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Sensação e Percepção Sensação e Percepção 3 3

SSensação e Percepçãoensação e Percepção...Sensopercebendo o Mundo a Nosso Redor MÓDULO 8 Enquanto Isabel estava sentada para o jantar de Ação de Graças, seu pai trouxe

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Page 1: SSensação e Percepçãoensação e Percepção...Sensopercebendo o Mundo a Nosso Redor MÓDULO 8 Enquanto Isabel estava sentada para o jantar de Ação de Graças, seu pai trouxe

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Resultados de Aprendizagem para o Capítulo 1

M Ó D U L O 1

RA 1-1 O que é a ciência da psicologia? Os psicólogos no trabalho 5As subáreas da psicologia: a árvore genealógica da psicologia 6Trabalhando em psicologia 9TrabalhoPsi: Assistente social 10

RA 1-2 Quais são as principais especialidades no campo da psicologia?

RA 1-3 Onde os psicólogos trabalham?

M Ó D U L O 2

RA 2-1 Quais são as origens da psicologia? Uma ciência desenvolve-se: o passado, o presente e o futuro 14As raízes da psicologia 14Perspectivas atuais 16Aplicando a psicologia no século XXI: A psicologia é importante 20

As principais questões e controvérsias da psicologia 21A neurociência em sua vida: Lendo os filmes em sua mente 23

Futuro da psicologia 23

RA 2-2 Quais são das principais abordagens na psicologia contemporânea?

RA 2-3 Quais são as principais questões e controvérsias da psicologia?

RA 2-4 O que o futuro da psicologia provavelmente nos reserva?

M Ó D U L O 3

RA 3-1 O que é o método científico? Pesquisa em psicologia 26O método científico 26Pesquisa psicológica 28Pesquisa descritiva 29Pesquisa experimental 32

RA 3-2 Que papel as teorias e hipóteses desempenham na pesquisa psicológica?

RA 3-3 Que métodos de pesquisa os psicólogos utilizam?

RA 3-4 Como os psicólogos estabelecem relações de causa e efeito nos estudos de pesquisa.

M Ó D U L O 4

RA 4-1 Quais são as principais questões confrontadas pelos psicólogos que realizam pesquisa?

Questões cruciais de pesquisa 40A ética da pesquisa 40Explorando a diversidade: Escolhendo participantes que representam o escopo do comportamento humano 41

A neurociência em sua vida: A Importância de usar participantes representativos 42

Animais devem ser usados em pesquisas? 42Ameaças à validade experimental: evitando o viés experimental 43Tornando-se um consumidor informado de psicologia: pensando criticamente sobre a pesquisa 44

Resultados de Aprendizagem para o Capítulo 3

M Ó D U L O 8

RA 8-1 O que é sensação e como os psicólogos a estudam? Sensopercebendo o Mundo a Nosso RedorLimiares absolutos: detectando o que está lá foraLimiares de diferença: percebendo distinções entre estímulosAdaptação sensorial: reduzindo nossas respostas

RA 8-2 Qual é a relação entre um estímulo físico e os tipos de respostas sensoriais que dele resultam?

M Ó D U L O 9

RA 9-1 Quais processos básicos subjazem ao sentido da visão? Visão: Lançando Luz sobre o OlhoIluminando a estrutura do olhoA Neurociência em sua Vida: Vendo a visão no cérebro

Visão de cores e cegueira para cores: o espectro de 7 milhões de cores

RA 9-2 Como vemos as cores?

M Ó D U L O 1 0

RA 10-1 Que papel a orelha desempenha nos sentidos de som, movimento e equilíbrio?

A Audição e os Outros SentidosSentindo o somOlfato e paladarOs sentidos da pele: tato, pressão, temperatura e dorTornando-se um Consumidor Informado de Psicologia: Manejando a dor

Como nossos sentidos interagem

RA 10-2 Como funcionam o olfato e o paladar?

RA 10-3 Quais são os sentidos da pele e como eles se relacionam à experiência de dor?

M Ó D U L O 1 1

RA 11-1 Quais princípios subjazem à nossa organização do mundo visual e nos permitem entender o ambiente?

Organização Perceptual: Construindo Nossa Visão de MundoAs leis de organização da GestaltProcessamento descendente e ascendentePercepção de profundidade: traduzindo 2-D para 3-DConstância perceptualPercepção do movimento: quando o mundo viraAplicando a Psicologia no Século XXI: Será que as pessoas têm um senso interno de direção?

Ilusões perceptuais: os enganos das percepçõesExplorando a Diversidade: Cultura e percepção

RA 11-2 Como somos capazes de perceber o mundo em três dimensões quando nossas retinas são capazes de captar apenas imagens bidimensionais?

RA 11-3 Quais pistas as ilusões visuais oferecem sobre nossa compreensão acerca dos mecanismos perceptuais gerais?

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Prólogo O mistério da visão cegaUm homem cego está andando por um longo corredor cheio de caixas, cadeiras e outros objetos de escritório. O homem, conhecido no meio médico como TN, não faz ideia de que os obstáculos estão ali. Mesmo assim, ele se

desvia de todos, primeiro esgueirando-se entre um cesto de lixo e a parede, depois contornando um tripé de câme-ra, tudo sem saber que fez manobras especiais (de Gelder, 2010, p. 61).

Olhando à frente

Apesar de ser cego – e ele realmente era incapaz de ver no sentido tradicional –, TN é capaz de se orientar muito bem. Ele tem o que se chama visão cega, a capacidade de responder a imagens que seus olhos estão detectando sem perceber que é capaz de ver.

Como pessoas como TN são capazes de detectar visual-mente características de seu ambiente sem estarem conscien-tes de que estão vendo qualquer coisa? No caso de TN, um acidente vascular cerebral (AVC) danificou o córtex visual em seu cérebro, roubando-lhe a visão. Apesar de seus olhos ainda funcionarem com perfeição, seu cérebro perdeu a capacidade de processar as informações visuais que chegam – pelo me-nos conscientemente. Algumas rotas neurais que partem dos olhos vão para outras áreas cerebrais que não o córtex visual e, embora essas áreas não produzam visão consciente, elas pa-recem conferir às pessoas com visão cega a inacreditável ca-pacidade de responder a informações visuais de uma maneira não consciente.

Condições como a cegueira ilustram o quanto depende-mos de nossos sentidos para funcionar normalmente. Nossos sentidos oferecem uma janela para o mundo, proporcionan-do-nos não somente consciência, compreensão e apreciação da beleza do mundo, mas nos alertando para seus perigos. Nossos sentidos nos permitem sentir a brisa mais suave, ver luzes tremeluzentes a quilômetros de distância e ouvir o agra-dável canto de pássaros distantes.

Nos quatro módulos a seguir, analisaremos o campo da psi-cologia que se ocupa dos modos como nossos corpos captam informações por meio dos sentidos e como interpretamos essas informações. Exploraremos tanto a sensação quanto a percep-

ção. A sensação compreende os processos pelos quais nossos órgãos dos sentidos recebem informações do ambiente. A per-cepção é a separação, interpretação, análise e integração dos estímulos realizada pelo cérebro e pelos órgãos dos sentidos.

Embora a percepção represente claramente um passo além da sensação, na prática é às vezes difícil encontrar o li-mite preciso entre as duas. Na verdade, os psicólogos – e tam-bém os filósofos – discutiram por muito tempo sobre a distin-ção. A diferença básica é que a sensação pode ser considerada como o primeiro contato do organismo com um estímulo sensório bruto, ao passo que a percepção é o processo pelo qual ele interpreta, analisa e integra aquele estímulo a outras informações sensoriais.

Por exemplo, se estivéssemos considerando a sensação, poderíamos perguntar sobre a intensidade de um alarme de incêndio que está tocando. Se estivéssemos considerando a percepção, poderíamos perguntar se alguém reconhece o som como um alarme e identifica seu significado.

Para um psicólogo interessado em compreender as cau-sas do comportamento, sensação e percepção são tópicos fundamentais, porque grande parte de nosso comportamen-to é reflexo de como reagimos e interpretamos os estímulos do mundo a nosso redor. As áreas de sensação e percepção tratam de um amplo leque de questões, a saber: como respon-demos às características dos estímulos físicos; que processos nos permitem ver, ouvir e sentir dor; por que ilusões visuais nos enganam e como distinguimos uma pessoa de outra. En-quanto exploramos essas questões, veremos como os senti-dos operam juntos para nos proporcionar uma visão e uma compreensão integrada do mundo.

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Sensopercebendo o Mundo a Nosso Redor

MÓDULO 8

Enquanto Isabel estava sentada para o jantar de Ação de Graças, seu pai trouxe o peru sobre uma bandeja e colocou-o perfeitamente no centro da mesa. O nível de ruído, já alto por conta das con-versas e risadas dos membros da família, aumentou ainda mais. Quando Isabel pegou seu garfo, o aroma do peru chegou até ela, que sentiu sua barriga roncar de fome. A visão e o som de sua família ao redor da mesa, junto aos aromas e sabores da refeição festiva, fizeram Isabel sentir-se mais tranquila do que desde seu ingresso na escola no outono.

Imagine-se nesse ambiente e pense como seria diferente se algum de seus sentidos não es-tivesse funcionando. E se você fosse cego e incapaz de ver os rostos de seus familiares ou o formato convidativo do peru assado? E como seria se você não tivesse o sentido da audi-ção e não pudesse ouvir as conversas dos familiares, ou fosse incapaz de sentir sua barriga roncar, o aroma ou o sabor da comida? Sem dúvida, sua experiência do jantar seria muito diferente da de alguém cujo aparelho sensorial estivesse intacto.

As sensações mencionadas apenas tocam na superfície da experiência sensorial. Em-bora possivelmente você tenha aprendido, como eu, que existem apenas cinco sentidos – visão, audição, paladar, olfato e tato –, essa enumeração é muito modesta. As capacidades sensoriais humanas vão muito além dos cinco sentidos básicos. Por exemplo, somos sensí-veis não apenas ao toque, mas a um conjunto consideravelmente mais amplo de estímulos – dor, pressão, temperatura e vibração, para mencionar apenas alguns. Além disso, a visão tem dois subsistemas – relacionados à visão diurna e noturna –, e a orelha responde a infor-mações que nos permitem não apenas ouvir, mas também manter o equilíbrio.

Para considerar como os psicólogos compreendem os sentidos e, de modo mais amplo, a sensação e a percepção, precisamos primeiramente de um vocabulário adequado. Em ter-mos formais, sensação é a ativação dos órgãos dos sentidos por uma fonte de energia física. Percepção é a classificação, interpretação, análise e integração de estímulos realizada pelos órgãos dos sentidos e pelo cérebro. Um estímulo é qualquer fonte passageira de energia física que produz uma resposta em um órgão dos sentidos.

Os estímulos variam em tipo e intensidade. Diferentes tipos de estímulos ativam dife-rentes órgãos dos sentidos. Por exemplo, podemos diferenciar estímulos luminosos (que ativam o sentido da visão e nos permitem ver as cores de uma árvore no outono) de estímu-los sonoros (os quais, por meio da audição, permitem-nos ouvir os sons de uma orquestra). Além disso, os estímulos diferem de intensidade, relacionando-se com o quão forte precisa ser um estímulo para que ele seja detectado.

As questões de tipo e intensidade do estímulo são consideradas em um ramo da psico-logia denominado psicofísica. Psicofísica é o estudo da relação entre os aspectos físicos dos estímulos e nossa experiência psicológica a respeito deles. A psicofísica desempenhou um papel central no desenvolvimento do campo da psicologia. Muitos dos primeiros psicólogos estudaram questões relacionadas à psicofísica, e ainda existe um grupo ativo de pesquisa-dores em psicofísica (Gardner, 2005; Hock & Ploeger, 2006; Bonezzi, Brendl, & De Angelis, 2011).

Alerta de estudoLembre-se de que sensação refere-se à ativação dos

órgãos dos sentidos (uma resposta física), ao passo que percepção refere-se a como os estímulos são interpretados (uma resposta psicológica).

sensação Ativação dos órgãos dos sentidos por uma fonte de energia física.

percepção Classificação, interpretação, análise e integração de estímulos pelos órgãos dos sentidos e pelo cérebro.

estímulo Energia que produz uma resposta em um órgão sensorial.

psicofísica Estudo da relação entre os aspectos físicos dos estímulos e nossa experiência psicológica a respeito deles.

Resultados de Aprendizagem

RA 8-1 O que é sensação e como os psicólogos a estudam?

RA 8-2 Qual é a relação entre um estímulo físico e os tipos de respostas sensoriais que dele resultam?

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90 Capítulo 3 Sensação e Percepção

Limiares absolutos: detectando o que está lá foraExatamente quando um estímulo se torna forte o suficiente para ser detectado por nossos órgão dos sentidos? A resposta para essa pergunta exige a compreensão do conceito de li-miar absoluto. Um limiar absoluto é a menor intensidade de um estímulo que precisa estar presente para que ele seja detectado (Aazh & Moore, 2007).

A despeito do “absoluto” em limiar absoluto, as coisas não são tão definidas. À medida que a força de um estímulo aumenta, a probabilidade de que ele seja detectado aumenta gradualmente. Tecnicamente, portanto, um limiar absoluto é a intensidade de estímulo que é detectada em 50% das vezes.

Geralmente é necessário um estímulo muito pequeno para produzir uma resposta em nossos sentidos. Por exemplo, o sentido do tato é tão sensível que podemos sentir a asa de uma abelha caindo em nosso rosto quando ela é derrubada de uma distância de um centí-metro. Teste seu conhecimento a respeito dos limiares absolutos de outros sentidos comple-tando o questionário na Figura 1.

Na verdade, nossos sentidos são tão finamente ajustados que poderíamos ter problemas se eles fossem ainda mais sensíveis. Por exemplo, se nossas orelhas fossem ligeiramente mais aguçadas, seríamos capazes de ouvir o som das moléculas do ar atingindo o tímpano – um fenômeno que certamente nos distrairia e até mesmo impediria de ouvir sons externos a nossos corpos.

De fato, os limiares absolutos sobre os quais estivemos conversando são medidos em condições ideais. Normalmente nossos sentidos não são capazes de detectar os estímulos tão bem devido à presença de ruído. Ruído, conforme definido pelos psicofísicos, é a esti-mulação do ambiente que interfere na percepção de outros estímulos. Consequentemente, o ruído não se refere apenas aos estímulos auditivos, como sugere a palavra, mas também a estímulos indesejáveis que interferem em outros sentidos.

limiar absoluto Menor intensidade de um estímulo que precisa estar presente para que ele seja detectado.

Quão sensível você é?Para testar sua consciência das capacidades de nossos sentidos, responda às seguintes perguntas:

1. De que distância a chama de uma vela pode ser vista em uma noite escura sem nuvens:

a. De uma distância de 16 quilômetros

b. De uma distância de 48 quilômetros

2. De que distância é possível ouvir o tique-taque de um relógio em condições de silêncio?

a. De um metro e meio de distância

b. De seis metros de distância

3. Quanto açúcar é necessário para que ele possa ser detectado quando dissolvido em 7,5 litros de água?

a. Duas colheres

b. Uma colher

4. Sobre que área uma gota de perfume pode ser detectada?a. Uma área de 1,5 m x 1,5 m

b. Um apartamento de três peças

Pontuação: Em todas as perguntas, a resposta certa é b, ilustrando a formidável sensibilidade de nossos sentidos.

FIGURA 1 Este teste pode lançar alguma luz so-bre o grau de sensibilida-de dos sentidos humanos. (Forte: Galanter, 1962.)

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Módulo 8 Sensopercebendo o Mundo a Nosso Redor 91

Por exemplo, imagine um grupo de pessoas aglomeradas em uma sala pequena lotada conversando em uma festa. O barulho da multidão torna difícil ouvir as vozes individuais. Nesse caso, as condições de aglomeração seriam consideradas “ruído”, porque estão impe-dindo a sensação em níveis de maior discriminação. Da mesma forma, temos capacidade limitada de nos concentrarmos em vários estímulos simultaneamente.

Limiares de diferença: percebendo distinções entre estímulosVamos supor que você queira escolher as seis melhores maçãs exibidas em um supermer-cado – as maiores, mais vermelhas e mais doces. Uma maneira seria comparar sistemati-camente uma maçã com outra até que restassem apenas algumas tão semelhantes que você não seria capaz de perceber a diferença entre elas. Depois disso, não importaria quais você escolhesse.

Os psicólogos discutiram esse problema de comparação em termos de limiar de dife-rença, o menor nível necessário de estimulação a mais (ou a menos) para sentir que ocorreu uma mudança na estimulação. Portanto, o limiar de diferença é a mínima mudança na esti-mulação necessária para detectar a diferença entre dois estímulos, sendo por isso também chamado de menor diferença perceptível (Nittrouer & Lowenstein, 2007).

