aqui. O turismo marítimo vem crescendo em grande
proporção nos últimos anos e o Brasil apresenta excelentes condições para
desenvolvimento desta atividade de lazer turístico, “possuindo um extenso litoral,
com mais de 7 mil quilômetros, banhado pelo oceano Atlântico, além do seu clima
tropical e de um cenário natural favorável, os quais propiciam a prática desse tipo de
turismo” (SAAB; RIBEIRO, 2000, p. 1 apud ARANTES, 2009, p. 43)41. Uma das
opções de lazer oferecidas pelos navios que aqui aportam, e das mais procuradas
pelos turistas brasileiros, é o jogo. Dessa forma, tem-se que considerar até que
ponto o desenvolvimento da indústria de cruzeiros marítimos no Brasil seria afetado.
Aqueles que são contrários ao retorno dos cassinos no Brasil, também
alegam que, apesar de parecer trazer algum desenvolvimento econômico em um
primeiro momento, a medida iria a médio e longo prazo gerar dívidas para a União
Federal, além de promover lavagem de dinheiro e sonegação fiscal.
Os que são a favor da jogatina rebatem dizendo que a afirmação de que os
cassinos promoveriam um aumento da criminalidade não tem nenhum fundamento;
pois arrocho salarial, prostituição e destruição de lares são conseqüências diretas do
41 SAAB, W. G. L.; RIBEIRO, M. R. Breve panorama sobre o mercado de cruzeiros marítimos. 2000.
58
desemprego e não dos cassinos, que “sabidamente possibilitam a circulação de
riquezas e proporcionam maior oferta de emprego e altas remunerações” 42.
Na exposição de motivos da Medida Provisória 168/2004 que, entre outras
medidas, “proíbe a exploração de todas as modalidades de jogos de bingo e jogos
em máquinas eletrônicas denominadas ‘caça-níqueis’, independentemente dos
nomes de fantasia, e dá outras providências” 43, constava como argumento para a
proibição que “em torno desses estabelecimentos formou-se um círculo de
sonegação fiscal, lavagem de dinheiro e corrupção, a ponto de ameaçar a
estabilidade institucional (...)”.44
Porém, há quem discorde. Segundo Juliana Mancini Henriques, Mestra em
Direito e Instituições Políticas, a sonegação fiscal, lavagem de dinheiro e corrupção
estão presentes em diversas atividades no Brasil, até mesmos nas consideradas
lícitas e não é a proibição desta atividade de lazer que mudará a situação. Além
disso, em artigo publicado recentemente, a autora sugere que seja realizado um
debate público, onde sejam apresentados à sociedade todos os argumentos
favoráveis e contrários ao tema, a fim de que esta possa tomar a decisão que
melhor lhe convir, pois o livre arbítrio é inerente a todos os seres humanos.
A proibição pura e simples de qualquer atividade não é compatível com o Estado Democrático de Direito. Impor uma ordem a uma sociedade, cujos fundamentos são baseados em valores e não em um argumento racional, sem que seja dada a esta sociedade a possibilidade de amplo debate sobre o tema que lhe atinge diretamente, ou seja, sem possibilitar a esta sociedade participar de uma norma em que ela é destinatária final, é negar todo o esforço despendido para a consolidação do novo paradigma de direito (HENRIQUES, 2008)45.
42 http://www.sindhoteis.com.br 43 http://legislacao.planalto.gov.br 44 Idem 45 http://www.migalhas.com.br
59
Como lembra Paixão (2005), muitas das atuais leis dos Estados foram
influenciadas pelos pensamentos de antigos filósofos, como por exemplo o francês
Jean Jacques Rousseau, segundo qual “a base das leis é a vontade das pessoas
expressadas por elas mesmas”, lema da Comissão de Constituição, Justiça e
Cidadania, de 1997.
O temor em se legalizar os cassinos convive com o desejo de
desenvolvimento que pode ser alcançado por meio destes. Por isso é importante
fazer uma análise profunda das conseqüências positivas e negativas que esta
atividade pode trazer e verificar o que é possível ser feito.
60
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Países do mundo inteiro, a exemplo de Cingapura, Macau, EUA e Portugal,
tem tornado legais os cassinos em seus territórios por diversos motivos: atrair mais
turistas, tornar-se mais competitivo em relação a outras nações e fortalecer a
economia local são apenas algumas das razões que tem levado cada vez mais
destinos a adotarem o jogo como opção de lazer e desenvolvimento local.
No caso do Brasil especificamente, a decisão tomada pelo então presidente
Eurico Gaspar Dutra, no ano de 1946, de proibir a prática e exploração de jogos de
azar em território nacional, ainda hoje é motivo de discussão e polêmica por todo o
país. Tanto aqueles que apóiam como os que se opõem à prática tem argumentos
para defender suas idéias.
Ao longo deste trabalho foi possível perceber e analisar algumas
conseqüências que podem ser geradas a partir da reimplantação dos jogos de azar
no Brasil, bem como a importância que esta atividade exerce nos países onde é
legalizada. A pesquisa observou os benefícios que os cassinos podem trazer para
as localidades onde estão instalados, dentre eles a possibilidade de promover o
desenvolvimento econômico e a diversificação de suas atrações turísticas. Por outro
lado, observou-se também que a atividade, se mal planejada, pode gerar resultados
sociais desagradáveis, como o aumento do número de jogadores patológicos e os
impactos negativos que estes podem causar a si mesmos, à suas famílias, aos seus
trabalhos e à suas comunidades.
Diante dos resultados colhidos e aqui mostrados a pesquisa permite
considerar que nos países onde a indústria de jogos é rigorosamente fiscalizada e
levada a sério, seja por parte dos governos, de empresários do ramo, ou de
61
qualquer outro órgão ou pessoa envolvida, os benefícios gerados pela atividade se
sobrepõem aos malefícios causados pela mesma; e que os cassinos podem
contribuir significativamente para o desenvolvimento de suas comunidades,
principalmente para aquelas carentes de alternativas. Todavia, para que isso seja
possível, uma série de circunstâncias deve ser considerada.
Tendo como foco a reimplantação dos jogos e dos cassinos no Brasil
especificamente, é importante considerar que, embora seja interessante analisar os
modelos vigentes em outros países e os impactos causados pelos cassinos em suas
localidades, a realidade do nosso país é única e diferente das demais, de forma que,
aquilo que é considerado bom, justo e salutar para Las Vegas, Mônaco ou Macau,
não necessariamente também será para nosso país.
