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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAN
SETOR DE CINCIAS JURDICAS
CURSO DE DIREITO
FERNANDO ALMEIDA STRUECKER
AULA 02
Obra: RIBEIRO, M. C. P. GALESKI JR, I.
Teoria Geral dos Contratos. Elsevier, 2009, p. 221-231.
Trabalho a ser apresentado
disciplina optativa Tpicos Especiais de Direito Empresarial
F, a ttulo de nota complementar do ano letivo de 2014.
Prof Dr MRCIA CARLA
PEREIRA RIBEIRO
2014
CURITIBA
FICHAMENTO
H uma nova proposta de classificao dos contratos, relacionada prtica econmica, que
leva em conta: a extenso da autonomia privada na elaborao; a natureza das obrigaes que
instrumentalizam; a extenso das suas externalidades; a natureza da vinculao entre os
participantes.
Contratos negociados so os clssicos, enquadrados dentro de uma autonomia de vontade
delimitada pela ordem jurdica. Formulrios so contratos com contedo fixo, com um pequeno
grau de manifestao de vontade pelo contratante. J contratos de adeso so aqueles que no
admitem modificaes. So termos exatos. Essa classificao est relacionada a um critrio: o da
identificao da relativizao dos efeitos. Quanto maior a manifestao de vontade (no sentido do
sujeito, dentro de sua categoria empresrio ou consumidor , possuir aptido para avaliar os
efeitos da contratao; grau de compreenso), menos interferncia do Judicirio. Aqui, portanto,
contratos entre empresrios no se interpretam da mesma forma que os contratos entre consumidor
e empresrio.
Disso se tem que: (a) nos contratos negociados a onerosidade excessiva e a impreviso
podem ser base para a quebra do vnculo contratual (o fundamento a mudana de condies); (b)
nos contratos formulrios e de adeso, maior a possibilidade de interferncia (h menos
manifestao de vontade). Neste ltimo caso, h vrias normas especficas (v.g., art. 423, CC) que
autorizam essa interferncia.
O segundo critrio a natureza da obrigao que o contrato instrumentaliza. Nesse mbito,
tm-se: os contratos de subordinao e os contratos empresariais. Aqui, a condio do sujeito
confere tratamento diferenciado. Contratos de subordinao podem ou no ter um empresrio
contratante. O que o caracteriza uma subordinao derivada da condio das partes (contrato de
consumo e de trabalho). A eles, h densa disciplina normativa especfica, que estabelecem
parmetros quanto ao seu contedo e tambm quanto sua interpretao. J nos contratos
empresariais, h empresrios nos dois polos, exercendo essencialmente sua atividade profissional.
H pouca normativa hermenutica especfica. Por isso, o Judicirio interfere na sua interpretao
aplicando princpios gerais do direito contratual. As partes so tomadas em p de igualdade e o
fator risco levado em considerao. Isso dificulta a alterao das clusulas contratuais com base
na impreviso e na onerosidade excessiva e fomenta a invocao da funo social (externalidade).
Quanto s externalidades, h situaes em que devem ser consideradas, e outras em que no.
Nos contratos de externalidades no-significativas, pode-se invocar a impreviso e a onerosidade
excessiva quando h uma alterao ftica/condicional. Funo social, aqui, no tem espao ante a
inexistncia/irrelevncia dos seus efeitos externos. J nos de externalidades significativas,
enquadram-se os contratos empresariais, tanto que muitos efeitos j possuem disciplina legal (v.g.
Lei da Concorrncia). Nesses casos, a funo social j est adstrita aos termos da lei especfica. Nas
hipteses sem esse tratamento especial, o Judicirio identifica o cabimento ou no da relativizao
do contrato num princpio geral dos contratos. Assim, nesses contratos, as partes no podem invocar
a funo social (art. 421, CC) para defender seus interesses. Podem caso as externalidades do
negcio fossem significativas (v.g. contratos de venda de safra), mas essa fundamentao deve ser
cautelosa. O uso inadequado desse princpio pode ser nocivo exatamente para o bem que se
pretende proteger (o interesse social).
Dando continuidade classificao, tem-se que, quanto natureza do vnculo entre as
partes, no contrato unilateral h obrigao para apenas uma das partes; enquanto que no contrato
bilateral h obrigaes recprocas (a diferena est no vnculo, no nas partes). Os contratos
associativos so ligados prtica empresarial (v.g. contrato de parceria, de joint venture etc.). O
elemento diferenciador o seu carter de instrumento atividade empresarial. Aqui, no se pode
invocar a exceo de contrato no cumprido, pois o cumprimento das obrigaes das partes
independente.
Disto posto, v-se que a categorizao dos contratos indispensvel para a sua interpretao
e a considerao das externalidades, como expresso da funo social do contrato, elemento
essencial prestao da justia.
COMENTRIO
Classificar para melhor interpretar. Essa ideia central do texto assevera uma necessidade em
se evitar discrepncias hermenuticas que venham a minar exatamente a ideia que se pretende,
muitas vezes, defender: a funo social, o interesse social. Afinal, se para tudo invocado, para
nada serve. O que se demonstra que necessrio se delimitar a invocao do princpio da funo
social, sob pena de se cometer srias infraes ordem legal simplesmente em razo de uma m
compreenso dos contratos. Sendo assim, a partir do conhecimento das externalidades dos
contratos, de sua natureza, da natureza do vnculo das partes, das obrigaes instrumentalizadas,
que se chegar a uma hermenutica correta e de fato em conformidade com a ordem jurdica.