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Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Série Pensando o Direito
Nº 14/2009 – versão Internet
Separação de Poderes – Vício de Iniciativa
Convocação 01/2008
Universidade Federal de Santa Catarina
UFSC
Coordenação Acadêmica
Cecilia Caballero Lois
Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça (SAL)
Esplanada dos Ministérios, Bloco T, Edifício Sede – 4º andar, sala 434
CEP: 70064-900 – Brasília – DF
www.mj.gov.br/sal
e-mail: [email protected]
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CARTA DE APRESENTAÇÃO INSTITUCIONAL
A Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça (SAL) tem por objetivo
institucional a preservação da ordem jurídica, dos direitos políticos e das garantias
constitucionais. Anualmente são produzidos mais de 500 pareceres sobre os mais diversos
temas jurídicos, que instruem a elaboração de novos textos normativos, a posição do governo
no Congresso, bem como a sanção ou veto presidencial.
Em função da abrangência e complexidade dos temas analisados, a SAL formalizou,
em maio de 2007, um acordo de colaboração técnico-internacional (BRA/07/004) com o
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que resultou na estruturação
do Projeto Pensando o Direito.
Em princípio os objetivos do Projeto Pensando o Direito eram a qualificação técnico-
jurídica do trabalho desenvolvido pela SAL na análise e elaboração de propostas legislativas e
a aproximação e o fortalecimento do diálogo da Secretaria com a academia, mediante o
estabelecimento de canais perenes de comunicação e colaboração mútua com inúmeras
instituições de ensino públicas e privadas para a realização de pesquisas em diversas áreas
temáticas.
Todavia, o que inicialmente representou um esforço institucional para qualificar o
trabalho da Secretaria, acabou se tornando um instrumento de modificação da visão sobre o
papel da academia no processo democrático brasileiro.
Tradicionalmente, a pesquisa jurídica no Brasil dedica-se ao estudo do direito positivo,
declinando da análise do processo legislativo. Os artigos, pesquisas e livros publicados na
área do direito costumam olhar para a lei como algo pronto, dado, desconsiderando o seu
processo de formação. Essa cultura demonstra uma falta de reconhecimento do Parlamento
como instância legítima para o debate jurídico e transfere para o momento no qual a norma é
analisada pelo Judiciário todo o debate público sobre a formação legislativa.
Desse modo, além de promover a execução de pesquisas nos mais variados temas, o
principal papel hoje do Projeto Pensando o Direito é incentivar a academia a olhar para o
processo legislativo, considerá-lo um objeto de estudo importante, de modo a produzir
conhecimento que possa ser usado para influenciar as decisões do Congresso, democratizando
por conseqüência o debate feito no parlamento brasileiro.
Este caderno integra o conjunto de publicações da Série Projeto Pensando o Direito e
apresenta a versão na íntegra da pesquisa denominada Separação de Poderes – Vício de
Iniciativa conduzida pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Dessa forma, a SAL cumpre seu dever de compartilhar com a sociedade brasileira os
resultados das pesquisas produzidas pelas instituições parceiras do Projeto Pensando o
Direito.
Pedro Vieira Abramovay
Secretário de Assuntos Legislativos do Ministério o da Justiça
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CARTA DE APRESENTAÇÃO DA PESQUISA
É com muita honra que fazemos a apresentação do relatório final da pesquisa
denominada Delimitação das atribuições entre os Poderes Executivo e Legislativo no tocante
à regulamentação sobre "organização e funcionamento da administração pública federal"
(art. 84, VI c/c art. 61, §1º, II, e): iniciativa privativa do presidente, decreto autônomo e
emendas parlamentares em questão, fruto de uma parceria entre a Secretaria de Assuntos
Legislativos do Ministério da Justiça (MJ/SAL) e o Grupo de Pesquisa Justiça, Democracia e
Constituição (UFSC/CCJ/CPGD), coordenado pela Professora Cecilia Caballero Lois e,
ainda, contando com a colaboração da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) e Pontifícia
Universidade Católica do Paraná (PUC/PR).
Os pesquisadores que atuaram na construção desta pesquisa são membros do referido
Grupo e atualmente realizam teses, dissertações e monografias sobre problemas
constitucionais ou administrativos. Trata-se de professores e alunos de capacidade científica
indiscutível, tal como se poderá apreciar no decorrer da leitura deste trabalho. Inicialmente,
destacamos o trabalho sério e competente de Luiz Magno Pinto Basto Júnior e Rodrigo Mioto
dos Santos, da equipe UFSC/UNIVALI, bem como da professora Claudia Maria Barbosa da
PUC/PR. Participaram, também, a doutoranda Caroline Ferri e as mestrandas Letícia Garcia
Ribeiro Dyniewicz e Carla Andrade Maricato, todas do Curso de Pós-Graduação em Direito
(CPGD/ UFSC). Finalmente, contamos com vários alunos de graduação, cujo talento e
capacidade são, também, inquestionáveis. São eles: Bernardo Rohden Pires, Louise Sofia
Lobo Abdala, Pedro Araújo Marques Coelho e Victor Leduc.
O trabalho que o leitor tem em mãos parte do pressuposto que a Emenda
Constitucional nº. 32, de 11 de setembro de 2001, além de promover ampla reforma no
tocante às medidas provisórias, modificou alguns dispositivos da Constituição Federal
referentes à ―competência legislativa‖ do Presidente da República, aumentando o âmbito de
discricionariedade do Chefe da Administração Pública Federal, especialmente no que diz
respeito à estruturação dos órgãos a ele diretamente vinculados. O objeto discutido centrou-
se, portanto, na preocupação em delimitar, a partir de aportes teóricos, jurisprudenciais e
doutrinários, os contornos dos ―Poderes Legislativos‖ do Presidente da República no processo
de estruturação dos Ministérios e órgãos da Administração Pública Federal.
Para atingir seus objetivos, a pesquisa dividiu-se em três âmbitos que, embora
interligados e coerentes entre si, podem ser chamados: (a) teórico; (b) dogmático; e, (c)
jurisprudencial. Na primeira parte foi efetuada uma revisão bibliográfica procurando
demonstrar que a transformação do paradigma do Estado Liberal para o do Estado Social não
apenas permitiu, mas também exigiu que o Estado, através da Administração Pública Direta,
passasse a exercer funções antes consideradas da esfera de competência do Poder Legislativo.
Para atender aos desígnios desse novo modelo de Estado, foi preciso incorporar à sua
sistemática novos mecanismos de produção da lei, além de empreender mudanças na estrutura
de funcionamento das já conhecidas medidas provisórias.
No segundo momento, que parte da conseqüente necessidade de ampliação dos
mecanismos de atuação do Poder Executivo no Estado Social, foram debatidos: a iniciativa
privativa do presidente, o decreto autônomo e as emendas parlamentares. Para cada um deles,
foi apresentada uma conceituação atualizada e aprofundada (bem como operacional), sempre
procurando analisar a oportunidade de seu uso e a sua respectiva práxis jurisprudencial.
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A terceira parte constitui-se num exaustivo levantamento jurisprudencial denominado
Guia de referências das decisões do STF sobre Iniciativa Reservada e Vício de Iniciativa.
Essa parte, devido à sua abrangência e extensão, somente está disponível no relatório
completo (versão online) e se constitui em uma poderosa ferramenta para aqueles que
pretendem debruçar-se sobre o tema e buscam elementos não apenas textuais ou doutrinários
No total, o leitor poderá encontrar mais de 500 decisões judiciais sobre temas que englobam:
(a) Delimitação dos contornos constitucionais da iniciativa privativa: regras gerais
e princípios informativos;
(b) Delimitação da abrangência de cada uma das hipóteses de iniciativa reservada
constitucionalmente previstas.
No conjunto, a pesquisa aponta para o fato de que, com o advento da EC nº. 32/2001,
o Brasil passou a conhecer um novo modelo de organização administrativa que garante ao
Chefe da Administração Pública Federal relativa autonomia na organização dos seus órgãos e,
especialmente, na tomada de decisões. Nesse modelo, contrariamente ao levantado pela
doutrina pátria menos rigorosa, a lei permanece como parâmetro objetivo, e apenas permite
uma maior abrangência dos poderes legislativos facultados ao Executivo. Dessa forma, tal
como o leitor poderá perceber ao final deste trabalho, fica claro que, nessa configuração,
prevalece a legalidade e está afastada qualquer possibilidade de falar em arbitrariedade ou
aumento do poder fático do Presidente.
Para finalizar esta apresentação, gostaríamos de agradecer à Secretaria de Assuntos
Legislativos do Ministério da Justiça (MJ/SAL), que propiciou uma oportunidade ímpar de
aliar a pesquisa científica de qualidade à necessária democratização da produção legislativa.
Se fosse esse apenas o único mérito do Projeto Pensando o Direito, já seria suficiente para
saudá-lo com alegria. Contudo, há outros incontestes valores no projeto: o constante diálogo
entre as equipes e a SAL, a autonomia acadêmica oferecida às IES, bem como o profundo
respeito na relação com as equipes. Desejamos, dessa forma, longa vida para esta iniciativa.
Por último, gostaria de manifestar meu agradecimento a toda a equipe de pesquisa que
participou deste trabalho. Foi um momento particular, no qual estreitamos laços de
fraternidade. Com especial atenção, contudo, desejo agradecer, em meu nome e no dos demais
colegas, ao professor Luiz Magno Pinto Basto Junior, grande responsável pela condução dos
rumos da pesquisa e da pormenorizada pesquisa jurisprudencial.
Florianópolis, outubro de 2009.
Cecilia Caballero Lois
Coordenadora Acadêmica
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Linha de pesquisa:
SEPARAÇÃO DE PODERES – VÍCIO DE INICIATIVA
Projeto de pesquisa:
DELIMITAÇÃO DAS ATRIBUIÇÕES ENTRE OS PODERES EXECUTIVO E LEGISLATIVO NO TOCANTE À
REGULAMENTAÇÃO SOBRE "ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
FEDERAL"
RELATÓRIO FINAL
Coordenadora:
Profª. Drª. Cecilia Caballero Lois (UFSC)
Florianópolis - SC, 31 de dezembro de 2008.
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1. APRESENTAÇÃO DA ESTRUTURA DO RELATÓRIO
Inicialmente, incumbe-nos parabenizar à SAL e ao PNUD pela iniciativa de aproximar
a academia da práxis congressual. Sem dúvida, há um universo de possibilidades de interação
entre a teoria e a práxis institucional que, não obstante suas pontecialidades, permanecia quase
inexplorado pela ciência jurídica no país.
Este relatório pretende descrever sinteticamente as atividades desenvolvidas pela
Equipe de Trabalho e apontar os resultados finais produzidos por cada núcleo de trabalho
constituído. Para tanto, o mesmo está dividido nas seguintes seções: delimitação da pesquisa,
apresentação da equipe de trabalho, descrição das atividades desenvolvidas, indicação das
consultas e apresentação dos anexos.
Por fim, é importante registrar que esta iniciativa representa um importante passo na
construção de modelos de pesquisa aplicadas no direito, que possibilitem seja aliada a teoria à
empiria, em um universo que ainda se ressente muito desta imersão na realidade circundante.
2. DELIMITAÇÃO DO OBJETO DA PESQUISA
Nesta seção, após a reprodução inicial dos objetivos geral e específicos definidos no
início da pesquisa, será explicitada de que forma as tarefas necessárias a sua consecução
foram distribuídas em núcleos de trabalho.
2.1 OBJETIVO GERAL e específicos (DEFINIDOS NO PROJETO)
Propor critérios que, a partir de uma análise doutrinária e jurisprudencial, possam
demarcar as atribuições entre os Poderes Executivo e Legislativo no tocante à regulamentação
sobre "organização e funcionamento da administração pública federal" (art. 84, VI c/c art. 61,
§1º, II, e).
a. Estabelecer diretrizes gerais sobre a relação de cooperação no exercício da função
legislativa entre o Executivo e o Parlamento, como desdobramento contemporâneo da
teoria da separação de poderes e do comumente denominado ―poder de agenda‖
presidencial;
b. Propor uma definição estipulativa sobre a natureza jurídica dos decretos autônomos e
estabelecer o seu espectro de atribuições segundo o ordenamento constitucional
brasileiro;
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c. Propor uma decomposição analítica das competências normativas relacionadas às
expressões ―estrutura e atribuições‖ (art. 61, par. 1, inc. II, a, redação antiga) e
―organização e funcionamento da administração pública federal‖ (art. 84, VI, a), a fim
de analisar se tais expressões podem ser (ou não) subsumidas uma à outra;
d. Empreender detida análise jurisprudencial a fim de avaliar qual o atual
posicionamento do Supremo Tribunal Federal no tocante aos requisitos que
caracterizam a ocorrência de vício de iniciativa;
Propor critérios que possam definir os limites à atuação parlamentar (emendas
parlamentares e substitutivos) no tocante às matérias gravadas com a cláusula de iniciativa
privativa (art. 61, § 1º) ou que compreendem o âmbito de regulamentação autônoma por parte
do Chefe do Executivo.
2.2 CORREÇÃO DE RUMOS: RE-DEFINIÇÃO sobre o objeto da pesquisa
Com o início das atividades, a melhor compreensão sobre as expectativas da SAL em
relação a este projeto e ultimada a fase preliminar de formação teórica de base, o projeto foi
ligeiramente redefinido, em especial, no tocante ao objetivo geral da pesquisa.
A partir das mesmas preocupações teóricas de fundo, o objetivo geral foi ligeiramente
ampliado a fim de ocupar-se não somente com a regulamentação ―organização e
funcionamento da administração pública federal" (art. 84, VI c/c art. 61, §1º, II, e), mas que
expressamente assumisse dois principais feixes de preocupações: (a) o instituto da iniciativa
privativa do Chefe do Executivo (exercício e restrições ao poder de emenda) e (b) a
delimitação do alcance do decreto autônomo frente ao princípio constitucional da reserva de
lei. Desta forma, o objetivo geral pode ser (re) definido da seguinte forma:
Propor critérios que, a partir de uma análise doutrinária e jurisprudencial, possam demarcar as
atribuições entre os Poderes Executivo e Legislativo no tocante ao processo legislativo
relacionado às matérias de iniciativa reservada do Executivo (art. 61, §1º) e sobre a
margem constitucional de produção normativa do Presidente mediante o emprego dos
chamados decretos autônomos (art. 84, VI).
Em relação aos objetivos específicos, pôde-se perceber que o Terceiro Objetivo
afigurou-se como um falso problema gerado por uma decisão mal fundamentada do STF (ADI
n. 3112, Rel. Min. Lewandowski).
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A fim de que tais tarefas fossem realizadas a termo, tendo em vista a limitação temporal
imposta pela natureza do projeto, o trabalho foi dividido em núcleos que passaram a ocupar-se
de questões próprias.
2.3 DEFINIÇÃO DE NÚCLEOS DE TRABALHO
Com base nos objetivos antes estabelecidos, a pesquisa foi dividida entre os membros
da equipe a partir da construção de núcleos temáticos, tendo em vista a especificidade técnica
das questões envolvidas.
A tabela a seguir proposta especifica claramente os núcleos de trabalho e os objetivos
definidos. No item 4, serão apresentadas as atividades desenvolvidas no âmbito de cada um
desses núcleos de trabalho.
NÚCLEOS DE TRABALHO OBJETIVOS DEFINIDOS POR NÚCLEO
Separação de Poderes e
Iniciativa Reservada
UFSC/UNIVALI
1 Analisar o papel regulador que a teoria da separação
de poderes exerce tanto na estruturação institucional
dos chamados Poderes da República, quanto no
controle dos seus excessos.
2. Analisar o papel institucional desempenhado pela
iniciativa privativa no estabelecimento da cooperação
legislativa entre o Poder Executivo e Legislativo.
Caracterização da Iniciativa
Privativa e do Vício de
Iniciativa
Núcleo UFSC
1. Analisar a evolução histórica e as finalidades do
instituto da iniciativa reservada no Processo
Legislativo.
2. Especificar o conteúdo e o alcance das matérias
sujeitas à iniciativa privativa do Presidente da
República no direito brasileiro (art. 61, §1º) a partir de
análise empírica e jurisprudencial.
3. Sistematizar os parâmetros de controle definidos
pelo STF para o controle da ocorrência de vício de
iniciativa privativa do Chefe do Executivo.
Limites ao Poder de Emenda
Parlamentar
Núcleo PUC-PR
1. Sistematizar os parâmetros de controle ao poder de
emenda parlamentar em matérias de iniciativa
reservada, definidos pelo STF.
Decreto autônomo
Núcleo UNIVALI
1. Empreender revisão bibliográfica ampla sobre a
natureza jurídica, conceito e sistematização do decreto
autônomo no direito brasileiro e no direito comparado.
2. (Re)Construir o conceito de decreto autônomo a
partir de análise casuística das decisões do STF sobre
a matéria.
3. Sistematizar o conteúdo e o alcance das matérias
que podem ser regulamentadas por intermédio do
decreto autônomo
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3. QUALIFICAÇÃO DA EQUIPE E EXPLICAÇÃO DOS NÚCLEOS DE TRABALHO
A equipe responsável pela execução do projeto é composta por quatro professores com
experiência em pesquisa universitária e com formação e atuação focada na área do direito
constitucional.
A coordenadora e a colaboradora da PUC-PR atingiram o doutorado em Direito com
teses que exploram âmbitos fundamentais do direito constitucional. São professoras dos
Cursos de Pós-Graduação em Direito da UFSC e da PUC-PR, respectivamente. Ademais,
ambas ministram aulas de direito constitucional (ou disciplinas afins) na graduação e na pós-
graduação, além de orientar trabalhos (de monografias a teses) quase sempre em temáticas
afetas ao direito constitucional.
Os outros dois professores colaboradores, docentes da UNIVALI e ligados ao Grupo
de Pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina coordenado pela Profª. Drª. Cecilia
Caballero Lois possuem mestrado em Direito pela UFSC com trabalhos que realizaram
debates importantes no âmbito do direito constitucional. Ambos ainda têm dedicado parte
significativa da vida docente ao direito constitucional, seja ministrando aulas, seja orientando
trabalhos.
3.1 Grupo: Direito, Constituição e Democracia (UFSC/CPGD)
No âmbito do Curso de Pós-Graduação em Direito desenvolve-se o Grupo de Pesquisa
em Direito, Constituição e Democracia, que cadastrado e certificado no CNPQ possui
objetivos centrados em três principais eixos: (a) formação, capacitação teórica e intercâmbio
de pesquisas e idéias de uma nova geração de operadores do direito preocupados com a inter-
relação que se estabelece entre a justiça, a democracia e a constituição; (b) fomentar a
construção de redes de conhecimento que conectem pesquisadores e instituições de pesquisa
nacionais e internacionais; e (c) a partir de estudos e pesquisas empíricas analisar em que
medida o Poder Judiciário caracteriza-se como referencial institucionalmente palpável na
discussão que envolve as diversas inter-relações entre Justiça, Democracia e Constituição.
Para a consecução dos objetivos traçados, o Grupo estrutura-se em quatro linhas de
atuação, sendo a mais pertinente para o Projeto em questão a referente ao ―papel do Poder
Judiciário no controle das atuações legislativa e executiva‖.
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3.2 Grupo: Justiça, Democracia e Direitos Humanos (PPGD/PUC-PR)
A linha de pesquisa em Política judiciária e administração da justiça, coordenada pela
colaboradora Profª. Drª. Cláudia Maria Barbosa, desenvolve, desde 2003, um projeto voltado
para a análise comparada – por meio de pesquisa empírica – de múltiplos aspectos do sistema
de justiça em diferentes sociedades, estudando as premissas e as propostas de reforma em
curso no Brasil e no mundo, centrando suas pesquisas em duas vertentes: necessidade de
fixação de políticas públicas para o sistema de justiça, e administração da Justiça.
3.3 EQUIPE ENVOLVIDA DIRETAMENTE NA PESQUISA
PARTICIPANTE Instituição vinculada
1. Profa. Dra. Cecílica Caballero Lois (coordenadora) UFSC
2. Profa. Dra. Cláudia Maria Barbosa PUC-PR
3. Prof. MSc. Luiz Magno P. Bastos Jr UNIVALI / UFSC
4. Prof. MSc. Rodrigo Mioto dos Santos UNIVALI
5. Mestranda Carla Andrade Maricato UFSC
6. Mestranda Letícia Garcia Ribeiro Dyniewicz UFSC
7. Graduando Bernardo Rohden Pires UFSC
8. Graduando Louise Sofia UNIVALI
9. Graduando Pedro Araujo Marques Coelho UFSC
10. Graduando Victor Leduc Machado UFSC
4. DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
4.1 ATIVIDADE DE FORMAÇÃO
Os coordenadores da equipe entendem que, para além da preocupação com a
confecção de produtos finais que forneçam respostas concretas às inquietações e problemas
formulados pela Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, por intermédio
do Projeto Pensando o Direito, uma das tarefas primordiais a que se propõem consiste na
formação e capacitação de alunos de graduação e pós-graduação para o desenvolvimento de
pesquisa científica.
Por esta razão, desde o início do mês de agosto, vêm sendo realizadas reuniões
quinzenais, aberta a participação de todos os integrantes dos diferentes núcleos de pesquisa,
destinada à discussão de textos que têm a finalidade de fornecer subsídios teóricos a todas as
etapas de pesquisa.
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Em seguida serão indicadas as atividades a serem desenvolvidas por cada um dos
núcleos constituídos para trabalhar neste projeto. Preocupou-se, neste momento, em listar
aquelas que envolvem um esforço coordenado por parte dos seus membros e que se afiguram
relevantes para que os objetivos definidos para aquele núcleo sejam atingidos até o final da
pesquisa.
4.2 DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES POR NÚCLEO DE TRABALHO
a) SEPARAÇÃO DE PODERES E INICIATIVA RESERVADA
DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES
1. Revisão bibliográfica ampla sobre separação de poderes, presidencialismo de coalizão e
poder de agenda presidencial.
2. Seleção e análise das decisões do STF que discutem a ocorrência de ofensa ao princípio da
separação de poderes. Bases para a formação da Idéia de Cooperação legislativa
3. Análise do papel do Poder Judiciário como mediador da relação entre os poderes
Executivo e Legislativo.
PRODUTO FINAL
Artigo: Separação de poderes e iniciativa reservada: da regulação da liberdade à
cooperação legislativa no direito constitucional brasileiro (Anexo I)
b) INICIATIVA PRIVATIVA E VICIO DE INICIATIVA (NÚCLEO UFSC)
DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES
1. Revisão bibliográfica ampla sobre iniciativa reservada no processo legislativo
2. Análise da evolução histórica da iniciativa privativa nas constituições brasileiras
3. Identificação, catalogação e sistematização das decisões do STF1 que discutem a
ocorrência de vício de iniciativa.
4. (Re)construção dos parâmetros de controle definidos pelo STF para caracterização do
vício de iniciativa.
5. Identificação, catalogação e sistematização dos vetos presidenciais realizados com base
na existência de vício de iniciativa.
6. Identificação, catalogação e sistematização dos Projetos de Lei encaminhados pelo
Presidente da República, com fundamento no art. 61, § 1º da CF/88, ao Congresso
Nacional.
7. Elaboração de quadro sistemático (com exemplos concretos) de situações que estariam de
acordo e/ou violariam cada uma das hipóteses previstas no art. 61, § 1º.
PRODUTO FINAL
Artigo: Inventário sobre o alcance material da iniciativa reservada do executivo:
compreensão (e equívocos) sobre a caracterização do vício de iniciativa (anexo II)
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c) LIMITES AO PODER DE EMENDA PARLAMENTAR (NÚCLEO PUC-PR)
DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES
1. Identificação, catalogação e sistematização das decisões do STF que discutem a
ocorrência de vício de iniciativa decorrente da extrapolação dos limites ao poder de emenda
parlamentar.
2. Identificação, catalogação e sistematização dos vetos presidenciais realizados com base na
existência de vício na edição de emenda parlamentar.
3. Preparação de quadro sistemático (com exemplos concretos) de situações que violam (ou
violariam em tese) a estes limites.
PRODUTO FINAL
Artigo: Limites ao poder de emenda parlamentar em matéria de iniciativa reservada:
posição do STF (anexo III)
d) DECRETO AUTÔNOMO NO DIREITO BRASILEIRO
DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES
1. Revisão bibliográfica ampla sobre decreto autônomo na doutrina nacional
2. Análise da memória legislativa da EC n. 32/01 : as origens do decreto autônomo
3. Identificação, catalogação e sistematização das decisões do STF que discutem a
ocorrência o alcance do decreto autônomo e as possibilidades de controle.
4. Identificação, catalogação e sistematização temática dos decretos presidenciais expedidos
com base no art. 84, VI, a.
5. Elaboração de quadro detalhado de atribuições previstas no art. 84, inc. VI a partir de
casos concretos.
6. Discussão acerca da (in)constitucionalidade dos decretos concernentes a planos e
programas nacionais, regionais e setoriais de desenvolvimento.
PRODUTO FINAL
Artigo: «O Decreto do art. 84, VI, „a‟, da Constituição Federal de 1988: limites e
possibilidades » (anexo IV)
4.3 ATIVIDADE DE CAMPO: ENTREVISTA COM OS ADVOGADOS DA SAL
a) Data de realização: 5 de dezembro
b) Justificativa da atividade:
Diferentemente de outros projetos, que estão diretamente ligados a temáticas em
discussão no Congresso Nacional, a investigação levada a efeito por nossa equipe tem um
caráter mais instrumental, à medida que pretende discutir os balizamentos da atuação
legislativa do Presidente e da cooperação com o Legislativo. Debate este que vem à tona, com
freqüência, durante a atuação da SAL, sobretudo quando seus advogados e técnicos são
instados a se manifestar sobre projetos de lei enviados à sanção presidencial.
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A equipe definiu como resultados finais tanto a confecção de artigos científicos que
buscam apresentar uma análise cruzada entre direito e política na relação entre o Executivo e
Legislativo, quanto a confecção de quadros esquemáticos que possam, em uma abordagem
mais didática, fornecer parâmetros para delimitação do alcance da iniciativa reservada e os
limites da atuação parlamentar.
Em relação a esta última tarefa, a equipe definiu como de vital importância a
realização de uma entrevista com a equipe envolvida para que pudessem, a partir da
experiência decorrente da atuação da própria SAL, ser identificadas as situações mais
recorrentes em que este tipo de dúvida foi colocada em xeque.
c) Metodologia utilizada:
Como antes assinalado, as entrevistas destinavam-se, sobretudo, à identificação de
problemas recorrentes no âmbito da Secretaria que pudessem subsidiar as análises a serem
empreendidas por ocasião da redação do produto final da equipe. Portanto, dado o seu caráter
meramente exploratório, não houve preocupação específica em sistematização dos dados
coletados.
Durante as entrevistas foram formulados os seguintes questionamentos:
a) nos projetos de lei que vocês estiveram analisando (ou propondo), qual(is) dele(s) a
dúvida em torno da existência ou não de iniciativa reserva (ou vício de iniciativa)
veio à tona?
b) a dificuldade maior decorre mais da caracterização da iniciativa do presidente, ou
da apresentação de emendas parlamentares aos projetos apresentados pelo
Presidente?
c) qual(is) a(s) matéria(s) em que esta questão fica mais evidente?
d) Público-alvo: advogados e consultores da SAL.
5. CONSULTAS RESPONDIDAS
5.1. SISTEMÁTICA DEFINIDA PELA EQUIPE
Foi designado como intermediador da equipe, perante a SAL/MJ, em relação à
formulação das consultas, o pesquisador Luiz Magno P. Bastos Jr.
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A sistemática interna definida pela equipe para atender às demandas formuladas pela
SAL/MJ foi a seguinte:
i. O pesquisador responsável irá sistematizar as questões-chave que o problema
proposto exige sejam respondidas;
ii. Distribuir as tarefas de pesquisa dentre os integrantes da equipe, de acordo com suas
expertises;
iii. Sistematizar as respostas e submetê-las, por meio digital, antes da remessa à
SAL/MJ, aos coordenadores de cada núcleo montado.
5.2 DESCRIÇÃO DAS CONSULTAS FORMULADAS (Anexo V)
Consulta n. 01/08: Projeto de Lei n. 160/2003 submetido à sanção presidencial
(Parecer 01/08)
Consulta informal s/n: Possibilidade de alienação de bens da União, pelo Congresso
Nacional, sem iniciativa legislativa do Presidente da República.
Parecer s/n sobre a Lei de Anistia : Responsabilização pela prática de tortura
Consulta n. 02/08: Projeto de Lei n. 284/2007 sobre a Turma Nacional de
Uniformização dos Juizados Especiais Federais
Consulta n. 03/08: Projeto de Lei n. 187, de 2007, do Senado Federal, que «Permite a
convocação de plebiscito e referendo, mediante decreto legislativo, a partir de proposta
originária de iniciativa popular.» (Parecer 03/08)
Consulta n. 04/08 : Projeto de Lei n. 4.497, de 2007, da Câmara dos Deputados, que
pretende regulamentar o direito de greve dos servidores públicos federais.
DESCRIÇÃO DO MATERIAL A SER ANEXADO
ITEM DESCRIÇÃO / TÍTULO
I Artigo Separação de poderes e iniciativa reservada: da regulação da
liberdade à cooperação legislativa no direito constitucional brasileiro
II Artigo Inventário sobre o alcance material da iniciativa reservada do
executivo: compreensão (e equívocos) sobre a caracterização do
vício de iniciativa (anexo II)
III Artigo Limites ao poder de emenda parlamentar em matéria de
iniciativa reservada: posição do STF
IV Artigo O Decreto do art. 84, VI, „a‟, da Constituição Federal de 1988:
limites e possibilidades.
V Consultas Compilação das consultas respondidas ao Ministério da Justiça/
Secretaria de Assuntos Legislativos
VI Análise Memória Legislativa da EC n. 32/01 (relativa ao Decreto
Autônomo)
Florianópolis, 31 de dezembro de 2008.
_______________________________________
Profª. Drª. Cecilia Caballero Lois
(Coordenadora do Projeto)
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MINISTÉRIO DA JUSTIÇA / SECRETARIA DE ASSUNTOS LEGISLATIVOS
PROJETO PENSANDO O DIREITO
TEMA: VÍCIO DE INICIATIVA E SEPARAÇÃO DE PODERES
ANEXO I:
SEPARAÇÃO DE PODERES E INICIATIVA RESERVADA:
DA REGULAÇÃO DA LIBERDADE À COOPERAÇÃO LEGISLATIVA NO DIREITO
CONSTITUCIONAL BRASILEIRO
Núcleo UFSC
Florianópolis, 31 de dezembro de 2008
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SEPARAÇÃO DE PODERES E INICIATIVA RESERVADA:
DA REGULAÇÃO DA LIBERDADE À COOPERAÇÃO LEGISLATIVA NO DIREITO
CONSTITUCIONAL BRASILEIRO
PARTE I: ESGOTAMENTO DO MODELO DE SEPARAÇÃO DE PODERES COMO
REGULAÇÃO DA LIBERDADE
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O presente trabalho busca analisar a chamada cooperação legislativa presente no
Direito Constitucional brasileiro, consolidada através do aparecimento do instituto da
iniciativa reservada e que constitui um dos pilares essenciais daquilo que doravante será
tratado como um novo arranjo institucional1, presente no Estado contemporâneo. Tal ajuste
tem a força de reformular a clássica teoria da separação dos poderes, bem como estabelecer
novas bases para o exercício do poder político num Estado democrático. Isto porque, entre
outras questões que serão analisadas a seguir, o referido instituto estabelece uma estreita
vinculação entre as atividades exercidas pelo poder legislativo e as atividades do poder
executivo no que toca ao processo legislativo e às demandas da soberania popular.
Para atingir tal objetivo, é imperioso que se situem claramente as bases históricas e
políticas que permitiram o aparecimento desta atual configuração, levada a termo através de
uma digressão histórica sobre a teoria do governo misto; uma análise da consolidação do
Estado absoluto; e, ainda, da compreensão da teoria da separação dos poderes como resposta
ao exercício ilimitado do poder político. Esta revisão tem por objetivo auxiliar também a
compreender as profundas transformações que se deram no Estado contemporâneo, uma vez
que, se atualmente as relações entre os poderes por vezes parece tensa, no passado estas
dificuldades se mostravam mais efetivas. Com efeito, escrutinar como se constrói e
transformam-se as relações entre os poderes é essencial para alcançar os objetivos do presente
trabalho e obter um panorama mais amplo sobre o tema.
Assim, este trabalho se inicia com algumas considerações acerca do que se pode
considerar como a origem do poder executivo, bem como a forma como o poder legislativo
assumiu características limitadoras deste poder. Dessa forma, será possível observar com mais
1 Com a expressão novo arranjo institucional quer-se designar as relações que se estabelecem entre o poder
legislativo e o poder executivo no Estado contemporâneo e que se caracterizam basicamente pela ruptura com o
modelo de relações que se estabeleciam no Estado moderno cuja tônica era uma interpretação mais literal e
restritiva onde os espaços de atuação de um poder sobre o outro.
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destaque as formas estabelecidas de relações entre ambos. Restará, pois, vislumbrar, ainda
que de maneira breve, o surgimento do poder judiciário e o papel que este irá exercer na
regulação da atuação dos outros dois outros poderes, em especial, no que toca ao processo
legislativo. Finalmente, analisar-se-á o instituto da iniciativa reservada propriamente dita
como corolário de todas estas transformações.
2. A FORMAÇÃO DO ESTADO ABSOLUTO NA ORIGEM E FORMAÇÃO DO
PODER EXECUTIVO
Embora os antecedentes históricos do poder executivo possam ser encontrados na
teoria do governo misto e na teoria da separação dos poderes, buscar-se-á alcançar o
importante momento no qual o aparecimento do Estado absoluto (como decorrência da
concentração de poder pelas monarquias nacionais) dá origem ao Estado Moderno e põe as
bases para a discussão sobre a necessidade de dividir para limitar o poder dos reis, bem como
estabelece as competências de cada um. Tal estrutura de poderes concentrada acabava por
determinar que o monarca exercesse de forma única e soberana as funções legislativas,
executivas e judiciárias, reunindo em si mesmo a capacidade de fazer a lei, executá-la e julgar
seu cumprimento.
A reação a este modelo de exercício do poder vai estar na origem da idéia (e também
da necessidade) de limitar o poder real. Com efeito, este desejo de limitação do monarca de
modo a que este viesse a exercer exclusivamente a função executiva e submeter-se à lei
providenciou as bases para o surgimento de um ―poder legislativo‖, independente dos desejos
do rei. Antes, contudo, para atingir tais objetivos é importante que se considere o processo de
formação do Estado absoluto (aquilo que se poderia chamar de causas de seu aparecimento);
para, logo depois, analisar as suas principais características; e, finalmente, a sua
transformação (processada através da limitação do poder político) para um Estado
notoriamente de cunho mais liberal. Há que se destacar ainda de forma bastante contundente
que, embora o processo de formação do Estado absoluto responda a algumas características
similares, há diferentes processos de consolidação nos distintos Estados europeus, bem como
distintas leituras que explicam seu processo de consolidação.2 Assim, considerando que este
trabalho não se preocupa primordialmente com esta questão histórica (a mesma serve de
―pano de fundo‖ para o debate principal e já apresentado anteriormente), serão apenas
2 Ver tabela abaixo que apresenta um quadro comparativo entre as duas visões mais comuns sobre a
consolidação do Estado Moderno.
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trazidos os elementos centrais e comuns a todos eles, buscando compreender o fenômeno a
partir de características mais globais.
Pode-se iniciar afirmando, então, que o período que marca a consolidação deste
modelo de Estado envolve uma série de acontecimentos que vão desde a acumulação
primitiva de capital; a eclosão da reforma religiosa; a formação das nações; a expansão do
imperialismo ultramarino; e, o advento da industrialização. Percebe-se, portanto, que o Estado
absolutista do Ocidente emergiu no século XVI, após a longa crise das sociedades européias
no final da Idade Média (XIV e XV), sendo que a principal característica desta crise foi a
profunda transformação pelo qual passou o modo de produção feudal.
As monarquias da França, Inglaterra3 e Espanha serão as primeiras a romperem com a
estrutura socioeconômica da sociedade feudal, representando uma quebra decisiva com a
soberania difusa e fragmentada das formações sociais medievais, em especial, com seus
sistemas de propriedades e vassalagem, permitindo o aparecimento de um sistema capitalista.
Perry Anderson (1998)4 demonstra que precedente a esta formação, a Europa vivenciou
durante os séculos XIV e XV um período de crise da economia e da sociedade, que ―[...]
marcou as dificuldades e os limites do modo de produção feudal no último período da Idade
Média‖ (ANDERSON, 1998, p. 15), em conseqüência desse processo emergiu no Ocidente o
Estado absolutista.
Assim, todas as características que irão compor a estrutura do Estado absolutista,
apresentam-se inicialmente, como características pré-capitalistas, mas estabelecem o fim da
servidão como um dos seus elementos essenciais. As monarquias absolutas introduziram
como grande novidade à época os chamados exércitos regulares; a noção de uma burocracia
permanente; um sistema tributário nacional; a codificação do direito; e, ainda, os primórdios
de um mercado unificado. Se, contudo, todas estas características parecem ser eminentemente
capitalistas, faltava ainda, tal como indica Anderson (1998, p. 17)5, para a sua concretização a
mudança radical no exercício do poder político.
3 Na Inglaterra o processo foi muito mais complexo e será o seu exemplo de forma de organização política e
social que irá incentivar o desenvolvimento do Estado Liberal para o resto da Europa, tal como se verá a seguir. 4 Deve-se destacar que a leitura que Anderson faz do tema é vinculada a uma perspectiva marxista que é
fortemente criticada por alguns teóricos mais liberais. Contudo, a leitura que ele oferece é a que se mostra mais
adequada aos objetivos do presente trabalho. Tal como já foi dito, será apresentado um quadro comparativo entre
as duas distintas possibilidades. 5 Contudo, tal como ressalta Anderson, o fim da servidão não significou o fim das relações feudais no campo,
pois a propriedade agrária aristocrática impedia um mercado livre na terra e a mobilidade efetiva do elemento
humano, em outras palavras, enquanto o trabalho não foi separado de suas condições sociais de existência para
se transformar em força de trabalho, as relações de produção rurais permaneciam feudais (ANDERSON, 1998, p.
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Tal mudança na estrutura do poder político não foi processada facilmente. Com efeito,
Anderson demonstra que a aristocracia feudal, a mesma classe dominante da época medieval,
foi também dominante na fase inicial da modernidade: ―[...] essa nobreza passou por
profundas metamorfoses nos séculos que se seguiram ao fim da Idade Média: mas desde o
princípio até o final da história do absolutismo nunca foi desalojada de seu domínio do poder
político‖ (ANDERSON, 1998, p. 18).
Assim, o Estado absolutista do Ocidente foi, no máximo, um mecanismo criado pela
aristocracia feudal para consolidar seus domínios, não foi um árbitro perante um conflito de
classes, nem bem fruto do capital burguês, foi [...] um aparelho de dominação feudal
recolocado e reforçado, destinado a sujeitar as massas camponesas à sua posição social
tradicional – não obstante e contra os benefícios que elas tinham conquistado com a
comutação generalizada de suas obrigações, ele era a nova carapaça política de uma
aristocracia atemorizada (ANDERSON, 1998, p. 18).
Contudo, se estes são os antecedentes históricos que permitem que se reconheça a
formação histórica do Estado moderno, serão as características através das quais se passa a
exercer o poder político no Estado moderno que resultarão como outra grande novidade há
época. Com efeito, a partir do século XVI o poder político exercido pelos reis passa a
apresentar características despóticas, em uma modalidade de regime que será denominada
absolutismo monárquico.
O absolutismo será uma forma de monarquia onde embora haja limites à autoridade
real, esta não sofre controles, nem restrições diretas de nenhuma ordem. A vontade do
monarca é o seu limite na medida em que ela não colide com as leis fundamentais que a ele
cabe defender, porém cujos parâmetros são extremamente elásticos. Uma série de fatores
contribuiu para que o Rei conseguisse chegar a essa concentração extrema de poder. Entre
elas, pode-se citar:
17).A título de informação pode-se destacar que é com base nesse pressuposto que é a partir desse momento, que
o autor Perry Anderson, em seu clássico sobre o Estado Absolutista, desconstrói todas as perspectivas
historiográficas, as quais acreditavam que com o fim da servidão se extinguiriam também as relações no campo,
constituindo enfim, um Estado absoluto capitalista. Considera o autor que para se entender o surgimento do
absolutismo é necessário que se compreenda as transformações que ocorreram entre o Estado aristocrático e a
propriedade feudal, um Estado feudal estruturado nas grandes propriedades e no trabalho servil, não atingiram o
nível da transformação social.
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Fator religioso: o absolutismo pôs fim as guerras por religião;
Fator cultural: assimilação do direito romano como elemento centralizador do
poder político;
Fator econômico: inicia-se com o renascimento comercial e urbano a partir do
século XI e a criação de uma economia monetária que constitui a base material
da formação do Estado nacional que se consolidou com a expansão marítima
no século XV, com o capitalismo comercial e o mercantilismo;
Fator Político: tributação em escala nacional gerando a possibilidade de
manutenção de exércitos permanentes e o monopólio da justiça.
Fator Social: ascensão da burguesia que vai usar o rei como intermediário. A
nobreza continuou como camada dominante com amplos privilégios, gerados
pela preservação da estrutura estamental, mas ―domesticada‖, dependente do
estado;
Fator intelectual: teorias da soberania absoluta.
Para encerrar este momento é importante que se estabeleça, tal como já foi dito
anteriormente, que há uma forma alternativa analisar a sua formação que resulta em algumas
características distintas. Para Norbert Elias (1969), por exemplo, o Estado absoluto resulta da
rivalidade entre diversos campos da aristocracia que precisam estabelecer um árbitro comum
para manter o equilíbrio entre os diversos grupos sociais que naquele momento se
confrontavam e assim estabelecer um poder (no caso, o Estado) acima das classes sociais.
O quadro comparativo das diferentes leituras que podem ser encontradas pode ser
bastante esclarecedor6:
FORMAÇÃO DO ESTADO
ABSOLUTISTA (PERRY ANDERSON)
FORMAÇÃO DO ESTADO ABSOLUTISTA
)NORBET ELIAS)
Aparelho de dominação feudal destinado
a sujeitas as massas camponesas;
Não teve a pretensão de se colocar como
árbitro entre a aristocracia e a burguesia;
Era a nova capacidade política de uma
nobreza atemorizada;
A forma de poder foi determinada pela
difusão e troca de mercadorias na transição
do início da época moderna.
A rivalidade existente entre a nobreza e os oficiais
supõe o interesse comum em manter uma
configuração social que lhes assegura posições
privilegiadas;
O rei não se encontra de modo nenhum dependente
de um dado grupo social, mas em posição de
manipular o equilíbrio de tensões que está na própria
origem de seu poder;
O apoio da monarquia implica que seja preservada
a superioridade aristocrática e a proximidade entre a
nobreza da corte e o Rei;
O Estado passa a estar acima das classes sociais.
6 Tal quadro tem apenas a pretensão de facilitar o reconhecimento dos movimentos que levaram a sua formação
e ainda, dos movimentos que levaram a sua decadência, este o próximo passo a ser analisado.
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Por fim, independentemente da forma de análise que se possa considerar mais
adequada, o certo é que neste momento começa a aparecer o que mais tarde se convencionou
chamar de Estado moderno. Esses sinais são representados pelo: a) aparecimento de unidades
políticas persistentes no tempo e geograficamente estáveis; b) o desenvolvimento de
instituições permanentes e impessoais; c) por consenso em relação à necessidade de uma
autoridade suprema; e, d) a aceitação da idéia de que esta autoridade deve ser objeto da
lealdade básica dos súditos. No final de todo esse processo, os súditos passam a aceitar a idéia
de que os interesses do Estado devem prevalecer sobre todos os outros e considerar que sua
preservação é o maior dos bens sociais. (Cfme. Pessanha, 1997, p. 13)
É a forte reação a esta enorme concentração de poder que irá dar origem a um
movimento mais amplo – e largamente conhecido – o chamado constitucionalismo que, por
sua vez, estará na origem do Estado liberal e no cerne da teoria da separação dos poderes7. O
constitucionalismo, por sua vez, considerado enquanto uma matriz de pensamento, já se
encontrava presente, avant la lettre, na Idade Média, se analisado o pensamento inglês.
Neste sentido, não se pode descartar o fato de que tenha existido uma estrutura política
e social específica, que, considerada em seu conjunto, permite falar-se em constitucionalismo
na Idade Média, principalmente na Inglaterra. Em decorrência da experiência histórica e
política singular desse país, é possível, a partir da abordagem global do processo de
conformação de suas instituições políticas e jurídicas, tomar-se o constitucionalismo inglês
como parâmetro, ainda que não exclusivo, para um estudo do constitucionalismo medieval.
Além da experiência inglesa, que, de acordo com os objetivos desta pesquisa, faz-se
necessário privilegiar, é preciso considerar o processo de desfeudalização das Cidades
italianas. A partir do século XII, especialmente no norte da Itália, o processo desencadeará o
desenvolvimento de uma prática política caracteristicamente moderna ou, pelo menos,
indicadora de elementos modernos de liberdade e constitucionalismo, tais como a idéia de
liberdade vinculada à sedimentação de governos mais duradouros e da segurança e paz como
conseqüências políticas desejadas. Nesse sentido, e dentro do contexto de luta pela
independência pelo qual passavam essas Cidades, a liberdade aparece como um mote político
brandido como arma contra o Império central. Isso significava tanto a afirmação da soberania
desejada por essas Cidades quanto a defesa das constituições republicanas – o que
demonstrava a luta por um processo de independência e autonomia, carente de realização.
7 A despeito dos constantes debates acerca do constitucionalismo, faz-se necessário, para o desenvolvimento
adequado das teses neste projeto desenvolvidas, que seja realizada uma referência teórica a este fenômeno.
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21
Tal ideal defendido pelas Cidades italianas acabou por influenciar o desenvolvimento
do pensamento político posterior de autores como Maquiavel, que em suas obras O Príncipe e
Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio acaba por defender a manutenção da
perspectiva libertária e republicana conquistada no período anterior.
Para Maquiavel, se o príncipe quisesse verdadeiramente que Florença ficasse livre e
independente do domínio alheio, ele não deveria abolir sua constituição republicana,
mas reforçá-la pois só instituições republicanas podem garantir a estabilidade de
uma cidade acostumada à liberdade e à independência como Florença. (PINZANI,
2004,15).
Essa realidade demonstra claramente a origem renascentista de todas as discussões
jurídicas e políticas travadas nos séculos imediatamente posteriores, que irão redundar na
identificação do bem público, da virtude cívica, da necessidade de se evitar a fragmentação do
poder político, da segurança coletiva como fundamento do Estado e da constituição como
instrumento de unificação de todos esses valores. Por isso, é de fundamental importância que
fique clara a vinculação do processo de formação da idéia de constitucionalidade moderna a
partir não somente da história inglesa como também do processo de redefinição estrutural e
política perpetrada pela Itália renascentista. 8
Com efeito, com o termo constitucionalismo faz-se referência, genericamente, a certos
momentos de uma reflexão sobre a experiência político-jurídica relativa à organização do
poder, momentos próprios da história européia desde o mundo antigo (grego, mas sobretudo
romano) (...) Precisamente por isso, com o termo ―constitucionalismo‖ não se indica
propriamente um período histórico, no qual o termo teria sua explicação, nem uma corrente de
idéias políticas e sociais, na qual se encontra sua própria unidade, mas um ―tipo ideal‖ que
permite refletir sobre a realidade histórica, ou uma categoria analítica para vir à luz e mostrar
aspectos particulares da experiência política (MATTEUCCI, 1998, 82).
Foi dito usando uma expressão bastante abrangente, que o Constitucionalismo é a
técnica de liberdade, isto é, a técnica jurídica pela qual é assegurado aos cidadãos o
exercício dos seus direitos individuais e, ao mesmo tempo, coloca o Estado em
condições de não os poder violar. Se as técnicas variam de acordo com a época e as
tradições de cada país, o ideal das liberdades do cidadão continua sendo sempre o
fim último: é em função deste que se preordenam e organizam as técnicas.
(BOBBIO, 1998, 247-248).
8 Para desenvolvimento deste tema, ver SKINNER (1996).
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Dessa forma, ao se tratar do Constitucionalismo enquanto uma teoria que visa a
garantia de direitos dos indivíduos, não há como se dissociar desta o aspecto da separação de
poderes, a fim de se atingir o objetivo de impedir manifestações arbitrárias de poder. A
questão que pode ser colocada nesta relação entre o Constitucionalismo e a separação de
poderes é justamente como estes dois dogmas podem se mostrar coadunados na estrutura
política do Estado contemporâneo.
Buscando referir-se à formação do constitucionalismo e à idéia de limitação do poder
político, João Carlos Brum TORRES (1989, 174), referindo-se especificamente ao
constitucionalismo francês, afirma que, nesse Estado, os conflitos entre os nobres e o poder
real tiveram soluções favoráveis ao rei. Ao mesmo tempo, chama a atenção para o fato de que,
na Inglaterra, a situação foi bastante diversa. Diz ele:
[...] ali os confrontos políticos entre o rei e as forças sociais articuladas contra ele em
diversos períodos históricos tiveram em inúmeros casos, desfecho contrário aos
interesses régios. Daí resultaram não apenas restrições ao poder do rei, mas também
uma forma específica de materialização destas últimas, os instrumentos escritos,
cujo sentido era o de dar o máximo de formalidade às conquistas democráticas,
assim como lhes garantir a publicidade. Com isso procurava-se obter garantias
expressas e solenes de que a Coroa reconhecia e respeitaria determinados limites e
regras no exercício de suas prerrogativas. Percebe-se assim, porque a análise da
monarquia inglesa pode aproximar-se mais facilmente de um estudo de direito
constitucional do que é possível ocorrer no caso da França (TORRES, 1989, 175).
Estas garantias solenes à proteção da liberdade deveriam vir não somente das inúmeras
cartas de direitos que foram firmadas durante todo o medievo inglês,9 mas basicamente da
limitação do poder do monarca, algo que somente poderá ocorrer se considerada a existência
de um outro poder tão forte e importante quanto o da Coroa para contralá-lo/limitá-lo. Tal
poder será denominado de Poder Legislativo, cuja função principal consiste na preservação e
guarda dos direitos que poderiam ser ameaçados, tal como já foi dito, pelo forte poder do
monarca. Ora, a preservação dos direitos somente poderá ser garantida se existirem leis que a
assim o façam.
É neste contexto, então, que surge Poder Legislativo como sendo o poder de fazer as
leis, totalmente limitado pelo direito, cuja melhor explicação é fornecida por John Locke
(1998). O autor, no prefácio de sua obra Dois tratados sobre o governo, propõe fundamentar a
ordem político-constitucional formada pós revolução de 1688, que culminou com o triunfo da
monarquia constitucional sobre a monarquia absoluta na Inglaterra. Para tanto, considerando a
9 Tome-se como exemplo a Magna Carta, a Petitton of Rigths I, a Petiottn of Rigths II e a Bill of Rigths.
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manutenção de certa estrutura de poder do Rei, Lordes e Comuns, buscou fundamentar o
Estado e o seu poder político numa estrutura de contrato social.
[...] sendo o principal objetivo da entrada dos homens em sociedade eles desfrutarem
de suas propriedades em paz e segurança, e estando o principal instrumento para tal
nas leis estabelecidas naquela sociedade, a lei positiva primeira e fundamental de
todas as sociedades políticas é o estabelecimento do poder legislativo – já que a lei
natural primeira e fundamental, destinada a governar até mesmo o próprio
legislativo, consiste na conservação da sociedade até onde seja compatível com o
bem público (LOCKE, 1998, 474).
Na concepção apresentada por Locke – que inaugura as reflexões mais sistemáticas
sobre o poder legislativo – este sempre é um poder supremo - quase sagrado – que garante a
limitação do poder do rei através da submissão deste à lei, assegurando um poder de governar
segundo regras estabelecidas e promulgadas, conhecidas por todos, e que não podem variar
nos casos particulares. Ao executivo irá restar o poder de dar ―vida‖ às leis, caso este que o
torna um poder subordinado ao legislativo. É assim, que a partir da leitura de Locke aparece
estrutura de um poder dividido, porém verticalizado, através da figura de um legislativo
supremo.
―Locke retoma aqui, claramente, a versão originária da doutrina da separação de
poderes, que a concebia como um pré-requisito da rule of law: para que a lei seja
imparcialmente aplicada é necessário que não sejam os mesmos homens que a fazem, a
aplicá-la.‖ (PIÇARRA,1989, 71).
Há uma ressalva a ser levantada e que se mostra fundamental para os objetivos do
trabalho: esta hierarquização do poder é atravessada pelo chamado poder de prerrogativa que
está concentrado nas mãos do executivo e que lhe permite agir discricionariamente em favor
do bem público. Para Locke, muitas situações não podem ser previstas anteriormente pela lei
e, portanto, faz-se necessário permitir ao chefe do executivo que atue rapidamente. O poder de
prerrogativa levanta uma objeção importante ao pensamento do autor, pois, sendo um poder
superior, deixa entrever uma retomada, ainda que sutil, do poder do príncipe.
Esta possibilidade do executivo de manter ainda que uma parcela limitada do poder terá
reflexos importantes no estudo que se empreende neste momento. Com efeito, no que toca ao
processo legislativo, embora a produção da lei tenha sido delegada ao poder legislativo, o
poder executivo irá resguardar para si o chamado poder de veto (além do poder de
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24
prerrogativa),10
consolidado na teoria da separação dos poderes formulada por Montesquieu,
tal como se verá a seguir. Com efeito, ao retirar o exercício da legislação das mãos do rei,
restringindo sua atuação nesse sentido ao poder de veto, inicia-se uma definição das funções
relativas do Estado, que marca o início da doutrina de separação de poderes.
3. CONSTRUÇÃO TEÓRICA DA SEPARAÇÃO DOS PODERES: FORMAÇÃO
HISTÓRICA DA TEORIA DE GOVERNO MISTO E A LIMITAÇÃO DO PODER
POLÍTICO
O aparecimento da teoria da divisão de poderes pode-se dizer, é um acontecimento
historicamente datado e traduz o ingresso do liberalismo no âmbito constitucional. De fato,
trata-se de um conceito iluminista que se concentra na idéia de que, para garantir a liberdade,
é preciso mecanismos que a assegurem, colocando, assim, no centro do debate político e
jurídico qual seria a melhor forma de configurar os arranjos do poder no Estado.
Com efeito, ainda que a sua origem histórica possa ser encontrada na antiguidade
clássica (tanto na Grécia quanto em Roma) foi somente com o liberalismo constitucional que
a idéia de tripartição dos poderes passa a ser identificada com o ideal de liberdade e de
segurança jurídica. Assim, a chamada ―teoria da separação de poderes‖ representa, por um
lado, a idéia de que o Estado tem que cumprir determinadas funções (ou seja, nada além de
um problema técnico de divisão de trabalho) e, de outro lado, de que os destinatários deste
poder seriam beneficiados se estas funções fossem realizadas por diferentes órgãos, ao
possibilitar a distribuição e o controle do exercício do poder político.
A necessidade de controlar o governo e limitar o exercício do poder político sempre
foi um fato notadamente marcante no desenvolvimento da teoria política moderna. Nada
obstante, antes mesmo da consolidação do Estado liberal, a quem pode ser tributado a
concretização deste ideal, é possível encontrar alguns antecedentes históricos que permitem
falar, avant la lettre, em tripartição de poderes, especialmente, se considerada o que se
convencionou chamar de teoria do governo misto.11
10 A questão do veto será amplamente analisada na Parte III deste trabalho. 11
A teoria de governo misto foi desenvolvida de forma definitiva pelo historiador grego Polibio (200-120 a.C),
embora tal como se verá acima, sua primeira aparição possa ser vista em Aristóteles. Em seu livro História, ele
escreve sobre o período compreendido entre o início da segunda Guerra Púnica (221) e a captura de Corinto
pelos romanos (146), período este que corresponde à submissão de todo o mundo ao poderio de Roma. Segundo
Polibio (1985, 326-332), existem várias espécies de constituição, as quais considera como formas boas a
monárquica, a aristocrática e a democrática. No entanto, cada um desses tipos de constituição tende com o tempo
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
25
Com efeito, especificando o processo de organização formal do poder político,
Aristóteles (1998, 127) sustenta a idéia de que em cada governo devem existir três poderes:
cada um dos quais o legislador prudente deve acomodar da maneira mais
conveniente. Quando estas três partes estão bem acomodadas, necessariamente o
governo vai bem, e é das diferenças entre estas partes que provêm as suas. O
primeiro destes três poderes é o que delibera sobre os negócios do Estado; o segundo
compreende todas as magistraturas ou poderes constituídos, isto é, aqueles de que o
Estado precisa para agir, suas atribuições e a maneira de fazê-las. O terceiro abrange
os cargos de jurisdição.
Evidentemente que pese estas afirmações efetuadas por Aristóteles, é visível que nem
todos os elementos da teoria de separação de poderes estão presentes no mundo antigo, uma
vez que aquilo que se apresenta é apenas uma separação de funções e de órgãos e não uma
separação de poderes com vistas a salvaguardar a liberdade dos súditos. Isto porque, pode-se
afirmar que a principal preocupação dos antigos era balancear os diferentes interesses da
comunidade (e não com a organização e controle dos órgãos estatais) e refleti-los nos órgãos
do governo, onde cada classe social deveria ter uma parte no exercício das funções essenciais
ao funcionamento do Estado. Assim, tem-se que a sua principal característica foi a programar
um controle institucional entre os órgãos governamentais, sem que isso tivesse como
conseqüência o posterior aparecimento do checks and balances.
Embora não tenha estado tão presente na Roma antiga, a teoria do governo misto teve
forte influência na configuração jurídica da República romana, uma vez que o fato das partes
do Estado romano (cônsules, senado e povo) possuírem funções específicas exercidas
mediante um controle recíproco, acabaria por sujeitar o poder soberano ao controle do povo
que, ao participar do governo, seria controlado pelo senado.
A tradição antiga de governo misto chega ao período medieval, especialmente na
Inglaterra, a partir do momento que as instituições representativas começam a ganhar força.
Efetivamente, ao fornecer as bases para aquele que era considerado o melhor sistema de
governo: o King in Parliament, cujo exercício do poder era repartido entre o Rei, os Lordes e
os Comuns é que a teoria do governo misto ou da constituição mista atinge o auge de eficácia,
limitando o poder e assegurando um espaço de liberdade privada outrora desconhecido. No
a converter-se na sua forma degenerada, que seria respectivamente a autocracia, a oligarquia e a oclocracia. Esse
ciclo que se repete no tempo, alternando formas boas e degeneradas de governo se aplica principalmente à
constituição romana, considerada por Polibio como a melhor constituição, por ser uma mistura das três formas
boas de governo. Para Vile (1998, 40), Polibio proporcionou a transformação da teoria de governo misto na
teoria de checks and balances, pois sua preocupação não é o acesso dos cidadãos aos cargos públicos, tal como
Aristóteles, mas providenciar um controle institucional entre os órgãos governamentais.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
26
entanto, os conflitos entre a Coroa e o Parlamento, que marcaram o século XVII abalaram a
hegemonia da teoria de governo misto e abriram as portas para o início da doutrina de
separação de poderes.
Com efeito, aqui o que aparece é o desejo de limitar o poder do monarca e submetê-lo
à lei que ele não fez sozinho, possibilitando o surgimento de um ―poder legislativo‖,
independente dos desejos do rei. Ao retirar o exercício da legislação das mãos do rei,
restringindo sua atuação nesse sentido ao poder de veto, inicia-se uma definição das funções
relativas do Estado, que marca o início da doutrina de separação de poderes. Nada obstante, é
neste momento que aparece, paradoxalmente, a obrigação de restringir a atuação do
legislativo à criação de leis em termos gerais, impedindo-o de se intrometer em casos
particulares. Assim, por outro lado, a necessidade de restringir a função do Parlamento à
criação da lei também contribuiu para o desenvolvimento de um ―poder legislativo‖
independente da função judicial, que representa um dos maiores avanços no desenvolvimento
da tripartição de poderes.
[...] decorre de determinadas idéias jurídicas correntes na Inglaterra de então,
visando assegurar fins precisos: a exclusão da tirania e do arbítrio, inevitáveis
quando todos os poderes estão concentrados num só órgão, e a garantia da liberdade
e da segurança individuais, seriamente comprometidas quando as leis são aplicadas
por quem delas é autor. (PIÇARRA, 1989, 49)
Pode-se dizer que a primeira tentativa de fixação da teoria de separação de poderes
ocorreu através do Instrument of Government, de 1653. Considerada a primeira constituição
escrita da Inglaterra, este documento marcou o término da Guerra Civil de 1642, cujo
resultado foi à execução do rei Carlos I, a abolição da Câmara dos Lordes e a centralização do
poder nas mãos de Cromwell, que teria um cargo vitalício e hereditário de Lord Protector.12
Com a proclamação da República (Commonwealth), o poder legislativo foi atribuído
aos representantes do povo, enquanto o poder executivo permaneceu nas mãos do Lord
Protector, assistido por um Conselho. Segundo Vile (1998, 52), o Instrument of Government
12
Em 1641, uma revolta na Irlanda católica desencadeou a crise que levou à Revolução. O Parlamento recusou-
se terminantemente a entregar o comando do exército ao rei que pretendia reconquistar a Irlanda e Carlos I, não
conformado com a perda de seus direitos de chefe das forças armadas, invadiu o Parlamento com um grupo de
adeptos, numa tentativa inútil de prender os líderes da oposição. Sem apoio em Londres, retirou-se para o norte
do país, organizou um novo exército e acabou por mergulhar o país numa violenta guerra civil, que durou de
1642 a 1649. Também conhecida como ―Revolução Puritana‖, o conflito envolveu os ―cavaleiros‖ partidários do
rei e os ―cabeças-redondas‖, defensores do Parlamento, liderados por Cromwell. Juntou-se aos ―cabeças-
redondas‖ o novo partido dos ―niveladores‖, formado por pequenos proprietários rurais, que defendiam a
extinção da monarquia, o direito de voto e de representação no Parlamento a todos os homens livres, a separação
entre a Igreja e o Estado, o livre comércio e a proteção da pequena propriedade. Sobre o tema, ver Hill (1990).
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
27
estabeleceu, ao menos no papel, uma separação de pessoas e funções, limitando a autoridade
legislativa de Cromwell ao poder de veto sobre a legislação e colocando formalmente a
função legislativa nas mãos do Parlamento.
Finalmente, há que se destacar que a função judicial encontrava-se subordinada ao
legislativo. Esta, então, seria a última objeção relevante à consolidação definitiva da teoria da
separação dos três poderes, ou seja, a ausência de um poder judiciário, constituído de forma
independente e nos moldes do legislativo e do executivo. Com efeito, a diluição desta função
entre o legislativo e o executivo, escamoteando a importância capital que o exercício da
jurisdição impõe como limite aos outros dois poderes através de sua constituição e seus
princípios, seria uma das questões a ser enfrentada por Montesquieu.
Com efeito, as idéias do pensamento político inglês influenciaram a forma como Montesquieu
concebeu, já de forma mais acabada, a teoria de separação de poderes em Do Espírito das
Leis, publicada em 1748. O jurista francês esteve na Inglaterra observando o modo como o
sistema político inglês separava e equilibrava o poder executivo do poder legislativo e, pode-
se dizer que o resultado de seu trabalho foi o desenvolvimento de uma das principais teorias
que embasaram a construção do Estado Liberal. Ao declarar que a liberdade corresponde a
possibilidade de fazer tudo aquilo que as leis permitem evidencia a necessidade de um
regramento legal para o desenvolvimento do Estado. Este regramento vai se dar, em certa
medida, na forma de controle e atuação dos poderes estatais. Piçarra, ao tratar do tema da
liberdade em Montesquieu, define:
A própria idéia de liberdade de que parte, nada mais é do que a decorrente da
concepção da rule of law que, negando valor à ―liberdade natural‖, reporta a
liberdade própria do homem à lei. [...] A liberdade consiste, pois, no agir nos limites
da lei. É uma liberdade pela lei. Montesquieu apresenta a idéia de liberdade ligada
intimamente à de legalidade. Trata-se, no fundo, de uma ―liberdade normativa‖.
(1989, 90)
Montesquieu (2000, 166) afirma que ―todo homem que tem poder é levado à dele
abusar; ele vai até onde encontra limites‖ e vê na própria natureza humana uma justificativa
para a necessidade de dividir os poderes do Estado e colocá-los sob responsabilidade de
pessoas e órgãos diferentes. É basicamente por este motivo que propõe um arranjo
institucional extremamente inovador para a época: o poder legislativo seria encarregado de
criar leis; o poder executivo das coisas que dependem do direito das gentes; e, por fim, o
poder executivo daquelas que dependem do direito civil, que teria como função castigar os
crimes e julgar os conflitos entre indivíduos.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
28
O pensador francês justifica a necessidade de dividir o poder daquela forma, afirmando que:
Quando, na mesma pessoa ou no mesmo corpo de magistratura, o poder legislativo
está reunido ao poder executivo, não existe liberdade; porque se pode temer que o
mesmo monarca ou o mesmo senado crie leis tirânicas para executá-las
tiranicamente.
Tampouco existe liberdade se o poder de julgar não for separado do poder
legislativo e do executivo. Se estivesse unido ao poder legislativo, o poder sobre a
vida e a liberdade dos cidadãos seria arbitrário, pois o juiz seria legislador. Se
estivesse unido ao poder executivo, o juiz poderia ter a força de um opressor.
(MONTESQUIEU, 2000, 168)
Percebe-se que o Montesquieu mantém a divisão anterior do pensamento inglês entre
poder legislativo e executivo, baseando-se na idéia de que aquele que cria as leis não deve ter
o poder de aplicá-las. O poder legislativo seria responsável pela edição de leis gerais e
abstratas, enquanto o poder executivo seria encarregado da sua aplicação a casos particulares,
de acordo com necessidades diárias.
Porém, enquanto os escritores ingleses afirmavam que o poder legislativo deveria ser
exercido conjuntamente pelo rei, lordes e comuns, onde o rei teria apenas uma voz negativa13
,
Montesquieu apresenta uma nova divisão do legislativo em duas partes, retirando o rei de sua
composição e o colocando como titular do poder executivo. Vile (1998, 101) afirma que o
jurista francês mantém o poder de veto do rei, porém, o considera um ―poder‖ separado,
afirmação esta que parece demonstrar uma transformação do ―direito de legislar
negativamente‖ em um mecanismo de controle do legislativo.
Aspecto a ser destacado na teoria de Montesquieu é a independência do poder
judiciário em relação ao poder executivo, ou seja, separou-se a função de executar a lei da
função de administrar da justiça, que estavam concentradas nas mãos do monarca. A
necessidade de separar a função judicial das demais faz parte de seu intuito de evitar a
arbitrariedade no poder e garantir a manutenção da legalidade.
O jurista francês defende que cada poder deveria ter uma função específica e seu
exercício deveria ser concedido a pessoas diferentes. O poder legislativo pertenceria à nobreza
e a um corpo de representantes do povo, cada qual com suas assembléias e deliberações à
parte, bem como objetivos e interesses separados. O poder executivo do Estado permaneceria
nas mãos do monarca, enquanto o poder de julgar seria exercido por membros do povo, em
certos momentos do ano e conforme a lei prescrevesse.
13
Esta repartição do poder legislativo é que deu origem à teoria da balança da constituição.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
29
Neste momento, é preciso esclarecer que, além de separar as funções estatais em
órgãos diversos e colocá-las nas mãos de indivíduos diferentes, Montesquieu se preocupa em
criar um sistema aonde exista um controle recíproco entre os mesmos, de modo a impedir que
algum dos poderes se torne despótico. Para isso, cria a faculdade de impedir, que seria o
direito de anular uma resolução tomada por outrem. No poder legislativo, por exemplo, a
assembléia da nobreza e a assembléia do povo se controlam mutuamente, porém, em relação
ao poder executivo, não possuem a faculdade de impedi-lo, uma vez que a execução é
limitada por natureza e exerce-se sempre sobre coisas momentâneas. A única faculdade
concedida ao legislativo é o direito de examinar de que forma as leis criadas por ele foram
executadas pelo executivo.
Ao poder executivo, por seu turno, Montesquieu (2000, 173-175) concede o direito de
vetar a legislação, bem como o poder de regular a época e a duração das reuniões da
assembléia legislativa. Tais medidas seriam necessárias para evitar o despotismo do poder
legislativo e as inconveniências que a ausência de reuniões ou seu uso constante pudessem
causar à atuação do monarca.
Por fim, pode-se dizer que Montesquieu acaba criando um sistema de checks and
balances entre o poder executivo e legislativo que, porém, não inclui o poder judiciário.
Segundo Vile (1998, 102), a independência que o poder judiciário alcança em relação aos
demais poderes apenas lhe concede o privilégio de não se tornar objeto de controle dos
mesmos, mas por outro lado, lhe impede de controlar os atos do executivo e do legislativo.
Contemporaneamente, a aplicação da doutrina pura da separação de poderes tal qual
elaborada por Montesquieu exclui maiores colaborações das autoridades legislativa e
executiva, bem como não admite que exista comunicação entre as mesmas, nem funcional,
nem orgânica, apresentando somente instrumentos para que possam deter-se mutuamente,
sem a definição de uma forma de atuação em colaboração. Segundo Carré de Malberg (1948,
778), esse tipo de interpretação demonstrou ser extremamente simplista para adaptar-se a
realidade complexa dos fatos que condicionam a organização de um Estado.
A teoria de Montesquieu teve forte influência, sendo aplicada e interpretada em vários
contextos históricos, diversos ao da França. Entretanto, acabou por ser modificada por uma
teoria que viria a sugerir uma ―separação parcial de poderes‖, desenvolvida pela Constituição
americana. Os criadores da Constituição norte-americana perceberam que a separação de
poderes não era suficiente para controlar o legislativo e introduziram em seu sistema de
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
30
governo o mecanismo de checks and balances14
, com o intuito de corrigir as deficiências das
constituições revolucionárias.
Publius (pseudônimo utilizado pelos Federalistas) parte de um pressuposto em que os homens
não são dissociados da sua ambição. Esta característica faz com que se reúnam em facções,
prejudiciais ao desenvolvimento do Estado. Os Federalistas assumem que os males das
facções só podem ser evitados por duas formas: ou a sua exclusão ou o seu controle.
By a faction, I understand a number of citizens, whether amounting to a majority or
a minority of the whole, who are united and actuated by some common impulse of
passion, or of interest, adversed to the rights of other citizens, or to the permanent
and aggregate interests of the community. (THE FEDERALIST PAPERS)
O fim das facções ocorreria apenas pela exclusão da ambição. Ocorre que a ambição
tem sua origem na liberdade dos indivíduos. E a supressão desta é algo indesejado pelos
autores, já que defendem uma constituição baseada nos pressupostos liberais. Outra forma de
excluir a ambição seria pelo fato de terem todos os indivíduos as mesmas opiniões e
pensamentos, algo da mesma forma impraticável.
Assim, a alternativa tida como viável é o controle dos efeitos da ambição. Para tanto,
faz-se necessário a criação de um sistema onde o poder legislativo, composto pelos
representantes populares, encontre freios em outras estruturas estatais de igual força e poder
político. Nesse sentido, para os Federalistas a própria ambição seria a melhor forma de seu
controle.15
Para tal, os chamados Federalistas desenvolveram a teoria de separação de poderes de
Montesquieu e foram além de seu pensamento. Madison (1993, 350) afirma que era preciso
capacitar o governo a controlar os governados, mas também obrigá-lo a controlar a si próprio.
Os homens que administram cada poder deveriam ter meios constitucionais e motivos
pessoais para resistir aos abusos dos outros e os braços mais fracos do governo precisariam de
instrumentos para se defender contra os mais fortes.
As bases do pensamento constitucional americano que foram sendo desenvolvidas
desde a conquista de independência resultaram nessa mistura de separação de poderes e
checks and balances. Segundo Vile (1998, 137), a divisão de funções entre órgãos
14 Enquanto na teoria da balança de poderes a preocupação era criar um sistema onde as três classes
controlassem e equilibrassem umas às outras, na teoria de checks and balances o objetivo é criar um sistema que
forneça equilíbrio entre órgãos mutuamente independentes e funcionalmente diferenciados. 15 Os Artigos Federalistas, artigo 10. Disponível em http://thomas.loc.gov/home/histdox/fed_10.html.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
31
governamentais que exercem controle mútuo sobre os demais, apesar de todos serem eleitos,
direta ou indiretamente, pelo mesmo povo, mostrou-se uma contribuição única da América
para a teoria constitucional moderna.
O sistema americano pode ser visto como um exemplo de que a simples aplicação da
separação de poderes não é suficiente para alcançar e manter um governo limitado. O controle
do poder envolve muito mais do que criar órgãos estatais e conceder-lhes funções diferentes
que serão exercidas por pessoas distintas, e os Estados Unidos demonstraram que o
desenvolvimento de controles recíprocos entre os poderes é um aspecto essencial de limitação
de poder e que serve de complemento à teoria de separação de poderes.
Outro diferencial que os americanos deixam de legado é colocar nas mãos do
judiciário a responsabilidade de controlar os atos dos demais poderes, fiscalizando para que os
mesmos estejam em consonância com os princípios constitucionais. Com o advento do Estado
Social, a idéia de supremacia da Constituição passa a ser consagrada na maioria dos países de
regime democrático e pela primeira vez, todos os poderes estatais se vêem limitados a agir de
acordo com o que está escrito nos textos constitucionais.
O próximo passo será analisar o modo como as transformações sociais, políticas e
econômicas que contribuíram para o advento do Estado Social alteraram as relações entre os
poderes, fazendo com que a estrutura clássica da teoria de separação de poderes, advinda de
Montesquieu e dos Artigos Federalistas, que se mostrara tão útil na construção do modelo
liberal de Estado, perdesse sua hegemonia para o princípio de governo limitado.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
32
PARTE II – A ATIVIDADE LEGISLATIVA DO PODER EXECUTIVO NO ESTADO
CONTEMPORANEO
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Em um Estado cuja finalidade era apenas promover e manter a liberdade dos indivíduos
para que estes pudessem desenvolver suas atividades sem a interferência governamental, a
técnica da separação de poderes possuiu uma utilidade incontestável.16
No entanto, quando o
liberalismo se mostrou incapaz de gerar uma sociedade onde o progresso individual fosse
compatível com distribuição de renda e justiça social, toda a construção teórica do Estado
Liberal passou a ser questionada.
As mudanças sociais e econômicas provocadas pelo capitalismo desenfreado
demonstravam que o modelo liberal de Estado estava em crise. As reivindicações da classe
operária, as revoluções socialistas, o sufrágio universal, a urbanização pela qual passou o
mundo são alguns dos fatores que contribuíram para a emergência do Estado Social, através
das Constituições Mexicana, de 1917, e de Weimar, de 1919, modelo estatal conceituado por
Streck (2002, 63-64) como aquele que ―garante tipos mínimos de renda, alimentação, saúde,
habitação, educação, assegurados a todo cidadão, não como caridade, mas como direito
político”.
Além dos direitos que impediam a interferência do Estado nas relações privadas, os
cidadãos passaram a possuir direitos que, para serem efetivados, exigem que o aparelho
estatal forneça determinados serviços públicos. O campo econômico também sofreu
intervenção estatal, uma vez que era preciso restringir a liberdade contratual nos negócios
privados não apenas para controlar a acumulação de capital por parte de poucas empresas,
mas também para fornecer aos trabalhadores condições mínimas de dignidade.17
Com efeito, tal como afirma Cléve (1993) ―com o Estado Social, aumentaram as
funções exercidas pelo Pode Público. O Executivo passa a controlar quase que a totalidade
das novas funções recentemente conquistadas pelo Estado. [ ...] Nesse tipo de Estado, duas
variáveis simultâneas se manifestam. Em primeiro lugar, a função legislativa atua como
jamais atuou. O número de leis aumenta consideravelmente. Por outro lado, o Estado passa a
16
Não parece ser este o momento adequado, porém pese a utilidade e, especialmente, a grande repercussão que a
teoria da tripartição de poderes obteve a mesma não é necessariamente uma unanimidade. Pelo contrário, críticos
importantes têm afirmado que a mesma somente se mantém pela incapacidade de se pensar em um arranjo
melhor para evitar o abuso do poder. 17
Segundo Cléve (2000, p. 39), a sindicalização das classes proletárias e a divulgação da teoria marxista entre as
mesmas, a Comuna de Paris de 1848, as internacionais socialistas e a Revolução Bolchevique de 1917 foram
fundamentais para o nascimento do Estado Social.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
33
atuar cada vez mais por meio de outros instrumentos jurídicos que não a lei. O Estado social é
igualmente um Estado Administrativo‖ (Cléve, 1993, 49). Tal fato cabe ressaltar dificulta, no
Estado Social, no Parlamento, o exercício da função legislativa.
Com efeito, a questão a ser analisada no presente item requer que seja, ainda que de
forma inicial, investigado o papel do parlamento no Estado Contemporâneo: ou seja, trata-se
de saber se poderia afirmar-se que ele ainda goza de um poder decisivo ou pelo menos
significativo no processo político? Não se deverá falar, em vez disso, do "ocaso do
parlamento"? São questões repetidamente levantadas em face de certas realidades políticas que
parecem demonstrar que o Parlamento foi suplantado por outras instituições, em especial pela
atuação do governo.
Basicamente, o que se pode perceber é que no Estado Contemporâneo o sistema de
equilíbrio do poder deu lugar ao sistema de equilíbrio entre os poderes ou, em outras palavras,
o princípio da separação de poderes tornou-se menos importante que a idéia de
relação/cooperação entre poderes. A salvaguarda da liberdade perde espaço para a necessária
contribuição para a realização de direitos sociais. Com efeito, para a Matteucci (1982, 94), por
exemplo, hoje são outros os mecanismos de salvaguarda da liberdade: um pluralismo real na
sociedade que impeça a hegemonia de um grupo; uma efetiva competição eleitoral entre
vários partidos; e, ainda, uma oposição eficaz da minoria frente ao governo da maioria. Há
que se observar, desta forma, a definição de Bobbio (1998, 248)
Contudo, o princípio jurídico da separação dos poderes, tão freqüentemente
proclamado e exaltado pela ciência jurídica, se não for aprofundado, corre o risco de
se tornar um dogma ambíguo e misterioso por duas razões: de um lado, pela
diversidade de maneiras como juridicamente se concretizou até hoje a exigência da
divisão do poder e, do outro, pela impossibilidade de explicar, de modo
suficientemente realista, a dinâmica do poder nos nossos sistemas democrático-
parlamentares, partindo deste dogma, formulado no século XVIII com vistas a
regimes monárquicos, quando a aristocracia ainda constituía poder político. Não só
isso: é um dogma perigoso, porque não garante eficazmente a liberdade do cidadão.
Superada então a questão do primado da liberdade assegurada através da separação
tradicional dos poderes, uma vez que os fatos contradizem esta tradicional separação, é
possível falar-se em um novo desenho institucional, decorrente não só das transformações
políticas do Estado contemporâneo, mas da assunção da Constituição de 1988 destas
transformações, em especial no que toca ao arranjo institucional da separação dos poderes e a
revisão do processo legislativo para adequá-lo às novas demandas políticas, econômicas e
sociais, tal como se verá a seguir.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
34
2. A SUPERAÇÃO DO DOGMA DA TRIPARTIÇÃO DOS PODERES NO ESTADO
CONTEMPORÂNEO E OS NOVOS MEIOS DE PRODUÇÃO DA LEI
Considerando as questões acima mencionadas não é demais observar que, no Estado
Social, o executivo acabou ampliando sua atuação e assumindo grande parte das novas
atividades estatais, pois seu fortalecimento era considerado necessário para gerar um governo
apto a intervir no âmbito sócio-econômico. O crescimento da força política do executivo é
conseqüência de uma expansão das funções estatais, em especial da função legislativa, que a
partir de então, passa a ser dividida com o legislativo.
Este fenômeno, por sua vez, pode ser chamado de descentralização legislativa e que
―no contexto do Estado Social vem-se desenvolvendo de uma maneira impressionante. [...]
Consiste na possibilidade de criação de atos normativos, sob a forma da lei ou não, por órgãos
que não propriamente o Legislativo (neste passo compreendido enquanto Plenário). Ou seja,
consiste no exercício de uma função legislativa, definida quer seja sob o ponto de vista formal
(forma de lei) ou material (regulação heterônoma de interesses particulares – regra de direito
– ou regulação genérica e abstrata – de norma geral)‖ (Cléve, 1993, 78).
Ainda segundo Cléve (1993) ―essa descentralização legislativa pode ser decorrente de
delegação legislativa ou de atribuição legislativa outorgada pelo Constituinte. Por outro lado,
a descentralização pode ser (i) interna, quando operada no próprio seio do Legislativo,
transferindo tarefas do plenário para outros órgãos internos, como das Comissões, e (ii), ou
externa, quando se identifica com a transferência de autoridade (autorizada pelo Constituinte
ou pelo Legislador) de tarefas do Legislativo para órgãos situados na esfera funcional dos
demais Poderes ou diretamente para a sociedade.‖ (Cléve, 1993, 78). Esta descentralização
administrativa – fundamentalmente e, em especial, no que toca aos objetivos deste trabalho -
acaba por provocar ainda a alteração dos critérios que serviram para diferenciar os atos de
cada um dos poderes: estes não serão materiais, porém formais; cada um dos poderes do
Estado operará de acordo com procedimentos específicos, que darão lugar também a atos
formalmente diferentes e com um tipo de eficácia jurídica igualmente distinta.
Este novo desenho institucional consiste em reconhecer que a criação legislativa
resulta de um processo de interação entre distintos elementos (no caso em questão, dos
distintos poderes do Estado) que deve ter, na maioria das vezes, um ponto comum: a
concretização de políticas públicas; estas, servindo como uma espécie de elo para articulação
de diversas questões políticas que envolvem interesses distintos e até antagônicos na sociedade.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
35
Compreender este novo desenho institucional resulta útil para captar a complexidade
das relações entre o executivo e o legislativo, não apenas no que tange aos elementos
tradicionais da separação de poderes, qual sejam, os mecanismos de controle institucional,
mas essencialmente as perspectivas de colaboração entre estas esferas de poder, tal como
prescreve uma nova forma de percepção da separação de poderes.
Para Piçarra (1989, 12), a separação de poderes se evidencia por algumas
características, dentre elas: a) distinção entre os conceitos de legislativo, executivo e judicial;
b) independência dos órgãos, seja quanto aos seus titulares ou quanto aos seus atos, perante a
ação ou interferência de outro; c) limitação ou controle de poder de um órgão mediante o
poder conferido a outro órgão de anular ou impedir a realização de atos do primeiro. Estas
características podem ser vislumbradas na exemplificação abaixo.
MECANISMOS DE CONTROLE ENTRE PODERES EXECUTIVO, LEGISLATIVO E JUDICIÁRIO18
CONTROLE DO MECANISMOS PARA
LEGISLATIVO SOBRE
EXECUTIVO Controle político sobre o exercício das funções;
Recusa de propostas legislativas;
Comissões parlamentares de investigação;
Comissões parlamentares de inquérito;
Nomeação dos governantes (no parlamentarismo);
Destituição de governo por voto de censura (no
parlamentarismo);
Destituição de governo por impeachment (no
presidencialismo).
EXECUTIVO SOBRE
LEGISTATIVO Poder de veto a leis do Parlamento;
Faculdades legislativas do Executivo;
Emissão de regulamentos de execução;
Poder para dissolver o Parlamento (no parlamentarismo)
Poder de veto a projetos de lei do Legislativo (no
presidencialismo).
JUDICIÁRIO SOBRE
EXECUTIVO Controle de constitucionalidade das leis do governo;
Supervisão de concordância de ações/base legal;
Controle judicial sobre a administração pública;
Controle judicial sobre a jurisdição administrativa;
Decisão arbitral sobre conflitos no exercício das funções.
JUDICIÁRIO SOBRE
LEGISLATIVO Controle de constitucionalidade das leis do Parlamento;
Decisão arbitral sobre conflito nos exercício das funções.
18
Cf. Karl Loewenstein, 1976, apud. Pessanha, 1997. Uma questão que não é objeto de preocupação específica é
o fato de que na relação tradicional, bem como até os dias atuais, o Poder Judiciário permanece sem controle de
nenhum dos outros poderes.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
36
Entretanto, diante da perspectiva de que a separação de poderes, vista de uma forma
clássica, deve ser modificada para uma perspectiva de colaboração, há que se mencionar que
para Duverger (1955, 185-186)19
a colaboração entre poderes pressupõe três idéias essenciais:
a) distinção das funções de estado, que são confiadas a órgãos distintos, consoante com as
suas respectivas funções e especializações; b) colaboração funcional pela qual a título
acessório e excepcional os diferentes órgãos podem participar de funções que não as suas; e,
c) dependência orgânica pela qual os poderes não atuam isolados um dos outros, porém
através de ações recíprocas e que se influenciam mutuamente. Nesse sentido é a estruturação
abaixo.
MECANISMOS DE COLABORAÇÃO ENTRE PODERES
PRINCÍPIOS DA COLABORAÇÃO
ENTRE PODERES
MECANISMOS PARA
CONCRETIZAÇÃO
DISTINÇÃO ENTRE PODERES Distinção de funções por órgãos
especializados;
Não subordinação entre os órgãos
COLABORAÇÃO FUNCIONAL Invasão de um órgão sobre o outro;
Ação acordada para elaboração de um
mesmo ato;
DEPENDÊNCIA ORGÂNICA Órgãos dotados de meios de ações
recíprocos.
Finalmente, é importante ressaltar que, embora nas últimas décadas um dos grandes
temas da política contemporânea tenha sido a decrescente perda de importância do Poder
Legislativo, em contrapartida ao crescimento da importância do Executivo e, em especial, do
Poder Judiciário, não há que se falar no fim do primado do Parlamento ou, por outro lado, em
perda da importância da função legislativa, mas há que se trabalhar a partir da noção política
de transformação da função da lei. Com efeito, há uma profunda transformação de sua
tradicional concepção como norma abstrata e geral na qual foi forjada no início do século
XVII para a sua ―versão‖ mais atualizada como mandamento diretivo.
3. A ATIVIDADE LEGISLATIVA DO PODER EXECUTIVO: POSSIBILIDADES E
MECANISMOS DE MANIFESTAÇÃO
Do que se viu até aqui, pode dar-se por certo que o esquema tradicional da tripartição
dos poderes, nos termos de sua formulação clássica, não mais encontra albergue na forma
19
Apud Pessanha, 1997, 36.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
37
democrática de Estado. É, então, necessário, pensar quais seriam os mecanismos que,
contrariamente à separação, impõem um esquema de cooperação entre as distintas funções
estatais para que os escopos constitucionais sejam concretizados.
Segundo Bobbio (1998, 887), esta relação entre o executivo e o legislativo no âmbito
da efetivação do procedimento legislativo ganha uma importância destacada nos regimes
democráticos pluralistas, onde se pode verificar uma tendência para a perda da centralidade
do parlamento como o único agente responsável pela criação legislativa. Isso se deve, em
grande medida, ao fato de que os debates políticos não são mais centrados dentro da esfera
parlamentar, mas fora dela, por meio de debates econômicos, sindicais, e várias decisões e
acordos políticos importantes para o Estado que ocorrem de forma distante da esfera
parlamentar.
Tal como diz Bobbio (1998, 884), ―não é o caso de falar aqui do fenômeno
macroscópico dos regimes totalitários e autoritários que se desenvolveram neste século e
destruíram o regime democrático parlamentar preexistente, abolindo o Parlamento ou, de
qualquer modo, esvaziando-o completamente de toda a autonomia e significado políticos‖,
mas de uma realidade política que diz respeito efetivamente aos Estados democráticos, nos
quais a democracia, sua forma parlamentar, encontra-se em crise.
Isto porque, dentre todas as atividades do parlamento contemporâneo, aquela que pode
ser considerada como a mais típica é a atividade legislativa propriamente dita que, conforme a
doutrina tradicional da separação dos poderes corresponde à realização de normas mais gerais.
Ao poder executivo caberia uma atividade governamental. Entretanto, as disposições
contemporâneas acerca da inaplicabilidade total da teoria de separação de poderes, conforme
apresentado neste projeto, acabam por obscurecer a nitidez desta distinção. A estrutura atual
dos poderes sofreu modificações significativas justamente pelo fato de que a atividade
legislativa acabou por se tornar, em todas as suas fases (da iniciativa à deliberação), resultado
de uma intervenção conjunta do parlamento e do próprio governo.
A estrutura política do Estado faz com que o governo tenha que intervir no
procedimento legislativo desde o início, com a finalidade de ter realizado o seu plano político.
Contudo, esta participação precisa ser verificada, pois ―quanto mais forte for o Executivo e
maior for a posição de autoridade de que goza perante o Parlamento, tanto mais a iniciativa de
origem parlamentar se reduzirá a uma atividade residual.‖ (BOBBIO, 1998, 885).
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
38
Ainda nesta primeira fase da atividade parlamentar, a fase de iniciativa, há que se
destacar a idéia de coordenação que deveria existir nas ações parlamentares. Corresponde ao
momento de fixação daquilo que se definira como as prioridades políticas e sociais do Estado.
Aqui a atuação mais destacada do Executivo é dependente, em grande medida, do grau de
controle que possui sobre o parlamento.
Já na fase deliberativa o procedimento legislativo é submetido, em geral, a vários
debates e estudos, seja no plenário do parlamento quanto em suas comissões. Bobbio (1998),
acerca das comissões parlamentares, descreve:
Há um mínimo de interferência das comissões, quando estas expressam apenas seu
parecer, e um máximo, quando lhes é delegado o poder de decidir com eficácia
vinculatória para todo o Parlamento. A dialética entre as diversas forças políticas,
que caracteriza esta fase de deliberação, é fortemente influenciada pelo ambiente
institucional em que se desenvolve. As comissões parlamentares, criando um
ambiente mais restrito e discreto, favorecem as formas negociáveis e conciliatórias
de decisão. (885)
Os debates existentes no âmbito do parlamento possuem uma estrutura que
compreende, via de regra, uma discussão geral acerca do projeto legislativo, que inclui o
exame de cada artigo do referido projeto, bem como de todas as emendas que porventura
possam ter sido propostas. Após tal debate segue-se para o procedimento de votação.
Neste momento o poder Executivo também pode exercer suas influências, seja por
meio de uma intervenção direta ou indireta. A intervenção indireta se dá através da utilização
de sua base de apoio parlamentar, a qual tenta a aprovação ou reprovação do projeto, no todo
ou em parte, de acordo com os desígnios de seu plano político.
Já na possibilidade de intervenção direta tem-se que o executivo age ―declarando qual é a sua
vontade política, apresentando emendas, retirando suas próprias propostas de lei, ou
introduzindo a questão de confiança durante a votação.‖ (BOBBIO, 1998, 885).
Nesse sentido, a relação entre legislativo e executivo na constituição do Estado
contemporâneo se define por meio de uma estrutura dialética, dado o fato de que os
parlamentos acabam por serem formados por um dualismo entre maioria e oposição. À
maioria cabe, nesta estrutura, um papel determinante na atividade legislativa, dado sua
vinculação com o poder executivo. Já a oposição tem uma possibilidade de atuação mais
limitada, pois em razão de sua condição numérica ―é muito mais instada a examinar
criticamente a ação do Governo do que a maioria que o apóia‖. (BOBBIO, 1998, 886).
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
39
Dentre todos os propositores de projetos legislativos, verifica-se um maior destaque
para aqueles provenientes do poder executivo. Tal importância não se deve,
fundamentalmente, pelo número de projetos apresentados, mas essencialmente ―pelo
significado político e pela maior probabilidade de que venham a transformar-se em leis‖.
(BOBBIO, 1998, 996).
Especialmente no que toca ao Brasil o assunto também possui uma relevância enorme.
Em um livro que se tornou clássico, no Brasil, pela importância que assumiu ao longo dos
anos, 20
Manoel Gonçalves Ferreira Filho ao analisar o processo legislativo é taxativo: ―o
aspecto mais sugestivo, contudo, do processo legislativo contemporâneo é o revelado pela
posição nele ocupada pelo Executivo, ou melhor, pelo poder governamental. Este não só
aparece como a mola mestra que impulsiona o trabalho parlamentar, como também, num
grande número de casos, surge como legislador‖ (FERREIRA FILHO, 1995, 129).
Assim, neste momento específico do trabalho serão apresentadas as figuras legislativas
propriamente ditas, divididas, de acordo com Cléve (1993) em mecanismos ―(i) formais,
quando expressamente previstos pelo Direito Constitucional, ou (ii) não formais quando, a
despeito de bastante utilizados, não são previstos pela disciplina jurídica. Em comum, esses
mecanismos guardam o seguinte: ambos sugerem um poder direto ou indireto do governo
sobre o parlamento capaz de orientar poderosamente a produção do ato legislativo‖ Cléve
(1993, 119). Estes mecanismos vão desde a iniciativa até a sanção/veto, passando pela
possibilidade de emitir normas (através da chamada delegação legislativa), tais como a edição
de leis delegadas e de medidas provisórias, regulamentos e outros.
Embora neste trabalho não se pretenda discorrer sobre as diversas etapas que compõe
o processo legislativo (embora de forma genérica as diversas etapas já tenham sido nomeadas
no item acima), vale dizer que este é um ato complexo, formado por diversas etapas e deve
obedecer aos procedimentos estipulados pela Constituição – no caso do Brasil, o processo
legislativo está normatizado entre os artigos 59 a 69 da CF/88, no capítulo reservado ao Poder
Legislativo. Deve-se ainda destacar que o que será analisado é a participação do Poder
Executivo nos momentos específicos e não o processo legislativo como um todo.
20
Parece evidente que atualmente existem trabalhos bem mais atuais e completos sobre o tema, porém, há época
de seu lançamento representou um divisor de águas. Há que se ressaltar ainda que pode causar espanto dar
tamanho destaque, pelo menos neste texto, a um trabalho elaborado por um autor cujos vínculos com a
democracia foram constantemente questionados, contudo a relevância e o papel que livro exerce justifica tal
escolha.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
40
No que toca a iniciativa, 21
tal como já foi dito no início deste trabalho, ela passou por
diversas fases, incluindo aquela na qual a capacidade de deflagrar o processo legislativo era
somente do monarca, sendo depois transferido para o poder exclusivo do parlamento e,
finalmente, assumiu as características atuais vindo a ter a possibilidade de ser compartilhada
entre os diversos sujeitos que a Constituição prevê. 22
Com efeito, não obstante a Lei Maior brasileira ter adotado o tradicional esquema de
tripartição dos poderes, com o sistema de freios e contrapesos dele decorrente, pode-se
afirmar que sua rigidez foi materialmente abandonada, vez que a Constituição delegou
competência legislativa ao Executivo conferindo-lhe a prerrogativa de propor projetos de lei e
emendas constitucionais; sancionar e vetar, total ou parcialmente, as leis aprovadas pelo
Legislativo, além de iniciativa exclusiva no que concerne a algumas matérias, e.g. o
orçamento anual. Ademais, pode o chefe de o Executivo exercer diretamente a atividade
legiferante através da edição de leis delegadas e de medidas provisórias, o que aumentou
consideravelmente seu poder de agenda.
O poder de agenda, por seu turno, refere-se à capacidade do Executivo de intervir no
processo legislativo e produz impactos significativos no comportamento dos partidos e dos
deputados tomados individualmente, no sentido de ampliar o potencial de apoio legislativo ao
Poder Executivo. (Cfme. Santos, 1997).
Com efeito, ainda segundo Santos (1997), o poder de agenda do presidente e das
lideranças partidárias remete à estrutura institucional que organiza o processo legislativo e a
capacidade do Poder Executivo de iniciar e influenciar o processo legislativo, por este fato a
chamada iniciativa reservada, em especial, entre outros vários mecanismos que compõe as
possibilidades de atuação legislativa do poder executivo, tal como se verá no trabalho
produzido por Luiz Magno Pinto Basto Júnior, neste mesmo relatório final. 23
21
A iniciativa pode ser dividida em: a) geral; b) concorrente; c) privativa; d) popular; e) conjunta; f) parlamentar;
e, g) extraparlamentar. Há ainda a iniciativa prevista no art. 67 da CF. 22
Estes estão estipulados no art. 61, caput, da Constituição Federal de 1988. 23
Esta questão, contudo não é tão pacífica assim. Fortes críticas são elaboradas ao crescimento do poder de
agenda do Executivo. Tome-se como exemplo, bastante representativo, aliás, as críticas que Santos efetua a esta
questão: ―o Executivo pode, atualmente, pedir, de maneira unilateral, urgência para a tramitação de seus
projetos. Possui, além do mais, monopólio sobre a emissão de projetos que fixem o efetivo das Forças Armadas e
aqueles de natureza financeira. [... ] Defendo o argumento que mudanças nas regras que regulam o processo
decisório, e não as instituições que formam a pólis, foram determinantes para a alteração da relação
Executivo/Legislativo. A agenda compartilhada cedeu espaço para uma agenda imposta.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
41
Contudo, não é somente na capacidade de propor ―leis‖ que o Executivo apresenta seu
poder de agenda. O chamado poder de veto ou sanção é outro componente importante do
processo legislativo e que está nas mãos do Poder Executivo. Resquício das antigas
monarquias e da superioridade inconteste do rei sobre o parlamento, o veto ou a sanção
―constitui, assim, não mera ratificação ou confirmação de uma lei já nascida, mas a adesão
dada pelo Chefe do Poder Executivo ao Projeto aprovado pelas Câmeras, de tal sorte que,
enquanto ele não se manifesta, a obra legislativa não se encontra definitivamente formada. Em
realidade, no caso, existem duas vontades legislativas paralelas, a do Governo e a das
Câmeras, cujo concurso é constitucionalmente necessário para o nascimento mesmo da lei‖
(SILVA, 1964, 185).
No Brasil, em especial, o veto ou a sanção constituem-se em requisito essencial à
formação da ―lei‖. Pode-se afirmar, inclusive, que se equivocam aquele que imagina serem a
sanção ou seu oposto – o veto- meros ritos de finalização. O poder do Executivo neste caso
costuma ser decisivo. Sua força é tamanha que chega a ser considerada, não apenas como uma
fase do processo legislativo, mas como uma forma de interferência legislativa indireta. Sua
existência significa que os legisladores devem, de alguma forma, antecipar o desejo do
presidente com relação a determinada matéria. Com efeito, se considerado poder de
veto/sanção em toda a sua plenitude é possível verificar como a influência legislativa do
presidente pode aumentar quando este adquire monopólio sobre a emissão de certo tipo de
projeto, além do direito de pedir urgência para a tramitação de suas proposições.
A CF/88 assim regula o pode de sanção/veto:
Art. 66. A Casa na qual tenha sido concluída a votação enviará o projeto de lei ao
Presidente da República, que, aquiescendo, o sancionará.
§ 1º - Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em parte,
inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou parcialmente, no
prazo de quinze dias úteis, contados da data do recebimento, e comunicará, dentro
de quarenta e oito horas, ao Presidente do Senado Federal os motivos do veto.
§ 2º - O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, de parágrafo, de
inciso ou de alínea.
§ 3º - Decorrido o prazo de quinze dias, o silêncio do Presidente da República
importará sanção.
§ 4º - O veto será apreciado em sessão conjunta, dentro de trinta dias a contar de seu
recebimento, só podendo ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados
e Senadores, em escrutínio secreto.
§ 5º - Se o veto não for mantido, será o projeto enviado, para promulgação, ao
Presidente da República.
§ 6º Esgotado sem deliberação o prazo estabelecido no § 4º, o veto será colocado na
ordem do dia da sessão imediata, sobrestadas as demais proposições, até sua votação
final.
§ 7º - Se a lei não for promulgada dentro de quarenta e oito horas pelo Presidente da
República, nos casos dos § 3º e § 5º, o Presidente do Senado a promulgará, e, se este
não o fizer em igual prazo, caberá ao Vice-Presidente do Senado fazê-lo.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
42
Art. 67. A matéria constante de projeto de lei rejeitado somente poderá constituir
objeto de novo projeto, na mesma sessão legislativa, mediante proposta da maioria
absoluta dos membros de qualquer das Casas do Congresso Nacional.
Da análise do art. 66 e 67 da CF/88 é possível aferir-se que uma vez terminada a fase
de discussão e votação, aprovado o projeto de lei, deverá ele ser encaminhado para a
apreciação do Chefe do Executivo. Assim que o receber, o Presidente da República o
sancionará ou o vetará. O veto pode-se dar, então, da seguinte forma (cfme. LENZA, 2008,
358):
No prazo de 15 (quinze) dias úteis, contados da data do recebimento;
Pode ser total ou parcial (neste último caso, rejeita-se um parágrafo ou apenas um
inciso ou uma alínea;
O Presidente deverá comunicar os motivos do veto em até 48 h (caso isto não ocorra o
que se tem é a inexistência do veto, pois todos eles deverão ser motivados);
Recebido o projeto de lei e não ocorrendo manifestação presidencial tem-se o que se
chama de sanção tácita.
Deve-se ter presente que o veto presidencial é sempre suspensivo, ou seja, ele poderá
ser revisto pelo Congresso: ―se mantido, o projeto não se transforma em lei. Se, todavia, for
rejeitado, deverá ocorrer a promulgação da lei. [contudo] Não se deve fica impressionado com
o fato de que a última palavra é do Congresso. Embora a Constituição de 1988 não exija a
manifestação de dois terços da Câmara e do Senado, mas apenas a maioria absoluta para a
rejeição de veto, não é muito fácil conquistar-se, no seio do Congresso, a simpatia de uma
maioria como essa‖ (CLÉVE, 1993, 111).
No Brasil, o poder do Presidente em matéria legislativa, em especial o poder de veto,
conta com outro aliado importante que é a figura do veto parcial. Este instituto, por exemplo,
amplia a força do presidente no Brasil muito mais do que a do presidente nos Estados Unidos,
onde não há este recurso e o mesmo vê-se obrigado a conviver com as chamadas ―riders‖ ou
―caudas‖, ainda que os projetos sejam de claro interesse governamental. Tal situação no
ocorre no Brasil, uma vez que o veto parcial dá conta de resolver tal problema.
Com efeito, o veto parcial (ou seletive veto) consiste ―na impugnação de uma parcela
de um texto aprovado pelo Legislativo e sua devolução à reapreciação por aquele, como veto
comum. Tem, portanto, a grande virtude de permitir separar o joio do trigo, ou seja, excluir da
lei o inconveniente, sem fulminar todo o texto. A necessidade do veto parcial para escoimar
de um texto legislativo disposições inconvenientes ou inaceitáveis fez-se visível em face do
problema dos ‗riders‘, das ‗caudas orçamentárias‘‖ (FERREIRA FILHO, 1995, 155)
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
43
Contudo, embora a presença do instituto do veto parcial seja fundamental para a
atuação do presidente há algumas questões que precisam ser respondidas no que toca a este
importante instituto, entre elas, por exemplo, pode haver ratificação do veto parcial? Assim
responde Ferreira Filho (1995): ―em relação ao veto parcial, ou aos vetos parciais, não pode
haver parece haver problema. A apreciação das disposições vetadas há de ser fragmentária, e
nada obsta que o Congresso acolha as objeções contra frações do projeto e recuse outras‖
(FERREIRA FILHO, 1995, 221).
A segunda questão relevante pode ser assim colocada: vetado todo o projeto, pode o
Congresso (re)aprovar apenas parte do projeto? Novamente Ferreira Filho (1995) auxilia na
resposta: ―na verdade, o sim é a melhor resposta. Havendo possibilidade de veto parcial, o
veto total equivale à recusa de cada disposição do projeto. Ora, nada obsta logicamente que o
Congresso reaprecie cada disposição do projeto per si, ratificando umas, rejeitando outras‖
(FERREIRA FILHO, 1995, 222).
Outra forma pela qual o executivo participa da atividade legislativa é o regulamento. 24
De forma muito breve, pode-se dizer que se trata de ato normativo geral expedido por fonte
legiferante que não o legislativo. Por sua natureza, de cunho administrativo, tem caráter
inferior a lei, já que esta é um ato típico do legislador e aquele do administrador. Tal distinção
somente passou a ser considerada após o fim do primado do poder do monarca, uma vez que
até este momento qualquer espécie normativa emanada do rei tinha força vinculante e
nenhuma distinção na prática. Atualmente, contudo, as diferenças são enormes, tal como se
verá a seguir:
DIFERENÇAS ENTRE LEI E REGULAMENTO25
LEI REGULAMENTO
Ato legislativo;
É ato normativo primário;
Liberdade para estabelecer
imposições;
Tem possibilidades de inovar em
matéria a ser normatizada.
Ato administrativo;
É ato normativo secundário;
Indicar meios para cumprir as imposições
estabelecidas anteriormente pela lei;
É ato dependente da lei.
24
Por ter sido objeto de um estudo exaustivo no âmbito deste mesmo projeto (veja-se o texto de Rodrigo Mioto)
não iremos no deter nesta esfera normativa. Será apenas apresentado um breve conceito e focado na diferença
com a lei propriamente dita. 25
Tal como já foi dito, este quadro é meramente introdutório e não exaustivo. Para um maior desenvolvimento
do tema, consultar o artigo de Rodrigo Mioto dos Santos (2009) – Projeto Pensando o Direito.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
44
Tal como se pode ver no artigo de Rodrigo Mioto dos Santos (SANTOS, 2009) há
vários tipos de regulamentos, sendo que eles foram intensamente debatidos no trabalho do
autor. Neste momento, apenas iremos referir aos dois tipos considerados como ―clássicos‖ de
regulamentos sendo que um é ―estritamente subordinado à lei, não pode impor obrigações que
esta não preveja, se destinado tão somente a indicar meios para o cumprimento das obrigações
impostas pela lei. É esse o gênio do regulamento típico, o regulamento de execução. Tal
regulamento, na prática, pode ser editado pelo Executivo, em razão de sua missão geral de
cumprir as leis, ainda que estas não o prevejam. Decorre então o seu estabelecimento
diretamente pela Constituição, sendo, por isso, chamado regulamento espontâneo. Todavia, a
própria lei pode prever a edição de normas destinadas a preparar e acompanhar a execução
das suas, incumbindo expressamente o Executivo de editá-las. Nesse caso, o regulamento é
chamado de autorizado. (FERREIRA FILHO, 1995, 158).26
No que toca ao direito pátrio, o regulamento está disciplinado no art. 84 da CF/88.
Dela depreende-se que o ―regulamento em nosso direito [resulta] como ato geral e (de regra)
abstrato, de competência privativa do Chefe do Poder Executivo, expedido com a estrita
finalidade de produzir as disposições operacionais uniformizadoras necessárias à execução da
lei cuja aplicação demande atuação da Administração Pública‖. Daí que se possa concluir,
como demonstrará o texto de Santos (SANTOS, 2009) que, embora represente uma forma de
legislação importante, a liberdade para emitir decretos no Brasil é restrita.
No que toca a atividade legislativa do poder executivo ainda resta abordar dois itens
fundamentais: as chamadas leis delegadas e as medidas provisórias. As leis delegadas que
podem ser do tipo formal ou informal. ―Por formal chamaremos a delegação que, prevista no
Texto Constitucional, confere ao ato normativo do Executivo natureza de ato legislativo,
portanto de lei formal. [ ...] Por delegação não formal, chamaremos aquela autorizada pelo
Parlamento, mas que, todavia, implica a produção, pelo Executivo, de ato normativo sem
força de lei e, portanto, dotado de mero caráter regulamentar‖ (CLÈVE, 1993, 127).
A diferença essencial entre as duas consiste no fato de que no primeiro caso
(delegação formal) o resultado terá força de lei e no segundo, não. Tem-se ainda que destacar
o fato de que a legislação delegada formal deve ser feita com base na precisão do objeto a ser
26
Deve-se destacar que nem todo regulamento ―é baixado para a aplicação de lei ou em cumprimento de
determinação legal. Há que se considerar o caso dos regulamentos praeter legem, ou seja, dos regulamentos
editados no espaço porventura deixado vazio pelas leis vigentes. É o caso dos que Ruy Barbosa denominava
independentes” (FERREIRA FILHO, 1995, 159). Basicamente, por criarem regras novas, tais regulamentos
foram sendo descartados paulatinamente por inconstitucionais.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
45
normatizado e com critérios pré-estabelecidos para o seu uso, bem como seu sentido e
alcance. Já o tipo de delegação não formal tem características distintas: ― 1. o beneficiário não
será necessariamente o governo; 2. o ato normativo praticado pelo órgão beneficiário não terá
forma de lei; 3. não obstante este tipo de delegação possa estar previsto no Texto
Constitucional (Alemanha), normalmente, a Constituição a ela não se refere (EUA, Itália,
Espanha, etc). Trata-se, na verdade, de fórmula ampliativa de poder regulamentar do
Executivo‘ (CLÉVE, 1993, 127).
No Brasil a delegação está prevista no art 68 da CF/88: 27
Art. 68. As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República, que deverá
solicitar a delegação ao Congresso Nacional.
§ 1º - Não serão objeto de delegação os atos de competência exclusiva do Congresso
Nacional, os de competência privativa da Câmara dos Deputados ou do Senado
Federal, a matéria reservada à lei complementar, nem a legislação sobre:
I - organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de
seus membros;
II - nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais;
III - planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos.
§ 2º - A delegação ao Presidente da República terá a forma de resolução do
Congresso Nacional, que especificará seu conteúdo e os termos de seu exercício.
§ 3º - Se a resolução determinar a apreciação do projeto pelo Congresso Nacional,
este a fará em votação única, vedada qualquer emenda.
Não obstante a possibilidade de delegação é importante ressaltar que as chamadas leis
delegadas não possuem grande expressão no ordenamento jurídico pátrio. De fato, a faculdade
de editar medidas provisórias, tal como se verá a seguir, acabou por dar pouca repercussão a
este instituto. Com efeito, de todas as formas pelas quais se manifesta a atividade legislativa
do Poder Executivo, a medida provisória é a mais relevante.
Este é o principal motivo pelo qual muito se tem escrito e publicado sobre este
instituto envolvendo desde questões de fundo dogmático até problemas teóricos e, em
especial, políticos. 28
Assim, sem intenção de repetir o que pode ser facilmente encontrado
sobre esta matéria, iremos nos referir somente ao problema que consideramos essencial neste
momento que é a função política que a medida provisória desempenha. Antes, contudo,
destacamos o texto constitucional que regula o instituto:
27
Conforme demonstra Ferreira Filho ―a Constituição vigente não se refere à delegação interna corporis, aos
dispor sobre a lei delegada (art. 68). Mas trata-se de um de seus defeitos de técnica. Com efeito, o art 58, § 2 º, II
a admite. Neste dispositivo está previsto que o regimento de qualquer das casas do Congresso pode dispensar os
projetos sobre determinadas matérias serem apreciados pelo plenário. Assim, a deliberação da comissão valerá
pela casa, salvo se um décimo dos membros das Câmara reclamarem a apreciação em plenário‖ (FERREIRA
FILHO, 1995, 224).
28
Sobre os problemas teóricos e até mesmo dogmáticos ver CLÈVE, 1993.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
46
Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar
medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao
Congresso Nacional.
§ 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria:
I - relativa a:
a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito eleitoral;
b) direito penal, processual penal e processual civil;
c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de
seus membros;
d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais e
suplementares, ressalvado o previsto no art. 167, § 3º;
II - que vise a detenção ou seqüestro de bens, de poupança popular ou qualquer
outro ativo financeiro;
III - reservada a lei complementar;
IV - já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e pendente
de sanção ou veto do Presidente da República.
§ 2º Medida provisória que implique instituição ou majoração de impostos, exceto
os previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos no exercício
financeiro seguinte se houver sido convertida em lei até o último dia daquele em que
foi editada.