Seria interessante que, no Brasil, a exemplo do que acontece em outros
países já citados no trabalho, juntamente com a legalização dos jogos de azar e
cassinos, fosse implantada também uma Comissão Nacional de Jogos – como
autoridade fiscalizadora – que ficaria responsável por fornecer concessões, normas
e prazos, controlar os princípios contábeis de caráter geral, estabelecer
investimentos mínimos e definir o destino dos impostos, dentre outras medidas
importantes.
Além disso, deve-se levar em conta também o impacto que esta medida
causaria à industria dos cruzeiros marítimos, visto que parte dos brasileiros
procuram esta opção de lazer pelo fato de contarem com cassinos em seu interior.
Se a atividade fosse finalmente legalizada no país, o número de brasileiros que
buscam o turismo marítimo diminuiria? E ainda, onde e para quem seriam instalados
os cassinos? Alguns dos projetos de lei a favor da legalização propõe que estes
62
estabelecimentos sejam instalados em áreas pouco povoadas e distante de centros
turísticos, a fim de não competirem com outros estabelecimentos lá pré-instalados,
como restaurantes e bares por exemplo, o que muitos acreditam que levariam à
falência destes últimos. Porém há quem diga que o ideal seria que os cassinos
fossem instalados em locais já conhecidos e de forte apelo turístico, pois assim seria
mais fácil fazer com que o turista internacional troque regiões já consagradas pela
indústria do jogo pela opção de jogar no Brasil.
Como percebido, o trabalho proposto trata de um tema polêmico e complexo,
de importância inegável para o desenvolvimento de uma nação, porém pouco
abordado no meio acadêmico. Embora a pesquisa talvez tenha deixado mais
perguntas do que respostas, o que se objetivou aqui foi promover, através de análise
e levantamento de dados, uma reflexão sobre os vários aspectos relacionados à
discussão dos cassinos no Brasil; deixando espaço para que trabalhos posteriores
sobre o referido tema sejam feitos.
Mais uma vez evidencia-se aqui o caráter neutro da pesquisa, que buscou
contribuir de alguma forma, não com a formação de uma opinião contra ou a favor
ao tema, mas com a necessidade de discuti-lo e abordá-lo. Se a pesquisa permitir
uma reflexão sobre o assunto, ampliando a discussão entre os brasileiros, o que
trará considerações e questionamentos sobre o tema proposto, considerarei o meu
objetivo como alcançado.
63
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70
ANEXOS
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ANEXO I – DECRETO-LEI N. 241 – DE 4 DE FEVEREIRO DE 1938
Dispõe sôbre o imposto de licença para funcionamento, no Distrito Federal, dos casinos-balnearios e dá outras providências O Presidente da República, usando da atribuição que lhe confere o artigo 180 da Constituição Federal, DECRETA: Art. 1º. O imposto de licença para funcionamento, no Distrito Federal dos casinos-balnearios, a que se referem as instruções de 4 de março de 1935, da antiga Diretoria Geral da Fazenda Municipal e o disposto no n. 80 do decreto legislativo municipal n. 122, de 14 de novembro de 1936, é, para cada um deles, desdobrado em duas partes: a primeira, fixa para cada trimestre do ano, a segunda proporcional ao número de mesas de jogo em funcionamento. § 1º. A primeira parte do imposto é fixada em 9, 10, 11 e 12 contos de réis diários, respectivamente, nos 1º, 2º, 3º e 4º trimestres do ano. § 2º. A segunda parte do imposto é calculada á razão de 250$000 por mesa de jogo que funcionar em cada sessão diaria. § 3º. No imposto acima está incluida a taxa de serviços municipais, sujeito, entretanto, ainda, o casino ao pagamento do imposto de licença para localização de estabelecimento. Art. 2º. Da renda liquida apurada, depois de deduzidos os encargos da Inspetoria de Fiscalização e a quota de um terço da renda bruta a título de licença especial de funcionamento, será deduzida a percentagem de 10 %, que competirá á Policia Civil do Distrito Federal, podendo o prefeito utilizar-se, a seu critério, da de 20 % para subvenções a instituições de assistência social e fomento do turismo. Art. 3º. A fiscalização da fiel observancia da arrecadação dos impostos devidos, bem como das prescrições e instruções regulando o funcionamento dos casinos, será exercida pelo pessoal da Inspetoria Fiscal de Diversões e Jogos em Casino Balnearios, superintendida por um inspetor geral, cujo quadro e respectivos vencimentos compreenderá: 1 inspetor geral com vencimento anual de ...................... 33:000$000 4 inspetores, com vencimento anual, cada um................ 30:000$000 12 fiscais, com vencimento anual, cada um, de............... 21:600$000 Parágrafo único. Como auxiliares de administração haverá ainda o seguinte pessoal, com a composição e vencimentos seguintes: 2 amanuenses, com vencimento anual, cada um, de...... 12:000$000 1 datilografo, com vencimento anual de.......................... 9:000$000 1 servente, com vencimento anual de ............................ 5:400$000 Art. 4º. O pessoal da Inspetoria será nomeado pelo Prefeito. Parágrafo único. O cargo de inspetor-geral será provido, em comissão, por livre escolha do Prefeito. Art. 5º. Os serventuários da atual Inspetoria Geral do Jogo, que não forem aproveitados nos quadros a que se refere o artigo 3º desta lei, mas reunirem condições de idoneidade, capacidade e mais qualidade necessarias á admissão aos cargos publicos, serão mantidos, enquanto bem servirem, a juizo do Prefeito, sob o regimen de conrate, após feita a revisão dos titulos respectivos, podendo ingressar, segundo as suas aptidões nos quadros das repartições da Prefeitura a que estiverem servindo ou vierem a servir.
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Parágrafo único. Ao pessoal contratado, sem exercício em qualquer repartição será abonado, mensalmente, o estipendio correspondente á metade dos vencimentos dos respectivos contratos. Art. 6º. As vagas que ocorrerem no quadro da extinta Inspetoria Geral do Jogo serão suprimidas até atingir o numero fixado nos quadros desta lei, para cada categoria, sendo, daí em deante proprias, as de fiscal-chefe por fiscais, e as demais por pessoa idoneas sempre a juizo do Prefeito. § 1º. As substituições interinas, nos quadro efetivos, far-se-ão obedecendo á seguinte ordem: a de inspetor, por fiscal, a de fiscal por fiscal excedente do quadro efetivo, ou, no caso de não haver serentuario dessa categoria excedente do quadro efetivo, por pessoa idonea designada em qualquer caso, pelo Secretario Geral de Finanças § 2º. Será observado, no provimento efetivo dos cargos dos quadros ora creados, o mesmo critério adotado para as substituições interinas, cabendo ao Prefeito a expedição dos atos respectivos. Art. 7º Fica subordinada á Secretaria Geral de Finanças a Inspetoria Fiscal de Diversões e Jogos em Casinos-balnearios, cabendo recurso ao Secretario Geral de Finanças das decisões proferidas pelo inspetor-geral. Art. 8º. O Prefeito baixará, dentro em 30 dias, instruções para execução deste decreto. Art. 9º Revogam-se as disposições em contrario. Rio de Janeiro, 4 de fevereiro de 1938, 117º da Independência 50º da República. GETULIO VARGAS. Francisco Campos.