O tamanho de um estímulo que constitui a menor diferença perceptível depende da intensidade inicial do estímulo. A relação entre mudanças no tamanho original de um estí-mulo e o grau em que uma mudança será percebida forma uma das leis básicas de psicofísi-ca: a lei de Weber. A lei de Weber afirma que a menor diferença perceptível é uma propor-ção constante da intensidade de um estímulo inicial (em vez de uma quantidade constante).

Por exemplo, Weber constatou que a menor diferença perceptível para peso é 1:50. Consequentemente, é preciso um aumento de uma grama em um peso de 50 gramas para produzir uma diferença perceptível, sendo necessário um aumento de 10 gramas para pro-duzir uma diferença perceptível se o peso inicial fosse de 500 gramas. Em ambos os casos, o mesmo aumento proporcional é necessário para produzir a menor diferença perceptível – 1:5 = 10:500. Da mesma forma, a menor diferença perceptível que distingue alterações de intensidade entre sons é maior para sons que são inicialmente altos do que o é para sons que são inicialmente suaves, mas o aumento proporcional continua sendo o mesmo.

PsicoTecNossa inca-pacidade de nos concen-trarmos em

vários estímulos simulta-neamente é a razão pela qual trocar mensagens pelo celular ao volante é tão perigoso. Um estudo instalou câmeras de vídeo dentro de caminhões e constatou que os motoris-tas tinham 23 vezes mais chances de se envolver em uma colisão enquanto estavam trocando mensa-gens do que quando não estavam fazendo isso.

limiar de diferença (menor diferença perceptível) Menor nível necessário de estimulação acrescentada ou reduzida para sentir que ocorreu uma mudança na estimulação.

lei de Weber Lei básica da psicofísica que afirma que a menor diferença perceptível é uma proporção constante à intensidade de um estímulo inicial (em vez de uma quantidade constante).

Condições de superlotação, sons e imagens podem ser considerados ruído que interfere na sensação. Que outros exemplos de ruído que não seja de nature-za auditiva você é capaz de citar?

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92 Capítulo 3 Sensação e Percepção

A lei de Weber explica porque uma pessoa em um ambiente silencioso se assusta mais com o toque de um telefone do que uma pessoa em um ambiente já barulhento. Para pro-duzir a mesma quantidade de reação em um ambiente barulhento, um toque telefônico teria de se aproximar da intensidade de sinos de catedrais. De modo similar, quando a lua é visível durante o final da tarde, ela parece relativamente escura – porém, contra um céu noturno escuro, ela parece muito brilhante.

Adaptação sensorial: reduzindo nossas respostasVocê entra em uma sala de cinema, e o cheiro de pipoca está em toda parte. Alguns minutos depois, contudo, você mal sente o cheiro. A razão pela qual você se acostuma com o odor é a adaptação sensorial. Adaptação é um ajuste na capacidade sensorial após exposição pro-longada a estímulos invariáveis. A adaptação ocorre quando as pessoas acostumam-se com um estímulo e mudam seu referencial. Em certo sentido, nosso cérebro reduz mentalmente o volume da estimulação que ele está sentindo (Calin-Jageman & Fischer, 2007; Carbon & Ditye, 2011).

Um exemplo de adaptação é a diminuição da sensibilidade que ocorre após exposição repetida a um estímulo forte. Se você ouvisse um som alto repetidas vezes, com o tempo ele começaria a parecer mais suave. Da mesma forma, embora pular para dentro de um lago frio possa ser temporariamente desagradável, com o tempo você provavelmente se acostu-mará com a temperatura.

Esse declínio evidente da sensibilidade a estímulos sensoriais deve-se à incapacidade dos receptores dos nervos sensoriais de disparar mensagens para o cérebro indefinidamen-te. Uma vez que essas células receptoras são mais responsivas a mudanças na estimulação, a estimulação constante não é eficaz na produção de uma reação sustentada (Wark, Lunds-trom, & Fairhall, 2007).

Os julgamentos dos estímulos sensoriais também são afetados pelo contexto em que os julgamentos são feitos. Esse é o caso pelo qual os julgamentos não são feitos isoladamente de outros estímulos, mas em termos da experiência sensorial precedente. Você pode de-monstrar isso para si mesmo fazendo a seguinte experiência simples.

Pegue dois envelopes, um grande e outro pequeno, e coloque 15 moedas em cada um deles. Agora levante o envelope grande, solte-o e levante o envelope pequeno. Qual deles parece pesar mais? A maioria das pessoas relata que o menor é mais pesado, embora, como você sabe, os pesos são praticamente idênticos. A razão para esse erro é que o contexto vi-sual do envelope interfere na experiência sensorial do peso. A adaptação ao contexto de um estímulo (o tamanho do envelope) altera as respostas a outro estímulo (o peso do envelope) (Coren, 2004).

Alerta de estudoLembre-se de que a lei de Weber vale para todo tipo de

estímulo sensorial: visual, auditivo, gustativo, etc.

adaptação Ajuste na capacidade sensorial após exposição prolongada a estímulos invariáveis.

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Módulo 8 Sensopercebendo o Mundo a Nosso Redor 93

Recapitule/avalie/repense

Recapitule

RA 8-1 O que é sensação e como os psicólogos a estudam?• Sensação é a ativação dos órgãos dos sentidos por qual-

quer fonte de energia física. Em contraste, percepção é o processo pelo qual classificamos, interpretamos, anali-samos e integramos estímulos aos quais nossos sentidos são expostos.

RA 8-2 Qual é a relação entre um estímulo físico e os tipos de respostas sensoriais que dele resultam?

• A psicofísica estuda as relações entre a natureza física dos estímulos e as respostas sensoriais que eles evocam.

• O limiar absoluto é a menor quantidade de intensidade física na qual um estímulo pode ser detectado. Sob con-dições ideais, os limiares absolutos são extraordinaria-mente sensíveis, mas a presença de ruído (estímulos do ambiente que interferem em outros estímulos) reduz a capacidade de detecção.

• O limiar de diferença, ou menor diferença perceptível, é a menor alteração necessária no nível de estimulação para sentir que uma mudança ocorreu. Segundo a lei de Weber, a menor diferença perceptível é uma proporção constante da intensidade de um estímulo inicial.

• A adaptação sensorial ocorre quando nos acostumamos a um estímulo constante e mudamos nossa avaliação dele. A exposição repetida a um estímulo resulta em um declínio visível na sensibilidade a ele.

Avalie

1. __________ é a estimulação dos órgãos dos sentidos; __________ é a classificação, interpretação, análise e in-tegração dos estímulos pelos órgãos dos sentidos e pelo cérebro.

2. O termo limiar absoluto refere-se à __________ intensi-dade de um estímulo que precisa estar presente para que ele seja detectado.

3. Weber descobriu que, para que uma diferença entre dois estímulos seja perceptível, os estímulos devem diferir em pelo menos uma proporção __________.

4. Depois de completar a escalada de uma rocha muito di-fícil pela manhã, Carmella achou a escalada da tarde sur-preendentemente fácil. Esse exemplo ilustra o fenômeno de __________.

Repense

1. Você acha que é possível haver sensação sem percepção? É possível haver percepção sem sensação?

2. Da perspectiva de um fabricante: Como você levaria a psicofísica em consideração ao desenvolver novos pro-dutos ou modificar produtos antigos?

Respostas das questões de avaliação1. Sensação, percepção; 2. menor; 3. constante; 4. adaptação.

Termos-chave

sensação p. 89

percepção p. 89

estímulo p. 89

psicofísica p. 89

limiar absoluto p. 90

limiar de diferença (menor diferença perceptível) p. 91

lei de Weber p. 91

adaptação p. 92

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Resultados de Aprendizagem

RA 9-1 Quais processos básicos subjazem ao sentido da visão?

RA 9-2 Como vemos as cores?

Visão: Lançando Luz sobre o Olho

Se, como dizem os poetas, os olhos oferecem uma janela para a alma, eles também nos oferecem uma janela para o mundo. Nossas capacidades visuais permitem-nos admirar e reagir a cenas que variam desde a beleza de um pôr do sol, para a configuração do rosto de um amante, até as palavras escritas nas páginas de um livro.

A visão começa com a luz, a energia física que estimula o olho. A luz é uma forma de ondas de radiação eletromagnética, as quais, como mostra a Figura 1, são medidas em com-primentos de onda. Os tamanhos dos comprimentos de onda correspondem a diferentes tipos de energia. O espectro de comprimentos de onda ao qual os seres humanos são sensí-veis – denominado espectro visual – é relativamente pequeno. Por exemplo, alguns répteis e peixes sentem energias de comprimentos de onda maiores do que as que somos capazes de sentir, e certos insetos sentem energias de comprimentos de onda menores do que as que os seres humanos sentem. Por exemplo, as abelhas são atraídas a flores que refletem raios ultravioletas que os seres humanos não são capazes de detectar.

As ondas de luz provenientes de algum objeto fora do corpo (tais como a da árvore na Fig. 2) são sentidas pelo único órgão capaz de responder ao espectro visível: o olho. Nos-sos olhos convertem a luz para uma forma que pode ser usada pelos neurônios para ser-virem de mensagens para o cérebro. Os próprios neurônios assimilam uma porcentagem relativamente pequena do olho total. A maior parte do olho é um dispositivo mecânico em muitos aspectos semelhante a uma câmera manual que usa filme, como demonstrado na Figura 2.

Apesar das semelhanças entre o olho e a câmera, a visão envolve processos que são muito mais complexos e sofisticados do que os de qualquer câmera. Além disso, depois que a imagem alcança os receptores neuronais do olho, a analogia olho/câmera termina, pois o processamento da imagem visual no cérebro mais se assemelha a um computador do que a uma câmera.

MÓDULO 9

Raios gama Raios X

Raiosultravioleta

Raiosinfraver-melhos

Radares FM TVOndas curtas

AM EletricidadeAC

Comprimento de onda em metros

10–14 10–12 10–10 10–4 10–2 101 102 108104 10610–610–8

400 500 600 700

Azul violeta Verde Amarelo Vermelho

Comprimento de onda em nanômetros (bilionésimos de um metro)

Luz visível

FIGURA 1 O espectro visível – a faixa de comprimentos de onda aos quais as pessoas são sen-síveis – é somente uma pequena parte dos tipos de comprimentos de onda presentes em nosso ambiente. Você considera que é uma vantagem ou uma desvantagem para nossas vidas cotidianas não sermos sensíveis a uma faixa de estímulos visuais mais ampla? Justifique sua resposta.

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Módulo 9 Visão: Lançando Luz sobre o Olho 95

Iluminando a estrutura do olhoO raio de luz refletido pela árvore na Figura 2 primeiro atravessa a córnea, uma janela pro-tetora transparente. A córnea, devido à sua curvatura, desvia (ou refrata) a luz quando esta a atravessa, desempenhando o papel fundamental de focar melhor a luz. Depois de passar pela córnea, a luz atravessa a pupila. Esta é um orifício escuro no centro da íris, a parte co-lorida do olho, que nos seres humanos varia do azul-claro ao castanho-escuro. O tamanho da abertura da pupila depende da quantidade de luz no ambiente. Quanto mais escuro o ambiente, mais a pupila se abre para permitir a entrada de mais luz.

Por que a pupila não estaria totalmente aberta o tempo todo, permitindo que a maior quantidade de luz entre no olho? A resposta está relacionada à física básica da luz. Uma pe-

A lente de uma câmera foca a imagem invertida no filme tal como o cristalino do olho foca as imagens na retina.

Nervo ótico

Fóvea

Retina

Células nãosensoriais da retina

Íris

Córnea

Pupila

Cristalino

Ponto cego

FIGURA 2 Embora a visão humana seja muito mais complicada do que a mais sofisticada câ-mera, em alguns aspectos os processos visuais básicos são análogos aos usados em fotografia. Como no sistema de iluminação automático de uma câmera tradicional não digital, o olho huma-no dilata-se para permitir a entrada de mais luz e contrai-se para bloquear a luz.

Como o sistema automá-tico em uma câmera, a pupila no olho humano expande-se para permitir que entre mais luz (es-querda) e contrai-se para impedir a entrada de luz (direita). Os seres huma-nos podem ajustar suas orelhas para permitir mais ou menos som de maneira semelhante?

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quena pupila aumenta grandemente a gama de distâncias na qual os objetos estão em foco. Com uma pupila aberta de modo pleno, a gama é relativamente pequena, sendo mais difícil distinguir os detalhes. O olho aproveita a luz clara diminuindo o tamanho da pupila e, as-sim, tornando-se mais discriminante. Na luz fraca, a pupila expande-se para nos permitir ver melhor a situação – porém, em detrimento do detalhes visuais. (Talvez um dos motivos pelos quais os jantares à luz de velas sejam considerados românticos seja que a pouca luz impede que vejamos os defeitos físicos do parceiro.)

Depois que a luz atravessa a pupila, ela entra no cristalino, que fica diretamente atrás da pupila. O cristalino desvia os raios de luz para que eles sejam focalizados corretamente na parte posterior do olho. O cristalino focaliza a luz mudando sua própria espessura, um processo denominado acomodação: ele se torna mais achatado ao vermos objetos mais dis-tantes e mais arredondado quando olhamos objetos mais próximos.

Chegando à retina

Tendo atravessado a pupila e o cristalino, a imagem da árvore finalmente chega a seu der-radeiro destino no olho – a retina. É dentro da retina que a energia eletromagnética da luz é convertida em impulsos elétricos para transmissão ao cérebro. Observe que, devido às propriedades físicas da luz, a imagem inverteu-se ao atravessar o cristalino, e ela chega à retina de cabeça para baixo (em relação à sua posição original). Embora possa parecer que essa inversão traria dificuldades para compreender e deslocar-se no mundo, esse não é o caso. O cérebro interpreta a imagem em termos de sua posição original.

A retina consiste em uma fina camada de células nervosas na parte posterior do globo ocular (ver Fig. 3). Existem dois tipos de células receptoras sensíveis à luz na retina. Os nomes que receberam descrevem suas formas: bastonetes e cones. Os bastonetes são cé-lulas receptoras cilíndricas finas altamente sensíveis à luz. Os cones são células receptoras sensíveis à luz geralmente em forma de cone, responsáveis pelo foco nítido e pela percepção de cores, sobretudo em luz clara. Os cones e bastonetes têm distribuição irregular em toda a retina. Os cones estão concentrados na parte da retina chamada fóvea. A fóvea é a região particularmente sensível da retina. Se você quer focar em algo de especial interesse, você automaticamente tentará centrar a imagem na fóvea para vê-la com mais nitidez.

Além de serem estruturalmente diferentes, os cones e bastonetes também desem-penham papéis claramente distintos na visão. Os cones são responsáveis pela percepção focada da cor, sobretudo em situações de iluminação plena; os bastonetes estão relaciona-dos à visão em situações de pouca iluminação, sendo altamente insensíveis à cor e a detalhes tão nítidos como aqueles que os cones são capazes de reconhecer. Os bastonetes desempe-nham um papel fundamental na visão periférica – ver objetos que estão fora do principal centro de foco – e na visão noturna.

Os cones e bastonetes também estão envolvidos na adaptação ao escuro, o fenômeno de se adaptar à luz fraca depois de estar em luz clara. (Pense na experiência de entrar em um cinema escuro e ter dificuldade para encontrar um assento, mas alguns minutos depois poder ver os assentos com clareza.) A rapidez com que a adaptação ocorre depende da taxa de alteração da composição química de bastonetes e cones. Embora os cones atinjam seu maior nível de adaptação em apenas poucos minutos, os bastonetes levam de 20 a 30 mi-nutos para atingir seu nível máximo. O fenômeno oposto – adaptação à luz, ou o processo de se adaptar à luz clara depois da exposição à luz fraca – ocorre com muito mais rapidez, levando apenas em torno de um minuto.

Enviando a mensagem do olho para o cérebro

Quando a luz atinge os bastonetes e cones, ela inicia uma cadeia de eventos que transforma a luz em impulsos neurais que podem ser comunicados ao cérebro. Porém, mesmo antes de a mensagem neural chegar ao cérebro, ocorre uma codificação inicial da informação visual.

retina Parte do olho que converte a energia eletromagnética da luz em impulsos elétricos para transmissão ao cérebro.

bastonetes Células receptoras cilíndricas finas na retina altamente sensíveis à luz.

cones Células receptoras cônicas na retina sensíveis à luz, responsáveis pelo foco nítido e pela percepção da cor, sobretudo em luz clara.

Alerta de estudoLembre-se de que os cones estão relacionados à

visão em cores.