§ 3º As medidas provisórias, ressalvado o disposto nos §§ 11 e 12 perderão eficácia,
desde a edição, se não forem convertidas em lei no prazo de sessenta dias,
prorrogável, nos termos do § 7º, uma vez por igual período, devendo o Congresso
Nacional disciplinar, por decreto legislativo, as relações jurídicas delas decorrentes.
§ 4º O prazo a que se refere o § 3º contar-se-á da publicação da medida provisória,
suspendendo-se durante os períodos de recesso do Congresso Nacional.
§ 5º A deliberação de cada uma das Casas do Congresso Nacional sobre o mérito das
medidas provisórias dependerá de juízo prévio sobre o atendimento de seus
pressupostos constitucionais.
§ 6º Se a medida provisória não for apreciada em até quarenta e cinco dias contados
de sua publicação, entrará em regime de urgência, subseqüentemente, em cada uma
das Casas do Congresso Nacional, ficando sobrestadas, até que se ultime a votação,
todas as demais deliberações legislativas da Casa em que estiver tramitando.
§ 7º Prorrogar-se-á uma única vez por igual período a vigência de medida provisória
que, no prazo de sessenta dias, contado de sua publicação, não tiver a sua votação
encerrada nas duas Casas do Congresso Nacional.
§ 8º As medidas provisórias terão sua votação iniciada na Câmara dos Deputados.
§ 9º Caberá à comissão mista de Deputados e Senadores examinar as medidas
provisórias e sobre elas emitir parecer, antes de serem apreciadas, em sessão
separada, pelo plenário de cada uma das Casas do Congresso Nacional.
§ 10. É vedada a reedição, na mesma sessão legislativa, de medida provisória que
tenha sido rejeitada ou que tenha perdido sua eficácia por decurso de prazo.
§ 11. Não editado o decreto legislativo a que se refere o § 3º até sessenta dias após a
rejeição ou perda de eficácia de medida provisória, as relações jurídicas constituídas
e decorrentes de atos praticados durante sua vigência conservar-se-ão por ela
regidas.
§ 12. Aprovado projeto de lei de conversão alterando o texto original da medida
provisória, esta manter-se-á integralmente em vigor até que seja sancionado ou
vetado o projeto.
Não se pretende neste momento, tal como já foi dito efetuar qualquer digressão
dogmática sobre o tema, mas lançar algumas reflexões de caráter teórico que, porém, propõe
uma reflexão política. Assim, partimos do pressuposto que há uma profunda cisão na análise
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
47
em torno da utilização das medidas provisórias por parte do Poder Executivo entre cientistas
políticos e juristas. Para os juristas, a medida provisória deveria consistir em uma medida
excepcional posta a disposição do Executivo para que, ante situações de relevância e urgência,
pudesse interferir diretamente no "status quo" mediante a introdução de medidas que, à
semelhança dos demais atos legislativos, produzissem efeito imediato.
Por seu turno, a prática desenfreada de edição (e, anteriormente à EC 32/02, de re-
edições sucessivas) vem sendo analisada pela grande maioria de juristas, como um atentado
constitucional ao princípio da separação de poderes, como uma usurpação arbitrária de uma
função que deveria ser exercida, legitimamente, pelo Poder Legislativo. Esta situação
prossegue o argumento, é ainda agravada por um silêncio eloqüente do Poder Legislativo (que
―delegaria‖ indevidamente sua competência) e do Poder Judiciário (quando se impõe um
elevado grau de "self restrain" em matéria de controle de legitimidade de medidas
provisórias), que deixam de cumprir o comando constitucional de realização de controles
(jurídicos e políticos) recíprocos contra práticas desviantes dos demais órgãos. Este cenário
coloca em xeque, em última instância, a própria democracia e o funcionamento das
instituições republicanas.
De outro lado, os cientistas políticos e sociais, a partir de análises empíricas e
comparativas, identificam a existência de um fenômeno mais abrangente de
―administrativização‖ da função legislativa e de processos de ―delegação‖ de atribuições, sem
os quais, o Parlamento na sua acepção clássica ficaria totalmente obstruído, acelerando ainda
mais o processo de crise das instituições democráticas modernas. Este processo de delegação
processar-se-ia, dentre outras medidas, através da criação de decretos executivos ("Executive
decrees"), dentre os quais se insere a nossa Medida Provisória.
Diferentemente do que a leitura normativista dos juristas aponta este processo de
delegação não importa em renúncia do Legislativo ao controle sobre o processo de elaboração
legal, nem na sua subjugação ao Executivo, mas se processa mediante o estabelecimento de
uma colaboração mais estreita entre o Legislativo e Executivo (relação de comunicação e
"accountability" horizontal entre os órgãos políticos). Desta forma, as medidas provisórias são
compreendidas como um instrumento de governo usado como uma poderosa ferramenta para
a consolidação das bases institucionais do presidencialismo de coalizão brasileiro.
Finalizando este trabalho, é importante ressaltar que acreditamos ser possível através
das diversas formas de atuação do Poder Executivo, em especial na sua esfera legislativa,
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
48
poder lançar sólidas bases para que o regime constitucional e democrático do Estado
Brasileiro já não atue mais na lógica mais tradicional e, por assim dizer, liberal, definido a
partir de uma visão clássica do princípio organizativo da separação de poderes (dogma
recorrente nas abordagens jurídicas), mas com a pretensão de inseri-la em um regime de
cooperação entre os poderes.
CONCLUSÃO
O trabalho de pesquisa ora apresentado teve um caráter eminentemente teórico, cujo
principal objetivo consistiu-se em apresentar a profunda transformação pela qual passou a
teoria da separação dos poderes se considerada a sua origem vinculada ao Estado liberal para
a idéia de cooperação entre poderes, que se desenha no Estado social. O objetivo desta análise
centrava-se, basicamente, em compreender as mudanças na forma que se dá atividade
legislativa, em especial, aquela que é desempenhada pelo Poder Executivo. Para isto, o
caminho trilhado foi (parcialmente) 29
o que se segue. Assim, foi apresentada(s):
as diversas matrizes teóricas que pautaram a formação da teoria da separação
dos três poderes;
a sua função desta concepção como forma de garantir a liberdade no Estado;
o desenvolvimento do Poder Executivo através da evolução do poder
monárquico para um poder constitucional e limitado pelo direito;
a superação do dogma da tripartição dos poderes a partir da necessidade de
consolidação do welfare state;
a possibilidade de configurar-se um novo desenho institucional pautado pela
idéia de cooperação entre os poderes;
as novas relações que se estabelecem entre o Legislativo e o Executivo;
os mecanismos de manifestação da atividade legislativa do Poder Executivo.
Porém, neste momento conclusivo não se faz necessário desenvolver, a título de
retomar os pontos apresentados, os argumentos utilizados no texto. O que se busca é apontar
29
Várias outras questões foram abordadas no texto, contudo não parece necessário ―resgatar‖ toda a trajetória do
trabalho neste momento, mas apenas os eixos a partir dos quais este se constituiu.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
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para o elo que liga o presente trabalho com os que se seguem e compõe o resultado final da
pesquisa que ora se encerra. Assim, é importante dizer que o ponto principal que decorre do
estudo realizado é a clara percepção do esgotamento do paradigma dogmático-constitucional
que se traduz num enobrecimento da teoria tradicional da separação dos poderes e da função
legislativa confiada ao parlamento por excelência.
Esta questão, por seu turno, levanta outra extremamente importante que precisa ser
bem destacada neste momento derradeiro: trata-se de entender que há um grande vazio
doutrinário a ser construído para a compreensão das atuais relações entre o Executivo e
Legislativo e que pode ser percebido a partir da fundamentação teórica aqui inicialmente
desenvolvida e que, em razão dos limites temporais e temáticos do projeto, foram impossíveis
de serem levadas a termo de forma mais exaustiva.
É também fundamental aceitar o fato de que este vazio não será preenchido por
análises normativas tradicionais (leia-se dogmática) devido à incapacidade epistemológica
destas disciplinas, mas por trabalhos que vinculem a prática jurídica a uma aguda percepção
do fenômeno político que a atravessa e, principalmente, a uma análise dos parâmetros fixados
pela jurisprudência dos tribunais que, como poderá ser analisada nos artigos subseqüentes,
apresenta-se, por sua vez, em diversos momentos incoerente e conflituosa. Acreditamos,
porém, que aqui se abriu um caminho que, por mais longo e duro que possa parecer, ainda
poderá levar a outro patamar de representação da democracia constitucional no Brasil.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
50
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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14. LENZA, Pedro. Direito Constitucional esquematizado. 12 ªed. Revisada e ampliada.
São Paulo, Saraiva, 2008.
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Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
51
18. PESSANHA, Charles Freitas. Relações entre os poderes executivo e legislativo no
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19. PIÇARRA, Nuno. A separação dos poderes como doutrina e princípio constitucional:
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23. STRECK, Lênio. Jurisdição constitucional e hermenêutica: uma nova crítica do
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25. VILE, M. J. C. Constitutionalism and the saparation of powers. Oxford, Claredon
Press, 1998.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
52
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA / SECRETARIA DE ASSUNTOS LEGISLATIVOS
PROJETO PENSANDO O DIREITO
TEMA: VÍCIO DE INICIATIVA E SEPARAÇÃO DE PODERES
ANEXO II:
INVENTÁRIO SOBRE O ALCANCE MATERIAL DA INICIATIVA RESERVADA
DO EXECUTIVO:
COMPREENSÃO (E EQUÍVOCOS) SOBRE A CARACTERIZAÇÃO DO VÍCIO DE
INICIATIVA
Núcleo UFSC/UNIVALI
Florianópolis, 31 de dezembro de 2008
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
53
INVENTÁRIO SOBRE O ALCANCE MATERIAL DA INICIATIVA RESERVADA
DO EXECUTIVO: COMPREENSÃO (E EQUÍVOCOS) SOBRE A CARACTERIZAÇÃO
DO VÍCIO DE INICIATIVA
INTRODUÇÃO
A questão em torno da titularidade da iniciativa legislativa e dos limites para o seu
exercício suscita, freqüentemente, controvérsias e tensões entre os diferentes órgãos
constitucionais na arena política. O enfrentamento desta questão, contudo, exige não somente
um esforço teórico refinado, como igualmente, a desvelação de diferentes concepções sobre a
política e sobre o papel atribuído ao Estado. Estas questões constituem o pano de fundo do
projeto de pesquisa.
O presente artigo consolida os resultados obtidos por um dos Núcleos, o Grupo
UFSC/UNIVALI, que assumiu a tarefa de buscar definir padrões para a demarcação do
alcance das prerrogativas inerentes à iniciativa reservada do Presidente e a fixação dos limites
de atuação parlamentar que conjuguem, a um só tempo, o respeito às vedações constitucionais
e a maximização da função deliberativa inerente ao Parlamento e constitutiva de um Estado
democrático de Direito.
A fim de que esta tarefa de demarcação dos limites de atuação entre o Executivo e o
legislativo fosse levada a cabo, alguns objetivos específicos foram definidos: a) analisar a
evolução histórica e as finalidades do instituto da iniciativa reservada no Processo
Legislativo; b) especificar o conteúdo e o alcance das matérias sujeitas à iniciativa privativa
do Presidente da República no direito brasileiro (art. 61, §1º) a partir de análise empírica e
jurisprudencial; e, c) sistematizar os parâmetros de controle definidos pelo STF para o
controle da ocorrência de vício de iniciativa privativa do Chefe do Executivo.
A análise empírica preconizada envolveu a localização e sistematização das decisões
jurisprudenciais e a identificação e levantamento indicativo das manifestações da Presidência
da República em relação a esta temática, quer seja através do levantamento de inúmeros
projetos de lei que foram propostos pelo Executivo, com decorrência de seu poder de
iniciativa reservada; quer seja através da identificação, catalogação e análise preliminar dos
vetos (parciais e totais) fundados em inconstitucionalidade formal decorrente do vício de
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
54
iniciativa (propositura de projeto de lei, ofensa ao art. 61, §1º; e, de restrição ao poder de
emenda parlamentar, ofensa ao art. 63).
Para tanto, o presente relatório está estruturado da seguinte forma: a seção 1 é
destinada a algumas considerações conceituais introdutórias e uma revisão crítica da literatura
constitucionalista em torno da função desempenhada pela cláusula de reserva de iniciativa no
ordenamento constitucional brasileiro, o item conta ainda com uma breve apresentação da
evolução histórica deste instituto; já na seção 2 busca-se demarcar o regime jurídico-
constitucional vigente da iniciativa reservada, a partir de um duplo esforço, de demarcação de
cada uma das hipóteses definidas no art. 61, §1º e de identificação de regras gerais aplicáveis
ao regime constitucional da iniciativa reservada (princípio da simetria, vício e convalidação,
princípios de interpretação); na sessão 3, foram escolhidas algumas questões concretas que,
por serem recorrentes, frequentemente suscitam dúvidas sobre o espaço de atuação reservado
pelo constituinte ao executivo e ao legislativo; e, por fim, nas conclusões são apresentadas,
em forma de tópicos, conclusões mais significativas e a indicação de possíveis
desdobramentos desta pesquisa.
1. INICIATIVA LEGISLATIVA E O DESENCADEAMENTO DO PROCESSO DE
MUDANÇA DO STATUS QUO DO UNIVERSO NORMATIVO
1.1 PROCESSO LEGISLATIVO E A PRERROGATIVA DE INICIATIVA
O processo legislativo apresenta as seguintes fases: introdutória (iniciativa),
constitutiva (que reúne a deliberação e a sanção) e a complementar (que inclui a promulgação
e publicação do ato normativo) (FERREIRA FILHO, 1985, p. 202).
A fase introdutória é a responsável pelo início do processo de formação da lei. E quem
dá início a este processo são os órgãos ou pessoas que têm a prerrogativa de apresentar
projetos de lei ao Poder Legislativo. A iniciativa ―não é uma propriamente uma fase do
processo legislativo, mas sim o ato que o desencadeia‖ (FERREIRA FILHO, 1985, p. 202).
De acordo com o critério utilizado, a iniciativa pode ser classificada da seguinte
forma: (a) em parlamentar e extraparlamentar (podendo ser incluída, nesta última, a iniciativa
popular); (b) em geral, reservada e conjunta.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
55
A iniciativa é parlamentar quando é concedida a todos os membros do Congresso
Nacional: Deputados Federais ou Senadores da República30
; por outro lado, é
extraparlamentar quando os órgãos e entes que não integram o Congresso Nacional têm o
poder de iniciar um projeto de lei. Na CF/88 a iniciativa extraparlamentar é concedida tanto
aos titulares de outros órgãos constitucionais (ao Chefe do Executivo, aos Tribunais do Poder
Judiciário e ao Procurador-Geral da República) quanto aos cidadãos através da chamada
iniciativa popular.
Em relação à titularidade para a instauração do processo legislativo, a iniciativa pode
ser classificada em: geral (ou ampla, ou concorrente), reservada (privativa) e conjunta. Na
primeira, não há discriminação de quais assuntos devem ter sua positivação encabeçada por
determinado órgão constitucional, vale dizer, afora as restrições constitucionais, os atores do
processo legislativo detêm liberdade para elaborar projetos de leis. Por seu turno, a iniciativa
reservada é a prerrogativa constitucional que assegura a determinados órgãos dos diferentes
poderes instituídos (Executivo, Legislativo e Judiciário31
) a exclusividade da deflagração do
processo legislativo em matérias específicas, expressamente tipificadas pelo legislador
constituinte. Por fim, a iniciativa conjunta é configurada quando mais de um legitimado deve
apresentar conjuntamente determinado projeto de lei32
.
É possível formular três inferências a partir desta taxonomia:
na ausência de previsão constitucional específica, qualquer um dos co-
legitimados está apto a deflagrar o processo legislativo;
as matérias sujeitas à iniciativa reservada devem ser interpretadas
restritivamente (inclusive as correlatas restrições ao poder de emenda
parlamentar);
a cláusula de reserva pretende preservar o juízo político de oportunidade para a
instauração de processo legislativo para a alteração do status quo normativo33
.
30
Frise-se que o caput do art. 61 da CRFB confere legitimidade para a deflagração do processo legislativo tanto
aos os parlamentares (individualmente considerados), quanto às comissões de suas casas legislativas (Câmara
dos Deputados, Senado Federal e Congresso Nacional). Além disto, no caso dos Projetos de Emenda
Constitucional, deve haver um acordo de vontade de pelo menos 1/3 dos parlamentares de uma das casas para
que seja instaurado o procedimento de alteração da Constituição (art. 60, inc. I da CRFB). 31
Sobre a iniciativa conferida ao Chefe do Ministério Público, cf. item 0, infra. 32
Atualmente não há nenhuma previsão constitucional de exigência de iniciativa legislativa conjunta. A lei que
fixa o subsídio do Ministro do Supremo Tribunal Federal, a que alude o art. 48, inc. XV; em 1998, em razão da
natureza de teto salarial do serviço público brasileiro (determinado pelo art. 37, XI da CRFB), a EC n. 19
determinou que sua iniciativa estaria sujeita à iniciativa conjunta dos Presidentes da República, da Câmara dos
Deputados, do Senado Federal e do Supremo Tribunal Federal. Esta determinação, contudo, foi derrogada por
força da EC n.41/03, sendo restabelecida a redação originária do texto constitucional. 33
Esta assertiva é particularmente importante para a compreensão da chamada iniciativa ―por empréstimo‖, na
qual se reconhece não haver ofensa à iniciativa reservada de outro órgão constitucional, quando (a) o projeto de
lei, ao incursionar em matéria sujeita à reserva de iniciativa, não altera nenhum dispositivo legal vigente
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
56
O ordenamento constitucional vigente prescreve as seguintes regras relativas à iniciativa geral
e privativa:
Poder de iniciativa Concorrente Privativa ou Reservada
Parlamentar ou Comissão
do Congresso Nacional
Sim Iniciativa de lei para fixar a remuneração
(art. 51, inc. IV e 52, XIII)
Presidente da República Sim Hipóteses previstas no art. 61, §1º e 165
relacionadas:
(i) fixação de contingente das Forças
Armadas
(ii) organização da Administração Pública
(iii) regime jurídico dos servidores públicos
(iv) normas específicas dos territórios.
(v) leis orçamentárias
Iniciativa Popular34
Sim Não.
Presidente do STF Não Lei Orgânica da Magistratura (art. 93)
Organização judiciária e fixação de
subsídios (art. 96, II)
Proposta Orçamentária (art. 99, §2º, inc. I)35
Tribunais Superiores e
Tribunais de Justiça
Não Organização judiciária e fixação de
subsídios (art. 96, II)
Proposta Orçamentária (art. 99, §2º)
Procurador-Geral da
República36
e Procuradoria-
Geral de Justiça dos Estados
Não Organização funcional e administrativa e
política remuneratória (art. 127, §2º)*
Proposta Orçamentária (art. 127, §3º)
Defensoria Pública Não Proposta Orçamentária (art. 134, §2º)
Tribunais de Contas da
União e dos Estados
Não Organização administrativa e criação de
cargos e vencimentos (arts. 73 c/c 96, II37
)
* Iniciativa concorrente com o Chefe do Executivo
1.2 ORIGENS E JUSTIFICATIVA DO INSTITUTO DA INICIATIVA RESERVADA
A questão em torno da titularidade da iniciativa legislativa e dos limites para o seu
exercício suscita, freqüentemente, controvérsias e tensões entre os diferentes órgãos
constitucionais na arena política. O enfrentamento desta questão, contudo, exige não somente
(portanto, mantém o status quo normativo), ou ainda, (b) neste particular, reproduz texto de projeto de lei
encaminhado pela autoridade competente que está sendo apreciado pelo Congresso Nacional (cf. item 0, infra). 34
Art. 61, §2º. A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de
lei subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados,
com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles. 35
A proposta orçamentária deve observar os limites estipulados conjuntamente com os demais Poderes na lei de
diretrizes orçamentárias (art. 99, §1º). A constituição faculta ao Chefe do Executivo tanto a supressão da omissão
do respectivo órgão (art. 99, § 3º) ou ainda poderá corrigir eventuais discrepâncias em relação aos limites fixados
pela Lei de diretrizes orçamentárias (art. 99, §4º). 36
Sobre a iniciativa conferida ao Chefe do Ministério Público, cf. item 0, infra. 37
ADI n. 1.994, Eros Grau, J. em 24-5-06.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
57
um esforço teórico refinado, como igualmente, a desvelação de diferentes concepções sobre a
política e sobre o papel atribuído ao Estado.
Não obstante a existência de justificativas diferenciadas para a defesa de cláusulas de
iniciativa reservada, elas gravitam em torno da sua função declarada de manutenção do
princípio da separação de poderes. Como salientado em outra parte da pesquisa38
, este
princípio regulativo, diferentemente do que grande parte dos constitucionalistas e das decisões
do STF parecem fazer crer, não é dotado de sentido semântico pré-definido de forma absoluta
pelo legislador Constituinte, mas os seus comandos normativos são preenchidos através de
processos históricos de dação de sentido que levam em conta o arranjo institucional fixado
pelo texto constitucional e pela prática de coordenação entre os órgãos constitucionais.
Desta forma, a discussão em torno da possibilidade de alteração das regras
relacionadas à iniciativa reservada, quer seja através do poder constituinte decorrente39
, quer
seja em relação ao poder constituinte derivado40
, não pode se resolver em uma resposta
simplista de preservação/ofensa ao princípio da separação de poderes previsto como claúsula
pétrea pelo art. 60, §4º, inc. III da CRFB, mas exige que sejam discutidas as premissas
teóricas latentes.
Diferentemente do que pode parecer, o princípio da separação de poderes, consoante a
sua formulação clássica mais conhecida (na obra de Montesquieu), não previa a figura da
iniciativa legislativa extraparlamentar pelo Chefe do Executivo, pelo contrário, conferia-lhe,
no que toca ao processo legislativo, tão-somente a função residual de bloqueio, ou seja, a
possibilidade de impedir a irrupção legislativa através do instituto do veto.
Com a transformação do Estado e a progressiva administrativização da função
legislativa, exigência da ampliação da interferência reguladora do Estado no domínio social
própria do Estado social de direito, o passo ―natural‖ foi a reivindicação ao Poder Executivo
da faculdade de dar início ao processo legislativo, submetendo um projeto ao órgão
legiferante (CLÈVE, 1993, p. 96).
38
Cf. Anexo I: Separação de poderes e iniciativa reservada: da regulação da liberdade à cooperação
legislativa no direito constitucional brasileiro. 39
A construção jurisprudencial sobre o princípio da simetria e o dever de reprodução das regras de iniciativa nos
entes federados é apresentado na seção 0, infra. 40
O debate em torno da possibilidade de alteração das regras concernentes à iniciativa reservada pelo Poder
Constituinte Derivado é questão que merece ser enfrentada em complementação a este estudo, mormente em
face da tramitação da PEC n. 82/2007, que pretende flexibilizar a iniciativa reservada da Chefia do Executivo,
permitindo que projeto de iniciativa do Parlamento (com assinatura de 1/10 dos membros da respectiva da casa)
possa dispor sobre matéria reservada constante do art. 61, §1º, bem como, que o limite fixado no art. 63 seja
olvidado por proposta parlamentar subscrita por igual número de congressistas.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
58
A evolução do constitucionalismo foi sofisticando as formas de provocação do órgão
legislativo. Isto levou, em caráter excepcional, ao deslocamento da iniciativa para outros
órgãos, inclusive ao próprio Poder Judiciário, no que tange a certas matérias (FERREIRA
FILHO, 1985, p. 140). Com isso, fixou-se o conceito de iniciativa geral, deferida a uma
multiplicidade de partícipes do processo constitucional e consagrada no atual texto
constitucional, e a iniciativa reservada (FERRARI, 2001, p. 58).
A iniciativa reservada ou privativa, portanto, foi construída a partir da subtração da
iniciativa geral de determinadas matérias e colocadas sob a potestade de um único órgão. Com
isso, a possibilidade de inovar no direito posto, relativamente a determinadas matérias, fica
dependente da vontade de um único titular do poder de iniciativa.
O monopólio sobre o juízo político de oportunidade da inovação legislativa e da
mudança do status quo, consiste, portanto, no principal fundamento justificador da fixação de
cláusula de reserva, até mesmo porque esta reserva, via de regra, está associada à preservação
da autonomia administrativa dos respectivos órgãos.
Para além desta justificativa genérica, alguns autores, sem deixar de impregnar-se de
elementos ideológicos, vêem neste instituto uma espécie de proteção do erário contra certa
irresponsabilidade política dos órgãos parlamentares em matéria de responsabilidade fiscal
(FERREIRA FILHO, 1985; BASTOS; MARTINS, 1995). Outra justificativa, igualmente
inapropriada, consistiria num maior conhecimento técnico supostamente dotado do órgão
Executivo sobre tais assuntos, como se depreende da lição de Bastos e Martins (1995, p. 287)
É que sobre tais matérias tem o Poder Executivo melhor visão do que o Legislativo,
por as estar gerindo. A administração da coisa pública, não poucas vezes, exige
conhecimento que o Legislativo não tem, e outorgar a este poder o direito de
apresentar os projetos que desejasse seria oferecer-lhe o poder de ter iniciativa sobre
assuntos que refogem a sua maior especialidade.
Todavia, ambas não podem ser seriamente consideradas, pois ambas podem ser
facilmente contornadas, quer seja pela existência do instituto do veto presidencial e pelas
regras relacionadas à responsabilidade fiscal, quer seja pela fragilidade do argumento em
torno da especificidade.
Por outro lado, a iniciativa reservada funciona como um importante mecanismo de
controle/cooperação entre o Legislativo e Executivo na consolidação do desenho político-
institucional e, como tal, indubitavelmente, preenche contemporaneamente o conteúdo do
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
59
princípio constitucional da separação de poderes41
. Ferrari (2001, p. 61) refere-se a este
mecanismo como dotado de duas faces: como exceção e como garantia: como exceção,
―porque subtrai a iniciativa de legislar do Poder Legislativo, a quem esta tocaria naturalmente,
pelo próprio princípio da separação dos poderes‖; como garantia, ao impedir ―que o Poder
Legislativo prepondere sobre os demais, legislando sobre seus serviços internos‖.
A desvelação de suas implicações ideológicas e de suas funções não-reveladas são
importantes para que não se repita o erro recorrente de uso retórico deste princípio-regulador.
Como se fosse possível recorrer à lição de Montesquieu, ou à defesa institucional dos check
and balances dos artigos federalistas, como elementos suficientes para a compreensão (e
controle de desvios) do arranjo político-constitucional de cooperação entre os poderes no
Brasil contemporâneo.
1.3 TRAJETÓRIA CONSTITUCIONAL DA INICIATIVA RESERVADA
O instituto da iniciativa reservada está presente desde longa data na história
constitucional brasileira. O mesmo não foi contemplado apenas nas Constituições de 1824 e
1891, esta última representante típica de um Estado liberal, em moldes tradicionais. Porém, a
partir da Constituição de 1934 deu-se início ao processo de regulamentação constitucional da
iniciativa reservada:
CONSTITUIÇÃO
DE 1934
Art. 41. [...] §2º. Ressalvada a competência da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal, quanto aos respectivos serviços
administrativos, pertence exclusivamente ao Presidente da
República a iniciativa de projetos de lei que aumentem vencimentos
de funcionários, criem empregos em serviços já organizados, ou
modifiquem, durante o prazo da sua vigência, a lei de fixação das
forças armadas.
§3º. Compete exclusivamente ao Senado Federal a iniciativa das leis
sobre a intervenção federal, e, em geral das que interessem
determinadamente a um ou mais Estados.
CONSTITUIÇÃO
DE 1937
Art. 64. A iniciativa dos projetos de lei cabe, em princípio, ao
Governo. Em todo caso, não serão admitidos como objeto de
deliberação projetos ou emendas de iniciativa de qualquer das
Câmaras, desde que versem sobre matéria tributária ou que de uns
ou de outras resulte aumento de despesa.
§1º. A nenhum membro de qualquer das Câmaras caberá a iniciativa
de projetos de lei. A iniciativa só poderá ser tomada por um terço de
41
Cf. Anexo I: Separação de poderes e iniciativa reservada.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
60
Deputados ou de membros do Conselho Federal.
CONSTITUIÇÃO
DE 1946
Art. 67. [...]
§2º. Ressalvada a competência da Câmara dos Deputados, do
Senado e dos tribunais federais, no que concerne aos respectivos
serviços administrativos, compete exclusivamente ao Presidente da
República a iniciativa das leis que criem empregos em serviços
existentes, aumentem vencimentos ou modifiquem, no decurso de
cada legislatura, a lei de fixação das forças armadas.
CONSTITUIÇÃO
DE 1967/69
Art. 60. É da competência exclusiva do Presidente da República a
iniciativa das leis que:
I - disponham sôbre matéria financeira;
II - criem cargos, funções ou empregos públicos ou aumentem
vencimentos ou a despesa pública;
III - fixem ou modifiquem os efetivos das fôrças armadas;
IV - disponham sôbre organização administrativa e judiciária,
matéria tributária e orçamentária, serviços públicos e pessoal da
administração do Distrito Federal, bem como sôbre organização
judiciária, administrativa e matéria tributária dos Territórios;
V - disponham sôbre servidores públicos da União, seu regime
jurídico, provimento de cargos públicos, estabilidade e
aposentadoria de funcionários civis, reforma e transferência de
militares para a inatividade;
VI - concedam anistia relativa a crimes políticos, ouvido o Conselho
de Segurança Nacional.
CONSTITUIÇÃO
DE 1988
Art. 61. [...]
§1º. São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis
que:
I - fixem ou modifiquem os efetivos das Forças Armadas;
II - disponham sobre:
a) criação de cargos, funções ou empregos públicos na
administração direta e autárquica ou aumento de sua remuneração;
b) organização administrativa e judiciária, matéria tributária e
orçamentária, serviços públicos e pessoal da administração dos
Territórios;
c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico,
provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria;
d) organização do Ministério Público e da Defensoria Pública da
União, bem como normas gerais para a organização do Ministério
Público e da Defensoria Pública dos Estados, do Distrito Federal e
dos Territórios;
e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração
pública, observado o disposto no art. 84, VI;
f) militares das Forças Armadas, seu regime jurídico, provimento de
cargos, promoções, estabilidade, remuneração, reforma e
transferência para a reserva.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
61
Após uma análise perfunctória sobre estes dispositivos constitucionais e com base nos
elementos teóricos antes discutidos42
, é possível facilmente perceber que, o aumento das
atribuições privativas cresce a medida que aumentam as funções atribuídas ao Estado, por
outro lado, a concentração de atribuições privativas nas mãos do Executivo e o
correspondente aumento de restrições à atividade parlamentar, estão diretamente associados
ao período de oblteração da democracia no país.
2. INICIATIVA RESERVADA DO EXECUTIVO NO DIREITO CONSTITUCIONAL
21. TAXATIVIDADE DAS HIPÓTESES CONSTITUCIONAIS
Como antes salientado, a regra geral sobre a deflagração do processo legislativo
consiste no compartilhamento do poder de iniciativa entre os entes listados na primeira parte
do art. 61. Interpretação esta que é decorrência mesma do regime democrático inaugurado
com a Carta Constitucional de 1988.
Desta forma, pode-se afirmar que os limites à atividade parlamentar tanto em razão da
cláusula de iniciativa, quanto em razão das restrições ao poder de emenda parlamentar43
estão
estritamente vinculados às hipóteses expressamente previstas na CRFB (arts. 61 e 63). Tais
hipóteses, em observância ao princípio estruturante do estado democrático de direito (art. 1º
da CRFB), devem ser compreendidos como hipóteses taxativas (numerus clausus) e devem
ser interpretados restritivamente, sob pena de usurpação de funções parlamentares, próprias de
regimes autocráticos.
Nos acórdãos a seguir transcritos, o STF reiterou este posicionamento ao rejeitar a
existência de vício de inconstitucionalidade em normas de iniciativa parlamentar que,
respectivamente, disciplinava atos de publicidade do Estado e impunha a gratuidade dos testes
de maternidade e paternidade:
Lei disciplinadora de atos de publicidade do Estado, que independem de reserva de
iniciativa do Chefe do Poder Executivo estadual, visto que não versam sobre
criação, estruturação e atribuições dos órgãos da Administração Pública. Não-
incidência de vedação constitucional (CF, artigo 61, § 1º, II, e). (ADI 2.472-MC,
Rel. Min. Maurício Corrêa, j. em 13-3-02, DJ de 3-5-02)
42
Cf. Anexo I: Separação de poderes e iniciativa reservada: da regulação da liberdade à cooperação
legislativa no direito constitucional brasileiro. 43
ADI 973-MC, Rel. Min. Celso de Mello, j. em 17-12-93; RE 140.542, Rel. Min. Ilmar Galvão, j. em 30-9-93.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
62
Ação direta de inconstitucionalidade. Artigos 1º, 2º e 3º da Lei n. 50, de 25 de maio
de 2004, do Estado do Amazonas. Teste de maternidade e paternidade. Realização
gratuita. (...) Ao contrário do afirmado pelo requerente, a lei atacada não cria ou
estrutura qualquer órgão da Administração Pública local. Não procede a alegação
de que qualquer projeto de lei que crie despesa só poderá ser proposto pelo
Chefe do Executivo. As hipóteses de limitação da iniciativa parlamentar estão
previstas, em numerus clausus, no artigo 61 da Constituição do Brasil —
matérias relativas ao funcionamento da Administração Pública, notadamente no que
se refere a servidores e órgãos do Poder Executivo. Precedentes. (ADI 3.394, Rel.
Min. Eros Grau, j. em 2-4-07, DJ de 24-8-07)
No que tange ao poder de emenda parlamentar, há quem sustente, inclusive, que a
restrição imposta pelo STF de que tais emendas devam guardar relação de pertinência
temática, seria ela mesma uma interpretação contrária à garantia de taxatividade das hipóteses
de restrição da atividade parlamentar, questão esta, todavia, que será abordada em outra
oportunidade44
.
2.2 ABRANGÊNCIA MATERIAL DA RESERVA DE INICIATIVA DO EXECUTIVO
2.2.1 Disciplina das Forças Armadas
§ 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que:
I - fixem ou modifiquem os efetivos das Forças Armadas;
II - disponham sobre:
(...) f) militares das Forças Armadas, seu regime jurídico, provimento de cargos,
promoções, estabilidade, remuneração, reforma e transferência para a reserva (EC n.
18/98)
Desde a instituição da cláusula de iniciativa reservada no direito constitucional
brasileiro, a propositura da lei de fixação do contingente das forças armadas sempre esteve
gravada em favor do chefe do Executivo. Esta vinculação é decorrência direta da idéia de que
ao chefe de Estado exerce o ―comando supremo das Forças Armadas‖ (art. 84, inc. XIII). Esta
cláusula nunca gerou nenhuma dúvida interpretativa e de aplicação.
A inclusão da disciplina do regime jurídico dos militares no âmbito da iniciativa
reservada do Executivo federal decorreu da alteração do status dos militares determinada pela
Emenda Constitucional n. 18, de 1998. Nesta oportunidade, a categoria dos militares foi
desmembrada dos servidores públicos civis, sendo dotada de um regime jurídico próprio45
.
44
Cf. Anexo III: Limites ao poder de emenda parlamentar em matéria de iniciativa reservada: posição do
STF. 45
A redação originária do inc. X do art. 37 da CRFB prescrevia que: ―a revisão geral da remuneração dos
servidores públicos, sem distinção de índices entre servidores públicos civis e militares, far-se-á sempre na
mesma data‖. A desobediência a este dispositivo por conta das leis n. 8.622/93 e 8.627/93, decorrente da pressão
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
63
Portanto, esta prerrogativa nada mais significou do que adaptar o texto constitucional à
inovação constitucional já que a disciplina dos militares, antes servidores públicos militares,
estava incluída na previsão geral (servidores públicos) prevista nas alíneas ―a‖ e ―c‖ do
mesmo dispositivo constitucional.
2.2.2 Regulamentação do Regime de Pessoal da União
§ 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que:
II - disponham sobre:
a) criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração direta e
autárquica ou aumento de sua remuneração;
(...)
c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico, provimento de
cargos, estabilidade e aposentadoria;
Tais dispositivos reservam ao chefe do Executivo a iniciativa de projetos de lei que
digam respeito tanto à criação de cargos e aumento de remuneração, quanto ao regime
jurídico dos servidores públicos civis.
Um esclarecimento faz-se necessário, não obstante o dispositivo legal referir-se à
administração direta e autárquica, devem ser incluídas no âmbito da cláusula de reserva a
propositura de projetos que visem a alterar os cargos e a remuneração das fundações públicas.
Uma vez que a jurisprudência pacificada no âmbito do STF equipara o regime jurídico das
autarquias ao das fundações (autarquias fundacionais)46
.
Apesar do STF ter consolidado entendimento de que, por exigência do princípio da
simetria, as matérias sujeitas à reserva de iniciativa devem ser obrigatoriamente reproduzidas
no âmbito local47
, inúmeros são os atos normativos estaduais invalidados pelo STF por
afrontarem a iniciativa reservada48
, ou as limitações ao poder de emenda parlamentar49
,
prescritos, respectivamente, pelo art. 61, §1º, inc. II, alíneas ―a‖ e ―c‖ e pelo art. 63, I da
CRFB. Há situações, inclusive, que o Parlamento estadual, em clara afronta ao Executivo,
dos militares por recuperação de perdas salariais, gerou uma avalanche de aços judiciais reclamando a extensão
do benefício obtido pelos militares (28,86% às demais categorias de servidores públicos civis). 46 ADI n. 2794/DF, Sepúlveda Pertence, j. em 14-12-06; ADI 1642/MG, Eros Grau, j. em 3-4-08; 47
Cf. seção 0, infra. 48
ADI 2192/ES, Ricardo Lewandowski, j. em 4-6-08; ADI 3061/AP, Carlos Britto, j. em 5-4-06; ADI 1124/RN,
Eros Grau, j. em 2-3-05; ADI n. 2050/RO, Maurício Corrêa, j. em 3-3-04; ADI n. 2892/ES, Carlos Velloso, j. em
19-2-04 (autarquia). 49
ADI 13/SC, Joaquim Barbosa, j. em 17-9-07; ADI n. 2619/RS, Eros Grau, j. em 15-2-06; ADI 1470/ES,
Carlos Velloso, j. em 14-12-05; ADI n. 1304/SC, Maurício Corrêa, j. em 11-3-04; ADI-QO 2840/ES, Ellen
Gracie, j. em 6-11-03.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
64
derrubou o veto governamental e, mesmo flagrante o vício de iniciativa, promulgou ato
normativo posteriormente invalidado pelo STF50
.
A prerrogativa de iniciativa privativa do Chefe do Executivo está sujeita ao juízo de
―discricionariedade política‖ do seu titular51
, iniciativa esta que não pode ser suprida pelo
Poder Judiciário (apesar do STF reconhecer ser o Chefe do Executivo o órgão a figurar em
ação constitucional destinada a reconhecer a inconstitucionalidade por omissão legislativa52
),
nem mesmo por imposição constitucional decorrente de emenda à Constituição estadual53
.
Se por um lado, este dispositivo veda a usurpação da prerrogativa de iniciativa do
chefe do Executivo que lhe confira a faculdade discricionária de, mediante decreto, criar
cargos e alterar remuneração, em flagrante ofensa à reserva legal54
.
Em relação à hipótese prevista na alínea a, ―criação de cargos, funções ou empregos
ou aumento de sua remuneração”, extrai-se da casuística do STF que esta vedação não se
coaduna com iniciativa parlamentar (ou emenda parlamentar) em atos normativos que: (i)
assegurem aos servidores militares vencimento básico nunca inferior a um salário mínimo55
; e
(ii) desencadeiem o aumento de despesa pública a partir da vinculação56
de cargos federais57
.
Por seu turno, não caracteriza usurpação desta prerrogativa: (i) lei que fixe data para o
pagamento dos servidores estaduais e a ocorrência de correção monetária em caso de atraso58
;
ou ainda, (ii) que preveja reajuste setorial de servidores públicos do âmbito do Poder
50
ADI 64/RO, Carmen Lúcia, j. em 21-11-07. 51
Esta questão foi inúmeras vezes apreciadas pelo STF por ocasião da discussão sobre a legitimidade do Poder
Judiciário de reconhecer a omissão do Executivo federal em propor projeto de lei relativo à ―revisão geral anual‖
determinada pelo art. 37, inc. X da CRFB (cf., e.g., RE-AgR 327621, Carlos Britto, j. em 21-2-06; RE-
AgR 553231/RS, Ricardo Lewandowski, j. em 13-11-07). 52
―É o Presidente da República a autoridade que deve figurar em Mandado de Injunção contra omissão
legislativa é da alçada privativa do Presidente da República‖ (MI 153-AgR, Paulo Brossard, j. em 14-3-90) 53
ADI 2.393-MC, Min. Sydney Sanches, j. em 9-5-02; ADI 3.051, Min. Carlos Britto, j. em 30-6-05. 54
―(...) 2. INCONSTITUCIONALIDADE. Ação direta. Art. 5° da Lei n° 1.124/2000, do Estado do Tocantins.
Administração pública. Criação de cargos e funções. Fixação de atribuições e remuneração dos servidores.
Efeitos jurídicos delegados a decretos do Chefe do Executivo. Aumento de despesas. Inadmissibilidade.
Necessidade de lei em sentido formal, de iniciativa privativa daquele. Ofensa aos arts. 61, § 1°, inc. II, "a", e 84,
inc. VI, "a", da CF. Precedentes. Ações julgadas procedentes. São inconstitucionais a lei que autorize o Chefe do
Poder Executivo a dispor, mediante decreto, sobre criação de cargos públicos remunerados, bem como os
decretos que lhe dêem execução.ADI n. 3232/TO, Rel. Cezar Peluso, j. em 14-8-08. 55
Neste caso, tratava-se de dispositivo da Constituição Estadual (RE 198.982, Rel. Min. Ilmar Galvão, j. em 5-8-
98). A controvérsia concernente aos limites ao Poder Constituinte Decorrente serão tratadas na seção 0. Frise-se
que esta decisão foi tomada antes da edição das Súmulas Vinculantes n. 4 e 6 que tratam sobre a fixação de
salário mínimo para remuneração de servidor público e a possibilidade de que praças percebam soldo inferior ao
salário mínimo, respectivamente. 56
A própria vinculação de remuneração a cargos de outros entes federativos constitui ofensa material ao disposto
no art. 37, inc. X c/c art. 7º, inc. IV da CRFB. 57
ADI 64, Rel. Carmen Lúcia, j. em 22-11-07. 58
ADI 559, Rel. Eros Grau, j. em 15-2-06; ADI 554, Rel. Eros Grau, j. em 15-2-06.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
65
Legislativo, hipótese que está sujeita à reserva de lei de iniciativa das respectivas casas
legislativas59
.
Mais diversificada, todavia, é a casuística relacionada à cláusula constante da alínea c,
―regime jurídico, provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria”. Reconheceu o
STF ser vedada a iniciativa parlamentar de leis que: (i) imponham regras gerais restritivas à
margem de ponderação para a propositura de limites de idade para ingresso em determinadas
carreiras públicas60
; (ii) reduzam jornada de trabalho de servidores públicos61
, instituam
regime especial de servidores da área da saúde62
ou ainda que fixem regras para a distribuição
de carga horária e jornada de trabalho de professores a pretexto de regulamentar o sistema
estadual de ensino63
; (iii) instituam dever de acompanhamento preventivo de saúde dos
servidores públicos estaduais64
; (iv) determinem o prazo de 180 dias para a nomeação de
candidato aprovado em concurso público dentro do limite de vagas do edital65
; (v) permitam a
opção por regime jurídico de servidores celetistas e que determinem aproveitamento de
servidores públicos de outras unidades da federação66
; (vi) instituam regime jurídico próprio
de servidor do Legislativo67
; ou mesmo, (vii) instituam, através de emenda parlamentar,
hipótese de perdão por falta de servidor público68
.
Por outro lado, reconhecem-se serem legítimas normas que prevêem a isenção do
pagamento de taxa de concurso público69
; ou ainda, resultantes da atuação do Poder
constituinte decorrente, determinem que o Governador deva escolher o PGE dentre os
procuradores de carreira70
, anistiem infrações administrativas de servidores estaduais por
ocasião de sua promulgação71
, ou ainda, fixem data para o pagamento dos vencimentos dos
59
ADI 3599/DF, Gilmar Mendes, j. em 21-5-07. 60
ADI 776, Sepúlveda Pertence – voto, j. em 2-8-07; ADI 980, Rel. Menezes de Direito, j. em 6-3-08. 61
ADI 3739, Gilmar Mendes, j. em 17-5-07. 62
ADI 3175, Gilmar Mendes, j. em 17-5-07. 63
Lei de iniciativa parlamentar que cuida de jornada de trabalho, distribuição de carga horária, lotação dos
profissionais da educação e uso dos espaços físicos e recursos humanos e materiais do Estado e de seus
Municípios na organização do sistema de ensino (ADI 1.895, Min. Sepúlveda Pertence, j. em 2-8-07, DJ de 6-9-
07). 64
ADI 3403-SP, Min. Joaquim Barbosa, j. em 18-6-07. 65
ADI 2931, Carlos Britto, j. em 24-2-05; RE 229.450, Maurício Corrêa, j. em 10-2-00. 66
Regra prevista na Lei Orgânica Distrital. ADI 980, Menezes de Direito, j. em 6-3-08 67
MS 22.644/DF, Rel. p/o ac. Ilmar Galvão, j. em 1º-9-99. 68
ADI 13/SC, Rel. Joaquim Barbosa, j. em 17-9-07. 69
ADI 2.672/ES, Rel. p/ o ac. Carlos Britto, j. em 22-6-06. 70
ADI 2.581/SP, Rel p/o ac. Marco Aurélio, j. em 16-8-07. A questão sobre os limites ao poder constituinte
decorrente será tratada na seção 0. 71
ADI 104/RO, Sepúlveda Pertence, j. em 4.6-07.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
66
servidores públicos estaduais72
, sem que tais condutas configurassem ofensa ao art. 61, §1º,
inc. II, alínea ―c‖.
2.2.3 Organização da Administração Pública
§ 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que:
II - disponham sobre: (...)
e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública, observado o
disposto no art. 84, VI (redação determinada pela EC n. 19/98)
A inclusão de mais uma hipótese dentre aquelas gravadas como de reserva de
iniciativa do Executivo73
, diferentemente daquilo que pode transparecer, inicialmente, não
importou em ampliação do poder conferido ao Chefe do Executivo, mas, pelo contrário, em
sua restrição, já que o diploma constitucional revogado previa expressamente, dentre as
atribuições normativas do Presidente da República, a faculdade de ―dispor sôbre a
estruturação, atribuições e funcionamento dos órgãos da administração federal‖ (art. 81, inc.
V da CF-1967/69).
Portanto, a constituição sujeitou a disciplina interna da estruturação e funcionamento
da Administração Pública à reserva de lei e, ao fazê-lo, conferiu a prerrogativa da iniciativa
legislativa ao Presidente da República. Em uma primeira leitura, esta atribuição está mais
estreitamente vinculada à idéia de preservação da autonomia, tão cara à função declarada do
instituto da reserva de iniciativa de maximização do princípio da separação de poderes.
Por força da Emenda Constitucional n. 19/98 e da criação do chamado decreto
autônomo no âmbito da Administração Pública federal (art. 84, inc. VI), sem deixar de
submeter à reserva de lei a criação e extinção de Ministérios e órgãos da Administração
pública, o constituinte reformador operou nova des-legalização da disciplina jurídica da
organização e funcionamento da Administração Pública. Isto quer significar que a expressão
"estruturação e atribuições" (constante da redação original do art. 61, §1º, II, e) pode ser
considerada equivalente à expressão "organização e funcionamento" (constante da redação do
art. 84, VI, a), portanto sujeita está à chamada ―reserva de decreto‖. Tal interpretação, como
72
ADI 544/SC, Carlos Velloso, j. em 1-4-04; ADI 657/RS, Néri da Silveira, 10-10-96. 73
A Constituição de 1988 foi o primeiro texto constitucional a incluir, dentre as matérias cuja iniciativa
encontra-se reservada à Chefia do Executivo as normas relativas à ―criação, estruturação e atribuições dos
Ministérios e órgãos da administração pública‖ (redação originária da CRFB).
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
67
em outro trabalho será defendido74
, é perfeitamente plausível apesar dos precedentes do STF75
que entenderam, em obter dicta desprovido de adequada fundamentação76
, ter sido suprimida
a iniciativa privativa do Presidente para dispor sobre estrutura e atribuições da Administração,
sujeitando-a à iniciativa concorrente.
De qualquer sorte, a sujeição da disciplina sobre a criação e extinção de Ministérios e
órgãos da Administração Pública (seja ela direta ou autárquica/fundacional77
) à cláusula de
reserva impõe, igualmente, uma série de restrições à atuação parlamentar. Nestes termos, é
vedado aos parlamentares disporem sobre: (i) a criação e organização de Conselho (típico
órgão com funções deliberativas) no âmbito do Executivo78
; criação de órgãos executivos
estaduais79
, a imposição de novas atribuições a órgãos estaduais80
e, ainda, a imposição ao
Executivo do dever de implementar determinado serviço81
, mesmo que a pretexto de instituir
Programa Estadual de Iluminação Pública em benefício de municípios82
; (ii) a inserção de
representante oriundo da Poder legislativo em órgão do Poder Executivo local83
; (iii) a criação
de entidade da administração indireta84
; (iv) a regulamentação de matéria que está sujeita à
reserva de decreto (art. 84, inc. VI)85
; (v) o reconhecimento de autonomia funcional e
administrativa à Defensoria Pública determinada por dispositivo de Constituição estadual86
;
(vi) a extinção e a criação de entidades públicas e alteração da Política pública implementada
74
Para uma discussão detalhada sobre as alterações neste dispositivo determinadas pela EC n. 32/01, cf. Anexo
IV: O Decreto do art. 84, VI, „a‟, da Constituição Federal de 1988: limites e possibilidades. 75
ADI n. 3112, Ricardo Lewandowski, j. em 2-5-07; ADI-MC n. 2734, Moreira Alves, j. em 76
―(...) Salientando-se que a Lei 10.826/2003 foi aprovada depois da entrada em vigor da EC 32/2001, que
suprimiu da iniciativa exclusiva do Presidente da República a estruturação e o estabelecimento de atribuições dos
Ministérios e órgãos da Administração Pública, considerou-se que os seus dispositivos não versam sobre a
criação de órgãos, cargos, funções ou empregos públicos, nem sobre sua extinção, como também não desbordam
do poder de apresentar ou emendar projetos de lei, que o texto constitucional atribui aos congressistas‖. Trecho
transcrito da ementa da ADI n. 3112/DF. 77
Cf. definição feita no item 0, supra. 78
ADI 3.751, Rel. Gilmar Mendes, j. em 4-6-07; ADI 1275, Ricardo Lewandowski, j. em 16-5-07; ADI n.
2707/SC, Joaquim Barbosa, j. em 15-2-06. 79
Criação de circunscrições de trânsito (ADI 2721/ES, Maurício Corrêa, j. em 6-8-03; ADI 2720/ES, Sepúlveda
Pertence, j. em 20-3-03). 80
Lei determina que a Secretaria da Fazenda deva incluir o nome dos contribuintes devedores em cadastros de
crédito. (ADI 2857, Joaquim Barborsa, j. em 30-8-07); Lei que cria pólos de desenvolvimento que impõem
atribuições a órgãos e secretarias da Administração Pública (ADI 2808, Gilmar Mendes, j. 24-8-06); Lei que
altera sistemática de registros de automóveis perante a autoridade de trânsito estadual (ADI 3254/ES, Ellen
Gracie, j. em 16-11-05). Criação de Delegacia de Ensino a partir da alteração de órgão estadual já constituído,
com alterações de atribuições (ADI 2417/SP, Maurício Corrêa, j. em 3-9-03). Imposição de novas tarefas ao
DETRAN (ADI 2719/ES, Carlos Velloso, j. em 20-3-03). 81
Serviço de satisfação de usuários de serviços públicos (ADI 3180, Joaquim Barbosa, j. em 17-5-07) ou 82
ADI 1144/RS, Eros Grau, j. em 16-8-06. 83
No caso, o Conselho Estadual de Educação (ADI 2654-MC, Sepúlveda Pertence, j. em 26-6-02). 84
Criação do Museu Gaúcho (ADI 2302/RS, Gilmar Mendes, j. em 15-2-06). 85
ADI 2707/SC, Joaquim Barbosa, j. em 15-2-06. 86
ADI 575/PI, Sepúlveda Pertence, j. em 23-5-99.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
68
no âmbito de Secretaria de Estado87
; (vii) a imposição de condições para a nomeação de cargo
de confiança (delegado geral de polícia)88
; (viii) a privação da competência para dispor sobre
organização e funcionamento da administração sem prévia anuência legislativa89
.
Por outro lado, não configura ofensa à reserva de iniciativa imposta pela alínea ―e‖
norma que: (i) ao disciplinar sobre atribuições de órgãos federais, reproduza dispositivos
legais anteriores90
; (ii) regula atos de publicidade do Estado91
; (iii) impõe a obrigatoriedade do
ensino de educação artística em toda a rede pública de ensino, sem violar as normas da
LDB92
; (iv) institui região metropolitana93
; e, ainda, (v) determina realização gratuita de teste
de paternidade e de maternidade94
.
Em todos estes casos, em que pese exista alguma espécie de reflexo sobre a
organização da Administração estadual, o escrutínio do STF circunscreveu-se à análise estrita
da criação (ou alteração) de órgão executivo estadual, ou ainda, em se tratando de emenda
parlamentar à projeto de iniciativa reservada, de incremento de despesa vedada pelo art. 63, I
da CRFB. Descartadas estas hipóteses, em face da já mencionada taxatividade das cláusulas
de restrição do poder de iniciativa geral, a alegação de inconstitucionalidade sob vício formal
foi peremptoriamente afastada.
2.2.4 Organização dos serviços nos Territórios (inc. II, b)
§ 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que:
II - disponham sobre: (...)
b) organização administrativa e judiciária, matéria tributária e orçamentária, serviços
públicos e pessoal da administração dos Territórios;
Em que pese a obviedade deste dispositivo, que restringe sua incidência à
regulamentação dos territórios federais, frequentemente o mesmo é invocado para tentar
caracterizar a obrigatoriedade de observância de iniciativa reservada ao chefe do Executivo
87
ADI 2750/ES, Eros Grau, j. em 6-4-05. 88
ADI 2710/ES, Sydney Sanches, j. em 23-4-03. 89
ADI n.1348/RJ, Cármen Lúcia, j. em 21-2-08. (Tratavam-se de dispositivos da Constituição do Rio de Janeiro
que vedavam a alienação de ações de sociedades de economia mista estaduais) 90
Julgamento do Estatuto do Desarmamento (ADI n. 3112/DF, Ricardo Lewandowski, j. em 2-5-07). Para
algumas considerações sobre a situação aqui denominada de ―iniciativa por empréstimo‖, cf. seção 0. 91
ADI 2.472-MC, Maurício Corrêa, j. em 13-3-02. 92
ADI 1399/SP, Maurício Corrêa, j. em 3-3-04. 93
ADI n. 2809/RS, Maurício Corrêa, j. em 25-9-03. 94
ADI 3394/AM, Eros Grau, j. em 2-4-07.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
69
em matéria tributária, em matéria afeita à regulamentação da segurança pública e na iniciativa
reservada no âmbito do Distrito Federal.
Tais mal-entendidos, quiçá, afiguram-se como resquícios do regime constitucional
anterior que condicionava, à reserva de iniciativa do Presidente, ―as normas relativas à
matéria financeira‖ e ―disponham sôbre organização administrativa e judiciária, matéria
tributária e orçamentária, serviços públicos e pessoal da administração do Distrito Federal‖
(art. 57, inc. I e IV, 1ª. parte, CF-69).
A leitura dos seguintes trechos de decisões do Pleno do STF elimina quaisquer
dúvidas relativas à restrição da abrangência deste dispositivo às normas dos territórios
federais:
(...) A jurisprudência deste Supremo Tribunal fixou o entendimento segundo o qual
o artigo 61, § 1º, II, b, da Carta Magna refere-se exclusivamente aos Territórios
Federais, não configurando norma cuja observância seja impositiva aos Estados-
membros. Precedentes: ADI nº 2.304-MC, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ
15.12.2000 e ADI nº 352-MC, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 8.03.91‖. (ADI n. 2474,
Ellen Gracie, j. em 19-3-03).
(…) 3. Argüição de violação ao art. 61, §1º, inciso II, alínea "b" da Constituição, sob
o fundamento de que haveria inconstitucionalidade formal. (...) 4. O dispositivo
invocado trata de matéria de iniciativa legislativa no âmbito dos territórios
federais. 5. Precedentes. (ADI n. 2724/SC, Gilmar Mendes, j. em 24-9-03)
Sistematicamente, o STF vem rechaçando pretensões de invalidação de diplomas
normativos de natureza tributária que alegam vício de iniciativa por ofensa a este
dispositivo95
, como p.ex., (i) enunciados normativos que concedem benefícios fiscais
decorrentes de pagamento antecipado de tributo96
, (ii) isenção de pensionistas e aposentados
de contribuição ao sistema de custeio do plano de saúde dos servidores97
; (iii) outorga de
gratuidade em contratos de concessão e permissão98
são considerados legítimos quando
oriundos de iniciativa parlamentar.
Em matéria tributária, o STF vem reconhecendo, inclusive, que não há que se falar em
ofensa à reserva de iniciativa de leis orçamentárias (determinada pelo art. 165 da CRFB).
Trata-se de pronunciamento peremptório por parte daquela corte, como se pode aferir dos
trechos das decisões a seguir transcritas:
95
RE-AgR 362573/MG, Eros Grau, J. EM 26-6-07; ADI n. 2.724, Gilmar Mendes, DJ 2-4-04; ADI n. 2.304,
Sepúlveda Pertence, DJ 15-12-2000; ADI n. 2.599-MC, Moreira Alves, DJ 13-12-02; ADI 2.464, Rel. Ellen
Gracie, j. em 11-4-07; ADI n. 2320/SC, Eros Grau, j. em 15-2-06. 96
ADI 2.464, Ellen Gracie, j. em 11-4-07. 97
ADI n. 3205/MS, Sepúlveda Pertence, j. em 19-10-06. 98
ADI 3225/RJ, Cezar Peluso, j. em 17-9-07.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
70
O ato de legislar sobre direito tributário, ainda que para conceder benefícios
jurídicos de ordem fiscal, não se equipara, especialmente para os fins de instauração
do respectivo processo legislativo, ao ato de legislar sobre o orçamento do Estado."
(ADI 724-MC, Celso de Mello, j. em 7-5-92)
A reserva de iniciativa prevista no art. 165, II da Carta Magna, por referir-se a
normas concernentes às diretrizes orçamentárias, não se aplica a normas que tratam
de direito tributário, como são aquelas que concedem benefícios fiscais.
Precedentes: ADI n. 724-MC, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 27-4-01 e ADI n. 2.659,
Rel. Min. Nelson Jobim, DJ de 6-2-04. Ação direta de inconstitucionalidade cujo
pedido se julga improcedente." (ADI 2.464, Ellen Gracie, j. em 11-4-07)99
Outra fonte de equívocos são os arestos subscritos pelo Ministro Eros Grau nas ADI‘s
n. 2819/RJ (j. em 6-4-05) e 1182/DF(j. em 24-11-05). Tais representações impugnam normas
relativas à organização e atribuições de órgãos estadual e distrital de segurança publica,
respectivamente. O ministro defende, invocando o precedente da ADI n. 882 (Rel. Maurício
Corrêa, j. em 19-2-04)100
, tratar-se de ofensa ao vício de iniciativa, já que a ―gestão da
segurança pública‖ estaria sujeita à atribuição privativa do chefe do Executivo (ex vi dos arts.
144, §6º, 84, VI, ―a‖ e art. 61, §1º, inc. II, “b”, todos da CRFB).
Pelas razões antes expostas, labora em flagrante equívoco o magistrado, pois deveria
fundar a ocorrência de vício de iniciativa na ofensa às alíneas ―c‖, ―e‖ ou ―f‖ de acordo com o
caso concreto. Este erro de fundamentação, todavia, à evidência, não foi cometido em outros
julgados daquela Corte, como se pode observar, da leitura dos acórdãos subscritos pelos
Ministros Celso de Mello (ADI n. 2867/ES, j. em 3-12-03) e Maurício Corrêa (ADI n.
2742/ES, j. em 20-3-03), que apontam, corretamente, a ocorrência de violação à alínea ―c‖,
em se tratando de norma relativa à gestão de segurança pública.
99
Em que pese serem taxativos os referidos acórdãos, colhe-se precedente da lavra do Min. Sydney Sanches (em
MC na ADI n. 2345-MC, j. em 1º-8-02, até o momento ainda não apreciada definitivamente pelo STF decorridos
mais de 6 anos da apreciação cautelar) que, ao suspender norma catarinense que anula atos administrativos
[notificações fiscais] viciados e determinar sua restituição pela Fazenda Estadual, equivocadamente, alega, ad
argumentandum tantum, a existência de ofensa a iniciativa privativa do Poder Executivo ―o que seria, em
princípio, necessário, por se tratar de matéria tributária (artigo 61, II, b, da CF). Mesmo que se qualifique a Lei
impugnada, como de anistia, que ao Legislativo caberia, em princípio, conceder (art. 48, VIII, da Constituição),
não deixaria de ser uma anistia tributária, a exigir a iniciativa do Chefe do Poder Executivo. Até porque provoca
repercussão no erário público, na arrecadação de tributos e, conseqüentemente, na Administração estadual.
Havendo, assim, repercussão no orçamento do Estado, diante da referida obrigação de restituir, parece violado,
ao menos, o disposto no art. 165, III, da CF, quando atribui ao Poder Executivo a iniciativa da lei orçamentária
anual‖. 100
Segundo esta decisão, a segurança pública seria abrangida pelo conceito de ―organização administrativa‖,
como se pode ver da transcrição de trecho do referido aresto: ―1. Ordenamento constitucional. Organização
administrativa. As polícias civis integram a estrutura institucional do Poder Executivo, encontrando-se em
posição de dependência administrativa, funcional e financeira em relação ao Governador do Estado (artigo, 144,
§ 6o, CF)‖.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
71
2.2.5 Regulamentação da organização administrativa do Ministério Público
§ 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que:
II - disponham sobre: (...)
d) organização do Ministério Público e da Defensoria Pública da União, bem como
normas gerais para a organização do Ministério Público e da Defensoria Pública dos
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios;
Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função
jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime
democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. (...)
§ 2º Ao Ministério Público é assegurada autonomia funcional e administrativa,
podendo, observado o disposto no art. 169, propor ao Poder Legislativo a criação e
extinção de seus cargos e serviços auxiliares, provendo-os por concurso público de
provas ou de provas e títulos, a política remuneratória e os planos de carreira; a lei
disporá sobre sua organização e funcionamento.
Não obstante a inclusão da reserva de iniciativa as normas relacionadas à organização
do Ministério Público e da Defensoria Pública da União, o texto constitucional originário, no
mencionado art. 127, §2º, conferiu igualmente ao Chefe do órgão ministerial, a prerrogativa
para a iniciativa de normas relacionada ao exercício de sua autonomia administrativa. Esta
aparente contradição normativa prevista pelo constituinte originário tem sido interpretada, à
luz do princípio de hermenêutica constitucional de concordância prática dos dispositivos
constitucionais, como instauradora de uma ―iniciativa concorrente‖ entre o Chefe do
Executivo e o chefe do Parquet. Esta foi a decisão-paradigma fixada na ADI n. 126/RO (Rel.
Octavio Gallotti, j. em 29-8-91) que afastou a inconstitucionalidade de dispositivo da
Constituição rondoniense que explicitava a autonomia financeira e a iniciativa do Ministério
Público para a deflagração de processo legislativo sobre sua organização e política
remuneratória. Isto é o que se deflui dos arestos a seguir transcritos:
No julgamento da ADIn n. 126-4, Relator o Sr. Ministro O. Gallotti, o Supremo
Tribunal Federal decidiu que a competência do Ministério Público para propor a
fixação de vencimentos decorre do poder que lhe confere a Constituição de
iniciativa para a criação de cargos (CF, art. 127, § 2º). (ADI 595-MC, Rel. Min.
Carlos Velloso, julgamento em 30-10-91, DJ de 13-12-91)
Ministério Público pode deflagrar processo legislativo de lei concernente à política
remuneratória e aos planos de carreira de seus membros e servidores. (ADI 603, Rel.
Eros Grau, j. em 17-8-06)
Além de reconhecida a concorrência de iniciativa entre ambos os órgãos, a iniciativa
do Parquet definida pelo §2º foi interpretada de forma ampliada a incluir, as atribuições
conferidas ao Poder Judiciário, nos termos do art. 96, inc. II, alínea b. Para tanto, a teoria dos
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
72
poderes implícitos e o princípio da separação de poderes foram utilizados como argumento
para sustentar esta interpretação ampliadora das cláusulas sujeitas ao seu poder de iniciativa.
É digna de nota que, anteriormente à inclusão do §2º ao art. 134 da CRFB, pela EC n.
19/98, que expressamente confere à Defensoria Pública a autonomia funcional e
administrativa e a iniciativa para a propositura de sua proposta orçamentária; norma
constitucional estadual foi considerada inconstitucional formal e materialmente por atribuir
tais prerrogativas à Defensoria Pública do Estado do Piauí101
. Ademais, a mesma alteração
constitucional foi invocada para considerar inconstitucional vinculação administrativa da
Defensoria Pública à determinada secretaria de estado102
.
Por fim, vale a pena destacar, que a Defensoria Pública, diferentemente do órgão
ministerial, não possui prerrogativa de propositura de lei concorrentemente ao chefe do
Executivo.
2.3 VÍCIO FORMAL, INCONSTITUCIONALIDADE E CONVALIDAÇÃO
Do que se pode perceber, é fácil analisar que ―(...) a iniciativa reservada objetiva
resguardar a seu titular a decisão de propor direito novo em matérias confiadas à sua especial
atenção ou a seu interesse preponderante‖. Contudo, há que se atentar para o que poderia
resultar na sua forma degenerada: o chamado vício de iniciativa.
O vício de iniciativa pode ser traduzido, grosso modo, como a inconstitucionalidade
formal de uma propositura de lei resultante de usurpação de competência legislativa, esta
previamente delineada no texto constitucional. Ainda que inexista vício material de
inconstitucionalidade, o fato de a propositura legal ter sido desenvolvida com nítida invasão
de reserva de iniciativa, por configurar caso de inobservância de requisitos formais do
processo legislativo, pode dar razão a sua invalidação. A grande dúvida, porém, é quanto ao
alcance dessa condição, vale dizer, em caso de sanção de lei em cuja origem constatou-se
usurpação de iniciativa reservada, há de se falar em sua legitimidade constitucional?
A convalidação de leis que tiveram um início impróprio gerou acirrada controvérsia
doutrinária. O argumento levantado por José Afonso da Silva (1965) rezava que, no caso da
iniciativa privativa da Presidência, ainda que a lei que deveria ter sido proposta pela chefia do
Executivo tenha sido ensejada por outra instância do processo legislativo, sua sanção, por ser
101
ADI 575/DF, Sepúlveda Pertence, j. em 25-3-99. 102
ADI n. 3569/PE, Sepúlveda Pertence, j. em 2-4-07
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
73
ato advindo diretamente da vontade da pessoa do Presidente da República, convalida o texto
legal, em uma, por assim dizer, substituição volitiva.
Em contrapartida, importa lembrar que a Constituição continua sendo o ápice de um
ordenamento jurídico interno, sendo a hipótese de sua inobservância um vício plenamente
capaz de invalidar uma lei, ou seja, não estando em conformidade com a disposição
constitucional, qualquer ato derivado da Constituição deve ser invalidado. As regras que
regem a propositura das leis - dentre as quais, aquelas que determinam as competências
privativas - são como qualquer outra, importando respeito, sob pena das providências
sancionatórias cabíveis. Nestes termos, para FERREIRA FILHO (1995, p. 215) a questão em
torno da invasão da esfera de iniciativa reservada, importa no reconhecimento de nulidade
absoluta e insanável, nos termos a seguir apresentados:
(...) no plano estritamente jurídico, a tese da convalidação contradiz um dos
postulados que D´Alessio, e com ele a doutrina italiana, afirma a respeito do ato
complexo. De fato, relata Diez, que, segundo o ensinamento desses mestres, 'não é
válido um ato se não são válidos todos os elementos que devem concorrer à sua
formação'. Destarte, não sendo válida a iniciativa, seria inválida a lei, apesar da
sanção posterior.
Em que pese este embate clássico entre os constitucionalistas e a guinada
jurisprudencial levada a cabo pelo STF ainda sobre a vigência da carta política anterior, não
há mais controvérsia jurisprudencial em relação a esta questão. Reiterados são os
pronunciamentos daquela corte que reconhecem que o vício de iniciativa decorrente da
iniciativa parlamentar ou mesmo do poder de emenda parlamentar macula desde a origem o
diploma normativo.
A sanção do projeto de lei não convalida o vício de inconstitucionalidade resultante
da usurpação do poder de iniciativa. A ulterior aquiescência do Chefe do Poder
Executivo, mediante sanção do projeto de lei, ainda quando dele seja a prerrogativa
usurpada, não tem o condão de sanar o vício radical da inconstitucionalidade.
Insubsistência da Súmula n. 5/STF. Doutrina. Precedentes. No mesmo sentido: ADI
1.963-MC, Rel. Min. Maurício Corrêa, julgamento em 18-3-99, DJ de 7-5-99; ADI
1.070-MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 23-11-94, DJ de 15-9-95.
(ADI 2.867, Celso de Mello, j. em 3-12-03, DJ de 9-2-07).
2.4 PRINCÍPIO DA SIMETRIA E LIMITE À CAPACIDADE DE AUTO-ORGANIZAÇÃO
DOS ENTES LOCAIS
Questão sempre tormentosa no constitucionalismo brasileiro, consiste na demarcação
da capacidade de auto-organização deferida pela ordem constitucional aos Estados ao
conferir-lhes poder constituinte decorrente, bem como, na fixação do limites entre os entes
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
74
federativos nas matérias legislativas gravadas como de competência concorrente, e ainda, na
regulamentação do interesse local pelo ente municipal. Esta dificuldade é mais facilmente
compreensível quando se analisa a origem do nosso federalismo (por decomposição) e,
sobretudo, a tradição fortemente centralizadora em torno da União, herança dos regimes
autoritários constitutivos da cultura política nacional.
Os Estados federados, por força do art. 25, são dotados de capacidade de auto-
organização, ―observados os limites desta Constituição‖. Esta limitação é reproduzida no art.
11 do ADCT, apesar de contar naquele dispositivo com o reconhecimento expresso de serem
―constituintes‖ os poderes de que se revestem as Assembléias legislativas estaduais.
Se há inúmeras controvérsias relacionadas à extensão dos chamados princípios
sensíveis (de reprodução necessária no âmbito local), unânime é o pronunciamento do STF no
tocante à necessidade de reprodução em nível local do modelo federal de separação de
funções. Ademais, igualmente unânime vem sendo o reconhecimento de que as regras do
processo legislativo federal, dentre elas, a previsão constitucional de cláusulas de reserva de
iniciativa, desde a adoção do caso-paradigma julgado na ADI n. 216-MC/PB (Célio Borba, j.
em 23-5-90)103
.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - CONSTITUIÇÃO
ESTADUAL - PROCESSO LEGISLATIVO - A QUESTÃO DA OBSERVANCIA
COMPULSORIA, OU NÃO, DE SEUS PRINCÍPIOS, PELOS ESTADOS-
MEMBROS - NOVA CONCEPÇÃO DE FEDERALISMO CONSAGRADA NA
CONSTITUIÇÃO DE 1988 - PERFIL DA FEDERAÇÃO BRASILEIRA -
EXTENSAO DO PODER CONSTITUINTE DOS ESTADOS-MEMBROS -
RELEVO JURÍDICO DO TEMA - SUSPENSÃO LIMINAR DEFERIDA. O perfil
da Federação brasileira, redefinido pela Constituição de 1988, embora aclamado por
atribuir maior grau de autonomia dos estados-membros, e visto com reserva por
alguns doutrinadores, que consideram persistir no Brasil um federalismo ainda
afetado por excessiva centralização espacial do poder em torno da união federal. Se
é certo que a nova carta política contempla um elenco menos abrangente de
princípios constitucionais sensíveis, a denotar, com isso, a expansão de poderes
jurídicos na esfera das coletividades autônomas locais, o mesmo não se pode afirmar
quanto aos princípios federais extensíveis e aos princípios constitucionais
estabelecidos, os quais, embora disseminados pelo texto constitucional, posto que
não é tópica a sua localização, configuram acervo expressivo de limitações dessa
autonomia local, cuja identificação - até mesmo pelos efeitos restritivos que deles
decorrem - impõe-se realizar. A questão da necessária observância, ou não,
pelos estados-membros, das normas e princípios inerentes ao processo
legislativo, provoca a discussão sobre o alcance do poder jurídico da
união federal de impor, ou não, às demais pessoas estatais que
103 Manifestação esta subscrita, em caráter defiitivo, na ADI 276 (voto Sepúlveda Pertence)
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
75
integram a estrutura da federação, o respeito incondicional a padrões
heterônomos por ela própria instituídos como fatores de compulsória
aplicação. Esse tema, que se revela essencial a organização político-
administrativa do estado brasileiro, ainda não foi decidido pelo
Supremo Tribunal Federal. Da resolução dessa questão central,
emergira a definição do modelo de federação a ser efetivamente
observado nas práticas institucionais. Enquanto não sobrevier esse
pronunciamento, impõe-se, como medida de cautela, a suspensão
liminar de preceitos inscritos em constituições estaduais, que não
hajam observado os padrões jurídicos federais, de extração
constitucional, concernentes ao processo legislativo.
Mais enfático ainda é o pronunciamento do STF quando reconhece que o princípio da
simetria implica em ―vinculação do Poder Constituinte Decorrente à observância da iniciativa
privativa do Poder Executivo no âmbito estadual‖ (ADI 541, voto Carlos Velloso, j. em 10-5-
07).
Nestas decisões, evidencia-se o delicado debate concernente aos limites impostos à
própria capacidade de auto-organização do Estado. Limites estes associados à margem de
apreciação sobre o arranjo institucional concreto dos órgãos locais (sobre os mecanismos de
check and balances e de cooperação determinados localmente). Sempre que esta questão vem
à tona, por mais que a discussão se revista de feição aparentemente técnica (relativa à
iniciativa legislativa), o que subjaz latente é a necessidade de reflexão sobre o modelo
federativo instituído pela carta constitucional.
Na ADI n. 2581/SP (j. em 16-8-07), que discutia a legitimidade da exigência instituída
pelo Constituinte estadual paulista de que o Governador nomeasse o Procurador-Geral do
Estado dentre os procuradores de carreira, a despeito da regra congênere fixada ao Presidente
para a nomeação do Advogado-Geral da União (art. 131 da CRFB), esta percepção ficou
evidenciada no debate oral travado entre o Min. Nelson Jobim e Cezar Peluso. Segue trecho
desta discussão:
[Cezar Peluso] Neste caso, toda esta discussão [a respeito do perfil do federalismo],
a mim me parece, com o devido respeito, inútil, porque a Constituição Federal tem
regra expressa que seria aniquilada por outra interpretação. (...)
[Nelson Jobim] Claro, como também podemos apor as nossas [conclusões] que não
serão desnecessárias e inúteis. V.Exa. me permite, mas a inutilidade não pode [sic],
se há uma averbação pela divergência.
[Cezar Peluso] Sim, reverencio Vossas Excelências. Mas a Constituição diz: ―até a
promulgação da Constituição estadual‖ [art. 235, VIII das Disposições
Constitucionais Gerais da CRFB]. Qual é o significado de remeter-se ao termo de
superveniência da Constituição estadual, senão que a Constituição estadual defina
quem deva responder pela Procuradoria? (...)
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
76
[Nelson Jobim] Não, Ministro. É que até aquele momento, antes de 1988, quem
respondia, em alguns casos, nos Estados, era o Ministério Público. Não havia a
advocacia do Estado. Essa era a razão. (...)
[Cezar Peluso] (...) Não estou discutindo a circunstância de que o Constiuinte
federal resolveu disciplinar uma omissão da legislação estadual.
[Nelson Jobim] Não era omissão, era transição de sistema.
Em voto de desempate nesta ação, o Min. Sepúlveda Pertence, reitera posicionamento
anteriormente assumido que estabelece as seguintes premissas:
a) as regras do processo legislativo federal de cunho substantivo devem ser
reproduzidas no âmbito estadual104
;
b) é vedado o trato em constituições estaduais de matéria, sem caráter essencialmente
constitucional, que caracterize fraude à iniciativa reservada ao Poder Executivo de
leis ordinárias a respeito105
;
c) é legítima a regulamentação de órgãos constitucionalmente previstos, pelo
Constituinte estadual, como exercício do seu poder de auto-governo, sem que haja
violação expressa à cláusula presente em modelo federal.
Por fim, vale a pena ressaltar, que o exercício do poder constituinte reformador no
âmbito estadual, que altere norma relativa à iniciativa reservada, está igualmente sujeito a
observância da cláusula de reserva106
. Portanto, que se tratasse de dispositivo materialmente
constitucional, para ter sua legitimidade reconhecida deverá ser respeitada a respectiva
iniciativa em relação à propositura da PEC, se for o caso.
104
P.ex., não padece de vício dispositivo constitucional que limita a produção de determinados resultados do
processo legislativo, como leis sobre gratuidades (ADI 3225, Min. Cezar Peluso (voto), j. em 17-9-07). 105
P.ex., relativa à fixação de vencimentos ou a concessão de vantagens específicas a servidores públicos (ADI
104, Min. Sepúlveda Pertence,j. em 4-6-07) 106
"À luz do princípio da simetria, é de iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo estadual as leis que
disciplinem o regime jurídico dos militares (art. 61, § 1º, II, f, da CF/1988). Matéria restrita à iniciativa do Poder
Executivo não pode ser regulada por emenda constitucional de origem parlamentar." (ADI 2.966, Rel. Min.
Joaquim Barbosa, julgamento em 6-4-05, DJ de 6-5-05)
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
77
3. DIFICULDADES PRÁTICAS CONCERNENTES À VIOLAÇÃO (OU NÃO) DA
RESERVA CONSTITUCIONAL DE INICIATIVA PRIVATIVA107
3.1 JUÍZO DE OPORTUNIDADE PARA INSTAURAÇÃO DO PROCESSO
LEGISLATIVO E A CONTROLABILIDADE DA “OMISSÃO” PRESIDENCIAL
Como antes salientado, a iniciativa reservada confere ao seu titular o monopólio do
juízo político de oportunidade para a instauração de processo legislativo que vise à alteração
do status quo normativo. Isto significa dizer que, o arranjo institucional delineado pelo
Constituinte fornece a um dos órgãos envolvidos no jogo político, em matérias que lhe são
sensíveis, um poder de barganha e de análise sobre a conveniência sobre a mudança das
regras do jogo.
Inúmeros têm sido os pronunciamentos do STF no que tange à impossibilidade de que o
Poder legislativo imponha prazo determinado para o exercício da prerrogativa de iniciativa.
Neste sentido, elucidativo o aresto a seguir transcrito:
EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. REGIME
JURÍDICO DE SERVIDOR MILITAR. PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DE
PODERES. PROJETO DE LEI: INICIATIVA. AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE DO PARÁGRAFO 9º DO ARTIGO 63 DA
CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE ALAGOAS, ACRESCENTADO PELA
EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 22, DE 26.12.2000, COM ESTE TEOR: "§ 9º.
O Chefe do Poder Executivo Estadual, encaminhará à Assembléia Legislativa de
Alagoas, no prazo de 45 (quarenta e cinco) dias, da aprovação desta Emenda, para
fins de deliberação pelos seus Deputados, de Projeto de Lei que defina, na forma
prescrita pela parte final do inciso LXI do art. 5º da Constituição Federal, as
transgressões militares a que estão sujeitos os servidores públicos militares do
estado de Alagoas". 1. A norma questionada contém vício de
inconstitucionalidade formal, pois impõe ao Chefe do Poder Executivo, e em
prazo determinado, o encaminhamento de projeto de lei, que, segundo a
Constituição Federal depende exclusivamente de sua própria iniciativa, por
tratar de regime jurídico de servidor público (art. 61, § 1°, letra "c"). 2. Ação
Direta de Inconstitucionalidade julgada procedente. Plenário. Decisão unânime.
(ADI 2393, Sydney Sanches, DJ de 28-3-03).
107
A tormentosa questão relacionada à sistematização dos limites ao poder de emenda parlamentar é tratada por
parte específica da pesquisa. Cf. Anexo III: Anexo III: Limites ao poder de emenda parlamentar em matéria
de iniciativa reservada: posição do STF.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
78
O STF não distingue se esta imposição deriva de legislação ordinária (por lei de
iniciativa parlamentar108
ou por emenda parlamentar a projeto de lei de iniciativa do
Executivo109
) ou de poder constituinte reformador110
.
Conquanto haja unanimidade em relação à impossibilidade de fixação de prazo para o
exercício de iniciativa reservada, há uma oscilação jurisprudencial no que tange à
legitimidade (ou não) da imposição de prazo para o exercício, por parte do Executivo, do
poder regulamentar, ou seja, de expedição de ―simples regulamentos de execução‖111
.
Colhem-se da jurisprudência do STF dois precedentes discrepantes, ambos decididos pelo
Pleno daquela corte e relatados pelo mesmo magistrado, uma vez mais112
o Min. Eros Grau.
O primeiro refere-se à imposição ao Executivo do ―dever de regulamentar‖, em 90
dias, sobre ―protocolo digital de informações‖ criado pela lei catarinense mencionada (de
iniciativa parlamentar). Aresto este parcialmente transcrito a seguir:
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI N. 12.137, DO ESTADO
DE SANTA CATARINA. PROTOCOLO DIGITAL DE INFORMAÇÕES.
ÂMBITO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ESTADUAL. GARANTIA AOS
CIDADÃOS DE REGISTRO DOS REQUERIMENTOS DIRIGIDOS À
ADMINISTRAÇÃO. CONSTITUCIONALIDADE. (...) 3. É certo que o ato
normativo não cria despesas imediatas para o Estado-membro. Tratando-se, no caso,
de simples regulamento de execução, o prazo de 90 dias é razoável para que o
Executivo exerça função regulamentar de sua atribuição. 4. Ação direta de
inconstitucionalidade julgada improcedente.
(ADI n. 2638/SC, Eros Grau, decisão unânime, Trib. Pleno, j. em 15-2-06).
O segundo refere-se à norma amazonense que impõe ao Estado o dever de propiciar
os meios materiais à realização gratuita de testes de paternidade e maternidade, declarada
108
"A disciplina jurídica do processo de elaboração das leis tem matriz essencialmente constitucional, pois
residem, no texto da Constituição — e nele somente —, os princípios que regem o procedimento de formação
legislativa, inclusive aqueles que concernem ao exercício do poder de iniciativa das leis. A teoria geral do
processo legislativo, ao versar a questão da iniciativa vinculada das leis, adverte que esta somente se legitima —
considerada a qualificação eminentemente constitucional do poder de agir em sede legislativa — se houver, no
texto da própria Constituição, dispositivo que, de modo expresso, a preveja. Em conseqüência desse modelo
constitucional, nenhuma lei, no sistema de direito positivo vigente no Brasil, dispõe de autoridade suficiente para
impor, ao Chefe do Executivo, o exercício compulsório do poder de iniciativa legislativa." (MS 22.690, Rel.
Min. Celso de Mello, j. em 17-4-97, DJ de 7-12-06). 109
―Tratando-se de projeto de lei de iniciativa privativa do Chefe do Poder Executivo, não pode o Poder
Legislativo assinar-lhe prazo para o exercício dessa prerrogativa sua. Não havendo aumento de despesa, o Poder
Legislativo pode emendar projeto de iniciativa privativa do Chefe do Poder Executivo, mas esse poder não é
ilimitado, não se estendendo ele a emendas que não guardem estreita pertinência com o objeto do projeto
encaminhado ao Legislativo pelo Executivo e que digam respeito a matéria que também é da iniciativa privativa
daquela autoridade.‖ (ADI 546, Rel. Min. Moreira Alves, julgamento em 11-3-99, DJ de 14-4-00. 110
Cf. o acórdão supra transcrito (ADI 2393, Sydney Sanches, DJ de 28-3-03). 111
Para uma análise mais detalhada sobre o conceito e abrangência desta expressão, cf. o Anexo IV: O Decreto
do art. 84, VI, „a‟, da Constituição Federal de 1988: limites e possibilidades. 112 Cf. comentários feitos às decisões relatadas pelo Ministro na seção 0, supra.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
79
parcialmente inconstitucional pelo STF, por inúmeros fundamentos, igualmente transcrita, em
parte, a seguir:
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGOS 1º, 2º E 3º DA
LEI N. 50, DE 25 DE MAIO DE 2.004, DO ESTADO DO AMAZONAS. TESTE
DE MATERNIDADE E PATERNIDADE. REALIZAÇÃO GRATUITA.
EFETIVAÇÃO DO DIREITO À ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA. LEI DE
INICIATIVA PARLAMENTAR QUE CRIA DESPESA PARA O ESTADO-
MEMBRO. (...) 7. Ação direta julgada parcialmente procedente para declarar
inconstitucionais os incisos I, III e IV, do artigo 2º, bem como a expressão "no prazo
de sessenta dias a contar da sua publicação", constante do caput do artigo 3º da Lei
n. 50/04 do Estado do Amazonas.
(ADI 3394, Eros Grau, decisão por maioria, Tribunal Pleno, j. em 2-4-07)
A questão que interessa mais de perto nesta seção diz respeito ao prazo fixado na parte
final do art. 3º que autoriza ―o chefe do Executivo a proceder a regulamentação da presente
Lei no prazo de sessenta dias a contar de sua publicação‖. A fim de evidenciar as razões
apresentadas pelo relator, transcreve-se trecho da sua fundamentação, neste particular
acolhido à unanimidade, que enfrenta especificamente a questão:
(...) No caso, no entanto, o preceito legal marca prazo para que o executivo exerça
função regulamentar de sua atribuição, o que ocorre amiúde, mas não deixa de
afrontar o princípio da interdependência e harmonia entre os poderes. A
determinação de prazo para que o Chefe do Executivo exerça função que lhe
incumbe originariamente, sem que expressiva de dever de regulamentar, tenho-a por
inconstitucional. Nesse sentido, veja-se a ADI n. 2.393, Relator o Ministro
SYDNEY SANCHES, DJ de 28/03/2003, e a ADI n. 546, Relator o Ministro
MOREIRA ALVES, DJ de 14/04/2000. (voto Min. Eros Grau, fl. 109)
Ambas as decisões são proferidas, à unanimidade, pelo Órgão Pleno da Corte excelsa,
recentes (fev-2006 e abr-2007, respectivamente), relatadas pelo mesmo magistrado, que
invocam razões de decidir diametralmente opostas. Qual deve ser o direcionamento que se
pode inferir destas decisões?
A equipe entende que assiste razão à orientação veiculada pela primeira decisão. Duas
razões concorrem para este posicionamento: a primeira, decorre de uma interpretação
sistemática do texto constitucional e da exigência democrática que consiste no fundamento
primeiro da República brasileira, considerando que o texto constitucional faculta ao Poder
Judiciário (órgão desprovido de legitimidade democrática) a possibilidade de impor o dever
de expedição de regulamentação a órgão administrativo, ex vi do art. 103, §2º da CRFB, tanto
mais seria legítimo ao Legislativo fixar-lhe um prazo para atuação regulamentar da
Administração pública; a segunda, decorre da fragilidade da fundamentação invocada pelo
Relator no segundo julgado, já que empresta força persuasiva de precedentes que, não
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
80
obstante, referiam-se a situações bem distintas daquela enfrentada no caso em exame (aquelas
decisões referiam-se a inconstitucionalidade de fixação de prazo para o exercício da iniciativa
reservada113
).
Antes de encerrar esta seção, duas considerações correlatas fazem-se necessárias, o
STF reconheceu ser inconstitucional lei que ―submete o poder regulamentar do Executivo à
prévia anuência legislativa‖114
e a admitiu a possibilidade de que o responsável pela iniciativa
reservada seja reconhecido como figura do pólo passivo em ações de controle de omissão
legislativa, nos seguintes termos:
É o Presidente da República a autoridade que deve figurar em Mandado de Injunção
contra omissão legislativa é da alçada privativa do Presidente da República (MI 153-
AgR, Paulo Brossard, j. em 14-3-90).
Conquanto à época desta decisão, o STF assumia posição muito tímida no tocante ao
controle de mora legislativa. Com a atual composição do STF, esta questão vem ganhando
contornos mais ativistas (MENDES, 2007) e, por conseguinte, o Poder Judiciário, quando
provocado, pode reduzir seu self-restrain em relação ao controle da inércia do Executivo na
deflagração do processo legislativo. Esta questão, todavia, refoge por completo aos limites
deste trabalho.
3.2 INICIATIVA LEGISLATIVA “POR EMPRÉSTIMO”
Questões que se afiguram corriqueiras e de grande relevância prática consistem: (a) na
possibilidade de ―aproveitamento‖ da iniciativa deflagrada por autoridade competente (através
da apresentação de projeto de lei ou da edição de medida provisória que trate de matéria de
iniciativa reservada115
) que confere a faculdade, ao Congresso, de deliberar sobre tais
temáticas; e, (b) a correlata situação de projeto de lei que, não obstante tocar disciplina
gravada com a cláusula de reserva, ao reproduzir dispositivos legais vigentes, não altera o
status quo normativo.
113
Tais acórdãos foram transcritos, supra, o primeiro no corpo do texto, o segundo na nota de rodapé nr. 109. 114
ADI-MC, Sepúlveda Pertence, j. em 23-11-89. 115
Os pressupostos constitucionais de relevância e urgência, autorizadores da edição de medida provisória,
conferem um leque muito grande de margem de manobra ao Presidente para que ele se utilize deste meio
legislativo extraordinário (observados os limites materiais impostos pelos §§ 1º e 2º). Assim sendo, é possível a
ocorrência de edição de medidas provisórias para regulamentação de matérias sujeitas à iniciativa reservada da
Presidência, hipótese que, quando caracteriza, dá início ao processo legislativo (no caso, a instauração do projeto
de lei de conversão - PLV).
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
81
Atribuiu-se a estas distintas, mas correlatas, situações a expressão ―iniciativa
legislativa por empréstimo‖.
Tais questões foram expressamente enfrentadas pelo STF quando deliberou, no curso
das diferentes ações ajuizadas contra o Estatuto do Desarmamento116
. Naquela oportunidade,
o Tribunal Supremo afastou o argumento da ocorrência de vício de iniciativa, como se
depreende da leitura do acórdão a seguir transcrito:
O Tribunal, por maioria, julgou procedente, em parte, pedido formulado em várias
ações diretas ajuizadas pelo Partido Trabalhista Brasileiro-PTB e outros para
declarar a inconstitucionalidade dos parágrafos únicos dos artigos 14 e 15 e do art.
21 da Lei 10.826/2003 — Estatuto do Desarmamento, que dispõe sobre registro,
posse e comercialização de armas de fogo e munição, sobre o Sistema Nacional de
Armas-Sinarm, define crimes e dá outras providências. Inicialmente, o Tribunal
rejeitou as alegações de inconstitucionalidade formal, ao fundamento de que os
dispositivos do texto legal impugnado não violam o art. 61, § 1º, II, a e e, da CF.
(...)117
. [b] Asseverou-se que a maior parte desses dispositivos constitui mera
reprodução de normas contidas na Lei 9.437/97, de iniciativa do Poder Executivo,
revogada pela lei em comento, ou são consentâneos com o que nela se dispunha.
Ressaltou-se que [a] os demais consubstanciam preceitos que mantêm relação de
pertinência com a Lei 9.437/97 ou com o projeto de Lei 1.073/99, encaminhados ao
Congresso Nacional pela Presidência da República, geralmente explicitando prazos
e procedimentos administrativos, ou foram introduzidos no texto por diplomas legais
originados fora do âmbito congressual (Leis 10.867/2004, 10.884/2004, 11.118/2005
e 11.191/2005), ou, ainda, são prescrições normativas que em nada interferem com a
iniciativa do Presidente da República. (ADI 3.112, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
julgamento em 2-5-07, DJ de 26-10-07)
Este entendimento coaduna-se, uma vez mais, com o conceito formulado sobre a
iniciativa reservada como ―monopólio do juízo político de oportunidade para a instauração de
processo legislativo que vise à alteração do status quo normativo‖.
Pode-se inferir desta decisão, todavia, ao menos três características do diploma
normativo que, isolada ou conjuntamente, afastam a pecha de vício formal de iniciativa, quais
sejam: (i) reproduzir texto de leis revogadas que, por sua vez, foram de iniciativa do Chefe do
Executivo; (ii) reproduz trechos de Projeto de Lei encaminhado pelo Presidente da República
(mas não apreciado pelo Congresso); ou ainda, (iii) ser compatível com o que dispõem a lei
revogada e/ou projeto de lei, sem alterar atribuições ou impor obrigações novas aos órgãos
constituídos.
116
ADI 3.137, ADI 3.198, ADI 3.263, ADI 3.518, ADI 3.535, ADI 3.586, ADI 3.600, ADI 3.788, ADI 3.814,
Ricardo Lewandowski, j. em 2-5-07. 117 O trecho suprimido foi transcrito na nota nr. 76.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
82
3.3 “LEIS AUTORIZATIVAS” DE INICIATIVA PARLAMENTAR
Muito freqüente tem sido a prática da edição de leis meramente autorizativas que, sem impor
nenhuma ―obrigação de atuação‖ ou ―dever de regulamentar‖ ao Executivo, limita-se a:
(...) autorizar o Poder Executivo a executar atos que já lhe estão autorizados pela
Constituição, pois estão dentro da competência constitucional desse Poder. O texto
da ―lei‖ começa por uma expressão que se tornou padrão: “Fica o Poder Executivo
autorizado a...”. (BARROS, 2007, p. 249)
Antes de prosseguir é importante fazer uma ressalva quanto à terminologia empregada
―lei autorizativa‖. Não obstante estar diretamente relacionada a este tipo de diploma
normativo, esta expressão, na linguagem do Pretório Excelso, está associada ao diploma
normativo que disciplina temática sujeita à reserva de lei118
.
Este tipo de ato normativo tem sido muito freqüente e, na ―descrição‖ de Barros (2007,
p. 249), representa uma espécie de contrapartida do Parlamento frente à subtração da
iniciativa em matéria de execução de políticas públicas, muito caras ao intervencionismo
estatal característico do estado social de direito. Trata-se, segundo o mesmo autor, de
expediente:
(...) usado por parlamentares, para granjear o crédito político pela realização de
obras ou serviços em campos materiais nos quais não têm iniciativa das leis, em
geral matérias administrativas. Mediante esse tipo de ―leis‖, eles passam de autores
do projeto de lei a co-autores da obra ou serviço autorizado (BARROS, 2007, p.
250).
Em continuidade, o autor sustenta que esta modalidade de ato normativo padece de
vício de inconstitucionalidade, posto que, segundo sumariza:
a) por vício formal de iniciativa, invadindo campos em que compete privativamente
ao Chefe do Executivo iniciar o processo legislativo;
b) porque usurpam a competência material do Poder Executivo, disposta na
Constituição, nada importando se a finalidade é apenas autorizar;
c) porque ferem o princípio constitucional da separação de poderes, tradicional e
atual na ordenação constitucional brasileira. (BARROS, 2007, p. 251-252).
O órgão especial do RJ, julgando a Representação n. 02/2003, reconhece a invasão de
atribuição de outro Poder e sustenta serem os dispositivos por ela veiculados inócuos.
Curiosamente, os dois textos em nenhum momento mencionam o posicionamento do
STF sobre a questão. Manifestações estas que não podem ser desprezadas frente ao caráter
118
Em busca no sítio de jurisprudência do STF, quando assinalada a expressão de busca ―lei autorizativa‖, foram
retornadas 6 ocorrências, todas elas ligadas à definição aqui ressalvadas RMS 16158/MG, Hermes Lima, j. em
18-2-66; RMS 16158/MG, Hermes Lima, j. em 18-2-66; RE 100756/SP, Aldir Passarinho, j. em 11-9-84;
RE 108396/SP, Rafael Mayer, j. em 14-4-86; ADI 684/RN, Néri da Silveira, j. em 02-9-94; ADI 661/RS, Néri da
Silveira, j. em 22-9-1994
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
83
vinculante de suas decisões e da projeção de efeitos transcendentes aos julgamentos do STF,
recentemente reconhecidos às manifestações em sede de controle abstrato de
constitucionalidade.
O primeiro pronunciamento do STF remonta a 4-10-00, data do julgamento da ADI-
MC n. 2304/RS, de Relatoria do Min. Sepúlveda Pertence, que enfrenta especificamente a
questão, donde se extrai o aresto de seguinte teor:
I. Processo legislativo: matéria tributária: inexistência de reserva de iniciativa do
Executivo, sendo impertinente a invocação do art. 61, §1º, II, b, da Constituição, que
diz respeito exclusivamente aos Territórios Federais.
II. Isenção é privilégio.
III. Ação direta de inconstitucionalidade: medida cautelar, em regra, descabida, se a
lei impugnada tem caráter de simples autorização, ao Poder Executivo, subordinada
a sua utilização à edição de regulamento pelo qual sequer se estabeleceu prazo:
precedentes.
Todavia, a questão exige maiores esclarecimentos, nos casos em que o STF
expressamente se manifestou contrário à representação de inconstitucionalidade, o fez em
juízo de cognição sumária negando medida cautelar de suspensão da norma requerida, uma
vez ausentes os requisitos de periculum in mora, frente à ausência de força vinculante do
dispositivo (ADI-MC n. 2304/RS; ADI-MC n, 860119
).
Em outras duas hipóteses, sem enfrentar expressamente a constitucionalidade destas
leis dotadas de caráter de ―simples autorização ao Poder Executivo‖, suspenderam os
diplomas impugnados por invasão da competência legislativa da União (ADI-MC n. 1136/DF
e ADI-MC n. 2304/SP).
Em voto prolatado em processo de sua relatoria (ADI n. 3394/AM120
), o Min. Eros
Grau reconhece expressamente a legitimidade da edição de leis de mera ―autorização‖, como
se pode extrair do trecho a seguir transcrito:
12. Quanto ao artigo 3º da lei, a ―autorização‖ para o exercício do poder
regulamentar nele afirmada é despicienda, pois se trata, ai, de simples regulamento
de execução. (...). Observe-se, ainda, que, algumas vezes, rebarbativamente (art. 84,
IV), determinadas leis conferem ao Executivo autorização para a expedição de
regulamento tendo em vista sua fiel execução; essa autorização apenas não será
rebarbativa se, mais do que autorização, impuser ao Executivo o dever de
regulamentar‖. No caso, no entanto, o preceito legal marca prazo para que o
Executivo exerça função regulamentar de sua atribuição, o que ocorre amiúde, mas
não deixa de afrontar o princípio da interdependência e harmonia entre os poderes.
(...)‖ (fls. 108-109)
119
Tais ações, até o momento, ainda esperam julgamento de mérito. 120
Precedente analisado supra, cf. seção 0.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
84
Portanto, não obstante ser esta prática freqüente e irritante (barbativa), só ofende a
interdependência e harmonia entre os poderes quando impõe ao Executivo alguma obrigação
de fazer ou de regulamentar. Logo, sua edição não encontra nenhuma mácula de
inconstitucionalidade.
A síntese da argumentação dos ministros do STF fica assim circunscrita: se o ato
normativo ou emenda parlamentar não transgredir nenhuma vedação constitucional, esta
prática afigura-se legítima, apesar de inócua e irritante.
Impõe-se, por oportuno, retornar aos argumentos inicialmente suscitados pelo
articulista. Os argumentos ―a‖ e ―b‖ não prosperam, porque (a) para que haja usurpação de
iniciativa reservada é necessário que o ato normativo viole expressamente uma das hipóteses
do art. 61, §1º que pode ocorrer, em sede de leis autorizativas, apenas acidentalmente; por
outro lado, (b) se não há imposição de nenhuma obrigação positiva ao Executivo, não há que
se falar em usurpação de competência material do Chefe do Executivo.
Por outro lado, na decisão do TJ-RJ, a alega de inocuidade do dispositivo atacado
(incapacidade para gerar efeitos jurídicos diretos), não obstante revestir-se de argumentos
utilitários (qual a finalidade de uma lei sem efeitos?), não tem o condão de, por si só,
impregnar o dispositivo de vício de inconstitucionalidade.
A questão suscitada por ambos, relativa à ofensa ao princípio da separação de poderes
(interferência indevida de um órgão sobre o outro) seria o argumento mais subsistente,
todavia, para que pudesse ser seriamente considerado deveria ser melhor contextualizado,
afinal de contas, qual o sentido adscrito ao significante ―princípio da separação de poderes‖ se
está falando?
Como analisado antes, compreender as relações entre o Executivo e Legislativo sob o
ponto de vista da cooperação exige que se tenha em mente as diferentes funções de bloqueio e
de estímulo que funcionam no jogo político, que, mesmo desprovidas de eficácia jurídica mais
evidente, podem operar muito eficazmente no plano da correlação de forças. Argumentar pela
inconstitucionalidade destes tipos normativos implica justificar em que medida a ―pressão‖
política que estes atos proporcionam (transferência de responsabilização política) é
compatível com a atual configuração institucional entre os poderes.
Sem que isto reste evidenciado, vige a dogma da presunção de constitucionalidade dos
atos normativos, produto da atividade legítima dos poderes constituídos.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
85
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1. É freqüente o recurso, dentre os constitucionalistas e nos excertos jurisprudenciais, ao
princípio regulativo da separação de poderes sem, contudo, que haja um cuidado em definir os
contornos institucionais contemporaneamente verificados na ordem constitucional brasileira.
Este silêncio eloqüente caracteriza um recurso meramente retórico ao princípio que acaba por
esconder as implicações ideológicas assumidas, sobretudo, pelos tribunais quando delimitam
normativamente o espaço de atuação dos órgãos constitucionais.
2. A iniciativa reservada confere ao seu titular o monopólio do juízo político de oportunidade
para a instauração de processo legislativo que vise à alteração do status quo normativo. Isto
significa dizer que, o arranjo institucional delineado pelo Constituinte fornece a um dos
órgãos envolvidos no jogo político, em matérias que lhe são sensíveis, um poder de barganha
e de análise sobre a conveniência sobre a mudança das regras do jogo.
2.1 A iniciativa reservada funciona como um importante mecanismo de
controle/cooperação entre o Legislativo e Executivo na consolidação do desenho
político-institucional e, como tal, indubitavelmente, preenche contemporaneamente o
conteúdo do princípio constitucional da separação de poderes.
3. Há uma carência significativa de estudos monográficos dedicados à temática, nem que
sejam dotados de substância teórica que incorpore as premissas teóricas aqui assumidas, nem
que dêem conta de (re)construir os limites jurisprudenciais que acabam por definir
normativamente os espaços de atuação de cada órgão constitucional.
4. Podem ser formuladas algumas máximas que orientam o regramento da cláusula de
iniciativa:
4.1 Previsão taxativa das hipóteses que estão sujeitas à cláusula de reserva.
4.2 Reprodução necessária das regras de iniciativa reservada nos âmbitos locais da
federação (princípio da simetria).
4.3 O vício de iniciativa é insanável, logo, manifestação de vontade posterior (sanção)
não tem o condão de convalidação do vício de origem.
4.4 O exercício da prerrogativa da deflagração do processo legislativo consiste em
juízo político discricionário do seu titular, não podendo o seu exercício sofrer
interferência proveniente de outro órgão constitucional.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
86
4.5 A cláusula de reserva limita não somente o poder geral de iniciativa, como também
a própria atividade parlamentar (poder de emenda), vinculados ao art. 63 e a regra de
demonstração de pertinência lógica com o projeto de lei proposto.
5. A equipe defende a existência de iniciativa legislativa ―por empréstimo‖, em face da qual,
ao parlamentar é facultado a capacidade de deliberação e de apresetnação de emendas com
base em projetos de lei encaminhados pelo titular da iniciativa privativa e que se encontrem
em tramitação, ou ainda, que não altere substancialmente as normas vigentes.
6. A equipe defende a constitucionalidade das chamadas leis autorizativas, por não encontrar,
no texto constitucional, hipótese de vedação expressa que as restrinja. E por não encontrar
nela ofensa ao princípio da separação de poderes.
7. A jurisprudência do STF sobre a matéria é abundante e, em muitas situações, apresenta
incoerências que acabam por dificultar a identificação dos critérios normativos veiculados
pela Corte excelsa.
8. Em razão da escassez de tempo e dos recortes metodológicos empreendidos, tais questões
não puderam ser enfrentadas, razão pela qual a equipe as apresenta como campo de pesquisa
futuro:
8.1. O debate sobre a possibilidade de alteração, pelo exercício do Poder Constiuinte
Derivado Reformador, das regras de iniciativa reservada.
8.2 Análise minuciosa dos vetos presidenciais fundados na ocorrência de vício de
iniciativa, a fim de identificação da auto-compreensão do Governo acerca do alcance
desta cláusula e avaliar os ―equívocos‖ realizados por ocasião do poder de veto.
8.3 Construção de uma espécie de catálogo-guia das decisões paradigmáticas em
relação ao controle por parte do STF do exercício da iniciativa privativa. Tendo em
vista o número exacerbado de julgados localizados e analisados.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
87
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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fluxos de poder e idéias no congresso: exemplos e momentos comentados. São Paulo: Atlas,
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Brasil. São Paulo : Saraiva, 1995. v. 4, t. I
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constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1964.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
88
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA / SECRETARIA DE ASSUNTOS LEGISLATIVOS
PROJETO PENSANDO O DIREITO
TEMA: VÍCIO DE INICIATIVA E SEPARAÇÃO DE PODERES
ANEXO III:
LIMITES AO PODER DE EMENDA PARLAMENTAR EM
MATÉRIA DE INICIATIVA RESERVADA:
POSIÇÃO DO STF
Núcleo PUC-PR
Florianópolis, 31 de dezembro de 2008
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
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LIMITES AO PODER DE EMENDA PARLAMENTAR EM MATÉRIA DE
INICIATIVA RESERVADA: POSIÇÃO DO STF
1. INTRODUÇÃO
O Estado Moderno erigiu-se sob a formulação da separação de poderes, de forma a
que eles atuem harmônica e independentemente, em constante colaboração. A complexidade
da sociedade moderna e a consagração do estado social têm ampliado a interpenetração de
poderes, de forma que as tradicionais funções: executiva, legislativa e judiciária vêm sendo
partilhadas mais e mais pelos três poderes, a ponto de se poder falar em funções típicas e
atípicas, quando se busca tipificar o exercício de cada um dos Poderes de Estado.
No Estado Moderno a função típica legislativa compete ao Poder Legislativo, sendo o
Parlamento soberano na produção de normas gerais. A descentralização legislativa, isto é, a
distribuição da atividade legiferante aos demais poderes de Estado, conquanto normal, deveria
ser excepcional, mas é fenômeno cada vez mais corriqueiro nas sociedades atuais e decorre da
ampliação da função legislativa que a sociedade contemporânea vem exigindo, na velocidade
e especialidade buscada pelas demandas que se lhe vem impondo.
São várias as formas por meio das quais é possível verificar tal fenômeno, entre elas se
pode enumerar: no âmbito do Judiciário, através da produção de seus regimentos internos, da
competência normativa da Justiça Eleitoral, do poder normativo conferido à Justiça do
Trabalho, além da instituição do próprio mandado de injunção, que demanda regulamentação
complementar para normas cuja ausência de regulação legislativa impeça o reconhecimento
de um determinado direito; no Poder Executivo, conforme indica Valquíria PROCHMANN
(1998, p. 52), em dois âmbitos: ―pela participação efetiva no processo de elaboração dos
atos normativos e pela atribuição de inaugurar propriamente atos normativos, o que se dá
através da delegação de poderes ou pela transferência constitucional de competências”.
Pela transferência constitucional de competências, o Poder Legislativo acaba sendo, de
certa forma, partilhado entre diferentes titulares, especialmente com relação ao chefe do Poder
Executivo. No sistema constitucional brasileiro, o poder normativo do Presidente da
República é bastante amplo e compreende tanto a edição de medidas provisórias e leis
delegadas, quanto a expedição de decretos regulamentares. Os regulamentos são atos
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
90
normativos derivados que têm por objetivos a explicitação ou especificação de um conteúdo
normativo pré-existente, visando a sua execução no plano da práxis.
A extensão do poder regulamentar, contudo, é assunto que causa polêmica. Sua
disciplina legislativa e política, especialmente dos chamados decretos autônomos, é objeto de
estudo dentro do presente projeto. Da mesma forma serão estudados os fundamentos
históricos e as razões do incremento desta interpenetração no Estado atual, bem como o
exercício da função atípica por parte dos poderes de Estado.
2. O PROCESSO LEGISLATIVO
O processo legislativo, conforme conceituação de CANTIZATO (1985, p. 116), trata
de normas que regulam a produção – criação, modificação ou revogação – de normas gerais.
Sua concretização se dá por meio de procedimentos legislativos que são uma sucessão de atos
destinados a produzir o ato normativo, cujo produto final é a lei, em sentido amplo
(PROCHMANN, 1998, p. 52).
O processo legislativo no Brasil, segundo adverte Sérgio Valladão Ferraz (2007, p.
70), segue um modelo representativo e indireto, uma vez que de forma geral se concretiza
pela atuação dos parlamentares eleitos, em uma democracia representativa. A existência de
mecanismos que asseguram a iniciativa legislativa popular, por meio do plebiscito e do
referendo, apenas confirma a regra, uma vez que ela é excepcional e, além disso, está restrita
na verdade à apresentação de projeto de lei.
O processo legislativo está regulado nos artigos 59 e ss. da Constituição Brasileira. O
dispositivo supra-citado enumera as várias espécies normativas que integram o chamado
processo legislativo primário, isto é, ―a produção de atos normativos que têm por fonte
normativa direta a Constituição e que possuem aptidão para inovar na ordem jurídica, criando
direitos e obrigações‖ (FERRAZ, 2007, p. 71). Adverte o mesmo autor, ainda, que a técnica
mais correta recomenda a exclusão das emendas constitucionais entre os atos normativos
primários, uma vez que sua hierarquia é a mesma de uma norma constitucional, não sendo
correto, portanto, atribuir seu fundamento de validade diretamente da própria Constituição.
O artigo 59, contudo, não esgota todos os atos normativos primários, uma vez que
certos dispositivos dos regimentos internos dos tribunais, atos administrativos normativos
primários do Poder Judiciário e do Ministério Público, as sentenças trabalhistas em dissídio
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
91
coletivo e, ainda, segundo parte da doutrina, os decretos autônomos previstos nos art. 84, VI,
também o são (FERRAZ, 2007, p. 72)121
.
Ao lado dos atos normativos primários existem os secundários, também ditos
infralegais, que retiram sua força jurídica de atos normativos diversos da Constituição, a
despeito de também se fundamentarem na Constituição, de forma indireta ou reflexa, e não
possuem aptidão para inovar na ordem jurídica (FERRAZ, 2007, p. 72). Exemplos mais
comuns são os decretos regulamentadores, os regulamentos e atos administrativos normativos
em geral, como as instruções e as portarias normativas.
O processo legislativo comum é composto de três fases: a fase introdutória, em que se
dá a iniciativa; a fase constitutiva, em que ocorre a discussão, emendas, votação, sanção ou
veto; a fase complementar que se perfaz com a promulgação e publicação do ato normativo.
A deflagração do processo legislativo se dá pela iniciativa legislativa, ato pelo qual os
órgãos legitimados provocam a produção de atos normativos. A Constituição brasileira
acolheu três formas de iniciativa: (a) iniciativa parlamentar, que cabe a qualquer membro ou
comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional; (b)
extraparlamentar, que compete ao Presidente da República, Supremo Tribunal Federal,
Tribunais Superiores, Procurador Geral da República; (c) popular, que na esfera da União, se
perfaz por projeto de lei subscrito por pelo menos um por cento do eleitorado nacional,
distribuído por pelo menos cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos
eleitores de cada um deles (art. 61, §2º), e na esfera dos Estados, Distrito Federal e
Municípios, conforme previsão das Constituições estaduais.