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ANEXO II – DECRETO-LEI N. 9.215 – DE 30 DE ABRIL DE 1946
Proíbe a prática ou exploração de jogos de azar em todo o território nacional. O Presidente da República, usando da atribuição que lhe confere o artigo 180 da Constituição, e Considerando que a repressão aos jogos de azar é um imperativo da consciência universal; Considerando que a legislação penal de todos os povos cultos contém preceitos tendentes a êsse fim; Considerando que a tradição moral jurídica e religiosa do povo brasileiro e contrária à prática e à exploração e jogos de azar; Considerando que, das exceções abertas à lei geral, decorreram abusos nocivos à moral e aos bons costumes; Considerando que as licenças e concessões para a prática e exploração de jogos de azar na Capital Federal e nas estâncias hidroterápicas, balneárias ou climáticas foram dadas a título precário, podendo ser cassadas a qualquer momento: DECRETA: Art. 1º Fica restaurada em todo o território nacional a vigência do artigo 50 e seus parágrafos da Lei das Contravenvenções Penais (Decreto-lei nº 3.688, de 2 de Outubro de 1941). Art. 2º Esta Lei revoga os Decretos-leis nº 241, de 4 de Fevereiro de 1938, n.º 5.089, de 15 de Dezembro de 1942 e nº 5.192, de 14 de Janeiro de 1943 e disposições em contrário. Art. 3º Ficam declaradas nulas e sem efeito tôdas as licenças, concessões ou autorizações dadas pelas autoridades federais, estaduais ou municipais, com fundamento nas leis ora, revogadas, ou que, de qualquer forma, contenham autorização em contrário ao disposto no artigo 50 e seus Parágrafos da Lei das Contravenções penais. Art. 4º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. Rio de Janeiro, em 30 de Abril de 1946, 125º da Independência e 58º da República. EURICO G. DUTRA. Carlos Coimbra da Luz. Jorge Dodsworth Martins. P. Góes Monteiro. João Neves da Fontoura. Gastão Vidigal. Luiz Augusto da Silva Vieira. Carlos de Souza Duarte. Ernesto de Souza Campos. Octacilio Negrão de Lima. Armando Trompowsky.
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ANEXO III – DECRETO-LEI N. 6.259 DE 10 DE FEVEREIRO DE 1944
Dispõe sôbre o serviço de loterias, e dá outras providências. O Presidente da República, usando da atribuição que lhe confere o artigo 180 da Constituição, DECRETA: Art. 1º O Serviço de loteria, federal ou estadual, executar-se-á, em todo o território do país, de acôrdo com as disposições do presente Decreto-lei. Art. 2º Os Governos da União e dos Estados poderão atribuir a exploração do serviço de loteria a concessionários de comprovada idoneidade moral e financeira. § 1º A loteria federal terá livre circulação em todo o território do país, enquanto que as loterias estaduais ficarão adstritas aos limites do Estado respectivo. § 2º A circulação da loteria federal não poderá ser obstada ou embaraçada por quaisquer autoridades estaduais ou municipais. Art. 3º A concessão ou exploração lotérica, como derrogação das normas do Direito Penal, que proíbem o jôgo de azar, emanará sempre da União, por autorização direta quanto à loteria federal ou mediante decreto de ratificação quanto às loterias estaduais. Parágrafo único. O Govêrno Federal decretará a nulidade de loteria ratificada, no caso de transgressão de qualquer das suas cláusulas. DAS CONCESSÕES Art. 4º Somente a União e os Estados poderão explorar ou conceder serviço de loteria, vedada àquela e a estes mais de uma exploração ou concessão lotérica. Art. 5º As concessões serão precedidas de concorrência pública. § 1º As concorrências serão abertas, mediante edital publicado no órgão oficial da União, por prazo nunca inferior a trinta (30) dias ou noventa (90) no máximo. § 2º Quando se tratar de concorrência para o serviço de loteria estadual, o edital deverá ser também publicado no respectivo órgão oficial, ou, em sua falta, no de maior circulação no Estado. § 3º Cada concorrente (pessoa física, sociedade civil ou sociedade mercantil) apresentará, até dez (10) dias antes da data fixada para a abertura das propostas, as provas de sua idoneidade e capacidade financeira. § 4º Na concorrência para a loteria federal, o Ministro de Estado dos Negócios da Fazenda fixará a importância mínima a que se obrigará o concessionário anualmente, entre quota fixa e impôsto de 5% sôbre as emissões, condição essa que constará do edital, não podendo a referida importância ser inferior a paga durante o ano de maior arrecadação da vigência do último contato. Art. 6º Entre as provas de idoneidade, os candidatos à concorrência apresentarão: a) fôlha corrida e atestados de bons antecedentes, entendendo-se que quando se tratar de sociedade, essa prova será exigida de cada um dos sócios; b) quitação de impôstos federais, estaduais e municipais, mediante certidão negativa passada por autoridade competente. § 1º Provar-se-á a capacidade financeira pela propriedade de bens equivalentes ao triplo do prêmio maior a que se refere o art. 9º, nº 4, dêste Decreto-lei. § 2º Os bens a que alude o presente artigo deverão ser constituídos: dois terços (2/3) de imóveis aceitos pelo valor relativo ao pagamento do impôsto de transmissão de propriedade, ou na base do lançamento do impôsto predial ou territorial, para cobrança no ano anterior, observadas as disposições do parágrafo único do art. 27