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O que acontece quando a energia luminosa atinge a retina depende em parte de se ela encontra um bastonete ou um cone. Os bastonetes contêm rodopsina, uma substância vermelho-púrpura cuja composição altera-se quimicamente quando energizada pela luz. A substância nos receptores dos cones é diferente, mas os princípios são semelhantes. A es-timulação das células nervosas no olho dispara uma resposta neural que é transmitida para outras células nervosas na retina denominadas células bipolares e células ganglionares.

As células bipolares recebem informações diretamente dos cones e bastonetes e comu-nicam essas informações para as células ganglionares. As células ganglionares coletam e resumem as informações visuais, as quais são, então, retiradas do fundo do globo ocular e mandadas para o cérebro por meio de um feixe de axônios ganglionares denominado nervo ótico.

Quando a abertura para o nervo ótico atravessa a retina, não existem bastonetes ou cones na área, o que cria um ponto cego. Contudo, normalmente, essa ausência de células nervosas não interfere na visão porque você compensa de modo automático a parte ausente de seu campo de visão. (Para encontrar seu ponto cego, ver Fig. 4.)

nervo ótico Feixe de axônios ganglionares que levam informações visuais ao cérebro.

Córnea

Fóvea

Cristalino

Retina

Ondas de luz

Ondasde luzFrente do olho Fundo do olho

Fibras nervosas

Célula ganglionar

Camada de conexão de neurônios

Impulsos parao nervo ótico

Retina

Células receptoras

Célula bipolar Cone Bastonete

FIGURA 3 As células básicas do olho. A luz que entra no olho desloca-se até as células ganglio-nares e bipolares e atinge os bastonetes e cones sensíveis à luz localizados no fundo do olho. Os bastonetes e cones, então, transmitem os impulsos nervosos para o cérebro por meio das células ganglionares e bipolares. (Fonte: Shier, Butler, & Lewis, 2000.)

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98 Capítulo 3 Sensação e Percepção

Uma vez além do olho em si, os impulsos neurais relacionados à imagem percorrem o nervo ótico. Quando o nervo ótico deixa o globo ocular, seu caminho não toma a via mais direta até a parte do cérebro logo posterior ao olho. Em vez disso, os nervos óticos de cada olho encontram-se em um ponto aproximadamente entre os dois olhos – denominado quiasma ótico – onde cada nervo ótico, então, bifurca-se.

Quando o nervo ótico se bifurca, os impulsos nervosos provenientes da metade direita de cada retina são enviados para o lado direito do cérebro, e os impulsos que chegam da me-tade esquerda de cada retina são enviados para o lado esquerdo do cérebro. Contudo, uma vez que a imagem nas retinas é invertida e de cabeça para baixo, essas imagens oriundas da metade direita de cada retina, na verdade, originaram-se no campo de visão à esquerda da pessoa, e as imagens que chegam da metade esquerda de cada retina originaram-se no campo de visão à direita da pessoa (ver Fig. 5).

Processando a mensagem visual

Quando a mensagem visual chega ao cérebro, ela já passou por vários estágios de proces-samento. Um dos locais iniciais são as células ganglionares. Cada célula ganglionar reúne informações de um grupo de cones e bastonetes em determinada área do olho e compara a quantidade de luz que entra no centro daquela área com a quantidade de luz na área ao re-dor dele. Algumas células ganglionares são ativadas pela luz no centro (e escuridão na área circundante). Outras células ganglionares são ativadas onde existe escuridão no centro e luz nas áreas circundantes. O resultado desse processo é maximizar a detecção de variações na luz e na escuridão. A imagem que é repassada para o cérebro, então, é uma versão realçada do estímulo visual real fora do corpo (Kubovy, Epstein, & Gepshtein, 2003; Pearson & Clif-ford, 2005; Lascaratos, Ji, & Wood, 2007; Grünert et al., 2011).

O processamento final de imagens visuais ocorre no córtex visual do cérebro, e é ali que se dão os tipos de processamento mais complexos. Os psicólogos David Hubel e Torsten Wiesel ganharam o Prêmio Nobel em 1981 por sua descoberta de que muitos neurônios no córtex são extraordinariamente especializados, sendo ativados apenas por estímulos visuais de determinada forma ou padrão – processo conhecido como detecção de características.

PsicoTecNovas tecnologias estão ajudando os

cegos a ver. Por exemplo, implantando eletrodos cirurgicamente nos olhos e usando uma câmera acoplada ao nariz e um processador afivelado à cintura, pessoas totalmente cegas são capazes de diferenciar pratos de xícaras e identificar letras grandes.

detecção de características Ativação de neurônios no córtex por estímulos visuais de formas ou padrões específicos.

FIGURA 4 Para encontrar seu ponto cego, feche o olho direito e olhe para a casa mal-assom-brada com o seu olho esquerdo. Você verá o fantasma na periferia de sua visão. Agora, com o olhar fixo na casa, aproxime a página em sua direção. Quando o livro estiver a cerca de trinta centímetros de seu olho, o fantasma irá desaparecer. Nesse momento, a imagem do fantasma está incidindo em seu ponto cego.

Mas observe também, quando a página estiver àquela distância, que, além de o fantasma “desaparecer”, a linha parece correr continuamente pela área onde o fantasma estava antes. Esse simples experimento demonstra como automaticamente compensamos informações que estão faltando usando material próximo para completar o que não vemos. É por isso que você nunca percebe o ponto cego. O que está faltando é substituído pelo que é visto ao lado do ponto cego. Que vantagens essa tendência de fornecer informações ausentes dá aos seres humanos como espécie?

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Eles constataram que algumas células são ativadas somente por linhas de determinada lar-gura, forma ou orientação. Outras células são ativadas somente por estímulos em movimen-to, em oposição a estímulos estáticos (Hubel & Wiesel, 2004; Pelli, Burns, & Farell, 2006; Sebastiani, Castellani, & D’Alessandro, 2011).

Trabalhos mais recentes aumentaram o conhecimento acerca dos modos complexos como informações visuais oriundas de neurônios individuais são combinadas e processa-das. Diferentes partes do cérebro processam os impulsos nervosos em diversos sistemas in-dividuais simultaneamente. Por exemplo, um sistema relaciona-se a formas; outro, a cores; e outros, a movimento, localização e profundidade. Além disso, diferentes partes do cérebro estão envolvidas na percepção de tipos específicos de estímulos, mostrando distinções, por exemplo, entre a percepção de rostos humanos, animais e estímulos inanimados (Winston, O’Doherty, & Kilner, 2006; Werblin & Roska, 2007; Bindemann et al., 2008; Platek & Kemp, 2009).

Se existem sistemas neurais separados para processar informações sobre aspectos es-pecíficos do mundo visual, como todos esses dados são integrados pelo cérebro? O cérebro faz uso de informações referentes a frequência, ritmo e tempo de disparo de determinados conjuntos de células neurais. Além disso, a integração de informações visuais não ocorre em uma única etapa ou local no cérebro, sendo antes um processo que se dá em vários níveis simultaneamente. O resultado final, contudo, é indiscutível: uma visão do mundo à nossa volta (de Gelder, 2000; Macaluso, Frith, & Driver, 2000; Werner, Pinna, & Spillmann, 2007; ver também Fig. 6, A Neurociência em sua Vida).

FIGURA 5 Uma vez que o nervo ótico que vem do olho divide-se no quias-ma ótico, a imagem no olho direito de uma pes-soa é enviada para o lado esquerdo do cérebro e a imagem à esquerda dessa pessoa é transmitida para o lado direito do cérebro. (Fonte: Mader, 2000.)

Trato ótico

Quiasma ótico

Nervo ótico

Campo visual direito

Campo visual esquerdo

Área visual primária do córtex cerebral

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A Neurociência em sua Vida:Vendo a visão no cérebroFIGURA 6 Além de ter neurônios especializados que respondem com mais intensidade a de-terminadas formas, orientações e larguras, nosso cérebro processa as informações provenientes de cada olho separadamente, criando o que chamamos de colunas de dominância. Com as novas técnicas de imagens de ressonância magnética (IRMs), os pesquisadores podem observar a ativi-dade de cada olho com mais precisão. Nessas imagens, podemos ver a variação nas colunas de dominância ocular de três indivíduos. As áreas em cinza claro mostram a resposta de um olho; enquanto as áreas em cinza escuro, a resposta do outro.(Fonte: Shmuel et al., 2010.)

Participante 1 Participante 2 Participante 3

Visão de cores e cegueira para cores: o espectro de 7 milhões de coresEmbora a gama de comprimentos de onda aos quais os seres humanos são sensíveis seja relativamente estreita, ao menos em comparação com o espectro eletromagnético inteiro, a porção à qual somos capazes de responder permite-nos grande flexibilidade ao perceber o mundo. Em nenhuma parte isso fica mais claro do que em termos do número de cores que somos capazes de discernir. Uma pessoa com visão de cores normal é capaz de distinguir nada menos do que 7 milhões de cores diferentes (Bruce, Green, & Georgeson, 1997; Rabin, 2004).

Embora a variedade de cores que as pessoas são em geral capazes de distinguir seja vasta, existem alguns indivíduos cuja capacidade de perceber cor é bastante limitada – os cegos para cores. É interessante que a condição desses indivíduos tenha fornecido algumas das mais importantes pistas para compreender como a visão de cores opera (Neitz, Neitz, & Kainz, 1996; Bonnardel, 2006; Nijboer, te Pas, & van der Smagt, 2011).

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Aproximadamente 7% dos homens e 0,4% das mulheres são cegos para cores. Para a maioria das pessoas com tal condição, o mundo parece bastante desbotado (ver Fig. 7). Os carros vermelhos de bombeiros parecem amarelos, a grama verde parece amarela e as três cores dos semáforos parecem todas amarelas. Na verdade, na forma mais comum de ce-gueira para cores, todos os objetos vermelhos e verdes são vistos como amarelos. Em outros tipos de cegueira para cores, as pessoas são incapazes de detectar a diferença entre amarelo e azul. Nos casos mais extremos, que são bastante raros, as pessoas não percebem absoluta-mente qualquer cor. Para esses indivíduos, o mundo se parece um pouco como a imagem de um televisor preto e branco antigo.

Explicando a visão de cores

Para compreender por que algumas pessoas são cegas para cores, precisamos considerar os fundamentos da visão de cores. Dois processos estão envolvidos. O primeiro é explicado pela teoria tricromática da visão de cores, primeiramente proposta por Thomas Young e ampliada por Hermann von Helmholtz na primeira metade do século XIX. Essa teoria pro-põe que existem três tipos de cones na retina, cada um dos quais responde principalmente a uma faixa específica de comprimentos de onda. Um é mais sensível a cores azul-violeta; outro, a verde; e o terceiro, a amarelo-vermelho (Brown & Wald, 1964). Segundo a teoria tricromática, a percepção de cor é influenciada pela relativa força com que cada um dos três tipos de cones é ativado. Se vemos um céu azul, os cones azul-violeta são predominante-mente acionados, enquanto os outros apresentam menos atividade.  

Entretanto, existem aspectos da visão de cores que a teoria tricromática não explica tão bem. Por exemplo, a teoria não explica o que acontece depois que você olha fixamente para algo como a bandeira mostrada na Figura 8 por cerca de um minuto. Experimente você mesmo e depois olhe para uma página branca vazia: você verá a imagem tradicional da ban-deira dos Estados Unidos em vermelho, branco e azul. Onde havia amarelo, você verá azul e, onde havia verde e preto, verá vermelho e branco.

teoria tricromática da visão de cores Teoria de que existem três tipos de cones na retina e de que cada um deles responde principalmente a uma faixa específica de comprimentos de onda.

(a) (b) (c)

FIGURA 7 Para alguém com visão normal, o balão de ar quente em primeiro plano aparece com zonas em vermelho, laranja, amarelo, verde, azul e violeta bem nítidas, assim como em branco desbotado; o balão em segundo plano é de uma tonalidade brilhante de laranja-vermelho. (b) Uma pessoa com cegueira para verde-vermelho veria a cena em parte (a) como esta, em tons de azul e amarelo. (c) Uma pessoa que é cega para azul-amarelo veria a cena (a), inversamente, em tons de verde e vermelho. (Veja esta imagem colorida nas orelhas deste livro.)

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102 Capítulo 3 Sensação e Percepção

O fenômeno que você acaba de experimentar é chamado de pós-imagem. Ele ocorre porque a atividade na retina continua mesmo quando você não está mais olhando a imagem original. Contudo, ele também demonstra que a teoria tricromática não explica completa-mente a visão de cores. Por que as cores na pós-imagem deveriam ser diferentes daquelas no original?

Como os processos tricromáticos não fornecem uma explicação completa da visão de cores, explicações alternativas foram propostas. De acordo com a teoria do processo opo-nente da visão de cores, primeiramente proposta pelo fisiologista Ewald Hering no século XIX, as células receptoras são unidas em pares, operando em oposição uma à outra. Especi-ficamente, existe um pareamento azul-amarelo, um pareamento vermelho-verde e um pa-reamento preto-branco. Se um objeto reflete luz que contém mais azul do que amarelo, ele estimulará o acionamento das células sensíveis ao azul, simultaneamente desencorajando ou inibindo o acionamento de células receptoras sensíveis ao amarelo – e o objeto parecerá azul. Se, em contraste, uma luz contém mais amarelo do que azul, as células que respondem ao amarelo serão estimuladas a disparar enquanto as azuis são inibidas, e o objeto parecerá amarelo (D. N. Robinson, 2007).

A teoria do processo oponente fornece uma boa explicação para as pós-imagens. Quan-do olhamos fixamente o amarelo na figura, por exemplo, nossas células receptoras para o componente amarelo do pareamento amarelo-azul tornam-se fatigadas e menos capazes de responder a estímulos amarelos. Em contraste, as células receptoras para a parte azul do par não estão cansadas, porque elas não estão sendo estimuladas. Quando olhamos uma superfície branca, a luz que ela reflete normalmente estimularia os receptores amarelos e azuis de forma idêntica. Porém, a fadiga dos receptores amarelos impede que isso aconteça. Eles não respondem temporariamente ao amarelo, o que faz a luz branca parecer azul. Uma vez que as outras cores na figura fazem o mesmo em relação a seus oponentes específicos, a pós-imagem produz as cores opostas – por algum tempo. A pós-imagem dura apenas um curto período tempo, pois a fadiga dos receptores amarelos logo é superada, e a luz branca começa a ser percebida com mais precisão.

Hoje sabemos que tanto os processos oponentes quanto os mecanismos tricromáticos atuam para produzir a visão de cores, mas em diferentes partes do sistema de sensação visual. Os processos tricromáticos operam dentro da própria retina, ao passo que os meca-nismos oponentes funcionam tanto na retina quando em estágios posteriores do processa-mento neuronal (Gegenfurtner, 2003; Chen, Zhou, & Gong, 2004; Baraas, Foster, & Amano, 2006).

teoria do processo oponente da visão de cores Teoria de que células receptoras para cor estão ligadas em pares, operando de forma oposta uma à outra.

Alerta de estudoLembre-se de que existem duas explicações para a visão de cores:

as teorias tricromática e do processo oponente.

FIGURA 8 Olhe fixamente para o ponto nessa bandei-ra por cerca de um minuto e depois para uma folha bran-ca de papel. O que você vê? A maioria das pessoas vê uma pós-imagem que con-verte as cores na figura nas tradicionais vermelho, bran-co e azul da bandeira dos Estados Unidos. Se você ti-ver dificuldade para vê-la na primeira tentativa, pisque uma vez e tente novamente. (Veja esta imagem colorida nas orelhas deste livro.)

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Módulo 9 Visão: Lançando Luz sobre o Olho 103

Recapitule/avalie/repense

Recapitule

RA 9-1 Quais processos básicos subjazem ao sentido da visão?

• A visão depende da sensibilidade à luz, ondas eletro-magnéticas na parte visível do espectro que são refleti-das pelos objetos ou produzidas por uma fonte de ener-gia. O olho molda a luz para formar uma imagem que é transformada em impulsos nervosos e interpretada pelo cérebro.

• Quando a luz entra no olho, ela passa pela córnea, pela pupila e pelo cristalino, chegando finalmente à retina, onde a energia eletromagnética da luz é convertida em impulsos nervosos para transmissão ao cérebro. Esses impulsos deixam o olho via nervo ótico.

• A informação visual reunida por cones e bastonetes é transferida por meio de células bipolares e ganglionares pelo nervo ótico, o qual leva ao quiasma ótico – o ponto onde o nervo ótico se bifurca.

RA 9-2 Como vemos as cores?• A visão de cores parece estar baseada em dois processos

descritos pela teoria tricromática e pela teoria do proces-so oponente.

• A teoria tricromática propõe que existem três tipos de cones na retina, cada um dos quais sensível a uma faixa de cores. A teoria do processo oponente presume pares de diferentes tipos de células no olho que operam em oposição uma à outra.

