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i
FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM
ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA
DDIISSSSEERRTTAAÇÇÃÃOO DDEE MMEESSTTRRAADDOO
PPRROOFFIISSSSIIOONNAALLIIZZAANNTTEE EEMM AADDMMIINNIISSTTRRAAÇÇÃÃOO
STAKEHOLDERS SECUNDÁRIOS E SUA INFLUÊNCIA NAS EMPRESAS SITUADAS
NO BRASIL
JJOOSSII SSIILLVVAA SSAALLEESS
OORRIIEENNTTAADDOORR:: PPRROOFF..DDRR.. LLUUIIZZ AALLBBEERRTTOO NN.. CCAAMMPPOOSS
FFIILLHHOO
Rio de Janeiro, 07 de Dezembro de 2009
ii
“STAKEHOLDERS SECUNDÁRIOS E SUA INFLUÊNCIA NAS EMPRESAS
SITUADAS NO BRASIL”
JOSI SILVA SALES
Dissertação apresentada ao curso de
Mestrado Profissionalizante em
Administração como requisito parcial para
obtenção do Grau de Mestre em
Administração.
Área de Concentração: Administração
Geral
ORIENTADOR: PROF. DR. LUIZ ALBERTO NASCIMENTO CAMPOS FILHO
Rio de Janeiro, 07 de dezembro de 2009.
iii
“STAKEHOLDERS SECUNDÁRIOS E SUA INFLUÊNCIA NAS EMPRESAS
SITUADAS NO BRASIL”
JOSI SILVA SALES
Dissertação apresentada ao curso de
Mestrado Profissionalizante em
Administração como requisito parcial para
obtenção do Grau de Mestre em
Administração.
Área de Concentração: Administração
Geral
Avaliação:
BANCA EXAMINADORA:
_____________________________________________________
Professor DR. LUIZ ALBERTO NASCIMENTO CAMPOS FILHO (Orientador)
Instituição: IBMEC-RJ
_____________________________________________________
Professora Dra. FLAVIA DE SOUZA COSTA NEVES CAVAZOTTE
Instituição: IBMEC-RJ
_____________________________________________________
Professor DR. MARCOS COHEN
Instituição: PUC-RIO
Rio de Janeiro, 07 de dezembro de 2009.
iv
FICHA CATALOGRÁFICA
M658.00981 Sales, Josi Silva.
S586s
Stakeholders secundários e sua influência nas empresas
situadas no Brasil / Josi Silva Sales. Rio de Janeiro:
Faculdades Ibmec, 2009.
Dissertação de Mestrado Profissionalizante apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Administração das Faculdades
Ibmec, como requisito parcial necessário para obtenção do título
de Mestre em Administração.
Orientador: Luiz Alberto Nascimento Campos Filho
Área de concentração: Administração Geral.
1. Responsabilidade social 2. Stakeholders Secundários – Brasil 3.
Admistração - Stakeholders secundários I.Stakeholders secundários e sua
influência nas empresas Situadas no Brasil. II. Campos Filho, Alberto
Nascimento (Orientador).
v
DEDICATÓRIA
Dedico esta dissertação aos meus pais pelos ensinamentos
ao longo da minha vida.
“Aprender é a única coisa de que a mente nunca se cansa,
nunca tem medo e nunca se arrepende”. (Leonardo da
Vinci)
vi
AGRADECIMENTOS
Para mim esta parte de agradecimentos é muito especial, pois este trabalho foi um grande
desafio e foi construído desde o seu início com o apoio de várias pessoas devido à quantidade
de novas informações, base de dados no qual eu não tinha acesso e que precisei contar com a
ajuda de pessoas amigas durante esta caminhada.
Primeiramente, agradeço a Deus por ter guiado todos os meus passos, me escutado sempre
nas noites em que pedi força e respostas às minhas dúvidas e, por ter me ajudado na conclusão
de mais uma etapa da minha vida.
Ao meu orientador, prof. Dr. Luiz Alberto, pelo apoio e orientação em todos os momentos e
por me ter me dado o incentivo que eu precisava nesta reta final para conclusão da
dissertação.
Aos meus pais, Edna e Juarês, pelo apoio sempre incondicional nesta caminhada (obrigada
mãe por me ouvir sempre e ter me apoiado bastante neste momento finais onde muitas coisas
aconteceram ao mesmo tempo). A você, André, por me agüentar durante este período ausente,
mesmo quando presente, pelo seu silêncio nos momentos em que precisei ficar calada e
sozinha e por sempre compreender esta fase agitada e importante da minha vida.
vii
À Rosina, bibliotecária da Universidade de Brasília, mesmo sem me conhecer, foi muito
gentil e solícita, e me ajudou no acesso a base de dados Factiva. (muitíssimo obrigada
Rosina!! você foi fundamental para conclusão da minha pesquisa).
Aos amigos e amigas pelos contatos-chaves, informações, papos que ajudaram com o meu
trabalho: (Lu Siamarella, minha amiga bibliotecária, obrigada por me fazer conhecer a
empresa Proquest, a partir daquele momento, minhas portas se abriram até eu chegar à base
de dados Factiva); Gustavo, Vanessa Araújo e Setúbal (obrigada pelos artigos que eu pedia a
vocês, pois não tinha acesso); Melissa Cooney da TNC, thanks for your help! Paulo, da
Proquest, obrigada pelo acesso remoto à base de dados.
À Flavia Ribeiro, que há dois anos atrás, me ajudou na aprovação do meu mestrado junto à
empresa onde eu trabalhava.
À Rita de Cássia, por todas suas informações no que diz respeito à orientação acadêmica do
Ibmec; sempre pronta a ajudar de maneira muito rápida. Ao professor Raimundo Nonato,
pelas sugestões feitas durante a defesa do projeto de dissertação e pelas palavras sempre
amigas.
A todas as pessoas que me ajudaram de maneira direta ou indireta no meu trabalho. A minha
irmã Nuria Sales pelo seu apoio ao longo da minha trajetória no mestrado.
viii
RESUMO
O conhecimento da empresa de sua rede de stakeholders, o adequado relacionamento e o
alinhamento de objetivos mútuos são importantes, tendo em vista que os stakeholders, sejam
eles primários ou secundários, podem afetar de maneira positiva ou negativa seus negócios.
Dentre alguns movimentos sociais que podem afetar negativamente a imagem das empresas,
destacam-se os protestos e boicotes. Neste estudo foram enfocadas as ações praticadas pelos
stakeholders secundários contra empresas, relacionados a danos ambientais decorrentes de
suas atividades atuais ou futuras. Desta maneira, este estudo tem por objetivo verificar, por
meio de teste de hipóteses, sob que condições empresas instaladas no Brasil dedicaram
atenção às reivindicações dos stakeholders secundários a assuntos ambientais. Para tal, foram
considerados os atributos de poder, legitimidade e urgência que os stakeholders podem dotar,
beneficiando-se de maiores chances da empresa responder positivamente à sua solicitação,
aquele stakeholder que dotar de mais atributos comparado aos outros. Como objetivo
secundário, os resultados obtidos foram comparados com o trabalho de Eesley e Lenox
(2006). Foram avaliadas 32 ações contra empresas instaladas no Brasil nos últimos 11 anos
(1997 a 2008). Os resultados obtidos revelaram relações positivas apenas para o atributo
urgência da solicitação do stakeholder; apontando que a requisição feita pelo stakeholder
carece de resposta imediata ao problema abordado e não apenas um alerta para futuras ações.
Não foram encontradas evidências positivas para as demais hipóteses testadas, verificando-se
que a importância que a empresa dedica ou não às questões abordadas pelos stakeholders não
tem relação com os demais atributos elencados. Na comparação realizada com o estudo de
Eesley e Lenox (2006), foi verificado que não existem semelhanças entre os resultados
obtidos neste trabalho.
Palavras Chave: responsabilidade social, stakeholders, meio ambiente, protesto, boicote.
ix
ABSTRACT
A company’s stakeholders, be they primary or secondary, can have a positive or negative
impact on a business. In light of this, it is very important for a company to be familiar with its
network of stakeholders, establish an adequate relationship and align mutual objectives.
Protests and boycotts are two of the many types of social movements that may negatively
affect a company’s image. This study focuses on actions taken by secondary stakeholders
against companies whose current or future activities result in environmental degradation. The
objective of this study is to verify through hypothesis testing under what conditions
companies based in Brazil respond to secondary stakeholders’ claims regarding
environmental impacts. The study considers the attributes of power, legitimacy and urgency,
which stakeholders can exercise over companies. The stakeholder who possesses more of
said attributes has a higher likelihood of the company responding positively to its demands.
As a secondary objective, the results obtained were compared with Eesley e Lenox (2006)
study.
The study evaluated 32 actions against companies based in Brazil over the past 11 years
(1997-2008). The results only revealed a positive correlation between company response and
the attribute of urgency of the stakeholder’s demand. This indicates that the demand made by
the stakeholder requires an immediate response to the identified problem, and is not just an
alert for the company’s future activities. There was no indication of positive evidence for the
other tested hypotheses; thereby evidencing that the importance a company places on
stakeholder issues is not related to the other studied attributes. In the comparison made with
Eesley e Lenox (2006) study, it was verified that there are no similarities between the results
obtained in this study.
Key words: social responsibility, stakeholders, environment, protest, boycott.
x
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Rede de stakeholders da empresa............................................................................13
Figura 2 - Classe dos stakeholders...........................................................................................17
Figura 3 - Tipologia dos stakeholders......................................................................................18
Figura 4- Processo de coleta de dados do trabalho de Eesley e Lenox (2006)………………22
Figura 5 - Processo de coleta de dados para a amostra do presente trabalho…………………29
Figura 6 - Processo de seleção do tamanho da amostra para a pesquisa……………………..30
Figura 7 - Classificação dos Stakeholders secundários desta pesquisa....................................35
Figura 8 - Problemas ambientais reivindicados pelos stakeholders secundários.....................36
Figura 9 - Urgência da reclamação do stakeholder na presente pesquisa................................37
Figura 10 - Representação da variável dependente e independentes da pesquisa....................38
Figura 11 - Resultados da variável dependente desta pesquisa................................................39
Figura 12 - Demonstração dos stakeholders nacionais e internacionais..................................41
Figura 13 - Setores das empresas da amostra...........................................................................42
Figura 14 - Participação dos stakeholders nas ações................................................................43
Figura 15 - Participação das empresas nas ações......................................................................43
xi
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Resumo dos trabalhos que testaram o modelo de Mitchell et al (1997)................21
Quadro 2 – Etapas do estudo .................................................................................................... 27
Quadro 3 – Tamanho da amostra do estudo de Eesley e Lenox (2006) e o presente trabalho . 32
Quadro 4 – Controles e dummies adotados nos modelos de regressão desta pesquisa.............40
xii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Resultados obtidos com os modelos de regressão...................................................47
Tabela 2 - Comparação de resultados de ambos os estudos.....................................................51
xiii
LISTA DE ABREVIATURAS
3BL Triple Bottom Line
Bovespa Bolsa de valores do Estado de São Paulo
CERES Coalition for Environmentally Responsible Economies
CSP Corporate Social Performance
EBSCO Elton B. Stephens Company
FI Fator de Impacto
FSC Forest product certification
GRI Global Reporting Initiative
IDJS Índice Dow Jones de Sustentabilidade
IRRC Investor Responsibility Research Center
ISE Índice de Sustentabilidade Empresarial da Bovespa
ISO International Organization for Standardization
JCR Journal of Citation Reports
NGOs Non governmental organizations
ONGs Organizações não governamentais
Petrobras Petróleo Brasileiro S.A.