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do Decreto-lei nº 3.365, de 21 de junho de 1941; e o restante em títulos da dívida pública, federal ou estadual, pela cotação em bolsa. § 3º Os bens imóveis indicados na forma do § 3º pelo concorrente vencedor, não poderão ser alienados nem gravados durante a vigência da concessão, procedendo-se a anotação nêsse sentido no Registro de Imóveis. Art. 7º A concessão só será outorgada a brasileiros ou a firma composta de sócios brasileiros, excluídas as sociedades anônimas cujas ações não sejam tôdas nominativas. Parágrafo único. Pretendendo concorrer várias pessoas com uma só proposta, deverão as mesmas constituir-se previamente em sociedade regular. Art. 8º É expressamente vedada a renovação ou prorrogação de contratos, bem como a preferência em igualdade de condições. Art. 9º A loteria federal e as estaduais subodinar-se-ão às seguintes condições: 1) prazo máximo de cinco (5) anos para as concessões; 2) distribuição da percentagem mínima de setenta por cento (70%) em prêmios, sôbre cada emissão; 3) impossibilidade de exploração, simultânea, direta ou indirètamente, de mais de um serviço lotérico pela mesma pessoa, física ou jurídica; 4) duas (2) extrações por semana, com os prêmios maiores de cem mil cruzeiros (Cr$ 100.000,00) a cinco milhões de cruzeiros (Cr$ 5.000.000,00) para a loteria federal, e uma (1) extração semanal ou quinzenal, com os prêmios maiores de cinqüenta mil cruzeiros (Cr$ 50.000,00) a um milhão de cruzeiros (Cr$ 1.000.000,00), no caso de loterias estaduais; 5) emissão máxima, pela loteria federal, de quarenta mil (40.000) bilhetes para cada extração, e, pelas estaduais, de seis mil (6.000) por milhão de habitantes ou fração, fixado em qualquer caso o limite máximo de quarenta mil (40.000) bilhetes, salvo autorização especial para emissão em duas (2) séries, as quais, entretanto, obrigatòriamente, serão do mesmo plano e se decidirão por um único sorteio, no mesmo dia; 6) pagamento do impôsto de 5% na forma do art. 13 e seus parágrafos. Art. 10. É defeso ao concessionário modificar a sua firma ou transferir a concessão, sem prévio assentimento do poder concedeste, exigida sempre a inalterável idoneidade moral do responsável, e perfeita garantia financeira, pelo prazo restante do contrato. DAS CAUÇÕES Art. 11. O concessionário da loteria federal caucionará na Tesouraria Geral do Tesouro Nacional, até a véspera da assinatura do contrato a importância de três milhões de cruzeiros (Cr$ 3.000.000,00), em dinheiro ou em títulos da dívida pública federal, para garantia da execução do serviço. § 1º Aos Estados concedentes compete arbitrar a caução, indicando o lugar do seu recolhimento. § 2º Tratando-se da loteria federal, a caução em dinheiro poderá ser prestada em caderneta da Caixa Econômica ou do Banco do Brasil S.A. § 3º A caução reverterá em favor do poder concedente, se por culpa do concessionário fôr rescindido o contrato; e, findo êste, sòmente será levantada seis (6) meses após a última extração, uma vez verificado que o concessionário cumpriu tôdas as obrigações contratuais. Art. 12. Quando o prêmio maior ultrapassar o valor da caução, o concessionário fica obrigado a recolher, nas espécies previstas no art. 11, até oito (8) dias antes do sorteio, a diferença verificada entre a caução e o prêmio.
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§ 1º O recolhimento da diferença a que alude êste artigo será feito onde o poder concedente determinar, sob pena de imediata rescisão do contrato. § 2º O direito à restituição da diferença pleiteada pelo concessionário da loteria federal provar-se-á com o certificado expedido pelo Fiscal Geral de loterias. § 3º Na hipótese de que trata o parágrafo anterior, far-se-á a restituição da diferença, quando devida, por simples despacho exarado pelo Diretor das Rendas Internas, no verso do conhecimento do depósito e nêsse documento, que constituirá o comprovante da despesa, o concessionário passará recibo na forma legal. DAS CONTRIBUIÇÕES Art. 13. As loterias federal e estaduais ficam sujeitas ao pagamento do impôsto de 5% sôbre a importância total de cada emissão, o qual poderá ser cobrado dos compradores de bilhetes. § 1º Nenhuma extração de loteria estadual será permitida sem que, até a véspera da data designada para o sorteio se efetue o pagamento do impôsto de 5% sôbre a mesma extração, exibido ao Fiscal o talão comprobatório do recolhimento. § 2º A loteria federal poderá recolher o imposto de que trata êste artigo relativo às loterias de um mês, até o décimo quinto (15º) dia do mês seguinte, desde que esteja intacta a sua caução. Art. 14. O concessionário da loteria federal recolherá mensal e adiantadamente, até o décimo quinto (15º) dia útil de cada mês, o duodécimo da cota a que está obrigado, ex-vi do § 4º do art. 5º dêste Decreto-lei. Art. 15. A título de contribuição para os serviços da Fiscalização Geral das Loterias, o concessionário da loteria federal recolherá ao Tesouro Nacional, adiantadamente, até o dia 15 de janeiro de cada ano, a importância de cem mil cruzeiros (Cr$ 100.000,00). Art. 16. As contribuições previstas nêste capítulo serão escrituradas como "Renda Ordinária da União", na rubrica própria da lei orçamentária, destinando-se as de que tratam os arts. 13 e 14, a indenizar as despesas custeadas pelo Govêrno Federal com as obras de caridade e instrução em todo país. DOS PLANOS, AGÊNCIAS E LICENÇAS Art. 17. Não serão postos em circulação bilhetes de loteria cujos planos não tenham sido previamente aprovados pelo Diretor das Rendas Internas do Tesouro Nacional, quando se tratar da loteria federal, ou pelo Delegado Fiscal no respectivo Estado, quando se tratar de loteria estadual. Parágrafo único. A decisão será comunicada ao interessado dentro de quinze (15) dias da data da apresentação dos planos, considerando-se tacitamente aprovados se a autoridade não se houver manifestado dentro do referido prazo. Art. 18. O concessionário da loteria federal poderá estabelecer agências em todos os Estados, no Distrito Federal e territórios, as quais funcionarão mediante licença expedida pela Diretoria das Rendas Internas. § 1º No edifício da sede da loteria federal haverá lugar apropriado para a venda direta de bilhetes ao público, sem ágio. § 2º A loteria federal comunicará à Fiscalização Geral de Loterias, antes de feita qualquer remessa de bilhetes, a nomeação dos seus agentes ou as alterações que com êles ocorram. Multa de mil cruzeiros (Cr$ 1.000,00) a cinco mil cruzeiros (Cr$ 5.000,00) e o dôbro na reincidência. Art. 19. A loteria federal sòmente poderá apresentar plano com prêmio maior que o de cinco milhões de cruzeiros (Cr$ 5.000.000,00), mediante prévia autorização do Ministro de Estado dos Negócios da Fazenda e prestadas as garantias que forem exigidas.