Avalie

1. A luz que entra no olho primeiro atravessa a __________, uma janela de proteção.

2. A estrutura que converte a luz em mensagens neurais usáveis é chamada de _____________.

3. Uma mulher com olhos azuis poderia ser descrita como tendo pigmento azul em seu/sua _________.

4. Qual é o processo pelo qual a espessura do cristalino se altera a fim de focar a luz corretamente?

5. A sequência correta de estruturas pelas quais a luz pas-sa no olho é __________, _________, _________ e ________.

6. Combine cada tipo de receptor visual com sua função.a. bastonetesb. cones

1. usados para luz fraca, basica-mente insensíveis a cor

2. detectam cor, bons à luz clara 7. A teoria _________ afirma que existem três tipos de co-

nes na retina, cada um dos quais respondendo principal-mente a uma cor diferente.

Repense

1. Se o olho tivesse um segundo cristalino que “desinver-tesse” a imagem que chega à retina, haveria mudanças no modo como as pessoas percebem o mundo?

2. Da perspectiva de um especialista em publicidade: Como você poderia comercializar seus produtos de modo se-melhante ou diferente para pessoas que são cegas para cores em comparação a indivíduos que têm visão nor-mal?

Respostas das questões de avaliação

1. córnea; 2. retina; 3. íris; 4. acomodação; 5. córnea, pupila, cristalino, retina; 6. a-1, b-2; 7. tricromática

Termos-chave

retina p. 96

bastonetes p. 96

cones p. 96

nervo ótico p. 97

detecção de características p. 98

teoria tricromática da visão de cores p. 101

teoria do processo oponente da visão de cores p. 102

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A decolagem foi fácil comparada àquilo que o astronauta estava sentindo agora: o mal do espaço. A náusea e os vômitos constantes foram o suficiente para fazê-lo questionar por que ele tinha se esforçado tanto para tornar-se astronauta. Ainda que tivesse sido avisado de que havia dois terços de chances de que sua primeira experiência no espaço causaria esses sintomas, ele não estava preparado para sentir-se tão doente como estava.

Quer o astronauta deseje ou não voltar imediatamente para a Terra, sua experiência, um grande problema para viajantes no espaço, está relacionada a um processo sensorial básico: o sentido de movimento e equilíbrio. Esse sentido permite que as pessoas conduzam seus corpos pelo mundo e mantenham-se eretas sem cair. Com a audição – o processo pelo qual as ondas sonoras são traduzidas em formas compreensíveis e significativas –, o sentido de movimento e equilíbrio reside na orelha.

Sentindo o somEmbora muitos de nós pensem sobretudo na orelha externa quando falamos da orelha, essa estrutura é somente uma parte simples do todo. A orelha externa atua como um megafo-ne reverso, destinado a captar e levar os sons às estruturas internas da orelha (ver Fig. 1). A localização das orelhas em lados diferentes da cabeça ajuda na localização do som, o pro-cesso pelo qual identificamos a direção da qual um som está vindo. Padrões de ondas no ar entram em cada orelha em tempos ligeiramente diferentes, e o cérebro usa a discrepância como um sinal do ponto de origem do som. Além disso, as duas orelhas externas retardam ou amplificam os sons de determinadas frequências em graus diferentes (Schnupp, Nelken, & King, 2011).

O som é o movimento de moléculas de ar produzido por uma fonte de vibração. Os sons deslocam-se pelo ar em padrões de onda de formato semelhante àqueles que se for-mam na água quando uma pedra é jogada em uma lagoa. Os sons, que chegam à orelha externa na forma de vibrações semelhantes a ondas, são canalizados para dentro do canal auditivo, uma passagem tubular que leva ao tímpano. O tímpano opera como um tambor em miniatura, vibrando quando os sons o atingem. Quanto mais intenso o som, mais o tímpano vibra. Essas vibrações são, então, transferidas para a orelha média, uma câmara diminuta que contém três ossos (o martelo, a bigorna e o estribo) que transmitem vibrações à janela oval, uma membrana delgada que chega à orelha interna. Tendo em vista que mar-telo, bigorna e estribo operam como um conjunto de alavancas, eles não apenas transmitem vibrações, como também aumentam sua força. Além disso, como a abertura para dentro da orelha média (o tímpano) é consideravelmente maior do que a abertura para fora dela (a janela oval), a força das ondas sonoras sobre a janela oval torna-se amplificada. A orelha média, portanto, atua como um minúsculo amplificador mecânico.

A orelha interna é a porção que altera as vibrações do som para uma forma em que elas possam ser transmitidas para o cérebro. (Como veremos, também contém os órgãos que nos permitem localizar nossa posição e determinar como estamos nos movendo no espaço.) Quando o som entra na orelha interna pela janela oval, ele vai para a cóclea, um tubo espi-ralado, semelhante a um caracol, que é preenchido por um líquido que vibra em resposta ao som. No interior da cóclea está a membrana basilar, uma estrutura que atravessa o centro

som Movimento de moléculas de ar produzido por uma fonte de vibração.

tímpano Parte da orelha que vibra quando atingida por ondas sonoras.

cóclea Tubo espiralado, semelhante a um caracol, que é preenchido por um líquido que vibra em resposta ao som.

membrana basilar Estrutura que atravessa o centro da cóclea, dividindo-a em uma câmara superior e uma câmara inferior.

Resultados de Aprendizagem

RA 10-1 Que papel a orelha desempenha nos sentidos de som, movimento e equilíbrio?

RA 10-2 Como funcionam o olfato e o paladar?

RA 10-3 Quais são os sentidos da pele e como eles se relacionam à experiência de dor?

A Audição e os Outros Sentidos

MÓDULO 10

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Módulo 10 A Audição e os Outros Sentidos 105

da cóclea, dividindo-a em uma câmara superior e uma câmara inferior. A membrana basilar é revestida de células ciliadas. Quando as células ciliadas são inclinadas pelas vibrações que entram na cóclea, elas enviam uma mensagem neural para o cérebro (Cho, 2000; Zhou, Liu, & Davis, 2005; Møller, 2011).

Os aspectos físicos do som

Como mencionamos anteriormente, o que chamamos de som é, na verdade, o movimento físico das moléculas de ar em padrões de onda regulares causados por uma fonte vibran-te. Às vezes, é até possível ver essas vibrações: se você já viu um autofalante sem a tela de proteção, você sabe que, ao menos quando as notas mais baixas estão tocando, é possível ver o autofalante mover-se para dentro e para fora. Menos óbvio é o que acontece depois: o autofalante empurra as moléculas do ar formando ondas com o mesmo padrão de seu movimento. Esses padrões de onda logo chegam à orelha, ainda que sua força tenha sido consideravelmente enfraquecida durante sua propagação. Todas as outras fontes que pro-duzem som funcionam essencialmente da mesma forma, desencadeando padrões de ondas que se deslocam pelo ar até a orelha. O ar – ou alguns outros meios, tais como a água – é necessário para fazer as vibrações dos objetos chegarem até nós. Isso explica por que não há som no vácuo.

Podemos ver o autofalante mover-se quando ele está tocando notas baixas por causa de uma característica básica do som denominada frequência. Frequência é o número de ciclos de onda que ocorre em um segundo. Em frequências muito baixas, existem relativamente poucos ciclos por segundo (ver Fig. 2, p. 106). Esses ciclos são visíveis a olho nu como vi-brações no autofalante. Frequências baixas são traduzidas em um som de altura bem baixa. (Altura é a característica que faz os sons parecerem “altos” ou “baixos”.) Por exemplo, a

células ciliadas Células minúsculas que cobrem a membrana basilar e que, quando inclinadas pelas vibrações que chegam à cóclea, transmitem mensagens neurais ao cérebro.

Tímpano

Orelhaexterna

Orelhamédia

Orelhainterna

Pina

Canalauditivo

Tubaauditiva

Estribo

Bigorna

Martelo

Osso do crânioCanais semicirculares

Sistema vestibular

Nervoauditivo

Cóclea

Janela oval(embaixo do estribo)

Tuba auditiva Cóclea “desenrolada”

Cóclea

Cóclcleaea

FIGURA 1 As principais partes da orelha.(Fonte: Brooker et al., 2008, Fig. 45.6.)

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106 Capítulo 3 Sensação e Percepção

frequência mais baixa que os seres humanos são capazes de ouvir é 20 ciclos por segundo. Frequências mais altas são ouvidas como sons de maior altura. No extremo superior do espectro sonoro, as pessoas podem detectar sons com frequências de até 20 mil ciclos por segundo.

Amplitude é uma característica de padrões sonoros que nos permite distinguir sons fortes de suaves. A amplitude é a diferencial entre os picos e vales da pressão do ar em uma onda sonora à medida que ela se desloca pelo ar. Ondas com picos e vales pequenos produzem sons suaves; aquelas com picos e vales relativamente grandes produzem sons intensos.

Somos sensíveis a amplas variações nas amplitudes sonoras. Os sons mais fortes que somos capazes de ouvir são mais de 1 trilhão mais intensos que o som mais fraco que pode-mos ouvir. Essa faixa é medida em decibéis. Quando os sons superam 120 decibéis, eles se tornam dolorosos à orelha humana.

Nossa sensibilidade a frequências diferentes muda com a idade. Por exemplo, à medida que envelhecemos, a faixa de frequências que podemos detectar diminui, particularmente para sons agudos. É por isso que os estudantes às vezes escolhem toques telefônicos muito agudos para seus telefones celulares em ambientes onde o uso de telefone é proibido: o som do toque passa despercebido por seus professores de idade mais avançada (Vitello, 2006) (ver Fig. 3).

Separando as teorias do som. Como nosso cérebro é capaz de separar comprimentos de onda de diferentes frequências e intensidades? Uma pista vem dos estudos da membrana basilar, a área na cóclea que traduz as vibrações físicas em impulsos neurais. Descobriu-se que os sons afetam diferentes áreas da membrana basilar, dependendo da frequência da

Frequência mais baixa(tons mais baixos)

TempoA

mpl

itude

Frequência mais alta(tons mais altos)

FIGURA 2 As ondas so-noras produzidas pelos diferentes estímulos são transmitidas – geralmen-te pelo ar – em padrões distintos, com frequências mais baixas indicadas por menos cristas e vales por segundo.(Fonte: Seeley, Stephens, & Tate, 2000.)

Todas as idades

50-59 anos

40-49 anos

30-39 anos

18-24 anos

Sons agudos

Frequência (de baixa para alta em quilo-hertz)

Nota maisalta no piano

Sons baixosToque de telefone

celular inaudível para a maioria dos adultos

Faixa por grupo etárioFrequências audíveis para sons de até 60 decibéis

2018171615141312111098765432 19

FIGURA 3 Alguns adolescentes selecionam toques de recebimento de mensagem que são inau-díveis para a maioria dos adultos, permitindo o uso de telefones celulares onde é proibido.(Fonte: Vitello, 2006.)

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onda sonora. A parte da membrana basilar mais próxima à janela oval é mais sensível a sons de alta frequência, e a parte mais próxima à extremidade interior da cóclea é mais sensível a sons de baixa frequência. Essa descoberta levou à teoria do lugar da audição, segundo a qual áreas distintas da membrana basilar respondem a frequências diferentes.

Entretanto, a teoria do lugar não explica todos os fatos da audição, pois sons de fre-quência muito baixa ativam neurônios em uma área tão grande da membrana basilar que nenhum local único está envolvido. Consequentemente, foi proposta uma explicação adi-cional para a audição: a teoria da frequência. A teoria da frequência da audição pressupõe que toda a membrana basilar atua como um microfone, vibrando como um todo em res-posta a um som. Segundo essa explicação, os receptores nervosos emitem sinais vinculados diretamente à frequência (o número de cristas de onda por segundo) dos sons aos quais somos expostos, com o número de impulsos nervosos em proporção direta à frequência de um som. Assim, quanto maior a altura de um som (e, portanto, maior a frequência de suas cristas de onda), maior o número de impulsos nervosos que são transmitidos ao cérebro pelo nervo auditivo.

Nem a teoria do lugar nem a teoria da frequência fornecem uma explicação completa para a audição. A teoria do lugar fornece uma explicação melhor para a captação de sons de alta frequência, ao passo que a teoria da frequência explica o que acontece quando sons de baixa frequência são encontrados. Os sons de média frequência incorporam ambos os processos (Hirsh & Watson, 1996; Hudspeth, 2000).

Depois que a mensagem auditiva deixa a orelha, ela é transmitida para o córtex auditivo do cérebro por meio de uma complexa série de interconexões neurais. Quando a mensagem é transmitida, ela é comunicada pelos neurônios que respondem a tipos específicos de sons. Dentro do córtex auditivo, existem neurônios que respondem seletivamente a tipos muito específicos de características sonoras, tais como cliques e assobios. Alguns neurônios res-pondem somente a um padrão específico de sons, tais como um tom contínuo, mas não a um tom intermitente. Além disso, neurônios específicos transferem a informação sobre a localização de um som por meio de seu padrão particular de disparo (Middlebrooks et al., 2005; Wang et al., 2005; Alho et al., 2006).

Se analisássemos a configuração das células no córtex auditivo, descobriríamos que cé-lulas vizinhas são sensíveis a frequências semelhantes. O córtex auditivo, portanto, fornece um “mapa” das frequências sonoras, assim como o córtex visual apresenta uma represen-tação do campo visual. Além disso, devido à assimetria nos dois hemisférios cerebrais (que discutimos no capítulo anterior), as orelhas esquerda e direita processam os sons de manei-ra diferente. A direita reage mais à fala, ao passo que a esquerda responde mais à música (Sininger & Cone-Wesson, 2004, 2006).

A percepção da fala exige que façamos discriminações sutis entre sons que são muito semelhantes em termos de suas propriedades físicas. Além de sermos capazes de compreen-der o que está sendo dito, podemos usar sinais vocais para determinar quem está falando, se a pessoa tem sotaque e qual pode ser sua origem, inclusive seu estado emocional. Essas ca-pacidades ilustram a sofisticação de nosso sentido de audição (Fowler & Galantucci, 2008; Massaro & Chen, 2008; Pell et al., 2009; Ross et al., 2011).

Equilíbrio: os altos e baixos da vida. Diversas estruturas da orelha estão mais relacio-nadas ao sentido de equilíbrio do que à audição. Coletivamente, tais estruturas são conhe-cidas como sistema vestibular, o qual responde à força gravitacional e nos permite manter o equilíbrio, mesmo quando estamos de pé em um ônibus em tráfego intenso.

A principal estrutura do sistema vestibular é formada pelos canais semicirculares da orelha interna (ver Fig. 1, p. 105), as quais consistem em três tubos preenchidos por um líquido que escorre por elas quando a cabeça se mexe, sinalizando movimento rotacional ou angular ao cérebro. A tração sobre o nosso corpo causada pela aceleração do movimento para frente, para trás ou vertical, assim como a constante força da gravidade, é detectada pelos otólitos, cristais minúsculos sensíveis a movimento nos canais semicirculares. Quan-do nos movimentamos, esses cristais mudam como fazem os grãos de areia em uma praia ventosa, contatando as células ciliadas receptoras especializadas nos canais semicirculares.

teoria do lugar da audição Teoria de que distintas áreas da membrana basilar respondem a frequências diferentes.

teoria da frequência da audição Teoria de que toda a membrana basilar atua como um microfone, vibrando como um todo em resposta a um som.

Alerta de estudoCertifique-se de ter compreendido as diferenças entre

as teorias do lugar e da frequência da audição.

canais semicirculares Três estruturas tubulares da orelha interna que contêm um líquido que escorre por elas quando a cabeça se mexe, sinalizando movimento rotacional ou angular ao cérebro.

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108 Capítulo 3 Sensação e Percepção

A inexperiência do cérebro na interpretação de mensagens dos otólitos sem peso é a causa do mal do espaço, comumente experimentado por dois terços de todos os astronautas, men-cionado no início deste módulo (Flam, 1991; Stern & Koch, 1996).

Olfato e paladarAté dar uma mordida em um naco de repolho cru naquela noite de fevereiro..., Raymond Fowler nunca tinha pensando muito sobre o sentido do paladar. O repolho, que fazia parte da massa que ele estava preparando para o jantar da família, tinha um gosto ardente estranho, mas ele não pres-tou muita atenção. Então, alguns minutos depois, sua filha passou-lhe um copo de refrigerante, e ele tomou um gole. “Foi como ácido sulfúrico”, ele disse. “Era como a coisa mais quente que você possa imaginar perfurando sua boca.”

