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APRESENTAÇÃO Este módulo faz parte da coleção intitulada MATERIAL MODULAR, destinada às três séries do Ensino Médio e produzida para atender às necessidades das diferentes rea- lidades brasileiras. Por meio dessa coleção, o professor pode escolher a sequência que melhor se encaixa à organização curricular de sua escola. A metodologia de trabalho dos Modulares auxilia os alunos na construção de argumen- tações; possibilita o diálogo com outras áreas de conhecimento; desenvolve as capaci- dades de raciocínio, de resolução de problemas e de comunicação, bem como o espírito crítico e a criatividade. Trabalha, também, com diferentes gêneros textuais (poemas, histórias em quadrinhos, obras de arte, gráficos, tabelas, reportagens, etc.), a fim de dinamizar o processo educativo, assim como aborda temas contemporâneos com o ob- jetivo de subsidiar e ampliar a compreensão dos assuntos mais debatidos na atualidade. As atividades propostas priorizam a análise, a avaliação e o posicionamento perante situações sistematizadas, assim como aplicam conhecimentos relativos aos conteúdos privilegiados nas unidades de trabalho. Além disso, é apresentada uma diversidade de questões relacionadas ao ENEM e aos vestibulares das principais universidades de cada região brasileira. Desejamos a você, aluno, com a utilização deste material, a aquisição de autonomia intelectual e a você, professor, sucesso nas escolhas pedagógicas para possibilitar o aprofundamento do conhecimento de forma prazerosa e eficaz. Gerente Editorial Globalização e Consumo

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APRESENTAÇÃO

Este módulo faz parte da coleção intitulada MATERIAL MODULAR, destinada às três

séries do Ensino Médio e produzida para atender às necessidades das diferentes rea-

lidades brasileiras. Por meio dessa coleção, o professor pode escolher a sequência que

melhor se encaixa à organização curricular de sua escola.

A metodologia de trabalho dos Modulares auxilia os alunos na construção de argumen-

tações; possibilita o diálogo com outras áreas de conhecimento; desenvolve as capaci-

dades de raciocínio, de resolução de problemas e de comunicação, bem como o espírito

crítico e a criatividade. Trabalha, também, com diferentes gêneros textuais (poemas,

histórias em quadrinhos, obras de arte, gráficos, tabelas, reportagens, etc.), a fim de

dinamizar o processo educativo, assim como aborda temas contemporâneos com o ob-

jetivo de subsidiar e ampliar a compreensão dos assuntos mais debatidos na atualidade.

As atividades propostas priorizam a análise, a avaliação e o posicionamento perante

situações sistematizadas, assim como aplicam conhecimentos relativos aos conteúdos

privilegiados nas unidades de trabalho. Além disso, é apresentada uma diversidade de

questões relacionadas ao ENEM e aos vestibulares das principais universidades de cada

região brasileira.

Desejamos a você, aluno, com a utilização deste material, a aquisição de autonomia

intelectual e a você, professor, sucesso nas escolhas pedagógicas para possibilitar o

aprofundamento do conhecimento de forma prazerosa e eficaz.

Gerente Editorial

Globalização e Consumo

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© Editora Positivo Ltda., 2013Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio, sem autorização da Editora.

Ruben FormighieriEmerson Walter dos SantosJoseph Razouk JuniorMaria Elenice Costa DantasCláudio Espósito GodoyFábia Berlatto / Alexsandro Eugenio Pereira / Rafael dos SantosWilma Joseane WünschAdriano Nervo CodatoWilma Joseane WünschRose Marie WünschLúcia Burzynski BialliTatiane Esmanhotto KaminskiJúnior Guilherme MadalossoAngela Giseli de SouzaJulio Manoel França da Silva / Marilu de Souza / Thiago Granado SouzaJosé Aguiar / André LemesO

2 Comunicação

Sinal Gráfico / Rosemara Aparecida Buzeti / Arowak© iStockphoto.com/Nick Cowie; © iStockphoto.com/blackred; © iStockphoto.com/Abel Mitja Varela; © Shutterstock/Lane V. Erickson; © Shutterstock/Dmitriy KuzmichevEditora Positivo Ltda.Rua Major Heitor Guimarães, 17480440-120 Curitiba – PRTel.: (0xx41) 3312-3500 Fax: (0xx41) 3312-3599Gráfica Posigraf S.A.Rua Senador Accioly Filho, 50081300-000 Curitiba – PRFax: (0xx41) 3212-5452E-mail: [email protected]@positivo.com.br

DIRETOR-SUPERINTENDENTE: DIRETOR-GERAL:

DIRETOR EDITORIAL: GERENTE EDITORIAL:

GERENTE DE ARTE E ICONOGRAFIA: AUTORIA:

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EDITORAÇÃO:CRÉDITO DAS IMAGENS DE ABERTURA E CAPA:

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Todos os direitos reservados à Editora Positivo Ltda.

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@SOC497Capitalismo fabril

e mais-valia

@SOC497

Dados Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP)

(Maria Teresa A. Gonzati / CRB 9-1584 / Curitiba, PR, Brasil)

B514 Berlatto, Fábia.Ensino médio : modular : sociologia : globalização e consumo / Fábia Berlatto,

Alexsandro Eugenio Pereira, Rafael dos Santos ; ilustrações José Aguiar, André Lemes. – Curitiba : Positivo, 2013.

: il.

ISBN 978-85-385-7487-3 (livro do aluno)ISBN 978-85-385-7488-0 (livro do professor)

1. Sociologia. Ensino médio – Currículos. I. Pereira, Alexsandro Eugenio. II. Santos, Rafael dos. III. Aguiar, José. IV. Lemes, André. V. Título.

CDU 373.33

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SUMÁRIOGlobalização e Consumo

Unidade 1: Origens históricas da globalização econômica

Início da integração e da interdependência no mundo pós-guerra 5

Adoção do dólar como moeda internacional 7

Unidade 2: Interdependência econômica global

Choques do petróleo (1973 e 1979) 10

Desvalorização do dólar e liberdade de circulação monetária 13

Unidade 3: Características da globalização econômica

Fluxos financeiros internacionais 17

Força política e econômica das grandes corporações transnacionais 19

Opção entre liberdade de comércio ou protecionismo

e formação dos blocos econômicos 20

Unidade 4: Consequências político-culturais da globalização

Globalização e cultura 22

Conflitos no mundo pós-Guerra Fria 23

Unidade 5: Mercadoria e satisfação das necessidades

Mercadoria como produto do trabalho humano 28

Fetiche da mercadoria esconde trabalho humano 29

Unidade 6: Da ética da poupança ao consumo como prática social:

fordismo e advento da publicidade

De publicidade informativa a instrumento persuasivo 32

Publicidade na formação de um novo ethos social 33

Unidade 7: Indústria cultural, tempo livre e consumo

Tempo livre e consumo 40

Distinção social 41

Unidade 8: Consumo em tempos de mundialização e acumulação

flexível

Diminuição da vida média dos produtos e serviços e a nova experiência

espaçotemporal 48

Transformação da notícia jornalística em mercadoria 50

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A descoberta de que a Terra se tornou mundo, de que o globo não

-

dos se encontram relacionados e atrelados, diferenciados e anta-

gônicos – essa descoberta surpreende, encanta e atemoriza.

IANNI, Octávio. Teorias da globalização. 13. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. p. 13.

Chegamos ao ponto em que o “consumo” invade toda a vida, em

que todas as atividades se encadeiam do mesmo modo combina-

tório, em que o canal das satisfações se encontra previamente

traçado, hora a hora, em que o “envolvimento” é total, inteiramente

climatizado, organizado, culturalizado.

BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Lisboa: Edições 70, 1970. p. 20.

Origens históricas da globalização econômica

1

Globalização e Consumo4

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Início da integração e da interdependência

no mundo pós-guerra

Um dos fenômenos sociais mais interessantes e influen-tes no mundo atual é a formação de blocos econômicos, como a União Europeia (fundada em 1992) e o Mercado Comum do Sul (Mercosul, fundado em 1991).

A integração entre nações ocorrida na Europa levou à criação, nos anos 1970, de um Parlamento europeu, similar ao nosso Congresso Nacional. Esse Parlamento é formado por representantes de cada um dos países que fazem parte da União Europeia. A formação de um único corpo de poder, representativo de vários Estados, suscita a seguinte questão: será que as fronteiras dentro da Europa desaparecerão, possibilitando a formação de um grande Estado Nacional europeu?

Na prática, a globalização econômica pode ser com-preendida como sinônimo de integração e de interde-pendência (ver Conceitos sociológicos no final do módulo). A integração significa o aumento das ligações econômicas, sociais, políticas e culturais entre os países. Ela envolve a eliminação gradual de restrições impostas à circulação de

dinheiro, mercadorias, serviços e pessoas entre nações. A interdependência, por sua vez, significa que os aconteci-mentos econômicos, políticos e sociais de um país podem afetar (e efetivamente afetam) a realidade dos demais. Para entender por que isso ocorre, é preciso estudar quando e como a globalização começou historicamente.

Para alguns autores, a globalização teve origem muito antes do fim da Segunda Guerra Mundial. Segundo essa corrente, foi na comercialização propiciada pelas Grandes Navegações no século XVI que se deu o início desse processo. Assim, foi o comércio que aproximou os continentes quando as principais potências econômicas da época (Portugal e Espanha) começaram a explorar as riquezas localizadas na América, na África e na Ásia. Mas o comércio, por sua vez, era dependente do nível de desenvolvimento tecnológico dos meios de transporte.

Para autores como o geógrafo Milton Santos (Brasil, 1926-2001), a colonização e circulação de mercadorias, a partir do século XVI, deu início à internacionalização ou à mundialização da economia.

Por uma globalização mais humana

A globalização é o estágio supremo da internacionalização. O processo de intercâmbio entre países, que

marcou o desenvolvimento do capitalismo desde o período mercantil dos séculos 17 e 18, expande-se com

a industrialização, ganha novas bases com a grande indústria, nos fins do século 19, e, agora, adquire mais

intensidade, mais amplitude e novas feições. O mundo inteiro torna-se envolvido em todo tipo de troca: técnica,

comercial, financeira, cultural. Vivemos um novo período na história da humanidade.

SANTOS, Milton. Por uma globalização mais humana. In: RIBEIRO, Wagner Costa. Um país distorcido. São Paulo: Publifolha, 2002. Disponível em:

<http://www1.folha.uol.com.br/folha/publifolha/ult10037u351805.shtml>. Acesso em: 30 set. 2009.

Nesta unidade, são abordados os seguintes con-

teúdos: início do processo de globalização econômi-

ca, integração das economias nacionais e liderança

militar e econômica dos Estados Unidos.

Globalização

econômica

@SOC646

Ensino Médio | Modular 5

SOCIOLOGIA

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Para outra corrente de analistas, entre os quais se encontra o sociólo-go brasileiro Octávio Ianni (1926-2004) (ver Leitura sociológica a seguir), a globalização começou no fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Assim como ocorreu na Grande Guerra (1914-1918), os principais motivos que levaram à Segunda Guerra foram econômicos. Os estra-gos causados pelos dois conflitos em território europeu fortaleceram economicamente os Estados Unidos. Isso porque esse país teve seu parque industrial preservado, ao contrário do que houve na Europa, que precisou reconstruir a sua estrutura produtiva, principalmente industrial, praticamente do zero.

Com o objetivo de estabelecer acordos que garantissem simultaneamente a paz e a prosperidade eco-nômica, representantes de quase todas as economias do mundo, liderados pelos EUA e pela Grã-Bretanha, participaram de uma conferência histórica realizada em Washington, em 1944. Nesse evento, foram esta-belecidos os acordos de Bretton Woods.

Esses acordos determinaram:

1. a liberação gradual do comércio internacional;

2. o estabelecimento de regras para a circulação internacional de dinheiro. A adoção do dólar como moeda universal e a liderança política e econômica dos Estados Unidos foram, a partir de então, o estopim para o início do processo de globalização econômica.

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Nuremberg (Alemanha) no pós-guerra. Aproxima-damente 50 milhões de pessoas, entre militares e civis, morreram em decorrência da Segunda Guerra Mundial

Bretton Woods foi responsável, ainda, pela criação de três importantes instituições internacionais:

1. o Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento (ou simplesmente Banco Mun-dial ou BIRD);

2. o Fundo Monetário Internacional (FMI);

3. o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT, na sigla em inglês).

O BIRD e o FMI tornaram-se responsáveis pela regulação da circulação internacional de dinheiro, e o GATT constituiu a base da Organização Mundial do Comércio (OMC), criada em 1995.

Internacionalização do capital

Desde que o capitalismo retomou sua expansão pelo mundo, em seguida à Segunda Grande Guerra Mundial, muitos

começaram a reconhecer que o mundo estava se tornando o cenário de um vasto processo de internacionalização do

capital. Algo jamais visto anteriormente em escala semelhante, por sua intensidade e generalidade. O capital perdia

parcialmente sua característica nacional, tais como a inglesa, norte-americana, alemã, japonesa, francesa ou outra, e

adquiria conotação internacional. [...] Seu espaço ampliava-se além das fronteiras nacionais, tanto das nações dominantes

como das subordinadas, conferindo-lhe conotação internacional, ou propriamente mundial.

IANNI, Octávio. Teorias da globalização. 13. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. p. 53.

Presidente Franklin Roosevelt (EUA) e o primeiro-ministro Winston Churchill (Inglaterra), em Bretton Woods, 1944

Latinstock/Corbis/Bettmann

Getty Images/Hulton Archive/Fox Photos Latinstock/Corbis/Bettamnn

Globalização e Consumo6

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Leia, atentamente, os dois textos da Leitura sociológica, cujos autores são Milton Santos (p. 5) e Octávio Ianni (p. 6). Ambos procuram explicar as origens históricas da globalização.

Identifique as diferenças e as semelhanças entre as análises dos dois autores. Escreva uma comparação entre essas análises.

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No fim da Segunda Guerra Mundial, os países vence-dores no conflito se reuniram para estabelecer impor-tantes acordos que determinaram a configuração política e econômica do mundo contemporâneo.

Desenvolva uma pesquisa a respeito de quatro con-ferências importantes desse momento histórico:

Conferência de Bretton Woods (1944);

Conferência de Yalta (1945);

Conferência de Potsdam (1945);

Conferência de São Francisco, responsável pela criação da ONU (1945).

Procure identificar os seguintes pontos: a) Onde e quando ocorreram e quem participou das

conferências? b) Quais foram as principais decisões tomadas em

cada uma delas?

Prepare um relatório escrito com essas informações, redigido com suas palavras, e entregue-o para o seu professor.

O estabelecimento do dólar como moeda internacional teve por objetivo facilitar as trocas comerciais e a circulação de dinheiro pelo mundo. Para entender o que isso significa, imagine a confusão que haveria se cada país utilizasse sua própria moeda na hora de comprar ou vender mercadorias. Mas surge daí um problema: como determinar o valor de

cada moeda? Como sa-ber quantos reais

seriam necessários para comprar um

produto fabricado na Alemanha,

por exemplo? Esse produto deveria ser pago em reais ou em

marcos? Antes de Bretton Woods, o ouro era o parâmetro para determinar o valor das moedas e das mercadorias. Uma onça de ouro (valor que varia entre 24 g e 33 g) correspondia a 35 dólares. No ano de 1944, o Tesouro estadunidense comprometeu-se a trocar, imediatamente, ouro por dólares, segundo a paridade até então utilizada. Com isso, o dólar foi “escolhido” (na realidade, imposto) como a moeda comum das nações capitalistas e passou a ser a referência do intercâmbio internacional desde 1944.

Com base nisso, todos os países capitalistas passaram a estabelecer os valores de suas moedas nacionais em relação ao dólar. Em outras palavras, para saber o valor de cada moeda nacional, é necessário verificar quantos dólares o país possui guardados em suas reservas mo-netárias (ver Conceitos sociológicos).

Adoção do dólar como moeda internacional

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2009

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Ensino Médio | Modular 7

SOCIOLOGIA

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Na atualidade, os valores do dólar e das moedas na-cionais sofrem variações de acordo com a quantidade de dólares que cada país possui em suas reservas monetárias. Trata-se do câmbio flutuante. O valor de troca de cada moeda nacional (o real, por exemplo) varia, flutua, con-forme a oferta e a procura por dólares no mercado financeiro brasileiro. Isso é uma mudança importante em relação às regras fixadas pelos acordos de Bretton Woods. Na época, os países concordaram que o valor das suas moedas não deveria sofrer oscilações. Em outras palavras, as taxas de câmbio (ver Conceitos sociológicos) deveriam ser mantidas dentro de valores fixos. Para isso, cada país precisava guar-dar determinada quantidade de dólares em suas reservas monetárias para garantir o valor do seu dinheiro, uma vez que o dólar era o padrão econômico internacional. Um país só poderia desvalorizar sua moeda frente ao dólar se

obtivesse autorização do Fundo Monetário Internacional. A vinculação de todas as moedas ao dólar fez com que se estabelecesse um padrão mais ou menos comum para as políticas monetárias (ver Conceitos sociológicos) dos Estados Nacionais.

Para formar suas reservas, cada país dependia do saldo de sua balança de pagamentos (ver Conceitos sociológicos), dos empréstimos e dos investimentos produtivos diretos (ver Conceitos sociológicos) estrangeiros.

Uma perda (fuga) de dólares muito rápida ou repentina de determinada economia desequilibra as contas nacionais (isto é, cria um saldo negativo de dólares). Depois da Con-ferência de 1944, o FMI tornou-se um fundo de reserva que recebia dinheiro dos países-membros e oferecia empréstimos às economias nacionais que apresentassem problemas em suas balanças de pagamentos.

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Hiroshima e Nagasaki após as explosões

nucleares em 1945

Hiroshima e Nagasaki na atualidade

Graças a esse mecanismo financeiro, no pós-1945, os Estados Unidos transformaram-se nos principais credores dos países capitalistas, orientando seu dinheiro para a reconstrução das economias europeias (esse foi o Plano Marshall, de 1947) e japonesa, após a Segunda Guerra. Nesse momento, os europeus precisavam racionar alimentos e fontes de energia e dependiam do ingresso de dólares e produtos estadunidenses para enfrentar a escassez e a crise econômica gerada pela guerra.

O resultado dos investimentos e esforços estadunidenses para reconstruir o capitalismo na França, Itália, Grã-Bretanha e Alemanha era visível. No período de 1950 a 1960, índices de crescimento econômico (ver Conceitos sociológicos) nunca antes vistos na história puderam ser observados na

Europa Ocidental (média de 5% ao ano) e no Japão (10% ao ano). Esses índices deveram-se à expansão do comércio interno de produtos industrializados e à entrada de dinheiro e investimento estadunidenses. Esses números tão significa-tivos também podem ser atribuídos à liderança política dos EUA e às regras e instituições internacionais criadas pelos acordos de Bretton Woods. Dados mostram que o comércio internacional passou de 60 para 300 bilhões de dólares no período de 1950 a 1970.

Essa política financeira contribuiu para que os EUA consolidassem o papel de potência mundial e, a partir de então, controlassem o funcionamento da economia mundial.

Globalização e Consumo8

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Os estadunidenses puderam desfrutar dos privilégios obtidos pela condição de fornecedores da principal moeda internacional. Por exemplo, eles passaram a emitir moeda (literalmente, im-primir dólares) para financiar suas intervenções militares pelo mundo, justificadas pelo conflito político e ideológico com a União Soviética (a chamada Guerra Fria). No contexto da Guerra Fria, as questões econômicas estavam diretamente relacionadas às questões militares.

Porém, a certa altura, esse comportamento começou a gerar problemas para a própria economia do país. De principais credores, os EUA passaram a principais devedores no início dos anos 1970.

Os governos das principais economias desenvolvidas guardavam enormes somas de dólares, isto é, mantinham grandes reservas em moeda estadunidense. Mas desconfiavam que parte desse dinheiro fora emitida pelo governo dos EUA sem que esse país tivesse a quantidade correspondente de ouro. Essa situação era ainda mais delicada porque os europeus não poderiam denunciar tal manobra, já que não desejavam o enfraquecimento econômico dos Estados Unidos. Isso poderia levar este país a retirar suas bases militares da Europa e da Ásia. Europeus e japoneses contavam com a “proteção” dos Estados Unidos contra a ameaça de invasão soviética e, assim, não priorizavam (ou estavam explicita-mente impedidos, caso da Alemanha) os gastos militares. Sem esse tipo de despesa, a Europa e a Ásia podiam manter certo equilíbrio em seus orçamentos. Por tudo isso, os países adiantados da Europa Ocidental procuraram manter uma posição favorável do dólar estadunidense na economia internacional.