Embora o processo legislativo seja atividade típica do Poder Legislativo, a
descentralização legislativa, em maior ou menor grau, sempre existiu, e é decorrência natural
da separação de poderes e do exercício harmônico e independente dos Poderes de Estado122
.
Todas as Constituições brasileiras republicanas, à exceção da Carta de 1891,
asseguraram ao chefe do Poder Executivo o poder de iniciativa, e este era mais ou menos
restrito conforme fossem as Catas mais ou menos democráticas, respectivamente. Desta
forma, a iniciativa reservada ao Chefe do Executivo era ampla na vigência da Constituição de
67 e da Emenda n. 01/69, e foi restringida com a Constituição de 88, que procurou
121
Cf. Anexo IV: O Decreto do art. 84, VI, „a‟, da Constituição Federal de 1988: limites e possibilidades. 122
Cf. Anexo I: Separação de poderes e iniciativa reservada: da regulação da liberdade à cooperação
legislativa no direito constitucional brasileiro
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
92
restabelecer a supremacia parlamentar no processo legislativo, não sem especificar a iniciativa
reservada ao Presidente e a outros titulares em várias situações.
Além da iniciativa reservada, a Constituição vigente prevê várias formas de
interferência do Executivo no processo legislativo, tal como a convocação do Congresso
Nacional em caso de urgência ou interesse público relevante; a remessa de mensagem e plano
de governo para solicitar providências, diante de circunstâncias de crise; a solicitação de
urgência para a apreciação na ordem do dia de matéria que não tenha sido deliberada no prazo
de 45 dias, além de assegurar-lhe diversas formas de participação direta no procedimento de
elaboração dos atos normativos ou no controle de seu resultado. Além destas formas
constitucionalmente previstas, PROCHMANN (1998, p. 58) identifica outros mecanismos
informais bastante utilizados pelo Executivo para interferir nesse processo, como o desvio de
informações solicitadas pelo Congresso Nacional ou o comparecimento de Ministros de
Estado, voluntariamente, para expor assuntos de relevância correspondentes a suas pastas.
No modelo consagrado pela Constituição Brasileira, a iniciativa geral ―compete
concorrentemente ao Presidente da República, a qualquer deputado ou senador e a qualquer
comissão de qualquer das Casas do Congresso. E, acréscimo da Constituição em vigor, o
povo‖ (FERREIRA FILHO, 1995, p. 203). Além da iniciativa geral, têm legitimidade para
iniciativa de lei: o Supremo Tribunal Federal, os Tribunais Superiores, O Procurador-Geral da
República e o Tribunal de Contas da União, que podem iniciar projetos de lei a respeito dos
assuntos especificamente relacionados na Constituição com sendo de sua iniciativa,
obedecendo, portanto, a chamada iniciativa reservada (privativa ou exclusiva).
A iniciativa geral é limitada pela iniciativa reservada, atribuída em casos específicos
ao Presidente da República, aos chefes dos Executivos nos Estados, Distrito Federal e
Municípios, ao Poder Judiciário (Supremo Tribunal Federal, Tribunais Superiores e Tribunais
de Justiça). Ao lado das competências privativas, existe a competência comum (ou
concorrente), quando a titularidade para a iniciativa de determinada matéria compete a dois ou
mais órgãos simultaneamente; e a competência conjunta, nos casos em que mais de um
legitimado deve apresentar conjuntamente um determinado projeto de lei, atribuída a mais de
um ente, a qual não encontra previsão atual na Constituição Federal.123
123
Segundo informa Ferraz (2007), a hipótese de competência conjunta existia para a apresentação do
projeto de lei de fixação do subsídio dos Ministros do STF, por conta de disposição constante da EC n. 19/98,
mas ela foi revogada pela EC n. 41/2003, que passou a exigir a iniciativa privativa do Presidente do STF para tal
matéria.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
93
Importante a advertência de FERREIRA FILHO (1985, p. 204), para quem ―o aspecto
fundamental da iniciativa reservada está em resguardar a seu titular a decisão de propor
direito novo em matérias confiadas à sua especial atenção, ou de seu interesse preponderante‖.
Embora a iniciativa reservada seja um mecanismo necessário para assegurar, de um
lado, a separação de poderes, de outro a harmonia e independência entre eles, há que se
atentar para o vício de iniciativa, que decorre justamente da usurpação de competência
legislativa previamente estabelecida constitucionalmente, entre titulares de iniciativas
reservadas ou entre estes e os titulares da iniciativa geral. A doutrina majoritária tem tratado o
vício de iniciativa como um caso de inconstitucionalidade formal, porquanto entende haver
neste caso invasão de reserva de iniciativa.
Um anteprojeto de lei encaminhado e recebido pela Casa iniciadora (Câmara dos
Deputados ou Senado Federal, conforme o caso) transforma-se em um projeto de lei. Este
projeto passará pela fase de admissibilidade (requisitos formais) e discussão (requisitos
materiais) nas Comissões Temáticas da Câmara dos Deputados e pela Comissão de
Constituição e Justiça, as quais emitirão um parecer opinativo (no caso das Comissões
temáticas) e terminativo (no caso da Comissão de Constituição de Justiça). Projetos e
pareceres serão apreciados, conforme o caso, no plenário de cada Casa do Congresso ou no
seio de suas próprias comissões temáticas.
3. EMENDAS PARLAMENTARES
O poder de emendar projetos de lei – que se reveste de natureza eminentemente
constitucional – qualifica-se como prerrogativa de ordem político-jurídica inerente ao
exercício da atividade legislativa.
Sua concretização se dá por meio de emenda, proposição apresentada como acessória
de outra principal, que poderá ser um projeto de lei ordinária, complementar, decreto
legislativo, resolução ou emenda constitucional. As emendas podem ser: supressiva,
aglutinativa, substitutiva, modificativa ou aditiva. A supressiva é a que manda erradicar
qualquer parte de outra proposição; a aglutinativa, que resulta da fusão de outras emendas, ou
destas com o texto original; substitutiva, a apresentada como sucedânea à parte de outra
proposição, denominando-se ―substitutivo‖ quando a alterar, substancial ou formalmente, em
seu conjunto; modificativa, a que altera proposição sem modificá-la substancialmente; aditiva,
a que se acrescenta a outra proposição (FERRAZ, 2007, p. 90).
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
94
Projetos de lei podem ser emendados por parlamentares no interior das Comissões das
Casas do Congresso Nacional, enquanto estas discutem e analisam as proposições, ou durante
a apreciação em plenário.
A emenda é uma prerrogativa restrita aos parlamentares, que exercem
preponderantemente e tipicamente o Poder Legislativo e estão legitimados para a
criação/alteração/supressão de atos normativos. Desta forma, a nenhum titular
extraparlamentar é dado o direito de emendar projeto de lei, nem mesmo àqueles que podem
iniciar o processo legislativo, em iniciativa reservada.
No mesmo sentido afirma FERREIRA FILHO (1985, p. 205) que ―nem todo titular de
iniciativa goza do poder de emendar. O poder de emendar é reservado aos parlamentares, ao
passo que a iniciativa tem sido e é estendida ao Executivo, ao povo, ao Procurador-Geral da
República, a tribunais‖.
Não obstante, a prática parlamentar tem permitido aos titulares extraparlamentares o
envio de mensagens aditivas em projetos de sua iniciativa reservada, e este é um
procedimento tolerado, até porque esta é muitas vezes a forma eficaz para se chegar a um
acordo em questões que envolvem mais de um Poder de Estado. Não se deve perder de vista,
contudo, que esta prática, porquanto constitucional, não encontra previsão expressa na Carta
brasileira.
A exceção, que confirma a regra, diz respeito à elaboração da lei orçamentária, do
plano plurianual e de diretrizes orçamentárias, em que a Constituição expressamente prevê
que o Presidente envie mensagens propondo a modificação dos mesmos (art. 166, § 5º da CF).
Questões importantes dizem respeito, contudo, ao poder de emenda e sua amplitude, nos
casos em que o projeto de lei for de iniciativa reservada.
Sobre esta questão, podem-se identificar três diferentes posicionamentos:
a) o primeiro entende que a função de emendar é inerente à função legislativa e não
guarda quaisquer tipos de limitações, posicionamento contrário ao do STF;
b) o segundo vincula o poder de emenda ao poder de iniciativa, de modo que seria
vedado ao Poder Legislativo efetuais quaisquer modificações no projeto de lei originário.
É o entendimento antigo do STF;
c) o terceiro entende que o poder de emenda é limitado e está condicionado à afinidade
lógica (identidade de propósito) com a proposição original do projeto. Para esta corrente é
implícita, no sistema constitucional jurídico brasileiro, a exigência de que as emendas
parlamentares guardem relação de pertinência com o objeto da proposta. Traduz o
entendimento atual do STF.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
95
Relata FERREIRA FILHO (1985, p. 206) que em certo momento o Supremo Tribunal
Federal entendeu que o poder de emendar é corolário do poder de iniciativa, de modo que não
poderia propor emenda quem não poderia propor o principal. Logo, a emenda a projetos
decorrente de iniciativa reservada, seja do Executivo, seja do Judiciário, estaria vedada. O
Legislativo à época opôs-se a tal entendimento que, em sua opinião, acabava por limitar a
atividade legislativa. Insatisfeitos, argumentaram que se tinham o poder de rejeitar um projeto
de iniciativa reservada, logo também o teriam para emendá-lo, pois quem pode o mais, pode o
menos.
Observa, contudo, que esse argumento se trata de ―evidente sofisma, porque a essa
alegação se pode opor com toda razão que, não podendo o Congresso o mais – a apresentação
do projeto –, não poderia o menos – a modificação do projeto... [sic]‖ (1985, p. 206).
A redação do art. 63 da Constituição Federal acabou por alterar o antigo posicionamento do
STF porque, limitando o poder de emenda nos projetos de iniciativa reservada do Presidente
da República, acabou, em sentido contrário, por permiti-lo nos demais casos.
Esse é o atual entendimento do STF, para quem o exercício do poder de emenda,
quando concretamente manifestado, constitui um dos incidentes do processo de formação das
espécies legislativas. Trata-se de prerrogativa, que, por ser inerente à função legislativa do
Estado, qualifica-se como poder de índole eminentemente constitucional. Desta forma, a
exclusividade conferida a determinado órgão na instauração de processo legislativo não exclui
do Poder Legislativo a possibilidade de oferecer emenda ao correspondente projeto de lei.
Como dito, o poder de emendar, prerrogativa deferida aos parlamentares, não deriva do poder
de iniciar o processo de formação das leis. O exercício do poder de emenda só é limitado
pelas restrições taxativamente impostas pela Constituição Federal.
Este posicionamento atual do Supremo Tribunal Federal elucida sua posição com
respeito à titularidade do poder de emenda. Contudo, necessário se faz considerar a
abrangência e as limitações a este poder. A esse respeito identificam-se basicamente dois
tipos de restrições às emendas parlamentares (a) a proibição de emendas que aumentem
despesas; (b) a exigência de pertinência temática.
O aumento de despesa constitui-se óbice constitucional expresso nos projetos de
iniciativa exclusiva do Presidente da República (art. 63, I CF), ressalvadas emendas que
tratem da aprovação do plano plurianual e questões orçamentárias, por disposição constante
do art. 166, §§ 3º e 4º da CF; também está proibido o aumento de despesas nos projetos sobre
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
96
organização dos serviços administrativos da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, dos
Tribunais Federais e do Ministério Público (art. 63, II CF).
Importante observar que, ao contrário do que dispunha o art. 144, §5º, da Constituição
Federal de 1969, que vedava qualquer emenda parlamentar introduzida em projeto sobre
organização e divisão judiciárias cujo teor implicasse aumento de despesas ou fosse estranha
ao objeto da proposta, a Constituição Federal de 1988 não estabeleceu restrição ao
oferecimento de emendas em matéria de organização judiciária, salvo as expressamente nela
previstas, pois não se pode presumir a existência de vedações que não as decorrentes de
cláusula constitucional explícita.
A vedação de emendas que aumentem a despesa, no caso do inciso II, não impede que
emendas parlamentares aumentem a despesa em projetos relativos à organização judiciária,
conforme decidido pelo STF na ADI 865/MA, Rel. Min. Celso de Mello. No mesmo sentido
manifestou-se também o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, em sede de Recurso em
Mandado de Segurança 9.315 – Min. Prado Kelly:
(...) a atribuição conferida aos Tribunais, de proporem ao Legislativo competente a
criação ou extinção de cargos em seus serviços e a fixação dos respectivos
vencimentos [...] importa em ‗poder de iniciativa‘ que não exclui o 'poder de
emenda‘, inerente às funções de legislatura, nem o ‗poder de veto‘, essencial à
dinâmica do regime presidencial.
A solução, embora seja satisfatória para a grande maioria dos casos em que emendas
impliquem aumento de despesas, não soluciona os casos em que a justificativa das emendas
seja diverso.
Outro fator limitador ao poder de emenda legislativa diz respeito à exigência de
pertinência temática. Ao contrário da expressa vedação constitucional quanto a emendas que
aumentem despesas, já comentadas, não há previsão expressa na Constituição ou em qualquer
outra norma, de que processos legislativos de iniciativa privativa de um poder, só podem ser
emendadas por emendas parlamentares que contiverem pertinência temática com a matéria
veiculada originalmente do projeto de lei.
Esse tem sido, contudo, o posicionamento exarado pelo STF, conforme se observa em
ainda recente decisão desta Corte a respeito do Estatuto do Desarmamento, na qual, a despeito
de outras alegações de ordem material, a alegada inconstitucionalidade formal foi afastada sob
a alegação da pertinência temática entre as emendas propostas e os projetos de lei que deram
origem ao Estatuto, conforme se observa pelo extrato de ementa transcrito abaixo.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
97
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI 10.826/2003.
ESTATUTO DO DESARMAMENTO. INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL
AFASTADA. INVASÃO DA COMPETÊNCIA RESIDUAL DOS ESTADOS.
INOCORRÊNCIA. DIREITO DE PROPRIEDADE. INTROMISSÃO DO ESTADO
NA ESFERA PRIVADA DESCARACTERIZADA. PREDOMINÂNCIA DO
INTERESSE PÚBLICO RECONHECIDA. OBRIGAÇÃO DE RENOVAÇÃO
PERIÓDICA DO REGISTRO DAS ARMAS DE FOGO. DIREITO DE
PROPRIEDADE, ATO JURÍDICO PERFEITO E DIREITO ADQUIRIDO
ALEGADAMENTE VIOLADOS. ASSERTIVA IMPROCEDENTE. LESÃO AOS
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA E DO
DEVIDO PROCESSO LEGAL. AFRONTA TAMBÉM AO PRINCÍPIO DA
RAZOABILIDADE. ARGUMENTOS NÃO ACOLHIDOS. FIXAÇÃO DE IDADE
MÍNIMA PARA A AQUISIÇÃO DE ARMA DE FOGO. POSSIBILIDADE.
REALIZAÇÃO DE REFERENDO. INCOMPETÊNCIA DO CONGRESSO
NACIONAL. PREJUDICIALIDADE. AÇÃO JULGADA PARCIALMENTE
PROCEDENTE QUANTO À PROIBIÇÃO DO ESTABELECIMENTO DE
FIANÇA E LIBERDADE PROVISÓRIA. I - Dispositivos impugnados que
constituem mera reprodução de normas constantes da Lei 9.437/1997, de iniciativa
do Executivo, revogada pela Lei 10.826/2003, ou são consentâneos com o que nela
se dispunha, ou, ainda, consubstanciam preceitos que guardam afinidade lógica, em
uma relação de pertinência, com a Lei 9.437/1997 ou com o PL 1.073/1999, ambos
encaminhados ao Congresso Nacional pela Presidência da República, razão pela
qual não se caracteriza a alegada inconstitucionalidade formal.
A decisão transcrita faz referência, em seu bojo, a outra decisão desta mesma Corte
tomada na ADI 1050 – MC/RO, Rel. Min. Celso de Mello, que considerou válidas emendas
parlamentares apostas ao projeto de lei de iniciativa exclusiva do Executivo, que: (a) não
importem em aumento de despesa prevista no projeto do lei; (b) guardem afinidade lógica
(relação de pertinência) com a proposição original e (c) tratando-se de preceitos
orçamentários, observem as restrições fixadas no art. 166 §§ 3º e 4º da CF.
Tal posicionamento, embora consolidado, a nosso ver contraria inclusive a presunção
de inexistência de vedações constitucionais implícitas ao poder de emendar.
Com a finalidade de ilustrar a questão relativa aos limites ao poder de emenda
parlamentar nos projetos de iniciativa reservada, fez-se um levantamento da jurisprudência do
STF nos últimos anos, buscando identificar os casos em que a decisão importou análise sobre
a questão, seu fundamento decisão. A pesquisa deu origem ao seguinte quadro abaixo
reproduzido:
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
98
AMOSTRAGEM JURISPRUDENCIAL DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
Acórdão Relator Decisão Artigos da
Constituição Ementa Vício de Iniciativa
ADI-MC
4062/SC Joaquim Barbosa
Medida
cautelar
deferida
Arts. 63 e 61,
§1º, II, c, CF
Gera inconstitucionalidade formal a emenda parlamentar a projeto de lei de
iniciativa do Tribunal de Justiça Estadual que importa aumento de despesa. Aumento de despesa
ADI 13/SC Joaquim Barbosa Pedido julgado
procedente
Art. 61, § 1º, II,
a, CF
Projeto de lei de iniciativa do governador emendado pela Assembléia Legislativa.
Fere o art. 61, § 1º, II, a, da Constituição federal de 1988 emenda parlamentar que
disponha sobre aumento de remuneração de servidores públicos estaduais.
Aumento de despesa
ADI-
MC 3946/MG Marco Aurélio
Medida
Cautelar
deferida
Arts. 63, I, e
61, §1º, II, c,
CF
Surge a relevância da matéria veiculada e o risco de manter-se com plena eficácia o
ato normativo questionado quando encerre alteração substancial, mediante emenda
parlamentar, de projeto reservado a certa iniciativa. PROJETO - MINISTÉRIO
PÚBLICO - EMENDA. Mostra-se relevante pedido de suspensão de eficácia de
diploma legal quando notada modificação substancial do projeto inicialmente
encaminhado pelo Procurador-Geral de Justiça, a implicar, até mesmo, aumento de
despesa.
Aumento de despesa
e pertinência
temática
ADI 2791/PR Gilmar Mendes Pedido julgado
procedente
Arts. 63, I e 61,
§1º, II, c, CF
Não configuração do vício de iniciativa, porquanto os âmbitos de proteção da Lei
Federal nº 8.935/94 e Leis Estaduais nºs 12.398/98 e 12.607/99 são distintos.
Inespecificidade dos precedentes invocados em virtude da não-coincidência das
matérias reguladas. Inconstitucionalidade formal caracterizada. Emenda
parlamentar a projeto de iniciativa exclusiva do Chefe do Executivo que resulta em
aumento de despesa afronta os arts. 63, I, c/c 61, §1º, II, "c", da Constituição
Federal.
Aumento de despesa
ADI 1729/RN Eros Grau Pedido julgado
procedente Art. 63, I, CF
EMENDA PARLAMENTAR A PROJETO DE LEI DE INICIATIVA DO CHEFE
DO PODER EXECUTIVO. CONCESSÃO DE VANTAGEM PESSOAL A
SERVIDORES PÚBLICOS ESTADUAIS. VIOLAÇÃO DO ARTIGO 63, I, CF.
Inviabilidade de emendas que impliquem aumento de despesas a projetos de lei de
iniciativa do Chefe do Poder Executivo.
Aumento de despesa
REAgR
451827/RJ
Sepúlveda
Pertence
Agravo Regimental improvido
art. 61, § 1º, II, a, CF
Processo legislativo: vício de iniciativa: ausência, nos autos, de comprovação de
que o dispositivo de lei tido por inconstitucional fora introduzido no projeto de
iniciativa do executivo por emenda parlamentar, que acarretou aumento de despesa
para o Município.
Aumento de despesa
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
99
Acórdão Relator Decisão Artigos da
Constituição Ementa Vício de Iniciativa
ADI 2619/RS Eros Grau Pedido julgado
procedente
art. 61, § 1º, II,
a, CF
Padece de inconstitucionalidade formal o texto normativo não contemplado em
projeto de lei deflagrado pelo Poder Executivo, porque resultante de emendas
parlamentares, que dispõem sobre vencimentos de funcionários públicos e aumenta
a remuneração de servidores. Violação do artigo 61, § 1º, inciso II, alínea "a", da
Constituição do Brasil.
Aumento de despesa
ADI 1470/ES Carlos Velloso Pedido julgado
procedente
Arts. 60, §4º,
III; 61 §1º, II,
a; 63, I, CF
As regras básicas do processo legislativo da Constituição Federal, entre as quais as
que estabelecem reserva de iniciativa legislativa, são de observância obrigatória
pelos estados-membros. Emenda de origem parlamentar de que decorreu aumento
de despesa majoração de índice de aumento de vencimentos proposto pelo Chefe do
Poder Executivo, de 4,39% para 94,39%: inconstitucionalidade.
Aumento de despesa
REAgR
397354/SC Ellen Gracie
Agravo
Regimental
improvido
Art. 63, I, CF
Parágrafo 2º do art. 117 da Lei 6.745/85 do Estado de Santa Catarina, instituído por
emenda parlamentar, que permitia o pagamento de pensão integral a dependentes de
servidor falecido por causa de doença grave. Aumento de despesa. Vício de
iniciativa. Inconstitucionalidade formal.
Aumento de despesa
ADI 2804/RS Min. Eros Grau Pedido julgado
procedente
Art. 61, §1º, II,
c, CF
Projeto de lei apresentado pelo Governador de Estado, em matérias de sua
competência privativa, não pode sofrer emenda parlamentar que importe em
aumento de despesa, sob pena de o futuro texto normativo advindo da emenda
incorrer em inconstitucionalidade formal.
Aumento de despesa
REAgR
266694/RJ Eros Grau
Agravo
Regimental
improvido
Art. 61, §1º, II
c, 63, I, CF
SERVIDOR PÚBLICO. VANTAGEM. EMENTA PARLAMENTAR. AUMENTO
DE DESPESA. VÍCIO DE INICIATIVA. 1. A Constituição do Brasil, ao conferir
aos Estados-membros a capacidade de auto-organização e de autogoverno (artigo
25, caput), impõe a obrigatória observância de vários princípios, entre os quais o
pertinente ao processo legislativo, de modo que o legislador estadual não pode
validamente dispor sobre as matérias reservadas à iniciativa privativa do Chefe do
Executivo.
Aumento de despesa
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
100
Acórdão Relator Decisão Artigos da
Constituição Ementa Vício de Iniciativa
ADI 3114/SP Carlos Britto
Pedido
parcialmente
procedente
Art. 61, §1º, II,
a, c; art.
63, I, CF
IMPUGNAÇÃO DO PARÁGRAFO ÚNICO DO ARTIGO 25 E DO CAPUT DO
ARTIGO 46 DA LEI COMPLEMENTAR Nº 836, DE 02 DE DEZEMBRO DE
1997. DIPLOMA NORMATIVO QUE INSTITUIU O PLANO DE CARREIRA,
VENCIMENTOS E SALÁRIOS DOS SERVIDORES PÚBLICOS INEGRANTES
DO QUADRO DO MAGISTÉRIO DA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO
ESTADO DE SÃO PAULO. ALEGAÇÃO DE DESRESPEITO AOS INCISOS IV
E VI DO ARTIGO 84 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1998, BEM COMO
AO PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DE PODERES (ART. 2º DA C.F.). As normas
constitucionais de processo legislativo não impossibilitam, em regra, a modificação,
por meio de emendas parlamentares, dos projetos de lei enviados pelo Chefe do
Poder Executivo no exercício de sua iniciativa privativa. Essa atribuição do Poder
Legislativo brasileiro esbarra, porém, em duas limitações: a) a impossibilidade de o
parlamento veicular matérias diferentes das versadas no projeto de lei, de modo a
desfigurá-lo; e b) a impossibilidade de as emendas parlamentares aos projetos de lei
de iniciativa do Presidente da República, ressalvado o disposto nos §§ 3º e 4º do art.
166, implicarem aumento de despesa pública (inciso I do art. 63 da CF). No caso, a
Lei Complementar nº 836/97 é fruto de um projeto de lei de autoria do próprio
Governador do Estado de São Paulo e o impugnado parágrafo único do artigo 25,
embora decorrente de uma emenda parlamentar, não acarreta nenhum aumento da
despesa pública. Vício de inconstitucionalidade que não se verifica.
Aumento de despesa
ADI 3177/AP Min. Joaquim
Barbosa
Pedido julgado
procedente
Art. 61, §1º, II,
a; art. 63, I, CF
PROCESSO LEGISLATIVO. LEI 645/2002 DO ESTADO DO AMAPÁ.
EMENDA PARLAMENTAR. HIPÓTESE VEDADA PELA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL, ART. 63, I. OBSERVÂNCIA OBRIGATÓRIA PELOS ESTADOS-
MEMBROS. É inconstitucional norma que seja resultante de emenda parlamentar a
projeto de lei iniciado pelo Poder Executivo e que amplie hipóteses de recebimento
de gratificação por servidores públicos estaduais.
Aumento de despesa
RE 290776/
MG
Min. Ilmar
Galvão
Recurso
Extraordinário
não conhecido
Art. 61, §1º, II,
a; art. 63, I, CF
SERVIDOR PÚBLICO: MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE, MG: EX-
PREFEITOS: SUBSÍDIO MENSAL E VITALÍCIO. I. - Inexistência de direito
adquirido à pensão, ou ao subsídio mensal e vitalício, dado que o benefício foi fruto
de lei inconstitucional em virtude de vício de iniciativa, por aumento de despesas.
II. - Confirmação do acórdão recorrido que deu pela inconstitucionalidade da lei
municipal que, decorrente de emenda apresentada na Câmara Municipal, concedeu
aos ex-prefeitos subsídio mensal e vitalício igual ao de Secretário Municipal e, em
conseqüência, teve como inexistente direito adquirido com base na norma
inconstitucional.
Aumento de despesa
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
101
Acórdão Relator Decisão Artigos da
Constituição Ementa Vício de Iniciativa
RE 134278/S
P
Sepúlveda
Pertence
Recurso
Extraordinário
desprovido
Art. 63, I, CF
Servidores da Câmara Municipal de Osasco: vencimentos: teto remuneratório
resultante de emenda parlamentar apresentada a projeto de lei de iniciativa
reservada ao Poder Executivo versando sobre aumento de vencimentos (L. mun.
1.965/87, art. 3º): inocorrência de violação da regra de reserva de iniciativa (CF/69,
art. 57, parág. único, I; CF/88, art. 63, I)). A reserva de iniciativa a outro Poder não
implica vedação de emenda de origem parlamentar desde que pertinente à matéria
da proposição e não acarrete aumento de despesa.
Aumento de despesa
ADI 2170/SP Sepúlveda
Pertence
Pedido julgado
procedente
Arts. 61 e 63, I,
CF
Projeto do Governador, em matéria de iniciativa reservada ao Poder Executivo,
aprovado com emendas de origem parlamentar que - ampliando o universo dos
servidores beneficiados e alargando os critérios da proposta original - acarretaram o
aumento da despesa prevista: inconstitucionalidade formal declarada.
Aumento de despesa
ADI 2350/GO MAURÍCIO
CORRÊA
Pedido julgado
improcedente
Arts. 22, XXV,
e 236, CF
SERVENTIAS EXTRAJUDICIAIS. LEI ESTADUAL 13644/2000, ARTIGO 51,
§§ 1º E 2º. OFENSA AOS ARTIGOS 22, XXV, E 236 DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. EMENDA PARLAMENTAR. PERTINÊNCIA TEMÁTICA. 1. A
Constituição Federal veda ao Poder Legislativo apenas a prerrogativa da
formalização de emendas a projeto originário de Tribunal de Justiça, se delas
resultar aumento de despesa pública, observada ainda a pertinência temática, a
harmonia e a simetria à proposta inicial. 2. Lei pertinente à organização judiciária
do Estado e destinada a preencher as necessidades de pequenas comarcas, incapazes
de suportar o ônus de mais de uma serventia extrajudicial. Norma editada segundo
os limites da competência do Estado-membro. Legitimidade.
Aumento de despesa
e pertinência
temática
RE 27438/SP Ellen Gracie Rejeição
art. 61, § 1º, "a"
e "c"
combinado com
o art. 63, I
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. PROCESSO
LEGISLATIVO. INICIATIVA PRIVATIVA DO PODER EXECUTIVO.
EMENDA PELO PODER LEGISLATIVO. AUMENTO DE DESPESA.
Entendimento consolidado desta Corte no sentido de ser permitido a Parlamentares
apresentar emendas a projeto de iniciativa privativa do Executivo, desde que não
causem aumento de despesas
Aumento de despesa
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
102
Acórdão Relator Decisão Artigos da
Constituição Ementa Vício de Iniciativa
ADI-MC
865/MA Celso de Mello
Medida
Cautelar
indeferida
art. 63, II, CF
ADIN - CÓDIGO DE DIVISÃO E ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIAS DO
ESTADO DO MARANHÃO (ART. 87 E PARÁGRAFO ÚNICO; ART. 88 E §;
ART. 89 E PARÁGRAFO ÚNICO) - SERVENTIAS JUDICIAIS E
EXTRAJUDICIAIS - MATÉRIA DE ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA -
INICIATIVA RESERVADA AO TRIBUNAL DE JUSTIÇA - PROCESSO
LEGISLATIVO - LIMITES DA ATUAÇÃO PARLAMENTAR -
EMENDABILIDADE DOS PROJETOS DE LEI EM TEMA DE
ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA - A QUESTÃO DO ART. 236 DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL - AUSÊNCIA DE PLAUSIBILIDADE JURÍDICA
DO PEDIDO - MEDIDA CAUTELAR INDEFERIDA. - A cláusula constitucional
que confere exclusividade ao Tribunal de Justiça para instaurar o processo
legislativo em tema de organização e divisão judiciárias do Estado não impede os
parlamentares de oferecerem emendas ao correspondente projeto de lei. O poder de
emendar, que não constitui derivação do poder de iniciar o processo de formação
das leis, é prerrogativa deferida aos parlamentares, que se sujeitam, quanto ao seu
exercício, apenas às restrições impostas, em numerus clausus, pela Constituição
Federal. - O projeto de lei sobre organização judiciária pode sofrer emendas
parlamentares de que resulte, até mesmo, aumento da despesa prevista. O conteúdo
restritivo da norma inscrita no art. 63, II, da Constituição Federal - que concerne
exclusivamente aos serviços administrativos estruturados na Secretaria dos
Tribunais - não se aplica aos projetos referentes à organização judiciária, eis que as
limitações expressamente previstas, nesse tema, pela Carta Política de 1969 ( art.
144, § 5., in fine ), deixaram de ser reproduzidas pelo vigente ordenamento
constitucional.
Aumento de despesa
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103
Acórdão Relator Decisão Artigos da
Constituição Ementa Vício de Iniciativa
ADI-QO
2840/ES
Min. Ellen
Gracie Improcedente
art. 61, § 1º, II,
a, e, CF
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI COMPLEMENTAR Nº
246, DE 27.06.2002. ALTERAÇÃO DA ESTRUTURA DA PROCURADORIA
GERAL DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. LC Nº 88/96. INTRODUÇÃO DE
DISPOSITIVOS, POR EMENDA PARLAMENTAR, AO PROJETO DE LEI
ENCAMINHADO PELO GOVERNADOR À ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA.
RECONHECIMENTO DE INCONSTITUCIONALIDADE PELA OCORRÊNCIA
DE VÍCIOS FORMAIS E MATERIAIS. É firme nesta Corte o entendimento de
que compete exclusivamente ao Chefe do Executivo a iniciativa de leis que
disponham sobre remuneração de pessoal, organização e funcionamento da
Administração. O desrespeito a esta reserva, de observância obrigatória pelos
Estados-membros por encerrar corolário ao princípio da independência dos
Poderes, viola o art. 61, § 1º, II, a e e da Constituição Federal. Precedentes: ADI
2.646, Maurício Corrêa, ADI 805, Sepúlveda Pertence, ADI 774, Celso de Mello,
ADI 821, Octavio Gallotti e ADI 2186-MC, Maurício Corrêa. A atuação dos
membros das Assembléias Legislativas estaduais acha-se submetida, no processo de
formação das leis, à limitação imposta pelo art. 63, I, da CF, que veda o
oferecimento de emendas parlamentares de que resulte o aumento da despesa
prevista nos projetos sujeitos ao exclusivo poder de iniciativa do Governador.
Precedente: ADI 1.070-MC, Celso de Mello. Ação direta de inconstitucionalidade
cujo pedido se julga procedente em parte.
Aumento de despesa
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
A análise jurisprudencial efetuada evidencia que grande parte das decisões do STF que
envolvem o tema dos limites ao poder de emenda está calcada em um possível vício de
iniciativa decorrente do aumento de despesa que a referida emenda prevê aos projetos de
iniciativa reservada.
Observa-se também que a questão envolve a União e também o poder de emenda dos
Estados-membros e Municípios, e a posição do STF é coerente, compatível com o princípio da
simetria que deve reger as relações entre os entes federados.
O levantamento efetuado permite vislumbrar também a prevalência, no que diz respeito
ao aumento de despesa, de dois tipos de matéria: (a) a de emendas a projetos de lei de iniciativa
do Executivo, nos diversos níveis federativos, que envolvem o plano de carreira do
funcionalismo público federal, estadual, municipal ou distrital; (b) projetos que envolvem
organização judiciária a nível federal, estadual ou distrital.
No que diz respeito à primeira, é entendimento pacífico no STF de sua competência para
decidir questões desta natureza, nos casos citados, conforme se pode observar do teor da decisão
exarada no seio do Recurso Extraordinário 274383, Rel. Ministra Ellen Gracie, cujo extrato é
transcrito abaixo:
A Constituição Federal, em norma de observância obrigatória para Estados e
Municípios conferiu ao Chefe do Poder Executivo atribuição para avaliar a
oportunidade e a conveniência para dar início ao processo legislativo, com vistas a
disciplinar o regime jurídico dos servidores públicos. O Plenário desta Corte examinou
diversas vezes a possibilidade de o Legislativo emendar projetos desta natureza. Veja-
se, por exemplo, a ADI 1070 – MC, Rel. Min. Celso de Mello, unânime, DJ 15/09/95;
ADI 2.569, Rel. Min. Carlos Velloso, unânime, DJ 19/03/2003, entre outras. Restou
consolidado o entendimento no sentido de ser permitido a Parlamentares apresentar
projetos de emendas de iniciativa privativa do Executivo. Entretanto, tais modificações
não podem inovar o tema no projeto remetido, tampouco causar aumento de despesas,
em obediência ao art. 63, I da CF. (...)
Observa-se, com respeito a essas situações, uma posição cautelosa no STF no sentido de
preservar a iniciativa reservada do Executivo e restringir as emendas nestes casos, porquanto o
aumento de despesas que elas podem causar pode dificultar ou inviabilizar a execução do
planejamento orçamentário do Executivo.
No que diz respeito ao limite de emenda em projetos de iniciativa dos tribunais que
dizem respeito à organização e funcionamento do Judiciário, é preciso levar-se em conta, de um
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
lado, a vedação imposta pelo inciso II do art. 63 da CF, que impede a emenda quando houver
aumento de despesa nos projetos sobre organização dos serviços administrativos dos Tribunais
Federais e do Ministério Público, entre outros; de outro, a decisão prolatada na ADI 865-MA,
que consolidou o entendimento de que a referida vedação não impede que emendas
parlamentares aumentem a despesa em projetos relativos à organização judiciária.
Necessário se faz mencionar a decisão do STF na ADI 3362-BA, em que foi relator
originário Min. Sepúlveda Pertence e relator para o acórdão Min. Marco Aurélio Melo. Neste
caso a AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros) ingressou com ação contra a Assembléia
Legislativa do Estado da Bahia, contra emenda deste órgão que limitava o número de
desembargadores do Estado em 35. A AMB entendia que a fixação deste número dependia de
projeto de iniciativa privativa do tribunal, de forma que a requerida, no caso, teria usurpado a
competência reservada do Tribunal. O STF, após acalorado debate, entendeu ser procedente a
ação. Neste caso não esteve em discussão o aumento da despesa que a fixação de um limite
acima do número então existente de desembargadores (à época havia no Tribunal de Justiça da
Bahia 30 desembargadores), até porque a assembléia propunha a fixação de um teto e não a
criação de mais vagas, mas a separação entre os poderes e a prerrogativa dos tribunais
exercerem o controle sobre a administração judiciária do ente federativo a que pertencem.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo a respeito dos limites ao poder de emenda parlamentar em projetos de lei de
iniciativa reservada, a partir das decisões do Supremo Tribunal Federal, permite: (a) defluir a
coerência da Corte no sentido de assegurar a iniciativa do Executivo nos casos em que a emenda
possa implicar em aumento de despesa; (b) preservar a iniciativa reservada nos casos que
envolvem a organização judiciária; (c) permitir a emenda nos casos em que não há aumento de
despesas, sempre que esta tenha pertinência temática com o projeto apresentado.
Vislumbra-se, portanto, uma preocupação do Supremo Tribunal Federal em assegurar a
harmonia e a independência dos poderes, fazendo prevalecer a ―fórmula‖ consagrada na
Constituição com respeito ao processo legislativo de titularidade partilhada, embora com
prevalência do Poder Legislativo.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
O critério de pertinência temática adotado por esta Corte, contudo, parece apontar em
sentido contrário, uma vez que limita a atuação legislativa onde a Constituição não fixou
limites, importando, salvo melhor juízo, em uma restrição que não tem guarida constitucional. A
questão é importante especialmente por seus reflexos com respeito aos limites de controle e de
emenda parlamentar sobre a competência do Presidente da República em editar os chamados
decretos autônomos, tema que será tratado em outra parte do projeto.
Outra consideração necessária diz respeito à fixação dos critérios utilizados para se
verificar a pertinência temática da emenda em relação aos projetos de lei apresentados. A
análise jurisprudencial não revelou uma amostra confiável relativa a esse ponto, o que poderá
ser objeto de pesquisa ulterior, mas desde logo é importante ressalvar a discricionariedade que a
análise dessa compatibilidade comporta, transferindo ao Supremo Tribunal Federal a última
palavra sobre um procedimento cuja titularidade preferencial é do Legislativo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AZEVEDO, Márcia Maria Corrêa de. Prática do Processo Legislativo: jogo parlamentar: fluxos
de poder e idéias no congresso: exemplos e momentos comentados. São Paulo: Atlas, 2001.
CANTIZANO, Dagoberto Liberato. O processo legislativo nas constituições brasileiras e no
direito comparado. Rio de Janeiro: Forense, 1985.
CLÈVE, Clémerson Merlin. Atividade legislativa do poder executivo no estado contemporâneo
e na constituição de 1988. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.
FERRAZ, Sérgio Valladão. Curso de direito legislativo: direito parlamentar e processo
legislativo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Do processo legislativo. 3 ed. São Paulo: Saraiva,
1995.
PROCHMANN, Valquíria Bassetti. Poder executivo e produção normativa. Curitiba: Ganesis,
1998.
SAMPAIO, Nelson de Souza. O Processo legislativo. Belo Horizonte: Del Rey, 1996.
SERRANO, Pedro Estevam A.P. O desvio de poder na função legislativa. São Paulo: FTD,
1997.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA / SECRETARIA DE ASSUNTOS LEGISLATIVOS
PROJETO PENSANDO O DIREITO
TEMA: VÍCIO DE INICIATIVA E SEPARAÇÃO DE PODERES
ANEXO IV:
O DECRETO DO ART. 84, VI, “a”,
DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988:
LIMITES E POSSIBILIDADES
Núcleo UNIVALI
Florianópolis, 31 de dezembro de 2008
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
O DECRETO DO ART. 84, VI, “a”,
DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988:
LIMITES E POSSIBILIDADES
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Dentre os escopos específicos apresentados pela equipe de pesquisa para o projeto
―Delimitação das Atribuições entre os Poderes Executivo e Legislativo no tocante à
Regulamentação sobre ‗Organização e Funcionamento da Administração Pública Federal‘:
iniciativa privativa do presidente, decreto autônomo e emendas parlamentares em questão‖,
situado no âmbito do projeto ―Pensando o Direito‖, encontravam-se dois:
1. Propor uma definição estipulativa sobre a natureza jurídica dos decretos autônomos
e estabelecer o seu espectro de atribuições segundo o ordenamento constitucional
brasileiro;
2. Propor uma decomposição analítica das competências normativas relacionadas às
expressões ―estrutura e atribuições‖ (art. 61, par. 1, inc. II, a, redação antiga) e
―organização e funcionamento da administração pública federal‖ (art. 84, VI, a), a fim
de analisar se tais expressões podem ser (ou não) subsumidas uma à outra;
A consecução desses dois objetivos, segundo o projeto inicialmente apresentado, dar-se-
ia exclusivamente por meio de revisão bibliográfica. Contudo, a parte da equipe responsável
pelo estudo da figura do ―decreto autônomo‖124
, na tentativa de aumentar a abrangência da
pesquisa resolveu optar por acrescentar à revisão bibliográfica um trabalho de caráter empírico-
indutivo consistente em: (a) extrair algumas conclusões a partir do teor dos decretos
presidenciais editados com fundamento exclusivo no art. 84, VI, ―a‖, da CF/88125
; e (b) verificar
algumas definições sobre o tema na prática jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal.
124
Em diversos momentos desse texto utilizar-se-á da expressão ―decreto autônomo‖ em razão da ampla utilização
que dela se faz na literatura administrativa e constitucional. Porém, mister se faz ressaltar que a conclusão da
equipe sobre a correção da utilização da expressão encontra-se no item 5 (O decreto do art. 84, VI, ―a‖, da
Constituição Federal de 1988: limites e possibilidades). 125
A pesquisa inicialmente abarcou todos os decretos que, de um modo ou de outro, tenham fundamento no art. 84,
VI, ―a‖, da CF/88. Ocorre que vários decretos apoiados no citado dispositivo, igualmente adotam como fundamento
o art. 84, IV, da CF/88 (ou seja, o decreto assumiria um caráter híbrido: decreto regulamentar e, em certa medida,
―decreto autônomo‖) ou mesmo alguma lei a ser regulamentada. Nesses casos, torna-se praticamente impossível
verificar se (e em que medida) o Chefe do Executivo valeu-se do poder normativo que lhe confere o art. 84, VI,
―a‖, da CF/88. Assim, a equipe de pesquisa optou por analisar somente os decretos que foram editados com
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Nesse sentido, para a consecução dos compromissos assumidos pela equipe de pesquisa
com relação à figura do ―decreto autônomo‖ do art. 84, VI, ―a‖, da CF/88 o texto que se segue
foi estruturado nos seguintes pontos:
1. Delimitações conceituais.
Inicialmente far-se-á uma delimitação conceitual sobre a atividade regulamentar ínsita à função
executiva do Estado. Aqui, conceituar-se-á a função regulamentar e discorrer-se-á sobre o
regulamento (que se operacionaliza via decreto) e suas mais variadas formas de apresentação. A
intenção desse item é fixar conceituações que permitam uma análise metodologicamente
adequada de todas as questões levantadas ao longo da pesquisa e que evitem sincretismos
metodológicos que dificultem ou inviabilizem o debate sobre a figura do ―decreto autônomo‖.
2. A história do poder regulamentar nas Constituições brasileiras e a análise da PEC que deu
origem à EC nº. 32/2001.
A metodologia alemã sempre procurou trabalhar a importância dos chamados elementos
histórico e genético na interpretação dos dispositivos legais. Assim, nesse segundo item, a idéia
é trazer para o debate acerca das delimitações interpretativas de um determinado dispositivo
tanto a sua história (como fora tratado anteriormente em outros documentos) quanto a sua
gênese (qual o teor do trâmite legislativo da proposta que deu origem ao dispositivo). Esse
momento, em especial no que concerne ao trâmite e aos debates que deram origem à EC nº.
32/2001, será de grande valia quando do desenvolvimento dos itens 5 e 7.
fundamento exclusivo no referido dispositivo constitucional. Os demais decretos, que têm fundamento duplo, por
assim dizer, entraram na análise apenas no quesito estatístico. Importante, ainda, frisar que a equipe analisou não
apenas os denominados decretos numerados (em um total de 320 decretos), mas também aqueles ditos não-
numerados (em um total de 267 decretos). Em suma, parte das conclusões que serão ao final deste artigo expostas,
decorrem fundamentalmente da análise e catalogação de 587 decretos presidenciais. Vale ainda destacar que foram
analisados todos os decretos editados entre 12 de setembro de 2001 (data da entrada em vigor da EC 32/2001) e 31
de dezembro de 2008 (período em que se encerram as atividades do grupo de pesquisa). Por fim, é digno de nota
que a equipe de pesquisa desconsiderou alguns poucos decretos que, em que pese fundados formalmente apenas no
art. 84, VI, ―a‖, da CF/88, evidentemente eram decretos de execução (materialmente, então, apoiados no art. 84, IV,
da CF/88).
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
3. Revisão da literatura jurídica brasileira sobre ―decreto autônomo‖.
Nesse terceiro item, o objetivo é apresentar algumas (mas importantes) posições teóricas de
constitucionalistas e administrativistas brasileiros sobre a (im)possibilidade de se falar em
―decreto autônomo‖ no ordenamento constitucional brasileiro. E para facilitar a compreensão da
matéria em uma vinculação com momentos constitucionais específicos (devidamente
analisados, sob o ponto de vista legislativo, no item anterior), dividiu-se a análise em três
períodos: entre 1969 (EC nº. 1 à Constituição de 67) e 1988 (Constituição); entre 1988 e 2001
(EC nº. 32/01) e posteriormente à EC nº. 32/2001. As opiniões expostas nessa parte do artigo
não apenas servirão de teoria de base para algumas conclusões, como igualmente apresentar-se-
ão como interlocutoras para alguns debates travados no curso das páginas seguintes.
4. O ―decreto autônomo‖ na práxis do Supremo Tribunal Federal.
Após um resgate histórico constitucional do poder regulamentar do Presidente da República e
de uma revisão bibliográfica sobre a (im)possibilidade de se falar em ―decreto autônomo‖ no
ordenamento jurídico brasileiro, nesse momento do artigo far-se-á uma análise da jurisprudência
do Supremo Tribunal Federal naquilo que ela possa contribuir para a resposta sobre os limites e
as possibilidades do ―decreto autônomo‖. Os resultados advindos dessa análise, por mais que
não possam levar a conclusões certas na jurisprudência da Corte, podem, sobretudo após a EC
nº. 32/2001, acenar para possíveis posições futuras que virão a ser tomadas pelo STF.
5. O decreto do art. 84, VI, ―a‖, da Constituição Federal de 1988: limites e possibilidades.
Nesse momento, a partir dos aportes teóricos, legislativos e jurisprudenciais que foram
trabalhados anteriormente, buscar-se-á definir os exatos contornos da figura normativa prevista
no art. 84, VI, ―a‖, da CF/88, e as contribuições interpretativas que lhe podem oferecer as
alterações que com a EC nº. 32/2001 sofreram o art. 48, em seus incisos X e XI, e o art. 61, § 1º,
inciso II, alínea ―e‖, todos da CF/88. É aqui também que a equipe de pesquisa posicionar-se-á
sobre a possibilidade de se falar em ―decreto autônomo‖ no direito brasileiro. As conclusões
aqui atingidas servirão de suporte teórico para toda a análise que será efetuada nos itens 6 e 7.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
6. Análise da práxis presidencial concernente ao decreto do art. 84, VI, ―a‖, da Constituição
Federal de 1988 entre 12.09.2001 e 31.12.2008.
Nesse ponto do trabalho far-se-á uma detida análise da práxis presidencial concernente ao
decreto do art. 84 VI, ―a‖, da CF/88 entre a entrada em vigor da EC nº. 32/2001 e o dia 31 de
dezembro de 2008. O objetivo aqui é analisar, avaliar essa práxis para que, a partir dela, no
último item, seja possível, com auxílio dos aportes teóricos, legislativos e jurisprudenciais
anteriormente vistos, propor, nas considerações finais, algumas ―sugestões‖ sobre o uso, pelo
Executivo, da faculdade prevista no art. 84, VI, ―a‖, da CF/88.
7. A (in)constitucionalidade dos decretos concernentes a planos e programas nacionais,
regionais e setoriais de desenvolvimento.
Este sétimo momento abordará uma temática que a equipe de pesquisa julgou deveras
importante. Com efeito, a ―descoberta‖ de uma série (quase 50) de decretos fundados
exclusivamente no art. 84, VI, ―a‖, da CF/88 que estabelecem (ou operam ajustes em) políticas,
programas e ações governamentais, suscitou a pergunta sobre a constitucionalidade desses
documentos tendo em vista o disposto no art. 48, IV, da CF/88, em especial após constatado,
quando se efetuava a análise da memória legislativa da EC nº. 32/2001, que proposta a princípio
francamente condizente com tal uso dos ―decretos autônomos‖, fora rejeitada pelo Congresso
Nacional. Ademais, em razão da absoluta pertinência temática, dedicou-se a equipe de pesquisa
a algumas considerações sobre o Decreto de 25 de fevereiro de 2008, que instituiu o ―Programa
Territórios da Cidadania‖ e que é objeto da ADI 4.032 que aguarda julgamento perante o
Supremo Tribunal Federal.
2. DELIMITAÇÕES CONCEITUAIS
É consenso na literatura administrativa e constitucional que o desenvolvimento de uma
atividade requer sempre uma dose de poder. Sendo assim, não poderia ser diferente com a
função administrativa (ou poder administrativo) do Estado. À função executiva a que se refere o
art. 76 da CF/88 é preciso atribuir uma série de poderes que permitam ao ―Presidente da
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
República‖ – ―auxiliado pelos Ministros de Estado‖ – atingir os objetivos que são postos ao
ramo administrativo do Estado. São os denominados poderes administrativos.
Nesse sentido, são várias as categorias de poder que o direito administrativo confere à
Administração Pública para o bom desempenho de suas missões. Daí se falar em poder
discricionário, poder vinculado, poder hierárquico, poder disciplinar, poder de polícia e, por
fim, poder regulamentar.126
Esse último nos interessa em especial.
O poder regulamentar, na conceituação de Hely Lopes Meirelles (2006, p. 127),
caracteriza-se como ―a faculdade de que dispõem os Chefes do Executivo (Presidente da
República, Governadores e Prefeitos) de explicar a lei para sua correta execução, ou de expedir
decretos autônomos sobre matéria de sua competência ainda não disciplinada por lei‖. Para
Oswaldo Aranha Bandeira de Mello, os regulamentos – instrumento por meio do qual se exerce
o poder regulamentar – ―são regras jurídicas gerais, abstratas, impessoais, em desenvolvimento
da lei, referentes à organização e ação do Estado, enquanto Poder Público‖ (2007, p. 359).
Percebe-se, pois, que adentramos no âmbito da denominada atividade legislativa do Poder
Executivo.127
Contudo, em que pese a relativa pacificidade que vigora no que concerne à conceituação
e delimitação do poder regulamentar, não são poucas as denominações existentes quando o
objeto são os instrumentais de operacionalização desse poder. Se somarmos aos termos
consagrados pela teoria jurídica brasileira, outros que derivam de importações do direito
estrangeiro, esse quadro conceitual torna-se ainda mais extenso e, por vezes, confuso. Daí falar-
se em ―regulamento‖, ―decreto‖, ―decreto de execução‖, ―regulamento de execução‖, ―decreto
autônomo‖, ―decreto independente‖, etc.
126
Essas denominações são encontradas, na totalidade ou em partes, em MEIRELLES (2006, p. 116),
CARVALHO FILHO (2008, p. 44-57), dentre outros. 127
Maria Sílvia Zanella di Pietro prefere a expressão ―poder normativo‖ a ―poder regulamentar‖, o que justifica
afirmando: ―Normalmente, fala-se em poder regulamentar; preferimos falar em poder normativo, já que aquele
não esgota toda a competência normativa da Administração Pública; é apenas uma de suas formas de expressão,
coexistindo com outras [...]‖ (2007, p. 78). Contudo, em que pese entendermos que assiste razão à autora, este
artigo manterá a nomenclatura ―poder regulamentar‖ numa clara opção pela tradição em detrimento da técnica. Até
mesmo para nos mantermos fiéis à nomenclatura constitucional, que diz competir ao Congresso Nacional: ―sustar
os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites da delegação
legislativa‖ (CF, art. 49, V). De se ressaltar, por derradeiro, a opinião de Odete Medauar, para quem o poder
regulamentar ―configura um dos modos de exercício do poder normativo no âmbito do Poder Executivo‖ (2000, p.
135).
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Para os fins deste artigo, inicialmente faremos uso da classificação de Oswaldo Aranha
Bandeira de Mello (2007, p. 359) que, os chamando de regulamentos, classificava os decretos a
cargo do Poder Executivo em: regulamentos executivos (ou de execução), regulamentos
autorizados (ou delegados)128
e regulamentos independentes (ou autônomos), ainda que para
alguns administrativistas, a melhor classificação (ou a preferida deles) é aquela que os separa
em: de execução (os regulamentares em sentido estrito) e autônomos (independentes)129
.
Aqui, partindo da classificação de Oswaldo Aranha Bandeira de Mello e dialogando com
a classificação, digamos, mais clássica, dos regulamentos (decretos), vamos utilizar uma
nomenclatura que reformula a classificação proposta pelo autor em apenas duas categorias:
decretos de execução e decretos autônomos (ou independentes)130
. Isso porque, para os nossos
objetivos, o essencial dessa classificação é subdivisão que o autor faz da categoria ―decreto
autônomo‖ (ou independente) em: orgânicos, regimentais e policiais (2007, p. 360). Nas
palavras do próprio autor a definição de cada uma das três subespécies:
Os orgânicos são aquelas regras jurídicas decretadas pelo Executivo que dão
organização à Administração Pública, limitado, tão-somente, o delineamento da sua
estrutura, quanto às repartições públicas e agentes públicos, pela verba geral para levar
a efeito tais despesas, nos termos orçamentários ou créditos especiais. Ainda através
deles são promulgadas as disposições relativas aos direitos e deveres dos agentes
públicos. (2007, p. 360)
Já, os regimentais regulam as condições internas de execução dos serviços públicos e a
maneira de sua utilização por terceiros interessados. Constituem, muitas vezes, simples
instruções sobre o funcionamento das repartições públicas, baixadas pelo Executivo.
(2007, p. 360)
Afinal, os policiais enfeixam regras jurídicas para manter a ordem do Estado-sociedade
e, assim, resguardar a segurança pública e a salubridade pública e preservar a liberdade
e a propriedade dos indivíduos. (2007, p. 361)
128
Com relação aos chamados decretos autorizados ou delegados remetemos o leitor as considerações de CLÈVE,
2000, p. 305-308, que analisando o Texto Constitucional de 1988 refuta a possibilidade de aceitar essa espécie
regulamentar no ordenamento brasileiro. 129
É o caso de MEIRELLES (2006), CARVALHO FILHO (2008), dentre outros. 130
A tradição jurídica brasileira tem apontado como sinônimas as expressões ―decreto autônomo‖ e ―decreto
independente‖. Para facilitar as análises e contribuir para a redução das inúmeras e pouco consensuais
classificações em matéria de poder regulamentar, este artigo utilizará como sinônimas as expressões ―decreto
autônomo‖ e ―decreto independente‖ no decorrer da revisão bibliográfica e da análise da jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal. Contudo, ao delimitarmos o âmbito de alcance da figura normativa prevista no art. 84,
VI, ―a‖, da CF/88, utilizaremos a diferenciação que faz André Rodrigues Cyrino, a partir da obra de José Maria
Baño León. Para CYRINO (2005, p. 94): ―Regulamentos autônomos são aqueles que têm fundamento direto no
texto constitucional, que delimita uma esfera de conteúdos reservados ao regulamento. Trata-se de um campo
material exclusivo no qual o legislador não pode interferir. Já os regulamentos independentes, ou regulamentos
praeter legem, são os que existem no espaço deixado pelo legislador em matérias que não contrariem a reserva de
lei e o próprio texto legal, num ‗campo de poderes residuais‘‖.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
A classificação acima explicitada, como será visto ao final, auxiliará na compreensão
dos limites normativos da figura prevista no art. 84, VI, ―a‖, da Constituição Federal de 1988.
Por fim, mais uma classificação se faz importante explicar. No âmbito do executivo
federal brasileiro há outra classificação dos decretos (sejam de execução sejam ―autônomos‖)
que os divide em numerados e não-numerados. Os primeiros são aqueles atos normativos de
caráter geral e abstrato; já os segundos apresentam-se como aqueles que expõem regras de
caráter singular. Essa classificação será útil quando da análise dos decretos editados pelo
Executivo brasileiro desde o advento da EC nº. 32/2001, posto que o próprio sítio eletrônico do
Governo Federal – a fonte de pesquisa dos decretos presidenciais que foram objeto de análise –
trabalha com essa divisão dos decretos em numerados e não-numerados.131
3. A HISTÓRIA DO PODER REGULAMENTAR NAS CONSTITUIÇÕES
BRASILEIRAS E A ANÁLISE DA PEC QUE DEU ORIGEM À EC Nº. 32/2001.
Todas as Constituições brasileiras, desde a imperial, conheceram o decreto de execução,
ou propriamente regulamentar. A Constituição de 1824, em seu art. 102, inciso XII conferia ao
Imperador, como Chefe do Executivo, o poder de ―expedir os Decretos, Instruções e
Regulamentos adequados à boa execução das Leis‖. A Constituição de 1891, em seu art. 48,
parágrafo 1º, estabelecia como competência privativa do Presidente da República ―sancionar,
promulgar e fazer publicar as leis e resoluções do Congresso; expedir decretos, instruções e
regulamentos para sua fiel execução‖. A Constituição de 1934, ao seu tempo, estabeleceu em
seu art. 56, §1º, competir privativamente ao Presidente da República ―sancionar, promulgar e
fazer publicar as leis, e expedir decretos e regulamentos para a sua fiel execução‖, em redação
muito próxima à da Carta anterior. Por sua vez, a Carta de 1937, fixou como competência
privativa do Presidente da República ―sancionar, promulgar e fazer publicar as leis e expedir
decretos e regulamentos para a sua execução‖ (art. 74, a). No art. 87, I, da Constituição de 1946,
encontrávamos a competência privativa do Presidente da República para ―sancionar, promulgar
e fazer publicar as leis e expedir decretos e regulamentos para a sua fiel execução‖. A
131
Sobre a classificação dos decretos presidenciais em numerados e não-numerados vide o art. 4º do Decreto nº.
4.176, de 28 de março de 2002, que ―Estabelece normas e diretrizes para a elaboração, a redação, a alteração, a
consolidação e o encaminhamento ao Presidente da República de projetos de atos normativos de competência dos
órgãos do Poder Executivo Federal, e dá outras providências‖.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Constituição seguinte, em 1967, previu no art. 83, II, a competência privativa do Presidente para
―sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, expedir decretos e regulamentos para a sua fiel
execução‖. Até a Constituição de 1967, o decreto de execução, ou seja, aquele destinado a
permitir que o Chefe do Poder Executivo dê aplicabilidade à lei, era o único previsto no direito
constitucional pátrio. Esse quadro somente seria alterado com a Emenda Constitucional nº. 01
de 1969 à Constituição de 1967.
A EC nº. 01, de 1969, alterando o art. 81 da Carta de 1967, manteve dentre as
competências privativas do Presidente a de ―sancionar, promulgar e fazer publicar as leis,
expedir decretos e regulamentos para a sua fiel execução‖, mas lhe atribuiu outra, prevista no
inciso V, consistente em ―dispor sobre a estruturação, atribuições e funcionamento dos órgãos
da administração federal‖. Nascia, para alguns, o decreto autônomo no direito brasileiro.132
A Constituição Federal de 1988 operou nova alteração na engenharia constitucional do
poder regulamentar.
Até 12 de setembro de 2001, data em que entrou em vigor a Emenda Constitucional nº.
32, o art. 48 da CF/88 estabelecia caber ao Congresso, com a sanção do Presidente da
República, dispor sobre todas as matérias de competência da União, e em especial sobre
―criação, transformação e extinção de cargos, empregos e funções públicas‖ (inc. X) e ―criação,
estruturação e atribuições dos Ministérios e órgãos da administração pública‖ (inc. XI).
Ainda naquela época, eram de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que
dispusessem sobre ―criação, estruturação e atribuições dos Ministérios e órgãos da
administração pública‖ (art. 61, §1º, II, ―e‖, da CF/88).
E por fim, fechando o elo de poderes do Chefe do Executivo Federal no que concerne à
criação, estruturação e atribuições dos Ministérios e órgãos da administração pública, o art. 84,
VI, da CF/88 conferia ao Presidente da República competência privativa para ―dispor sobre a
organização e o funcionamento da administração federal, na forma da lei‖.
132
A conclusão, contudo, mesmo à época, não era pacífica. De fato, o dispositivo conferia ao Chefe da
Administração Pública Federal poderes bastante limitados, o que gerava certa incerteza com relação à possibilidade
de se falar em ―decreto autônomo‖. É o caso, por exemplo, do Decreto nº 84.240, de 26 de Novembro de 1979, que
―Transforma em Secretaria o Departamento de Aplicações Tecnológicas e dá outras providências‖. O art. 1º desse
decreto dispunha: ―Fica o Departamento de Aplicações Tecnológicas (DAT), do Ministério da Educação e Cultura,
de que tratam o artigo 2º, item IV, inciso 6, o artigo 23, e o artigo 40, item IV, do Decreto nº 81.454, de 17 de
março de 1978, transformado em Secretaria de Aplicações Tecnológicas (SEAT)‖. Percebe-se, pois, que o
instrumento conferia um tipo de poder bastante limitado à chefia do Poder Executivo.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Foi com base no disposto no art. 84, VI, da CF/88 que foram editados decretos como o
de nº. 3.507, de 13 de junho de 2000, que ―Dispõe sobre o estabelecimento de padrões de
qualidade do atendimento prestado aos cidadãos pelos órgãos e pelas entidades da
Administração Pública Federal direta, indireta e fundacional, e dá outras providências‖. Ou seja,
um decreto que, ainda que não ostente caráter regulamentar, não conflita com a lei e tem no
trato de assuntos interna corporis da Administração pública federal seu objeto.
Atentemos para um ponto importante. Por mais que o disposto no art. 84, VI,
estabelecesse a restrição de que tudo deveria se dar ―na forma da lei‖, o fato é que com base no
dispositivo em comento, o Chefe do Executivo federal poderia fazer arranjos internos (desde
que permitidos ou não vedados por lei) – organização – e estabelecer diretrizes de ação dos
órgãos da administração federal – funcionamento. Esse ponto é importante para melhor
compreender a discussão que se fará em breve sobre o quanto a EC nº. 32/2001 mudou de fato o
campo de atribuição regulamentar do Presidente da República. Mas insistimos: era possível
editar decretos visando ao bom funcionamento e boa estruturação da Administração Pública
federal; contudo, não havia uma ―reserva regulamentar‖, tudo ficava limitado pelos contornos
da lei ou, então, poderia ser alterado pela superveniência de alguma lei.
Voltando à EC 32/2001, percebe-se que houve uma reorganização importante no que diz
respeito aos poderes do Presidente da República na organização da administração pública
federal. Vejamos as alterações.
Inicialmente cumpre ressaltar que o art. 48 da CF/88, com a nova redação, estabelece ser
competência do Congresso, com a sanção do Presidente, dispor sobre ―criação, transformação e
extinção de cargos, empregos e funções públicas, observado o que estabelece o art. 84, VI, ―b‖
(inc. X). Aqui nada de muito novo. Trata-se apenas de um arranjo que buscou compatibilizar o
inc. X do art. 48 com a alínea ―b‖, do inc. VI, do art. 84, que autoriza o Presidente da República
a, por decreto, extinguir cargos ou funções públicos, quando vagos.
Alteração mais significativa, porém, deu-se no inc. XI, do art. 48, que passou a limitar a
reserva legal apenas à ―criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública‖, ou
seja, excluiu da competência legislativa do Congresso Nacional a prerrogativa de dispor sobre
―estruturação e atribuições dos Ministérios e órgãos da administração pública‖, o que leva à
possibilidade argumentativa de que essa matéria agora se encontra restrita ao âmbito do decreto.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Essa afirmação pode ser auxiliada pelo disposto no novo art. 61, §1º, II, ―e‖, que
restringe ao Presidente da República a iniciativa de lei que disponha sobre ―criação e extinção
de Ministérios e órgãos da administração pública, observado o disposto no art. 84, VI‖. Ou seja,
a partir da EC 32/2001, ficou reservado à lei, quando o assunto for Ministérios ou órgãos da
administração pública federal, dispor exclusivamente criação e extinção. Além do art. 61, §1º,
II, ―e‖, soma-se a essa nova engenharia governamental o art. 84, VI, ―a‖, do Texto
Constitucional, que estabelece competir privativamente ao Presidente da República dispor,
mediante decreto, sobre "organização e funcionamento da administração federal, quando não
implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos‖. Ressalte-se, por fim,
o art. 84, VI, ―b‖, da Constituição, que atribui poder ao Presidente da República para dispor,
mediante decreto, sobre ―extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos".
É importante ressaltar, ao final, que a Emenda Constitucional nº. 32, de 11 de setembro de 2001,
é fruto da PEC n. 1/95, originária do Senado Federal, e pode ser caracterizada como uma
Emenda Constitucional que, ao mesmo tempo em que restringe parte dos poderes presidenciais
no que concerne à edição de medidas provisórias, ―compensa‖ essa restrição ao ampliar os
poderes do Presidente da República no que diz respeito à organização interna da Administração
pública federal.133
Ficou claro tanto na proposta original do Senado (PEC nº. 1/95), quanto nos debates que foram
travados nas Casas do Congresso Nacional, que a proposta pretendia dar ao Chefe do Poder
Executivo federal maiores poderes para gerir a máquina estatal. O que resta saber é em qual
medida tal desiderato foi alcançado, o que tentaremos responder no item 5.
4. REVISÃO DA LITERATURA JURÍDICA BRASILEIRA SOBRE “DECRETO
AUTÔNOMO”
A literatura brasileira que tem se debruçado sobre o tema não é unânime quanto à
possibilidade de ser falar em decreto autônomo em terras brasileiras. Para uma melhor
compreensão da matéria vamos dividir essa revisão bibliográfica em três períodos: (a) entre a
EC nº. 01969 à Constituição de 1967 e a Constituição de 1988; (b) entre a promulgação da
133
Para maiores detalhes sobre a memória legislativa da PEC nº. 32/2001 consultar o Anexo VI (Análise) Memória
Legislativa da EC n. 32/01 (relativa ao Decreto Autônomo).
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Constituição de 1988 e a entrada em vigor da EC nº. 32/2001; e (c) entre a entrada em vigor da
EC nº. 32/2001 e a atualidade.
4.1 DA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº. 01 DE 1969 À CONSTITUIÇÃO DE 1967 ATÉ A
CONSTITUIÇÃO DE 05 DE OUTUBRO DE 1988
Vimos que a EC nº. 01/69 à Constituição de 1967 alterou o art. 81 da Carta de 1967
atribuindo, pelo inciso V, competência ao Presidente da República para, via decreto, ―dispor
sobre a estruturação, atribuições e funcionamento dos órgãos da administração federal‖. De se
ressaltar que o art. 43, V, do Texto Constitucional estabelecia ser competência do Congresso
Nacional, com a sanção presidencial, dispor sobre ―criação de cargos públicos e fixação dos
respectivos vencimentos [...]‖. Ou seja, a criação de cargos públicos (e por conseqüência dos
órgãos públicos) dependia de lei. Contudo, as regras sobre ―estruturação, atribuições e
funcionamento‖ dos órgãos da Administração Federal ficavam a cargo do decreto previsto no
art. 81, V, da Constituição de 1967 (com a redação dada pela EC nº. 01/1969), como também
passou a ser competência do Chefe do Executivo, após a edição da EC nº. 01/1969, ―[...]
extinguir os cargos públicos federais‖. Estávamos diante, veremos em breve, de um quadro
muito próximo ao atualmente fixado pelo art. 84, VI, da CF/88, com a redação dada pela EC nº
32/2001.
Isso tudo, porém, parece não ter empolgado os teóricos da época.
Em uma das obras mais clássicas do direito administrativo brasileiro, Princípios Gerais
de Direito Administrativo, Vol. I, Introdução, Oswaldo Aranha Bandeira de Mello134
afirmava:
Segundo os arts. 83, II, da CF de 1967 e 81, III, da Magna Carta e 1969, compete
privativamente ao Presidente da República expedir regulamentos para a fiel execução
da lei. Por conseguinte, pelo Direito Constitucional pátrio, ao Executivo só se admitem
os regulamentos externos executivos, secundum legem, e os regulamentos externos
autorizados ou delegados, intra legem. E promulgados pelo próprio Presidente da
República e contra-assinados pelo ministro a cujo Ministério interessar a matéria
tratada, na conformidade dos arts. 87, I, da CF de 1967 e 85, I, da Magna Carta de
1969. Os ministros de Estado só têm competência para baixar instruções como
preceituam os arts. 87, II, da CF de 1967 e 85, II, da Magna Carta de 1969. Inexistem
regulamentos autônomos ou independentes. (2007, p. 370)
134
A primeira edição dessa obra veio a lume em 1969, sendo a segunda edição lançada em 1979, vale dizer, poderia
o prof. Oswaldo Aranha Bandeira de Mello, caso assim quisesse, ter denominado de ―regulamento autônomo‖ o
decreto previsto no art. 81, V, da Constituição de 1967 (com a redação dada pela EC nº. 01/69).
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Contudo, mesmo afirmando categoricamente que inexistiam no Brasil regulamentos
autônomos ou independentes, o professor Oswaldo Aranha Bandeira de Mello, sem estabelecer
uma relação com algum dos incisos do art. 81 da Constituição de 1967 (com a redação dada pela
EC nº. 01/1969) falava em um outro tipo de decreto:
Além desses regulamentos [executivos, basicamente], cabem ao Executivo, como
inerentes à sua própria função, os regulamentos internos administrativos de
remanejamento das repartições públicas em que reestrutura seus serviços, desde que se
mantenham dentro das verbas orçamentárias e não envolvam criar cargos, fixar seus
vencimentos e, por conseguinte, atribuir a seus titulares competências distintas das que
defluem da sua natureza, matéria da alçada legislativa, ex vi dos arts. 46, IV, da CF de
1967 e 43, V, da Magna Carta de 1969. (2007, p. 371)
E em seguida complementa:
Por isso, admite-se, através de decretos executivos, que se criem funções de
extranumerário e de pessoal para obras, se estabeleçam seus salários e se disponha
sobre suas atividades. Outrossim, podem prescrever direitos e deveres dos
funcionários, obedecidos os preceitos constitucionais e legais a respeito, e, com maior
razão, dos extranumerários e pessoal para obra. (2007, p. 371)
Na verdade, tudo o que acima foi dito não difere muito dos conceitos apresentados pelo
autor de regulamento autônomo orgânico e regulamento autônomo regimental.135
Tanto é assim
que o próprio autor arremata: ―Com as limitações expostas, assemelham-se aos regulamentos
autônomos ou independentes, de administração, mas com âmbito muito mais restrito‖ (2007, p.
372).
Até o advento da Constituição de 1988, a discussão girou em torno de três grupos de
posições: (a) os que entendiam que o decreto autônomo era figura incabível no ordenamento
jurídico brasileiro136
; (b) os que aceitavam a figura desde que agisse o Presidente na omissão do
legislador, o que levava à primazia da lei a qualquer momento137
; e (c) aqueles que entendiam
135
Oswaldo Aranha Bandeira de Mello conceituava os regulamentos autônomos orgânicos fundamentalmente
como ―aquelas regas jurídicas decretadas pelo Executivo que dão organização à Administração Pública, limitado,
tão-somente, o delineamento da sua estrutura, quando às repartições públicas e agentes públicos, pela verba geral
para levar a efeito tais despesas, nos termos orçamentários ou créditos especiais‖ (2007, p. 360). Os regulamentos
autônomos regimentais, por sua vez, são aqueles que ―regulam as condições internas de execução dos serviços
públicos e a maneira de sua utilização por terceiros interessados‖ (2007, p. 360). 136
Incluem-se nesse grupo, dentre outros: Oswaldo Aranha Bandeira de Mello, com as ressalvas feitas acima, em
seus Princípios gerais de direito administrativo, 2007, p. 359-373; Luciano Ferreira Leite em seu O regulamento
no direito brasileiro, 1986, p. 77; e Celso Antônio Bandeira de Mello, em seu Ato administrativo e direitos dos
administrados, 1981, p. 90. 137 É a clássica posição de Hely Lopes Meirelles:
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
que, por meio da redação dada pela EC nº. 01/1969 ao inc. V, do art. 81, da Constituição de
1967, poder-se-ia, sim, falar em decreto autônomo138
.
Esse quadro, como adiante veremos, sofreu profunda alteração com o advento da
Constituição de 1988.
4.2 DA CONSTITUIÇÃO DE 05 DE OUTUBRO DE 1988 À EMENDA CONSTITUCIONAL Nº.
32 DE 12 DE SETEMBRO DE 2001
Desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, em 05 de outubro daquele ano,
até o advento da EC nº. 32/2001, em 12 de setembro de 2001, os teóricos do direito
administrativo e do direito constitucional pátrios adotaram posição praticamente unânime no
sentido de que não se poderia falar em decreto autônomo no ordenamento constitucional
brasileiro.
Isso se deu, fundamentalmente, em razão da forma como o poder regulamentar do
Presidente da República restou normatizado na versão original do Texto Constitucional de 1988,
visto que, exceção feita à faculdade do art. 84, IV, que flagrantemente diz respeito a decretos de
execução, a figura do inciso VI do mesmo artigo, em que pese conferir certa ―autonomia‖ ao
Chefe do Poder Executivo, estabelecia que a atuação presidencial dar-se-ia ―na forma da lei‖.
É a opinião, por exemplo, de Clèmerson Merlin Clève, para quem:
Hoje, entretanto, o dispositivo encontra-se (art. 84, VI, da CF) redigido de modo a
conferir ao Chefe do Poder Executivo competência para dispor sobre a organização e o
funcionamento da Administração Federal ―na forma da lei‖. Ora, se os regulamentos de
organização devem ser editados ―na forma da lei‖, é porque não podem ser
introduzidos independentemente da lei. Inobstante o poder regulamentar, quando
dirigido à produção de efeitos no interior da Administração, seja mais extenso que
aquele conferido pelo inc. IV do art. 84, nem por isso autoriza o Presidente da
República a editar regulamentos autônomos. (2000, p. 294).
No mesmo norte, e alterando posição que manifestava quando da vigência do art. 81, V,
da Constituição de 1967 com a redação dada pela EC nº. 01/1969, Diógenes Gasparini, após
conceituar a espécie normativa regulamento autônomo e se remetendo à parte de seu texto em
que afirma que, no Brasil, o poder regulamentar do Chefe do Executivo deve ser exercido nos
138
Seguiram essa orientação basicamente os constitucionalistas:
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
termos da lei, conclui: ―não existem no nosso ordenamento constitucional vigente‖ (1995, p.
107).
Sob a égide, ainda, da versão primeira do art. 84 do Texto Constitucional de 1988, Maria
Sylvia Zanella Di Pietro, após explicar o conceito de regulamento autônomo e discorrer sobre as
espécies desse ato normativo, conclui:
No direito brasileiro, a Constituição de 1988 limitou consideravelmente o poder
regulamentar, não deixando espaço para os regulamentos autônomos. Na Constituição
de 1967, o art. 81, V, outorgava competência ao Presidente da República para ―dispor
sobre a estruturação, atribuições e funcionamento dos órgãos da administração
federal‖, única hipótese de decreto dessa natureza agasalhada expressamente na
legislação; tratava-se de decreto autônomo sobre matéria de organização da
Administração Pública. (2000, p. 88)
E mais adiante arremata:
Portanto, no direito brasileiro, só existe o regulamento de execução, hierarquicamente
subordinado a uma lei prévia, sendo ato de competência privativa do Chefe do Poder
Executivo. (2000, p. 88)
No mesmo sentido, era a opinião de Celso Antônio Bandeira de Mello (1999, p. 240);
José Afonso da Silva (2000, p. 428-430); Vanessa Vieira de Mello (2001, p. 76); Odete
Medauar (2000, p. 135); Celso Ribeiro Bastos (1998, p. 369); dentre outros.
Um dos poucos que continuaram a admitir o decreto autônomo, pelas mesmas razões
que já o admitia na vigência da Constituição anterior, foi Hely Lopes Meirelles (1996, p. 112).
Assim, fundamentalmente em razão da expressão ―na forma da lei‖ que seguia o inciso
VI do art. 84 do Texto Constitucional, passou a ser raro encontrar defensores do decreto
autônomo no ordenamento jurídico brasileiro, quadro que esse que veio a sofrer uma guinada
com o advento da EC nº. 32/2001, como veremos a seguir.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
4.3 DA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº. 32, DE 12 DE SETEMBRO DE 2001, A
NOSSOS DIAS
Em 12 de setembro de 2001 foi publicada no Diário Oficial da União a Emenda à
Constituição de nº. 32, operando em matéria de poder regulamentar todas as alterações acima
referidas (vide item 2)139
.
A partir de então, alguns autores passaram a aceitar a figura do decreto autônomo.
Diógenes Gasparini, que sob a vigência da Constituição de 1967 (EC nº. 01/69) os
admitia e que, posteriormente, com o advento da Constituição de 1988 passou a rejeitá-los,
novamente restabeleceu a postura inicial, ainda que não com tanta convicção:
Esses regulamentos [os autônomos], entre nós, oram existiram, ora não.
Desapareceram com a Constituição Federal de 1988, mas parecem retornar na medida
em que a Emenda Constitucional n. 32/2001 deu nova redação ao inc. VI do art. 84
dessa Lei Maior e lhe acrescentou as alíneas a e b. (2006, p. 126).
Na mesma guinada situa-se Maria Sylvia Zanella Di Pietro, que após fazer um
retrospecto do decreto autônomo (da Constituição de 1967 ao texto originário de 1988) e
explicar as alterações operadas pela EC nº. 32/2001 afirma:
Com a alteração do dispositivo constitucional, fica restabelecido, de forma muito
limitada, o regulamento autônomo no direito brasileiro, para a hipótese específica
inserida na alínea a. A norma estabelece certo paralelismo com atribuições semelhantes
da Câmara dos Deputados (art. 51, IV), do Senado (art. 52, XIII) e dos Tribunais (art.
96, I, b). (2007, p. 80)
No mesmo sentido manifesta-se André Rodrigues CYRINO (2005), em excelente
monografia sobre o tema.
Na obra de Hely Lopes Meirelles, Direito administrativo brasileiro (2006, p. 179-180),
continua a posição que admite o decreto autônomo desde que observada a proeminência da lei.
Ressalta-se que apesar da aceitação do regulamento autônomo, nada há no texto sobre a EC nº.
32/2001.
139
As alterações fundamentais no que aqui nos interessa se deram nos artigos 48, X e XI; 61, §1º, II, e; e 84, VI.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Assim, percebe-se que a revisão bibliográfica realizada demonstrou a presença de um
grupo teórico de constitucionalistas e administrativistas que chancelam a tese no sentido que a
alteração realizada no art. 84, VI, da CF/88 pela EC 32/2001 teria (re)introduzido no Brasil a
figura do decreto autônomo, em que pese as diversas ―aspas‖ que muitos nessa afirmação
incluem.
Contudo, dentre aqueles que se insurgem contra a atribuição, à figura prevista no art. 84,
VI, ―a‖, da CF/88, da denominação de decreto autônomo, assume destaque a palavra de Celso
Antônio Bandeira de Mello. Para o autor:
O regulamento previsto no art. 84, VI, I, ―a‖, da Constituição Brasileira [...] confere,
como resulta de sua disposição textual, poderes muito circunscritos ao Presidente, ao
contrário do que ocorre nos regulamentos independentes ou autônomos do Direito
europeu. (2007, p. 326)
Para Celso Antônio Bandeira de Mello, o que os administrativistas têm chamado de
decreto autônomo não passa de um mecanismo próprio ao nosso direito constitucional e que
confere ao Presidente poderes amplamente circunscritos a um arranjo interno dos órgãos da
administração pública.
Em suma, o autor não desconhece, ou não nega, certa autonomia à figura, mas vê como
exagerado o ato de atribuir-lhe a denominação de decreto autônomo, sobretudo pelo fato de que
ao falar na expressão, Celso Antônio Bandeira de Mello tem em mente a figura do direito
francês.140
5. O “DECRETO AUTÔNOMO” NA PRÁXIS DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
Fazendo uma pesquisa no sítio do Supremo Tribunal Federal141
pela expressão ―decreto
autônomo‖, encontra-se 15 (quinze) ocorrências em acórdãos proferidos pela Corte142
. A
140
Sobre o decreto autônomo na França vide nota explicativa nº. 23. 141
A pesquisa pode ser comprovada em http://www.stf.jus.br. 142
Vale ressaltar que o acórdão mais antigo que a pesquisa localiza é do ano de 1990, mas com veremos a seguir, a
figura do ―decreto autônomo‖ está presente na jurisprudência do STF muito antes disso. São os seguintes os
acórdãos localizados: ADI 3232/TO, Relator Min. Cezar Peluso, Julgamento em 14/08/2008, DJe-187, 03/10/2008;
ADI 3614/PR, Relator Min. Gilmar Mendes, Relatora para o acórdão Min. Cármen Lúcia, Julgamento em
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
expressão ―regulamento autônomo‖ retorna 01 (um) resultado143
, ao passo que as expressões
―regulamento independente‖ e ―decreto independente‖ não retornam resultados. Vale ressaltar
que o sistema de busca da Corte analisa não apenas as ementas dos acórdãos, mas também a
indexação.
O fato é que bem antes da EC 32/2001 o Supremo Tribunal Federal já admitia a figura
regulamentar do ―decreto autônomo‖, como se percebe na ementa da Medida Cautelar em Ação
Direta de Inconstitucionalidade nº 309, de relatoria do Min. Sydney Sanches: ―Alegação de
ofensa ao art. 61, parágrafo 1., "c", da Constituição Federal, por se tratar de ato normativo
autônomo (não, assim, decreto regulamentar - art. 84, IV), sobre regime jurídico de
servidores públicos, que exigiria lei formal, embora de iniciativa do Presidente da Republica.‖
(destacamos)
Antes, ainda, em 20 de maio de 1987, no julgamento da Representação nº. 1.266/DF, por
exemplo, o Min. Adir Passarinho, ao proferir voto em que não conhecia da Representação por
julgar que o problema do decreto impugnado cingia-se ao âmbito da (i)legalidade, ressalvou:
Devo ressalvar que não considero que em todos os casos se deixe de confrontar
diretamente o decreto com a Constituição, até porque poderá aquele ato declarar-se
como de natureza regulamentar, sem que o seja. Hipóteses poderão surgir que se
poderá reexaminar o decreto frente à Carta Magna, diretamente.
Na mesma ação, quando de seu voto, o Min. Moreira Alves afirmou: ―Só admito essa
possibilidade [de declaração, em representação, de inconstitucionalidade de decreto] quando se
trata de decreto autônomo – se é que o nosso sistema jurídico o permite‖.
20/09/2007, DJe-147, 23-11-2007; ADI 3183/MS, Relator Min. Joaquim Barbosa, Julgamento em 10/08/2006, DJ
20-10-2006, PP-00048; ADI-AgR 2950/RJ, Relator Min. Marco Aurélio, Relator para o acórdão Min. Eros Grau,
Julgamento em 06/10/2004, DJ 09-02-2007, PP-00016; ADI 2387/DF, Relator Min. Marco Aurélio, Relator para o
acórdão Min. Ellen Gracie, Julgamento em 21/02/2001, DJ 05-12-2003, PP-00018; ADI-MC 2155/PR, Rel. Min.
Sydney Sanches, Julgamento em 15/02/2001, DJ 01-06-2001, PP-00076; ADI-MC 1435/DF, Relator Min.
Francisco Rezek, Julgamento em 07/11/1996, DJ 06-08-1999, PP-00005; ADI 1339/BA, Relator Min. Maurício
Corrêa, Julgamento 15/02/1996 ,DJ 19-09-1997, PP-45526; ADI 1258/PR, Relator Min. Néri da Silveira,
Julgamento em 26/05/1995, DJ 20-06-1997, PP-28467; ADI 464/GO, Relator Min. Francisco Rezek, Julgamento
em 25/08/1993, DJ 19-12-1994, PP-35179; ADI 708/DF, Relator Min. Moreira Alves, Julgamento em 22/05/1992,
DJ 07-08-1992, PP-11778; ADI 313/DF, Relator Min. Paulo Brossard, Julgamento em 21/08/1991, DJ 30-04-1992,
PP-05722; ADI-MC 519/MT, Relator Min. Moreira Alves, Julgamento em 15/08/1991, DJ 11-10-1991, PP-14248;
ADI-MC 3090/DF, Relator Min. Sydney Sanches, Julgamento em 27/06/1990, DJ 14-02-1992, PP-01164; 143
ADI 1968/PE, Rel. Min. Moreira Alves, Julgamento em 01/02/2000, DJ 04-05-2001, PP-00002.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Interessante ressaltar, por último, ainda no que concerne à representação de nº. 1.266,
que o Ministro Relator Célio Borja, ao confirmar seu voto afirmou:
No entanto, pode ocorrer, como ocorre, penso eu, na espécie, que o regulamento não é
ilegal. Ela não excede autorização dada pelo legislador mas, no cumprimento da sua
finalidade de dar condições de execução à lei, vai adiante dela, dispondo, sem
materialmente contrariá-la, sobre matérias, pessoas ou coisas que o legislador não
contemplou expressamente. Se confrontado diretamente com a lei, não são, algumas
normas do decreto, ilegais; mas, se contrastadas com a Constituição, são
inconstitucionais.
O fato é que em sede de controle abstrato de constitucionalidade, tem o Supremo
Tribunal Federal aceito o controle concentrado em face de ato normativo autônomo, em especial
decretos. Mas é importante frisar que nesse âmbito, ao se referir a decreto autônomo, o STF não
mantém qualquer rigor técnico, ou seja, não quer dizer, de imediato, que a Constituição Federal
reconhece a figura dentro do poder regulamentar da Administração. ―Decreto autônomo‖, aqui,
é apenas uma nomenclatura para se referir a um decreto que não possui nenhum caráter
regulamentar, no sentido de não regulamentar lei anterior (e dar-lhe execução).
Em outros termos, para o Supremo Tribunal Federal, pelo menos até o advento da EC nº.
32/2001, ―decreto autônomo‖ ou ―regulamento autônomo‖ era aquele que pretendia derivar sua
existência diretamente da Constituição sem que autorização nesse sentido existisse (ou seja,
algo totalmente estranho ao ordenamento jurídico pátrio).144
Porém, a nova redação dada ao art. 84, VI, da Constituição Federal de 1988 pela EC nº.
32/2001 vem surtindo efeitos na jurisprudência do STF como veremos adiante.
144
Há também, na jurisprudência do STF, discussão sobre a questão do decreto que, no cumprimento de sua missão
de dar execução à lei, acaba por extrapolar os limites da atividade regulatória. A jurisprudência da Corte parece ser
a assentada na ADI 2.387/DF: ―É firme a jurisprudência deste Supremo Tribunal no sentido de que a questão
relativa ao decreto que, a pretexto de regulamentar determinada lei, extrapola o seu âmbito de incidência, é tema
que se situa no plano da legalidade, e não no da constitucionalidade‖. Contudo, nem sempre se mostra tranqüila a
tarefa de determinar se o decreto pretende retirar força diretamente da Constituição ou se está extrapolando sua
função regulamentar. Isso ficou evidente na própria ADI acima mencionada, em que ficou vencido o Min. Marco
Aurélio, que conhecia da ação por entender estar diante de um decreto ―autônomo‖. Na ocasião, em sua defesa,
afirmou o Ministro: ―Aditando, portanto, a lei que se quis regulamentar, mas se partiu, nessa regulamentação, para
uma regência a ela totalmente estranha‖. Em seguida foi interrompido pelo Min. Moreira Alves: ―Então, seria
ilegal‖, o que gerou um desabafo por parte do Min. Marco Aurélio: ―Não, Excelência. Então, eu não sei mais qual
será a orientação em tais casos‖. Veja-se, por fim, a ementa da ADI 1.339/BA, Relatada pelo Min. Maurício
Corrêa, onde se lê: ―1. Não há falar-se em princípio da reserva legal diante de decreto que altera outro decreto sem
ofensa a texto de lei. 2. Tratando-se de decreto autônomo, se o seu conteúdo confronta com a lei, a questão fica
restrita ao âmbito da legalidade, não podendo, por isso, ser objeto de ação direta de inconstitucionalidade.‖ Aqui há
a figura do decreto autônomo que regulamenta lei! Ou seja, a nomenclatura utilizada é ―decreto autônomo‖, mas a
explicação dada cinge-se àquilo que o STF vem entendendo ser ―decreto de execução‖.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Na ADI 2806, julgada em 23/04/2003, o Min. Relator Ilmar Galvão, ao proferir seu voto
afirmou:
O art. 2º, por sua vez, no que toca às escolas públicas de primeiro e segundo graus,
revela-se ofensivo ao art. 84, VI, a, da Constituição, por igual de aplicação extensiva
aos Estados, visto cuidar de órgão da Administração, cuja organização e
funcionamento hão de ser disciplinados, privativamente por decreto do Chefe do
Poder Executivo. (destacamos)
O precedente é significativamente importante na medida em que afirma que as matérias
constantes do âmbito da alínea a, do inciso VI, do art. 84 da Constituição são de regulamentação
privativa por decreto do Chefe do Poder Executivo, vale dizer, o STF nessa ação acatou o
entendimento segundo o qual há no ordenamento brasileiro, desde 12 de setembro de 2001, uma
reserva de regulamento.
Em julgamento posterior, mais especificamente em 08 de outubro de 2003, quando da
apreciação da ADI 2.564-3/DF, oposta em face de decreto do Presidente da República, o Min.
Marco Aurélio suscita dúvidas sobre a viabilidade de ação direta de inconstitucionalidade em
face de decreto, ao que é respondido pelo Min. Sepúlveda Pertence: ―É um decreto autônomo‖.
Que imediatamente é complementado pelo Min. Gilmar Mendes: ―Passou a ser um decreto
autônomo em razão da Emenda nº. 32, de 2001‖. Ao final dos debates, a ação foi conhecida,
porém tendo provimento negado em acórdão assim ementado:
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. DECRETO N.º 4.010, DE 12
DE NOVEMBRO DE 2001. PAGAMENTO DE SERVIDORES PÚBLICOS DA
ADMINISTRAÇÃO FEDERAL. LIBERAÇÃO DE RECURSOS. EXIGÊNCIA DE
PRÉVIA AUTORIZAÇÃO DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA. Os artigos 76 e 84,
I, II e VI, a, todos da Constituição Federal, atribuem ao Presidente da República a
posição de Chefe supremo da administração pública federal, ao qual estão
subordinados os Ministros de Estado. Ausência de ofensa ao princípio da reserva legal,
diante da nova redação atribuída ao inciso VI do art. 84 pela Emenda Constitucional nº
32/01, que permite expressamente ao Presidente da República dispor, por decreto,
sobre a organização e o funcionamento da administração federal, quando isso não
implicar aumento de despesa ou criação de órgãos públicos, exceções que não se
aplicam ao Decreto atacado. Ação direta de inconstitucionalidade cujo pedido se julga
improcedente.
(ADI 2564/DF, Rel. Min. Ellen Gracie, Julgamento em 08/10/2003, DJ 06-02-2004,
PP-00021)
A afirmação do Min. Gilmar Mendes nesse julgamento reformulou, agora sob o ponto de
vista técnico, a concepção do Supremo sobre a expressão ―decreto autônomo‖. Com essa
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
análise, bem como com a análise que se fará a seguir (referente à ADI 3614), podemos afirmar
que o STF, atualmente, concebe para a expressão ―decreto autônomo‖ dois significados: (a)
decreto instituído à revelia de lei (como foram os clássicos exemplos dos decretos expedidos
para criar e regular serviços de loterias); (b) decreto instituído com fulcro no art. 84, VI, ―a‖, da
Constituição Federal de 1988 com a redação dada pela EC nº. 32/2001 (o que não nos impede
de ampliar o leque para incluir, igualmente, o decreto previsto na alínea b do mesmo
dispositivo).
Mais recentemente, em seu voto na ADI 3614, julgada em 20/09/2007, que analisava um
decreto apoiado no art. 84, VI, ―a‖, da CF/88, o Min. Gilmar Mendes denominou de
―competência excepcional de legislar pelo Executivo‖ a prerrogativa estatuída no referido
dispositivo constitucional.
O interessante nesse precedente é que, ainda que faça referência ao entendimento
clássico do STF sobre decreto autônomo, o Min. Gilmar Mendes apóia seu voto na prerrogativa
que entende ter sido conferida ao Presidente pelo art. 84, VI, ―a‖, da Constituição para julgar
constitucional decreto do Governo do Estado do Paraná que atribuía ―a subtenentes ou sargentos
combatentes o atendimento nas delegacias de polícia, nos municípios que não dispõem de
servidor de carreira para o desempenho das funções de delegado de polícia‖. Mesmo tendo sido
o único voto favorável à essência do decreto, o argumento do Min. Gilmar Mendes referente à
―competência excepcional de legislar pelo Executivo‖ não foi questionado por nenhum outro
Ministro.
De tudo o que foi exposto sobre a práxis jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal
no que concerne à figura do ―decreto autônomo‖ (nas mais variadas acepções que a expressão
assume na jurisprudência da Corte), é possível concluir que:
(a) não é possível (re)construir um único conceito de decreto regulamentar a partir de
análise casuística das decisões do STF sobre a matéria, como era um dos objetivos da equipe de
pesquisa;
(b) na essência, para o Supremo Tribunal Federal, ―decreto autônomo‖ é aquele que: (a)
ou afigura-se inconstitucional por pretender uma origem constitucional não autorizada no caso
concreto; (b) ou extrapola de seu poder regulamentar quando se tratar de decreto de execução;
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
(c) em decisões recentes a Corte vem acenando para uma interpretação do art. 84, VI,
―a‖, da CF/88 favorável ao Executivo.
6. O DECRETO DO ART. 84, VI, “a”, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988:
LIMITES E POSSIBILIDADES
Considerando todos os dados e conceituações que foram expostos acima, pode-se agora
adentrar naquilo que é o objeto central dessas páginas e que dividiremos em duas questões
centrais:
(a) primeiramente, mister se faz responder à questão: é possível falar em decreto
autônomo no Brasil?;
Para então, em um segundo momento, avançarmos naquilo que julgamos muito mais
essencial do que a resposta à primeira questão:
(b) sendo positiva a resposta anterior, quais são os limites, ou qual o âmbito de
atribuição desse decreto?
As linhas que se seguem, apoiadas em entendimentos teóricos e jurisprudenciais bem
como levando em consideração análises empíricas procedidas na atuação do Legislativo e do
Executivo federal nos últimos anos, pretendem fixar as respostas a essas duas indagações.
6.1 A NATUREZA JURÍDICA DO DECRETO DO ART. 84, VI, “A”, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL DE 1988145
Primeiramente, para responder à questão sobre a viabilidade de se falar, ou não, em
decreto autônomo no Brasil, é preciso esclarecer com qual conceito de decreto autônomo vamos
trabalhar. E para não corrermos o risco da trabalhar um conceito restrito de decreto autônomo,
vamos identificar pontos de convergência na conceituação de vários autores.
145
Cabe destacar que a equipe de pesquisa não fará maiores considerações sobre a competência estatuída pelo art.
84, VI, ―b‖, da CF/88, tendo em vista que, com Maria Sylvia Zanella Di Pietro, entendemos que tal figura não
integra o âmbito do poder regulamentar, posto tratar-se de ato de efeito concreto, ―[...] porque a competência do
Presidente da República se limitará a extinguir cargos ou funções, quando vagos, e não a estabelecer normas sobre
a matéria‖ (DI PIETRO, 2007, p. 80).
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Assim, analisando os conceitos apresentados por Oswaldo Aranha Bandeira de Mello
(2007, p. 359), Celso Antônio Bandeira de Mello (2006, p. 325-326), Maria Sylvia Zanella Di
Pietro (2007, p. 78-79), André Rodrigues Cyrino (2005, p. 94), podemos estabelecer como
sendo as duas marcas distintivas do decreto autônomo (1) a competência do Executivo para sua
expedição e (2) sua independência da lei, ou como preferem alguns seu poder para ―inovar na
ordem jurídica‖. Nesse sentido, lapidar o conceito de Oswaldo Aranha Bandeira de Mello
(2007, p. 359), para quem:
Os regulamentos independentes ou autônomos, na verdade, são verdadeiras leis, e
assim chamados tão-somente porque emanados pelo Poder Executivo, pois não
constituem desenvolvimento de qualquer lei ordinária, mas correspondem ao exercício
de prerrogativa de legislar a ele reconhecida com base no Direito Constitucional.
É claramente perceptível que esse conceito é bastante ousado, conferindo ao Executivo
verdadeira prerrogativa legislativa, trazendo-nos à mente o tratamento da matéria no direito
francês146
147
.
No Brasil, no entanto, o âmbito de discricionariedade atribuído ao Chefe do Executivo,
pela via do regulamento, nunca atingiu tal grau de amplitude. É a posição de José dos Santos
146
Inicialmente, para alcançarmos uma compreensão mais ampla do instituto do decreto autônomo, a equipe havia
pensado em buscar apoio no direito estrangeiro, basicamente na disciplina da atividade regulamentar na França, em
Portugal e nos Estados Unidos. Contudo, durante os meses de pesquisa constatou-se que a análise em muito pouco
contribuiria para delimitar os alcances do decreto autônomo brasileiro, posto que, como veremos, trata-se de
instituto bastante próprio. Assim, considerando a inclusão de outros objetivos no curso do trabalho (como o do item
7 deste artigo), a equipe abandonou o uso do direito estrangeiro como elemento interpretativo de compreensão da
figura prevista no art. 84, VI, ―a‖, da CF/88. Não concorda a equipe de pesquisa, por exemplo, com a opinião de
André Rodrigues Cyrino, para quem: ―Dentre os modelos do direito comparado, o francês é o que mais se aproxima
do novo escopo dos regulamentos no Direito pátrio após a EC nº. 32/01‖ (CYRINO, 2005, p. 115). Muito mais
atenta às particularidades e dificuldades de importação entre os modelos é a leitura de Celso Antônio Bandeira de
Mello, que após discorrer sobre o ―decreto autônomo‖ no Brasil indaga em tom retórico: ―Como é possível
imaginar que isto é o equivalente aos regulamentos independentes ou autônomos do Direito europeu, cuja
compostura, sabidamente, é muitíssimo mais ampla?‖ (2007, p. 327). Ademais, sobre as ―dificuldades inerentes à
aplicação do método comparativo ao direito administrativo‖ vide a obra de RIVERO, 2008, em especial o, 59-72. 147
No direito francês, a matéria regulamentar possui, desde a Constituição de 1958, contornos muito próprios. Ao
contrário do direito brasileiro, por exemplo, que dedica um único dispositivo afeto a somente duas áreas do agir
administrativo (organização e funcionamento), a Constituição francesa claramente estabelece, em seu art. 34, a
exemplo do que nossa Constituição faz em seu art. 48, quais matérias estão sob o amparo da lei para, em seguida,
no art. 37, afirmar que as matérias que não estão sob o domínio da lei (a rigor, tudo o que não está sob o domínio da
lei), têm caráter regulamentar. Assim, em que pese a contenção à revolução de 1958 (muitos administrativistas
franceses denominaram a relação entre esses dois artigos de revolução) que a prática institucional francesa [muito
bem trabalhada por CYRINO, 2005, p. 115-127] acabou por sedimentar, a diferença entre os modelos é muito
significativa, não justificando, insistimos, a inclusão de item detalhado sobre a matéria.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Carvalho Filho, para quem ―a questão dos regulamentos e decretos autônomos deve ser
colocada em termos mais precisos‖ (2008, p. 56). Para o autor:
Para que sejam caracterizados como tais [autônomos], é necessário que os atos possam
criar e extinguir primariamente direitos e obrigações, vale dizer, sem prévia lei
disciplinadora da matéria ou, se se preferir, colmatando lacunas legislativas. Atos dessa
natureza não podem existir em nosso ordenamento porque a tanto se opõe o art. 5º, II,
da CF, que fixa o postulado da reserva legal para a exigibilidade de obrigações. Para
que fossem admitidos, seria impositivo que a Constituição deixasse clara, nítida,
indubitável, a viabilidade jurídica de sua edição por agentes da Administração, como o
fez, por exemplo, ao atribuir ao Presidente da República o poder constitucional de
legislar através de medidas provisórias (art. 62, CF). Aqui, sim, o poder legiferante é
direto e primário, mas os atos são efetivamente legislativos, e não regulamentares. Ao
contrário, decretos e regulamentos autônomos estampariam poder legiferante indireto e
simulado, e este não encontra suporte na Constituição. (2008, p. 56).
Com efeito, dentro da conceituação de Hely Lopes Meirelles, poderíamos falar em
decreto autônomo mesmo com a redação originária do art. 84, VI, da Constituição, que
estabelecia como competência do Presidente dispor, mediante decreto, ―sobre a organização e o
funcionamento da administração federal, na forma da lei‖.
Nesse contexto, importante relembrar que antes da EC nº. 32/2001, competia à lei, nos
termos do art. 48, X e XI, dispor sobre ―criação, transformação e extinção de cargos, empregos
e funções públicas‖ e sobre ―criação, estruturação e atribuições dos Ministérios e órgãos da
administração pública‖. Ou seja, com relação aos Ministérios e aos cargos públicos, a criação
destes e a criação e estruturação daqueles dar-se-iam por meio de lei para, em um segundo
momento, e na forma da lei, operar-se uma organização (dos Ministérios ou dos órgãos
públicos da Administração Pública Federal) via uma espécie de decreto que não era, na
essência, de execução. Ou então: que estava mais para ―autônomo‖ do que para ―de execução‖.
Com a entrada em vigor da EC nº. 32/2001 operou-se, como já vimos, uma alteração no
que concerne ao arsenal legislativo de estabelecimento, organização e extinção de órgãos
públicos federais e Ministérios. Com efeito, a criação de órgãos públicos, bem como a de
Ministérios deve continuar sob o abrigo da reserva legal, vale dizer, continuam a depender de
lei. Porém, a organização e o funcionamento da administração federal, desde que não implique
aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos, operar-se-ão via decreto.
Assim, é facilmente perceptível que, se por um lado, pode o Presidente atuar livremente
na organização interna dos órgãos que compõem a Administração Pública Federal, por outro,
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
esse ―livre atuar‖ encontra-se balizado pela lei que criou ou o órgão ou o Ministério. Ou seja, é
preciso que fique claro que não existe uma ampla margem de regulação via decreto de matérias
fora da reserva de lei. O que pode fazer o Presidente da República, via ―decreto autônomo‖, ou
melhor, via decreto previsto no art. 84, VI, ―a‖, da CF/88 é (re)organizar internamente a
estrutura que chefia. Se novamente apoiarmos nossa argumentação na classificação de Oswaldo
Aranha Bandeira de Mello, afirmaremos que o decreto previsto no art. 84, VI, ―a‖, da CF/88
(com a redação dada pela EC nº. 32/2001) é um decreto autônomo orgânico ou regimental,
dependendo do caso concreto148
.
Isso tudo tendo em vista que, apesar do poder atribuído ao Presidente da República nos
termos do art. 84, VI, ―a‖, da CF/88, a lei ainda constitui importante limitador, posto que a
criação de órgãos públicos e Ministérios dependem de lei. E essa lei de criação não pode ser
demasiadamente lacônica como, por exemplo, a Lei n°. 10.539, de 23 de setembro de 2002, que
dispondo sobre a estruturação de órgãos na Administração Pública Federal criou a ―Secretaria
de Estado dos Direitos da Mulher‖ em um simples artigo com o seguinte teor: ―Fica criada, na
estrutura do Ministério da Justiça, a Secretaria de Estado dos Direitos da Mulher‖. Se assim
fosse, não haveria sentido em manter a criação de órgãos públicos sob a reserva da lei, visto que
não há como o Congresso Nacional manifestar-se sobre um novo órgão ou sobre um novo
Ministério se a respeito dele não possuir informações mínimas, com atribuições e composição
básica. Ou ainda, para sermos mais diretos: não faria sentido atribuir tal competência à reserva
legal.
Nesse ponto do debate, importante destacar que a supressão, pela EC nº. 32/2001, das
expressões ―estruturação‖ e ―atribuições‖ do inciso XI, art. 48, da CF/88 não pode ser
interpretada no sentido de que, em sua plenitude, essas faculdades passaram às mãos do
Presidente da República para que ele obre via ―decreto autônomo‖. Isso se dá tendo em vista
que, tal interpretação, levada ao extremo, como no caso acima referido da criação de uma
Secretaria pelo dizer ―Fica criada a Secretaria tal‖, retira qualquer sentido à ―reserva legal‖. Por
outro lado, como veremos adiante, não pode significar que toda a estruturação e conjunto de
atribuições dos órgãos e Ministérios fiquem a cargo da lei, sob pena de esvaziar a faculdade
conferida ao Chefe do Executivo pelo art. 84, VI, ―a‖, da CF/88.
148
Na essência, fundindo os dois conceitos e os reformulando para adequá-los ao art. 84, VI, ―a‖, da CF/88
podemos falar pura e simplesmente em decreto de organização.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Nesse sentido, dois pontos são importantes de se fixar:
(a) a idéia de órgão público não pode ser dissociada da correlata noção de um feixe
determinado de funções, atribuições, competências, logo impossível criar um órgão
sem que ao mesmo tempo se proceda a tal definição; e
(b) igualmente não se pode criar um órgão sem definir-lhe uma estrutura organizacional
mínima, básica, que permita vislumbrar minimamente a feição do órgão.
Ainda com relação ao exemplo citado, vejamos o art. 1º, § 3º, III, da Lei nº.
10.683/2003, que criou a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, mas que foi
complementado pelo art. 22, nos seguintes termos:
À Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres compete assessorar direta e
imediatamente o Presidente da República na formulação, coordenação e articulação de
políticas para as mulheres, bem como elaborar e implementar campanhas educativas e
antidiscriminatórias de caráter nacional, elaborar o planejamento de gênero que
contribua na ação do governo federal e demais esferas de governo, com vistas na
promoção da igualdade, articular, promover e executar programas de cooperação com
organismos nacionais e internacionais, públicos e privados, voltados à implementação
de políticas para as mulheres, promover o acompanhamento da implementação de
legislação de ação afirmativa e definição de ações públicas que visem ao cumprimento
de acordos, convenções e planos de ação assinados pelo Brasil, nos aspectos relativos à
igualdade entre mulheres e homens e de combate à discriminação, tendo como
estrutura básica o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, o Gabinete e até três
Subsecretarias.
Vejamos que agora a lei, além de estabelecer o leque de competência, ainda nos forneceu
uma estrutura básica, que posteriormente, em 21 de março de 2003, foi explicitada pelo decreto
nº. 4.625/03, que aprovou a estrutura regimental da Secretaria. O referido diploma, no art. 2º de
seu anexo, estabelece que a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres tem a seguinte
estrutura organizacional: Gabinete; Subsecretaria de Planejamento de Políticas para as
Mulheres; Subsecretaria de Monitoramento de Programas e Ações Temáticas; Subsecretaria de
Articulação Institucional e Conselho Nacional dos Direitos da Mulher. Essas três subsecretarias
tiveram suas denominações e respectivas competências explicitadas por meio de decreto
pautado no art. 84, VI, ―a‖, da CF/88.
Em resumo, e a título de exemplificação, a criação (com estrutura básica) e fixação de
competências da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres deu-se a partir de lei, ao
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
passo que o detalhamento dessas competências e dos órgãos que integram a Secretaria ocorreu
via decreto.
A partir do exposto podemos fixar as seguintes conclusões:
(a) a criação de órgãos públicos e Ministérios dependem de lei (art. 48, X e XI, da
CF/88);
(b) ao se criar, via lei, um órgão da administração pública federal ou um Ministério é
preciso atribuir-lhe as competências básicas e uma estrutura mínima;
(c) a partir das balizas fixadas pela lei, pode o Presidente da República, com fundamento
no art. 84, VI, a, da CF/88, (re)organizar internamente o órgão ou Ministério, desde
que essa engenharia "não implique aumento de despesa nem criação ou extinção de
órgãos públicos‖.
Nesses termos, a equipe de pesquisa julga tecnicamente pouco apropriado falar em
decreto autônomo no Brasil, mesmo com a redação do art. 84, VI, ―a‖, da CF/88 dada pela EC
nº. 32/2001. E essa conclusão decorre fundamentalmente da vinculação demasiadamente
acentuada que essa figura tem com a lei. É possível vislumbrar uma proximidade maior da
figura normativa prevista no art. 84, VI, ―a‖, da CF/88 com o decreto independente do que
propriamente com os denominados decretos autônomos.149
Contudo, não se pode dizer que o decreto do art. 84, VI, ―a‖, da CF/88 é puramente
independente, posto que por meio dele o Presidente não transita apenas por caminhos residuais.
E isso por que é possível, com acentuada cautela, defender certa ―reserva de decreto‖ própria do
Poder Executivo. Porém, como veremos a seguir, essa ―reserva de decreto‖ possui âmbito
significativamente delimitado.
Por fim, na essência, sugere-se que a polêmica acerca da nomenclatura que melhor se
adéqua à figura normativa prevista no art. 84, VI, ―a‖, da CF/88 é aquela que para Oswaldo
149
Como vimos inicialmente, a partir da obra de José Maria Baño León, André Rodrigues Cyrino diferencia os
regulamentos autônomos dos independentes: ―Regulamentos autônomos são aqueles que têm fundamento direto no
texto constitucional, que delimita uma esfera de conteúdos reservados ao regulamento. Trata-se de um campo
material exclusivo no qual o legislador não pode interferir. Já os regulamentos independentes, ou regulamentos
praeter legem, são os que existem no espaço deixado pelo legislador em matérias que não contrariem a reserva de
lei e o próprio texto legal, num ‗campo de poderes residuais‘‖ (2005, p. 94).
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Aranha Bandeira de Mello apresentava-se como sub-espécie do decreto autônomo: decreto de
organização.
Na mesma linha parece ser a opinião de José Afonso da Silva:
Enfim, regulamentos autônomos são aqueles que demonstram a realidade de um poder
regulamentar da Administração. Não há dúvida da existência deste poder quando se
trata de regulamentos de organização, onde expressamente não se tenha reservado uma
esfera à lei. É o que agora prevê o inciso VI deste art. 84, com a alteração introduzida
pela Emenda Constitucional 32/2001. Não será regulamento ilegal se se limitar à esfera
de competência própria e privativa do administrador. (destacamos) (2007, p. 485)
E prossegue o autor, adiante, ao comentar o art. 84, VI, ―a‖, da CF/88:
Aqui se tem autorização para expedição de uma forma de regulamento autônomo, o
chamado ―regulamento orgânico e de administração‖. Como dissemos acima, esse
regulamento autônomo se situa no campo estrito do poder administrativo do presidente
da República. Os limites encontram-se no princípio da legalidade, aliás, ressalvado no
texto na cláusula ―quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção
de órgão públicos‖, porque isso depende de lei. (2007, p. 486)
Nesses termos, poder-se-ia defender que o direito constitucional e administrativo
brasileiro conhecem, na essência, dois tipos de regulamentos (decretos): o de execução e o de
organização. O primeiro seria aquele que, fundado no art. 84, IV, da CF/88, destinar-se-ia à
regulamentação expressa de alguma lei anteriormente estabelecida; ao passo que o segundo
seria a figura normativa com fulcro no art. 84, VI, ―a‖, da CF/88 destinada a organizar
estruturalmente a Administração Pública federal ou disciplinar seu funcionamento, geralmente
apenas efeitos interna corporis e, ainda que à distância, sob vigilância da lei.