Era evidente que algo estava errado com o sentido gustativo de Fowler. Depois de muitos exames, ficou claro que ele havia danificado os nervos envolvidos em seu sentido gustativo, provavelmente devido a uma infecção viral ou um remédio que estava tomando. (Por sorte, alguns meses depois, seu sentido do paladar havia voltado ao normal.)

Olfato

Embora muitos animais tenham maior capacidade de detectar odores do que nós, o sentido do olfato humano permite-nos detectar mais de 10 mil odores diferentes. Também temos boa memória para odores, sendo que fatos e lembranças – boas e más – há muito esqueci-dos podem ser rememorados com uma simples lufada de um odor associado a eles (Steven-son & Case, 2005; Willander & Larsson, 2006; Schroers, Prigot, & Fagen, 2007).

Resultados de ‘‘testes olfativos’’ indicam que as mulheres costumam ter um melhor sen-tido do olfato do que os homens (Engen, 1987). As pessoas também têm a capacidade de distinguir homens de mulheres com base apenas no olfato. Em um experimento, estudantes com os olhos vendados que foram solicitados a farejar o hálito de um voluntário masculino ou feminino que não podia ser visto foram capazes de distinguir seu sexo com mais sucesso do que ao acaso. As pessoas também podem distinguir emoções de alegria e tristeza sentin-do o odor das axilas, e as mulheres são capazes de identificar seus bebês com base no cheiro

A ausência de peso dos otólitos da orelha produz o mal do espaço na maio-ria dos astronautas.

Mais de mil células recepto-ras, conhecidas como células olfativas, estão espalhadas pela cavidade nasal. As cé-lulas são especializadas para reagir a determinados odo-res. Você acha possível “trei-nar” o nariz para captar um maior número de odores?

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apenas algumas horas depois do nascimento (Doty et al., 1982; Haviland-Jones & Chen, 1999; Fusari & Ballesteros, 2008; Silva, 2011).

O sentido do olfato é despertado quando as moléculas de uma substância entram nas passagens nasais e atingem as células olfativas, os neurônios receptores do nariz, que estão espalhadas pela cavidade nasal. Mais de mil tipos separados de receptores foram identificados nas células olfativas até hoje. Cada um desses receptores é tão especializado que responde somente a uma pequena faixa de odores diferentes. As respostas das células olfativas separa-das são, então, transmitidas ao cérebro, onde elas são combinadas para o reconhecimento de determinado cheiro (Murphy et al., 2004; Marshall, Laing, & Jinks, 2006; Zhou & Buck, 2006).

O olfato também pode atuar como um meio de comunicação oculto para os seres hu-manos. Há muito se sabe que os animais liberam feromônios, substâncias que eles segregam no ambiente que produzem uma reação em outros membros da mesma espécie, permitindo a transmissão de mensagens, tais como disponibilidade sexual. Por exemplo, as secreções vaginais de macacas contêm feromônios que estimulam o interesse sexual dos machos da espécie (Touhara, 2007; Hawkes & Doty, 2009; Brennan, 2011).

O grau em que os feromônios fazem parte da experiência humana continua sendo uma questão aberta. Alguns psicólogos acreditam que os feromônios humanos afetam as respos-tas emocionais, ainda que as evidências sejam inconclusivas. Em primeiro lugar, não está claro qual órgão específico é receptivo aos feromônios. Nos animais, é o órgão vomeronasal no nariz, mas nos seres humanos o órgão parece ser suprimido durante o desenvolvimento fetal (Haviland-Jones & Wilson, 2008; Hummer & McClintock, 2009; Gelstein et al., 2011).

Paladar

O sentido do paladar (gustação) envolve células receptoras que respondem a quatro qua-lidades básicas do estímulo: doce, azedo, salgado e amargo. Também existe uma quinta categoria, um sabor chamado umami, embora haja controvérsia sobre ele se qualificar como um sabor fundamental. Umami é uma palavra japonesa de difícil tradução, ainda que as in-glesas “meaty” ou “savory” aproximem-se dela. Quimicamente, o umami envolve estímulos alimentícios que contêm aminoácidos (as substâncias que formam as proteínas) (McCabe & Rolls, 2007; Erickson, 2008; Nakamura et al., 2011).

Embora a especialização das células receptoras as leve a responder com mais inten-sidade a determinado tipo de sabor, elas também são capazes de responder a outros estí-mulos. Em última análise, todo sabor é simplesmente uma combinação das qualidades do sabor básico, do mesmo modo que as cores primárias mesclam-se formando uma ampla variedade de matizes e tonalidades (Dilorenzo & Youngentob, 2003; Yeomans, Tepper, & Ritezschel, 2007).

As células receptoras para sabor estão localizadas em aproximadamente 10 mil papilas gustativas, que se distribuem pela língua e por outras partes da boca e da garganta. As papi-las gustativas desgastam-se e são substituídas mais ou menos de 10 em 10 dias. Isso é bom, pois se nossas papilas gustativas não se reproduzissem constantemente, perderíamos nossa capacidade de sentir o gosto depois de acidentalmente queimarmos a língua.

O sentido do paladar difere significativamente de uma pessoa para outra, em grande parte como resultado de fatores genéticos. Algumas pessoas, apelidadas de “superdegusta-dores”, são altamente sensíveis ao gosto: elas têm duas vezes mais receptores gustativos do que os “não degustadores”, que são relativamente insensíveis ao sabor. Os superdegustado-res (os quais, por razões desconhecidas, são mais propensos a serem do sexo feminino do que do sexo masculino) acham os doces mais doces, os cremes mais cremosos e os pratos picantes mais picantes, e concentrações mais fracas de sabor são suficientes para satisfazer seus desejos eventuais. Em contrapartida, por não serem tão sensíveis ao sabor, os não de-gustadores podem procurar alimentos relativamente mais doces e mais gordurosos para maximizar o sabor. Em consequência disso, eles podem ser propensos à obesidade (Bar-toshuk, 2000; Snyder, Fast, & Bartoshuk, 2004; Pickering & Gordon, 2006).

Você é um superdegustador? Para descobrir, complete o questionário na Figura 4.

PsicoTecQuando participan-tes do sexo masculino

em um estudo sentiram o odor das lágrimas de mulheres, exames de IRM funcional (IRMf) aponta-ram atividade reduzida nas regiões cerebrais asso-ciadas à excitação sexual. Ao que parece, as lágrimas contêm um sinal químico.

Existem 10 mil papilas gustativas na língua e em outras partes da boca. As papilas desgastam-se e são substituídas a cada 10 dias. O que aconteceria se as papilas não se regene-rassem?

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110 Capítulo 3 Sensação e Percepção

Os sentidos da pele: tato, pressão, temperatura e dor

Começou de forma inocente quando Jennifer Darling machucou seu punho direito durante uma aula de ginástica. Inicialmente parecia uma simples torção. Porém, apesar de o ferimento inicial ter-se curado, a dor ardente torturante não desapareceu. Em vez disso, ela se espalhou para o outro braço e depois para as pernas. A dor, que Jennifer descreveu como semelhante a “um ferro quente sobre o braço”, era insuportável – e nunca passou.

A origem da dor de Darling revelou-se uma condição rara conhecida como síndrome da dis-trofia simpática reflexa ou SDSR. Para uma vítima de SDSR, um estímulo tão suave quanto uma leve brisa ou o toque de uma pena podem produzir dor. Até mesmo a luz do sol ou um ruído alto podem desencadear dor intensa (Coderre, 2011).

Uma dor como a de Darling pode ser arrasadora, mas a ausência de dor pode ser igual-mente ruim. Se você jamais sentisse dor, por exemplo, poderia não perceber que seu braço

FIGURA 4 As línguas não são criadas todas iguais, se-gundo as pesquisadoras da gustação Linda Bartoshuk e Laurie Lucchina. Elas pro-põem que, em vez disso, a intensidade de um sabor experimentado por cer-ta pessoa é determinada pela genética. Esse teste pode ajudar a determinar se você tem pouco paladar, tem paladar mediano ou é um superdegustador.(Fonte: Bartoshuk & Lucchina, 1997.)

ESCALA DO PALADAR

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Quaseindetectável

Fraco

ModeradoForte Muito forte

Sensação mais forteimaginável

Faça o teste do paladar

1. Contagem de papilas gustativas Usando um perfurador de papel, faça um orifício em uma folha de papel encerado. Pincele a parte da frente de sua língua com um cotonete embebido com corante alimentício azul. Encoste o papel encerado na ponta de sua língua, logo à direita do centro. Com uma lanterna e uma lente de aumento, conte o número de círculos cor de rosa, sem coloração. Eles contêm as papilas gustativas2. Sabor doce Enxágue a boca com água antes de degustar cada amostra. Ponha meia xícara de açúcar em uma xícara e depois acrescente água para completar xícara. Molhe a metade da frente de sua língua, inclusive a ponta, com um cotonete embebido na solução. Espere alguns instantes. Classifique a doçura de acordo com a escala abaixo.3. Sabor salgado Coloque duas colheres de sal em uma xícara e acrescente água suficiente para completar a xícara. Repita os passos listados acima, classificando o nível de salinidade da água.4. Sabor condimentado Acrescente uma colher de molho de Tabasco em uma xícara de água. Usando um cotonete embebido, aplique sobre a primeira parte da língua, inclusive a ponta. Mantenha a língua para fora da boca até que a ardência atinja o máximo, depois classifique a ardência de acordo com a escala.

SUPERDEGUSTADORES POUCO PALADARNúmero de papilas gustativas 25 em média 10Classificação doce 56 em média 32Tabasco 64 em média 31

Os degustadores medianos situam-se entre os superdegustadores e os que têm pouco paladar. Bartoshuk e Lucchina não dispõem de dados no momento para avaliar o sal com confiança, mas você pode comparar seus resultados com os de outras pessoas que fizeram o teste.

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Módulo 10 A Audição e os Outros Sentidos 111

havia roçado em uma panela quente e sofreria uma queimadura grave. Da mesma forma, sem o sinal de dor abdominal que geralmente acompanha uma apendicite, seu apêndice poderia posteriormente se romper, espalhando uma infecção fatal por todo o corpo.

Na verdade, todos os nossos sentidos da pele – tato, pressão, temperatura e dor – de-sempenham um papel crucial na sobrevivência, tornando-nos conscientes de possíveis pe-rigos para nosso corpo. A maioria dos sentidos opera por meio de células receptoras nervo-sas localizadas em diversas profundidades em toda a pele, distribuídas irregularmente por todo o corpo. Por exemplo, algumas áreas, tais como as pontas dos dedos, possuem muito mais células receptoras sensíveis ao tato e, como consequência, são notavelmente mais sen-síveis do que outras áreas do corpo (Gardner & Kandel, 2000) (ver Fig. 5).

É provável que o sentido da pele mais amplamente pesquisado seja a dor – e isso por uma boa razão: as pessoas consultam médicos e tomam remédios para dor muito mais do que para outro sintoma ou condição. A dor custa 100 bilhões de dólares por ano só nos Es-tados Unidos (Kalb, 2003; Pesmen, 2006).

A dor é uma resposta a uma grande variedade de diferentes tipos de estímulos. Uma luz muito brilhante pode produzir dor, assim como um som muito alto também pode ser doloroso. Uma explicação é que a dor é resultado de lesão celular; assim, quando uma célula é danificada, qualquer que seja a origem da lesão, ela libera uma substância denominada substância P que transmite mensagens ao cérebro.

Algumas pessoas são mais suscetíveis a dor do que outras. Por exemplo, as mulheres ex-perimentam estímulos dolorosos com mais intensidade do que os homens. Essas diferenças de gênero estão associadas à produção de hormônios relacionados a ciclos menstruais. Além disso, alguns genes estão ligados à experiência de dor, de modo que podemos herdar a sensibilidade à dor (Nielsen et al., 2008; Kim, Clark, & Dionne, 2009; Nielsen, Staud, & Price, 2009).

No entanto, a experiência de dor não é determinada apenas por fatores biológicos. Por exemplo, as mulheres relatam que a dor experimentada no parto é, em certa medida, mode-rada pela alegria da situação. Em contraste, mesmo um estímulo de baixa intensidade pode

sentidos da pele Sentidos de tato, pressão, temperatura e dor.

Alerta de estudoLembre-se de que existem múltiplos sentidos da pele,

incluindo tato, pressão, temperatura e dor.

FIGURA 5 Sensibilidade da pele em diversas áreas do corpo. Quanto menor o limiar médio, mais sen-sível é a parte do corpo. Os dedos e o polegar, os lábios, o nariz, as boche-chas e o hálux são os mais sensíveis. Por que algumas áreas são mais sensíveis do que outras?

Limiar médio (mm)

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

Testa

Nariz

Bochecha

Lábio superior

Ombro

Braço

Antebraço

Mama

Palma

Polegar

1

2

3

4

Costas

Barriga

Coxa

Panturrilha

Sola do pé

Hálux

Ded

os

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112 Capítulo 3 Sensação e Percepção

produzir a percepção de dor forte caso esteja acompanhado de ansiedade (p. ex., durante uma visita ao dentista). Evidentemente, então, a dor é uma resposta perceptual que depende muito de nossas emoções e de nossos pensamentos (Rollman, 2004; Lang, Sorrell, & Rod-gers, 2006; Kennedy et al., 2011).

Segundo a teoria da comporta para controle da dor, determinados receptores nervo-sos na medula espinal levam a áreas específicas do cérebro relacionadas à dor. Quando esses receptores são ativados por causa de uma lesão ou um problema com uma parte do corpo, uma “comporta” para o cérebro é aberta, permitindo-nos experimentar a sensação de dor (Melzack & Katz, 2004).

Entretanto, outro conjunto de receptores neurais pode, quando estimulados, fechar a “comporta” para o cérebro, reduzindo assim a experiência de dor. A comporta pode ser fechada de duas maneiras diferentes. Primeiro, outros impulsos podem sobrepujar as ro-tas nervosas relacionadas à dor, as quais estão espalhadas por todo o cérebro. Nesse caso, estímulos não dolorosos competem e às vezes tomam o lugar da mensagem neural de dor, desligando o estímulo doloroso. Isso explica por que esfregar a pele em torno de um feri-mento (ou mesmo ouvir alguma música) ajuda a reduzir a dor. Os estímulos concorrentes podem sobrepujar os dolorosos (Villemure, Slotnick, & Bushnell, 2003; Somers et al., 2011).

Fatores psicológicos explicam o segundo modo pelo qual uma comporta pode ser fe-chada. Dependendo das emoções em curso, interpretação dos fatos e experiência prévia de um indivíduo, o cérebro pode fechar uma comporta enviando uma mensagem pela medula espinal para a área ferida, o que produz uma redução ou um alívio da dor. Por exemplo, sol-dados feridos em confrontos podem não sentir dor – a situação surpreendente em mais da metade de todos os ferimentos em combate. A ausência de dor provavelmente ocorre por-que o soldado sente tamanho alívio por ainda estar vivo que o cérebro envia um sinal para o local do ferimento para que se feche a comporta da dor (Turk, 1994; Gatchel & Weisberg, 2000; Pincus & Morley, 2001).

A teoria da comporta para controle da dor também pode explicar diferenças culturais para a experiência da dor. Algumas dessas variações são impressionantes. Por exemplo, na Índia, os participantes do ritual de “balanço em ganchos” para celebrar o poder dos deuses introduzem ganchos sob a pele e os músculos das costas. Durante o ritual, eles se balançam de um poste, suspensos pelos ganchos. O que provavelmente produziria uma dor insupor-tável, em vez disso, produz um estado de celebração e quase euforia. Na verdade, quando os ganchos são posteriormente removidos, as feridas cicatrizam de modo rápido e, depois de duas semanas, quase não há mais marcas visíveis (Kosambi, 1967; Melzack & Katz, 2001).

A teoria da comporta para controle da dor pressupõe que a ausência de dor deve-se a uma mensagem do cérebro do participante, a qual bloqueia as rotas de dor. Essa teoria tam-

bém pode explicar a eficácia da acupuntura, uma antiga técnica chinesa em que agulhas finas são introduzidas em diversas partes do corpo. A sensação das agulhas pode interromper a comunicação com o cérebro, reduzindo a experiência de dor. Também é possível que os próprios analgésicos do organismo – chamados endorfinas –, assim como emoções positivas e negativas, desempe-nhem um papel na abertura e no fechamento da compor-ta (Fee et al., 2002; Witt, Jena, & Brinkhaus, 2006; Cabio-glu, Ergene, & Tan, 2007).

Embora as ideias básicas subjacentes à teoria da com-porta para controle da dor tenham sido confirmadas por pesquisas, outros processos estão envolvidos na percepção de dor. Por exemplo, parece haver diversas rotas neurais envolvidas na experiência de dor. Além disso, está claro que a supressão da dor pode ocorrer pela liberação natural de endorfinas e outros compostos que produzem redução do desconforto e sensação de bem-estar (Grahek, 2007).

teoria da comporta para controle da dor Teoria de que determinados receptores nervosos na medula espinal levam a áreas específicas do cérebro relacionadas à dor.

