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ESPECIAL STJ frma jurisprudência em deesa das minorias Uma das bases fundamentais dos direitos humanos é o princípio de que todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos !iscrimina"#o e perse com base em ra"a$ etnia ou op"#o se%ual s#o claras viola"&es desse princípio n#o é de estranhar a quantidade de pedidos que a 'usti"a brasileira tem receb indivíduos pertencentes (s chamadas )minorias* + como os homosse%uais$ negros índios$ portadores do vírus ,I- ou de necessidades especiais$ entre outros +$ buscam no 'udici.rio a prote"#o institucional de seus interesses Ao longo de sua hist/ria$ o Superior 0ribunal de 'usti"a 1S0'2 vem 3rmando 4urisprud5ncia em prol dessas )minorias*$ como$ por e%emplo$ ao reconhecer a possibilidade de uni#o est.vel e até mesmo de casamento civil entre pessoas d mesmo se%o$ ou ao determinar o pagamento de dano moral a uma comunidade indígena$ alvo de con6itos com colonos em assentamento irregular nas terras d índios 7 S0' também$ em decis#o inédita$ 4. classi3cou discrimina"#o e preconceito c racismo$ além de entender que é cabível a isen"#o de tarifa de transporte p8b para portador do vírus ,I- 7 papel do S0' na efetiva"#o dos direitos desses segmentos da sociedade tem s reconhecido n#o s/ no meio 4urídico$ mas em todos os lugares onde e%istam pes dispostas a combater a discrimina"#o )7 S0' detém o título de 0ribunal da Ci e$ quando atua garantindo direitos de maneira contrama4orit.ria$ cumpre um de mais relevantes papéis*$ a3rma o ministro Luis 9elipe Salom#o Relações homoaetivas Em decis#o inédita$ a :uarta 0urma do S0' reconheceu a possibilidade de habil de pessoas do mesmo se%o para o casamento civil 7 colegiado entendeu que a dignidade da pessoa humana$ consagrada pela Constitui"#o$ n#o é aumentada nem diminuída em ra;#o do uso da se%ualidade$ e que a orienta"#o se%ual n#o pode de prete%to para e%cluir famílias da prote"#o 4urídica representada pelo casa 1<Esp ==>??@>2 Segundo o relator do recurso$ ministro Luis 9elipe Salom#o$ o raciocínio util tanto pelo S0' quanto pelo Supremo 0ribunal 9ederal 1S092$ para conceder aos homoafetivos os direitos decorrentes da uni#o est.vel$ deve ser utili;ado par franquear a via do casamento civil$ )mesmo porque é a pr/pria Constitui"#o 9e que determina a facilita"#o da convers#o da uni#o est.vel em casamento*$ a3rm 7 mesmo colegiado$ em abril de BB $ proferiu outra decis#o inovadora para o de família Por unanimidade$ os ministros mantiveram decis#o que permitiu a a de duas crian"as por um casal de mulheres Seguindo o voto do ministro Luis 9elipe Salom#o$ a 0urma rea3rmou entendiment consolidado pelo S0'D nos casos de ado"#o$ deve prevalecer sempre o melhor interesse da crian"a )Esse 4ulgamento é muito importante para dar dignidade humano$ para o casal e para as crian"as*$ a3rmou Entretanto$ o S0' sempre deu amparo 4udicial (s rela"&es homoafetivas 7 prim caso apreciado no S0'$ em fevereiro de = >$ foi relatado pelo ministro <u Aguiar$ ho4e aposentado 7 ministro decidiu que$ em caso de separa"#o de casa homosse%ual$ o parceiro teria direito de receber metade do patrimFnio obtido esfor"o m8tuo 1<Esp =G>> @2

Stj Direito Das Minorias

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ESPECIAL

ESPECIAL

STJ firma jurisprudncia em defesa das minorias

Uma das bases fundamentais dos direitos humanos o princpio de que todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Discriminao e perseguio com base em raa, etnia ou opo sexual so claras violaes desse princpio. Assim, no de estranhar a quantidade de pedidos que a Justia brasileira tem recebido de indivduos pertencentes s chamadas minorias como os homossexuais, negros, ndios, portadores do vrus HIV ou de necessidades especiais, entre outros , que buscam no Judicirio a proteo institucional de seus interesses.

Ao longo de sua histria, o Superior Tribunal de Justia (STJ) vem firmando jurisprudncia em prol dessas minorias, como, por exemplo, ao reconhecer a possibilidade de unio estvel e at mesmo de casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, ou ao determinar o pagamento de dano moral a uma comunidade indgena, alvo de conflitos com colonos em assentamento irregular nas terras dos ndios.