SPSS Statistical package for the social sciences
UnB Universidade de Brasília
xiv
VEIs International Voluntary Environmental Initiatives
WCED World Commission on Economic Development
xv
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 1
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................ 7
2.1 RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA .......................................................................... 7
2.2 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ........................................................................................... 9 2.2.1 Gerenciamento ambiental corporativo................................................................................................ 10
2.3 TEORIA DOS STAKEHOLDERS ....................................................................................................... 12
2.4 PROPOSIÇÕES DA TEORIA DE IDENTIFICAÇÃO E IMPORTÂNCIA DOS
STAKEHOLDERS DE MITCHELL ET AL (1997) .......................................................................................... 15 2.4.1 Breve apresentação dos artigos empíricos que testaram a teoria de Mitchell et al (1997) ................. 19 2.4.2 Apresentação do trabalho de Eesley e Lenox (2006) ......................................................................... 22
3 METODOLOGIA ................................................................................................ 24
3.1 SELEÇÃO DO TRABALHO DE MITCHELL ET AL (1997) ......................................................... 24
3.2 SELEÇÃO DO TRABALHO DE EESLEY E LENOX (2006) ......................................................... 25
3.3 DEFINIÇÃO DA AMOSTRA E COLETA DE DADOS DO PRESENTE TRABALHO .............. 27
3.4 RESUMO DAS PRINCIPAIS DIFERENÇAS DA AMOSTRA E DADOS OBTIDOS DO
PRESENTE TRABALHO E O DE EESLEY E LENOX (2006) ..................................................................... 30
3.5 LIMITAÇÕES DA AMOSTRA ........................................................................................................... 32
3.6 HIPÓTESES .......................................................................................................................................... 33 3.6.1 Controles adicionais as variáveis independentes ................................................................................ 39 3.6.2 Tratamento de dados .......................................................................................................................... 44
4 RESULTADOS .................................................................................................. 46
4.1 RESULTADOS OBTIDOS NO PRESENTE ESTUDO .................................................................. 47
4.2 COMPARAÇÃO DE RESULTADOS................................................................................................. 50
xvi
5 CONCLUSÕES .................................................................................................. 55
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 58
APÊNDICE A – RELAÇÃO DAS EMPRESAS E STAKEHOLDERS DA PESQUISA .................................................................................................................................. 62
APÊNDICE B – ESTATÍSTICA DESCRITIVA E CORRELAÇÕES DA AMOSTRA UTILIZADA NA PESQUISA ...................................................................................... 64
1
1 INTRODUÇÃO
Em razão do dinamismo e da competitividade ocasionados pela globalização, bem como por
uma maior influência e pressão da sociedade, as empresas se vêem obrigadas a reavaliar sua
contribuição e o impacto de suas atividades para o meio ambiente, desta maneira, vinculando
cada vez mais de maneira estratégica seus negócios às questões sócio-ambientais a que estão
envolvidas, direta ou indiretamente. A empresa socialmente responsável destaca-se no século
XXI e o empresariado é impulsionado a aderir práticas socialmente responsáveis na empresa,
pela percepção de que a responsabilidade social pode ser imprescindível tanto para sua
inserção quanto para sua permanência no mercado.
De acordo com a visão dos stakeholders preconizada por Freeman (1984), a noção de
responsabilidade social acompanha o compromisso das corporações de maximização de valor
a seus stakeholders. Dessa forma, as empresas procuram intensificar seus relacionamentos
com todos aqueles que, direta ou indiretamente, estão vinculados aos seus negócios, como
funcionários, clientes, consumidores, fornecedores, governo e os próprios acionistas,
reconhecidos como stakeholders primários; bem como também com as organizações não
governamentais, imprensa ou comunidade, denominados stakeholders secundários
(CLARKSON,1995). Em contrapartida, as empresas que não realizam atividades de
responsabilidade social procedem segundo a ótica dos stockholders (FRIEDMAN, 1970), isto
2
é, visam, precipuamente, a incrementar o lucro da empresa e pagamento de dividendos a seus
acionistas.
Uma vez que os stakeholders atuam como agentes influenciadores e são grupos afetados pelas
ações praticadas pela empresa na sociedade, tem havido maior demanda por transparência nos
negócios, bem como por maior sustentabilidade no uso de recursos e na comercialização de
bens e de serviços pela empresa. No intuito de atender a esses requerimentos, as empresas têm
aderido a ferramentas de auto-regulação não obrigatórias, denominadas International
Voluntary Environmental Initiatives –VEIs (CHRISTMANN e TAYLOR, 2002), dentre as
quais se destacam as seguintes: International Organization for Standardization (ISO); Forest
product certification (FSC); Global Reporting Initiative (GRI); CERES - Coalition for
Environmentally Responsible Economies (CHRISTMANN e TAYLOR, 2002). No âmbito
financeiro, destacam-se o Índice Dow Jones de Sustentabilidade (IDJS) e, no Brasil, o Índice
de Sustentabilidade Empresarial da Bovespa (ISE).
Como a rede de stakeholders de uma empresa pode ser muito extensa, e por limitações tanto
de recursos financeiros quanto de tempo disponíveis para gerenciar toda esta rede, o gestor
deve ter noção clara quais stakeholders de toda a sua rede são vitais para os negócios, de
maneira que seja mantido um relacionamento contínuo com eles, muitas vezes por meio de
parcerias (HARRISON e ST JOHN, 1996; LONDON e RONDINELLI, 2003; YAZIJI, 2004)
e, uma maior aproximação e relacionamento com organizações não-governamentais
ambientais, em razão do envolvimento direto dessas ONGs com a agenda ambiental
(SHARMA e HENRIQUES, 2005); bem como também, evitando que certos stakeholders
afetem negativamente a imagem da empresa, por meio de movimentos sociais como protestos
e boicotes (KING e SOULE, 2007) aos seus negócios.
3
Neste contexto, a teoria de identificação e importância dos stakeholders desenvolvida por
Mitchell et al (1997), examina sob que condições as empresas dedicam certo grau de
importância e de prioridade a determinado grupo de stakeholders.
A teoria de identificação e importância dos stakeholders de Mitchell et al (1997), foi
elaborada com base na teoria dos stakeholders de Freeman (1984), a partir de um dos
princípios de sua teoria: O princípio de quem ou o quê realmente importa (FREEMAN, 1994).
Com o intuito de evidenciar este princípio, Mitchell et al (1997) propuseram uma teoria que
permite a identificação dos stakeholders que devem ser priorizados pelos gestores, bem como
explicar o porquê de certos stakeholders serem favorecidos em detrimento de outros. Em sua
teoria, há três atributos — poder, legitimidade e urgência — que são empregados para
explanar a maneira segundo a qual a empresa hierarquizará seu relacionamento com sua rede
de stakeholders.
O presente trabalho tem por objetivo testar a teoria de identificação e importância dos
stakeholders de Michell et al (1997), verificando-se, desta maneira, como será priorizado o
relacionamento com os stakeholders, segundo os atributos de poder, legitimidade e urgência
dotados pelos stakeholders em empresas instaladas no Brasil nos últimos 11 anos. Para tal
propósito, foram utilizadas as mesmas hipóteses empregadas no estudo de Eesley e Lenox
(2006), que também testaram a referida teoria. Como um objetivo secundário, foram
comparados os resultados obtidos neste trabalho com o estudo de Eesley e Lenox (2006).
Em seu trabalho, Eesley e Lenox (2006) objetivaram identificar quais são os stakeholders
secundários e sob que condições eles podem exercer maior influência nas empresas, de
maneira a conseguir que a empresa responda positivamente às suas reivindicações
relacionadas a questões ambientais. A amostra de seu trabalho está baseada em ações de
4
stakeholders englobando protestos, boicotes e ações civis, contra empresas instaladas nos
Estados Unidos, no período de 1971 a 2003 (32 anos), decorrentes de danos ambientais
correntes ou futuros que estão ameaçando ou chamando a atenção dos stakeholders ao
problema.
O presente estudo também se concentrou em ações de stakeholders secundários relacionados
ao meio ambiente contra empresas instaladas no Brasil, no entanto, as ações foram restritas
aos protestos e boicotes, diferentemente do trabalho de Eesley e Lenox (2006), onde se
envolveram outras ações. O período abordado foi o de 1997 a 2008 (11 anos). Desta maneira,
o presente trabalho tem como um segundo objetivo comparar os resultados obtidos na
presente pesquisa com os que foram obtidos por Eesley e Lenox (2006), averiguando se as
mesmas hipóteses são ou não confirmadas, quando aplicadas num contexto Brasileiro.
Para seleção destas ações, foi utilizada a base de dados Dow Jones Factiva, por meio de
pesquisa a artigos publicados no período de 1997 a 2008 nos principais jornais brasileiros,
obtidos por meio das palavras chaves protesto ou boicote e meio ambiente. Foram
selecionados 32 artigos, para utilização no teste de hipóteses desta pesquisa, a ser detalhado
adiante.
Cabe ressaltar que, embora no presente estudo, foram testadas as proposições da teoria de
identificação e importância dos stakeholders de Mitchell et al (1997) utilizando-se apenas os
stakeholders secundários, sua teoria não se restringe a aplicação tão somente a este tipo de
stakeholder, podendo ser utilizados os primários também. Os stakeholders secundários foram
escolhidos para este estudo em detrimento aos stakeholders primários, pois, embora aqueles
não ameacem a sobrevivência da empresa como os stakeholders primários, eles podem
influenciar a opinião pública (CLARKSON, 1995) e afetar a imagem organizacional, tanto de
5
maneira positiva como negativa também. Além disto, na teoria apresentada por Mitchell et al
(1997), suas proposições não estão atreladas à questão ambiental, podendo haver outras
questões a serem testadas também. O foco desta pesquisa é tão somente a problemas
ambientais por serem considerados como relevantes tanto no meio acadêmico quanto
empresarial, o vínculo entre a pressão exercida pelos stakeholders nas empresas e a
reavaliação de suas estratégias ambientais como conseqüência disto, conforme destacado por
Shrivastava (1995).
Resultados obtidos nesta pesquisa, demonstraram relação positiva entre a importância da
solicitação do stakeholder com apenas o atributo urgência da solicitação. Não foram
comprovadas relações positivas entre os demais atributos testados: urgência e legitimidade.
Em contrapartida, em seu estudo, Eesley e Lenox (2006) encontraram evidências positivas
para o atributo poder, evidências parciais para a legitimidade e não foi comprovada a relação
positiva para o atributo urgência da solicitação, onde ao contrário, verificou-se relação
positiva para o contexto brasileiro analisado nesta pesquisa.
Esta dissertação está organizada da seguinte forma: no capítulo dois, revisa-se a literatura
sobre o tema estudado, discutem-se os conceitos de responsabilidade social corporativa e de
desenvolvimento sustentável, aborda-se tanto a teoria dos stakeholders quanto a teoria de
identificação e importância dos stakeholders de Mitchel et al (1997), apresenta-se breve
resumo de trabalhos em que testaram a sua teoria, além de detalhar-se o trabalho de Eesley e
Lenox (2006). No capítulo três apresentam-se a metodologia de pesquisa utilizada no
trabalho, explicando todo o processo de seleção dos artigos, etapas da pesquisa que foram
seguidas, bem como o levantamento da amostra desta pesquisa e as hipóteses que foram
testadas; no capítulo quatro, apresentaram-se os resultados obtidos no presente trabalho, bem
como são comparados com os resultados obtidos no estudo de Eesley e Lenox (2006). No
6
capítulo 5 apresenta-se a conclusão da dissertação e no capítulo 6 são apresentadas as
considerações finais do presente trabalho.
7
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
O objetivo do presente capítulo é apresentar o referencial teórico dos principais conceitos
relacionados ao tema da pesquisa. Para tanto, a organização do capitulo está apresentada da
seguinte maneira: na seção 2.1, apresenta-se a revisão bibliográfica sobre o tema da
responsabilidade social corporativa e desenvolvimento sustentável; na seção 2.2, aborda-se o
desenvolvimento sustentável e será enfocado na seção 2.2.1 um dos pilares do
desenvolvimento sustentável que é a gestão ambiental; na seção 2.3, será abordada a teoria
dos stakeholders, assim como se apresentará a teoria de identificação e importância dos
stakeholders de Mitchell et al (1997) na seção 2.4.
2.1 RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA
O conceito de responsabilidade social corporativa surgiu na década de 30 e a publicação de
Social responsibilities of the businessman, de Howard Bowen, em 1953 constitui marco na
evolução do conceito (CARROLL, 1979). Muitos trabalhos foram desenvolvidos no âmbito
da responsabilidade social corporativa, destacando-se os modelos de desempenho social de
Carroll (1979, 1991) e Wood (1991).
Em seu estudo, Carroll (1979) elaborou modelo de desempenho social, denominado
Corporate social performance (CSP). Nesse modelo, o desempenho social subdivide-se em
8
três aspectos: avaliação empresarial daquilo que diz respeito aos problemas sociais da
corporação; maneira como a firma agirá em relação a esses problemas; definição renovada de
responsabilidade social. Carroll redefiniu este conceito ao condicionar aos critérios
econômico, legal, ético e discricionário a avaliação da responsabilidade social corporativa.
Sob a dimensão econômica, a empresa necessita ser lucrativa, pois, sem o fator econômico –
oferta de bens e de serviços –, a empresa deixa de existir no médio ou no longo prazo. A
perspectiva legal estabelece que a empresa precisa cumprir todas as leis e regulamentos da
sociedade. Sob o aspecto ético, a empresa deve proceder de maneira ética em relação à
sociedade. Na dimensão discricionária, a empresa deve colaborar com a sociedade por meio
de ações filantrópicas que não estejam ligadas ao negócio da empresa.