PsicoTecO pesqui-sador Sean Mackey ex-pôs os par-

ticipantes de um estudo a um estímulo doloroso enquanto monitorava seus cérebros com IRMf. Mackey descobriu que os participantes podiam ser treinados para exercer controle sobre a região do cérebro ativada pela dor, reduzindo, assim, expe-riência de dor.

A antiga prática da acupuntura ainda é usada no século XXI. Como a teoria da comporta para controle da dor explica o fun-cionamento da acupuntura?

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Módulo 10 A Audição e os Outros Sentidos 113

TORNANDO-SE UM CONSUMIDOR INFORMADO de PsicologiaManejando a dorVocê é uma das 76 milhões de pessoas nos Estados Unidos que sofrem de dor crônica? Psicólogos e especialistas em medicina criaram diversas estratégias para combater a dor. As mais importan-tes incluem as seguintes:

• Medicamentos. Os analgésicos são a forma de tratamento mais popular no combate à dor. Eles variam desde aqueles que tratam diretamente a fonte de dor – tais como reduzir o in-chaço de articulações doloridas – até aqueles que atuam sobre os sintomas. O medicamento pode ser administrada na forma de comprimidos, emplastros, injeções ou líquidos. Em recen-te inovação, agentes são administrados diretamente na medula espinal (Kalb, 2003; Pesmen, 2006; Bagnall, 2010).

• Estimulação nervosa e cerebral. A dor às vezes pode ser aliviada quando uma corrente elétrica de baixa voltagem passa pela parte específica do corpo que está dolorida. Por exemplo, na estimulação nervosa periférica, um gerador diminuto movido à bateria é implantado na região lombar. Em casos ainda mais graves, eletrodos podem ser implantados por cirurgia no cére-bro, ou pilhas portáteis podem estimular as células nervosas para obter alívio direto (Tugay et al., 2007; Landro, 2010; Tan et al., 2011).

• Fototerapia. Uma das mais novas formas de redução da dor envolve exposição a comprimen-tos de onda específicos de luz vermelha ou infravermelha. Certos tipos de luz aumentam a produção de enzimas que podem promover a cura (Underwood, 2005; Evcik et al., 2007).

• Hipnose. Para pessoas que podem ser hipnotizadas, a hipnose alivia consideravelmente a dor (Neron & Stephenson, 2007; Walker, 2008; Accardi & Milling, 2009; Lee & Raja, 2011).

• Biofeedback e técnicas de relaxamento. Por meio do biofeedback, as pessoas aprendem a con-trolar funções “involuntárias”, como os batimentos cardíacos e a respiração. Se a dor envolve os músculos, como nas cefaleias por tensão ou lombalgias, os acometidos podem ser treina-dos a relaxar o corpo sistematicamente (Nestoriuc & Martin, 2007; Vitiello, Bonello, & Pollard, 2007).

• Cirurgia. Em um dos métodos mais radicais, fibras nervosas específicas que transmitem men-sagens de dor para o cérebro podem ser cortadas cirurgicamente. Contudo, devido ao risco de que outras funções corporais possam ser afetadas, a cirurgia é um tratamento de últi-mo recurso, usado com mais frequência em pacientes terminais (Cullinane, Chu, & Mamelak, 2002; Amid & Chen, 2011).

• Reestruturação cognitiva. Terapias cognitivas são eficazes para pessoas que constantemente dizem a si mesmas: “Esta dor nunca vai acabar”, “A dor está arruinando a minha vida” ou “Não aguento mais” e, assim, tendem a piorar ainda mais a dor. Adotando maneiras de pensar mais positivas, as pessoas podem aumentar seu senso de controle – e realmente reduzir a dor que sentem (Spanos, Barber, & Lang, 2005; Bogart et al., 2007; Liedl et al., 2011).

Como nossos sentidos interagemQuando Matthew Blakeslee molda bifes de hambúrguer com as mãos, ele sente um vívido gosto amargo em sua boca. Esmerelda Jones (um pseudônimo) vê azul quando ouve um dó sustenido tocado no piano; outras notas evocam cores diferentes – tanto que as teclas do piano são de fato coloridas, tornando mais fácil para ela lembrar e executar as escalas musicais. (Ramachandran & Hubbard, 2001, p. 53)

A explicação? Essas duas pessoas têm uma condição incomum chamada de sinestesia, na qual a exposição a uma sensação (como o som) evoca outra (como a visão).

As origens da sinestesia são um mistério. É possível que as pessoas com sinestesia te-nham ligações neurais extraordinariamente densas entre diferentes áreas sensoriais do cé-rebro. Outra hipótese é que elas carecem de controles neurais que geralmente inibem cone-xões entre as áreas sensoriais (Pearce, 2007; Kadosh, Henik, & Walsh, 2009).

Seja qual for a razão para a sinestesia, ela é uma condição rara. (Para conferir esse fenô-meno, ver Fig. 6.) Mesmo assim, os sentidos de todos nós realmente interagem e integram-se de diversas maneiras. Por exemplo, o sabor dos alimentos é influenciado por sua textura e

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114 Capítulo 3 Sensação e Percepção

temperatura. Percebemos uma comida mais quente como mais doce (pense na doçura de um chocolate quente fumegante comparado a de um achocolatado frio). Comidas condimenta-das estimulam alguns dos mesmos receptores de dor que também são estimulados por calor – o que torna o uso de “quente” como sinônimo de “picante” muito preciso (Green & George, 2004; Balaban, McBurney, & Affeltranger, 2005; Brang et al., 2011).

É, pois, importante pensar nossos sentidos como interagindo entre si. Por exemplo, es-tudos de imagem cerebral mostram que os sentidos trabalham em conjunto para construir nossa compreensão do mundo ao redor. Nossa percepção é multimodal, ou seja, o cérebro coleta as informações dos sistemas sensoriais individuais e, então, integra-as e as coordena (Macaluso & Driver, 2005; Paulmann, Jessen, & Kotz, 2009).

Apesar do fato de que tipos bem diferentes de estímulos ativam nossos sentidos indi-viduais, eles todos reagem de acordo com os mesmos princípios básicos que discutimos no início deste capítulo. Por exemplo, nossas respostas a estímulos visuais, auditivos e gus-tativos seguem a lei de Weber, que envolve nossa sensibilidade a mudanças na força dos estímulos.

Resumindo, em alguns aspectos, nossos sentidos são mais semelhantes do que diferen-tes entre si. Cada um deles visa a captar dados do ambiente e traduzi-los em informações úteis. Além disso, individual e coletivamente, nossos sentidos nos ajudam a compreender as complexidades do mundo ao nosso redor, permitindo-nos “navegar” pelo mundo de modo eficaz e inteligente.

(a) (b)

FIGURA 6 (a) Tente identificar os algarismos 2 no quadro. A maioria das pessoas leva alguns segundos para encontrá-los escondidos entre os algarismos 5 e ver que os dois formam um triân-gulo. Porém, para pessoas com algumas formas de sinestesia, é fácil, porque elas percebem os números diferentes em cores contrastantes, como em (b). (Fonte: Vilayanur S. Ramachandran e Edward M. Hubbard, “Hearing Colors, Tasting Shapes,” Scientific American (May 2003). Reproduzida com permissão. Copyright © 2003 Scientific American, Inc. Todos os direitos reservados.)

Recapitule/avalie/repense

Recapitule

RA 10-1 Que papel a orelha desempenha nos sentidos de som, movimento e equilíbrio?

• O som, o movimento e o equilíbrio são centrados na ore-lha. Os sons, por meio da vibração das ondas do ar, en-tram na orelha externa e deslocam-se pelo canal auditivo até chegarem ao tímpano.

• As vibrações do tímpano são transmitidas para a orelha média, que é composta por três ossículos: o martelo, a bigorna e o estribo. Esses ossículos transmitem as vibra-ções para a janela oval.

• Na orelha interna, as vibrações vão para dentro da cóclea, a qual envolve a membrana basilar. As células ciliadas da membrana basilar transformam a energia mecânica das ondas sonoras em impulsos nervosos que são transmiti-dos para o cérebro. A orelha também está envolvida no sentido de equilíbrio e movimento.

• O som tem diversas características, incluindo frequên-cia e amplitude. A teoria do lugar da audição e a teoria da frequência da audição explicam os processos pelos quais distinguimos sons de frequência e intensidade va-riáveis.

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RA 10-2 Como funcionam o olfato e o paladar?• O olfato depende das células olfativas (as células recep-

toras do nariz), e o sabor concentra-se nas papilas gusta-tivas da língua.

RA 10-3 Quais são os sentidos da pele e como eles se relacio-nam à experiência de dor?

• Os sentidos da pele são responsáveis pelas experiências de tato, pressão, temperatura e dor. A teoria da compor-ta para controle da dor pressupõe que determinados re-ceptores nervosos, quando ativados, abrem um “portão” para áreas específicas do cérebro relacionadas à dor e que outro conjunto de receptores fecha o “portão” quando estimulados.

• Entre as técnicas usadas com frequência para aliviar a dor incluem-se medicamento, hipnose, biofeedback, téc-nicas de relaxamento, cirurgia, estimulação nervosa e cerebral e terapia cognitiva.

Avalie

1. A passagem tubular que leva da orelha externa ao tímpa-no é conhecida como ________.

2. A finalidade do tímpano é proteger os nervos sensíveis abaixo dele. Ele não tem finalidade na audição propria-mente dita. Verdadeiro ou falso?

3. Os três ossos da orelha média transmitem seu som para _______ ________.

4. A teoria _______ da audição afirma que toda a membra-na basilar responde a um som, vibrando mais ou menos conforme a natureza do som.

5. Os três tubos preechidos de líquido na orelha interna que são responsáveis por nosso senso de equilíbrio são co-nhecidos como _________________________.

6. A teoria __________________ afirma que, quando cer-tos receptores da pele são ativados como resultado de uma lesão, uma “rota” para o cérebro então se abre, per-mitindo que a dor seja sentida.

Repense

1. Muitas pesquisas estão sendo realizadas para reparar órgãos sensoriais defeituosos por meio de dispositivos como sistemas de orientação pessoal e óculos, entre ou-tros. Você acha que os pesquisadores deveriam tentar aperfeiçoar as capacidades sensoriais além de sua faixa “natural” (p. ex., tornar as capacidades visuais ou auditi-vas humanas mais sensíveis do que o normal)? Que be-nefícios isso poderia trazer? Que problemas isso poderia causar?

2. Da perspectiva de um assistente social: Como você lidaria com o caso de uma criança surda cuja audição poderia ser restaurada com um implante coclear – mas cujos familiares discordam sobre se o procedimento deve ser realizado?

Respostas das questões de avaliação

1. canal auditivo; 2. falso – ele vibra quando as ondas sonoras o atingem e transmite o som. 3. a janela oval; 4. da frequência; 5. canais semicirculares; 6. da comporta para controle da dor

Termos-chave

som p. 104

tímpano p. 104

cóclea p. 104

membrana basilar p. 104

células ciliadas p. 105

teoria do lugar da audição p. 107

teoria da frequência da audição p. 107

canais semicirculares p. 107

sentidos da pele p. 111

teoria da comporta para controle da dor p. 112

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Resultados de Aprendizagem

RA 11-1 Quais princípios subjazem à nossa organização do mundo visual e nos permitem entender o ambiente?

RA 11-2 Como somos capazes de perceber o mundo em três dimensões quando nossas retinas são capazes de captar apenas imagens bidimensionais?

RA 11-3 Quais pistas as ilusões visuais oferecem sobre nossa compreensão acerca dos mecanismos perceptuais gerais?

Organização Perceptual: Construindo Nossa Visão de Mundo

MÓDULO 11

Considere o vaso exibido na Figura 1a por um instante. Mas é realmente um vaso? Olhe de novo e talvez você veja o perfil de duas pessoas.

Agora que a interpretação alternativa foi apontada, você provavelmente ficará oscilan-do entre as duas interpretações. Do mesmo modo, se você examinar as formas na Figura 1b por tempo suficiente, é provável que você experimente uma mudança no que está vendo. A razão para tais inversões é a seguinte: uma vez que cada figura é bidimensional, os meios que costumamos empregar para distinguir a figura (o objeto percebido) do fundo (o segun-do plano ou os espaços dentro do objeto) não funcionam.

O fato de que podemos olhar a mesma figura de mais de uma maneira ilustra um ponto importante. Não respondemos apenas de modo passivo aos estímulos visuais que casual-mente chegam em nossa retina. Em vez disso, tentamos organizar e entender o que vemos.

Passemos agora do foco na resposta inicial a um estímulo (sensação) ao que nossa men-te faz daquele estímulo – percepção. Percepção é um processo construtivo pelo qual vamos além dos estímulos que nos são apresentados e tentamos construir uma situação com sen-tido.

As leis de organização da GestaltAlguns dos processos perceptuais mais básicos podem ser apresentados por uma série de princípios que descrevem o modo como organizamos fragmentos de informação para com-por totalidades significativas. Conhecidos como leis de organização da Gestalt, esses prin-cípios foram estabelecidos no início do século XX por um grupo de psicólogos alemães que estudaram padrões ou Gestalts (Wertheimer, 1923). Eles descobriram uma série de impor-tantes princípios que são válidos para estímulos visuais (assim como auditivos) ilustrados na Figura 2: fechamento, proximidade, semelhança e simplicidade.

A Figura 2a ilustra o princípio do fechamento: geralmente agrupamos os elementos para formar figuras fechadas ou completas em vez de abertas. Tendemos a ignorar os intervalos na Figura 2a e, então, concentrar-nos na forma global. A Figura 2b demonstra o princípio da proximidade: percebemos elementos que estão mais próximos como agrupados. Conse-

leis de organização da Gestalt Uma série de princípios que descrevem o modo como organizamos fragmentos de informação para compor totalidades significativas.

FIGURA 1 Quando os indicadores usuais que utilizamos para distinguir figura de fundo estão au-sentes, podemos oscilar entre diferentes visões da mesma figura. Em (a), po-demos ver um vaso ou o perfil de duas pessoas. Em (b), a porção sombreada da figura, chamada de cubo Necker, pode parecer ou a frente ou a parte de trás do cubo. (a) (b)

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quentemente, tendemos a ver pares de pontos em vez de uma linha de pontos individuais na Figura 2b.

Percebemos elementos de aparência semelhante como agrupados. Vemos, portanto, linhas horizontais de círculos e quadrados na Figura 2c, em vez de co-lunas verticais mistas. Por fim, em um sentido geral, o princípio dominante da Gestalt é o da simplicidade: quando observamos um padrão, nós o percebemos da maneira mais básica e direta possível. Por exemplo, a maioria de nós vê a Figura 2d como um quadrado com linhas em ambos os lados, e não como uma letra W sobre uma letra M. Se tivermos uma escolha de inter-pretações, geralmente optamos pela mais simples.

Embora a psicologia da Gestalt não desempenhe mais um papel proeminente na psicologia contempo-rânea, seu legado ainda perdura. Um princípio fun-damental da Gestalt que continua influente é que dois objetos considerados juntos formam um todo que é diferente da simples combinação dos objetos. Segun-do os psicólogos da Gestalt, a percepção dos estímulos em nosso ambiente vai bem além dos elementos indi-viduais que sentimos. Em vez disso, ela representa um processo construtivo ativo realizado no cérebro (Humphreys & Müller, 2000; Lehar, 2003; van der Helm, 2006; Klapp & Jagacinski, 2011) (ver Fig. 3).

Processamento descendente e ascendenteVo-e é -ap-z d- le- es-a f-as-, na -ua- to-a t-rc-ei-a -et-a e-ta -al-an-o? É provável que você não leve muito tempo para entender que ela diz ‘‘Você é capaz de ler esta frase, na qual toda terceira letra está faltando?”.

Se a percepção se baseasse principalmente em decompor um estímulo em seus ele-mentos mais básicos, a ação de compreender a frase, assim como outros estímulos mais ambíguos, não seria possível. O fato de que você provavelmente foi capaz de reconhecer um estímulo tão impreciso ilustra que a percepção prossegue ao longo de duas vias distintas, chamadas de processamento descendente e processamento ascendente.

No processamento descendente, a percepção é guiada por conhecimentos, experiên-cias, expectativas e motivações de nível superior. Você conseguiu entender o significado da frase com as letras que faltavam graças à sua experiência prévia de leitura e ao fato de que o idioma contém redundâncias. Nem toda letra de cada palavra é necessária para decodificar

Alerta de estudoAs leis de organização da Gestalt são princípios

clássicos no campo da psicologia. A Figura 2 pode ajudá-lo a lembrá-las.

processamento descendente Percepção que é guiada por conhecimentos, experiências, expectativas e motivações de nível superior.