Em síntese, o considerável poder econômico estadunidense naquela época estava associado ao seu poderio militar – um garantia o outro; um financiava o outro. Mas, no início dos anos 1970, a economia dos Estados Unidos começou a apresentar uma série de dificuldades geradas principalmente pela es-tagnação e pelos déficits (ver Conceitos sociológicos) crescentes em sua balança de pagamentos. O governo estadunidense promoveu, então, certas reformas financeiras que repercutiram profundamente na economia mundial nas décadas seguintes. Compreendê-las é fundamental para entender o significado da globalização e da atual instabilidade econômica.

O papel dos Estados Unidos no mundo pós-1945

A Segunda Guerra Mundial favoreceu ainda mais o empenho decisivo dos Estados Unidos. No pós-guerra,

sua conta corrente registrava saldo positivo maior que o da balança comercial, e a reserva nacional de ouro

correspondia a cerca de 70% das reservas globais. O contraste entre o excedente de riqueza dos Estados Unidos e

a demanda por dólares na Europa constituiu o alicerce para o padrão dólar e também para o Plano Marshall. [...]

o capitalismo americano reorganizou a economia-mundo do Ocidente à sua imagem e semelhança.

MAGNOLI, Demétrio. Relações internacionais: teoria e história. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 60.

Plano Marshall: ajuda econômica fornecida pelos EUA aos países devastados pela guerra e que se mantivessem ideologicamente atrelados ao

sistema capitalista.

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Nesta unidade, foi visto que a balança de pagamentos de um país é fundamental para determinar a quantidade de reservas monetárias que ele pode guardar. Em equipes, escolham um país para representar.

Cada equipe deve pesquisar: a) os principais produtos de exportação do país escolhido; b) os produtos que ele mais importa; c) a moeda do país representado e a quantidade de unidades dessa moeda necessárias para comprar um dólar.

Preparem um relatório escrito com essas informações e entreguem-no para o professor.

Ensino Médio | Modular 9

SOCIOLOGIA

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Interdependência econômica global2

No segundo semestre de 2008, ocorreu mais uma crise econômica global. O problema todo começou quando, nos Estados Unidos, os cidadãos que financiaram a compra da casa própria foram incapazes de arcar com suas dívidas. Como um problema ocorrido entre um banco estadunidense e um tomador de empréstimo no interior dos EUA pode afetar o restante do mundo?

Para responder a essas perguntas, lembre-se do que foi dito na unidade anterior: a globalização eco-nômica significa a integração combinada com a interdependência entre as economias do mundo. Em outras palavras, o que acontece em um país, principalmente considerando a importância econômica dos EUA, e o seu poderio financeiro, muito provavelmente afetará outros lugares.

A interdependência econômica entre os países capitalistas começou logo após o fim da Segunda Guerra Mundial (em 1945) e foi acentuada por um conjunto de acontecimentos na década de 1970. São eles:

1. As mudanças decisivas ocorridas nos sistemas de produção de mercadorias, em função da crise do fordismo e sua substituição pelo toyotismo.

2. Os choques do petróleo ocorridos nos anos de 1973 e 1979. 3. A desvalorização do dólar estadunidense, em 1971. 4. A desregulamentação da circulação de dinheiro pelo mundo, que se tornou uma espécie de

mercadoria como outra qualquer: moedas podem ser compradas e vendidas livremente pelos mer-cados, isto é, pelas praças financeiras ao redor do mundo, comandadas pelas grandes empresas de investimento e especulação financeira.

Os acontecimentos geradores da nova interdependência mundial são importantes para se perceber o nível, a dimensão e as características da globalização econômica atual.

Choques do petróleo (1973 e 1979)

Optou-se pela expressão “choque do petróleo”, em vez de “crise do petróleo”, para dar a exata noção da gravidade dos impactos econômicos gerados pelos exorbitantes aumentos dos preços do petróleo, ocorridos em dois momentos na década de 1970. O primeiro deles sucedeu em 1973 e resultou das tensões entre árabes e judeus no Oriente Médio, maior região produtora de óleo cru do mundo.

Nesta unidade, são abordados os seguintes conteúdos:

interdependência econômica global, crise do petróleo,

desvalorização do dólar e mudanças nas regras para a

circulação monetária.

Globalização e Consumo10

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A Guerra de Yom Kippur, no terri-tório da Palestina, causou implicações significativas na economia mundial. Em 6 de outubro de 1973, os judeus (habitantes do Estado de Israel) come-moravam o Dia do Perdão (Yom Kippur) quando foram surpreendidos por um ataque organizado pela coligação ára-be Síria-Egito (ver mapa do Oriente Médio ao lado). Em resposta, os ju-deus bombardearam Damasco (capital da Síria) e estavam a ponto de mas-sacrar as forças egípcias já cercadas no Deserto do Sinai (no Egito) quando foram impedidos pela intervenção das superpotências.

Em decorrência desse conflito, os árabes decidiram promover um boicote no fornecimento de petróleo para os EUA, Europa Ocidental e Japão, países que não apoiaram a coligação árabe Síria-Egito. O boicote foi colocado em prática por meio da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP).

Os preços do barril de petróleo tiveram uma elevação considerável: de cerca de três para quase 12 dólares o barril (em valores da época), ou seja, um aumento de 400%.

O segundo choque do petróleo ocorreu devido a dois fatores: 1. A renegociação, em 1979, dos termos dos contratos firmados entre o Irã e as companhias que exploravam

petróleo em seu território. 2. A guerra entre o Irã e o Iraque. Eles estiveram envolvidos em conflitos entre os anos 1980-1988. Essa guerra

foi desencadeada por Saddam Hussein (1937-2006), com o apoio dos EUA no fornecimento de armas. Em função desses acontecimentos, o preço do barril de petróleo chegou a quase 80 dólares (em valores da

época). Isso piorou a situação econômica dos países que mais dependiam do petróleo, já que ele é fundamental para a determinação dos custos de transporte de produtos, como alimentos, por exemplo. Foi o caso do Japão, dos países da Europa Ocidental e de países em desenvolvimento, como o México, a Índia e o Brasil.

Já para os exportadores de petróleo, o ganho foi expressivo. Ao lucro financeiro juntou-se a possibilidade de os produtores árabes de petróleo – que basicamente extraíam o produto – retirarem das companhias estrangeiras o controle sobre a produção e o refino dessa matéria-prima. Na prática, isso aumentou o peso de países, como o Irã, na economia mundial. Afinal, quem controla o petróleo tem significativo poder econômico e político no mundo.

Por fim, as enormes somas de capital nas mãos dos exportadores de petróleo contribuíram para o desenvol-vimento do mercado financeiro internacional (ver Conceitos sociológicos) a partir dos anos 1970. Os petro-dólares dos árabes foram somados aos eurodólares, ou seja, ao dinheiro estadunidense que estava nas mãos dos europeus. Com tanto capital circulando, era preciso encontrar formas de aplicá-lo e garantir rentabilidade aos seus portadores. A desregulamentação da circulação de dinheiro pelo mundo garantiu condições para isso.

Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro, 2007. p. 49. Adaptação.

Árabes e Judeus na Palestina

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Leia, com atenção, este trecho da matéria publicada pela revista Veja, no dia 26 de setembro de 2009, e observe o mapa, que apresenta dados sobre as principais reservas de petróleo do mundo.

Irã fará testes com mísseisO Irã anunciou neste sábado que, a partir de domingo, fará exercícios de defesa com mísseis. O objetivo da

ação, de acordo com a imprensa iraniana, é estimular a capacidade de intimidação do país. O anúncio foi feito um dia após Teerã tornar pública a construção de uma segunda usina de enriquecimento de urânio, o que provocou duras críticas das potências mundiais.

Não foram informados os tipos de mísseis que a Guarda Revolucionária do Irã utilizará nos testes. Em maio, Teerã disse que estava testando mísseis que analistas de defesa disseram que poderiam atingir Israel e as bases dos Estados Unidos no Golfo.

Os Estados Unidos, que suspeitam de possível criação de bombas nucleares no Irã, já expressaram preocupação sobre o programa de mísseis. O país árabe conduz com frequência exercícios de guerra ou teste de armamentos para

IRÃ fará testes com mísseis. Veja, 26 set. 2009. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/ira-fara-testes-misseis-501461.shtml>. Acesso em: 30 set. 2009.

Pelo que foi visto, o Oriente Médio vivenciava mais um capítulo de suas sucessivas tensões, desta vez provocado pelo Irã, que teria elevando sua capacidade de enriquecimento de urânio – um dos elementos químicos básicos na produção de armamentos nucleares.

Podem-se estabelecer relações entre as tensões do Oriente Médio e as diversas flutuações do preço do petróleo?

Fonte: PETROBRAS. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u391929.shtml>. Acesso em: 3 out. 2009. Adaptação.

Maiores reservas de petróleo do mundo

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Globalização e Consumo12

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Gastos militares estratosféricos com a Guerra do Vietnã e a estagnação econômica nos EUA colocaram este país em dificul-dades econômicas no início dos anos 1970. Além disso, havia uma importante concorrência comercial com os seus aliados (Alemanha, França, Grã-Bretanha e Japão). Por ironia da história, Japão e Europa Ocidental não apenas se recuperaram dos estragos gerados pela Segunda Guerra Mundial, mas passaram a exportar seus produtos industrializados para o mundo, competindo com bens dos EUA. Diante dessa crise, os Estados Unidos resolveram adotar medidas para resgatar a sua combalida economia.

Os choques do petróleo nos anos 1970 acabaram ajudando os Estados Unidos, pois impactaram diretamente as economias do Japão e da Europa Ocidental, que eram mais competitivas do que a economia estadunidense. Os EUA sofreram menos o impacto dos choques, pois eram grandes produtores de petróleo e por isso dependiam menos das importações do Oriente Médio. Além disso, o volume de petrodólares resultantes do aumento dos preços do petróleo foi reinvestido no mercado financeiro estadunidense.

Desvalorização do dólar e liberdade de

circulação monetária

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Estratégia americana

Em 1973, na esteira da guerra do Yom Kippur, os países árabes quadruplicaram o preço do petróleo, além de decretarem

um embargo contra os países que apoiaram Israel. Ora, considerando que os Estados Unidos importavam menos de 10% de

seu petróleo do Oriente Médio, não é difícil constatar que o Japão e a Europa Ocidental foram os maiores afetados pelo

embargo. É importante salientar, ainda, que a maioria dos membros da OPEP eram aliados dos EUA [...]. Desse modo, esta

manobra atingia particularmente as ascendentes economias japonesa e europeia, não produtoras de combustíveis [...].

VIZENTINI, Paulo Fagundes. O descompasso entre as nações. Rio de Janeiro: Record, 2004. p. 20-21.

Em 1971, o presidente Richard Nixon (1913-1994) promoveu uma ação unilateral que descon-siderou os acordos de Bretton Woods. Para resolver suas dificuldades, os EUA desvalorizaram o dólar e acabaram com a vinculação de sua moeda ao ouro. É importante lembrar que, conforme foi visto na unidade 1, os estadunidenses romperam a regra comum que disciplinava todas as relações econômicas e financeiras mundiais desde 1944: passaram a emitir, isto é, fabricar dólares sem as reservas em ouro correspondentes. Além disso, estabeleceram uma taxa adicional de 10% sobre os produtos estrangeiros importados, que eram vendidos para os estadunidenses. Com essas medidas protecionistas, combateram diretamente a concorrência comercial das mercadorias dos japoneses e europeus. Os fabricantes estadunidenses obtiveram, assim, vantagens significativas na disputa pelo mercado interno com os estrangeiros.

Os aliados dos EUA protestaram contra as medidas unilaterais tomadas por Nixon. Em dezembro de 1971, no entanto, acabaram por concordar com essas políticas, pois não tinham outra opção, já que de-pendiam tanto dos recursos como da proteção militar desse país, conforme foi visto na primeira unidade. A partir desse momento, todas as moedas passaram a depender da lei da oferta e da procura, a mesma lei que se aplica a qualquer mercadoria ou serviço que os consumidores desejam adquirir. Mas qual foi o significado dessa mudança?

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Interdependência

Como um termo analítico, a “interdependência” refere-se a situações nas quais actores ou acontecimentos, em

diferentes partes de um sistema, se afectam mutuamente. Simplificando, interdependência significa dependência

mútua. Tal situação, em si própria, não é boa nem má e pode existir em maior ou menor quantidade. Nas relações

pessoais, a interdependência é resumida no voto matrimonial, no qual cada parceiro é interdependente com o outro

“na pobreza e na riqueza, para o melhor e para o pior”.

NYE JR., Joseph Samuel. Compreender os conflitos internacionais: uma introdução à teoria e à história. Lisboa: Gradiva, 2002. p. 225.

Um produto pode sofrer variações em seu preço de acordo com dois fatores combinados: a oferta e a procura (ou demanda). Se a oferta do produto for pequena, mas a procura for muito grande, a tendência é o aumento do preço do produto. Em caso contrário, isto é, grande oferta, mas demanda pequena, haverá queda no preço. Com as moedas, passou a ocorrer a mesma coisa. Antes das decisões de Nixon, os países procuravam manter as moedas em valores estáveis e fixos em relação ao dólar. A partir de 1971, as moedas passaram a flutuar, isto é, variar de acordo com a lei da oferta e da procura.

Nesse contexto, os países passaram a disputar entre si os dólares disponíveis no mundo para poder controlar o valor de sua moeda. Além disso, petrodólares e eurodólares poderiam financiar a produção industrial e/ou agrícola de uma economia. Para facilitar a entrada e a saída de dólares, os países eli-minaram os controles e as regras que limitavam a circulação de dinheiro pelas suas fronteiras. É o que chamamos de desregulamentação financeira (ver Conceitos sociológicos).

Concedendo maior liberdade ao capital, seria possível evitar o colapso das economias nacionais, que já enfrentavam sérios problemas nos anos 1970, problemas tais que se somavam àqueles derivados do choque dos preços do petróleo. Um desses problemas era a necessidade de financiar os crescentes déficits públicos. Os governos nacionais e locais gastavam mais do que arrecadavam em impostos e contribuições. Em 1975, a prefeitura de Nova Iorque foi à falência. A administração da cidade possuía um dos mais elevados orçamentos dos Estados Unidos. Entretanto, a receita versus a despesa pública de Nova Iorque gerava um saldo negativo (déficit). Isso foi o que a levou ao colapso financeiro.

Para atrair dólares, os governos nacionais passaram a oferecer taxas de juros mais vantajosas aos investidores. A partir desse momento, os operadores financeiros passaram a ter oportunidades de ganhos como nunca antes.

As principais moedas nacionais se tornaram objeto de um intenso interesse especulativo de investi-dores situados em qualquer parte do mundo.

A disputa por esse dinheiro gerou um aumento da interdependência das economias mundiais (ver Leitura sociológica). Essa interdependência significou, basicamente, que as políticas econômicas de cada país, isto é, as decisões tomadas no âmbito de um Estado Nacional: subsidiar sua agricultura, por exemplo, exerceriam impactos significativos sobre o bem-estar econômico de outros.

Para entender melhor essa interdependência, reflita sobre um caso hipotético: Se um país qualquer A resolve elevar suas taxas de juros para atrair capitais estrangeiros e controlar

os índices de inflação, essas taxas atrairão capitais do país B, que estavam aplicados a taxas de juros mais baixas. O país B, por sua vez, sai perdendo, pois a atividade econômica interna é reduzida devido à migração de capital-dinheiro para o país A. Dessa forma, as decisões tomadas por A sempre terão repercussões na economia de B (e vice-versa). Levando esse exemplo para o conjunto das economias nacionais, pode-se entender de que forma as decisões de cada país (A, B, C, D, etc.) trazem consequências para os demais e para o funcionamento da economia internacional.

Por causa da interdependência, esse fato novo e inescapável, as decisões tomadas pelos governos nacionais precisam considerar sempre dois elementos principais: as necessidades internas do país e o andamento das economias dos demais países. Nesse contexto, as instituições internacionais criadas

Globalização e Consumo14

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em 1944 (FMI, Banco Mundial e GATT) passam a ter um papel importante na gestão dos problemas da economia mundial. Porém, essas instituições têm poderes limitados, pois dependem das parcelas de poder transferidas pelos Estados-membros mais importantes (EUA em primeiro lugar) para que possam atuar.

Os Estados têm dificuldades para conferir poder a uma instituição que possa tomar decisões em seu lugar. Não existe, nas relações internacionais, uma instituição ou organismo capaz de determinar ou impor o que os Estados Nacionais farão. A Organização das Nações Unidas (ONU) não tem poder suficiente para influenciar na soberania de cada Estado. O Fundo Monetário Internacional (FMI) sempre pôde impor aos países endividados e pobres medidas econômicas. Assim como um banco que realiza empréstimos para pessoas em dificuldades, o FMI pode fazer imposições e exigências aos governos desses países, mas ele não tem poder para determinar como os governos dos Estados Unidos, dos países da Europa Ocidental e do Japão conduzirão suas economias. Esses países têm peso enorme sobre a economia mundial já que, somados, controlam cerca de dois terços das atividades econômicas do planeta.

Por fim, as mudanças econômicas que ocorreram nos anos 1970 reforçaram os dois processos mais importantes da globalização: a integração e a interdependência. Por essa razão, não é possível compreender a globalização sem antes estudar a fundo o que ocorreu após a Segunda Guerra Mundial e na década de 1970. Terminado esse percurso, é possível examinar o que é a globalização econômica na atualidade e suas consequências sociais e culturais. É o que será visto nas próximas duas unidades.

Procure identificar, em livros de História Contemporânea, como ocorreu a recuperação econômica do Japão após a Segunda Guerra Mundial. Identifique, principalmente:

a) De que forma os Estados Unidos colaboraram para essa recuperação?

b) Quais foram as ações do governo e das empresas japonesas nesse momento?

c) Quais as atividades econômicas que ganharam destaque no processo de recuperação econômica do Japão?

A interdependência está presente nas diversas relações que estabelecemos em nosso cotidiano. Podemos citar, por exemplo, as relações entre os pais e entre eles e os filhos. A dependência mútua existente entre empresa e funcionário também pode ser considerada exemplo de interdependên-cia. A empresa precisa do trabalho do seu funcionário e este, por sua vez, precisa do salário que recebe da empresa na qual trabalha. Identifique situações de interdependência como essas no seu cotidiano e em sua vida.

Em seguida, em grupo, troque experiências sobre essas situações e faça uma apresentação das conclusões para toda a turma.

Economista

Esse profissional atua em empresas privadas ou estatais, principalmente em instituições financeiras, prestando serviços de auditoria, planejamento, análise de projetos e de mercado, perícia de operações financeiras e realiza estudos macro e microeconômicos. A formação realiza--se pelo curso de graduação em Ciências Econômicas, que possui duração de quatro anos. Após a graduação, o profissional deve buscar uma especialização na área que pretende atuar, como matemática financeira, mercado de ações, economia internacional, entre outras.

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Características da globalização econômica3

Nesta unidade, são abordados os se-

guintes conteúdos: lucratividade e circu-

lação dos fluxos financeiros, força política

e econômica das corporações transna-

cionais, e liberalização, protecionismo e

formação dos blocos econômicos.

O capital desde sempre perseguiu o maior lucro possível seja por meio do comércio, seja pela indústria ou pelas atividades financeiras. A partir dos anos 1970, o dinhei-ro em circulação pelo mundo tornou-se essencial para as economias nacionais afetadas pelos choques do petróleo. Mas se a circulação de capitais sempre existiu na história moderna, então que novidade pode ser observada nesse início de século XXI?