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Art. 20. Ninguém poderá distribuir, vender ou expor à venda bilhetes de loteria federal ou estadual, sem ter sido previamente licenciado pela repartição federal competente, sob pena de multa igual ao valor da licença e o dôbro na reincidência. Art. 21. A licença será anual e paga em estampilhas do sêlo adesivo, na seguinte conformidade: a) para agências em cidades de mais de 500.000 habitantes ............................................Cr$ 1.000,00 b) para agências, em cidades de mais de 50.000 habitantes até 500.000.............................Cr$ 500,00 c) para agências, em cidades de menos de 50.000 habitantes ............................................ Cr$ 250,00 d) para estabelecimentos fixos em cidades de mais de 50.000 habitantes .......................... Cr$ 250,00 e) para estabelecimentos fixos em cidades de menos de 50.000 habitantes ........................Cr$ 150,00 § 1º Não obstante a concessão da licença federal, poderão os Estados sujeitar a colocação dos bilhetes das loterias, que concederem, a quaisquer outras licenças, taxas, impostos ou emolumentos. § 2º Os vendedores ambulantes pagarão, em estampilhas do sêlo adesivo, mediante guia expedida, no Distrito Federal pela Fiscalização Geral das Loterias e nos Estados pela repartição arrecadadora competente, a licença anual de dez cruzeiros (Cr$ 10,00), não estando sujeitos a quaisquer outros impostos, taxas ou emolumentos federais, estaduais ou municipais, pelo exercício dessa atividade, exceto o sêlo penitenciário e a taxa de educação. Art. 22. Antes do fornecimento de bilhetes e revendedores, fixos ou ambulantes, as agências ou filiais lhes deverão exigir a prova de estarem devidamente registrados. DOS BILHETES E DOS PRÊMIOS Art. 23. O bilhete de loteria, documento pelo qual alguém se habilita ao sorteio, é considerado, para todos os efeitos, título ao portador. Art. 24. Os bilhetes ou serão inteiros ou divididos, mas sempre uniformemente, em meios, quintos, décimos, vigésimos e quadragésimos. Art. 25. Cada bilhete ou fração consignará ao anverso, além de outras declarações que o Diretor das Rendas Internas determinar: a) a denominação da loteria: ¿Loteria Federal do Brasil¿, e no caso de loteria estadual ¿ ¿Loteria¿ seguida do nome do respectivo Estado; b) o número com que concorrerá ao sorteio; c) o preço de plano, do bilhete inteiro e o de cada fração, acrescidos do impôsto de 5% previsto no art. 9º, nº 6; d) a declaração de ser inteiro, meio, quinto, décimo, vigésimo ou quadragésimo e, sendo fração, o número de ordem desta. Art. 26. Cada bilhete ou fração consignará no verso, além de outras declarações que o Diretor das Rendas Internas determinar: a) a indicação da lei e do contrato que autorizem a loteria; b) o plano da loteria; c) a indicação do lugar, dia e hora do sorteio; d) a firma impressa do concessionário. Art. 27. Os modelos de bilhetes da loteria federal dependem de prévia aprovação do fiscal geral de loterias. Art. 28. Far-se-á o pagamento do prêmio mediante apresentação e resgate do respectivo bilhete, desde que coincida exatamente com o canhoto do qual se
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destacou, e não ofereça vícios ou defeitos que prejudiquem a verificação de sua autenticidade. Art. 29. Em hipótese alguma se admitirá a substituição de bilhetes postos em circulação, ainda que sob o pretexto de furto, destruição ou extravio. Art. 30. O pagamento será imediato à apresentação do bilhete na sede da loteria e, dentro de quinze (15) dias, se em qualquer das agências sediadas nas capitais dos Estados. Parágrafo único. O portador do bilhete que não fôr satisfeito no pagamento do prêmio apresentar-lo-á ao Diretor das Rendas Internas do Tesouro Nacional, se se tratar de loteria federal, ou ao diretor do Tesouro do Estado, se tratar de loteria estadual, os quais, ouvido o concessionário no prazo de cinco (5) dias, e verificada a ilegitimidade da recusa, fornecerão guia ao interessado para que receba no Tesouro Nacional ou no Estadual, conforme o caso, a importância devida. Art. 31. No caso de ordem judicial para não se efetuar o pagamento de algum prêmio, será êste depositado judicialmente, ficando assim ilidida a ação de cobrança. Art. 32. Os canhotos grampeados em maços de cem (100) serão rubricados na primeira e última fôlha pelo fiscal geral de loterias, ou pessoa por êle designada, e ficarão guardados em cofre de segurança pelo concessionário. DAS EXPLORAÇÕES Art. 33. As extrações serão feitas, em sala franqueada ao público, pelo sistema de urnas transparentes e esferas numeradas por inteiro. Art. 34. A loteria federal e as loterias estaduais serão extraídas nos dias designados pelo Diretor das Rendas Internas. Art. 35. Depois de postos os bilhetes em circulação, a extração só deixará de realizar-se ou será adiada, por deliberação do Diretor das Rendas Internas. Parágrafo único. No primeiro caso serão recolhidos os bilhetes e restituídos os respectivos preços, e nos segundos avisar-se-á pela imprensa o novo dia designado para a extração. Art. 36. Nenhuma loteria correrá em dia feriado no local de sua extração, mas ficará adiada para o primeiro dia útil seguinte. Art. 37. As esferas referentes ao número e ao prêmio, saídas da urna, serão colocadas lado a lado no mesmo taboleiro. Art. 38. Durante a extração da loteria federal, o fiscal geral de loterias verificará, uma a uma, as esferas postas nos taboleiros, para efeito de correção dos enganos porventura constatados em ata. A conferência relativa aos cinco (5) prêmios maiores será feita imediatamente após o pregão, submetendo-se as respectivas esferas, antes de colocadas no taboleiro, ao exame das pessoas presentes. Parágrafo único. Logo após a conferência definitiva feita pelo fiscal geral de loterias, serão os taboleiros com as esferas de números e do prêmio expostos ao público. Art. 39. A ata, manuscrita ou dactilografada, será redigida durante a extração, consignando os números premiados à medida que saírem da urna. A lista impressa, entretanto, para maior facilidade de consulta, classificará os números premiados pela ordem numérica e em escala ascendente. Parágrafo único. Sòmente a verificação feita em face da ata oficial servirá de fundamento a qualquer reclamação do pagamento do prêmio. DAS LOTERIAS PROIBIDAS Art. 40. Constitui jôgo de azar passível de repressão penal, a loteria de qualquer espécie não autorizada ou ratificada expressamente pelo Govêrno Federal.