(b) Proximidade (c) Semelhança (d) Simplicidade(a) Fechamento

FIGURA 2 Organizar esses diversos fragmentos de informação em todos significativos constitui alguns dos processos mais básicos da percepção, os quais são sintetizados nas leis de organização da Gestalt. Como poderíamos verificar se outras espécies compartilham essa tendência organi-zacional?

“Estou me transformando em minha mãe.” © P

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A compreensão desse desenho envolve a separação de figura e fun-do. Se você está tendo dificuldade para entender a graça, olhe fixa-mente para a mulher à direita, que com o tempo se transformará.

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seu significado. Além disso, suas expectativas influenciam sua capacidade de ler a frase. Você provavelmente esperava uma afirmativa que tivesse algo a ver com psicologia, não as letras de uma música da Lady Gaga.

O processamento descendente é ilustrado pela importância do contexto na determina-ção de como percebemos os objetos. Olhe, por exemplo, a Figura 4. A maioria de nós per-cebe que a primeira fila é composta pelas letras A a F, enquanto a segunda contém números de 9 a 14. Contudo, olhe com mais atenção e você verá que o “B” e o “13” são idênticos. Sem dúvida, nossa percepção é influenciada por nossas expectativas sobre as duas sequências – muito embora os dois estímulos sejam exatamente os mesmos.

Contudo, o processamento descendente não pode ocorrer sozinho. Ainda que o pro-cessamento descendente permita-nos preencher lacunas em estímulos ambíguos e fora de contexto, seríamos incapazes de perceber o significado de tais estímulos sem o processa-mento ascendente. O processamento ascendente consiste na progressão de reconhecer e processar informações de componentes individuais de um estímulo e passar para a percep-ção do todo. Não faríamos progresso em nosso reconhecimento da frase sem sermos capa-zes de perceber as formas individuais que compõem as letras. Alguma percepção, portanto, ocorre no nível de padrões e características de cada uma das letras separadas.

Os processamentos descendente e ascendente ocorrem simultaneamente e interagem entre si em nossa percepção do mundo ao redor. O processamento ascendente permite-nos processar as características fundamentais dos estímulos, ao passo que o processamento des-cendente permite-nos aplicar nossa experiência na percepção. À medida que aprendemos sobre os processos complexos envolvidos na percepção, estamos desenvolvendo uma me-lhor compreensão de como o cérebro interpreta informações dos sentido de forma contínua

processamento ascendente Percepção que consiste na progressão de reconhecer e processar informações de componentes individuais de um estímulo e passar para a percepção do todo.

FIGURA 3 Embora a prin-cípio seja difícil identificar qualquer coisa neste dese-nho, continue olhando e fi-nalmente você verá a figura de um cão. O cão represen-ta uma Gestalt, ou todo per-ceptual, que é algo maior do que a soma ou do que os elementos individuais.

FIGURA 4 O poder do contexto é mostrado na figura. Observe como o B e o 13 são idênticos.(Adaptada de Coren & Ward, 1989.)

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e permitindo darmos respostas mais apropriadas ao ambiente (Sobel et al., 2007; Folk & Remington, 2008; Westerhausen et al., 2009).

Percepção de profundidade: traduzindo 2-D para 3-DSofisticada como é a retina, as imagens projetadas sobre ela são planas e bidimensionais. Contudo, o mundo à nossa volta é tridimensional, e o percebemos assim. Como fazemos a transformação de bidimensional para tridimensional?

A capacidade de ver o mundo em três dimensões e perceber distância – habilidade conhecida como percepção de profundidade – deve-se em grande parte ao fato de termos dois olhos. Como existe certa distância entre os olhos, uma imagem ligeiramente diferente chega à retina. O cérebro integra as duas imagens em uma visão, mas ele também reconhece a diferença nas imagens e utiliza essa diferença para calcular a distância que estamos do objeto. A diferença nas imagens vistas pelo olho esquerdo e pelo olho direito é conhecida como disparidade binocular (Hibbard 2007; Kara & Boyd, 2009; Gillam, Palmisano, & Go-van, 2011).

Para ter uma noção da disparidade binocular, segure um lápis com o braço esticado e olhe-o primeiro com um olho e depois com o outro. Existe uma pequena diferença entre as duas visões em relação ao fundo. Agora segure o lápis a apenas 15 centímetros de seu rosto e tente fazer o mesmo. Dessa vez, você vai perceber uma diferença maior entre as duas visões.

O fato de que a discrepância entre as imagens nos dois olhos varia de acordo com a distância dos objetos que vemos nos proporciona um modo de determinar a distância. Se vemos dois objetos e um está consideravelmente mais perto de nós do que o outro, a dispa-ridade na retina será relativamente grande e teremos maior noção de profundidade entre os dois. Entretanto, se os dois objetos estiverem a uma distância semelhante de nós, a dispa-ridade na retina será menor, e os perceberemos como estando a uma distância semelhante de nós.

percepção de profundidade Capacidade de ver o mundo em três dimensões e perceber distância.

Estradas de ferro que pa-recem se encontrar a dis-tância são um exemplo de percepção linear.

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Em certos casos, alguns sinais nos permitem ter uma noção de profundidade e distân-cia com apenas um olho. Esses sinais são conhecidos como pistas monoculares. Uma pista monocular – a paralaxe do movimento – é a mudança na posição de um objeto na retina causada pelo movimento do corpo em relação ao objeto. Por exemplo, suponha que você é um passageiro em um carro em movimento e foca seu olho em um objeto estável, tal como uma árvore. Os objetos que estão mais próximos do que a árvore parecerão mover-se para trás e, quanto mais perto está o objeto, mais rápido ele parecerá se mover. Ao contrário, ob-jetos além da árvore parecerão mover-se em uma velocidade mais baixa, porém na mesma direção que você. Seu cérebro é capaz de usar esses sinais para calcular as distâncias relati-vas da árvore e dos outros objetos.

A experiência também ensina que, se dois objetos são do mesmo tamanho, aquele que forma uma imagem menor na retina está mais distante do que aquele que produz uma ima-gem maior – em exemplo da pista monocular do tamanho relativo. Contudo, não é apenas o tamanho de um objeto que fornece informações sobre a distância; a qualidade da imagem na retina ajuda a julgar a distância. A pista monocular do gradiente de textura fornece in-formações sobre a distância, porque os detalhes dos objetos que estão distantes são menos nítidos (Proffitt, 2006).

Por fim, qualquer pessoa que já viu trilhos de trem que parecem unir-se ao longe sabe que objetos distantes parecem estar mais juntos do que objetos mais próximos, fenômeno chamado de perspectiva linear. As pessoas usam a perspectiva linear como uma pista mono-cular para calcular a distância, isso permite que a imagem bidimensional na retina registre o mundo tridimensional (Dobbins et al., 1998; Shimono & Wade, 2002; Bruggeman, Yonas, & Konczak, 2007).

Constância perceptualConsidere o que acontece quando você termina uma conversa com um amigo e ele começa a se afastar caminhando. Enquanto você o observa caminhar pela rua, a imagem dele em sua retina torna-se cada vez menor. Você então se pergunta: “Será que ele está encolhendo?”.

É claro que não. Apesar da mudança muito real no tamanho da imagem na retina, devido à constância perceptual você inclui em seu pensamento o conhecimento de que seu amigo está distanciando-se de você. Constância perceptual é um fenômeno no qual os objetos físicos são percebidos como invariáveis e consistentes, apesar das mudanças em sua

constância perceptual Fenômeno em que objetos físicos são percebidos como invariáveis e consistentes apesar das mudanças em sua aparência ou no ambiente físico.

Quando a lua está perto do horizonte, não a vemos sozinha, e a constância perceptual nos faz levar em conta um sentido en-ganoso de distância.

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aparência ou no ambiente físico. A constância perceptual leva-nos a ver os objetos como possuidores de tamanho, forma, cor e brilho invariáveis, mesmo que a imagem em nossa retina varie. Por exemplo, apesar das imagens variáveis na retina à medida que um avião se aproxima, voa no alto e desaparece, não o percebemos como se ele estivesse mudando de forma (Redding, 2002; Wickelgren, 2004; Garrigan & Kellman, 2008).

Em alguns casos, contudo, a aplicação constância perceptual pode nos iludir. Um exemplo disso envolve a lua nascente. Quando a lua começa a despontar à noite, perto do horizonte, ela parece ser enorme – muito maior do que quando está no alto do céu mais tarde. Você pode ter pensado que a mudança evidente no tamanho da lua foi causada pelo fato de ela estar fisicamente mais próxima da Terra quando ela começa a aparecer. Mas, na verdade, esse não é absolutamente o caso: a imagem real da lua em nossa retina é a mesma, quer ela esteja no horizonte ou no alto do céu.

Existem diversas explicações para a ilusão da lua. Uma delas sugere que a lua parece maior quando ela está baixa no horizonte principalmente por causa da constância percep-tual. Quando a lua está perto do horizonte, os sinais perceptuais do terreno e dos objetos intervenientes, como as árvores no horizonte, produzem uma impressão enganosa de dis-tância, levando-nos a percebê-la de modo errôneo como relativamente grande.

Todavia, quando a lua está alta no céu, nós a vemos sozinha e não tentamos compensar sua distância. Nesse caso, então, a constância perceptual nos leva a percebê-la como relati-vamente pequena. Para sentir a constância perceptual, experimente olhar para a lua quando ela está relativamente baixa no horizonte por um tubo estreito de papelão: a lua vai parecer “encolher” de volta ao tamanho normal (Coren, 1992; Ross & Plug, 2002; Imamura & Naka-mizo, 2006; Kaufman, Johnson, & Liu, 2008).

A constância perceptual não é a única explicação para a ilusão da lua, e isso continua sendo um mistério para os psicólogos. É possível que vários processos diferentes estejam envolvidos na ilusão (Gregory, 2008; Kim, 2008).

Percepção do movimento: quando o mundo viraQuando um jogador de beisebol tenta rebater uma bola arremessada, o fator mais impor-tante é o movimento da bola. Como um rebatedor é capaz de julgar a velocidade e a locali-zação de um alvo que está se movendo a cerca de 140 km/h?

A resposta repousa, em parte, em diversas pistas que nos fornecem informações sobre a percepção do movimento. Em primeiro lugar, o movimento de um objeto por meio da reti-na é comumente percebido em relação a algum fundo estável e imóvel. Além disso, se o es-tímulo está vindo em nossa direção, a imagem na retina aumenta de tamanho, preenchendo cada vez mais o campo visual. Nesses casos, presumimos que o estímulo está aproximando--se – não que ele é um estímulo em expansão visualizado a uma distância constante.

Contudo, não é apenas o movimento das imagens por meio da retina que produz a percepção do movimento. Se fosse, perceberíamos o mundo em movimento toda vez que movêssemos nossa cabeça. Em vez disso, uma das questões fundamentais que aprendemos sobre a percepção é levar em conta as informações sobre os movimentos de nossa própria cabeça e de nossos olhos com dados sobre mudanças na imagem retiniana.

Às vezes, percebemos movimento quando ele não acontece. Você já esteve em um trem imóvel que parece estar se movendo porque um trem na pista ao lado começa a se mover lentamente? Ou você já esteve em um cinema com tecnologia IMAX, na qual você tem a impressão de estar caindo quando a imensa imagem de um avião atravessa a tela? Em am-bos os casos, a experiência de movimento é convincente. Movimento aparente é a percepção de que um objeto imóvel está movendo-se. Ele ocorre quando diferentes áreas da retina são

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rapidamente estimuladas, levando-nos a interpretar movimento (Ekroll & Scherzer, 2009; Lindemann & Bekkering, 2009; Brandon & Saffran, 2011). (Ver também Aplicando a Psi-cologia no Século XXI.)

Ilusões perceptuais: os enganos das percepçõesSe você olhar atentamente para o Partenon, um dos mais célebres edifícios da Grécia antiga, ainda de pé no alto de uma colina em Atenas, verá que ele foi construído com uma curvatu-ra em um lado. Se ele não tivesse aquela curvatura – e diversos outros “truques” arquitetô-nicos como este, tais como colunas inclinadas para dentro –, ele pareceria torto e prestes a cair. Em vez disso, ele parece totalmente reto, em ângulos retos com o solo.

O fato de que o Partenon parece totalmente ereto é o resultado de uma série de ilusões visuais. Ilusões visuais são estímulos físicos que sistematicamente produzem erros na per-

ilusões visuais Estímulos visuais que sistematicamente produzem erros na percepção.

Aplicando a Psicologia no Século XXI

Será que as pessoas têm um senso interno de direção?Você tem um bom sentido de direção? Quando se perde em uma zona des-conhecida da cidade, você é capaz de encontrar o caminho de volta de onde partiu? Se você sai de um prédio no campus universitário por uma porta desconhecida, você tem um senso de qual caminho deve fazer para chegar a seu destino? Você é capaz de apontar em que direção fica o norte?

Em caso afirmativo, você não é o único – muitas pessoas têm essa capa-cidade de reconstituir seus passos, ima-ginar onde estão em relação a pontos de referência, ou mesmo saber intuitiva-mente onde fica o norte. Pesquisadores estão descobrindo que tal sentido pode não ser apenas uma questão de aprendi-zagem – ele pode, na verdade, ser inato.

Os cientistas estão aprendendo que certas regiões do cérebro no e em torno do hipocampo auxiliam o senso de direção. Células no hipocampo, de-nominadas células de lugar, tornam-se ativas somente quando visitamos uma parte espe-cífica do ambiente. Outras células, denomi-nadas células de grade, ajudam a definir uma grade que nos permite saber onde estamos em relação ao ambiente. Trabalhando em conjunto com outras células, denominadas células de direção da cabeça, essas regiões ce-rebrais nos dão um senso interno de como estamos nos movendo pelo espaço – uma

espécie de mapa interno de onde estamos e de onde estivemos (O’Keefe & Dostrovsky,

1971; Fyhn et al., 2007; Langston et al., 2010).

Essas células garantem o senso de direção que nos ajuda a nos orientar-mos? Não necessariamente. A capaci-dade de compreender direção e a ca-pacidade de encontrar o que queremos estão relacionadas, mas não são idên-ticas. Pessoas com um bom senso de direção são capazes de visualizar sua localização no espaço e apontar onde as coisas estão, tais como cidades vizi-nhas ou pontos cardeais. Porém, mes-mo pessoas que não possuem tão bom senso de direção ainda podem achar seu caminho, mesmo que com menos eficiência (Hager, 2010).

Esse senso de direção, portanto, funciona um pouco como um GPS, di-zendo onde estamos em relação a ou-tros pontos para que possamos desco-brir o caminho mais direto entre dois pontos. Todavia, se seu “GPS interno” não é o mais preciso, não se desespe-re – embora algumas pessoas tenham um melhor senso de para onde devem ir do que outras, em regra todos con-seguimos finalmente chegar. Só que al-

guns apenas levam um pouco mais de tempo do que os outros.

R E P E N S E• Quais são alguns dos benefício de se ter um senso interno de direção?• Em sua opinião, porque algumas pessoas têm um senso de direção melhor do que

outras?

Os seres humanos possuem um senso inato de di-reção, em alguns aspectos mais sofisticado do que a tecnologia GPS.

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cepção. No caso do Partenon, o edifício parece ser completamente quadrado, conforme ilustrado na Figura 5a. Contudo, se tivesse sido construído dessa forma, ele teria a aparência mostrada na Figura 5b. A razão disso é uma ilusão que faz ângulos retos colocados acima de uma linha parecerem inclinados. Para compensar a ilusão, o Partenon foi construído como na Figura 5c, como uma ligeira curva para cima.

A ilusão de Müller-Lyer (ilustrada na Fig. 6, p. 124) fascina os psicólogos há décadas. Ainda que as duas linhas sejam do mesmo comprimento, aquela em que as pontas das setas apontam para fora, para longe da linha vertical (Fig. 6a, à esquerda), parece menor do que aquela em que as pontas da seta apontam para dentro (Fig. 6a, à direita).

Embora vários tipos de explicações para as ilusões visuais tenham sido sugeridas, a maior parte se concentra ou na operação física do olho ou em nossos erros de interpretação do estímulo físico. Por exemplo, uma explicação para a ilusão de Müller-Lyer é que os movi-mentos oculares são maiores quando as pontas das setas apontam para dentro, fazendo-nos perceber a linha como mais comprida do que ela é quando as pontas das setas apontam para fora. Uma explicação diferente para a ilusão sugere que inconscientemente atribuímos de-terminado significado para cada uma das linhas (Gregory, 1978; Redding & Hawley, 1993). Quando vemos a linha à esquerda na Figura 6a, tendemos a percebê-la como se ela fosse a aresta externa relativamente próxima de um objeto retangular, tal como o canto externo da sala ilustrado na Figura 6b. Ao contrário, quando vemos a linha à direita na Figura 6a, nós a percebemos como a aresta relativamente mais distante de um objeto retangular, tal como o canto interno na Figura 6c. Uma vez que a experiência prévia leva-nos a presumir que o canto externo está mais próximo do que o canto interno, fazemos a suposição adicional de que o canto interno deve, por conseguinte, ser mais comprido.