O STJ tambm, em deciso indita, j classificou discriminao e preconceito como racismo, alm de entender que cabvel a iseno de tarifa de transporte pblico para portador do vrus HIV.

O papel do STJ na efetivao dosdireitos desses segmentos da sociedade tem sido reconhecido no s no meio jurdico, masem todos os lugares onde existam pessos dispostas a combatera discriminao. O STJ detm o ttulo de Tribunal da Cidadania e, quando atua garantindo direitos de maneira contramajoritria, cumpre um de seus mais relevantes papis, afirma o ministro Luis Felipe Salomo.

Relaes homoafetivas

Em deciso indita, a Quarta Turma do STJ reconheceu a possibilidade de habilitao de pessoas do mesmo sexo para o casamento civil. O colegiado entendeu que a dignidade da pessoa humana, consagrada pela Constituio, no aumentada nem diminuda em razo do uso da sexualidade, e que a orientao sexual no pode servir de pretexto para excluir famlias da proteo jurdica representada pelo casamento (REsp 1.183.378).

Segundo o relator do recurso, ministro Luis Felipe Salomo, o raciocnio utilizado, tanto pelo STJ quanto pelo Supremo Tribunal Federal (STF), para conceder aos pares homoafetivos os direitos decorrentes da unio estvel, deve ser utilizado para lhes franquear a via do casamento civil, mesmo porque a prpria Constituio Federal que determina a facilitao da converso da unio estvel em casamento, afirmou.

O mesmo colegiado, em abril de 2009, proferiu outra deciso inovadora para o direito de famlia. Por unanimidade, os ministros mantiveram deciso que permitiu a adoo de duas crianas por um casal de mulheres.

Seguindo o voto do ministro Luis Felipe Salomo, a Turma reafirmou entendimento j consolidado pelo STJ: nos casos de adoo, deve prevalecer sempre o melhor interesse da criana. Esse julgamento muito importante para dar dignidade ao ser humano, para o casal e para as crianas, afirmou.

Entretanto, o STJ sempre deu amparo judicial s relaes homoafetivas. O primeiro caso apreciado no STJ, em fevereiro de 1998, foi relatado pelo ministro Ruy Rosado de Aguiar, hoje aposentado. O ministro decidiu que, em caso de separao de casal homossexual, o parceiro teria direito de receber metade do patrimnio obtido pelo esforo mtuo (REsp 148.897).

Tambm foi reconhecido pela Sexta Turma do Tribunal o direito de o parceiro receber a penso por morte de companheiro falecido (REsp 395.904). O entendimento, iniciado pelo saudoso ministro Hlio Quaglia Barbosa, que o legislador, ao elaborar a Constituio Federal, no excluiu os relacionamentos homoafetivos da produo de efeitos no campo de direito previdencirio, o que , na verdade, mera lacuna que deve ser preenchida a partir de outras fontes do direito.

Em outra deciso, a Terceira Turma do STJ negou recurso da Caixa Econmica Federal que pretendia impedir um homossexual de colocar o seu companheirode mais de sete anos como dependente no plano de sade (REsp 238.715). O colegiado destacou que a relao homoafetiva gera direitos e, analogicamente unio estvel, permite a incluso do companheiro dependente em plano de assistncia mdica.

Racismo

O recurso pioneiro sobre o tema, julgado pelo STJ, tratou de indenizao por danos morais devido a agresses verbais manifestamente racistas (REsp 258.024). A Terceira Turma confirmou deciso de primeiro e segundo graus que condenaram o ofensor a indenizar um comercirio - que instalava um porto eletrnico para garantir a proteo dos moradores da vila onde morava - em 25 salrios mnimos.

Outro caso que chamou a ateno foi o julgamento, pela Quinta Turma, de um habeas corpus, ocasio em que o STJ, em deciso indita, classificou discriminao e preconceito como racismo (HC 15.155). O colegiado manteve a condenao de um editor de livros por editar e vender obras com mensagens antissemitas. A deciso foi uma interpretao indita do artigo 20 da Lei7.716/89, que pune quem praticar, induzir ou incitar a discriminao ou preconceito de raa.

Em outro habeas corpus, o mesmo colegiado determinou que dois comissrios de bordo de uma empresa area, acusados de racismo, prestassem depoimento Justia brasileira no processo a que respondiam (HC 63.350). A Quinta Turma negou pedido para que eles fossem interrogados nos Estados Unidos, onde residem.

Segundo o relator do processo, ministro Felix Fischer, a Turma manteve a ao penal por entender que a inteno dos comissrios foi humilhar o passageiro exclusivamente pelo fato de ele ser brasileiro. A ideia do ofensor foi ressaltar a superioridade do povo americano e a condio inferior do provo brasileiro.