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Parágrafo único. Seja qual fôr a sua denominação e processo de sorteio adotado, considera-se loteria tôda operação, jôgo ou aposta para a obtenção de um prêmio em dinheiro ou em bens de outra natureza, mediante colocação de bilhetes, listas, cupões, vales, papéis, manuscritos, sinais, símbolos, ou qualquer outro meio de distribuição dos números e designação dos jogadores ou apostadores. Art. 41. Não se compreendem na disposição do artigo anterior: a) os sorteios realizados para simples resgate de ações ou debêntures, desde que não haja qualquer bonificação; b) a venda de imóveis ou de artigos de comércio, mediante sorteio, na forma do respectivo regulamento, sendo defeso converter em dinheiro os prêmios sorteados ou concedê-los em proporção que desvirtue a operação de compra e venda; c) os sorteios de apólices da dívida pública da União, dos Estados e dos Municípios, autorizados pelo Govêrno Federal; d) os sorteios de apólices realizados pelas companhias de seguro de vida, que operem pelo sistema de prêmios fixos atuariais, desde que os respectivos regulamentos o permitam; e) os sorteios das sociedades de capitalização, feitos exclusivamente para amortização do capital garantido; f) os sorteios bi-anuais autorizados pelos Decretos-leis números 338, de 16 de março de 1938, e 2.870, de 13 de dezembro de 1940. Parágrafo único. Para os sorteios de mercadorias e imóveis não se permitirá emissão de bilhetes, cupões, ou vales, ao portador, mas deverão constar do livro apropriado os nomes de todos os prestamistas, com indicação dos pagamentos feitos e por fazer. Art. 42. Fica permitida a distribuição de títulos da Dívida Pública Federal, Estadual ou Municipal como prêmio de sorteio, competindo à fiscalização verificar a prévia aquisição dos títulos e sua efetiva distribuição aos contemplados. Parágrafo único. Nenhum prêmio poderá ser constituído de mais de uma apólice faderal, estadual ou municipal, englobadamente. Art. 43. A título de propaganda poderão os estabelecimentos comerciais, quando autorizados por cartas-patente, distribuir brindes aos seus clientes, mediante coleção de bilhetes, vales ou cupões sorteáveis, desde que as respectivas cautelas sejam gratuitas e os prêmios de pequeno valor. Art. 44. Compete ao Diretor Geral da Fazenda Nacional conceder cartas-patentes para funcionamento de clubes de mercadorias mediante sorteio. Parágrafo único. Sempre que houver deturpação dos fins para que foi concedida, a carta-patente será cancelada pelo Diretor Geral da Fazenda Nacional. DAS CONTRAVENÇÕES Art. 45. Extrair loteria sem concessão regular do poder competente ou sem a ratificação de que cogita o art. 3º Penas: de um (1) a quatro (4) anos de prisão simples, multa de cinco mil cruzeiros (Cr$ 5.000,00) a dez mil cruzeiros (Cr$ 10.000,00), além da perda para a Fazenda Nacional de todos os aparelhos de extração, mobiliário, utensílios e valores pertencentes à loteria. Art. 46. Introduzir no país bilhetes de loterias, rifas ou tômbolas estrangeiras, ou em qualquer Estado, bilhetes de outra loteria estadual. Penas: de seis (6) meses a um (1) ano de prisão simples, multa de mil cruzeiros (Cr$ 1.000,00) a cinco mil cruzeiros (Cr$ 5.000,00), além da perda para a Fazenda Nacional de todos os bilhetes apreendidos. Art. 47. Possuir, ter sob a sua guarda, procurar colocar, distribuir ou lançar em circulação bilhetes de loterias estrangeiras. Penas: de seis (6) meses e um (1) ano
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de prisão simples, multa de mil cruzeiros (Cr$ 1.000,00) a cinco mil cruzeiros (Cr$ 5.000,00), além de perda para a Fazenda Nacional de todos os bilhetes apreendidos. Art. 48. Possuir, ter sob sua guarda, procurar colocar, distribuir ou lançar em circulação bilhetes de loteria estadual fora do território do Estado respectivo. Penas: de dois (2) a seis (6) meses de prisão simples, multa de quinhentos cruzeiros (Cr$ 500,00) a mil cruzeiros (Cr$ 1.000,00), além de perda para a Fazenda Nacional dos bilhetes apreendidos. Art. 49. Exibir, ou ter sob sua guarda, listas de sorteios de loteria estrangeira ou de estadual fora do território do Estado respectivo. Penas: de em (1) a quatro (4) meses de prisão simples e multa de duzentos cruzeiros (Cr$ 200,00) a quinhentos cruzeiros (Cr$ 500,00). Art. 50. Efetuar o pagamento de prêmio relativo a bilhete de loteria estrangeira ou estadual que não possa circular legalmente no lugar do pagamento. Penas: de dois (2) a seis (6) meses de prisão simples e multa de quinhentos cruzeiros (Cr$ 500,00) a mil cruzeiros (Cr$ 1.000,00). Art. 51. Executar serviços de impressão ou acabamento de bilhetes, listas, avisos ou cartazes, relativos a loteria que não possa legalmente circular no lugar onde se executem tais serviços. Penas: de dois (2) a seis (6) meses de prisão simples, multa de quinhentos cruzeiros (Cr$ 500,00) a mil cruzeiros (Cr$ 1.000,00), e a inutilização dos bilhetes, listas, avisos e cartazes, além da pena de prisão aos proprietários e gerentes dos respectivos estabelecimentos. Art. 52. Distribuir ou transportar cartazes, listas ou avisos de loterias onde os mesmos não possam legalmente circular. Penas: de um (1) a quatro (4) meses de prisão simples e multa de duzentos cruzeiros (Cr$ 200,00) a quinhentos cruzeiros (Cr$ 500,00). Art. 53. Colocar, distribuir ou lançar em circulação bilhetes de loterias relativos a extrações já feitas. Penas: as do art. 171 do Código Penal. Art. 54. Falsificar emendar ou adulterar bilhetes de loteria. Penas: as do art. 298 do Código Penal. Art. 55. Divulgar por meio de jornal, revista, rádio, cinema ou por qualquer outra forma, clara ou disfarçadamente, anúncio, aviso ou resultado de extração de loteria que não possa legalmente circular no lugar em que funciona a emprêsa divulgadora. Penas: de multa de mil cruzeiros (Cr$ 1.000,00) a cinco mil cruzeiros (Cr$ 5.000,00) aplicável aos proprietários e gerentes das respectivas emprêsas, e o dôbro na reincidência. Parágrafo único. A Fiscalização Geral de Loterias deverá apreender os jornais, revistas ou impressos que inserirem reiteradamente anúncio ou aviso proibidos, e requisitar a cassação da licença para o funcionamento das emprêsas de rádio e cinema que, da mesma forma, infringirem a disposição dêste artigo. Art. 56. Transmitir pelo telégrafo ou por qualquer outro meio o resultado da extração da loteria que não possa circular no lugar para onde se fizer a transmissão. Penas: de multa de quinhentos cruzeiros (Cr$ 500,00) a mil cruzeiros (Cr$ 1.000,00). Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá a emprêsa telegráfica particular que efetuar a transmissão; Art. 57. As repartições postais não farão a remessa de bilhetes, listas, avisos ou cartazes referentes a loterias consideradas ilegais ou os de loteria de determinado Estado, quando se destinem a outro Estado, ao Distrito Federal ou aos territórios.