Apesar da complexidade da última explicação, existem várias evidências para apoiá-la. Por exemplo, estudos interculturais indicam que as pessoas criadas em locais onde existem poucos ângulos retos – tais como os zulu na África, – são muito menos suscetíveis à ilusão do que as pessoas que crescem onde a maior parte das estruturas é construída usando-se ângulos retos e retângulos (Segall, Campbell, & Herskovits, 1966).

Alerta de estudoA explicação para a ilusão de Müller-Lyer é complicada.

A Figura 6 ajuda a entendê-la.

(a)

(b)

(c)

FIGURA 5 (a) Ao construírem o Partenon, os gregos desenvolveram uma maravilha da arquite-tura que parece perfeitamente reta, com ângulos retos em todas as extremidades. (b) Contudo, se eles estivessem feito a construção com ângulos perfeitamente retos, ele teria esta aparência. (c) Para compensar tal ilusão, o Partenon foi projetado para ter uma ligeira curvatura para cima, como vemos aqui.(Fonte: (b) e (c) de Lukiesh, 1921, p. 500.)

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124 Capítulo 3 Sensação e Percepção

Explorando a DIVERSIDADECultura e percepção

Como indica o exemplo dos zulu, a cultura em que somos criados tem clara influência sobre como percebemos o mundo. Considere o desenho na Figura 7. Às vezes chamado de “garfo oscilante do diabo”, pode produzir um efeito estonteante, pois o dente central alternadamente aparece e desaparece.

Agora tente reproduzir o desenho em uma folha de papel. É provável que a tarefa lhe seja quase impossível – a menos que você pertença a uma tribo africana com pouca exposição às cul-turas ocidentais. Para tais indivíduos, a tarefa é simples: eles não têm dificuldade para reproduzir a figura. A razão disso é que os ocidentais automaticamente interpretam o desenho como algo que não pode existir em três dimensões, sendo então inibidos de reproduzi-la. Os membros de tribos africanas, em contrapartida, não fazem a suposição de que a figura é “impossível” e, em vez disso, eles a veem em duas dimensões, uma percepção que lhes permite copiar a figura com facilidade (Deregowski, 1973).

Diferenças culturais também se refletem na percepção de profundidade. Um observador oci-dental da Figura 8 interpretaria que o caçador no desenho está mirando no antílope no primeiro plano, enquanto um elefante está de pé sob uma árvore no plano de fundo. Contudo, o membro de uma tribo africana isolada interpreta a cena de uma maneira muito diferente, presumindo que o caçador está mirando no elefante. Os ocidentais usam a diferença de tamanho entre os dois ani-mais como um indicador de que o elefante está mais distante do que o antílope (Hudson, 1960).

Isso significa que os processos perceptuais básicos diferem entre pessoas de diferentes cul-turas? Não. Variações na aprendizagem e na experiência produzem diferenças interculturais na percepção, mas os processos psicológicos subjacentes envolvidos na percepção são semelhantes (McCauley & Henrich, 2006).

Embora as ilusões visuais possam parecer meras curiosidades psicológicas, elas, na verdade, ilustram uma questão fundamental quanto à percepção. Existe uma relação básica entre nossos conhecimentos prévios, necessidades, motivações e expectativas sobre como o mundo se agrega e o modo como o percebemos. Nossa visão de mundo é, em grande parte, resultado, portanto, de fatores psicológicos fundamentais. Além disso, cada pessoa percebe o ambiente de uma forma única e especial (Knoblich & Sebanz, 2006; Repp & Knoblich, 2007).

FIGURA 7 O “garfo osci-lante do diabo” possui três dentes... ou são dois?

(a) (b) (c)

FIGURA 6 Na ilusão de Müller-Lyer (a), a linha vertical à esquerda parece mais curta do que à direita, mesmo tendo comprimento idêntico. Uma explicação para isso sugere que a linha à es-querda (com as pontas das setas apontando para fora) é percebida como a aresta relativamente próxima de um objeto retangular, tais como o canto da edificação em (b), enquanto a linha à direita (com as pontas das setas apontando para dentro) é interpretada como a aresta interna de um objeto retangular, tais como uma sala que se distancia de nós (c). A experiência prévia com distâncias leva-nos a presumir que a aresta externa está mais próxima do que a aresta interna e, consequentemente, que a aresta interna deve ser mais comprida.

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Percepção subliminar

Será que estímulos dos quais não estamos conscientes podem mudar nosso comportamen-to? Em alguns aspectos, sim.

A percepção subliminar refere-se à percepção de mensagens sobre as quais não temos consciência. O estímulo pode ser uma palavra escrita, um som, ou mesmo um odor que ativa o sistema sensorial, mas não é intenso o suficiente para que uma pessoa relate tê-lo sentido. Por exemplo, em alguns estudos, as pessoas são expostas a um rótulo descritivo – chamado de prime – sobre um indivíduo (tais como a palavra inteligente ou alegre) de uma maneira tão rápida que elas não podem dizer que viram o rótulo. Posteriormente, contudo, elas formam impressões que são influenciadas pelo conteúdo do prime. De alguma for-ma, elas foram influenciadas pelo conteúdo do prime que elas dizem que não puderam ver, o que oferece alguma evidência de percepção subliminar (Greenwald, Draine, & Abrams, 1996; Key, 2003).

Embora mensagens subliminares (que os psicólogos sociais chamam de priming) pos-sam influenciar o comportamento de modo sutil, existem poucas evidências de que possam acarretar mudanças importantes nas atitudes ou no comportamento. A maioria dos estudos sugere que não. Por exemplo, pessoas que são expostas de maneira subliminar a imagens de uma lata de refrigerante e à palavra “sede” posteriormente classificam a si próprias como mais sedentas e realmente bebem mais quando têm oportunidade de fazê-lo. Entretanto, elas não se importam particularmente se bebem refrigerante ou outra bebida para matar sua sede (Dijksterhuis, Chartrand, & Aarts, 2007).

Em síntese, embora sejamos capazes de perceber ao menos alguns tipos de informação das quais não temos consciência, existem poucas evidências de que as mensagens sublimi-nares podem mudar nossas atitudes ou nosso comportamento de maneira substancial. Ao mesmo tempo, a percepção subliminar realmente tem ao menos algumas consequências. Se nossa motivação para realizar determinado comportamento já é alta e os estímulos apro-priados são apresentados de maneira subliminar, a percepção subliminar pode ter algum efeito em nosso comportamento (Abrams, Klinger, & Greenwald, 2002; Pratkanis, Epley, & Savitsky, 2007; Randolph-Seng & Nielsen, 2009).

Percepção extrassensorial

Diante da falta de evidências de que a percepção subliminar pode alterar nosso compor-tamento de maneira substancial, os psicólogos são particularmente céticos em relação aos

FIGURA 8 O homem está mirando no elefante ou no antílope? Os ocidentais presumem que a diferença de tama-nho entre os dois animais indica que o elefante está mais longe e, portanto, o homem está mirando no antílope. Ao contrário, membros de algumas tribos africanas, não acostumados com as su-gestões de profundidade em desenhos bidimensionais, presumem que o ho-mem está mirando no elefante. (O dese-nho baseia-se em Hudson, 1960.) Você acha que as pessoas que veem a figura em três dimensões conseguiriam expli-car o que enxergam para alguém que vê a cena em duas dimensões e, por fim, conseguir fazer com que aquela pessoa a veja em três dimensões?

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126 Capítulo 3 Sensação e Percepção

relatos de percepção extrassensorial ou PES – percepção que não envolve nossos sentidos conhecidos. Ainda que a metade da população em geral dos Estados Unidos acredite que ela existe, a maioria dos psicólogos rejeita a existência da PES, afirmando que não há docu-mentação sólida a respeito do fenômeno (Gallup Poll, 2001).

Contudo, um debate em uma das revistas de psicologia de maior prestígio, a Psycholo-gical Bulletin, aumentou o interesse pela PES. Segundo os defensores da PES, existem evi-dências confiáveis de um “processo anômalo de transferência de informações” ou psi. Esses pesquisadores, que meticulosamente analisaram evidências consideráveis, afirmam que um corpo cumulativo de estudos mostra um respaldo confiável para a existência da psi (Bem & Honorton, 1994; Storm & Ertel, 2001; Parra & Argibay, 2007).

A conclusão deles foi questionada em diversos aspectos. Por exemplo, os críticos argu-mentam que a metodologia de pesquisa foi inadequada e que as experiências que respaldam a psi têm falhas (Milton & Wiseman, 1999; Kennedy, 2004).

Por conta das questões sobre a qualidade dos estudos, assim como pela falta de qual-quer explicação teórica crível sobre como a PES poderia ocorrer, a maioria dos psicólo-gos continua acreditando que não há base científica confiável para esse fenômeno (Rose & Blackmore, 2002; Wiseman & Greening, 2002). Entretanto, as discussões na Psychological Bulletin tendem a intensificar o debate. Mais importante ainda, o interesse renovado pela PES entre os psicólogos tende a inspirar mais pesquisas, que é a única forma de a questão ser resolvida.

Recapitule/avalie/repense

Recapitule

RA 11-1 Quais princípios subjazem à nossa organização do mundo visual e nos permitem entender o ambiente?

• A percepção é um processo construtivo em que as pes-soas vão além dos estímulos que estão fisicamente pre-sentes e tentam construir uma interpretação significativa.

• As leis de organização da Gestalt são usadas para descre-ver o modo como organizamos fragmentos de informa-ção em todos significativos, conhecidos como Gestalts, por meio de fechamento, proximidade, semelhança e simplicidade.

• No processamento descendente, a percepção é guiada por conhecimentos, experiência, expectativas e motiva-ções de ordem superior. No processamento ascendente, a percepção consiste na progressão de reconhecer e pro-cessar informações dos componentes individuais de um estímulo e prosseguir para a percepção do todo.

RA 11-2 Como somos capazes de perceber o mundo em três dimensões quando nossas retinas são capazes de captar ape-nas imagens bidimensionais?

• Percepção de profundidade é a capacidade de perce-ber distância e ver o mundo em três dimensões, muito embora as imagens projetadas em nossas retinas sejam bidimensionais. Somos capazes de julgar profundidade

e distância como resultado de disparidade binocular e pistas monoculares, tais como paralaxe do movimento, tamanho relativo das imagens sobre a retina e perspec-tiva linear.

• A constância perceptual permite-nos perceber os estí-mulos como de tamanho, forma e cor invariáveis, a des-peito das mudanças no ambiente ou na aparência dos objetos que estão sendo percebidos.

• O movimento depende de pistas, tais como o movimento percebido de um objeto pela retina e informações sobre como a cabeça e os olhos estão se movendo.

RA 11-3 Quais pistas as ilusões visuais oferecem sobre nossa compreensão acerca dos mecanismos perceptuais gerais?

• Ilusões visuais são estímulos físicos que constantemen-te produzem erros na percepção, causando julgamentos que não refletem a realidade física de um estímulo com precisão. Uma das mais conhecidas é a ilusão de Müller--Lyer.

• As ilusões visuais geralmente são resultado de erros na interpretação de estímulos visuais. Além disso, a cultura influencia nosso modo de perceber o mundo.

• A percepção subliminar refere-se à percepção de men-sagens sobre as quais não temos consciência. A reali-dade do fenômeno, assim como da percepção extras-sensorial (PES), está aberta a questionamento e debate.

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Avalie

1. Combine cada uma das leis de organização com seu sig-nificado:a. fechamentob. proximidadec. similaridaded. simplicidade

1. Os elementos mais próximos são agrupados.

2. Padrões são percebidos da manei-ra mais básica e direta possível.

3. Os agrupamentos são feitos em termos de figuras completas.

4. Elementos de aparência seme-lhante são agrupados.

2. A análise de _______ lida com o modo como decompo-mos um objeto em suas partes a fim de compreendê-lo.

3. O processamento que envolve funções superiores, tais como expectativas e motivações, é conhecido como _______, ao passo que o processamento que reconhece os componentes individuais de um estímulo é conhecido como _______.

4. Quando um carro passa por você na estrada e pare-ce encolher à medida que se distancia, o fenômeno de _______ permite que você entenda que o carro não está ficando menor de fato.

5. _______ é a capacidade de ver o mundo em três dimen-sões em vez de duas.

6. O cérebro faz uso de um fenômeno conhecido como _______, ou a diferença entre as imagens que os dois olhos veem, para dar três dimensões à visão.

Repense

1. Como os pintores representam cenas tridimensionais em duas dimensões sobre uma tela? Você pensa que artistas em culturas não ocidentais usam os mesmos princípios ou outros para representar a tridimensionalidade? Justi-fique sua resposta.

2. Da perspectiva de um executivo: Que argumentos você poderia apresentar se um membro de sua equipe pro-pusese uma campanha de propaganda subliminar? Sua explicação seria suficiente para convencê-los? Justifique sua resposta.

Respostas das questões de avaliação

1. a-3, b-1, c-4, d-2; 2. características; 3. descendente, ascendente; 4. constância perceptual; 5. Percepção de profundidade; 6. disparidade binocular

Termos-chave

leis de organização da Gestalt p. 116

processamento descendente p. 117

processamento ascendente p. 118

percepção de profundidade p. 119

constância perceptual p. 120

ilusões visuais p. 122

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128 Capítulo 3 Sensação e Percepção

Recordando

EpílogoAssinalamos a distinção importante entre sensação e percep-ção, examinando os processos que subjazem a ambas. Vimos como estímulos externos evocam respostas sensoriais e como nossos diferentes sentidos processam as informações contidas nessas respostas. Abordamos a estrutura física e as operações internas de cada um dos sentidos, incluindo visão, audição, equilíbrio, olfato, paladar e os sentidos da pele. Exploramos como o nosso cérebro organiza e processa informações sen-soriais para construir um quadro integrado consistente do mundo a nossa volta.

Para completar análise da sensação e da percepção, va-mos reconsiderar o caso de TN, que é capaz de “ver” mesmo sendo cego. Usando seu conhecimento a respeito de sensa-ção e percepção, responda às seguintes perguntas:

1. A cegueira de TN é causada mais por um problema de sensação ou por um problema de percepção? Por que você pensa assim?

2. Mesmo pessoas com visão normal se beneficiam das ro-tas visuais que conferem aos indivíduos cegos a capaci-dade de responder às informações visuais? Por exemplo, você já reagiu a algo que “viu” sem estar consciente de que o viu?

3. O fenômeno de visão cega poderia ser um exemplo de PES? Justifique sua resposta.

4. Como a visão cega assemelha-se à percepção subliminar?

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(b) Proximidade (c) Semelhança (d) Simplicidade(a) Fechamento

Tímpano

Orelhaexterna

Orelhamédia

Orelhainterna

Pina

Canalauditivo

Tubaauditiva

Estribo

Bigorna

Martelo

Osso do crânioCanais semicirculares

Sistema vestibular

Nervoauditivo

Cóclea

Janela oval(embaixo do estribo)

Tuba auditiva Cóclea “desenrolada”

Cóclea

CóCócleeaa“desenrolal da”

RESUMO VISUAL 3 Sensação e PercepçãoMÓDULO 8 Sensopercebendo o Mundo a Nosso Redor MÓDULO 10 A Audição e os Outros Sentidos

MÓDULO 11 Organização Perceptual:Construindo Nossa Visão de Mundo

MÓDULO 9 Visão: Lançando Luz sobre o Olho

Leis de organização da Gestalt

Processamento descendente e ascendente

Constância perceptual

Ilusões perceptuais

Percepção de profundidade

Percepção de movimento

Limiares absolutosLimiares de diferença

• Menor diferença perceptível

• Lei de Weber

Percepção sensorial

• Bastonetes

• Cones

Estrutura do olho

Retina

Processamento visual

Estrutura da orelha

Outros sentidos

• Olfato

• Paladar

• Sentidos da pele

• Visão em cores Teoria tricromática Teoria do processo oponente• Detecção de características

Trato ótico

Quiasma ótico

Nervo ótico

Campo visual direito Campo visual esquerdo

Área visual primária do córtex cerebral

Nervo ótico

Fóvea

Retina

Células nãosensoriais da retina

Íris

Córnea

Pupila

Cristalino

Ponto cego

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