Wood (1991) reformulou o modelo de desempenho social das empresas, e o segmentou em
três aspectos: princípios que levam a empresa a agir de maneira socialmente responsável;
processos por meio dos quais a empresa optará por atuar; resultados esperados dessa atuação.
Vale ressaltar que Wood (1991) insere o gerenciamento dos stakeholders entre os processos
que contribuem para o desempenho social das empresas.
Em oposição à visão da empresa e de suas dimensões sociais, no modelo clássico da
responsabilidade social, sobressaem, a preocupação exclusiva com os stockholders e
gerenciamento direcionado somente para eles. De acordo Friedman (1970), um dos
representantes da escola clássica de economia, o único papel da empresa e de seus
administradores é gerar lucro.
Greeno e Robinson (1992) corroboram com a visão de Friedman (1970) na questão da
geração de lucro para os stockholders, no entanto, acrescentam que, além disto, a empresa
9
deve preocupar-se em minimizar os impactos ambientais, por meio da preservação dos
recursos naturais e da contribuição para o desenvolvimento sustentável.
2.2 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
O termo desenvolvimento sustentável foi popularizado em 1987 por meio do Relatório
Brundtland (Nosso futuro comum), que foi desenvolvido pelo World Commission on
Economic Development–WCED, comissão de especialistas criada pela Organização das
Nações Unidas (PUPPIM, 2008). Esse relatório representou avanço na área ambiental, uma
vez que nele se lançou o conceito de desenvolvimento sustentável, o qual objetiva equilibrar
desenvolvimento econômico e conservação ambiental, de maneira a proporcionar benefícios à
sociedade (KONRAD ET AL, 2005). O termo desenvolvimento sustentável foi definido pela
WCED como “aquele que atende às necessidades das gerações presentes sem comprometer
que a geração futura satisfaça suas próprias necessidades” (BRUNDTLAND REPORT,
1987).
O desenvolvimento sustentável está baseado em três princípios: integridade ambiental,
prosperidade econômica e eqüidade social. Caso um dos princípios não seja alcançado, o
desenvolvimento econômico não será sustentável (BANSAL, 2005). Esses três princípios
estão agrupados no chamado the triple bottom line (3BL), o qual foi largamente difundido há
uma década, a partir da publicação britânica Cannibals with Forks: the triple bottom line of
21st Century Business, de 1997, escrita por John Elkington (NORMAN e MACDONALD,
2004). Organizações importantes na área de responsabilidade social, como GRI (Global
Reporting Iniative) e a Accountability, corroboraram também com o conceito do triple bottom line
no mundo corporativo, acrescentam Norman e MacDonald (2004).
10
2.2.1 Gerenciamento ambiental corporativo
Bansal (2005) salienta que a integridade ambiental, um dos componentes do triple bottom
line, pode ser atingida por meio do gerenciamento ambiental corporativo, ou seja, por
intermédio da redução dos impactos ambientais causados pelas operações da empresa. Bansal
(2005) complementa, ainda, que a forma de atenção dada pela empresa ao referido
gerenciamento pode variar entre uma abordagem reativa a uma abordagem proativa da
temática ambiental, ou seja, empresas que adotam uma postura mais proativa em relação ao
tema, procuram atuar sempre nos seus processos buscando a melhoria contínua e
consequentemente redução do impacto ambiental de seus produtos, seja por meio do controle
de poluição ou da redução de disperdício de matéria prima, além disto, investem
constantemente em inovação aos seus produtos. Segundo Berry e Rondinelli (1998), empresas
que não adotarem abordagem pró-ativa do gerenciamento das questões ambientais poderão
não ser competitivas na economia global do século XXI. Essa idéia é ratificada por Hart
(1997), para quem o meio ambiente constituirá grande oportunidade de negócios no século
XXI.
Os aspectos ligados ao meio ambiente e seu impacto na estratégia da empresa estão sendo
discutidos sob várias perspectivas. De acordo com Antolín e Gago (2004), esses temas estão
sendo tratados por intermédio da abordagem clássica da administração estratégica, bem como
por meio da perspectiva da responsabilidade social corporativa. No que diz respeito à
estratégia empresarial, os autores mencionados consideram que as empresas têm percebido a
questão ambiental como oportunidade e não como ameaça. Segundo os autores, a
responsabilidade social corporativa está ligada ao compromisso da empresa perante a
sociedade.
11
No âmbito estratégico, Shrivastava (1995) enfatiza que as empresas podem melhorar seus
resultados caso observem o preceito da sustentabilidade, que segundo Hart (1997) é entendido
como o uso de tecnologias limpas, decréscimo na emissão de poluentes, e desta maneira
poderão reduzir custos por meio de maior eficiência ecológica e abrir novos mercados verdes.
Conseqüentemente, se ganha vantagem competitiva, garante-se retorno financeiro no longo
prazo, estabelecem-se melhores relacionamentos com a comunidade e com os stakeholders,
além de melhorar-se a imagem da corporação na imprensa. Porter (1990) e Porter e Van der
Linde (1995) concordam com essas afirmações e adicionam que um adequado planejamento
dos aspectos ligados ao meio ambiente pode motivar a inovação e conduzir a vantagens
competitivas.
Segundo Bansal (2000) são quatro os motivos que levam as empresas a preocupar-se com o
meio ambiente: legislação, pressão dos stakeholders, oportunidades econômicas e ética.
Buysse e Verbeke (2003) entendem que as estratégias empresariais para o meio ambiente
podem ser interpretadas como tentativa de satisfazerem-se as expectativas dos stakeholders.
Desse modo, identificar os stakeholders mais importantes torna-se ponto crítico na elaboração
da estratégia corporativa.
Para Berry e Rondinelli (1998), o mercado e os negócios, são fatores essenciais para as
empresas, mas há outros fatores, a exemplo dos stakeholders, que pressionam as firmas a
adotar postura pró-ativa na questão ambiental.
12
2.3 TEORIA DOS STAKEHOLDERS
Qualquer grupo ou indivíduo que pode afetar ou que é afetado pela concretização dos
objetivos da organização é considerado stakeholder (FREEMAN, 1984). Ainda que o
conceito de stakeholder tenha sido discutido em escritos e em conferências executivas desde
1930 (PRESTON e SAPIENZA, 1990), essa concepção foi difundida, principalmente, por
Eduard Freeman em 1984 (ANTOLÍN e GAGO, 2004).
Segundo Frooman (1999), os estudiosos da teoria dos stakeholders preocuparam-se em
responder a três importantes questões relativas à teoria: 1- Quem são os stakeholders; Quais
são os seus atributos; 2-O que eles querem; 3- De que maneira irão agir para alcançar seus
objetivos.
Em relação a uma das principais questões estudadas em relação à teoria dos stakeholders,
segundo Frooman (1999), podem ser considerados stakeholders de uma empresa os
acionistas, os investidores, os funcionários, os fornecedores, os clientes, a comunidade, os
consumidores, a imprensa, as organizações não governamentais e o governo. Mitchell et al
(1997) argumentam que grupos que não possuem poder, legitimidade ou urgência em suas
demandas não devem ser considerados como stakeholders. De acordo com Clarkson (1995),
há stakeholders primários e stakeholders secundários: os grupos considerados como primários
são aqueles que são indispensáveis para a sobrevivência da corporação e devem ser, portanto,
objeto de atenção constante, o que permite Clarkson (1995) a afirmar que há interdependência
entre a firma e esse grupo de stakeholders; por outro lado, os stakeholders secundários não
são essenciais para a sobrevivência da empresa, uma vez que não se envolvem em transações
diretas, porém têm capacidade de mobilizar a opinião pública, e com isso, podem favorecer ou
não a imagem da empresa. O autor exemplifica como stakeholders primários os funcionários,
13
os investidores, os acionistas, os fornecedores e o governo, enquanto os stakeholders
secundários são a imprensa, as organizações não governamentais, a comunidade e outros
grupos específicos de interesse.
Na figura 1 abaixo, demonstram-se alguns stakeholders da empresa:
Figura 1 – Rede de stakeholders da empresa
Fonte: Pupim de Oliveira (2008)
Goodpaster (1991), por sua vez, classificou os stakeholders como estratégicos e morais, com
base na conceituação de stakeholder de Freeman (1984). O autor considera estratégico o
grupo que pode afetar a empresa enquanto que o stakeholder moral é afetado pelas ações da
organização. Neste sentido, Frooman (1999) defende que os artigos acadêmicos direcionados
para análise dos stakeholders estratégicos, aproximam-se da bibliografia acerca de estratégia.
Para ele, a empresa precisa alinhar estrategicamente tanto seus interesses quanto o de seus
stakeholders, no intuito de a corporação concretizar com seus objetivos. Por outro lado, os
trabalhos acadêmicos direcionados para a análise dos stakeholders morais, Frooman (1999)
afirma que neste caso, a bibliografia acadêmica aproxima-se mais dos escritos acerca da ética.
14
Existem outras percepções acadêmicas sobre os stakeholders. Berman et al (1999) e Odgen e
Watson (1999) buscaram compreender de que maneira o relacionamento com os stakeholders
poderia afetar o desempenho da empresa. Harrison e St. John (1996), por sua vez,
examinaram a formação de parcerias entre empresa e stakeholders externos.
Donaldson e Preston (1995), por intermédio de análise da produção acadêmica sobre os
stakeholders, segmentaram em três categorias os tipos de estudos que abordam a teoria dos
stakeholders: normativa, instrumental e descritivo-empírica. Jawahar e McLaughlin (2001)
afirmam que os estudos existentes sobre os stakeholders concentram-se numa abordagem
normativa, ou seja, que têm por objetivo explicar como os gerentes das empresas devem lidar
com seus stakeholders.
De acordo com Donaldson e Preston (1995), na abordagem instrumental, procura-se explicar
que resultado se alcança quando a empresa age estrategicamente em relação a seus
stakeholders. Jones (1995) na vertente instrumental considera que a empresa obterá vantagens
competitivas perante seus concorrentes caso ela se relacione com seus stakeholders por meio
de cooperação. Barringer e Harrison (2000) nomeiam este tipo de relacionamento da empresa
com seus stakeholders de relações interorganizacionais1.
Na vertente descritivo-empírica, procura-se mostrar como as organizações interagem com
seus stakeholders e que critérios são empregados para definir um grupo como stakeholder.
Em conformidade com essa teoria, Jones (1994) afirma que as empresas julgam os
stakeholders como relevantes caso exista justiça intrínseca nas reclamações e nas demandas
destes perante aquelas. Mitchell et al (1997), também na vertente descritiva, entendem que a
1 Organizações formam alianças, também chamados de networks para alinhar seus interesses próprios com os
interesses dos seus stakeholders, bem como para reduzir as incertezas do seu ambiente (BARRINGER E
HARRISON, 2000, p.370, tradução nossa).
15
identificação dos stakeholders e sua importância para a empresa estão atreladas à legitimidade
de sua reivindicação, ao poder que eles exercem sobre a empresa e à urgência de seus
problemas. Ademais, segundo Jawahar e McLaughlin (2001), há reduzida quantidade de
artigos sobre essa vertente de análise da teoria dos stakeholders.
2.4 PROPOSIÇÕES DA TEORIA DE IDENTIFICAÇÃO E IMPORTÂNCIA DOS
STAKEHOLDERS DE MITCHELL ET AL (1997)
Freeman (1994) desenvolveu um princípio fundamental para a teoria dos stakeholders
denominado: o princípio de quem ou o quê realmente importa. Por meio deste princípio,
podem-se definir não só quem são os stakeholders da empresa, como também a quais destes
as empresas devem dedicar mais atenção. Os dois questionamentos principais do princípio
podem ser divididos segundo as teorias normativa e descritiva, respectivamente. Mitchell et al
(1997) procuraram responder a segunda questão do princípio, ao discutir quais são os critérios
utilizados pela empresa para definir o grau de importância e de prioridade que a corporação
atribui a uma classe de stakeholders.
Mitchell et al (1997) listaram três atributos dos stakeholders perante a empresa:
1-o poder do stakeholder para influenciar a empresa;
2- a legitimidade no relacionamento do stakeholder com a empresa;
3- a urgência da reivindicação do stakeholder para a empresa.
O poder é definido como o relacionamento entre atores, no qual A consegue que B faça algo
que ele nunca faria. A legitimidade é conceituada como a percepção ou a premissa de que as
ações de uma entidade são desejáveis ou apropriadas de acordo com certos sistemas sociais de
16
normas, de valores e de crenças. A urgência consiste na imediata atenção de que o stakeholder
necessita.
Mitchell et al (1997) destacam que esses atributos também facilitam a compreensão de como
os stakeholders podem ganhar ou perder importância perante a empresa. São eles:
1- Os atributos dos stakeholders não são imutáveis, nem perenes, podendo variar de acordo
com a entidade ou com o relacionamento entre stakeholders e gestores da empresa.