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§ 1º Serão apreendidos os bilhetes, listas, avisos ou cartazes encontrados em repartição situada em lugar onde a loteria não possa legalmente circular, devendo os funcionários efetuar, quando possível, a prisão em flagrante do contraventor. § 2º Efetuada a prisão do contraventor, a cousa apreendida será entregue à autoridade policial que lavrar o flagrante. No caso de simples apreensão, caberá aos funcionários lavrar o respectivo auto, para pronunciamento das Recebedorias Federais no Rio de Janeiro e em São Paulo, ou das Delegacias Fiscais nos demais Estados, às quais, se caracterizada e provada a infração, caberá impor as multas previstas neste capítulo. § 3º Aos funcionários apreendedores fica assegurada a vantagem prevista no parágrafo único do art. 62. Art. 58. Realizar o denominado ¿jôgo do bicho¿, em que um dos participantes, considerado comprador ou ponto, entrega certa quantia com a indicação de combinações de algarismos ou nome de animais, a que correspondem números, ao outro participante, considerado o vendedor ou banqueiro, que se obriga mediante qualquer sorteio ao pagamento de prêmios em dinheiro. Penas: de seis (6) meses a um (1) ano de prisão simples e multa de dez mil cruzeiros (Cr$ 10.000,00) a cinqüenta mil cruzeiros (Cr$ 50.000,00) ao vendedor ou banqueiro, e de quarenta (40) a trinta (30) dias de prisão celular ou multa de duzentos cruzeiros (Cr$ 200,00) a quinhentos cruzeiros (Cr$ 500,00) ao comprador ou ponto. § 1º Incorrerão nas penas estabelecidas para vendedores ou banqueiros: a) os que servirem de intermediários na efetuação do jôgo; b) os que transportarem, conduzirem, possuírern, tiverem sob sua guarda ou poder, fabricarern, darem, cederem, trocarem, guardarem em qualquer parte, listas com indicações do jôgo ou material próprio para a contravenção, bem como de qualquer forma contribuírem para a sua confecção, utilização, curso ou emprêgo, seja qual for a sua espécie ou quantidade; c) os que procederem à apuração de listas ou à organização de mapas relativos ao movimento do jôgo; d) os que por qualquer modo promoverem ou facilitarem a realização do jôgo. § 2º Consideram-se idôneos para a prova do ato contravencional quaisquer listas com indicações claras ou disfarçadas, uma vez que a perícia revele se destinarem à perpetração do jôgo do bicho. § 3º Na ausência de flagrante, instaurar-se-á o necessário processo fiscal, cabendo a aplicação da multa cominada neste artigo à autoridade policial da circunscrição, com recurso para o Chefe de Polícia, atribuídos aos autuantes 50% das multas efetivamente recolhidas. Art. 59. Serão inafiançáveis as contravenções previstas nos arts. 45 a 49 e 58 e seus parágrafos. Art. 60. Constituem contravenções, puníveis com as penas do art. 45, o jôgo sôbre corridas de cavalos, feito fora dos hipódromos, ou da sede e dependências das entidades autorizadas, e as apostas sôbre quaisquer outras competições esportivas. Parágrafo único. Consideram-se competições esportivas, aquelas em que se classifiquem vencedores a) pelo esfôrço físico, destreza ou habilidade do homem; b) pela seleção ou adestramento de animais, postos em disputa, carreira ou luta de qualquer natureza. DO PROCESSO FISCAL
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Art. 61. O processo fiscal das contravenções a que se refere êste Decreto-lei, obedecerá as normas estabelecidas pelo Decreto-lei nº 739, de 24 de setembro de 1938. Art. 62. Os bilhetes apreendidos em virtude de contravenção meramente administrativa serão conservados, no Distrito Federal, pela Fiscalização Geral de Loterias, e nos Estados pelas Delegacias Fiscais, em invólucro fechado e lacrado, com as declarações necessárias. Parágrafo único. Na hipótese de ser premiado qualquer dos bilhetes apreendidos, efetuar-se-á a cobrança, ficando o produto em depósito no Tesouro Nacional ou suas Delegacias Fiscais, até decisão final do processo. Metade dos prêmios pertencerá aos apreensores que tiverem assinado o respectivo auto, e a outra metade será convertida em renda eventual da União. Art. 63. Além das autoridades policiais, são competentes os Funcionários da Fiscalização Geral de Loterias, os Fiscais de loterias, os Delegados Fiscais do Tesouro, os Coletores federais, os Agentes fiscais do impôsto de consumo, os Fiscais dos clubes de mercadorias, os funcionários postais, os empregados ferroviários e os Agentes do fisco estadual e municipal, para efetuar a prisão em flagrante quando ocorrerem as infrações dêste Decreto-lei puníveis com pena de prisão, apreender bilhetes, aparelhos e utensílios, e inutilizar listas, cartazes ou quaisquer papéis relativos a loterias clandestinas ou jogos proibidos. Parágrafo único. No desempenho das atribuições previstas neste artigo, poderão os funcionários e autoridades, quando necessário, proceder a revistas pessoais, bem como arrombar portas ou imóveis em estabelecimentos de comércio. DA FISCALIZAÇÃO GERAL DE LOTERIAS Art. 64. A Fiscalização Geral de Loterias, diretamente subordinada à Diretoria das Rendas Internas do Tesouro Nacional, será exercida por um Funcionário designado pelo Presidente da República para exercer a função gratificada de Fiscal Geral. Art. 65. Nos Estados em que existir loteria, haverá um Fiscal Regional, subordinado à Fiscalização Geral e designado pelo Delegado Fiscal. Parágrafo único. O funcionário designado na forma dêste artigo será dispensado das funções de seu cargo efetivo nos dias de extração da loteria e nenhuma vantagem perceberá. Art. 66. Para os fins do art. 63, é facultado ao concessionário da Loteria Federal manter auxiliares em todo o território do pais, os quais serão designados pelo Fiscal Geral de loterias. Art. 67. Compete ao Fiscal Geral de loterias: a) superintender todo o serviço da Fiscalização; b) distribuí-lo pelos seus auxiliares; c) abrir, rubricar e encerrar livros da Fiscalização e dar as necessárias instruções para a escrituração dos mesmos; d) despachar os papéis dependentes de sua decisão e subscrever as certidões; e) mandar arquivar os papéis findos; f) assistir às extrações da loteria federal, examinando pessoalmente ou fazendo examinar por técnios de sua confiança, os aparelhos empregados nas mesmas extrações; g) velar pela estrita observância do contrato celebrado entre a União e os concessionários; h) fazer apreender os bilhetes indevidamente em circulação, quer expostos à venda, quer ocultos, bem como os ultimatos ou em via de ultimação;