6.2 O ÂMBITO DE ABRANGÊNCIA DO DECRETO DO ART. 84, VI, “A”, DA CF/88
Inicialmente, ainda que de forma repetitiva, faz-se imprescindível novamente expor
alguns pontos de referência:
(a) a ―criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública‖ dependem
de lei (art. 48, XI, da CF/88), assim como igualmente ocorre com a ―criação,
transformação e extinção de cargos, empregos e funções públicas‖ (art. 48, X, da
CF/88);
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
(b) ao Presidente da República, no uso de suas prerrogativas de Chefe da
Administração Pública Federal compete ―dispor, mediante decreto, sobre
organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar
aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos‖ (art. 84, VI, a, da
CF/88).
Parece-nos que a EC nº. 32/2001, na essência, casou mais surpresa e discussão do que
realmente deveria ter causado. Isso porque, não se pode dizer pura e simplesmente que:
As atribuições e a estruturação dos Ministérios e órgãos da administração pública não
mais tocam à lei, devendo ser veiculadas em decreto autônomo – vale repetir, espécie
normativa primária – desde que não implique aumento de despesa ou criação ou
extinção de órgãos públicos (cf. art. 84, VI, a, da Constituição de 1988, com a redação
dada pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001) (AMARAL JÚNIOR, 2003, p. 56).
Cremos mais realista e mais condizente com a interpretação dos dispositivos
constitucionais em jogo a análise de Celso Antônio Bandeira de Mello, que mesmo extensa,
merece ser transcrita na íntegra:
[...] se o Chefe do Executivo não pode nem criar nem extinguir órgão, nem determinar
qualquer coisa que implique aumento de despesa, que pode ele, então, fazer, a título de
dispor sobre ―organização e funcionamento da Administração Federal‖? Unicamente
transpor uma unidade orgânica menor que esteja encartada em unidade orgânica maior
para outra destas unidades maiores – como, por exemplo, passar um departamento de
um dado Ministério para outro Ministério ou para uma autarquia, e vice-versa; uma
divisão alocada em certo departamento para outro departamento, uma seção
pertencente a determinada divisão para outra divisão; e assim por diante. Pode, ainda,
redistribuir atribuições preexistentes em dado órgãos, passando-as para outro, desde
que sejam apenas algumas das atribuições dele – pois, se fossem todas, isto equivaleria
a extinguir o órgão, o que é vedado pela Constituição. (2007, p. 326)
Numa análise do debate legislativo que foi travado quando do trâmite da PEC nº. 01/95,
do Senado Federal, que deu origem à EC nº. 32/2001, bem como considerando o inteiro teor da
matéria que referida Emenda disciplinou, parece que a intenção do legislador foi conferir maior
âmbito de atuação ao Presidente da República no que diz respeito ao exercício da função de
Chefe da Administração Pública Federal. Os arranjos legislativos nos artigos 48, 61 e 84 da
Constituição de 1988, se pretendiam muito, disseram pouco, pois as ―limitações‖ (reservas
legais) impostas pelo art. 48, X e XI restringem em demasia as possibilidades interpretativas do
art. 84, VI, ―a‖.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
De fato, como bem assinala Celso Antônio Bandeira de Mello, o poder atribuído ao
Presidente pelo novo ―decreto autônomo‖, limita-se à faculdade ―para um arranho intestino dos
órgãos e competências já criados por lei‖ (2007, p. 326-327). O destaque à expressão ―já
criados por lei‖ – entende a equipe de pesquisa – bem sintetiza a essência desse debate.
Para melhor exemplificar o que aqui vem sendo defendido, interessante trazer um
exemplo advindo do próprio Executivo Federal.
Atualmente, a Lei nº. 10.683, de 28 de maio de 2003, é a responsável por disciplinar ―a
organização da Presidência da República e dos Ministérios‖, estabelecendo a estrutura básica da
Administração Pública Federal Direta. Esse diploma, porém, deixa várias matérias a cargo da
regulamentação executiva, explícita ou implicitamente.
Os decretos, portanto, que se referem à estrutura da Administração Pública Federal
Direta são ―autônomos‖ ou ―de execução‖? Ou melhor explicitando: têm fundamento no art. 84,
IV ou VI?
A indefinição vige até mesmo no seio do próprio Poder Executivo. O Decreto nº. 4.792,
de 23 de julho de 2003, que ―Cria a Câmara de Política de Recursos Naturais, do Conselho de
Governo‖, apresenta-se pautado no art. 84, incisos IV e VI, alínea ―a‖, da Constituição e ainda
faz remissão ao disposto no inciso II do art. 7º da Lei nº. 10.683, de 28 de maio de 2003. Já o
Decreto nº. 5.142, de 15 de julho de 2004, que ―Cria a Câmara de Política de Desenvolvimento
Econômico, do Conselho de Governo‖, ou seja, órgão de mesmas características daquele criado
pelo Decreto nº. 4.792/03, encontra apoio unicamente no art. 84, VI, alínea ―a‖ da Constituição
e igualmente faz remissão ao inciso II do art. 7º da Lei nº. 10.683, de 28 de maio de 2003.
Cremos que a melhor interpretação, nesse caso, é fundar o Decreto no art. 84, VI, ―a‖, da
Constituição Federal de 1988 visto que à evidência, trata-se de regulamento destinado a
disciplinar a ―organização e funcionamento da administração federal‖, ainda que não seja de
todo inapropriado dizer que se trata de um decreto que regulamente a Lei nº. 10.683/03.
Mas aqui há de se abrir um importante parêntesis. Por mais que sejam limitados os
poderes organizacionais do Presidente da República, criado o órgão e lhe sendo atribuído um
catálogo básico de atribuições bem como uma estrutura organizativa primária, ou ainda no que
concerne ao funcionamento (o dia-dia da Administração pública federal), tudo se encontra sob a
reserva regulamentar, vale dizer, sob pena de inconstitucionalidade formal, não pode ser regido
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
por lei. Eis talvez o aspecto mais inovador da EC nº. 32/2001: a ―reserva de decreto‖. Nesses
termos, se lei posterior à EC nº. 32/2001 disciplinar a organização (em detalhes que fujam de
uma estrutura mínima) ou o funcionamento da Administração pública federal (naquilo que não
seja inerente à matéria reservada à lei), estaremos diante de um vício de inconstitucionalidade.
Prosseguindo em nossa argumentação, deveras importante chamar a atenção para a
discussão sobre a ―criação de órgãos públicos‖.
Na ADI 4.032, de autoria dos Partidos Políticos DEM e PSDB, e que questiona o
Decreto de 25 de fevereiro de 2008 que instituiu o ―Programa Territórios da Cidadania‖, os
autores alegam que:
O programa Territórios da Cidadania contempla, ainda, a instauração de nova
organização administrativa. O art. 6º cuida de instituir um Comitê-Gestor com poderes
específicos para definição de diretrizes para o programa, notadamente a criação de
comitês de articulação estadual (art. 7º) e a criação de Territórios da Cidadania (art. 1º,
§ 1º). Mais uma vez, o Decreto contraria o perfil definido pelo art. 84, VI, pois
implica a criação de órgão administrativo. (destacamos)150
Contudo, data vênia ao entendimento exposto, não se pode levar a restrição à criação de
órgãos públicos via decreto a tais extremos. Ou em outras palavras: não se pode interpretar
qualquer unidade operacional da Administração pública federal como um ―órgão público‖ nos
termos do art. 84, VI, ―a‖, da CF/88. Isso porque, no caso, oportunos os ensinamentos de José
dos Santos Carvalho Filho que explica:
A nova diretriz constitucional [a do art. 84, VI, ―a‖, da CF/88] já tinha o endosso de
parte da doutrina, segundo a qual seria lícito que o Executivo criasse órgãos auxiliares,
inferiores ou subalternos, desde que aproveitasse os cargos já existentes e tivesse
competência delegada por lei, somando-se ainda a condição de não serem praticados
atos que pudessem constranger a esfera jurídica dos particulares. (2008, p. 12-13).
No caso em estudo, do Decreto de 25 de fevereiro de 2008, a Comitê-Gestor é composto
por representantes de outros órgãos da Administração pública federal, todos integrantes de
cargos públicos devidamente criados por lei. Na essência, nem se trata de ―aproveitar‖ os cargos
existentes, pois em casos como esses, os integrantes desses ―órgãos‖ não são ―transferidos‖ para
150
Inicial disponível em <http://www.stf.jus.br/portal/peticaoInicial> Acesso em 20 out. 2008.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
a nova estrutura administrativa, mas apenas acumulam uma nova função, que é sempre
considerada relevante, mas não remunerada. Com relação à competência inicialmente destinada
a outro órgão, a restrição não mais vige, posto poder o Presidente, com a ―nova‖ redação do art.
84, VI, ―a‖, da CF/88 instituir competências e atribuições, com efeito interna corporis, via
decreto. Por fim, o não constrangimento aos particulares é mesmo da essência da figura
normativa que por ora se discute.
Com as conceituações operadas e com os limites do decreto do art. 84, VI, ―a‖, da CF/88
previamente fixados, passaremos agora a uma análise da práxis presidencial brasileira de 12 de
setembro de 2001 a 31 de dezembro de 2008 no que concerne à expedição de decretos pautados
no art. 84, VI, a, da CF/88. Essa análise permitirá apresentar um quadro (de caráter
exemplificativo) pontual sobre as possibilidades do ―decreto autônomo‖ brasileiro.
7. ANÁLISE DA PRÁXIS PRESIDENCIAL CONCERNENTE AO DECRETO DO ART.
84, VI, “a”, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ENTRE 12.09.2001 E 31.12.2008
Dentre os objetivos iniciais do projeto aprovado no âmbito do edital ―Pensando o
Direito‖, estava o de confeccionar um quadro detalhado com as possibilidades regulatórias do
decreto do art. 84, VI, ―a‖, da CF/88.
A consecução desse objetivo, no entanto, considerando a complexidade que envolve a
organização da Administração Pública Federal seria extremamente dificultosa e correria um
risco significativo de apresentar-se por incompleta. Em razão disso, com vistas a proceder a uma
avaliação da práxis presidencial do decreto autônomo desde o seu surgimento, efetuou-se um
levantamento de todos os decretos presidenciais que foram editados com fundamento no art. 84,
VI, ―a‖, da CF/88 desde setembro de 2001 até dezembro de 2008, o que nos permitiu, além da
avaliação acima referida, elaborar um quadro-proposta indutivo, ainda que de caráter
exemplificativo, com as matérias que podem ser reguladas via decreto autônomo.
Para a consecução desse objetivo, a equipe de pesquisa analisou todos os decretos
presidenciais expedidos desde 12 de setembro de 2001, tendo então selecionado todos aqueles
que foram editados com fundamento no art. 84, VI, ―a‖, da CF/88, seja exclusivamente, seja em
conjunto com outro embasamento legal.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Como já mencionado anteriormente, o objetivo de toda essa pesquisa foi analisar o uso
que o Executivo federal tem feito da faculdade que lhe confere o dispositivo em comento para
que, então, pudéssemos extrair da referida análise duas conseqüências: (a) uma avaliação da
práxis presidencial entre 2001 e 2008; e (b) algumas propostas sobre a utilização que a equipe
de pesquisa entende adequada do disposto no art. 84, VI, ―a‖, da CF/88.
De imediato, cabe destacar o número razoável de documentos editados sob o amparo do
art. 84, VI, ―a‖, da CF/88, semestre após semestre, o que em um leitura preliminar indica a
relevância que o decreto do art. 84, VI, ―a‖, da CF/88 tem adquirido como instrumento de
gestão do Poder Executivo. Com efeito, a partir de 12 de setembro de 2001, com a entrada em
vigor da EC 32/2001, o Presidente da República ganhou alguma margem de discricionariedade
naquelas matérias atinentes à ―organização e funcionamento da administração federal‖, o que
resultou num aumento no número de utilização desse tipo de decreto.151
Assim, foram analisados 587 decretos fundados exclusivamente no art. 84, VI, ―a‖ da
CF/88, sendo 320 numerados e 267 não-numerados.
7.1 DECRETOS NÃO-NUMERADOS
Os decretos não-numerados, que são aqueles ―referentes aos atos que contenham regras
de caráter singular, dentre eles os decretos relativos a abertura de crédito, declaração de
utilidade pública, reforma agrária, doação e aceitação de imóvel, luto oficial, concessão de rádio
151
É o que demonstra a utilização, pelo Presidente da República, da faculdade que lhe conferia o art. 84, VI, da
CF/88 nos três semestres que antecederam a entrada em vigor da EC nº. 32/2001. No período entre 01/01/2001 e
12/09/2001 foi editado apenas 01 decreto com fundamento exclusivo no art. 84, VI, da CF/88: o Decreto nº. 3.769,
de 08/03/2001, que ―Estabelece diretrizes para execução de projetos voltados para a área social e cria o Comitê de
Gestão e Acompanhamento do Projeto Alvorada‖. No segundo semestre de 2000 foram editados 03 decretos com
fundamento exclusivo no art. 84, VI, da CF/88: o Decreto nº 3.652, de 07.11.2000, que ―Dispõe sobre a
organização do Departamento Logístico, altera dispositivo do Decreto nº 78.724, de 12 de novembro de 1976, e dá
outras providências‖, o Decreto nº. 3.637, de 20/10/2000, que ―Institui a Rede Nacional de Direitos Humanos‖ e o
Decreto nº. 3.546, de 17/07/2000, que ―Cria o Conselho Interministerial do Açúcar e do Álcool - CIMA e dá outras
providências‖. Por fim, no primeiro semestre de 2000, constata-se a edição de 05 decretos fundados exclusivamente
no art. 84, VI, da CF/88: o Decreto nº. 3.515, de 20/06/2000, que ―Cria o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas
e dá outras providências‖, o Decreto nº. 3.507, de 13/06/2000, que ―Dispõe sobre o estabelecimento de padrões de
qualidade do atendimento prestado aos cidadãos pelos órgãos e pelas entidades da Administração Pública Federal
direta, indireta e fundacional, e dá outras providências‖, o Decreto nº. 3.420, de 20/04/2000, que ―Dispõe sobre a
criação do Programa Nacional de Florestas - PNF, e dá outras providências‖, o Decreto nº. 3.416, de 19/04/2000,
que ―Altera o art. 4º do Regulamento da Comissão Nacional para Assuntos Antárticos - CONANTAR, aprovado
pelo Decreto nº. 123, de 20 de maio de 1991‖ e o Decreto nº. 3.397, de 20/03/2000, que ―Fixa a lotação dos
Adidos, Adjuntos e Auxiliares de Adidos Militares junto às representações diplomáticas no exterior, e dá outras
providências‖.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
e televisão, criação de embaixadas e consulados, delegações, calamidade pública‖, conforme
conceituação da própria Presidência da República152
, não comportam maiores dificuldades de
análise, no geral. Eles foram utilizados, na essência, para criar Grupos de Trabalhos, Comissões
Interministeriais, Comissões Organizadoras, Projetos internos aos Ministérios e Conferências
Nacionais153
. Se nos utilizarmos da classificação que adotaremos para selecionar os decretos
numerados, veremos que praticamente a totalidade dos decretos não numerados expedidos com
fundamento exclusivo no art. 84, VI, ―a‖, da CF/88, podem ser catalogados com ―decretos
especificamente referentes ao funcionamento da Administração Pública Federal‖ (categoria 02)
e ―decretos referentes à criação e/ou (re)estruturação de órgãos de gestão de programas,
políticas ou ações governamentais‖ (categoria 03).
Os decretos não-numerados expedidos com fundamento exclusivo no art. 84, VI, ―a‖, da
CF/88, estão quantitativamente assim distribuídos por período:
Período Decretos não-
numerados
Período Decretos não-
numerados
12/09/2001 a
31/12/2001
[04] 01/07/2005 a
31/12/2005
[21]
01/01/2002 a
30/06/2002
[12] 01/01/2006 a
30/06/2006
[12]
01/07/2002 a
31/12/2002
[09] 01/07/2006 a
31/12/2006
[11]
01/01/2003 a
30/06/2003
[24] 01/01/2007 a
30/06/2007
[18]
01/07/2003 a
31/12/2003
[50] 01/07/2007 a
31/12/2007
[14]
01/01/2004 a
30/06/2004
[18] 01/01/2008 a
30/06/2008
[13]
01/07/2004 a
31/12/2004
[21] 01/07/2008 a
31/12/2008
[15]
01/01/2005 a
30/06/2005
[25] Total 267
Tabela 1 – Número de decretos não-numerados fundados exclusivamente no art. 84, VI, a, da CF/88 expedidos a
partir de 12/09/2001, semestre a semestre
152
A conceituação pode ser acessada em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Dicas/Epigrafe.htm 153
Há, dentre os decretos não-numerados analisados, alguns que regulam matérias que posteriormente passaram à
regulamentação via decreto numerado, tais como decretos que criam embaixada e delegam competências aos
Ministros de Estado.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Como visto, a análise dos decretos não-numerados editados com fundamento exclusivo
no art. 84, VI, ―a‖, da CF/88 demonstra que, com eles, tem o Presidente da Republica centrado
esforços em organizar e disciplinar o funcionamento da Administração pública federal.
Contudo, de todos os 267 decretos analisados um chama a atenção: o Decreto de 25 de
fevereiro de 2008 que ―Institui o Programa Territórios da Cidadania e dá outras providências‖.
Esse decreto, como decorre de sua própria ementa, em uma primeira leitura não se refere à
organização ou ao funcionamento da Administração pública federal, parecendo estar muito mais
próximo de um documento referente a ―planos e programas nacionais, regionais e setoriais de
desenvolvimento‖, matéria que nos termos do art. 48, IV, da CF/88, está sob a reserva de lei.
Essa também a interpretação dos Democratas e do Partido da Social Democracia Brasileira, que
no mesmo dia em que o referido Decreto foi publicado no Diário Oficial da União ingressam no
Supremo Tribunal Federal com a ADI 4.032, que sob a relatoria do Min. Eros Grau, aguarda
julgamento.154
Esse caso, assim como outros referentes a decretos com objeto semelhante será
analisado no item 07 deste artigo.
7.2 DECRETOS NUMERADOS
Já os decretos numerados, que são aqueles que se caracterizam como atos normativos de
caráter geral e abstrato, justamente em razão das matérias que disciplinam, fornecem um
riquíssimo material de pesquisa para que se possa estipular, ainda que em uma investida
exemplificativa, os casos em que se pode fazer uso do decreto do art. 84, VI, ―a‖, da CF/88.
O quadro abaixo demonstra o número de decretos numerados editados com fundamento
no art. 84, VI, ―a‖, da CF/88, sendo que ao passo que a coluna do meio explicita o número de
decretos que, em conjunto com outros fundamentos, se apoiaram no dispositivo acima referido,
a coluna da direita enumera aqueles decretos pautados exclusivamente no art. 84, VI, ―a‖, da
CF/88, vale dizer, aqueles que retiram sua legitimidade diretamente do Texto Constitucional.
154
Conforme consulta realizada no sítio do Supremo Tribunal Federal, a ação encontra-se conclusa ao relator desde
10.09.08, já com as manifestações do Presidente da República, do Advogado-Geral da União e do Procurador-
Geral da República.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Período Quantidade de
decretos com
fundamento no art.
84, VI, a, da CF/88
Quantidade de decretos com
fundamento exclusivo no art. 84,
VI, a, da CF/88
12/09/2001 a
31/12/2001 56 15
01/01/2002 a
30/06/2002 84 31
01/07/2002 a
31/12/2002 108 29
01/01/2003 a
30/06/2003 123 11
01/07/2003 a
31/12/2003 78 15
01/01/2004 a
30/06/2004 62 26
01/07/2004 a
31/12/2004 60 20
01/01/2005 a
30/06/2005 58 25
01/07/2005 a
31/12/2005 43 26
01/01/2006 a
30/06/2006 42 09
01/07/2006 a
31/12/2006 45 14
01/01/2007 a
30/06/2007 51 23
01/07/2007 a
31/12/2007 84 31
01/01/2008 a
30/06/2008 53 25
01/07/2008 a
31/12/2008 72 20
Total 1018 320
Tabela 2 – Número de decretos numerados fundados no art. 84, VI, a, da CF/88 expedidos a
partir de 12/09/2001, semestre a semestre
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Da análise empreendida nos 320 decretos numerados expedidos exclusivamente com
fundamento no art. 84, VI, ―a‖, da CF/88, desde 12/09/2001, a equipe de pesquisa resolveu
agrupá-los, ao final, em 6 (seis) categorias distintas, conforme o objeto de cada um deles155
:
Categoria Tipo de decreto
[01] decretos referentes à criação, estruturação e disciplina de funções, cargos e órgãos públicos federais (inclusive embaixadas e consulados);
[02] decretos especificamente referentes ao funcionamento da Administração Pública Federal;
[03] decretos referentes à criação e/ou (re)estruturação de órgãos de gestão de
programas, políticas ou ações governamentais156
;
[04] decretos sobre gestão financeira sem aumento de despesas;
[05] decretos sobre medalhas e prêmios; e
[06] decretos que estabelecem (ou operam ajustes em) políticas, programas e ações governamentais.
Tabela 3 – Classificação (com exeplicação), por categoria, dos decretos numerados expedidos
com fundamento exclusivo no art. 84, VI, ―a‖, da CF/88 entre setembro de 2001 e dezembro de
2008.
A classificação desses decretos, por categoria, numericamente atingiu o seguinte resultado:
Categoria [1] [2] [3] [4] [5] [6]
Quantidade 155 60 12 20 27 46
Tabela 4 – Distribuição, por categoria, dos decretos numerados expedidos com fundamento
exclusivo no art. 84, VI, a, da CF/88 entre 12 de setembro de 2001 e 31 de dezembro de 2008.
155
A equipe não desconhece, evidentemente, que alguns decretos podem possuir trechos que se enquadram melhor
em determinada categoria e outros momentos que se adéquam mais apropriadamente a outras. Nesses casos, para
não dificultar a análise, optou-se por catalogar o decreto em apenas uma categoria. Aqui, tentou-se considerar a
categoria preponderante no decreto. 156
Para melhor compreensão do conceito de ―órgão‖ aqui trabalhado ver a discussão travada no item 5 sobre o
Comitê-Gestor do Programa Territórios da Cidadania, instituído pelo Decreto de 25 de fevereiro de 2008.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
A representação gráfica, que auxilia na visão global do uso por categorias, fica assim:
Cat. 01
Cat. 02
Cat. 03
Cat. 04
Cat. 05
Cat. 06
Apresentados os resultados quantitativos da pesquisa efetuada e operada a devida
catalogação, passaremos a seguir a uma explicação de cada uma das categorias criadas para
então, com a dupla finalidade de (a) ilustrar o que foi conceituado e (b) fixar o conjunto de
atribuições que se colocam diante do Chefe do Executivo por meio do art. 84, VI, ―a‖, da CF/88,
apresentar, dentro da ampla pesquisa realizada, dez exemplos de decretos para cada uma das
categorias criadas.157
Antes, porém, faz-se mister explicar que as categorias de número [1], [2] e [3], na
essência, englobam todos aqueles decretos com vistas a ―um arranjo intestino dos órgãos e
competências‖, nas palavras de Celso Antônio Bandeira de Mello (2007, p. 326). Ou seja, atos
pontuais que visam a (re)estruturação da máquina estatal federal visando um bom
funcionamento do Poder Executivo. A diferença, entre elas, é meramente didática e visa separar
o maior quantitativo de decretos158
abarcados nesse âmbito.
157
Na medida em que tal foi possível, buscou-se selecionar cada exemplo dentre um dos quinze semestres que
foram objeto de análise. Considerando, porém, a inexistência de algumas categorias por vários semestres, fez-se
necessário incluir, por vezes, até 04 exemplos de um mesmo semestre. 158
Vide que juntas as três categorias abarcam 70,94% dos decretos expedidos.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
7.2,1 Decretos de organização stricto sensu
Assim, reservamos à categoria de número [1] aqueles decretos que pontualmente lidam
com funções, cargos e órgãos da Administração Pública Federal, em regra, remanejando-os de
lugar, estabelecendo novas atribuições etc. Destaque, aqui, para os decretos presidenciais
diretamente voltados para o sistema de gestão das relações internacionais. Referimo-nos aos
decretos que criam embaixadas, consulados, escritórios de representação, etc.
Podem ser utilizados como exemplos de tais decretos:
Decreto Data Ementa Categoria Link
4.019 19/11/2001 Transfere a Unidade de Ensino Descentralizada de Petrolina, do Centro
Federal de Educação Tecnológica de Pernambuco, para o Centro
Federal de Educação Tecnológica de Petrolina, e dá outras
providências.
01 Link
4.182 04/04/2002 Cria a Câmara de Política Econômica, do Conselho de Governo. 01 Link
4.294 03/07/2002 Dispõe sobre a extinção de atividades desenvolvidas na Imprensa
Nacional, disciplina a destinação dos bens utilizados nessas atividades,
e dá outras providências.
01 Link
4.739 13/06/2003 Transfere a competência que menciona, referida na Lei no 10.683, de 28
de maio de 2003, que dispõe sobre a organização da Presidência da
República e dos Ministérios, e dá outras providências.
01 Link
4.784 18/07/2003 Dispõe sobre a composição do Conselho de Controle de Atividades
Financeiras - COAF, instituído pela Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998.
01 Link
5.107 16/06/2004 Dispõe sobre a 2a Brigada de Infantaria de Selva e dá outras
providências.
01 Link
5.125 01/07/2004 Dispõe sobre a composição do Comitê Gestor Interministerial do
Auxílio Emergencial Financeiro para atendimento à população atingida
por desastres, de que trata o art. 2o da Medida Provisória no 190, de 31 de maio de 2004.
01 Link
5.370 10/02/2005 Dispõe sobre a criação da Embaixada em Iaundê, República do
Camerun.
01 Link
5.599 01/12/2005 Dispõe sobre a elevação à categoria de Consulado-Geral do Consulado
do Brasil em Caiena, Guiana Francesa.
01 Link
5.673 11/01/2006 Dá nova redação aos §§ 2o e 3o do art. 2o do Decreto no 4.678, de 24 de
abril de 2003, que dispõe sobre as atribuições e composição do
Conselho de Gestão de Previdência Complementar - CGPC.
01 Link
Tabela 5 – Exemplos de decretos da categoria 01 [decretos de organização stricto sensu].
7.2.2 Decretos sobre o funcionamento da Administração
Já a segunda categoria [2] destina-se àquele grupo de decretos que muito diretamente
dizem respeito ao funcionamento da Administração, ao seu agir cotidiano.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Podem ser utilizados como exemplos de tais decretos:
Decreto Data Ementa Categoria Link
3.935 20/09/2001 Fixa prazo para as autoridades que menciona se afastarem do
cargo ou função que ocupam, caso queiram concorrer a
mandato eletivo em outubro de 2002, e dá outras providências.
02 Link
4.199 16/04/2002 Dispõe sobre a prestação de informações institucionais relativas
à Administração Pública Federal a partidos políticos, coligações
e candidatos à Presidência da República até a data da
divulgação oficial do resultado final das eleições.
02 Link
4.406 03/10/2002 Estabelece diretrizes para a fiscalização em embarcações
comerciais de turismo, seus passageiros e tripulantes.
02 Link
4.596 17/02/2003 Dispõe sobre o Sistema de Acompanhamento Legislativo -
SIAL e dá outras providências.
02 Link
4.877 13/11/2003 Disciplina o processo de escolha de dirigentes no âmbito dos
Centros Federais de Educação Tecnológica, Escolas Técnicas
Federais e Escolas Agrotécnicas Federais.
02 Link
5.108 17/06/2004 Dispõe sobre procedimentos administrativos para autorizar,
excepcionalmente, a compensação de faltas ao serviço em
decorrência de paralisação de servidores públicos, no âmbito da
administração federal direta, das autarquias e das fundações
públicas do Poder Executivo da União.
02 Link
5.151 22/07/2004 Dispõe sobre os procedimentos a serem observados pelos
órgãos e pelas entidades da Administração Pública Federal
direta e indireta, para fins de celebração de atos
complementares de cooperação técnica recebida de organismos
internacionais e da aprovação e gestão de projetos vinculados
aos referidos instrumentos.
02 Link
5.482 30/06/2005 Dispõe sobre a divulgação de dados e informações pelos órgãos
e entidades da administração pública federal, por meio da Rede
Mundial de Computadores - Internet.
02 Link
5.500 29/07/2005 Dispõe sobre adoção de planos de reposição de trabalho para
compensar faltas ao serviço em decorrência da participação de
servidores em paralisação de serviços públicos, e dá outras
providências.
02 Link
6.029 01/02/2007 Institui Sistema de Gestão da Ética do Poder Executivo Federal,
e dá outras providências.
02 Link
Tabela 6 – Exemplos de decretos da categoria 02 [decretos sobre o funcionamento da
Administração].
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
7.2.3 Decretos sobre criação, (re)estruturação de órgãos de gestão de ações governamentais
Já a categoria [3], que insistimos, poderia integrar a [1] ou a [2], liga-se intimamente à
última, pois aqui estamos diante de decretos que se referem aos órgãos de gestão das ações
governamentais.
Podem ser utilizados como exemplos de tais decretos:
Decreto Data Ementa Categoria Link
3.982 24/10/2001 Cria o Comitê de Acompanhamento da Implementação do Plano de
Ação da Cúpula Mundial da Alimentação da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
03 Link
4.151 07/03/2002 Extingue o Comitê Nacional da Qualidade e Produtividade. 03 Link
4.960 19/01/2004 Cria a Comissão Nacional de Prevenção da Violência e Segurança nos
Espetáculos Esportivos - CONSEGUE.
03 Link
5.564 19/10/2005 Institui o Comitê Nacional de Controle Higiênico-Sanitário de
Moluscos Bivalves - CNCMB, e dá outras providências.
03 Link
6.151
10/07/2007
Dá nova redação ao art. 5º do Decreto nº 6.041, de 8 de fevereiro de
2007, que institui a Política de Desenvolvimento da Biotecnologia e cria o Comitê Nacional de Biotecnologia.
03 Link
6.263
21/11/2007
Institui o Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima - CIM,
orienta a elaboração do Plano Nacional sobre Mudança do Clima, e dá outras providências.
03 Link
6.269
22/11/2007
Altera e acresce dispositivos ao Decreto no 5.390, de 8 de março de
2005, que aprova o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres - PNPM e institui o Comitê de Articulação e Monitoramento.
03 Link
6.335
28/12/2007
Altera o Decreto nº 5.115, de 24 de junho de 2004, que institui
Comissão Especial Interministerial - CEI de revisão dos atos
administrativos praticados pelas comissões criadas pelos Decretos nos
1.498 e 1.499, de 24 de maio de 1995, e 3.363, de 11 de fevereiro de
2000, referentes a processos de anistia de que trata a Lei no 8.878, de 11 de maio de 1994.
03 Link
6.484
17/06/2008
Altera o art. 3º do Decreto nº 3.939, de 26 de setembro de 2001, que
dispõe sobre a Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM).
03 Link
6.572 17/09/2008 Dá nova redação ao art. 4o do Decreto no 5.390, de 8 de março de 2005,
que aprova o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres - PNPM e
institui o Comitê de Articulação e Monitoramento.
03 Link
Tabela 7 – Exemplos de decretos da categoria 03 [decretos sobre criação, (re)estruturação de órgãos de gestão de
ações governamentais].
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
7.2.4 Decretos sobre gestão financeira
A categoria de número [4], por sua vez, diz respeito às medidas de gestão que envolvem
de forma mais acentuada algum tipo de remanejamento em verbas e rubricas contábeis.
Podem ser utilizados como exemplos de tais decretos:
Decreto Data Ementa Categoria Link
4.146 27/02/2002 Dispõe sobre a descentralização de dotações orçamentárias destinadas
ao pagamento de sentenças transitadas em julgado, e dá outras
providências.
04 Link
4.479 21/11/2002 Dispõe sobre o empenho de dotações orçamentárias e procedimentos de
contratação e licitação, no âmbito do Poder Executivo, no exercício de 2002.
04 Link
5.606 06/12/2005 Aprova o Programa de Dispêndios Globais para 2005 da Empresa
Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia - HEMOBRÁS, e dá outras providências.
04 Link
5.939 19/10/2006 Aprova o Programa de Dispêndios Globais - PDG para 2007 das
empresas estatais federais.
04 Link
5.971 28/11/2006 Altera o Programa de Dispêndios Globais - PDG das empresas estatais
federais, aprovado pelo Decreto nº 5.567, de 26 de outubro de 2005, e dá outras providências.
04 Link
6.124 13/06/2007 Estabelece, no âmbito do Poder Executivo, limites para empenho de despesas com diárias, passagens e locomoção no exercício de 2007.
04 Link
6.133 26/06/2007 Altera o Anexo II do Decreto no 5.452, de 1º de junho de 2005, que
divulga o custo unitário dos cargos em comissão, das funções
gratificadas e das gratificações.
04 Link
6.137 28/06/2007 Dá nova redação ao caput do art. 1o do Decreto no 6.007, de 29 de
dezembro de 2006, que prorroga a validade dos restos a pagar inscritos no exercício financeiro de 2005.
04 Link
6.330 28/12/2007 Altera o Programa de Dispêndios Globais - PDG das empresas estatais
federais, aprovado pelo Decreto no 6.277, de 28 de novembro de 2007.
04 Link
6.331 28/12/2007 Prorroga a validade dos restos a pagar não-processados inscritos nos
exercícios financeiros de 2005 e 2006.
04 Link
6.492 27/06/2008 Dá nova redação ao art. 1o do Decreto no 6.331, de 28 de dezembro de
2007, que prorroga a validade dos restos a pagar não-processados inscritos nos exercícios financeiros de 2005 e 2006.
04 Link
6.492 27/06/2008 Dá nova redação ao art. 1o do Decreto no 6.331, de 28 de dezembro de
2007, que prorroga a validade dos restos a pagar não-processados inscritos nos exercícios financeiros de 2005 e 2006.
04 Link
6.527 01/08/2008 Dispõe sobre o estabelecimento do Fundo Amazônia pelo Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES.
04 Link
Tabela 8 – Exemplos de decretos da categoria 04 [decretos sobre gestão financeira].
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
7.2.5 Decretos sobre medalhas e prêmios
A categoria de número [5] envolve decretos como o de número 6.082, de 13/04/2007,
que ―dispõe sobre o uso da Medalha do Mérito Marechal Cordeiro de Farias nos uniformes
militares‖. Nessa categoria, assim como nas de número [1], [2] e [3], não deixa o Presidente da
República de editar um ato intimamente ligado às Forças Armadas, ou seja, está o Chefe do
Poder Executivo no exercício de sua função de dirigente da Administração Pública Federal.
Contudo, a análise em separado deve-se à inclusão de decretos que versam sobre outros tipos de
prêmios, bem como à particularidade da matéria.
Podem ser utilizados como exemplos de tais decretos:
Decreto Data Ementa Categoria Link
4.209 23/04/2002 Dispõe sobre a medalha "Mérito Santos-Dumont" e dá outras
providências.
05 Link
4.622 21/03/2003 Dispõe sobre a Medalha de Serviço Amazônico e dá outras
providências.
05 Link
4.797 31/07/2003 Dispõe sobre a Ordem Nacional do Mérito Educativo e dá outras
providências.
05 Link
5.023 23/03/2004 Cria a Medalha da Vitória e dá outras providências. 05 Link
5.166 03/08/2004 Institui a Medalha Corpo de Tropa e dá outras providências. 05 Link
5.521 25/08/2005 Dá nova redação aos arts. 5o e 8o do Decreto no 4.797, de 31 de
julho de 2003, que dispõe sobre a Ordem Nacional do Mérito
Educativo.
05 Link
5.857 24/07/2006 Cria o Prêmio Escola de Guerra Naval e dá outras providências. 05 Link
6.130 20/06/2007 Institui a Medalha do Mérito da Aviação de Segurança Pública Major Ibes Carlos Pacheco e dá outras providências.
05 Link
6.082 13/04/2007 Dispõe sobre o uso da Medalha do Mérito Marechal Cordeiro de
Farias nos uniformes militares.
05 Link
6.202 30/08/2007 Dispõe sobre o Prêmio Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
Brasil, e dá outras providências.
05 Link
6.457 14/05/2008 Dispõe sobre a criação da Medalha ―120 Anos da Sanção da Lei
Áurea‖.
05 Link
Tabela 9 – Exemplos de decretos da categoria 05 [decretos sobre medalhas e prêmios].
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
7.2.6 Decretos sobre ações governamentais
Por fim, a categoria de número [6] é aquela que agrupa os decretos que instituam
programas, políticas ou ações governamentais de efeitos interna corporis, vale dizer, que na
essência coordenam ações de setores da Administração pública federal na consecução de
objetivos constitucionais e institucionais. Podem ser utilizados como exemplos de tais decretos:
Decreto Data Ementa Categoria Link
4.228 13/05/2002 Institui, no âmbito da Administração Pública Federal, o Programa
Nacional de Ações Afirmativas e dá outras providências.
06 Link
4.326 08/08/2002 Institui, no âmbito do Ministério do Meio Ambiente, o Programa Áreas
Protegidas da Amazônia - ARPA, e dá outras providências.
06 Link
4.875 11/11/2003 Institui o "Projeto Milton Santos de Acesso ao Ensino Superior", no
âmbito do Ministério da Educação.
06 Link
5.098 03/06/2004 Dispõe sobre a criação do Plano Nacional de Prevenção, Preparação e
Resposta Rápida a Emergências Ambientais com Produtos Químicos Perigosos - P2R2, e dá outras providências.
06 Link
5.156 26/07/2004 Dispõe sobre o Sistema Nacional de Processamento de Alto
Desempenho - SINAPAD.
06 Link
5.378 23/02/2005 Institui o Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização -
GESPÚBLICA e o Comitê Gestor do Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização, e dá outras providências.
06 Link
5.577 10/11/2005 Institui, no âmbito do Ministério do Meio Ambiente, o Programa
Nacional de Conservação e Uso Sustentável do Bioma Cerrado -
Programa Cerrado Sustentável, e dá outras providências.
06 Link
5.813 22/06/2006 Aprova a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos e dá
outras providências.
06 Link
5.948 26/10/2006 Aprova a Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e
institui Grupo de Trabalho Interministerial com o objetivo de elaborar
proposta do Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas - PNETP.
06 Link
6.025 22/01/2007 Institui o Programa de Aceleração do Crescimento - PAC, o seu
Comitê Gestor, e dá outras providências.
06 Link
Tabela 10 – Exemplos de decretos da categoria 06 [decretos sobre ações governamentais].
Da análise, pela equipe de pesquisa, de todos os decretos que numericamente aqui foram
apresentados, dentro dessa catalogação que se operou, não foi constatado qualquer tipo de
desvio grave na utilização dos ―decretos de organização‖ pelo Chefe do Executivo Federal, o
que nos permite apontar as próprias tabelas de exemplos como parâmetro de uso de tais
decretos. Apenas a última categoria, a de número [6], causou inicialmente certa estranheza, o
que fez a equipe optar pela inclusão de um novo item à pesquisa.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
8. A (IN)CONSTITUCIONALIDADE DOS DECRETOS CONCERNENTES A PLANOS
E PROGRAMAS NACIONAIS, REGIONAIS E SETORIAIS DE DESENVOLVIMENTO
Dentre todas as categorias aqui formuladas, somente uma, em uma primeira análise, não
se compatibiliza integralmente com a intenção do disposto no art. 84, VI, ―a‖, da Constituição
Federal: a categoria de número [6].
Com efeito, as cinco primeiras categorias adéquam-se sem maiores problemas às
finalidades de ―organizar‖ e ―regular o funcionamento‖ da Administração pública federal.
Porém, não parece gozar de igual sorte a sexta categoria. Será possível dizer que um decreto
presidencial como de nº. 6.025, de 22/01/2007, que institui o ―Programa de Aceleração do
Crescimento – PAC‖ pode ser considerado um instrumento de organização ou de funcionamento
da Administração pública federal? Eis uma questão importante.
A Emenda Constitucional de nº. 32, de 11 de setembro de 2001, originou-se da PEC nº.
1/95 do Senado Federal. Durante o processo de discussão da referida proposta, houve
apresentação de emenda por parte do Senador José Fogaça (Emenda Substitutiva n. 3-PLEN, em
nome da CCJ). Dessa proposta constava o seguinte:
(a) revogação inciso IV do art. 48, da Constituição Federal de 1988159
; e
(b) inclusão do inciso XXVII, com alínea ‗a‘, no art. 84 da Constituição160
.
Ocorre que a proposta foi rejeitada pelo Congresso Nacional, que preferiu manter sob
sua responsabilidade o debate público sobre ―planos e programas nacionais, regionais e setoriais
de desenvolvimento‖.
Isso posto, podemos lançar uma segunda (mas indissociável da primeira) pergunta:
―Programa de Aceleração do Crescimento – PAC‖ não consiste em uma plano ou programa
nacional de desenvolvimento? O mesmo não ocorreria com parte dos decretos abaixo
elencados?
159
Que estabelece caber ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República, [...], dispor sobre todas
as matérias de competência da União, especialmente sobre: [...] IV - planos e programas nacionais, regionais e
setoriais de desenvolvimento; 160
Com a seguinte redação: ―Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: [...] XXVII – dispor
sobre: a) planos e programas nacionais, regionais e setoriais de desenvolvimento;‖.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Na tabela a seguir estão apresentados todos os decretos numerados fundados
exclusivamente no art. 84, VI, ―a‖, da CF/88, que estabelecem (ou operam ajustes em) políticas,
programas e ações governamentais.
Decre
to
Data Temática
4.228 13/05/2002 Institui, no âmbito da Administração Pública Federal, o Programa Nacional de
Ações Afirmativas e dá outras providências.
4.229 13/05/2002 Dispõe sobre o Programa Nacional de Direitos Humanos - PNDH, instituído pelo
Decreto no 1.904, de 13 de maio de 1996, e dá outras providências.
4.284 26/06/2002 Institui o Programa Brasileiro de Ecologia Molecular para o Uso Sustentável da
Biodiversidade da Amazônia - PROBEM, e dá outras providências.
4.319 01/08/2002 Dispõe sobre o Programa de Qualificação Docente e Ensino de Língua Portuguesa
no Timor Leste.
4.326 08/08/2002 Institui, no âmbito do Ministério do Meio Ambiente, o Programa Áreas Protegidas
da Amazônia – ARPA, e dá outras providências.
4.864 24/10/2003 Acresce e revoga dispositivos do Decreto no 3.420, de 20 de abril de 2000, que
dispõe sobre a criação do Programa Nacional de Florestas - PNF.
4.875 11/11/2003 Institui o "Projeto Milton Santos de Acesso ao Ensino Superior", no âmbito do
Ministério da Educação.
4.901 26/11/2003 Institui o Sistema Brasileiro de Televisão Digital – SBTVD, e dá outras
providências.
4.925 19/12/2003 Institui o Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás
Natural -PROMINP, e dá outras providências.
5.055 27/04/2004 Institui o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – SAMU, em Municípios e
regiões do território nacional, e dá outras providências.
5.098 03/06/2004 Dispõe sobre a criação do Plano Nacional de Prevenção, Preparação e Resposta
Rápida a Emergências Ambientais com Produtos Químicos Perigosos - P2R2, e dá
outras providências.
5.102 11/06/2004 Acresce inciso ao art. 7o do Decreto n
o 4.901, de 26 de novembro de 2003, que
institui o Sistema Brasileiro de Televisão Digital - SBTVD.
5.110 18/06/2004 Acresce inciso ao art. 7o do Decreto n
o 3.505, de 13 de junho de 2000, que institui
a Política de Segurança da Informação nos órgãos e entidades da Administração
Pública.
5.156 26/07/2004 Dispõe sobre o Sistema Nacional de Processamento de Alto Desempenho -
SINAPAD.
5.264 05/11/2004 Institui o Sistema Brasileiro de Museus e dá outras providências.
5.376 17/02/2005 Dispõe sobre o Sistema Nacional de Defesa Civil - SINDEC e o Conselho
Nacional de Defesa Civil, e dá outras providências.
5.378 23/02/2005 Institui o Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização -
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
GESPÚBLICA e o Comitê Gestor do Programa Nacional de Gestão Pública e
Desburocratização, e dá outras providências.
5.390 08/03/2005 Aprova o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres - PNPM, institui o Comitê
de Articulação e Monitoramento e dá outras providências.
5.393 10/03/2005 Altera e acrescenta dispositivos ao Decreto no 4.901, de 26 de novembro de 2003,
que institui o Sistema Brasileiro de Televisão Digital – SBTVD.
5.446 20/05/2005 Acrescenta inciso ao art. 4o do Decreto n
o 5.390, de 8 de março de 2005, que
aprova o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres - PNPM e institui o Comitê
de Articulação e Monitoramento.
5.484 30/06/2005 Aprova a Política de Defesa Nacional, e dá outras providências.
5.542 20/09/2005 Institui o Projeto Cidadão Conectado – Computador para Todos, no âmbito do
Programa de Inclusão Digital, e dá outras providências.
5.577 10/11/2005 Institui, no âmbito do Ministério do Meio Ambiente, o Programa Nacional de
Conservação e Uso Sustentável do Bioma Cerrado - Programa Cerrado
Sustentável, e dá outras providências.
5.794 05/06/2006 Altera e acresce dispositivos ao Decreto no 3.420, de 20 de abril de 2000, que
dispõe sobre a criação do Programa Nacional de Florestas - PNF.
5.813 22/06/2006 Aprova a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos e dá outras
providências.
5.948 26/10/2006 Aprova a Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e institui
Grupo de Trabalho Interministerial com o objetivo de elaborar proposta do Plano
Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas - PNETP.
6.025 22/01/2007 Institui o Programa de Aceleração do Crescimento – PAC, o seu Comitê Gestor, e
dá outras providências.
6.040 07/02/2007 Institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e
Comunidades Tradicionais.
6.041 08/02/2007 Institui a Política de Desenvolvimento da Biotecnologia, cria o Comitê Nacional
de Biotecnologia e dá outras providências.
6.044 12/02/2007 Aprova a Política Nacional de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos -
PNPDDH, define prazo para a elaboração do Plano Nacional de Proteção aos
Defensores dos Direitos Humanos e dá outras providências.
6.096 24/04/2007 Institui o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das
Universidades Federais - REUNI.
6.117 22/05/2007 Aprova a Política Nacional sobre o Álcool, dispõe sobre as medidas para redução
do uso indevido de álcool e sua associação com a violência e criminalidade, e dá
outras providências.
6.215 26/09/2007 Estabelece o Compromisso pela Inclusão das Pessoas com Deficiência, com vistas à
implementação de ações de inclusão das pessoas com deficiência, por parte da União
Federal, em regime de cooperação com Municípios, Estados e Distrito Federal, institui
o Comitê Gestor de Políticas de Inclusão das Pessoas com Deficiência - CGPD, e dá
outras providências.
6.226 04/10/2007 Institui o Programa Mais Cultura.
6.230 11/10/2007 Estabelece o Compromisso pela Redução da Violência Contra Crianças e
Adolescentes, com vistas à implementação de ações de promoção e defesa dos direitos
da criança e do adolescente, por parte da União Federal, em regime de colaboração
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
com Municípios, Estados e Distrito Federal, institui o Comitê Gestor de Políticas de
Enfrentamento à Violência contra Criança e Adolescente, e dá outras providências.
6.231 11/10/2007 Institui o Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte -
PPCAAM.
6.261 20/11/2007 Dispõe sobre a gestão integrada para o desenvolvimento da Agenda Social
Quilombola no âmbito do Programa Brasil Quilombola, e dá outras providências.
6.286 05/12/2007 Institui o Programa Saúde na Escola - PSE, e dá outras providências.
6.289 06/12/2007 Estabelece o Compromisso Nacional pela Erradicação do Sub-registro Civil de
Nascimento e Ampliação do Acesso à Documentação Básica, institui o Comitê Gestor
Nacional do Plano Social Registro Civil de Nascimento e Documentação Básica e a
Semana Nacional de Mobilização para o Registro Civil de Nascimento e a
Documentação Básica.
6.347 08/01/2008
Aprova o Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas - PNETP e
institui Grupo Assessor de Avaliação e Disseminação do referido Plano.
6.387 05/03/2008 Aprova o II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres - II PNPM, e dá outras
providências.
6.421 02/04/2008 Altera o Decreto no 5.274, de 18 de novembro de 2004, que institui o Programa de
Qualificação de Docente e Ensino de Língua Portuguesa no Timor-Leste.
6.459 19/05/2008 Dá nova redação ao inciso V do art. 4o do Decreto n
o 6.025, de 22 de janeiro de
2007, que institui o Programa de Aceleração do Crescimento - PAC para alterar a
composição do Grupo Executivo do Programa de Aceleração do Crescimento -
GEPAC.
6.594 06/10/2008 Institui o Programa Mercosul Social e Participativo.
6.630 04/11/2008 Dá nova redação aos arts. 5o e 6
o do Decreto n
o 6.226, de 4 de outubro de 2007,
que institui o Programa Mais Cultura.
6.703 18/12/2008 Aprova a Estratégia Nacional de Defesa, e dá outras providências.
Tabela 11 – Decretos numerados fundados exclusivamente no art. 84, VI, ―a‖, da CF/88 que
estabelecem (ou operam ajustes em) políticas, programas e ações governamentais.
A análise de todos os decretos acima arrolados permite encontrar, ainda que de forma
não tão simples, um denominador comum a todos eles: são todos decretos que instituem
programas, planos, políticas, sistemas, estratégias e ações no âmbito da Administração pública
federal, vale dizer, tais decretos não se destinam à geração de efeitos externos, mas orientam,
direcionam as ações dos próprios órgãos da Administração, já dentro de seus âmbitos de
competência, na consecução dos objetivos ali expostos. Em outras palavras, são atos
administrativos de eficácia espacial restrita aos muros da Administração pública federal e de
eficácia subjetiva limitada aos agentes do Executivo Federal.161
161
Sobre as dimensões da eficácia de um ato administrativo vide CARVALHO FILHO, 2008, p. 122.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Esses documentos, na essência, apresentam-se muito mais como uma carta de intenções
para operacionalização internamente à Administração pública federal, do que propriamente um
programa, um plano ou uma política nacional de desenvolvimento com dotações próprias, ações
concretamente estabelecidas e órgãos gestores previamente estabelecidos. É o caso, por
exemplo, da Lei 11.692, de 10.6.2008, que ―Dispõe sobre o Programa Nacional de Inclusão de
Jovens – Projovem‖, da Lei 11.771, de 17.9.2008, que ―Dispõe sobre a Política Nacional de
Turismo‖, da Lei 11.610, de 12.12.2007, que ―Institui o Programa Nacional de Dragagem
Portuária e Hidroviária‖, da Lei 11.530, de 24.10.2007, que ―Institui o Programa Nacional de
Segurança Pública com Cidadania – PRONASCI‖ e da Lei 11.096, de 13.1.2005, que ―Institui o
Programa Universidade para Todos – PROUNI‖, dentre diversas outras.
Em outros termos, os decretos que aqui foram catalogados como integrantes da categoria
06, poderiam se enquadrar como pertencentes à categoria 02, como, por exemplo, no caso do
Decreto nº. 5.378, de 23/02/2005, que ―Institui o Programa Nacional de Gestão Pública e
Desburocratização - GESPÚBLICA e o Comitê Gestor do Programa Nacional de Gestão
Pública e Desburocratização, e dá outras providências‖, um Decreto que apesar de instituir um
―Programa Nacional‖, fixa, na verdade, diretrizes de ação para um melhor funcionamento da
Administração pública federal.
Além disso, é certo que alguns decretos aqui elencados poderiam ter como fundamento o
art. 84, IV, da Constituição Federal de 1988, visto que podem ser considerados como
instrumentos de estabelecimento de medidas (programas, ações) voltados à concretização
(regulamentação) de algum dispositivo de lei. É o caso do Decreto nº. 6.231, de 11/10/2007, que
―institui o Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte – PPCAAM‖,
que perfeitamente pode ser considerado um instrumento de maximização da principiologia do
ECA (Lei nº. 8.069/90).162
162
No mesmo sentido, a Lei nº. 6.938, de 31 de agosto de 1981, que ―Dispõe sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências‖, estabeleceu em seu art. 5º,
caput, que ―As diretrizes da Política Nacional do Meio Ambiente serão formuladas em normas e planos, destinados
a orientar a ação dos Governos da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios no que
se relaciona com a preservação da qualidade ambiental e manutenção do equilíbrio ecológico, observados os
princípios estabelecidos no art. 2º desta Lei‖. A partir desse dispositivo, e com fundamento no art. 84. VI, ―a‖, da
CF/88, já com a redação dada pela EC nº. 32/2001, o Executivo editou o Decreto Nº 5.098, de 03 de junho de 2004,
que: ―Dispõe sobre a criação do Plano Nacional de Prevenção, Preparação e Resposta Rápida a Emergências
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Em que pese o acima exposto, considera a equipe de pesquisa ser sempre preferível – em
especial tendo em vista os amplos poderes legislativos atribuídos ao Presidente da República no
Brasil – que a discussão sobre Programas, Planos e Políticas se dê no seio do Congresso
Nacional, o locus específico de debate das questões nacionais nas democracias constitucionais.
Porém, o mesmo não se passa com Decretos que efetivamente venham a instituir políticas ou
programas de desenvolvimento.
Numa primeira leitura, a Constituição Federal de 1988 ao estabelecer competir ao
Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República, dispor sobre planos e programas
nacionais, regionais e setoriais de desenvolvimento, opta por deixar os debates nacionais
(regionais e até setoriais) que envolvam o desenvolvimento econômico, cultural e social do País
afetados ao espaço público deliberativo do Congresso Nacional.
Para que possamos caminhar em direção à solução da questão que este último item do
artigo levanta, devemos esmiuçar as pretensões constitucionais do art. 21, IX e do art. 48, IV, da
CF/88.
O art. 21, IX, da CF88, diz competir à União ―elaborar e executar planos nacionais e
regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social‖.
Em sentido complementar ao do disposto no dispositivo acima mencionado, o art. 48,
IV, estabelece competir ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República,
dispor sobre todas as matérias de competência da União, especialmente sobre ―planos e
programas nacionais, regionais e setoriais de desenvolvimento‖.
De início percebe-se que a nomenclatura não é a uniformemente desejável. Enquanto o
art. 21, IX, fala em planos nacionais e regionais de desenvolvimento econômico e social, o art.
48, IV, fala em planos e programas (incluídos somente aqui) nacionais, regionais e setoriais
(igualmente somente aqui incluídos) de desenvolvimento (agora sem explicitar qual tipo de
desenvolvimento).
Ambientais com Produtos Químicos Perigosos - P2R2, e dá outras providências‖. Em verdade, apesar do
fundamento no art. 84, VI, ―a‖, da CF/88 e com uma mínima intenção de autonomia, tal Decreto não deixa de possuir caráter regulamentar nos termos do art. 84, IV, da CF/88.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Para José Afonso da Silva, com base nesses dispositivos constitucionais ―[...] se tem uma
classificação dos planos com base em sua abrangência geográfica – nacionais e regionais, e com
base no seu objeto – gerais e setoriais, conforme envolvam todas as áreas ou apenas áreas
específicas (agricultura, indústria etc.)‖ (2007, p. 398).163
Aqui não se está mais diante de programas, políticas, ações ou sistemas que geram
efeitos apenas interna corporis; tais planos, programas ou políticas (a terminologia é o que
menos importa) sob a ―reserva legal‖ do art. 48, IV, da CF/88 são aqueles em que, de fato,
exigem um debate público parlamentar por atingirem diretamente, ou ao particular (daí a
necessidade da lei) ou Municípios, Estados ou o Distrito Federal (daí a necessidade de levar a
discussão ao Congresso Nacional).
Nesse sentido, um referencial institucionalmente palpável de análise é o Decreto de 25
de fevereiro de 2008, que ―Institui o Programa Territórios da Cidadania e dá outras
providências‖. Esse decreto chamou a atenção da equipe de pesquisa por duas razões: (a) ser um
decreto não-numerado (o que não se coaduna com as próprias definições da Presidência sobre a
numeração dos regulamentos); e (b) por ser objeto da ADI 4.032, de autoria dos Partidos DEM e
PSDB e que aguarda julgamento no STF.
Pois bem, o decreto em debate instituiu ―o Programa Territórios da Cidadania, a ser
implementado de forma integrada pelos diversos órgãos do Governo Federal responsáveis pela
execução de ações voltadas à melhoria das condições de vida, de acesso a bens e serviços
públicos e a oportunidades de inclusão social e econômica às populações que vivem no interior
do País‖ (art. 1º), ou seja, de imediato percebe-se que se trata de um ―Programa‖ de organização
do funcionamento da Administração pública federal (basicamente ação integrada dos
Ministérios).
Em sentido diametralmente oposto está, por exemplo, a Lei 11.610 de 12 de dezembro
de 2007, que em seu artigo 1º diz ficar instituído o Programa Nacional de Dragagem Portuária e
Hidroviária, a ser implantado pela Secretaria Especial de Portos da Presidência da República e
163
No que diz respeito à (suposta) distinção entre planos e programas, vale transcrever os comentários de
Celso Ribeiro Bastos, para quem: ―[...] há uma franca aceitação quanto à distinção entre planos e
programas nacionais. Estes últimos seriam a externalização numérica e financeira do próprio plano;
portanto, seria o plano traduzido em números, ou seja, em realidade contábil-financeira‖ (1995, p. 66). A
distinção, na essência, parece-nos muito mais terminológica que conceitual.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
pelo Ministério dos Transportes, por intermédio do Departamento Nacional de Infra-Estrutura
de Transportes - DNIT, nas respectivas áreas de atuação. Aqui, há todo um conjunto de regras
que buscam gerar efeitos para além dos muros da Administração, atingindo, na essência, o
âmbito de atuação dos particulares, razão pela qual se faz necessário a edição de lei.
Na essência, o que a equipe de pesquisa percebeu com relação ao uso de decretos
fundados no art. 84, VI, ―a‖, da CF/88 para dispor sobre ―planos, programas e ações‖ é que a
questão cinge-se muito mais ao aspecto terminológico do que propriamente a uma questão de
fundo. Alterar alguns nomes de ―Programas Nacionais‖ para ―Projetos Interministeriais‖, por
exemplo, além de corresponder muito mais diretamente à essência dessas ações, poderia evitar
alguns problemas.
CONCLUSÕES E PROPOSIÇÕES
O trabalho realizado pela equipe de pesquisa entre os meses de maio e dezembro (leitura,
fichamento, pesquisa, catalogação, discussão e redação) permite, de início, uma conclusão: não
é certo afirmar que a aceitação do ―decreto autônomo‖ ―ensejará a criação de mecanismo mais
perverso que a medida provisória, tão veementemente repelida por toda a sociedade‖
(FURTADO, 2003, p. 56), como também não é apropriado dizer que a EC nº. 32/2001 nenhuma
alteração relevante trouxe para o ordenamento jurídico brasileiro.
A análise empreendida nas linhas acima permite concluir que, além do decreto de
execução do art. 84, IV, da CF/88, a partir da Emenda Constitucional de nº. 32/2001 o Brasil
passou a conhecer o ―decreto de organização‖, dotado de certo grau de autonomia com relação à
lei.
Nesse contexto, uma das questões mais relevantes é a referente à melhor interpretação a
ser conferida ao conjunto das alterações operadas nos arts. 48, XI, 61, § 1º, II, ―e‖ e 84, VI, ―a‖,
todos da CF/88, o que faremos novamente, agora em forma esquemática, no quadro a seguir:
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Antes da EC n° 32/2001 Após a EC n° 32/2001
Art. 48, XI
Art. 48. Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do
Presidente da República, não exigida esta para o
especificado nos arts. 49, 51 e 52, dispor sobre todas as
matérias de competência da União, especialmente sobre:
[...]
XI - criação, estruturação e atribuições dos Ministérios e
órgãos da administração pública;
Art. 48. Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do
Presidente da República, não exigida esta para o especificado
nos arts. 49, 51 e 52, dispor sobre todas as matérias de
competência da União, especialmente sobre:
[...]
XI - criação e extinção de Ministérios e órgãos da
administração pública;
Alteração: retirada, da proteção da reserva legal, das
expressões ―estruturação‖ e ―atribuições‖.
Conclusão da equipe: a retirada da expressão ―atribuições‖
decorre de sua desnecessidade, posto que, como visto no item
5, não há sentido na criação de órgão ou Ministério sem que se
lhe atribua um feixe mínimo de competências; já a retirada da
expressão ―estruturação‖ possui dois significados: (a) o de que
igualmente é ínsita à idéia de criação de um órgão uma
estruturação mínima; e (b) o de que as minúcias do processo
de estruturação da Administração pública federal está a cargo
do decreto do art. 84, VI, ―a‖, da CF/88.
Art. 61, § 1º, II, “e”
§1º. São de iniciativa privativa do Presidente da
República as leis que: [...]II - disponham sobre:
[...]
e) criação, estruturação e atribuições dos Ministérios e
órgãos da administração pública;
§1º. São de iniciativa privativa do Presidente da República as
leis que: [...]II - disponham sobre:
[...]
e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração
pública, observado o disposto no art. 84, VI;
Alteração: retirada da iniciativa reservada do Presidente da
República da disciplina referente a ―atribuições‖ e
―estruturação‖ dos Ministérios.
Conclusão da equipe: vide conclusão do art. 48, XI; mais: a
menção ao art. 84, VI, ao final do incisivo, refere-se à
faculdade de que possui o Presidente de extinguir um cargo ou
uma função públicos quando vago.
Art. 84, VI, “a”
Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da
República:
[...]
VI - dispor sobre a organização e o funcionamento da
administração federal, na forma da lei;
Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:
[...]
VI - dispor, mediante decreto, sobre:
a) organização e funcionamento da administração federal,
quando não implicar aumento de despesa nem criação ou
extinção de órgãos públicos;
b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos;
Alteração: exclusão da referência à lei (na forma da lei),
inclusão da limitação da não implicação em aumento de
despesa ou criação ou extinção de órgãos públicos e a inclusão
da faculdade de extinção de funções ou cargos públicos, desde
que vagos.
Conclusão da equipe: surgimento de um decreto de
organização de relativa autonomia frente à lei; surgimento, no
ordenamento jurídico brasileiro de um âmbito reservado ao
decreto (reserva de decreto) com duas conseqüências práticas:
(a) recepção de eventuais leis que disciplinavam a estruturação
completa ou o funcionamento de órgão da Administração
pública federal com natureza jurídica de decreto; (b)
inconstitucionalidade formal de lei que, posteriormente à EC
nº. 32/2001 desça a minúcias na regulação da estruturação ou
funcionamento da Administração.
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Podemos dizer que com o advento da EC nº. 32/2001 o Brasil passou a conhecer um
modelo de relativa autonomia do Executivo na disciplina de sua organização. Esse modelo,
porém, situa-se entre outros dois: (a) um modelo como o anterior, em que a vinculação à lei era
plena, reduzindo significativamente a autonomia do Chefe da Administração pública federal; e
(b) um modelo como o do direito português, no qual a Constituição determina ser ―da exclusiva
competência legislativa do Governo a matéria respeitante à sua própria organização e
funcionamento‖ (art. 198, item 2, da Constituição Portuguesa de 1976).
Nosso modelo é um modelo intermediário, mas que se fôssemos apresentar graficamente
em uma linha estaria muito mais próximo do modelo de vinculação à lei (vimos, nas páginas
acima, como o regime anterior à EC nº. 32/2001, na essência, permitia boa margem de atuação
com fulcro no art. 84, VI, da CF) do que propriamente perto de um modelo como o português
(ou mesmo o francês).
Na essência, a forma como o modelo brasileiro está organizado causa, em certas
hipóteses, alguma estranheza. Por exemplo, se a Lei cria um Ministério deve, como vimos,
atribuir-lhe um catálogo de competências. Contudo, nada impede, é a posição da doutrina e o
que vem se desenhando na jurisprudência do STF, que via decreto de organização, fundado no
art. 84, VI, ―a‖, da CF/88, venha o Presidente da República transferir uma dessas competências
para outro Ministério. O ideal, cremos, seria uma nova reforma constitucional a exemplo do que
ocorreu quando da EC nº. 32/2001 que definisse, de uma vez por todas, os limites de atuação do
Executivo em matéria interna corporis. E nesse caso, parece-nos o modelo português muito
mais apropriado do que o nosso. Isso, porém, é assunto para outra pesquisa.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 11. ed. rev. e atual. São
Paulo: Malheiros, 1999.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
______. Curso de direito administrativo. 22. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2006.
MELLO, Oswaldo Aranha Bandeira de. Princípios gerais de direito administrativo. Vol. I.
(introdução) 3. ed. São Paulo: Malheiros, 2007.
MELLO, Vanessa Vieira de. Regime jurídico da competência regulamentar. São Paulo:
Dialética, 2001.
RIVERO, Jean. Curso de direito administrativo comparado. Trad. J. Cretella Jr. 2. ed. São
Paulo: RT, 2004.
SILVA, José Afonso da. Comentário contextual à Constituição. 4. ed. São Paulo: Malheiros,
2007.
______. Curso de direito constitucional positivo. 18. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros,
2000.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA / SECRETARIA DE ASSUNTOS LEGISLATIVOS
PROJETO PENSANDO O DIREITO
TEMA: VÍCIO DE INICIATIVA E SEPARAÇÃO DE PODERES
ANEXO V:
CONSULTAS RESPONDIDAS
Florianópolis, 31 de dezembro de 2008
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
CONSULTAS RESPONDIDAS
1. SISTEMÁTICA DEFINIDA PELA EQUIPE
Foi designado como intermediador da equipe, perante a SAL/MJ, em relação à
formulação das consultas, o pesquisador Luiz Magno P. Bastos Jr.
A sistemática interna definida pela equipe para atender às demandas formuladas pela
SAL/MJ foi a seguinte:
i. O pesquisador responsável irá sistematizar as questões-chave que o problema proposto
exige sejam respondidas;
ii. Distribuir as tarefas de pesquisa dentre os integrantes da equipe, de acordo com suas
expertises;
iii. Sistematizar as respostas e submetê-las, por meio digital, antes da remessa à
SAL/MJ, aos coordenadores de cada núcleo montado.
2. CONSULTAS RESPONDIDAS
Consulta n. 01/08: Projeto de Lei n. 160/2003 submetido à sanção presidencial (Parecer
01/08)
Consulta informal s/n: Possibilidade de alienação de bens da União, pelo Congresso
Nacional, sem iniciativa legislativa do Presidente da República.
Parecer s/n sobre a Lei de Anistia : Responsabilização pela prática de tortura
Consulta n. 02/08: Projeto de Lei n. 284/2007 sobre a Turma Nacional de
Uniformização dos Juizados Especiais Federais
Consulta n. 03/08: Projeto de Lei n. 187, de 2007, do Senado Federal, que «Permite a
convocação de plebiscito e referendo, mediante decreto legislativo, a partir de proposta
originária de iniciativa popular.» (Parecer 03/08)
Consulta n. 04/08: Projeto de Lei n. 4.497, de 2007, da Câmara dos Deputados, que
pretende regulamentar o direito de greve dos servidores públicos federais.
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2.1 CONSULTA N.1/008 – Equipe UFSC (Vício de Iniciativa)
Questão formulada
O MJ/SAL requer que a equipe se manifeste sobre eventuais vícios no Projeto de Lei n.
160/2003 que, aprovado pelo Congresso Nacional, foi encaminhado para sanção presidencial.
Trata o referido projeto de alteração na Lei n. 8.935/94 e dispõe sobre
―sobre outorga da delegação para o exercício de atividade notarial ou de
registro, criação, alteração, extinção e concurso público de provimento
da delegação das respectivas serventias, e disciplinando a designação de
interventores e de responsável pelo expediente‖.
O referido diploma promove três alterações substanciais:
Reconhece que a outorga de serventia consiste em ato privativo do Chefe do Poder
Executivo estadual
Exige que a criação, extinção e re-organização das serventias depende de lei.
Determina regras para designação de interventores e substitutos nos cargos vacantes.
O CNJ manifesta-se, em nota técnica, pelo veto presidencial a este projeto de lei, por entender
haver vício de inconstitucionalidade e por flagrante ofensa ao interesse público.
A fim de orientar o trabalho da equipe, podem ser formuladas as seguintes questões:
1. A matéria suscita o debate em torno da ocorrência de vício de iniciativa?
2. A União seria competente para legislar sobre a titularidade do poder de outorga das
serventias?
3. Seria constitucional/conveniente sujeitar a criação, extinção e re-organização das
serventias à reserva legal?
Questões relacionadas:
a) Debate histórico sobre a titularidade do serviço.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
O art. 2o. original da Lei 8.935/94 foi vetado pela Presidencia. O dispositivo conferia a
titularidade ao Poder Judiciário. Apesar do veto, as outorgas vêm sendo concedidas pelo Poder
Judiciário estadual. E os atos de criação, extinção e re-organização vêm sendo disciplinados
através de atos regimentais do P.Judiciário.
b) Não há clareza conceitual e jurisprudencial sobre a natureza do serviço notarial e da extensão
do regime de direito público que atinge este serviço delegado.
Ocupam os titulares das serventias cargos públicos ou funções? A definição sobre esta
questão marca a definição do regime aplicável ao provimento e criação/extinção das
serventias.
As serventias prestam serviços auxiliares ao Judiciário, como quer fazer crer o CNJ?
b) Qual é o grau de autonomia que pode ser deferido aos Estados-membro? Quais os limites à
fixação das normas gerais a que alude o art. 236, parág. 1o. da CF?
2.2 CONSULTA N.2/008
I. Consulta formulada
Conforme adiantado na sexta-feira (17/10), por telefone, a consulta diz respeito ao
Projeto de Lei n° 284, de 2007, de iniciativa do STJ, que dispõe sobre a composição e
a competência do Conselho da Justiça Federal.
O parágrafo único do artigo 8.º do texto original dispunha que ―A composição e o
funcionamento da Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais
serão disciplinados por regimento próprio aprovado pelo Conselho da Justiça Federal.
O projeto, ao passar pela CCJ, incorporou substitutivo que transformou o artigo 8.º em
9.º, o parágrafo único do artigo 8.º em §2.º do artigo 9.º (suprimiu a expressão
―composição e o‖, e incluiu o §1.º ao mesmo dispositivo, que estabelece que
―Compõem a Turma Nacional de Uniformização: I – o Corregedor-geral da Justiça
Federal; II – 2 (dois) juízes federais por região, escolhidos pelo respectivo Tribunal
Regional Federal dentre os titulares em exercício em Juizados Especiais Federais.‖
Diante disso perguntamos:
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
1 – Considerando o disposto no artigo 96, II, ―d‖ da CF, o STJ tem competência para
propor projeto de lei que estabeleça regras de formação da Turma Nacional de
Uniformização?
2 - Caso se constate vício de iniciativa, o substitutivo apresentado na CCJ tem o
condão de sanar o referido vício?
3 – A regra do artigo 9.º do projeto de lei afronta o que dispõe o artigo 14, § 2º da Lei
n° 10.259/2001? Sua edição revoga tacitamente o que dispõe o §2.º do artigo 14 da Lei
n° 10.259/2001?
4 – A iniciativa do STJ para a deflagração do processo legislativo poderia encontrar
respaldo no artigo 96, I, ―a‖, da CF?
(E-mail enviado em 20/10/2008, às 10h40)
II. Respostas
1. Sim. A equipe acredita que a formulação de regras sobre a composição da TNU-JEFs
pode ser considerada como “alteração da organização” judiciária (96, II, d), portanto,
pode ser incluída no âmbito da reserva de iniciativa do Superior Tribunal de Justiça.
Desde a redação originária da CF, o Conselho da Justiça Federal sempre foi elencado como
órgão que deve funcionar "junto ao STJ". Portanto, é órgão administrativo vinculado ao STJ e
possui, por expressa disposição legal (art. 5º. Inc. X, da Lei n. 8.472/92164
) capacidade de auto-
organização.
A Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Federais (TNU-JEFs) foi prevista pelo
art. 14 da Lei n. 10.259/01
o Art. 14, §2º - TNU – composição (―juízes das Turmas Recursais‖) e âmbito de
organização (―sob presidência do Coordenador da Justiça Federal‖).
164 “Art. 5º. Ao Conselho da Justiça Federal compete: (...) X - elaborar seu Regimento Interno e submetê-lo à aprovação do Superior Tribunal de Justiça”.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
o Art. 14, §10 – remete ao STJ a atribuição de expedir, no âmbito de sua competência,
―normas regulamentando a composição dos órgãos e os procedimentos a serem adotados para o
processamento e julgamento do pedido de uniformização (...)‖
o Conclusão parcial: a composição do TNU, por determinação da legislação que o criou,
não está sujeita à reserva legal em sentido estrito (lei em sentido formal).
Não há norma específica do STJ, mas sim do próprio Conselho de Justiça Federal, que
disciplina o funcionamento do TNU-JEFs.
o Disposições revogadas: Res. n. 251/01 (18.12.2001); n. 273/02 (27.8.2002); n. 330/03
(5.9.2003); n. 390/04 (17.9.2004).
o Resolução em vigor: Res. n. 22/08-CJF (4.9.2008)
Art. 1º A Turma de Uniformização, em âmbito nacional, é presidida pelo Ministro
Coordenador-Geral da Justiça Federal, compõe-se de dez juízes federais como
membros efetivos e tem a designação de Turma Nacional de Uniformização de
Jurisprudência dos Juizados Especiais Federais.
§ 1º A Turma Nacional de Uniformização - TNU, com sede na Capital Federal,
funciona em plenário junto ao Conselho da Justiça Federal, onde ocorrem as sessões de
julgamento, podendo realizá-las fora da sede, conforme a necessidade ou conveniência.
§ 2º Os membros efetivos são indicados pelos Tribunais Regionais Federais, sendo
dois juízes federais de cada Região, escolhidos dentre os integrantes de Turmas
Recursais, com mandato de dois anos, vedada a recondução.
§ 3º Os membros suplentes são indicados pelos Tribunais Regionais Federais, sendo
dois juízes federais de cada Região, escolhidos de acordo com o critério do parágrafo
anterior, e serão convocados na ordem de antigüidade na carreira.
§ 4º Os juízes terão assento segundo a ordem de antigüidade na Turma e
subsidiariamente na carreira.
III. Conclusões
O Conselho da Justiça Federal é órgão integrante do Superior Tribunal de Justiça. Por sua
vez, a Turma Nacional de Uniformização de Jurisprudência do JEF‘s é órgão do Conselho da
Justiça Federal. Logo, trata-se de organização judiciária no âmbito do próprio STJ.
O STJ pode incluir no PL n. 284/2007 norma relativa à composição do TNU-JEF‘s (Talvez
seja possível falar, inclusive, em competência reservada do STJ).
A proposta original do STJ, inclusive, mantinha ―quase‖ incólume o regime legal definido
pela Lei n. 10.251/01, exceto por:
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
o Remeter a regulamentação sobre a composição e funcionamento da TNU ao Conselho da
Justiça Federal (art. 8º, parágrafo único). Há aqui uma delegação direta ao próprio CJF enquanto
a redação do art. 14, § 10 confere a faculdade de regulamentação ao STJ.
o Silenciar quanto à previsão de um requisito mínimo para a composição do TNU, enquanto
o regime anterior exigia ―nomeação dentre os juízes integrantes das Turmas Regionais‖ (art. 14,
§2º). Caso fosse mantida a redação, restaria aqui a dúvida quanto a revogação tácita, ou não, da
regra prevista no regime anterior.
2. Caso a resposta anterior fosse Não, ainda assim a equipe entende que o “vício” teria
sido sanado pela Emenda Parlamentar no Congresso.
A nossa constituição estabelece como regra geral a iniciativa legislativa concorrente aos
órgãos constitucionais, ou seja, no silêncio constitucional, qualquer um dos legitimados pode
iniciar o projeto de lei.
Mesmo que considerássemos que o STJ não possui legitimidade para incluir dispositivo no
PL n. 284/07 relacionado à composição da TNU-JEFs (por se tratar de norma de direito
processual civil, e.g.), não há nenhuma norma constitucional que grave esta matéria como de
iniciativa reservada de outro órgão constitucional. Ante o silêncio constitucional, vige a regra
geral de iniciativa. Portanto, qualquer parlamentar ou comissão poderia incluir emenda sobre a
temática, desde que demonstrada a relação de pertinência temática com o Projeto de Lei
proposto.
Sendo a TNU-JEF‘s órgão ligado ao CJF e versando o referido Projeto de Lei do STJ sobre
―composição e competência do Conselho da Justiça Federal‖, a equipe entende que se encontra
perfeitamente demonstrada a relação de pertinência temática entre a emenda parlamentar e o
projeto.
3. Sim. Se o projeto de Lei n. 284/07 for sancionado ele importará na revogação tácita
parcial do art. 14, §2º.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Art. 14, §2º da Lei n. 10.259/01: ―O pedido fundado em divergência (...) será julgado por
Turma de Uniformização, integrada por juízes de Turmas Recursais, sob a presidência do
Coordenador da Justiça Federal‖.
o Res. N. 22/08- Art. 1. § 2º Os membros efetivos são indicados pelos Tribunais Regionais
Federais, sendo dois juízes federais de cada Região, escolhidos dentre os integrantes de Turmas
Recursais, com mandato de dois anos, vedada a recondução.
Art. 9, §1º do Projeto de Lei n. 284/07: ―§ 1º Compõem a Turma Nacional de
Uniformização: I – o Corregedor-Geral da Justiça Federal; II – 2 (dois) juízes federais por
região, escolhidos pelo respectivo Tribunal Regional Federal dentre os titulares em exercício
em Juizados Especiais Federais‖.
O novo projeto de lei promove as seguintes alterações:
o Deixa de ser necessária a nomeação de juízes que estejam oficiando perante as Turmas
Recursais Regionais (basta que atuem como titulares de Juizados Especiais).
o Sujeita o número de representantes e a representação regional à reserva legal (em sentido
estrito).
o A substituição da figura do Coordenador-Geral da Justiça Federal, pela de Corregedor-
Geral da Justiça Federal.
4. Não. O art. 96, I, a da CF trata de atribuições privativas do Poder Judiciário
decorrentes de sua autonomia administrativa e de sua capacidade de auto-organização.
A constituição confere aos órgãos a chamada autonomia constitucional, ou seja, a
autonomia administrativa e capacidade de auto-organização a ser exercitada com base nos
limites fixados diretamente pelo próprio texto constitucional.
Portanto, o art. 96, I, a da CF autoriza os tribunais a expedirem atos normativos sem
necessidade de interposição legislativa (em sentido estrito).
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
2.3 CONSULTA N.3/008 – Equipe UFSC (Vício de Iniciativa)
I. CONSULTA FORMULADA
Trata-se de consulta no âmbito do projeto ―Pensando o Direito‖ relativa ao PL nº 187, de
2007, de autoria do Senador Sibá Machado, que altera os arts. 3º e 13 da Lei nº 9.709, de 18 de
novembro de 1998.
A consulta refere-se a dois pontos: (a) problema de iniciativa, e (b) compatibilidade
global do projeto de lei.
A íntegra da proposta, com a justificativa, é a seguinte:
PROJETO DE LEI DO SENADO N º 187, DE 2007
Permite a convocação de plebiscito e referendo, mediante decreto legislativo, a partir
de proposta originária de iniciativa popular.
O CONGRESSO NACIONAL decreta:
Art. 1º Os arts. 3º e 13 da Lei nº 9.709, de 18 de novembro de 1998, passam a vigorar
com a seguinte redação:
―Art. 3º Nas questões de relevância nacional, de competência do Poder legislativo ou
do Poder Executivo, e no caso do § 3º do art.18 da Constituição Federal, o plebiscito e
o referendo são convocados mediante decreto legislativo, por proposta de um terço, no
mínimo, dos membros que compõem qualquer das Casas do Congresso Nacional, de
conformidade com esta Lei, ou por proposta originária de iniciativa popular, nos
termos do art. 13 da presente Lei. (NR)
...............................................................................................
Art. 13 A iniciativa popular consiste na apresentação de projeto de lei ou, nos casos
previstos no art. 3º desta Lei, de decreto legislativo à Câmara dos Deputados, subscrito
por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco
Estados, com não menos que três décimos por cento dos eleitores de cada um deles.
(NR)‖
Art. 2 º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
JUSTIFICAÇÃO
O presente Projeto de Lei, originalmente apresentado pela Senadora Marina Silva, tem
por objetivo tornar possível a apresentação de proposta de convocação de plebiscito e
referendo de origem em iniciativa popular. Hoje, a convocação de plebiscito e
referendo é atribuição privativa do Congresso Nacional, efetuada por meio de decreto
legislativo. A proposta de decreto deve ser subscrita por pelo menos um terço dos
membros de qualquer uma das Casas do Congresso Nacional. Na forma do projeto ora
apresentado, poderiam também ser apreciadas pelo Congresso propostas subscritas
pelos eleitores, nas condições previstas na Constituição para a iniciativa popular: um
por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não
menos de três décimos por cento dos eleitores em cada um deles.
Trata-se, portanto, de abrir à iniciativa popular, hoje restrita à apresentação de projetos
de lei, a apresentação de propostas de plebiscito e referendo. Nesse sentido, o projeto
se insere num processo maior, de alcance global: acrescentar mecanismos de
democracia direta na democracia representativa.
A crise da representação atinge as democracias modernas e é objeto de discussão nos
meios políticos e acadêmicos de todas as nações democráticas. Essa se manifesta,
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
normalmente, no absenteísmo eleitoral ou, nos países em que o voto é obrigatório, nos
altos percentuais de votos brancos e, principalmente, nulos. A política institucional
parece afastar-se da vida, do cotidiano e das preocupações dos cidadãos. No limite, a
persistir essa tendência, a democracia se tornará um conjunto de regras procedimentais
vazias de significado para aqueles que deveriam ser os verdadeiros detentores do
poder: os eleitores.
As propostas de soluções são numerosas. A agenda do debate contempla o uso maior
de plebiscitos e referendos, a adoção de novas formas de votação que o avanço
tecnológico possibilita, mudanças profundas na relação entre representantes e
representados, e, até mesmo, o fim do monopólio dos partidos sobre a representação,
mediante a permissão de inscrição de candidaturas sem partido.
Outro não é o sentido do presente projeto: permitir que o eleitor comum leve
diretamente à apreciação do Congresso Nacional propostas de plebiscito e referendo.
No que diz respeito à constitucionalidade da proposta, é preciso lembrar que não está
em jogo o art. 49, XV, da Constituição. Embora a iniciativa popular possa apresentar as
propostas, continuam a ser atribuições exclusivas do Congresso Nacional a autorização
de referendo e a convocação de plebiscito.
Essas as razões que me levam a solicitar o apoio de meus ilustres pares para o presente
projeto de lei.
Sala das Sessões, em 11 de abril de 2007.
Senador SIBÁ MACHADO
II. RESPOSTAS
II.1 Vício de Iniciativa
Inicialmente, com relação a eventual vício de iniciativa cabe esclarecer ser de
competência dos parlamentares toda e qualquer matéria que não tenha sido reservada à
iniciativa do Chefe do Poder Executivo (§ 1º, art. 61, CF/88) ou à iniciativa do Supremo
Tribunal Federal, dos Tribunais Superiores ou do Procurador-Geral da República.
Nesse sentido, referido projeto não sofre de qualquer vício formal de iniciativa. Como
não poderia deixar de ocorrer em uma democracia constitucional, especificamente no que
concerne a direito eleitoral, cidadania e direitos políticos a competência do Congresso Nacional
é plena.
II.2 Compatibilidade global do projeto
Ainda que a temática de fundo do projeto não se refira àquilo que é a essência do
trabalho desse grupo de pesquisa, a equipe, feita essa ressalva, julgou possível fornecer alguns
elementos para a discussão sobre a compatibilidade global do projeto.
Inicialmente, cabe trazer à baila alguns dispositivos constitucionais importantes à discussão:
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
o art. 14, III, da CF/88 estabelece como canal de exercício da soberania popular a
―iniciativa popular‖;
contudo, no mesmo artigo 14, incisos I e II, a Constituição estabelece como
mecanismos de exercício da soberania popular o ―plebiscito‖ (inc. I) e o
―referendo‖ (inc. II);
já o art. 61, §2º, da CF/88 dispõe que: ―A iniciativa popular pode ser exercida
pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no
mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco
Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um
deles.‖;
por fim, há de se destacar que o art. 49 do Texto Constitucional resguarda à
competência exclusiva do Congresso Nacional os atos de ―autorizar referendo e
convocar plebiscito‖ (inc. XV).
Dispositivos arrolados, passemos à análise do mérito da proposta.
De início, cumpre destacar que quando a Constituição estabelece os termos de exercício
da ―iniciativa popular‖ há menção a ―projeto de lei‖, ao mesmo tempo em que se fixa o início
do trâmite na ―Câmara dos Deputados‖, o que deixa claro que, no §2º do art. 61 do Texto
Constitucional não está incluída a possibilidade de iniciativa popular de decreto legislativo.
Tal dispositivo, porém, não é óbice à proposta que ora que se discute; e isso por uma
razão muito simples: a Constituição não limita à iniciativa popular somente à hipótese do §2º do
art. 61. E nesse aspecto, vige com intensidade o princípio interpretativo segundo o qual não
pode haver interpretação restritiva em matérias de direitos fundamentais (e os direitos políticos,
à evidência, encontram-se dentre eles) onde o Texto Constitucional não expressamente o faz.
Em um segundo momento, parece óbice à proposta aqui analisada a inclusão, pela
Constituição Federal, dentre as matérias de competência exclusiva do Congresso Nacional, da
prerrogativa para ―autorizar referendo e convocar plebiscito‖. Contudo, a competência
constitucional está limitada à capacidade para ―autorizar‖ ou ―convocar‖, quando provocado, o
exercício das prerrogativas da soberania popular. Com efeito, somente o verbo autorizar aparece
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
em mais três incisos do art. 49 do Texto Constitucional, não sendo defensável que a provocação
tendente à autorização devesse, em todos os casos, partir internamente do próprio Congresso
Nacional. E como bem ressaltou o Senador Sibá Machado quando da justificativa da proposta:
No que diz respeito à constitucionalidade da proposta, é preciso lembrar que não está
em jogo o art. 49, XV, da Constituição. Embora a iniciativa popular possa apresentar as
propostas, continuam a ser atribuições exclusivas do Congresso Nacional a autorização
de referendo e a convocação de plebiscito.
De fato, não houve preocupação constitucional no que se refere à provocação do
Congresso Nacional; a exclusividade cinge-se à autorização ou convocação, a partir de uma
análise de conveniência e oportunidade, de realização de referendo ou de plebiscito,
respectivamente.
Vencidos os dois óbices constitucionais que poderiam ser opostos ao Projeto de Lei nº
187, de 2007, no que concerne ao mérito da proposta, a equipe de pesquisa entende que em uma
democracia constitucional deve haver uma preocupação constante com a ampliação dos canais
de participação popular direta na gestão da polis. E parece ser essa a intenção do Texto
Constitucional de 1988, que além de alicerçar o Estado brasileiro na idéia de cidadania e no
pluralismo políticos, ainda mantém firmemente sob a guarda popular, a fonte de todo o poder
estatal. Nesse sentido, lapidar a afirmação do Senador Sibá Machado, segundo o qual não é
outro o objetivo da proposta se não o de ―acrescentar mecanismos de democracia direta na
democracia representativa‖.
III. CONCLUSÃO
Considerando o acima exposto, conclui a equipe de pesquisa que o Projeto de Lei do
Senado Federal de nº. 187, do ano de 2007:
III. 1) não sofre de vício de iniciativa; bem como
III.2) não apresenta qualquer incompatibilidade de fundo com o Texto Constitucional de 1988,
ficando a cargo do Congresso Nacional, dentro de sua prerrogativa mor, decidir sobre: (a) a
aceitação da proposta de iniciativa popular em matéria de referendo e plebiscito; e (b) em
havendo aceitação, em quais termos dar-se-á o exercício de tal competência popular.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
2.4 PARECER SOBRE ANISTIA
Relatório do Grupo Pensando o Direito/Equipe UFSC.
Por ocasião da retomada das discussões em torno da punição de envolvidos com crimes
de tortura no período do governo militar, e se este tipo de prática estaria contemplada pela lei de
anistia sob o rótulo de crime político e, portanto, não sendo passível de punição, foi deflagrado
um processo de consulta pelos coordenadores do projeto Pensando o Direito aos grupos nele
envolvidos para que se posicionassem e que fornecessem subsídios sobre a temática que tem
causado dissídios no governo e em toda sociedade brasileira.
Para enfrentar essa questão, o grupo da UFSC manteve discussões em torno do tema. A
metodologia utilizada valeu-se num primeiro momento da escuta de todos os membros, de onde
se pôde perceber que seria impossível unificar seus componentes em torno de um único
posicionamento, uma vez que se pretendeu evitar o maniqueísmo de que somos contra ou a
favor do julgamento dos militares que praticaram atos de tortura durante o Estado de Exceção.
Se, por um lado, a sociedade se sente desconfortável em relação ao seu passado e
pretende por isso remexê-lo para enterrá-lo de vez, por outro, é preciso ter em mente que
estamos sob a vigência de uma ordem constitucional com princípios e valores que devem não
somente ser conservados, mas, sobretudo, defendidos e legados a gerações futuras. Portanto, a
abordagem do tema implica considerar paralelamente se esse tipo de crime pode ser
simplesmente esquecido ou, caso isso não seja possível, quais seriam as conseqüências jurídicas
e políticas de um julgamento tardio.
Considerando que:
a) a tortura é uma prática repudiada por toda ordem jurídica internacional;
b) a tortura não é um crime político e, portanto, não contemplado pela lei de anistia;
c) o governo brasileiro reconhece ter havido práticas de tortura no regime militar,
A equipe da UFSC decidiu centrar-se unicamente na seguinte questão: devem ou não os
militares ser julgados pela prática de tortura durante o regime de exceção? Tal pergunta enseja
vários desdobramentos, tais como: se havia ou não tipificação deste crime à época da ditadura;
se os tratados internacionais ratificados pelo Brasil muito antes desse período haviam ou não
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
sido incorporados e com que status pelo ordenamento jurídico; e, ainda, se os crimes cometidos
à época são ou não imprescritíveis.
Por conta da amplitude do debate que foi travado, apareceu uma pluralidade de opiniões
que deram ensejo a respostas teóricas, políticas e jurídicas. A tônica que norteou as discussões,
pese as discrepâncias, foi que tanto o ponto de partida, quanto o ponto de chegada deveria ser
em que medida o julgamento dos militares neste momento colaboraria para a consolidação da
democracia e do estado de direito. Argumentos favoráveis ou contrários ao tema que
colocassem em cheque ou comprometessem a democracia como valor máximo a ser preservado
foram descartados de plano.
A Lei nº 6.683/1979 que disciplina sobre a concessão de anistia assim dispõe:
Art. 1º É concedida anistia a todos quantos, no período compreendido entre 02 de
setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979, cometeram crimes políticos ou conexo com
estes, crimes eleitorais, aos que tiveram seus direitos políticos suspensos e aos
servidores da Administração Direta e Indireta, de fundações vinculadas ao poder
público, aos Servidores dos Poderes Legislativo e Judiciário, aos Militares e aos
dirigentes e representantes sindicais, punidos com fundamento em Atos Institucionais e
Complementares (vetado).
Com base nesse dispositivo, seria possível isentar os militares que cometeram tortura de
responsabilidade penal?
SIM. A Lei da Anistia (Lei nº 6683/79) abarca condutas praticadas entre ―2 de setembro de
1961 e 15 de agosto de 1979‖. As condutas praticadas nos famigerados ―porões da ditadura‖
podem configurar vários delitos, sendo o mais grave o homicídio (art. 121 do CP), crime que
prescreve em 20 anos. Ou seja, os crimes praticados em 15 de agosto de 1979, pelo que diz o
ordenamento interno, prescreveram em 14 de agosto de 1999.
Internamente, ou melhor, constitucionalmente, somente são imprescritíveis ―a prática do
racismo‖ (art. 5, XLII) e a ―ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem
constitucional e o Estado Democrático‖ (art. 5, XLIV). Deve-se ressaltar, porém, que essa
imprescritibilidade prevista na Constituição somente abarca condutas praticadas a partir de 05
de outubro de 1988, pois a lei penal mais grave jamais retroage. Importante, ainda, consignar
que a tese segundo a qual os crimes contra a humanidade (tipificados no Estatuto de Roma) são
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
imprescritíveis não pode ser aplicada internamente em nosso país. A cláusula de abertura
prevista no art. 5º, parágrafo 2º, da CF/88, bem como o disposto nos parágrafos 3º e 4º do
mesmo documento somente podem atuar em favor do acusado, jamais contra seus interesses.
Assim, em que pese a relevância histórica e moral de se discutir se os comandantes das forças
armadas que cometeram crimes durante a ditadura militar brasileira foram ou não anistiados
pela ―lei da Anistia‖, a discussão carece de ―interesse prático‖ no que se refere à possibilidade
(ou não) de responsabilização criminal desses agentes estatais, posto que inegavelmente
qualquer crime praticado durante o período em discussão encontra-se prescrito.
Por fim, a título de complementação, no que se refere ao Estatuto de Roma, que tipifica
perfeitamente condutas perpetradas durante aquele período histórico, é claro que estabelecer em
seu art. 24, item 1, que ―Nenhuma pessoa será considerada criminalmente responsável, de
acordo com o presente Estatuto‖.
NÃO, não é possível isentar os militares da sua responsabilidade pela prática de tortura
durante o regime de exceção praticado no Brasil, pós-64.
Para justificar a impossibilidade de anistiar os militares que cometeram prática de tortura, faz-se
necessário partir de um pressuposto conceitual básico, qual seja como se define crime político
em um estado democrático. Mais: a partir da conceitualização obtida, é possível caracterizar a
tortura como crime político? Tal questionamento torna-se imperioso, pois caso a tortura não
possa ser tratada como crime político, logo os militares não podem ser enquadrados na lei de
anistia.
O art. 1º da Lei nº 6.683, de 28 de agosto de 1979, dispôs o seguinte:
Artigo 1º - É concedida anistia a todos quantos, no período compreendido entre 2 de
setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979, cometeram crimes políticos ou conexos com
estes, crimes eleitorais, aos que tiveram seus direitos políticos suspensos e aos
servidores da Administração Direta e Indireta, de Fundações vinculadas ao Poder
Público, aos servidores dos Poderes Legislativo e Judiciário, aos militares e aos
dirigentes e representantes sindicais, punidos com fundamento em Atos Institucionais e
Complementares (vetado). (grifamos)
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Para saber se pessoas que praticaram tortura contra opositores políticos durante a
ditadura foram beneficiados pela lei da anistia, é preciso definir o que o legislador quis dizer
com a expressão ―crimes políticos ou conexos com estes‖, pois foram esses os atos anistiados.
O crime político costuma ser definido com base na natureza do bem jurídico tutelado, de
modo que se diz político o crime que ameaça ou lesiona a estrutura política vigente.
Nesse sentido, a Comissão Jurídica Interamericana, na XI Conferência Interamericana,
propôs os seguintes critérios para a conceituação de crime político:
1) São delitos políticos as infrações contra a organização e o funcionamento do Estado;
2) São delitos políticos as infrações conexas com os mesmos. Existe conexidade
quando a infração se verificar: a) para executar ou favorecer o atentado configurado no
item 1; b) para obter a impunidade pelos delitos políticos;
3) Não são delitos políticos os crimes de barbaria, vandalismo e em geral todas as
infrações que excedam os limites lícitos do ataque e da defesa;
4) Não é considerado delito político, para efeito de extradição, o genocídio, de acordo
com a Convenção das Nações Unidas" (JSTF, Lex 206).‖165
Crime político, portanto, é aquele praticado contra o governo ou contra seus
representantes, com intuito político, ou seja, com intuito de enfraquecer ou desestabilizar o
sistema político vigente. Se crime político é aquele praticado contra o regime vigente, trata-se,
necessariamente, de ato praticado por opositor daqueles que detêm ou representam o
poder em determinado momento.
A própria lei de anistia, no § 2º do art. 1º, deixa claro que ela se destinava a beneficiar os
opositores do regime, quando dispõe que ―Excetuam-se dos benefícios da anistia os que foram
condenados pela prática de crimes de terrorismo, assalto, seqüestro e atentado pessoal‖. Esse
parágrafo excepcionava da anistia aqueles que, em suas ações contra o regime, praticassem atos
violentos. O terrorismo é, por definição, o ato de violência praticado contra o governo. Da
mesma forma, o seqüestro como instrumento de luta contra a autoridade governamental havia
sido utilizado entre setembro de 1969 e dezembro de 1970 por revolucionários brasileiros contra
diplomatas. Eram esses atos que o legislador tinha em vista quando aprovou a lei de anistia.
165
SILVESTRE, Ana Paula Scóz. A não-extradição devido à natureza política do delito. Neofito.com artigos.
Disponível em <http://www.neofito.com.br/artigos/art01/inter30.htm>. Acesso em 28 ago. 2008.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
A tortura era praticada pelos detentores do poder ou por seus representantes e, portanto,
não se enquadram, nem mesmo em tese, no conceito de crime político, pois não se tratavam de
atos praticados contra o governo ou contra os representantes do poder, mas, ao contrário,
tratava-se de atos praticados pelos representantes do poder contra os adversários políticos do
governo.
Não tem sequer respaldo lógico dizer que o parlamento pretendeu, em 1979 (ainda na
vigência do estado de exceção), editar uma lei concedendo anistia aos representantes do poder
que, em nome do governo, prendiam e torturavam os cidadãos contrários à política ditatorial
então vigente. Essa assertiva não tem respaldo lógico porque os representantes do poder não
precisavam ser anistiados, ou seja, não havia do que (ato) serem anistiados. Quem precisava ser
anistiado — e a eles o parlamento visou beneficiar — eram os cidadãos que estavam sendo
acusados e/ou punidos pela prática de crimes contra o governo (que se costumava chamar na
época de ―crimes contra o Estado‖). Os oposicionistas que se encontravam exilados, ou os que
ainda permaneciam no país, mas respondiam a processos criminais, muitos deles presos ou
privados de seus cargos públicos ou empregos em virtude da acusação da prática de ―crime
político‖, estes precisavam ser ―anistiados‖ para poderem retomar ou reiniciar sua vida no
Brasil.
Os representantes do governo, em todos os seus escalões, não precisavam ser
―anistiados‖ de nada, porque não estavam sendo processados, perseguidos, exilados. Ao
contrário, eles é que processavam, perseguiam, exilavam, instalados em cargos públicos,
recebendo seus salários sem atraso, espionando os cidadãos para descobrir quem eram os
possíveis opositores do regime que os sustentava, prendê-los, torturá-los e, às vezes, matá-los.
Não é plausível, portanto, sustentar que o parlamento teria editado, em 1979, uma lei de anistia
dirigida aos representantes do governo praticantes de tortura, pela simples razão de que não
estavam — como até hoje não estão — respondendo a nenhum processo ou denúncia de que
precisassem ser anistiados.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
2) Se a tortura não é um crime político, é um crime contra a humanidade? Qual a
diferença entre crime político e crime contra a humanidade?
Os crimes de lesa-humanidade são descritos nos tratados e convenções internacionais,
especialmente na (a) Convenção de Haia, promulgada em 02 de janeiro de 1914; (b) Estatuto do
Tribunal de Nuremberg (art. 6º c), promulgado em 21 de setembro de 1945; (c) Estatuto de
Roma, ratificado pelo Brasil em 24 de setembro de 2002; (d) Convenção Interamericana de
Direitos Humanos (jurisdição é reconhecida pelo Estado brasileiro); (e) Convenção sobre a
Imprescritibilidade dos Crimes de Guerra e dos Crimes Contra a Humanidade, de 26 de
novembro de 1968 (art. 1º 2); (f) Convenção contra a tortura e outros tratamentos ou penas
cruéis, desumanos ou degradantes, adotada pela Resolução 39/46, da Assembléia Geral das
Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1984.
Tomando a definição do Estatuto de Roma, entende-se ―crime contra a humanidade‖ aquele
ataque, generalizado ou sistemático, contra qualquer população civil em que haja
conhecimento, dentre outros, de (a) homicídio, (b) prisão ou outra forma de privação da
liberdade física grave, em violação das normas fundamentais de direito internacional, (c)
tortura, (d) agressão sexual, (e) perseguição de um grupo ou coletividade que possa ser
identificado, por motivos políticos, (f) desaparecimento forçado de pessoas. Deve-se ressaltar
que o crime de lesa-humanidade, por ser generalizado e/ou sistemático, pressupõe um mínimo
de institucionalização, de molde que fatos isolados e eventuais muito dificilmente se
enquadrariam neste tipo.
A definição de ―crime político‖ é bastante ampla e não necessariamente vincula-se ao Direito
Penal. De um lado, é possível percebê-lo como todo crime que lesiona ou ameace a estrutura
política vigente de um País; de outro, é todo crime com uma motivação desse caráter. O
problema desses conceitos é a ponderação sobre o caráter legítimo do direito da
resistência. No tocante à Lei da Anistia, uma corrente considera que o crime com motivação
política é aquele que o agente comete para atingir o Estado e não que o Estado pratica para
atingir o cidadão. Neste sentido, uma interpretação técnica poderia ser extraída no sentido de
que os crimes praticados na repressão à dissidência política (homicídio, seqüestro, tortura) não
são crimes políticos nem com motivação política, e sim crimes contra a humanidade que, por
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
sua natureza, são imprescritíveis. Nesse sentido, inclusive considerando os Tratados e
Convenções que o Brasil é signatário, os crimes praticados na repressão à dissidência política
são crimes contra a humanidade.
3) Acolhida a tese de que a tortura é crime contra a humanidade, é imprescindível analisar
a natureza da responsabilidade dos agentes que atuaram em nome do Estado - em alguns
casos ao arrepio da lei e em outros por ela sustentados -, bem como a responsabilidade do
Estado para com as vítimas e a sociedade brasileira.
A retomada da discussão não significa um não-esquecimento, mas a real possibilidade de
perdão. Segundo Hannah Arendt, ―os maiores malfeitores são aqueles que não se lembram
porque nunca pensaram na questão, e sem lembrança, nada consegue detê-los. Para os seres
humanos, pensar no passado significa mover-se na dimensão da profundidade, criando raízes e
assim estabilizando-se, para não serem varridos pelo que possa ocorrer – o Zeitgeist, a História
ou a simples tentação‖166
.
A chamada teoria do dente da engrenagem, ―cuja prerrogativa é que, como partes de um
determinado sistema, os indivíduos não agem isoladamente, ao contrário, agem apenas como
funcionários que representam um dente no conjunto da engrenagem, de modo a impossibilitar a
atribuição individual de culpabilidade e responsabilidade moral e legal‖167
deve ser respondida
com a mesma autora: a responsabilização dos agentes que cometeram tortura não pode ser
diluída na simples responsabilidade do Estado, pois esquecer que cada sujeito é responsável
pelas sua escolhas e seus atos seria assumir a trágica idéia para a democracia de que ―onde todos
são culpados, ninguém em última instância pode ser julgado‖.
Quando se esquece não se perdoa, simplesmente se ignora a responsabilidade do
torturador e a dor da vítima. O perdão, necessário em muitos casos, só pode acontecer
como evento político se a memória da barbárie e o sofrimento das vítimas são
rememorados como ato do presente. A anistia não pode ser esquecimento, ela poderá
vir a existir como ato político do perdão, porém e só uma vez que se restabeleça a
memória de todo o acontecido com as vítimas e as responsabilidades dos
torturadores168
.
166
ARENDT, Hannah. Responsabilidade e Julgamento. São Paulo: Companhia das Letras, 2004, p. 160. 167
Ibidem, p. 50. 168
RUIZ, Castor Bartolomé. Disponível em <http://www.unisinos .br/ihuonline/ index.php? option=com_
destaques_ semana&Itemid=24&task=detalhes&idnot=1222&idedit=6> Acesso em 29 de agosto de 2008.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA / SECRETARIA DE ASSUNTOS LEGISLATIVOS
PROJETO PENSANDO O DIREITO
TEMA: VÍCIO DE INICIATIVA E SEPARAÇÃO DE PODERES
ANEXO VI:
ANÁLISE DA MEMÓRIA LEGISLATIVA DAS PEC‟S QUE RESULTARAM NA
PUBLICAÇÃO DA EMENDA CONSTITUCIONAL N. 32/01:
AS ORIGENS DO DECRETO AUTÔNOMO
Núcleo UNIVALI
Florianópolis, 31 de agosto de 2008
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
ANÁLISE DA MEMÓRIA LEGISLATIVA DAS PEC‟S QUE RESULTARAM NA
PUBLICAÇÃO DA EMENDA CONSTITUCIONAL N. 32/01:
AS ORIGENS DO DECRETO AUTÔNOMO
1. INTRODUÇÃO
A Emenda Constitucional n. 32/01 que ficou conhecida como aquela que instituiu o
novo Regime das Medidas Provisórias, acabou por disciplinar outros elementos relacionados à
atividade legislativa do Poder Executivo, tendo alterado não somente os arts. 62, 57, § 8º e 246
(diretamente ligados à disciplina das medidas provisórias), mas também os seguintes
dispositivos constitucionais: art. 48 (competência do Congresso Nacional), art. 61, § 1º
(iniciativa privativa do Presidente da República), art. 64, § 2º (regime de urgência solicitado
pela Presidência), art. 66 (análise do veto presidencial), art. 84 (atribuições do Presidente da
República) e art. 88 (regulamentação dos Ministérios).
As alterações determinadas pelos arts. 48, 61, § 1º, 84 e 88 estão diretamente
relacionadas à criação dos chamados ―decretos autônomos‖, objeto específico da análise do
presente trabalho. Frise-se que a inclusão da regulamentação deste instituto não passou
desapercebida pelos parlamentares (especial destaque deve ser atribuída à denúncia do Sen.
Josapaht Marinho), todavia, se a doutrina aponta como tímido o poder de regulamentação
autônomo da Presidência da República (MELLO, 2007), se dependesse do Substitutivo do
Senador José Fogaça à PEC n. 1/95 (Emenda Substitutiva 3-Plen), chancelado em regime de
segunda votação pelo Pleno do Senado Federal, em 17 de abril de 1997, o leque de atribuições
delegadas pelo Congresso Nacional seria bem mais extenso.
A fim de sistematizar o estudo sobre a memória legislativa das origens do decreto
autônomo no direito brasileiro, o presente trabalho foi dividido da seguinte forma: (a)
apresentação de alguns aspectos concernentes à tramitação legislativa das proposições que
resultaram na Emenda Constitucional n. 32/01; (b) análise histórica da inclusão do instituto do
decreto autônomo; (c) análise sobre a supressão da expressão ―estruturação e atribuições dos
ministérios e órgãos da administração pública‖ do leque de matérias gravadas como de
iniciativa reservada da Presidência da República; (d) apresentação de um quadro comparativo
ilustrativo do debate legislativo; e, por fim, (e) algumas conclusões parciais da equipe serão
apresentadas.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
É importante destacar que este estudo pretende, tão-somente, descrever os debates e
promover uma recuperação histórica da discussão legislativa, a fim de subsidiar uma
interpretação histórica da EC n. 32/01, no que toca à criação do decreto autônomo. Não se
pretendeu nem analisar as discussões em torno da medida provisória em si, muito menos
analisar as forças políticas que concorreram para que os acordos entre a base governista e de
oposição (à época) fosse firmado.
2. DESCRIÇÃO DE ALGUNS ASPECTOS DA TRAMITAÇÃO LEGISLATIVA
A Emenda Constituição n. 32/01, formalmente, resultou da tramitação da Emenda
Constitucional n. 1/95, oriunda do Senado Federal, todavia mobilizou diferentes setores do
Congresso Nacional e reuniu inúmeras outras proposições tanto do Senado quanto da Câmara
dos Deputados. Através do quadro (transcrito a seguir) pretendeu-se sintetizar os estágios mais
significativos do processo legislativo da referida PEC.
Quadro-síntese da tramitação da PEC n. 1/95 (SF)
Senado Federal Câmara dos
Deputados
Senado Federal Câmara dos
Deputados
Senado
Federal
PECs apensadas:
01/95, 4/95, 11/95,
20/95, 65/95 e 7/97.
Comissão Especial:
Em. 1-Plen (Subst)
Sen
Josaphat Marinho
Pleno em 19.6.99
C.C.J.
Em. 2-Plen (Subst.)
Sen. José Fogaça
Parecer em 5.12.96
C.C.J. Parecer oral
Em. 3-Plen (Subst.)
Sen. José Fogaça
Pleno em 16.4.97
1ª. votação
Pleno em 23.4.97
2a. votação
Pleno em 14.5.97
PEC n. 472/97
Rec. em 15.5.97
CCJ(admissibilida
de)
Emenda supressiva
aos arts. 3 e 4
Parecer em
15.10.97
Recurso n. 213/97
Contra o parecer
Decisão Favorável
Pleno 28.1.98
Comissão Especial
Em.Apresentadas:
08
Apensamento da
PEC n. 1-B/95
(CD)
PEC 472-B
1ª. votação
Pleno em 20.5.99
2a. votação
Pleno em 27.5.99
PEC n. 1-A/97
Rec. em 2.6.99
CCJ(admissibilidade)
Sen
José Fogaça (rel)
Parecer 8788/99
Em. 1 - Plen (Subst)
Aprov. CCJ 3.11.99
1ª. votação
Pleno em 17.11.99
2a. votação
Pleno em 1.12.99
PEC n. 472-E/97
Rec. em 7.12.99
C.C.J. (admissibilid)
Parecer em 19.1.00
Comissão Especial:
Em. Apresentadas:
Subst.: 1 (472-C)
Aglutin.: 8 (472-D)
1ª. votação
Pleno em 21.6.01
PEC n. 472-F
2a. votação
Pleno em 2.8.01
PEC n. 1-B/95
Rec. em
3.8.2001
CCJ(admissibil
idade)
Parecer n.
729/01
1ª. votação
Pleno em
15.8.01
2a. votação
Pleno em
30.8.01
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Aspectos importantes a serem destacados:
O início da discussão sobre a limitação das medidas provisórias, na Câmara dos
Deputados, ocorreu quase que simultaneamente ao debate havido no Senado.
Curiosamente, a PEC na Câmara dos Deputados foi identificada com o mesmo
número daquela do Senado (PEC n. 1/95). Foi nomeada comissão especial que,
após intensos e acalorados debates, propôs uma Emenda Substitutiva n. 1-B/95.
Inúmeras PECs foram propostas com a simples finalidade de extinção das
medidas provisórias, ou ainda, com a alteração radical de sua feição
(transformação em autorização legislativa imediata, p.ex.)
A primeira vez em que aparece a proposta de instituição do decreto autônomo foi
com a Emenda Substitutiva n. 3-PLEN, de autoria do Sen. José Fogaça,
apresentada ao Pleno do Senado Federal em 16.4.97. A inclusão de tais regras se
deu através dos arts. 3º e 4º da referida Proposta, inclusão esta que foi duramente
combatida pelo Sen. Josaphat Marinho169
.
A PEC n. 1/95 (Emenda 3-PLEN), após ter sido aprovada pelo Senado com
algumas alterações, foi remetida à Câmara dos Deputados, tendo sido autuada
sob o número PEC n. 472/97.
A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, em 15.10.97,
por ocasião da manifestação pela admissibilidade da referida PEC, apresentou
uma Emenda Supressiva que pretendia a supressão dos mencionados artigos.
Não sem expressivas resistências, esta emenda foi derrubada pelo Pleno da
Câmara dos Deputados, em 28.1.98 (com base no Recurso n. 2137/97). Todavia,
a partir de uma atuação combativa do bloco de oposição, o leque de atribuições
inicialmente delegadas à Presidência foi vertiginosamente reduzido por ocasião
da elaboração da Emenda Substitutiva n. 472-B.