2- A existência ou o nível de cada atributo decorrem de múltiplas percepções e são
construídos com base na realidade, e não como se fossem apenas objetivos.
3- Entidades ou indivíduos podem não ter consciência de que possuem esses atributos, assim
como podem saber que os detém, mas podem escolher em não atuar os empregar.
Deve-se considerar outro aspecto importante na teoria de identificação e de importância dos
stakeholders de Mitchell et al (1997): a percepção que os gestores da empresa podem ter em
relação a certo stakeholder, considerado relevante por meio dos atributos de poder, de
legitimidade e de urgência. Mitchell et al (1997) apontam que mesmo que grupos ou
indivíduos sejam identificados como importantes stakeholders e, conseqüentemente, devem
receber maior atenção da empresa, essa priorização somente ocorrerá se o gestor perceber
aqueles stakeholders como importantes para a organização, o que permite Mitchell et al
(1997) tratar as características dos gestores como uma variável da referida teoria.
Mitchell et al (1997) apresentam proposição acerca da importância do stakeholder para a
empresa:
17
1º) proposição: A importância do stakeholder relaciona-se positivamente com a acumulação
dos atributos (poder, legitimidade e urgência), segundo a percepção dos gestores.
A figura 2 abaixo, está representada as combinações desses atributos. Nas áreas um, dois e
três há apenas um atributo, o que torna a importância do stakeholder baixa, em comparação
com as áreas quatro, cinco e seis, nas quais se acumulam dois atributos. Percebe-se maior
grau de importância na área sete, onde se verificam a combinação dos três atributos e o
dinamismo entre eles. Na área oito, não há stakeholder, em razão da ausência de atributos
(MITCHELL ET AL, 1997).
Figura 2 – Classe dos stakeholders
Fonte: Mitchell et al (1997)
Mitchell et al (1997) nomearam de stakeholders latentes os stakeholders representados nas
áreas de um a três, nas quais existe somente um atributo. Nas áreas quatro, cinco e seis, estão
os stakeholders que têm dois atributos, denominados stakeholders expectantes. Por fim, os
stakeholders que estão enquadrados na área sete foram chamados de definitivos.
Mitchell et al (1997) subdividiram as classes de stakeholders latentes e expectantes de acordo
os três atributos, conforme demonstrado na figura 3 abaixo:
3
Urgência
2
Legitimidade
1
Poder
4
56
7
8
3
Urgência
2
Legitimidade
1
Poder
4
56
7
8
18
Figura 3 – Tipologia dos stakeholders
Fonte: Mitchell et al (1997)
Levando em consideração as três classes de stakeholders: (latentes, expectantes e definitivos),
três novas proposições foram desenvolvidas com base na proposição de Mitchell et al (1997):
1º a) proposição: A importância do stakeholder será baixa, quando apenas um atributo dos
stakeholders é percebido pelos gestores como presente. Dada a escassez de tempo e de
recursos para gerenciar relacionamentos, a empresa não priorizará políticas direcionadas aos
stakeholders latentes.
1º b) proposição: A importância do stakeholder será moderada, quando dois atributos dos
stakeholders são percebidos pelos gestores como presentes.
1º c) proposição: A importância do stakeholder será alta, quando três atributos dos
stakeholders são percebidos pelos gestores como presentes.
Por conseguinte, a importância dada pela empresa aos seus stakeholders estaria diretamente
relacionada à quantidade de atributos que os gestores percebam no stakeholder. Jawahar e
19
McLaughlin (2001) criticam a proposta de Mitchell et al (1997) por entenderem que por meio
dela não se hierarquizam os stakeholders em grau de importância. Para eles, somente se
identifica o stakeholder mais importante, isto é, aquele que acumula os três atributos
(legitimidade, poder e urgência). Além disso, os autores afirmam que a teoria não prevê como
a organização deve tratar os stakeholders cujo grau de importância sofre variações.
2.4.1 Breve apresentação dos artigos empíricos que testaram a teoria de Mitchell et al
(1997)
Alguns estudos foram elaborados no intuito de testar as proposições de Mitchell et al (1997),
os quais são apresentados no quadro 1 seguinte, por meio da qual se distinguem as principais
semelhanças e diferenças nos resultados obtidos.
Dentre os trabalhos analisados, nota-se que o próprio Mitchell apresentou — com outros
acadêmicos, dois anos após a publicação da teoria de identificação e teoria dos stakeholders
— trabalho em que objetivou testar a teoria que havia proposto anteriormente (AGLE ET AL,
1999). Observa-se que Agle et al (1999), por sua vez, não só ratificaram a teoria de Mitchell
et al (1997), como também aprofundaram seu estudo ao utilizar a Teoria da Cognição Social e
a Teoria Organizacional para explicar de que maneira a percepção e os valores dos gestores da
empresa podem influenciar na avaliação dos atributos de poder, legitimidade e urgência dos
stakeholders.
Jones, Felps e Bigley (2007), além de concordarem que há essa influência, abordaram-na de
forma diferente, utilizando a cultura organizacional das empresas. Os autores sugerem dessa
forma, complementação a teoria de Mitchell et al (1997), com base em três novas proposições
relacionadas à cultura da empresa (egoísta, instrumentalista e moralista). Antolín e Gago
20
(2004), além de aceitarem a teoria de Mitchell et al (1997), enfatizam a questão ambiental em
seu texto.
Ainda que Eesley e Lenox (2006) não utilizem a idéia de influência dos gestores, eles
empregam as ações empreendidas pelos stakeholders em sua análise. A opção de pesquisa
desses autores é justificada por meio da teoria da dependência.
Os resultados obtidos por estes trabalhos comprovam a teoria de Mitchell et al (1997).
21
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22
2.4.2 Apresentação do trabalho de Eesley e Lenox (2006)
Conforme apresentado na subseção anterior, as proposições de Mitchell et al (1997) sobre a
teoria da identificação e importância dos stakeholders foram testadas em alguns estudos,
dentre eles o de Eesley e Lenox (2006). Em sua pesquisa, Eesley e Lenox (2006) elaboraram
uma base de dados em que constam de ações praticadas por stakeholders secundários contra
empresas situadas nos Estados Unidos, em razão de danos ambientais ou preocupações com o
meio ambiente decorrentes das atividades das empresas. Nesse intuito, utilizaram a base de
dados LexisNexis, nos módulos academic, para obter informações de protestos, boicotes e
letter writing campaigns publicados em jornais e o módulo legal research, para obter
informações sobre ações civis. As informações foram obtidas de acordo com o diagrama
abaixo, representado pela figura 4.
Figura 4- Processo de coleta de dados do trabalho de Eesley e Lenox (2006)
Fonte: o autor
23
Os resultados encontrados por meio desta pesquisa feita por Eesley e Lenox (2006), usando as
palavras chaves indicadas acima, resultaram em 602 ações (333 proxy votes, 144 ações civis,
78 protestos, 38 boicotes e 9 letter writing campaigns)2.
Em sua pesquisa, Eesley e Lenox (2006) confirmam as proposições apresentadas no estudo de
Michell et al (1997).
2 letter-writing campaigns são cartas enviadas para jornais por qualquer pessoa ou por um grupo com o intuito
de reclamar sobre algum problema, engajar outras pessoas também no assunto abordado. Proxy vote, é uma
delegação de poderes para uma outra pessoa votar no lugar dela sobre algum assunto que será tratado. Neste
caso, Eesley e Lenox (2006), usaram informações de uma empresa que faz este tipo de trabalho o IRRC
(Investor Responsibility Research Center). Segundo Eesley e Lenox (2006), a exclusão do proxy votes da base de
dados, não alterou os resultados da pesquisa significativamente
24
3 METODOLOGIA
O presente capítulo apresenta a metodologia de pesquisa utilizada. O capítulo está organizado
em seis seções. Na seção 3.1 é apresentada a justificativa para a escolha da teoria de Mitchell
et al (1997) para esta pesquisa. Na seção 3.2 apresenta-se a processo de escolha do trabalho de
Eesley e Lenox (2006) para utilização das mesmas hipóteses para o presente trabalho,
detalhando-se as etapas do estudo percorridas até a escolha do trabalho; posteriormente, é
apresentado na seção 3.3 o processo feito para seleção da amostra que foi utilizada neste
trabalho e, será demonstrado na seção 3.4 um resumo com as principais diferenças entre a
seleção da amostra do estudo de Eesley e Lenox (2006) e a que foi utilizada neste estudo; na
seção 3.5 é feito uma descrição das limitações da amostra selecionada. Por fim, na seção 3.6
são apresentadas as hipóteses que foram testadas no presente trabalho.
3.1 SELEÇÃO DO TRABALHO DE MITCHELL ET AL (1997)
A teoria dos stakeholders está segmentada em três categorias segundo Donaldson e Preston
(1995) — das quais se tratará com maior profundidade no próximo capítulo — normativa,
instrumental e descritiva. Na abordagem descritiva, são analisados de que maneira as
empresas lidam com seus stakeholders, nesta abordagem, destacam-se o trabalho de Mitchell
et al (1997) e sua teoria de identificação e importância dos stakeholders. Estudos anteriores
não focaram na identificação dos stakeholders pelo seu grau de importância destes para as
25
empresas (ANTOLÍN e GAGO, 2004; EESLEY e LENOX, 2006). Em seu estudo, Mitchell et
al (1997), propõe sob que condições as empresas dedicam maior ou menor grau de atenção
aos stakeholders. Para o presente trabalho, foi adotada a teoria de Mitchell et al (1997) para
verificar as condições que as empresas dedicam atenção aos seus stakeholders.
3.2 SELEÇÃO DO TRABALHO DE EESLEY E LENOX (2006)
A fim de testar a teoria de identificação e importância dos stakeholders de Mitchell et al
(1997), foi escolhido o estudo de Eesley e Lenox (2006) para utilizar as mesmas hipóteses
apresentadas no que concerne a essa teoria. Utilizou-se a base EBSCO Industries Inc, e
selecionaram-se, para análise, artigos dos dez principais periódicos internacionais3 da área de
gestão, na categoria Business, selecionados pelo JCR (Journal of Citation Reports), de acordo
o seu fator de impacto (FI) no ano de 2007, de modo a identificar estudos empíricos que
testaram a referida teoria.
Foi escolhido o trabalho de Eesley e Lenox (2006) em razão de eles terem verificado as ações
de stakeholders secundários contra as empresas, abordando tão somente reivindicações às
empresas quando decorrentes de problemas ambientais causado por elas. A motivação para
análise da rede de stakeholders secundários é que, embora não estejam relacionados
diretamente ao dia-a-dia e aos negócios das empresas, a exemplo dos stakeholders primários,
eles podem afetar a imagem da empresa (CLARKSON, 1995) causando até mesmo queda do
valor da empresa no mercado por meio de movimentos sociais, como protestos e boicotes
(KING e SOULE, 2007).
3 Utilização dos dez principais periódicos listados pelo JCR 2007 por possuírem fator de impacto (FI)
significativo no ano de 2007 nas categorias de Business: Academy of Management Journal, Academy of
Management Review, Management Science, Journal of Marketing, Administrative Science Quarterly, Strategic
Management Journal , Journal of International Business Studies, Journal of Retailing, Journal of Management,
Journal of Management Studies.
26
A abordagem ambiental atrelado ao estudo dos stakeholders é muito importante, pois segundo
Hart (1997), as mudanças ambientais ocorrida há três décadas têm modificado a maneira
como as empresas fazem negócios e resolvem questões ambientais. Para Shrivastava (1994),
uma das explicações para a crescente preocupação empresarial com o impacto negativo de
suas operações no meio ambiente, é advindo de pressões exercidas pelos stakeholders. Eesley
e Lenox (2006), por sua vez, entendem que os stakeholders secundários constituem ameaça
para as empresas, porquanto podem pressioná-las por meio de ações, como protestos e
boicotes. Dacin et al (2007) acrescentam ainda, que tais boicotes são resultados de falta de
legitimidade social4 por parte da empresa e que conseqüentemente, há risco de danificar-se a
sua imagem, obrigar-se esta a despender receitas em decorrência de ações judiciais (EESLEY
e LENOX, 2006) e até mesmo na perda de oportunidades no mercado (DACIN ET AL, 2007).
Por tudo o que se expôs nesta seção, justifica-se a escolha do trabalho de Eesley e Lenox
(2006).
No quadro 2 abaixo, estão demonstradas as etapas da pesquisa seguidas até a escolha do
trabalho de Eesley e Lenox (2006) para utilização de suas hipóteses propostas para testar a
teoria de identificação e importância dos stakeholders de Mitchell et al (1997).
4 Dacin et al (2007) definem como legitimidade social da empresa, o ato das empresas agirem de acordo as
regras e expectativas da sociedade.