Na prática, a novidade está na velocidade de circula-ção dos fluxos de capital que viajam pelo mundo em busca da maior lucratividade possível. Este fluxo se refere tanto aos capitais financeiros (na forma de transações em moeda) como também àqueles capitais empregados na construção de fábricas e na contratação de mão de obra. Entretanto, o que mais chama a atenção, atualmente, é a presteza e a facilidade de circulação dos fluxos de dinheiro pelo globo. Eles têm mais liberdade para superar as diversas fronteiras nacionais devido à chamada desregulamentação, assunto visto na unidade anterior. Além disso, esse processo é favo-recido pelo avanço das novas tecnologias da informação e da comunicação. Por esse motivo, não é possível compreender a velocidade da circulação de capitais financeiros na atua-lidade sem levar em consideração o progresso recente das

tecnologias da comunicação e do conhecimento, graças à microeletrônica e à informática.

Nas últimas décadas, tornou-se altamente lucrativo aos capitalistas (bancos, financeiras, empresas de seguros, fun-dos de pensão, etc.) simplesmente especular: comprar ações de empresas negociadas nas bolsas de valores situadas em diversos países, negociar títulos de dívidas emitidos por governos e bancos, especular sobre as variações dos preços das commodities (termo empregado para se referir aos produtos agrícolas e às matérias-primas, como o petró-leo e o minério de ferro), buscar as melhores taxas de juros oferecidas pelos governos e bancos centrais ou apostar nas variações das moedas nacionais que obedecem à lei da oferta e da procura. As próprias empresas aplicam parte do seu capital de giro na especulação financeira. Essa é uma característica importante do atual cenário da globalização. Trata-se da “internacionalização do capital sob a hegemonia do capital financeiro”. Além dela, deve-se considerar mais duas características do processo de globalização.

A primeira envolve a força política e econômica das empre-sas multinacionais (empresas que se estabelecem em vários países), denominadas grandes corporações transnacio-nais. A segunda característica diz respeito à intensidade das trocas comerciais entre as economias do mundo, que foram aumentando progressivamente depois do fim da Segunda Guer-ra Mundial. Os países, de um modo geral, foram gradualmente liberando o comércio e fortalecendo cada vez mais a integração econômica. Com isso, aumentou a competitividade entre as economias capitalistas, já que era preciso oferecer sempre o melhor preço ou o custo mais baixo. A partir dos anos 1990, foi criado um número expressivo de blocos econômicos regionais. Esses blocos formaram-se com o propósito de proteger as economias dos seus países-membros dos efeitos da crescente competitividade econômica.

Globalização e Consumo16

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Não se pode deixar de considerar também que a globa-lização resume a significativa redução das distâncias entre as pessoas e os lugares. Por intermédio das tecnologias da informação e da comunicação, tem-se acesso, quase ime-diatamente, ao que acontece em lugares distantes do país. Passa-se a conhecer melhor realidades sociais e culturais muito diferentes, disponíveis, há pouco tempo, apenas nos livros e nas revistas. Em um único dia, é possível se deslocar de um país a outro em segundos, diversas vezes, por meio de contatos virtuais estabelecidos pela internet. Inseridas numa realidade em constante mudança tecnológica, as pessoas são condicionadas por esse mundo novo em que vivem.

As práticas, as percepções e as relações são diretamente afetadas por essa forma de integração social.

Em síntese, a globalização econômica possui três carac-terísticas principais que são o resultado das transformações econômicas em curso no mundo desde 1945. São elas:

1. as amplas possibilidades de lucratividade e de circulação dos fluxos financeiros internacionais;

2. a força política e econômica das grandes corporações transnacionais no cenário atual;

3. a opção pela liberalização ou pelo protecionismo no comércio internacional e a formação dos blocos eco-nômicos.

Fluxos financeiros internacionais

A circulação dos capitais financeiros atravessa as fronteiras nacionais livremente, sem regras rígidas ca-pazes de limitar sua entrada e saída de um país. Isso não ocorre com a circulação de produtos industrializados, serviços e, principalmente, pessoas entre essas fronteiras.

Circulação de fluxos financeiros

[...] em todo o mundo, bancos, corretoras e fundos de

investimento possuem em seus quadros especialistas –

alguns deles com o prêmio Nobel em seus currículos – [se

especializaram] em lucrar com a variação do preço de moedas,

taxas de juro, empresas, imóveis, petróleo, até produtos

agrícolas. Negociam diariamente bilhões de dólares, mas não

estão interessados em fabricar produtos ou gerar empregos.

Procuram unicamente chances de ganhar dinheiro no menor

intervalo de tempo possível, e para isso possuem escritórios

em locais tão diferentes como a Tunísia e a Tailândia. Quando

encontram a oportunidade, sua ação é comparada à de

piranhas que descobrem sangue num animal que atravessa o

rio. Se acham que o dólar pode subir, investem o dinheiro que

têm e o que não têm na compra da moeda, num “ataque” tão

violento que o dólar acaba mesmo subindo. [...]

PATU, Gustavo. A especulação financeira. São Paulo: Publifolha, 2001.

Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/publifolha/ult10037u

351845.shtml>. Acesso em: 30 set. 2009.Edifício da Bolsa de Valores de Nova Iorque e operado-res em seu interior

Há muito tempo, todos os países reconhecem o risco de permitir a livre circulação desse tipo de capital. A crise econômica, iniciada em setembro de 2008, levantou novamente um debate mundial a respeito da liberdade de circulação de capitais especulativos. As decisões dos especuladores não afetam somente seus negócios, mas podem gerar consequências para a manutenção dos níveis de emprego e de produtividade econômica dos países. Mas de que forma somos afetados pela especulação financeira?

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SOCIOLOGIA

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Grandes corporações, empresas médias e pequenas, bancos, corretoras, indivíduos, fundos de pensão e fundos privados de investimento procuram, sempre, a maior rentabilidade disponível para o seu capital. São investidores que se valem da lei da oferta e da procura. Esses investidores são muito sensíveis às informações que recebem. Se, por exemplo, apostarem seu capital na elevação dos preços da soja e perceberem o menor sinal de risco de queda do preço desse produto no mercado internacio-nal, retirarão rapidamente o capital investido e apostarão em outro produto (no minério de ferro, por exemplo) ou em outra forma de ganhar dinheiro (como adquirir títulos da dívida pública de um país).

O risco, a especulação e o medo de perder dinheiro são características do mercado financeiro. A novidade está na velocidade das transações financeiras e nas amplas possibilidades de especulação: um investidor pode comprar e vender diversas ações em um dia apenas, aproveitando inclusive os fusos horários do planeta. Ele pode monitorar o comportamento dos seus investimentos na tela de um compu-tador e, se tiver sangue frio suficiente, pode fazer apostas mais arriscadas.

Na prática, como essas “apostas” afetam a sociedade brasileira? A entrada e a saída de dólares na economia brasileira afetam a taxa de câmbio. Os exportadores brasileiros são afetados pelo dólar desvalorizado frente ao real. Eles exportam em dólares e convertem esses dólares em reais. Quanto mais valorizado estiver o dólar, mais reais terão para investir na aquisição de novas tecnologias, na

contratação de mão de obra e na expansão da produção agrícola ou industrial. O dólar desvalo-rizado frente ao real reduz essas possibilidades e pode levar o empresário nacional a ter de fazer demissões e reduzir investimentos na produção de bens para exportação.

As sucessivas crises financeiras, começando com a da Rússia, em 1997, até o colapso dos mercados, em 2008, tiveram consequências para as economias de todos os países. Alguns sofreram mais do que outros, de acordo com as características de cada economia devido à interdependência das economias mun-diais, conforme foi visto na unidade anterior.

Retorne ao texto, da Leitura sociológica da página anterior, escrito pelo jornalista Gustavo Patu, sobre a cir-culação de fluxos de capital financeiro pelo mundo contemporâneo. Em seguida, leia o conteúdo desta unidade que trata dos fluxos financeiros de capital e responda à seguinte questão:

Em sua opinião, é possível afirmar que os cidadãos de cada país teriam o direito de pressionar os seus governos para que fossem criadas leis mais rígidas para controlar e limitar a ação desses fluxos de capital? Escreva um texto dissertativo, apresentando a sua opinião a respeito.

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Localize uma reportagem que trate de alguma das crises financeiras internacionais desde os anos 1990. Explique-a, utilizando suas palavras e valendo-se do conteúdo aprendido nesta unidade, que trata dos fluxos financeiros de capital.

Globalização e Consumo18

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Força política e econômica das grandes

corporações transnacionais

A expansão do comércio internacional fortaleceu o poder econômico e político das empresas multinacionais que são chamadas de grandes corporações transnacionais. As atividades dessas empresas já estavam apresentando signi-ficativa expansão no pós-guerra. É desnecessário dizer que as principais corporações transnacionais são estadunidenses e ja-ponesas. Elas representam as principais economias do mundo. Gigantes, como Microsoft, Apple, Yahoo, Google, Ford, Sony, Honda e Toyota, entre outras, são exemplos dessas grandes corporações. Essas marcas fazem parte do nosso cotidiano.

Essas empresas são denominadas transnacionais de-vido à possibilidade de desenvolverem suas atividades em diferentes regiões ou países espalhados pelo planeta. Agem como se fossem similares a um polvo – metáfora usada por Ignacio Ramonet, diretor do Le Monde Diplomatique e autor do livro Geopolítica do caos. Seus tentáculos corresponderiam às diferentes atividades econômicas nas quais estão envolvidas. Conforme essa interpretação, uma corporação não fica restrita à produção e à comercialização de automóveis; ela diversifica

suas ações atuando no setor financeiro, na prestação de servi-ços e até na agricultura. Por essa razão, uma única corporação pode atuar em diferentes países simultaneamente, como se fosse um polvo que estende seus tentáculos.

Na atualidade, caso se leve em consideração o volume de negócios globais realizados somente pelas 200 maiores corporações transnacionais, seu montante corresponde a 25% da atividade econômica do planeta, segundo informações de Ignacio Ramonet. As principais corporações pertencem apenas a dez países assim distribuídas: 62 (Japão), 53 (EUA), 23 (Alemanha), 19 (França), 11 (Reino Unido), 6 (Coreia do Sul), 5 (Itália) e 4 (Holanda).

Dados referentes ao volume de negócios de cada uma dessas grandes corporações revelam que elas movimentam, no mundo, mais do que o PIB de muitos países somados. Em termos de produção de riqueza, elas superam ou se equiva-lem a algumas economias nacionais. É do seu significativo poderio econômico que elas retiram sua força política no mundo globalizado (ver Leitura sociológica a seguir).

Favorecendo, no decorrer das duas últimas décadas, o monetarismo, a desregulamentação, o livre-comércio, o

livre fluxo de capitais e as privatizações maciças, alguns dirigentes políticos permitiram a transferência de decisões

capitais (em matéria de investimento, emprego, saúde, educação, cultura, proteção do meio ambiente) da esfera

pública para a esfera privada. É a razão pela qual, atualmente, entre as duzentas primeiras economias do mundo,

mais da metade não são países, mas empresas.

RAMONET, Ignacio. Geopolítica do caos. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1999. p. 60.

As grandes corporações possuem força política para interferir nas negociações entre os países, procurando realizar seus interesses econômicos. Elas tomam decisões sobre as melhores oportunidades de negócios e podem deslocar atividades e unidades de produção de um país para outro.

As empresas transnacionais podem fabricar diferentes partes de um automóvel em distintos países ou regiões do mundo. Dessa forma, buscam mão de obra e matéria-prima mais barata, procurando aumentar sua capacidade de con-correr com outras empresas que atuam no setor. A acirrada

competição econômica conduz essas corporações a agirem de forma rápida para garantirem seus ganhos e, às vezes, sua sobrevivência num mercado implacável.

Somadas aos bancos, às corretoras e aos maiores investido-res privados de um modo geral, pode-se afirmar que as grandes corporações têm enorme capacidade para ditar os rumos da economia mundial. Esse poder excessivo, concedido ao capital especulativo e às grandes corporações transnacionais, coloca a economia internacional em risco, pois todos se tornam reféns das decisões tomadas pelos interesses de curto prazo e pelas ambições muito restritas dos capitalistas.

SOCIOLOGIA

19Ensino Médio | Modular

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As grandes corporações estão muito presentes no cotidiano. Pode-se ver, diariamente, inúmeras marcas de produtos fabricados por elas. Em equipe, realize um levantamento sobre as grandes corporações presentes no Brasil, no seu Estado ou na sua cidade. Investigue e debata os impactos econômicos da presença de ao menos uma dessas corporações para a economia local.

No mundo contemporâneo, setores da sociedade exercem pressão sobre as corporações para que elas contribuam mais para a preservação do meio ambiente. Esses setores consideram que as atividades de muitas corporações são responsáveis por significativos danos ambientais no mundo.

Desenvolva uma pesquisa, procurando um exemplo de um dano ambiental provocado por alguma corporação em qualquer parte do mundo. Em sua pesquisa, procure identificar:

a) a corporação e o dano ambiental provocado por ela; b) as ações que essa corporação desenvolveu para compensar o dano ambiental que ela provocou.Em seguida, escreva um texto com suas palavras, abordando o caso que você pesquisou.

Um país pode estabelecer barreiras alfandegárias e fitossanitárias à entrada de produtos em seu território. As barreiras alfandegárias são as taxas que um produto deve pagar no momento em que entra num país. Dessa forma, o seu preço para os consumidores locais fica mais elevado. Por exemplo: imagine que uma empresa brasileira decida importar automóveis alemães para vender aos consumidores brasileiros (em vez de fabricá-los aqui). As taxas que esses automóveis pagarão na alfândega brasileira serão repassadas aos compradores desses automóveis. Dessa forma, o consumidor brasileiro pagará um valor mais elevado se comparado ao preço pago pelos compra-dores alemães desse mesmo automóvel. Essa é uma medida protecionista. Isto é: ela visa proteger o mercado (as firmas, os empregos, os lucros) nacional da concorrência estrangeira.

Barreiras fitossanitárias podem ser impostas a produtos destinados à alimentação. É o caso, por exemplo, da carne bovina exportada pelo Brasil. Os Estados Unidos utilizam, com frequência, essas barreiras com o propósito de limitar a entrada de produtos alimentícios provenientes de países latino-americanos em seu mercado interno. Por isso, os EUA estabelecem barreiras de natureza técnica, afirmando, por

exemplo, que a carne brasileira não apresenta condições de higiene adequadas aos seus consumidores. Dessa forma, exigem que os exportadores brasileiros façam adequações na produção da carne antes de destiná-la ao mercado estadunidense.

As barreiras, tanto fitossanitárias quanto alfandegárias, podem servir para limitar a concorrência proveniente de outros centros produtores de mercadorias localizados em outros países. São estratégias que pretendem evitar a competição econômica internacional sobre as economias nacionais. Quando um país adota barreiras alfandegárias e/ou fitossanitárias, diz-se que ele está utilizando estratégias protecionistas. Conceder subsídios estatais aos produtores agrícolas ou industriais locais – na forma de preços mínimos ou empréstimos subsidiados – também é uma forma de protecionismo (ver Conceitos sociológicos).

Já as limitações impostas à livre circulação de pessoas entre os territórios nacionais atendem a determinados critérios de cada país. Há momentos na história nos quais um país resolve abrir suas fronteiras e permitir a entrada de trabalhadores es-trangeiros que atuarão em atividades nas quais falta mão de obra, especializada ou não. Em outros momentos, um país pode

Opção entre liberdade de comércio ou

protecionismo e formação dos blocos econômicos

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adotar políticas que impeçam a entrada de braços estrangeiros em seu território, estabelecendo punições impostas aos imigran-tes ilegais, como a prisão e a deportação. O Brasil valeu-se, em fins do século XIX e início do século XX, da importação de mão

de obra para trabalhar nas lavouras de café. Daí o grande fluxo de trabalhadores italianos e japoneses, por exemplo. Em fins do século XX, houve uma migração em sentido inverso. Muitos brasileiros foram trabalhar nos EUA e também no Japão.

Na atualidade, a formação de blocos econômicos faz parte da dinâmica do processo de globalização. O chamado regionalismo (ver Conceitos sociológicos) corresponde a uma estratégia adotada pelos países para estabelecer proteções frente à crescente competitividade econômica do sistema capitalista. Dessa forma, proliferam os acordos entre os países com o propósito de estabelecer blocos econômicos

com graus variados de liberdade de circulação de mercadorias, capitais, serviços e pessoas dentro deles. São exemplos desses blocos: o Nafta (área de livre-comércio formada por México, Estados Unidos e Canadá); a União Europeia (criada em 1992); e o Mercosul (Mercado Comum do Sul, formado por Brasil, Argentina, Paraguai, Venezuela e Uruguai, em 1991), entre outros.

Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro, 2007. p. 78. Adaptação.

Planisfério – Blocos Econômicos

Desenvolva uma pesquisa com base em publicações recentes, localizando informações sobre os seguintes aspectos dos principais blocos econômicos do mundo globalizado: a) Quando foram criados? b) Quais são os países-membros? c) Quais são as principais atividades econômicas dos países-membros? d) Quais as vantagens ou as desvantagens que os blocos trouxeram?

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SOCIOLOGIA

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Consequências político-culturais da globalização

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Nesta unidade, são abordados

os seguintes conteúdos: globaliza-

ção e identidades culturais; conflitos

político-culturais e suas motivações

econômicas, políticas, sociais e cul-

turais.

Globalização e cultura

Na unidade anterior, foi abordada a globalização com ênfase em suas características econômicas. É fundamental observar agora que a globalização pode influenciar padrões culturais, utilizando-se das facilidades de comunicação e

de acesso às informações disponibilizadas pelas novas tecnologias. Pode-se assistir a um mesmo filme comercial e comprar as mesmas marcas de produto em diferentes partes do

mundo. Será que, no futuro, todos os habitantes do planeta terão as mesmas preferências, o mesmo estilo de vida, os mesmos hábitos alimentares e a mesma forma de se vestir em qualquer parte do mundo? E, por consequência, será que desaparecerão por completo os conflitos e as guerras causadas por diferenças religiosas e culturais entre os povos?

Para responder a essas perguntas, os sociólogos e outros estudiosos promoveram um debate a respeito das consequências da globalização para as identidades culturais (ver Conceitos sociológicos). As conclusões desse debate mostram que, na prática, não se está observando o desaparecimento da diver-sidade cultural (ver Conceitos sociológicos), que daria lugar a uma cultura universal padronizada, em que todos compartilhariam os mesmos hábitos, costumes, valores, rituais e práticas sociais.

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A globalização, paradoxalmente, reforça as identidades culturais em vez de conduzi-las ao desaparecimento. Em cada lugar, podem surgir diferentes reações às influências culturais estrangeiras. Em alguns casos, os indivíduos aceitam essas in-fluências e modificam seus hábitos e comportamentos. Em outros, surgem movimentos de resistência contra essas influências.

A chamada cultura global (ver Conceitos sociológicos) é disseminada na atualidade pelas tecnologias da informação e da comunicação e tem capacidade de produzir alterações nas culturas locais. O contato entre essas culturas e a cul-tura global pode, inclusive, produzir algo novo: a chamada hibridização. Ocorre hibridização quando os elementos culturais diferentes são capazes de produzir uma nova cul-tura. As interações podem gerar também adaptações entre a cultura global e a cultura local. Essas adaptações são denominadas localização. Considere este exemplo:

Ocorreu localização quando a rede mundial de lan-chonetes McDonald’s foi introduzida no Leste Asiático. Nos Estados Unidos, ela estabeleceu um “contrato” implícito com seus consumidores: oferecer comida limpa e a preço baixo. Os consumidores comeriam e sairiam rapidamente. Esse é o sentido do fast-food. No Leste Asiático, a rede notou que esse “contrato” não funcionava, pois os consumidores permaneciam mais tempo nas lanchonetes. Donas de casa relaxavam após as compras, e os estudantes utilizavam o espaço para conversar antes de ir para casa. Empresas como essas podem, inclusive, incorporar os hábitos e os gostos dos

Globalização

e cultura

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Globalização e Consumo22

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consumidores à sua própria estratégia comercial: no Brasil, essa firma de comida rápida passou a servir um produto que não existia na matriz estadunidense: café. O McDonald’s em Paris oferece, além de refrigerantes, vinho aos clientes.

No mundo atual, os intensos contatos entre culturas po-dem produzir efeitos diversos. Enquanto, por um lado, podem estimular a aceitação das diferenças culturais, ampliando assim a convivência e a tolerância entre religiões e raças diferentes, por outro, podem estimular a rejeição a um padrão diferente daquele estabelecido pela globalização.