O STJ tambm j firmou jurisprudncia quanto legalidade e constitucionalidade das polticas de cotas. Em uma delas, em que o relator foi o ministro Humberto Martins, a Segunda Turma manteve a vaga, na universidade, de uma aluna negra que fez parte do ensino mdio em escola privada devidoa bolsa de estudos integral (REsp 1.254.118).

O colegiado considerou que a excluso da aluna acarretaria um prejuzo de tal monta que no seria lcito ignorar, em face da criao de uma mcula ao direito educao, direito esse marcado como central ao princpio da dignidade da pessoa humana. A aluna somente teve acesso instituio particular porque possua bolsa de estudos integral, o que denota uma situao especial que atrai a participao do estado como garantidor desse direito social, assinalou o relator.

ndios

Dezenas de etnias j circularam pelas pginas de processos analisados pelo STJ. Uma das principais questes enfrentadas pelo Tribunal diz respeito competncia para processamento de aes que tenham uma pessoa indgena como autor ou vtima. A Smula 140 da Corte afirma que compete Justiaestadual atuar nesses casos. No entanto, quando a controvrsia envolve interesse indgena, h decises no sentido de fixar a competncia na Justia Federal. Esse entendimento segue o disposto na Constituio Federal (artigos 109, IX, e 231).

Em processos sobre demarcao, o STJ j decidiu que o mandado de segurana um tipo de ao que no se presta a debater a matria. Quando a escolha esse caminho processual, o direito lquido e certo deve estar demonstrado de plano (MS 8.873), o que no ocorre nesses casos. O Tribunal tambm reconheceu a obrigatoriedade de ouvir o Ministrio Pblico em processos de demarcao em que se discute concesso de liminar (REsp 840.150). A possibilidade de pagamento de dano moral a uma comunidade indgenafoi alvo de controvrsia no STJ. Em abril de 2008, o estado do Rio Grande do Sul tentou, sem sucesso, a admisso de um recurso em que contestava o pagamento de indenizao (Ag 1022693). O poder pblico teria promovido um assentamento irregular em terras indgenas, e a Justia gacha entendeu que houve prejuzo moral em razo do perodo de conflito entre colonos e comunidade indgena. A Primeira Turma considerou que reavaliar o caso implicaria reexame de provas e fatos, o que no possvel em recurso especial.

Outra questo julgada pelo Tribunal foi com relao legitimidade do cacique para reivindicar judicialmente direito coletivo da tribo (MS 13248). Segundo o STJ, apesar de ser o lder da comunidade indgena, isso no lhe garante a legitimidade. O relator do caso, ministro Castro Meira, observou que a inteno do mandado de segurana impetrado pelo cacique era defender o direito coletivo, o que restrito, de acordo com a Constituio Federal, a partido poltico com representao no Congresso Nacional e a organizao sindical, entidade de classe ou associao legalmente constituda h pelo menos um ano. No caso, o meio adequado seria a ao popular.

Portadores de HIV

Levando em considerao os direitos de quem j desenvolveu a doena ou portador do vrus HIV, decises do STJ tm contribudo para firmar jurisprudncia slida sobre o tema, inclusive contribuindo para mudanas legislativas. Em abril deste ano, a Primeira Turma do STJ manteve deciso que determinou que cabvel a iseno de tarifa de transporte pblico para portador do vrus HIV e que nisso se enquadram os servios de transporte prestados pelo estado (AREsp 104.069).

Os ministros da Quarta Turma, no julgamento do REsp 605.671, mantiveram deciso que condenou o Hospital So Lucas da Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul ao pagamento de indenizao a paciente infectada com o vrus da AIDS quando fazia a transfuso devido a outra doena.

Para o relator, ministro Aldir Passarinho Junior, hoje aposentado, nem o hospital nem o servio de transfuso tinham controle da origem do sangue, o que indicava a negligncia e desleixo. O ministro destacou, ainda, que houve negativa do hospital em fornecer os pronturios e demais documentos, indicando mais uma vez comportamento negligente.

Em outro julgamento de grande repercusso na Corte, a Terceira Turma obrigou ex-marido a pagar indenizao por danos morais e materiais ex-esposa por ter escondido o fato de ele ser portador do vrus HIV.

No caso, a ex-esposa abriu mo da penso alimentcia no processo de separao judicial e, em seguida, ingressou com ao de indenizao alegando desconhecer que o ex-marido era soropositivo. O relator do processo, o saudoso ministro Humberto Gomes de Barros, destacou que o pedido de alimentos no se confunde com pedido indenizatrio e que a renncia a alimentos em ao de separao judicial no gera coisa julgada para ao indenizatria decorrente dos mesmos fatos que, eventualmente, deram causa dissoluo do casamento.