27
Quadro 2 – Etapas do estudo
Fonte: o autor
3.3 DEFINIÇÃO DA AMOSTRA E COLETA DE DADOS DO PRESENTE TRABALHO
O objetivo desta dissertação é testar a teoria de identificação e importância dos stakeholders
de Mitchell et al (1997) utilizando-se das mesmas hipóteses e similar seleção da amostra
elencadas no trabalho de Eesley e Lenox (2006), que também testaram referida teoria. Desta
maneira, esta dissertação tem como um segundo objetivo comparar os resultados obtidos em
ambos os trabalhos.
Para selecionar a amostra com as ações praticadas pelos stakeholders secundários contra as
empresas no Brasil nos últimos 11 anos (1997 a 2008), foi utilizada a base de dados Dow
Jones Factiva. No período em que foi realizada esta pesquisa, apenas a Universidade de
Brasília (UnB) e a Petróleo Brasileiro S.A (PETROBRÁS) tinham licença desta base de dados
Seleção de um artigo para utilização das hipóteses e
metodologia utilizada na presente dissertação.
Artigo selecionado: Firm responses to secondary stakeholder
action. Eesley e Lenox (2006)
Pesquisa e verificação dos artigos que testaram a teoria de
Mitchell et al (1997) – Teoria de identificação e importância
dos stakeholders.
Escolha de um artigo que abordasse a teoria dos stakeholders
para utilização como base da dissertação. artigo selecionado:
Toward a theory of stakeholder identification and salience:
defining the principle of who and what really counts. Mitchell
et al (1997).
Identificação de artigos que abordam a teoria dos
stakeholders.
Objetivo
a) Leitura dos artigos encontrados visando a identificação das
semelhanças e diferenças entre os trabalhos que testaram o
modelo de Mitchell et al (1997).
b) Identificação do artigo de maior interesse para utilização
das mesmas hipóteses.
4
a) Utilização da mesma base para pesquisa da etapa 1.
A pesquisa foi feita utilizando-se como palavra de referência,
o artigo selecionado de Mitchell et al (1997):
“Toward a theory of stakeholder identification and salience:
defining the principle of who and what really counts”.
Total de artigos = 44
b) A partir desta pesquisa, foram analisados e selecionados os
artigos que testaram a teoria de Mitchell et al (1997).
Total de artigos = 3
3
a) Leitura e análise dos artigos encontrados visando a
compreensão da teoria dos stakeholders.
b) Identificação do artigo de maior interesse para examinar
em detalhes.
2
Pesquisa realizada na base de dados Business Source
Complete, provida pela EBSCO Industries Inc. Seleção dos 10
primeiros periódicos internacionais da área de gestão, na
categoria Business, elencados pelo JCR (Journal of Citation
Reports) de acordo com o seu fator de impacto (FI) em 2007.
A pesquisa foi feita utilizando-se “Stakeholder theory” como
palavra de referência no texto inteiro. Total de artigos = 142
1
AtividadeEtapas
Seleção de um artigo para utilização das hipóteses e
metodologia utilizada na presente dissertação.
Artigo selecionado: Firm responses to secondary stakeholder
action. Eesley e Lenox (2006)
Pesquisa e verificação dos artigos que testaram a teoria de
Mitchell et al (1997) – Teoria de identificação e importância
dos stakeholders.
Escolha de um artigo que abordasse a teoria dos stakeholders
para utilização como base da dissertação. artigo selecionado:
Toward a theory of stakeholder identification and salience:
defining the principle of who and what really counts. Mitchell
et al (1997).
Identificação de artigos que abordam a teoria dos
stakeholders.
Objetivo
a) Leitura dos artigos encontrados visando a identificação das
semelhanças e diferenças entre os trabalhos que testaram o
modelo de Mitchell et al (1997).
b) Identificação do artigo de maior interesse para utilização
das mesmas hipóteses.
4
a) Utilização da mesma base para pesquisa da etapa 1.
A pesquisa foi feita utilizando-se como palavra de referência,
o artigo selecionado de Mitchell et al (1997):
“Toward a theory of stakeholder identification and salience:
defining the principle of who and what really counts”.
Total de artigos = 44
b) A partir desta pesquisa, foram analisados e selecionados os
artigos que testaram a teoria de Mitchell et al (1997).
Total de artigos = 3
3
a) Leitura e análise dos artigos encontrados visando a
compreensão da teoria dos stakeholders.
b) Identificação do artigo de maior interesse para examinar
em detalhes.
2
Pesquisa realizada na base de dados Business Source
Complete, provida pela EBSCO Industries Inc. Seleção dos 10
primeiros periódicos internacionais da área de gestão, na
categoria Business, elencados pelo JCR (Journal of Citation
Reports) de acordo com o seu fator de impacto (FI) em 2007.
A pesquisa foi feita utilizando-se “Stakeholder theory” como
palavra de referência no texto inteiro. Total de artigos = 142
1
AtividadeEtapas
28
no Brasil5. O período de 11 anos da pesquisa é decorrente da disponibilidade do acesso a
informações que a Universidade de Brasília – UnB dispunha para consulta. A pesquisa à base
de dados da Dow Jones Factiva foi feita para os seguintes jornais brasileiros que estavam
disponíveis para consulta nessa base de dados no período em que foi realizado o trabalho:
Folha de São Paulo
Gazeta Mercantil
Jornal do Brasil
Jornal do Commercio do Rio de Janeiro
Jornal da Tarde
O Estado de São Paulo
O Globo
Valor Econômico
Para selecionar as ações de protestos e boicotes, praticadas pelos stakeholders secundários
contra as empresas, foram utilizadas as palavras-chaves: protestos ou boicotes associados
sempre à palavra meio ambiente.
A figura 5, seguinte, está demonstrada a seleção de dados feita para a pesquisa:
5 Esta informação foi obtida por meio da empresa ProQuest, no escritório central do Rio de Janeiro. A base de
dados Dow Jones Factiva é um produto da ProQuest.
29
Figura 5 - Processo de coleta de dados para a amostra do presente trabalho
Fonte: o autor
Nesta pesquisa, foram encontradas 1.390 referências para estas palavras-chaves. A partir desta
primeira seleção, foi feita uma segunda seleção por meio de leitura de cada um dos artigos
para avaliar se tais referências eram relevantes para o contexto em questão que seria analisado
no trabalho6. A partir desta segunda seleção, foram escolhidas apenas 48 referências, das
quais foi possível identificar claramente a empresa alvo do stakeholder, o stakeholder e o
motivo da reclamação ou reivindicação para ação de protesto ou boicote executada pelo
stakeholder. Cabe ressaltar que, quando foram identificados os mesmos protestos e boicotes
em vários jornais, foi considerada apenas como uma única ação.
6 Cabe ressaltar que, embora as 1.390 referências encontradas por meio das palavras chaves protesto ou boicote e
meio ambiente, foi percebido na leitura dos artigos, que se tratavam de ações muitas vezes contra o governo e
não contra uma empresa. Desta maneira, foram descartados tais artigos, pois o objetivo do trabalho era apenas a
ações contra empresas. Optou-se por não incluir como palavra chave na pesquisa palavras como Stakeholder ou
empresa, pois restringiria muito o número de ações que seriam encontradas na pesquisa, uma vez que a palavra
stakeholder é estrangeira, logo, não seria muito comum de se encontrar em artigos deste tipo em jornais
brasileiros , além disto, o artigo poderia mencionar algum protesto indicando diretamente o nome da empresa e
não citando a palavra empresa propriamente dita no texto.
30
Embora tenham sido encontradas 48 referências que se enquadravam no contexto analisado,
todas relacionadas apenas a protestos, foram utilizadas 32 ações na amostra para o teste de
hipóteses, pois alguns dados adicionais que eram necessários para realizar o teste de hipóteses
não foram possíveis de se obter. No apêndice A deste trabalho, estão detalhados os nomes das
empresas que foram alvo dos protestos ou boicotes, nome dos stakeholders e ano em que a
ação foi ocorrida. Na figura 6 abaixo, está representado a seleção inicial até a final das
referências para a amostra.
Figura 1 - Processo de seleção do tamanho da amostra para a pesquisa
Fonte: o autor
3.4 RESUMO DAS PRINCIPAIS DIFERENÇAS DA AMOSTRA E DADOS OBTIDOS
DO PRESENTE TRABALHO E O DE EESLEY E LENOX (2006)
Conforme apresentado na seção anterior, existem algumas diferenças entre o presente trabalho
e o de Eesley e Lenox (2006). O recorte temporal é diferente: aqueles autores limitaram seus
estudos ao intervalo entre 1971 e 2003; nesta dissertação, o intervalo é de 1997 a 2008. A
abrangência geográfica do presente estudo também difere da de Eesley e Lenox (2006): estes
abordaram hipóteses e as testaram utilizando ações ocorridas nos Estados Unidos; nesta
1.390 referências
encontradas
48 referências
selecionadas
32 referências
para a amostra
31
pesquisa, os dados usados foram referentes ao Brasil. Será apresentada, ainda, atualização do
período estudado por Eesley e Lenox (2006), em virtude da inclusão de informações do
intervalo entre 2004 e 2008.
Com relação à base de dados, Eesley e Lenox (2006) utilizaram a base de dados LexisNexis
para busca do conteúdo das ações praticadas pelos stakeholders contra as empresas; nesta
pesquisa foi utilizada a base de dados Dow Jones Factiva. Além disto, neste trabalho foram
restringidas as ações a protestos e boicotes, por outro lado, Eesley e Lenox (2006) usaram
outras ações além destas, como ações civis, letter-writing campaigns e proxy votes. Ao
contrário do trabalho de Eesley e Lenox (2006), não foram incluídas ações civis, letter-writing
campaigns e proxy votes na amostra do presente trabalho devido a limitações no acesso destas
informações no Brasil.
No quadro 3 apresentado abaixo, apresenta-se as principais diferenças abordadas acima, bem
como os resultados e abordagem de cada trabalho.
32
Quadro 3 – Tamanho da amostra do estudo de Eesley e Lenox (2006) e o presente trabalho
Fonte: o autor
3.5 LIMITAÇÕES DA AMOSTRA
Existem limitações nesta pesquisa com relação à pesquisa realizada para seleção da amostra.
A Dow Jones Factiva não abrange todos os jornais do Brasil em sua base de dados, no período
que foi realizada a pesquisa, embora, estejam presentes os principais jornais das cidades do
Rio de Janeiro e São Paulo, portanto, pode ser que haja outros protestos feitos por
stakeholders contra empresas que não foram cobertos pela base de dados da Factiva e
consequentemente, não contemplados na amostra.
33
3.6 HIPÓTESES
O estudo realizado por Eesley e Lenox (2006) testa a teoria de identificação e importância dos
stakeholders desenvolvido por Mitchell et al (1997). Na definição desta teoria, Mitchell et al
(1997) preconizam que:
Embora grupos possam ser identificados como verdadeiros stakeholders por
possuírem poder, legitimidade e urgência no relacionamento com a empresa, os
gestores da empresa determinam quais são os stakeholders mais importantes para a
empresa e que, conseqüentemente, receberão sua atenção.[...] A percepção do gestor
da empresa sobre os atributos dos stakeholders é ponto crítico da identificação dos
stakeholders que são realmente importantes para a empresa. [...] As características
gerenciais são tratadas como uma variável nesta teoria; por isso, sugerimos que elas
sejam importante moderador no relacionamento entre gerente e stakeholder
(MITCHELL ET AL, 1997, p.871, tradução nossa).
Ao contrário da abordagem de Mitchell et al (1997), onde a percepção do gestor sobre os
atributos de poder, legitimidade e urgência é um ponto chave para a definição de quais
stakeholders são mais ou menos importantes para a empresa, Eesley e Lenox (2006)
definiram que a relevância dos stakeholders para a empresa está atrelada às ações executadas
pelos stakeholders contra a empresa e à importância destas para a empresa e não pela
percepção do gestor.
No estudo de Eesley e Lenox (2006), foram formuladas quatro hipóteses, com base nos
atributos de poder, legitimidade e urgência de Mitchell et al (1997), a fim de testar esta teoria.
A primeira hipótese baseia-se na teoria da dependência de recursos, em que o nível de poder,
é avaliado segundo o grau de necessidade do fornecimento de recursos pelos stakeholders
para a continuidade (FROOMAN, 1999) e para o sucesso dos negócios da empresa.
34
A justificativa de Eesley e Lenox (2006) para a utilização da teoria da dependência para a
explicação de poder e, conseqüentemente, a adoção de uma abordagem diferente da que foi
elaborada por Mitchell et al (1997) é o fato que, para estes, o poder é definido como o
relacionamento entre atores, no qual A consegue que B faça algo que ele nunca faria, ou seja,
o ator A já teria poder por definição. No entanto, o enfoque de Eesley e Lenox (2006) para
poder, é baseado nas ações executadas pelos stakeholders.