No mundo globalizado predominam formas de rejeição à diferença cultural. São exemplos dessas formas a xenofobia

(aversão ao estranho), o etnocentrismo (ver Conceitos sociológicos) e a formação de estereótipos sociais: um árabe vestido a caráter pode ser visto como símbolo de um terrorista em potencial. A xenofobia, o etnocentrismo e a criação de estereótipos alimentam muitos conflitos localizados em diversas partes do mundo contemporâneo. Como dissemos, a globalização reforça as identidades culturais e contribui para a disseminação de conflitos de natureza cultural pelo mundo. Essas tensões demonstram que a globalização não tende a criar uma cultura universal, igualitária, mas pode contribuir para estimular conflitos resultantes das diferenças culturais.

vivendo o momento mais interessante de reelaboração dos estereótipos, com o predomínio do temor ao terrorista

MARTINS, José de Souza. Segurança nacional e insegurança trabalhista: os migrantes na encruzilhada. Cadernos de Direito FESO, Teresópolis, ano V, n. 7, p. 113-127, 2.o semestre 2004.

Qual é o “personagem” mais visado na atualidade, pelos agentes de imigração?

No período pós-Guerra Fria (após 1989), proliferaram conflitos entre Estados Nacionais ou no interior deles, causados por razões étnicas e/ou culturais. Alguns deles pertenciam ao período da Guerra Fria e continuaram no fim do século XX e início do XXI, como o conflito entre árabes e judeus no território da Palestina. Outros surgiram na década de 1990, como resultado de transformações geopolíticas importantes, por exemplo: os conflitos que emergiram da antiga Iugoslávia no início dos anos 1990.

Observe sua sala de aula e responda às seguintes questões: Existem grupos dentro da sala de aula? Qual(is) o(s) objetivo(s) da formação de grupos?

Em seguida, se houver uma divisão dentro da turma, escreva a respeito dessas diferenças, abordando se estas geram conflitos que comprometem a convivência social entre os alunos da sua sala.

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Poucas guerras entre Estados estão em curso na atualidade. Elas estão diminuindo significativa-mente no mundo contemporâneo. Em geral, essas guerras estão associadas a motivos econômicos. Pode-se citar, a título de exemplo, as duas guerras recentes entre Estados Unidos e Iraque: a Guerra do Golfo em 1991, que pretendia retirar as forças militares iraquianas do território invadido do Kuwait; e a guerra iniciada em 2003, que gerou a deposição de Saddam Hussein da Presidência iraquiana e sua execução. É importante observar que essas duas guerras ocorreram no território de um dos principais exportadores mundiais de petróleo.

Inúmeros conflitos na atualidade estão localizados dentro de Estados e são causados pela com-binação de fatores políticos, econômicos, sociais e culturais. Não se pode afirmar que as diferenças étnicas, culturais e religiosas entre as populações sejam a única causa de todos esses conflitos. Mas, para compreendê-los, precisamos levar em consideração a importância das diferenças culturais. É o que fez, por exemplo, um cientista político estadunidense chamado Samuel Huntington (1927-2008), que classificou os conflitos atuais como um choque de civilizações.

Esse politólogo procurou desenvolver uma análise das características dos conflitos no mundo pós-Guerra Fria e escreveu um livro intitulado O choque de civilizações e a recomposição da ordem mundial (1996). A ideia central de Huntington é que se vive em um mundo caracterizado pelo conflito entre “civilizações” (ver Leitura sociológica a seguir). Ele agrupa as civilizações de acordo com suas características culturais. Por exemplo: os Estados Unidos seriam o líder da civilização ocidental da qual fazem parte os países da União Europeia. De outro lado, os países árabes (como o Iraque, a Síria e o Irã) integrariam a civilização islâmica.

O choque de civilizações

A política mundial está sendo reconfigurada seguindo linhas culturais e civilizacionais. Nesse mundo, os

conflitos mais abrangentes, importantes e perigosos não se darão entre classes sociais, ricos e pobres, ou entre

outros grupos definidos em termos econômicos, mas sim entre povos pertencentes a diferentes entidades culturais.

As guerras tribais e os conflitos étnicos irão ocorrer no seio das civilizações [...].

HUNTINGTON, Samuel. O choque de civilizações e a recomposição da ordem mundial. Rio de Janeiro: Objetiva, 1996. p. 21.

De acordo com a interpretação do cientista político estadunidense, os atentados às Torres Gêmeas e ao Pentágono (promovidos pela Al Qaeda, no dia 11 de setembro de 2001) fariam parte de um choque entre duas civilizações: a islâmica e a ocidental. Essa forma de perceber e interpretar os conflitos revela a importância dos fatores culturais para se estudarem e compreenderem os principais conflitos na atualidade. Porém, ela deixa em segundo plano a necessidade de explicar os conflitos político-culturais do mundo atual por outras causas. Razões econômicas e culturais associadas (e não isoladas) podem justificar alguns dos principais conflitos do mundo atual. Observe estes exemplos:

As causas do conflito entre israelenses e palestinos são econômicas e culturais ao mesmo tempo. Começaram no fim do século XIX, quando se iniciou a imigração de judeus para o território da Palestina. Há históricos de combates que exigiram a intervenção da Grã-Bretanha, quando a Palestina era, ainda, um território administrado por aquele país.

Com a criação do Estado de Israel, em 1948, intensificaram-se os conflitos entre judeus e palestinos. A ONU e as principais potências mundiais teriam força para impor a paz ou a criação do Estado Palestino. A ausência de uma intervenção mais intensa da Comunidade Internacional na Palestina agravou a situação na região. Na atualidade, grupos muçulmanos, como o Hamas, não reconhecem a existência do Estado de Israel e lutam pela formação de um Estado independente. Os conflitos na Palestina ocasionaram a disseminação de milhares de refugiados espalhados pelo mundo e, sobretudo, pelos países árabes.

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Os conflitos na Palestina possuem motivações culturais envolvidas. Mas a disputa envolve razões econômicas associadas ao controle do território palestino. Veja por quê:

Os israelenses não abrem mão de territórios “conquistados” nas sucessivas guerras após 1948. Eles desejam controlar a cidade de Jerusalém, considerada local sagrado pelas três principais religiões monoteístas do mundo: o cristianismo, o judaísmo e o islamismo. Essa seria a motivação de tipo “cultural”. Mas também lutam para não devolver os territórios aos palestinos devido às importantes fontes de água disponíveis na Cisjordânia. Trata-se de uma razão econômica. Em torno do território, estão diversos países árabes, como a Síria, a Jordânia (Transjordânia), a Arábia Saudita e o Egito, aumentando a tensão entre eles na região.

As intervenções estadunidenses no Iraque, ao contrário, tiveram motivações estritamente econômicas, devido à importância do petróleo, e secundariamente militares, e não envolveram razões de natureza cultural, como pode sugerir a análise de Samuel Huntington. Em seus discursos, o ex-presidente George Bush (2001- -2008) afirmou que seu governo estava inquieto com a ditadura de Saddam Hussein e com as violações aos direitos humanos promovidas pelo ditador. Mas reflita melhor sobre as palavras do presidente estadunidense. Seriam essas as suas únicas preocupações quando, em 2003, iniciou uma guerra que custou aos cofres públicos dos Estados Unidos a impressionante soma de cinco mil dólares por segundo?

No mundo globalizado, é possível observar conflitos gerados, sobretudo, por razões culturais. Foi o que ocorreu em Ruanda, na África, em 1994, e levou à morte cerca de um milhão de ruandeses no

período de cem dias. Esse dado mostra a excessiva violência que pode ser resultante da rejeição às dife-renças étnicas e culturais. Duas etnias residentes em Ruanda entraram em confronto (os hutus e os tutsis) e o resultado foi o genocídio dos tutsis conduzido pelos hutus.

O fundamental é destacar que muitos conflitos internacionais na atualidade são causados pela combi-nação de fatores culturais, sociais, econômicos e políticos. Na prática, as dificuldades de diplomatas, governos nacionais e organismos internacionais para buscar soluções para esses conflitos se tornaram bem maiores que no passado.

É preciso perceber também que os conflitos internacionais e locais no mundo atual são alimentados pelo aprofundamento da desigualdade econômica e social (ver Leitura sociológica a seguir). A globalização é responsável por esse aprofundamento. Por causa dela, cresce o número de países e pessoas à margem dos eventuais benefícios da integração econômica em escala mundial.

Globalização e desigualdades econômicas e sociais

[...] a globalização acompanhada de mercados livres, atualmente tão em voga, trouxe consigo uma dramática

acentuação das desigualdades econômicas e sociais no interior das nações e entre elas. Não há indícios de que essa

polarização não esteja prosseguindo dentro dos países, apesar de uma diminuição geral da pobreza extrema. Este surto de

desigualdade, especialmente em condições de extrema instabilidade econômica como as que se criaram com os mercados

livres globais na década de 1990, está na base das importantes tensões sociais e políticas do novo século.

HOBSBAWM, Eric. Globalização, democracia e terrorismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p. 11.

Globalização acarreta, contudo, uma concentração ainda maior da riqueza nos países desenvolvidos. A desigualdade econômica e social cresce no interior de todos os países, onde apenas uma pequena parcela se beneficia dos avanços tecnológicos e das oportunidades de consumo. A prova disso é o aumento da pobreza na principal economia do mundo: os Estados Unidos.

Com base no conteúdo desta unidade e da Leitura sociológica sobre o choque de civilizações, responda:

Você concorda com Samuel Huntington? É possível afirmar que os conflitos do mundo atual são provocados pelo choque de civilizações? Escreva um texto apresentando a sua opinião a respeito.

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Mercadoria e satisfação das necessidades

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O que significa viver em uma sociedade de consumo? Você já deve ter ouvido falar que, na atualidade, as pessoas são mais consumistas do que antigamente; que “o ter é mais importante do que o ser”, isto é, possuir objetos de valor aos olhos dos outros faz com que as pessoas sejam vistas de forma igualmente importante, mais aceitos ou invejados, não pelo que são, mas pelo que têm ou, em outras palavras, pelo que consomem. Uma ideia geral e aceita, sem muita discussão, é a de que o consumo tem por objetivo a satisfação de determinadas necessidades dos

seres humanos. Mas quais seriam essas necessidades? É comum dizer que se precisa comprar açúcar e feijão, mas também é frequente dizer que se precisa de um novo modelo de celular. Você já deve ter ouvido falar, algumas vezes, que certas pessoas costumam gastar dinheiro com coisas supérfluas, isto é, que não são de absoluta necessidade, e que, por isso, seriam pessoas fúteis.

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Estrutura

econômica do

capitalismo,

conceito e

história

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Qual será o significado sociológi-co desse fenômeno chamado “consu-mo”? Será que sempre foi assim ou se trata de uma característica típica da atualidade?

Globalização e Consumo26

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Todos os seres vivos têm necessidade de consumir para viver: plantas precisam de água, luz, animais precisam de oxigênio, água e alimento. Sendo também animais, os seres humanos precisam respirar, matar a sede e a fome, ou seja, consumir ar, água e comida, mas necessitam também de roupas, pois não têm, como outros animais, recursos naturais para os proteger das variações climáticas. Justa-mente por isso, as necessidades humanas começam a se diferenciar das de outras espécies. Os seres humanos “escolhem” com qual líquido vão matar a sua sede, assim como a comida que os alimentará. As roupas que vão agasalhá-los também passam pelo crivo da sua “escolha”. Também transformam a natureza e, para isso, criam instrumentos, ferramentas, como pontas de lança feitas de pedra lascada, datadas de cerca de 2 a 3 milhões de anos, enxadas, pás, serrotes e também instrumentos de altíssima precisão (relógios, micrômetros, sensores, etc.), enfim, objetos para que possam fazer coisas que não conseguiriam usando apenas os recursos de seu corpo. Isso se aplica, igualmente, aos automóveis, às motocicletas e aos aviões, que são usados para diminuir as distâncias, que em muitos casos seriam instransponíveis, caso fosse utilizado apenas o corpo humano.

Os seres humanos têm necessidades não materiais. Para tanto, criam os símbolos, inventam as artes, a Filosofia, os mitos, a música e a poesia – práticas humanas exercidas para dar sentido à vida. Necessitam também de carinho, amigos e tempo para o descanso. O modo como satisfazem suas necessidades materiais, simbólicas e emocionais é um dos fundamentos da existência da cultura.

O ato de consumir, no sentido de “utilizar”, é bastante antigo, tão antigo quanto os seres humanos. Relaciona-se, diretamente, às múltiplas necessidades humanas. Mas será que só isso explicaria os motivos pelos quais o consumismo acabou se transformando em um modo de vida? Para responder a essa pergunta, é necessário recorrer à outra ideia – a de mercadoria.

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SOCIOLOGIA

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No decorrer da história, os seres humanos desenvolveram não apenas técnicas para mo-dificar a natureza e criar objetos de que preci-savam, mas também inventaram maneiras de obtê-los por meio da troca. Entretanto, houve um momento em que as pessoas precisaram de coisas e não se interessavam pelo que os

outros tinham para oferecer em troca. A moeda, isto é, o dinheiro, passou a funcionar como uma forma equivalente.

Quando os objetos poderiam ser considerados mercadorias? A palavra vem do latim, mercator, e significa aquilo que tem a finalidade de ser comercializado, isto é, levado ao mercatus, comércio ou negócio. Quando um artesão produzia um vaso de cerâmica, para ser utilizado em sua casa ou para dar de presente a um amigo, ele não produzia uma mercadoria, mas um objeto. Quando, porém, esse mesmo artesão produzia vasos para serem trocados ou vendidos no mercado, aí, sim, pode-se falar que ele havia produzido mercadorias. A palavra não se aplica apenas a objetos produzidos, mas também a especiarias trazidas de outros lugares, a animais criados ou domesticados, como bois, cavalos, camelos, enfim, tudo que tivesse o comércio como destino.

A prática de consumir, então, é tão antiga quanto a humani-dade; e as mercadorias, ou seja, tudo aquilo destinado à troca ou à venda, também têm origem bastante remota. Entretanto, foi apenas com as transformações produzidas pela Revolução Industrial (XVIII-XIX) que se consolidou um sistema baseado, fun-damentalmente, na produção e na circulação de mercadorias, o que inclui, é claro, o consumo. Esse sistema é o capitalismo.

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Como objeto, a mercadoria possui uma finalidade: satisfazer as necessidades de quem a compra, venham estas “do estômago ou da fantasia”, nas palavras de Karl Marx (1818-1883). A satisfação das necessidades está ligada à utilidade da mercadoria, isto é,

ao seu valor de uso. Pense, por exemplo, no caderno que faz parte do seu material esco-lar – ele tem uma utilidade e satisfaz a sua necessidade de fazer anotações e atividades. Pode-se chamar essa utilidade do caderno de “cadernidade”.

Você ou alguém de sua família comprou esse caderno e pagou por ele determinado valor. Será que esse valor está relacionado à “cadernidade”, isto é, à utilidade do caderno? Se você refletir, verá que, por trás desse caderno, há o trabalho de muitas pessoas: daqueles que plantaram e cortaram as árvores para fazer o papel ou dos recicladores de lixo, caso o caderno tenha sido produzido com papel reciclável; de quem o imprimiu, montou-o, transportou--o, vendeu-o, enfim, há uma rede de pessoas que não aparecem no caderno, mas cujo trabalho faz com que ele se transforme em mercadoria.

A mercadoria é, portanto, produto da ação humana. Ago-ra, pense em um desses trabalhadores: ele vende sua força de trabalho, que muitos chamam de mão de obra, em troca de um salário. O trabalho é uma forma de mercadoria, tem um preço e também é consumido. Com o dinheiro do salário, o trabalhador repõe suas energias, diverte-se, educa seus filhos, cuida da saúde, alimenta-se, ou seja, reproduz a mercadoria “força de trabalho” para prosseguir vendendo-a. Pense na expressão “mercado de trabalho”. Ela expressa bem a ideia de que a força de trabalho é uma mercadoria e, nesse sentido, quando as pessoas estudam (cursos de informática e de línguas estrangeiras, por exemplo), estão procurando modos de se qualificarem, possibilitando, assim, o seu ingresso ou a sua valorização no mercado.

Quem é o comprador dessa mercadoria tão especial – o tra-balho? O empresário ou os diretores proprietários da empresa em que esse trabalhador do exemplo hipotético trabalha. Atu-almente, as grandes empresas ou conglomerados de empresas incluem também os acionistas. Seja apenas um empresário ou um grupo anônimo de acionistas, essas pessoas compram a força de trabalho do trabalhador e também ficam com o lucro do que ele produziu, ou seja, com o fruto de seu trabalho. No sistema capitalista, isso é possível porque esse empresário é proprietário dos meios de produção, isto é, das máquinas, ferramentas, etc. utilizadas pelo operário e, além disso, é dono do dinheiro que paga o salário. Em outras palavras, ele é dono do capital.

À medida que o trabalhador produz uma mercadoria, ele transfere valor a ela – o trabalho é produtor de valor. Parte das mercadorias produzidas, por exemplo, em uma semana, já seria equivalente ao salário do trabalhador, e o restante, produzido nas outras três semanas do mês, constituiria um excedente. Entretanto, se o operário já produziu o equivalente a seu próprio salário e mais do que isso até, em verdade, o dinheiro que o capitalista usa para pagar o salário retorna em forma de mercadoria. Esse processo ga-rante ao empresariado que o lucro produzido aumente seu capital, daí o nome de sistema capitalista.

Mercadoria como produto do

trabalho humano

Sentido

preciso,

sociológico,

político e

econômico

do trabalho

@SOC171

Capitalismo

fabril e

mais-valia

@SOC497

Valor de uso e

valor de troca

segundo o

materialismo

histórico

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Globalização e Consumo28

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Escolha um produto qualquer de consumo, por exemplo: automóvel, geladeira, telefone celular, par de óculos, etc. Procure reconstruir todos os processos envolvidos na produção dessa mercadoria, desde a extração e o uso da matéria-prima até a tecnologia e o conhecimento incorporados na invenção do objeto em questão. Conte quantas pessoas ou grupos de pessoas podem estar envolvidas(os) diretamente no processo produtivo, antes mesmo que a mercadoria chegue à loja. Apresente os resultados, mostrando uma especialidade desse sistema de fabricação de “coisas”, objetos, produtos: o fato de o trabalho humano ser interdependente. Isso significa que o trabalho é uma atividade social e é dessa forma que ele deve ser entendido.

A mercadoria, para Marx, teria no capitalismo uma espécie de dom especial, uma capacidade mágica: ela ocultaria ou faria desaparecer, como por encanto, a sua natureza de produto do trabalho humano e também as relações que as pessoas estabelecem entre si – as relações sociais – no processo de produção. Marx chamou esse fenômeno de fetiche da mercadoria. Fetiche quer dizer “feitiço”. O fetiche é, na definição do Dicionário Aurélio, um “objeto animado ou inanimado, feito pelo homem ou produzido pela natureza, ao qual se atribui poder sobrenatural e se presta culto”.

O fetiche da mercadoria para MarxA mercadoria é misteriosa simplesmente por encobrir as características sociais do próprio trabalho dos ho-

mens, apresentando-as como características materiais e propriedades sociais inerentes aos produtos do trabalho; por ocultar, portanto, a relação social entre os trabalhos individuais dos produtores e o trabalho total, ao refleti-la

Uma relação social definida, estabelecida entre os homens, assume a forma fantasmagórica de uma relação entre

como mercadorias. É inseparável da produção de mercadorias.

MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. 7. ed. São Paulo: Difel, 1982. p. 80-81. v. I, Tomo I.

Com base no texto, reúnam-se em grupos e discutam a verdade ou não dessas ideias de Marx: a) As mercadorias parecem ter um poder próprio, que é o de esconder a natureza coletiva do processo que as

produziu. b) As relações entre as pessoas aparecem, no mercado, como uma relação entre “coisas”.

Fetiche da mercadoria

esconde trabalho humano

Diferentemente de outras fases da História, a mercadoria transformou-se em um dos elementos básicos da vida social. Não se refere aos vasos de cerâmica vendidos ou trocados nos mercados da Grécia ou da Roma Antiga, nem de colares e outros ornamentos corporais trocados entre grupos indígenas. Não é o pro-duto do trabalho dos servos nas terras dos senhores feudais e, finalmente, também não são as especiarias que circulavam pelo mundo no período das Grandes Navegações. O que se tem agora é um sistema que se fundamenta na produção e na circulação das mercadorias, o que implica uma mudança do papel do consumo: no capitalismo, consumir é fazer o sistema funcionar, o que significa gerar lucros que fazem crescer o capital. Essa é a razão (o motivo e a finalidade) pela qual há tanto apelo ao consumo na sociedade atual.