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i) requisitar das autoridades policiais a fôrca necessária para tornar efetivas quaisquer diligências regulamentares; j) lavrar as designações dos auxiliares mantidos pelos concessionários; l) impedir, por todos os meios ao seu alcance, o curso de bilhetes de loterias estrangeiras, bem como o das estaduais fora dos limites dos Estados concedentes; m) fornecer guias para o pagamento da cota fixa e do impôsto proporcional de 5% sôbre o montante de cada emissão, da Loteria Federal; n) fornecer o certificado para levantamento da caução nos têrmos do § 3º do art. 11; o) determinar ns livros especiais que as emprêsas lotéricas devem possuir; p) aprovar os modêlos de bilhetes na foma do art. 27; e q) apresentar ao Diretor das Rendes Internas, no primeiro trimestre de cada ano, o relatório dos trabalhos e das mais importantes ocorrências concernentes ao ano anterior. Art. 68. Compete aos fiscais regionais: a) apreender ou fazer apreender os bilhetes indevidamente em circulação, quer expostos à venda, quer ocultos bem como os ultimados ou em via de ultimação; b) requisitar das autoridades policiais a fôrça necessária para tornar efetivas quaisquer diligências regulamentares; c) impedir, por todos os meios ao seu alcance, o curso de bilhetes de loterias estrangeiras, bem como o das estaduais fora dos limites dos Estados respectivos; d) fornecer guias para o pagamento do impôsto proporcional de 5 % sôbre o montante de cada emissão da loteria estadual; e) apresentar ao fiscal geral de loterias, até o dia 31 de janeiro de cada ano, o relatório dos trabalhos e das mais importantes ocorrências concernentes ao ano anterior; f) exigir a prova do pagamento do impôsto de 5 %, na forma do art. 13, § 1º, impedindo a extração da loteria caso não tenha sido preenchida essa formalidade; e g) assistir às extrações da lotoria. Art. 69. São nulas de pleno direito quaisquer obrigações resultantes de loterias não autorizadas. Art. 70. Os estrangeiros que contravierem as disposições dos arts. 45 a 54 e 58 dêste decreto-lei serão expulsos do território nacional, após o cumprimento da pena. Art. 71. Além dos ônus previstos neste Decreto-lei e do impôsto de renda, nenhum outro impôsto, contribuição ou taxa, federais, estaduais ou municipais, incidirá sôbre os bilhetes da loteria federal e respectivos prêmios. Art. 72. Os livros e papéis pertencentes a concessionários de serviços lotéricos e a quaisquer agências ou casas onde se vendam bilhetes, poderão em qualquer momento, ser examinados pelo fiscal geral de loterias ou pelos funcionários expressamente designados pela autoridade competente. Art. 73. O presente Decreto-lei entrará em vigor na data de sua publicação. Art. 74. Revogam-se as disposições em contrário. Rio de Janeiro, 10 de fevereiro de 1944, 123º da Independência e 56º da República. GETULIO VARGAS. A. de Sousa Costa. Alexandre Marcondes Filho. João de Mendonça Lima.
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ANEXO IV – MEDIDA PROVISÓRIA N. 168 - DE 20 DE FEVEREIRO 2004
Proíbe a exploração de todas as modalidades de jogos de bingo e jogos em máquinas eletrônicas denominadas "caça-níqueis", independentemente dos nomes de fantasia, e dá outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 62 da Constituição, adota a seguinte Medida Provisória, com força de lei:
Art. 1º Fica proibida, em todo território nacional, a exploração de todas as modalidades de jogos de bingo, bem como os jogos em máquinas eletrônicas, denominadas "caça-níqueis", independentemente dos nomes de fantasia.
Parágrafo único. A vedação de que trata o caput deste artigo implica a
expressa retirada da natureza de serviço público conferida a tal modalidade de exploração de jogo de azar, que derrogou, excepcionalmente, as normas de Direito Penal.
Art. 2º Ficam declaradas nulas e sem efeito todas as licenças,
permissões, concessões ou autorizações para exploração dos jogos de azar de que trata esta Medida Provisória, direta ou indiretamente expedidas pela Caixa Econômica Federal, por autoridades estaduais, do Distrito Federal, ou municipais.
Art. 3º A Caixa Econômica Federal e autoridades referidas no art. 2º
deverão proceder à rescisão unilateral imediata dos contratos vigentes ou revogar os atos autorizadores do funcionamento dos respectivos estabelecimentos, sem nenhum tipo de indenização.
Art. 4º O descumprimento do disposto no art. 1º desta Medida Provisória
implica a aplicação de multa diária no valor de R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais), sem prejuízo da aplicação de medidas penais cabíveis.
Art. 5º A aplicação da penalidade administrativa de que trata o art. 4º será
imposta pelo Ministério da Fazenda, após a lavratura de auto de infração. Parágrafo único. O Ministério da Fazenda deverá remeter cópia do auto
de infração a que se refere o caput ao Departamento de Polícia Federal, para adoção das medidas de sua competência.
Art. 6º A omissão na aplicação das disposições desta Medida Provisória
sujeita o servidor público federal ou empregado da Caixa Econômica Federal que lhe der causa às penalidades de demissão do serviço público ou, conforme o caso, de despedida por justa causa, sem prejuízo das sanções penais cabíveis.
Art. 7º Esta Medida Provisória entra em vigor na data de sua publicação. Art. 8º Ficam revogados os arts. 2º, 3º e 4º da Lei nº 9.981, 14 de julho de
2000, o art. 59 da Lei nº 9.615, de 24 de março de 1998, e o art. 17 da Medida Provisória nº 2.216-37, de 31 de agosto de 2001.
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Brasília, 20 de fevereiro de 2004; 183º da Independência e 116º da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Márcio Thomaz Bastos Antônio Palocci Filho José Dirceu de Oliveira e Silva