A PEC n. 472-B já apresentava, em grande parte, a atual configuração do regime
das medidas provisórias. Tanto é que as alterações subseqüentes (incorporadas
pelas Emendas Substitutivas PEC n. 1-A/95, do SF; e a PEC n. 472-E, da CD)
realizaram pequenos ajustes redacionais (que conferiram maior clareza e precisão
169 Cf. análise a ser desenvolvida no item 3 deste estudo.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
sobre o alcance da reforma) e, sobretudo, possibilitaram um trabalho cirúrgico de
pequenos ajustes que, a partir de concessões recíprocas, possibilitaram a costura
dos acordos que produziram tão significativo consenso nas Casas Legislativas.
No tocante ao decreto autônomo, alguns ajustes propostos por ocasião da
discussão na Câmara dos Deputados (debate em torno da PEC n. 472-D) foram
importantes para a ulterior elucidação sobre o objeto específico deste estudo170
,
tais emendas serão analisadas com mais detalhe adiante.
3. EVOLUÇÃO DA REGULAMENTAÇÃO DOS ASPECTOS RELACIONADOS AO
CHAMADO “DECRETO AUTÔNOMO”
O decreto autônomo no direito brasileiro foi instituído através da alteração dos seguintes
dispositivos constitucionais:
Redação Original da CF/88 Redação determinada pela EC n. 32/01
Art. 48.
X - criação, transformação e extinção de cargos,
empregos e funções públicas;
XI - criação, estruturação e atribuições dos
Ministérios e órgãos da administração pública;
Art. 48.
X - criação, transformação e extinção de cargos,
empregos e funções públicas, observado o que
estabelece o art. 84, VI, b;
XI - criação e extinção de Ministérios e órgãos da
administração pública;
Art. 84.
VI - dispor sobre a organização e o funcionamento da
administração federal, na forma da lei.
Art. 84.
VI - dispor, mediante decreto, sobre
a) organização e funcionamento da administração
federal, quando não implicar aumento de despesa nem
criação ou extinção de órgãos públicos;
b) extinção de funções ou cargos públicos, quando
vagos;
Art. 88. A lei disporá sobre a criação, estruturação e
atribuições dos Ministérios
Art. 88. A lei disporá sobre a criação e extinção de
Ministérios e órgãos da administração pública
170
Emenda 03 (PEC n. 472-D), Dep. Inocêncio Oliveira, que propôs alterações no art. 61 §1º, inc. II, alínea ―e‖;
e a Emenda 08 (PEC n. 472-D), Dep. Elton Rohnelt, que propôs alteração no art. 88 da CF.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
A primeira referência à competência do Congresso Nacional prevista no art. 48, inc. X e
XI, durante o processo de discussão sobre a limitação da edição das medidas provisórias,ocorreu
em sentido diametralmente oposto ao incorporado pela EC n. 32/01.
Ela surge com a proposta do Sen. Josaphat Marinho que, na qualidade de presidente da
Comissão Especial instituída para consolidar as PEC‘s sobre as medidas provisórias, apresentou
projeto de Emenda Substitutiva, com o escopo de subsidiar (e direcionar) os trabalhos da
referida comissão. Nesta proposta, a referência ao art. 48, incs. X e XI representava uma das
hipóteses de restrição à edição de medidas provisórias. Ou seja, curiosamente, a questão
concernente à competência para legislar sobre a Administração Pública federal não somente foi
mantida como atribuição do Congresso Nacional, como foi igualmente protegida contra erosão
decorrente da atuação da Presidência da República pelo expediente das medidas provisórias. O
texto do referido projeto, em relação a esta questão, encontrava-se assim redigido:
Art. 62. § 5º. Não serão objetivo da medida provisória as matérias:
III. enumeradas no art. 48, I, VIII, X, XI e XIII.
Todavia, por conta da objeção de alguns de seus membros, esta vedação foi
expressamente suprimida da Proposta aprovada pela Comissão, em 2.6.96, e encaminhada à
leitura do Pleno no Senado Federal.
A ausência de qualquer referência ao art. 48 manteve-se na Emenda Substitutiva (2-
PLEN) proposta pela Comissão de Constituição e Justiça, por ocasião da publicação do parecer
n. 66/97 (em 21.2.1997), em que seu Relator, Sen. José Fogaça, subscreve manifestação que
pugna pela admissibilidade da PEC e sua submissão à discussão e deliberação do Plenário.
Durante a sessão de 12.3.1997, o Plenário deliberou pelo adiamento da primeira votação
ao parecer da CCJ, com base no Requerimento n. 185/97, de autoria do Sen. José Roberto
Arruda (líder do governo). Foram, naquela oportunidade, alegadas duas razões: (a) a
possibilidade de convergência entre a PEC em discussão no Senado em relação ao debate
travado, sobre a mesma temática, na Câmara dos Deputados (José Roberto Arruda, PSDB, DSF,
13.3.97, fl. 05.549); (b) o Relator do Projeto, Sen. José Fogaça, noticia convite por parte da
Presidência República para reunião para discutir a temática (José Fogaça, DSF, 13.3.97, fl.
05.550), requerimento este que foi aceito pelo Plenário da Casa Legislativa.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Por ocasião da votação da PEC n. 1/95, em 16.4.97, o Sen. José Fogaça apresentou
Parecer oral através do qual submetia, em nome da CCJ, novo Substitutivo (Emenda
Substitutiva n. 3-PLEN), ocasião em que foram trazidas à tona inúmeras questões que, até o
momento, ainda não haviam sido objeto das Propostas discutidas, tanto na Comissão Especial
(Substituitivo 1-PLEN), quanto na própria CCJ (Substitutivo 2-PLEN).
Em relação à temática deste estudo, eram propostas as seguintes alterações:
CONSTITUIÇÃO FEDERAL / 88 PEC 1/95 (Emenda Substitutiva 3-PLEN)
Art. 48.
IV - planos e programas nacionais, regionais e setoriais
de desenvolvimento;
IX – organização administrativa, judiciária, do
Ministério Público e da Defensoria Pública da União e
dos Territórios e organização judiciária, do Ministério
Público e da Defensoria Pública do Distrito Federal;
X - criação, transformação e extinção de cargos,
empregos e funções públicas;
XI - criação, estruturação e atribuições dos Ministérios e
órgãos da administração pública;
Art. 48.
IV – revogado.
IX – organização judiciária e do Ministério Público da
União e do Distrito Federal;
X – criação de cargos, empregos e funções públicas;
XI – revogado
Art. 84.
XXV - prover e extinguir os cargos públicos federais, na
forma da lei;
XXVI - editar medidas provisórias com força de lei, nos
termos do art. 62;
XXVII - exercer outras atribuições previstas nesta
Constituição.
Art. 84.
XXV – prover os cargos públicos, na forma da lei;
XXVI – editar leis provisórias com eficácia imediata, nos
termos do art. 62
XXVII – dispor sobre:
a) planos e programas nacionais, regionais e setoriais de
desenvolvimento;
b) organização administrativa do Poder Executivo;
c) transformação e extinção de cargos, empregos ou
funções públicas;
d) criação, estruturação e atribuição dos Ministérios e
órgãos da administração pública.
XXVIII - exercer outras atribuições previstas nesta
Constituição.
Esta proposta foi submetida a inúmeros destaques, tendo sido, não sem algumas
objeções e pequenas alterações, aprovada em dois turnos de votação pelo Senado Federal.
PEC 1/95 (Emenda Substitutiva 3-PLEN) PEC 1/95 (Emenda Substitutiva 3-PLEN) – Final
Art. 48.
IV - revogado;
IX – organização judiciária e do Ministério Público da
União e do Distrito Federal;
Art. 48.
IV - planos e programas nacionais, regionais e setoriais de
desenvolvimento (mantida a redação da CF/88);
IX – organização judiciária e do Ministério Público da
União e do Distrito Federal;
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
X - criação, transformação e extinção de cargos,
empregos e funções públicas;
XI – revogado.
X – criação de cargos, empregos e funções públicas,
observado o que estabelece o art. 84, inciso XXVII, alínea
d.;
XI - criação, estruturação e atribuições dos Ministérios e
órgãos da administração pública (mantida/CF88);
Art. 84.
XXV – prover os cargos públicos, na forma da lei;
XXVI - editar leis provisórias com eficácia imediata,
nos termos do art. 62;
XXVII – dispor sobre:
a) planos e programas nacionais, regionais e setoriais de
desenvolvimento;
b) organização administrativa do Poder Executivo;
c) transformação e extinção de cargos, empregos ou
funções públicas;
d) criação, estruturação e atribuição dos Ministérios e
órgãos da administração pública.
XXVII - exercer outras atribuições previstas nesta
Constituição.
Art. 84.
XXV – prover os cargos públicos, na forma da lei;
XXVI – editar medidas provisórias com eficácia imediata,
nos termos do art. 62;
XXVII – dispor, mediante decreto, sobre:
a) organização administrativa do Poder Executivo;
b) transformação e extinção de cargos, empregos ou
funções públicas;
c) estruturação e atribuição dos Ministérios e órgãos da
administração pública.
d) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos;
XXVIII - exercer outras atribuições previstas nesta
Constituição.
Na esteira da impugnação do Sen. Josaphat Marinho, a Comissão de Constituição e
Justiça da Câmara dos Deputados, ao analisar a admissibilidade da PEC n. 472/97 (PEC n. 1/95,
do SF), opôs Emenda Supressiva aos artigos 3º. e 4º.
Apesar do Recurso n. 2137/97 ter derrubado esta Emenda Supressiva, tal inovação foi
alvo de duras críticas na Câmara dos Deputados, elucidativo são os trechos a seguir transcritos:
(...) E que matéria estranha é essa Sr. Presidente, Srs. Deputados? Nada mais nada
menos que a outorga ao Executivo – portanto, ao Presidente da República – do direito
de, por decreto, ou seja, usurpando as funções do Congresso Nacional, como previsto
no art. 49 da Constituição, convalidado pelos art. 61 e 84, legislar sobre as matérias
que dizem respeito ao campo administrativo. (Sandra Starling, DCD, fl. 2087,
28.01.1998)
A negociação entre situação e oposição esbarrou, em dois temas: ―os decretos para o
ordenamento da administração pública, pelo Executivo; (...)‖ (Arnaldo Madeira, DCD,
fl. 20537, 13.05.1999)
O bloco de oposição, na Câmara dos Deputados, acabou por bloquear esta transferência
ampla de competências para o Executivo federal, estabelecendo as bases que iriam permanecer
até o final da tramitação da PEC n. 1/95.
A redação da PEC 472-B, apesar de manter a figura do decreto autônomo, reduziu
significativamente a sua atribuição, reduzindo-a aos moldes atualmente vigentes:
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Art. 84.
VI – dispor, mediante decreto, sobre:
a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar
aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos;
b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos;
A nova tramitação no Senado Federal (PEC 1-A/95) não produziu nenhuma alteração
significante quanto à matéria desse estudo. Por seu turno, quando novamente a discussão foi
remetida à Câmara dos Deputados (PEC n. 472/E), a mesma sofreu impugnações pontuais,
através das Emendas n. 03 (de autoria do Dep. Inocêncio Oliveira) e n. 08 (de autoria do Dep.
Elton Rohnelt), impugnações estas que deram a conformação final do instituto do decreto
autônomo, posteriormente chancelado pelo Senado Federal através da PEC n. 1-B/95,
finalmente convertida, em 11.9.2001, na Emenda Constitucional n. 32/01.
4. ANÁLISE DA COMPETÊNCIA LEGISLATIVA SOBRE “ESTRUTURAÇÃO E
ATRIBUIÇÕES DOS MINISTÉRIOS E ÓRGÃOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA”
Nestes termos, esta Emenda Constitucional, sem a amplitude desenhada pelo Sen. José
Fogaça (PEC n. 1/95-SF, Emenda Substitutiva n. 3-PLEN), aumentou o âmbito de
discricionariedade do Chefe da Administração Pública Federal no que diz respeito à
estruturação dos órgãos a ele diretamente vinculados.
Se por um lado, a expressão "estruturação e atribuições" foi suprimida tanto do rol de
competências do Congresso Nacional (art. 48, inc. XI), quanto das hipóteses de iniciativa
privativa do Presidente (art. 61, §1º, II, alínea e), referindo este último à observância do art. 84,
inc. VI. Por outro, este último dispositivo (art. 84, inc. VI) passa a conferir um espaço de
regulamentação, independentemente de lei (mediante decreto), sobre: "(a) organização e
funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação
ou extinção de órgãos públicos; (b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos".
A equipe entende que a expressão "estruturação e atribuições" constante da redação
original do art. 61, §1º, II, e pode ser subsumida à expressão "organização e funcionamento"
constante da redação do art. 84, VI, a; portanto, é possível a edição de decretos autônomos sobre
"estruturação e atribuições" dos Ministérios e órgãos da Administração pública federal.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Apesar desta aparente obviedade, o Supremo Tribunal Federal de maneira equívoca e
pouco justificada, em sede de manifestação cautelar na ADI n. 2734 (Rel. Moreira Alves),
afastou a alegada inconstitucionalidade por vício de iniciativa por, dentre outros fatores,
entender que a EC n. 32/01 "suprimiu da iniciativa exclusiva do Presidente da República a
"estruturação" e as "atribuições" dos Ministérios e órgãos da administração pública". Equívoco
este repetido, de maneira inadvertida, pelo Min. Ricardo Lewandowski quando afasta o
argumento de inconstitucionalidade formal da Lei do Desarmamento (ADI n. 3112), referindo-
se igualmente à supressão da iniciativa exclusiva do Presidente da República, invocando o voto
do Min. Moreira Alves como precedente do STF.
Por ocasião da análise, pela Câmara dos Deputados, da PEC n. 472-B/97, foi proposta a
Emenda n. 8 (PEC n. 472-D), de autoria do Dep. Elton Rohnelt, que propõe a seguinte alteração
no art. 88, da CF: "A lei disporá sobre a criação e extinção de Ministérios e órgãos da
administração pública.". O referido deputado apresenta sua justificação nos seguintes termos:
Justificação: O objetivo da emenda é suprimir do texto constitucional a expressão
―estruturação e atribuições‖, para compatibilizar com disposto no inciso VI do art. 84 –
atribuições do Presidente da República – que já inclui aquelas faculdades que estão
sendo excluídas, e que já permite ao Chefe da Nação a ―organização e funcionamento
da administração federal‖.
Ora, a análise conjunta das alterações empreendidas no art. 48, XI, art. 84, VI, a e art.
88, evidenciam que a EC n. 32/01 simplesmente excluiu a questão acerca da regulamentação da
"estrutura e administração" dos ministérios e órgãos da administração pública federal do manto
da reserva legal a que estava originariamente sujeita. O atual silêncio constitucional liberta este
âmbito de regulação da estreita senda da lei em sentido estrito.
5. QUADRO COMPARATIVO
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
CF/88 EC 32/01 SENADO CÂMARA DOS
DEPUTADOS
SENADO
PEC n. 1/95 – SF PEC n. 472-B/97
(Substitutivo/Câm.Deputados)
PEC n. 1-A/95
(Substituto Sen. José Fogaça)
48.
X - criação,
transformação e
extinção de cargos,
empregos e funções
públicas;
XI - criação,
estruturação e
atribuições dos
Ministérios e órgãos
da administração
pública;
48.
X - criação,
transformação e
extinção de
cargos, empregos
e funções
públicas,
observado o que
estabelece o art.
84, VI, b;
XI - criação e
extinção de
Ministérios e
órgãos da
administração
pública;
X – criação e extinção de
cargos, empregos e
funções públicas,
observando o que
estabelece o art. 84, inc.
XXVVI, alínea ―d‖;
XI – revogado
X – criação, transformação e
extinção de cargos, empregos
e funções públicas,
observando o que estabelece o
art. 84, VI, b;
XI – criação de ministérios e
órgãos da administração
pública.
X – criação, transformação e
extinção de cargos, empregos
e funções públicas,
observando o que estabelece o
art. 84, VI, b;
XI – criação de ministérios e
órgãos da administração
pública.
61 (1) II:
e) criação,
estruturação e
atribuições dos
Ministérios e órgãos
da administração
pública
61 (1) II:
e) criação e
extinção de
Ministérios e
órgãos da
administração
pública, observado
o disposto no art.
84, VI
x 61 (1) II
e) criação de Ministérios e
órgãos da administração
pública
61 (1) II
e) criação de Ministérios e
órgãos da administração
pública
84.
VI - dispor sobre a
organização e o
funcionamento da
administração federal,
na forma da lei;
84.
VI - dispor,
mediante decreto,
sobre:
a) organização e
funcionamento da
administração
federal, quando
não implicar
aumento de
despesa nem
criação ou
extinção de órgãos
públicos;
b) extinção de
funções ou cargos
públicos, quando
vagos;
84.
XXV – prover os cargos
públicos, na forma da lei;
XXVII – dispor,
mediante decreto, sobre:
a) organização
administrativa do Poder
Executivo;
b) transformação de
cargos, empregos e
funções públicas;
c) estruturação e
atribuições dos
Ministérios e órgãos da
administração pública;
d) extinção de funções ou
cargos públicos, quando
vagos.
84.
VI - dispor, mediante decreto,
sobre:
a) organização e
funcionamento da
administração federal, quando
não implicar aumento de
despesa nem criação ou
extinção de órgãos públicos;
b) extinção de funções ou
cargos públicos, quando
vagos;
84.
VI - dispor, mediante decreto,
sobre:
a) organização e
funcionamento da
administração federal, quando
não implicar aumento de
despesa nem criação ou
extinção de órgãos públicos;
b) extinção de funções ou
cargos públicos, quando
vagos;
88. A lei disporá sobre
a criação, estruturação
e atribuições dos
Ministérios
88. A lei disporá
sobre a criação e
extinção de
Ministérios e
órgãos da
administração
pública.
X X X
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
CF/88 EC 32/01 CÂMARA DOS DEPUTADOS SENADO FEDERAL
PEC 472-F/97
(Emenda Aglutinativa Substitutiva a PEC 472-E/97)
PEC n. 1-B/95
1º. tn. – 21.6.01 / 2º. tn.– 2.8.01
48.
X - criação,
transformação e
extinção de cargos,
empregos e funções
públicas;
XI - criação,
estruturação e
atribuições dos
Ministérios e órgãos da
administração pública;
48.
X - criação,
transformação e
extinção de cargos,
empregos e funções
públicas, observado o
que estabelece o art. 84,
VI, b;
XI - criação e extinção
de Ministérios e órgãos
da administração
pública;
X – criação, transformação e extinção de cargos,
empregos e funções públicas, observando o que
estabelece o art. 84, VI, b;
XI – criação e extinção de ministérios e órgãos da
administração pública.
X – criação, transformação e
extinção de cargos, empregos
e funções públicas,
observando o que estabelece o
art. 84, VI, b;
XI – criação e extinção de
ministérios e órgãos da
administração pública.
61 (1) II:
e) criação, estruturação
e atribuições dos
Ministérios e órgãos da
administração pública
61 (1) II:
e) criação e extinção de
Ministérios e órgãos da
administração pública,
observado o disposto no
art. 84, VI
61 (1) II:
e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da
administração pública, observado o disposto no art.
84, VI
61 (1) II:
e) criação e extinção de
Ministérios e órgãos da
administração pública,
observado o disposto no art.
84, VI
84.
VI - dispor sobre a
organização e o
funcionamento da
administração federal,
na forma da lei;
84.
VI - dispor, mediante
decreto, sobre:
a) organização e
funcionamento da
administração federal,
quando não implicar
aumento de despesa
nem criação ou extinção
de órgãos públicos;
b) extinção de funções
ou cargos públicos,
quando vagos;
84.
VI - dispor, mediante decreto, sobre:
a) organização e funcionamento da administração
federal, quando não implicar aumento de despesa
nem criação ou extinção de órgãos públicos;
b) extinção de funções ou cargos públicos, quando
vagos;
84.
VI - dispor, mediante decreto,
sobre:
a) organização e
funcionamento da
administração federal, quando
não implicar aumento de
despesa nem criação ou
extinção de órgãos públicos;
b) extinção de funções ou
cargos públicos, quando
vagos;
88. A lei disporá sobre a
criação, estruturação e
atribuições dos
Ministérios
88. Art. 88. A lei
disporá sobre a criação
e extinção de
Ministérios e órgãos da
administração pública.
Art. 88. A lei disporá sobre a criação e extinção de
Ministérios e órgãos da administração pública.
Art. 88. A lei disporá sobre a
criação e extinção de
Ministérios e órgãos da
administração pública.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA / SECRETARIA DE ASSUNTOS LEGISLATIVOS
PROJETO PENSANDO O DIREITO
TEMA: VÍCIO DE INICIATIVA E SEPARAÇÃO DE PODERES
ANEXO VII:
GUIA DE REFERÊNCIA DA JURISPRUDÊNCIA DO STF:
INICIATIVA RESERVADA E VÍCIO DE INICIATIVA
Núcleo UFSC/UNIVALI
Florianópolis, 31 de março de 2008
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GUIA DE REFERÊNCIA DA JURISPRUDÊNCIA DO STF: INICIATIVA RESERVADA
E VÍCIO DE INICIATIVA
APRESENTAÇÃO
O presente Guia de Referências pretende oferecer um guia de acesso rápido às decisões
do STF que enfrentaram, direta ou indiretamente, o tema relativo à iniciativa reservada e o
princípio da separação de poderes. Ele resulta da compilação e sistematização de 293 acórdãos
prolatados pelo STF que foram identificados e analisados por ocasião da confecção dos artigos
científicos elaborados pela Equipe de Trabalho e que compõem os Anexos I a IV do Relatório
Final.
Este documento pretende apresentar as decisões compiladas a partir de grandes temas
separados em dois grupos: (i) identificação de regras gerais e princípios informativos da
separação de poderes e cláusula de reserva; e (ii) e casuística sobre as matérias sujeitas a reserva
de iniciativa do art. 61, §1º da CF.
Para preparar este Guia de Referência, a equipe elaborou uma Tabela de Decisões do
STF que apresenta, para cada uma das decisões mencionadas, os seguintes itens:
(i) identificação do acórdão,
(ii) tópicos relevantes,
(iii) transcrição da Emenda e
(iv) link para o arquivo em formato .pdf.
Aqui, em cada referência a uma decisão do STF foram incluídos dois atalhos: o primeiro
que direciona o leitor à referência completa à decisão na referida Tabela (Tab.) e o segundo faz
abrir a respectiva decisão em formato .pdf (Dec.)
A equipe da UFSC espera que este documento possa auxiliar os trabalhos diários dos
consultores e advogados que trabalham na Secretaria de Assuntos Legislativos.
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1. DELIMITAÇÃO DOS CONTORNOS CONSTITUCIONAIS DA INICIATIVA
PRIVATIVA: REGRAS GERAIS E PRINCÍPIOS INFORMATIVOS
1.1 INICIATIVA RESERVADA E PRINCÍPIO DE SEPARAÇÃO DE PODERES
1.1.1 Vínculo indissociável entre iniciativa reservada e o modelo de separação
Questão relevante Acórdão J. em Relator Obj Link
Poder iniciativa vs. Poder de
deliberação do Congresso
Nacional e do Executivo.
RMS 9.315, RJ 21-3-66 Prado Kelly LE Tab. Dec.
Separação de poderes. ADI 776-MC, RS 7-10-92 Sepúlveda Pertence LE Tab. Dec
Iniciativa parlamentar.
Reprodução necessária. ADI 766-MC, RS 3-9-92 Celso de Mello LE Tab. Dec
Emenda parlamentar.
Reprodução necessária. ADI 774-MC, RS 7-10-92 Sepúlveda Pertence LE Tab. Dec
Simetria. Medidas
Provisórias estaduais:
possibilidade.
ADI 425, TO 4-9-02 Maurício Corrêa CE Tab. Dec
Medida Provisória. Plano de
Estabilização Econômica.
Afastamento das regras
orçamentárias (art. 168).
ADI 37-MC, DF 12-4-89 Francisco Rezek. CE Tab. Dec
1.1.2 Ofensa à Separação de Poderes: usurpação de atribuições privativas do Executivo
Questão relevante Acórdão J. em Relator Obj Link
Poder Constituinte
Decorrente.
Usurpação de
competência do
Executivo.
Subordinação à
prévia autorização
legislativa.
Provimento de
cargo de órgão da
Adm.Ind.
ADI 862-MC, AP 4-8-93 Moreira Alves CE Tab. Dec
Poder Constituinte
Derivado.
Usurpação de
competência do
Executivo.
Subordinação à
prévia autorização
legislativa.
ADI 234, RJ 22-6-95 Néri da Silveira CE Tab. Dec
Poder Constituinte
Reformador
Separação de
Poderes. Repasse
automático das
dotações
ADI 1.901, MG 3-2-03 Ilmar Galvão EC/CE Tab. Dec
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orc;amentárias.
Atribuição privativa
do Executivo.
Separação de
Poderes. Não há
retratação pelo
Legislativo de
anterior
manutenção/rejeição
de veto do
Executivo.
Preclusão.
ADI 1.254, RJ 9-12-99 Sepúlveda
Pertence
LE Tab. Dec
Iniciativa
parlamentar.
Separação de
poderes.
Autorização
legislativa prévia.
ADI 1.703-MC, SC 27-11-97 Ilmar Galvão LE Tab. Dec
Iniciativa
parlamentar.
Usurpação de
competência do
Executivo.
Subordinação à
prévia autorização
legislativa.
Provimento de
cargo de órgão da
Administração
indireta.
ADI 2.225-MC, SC 29-6-00 Sepúlveda
Pertence
LE Tab. Dec
1.2 JUÍZO DE OPORTUNIDADE PARA DEFLAGRAÇÃO DO PROCESSO LEGISLATIVO
Em inúmeras situações o STF foi confrontado com dispositivos normativos (cláusulas
constitucionais, leis de iniciativa parlamentar e emendas parlamentares) que, sem retirar a
prerrogativa de iniciativa do Executivo, pretendiam impor condições ou fixar prazo para o
exercício do juízo de oportunidade para a deflagração do Processo Legislativo. Ademais, em
autênticos julgados de self restrain, o STF reconheceu-se impossibilitado de suprir a ausência
de iniciativa legislativa ou ainda de impor dever de responsabilização ao Estado pela eventual
inércia da chefia do Poder Executivo pela ausência da deflagração do processo legislativo171
.
171
É importante destacar que todas as decisões aqui reproduzidas foram anteriores ao julgamento, em 25.10.2007,
dos Mandados de Injunção relativos à mora legislativa no tocante à regulamentação do direito de greve dos
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1.2.1 Juízo de discricionariedade política e vedação à fixação de prazo para envio do Projeto de
Lei de sua iniciativa
Questão relevante Acórdão J. em Relator Obj Link
Constituição estadual.
Fixação de prazo ao
Poder Judiciário para
enviar PL de sua iniciativa.
ADI 106, RO 10-10-
02
p/ac. Gilmar Mendes CE Tab. Dec
Emenda parlamentar.
Prazo p/envio de PL
s/salário.
ADI 546, RS 11-3-99 Moreira Alves LE Tab. Dec
Emenda Parlamentar.
Fixação de prazo para
envio de PL pelo Executivo.
ADI 645, DF 11-11-
96
Ilmar Galvão LD Tab. Dec
Regime jurídico de
servidor militar. Juízo
de oportunidade
violado. Fixação de
prazo para envio do PL.
ADI 2.393, AL 28-3-03 Sydney Sanches EC/CE Tab. Dec.
Regime jurídico de
servidor militar. Juízo
de oportunidade
violado. Fixação de
prazo para envio do PL.
ADI 2.393-MC, AL 9-5-02 Sydney Sanches EC/CE Tab. Dec.
1.2.2 Juízo de discricionariedade política e vedação à fixação de prazo para envio do Projeto de
Lei de sua iniciativa
Questão relevante Acórdão J. em Relator Obj Link
Omissão legislativa.
Norma sujeita à
iniciativa reservada.
Legitimidade
passiva do MI:
Executivo.
MI 153-AgR, DF 14-3-90 Paulo Brossard CF
Omissão
Tab. Dec.
Omissão legislativa.
Remuneração de
servidores. Iniciativa
MS 22.690,DF 17-4-97 Celso de Mello LF
Omissão
Tab. Dec
servidores públicos (MI 670/ES, Rel. Gilmar Mendes; MI 708/DF, Rel. Gilmar Mendes; MI 712/PA, rel. Eros
Grau),
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
reservada.
Impossibilidade de
fixação por decisão
judicial.
Revisão geral (art.
37 X). Iniciativa
reservada.
Impossibilidade de
fixação por decisão
judicial.
RE 327.621-AgR,
SP
21-2-06 Carlos Britto CF
Omissão
Tab. Dec.
Revisão geral (art.
37 X). Iniciativa
reservada.
Indenização:
descabimento.
RE 553.231-AgR ,
RS
13-11-
07
Ricardo Lewandowski CF
Omissão
Tab. Dec.
1.2.3 Dissídio jurisprudencial: imposição do dever de regulamentar ao Executivo
Questão relevante Acórdão J. em Relator Obj Link
Admissão de prazo ADI 2.638, SC 15-2-06 Eros Grau LE Tab. Dec
Não admissão de
prazo
ADI 3.394, AM 2-4-07 Eros Grau LE Tab. Dec
Não admissão de
prazo
ADI 2.393, AL 13-2-03 Sydney Sanches CE Tab. Dec
Não admissão de
prazo
ADI 546, RS 11-3-93 Moreira Alves LE Tab. Dec
1.3 PRINCÍPIO DE SIMETRIA E LIMITE A CAPACIDADE DE AUTO-ORGANIZAÇÃO DOS
ESTADOS
1.3.1 Reprodução necessária: modelo de processo legislativo
As regras do processo legislativo federal de cunho substantivo devem ser reproduzidas no
âmbito estadual.
Questão relevante Acórdão J. em Relator Obj Link
Modelo de processo
legislativo de reprodução
compulsória.
ADI 227, RJ 19-11-97 Maurício Corrêa CE Tab. Dec
Modelo de processo ADI 276, AL 13-11-97 Sepúlveda Pertence CE Tab. Dec
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
legislativo de reprodução
compulsória.
Modelo de processo
legislativo de reprodução
compulsória.
ADI 276-MC,
AL
30-5-90 Celso de Mello CE Tab. Dec
Modelo de processo
legislativo de reprodução
compulsória.
ADI 216-MC,
PB
23-5-90 Celso de Mello CE Tab. Dec
1.3.2 Limites à atuação do Poder Constituinte Decorrente
É vedado o trato em constituições estaduais de matéria sem caráter essencialmente
constitucional, que caracterize fraude à iniciativa reservada ao Poder Executivo de leis
ordinárias a respeito (por exemplo, a relativa à fixação de vencimentos ou a concessão de
vantagens específicas a servidores públicos).
É legítima a regulamentação de órgãos constitucionalmente previstos, pelo Constituinte
estadual, como exercício do seu poder de auto-governo, sem que haja violação expressa à
cláusula presente em modelo federal
Questão relevante Acórdão J. em Relator Obj Link
Simetria (ofensa). A
iniciativa reservada não
pode ter seu âmbito material reduzido.
ADI 120, AM 20-3-96 Moreira Alves CE Tab. Dec
Simetria (ofensa).
Criação de Conselho de
Governo com inclusão de outras autoridades.
ADI 106, RO 10-10-
02
Gilmar Mendes CE Tab. Dec
Simetria (ofensa).
Criação de Conselho de
Governo com inclusão de outras autoridades
ADI 184, MT 25-6-93 Marco Aurélio CE Tab. Dec
Simetria (ofensa). PGE:
desvinculação da
Chefia do Executivo.
Autonomia funcional,
administrativa e financeira.
ADI 291-MC, MT 6-6-90 Moreira Alves CE Tab. Dec
Simetria (ofensa). PGE:
não pode ter autonomia
funcional,
administrativa e financeira.
ADI 217, PB 28-8-02 Ilmar Galvão CE Tab. Dec
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Simetria (ofensa). PGE:
não pode ter autonomia
funcional,
administrativa e financeira.
ADI 217-MC, PB 23-3-90 Sydney Sanches CE Tab. Dec
Simetria (ofensa).
Procedimento de
intervenção. Argüição
prévia do interventor.
Vício acolhido.
ADI 2.167-MC, RR 1-6-00 Marco Aurélio CE Tab. Dec.
Simetria (violação).
Proibição de
desestatização.
Atividade econômica do Estado.
ADI 234, RJ 22-6-95 Néri da Silveira CE Tab. Dec
Aumento do número de
desembargadores, sem
iniciativa do TJ.
ADI 274, PE 5-2-92 Paulo Brossard CE Tab. Dec
Capacidade de auto-
organização.
Defensoria Pública:
Autonomia funcional e adm. negada.
ADI 575-MC, PI 13-11-
91
Sepúlveda Pertence CE Tab. Dec
Capacidade de auto-
organização. Delimitação teórica.
ADI 139, RJ 31-10-
91
p/ac. Marco Aurélio CE Tab. Dec
Capacidade de auto-
organização. Delimitação teórica.
ADI 586-MC, AM 20-9-91 Celso de Mello CE Tab. Dec
Capacidade de auto-
organização. Polícia
Civil. Chefia. Escolha
dentre delegados de carreira. Vício afastado.
ADI 952-MC, SC 13-10-
93
Carlos Velloso CE Tab. Dec
Capacidade de auto-
organização. Polícia
Civil. Instrumentos
atípicos de democracia
direta. Limite ao poder
de escolha do Executivo.
ADI 244, RJ 11-9-02 Sepúlveda Pertence CE Tab. Dec
Capacidade de auto-
organização. Polícia
Civil. Instrumentos
atípicos de democracia
direta. Limite ao poder
de escolha do Executivo.
ADI 244-MC, RJ 18-4-90 Celso de Mello CE Tab. Dec
Capacidade de auto-
organização.
Reestruturação das
carreiras de auditores no TCE. Possibilidade.
ADI 507, AM 14-2-96 Celso de Mello CE Tab. Dec
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Carreiras especiais de
assessoramento (admissão)
ADI 175, PR 3-6-93 Octavio Gallotti CE Tab. Dec
Conselho: criação.
Conselho de
Comunicação Social do Estado. Vício acolhido.
ADI 821-MC, RS 5-2-93 Octávio Gallotti CE Tab. Dec
Decisão anterior do
STF que suspendeu
dispositivo da C.E. por
violar cláusula de
reserva. Benefício
concedido agora por lei
de iniciativa do
Executivo. Não há
ofensa à coisa julgada e ao art. 61, II, ―c‖
ADI 1.279-MC, PE 27-9-95 Maurício Corrêa LE Tab. Dec
Fixação de prazo ao
Poder Judiciário para enviar PL.
ADI 106, RO 10-10-
02
Gilmar Mendes CE Tab. Dec
Fraude à iniciativa
reservada.
Simetria respeitada.
Anistia. Infrações
administrativas por
perseguição política.
ADI 104, RO 4-6-07 Sepúlveda Pertence CE Tab. Dec
Limite de
desembargadores em
Constituição estadual
viola a iniciativa
reservada do TJ para
disciplinar a questão.
ADI 3.362, BA 30-8-07 Marco Aurélio CE Tab. Dec
Ministério Público:
Reconhe-cimento de
iniciativa reservada (constitucionalidade)
ADI 126, RO 29-8-01 Octavio Gallotti CE Tab. Dec
Órgão executivo:
criação. Possibilidade.
Fundação de amparo à
pesquisa.
ADI 550, MT 29-8-02 Ilmar Galvão CE Tab. Dec
PGE: Nomeação dentre
os membros da
carreira. Limitação à
prerrogativa do Executivo.
(Revisão jurisp. ADI 217, PB)
ADI 2.581, SP 16-8-07 Marco Aurélio CE Tab. Dec
PGE: Nomeação.
Limitação à
prerrogativa do Executivo.
ADI 217, PB 28-8-02 Ilmar Galvão CE Tab. Dec
PGE: Unificação de
carreira. Vício afastado (II, ―e‖).
ADI 126, RO 29-8-01 Octavio Gallotti CE Tab. Dec
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Poder Constituinte
Decorrente.
Remuneração:
Vinculação.
Impossibilidade.
Usurpação da iniciativa reservada.
ADI 336-MC, SE 24-9-90 Célio Borja CE Tab. Dec
Poder Constituinte
Derivado.
Usurpação de
competência do
Executivo. Vedação de
alienação das ações ordinárias. BANERJ.
ADI 1.348, RJ 21-2-08 Carmem Lúcia CE Tab. Dec.
Poder Constituinte
Derivado.
Usurpação de
competência do
Executivo. Vedação de
alienação das ações ordinárias. BANERJ.
ADI 1.348-MC, RJ 4-10-95 Octávio Gallotti. CE Tab. Dec.
Regime Jurídico:
Usurpação de iniciativa reservada.
ADI 749, CE 20-3-03 Carlos Velloso CE Tab. Dec
Regime Jurídico: Data
para pagamento e
correção monetária. (vício afastado)
ADI 544, SC 1-4-04 Carlos Velloso CE Tab. Dec
Regime Jurídico: Data
para pagamento e
correção monetária. (vício afastado)
ADI 544-MC, SC 27-3-99 Marco Aurélio CE Tab. Dec
Regime Jurídico: Data
para pagamento e
correção monetária. (vício afastado)
ADI 657, RS 10-10-
96
Néri da Silveira CE Tab. Dec
Regime Jurídico:
Usurpação da iniciativa
reservada.
ADI 182-MC, RS 7-11-90 Octávio Gallotti CE Tab. Dec
Regime Jurídico:
Usurpação da iniciativa reservada.
ADI 276, AL 13-11-
97
Sepúlveda Pertence CE Tab. Dec
Regime Jurídico:
Usurpação da iniciativa
reservada. Aumento de despesa
ADI 227, RJ 19-11-
97
Maurício Corrêa CE Tab. Dec
Regime Jurídico:
Usurpação da iniciativa
reservada. Licença e direito à creche
ADI 175, PR 3-6-93 Octavio Gallotti CE Tab. Dec
Regime Jurídico:
Usurpação da iniciativa
reservada.
ADI 231, RJ 5-8-92 Moreira Alves CE Tab. Dec
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Transferências e aproveitamento.
Regime Jurídico:
Usurpação da iniciativa
reservada.
Transferências e aproveitamento.
ADI 248, RJ 18-11-
93
Celso de Mello CE Tab. Dec
Regime Jurídico:
Usurpação de iniciativa
reservada.
Transferência de servidores.
ADI 483, PR 25-4-01 Ilmar Galvão CE Tab. Dec
Regime Jurídico:
anistia geral aos
servidores apenados.
Impossibilidade.
ADI 233, RJ 12-11-
93
Ilmar Galvão CE Tab. Dec
Regime Jurídico: Data
para pagamento e
correção monetária. (vício afastado)
ADI 176-MC, MT 21-2-90 Carlos Madeira CE Tab. Dec
Regime Jurídico:
Equiparação de vencimentos
ADI 112, BA 24-8-94 Néri da Silveira CE Tab. Dec
Regime Jurídico:
Inaplicabilidade
negociação coletiva aos
servidores públicos.
ADI 112, BA 24-8-94 Néri da Silveira CE Tab. Dec
Regime Jurídico:
nomeação dos
aprovados em
concursos públicos.
Fixação de prazo
máximo. Usurpação de
iniciativa reservada. Vício acolhido.
ADI 2.931, RJ 24-2-05 Carlos Britto CE Tab. Dec
Regime Jurídico:
nomeação dos
aprovados em
concursos públicos.
Fixação de prazo
máximo. Usurpação de
iniciativa reservada. Vício acolhido.
RE 229.450, RJ 10-2-00 Maurício Corrêa CE Tab. Dec
Regime Jurídico:
Usurpação da iniciativa
reservada.
ADI 106, RO 10-10-
02
Gilmar Mendes CE Tab. Dec
Regime Jurídico:
Usurpação da iniciativa reservada.
ADI 182, RS 5-11-97 Sydney Sanches CE Tab. Dec
Regime Jurídico:
Usurpação da iniciativa reservada.
ADI 250, RJ 15-8-02 Ilmar Galvão CE Tab. Dec
Regime Jurídico: ADI 89, MG 4-2-93 Ilmar Galvão CE Tab. Dec.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Usurpação da iniciativa reservada.
Regime Jurídico:
Usurpação da iniciativa
reservada.
ADI 89-MC, MG 7-12-89 Sydney Sanches CE Tab. Dec
Regime Jurídico:
Usurpação da iniciativa reservada.
ADI 97, RO 25-6-93 Moreira Alves CE Tab. Dec
Regime Jurídico:
Usurpação da iniciativa
reservada. Lei Orgânica
Distrital. Transferência
de servidores.
ADI 980, DF 6-3-08 Menezes de Direito LOD Tab. Dec
Regime Jurídico:
Usurpação da iniciativa
reservada. Lei Orgânica
Distrital. Transferência de servidores.
ADI 980-MC, DF 3-2-94 Celso de Mello LOD Tab. Dec
Regime Jurídico:
Usurpação da iniciativa
reservada. Licença e direito à creche
ADI 175-MC, PR 9-2-90 Octavio Gallotti CE Tab. Dec
Regime Jurídico:
Usurpação da iniciativa
reservada. Limite de idade em concurso.
ADI 243, RJ 1-2-01 Marco Aurélio CE Tab. Dec
Regime Jurídico:
Usurpação de iniciativa
reservada.
ADI 139, RJ 31-10-
91
p/ac. Marco Aurélio CE Tab. Dec
Regime Jurídico:
Usurpação de iniciativa reservada.
ADI 152, MG 18-3-92 Ilmar Galvão CE Tab. Dec
Regime Jurídico:
Usurpação de iniciativa reservada.
ADI 843, MS 8-8-02 Ilmar Galvão CE Tab. Dec
Regime Jurídico:
Usurpação de iniciativa reservada.
ADI 843-MC, MS 23-4-93 Ilmar Galvão CE Tab. Dec
Regime Jurídico:
Usurpação de iniciativa reservada.
ADI 844, MS 16-5-02 Carlos Velloso CE Tab. Dec
Regime Jurídico:
Usurpação de iniciativa
reservada.
ADI 844-MC, MS 26-2-93 Marco Aurélio CE Tab. Dec
Regime Jurídico:
Usurpação de iniciativa
reservada.
Aproveitamento de cargos.
ADI 430, MS 25-5-94 Sepúlveda Pertence CE Tab. Dec
Regime Jurídico::
Usurpação da iniciativa
reservada.
ADI 199, PE 22-4-98 Maurício Corrêa CE Tab. Dec
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Regime Jurídico::
Usurpação da iniciativa reservada.
ADI 216-MC, PB 23-5-90 Celso de Mello CE Tab. Dec
Regime
Jurídico:Equiparação
de vencimentos
ADI 120, AM 20-3-96 Moreira Alves CE Tab. Dec
Regime
Jurídico:Usurpação da iniciativa reservada.
ADI 586-MC, AM 20-9-91 Celso de Mello CE Tab. Dec
Remuneração:
Aumento despesa.
Usurpação da iniciativa reservada.
ADI 270, MG 31-3-04 Maurício Corrêa CE Tab. Dec
Remuneração: Data
para pagamento e
correção monetária. (vício afastado)
ADI 144-MC, RN 22-11-
89
Octavio Gallotti CE Tab. Dec
Remuneração:
usurpação da iniciativa
reservada. Equiparação
de salário. Vício formal
e material.
ADI 237, RJ 1-2-93 Octávio Gallotti CE Tab. Dec
Remuneração:
Usurpação de iniciativa
reservada. Teto mín.S.M.
ADI 290-MC, SC 17-10-
91
Celso de Mello CE Tab. Dec
Remuneração:
Vinculação entre
carreiras jurídicas.
Inconstituc.. Usurpação
da iniciativa reservada.
ADI 304, MA 25-10-
95
Carlos Velloso CE Tab. Dec
Remuneração:
vinculação. Usurpação
da iniciativa reservada. Vício acolhido.
RE 198.982, RS 5-8-98 Ilmar Galvão CE Tab. Dec
Usurpação de
competência do
Executivo.
Subordinação à prévia
autorização legislativa.
Provimento de cargo de órgão da Adm.Ind.
ADI 1.642, MG 3-3-08 Eros Grau CE Tab. Dec
Usurpação de
competência do
Executivo.
Subordinação à prévia
autorização legislativa.
Provimento de cargo de
órgão da Adm.Ind.
ADI 1.642-MC,
MG
16-12-
98
Nelson Jobim CE Tab. Dec
Usurpação de
competência do
Executivo.
Subordinação à prévia
autorização legislativa.
ADI 2.167-MC, RR 1-6-00 Marco Aurélio CE Tab. Dec.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Provimento de cargo de órgão da Adm.Ind.
Vencimentos: correção
monetária por atraso.
Vício afastado.
ADI 175, PR 3-6-93 Octavio Gallotti CE Tab. Dec
Vencimentos: correção
monetária por atraso. Vício afastado.
ADI 175-MC, PR 9-2-90 Octavio Gallotti CE Tab. Dec
1.3.3 Limites à atuação do Poder Constituinte Reformador no âmbito local
Questão relevante Acórdão J. em Relator Obj Link
Cargos: criação e
provimento. Polícia
civil. Vício reconhecido.
ADI 3.051, MG 30-6-05 Carlos Britto EC/CE Tab. Dec.
Conselho: alteração
da composição.
Conselho Estadual de
Educação. Inclusão
de representante do
Poder Legislativo.
Vício reconhecido.
ADI 2.654-MC, AL 26-6-02 Sepúlveda Pertence EC/CE Tab. Dec
Controle legislativo
sobre indicações do
Executivo. Fixação
de limite de tempo
razoável. Não há
ofensa à separação de poderes.
ADI 1.281-MC, PA 25-5-95 Maurício Corrêa EC/CE Tab. Dec
Controle legislativo
sobre indicações do
Executivo. Fixação
de limite de tempo
razoável. Não há
ofensa à separação de poderes.
ADI 1.281, PA 11-3-04 Maurício Corrêa EC/CE Tab. Dec
Criação ou Aumento
de Remuneração de servidores.
ADI 2.050, RO 3-3-04 Maurício Corrêa EC/CE Tab. Dec
Criação ou Aumento
de Remuneração de servidores.
ADI 2.050-MC, RO 2-9-99 Maurício Corrêa EC/CE Tab. Dec
Fixação de
remuneração. Vício
reconhecido.
ADI 1.690 -MC, AP 29-10-
98
Nelson Jobim EC/CE Tab. Dec
Fraude à iniciativa
reservada.
RP 1.175, GO 1-2-85 Aldir Passarinho OK EC/CE Tab. Dec
Militares: Regime
jurídico. Alteração.
ADI 2.966, RO 6-4-05 Joaquim Barbosa EC/CE Tab. Dec
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Regime jurídico de
servidor militar. Juízo
de oportunidade
violado. Fixação de
prazo para envio do PL.
ADI 2.393, AL 28-3-03 Sydney Sanches EC/CE Tab. Dec.
Regime
Jurídico:Usurpação
da iniciativa
reservada.
ADI 1.064, MS 7-8-97 Ilmar Galvão EC/CE Tab. Dec
Regime
Jurídico:Usurpação
da iniciativa reservada.
ADI 1.064-MC, MS 8-6-94 Ilmar Galvão EC/CE Tab. Dec
Regime
Jurídico:Usurpação
da iniciativa
reservada. Aposentadoria.
ADI 582, SP 17-6-99 Néri da Silveira EC/CE Tab. Dec
Regime
Jurídico:Usurpação
da iniciativa
reservada. Aposentadoria.
ADI 582-MC, SP 19-9-91 Néri da Silveira EC/CE Tab. Dec
Separação de
Poderes. Repasse
automático das
dotações
orc;amentárias.
Atribuição privativa
do Executivo.
ADI 1.901, MG 3-2-03 Ilmar Galvão EC/CE Tab. Dec
Simetria (ofensa).
Iniciativa reservada do TCE.
ADI 1.994, ES 24-5-06 Eros Grau EC/CE Tab. Dec
Simetria (ofensa).
Iniciativa reservada do TCE.
ADI 1.994-MC, ES 9-9-99 Nelson Jobim EC/CE Tab. Dec.
1.4 TAXATIVIDADE DAS HIPÓTESES CONSTITUCIONAIS
Interpretação das hipóteses de restrição à iniciativa legislativa deve ser restritiva.
Hipóteses previstas em numerus clausus nos arts. 61 (iniciativa) e 63 (emenda)
Questão relevante Acórdão J. em Relator Obj Link
Taxatividade. Direito
tributário. ADI 724-MC, RS 7-5-92 Celso de Mello LE Tab. Dec
Numerus clausus ADI 776-MC, RS 7-10-92 Sepúlveda Pertence LE Tab. Dec
Organização judiciária. ADI 865-MC, MA 7-10-93 Celso de Mello LE Tab. Dec
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Não se aplica o limite
do art. 63, II (aumento
de despesa). Numerus clausus. Vício afastado.
1.5 LIMITES AO PODER DE EMENDA PARLAMENTAR
1.5.1 Questões gerais relativas ao Poder de Emenda Parlamentar
Questão relevante Acórdão J. em Relator Obj Link
Limites
constitucionais ao
poder de emenda.
ADI 1050-MC, SC 21-9-94 Celso de Mello LE Tab. Dec
Natureza do poder
de emenda.
ADI 937-MC, AP 17-12-93 Celso de Mello LE Tab. Dec
Aumento de despesa.
Sanção não convalida
o vício de origem.
RP 1.051, GO 2-4-81 Moreira Alves LE Tab. Dec
Caracterização do
vício: necessidade de
comprovação nos
autos de que a norma
foi introduzida
através de E.P.
RE 451.827-AgR, RJ 28-3-06 Sepúlveda Pertence LM Tab. Dec
Emenda ou lei de
iniciativa parlamentar
podem aumentar
despesa (exceto o
63,I).
ADI 2.072-MC, RS 17-11-99 Octavio Gallotti LE Tab. Dec
Invasão da reserva de
decreto. Comissão
permanente de
negociação: lei
autorizativa.
Inconstitucionalidade
material.
ADI 2.569, CE 19-3-03 Carlos Velloso LE Tab. Dec
Juízo de
oportunidade.
Fixação de prazo
para envio de PL pelo
Executivo.
ADI 645, DF 11-11-96 Ilmar Galvão LD Tab. Dec
Restrições ao poder
de emenda.
RE 140.542, RJ 30-9-93 Ilmar Galvão LE Tab. Dec.
Transposição de
dotação orçamentária
entre órgãos. Vício
ADI 2.072-MC, RS 17-11-99 Octavio Gallotti LE Tab. Dec
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
reconhecido.
Vícios não
caracterizados.
RMS 9.315, RJ 21-3-66 Prado Kelly LE Tab. Dec
1.5.2 Aumento de despesa em leis de iniciativa reservada
Questão relevante Acórdão J. em Relator Obj Link
Aumento de despesa.
Acolhido
ADI 744, RS 10-12-
98
Sepúlveda Pertence LE Tab. Dec
Aumento de despesa.
Acolhido ADI 744-MC, RS 7-10-92 Sepúlveda Pertence LE Tab. Dec
Aumento de despesa.
Acolhido ADI 1.304, SC 11-3-04 Maurício Corrêa LE Tab. Dec
Aumento de despesa.
Acolhido ADI 1.304-MC, SC 3-8-95 Maurício Corrêa LE Tab. Dec
Aumento de despesa.
Acolhido ADI 1.729, RN 28-6-08 Eros Grau LE Tab. Dec.
Aumento de despesa.
Acolhido ADI 1.729-MC, RN 9-9-98 Nelson Jobim LE Tab. Dec.
Aumento de despesa.
Acolhido ADI 2.619, RS 15-2-06 Eros Grau LE Tab. Dec
Aumento de despesa.
Acolhido ADI 2.619-MC, RS 15-5-02 Nelson Jobim LE Tab. Dec
Aumento de despesa.
Acolhido ADI 2.804, RS 2-3-05 Eros Grau LE Tab. Dec
Aumento de despesa.
Acolhido
ADI 60, RO 22-11-
07
Carmen Lúcia LE Tab. Dec
Aumento de despesa.
Acolhido
ADI 805, RS 17-12-
98
Sepúlveda Pertence LE Tab. Dec
Aumento de despesa.
Acolhido
ADI 816, SC 22-8-96 Ilmar Galvão LE Tab. Dec
Aumento de despesa.
Acolhido
ADI 816-MC, SC 22-4-93 Ilmar Galvão LE Tab. Dec
Aumento de despesa.
Acolhido
ADI 822, RS 25-4-96 Octávio Gallotti LE Tab. Dec
Aumento de despesa.
Acolhido
ADI 822-MC, RS 5-2-93 Sepúlveda Pertence LE Tab. Dec
Aumento de despesa.
Acolhido
ADI 873, RS 7-3-96 Maurício Corrêa LE Tab. Dec
Aumento de despesa.
Acolhido
ADI 937-MC, AP 17-12-
93
Celso de Mello LE Tab. Dec
Aumento de despesa.
Acolhido
ADI 1.470, ES 14-12-
05
Carlos Velloso LE Tab. Dec
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Aumento de despesa.
Acolhido
ADI 1.470-MC, ES 1-7-96 Marco Aurélio LE Tab. Dec
Aumento de despesa.
Acolhido
ADI 1.954, RO 27-5-04 Carlos Velloso LE Tab. Dec
Aumento de despesa.
Acolhido
ADI 2.079, SC 29-4-
04.
Maurício Corrêa LE Tab. Dec
Aumento de despesa.
Acolhido
ADI 2.170, SP 17-8-05 Sepúlveda Pertence LE Tab. Dec
Aumento de despesa.
Acolhido
ADI 2.170-MC, SP 1-6-00 Sepúlveda Pertence LE Tab. Dec
Aumento de despesa.
Acolhido
ADI 2.569, CE 19-3-03 Carlos Velloso LE Tab. Dec
Aumento de despesa.
Acolhido
ADI 2.791, PR 16-8-06 Gilmar Mendes LE Tab. Dec
Aumento de
despesa.Acolhido
Ampliação de
gratificação.
ADI 3.177, AP 2-3-05 Joaquim Barbosa LE Tab. Dec
Aumento de
despesa.Acolhido
Inclusão de benefício
a ex-prefeitos.
RE 290.776, MG 2-3-05 Carlos Velloso LM Tab. Dec.
Aumento de despesa.
Acolhido
Inclusão de benefício
a pensionistas.
RE 397.354-AgR, SC 18-10-
05
Ellen Gracie LE Tab. Dec
Aumento de
despesa.Acolhido
Iniciativa do MP.
ADI 4.075-MC, SC 4-6-08 Joaquim Barbosa LE Tab. Dec.
Aumento de
despesa.Acolhido
Iniciativa do TJ.
ADI 4.062-MC, SC 4-6-08 Joaquim Barbosa LE Tab. Dec
Aumento de despesa.
Acolhido.
ADI 13, SC 17-9-07 Joaquim Barbosa LE Tab. Dec
Aumento de despesa.
Acolhido.
ADI 1.070-MC, MS 23-11-
94
Celso de Mello ok LE Tab. Dec
Aumento de despesa.
Acolhido.
Organização da PGE.
ADI 2.840, ESQ 6-11-03 Ellen Gracie LE Tab. Dec
Aumento de despesa.
Acolhido.
Remuneração.
RE 266.694-AgR, RJ 6-9-05 Grau LE Tab. Dec.
Aumento de despesa.
Acolhido.
ADI 645-MC, DF 11-12-
91
Ilmar Galvão LD Tab. Dec
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Equívoco
fundamentação do
STF. Prov. final
diferenciado.
Aumento de despesa.
Afastado.
Regulamentação de
hipótese de
afastamento do cargo.
ADI 645, DF 11-11-
96
Ilmar Galvão LD Tab. Dec
Aumento de despesa.
Afastado.
Região
Metropolitana:
inclusão de
Município limítrofe.
ADI 2.809, RS 25-9-03 Maurício Corrêa LE Tab. Dec.
Aumento de despesa.
Afastado. Estatuto do
magistério estadual
ADI 3.114, SP 24-8-05 Carlos Britto LE Tab. Dec
Aumento de despesa.
Afastado.
Remuneração:
fixação de teto
salarial por emenda.
RE 134.278, SP 27-5-04 Sepúlveda Pertence LM Tab. Dec
Aumento de despesa.
Afastado.
Organização
judiciária. Emenda
sobre matéria de
iniciativa comum.
RE 140.542, RJ 30-9-93 Ilmar Galvão LE Tab. Dec.
Aumento de despesa.
Afastado.
Organização
judiciária. Não se
aplica o limite do art.
63, II (aumento de
despesa). Numerus
clausus.
ADI 865-MC, MA 7-10-93 Celso de Mello LE Tab. Dec
Aumento de despesa.
Afastado.
Organização
judiciária. Serventias
extrajudiciais.
ADI 2.350, GO 25-3-04 Maurício Corrêa LE Tab. Dec
Aumento de despesa.
Afastado.
Organização
judiciária. Serventias
extrajudiciais.
ADI 2.350-MC, GO 7-3-01 Maurício Corrêa LE Tab. Dec
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
1.5.3 Pertinência temática entre Emenda Parlamentar e Projeto de Lei
Questão relevante Acórdão J. em Relator Obj Link
Pertinência temática.
Acolhido. Alteração de
jornada de trabalho.
Inclusão de temática estranha ao projeto.
ADI 2.569, CE 19-3-03 Carlos Velloso LE Tab. Dec
Pertinência temática.
Acolhido. Juízo de
oportunidade. Fixação
de prazo p/envio de PL s/salário.
ADI 546, RS 11-3-99 Moreira Alves LE Tab. Dec
Pertinência temática.
Acolhido. Juízo de
oportunidade. Fixação
de prazo p/envio de PL s/salário.
ADI 546-MC, RS 17-10-91 Moreira Alves LE Tab. Dec
Pertinência temática.
Acolhido. Organização
e divisão judiciárias.
Criação de novas
comarcas. Inaplicável
o precedente ADI
865/MA.
ADI 1050-MC, SC 21-9-94 Celso de Mello LE Tab. Dec.
Pertinência temática.
Acolhido. Projeto:
Procurador autárquico
- regulamentação da
carreira. Emenda:
classificação de órgãos
de deliberação coletiva
na Adm.Direta (com remuneração).
ADI 645, DF 11-11-96 Ilmar Galvão LD Tab. Dec
Pertinência temática.
Acolhido. Projeto:
revisão de
vencimentos. Emenda: pensão militar.
ADI 574, DF 3-6-93 Ilmar Galvão LF Tab. Dec
Pertinência temática.
Acolhido. Projeto:
tributação. Emenda:
remuneração de
servidores.
ADI 2.192, ES 4-6-08 Ricardo Lewandowski LE Tab. Dec
Pertinência temática.
Acolhido. Projeto:
tributação. Emenda:
remuneração de servidores.
ADI 2.192-MC, ES 25-5-00 Marco Aurélio LE Tab. Dec
Pertinência temática.
Acolhido. Regime
Jurídico: perdão por falta ao trabalho.
ADI 13, SC 17-9-07 Joaquim Barbosa LE Tab. Dec
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Pertinência temática.
Acolhido. Regime
Jurídico: perdão por
falta ao trabalho.
ADI 1.333-MC, RS 10-8-95 Octavio Gallotti LE Tab. Dec.
Pertinência temática.
Afastado. Estatuo do
Magistério estadual.
Alteração de
composição de
Comissão de Gestão Legitimidade.
ADI 3.114, SP 24-8-05 Carlos Britto LE Tab. Dec
1.6 NULIDADE E POSSIBILIDADE DE CONVALIDAÇÃO DO VÍCIO DE INICIATIVA
Vício formal insanável
Pronunciamento inicial do STF: Sanção posterior convalida o vício de origem
Questão relevante Acórdão J. em Relator Obj Link
Convalidação do vício
formal RMS 9.619, SP 18-10-
62 Victor Nunes LM Tab. Dec.
Convalidação do vício
formal RMS 9.628, SP 20-3-63 Ribeiro da Costa LM Tab. Dec.
Convalidação do vício
formal RMS 10.806, SP 18-4-63 Antonio Villas Boas LM Tab. Dec.
―A sanção do projeto
supre a falta de
iniciativa do Poder
Executivo‖
Súmula 5 13-12-
63
Pleno Site
Revisão de jurisprudência: vício de iniciativa é vício formal insanável
Questão relevante Acórdão J. em Relator Obj Link
Emenda Parlamentar.
Sanção presidencial.
Inconvalidação
ADI 1.070-MC, MS 23-11-
94
Celso de Mello LE Tab. Dec.
Emenda Parlamentar.
Sanção não convalida o
vício de origem.
RP 1.051, GO 2-4-81 Moreira Alves LE Tab. Dec
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
1.6.2 Iniciativa legislativa “por empréstimo”
A iniciativa deflagrada por autoridade competente (Projeto de Lei ou edição de MP) que
trate de matéria de iniciativa reservada pode ser aproveitada pelo Legislativo quando da
realização de Emendas Parlamentares em projetos similares em discussão.
Normas sujeitas à iniciativa reservada não alteram o status quo normativo.
Questão relevante Acórdão J. em Relator Obj Link
Emenda Parlamentar.
Lei promulgada pela
AL. Projeto de lei
posteriormente enviado
pelo Executivo. Vício sanado.
ADI 56, PB 3-10-02 Nelson Jobim LE Tab. Dec
Emenda parlamentar.
Iniciativa por
empréstimo.
Reprodução de normas
vigentes ou com elas
consentâneas. Vício afastado.
ADI 3.112, DF 2-5-07 Ricardo Lewandowski LF Tab. Dec.
Emenda parlamentar
Iniciativa por
empréstimo. Afinidade
lógica com PL
encaminhado pelo
Executivo. Vício afastado.
ADI 3.112, DF 2-5-07 Ricardo Lewandowski LF Tab. Dec.
Estruturação do
Sistema Nacional de
Armas. Vício afastado.
Supressão da iniciativa
reservada sobre
―estrutura‖ e
―organização‖. EC n. 32/01.
ADI 3.112, DF 2-5-07 Ricardo Lewandowski LF Tab. Dec.
1.7 “LEIS AUTORIZATIVAS” DE INICIATIVA PARLAMENTAR
Admissibilidade de leis meramente autorizativas desde que não imponham obrigações
específicas ao Poder Executivo
Questão relevante Acórdão J. em Relator Obj Link
Mera autorização, sem
prazo. ADI 2.304-MC, RS 4-10-00 Sepúlveda Pertence LF Tab. Dec.
Questão não enfrentada. ADI 860-MC, AP 27-5-93 Francisco Rezek LE Tab. Dec.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Questão não enfrentada. ADI 1.136-MC, DF 26-10-
94 Francisco Rezek LF Tab. Dec.
Questão não enfrentada. ADI 2.304-MC, SP 4-10-00 Sepúlveda Pertence LF Tab. Dec.
Mera autorização. ADI 3.394, AM 2-4-07 Eros Grau LF Tab. Dec.
Invasão da reserva de
decreto. Comissão
permanente de
negociação: lei
autorizativa.
Inconstitucionalidade
material.
ADI 2.569, CE 19-3-03 Carlos Velloso LE Tab. Dec
1.8 INTERFERÊNCIAS ENTRE EXECUTIVO E LEGISLATIVO EM RELAÇÃO À
INICIATIVA LEGISLATIVA
1.8.1 Reserva de decreto e impossibilidade de regulamentação legal
Des-legalização da disciplina jurídica da organização e funcionamento da Administração
Pública. Sujeição desta matéria à ―reserva de decreto‖.
Questão relevante Acórdão J. em Relator Obj Link
Decreto autônomo.
Inconstitucionalidade.
Reserva legal. Desvio de função.
ADI 3.614, PR 20-9-07 Gilmar Mendes DEC Tab. Dec.
Iniciativa parlamentar.
Reserva de decreto. ADI 2.857, ES 30-8-07 Joaquim Barbosa LE Tab. Dec
Invasão da reserva de
decreto. Comissão
permanente de
negociação: lei
autorizativa.
Inconstitucionalidade material.
ADI 2.569, CE 19-3-03 Carlos Velloso LE Tab. Dec
Organização: atribuições. Iniciativa reservada. Reserva de decreto.
ADI 3.254, ES 16-11-
05 Ellen Gracie LE Tab. Dec.
Regulamentação por lei.
Reserva de decreto.
Matéria passível de
regulamentação
autônoma. Criação de
ADI 2.707, SC 15-2-06 Joaquim Barbosa LE Tab. Dec.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Comissão
Reserva de decreto.
Decreto. Fixação de teto
salarial (37, XI). Não há
ofensa à ―reserva legal‖.
ADI 1.590-MC, SP 19-6-97 Sepúlveda Pertence DEC Tab. Dec
Reserva de decreto.
Regulamentação interna pelo Executivo.
ADI 2.806, RS 23-4-03 Ilmar Galvão LE Tab. Dec.
Vedação imposta pela
CE. ADI 1.348, RJ 21-2-08 Carmen Lúcia CE Tab. Dec.
A EC n. 32/02 operou uma diminuição da iniciativa reservada em matéria de organização e
funcionamento da Administração Pública (Equívocos do STF)
Questão relevante Acórdão J. em Relator Obj Link
Exclusão da iniciativa
reservada sobre
organização e
funcionamento da A.P.
ADI 3.112, DF 2-5-07 Ricardo Lewandowski LF Tab. Dec.
Exclusão da iniciativa
reservada sobre
organização e
funcionamento da A.P.
ADI 2.734-MC, ES 26-2-03 Moreira Alves LE Tab. Dec.
1.8.2 Transferência legislativa ao Executivo em ofensa à ―reserva legal‖
Questão relevante Acórdão J. em Relator Obj Link
Capacidade de auto-
organização. Polícia
Civil. Chefia. Escolha
dentre delegados de
carreira. Lista tríplice.
Vício acolhido.
ADI 2.710, ES 23-4-03 Sydney Sanches EC/CE Tab. Dec
Capacidade de auto-
organização. Polícia
Civil. Chefia. Escolha
dentre delegados de
carreira. Lista tríplice.
Vício acolhido.
ADI 2.710-MC, ES
13-11-
02 Sydney Sanches EC/CE Tab. Dec
Delegação legislativa
imprópria. Ofensa
―reserva legal‖.
Benefício fiscal: isenção
ADI 1.247- MC, PA 17-8-95 Celso de Mello LE Tab. Dec
Delegação legislativa
imprópria. Ofensa
―reserva legal‖.
Cargos: criação,
atribuições e vencimento.
RMS 3.569, SP 3-9-56 Lafayette de Andrada LE Tab. Dec.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Instrumento de
delegação anômalo.
Autorização
legislativa para dispor
sobre alienação de bens públicos.
ADI 425, TO 4-9-02 Maurício Corrêa CE Tab. Dec
Lei que autoriza a
criação de cargos
públicos por decreto
do Executivo.
ADI 3.232, TO 14-8-08 Cezar Peluso LE Tab. Dec.
Servidor Público: criação de cargos, atribuições e remuneração. Transferência ao Executivo. Violação ao princípio da reserva legal.
ADI 3.232, TO 14-8-
08.
Cezar Peluso LE Tab. Dec.
2. DELIMITAÇÃO DA ABRANGÊNCIA DE CADA UMA DAS HIPÓTESES DE
INICIATIVA RESERVADA CONSTITUCIONALMENTE PREVISTAS
2.1 DISCIPLINA DAS FORÇAS ARMADAS
§ 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que:
I - fixem ou modifiquem os efetivos das Forças Armadas;
II - disponham sobre:
(...) f) militares das Forças Armadas, seu regime jurídico, provimento de cargos,
promoções, estabilidade, remuneração, reforma e transferência para a reserva (EC n.
18/98)
2.1.1 Vício Acolhido
Questão relevante Acórdão J. em Relator Obj Link
Corpo de Bombeiros.
Servidor: extinção de
cargos e regime jurídico
(regras de promoção na carreira).
ADI 2.742, ES 20-3-03 Maurício Corrêa LE Tab. Dec.
DF: Vencimentos da PM
e BM. Lei distrital.
Competência da União reconhecida.
Vantagem pecuniária.
Reserva de iniciativa. Vício reconhecido.
ADI 2.988, DF 4-3-04 Cezar Peluso LD Tab. Dec
Militar. Gratificação para
exercício de função na
Assembléia Distrital. Vício formal acolhido.
ADI 2.705, DF 9-10-03 Ellen Gracie LD Tab. Dec.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Regime jurídico de
militar. ADI 2.741, ES 21-8-03 Ellen Gracie LE Tab. Dec.
Regime jurídico de
servidor militar. Juízo de
oportunidade violado.
Fixação de prazo para envio do PL.
ADI 2.393, AL 28-3-03 Sydney Sanches EC/CE Tab. Dec.
Remuneração: aumento ADI 1.124-MC, RN 21-9-94 Francisco Rezek LE Tab. Dec
Remuneração: aumento ADI 1.124, RN 2-3-05 Eros Grau LE Tab. Dec
Servidores militares.
Regime jurídico: promoção e reserva.
ADI 2.748, ES 21-8-03 Ellen Gracie LE Tab. Dec.
2.2 REGULAMENTAÇÃO DO REGIME DE PESSOAL
§ 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que:
II - disponham sobre:
a) criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração direta e
autárquica ou aumento de sua remuneração;
(...)
c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico, provimento de
cargos, estabilidade e aposentadoria;
2.2.1 Alínea ―a‖: Vício Acolhido
Questão
relevante
Acórdão J. em Relator Obj Link
Aumento de
remuneração. ADI 1.487, SC 12-2-03 Sydney Sanches LE Tab. Dec
Cargos: criação e
provimento. Vício reconhecido.
ADI 3.051, MG 30-6-05 Carlos Britto EC/CE Tab. Dec
PGE: Condições
p/nomeação.
Limitação à
prerrogativa
Executivo.
ADI 217, PB 28-8-02 Ilmar Galvão CE Tab. Dec
Remuneração.
Aumento.
Tribunal de
Contas e
Ministério
Público
ADI 45-MC, MG 17-5-89 Aldir Passarinho CE Tab. Dec
Remuneração:
aumento. ADI 2.892, ES 19-2-04 Carlos Velloso LE Tab. Dec
Remuneração:
Equiparação. ADI 549, DF 6-5-99 Carlos Velloso LD Tab. Dec
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
2.2.2 Alínea ―a‖: Vício Afastado
Questão relevante Acórdão J. em Relator Obj Link
Cargo: criação.
―Inclui-se na
estrutura
organizacional
básica (...) o cargo
em comissão de
Diretor-Técnico‖.
Não há criação de
cargo. Vício
afastado.
ADI 2734-MC, ES 26-2-03 Moreira Alves LE Tab. Dec
Correção
monetária fixada
na CE. Utilização
de índice federal
(BTN).
ADI 278-MC, MS 29-6-90 Celso de Mello LE Tab. Dec
Remuneração:
alteração do
quadro de pessoal
da CD e SF.
Iniciativa
parlamentar.
Ofensa não
caracterizada.
ADI 3.599, DF 21-5-07 Gilmar Mendes LF Tab. Dec
2.2.3 Alínea ―c‖: Vício Acolhido
Questão relevante Acórdão J. em Relator Obj Link
Iniciativa parlamentar.
Regime jurídico e aposentadoria.
ADI 872, RS 28-2-03 Ellen Gracie LE Tab. Dec
Iniciativa parlamentar.
Regime jurídico e
aposentadoria.
ADI 872-MC, RS 3-6-93 Sepúlveda Pertence LE Tab. Dec
Iniciativa parlamentar.
Regime jurídico:
posse. Documentação
necessária. Vício acolhido.
ADI 2.420, ES 24-2-05 Ellen Gracie LE Tab. Dec
Regime Jurídico
/Remuneração.
Jornada de trabalho e
adicional noturno.
ADI 766, RS 11-11-
98
Celso de Mello LE Tab. Dec
Regime jurídico. ADI 864, RS 25-4-96 Moreira Alves LE Tab. Dec
Regime jurídico.
Ampliação de ADI 1.060-MC, RS 1-8-94 Carlos Velloso LE Tab. Dec
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
benefício.
Regime jurídico.
Redução jornada de
trabalho de servidores
do Poder Judiciário. Vício acolhido.
ADI 2.400-MC, SC 19-4-01 Ilmar Galvão LE Tab. Dec
Regime jurídico.
Servidores:
aproveitamento. Vício acolhido.
ADI 2.689, RN 9-10-03 Ellen Gracie LE Tab. Dec.
Regime jurídico. Vício acolhido.
ADI 665, DF 6-9-95 Sydney Sanches LD Tab. Dec
Regime Jurídico/
Remuneração. Jornada
de trabalho e adicional noturno.
ADI 766-MC, RS 3-9-92 Celso de Mello LE Tab. Dec
Regime
Jurídico/Remuneração. Aposentadoria.
ADI 1.895, SC 2-8-07 Sepúlveda Pertence LE Tab. Dec
Regime
Jurídico/Remuneração.
Organização do
Quadro da Secretaria
de Segurança Pública. Vício acolhido.
ADI 2.029, SC
4-6-07 Ricardo Lewandowski LE Tab. Dec
Regime
jurídico/Remuneração. Vício acolhido.
ADI 2.754, ES 3-4-03 Sydney Sanches LE Tab. Dec.
Regime jurídico:
anistia a faltas de
servidores. Vício reconhecido.
ADI 1.594, RN 4-6-08 Eros Grau LE Tab. Dec
Regime Jurídico:
Inaplicabilidade
negociação coletiva
aos servidores públicos.
ADI 554, MT 15-2-06 Eros Grau LE Tab. Dec
Regime Jurídico:
Jornada de trabalho
diferenciada. (inconst).
ADI 407, MS 3-2-90 Nelson Jobim LE Tab. Dec
Regime Jurídico:
jornada de trabalho:
profissionais da área
da saúde. Vício reconhecido.
ADI 3.175, AP 17-5-07 Gilmar Mendes LE Tab. Dec
Regime Jurídico:
nomeação dos
aprovados em
concursos públicos.
Fixação de prazo
máximo. Usurpação de
iniciativa reservada. Vício acolhido.
ADI 2.931, RJ 24-2-05 Carlos Britto CE Tab. Dec
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Regime Jurídico:
perdão por falta ao trabalho.
ADI 1.440-MC, SC 30-6-96 Ilmar Galvão LE Tab. Dec
Regime Jurídico:
Processo de
investidura e descanso semanal remunerado.
ADI 2.806, RS 23-4-03 Ilmar Galvão LE Tab. Dec.
Regime Jurídico:
Proibição de fixação
de limite máximo de
idade em concursos.
Vício acolhido.
ADI 776, RS 2-8-07 Sepúlveda Pertence LE Tab. Dec
Regime Jurídico:
Proibição de fixação
de limite máximo de
idade em concursos. Vício acolhido.
ADI 776-MC, RS 7-10-92 Sepúlveda Pertence LE Tab. Dec
Regime Jurídico:
Redução de jornada de
trabalho. Vício acolhido.
ADI 3.739, PR 17-5-07 Gilmar Mendes LE Tab. Dec.
Regime Jurídico: Taxa
de inscrição em
concurso público:
limites e isenções.
Vício formal
reconhecido.
ADI 1.568-MC, ES 6-5-97 Carlos Velloso LE Tab. Dec.
Regime Jurídico:
Usurpação da
iniciativa reservada. Aumento de despesa
ADI 227, RJ 19-11-
97
Maurício Corrêa CE Tab. Dec
Servidores:
transferência e
aproveitamentos.
Vício reconhecido.
ADI 3.061, AP 5-4-06 Carlos Britto LE Tab. Dec.
Regime Jurídico:
Inaplicabilidade
negociação coletiva
aos servidores públicos.
ADI 554-MC, MT 8-8-91 Célio Borja LE Tab. Dec
2.2.4 Alínea ―c‖: Vício Afastado
Questão relevante Acórdão J. em Relator Obj Link
Decisão anterior do
STF que suspendeu
dispositivo da C.E.
por violar cláusula de
reserva. Benefício
concedido agora por
lei de iniciativa do
ADI 1.279-MC, PE 27-9-95 Maurício Corrêa LE Tab. Dec
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Executivo. Não há
ofensa à coisa julgada
e ao art. 61, II, ―c‖
Iniciativa
parlamentar.
Regime jurídico:
criação e alteração no
regime de multas.
Vício afastado.
ADI 2.672, ES 22-6-06 Carlos Britto LE Tab. Dec
Regime Jurídico:
Data para pagamento
e correção monetária.
(const)
ADI 559, MT 15-2-06 Eros Grau LE Tab. Dec
Regime Jurídico:
Data para pagamento
e correção monetária.
(const)
ADI 559-MC, MT 8-8-91 Célio Borja LE Tab. Dec
Regime Jurídico:
Data para pagamento
e correção monetária.
(vício afastado)
ADI 144-MC, RN 22-11-
89
Octavio Gallotti CE Tab. Dec
Regime Jurídico:
Data para pagamento
e correção monetária.
(vício afastado)
ADI 176-MC, MT 21-2-90 Carlos Madeira CE Tab. Dec
2.3 ORGANIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
§ 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que:
II - disponham sobre: (...)
e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública, observado o
disposto no art. 84, VI (redação determinada pela EC n. 19/98)
2.3.1 Vício acolhido
Questão relevante Acórdão J. em Relator Obj Link
Órgão de execução:
atribuição nova.
Fixação de
Programa de Ação.
Alteração na
estrutura funcional
da Secretaria de
ADI 2.799-MC, RS 1-4-04 Marco Aurélio LE Tab. Dec
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Estado. Vício
acolhido.
Administração
Pública indireta:
regulamentação.
Participação dos
empregados na sua
gestão. Vício
acolhido.
ADI 2.296-MC, RS 16-11-
00
Sepúlveda Pertence LE Tab. Dec
Comissão: criação.
Comissão
Executiva da
Política de
Preservação,
recuperação e
utilização
sustentável dos
ecossistemas do
Complexo Lagunar
Sul. Vício
acolhido.
ADI 2.707, SC 15-2-06 Joaquim Barbosa LE Tab. Dec.
Conselho
deliberativo:
Criação e
organização no
âmbito do
P.Executivo
ADI 3.751, SP 4-6-07 Gilmar Mendes LE Tab. Dec.
Conselho: criação.
Conselho de
Transporte da
Região
Metropolitana de
São Paulo – CTM.
ADI 1.391, SP 9-5-02 Sepúlveda Pertenc LE Tab. Dec
Conselho: criação.
Programa Estadual
de Iluminação
Pública. Conselho
de Administração.
ADI 1.144, RS 16-8-06 Eros Grau LE Tab. Dec
Conselho: criação.
Programa Estadual
de Iluminação
Pública. Conselho
de Administração.
ADI 1.144-MC, RS 23-2-95 Francisco Rezek LE Tab. Dec
Iniciativa
parlamentar
Conselho: criação.
Conselho de
Comunicação
Social do Estado.
ADI 821-MC, RS 5-2-93 Octávio Gallotti LE Tab. Dec
Instituição de pólo. ADI 2.808, RS 24-8-06 Gilmar Mendes LE Tab. Dec.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Pólo estadual de
música erudita.
Estrutura e
atribuição de
órgãos da
Administração
Pública.
Organização da
Polícia Militar.
Vício reconhecido.
ADI 2.646, SP 20-3-03 Maurício Corrêa LE Tab. Dec
Órgão de execução:
criação, extinção e
regulamentação de
órgãos na estrutura
adm. do Estado.
ADI 2.750, ES 6-4-05 Eros Grau LE Tab. Dec.
Órgão de execução:
novas atribuições.
ADI 2.857, ES 30-8-07 Joaquim Barbosa LE Tab. Dec
Órgão: alteração
nomenclatura e
atribuições.
Delegacia de
Ensino.
ADI 2.417, SP 3-9-03 Maurício Corrêa LE Tab. Dec
Órgão: alteração
nomenclatura e
atribuições.
Delegacia de
Ensino.
ADI 2.417-MC, SP 18-4-01 Maurício Corrêa LE Tab. Dec
Órgão: atribuição
de novas tarefas.
DETRAN.
ADI 2.719, ES 20-3-03 Carlos Velloso LE Tab. Dec
Órgão: criação de
novos órgãos.
CIRETRANs.
ADI 2.720, ES 20-3-03 Sepúlveda Pertence LE Tab. Dec
Órgão: criação de
novos órgãos.
CIRETRANs.
ADI 2.721, ES 6-8-03 Maurício Corrêa LE Tab. Dec
Órgão: criação.
Conselho Estadual
de Controle e
Fiscalização do
Sangue.
ADI 1.275, SP 16-5-07 Ricardo Lewandowski LE Tab. Dec.
Órgão: criação.
Conselho Estadual
de Controle e
Fiscalização do
Sangue.
ADI 1.275-MC, SP 20-9-05 Marco Aurélio LE Tab. Dec.
Órgão: criação.
Museu gaúcho.
ADI 2.302-MC, RS 2-5-01 Néri da Silveira LE Tab. Dec
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Órgão: criação.
Museu gaúcho.
ADI 2.302, RS 15-2-06 Gilmar Mendes LE Tab. Dec
Órgãos executivos:
nova atribuição.
ADI 2.372-MC, ES 21-8-02 Sydney Sanches LE Tab. Dec
Órgãos executivos:
novas atribuições.
ADI 2.239-MC, SC 9-11-00 Ilmar Galvão LE Tab. Dec.
Poder Const.
Estadual Reform.
Conselho: alteração
da composição.
CEE. Inclusão de
representante do
Poder Legislativo.
ADI 2.654-MC, AL 26-6-02 Sepúlveda Pertence EC/CE Tab. Dec
Poder Constituinte
Decorrente
Conselho: criação.
Conselho de
Comunicação
Social do Estado.
ADI 821-MC, RS 5-2-93 Octávio Gallotti CE Tab. Dec
Serviço a ser
implantado: dever
do Executivo de
instituir e
organizar. Sistema
de Avaliação de
Satisfação de
Usuários de
Serviços Públicos.
ADI 3.180, AP 17-5-07 Joaquim Barbosa LE Tab. Dec
Serviço:
organização.
Acompanhamento
preventivo de
saúde aos
servidores.
ADI 3.403, SP 18-6-07 Joaquim Barbosa LE Tab. Dec
2.3.2 Vício afastado
Questão relevante Acórdão J. em Relator Obj Link
Estruturação do Sistema Nacional
de Armas. Vício afastado.
Supressão da iniciativa reservada
sobre ―estrutura‖ e ―organização‖. EC n. 32/01.
ADI
3.112, DF
2-5-07 Ricardo
Lewandowski
LF Tab. Dec.
Organização Administrativa.
Inclusão de formação específica
para magistério. Ausência de conflito com LDB.
ADI 1.399,
SP
3-3-04 Maurício Corrêa LE Tab. Dec
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Organização Administrativa.
Inclusão de formação específica
para magistério. Ausência de
conflito com LDB.
ADI 1.399-
MC, SP
14-3-96 Maurício Corrêa LE Tab. Dec
Organização. Supressão da
iniciativa reservada das matérias
relativas à ―estruturação‖ e ―atribuições‖ (EC 32/01).
ADI
2734-
MC, ES
26-2-03 Moreira Alves LE Tab. Dec.
Organização: atribuições. Iniciativa
reservada. Reserva de decreto. ADI
3.254, ES
16-11-05 Ellen Gracie LE Tab. Dec.
Poder Constituinte Decorrente.
Órgão executivo: criação.
Possibilidade. Fundação de amparo
à pesquisa.
ADI 550,
MT
29-8-02 Ilmar Galvão CE Tab. Dec
Poder Constituinte Decorrente.
Capacidade de auto-organização.
Polícia Civil. Chefia. Escolha dentre delegados de carreira.
ADI 952-
MC, SC
13-10-93 Carlos Velloso CE Tab. Dec
Poder Constituinte Decorrente.
Capacidade de auto-organização.
Polícia Civil. Chefia. Escolha dentre delegados de carreira.
ADI
2.710, ES
23-4-03 Sydney Sanches EC/CE Tab. Dec
Poder Constituinte Decorrente.
Manutenção de carreiras especiais de assessoramento.
ADI 175,
PR
3-6-93 Octavio Gallotti CE Tab. Dec
Poder constituinte decorrente.
Unificação de carreira (PGE). ADI 126,
RO
29-8-01 Octavio Gallotti CE Tab. Dec
Regulamentação de atos de
publicidade. Controle da
administração.
ADI
2.472-
MC, RS
13-3-02 Maurício Corrêa LE Tab. Dec
Regulamentação de atos de
publicidade. Controle da
administração.Inconstitucionalidade material.
ADI
2.472, RS
1-4-04 Marco Aurélio LE Tab. Dec.
Serviços: implementação (dever já
reconhecido). Testes de paternidade
e maternidade.
ADI 3.394,
AM
2-4-07 Eros Grau LE Tab. Dec.
A cláusula de reserva aplica-se à organização das entidades fundacionais.
Questão
relevante
Acórdão J. em Relator Obj Link
Regime
autárquico:
fundações
ADI 2.794, DF 14-12-06 Sepúlveda Pertence LE Tab. Dec.
Regime
autárquico:
fundações
ADI 1.642, MG 3-4-08 Eros Grau LE Tab. Dec.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
2.4 ORGANIZAÇÃO DOS SERVIÇOS NOS TERRITÓRIOS: EQUÍVOCOS RECORRENTES
§ 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que:
II - disponham sobre: (...)
b) organização administrativa e judiciária, matéria tributária e orçamentária, serviços
públicos e pessoal da administração dos Territórios;
2.4.1 Reserva de iniciativa (alínea b) aplica-se exclusivamente aos territórios
Questão relevante Acórdão J. em Relator Obj Link
Direito tributário. BF:
Isenção e privilégio.
Vício afastado.
ADI 2.304-MC, RS 4-10-00 Sepúlveda Pertence LE Tab. Dec
Direito financeiro.
Iniciativa
concorrente. Previsão
de fonte de custeio:
necessidade para
eficácia. Vício
afastado.
ADI 352, SC 30-10-
97
Sepúlveda Pertence LE Tab. Dec
Direito tributário. BF:
IPVA e multas de
trânsito.
Parcelamento. Vício
afastado.
ADI 2.474, SC 19-3-03 Ellen Gracie LE Tab. Dec
2.4.2 Iniciativa em matéria tributária é concorrente (não há ofensa ao 165/CF)
Questão relevante Acórdão J. em Relator Obj Link
BF: Isenção do
ICMS. Vício
afastado.
ADI 286, RO 22-5-02 Maurício Corrêa LE Tab. Dec
BF: ampliação de
beneficiários.
ADI 724-MC, RS 7-5-92 Celso de Mello LE Tab. Dec
BF: Não-incidência,
incidência parcial e
isenção do ICMS.
Ausência de vício
formal. Vício
ADI 84, MG 15-2-96 Ilmar Galvão CE Tab. Dec
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
material
caracterizado.
BF: isenção de
pagamento de
pequenos produtores
rurais. Supressão de
receita. Vício
rejeitado.
ADI 2.072-MC, RS 17-11-
99
Octavio Gallotti LE Tab. Dec
Direito tributário.
Manutenção de
crédito fiscal em caso
de redução da base
de cálculo ou
isenção. Vício
afastado.
ADI 2.320, SC 15-2-06 Eros Grau LE Tab. Dec
Direito tributário.
Fundamentação
equivocada. Vício
formal reconhecido.
(art. 61, §1º, II, ―b‖)
ADI 2.345-MC, SC 1-8-02 Sydney Sanches LE Tab. Dec
Direito tributário.
Vício afastado.
ADI 2.392-MC, ES 28-3-01 Moreira Alves LE Tab. Dec.
Direito tributário.
BF: Desconto e
parcelamento do
IPVA. Vício
afastado.
ADI 2.464, AP 11-4-07 Ellen Gracie LE Tab. Dec
Direito tributário.
BF: Desconto e
parcelamento do
IPVA. Vício
afastado.
ADI 2.464-MC, AP 12-6-02 Ellen Gracie LE Tab. Dec
Direito tributário.
BF: IPVA e multas
de trânsito.
Parcelamento. Vício
afastado.
ADI 2.474-MC, SC 19-6-02 Ellen Gracie LE Tab. Dec
Direito tributário.
BF: Isenções e
benefícios ICMS.
Vício formal
afastado. Inconst.
material reconhecida.
ADI 2.599-MC, MT 7-11-
02.
Moreira Alves LE Tab. Dec
Matéria tributária.
Criação e alteração
no regime de multas.
Vício afastado.
ADI 2.659, SC 3-12-03 Nelson Jobim LE Tab. Dec
Matéria tributária.
Procedimentos. Vício
ADI 2.724, SC 24-9-
03.
Gilmar Mendes LE Tab. Dec
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
afastado.
Direito tributário.
Sistema estadual de
Previdência: isenção
de contribuição de
aposentados e
pensionistas. Vício
afastado.
ADI 3.205, MS 19-10-
06.
Sepúlveda Pertence LE Tab. Dec
Serviço Público.
Vedação de
concessão de
gratuidades por lei
sem a indicação da
correspondente fonte
de custeio. Vício
afastado. Vício
afastado.
ADI 3.225, RJ 17-9-07 Cezar Peluso LE Tab. Dec
Direito financeiro.
Iniciativa
concorrente. Previsão
de fonte de custeio:
necessidade para
eficácia. Vício
afastado.
ADI 352-MC, SC 29-8-90 Celso de Mello LE Tab. Dec
Direito tributário.
Iniciativa
concorrente. Vício
afastado.
RE 362.573-AgR, MG 26-6-07 Eros Grau LE Tab. Dec.
2.4.3 Fundamentações equivocadas dos Ministros
Questão relevante Acórdão J. em Relator Obj Link
Órgãos: Segurança
Pública
ADI 2.819, RJ 6-4-05 Eros Grau LE Tab. Dec.
Órgãos: Segurança
Pública
ADI 1.182, DF 24-11-
05
Eros Grau LD Tab. Dec.
Matéria tributária ADI 2.345-MC, SC 1-8-02 Sydney Sanches LE Tab. Dec
2.5 INICIATIVA RESERVADA DOS DEMAIS ÓRGÃOS CONSTITUCIONAIS.
Questão relevante Acórdão J. em Relator Obj Link
Poder Constituinte
Decorrente. TJ:
Aumento do
número de
desembargadores,
ADI 274, PE 5-2-92 Paulo Brossard CE Tab. Dec
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
sem iniciativa.
DP: Autonomia
funcional e
administrativa
reconhecida.
ADI 494-MC, MT 16-8-91 Marco Aurélio LCE Tab. Dec
Poder constituinte
decorrente.
DP: Autonomia
funcional e
administrativa
negada.
ADI 575, PI 25-3-99 Sepúlveda Pertence CE Tab. Dec
Poder constituinte
decorrente.
DP: Autonomia
funcional e
administrativa
negada.
ADI 575-MC, PI 13-11-
91
Sepúlveda Pertence CE Tab. Dec
Decisão Adm. de
Tribunal. Aumento
de vencimentos a
magistrados e
servidores. URP.
Violação à reserva
legal.
ADI 661, RS 22-9-94 Néri da Silveira Dec.
Adm.
TRT
Tab. Dec
Decisão
Administrativa de
Tribunal. Aumento
de vencimentos a
magistrados URV.
Violação à reserva
legal.
ADI 1.801-MC, PE
11-3-98 Maurício Corrêa RES
TJ/PE
Tab. Dec
Poder Constituinte
Reformador
Estadual. Iniciativa
reservada do TCE.
ADI 1.994, ES 24-5-06 Eros Grau EC/CE Tab. Dec
Resolução. Cálculo
de verba de
representação.
Violação à reserva
legal.
ADI 2.104, DF 21-11-
07
Eros Grau RES Tab. Dec.
Poder Constituinte
Decorrente.
Limite de
desembargadores
em Constituição
estadual viola a
iniciativa reservada
do TJ para
disciplinar a
questão.
ADI 3.362, BA 30-8-07 Marco Aurélio CE Tab. Dec
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Emenda
Parlamentar.
Aumento de
despesa. Iniciativa
do TJ.
ADI 4.062-MC, SC 4-6-08 Joaquim Barbosa LE Tab. Dec
Emenda
Parlamentar
Aumento de
despesa. Iniciativa
do MP.
ADI 4.075-MC, SC
4-6-08 Joaquim Barbosa LE Tab. Dec.
Resolução
Legislativa.
Remuneração de
servidores. Reserva
legal. (inconst.).
MS 22.644, DF 1º-9-99. Ilmar Galvão RES Tab. Dec.
Emenda
parlamentar
Organização
judiciária.
Aumento de
despesa: não
ocorrência.
Emenda sobre
matéria de
iniciativa comum.
Vício afastado.
RE 140.542, RJ 30-9-93 Ilmar Galvão LE Tab. Dec.
Emenda
parlamentar.
Iniciativa do Poder
Judiciário.
RMS 9.315, RJ 21-3-66 Prado Kelly LE Tab. Dec
TABELAS DAS DECISÕES
ACÓRDÃO TÓPICOS
RELEVANTES
EMENTA PDF
ADI 13, SC
Rel. Joaquim Barbosa,
j. em 17-9-07
Emenda Parlamentar.
1. Aumento de
remuneração de
servidores públicos
estaduais.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. RESERVA
DE INICIATIVA. AUMENTO DE REMUNERAÇÃO DE
SERVIDORES. PERDÃO POR FALTA AO TRABALHO. INCONSTITUCIONALIDADE.
Lei 1.115/1988 do estado de Santa Catarina. Projeto de lei de
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
2. Pertinência temática.
R.J.: perdão por falta de
trabalho.
iniciativa do governador emendado pela Assembléia Legislativa.
Fere o art. 61, § 1º, II, a, da Constituição federal de 1988 emenda
parlamentar que disponha sobre aumento de remuneração de
servidores públicos estaduais. Precedentes.
Ofende o art. 61, § 1º, II, c, e o art. 2º da Constituição federal de
1988 emenda parlamentar que estabeleça perdão a servidores por falta ao trabalho. Precedentes.
Pedido julgado procedente.
ADI 37-MC,
DF
Rel. Francisco Rezek,
j. 12-4-89
Separação de Poderes.
Medida Provisória. Plano
de Estabilização
Econômica. Afastamento
das regras orçamentárias
(art. 168).
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. MEDIDA
CAUTELAR. DOTAÇÕES ORÇAMENTÁRIAS DESTINADAS AO LEGISLATIVO, JUDICIÁRIO E MINISTÉRIO PÚBLICO.
Dispositivo de Medida Provisória que parece pretender contornar o
art. 168 da Carta da República, visto que afasta o prazo de entrega
das dotações orçamentárias ao Legislativo, Judiciário e Ministério Público. Medida cautelar deferida.
Arq.
ADI 45-MC,
MG
Rel. Aldir
Passarinho, j. em 17-5-89.
Iniciativa legislativa.
Remuneração. Aumento.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. MEDIDA
LIMINAR: PRESSUPOSTOS OCORRENTES. LIMINAR
CONCEDIDA. ART. 15 E SEU PARÁGRAFO ÚNICO DA LEI
ESTADUAL N. 9730, DE 5 DE DEZEMBRO DE 1988, DE
MINAS GERAIS.
Tratando o art. 15 e seu parágrafo único da lei 9730, de 5.dez.1988,
do Estado de Minas Gerais, de reajuste trimestral dos vencimentos
de conselheiros e auditores do Tribunal de Contas daquele estado e
dos membros do Ministério Público também daquela unidade da
federação, e sendo alegada falta de iniciativa do Chefe do Poder
Executivo para tal determinação legal, e a vista de precedentes da
corte, em casos semelhantes em que foi deferida a liminar, e ela, no
caso, de igualmente ser deferida para suspensão dos efeitos do mencionado art. 15 e seu parágrafo único, até o julgamento da ação.
Arq.
ADI 56, PB,
Rel. Nelson Jobim,
j. em 3-10-02.
Emenda Parlamentar.
1. Iniciativa por
empréstimo. Lei
promulgada pela AL.
Projeto de lei
posteriormente enviado
pelo Executivo. Vício sanado.
2. Remuneração:
vinculação.
Inconstitucionalidade material.
CONSTITUCIONAL. PROJETO DE LEI DE INICIATIVA DO
EXECUTIVO ESTADUAL COM EMENDAS
PARLAMENTARES. SERVIDORES PÚBLICOS. VETO
PARCIAL. PROMULGAÇÃO DA LEI PELA ASSEMBLÉIA.
VÍCIO DE INICIATIVA SANADO EM RELAÇÃO A DOIS DOS
DISPOSITIVOS ATACADOS, EM FACE DE POSTERIOR
PROJETO DE LEI DO EXECUTIVO.
INCONSTITUCIONALIDADE DO ARTIGO QUE DIZ
RESPEITO À VINCULAÇÃO DE DETERMINADAS
CARREIRAS AOS VENCIMENTOS E VANTAGENS DA
DEFENSORIA PÚBLICA. INCONSTITUCIONALIDADE DO
ART. 14. OFENSA AO ART. 61, § 1º, II, 'c' DA CF.
PREJUDICIALIDADE QUANTO AOS ARTIGOS 7º E 17 DA
LEI 5.219/89 ATACADA. PRECEDENTES. AÇÃO JULGADA
PROCEDENTE.
Arq.
ADI 64, RO
Rel. Carmen Lúcia,
j. em 22-11-
07
Emenda Parlamentar.
Aumento de despesa.
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
INCONSTITUCIONALIDADES FORMAL E MATERIAL DOS
ARTS. 4º E 5º DA LEI N. 227/1989, DO ESTADO DE
RONDÔNIA. AFRONTA AOS ARTS. 25, 37, INC. X E XIII, 61,
§ 1º, INC. I, ALÍNEA A, E 63 DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA.
1. Inconstitucionalidade formal dos arts. 4º e 5º da Lei n. 227/1989,
que desencadeiam aumento de despesa pública em matéria de
iniciativa privativa do Chefe do Poder Executivo. Afronta aos arts. 25; 61, § 1º, inc. I, alínea a; e 63 da Constituição da República.
2. Inconstitucionalidade material dos arts. 4º e 5º da Lei n.
227/1989, ao impor vinculação dos valores remuneratórios dos
servidores rondonienses com aqueles fixados pela União para os
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
seus servidores (art. 37, inc. XIII, da Constituição da República).
3. Afronta ao art. art. 37, inc. X, da Constituição da República, que
exige a edição de lei específica para a fixação de remuneração de
servidores públicos, o que não se mostrou compatível com o disposto na Lei estadual n. 227/89.
4. Competência privativa do Estado para legislar sobre política
remuneratória de seus servidores. Autonomia dos Estados-membros. Precedentes.
5. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente.
ADI 84, MG
Rel. Ilmar Galvão,
j. em 15-2-96
Direito tributário.
BF: Não-incidência,
incidência parcial e
isenção do ICMS.
Ausência de vício formal.
Vício material
caracterizado.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. INCISO IX
E ALINEAS D E E, DO ART. 146, E O ART. 148, CAPUT, E
PARAGRAFO ÚNICO, DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE
MINAS GERAIS, QUE INSTITUÍRAM HIPÓTESES DE NÃO-
INCIDENCIA E DE ISENÇÃO DO ICMS. Manifesta afronta,
pelos dispositivos impugnados, a norma do art. 155, par. 2., XIII,
g,da Constituição Federal, a qual, ao reservar a lei complementar a
regulamentação da forma como, mediante deliberação dos Estados
e do Distrito Federal, isenções, incentivos e benefícios fiscais serão
concedidos e revogados, na verdade, consagrou o convênio,
celebrado pelos Estados e pelo Distrito Federal, previsto na lei
complementar em causa, como o único meio pelo qual poderão ser
instituídas a não-incidência, a incidência parcial e a isenção do ICMS. Procedência da ação.
O Ministro expressamente afasta o alegado vício formal (ofensa ao
art. 61, §1º, II, ―b‖), pois a vedação constitucional refere-se à iniciativa legislativa no âmbito dos Territórios.
Arq.
ADI 97, RO
Rel. Moreira Alves,
j. em 25-6-93
Poder Constituinte Decorrente.
R.J.: Usurpação da
iniciativa reservada.
Ação direta de inconstitucionalidade. Artigos das disposições transitórias da constituição do estado de Rondônia.
- Inconstitucionalidade formal do artigo 4., por cercear, em matéria
que não se prende à organização da estrutura do estado-membro e
que, ao contrário, diz respeito a assunto tipicamente de legislação
ordinária, a iniciativa legislativa exclusiva dos poderes constituídos.
- Inconstitucionalidade formal e material do artigo 8., por permitir
forma derivada de investidura - a transferência - não admitida pela
atual constituição, como já foi decidido na ação direta de
inconstitucionalidade n. 231. Afronta ao artigo 37, II, da
constituição federal que exige concurso público não apenas para a primeira investidura.
- Inconstitucionalidade material do artigo 24, que estabelece que
"os atuais detentores de mandato eletivo, que vierem a ser
escolhidos conselheiros do Tribunal De Contas Do Estado, poderão
tomar posse e assumir após o termino do mandato". A
extravagância dessa norma e de tal ordem que, por não haver
qualquer justificativa para o tratamento desigual entre os detentores
de mandatos eletivos na data da promulgação da constituição
estadual e aqueles que não o são, fere ela o princípio da igualdade,
e viola, por linha obliqua, o impedimento do artigo 95, parágrafo
único, iii, da constituição federal que e, por força do artigo 73,
parágrafo 3., estendido aos ministros do tribunal de contas da
união, e, conseqüentemente, aos conselheiros dos tribunais de contas estaduais (artigo 75 da carta magna).
- Inconstitucionalidade formal e material do artigo 36; aquela por
ofensa ao artigo 61, parágrafo 1., ii, "a" e "c", combinado com o 25,
ambos da parte permanente da Constituição Federal e com o artigo
11, "caput", do ADCT da mesma carta magna; esta por falta de
preservação do tratamento isonômico dos servidores públicos
quanto à disciplina do regime salarial, em abstrato, de todo o
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
serviço público.
Ação direta que se julga procedente, declarando-se a
inconstitucionalidade dos artigos 4., 8., 24 e 36 das disposições
constitucionais transitórias da constituição do estado de Rondônia, promulgada em 28 de setembro de 1989.
ADI 103, RO,
Rel. Sydney Sanches,
j. em 3-8-95.
Fundamentação errada
(61, §1º, II, ―b‖).
Lei orçamentária:
iniciativa do Executivo (art. 165).
Vinculação de receita.
Vício material
caracterizado (art. 167).
- Ação Direta de Inconstitucionalidade. Art. 134 da Constituição do
Estado de Rondônia. Vinculação de receita de impostos (inc. IV do art. 167 da Constituição Federal).
1. Estabelece o art. 134 da Constituição do Estado de Rondônia:
"As diretrizes orçamentárias do Estado obedecerão ao disposto no
art. 165 da Constituição Federal, contendo ainda dispositivos que
garantam aplicações e investimentos através de convênios com os
Municípios de, no mínimo, vinte por cento dos recursos nestes
arrecadados e que caibam ao Estado, excluindo-se o destinado a educação e a saúde".
2. As expressões grifadas (em negrito) incidem em
inconstitucionalidade formal, porque permitem a destinação de
verba orçamentária, sem iniciativa do Chefe do Poder Executivo
estadual e que, ademais, é privativa (art. 61, par. 1. inciso II, "B", c/c arts.25 e 11, todos da Constituição Federal).
3. Incidem, igualmente, em inconstitucionalidade material, pois
vinculam receita tributaria, em hipótese não enquadrada nas
ressalvas contidas no inciso IV do art. 167 da Constituição Federal, ofendendo, assim, a norma proibitiva que nele se contem.
4. Ação direta julgada procedente, em parte, declarando o S.T.F. a inconstitucionalidade das referidas expressões.
Arq.
ADI 104, RO,
Rel.
Sepúlveda Pertence,
j. em 4-6-07
Restrições ao Poder
Constituinte Estadual
1. Caracterização de
fraude à iniciativa
reservada ao Poder
Executivo, quando
Constituição estadual
disciplina matéria relativa
a servidores públicos sem
caráter essencialmente constitucional.
2 Simetria respeitada.
Anistia. Infrações
administrativas por
perseguição política
I. Poder constituinte estadual: autonomia (adct, art. 11): restrições
jurisprudenciais inaplicáveis ao caso.
1. É da jurisprudência assente do Supremo Tribunal que afronta o
princípio fundamental da separação a independência dos Poderes o
trato em constituições estaduais de matéria, sem caráter
essencialmente constitucional - assim, por exemplo, a relativa à
fixação de vencimentos ou a concessão de vantagens específicas a
servidores públicos -, que caracterize fraude à iniciativa reservada
ao Poder Executivo de leis ordinárias a respeito: precedentes.
2. A jurisprudência restritiva dos poderes da Assembléia
Constituinte do Estado-membro não alcança matérias às quais,
delas cuidando, a Constituição da República emprestou alçada constitucional.
II - Anistia de infrações disciplinares de servidores estaduais: competência do estado-membro respectivo.
1. Só quando se cuidar de anistia de crimes - que se caracteriza
como abolitio criminis de efeito temporário e só retroativo - a
competência exclusiva da União se harmoniza com a competência
federal privativa para legislar sobre Direito Penal; ao contrário,
conferir à União - e somente a ela - o poder de anistiar infrações
administrativas de servidores locais constituiria exceção radical e
inexplicável ao dogma fundamental do princípio federativo - qual
seja, a autonomia administrativa de Estados e Municípios - que não
é de presumir, mas, ao contrário, reclamaria norma inequívoca da
Constituição da República (precedente: Rp 696, 06.10.66, red.
Baleeiro).
2. Compreende-se na esfera de autonomia dos Estados a anistia (ou
o cancelamento) de infrações disciplinares de seus respectivos
servidores, podendo concedê-la a Assembléia Constituinte local,
mormente quando circunscrita - a exemplo da concedida pela
Constituição da República - às punições impostas no regime decaído por motivos políticos.
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
ADI 106, RO
Rel. Carlos Velloso,
Rel. p/ac.
Gilmar Mendes
j. em 10-10-
02
Poder Constituinte
Decorrente.
1. Simetria (ofensa).
Criação de Conselho de
Governo com inclusão de outras autoridades.
2. Juízo de oportunidade
para deflagração de
processo legislativo
(supressão). Fixação de
prazo ao Poder Judiciário para enviar PL.
3. Usurpação da iniciativa
reservada. R.J.:
disposição sobre regime
jurídico único de servidor
público.
Ação Direta de Inconstitucionalidade. 2. Artigos 72, 73, 77 e 177
da Constituição do Estado de Rondônia, e 30 e 34 das Disposições
Transitórias. 3. Alegação de afronta aos artigos 2º; 22, II; 25; 41;
54, II, d; 61, § 1º; 84, II; e 96, II, b da Constituição Federal.
4. Criação e atribuições de Conselho de Governo em conformidade
com a Constituição Federal. Inconstitucionalidade da inclusão do
procurador-geral de justiça e dos presidentes dos Tribunais de Justiça e de Contas na composição do Conselho de Governo.
5. Competência do Tribunal de Justiça para criar e disciplinar seus
serviços auxiliares. 6. Inconstitucionalidade da estipulação de prazo
para que o Tribunal de Justiça envie projeto de lei dispondo sobre matéria que lhe é privativa.
7. Invade a competência legislativa privativa da União preceito que
subordina a declaração de utilidade pública, para fins de desapropriação, à prévia autorização legislativa.
8. Inconstitucionalidade formal da norma que dispõe sobre regime
jurídico de servidor público, matéria reservada à iniciativa do
Presidente da República.
9. Ação parcialmente procedente
Arq.
ADI 112, BA,
Rel. Néri da
Silveira, j. em 24-8-94.
Poder Constituinte
Decorrente.
1. R.J.: Inaplicabilidade
da negociação coletiva
aos servidores públicos
estaduais (vícios formal e material).
2. R.J.: Equiparação de
vencimentos (vícios formal e material).
Ação direta de inconstitucionalidade. Argüição de
inconstitucionalidade do art. 41, XVI, da Constituição do Estado da
Bahia, bem assim dos arts. 1, 12, 14, 19 e 22 do Ato Das
Disposições Constitucionais Transitórias da mesma constituição, e,
ainda, no art. 3. De seu ADCT, das expressões: "a cujos
procuradores autárquicos e fundacionais e servidores estaduais,
bacharéis em direito, que ali exerçam atribuições de natureza
jurídica na data da promulgação desta constituição, e garantida,
sempre, isonomia de vencimentos e vantagens com os procuradores
do estado"; bem como, no art. 8, do referido adct, das expressões:
"relativo às carreiras disciplinadas no capitulo IV do título IV desta constituição".
2. Inconstitucionalidade do inciso XVI do art. 41 da constituição
baiana. Não é possível, no âmbito da legislação estadual, assegurar
aos funcionários públicos "reconhecimento das convenções e
acordos coletivos de trabalho", por se tratar de direito reservado aos
trabalhadores privados que a constituição federal, não quis de
expresso, incluir no rol dos direitos dos trabalhadores constantes de
seu art. 7, aplicáveis aos funcionários públicos civis da União,
estados, distrito federal e municípios, nos termos do parágrafo 2.
Do art. 39 da lei maior. Constituição federal, arts. 37; 61 par. 1, inciso ii, letras "a" e "c", e art. 169, parágrafo único, incisos I e II.
3. (...)
4. (...)
5. (...)
6. (...)
7. (...)
8. Inconstitucionalidade das expressões destacadas do art. 3. Do
adct da constituição da Bahia. Ofensa aos arts. 37, xiii, e 61, par. 1.,
inciso ii, letra "c",ambos da constituição federal. Equiparação
vedada de vencimentos. Não cabe, também, a constituição estadual
estabelecer norma que, se fosse materialmente valida, seria de iniciativa privativa do chefe do poder executivo.
9. (...)
10. Ação direta de inconstitucionalidade procedente.
Arq.
ADI 120,
AM,
Rel. Moreira
Poder Constituinte
Decorrente.
1. Simetria (ofensa). A
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. - TEM O
GOVERNADOR DO ESTADO-MEMBRO CAPACIDADE
POSTULATÓRIA EM AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE. PRECEDENTE DO S.T.F.:
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Alves,
j. em 20-3-96
iniciativa reservada não
pode ter seu âmbito
material reduzido.
2. R.J.: Vinculação de vencimentos.
ADIN. N. 127.
- No tocante as expressões "será fixada pela assembléia legislativa",
constantes do par. 16 do art. 113 da Constituição do Estado do
Amazonas, elas só serão constitucionais se entendidas como se
referindo a lei cujo projeto e de iniciativa exclusiva do chefe do
poder executivo (interpretação conforme a constituição); e, no
concernente as expressões "tendo como parâmetro do comandante
geral", também constantes do citado parágrafo, são elas
inconstitucionais por ofensa ao disposto no artigo 37, XIII, da Carta
Magna, uma vez que não ocorre a exceção prevista no inciso XII do mesmo dispositivo, nem a determinada pelo par. 1. do artigo 39.
- Quanto às expressões "com piso salarial profissional nunca
inferior a três vezes o piso salarial dos funcionários públicos
estaduais", contidas na letra "e" do inciso II do artigo 199 da
Constituição do Estado do Amazonas, são inconstitucionais,
porquanto, em se tratando de estabelecimento de piso em múltiplo
de piso salarial, há a vinculação vedada pelo artigo 37, XIII, da
constituição federal.
- O artigo 40 e seu parágrafo único do ADCT da Constituição do
Estado do Amazonas são formal e materialmente inconstitucionais,
por ofensa aos artigos 61, par. 1., II, "c", 37, XIII, e 173, par. 1., da Carta Magna Federal.
Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada procedente em parte.
ADI 126, RO,
Rel. Octavio Gallotti,
j. em 29-8-01
Poder Constituinte
Decorrente
1. Unificação de carreira
(PGE). Ofensa ao II, ―e‖
não caracterizada.
2. MP: Reconhecimento
expresso de iniciativa
reservada (constitucionalidade).
1. Por não implicar criação, extinção ou transformação de cargos,
não é inconstitucional o parágrafo único do art. 13 do ADCT de Rondônia.
