STENGERS Entrevists a Representação de Um Fenômeno Científico é Uma Invenção Política

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  • 7/25/2019 STENGERS Entrevists a Representao de Um Fenmeno Cientfico Uma Inveno Poltica

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    Enquanto belga, e no francesa, Isabelle Stengersgosta de recordar aos seus interlocutores que o s final de seusobrenome pronunciado. Este no um vezo nacionalista, mas uma advertncia humorstica para se desconfiar darelao demasiado direta que os primosfranceses e, mais em geral, os leigos, os iluministas e os materialistas tm como universal.

    A reportagem e a entrevista de Roberto Ciccarelli e publicadas no jornal Il Manifesto, 23-09-2008. A traduo deBenno Dischinger.

    Desde a publicao, em 1979, de A nova aliana, o livroescrito com o Nobel da qumicaIlya Prigogine, que a tornouconhecida e apreciada como filsofa da cincia, Stengersjamais deixou de criticar as formas de peremptoriedadeusadas pelas cincias comrespeitos outrascincias, dos saberes tradicionais comrespeito aos saberes assim ditosmenores, dos experts com respeito aos cidados, do poder com respeito inovao. Seu empenho se desenvolveu,em seguida, sobre duas fontes: recordando aos saberes dominantes as condies materiais e histricas das verdadestratadas como a bsolutas, ou ento, dando voz s culturas tradicionais (as bruxas), s prticas cientficas descartadosem benefcio das cincias experimentais (a hipnose).

    A cincia afirma Stengers tende a eliminar o conflito que a ope ao real em nome de uma poltica da lei e daordem. Para entend-lo, basta lerA estrutura das revolues cientficasde Thomas Kuhn: o que a cincia modernaensinaaos cientistas resolver problemas normais, quebra-cabeas, para depois passar a outro paradigma. Oproblema , ao invs, o modo pelo qual os cientistas encaram os fenmenos, o modo pelo qual a cincia declara realum fenmeno mais do que outro, o modo p elo qual uma prtica definida como cientfica com respeito a outra prtica

    julg ada n o ci entfica. A represe ntao d e um fen meno cientfico uma in veno poltica. Para mim, esta i nvenointeressa na medida em que no se coloca num horizonte no qual preciso garantir uma ordem e uma hierarquia entrea realidade com respeito imaginao, entre o que o que d everia ser.

    Eis a entrevista.

    Em suas obras emerge sempre uma tenso constante em direo a uma leitura poltica das cincias, e emparticular a uma anlise poltica da relao entre os poderes e os saberes. Quais so as razes profundas destaleitura?

    So muitos os significados que podem ser atribudos palavra poltica, pelo menos tantos quantos so os modospara se falar da relao entre cincia e poltica. O problema deve ser enfrentado num nvel geral: quem tem o d ireito de

    falar sobre algo? Tomemos Galileu. Ele negou a autoridade de uma determinada representao cientfica, inspirada naBblia, de estabelecer a legitimidade de um fenmeno. A descoberta da astronomia foi ume evento poltico que impsum novo tipo de saber, contestou a autoridade da Igreja em nome de outra autoridade, aquela da cincia experimental.Galileucriou em seu laboratrio um evento positivo que criou um novo conflito entre diversas representaes domundo, e, por isso, entre prticas cientficas: aquela inspirada na ideologia e aquela el aborada nos laboratrios.

    A descoberta de Galileu tambm trouxe tona o elemento fundamental das cincias experimentais: o mecanismode excluso referente s outras prticas no cientficas. Voc traou uma verdadeira e prpria genealogia desteprocesso atravs do qual um saber maior, em particular aquele das cincias duras como a fsica,desqualifica os saberes menores. precisamente este o resultado do evento poltico do qual voc fala?

    Eu afirmei esta genealogia dos saberes cientficos a pa rtir do ponto de vista daquil o que eles refutam. Esta refutao devida ao fato de que aos assim chamados saberes cientficos menores negada a possibilidade de provar averacidade dos fenmenos dos qu ais se ocupam. As assim ditas cincias maiores so, como de resto disseram GillesDeleuzee Flix Guattari, cincias que n o estudam um processo numa paisagem concreta. Impuseram a exigncia daprova e creio que esta tenha sido a arma mais importante usada pelas cincias e xperimentais para individuar osfenmenos a fim de separ-los do mundo, purificando-os, tomando em considerao seu lado abstrato e n o suarelao com outros fenmenos. Eu defini este processo nos termos de uma estratgia de desqual ificao quando me

    ocupei da histria da comisso nomeada por Luiz XVIpara verificar a existncia do magnetismo animal, uma dasprimeiras tentativas de estudo da hipnose. Foi o primeiro epi sdio marcante, ocorrido pouco antes da revoluofrancesa, no qual os cientistas experimentais definiram os critrios de legitimidade de um fenmeno, usando a provacomo arma de guerra p ara desqualificar a prtica cientfica do magnetismo que, desde ento, tem sido consideradauma cincia menor.