Capitalismo,

relações de

trabalho e

produção de

mercadorias

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SOCIOLOGIA

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Galeria Lafayette, Paris

Da ética da poupança ao consumo como prática social: fordismo e advento da publicidade

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A questão primordial aqui é: como o consumo, motivado pela publicidade, se tornou uma prática social dominante e um impulsionador do lucro na sociedade capitalista?

A produção de mercadorias em fábricas começou com a Revolução Industrial, na Grã-Bretanha, consolidando--se definitivamente entre a segunda metade do século XVIII e início do século XIX. No início, a mercadoria mais importante era o tecido de algodão que a Inglaterra pro-duzia e exportava principalmente para as colônias, mas os antecedentes de uma sociedade de consumo eram mais visíveis na França do século XIX. Em Paris, entre 1830 e 1840, surgiram os magasins de nouveautès (magazines de novidades), nos quais se vendiam, principalmente, artigos de luxo, mas também produtos têxteis.

No fim do século XIX, aparecem os grands magasins (grandes magazines), lojas de departamentos que ainda existem em Paris e foram precursores dos modernos shopping centers estadunidenses. Os grands magasins também eram lugares de encontro entre as pessoas mais ricas, isto é, constituíam espaços de sociabilidade da burguesia, com maior diversificação de produtos, instalados em grandes edifícios luxuosos, com estruturas de ferro e vidro e com muitos funcionários. As ruas de Paris tornaram-se, então, muito movimentadas, a vida foi adquirindo um ritmo dife-rente daquele dos séculos anteriores, como se pode notar observando a obra de Camille Pissarro.

No aspecto cultural, apareciam, nos jornais, os roman-ces de folhetim – histórias publicadas em capítulos e que

podem ser considerados antepassados das novelas televisivas. Com o folhetim, a literatura foi se transfor-mando em atividade voltada para o mercado, impulsio-nando também as vendas de jornais. A fotografia ga-nhou impulso, nesse período, com o aperfeiçoamento do daguerreótipo – aparelho in-ventado pelo francês Louis Daguerre, em 1837.

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PISSARRO, Camille. Boulervard Montmartre in Paris. 1897. 1 óleo sobre tela, color., 74 cm x 92,8 cm. Museu Hermitage, São Petersburgo.

Globalização e Consumo30

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Daguerreótipo – primeira máquina de fotografia COMPTE, Louis. Primeiro daguerreótipo tirado na América

do Sul. 1840. Rio de Janeiro.

Essas mudanças alteraram bruscamente a maneira de as pessoas experimentarem a vida nas grandes cidades, não apenas em Paris, mas também em Londres, Nova Iorque, Berlim e São Petersburgo. A essa experiência chamamos de mo-dernidade. O poeta francês Charles Baudelaire (1821-1867) seria o grande cronista da modernidade parisiense, afirmando: “A Modernidade é o transitório e o fugidio, o contingente; é uma metade da arte, sendo a outra o eterno e o imutável”.

À medida que a modernidade avançava, tinha-se a impressão de que, cada vez mais, o “transitório e o fugidio” venciam o “eterno e o imutável”. Entretanto, se já é possível perceber os primeiros passos da sociedade de consumo no século XIX, para entender como o consumo se tornou o que é na atualidade, é necessário voltar a atenção ao início do século XX.

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A experiência da modernidade

Há uma modalidade de experiência vital – experiência do espaço e do tempo, do eu e dos outros, das

possibilidades e perigos da vida – que é partilhada por homens e mulheres em todo o mundo atual. Denominarei

esse corpo de experiência “modernidade”. Ser moderno é encontrar-se num ambiente que promete aventura, poder,

alegria, crescimento, transformação de si e do mundo – e, ao mesmo tempo, que ameaça destruir tudo o que

temos, tudo o que sabemos, tudo o que somos. Os ambientes e experiências modernos cruzam todas as fronteiras

da geografia, e da etnicidade, da classe e da nacionalidade, da religião e da ideologia; nesse sentido, pode-se dizer

que a modernidade une toda a humanidade. Mas trata-se de uma unidade paradoxal, uma unidade da desunidade;

ela nos arroja num redemoinho de perpétua desintegração e renovação, de luta e contradição, de ambiguidade e

angústia. Ser moderno é ser parte de um universo em que, como disse Marx, “tudo que é sólido desmancha no ar”.

O turbilhão da vida moderna tem sido alimentado por muitas fontes: grandes descobertas nas ciências físicas,

com a mudança da nossa imagem do universo e do lugar que ocupamos nele: a industrialização que transforma

conhecimento científico em tecnologia, cria novos ambientes humanos e destrói os antigos, acelera o próprio ritmo da

vida, gera novas formas de poder [...], os sistemas de comunicação de massa, dinâmicos em seu desenvolvimento, que

embrulham e amarram, no mesmo pacote, os mais variados indivíduos e sociedades. [...] No século XX, os processos

sociais que dão forma a esse turbilhão, mantendo-o num perpétuo estado de vir a ser, vêm a chamar-se modernização.

BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo: Companhia das Letras, 1986. p. 14-15.

Os avanços tecnológicos e uma nova forma de organizar o trabalho permitiram maior produtividade às indústrias. Em 1911, o engenheiro Frederick W. Taylor (1856-1915) publicou o livro Os princípios da administração científica, com propostas para racionalizar a produção por meio do gerenciamento do processo produtivo e do fracionamento do trabalho, com cada operário responsável por apenas uma tarefa, criando uma rotina

repetitiva, mas que visava ao aumento da produtividade. O industrial Henry Ford (1863-1947) incorporou e aperfeiçoou as ideias de Taylor, criando a “linha de montagem” em sua fábrica de automóveis e inaugurando uma fase de produção em massa que ficou conhecida por fordismo.

Sistemas produtivos

capitalistas:

fordismo, taylorismo

e toyotismo

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SOCIOLOGIA

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Além disso, o capitalismo havia entrado em uma nova fase. Até apro-ximadamente as últimas duas déca-

das do século XIX, o sistema se baseava na concorrência entre as empresas, o que foi chamado de “fase concorren-cial”. Desde então, até os primeiros anos do século XX, o capitalismo se caracterizou pela formação de grandes cartéis, associações entre empresas, visando criar oligopólios, isto é, o controle do mercado por poucos, que o monopolizavam. Essa fase é chamada de “capitalismo monopolista”: foi o

momento em que se formaram as grandes corporações e em que a publicidade e o crédito ao consumidor possibilita-ram maior rapidez na circulação das mercadorias. O crédito acabou se tornando também uma espécie de mercadoria pela qual se paga um preço: os juros, o que fez crescer os negócios bancários na fase monopolista do capitalismo.

Nesse contexto, era necessário muito mais do que es-perar que as pessoas fizessem compras (entre elas os car-ros da Ford) apenas para satisfazerem suas necessidades imediatas. Era preciso incentivá-las à compra. Em países, como a Inglaterra e os Estados Unidos, havia uma barreira a ser vencida: a propensão das pessoas a pouparem muito e gastarem pouco. Isso se relacionava a uma característica, que o sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) identificou como a predominância do protestantismo puritano, com um ethos voltado muito mais para a vida ascética e o trabalho regrado. Além disso, a vida acelerada das grandes cidades e a padronização dos produtos eram motivos de resistência e até de angústia. Foi nesse contexto que a publicidade e as modernas técnicas de marketing se estabeleceram defi-nitivamente e cresceram cada vez mais.

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Linha de montagem do início do século XX

Os anúncios de mercadorias e de estabelecimentos comerciais nos jornais eram, até o fim do século XIX, basicamente informativos, baseados na utilidade prática das coisas anunciadas, não significando que não houvesse elogios exagerados e informações falsas sobre os produtos e os serviços oferecidos.

Era uma estratégia que refletia o espírito do capitalismo concorrencial. Não existiam ainda as agências de publicidade como na atualidade. Os anúncios eram negociados diretamente entre o vendedor e o jornal ou, então, recorria-se à figura do agenciador – uma pessoa que ficava encarregada de intermediar a colocação do anúncio. O estilo predominante das mensagens era o classificado.

A maior parte da receita dos jornais não vinha dos anúncios, mas da venda dos exemplares. Tanto é que, na Grã-Bretanha, os jornais resistiram algum tempo à publicidade. Foi o inglês Alfred Northcliffe (1865-1922), fundador do jornal Daily Mirror, e mais tarde proprietário do famoso Times, quem vislumbrou a possibilidade de a publicidade ser um meio de financia-mento dos jornais. Foi no início do século XX e mais acentuadamente com o fordismo que a publicidade se transformou, tanto na organização do seu trabalho como na forma de produzir os anúncios.

Uma primeira transformação nos estilos dos anúncios levou a uma estratégia que os estadunidenses chamavam de reason why (razão pela qual), o que pode ser traduzido como “convencimento racional” para comprar. Eram anúncios com

muito texto, destacando as qualidades técnicas dos produtos, ou seja, a razão pela qual alguém deveria adquirir aquela coisa anunciada, e que também eram exportados para outros países, onde eram traduzidos.

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De publicidade informativa a

instrumento persuasivo

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Mas outras estratégias começavam a ser utilizadas: as scare copies, que consistiam em histórias apavorantes, como a da moça que perde o namorado por ter mau hálito e que teria seu problema resolvido se comprasse determinado enxaguante bucal.

Nesse exemplo já não se trata de convencer racionalmente a consumidora, mas de assustá-la (daí o nome scare), apelando para uma possível rejeição amorosa devido à halitose.

Outra estratégia que a publicidade estadunidense adotou já no início do século XX, e que se mantém na atualidade, pode ser exemplificada pelos testemonials, os testemunhos, os depoimentos de atrizes de cinema falando de suas preferências por marcas de cosméticos e perfumes.

Começava aí uma associação entre a publicidade e o mundo das imagens, que viria a ser um dos traços do que é chamado de sociedade de consumo.

Procure exemplos de reclames publicitários que ainda utilizem uma dessas três técnicas:

a) Reason why. b) Scare copies. c) Testemonials.

Em grupos, façam um painel com os tipos de anúncio e apresentem para a turma, ressaltando a possível eficácia ou ineficácia dessas técnicas na atualidade.

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Anúncio baseado no apelo racional

Exemplo de scare copy

A identificação das fãs com as imagens das atrizes de Hollywood incentivava o consumo dos produtos anunciados. O sociólogo francês Edgar Morin (1921- ) referiu-se à relação entre os espectadores e o cinema como de “identificação e projeção”. As pessoas identificavam-se com os personagens dos filmes a que assistiam e projetavam nelas seus anseios e suas angústias. Esse mecanismo duplo acabava por carac-terizar também a relação dos fãs com as imagens de seus

ídolos – note bem: “imagens”, pois não se tratava dos atores e das atrizes como pessoas de carne e osso.

Na indústria cultural, as estrelas passaram também, nessa época, a serem personagens nos quais as pessoas projetam seus sonhos. Para verificar isso é só prestar atenção ao sucesso dos sites, das revistas e dos programas de televisão que falam de fatos reais ou inventados da vida de artistas, e isso não mais está restrito ao cinema, mas atinge também a televisão e a música pop.

Publicidade na formação de um novo ethos social

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Família assistindo à TV, 1958. National Archives and Records Administration

Leia a citação abaixo e relacione-a com as mudanças de comportamento em relação ao consumo no capitalismo monopolista:

O sistema industrial, depois de socializar as massas como forças de trabalho, deveria ir mais longe para se forças de consumo.

BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Lisboa: Edições 70, 1970. p. 93.

A produção em larga escala, o cinema se transformando também em indústria, bem como o cres-cimento do mercado fonográfico, o surgimento do rádio comercial, isto é, da programação radiofônica patrocinada pelas grandes empresas e com vistas a entreter as pessoas, as revistas e os jornais de grande circulação, tudo isso mudou a face dos países industrializados nas primeiras décadas do século XX. A publicidade aprendeu rapidamente a dirigir suas mensagens, manipulando anseios e desejos das pessoas, gerando novas necessidades “do estômago e da fantasia” e se transformando, ela mesma, em um negócio especializado e lucrativo. Nos anúncios, o fetiche da mercadoria não só ocultava as condições de sua produção (o caráter social do trabalho capitalista), como também a transformava em realizadora efetiva de sonhos e fantasias.

Leia o que o publicitário brasileiro, Arthur Coelho, escreveu em 1938 sobre a publicidade nos Estados Unidos:

Quem de perto aprecia a vida norte-americana, esquadrinhando-lhe as peculiaridades, observando-lhe

anúncio exerce sobre o povo. Está claro que não nos referimos apenas ao aviso, simples ou ilustrado, que aparece nas publicações, mas a toda a sorte de propaganda – pela imprensa, pelo cartaz, pelo rádio, pelo cinema.

PROPAGANDA, ano I, n. 5, p. 22, maio/abr. 1938. Acervo da Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo.

Formou-se, a partir de então, uma espécie de circuito: os fãs de cinema liam ávidos, em revistas e jornais, notícias sobre a vida de seus ídolos, entre anúncios de automóveis e cosméticos. O rádio lançava os ritmos da moda, introduzia programas de auditório e as conhecidas soap operas (óperas de sabão, literalmente), precursoras de nossas novelas, histórias em capítulos, sob o patrocínio de produtos de limpeza doméstica (sabão em pó, daí o nome), voltadas ao público feminino. Os meios de comunicação se transformavam também em veículos de publicidade e não apenas de “informação”.

O que caracterizou as primeiras décadas do século XX como início de uma sociedade de consumo propriamente dita foi a forma como a prática de consumir, estimulada pela propaganda, generalizou-se e já não se restringiu mais às mercadorias palpáveis, os bens materiais (ver Conceitos sociológicos) – automóveis, móveis, roupas, etc. –, mas também ao que mais tarde se chamaria de bens simbólicos (ver Conceitos sociológicos), como a música, o cinema, os programas radiofônicos, as revistas e os jornais. A televisão deu seus primeiros passos entre fins dos anos 1940 e início dos 1950: na Inglaterra, como serviço público por meio da BBC, e, nos Estados Unidos, já com o financiamento da publicidade e de seus anunciantes.

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1. Tragam revistas e jornais e selecionem propagandas. Em grupos, escolham algumas para análise e procurem identificar as estratégias de convencimento utilizadas.

2. Oralmente, respondam às seguintes questões: a) Em sua opinião, qual faixa etária está mais suscetível aos “encantos” da publicidade na atualidade? Por

quê? Apresente em sua resposta recursos utilizados pelos publicitários para convencer, “fisgar” esse público-alvo.

b) Quais as propagandas que mais lhe chamaram a atenção? Descreva-as e relate o que mais lhe marcou nelas. Faça uma reflexão e tente perceber que valores morais elas lhe transmitiram.

“Estranhando” o universo da publicidade

Estranhar significa surpreender-se com algo desconhecido, mas também notar algo diferente no que se conhece. Antropólogos que estudam fenômenos urbanos usam a expressão no sentido de uma atitude metodológica: olha-se para algo familiar como se não o conhecesse, tentando decifrar algo que a familiaridade com o objeto, o convívio cotidiano, não permite.

O universo da publicidade – filmes, anúncios, banners, outdoors, etc. – são elementos cotidianos, logo, são familiares. Escolha exem-plos de publicidade e analise as mensagens, exercitando o “estra-nhamento”. Liste quais são os valores, as atitudes e as promessas implícitas e explícitas, associadas aos produtos. Em seguida, exponha para a turma os resultados de sua reflexão, procurando estabelecer relações entre o apelo ao consumo e as promessas da publicidade em questão.

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1. Agora, faça um esforço argumentativo: a) Com base na noção de que o meio ambiente deve ser defendido e preservado, apresente duas críticas à

atual sociedade de consumo. b) Apresente dois aspectos positivos da economia de mercado e do potencial gerador de riqueza e renda do

consumo de mercadorias. Justifique sua resposta.

2. Qual o sentido da palavra “consumir” no fim do século XX e início do século XXI? O que há de diferente no perfil do consumo desse período comparativamente ao dos séculos XVII, XVIII e XIX?

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Indústria cultural, tempo livre e consumo7

A expressão “indústria cultural” foi cunhada pelos pensadores alemães da Escola de Frankfurt (ver Conceitos sociológicos) Theodor Adorno (1903--1969) e Max Horkheimer (1895-1973), que migraram para os Estados Unidos na década de 1940.

No livro A dialética do esclarecimento, publicado em 1947, há um capítulo chamado A indústria cultural: o Iluminismo como mistificação de massas. A ideia básica é que no capitalismo monopolista (isto é, o capitalismo do século XX) a lógica do capital havia invadido todas as esferas da vida. No âmbito da cultura, o cinema, o rádio, a indústria fonográfica e as revistas de grande circulação passaram a produzir industrialmente os bens culturais. A cultura e as artes, que antes podiam ser pensadas como meios de emancipação e

liberdade dos indivíduos, agora se transformavam em peças de um sistema que os impossibilitava de viver, pensar e criar livremente.

Atualmente, pode-se perceber isso com maior clareza quando se constata que a TV, o cinema, as redações de jornais e revistas, as gravadoras e as distribuidoras, o rádio, as editoras e as empresas ligadas ao mundo virtual da internet estão organizadas em moldes industriais, envolvendo uma sofisti-cada divisão de trabalho, recorrendo às últimas tecnologias e colocando incessantemente no mercado seus produtos: programas, reportagens, filmes, CDs e DVDs, músicas para downloads, best sellers, sites de serviços, entre uma quase infinidade de mercadorias culturais.

A transformação de produtos culturais em mercadoria já acontecia com o cinema, o rádio, a indústria fonográfica e a imprensa nos Estados Unidos das primeiras décadas do século XX. O fordismo não se restringiu à fabricação de bens materiais, mas também introduziu a produção em larga escala no âmbito da cultura. Como foi visto anteriormente, essa tendência já se esboçava no século XIX, fato demonstrado no exemplo dos romances de folhetim. Mas isso não era nada se comparado à magnitude que a produção de cultura alcançaria na segunda metade do século XX.

Uma das teses centrais de Adorno e Horkheimer sobre a indústria cultural é que ela trabalha com fórmulas para facilitar o consumo de seus produtos, sem exigir, dos consumidores, muita reflexão. Isso é diferente no caso das grandes obras da literatura, da música erudita ou da pintura. Essas últimas exigiam que as pessoas pensassem, retirando-as do comodismo. As mercadorias da indústria cultural, ao contrário, já se apresentavam prontas para o consumo, a que as pessoas se entregam de modo passivo. O que – sociologicamente – significa isso? Como pensar essa mudança na escala de produção e no modo de fruição de bens culturais?

A relação

entre indús-

tria cultural,

consumo e

alienação

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O que significa dizer que se

forma uma indústria da cultura?

Como ela está relacionada ao con-

sumo, ao lazer e ao tempo livre das

pessoas?

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MÜNCH, Edvard. O grito. 1893. 1 óleo sobre tela, color., 91 cm × 73,5 cm. Galeria Nacional, Oslo.

Contemplando a reprodução da obra de Münch, de 1893, somos levados a pensar sobre a angústia humana. A imagem sugere que o indivíduo, em primeiro plano, se encontra desesperado, deslocado em relação às pessoas que passeiam (no fundo do quadro). A ideia é reforçada pela forma como o mar e o céu estão retratados na pintura, como forças incontroláveis que dominam e sufocam o indivíduo. Trata-se de um quadro que leva à reflexão. A obra de arte, nesse caso, leva as pessoas a “incomodarem--se”, isto é, saírem do lugar cômodo de suas vidas para refletirem, ao menos por um momento, sobre algo difícil de lidar e que está cada vez mais presente na vida moderna: a angústia. Esse seria, para os frankfurtianos, o papel da arte: não a diversão, mas a provocação do indivíduo. O pensamento, a reflexão sobre o que se vê e o que se lê poderiam levar as pessoas a se libertarem da maneira sempre igual de experimentar e entender o mundo.