Caso a vtima de dano moral j tenha morrido, o direito indenizao pode ser exercido pelos seus sucessores. A Primeira Turma reconheceu a legitimidade dos pais de um doente para propor ao contra o Estado do Paran em consequncia da divulgao, por servidores pblicos, do fato de seu filho ser portador do vrus HIV.

Segundo o relator do processo, ministro aposentado Jos Delgado, se o sofrimento algo pessoal, o direito de ao de indenizao do dano moral de natureza patrimonial e, como tal, transmite-se aos sucessores.

Quando a assunto sade, o STJ j entendeu que no vlida clusula contratual que excluiu o tratamento da AIDS dos planos de sade. A Quarta Turma j reconheceu o direito de um beneficirio a ter todos os gastos com o tratamento da doena pagos pela Amil (REsp 650.400).

A Terceira Turma tambm se posicionou sobre o assunto, declarando nula, por consider-la abusiva, a clusula de contrato de seguro-sade que excluiu o tratamento da AIDS. O colegiado reconheceu o direito de uma aposentada a ser ressarcida pela seguradora das despesas que foi obrigada a adiantar em razo de internao causada por doenas oportunistas (REsp 244.847).

Necessidades especiais

O STJ vem contribuindo de forma sistemtica para a promoo do respeito s diferenas e garantia dos direitos de 46 milhes de brasileiros que possuem algum tipo de deficincia (Censo 2011). Nesse sentido, uma das decises mais importantes da Casa, que devido sua abrangncia se tornou a Smula 377, a que reconhece a viso monocular como deficincia, permitindo a quem enxerga apenas com um dos olhos concorrer s vagas destinadas aos deficientes nos concursos pblicos.

Algumas decises importantes do STJ tambm garantem iseno de tarifas e impostos para os deficientes fsicos. Em 2007, a Primeira Turma reconheceu a legalidade de duas leis municipais da cidade de Mogi Guau (SP). Nelas, idosos, pensionistas, aposentados e deficientes so isentos de pagar passagens de nibus, assim como os deficientes podem embarcar e desembarcar fora dos pontos de parada convencionais.

O relator do processo, ministro Francisco Falco, destacou que, no caso, no se vislumbra nenhum aumento da despesa pblica, mas to somente o atendimento virtude da solidariedade humana.

O STJ tambm permitiu a uma portadora de esclerose muscular progressiva iseno de IPI na compra de um automvel para que terceiros pudessem conduzi-a at a faculdade. De acordo com a Lei n 8.989/1995, o benefcio da iseno fiscal na compra de veculos no poderia ser estendido a terceiros. Entretanto, com o entendimento do STJ, o artigo 1 dessa lei no pode ser mais aplicado, especialmente depois da edio da Lei n 10.754/2003.

Um portador de deficincia fsica em virtude de acidente de trabalho obteve nesta Corte Superior o direito de acumular o auxlio-suplementar com os proventos de aposentadoria por invalidez, concedida na vigncia da Lei n 8.213/1991. O INSS pretendia modificar o entendimento relativo acumulao, porm o ministro Gilson Dipp, relator do processo na Quinta Turma, afirmou que a autarquia no tinha razo nesse caso.

O ministro Dipp esclareceu que, aps a publicao da referida lei, o requisito incapacitante que proporcionaria a concesso de auxlio suplementar foi absorvido pelo auxlio-acidente, conforme prescreve o artigo 86. Neste contexto, sobrevindo a aposentadoria j na vigncia desta lei, e antes da Lei n 9.528/1997, que passou a proibir a acumulao, o segurado pode acumular o auxlio suplementar com a aposentadoria por invalidez.

Uma deciso de 1999, j preconizava a posio do STJ em defesa da cidadania plena dos portadores de deficincia. Quando a maior parte dos edifcios pblicos e privados nem sequer pensavam na possibilidade de adaptar suas instalaes para receber deficientes fsicos, a Primeira Turma do Tribunal determinou que a Assembleia Legislativa de So Paulo modificasse sua estrutura arquitetnica para a que deputada estadual Clia Camargo, cadeirante, pudesse ter acesso tribuna parlamentar.

No suficiente que a deputada discurse do local onde se encontra, quando ela tem os mesmos direitos dos outros parlamentares. Deve-se abandonar a ideia de desenhar e projetar obras para homens perfeitos. A nossa sociedade plural, afirmou o ministro Jos Delgado, hoje aposentado, em seu voto. Nesse julgamento histrico, a Primeira Turma firmou o entendimento de que o deficiente deve ter acesso a todos os edifcios e logradouros pblicos.