2. Por preterição de exigência de licitação, são incompatíveis, com
o art. 175 da Constituição Federal, o art. 32, e seu parágrafo único, daquele mesmo ADCT estadual.
3. Por tornar privado o exercício de serventias, sem observância do
requisito temporal do art. 32 do ADCT da Republica e investir
serventuários independentemente, de concurso público, na
titularidade de cartórios (art. 236, parágrafo 3., da CF), é inconstitucional o art. 266 da Constituição de Rondônia.
4. Por ser decorrência da competência assegurada nos artigos 127,
parágrafo 3. e 168 da Constituição Federal, não é com esta
incompatível o art. 98 ("caput") da Carta de Rondônia, que tornou explicita a autonomia financeira do Ministério Público.
5. Por se conter na iniciativa para a criação de cargos, não é
inconstitucional o inciso I do mesmo art. 98, que tornou explicita a
competência do Ministério Público para propor a fixação de vencimentos.
Arq.
ADI 139, RJ,
Rel. Aldir Passarinho,
Rel p/ac.
Marco Aurélio,
j. em 31-10-91
Poder Constituinte
Decorrente
1. Delimitação teórica
sobre o âmbito de
autonomia reservada à
Assembléia Constituinte estadual.
2. R.J.: Usurpação de iniciativa reservada.
SERVENTIAS JUDICIAIS E EXTRAJUDICIAIS - TITULARES -
APOSENTADORIA - INSTITUIÇÃO - ATO DAS
DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS DE
CONSTITUIÇÃO ESTADUAL - CONFLITO COM A LEI
BÁSICA FEDERAL.
A criação do direito a aposentadoria dos titulares das Serventias
Judiciais e Extrajudiciais mediante norma transitória de
Constituição Estadual vulnera a regra segundo a qual os Estados
organizam-se e regem-se pelas respectivas Constituições e leis que
adotarem, observados os princípios que decorrem da Lei Básica Federal.
A autonomia das Assembléias Constituintes Estaduais está ligada a
estrutura e organização do Estado, não alcançando o tratamento de
situações individualizadas, especialmente quando afaste o princípio
de que cabe ao Chefe do Poder Executivo a iniciativa de leis que
disponham sobre servidores, regime jurídico, provimento de cargos,
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
estabilidade e aposentadoria de civis, bem como reforma e
transferência de militares para a inatividade. Ao discrepar desse
contexto, mostra-se inconstitucional o artigo 82 do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias do Estado do Rio de
Janeiro, no que contemplou com aposentadoria, considerados
proventos iguais a sessenta por cento dos vencimentos dos juízes de
direito, aqueles que fossem, a época, os titulares das Serventias.
Artigos 11 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, 25 e 61, inciso II, alínea "c" da Constituição Federal de 1988.
ADI 144-MC,
RN
Rel. Octavio Gallotti,
j. em 22-11-89.
Restrições ao Poder
Constituinte Estadual
Data para pagamento +
Correção monetária.
Não há ofensa.
SERVIDORES ESTADUAIS. CORREÇÃO MONETÁRIA DOS
VENCIMENTOS PAGOS APÓS O ÚLTIMO DIA DE CADA
MÊS. SUSPENSÃO CAUTELAR DO PAR. 5. DO ART. 28 DA
CONSTITUIÇÃO DO RIO GRANDE DO NORTE, APENAS NO
TOCANTE AOS SERVIDORES MUNICIPAIS, BEM COMO
AOS DAS EMPRESAS PUBLICAS E SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA.
Arq.
ADI 152, MG
Rel. Ilmar Galvão,
j. em 18-3-92
Poder Constituinte
Decorrente
R.J.: Usurpação de
iniciativa reservada.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 286
DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, QUE
CONSIDERA COMO DE PROFESSOR, PARA OS FINS DE
APOSENTADORIA E DISPONIBILIDADE E DE TODOS OS
DIREITOS E VANTAGENS DA CARREIRA, O TEMPO DE
SERVIÇO DE OCUPANTE DE CARGO OU FUNÇÃO DO
QUADRO DO MAGISTÉRIO OU DE REGENTE DE ENSINO.
Inconstitucionalidade material, no que concerne a aposentadoria
especial de professor, prevista no art. 40, III, "b" da CF/88, já que a
estendeu a todos os cargos e funções do "Quadro do Magistério" e,
ainda, ao de "Regente de Ensino", resultando contempladas pelo
benefício classes de servidores ligadas exclusivamente a atividades
de caráter administrativo, estranhas a sala de aula.
Inconstitucionalidade formal, no alusivo as demais vantagens, por
afronta ao princípio da independência dos Poderes do Estado, a que
estava adstrito o Constituinte Estadual, por força do disposto no art.
25, da CF/88 e no art. 11 do ADCT/88, posto que se trata de
matéria de iniciativa privativa do Governador do Estado.
Procedência da ação, declarada a inconstitucionalidade do art. 286 da Constituição do Estado de Minas Gerais.
Arq.
ADI 171, MG
Rel. Ilmar
Galvão,
Rel. p/ac.
Sepúlveda Pertence,
j. em 15-4-03
Poder Constituinte
Estadual
1. Reconhecimento de
iniciativa reservada do
MP para propor projeto
de lei em matéria atinente
à fixação de vencimentos.
ISONOMIA DE VENCIMENTOS DAS "CARREIRAS
JURÍDICAS" (CF, ARTS. 135, 241, 37, XIII E 39, PAR. 1.): INTELIGÊNCIA E ALCANCE.
1. Recusa do entendimento de que o sentido do art. 135 CF, não
seria o de vincular reciprocamente a remuneração das diferentes
carreiras a que alude, mas apenas o de explicitar que a cada uma
delas se aplica o art. 39, par. 1.: sendo certo que os princípios e
regras constitucionais gerais atinentes aos servidores públicos,
incluído o da isonomia do art. 39, par. 1., se aplicam, salvo
disposição em contrário, às carreiras especiais previstas na própria
constituição. A interpretação proposta, além de reduzir a nada o
sentido do art. 135, contraria a significação inequívoca que lhe advêm da conjugação com o art. 241 da Lei Fundamental.
2. Para não subtrair-lhes o efeito útil, o significado a emprestar aos
arts. 135 e 241, CF, há de ser o de que, para os fins do art. 39, par.
1., as carreiras a que se referem se consideram assemelhadas por
força da constituição, independentemente da similitude real ou não
das atribuições dos cargos que as compõem ou de suas características fundamentais.
3.Dessa assimilação ficta, imposta pela constituição, a constituição
mesma, entretanto, impõe que, mediante redução sistemática do
alcance aparente do art. 135, se exclua do seu campo normativo a
carreira do ministério público: além de seu inconfundível perfil
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
constitucional, a iniciativa reservada ao próprio Ministério Público
para a propositura da fixação dos vencimentos dos seus membros é
incompatível com a pretendida regra de compulsória equiparação
deles aos de servidores cuja remuneração é fixada em lei de iniciativa exclusiva do Poder Executivo.
4. Constitucionalidade do art. 273 da Constituição do Estado de
Minas Gerais, no que assegura a isonomia de vencimentos entre as
carreiras de Procurador do Estado e da Fazenda Estadual, de
Defensor Público e de Delegado de Polícia, reduzida a declaração
de inconstitucionalidade à alusão, na mesma regra, a do Ministério Público.
ADI 175, PR
Rel. Octavio Gallotti,
j. em 3-6-93
Poder Constituinte
Estadual
1. R.J.: Usurpação da
iniciativa reservada.
Licença e direito a creche.
2. Vencimentos: correção
monetária por atraso. Vício afastado.
3. Manutenção de
carreiras especiais de
assessoramento. Constitucionalidade.
1. Funcionalismo. Licença especial e direito a creche.
Inconstitucionalidade dos itens XVIII e XXI do art. 34 da
constituição do Paraná, por tratarem de matéria sujeita a iniciativa
privativa do Chefe do Poder Executivo (art. 61, par. 1., "c" e "d", da Carta Federal).
2. Correção monetária de vencimentos em atraso (par. 7. do art. 27 da carta paranaense), não incompatível com a Constituição Federal.
3. Banco regional do desenvolvimento do extremo sul. Natureza
autárquica não caracterizada, não podendo também o estado dispor,
isoladamente, sobre regime dos servidores da empresa (art. 46 do
ADCT do Paraná), sem o concurso das duas outras unidades da federação, dela participantes (art. 25 da constituição federal).
4. Inconstitucionalidade do art. 55 do ADCT do Paraná, por dilatar
a exceção de dispensa de concurso para o cargo de defensor
público, prevista no art. 22 das disposições transitórias federais,
infringindo os artigos 37,II, e 134, parágrafo único, da Constituição da República.
5. Compatibilidade, com o art. 132 da Carta Federal e o art. 69 do
respectivo ADCT, da manutenção, pelo art. 56 da constituição
paranaense, de carreiras especiais, voltadas ao assessoramento
jurídico, sob a coordenação da Procuradoria Geral do Estado.
6. Ação direta julgada, em parte, procedente.
Arq.
ADI 175-MC,
PR
Rel. Octavio
Gallotti,
j. em 9-2-90
Restrições ao Poder
Constituinte Estadual
Fraude à separação de
poderes.
Data para remuneração.
- Ação Direta de Inconstitucionalidade. Suspensão cautelar dos
dispositivos da constituição do Paraná que outorgam, aos
servidores públicos, os direitos de licença-prêmio e creche para os
filhos (art. 34, xviii e xxi), bem como estabilidade aos empregados
do BRDE (art. 46 do ADCT) e o enquadramento de servidores na carreira de defensor público (art. 55 do ADCT).
Liminar indeferida, quanto a correção monetária dos vencimentos
pagos após o último dia útil do mês vencido (art. 27, par-7), e ainda
quanto a integração, em carreiras especiais, dos ocupantes de
cargos e empregos de advogados, assessores e assistentes jurídicos
estáveis de cada um dos três poderes (art. 56, parágrafos 2 e 3, do
ADCT).
Arq.
ADI 176-MC,
MT
Rel. Carlos
Madeira,
j. em 21-2-90.
Restrições ao Poder
Constituinte Estadual
Data para pagamento +
Correção monetária.
Não há ofensa.
- AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGO
147, PARAGRAFOS 2., 3. E 4. DA CONSTITUIÇÃO DO
ESTADO DE MATO GROSSO. CORREÇÃO MONETÁRIA DE
VENCIMENTOS PAGOS COM ATRASO. SUSPENSÃO
CAUTELAR DENEGADA, EM FACE DA ORIENTAÇÃO
ADOTADA NA AÇÃO DIRETA N. 144, DO RIO GRANDE DO NORTE, EM SESSAO PLENARIA DE 11.11.89.
Arq.
ADI 182, RS
Rel. Sydney
Sanches,
j. em 5-11-97
Poder Constituinte
Decorrente
R.J.: Usurpação da iniciativa reservada.
DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO.
FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS. CARGOS EM COMISSÃO.
VANTAGEM. REGIME JURÍDICO. CONSTITUIÇÃO
ESTADUAL. PODER DE INICIATIVA DE LEI. LIVRE
EXONERAÇÃO. AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE DOS PARÁGRAFOS 3º, 4º E 5º
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
DO ART. 32 DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL. ARTIGOS 25, 37, II, 61, § 1º, "C", DA C.F.
DE 1988 E ART. 11 DO ADCT.
1. Estabelece o art. 32 da Constituição do Estado do Rio Grande do
Sul, de 1989: "Art. 32 - Os cargos em comissão, criados por lei em
número e com remuneração certos e com atribuições definidas de
chefia, assistência ou assessoramento, são de livre nomeação e
exoneração, observados os requisitos gerais de provimento em
cargos estaduais. ( ...) § 3º - Aos ocupantes de cargos de que trata
este artigo será assegurado, quando exonerados, o direito a um
vencimento integral por ano continuado na função, desde que não
titulem outro cargo ou função pública. § 4º - Não terão direito às
vantagens do parágrafo anterior os Secretários de Estado,
Presidentes, Diretores e Superintendentes da administração direta,
autárquica e de fundações públicas. § 5º - O servidor público que se
beneficiar das vantagens do § 3º deste artigo e, num prazo inferior a
dois anos, for reconduzido a cargo de provimento em comissão não
terá direito ao benefício".
2. Ao tempo da Constituição anterior (1967/1969), já era pacífica a
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, no sentido de não
poder a Constituição Estadual estabelecer normas sobre matéria
reservada à iniciativa do Poder Executivo, por implicarem burla ao
respectivo exercício. E tal entendimento não se alterou sob a
vigência da atual Constituição, de 05.10.1988 (ADIMC nº 568 - RTJ 138/64).
3. Fica, assim, evidenciada a inconstitucionalidade das normas
impugnadas (§§ 3º, 4º e 5º do art. 32 da C.E. do Rio Grande do
Sul), por caracterizarem obstáculo à privativa competência do
Poder Executivo para iniciativa de lei sobre regime jurídico de
servidores públicos (artigos 25 e 61, § 1º, "c", da parte permanente
da C.F. de 1988, e art. 11 do ADCT).
4. Além dessa inconstitucionalidade formal, ocorre, também, no
caso, a material, pois, impondo uma indenização em favor do
exonerado, a norma estadual condiciona, ou ao menos restringe, a
liberdade de exoneração, a que se refere o inc. II do art. 37 da C.F. (Precedente: ADI 326 - DJ 19.09.97, Ementário nº 1883-1).
5. Adotados os fundamentos deduzidos nos precedentes, o Plenário
do S.T.F. julga procedente a ação, declarando, com eficácia "ex
tunc", a inconstitucionalidade dos parágrafos 3º, 4º e 5º do art. 32 da C.E. do Rio Grande do Sul.
6. Decisão unânime.
ADI 182-MC,
RS
Rel. Octavio Gallotti,
j. em 7-11-90.
Poder Constituinte
Decorrente
R.J.: Usurpação da iniciativa reservada.
GARANTIA DO PAGAMENTO DO VALOR DE UM
VENCIMENTO INTEGRAL, AOS OCUPANTES DE CARGOS
EM COMISSÃO, QUANDO EXONERADOS, SEM QUE SEJAM
TITULARES DE OUTRO CARGO OU FUNÇÃO PÚBLICA.
CAUTELAR DEFERIDA, PARA SUSPENDER OS EFEITOS
DOS PARÁGRAFO 3., 4. E 5. DO ART. 32 DA CONSTITUIÇÃO
DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL.
Arq.
ADI 184, MT
Rel. Marco Aurélio,
j. em 25-6-93.
Poder Constituinte
Decorrente
Simetria (ofensa). Criação
de cargo de Conselheiros-
Substitutos (TCE). Vícios formal e material.
TRIBUNAL DE CONTAS ESTADUAL - CONSELHEIROS-
SUBSTITUTOS - CRIAÇÃO - CARTA ESTADUAL. Padecem
dos vícios de forma e de fundo normas da Constituição do Estado
que revelem a criação de cargos de Conselheiro-Substituto a serem
preenchidos sem concurso público, atribuindo-se aos ocupantes atividade própria dos auditores.
Arq.
ADI 199, PE
Rel. Maurício
Corrêa,
j. em 22-4-98
Poder Constituinte
Decorrente
R.J.: Usurpação da iniciativa reservada.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE PERNAMBUCO: ART. 98, §
2º, I, VI, XII, XVII: CONCESSÃO DE VANTAGENS A
SERVIDOR PÚBLICO. VÍCIO DE INICIATIVA.
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
COMPETÊNCIA DO CHEFE DO PODER EXECUTIVO. ART.
99, IV E PARÁGRAFO ÚNICO: INVESTIDURA EM
MANDATO ELETIVO. POSSIBILIDADE DE EXERCÍCIO
SIMULTÂNEO DA VEREAÇÃO E DE FUNÇÃO PÚBLICA.
EXTENSÃO AO VICE-PREFEITO E AO SUPLENTE DE VEREADOR.
1. Conversão em pecúnia de metade das férias e da licença- prêmio
adquirida, pagamento de indenização a servidor exonerado de cargo
em comissão, estabilidade financeira relativamente a gratificação
ou comissão a qualquer título percebida. Impossibilidade. São
inconstitucionais dispositivos de Cartas Estaduais, inclusive
Emendas, que fixem vencimentos e vantagens, concedem
subvenção ou auxílio, ou, de qualquer modo, aumentem a despesa
pública, por ser da competência exclusiva do Chefe do Poder Executivo a iniciativa de lei sobre a matéria. Precedentes.
2. Exercício funcional simultâneo com a edilidade ou o cargo de
Vice-Prefeito. Garantia aos servidores públicos civis e aos
empregados de empresas públicas e sociedades de economia mista,
integrantes da administração indireta estadual. Extensão ao suplente
de Vereador. 2.1. A Constituição Federal condiciona o exercício
simultâneo do mandato de Vereador e das funções de agente
público à compatibilidade de horários, que, não ocorrendo, impõe o
seu afastamento do cargo, emprego ou função, sendo-lhe facultado
optar pela remuneração. 2.2. Carta Estadual. Restrição do exercício
funcional ao domicílio eleitoral. Impossibilidade. A Constituição
Federal prevê tão-somente a hipótese do desempenho simultâneo
das funções públicas, observada a compatibilidade de horários. 2.3.
Extensão ao suplente de vereador. Insubsistência. Ao suplente de
Vereador não se pode validamente estabelecer nenhuma limitação
ao exercício do cargo, emprego ou função, por não ser titular de
mandato eletivo. 2.4. Servidor público investido no mandato de
Vice- Prefeito. Aplicam-se-lhe, por analogia, as disposições
contidas no inciso II do art. 38 da Constituição Federal. Ação
Direta de Inconstitucionalidade que se julga procedente.
ADI 216-MC,
PB,
Rel. p/ac.
Celso de Mello,
j. em 23-5-90
Poder Constituinte
Decorrente.
Modelo de processo
legislativo de reprodução compulsória.
R.J.: Usurpação da iniciativa reservada.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE -
CONSTITUIÇÃO ESTADUAL - PROCESSO LEGISLATIVO - A
QUESTÃO DA OBSERVÂNCIA COMPULSÓRIA, OU NÃO,
DE SEUS PRINCÍPIOS, PELOS ESTADOS-MEMBROS - NOVA
CONCEPÇÃO DE FEDERALISMO CONSAGRADA NA
CONSTITUIÇÃO DE 1988 - PERFIL DA FEDERAÇÃO
BRASILEIRA - EXTENSÃO DO PODER CONSTITUINTE DOS
ESTADOS-MEMBROS - RELEVO JURÍDICO DO TEMA - SUSPENSÃO LIMINAR DEFERIDA.
O perfil da federação brasileira, redefinido pela constituição de
1988, embora aclamado por atribuir maior grau de autonomia dos
estados-membros, e visto com reserva por alguns doutrinadores,
que consideram persistir no Brasil um federalismo ainda afetado
por excessiva centralização espacial do poder em torno da união
federal.
Se é certo que a nova carta política contempla um elenco menos
abrangente de princípios constitucionais sensíveis, a denotar, com
isso, a expansão de poderes jurídicos na esfera das coletividades
autônomas locais, o mesmo não se pode afirmar quanto aos
princípios federais extensíveis e aos princípios constitucionais
estabelecidos, os quais, embora disseminados pelo texto
constitucional, posto que não e tópica a sua localização, configuram
acervo expressivo de limitações dessa autonomia local, cuja
identificação - até mesmo pelos efeitos restritivos que deles decorrem - impõe-se realizar.
A questão da necessária observância, ou não, pelos estados-
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
membros, das normas e princípios inerentes ao processo legislativo,
provoca a discussão sobre o alcance do poder jurídico da união
federal de impor, ou não, as demais pessoas estatais que integram a
estrutura da federação, o respeito incondicional a padrões
heterônomos por ela própria instituídos como fatores de compulsória aplicação.
Esse tema, que se revela essencial à organização político-
administrativa do estado brasileiro, ainda não foi decidido pelo supremo tribunal federal.
Da resolução dessa questão central, emergira a definição do modelo
de federação a ser efetivamente observado nas praticas institucionais.
Enquanto não sobrevier esse pronunciamento, impõe-se, como
medida de cautela, a suspensão liminar de preceitos inscritos em
constituições estaduais, que não hajam observado os padrões
jurídicos federais, de extração constitucional, concernentes ao
processo legislativo.
ADI 217, PB
Rel. Ilmar Galvão,
j. em 28-8-02
Poder Constituinte
Decorrente
1. Simetria (ofensa).
PGE: autonomia
funcional, administrativa e financeira.
2. Nomeação do PGE.
Limitação à prerrogativa do Executivo. (II, ―c‖).
(Há discrepância em
relação à decisão ADI
2581, SP, Marco
Aurélio).
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTS. 135,
I; E 138, CAPUT E § 3.º, DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DA
PARAÍBA. AUTONOMIA INSTITUCIONAL DA
PROCURADORIA-GERAL DO ESTADO. REQUISITOS PARA
A NOMEAÇÃO DO PROCURADOR-GERAL, DO
PROCURADOR-GERAL ADJUNTO E DO PROCURADOR-CORREGEDOR.
O inciso I do mencionado art. 135, ao atribuir autonomia funcional,
administrativa e financeira à Procuradoria paraibana, desvirtua a
configuração jurídica fixada pelo texto constitucional federal para
as Procuradorias estaduais, desrespeitando o art. 132 da Carta da República.
Os demais dispositivos, ao estabelecerem requisitos para a
nomeação dos cargos de chefia da Procuradoria-Geral do Estado,
limitam as prerrogativas do Chefe do Executivo estadual na escolha
de seus auxiliares, além de disciplinarem matéria de sua iniciativa
legislativa, na forma da letra c do inciso II do § 1 .º do art. 61 da Constituição Federal. Ação julgada procedente.
Arq.
ADI 217-MC,
PB
Rel. Sydney Sanches,
j. em 23-3-90.
Poder Constituinte
Decorrente
1. Simetria (ofensa).
PGE: autonomia
funcional, administrativa e financeira.
2. Nomeação do PGE.
Limitação à prerrogativa do Executivo. (II, ―c‖).
(Há discrepância em
relação à decisão ADI
2581, SP, Marco Aurélio).
- Ação direta de inconstitucionalidade. Advocacia geral do Estado:
autonomia funcional, administrativa e financeira. Nomeação do
Procurador-Geral, do Procurador-Adjunto e do Corregedor. Artigos
131, § 1º, da C.F. de 1988, e art. 11 do A.D.C.T. Arts. 135, I, 138 e
§ 3º da Constituição da Paraíba. Estando presentes os requisitos do
"fumus boni iuris" (plausibilidade jurídica) e do "periculum in
mora", é de se deferir medida cautelar de suspensão da eficácia de
norma da Constituição da Paraíba, que outorgou autonomia
funcional, administrativa e financeira à Advocacia Geral do Estado
e de outras que limitaram o poder do Governador de nomear o
Procurador-Geral do Estado, o Procurador-Geral Adjunto e o Corregedor. Medida cautelar deferida.
Arq.
ADI 227, RJ
Rel. Maurício Corrêa,
j. em 19-11-97
Poder Constituinte
Decorrente.
1. Modelo de processo
legislativo de reprodução compulsória.
2. R.J.: Usurpação da
iniciativa reservada.
Aumento de despesa (II,
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 77,
XVII DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO. FACULDADE DO SERVIDOR DE TRANSFORMAR
EM PECÚNIA INDENIZATÓRIA A LICENÇA ESPECIAL E
FÉRIAS NÃO GOZADAS. AFRONTA AOS ARTS. 61, § 1º, II, "A" E 169 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
1. A Constituição Federal, ao conferir aos Estados a capacidade de
auto-organização e de autogoverno, impõe a obrigatória
observância aos seus princípios, entre os quais o pertinente ao
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
―a‖) . processo legislativo, de modo que o legislador constituinte estadual
não pode validamente dispor sobre as matérias reservadas à
iniciativa privativa do Chefe do Executivo.
2. O princípio da iniciativa reservada implica limitação ao poder do
Estado-Membro de criar como ao de revisar sua Constituição e,
quando no trato da reformulação constitucional local, o legislador
não pode se investir da competência para matéria que a Carta da
República tenha reservado à exclusiva iniciativa do Governador.
3. Constituição do Estado do Rio de Janeiro. Faculdade do servidor
de transformar em pecúnia indenizatória a licença especial e férias
não gozadas. Concessão de vantagens. Matéria estranha à Carta
Estadual. Conversão que implica aumento de despesa.
Inconstitucionalidade. Ação direta de inconstitucionalidade
procedente.
ADI 231, RJ
Rel. Moreira
Alves,
j. em 5-8-92.
Poder constituinte
decorrente.
R.J.: Usurpação da
iniciativa reservada.
Transferências e
aproveitamento. Vícios
material e formal.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
ASCENSÃO OU ACESSO, TRANSFERÊNCIA E
APROVEITAMENTO NO TOCANTE A CARGOS OU EMPREGOS PÚBLICOS.
- O critério do mérito aferível por concurso público de provas ou
de provas e títulos e, no atual sistema constitucional, ressalvados os
cargos em comissão declarados em lei de livre nomeação e
exoneração, indispensável para cargo ou emprego público isolado
ou em carreira. Para o isolado, em qualquer hipótese; para o em
carreira, para o ingresso nela, que só se fará na classe inicial e pelo
concurso público de provas ou de provas títulos, não o sendo,
porém, para os cargos subseqüentes que nela se escalonam até o
final dela, pois, para estes, a investidura se fará pela forma de
provimento que é a "promoção". Estão, pois, banidas das formas de
investidura admitidas pela constituição a ascensão e a transferência,
que são formas de ingresso em carreira diversa daquela para a qual
o servidor público ingressou por concurso, e que não são, por isso
mesmo, ínsitas ao sistema de provimento em carreira, ao contrario
do que sucede com a promoção, sem a qual obviamente não haverá carreira, mas, sim, uma sucessão ascendente de cargos isolados.
- O inciso ii do artigo 37 da Constituição Federal também não
permite o "aproveitamento", uma vez que, nesse caso, há
igualmente o ingresso em outra carreira sem o concurso exigido pelo mencionado dispositivo.
Ação direta de inconstitucionalidade que se julga procedente para
declarar inconstitucionais os artigos 77 e 80 do Ato Das
Disposições Constitucionais Transitórias do Estado do Rio de Janeiro.
Arq.
ADI 233, RJ
Rel. Francisco
Rezek, Rel.
p/ac. Ilmar Galvão,
j. em 12-11-
93.
Poder Constituinte
Decorrente.
Anistia de infrações
administrativas. Impossibilidade.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ESTADO
DO RIO DE JANEIRO. ART. 29 DO ATO DAS DISPOSIÇÕES
CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS, QUE "ANISTIOU"
SERVIDORES EM GERAL PUNIDOS COM PENA
DISCIPLINAR; E ART. 30, QUE ANULOU SANSÕES
DISCIPLINARES APLICADAS AOS SERVIDORES CIVIS.
ALEGADA AFRONTA AOS ARTS. 48, VIII, E 142, C/C O 144,
PAR. 6., DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. PROCEDÊNCIA DA
ENCRESPAÇÃO.
O poder de elaborar a Carta Política do Estado, conferido pelo art.
11 do ADCT/88, à Assembléia Legislativa, não compreende o de
inserir no referido diploma normas próprias do poder legislativo
ordinário, exercido pelo referido órgão, não de modo exclusivo,
mas com observância indispensável ao princípio da colaboração
dos demais poderes. Configuração, no presente caso, de flagrante violação ao referido princípio. Procedência da ação. teste
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
ADI 234, RJ,
Rel. Néri da Silveira,
j. em 22-6-95.
Poder Constituinte
Derivado.
1. Simetria (violação).
Proibição de
desestatização. Atividade econômica do estado.
2. Usurpação de
competência do
Executivo. Subordinação
à prévia autorização
legislativa.
EMENTA: Ação direta de inconstitucionalidade. Constituição do
Estado do Rio de Janeiro, art. 69 e parágrafo único, e art. 99, inciso
XXXIII. Alienação, pelo Estado, de ações de sociedade de
economia mista.
2. Segundo os dispositivos impugnados, as ações de sociedades de
economia mista do Estado do Rio de Janeiro não poderão ser
alienadas a qualquer título, sem autorização legislativa. Mesmo
com autorização legislativa, as ações com direito a voto das
sociedades aludidas só poderão ser alienadas, sem prejuízo de
manter o Estado, o controle acionário de 51% (cinqüenta e um por
cento), competindo, em qualquer hipótese, privativamente, à
Assembléia Legislativa, sem participação, portanto, do Governador,
autorizar a criação, fusão ou extinção de empresas públicas ou de
economia mista bem como o controle acionário de empresas particulares pelo Estado.
3. O art. 69, "caput", da Constituição fluminense, ao exigir
autorização legislativa para a alienação de ações das sociedades de
economia mista, é constitucional, desde que se lhe confira
interpretação conforme a qual não poderão ser alienadas, sem
autorização legislativa, as ações de sociedades de economia mista
que importem, para o Estado, a perda do controle do poder
acionário. Isso significa que a autorização, por via de lei, há de
ocorrer quando a alienação das ações implique transferência pelo
Estado de direitos que lhe assegurem preponderância nas
deliberações sociais. A referida alienação de ações deve ser, no
caso, compreendida na perspectiva do controle acionário da
sociedade de economia mista, pois é tal posição que garante à
pessoa administrativa a preponderância nas de liberações sociais e marca a natureza da entidade.
4. Alienação de ações em sociedade de economia mista e o
"processo de privatização de bens públicos". Lei federal n. 8031, de
12.4.1990, que criou o Programa Nacional de Desestatização.
Observa-se, pela norma do art. 2., parágrafo 1., da lei n. 8031/1990,
a correlação entre as noções de "privatização" e de "alienação pelo
Poder Público de direitos concernentes ao controle acionário das
sociedades de economia mista", que lhe assegurem preponderância
nas deliberações sociais.
5. Quando se pretende sujeitar à autorização legislativa a alienação
de ações em sociedade de economia mista. Importa ter presente que
isto só se faz indispensável, se efetivamente, da operação, resultar
para o Estado a perda do controle acionário da entidade. Nesses
limites, de tal modo, e que cumpre ter a validade da exigência de
autorização legislativa prevista no art. 69 "caput", da Constituição fluminense.
6. Julga-se, destarte, em parte, procedente, no ponto, a ação, para
que se tenha como constitucional, apenas, essa interpretação do art.
69, "caput", não sendo de exigir-se autorização legislativa se a
alienação de ações não importar perda do controle acionário da
sociedade de economia mista, pelo Estado.
7. E inconstitucional o parágrafo único do art. 69 da Constituição
do Estado do Rio de Janeiro ao estipular que "as ações com direito
a voto das sociedades de economia mista só poderão ser alienadas,
desde que mantido o controle acionário, representado por 51%
(cinqüenta e um por cento) das ações". Constituição Federal, arts.
170,173 e parágrafos, e 174. Não é possível deixar de interpretar o
sistema da Constituição Federal sobre a matéria em exame em
conformidade com a natureza das atividades econômicas e, assim,
com o dinamismo que lhes e inerente e a possibilidade de
aconselhar periódicas mudanças nas formas de sua execução,
notadamente quando revelam intervenção do Estado. O juízo de
conveniência, quanto a permanecer o Estado na exploração de certa
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
atividade econômica, com a utilização da forma da empresa pública
ou da sociedade de economia mista, há de concretizar-se em cada
tempo e avista do relevante interesse coletivo ou de imperativos da
segurança nacional. Não será. destarte, admissível, no sistema da
Constituição Federal que norma de Constituição estadual proíba, no
Estado-membro, possa este reordenar, no âmbito da própria
competência, sua posição na economia, transferindo a iniciativa
privada atividades indevida ou.desnecessariamente exploradas pelo setor público.
8. Não pode o constituinte estadual privar os Poderes Executivo e
Legislativo do normal desempenho de suas atribuições
institucionais, na linha do que estabelece a Constituição Federal, aplicável ao Estados-membros.
9. E também, inconstitucional o inciso XXXIII do art. 99 da
Constituição fluminense, ao atribuir competência privativa a
Assembléia Legislativa."para autorizar a criação, fusão ou extinção
de empresas publicas ou de economia mista bem como o controle
acionário de empresas particulares pelo Estado". Não cabe excluir o
Governador do Estado do processo para a autorização legislativa
destinada a alienar ações do Estado em sociedade de economia
mista. Constituição Federal, arts. 37, XIX, 48, V, e 84, VI,
combinados com os arts. 25 e 66. 10. Ação direta.de
inconstitucionalidade julgada procedente, em parte, declarando-se a
inconstitucionalidade do paragrafo único do art. 69 do inciso
XXXIII.do art. 99, ambos da Constituição do Estado do Rio de
Janeiro, bem assim para declarar parcialmente inconstitucional o
art. 69, "caput", da mesma Constituição, quanto a todas as
interpretações que não sejam a de considerar exigivel a autorização
legislativa somente quando a alienação de ações do Estado em
sociedade de economia mista implique aperda de seu controle acionario.
ADI 237, RJ
Rel. Octávio Gallotti,
j. em 1-2-93
Poder Constituinte
Derivado.
Remuneração.
Equiparação com cargos
da União. Vício formal e material.
É contrario ao princípio federativo (art. 25 da Constituição Federal)
o estabelecimento de equiparação ou vinculação entre servidores
(civis ou militares) estaduais e federais, de modo a que do aumento
de remuneração concedido, aos últimos, por lei da união, pudesse
resultar majoração de despesa para os Estados.
Arq.
ADI 243, RJ
Rel. Octávio
Gallotti, p/ac.
Marco Aurélio.
j. em 1-2-01
Poder Constituinte Derivado.
R.J.: Usurpação da
iniciativa reservada.
Limite de idade em concurso.
CONCURSO PÚBLICO - INSCRIÇÃO - IDADE. Os requisitos
para ingresso no serviço público - entre eles, o concernente à idade
- hão de estar previstos em lei de iniciativa do Poder Executivo -
artigos 37, inciso I, e 61, inciso II, "c", da Constituição Federal,
mostrando-se com esta conflitante texto da Carta do Estado a
excluir disciplina específica do tema. Inconstitucionalidade do
inciso III do artigo 77 da Constituição do Estado do Rio de Janeiro,
segundo o qual "não haverá limite máximo de idade para a
inscrição em concurso público, constituindo-se, entretanto, em
requisito de acessibilidade ao cargo ou emprego a possibilidade de
permanência por cinco anos no seu efetivo exercício".
Arq.
ADI 244, RJ
Sepúlveda
Pertence,
j. 11-9-02
Poder Constituinte
Derivado.
Capacidade de auto-
organização. Polícia
Civil. Instrumentos
atípicos de democracia
direta. Limite ao poder de escolha do Executivo.
EMENTA: Polícia Civil: subordinação ao Governador do Estado e
competência deste para prover os cargos de sua estrutura
administrativa: inconstitucionalidade de normas da Constituição do
Estado do Rio de Janeiro (atual art.183, § 4º, b e c), que
subordinam a nomeação dos Delegados de Polícia à escolha, entre
os delegados de carreira, ao "voto unitário residencial" da
população do município; sua recondução, a lista tríplice
apresentada pela Superintendência da Polícia Civil, e sua
destituição à decisão de Conselho Comunitário de Defesa Social do
município respectivo.
1. Além das modalidades explícitas, mas espasmódicas, de
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
democracia direta - o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular
(art. 14) - a Constituição da República aventa oportunidades tópicas
de participação popular na administração pública (v.g., art. 5º,
XXXVIII e LXXIII; art. 29, XII e XIII; art. 37 , § 3º; art. 74, § 2º; art. 187; art. 194, § único, VII; art. 204, II; art. 206, VI; art. 224).
2. A Constituição não abriu ensanchas, contudo, à interferência
popular na gestão da segurança pública: ao contrário, primou o
texto fundamental por sublinhar que os seus organismos - as
polícias e corpos de bombeiros militares, assim como as polícias civis, subordinam-se aos Governadores.
3. Por outro lado, dado o seu caráter censitário, a questionada
eleição da autoridade policial é só aparentemente democrática: a
redução do corpo eleitoral aos contribuintes do IPTU - proprietários
ou locatários formais de imóveis regulares - dele tenderia a subtrair
precisamente os sujeitos passivos da endêmica violência policial
urbana, a população das áreas periféricas das grandes cidades ,
nascidas, na normalidade dos casos, dos loteamentos clandestinos
ainda não alcançados pelo cadastramento imobiliário municipal.
ADI 244-MC,
RJ
Rel. Celso de Mello,
j. em 18-4-90
Poder Constituinte
Derivado.
Capacidade de auto-
organização. Polícia
Civil. Instrumentos
atípicos de democracia
direta. Limite ao poder de escolha do Executivo.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE -
CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO -
POLICIA CIVIL - CO-PARTICIPAÇÃO POPULAR NOS ATOS
DE PROVIMENTO DOS CARGOS DE DELEGADO DE
POLICIA - INVESTIDURA A TERMO - DESTITUIÇÃO
FUNCIONAL POR ÓRGÃO ESTRANHO A CHEFIA DO
PODER EXECUTIVO - RELEVO JURÍDICO DO TEMA -
PERICULUM IN MORA - SUSPENSÃO CAUTELAR DEFERIDA.
A subordinação constitucional da Policia Civil ao Governador do
Estado (cf, art. 144, parágrafo 6.) acentua a integração do
organismo policial na estrutura institucional do Poder Executivo e
destaca, na esfera da administração pública local, a primazia
político-jurídica do chefe do Poder Executivo dessa unidade da
federação. Os preceitos ora impugnados, inscritos na Constituição
do Rio de Janeiro, parecem restringir - com ofensa ao princípio da
separação de poderes - a competência jurídico-administrativo do
governador do estado, afetada, em seu exercício, por um sistema de
co-participação popular não autorizado, prima facie, pelo texto da
Lei Fundamental. Ao relevo jurídico do tema, associa-se situação
configuradora do periculum in mora, a justificar o deferimento do provimento cautelar requerido.
Arq.
ADI 248, RJ
Rel. Celso de Mello,
j. em 18-11-93.
Poder constituinte
decorrente.
R.J.: Usurpação da
iniciativa reservada.
Transferências e
aproveitamento. Vícios material e formal.
ADIN - CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
(ADCT, ARTS. 69 E 74) - PROVIMENTO DERIVADO DE
CARGOS PÚBLICOS (TRANSFERÊNCIA E
TRANSFORMAÇÃO DE CARGOS) - OFENSA AO
POSTULADO DO CONCURSO PÚBLICO - USURPAÇÃO DO
PODER DE INICIATIVA CONSTITUCIONALMENTE
RESERVADO AO CHEFE DO EXECUTIVO - PROCEDÊNCIA
DA AÇÃO.
- Os Estados-membros encontram-se vinculados, em face de
explicita previsão constitucional (art. 37, caput), aos princípios que
regem a Administração Pública, dentre os quais ressalta, como
vetor condicionante da atividade estatal, a exigência de observância
do postulado do concurso público (art. 37, II). A partir da
Constituição de 1988, a imprescindibilidade do certame público
não mais se limita a hipótese singular da primeira investidura em
cargos, funções ou empregos públicos, impondo-se as pessoas
estatais como regra geral de observância compulsória.
- A transformação de cargos e a transferência de servidores para
outros cargos ou para categorias funcionais diversas traduzem,
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
quando desacompanhadas da previa realização do concurso público
de provas ou de provas e títulos, formas inconstitucionais de
provimento no Serviço Público, pois implicam o ingresso do
servidor em cargos diversos daqueles nos quais foi ele
legitimamente admitido. Insuficiência, para esse efeito, da mera
prova de títulos e da realização de concurso interno. Ofensa ao
princípio da isonomia. - A iniciativa reservada das leis que versem
o regime jurídico dos servidores públicos revela-se, enquanto
prerrogativa conferida pela Carta Política ao Chefe do Poder
Executivo, projeção especifica do princípio da separação de
poderes. Incide em inconstitucionalidade formal a norma inscrita
em Constituição do Estado que, subtraindo a disciplina da matéria
ao domínio normativo da lei, dispõe sobre provimento de cargos
que integram a estrutura jurídico-administrativa do Poder
Executivo local.
- A supremacia jurídica das normas inscritas na Carta Federal não
permite, ressalvadas as eventuais exceções proclamadas no próprio
texto constitucional, que contra elas seja invocado o direito adquirido. Doutrina e jurisprudência.
ADI 250, RJ
Rel. Ilmar Galvão
j. em 15-08-02
Poder constituinte
decorrente.
R.J.: Usurpação da iniciativa reservada.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 78 DO
ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS
TRANSITÓRIAS DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO RIO
DE JANEIRO. REGIME JURÍDICO DE SERVIDORES ESTADUAIS. VÍCIO DE INICIATIVA.
Sendo os dispositivos impugnados relativos ao regime jurídico dos
servidores públicos fluminenses, resulta caracterizada a violação à
norma da alínea c do inciso II do § 1.º do art. 61 da Constituição
Federal, que, sendo corolário do princípio da separação de poderes,
é de observância obrigatória para os Estados, inclusive no exercício do poder constituinte decorrente. Ação julgada procedente.
Arq.
ADI 270, MG
Rel. Maurício Corrêa,
j. em 31-3-04
Poder constituinte
decorrente.
Remuneração: Aumento
despesa. Usurpação da
iniciativa reservada.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGO 35
DO ATO DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS DA
CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE MINAS GERAIS. DESPESA
PÚBLICA. COMPETÊNCIA PRIVATIVA DO CHEFE DO PODER EXECUTIVO. VÍCIO DE INICIATIVA.
Esta Corte firmou entendimento de que são inconstitucionais
dispositivos de Cartas estaduais, inclusive Emendas, que fixem
vencimentos ou vantagens, concedam subvenção ou auxílio, ou
que, de qualquer modo, aumentem a despesa pública, tendo em
vista que é da competência do Chefe do Poder Executivo a
iniciativa de lei sobre a matéria. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente.
Arq.
ADI 274, PE
Rel. Octávio Gallotti,
p/ac. Paulo
Brossard,
j. em 5-2-92.
Poder Constituinte
Derivado.
Aumento do número de
desembargadores, sem
iniciativa do TJ.
TRIBUNAL DE JUSTIÇA. COMPOSIÇÃO. AUMENTO DE
DESEMBARGADORES PELA ASSEMBLÉIA CONSTITUINTE
ESTADUAL INDEPENDENTE DE INICIATIVA DO
JUDICIARIO. INCONSTITUCIONALIDADE. É inconstitucional
o aumento do numero de desembargadores sem proposta do
Tribunal de Justiça. A regra, que decorre do princípio da
independência e harmonia entre os poderes e tradicional no direito
republicano, aplica-se tanto à legislatura ordinária, como a
constituinte estadual, em razão do que prescreve a constituição
federal, art. 96, II, "b" e "d". Antiga controvérsia doutrinaria e jurisprudencial. Ação julgada procedente. Votos vencidos.
Arq.
ADI 276, AL
Rel.
Sepúlveda
Pertence,
j. em 13-11-
Poder Constiuinte
Derivado.
1. Modelo de processo
legislativo de reprodução compulsória.
I. PROCESSO LEGISLATIVO: MODELO FEDERAL:
INICIATIVA LEGISLATIVA RESERVADA:
APLICABILIDADE, EM TERMOS, AO PODER CONSTITUINTE DOS ESTADOS-MEMBROS.
1. As regras básicas do processo legislativo federal são de absorção
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
97 2. R.J.: Usurpação da iniciativa reservada.
compulsória pelos Estados-membros em tudo aquilo que diga
respeito - como ocorre às que enumeram casos de iniciativa
legislativa reservada - ao princípio fundamental de independência e
harmonia dos poderes, como delineado na Constituição da República.
2. Essa orientação - malgrado circunscrita em princípio ao regime
dos poderes constituídos do Estado-membro - é de aplicar- se em
termos ao poder constituinte local, quando seu trato na Constituição
estadual traduza fraude ou obstrução antecipada ao jogo, na
legislação ordinária, das regras básicas do processo legislativo, a
partir da área de iniciativa reservada do executivo ou do judiciário:
é o que se dá quando se eleva ao nível constitucional do Estado-
membro assuntos miúdos do regime jurídico dos servidores
públicos, sem correspondência no modelo constitucional federal, a
exemplo do que sucede na espécie com a disciplina de licença
especial e particularmente do direito á sua conversão em dinheiro.
ADI 276-MC, AL,
Rel. Celso de
Mello, j. em 30-5-90
Poder Constiuinte Derivado.
1. Modelo de processo
legislativo de reprodução compulsória.
2. R.J.: Usurpação da iniciativa reservada.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE -
CONSTITUIÇÃO ESTADUAL - PROCESSO LEGISLATIVO - A
QUESTÃO DE SUA OBSERVÂNCIA COMPULSÓRIA PELOS
ESTADOS-MEMBROS -TEMA AINDA NÃO DEFINIDO PELO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL - PRECEDENTE (ADIN-
216-PB) - EXTENSAO DO PODER CONSTITUINTE
DECORRENTE - RELEVÂNCIA JURÍDICA DA MATÉRIA -
PERICULUM IN MORA - SUSPENSÃO CAUTELAR DEFERIDA.
O Supremo Tribunal Federal ainda não definiu, sob o regime da
vigente ordem constitucional, se os princípios que informam o
processo legislativo impõem-se aos estados-membros como padrões jurídicos de compulsória observância.
O tema da autonomia das unidades federadas, suscitado na
perspectiva da nova concepção de federalismo consagrada pela
vigente carta política, foi, no entanto, considerado de extremo relevo jurídico pelos STF (Adin-216-PB).
A autonomia dos estados-membros constitui um dos elementos
essenciais a própria conceptualização do estado federal, cujo tipo
histórico, variável na evolução do constitucionalismo brasileiro -
federalismo dual ou dualista (CF1891), federalismo de cooperação
(CF 1934), federalismo de integração (carta de 67) - enseja
abordagens varias, quer a partir das múltiplas tendências já
positivadas na experiência constitucional comparada (federalismo
de equilíbrio e federalismo hegemônico), quer de proclamações
doutrinarias, tais como as que preconizam o federalismo das
regiões.
Impõe-se a suspensão cautelar de regras inscritas em constituições
estaduais, cujo conteúdo normativo esteja em aparente desarmonia
com o modelo federal atinente ao processo legislativo, até que a
suprema corte defina a extensão e o alcance do poder constituinte dos estados-membros.
Arq.
ADI 278-MC,
MS
Rel. p/ac.
Celso de Mello,
j. em 29-6-90.
Iniciativa parlamentar.
Correção monetária
fixada na CE. Utilização
de índice federal (BTN).
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - ESTADO
DE MATO GROSSO DO SUL - LEI N. 1031/90 (ART. 2.) -
CORREÇÃO MONETÁRIA DOS VENCIMENTOS DOS
SERVIDORES PÚBLICOS, QUANDO PAGOS COM ATRASO -
CRITÉRIO PARA CALCULO - JUÍZO DE CONVENIÊNCIA - SUSPENSÃO CAUTELAR INDEFERIDA.
Arq.
ADI 286, RO
Rel. Maurício
Corrêa,
Direito tributário.
BF: Isenção do ICMS.
Vício afastado.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI 268, DE
2 DE ABRIL DE 1990, DO ESTADO DE RONDÔNIA, QUE
ACRESCENTOU INCISO AO ARTIGO 4º DA LEI 223/89.
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
j. em 22-5-02 INICIATIVA PARLAMENTAR. NÃO-INCIDÊNCIA DO ICMS
INSTITUÍDA COMO ISENÇÃO. VÍCIO FORMAL DE
INICIATIVA: INEXISTÊNCIA. EXIGÊNCIA DE CONVÊNIO ENTRE OS ESTADOS E O DISTRITO FEDERAL.
1. A reserva de iniciativa do Poder Executivo para tratar de matéria
tributária prevista no artigo 61, § 1º, inciso II, letra "b", da
Constituição Federal, diz respeito apenas aos Territórios Federais.
Precedentes.
2. A não-incidência do tributo equivale a todas as situações de fato
não contempladas pela regra jurídica da tributação e decorre da abrangência ditada pela própria norma.
3. A isenção é a dispensa do pagamento de um tributo devido em
face da ocorrência de seu fato gerador. Constitui exceção instituída por lei à regra jurídica da tributação. 4.
A norma legal impugnada concede verdadeira isenção do ICMS,
sob o disfarce de não-incidência.
5. O artigo 155, § 2º, inciso XII, alínea "g", da Constituição
Federal, só admite a concessão de isenções, incentivos e benefícios
fiscais por deliberação dos Estados e do Distrito Federal, mediante convênio. Precedentes.
Ação julgada procedente, para declarar inconstitucional o inciso VI
do artigo 4º da Lei 223, de 02 de abril de 1990, introduzido pela Lei
268, de 02 de abril de 1990, ambas do Estado de Rondônia.
ADI 290-MC,
SC
Rel. Celso de
Mello,
j. em 17-10-91
Poder Constituinte
Estadual.
Remuneração: Usurpação
de iniciativa reservada. Teto mínimo = S.M.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE -
CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE SANTA CATARINA (ART.
27, II) E LEI ESTADUAL N. 1117/90 - SERVIDOR PÚBLICO -
CARGOS OU EMPREGOS DE NIVEL MEDIO E SUPERIOR -
PISO SALARIAL - VINCULAÇÃO AO SALARIO MINIMO
PROFISSIONAL - EXTENSAO DO PODER CONSTITUINTE
DECORRENTE - PODER DE INICIATIVA - MEDIDA
CAUTELAR SUPERVENIENTEMENTE REQUERIDA -
DEFERIMENTO. - A impugnação, em sede de ação direta de
inconstitucionalidade, da concessão de vantagens ou benefícios
funcionais onerosos a servidores publicos estaduais, outorgada
diretamente pela Constituição local, reveste-se de plausibilidade
jurídica, na medida em que instaura, nesta Corte, a discussão em
torno da extensão do poder constituinte decorrente inicial,
outorgado aos Estados-membros. O conteudo da norma
constitucional estadual, ao assegurar aos servidores publicos um
limite minimo de remuneração, além de estabelecer a vinculação
dos vencimentos a indices ou valores fixados em nivel federal,
parece cercear a atuação discricionaria dos órgãos ativamente
legitimados para a instauração, na esfera de sua respectiva competência, do correspondente processo legislativo.
Arq.
ADI 291-MC,
MT
Rel. Moreira Alves,
j. em 6-6-90
Poder Constituinte
Estadual.
Simetria (ofensa). PGE:
desvinculação da Chefia
do Executivo. Autonomia
funcional, administrativa e financeira.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
ADVOCACIA DO ESTADO DE MATO GROSSO. PEDIDO DE LIMINAR.
- A relevância jurídica da argüição e os empecilhos que podem
surgir para a boa marcha da administração, com o desvinculamento
dos órgãos de defesa do Estado com relação ao Chefe do Poder
Executivo, indicam a conveniência de que se suspenda, ex nunc, a
eficácia das disposições da constituição estadual impugnadas, até o
julgamento final da ação.
- Deferimento da medida liminar.
Arq.
ADI 407, MS
Rel. Nelson Jobim,
j. em 3-2-90
Iniciativa Legislativa.
R.J.: Jornada de trabalho diferenciada. (inconst).
CONSTITUCIONAL. LEI ESTADUAL. JORNADA DE
TRABALHO DE PROFISSIONAIS DIPLOMADOS EM
ENGENHARIA, ARQUITETURA, AGRONOMIA E
VETERINÁRIA. VÍCIO DE INICIATIVA. LESÃO AO
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODERES. PRECEDENTES. AÇÃO PROCEDENTE.
ADI 425, TO
Rel. Maurício Corrêa,
j. em 4-9-02
1. Poder Constituinte Estadual
Simetria. Medidas
Provisórias estaduais: possibilidade.
2. Iniciativa legislativa.
Instrumento de delegação
anômalo. Autorização
legislativa para dispor
sobre alienação de bens
públicos.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
PRELIMINAR. CONSTITUIÇÃO DO ESTADO. PROCESSO
LEGISLATIVO. MEDIDA PROVISÓRIA. COMPETÊNCIA DO
GOVERNADOR PARA EDITÁ-LA. AUMENTO DE
REMUNERAÇÃO DE SERVIDORES PÚBLICOS. INICIATIVA.
DOAÇÃO DE BENS DO ESTADO. MAJORAÇÃO DO
PERCENTUAL DE PARTICIPAÇÃO DOS MUNICÍPIOS NA
ARRECADAÇÃO DO ICMS. EFICÁCIA LEGAL LIMITADA NO TEMPO. PREJUDICIALIDADE.
1. Podem os Estados-membros editar medidas provisórias em face
do princípio da simetria, obedecidas as regras básicas do processo
legislativo no âmbito da União (CF, artigo 62).
2. Constitui forma de restrição não prevista no vigente sistema
constitucional pátrio (CF, § 1º do artigo 25) qualquer limitação
imposta às unidades federadas para a edição de medidas
provisórias. Legitimidade e facultatividade de sua adoção pelos Estados-membros, a exemplo da União Federal.
3. Lei 219/90. Reajuste de remuneração dos cargos de confiança
exercidos por servidores do Estado. Iniciativa reservada ao Chefe
do Poder Executivo. Legitimidade. Inexistência de afronta ao princípio da moralidade. Pedido improcedente.
4. Lei 220/90. Autorização legislativa para venda e doação de lotes
situados em área urbana específica. Política habitacional
implantada na Capital de Estado em fase de consolidação. Ausência
de violação à Carta Federal. Improcedência.
5. Lei 215/90. Ofensa ao princípio da separação dos Poderes por
norma que atribui ao Governador autorização para dispor, segundo
sua conveniência, de bens públicos do Estado, sem especificá-los.
Instrumento anômalo de delegação de poderes. Inobservância do
processo legislativo concernente às leis delegadas. Ação, no ponto, julgada procedente.
6. Lei 218/90. Elevação do percentual da arrecadação do ICMS a
ser repassado aos Municípios por repartição das receitas tributárias,
no período compreendido entre os anos de 1990 e 1995. Suspensão
cautelar. Regra cuja eficácia exauriu-se pelo decurso do tempo de
sua vigência. Pedido prejudicado por perda superveniente do objeto.
Ação direta julgada procedente em parte para declarar a inconstitucionalidade da Lei estadual 215/90.
Arq.
ADI 430, MS
Rel.
Sepúlveda Pertence,
j. em 25-5-94
Poder Constituinte
Derivado.
R.J.: Usurpação de
iniciativa reservada.
Aproveitamento de
cargos.
I. Provimento de cargo público: exigência de concurso público
especifico e de validade não vencida (CF, art. 37, II e III):
inconstitucionalidade de norma estadual de aproveitamento em
cargo inicial de uma carreira de servidores públicos providos em
cargos que não a integram (cf. ADIn 231, 8.4.92, M. Alves, RTJ
144/24), não elidida nem pela estabilidade excepcional do art. 19
ADCT, nem pela circunstância de os destinatários terem sido
aprovados em concurso para o cargo vencido, cujo prazo de validade, entretanto, já se vencera.
II. Constituinte estadual: quando o limite a reserva, pela
Constituição Federal, da iniciativa do processo legislativo sobre a
matéria ao Poder Executivo. As regras básicas do processo
legislativo federal - incluídas as de reserva de iniciativa -, são de
absorção compulsória pelos Estados, na medida em que
substantivam prisma relevante do princípio sensível da separação e
independência dos poderes (ADIn 822, mc, 5.2.93, Lex 175/105); o
princípio - que diz com as relações entre os poderes constituídos -,
não obstante, é oponível a validade de normas constitucionais
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
locais que, ao invés de disciplinar questões atinentes às bases do
regime jurídico do pessoal do Estado, ocupam-se de temas pontuais
de interesse de setores específicos do funcionalismo e cuja
inserção, na Constituição local, representa fraude inequívoca à
reserva de iniciativa do Governador para a legislação ordinária
sobre a matéria (v.g., Pertence, in ADIn 231, cit., Lex 147/7 e
ADIn 89, 4.2.93, Galvao, Lex 180/5,22).
ADI 483, PR
Rel. Ilmar
Galvão,
j. em 25-4-01.
Poder Constituinte
Derivado.
R.J.: Usurpação de
iniciativa reservada.
Transferência de servidores.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 25,
CAPUT E PARÁGRAFO ÚNICO, DO ATO DAS DISPOSIÇÕES
CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS DA CONSTITUIÇÃO
DO ESTADO DO PARANÁ. OCORRÊNCIA DE VÍCIOS DE INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL E MATERIAL.
Normas que, dispondo sobre servidores públicos do Estado,
padecem de inconstitucionalidade formal, por inobservância da
reserva de iniciativa legislativa ao Chefe do Poder Executivo,
corolário da separação dos poderes, imposta aos Estados pelo art.
25 da Constituição Federal e, especialmente, ao constituinte
estadual, pelo art. 11 de seu ADCT. Configuração, ainda, de
inconstitucionalidade material, por contemplarem hipóteses de
provimento de cargos e empregos públicos mediante transferência
indiscriminada de servidores, em contrariedade ao art. 37, II, do
texto constitucional federal. Ação direta julgada procedente.
Arq.
ADI 494-MC, MT
Rel. Marco
Aurélio,
j. em 16-8-91.
(LCE) DP: Autonomia
funcional e
administrativa. Ausência
de norma geral, competência supletiva
1. DEFENSORIA PÚBLICA - AUTONOMIA FUNCIONAL E
ADMINISTRATIVA. A previsão em lei complementar não é
conducente à concessão de cautelar em ação direta de
inconstitucionalidade. É que, inexistindo lei federal sobre normas
gerais, os Estados exercem a competência legislativa plena, para
atender as respectivas peculiaridades - artigo 24, par-3., da
Constituição Federal.
2. VENCIMENTOS - ISONOMIA - ATRIBUIÇÕES
ASSEMELHADAS. Concorrem o sinal do bom direito e o risco de
dano quando o dispositivo impugnado revela como cargos de
atribuições assemelhadas os de defensor público, procurador, os de
membros do Ministério Público e o de magistrado.
3. DEFENSORIA PÚBLICA - PROCURADORES - OPÇÃO -
CONCURSO PÚBLICO. O aproveitamento imediato objetiva
viabilizar o funcionamento do Órgão, sendo que a articulação sobre
a inexistência de concurso se mostra ambígua, face à forma de
ingresso na carreira de origem. Descabe, no caso, concessão de
cautelar que vise ao afastamento da eficácia do preceito legal.
Arq.
ADI 507, AM
Rel. Celso de
Mello,
j. em 14-2-96
Poder Constituinte
Derivado.
Capacidade de auto-
organização.
Reestruturação das
carreiras de auditores no
TCE. Possibilidade.
Vinculação de
remuneração. Impossibilidade.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE -
CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO AMAZONAS (ART. 44,
PARÁGRAFO ÚNICO) - ADCT ESTADUAL (ARTS. 38 E 46) -
AUDITOR DO TRIBUNAL DE CONTAS LOCAL - OUTORGA
DOS MESMOS VENCIMENTOS E VANTAGENS
CONCEDIDOS A JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DA
CAPITAL, QUANDO O AUDITOR SE ACHAR NO EXERCÍCIO
DAS ATRIBUIÇÕES DE SEU CARGO - EQUIPARAÇÃO
CONSTITUCIONALMENTE VEDADA - POSSIBILIDADE
RECONHECIDA SOMENTE QUANDO O AUDITOR ESTIVER
EM SUBSTITUIÇÃO A CONSELHEIRO DO TRIBUNAL DE
CONTAS - HIPÓTESE EM QUE ASSISTIRÁ, AO AUDITOR, O
DIREITO DE RECEBER, POR EFEITO DA SUBSTITUIÇÃO, A
REMUNERAÇÃO DEVIDA AO CONSELHEIRO DO
TRIBUNAL DE CONTAS - AUDITOR ADJUNTO - ACESSO
AO CARGO DE AUDITOR INDEPENDENTEMENTE DE
CONCURSO PÚBLICO - POSSIBILIDADE - PROVIMENTO
DERIVADO - CATEGORIAS FUNCIONAIS (AUDITOR
ADJUNTO E AUDITOR) QUE SE ACHAVAM
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
ESTRUTURADAS EM CARREIRA - INGRESSO DOS
AUDITORES ADJUNTOS, NESSA CARREIRA, MEDIANTE
PRÉVIA APROVAÇÃO EM CONCURSO PÚBLICO DE
PROVAS E TÍTULOS - AÇÃO DIRETA JULGADA
PARCIALMENTE PROCEDENTE. O PODER CONSTITUINTE
OUTORGADO AOS ESTADOS-MEMBROS SOFRE AS
LIMITAÇÕES JURÍDICAS IMPOSTAS PELA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA.
- Os Estados-membros organizam-se e regem-se pelas
Constituições e leis que adotarem (CF, art. 25), submetendo-se, no
entanto, quanto ao exercício dessa prerrogativa institucional
(essencialmente limitada em sua extensão), aos condicionamentos
normativos impostos pela Constituição Federal, pois é nesta que
reside o núcleo de emanação (e de restrição) que informa e dá
substância ao poder constituinte decorrente que a Lei Fundamental
da República confere a essas unidades regionais da Federação. Doutrina. Precedentes.
AUDITOR DO TRIBUNAL DE CONTAS ESTADUAL -
OUTORGA DE TRATAMENTO REMUNERATÓRIO
IDÊNTICO AO ATRIBUÍDO AOS MAGISTRADOS LOCAIS - INADMISSIBILIDADE.
- Os Auditores do Tribunal de Contas estadual, quando não estejam
substituindo os Conselheiros do Tribunal de Contas, não podem ser
equiparados, em decorrência do mero exercício das demais
atribuições inerentes ao seu cargo, a qualquer membro do Poder
Judiciário local, no que se refere a vencimentos e vantagens, eis
que a Carta Política, em matéria remuneratória, veda a instituição
de regramentos normativos de equiparação ou de vinculação,
ressalvadas as hipóteses expressamente autorizadas em sede constitucional.
AUDITOR ADJUNTO - INGRESSO ORIGINÁRIO NA
CARREIRA MEDIANTE PRÉVIA APROVAÇÃO EM
CONCURSO PÚBLICO DE PROVAS E TÍTULOS - ACESSO
AO CARGO FINAL DA CARREIRA (CARGO DE AUDITOR),
NA FORMA DA LEGISLAÇÃO ANTERIORMENTE VIGENTE,
EXTINTOS OS CARGOS À MEDIDA EM QUE SE VAGAREM
- DIREITO RECONHECIDO, EM NORMA TRANSITÓRIA
(ADCT ESTADUAL, ART. 46), AOS ATUAIS OCUPANTES DO CARGO DE AUDITOR ADJUNTO
- legitimidade constitucional dessa regra de direito transitório.
ADI 544, SC,
Rel. Carlos Velloso,
j. em 1-4-04
Poder Constituinte
Estadual.
Remuneração: Data para
pagamento e fixação de
correção monetária. Vício
afastado.
CONSTITUCIONAL. SERVIDOR PÚBLICO:
REMUNERAÇÃO. FIXAÇÃO DE DATA PARA A
EFETIVAÇÃO DO PAGAMENTO DA REMUNERAÇÃO.
Constituição do Estado de Santa Catarina, art. 27, VIII.
I. - Constitucionalidade do art. 27, VIII, da Constituição de Santa
Catarina, que assegura aos servidores públicos sujeitos ao regime
jurídico único a percepção dos vencimentos e proventos até o
último dia útil do mês a que correspondem.
II. - Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente.
Arq.
ADI 544-MC,
SC,
Rel. Marco Aurélio,
j. em 27-3-99
Poder Constituinte
Estadual.
R.J.: Data para
pagamento e fixação de
correção monetária. Vício
afastado.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE -
CAUTELAR. RISCO DECORRENTE DA MANUTENÇÃO DO
ATO - VENCIMENTOS E PROVENTOS - PRAZO PARA A
SATISFAÇÃO.
Inexiste risco quando o ato normativo prevê o pagamento de
vencimentos e proventos até o último dia do mês respectivo. Óptica
da ilustrada maioria que, assim, sobrepõe-se a individual no sentido
do referendo da cautelar deferida, pela Presidência, durante as ferias.
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
ADI 546, RS
Rel. Moreira Alves,
j. em 11-3-99.
Emenda Parlamentar.
Pertinência temática
(reconhecido) Juízo de
oportunidade. Fixação de
prazo p/envio de PL s/salário.
Ação direta de inconstitucionalidade. Arts. 4º e 5º da Lei nº 9.265,
de 13 de junho de 1991, do Estado do Rio Grande do Sul.
- Tratando-se de projeto de lei de iniciativa privativa do Chefe do
Poder Executivo, não pode o Poder Legislativo assinar-lhe prazo
para o exercício dessa prerrogativa sua.
- Não havendo aumento de despesa, o Poder Legislativo pode
emendar projeto de iniciativa privativa do Chefe do Poder
Executivo, mas esse poder não é ilimitado, não se estendendo ele a
emendas que não guardem estreita pertinência com o objeto do
projeto encaminhado ao Legislativo pelo Executivo e que digam
respeito à matéria que também é da iniciativa privativa daquela autoridade.
Ação julgada procedente para declarar a inconstitucionalidade dos
artigos 4º e 5º da Lei nº 9.265, de 13 de junho de 1991, do Estado do Rio Grande do Sul.
Arq.
ADI 546-MC,
Rel. Moreira Alves,
j. em 17-10-91.
Emenda Parlamentar.
Pertinência temática
(reconhecido) Juízo de
oportunidade. Fixação de
prazo p/envio de PL s/salário.
Ação direta de inconstitucionalidade. Pedido de liminar concedido
"ad referendum" do Plenário do S.T.F.
- Ocorrência, no caso, dos requisitos que se exigem para a concessão da liminar.
Liminar, que se referenda, concessiva da suspensão da eficácia dos
artigos 4. e 5. da Lei 9.265, de 13 de junho de 1991, do Estado do Rio Grande do Sul.
Arq.
ADI 549, DF
Rel. Carlos
Velloso,
j. em 6-5-99
Iniciativa parlamentar
Remuneração.
Equiparação.
CONSTITUCIONAL. PROCESSO LEGISLATIVO. INICIATIVA
RESERVADA DO CHEFE DO PODER EXECUTIVO:
OBSERVÂNCIA OBRIGATÓRIA PELOS ESTADOS-
MEMBROS E PELO DISTRITO FEDERAL: C.F., art. 61, § 1º, II,
a e c. SERVIDOR PÚBLICO: REMUNERAÇÃO:
VINCULAÇÃO OU EQUIPARAÇÃO: VEDAÇÃO. C.F., art. 37, XIII.
I. - Matéria de iniciativa reservada do Chefe do Poder Executivo:
C.F., art. 61, § 1º, II, a e c, de observância obrigatória pelos Estados-membros e pelo Distrito Federal. Precedentes do STF.
II. - Vinculação ou equiparação de remuneração de pessoal do
serviço público: vedação: C.F., art. 37, XIII.
III. - Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente.
Arq.
ADI 550, MT
Rel. Ilmar Galvão,
j. em 29-8-02
Poder Constituinte Estadual.
Órgão executivo: criação.
Possibilidade. Fundação de amparo à pesquisa.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 354
DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE MATO GROSSO. LEI
ESTADUAL N.º 5.696/90. FUNDAÇÃO DE AMPARO À
PESQUISA DO ESTADO. ALEGADA CONTRARIEDADE AOS
ARTS. 2.º; 61, § 1.º, II, A E E; E 169 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
Parcial perda de objeto do feito em relação à Lei n. º 5.696/90,
tendo em vista sua expressa revogação. Precedentes. Dispositivo da
Constituição estadual que, ao destinar dois por cento da receita
tributária do Estado de Mato Grosso à mencionada entidade de
fomento científico, o fez nos limites do art. 218, § 5.º, da Carta da
República, o que evidencia a improcedência da ação nesse ponto.
Arq.
ADI 554, MT,
Rel. Eros Grau,
j. em 15-2-06
Iniciativa parlamentar
R.J.: Inaplicabilidade
negociação coletiva aos
servidores públicos.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 272, §
2º, DA LEI COMPLEMENTAR N. 4 DO ESTADO DO MATO
GROSSO. SERVIDORES PÚBLICOS. ACORDOS E
CONVENÇÕES COLETIVAS DE TRABALHO. VIOLAÇÃO DO ART. 61, § 1º, II, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL.
1. A celebração de convenções e acordos coletivos de trabalho
consubstancia direito reservado exclusivamente aos trabalhadores
da iniciativa privada. A negociação coletiva demanda a existência
de partes formalmente detentoras de ampla autonomia negocial, o que não se realiza no plano da relação estatutária.
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
2. A Administração Pública é vinculada pelo princípio da
legalidade. A atribuição de vantagens aos servidores somente pode
ser concedida a partir de projeto de lei de iniciativa do Chefe do
Poder Executivo, consoante dispõe o art. 61, § 1º, inciso II, alíneas
"a" e "c", da Constituição, desde que supervenientemente aprovado pelo Poder Legislativo. Precedentes.
ADI 554-MC, MT,
Rel. Celio
Borja,
j. em 8-8-91.
Iniciativa parlamentar
R.J.: Inaplicabilidade
negociação coletiva aos
servidores públicos.
Ação Direta de Inconstitucionalidade. Medida cautelar. Artigo.
272, par. 2., da Lei Complementar n. 4, de 15/10/90, do Estado de
Mato Grosso.
Servidor público estadual. Negociação coletiva. Ocorrência dos
pressupostos para a suspensão cautelar da norma impugnada. Precedente do STF: ADIn n. 492-1.
Despacho concessivo de liminar que se referenda.::
Arq.
ADI 559, MT,
Rel. Eros
Grau,
j. em 15-2-06
Iniciativa parlamentar.
Remuneração: Data para
pagamento e fixação de
correção monetária. Vício afastado.
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
ARTIGO 57 DA LEI COMPLEMENTAR N. 4 DO ESTADO DO
MATO GROSSO. SERVIDORES PÚBLICOS. ACORDOS E
CONVENÇÕES COLETIVAS DE TRABALHO. VIOLAÇÃO DO
ARTIGO 61, § 1º, II, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL.
ARTIGO 69, "CAPUT" E §§, DA LEI COMPLEMENTAR N. 4.
FIXAÇÃO DE DATA PARA O PAGAMENTO DE
VENCIMENTOS. CORREÇÃO MONETÁRIA EM CASO DE
ATRASO. CONSTITUCIONALIDADE.
1. A celebração de convenções e acordos coletivos de trabalho
constitui direito reservado exclusivamente aos trabalhadores da
iniciativa privada. A negociação coletiva demanda a existência de
partes detentoras de ampla autonomia negocial, o que não se realiza
no plano da relação estatutária.
2. A Administração Pública é vinculada pelo princípio da
legalidade. A atribuição de vantagens aos servidores somente pode
ser concedida a partir de projeto de lei de iniciativa do Chefe do
Poder Executivo, consoante dispõe o artigo 61, § 1º, inciso II,
alíneas "a" e "c", da Constituição do Brasil, desde que
supervenientemente aprovado pelo Poder Legislativo. Precedentes.
3. A fixação de data para o pagamento dos vencimentos dos
servidores estaduais e a previsão de correção monetária em caso de
atraso não constituem aumento de remuneração ou concessão de
vantagem. Pedido julgado parcialmente procedente para declarar
inconstitucional a expressão "em acordos coletivos ou em
convenções de trabalho que venham a ser celebrados", contida na
parte final do artigo 57, da Lei Complementar n. 4, de 15 de outubro de 1990, do Estado do Mato Grosso.
Arq.
ADI 559-MC,
MT,
Rel. Celio Borja,
j. em 8-8-91.
Iniciativa parlamentar.
Remuneração: Data para
pagamento e fixação de
correção monetária. Vício
afastado.
Ação Direta de Inconstitucionalidade. Medida Cautelar. Artigos 57,
IN FINE e 69, CAPUT e parágrafos 1. e 2., da Lei Complementar
n. 4, de 15/10/90, do Estado de Mato Grosso. Servidores estaduais.
Fixação de vencimentos. Princípio da legalidade. Plausibilidade
Jurídica. Suspensão cautelar da eficácia das expressões "em
acordos coletivos ou em convenções de trabalho que venham a ser
celebrados", inscritas no art. 57, do Estatuto dos Servidores
Públicos da Administração Direta das Autarquias e das Fundações
do Estado. Precedente: ADIn. n. 492-1. Liminar parcialmente deferida.
Arq.
ADI 568-MC,
AM,
Rel. Celso de Mello,
j. em 20-9-91.
Poder Constituinte
Decorrente.
Capacidade de auto-
organização. Delimitação
teórica.
R.J.: Usurpação da
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE -
CONSTITUIÇÃO DO AMAZONAS - SERVIDOR PÚBLICO -
CONCESSÃO DE VANTAGEM - ALEGADA USURPAÇÃO DO
PODER DE INICIATIVA DO CHEFE DO PODER EXECUTIVO
- PROCESSO LEGISLATIVO - EXTENSÃO E LIMITES DO
PODER CONSTITUINTE DECORRENTE - MEDIDA CAUTELAR DEFERIDA.
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
iniciativa reservada. - O Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, em seu art.
11, impôs aos Estados-membros, no exercício de seu poder
constituinte, a estrita observância dos princípios consagrados na Carta da Republica.
- O poder constituinte decorrente, assegurado as unidades da
Federação, é, em essência, uma prerrogativa institucional
juridicamente limitada pela normatividade subordinante emanada
da Lei Fundamental.
- Modalidades tipológicas em que se desenvolve o poder
constituinte decorrente: poder de institucionalização e poder de revisão. Graus distintos de eficácia e de autoridade. Doutrina.
- A norma que, inscrita em constituição estadual, autoriza o
servidor público a computar, para efeito de adicional pelo tempo de
exercício de cargo ou função de confiança, o período de serviço
prestado nas três esferas de governo, sugere a discussão em torno
da extensão do poder constituinte deferido aos Estados-membros,
no que concerne a observância dos princípios inerentes ao processo legislativo instituídos na Carta da Republica.
- A alta relevância da questão - alcance do poder constituinte
decorrente atribuído aos Estados-membros - torna possível invocar
o juízo de conveniência, que constitui critério adotado e aceito pelo
Supremo Tribunal Federal, em sede jurisdicional concentrada, para efeito de concessão da medida cautelar. Precedentes.
ADI 574, DF
Rel. Ilmar Galvão,
j. em 3-6-93
Emenda parlamentar.
Pertinência temática.
Vício reconhecido.
Projeto: revisão de
vencimentos. Emenda: pensão militar.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. NOVA
REDAÇÃO DADA PELO ART. 29 DA LEI N. 8.216, DE 1991,
AO ART. 7. E SEUS INCS., DA LEI N. 3.765, DE 1960.
IMPUGNAÇÃO DO CAPUT E DO INC. I, EM RAZÃO DE
EMENDA ADITIVA, FEITA PELO SENADO, NO TEXTO
DESTE ÚLTIMO, COM A QUAL FOI SANCIONADA A LEI,
SEM QUE O PROJETO HOUVESSE RETORNADO A
CÂMARA FEDERAL, ONDE TEVE ORIGEM, PARA A
DEVIDA REAPRECIAÇÃO, COMO IMPOSTO NO ART. 65, PARAGRAFO ÚNICO, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
Flagrante inconstitucionalidade formal da referida emenda, por sua
absoluta impertinência, em face do texto do projeto, originário do
Chefe do Poder Executivo, já que pretendeu introduzir matéria
relativa à pensão militar, onde se cuidava de antecipação dos
efeitos de revisão de vencimentos. Afronta ao art. 61, PAR. 1., II, c,
da Constituição. Nódoa que, neste caso, ultrapassa os limites do
texto impugnado para atingir, em sua integridade, o referido artigo
29, que, de outro modo, restaria despido de qualquer sentido, na
parte remanescente. Inconstitucionalidade que, pela mesma razão,
também se declara relativamente ao art. 30, na parte em que teve
por revogado o art. 3. da Lei n. 3765, de 1960. Procedência da ação.
Arq.
ADI 575, PI,
DF,
Rel.
Sepúlveda Pertence,
j. em 25-3-99.
Poder Constituinte
Estadual.
DP: Autonomia funcional e administrativa negada.
Remuneração:
vinculação. Impossibilidade.
I. Ação direta de inconstitucionalidade: quando a prejudica ou não
a alteração, no curso do processo, de norma constitucional
pertinente à matéria do preceito infraconstitucional impugnado.
II. Proventos de aposentadoria: a regra de extensão aos inativos das
melhorias da remuneração dos correspondentes servidores em
atividade (CF, art. 40, § 8º, cf. EC 20/98) não implica a permanente
e absoluta paridade entre proventos e vencimentos, dado que nos
últimos se podem incluir vantagens pecuniárias que, por sua natureza, só podem ser atribuídas ao serviço ativo.
III. Defensoria Pública: tratando-se, conforme o modelo federal, de
órgão integrante do Poder Executivo e da administração direta, é
inconstitucional a norma local que lhe confere autonomia administrativa.
IV. Defensor Público: inconstitucionalidade de norma local que lhe
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
estende normas do estatuto constitucional da magistratura (CF, art. 93, II, IV, VI e VIII).
V. Tabeliães e oficiais de registros públicos: aposentadoria:
inconstitucionalidade da norma da Constituição local que - além de
conceder-lhes aposentadoria de servidor público - que, para esse
efeito, não são - vincula os respectivos proventos às alterações dos vencimentos da magistratura: precedente (ADIn 139, RTJ 138/14).
VI. Processo legislativo: reserva de iniciativa do Poder Executivo,
segundo o processo legislativo federal, que, em termos, se reputa oponível ao constituinte do Estado-membro.
ADI 575-MC,
PI,
Rel. Celso de Mello,
j. em 13-11-
91
Poder Constituinte
Decorrente.
DP: Autonomia funcional e administrativa negada.
Remuneração:
vinculação. Impossibilidade.
ADIN - CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO PIAUÍ E
RESPECTIVO ADCT - MINISTÉRIO PÚBLICO - PARIDADE
REMUNERATÓRIA NECESSÁRIA ENTRE MEMBROS DO
MINISTÉRIO PÚBLICO EM ATIVIDADE E EM SITUAÇÃO
DE INATIVIDADE - USURPAÇÃO DO PODER DE
INICIATIVA - DIVERGÊNCIA QUANTO AO MODELO
FEDERAL - DEFENSORIA PÚBLICA - AUTONOMIA
ADMINISTRATIVA E PRERROGATIVAS INSTITUCIONAIS
IDÊNTICAS AS DA MAGISTRATURA - SERVENTIAS
EXTRAJUDICIAIS - REGIME JURÍDICO DOS SERVIDORES
PÚBLICOS - POSSÍVEL VIOLAÇÃO DO POSTULADO DA
SEPARAÇÃO DE PODERES - POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO - MEDIDA LIMINAR DEFERIDA EM PARTE.
- A disciplinação legislativa pertinente ao regime jurídico das
aposentadorias deve necessariamente observar os lineamentos fundamentais estabelecidos no texto da Constituição da Republica.
- A absoluta paridade remuneratória entre os membros do
Ministério Público em atividade e aqueles em situação de
inatividade, imposta em caráter necessário por norma constitucional
estadual, além de aparentemente vulnerar o poder de iniciativa
reservado ao Chefe do Parquet local, estabelece uma disciplina não prevista no modelo federal.
- O regime de autonomia administrativa conferido a Defensoria
Pública do Estado e a outorga, aos membros que compõem essa
Instituição, de certas prerrogativas inerentes a Magistratura
parecem comprometer, na medida em que veiculados por norma
constitucional estadual - de cuja elaboração não co-participa o
Governador -, o poder de iniciativa das leis e o exercício das atribuições deferidas ao Chefe do Poder Executivo.
- A cláusula constitucional proibitiva de vinculações ou
equiparações em tema de remuneração e aplicável às serventias
extrajudiciais, posto que os agentes que nelas atuam qualificam-se como servidores públicos.
- A suspensão cautelar de eficácia de normas questionadas em sede
de controle abstrato pressupõe, a par da plausibilidade jurídica da
tese suscitada, a ocorrência do periculum in mora, requisito que se
tem por desatendido se o dispositivo impugnado reclama, para
efeito de sua plena atuação, integração normativa ainda inexistente.
Arq.
ADI 582, SP
Rel. Néri da
Silveira,
j. em 17-6-99
Poder Constituinte
Reformador Estadual.
R.J.: Usurpação da
iniciativa reservada. Aposentadoria.
Ação Direta de Inconstitucionalidade. 2. Constituição do Estado de
São Paulo, § 8º do art. 126, introduzido pela Emenda
Constitucional nº 1, de 20/12/1990. Direito de aposentadoria aos
ocupantes de cargos em comissão, em igualdade de condições com
os demais servidores. 3. Cerceamento da competência do Poder
Executivo para enviar projetos de lei que versem sobre regime
jurídico de servidores, estabilidade e aposentadoria. 4. Incabível,
por emenda constitucional, nos Estados-membros, dispor o Poder
Legislativo sobre espécie reservada à iniciativa privativa do Poder
Executivo, a teor do disposto no art. 61, § 1º, II, letra "c", da
Constituição Federal. 5. Ação direta de constitucionalidade julgada
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
procedente. Declarada a inconstitucionalidade do § 8º do art. 126,
da Constituição do Estado de São Paulo, introduzido pela Emenda
Constitucional nº 1, de 20.12.1990.
ADI 582-MC,
SP
Rel. Néri da Silveira,
j. em 19-9-91
Poder Constituinte
Reformador Estadual.
R.J.: Usurpação da
iniciativa reservada. Aposentadoria.
Ação Direta de Inconstitucionalidade. Constituição do Estado de
São Paulo, par-8. do art. 126, introduzido pela Emenda
Constitucional n. 1, de 20/12/1990. Direito de aposentadoria aos
ocupantes de cargos em comissão, em igualdade de condições com
os demais servidores. Cerceamento da competência do Poder
Executivo para enviar projetos de lei que versem sobre regime
jurídico de servidores, estabilidade e aposentadoria. Relevância dos
fundamentos do pedido e "periculum in mora" configurados.
Medida cautelar deferida, para suspender, até o julgamento final da
ação, a vigencia do dispositivo impugnado.
Arq.
ADI 645, DF,
Rel. Ilmar
Galvão,
j. em 11-11-
96
Emenda Parlamentar.
1. Aumento de despesa
(art. 17). Hipótese de
afastamento do cargo. Não configurada.
2. Pertinência temática
(art. 18). Projeto:
regulamentação da
carreira de Procurador
autárquico. Emenda:
criação de órgão de
deliberação coletiva na
Adm.Direta, com
atribuição de
remuneração. Configurada.
3. Juízo de oportunidade
(art. 25). Fixação de prazo
para envio de PL pelo Executivo.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGOS
17, CAPUT, E PARÁGRAFO ÚNICO; 18, CAPUT, INCISOS E
PARÁGRAFOS; E 25 DA LEI Nº 159, DE 16 DE AGOSTO DE
1991, DO DISTRITO FEDERAL, RESULTANTES DA EMENDA ADITIVA DO PODER LEGISLATIVO.
Emenda que se revelou descabida e impertinente em relação ao
segundo e último dispositivos, por ofensiva ao princípio da
iniciativa legislativa privativa do Chefe do Poder Executivo (art.
61, § 1º, inc. II, letras a e c, da CF/88), de observância imperiosa
pelos Estados-membros e pelo Distrito Federal, porquanto corolário
do princípio da separação dos Poderes. Procedência parcial da ação,
com declaração de inconstitucionalidade do art. 18, caput, incisos I a III, e §§ 1º e 2º, e do art. 25, todos da referida lei.
Arq.
ADI 645-MC,
DF,
Rel. Ilmar Galvão,
j. em 11-12-91
Emenda Parlamentar.
Aumento de despesa.
Vício equivocadamente
reconhecido. Prov. final diferenciado.
Arts. 17 e 18 suspensos.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
CAUTELAR. ARTS. 17 E PARAGRAFO ÚNICO; 18, INCISOS
E PARAGRAFOS; E 25, DA LEI N. 159, DE 16 DE AGOSTO DE 1991, DO DISTRITO FEDERAL.
Legitimidade ativa que se reconhece ao Governador do Distrito
Federal, por via de interpretação compreensiva do texto do art. 103,
V, da CF/88, c/c o art. 32, par-1., da mesma Carta. Plausibilidade
da alegação de que os dispositivos em tela, por versarem matéria de
iniciativa privativa do Chefe do Poder Executivo (remuneração de
cargos e funções publicas e estruturação e atribuições de órgãos da
Administração Pública), não poderiam resultar de emendas do
Legislativo, objeto de vetos rejeitados. O "periculum in mora",
todavia, somente se mostra evidenciado relativamente aos
dispositivos dos dois primeiros artigos citados, razão pela qual a
suspensão da eficácia somente a eles deve restringir-se. Cautelar parcialmente deferida.
Arq.
ADI 657, RS,
Rel. Néri da Silveira,
j. em 10-10-96
Poder Constituinte
Decorrente.
Remuneração: Fixação de data para
pagamento dos
servidores. (Vício
afastado)
Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Art. 35 e parágrafo único
da Constituição do Estado do Rio Grande do Sul. Fixa data para
pagamento de remuneração aos servidores públicos do Estado e das
autarquias. 3. Alegação de ofensa aos artigos 2º; 25; 61, § 1º, II,
"c"; 84, II e VI, e 11 do ADCT, todos da Constituição Federal. 4.
Parecer da Procuradoria-Geral da República pela improcedência da
ação. 5. Inexistência de inconstitucionalidade do parágrafo único do
art. 35 da Constituição gaúcha. Correspondência com o que se
encontra legislado no âmbito federal. Precedentes. 6. Ação julgada
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
improcedente para declarar a constitucionalidade do art. 35 e parágrafo único da Constituição do Estado do Rio Grande do Sul.
ADI 665, DF,
Rel. Sydney Sanches,
j. em 6-9-95
Iniciativa parlamentar.
Regime jurídico. Vício reconhecido.
Direito Constitucional e Administrativo. Ação Direta de Inconstitucionalidade. Lei n. 165, de 25.09.91, do Distrito Federal.
1. A Lei impugnada trata de servidores públicos do Distrito
Federal, de seu Regime Jurídico, inclusive contagem de tempo de
serviço para todos os efeitos e de provimento de cargos, definindo
critérios para a progressão funcional, matérias todas compreendidas
na alínea "c" do 1. do artigo 61, que atribuem privativamente ao
chefe do Poder Executivo a iniciativa do processo legislativo,
princípio a ser observado, não só nos Estados (art. 25), mas, também, no Distrito Federal (art. 32).
2. Não tendo havido, no caso, iniciativa do Governador do D.F.,
ocorre a inconstitucionalidade formal. 3. Ação direta julgada
procedente, com a declaração de inconstitucionalidade da Lei.
Votação unânime.
Arq.
ADI 724-MC,
RS
Rel. Celso de Mello,
j. em 7-5-92.
1. Numerus clausus.
2. Direito tributário.
BF: ampliação de
beneficiários.
ADI - LEI Nº 7.999/85, DO ESTADO DO RIO GRANDE DO
SUL, COM A REDAÇÃO QUE LHE DEU A LEI Nº 9.535/92 -
BENEFÍCIO TRIBUTÁRIO - MATÉRIA DE INICIATIVA
COMUM OU CONCORRENTE - REPERCUSSÃO NO
ORÇAMENTO ESTADUAL - ALEGADA USURPAÇÃO DA
CLÁUSULA DE INICIATIVA RESERVADA AO CHEFE DO
PODER EXECUTIVO - AUSÊNCIA DE PLAUSIBILIDADE JURÍDICA - MEDIDA CAUTELAR INDEFERIDA.
- A Constituição de 1988 admite a iniciativa parlamentar na instauração do processo legislativo em tema de direito tributário.
- A iniciativa reservada, por constituir matéria de direito estrito, não
se presume e nem comporta interpretação ampliativa, na medida em
que - por implicar limitação ao poder de instauração do processo
legislativo - deve necessariamente derivar de norma constitucional explícita e inequívoca.
- O ato de legislar sobre direito tributário, ainda que para conceder
benefícios jurídicos de ordem fiscal, não se equipara -
especialmente para os fins de instauração do respectivo processo legislativo - ao ato de legislar sobre o orçamento do Estado.
Arq.
ADI 749, CE
Rel. Carlos
Velloso,
j. em 20-3-03
Poder Constituinte
Decorrente
R.J.: Usurpação de iniciativa reservada.
CONSTITUCIONAL. PROCESSO LEGISLATIVO. SERVIDOR
PÚBLICO. INICIATIVA RESERVADA DO CHEFE DO PODER
EXECUTIVO: OBSERVÂNCIA OBRIGATÓRIA PELOS
ESTADOS-MEMBROS. C.F., art. 61, § 1º, II, a, c, f. I. - Matéria
de iniciativa reservada ao Chefe do Poder Executivo , C.F., art. 61,
§ 1º, II, a, c, f, de observância obrigatória pelos Estados-membros. Precedentes do STF. II. - ADI julgada procedente.
Arq.
ADI 766, RS,
Rel.
Sepúlveda
Pertence,
j. em 11-11-98
Iniciativa parlamentar.
R.J. e Remuneração.
Jornada de trabalho e
adicional noturno.
Processo legislativo estadual: observância compulsória das regras
de reserva de iniciativa da Constituição Federal: separação dos
Poderes. As normas de reserva da iniciativa legislativa compõem as
linhas básicas do modelo positivo da separação dos poderes da
Constituição Federal e, como tal, integram princípio de observância
compulsória pelos Estados-membros: precedentes. É
inconstitucional lei de iniciativa parlamentar que dispõe sobre o regime jurídico e a remuneração de servidores do Poder Executivo.
Arq.
ADI 766-MC, RS,
Rel. Celso de
Mello,
j. em 3-9-92
Iniciativa parlamentar.
1. Reprodução necessária.
2.R.J. e Remuneração.
Jornada de trabalho e
adicional noturno.
ADIN - LEI COMPLEMENTAR 9.643/92, DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL - REGIME JURÍDICO DOS SERVIDORES
PUBLICOS - ABRANGENCIA CONCEITUAL - JORNADA
EXTRAORDINÁRIA DE TRABALHO E ADICIONAL DO
TRABALHO NOTURNO - USURPAÇÃO DO PODER DE
INICIATIVA RESERVADA CONFERIDO AO CHEFE DO
EXECUTIVO - MEDIDA CAUTELAR DEFERIDA.
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
- A locução constitucional "regime jurídico dos servidores
públicos" corresponde ao conjunto de normas que disciplinam os
diversos aspectos das relações, estatutárias ou contratuais, mantidas pelo Estado com os seus agentes.
- A cláusula de reserva pertinente ao poder de instauração do
processo legislativo traduz postulado constitucional de observância
compulsória pelos Estados-membros. Incide em vício de
inconstitucionalidade formal a norma legal estadual que, oriunda de
iniciativa parlamentar, versa matéria sujeita a iniciativa constitucionalmente reservada ao Chefe do Poder Executivo
ADI 774, RS
Rel.
Sepúlveda Pertence,
j. em 10-12-98
Emenda parlamentar.
Aumento de despesa.
I. Processo legislativo da União: observância compulsória pelos
Estados de seus princípios básicos, por sua implicação com o
princípio fundamental da separação e independência dos Poderes:
jurisprudência do Supremo Tribunal.
II. Processo legislativo: emenda de origem parlamentar a projeto de
iniciativa reservada a outro Poder: inconstitucionalidade, quando da
alteração resulte aumento da despesa conseqüente ao projeto inicial: precedentes.
III. Vinculação de vencimentos: inconstitucionalidade (CF, art. 37,
XIII): descabimento da ressalva, em ação direta, da validade da
equiparação entre Delegados de Polícia e Procuradores do Estado,
se revogado pela EC 19/98 o primitivo art. 241 CF, que a
legitimava, devendo eventuais efeitos concretos da norma de
paridade questionada, no período em que validamente vigorou
serem demandados em concreto pelos interessados.
Arq.
ADI 774-MC,
RS
Rel. Celso de
Mello,
j. em 7-10-92
1. Iniciativa reservada.
Reprodução necessária. Separação de Poderes.
2. Emenda parlamentar. Aumento despesa.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - LEI
9.696/92, DO RIO GRANDE DO SUL (PARAGRAFO ÚNICO
DO ART. 3., ART. 5. E ANEXO II) - VENCIMENTOS DA
BRIGADA MILITAR E DA POLICIA CIVIL DO ESTADO -
MATÉRIA CONCERNENTE AO REGIME JURÍDICO DOS
SERVIDORES PUBLICOS - PROJETO DE LEI DE INICIATIVA
DO GOVERNADOR DO ESTADO - EMENDA
PARLAMENTAR QUE ACARRETA AUMENTO DA DESPESA
PREVISTA - PLAUSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO -
MEDIDA CAUTELAR DEFERIDA. - Nos projetos de iniciativa
exclusiva do Governador do Estado, pertinentes ao regime jurídico
dos servidores publicos, não assiste aos Deputados estaduais o
poder de introduzirem, mediante emenda parlamentar, norma de
que decorra aumento da despesa prevista. Aplicabilidade do art. 63
da Constituição Federal ao processo legislativo instaurado no
âmbito dos Estados-membros. - O Estado-membro não pode
desatender, no processo legislativo local, a norma subordinante
inscrita no art. 37, XIII, da Constituição Federal, que veda a
vinculação ou equiparação de vencimentos para efeito de definição
dos niveis remuneratorios do pessoal do serviço público. - Resulta
prejudicado o pedido de sustação cautelar de ato normativo se o
preceito legal a que ele se reporta - e de cuja atuação depende a sua
aplicabilidade - ja teve a sua eficacia suspensa em ação direta anteriormente ajuizada.::
Arq.
ADI 776, RS,
Rel.
Sepúlveda Pertence,
j. em 2-8-07.
Iniciativa parlamentar.
R.J. Proibição de fixação
de limite máximo de
idade em concursos. Vício acolhido.
Ação direta de inconstitucionalidade. L. est. 9.717, de 20 de agosto
de 1992, do Estado do Rio Grande do Sul, que veda o
estabelecimento de limite máximo de idade para inscrição de
candidatos nos concursos públicos realizados por órgãos da
Administração Direta e Indireta do Estado: procedência. A vedação
imposta por lei de origem parlamentar viola a iniciativa reservada
ao Poder Executivo (CF, art. 61, § 1º, II, c ), por cuidar de matéria atinente ao provimento de cargos públicos.
Arq.
ADI 776-MC, 1. Separação de poderes. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
RS,
Rel. Celso de Mello,
j. em 23-10-
92
2. Iniciativa parlamentar.
R.J. Proibição de fixação
de limite máximo de
idade em concursos. Vício acolhido.
CONCURSO PÚBLICO DE PROVAS E TÍTULOS -
PROIBIÇÃO LEGAL DE FIXAÇÃO DE LIMITE MÁXIMO DE
IDADE PARA OS CANDIDATOS - MATÉRIA
CONCERNENTE AO REGIME JURÍDICO DOS SERVIDORES
PÚBLICOS - ALEGADA USURPAÇÃO DA INICIATIVA
CONSTITUCIONALMENTE RESERVADA AO CHEFE DO
PODER EXECUTIVO - DECLARAÇÃO, PELO PODER
LEGISLATIVO, DE NULIDADE DE CONCURSO PÚBLICO -
INADMISSIBILIDADE - LIMITES DA ATUAÇÃO DO PODER
LEGISLATIVO - A SEPARAÇÃO DE PODERES COMO
FUNDAMENTO LEGITIMADOR DA DIVISÃO DE FUNÇÕES
NO ÂMBITO DO APARELHO DE ESTADO - MEDIDA CAUTELAR DEFERIDA.
A USURPAÇÃO DO PODER DE INICIATIVA, EM SEDE DE
PROCESSO LEGISLATIVO, TRADUZ HIPÓTESE DE
INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL DA LEI ASSIM ELABORADA.
- O respeito às atribuições resultantes da divisão funcional do Poder
constitui pressuposto de legitimação material das resoluções
estatais, notadamente das leis. - Prevalece, em nosso sistema
jurídico, o princípio geral da legitimação concorrente para
instauração do processo legislativo. Não se presume, em
conseqüência, a reserva de iniciativa, que deve resultar - em face do
seu caráter excepcional - de expressa previsão inscrita no próprio
texto da Constituição, que define, de modo taxativo, em "numerus
clausus", as hipóteses em que essa cláusula de privatividade regerá a instauração do processo de formação das leis.
- O desrespeito à prerrogativa de iniciar o processo legislativo,
quando resultante da usurpação do poder sujeito à cláusula de
reserva, traduz hipótese de inconstitucionalidade formal, apta a
infirmar, de modo irremissível, a própria integridade do diploma
legislativo assim editado, que não se convalida, juridicamente, nem mesmo com a sanção manifestada pelo Chefe do Poder Executivo.
RESERVA DE ADMINISTRAÇÃO E SEPARAÇÃO DE PODERES.
- O princípio constitucional da reserva de administração impede a
ingerência normativa do Poder Legislativo em matérias sujeitas à
exclusiva competência administrativa do Poder Executivo. É que,
em tais matérias, o Legislativo não se qualifica como instância de
revisão dos atos administrativos emanados do Poder Executivo. Precedentes.
Não cabe, ao Poder Legislativo, sob pena de desrespeito ao
postulado da separação de poderes, desconstituir, por lei, atos de
caráter administrativo que tenham sido editados pelo Poder
Executivo no estrito desempenho de suas privativas atribuições
institucionais. Essa prática legislativa, quando efetivada, subverte a
função primária da lei, transgride o princípio da divisão funcional
do poder, representa comportamento heterodoxo da instituição
parlamentar e importa em atuação "ultra vires" do Poder
Legislativo, que não pode, em sua atuação político-jurídica,
exorbitar dos limites que definem o exercício de suas prerrogativas
institucionais.
- Não se revela constitucionalmente lícito, ao Legislativo, decretar
a nulidade do procedimento administrativo do concurso público,
sob pretexto de infringência, por órgãos do Poder Executivo, de prescrições legais.
- A norma legal que invalida "todo concurso público em que ficar
comprovada a transgressão desta Lei", por qualificar-se como
inadmissível sentença legislativa, ofende o postulado da separação
de poderes. É que, em tal hipótese, dar-se-á indevida substituição,
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
pelo Legislativo, do Poder Judiciário, a cujos órgãos se reservou,
constitucionalmente, a função de dirimir conflitos de interesses,
sem prejuízo, no entanto, do reconhecimento de que se inclui, na
esfera de atribuições da Administração, o poder de "(...) anular seus
próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais (...)"
(Súmula 473/STF), incumbindo, desse modo, o exercício de tal
prerrogativa, ao órgão estatal competente que promove referidos certames seletivos.
CONCURSO PÚBLICO E FIXAÇÃO DE LIMITE ETÁRIO
MÁXIMO PARA EFEITO DE INSCRIÇÃO DE CANDIDATOS:
MATÉRIA QUE SE SUBSUME À NOÇÃO DE REGIME
JURÍDICO DOS SERVIDORES PÚBLICOS.
- A definição (ou vedação) de limites etários para efeito de
inscrição em concurso público de provas ou de provas e títulos
compreende-se no conceito de regime jurídico dos servidores
públicos, submetendo-se, em conseqüência, no que se refere à
instauração do processo legislativo, à cláusula de reserva de
iniciativa, estabelecida na Constituição da República.
- A questão da fixação, por lei, de limite máximo de idade para
inscrição em concursos públicos. O exame da matéria sob a dupla
perspectiva dos postulados constitucionais da igualdade e da razoabilidade. Precedentes do Supremo Tribunal Federal.
ADI 805, RS,
Rel.
Sepúlveda Pertence,
j. em 17-12-
98.
Emenda parlamentar.
Aumento despesa.
Processo legislativo: emenda de origem parlamentar, da qual
decorreu aumento da despesa prevista, a projeto do Governador do
Estado, em matéria reservada à iniciativa do Poder Executivo:
inconstitucionalidade, visto serem de observância compulsória
pelos Estados as regras básicas do processo legislativo da
Constituição Federal - entre as quais as atinentes à reserva de
iniciativa - dada a sua implicação com o princípio fundamental da separação e independência dos Poderes.
Arq.
ADI 816, SC
Rel. Ilmar
Galvão,
j. em 22-8-96
Emenda parlamentar.
Aumento despesa.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. INCISOS
VI, VII, VIII E IX, DO ART. 16, DA LEI Nº 1.137, DE 14.09.92,
DO ESTADO DE SANTA CATARINA. Tratando-se de
dispositivos que, por haverem estendido vantagem funcional a
servidores que não haviam sido por ela contemplados no projeto
enviado à Assembléia Legislativa pelo chefe do Poder Executivo,
no exercício de competência privativa prevista no art. 61, § 1º, II, a
e c, da Constituição Federal, padecem de inconstitucionalidade
formal, por afronta à norma do art. 63, I, da mesma Carta.
Procedência da ação. .
Arq.
ADI 816-MC,
SC
Rel. Ilmar Galvão,
j. em 22-4-93.
Emenda parlamentar.
Aumento despesa.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
CAUTELAR. INCS. VI, VII, VIII E IX, DO ART. 16, DA LEI
ESTADUAL N. 1137, DE 14 DE SETEMBRO DE 1992.
ALEGADA AFRONTA AOS ARTS. 61, PAR.1., II, A E C, E
ART. 63, I, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. Plausibilidade da
increpação, tendo em vista tratar-se de dispositivos resultantes de
emenda da Assembléia, acarretadora de aumento de despesa, a
projeto de lei que lhe foi enviado pelo Chefe do Poder Executivo,
no exercício de competência legislativa privativa. Concorrência do
periculum in mora, consistente na possibilidade de virem a ser
efetuados pagamentos de vantagens funcionais indevidas. Cautelar deferida.
Arq.
ADI 821-MC,
RS
Rel. Octavio Gallotti,
j. em 5-2-93.
1. Poder Constituinte
Decorrente.
Conselho: criação.
Conselho de
Comunicação Social do Estado.
Criação de Conselho, dotado de diversificada composição e
representatividade, destinado a orientar os órgãos de comunicação
social do Estado, suas fundações e entidades sujeitas a seu controle
(artigos 238 e 239 da Constituição do Rio Grande do Sul e Lei
estadual n. 9726-92). Cautelar deferida, ante a premência do prazo
assinado para a instalação do Colegiado e a relevância da
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
2. Iniciativa parlamentar.
Órgão executivo: regulamentação.
Cautelar. Vício acolhido.
fundamentação jurídica do pedido, especialmente quanto às teses
concernentes à separação dos Poderes e à exclusividade de
iniciativa do Chefe do Executivo, bem como a competência
privativa deste para exercer a direção superior e dispor sobre a organização e o funcionamento da administração.
ADI 822, RS
Rel. Octavio Gallotti,
j. em 25-4-96
Emenda parlamentar.
Aumento despesa.
Extensão de gratificação de risco, mediante emenda parlamentar, a
outras categorias funcionais, que não as previstas na proposta do
Governador. Ação direta julgada procedente por preterição de
iniciativa exclusiva do Executivo, com ofensa ao princípio da separação dos Poderes.
Arq.
ADI 822-MC,
RS
Rel.
Sepúlveda Pertence,
j. em 5-2-93
Emenda parlamentar.
Aumento despesa.
Processo legislativo: tendência da jurisprudência do STF no sentido
de observância compulsória pelos Estados membros das linhas
básicas do modelo federal do processo legislativo, em particular, as
que dizem com as hipóteses de iniciativa reservada e com os limites
do poder de emenda parlamentar: conseqüente deferimento de
medida cautelar suspensiva de vigência de dispositivos legais
estaduais oriundos de emendas parlamentares a projeto do
executivo que implicaram aumento da despesa proposta, na linha de
precedentes (ADIns 766 e 774).
Arq.
ADI 843, MS
Rel. Ilmar
Galvão,
j. em 8-8-02
Poder Constituinte
Derivado.
Usurpação de iniciativa reservada.
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
ART. 38, INCISOS I E II, E §§ 1.º E 2.º, DA CONSTITUIÇÃO
DO ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL. REGIME
JURÍDICO DE SERVIDORES ESTADUAIS. VÍCIO DE
INICIATIVA. Sendo os dispositivos impugnados relativos ao
regime jurídico dos servidores públicos sul-mato- grossenses,
resulta caracterizada a violação à norma da alínea c do inciso II do
§ 1.º do art. 61 da Constituição Federal, que, sendo corolário do
princípio da separação de poderes, é de observância obrigatória
para os Estados, inclusive no exercício do poder constituinte decorrente. Ação julgada procedente.
Arq.
ADI 843-MC,
MS
Rel. Ilmar Galvão,
j. em 23-4-93
Poder Constituinte
Derivado.
Usurpação de iniciativa reservada.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 38, I E
II E §§ 1.º E 2.º, DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE MATO
GROSSO DO SUL. INCOMPATIBILIDADE COM O ART. 61, §
1.º, II, a E c, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. Manifesta
plausibilidade da tese, por tratar-se de normas que versam matéria
legislativa de iniciativa privativa do Chefe do Poder Executivo.
Concorrência do perigo de dano de difícil reparação. Cautelar deferida.
Arq.
ADI 844, MS
Rel. Carlos Velloso,
j. em 16-5-02
Poder Constituinte
Derivado.
Usurpação de iniciativa reservada.
CONSTITUCIONAL. PROCESSO LEGISLATIVO FEDERAL:
INICIATIVA LEGISLATIVA RESERVADA: SERVIDORES
PÚBLICOS. C.F., art. 61, § 1º, II, c. Constituição do Estado do
Mato Grosso do Sul, art. 33. I. - A regra da iniciativa legislativa
reservada ao Presidente da República - C.F., art. 61, § 1º, II, c - é de
observância obrigatória pelos Estados-membros. Precedentes do Supremo Tribunal Federal. II. - ADIn julgada procedente.
Arq.
ADI 844-MC, MS,
Rel. Marco
Aurélio,
j. em 26-2-93.
Poder Constituinte Derivado.
Usurpação de iniciativa
reservada.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - LIMINAR -
CONTAGEM DE TEMPO DE SERVIÇO PARA EFEITOS DE
ASCENSAO E PROGRESSAO FUNCIONAIS. Presentes o sinal
do bom direito e o risco de manter-se com plena eficacia o ato
impugnado, impõe-se a concessão da liminar. Isto ocorre em
relação a parte do artigo 33 da Constituição do Estado de Mato
Grosso do Sul no que preceitua que "o tempo de serviço prestado
ao Estado, sob qualquer forma e vinculo, por servidor efetivo e
estavel será computado para todos os efeitos legais, incluidas a
ascensão e a progressão funcionais". A organização do pessoal
mediante lei pressupoe a iniciativa do Chefe do Poder Executivo -
artigo 61, par. 1., inciso II, alineas "a" e "c", da Constituição
Federal. Liminar concedida nos limites do pedido formulado, ou
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
seja, para suspender a eficacia da expressão "incluidas a ascensão e a progressão funcionais"
ADI 862-MC, AP,
Rel. Moreira
Alves,
j. em 4-8-93
Poder Constituinte Decorrente.
Usurpação de
competência do
Executivo. Subordinação
à prévia autorização
legislativa. Provimento de
cargo de órgão da Administração Indireta.
Ação de Inconstitucionalidade. Pedido de liminar. Inciso XXI do
artigo 95 do Estado do Amapá que declara ser da competência
exclusiva da Assembléia Legislativa Estadual a aprovação prévia,
por voto secreto, após argüição pública, do nome do Presidente do
Banco do Estado - que é sociedade de economia mista - indicado pelo Governador.
- Ocorrência dos requisitos da relevância jurídica do pedido e do
"periculum in mora". Precedente do Supremo Tribunal Federal: ADIn. n. 127. Liminar deferida.
Arq.
ADI 864, RS,
Rel. Moreira
Alves,
j. em 25-4-96
Iniciativa parlamentar.
Regime jurídico.
Ação direta de inconstitucionalidade. - Já se firmou nesta Corte o
entendimento de que, no tocante a leis que digam respeito a regime
jurídico de servidor público, seu projeto é da iniciativa exclusiva do
Governador do Estado-membro, aplicando-se-lhe, portanto, a
norma que se encontra no artigo 61, II, "c", da Constituição Federal.
- No caso, como salientado na inicial, o projeto que deu margem à
Lei objeto desta ação direta de inconstitucionalidade foi de
iniciativa parlamentar, razão por que incorre ela em
inconstitucionalidade formal. Ação julgada procedente, para
declarar a inconstitucionalidade da Lei nº 9.844, de 24 de março de 1993, do Estado do Rio Grande do Sul.
Arq.
ADI 865-MC,
MA
Rel. Celso de Mello,
j. em 7-10-93
Emenda parlamentar.
Organização judiciária.
Não se aplica o limite do
art. 63, II (aumento de
despesa). Numerus
clausus. Vício afastado.
ADIN - CÓDIGO DE DIVISÃO E ORGANIZAÇÃO
JUDICIÁRIAS DO ESTADO DO MARANHÃO (ART. 87 E
PARÁGRAFO ÚNICO; ART. 88 E §; ART. 89 E PARÁGRAFO
ÚNICO) - SERVENTIAS JUDICIAIS E EXTRAJUDICIAIS -
MATÉRIA DE ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA - INICIATIVA
RESERVADA AO TRIBUNAL DE JUSTIÇA - PROCESSO
LEGISLATIVO - LIMITES DA ATUAÇÃO PARLAMENTAR -
EMENDABILIDADE DOS PROJETOS DE LEI EM TEMA DE
ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA - A QUESTÃO DO ART. 236
DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL - AUSÊNCIA DE
PLAUSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO - MEDIDA CAUTELAR INDEFERIDA.
- A cláusula constitucional que confere exclusividade ao Tribunal
de Justiça para instaurar o processo legislativo em tema de
organização e divisão judiciárias do Estado não impede os
parlamentares de oferecerem emendas ao correspondente projeto de lei.
O poder de emendar, que não constitui derivação do poder de
iniciar o processo de formação das leis, é prerrogativa deferida aos
parlamentares, que se sujeitam, quanto ao seu exercício, apenas às
restrições impostas, em numerus clausus, pela Constituição Federal.
- O projeto de lei sobre organização judiciária pode sofrer emendas
parlamentares de que resulte, até mesmo, aumento da despesa prevista.
O conteúdo restritivo da norma inscrita no art. 63, II, da
Constituição Federal - que concerne exclusivamente aos serviços
administrativos estruturados na Secretaria dos Tribunais - não se
aplica aos projetos referentes à organização judiciária, eis que as
limitações expressamente previstas, nesse tema, pela Carta Política
de 1969 (art. 144, § 5., in fine ), deixaram de ser reproduzidas pelo vigente ordenamento constitucional.
- A ausência da lei nacional reclamada pelo art. 236 da Constituição
não impede o Estado-membro, sob pena da paralisação dos seus
serviços notariais e registrais, de dispor sobre a execução dessas
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
atividades, que se inserem, por sua natureza mesma, na esfera de competência autônoma dessa unidade federada.
A criação, o provimento e a instalação das serventias extrajudiciais
pelos Estados-membros não implicam usurpação da matéria reservada à lei nacional pelo art. 236 da Carta Federal.
ADI 872, RS
Rel. Ellen Gracie,
j. em 28-8-02
Iniciativa parlamentar.
Regime jurídico e aposentadoria.
Ação Direta de Inconstitucionalidade. Lei nº 9.868, de 28/04/93, do
Estado do Rio Grande do Sul. Lei de iniciativa parlamentar
versando sobre servidores públicos, regime jurídico e
aposentadoria. Impossibilidade. Artigos 2º, 25, caput e 61, § 1º, II,
c da Constituição Federal. Firmou a jurisprudência deste Supremo
Tribunal o entendimento no sentido "de ser de observância
compulsória pelos Estados as regras básicas do processo legislativo
federal, por sua implicação com o princípio fundamental da
separação e independência dos Poderes" (ADI nº 774, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence, D.J. 26.02.99), incluindo-se as regras de
iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo na elaboração de
leis que disponham sobre remuneração dos servidores, seu regime
jurídico único e sua aposentadoria. Precedentes: ADI nº 2.115, Rel.
Min. Ilmar Galvão e ADI nº 700, Rel. Min. Maurício Corrêa.