À indústria cultural, ao contrário, não interessa fazer pensar, mas apenas manter os seres humanos afastados de qualquer coisa que os levem a sair do “sempre igual”. Para que os produtos culturais sejam vendidos, eles devem ser “divertidos” e não provocarem angústia, incômodo. Os produtos – filmes, fotografias, novelas, romances padronizados – devem ser preparados de modo que não exijam dos consumidores mais do que sua entrega total às emoções facilitadas por uma forma fácil de expres-são. Em outras palavras: a ordem desse gênero de cultura, que obedece a fórmulas sempre iguais e conhecidas, é não questionar, apenas deixar-se envolver. Você já reparou como as novelas contam, com variações mínimas, sempre a mesma história?

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emaSE EU fosse você.

Direção de Daniel Filho. Brasil: Globo Filmes e

Total Entertainment: 20th Century Fox, 2006. 1 DVD

(104 min), color.

A VINGANÇA dos nerds (Revenge of the nerds). Direção de Jeff Kanew. Estados Unidos: Interscope Communications: 20th Century Fox, 1984. 1 DVD (90 min), color.

Para ilustrar a ideia de “fórmula” empregada na indústria cultural da atualidade, basta lembrar alguns exemplos do nosso cotidiano.

Caso típico, que pode ser o enredo de uma novela, de um romance popular ou de um filme feito por encomenda para passar na televisão: um casal se conhece, apaixona-se, mas um dos dois tem algum tipo de segredo, ou cria-se algum mal-entendido. Em determinado momento, o problema vem à tona e os dois se separam. Mostram-se, então, cenas de cada um em um lugar diferente, vivendo a tristeza e a decepção, com uma música triste tocando ao fundo. Finalmen-te, o mal-entendido é esclarecido ou a pessoa que tinha um segredo guardado revela à outra seus motivos, e eles se reconciliam. Final feliz.

Em se tratando de filmes, os exemplos poderiam prosseguir: filmes de estudantes em que nerds se apaixonam pela mocinha mais bonita da escola, atletas que lutam contra dificuldades, mas acabam conquistando a fama, etc. A maioria dos filmes produzidos por Hollywood baseia-se nesse tipo de modelo e, se aparece um novo, ele é rapidamente copiado em outras produções.

No cinema brasileiro, tivemos um exemplo típico de fórmula de sucesso. Nos Estados Unidos, já havia sido produzido cerca de uma dezena de filmes nos quais um personagem trocava de corpo com outro por algum passe de mágica. O cinema nacional não teve dúvidas em copiar a ideia usando atores famosos da televisão. O sucesso foi tão grande que, também seguindo uma prática estadunidense, produziram uma continuação.

Reality Show Grande Fratello, a versão italiana do Big Brother Brasil, começou em setembro de 2000 e se tornou um fenômeno cultural na Itália

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Os exemplos de produções padronizadas podem ser encontrados também na linguagem dos telejor-nais, na entonação e no ritmo da voz dos apresenta-dores de rádio, sem contar com as fórmulas musicais e “fórmulas da hora” – os realities shows. Parece que os espectadores são prisioneiros do sempre igual, como em um jogo sobre o qual já sabem o resultado, mas que se insiste em jogar. Um filme de que se sabe o fim, mas que, ainda assim, se assiste até acabar.

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Algo revelador do caráter de produção industrializada de cultura em série reside nos adjetivos “alternativo” e “independente” que muitos artistas, principalmente músicos, utilizam quando pro-duzem algo fora do esquema industrial. Existem muitos casos de artistas que iniciam suas carreiras como independentes. No entanto acabam se incorporando ao sistema industrial. A incorporação pelo sistema de produtos culturais alternativos faz parte de um processo de hegemonia, isto é, de dominação simbólica.

Em vez de simplesmente reprimir ou marginalizar as manifestações alternativas que possam ques-tionar o status quo, o sistema cultural se encarrega de assimilar os “independentes”, os “radicais”, os “inconformistas”, neutralizando suas ações. O movimento hippie dos anos 1960, por exemplo, nasceu como forma de contrariar o estilo de vida dominante; entretanto, acabou por perder sua natureza contestatória e transformou-se apenas em um estilo de vida. O mesmo aconteceu no final dos anos 1970, com o movimento punk. Em seu início, envolvia jovens filhos das classes operárias inglesas, e o punk rock posicionava-se como alternativa às bandas que haviam transformado o rock em um grande espetáculo comercial, de diversão de massa, enriquecendo os músicos que haviam se tornado estrelas ou, como dizem os estadunidenses: “celebridades”. O movimento punk acabou, então, reduzindo-se a um jeito, a um visual – e não a uma atitude baseada em uma concepção sobre o mundo. Nas últimas décadas do século XX, era comum a expressão “punks de butique”, isto é, jovens que adotavam os acessórios e as roupas, mas que nada tinham de contestadores. O que os atraía no punk era o penteado e as roupas diferentes, não as suas ideias.

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Sobre a indústria cultural

A atrofia da imaginação e da espontaneidade do consumidor cultural de hoje não tem necessidade de ser explicada em termos psicológicos. Os próprios produtos, desde o mais típico, o filme sonoro, paralisam aquelas faculdades pela sua própria constituição objetiva. Eles são feitos de modo que a sua apreensão adequada, se exige, por um lado, rapidez de percepção, capacidade de observação e competência específica, por outro lado é feita de modo a

estará, necessariamente por isso, no ato da representação, ocupado com os efeitos particulares da fita. Os outros

requeridas que estas se automatizam. A violência da sociedade industrial opera nos homens de vez por todas. Os produtos da indústria cultural podem estar certos de serem consumidos, mesmo em estado de distração. Mas cada um destes é um modelo do gigantesco mecanismo econômico que desde o início mantém tudo sob pressão tanto no trabalho, quanto no lazer que lhe é semelhante.

ADORNO, Theodor Ludwig Wiesengrund; HORKHEIMER, Max. A indústria cultural: o Iluminismo como mistificação de Teoria da cultura de massa. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982. p. 165.

O texto de Adorno e Horkheimer critica a forma pela qual os produtos da indústria cultural devem ser consumidos. Diferentemente da atitude reflexiva que se exige para ler um livro de Filosofia ou da atitude contemplativa que se deve adotar para escutar uma sinfonia de Beethoven, os autores constatam (e lamentam) que no fim tudo seja mercadoria. Nos dias atuais, porém, faz-se muita coisa ao mesmo tempo, num estado de constante distração. Ou de atenção flutuante. Ouve-se música, responde-se ao e-mail, conversa-se na internet e lê-se o livro de Sociologia. Tudo simultaneamente. A visão social que Adorno e Horkheimer tinham da forma de consumo sob o capitalismo se radicalizou.

Mas por que isso acontece dessa maneira e ainda não há “atrofia da imaginação”?

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Tempo livre e consumo

As mercadorias produzidas pela indústria cultural são consumidas, principalmente, no tempo livre, que Adorno preferiu chamar de “tempo de não trabalho”. O avanço e o desenvolvimento das tecnologias de produção de mercadorias fez com que as pessoas trabalhassem menos tempo do que em outras fases do capitalismo. O tempo que sobrava era, e é, reservado para o consumo, inclusive de produtos culturais.

Entretanto, há várias ressalvas a serem feitas. A expressão “tempo livre” supõe que exista outro tempo em que não existe liberdade: o tempo do trabalho, dos estudos, das obrigações. Mas será que o tempo livre na sociedade capitalista é realmente livre?

Nem todas as pessoas podem, efetivamente, usar de todo o seu tempo livre para descansar. Mul-tidões de trabalhadores usam seu tempo de não trabalho para ir a médicos, fazer compras, consertar coisas, limpar a casa, estudar, sem contar os que gastam horas no trânsito entre a casa e o trabalho. Lembre-se de que, em cada ação dessas, há consumo: com consultas e remédios, na compra de ferramentas, produtos de limpeza, cadernos e mensalidades, gasolina ou passagens de transporte coletivo, etc.

Pense, então, no tempo que sobra disso tudo, nos fins de semana, nas férias e nos feriados. Nesse tempo, também se consome: há uma verdadeira “indústria do lazer” montada e as cifras do turismo não deixam dúvidas a respeito disso.

Mesmo que a opção seja ficar em casa assistindo à televisão, consome-se energia. Mas também aí há uma organização do tempo da audiência que é determinada pelo ritmo e pelo conteúdo da

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programação, inclusive o fluxo de mensagens publicitárias. Tudo funciona como se a pessoa estivesse todo o tempo submetida a uma força invisível – mas muito bem organizada – que lhe dissesse o que fazer e como fazer.

Olhando desse ponto de vista, o tempo livre é uma continuidade do tempo de trabalho, não pelo que a pessoa executa, mas pelo ritmo a que ela está submetida. E, nesse tempo livre, ela participa igualmente do circuito do capital: repõe sua força de trabalho e consome mercadorias e serviços. Resumindo: operários, empregados dos escritórios, pessoal de serviços gerais, balconistas, bancários, professores, enfim, uma série de trabalhadores estaria todo o tempo submetido ao ritmo do capital, tanto em suas horas de trabalho como em seus momentos de lazer. Isso constituía, para Adorno, o caráter totalitário da vida sob o capital monopolista.

Elabore um quadro com todos os seus horários e atividades semanais, incluindo os fins de semana, o tempo gasto com televisão, computador, compras, etc. Com base no que foi lido sobre indústria cultural e tempo livre, qual o tempo semanal que você considera efetivamente livre em sua vida?

Distinção social

As mensagens publicitárias têm um traço característico. Feitas para serem vistas por milhares, às vezes milhões de pessoas, elas parecem dirigir-se exclusivamente a uma única pessoa. Uma de suas principais estratégias é fazer com que o destinatário da mensagem se sinta único, individualizado.

Há, nas mensagens publicitárias, uma magia semelhante àquela do fetiche da mercadoria. Pode-ríamos chamá-la de fetiche da publicidade. Funciona assim: uma praia, um mar de águas verdes e transparentes, um céu azul, coqueiros, pessoas bonitas e saudáveis se divertindo e um belo carro estacionado na areia. Se você comprar o carro, poderá ter todo o prazer proporcionado pela praia, pelo mar e pela alegria das pessoas. O apelo ao consumo é duplo: comprar o carro e consumir as imagens de beleza e alegria.

A publicidade de automóvel está globalizada. O filme que os publicitários produzem é exibido tanto no Brasil como na Argentina ou na Espanha, por exemplo. Como as marcas e os modelos das montadoras são basicamente os mesmos, imagina-se um mesmo consumidor-padrão. Além disso, como alguns problemas urbanos são os mesmos em toda grande cidade, as estratégias para transmitir a mensagem não precisam variar.

Tomemos como exemplo aqueles anúncios de TV em que o automóvel a ser comprado passeia sozinho pela cidade, isto é, sem outros veículos. Não enfrenta engarrafamentos, não fica horas parado, o motorista não tem razões para se irritar com os outros motoristas – pois simplesmente não existem. Ora, em toda grande cidade há um problema comum: o excesso de veículos. A única possibilidade de mostrar o produto é apagar os demais em volta dele. Essa é a razão prática. Mas há também uma mensagem não tão sutil assim: se você comprar esse carro, terá um prazer enorme em dirigi-lo.

O sociólogo Thorstein Veblen (1857-1929), estadunidense, filho de imigrantes noruegueses, publicou em 1904 um livro chamado A teoria da classe ociosa, em que procura demonstrar que o consumo, para além da satisfação de necessidades primárias, tinha para as classes abastadas o caráter de ostentação, isto é, significava o poder do dinheiro e da propriedade. Além disso, por meio da osten-tação, cada classe social invejava e competia com a classe acima dela, mas raramente o fazia com as classes que lhe eram inferiores. Veblen inaugurava, no início do século XX, a reflexão sociológica sobre o consumo. Entretanto, a contribuição mais importante da Sociologia para a compreensão desse fenômeno viria anos mais tarde, na segunda metade do século XX, na obra do sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002).

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Para Pierre Bourdieu, as diferentes práticas sociais, inclusive aquelas relacionadas ao consumo de bens materiais ou simbólicos, baseiam-se na posição que as pessoas ocupam na estrutura da so-ciedade, isto é, em sua posição social (ver Conceitos sociológicos). A cada posição, correspondem determinados estilos de vida, modos de ser por meio dos quais as pessoas expressam, muitas vezes de modo inconsciente, seu pertencimento a uma classe ou a um grupo social determinado. Assim, por exemplo, a decisão entre ir a uma exposição de pintores franceses do século XIX em um museu ou assistir a um show de música pop não é uma opção individual, mas a expressão individual de uma escolha socialmente imposta.

Não se trata, portanto, de uma questão de gosto pessoal – que, dizem, não se discute – mas de entender que o gosto, isto é, a preferência por isso ou aquilo, se forma dentro da pessoa à medida que ela incorpora conhecimentos, códigos, modos de pensar possíveis apenas devido à posição que ela ocupa na hierarquia social.

Organizem-se em grupos e, em forma de questionário, realizem uma investigação sociológica em torno do gosto e da preferência das pessoas por determinados produtos e atividades. Cada grupo deverá entrevistar, no mínimo, cinco pessoas. É importante que essas pessoas sejam de gêneros, idades e classes sociais diferentes.

As perguntas devem girar em torno dos seguintes aspectos principais: A que tipo de programa prefere assistir na TV? Que gênero de música costuma ouvir? Que tipo de roupa prefere (formal, mais informal, etc.)? De que tipo de comida gosta?

Multiplique as perguntas, detalhando algumas alternativas a fim de tornar a informação mais completa e mais com-plexa. Por exemplo: ao indagar sobre a alimentação, pode-se querer saber também se o entrevistado valoriza ou não a apresentação do prato; se considera comer um prazer ou uma forma de sobreviver; se manifesta preocupação com uma alimentação saudável, etc.

Ao agir socialmente, isto é, ao fazer coisas, como emitir opinião, comprar determinada mercadoria, escolher um filme a assistir, as pessoas exteriorizam simbolicamente essa disposição social que incor-poraram e, fazendo isso, reproduzem as diferenças sociais de forma simbólica. Ao reproduzirem essas diferenças, colocam em jogo estratégias de distinção social, isto é, modos, nem sempre conscientes, de demonstrar suas diferenças em relação a pessoas de outras classes ou grupos. De certa maneira, é como se as escolhas estéticas, artísticas e culturais “falassem” algo sobre quem são, não como indivíduos isolados, mas como ocupantes de um determinado espaço social.

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42 Globalização e Consumo

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Essas disposições, ou seja, tendências e inclinações para agir, que as pessoas vão interiorizando, ou seja, aprendendo de acordo com sua posição social por meio da educação, da família e das relações sociais que se estabelecem em grupos informais, como o de amigos ou colegas de escola, formam um sistema complexo que diz como elas se comportarão. Esse sistema não determina escolhas nem define práticas. Ele determina o campo de escolhas possíveis dentro de certo universo e orienta as práticas sociais em torno de características comuns. Bourdieu chamou esse sistema de habitus. Note que não se trata de “hábito”, mas da palavra latina habitus.

Desde criança, o indivíduo passa pelo processo de socialização, isto é, de interiorização de valores, normas e padrões de comportamento. Entretanto, aquilo que é interiorizado depende de um conjunto de variáveis relacionadas à classe social e à posição que o indivíduo ocupa dentro dessa classe. É possível pensar em uma variedade de posições dentro das diferentes classes sociais. A classe dos “capitalistas” envolve pequenos comerciantes com um negócio próprio, empresários, administradores de empresas, investidores, dirigentes de bancos, etc. Essas diferenças têm implicações diretas sobre como e onde se vive, quem se conhece, em que escola se estuda e assim por diante. Outro exemplo: indivíduos pertencentes às camadas intelectualizadas serão socializados – “educados”, no sentido amplo do termo – dentro de padrões diferentes dos filhos de pessoas menos intelectualizadas.

É como se, no processo de socialização, fosse se formando uma estrutura que predisporia as escolhas dos indivíduos, embora eles tenham a sensação de que são donos absolutos de sua vontade pessoal.

Ao adotar determinado estilo de vida, emitir uma opinião sobre arte ou escolher um produto para consumir, o indivíduo o faz de acordo com essa estrutura, invisível a olho nu e inconsciente para o sujeito. Logo, quando escolhe entre comprar uma obra de arte abstrata, em uma galeria de arte, e um quadro que represente o pôr do sol no mar, em uma feira de artesanato, ele expressa ou, em linguagem sociológica, ele objetiva (coloca para fora, torna visível) sua posição de classe. Diz-se, então, que as estruturas sociais interiorizadas pelo indivíduo estruturaram suas ações.

Entretanto, embora, nesses exemplos, fale-se de um indivíduo isolado, essa é uma regra que rege o comportamento de todos os indivíduos. A formação dessas estruturas de ação, desses modos de agir, acontece graças a um processo social em que todos estão implicados – inclusive o sociólogo que lê e classifica essas práticas. O sistema de estruturas que orienta as ações e as opções dos agentes sociais forma o habitus.

No entanto, é preciso ter um cuidado especial para entender completamente as ideias de Bourdieu. As relações entre as escolhas de consumo de bens e a posição social individual não são sempre automáticas e diretas, como se pessoas ricas (com mais capital, dinheiro) sempre optassem por concertos de orquestras sinfônicas e aquelas vindas das classes populares só escolhessem programas de auditório em tardes de domingo. No Brasil, em particular, ter muito dinheiro não significa, necessariamente, ter um estilo de vida sofisticado e menos ainda um gosto apurado. Mas as chances de que isso venha a ocorrer – chamamos isso de campo de possibilidades sociais – são maiores entre as elites.

Logo, não há uma relação mecânica entre pobre e coisa feia e barata, de um lado, e rico e coisa bonita e cara, de outro. Essa ideia fica mais clara ao relacionar “grupos profissionais” determinados – publici-tários, jornalistas, intelectuais, políticos, funcionários públicos – e estilo de vida/padrão de consumo. Repare como pessoas com as mesmas profissões têm gostos parecidos, vestem-se de forma parecida, etc.

Além disso, há que se considerar também que Bourdieu não pensava apenas em elites possuidoras de capital no sentido econômico. Famílias das camadas médias intelectualizadas são possuidoras de maior capital cultural, o que também influenciará na formação de um habitus específico.

A ideia de capital cultural não se confunde com “ter ou não ter cultura”, seria incorrer no senso comum, afirmando que a elite tem cultura e que o povo não a tem. Na Sociologia de Pierre Bourdieu, o capital cultural relaciona-se ao domínio e à posse dos códigos do que é considerado socialmente mais legítimo, o que não quer dizer melhor ou pior.

Assim, o acesso maior ou menor ao capital cultural ou, sociologicamente falando, a distribuição do capital cultural, ocorre em virtude da posição de classe, mas também do lugar dos diferentes grupos sociais dentro de uma posição social.

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SOCIOLOGIA

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Pode-se tentar resumir as contribuições de Bourdieu para entender o consumo em duas ideias principais:

1.ª) A de que o gosto e o estilo de vida não são opções puramente subjetivas e individuais, mas se formam socialmente.

2.ª) Ao fazerem escolhas, as pessoas sinalizam sua posição e sua distinção em relação a outras pessoas ou grupos.

A moda funciona também como promotora de distinção social. Para pensar nisso é necessário recorrer ao conceito de campo de Bourdieu. Para ele, campo é “um espaço de jogo, um campo de relações objetivas entre indivíduos que competem por um mesmo objeto”. (BOURDIEU, 1983, p. 155).

Bourdieu utilizou esse conceito para estudar, empiricamente, vários campos: jurídico, científico, religioso, político e artístico. Trata-se de um princípio importante, pois as pessoas não disputam apenas bens econômicos na sociedade. Elas também lutam por prestígio, pela legitimidade de dizer a verdade sobre algo e por poder. No caso da moda, essa ideia também está presente.

Imagine a moda como produto de um campo em que temos os criadores, isto é, os designers, e também as modelos, os desfiles, os jornalistas, as grifes e as revistas especializadas, formando uma espécie de sistema. Esse sistema não apenas lança a moda, como também diz o que é certo e o que é errado, o que pode ser usado e em que ocasião.

Em linguagem sociológica, dizemos que o campo da moda possui suas instâncias de legitimação, isto é, espécie de lugares, em sentido figurado, de onde pessoas consideradas competentes dizem o que deve ser usado, quando deve ser usado e de que maneira deve ser usado. E quando algo, cujo uso era absolutamente obrigatório (era moda), não mais deve ser usado.