1º Hipótese (H1): PODER RELATIVO = Quanto maior a base de recursos do grupo de
stakeholders em relação à base de recursos da empresa em questão (poder relativo), maior
será a chance de a empresa responder à solicitação do stakeholder (importância).
H1 foi representado pelo total de ativos financeiros do stakeholder, no instante em que a
ação foi iniciada, pelo total de ativos financeiros da empresa no mesmo período.
Para a presente pesquisa, foi utilizado o anuário balanço anual da Gazeta Mercantil para
consulta do total de ativos financeiros das empresas da amostra para o período de 1997 a 2007
e no site do BOVESPA para o ano de 2008, uma vez que a Gazeta Mercantil ainda não havia
publicado seu anuário referente ao ano de 2008. Quando não foi possível identificar o total de
ativos financeiros dos stakeholders, foi codificado como 1, conforme indicado por Eesley e
Lenox (2006).
A segunda e terceira hipóteses estão relacionadas ao atributo da legitimidade. A definição de
legitimidade utilizada por Eesley e Lenox (2006) está em consonância com a de Mitchell et al
(1997): legitimidade é a percepção generalizada ou a premissa de que ações de um grupo são
desejáveis e apropriadas dentro de um sistema social de normas e de valores.
35
2º Hipótese (H2): LEGITIMIDADE DO GRUPO = Quanto maior a legitimidade do grupo
de stakeholders, maior será a chance de empresa responder à solicitação do stakeholder
(importância).
Para representar em H2 a legimitidade do grupo de Stakeholders, Eesley e Lenox (2006)
propuseram em seu trabalho os seguintes grupos de stakeholders, cuja escala de importância é
1 para o stakeholder percebido como o menos importante até 5 como o mais importante. Tal
ordenação foi feita com base em alguns estudos que, por meio de questionários, investigavam
como eram percebidos tais grupos como mais ou menos legítimos para assuntos ambientais,
conforme indicação abaixo:
Instituições = 1
Grupos religiosos = 2
Indivíduos ativistas = 3
ONGs não ambientais = 4
ONGs ambientais = 5
Para a presente pesquisa, foram feitas as mesmas classificações utilizadas no estudo de Eesley
e Lenox (2006). De acordo com a amostra selecionada para este estudo, foram encontrados os
seguintes resultados por tipo de stakeholders, conforme representado na figura 7, abaixo.
55,6%
2,2%
37,8%
2,2%2,2%
Instituições Grupos religiosos
Indivíduos ativistas ONGs não ambientais
ONGs ambientais
Figura 7 – Classificação dos Stakeholders secundários desta pesquisa
Fonte: o autor
36
3º Hipótese (H3): LEGITIMIDADE DA SOLICITAÇÃO = Quanto maior a legitimidade
da solicitação do stakeholder, maior será a chance de empresa responder a essa solicitação
(importância).
Em H3, Eesley e Lenox (2006) classificaram os problemas ambientais que motivaram as
ações dos stakeholders contra a empresa, os quais foram divididos nas seguintes categorias e
ordem:
1-Aquecimento Global
2-Organismos geneticamente modificados.
3-Destruição do ambiente
4-Poluição
5-Reciclagem
Esta classificação foi definida no trabalho de Eesley e Lenox (2006) por escala de importância
definido por outros trabalhos que fizeram pesquisa de opinião pública, sendo considerado 1
como o problema que o público tem menor entendido sobre suas conseqüências para o planeta
até 5 percebido como o mais entendido. Para este trabalho, foram mantidas a mesma escala
de importância utilizada por Eesley e Lenox (2006) e, encontrados os seguintes resultados por
tipo de reclamação do stakeholder para a empresa, conforme figura 8.
4%
38%
56%
2%
Aquecimento global
Organismos geneticamente modificados
Destruição do ambiente
Poluição
Figura 8 – Problemas ambientais reivindicados pelos Stakeholders secundários
Fonte: o autor
37
A quarta hipótese trata do atributo da urgência e foi tratada de modo diferente daquele de
Mitchell et al (1997): para Eesley e Lenox (2006) a urgência é uma característica do
stakeholder e pode alterar-se de acordo com os membros do grupo de stakeholders. Segundo
esses autores, a urgência é enfatizada pela ação ou solicitação do grupo.
4º Hipótese (H4): URGÊNCIA DA SOLICITAÇÃO = Quanto maior a urgência da
solicitação dos stakeholders, maior será a chance de a empresa responder a essa solicitação.
Para a hipótese H4, foi atribuído 1 à solicitação relacionada à ação imediata por parte da
empresa, isto é, suspensão de algum procedimento ou da produção de algum produto.
Atribuiu-se 0 às demandas futuras, ou seja, quando suas reivindicações foram apenas
preocupações com o futuro e não requer imediata ação por parte da empresa.
No estudo aqui presente, também foi atribuído a mesma codificação na amostra analisada e,
encontrados os seguintes resultados, conforme demonstrado na figura 9, abaixo.
Demandas
futuras
37,8%Ações
imediatas
62,2%
Figura 9 – Urgência da reclamação do stakeholder na presente pesquisa
Fonte: o autor
38
As quatro hipóteses apresentadas acima representam as variáveis independentes primárias
para o teste de hipóteses que foi realizado. A variável dependente do estudo em questão é a
importância da solicitação do stakeholder, que significa a probabilidade das empresas
responderem positivamente a solicitação do stakeholder. Na figura 10 abaixo, estão
representadas as variáveis primárias dependentes e independentes deste estudo.
Figura 10 – Representação da variável dependente e independente da pesquisa
Fonte: o autor
A fim de também mensurar a variável dependente, foi atribuído 1 aos casos em que a
empresa respondeu positivamente à demanda do stakeholder em até cinco anos da data da
reivindicação feita; atribuiu-se 0 ao resultado contrário. Tais informações também foram
obtidas por meio das referências encontradas nos jornais e acesso ao site das empresas. Para a
variável dependente deste trabalho, foram obtidos os seguintes resultados representados na
figura 11, abaixo:
39
64%
36%
Respostas negativas à solicitação
Respostas positivas à solicitação
Figura 11 – Resultados da variável dependente desta pesquisa
Fonte: o autor
3.6.1 Controles adicionais as variáveis independentes
Eesley e Lenox (2006) em seu trabalho apresentam cinco modelos de regressão diferentes
para testar as hipóteses. Alguns controles adicionais foram incluídos às hipóteses apresentadas
na seção anterior, a fim de explicar como as variáveis independentes se comportam com
relação a variável dependente, com a introdução destes controles adicionais. No presente
trabalho, também foi testado quatro modelos dos cinco feitos por Eesley e Lenox (2006) em
seu trabalho.
Para todos os modelos apresentados, a variável dependente e as quatro variáveis
independentes não foram alteradas. No quadro 4 seguinte, é apresentados e explicados os
tipos de controles adicionados a cada modelo de regressão que foram testados.
40
1 2 3 4
1- Poder relativo incluído incluído incluído incluído
2- Legitimidade do grupo incluído incluído incluído incluído
3- Legitimidade da solicitação incluído incluído incluído incluído
4- Urgência da solicitação incluído incluído incluído incluído
5- Ativos das empresas - - incluído incluído 6- Soma dos stakeholders envolvidos
em uma única ação contra a empresa- - incluído incluído
7- Soma das empresas que foram alvo
dos stakeholders para a mesma ação- - incluído incluído
8- Abrangência do stakeholder - - incluído incluído
9- Ebitda da empresa - - incluído incluído
a- Setor da empresa - incluído incluído
b- Empresa - incluído incluído
c- Stakeholder - incluído incluído
Variáveis
Independentes
primárias
Modelos
Dummies
Controles
adicionais a
variável poder
relativo
Quadro 4 – Controles e dummies adotados nos modelos de regressão desta pesquisa
Fonte: o autor
5- Ativo das empresas: Como a variável independente poder relativo é obtida por meio da
divisão entre o ativo financeiro do stakeholder pelo ativo financeiro da empresa. Os dois
controles adicionais que foram incluídos refletem o numerador e o denominador da variável
poder relativo. Segundo Eesley e Lenox (2006), estas variáveis são incluídas, uma vez que a
divisão entre numerador e denominador pode ocultar o efeito do tamanho de stakeholder e da
empresa na análise. Embora Eesley e Lenox (2006) tenham adicionado um controle para
mensurar o total de ativos dos stakeholders, neste trabalho não o foi utilizado, uma vez que
não foi obtido o total de ativos para os stakeholders neste estudo, desta maneira, foi
codificado como 1, se tornando uma variável constante e que não justifica mensurar como
controle adicional.
6 e 7- Soma dos Stakeholders e soma das empresas que atuaram na mesma ação contra
alguma empresa ou soma das empresas que foram alvos da mesma ação pelo
stakeholder: Segundo Eesley e Lenox (2006), a importância de se incluir esses dois controles
adicionais à estatística é que a teoria de Network defende que quanto maior a rede de
41
relacionamentos dos stakeholders, ou seja, o número de stakeholders engajados numa mesma
ação, maior a probabilidade da empresa de dar atenção à solicitação do grupo. Da mesma
maneira, um maior número de recursos por parte da empresa implica em maiores chances de
se resistir às pressões por mudanças por parte dos stakeholders. Baseado na abordagem de
Eesley e Lenox (2006) foram adotados os mesmos controles adicionais para este trabalho.
8- Abrangência do stakeholder: Segundo Eesley e Lenox (2006), a atuação global dota de
mais poder o stakeholder, visto que ele pode obter mais recursos do que obteria caso atuasse
em apenas um país. Atribuiu-se grau 1 para stakeholders com abrangência internacional e 0
para os que têm atuação apenas nacional.
Na figura 12 abaixo, apresentam-se os resultados obtidos neste trabalho para a abrangência
dos stakeholders obtidos na amostra.
Nacional
66,7%
Internacion
al
33,3%
Figura 12 – Demonstração dos stakeholders nacionais e internacionais
Fonte: o autor
9- Ebitda da empresa: Um último controle adotado foi a avaliação dos recursos da empresa
por meio de seu ebitda, uma vez que mesmo com um total de ativos significativo a empresa
pode vivenciar limitações em seus recursos. Para esta pesquisa, foram obtidos os ebitda das
empresas da amostra, por meio do anuário da Gazeta Mercantil e pelo site do BOVESPA.
42
Dummies: Além dos controles adicionais apresentados, foram incluídas algumas variáveis
dummies aos modelos de regressão a fim de verificar se estas variáveis adicionais: empresa,
stakeholder e setor, alteram os resultados das variáveis independentes primárias. Desta
maneira, as seguintes variáveis dummies incluídas são explicadas abaixo:
a) Setor da empresa: Foram criadas 6 variáveis dummies para os seguintes setores da
amostra deste trabalho: Aço e alumínio, celulose, mineração, petróleo e gás, química e
outros setores. Como as variáveis dummies podem assumir apenas valores de 0 e 1
para indicar se uma condição foi satisfeita; atribuiu-se 0 se a empresa pertencia aquele
setor e 1 em caso negativo. Na figura 13 abaixo, estão representados os setores da
amostra obtida para este trabalho.
6%
16%
19%
24%
19%16%
Aço&alumínio celulose Mineração
Outros Petróleo&Gás Química
Figura 13– Setores das empresas da amostra
Fonte: o autor
b) Stakeholders: Para esta variável, foram avaliados os stakeholders que estiveram
envolvidos em mais de uma ação contra empresa, atribuindo-se valor de 1 para estes
casos e 0 para aqueles que fizeram reivindicações contra as empresas apenas uma
43
única vez. Na figura 14, abaixo, está representado o percentual de participação dos
stakeholders nas ações.
60%40%
envolvidos uma única vez
envolvidos mais de uma vez
Figura 14– Participação dos stakeholders nas ações
Fonte: o autor
c) Empresas: Para esta variável, foram avaliadas as empresas que foram alvo das ações
dos stakeholders mais de uma vez, atribuindo-se valor de 1 para estes casos e 0 para as
que estão envolvidas em uma única ação. Na figura 15, abaixo, está representado o
percentual das empresas envolvidas nas ações dos stakeholders.
58%42%
envolvidos uma única vez
envolvidos mais de uma vez
Figura 15– Participação das empresas nas ações
Fonte: o autor
44
3.6.2 Tratamento de dados
Os resultados das hipóteses que serão apresentadas nesta seção, foram obtidos por meio do
software estatístico SPSS (Statistical package for the social sciences). Para realização dos
testes, foram consideradas as variáveis independentes em seus valores absolutos, no entanto,
as mesmas também foram testadas em suas formas logarítimas (Ln), no entanto, como não
houve variações nos resultados obtidos após a transformação para as formas logarístimas,
foram mantidos então, as variáveis independentes em valores absolutos. Uma das vantagens
da forma logarítima, é que ela lineariza os resultados, reduzindo a dispersão e probabilidade
de erros na regressão.