    Pretende dizer que houve um momento, na histria das cincias modernas, em que a racionalidade foi concebidacomo instrumento de governo e no s como anlise do re al ou dispositivo de inovao?

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    JComments

    uma duplicidade presente desde Galileu, mas que se manifesta a partir do evento que lhe contei. Uma vezdesqualificada a autoridade da hi pnose junto populao, aquele s comissrios destinaram-na ao desprezo,declarando sua in utilidade para fins cientficos. O mesmerismo no provava nada, portanto no existia. A comisso doscientistas nomeada pelo rei instilou o medo do irracional, daquilo que no pode ser provado. Desde ento, a hipnose uma prtica de charlates, quem a usa condenado em sentido poltico e moral. Esta deciso assinala, num certosentido, o fim do Iluminismo, no sentido de que desde ento a cincia tem sido usada com sempre mais freqnciapara governar a ordem pblica. Quanto aos cientistas, estes comeam a viver a prpria funo de maneira dualista: deum lado, afirmam sua liberdade de pesquisa, mas, do outro, tornam-se, para todos os efeitos, os guardies da ordemconstituda.

    Voc tem uma formao cientfica, depois escolheu a filosofia. Certa vez sustentou que a qumica lhe ensinou aarte da mesclagem, assim como Deleuze lhe ensinou a arte do encontro. Disto voc deduziu um modelo para acincia. Gostaria de saber que modelo apresenta hoje para a poltica.

    Para entender a relao en te filosofia, cincia e poltica preciso acima de tudo subtrair-se ao exerccio da autoridade.No me interessa introduzir uma hierarquia nas relaes entre as prticas polticas e cientficas e, por conseguinte, umprincpio de ordem ou um equ ilbrio esttico, que impedem o devir de tais prticas. Trata-se, ao contrrio, deestabelecer uma ecologia entre as prticas cientficas, algo que eu defini nos termos de uma farmacologia. Comrespeito nossa tradio filosfica e cientfica, que odeia toda forma de mesclagem e considera os fenmenossomente de maneira clara e distinta, creio que preciso adotar esta perspectiva. Este conceito foi introduzido porJacques Derrida, o qual explicou q ue a escritura um pharmakon, uma forma de dosagem da loucura. Eu prefiro usarpharmakon no sentido tradicional, aquele da medicina. Na nossa tradio, desde Plato, os pharmaka, estas coisasperigosas que requerem uma arte da dosagem, tm sido desqualificados em benefcio dos princpios que garantem obem e a verdade. A arte da dosagem obriga, ao contrrio, a encontrar uma nova relao entre prticas cientficas eprticas no cientficas. Ela ensina que as coisas no se do jamais de maneira boa ou m, racional ou irracional. Eu oentendi quando trabalhei, primeiro na Holanda, depois na Frana, com as associaes de auto-ajuda dosconsumidores de drogas. Encontrei-me ante um evento que investe tanto na poltica como nos saberes cien tficos. No possvel pensar seu papel na sociedade sem pr-se o problema democrtico por excelncia: a produo ativa desaberes da parte dos grupos que se empenham politicamente a partir da prpria situao. Nestes casos, os cientistas eos experts tm sido obrigados a negociar politicamente o uso dos prprios saberes com os grupos interessados. Estanegociao tem sido o resultado de uma i nteligncia coletiva que a forma ideal em que o pharmakon usado. Elapermitiu conectar-se com outras idias e outras prticas, experimentando novas conexes alm das hierarquias

    existentes entre as prticas.

    Voc jamais escondeu seu empenho poltico em favor da esquerda. Antes com os Verdes, depois com a EsquerdaUnida na Blgica. Pergunto-lhe, agora, qual a contribuio das cincias experimentais para explicar a criseatual?

    As cinci as expe rimentais poderi am impe lir a esquerd a a p ensar u m acordo que n o de riva de nenhu ma suje io auma autoridade, mas, ao contrrio, da possibilidade de afirmar um desacordo para resolver um problema comum. oque eu aprendi dos cientistas: os conflitos entre as interpretaes de um fenmeno so secundrios em relao aoproblema que os juntou. A possibilidade de resolver tal problema mais forte do que aquilo que o divide. O quedeveria interessar esquerda so os problemas que impelem a pensar, que produzem um devir. Agrada-me muito adefinio que Deleuzedeu em seu Abecedrio: quem de esquerda n o parte de quem prximo, mas de quem estdistante. Isto significa sentir-se responsvel por quem perdeu o trabalho, por quem sofre uma injustia. Mas, significatambm pensar como compor um mundo em comum, um problema que obriga a uma nova relao com a natureza eno s com os humanos. Por isso, a esquerda no deveria enfileirar-se com as vtimas enquanto vtimas, mas apoi-lasnaquilo que elas podem tornar-se alm de sua identidade de vtimas.

    Comentrios encerrados.

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