O que faz a “competência” dessas pessoas? O fato de elas dominarem determinado código, uma linguagem própria que lhes confere autoridade para falar sobre moda e o fato de ocuparem um lugar dominante no campo da produção da moda. Na verdade, todos esses agentes sociais (designers, modelos, jornalistas, grifes e revistas especializadas) empenham-se em disputas para alcançar posições dominantes no campo. Não é só o lucro que move os estilistas, mas também o prestígio e o poder que vem daí, que é uma forma de capital simbólico.

Esse mesmo código é compartilhado, de alguma maneira, pelos consumidores mais atentos, e estar “ligado” na moda supõe possibilidades conferidas pela posição da pessoa no espaço social, frequência a desfiles, consumo de revistas especializadas, etc.

Se pararmos para pensar, veremos que um vestido preto é apenas um vestido preto. Ele não fala por si próprio. Ele é uma mercadoria como uma beterraba. Entretanto, se o campo da moda decidir que vestido de cor preta é a tendência para a próxima estação, ele se tornará fashion. É preciso ter um, ser igual a todos que “precisam” ter um. O que se busca também é ser diferente de quem não tem esse vestido.

Aquelas pessoas que dominam o código da legitimidade da moda vão acompanhá-la, aderindo ao vestido preto. Quem não o fizer, isto é, por algum motivo não conhecer o código, estará fora de moda e, no limite, possuirá mau gosto – apenas porque o gosto não é o gosto da última estação.

Resumindo: a adesão à moda não é algo individual, embora a publicidade procure sempre individualizar as escolhas. A opção por seguir a moda é também produto do habitus, assim como outras escolhas de consumo.

O marketing e a publicidade lidam com estratégias de distinção social para promover produtos e, assim, acelerar o consumo e completar o circuito que leva ao lucro. As empresas produzem mercadorias e serviços voltados para públicos determinados, praticando o que se chama, em marketing, de segmentação de mercado.

A segmentação foi uma novidade introduzida pela crise da produção padronizada e em larga escala que caracterizou o fordismo, relacionando-se também com a capacidade de as empresas diversificarem sua produção. Em vez de uma enorme quantidade de um único produto,

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Atriz Audrey Hepburn com o clássico vestido preto, no filme Cinderela em Paris, de 1957

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por exemplo: um só modelo de calça jeans, passaram-se a produzir diversos tipos e modelos para diferentes grupos de consumidores – os segmentos do mercado –, delimitados por características, como idade, sexo, renda, instrução, padrões de consumo, estilos de vida, atitudes e valores.

Olhando do ponto de vista crítico, a segmentação nada mais é do que uma estratégia ligada à percepção do consumo como prática de distinção social. Ao associar produtos específicos para grupos específicos, a produção capitalista reforça os mecanismos de luta simbólica (ver Conceitos sociológicos), uma disputa em que as pessoas não se agridem fisicamente, mas demonstram, com base em escolhas que imaginam ser apenas “de gosto”, suas posições em uma sociedade dividida em classes sociais.

Outro sociólogo que refletiu sobre o consumo foi Jean Baudrillard (1929-2007). Para ele, os objetos oferecidos ao consumo são também signos (ver Conceitos sociológicos) que formam um imenso código, um sistema em que um objeto-signo (ver Conceitos sociológicos) remete ao outro. Exemplificando: celulares, automóveis, máquinas de lavar, computadores e outros objetos, como se fossem colocados um ao lado do outro, formam uma espécie de frase. Ora, em uma frase, o sentido de cada palavra só é percebido em suas relações com as outras palavras. Se eu disser “Aquilo é um cachorro preto”, não conseguirei apreender os sentidos de cada palavra separadamente, mas da posição delas na frase. Assim, no capitalismo, os objetos-signo formam uma imensa frase, em que cada mercadoria remete à outra. Simples: imagine tudo o que tem à venda em um hipermercado como se fosse um imenso livro!

Por serem também signos, os objetos significam algo além de seu valor de uso. Na diferenciação entre os objetos do sistema, os consumidores buscam os signos de suas diferenciações em relação aos outros.

Outra contribuição importante de Baudrillard para compreender o consumo na sociedade capitalista diz respeito ao fato de ela não consumir apenas bens materiais e simbólicos, mas também imagens.

Principalmente após a consolidação do cinema, da televisão e das revistas de variedades, as imagens passaram cada vez mais a fazer parte do cotidiano. Vivendo em um universo de imagens, as pessoas acabam tomando as imagens da realidade e as transformando na realidade das imagens: não se vive mais o real, mas apenas suas imagens, seus signos. Baudrillard chama a isso de simulacro (ver Conceitos sociológicos).

Pense na sociedade atual e na forma como cresceu a prática da fotografia. Pode-se afirmar sem risco de errar que nunca se fotografou tanto, com a proliferação de celulares com câmeras e máquinas digitais portáteis. Muitas pessoas passam a impressão de que só se relacionam com a vida por meio das fotografias e as viagens turísticas são uma prova disso: mais importante que viver a experiência de um lugar novo é fotografá-lo, e depois, em casa, consumir as imagens.

Na sociedade de consumo de imagens, ou do simulacro, modificam-se os modos de sociabilidade, isto é, as formas de as pessoas se relacionarem. Não é à toa que proliferam os sites, sugestivamente, chamados “de relacionamento”. Neles, as pessoas sentem-se, como diria Baudrillard, “ao abrigo do real”, protegidas em seus individualismos umas das outras.

É interessante notar a existência de avatares no mundo virtual. Originalmente, os avatares per-tencem à crença hinduísta e são seres divinos que descem à terra e tomam a forma de uma pessoa ou de um animal. A palavra passou a significar uma espécie de personagem fictício que se pode criar em sites de relacionamento, não só possibilitando que se permaneça anônimo, mas que ele possa falar em seu nome.

Faça um exercício de Sociologia de si mesmo. Liste seus gostos para música, roupas, filmes, livros, ídolos ou outro aspecto. Verifique o quanto o que você ouve ou veste mudou com o tempo, deixou de ter significado, como o seu gosto mudou, como aquela pessoa ou aquele livro que parecia ter ideias e atitudes tão inspiradoras não lhe diz mais nada. Anote o resultado em seu caderno.

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Consumo em tempos de mundialização e 8

Mas e o que acontece com as práticas de consumo quando a sociedade se torna “global”? A partir de meados dos anos 1970, o capitalismo passou por novas transformações, com a transição

do modelo fordista de produção para a fase da acumulação flexível. Essa mudança acentuou uma tendência que o sistema já apresentava desde o seu início: sua expansão mundial ou, em outras palavras, a globalização. O sociólogo brasileiro Renato Ortiz (1947- ) usa a palavra “mundialização”, que os franceses preferem, para se referir às mudanças culturais promovidas pela globalização (ORTIZ, 1996). Uma das características marcantes da mundialização da cultura foi o surgimento das campanhas publicitárias e das marcas globais.

No Brasil, o rádio comercial só se estabeleceu na década de 1940, a televisão só se consolidou no fim da década de 1960 e só se pôde falar em uma sociedade de consumo plenamente consolidada no início da década de 1970. Daquele momento em diante, contudo, o ritmo de crescimento foi vertiginoso, acompanhando os processos de globalização econômica e a mundialização da cultura. Os shopping centers multiplicaram-se rapidamente, chegaram ao Brasil as cadeias de fast-food e as campanhas publicitárias das marcas globais. O desenvolvimento de uma sociedade do consumo no Brasil se deu relativamente tarde comparado à Europa e aos Estados Unidos. Entretanto, o consumo dos brasileiros não demorou a assumir os mesmos traços analisados até agora.

Globalização e Consumo46

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Globalização

e cultura

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Exemplos da cultura mundializada compartilhada por pessoas muito diferentes em regiões diversas do globo: jovens que se identificam com o visual e a música emo, fãs de mangás japo-neses espalhados pelo mundo, frequentadores de festas raves e consumidores dos novos estilos

de música eletrônica. Paralelamente a isso, criam-se novos lugares de sociabilidade, como os shopping centers e os espaços virtuais de rela-cionamento. Nesses espaços da internet, que não têm fronteiras e nos quais a comunicação é instantânea, pessoas com gostos iguais podem se encontrar.

Os mangás, de origem japonesa, constituem mais que um tipo de produção editorial e são exemplos ilustrativos do processo de mundialização.

Entretanto, o mais significativo é o fato de os mangás e animes terem se tornado produtos mundializados. Nascidos no Japão, eles se desterritorializaram, ou seja, já não são mais japoneses: são encontradas, por exemplo, revistas de desenhistas brasileiros, como aquelas da Turma da Mônica, feitas nos padrões dos mangás.

Finalmente, mas não menos importante, essas produções mundializadas leva-ram ao surgimento de grupos de jovens, em várias partes do globo, que promovem encontros, eventos, cursos de desenho, fazendo aparecer, então, novas práticas sociais e novos estilos de vida.

O consumo em tempos de mundialização parece preencher pratica-mente todas as lacunas que o fordismo porventura tenha deixado: laptops, palmtops, blackberries e similares, ao darem a impressão de facilitar a vida, diluem inclusive a divisão entre o público e o privado, a casa e o trabalho: a sociedade de consumo tornou-se portátil.

A ideia de uma sociedade de consumo portátil, à primeira vista, pode parecer apenas mais um sinal de avanço das tecnologias para tornar a vida mais fácil. Entretanto, se antes as pessoas tinham espaço e tempo apropriados para mergulhar no universo de imagens e sons, atualmente esse universo acompanha as pessoas praticamente todo o tempo: “estar conectado” é estar no mundo. É como se cada segundo de cada minuto tivesse que ser preenchido ou, em outros termos, consumido.

O capitalismo, desde o seu início, caracterizou-se pela produção de desigualdades sociais, e isso não mudou com a globalização. No campo da cultura e do consumo, significa que há uma grande quantidade de pessoas impossibilitadas de viver a modernidade-mundo tão intensamente quanto outras e que, muitas vezes, não podem vivê-la de modo algum. A distinção social persiste na cultura mundializada, mas, agora, além das estratégias já existentes, surgem novas modalidades, como o maior ou menor domínio das tecnologias digitais e a capacidade de possuir sempre o último modelo de aparelho eletrônico.

Criou-se uma modernidade-mundo dominada definitivamente pelo consumo: dos sites que são visitados na internet aos outdoors espalhados pelas avenidas, nas mensagens publicitárias na TV, no rádio, nas re-vistas e nos cinemas, nos torpedos que as operadoras de telefonia enviam e nas ligações de telemarketing.

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Exemplo da estética das HQs japonesas

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Empresário de carro com celular e laptop

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SOCIOLOGIA

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Quinze minutos de fama Mais um pros comerciais Quinze minutos de fama Depois descanse em paz.O gênio da última hora É o idiota do ano seguinte

O último novo-rico, É o mais novo pedinte.A melhor banda de todos os tempos da última semana O melhor disco brasileiro de música americana. O melhor disco dos últimos anos de sucessos do passado

frequentar clubes), embora difícil de estimar, é bem menor do que o de um automóvel ou de uma máquina de lavar.

o fornecimento de serviços bastante efêmeros em termos de consumo.

de produção, processos de trabalho, ideias e ideologias, valores e práticas estabelecidas.

-

talheres, embalagens, guardanapos, roupas, etc.).

HARVEY, David. A experiência do espaço e do tempo. In: ______. A condição pós-moderna. 12. ed. São Paulo: Loyola, 2003. p. 258.

Texto 2

A melhor banda de todos os tempos da última semana

Texto 1

A “vida média” das mercadorias segundo David Harvey

Dentre os muitos desenvolvimentos da arena do consumo, dois têm particular importância. A mobilização da moda em

-ceu um meio de acelerar o ritmo do consumo não somente em termos de roupas, ornamentos e decoração, mas também numa

de lazer e de esporte, estilos de música pop, videocassetes e jogos infantis, etc.). Uma segunda tendência foi a passagem do consumo de bens para o consumo de serviços – não apenas serviços pessoais, comerciais, educacionais e de saúde, como também de diversão, de espetáculos, eventos e distrações. O

a um concerto de rock ou ao cinema, assistir a palestras ou

Diminuição da vida média dos produtos e

serviços e a nova experiência espaçotemporal

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Componentes eletrônicos e fita VHS em lata de lixo

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É importante perceber que o ritmo da produção, da circulação e do consumo das mercadorias se transforma também conforme o ritmo da vida social. Tudo chega, faz sucesso e vai embora muito rápido, como na canção dos Titãs. O antropólogo argentino, radicado no México, Nestor García Canclini (1939- ), ao ser perguntado sobre o motivo que levaria os jovens a não se interessarem pela História, afirmou que as novas gerações se caracterizam pelo “presentismo”. Ele disse: “os jovens que cresceram com os videoclipes e o zapping do controle remoto vivem hoje a cultura do instantâneo, recebem uma grande quantidade de informação fragmentada e têm dificuldades em saber o que fazer com o passado e com o futuro”.

A cultura não se explica apenas por razões econômicas, mas deve-se considerar também que, se o consumo, a publicidade e a indústria cultural assumiram o papel que têm atualmente na sociedade, isso está ligado aos interesses de lucro das grandes corporações.

Por trás do “efêmero e fugidio” das modas, do ritmo das novidades, das artimanhas das ima-gens, persiste algo que não há como fazer de conta que não está aí: um sistema que, desde seu início, vive da produção e do consumo. Algo bem distante daquela ideia inicial de “satisfação de necessidades básicas do ser humano”. Aliás, o consumo atual é movido muito mais pela constante insatisfação. Quantas vezes você foi às compras, voltou para casa com seus novos objetos, mas, depois de algum tempo, foi tomado por uma sensação de insatisfação, de que ainda faltava algo?

MELLO, Branco; BRITTO, Sérgio. A melhor banda de todos os tempos da última semanaFaixa 2.

Com base nas afirmações de David Harvey, compare a letra da música com a afirmação de García Canclini de que os jovens vivem a “cultura do instantâneo”. A partir disso, construa argumentos (que devem ser anotados e organizados no seu caderno), relacionando a teoria (o que você leu até então) e a prática (exemplos retirados de sua própria experiência cotidiana e das pesquisas sociológicas indicadas). Use esses argumentos para explicar o funcionamento e o ritmo do que estamos chamando de “sociedade de consumo”.

O maior sucesso de todos os tempos entre os dez maiores fracassosNão importa contradição O que importa é televisão Dizem que não há nada a que você não se acostume

As músicas mais pedidasOs discos que vendem mais As novidades antigas Nas páginas dos jornaisUm idiota em inglês Se é idiota, é bem menos que nós Um idiota em inglês É bem melhor do que eu e vocês

Os bons meninos de hojeEram os rebeldes da outra estação O ilustre desconhecido É o novo ídolo do próximo verão...

A melhor banda de todos os tempos da última semana O melhor disco brasileiro de música americana. O melhor disco dos últimos anos de sucessos do passado O maior sucesso de todos os tempos entre os dez maiores fracassos.

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Assista a um telejornal noturno, de uma emissora de sua escolha. Anote a sequência do noticiário e a compare com a sequência formulada por Jean Baudrillard, na década de 1960. Responda em seu caderno: Os telejornais atuais mantêm o mesmo formato?

A segunda dimensão importante da mercantilização das notícias, ou seja, a transformação do mundo das notícias em mundo das mercadorias resulta do simples fato de que os telejornais necessitam de au-diência. No que entendemos por indústria cultural, o “tempo” também se transformou em mercadoria. É vendido na forma de “espaço publicitário”, isto é, jornais, TVs, rádios, revistas e sites da internet vendem espaços e/ou tempos para os anunciantes.

Na sociedade de consumo, o mundo das notícias também se tornou um mundo de mercadorias. Há duas dimensões importantes nesse caso.

A primeira dimensão foi pensada por Jean Baudrillard já nos anos 1960 e denominada por ele de orquestração das mensagens. Funciona assim: o jornal apresenta uma notícia, por exemplo, sobre o aumento de impostos; na sequência, fala de uma top model que foi personagem de um escândalo; depois, veicula uma reportagem sobre o salário mínimo; e, na continuidade, dá as notícias de futebol; tudo isso intercalado com as mensagens publicitárias.

Para o sociólogo francês, esse sistema acaba igualando e anulando todos os conteúdos. Assim, aspectos importantes da vida social estão no mesmo patamar das novidades fúteis e, no final, acontece uma espécie de soma zero, isto é, não sobra nada de realmente importante, ou melhor, tudo parece desimportante, até aquilo que não é.

Baudrillard e a “orquestração das mensagens”

A TV, o rádio, a imprensa e a publicidade constituem uma descontinuidade de signos e de mensagens, em que

todas se equivalem. Eis uma sequência radiofônica tomada ao acaso:

Publicidade para a máquina de barbear “Remington”.

Resumo da agitação social dos últimos quinze dias.

Publicidade sobre os pneus “Dunlop SP-Sport”.

Debate sobre a pena de morte.

Publicidade para os relógios “Lip”.

Reportagem acerca da guerra no Biafra.

Publicidade para a lixívia “Crio” de girassol.

[...] A dosagem cuidadosa do discurso de “informação” e do discurso de “consumo” em proveito emocional exclusivo

do segundo tende a atribuir à publicidade a função de pano de fundo, de cadeia de signos litânica [de “ladainha”] e,

portanto, tranquilizante, onde veem entremear-se as vicissitudes do mundo. [...] O jornal falado não é a miscelânea que

parece: a alternância sistemática impõe um esquema único de recepção, que é o esquema do consumo.

BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Lisboa: Edições 70, 1970. p. 146-147.

Transformação da notícia

jornalística em mercadoria

Globalização e Consumo50

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Balança de pagamentos: também chamada de balança comercial, é a diferença entre os valores em dólares das exportações e das importações de mercadorias e serviços de um país.

Bens materiais: são aquelas mercadorias que podem ser tocadas, isto é, que são tangíveis, como um aparelho de TV ou um media player.

Bens simbólicos ou bens culturais: são aquelas mercadorias que não se pode tocar com as mãos, como o filme, a música ou a telenovela. Trata-se de uma distinção apenas para fins de análise, pois, na verdade, um aparelho de TV, assim como qualquer outro bem material, possui também um caráter simbólico, pois expressa um significado: adquirir uma TV de última geração, por exemplo, pode significar mais status, mais prestígio ou, como será visto adiante, distinção social. Crescimento econômico: considera-se que um país está crescendo quando seus diversos setores econômicos (industrial, agrícola e de serviços) aumentam a produção de um ano para outro. A soma de todos os bens e serviços produzidos por um país no período de um ano é chamado de Produto Interno Bruto (PIB). O crescimento econômico é medido pelas taxas de elevação do PIB, verificadas em determinados períodos de tempo (meses, anos ou décadas). Cultura global: corresponde aos padrões culturais idênticos que são compartilhados pelas pessoas em diferentes partes do mundo. Esses padrões são disseminados devido à globalização. Daí a sua denominação de cultura global. Envolve, por exemplo, hábitos de consumo, estilos de vida (dos executivos, por exemplo) e temas políticos que in-teressam a diferentes grupos organizados em vários países (como a preservação do meio ambiente e a defesa dos direitos humanos). Déficits: referem-se às circunstâncias em que ocorre um saldo negativo nas contas do governo ou na balança de pagamentos. Por exemplo: existe déficit da balança de pagamentos quando um país gasta mais com importações do que recebe por meio de suas exportações. Pode-se falar também em déficit público, quando o governo gasta mais do que arrecada em impostos. Desregulamentação: regulamentar significa estabelecer regras (por meio de leis) para determinadas atividades econômicas e sociais. Essas regras estabelecem limites que os empresários, os investidores e as pessoas de um modo geral devem respeitar. Quando ocorre uma desregulamentação, isso significa que as regras foram eliminadas ou flexibilizadas, atenuadas, concedendo maior liberdade econômica, social ou política. Diversidade cultural: a diversidade cultural é uma das mais importantes características da humanidade. Não existe uma cultura única, mas diversas culturas com visões de mundo, hábitos, costumes, rituais, etc. diferentes uns dos outros. Por isso, fala-se em diversidade cultural.