A tabela com o detalhamento da estatística descritiva e correlações das variáveis
independentes com a variável dependente, são encontrados no apêndice B.
Para testar as hipóteses propostas, foi utilizado modelo de regressão logística, uma vez que a
variável dependente (y) deste estudo (importância da solicitação do stakeholder), é uma
variável qualitativa binária, ou seja, passível de apenas dois resultados possíveis (y=1, y=0) e
por isto considerada como dicotômica.
Variável dependente (y): importância da solicitação do stakeholder, sendo:
y=1 Se a empresa atendeu à reivindicação do stakeholder dentro de um prazo de 5
anos
ou
y=0 Se a empresa não atendeu à reivindicação do stakeholder dentro de um prazo de 5
anos
45
A regressão logística tem por objetivo identificar quais as variáveis independentes (no caso
desta pesquisa identificada por poder relativo, legimitidade do stakeholder, legitimidade da
solicitação do stakeholder e urgência da solicitação), influenciam o resultado (variável
dependente), desta maneira, ela é representada pela equação:
XppXX
XpXX
e
eYE
p
....
....
22110
22110
1)(
β0, β1,...,βp = coeficientes de regressão logística
P= probabilidade
Xp= variáveis independentes
E(Y)= resultado esperado da variável dependente
1)0(
)1(
YP
YP
46
4 RESULTADOS
Este capítulo tem por objetivo apresentar os resultados obtidos neste estudo a partir das
hipóteses apresentadas no capítulo da metodologia da pesquisa deste trabalho. O capítulo está
dividido em duas seções. Na primeira seção são apresentados os resultados obtidos no
presente estudo. Na segunda seção é feita a comparação com os resultados obtidos no trabalho
de Eesley e Lenox (2006).
47
4.1 RESULTADOS OBTIDOS NO PRESENTE ESTUDO
Modelos de Regressão 1 2 3 4
y1=Poder relativo
β -0,826 -0,99 -2,305 -1,303
S.E (0,955) (1,009) (2,188) (2,621)
y2=Legitimidade do grupo
β -0,543 -0,176 -0,438 -0,368
S.E (0,366) (0,535) (0,565) (0,948)
y3=Legitimidade da solicitação
β 0,095 -1,655 1,308 0,193
S.E (0,657) (1,767) (1,024) (2,204)
y4=Urgência da solicitação
β 1,598* -0,006 2,136* 0,098
S.E (0,831) (1,137) (0,949) (1,447)
y5=Ativo da empresa
β - - 3,09E-08 1,65E-08
S.E - - -2,42E-08 -3,63E-08
y6=Soma dos stakeholders juntos em uma única ação contra a empresa
β - - 0,336 0,929
S.E - - (0,296) (0,705)
y7=Soma das empresas que foram alvo dos stakeholders na mesma ação
β - - 47,996 15,665
S.E - - (18.506,072) (19.561,133)
y8=Abrangência do stakeholder
β - - -0,414 1,318
S.E - - (1,476) (2,117)
y9=Ebitda da empresa
β - - 0,0000* 0,0000*
S.E - - -1,75E-07 -2,57E-07
R2
0,200 0,411 0,302 0,479
n= número de observações da amostra 45 45 45 45
Setor dummies - incluído - incluído
Empresa dummies - incluído - incluído
Stakeholders dummies - incluído - incluído
*p<0.10;** p<0.05; ***; p<0.01; **** p<0.001
β (coeficiente da regressão)
S.E (Desvio padrão)
Controles adicionais para poder relativo
Tabela 1 – Resultados obtidos com os modelos de regressão
Fonte: o autor
48
O primeiro modelo de regressão, foi testado utilizando-se apenas as variáveis independentes
primárias: poder, legitimidade do grupo, legitimidade da solicitação e urgência da solicitação
considerando as 45 observações da amostra7. Neste modelo, foi encontrado evidência de
relação positiva entre a variável independente urgência da solicitação com a variável
dependente do estudo: a importância da solicitação do stakeholder. Nas demais variáveis não
foram observadas significâncias com a variável dependente.
Este resultado é constatado para um nível de significância de 0,10 representado por um
asterístico na tabela. Neste modelo, as variáveis da amostra explicam 20% do modelo,
conforme indicado através do R2
na tabela.
No segundo modelo de regressão, além das variáveis independentes primárias, foram
introduzidos ao modelo três variáveis dummies: setor, empresa e stakeholders. O objetivo de
incluir estas variáveis dummies à modelagem, era verificar se havia influência do setor de
atuação das empresas na amostra, para explicar as relações positivas ou negativas entre as
variáveis independentes com a variável dependente. O mesmo critério foi aplicado para as
dummies empresa e stakeholder, neste caso, o objetivo era verificar se o envolvimento de uma
empresa ou stakeholder em mais de uma ação, influenciavam no resultado das variáveis. O
número total de observações também foi mantido para este modelo. Verificamos que com a
inclusão das variáveis dummies, além das variáveis independentes poder, legitimidade da
solicitação e legitimidade do stakeholder, permanecerem sem relação positiva com a variável
dependente, a variável urgência da solicitação não obteve relação positiva, ao contrário do que
foi verificado na primeira modelagem. Esta regressão explica 41% do modelo, conforme
verificado através de seu R2.
7 Para os testes de estatística da pesquisa foram consideradas 45 observações, provenientes das 32 ações da
amostra. Foram contempladas mais observações nos casos em que houve a participação de mais de um
stakeholder na ação contra a empresa ou mais de uma empresa foram alvos da mesma ação.
49
Para o terceiro modelo de regressão, foram mantidas as variáveis independentes primárias e
excluídas as variáveis dummies, no entanto, foram adicionadas algumas variáveis
independentes de controle adicionais a variável poder relativo: ativo da empresa, soma dos
stakeholders envolvidos juntos em uma única ação, soma das empresas que foram alvo pelos
stakeholders em uma única ação, abrangência do stakeholder e ebitda da empresa. A
finalidade destas variáveis de controle ao modelo, era verificar se a variável poder relativo
sofreria alguma alteração nos seus resultados, pois segundo Eesley e Lenox (2006), estas
outras variáveis também são relacionadas ao poder relativo que o stakeholder pode exercer
sobre a empresa. Conclui-se que a variável poder relativo, permanece sem relações positivas
com a variável dependente, além disto, verificamos novamente relação positiva para a
variável urgência da solicitação. Nota-se que, uma das variáveis de controle, o ebtida da
empresa, também apresentou relação positiva com a variável dependente, porém, como a
variável primária principal não apresentou relação positiva, permanece sem evidência positiva
esta variável. O nível de significância para as duas variáveis significativas, foi de 0,10. Esta
regressão explica 30% do modelo.
Por fim, no modelo de regressão 4, foram mantidas todas as variáveis primárias
independentes, as variáveis dummies e, as variáveis de controle. Constatamos que nenhuma
variável primária apresentou relação positiva com a variável dependente importância da
solicitação do stakeholder, verificando-se novamente apenas relação positiva para a variável
de controle ebitda da empresa, com nível de significância de 0,10. O R2 explica por 48% do
modelo.
Desta maneira, conclui-se que:
50
1º Hipótese (H1): Não existe relação positiva entre o Poder relativo com a importância da
solicitação do stakeholder.
2º Hipótese (H2): Não existe relação positiva entre a Legitimidade do grupo com a
importância da solicitação do stakeholder.
3º Hipótese (H3): Não existe relação positiva entre a legitimidade da solicitação com a
importância da solicitação do stakeholder.
4º Hipótese (H4): Existe relação positiva8 entre a urgência da solicitação com a importância
da solicitação do stakeholder.
4.2 COMPARAÇÃO DE RESULTADOS
Na tabela 2 abaixo são apresentados as comparações dos resultados obtidos no trabalho de
Eesley e Lenox (2006) e o do presente trabalho.
8 Quando foram incluídas as variáveis dummies ao modelo, não foi confirmado a relação positiva com a variável
dependente.
51
Modelos de Regressão 1 2 3 4 1 2 3
y1=Poder relativo
β -0,826 -0,99 -2,305 -1,303 0,002*** 0,002*** 0,002***
S.E (0,955) (1,009) (2,188) (2,621) (0,001) (0,001) (0,001)
y2=Legitimidade do grupo
β -0,543 -0,176 -0,438 -0,368 0,220**** 0,199*** 0,121**
S.E (0,366) (0,535) (0,565) (0,948) (0,046) (0,063) (0,037)
y3=Legitimidade da solicitação
β 0,095 -1,655 1,308 0,193 0,192**** 0,300**** 0,261****
S.E (0,657) (1,767) (1,024) (2,204) (0,056) (0,059) (0,052)
y4=Urgência da solicitação
β 1,598* -0,006 2,136* 0,098 0,379 0,463 0,250
S.E (0,831) (1,137) (0,949) (1,447) (0,239) (0,309) (0,297)
y5=Ativo da empresa
β - - 3,09E-08 1,65E-08 - - -0,251***
S.E - - -2,42E-08 -3,63E-08 - - (0,081)
y5=Ativo do stakeholder
β - - - - - - 0,085**
S.E - - - - - - (0,036)
y6=Soma dos stakeholders juntos em uma única ação contra a empresa
β - - 0,336 0,929 - - -0,081
S.E - - (0,296) (0,705) - - 0,005
y7=Soma das empresas que foram alvo dos stakeholders na mesma ação
β - - 47,996 15,665 - - 0,314***
S.E - - (18.506,072) (19.561,133) - - (0,110)
y8=Abrangência do stakeholder
β - - -0,414 1,318 - - -0,145
S.E - - (1,476) (2,117) - - (0,140)
y9=Ebitda da empresa
β - - 0,0000* 0,0000* - - 0,13**
S.E - - -1,75E-07 -2,57E-07 - - (0,062)
n= número de
observações da amostra 45 45 45 45 1.202 1.202 1.202
Ano dummies - - - - incluído incluído incluído
Setor dummies - incluído - incluído incluído incluído incluído
Empresa dummies - incluído - incluído - incluído incluído
Stakeholders dummies - incluído - incluído - incluído incluído
*p<0.10;** p<0.05; *** p<0.01; **** p<0.001
β (coeficiente da regressão)
S.E (Desvio padrão)
Presente estudo Eesley e Lenox (2006)
Controles adicionais para poder relativo
Tabela 2 – Comparação de resultados de ambos os estudos
Fonte: o autor
52
Pode-se observar que as variáveis independentes no trabalho de Eesley e Lenox (2006) são
confirmadas em todos os modelos de regressão, mesmo com a inclusão de variáveis dummies
e controles, com exceção para a variável urgência da solicitação, na qual no presente estudo
foi confirmado. O total do número de observações em seu trabalho foram 1.202 para um
período de 32 anos, com ações baseadas nos Estados Unidos, enquanto que no presente
trabalho, o total do número de observações foram 45 para um período de 11 anos, baseadas
em ações ocorridas no Brasil.
Existem algumas diferenças em relação as variáveis de controles e dummies abordadas nos
modelos de regressão em ambos os estudos. Em seu primeiro modelo de regressão, Eesley e
Lenox (2006), incluíram duas variáveis dummies: setor e ano. No presente estudos, não foram
incluídos variáveis dummies para ano em nenhum modelo, pois se entende que a variável ano
seria melhor aplicada como uma variável independente numérica e não como variável
dummies9. Desta maneira, optou-se por incluir no primeiro modelo de regressão, somente
variáveis independentes primárias. Eesley e Lenox (2006), obtiveram relações positivas para
todas as variáveis, exceto urgência da solicitação, apresentando níveis de significância de
0,001, considerados altos e com alta correlação, para legitimidade da solicitação e
legitimidade da urgência. Em seu modelo, R2 explica por 28% do modelo, enquanto no
presente estudo é explicado 20%.
No modelo 2 da regressão, Eesley e Lenox (2006) permaneceram encontrando evidências
para todas as variáveis, exceto para a urgência da solicitação. Neste modelo, foram incluídas
todas as variáveis dummies em seu estudo. O R2 explica por 38% do modelo. No presente
9 Variáveis dummies são variáveis binárias, logo, só podem assumir os valores 1 ou 0 para explicar se uma
condição foi ou não satisfeita. Desta maneira, como neste trabalho são utilizadaos dados durante 11 anos (1997 a
2008), seria equivalente a assumir valores 0 ou 1 para cada ano de referência.