Existência, ainda, de vício material, ao estender a lei impugnada a
fruição de direitos estatutários aos servidores celetistas do Estado,
ofendendo, assim, o princípio da isonomia e o da exigência do
concurso público para o provimento de cargos e empregos públicos,
previstos, respectivamente, nos arts. 5º, caput e 37, II da
Constituição. Ação direta a que se julga procedente para declarar a
inconstitucionalidade da Lei nº 9.868, de 28/04/93, do Estado do
Rio Grande do Sul.
Arq.
ADI 872-MC,
RS
Rel Sepúlveda Pertence,
j. em 3-6-93
Iniciativa parlamentar.
Regime jurídico e
aposentadoria.
Processo legislativo: consolidação da jurisprudência do STF no
sentido de que - não obstante a ausência de regra explicita na
Constituição de 1988 - impõem a observância do processo
legislativo dos Estados-membros as linhas básicas do
correspondente modelo federal, particularmente as de reserva de
iniciativa, na medida em que configuram elas prisma relevante do
perfil do regime positivo de separação e independência dos
poderes, que e princípio fundamental ao qual se vinculam compulsoriamente os ordenamentos das unidades federadas.
Arq.
ADI 873, RS
Rel. Maurício Corrêa,
j. em 7-3-96.
Emenda parlamentar.
Aumento de despesa.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 3º DA
LEI Nº9.820, DE 19.01.93, PROMULGADA PELA
ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO GRANDE
DO SUL, POR ATO PUBLICADO EM 19.04.93. ISONOMIA DE
REMUNERAÇÃO DE SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS
ESTADUAIS. 1. Norma inserida, por emenda parlamentar, em
projeto de lei de iniciativa exclusiva do Chefe do Poder Executivo:
configura inconstitucionalidade formal por usurpar a competência
privativa do Governador do Estado, em ofensa ao princípio de
independência e harmonia entre os Poderes. 2. Ação direta
procedente.
Arq.
ADI 89, MG
Rel. Ilmar Galvão,
j. em 4-2-93.
Poder Constituinte
Decorrente.
R.J.: Usurpação da
iniciativa reservada.
Transferência de servidores.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGOS
21, 25, 26, 27, 32 E 33 DO ATO DAS DISPOSIÇÕES
CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS, DE 21 DE SETEMBRO DE 1989.
Normas que, por disporem, sem exceção, sobre servidores públicos
do Estado, padecem do vício de inconstitucionalidade formal, por
inobservância do princípio da reserva da iniciativa legislativa ao
Chefe do Poder Executivo, corolário do postulado da separação dos
poderes, imposto aos Estados pelo art. 25 da CF/88 e,
especialmente, ao constituinte estadual, no art. 11 do ADCT/88,
combinados, no presente caso, com o art. 61, parágrafo 1., alíneas a
e c, da mesma Carta. Configuração, ainda, de inconstitucionalidade
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
material, relativamente aos arts. 21, 27 e 33, por contemplarem
hipóteses de provimento de cargos e empregos públicos mediante
transferência indiscriminada de servidores e aproveitamento de
bolsistas, ao arrepio do disposto no art. 37, II, do Texto Fundamental. Procedência da ação.
ADI 89-MC,
MG
Rel. Sydney Sanches,
j. em 7-12-89.
Poder Constituinte
Decorrente.
R.J.: Usurpação da
iniciativa reservada.
Transferência de servidores.
Ação direta de inconstitucionalidade dos artigos 21, 25, 26,
parágrafos 1 e 2, 27, 32, parágrafo único, 33 e art. 48 do A.D.C.T.
da constituição do estado de minas gerais. alegação de ofensa aos
artigos 37, i e ii, e 39 da C.F. deferimento de medida cautelar de
suspensão da eficácia de tais dispositivos, exceto o art. 48, porque,
quanto aos demais, relevantes os fundamentos deduzidos na
petição, inclusive em face da dispensa de iniciativa do governador,
e evidenciado o 'periculum in mora', com os transtornos para a
administração pública, resultantes da aplicação imediata de tais normas.
Arq.
ADI 952-MC,
SC
Rel. Sydney Sanches,
p/ac. Carlos Velloso,
j. em 13-10-
93
Poder Constituinte
Decorrente.
Capacidade de auto-
organização. Polícia
Civil. Chefia. Escolha
dentre delegados de carreira. Vício afastado.
Ação direta de inconstitucionalidade. Medida cautelar. Cargo de
confiança. Nomeação. Chefe da Polícia Civil. Delegados de
Carreira. Art. 144, § 4º, da Constituição Federal e § 1º do art. 106
da Constituição do Estado de Santa Catarina. O Supremo Tribunal
Federal, por maioria de votos, considera não atendidos os requisitos
da plausibilidade jurídica da ação ("fumus boni iuris") ou do
"periculum in mora" e, por isso, indefere medida cautelar de
suspensão de expressões contidas no § 1º do art. 106 da
Constituição do Estado de Santa Catarina, segundo as quais "o
Chefe da Polícia Civil, nomeado pelo Governador do Estado, será
escolhido dentre os delegados de final de carreira". Votos vencidos,
inclusive do Relator, pelo deferimento parcial da medida, para
suspensão cautelar, apenas, das expressões "final de". Interpretação
dos artigos 61, § 1º, inc. II, alínea "c" c/c artigos 2º e 25 da parte
permanente da Constituição Federal e do art. 11 do ADCT.
Interpretação, também, dos artigos 37, II, e 144, § 4º, da parte permanente. Tudo para efeito de cautelar. Medida indeferida.
Arq.
ADI 973-MC,
AP,
Rel. Celso de Mello,
j. em 17-12-93
Emenda Parlamentar.
1. Natureza do poder de
emenda.
2. Aumento de despesa.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - LEI
ESTADUAL QUE ESTENDE A DETERMINADA CATEGORIA
FUNCIONAL O REALINHAMENTO REMUNERATÓRIO
DEFERIDO A SERVIDORES PÚBLICOS DIVERSOS -
EXTENSÃO DESSE BENEFÍCIO PECUNIÁRIO RESULTANTE
DE EMENDA DE INICIATIVA PARLAMENTAR APROVADA
PELA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA - VETO REJEITADO -
PROMULGAÇÃO DA LEI PELO PRESIDENTE DA
ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA LOCAL - AUMENTO DA
DESPESA GLOBAL PREVISTA NO PROJETO DE LEI
APRESENTADO PELO CHEFE DO PODER EXECUTIVO -
IMPOSSIBILIDADE CONSTITUCIONAL DESSA
MAJORAÇÃO POR EFEITO DE EMENDA DE INICIATIVA
PARLAMENTAR - INCIDÊNCIA DA RESTRIÇÃO PREVISTA
NO ART. 63, I, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA -
MEDIDA CAUTELAR DEFERIDA. PROCESSO LEGISLATIVO E ESTADO-MEMBRO.
- A atuação dos membros da Assembléia Legislativa dos Estados
acha-se submetida, no processo de formação das leis, à limitação
imposta pelo art. 63, I, da Constituição, que veda - ressalvadas as
proposições de natureza orçamentária - o oferecimento de emendas
parlamentares de que resulte o aumento da despesa prevista nos
projetos sujeitos ao exclusivo poder de iniciativa do Governador do Estado.
O EXERCÍCIO DO PODER DE EMENDA, PELOS MEMBROS
DO PARLAMENTO, QUALIFICA-SE COMO PRERROGATIVA INERENTE À FUNÇÃO LEGISLATIVA DO ESTADO.
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
- O poder de emendar - que não constitui derivação do poder de
iniciar o processo de formação das leis - qualifica-se como
prerrogativa deferida aos parlamentares, que se sujeitam, no
entanto, quanto ao seu exercício, às restrições impostas, em "numerus clausus", pela Constituição Federal.
– A Constituição Federal de 1988, prestigiando o exercício da
função parlamentar, afastou muitas das restrições que incidiam,
especificamente, no regime constitucional anterior, sobre o poder
de emenda reconhecido aos membros do Legislativo. O legislador
constituinte, ao assim proceder, certamente pretendeu repudiar a
concepção regalista de Estado (RTJ 32/143 - RTJ 33/107 - RTJ
34/6 - RTJ 40/348), que suprimiria, caso prevalecesse, o poder de
emenda dos membros do Legislativo. - Revela-se plenamente
legítimo, desse modo, o exercício do poder de emenda pelos
parlamentares, mesmo quando se tratar de projetos de lei sujeitos à
reserva de iniciativa de outros órgãos e Poderes do Estado,
incidindo, no entanto, sobre essa prerrogativa parlamentar - que é
inerente à atividade legislativa -, as restrições decorrentes do
próprio texto constitucional (CF, art. 63, I e II), bem assim aquela
fundada na exigência de que as emendas de iniciativa parlamentar
sempre guardem relação de pertinência com o objeto da proposição legislativa. Doutrina. Precedentes.
ADI 980, DF,
Rel. Menezes de Direito,
j. em 6-3-08
Poder Constituinte
Decorrente.
Lei Orgânica Distrital.
R.J.: Usurpação da
iniciativa reservada.
Transferência de servidores.
Ação direta de inconstitucionalidade. Artigos 46, § 1º, e 53,
parágrafo único, da Lei Orgânica do Distrito Federal. Exigência de
concurso público. Artigo 37, II, da Constituição Federal. Ausência
de prejudicialidade. Iniciativa do Poder Executivo. Precedentes da
Corte.
1. A inteira modificação do art. 39 da Constituição Federal não
autoriza o exame do tema constitucional sob sua regência. 2. Não
há alteração substancial do art. 37, II, da Constituição Federal
quando mantida em toda linha a exigência de concurso público
como modalidade de acesso ao serviço público. 3. É
inconstitucional a lei que autoriza o sistema de opção ou de
aproveitamento de servidores federais, estaduais e municipais sem
que seja cumprida a exigência de concurso público. 4. A Lei
Orgânica tem força e autoridade equivalentes a um verdadeiro
estatuto constitucional, podendo ser equiparada às Constituições
promulgadas pelos Estados-Membros, como assentado no
julgamento que deferiu a medida cautelar nesta ação direta. 5.
Tratando-se de criação de funções, cargos e empregos públicos ou
de regime jurídico de servidores públicos impõe-se a iniciativa
exclusiva do Chefe do Poder Executivo nos termos do art. 61, º 1º,
II, da Constituição Federal, o que, evidentemente, não se dá com a
Lei Orgânica. 6. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente.
Arq.
ADI 980-MC,
DF,
Rel. Celso de Mello,
j. em 3-2-94.
Poder Constituinte
Decorrente.
Lei Orgânica Distrital.
R.J.: Usurpação da
iniciativa reservada.
Transferência de
servidores.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - ATO DAS
DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS (LEI ORGÂNICA DO
DISTRITO FEDERAL) - ARTS. 46 E 53 - NATUREZA
JURÍDICA DA LEI ORGÂNICA DO DISTRITO FEDERAL -
EMPREGADOS DO COMPLEXO ADMINISTRATIVO DO
DISTRITO FEDERAL - OPÇÃO PELO REGIME
ESTATUTÁRIO - APROVEITAMENTO DE PROFESSORES
ORIGINÁRIOS DE OUTRAS PESSOAS ESTATAIS NA
FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DO DISTRITO FEDERAL -
NORMAS QUE PARECEM OFENDER O PRINCÍPIO
CONSTITUCIONAL DO CONCURSO PÚBLICO (CF, ART. 37,
II) - POSSÍVEL VULNERAÇÃO DA CLÁUSULA DE
RESERVA REFERENTE A INICIATIVA, PELO
GOVERNADOR, DAS LEIS SOBRE REGIME JURÍDICO DOS SERVIDORES PÚBLICOS - LIMINAR DEFERIDA.
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
- A Lei Orgânica do Distrito Federal constitui instrumento
normativo primário destinado a regular, de modo subordinante - e
com inegável primazia sobre o ordenamento positivo distrital - a
vida jurídico-administrativa e político-institucional dessa entidade integrante da Federação brasileira.
Esse ato representa, dentro do sistema de direito positivo, o
momento inaugural e fundante da ordem jurídica vigente no âmbito
do Distrito Federal. Em uma palavra: a Lei Orgânica equivale, em
força, autoridade e eficácia jurídicas, a um verdadeiro estatuto
constitucional, essencialmente equiparável às Constituições promulgadas pelos Estados-membros.
O Distrito Federal - a semelhança dos Estados-membros - esta
sujeito ao princípio estabelecido no art. 61, par. 1., II, a e c, da
Constituição Federal, que diz respeito a iniciativa exclusiva do
Chefe do Poder Executivo para o processo de formação das leis que
disponham sobre criação de cargos, funções ou empregos públicos
ou, ainda, sobre o regime jurídico dos servidores públicos na
Administração direta e autárquica.
- Não parece possível que, mediante simples opção, possa o
empregado público sob regime contratual trabalhista passar a
condição jurídico-administrativa de servidor estatutário, sem que se
desatenda, com esse procedimento, a imposição constitucional do
concurso público. Precedentes.
- O Supremo Tribunal Federal tem repelido, por incompatíveis com
o texto da Lei Fundamental, as normas legais que,
independentemente de concurso público, possibilitam o
aproveitamento, nos quadros funcionais de entidade federada
diversa (como o Distrito Federal), de servidor que ocupa cargo em
outra pessoa política (União, Estados-membros e Municípios). Precedentes.
ADI 661, RS,
Rel. Néri da Silveira,
j. em 22-9-1994
(MC j. em 7-2-92)
Decisão Administrativa
de Tribunal.
Aumento de vencimentos
a magistrados e
servidores. URP.
Violação à reserva legal.
Ação Direta de Inconstitucionalidade. 2. Decisão Administrativa do
Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, de 26 de julho de
1991, no Processo TRT-ADM-4702/1991, que determinou o
pagamento da URP de fevereiro de 1989, aos magistrados
vinculados à 4ª Região e funcionários do Quadro de Pessoal da
mesma Corte, no percentual de 26,05 sobre os vencimentos, com as
respectivas diferenças de vencimentos referentes aos meses de
fevereiro a dezembro de 1989. 3. Alegação de ofensa aos arts. 37,
X e XV; 96, II, "b"; 5º, XXXVI e 95, III, todos da Constituição
Federal. 4. Natureza normativa da Decisão Administrativa em
exame, em conformidade com a orientação do STF firmada nas
ADIN's nºs. 665-5 e 577-4. 5. Medida Cautelar inicialmente
concedida. 6. Jurisprudência do STF, no sentido de ser indevido,
em fevereiro de 1989, o percentual de 26,05 sobre os vencimentos
dos servidores federais, com base na URP do período de setembro a
novembro de 1988. A revogação do Decreto-Lei nº 2335/1987 pelo
art. 38 da Lei nº 7730/1989, resultante da conversão da Medida
Provisória nº 32, de 15.1.1989, não feriu direito adquirido dos
servidores. Orientação firmada pelo STF em sessão administrativa,
de referência a seus Ministros e servidores e no julgamento da
ADIN 694- DF. Inexistência de direito adquirido dos servidores ao
reajuste referido no índice de 26,05%. 7. Ação do MPF julgada
procedente declarando-se a inconstitucionalidade da Decisão
Administrativa do TRT-4ª Região, de 26.7.1991, no Processo TRT-
ADM-4702, acima mencionada, a atribuir aumento de vencimentos
a magistrados e servidores sem lei autorizativa, sendo, assim,
incompatível com o disposto no art. 96, II, alínea "b", e 5º, XXXVI, ambos da Constituição Federal.
Arq.
ADI 1.050- Emenda Parlamentar. TRIBUNAL DE JUSTIÇA - INSTAURAÇÃO DE PROCESSO
LEGISLATIVO VERSANDO A ORGANIZAÇÃO E A DIVISÃO
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
MC, SC
Rel. Celso de Mello,
j. em 21-9-94
1. Limites constitucionais.
2. Pertinência temática.
Organização e divisão
judiciárias. Criação de
novas comarcas. Vício
caracterizado. Inaplicável
o precedente ADI
865/MA.
JUDICIÁRIAS DO ESTADO - INICIATIVA DO RESPECTIVO
PROJETO DE LEI SUJEITA À CLÁUSULA
CONSTITUCIONAL DE RESERVA (CF, ART. 125, § 1º, "IN
FINE") - OFERECIMENTO E APROVAÇÃO, NO CURSO DO
PROCESSO LEGISLATIVO, DE EMENDAS
PARLAMENTARES - AUMENTO DA DESPESA
ORIGINALMENTE PREVISTA E AUSÊNCIA DE
PERTINÊNCIA - DESCARACTERIZAÇÃO DA PROPOSIÇÃO
LEGISLATIVA ORIGINAL, MOTIVADA PELA AMPLIAÇÃO
DO NÚMERO DE COMARCAS, VARAS E CARGOS
CONSTANTES DO PROJETO INICIAL - CONFIGURAÇÃO,
NA ESPÉCIE, DOS REQUISITOS PERTINENTES À
PLAUSIBILIDADE JURÍDICA E AO "PERICULUM IN MORA" - MEDIDA CAUTELAR DEFERIDA.
- O poder de emendar projetos de lei - que se reveste de natureza
eminentemente constitucional - qualifica-se como prerrogativa de
ordem político-jurídica inerente ao exercício da atividade
legislativa. Essa prerrogativa institucional, precisamente por não
traduzir corolário do poder de iniciar o processo de formação das
leis (RTJ 36/382, 385 - RTJ 37/113 - RDA 102/261), pode ser
legitimamente exercida pelos membros do Legislativo, ainda que se
cuide de proposições constitucionalmente sujeitas à cláusula de
reserva de iniciativa (ADI 865/MA, Rel. Min. CELSO DE
MELLO), desde que - respeitadas as limitações estabelecidas na
Constituição da República - as emendas parlamentares (a) não
importem em aumento da despesa prevista no projeto de lei, (b)
guardem afinidade lógica (relação de pertinência) com a proposição
original e (c) tratando-se de projetos orçamentários (CF, art. 165, I,
II e III), observem as restrições fixadas no art. 166, §§ 3º e 4º da Carta Política. Doutrina. Jurisprudência.
- Inobservância, no caso, pelos Deputados Estaduais, quando do
oferecimento das emendas parlamentares, de tais restrições. Precedentes do Supremo Tribunal Federal.
Suspensão cautelar da eficácia do diploma legislativo estadual
impugnado nesta sede de fiscalização normativa abstrata.
ADI 1.060-MC, RS
Rel. Carlos
Velloso,
j. em 1-8-94
Iniciativa parlamentar.
Regime jurídico. Ampliação de benefício.
CONSTITUCIONAL. ESTADO-MEMBRO. PROCESSO
LEGISLATIVO. I. - A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal
e no sentido da observância compulsória pelos Estados-membros
das regras básicas do processo legislativo federal, como, por
exemplo, daquelas que dizem respeito a iniciativa reservada (C.F.,
art. 61, par. 1.) e com os limites do poder de emenda parlamentar
(C.F., art. 63). II. - Precedentes: ADIn 822-RS, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence; ADIn 766 e ADIn 774, Rel. Min. Celso de
Mello; ADIn 582-SP, Rel. Min. Néri da Silveira (RTJ 138/76);
ADIn 152-MG, Rel. Min. Ilmar Galvao (RTJ 141/355); ADIn 645-
DF, Rel. Min. Ilmar Galvao (RTJ 140/457). III. - Cautelar deferida:
suspensão da eficácia da Lei 10.003, de 08.12.93, do Estado do Rio Grande do Sul.
Arq.
ADI 1.064,
MS
Rel. Ilmar Galvão,
j. em 7-8-97
Poder Constituinte
Reformador Estadual.
R.J.: Usurpação da iniciativa reservada.
ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL. EC Nº 1/93 QUE
ACRESCENTOU PARÁGRAFO ÚNICO AO ART. 35 DA
CARTA ESTADUAL, INSTITUINDO SALÁRIO MÍNIMO
PROFISSIONAL PARA ENGENHEIROS, QUÍMICOS, ARQUITETOS, AGRÔNOMOS E MÉDICOS VETERINÁRIOS.
Manifesta ofensa ao princípio constitucional da iniciativa privativa
do Chefe do Poder Executivo para leis que têm por objeto
remuneração de servidores. Norma que, de outra parte, institui
vinculação de vencimentos de servidores estaduais a índice ditado
pelo Governo Federal, garantindo-lhes reajustamento automático,
independentemente de lei específica do Estado, contrariando a
norma do art. 37, XIII, da CF e ofendendo a autonomia do Estado-
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
membro. Procedência da ação, com declaração de inconstitucionalidade do texto indicado.
ADI 1.064-MC, MS
Rel. Ilmar
Galvão,
j. em 8-6-94
Poder Constituinte Reformador Estadual.
R.J.: Usurpação da
iniciativa reservada.
CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA. LIMINAR.
REMUNERAÇÃO. SERVIDORES PÚBLICOS ESTADUAIS.
VINCULAÇÃO. SALÁRIO-MÍNIMO PROFISSIONAL. JORNADA DE TRABALHO.
A vinculação, na Constituição Estadual, da remuneração e da
jornada de servidores estaduais a disciplina que se estabelece, em
lei federal, para profissionais congêneres, para os quais se estipula
piso salarial correspondente a determinada quantia de salários-
mínimos, torna relevante a alegação de inconstitucionalidade, em
face do princípio da autonomia dos Estados-membros, bem como
das regras que se referem a iniciativa reservada do Poder Executivo
para certas matérias e a inadmissibilidade de vinculação e
reajustamento automático de remuneração no âmbito do Poder
Público (arts. 25; 61, par. 1., II, a e c; e 37, XIII, da CF).
Precedentes. Medida liminar deferida.
Arq.
ADI 1.070-
MC, MS
Rel. Celso de
Mello, j. em
23-11-94
Emenda parlamentar.
1. Aumento despesa.
2. Sanção presidencial. Inconvalidação do vício.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE -
DEFENSORIA PÚBLICA - REMUNERAÇÃO - PISO
REMUNERATÓRIO NÃO INFERIOR A SETE (7) VEZES O
MENOR VENCIMENTO DA TABELA DO PODER
EXECUTIVO - VINCULAÇÃO REMUNERATÓRIA
CONSTITUCIONALMENTE VEDADA - NORMA LEGAL
RESULTANTE DE EMENDA PARLAMENTAR - ALEGAÇÃO
DE INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL (CF, ART. 63, I) E
MATERIAL (CF, ART. 37, XIII) - PLAUSIBILIDADE
JURÍDICA - PERICULUM IN MORA CARACTERIZADO -
MEDIDA CAUTELAR DEFERIDA. PROCESSO LEGISLATIVO
E ESTADO-MEMBRO: A atuação dos membros da Assembléia
Legislativa dos Estados acha-se submetida, no processo de
formação das leis, a limitação imposta pelo art. 63, I, da
Constituição, que veda - ressalvadas as proposições de natureza
orçamentária - o oferecimento de emendas parlamentares de que
resulte o aumento da despesa prevista nos projetos sujeitos ao exclusivo poder de iniciativa do Governador do Estado.
USURPAÇÃO DE INICIATIVA E SANÇÃO EXECUTIVA: A
sanção a projeto de lei que veicule norma resultante de emenda
parlamentar aprovada com transgressão a cláusula inscrita no art.
63, I, da Carta Federal não tem o condão de sanar o vício de
inconstitucionalidade formal, eis que a só vontade do Chefe do
Executivo - ainda que deste seja a prerrogativa institucional
usurpada - revela-se juridicamente insuficiente para convalidar o
defeito radical oriundo do descumprimento da Constituição da Republica. Precedente.
PISO REMUNERATÓRIO E VINCULAÇÃO
CONSTITUCIONALMENTE VEDADA: A estipulação de piso
remuneratório que provoque a automática majoração dos
vencimentos do cargo público vinculado, sempre que ocorra
aumento do estipêndio devido a categoria funcional erigida pelo
legislador comum a condição de paradigma (cargo público
vinculante), incide na vedação constitucional que desautoriza a
vinculação de vencimentos para efeito de remuneração de pessoal do serviço público. Precedentes do STF.
Arq.
ADI 1.124,
RN,
Rel. Eros Grau,
j. em 2-3-05.
Iniciativa parlamentar.
Remuneração: aumento. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI N.
6619/94 DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE.
INICIATIVA PARLAMENTAR. CONCESSÃO DE MELHORIA
SALARIAL AOS POLICIAIS MILITARES DO ESTADO. VÍCIO
DE INICIATIVA. INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL.
1. A Constituição do Brasil, ao conferir aos Estados-membros a
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
capacidade de auto-organização e de autogoverno (artigo 25,
caput), impõe a obrigatória observância de vários princípios, entre
os quais o pertinente ao processo legislativo, de modo que o
legislador estadual não pode validamente dispor sobre as matérias reservadas à iniciativa privativa do Chefe do Executivo.
2. Pedido de declaração de inconstitucionalidade julgado procedente.
ADI 1.124-
MC, RN,
Rel. Francisco
Rezek,
j. em 21-9-94.
Iniciativa parlamentar.
Remuneração: aumento. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. MEDIDA
LIMINAR. LEI 6.619/94 DO ESTADO DO RIO GRANDE DO
NORTE. MATÉRIA SUJEITA A INICIATIVA RESERVADA DO PODER EXECUTIVO. PRECEDENTES DO STF.
Aspecto de bom direito na tese da inconstitucionalidade. Matéria
sujeita a iniciativa reservada do Poder Executivo (art. 61- par. 1.-
II- a da CF). Precedentes do STF (ADIns 645 e 766, inter alia).
Valores de improvável recuperação pelo erário, se consumado o
dispêndio. Periculum in mora caracterizado. Medida cautelar
deferida.
Arq.
ADI 1.144,
RS,
Rel. Eros Grau,
j. em 16-8-06
Iniciativa parlamentar.
Conselho: criação.
Programa Estadual de
Iluminação Pública.
Conselho de
Administração.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI N.
10.238/94 DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL.
INSTITUIÇÃO DO PROGRAMA ESTADUAL DE
ILUMINAÇÃO PÚBLICA, DESTINADO AOS MUNICÍPIOS.
CRIAÇÃO DE UM CONSELHO PARA ADMINISTRAR O
PROGRAMA. LEI DE INICIATIVA PARLAMENTAR.
VIOLAÇÃO DO ARTIGO 61, § 1º, INCISO II, ALÍNEA "E", DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL.
1. Vício de iniciativa, vez que o projeto de lei foi apresentado por
um parlamentar, embora trate de matéria típica de Administração.
2. O texto normativo criou novo órgão na Administração Pública
estadual, o Conselho de Administração, composto, entre outros, por
dois Secretários de Estado, além de acarretar ônus para o Estado-
membro. Afronta ao disposto no artigo 61, § 1º, inciso II, alínea "e" da Constituição do Brasil.
3. O texto normativo, ao cercear a iniciativa para a elaboração da
lei orçamentária, colide com o disposto no artigo 165, inciso III, da Constituição de 1988.
4. A declaração de inconstitucionalidade dos artigos 2º e 3º da lei
atacada implica seu esvaziamento. A declaração de
inconstitucionalidade dos seus demais preceitos dá-se por arrastamento.
5. Pedido julgado procedente para declarar a inconstitucionalidade
da Lei n. 10.238/94 do Estado do Rio Grande do Sul.
Arq.
ADI 1.144-
MC, RS
Rel. Francisco Rezek,
j. em 23-2-95
Iniciativa Parlamentar.
Conselho: criação.
Programa Estadual de
Iluminação Pública.
Conselho de
Administração.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. MEDIDA
CAUTELAR. LEI 10.238/94 DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL.
Argüição de inconstitucionalidade da Lei 10.238/94 do Rio Grande
do Sul, que instituiu o Programa Estadual de Iluminação Pública.
Vício de forma: lei de iniciativa parlamentar. Afronta ao disposto
no artigo 61-§1º- II- e, da Constituição Federal. Presença dos
requisitos necessários ao deferimento da medida cautelar.
Arq.
ADI 1.247-
MC, PA,
Rel. Celso de Mello,
j. em 17-8-95.
Delegação legislativa
imprópria. Ofensa
―reserva legal‖. Benefício fiscal: isenção
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE -
INEXISTÊNCIA DE PRAZO DECADENCIAL - ICMS -
CONCESSÃO DE ISENÇÃO E DE OUTROS BENEFÍCIOS
FISCAIS, INDEPENDENTEMENTE DE PREVIA
DELIBERAÇÃO DOS DEMAIS ESTADOS-MEMBROS E DO
DISTRITO FEDERAL - LIMITAÇÕES CONSTITUCIONAIS AO
PODER DO ESTADO-MEMBRO EM TEMA DE ICMS (CF,
ART. 155, 2., XII, "G") - NORMA LEGAL QUE VEICULA
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
INADMISSIVEL DELEGAÇÃO LEGISLATIVA EXTERNA AO
GOVERNADOR DO ESTADO - PRECEDENTES DO STF -
MEDIDA CAUTELAR DEFERIDA EM PARTE. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE E PRAZO DECADENCIAL:
(...)
MATÉRIA TRIBUTARIA E DELEGAÇÃO LEGISLATIVA: A
outorga de qualquer subsidio, isenção ou crédito presumido, a
redução da base de calculo e a concessão de anistia ou remissão em
matéria tributaria só podem ser deferidas mediante lei especifica,
sendo vedado ao Poder Legislativo conferir ao Chefe do Executivo
a prerrogativa extraordinária de dispor, normativamente, sobre tais
categorias tematicas, sob pena de ofensa ao postulado nuclear da
separação de poderes e de transgressão ao princípio da reserva
constitucional de competência legislativa. Precedente: ADIn 1.296-PE, Rel. Min. CELSO DE MELLO.
ADI 1.254,
RJ,
Rel.
Sepúlveda Pertence,
j. em 9-12-99.
SEPARAÇÃO DE
PODERES. Não há
retratação pelo
Legislativo de anterior
manutenção/rejeição de
veto do Executivo. Preclusão.
Processo legislativo: veto mantido pelo Legislativo: decreto-
legislativo que, anos depois, sob fundamento de ter sido o veto
intempestivo, desconstitui a deliberação que o mantivera, e declara
tacitamente sancionada a parte vetada do projeto de lei:
inconstitucionalidade formal do decreto-legislativo,
independentemente da indagação acerca da validade material ou
não da norma por ele considerada sancionada: aplicação ao
processo legislativo - que é verdadeiro processo - da regra da
preclusão - que, como impede a retratação do veto, também obsta a
que se retrate o Legislativo de sua rejeição ou manutenção:
preclusão, no entanto, que, não se confundindo com a coisa julgada
- esta, sim, peculiar do processo jurisdicional -, não inibe o controle
judicial da eventual intempestividade do veto.
Arq.
ADI 1.275,
SP,
Rel. Ricardo Lewandowski,
j. em 16-5-07
Iniciativa Parlamentar.
Órgão: criação. Conselho
Estadual de Controle e
Fiscalização do Sangue. Vício reconhecido.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI DO
ESTADO DE SÃO PAULO. CRIAÇÃO DE CONSELHO
ESTADUAL DE CONTROLE E FISCALIZAÇÃO DO SANGUE
- COFISAN, ÓRGÃO AUXILIAR DA SECRETARIA DE
ESTADO DA SAÚDE. LEI DE INICIATIVA PARLAMENTAR.
VÍCIO DE INICIATIVA. INCONSTITUCIONALIDADE RECONHECIDA.
I - Projeto de lei que visa a criação e estruturação de órgão da
administração pública: iniciativa do Chefe do Poder Executivo (art.
61, § 1º, II, e, CR/88). Princípio da simetria. II - Precedentes do
STF. III - Ação direta julgada procedente para declarar a
inconstitucionalidade da Lei estadual paulista 9.080/95.
Arq.
ADI 1.275-
MC, SP,
Rel. Marco Aurélio,
j. em 20-9-05.
Iniciativa Parlamentar.
Órgão: criação. Conselho
Estadual de Controle e
Fiscalização do Sangue. Vício reconhecido.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - LIMINAR -
CRIAÇÃO DE ÓRGÃO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA - INICIATIVA - VÍCIO FORMAL.
Ao primeiro exame, exsurge vício de iniciativa quando o diploma
legal teve origem na própria Assembléia e versa sobre a criação de
órgão vinculado a Secretaria de Estado da Saúde. Isto ocorre
quanto à Lei, do Estado de São Paulo, de n. 9.080, de 17 de fevereiro de 1995.
Arq.
ADI 1.279-
MC, PE
Rel. Maurício Corrêa,
j. em 27-9-95.
Decisão anterior do STF
que suspendeu dispositivo
da C.E. por violar
cláusula de reserva.
Benefício concedido
agora por lei de iniciativa
do Executivo. Não há
ofensa à coisa julgada e
ao art. 61, II, ―c‖
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. MEDIDA
LIMINAR. SERVIDOR PÚBLICO CIVIL: REGIME JURÍDICO;
ESTABILIDADE FINANCEIRA: COMISSÃO OU
GRATIFICAÇÃO: INCORPORAÇÃO AO VENCIMENTO.
NORMA INCONSTITUCIONAL: VÍCIO DE INICIATIVA:
REEDIÇÃO 1- Esta Corte fixou o entendimento de que se
configura inconstitucionalidade formal quando o vício se concentra
na inobservância, pelo constituinte estadual, do princípio da reserva
constitucional em favor do Chefe do Poder Executivo para a
iniciativa privativa das leis que disponham sobre funcionalismo
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
público (art. 61, par. 1., inciso II, da CF). 2- Suspensa em
procedimento cautelar a eficacia de dispositivo da Constituição de
Estado-membro (ADI n. 199-0, acórdão publicado no DJU de
30.03.90), que originariamente introduziu regra sobre estabilidade
financeira de servidores estaduais ocupantes de cargo em comissão,
nada impede que, posteriormente, partindo a iniciativa do
Governador do Estado, seja aprovada pela respectiva Assembléia
Legislativa e sancionada lei complementar restabelecendo essas
mesmas vantagens. I- Inexistência de violação ao artigo 37, II, da
Carta Politica Federal, na disposição local que, ao conceder
estabilidade de natureza financeira para servidores publicos,
mediante incorporação de comissão ou gratificação ao vencimento,
respeita o livre provimento e a exonerabilidade dos cargos
comissionados, sem a efetivação de seus ocupantes. II-
Descaracteriza-se hipótese de quebra da independência entre os
Poderes (artigo 2. c/c art. 25, par. 1. da CF), lei de iniciativa de ex-
Governador disciplinadora de formas remuneratorias de servidores
publicos inseridas, "ex radice", no elenco das competencias do
Chefe do Executivo Estadual, com base no modelo federal. III-
Inaplicabilidade, na espécie, da norma do artigo 18 do ADCT/88,
por não se cuidar de servidor admitido sem concurso público. 4- Pedido de medida liminar indeferido.
ADI 1.281-
MC, PA
Rel. Maurício Corrêa
j. em 25-5-95
Poder Constituinte
Reformador Estadual.
Controle legislativo sobre
indicações do Executivo.
Fixação de limite de
tempo razoável. Não há
ofensa à separação de poderes.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
CONSTITUIÇÃO ESTADUAL. EMENDA CONSTITUCIONAL.
DERROGAÇÃO. CONSEQÜÊNCIA: PREJUDICIALIDADE
PARCIAL DA AÇÃO. AUTARQUIAS E FUNDAÇÕES
PÚBLICAS. NOMEAÇÃO DE DIRIGENTES. OCUPAÇÃO DE
CARGOS A TÍTULO INTERINO. SIMETRIA AOS PRECEITOS
DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 1. Constituição Estadual.
Superveniência de Emenda Constitucional que suprimiu a
referência a "empresas públicas". Derrogação da disciplina.
Conseqüência: prejudicialidade parcial da ação. 2. Nomeação de
dirigentes de autarquias e fundações públicas pelo Governador do
Estado, após aprovação das indicações pela Assembléia
Legislativa. Observância ao modelo federal, que prevê a
participação legislativa na nomeação de dirigentes de autarquias ou
fundações públicas (CF, artigo 51, III, f). Vício de
inconstitucionalidade. Inexistência. Precedentes. 3. Exercício de
cargo de direção nas autarquias e fundações públicas estaduais, a
título interino, por prazo superior a sessenta dias. Hipótese em que
é exigida a aprovação pela Assembléia Legislativa. Vedação.
Ofensa ao princípio da livre iniciativa do Chefe do Executivo para
proceder às nomeações. Alegação improcedente. A exemplo do que
sucede no plano federal, o estabelecimento de prazo suficiente e
razoável para que o Governador escolha os seus auxiliares não
vulnera preceitos da Constituição Federal. Ação julgada
prejudicada, em parte. Na parte remanescente, julgada improcedente.
Arq.
ADI 1.281-
MC, PA
Rel. Maurício Corrêa
j. em 25-5-95
Poder Constituinte
Reformador Estadual.
Controle legislativo sobre
indicações do Executivo.
Fixação de limite de
tempo razoável. Não há
ofensa à separação de poderes.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
CONSTITUIÇÃO ESTADUAL. EMENDA CONSTITUCIONAL.
DERROGAÇÃO. CONSEQÜÊNCIA: PREJUDICIALIDADE
PARCIAL DA AÇÃO. AUTARQUIAS E FUNDAÇÕES
PÚBLICAS. NOMEAÇÃO DE DIRIGENTES. OCUPAÇÃO DE
CARGOS A TÍTULO INTERINO. SIMETRIA AOS PRECEITOS
DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 1. Constituição Estadual.
Superveniência de Emenda Constitucional que suprimiu a
referência a "empresas públicas". Derrogação da disciplina.
Conseqüência: prejudicialidade parcial da ação. 2. Nomeação de
dirigentes de autarquias e fundações públicas pelo Governador do
Estado, após aprovação das indicações pela Assembléia
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Legislativa. Observância ao modelo federal, que prevê a
participação legislativa na nomeação de dirigentes de autarquias ou
fundações públicas (CF, artigo 51, III, f). Vício de
inconstitucionalidade. Inexistência. Precedentes. 3. Exercício de
cargo de direção nas autarquias e fundações públicas estaduais, a
título interino, por prazo superior a sessenta dias. Hipótese em que
é exigida a aprovação pela Assembléia Legislativa. Vedação.
Ofensa ao princípio da livre iniciativa do Chefe do Executivo para
proceder às nomeações. Alegação improcedente. A exemplo do que
sucede no plano federal, o estabelecimento de prazo suficiente e
razoável para que o Governador escolha os seus auxiliares não
vulnera preceitos da Constituição Federal. Ação julgada
prejudicada, em parte. Na parte remanescente, julgada improcedente.
ADI 1.304,
SC,
Rel. Maurício
Corrêa,
j. em 11-3-04
Emenda Parlamentar.
Aumento de despesa.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. MATÉRIA
DE INICIATIVA DO PODER EXECUTIVO. EMENDA
PARLAMENTAR. AUMENTO DE DESPESA.
IMPOSSIBILIDADE. OBSERVÂNCIA DO MODELO FEDERAL.
As matérias reservadas à iniciativa do Poder Executivo somente
podem ser objeto de emenda na hipótese de não representarem
aumento de despesas. Parâmetro de observância cogente pelos Estados da Federação, à luz do princípio da simetria.
Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente.
Arq.
ADI 1.304-
MC, SC,
Rel. Maurício Corrêa,
j. em 3-8-95.
Emenda Parlamentar.
Aumento de despesa.
MEDIDA CAUTELAR EM AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE. REFERENDA DO PLENÁRIO A
MEDIDA LIMINAR CONCEDIDA PELO RELATOR
DURANTE AS FERIAS FORENSES (ART. 21, IV E V, DO REGIMENTO INTERNO).
Medida liminar concedida pelo Relator durante as ferias forenses,
"ad referendum" do Plenário, acolhendo a alegação de vício de
iniciativa (CF, art.61, PAR. 1., II, "a"), eis que se aplica aos Estados o modelo federal (CF, art. 25). Precedentes.
Medida liminar referendada pelo Plenário para suspender, até o
julgamento final da ação, a eficácia: do PAR. 4. do art. 2.; das
expressões "e pelo exercício de função especializada de
magistério", "e 12", e "20% (vinte por cento)" contidas no art. 7.;
do art. 8.; do PAR.3. do art. 10; e do art. 15, todos da Lei Estadual catarinense n.9.847, de 15.05.1995.
Arq.
ADI 1.333-
MC, RS
Rel. Octavio Gallotti,
j. em 10-8-95
Emenda Parlamentar
Pertinência temáica.
Regime de servidores
públicos. Efetivo
exercício tempo de
paralisação de servidor público.
Relevância da fundamentação jurídica de argüição de
inconstitucionalidade e conveniência pública da suspensão da
eficácia a dispositivo legal (art. 2. da Lei n. 10.385-RS), de
iniciativa parlamentar, que considerou como de efetivo exercício
período de paralisação de servidores do Poder Judiciário. Precedente do STF (ADIn 546 RTJ/747). Medida cautelar deferida.
Arq.
ADI
1.348/RJ,
Cármen
Lúcia, j. em
21-2-08
Poder Constituinte
Derivado.
Usurpação de
competência do
Executivo. Vedação de
alienação das ações
ordinárias. BANERJ.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 364,
CAPUT E PARÁGRAFO ÚNICO, DA CONSTITUIÇÃO DO RIO
DE JANEIRO. NORMA QUE IMPEDE A ALIENAÇÃO DAS
AÇÕES ORDINÁRIAS DO BANCO DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO - BANERJ - E DETERMINA A ARRECADAÇÃO DE
RECEITAS E OS PAGAMENTOS DE DÉBITOS DO ESTADO, EXCLUSIVAMANTE, PELO BANCO ESTADUAL.
1. No julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade n.
234/RJ, ao apreciar dispositivos da Constituição do Rio de Janeiro
que vedavam a alienação de ações de sociedades de economia mista
estaduais, o Supremo Tribunal Federal conferiu interpretação
conforme à Constituição da República, no sentido de serem
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
admitidas essas alienações, condicionando-as à autorização
legislativa, por lei em sentido formal, tão-somente quando
importarem em perda do controle acionário por parte do Estado.
Naquela assentada, se decidiu também que o Chefe do Poder
Executivo estadual não poderia ser privado da competência para
dispor sobre a organização e o funcionamento da administração
estadual.
2. Conteúdo análogo das normas impugnadas nesta Ação; distinção
apenas na vedação dirigida a uma sociedade de economia mista
estadual específica, o Banco do Estado do Rio de Janeiro S/A - Banerj.
3. Aperfeiçoado o processo de privatização do Banco do Estado do
Rio de Janeiro S/A, na forma da Lei fluminense n. 2.470/1995 e
dos Decretos ns. 21.993/1996, 22.731/1997 e 23.191/1997.
Condução do processo segundo o que decidido pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal. Medida Cautelar mantida.
4. Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada procedente.
ADI 1.391,
SP
Rel.
Sepúlveda
Pertence,
j. em 9-5-02
Iniciativa parlamentar.
Conselho: criação.
Conselho de Transporte
da Região Metropolitana
de São Paulo – CTM. Vício acolhido.
Processo legislativo: reserva de iniciativa ao Poder Executivo (CF,
art. 61, § 1º, e): regra de absorção compulsória pelos Estados-
membros, violada por lei local de iniciativa parlamentar que criou
órgão da administração pública (Conselho de Transporte da Região Metropolitana de São Paulo - CTM): inconstitucionalidade.
Arq.
ADI 1.399,
SP,
Rel. Maurício
Corrêa,
j. em 3-3-04
Iniciativa parlamentar.
Organização
Administrativa. Inclusão
de formação específica
para magistério. Ausência
de conflito com LDB.
Admissibilidade.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI
ESTADUAL 9164/95. ESCOLA PÚBLICA ESTADUAL.
ENSINO DE EDUCAÇÃO ARTÍSTICA. FORMAÇÃO
ESPECÍFICA PARA O EXERCÍCIO DO MAGISTÉRIO. LEI DE
DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL.
COMPETÊNCIA PRIVATIVA DA UNIÃO. INICIATIVA
PARLAMENTAR. VÍCIO FORMAL. INOCORRÊNCIA.
1. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Iniciativa.
Constituição Federal, artigo 22, XXIV. Competência privativa da União para legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional.
2. Legislação estadual. Magistério. Educação artística. Formação
específica. Exigência não contida na Lei Federal 9394/96. Questão
afeta à legalidade. Ação direta de inconstitucionalidade julgada
procedente em parte.
Arq.
ADI 1.399-
MC, SP,
Rel. Maurício Corrêa,
j. em 14-3-96.
Iniciativa parlamentar.
Organização
Administrativa. Inclusão
de formação específica
para magistério. Ausência
de conflito com LDB.
Admissibilidade.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ENSINO DE
EDUCAÇÃO ARTÍSTICA NAS ESCOLAS PÚBLICAS
ESTADUAIS. FORMAÇÃO MÍNIMA PARA O EXERCÍCIO DO
MAGISTÉRIO. LEI Nº 9.164, DE 17 DE MAIO DE 1995, DO ESTADO DE SÃO PAULO.
1. São aptos para o ensino de primeiro grau, inclusive para a
cadeira artística, todos os professores com habilitação específica de
segundo grau, conforme Lei Federal nº 5.692/71, que fixa diretrizes
e bases para o ensino de 1º e 2º graus, alterada pela Lei nº 7.044/82
e recepcionada pelo vigente texto constitucional.
2. A Lei nº 9.164, de 17 de maio de 1995, do Estado de São Paulo,
ao dispor no § 1º do art. 1º que o ensino de Educação Artística, nas
aulas de primeiro grau, deverá ser ministrado por professor com
formação específica, afrontou as diretrizes gerais e básicas do
ensino fundamental que não exige tal especialidade (Lei Federal nº5.692/71).
3. Pedido de liminar deferido, em parte, para suspender, até a
decisão final da ação, a vigência do § 1º do art. 1º e do adjetivo
"especialista", constante no § 2º do mesmo art. 1º, da Lei nº 9.164, de 17.05.95, do Estado de São Paulo.
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
ADI 1.440-
MC, SC
Rel. Ilmar Galvão,
j. em 30-5-96
Iniciativa parlamentar.
Regime jurídico:
cancelamento de punições
admininstrativas. Vício
reconhecido.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI Nº
10.076 DE 02 DE ABRIL DE 1996 DO ESTADO DE SANTA
CATARINA, PELA QUAL FORAM CANCELADAS PUNIÇÕES
APLICADAS A SERVIDORES CIVIS E MILITARES NO
PERÍODO DE 1º DE JANEIRO DE 1991 ATÉ A DATA DE SUA
EDIÇÃO. ALEGADA OFENSA AOS ARTS. 2º E 5º, XXXVI, 61, § 1º, II, C, DA CONSTITUIÇÃO.
Plausibilidade do fundamento da inconstitucionalidade formal,
dado tratar-se de lei que dispõe sobre servidores públicos, que não
teve a iniciativa do Chefe do Poder Executivo estadual, como
exigido pela norma do art. 61, § 1º, II, c, da Constituição, corolário
do princípio da separação dos Poderes, de observância imperiosa
pelos estados membros, na forma prevista no art. 11 do ADCT/88.
Conveniência da pronta suspensão de sua eficácia. Cautelar deferida.
Arq.
ADI 1.470,
ES
Rel. Carlos Velloso,
j. em 14-12-05.
Emenda parlamentar.
Aumento despesa.
CONSTITUCIONAL. PROCESSO LEGISLATIVO. INICIATIVA
RESERVADA. CF, art. 61, § 1º, II, a. EMENDA
PARLAMENTAR DA QUAL RESULTOU AUMENTO DE
DESPESA: INCONSTITUCIONALIDADE. I. - A jurisprudência
do Supremo Tribunal Federal é no sentido de que as regras básicas
do processo legislativo da Constituição Federal, entre as quais as
que estabelecem reserva de iniciativa legislativa, são de
observância obrigatória pelos estados-membros. II. - Emenda de
origem parlamentar de que decorreu aumento de despesa majoração
de índice de aumento de vencimentos proposto pelo Chefe do Poder
Executivo, de 4,39% para 94,39%: inconstitucionalidade. III. - ADI julgada procedente.
Arq.
ADI 1.470-
MC, ES,
Rel. Marco
Aurélio,
j. em 1-7-96.
Emenda parlamentar.
Aumento despesa.
VENCIMENTOS - DELEGADOS DE POLÍCIA - EMENDA A
PROJETO DO EXECUTIVO - AUMENTO DE DESPESAS -
RELEVÂNCIA E RISCO - LIMINAR EM AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
Resultando em aumento de despesas emenda a projeto de
competência privativa do Executivo sobre vencimento, exsurge a
relevância do pedido de concessão de medida acauteladora. Na
dicção da maioria, também concorre o risco de manter-se com
plena eficácia o preceito, decorrendo a utilidade da liminar da suspensão imediata dos pagamentos nos moldes alcançados.
Arq.
ADI 1.487,
SC
Rel. Sydney Sanches,
j. em 12-2-03
Iniciativa parlamentar.
Aumento de remuneração.
- DIREITO CONSTITUCIONAL, ADMINISTRATIVO E
PREVIDENCIÁRIO. PROVENTOS DE APOSENTADORIA:
MAJORAÇÃO, SEM INICIATIVA DO GOVERNADOR DO
ESTADO (ARTIGOS 61, § 1º, II, "C", E 25 DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL, E 11 DO ADCT). AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE DA LEI Nº 10.184, DE 16 DE
JULHO DE 1996, DO ESTADO DE SANTA CATARINA. 1.
Havendo a Lei catarinense majorado os proventos de servidores
públicos, sem iniciativa do Governador do Estado, incidiu em
violação aos artigos 61, § 1°, III, "c", e 25 da parte permanente da
Constituição Federal de 1988 e ao art. 11 do A.D.C.T. 2. Ação
Direta de Inconstitucionalidade julgada procedente. Plenário.
Votação unânime.
Arq.
ADI 1.568-
MC, ES,
Rel. Carlos Velloso,
j. em 26-5-97
Iniciativa parlamentar.
R.J. Taxa de inscrição em
concurso público: limites
e isenções. Vício formal reconhecido.
CONSTITUCIONAL. PROCESSO LEGISLATIVO. INICIATIVA
LEGISLATIVA. LEI COMPLEMENTAR Nº 66, DE 01.XI.95,
DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. TAXA DE INSCRIÇÃO
EM CONCURSO PÚBLICO: VINCULAÇÃO AO SALÁRIO
MÍNIMO: INCONSTITUCIONALIDADE. I. - As regras do
processo legislativo federal, especialmente as que dizem respeito à
iniciativa reservada, são normas de observância obrigatória pelos
Estados-membros. Precedentes do STF. II. - Vinculação de taxa de
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
inscrição em concurso público ao salário mínimo: inconstitucionalidade. C.F., art. 7º, IV. III. - Cautelar deferida.
ADI 1.590-MC, SP
Rel.
Sepúlveda Pertence,
j. em 19-6-97
Reserva de decreto.
Decreto. Fixação de teto
salarial (37, XI). Não há
ofensa à ―reserva legal‖.
I. Ação direta de inconstitucionalidade: objeto Tem-se objeto
idôneo à ação direta de inconstitucionalidade quando o decreto
impugnado não é de caráter regulamentar de lei, mas constitui ato
normativo que pretende derivar o seu conteúdo diretamente da Constituição.
II. Ação direta de inconstitucionalidade: legitimação das entidades
nacionais de classe que não depende de autorização específica dos
seus filiados.
III. Ação direta de inconstitucionalidade: pertinência temática. 1. A
pertinência temática, requisito implícito da legitimação das
entidades de classe para a ação direta de inconstitucionalidade, não
depende de que a categoria respectiva seja o único segmento social
compreendido no âmbito normativo do diploma impugnado. 2. Há
pertinência temática entre a finalidade institucional da
Confederação Nacional das Profissões Liberais - que passou a
abranger a defesa dos profissionais liberais ainda que empregados -,
e a lei questionada, que fixa limite à remuneração dos servidores
públicos. IV. Servidor público: teto de remuneração (CF, art. 37,
XI): auto-aplicabilidade. Dada a eficácia plena e a aplicabilidade
imediata, inclusive aos entes empresariais da administração
indireta, do art. 37, XI, da Constituição, e do art. 17 do ADCT, a
sua implementação - não dependendo de complementação
normativa - não parece constituir matéria de reserva à lei formal e,
no âmbito do Executivo, à primeira vista, podia ser determinada por
decreto, que encontra no poder hierárquico do Governador a sua
fonte de legitimação.
Arq.
ADI 1.594,
RN,
Rel. Eros Grau,
j. em 4-6-08
Iniciativa parlamentar.
Regime jurídico: anistia a
faltas de servidores. Vício reconhecido.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI N.
7.000, 16 DE JANEIRO DE 1.997, DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO NORTE. CONCESSÃO DE ANISTIA ÀS
FALTAS PRATICADAS POR SERVIDORES PÚBLICOS
ESTADUAIS. VIOLAÇÃO DO DISPOSTO NOS ARTIGOS 37,
CAPUT E INCISO II, E 61, § 1º, DA CONSTITUIÇÃO DO
BRASIL. 1. O artigo 61, § 1º, inciso II, alínea "c", da Constituição
do Brasil foi alterado pela EC 19/98. A modificação não foi todavia
substancial, consubstanciando mera inovação na sua redação. 2. A
Constituição do Brasil, ao conferir aos Estados-membros a
capacidade de auto-organização e de autogoverno --- artigo 25,
caput ---, impõe a obrigatória observância de vários princípios,
entre os quais o pertinente ao processo legislativo. O legislador
estadual não pode usurpar a iniciativa legislativa do Chefe do
Executivo, dispondo sobre as matérias reservadas a essa iniciativa
privativa. Precedentes. 3. O ato impugnado diz respeito a servidores
públicos estaduais --- concessão de anistia a faltas funcionais. A
iniciativa de leis que dispõem sobre regime jurídico de servidores
públicos é reservada ao Chefe do Poder Executivo. Precedentes. 4.
Ação direta julgada procedente para declarar a
inconstitucionalidade da Lei n. 7.000, 16 de janeiro de 1.997, do Estado do Rio Grande do Norte.
Arq.
ADI 1.642, MG,
Rel. Eros
Grau,
j. em 3-4-08
Poder Constituinte Decorrente.
Usurpação de
competência do
Executivo. Subordinação
à prévia autorização
legislativa. Provimento de
cargo de órgão da
Administração Indireta.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ALÍNEA
"d" DO INCISO XXIII DO ARTIGO 62 DA CONSTITUIÇÃO
DO ESTADO DE MINAS GERAIS. APROVAÇÃO DO
PROVIMENTO, PELO EXECUTIVO, DOS CARGOS DE
PRESIDENTE DAS ENTIDADES DA ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA INDIRETA ESTADUAL PELA ASSEMBLÉIA
LEGISLATIVA. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO DO DISPOSTO
NO ARTIGO 173, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL.
DISTINÇÃO ENTRE EMPRESAS ESTATAIS PRESTADORAS
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
DE SERVIÇO PÚBLICO E EMPRESAS ESTATAIS QUE
DESENVOLVEM ATIVIDADE ECONÔMICA EM SENTIDO
ESTRITO. REGIME JURÍDICO ESTRUTURAL E REGIME
JURÍDICO FUNCIONAL DAS EMPRESAS ESTATAIS.
INCONSTITUCIONALIDADE PARCIAL. INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO.
1. Esta Corte em oportunidades anteriores definiu que a aprovação,
pelo Legislativo, da indicação dos Presidentes das entidades da
Administração Pública Indireta restringe-se às autarquias e
fundações públicas, dela excluídas as sociedades de economia mista e as empresas públicas. Precedentes.
2. As sociedades de economia mista e as empresas públicas que
explorem atividade econômica em sentido estrito estão sujeitas, nos
termos do disposto no § 1º do artigo 173 da Constituição do Brasil, ao regime jurídico próprio das empresas privadas.
3. Distinção entre empresas estatais que prestam serviço público e
empresas estatais que empreendem atividade econômica em sentido estrito
4. O § 1º do artigo 173 da Constituição do Brasil não se aplica às
empresas públicas, sociedades de economia mista e entidades (estatais) que prestam serviço público.
5. A intromissão do Poder Legislativo no processo de provimento
das diretorias das empresas estatais colide com o princípio da
harmonia e interdependência entre os poderes. A escolha dos
dirigentes dessas empresas é matéria inserida no âmbito do regime
estrutural de cada uma delas.
6. Pedido julgado parcialmente procedente para dar interpretação
conforme à Constituição à alínea "d" do inciso XXIII do artigo 62
da Constituição do Estado de Minas Gerais, para restringir sua
aplicação às autarquias e fundações públicas, dela excluídas as
empresas estatais, todas elas.
ADI 1.642-MC, MG,
Rel. Nelson
Jobim,
j. em 16-12-
98.
Poder Constituinte Decorrente.
Usurpação de
competência do
Executivo. Subordinação
à prévia autorização
legislativa. Provimento de
cargo de órgão da
Administração Indireta.
CONSTITUCIONAL. EMENDA À CONSTITUIÇÃO
ESTADUAL. INICIATIVA DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA
QUE SE ATRIBUIU COMPETÊNCIAS DO EXECUTIVO.
LIMITES NORMATIVOS DOS ESTADOS NO ÂMBITO DA CF.
HIPÓTESE DE DAR-SE INTERPRETAÇÃO CONFORME AO
DISPOSITIVO PARA EXCLUIR AS AUTARQUIAS E
FUNDAÇÕES PÚBLICAS. PRECEDENTES.
LIMINAR DEFERIDA EM PARTE.
Arq.
ADI 1.690-
MC, AP,
Rel. Nelson Jobim,
j. 29-10-98
Poder Constituinte
Reformador Estadual.
Fixação de remuneração. Vício reconhecido.
EMENDA CONSTITUCIONAL ESTADUAL. VÍCIO DE
INICIATIVA - ART. 61,§1º, II, LETRA "A" DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. VENCIMENTOS DA CARREIRA
DE DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL EM CORRELAÇÃO ÀS
CARREIRAS DO ART. 135 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
COMPETÊNCIA DO PODER EXECUTIVO. PROCESSO
LEGISLATIVO ESTADUAL QUE DEVE SEGUIR O MODELO
FEDERAL. PRECEDENTES. LIMINAR DEFERIDA.
Arq.
ADI 1.703-
MC, SC,
Rel. Ilmar
Galvão,
j. em 27-11-97.
Iniciativa parlamentar.
Separação de poderes.
Autorização legislativa
prévia.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ESTADO
DE SANTA CATARINA. INCS. II E IV DO ART. 10 DA LEI Nº
10.542/97. Dispositivos consubstanciadores de inegável
intromissão do Poder Legislativo nas atividades administrativas do
Estado, com ostensiva ofensa ao princípio da separação dos
Poderes. Patente, portanto, não apenas a relevância dos
fundamentos do pedido, mas também a conveniência para que seja,
de logo, suspensa a eficácia dos dispositivos impugnados. Cautelar deferida.
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
ADI 1.729,
RN
Rel. Eros Grau
j. em 28-6-08
Emenda parlamentar.
Aumento de despesa.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. § 2º DO
ARTIGO 1º DA LEI n. 6.782 DO ESTADO DO RIO GRANDE
DO NORTE, A ELE ACRESCIDO PELA LEI N. 6.991/97.
EMENDA PARLAMENTAR A PROJETO DE LEI DE
INICIATIVA DO CHEFE DO PODER EXECUTIVO.
CONCESSÃO DE VANTAGEM PESSOAL A SERVIDORES
PÚBLICOS ESTADUAIS. VIOLAÇÃO DO ARTIGO 63, INCISO
I, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL.
1. Reconhecimento de generalidade e abstração suficientes ao ato
normativo. Possibilidade de exame de constitucionalidade na via do controle concentrado. Preliminar rejeitada.
2. A iniciativa de projetos de lei que disponham sobre vantagem
pessoal concedida a servidores públicos cabe privativamente ao Chefe do Poder Executivo. Precedentes.
3. Inviabilidade de emendas que impliquem aumento de despesas a
projetos de lei de iniciativa do Chefe do Poder Executivo.
4. Pedido julgado procedente para declarar a inconstitucionalidade
do § 2º do artigo 1º da Lei n. 6.782/95, a ele acrescido pela Lei n. 6.991/97, ambas do Estado do Rio Grande do Norte.
Arq.
ADI 1.729-
MC, RN
Rel. Nelson Jobim
j. em 9-9-98
Emenda parlamentar.
Aumento de despesa.
CONSTITUCIONAL. LEI ESTADUAL. CONCESSÃO DE
VANTAGEM PESSOAL. INICIATIVA DE LEI SOBRE
SERVIDORES PÚBLICOS. COMPETÊNCIA DO PODER
EXECUTIVO - ART. 61, §1º. VÍCIO FORMAL.
PRECEDENTES.
LIMINAR DEFERIDA.
Arq.
ADI 1.801-
MC, PE,
Rel. Maurício
Corrêa,
j. em 11-3-98
Decisão Administrativa
de Tribunal.
Aumento de vencimentos
a magistrados URV. Violação à reserva legal.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. REAJUSTE
NO PERCENTUAL DE 11,98% NOS VENCIMENTOS DOS
MEMBROS DA MAGISTRATURA MEDIANTE RESOLUÇÃO
ADMINISTRATIVA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO
ESTADO DE PERNAMBUCO. MEDIDA LIMINAR DEFERIDA.
Reconhecimento do direito ao reajuste de 11,98% nos vencimentos
da magistratura estadual, a partir de abril de 1994, em razão da
conversão da URV para o Real, por Resolução Administrativa
tomada pelo Plenário da Corte "a quo". Fumus boni iuris: aumento
de vencimentos sem lei que o autorize e sem prévia dotação
orçamentária para a sua concessão. Periculum in mora
consubstanciado na iminência de lesão ao erário, de difícil reparação. Medida cautelar deferida.
Arq.
ADI 1.895,
SC
Rel.
Sepúlveda
Pertence,
j. em 2-8-07,
DJ de 6-9-07
Iniciativa parlamentar.
Regime Jurídico,
Remuneração. Aposentadoria.
I. Ação direta de inconstitucionalidade: Lei Complementar Estadual
170/98, do Estado de Santa Catarina, que dispõe sobre o Sistema
Estadual de Ensino: artigo 26, inciso III; artigo 27, seus incisos e
parágrafos; e parágrafo único do artigo 85: inconstitucionalidade declarada.
II. Prejuízo, quanto ao art. 88 da lei impugnada, que teve exaurida a
sua eficácia com a publicação da Lei Complementar Estadual 351, de 25 de abril de 2006.
III. Processo legislativo: normas de lei de iniciativa parlamentar
que cuidam de jornada de trabalho, distribuição de carga horária,
lotação dos profissionais da educação e uso dos espaços físicos e
recursos humanos e materiais do Estado e de seus municípios na
organização do sistema de ensino: reserva de iniciativa ao Poder
Executivo dos projetos de leis que disponham sobre o regime
jurídico dos servidores públicos, provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria (art. 61, II, § 1º, c).
Arq.
ADI 1.901,
MG
Rel. Ilmar
Poder Constituinte
Reformador Estadual.
Separação de Poderes.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
PARÁGRAFOS 1.º E 2.º DO ARTIGO 162 DA CONSTITUIÇÃO
DO ESTADO DE MINAS GERAIS, COM A REDAÇÃO DADA
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Galvão,
j. em 3-2-03
Repasse automático das
dotações orc;amentárias.
Atribuição privativa do Executivo.
PELA EMENDA Nº 31, DE 30.12.97. VIOLAÇÃO AOS ARTS.
22, I; E 84, II, DA CARTA DA REPÚBLICA. O primeiro
dispositivo impugnado, ao atribuir à instituição financeira
depositária dos recursos do Estado a iniciativa de repassar,
automaticamente, às contas dos órgãos dos Poderes Legislativo e
Judiciário, do Ministério Público e do Tribunal de Contas as
dotações orçamentárias a eles destinadas, caracteriza ofensa ao art.
84, II, da CF/88 (de observância obrigatória pelas unidades
federadas), que confere, privativamente, ao Chefe do Poder
Executivo, a direção superior da Administração estadual. Já o
segundo, tipificando novo crime de responsabilidade, invade
competência legislativa privativa da União, nos termos do inciso I
do art. 22 da referida Carta. Precedentes do Supremo Tribunal Federal. Procedência da ação.
ADI 1.954,
RO
Rel. Carlos
Velloso
j. em 27-5-04
Emenda parlamentar.
Aumento despesa.
CONSTITUCIONAL. PROCESSO LEGISLATIVO: EMENDA
PARLAMENTAR: AUMENTO DE DESPESA. Lei Complementar
210, de 23.11.98, do Estado de Rondônia. C.F., art. 63, I. I. -
Extensão de gratificação de produtividade, mediante emenda
parlamentar, a outras categorias funcionais, que não as previstas na
proposta do Governador. Inconstitucionalidade. C.F., art. 63, I. II. -
Precedentes do STF: ADI 2170-MC/SP, Pertence, RTJ 174/449;
ADI 805/RS, Pertence, RTJ 168/391; ADI 822/RS, O. Gallotti, RTJ
163/882; ADI 766-MC/RS, Celso de Mello, RTJ 157/460. III. - Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente.
Arq.
ADI 1.994,
ES,
Rel. Eros Grau,
j. em 24-5-06
Poder Constituinte
Reformador Estadual.
1. Simetria (ofensa). TCE.
2. Iniciativa reservada do TCE.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. § 6º DO
ARTIGO 74 E ARTIGO 279 DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO
DO ESPÍRITO SANTO, COM A REDAÇÃO QUE LHE FOI
CONFERIDA PELA EMENDA CONSTITUCIONAL N. 17/99.
ARTIGOS 25, §§, 26, 27, CAPUT E PARAGRÁFO ÚNICO, 28,
§§, TODOS DA LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL N. 32/93,
COM A REDAÇÃO QUE LHE FOI CONFERIDA PELA LC N.
142/99. TRIBUNAL DE CONTAS ESTADUAL. CRIAÇÃO DO
CARGO DE SUBSTITUTO DE CONSELHEIRO.
DISCREPÂNCIA DO MODELO DELINEADO NA
CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. VIOLAÇÃO DO DISPOSTO
NOS ARTIGOS 73, 75, PARAGRÁFO ÚNICO, 96, INCISO II, ALÍNEA "B", DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL.
1. Estrutura dos Tribunais de Contas Estaduais. Observância necessária do modelo federal. Precedentes.
2. Não é possível ao Estado-membro extinguir o cargo de Auditor
na Corte de Contas estadual, previsto constitucionalmente, e
substituí-lo por outro cuja forma de provimento igualmente divirja do modelo definido pela CB/88.
3. Vício formal de iniciativa no processo legislativo que deu origem
à LC 142/99. A CB/88 estabelecendo que compete ao próprio
Tribunal de Contas propor a criação ou extinção dos cargos de seu
quadro, o processo legislativo não pode ser deflagrado por
iniciativa parlamentar [artigos 73 e 96, inciso II, alínea b].
4. Pedido julgado procedente para declarar inconstitucionais o § 6º
do artigo 74 e o artigo 279, ambos da Constituição do Estado do
Espírito Santo, com a redação que lhes foi atribuída pela Emenda
Constitucional n. 17/99, e toda a Lei Complementar n. 142/99, que
promoveu alterações na Lei Complementar n. 32/93, do mesmo Estado-membro.
Arq.
ADI 1.994-
MC, ES
Rel. Nelson Jobim,
Poder Constituinte
Reformador Estadual.
1. Simetria (ofensa). TCE.
2. Iniciativa reservada do
CONSTITUCIONAL. EMENDA À CONSTITUIÇÃO
ESTADUAL QUE CRIA A FIGURA DE CONSELHEIRO
SUBSTITUTO E EXTINGUE O CARGO DE AUDITOR DO
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO.
INCONSTITUCIONALIDADE DA EMENDA Nº 17/99 E DA
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
j. em 9-9-99 TCE.
LEI COMPLEMENTAR 142/99 EM FACE DA INTELIGÊNCIA DO ART. 73, §4º E 75 DA CF.
LIMINAR DEFERIDA.
ADI 1.348-
MC, RJ,
Rel. Octavio
Gallotti,
j. em 4-10-95.
Poder Constituinte
Derivado.
Usurpação de
competência do
Executivo. Vedação de
alienação das ações
ordinárias. BANERJ.
1- Relevância jurídica da impugnação de norma de Constituição
estadual, onde se contém proibição absoluta de alienação do
controle acionário do Banco do Estado, em face de precedente do
Supremo Tribunal (ADI 234, sessões de 22 de junho e de 4 de
outubro de 1995), conferindo, a outro dispositivo da mesma Carta
do Rio de Janeiro, (aplicável as sociedades mistas em geral)
interpretação conforme a Federal, no sentido de ser possível a
alienação desde quando precedida de autorização legislativa, que se
há de fazer por meio de lei formal (Constituição Federal, artigos 2., 84, VI, 37, IX, 173 e 174).
2- Relevância, igualmente, da contestação de dispositivo ancilar,
que concentra, no mesmo Banco, a arrecadação e o processamento
dos pagamentos do Estado a terceiros (Constituição Federal, artigos
84, VI e 170, IV).
3- Medida cautelar deferida.
Arq.
ADI 2.029,
SC
Rel. Ricardo Lewandowski,
j. em 4-6-07
Iniciativa parlamentar.
Remuneração e Regime
Jurídico. Organização do
Quadro da Secretaria de
Segurança Pública. Vício acolhido.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI
COMPLEMENTAR DO ESTADO DE SANTA CATARINA.
ORGANIZAÇÃO DO QUADRO DE PESSOAL DA
SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA. LEI DE
INICIATIVA PARLAMENTAR. VÍCIO DE INICIATIVA.
INCONSTITUCIONALIDADE RECONHECIDA. I - Lei estadual
que dispõe sobre a situação funcional de servidores públicos:
iniciativa do Chefe do Poder Executivo (art. 61, § 1º, II, a e c,
CR/88). Princípio da simetria. II - Precedentes do STF. III - Ação
direta julgada procedente para declarar a inconstitucionalidade da Lei Complementar 178/99, do Estado de Santa Catarina.
Arq.
ADI 2.050,
RO,
Rel. Maurício Corrêa,
j. em 3-3-04
Poder Constituinte
Reformador Estadual.
Criação ou Aumento de
Remuneração de servidores.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. EMENDA
CONSTITUCIONAL ESTADUAL 11/99. VÍCIO DE
INICIATIVA. CRIAÇÃO DE CARGOS, FUNÇÕES OU
EMPREGOS PÚBLICOS. COMPETÊNCIA PRIVATIVA DO
CHEFE DO PODER EXECUTIVO. CRIME DE
RESPONSABILIDADE. COMPETÊNCIA LEGISLATIVA DA UNIÃO FEDERAL.
1. Criação de cargos, funções ou empregos públicos. Competência
privativa do Chefe do Poder Executivo. Vício de iniciativa.
Conforme preceitua o artigo 61, § 1º, II, a, da Constituição Federal,
são de iniciativa privativa do Chefe do Poder Executivo as leis que
disponham sobre criação de cargos, funções ou empregos públicos
na administração direta e autárquica ou que impliquem aumento de
sua remuneração.
2. Crime de responsabilidade. Esta Corte firmou entendimento no
sentido de que compete à União Federal tanto a definição desse
delito, quanto a regulamentação do respectivo processo e
julgamento. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente.
Arq.
ADI 2.050-MC, RO
Rel. Maurício
Corrêa,
j. em 2-9-99
Poder Constituinte Reformador Estadual.
Criação ou Aumento de
Remuneração de servidores.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE RONDÔNIA. EMENDA
CONSTITUCIONAL Nº 11/99: ARTIGO 137, §§ 3º E 4º. MULTA
POR ATRASO DE PAGAMENTO A SERVIDORES PÚBLICOS.
INICIATIVA RESERVADA AO CHEFE DO PODER
EXECUTIVO. DESPESA COM SERVIDORES ESTADUAIS.
VINCULAÇÃO A ÍNDICE FEDERAL:
INCONSTITUCIONALIDADE. CRIME DE
RESPONSABILIDADE. DEFINIÇÃO JURÍDICA DO DELITO,
REGULAMENTAÇÃO DO PROCESSO E DO JULGAMENTO:
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
COMPETÊNCIA DA UNIÃO.
1. São inconstitucionais dispositivos de Cartas Estaduais, inclusive
Emendas, que concedam aumento de remuneração a servidores
públicos ou que, de qualquer modo, acarretem majoração da
despesa pública, por ser da competência exclusiva do Chefe do Poder Executivo a iniciativa de lei sobre a matéria. Precedentes.
2. Diversa da correção monetária, cujo instituto objetiva tão-
somente a reposição do poder aquisitivo, a multa estabelecida no §
3º acrescentado ao artigo 137 da Carta Estadual pela Emenda
Constitucional nº 11/99 representa penalidade imposta ao Estado e
redunda em aumento na remuneração do servidor público sempre que ocorrer atraso na folha de pagamento.
3. É inconstitucional a norma de lei local que vincula a índice
federal o cálculo de despesa com servidores públicos estaduais.
Precedentes.
4. São de competência da União a definição jurídica de crime de
responsabilidade e a regulamentação dos respectivos processo e julgamento. Precedente.
Pedido de liminar deferido.
ADI 2.072-
MC, RS
Rel. Octavio Gallotti,
j. em 17-11-99
Emenda parlamentar.
1. Emenda ou lei de
iniciativa parlamentar
podem aumentar despesa (exceto o 63,I).
2. BF: isenção de
pagamento de pequenos
produtores rurais.
Supressão de receita. Vício rejeitado.
3. Transposição de
dotação orçamentária
entre órgãos. Vício reconhecido.
Ação direta de que se conhece, reconhecida a normatividade dos
dispositivos nela impugnados. Aumento de despesa vedado pelo
art. 63, I, da Constituição Federal, apenas quando se trata de projeto
da iniciativa exclusiva do Chefe do Poder Executivo. Invasão dessa
iniciativa somente configurada, ao primeiro exame, quanto ao
dispositivo que operou a transposição, de um para outro órgão de dotação orçamentária (C.F., art. 165, III).
Arq.
ADI 2.079,
SC
Rel. Maurício Corrêa,
j. em 29-4-04.
Emenda parlamentar.
Aumento despesa.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
PARÁGRAFO ÚNICO DO ARTIGO 12 DA LEI 10789 DO
ESTADO DE SANTA CATARINA. EMENDA PARLAMENTAR
EM PROJETO DE LEI DE INICIATIVA RESERVADA.
COMPETÊNCIA PRIVATIVA DO CHEFE DO PODER
EXECUTIVO. AUMENTO DE DESPESA. AUSÊNCIA DE
PREVISÃO ORÇAMENTÁRIA. 1. Criação de gratificação - Pró-
labore de Êxito Fiscal. Incorre em vício de inconstitucionalidade
formal (CF, artigos 61, § 1º, II, "a" e "c" e 63, I) a norma jurídica
decorrente de emenda parlamentar em projeto de lei de iniciativa
reservada ao Chefe do Poder Executivo, de que resulte aumento de
despesa. Parâmetro de observância cogente pelos Estados da
Federação, à luz do princípio da simetria. Precedentes. 2. Ausência
de prévia dotação orçamentária para o pagamento do benefício
instituído pela norma impugnada. Violação ao artigo 169 da
Constituição Federal, com a redação que lhe foi conferida pela
Emenda Constitucional 19/98. Ação direta de inconstitucionalidade
julgada procedente.
Arq.
ADI 2.104,
DF
Rel. Eros Grau,
j. em 21-11-07
Decisão Administrativa
de Tribunal (Resolução do TRT/14ª.).
Cálculo de verba de
representação. Violação à reserva legal.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
CONTROLE CONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE
DE RESOLUÇÕES DE TRIBUNAIS (ARTIGO 102, I, A, DA
CONSTITUIÇÃO DO BRASIL). RESOLUÇÃO
ADMINISTRATIVA N. 51/99 DO TRIBUNAL REGIONAL DO
TRABALHO DA 14ª REGIÃO. ATO QUE DETERMINA QUE A
VERBA DE REPRESENTAÇÃO INSTITUÍDA PELO
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
DECRETO-LEI N. 2.371/87 SEJA CALCULADA COM A
INCIDÊNCIA DO VENCIMENTO BÁSICO E DA PARCELA
DE EQUIVALÊNCIA. AUMENTO DE REMUNERAÇÃO SEM
RESERVA LEGAL E PRÉVIA DOTAÇÃO ORÇAMENTÁRIA.
INCONSTITUCIONALIDADE. AFRONTA AO DISPOSTO NO
ARTIGO 96, INCISO II, ALÍNEA "B", DA CONSTITUIÇÃO DO
BRASIL. 1. É cabível o controle concentrado de resoluções de
tribunais que deferem reajuste de vencimentos. Precedentes. 2.
Inconstitucionalidade do ato normativo que configura aumento de
remuneração dos magistrados de forma diversa da prevista no
artigo 96, inciso II, alínea "b", da Constituição do Brasil.
Jurisprudência do Supremo. 3. Ação direta julgada procedente para
declarar a inconstitucionalidade da Resolução Administrativa n. 51/99 do Tribunal Regional do Trabalho da 14ª Região.
ADI 2.167-
MC, RR
Rel. Marco
Aurélio,
j. em 1-6-00
Poder Constituinte
Decorrente.
1. Usurpação de
competência do
Executivo. Subordinação
à prévia autorização
legislativa. Provimento de
cargo de órgão da Administração Indireta
2. Simetria (ofensa).
Procedimento de
intervenção. Argüição
prévia do interventor.
Vício acolhido.
SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA - DIRIGENTE -
ARGÜIÇÃO E APROVAÇÃO PELA ASSEMBLÉIA
LEGISLATIVA - AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - LIMINAR.
Ao primeiro exame, conflita com a Carta da República norma
estadual - inciso XVIII do artigo 33 e parágrafo único do artigo 62
da Constituição do Estado de Roraima - dispondo sobre a argüição
e aprovação prévias de dirigente de sociedade de economia mista.
INTERVENTOR - ARGÜIÇÃO E APROVAÇÃO PELA
ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA - AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - LIMINAR.
Surge a relevância da alegação de conflito de norma estadual -
parágrafo único do artigo 62 da Constituição do Estado de Roraima
- com a Carta da República, no que prevista a argüição e aprovação
prévias do interventor pela Assembléia Legislativa. O
procedimento é diverso do consignado no § 1º do artigo 36 da Constituição Federal - submissão do decreto de intervenção.
Arq.
ADI 2.170,
SP
Rel.
Sepúlveda Pertence,
j. em 17-8-05
Emenda Parlamentar.
Aumento de despesa.
I. Ação direta de inconstitucionalidade: admissibilidade já afirmada
na decisão cautelar, porque não a impede a circunstância de a
norma-padrão da Constituição Federal - de absorção compulsória
pelos ordenamentos locais (CF, arts. 61 e 63, I) - ter sido
reproduzida na Constituição do Estado: questão preclusa. II.
Processo legislativo: projeto do Governador, em matéria de
iniciativa reservada ao Poder Executivo, aprovado com emendas de
origem parlamentar que - ampliando o universo dos servidores
beneficiados e alargando os critérios da proposta original -
acarretaram o aumento da despesa prevista: inconstitucionalidade formal declarada.
Arq.
ADI 2.170-
MC, SP
Rel.
Sepúlveda
Pertence,
j. em 1-6-00
Emenda Parlamentar.
Aumento de despesa.
I. Ação direta de inconstitucionalidade: competência do STF por
força da invocação de norma-padrão da Constituição. À
competência do Supremo Tribunal para conhecer da ação direta
contra lei ou ato normativo estadual basta que a causa petendi da
argüição seja a sua incompatibilidade com a Constituição Federal:
nada importa, para tanto, que às normas pertinentes da Lei
Fundamental da República correspondam outras, do mesmo teor, da
Constituição do Estado, seja ou não a última resultante da absorção compulsória da federal reproduzida.
II. Processo legislativo: iniciativa reservada ao Poder Executivo e
vedação de emenda parlamentar que acarrete aumento de despesa:
sua incidência quando a emenda amplia o universo dos
beneficiários do acréscimo de remuneração ou qualquer outra
vantagem de ordem patrimonial, objeto da proposta do Chefe de Governo.
Arq.
ADI 2.192, Emenda Parlamentar. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI 6.065, Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
ES,
Rel. Ricardo Lewandowski,
j. em 4-6-08
Pertinência temática.
Projeto: tributação.
Emenda: remuneração de servidores. Ocorrência.
DE 30 DE DEZEMBRO DE 1999, DO ESTADO DO ESPÍRITO
SANTO, QUE DÁ NOVA REDAÇÃO À LEI 4.861, DE 31 DE
DEZEMBRO DE 1993. ART. 4º E TABELA X QUE ALTERAM
OS VALORES DOS VENCIMENTOS DE CARGOS DO
QUADRO PERMANENTE DO PESSOAL DA POLÍCIA CIVIL.
INADMISSIBILIDADE.INCONSTITUCIONALIDADE
FORMAL RECONHECIDA. OFENSA AO ART. 61, § 1º, II, A e
C, da CF. OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DA SIMETRIA. ADI JULGADA PROCEDENTE.
I - É da iniciativa privativa do Chefe do Poder Executivo lei de
criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração
direta e autárquica ou aumento de sua remuneração, bem como que
disponha sobre regime jurídico e provimento de cargos dos servidores públicos.
II - Afronta, na espécie, ao disposto no art. 61, § 1º, II, a e c, da
Constituição de 1988, o qual se aplica aos Estados-membros, em razão do princípio simetria.
III - Ação julgada procedente.
ADI 2.192-
MC, ES,
Rel. Marco
Aurélio,
j. em 25-5-00
Emenda Parlamentar.
Pertinência temática.
Projeto: tributação.
Emenda: remuneração de servidores. Ocorrência.
VENCIMENTOS - INICIATIVA DE PROJETO. A teor do artigo
61, § 1º, inciso II, alínea "a", da Constituição Federal, são de
iniciativa privativa do Chefe do Poder Executivo as leis que
disponham acerca da criação de cargos, funções ou empregos
públicos na administração direta e autárquica e aumento de
remuneração. Relevância de pedido de liminar formulado em ação
direta de inconstitucionalidade, no que, encaminhado o projeto pelo
Executivo versando sobre tributo, veio a ser emendado na
Assembléia para ser normatizada remuneração de servidores. Irrelevância da sanção que se seguiu.
Arq.
ADI 2.225-
MC, SC
Rel.
Sepúlveda
Pertence,
j. em 29-6-00
Iniciativa parlamentar.
1. Separação de Poderes.
2. Nomeação de cargo.
Administração indireta.
Aprovação pelo
Legislativo. Vício reconhecido.
Separação e independência dos poderes: submissão à Assembléia
Legislativa, por lei estadual, da escolha de diretores e membros do
conselho de administração de autarquias, fundações públicas e
empresas estatais: jurisprudência do Supremo Tribunal. 1. À vista
da cláusula final de abertura do art. 52, III, f da Constituição
Federal, consolidou-se a jurisprudência do STF no sentido da
validade de normas locais que subordinam a nomeação dos
dirigentes de autarquias ou fundações públicas à prévia aprovação
da Assembléia Legislativa. 2. Diversamente, contudo, atento ao art.
173 da Constituição, propende o Tribunal a reputar ilegítima a
mesma intervenção parlamentar no processo de provimento da
direção das entidades privadas, empresas públicas ou sociedades de economia mista da administração indireta dos Estados.
Arq.
ADI 2.239-
MC, SC
Rel. Ilmar Galvão,
j. em 9-11-00
Iniciativa parlamentar.
Órgãos executivos: novas
atribuições. Vício reconhecido.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI Nº
10.309/99, DO ESTADO DE SÃO PAULO, ORIUNDA DE
PROJETO DE MEMBRO DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA,
QUE DISPÕE SOBRE ATRIBUIÇÕES DE ÓRGÃOS DA
ADMINISTRAÇÃO. ART. 61, I, E, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. Plausibilidade da alegação de ofensa ao dispositivo
constitucional em referência, corolário do princípio da separação de
Poderes, de observância imperiosa pelos Estados Membros,
conforme entendimento pacífico do Supremo Tribunal Federal.
Medida cautelar deferida para suspensão provisória da eficácia do diploma normativo sob enfoque.
Arq.
ADI 2.296-
MC, RS,
Rel.
Sepúlveda
Pertence,
j. em 16-11-
Iniciativa parlamentar.
Administração Pública
indireta: regulamentação.
Participação dos
empregados na gestão da empresa. Vício acolhido.
I. Processo legislativo: iniciativa reservada ao Poder Executivo
(CF, art. 61, § 1º, II, e): plausível a alegação de que viola tal
iniciativa reservada ao Governador a lei, de origem parlamentar,
que altera disposição sobre a eleição de representante dos
empregados na diretoria da empresa pública do Estado: cautelar
deferida. II. Participação dos empregados na gestão da empresa:
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
00 admitida, com base no art. 7º, XI, CF, parece que, na eleição do
representante, o sufrágio deve ser concedido apenas aos
empregados em atividade, não aos inativos.
ADI 2.302,
RS,
Rel. Gilmar Mendes,
j. em 15-2-06
Iniciativa parlamentar.
Órgão: criação. Museu
gaúcho. Vício acolhido.
Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Lei no 11.456/00 do Estado
do Rio Grande do Sul, que criou o Museu do Gaúcho. 3. Lei de
iniciativa parlamentar. Usurpação de competência privativa do
Chefe do Poder Executivo. 4. Vício de iniciativa. Precedentes. 5. Procedência da ação
Arq.
ADI 2.302-
MC, RS
Rel. Néri da Silveira,
j. 2-5-01
Iniciativa parlamentar.
Órgão: criação. Museu
gaúcho. Vício acolhido.
Ação direta de inconstitucionalidade. Lei n.º 11.456, de 10 de abril
de 2000, do Estado do Rio Grande do Sul, que cria o Museu do
Gaúcho do Estado do Rio Grande do Sul e dá outras providências.
2. Alegação de inconstitucionalidade formal e ofensa ao art. 61, §
1º, II, "e", da Constituição Federal. 3. Relevantes os fundamentos
da ação. Projeto de lei de origem legislativa vetado pelo Poder
Executivo, sendo rejeitado o veto. 4. Iniciativa privativa do Poder
Executivo que disponha sobre "criação, estruturação e atribuições
de órgãos da administração pública". 5. Conveniente a suspensão
da vigência da lei em foco, em face dos precedentes da Corte. 6.
Cautelar deferida para suspender, ex nunc, a eficácia da Lei n.º
11.456, de 10.4.2000, do Estado do Rio Grande do Sul, até o julgamento final da ação direta de inconstitucionalidade
Arq.
ADI 2.304-MC, RS,
Rel.
Sepúlveda Pertence,
j. em 4-10-00
Iniciativa parlamentar.
Direito tributário. BF:
Isenção e privilégio.
Vício afastado.
I. Processo legislativo: matéria tributária: inexistência de reserva de
iniciativa do Executivo, sendo impertinente a invocação do art. 61,
§ 1º, II, b, da Constituição, que diz respeito exclusivamente aos
Territórios Federais. II. Isenção e privilégio. III. Ação direta de
inconstitucionalidade: medida cautelar, em regra, descabida, se a lei
impugnada tem caráter de simples autorização ao Poder Executivo,
subordinada a sua utilização à edição de regulamento para a qual sequer se estabeleceu prazo: precedentes.
Arq.
ADI 2.320,
SC,
Rel. Eros Grau,
j. em 15-2-06
Iniciativa parlamentar.
Direito tributário.
Manutenção de crédito
fiscal em caso de redução
da base de cálculo ou
isenção. Vício afastado.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI N.
11.362, DO ESTADO DE SANTA CATARINA. CONCESSÃO
DE REDUÇÃO DA BASE DE CÁLCULO OU DE ISENÇÃO.
MANUTENÇÃO INTEGRAL DO CRÉDITO FISCAL
RELATIVO À ENTRADA DE PRODUTOS VENDIDOS.
ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO DO DISPOSTO NO ARTIGO 155,
§ 2º, INCISO II, "a" e "b", DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL.
INOCORRÊNCIA. 1. A norma impugnada, ao assegurar o direito à
manutenção do crédito fiscal em casos em que há redução da base
de cálculo ou isenção, não afronta o princípio da não-
cumulatividade. Ao contrário, viabiliza sua observância, em
coerência com o disposto no artigo 32, II, do Convênio ICMS n.
36/92. 2. O artigo 155, § 2º, inciso II, "b" da CB prevê que a
isenção ou não-incidência acarretará a anulação do credito relativo
às operações anteriores, salvo determinação em contrário. A
redução de base de cálculo é, segundo o Plenário deste Tribunal,
espécie de isenção parcial, o que implica benefício fiscal e
aplicação do preceito constitucional mencionado. Precedentes. 3. A
disciplina aplicada à isenção estende-se às hipóteses de redução da
base de cálculo. 4. Visando à manutenção do equilíbrio econômico
e a evitar a guerra fiscal, benefícios fiscais serão concedidos e
revogados mediante deliberação dos Estados-membros e do Distrito
Federal. O ato normativo estadual sujeita-se à lei complementar ou
a convênio [artigo 155, § 2º, inciso XII, "f"]. 5. O Convênio ICMS
n. 36/92 autoriza, na hipótese dos autos, a manutenção integral do
crédito, ainda quando a saída seja sujeita a redução da base de
cálculo ou isenção --- § 7º da Cláusula 1ª do Convênio ICMS n.
36/92. 6. Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada improcedente.
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
(Afastada a alega ofensa ao art. 61, §1º, II, b. Precedente: ADI 2.474)
ADI 2.345-
MC, SC,
Rel. Sydney
Sanches,
j. em 1º-8-02
Iniciativa parlamentar.
Direito tributário.
Fundamentação
equivocada. Vício formal
reconhecido. (art. 61, §1º, II, ―b‖)
- DIREITO CONSTITUCIONAL E TRIBUTÁRIO. AÇÃO
DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE DA LEI
ESTADUAL Nº 11.393 , DE 03 DE MAIO DE 2000, DO
ESTADO DE SANTA CATARINA, QUE TRATA DO
CANCELAMENTO DE NOTIFICAÇÕES FISCAIS EMITIDAS
COM BASE NA DECLARAÇÃO DE INFORMAÇÕES
ECONÔMICO-FISCAIS - DIEF, ANO BASE DE 1998.
ALEGAÇÃO DE QUE TAL NORMA VIOLA O DISPOSTO NOS
ARTIGOS 1º, 2º, 61, § 1º, INCISO II, ALÍNEA "b", E 155, § 2º,
INCISO XII, ALÍNEA "g", DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
MEDIDA CAUTELAR (ART. 170, § 1º, DO R.I.S.T.F.).
1. Não há dúvida de que a Lei em questão anula atos
administrativos, quando diz: "Ficam canceladas as notificações
fiscais emitidas com base na Declaração de Informações
Econômico -Fiscais-DIEF, ano base 1998". Ora, atos
administrativos do Poder Executivo, se ilegais ou inconstitucionais,
podem ser anulados, em princípio, pelo próprio Poder Executivo,
ou, então, pelo Judiciário, na via própria. Não, assim, pelo Legislativo.
2. Afora isso, o art. 2o da Lei obriga o Estado a restituir, no prazo
de trinta dias, os valores eventualmente recolhidos aos cofres
públicos, decorrentes das notificações fiscais canceladas.
3. E tudo sem iniciativa do Poder Executivo, o que seria, em
princípio, necessário, por se tratar de matéria tributária (artigo 61,
II, "b", da C.F.). Mesmo que se qualifique a Lei impugnada, como
de anistia, que ao Legislativo caberia, em princípio, conceder (art.
48, VIII, da Constituição), não deixaria de ser uma anistia
tributária, a exigir a iniciativa do Chefe do Poder Executivo. Até
porque provoca repercussão no erário público, na arrecadação de tributos e, conseqüentemente, na Administração estadual.
4. Havendo, assim, repercussão no orçamento do Estado, diante da
referida obrigação de restituir, parece violado, ao menos, o disposto
no art. 165, III, da C.F., quando atribui ao Poder Executivo a iniciativa da lei orçamentária anual.
5. Por fim, o cancelamento das notificações, de certa forma, traz
benefício aos contribuintes de I.C.M.S., sem observância do
disposto no art. 155, § 2°, XII, "g", da C.F., que exige Lei
Complementar para regular sua concessão, com a ressalva do
parágrafo 8° do art. 34 do A.D.C.T.
6. Estando preenchidos os requisitos da plausibilidade jurídica da
Ação ("fumus boni iuris") e do "periculum in mora", a medida
cautelar é deferida, para se suspender, "ex tunc", a eficácia da Lei n° 11.393, de 03.05.2000, do Estado de Santa Catarina.
7. Decisão unânime.
Arq.
ADI 2.350,
GO
Rel. Maurício Corrêa
j. em 25-3-04
Emenda Parlamentar.
Organização judiciária.
Serventias extrajudiciais. Vício afastado.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
SERVENTIAS EXTRAJUDICIAIS. LEI ESTADUAL
13644/2000, ARTIGO 51, §§ 1º E 2º. OFENSA AOS ARTIGOS
22, XXV, E 236 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. EMENDA
PARLAMENTAR. PERTINÊNCIA TEMÁTICA.
ACUMULAÇÃO DE ATIVIDADE CARTORIAL DE NOTAS E
DE REGISTRO. INVASÃO DE COMPETÊNCIA. NORMA DE
NATUREZA SECUNDÁRIA. CONTROLE CONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE. EXAME. IMPOSSIBILIDADE.
1. A Constituição Federal veda ao Poder Legislativo apenas a
prerrogativa da formalização de emendas a projeto originário de
Tribunal de Justiça, se delas resultar aumento de despesa pública,
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
observada ainda a pertinência temática, a harmonia e a simetria à proposta inicial.
2. Lei pertinente à organização judiciária do Estado e destinada a
preencher as necessidades de pequenas comarcas, incapazes de
suportar o ônus de mais de uma serventia extrajudicial. Norma
editada segundo os limites da competência do Estado-membro. Legitimidade.
3. Acumulação de atribuições cartorárias de notas e de registro.
Harmonia entre a lei estadual e a Lei Federal 8935/94, que apenas
excepcionalmente admite a possibilidade de acumulação de
serviços. Norma de natureza secundária. Controle concentrado de constitucionalidade. Exame. Impossibilidade.
Ação conhecida em parte e, nesta parte, julgada improcedente.
ADI 2.350-
MC, GO
Rel. Maurício Corrêa
j. em 7-3-01
Emenda Parlamentar.
Organização judiciária.
Serventias extrajudiciais. Vício afastado.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
SERVENTIAS EXTRAJUDICIAIS. LEI ESTADUAL Nº
13.644/2000, ARTIGO 51, §§ 1º E 2º. OFENSA AOS ARTIGOS
22, XXV E 236 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. EMENDA
PARLAMENTAR. PERTINÊNCIA TEMÁTICA.
ACUMULAÇÃO DE ATIVIDADES. INVASÃO DE
COMPETÊNCIA: INEXISTËNCIA. MUNICÍPIOS QUE NÃO
COMPORTAM MAIS DE UM SERVIÇO NOTARIAL OU DE REGISTRO.
1. A Constituição Federal (artigo 63, II, c/c o artigo 96) apenas
veda ao Poder Legislativo a prerrogativa da formalização de
emendas a projeto originário de Tribunal de Justiça se delas resultar aumento de despesa pública.
2. Não se verifica falta de pertinência temática à proposição
parlamentar se dela provier enunciado harmônico e simétrico à proposta inicial.
3. Entendimento vencido do Relator e dos que o seguiram de que a
norma estadual invadiu área de competência da União para legislar
sobre atividades dos notários e dos oficiais de registro (CF, artigos
22, XXV e 236, § 1º).
4. Prevalência da tese sustentada pela maioria de que a lei, objeto
da ação, disciplina tema pertinente à organização judiciária do
Estado e destinada a preencher as necessidades de pequenas
comarcas, incapazes de suportar os ônus de mais de uma serventia
extrajudicial, enquadrando-se sua elaboração nos limites da
competência do Estado-membro.
Cautelar indeferida por maioria.
Arq.
ADI 2.372-
MC, ES,
Rel. Sydney
Sanches,
j. em 21-8-02
Iniciativa parlamentar.
Órgãos executivos: nova
atribuição. Vício
reconhecido.
DIREITO CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE DA LEI ESTADUAL Nº 5.838,
DE 15 DE ABRIL 1999, QUE DISPÕE: "ART. 1º. O TÉRMINO
DA VIGÊNCIA DA CARTEIRA NACIONAL DE
HABILITAÇÃO TERÁ QUE SER NOTIFICADO PELO
DETRAN A CADA PORTADOR 30 (TRINTA) DIAS ANTES DE
SE EXPIRAR O PRAZO DE SUA VALIDADE. PARÁGRAFO
ÚNICO. CASO O DETRAN NÃO CUMPRA O DISPOSITIVO
CONSTANTE DO "CAPUT" DESTE ARTIGO, SUJEITAR-SE-Á
ÀS SANÇÕES PECUNIÁRIAS CORRESPONDENTES AOS
DANOS MATERIAIS E MORAIS CAUSADOS AOS
PORTADORES DE CARTEIRA DE HABILITAÇÃO".
ALEGAÇÃO DE QUE TAIS NORMAS VIOLAM OS ARTIGOS
22, XI, e 61, § 1º, INC. II, "e", DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
MEDIDA CAUTELAR. 1. Plausibilidade jurídica da Ação,
reconhecida por unanimidade, discrepando os votos apenas quanto
à fundamentação. 2. "Periculum in mora" também admitido. 3.
Medida cautelar deferida, por votação unânime, para suspensão da
eficácia da lei impugnada.
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
ADI 2.392-
MC, ES
Rel. Moreira Alves,
j. em 28-3-01
Iniciativa parlamentar.
Direito tributário. Vício afastado.
Ação direta de inconstitucionalidade. Medida liminar. Lei 6.486, de
14 de dezembro de 2000, do Estado do Espírito Santo. - Rejeição
das preliminares de falta de interesse de agir e de vedação da
concessão de liminar com base na decisão tomada na ação
declaratória de constitucionalidade nº 4. - No mérito, não tem
relevância jurídica capaz de conduzir à suspensão da eficácia da Lei
impugnada o fundamento da presente argüição relativo à pretendida
invasão, pela Assembléia Legislativa Estadual, da iniciativa
privativa do Chefe do Executivo prevista no artigo 61, § 1º, II, "b",
da Constituição Federal, porquanto esta Corte (assim na ADIMEC
2.304, onde se citam como precedentes as ADIN's - decisões
liminares ou de mérito - 84, 352, 372, 724 e 2.072) tem salientado a
inexistência, no processo legislativo, em geral, de reserva de
iniciativa em favor do Executivo em matéria tributária, sendo que o
disposto no art. 61, § 1º, II, "b", da Constituição Federal diz
respeito exclusivamente aos Territórios Federais. Em conseqüência,
o mesmo ocorre com a alegação, que resulta dessa pretendida
iniciativa privativa, de que, por isso, seria também ofendido o
princípio da independência e harmonia dos Poderes (artigo 2º da
Carta Magna Federal). Pedido de liminar indeferido.
Arq.
ADI 2.393,
AL
Rel. Sydney
Sanches,
DJ de 28-3-03
Poder Constituinte
Reformador Estadual.
Regime jurídico de
servidor militar. Juízo de
oportunidade violado.
Fixação de prazo para envio do PL.
DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. REGIME
JURÍDICO DE SERVIDOR MILITAR. PRINCÍPIO DA
SEPARAÇÃO DE PODERES. PROJETO DE LEI: INICIATIVA.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE DO
PARÁGRAFO 9º DO ARTIGO 63 DA CONSTITUIÇÃO DO
ESTADO DE ALAGOAS, ACRESCENTADO PELA EMENDA
CONSTITUCIONAL Nº 22, DE 26.12.2000, COM ESTE TEOR:
"§ 9º. O Chefe do Poder Executivo Estadual, encaminhará à
Assembléia Legislativa de Alagoas, no prazo de 45 (quarenta e
cinco) dias, da aprovação desta Emenda, para fins de deliberação
pelos seus Deputados, de Projeto de Lei que defina, na forma
prescrita pela parte final do inciso LXI do art. 5º da Constituição
Federal, as transgressões militares a que estão sujeitos os servidores públicos militares do estado de Alagoas".
1. A norma questionada contém vício de inconstitucionalidade
formal pois impõe ao Chefe do Poder Executivo, e em prazo
determinado, o encaminhamento de projeto de lei, que, segundo a
Constituição Federal depende exclusivamente de sua própria
iniciativa, por tratar de regime jurídico de servidor público (art. 61,
§ 1°, letra "c").
2. Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada procedente.
Plenário. Decisão unânime.
Arq.
ADI 2.393-
MC, AL,
Rel. Sydney Sanches,
j. em 9-5-02
Poder Constituinte
Reformador Estadual.
Regime jurídico de
servidor militar. Juízo de
oportunidade violado.
Fixação de prazo para
envio do PL.
DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO.
PROJETO DE LEI: INICIATIVA. AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE DO PARÁGRAFO 9º DO
ARTIGO 63 DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE ALAGOAS,
ACRESCENTADO PELA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 22,
DE 26.12.2000, SEGUNDO O QUAL: "§ 9º. O Chefe do Poder
Executivo Estadual, encaminhará à Assembléia Legislativa de
Alagoas, no prazo de 45 (quarenta e cinco) dias, da aprovação desta
Emenda, para fins de deliberação pelos seus Deputados, de Projeto
de Lei que defina, na forma prescrita pela parte final do inciso LXI
do art. 5º da Constituição Federal, as transgressões militares a que
estão sujeitos os servidores públicos militares do estado de
Alagoas". Alegação de que tal norma viola os artigos 2º e 61, § 1º,
"c" e "f", da Constituição Federal. Medida Cautelar (art. 170, § 1º, do R.I.S.T.F.).
1. Em que pesem as objeções da Assembléia Legislativa do Estado,
os requisitos da plausibilidade jurídica da ação e do "periculum in
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
mora" estão atendidos, no caso.
2. Com efeito, ao julgar procedente a ADI nº 546, de que foi
Relator o Ministro MOREIRA ALVES, o Plenário desta Corte, por
unanimidade de votos, assentou, em relação a norma ordinária do
Estado do Rio Grande do Sul (DJU de 14.04.2000, Ementário nº
1987): "EMENTA: Ação direta de inconstitucionalidade. Arts. 4o e
5o da Lei nº 9.265, de 13 de junho de 1991, do Estado do Rio
Grande do Sul. Tratando-se de projeto de lei de iniciativa privativa
do Chefe do Poder Executivo, não pode o Poder Legislativo assinar- lhe prazo para o exercício dessa prerrogativa sua".
3. Se assim é, com relação a Lei, também há de ser quando se trate
de Emenda Constitucional, pois a Constituição Estadual e suas
Emendas devem igualmente observar os princípios constitucionais
federais da independência dos poderes e da reserva de iniciativa de
lei (artigos 2º, 61, § 1º, "f", e 25 da Constituição Federal e 11 do A.D.C.T.).
4. Medida Cautelar deferida, para suspender a eficácia do parágrafo
9º do art. 63 da Constituição do Estado de Alagoas, acrescentado
pela Emenda Constitucional estadual nº 22, de 26.12.2000.
5. Decisão unânime.
ADI 2.400-
MC, SC
Rel. Ilmar
Galvão
j. em 19-4-01
Iniciativa legislativa.
Regime jurídico. Redução
jornada de trabalho de
servidores do Poder
Judiciário. Vício acolhido.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. MEDIDA
CAUTELAR. LEI Nº 11.619, DE 05 DE DEZEMBRO DE 2000,
DO ESTADO DE SANTA CATARINA. REDUÇÃO DA
JORNADA DE TRABALHO DOS SERVIDORES DO PODER
JUDICIÁRIO ESTADUAL. ALEGADA VIOLAÇÃO AO ART.
61, § 1º, II, C, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. Plausibilidade da
alegação de ofensa ao dispositivo constitucional em referência,
corolário do princípio da separação dos poderes, de observância
imperiosa pelos Estados, conforme entendimento pacífico do
Supremo Tribunal Federal. Medida cautelar deferida para
suspensão provisória da eficácia do diploma sob enfoque.
Arq.
ADI 2.417,
SP,
Rel. Maurício Corrêa,
j. em 3-9-03
Iniciativa legislativa.
Órgão: alteração
nomenclatura e
atribuições. Delegacia de Ensino.
Vício acolhido.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI
ESTADUAL 10539/00. DELEGACIA DE ENSINO.
DENOMINAÇÃO E ATRIBUIÇÕES. ALTERAÇÃO.
COMPETÊNCIA. CONSTITUIÇÃO FEDERAL. SIMETRIA.
OBSERVÂNCIA OBRIGATÓRIA PELOS ESTADOS-
MEMBROS. VETO. REJEIÇÃO E PROMULGAÇÃO DA LEI.
VÍCIO FORMAL: MATÉRIA RESERVADA À INICIATIVA DO
PODER EXECUTIVO. 1. Delegacia de ensino. Alteração da
denominação e das atribuições da entidade. Iniciativa de lei pela
Assembléia Legislativa. Impossibilidade. Competência privativa do
Chefe do Poder Executivo para deflagrar o processo legislativo
sobre matérias pertinentes à Administração Pública (CF/88, artigo
61, § 1º, II, "e"). Observância pelos estados-membros às
disposições da Constituição Federal, em razão da simetria. Vício de
iniciativa. 2. Alteração da denominação e das atribuições do órgão
da Administração Pública. Lei oriunda de projeto da Assembléia
Legislativa. Veto do Governador do Estado, sua rejeição e a
promulgação da lei. Subsistência do atentado à competência
reservada ao Chefe do Poder Executivo para dispor sobre a matéria.
Vício formal insanável, que não se convalida. Ação julgada
procedente para declarar a inconstitucionalidade da Lei 10539, de
13 de abril de 2000, do Estado de São Paulo.
Arq.
ADI 2.417-
MC, SP,
Rel. Maurício
Corrêa,
j. em 18-4-01
Iniciativa legislativa.
Órgão: alteração
nomenclatura e
atribuições. Delegacia de Ensino.
MEDIDA CAUTELAR PARA SUSPENDER A VIGÊNCIA DA
LEI Nº 10.539, DE 13.04.2000, DO ESTADO DE SÃO PAULO.
REESTRUTURAÇÃO DOS ÓRGÃOS DO SETOR
EDUCACIONAL. COMPETÊNCIA DO CHEFE DO
EXECUTIVO. 2. Compete privativamente ao Governador do
Estado, pelo princípio da simetria, propor à Assembléia Legislativa
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Vício acolhido. projetos de lei que visem a criação, estruturação e atribuições das
Secretarias e órgãos da administração pública (CF, artigo 61, § 1º,
II, "e"). 3. Hipótese em que o projeto de iniciativa parlamentar,
transformando-se em lei, apresenta vício insanável caracterizado
pela invasão de competência reservada constitucionalmente ao Poder Executivo. Medida cautelar deferida.
ADI 2.420, ES
Rel. Ellen
Gracie
j. em 24-2-05
Iniciativa parlamentar.
Regime jurídico: posse.
Documentação
necessária. Vício acolhido.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI
COMPLEMENTAR Nº 191/00, DO ESTADO DO ESPÍRITO
SANTO. DOCUMENTOS DE APRESENTAÇÃO
OBRIGATÓRIA NA POSSE DE NOVOS SERVIDORES.
MATÉRIA RELATIVA AO PROVIMENTO DE CARGO
PÚBLICO. LEI DE INICIATIVA PARLAMENTAR. OFENSA
AO ART. 61, § 1º, II, C DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 1. O
art. 61, § 1º, II, c da Constituição Federal prevê a iniciativa
privativa do Chefe do Executivo na elaboração de leis que
disponham sobre servidores públicos, regime jurídico, provimento
de cargos, estabilidade e aposentadoria. Por outro lado, é pacífico o
entendimento de que as regras básicas do processo legislativo da
União são de observância obrigatória pelos Estados, "por sua
implicação com o princípio fundamental da separação e
independência dos Poderes". Precedente: ADI 774, rel. Min.
Sepúlveda Pertence, DJ 26.02.99. 2. A posse, matéria de que tratou
o Diploma impugnado, complementa e completa, juntamente com a
entrada no exercício, o provimento de cargo público iniciado com a
nomeação do candidato aprovado em concurso. É, portanto, matéria
claramente prevista no art. 61, § 1º, II, c da Carta Magna, cuja
reserva legislativa foi inegavelmente desrespeitada. 3. Ação direta cujo pedido se julga procedente.
Arq.
ADI 2.464,
AP
Rel. Ellen Gracie,
j. em 11-4-07
Iniciativa parlamentar.
Direito tributário. BF:
Desconto e parcelamento do IPVA. Vício afastado.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI Nº
553/2000, DO ESTADO DO AMAPÁ. DESCONTO NO
PAGAMENTO ANTECIPADO DO IPVA E PARCELAMENTO
DO VALOR DEVIDO. BENEFÍCIOS TRIBUTÁRIOS. LEI DE
INICIATIVA PARLAMENTAR. AUSÊNCIA DE VÍCIO FORMAL.
1. Não ofende o art. 61, § 1º, II, b da Constituição Federal lei
oriunda de projeto elaborado na Assembléia Legislativa estadual
que trate sobre matéria tributária, uma vez que a aplicação deste
dispositivo está circunscrita às iniciativas privativas do Chefe do
Poder Executivo Federal na órbita exclusiva dos territórios federais.
Precedentes: ADI nº 2.724, rel. Min. Gilmar Mendes, DJ 02.04.04,
ADI nº 2.304, rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 15.12.2000 e ADI nº 2.599-MC, rel. Min. Moreira Alves, DJ 13.12.02
2. A reserva de iniciativa prevista no art. 165, II da Carta Magna,
por referir-se a normas concernentes às diretrizes orçamentárias,
não se aplica a normas que tratam de direito tributário, como são
aquelas que concedem benefícios fiscais. Precedentes: ADI nº 724-
MC, rel. Min. Celso de Mello, DJ 27.04.01 e ADI nº 2.659, rel.
Min. Nelson Jobim, DJ de 06.02.04.
3. Ação direta de inconstitucionalidade cujo pedido se julga improcedente.
Arq.
ADI 2.464-
MC,
Rel. Ellen Gracie,
j. em 12-6-02
Iniciativa parlamentar.
Direito tributário. BF:
Desconto e parcelamento do IPVA. Vício afastado
Ação direta de inconstitucionalidade. Lei nº 553/00, do Estado do
Amapá. Concessão de benefícios tributários. Lei de iniciativa
parlamentar. Ausência de ofensa ao artigo 61, § 1º, II, b, da
Constituição Federal, pois as regras insertas nesse dispositivo se
referem tão somente a Territórios Federais, não sendo de
observância obrigatória por parte dos Estados-membros. Precedentes: ADIns nºs 352/DF e 2.304/RS.
O inciso II do artigo 165 da Carta Magna, por aludir a normas
relativas a diretrizes orçamentárias, não se aplica a normas que
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
dizem respeito a direito tributário, como o são aquelas que concedem benefícios fiscais. Precedente: ADIn nº 724/RS.
Medida liminar indeferida.
ADI 2.472,
RS,
Rel. p/ac.
Marco Aurélio,
j. em 1-4-04
Regulamentação de atos
de publicidade.
Controle da
administração. Vício
formal afastado.
Inconstitucionalidade material.
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA - PRINCÍPIOS - EXTENSÃO.
Surgindo, no ato normativo abstrato, a óptica, assentada em
princípio básico da Administração Pública, de observância apenas
em relação ao Executivo, tem-se a lei como a conflitar com a razoabilidade.
Arq.
ADI 2.472-
MC, RS
Rel. Maurício Corrêa,
j. em 13-3-02
Iniciativa parlamentar.
Regulamentação de
atos de publicidade.
Controle da
administração. Vício
formal afastado.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. MEDIDA
CAUTELAR. LEI 11.601, DE 11 DE ABRIL DE 2001, DO
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. PUBLICIDADE DOS
ATOS E OBRAS REALIZADOS PELO PODER EXECUTIVO.
INICIATIVA PARLAMENTAR. CAUTELAR DEFERIDA EM
PARTE.