Escola de Frankfurt: não era uma escola no sentido comum do termo. Na Filosofia e nas Ciências, a palavra “escola” determina correntes de pensamento e/ou grupos de pensadores em torno de algumas visões/ideias sobre a sociedade. No caso da Escola de Frankfurt, pensadores, como Theodor Adorno, Max Horkheimer, Walter Benjamin (1892-1940), Herbert Marcuse (1898-1979) e outros, formaram um grupo no Instituto de Pesquisa Social na cidade de Frankfurt, daí o nome da escola. Os frankfurtianos não tinham as mesmas opiniões sobre tudo, mas compartilhavam certas influências intelectuais e empenhavam-se em pesquisas sobre a sociedade de sua época, com ênfase nos aspectos culturais. Etnocentrismo (etno = cultura; centrismo = centro): é a tendência, dentro da humanidade, a considerar a sua cultura ou o seu modo de vida como o mais correto em relação aos demais.

Balança de pagam

Normalmente, os preços são bastante altos e, para conseguir anunciantes, as emissoras devem garantir que as mensagens publicitárias serão vistas por muita gente. Para que isso aconteça, é necessário que existam sempre novidades: as notícias, assim como as mercadorias, devem ser renovadas rapidamente para que o telespectador não mude de emissora.

Acompanhando os telejornais, isso é facilmente percebido: uma notícia explode, ocupa um grande tempo no ar, repórteres são acionados e especialistas no assunto são chamados para fazer análises ou dar palpites. No decorrer do tempo, mesmo que os desdobramentos reais do fato ainda sejam importantes, ele vai perdendo espaço na mídia para que outra notícia-mercadoria ocupe seu lugar.

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Identidades culturais: as pessoas que pertencem a uma determinada cultura estabelecem uma identidade cultural ao compartilhar as mesmas crenças, hábitos, costumes, estilos de vida, rituais, etc. Interdependência: significa a dependência mútua existente entre dois ou mais países. Há interdependência quando fatos econômicos e políticos que ocorrem em um país afetam a realidade socioeconômica e política de outros países. Investimentos produtivos diretos: correspondem a todo montante em dinheiro estrangeiro voltado para a produção de bens ou à prestação de serviços dentro do país que recebe esses investimentos.

Luta simbólica: trata-se de uma luta, mas não em sentido literal, o que não significa que ela não exista e não tenha consequências reais. A disputa, dentro de determinado campo, pelo prestígio que confere poder simbólico, por exemplo: poder de dizer o que é legítimo ou não no campo da cultura é uma modalidade de luta simbólica.Mercado financeiro internacional: refere-se às transações em dinheiro ou relacionadas a ele, realizadas por bancos, corretoras e investidores de um modo geral. Essas transações envolvem: câmbio (conversão das moedas nacionais); aplicações financeiras em geral, como a compra e a venda de ações nas bolsas de valores; e os em-préstimos e os financiamentos entre bancos e países.

Mundialização da cultura: essa expressão não quer dizer que o mundo se tornou igual em todos os lugares, mas que existem práticas, mercadorias e imagens comuns em várias partes do globo. Isso leva também à existência de grupos e estilos de vida mundializados.

Objeto-signo: a expressão vem do sociólogo francês Jean Baudrillard (1929-2007), em seu livro Para uma crítica da economia política do signo. (Lisboa; São Paulo: Edições 70; Martins Fontes, 1970). A ideia é que, na sociedade de consumo, os objetos não são vistos em sua utilidade, isto é, seu valor de uso, nem em seu valor de troca, mas como signos, ou seja, sinalizadores de uma representação ideológica, por exemplo elegância, beleza, status. Os objetos servem como signos de diferenciação social. Políticas monetárias: correspondem às estratégias dos governos nacionais para gerenciar o valor de suas moedas em relação ao dólar e às demais moedas.

Posição social: na Sociologia de Pierre Bourdieu, a ideia de “posição social” não inclui apenas a classe social no sentido econômico. Ela diz respeito à posição que o agente ocupa no espaço social, por exemplo, à posição em um determinado campo. Imagine a posição social como uma espécie de ponto em um sistema de vários eixos: classe social, campo, grupo profissional. Protecionismo: quando um país procura desenvolver estratégias para se proteger da concorrência internacional, ele está tomando medidas protecionistas. Para isso, o país pode estabelecer barreiras alfandegárias que prote-gerão a sua produção local. O país pode também subsidiar essa produção, concedendo isenções de impostos que colocarão essa produção em vantagens na competição com os produtos de outros mercados. Regionalismo: corresponde à tendência de formação de blocos econômicos regionais para enfrentar a competição internacional, aumentada pelo processo de globalização.Reservas monetárias: correspondem ao montante em dólares que o Banco Central de um país guarda como se fosse uma poupança.

Signo: a noção de signo chega à Sociologia por meio da Linguística. Nesta, um signo é composto de um significante (pense na palavra “maçã” sem relacioná-la a nada, apenas como junção de letras) e um significado, uma ideia (pense em uma fruta vermelha que cresce em árvores, mas não pense no nome dela): da junção da soma de letras “maçã” com a imagem, você tem um signo. Na Sociologia do consumo de Baudrillard, ele toma os signos não apenas para se referir às palavras, como na Linguística, mas para se referir às mercadorias (objetos-signos) e às imagens em geral.

Simulacro: dissimulação, algo que não é real. Para Baudrillard, significa que a realidade não é mais vivenciada como tal, mas apenas seus signos.Taxas de câmbio: correspondem aos valores de conversão de uma moeda por outra. Como o dólar é a moeda de referência, todas as moedas são convertidas em dólares. A conversão corresponde à quantidade necessária de moeda de um país para a compra de dólares.

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1. (UFU – MG) Em matéria veiculada na revista Cult (n. 115, jul. 2007, p. 46-48), o sociólogo e professor da USP, Laurindo Lalo Leal Filho, assim se manifes-tou acerca da TV digital no Brasil:

[...] vozes que se levantam contra a qualidade do serviço prestado pela televisão são contidas sob a alegação de que com a nova tecnologia [TV digi-tal] tudo será diferente [...]. As perspectivas não são muito animadoras. Há fortes indícios de que uma tecnologia, como a da TV digital, capaz de impulsionar a democratização da oferta televisiva, venha a ser apropriada pelos mesmos grupos que sempre controlaram o setor. São empresas opera-doras de um serviço público atuando estritamen-te nos limites da lógica comercial, determinada pela maximização dos lucros [...]. A diversidade da programação ficará, outra vez, posta de lado.

Considerando esse ponto de vista, marque a al-ternativa correta:

a) Nenhuma forma de estruturar a mídia televisiva pode ser democrática, pois as relações sociais que a enquadram não podem ser alteradas.

b) A diversidade da programação televisiva é a expressão da soberania do telespectador, con-sumidor de produtos culturais nessa mídia.

c) A tecnologia da TV digital democratizará o acesso a um leque mais amplo de abordagens e conteúdos, pois essa tecnologia independe das relações sociais nas quais se insere.

d) A mercantilização das relações sociais tam-bém se expressa no espaço televisivo, que se serve, também, de estereótipos para fins eco-nômicos.

2. (UEPG – PR) Sobre o fenômeno da indústria cultural, assinale o que for correto:

(01) A expressão foi cunhada pelos teóricos da Escola de Frankfurt, em referência à produ-ção de cultura de massa.

(02) A economia de mercado e a sociedade de consumo foram condições fundamentais para o surgimento da indústria cultural.

(04) A indústria cultural inclui manifestações ar-tísticas, como a pintura e a escultura.

(08) A cultura, matéria-prima da indústria cultu-ral, é vista tanto como instrumento da livre--expressão e do conhecimento quanto como produto permutável por dinheiro e consu-mível como qualquer outro.

Somatório: __________________

3. (UEM – PR) Leia o texto a seguir:

A imprensa, o rádio, a televisão, o cinema são indústrias ultraligeiras. Ligeiras pelo aparelha-mento produtor, são ultraligeiras pela merca-doria produzida: esta fica gravada sobre a folha do jornal, sobre a película cinematográfica, voa sobre as ondas e, no momento do consumo, torna-se impalpável, uma vez que esse consumo é psíquico. Entretanto, essa indústria ultraligeira está organizada segundo o modelo da indústria de maior concentração técnica e econômica. No quadro privado, alguns grandes grupos de im-prensa, algumas grandes cadeias de rádio e te-levisão, algumas sociedades cinematográficas concentram em seu poder o aparelhamento (ro-tativas, estúdios) e dominam as comunicações de massa. No quadro público, é o Estado que assegura a concentração.

MORIN, Edgard. A indústria cultural. In: FORACCHI, Marialice Mencarini; MARTINS, José de Souza (Org.). Sociologia e socie-dade: leituras de introdução à Sociologia. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1977. p. 300.

Tendo como referência o texto e seus conheci-mentos sobre a temática da indústria cultural, assinale a(as) alternativa(s) correta(s):

(01) A indústria cultural consegue conjugar or-ganização burocrática, que visa à produção padronizada e em larga escala de seus pro-dutos, com individualização e novidade de-sejadas pelos consumidores.

(02) A produção cultural de massa procura trans-formar a cultura em mercadoria, nivelando os valores e os padrões estéticos de boa par-te dos consumidores.

(04) Na indústria cultural, há um equilíbrio entre interesses econômicos, domínio da técnica, organização burocrática e exercício da cria-tividade.

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(08) A indústria cultural, diferentemente de ou-tros ramos da produção industrial, não visa ao lucro. Seus produtos são comercializados a preço de custo e seu consumidor não é tratado como “cliente” e sim como fã ou co-lecionador.

(16) O ritmo ligeiro da indústria cultural tem como resultado a produção em série, de bai-xo custo e possível de ser acessada por boa parte da população.

Somatório: __________________

4. (UEM – PR) Considerando a citação a seguir e o de-bate sociológico sobre identidade nacional e indús-tria cultural e cultura de massas, assinale o que for correto.

“O tempo das Copas do Mundo é, assim, o tem-po da nação, tal como ela se apresenta através do futebol. E a imprensa esportiva opera com este pressuposto, possibilitando a emergência de um nível mais englobante de identidade social em que todas as diferenças (de classe, de posição, de etnia, regionais etc.) são tornadas secundárias”.

GUEDES, Simoni Lahud. O Brasil no campo de futebol. Niterói--RJ: EDUFF, 1998, p.49.

(01) Uma análise sociológica do futebol revela que ele entrelaça aspectos culturais e sociais importantes para compreender-se a cons-trução da identidade nacional brasileira.

(02) Particularmente durante as Copas do Mun-do, cria-se um sentimento de pertencimento a uma nação de iguais, que é representada pelo selecionado brasileiro nos campos de futebol.

(04) A indústria da cultura, por meio da imprensa esportiva, opera um processo de produção para eventos futebolísticos como a Copa do Mundo, que contribuem para o obscureci-mento das grandes diferenças internas exis-tentes entre os brasileiros.

(08) A criação da imagem do Brasil como o país do futebol mostra que a nação é uma reali-dade construída que não se confunde com o Estado Nacional.

(16) Para grande parcela da imprensa esportiva brasileira, o futebol se apresenta como um evento de ordem cultural autônoma, desvin-culado de aspectos da vida política e econô-mica brasileira.

Somatório: __________________

5. (ENEM) Figuram no atual quadro econômico mundial países considerados economias emer-gentes, também chamados de novos países in-dustrializados. Apresentam nível considerável de industrialização e alto grau de investimentos ex-ternos, no entanto as populações desses países convivem com estruturas sociais e econômicas arcaicas e com o agravamento das condições de vida nas cidades. As principais economias emer-gentes que despertam o interesse dos empresá-rios do mundo são: Brasil, Rússia, Índia e China (BRIC). Tais países apresentam características co-muns, como mão de obra abundante e significa-tivas reservas de recursos minerais.

Diante do quadro apresentado, é possível infe-rir que a reunião desses países, sob a sigla BRIC, aponta para:

a) um novo sistema socioeconômico baseado na superação das desigualdades que conferiam sentido à ideia de Terceiro Mundo;

b) a razoabilidade do pleito de participarem do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU);

c) a melhoria natural das condições sociais em decorrência da aceleração econômica e da re-dução dos níveis de desemprego;

d) a perspectiva de que se tornem, a médio pra-zo, economias desenvolvidas com uma série de desafios comuns;

e) a formação de uma frente diplomática com o objetivo de defender os interesses dos países menos desenvolvidos.

6. (ENEM) Em 1947, a Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou um plano de partilha da Palestina que previa a criação de dois Es-tados: um judeu e outro palestino. A recusa árabe em aceitar a decisão conduziu ao pri-meiro conflito entre Israel e países árabes. A segunda guerra (Suez, 1956) decorreu da decisão egípcia de nacionalizar o canal, ato que atingia interesses anglo-franceses e isra-elenses. Vitorioso, Israel passou a controlar a Península do Sinai. O terceiro conflito árabe- -israelense (1967) ficou conhecido como Guerra dos Seis Dias, tal a rapidez da vitória de Israel. Em 6 de outubro de 1973, quando os judeus co-memoravam o Yom Kippur (Dia do Perdão), for-ças egípcias e sírias atacaram de surpresa Israel,

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que revidou de forma arrasadora. A intervenção americano-soviética impôs o cessar-fogo, con-cluído em 22 de outubro.

A partir do texto acima, assinale a opção correta:

a) A primeira guerra árabe-israelense foi deter-minada pela ação bélica de tradicionais potên-cias europeias no Oriente Médio.

b) Na segunda metade dos anos 1960, quando explodiu a terceira guerra árabe-israelense, Israel obteve rápida vitória.

c) A guerra do Yom Kippur ocorreu no momento em que, a partir de decisão da ONU, foi oficial-mente instalado o Estado de Israel.

d) A ação dos governos de Washington e de Moscou foi decisiva para o cessar-fogo que pôs fim ao primeiro conflito árabe-israelense.

e) Apesar das sucessivas vitórias militares, Israel mantém suas dimensões territoriais tal como estabelecido pela resolução de 1947 aprovada pela ONU.

7. (ENEM) Na América do Sul, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARCs) lutam, há décadas, para impor um regime de inspiração marxista no país. Hoje, são acusadas de envolvi-mento com o narcotráfico, o qual supostamen-te financia suas ações, que incluem ataques di-versos, assassinatos e sequestros. Na Ásia, a Al Qaeda, criada por Osama Bin Laden, defende o fundamentalismo islâmico e vê nos Estados Unidos da América (EUA) e em Israel inimigos poderosos, os quais deve combater sem trégua. A mais conhecida de suas ações terroristas ocor-reu em 2001, quando foram atingidos o Pentá-gono e as torres do World Trade Center.

A partir das informações acima, conclui-se que:

a) as ações guerrilheiras e terroristas no mundo contemporâneo usam métodos idênticos para alcançar os mesmos propósitos;

b) o apoio internacional recebido pelas FARCs de-corre do desconhecimento, pela maioria das na-ções, das práticas violentas dessa organização;

c) os EUA, mesmo sendo a maior potência do planeta, foram surpreendidos com ataques terroristas que atingiram alvos de grande im-portância simbólica;

d) as organizações mencionadas identificam-se quanto aos princípios religiosos que defendem;

e) tanto as FARCs quanto a Al Qaeda restringem sua atuação à área geográfica em que se loca-lizam, respectivamente, América do Sul e Ásia.

8. (ENEM)

O Relatório Anual (2002) da Orga nização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) revela transformações na origem dos flu-xos migratórios. Observa-se aumento das migra-ções de chineses, filipinos, russos e ucranianos com destino aos países membros da OCDE. Tam-bém foi registrado aumento de fluxos migratórios provenientes da America Latina.

Trends in international migration, 2002. Disponível em: <www.ocde.org>. Adaptação.

No mapa seguinte, estão destacados, com a cor preta, os países que mais receberam esses fluxos migratórios em 2002.

As migrações citadas estão relacionadas, princi-palmente, a:

a) ameaça de terrorismo em países pertencentes a OCDE;

b) política dos países mais ricos de incentivo à imigração;

c) perseguição religiosa em países muçulmanos;

d) repressão política em países do Leste Europeu;

e) busca de oportunidades de emprego.

9. (UEL – PR) Leia o texto a seguir:

Como argumentaram com muita propriedade di-versos críticos da tradição sociológica [...]. As na-ções e os estados nacionais não interagem sim-plesmente entre si; sob as condições modernas, eles formam – ou tendem a formar – um mundo, isto é, um contexto global com os seus próprios processos e mecanismos de integração. A forma nacional de integração, dessa forma, desenvolve--se e funciona em conexão íntima e num conflito

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mais ou menos acentuado com a forma global. [...] Para apreender a sua relevância em relação à análise do nacionalismo, é necessário ter em mente que a globalização de modo algum é sinônimo de homogeneização [...]. Pelo contrá-rio, ela deve ser entendida como uma nova es-trutura de diferenciação.

ARNASON, J. P. Nacionalismo, globalização e modernidade, In: FEATHERSTONE, M. (Org.). Cultura global: nacionalização, globalização e modernidade. Petrópolis: Vozes, 1994. p. 238.

De acordo com o texto, é correto afirmar:

a) Os Estados Nacionais possuem total autonomia quanto à globalização, por isso não sofrem re-flexos deste processo, garantindo a homogenei-dade, a simetria e unidade contra as distinções.

b) A globalização é um processo que atinge e subver te todos os Estados Nacionais, que ten-dem ao desaparecimento como construção política moderna de regulação das relações sociais locais.

c) Apesar da resistência dos Estados Nacionais, a globalização resulta em homogeneização se-vera em todos os países que atinge.

d) Em virtude da presença dos Estados Nacionais, a tendência de homogeneização própria à globa-lização deve ser relativizada, pois muitas vezes, ao invés de uma homogeneização, ela acaba por promover novas formas de diferenciação.

e) Inexiste relação direta entre globalização e Estados Nacionais, pois estes últimos se pre-servam por meio de mecanismos de defesa autóctones e totalitários.

10. (UERJ)

G-20 adota linha dura para combater crise

Grupo anuncia maior controle para o sistema fi-nanceiro. Cercada de expectativas, a reunião do G-20, grupo que congrega os países mais ricos e os principais emergentes do mundo, chegou ao fim, em Londres, com o consenso da necessida-de de combate aos paraísos fiscais e da criação de novas regras de fiscalização para o sistema financeiro. Além disso, os líderes concordaram, dentre várias medidas, em injetar US$ 1,1 trilhão na economia para debelar a crise.

Disponível em: <http://zerohora.clicrbs.com.br>. Adaptação.

A passagem da década de 1980 para a de 1990 ficou marcada como um momento histórico no

qual se esgotou um arranjo geopolítico e teve iní-cio uma nova ordem política internacional, cuja configuração mais clara ainda está em andamento.

Conforme se observa na notícia, essa nova geo-política possui a seguinte característica marcante:

a) Diminuição dos fluxos internacionais de capital. b) Aumento do número de polos de poder mun-

dial.c) Redução das desigualdades sociais entre o

Norte e o Sul.d) Crescimento da probabilidade de conflitos en-

tre países centrais e periféricos.

11. (UEM) Leia o texto a seguir e assinale o que for correto sobre o tema da cultura midiática.

“O universo das comunicações de massa é – re-conheçamo-lo ou não – o nosso universo; e, se quisermos falar de valores, as condições obje-tivas das comunicações são aquelas fornecidas pela existência dos jornais, do rádio, da televi-são, da música reproduzida e reproduzível, das novas formas de comunicação visual e auditiva.” (ECO, U. Apocalípticos e integrados. São Paulo: Pers-pectiva, 1993, p. 11)

(01) São excluídos do universo das comunicações de massa os grupos que não podem pagar para ter acesso aos bens por ele produzidos.

(02) As ações de protesto contra as informações produzidas pelo universo das comunicações de massa são feitas dentro dos canais dispo-nibilizados por esse mesmo universo.

(04) As informações produzidas e divulgadas pelo rádio e pela televisão são consumidas pelas massas, sem que seja possível identificar cri-térios de seleção nesse padrão de consumo.

(08) A comunicação de massa tem uma caráter co-ercitivo que tende a padronizar as diferentes manifestações culturais e a reduzir as diferen-tes possibilidades de abordagem de uma in-formação.

(16) O universo das comunicações de massa é próprio da sociedade contemporânea, e seus produtos indicam um processo de in-dustrialização da cultura, o qual é feito pe-los proprietários dos meios de comunicação.

Somatório: _________________

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