53
estudo, com a inclusão das variáveis dummies, não foram encontradas evidências de relação
positiva para nenhuma variável, e o R2 explica 41% do modelo também.
No modelo 3, Eesley e Lenox (2006) também adicionaram as variáveis de controle, no
entanto, em seu trabalho foram incluídas variáveis para ativo dos stakeholders, neste estudo,
não foi incluída esta variável pois todos os ativos foram codificados como 1, por não serem
possíveis de se identificar os ativos dos stakeholders, desta maneira, a variável torna-se linear,
não sendo possível nem incorporá-la ao modelo já que era constante e não é possível rodar o
modelo desta maneira. Eesley e Lenox (2006) continuam evidenciando os mesmos resultados
obtidos nos modelos anteriores, ou seja, as variáveis foram confirmadas, com exceção para
urgência da solicitação. Dentre as variáveis de controle incluídas neste modelo, a abrangência
do stakeholder e a soma dos stakeholders juntos em uma única ação contra a empresa, não
foram verificados relações positivas. Neste modelo, são explicados 43% pelo R2. Enquanto
que no presente estudo é explicado 30% e há evidências positivas apenas para a urgência da
solicitação.
Desta maneira, os resultados obtidos no estudo de Eesley e Lenox (2006), confirmaram as
hipóteses H1 e H3, em todos os modelos de regressão, mesmo com a inclusão das variáveis
dummies e as variáveis de controle; para a hipótese H4 não foi encontrado evidência de
relação e para a hipótese H2 embora foi confirmada a relação positiva, ocorreu variação
quando se introduziu o tipo de solicitação do stakeholder (protesto, boicote, ações civis,
letter-writing campaign e proxy votes) como variáveis de controle, não verificando-se relação
positiva com a variável dependente.
Cabe salientar que, em seu estudo, Eesley e Lenox (2006) apresentaram duas modelagens
adicionais às apresentadas nesta tabela de comparação de resultados, uma vez que em seu
54
estudo foram incluídas outras variáveis de controles adicionais, que não foram adicionadas a
esta pesquisa por limitação do estudo, não estão sendo demonstrados nesta tabela os demais
modelos estatísticos.
55
5 CONCLUSÕES
A presente dissertação teve por objetivo investigar sob que condições as empresas instaladas
no Brasil responderam às reivindicações feitas por stakeholders secundários por meio de
protestos e boicotes, relacionadas ao meio ambiente, baseado nos atributos de poder,
legitimidade e urgência dos stakeholders. Para tanto, foram utilizadas as mesmas hipóteses
propostas no trabalho de Eesley e Lenox (2006), que investigaram as mesmas condições,
porém direcionadas a empresas localizadas nos Estados Unidos. As condições avaliadas são
propostas pela teoria de identificação e importância dos stakeholders de Mitchell et al (1997).
Nesta teoria, as proposições apresentadas são que as empresas priorizarão o relacionamento
com certos stakeholders em detrimento a outros, levando em conta o número de atributos
(poder, legitimidade e urgência) que o stakeholder apresentar. Com o objetivo de testar as
hipóteses e desta maneira comparar com os resultados obtidos nos Estados Unidos por Eesley
e Lenox (2006), foi feito um levantamento nos principais jornais brasileiros10
, utilizando a
base de dados Dow Jones Factiva, das ações que os stakeholders secundários moveram contra
as empresas instaladas no Brasil nos últimos 11 anos (1997 a 2008). Foram verificadas apenas
ações relacionadas a protestos e boicotes, enquanto no trabalho de Eesley e Lenox foram
10
Folha de São Paulo, Gazeta Mercantil, Jornal do Brasil, Jornal Commercio do Rio de Janeiro, Jornal da Tarde,
O Estado de São Paulo, O Globo, Valor Econômico.
56
utilizadas além destes dois tipos de ações, ações civis e letter writing campaigns, através da
base de dados LexisNexis, em um período de 32 anos (1971 a 2003).
Os resultados obtidos neste trabalho demonstraram relação positiva somente com a variável
urgência; não foram encontradas evidências positivas para as outras variáveis analisadas
(poder, legitimidade do stakeholder e legitimidade da ação) com a importância que as
empresas darão às solicitações dos stakeholders. Desta maneira, apenas foi confirmado a
hipótese H4 nesta pesquisa, embora ocorreu divergência no resultado, quando foram
analisados outros modelos de regressão, incluindo variáveis dummies, conforme sugerido no
trabalho de Eesley e Lenox (2006). Nesse sentido, há uma divergência entre os resultados
obtidos no trabalho de Eesley e Lenox (2006) e os resultados obtidos neste, uma vez que estes
evidenciaram relações positivas para as hipóteses H1 e H3, relacionadas aos atributos de
poder relativo e legitimidade da solicitação. Naquele estudo, não foram verificadas relações
positivas para as variáveis H4 (urgência da solicitação). Ademais, foram encontradas
evidências conflitantes para H2, representadas pela legitimidade do grupo.
No presente trabalho, os tipos de ações executadas pelos stakeholders contra as empresas
foram limitados a protestos e boicotes. No estudo conduzido por Eesley e Lenox (2006),
foram utilizados outros tipos de ações, como ações civis e proxy votes11
que representam 83%
do número de observações do total de sua amostra, já que ele possui 1.202 observações,
enquanto nesta pesquisa há 45. Assim, uma das possíveis explicações para que as hipóteses de
Eesley e Lenox (2006) não se comprovassem neste estudo foi o tamanho da amostra estudada.
Outra explicação para a variação nos resultados entre ambos os estudos acerca das hipóteses
H2 (legitimidade do grupo) e H3 (legitimidade da solicitação) é que Eesley e Lenox (2006)
11
Proxy votes foram considerados por Eesley e Lenox (2006) como não representativo e que a exclusão do
mesmo não afetaria os resultados. Desta maneira, as ações civis representaram sobre o total da amostra 34%.
57
consideraram para uma escala de importância os tipos de stakeholders e o tipo de problema
ambiental baseado em outros estudos que haviam verificado quais stakeholders são mais
legítimos no que concerne aos problemas ambientais baseado na opinião pública. Por isso,
pode haver variações no que se refere à opinião pública no Brasil. Por último, pode-se
também considerar como possibilidade de variação entre os estudos o fato de a amostra do
estudo de Eesley e Lenox (2006) ser composta por empresas baseadas nos Estados Unidos,
enquanto que na presente pesquisa, foram abordada empresas instaladas no Brasil, podendo
haver divergências neste assunto entre a relevância que é dada pelas empresas aos
stakeholders secundários, que atuam por meio de protestos e boicotes.
Este trabalho, bem como os resultados aqui apresentados, contribuem para a área de pesquisa
na área de responsabilidade sócio-ambiental. Apresenta, ademais contribuições para a teoria
dos stakeholders, uma vez que são testadas as proposições da teoria de identificação e
importância dos stakeholders de Mitchell et all (1997) que está baseada num dos princípios da
teoria dos stakeholders. Além disto, este trabalho induz a uma reflexão sobre o grau de
importância atribuído por países emergentes, como o Brasil, no que se refere aos seus
stakeholders secundários no âmbito da responsabilidade socio-ambiental quando comparados
a países envolvidos com responsabilidade ambiental nesta área há mais tempo, como os
Estados Unidos.
Como sugestão, para futuras pesquisas, propõe-se que sejam incluídas outras ações movidas
por stakeholders secundários contra empresas no Brasil, a fim de verificar se há variações nos
resultados obtidos. Além disso, sugere-se que sejam avaliadas as questões estudadas neste
trabalho em outros países emergentes, para verificarmos como se comportam os resultados
das hipóteses testadas em países similares neste contexto ambiental ao Brasil.
58
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62
APÊNDICE A – RELAÇÃO DAS EMPRESAS E STAKEHOLDERS DA PESQUISA
63
Número
de Ações
Número de
observações
da amostra
Empresa Stakeholder Ano
1 1 Petrobrás Deputado 1997
2 2 Aracruz Indios 1998
3 3 Dow Química Greenpeace 1999
4 4 Riocell Greenpeace 1999
5 5 Cedae Associação dos moradores do Leblon 1999
6 6 Petrobrás Greenpeace 2000
7 7 Petrobrás Cientista em manguezais no Rio de Janeiro 2000
8 8 Petrobrás Pescadores 2000
9 Eidai Greenpeace 2000
10 Amaplac Greenpeace 2000
10 11 Bayer Greenpeace 2001
12 Petrobrás Greenpeace 2001
13 Petrobrás Pescadores 2001
14 Petrobrás Sindicalistas 2001
12 15 Basf Greenpeace 2001
13 16 Gerdau Greenpeace 2001
17 Shell 40 moradores do bairro Recanto dos Pássaros, em Paulínia 2001
18 Shell
Representante de organizações não-governamentais (ONGs) do
Estado no Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema) 2001
19 Aracruz ONGs (organizações não-governamentais) ambientalistas 2002
20 Aracruz MST 2002
21 Aracruz Movimento dos Pequenos Agricultores 2002
22 Aracruz Militantes do PSTU 2002
23 Aracruz Indios 2002
16 24 Vale Indios 2002
17 25 Petrobrás Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Estado do Rio 2002
18 26 Dow Química Greenpeace 2003
19 27 Veracel Indios 2005
20 28 Aracruz Indios 2005
21 29 Vale Indios 2005
22 30 Aracruz MST 2006
23 31 Cargill Greenpeace 2006
32 CBA SOS Mata Atlântica 2006
33 CBA Instituto Socioambiental e Vid'água 2006
34 CBA Movimento dos Ameaçados por Barragens 2006
35 CBA Pastoral Fé e Ecologia 2006
36 CBA Representantes de cinco quilombos 2006
25 37 Copel Indios 2006
26 38 Bayer Greenpeace 2006
27 39 Suzano Pescadores 2007
28 40 Juruena Índios 2007
29 41 Eletrobrás Greenpeace 2008
42 Vale MST 2008
43 Vale Via Campesina 2008
31 44 Vale Movimento dos Trabalhadores e Garimpeiros na Mineração 2008
32 45 Vale Greenpeace 2008
24
30
9
11
14
15
64
APÊNDICE B – ESTATÍSTICA DESCRITIVA E CORRELAÇÕES DA AMOSTRA
UTILIZADA NA PESQUISA
Estatística Descritiva
N Mínimo Máximo Média Desvio padrão
1- Importância da solicitação do
stakeholder 45 ,00 1,00 ,3556 ,48409
2- Poder relativo (x1.000.000) 45 ,005806 86,520159 2,94576781 1,337989166E1
3- Legitimidade do grupo 45 1,00 5,00 3,7111 1,07919
4- Legitimidade da solicitação 45 1,00 4,00 3,2667 ,71985
5- Urgência da solicitação 45 ,00 1,00 ,6222 ,49031
6- Ativo da empresa 45 11558,00 1,72E8 3,1961E7 5,13039E7
7- Soma dos stakeholders
envolvidos em uma única ação
contra a empresa
45 1,00 5,00 2,2222 1,69074
8- Soma das empresas que
foram alvo dos stakeholders na
mesma ação
45 1,00 2,00 1,0444 ,20841
9- Abrangencia do stakeholder 45 ,00 1,00 ,3333 ,47673
10- Ebitda da empresa 45 -280.972,00 21.279.629,00 4.779.317,4444 7.511.034,52725
Amostra válida N 45
65
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
1- Importância da
solicitação do stakeholder 1,000 -,154 -,277 ,113 ,292 -,062 ,207 -,160 -,328 -,095
2- Poder relativo
(x1.000.000) -,154 1,000 ,242 -,609 -,243 -,139 -,153 ,877 ,283 -,142
3- Legitimidade do grupo -,277 ,242 1,000 -,162 -,039 -,218 -,176 ,260 ,766 -,215
4- Legitimidade da
solicitação ,113 -,609 -,162 1,000 ,163 ,220 -,124 -,687 -,132 ,294
5- Urgência da solicitação ,292 -,243 -,039 ,163 1,000 -,043 ,021 -,277 -,032 -,008
6- Ativo das empresas -,062 -,139 -,218 ,220 -,043 1,000 -,144 -,136 ,021 ,941
7- Soma dos stakeholders
envolvidos em uma única
ação contra a empresa
,207 -,153 -,176 -,124 ,021 -,144 1,000 -,158 -,432 -,071
8- Soma das empresas que
foram alvo dos
stakeholders na mesma
ação
-,160 ,877 ,260 -,687 -,277 -,136 -,158 1,000 ,305 -,139
9-Abrangência do
stakeholder -,328 ,283 ,766 -,132 -,032 ,021 -,432 ,305 1,000 ,006
Correlação
10-Ebitda da empresa -,095 -,142 -,215 ,294 -,008 ,941 -,071 -,139 ,006 1,000