1. Lei disciplinadora de atos de publicidade do Estado, que
independem de reserva de iniciativa do Chefe do Poder Executivo
estadual, visto que não versam sobre criação, estruturação e
atribuições dos órgãos da Administração Pública. Não-incidência de vedação constitucional (CF, artigo 61, § 1º, II, e).
2. Norma de reprodução de dispositivo constitucional, que se aplica
genericamente à Administração Pública, podendo obrigar apenas um dos Poderes do Estado sem implicação de dispensa dos demais.
3. Preceito que veda "toda e qualquer publicação, por qualquer
meio de divulgação, de matéria que possa constituir propaganda
direta ou subliminar de atividades ou propósito de governo, bem
como de matéria que esteja tramitando no Poder Legislativo" (§ 2º
do artigo 1º), capaz de gerar perplexidade na sua aplicação prática.
Relevância da suspensão de sua vigência.
4. Cláusula que determina que conste nos comunicados oficiais o
custo da publicidade veiculada. Exigência desproporcional e
desarrazoada, tendo-se em vista o exagero dos objetivos visados. Ofensa ao princípio da economicidade (CF, artigo 37, caput).
5. Prestação trimestral de contas à Assembléia Legislativa.
Desconformidade com o parâmetro federal (CF, artigo 84 inciso
XXIV), que prevê prestação anual de contas do Presidente da
República ao Congresso Nacional. Cautelar deferida em parte.
Suspensão da vigência do § 2º do artigo 1º; do artigo 2º e seus
parágrafos; e do artigo 3º e incisos, da Lei 11.601, de 11 de abril de
2001, do Estado do Rio Grande do Sul.
Arq.
ADI 2.474,
SC
Rel. Ellen Gracie,
j. em 19-3-03
Iniciativa parlamentar.
Direito tributário. BF:
IPVA e multas de
trânsito. Parcelamento. Vício afastado.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI Nº
11.712, DE 24.04 .2001, DO ESTADO DE SANTA CATARINA.
IPVA E MULTAS DE TRÂNSITO ESTADUAIS. PARCELAMENTO.
A jurisprudência deste Supremo Tribunal fixou o entendimento
segundo o qual o artigo 61, § 1º, II, b, da Carta Magna refere-se
exclusivamente aos Territórios Federais, não configurando norma
cuja observância seja impositiva aos Estados-membros.
Precedentes: ADI nº 2.304-MC, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ
15.12.2000 e ADI nº 352-MC, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 8.03.91.
Os artigos 5º, caput, e 150, II, da Lei Fundamental, corolários dos
princípios da igualdade e da isonomia tributária, não se acham
violados, dado o caráter impessoal e abstrato da norma impugnada.
Não há que se falar em ofensa ao artigo 155, III, da Constituição
Federal, pois que a Lei em questão não institui qualquer nova
espécie de tributo.
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Ação direta cujo pedido se julga improcedente.
ADI 2.474-
MC, SC
Rel. Ellen Gracie,
j. em 19-6-02
Iniciativa parlamentar.
Direito tributário. BF:
IPVA e multas de
trânsito. Parcelamento.
Vício afastado.
Ação direta de inconstitucionalidade. Lei 11.712/01, do Estado de
Santa Catarina. IPVA e multas de trânsito estaduais. Parcelamento. Lei de iniciativa parlamentar.
Ausência de ofensa ao artigo 61, § 1º, II, b, da Constituição
Federal, pois as regras insertas nesse dispositivo se referem tão-
somente a Territórios Federais, não sendo de observância
obrigatória por parte dos Estados-membros. Precedentes: ADIns nºs 352/DF e 2.304/RS.
Os artigos 5º, caput, e 150, II, da Carta Magna, instituidores dos
princípios da igualdade e da isonomia tributária, não se encontram
maculados pela Lei atacada, haja vista a simples concessão de parcelamento dos débitos do IPVA e de multas de trânsito.
A Lei inquinada de inconstitucional não institui qualquer espécie de
tributo, motivo pelo qual rejeita-se o argumento de violação ao artigo 155, III, da Lei Maior. Medida liminar indeferida.
Arq.
ADI 2.569,
CE
Rel. Carlos
Velloso,
j. em 19-3-03
Emenda parlamentar.
1. Aumento de despesa. Remuneração.
2. Comissão permanente:
autorização para criação.
Invasão da reserva de
decreto.
Inconstitucionalidade material.
3. Pertinência temática.
Alteração de jornada de
trabalho. Inclusão de
temática estranha ao projeto.
CONSTITUCIONAL. PROCESSO LEGISLATIVO. SERVIDOR
PÚBLICO. CRIAÇÃO DE ÓRGÃOS PÚBLICOS. INICIATIVA
LEGISLATIVA RESERVADA. C.F., art. 61, § 1º, II, a, c e e, art.
63, I; Lei 13.145/2001, do Ceará, art. 4º; Lei 13.155/2001, do
Ceará, artigos 6º, 8º e 9º, Anexo V, referido no art. 1º. I. - As regras
do processo legislativo, especialmente as que dizem respeito à
iniciativa reservada, são normas de observância obrigatória pelos
Estados-membros. Precedentes do STF. II. - Leis relativas à
remuneração do servidor público, que digam respeito ao regime
jurídico destes, que criam ou extingam órgãos da administração
pública, são de iniciativa privativa do Chefe do Executivo. C.F., art.
61, § 1º, II, a, c e e. III. - Matéria de iniciativa reservada: as
restrições ao poder de emenda - C.F., art. 63, I - ficam reduzidas à
proibição de aumento de despesa e à hipótese de impertinência de
emenda ao tema do projeto. Precedentes do STF. IV - ADI julgada procedente.
Arq.
ADI 2.581,
SP
Rel. Maurício
Corrêa, p/ac.
Marco Aurélio,
j. em 16-8-07
Poder Constituinte
Estadual.
Indicação do PGE dentre
os membros da carreira. Constitucionalidade.
ATO NORMATIVO - INCONSTITUCIONALIDADE. A
declaração de inconstitucionalidade de ato normativo pressupõe
conflito evidente com dispositivo constitucional. PROJETO DE
LEI - INICIATIVA - CONSTITUIÇÃO DO ESTADO -
INSUBSISTÊNCIA. A regra do Diploma Maior quanto à iniciativa
do chefe do Poder Executivo para projeto a respeito de certas
matérias não suplanta o tratamento destas últimas pela vez primeira
na Carta do próprio Estado. PROCURADOR-GERAL DO
ESTADO - ESCOLHA ENTRE OS INTEGRANTES DA
CARREIRA. Mostra-se harmônico com a Constituição Federal
preceito da Carta estadual prevendo a escolha do Procurador-Geral do Estado entre os integrantes da carreira.
Arq.
ADI 2.599-
MC, MT
Rel. Moreira Alves,
j. em 7-11-02.
Iniciativa parlamentar.
Direito tributário. BF:
Isenções e benefícios
ICMS. Vício formal
afastado. Inconst.
material reconhecida.
Ação direta de inconstitucionalidade. Lei nº 7.616 , de 3 de janeiro
de 2002, do Estado de Mato Grosso. Prorrogação de prazo.
- Improcede a alegação de que a lei estadual ora atacada, por dizer
respeito à matéria tributária, seria da iniciativa exclusiva do Chefe
do Poder Executivo Estadual pela aplicação aos Estados do
disposto, no tocante ao Presidente da República, no artigo 61, § 1º,
II, "b", da Constituição, o qual seria aplicável aos Estados-
membros. E improcede porque esse dispositivo diz respeito apenas
à iniciativa exclusiva do Presidente da República no tocante às leis que versem matéria tributária e orçamentária dos Territórios.
- Das duas alegações em que ainda se funda a inicial para sustentar
a inconstitucionalidade, basta a segunda delas - a relativa à ofensa
ao disposto no artigo 155, § 2º, XII, "g", da Constituição Federal -
para essa sustentação por sua relevância jurídica que decorre da
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
jurisprudência desta Corte em vários precedentes referentes a ações
diretas de inconstitucionalidade e relativos à instituição, por norma
estadual, de isenções, não-incidência ou incidência parcial do
ICMS, nos quais se deu pela procedência da alegação de
infringência ao citado dispositivo constitucional. Precedentes do S.T.F.
Liminar deferida, para suspender, "ex nunc", a eficácia da Lei nº
7.616, de 3 de janeiro de 2002, do Estado de Mato Grosso.
ADI 2.619-
MC, RS
Rel. Nelson Jobim,
j. em 15-5-02.
Emenda parlamentar.
Aumento de despesa.
Extensão de benefícios remuneratórios.
CONSTITUCIONAL. PROJETO DE LEI DE
REALINHAMENTO DOS VENCIMENTOS DO SERVIDORES.
INICIATIVA DO CHEFE DO PODER EXECUTIVO
ESTADUAL. EMENDAS PARLAMENTARES COM
ALTERAÇÕES SUBSTANCIAIS. VETO DO GOVERNADOR.
PROMULGAÇÃO PELA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DAS
PARTES VETADAS. OFENSA AOS ARTS. 2º E 61, §1º, II, A,
DA CF. PRECEDENTES. LIMINAR DEFERIDA, COM
EFICÁCIA 'EX TUNC'.
Arq.
ADI 2.619,
RS,
Rel. Eros Grau,
j. em 15-2-06
Emenda parlamentar.
Aumento de despesa.
Extensão de benefícios remuneratórios.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGOS
2º, PARÁGRAFO ÚNICO, 3º, 4º, 5º E 6º DA LEI N. 11.678/2001
DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. SERVIDORES.
EMENDA PARLAMENTAR. AUMENTO DE VENCIMENTOS.
VIOLAÇÃO DO ARTIGO 61, § 1º, INCISO II, ALÍNEA "A", DA
CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL.
1. As regras básicas do processo legislativo federal, por sua
correlação direta com o princípio da harmonia entre os poderes, devem ser obrigatoriamente observadas pelos Estados-membros.
2. Padece de inconstitucionalidade formal o texto normativo não
contemplado em projeto de lei deflagrado pelo Poder Executivo,
porque resultante de emendas parlamentares, que dispõe sobre
vencimentos de funcionários públicos e aumenta a remuneração de
servidores. Violação do artigo 61, § 1º, inciso II, alínea "a", da Constituição do Brasil. Precedentes.
Pedido julgado procedente.
Arq.
ADI 2.646,
SP
Rel. Maurício Corrêa,
j. em 20-3-03.
Iniciativa parlamentar.
Organização da Polícia
Militar. Vício reconhecido.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI DE
ORIGEM PARLAMENTAR. ORGANIZAÇÃO DA POLÍCIA
MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO. VÍCIO FORMAL DE
INICIATIVA. As regras previstas na Constituição Federal para o
processo legislativo aplicam-se aos Estados-membros. Compete
exclusivamente ao Governador a iniciativa de leis que cuidem da
estruturação e funcionamento de órgãos vinculados ao Poder
Executivo (CF, artigos 61, § 1º, II, "e"; e 144, § 6º). Precedentes.
Inconstitucionalidade da Lei 10890/01, do Estado de São Paulo. Ação julgada procedente.
Arq.
ADI 2.654-
MC, AL,
Rel.
Sepúlveda Pertence,
j. em 26-6-02
Poder Constituinte
Reformador Estadual.
Conselho: alteração da
composição. Conselho
Estadual de Educação.
Inclusão de representante
do Poder Legislativo. Vício reconhecido.
I. Processo legislativo: modelo federal: iniciativa legislativa
reservada: aplicabilidade, em termos, ao poder constituinte dos
Estados-membros ou do Judiciário: é o que se dá quando emenda à
Constituição do Estado dispõe sobre "criação, estruturação e
atribuições" de órgãos da administração afetos ao Poder Executivo:
nela se insere iniludivelmente o Conselho Estadual de Educação, de cuja composição cuida o ato normativo.
II. Separação e independência dos Poderes: plausibilidade da
alegação de ofensa do princípio fundamental pela inserção de
representante da Assembléia Legislativa, por essa escolhido, em
órgão do Poder Executivo local, qual o Conselho Estadual de
Educação, que não constitui contrapeso assimilável aos do modelo constitucional positivo do regime de Poderes.
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
ADI 2.659,
SC
Rel. Nelson Jobim,
j. em 3-12-03
Iniciativa parlamentar.
Matéria tributária.
Criação e alteração no
regime de multas. Vício afastado.
CONSTITUCIONAL. LEI DE ORIGEM PARLAMENTAR QUE
FIXA MULTA AOS ESTABELECIMENTOS QUE NÃO
INSTALAREM OU NÃO UTILIZAREM EQUIPAMENTO
EMISSOR DE CUPOM FISCAL. PREVISÃO DE REDUÇÃO E
ISENÇÃO DAS MULTAS EM SITUAÇÕES PRÉ-DEFINIDAS.
ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA NÃO LEGISLOU SOBRE
ORÇAMENTO, MAS SOBRE MATÉRIA TRIBUTÁRIA CUJA
ALEGAÇÃO DE VÍCIO DE INICIATIVA ENCONTRA-SE
SUPERADA. MATÉRIA DE INICIATIVA COMUM OU CONCORRENTE. AÇÃO JULGADA IMPROCEDENTE.
Arq.
ADI 2.672,
ES,
Rel. p/ o ac. Carlos Britto,
j. em 22-6-06.
Iniciativa parlamentar.
Regime jurídico: criação
e alteração no regime de multas. Vício afastado.
CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE. LEI N° 6.663, DE 26 DE ABRIL DE 2001, DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO.
O diploma normativo em causa, que estabelece isenção do
pagamento de taxa de concurso público, não versa sobre matéria
relativa a servidores públicos (§ 1º do art. 61 da CF/88). Dispõe,
isto sim, sobre condição para se chegar à investidura em cargo
público, que é um momento anterior ao da caracterização do
candidato como servidor público. Inconstitucionalidade formal não
configurada.
Noutro giro, não ofende a Carta Magna a utilização do salário
mínimo como critério de aferição do nível de pobreza dos
aspirantes às carreiras púbicas, para fins de concessão do benefício
de que trata a Lei capixaba nº 6.663/01. Ação direta de
inconstitucionalidade julgada improcedente.
Arq.
ADI 2.689,
RN
Rel. Ellen
Gracie,
j. em 9-10-03
Iniciativa parlamentar.
Regime jurídico.
Servidores:
aproveitamento. Vício acolhido.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. PAR. 3º DO
ART. 4º DA LEI COMPLEMENTAR Nº 233/2002, DO ESTADO
DO RIO GRANDE DO NORTE. TRANSFERÊNCIA OU
APROVEITAMENTO DE FUNCIONÁRIOS DE SOCIEDADES
DE ECONOMIA MISTA ESTADUAIS EM LIQUIDAÇÃO
PARA CARGOS OU EMPREGOS DE ENTIDADES E ÓRGÃOS
DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ESTADUAL. EXIGÊNCIA
DO CONCURSO PÚBLICO. ART. 37, II DA CF. SERVIDORES
PÚBLICOS ESTADUAIS. NORMA INTRODUZIDA POR
EMENDA PARLAMENTAR. INICIATIVA DE LEI
RESERVADA AO PODER EXECUTIVO. VEDAÇÃO DE
EMENDA QUE IMPORTE NO AUMENTO DA DESPESA
PREVISTA. A hipótese em questão não se encontra abarcada pelo
disposto no art. 19, caput do ADCT, que só concedeu a estabilidade
excepcional aos servidores públicos da administração direta,
autárquica e das fundações públicas, ficando excluídos, dessa
forma, os empregados das sociedades de economia mista.
Conforme sedimentada jurisprudência deste Supremo Tribunal, a
vigente ordem constitucional não mais tolera a transferência ou o
aproveitamento como formas de investidura que importem no
ingresso de cargo ou emprego público sem a devida realização de
concurso público de provas ou de provas e títulos. Precedentes:
ADI nº 1.350, Rel. Min. Celso de Mello e ADI nº 231, Rel. Min.
Moreira Alves. Inconstitucionalidade formal do dispositivo
impugnado, tendo em vista tratar-se de matéria atinente à
organização do regime de pessoal do Estado, ocupando-se de tema
de interesse de setor específico do funcionalismo estadual, cuja
elaboração normativa, sem a iniciativa do Governador, afronta a
reserva legislativa àquele atribuída pelo art. 61, § 1º, II, c, da CF.
Precedente: ADI nº 805, Rel. Min. Sepúlveda Pertence. Ação direta
de inconstitucionalidade julgada procedente.
Arq.
ADI 2.705,
DF
Rel. Ellen
Iniciativa parlamentar.
Militar. Gratificação para
exercício de função na
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI
DISTRITAL nº 1.654, DE 16.09.1997. INSTITUIÇÃO DE
VANTAGEM A SERVIDORES MILITARES DO DISTRITO
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Gracie,
j. em 9-10-03
Assembléia Distrital. Vício formal acolhido.
FEDERAL A SERVIÇO DA CÂMARA LEGISLATIVA. ART.
21, XIV E 22, XXI DA CF. COMPETÊNCIA PRIVATIVA DA
UNIÃO PARA LEGISLAR SOBRE MATÉRIA CONCERNENTE
À POLÍCIA MILITAR DO DF. ART. 61, § 1º, II, a, DA CF.
INVASÃO DA INICIATIVA EXCLUSIVA DO CHEFE DO
EXECUTIVO PARA PROPOR A ELABORAÇÃO DE LEI QUE
VISE À CRIAÇÃO DE FUNÇÃO OU AUMENTO DA
REMUNERAÇÃO DE SERVIDOR PÚBLICO. OBSERVÂNCIA
OBRIGATÓRIA POR PARTE DOS ESTADOS E DO DISTRITO
FEDERAL. INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL. Verifica-
se que a vantagem concedida pela Lei impugnada tem por
finalidade a retribuição de um serviço local, cuja organização -
instituição de função e gratificação aos policiais militares lotados
na Câmara Legislativa - cabe ao próprio Distrito Federal. Além
disso, o preceito em exame remete claramente sua abrangência ao
art. 4º da Lei 186/91, que consigna as despesas decorrentes aos
recursos orçamentários do Distrito Federal. Hipótese em que não se
configura a invasão de competência legislativa da União.
Precedente: ADI nº 677-DF, Rel. Min. Néri da Silveira. Fruto de
projeto apresentado por integrante da Câmara Legislativa, violou a
Lei nº 1.654 o disposto no art. 61, § 1º, II, a da CF, por usurpação
da iniciativa exclusiva do Chefe do Poder Executivo para a
elaboração de lei que discipline a criação de cargo, função ou
emprego público e o aumento da remuneração do servidor público,
comando que a Jurisprudência desta Corte entende ser de
observância obrigatória para os Estados e Distrito Federal, por
encerrar corolário do princípio da independência dos Poderes.
Precedentes: ADIns nºs 873, Rel. Min. Maurício Corrêa, 1.064,
Rel. Min. Ilmar Galvão e 1.249, Rel. Min. Maurício Corrêa. Ação
direta de inconstitucionalidade julgada procedente para declarar a
inconstitucionalidade formal da Lei nº 1.654, de 16.09.1997, do Distrito Federal.
ADI 2.707,
SC,
Rel. Joaquim Barbosa,
j. em 15-2-06
Iniciativa parlamentar.
1. Comissão: dever de
criação pelo Executivo.
Comissão Executiva da
Política de Preservação,
recuperação e utilização
sustentável dos
ecossistemas do
Complexo Lagunar Sul. Vício acolhido.
2. Reserva de decreto.
Matéria passível de
regulamentação autônoma.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTS. 3º,
4º, 5º e 6º DA LEI 11.222/1999 DO ESTADO DE SANTA
CATARINA. SEPARAÇÃO DE PODERES. VIOLAÇÃO. INCONSTITUCIONALIDADE.
Os dispositivos impugnados são inconstitucionais, seja porque
violaram a reserva de iniciativa do governador do estado em
matérias afeitas à estrutura do Poder Executivo (art. 61, § 1º, II, e,
da Constituição federal), seja porque dispõem sobre matéria que
caberia ao governador do estado regular por decreto (art. 84, VI, da Constituição). Precedentes.
Violação, em última análise, do princípio da separação de poderes
(art. 2º da Constituição).
Pedido julgado procedente
Arq.
ADI 2.710,
ES,
Rel. Sydney Sanches,
j. em 23-4-03
Poder Constituinte
Reformador Estadual.
Capacidade de auto-
organização. Polícia
Civil. Chefia. Escolha
dentre delegados de
carreira. Lista tríplice. Vício acolhido.
DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE DO § 1º DO
ART. 128 DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO ESPÍRITO
SANTO, COM A REDAÇÃO DADA PELA E.C. Nº 31, DE
03.12.2001, NESTES TERMOS: "O DELEGADO-CHEFE DA
POLÍCIA CIVIL SERÁ NOMEADO PELO GOVERNADOR DO
ESTADO DENTRE OS INTEGRANTES DA ÚLTIMA CLASSE
DA CARREIRA DE DELEGADO DE POLÍCIA ATIVA, EM
LISTA TRÍPLICE FORMADA PELO ÓRGÃO DA
REPRESENTAÇÃO DA RESPECTIVA CARREIRA, PARA
MANDATO DE 02 (DOIS) ANOS, PERMITIDA RECONDUÇÃO".
ALEGAÇÃO DE QUE TAL NORMA IMPLICA VIOLAÇÃO
AOS ARTIGOS 2º, 61, § 1º, II, "e", 84, II e VI, e 144, § 6º, DA
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
1. Conforme precedentes do S.T.F., é da competência do
Governador do Estado o provimento de cargos de sua estrutura
administrativa, inclusive da Polícia Civil.
2. No caso, a norma impugnada restringe a escolha, pelo
Governador, do Delegado-Chefe da Polícia Civil, pois lhe impõe
observância de uma lista tríplice formada pelo órgão da
representação da respectiva carreira, para mandato de dois anos,
permitida recondução.
3. A convicção firmada, ao ensejo do deferimento da medida
cautelar, restou reforçada no parecer da Procuradoria-Geral da
República, bem como nos fundamentos deduzidos nos precedentes referidos.
4. Ação Direta julgada procedente, para se declarar a
inconstitucionalidade do § 1º do art. 128 Constituição do Estado do
Espírito Santo, com a redação que lhe foi dada pela E.C. nº 31, de
03.12.2001.
5. Plenário. Decisão unânime.
ADI 2.710-
MC, ES,
Rel. Sydney Sanches,
j. em 13-11-02
Poder Constituinte
Reformador Estadual.
Capacidade de auto-
organização. Polícia
Civil. Chefia. Escolha
dentre delegados de
carreira. Lista tríplice. Vício acolhido.
DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE DO § 1º DO
ART. 128 DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO ESPÍRITO
SANTO, COM A REDAÇÃO DADA PELA E.C. Nº 31, DE
03.12.2001, NESTES TERMOS: "O DELEGADO-CHEFE DA
POLÍCIA CIVIL SERÁ NOMEADO PELO GOVERNADOR DO
ESTADO DENTRE OS INTEGRANTES DA ÚLTIMA CLASSE
DA CARREIRA DE DELEGADO DE POLÍCIA ATIVA, EM
LISTA TRÍPLICE FORMADA PELO ÓRGÃO DA
REPRESENTAÇÃO DA RESPECTIVA CARREIRA, PARA
MANDATO DE 02 (DOIS) ANOS, PERMITIDA RECONDUÇÃO".
ALEGAÇÃO DE QUE TAL NORMA IMPLICA VIOLAÇÃO
AOS ARTIGOS 2º, 61, § 1º, II, "e", 84, II e VI, e 144, § 6º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
MEDIDA CAUTELAR (ART. 170, § 1º, DO RISTF)
1. Conforme precedentes do S.T.F., é da competência do
Governador do Estado o provimento de cargos de sua estrutura
administrativa, inclusive da Polícia Civil. 2. No caso, a norma
impugnada restringe a escolha, pelo Governador, do Delegado-
Chefe da Polícia Civil, pois lhe impõe observância de uma lista
tríplice formada pelo órgão da representação da respectiva carreira, para mandato de dois anos, permitida recondução.
3. Medida cautelar deferida, para se suspender a eficácia do §1º do
art. 128 da Constituição do Estado do Espírito Santo, com a redação que lhe foi dada pela E.C. n º 31, de 03.12.2001
Arq.
ADI 2.719,
ES,
Rel. Carlos Velloso,
j. em 20-3-03
Iniciativa parlamentar.
Órgão: atribuição de
novas tarefas. DETRAN. Vício acolhido.
CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. LEI QUE ATRIBUI
TAREFAS AO DETRAN/ES, DE INICIATIVA
PARLAMENTAR: INCONSTITUCIONALIDADE.
COMPETÊNCIA DO CHEFE DO PODER EXECUTIVO. C.F.,
art. 61, § 1º, II, e, art. 84, II e VI. Lei 7.157, de 2002, do Espírito Santo.
I. - É de iniciativa do Chefe do Poder Executivo a proposta de lei
que vise a criação, estruturação e atribuição de órgãos da administração pública: C.F., art. 61, § 1º, II, e, art. 84, II e VI.
II. - As regras do processo legislativo federal, especialmente as que
dizem respeito à iniciativa reservada, são normas de observância
obrigatória pelos Estados-membros.
III. - Precedentes do STF.
IV. - Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente.
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
ADI 2.720,
ES,
Rel.
Sepúlveda
Pertence,
j. em 20-3-03
Iniciativa parlamentar.
Órgão: criação de novos
órgãos. CIRETRANs. Vício acolhido.
Processo legislativo: reserva de iniciativa ao Poder Executivo: dos
projetos de leis que disponham sobre a criação ou extinção de
órgãos da administração pública: inconstitucionalidade da lei de
iniciativa parlamentar, instituidora de novos órgãos integrantes da
Administração Pública Estadual, com a criação de novas despesas para o Estado.
Arq.
ADI 2.721, ES,
Rel. Maurício
Corrêa,
j. em 6-8-03
Iniciativa parlamentar.
Órgão: criação de novos
órgãos. CIRETRANs.
Vício acolhido.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI
COMPLEMENTAR ESTADUAL 235/02. CRIAÇÃO DE
CIRCUNSCRIÇÕES REGIONAIS DE TRÂNSITO.
COMPETÊNCIA DO CHEFE DO PODER EXECUTIVO.
PRINCÍPIO DA INICIATIVA RESERVADA. ATUAÇÃO PARLAMENTAR. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES.
1. Circunscrições regionais de trânsito. Instituição. Matéria
reservada à iniciativa do Chefe do Poder Executivo, a quem
compete, com exclusividade, exercer a direção superior da
administração estadual e dispor sobre sua organização e estrutura.
Observância ao modelo federal pelos estados-membros, que têm
autonomia para se auto-organizarem nos limites impostos pela Constituição Federal.
2. Inércia do Poder Executivo para a deflagração do processo
legislativo das matérias de sua competência. Atuação parlamentar.
Impossibilidade. Em virtude da cláusula constitucional da reserva
de iniciativa, somente ao Governador, que detém o poder
discricionário, compete avaliar a conveniência e a oportunidade
administrativa e financeira de serem criados órgãos regionais na estrutura organizacional direta e indireta.
Ação julgada procedente para declarar a inconstitucionalidade da
Lei Complementar 235, de 30 de abril de 2002, do Estado do
Espírito Santo.
Arq.
ADI 2.724,
SC,
Rel. Gilmar
Mendes,
j. em 24-9-03.
Iniciativa parlamentar.
Matéria tributária.
Procedimentos. Vício
afastado.
Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Lei Estadual nº 12.383, de
16 de agosto de 2002. 3. Argüição de violação ao art. 61, §1º,
inciso II, alínea "b" da Constituição, sob o fundamento de que
haveria inconstitucionalidade formal. A iniciativa de lei que
disponha sobre matéria tributária deve ser do Chefe do Poder
Executivo, in casu, do Governador do Estado. 4. O dispositivo
invocado trata de matéria de iniciativa legislativa no âmbito dos
territórios federais. 5. Precedentes. 6. A norma impugnada não trata
diretamente de matéria tributária, mas regulamenta meros
procedimentos administrativos relativos à cobrança dos tributos. 7.
Improcedência da ação
Arq.
ADI 2.734-
MC, ES
Rel. Moreira Alves,
j. em 26-2-03
Iniciativa parlamentar.
Cargo: criação. ―Inclui-
se na estrutura
organizacional básica
(...) o cargo em
comissão de Diretor-
Técnico‖. Não há
criação de cargo. Vício
afastado.
Organização.
Supressão da iniciativa
reservada das matérias
relativas à
―estruturação‖ e
―atribuições‖ (EC
32/01). Vício afastado.
Ação direta de inconstitucionalidade. Lei 7.247, de 15.07.2002, do
Estado do Espírito Santo. Pedido de liminar.
- Em exame compatível com a análise de pedido de liminar, é de
considerar-se que, se a Lei estadual ora impugnada não cria, por si
mesma, cargo, não há que se pretender ofenda ela as alíneas "a" e
"c" do inciso II do § 1º do artigo 61 da Constituição, o mesmo
ocorrendo com relação à alínea "e" do mesmo dispositivo
constitucional na redação que lhe foi dada pela Emenda
Constitucional nº 32/2001, que suprimiu da iniciativa exclusiva do
Presidente da República a "estruturação" e as "atribuições" dos
Ministérios e órgãos da administração pública.
- Igualmente não se apresentam ocorrentes, de plano, as alegadas
ofensas aos artigos 63, I, 84, III, 169, § 1º (antes da Emenda
Constitucional nº 19/98 era o parágrafo único), I e II, e 2º, todos da
Constituição Federal. - Ademais, não há, no caso, "periculum in
mora" ou conveniência administrativa para a concessão da liminar
requerida. Liminar indeferida.
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
ADI 2.741,
ES
Rel. Ellen Gracie,
j. em 21-8-03
Iniciativa parlamentar.
Regime jurídico de militar.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI
COMPLEMENTAR Nº 255/2002, DO ESTADO DO ESPÍRITO
SANTO. REGIME JURÍDICO DE SERVIDORES PÚBLICOS
MILITARES ESTADUAIS. INICIATIVA DE LEI RESERVADA
AO CHEFE DO PODER EXECUTIVO. VIOLAÇÃO AO ART.
61, § 1º, II, C E F, DA CARTA MAGNA. Ao dispor sobre
promoção e transferência para a reserva de Sargentos e Subtenentes
da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros do Estado, tratou o
Diploma em questão, inegavelmente, de matéria atinente ao regime
jurídico dos servidores militares estaduais, cuja elaboração
normativa, sem a iniciativa do Governador, afrontou a reserva
prevista no art. 61, § 1º, II, c e f da CF, comando que jurisprudência
desta Corte entende ser de observância obrigatória para os Estados
e Distrito Federal, por encerrar corolário do princípio da
independência dos Poderes. Precedentes: ADI 872-MC, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence, ADI 2.466-MC, Rel. Min. Moreira Alves, ADI
nº 250, Rel. Min. Ilmar Galvão, ADI 2.742, Rel. Maurício Corrêa e
ADI nº 2.393, Rel. Min. Sydney Sanches. Ação direta de inconstitucionalidade cujo pedido se julga procedente.
Arq.
ADI 2.742,
ES
Rel. Maurício Corrêa,
j. em 20-3-03
Iniciativa parlamentar.
Militares (bombeiros).
Servidor: extinção de
cargos e regime jurídico
(regras de promoção na
carreira).
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI DO
ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. ORIGEM PARLAMENTAR.
EXTINÇÃO DE CARGOS E PROMOÇÃO DE CARREIRAS DO
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR. PROCESSO
LEGISLATIVO. SIMETRIA. VÍCIO FORMAL DE INICIATIVA.
As regras previstas na Constituição Federal para o processo
legislativo aplicam-se aos Estados-membros. Compete
exclusivamente ao Governador a iniciativa de leis que cuidem da
extinção de cargos públicos e da promoção de carreiras diretamente
vinculadas ao Poder Executivo, especialmente quando resultarem
em acréscimo de despesa pública (CF, artigos 61, § 1º, II, "a" e "c";
63, I; e 144, § 6º). Precedentes. Inconstitucionalidade da Lei 7134/02, do Estado do Espírito Santo. Ação julgada procedente.
Arq.
ADI 2.748,
ES
Rel. Ellen Gracie,
j. em 21-8-03
Iniciativa parlamentar.
Servidores militares.
Regime jurídico: promoção e reserva.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI
COMPLEMENTAR Nº 241/2002, DO ESTADO DO ESPÍRITO
SANTO. REGIME JURÍDICO, PROMOÇÕES E
TRANSFERÊNCIA PARA A RESERVA DOS SERVIDORES
PÚBLICOS MILITARES ESTADUAIS. INICIATIVA DE LEI
RESERVADA AO CHEFE DO PODER EXECUTIVO.
VIOLAÇÃO AO ART. 61, § 1º, II, F, DA CARTA MAGNA. Ao
prever a promoção, de graduação ou posto, a ser conferida aos
Militares Estaduais que estejam na reserva remunerada ou
reformados, tratou a Lei em exame, incontestavelmente, de matéria
atinente ao regime jurídico, promoções e transferência para a
reserva dos servidores militares estaduais, cuja elaboração
normativa, sem a iniciativa do Governador, viola o previsto no art.
61, § 1º, II, f da Carta Maior, comando que jurisprudência desta
Corte entende ser de observância obrigatória para os Estados e
Distrito Federal, por encerrar corolário do princípio da
independência dos Poderes. Precedentes: ADI 872-MC, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence, ADI 2.466-MC, Rel. Min. Moreira Alves, ADI
nº 250, Rel. Min. Ilmar Galvão, ADI 2.742, Rel. Maurício Corrêa e
ADI nº 2.393, Rel. Min. Sydney Sanches. Ação direta de
inconstitucionalidade cujo pedido se julga procedente.
Arq.
ADI 2.750,
ES,
Rel. Eros
Grau,
j. em 6-4-05
Iniciativa parlamentar.
Órgão de execução:
criação, extinção e
regulamentação de órgãos
na estrutura adm. do Estado. Vício acolhido.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI
COMPLEMENTAR N. 239/02 DO ESTADO DO ESPÍRITO
SANTO. DISPOSIÇÕES CONCERNENTES A ÓRGÃOS
PÚBLICOS E A ABERTURA DE CRÉDITO SUPLEMENTAR. INICIATIVA PARLAMENTAR. VÍCIO FORMAL.
1. A Constituição do Brasil, ao conferir aos Estados-membros a
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
capacidade de auto-organização e de autogoverno (artigo 25,
caput), impõe a observância compulsória de vários princípios, entre
os quais o pertinente ao processo legislativo, de modo que o
legislador estadual não pode validamente dispor sobre matérias reservadas à iniciativa privativa do Chefe do Executivo.
2. Pedido de declaração de inconstitucionalidade julgado procedente.
ADI 2.754,
ES
Rel. Sydney
Sanches,
j. em 3-4-03
Iniciativa parlamentar.
Regime jurídico de
servidor e remuneração.
Vício acolhido.
DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. REGIME
JURÍDICO DOS SERVIDORES PÚBLICOS. AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE DA LEI COMPLEMENTAR Nº
251, DE 12 DE JULHO DE 2002, QUE REGULA EXTENSÃO
DE JORNADA DE TRABALHO E RESPECTIVOS
VENCIMENTOS DE SERVIDORES DO ESTADO DO
ESPÍRITO SANTO. ALEGAÇÃO DE QUE TAL NORMA
IMPLICA VIOLAÇÃO AOS ARTIGOS 61, § 1º, II, "a", "b", "c" e
"e", 63, I, 84, II, III e VI, "a", 169, § 1º, I e II, TODOS DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 1. É inconstitucional a lei
impugnada, pois regula regime jurídico de servidor público, sem
iniciativa do Governador do Estado. 2. Ação Direta julgada
procedente, declarando-se a inconstitucionalidade da Lei
Complementar nº 251, de 15.06.2002, do Estado do Espírito Santo.
3. Plenário. Decisão unânime.
Arq.
ADI 2.791, PR
Rel. Gilmar
Mendes,
j. em 16-8-06
Emenda parlamentar.
Aumento de despesa.
Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Art. 34, §1º, da Lei
Estadual do Paraná nº 12.398/98, com redação dada pela Lei
Estadual nº 12.607/99. 3. Preliminar de impossibilidade jurídica do
pedido rejeitada, por ser evidente que o parâmetro de controle da
Constituição Estadual invocado referia-se à norma idêntica da
Constituição Federal. 4. Inexistência de ofensa reflexa, tendo em
vista que a discussão dos autos enceta análise de ofensa direta aos
arts. 40, caput, e 63, I, c/c 61, §1º, II, "c", da Constituição Federal.
5. Não configuração do vício de iniciativa, porquanto os âmbitos de
proteção da Lei Federal nº 8.935/94 e Leis Estaduais nºs 12.398/98
e 12.607/99 são distintos. Inespecificidade dos precedentes
invocados em virtude da não-coincidência das matérias reguladas.
6. Inconstitucionalidade formal caracterizada. Emenda parlamentar
a projeto de iniciativa exclusiva do Chefe do Executivo que resulta
em aumento de despesa afronta os arts. 63, I, c/c 61, §1º, II, "c", da
Constituição Federal. 7. Inconstitucionalidade material que também
se verifica em face do entendimento já pacificado nesta Corte no
sentido de que o Estado-Membro não pode conceder aos
serventuários da Justiça aposentadoria em regime idêntico ao dos
servidores públicos (art. 40, caput, da Constituição Federal). 8. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente.
Arq.
ADI 2.799-
MC, RS
Rel. Marco Aurélio,
j. em 1-4-04
Iniciativa parlamentar.
Órgão de execução:
atribuição nova. Fixação
de Programa de Ação.
Alteração na estrutura
funcional da Secretaria de
Estado. Vício acolhido.
CONTROLE CONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE
- LIMINAR. Há o sinal do bom direito e o risco de manter-se com
plena eficácia o quadro quando o diploma atacado resultou de
iniciativa parlamentar e veio a disciplinar programa de
desenvolvimento estadual - submetendo-o à Secretaria de Estado -
a dispor sobre a estrutura funcional pertinente. Segundo a Carta da
República, incumbe ao chefe do Poder Executivo deflagrar o
processo legislativo que envolva órgão da Administração Pública - alínea "e" do § 1º do artigo 61 da Constituição Federal
Arq.
ADI 2.804,
RS
Rel. Eros Grau,
j. em 2-3-05
Emenda parlamentar.
Aumento de despesa.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGO 25
DA LEI N. 11.672/01 DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL.
PROVIMENTO DE CARGOS DE SERVIDORES PÚBLICOS
ESTADUAIS SEM A REALIZAÇÃO DE CONCURSO. LEI DE
INICIATIVA PRIVATIVA DO GOVERNADOR DO ESTADO.
EMENDA PARLAMENTAR. AFRONTA AOS ARTIGOS 61, §
1º, INCISO II, "C", E 37, CAPUT, INCISO II, DA
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
CONSTITUIÇÃO DO BRASIL.
1. Esta Corte entendeu que são de observância compulsória pelos
Estados-membros as regras básicas do processo legislativo federal,
por sua correlação direta com o princípio da independência dos poderes. Precedentes.
2. Projeto de lei apresentado pelo Governador de Estado, em
matérias de sua competência privativa, não pode sofrer emenda
parlamentar que importe em aumento de despesa, sob pena de o
futuro texto normativo advindo da emenda incorrer em inconstitucionalidade formal.
3. Consubstancia violação direta ao artigo 37, caput e inciso II, da
Constituição do Brasil o provimento de cargos de servidores sem concurso público prévio.
4. Pedido de declaração de inconstitucionalidade julgado procedente.
ADI 2.806,
RS
Rel. Ilmar Galvão,
j. em 23-4-03
Iniciativa parlamentar.
1. Regime jurídico.
Processo de investidura e
descanso semanal
remunerado.
2. Reserva de decreto.
Regulamentação interna pelo Executivo.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI N.º
11.830, DE 16 DE SETEMBRO DE 2002, DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL. ADEQUAÇÃO DAS ATIVIDADES DO
SERVIÇO PÚBLICO ESTADUAL E DOS
ESTABELECIMENTOS DE ENSINO PÚBLICOS E PRIVADOS
AOS DIAS DE GUARDA DAS DIFERENTES RELIGIÕES
PROFESSADAS NO ESTADO. CONTRARIEDADE AOS ARTS.
22, XXIV; 61, § 1.º, II, C; 84, VI, A; E 207 DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. No que toca à Administração Pública estadual, o
diploma impugnado padece de vício formal, uma vez que proposto
por membro da Assembléia Legislativa gaúcha, não observando a
iniciativa privativa do Chefe do Executivo, corolário do princípio
da separação de poderes. Já, ao estabelecer diretrizes para as
entidades de ensino de primeiro e segundo graus, a lei atacada
revela-se contrária ao poder de disposição do Governador do
Estado, mediante decreto, sobre a organização e funcionamento de
órgãos administrativos, no caso das escolas públicas; bem como, no
caso das particulares, invade competência legislativa privativa da
União. Por fim, em relação às universidades, a Lei estadual n.º
11.830/2002 viola a autonomia constitucionalmente garantida a tais organismos educacionais. Ação julgada procedente.
Arq.
ADI 2.808,
RS
Rel. Gilmar Mendes,
j. 24-8-06
Iniciativa parlamentar.
Instituição de pólo. Pólo
estadual de música
erudita. Estrutura e
atribuição de órgãos da
Administração Pública. Vício reconhecido.
Ação Direta de Inconstitucionalidade. 2. Lei Do Estado do Rio
Grande do Sul. Instituição do Pólo Estadual da Música Erudita. 3.
Estrutura e atribuições de órgãos e Secretarias da Administração
Pública. 4. Matéria de iniciativa privativa do Chefe do Poder
Executivo. 5. Precedentes. 6. Exigência de consignação de dotação
orçamentária para execução da lei. 7. Matéria de iniciativa do Poder Executivo. 8. Ação julgada procedente.
Arq.
ADI 2.809,
RS,
Rel. Maurício
Corrêa,
j. em 25-9-03
Emenda parlamentar.
Aumento de despesa. Não
caracterizado. Região
Metropolitana: inclusão de Município limítrofe.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. REGIÃO
METROPOLITANA. INTERESSES COMUNS. PODER
LEGISLATIVO ESTADUAL. LEGITIMIDADE. MUNICÍPIOS
LIMÍTROFES. LEI COMPLEMENTAR. VÍCIO FORMAL E
MATERIAL NA LEI. INEXISTÊNCIA. INOBSERVÂNCIA AO
ARTIGO 63 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. ALEGAÇÃO IMPROCEDENTE.
1. Região metropolitana. Municípios limítrofes. Observância do
disposto no artigo 25, § 3o, da Carta Federal, que faculta ao estado-
membro criar regiões administrativas compostas de municípios
limítrofes, destinadas a regular e executar funções e serviços públicos de interesses comuns.
2. Criação de regiões metropolitanas. Exigência de lei
complementar estadual. Inclusão de município limítrofe por ato da
Assembléia Legislativa. Legitimidade. Constitui-se a região
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
administrativa em um organismo de gestão territorial compartilhada
em razão dos interesses comuns, que tem no Estado-membro um
dos partícipes e seu coordenador, ao qual não se pode imputar a
titularidade dos serviços em razão da unidade dos entes envolvidos.
Ampliação dos limites da região metropolitana. Ato da Assembléia Legislativa. Vício de iniciativa. Inexistência.
3. Lei Complementar. Existência de limites territoriais.
Observância dos requisitos constitucionais. Inocorrência de vício formal ou material.
4. Violação ao artigo 63, I, da Constituição Federal. Inclusão de
município no âmbito da região metropolitana instituída. Aumento
de despesa em projeto de iniciativa do Poder Executivo.
Inexistência. A alocação de recursos financeiros específicos no
orçamento estadual e municipal é destinada à organização,
planejamento e gestão da região metropolitana, no âmbito da qual está inserido o município limítrofe.
5. Despesa fixa vinculada à região metropolitana. Ausência de ônus
maior para o Estado na realização de obras e serviços.
Obrigatoriedade de prévia autorização orçamentária específica. Observância.
Ação julgada improcedente.
ADI 2.840,
ES,
Rel. Ellen Gracie,
j. em 6-11-03
Emenda parlamentar.
Aumento de despesa.
Organização da PGE. Vício acolhido.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI
COMPLEMENTAR Nº 246, DE 27.06.2002. ALTERAÇÃO DA
ESTRUTURA DA PROCURADORIA GERAL DO ESTADO DO
ESPÍRITO SANTO. LC Nº 88/96. INTRODUÇÃO DE
DISPOSITIVOS, POR EMENDA PARLAMENTAR, AO
PROJETO DE LEI ENCAMINHADO PELO GOVERNADOR À
ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA. RECONHECIMENTO DE
INCONSTITUCIONALIDADE PELA OCORRÊNCIA DE VÍCIOS FORMAIS E MATERIAIS.
É firme nesta Corte o entendimento de que compete
exclusivamente ao Chefe do Executivo a iniciativa de leis que
disponham sobre remuneração de pessoal, organização e
funcionamento da Administração. O desrespeito a esta reserva, de
observância obrigatória pelos Estados-membros por encerrar
corolário ao princípio da independência dos Poderes, viola o art.
61, § 1º, II, a e e da Constituição Federal. Precedentes: ADI 2.646,
Maurício Corrêa, ADI 805, Sepúlveda Pertence, ADI 774, Celso de
Mello, ADI 821, Octavio Gallotti e ADI 2186-MC, Maurício
Corrêa.
A atuação dos membros das Assembléias Legislativas estaduais
acha-se submetida, no processo de formação das leis, à limitação
imposta pelo art. 63, I, da CF, que veda o oferecimento de emendas
parlamentares de que resulte o aumento da despesa prevista nos
projetos sujeitos ao exclusivo poder de iniciativa do Governador.
Precedente: ADI 1.070-MC, Celso de Mello.
A fixação de um limite percentual na diferença entre os valores de
remuneração recebidos pelos ocupantes dos quatro níveis que
compõem a carreira de Procurador de Estado não afronta a vedação
contida no art. 37, XIII da CF, por se tratar de uma sistematização
da hierarquia salarial entre as classes de uma mesma carreira, e não
uma vinculação salarial entre diferentes categorias de servidores
públicos. Precedentes: ADI 2863, Nelson Jobim e ADI 955-MC, Celso de Mello.
Viola o comando previsto no art. 37, XIII da Carta Magna a
equiparação entre o subsídio devido aos ocupantes do último nível
da carreira de Procurador de Estado e o recebido pelos
Procuradores de Justiça do Ministério Público capixaba.
Precedentes: ADI 305, Maurício Corrêa, DJ 13.12.2002, ADI 774,
Sepúlveda Pertence, DJ 26.02.99, ADI 1274, Carlos Velloso, DJ
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
07.02.2003, ADI 301, Maurício Corrêa, DJ 22.05.2002 e ADI 1070, Sepúlveda Pertence, DJ 25.05.2001, entre tantos outros.
Prejudicialidade da ação quanto ao art. 1º da LC nº 246/02 atacada,
tendo em vista a modificação substancial dos §§ 1º e 2º do art. 3º da
LC nº 88/96, por aquele introduzidos, promovida pela recente LC nº 265, de 15.09.2003.
Ação direta de inconstitucionalidade cujo pedido se julga procedente em parte.
ADI 2.857,
ES
Rel. Joaquim Barborsa,
j. em 30-8-07
Iniciativa parlamentar.
1. Órgão de execução:
novas atribuições. Vício reconhecido.
2. Reserva de decreto.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI
6.835/2001 DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. INCLUSÃO
DOS NOMES DE PESSOAS FÍSICAS E JURÍDICAS
INADIMPLENTES NO SERASA, CADIN E SPC.
ATRIBUIÇÕES DA SECRETARIA DE ESTADO DA
FAZENDA. INICIATIVA DA MESA DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA. INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL.
A lei 6.835/2001, de iniciativa da Mesa da Assembléia Legislativa
do Estado do Espírito Santo, cria nova atribuição à Secretaria de
Fazenda Estadual, órgão integrante do Poder Executivo daquele Estado.
À luz do princípio da simetria, são de iniciativa do Chefe do Poder
Executivo estadual as leis que versem sobre a organização
administrativa do Estado, podendo a questão referente à
organização e funcionamento da Administração Estadual, quando
não importar aumento de despesa, ser regulamentada por meio de
Decreto do Chefe do Poder Executivo (art. 61, § 1º, II, e e art. 84, VI, a da Constituição federal).
Inconstitucionalidade formal, por vício de iniciativa da lei ora
atacada.
Arq.
ADI 2.892,
ES,
Rel. Carlos Velloso,
j. em 19-2-04
Iniciativa parlamentar.
Remuneração: aumento.
CONSTITUCIONAL. PROCESSO LEGISLATIVO: INICIATIVA
LEGISLATIVA RESERVADA: SERVIDOR PÚBLICO. C.F., art.
61, § 1º, II, a e c. Lei Complementar nº 258, de 2002, do Estado do Espírito Santo: inconstitucionalidade.
I. - A regra da iniciativa legislativa reservada ao Presidente da
República - C.F., art. 61, § 1º, II, a e c - é de observância
obrigatória pelos Estados-membros.
II. - Precedentes do Supremo Tribunal Federal.
III. - Inconstitucionalidade formal da Lei Complementar nº 258, de
2002, do Estado do Espírito Santo.
IV. - Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente.
Arq.
ADI 2.931, RJ
Rel. Carlos Britto,
j. em 24-2-05
Poder Constituinte Decorrente.
R.J.: nomeação dos
aprovados em concursos
públicos. Fixação de
prazo máximo. Usurpação
de iniciativa reservada.
Vício acolhido.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGO
77, INCISO VII, DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO. TEXTO NORMATIVO QUE ASSEGURA O
DIREITO DE NOMEAÇÃO, DENTRO DO PRAZO DE CENTO
E OITENTA DIAS, PARA TODO CANDIDATO QUE LOGRAR
APROVAÇÃO EM CONCURSO PÚBLICO DE PROVAS, OU
DE PROVAS DE TÍTULOS, DENTRO DO NÚMERO DE
VAGAS OFERTADAS PELA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ESTADUAL E MUNICIPAL.
O direito do candidato aprovado em concurso público de provas, ou
de provas e títulos, ostenta duas dimensões: 1) o implícito direito de
ser recrutado segundo a ordem descendente de classificação de
todos os aprovados (concurso é sistema de mérito pessoal) e
durante o prazo de validade do respectivo edital de convocação
(que é de 2 anos, prorrogável, apenas uma vez, por igual período);
2) o explícito direito de precedência que os candidatos aprovados
em concurso anterior têm sobre os candidatos aprovados em
concurso imediatamente posterior, contanto que não-escoado o
prazo daquele primeiro certame; ou seja, desde que ainda vigente o
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
prazo inicial ou o prazo de prorrogação da primeira competição
pública de provas, ou de provas e títulos. Mas ambos os direitos,
acrescente-se, de existência condicionada ao querer discricionário
da administração estatal quanto à conveniência e oportunidade do chamamento daqueles candidatos tidos por aprovados.
O dispositivo estadual adversado, embora resultante de indiscutível
atributo moralizador dos concursos públicos, vulnera os artigos 2º,
37, inciso IV, e 61, § 1º, inciso II, "c", da Constituição Federal de 1988. precedente: RE 229.450, Rel. Min. Maurício Corrêa.
Ação direta julgada procedente para declarar a
inconstitucionalidade do inciso VII do artigo 77 da Constituição do Estado do Rio de Janeiro.
ADI 2.966,
RO
Rel. Joaquim Barbosa,
j. em 6-4-05
Poder Constituinte
Reformador Estadual.
Militares: Regime jurídico. Alteração.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
MILITARES. REGIME JURÍDICO. INICIATIVA PRIVATIVA
DO CHEFE DO PODER EXECUTIVO. PROCEDÊNCIA DO
PEDIDO.
Emenda Constitucional 29/2002, do estado de Rondônia. Inconstitucionalidade.
À luz do princípio da simetria, é de iniciativa privativa do chefe do
Poder Executivo estadual as leis que disciplinem o regime jurídico dos militares (art. 61, § 1º, II, f, da CF/1988).
Matéria restrita à iniciativa do Poder Executivo não pode ser regulada por emenda constitucional de origem parlamentar.
Precedentes.
Pedido julgado procedente
Arq.
ADI 2.988,
DF
Rel. Cezar Peluso,
j. em 4-3-04
Iniciativa parlamentar.
1. DF: Vencimentos da
PM e BM. Lei distrital.
Competência da União
reconhecida.
2. Vantagem pecuniária.
Reserva de iniciativa. Vício reconhecido.
Inconstitucionalidade. Ação direta. Lei distrital. Iniciativa
parlamentar. Servidor público. Polícia militar e corpo de bombeiros
militar. Vencimentos. Vantagem funcional pecuniária. "Etapa de
alimentação". Caráter geral. Competência legislativa privativa da
União. Matéria de iniciativa reservada ao Chefe do Poder
Executivo. Ofensa ao art. 21, cc. arts. 32, § 4º, e 144, § 6º, e ao art.
61, § 1º, "a" e "c", da CF. Ação julgada procedente. É
inconstitucional lei distrital que, de iniciativa parlamentar, concede,
em caráter geral, aos integrantes da Polícia Militar e do Corpo de
Bombeiros Militar, matriculados em estabelecimento de formação e aperfeiçoamento, vantagem funcional pecuniária
Arq.
ADI 3.051,
MG
Rel. Carlos
Britto,
j. em 30-6-05
Poder Constituinte
Reformador Estadual.
Cargos: criação e
provimento. Polícia Civil. Vício reconhecido.
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 52, DE 28 DE DEZEMBRO
DE 2001, DO ESTADO DE MINAS GERAIS. ATO
NORMATIVO QUE EXTINGUE O CARGO DE CARCEREIRO NA ESTRUTURA DA POLÍCIA CIVIL.
O diploma legislativo sob censura, de iniciativa do parlamento
mineiro, dispõe sobre a criação e o provimento de cargos da
Administração Direta. Violação às alíneas "a" e "c" do inciso II do
§ 1º do art. 61 da Constituição Federal. De outra parte, a norma
judicial sub judice, ao possibilitar o preenchimento de cargo
permanente sem a necessidade de concurso público, destoa do
inciso II do artigo 37 da Magna Lei. Procedência da alegação de
vício formal de inconstitucionalidade.
Arq.
ADI 3.061,
AP,
Rel. Carlos Britto,
j. em 5-4-06
Iniciativa parlamentar.
Servidores: transferência
e aproveitamentos. Vício reconhecido.
CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE. IMPUGNAÇÃO DIRIGIDA
CONTRA A LEI Nº 538, DE 23 DE MAIO DE 2000, DO ESTADO DO AMAPÁ.
- O § 1º do art. 61 da Lei Republicana confere ao Chefe do Poder
Executivo a privativa competência para iniciar os processos de
elaboração de diplomas legislativos que disponham sobre a criação
de cargos, funções ou empregos públicos na Administração Direta e
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Autárquica, o aumento da respectiva remuneração, bem como os
referentes a servidores públicos da União e dos Territórios, seu
regime jurídico, provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria (alíneas "a" e "c" do inciso II do art. 61).
- Insistindo nessa linha de opção política, a mesma Lei Maior de
1988 habilitou os presidentes do Supremo Tribunal Federal, dos
Tribunais Superiores e dos Tribunais de Justiça a propor ao Poder
Legislativo a criação e a extinção de cargos e a remuneração dos
seus serviços auxiliares e dos juízes que lhes forem vinculados, tudo nos termos da alínea "b" do inciso II do artigo 96.
- A jurisprudência desta Casa de Justiça sedimentou o
entendimento de ser a cláusula da reserva de iniciativa, inserta no §
1º do artigo 61 da Constituição Federal de 1988, corolário do
princípio da separação dos Poderes. Por isso mesmo, de
compulsória observância pelos Estados, inclusive no exercício do
poder reformador que lhes assiste (Cf. ADI 250, Rel. Min. Ilmar
Galvão; ADI 843, Rel. Min. Ilmar Galvão; ADI 227, Rel. Min.
Maurício Correa; ADI 774, Rel. Min. Sepúlveda Pertence; e ADI 665, Rel. Sydney Sanches, entre outras).
- O diploma legislativo em foco é formalmente inconstitucional,
dado que o Projeto de Lei nº 102/99, que deu origem à norma impugnada, foi de iniciativa parlamentar.
- De outra parte, a Lei amapaense nº 538/02 é materialmente
inconstitucional, porquanto criou um diferenciado quadro de
pessoal na estrutura dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário
para aproveitar servidores de outras unidades da Federação,
oriundos de qualquer dos três Poderes. Possibilitou, então,
movimentação no espaço funcional em ordem a positivar um
provimento derivado de cargos públicos. Mas tudo isso fora de
qualquer mobilidade no interior de u'a mesma carreira. E sem
exigir, além do mais, rigorosa compatibilidade entre as novas
funções e os padrões remuneratórios de origem. Violação, no
particular, à regra constitucional da indispensabilidade do concurso
público de provas, ou de provas e títulos para cada qual dos cargos
ou empregos a prover na estrutura de pessoal dos Poderes Públicos (Súmula 685 do STF).
- Ação direta julgada procedente, para declarar a
inconstitucionalidade do instrumento normativo impugnado.
ADI 3.112,
DF,
Rel. Ricardo
Lewandowski,
j. em 2-5-07
Emenda parlamentar.
1. Iniciativa por
empréstimo. Reprodução
de normas vigentes ou
com elas consentâneas. Vício afastado.
2. Iniciativa por
empréstimo. Afinidade
lógica com PL
encaminhado pelo
Executivo. Vício afastado.
3. Estruturação do
Sistema Nacional de
Armas. Vício afastado.
Supressão da iniciativa
reservada sobre
―estrutura‖ e
―organização‖. EC n. 32/01.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI
10.826/2003. ESTATUTO DO DESARMAMENTO.
INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL AFASTADA.
INVASÃO DA COMPETÊNCIA RESIDUAL DOS ESTADOS.
INOCORRÊNCIA. DIREITO DE PROPRIEDADE.
INTROMISSÃO DO ESTADO NA ESFERA PRIVADA
DESCARACTERIZADA. PREDOMINÂNCIA DO INTERESSE
PÚBLICO RECONHECIDA. OBRIGAÇÃO DE RENOVAÇÃO
PERIÓDICA DO REGISTRO DAS ARMAS DE FOGO.
DIREITO DE PROPRIEDADE, ATO JURÍDICO PERFEITO E
DIREITO ADQUIRIDO ALEGADAMENTE VIOLADOS.
ASSERTIVA IMPROCEDENTE. LESÃO AOS PRINCÍPIOS
CONSTITUCIONAIS DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA E DO
DEVIDO PROCESSO LEGAL. AFRONTA TAMBÉM AO
PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE. ARGUMENTOS NÃO
ACOLHIDOS. FIXAÇÃO DE IDADE MÍNIMA PARA A
AQUISIÇÃO DE ARMA DE FOGO. POSSIBILIDADE.
REALIZAÇÃO DE REFERENDO. INCOMPETÊNCIA DO
CONGRESSO NACIONAL. PREJUDICIALIDADE. AÇÃO
JULGADA PARCIALMENTE PROCEDENTE QUANTO À
PROIBIÇÃO DO ESTABELECIMENTO DE FIANÇA E LIBERDADE PROVISÓRIA.
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
I - Dispositivos impugnados que constituem mera reprodução de
normas constantes da Lei 9.437/1997, de iniciativa do Executivo,
revogada pela Lei 10.826/2003, ou são consentâneos com o que
nela se dispunha, ou, ainda, consubstanciam preceitos que guardam
afinidade lógica, em uma relação de pertinência, com a Lei
9.437/1997 ou com o PL 1.073/1999, ambos encaminhados ao
Congresso Nacional pela Presidência da República, razão pela qual não se caracteriza a alegada inconstitucionalidade formal.
II - Invasão de competência residual dos Estados para legislar sobre
segurança pública inocorrente, pois cabe à União legislar sobre matérias de predominante interesse geral.
III - O direito do proprietário à percepção de justa e adequada
indenização, reconhecida no diploma legal impugnado, afasta a
alegada violação ao art. 5º, XXII, da Constituição Federal, bem como ao ato jurídico perfeito e ao direito adquirido.
IV - A proibição de estabelecimento de fiança para os delitos de
"porte ilegal de arma de fogo de uso permitido" e de "disparo de
arma de fogo", mostra-se desarrazoada, porquanto são crimes de
mera conduta, que não se equiparam aos crimes que acarretam lesão ou ameaça de lesão à vida ou à propriedade.
V - Insusceptibilidade de liberdade provisória quanto aos delitos
elencados nos arts. 16, 17 e 18. Inconstitucionalidade reconhecida,
visto que o texto magno não autoriza a prisão ex lege, em face dos
princípios da presunção de inocência e da obrigatoriedade de
fundamentação dos mandados de prisão pela autoridade judiciária competente.
VI - Identificação das armas e munições, de modo a permitir o
rastreamento dos respectivos fabricantes e adquirentes, medida que não se mostra irrazoável.
VII - A idade mínima para aquisição de arma de fogo pode ser
estabelecida por meio de lei ordinária, como se tem admitido em outras hipóteses.
VIII - Prejudicado o exame da inconstitucionalidade formal e
material do art. 35, tendo em conta a realização de referendo. IX -
Ação julgada procedente, em parte, para declarar a
inconstitucionalidade dos parágrafos únicos dos artigos 14 e 15 e
do artigo 21 da Lei 10.826, de 22 de dezembro de 2003.
ADI 3.114,
SP
Rel. Carlos Britto,
j. em 24-8-05
Emenda parlamentar.
1. Estatuto do Magistério
Estadual. Vício afastado.
Aumento de receita e
impertinência temática
não configurados.
Alteração de composição
de Comissão de Gestão da Carreira. Legitimidade.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
IMPUGNAÇÃO DO PARÁGRAFO ÚNICO DO ARTIGO 25 E
DO CAPUT DO ARTIGO 46 DA LEI COMPLEMENTAR Nº
836, DE 02 DE DEZEMBRO DE 1997. DIPLOMA NORMATIVO
QUE INSTITUIU O PLANO DE CARREIRA, VENCIMENTOS E
SALÁRIOS DOS SERVIDORES PÚBLICOS INTEGRANTES
DO QUADRO DO MAGISTÉRIO DA SECRETARIA DE
EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO. ALEGAÇÃO DE
DESRESPEITO AOS INCISOS IV E VI DO ARTIGO 84 DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1998, BEM COMO AO
PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DE PODERES (ART. 2º DA C.F.).
- As normas constitucionais de processo legislativo não
impossibilitam, em regra, a modificação, por meio de emendas
parlamentares, dos projetos de lei enviados pelo Chefe do Poder
Executivo no exercício de sua iniciativa privativa. Essa atribuição
do Poder Legislativo brasileiro esbarra, porém, em duas limitações:
a) a impossibilidade de o parlamento veicular matérias diferentes
das versadas no projeto de lei, de modo a desfigurá-lo; e b) a
impossibilidade de as emendas parlamentares aos projetos de lei de
iniciativa do Presidente da República, ressalvado o disposto nos §§
3º e 4º do art. 166, implicarem aumento de despesa pública (inciso I
do art. 63 da CF). No caso, a Lei Complementar nº 836/97 é fruto
de um projeto de lei de autoria do próprio Governador do Estado de
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
São Paulo e o impugnado parágrafo único do artigo 25, embora
decorrente de uma emenda parlamentar, não acarreta nenhum
aumento da despesa pública. Vício de inconstitucionalidade que não se verifica.
- O artigo 46 da Lei Complementar nº 836/97 dispõe que, na
hipótese de o deslocamento do servidor público ocorrer sem
prejuízo remuneratório, caberá ao Município ressarcir ao Estado os
valores pagos ao agente estatal cedido, bem como os encargos
sociais correspondentes. Tudo a ser feito com recursos provenientes
do repasse do Fundo de Desenvolvimento e Manutenção do Ensino
Fundamental. Caso em que se reconhece ofendida a autonomia
municipal para aplicar livremente as suas rendas (CF, art. 18).
- Ação direta julgada parcialmente procedente para declarar a
inconstitucionalidade da expressão "Na hipótese de o afastamento
ocorrer sem prejuízo de vencimentos, o Município ressarcirá ao
Estado os valores referentes aos respectivos contra-cheques, bem
como encargos sociais correspondentes, com recursos provenientes
do repasse do Fundo de Desenvolvimento e Manutenção do Ensino
Fundamental", constante do art. 46 da Lei Complementar nº 836/97, do Estado de São Paulo.
ADI 3.175,
AP
Rel. Gilmar Mendes,
j. em 17-5-07
Iniciativa parlamentar.
R.J.: jornada de trabalho:
profissionais da área da saúde. Vício reconhecido.
Ação Direta de Inconstitucionalidade. 1. Servidor público. Jornada
de trabalho. Enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem. 2.
Princípio da separação de poderes. 3. Vício de iniciativa.
Competência privativa do Chefe do Poder Executivo. 4.
Precedentes. 5. Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada procedente.
Arq.
ADI 3.177,
AP
Rel. Joaquim Barbosa
j. em 2-3-05
Emenda parlamentar.
Aumento de despesa.
Ampliação de gratificação.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. PROCESSO
LEGISLATIVO. LEI 645/2002 DO ESTADO DO AMAPÁ.
EMENDA PARLAMENTAR. HIPÓTESE VEDADA PELA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL, ART. 63, I. OBSERVÂNCIA OBRIGATÓRIA PELOS ESTADOS-MEMBROS.
É inconstitucional norma que seja resultante de emenda
parlamentar a projeto de lei iniciado pelo Poder Executivo e que
amplie hipóteses de recebimento de gratificação por servidores
públicos estaduais. Precedentes.
Ação julgada procedente, para declarar a inconstitucionalidade dos
arts. 2º e 5º da Lei 645/2002 do Amapá, decorrentes da rejeição de veto do governador do estado.
Arq.
ADI 3.180,
AP
Rel. Joaquim Barbosa,
j. em 17-5-07
Iniciativa parlamentar.
Serviço a ser implantado:
dever do Executivo de
instituir e organizar.
Sistema de Avaliação de
Satisfação de Usuários de
Serviços Públicos. Vício acolhido.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. VÍCIO DE
INICIATIVA. COMPETÊNCIA DO PODER EXECUTIVO. PEDIDO DEFERIDO.
Lei nº 781, de 2003, do Estado do Amapá que, em seus arts. 4º, 5º e
6º, estabelece obrigações para o Poder Executivo instituir e
organizar sistema de avaliação de satisfação dos usuários de serviços públicos.
Inconstitucionalidade formal, em virtude de a lei ter-se originado de
iniciativa da Assembléia Legislativa. Processo legislativo que
deveria ter sido inaugurado por iniciativa do Governador do Estado (CF, art. 61, § 1º, II, e).
Ação direta julgada procedente.
Arq.
ADI 3.205,
MS,
Rel.
Sepúlveda
Pertence,
j. em 19-10-06.
Iniciativa parlamentar.
Direito tributário. Sistema
estadual de Previdência:
isenção de contribuição
de aposentados e
pensionistas. Vício afastado.
I. Ação direta de inconstitucionalidade: L. est. 2.207/00, do Estado
do Mato Grosso do Sul (redação do art. 1º da L. est. 2.417/02), que
isenta os aposentados e pensionistas do antigo sistema estadual de
previdência da contribuição destinada ao custeio de plano de saúde dos servidores Estado: inconstitucionalidade declarada.
II. Ação direta de inconstitucionalidade: conhecimento. 1. À vista
do modelo dúplice de controle de constitucionalidade por nós
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
adotado, a admissibilidade da ação direta não está condicionada à
inviabilidade do controle difuso. 2. A norma impugnada é dotada
de generalidade, abstração e impessoalidade, bem como é independente do restante da lei.
III. Processo legislativo: matéria tributária: inexistência de reserva
de iniciativa do Executivo, sendo impertinente a invocação do art.
61, § 1º, II, b, da Constituição, que diz respeito exclusivamente aos
Territórios Federais.
IV. Seguridade social: norma que concede benefício: necessidade
de previsão legal de fonte de custeio, inexistente no caso (CF, art. 195, § 5º): precedentes.
ADI 3.225,
RJ,
Rel. Cezar Peluso,
j. em 17-9-07
Poder Constituinte
Decorrente.
Serviço Público. Vedação
de concessão de
gratuidades por lei sem a
indicação da
correspondente fonte de
custeio. Vício afastado. Vício afastado.
INCONSTITUCIONALIDADE. Ação direta. Art. 112, § 2º, da
Constituição do Estado do Rio de Janeiro. Serviço público.
Prestação indireta. Contratos de concessão e permissão. Proposta
legislativa de outorga de gratuidade, sem indicação da
correspondente fonte de custeio. Vedação de deliberação.
Admissibilidade. Inexistência de ofensa a qualquer cláusula
constitucional. Autolimitação legítima do Poder Legislativo
estadual. Norma dirigida ao regime de execução dos contratos em
curso. Ação julgada improcedente. Voto vencido. É constitucional
o disposto no art. 112, § 2º, da Constituição do Estado do Rio de Janeiro.
Arq.
ADI 3.232,
TO,
Rel. Cezar Peluso,
j. em 14-8-08.
Delegação legislativa
imprópria
Servidor Público: criação
de cargos, atribuições e
remuneração.
Transferência ao
Executivo. Violação ao princípio da reserva legal.
1. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. Condição.
Objeto. Decreto que cria cargos públicos remunerados e estabelece
as respectivas denominações, competências e remunerações.
Execução de lei inconstitucional. Caráter residual de decreto
autônomo. Possibilidade jurídica do pedido. Precedentes. É
admissível controle concentrado de constitucionalidade de decreto
que, dando execução a lei inconstitucional, crie cargos públicos
remunerados e estabeleça as respectivas denominações, competências, atribuições e remunerações.
2. INCONSTITUCIONALIDADE. Ação direta. Art. 5° da Lei n°
1.124/2000, do Estado do Tocantins. Administração pública.
Criação de cargos e funções. Fixação de atribuições e remuneração
dos servidores. Efeitos jurídicos delegados a decretos do Chefe do
Executivo. Aumento de despesas. Inadmissibilidade. Necessidade
de lei em sentido formal, de iniciativa privativa daquele. Ofensa aos
arts. 61, § 1°, inc. II, "a", e 84, inc. VI, "a", da CF. Precedentes.
Ações julgadas procedentes. São inconstitucionais a lei que
autorize o Chefe do Poder Executivo a dispor, mediante decreto,
sobre criação de cargos públicos remunerados, bem como os decretos que lhe dêem execução.
Arq.
ADI 3.254,
ES,
Rel. Ellen Gracie,
j. em 16-11-05
Iniciativa parlamentar.
Organização: atribuições.
Iniciativa reservada. Reserva de decreto.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI 7.755,
DE 14.05.04, DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. TRÂNSITO.
INVASÃO DA COMPETÊNCIA LEGISLATIVA DA UNIÃO
PREVISTA NO ART. 22, XI, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
INICIATIVA DO CHEFE DO PODER EXECUTIVO.
USURPAÇÃO. ARTS. 61, § 1º, II, E E 84, VI, DA CARTA MAGNA.
1. É pacífico nesta Corte o entendimento de que o trânsito é matéria
cuja competência legislativa é atribuída, privativamente, à União,
conforme reza o art. 22, XI, da Constituição Federal. Precedentes:
ADI 2.064, rel. Min. Maurício Corrêa e ADI 2.137-MC, rel. Min. Sepúlveda Pertence.
2. O controle da baixa de registro e do desmonte e comercialização
de veículos irrecuperáveis é tema indissociavelmente ligado ao
trânsito e a sua segurança, pois tem por finalidade evitar que
unidades automotivas vendidas como sucata - como as sinistradas
com laudo de perda total - sejam reformadas e temerariamente
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
reintroduzidas no mercado de veículos em circulação.
3. É indispensável a iniciativa do Chefe do Poder Executivo
(mediante projeto de lei ou mesmo, após a EC 32/01, por meio de
decreto) na elaboração de normas que de alguma forma remodelem
as atribuições de órgão pertencente à estrutura administrativa de determinada unidade da Federação.
4. Ação direta cujo pedido se julga procedente.
ADI 3.362,
BA
Rel.
Sepúlveda Pertence
p/ac. Marco
Aurélio,
j. em 30-8-07
Poder Constituinte
Decorrente.
Limite de
desembargadores em
Constituição estadual
viola a iniciativa
reservada do TJ para disciplinar a questão.
PODER - PRERROGATIVA - TRIBUNAL DE JUSTIÇA -
COMPOSIÇÃO. Vulnera a Constituição Federal norma de Carta
estadual que preveja limite de cadeiras no Tribunal de Justiça,
afastando a iniciativa deste quanto a projeto de lei visando à alteração.
Arq.
ADI 3.394, AM,
Rel. Eros
Grau,
j. em 2-4-07
Iniciativa parlamentar.
Serviços: implementação
(dever já reconhecido).
Testes de paternidade e
maternidade. Vício afastado.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGOS
1º, 2º E 3º DA LEI N. 50, DE 25 DE MAIO DE 2.004, DO
ESTADO DO AMAZONAS. TESTE DE MATERNIDADE E
PATERNIDADE. REALIZAÇÃO GRATUITA. EFETIVAÇÃO
DO DIREITO À ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA. LEI DE
INICIATIVA PARLAMENTAR QUE CRIA DESPESA PARA O
ESTADO-MEMBRO. ALEGAÇÃO DE
INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL NÃO ACOLHIDA.
CONCESSÃO DEFINITIVA DO BENEFÍCIO DA
ASSISTÊNCIA JUDICÁRIA GRATUITA. QUESTÃO DE
ÍNDOLE PROCESSUAL. INCONSTITUCIONALIDADE DO
INCISO I DO ARTIGO 2º. SUCUMBÊNCIA NA AÇÃO
INVESTIGATÓRIA. PERDA DO BENEFÍCIO DA
ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA.
INCONSTITUCIONALIDADE DO INCISO III DO ARTIGO 2º.
FIXAÇÃO DE PRAZO PARA CUMPRIMENTO DA DECISÃO
JUDICIAL QUE DETERMINAR O RESSARCIMENTO DAS
DESPESAS REALIZADAS PELO ESTADO-MEMBRO.
INCONSTITUCIONALIDADE DO INCISO IV DO ARTIGO 2º.
AFRONTA AO DISPOSTO NO ARTIGO 61, § 1º, INCISO II,
ALÍNEA "E", E NO ARTIGO 5º, INCISO LXXIV, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL .
1. Ao contrário do afirmado pelo requerente, a lei atacada não cria
ou estrutura qualquer órgão da Administração Pública local. Não
procede a alegação de que qualquer projeto de lei que crie despesa
só poderá ser proposto pelo Chefe do Executivo. As hipóteses de
limitação da iniciativa parlamentar estão previstas, em numerus
clausus, no artigo 61 da Constituição do Brasil --- matérias relativas
ao funcionamento da Administração Pública, notadamente no que se refere a servidores e órgãos do Poder Executivo. Precedentes.
2. Reconhecimento, pelas Turmas desta Corte, da obrigatoriedade
do custeio do exame de DNA pelo Estado-membro, em favor de hipossuficientes.
3. O custeio do exame pericial da justiça gratuita viabiliza o efetivo
exercício do direto à assistência judiciária, consagrado no artigo 5º,
inciso LXXIV, da CB/88.
4. O disposto no inciso I consubstancia matéria de índole
processual --- concessão definitiva do benefício à assistência judiaria gratuita --- tema a ser disciplinado pela União.
5. Inconstitucionalidade do inciso III do artigo 2º que estabelece a
perda do direito à assistência judiciária gratuita do sucumbente na
ação investigatória que tenha sido proposta pelo Ministério Público
e que tenha como suporte o resultado positivo do exame de DNA.
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
Violação do disposto no inciso LXXIV do artigo 5º da Constituição de 1.988.
6. Fixação de prazo para cumprimento da decisão judicial que
determinar o ressarcimento das despesas realizadas pelo Estado-membro. Inconstitucionalidade do inciso IV do artigo 2º.
7. Ação direta julgada parcialmente procedente para declarar
inconstitucionais os incisos I, III e IV, do artigo 2º, bem como a
expressão "no prazo de sessenta dias a contar da sua publicação",
constante do caput do artigo 3º da Lei n. 50/04 do Estado do Amazonas.
ADI 3.403,
SP,
Rel. Joaquim Barbosa,
j. em 18-6-07
Iniciativa parlamentar.
Serviço: organização.
Acompanhamento
preventivo de saúde aos
servidores. Vício reconhecido.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI
10.964/2001, DO ESTADO DE SÃO PAULO. REALIZAÇÃO DE
EXAMES DE SANGUE EM FUNCIONÁRIOS DE EMPRESAS
PÚBLICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO. VÍCIO DE INICIATIVA. COMPETÊNCIA LEGISLATIVA.
Norma que disciplina acompanhamento preventivo de saúde
aplicável exclusivamente a parte do funcionalismo público
estadual. Iniciativa parlamentar. Ofensa ao disposto no art. 61, §1º, c, da Constituição Federal de 1988.
Ação julgada procedente.
Arq.
ADI 3.599,
DF,
Rel. Gilmar Mendes,
j. em 21-5-07
Iniciativa parlamentar.
Remuneração: alteração
do quadro de pessoal da
CD e SF. Ofensa não caracterizada.
Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Leis federais nº
11.169/2005 e 11.170/2005, que alteram a remuneração dos
servidores públicos integrantes dos Quadros de Pessoal da Câmara
dos Deputados e do Senado Federal. 3. Alegações de vício de
iniciativa legislativa (arts. 2º 37, X, e 61, § 1º, II, a, da Constituição
Federal); desrespeito ao princípio da isonomia (art. 5º, caput, da
Carta Magna); e inobservância da exigência de prévia dotação
orçamentária (art. 169, § 1º, da CF). 4. Não configurada a alegada
usurpação de iniciativa privativa do Presidente da República, tendo
em vista que as normas impugnadas não pretenderam a revisão
geral anual de remuneração dos servidores públicos. 5. Distinção
entre reajuste setorial de servidores públicos e revisão geral anual
da remuneração dos servidores públicos: necessidade de lei
específica para ambas as situações. 6. Ausência de violação ao
princípio da isonomia, porquanto normas que concedem aumentos
para determinados grupos, desde que tais reajustes sejam
devidamente compensados, se for o caso, não afrontam o princípio
da isonomia. 7. A ausência de dotação orçamentária prévia em
legislação específica não autoriza a declaração de
inconstitucionalidade da lei, impedindo tão-somente a sua aplicação
naquele exercício financeiro. 8. Ação direta não conhecida pelo
argumento da violação do art. 169, § 1º, da Carta Magna.
Precedentes : ADI 1585-DF, Rel. Min. Sepúlveda Pertence,
unânime, DJ 3.4.98; ADI 2339-SC, Rel. Min. Ilmar Galvão,
unânime, DJ 1.6.2001; ADI 2343-SC, Rel. Min. Nelson Jobim,
maioria, DJ 13.6.2003. 9. Ação direta de inconstitucionalidade
parcialmente conhecida e, na parte conhecida, julgada
improcedente.
Arq.
ADI 3.614,
PR
Rel. Gilmar Mendes,
j. em 20-9-07
Decreto autônomo.
Inconstitucionalidade.
Reserva legal. Desvio de função.
CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. DECRETO N.
1.557/2003 DO ESTADO DO PARANÁ, QUE ATRIBUI A
SUBTENENTES OU SARGENTOS COMBATENTES O
ATENDIMENTO NAS DELEGACIAS DE POLÍCIA, NOS
MUNICÍPIOS QUE NÃO DISPÕEM DE SERVIDOR DE
CARREIRA PARA O DESEMPENHO DAS FUNÇÕES DE
DELEGADO DE POLÍCIA. DESVIO DE FUNÇÃO. OFENSA
AO ART. 144, CAPUT, INC. IV E V E §§ 4º E 5º, DA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. AÇÃO DIRETA JULGADA PROCEDENTE.
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
ADI 3.739,
PR
Rel. Gilmar Mendes,
j. em 17-5-07
Iniciativa parlamentar.
R.J.: Redução de jornada
de trabalho. Vício acolhido.
Ação Direta de Inconstitucionalidade. 1. Servidor público. Jornada
de trabalho. Redução da carga horária semanal. 2. Princípio da
separação de poderes. 3. Vício de iniciativa. Competência privativa
do Chefe do Poder Executivo 4. Precedentes. 5. Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada procedente.
Arq.
ADI 3.751,
SP
Rel. Gilmar Mendes,
j. em 4-6-07
Conselho deliberativo:
Criação e organização no âmbito do P.Executivo
Ação Direta de Inconstitucionalidade. 2. Lei nº 9.162/1995 do
Estado de São Paulo. Criação e organização do Conselho das
Instituições de Pesquisa do Estado de São Paulo - CONSIP. 3.
Estrutura e atribuições de órgãos e Secretarias da Administração
Pública. 4. Matéria de iniciativa privativa do Chefe do Poder Executivo. 5. Precedentes. 6. Ação julgada procedente.
Arq.
ADI 3.946-
MC, MG
Rel. Marco Aurélio
j. em 12-9-07
Emenda parlamentar.
Pertinência temática: modificação substancial.
PROJETO - INICIATIVA - EMENDAS - MODIFICAÇÃO
SUBSTANCIAL. Surge a relevância da matéria veiculada e o risco
de manter-se com plena eficácia o ato normativo questionado
quando encerre alteração substancial, mediante emenda
parlamentar, de projeto reservado a certa iniciativa.
PROJETO - MINISTÉRIO PÚBLICO - EMENDA. Mostra-se
relevante pedido de suspensão de eficácia de diploma legal quando
notada modificação substancial do projeto inicialmente
encaminhado pelo Procurador-Geral de Justiça, a implicar, até mesmo, aumento de despesa.
Arq.
ADI 304, MA
Rel. Marco
Aurélio,
p/ac. Carlos Velloso,
j. em 25-10-95.
Poder Constituinte
Decorrente.
Remuneração:
Vinculação de
remuneração de carreiras
jurídicas.
Impossibilidade.
Usurpação da iniciativa reservada.
CONSTITUCIONAL. SERVIDOR PÚBLICO: CONSTITUIÇÃO
DO ESTADO DO MARANHÃO, § 2º DO ART. 21. LEI 4.983/89,
DO MESMO ESTADO, ARTIGOS 1º E 2º. ISONOMIA DE
VENCIMENTOS. I. - Vinculação de vencimentos entre as carreiras
do Ministério Público e dos Procuradores do Estado, entre as
carreiras do Ministério Público e dos defensores públicos e entre as
carreiras do Ministério Público e dos Delegados de Polícia:
inconstitucionalidade. Precedentes: EADIn's 171-MG e 465-PB. II. - ADIn julgada procedente, em parte.
Arq.
ADI 336-MC,
SE
Rel. Célio Borja,
j. em 24-9-90
Poder Constituinte
Decorrente.
Remuneração:
Vinculação de
remuneração de carreiras
jurídicas.
Impossibilidade.
Usurpação da iniciativa reservada.
- Ação Direta de Inconstitucionalidade. Medida cautelar.
Deferimento em relação aos dispositivos da Constituição do Estado
de Sergipe que a) estipulam hipótese de intervenção do Estado nos
Municípios e b) vinculam o reajuste da remuneração dos servidores
do Poder Judiciario ao dos magistrados. Satisfação, no ponto, dos pressupostos da cautelar. Liminar deferida em parte.
Arq.
ADI 352, SC
Rel.
Sepúlveda
Pertence,
j. em 30-10-
97
Iniciativa parlamentar.
Direito financeiro.
Iniciativa concorrente.
Inaplicabilidade (II, ― b‖).
Previsão de fonte de
custeio: necessidade para eficácia. Vício afastado.
I. Ação direta de inconstitucionalidade: impugnação de norma legal
de vigência restrita ao exercício financeiro em que promulgada:
perda de objeto com a exaustão da vigência, aliás, suspensa por
medida cautelar. II. Pensão por morte: equivalência com os
vencimentos e proventos do servidor falecido estabelecida em lei
ordinária estadual, que, no entanto, é mera explicitação do art. 40, §
5º, da Constituição Federal " norma constitucional auto-aplicável e
de absorção compulsória pelos Estados-membros: conseqüente
inaplicabilidade do art. 195, § 5º, da Constituição da República: jurisprudência do Supremo Tribunal Federal.
Arq.
ADI 352-MC,
SC
Rel. Celso de
Mello,
j. em 29-8-90
Iniciativa parlamentar.
Direito financeiro.
Iniciativa concorrente.
Inaplicabilidade (II, ― b‖).
Previsão de fonte de
custeio: necessidade para eficácia. Vício afastado.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - LIMINAR -
LEI N. 1.119/90 - ESTADO DE SANTA CATARINA -
MATÉRIA FINANCEIRA - ALEGADA USURPAÇÃO DO
PODER DE INICIATIVA DO CHEFE DO EXECUTIVO -
AUSÊNCIA DE PLAUSIBILIDADE JURÍDICA - CRIAÇÃO DE
DESPESA SEM CORRESPONDENTE INDICAÇÃO DA FONTE
DE CUSTEIO TOTAL - SUPOSTA INOBSERVÂNCIA DE
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS ORCAMENTARIOS -
PLAUSIBILIDADE JURÍDICA - "PERICULUM IN MORA" -
SUSPENSÃO CAUTELAR DEFERIDA.
A Constituição Federal de 1988 não reproduziu em seu texto a
norma contida no art. 57, I, da Carta Política de 1969, que atribuía
ao Chefe do Poder Executivo da União a iniciativa de leis
referentes à matéria financeira, o que impede, agora, vigente um
novo ordenamento constitucional, a útil invocação da
jurisprudência que se formou, anteriormente, no Supremo Tribunal
Federal, no sentido de que tal constituía princípio de observância necessária, e de compulsória aplicação, pelas unidades federadas.
- Reveste-se de plausibilidade jurídica, no entanto, a tese,
sustentada em ação direta, de que o legislador estadual,
condicionado em sua ação normativa por princípios superiores
enunciados na constituição federal, não pode, ao fixar a despesa
pública, autorizar gastos que excedam os créditos orçamentários ou
adicionais, ou omitir-lhes a correspondente fonte de custeio, com a
necessária indicação dos recursos existentes. A potencialidade
danosa e a irreparabilidade dos prejuízos que podem ser causados
ao estado-membro por leis que desatendam a tais diretrizes
justificam, ante a configuração do "periculum in mora" emergente,
a suspensão cautelar do ato impugnado.
ADI 4.062-
MC, SC
Rel. Joaquim Barbosa
j. em 4-6-08
Emenda Parlamentar.
Aumento de despesa.
Iniciativa do TJ.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. MEDIDA
CAUTELAR. LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL.
INICIATIVA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA ESTADUAL.
EMENDA PARLAMENTAR. AUMENTO DE DESPESA.
INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL. FUMUS BONI IURIS
E PERICULUM IN MORA. CAUTELAR DEFERIDA.
A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que gera
inconstitucionalidade formal a emenda parlamentar a projeto de lei
de iniciativa do Tribunal de Justiça Estadual que importa aumento de despesa. Precedentes.
Medida cautelar deferida.
Arq.
ADI 4.075-
MC, SC
Rel. Joaquim Barbosa
j. em 4-6-08
Emenda Parlamentar.
Aumento de despesa. Iniciativa do TJ.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. MEDIDA
CAUTELAR. LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL.
INICIATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL.
EMENDA PARLAMENTAR. AUMENTO DE DESPESA.
INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL. FUMUS BONI IURIS E PERICULUM IN MORA. CAUTELAR DEFERIDA.
A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que gera
inconstitucionalidade formal a emenda parlamentar a projeto de lei
de iniciativa do Ministério Público Estadual que importa aumento de despesa. Precedentes.
Medida cautelar deferida.
Arq.
MI 153-AgR,
DF
Rel. Paulo Brossard,
j. em 14-3-90
Omissão inconstitucional.
Norma sujeita à iniciativa
reservada. Legitimidade passiva do MI: Executivo.
AGRAVO REGIMENTAL.
Mandado de Injunção. Ilegitimidade passiva do presidente do
senado federal se a iniciativa da lei e da alçada privativa do presidente da republica (CF arts. 37, VIII, e 61, paragrafo 1, II, 'c').
Concurso público. Candidata reprovada. A exigência de caráter
geral, de aprovação em concurso, não pode ser afastada nem
mesmo pela reserva de 'percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência' (CF, ART. 37, II E VIII).
Arq.
MS 22.644, DF,
Rel. p/o ac.
Ilmar Galvão,
j. em 1º-9-99.
Resolução Legislativa.
Remuneração de
servidores. Reserva legal.
Inconstitucionalidade.
ADMINISTRATIVO. PROCESSO DISCIPLINAR
INSTAURADO PARA APURAÇÃO DE FALTA ATRIBUÍDA A
SERVIDOR INATIVO DO SENADO FEDERAL, NO
EXERCÍCIO DE CARGO DE CONFIANÇA, COM APLICAÇÃO
DA PENA DE CASSAÇÃO DA APOSENTADORIA.
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
COMISSÃO CONSTITUÍDA DE MEMBROS DA REFERIDA
CASA LEGISLATIVA, NA FORMA PREVISTA NO ART. 583
DA RESOLUÇÃO SF Nº 58/72.
As Cartas de 1969 e de 1988 não conferiram poder normativo ao
Senado Federal que o legitimasse a adotar estatuto próprio,
veiculado por meio de resolução, para disciplinar o regime jurídico
de seus servidores, achando-se os funcionários civis dos três
poderes da República submetidos a regime funcional único
instituído por lei que era, ao tempo da edição da referida
Resolução, e continua sendo, de iniciativa privativa do Presidente
da República (art. 57, V, da EC 01/69 e art. 61, § 1º, II, c, da
CF/88).
Acresce que o art. 583 da Resolução SF nº 58/72 tem por
pressuposto falta cometida por pessoa estranha à Administração, no
exercício de cargo de confiança, demissível ad nutum e sujeita, por
isso mesmo, a processo sumário, insuscetível de resultar em
demissão ou cassação da aposentadoria, podendo levar, quando
muito, à destituição do cargo de confiança.
Mandado de segurança deferido para o fim de anular a pena
imposta ao impetrante sem prejuízo de regular renovação do processo.
MS
22.690,DF
Rel. Celso de Mello,
j. em 17-4-97,
DJ de 7-12-
06.
Omissão legislativa.
Remuneração de
servidores. Iniciativa
reservada.
Impossibilidade de
fixação por decisão judicial.
SERVIDOR PÚBLICO - REAJUSTE DE VENCIMENTOS -
OMISSÃO ATRIBUÍDA AO PRESIDENTE DA REPÚBLICA -
PRETENDIDA EXISTÊNCIA, COM BASE NA LEI Nº 7.706/88,
DA OBRIGAÇÃO DE O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
FAZER INSTAURAR O PROCESSO LEGISLATIVO -
IMPOSSIBILIDADE DE MERA LEI ORDINÁRIA IMPOR, EM
CARÁTER OBRIGATÓRIO, AO CHEFE DO EXECUTIVO, O
EXERCÍCIO DO PODER DE INICIATIVA LEGISLATIVA -
INICIATIVA VINCULADA DAS LEIS, QUE SÓ SE JUSTIFICA
EM FACE DE EXPRESSA PREVISÃO CONSTITUCIONAL -
PLEITO QUE BUSCA A FIXAÇÃO, PELO PODER
JUDICIÁRIO, DE PERCENTUAL DE REAJUSTE DE
VENCIMENTOS - INADMISSIBILIDADE - PRINCÍPIO DA
RESERVA DE LEI E POSTULADO DA DIVISÃO FUNCIONAL DO PODER - MANDADO DE SEGURANÇA INDEFERIDO.
A INICIATIVA DAS LEIS - QUE POSSUI MATRIZ
CONSTITUCIONAL - NÃO PODE SER DETERMINADA EM
SEDE MERAMENTE LEGAL.
- A disciplina jurídica do processo de elaboração das leis tem
matriz essencialmente constitucional, pois residem, no texto da
Constituição - e nele somente -, os princípios que regem o
procedimento de formação legislativa, inclusive aqueles que
concernem ao exercício do poder de iniciativa das leis.
- A teoria geral do processo legislativo, ao versar a questão da
iniciativa vinculada das leis, adverte que esta somente se legitima -
considerada a qualificação eminentemente constitucional do poder
de agir em sede legislativa - se houver, no texto da própria
Constituição, dispositivo que, de modo expresso, a preveja. Em
conseqüência desse modelo constitucional, nenhuma lei, no sistema
de direito positivo vigente no Brasil, dispõe de autoridade
suficiente para impor, ao Chefe do Executivo, o exercício compulsório do poder de iniciativa legislativa.
O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA RESERVA DE LEI
FORMAL TRADUZ LIMITAÇÃO AO EXERCÍCIO DA ATIVIDADE JURISDICIONAL DO ESTADO.
- A reserva de lei constitui postulado revestido de função
excludente, de caráter negativo, pois veda, nas matérias a ela
sujeitas, quaisquer intervenções normativas, a título primário, de
órgãos estatais não-legislativos. Essa cláusula constitucional, por
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
sua vez, projeta-se em uma dimensão positiva, eis que a sua
incidência reforça o princípio, que, fundado na autoridade da
Constituição, impõe, à administração e à jurisdição, a necessária
submissão aos comandos estatais emanados, exclusivamente, do legislador.
- Não cabe, ao Poder Judiciário, em tema regido pelo postulado
constitucional da reserva de lei, atuar na anômala condição de
legislador positivo (RTJ 126/48 - RTJ 143/57 - RTJ 146/461-462 -
RTJ 153/765, v.g.), para, em assim agindo, proceder à imposição de
seus próprios critérios, afastando, desse modo, os fatores que, no
âmbito de nosso sistema constitucional, só podem ser
legitimamente definidos pelo Parlamento.
É que, se tal fosse possível, o Poder Judiciário - que não dispõe de
função legislativa - passaria a desempenhar atribuição que lhe é
institucionalmente estranha (a de legislador positivo), usurpando,
desse modo, no contexto de um sistema de poderes essencialmente
limitados, competência que não lhe pertence, com evidente
transgressão ao princípio constitucional da separação de poderes.
RE 134.278,
SP
Rel.
Sepúlveda Pertence,
j. em 27-5-04
Emenda parlamentar.
Remuneração: fixação de
teto salarial por emenda. Vício afastado.
Servidores da Câmara Municipal de Osasco: vencimentos: teto
remuneratório resultante de emenda parlamentar apresentada a
projeto de lei de iniciativa reservada ao Poder Executivo versando
sobre aumento de vencimentos (L. mun. 1.965/87, art. 3º):
inocorrência de violação da regra de reserva de iniciativa (CF/69,
art. 57, parág. único, I; CF/88, art. 63, I)).
A reserva de iniciativa a outro Poder não implica vedação de
emenda de origem parlamentar desde que pertinente à matéria da proposição e não acarrete aumento de despesa: precedentes.
Arq.
RE 140.542,
RJ
Rel. Ilmar Galvão,
j. em 30-9-93
Emenda Parlamentar.
1. Restrições ao poder de emenda.
2. Organização judiciária.
Aumento de despesa: não
ocorrência. Emenda que
versa sobre matéria de
iniciativa concorrente. Vício afastado.
CONSTITUCIONAL. ART. 2º DA LEI Nº 1.509/89-RJ, PELO
QUAL FOI ATRIBUÍDA A COMPETÊNCIA AOS
RESPECTIVOS JUÍZOS DE COGNIÇÃO PARA EXECUÇÃO
DAS SENTENÇAS CRIMINAIS POR ELES PROFERIDAS.
ACÓRDÃO QUE DECLAROU A INCONSTITUCIONALIDADE
DA NORMA, AO FUNDAMENTO DE HAVER ELA
RESULTADO DE EMENDA A PROJETO DE LEI DE
INICIATIVA DO PODER JUDICIÁRIO, NO CURSO DO TRÂMITE LEGISLATIVO.
Decisão insustentável, já que a iniciativa de lei constitui mero
pressuposto objetivo vinculatório do procedimento legislativo, que
se exaure no impulso dado pelo Poder competente, sem o efeito de
reduzir a atuação do Poder Legislativo a uma simples aprovação ou
rejeição.
Caso em que, ademais, a emenda, além de não acarretar aumento de
despesa, versa matéria que não se insere na organização dos
serviços administrativos do Tribunal, encontrando-se afastado, por
isso, o único óbice constitucional que se lhe poderia antepor,
previsto no art. 63, II, da Carta de 1988.
Recurso provido.
Arq.
RE 198.982,
RS
Rel. Ilmar
Galvão,
j. em 5-8-98
Poder Constituinte
Estadual.
Remuneração:
vinculação. Usurpação da
iniciativa reservada. Vício acolhido..
EMENTA: ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL.
CONSTITUIÇÃO ESTADUAL. ART. 29, I, QUE ASSEGURA
AOS SERVIDORES MILITARES VENCIMENTO BÁSICO
NUNCA INFERIOR AO SALÁRIO MÍNIMO FIXADO PELA UNIÃO. INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL.
Dispositivo ofensivo ao princípio da iniciativa legislativa privativa
do Chefe do Poder Executivo, prevista no art. 61, § 1.º, II, a, da
Constituição, corolário do postulado da separação dos poderes, de
observância imperiosa pelos Estados-membros, por instituir
mecanismo de reajuste automático de vencimentos de servidores.
Aliás, a garantia do salário mínimo, quando da edição da norma sob
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
enfoque, ainda não havia sido estendida aos militares, o que
somente ocorreu com a EC n.º 18/98, havendo de entender-se,
entretanto, como referida à remuneração global do servidor, visto
destinar-se a assegurar o atendimento das necessidades vitais
básicas deste, sendo vedada, ademais, sua vinculação para qualquer
fim. Inconstitucionalidade que se declara, no art. 47 da Constituição
do Estado do Rio Grande do Sul, da referência feita ao inciso I do art. 29 da mesma Carta. Recurso conhecido e provido.
RE 229.450,
RJ,
Rel. Maurício Corrêa,
j. em 10-2-00
Poder Constituinte
Estadual.
Regime Jurídico:
nomeação dos aprovados
em concursos públicos.
Fixação de prazo
máximo. Usurpação de
iniciativa reservada. Vício
acolhido.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ADMINISTRATIVO.
ARTIGO 77, VII, DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO RIO
DE JANEIRO: NOMEAÇÃO DE CANDIDATO APROVADO
EM CONCURSO PÚBLICO. PRAZO MÁXIMO CONTADO DA
HOMOLOGAÇÃO DO RESULTADO DO CONCURSO PÚBLICO. INCONSTITUCIONALIDADE.
1. Aprovação em concurso público. Direito subjetivo do candidato
à nomeação, de acordo com a respectiva ordem de classificação e
no prazo de sua validade.
2. Constituição do Estado do Rio de Janeiro, artigo 77, VII.
Provimento de cargo público. Iniciativa reservada ao Chefe do
Executivo para edição de leis que disponham sobre o regime
jurídico dos servidores públicos. Ofensa ao princípio da separação dos poderes: Inconstitucionalidade formal.
Recurso extraordinário conhecido e provido para cassar a
segurança, declarando-se, incidenter tantum, a
inconstitucionalidade do inciso VII do artigo 77 da Constituição do Estado do Rio de Janeiro.
Arq.
RE 266.694-
AgR, RJ
Rel. Eros Grau,
j. em 6-9-05
Emenda parlamentar.
Aumento de despesa.
Servidor público: remuneração
AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR
PÚBLICO. VANTAGEM. EMENDA PARLAMENTAR. AUMENTO DE DESPESA. VÍCIO DE INICIATIVA.
1. A Constituição do Brasil, ao conferir aos Estados-membros a
capacidade de auto-organização e de autogoverno (artigo 25,
caput), impõe a obrigatória observância de vários princípios, entre
os quais o pertinente ao processo legislativo, de modo que o
legislador estadual não pode validamente dispor sobre as matérias
reservadas à iniciativa privativa do Chefe do Executivo. Agravo
regimental não provido.
Arq.
RE 290.776,
MG
Rel. p/ac.
Carlos Velloso,
j. em 2-3-05
Emenda parlamentar.
Aumento de despesa.
Inclusão de benefício a
ex-prefeitos. Vício acolhido.
CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR
PÚBLICO: MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE, MG: EX-PREFEITOS: SUBSÍDIO MENSAL E VITALÍCIO.
I. - Inexistência de direito adquirido à pensão, ou ao subsídio
mensal e vitalício, dado que o benefício foi fruto de lei inconstitucional em virtude de vício de iniciativa.
II. - Confirmação do acórdão recorrido que deu pela
inconstitucionalidade da lei municipal que, decorrente de emenda
apresentada na Câmara Municipal, concedeu aos ex-prefeitos
subsídio mensal e vitalício igual ao de Secretário Municipal e, em
conseqüência, teve como inexistente direito adquirido com base na norma inconstitucional.
III. - R.E. não conhecido.
Arq.
RE 327.621-
AgR, SP
Rel. Carlos Britto,
j. em 21-2-06
Omissão legislativa.
Revisão geral (art. 37 X).
Iniciativa reservada.
Impossibilidade de
fixação por decisão judicial.
AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
SERVIDORES PÚBLICOS DO ESTADO DE SÃO PAULO.
INFLAÇÃO. IRREDUTIBILIDADE DE VENCIMENTOS.
GARANTIA CONSTITUCIONAL DA QUAL NÃO DECORRE O
DIREITO À REVISÃO GERAL DE QUE TRATA O INCISO X
DO ART. 37 DA CARTA DE OUTUBRO (REDAÇÃO
ORIGINÁRIA). NECESSIDADE DE LEI ESPECÍFICA.
IMPOSSIBILIDADE DE O PODER JUDICIÁRIO FIXAR O
Arq.
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ÍNDICE OU DETERMINAR QUE O EXECUTIVO O FAÇA. JURISPRUDÊNCIA DO STF.
A garantia constitucional da irredutibilidade de vencimentos não
autoriza o Poder Judiciário a fixar índice de revisão geral, na forma
do inciso X do art. 37 da Magna Carta (redação originária), dada a
necessidade de lei específica, cujo processo legislativo é de
iniciativa privativa do Chefe do Poder Executivo. Não altera esse
entendimento o suposto fato de as leis específicas editadas pelo
ente federado terem concedido aumentos inferiores aos índices inflacionários apurados no período.
Mesmo que reconheça mora do Chefe do Poder Executivo, o
Judiciário não pode obrigá-lo a apresentar projeto de lei que trate
da revisão geral anual da remuneração dos servidores, prevista no
inciso X do art. 37 da Lei Maior.
Ressalva do entendimento pessoal do Relator.
RE 362.573-
AgR, MG
Rel. Eros Grau,
j. em 26-6-07
Iniciativa parlamentar.
Direito tributário.
Iniciativa concorrente. Vício afastado.
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
MATÉRIA TRIBUTÁRIA. INICIATIVA LEGISLATIVA. 1. A
Constituição de 1988 admite a iniciativa parlamentar na instauração
do processo legislativo em matéria tributária. 2. Agravo regimental a que se nega provimento.
Arq.
RE 397.354-
AgR, SC
Rel. Ellen Gracie,
j. em 18-10-05
Emenda parlamentar.
Aumento de despesa.
Inclusão de benefício a
pensionistas. Vício acolhido.
CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. VIÚVA DE
SERVIDOR. CF/69. RECEBIMENTO DE PENSÃO INTEGRAL.
LEI AUTORIZADORA. REVOGAÇÃO. CONTROLE DIFUSO DE CONSTITUCIONALIDADE.
1. Parágrafo 2º do art. 117 da Lei 6.745/85 do Estado de Santa
Catarina, instituído por emenda parlamentar, que permitia o
pagamento de pensão integral a dependentes de servidor falecido
por causa de doença grave. Aumento de despesa. Vício de
iniciativa. Inconstitucionalidade formal. Precedentes: RE 134.278 e Rp 890.
2. Superada a controvérsia em torno da constitucionalidade da
norma discutida, torna-se prejudicada a questão da existência de
direito adquirido ao recebimento de pensão integral em face de lei posterior que a revogou.
3. Esta Suprema Corte entende que é inviável o controle
concentrado de constitucionalidade de norma já revogada. Se tal
norma, porém, gerou efeitos residuais concretos, o Poder Judiciário
deve se manifestar sobre as relações jurídicas dela decorrentes, por meio do controle difuso. Precedente: ADI 1.436.
4. Art. 40, § 7º, da CF/88. Inaplicabilidade. Discussão referente a proventos recebidos antes da promulgação da atual Constituição.
5. Agravo regimental improvido.
Arq.
RE 451.827-
AgR, RJ,
Rel.
Sepúlveda Pertence,
j. em 28-3-06
Emenda parlamentar.
Caracterização do vício:
necessidade de
comprovação nos autos
de que a norma foi
introduzida através de
emenda parlamentar
1. Recurso extraordinário: descabimento: controvérsia decidida à
luz da L. municipal 1.680/91: alegada violação do art. 40, §§ 4º e
8º, da Constituição Federal que decorreria de má aplicação da lei
local, bem como da equivocada avaliação da prova: incidência das
Súmulas 280 e 279. 2. Princípio da irretroatividade das leis (CF,
art. 5º, XXXVI): não pode ser invocado pela entidade que a tenha
editado: (Súmula 654). 3. Processo legislativo: vício de iniciativa:
ausência, nos autos, de comprovação de que o dispositivo de lei
tido por inconstitucional fora introduzido no projeto de iniciativa
do executivo por emenda parlamentar, que acarretou aumento de
despesa para o Município. 4. Julgamento nos Tribunais:
competência decisória do Relator, nos termos do art. 557, caput, do
C. Pr. Civil. 5. Agravo regimental: necessidade de impugnação de todos os fundamentos da decisão agravada: precedentes.
Arq.
RE 553.231- Omissão legislativa. PROCESSUAL CIVIL. CONSTITUCIONAL. SERVIDOR Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
AgR , RS,
Rel. Ricardo Lewandowski,
j. em 13-11-
07
Revisão geral (art. 37 X).
Iniciativa reservada.
Indenização: descabimento..
PÚBLICO. REVISÃO GERAL ANUAL. COMPETÊNCIA
PRIVATIVA DO CHEFE DO PODER EXECUTIVO.
INDENIZAÇÃO. DESCABIMENTO.
I - A iniciativa para desencadear o procedimento legislativo para a
concessão da revisão geral anual aos servidores públicos é ato
discricionário do Chefe do Poder Executivo, não cabendo ao Judiciário suprir sua omissão.
II - Incabível indenização por representar a própria concessão de
reajuste sem previsão legal.
III - Agravo improvido.
RMS 3.569, SP
Rel. Lafayette
de Andrada,
j. em 3-9-56
Iniciativa parlamentar.
Delegação legislativa
imprópria. Ofensa
―reserva legal‖. Cargos:
criação, atribuições e
vencimento.
DELEGAÇÃO DE PODERES. CRIAÇÃO DE CARGOS
PÚBLICOS, FIXAÇÃO DE ATRIBUIÇÕES E VENCIMENTOS:
É ATRIBUIÇÃO DO LEGISLATIVO QUE NÃO PODE SER
DELEGADA AO EXECUTIVO. ARTS. 20, LETRA D E 43, LETRA G DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE S. PAULO.
Arq.
RMS 9.315,
RJ
Rel. Prado Kelly,
j. em 21-3-66
Poder iniciativa vs. Poder
de deliberação do
Congresso Nacional e do
Executivo.
A ATRIBUIÇÃO, CONFERIDA AOS TRIBUNAIS, DE
PROPOREM AO LEGISLATIVO A CRIAÇÃO E EXTINÇÃO
DE CARGOS EM SEUS SERVIÇOS E A FIXAÇÃO DOS
RESPECTIVOS VENCIMENTOS (NA FORMA DO ART. 97, II,
DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, COM OBSERVANCIA
FORCOSA PELOS ESTADOS, EX VI DO ART. 124, CB, COM
O ART. 7., VII, B) IMPORTA EM 'PODER DE INICIATIVA'
QUE NÃO EXCLUI NEM O 'PODER DE EMENDA' INERENTE
AS FUNÇÕES DA LEGISLATURA, NEM O 'PODER DE
VETO', ESSENCIAL A DINAMICA DO REGIME PRESIDENCIAL.
Arq.
RP 1.051,
GO,
Rel. Moreira Alves,
j. em 2-4-81
Emenda Parlamentar.
Aumento de despesa.
Sanção não convalida o
vício de origem. Inconstitucionalidade.
AUMENTO DA DESPESA PÚBLICA DECORRENTE DE
EMENDA DO PODER LEGISLATIVO A PROJETO
ENCAMINHADO PELO PODER EXECUTIVO. EM FACE DOS
TERMOS DO PARAGRAFO ÚNICO DO ARTIGO 57 DA
EMENDA CONSTITUCIONAL N. 1/69, A SANÇÃO NÃO
MAIS SUPRE A FALTA DE INICIATIVA EXCLUSIVA DO
CHEFE DO PODER EXECUTIVO, NO CASO DE AUMENTO
DA DESPESA PREVISTA. PRECEDENTES DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL. (REPRESENTAÇÃO DE
INCONSTITUCIONALIDADE N. 890). REPRESENTAÇÃO A
QUE SE JULGA PROCEDENTE, DECLARANDO-SE A
INCONSTITUCIONALIDADE DO ARTIGO 6 DA LEI 8.782, DE 18 DE ABRIL DE 1980, DO ESTADO DE GOIAS.
Arq.
RP 1.175,
GO,
Rel. Aldir Passarinho,
j. em 1-2-85
(EC)
Fraude à iniciativa reservada.
INCONSTITUCIONALIDADE - PAR-2. (SEGUNDA PARTE) E
PARAGRAFOS 3. E 4. DO ART-62 DA CONSTITUIÇÃO DO
ESTADO DE GOIAS. FERE O DISPOSTO NO ART-57, V, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL, EMENDA NA CONSTITUIÇÃO
DO ESTADO, QUE NELA INSIRA MATÉRIA PROPRIA DE
LEI ORDINARIA E QUE SEJA DE EXCLUSIVA INICIATIVA
DO GOVERNADOR DO ESTADO, SEM QUE TAL REGRA DO
PROCESSO LEGISLATIVO SEJA ATENDIDA. ENTENDER-SE
DIFERENTEMENTE, SERIA ADMITIR FOSSE
CONTORNADO TAL OBICE, MEDIANTE A INSERÇÃO,
ATRAVÉS DE EMENDA CONSTITUCIONAL, NO TEXTO DA
LEI MAIOR DO ESTADO, DE MATÉRIA PROPRIA DA
LEGISLAÇÃO ORDINARIA, MAS PARA A QUAL FOSSE
PREVISTA AQUELA INICIATIVA EXCLUSIVA.
INCONSTITUCIONALIDADE DA SEGUNDA PARTE DO
PAR-2. DO ART-62 DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE
GOIAS QUE DISPÕE SOBRE PROVIMENTO DO CARGO DE
DELEGADO DE POLICIA. OS PARAGRAFOS 3. E 4. DO ART-
Arq.
Esta pesquisa reflete as opiniões dos seus autores e não do Ministério da Justiça
62 DA CONSTITUIÇÃO GOIANA FEREM O DISPOSTO NA
NORMA GERAL DO ART-13, INC-V, DA LEI BASICA
FEDERAL E ESPECIFICAMENTE MALTRATA A NORMA DO
PAR-4. DO SEU ART-104, AO DISPOR QUE SEJA
ATRIBUIDO AO CARGO DO FUNCIONÁRIO QUE EXERCA
MANDATO ELETIVO, QUANDO DE SEU RETORNO, O
MAIOR NIVEL DE VENCIMENTO OU SALARIO ATRIBUIDO
DENTRO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ESTADUAL OU
MUNICIPAL A QUE ESTIVER VINCULADO (PAR-3.), BEM
COMO, EM DECORRÊNCIA, ESTENDER-SE TAL
VANTAGEM AO SERVIDOR QUE SOMAR UM MANDATO
ELETIVO MUNICIPAL COM OUTRO ESTADUAL OU FEDERAL, CONSECUTIVAMENTE (PAR-4.).